PERCEPÇÃO DOS PACIENTES EM RELAÇÃO ÀS FARMÁCIAS

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PERCEPÇÃO DOS PACIENTES EM RELAÇÃO ÀS FARMÁCIAS
PERCEPÇÃO DOS PACIENTES EM RELAÇÃO ÀS FARMÁCIAS
COMUNITÁRIAS DE UMA CIDADE NA REGIÃO SUDOESTE DA BAHIA
Leila Cristina Dos Santos Pinheiro1, Suelma Aparecida Dias da Silva Frota1, Gabriella
Fernandes Magalhães2,
1
Graduando (a) do curso de Bacharelado em Farmácia. Faculdade de Guanambi- FG/CESG.
Farmacêutica. Especialista em Farmácia hospitalar pelo programa de Residência Multiprofissional integral em
Saúde. Docente Faculdade Guanambi-FG. Guanambi-BA.
2
RESUMO: As farmácias comunitárias são locais essências para busca de atendimento e
provável porta de entrada de pacientes no sistema de saúde. Em 2014 foi sancionada a lei
13.021 que transforma a Farmácia e drogarias como estabelecimento de assistência a saúde e
impõe a presença permanente do farmacêutico nas farmácias. O objetivo deste estudo foi
avaliar a percepção dos pacientes em relação à farmácia comunitária de uma cidade na Região
Sudoeste da Bahia. Foi realizado um estudo descritivo de campo, através de entrevista
baseada em um questionário. A coleta de dados aconteceu nas farmácias do município que
aceitaram participar do estudo. Um banco de dados foi criado no Microsoft Excel versão 2007
e os resultados foram analisados através da estatística descritiva. Foram entrevistados 392
usuários, onde a maioria dos entrevistados considera que a farmácia comunitária tem um bom
equilíbrio entre as questões de saúde e negócios e que a presença do farmacêutico na farmácia
é muito importante, no entanto a minoria consegue identificar o farmacêutico quando este está
presente. Grande parte dos pacientes concordou que o farmacêutico comunitário pode
aconselhá-los sobre o tratamento de doenças menores. Os resultados obtidos demonstram que
o público tem uma má compreensão do papel da farmácia comunitária e do farmacêutico no
acompanhamento da terapia medicamentosa e demonstra a dificuldade de identificação do
profissional farmacêutico na farmácia comunitária por parte dos usuários.
Palavras-chave: Farmácia comunitária. Pacientes. Percepção.
PERCEPTION OF PATIENTS IN RELATION TO COMMUNITY PHARMACIES IN
A TOWN IN THE SOUTHWEST REGION OF BAHIA
Abstract: Community pharmacies are essential locals for seeking care and likely to patients
gateway to the health system. In 2014 was enacted Law 13.021, that transforms the pharmacy
and drugstores as establishment of health care and requires the permanent presence of the
pharmacist in pharmacies. The objective of this study was to evaluate the perception of
patients in relation to community pharmacy in a city in southwest Bahia. A descriptive study
was conducted field, through interviews based on a questionnaire. The data collection took
place in the city of pharmacies that agreed to participate. A database was created in Microsoft
Excel version 2007 and the results were analyzed using descriptive statistics. We interviewed
392 users, which the majority of respondents believes that community pharmacy has a good
balance between health issues and business and that the pharmaceutical presence in the
2
pharmacy is very important, however the minority can identify the pharmacist where it is
present. Most of all patients agreed that the community pharmacist must advise them on the
treatment of minor diseases. The results show that the public has a poor understanding of the
role of community pharmacy and the pharmacist in monitoring drug therapy and demonstrates
the pharmacist identification difficulty in community pharmacy by users.
Key word: Community pharmacy. Patients. Perception.
INTRODUÇÃO
As farmácias comunitárias são locais essências para busca de atendimento e provável
porta de entrada de pacientes no sistema de saúde. Os farmacêuticos são os profissionais de
saúde que mais tem contato direto para com a população em geral. Neste âmbito, os serviços
prestados pelos farmacêuticos são tão importantes para o cuidado ao paciente quanto os
serviços fornecidos por outros profissionais de saúde (SILVA et al., 2008).
