atendimento de asma aguda em crianças no pronto socorro
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atendimento de asma aguda em crianças no pronto socorro
Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria PROTOCOLO CLÍNICO ATENDIMENTO DE ASMA AGUDA EM Código: PC09 AAC Data: Março/2016 CRIANÇAS NO PRONTO SOCORRO Especialidade: Pediatria Responsável: Melina de Souza Colaboradores: Letícia Correa de Barros 1 INTRODUÇÃO A asma é uma doença inflamatória crônica, na qual diversas células e elementos celulares estão ativamente envolvidos. A doença é caracterizada por hiperresponsividade das vias aéreas inferiores e por limitação variável ao fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou com tratamento, manifestando-se clinicamente por episódios recorrentes de sibilância, dispnéia, aperto no peito e tosse, particularmente à noite e pela manhã ao despertar (GINA, 2015). Resulta de uma interação entre genética, exposição ambiental a alérgenos e irritantes, e outros fatores específicos que levam ao desenvolvimento e manutenção dos sintomas (BUSSE, LEMANSKE, 2001; COOKSON, 1999). Asma aguda grave manifesta-se por tosse, aperto no peito, crise aguda de broncoespasmo acompanhada de hipoxemia, sofrimento respiratório intenso, com sinais sugestivos de exaustão ou fadiga respiratória, podendo estar presentes alterações de consciência e má resposta à terapêutica inicial com oxigênio, broncodilatadores e corticoides (PIVA, GARCIA, 2014). Apresenta-se com um decréscimo do volume expiratório, que pode ser documentado e quantificado por medidas de função pulmonar (espirometria ou PFE). Em geral, crises leves podem ser manejadas com tratamento domiciliar, enquanto crises mais graves necessitam de suporte hospitalar, em setores de emergência, ou posteriormente, internação. Crises muito graves requerem internação em unidade de terapia intensiva (UTI) para um tratamento e monitoramento adequado (NHLBI, 2007). Em vista disso, é importante que a abordagem da crise asmática seja iniciada com a avaliação da gravidade do quadro, determinando assim o tratamento a ser instituído de imediato. O reconhecimento da medicamentosa com crise e broncodilatadores a instituição contribuem imediata para de terapia redução da 1/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria morbimortalidade. O atraso na identificação do caso ou o retardo na adoção de medidas terapêuticas adequadas coloca o paciente em risco. As manifestações clínicas da asma podem ser controladas com o tratamento de manutenção apropriado. O tratamento profilático possibilita o controle da doença, com diminuição da frequência e da gravidade das crises e melhora da qualidade de vida da criança. Além disso, é importante educar pais e pacientes para o reconhecimento precoce dos sintomas da crise, além de haver um plano de ação escrito para o tratamento inicial domiciliar e a remoção do fator ambiental desencadeante da crise. Quando a asma está controlada corretamente, as crises são ocasionais e leves, sendo as crises graves, raras (GINA, 2015; NHLBI, 2007). 1.1 Epidemiologia A asma é um problema de saúde global que afeta cerca de 300 milhões de indivíduos de todas as idades, etnias e países. É considerada um das doenças crônicas mais comuns. Estima-se que cerca de 250.000 pessoas morrem prematuramente a cada ano como resultado da asma (GINA, 2015; BOUSQUET, 2010). Apesar de universal, a ocorrência de asma não é uniforme e as prevalências variam entre 1% a 18% da população em diversos países. Os principais fatores responsáveis por essa variação certamente incluem diferenças genéticas entre as diversas etnias, as características ambientais locais e os meios diagnósticos empregados (GINA, 2015). Dados da organização Mundial da Saúde (OMS) permitem estimar que entre 100 a 150 milhões de pessoas em todo o mundo – 4 a 12% da população sofrem de asma, com as taxas aumentando em todos os grupos etários, embora essas tendências sejam mais marcantes entre as crianças. No Brasil, estima-se a prevalência da asma em torno de 10%. Na faixa etária pediátrica, o estudo ISAAC realizado nas cidades de Recife, Salvador, Itabira, Uberlândia, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, concluiu que 13,3% das crianças na faixa etária de 6 a 7 anos e 13 a 14 anos eram asmáticas (SOLÉ, 2006). 2/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria Pacientes com asma grave apresentam maior morbimortalidade relativa, e são responsáveis por um consumo desproporcionalmente alto dos recursos de saúde em relação aos grupos de menor gravidade. Portadores de asma grave não controlada procuram 15 vezes mais as unidades de emergência médica e são hospitalizados 20 vezes mais que os asmáticos moderados (JARDIM, 2007). O Brasil está em 8º lugar no ranking mundial em prevalência da asma (OLIVEIRA, 2010). Segundo dados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), do Ministério da Saúde, apontam que a asma atinge de 10% a 25% da população brasileira e é responsável, anualmente, por 400 mil internações hospitalares e 2.500 óbitos, além de um número incontável de atendimentos ambulatoriais. Em 2011 foram registradas também pelo DATASUS 160 mil hospitalizações em todas as idades, constituindo-se a quarta causa de hospitalizações pelo Sistema Único de Saúde e a terceira, entre crianças e adolescentes (SBPT, 2012). No Brasil, apenas na rede pública de saúde (SUS), quase mil hospitalizações diárias foram motivadas pela asma na última década, o que representou um custo próximo a R$100 milhões por ano ao SUS. Crianças com menos que cinco anos foram as mais afetadas. As hospitalizações públicas respondem por cerca de 70% do número total. Assim, pode-se supor que o número total de hospitalizações anuais por asma seja próximo a 480 mil. Nas últimas três décadas, a asma foi responsável por seis mortes por dia, em média. Um terço das mortes por asma notificadas ocorreu entre crianças com menos de 15 anos e mais da metade das mortes por asma foram notificadas no grupo etário maior que 55 anos (OLIVEIRA, 2010). Sob o ponto de vista hospitalar, as crises agudas podem ser responsáveis por até 10% das admissões em Sala de Emergência e 2 a 7% das internações em UIT pediátrica. Estima-se que ao redor de um em cada 600 asmáticos apresentará um episódio de asma aguda grave no período de 1 ano (PIVA, GARCIA, 2014). 