Especial de aniversário

Transcrição

Especial de aniversário
Especial de aniversário
Parabéns
Cambuí
123 anos
Edição especial - Maio 2015
02 Especial de aniversário
Gazeta do Vale
Um simples
Cambuí: 123 anos revelando personagens poema a Cambuí
EDITORIAL
Neste domingo Cambuí completa 123 anos de
emancipação política. Lá no
longínquo 1892, a cidade já
despontava como uma das
principais da região, principalmente no âmbito comercial. Mesmo em tempos
de crise, como atualmente, a cidade não deixa de receber seus vários turistas,
compradores, que aqui optam por adquirir produtos
e bens de serviço.
Nesta longa trajetória
centenária, diversas pes-
soas se destacaram, auxiliando no desenvolvimento
econômico e social de Cambuí. Foi pensando nisso que
apresentamos, nesta edição
especial, algumas delas. São
personagens que marcaram
a história do município; uns,
ainda vivos; outros, que já
nos deixaram.
Nestes anos todos, várias são as pessoas que mereciam o devido destaque
em nossas páginas (quiçá
não façamos em outra ocasião). Pessoas ilustres e ou-
tras que preferiram viver
no anonimato, mas sempre
contribuíram em algo para
a cidade.
Cambuí sempre foi um
celeiro de pessoas de bem,
com mentes avançadas
para sua época. Quem não
se recorda do saudoso Tatita e sua paixão por aviação, tanto que a cidade já
possuiu um aeroclube. O
senhor João Moreira Salles, que dá o nome a uma
das principais ruas da cidade. Nascido no bairro do
Expediente
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Portão, conheceu o mundo e fundou um dos maiores grupos bancários deste país. E o senhor Ditinho
Ferreira, que ainda está no
meio de nós, como o grande Luiz Preto: o primeiro,
mestre na arte de forjar, foi
um dos pioneiros na cidade; já o segundo, deu os primeiros passos na engenharia civil e ainda foi prefeito
municipal.
Esses são alguns dos nomes que apresentamos nesta edição. Há vários outros
que poderiam estar aqui,
de pessoas que ainda estão
em nosso meio ou que já nos
deixaram. Mas, temos a certeza, de que a homenagem
feita é para todos.
Parabéns, Cambuí. Seus
123 anos nos mostraram o
quanto importante és para
nossa região. Uma cidade
abençoada, com pessoas
que, mesmo nas dificuldades encontradas, não a deixam por nada.
Vicente do Gino
Eu quero nestes versos,
Durante toda esta minha
idade!
Recordando a cada momento,
O quanto cresceu nossa
cidade!
Os carros que aqui tinham,
Eram os do Zé Gato, Zico, do
Tota e do Valdomirão!
Os Ford do João Benvinda, e
do João do Gino,
Eram a nossa frota de
caminhão!
Meu pai vinha no armazém
do João Lopes,
E comprava de tudo em grande quantidade!
Minha mãe ficava na roça,
Costurando sem sequer ter
eletricidade!
Ah, meu Deus, como eu tenho
saudades!
O tempo não para,
E eu vi nossa Cambuí só
aumentar!
Hoje vemos nossa cidade
cheia de carros,
Sem sequer ao menos ter
onde estacionar!
Hoje tem grandes
supermercados,
Acabaram-se os botecos e os
armazéns!
É o progresso que chega à
nossa cidade,
Com a força de vontade que as
pessoas daqui têm!
Faz pena que as indústrias fogem de nossa cidade,
Fazendo com que muitos que
aqui vivem,
Passem por tantas
precariedades!
Fiz este poema,
Para registrar aqui a minha
passagem!
Mostrando a todos que aqui
vivem
O amor que sinto por esta
cidade!
E à você, meu amigo
João Eiras,
Fica aqui à minha emoção!
Por dar-me esta
oportunidade,
E expressar a minha gratidão!
Gazeta do Vale
Luciana Pereira dos Reis*
Na
manhã
de
07/04/2012, meu amigo de
pesquisa na época e eu encontramos a tão por nós
procurada árvore cambuí
pela primeira vez. Como
historiadora, até hoje não
consigo descrever a sensação de finalmente encontrar algo tão buscado! Apenas posso dizer que este
local é uma fonte documental rara de nossa história e
que deveria ser reconhecido e preservado.
Há alguns meses estive próxima a propriedade
e pude confirmar o que o
proprietário já havia alertado: com uma desordenada rapidez, as construções
vão tomando conta e preenchendo locais antes habitados pela fauna e flora
nativas, deixando cada vez
menos desses vestígios patrimoniais, ambientais e
históricos.