São considerados estabelecimentos de propriedade privada, que se caracteriza na
dispensação de medicamentos industrializados, e atividades de cunho de atenção primária
para o indivíduo com a responsabilidade técnica, legal e privativa do farmacêutico, atendendo
assim as exigências da Lei no 5.991/73 do Ministério da Saúde (BARETA 2003; BASTOS &
CAETANO, 2010). Isto proporciona aos farmacêuticos comunitários a oportunidade de
fornecer informações aos pacientes, interagindo e discutindo as suas necessidades, fornecendo
informações sobre os medicamentos e sobre o cuidado de doenças, incluindo a busca de
outros profissionais (SILVA et al., 2008).
Sendo assim ainda que o medicamento seja essencial para o paciente, é fundamental
que não se esqueça da importância em oferecer aos pacientes informações seguras sobre o
medicamento a ser adquirido, assim como, o uso racional. E a farmácia comunitária, pelo
espaço que ocupa na sociedade pode ser considerada um local importante para tal prática. A
atuação do farmacêutico nesses estabelecimentos se fundamenta em tais orientações no
sentido de melhorar a qualidade do processo de utilização de medicamentos pela população,
denominada de atenção farmacêutica (BASTOS & CAETANO, 2010).
As farmácias sendo considerada como estabelecimento de saúde, ainda é questionado
pela comunidade e autoridades sanitárias. Os pacientes, na maioria das vezes, não conseguem
diferenciar o farmacêutico dos outros profissionais que atuam na farmácia (KHDOUR &
HALLAK, 2012). É necessário que os farmacêuticos estejam presentes nas farmácias durante
todo o horário de funcionamento do estabelecimento, nos termos da legislação vigente. Esses
3
estabelecimentos têm o dever de garantir e cuidar pela conservação da qualidade e segurança
dos medicamentos e correlatos (BRASIL, 2009).
Em agosto de 2014 foi sancionada a lei 13.021 que transforma a Farmácia e
drogarias como estabelecimento de assistência a saúde e exige a obrigatoriedade da presença
permanente do farmacêutico nas farmácias. A partir desta data apenas o farmacêutico poderá
atuar como responsável técnico destes locais. As responsabilidades do farmacêutico
comunitário vão além da dispensação de medicamentos, eles desempenham um papel
importante na educação dos pacientes em relação às doenças e uso racional de medicamentos
(CATIC et al., 2013).
Este estudo teve como objetivo avaliar a percepção dos pacientes em relação à
farmácia comunitária da cidade de Caetité - BA no período de dezembro de 2014 e janeiro de
2015.
MATERIAL E MÉTODOS
Uma pesquisa de caráter descritivo, com abordagem quantitativa foi realizada. A
coleta de dados foi realizada a partir de questionário adaptado do estudo de El Hajj et al.
(2011) (Anexo I). Trata-se de um questionário estruturado em quatro (4) blocos: o primeiro
foi composto por dados demográficos (gênero, estado civil, escolaridade); no segundo bloco
questões que avaliam as atitudes e expectativas dos participantes em relação à farmácia
comunitária; o terceiro investiga o motivo pelo qual os pacientes visitam a farmácia e o quarto
aborda a satisfação do consumidor em relação aos serviços prestados.
O município de Caetité localizado no sudoeste da Bahia e com uma população
estimada para 2013 de 56.166 habitantes segundo o IBGE (2010) possui atualmente 18
(dezoito) farmácias comunitárias, registradas na vigilância sanitária local. Destas, 4 (quatro)
foram excluídas por que negou-se a participar da realização da pesquisa, sendo incluídas
assim 14 farmácias.
Para estabelecimento da amostra (n), utilizou-se o cálculo da amostra aleatória
simples, com grau de confiança de 95% e nível de significância de 0,05. Assim, o universo da
pesquisa compreendeu de 392 pacientes os quais foram abordados nas farmácias incluídas no
estudo. A amostra consistiu das pessoas que concordaram em participar espontaneamente da
pesquisa a partir de um termo de consentimento livre e esclarecido.