3/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria 1.2 Fisiopatologia O mecanismo envolvido na patogênese da asma ainda não é completamente conhecido, mas sabe-se que a asma é uma doença que atinge as vias aéreas, causando inflamação crônica nos brônquios. Esta inflamação é resultante de uma ampla e complexa interação entre células imunológicas e seus mediadores inflamatórios. Dentre as células imunológicas, destacam-se os mastócitos, eosinófilos, linfócitos T, macrófagos, neutrófilos e células dendriticas. Dentre os marcadores de inflamação, estão presentes a histamina, quimiocina, citocinas, eicosanoides (mediadores das respostas inflamatórias) e óxido nítrico. Há também o envolvimento das células estruturais brônquicas: células epiteliais, células musculares lisas, células endoteliais, fibroblastos, miofibroblastos e células nervosas (SBPT, 2012). Este processo inflamatório ocorre em todos os pacientes asmáticos, inclusive naqueles com asma de início recente, nas formas leves da doença e mesmo entre os assintomáticos (KUMAR, 2001; VIGNOLA, et. al., 1998). A resposta inflamatória alérgica tem inicio na ação conjunta entre alérgenos ambientais e algumas células que têm como função apresentá-los ao sistema imunológico, ou seja aos linfó-citos Th2. Estes, por sua vez, produzem citocinas (interleucinas 4 e 5), que ativam os mastócitos, eosinófilos e linfócitos B produtores de anticorpos IgE específicos ao alérgeno, responsáveis pela resposta inflamatória presente na atopia ou alergia e por consequência, na asma (ASBAI, 2006). A ação das células, junto com o potencial dos mediadores inflamatórios, leva à contração da musculatura lisa brônquica, ao edema da mucosa e a hipersecreção de muco. Esses fatores associados irão contribuir para o estreitamento das vias aéreas, levando a uma limitação variável ao fluxo aéreo e a sintomas intermitentes (ASBAI, 2006). Hiperresponsividade brônquica é a resposta broncoconstritora exagerada a estímulos que seriam inofensivos em pessoas normais, não asmáticos (SBPT, 2012). Essa resposta exacerbada causa danos a longo prazo, levando ao remodelamento das vias aéreas, que pode ser parcialmente reversível com terapia medicamentosa, ou até irreversível. 4/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria O estreitamento das vias aéreas é a via comum que leva ao aparecimento dos sintomas e às mudanças fisiológicas relacionadas à asma. Diversos fatores contribuem para o desenvolvimento desse estreitamento (Tabela 1). Tabela 1: Fatores responsáveis pelo estreitamento das vias aéreas na asma - Contração da parede do músculo liso dos brônquios – reversível com broncodilatadores. - Edema da mucosa brônquica pela resposta inflamatória. - Remodelamento da via aérea – não totalmente reversível com medicação. - Hipersecreção de muco e exsudato inflamatório – pode levar a oclusão da luz brônquica. Fonte: GINA (2015), NHLBI/WHO (2007). 1.3 Fatores de Risco para o Desenvolvimento e Expressão da Asma Sabemos que para uma criança desenvolver asma deve haver uma predisposição genética. Soma-se ao fator genético, uma variedade de determinantes ambientais que são denominados fatores de risco. A asma é, portanto, uma doença de causa multifatorial. A história parental de asma é considerada o marcador da predisposição genética. Crianças que possuem pais com história de asma têm maior risco de desenvolver a doença. Entretanto, a interação entre genética e ambiente na gênese da asma é complexa e ainda não completamente compreendida (DGS, 2014). A exposição aos alérgenos inalados, especialmente os de dentro do domicilio como poeira, pêlos de animais de estimação, baratas e mofo, constituem um fator de risco importante na asma alérgica. A presença de alergia alimentar também é considerada um fator de risco para o desenvolvimento de asma. O aleitamento materno é considerado um fator de proteção contra o desenvolvimento de doenças atópicas, principalmente em crianças com história familiar positiva para doenças alérgicas (TORO, et. al., 2014). Entre os fatores de risco estão também algumas infecções virais. A infecção viral pode causar danos ao epitélio respiratório, induzir inflamação e estimular reação imune e hiperresponsividade brônquica. O vírus sincicial respiratório e o parainfluenza são causadores de bronquiolite e podem levar a sintomas de asma na infância. Porém, outras 5/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria infecções precoces na vida, por exemplo sarampo, protegem contra o desenvolvimento de asma (TORO, et. al., 2014). O tabagismo passivo é um dos mais importantes fatores de risco para o desenvolvimento de sibilância/tosse recorrente ou sintomas de asma em qualquer época da infância, aumentando a gravidade do quadro e tornando o paciente menos responsivo ao tratamento com corticoides inalatórios e sistêmicos (GINA, 2015). A exposição à fumaça do cigarro pré e pós natal prejudica o desenvolvimento pulmonar do feto, aumentando a chance de aparecimento de sintomas da asma precocemente na infância (TORO, et. al., 2014). Filhos de mães fumantes têm quatro vezes mais chances de desenvolver chiado no primeiro anos de vida (TORO, et. al., 2014). Poluição atmosférica é nociva para todos e pode precipitar asma em indivíduos geneticamente susceptíveis (TORO, et. al., 2014). Outros irritantes como perfume e cloro podem provocar sintomas, especialmente em ambientes onde não há boa ventilação (TORO, et. al., 2014). Exercício físico pode desencadear sintomas de asma, no entanto exercício aeróbico não deve ser evitado. Existem evidências que a pouca atividade física na infância está ligada à asma na vida adula (TORO, et. al., 2014). Mudanças climáticas, extremos de temperatura e baixa umidade podem estar associados às exacerbações da asma (TORO, et. al., 2014). Fatores psicológicos, estresse crônico, podem desencadear sintomas de asma (TORO, et. al., 2014). Sexo masculino é um fator de risco para asma em crianças, no entanto, na idade adulta, a prevalência é maior em mulheres (TORO, et. al., 2014). A obesidade atualmente é considerada um fator para o desenvolvimento de sintomas de asma em ambos os sexos e em diferentes etnias (TORO, et. al., 2014). 1.4 Fatores de Risco para o Desenvolvimento de Exacerbações Agudas no Paciente Asmático Três ou mais visitas à emergência ou duas ou mais hospitalizações por asma nos últimos 12 meses; 6/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria Uso frequente de corticosteroide sistêmico; Uso corrente ou recente suspensão de corticoterapia; Crise grave anterior (necessitando intubação); Uso de dois ou mais tubos de aerossol dosimetrado de broncodilatadores/mês; Problemas psicossociais (p. ex., depressão, baixo nível socioeconômico, dificuldade de acesso à assistência, falta de aderência a tratamentos prévios); Comorbidades associadas (doença pulmonar, cardiovascular ou psiquiátrica); Asma lábil, com marcadas variações de função pulmonar ( > 30% do PFE ou do VEF previstos); Má percepção do grau de obstrução; Baixa idade (< 2 anos), (PIVA, GARCIA, 2014). 2 CLASSIFICAÇÃO CID 10 J45.0 – Asma alérgica J45.1 – Asma não-alérgica J45.8 – Asma mista J45.9 – Asma J45.9 – Asma não especificada J46 – Asma aguda grave/Estado de mal asmático. 