Segundo consta, a cidade de Cambuí leva esse
Árvore Cambuí
nome por conta da abundância de árvores dessa
espécie em épocas passadas ou mesmo pela força
da correnteza do rio que,
ao percorrer na tabatinga,
deixava as águas esbranquiçadas, de cor leitosa,
sendo Cambuí ou Cambuhy
um sinônimo de água de rio
leitoso. Seja como for, nem
o rio e tampouco as árvores
foram preservadas como
marcas de nossa memória
histórica tão desconhecida.
Na cidade há o Conselho
Municipal do Patrimônio
Histórico e Cultural e também o Conselho do Meio
Ambiente. A maioria da população desconhece a árvore Cambuí, assim como eu
também desconhecia. E adquiriu-se o costume de chamá-la de “pau”- Cambuí. Em
todas as pesquisas realizadas sobre a árvore não foi
encontrada nenhuma menção a nenhuma das espécies dessa forma.
No dia dessa pesquisa de campo, o proprietá-
rio do local nos forneceu
13 exemplares, pequenas
mudas da Cambuí. Dessas,
cinco exemplares sobreviveram e encontram-se comigo, sendo que uma já deu
frutos. O objetivo maior é
protegê-las, garantir-lhes
a sobrevivência, plantá-las
em local seguro, acompanhá-las e fazer mais mudas
espalhando essa belíssima
árvore que conta um pouco
de nossa própria história.
Segue abaixo algumas
informações botânicas e
científicas, encontradas em
sites de pesquisas sobre
nossa árvore:
Dentre as espécies de
frutíferas nativas brasileiras
pouco conhecidas e que são
fontes de nutrientes, encontra-se o cambuí (Myrciariatenella), uma Myrtaceae, que
ocorre do Maranhão ao Rio
Grande do Sul, estendendo-se até a Argentina.
Cambuí, palavra indígena que significa folha que
cai; que se desprende, é uma
designação comum de diversas espécies dos gêneros
Myrcia ou Myrciaria, da família Myrtaceae. O Cambuí
(Myrciariatenella) é uma
espécie belíssima da grande
família das mirtáceas, cujos
parentes mais conhecidos
são a goiabeira, a jabutica-
Especial de aniversário 03
beira, a pitangueira e o eucalipto tinhoso.
Antigamente seus galhos eram usados para fazer vassouras e estilingues.
Sua madeira dura pode ser
empregada para mourões,
cabos de ferramentas e lenha. Representa um recurso medicinal importante,
sendo utilizada no tratamento de herpes, brotoejas, cólicas, diarréias entre
outras. Seus frutos são bagas globosas, brilhantes,
contendo uma ou duas sementes. Há grande variabilidade dentro da espécie,
sendo possível diferenciar
os indivíduos pela coloração de seus frutos (roxa,
vermelha e amarela).
O Cambuí costuma recompensar os longos anos
de crescimento cobrindo-se de flores brancas muito miúdas. No período de
novembro e dezembro ou
até um pouco mais tarde,
de acordo com a região, sua
presença pode ser sentida à
distância pelo intenso per-
fume que exala, muito atraente às abelhas. As mirtáceas geralmente têm folhas
pequenas e tronco marmorizado e descamante de 20
a 30 cm de diâmetro.
O engenheiro agrônomo Harri Lorenzi, autor
do livro ‘As Árvores Brasileiras’, chama a atenção
para a importância ecológica da planta. Para ele,
o Cambuí é indispensável
em reflorestamentos mistos destinados à recomposição de áreas de preservação permanente.
É uma árvore extremamente ornamental. Seu
tronco decorativo presta-se bem para o paisagismo,
especialmente em arborização de ruas. Seus frutos são
comestíveis e procurados
por várias espécies de aves.
*Luciana Pereira dos Reis é
Historiadora e Coordenadora do Memória em Prosa
Blog: www.memoriaemprosa.com.br
Facebook: Memória
em Prosa
04 Especial de aniversário
Cambuí e a passagem de Cônego
Foch Morais Teixeira
Benedito Guimenti
Cônego Foch Morais Teixeira, nasceu em Silvianópolis. Nossa paróquia passava
por uma fase difícil. Em fevereiro de 1968, Pe. Foch foi
nomeado pároco, tendo ainda a responsabilidade das
paróquias de Córrego do
Bom Jesus e Senador Amaral. Contava apenas com
Mons. Aristeu Lopes, nos fi-
nais de semana.