O projeto foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia (UESB), em novembro de 2014, com o parecer de número 884.336,
4
sendo assim foi possível efetuar a coleta dos dados no mês de dezembro de 2014 e janeiro de
2015. Os dados foram processados utilizando-se o programa Excel 2010 da Microsoft, versão
Windows 8, no qual foram feitas as análises de estatísticas descritivas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram entrevistados um total de 392 usuários provenientes de 14 farmácias, no
período de dezembro de 2014 e janeiro de 2015. Do total de usuários entrevistados 275
(70,2%) era do gênero feminino e 117 (29,8%) do sexo masculino, com uma variação de
idade entre 18 e 61 anos e maior prevalência 240 (61,2%) da faixa etária 18 e 40 anos
conforme mostra a Tabela 1. O nível de escolaridade predominante entre os entrevistados foi
de 167 (42,6%) para o ensino médio, seguido de 81 (20,7%) de ensino fundamental
incompleto, com 57 (14,5%) de nível superior, sendo que uma minoria foi de 13 (3,3%) de
não alfabetizados.
Tabela 1 - Variável demográfica escolaridade, idade, sexo, estado civil, ocupação dos
usuários de medicamentos em Caetité - BA
VARIÁVEL DEMOGRÁFICA
N°
(%)
SEXO
29,8
117
Masculino
70,2
275
Feminino
IDADE
Entre 18 e 40anos
240
61,2
Entre 41-60anos
118
30,1
> 61 anos
34
8,7
ESTADO CIVIL
Casado (a)
240
61,2
Solteiro (a)
127
32,4
Outros
25
6,4
OCUPAÇÃO
46
11,7
Aposentado
41
10,5
Balconista
57
10,2
Servidor público
34
8,7
Secretária do lar
34
8,7
Estudante
19
4,8
Desempregado (a)
178
45,4
Outros
NÍVEL DE ESCOLARIDADE
Não alfabetizado
13
3,3
Fundamental
35
8,9
Fundamental incompleto
81
20,7
5
Médio
Médio incompleto
Superior
Superior incompleto
167
21
57
18
42,6
5,4
14,5
4,6
Em relação à imagem dos participantes sobre a farmácia, 170 (43,3%) dos
entrevistados consideram a farmácia comunitária como um estabelecimento que visa apenas o
lucro financeiro. Seguido de 162 (41,3%) vêem as farmácias como um bom equilíbrio entre as
questões de saúde e de negócios e apenas 60 (15,3%) que consideram a farmácia um
estabelecimento que preocupa com a saúde.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ciências Tecnologia e Qualidade - ICTQ
(2012), realizada em 12 capitais brasileiras, publicada na revista do Farmacêutico (2013) que
teve como objetivo mostrar como as farmácias e os farmacêuticos são vistos e percebidos pela
população, demonstrou que 88% dos entrevistados vão à farmácia com o objetivo de ter
acesso a medicamentos, somente 16% consideram as farmácias como estabelecimentos de
saúde; 56% as identificam como minimercados ou lojas de conveniência (CRF-SP, 2013). Em
outro estudo realizado no Qatar que avaliou a percepção dos pacientes em relação à farmácia
demonstrou que 45% dos pacientes consideraram que a farmácia apresentava um bom
equilíbrio entre as questões de saúde e negócios (El HAJJ et al., 2011).
Em 2014 a lei 13.021 transforma a Farmácia e drogarias como estabelecimento de
assistência à saúde, no entanto a visão da população em relação às farmácias comunitárias,
como demonstra os dados desta pesquisa e de outros estudos, não condiz com o estabelecido
na lei. Em estudo realizado por Galato & Angenoli (2009), com objetivo de obter informações
dos pacientes, usuários de medicamentos, quanto à sua percepção de estrutura, serviços e
recursos humanos que caracterizariam a farmácia como estabelecimento de saúde,
demonstrou que para um estabelecimento seja considerado de saúde, são necessários,
principalmente atitudes e competências adequadas dos profissionais que atuam no serviço.