3 DIAGNÓSTICO 3.1 Clínico O diagnóstico de asma se faz a partir da identificação de critérios clínicos e funcionais, obtidos pela anamnese, exame físico e exames de função pulmonar (espirometria). Em crianças até os cinco anos o diagnóstico é principalmente clínico, pela dificuldade de realização de provas funcionais (BRASIL, 2013). Suspeitar de asma em todas as crianças que apresentem episódios recorrentes de tosse e sibilância é essencial para o diagnóstico. Algumas crianças apresentam asma sem sibilância, mas essa é uma condição rara. A tosse 7/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria geralmente é seca ou com expectoração clara, ocorrendo, na maioria das vezes à noite ou pela manhã ao despertar. Outras características clínicas importantes de asma são mostradas na Tabela 2. Tabela 2: Características clínicas da asma - Dispneia, tosse crônica, sibilância, aperto no peito ou desconforto torácico, principalmente à noite ou nas primeiras horas da manhã; - Sintomas recorrentes; - Intercrise entre os diversos episódios: assintomática ou sintomática; - Idade de aparecimento dos sintomas e fatores relevantes associados; - Melhora dos sintomas de modo espontâneo ou pelo uso de medicações específicas para asma (broncodilatadores, anti-inflamatórios esteroides); - 3 ou mais episódios de sibilância no último ano; - Variabilidade sazonal dos sintomas e história familiar positiva para asma ou atopia; - Tosse seca frequente relacionada ao exercício físico, choro ou riso excessivo; - Tosse noturna ou dispneia nas madrugadas, despertar noturno pelos sintomas; - Crises de sibilância, dispneia e/ou tosse com inalação de poluentes, perfumes, cigarros ou outros alérgenos; - Exclusão dos diagnósticos diferenciais, de acordo com a faixa etária do paciente. Fonte: ASBAI (2006). O diagnóstico da asma deve ser baseado na anamnese, exame físico e, sempre que possível, em provas de função pulmonar e na avaliação da alergia (RIZZO; HIRSCHHEIMER, 2004). Anamnese: Sintomas recorrentes de obstrução das vias aéreas, como chiado e aperto no peito, tosse, dificuldade para respirar, principalmente à noite ou pela manhã ao despertar; e que podem ser desencadeados com exercício, infecção respiratória, exposição a alérgenos/irritantes inalatórios, mudanças climáticas, riso ou choro intensos (principalmente em lactentes), estresse e ciclo menstrual. É importante questionar sobre despertares noturnos, e se há melhora espontânea ou com o uso de medicações específicas para asma (broncodilatadores, antiinflamatórios esteroides). Exame físico: A obstrução na asma é variável e os achados ao exame físico estão frequentemente ausentes. Devido a esses fatores, o exame físico pode ser normal, mesmo com doença presente. Durante a crise é muito importante avaliar a gravidade da mesma. Deve-se verificar os pulsos, a frequência cardíaca, frequência respiratória, uso da musculatura acessória, 8/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria ausculta pulmonar (presença de sibilos e redução do murmúrio vesicular) e também avaliar o nível de consciência. Em crises moderadas e graves, pode ocorrer batimento de asa de nariz, especialmente em crianças, fala interrompida, agitação, taquipnéia, retração de arcos costais, retração subdiafragmática ou de fúrcula e aumento do diâmetro ântero-posterior do tórax. Sibilos intensos e prolongados, audíveis nas duas fases da respiração, associam-se a um maior grau de obstrução, porém na obstrução grave pode haver ausência de sibilos. Nestes casos, outros sinais de gravidade estarão presentes e a melhora da obstrução poderá resultar em surgimento de sibilos ao exame físico. Na intercrise deve-se procurar por sinais de atopia, como palidez de cornetos nasais anteriores e lesões de pele sugestivas de dermatite atópica 3.1.2.1 (PIVA, GARCIA, 2014; SBPT, 2012) 3.2 Testes Funcionais Devem ser usados sempre que possível. Entretanto, espirometria e medidas seriadas de PFE possuem limitações intrínsecas, associadas à idade (menores de 5 anos) (PIVA, GARCIA, 2014). 3.2.1 Espirometria É o método de escolha na determinação da limitação ao fluxo de ar e estabelecimento do diagnóstico de asma. Seu uso é limitado em crianças pequenas (menores de 5 anos) devido a dificuldades técnicas na realização das manobras inspiratórias e expiratórias necessárias para um exame adequado (PIVA, GARCIA, 2014; SBPT, 2012). Existem técnicas para avaliação funcional respiratória de lactentes (manobras de expiração forçada), porém não é um exame realizado de rotina na maioria dos centros que atendem crianças asmáticas. Esses testes devem ser realizados com as crianças sedadas e com monitorização de oximetria contínua. Os exames de função pulmonar informam sobre a intensidade da limitação ao fluxo aéreo, sua reversibilidade e variabilidade. A espirometria é útil para diagnóstico, avaliação da gravidade, monitorização e avaliação da resposta ao 9/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria tratamento. O volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) pósbroncodilatador é o melhor parâmetro espirométrico para avaliar mudanças em longo prazo na função pulmonar, sendo um indicador de progressão da doença. Os achados funcionais pulmonares compatíveis com asma são os seguintes: a) Espirometria demonstrando limitação ao fluxo aéreo de tipo obstrutivo, variável: VEF1/capacidade vital forçada (CVF) menor que 80%, com reversibilidade (resposta significativa ao broncodilatador), definida por aumento do VEF1 após inalação de beta-2 agonista de curta duração (400 mcg de salbutamol/fenoterol, após 15 a 30 minutos) de pelo menos: – 7% em relação ao valor previsto e pelo menos 200 ml em valor absoluto, ou – 12% em relação ao seu valor pré-broncodilatador e pelo menos 200 ml em valor absoluto. Lembrar que a espirometria pode ser normal no período intercrise na asma leve. 3.2.2 Pico de fluxo expiratório A medida do pico de fluxo expiratório (PFE) serve para avaliar a variabilidade da obstrução; auxilia a monitorização clínica e a detecção precoce de crises, especialmente em pacientes com baixa percepção dos sintomas de obstrução. Nas exacerbações, medidas seriadas de PFE tem pouca confiabilidade em crianças e adolescentes, pois a dispnéia impede verificações confiáveis dessa manobra esforço-dependente. Para que essas medidas tenham algum valor é importante que o paciente já conheça o método e já o tenha feito alguma fez. A manobra de PFE é realizada 3 vezes, e o melhor resultado dos três é expresso em porcentagem como a melhor marca pessoal, sendo útil na avaliação da resposta terapêutica (PIVA, GARCIA, 2014; SBPT, 2012). A variação diurna do PFE pode ser utilizada para se documentar a obstrução do fluxo aéreo. São indicativos de asma: a) aumento de pelo menos 10/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria 15% no PFE após inalação de um broncodilatador ou curso oral de corticosteroide; b) variação diurna no PFE maior que 20% (diferença entre a maior e a menor medida do período) considerando medidas feitas pela manhã e à tarde, ao longo de um período de duas a três semanas. O PFE avalia grandes vias aéreas, é esforço-dependente, produz medidas de má qualidade e seus valores variam entre diversos aparelhos. 3.2.3 Teste de broncoprovocação O teste para demonstração de hiperresponsividade brônquica pode ser usado no processo diagnóstico, havendo suspeita clínica (sintomas compatíveis) e espirometria normal; deve ser realizado em serviços especializados. A hiper-responsividade brônquica pode ser medida através da inalação de substâncias broncoconstritoras (metilcolina, carbacol e histamina) ou pelo teste de broncoprovocação por exercício. São testes particularmente importantes para decisão diagnóstica, especialmente nos casos de manifestação de tosse crônica ou dispnéia com espirometria normal (SBPT, 2012). 