Programa de Leitura – 1º Semestre de 2012

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TEMA 1: MOBILIDADE SOCIAL COLETÂNEA Coletânea compilada por: Carlos Eduardo Pizzolatto Cláudia de Jesus Abreu Feitoza Eliana Maria Severino Donaio Ruiz Luzia Bueno Milena Moretto 2012 1
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SUMÁRIO 1. 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 TEMA: MOBILIDADE SOCIAL........................................................................................................................... 03 REPORTAGENS.................................................................................................................................... 03 Texto 1.1.1 – Reportagem “Em 21 meses, 13 milhões entram na classe econômica”.................................... Texto 1.1.2 – Reportagem “Como os brasileiros gastam” ............................................................................. ARTIGOS DE OPINIÃO....................................................................................................................................... Texto 1.2.1 – Artigo de Opinião “Análise: O governo Lula e a ascensão de classes no Brasil”......................... Charge 1.5.1...................................................................................................................................................... Charge 1.5.2...................................................................................................................................................... 03 04 12 12 13 15 16 20 20 21 22 22 23 Texto 1.2.2 – Artigo de Opinião “A classe média revoltada”..............................................................
Texto 1.2.3 – Artigo de Opinião “O que quer a classe C?”................................................................. CHARGE E ARTIGO DE OPINIÃO “Mobilidade Social: Mérito versus Rede Social”........................................... LETRAS DE MÚSICA........................................................................................................................................... Texto 1.4.1 – Letra de música “Vai de Madureira” .......................................................................................... Texto 1.4.2 – Letra de música “Neguinho” ..................................................................................................... CHARGES.............................................................................................................................................
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TEMA 1: MOBILIDADE SOCIAL TEXTOS 1.1 – REPORTAGENS Texto 1.1.1 – Reportagem Em 21 meses, 13 milhões entram na classe econômica Elaine Patricia Cruz Nos últimos 21 meses, até maio deste ano, cerca de 13,3 milhões de pessoas ascenderam às classes A, B ou C no Brasil. A informação consta do estudo Os Emergentes dos Emergentes, divulgado na segunda‐feira 27, em São Paulo, pela Fundação Getulio Vargas. Segundo Marcelo Neri, coordenador do estudo, o dado revela uma “transformação de grande magnitude” que está acontecendo no país. Isso se deve, segundo ele, principalmente porque a renda do brasileiro vem crescendo desde o fim de 2003 e a desigualdade vem caindo há dez anos consecutivos. De acordo com ele, a mudança também ocorreu por causa da estabilidade econômica e do controle da inflação e, sobretudo, devido à educação. “Só pelo efeito da educação, se tudo ficasse constante, a renda do brasileiro cresceria 2,2 pontos de porcentagem por ano, o que é bastante. Eu diria que a educação é a grande política estrutural por trás disso”, afirmou Neri. Nos últimos 21 meses, o maior crescimento se deu nas classes A e B (12,8%), seguidas pela classe C, que cresceu 11,1%. Quando se passa a analisar a mudança que ocorreu nas classes econômicas do Brasil desde 2003, o estudo aponta que 48,7 milhões de brasileiros entraram nas classes A, B e C, população maior que a da Espanha. A base da pirâmide, formada pelas classes D e E, por sua vez, ficou menor. Em 2003, 96,2 milhões de pessoas faziam parte da base da pirâmide. Neste ano, o número passou para 63,6 milhões. A classe C, por sua vez, passou de 45 milhões de pessoas em 1993 para 105,5 milhões este ano. A principal explicação para o encolhimento da classe E, segundo Neri, são os programas de transferência de renda para os mais pobres, como o Bolsa Família. Já a ascensão da classe C, segundo ele, vem sendo observada desde a implementação do plano real. “O trabalhador brasileiro está trabalhando mais porque se educou mais, está conseguindo trabalho formal e acho que ele é o grande herói dessa ascensão da classe média”, afirmou Neri. Outro fator que contribuiu para a ascensão à classe C foi o aumento do salário mínimo. O estudo ainda revelou que a evolução dos indicadores das classes sociais no Brasil tem sido superior ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e maior que na China. Desde 2003, a renda da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (Pnad) cresceu 1,8 ponto percentual ao ano acima do PIB, superior ao que ocorreu na China, onde o PIB tem crescido dois pontos percentuais por ano acima da renda dos domicílios chineses. Comparando com os outros países que integram o Brics (grupo de países formado pelo Brasil, pela Rússia, Índia, China e África do Sul), o Brasil apresentou, na década de 2000, a segunda melhor taxa de crescimento anual da renda domiciliar per capita entre os 20% mais pobres da população, com 6,3%, atrás da China, com 8,5%. Em terceiro, aparece a África do Sul (5,8%), seguida pela Índia (1%). Já com relação aos 20% mais ricos, a taxa de crescimento anual da renda familiar foi maior nos outros países: China (15,1%), África do Sul (7,6%), Índia (2,8%) e Brasil (1,7%). O estudo também avaliou que os brasileiros estão mais felizes e satisfeitos com a sua vida que os demais povos dos países do Brics. Numa escala que varia de 0 a 10, a média brasileira de satisfação no ano de 2009 foi 7, enquanto atingiu 5,2 na África do Sul e 4,5 na China e na Índia. No ranking mundial de felicidade, o Brasil alcançou a 17ª posição em 2009, entre 144 países analisados. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/politica/mais-de-13-milhoes-de-pessoas-subiram-de-classeeconomica-nos-ultimos-21-meses-mostra-fgv/. Acesso em: 19 fev. 2012. 3