O grau de importância que o profissional farmacêutico tem para a saúde da
população também foi avaliado. Um total de 302 (77,0%) dos entrevistados considerou como
muito importante, ao somar com os que consideram como importante 82 (20,9%), o índice é
excelente 384 (97.9%), ou seja, praticamente para todos os pacientes, a farmácia deve ter o
farmacêutico presente (Figura 1). No entanto apenas 95 (24,2%) conseguem identificar o
farmacêutico na farmácia (Figura 2).
Esses dados são reafirmados e relevantes quando percebemos os dados do Instituto
de Ciências Tecnologia e Qualidade (2012) o qual aponta que 79% dos entrevistados
6
consideram importante a presença do farmacêutico nas farmácias e 68% acreditam que a
presença do farmacêutico dentro da farmácia garante saúde a população, no entanto metade
dos entrevistados não conseguem identificar quando estão sendo atendidos por um
farmacêutico.
Figura 1 – Importância da presença do farmacêutico na farmácia comunitária
1,8%
0,3%
20,9%
Muito Importante
Importante
Pouco Importante
Nada Importante
77,0%
*Fonte: Os Autores- Dados da Pesquisa (2014).
A Lei Federal 13.021/14 determina a presença integral de um farmacêutico nas
farmácias e drogarias em todo o País. Entretanto, a pesquisa mostrou que nem sempre esse
profissional é identificado pela população na farmácia.
Esta dificuldade de identificação do farmacêutico, no Brasil, pode ser explicada pelo
fato do farmacêutico não está presente em muitas farmácias como demonstrado por Farina &
Romano-Lieber (2009) em estudo que a avaliou a prática de farmacêuticos nas farmácias e
drogarias, dos 98 estabelecimentos visitados, três funcionavam sem a assistência de
farmacêutico, dois possuíam responsáveis técnicos práticos de farmácia e, em 14, o
farmacêutico responsável não foi encontrado nas duas visitas realizadas. Além disso, para
Ivama et al. (2002) na proposta do Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica falta ao
farmacêutico reconhecimento social e inserção na equipe multiprofissional de saúde, o que
faz com que este não seja um referencial como profissional de saúde na farmácia.
Figura 2 – Identificação do farmacêutico na farmácia comunitária
7
24,2%
Sempre
39,0%
Quase sempre
De vez em quando
14,0%
Raramente
22,7%
*Fonte: Os Autores- Dados da Pesquisa (2014).
O médico foi considerado a primeira pessoa a entrar em contato para responder a
questões relacionadas com o medicamento por 282 (71,9%) dos entrevistados e o
farmacêutico apareceu em segundo lugar com 85 (21,7%). Os resultados mostram que os
usuários de medicamentos demonstram uma maior confiabilidade nos médicos. Isso pode ser
atribuído a falta de conhecimento em relação às atribuições do farmacêutico no que se refere à
capacidade de responder perguntas relacionadas aos medicamentos (EL RAJJ et al., 2011).
A presença dos farmacêuticos durante todo o horário de funcionamento do
estabelecimento, nos termos da legislação vigente, pode alterar esta realidade. Esses
estabelecimentos têm o dever de garantir e cuidar pela conservação da qualidade e segurança
dos medicamentos e correlatos, bem como pelo uso racional de medicamentos, com o intuito
de evitar riscos nocivos à saúde (BRASIL, 2009).
Para 303 (59,8%) dos entrevistados o aconselhamento sobre o tratamento de
distúrbios menores é a principal razão que leva os pacientes a procurar o farmacêutico antes
do médico (Figura 3). De acordo com pesquisa realizada pelo ICTQ - Instituto de Pesquisa e
Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico (2014) 43,5% da população optam por procurar
o farmacêutico ao invés do médico para obter uma receita de algum medicamento. Esse dado
foi obtido após um ano da publicação da resolução 586 do Conselho Federal de Farmácia
(2013) que autoriza o farmacêutico a prescrever medicamentos dentro da farmácia. Essa
mesma pesquisa foi realizada em 2013, com resultados bem diferentes, em agosto deste
8
mesmo ano 39% do público concordaram com a prescrição farmacêutica. Após um ano, em
agosto de 2014 esse dado cresceu, somando 72% (CRF-RJ, 2014).