3.2.4 Medidas do estado alérgico A avaliação de atopia requer, além de anamnese detalhada, confirmação da sensibilização alérgica por testes cutâneos (por punctura) e/ou por concentrações séricas de IgE específica. Ambos são adequados para verificar a sensibilização do paciente a alérgenos específicos. O teste cutâneo por punctura (prick test) deve ser realizado com técnica adequada e utilizando estratos de alérgenos padronizados. Os resultados dos testes cutâneos e/ou dosagem sérica de IgE específica (RAST) deverão sempre ser relacionados com história clínica e exame físico. Em nosso meio, os aeroalérgenos mais comuns são: ácaros, fungos e pólens, antígenos de cães, gatos e baratas. 3.3 Classificação da Intensidade da Crise As crises de asma devem ser classificadas de acordo com sua gravidade e o tratamento instituído de maneira mais precoce possível. Toda crise deve ser 11/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria considerada uma situação de risco potencial onde, tanto uma falha no reconhecimento, quanto um atraso na adoção de medidas terapêuticas efetivas, pode vir a colocar em risco a vida do paciente pediátrico (PIVA, GARCIA, 2014). Alguns achados de exame físico apresentam uma boa correlação com a gravidade do quadro: o uso da musculatura acessória correlaciona-se muito bem com o grau de obstrução da via aérea (PEFR e VEF1 ao redor de 50% do previsto para a idade). O estado de consciência está diretamente relacionado ao grau de fadiga e hipoxemia, confusão mental e obnubilação são dados de avaliação tardia e estão associados a quadros de extrema gravidade. O uso da musculatura acessória, principalmente do esternocleidomastóide, é o item isolado que melhor se correlaciona com a gravidade e da crise, estando associado a níveis de Volume Expiratório Forçado em 1 segundo (VEF1) menores que 50% do previsto para idade (PIVA, GARCIA, 2014). Sinais de gravidade, principalmente PFE (em pacientes com mais de 5 anos), frequência cardíaca, respiratória e Oximetria de pulso devem ser utilizadas para determinar a intensidade da crise, e a partir daí, determinar o tratamento desta. A Oximetria de pulso é útil na avaliação e no acompanhamento da gravidade da crise. A saturação de hemoglobina obtida pela oximetria de pulso é a melhor medida objetiva, sendo que valores inferiores 93% em ar ambiente, sugerem crises mais graves, necessitando de acompanhamento mais cuidadoso e tratamento mais agressivo (BORGES, W, et. al., 2011). Já o PFE avalia a variabilidade da obstrução das vias aéreas; auxilia a monitorização clínica e a detecção precoce de crises, especialmente em pacientes com baixa percepção dos sintomas de obstrução. Nas exacerbações, medidas seriadas de PFE tem pouca confiabilidade em crianças e adolescentes, pois a dispnéia impede verificações confiáveis dessa manobra esforçodependente. Para que essas medidas tenham algum valor é importante que o paciente já conheça o método e já o tenha feito alguma fez. A manobra de PFE é realizada 3 vezes, e o melhor resultado dos três é expresso em porcentagem 12/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria como a melhor marca pessoal, sendo útil na avaliação da resposta terapêutica (PIVA, GARCIA, 2014; SBPT, 2012). Avaliação continuada e a quantificação da gravidade são fundamentais para acompanhar a evolução e a resposta terapêutica (reversibilidade) e inclusive, a instituição de mediadas terapêuticas mais agressivas. Para essa avaliação é aconselhável que se utilizem um conjunto de dados e em função dos achados se classifique a crise conforme a gravidade (Tabela 3). O atraso na adoção de medidas terapêuticas pode levar a um desfecho clínico desfavorável, por isso é importante que os serviços de Emergência estejam aptos a prestar atendimento ao paciente durante a crise, e na impossibilidade transitória ou mesmo definitiva disso, devem garantir acesso a leito em unidade intensiva (PIVA, GARCIA, 2014). Tabela 3: Classificação da intensidade das exacerbações em crianças e adultos. Intensidade das exacerbações Impressão clínica geral Sem alterações Sem alterações Estado mental Normal Normal ou agitação Dispnéia Ausente ou leve Moderada Frases incompletas No latente: choro curto, dificuldade alimentar Muito grave (insuficiência respiratória) Cianose, sudorese, exaustão Agitação, confusão, sonolência Intensa Frases curtas ou monossilábicas No lactente: dificuldade alimentar Retrações acentuadas Retrações acentuadas Achados Leve a moderada Frases completas Fala Musculatura b acessória Retrações leves/ausentes Sibilância FR, ciclos/min c Ausentes com MV normal, localizados ou difusos Normal ou aumentada FC, bpm PFE, % previsto SpO2, % PaO2, mmHg PaCO2, mmHg Grave Localizados ou difusos Aumentada Ausentes com MV diminuídos Aumentada > 140 ou bradicardia ≤ 110 > 110 > 50 30-50 < 30 > 95 Normal 91-95 Ao redor de 60 ≤ 90 < 60 < 40 < 45 ≥ 45 a MV: murmúrio vesicular. A presença de vários parâmetros, mas não necessariamente de todos b indica a classificação geral da crise. Músculos intercostais, fúrcula ou esternocleidomastoideo. c FR em crianças normais: < 2 meses, < 60 ciclos/min; 2-11 meses, < 50 ciclos/min; 1-5 anos, < 40 ciclos/min; 6-8 anos, < 30 ciclos/min; e > 8 anos, igual a FR para adultos. Fonte: GINA (2015), SBPT (2012) 13/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria 3.4 Diagnósticos Laboratoriais 3.4.1 Gasometria arterial Nos casos de sofrimento respiratório mais intenso, associados ou não a hipoxemia, a avaliação através da gasometria arterial (pH, pCO2, pO2 e bicarbonato) torna-se necessária, pois permite inferir de forma objetiva os estágios evolutivos associados à insuficiência respiratória e à resposta terapêutica. A avaliação da oxigenação pode ser realizada através da relação pO2/FiO2 (quando inferior a 250 reflete grave comprometimento na relação ventilação: perfusão). Na asma aguda grave, nenhum teste substitui ou é superior à gasometria arterial para avaliação da gravidade, devendo ser realizada em todos esses pacientes, em que um manejo terapêutico mais agressivo faz-se necessário (PIVA, GARCIA, 2006,2014). Ou seja, deve ser feita em pacientes com sinais de gravidade, PFE menor de 30% do predito após tratamento, quando a saturação de O2 for menor que 92% na avaliação inicial em ar ambiente, em pacientes que não respondam ao tratamento inicial, ou quando houver uma piora dos sintomas mesmo com o uso do tratamento com broncodilatador pleno ou na iminência de intubação e ventilação mecânica (DALCIN, 2000). O paciente deve continuar com a suplementação de oxigênio enquanto o exame é realizado. Para decisões terapêuticas, os parâmetros da gasometria arterial só devem ser interpretados se correlacionados ao quadro clínico. A análise evolutiva das alterações gasométricas, frente ao tratamento pleno da crise asmática, possibilita avaliar se a situação do paciente está melhorando ou piorando e contribui para a decisão de intubação endotraqueal e ventilação mecânica (LEATHERMAN, 1994). Piora da dispneia, uso intenso da musculatura assessória, diminuição do estado de consciência, queda da PO2, aumento progressivo da PCO2 ou redução no pH<7,35 indicam falência respiratória e devem alertar para necessidade de intubação traqueal (PIVA, GARCIA, 2006,2014). 