1959 – 2009, 50 ANOS DE REVOLUÇÃO! Adaptado e organizado

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1959 – 2009, 50 ANOS DE REVOLUÇÃO! Adaptado e organizado
1959 – 2009, 50 ANOS DE REVOLUÇÃO!
Adaptado e organizado por Alex Ornold*
Cuba é sinônimo de Revolução. Desde 1º de Janeiro de 1959 o país se tornou
um marco incontornável para o resto do mundo, ou seja, uma história que
orgulha a humanidade, pois a Revolução Cubana foi um movimento
revolucionário construído para derrubar um déspota, Fulgêncio Batista, que
transformou a ilha em um cassino, movimento este que se tornou o mais
importante da América Latina e do mundo, um marco do século 20.
O movimento comandado por Fidel, Che Guevara, Raul Castro, Cienfuegos e
tantos outros, correspondia a uma necessidade premente do povo cubano que
desejava alcançar melhores condições de vida, tendo como objetivo a
transformação profunda da sociedade que era tão desigual e que levava a
maioria da população ao sofrimento cruel.
São 50 anos de luta, de dignidade, de busca incessante da construção de uma
sociedade justa, de apoio aos que precisam de apoio de solidariedade, com
todos os povos do mundo. Um movimento popular e democrático que
promoveu, reforma agrária e urbana, acabou com o analfabetismo e produziu
avanços na saúde e na cultura.
Para alguns, a Revolução Cubana significa uma história de heroísmo, de luta
pela liberdade e contra o imperialismo. Para outros, é justamente o contrário:
um símbolo de ditadura e de opressão. O que é certo é que Cuba desata
paixões, e falar do que foi, do que é, e do que será a Revolução de Fidel
Castro acaba por ser um verdadeiro desafio.
Nos 50 anos da Revolução Cubana, o presidente de Cuba, Raúl Castro - que
assumiu o poder em fevereiro de 2008, com a saída do homem símbolo do
movimento revolucionário, Fidel Castro, após 49 anos de poder frente à ilha afirmou que "o socialismo não foi nenhum fracasso", “o inimigo diz que o
socialismo fracassou” e assinalou que a economia, a produção de alimentos e
dar verdadeiro valor ao trabalho são "questões vitais" para o desenvolvimento
do país.
Para o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a Revolução Cubana foi a
"mãe" de todos os movimentos libertadores da América Latina e representou a
"vanguarda da dignidade dos povos" do continente. E expressou, "Fidel, pai
nosso que estás em Havana, na terra, no ar. Fidel, pai dos revolucionários". E
assim o primeiro ato oficial do líder da "revolução bolivariana", Hugo Chávez,
em 2009 foi de homenagem aos 50 anos da Revolução Cubana.
A herança de Fidel Castro segue causando polêmica. Seus seguidores exaltam
os benefícios instaurados pelo regime castrista, como o acesso à educação e
saúde de qualidade, a taxa zero de analfabetismo, esperança de vida de 78
anos e taxa de mortalidade infantil de 5,3 para cada mil habitantes, inferior a
dos Estados Unidos. No entanto os opositores ao governo de Fidel Castro
denunciam um regime ditatorial, a não democracia, a falta de liberdades civis e
a intolerância com a oposição, além de uma política econômica catastrófica.
Êxitos e Dívidas da Revolução
Saúde e educação: principais êxitos
Os principais êxitos do regime implantado pela Revolução Cubana ao país que
tem pouca riqueza material estão na área social, onde a ilha caribenha
apresenta indicadores superiores à maioria dos países do continente, incluindo
aí os mais ricos e mais industrializados. Tornando os cubanos em um povo
culto, educado e com um nível cultural e político bem acima da média do povo
brasileiro.
Para muitos, apesar dos inúmeros problemas enfrentados pela população
cubana, o maior sucesso da revolução liderada por Fidel, foi ter conseguido
desenvolver uma poderosa rede de assistência social, que serviu para impedir
que os 20% mais pobres da sociedade caísse em uma situação de miséria e
pobreza extrema.
Em Cuba, o Estado se encarrega dessas famílias, entregando-lhes dinheiro
extra, cestas alimentares, vestuário e também mobiliário. No caso de pessoas
com deficiências físicas ou mentais, as autoridades cubanas chegam mesmo a
pagar um salário para que elas recebam os cuidados necessários.
Logo no início da Revolução foram tomadas medidas para benefício dos mais
pobres. A reforma agrária deu emprego a 100% dos camponeses. Alguns
receberam terras, outros passaram a integrar cooperativas, e muitos se
transformaram em trabalhadores de fazendas coletivas estatais.