Em 1972, Pe. Foch construía a Igreja Santuário de
Córrego do Bom Jesus e em
seguida a casa paroquial de
lá. Entre 1973 a 1975, sob a
liderança e empenho direto
de Pe. Foch, foi construído o
nosso asilo, a Fundação Geriátrica Pe. Antonio Paschoal,
em terreno doado pela família Lopes.
Pe. Foch ficou conhecido
no clero como “João de Barro”, pelas inúmeras capelas
que foram construídas nas
três paróquias: Cambuí, Córrego do Bom Jesus e Senador Amaral: 23 obras. Também a Igreja Matriz recebeu
uma grande reforma, de
28/03/83 a 15/01/85, tendo
sido sagrada pelo Sr. Arcebispo D. José D’Ângelo Neto
em 25/01/85. Com recursos
financeiros da Adveniat, da
Alemanha, foi também construída a “Casa de Reflexão da
Paróquia”, no bairro de Furnas.
Pe. Foch foi um inovador na paróquia: novos movimentos passaram a funcionar junto aos leigos, onde
podemos destacar os Cursilhos de Cristandade, Encontro de Casais com equipes
diocesana e local, Movimento de Jovens e Renovação Carismática Católica que atuam
até hoje.
Em fevereiro de 1988,
ao completar 20 anos de dedicação e serviços em nossa paróquia, com problemas sérios de saúde, através
de uma diabetes, ele foi morar em Pouso Alegre. Ele não
queria despedidas, por isso
fez uma carta de explicações
e agradecimentos, que foi
lida aos fiéis nas missas do
domingo seguinte.
Cônego Foch faleceu em
Pouso Alegre em 1996, onde
foi sepultado.
Gazeta do Vale
Cambuí e o Monsenhor
Afonsinho
Benedito Guimenti
Em 25 de junho de
1915, nascia em nosso município, no Bairro da Água Comprida,
o menino miudinho na
estatura, mas que seria grandioso diante de
Deus: Afonso Ligório
da Rosa.
Estudou na Escola
Dr. Carlos Cavalcanti,
sua foto consta em um
dos quadros de formatura no hall da Escola.
Depois, ingressou no seminário, pois sua vocação era servir o Senhor.
Após ordenado sacerdote trabalhou em
diversas
paróquias,
sendo elas: Ex trema,
Poço Fundo, Congonhal, Córrego do Bom
Jesus e Cambuí como
padre auxiliar.
Na paróquia de Poço
Fundo trabalhou por
muitos anos, onde deixou muitas obras e
muitos amigos. Também em Congonhal deixou plantadas várias
obras, dentre elas o
Centro Pastoral.
Padre Afonso recebeu o título de Monsenhor, carinhosamente
chamado por todos de
Monsenhor Afonsinho.
Foi um santo sacerdote, bom, caridoso, simples, humilde durante
sua longa peregrinação
na terra, fora ocupar
seu lugar definitivo na
casa do Pai, no dia 07
de fevereiro de 2000.
Foi sepult ado em
nosso cemitério, sua
terra natal, e lá foi
construído um bela capelinha para que os
visitantes possam se
lembrar com gratidão
deste santo homem que
aqui nasceu e que terminou seus últimos
dias nesta passagem
terrena.
Nossa eterna gratidão a Deus por sua vida.
“Quando vivemos, temos medo da morte. Mas
quando morremos alegramo-nos com a vida eterna.” (Mons. Afonsinho).
Gazeta do Vale
Cambuí e o Monsenhor
Aristeu Lopes
Benedito Guimenti
No início do século passado nascia em Cambuí
Aristeu Lopes, �ilho ilustre
da família “Lopes”.
Como existiam poucas
escolas na região, o jovem
Aristeu fez seus estudos
fora de Cambuí. A vocação
sacerdotal era a vocação de
Aristeu Lopes, por isso ingressou no seminário para
os cursos de �iloso�ia e teologia.
Em 15/08/1928, dia da
Assunção de Nossa Senhora, ele se ordenava padre.
Foi o primeiro sacerdote �ilho de Cambuí.
Trabalhou muitos anos
no Seminário Arquidiocesano de Pouso Alegre, desenvolvendo um trabalho
muito importante junto aos
seminaristas, tendo sido diretor espiritual.
Colaborador incansável
de nossa paróquia nos �inais de semana, sendo auxiliar dos párocos que por
aqui passaram, especialmente junto com Côn. Foch.
Mons. Aristeu era uma
pessoa, santa, carismática,
inteligente e tinha muito
conhecimentos de parapsicologia.