14/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria 3.4.2 Outros exames laboratoriais Um hemograma deve ser solicitado quando há suspeita de infecção – o leucograma tem pouco valor em razão do estresse, do uso de adrenérgicos e corticoides, sendo a leucocitose um achado comum. Importante também é verificar a taxa de hemoglobina, que deve estar acima de 10g% em pacientes com insuficiência respiratória (PIVA, GARCIA, 2014; SBPT, 2012). Em pacientes críticos, com asma aguda grave, opta-se também pela dosagem sérica dos eletrólitos, principalmente o K, para monitorar a hipopotassemia, em razão da possível utilização de grandes doses de betaadrenérgicos. Essa dosagem é indicada quando há coexistência com doenças cardiovasculares, uso de diuréticos ou altas doses de beta-2 agonistas, especialmente se associados a xantinas e corticosteróides (SBPT, 2012). 3.5 Radiológico O raio X de tórax tem papel limitado na crise aguda, podendo ser realizado para excluir outros diagnóstico (corpo estranho por ex), avaliar presença de pneumotórax (incomum na criança) ou detectar complicações bacterianas, tais como pneumonia ( achado infrequente em associações com asma aguda). Áreas mal ventiladas com formação de pequenas atelectasias são comuns, porém algumas vezes difíceis de diferenciar de processos infecciosos (PIVA, et. al., 1998). É freqüentemente normal (> 80%), mesmo durante a crise aguda, e quando anormal, os achados são inespecíficos, como a hiperinsuflação e o espessamento da parede brônquica (MISODOR, 2008). O exame radiológico de tórax deve ser solicitado nas seguintes situações (Tabela 4): 15/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria Tabela 4: Situações que justificam a solicitação do RX na crise de asma - Crises graves - Complicação cardiopulmonar; - Insuficiência respiratória iminente; - Pacientes que necessitam internação; - Pacientes que não responderam ao tratamento inicial; - Suspeita de pneumotórax e/ou pneumomediastino; - Suspeita de pneumonia ou atelectasia - Presença de co-morbidades (ex. insuficiência cardíaca, bronquiectasias, imunodepressão); - Investigação de diagnósticos diferenciais. Fonte: Recomendações para o tratamento da crise asmática em unidades de pronto atendimento. Disponível em: http://www.saudedireta.com.br/docsupload/1340227992_crise_asmatica.pdf. Acesso em janeiro 2016. Ao se indicar a investigação radiológica, deve-se tomar o cuidado que esse procedimento não venha acarretar atraso ou suspensão da terapêutica e da monitorização. 3.6 Diagnóstico diferencial Embora a tosse e o chiado sejam achados clínicos comuns na criança com asma, estes não são patognomônicos, por isso é importante atentar para o diagnóstico diferencial. Algumas condições são características das diferentes faixas etárias. Quanto mais jovem é a criança maior o espectro de patologias que entram no diagnóstico diferencial (ELLOVITCH, 1997). Sibilância é uma condição frequente na infância, e metade das crianças irão experimentar pelo menos um episódio de sibilância antes de um ano de vida. Mas é importante lembrar de que "nem tudo que sibila é asma" e que várias condições podem mimetizar asma aguda em crianças. Embora este diagnóstico diferencial seja relativamente simples, sua importância não deve ser subestimada. Por outro lado, deve-se ressaltar que a exacerbação asmática grave pode ocorrer sem a presença de sibilos, situação que pode não ser diagnosticada ou ter sua gravidade subestimada (TORO, 2014). Em crianças com alta probabilidade da doença, sem doença grave, uma prova terapêutica deve ser realizada, e exames complementares solicitados apenas se a resposta clínica for insatisfatória (ALVIM, 2012). 16/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria Em casos de doença grave ou de falta de reposta à prova terapêutica, a exclusão de causas alternativas é indispensável e inclui os diagnósticos diferenciais: Tabela 5: Diagnóstico diferencial de sibilância (que não asma) na infância Sibilância Aguda Infecções virais (bronquiolite viral aguda, pneumonias virais) Aspiração de corpo estranho Pneumonia por micoplasma, pneumoniae, pertussis clamídia Sibilância Crônica ou Recorrente Anormalidades estruturais da árvore traqueobrônquica - Laringotraqueobroncomalácea; - Malformações congênitas; - Tumores mediastinais. Doenças cardiovasculares - Anel vascular; - Cardiopatias congênitas; - ICC. Síndromes aspirativas - Aspiração de CE; - DRGE; - Distúrbios da deglutição; - Fístula traqueoesofágica. Fibrose cística Displasia broncopulmonar Bronquiolite obliterante Sibilos de início agudo - Sintomas de IVAS precedendo o quadro. - história de contato com crianças em creches ou adultos com quadro de IVAS. - Início súbito; - história de “engasgo”; - sibilos localizados. microplasma/clamídia - Idade escolar; - Febre baixa; - Faringite, cefaleia ou sintomas gastrointestinais associados; - Exatema (pode ocorrer). - Tosse seca, irritativa, com “guincho”; - Esquema vacinal incompleto. Bronquiolite viral aguda Pneumonia viral Aspiração de CE Pneumonia pneumoniae Coqueluche por Laringotraqueomalácea Malformações congênitas Tumores mediastinais Anel vascular Cardiopatias congênitas/ICC Sibilos crônicos/recorrentes - Estridor localizado; - Início precoce (nos primeiros 3 meses de vida); - Piora com choro ou agitação. - Imagens “persistentes” no RXT; - Sibilos localizados. Quadro progressivo evoluindo para insuficiência respiratória. - Início precoce; - Estridor bifásico; - Dificuldade alimentar/vômitos devido à compressão esofágica. -Sinais/sintomas cardiovasculares associados. 17/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria Aspiração de CE DRGE Distúrbios da deglutição Fístula traqueoesofágica Fibrose cística Displasia broncopulmonar Bronquiolite obliterante - Sibilos localizados; - Imagens persistentes no RXT. - Vômitos/regurgitações freqüentes; - Tosse após as mamadas. - Doenças neurológicas associadas; - Pneumonias de repetição; - Tosse e/ou engasgos durante as mamadas. - Tosse/cianose durante mamadas; -Pneumonias recorrentes. - História familiar de FC; - Baixo peso/estatura; - Diarréia crônica. - Prematuridade; - Uso prolongado de O2 no período neonatal. - História de BVA grave. Crianças <5 anos - Rinossinusite; - Doença pulmonar crônica da prematuridade e malformações congênitas; - Fibrose cística, bronquiectasias, bronquiolite obliterante pós-infecciosa e discinesia ciliar; - Síndromes aspirativas (refluxo gastroesofágico, distúrbios de deglutição, fístula traqueoesofágica e aspiração de corpo estranho); - Laringotraqueobroncomalácia, doenças congênitas da laringe (estenose e hemangioma) e anel vascular; - Tuberculose; - Cardiopatias; - Imunodeficiências. Crianças >5 anos e adultos - Rinossinusite; - Síndrome de hiperventilação alveolar e síndrome do pânico; - Obstrução das vias aéreas superiores (neoplasias e aspiração de corpo estranho); - Disfunção das cordas vocais; - Doença pulmonar obstrutiva crônica e outras condições obstrutivas das vias aéreas inferiores (bronquiolites, bronquiectasias e fibrosa cística); - Doenças difusas do parênquima pulmonar; - Insuficiência cardíaca diastólica e sistólica; - Doenças da circulação pulmonar (hipertensão e embolia). Fonte: SBPT (2012). 