Figura - 3 Razão para aproximação do farmacêutico antes do médico
0,8%
Problemas de Saúde
Menores
8,1%
Não visita a farmácia
12,4%
Consulta Gratuita
Não há tempo de espera
7,3%
7,5%
59,8%
Conhecimento do
Farmaceutico
Eu nunca fiz isso
4,1%
Outros
*Fonte: Os Autores- Dados da Pesquisa (2014).
Sobre as barreiras que impedem os usuários em fazer perguntas ao farmacêutico,
mostrou que a falta de privacidade na farmácia obteve 124 (24,9%) dos entrevistados,
enquanto que 103 (20,7%) não encontram nenhum tipo de barreiras para se comunicar com o
farmacêutico, e 74 (14,9%) relatam que os médicos são mais confiáveis e que os
farmacêuticos não têm disponibilidade para responder perguntas (Tabela 2).
A resolução 44/2009 estabelece um novo contexto para os serviços de saúde da
farmácia comunitária no Brasil, no qual o atendimento pode e deve em algumas
circunstâncias ser privativo, garantindo o conforto dos usuários, possuindo dimensões,
mobiliário e infra-estrutura compatíveis com as atividades e serviços a serem oferecidos. De
acordo Cipolle et al. apud Farina & Romano-Lieber (2009), é fundamental que nas farmácias
tenha um local reservado para atender o paciente, para que possibilite a realização da coleta
de dados dos pacientes e atividades de aconselhamento e discussão, sendo assim, a falta de
privacidade não seria um obstáculo para se fazer perguntas ao farmacêutico.
Outros entrevistados não vêem barreira alguma para usufruir dos serviços prestados.
É importante estabelecer uma relação ao tratamento medicamentoso, desenvolvida pelo
farmacêutico e o paciente, com respeito, confiança, e na troca constante de experiências, desta
9
forma, o farmacêutico passa a se preocupar com o paciente, aumentando o crescimento da
relação entre ambos (POSSAMAI & DACOREGGIO, 2007/2008).
Um estudo realizado com farmacêuticos do Estado de Santa Catarina por Alano apud
Galato et al. (2008), apresentou alguns elementos que podem interferir no momento do
atendimento, tais como: “a falta de um espaço físico adequado e o pouco tempo disponível
pelo profissional aos atendimentos dos pacientes devido à função gerencial da farmácia”. Por
isso, é essencial observar o local disponível ao atendimento, de forma a assegurar um
ambiente favorável para proporcionar uma conversa com os pacientes (FORTNER et al., e
ROVERS et al., apud GALATO et al., 2008).
Tabela 2 – Barreiras que impede o público de fazer qualquer pergunta a um farmacêutico
Barreiras
Timidez em pedir informações
Não tem consciência da capacidade do farmacêutico
Falta de conhecimento do farmacêutico
A rudeza dos farmacêuticos
Falta de privacidade na farmácia
Indisponibilidade do farmacêutico
Os médicos são mais confiáveis
O médico ficara ofendido
Não apresentam barreiras
N°
49
50
9
11
124
74
74
3
103
(%)
9,9
10,1
1,8
2,2
24,9
14,9
14,9
0,6
20,7
As três principais razões mais comuns para visitar uma farmácia comunitária foram a
obtenção de medicamentos prescritos 266 (33,8%), obter medicamentos que pode comprar
sem receita 240 (30,5%) e obter outros tipos de produtos (por exemplo, protetor solar,
cosméticos, cuidados com os cabelos, produtos de cuidados do bebê, etc) 126 (16%). Apenas
109 (13,8%) visitam a farmácia para pedir informações gerais de saúde. O presente estudo
mostra que mais da metade dos entrevistados vão às farmacias em busca de medicamentos,
pois os mesmos são os elementos de primeira escolha que fundamenta em ferramentas
poderosas para minimizar o sofrimento humano, no entanto é necessário fazer o uso correto
dos medicamentos. Porém se não usado corretamente podem levar a ocorrência de efeitos
adversos (LEITE et al., 2008).