Foram proibidos os despejos nas cidades, foi decretada uma à redução dos
aluguéis e foi finalmente feita uma reforma urbana que converteu 85% dos
cubanos em proprietários das suas próprias residências, uma realidade que se
mantém nos dias atuais.
Com o êxito da revolução o governo pode se vangloriar com vistosas
propagandas que só elevam a autoestima do seu povo, como estas:
“Esta noite, 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma é
cubana";
"A cada ano, 80 mil crianças morrem vítimas de doenças evitáveis. Nenhuma
delas é cubana".
Educação
Em Cuba, nada se paga pelo direito à educação e o índice de alfabetização
atinge 99,8%. Todas as escolas têm bibliotecas muito bem servidas de livros
que vão de José Saramago passando por Marx, a Lênin, de Jorge Amado,
Machado de Assis, a Shakespeare.
O investimento na potencialidade do ser humano não para ai. O
desenvolvimento das artes – dança, pintura, música, poesia, desportos – é
encontrado em cada escola, em cada esquina, em cada cidade.
De 1959 a 2007, a quantidade de escolas passou de 7.679 para 12.717, os
professores passaram de 22.800 para 258.000, com uma população em torno
de 11 milhões de habitantes, sendo o país com o maior índice de professores
por habitante do mundo.
Não existem em Cuba meninos de rua. Os órfãos e os filhos de doentes
mentais ou de pessoas presas vivem em instituições onde têm garantidos,
casa, comida, cuidados médicos e educação - incluindo estudos superiores.
Mas eles não são exceção, já que 100% das crianças e adolescentes cubanos
frequentam a escola, que é obrigatória por nove anos e segue sem custar um
centavo até o nível universitário, onde até mesmo os livros são gratuitos.
A lei cubana obriga os pais a enviarem seus filhos à escola. Se for considerado
que este direito da criança foi violado, a pena para eles pode ser até mesmo a
perda da guarda do menor e outras medidas judiciais.
Nenhuma criança fica de fora da rede educacional. Os cerca de 60 mil menores
de idade com limitações físicas ou psíquicas da ilha frequentam escolas
especiais, onde, além de aulas recebem tratamento fisioterápico e atendimento
psicológico, uma combinação que permite com que eles desenvolvam ao
máximo suas habilidades e possibilidades.
Atualmente Cuba conta com 67 universidades gratuitas, matematicamente
falando, são 67 instituições para 11 milhões de habitantes, para um país sem
muitos recursos, então para nosso país, Brasil, 8ª economia do sistema
capitalista, deveria ter 1096 universidades públicas, será que temos este
número?
Saúde
O regime de Fidel Castro desenvolveu um gigantesco sistema nacional de
saúde de cobertura a todos os cidadãos, sem exceções de nenhum tipo.
O sistema tem quatro níveis: o médico de família, que vive a poucos
quarteirões da casa do paciente; o clínico geral de bairro; os hospitais de e os
institutos especializados. Toda a assistência médica é gratuita, com exceção
dos medicamentos, que são subsidiados pelo Estado.
Nenhuma doença fica de fora do sistema de saúde cubano, que oferece
tratamentos a problemas que vão desde simples dores de cabeça a
enfermidades relacionadas à AIDS, passando por assistência odontológica e
até mesmo cirurgias plásticas.
O País conta com 70.594 médicos, ou seja, 1 médico para cada grupo de 160
habitantes.
O resultado deste sistema de saúde tão amplo pode ser observado quando se
comparam as estatísticas das Nações Unidas sobre esperança de vida. Cuba
ocupa o terceiro lugar em todo continente americano, com expectativa de vida
de 76 anos para os homens e 80 para mulheres.
Em relação à mortalidade infantil, as estatísticas da ONU apontam que o índice
de Cuba é de 5,3 mortes a cada 1.000 nascimentos, nos EUA são 7 e, no
Brasil, 27, situando o país em um nível só comparável ao do Canadá no
continente americano.
Ciclones
Da mesma forma que poucas pessoas morrem em Cuba devido a doenças
curáveis, muito poucos morrem devido aos efeitos dos ciclones que
atravessam aquela ilha todos os anos. A Defesa Civil, criada pela Revolução, é
capaz de evacuar milhões de cubanos para lugares seguros antes da chegada
das tempestades.
No ano de 2008, três grandes ciclones atravessaram a ilha, destruindo meio
milhão de casas, a maior parte das colheitas e derrubando centenas de torres
do sistema elétrico. Apesar dos estragos, foram registradas apenas sete
mortes.