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Texto 1.1.2 – Reportagem Como os brasileiros gastam O crescimento econômico muda o mapa do consumo no Brasil, faz disparar as vendas de produtos e serviços sofisticados e aumenta o apetite de todas as classes sociais para comprar mais Por Amauri Segalla e Fabíola Perez CLASSE B Boa parte do rendimento familiar é destinada à educação (ensino superior, intercâmbio e cursos de especialização) Há alguns dias, o Ibope Inteligência divulgou um prognóstico espantoso a respeito da economia brasileira. As projeções indicam que o consumo das famílias vai crescer 13,5% em 2012, alta comparável ao desempenho de um país como a China. De acordo com o Ibope, até o final do ano os gastos nacionais devem totalizar R$ 1,3 trilhão, valor equivalente à soma dos PIBs de Argentina e Suécia. Será o nono 4
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avanço consecutivo desse indicador, feito notável diante das crises financeiras que, principalmente depois de 2008, derrubaram a Europa e os Estados Unidos. Hoje, o Brasil é campeão de vendas em diversos setores. Em nenhum lugar do planeta o comércio de celulares e tevês de telas finas, para usar exemplos de produtos que demandam tecnologia de ponta, cresce tão velozmente. O País já é o quarto maior mercado global de carros, o terceiro de cosméticos e de cerveja e lidera com folga negócios tão diversos quanto produção de gravatas (o que é resultado direto do aumento da oferta de cargos executivos) e achocolatados (com mais dinheiro, a classe C fez sumir das prateleiras chocolate em pó e em caixinha). O fenômeno, como se observa nesses dados, é alimentado pelo enriquecimento da população. Os brasileiros não estão apenas comprando mais. Acima de tudo, estão gastando com qualidade. A classe média, responsável por quase 80% do consumo das famílias, trocou carros com motor 1.0 por veículos mais potentes, o frango por carne nobre, o óleo de soja por azeite. Claro, o Brasil não é uma Suíça, mas está cada vez mais parecido com as nações ricas. “No Brasil, a revolução no consumo está ocorrendo de maneira mais agressiva do que em outros lugares”, diz Henry Manson, chefe de pesquisa da consultoria americana Trendwatching, especializada em marcas e com atuação em mais de 120 países. O mapa do consumo no País é o retrato acabado dessa transformação. Embora ainda predominem como forças econômicas, as regiões Sul e Sudeste vêm perdendo espaço, no volume de vendas nacionais, para os Estados do Norte e Nordeste. Em 2012, o consumo deve crescer 6,5% no Sudeste, ou um quarto da disparada prevista para o Norte e o Nordeste do País. A diversificação das oportunidades é boa para as empresas, que faturam alto com os novos mercados, e para os consumidores, que passam a ter acesso a mais bens e serviços. Esse processo de amadurecimento da economia brasileira só foi possível graças à combinação de três fatores: o crescimento continuado, a redução da desigualdade e a expressiva geração de empregos. “As empresas oferecem oportunidades com carteira assinada, o consumidor se sente mais confiante para obter acesso ao crédito e a economia toda é favorecida”, diz Marcelo Neri, economista e coordenador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV). É fácil comprovar a mudança em curso no País. De 2003 a 2011, a renda média do brasileiro cresceu 33%. Nesse período, nove milhões de pessoas passaram a integrar as classes A e B. Já a classe C, a que mais evoluiu, ganhou 40 milhões de novos integrantes – contingente semelhante à população inteira da Espanha. CLASSE C O pedreiro Sadir Maximovitz, a mulher, Cleonice, e as filhas 5
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Ana Alice e Gabriela (da esq. para a dir.): com o crédito farto, ele comprou cinco apartamentos e eletrodomésticos modernos São pessoas como o pedreiro Sadir Maximovitz que impulsionam as estatísticas do consumo nacional. Aos 36 anos, ele possui cinco apartamentos em Florianópolis, onde vive atualmente com a família. Nascido no interior do Paraná, desistiu de trabalhar como agricultor para começar a vida do zero em Santa Catarina. Como não tinha o segundo grau completo, voltou a estudar para conseguir o primeiro emprego na cidade. Ingressou na área de construção e, com a farta oferta de crédito, comprou o primeiro imóvel. O boom imobiliário trouxe um rosário de oportunidades – e todo o dinheiro que sobrava era investido em um novo apartamento. Hoje são cinco. As pesquisas econômicas comprovam a importância do setor habitacional para o crescimento do País. Os brasileiros destinam 35% de seu orçamento para a habitação, quase o dobro do dinheiro gasto com alimentação. Mas não são apenas os imóveis que estão no foco de interesse da família Maximovitz. A renda familiar de R$ 3 mil permite confortos até pouco tempo atrás inacessíveis. Ele, a mulher e as duas filhas, de 12 e 9 anos, têm celular próprio. A cozinha foi equipada com eletrodomésticos modernos (torradeira, máquina de café expresso) e a geladeira é nova em folha. A notícia mais surpreendente é que a ascensão de Maximovitz, um autêntico representante da classe C, provavelmente não terminou. “A próxima revolução do consumo deverá ocorrer dentro de dois ou três anos, quando a classe C ascender para a B”, afirma Antônio Carlos Ruótulo, diretor do Ibope Inteligência. “O processo vai levar a uma alteração muito mais intensa do que a primeira ascensão social, que provocou a formação da nova classe média no País.” A mobilidade social é resultado direto do aumento da renda. Portanto, diz Ruótulo, o salto será irreversível. Projeta‐se, para o futuro próximo, uma classe A/B composta por impressionantes 30 milhões de pessoas, que terão dinheiro suficiente para comprar carros melhores, se vestir melhor, viajar para o Exterior, investir em produtos de alta tecnologia, comer bem. De certa forma, isso já vem acontecendo no País, mas há na fila uma multidão ansiosa para entrar nesse grupo de elite. Quando a revolução enfim terminar, o Brasil vai rivalizar em condições de igualdade com as grandes potências globais. Que empresa estrangeira não vai querer colocar seu produto aqui? Que marcas não vão priorizar o mercado brasileiro? Quem será maluco de ficar fora desse movimento? CLASSE E O condutor de mototaxi Fábio Santos com a mulher, Amara da 6