Desta forma, o farmacêutico deve estar cada vez mais envolvido nas atividades
voltado para as ações de prevenção em saúde, com o objetivo de beneficiar a saúde pública
aperfeiçoando os serviços farmacêuticos e fazendo com que os usuários mudem seus
comportamentos em relação aos medicamentos (POSSAMAI & DACOREGGIO, 2008).
10
Em um estudo realizado por Gindri et al. (2013) mais da metade da população 57%
vão as farmácias para comprar medicamentos industrializados e 32% adquirem os
medicamentos manipulados. Apenas 11% da população adquirem cosméticos em drogarias,
esse fato se deve a razão de que esses produtos também podem ser adquiridos em mercados e
lojas especializadas.
A maioria dos entrevistados disseram frequentar a farmácia comunitária pelo menos
uma vez ao mês 332 (84,7%). Segundo Castro apud Bittencourt et al. (2004), a alta frequência
dos usuários nas farmácias comunitárias constitui um desafio para a promoção do uso racional
de medicamentos. A automedicação pode influenciar na morbidade e mortalidade relacionada
aos mesmos. De acordo Chaves apud Silva & Freitas (2008) o uso racional de medicamentos
certificou que o uso correto e racional destes pode diminuir o atendimento à saúde,
favorecendo, desta forma, uma redução dos gastos com a saúde, minimizando a incidência de
morbidade e mortalidade relacionada aos medicamentos, uma redução no tempo de internação
hospitalar, garantindo uma melhor qualidade de vida dos usuários.
Um estudo realizado em Quixadá mostrou que mais da metade dos entrevistados se
automedicavam, fazendo uso dos medicamentos de acordo com a melhor conveniência não se
preocupando em seguir o tratamento correto, uma vez que, estes procuram a farmácia sem
prescrição médica. “A assistência farmacêutica objetiva atender aos pacientes, prestando um
atendimento qualificado, a fim de promover o uso racional, com eficácia e segurança,
evitando assim, vários problemas relacionados a medicamentos” (GOMES & REIS apud
SILVA & FREITAS, 2008).
As principais razões que levam o paciente a qualquer farmácia específica são os bons
preços 215 (18,8%), a simpatia do pessoal da farmácia 208 (18,2%), o conhecimento do
farmacêutico e sua capacidade em responder sobre qualquer questão relacionada com os
medicamentos ou doenças 180 (15,7%), pela localização 125 (10,9%) e pela boa variedade de
produtos e serviços disponíveis 116 (10,1%), acompanhado por um pequeno número de
apenas 44 (3,8%) que vão devido os serviços serem rápidos (Tabela 3).
Para Gindri et al. (2013) em estudo realizado na cidade de São Francisco de Assis
(RS), o interesse dos consumidores de medicamentos nas farmácias e drogarias são os
descontos (47% dos entrevistados) e facilidades nas condições de pagamento (19% dos
entrevistados). O preço dos produtos e a localização da loja também são os fatores que
influenciam na escolha do estabelecimento. O estudo de Faria (2011) demonstrou que o bom
atendimento também é um critério importante na escolha do local de compra dos
medicamentos.
11
O conhecimento do farmacêutico em relação aos medicamentos e doenças aparece
como um dos fatores que levam o consumidor a escolher uma farmácia específica. Este dado
revela a importancia do farmacêutico na prestação dos serviços farmacêuticos como:
assistência farmacoterapêutica, atenção farmacêutica domiciliar, verificação dos níveis de
pressão arterial e de temperatura, determinação de parâmetros bioquímicos, educação em
saúde, almejando sempre o bem-estar e a promoção da saúde do paciente. Muitos serviços
inovadores estão sendo criados nas farmácias comunitárias, os quais têm apresentado
resultados positivos em relação ao cuidado dos pacientes em diferentes áreas clínicas (CRF GO, 2011; PRADNYA et al., 2009).