Antes de 1959, e mesmo durante os primeiros anos da Revolução, havia
centenas e às vezes mesmo milhares de mortos de cada vez que Cuba fosse
atingida por um ciclone. E isso sem contar com as enormes perdas econômicas
que ocorriam.
Agora a Defesa Civil assume antecipadamente o controle das áreas por onde
se prevê que o ciclone vá passar. Dias antes, as populações locais são
evacuadas, os animais protegidos e os alimentos transferidos, evitando-se
assim mortes e salvando-se tudo o que seja possível salvar.
Violência
Também são poucas as vítimas da violência social. Praticamente não há
insegurança para os cidadãos. Comparada inclusive com os países mais
seguros da região, Cuba é, sem dúvidas, uma das sociedades mais pacíficas
do continente americano e mesmo do mundo.
São raros os casos de assaltos à mão armada e os roubos com pistolas ou
com armas brancas quase que não existem. Os delitos mais comuns são o
roubo de fios de ouro, de relógios ou de pastas que, em geral, ocorrem sem
ameaças de violência física.
Sem dúvida, a tranquilidade nas ruas se deve a presença constante da polícia.
Mas muitos argumentam também que o nível de educação, o acesso à saúde e
o controle da pobreza contribuem de forma determinante para o fraco índice de
violência em Cuba.
Mas a Revolução cubana junto aos seus êxitos, também tem os seus
fracassos:
Liberdade e economia: principais dívidas
Apesar das promessas iniciais da Revolução Cubana, críticos e opositores
afirmam que o processo político iniciado há 50 anos tem suas principais falhas
no terreno dos direitos civis e na falta de liberdade de organização política,
econômica, de expressão e de imprensa.
A oposição política é ilegal em Cuba. Grupos dissidentes são tolerados, mas
não têm qualquer respaldo jurídico. Qualquer tipo de atividade pública pode ser
reprimida, e, aqueles que insistem podem acabar na cadeia. Até mesmo os
comunistas mais críticos, que buscam mudanças dentro do sistema, como
Eliécer Ávila ou Pedro Campos, carecem de um espaço de debate. O governo
os acusa de promover a divisão e de dar armas ao inimigo.
Imprensa
O escritor Lisandro Otero disse, há alguns anos, em um artigo, que em Cuba
tudo o que não é obrigatório está proibido. Pode parecer exagero, mas a
verdade é que para a população também não há muito espaço para o debate.
Os meios de comunicação são controlados pelo Partido Comunista, que define
a linha editorial de cada jornal, revista, emissora de rádio e canal de televisão.
As vozes discordantes não são bem-vindas.
A imprensa cubana só toca em temas como prostituição, delinquência, racismo,
salários ou corrupção depois que tenham sido abordados em público pelo expresidente Fidel Castro ou pelo líder atual, Raúl Castro.
Durante anos, as prostitutas não existiram para os jornalistas. Não se
mencionou a corrupção até o Comandante dizer que esta colocava a
Revolução em perigo. Só se começou a falar sobre drogas quando Fidel Castro
denunciou sua existência em um discurso.
Economia
No terreno econômico, a Revolução cubana também não colheu muitos frutos.
Meio século depois, o governo reconhece que a corrupção corre solta no país,
os salários são insuficientes para viver e as possibilidades de consumo do
cidadão cubano são mínimas.
Além disso, o governo limita a liberdade econômica dos cidadãos, impedindo o
desenvolvimento do trabalho por conta própria, atividade que requer uma
licença que há mais de dez anos não é entregue pelas autoridades cubanas.
Não se pode esquecer que os Estados Unidos estabeleceram um embargo
econômico em 1962 que custou a Cuba, segundo cifras oficiais, quase US$
100 bilhões e afetou todas as áreas econômicas, inclusive o turismo, a
produção de açúcar e tabaco, e a extração de níquel.
No entanto, os críticos salientam que o governo cubano também cometeu erros
econômicos, como arrasar todas as árvores frutíferas de Havana nos anos 60,
paralisar o país para realizar a colheita da safra de cana-de-açúcar em 1970 ou
basear a agricultura em granjas estatais, que se mostraram bastante
improdutivas, como reconhece o Escritório Nacional de Estatísticas.
Nos anos 80, Cuba deixou de pagar seus credores ocidentais e acabou
comprando quase 100% de suas importações de países socialistas, nos quais
graças ao Conselho de Ajuda Mútua Econômica (Came) podia ter crédito e
obter vantagens no intercâmbio de sua produção.