Na década de 70 havia, todo sábado à noite, a
Escola de Vivência dos Jovens no salão paroquial e
Mons. Aristeu desenvolveu
conosco o estudo detalhado do “Credo”, cada semana
falava sobre um parágrafo. Certo dia, ele falando do
céu, nos dizia: “O Céu é um
lugar maravilhoso, cheio de
anjos. Lá reina a vida plena, a paz de�initiva, o próprio amor que é Deus. Nós
não fomos criados para vivermos somente na Terra,
mas nossa morada de�initiva é o céu”.
Mas, no �inal da aula, todos riram quando ele falou: “Mas eu não estou com
pressa de ir para lá.”
No �inal de sua vida, embora com a saúde debilitada, trabalhou como capelão
do Hospital Ana Moreira
Salles.
Faleceu em 29/02/1996
e está sepultado em nosso
cemitério.
Nossas eternas homenagens e agradecimentos a
este santo e saudoso sacerdote, nosso conterrâneo.
E��e�i�� �� �����rs��i� 05
Luiz Evangelista Rangel Padilha
– O ‘Preto da Belinha’
Benedito Guimenti
Filho de Sr. Antonio
Rangel Padilha e Sra. Izabel
Lourdes Padilha (Belinha),
nascia nesta cidade, em 12
de maio de 1923, um menino que foi logo denominado
o “Preto da Belinha”. Teve
seis irmãos, sendo eles: Sebastião, José, Izabel, Iracema, Brinco e Cotinha.
Foi casado com Maria
do Carmo Oliveira Padilha e desta união conjugal
nasceram seus cinco �ilhos.
Hoje ele está viúvo, mas
para sua alegria possui seis
netos e quatro bisnetos.
Em 1929 começou a trabalhar como servidor público na Prefeitura Municipal de Cambuí, onde
permaneceu até 1954.
Em 1939, Cambuí contava como pároco o padre
italiano Antonio Paschoal. Foi quando ele iniciou o
seu trabalho de sacristão
na igreja matriz de Nossa
Senhora do Carmo e continuou este trabalho até a
morte de Padre Antonio,
em 1950. Colaborou nesta
época na campanha para a
construção do altar de “São
José” em nossa Matriz e depois na construção do túmulo de Padre Antonio Paschoal, em 1950.
Até a década de 1960,
Cambuí não tinha aqui um
engenheiro que pudesse projetar, desenhar e registrar as plantas das casas e comércios. Foi então,
que através de sua experiência no setor, o CREA de
MG deu a ele o registro de
“Construtor Projetista”, autorizando-o a trabalhar no
ramo de construção civil.
Cambuí se desenvolveu de lá para cá e muitos
engenheiros civis e ar-
quitetos trabalham atualmente na cidade, mas
o Seu Luiz, embora aposentado e contando com
92 anos de idade, ainda
assina pequenos projetos, principalmente ajudando pessoas carentes
para construírem suas
residências.
Foi presidente do Clube
Literário e Recreativo de
Cambuí.
Contribuiu com nossa
cidade, na condição de Prefeito Municipal eleito, nos
anos de 1971 e 1972, sendo
seu vice-prefeito Bruno Capozzoli.
Nossas homenagens a
este cidadão cambuiense
06 Especial de aniversário
Gazeta do Vale
Um pouco da história do Fu
Enivaldo Eiras
O futebol de salão, atualmente conhecido como
futsal, sempre foi marcante
na história de Cambuí. Pelo
que sei, começou sendo jogado em uma quadra dentro do Clube Literário de
Cambuí, na Praça da Matriz.
Mas se popularizou na quadra do Colégio, com grandes
campeonatos e grande presença de público.
A quadra de cimento
do Colégio era sem cobertura, por isso os concorridos campeonatos de firmas
eram marcados no inverno,
onde as chuvas sempre são
mais raras. E a multidão se
apertava em volta, cercados
apenas por uma corda, para
ver os emocionantes jogos,
onde se destacavam os times do Móveis Tovazzi, Katrin, Auto Viação Cambuí,
Vulcão, Cambuí Confecções,
entre tantos outros.
Nem vou falar dos craques e dos personagens que
fizeram a história, por falta
de espaço aqui e por serem
muitos, e também para não
cometer injustiças esquecendo alguém. Mas chamava atenção a organização do
torneio e a grande presença
da torcida. Cada comércio
ou uma atividade de profissional liberal tinha uma
equipe.
Os times tinham os presidentes e também os técnicos, sempre obrigatórios.
E essa obrigatoriedade me
levou a ser técnico do time
dos “Advogados e Fórum”,
isso aos 15 anos de idade.
Convidado pelo meu amigo, o saudoso Nerinho Paraiso, estava eu lá comandando todos os advogados
da cidade, promotor e Juiz.
Nada fácil comandar essas
feras, principalmente quando eu achava que tinha que
trocar alguém.