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Silva (de verde), e os filhos Allysson e Adriene: com a ajuda do Bolsa Família, a família consegue encher a geladeira Segundo o economista Marcelo Neri, da FGV, a mudança é mais sustentável do que muitos acreditam. “Ao mesmo tempo que o desenvolvimento econômico se intensifica, a taxa de desigualdade registrou uma queda de 2,1% nos últimos 12 meses”, diz ele. Em apenas um ano, portanto, houve um forte movimento para cima de brasileiros que estavam na base da pirâmide. Isso em tempos de dúvida a respeito do futuro da Europa e do impacto que os problemas do Velho Continente podem causar mundo afora. Para pessoas como o salva‐vidas Leandro Rodrigues, 30 anos, a palavra crise está muito distante de seu dia a dia. Ele vive no bairro do Humaitá, no Rio de Janeiro e, graças ao crédito fácil, conseguiu comprar uma moto financiada. Hoje, o seu principal sonho de consumo é a educação, a exemplo do que ocorre com a maioria dos integrantes da classe D. “Estudei até o segundo grau e depois fiz um curso técnico de administração de empresas”, diz Rodrigues. “Agora tenho planos de fazer outros cursos.” Mesmo para aqueles cujos anseios de consumo se limitam à alimentação, o crescimento econômico dos últimos anos abriu um leque de oportunidades. Fábio Santos, 36 anos, faz bicos como mototaxi na favela Morro dos Cabritos, no Rio de Janeiro, e sua mulher, Amara da Silva, trabalha como auxiliar de serviços gerais. Boa parte de sua renda vem do Bolsa Família, que permitiu que ele e a mulher comessem melhor – e ajudassem os supermercados a faturar mais. “A minha geladeira nunca fica vazia”, diz Santos. Hoje em dia, as classes D e E representam 20,6% do total de domicílios brasileiros e bancam 7% do consumo. Segundo pesquisa do Ibope, as despesas dessa parcela da população se concentram basicamente na alimentação e no vestuário. A maior transformação do consumo brasileiro, porém, é a busca pela qualidade. Basta dar uma espiada nas estatísticas para captar esse desejo. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada pelo IBGE, entre 2003 e 2009 o consumo médio mensal de carne de primeira aumentou 4,2% no País. Enquanto isso, o de frango caiu 11,8%. Há casos mais emblemáticos. A compra de azeite subiu 13,8% e a de óleo de soja, recuou 45,5%. Detalhe importante: o azeite custa, em média, o triplo de seu concorrente menos nobre. “As famílias brasileiras deixaram de comprar apenas o básico e estão ingressando em categorias de maior valor agregado”, diz Sussumo Honda, presidente da Associação Brasileira de Supermercados. “Produtos como carne, verduras, legumes e frutas começaram a fazer parte da cesta de compras das classes mais baixas.” O executivo também cita os produtos orgânicos como exemplo dessa mudança. Eles ainda representam pouco do faturamento do setor, mas sua venda cresce sistematicamente mais do que a de outros alimentos. “Os consumidores cada vez mais privilegiam itens saudáveis na hora de comprar”, diz Honda. Isso tem um preço, em geral muito mais alto do que alimentos que não fazem bem à saúde. CLASSE A 7
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O empresário e pecuarista Luís Hermano Colferai e a mulher, Maria Izete Colferai: como a maioria dos que estão no topo da pirâmide, ele investe em produtos financeiros e imóveis Na área de tecnologia, o caso brasileiro já foi chamado de “milagroso” por publicações estrangeiras especializadas em economia. Em nenhum outro país as vendas de smartphones são tão vertiginosas. Em 2011, cresceram 179%. Para efeito de comparação, nos Estados Unidos a alta não chegou a dois dígitos. Enquanto até em países como o Japão as vendas de tevês com tecnologia 3D não deslancharam, por aqui elas já respondem por quase um quarto dos negócios fechados. Dos 12 milhões de aparelhos comercializados por ano no Brasil, 92% possuem telas finas (LED, LCD), que custam no mínimo o dobro de modelos menos sofisticados. A indústria automobilística passa pela mesma sofisticação. Em fevereiro passado, a participação de carros com motor 1.0 no total de automóveis emplacados foi de 42,6%, o que corresponde ao menor percentual em 17 anos. Há uma década, os veículos populares detinham mais de 70% da preferência dos brasileiros. Agora, eles estão sendo substituídos por modelos 1.6 e 1.8, com airbag, câmbio automático e banco de couro. Mimos como esse se tornaram corriqueiros na vida de profissionais como o engenheiro civil Carlos Henrique Lellis, 50 anos. Sua família de quatro integrantes (além dele, vivem sob o mesmo teto a mulher e os dois filhos) possui três carros, cinco tevês e quatro computadores. Todos os anos, o grupo viaja para o Exterior (“em 2011, fizemos um cruzeiro pela Europa”, diz Lellis) e comer fora passou a ser até mais frequente do que fazer refeições em casa. Os Lellis se enquadram no que os especialistas chamam de classe B, mas eles também passaram por uma transformação social graças, em boa medida, à fartura de oportunidades da economia brasileira. Por mais de 20 anos, o engenheiro trabalhou em um banco, mas o salário limitava suas ambições de consumo. Em 2006, resolveu deixar o emprego para abrir um escritório de engenharia. “Nossas condições de vida melhoraram muito depois disso”, afirma. No mapa do consumo brasileiro, a classe B está praticamente empatada com a classe C, respondendo por 38% das compras efetuadas no Brasil. O interessante é que o grupo em que está o engenheiro Lellis detém 46,6% da massa salarial do País, ante 26,9% da classe C. Uma das possíveis conclusões: a classe B tem mais dinheiro, mas a C está mais disposta a gastar. No alto da pirâmide, a classe A é representada pela minoria dos domicílios no País (2,6%). Enquanto o salário dessas famílias corresponde a 23,7% da renda nacional, apenas 16,2% dessa renda é convertida em bens de consumo. A explicação para a existência de mais dinheiro do que consumo é que os ricos concentram suas ambições em investimentos monetários. Foi isso o que fez o empresário e pecuarista Luís Hermano Colferai, 60 anos, para formar seu patrimônio. “A fórmula do sucesso é poupar”, diz Colferai. “Gosto de comprar à vista e ao longo dos anos desenvolvi o hábito de investir na poupança.” 8