No século 19, o herói da independência cubana, José Martí, disse que "é
preciso equilibrar o comércio para assegurar a liberdade". "O povo que quer
morrer, vende a um só povo, e o que quer se salvar vende a mais de um. A
influência excessiva de um país no comércio com outro se converte em
influência política".
José Martí foi um visionário. Cuba não apenas copiou o modelo econômico e
político da União Soviética como mergulhou na maior crise de toda a sua
história quando o bloco soviético desapareceu. Uma crise que se arrasta até os
dias atuais.
Ainda assim, os cubanos têm esperança num futuro melhor.
Futuro: cubanos pressionam por mudanças no socialismo
Poucos duvidam que o futuro de Cuba e do seu processo revolucionário serão
determinados, em grande parte, pelas medidas que o governo de Raúl Castro
adote no futuro próximo. A maioria dos cubanos, dos intelectuais ao homem
comum, coincide na necessidade de se realizarem mudanças.
Mesmo Fidel Castro, pouco antes da sua grave doença, disse que o processo
revolucionário podia ser destruído pelos próprios cubanos. E num dos seus
discursos disse que Revolução "é mudar tudo o que deve ser mudado". E com
isso abriu uma grande porta.
A 26 de Julho de 2007, Raúl Castro, já como presidente interino, prometeu
mudanças estruturais, mas com um limite: "a única coisa que nenhum
revolucionário jamais questionará é a nossa decisão de construir o socialismo".
Por sua parte, a população expressou-se com toda a claridade em 1,2 milhões
de críticas feitas, em 2007, ao funcionamento do país, num debate nacional
organizado pelo próprio Raúl Castro e em que participaram cerca de 5 milhões
de cubanos, ou seja, quase metade da população do país.
O que acontecer no futuro com a Revolução Cubana estará muito ligado a sua
capacidade de se transformar. A população que a apoiou durante décadas
reclama hoje, de melhorias econômicas, sobretudo de salários, alimentação e
moradia.
O sentimento de muitos em Cuba é que a Revolução só escapará desta
sentença se for capaz de converter a proposta original de bem-estar em uma
realidade palpável para o homem comum.
Cronologia dos 50 anos da Revolução Cubana
1959
1º janeiro
O ditador e general Fulgêncio Batista renuncia ao cargo de presidente de Cuba
e fugia do país quando guerrilheiros revolucionários, liderados por Fidel Castro,
entraram na cidade de Santiago de Cuba.
Enquanto uma coluna do Exército 26 de Julho de Fidel Castro entrou no porto
da cidade, outro grupo de rebeldes, entre eles Ernesto Che Guevara e Raúl
Castro, tomou à capital, Havana.
A revolução foi forjada a partir da Sierra Maestra. Depois de perder o apoio do
governo dos EUA, o governo de Batista ficou em situação frágil quando a
ofensiva contra os rebeldes em meados de julho fracassou. O general Batista
havia liderado dois golpes. No segundo, em 1952, ele tomou o lugar do
presidente eleito Carlos Prío.
16 de fevereiro
O líder revolucionário Fidel Castro tornou-se o mais jovem premiê da história
de Cuba, assumindo o cargo aos 32 anos. O Exército 26 de Julho assumiu o
controle do país no dia 1º de janeiro, após a fuga de Fulgêncio Batista.
Fidel sucedeu a José Miró Córdoba, que assumira o cargo no dia 5 de janeiro,
mas renunciou dias depois sem explicação, juntamente com todo o gabinete.
"Nós temos grandes planos", disse Fidel Castro. "Sofremos quando não
conseguimos colocá-los [os planos] em prática rapidamente, mas preparativos
técnicos levam tempo."
15 de abril
Fidel Castro visita os EUA, numa viagem marcada por tensões com o governo
americano, preocupado com sua retórica antiamericana. Apesar de a Casa
Branca ter reconhecido formalmente o novo regime cubano, seis dias após
Fidel ter tomado o poder, o presidente Dwight D. Eisenhower não encontrou
Fidel durante sua visita, devido principalmente a tensões causadas pela
decisão cubana de nacionalizar fábricas e propriedades agrárias controladas
por americanos.
Os EUA romperam relações diplomáticas com Cuba em janeiro de 1961.
1960
05 de julho
O governo anunciou que todas as empresas americanas em Cuba seriam
nacionalizadas sem indenização. A ordem foi um dos primeiros passos na
guerra econômica já em andamento entre os dois países, e ocorreu depois que
os EUA reduziram a cota de importação de açúcar em 700 mil toneladas. Cuba
se aproxima da União Soviética, a quem vende milhões de toneladas de
açúcar.