Mas este honroso convite do Nerinho, que lembro com carinho, e me marcou muito, tem um motivo.
Os mais jovens talvez nem
saibam disto, e podem até
achar engraçado, mas quando eu era criança, na minha casa a TV era em “preto e branco” ainda, como na
maioria dos lares da nossa
cidade na época. Eram raras a TVs “coloridas”, como
também eram raras as partidas de futebol transmitidas ao vivo.
E, quando tinha algu-
ma final ou jogos da
Seleção, o meu pai
Tito Eiras me pegava pela mão e íamos
assistir “a cores” na
casa do Professor
Alcides Del Agnolo,
que também jogava
no time, ou na casa
do Nerinho Paraiso. E mesmo criança
eu gostava de ficar
comentando os jogos, e principalmente aprendendo com
os comentários do
Titão, do Professor,
e do saudoso Nerinho, de onde partiu o convite alguns
anos depois para ser
o técnico do time dele.
Depois do colégio, os
torneios passaram a serem
disputados na quadra de cimento, ainda descoberta, e
com precárias arquibancadas de madeira sempre lotadas, no mesmo local que
depois seria construído o
Ginásio Poliesportivo de
Cambuí, no final da Av. Tiradentes. Depois do Ginásio
pronto e coberto, as compe-bé
tições ficaram ainda maisdo
“profissionais” e disputa-da
das.
er
Tanto os campeonatosdi
de firmas quanto o Torneiova
de Verão por equipes, ago-dr
ra sem o problema da chu-co
va, movimentavam a cidade
inteira gerando até algumassé
intrigas entre as famílias. Enh
os horários do ginásio tam-go
Especial de aniversário 07
e Gazeta do Vale
Futebol de Salão de Cambuí!
e-bém eram muito disputaisdos pelas inúmeras “pelaa-das” diárias. Difícil mesmo
era conseguir ficar em pé no
osdia que o Macarrão enceraiova o piso sintético da quao-dra, aí eram tantos os gols
u-como os inúmeros tombos.
de E as disputas ficaram
assérias: me lembro que tiEnha 17 anos quando já era
m-goleiro do Moto Sul, no pri-
meiro campeonato
do Ginásio, e vi o esforço do Waldécio,
indo até São Paulo,
somente para buscar
o Dida pra jogar a semifinal à noite. Sorte nossa, e do Dida,
que vencemos e passamos à final. Nesta época não valia
gols marcados dentro da área: era uma
discussão só se foi
gol ou não. E nós, os
goleiros, sofríamos
com as “pancadas”
chutadas de fora da
área, e ainda as bolas eram menores e
mais duras do que as
atuais, causando muitos hematomas no corpo inteiro.
Anos depois, me lembro
da festa e do choro meu e
do Robinson Rosa após conquistarmos o torneio de firma pela A.V.C. (apenas os
goleiros eram livres e não
precisavam trabalhar na
firma e nem serem profissionais liberal do ramo). O
título veio após o Ricardo
Del Agnolo, filho do professor Alcides, marcar um golaço na prorrogação, que na
época tinha o “gol de ouro”,
a famosa “morte súbita”. O
detalhe foi que o Ricardo,
depois do gol, saiu andando
com a cabeça baixa, como
se nada tivesse acontecido, mesmo com todo estardalhaço em volta, e nós todos pulando e chorando em
cima dele. Impressionante a
calma do grande Ricardão.
Foram tantos campeonatos, tantas histórias e
tantas emoções com vários
campeões e figuraças jogando ou na torcida. Teve
também os emocionantes
torneios de vilas, dividido
por bairros a paixão pelo
Futsal dos cambuienses. E
depois, em 1989, veio a famosa Taça EPTV de Futsal do Sul de Minas, onde
Cambuí ganhou por quatro vezes. Sendo Tri em 89,
90, 91, depois o Tetra já em
2001, e um vice em 2003.
Contando também com jogadores que disputavam
os principais campeonatos
brasileiros de Futsal, mas
que também eram contratados para jogar nos nossos times aqui.
As cidades vítimas da
grande equipe de Cambuí nas finais foram: Lavras, em 89; Poços de Caldas,
em 90; Pratápolis, em 91; e Caxambu; em 2001.
Em 2003 perdeu para Poços
de Caldas, ficando com o vice. E
destaque para os
vários ônibus lotados que saiam
daqui para acompanhar as partidas onde fossem,
mesmo que vez
ou outra tivessem umas briguinhas, ou umas
confusãozinhas.
Mas faziam parte
também da grande paixão cambuiense pelo Futsal.