4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Serão incluídos neste Protocolo os pacientes de 28 dias até os 12 anos de idade que apresentarem sinais, sintomas e achados de função pulmonar (espirometria ou teste de hiperresponsividade brônquica) compatíveis com o diagnóstico de asma. Exames de função pulmonar deverão ser exigidos a partir dos 5 anos. 18/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria 5 CRITÉRIO DE EXCLUSÃO Crianças acima de 12 anos, adultos e idosos. Crianças com diagnóstico de outras causas de sibilância, dispnéia ou tosse recorrente, que não asma. 6 TRATAMENTO Os objetivos do tratamento da crise de asma são reverter a obstrução ao fluxo aéreo e a hipoxemia o mais rápido possível, além de traçar um plano de prevenção para crises futuras (GINA, 2015). O tratamento medicamentoso da crise baseia-se na administração de broncodilatadores, corticoides sistêmicos e na suplementação de oxigênio (SBPT, 212). Este deve ser baseado no quadro clínico e, quando possível, na avaliação da medida do PFE ou da saturação de oxigênio no sangue arterial. O tratamento da crise de asma deve sempre compreender a adoção de medidas terapêuticas gerais associadas a uma terapêutica medicamentosa complementar, sempre com reavaliação da evolução do quadro (PIVA, GARCIA, 2014). O manejo inicial da crise aguda, realizado de maneira correta, ajuda a determinar um curso evolutivo favorável da doença. É a partir do tratamento inicial que o prognóstico da crise pode ser delineado. Atenção para aqueles pacientes que já usam medicações preventivas (corticoides inalatórios ou moduladores de leucotrienos), pois não devem parar o tratamento durante o manejo farmacológico adicional da crise e nem após o seu controle. Já no caso de B2 agonistas de longa duração, estes devem ser suspensos toda vez que uma droga B2 agonista de curta duração for utilizada em intervalos menores que 4horas. a) Medidas Gerais: – Posição: manter preferencialmente decúbito elevado – Hidratação: iniciar com solução de manutenção, a fim de atender as necessidades fisiológicas da idade. Situações especiais podem necessitar de aumento de aporte hídrico (desidratação ou aumento de 19/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria perdas insensíveis) ou necessitar de restrição hídrica (edema pulmonar, SIHAD). Portanto, a avaliação da hidratação do paciente é de extrema importância para determinação do volume de infusão a ser administrado. – Dieta: NPO inicial, até a estabilização dos sinais de desconforto respiratório e possibilidade de aumento no intervalo das nebulizações. – Ambiente: calmo e organizado, com manuseio mínimo da criança, para passar tranquilidade ao paciente. É importante a presença dos pais. – Monitorização: verificar sinais vitais (pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória), nível de consciência, pulso paradoxal, ausculta pulmonar, saturação de oxigênio. Avaliar capacidade funcional pulmonar sempre que possível (PIVA, GARCIA, 2014). 6.1 Oxigênio Em crianças a meta é manter a saturação de O2 maior ou igual a 94-95%. Recomenda-se o uso de oxigênio umidificado, que pode ser administrado por máscara facial (simples, com reservatório, Venturi) ou cateter nasal. A escolha do modo como será ofertado o oxigênio deve ser determinada pelo grau de hipoxemia, sinais clínicos de disfunção respiratória e grau de adaptação e/ou conforto do paciente ao sistema a ser utilizado. Idealmente, as nebulizações com broncodilatadores devem ser realizadas com oxigênio, uma vez que o uso de broncodilatadores em crises graves pode causar uma transitória queda da saturação (PIVA, GARCIA, 2006; PIVA, GARCIA, 2014; FIORETTO, 2013). 6.2 Terapia Broncodilatadora- B2 Agonista Inalatório B2 agonista inalatório é primeira escolha de drogas a ser administrada na crise de asma aguda. Doses adequadas e repetidas da medicação por via inalatória a cada 20 a 30 minutos ao longo de uma ou duas horas constituem a medida inicial de tratamento (PIVA, GARCIA, 2014). Essas drogas devem ser administradas por nebulizador a jato (com droga veiculada em 3 – 4 ml de solução salina, com fluxo de 6-8 litros de oxigênio) ou 20/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria inaladores pressurizados dosimetrados (sprays) com espaçadores (PIVA, GARCIA, 2014). O efeito do β2 agonista de curta duração administrado por aerossol dosimetrado acoplado a espaçador é semelhante ao obtido por nebulizador de jato, sendo eficaz mesmo em casos de crises graves. Em quadros leves a moderados, a opção inicial, na maioria das vezes, é o uso de spray acoplado a espaçador (PIVA, GARCIA, 2014). β2 agonistas devem sempre ser a opção inicial dentro de qualquer protocolo assistencial direcionado para controle das exacerbações agudas ao longo de toda abordagem terapêutica, podendo ser administradas em esquemas posológicos variados, como na tabela abaixo (PIVA, GARCIA, 2014). Sistemas de nebulização contínua podem ser uma alternativa em pacientes pediátricos, principalmente naqueles que não tiveram boa resposta à administração da droga de maneira intermitente frequente, ou até mesmo na abordagem inicial do tratamento inalatório (PIVA, GARCIA, 2014). Tabela 6: Esquemas posológicos Esquemas posológicos – β2 agonistas inalatórios Nebulização intermitente regular (Salbutamol/Fenoterol): 0,07-0,15 mg/kg (máx. 5 mg). Intervalos regulares de até 1 hora. Nebulização intermitente frequente (Salbutamol/Fenoterol): 0,07-0,15 mg/kg (máx. 5 mg). Intervalos regulares de 20 minutos. Deve ser indicada na falha da resposta terapêutica à nebulização com intervalos regulares de 1 hora, bem como um parâmetro da necessidade de internação (em sala de observação ou leito hospitalar) após 1-2 horas de terapêutica. Nebulização continua (Salbutamol): 0,5 mg/kg/h. administrada em sistema paralelo de bomba de infusão, com volumes variáveis de solução salina (em função do tempo programado de administração), e taxas de infusão de 14 mL/h. Melhor tolerância do sistema em pacientes com faixa etária superior a 4 anos. Inaladores pressurizados dosimetrados (acoplado a espaçador): doses variáveis. Recomendamos 50 ug/kg. Um puff/2 kg de peso – máximo 10 puffs). Frequência: Intermitente frequente (a cada 20 minutos), intermitente regular (intervalos de 1 a 4 horas). Aspectos relacionados com a escolha adequada do dispositivo (espaçador) e intervalos mínimos de 15 segundos entre cada puff podem influenciar a resposta clínica a ser obtida. Fonte: Tabela adaptada de PIVA, GARCIA, 2014. 6.3 Corticosteroides Corticosteroides reduzem a inflamação, exercendo papel de interação com os B-adrenérgicos, aceleram a recuperação e diminuem o risco de crise fatal. Os 21/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria pacientes atendidos na emergência devem receber corticosteroides sistêmicos precocemente, já na primeira hora de atendimento. O atraso no uso de corticosteroides ou a não administração são citados como fator de risco para a morte durante a exacerbação da asma (BENATAR, 1986). É a única medicação que evita a recidiva dos sintomas e reduz a taxa de hospitalização (LITTENBERG, GLUCK, 1986). Os usos de corticosteroide por via oral ou endovenosa têm efeito equivalente (PIVA, GARCIA, 2014). Na asma aguda grave e para pacientes com impossibilidade de via oral, a via intravenosa deve ser a rota de escolha (Hidrocortisona 5mg/kg de 6/6h ou metilprednisolona 1mg/kg de 6/6h), (PIVA, GARCIA, 2014). Não há evidências suficientes que indiquem a utilização dos CI na crise em substituição aos corticosteroides sistêmicos, uma vez que estes apresentam menos eficácia clínica quando comparados às rotas orais ou parenterais (PIVA, GARCIA, 2014). Pacientes com alta clínica do serviço de emergência devem receber prescrição de corticoterapia oral por 5 a 7 dias (prednisona/prednisolona: 12mg/kg/dia, máximo de 60mg/dia) (PIVA, GARCIA, 2014). 