O clima era de tensão desde que Fidel Castro sancionou a primeira Lei de
Reforma Agrária, que permitiu a expropriação de latifúndios por um preço
considerado inadequado pelas proprietárias, as empresas americanas.
1961
17 de abril
Um exército de contrarrevolucionários invadiu a ilha com o objetivo de destruir
o líder do país, Fidel Castro. A força, com cerca, de 1,4 mil exilados cubanos,
desembarcou na Baía dos Porcos, com apoio de forças aéreas e navais dos
EUA. Miró Cardona, líder do movimento, disse que havia começado a batalha
"para liberar nossa pátria do regime despótico de Fidel Castro".
Fidel liderou, ele próprio, a operação para repelir a invasão, dizendo em um
discurso na rádio cubana que "os gloriosos soldados do Exército revolucionário
e da milícia nacional estão lutando contra o inimigo em todos os pontos onde
ele desembarcar".
19 de abril
A invasão da Baía dos Porcos terminou depois que os exilados cubanos que
tentaram derrubar o governo de Fidel Castro foram capturados. Os
contrarrevolucionários apoiados pelos EUA tinham a intenção de penetrar na
ilha e unir os cubanos em torno de sua causa. Mas o apoio não veio, e a
Brigada 2506 ficou atolada em um pântano na Baía dos Porcos.
Um grupo anticastrista invadiu a costa com o apoio dos EUA. Um total de 104
membros da Brigada 2506 foram mortos e 1.189 foram capturados.
1º de maio
O primeiro-ministro de Cuba, Fidel Castro, proibiu eleições no país depois de
declarar a ilha uma "nação socialista". Discursando em um desfile de 1º de
Maio em Havana, Fidel disse que "a revolução não tem tempo para eleições". E
acrescentou, "Não há governo mais democrático na América Latina do que o
governo revolucionário".
De acordo com o correspondente da BBC Erik de Mauny, a revolução de Fidel
Castro parecia então ser popular entre os agricultores, mas não entre as
classes mais abonadas que tiveram suas terras e propriedades confiscadas.
04 de setembro
Os EUA aprovaram uma lei autorizando o presidente Kennedy a impor um
"embargo comercial total" contra Cuba. A Lei de Ajuda Externa proibiu qualquer
auxílio à ilha.
Um embargo parcial já havia sido imposto pelo presidente Eisenhower em
1960, mas excluía alimentos e remédios.
1962
22 de outubro
Após a descoberta de mísseis soviéticos em Cuba, o presidente Kennedy fez
um pronunciamento na TV declarando um bloqueio naval contra Cuba e
ameaçando: "É política desta nação considerar qualquer lançamento de míssil
nuclear contra qualquer nação do Hemisfério Ocidental um ataque contra os
Estados Unidos, exigindo uma resposta retaliatória completa à União
Soviética."
Analistas disseram que o mundo estava à beira da guerra nuclear. Kennedy dá
ultimato a Moscou para a retirada dos mísseis em Cuba.
28 de outubro
O líder russo Nikita Khrushchev concordou em desmobilizar todos os mísseis
russos colocados em Cuba, pondo fim à ameaça iminente de guerra nuclear. O
anúncio foi feito em uma mensagem pública ao presidente americano John F.
Kennedy na Rádio Moscou.
Em resposta, Kennedy disse que a decisão era "uma importante contribuição à
paz" e prometeu que os EUA não invadiriam Cuba. O clima era de tensão
desde que um avião de reconhecimento U2 havia revelado a existência de
vários mísseis na ilha no dia 14 de outubro.
24 de dezembro
O último dos mais de mil prisioneiros da invasão da Baía dos Porcos, em Cuba,
foi enviado para os EUA antes do Natal. O governo concordou em receber uma
recompensa de US$ 53 milhões em alimentos e suprimentos médicos, doada
por empresas de várias partes dos EUA, como condição para a libertação dos
exilados cubanos.
O transporte por via aérea dos prisioneiros começou no dia 23, quando os
primeiros 107 homens embarcaram em um DC-6 da Pan American World
Airways em uma base militar perto de Havana.
Uma multidão de 10 mil exilados cubanos nos EUA receberam os 1.113
homens libertados por Cuba no Dinner Key Auditorium, no subúrbio de Miami.
1967
09 de outubro
Surgiram notícias de que o líder revolucionário marxista Ernesto Che Guevara
fora morto durante uma batalha entre soldados do Exército e guerrilheiros na
selva boliviana.