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CLASSE D O salva‐vidas Leandro Rodrigues (no centro), sua mãe, Neuza Silva, o padrasto José Santana e a filha Larissa Silva: o aumento da renda permitiu que ele comprasse alimentos de melhor qualidade Para manter o desenvolvimento econômico baseado no consumo – fórmula que, aliás, ajudou os Estados Unidos a se tornarem o país mais rico do mundo –, o governo brasileiro prepara uma série de medidas que deverão ser adotadas nos próximos meses. Mais concessões fiscais para eletrodomésticos da linha branca e novas linhas de crédito buscam principalmente despertar os ânimos daqueles que ficaram assustados com o crescimento tímido de 2,7% do PIB brasileiro em 2011. Mas a turma dos que estão realmente temerosos é pequena. Segundo uma pesquisa global realizada pela Nielsen, o consumidor brasileiro é o quinto mais otimista do mundo. Nesse caso, otimismo se traduz essencialmente em disposição para gastar. Para especialistas, o Brasil está perto de atingir aquele grau de satisfação em que, mais do que se estressar para pagar as contas, o que move as pessoas são os planos de consumo imediatos ou para o futuro – desfrutar de um restaurante sofisticado, construir uma casa, viajar para o Exterior. É o estado de bem‐estar alcançado apenas por alguns países europeus e que, por mais surpreendente que possa parecer, os brasileiros estão prestes a conquistar. 9
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Disponível em: http://www.istoe.com.br/reportagens/detalhePrint.htm?idReportagem=195047&txPrint=completo. Acesso em: 21 mar. 2012. TEXTOS 1.2 – ARTIGOS DE OPINIÃO Texto 1.2.1 – Artigo de Opinião Análise: O governo Lula e a ascensão de classes no Brasil Cláudio Gonçalves Couto* Uma análise política do governo de Luis Inácio Lula da Silva poderia considerar diversos aspectos, desde a forma como se deu a relação desse presidente com as instituições políticas representativas (claramente de natureza não populista, a despeito das assertivas de alguns de seus críticos), até a execução de políticas públicas específicas (como educação, saúde, política econômica ou política externa). Tendo de fazer uma escolha em virtude das limitações deste espaço, opto por chamar atenção para um traço particularmente importante deste governo, talvez o mais relevante de todos no que diz respeito ao longo curso histórico. A administração de Lula representou um ponto de inflexão crucial nas relações entre as classes sociais no Brasil, tanto no que diz respeito às consequências da luta política mais ampla para a ocupação de posições de poder, como no que concerne a uma mudança no regime de políticas públicas atinentes aos setores mais pobres da população. E, tanto num caso como em outro, para além das questões atinentes ao malfadado populismo, Lula se diferencia tremendamente de Getúlio Vargas, a quem ele costuma com certa frequência comparar‐se e ser comparado. Estabelecer esta comparação, ressaltando as diferenças, ajuda‐nos a compreender o significado histórico do governo Lula sob o aspecto aqui enfatizado. No que concerne à luta pelos espaços de poder, a chegada de Lula e de sua entourage de sindicalistas ao Planalto representou um momento fundamental no processo de circulação de elites (para utilizar a terminologia do sociólogo italiano Vilfredo Pareto) no Brasil. A circulação de elites caracteriza‐se pela ascensão a posições destacadas na sociedade (em particular no Estado) de lideranças das classes subalternas, a chamada não elite, que assim passam a constituir‐se elas mesmas em parte da nova elite que se forma. Esse processo é acompanhado pelo declínio de membros decadentes da velha elite e corresponde às mudanças estruturais pelas quais passa uma sociedade. Assim, a cada ordem social corresponde certa composição da elite. A chegada ao poder governamental de lideranças oriundas da classe trabalhadora organizada representa uma mudança crucial em nossas relações de poder, indicando o alcance de um patamar inaudito de democratização política ‐ na medida em que a inclusividade do sistema político aumenta consideravelmente, abarcando setores historicamente excluídos. E, se como aponta Carl Schmitt, a democracia é o regime dos iguais, a incorporação de novos setores à elite dirigente implica finalmente sua conversão à condição de iguais. Reside aí uma das diferenças fundamentais entre Lula e Vargas, pois este era um representante das elites tradicionais ‐ ainda que não de seu setor hegemônico, que era a elite cafeeira paulista. Mais do que (como Lula) culminar um processo de democratização social por meio do qual novos setores ascenderam a posições de destaque, Vargas antecipou‐o e logrou controlá‐lo, lançando as bases institucionais que permitiram administrar a emergência da burguesia industrial e a expansão da classe trabalhadora urbana. Vargas e Lula concretizaram de forma antagônica a máxima lampedusiana de “mudar para que nada mude”; enquanto Getúlio a seguiu ao pé da letra, Luis Inácio inverteu‐a: “nada mudou para promover mudanças”. O “nada mudar” refere‐se ao caráter conservador de parte de seu arco de alianças, incorporando a posições governamentais segmentos centrais de nossas oligarquias regionais, como Sarney, Calheiros, Barbalho, entre outros. 12
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Já as mudanças promovidas por Lula são atinentes à considerável inflexão que teve, durante seu governo, a distribuição de renda e o peso relativo das classes sociais. A redução da desigualdade social apontada por diversos estudiosos do tema, como Marcelo Neri, ocorreu sem o impacto redistributivo automático que o fim da alta inflação teve poucos anos antes, graças ao Plano Real de Fernando Henrique Cardoso. O que houve com Lula foi política pública de efeito diretamente redistributivo, transferindo riqueza dos setores mais aquinhoados aos menos afluentes. Isto decorreu não apenas da expansão e aprofundamento das políticas de transferência direta de renda aos mais pobres, como o Bolsa Família, mas da elevação real do salário mínimo e do aumento dos empregos formais. Criou‐se um novo arco de interessados e, consequentemente, um novo regime de políticas públicas nesse campo, o que tornará difícil sua reversão por futuros governos, mesmo que do campo conservador. Um desdobramento desta política pública foi a ascensão de um grande contingente dos mais pobres à assim chamada “classe C”, ou a baixa classe média. Nisto, Lula novamente se diferenciou de Vargas, pois não apenas estabeleceu a regulação necessária para absorver as novas classes emergentes geradas pelo próprio desenvolvimento do país, mas alavancou a própria ascensão de classe. Vê‐se aqui o desdobramento nas políticas públicas, e em suas consequências sociais, da inflexão na disputa pelas posições de poder causada pelo processo de circulação de elites. Como dificilmente futuras administrações terão como reverter este quadro, que deve se aprofundar durante a gestão de Dilma Rousseff, talvez esteja aí o mais importante dos legados da “era Lula” para a sua posteridade. *Cientista Político, professor do Departamento de Gestão Pública da EAESP‐FGV e pesquisador do CEPESP‐FGV. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas‐noticias/2011/01/03/analise‐o‐governo‐lula‐e‐a‐
ascensao‐de‐classes‐no‐brasil.htm. Acesso em: 19 fev. 2012. Texto 1.2.2 – Artigo de Opinião A classe média revoltada Por César Felício O cenário parece muito distante do Brasil. Uma classe média em ascensão nem sempre pode ser vista como âncora de estabilidade política, uma leitura usual na análise dos resultados eleitorais que levaram à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 e à eleição de Dilma Rousseff para a Presidência no ano passado. Este ano, só há um país da América do Sul contaminado pela onda de insatisfação que ecoa em paisagens tão díspares como Egito e Reino Unido, Espanha e Bahrein. É no Chile que grassa o espectro da revolta. A pátria por excelência da classe média latino‐americana, o país onde a pobreza regrediu de 40% a 13% da população em 20 anos de democracia em que a alternância jamais significou ruptura de políticas, está exausta de seus governantes. O primeiro sinal foi em 2009, quando o direitista Sebastián Piñera encerrou a experiência de quatro mandatos presidenciais seguidos da Concertación, a aliança de democratas cristãos e socialistas que desenvolveu políticas de proteção social sem alterar em sua essência os postulados liberais do ponto de vista econômico que marcaram o Piñera já assumiu com um capital político reduzido. O crédito inicial que recebeu pouco foi além de seus próprios eleitores. No fim do ano passado, logo após seu maior triunfo ‐ o perfeito resgate de 33 mineiros aprisionados por um desabamento ‐, conseguiu em pesquisas de opinião 55% de aprovação popular, apenas quatro pontos percentuais a mais do que obteve nas urnas um ano antes. No último levantamento, publicado na segunda‐feira pela mídia chilena, sua aprovação ficou em 27%. Por enquanto Piñera lida com uma insatisfação capitaneada pelos estudantes universitários e secundaristas, que já produziu a morte de um menino de 16 anos por balas dos "carabineros", a polícia militar. Mas a possibilidade de contágio para outros setores é grande. "Sem respostas efetivas rápidas do governo, esta onda vai crescer no próximo verão. E pode se espalhar para trabalhadores, mulheres e todos os setores organizados. Há uma ameaça de 13
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levantamento social e o governo já percebeu isso", comenta a cientista política Marta Lagos, chilena, diretora da ONG Latinobarometro, especializada em pesquisas de opinião comparadas no continente. Está em dados compilados pelo próprio governo a chave para se entender o problema. O investimento das próprias famílias na educação de seus filhos é substancial em um país onde há muitos anos o gasto público em educação é reduzido. Mutilar o papel do Estado no setor foi o último ato de Pinochet como presidente, sancionado pelo ditador por decreto um dia antes de deixar o cargo, em março de 1990. Na universidade, segundo Marta Lagos, uma família aplica cerca de US$ 40 mil para obter um diploma. Com 52% dos chilenos enquadrados nos segmentos médios de renda, uma avalanche de jovens procurou o ensino como a grande ferramenta de mobilidade social em um país onde o sentimento de injustiça na distribuição de renda é o mais forte do continente. Segundo a pesquisa do Latinobarômetro do ano passado, apenas 12% dos chilenos consideram a distribuição da riqueza adequada. No Brasil, essa percepção é compartilhada por 21%. Na Venezuela, por 38%. Quando Pinochet começou seu poder autocrático, nos anos 70, apenas 9% dos chilenos estavam na Universidade. Em 2003, eram 37%. Hoje, a porcentagem ronda 40%, segundo dados do Ministério da Educação do Chile. Nesta década, tal evolução convive com o endividamento crescente da população emergente. Uma pesquisa feita um ano atrás pelo Banco Central chileno mostrou que a relação do total da dívida familiar frente à renda anual dos lares do país passou de 35,4% para 59,9% entre 2000 e 2009. A sensação de vulnerabilidade aumenta ao se levar em conta que 68% da renda familiar chilena provém de salários. A magia da educação como a grande porta para a mobilidade social aparece com nitidez na pesquisa feita pelo Instituto Nacional da Juventude, outro órgão governamental, em 2009. A principal razão apontada por jovens entre 15 e 29 anos para estarem estudando foi "melhorar a situação econômica", com 35,8% das citações. "Trabalhar no que mais gosta" foi citado por 31,7%. Mas a mesma pesquisa mostrou que, na faixa de população entre 24 e 29 anos, portanto recém‐saída da faculdade, nada menos que 51,2% ‐ maioria absoluta ‐ afirma que trabalha em uma função "pouco ou nada relacionada" com o que estudou. "É claro que a educação é uma ferramenta para a mobilidade social, o problema é quando ela se torna o único instrumental para isso. Vemos aqui legiões de pessoas cada vez mais vulneráveis, fazendo dívidas para três ou quatro gerações em universidades privadas que não preparam para o mercado de trabalho. Oferecem cursos como 'criminologia e prevenção de riscos', que não se sabe bem o que é", comenta Marta Lagos. No sábado, Piñera reuniu‐se pela primeira vez com os líderes estudantis, no Palácio de la Moneda, enquanto gerenciava o resgate dos mortos em um acidente aéreo que matou uma equipe de televisão e canalizou a atenção da opinião pública do país. Há razões para ceticismo sobre mudanças concretas. Há cinco anos, um movimento de estudantes secundaristas