6.4 Anticolinérgicos São drogas complementares que podem ser utilizadas de maneira aditiva em alguns pacientes portadores de quadro agudo de asma assistidos em ProntoSocorro ou Serviços de Emergência. Anticolinérgicos (Brometo de Ipratropio) geralmente são utilizados em conjunto com os B2 agonistas para manejo de crise aguda mais grave, uma vez que de maneira isolada eles têm menor atividade broncodilatadora, são menos potentes e têm inicio de ação mais lento. A droga anticolinérgica padrão empregada no tratamento da asma aguda na sala de emergência é o brometo de ipratrópio (solução para inalação com 0,25mg/ml ou spray com 0,020mg/jato). Na abordagem inicial de uma crise asmática, Brometo de Ipratropio, quando associado às nebulizações intermitentes frequentes com drogas B2 22/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria agonista, parece diminuir a necessidade de admissão em sala de observação ou unidade hospitalar. Não existem evidências que sua utilização modifique o curso da doença em pacientes já hospitalizados, mas seu uso parece estar associado a uma melhora na função pulmonar. Doses recomendadas: 0,125 mg (0,5 ml) até 10kg; 0,250 mg (1,0ml) acima de 10 kg. Frequência: intervalos de 4 a 6 horas. Pode ser utilizado de forma intermitente frequente a cada 20 minutos, em associação as drogas B2 agonistas por 1 ou 2 horas (3 a 6 nebulizações), na tentativa de diminuir a necessidade de admissão hospitalar como já referido (pré hospitalização). 6.5 Sulfato de magnésio A administração intravenosa de sulfato de magnésio tem sido proposta como forma adjuvante de tratamento para as exacerbações mais graves, sendo a melhor indicação para os pacientes refratários à terapêutica inalatória com β2 agonista de curta duração. O sulfato de magnésio parece diminuir as taxas de internação e melhorar o VEF1 em pacientes com asma grave (VEF1 < 25% do previsto) (BLOCH , et. al., 1995). Também parece diminuir a necessidade de intubação e ventilação mecânica (SCHIERMEYER, FINKELSTEIN, 1994). Outro benefício do emprego da droga é o efeito estabilizador na musculatura cardíaca, que pode atenuar a taquicardia resultante do uso de β2 agonista (PIVA, GARCIA, 2014). Dose recomendadas: 25 a 100 mg/kg, via IV, administrado em 20 minutos (dose máxima de 2g). efeito clínico observado dentro de 1 a 2 horas após infusão (PIVA, GARCIA, 2014). É considerada uma droga segura e seus principais efeitos colaterais são rubor cutâneo e náuseas, geralmente durante a infusão. Fraqueza, arreflexia e depressão respiratória podem ocorrer com níveis séricos muito elevados (>12mg/dL) (PIVA, GARCIA, 2014). 23/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria 6.6 Aminofilina Essa droga tem pouco benefício no manejo inicial de crises agudas em pronto socorro na população pediátrica. Não deve ser administrado em quadros leves e moderados. Seu nível terapêutico é muito próximo da toxicidade. Uma vez prescrita, a monitoração dos seus níveis plasmáticos é obrigatória (PIVA, GARCIA, 2014). Doses recomendadas (Aminofilina IV). Ataque: 6mg/kg. Manutenção < 10kg: 0,65mg/kg/h; >10kg: 0,9mg/kg/h (PIVA, GARCIA, 2014). Foi demonstrado que o uso da aminofilina na asma aguda não oferece efeito broncodilatador adicional ao tratamento com beta-agonista (FANTA, et. al., 1986, RODRIGO, et. al., 1994), e ainda aumenta significativamente os efeitos colaterais como náusea, vômito, tremor e ansiedade (SIEGEL, et. al., 1985, RODRIGO, et. al., 1994). Em pacientes muito graves, hospitalizados, ela poderá ser considerada como tratamento adjuvante (RODRIGO, et. al., 1994, PARAMESWARAN, et. al., 2000). 6.7 Terapia β2 Agonista por Via Intravenosa Indicada em pacientes pediátricos com asma aguda grave que não obtiveram resposta ao tratamento convencional, apresentando sinais de fadiga ou sofrimento respiratório moderado a grave. Doses recomendadas (Salbutamol): iniciar com infusão de 1-2mcg/kg/min com aumentos nas taxas de infusão a cada 20 minutos. Dose máxima: controversa (5-15mcg/kg/min). Essa droga também pode ser utilizada ainda no serviço de emergência quando for detectada falha na resposta clínica com as nebulizações intermitentes frequentes ou contínuas inicialmente administradas. Nesta situação, as doses recomendadas são: infusão em bolo (15mcg/kg – durante 10 a 15 minutos) administrada conjuntamente a terapêutica convencional inalatória. 6.8 Cetamina Anestésico dissociativo com propriedades broncodilatadoras por uma combinação de ações: aumento de catecolaminas circulantes, relaxamento direto 24/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria da musculatura lisa e inibição do tônus muscular vagal. Sedativo indicado usado para intubação traqueal e manutenção do paciente em suporte ventilatório (PIVA, GARCIA, 2014). Sua utilização em pacientes não intubados é controversa. Lembrar que o uso da cetamina aumenta a secreção nas vias aéreas. Ação da medicação em 2 min, duração de 10-30 min. Dose de ataque: 12mg/kg e velocidade de infusão contínua de 0,5-2mg/kg/h. 6.9 Mistura Gasosa de Hélio-Oxigênio (Heliox) Em pacientes com doença obstrutiva ocorre um aumento progressivo da frequência respiratória para compensar a redução do volume corrente. Essa taquipnéia promove um fluxo turbulento na traquéia, ao qual se atribui a sensação de dispnéia referida por esses pacientes. A mistura de hélio e oxigênio (Heliox) tem sido utilizada com sucesso no manejo dos pacientes com bronquiolite viral aguda, asma aguda grave e laringite viral aguda. Sua principal vantagem seria a promoção de um fluxo mais laminar nas grandes vias aéreas, diminuindo o esforço respiratório. Poderia ser usado também como veículo de nebulização em pacientes com obstrução importante de vias aéreas inferiores, em substituição ao oxigênio, para promover uma maior deposição pulmonar das partículas inaladas. Em pacientes com obstrução leve, o efeito benéfico do Heliox não pode ser comprovado. 6.10 Ventilação Não Invasiva (VNI) Método de suporte ventilatório que dispensa a intubação traqueal exige menos sedação, evita lesão da via aérea e reduz o trabalho respiratório. Porém, nem sempre é bem tolerada por alguns pacientes. É instalada uma interface entre o respirador e o paciente (máscara nasal ou oral e nasal) que deve ser muito bem ajustada à face para evitar escape aéreo. Pressões inspiratórias (IPAP) e expiratórias (EPAP) são fornecidas ao paciente através desse sistema. 25/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria Não existem parâmetros objetivos para indicação ou suspensão da VNI na asma, sendo com base em avaliações subjetivas. São contraindicações para o uso de VNI: instabilidade hemodinâmica, alterações do sensório, apnéia e malformações craniofaciais. 