No presente estudo mais da metade dos entrevistados 262 (66,8%) disseram que
quando vão à farmácia com algum problema, os farmacêuticos lhes dão tempo suficiente para
discutirem seus problemas, seguido de 109 (27,8%) que não concordaram com esse dado e 21
(5,4%) não souberam responder. Em um estudo realizado no Qatar apenas 37% dos
entrevistados concordaram que os farmacêuticos não estão lhe dando tempo suficiente para
discutir seu problema. Isso pode ser devido à falta de funcionários nas farmácias, uma vez
que, a maioria das farmácias no Qatar é formada por apenas um técnico e um farmacêutico,
além disso, os farmacêuticos estão focados mais na entrega de medicamentos, ao invés de
orientação quanto ao uso e doenças (EL HAJJ et al., 2011).
Tabela 3 – Fatores que levou a escolha de uma farmácia espécifica
Farmácia Específica
Localização
Boa variedade de produtos
Farmácia 24 horas
Familiaridade com o farmacêutico
Bons preços
Aparência atraente da farmácia
O conhecimento do farmacêutico
Simpatia do pessoal da farmácia
Serviços rápidos
Confidencialidade e privacidade
Outros
N°
125
116
87
48
215
30
118
208
44
90
2
(%)
10,9
10,1
7,6
4,2
18,8
2,6
15,7
18,2
3,8
7,9
0,2
Segundo Pradnya et al. (2009) a satisfação do paciente é um resultado humanístico
importante que precisa ser medido, dada a sua relevância na determinação da sustentabilidade
dos serviços de saúde. A satisfação com os cuidados que recebem na farmácia faz com que os
pacientes fiquem mais dispostos a manter relações com os prestadores de cuidado à saúde, de
12
seguir os tratamentos e desta forma se obtêm melhores resultados na qualidade de vida do
paciente.
Em relação a satisfação com os serviços prestados nas farmácias comunitárias, 328
(83,7%) se declararam satisfeitos, 43 (11,0%) insatisfeitos e apenas 5 (1,3%) respoderam
que estão altamente insatisfeitos com os serviços (Figura 4). Atualmente, a opinião do
paciente é cada vez mais importante na determinação de resultados de cuidados. E a satisfação
do consumidor é um componente integral da qualidade de cuidados à saúde primária. Para que
esse resultado permaneça o farmacêutico comunitário deve garantir o uso seguro e eficaz de
medicamentos, esclarecer as dúvidas sobre os fatores relacionados aos efeitos colaterais,
ensinar quanto ao uso adequado dos medicamentos prescritos pelo médico e de outros
cuidados relacionados à saúde (CATIC et al., 2013).
FIGURA – 4 Satisfação dos pacientes com a farmácia
4,1%
1,3%
11.0%
Altamente satisfeito
Satisfeito
Altamente insatisfeito
Insatisfeito
83,7%
*Fonte: Os Autores- Dados da Pesquisa (2014).
CONCLUSÃO
Os resultados obtidos demonstram que o público tem uma má compreensão do papel
da farmácia comunitária e do farmacêutico no acompanhamento da terapia medicamentosa e
demonstra a dificuldade de identificação do profissional farmacêutico na farmácia
comunitária por parte dos usuários. Para que a farmácia mantenha a atividade de
estabelecimento de saúde, atuando na função social e tendo o farmacêutico como o
13
profissional capacitado na orientação adequada, do uso correto dos medicamentos, o mesmo
deve assumir a sua presença em tempo integral nas farmácias comunitárias o que se torna
necessário na melhoria da saúde, do atendimento e, consequentemente, na conscientização da
população com os serviços prestados pelas farmácias.
O presente estudo mostra que os entrevistados querem o farmacêutico e isso é
importante para a valorização do profissional, no entanto é preciso que ele seja melhor
identificado na farmácia e também que o atendimento realizado pelo mesmo, seja
diferenciado do prestado pelo balconista, para isso a busca de conhecimento é fundamental.
14
REFERÊNCIAS
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