parou as cem maiores escolas do país e fez com que a presidente socialista Michelle Bachelet se comprometesse com reformas em cadeia nacional de rádio e televisão. Os estudantes pediam o fim da lei pinochetista e a presidente reformou a legislação, depois de dois anos de debate no Congresso. Foi uma resposta avaliada por Marta Lagos como limitada e lenta. No caso de Piñera, trata‐se de um conservador obrigado pelas circunstâncias a promover uma renovação. Corre o risco de abrir um gigantesco fosso entre suas palavras e a ação. César Felício é correspondente em Buenos Aires. Escreve mensalmente às quintas‐feiras. César Felício é jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA‐USP). Atua profissionalmente desde 1989 e já trabalhou nas cidades de São Paulo, Brasília e Belo Horizonte. Passou pelas redações da "Gazeta Mercantil", "Jornal do Brasil" e "O Estado de S.Paulo". Já foi setorista na presidência da República e do Senado. Está no Valor desde 2000. É coautor do livro “Guia Valor Econômico de Pessoas Jurídicas”, da editora Globo, de 2004. E‐mail [email protected] Disponível em: http://www1.valoronline.com.br/opiniao/1000796/classe-media-revoltada. Acesso em: 05
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Texto 1.2.3 – Artigo de Opinião O que quer a classe C? Por Cynara Menezes Gosto de olhar as capas das revistas populares no supermercado nestes tempos de corrida do ouro da classe C. A classe C é uma versão sem neve e de biquíni do Yukon do tio Patinhas quando jovem pato. Lembro do futuro milionário disneyano enfrentando a nevasca para obter suas primeiras patacas. Era preciso conquistar aquele território com a mesma sofreguidão com que se busca, agora, fincar a bandeira do consumo no seio dos emergentes brasileiros. Em termos jornalísticos, é sempre aquela concepção de não oferecer o biscoito fino para a massa. É preciso dar o que a classe C quer ler –ou o que se convencionou a pensar que ela quer ler. Daí as políticas de didatismo nas redações, com o objetivo de deixar o texto mastigado para o leitor e tornar estanque a informação dada ali. Como se não fosse interessante que, ao não compreender algo, ele fosse beber em outras fontes. Hoje, com a internet, é facílimo, está ao alcance da vista de quase todo mundo. Outro aspecto é seguir ao pé da letra o que dizem as pesquisas na hora de confeccionar uma revista popular. Tomemos como exemplo a pesquisa feita por uma grande editora sobre “a mulher da classe C” ou “nova classe média”. Lá, ficamos sabendo que: a mulher da classe C vai consumir cada vez mais artigos de decoração e vai investir na reforma de casa; que ela gasta muito com beleza, sobretudo o cabelo; que está preocupada com a alimentação; e que quer ascender social e profissionalmente. É com base nestes números que a editora oferece o produto – a revista – ao mercado de anunciantes. Normal. Mas no que se transformam, para o leitor, estes dados? Preocupação com alimentação? Dietas amalucadas. A principal chamada de capa destas revistas é alguma coisa esdrúxula como: “perdi 30 kg com fibras naturais”, “sequei 22 quilos com cápsulas de centelha asiática”, “emagreci 27 kg com florais de Bach e colágeno”, “fiquei magra com a dieta da aveia” ou “perdi 20 quilos só comendo linhaça”. Pelo amor de Deus, quem é que vai passar o dia comendo linhaça? Estão confundindo a classe C com passarinho, só pode. Quer reformar a casa? Nada de dicas de decoração baratas e de bom gosto. O objetivo é ensinar como tomar empréstimo e comprar móveis em parcelas. Ou então alguma coisa “criativa” que ninguém vai fazer, tipo uma parede toda de filtros de café usados. Juro que li isso. A parte da ascensão profissional vem em matérias como “fiquei famosa vendendo bombons de chocolate feitos em casa” ou “lucro 2500 reais por mês com meus doces”. Falar das possibilidades de voltar a estudar, de ter uma carreira ou se especializar para ser promovido no trabalho? Nada. Dicas culturais, de leitura, filmes, música, então, nem pensar. Cada vez que vejo pesquisas dizendo que a mídia impressa está em baixa penso nestas revistas. A internet oferece grátis à classe C um cardápio ainda pobre, mas bem mais farto. Será que a nova classe média quer realmente ler estas revistas? A vendagem delas é razoável, mas nada impressionante. São todas inspiradas nas revistas populares inglesas, cuja campeã é a “Take a Break”. A fórmula é a mesma de uma “Sou + Eu”: dietas, histórias reais de sucesso ou escabrosas e distribuição de prêmios. Além deste tipo de abordagem, também fazem sucesso as publicações de fofocas de celebridades ou sobre programas de TV –aqui, as novelas. Sei que deve ser utopia, mas gostaria de ver publicações para a classe C que ensinassem as pessoas a se alimentar melhor, que mostrassem como a obesidade anda perigosa no Brasil porque se come mal. Atacando, inclusive, refrigerantes, redes de fast food e guloseimas, sem se preocupar em perder anunciantes. Que priorizassem não as dietas, mas a educação alimentar e a importância de fazer exercícios e de levar uma vida saudável. Gostaria de ver reportagens ensinando as mulheres da classe C a se sentirem bem com seu próprio cabelo, muitas vezes cacheado, em vez de simplesmente copiarem as famosas. Que mostrassem como é possível se vestir bem gastando pouco, sem se importar com marcas. 15
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Gostaria de ler reportagens nas revistas para a classe C alertando os pais para que vejam menos televisão e convivam mais com os filhos. Que falassem da necessidade de tirar as crianças do computador e de levá‐las para passear ao ar livre. Que tivessem dicas de livros, notícias sobre o mundo, ciências, artes – é possível transformar tudo isso em informação acessível e não apenas para conhecedores, como se a cultura fosse patrimônio das classes A e B. Gostaria, enfim, de ver revistas populares que fossem feitas para ler de verdade, e que fizessem refletir. Mas a quem interessa que a classe C tenha suas próprias ideias? Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/politica/o-que-quer-a-classe-c/. Acesso em: 05 mar. 2012 TEXTO 1.3 – CHARGE E ARTIGO DE OPINIÃO Mobilidade Social: Mérito versus Rede Social Fernando Nogueira da Costa ‐ 21 de Março de 2011 Carla Rodrigues e Catherine Vieira, em excelente matéria jornalística publicada no Eu & Fim de Semana (Valor, 18/03/2011), argumentam que é mais justa a sociedade na qual a sua posição alcançada na vida adulta depende mais do mérito das suas habilidades adquiridas, pela educação, por exemplo, que da herança patrimonial e/ou do “nome”, isto é, do relacionamento social da família em que você nasceu e cresceu. Mas, no Brasil, país em que a desigualdade socioeconômica é “brutal”, para usar expressão do sociólogo Carlos Costa Ribeiro, autor de amplo estudo sobre mobilidade social e desigualdade de oportunidades, as origens familiares e as condições sociais e econômicas ainda têm importância maior do que a educação na definição de quem alcança melhores postos profissionais. Embora desde o fim da década de 1980 o peso dessas origens na definição de quem você vai se tornar esteja em queda, ainda é fator preponderante para impulsionar ascensão social, mais dependente das condições da família e das redes de relações e menos da educação, critério que tem perdido importância relativa nas últimas décadas. Nos últimos 50 anos, a combinação entre crescimento econômico, industrialização e urbanização fez do país a “terra das oportunidades”. No entanto, essas oportunidades estiveram mais acessíveis para os que partiram de posições sociais e econômicas melhores. Os números sobre mobilidade social no Brasil estão na pesquisa “A Dimensão Social das Desigualdades“, da qual Carlos Costa Ribeiro é um dos coordenadores no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj), instituição que dá continuidade ao trabalho do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). 16
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Seus dados apontam para importantes ganhos na mobilidade social dos brasileiros: o índice de mobilidade total, que mede o percentual de pessoas em uma classe de destino diferente da sua classe de origem, era de 51,8% em 1973 e subiu para 67,8% em 2008. Registrou‐se também uma importante diminuição de 17,9% no peso da origem em relação ao destino. Os gráficos demonstram a diminuição da desigualdade de oportunidades de mobilidade social ocorrida nesse período: em 1973, filhos de profissionais mais qualificados tinham 15,6 vezes mais chances de se tornar profissionais mais qualificados do que filhos de trabalhadores manuais tinham de se tornar profissionais. Em 2008, essa proporção diminuiu para 9,6 vezes mais chances. No entanto, embora o número geral seja positivo, quando o sociólogo examina cada um dos fatores mais de perto, descobre algumas nuanças importantes da sociedade brasileira: desde 1973 o retorno que a educação traz como investimento caiu. Em 1973, um profissional com diploma universitário tinha 2,21 vezes mais chances de ocupar um cargo de chefia do que um profissional com diploma secundário. Em 2008, esse número diminuiu para 1,1 vez mais chance. No que diz respeito ao impacto da origem de classe no destino, há redução de 3,03 em 1973 para 2,71 até 1988, ano a partir do qual o percentual se mantém constante. Em outros termos, em 1973, o filho de profissional mais qualificado que completou o ensino universitário tinha 3,03 vezes mais chances de se tornar profissional qualificado do que o filho de trabalhador manual que completou o ensino universitário. Ribeiro é autor de uma tese de doutorado defendida nos Estados Unidos e premiada sobre estrutura de classe e mobilidade social no Brasil. Ele compara a ocupação profissional dos filhos com a dos pais e observa fatores principais para explicar a desigualdade de oportunidades: a relação entre a origem (medida pela ocupação do pai) e o destino (medido pela ocupação do filho) e o nível de escolaridade nas duas gerações. Na comparação entre o que foi herdado e o que foi adquirido a conclusão é que, embora a educação seja muito importante, outros itens mantêm um peso relativo grande: a escolaridade da mãe, o número de irmãos e o capital cultural, conjunto de bens intangíveis e não mensuráveis em renda. Em todos os países, família e escola são os dois lugares de transmissão de capital cultural. No Brasil, a família tem desempenhado papel mais importante do que a escola, reduzindo o poder da escolarização na ascensão social. Dois outros capitais, o social e o econômico, também exercem influência no destino profissional. Entram em jogo fatores como patrimônio e redes de relação. “Um pequeno patrimônio já faz grande diferença. Uma família que viva em casa própria, mesmo que modesta, tem melhores condições de passar por alguma situação de desemprego do chefe do que uma família que pague aluguel”, afirma Ribeiro. No quesito capital social, a rede de relações sociais é o que gera oportunidades de ingresso e crescimento no mercado de trabalho. “O peso da rede de relações na ascensão social faz que o Estado brasileiro seja muito cobiçado como empregador”, reconhece o sociólogo. Processos de seleção via concursos públicos funcionam como mecanismos de ascensão social para aqueles que não dispõem de redes de relações. “Um dos problemas do peso das redes na determinação da mobilidade social é que pobres contam com redes sociais muito restritas”, diz Ribeiro. O tema das redes sociais – não as tecnológicas, tão em voga em alunos que ficam “tuitando” em sala‐de‐aula, mas as relações sociais à moda antiga – ainda é pouquíssimo estudado. Em trabalho pioneiro, o professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo (USP), Eduardo Marques, analisou as redes de 360 pessoas pobres, em São Paulo e Salvador. O resultado demonstrou que, no universo da pobreza, é inequívoca a importância dessas redes para o acesso a oportunidades de melhoria de renda. “O acesso a empregos, fontes de renda e a probabilidade de não estar em situações de vulnerabilidade social são fortemente influenciados por certos tipos de rede”, afirma Marques. Os resultados mostraram que, quanto mais local e menos diversificada, ou seja, mais concentrada na família, na vizinhança e em poucos amigos próximos, menor o acesso à oportunidades essa rede pode proporcionar. É o que ele chama de redes homofílicas. “As redes das pessoas pobres são compostas de pessoas muito parecidas com o próprio indivíduo”, observa Marques. “E quanto mais diversificada é uma rede, maior o acesso a oportunidades.” Em vários casos, a pesquisa apontou que uma rede de relações mais diferenciada foi mais importante que o grau de escolaridade na obtenção de um emprego. Redes de relações são um baixo capital social em famílias mais pobres, 17