Uma declaração emitida pelo comandante da 8ª Divisão do Exército Boliviano,
coronel Joaquín Zenteno Anaya, anunciava que o líder guerrilheiro de 39 anos
havia sido morto a tiros perto do vilarejo de Higueras, no sudeste do país. Che
acabou deixando Cuba para atuar no Congo e na Bolívia.
Guevara era um ex-braço direito do premiê cubano Fidel Castro, mas
desaparecera em 1965 e seu paradeiro vinha sendo muito debatido desde
então. Um exame necrológico no corpo de Che Guevara, realizado dois dias
após sua morte, sugeriu que ele não foi morto num tiroteio, mas capturado e
executado um dia depois.
1975
04 de novembro
Começou um envio maciço de tropas cubanas para Angola, uma semana antes
da data marcada pelos nacionalistas para declarar a independência do país.
As tropas apoiam o Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA),
que vinha lutando pela independência de Portugal desde 1961. As forças
cubanas se confrontariam, em Angola, com as tropas da África do Sul, que
apoiavam as forças da Unita.
Angola era o mais novo front das várias guerras "indiretas" entre a União
Soviética, que entrou com as forças cubanas, e o Ocidente, que apoiava a
Unita.
1976
27 de março
Forças sul-africanas retiram-se de Angola, no que foi visto como uma vitória da
presença militar cubana no país. As tropas cubanas tinham sido enviadas a
Angola antes da independência do país, em novembro do ano anterior, e
vinham lutando contra tropas sul-africanas que apoiavam as forças rebeldes da
Unita.
As forças cubanas apoiavam o comunista Movimento Pela Libertação de
Angola (MPLA), e receberam apoio da União Soviética.
02 de dezembro
Castro se tornou presidente de Cuba depois de mudanças na Constituição do
país. Ele vinha ocupando o cargo de primeiro-ministro desde 1959, após a
vitória da revolução cubana e da fuga de Fulgêncio Batista.
As mudanças constitucionais tinham o objetivo de institucionalizar a revolução
e fazer de Fidel Castro presidente do Conselho de Estado e Conselho de
Ministros. A Constituição foi aprovada por um referendo nacional no dia 15 de
fevereiro deste ano.
1980
31 de outubro
O êxodo em massa de cubanos para os EUA, conhecido como "Fuga de
Mariel", teve fim depois de um acordo entre os dois países. Os cubanos
começaram a seguir para os EUA no dia 15 de abril, quando, depois de uma
desaceleração da economia do país, o governo anunciou que quem quisesse
poderia partir.
Um total de 125 mil migrantes havia deixado o porto de Mariel, em Cuba, para
fazer a travessia para a Flórida. Mas o êxodo se mostrou um problema para o
presidente americano Jimmy Carter, depois que foi descoberto que vários dos
exilados eram ex-prisioneiros ou pessoas com problemas mentais.
1983
25 de outubro
Forças invasoras americanas entraram em choque com soldados cubanos na
ilha caribenha de Granada. O embargo dos EUA e a desintegração da União
Soviética abalaram a economia cubana.
Uma coalizão dos EUA e forças regionais entrou em Granada depois de uma
luta de poder na ilha que se seguiu ao assassinato do primeiro-ministro
Maurice Bishop seis dias antes. Bishop desenvolvera laços estreitos com Cuba
desde que chegara ao poder na revolução de Granada, em 1979.
A invasão foi considerada pelas Nações Unidas como "uma violação flagrante
das leis internacionais" por 122 votos a nove.
1989
17 de setembro
Os últimos soldados cubanos que haviam entrado na Etiópia em 1977, como
parte da Guerra de Ogaden, deixam o país. Cerca, de 15 mil soldados cubanos
tomaram parte inicialmente no conflito na conturbada região do leste da África
durante uma de várias guerras indiretas entre as potências.
Cuba apoiou os etíopes contra a Somália em uma batalha pelo deserto de
Ogaden. Cerca de 400 cubanos morreram durante o conflito inicial, que durou
até 1978, embora vários dos soldados tenham permanecido no país até a
década de 80.
1993
06 de novembro
O governo cubano anunciou que as estatais cubanas seriam abertas ao
investimento privado. A Perestróica de Gorbatchov marcou o início do
distanciamento entre Rússia e Cuba. A iniciativa tinha o objetivo de estimular a
economia de Cuba, gravemente afetada pela dissolução de seu principal
parceiro comercial, a União Soviética, em 1991.