6.11 Intubação Endotraqueal e Ventilação Mecânica Felizmente, a grande maioria dos pacientes com asma aguda grave pode ser manejada sem intubação endotraqueal e ventilação mecânica. Em algumas circunstâncias, entretanto, este procedimento pode ser imperativo para salvar a vida do paciente (LEATHERMAN, 1994). Falência respiratória iminente, rebaixamento do sensório, parada respiratória, parada cardíaca ou ainda comprometimento hemodinâmico associado, são as mais importantes indicações de intubação traqueal na crise de asma. A acidose respiratória, isoladamente, sem levar em conta o curso evolutivo da crise, não é indicador de intubação endotraqueal e ventilação mecânica (LEATHERMAN, 1994). A maioria dos pacientes com acidose respiratória responde satisfatoriamente ao tratamento broncodilatador e não necessitará ventilação mecânica. Assim, mesmo quando a PaCO2 inicial é maior que 55 a 60mmHg, muitos pacientes podem ser manejados com medidas terapêuticas mais conservadoras. A Tabela 7 esquematiza as indicações de intubação traqueal. Tabela 7: Indicações de intubação traqueal e ventilação mecânica na asma aguda - Fadiga respiratória; - Alteração do nível de consciência; - Acidose respiratória; - Bradicardia ou sinais de instabilidade hemodinâmica; - Hipoxemia – PaO2 < 60 mmHg com FiO2 > 60%; - PaCO2 > 55 mmHg ou elevação de 5 mmHg/hora. Fonte: FHEMIG (2014). 6.12 Indicações de Internação na UTI Resposta ruim após terapia broncodilatadora; 26/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria Acidose ou hipóxia grave: PaO2<60mmhg ou queda de Sat O2 (< 91%) em uso de oxigenioterapia; Murmúrio vesicular ausente; PaCO2 > 40 mmHg ou acidose; Níveis elevados de lactato sérico; Pulso paradoxal >15mmhg; Exaustão ou falência respiratória; Nível de consciência alterado: confusão mental ou sonolência; Inconsciência; incapacidade para falar; Parada respiratória; História prévia de crise asmática quase fatal ou necessidade de suporte ventilatório (FIORETTO, 2013; FHEMIG, 2014; PIVA, GARCIA, 2014). 7 MONITORAMENTO DO TRATAMENTO 7.1 Monitoramento durante a internação no HUSM A avaliação da resposta terapêutica deve ser realizada 30-60 min após o tratamento inicial, com reclassificação da gravidade do paciente. Atentar para o quadro clínico das crianças, pois, entre elas, os sinais clínicos não se correlacionam bem com a intensidade da obstrução das vias aéreas. Entre as medidas objetivas, a que melhor se correlaciona com a gravidade é a SpO2. Por esse motivo, a persistência de SpO2 < 92% após tratamento inicial com broncodilatador é uma das indicações de hospitalização. Os pacientes com boa resposta ao tratamento que não apresentam sinais de gravidade, com SpO2 > 95% e que atingiram PFE ou VEF1 ≥ 70% do valor previsto podem ser liberados para o domicílio. Os pacientes que permanecerem com critérios clínicos de maior gravidade (SpO2 < 92%, valores de PFE ou VEF 1 ≤ 50% do previsto após tratamento rotineiro pleno na emergência ou apresentem alguma complicação) devem ser encaminhados para a internação hospitalar. Os critérios de internação devem ser menos rígidos para os pacientes com problemas socioeconômicos, em especial aqueles sem condições de tratamento domiciliar adequado ou com dificuldade de acesso a tratamento hospitalar. 27/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria A deterioração progressiva ou a manutenção dos critérios de exacerbação muito grave apesar do tratamento adequado, bem como a necessidade de ventilação mecânica ou a ocorrência de parada cardiorrespiratória compõem critérios para a transferência para uma UTI. 7.2 Critérios de Alta A alta da emergência ou da unidade de internação hospitalar é dependente do intervalo em que as drogas broncodilatadoras são administradas (idealmente a cada 3 ou 4 horas), testes funcionais quando possíveis (>75%do predito) e saturação de oxigênio >94% em ar ambiente. Ou seja, os pacientes devem apresentar resolução do quadro clínico. (PIVA, GARCIA, 2014). 7.3 Plano de Alta Onde quer que ocorra a alta hospitalar, é importante deixar claro para os pais, que a recidiva de uma crise pode traduzir a necessidade da adoção de medidas preventivas ou falha das mesmas. Sendo assim, temos que reforçar no momento da alta hospitalar: – revisão da técnica inalatória; – necessidade de tratamento preventivo; – fornecimento de um plano de crise (pelo menos até a revisão ambulatorial onde medicações prescritas possam ser reajustadas); – revisão ambulatorial (pediatra ou pneumologista dependendo da gravidade da asma) (PIVA, GARCIA, 2014). Na alta para domicílio o paciente deve ir com prescrição de β2 agonista por nebulização ou spray com espaçador (a cada 4-6 horas por sete dias) e corticosteroide oral (1-2mg/kg/dia) por cinco dias (para os pacientes que necessitaram da medicação na urgência). Orientações aos pais sobre profilaxia ambiental e alerta quanto aos sinais e sintomas de crise de asma para retorno imediato à UBS ou UPA ou, ainda, ligar para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU)/regulação de urgência no número 192. 28/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria Encaminhamento do paciente para atendimento especializado após a alta (ALBUQUERQUE, et. al., 2014). 7.4 Contra Referência/Retorno ao Ambulatório Referência para a unidade básica de saúde mais próxima do domicílio. Retorno ao ambulatório de pneumologia após a alta. 7.5 Prevenção/Ações Educativas Identificar e reduzir a exposição à alérgenos e irritantes; Controlar os fatores capazes de intensificar os sintomas ou precipitar exacerbações de asma; Adoção de medidas de controle ambiental; Manter uso de medicações corretamente. 8 CONSENTIMENTO INFORMADO Não se aplica. 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, A. R. S. A.; JUNIOR, P. R.; FERRIANI, V. P. L. 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Nebulização intermitente frequente (Salbutamol/Fenoterol): 0,07-0,15 mg/kg (máx. 5 mg). Intervalos regulares de 20 minutos. Deve ser indicada na falha da resposta terapêutica à nebulização com intervalos regulares de 1 hora, bem como um parâmetro da necessidade de internação (em sala de observação ou leito hospitalar) após 1-2 horas de terapêutica. Nebulização continua (Salbutamol): 0,5 mg/kg/h. administrada em sistema paralelo de bomba de infusão, com volumes variáveis de solução salina (em função do tempo programado de administração), e taxas de infusão de 14 mL/h. Melhor tolerância do sistema em pacientes com faixa etária superior a 4 anos. Inaladores pressurizados dosimetrados (acoplado a espaçador): doses variáveis. Recomendamos 50 ug/kg. Um puff/2 kg de peso – máximo 10 puffs). Frequência: Intermitente frequente (a cada 20 minutos), intermitente regular (intervalos de 1 a 4 horas). Aspectos relacionados com a escolha adequada do dispositivo (espaçador) e intervalos mínimos de 15 segundos entre cada puff podem influenciar a resposta clínica a ser obtida. 34/35 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria 10 FLUXOGRAMA - ALGORÍTMO PROTOCOLO CLÍNICO ATENDIMENTO DE ASMA AGUDA EM Código: PC09 AAC Data: Março/2016 CRIANÇAS NO PRONTO SOCORRO Especialidade: Pediatria Responsável: Melina de Souza Colaboradores: Letícia Correa de Barros _________________________ Responsável 35/35