E, nesta se-
mana de comemoração de
mais um aniversário da
nossa querida Cambuí, fica
a saudade e um apelo para
que os incentivos no Futsal voltem novamente, para
termos grandes campeonatos no Ginásio, e solidificados, irmos atrás do Penta do
Futsal na Taça EPTV do Sul
de Minas. Parabéns a nossa
querida e amada Cambuí.
08 Especial de aniversário
Gazeta do Vale
Ditinho Ferreira: trabalhador exímio, mestre de novas
gerações, pai firme e amigo honesto
Por Sueli Silva
(Jornalista, professora e filha
do grande mestre)
Foi crescendo ao som
da bigorna e do martelo que o pequeno Ditinho Ferreira aprendeu
sobre uma arte antiga,
que existe desde que
os homens descobriram
que podiam moldar os
metais. Com apenas seis
anos de idade ele já manuseava o fole para fazer fogo e ajudar seu pai
na construção de tornos e soldas, aprendendo o oficio de Forjador
ou Ferreiro.
Passou sua infância na oficina do pai, Sebastião Ferreira, homem
trabalhador e aventureiro, que cresceu em meio
às terras que a vista não
alcançava no Bairro São
Domingos. A casa onde
morava quando criança era sempre cheia e recebia a todos com muita
hospitalidade, já que na
época era uma das únicas com rádio.
Sua mãe, conhecida
como Dona Mariquinha,
mulher de pouca prosa, mas de um coração
imenso, onde os porões
do casarão, hoje em ruínas, eram fartos de quitutes para alimentar as
visitas que rodeavam a
casa, na esperança de
ouvir o rádio e as aventuras do seu avô durante
as andanças pelo Brasil.
A herança genética do pai e sua disposição para o trabalho foi
fator primordial para a
construção da primeira oficina no final anos
60 e de muitas outras
que vieram. Sua paixão
era construir; logo que
Ditinho Ferreira ainda mantém funcionando sua oficina
uma casa ficava pron- podemos esquecer que
ta, partia para outra. o preço que ele cobra e
Um homem que até hoje sempre cobrou é irrinão parou, seja no seu sório e já foi motivo de
trabalho criativo ou na criticas, que logo se juslida com a terra que vi- tificava dizendo: “Não
rou sua paixão. Ah... não preciso cobrar mais,
isso já é o suficiente”.
O professor Pardal,
como é conhecido por
muitos que sempre valorizaram seu oficio,
está hoje com 77 anos
de vida e 70 de trabalho.
Um homem incansável
que parece ter rodinhas
no pé (segundo minha
mãe). Não posso deixar
de falar dessa mulher
maravilhosa e dedicada aos filhos e netos que
está ao seu lado há mais
de cinquenta anos.
Hoje, este engenhoso
cidadão de Cambuí, que
ficou conhecido como
“cortador de panelas”
viu e continuará vendo
por muitos anos o rumo
que a modernidade tem
tomado. O fole, a bigorna e o martelo foram
substituídos pela facilidade das tecnologias
“pneumáticas”, que ga-
rantem mais agilidade
e precisão para os consertos em geral e cortes
precisos das panelas,
oficio passado por gerações que agora os netos
aprenderam e darão sequência, com muito orgulho, daqui pra frente.
Estar em contato
com a terra e a natureza são sua prioridade neste momento da
vida, pois o mestre Ditinho Ferreira, o professor Pardal, o pai firme, o
amigo honesto está cada
vez mais se ausentando
da sua antiga profissão
e, vê-lo em sua oficina o
dia inteiro, passou a ser
raro.
Para nós que ficamos
em seu lugar de honra,
a tarefa de dizer que ele
não se encontra não é das
mais fáceis, mais o descanso é sempre merecido.
Gazeta do Vale
João Moreira Salles:
filho ilustre de Cambuí
Benedito Guimenti
João Moreira Salles, nascido no bairro do Portão,
aqui em Cambuí, em 18 de
fevereiro de 1888. Foi batizado pelo Padre Caramurú
em 10 de abril de 1888, tendo como padrinhos Adriano Colli e Júlia Colli. Filho
de pequenos produtores rurais: José Amâncio de Salles
e Ana Moreira Salles.
Inicialmente trabalhava em um armazém aqui
em Cambuí, uma antiga
casa situada na esquina da
Praça da Matriz, onde hoje
é a loja Cambuí Confecções.
Atrás de melhores oportunidades, mudou-se para
Guaranésia, depois para
Mococa, onde montou uma
comissária de café.