Com o fim da União Soviética, Cuba permanece como um dos poucos países
comunistas do mundo, ao lado de Coreia do Norte e Vietnã. Os EUA mantêm
um embargo comercial com Cuba desde que Fidel Castro ordenou a
nacionalização de todas as suas indústrias na ilha em 1961.
1996
12 de março
O Congresso dos EUA aprovou lei reforçando o embargo comercial do país a
Cuba. A Lei Helms-Burton ampliou a medida, tornando passíveis de processo
empresas estrangeiras que tenham relações comerciais com Cuba. A lei tinha
o objetivo de trazer "uma transição pacífica para uma democracia
representativa e uma economia de mercado em Cuba".
A proposta não foi aprovada originalmente quando foi apresentada no
Congresso em 1995, mas foi reapresentada depois que caças cubanos
derrubaram dois aviões privados operados por um grupo anticastrista no mês
anterior.
1998
21 de janeiro
O papa João Paulo II pediu reformas e a libertação de presos políticos em
Cuba, ao mesmo tempo em que condenou tentativas dos EUA de isolar o país.
Em pronunciamento na capital, Havana, o papa disse que a liberdade de
consciência é "a base e o fundamento de todos os direitos humanos".
“Um Estado moderno, não pode tornar o ateísmo ou a religião um de seus
ordenamentos políticos", acrescentou. João Paulo II foi o primeiro pontífice a
visitar a ilha caribenha comunista. O presidente Fidel Castro, que estudou em
um colégio jesuíta, declarou Cuba um Estado ateu depois que assumiu o poder
em 1959.
1999
27 de novembro
Um menino cubano e dois adultos que sobreviveram ao naufrágio de um barco
que seguia para os EUA foram resgatados perto do litoral da Flórida. A Guarda
Costeira encontrou também os corpos de outros sete passageiros que se
afogaram inclusive o da mãe do garoto.
O menino, Elián González, foi resgatado por um pescador a cerca de 3
quilômetros da costa de Fort Lauderdale. O caso Elián mobilizou os exilados
cubanos em Miami.
07 de dezembro
Os cubanos realizaram protestos diante da embaixada dos EUA em Havana,
exigindo a volta de Elián González, de seis anos. Ele havia sobrevivido ao
naufrágio em que sua mãe morreu na costa da Flórida. Cubanos munidos de
faixas gritavam palavras de ordem antiamericanas; e o presidente cubano,
Fidel Castro, acusou os EUA de "sequestrarem" o menino. Os colegas de
classe de Elián também estavam na manifestação realizada na capital cubana.
2000
22 de abril
Agentes federais dos EUA tomaram o menino de parentes depois de uma
batida na casa deles em Miami nas primeiras horas da manhã. Cerca, de 25
agentes derrubaram a porta da casa e saíram do imóvel com Elián enrolado em
um cobertor.
O menino foi colocado em um veículo e levado do local em meio a cenas
caóticas. Elián foi colocado em um avião e levado para a base da Força Aérea
de Andrews, no subúrbio de Washington, onde viu seu pai pela primeira vez em
cinco meses.
14 de dezembro
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, visitou Cuba, onde assinou um acordo
para estimular o comércio bilateral. Durante esta primeira visita de um líder
russo desde a desintegração da União Soviética, Putin disse que vinha
examinando formas de perdoar a dívida cubana de US$ 11 bilhões.
O comércio da Rússia com Cuba diminuiu acentuadamente desde 1991,
chegando agora a US$ 1 bilhão por ano, em comparação aos US$ 3,6 bilhões
no último ano de existência da União Soviética.
Mas Putin disse que há questões que ainda precisam ser resolvidas com Cuba,
como o pagamento da dívida cubana para com Moscou.
2002
06 de maio
Cuba foi incluído na lista de países do "Eixo do Mal" dos EUA e acusado de
procurar desenvolver armas biológicas. Sob Hugo Chávez, a Venezuela se
tornou aliada de Cuba.
O subsecretário de Estado americano, John Bolton, colocou a ilha ao lado de
Líbia e Síria em uma nova lista de países considerados "Estados que
patrocinam terrorismo". Os três estão "buscando armas de destruição em
massa", disse Bolton.
O "Eixo do Mal" original, identificado pelo presidente americano, George
W.Bush depois dos ataques de 11 de setembro, era formado por Coreia do
Norte, Iraque e Irã.
12 de maio
O ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter, chegou a Cuba para uma visita de
seis dias que tem o objetivo de ajudar a aproximar os dois vizinhos, que brigam
há mais de 40 anos. O governo cubano não está realmente interessado em ter
relações normais com o governo dos EUA.