Adolescente foi para São
Paulo. Estudou na Escola
de Comércio Álvares Penteado e voltou para Cam-
bui aos 21 anos. Dedicou-se
ao comércio em geral e praticava transações bancárias como correspondente
de vários bancos. Casou-se
com Lucrécia de Alcântara,
de Pouso Alegre, e tiveram
4 filhos: Walter, Elza, Hélio e
José Carlos.
Mudou-se para Poços de
Caldas. Lá, João Moreira Salles ampliou os negócios de
café e montou um conjunto
extremamente diversificado
de lojas de secos e molhados
a funerárias, o Magazine Moreira Salles. O negócio principal era uma casa comissária
de café que atuava no financiamento da produção e que
acabou se tornando “Casa
Bancária Moreira Salles”.
Em meados dos anos
1920, houve uma reforma
bancária permitindo às casas bancárias se transformarem em bancos. Depois,
ele comprou o “Banco Ma-
chadense” e foi criado o
“Banco Moreira Salles”, sendo Poços de Caldas a agência
nº 001 e Cambuí a agência
nº 005 (depois se transformou no “União de Bancos
Brasileiros” e hoje comprado pelo “Banco Itaú”).
Seu sucessor na direção
do Banco foi seu filho Dr.
Walter Moreira Salles, que
chegou ser embaixador brasileiro nos EUA e negociador
de nossa dívida externa.
Cambuí se orgulha muito de seu filho. Foi com o esforço dele que se implantou
a usina da Água Comprida,
que por muitos anos forneceu energia elétrica para
Cambuí. Foi através dele e
de seu filho, Dr. Walter Moreira Salles, que o então prefeito José Francisco do Nascimento e outras pessoas
deram início ao nosso Hospital, com uma contribuição
financeira de grande porte.
Especial de aniversário 09
Cambuí e o Prof. Levindo
Furquim Lambert –
Historiador, advogado
e farmacêutico
Benedito Guimenti
O professor Levindo Furquim Lambert, filho do professor Maximiano José de
Brito Lambert e dona Francisca Amélia Furquim Lambert, nasceu em Cambuí, no
dia 30 de abril de 1896. Fez o
curso primário com seu próprio pai, que era Diretor do
Grupo Escolar.
Diplomou-se em Farmácia em 1919. Depois exerceu o cargo de vereador na
Câmara Municipal de Cambuí. Em 1929 passou no
concurso para o cargo de
Assistente Técnico de Ensino. Convidado em 1932
pelo Secretário da Educação foi para Belo Horizonte,
chefiando o gabinete.
Em Belo Horizonte as-
sumiu a direção do Conservatório Mineiro de Música (hoje Escola de Música
da UFMG), cargo que exerceu por duas décadas, tendo
sido catedrático de dicção.
Com mais de 50 anos, ingressou na Faculdade de Direito
da Faculdade de Direito da
UFMG, onde formou-se bacharel em Direito em 1954.
Estimado entre o meio
educacional e político da
época, chefiou, nas décadas
de 50 e 60, os gabinetes dos
secretários da Educação, da
Agricultura, da Saúde e do
Interior, tendo ainda exercido o cargo de Secretário da
Educação no governo de Juscelino Kubistchek.
Foi casado com a professora Aurora Lambert, teve
sete filhos: Nilze, Ney, Né-
lio, Nilah, Nib, Neyde, Neusa
Maria. Publicou três livros,
dentre eles o que narra a
história de Cambuí: “Biogeografia de uma cidade mineira”. Ele também é o autor
do “Hino à Cambuí”. Faleceu
em 20 de julho de 1991. O ginásio poliesportivo da cidade leva o seu nome.
Professor Levindo Furquim Lambert
10 Especial de aniversário
Gazeta do Vale
Os Imigrantes Italianos
Benedito Guimenti
Por causa da II Guerra Mundial, os imigrantes italianos que residiam aqui em Cambuí foram
obrigados a prestar depoimento na Delegacia de
Polícia e afirmar que não apoiavam seu país de
origem na guerra e davam total apoio ao Brasil.
Era delegado na época o Sr. José Rodrigues Marques que, em data de 16 de setembro de 1942, procedeu ao interrogatório na delegacia.
Temos representantes das famílias de imigrantes que deixaram a Itália e se fixaram aqui
em Cambuí no final dos anos 1880 até o início dos
anos 1900.
José Samuel Ghimenti – nascido em
27/08/1875 no distrito de Galeno, cidade de Fucecchio, na província de Firenze na região da Toscana, veio para o Brasil em 1887.
Philomena de Gloria D’Ambrozio – (sogra de
Samuel), nascida em Polla em 1868, veio para o
Brasil em 1887.
Antonieta D’Ambrozio Ghimenti – (esposa de
Samuel), nascida em 27/10/1887 na cidade de
Polla – província de Salerno na região da Campânia (veio para o Brasil com 2 meses de idade com
os pais Domenico e Philomena).
Savério Venturelli – nascido em 10/11/1876
no distrito de Brucciano, cidade de Molazzana, região de Lucca na Toscana.
Família Lagatta: Todos nascidos em Lago-Negro, província de Potenza - Maria Lagatta Venturelli – nascida em 1885 esposa de Savério, João Batista Lagatta - nascido em 1890, Nicolau Lagatta
– nascido em 1891 e
Maria Rosa Lagatta –
nascida em 1899.
Francisco Fanucci – nascido em 1869
em Montemagno e
veio da Itália para o
Brasil em 1881.
Padre Antonio
Paschoal – nascido
em 1881 em Polegge
de Vicenza, no Vêneto, veio para o Brasil
em 1911, foi pároco
de Cambuí de 1927 a
1950.
João Tozzi – nascido em 1877 na região de Lucca, na TosJosé Samuel Ghimenti e Antonieta D’Ambrozio
cana.
Ghimenti - imigrantes italianos que aqui se
Graciano Antimo
estabeleceram
Tognoli – nascido em
1884 em Fratta Polezine, veio para o Brasil em 1889.
João Botarelli – nascido em 1894 em Gianna, veio para o
Brasil em 1895.
Gregorio Spineda – nascido em 1886 em Paola Cosenza, na
Calábria, veio para o Brasil em 1911.
Não constam na delegacia os depoimentos de membros
das famílias de imigrantes italianos: Capozzoli, Tognozzi, Luponi, Lombardi, Butarelli, D’Onofrio, Frederighi, Caporalli,
Faccio e outros.
fonte: Arquivo Público Mineiro http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/dops_docs/photo.
Gazeta do Vale
José Geraldo de Moraes
Cambuí
comemorará seus 123 anos de maneira diferente. Os últimos 95
contaram com a presença de
uma pessoa de grande importância para o desenvolvimento da cidade: Geraldo
Especial de aniversário 11
Tatita: A história de um empreendedor
Cypriano de Moraes, mais
conhecido como Tatita.
Nasceu em 12/10/1917,
no centenário casarão do Bazar do Leão, localizado atrás
da igreja matriz de Nossa Senhora do Carmo, construído
por seus pais no final do século XIX, início do século XX.
Desde cedo trabalhou de alguma maneira: sendo autônomo como sorveteiro, engraxate, taxista e alugando
o carro para as pessoas e depois como empresário vendendo combustível Esso, com
o Posto Tatita, para moradores e viajantes 24h por dia.
Nesse caminho, começou a
vender pneus, câmaras de ar, geladeiras, fogões, cortinas... O leque de
produtos era inimaginável para a
época. Posteriormente, começou a
atuar no ramo automotivo sendo
concessionário de
algumas marcas, como até
hoje, Volkswagen Tatita, onde
trabalhou até agosto de 2014.
Sua vida foi cheia de
curiosidades. Amante de
carros, motos e aviões, possuía habilitação para os 3 tipos de transporte. Também
possuiu diversas motos,
mas sua grande paixão era
uma Norton 500 1939, mesmo modelo utilizado por Che
Guevara em sua viagem pela
América Latina. Em relação
aos carros, seu caso de amor
mais antigo era com um Ford
Galaxie 1959 e, mais recente,
com o modelo Volkswagen
Santana, possuindo alguns
exemplares durante seu período de fabricação. Sempre
gostou de números, tendo
em seus carros placas combinadas como 1111 e 1000.
Falando de sua vida
pessoal, casou-se no dia
24/06/1939 com Maria
Bayeux de Moraes, com a
qual teve 3 filhos, 5 netos e
4 bisnetos. Filho e sobrinho
de músicos, aprendeu a tocar flauta, saxofone, trom-
pete e outros ainda jovem, e
no tempo de espera da produção do sorvete ficava treinando e, com o aperfeiçoamento da música, se tornou
também compositor. Um
tempo depois formou sua
banda, Tatita e seu Jazz.
Cambuí, sem dúvida, mudou muito nesse século e
poucas pessoas conseguiram acompanhar essa evolução para compartilhar as
histórias. Infelizmente, no
último dia 11/09, Geraldo
Cypriano de Moraes nos deixou, mas as histórias da cidade vivenciadas por ele e o
seu legado continuam vivos
em nossos corações.
O empreendedor Geraldo Cypriano de Moraes - o Tatita
12 Especial de aniversário
Gazeta do Vale

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