Carter foi recebido no aeroporto por Fidel Castro e conversou com políticos e
dissidentes antes de um pronunciamento na TV. O ex-presidente foi o político
americano que ocupou cargo mais elevado a visitar Cuba desde que Fidel
Castro subiu ao poder a 43 anos.
Depois que deixou o cargo em 1981, Carter criou uma organização pela causa
da paz e o entendimento entre os povos.
2006
1º de agosto
O veterano líder cubano, Fidel Castro, passou o poder temporariamente a seu
irmão, Raúl, por causa de uma doença. Uma nota escrita pelo presidente e lida
na TV por seu secretário pessoal, dizia que Fidel Castro tinha se submetido a
uma cirurgia para estancar uma hemorragia interna.
O líder cubano, que completara 80 anos, disse que uma agenda muito cheia
nas últimas semanas afetara sua saúde. Esta foi a primeira vez que Fidel
Castro abriu mão de algum de seus poderes desde que assumiu o governo, em
1959.
04 de agosto
O presidente dos EUA, George W. Bush pediu aos cubanos que trabalhassem
por uma transição democrática em suas primeiras declarações desde que Fidel
Castro passou por uma cirurgia no estômago.
Bush prometeu apoio de Washington aos cubanos que procurarem "construir
um governo de transição em Cuba comprometido com a democracia". Desde
que Fidel Castro passara o poder a seu irmão, Raúl, três dias antes, nenhuma
imagem de nenhum dos dois foi divulgada.
Os meios de comunicação cubanos destacaram que as Forças Armadas
estavam preparadas para qualquer ataque ao sistema comunista.
2007
11 de agosto
Um conhecido dissidente cubano foi libertado depois de quase 15 anos na
prisão por revelar segredos da segurança do Estado. Francisco Chaviano, um
ex-professor, foi condenado em 1995 e recebeu liberdade condicional.
A Comissão Cubana para os Direitos Humanos e a Reconciliação Nacional,
que é independente, disse que ele era o prisioneiro político preso há mais
tempo no país. Chaviano foi um dos principais dissidentes e ativistas pelos
direitos humanos de Cuba em meados da década de 90. Em 2006, a Anistia
Internacional havia dito que o julgamento militar a que ele havia sido submetido
não atendia aos padrões internacionais.
2008
19 de fevereiro
O debilitado líder cubano, Fidel Castro, anunciou que não aceitaria outro
mandato como presidente, encerrando seus 49 anos no poder. O líder passou
o governo temporariamente a seu irmão, Raúl, em julho de 2006, quando foi
operado, e não foi visto em público desde então.
O novo Parlamento de Cuba se reuniria em seguida para eleger um novo
presidente. Washington pediu a Cuba que realize eleições livres, e disse que
seu embargo que já dura décadas deve continuar em vigor.
25 de fevereiro
Raúl Castro foi indicado por unanimidade sucessor de seu irmão, Fidel, como
líder de Cuba, pela Assembleia Nacional. Raúl, na verdade, vinha sendo
presidente desde que Fidel foi operado em julho de 2006. Acredita-se que Raúl
foi o único nome em uma votação vista como uma formalidade.
Em discurso à nação depois da votação a portas fechadas, Raúl Castro disse
que o governo cubano iria continuar a consultar Fidel, 81, sobre as grandes
decisões de Estado uma iniciativa apoiada pelos integrantes da Assembleia
Nacional.
"O comandante-em-chefe da Revolução Cubana é único, Fidel é Fidel, como
todos bem sabemos, ele é insubstituível", disse Raúl Castro.
25 de dezembro
O presidente de Cuba, Raúl Castro, teve um encontro com o líder venezuelano
Hugo Chávez em sua primeira viagem ao exterior depois que assumiu o poder,
substituindo Fidel Castro. Os dois líderes assinaram uma série de acordos nas
áreas comerciais e de energia.
O encontro ocorreu poucas semanas antes do 50º aniversário da Revolução
Cubana, e Chávez disse que a viagem teve a "mesma importância" que a
primeira viagem internacional de Fidel, também à Venezuela, em 1959. Na
visita de Raúl, também foram anunciados mais de 300 projetos conjuntos nas
áreas de saúde, educação, cultura e esporte.
*Alex Ornold, bibliotecário e editor do site do CE Bartolomeu Mitre.
Fonte - AFP; BBC; EFE; Folha de São Paulo; Revista História; Último Segundo