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fazendo que a origem dificulte o acesso a oportunidades mesmo daqueles que estudaram. “Mesmo quando a escola é boa, a família na qual a pessoa cresceu é importante”, afirma Ribeiro. Marques observou ainda que é comum, mesmo ao serem expostas a redes maiores e ambientes com pessoas diferentes, que as pessoas continuem se relacionando apenas com aquelas mais parecidas com ela. Ele cita o caso de escola de elite que oferece programa de bolsas a moradores de comunidades carentes de Paraisópolis, em São Paulo. “Entrevistamos uma menina bolsista na qual se notava nitidamente os efeitos da educação de maior qualidade; ela tinha desenvoltura, se expressava bem”, conta. “Mas o efeito sobre a rede social dela era quase nenhum. Ela só se relacionava com os próprios bolsistas e não com os demais alunos da escola.” Para Marques, a democratização do acesso às oportunidades deve ser discutida sob vários ângulos. “Existem questões muito subjetivas quando se trata desse assunto, como esse da homofilia, mecanismo social que aumenta os custos de conviver com o diferente, porque envolve negociação, adaptação, cultura”, diz o cientista político. Em última análise, esse mecanismo força a manutenção do status quo de determinada classe social e é poderoso na reprodução de desigualdades persistentes. Marques, também pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole do Cebrap, ressalta, porém, que os resultados encontrados não podem ainda ser extrapolados para a sociedade, pois o universo estudado foi o da pobreza. Na classe média, só um grupo de 30 pessoas foi analisado, apenas para efeitos de controle. Em meados da década passada, o economista Marcelo Medeiros, então no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), já suspeitava da influência de fatores mais subjetivos nas desigualdades. Ao investigar “Por Que os Ricos São Ricos“, mencionou em suas conclusões que a origem familiar e as relações sociais pareciam ser um dos motivos pelos quais, num grupo de pessoas com o mesmo nível de escolaridade e outras características muito semelhantes, alguns eram ricos e outros não. O trabalho de Medeiros mostrou que escolaridade, experiência, sexo, raça e região de residência, embora expliquem as diferenças entre os trabalhadores adultos, não eram capazes de esclarecer por que alguns trabalhadores recebiam rendimentos que chegavam a ser mais de sete vezes maiores que os previstos naquelas condições. Tudo indica que possuir escolaridade alta é requisito necessário para renda alta, mas não é suficiente para que esses trabalhadores pertençam a uma família rica. Na hipótese de elevação expressiva do nível educacional de todos os trabalhadores brasileiros, as pesquisas de Medeiros não apontavam para grande mobilidade ascendente das famílias não ricas em direção ao estrato rico. A herança ganha, assim, importância fundamental, como sugere a classificação de milionários da revista “Forbes”: dos 30 bilionários brasileiros que estão na lista, metade fez seu patrimônio a partir de uma herança familiar. Entre os 12 nomes que apareceram pela primeira vez no ranking da revista, 9 são herdeiros de suas fortunas. “É bom que haja algum tipo de desigualdade, porque ela funciona como incentivo para que haja mobilidade. É o que faz funcionar economia baseada na competição. O problema no Brasil é que a competição é muito desigual”, diz Ribeiro. Segundo ele, sistema educacional eficiente faz que, a cada etapa de transição – como a passagem do ensino fundamental para o médio e a do ensino médio para a universidade ‐, as características de origem familiar percam força em relação às habilidades adquiridas. “No Brasil, dois fatores se mantêm importantes o tempo todo: a riqueza da família e a qualidade da escola na etapa anterior.” Um dos problemas identificados por Ribeiro diz respeito ao valor relativo do diploma universitário, que segue a lei da oferta e procura: quando eram raros, tinham mais importância do que conforme foram se expandindo. Hoje, são 5 milhões de matrículas de graduação, das quais só 25% estão no sistema público, e menos de 15% dos jovens brasileiros cursa o ensino superior. O Ministério da Educação vem adotando diferentes mecanismos de aferição da qualidade do ensino, forma de estabelecer diferenças entre o valor dos diplomas. Para isso servem, por exemplo, o Idep (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), o Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), e as notas de avaliação da Capes para os cursos de pós‐graduação. 18
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A aplicação prática desses indicadores depende, no entanto, de maior interesse de pais, alunos e empresários na qualidade da educação. É o que diz o ex‐diretor da Capes, professor Renato Janine Ribeiro. Ele acredita que, para o sistema todo funcionar, o empresário também precisa se comprometer com o processo quando faz qualquer contratação. “Uma grande parte das pessoas não sabe o que é educação de qualidade”, argumenta Janine. Ao contrário do que ocorre na área da saúde, por exemplo, em que mau atendimento é percebido imediatamente, escolas de baixa qualidade nem sempre são rejeitadas pelos alunos, por suas famílias ou mesmo pelo mercado de trabalho. Janine dá como exemplo o Enade: muitos alunos boicotam o exame e acabam prejudicando o sistema de avaliação como um todo. Para ele, seria importante que os empresários não contratassem alunos que tivessem nota zero no Enade. “O principal fator de melhora da educação é que ela seja critério para o emprego”, acredita. “E não acho que a seleção que o empresário faz seja muito rigorosa em relação à qualidade da educação.” Os indicadores na área da educação são desanimadores. Na recém‐divulgada classificação da Unesco, o Brasil manteve a mesma posição do ano passado e ficou no 88º lugar de 127, atrás da Argentina, do Chile, do Equador e da Bolívia. O número foi conhecido na mesma semana em que o país comemorou ter superado a Itália e se tornado a sétima maior economia do mundo. “Sem melhorar a educação o Brasil não vai entrar na economia do conhecimento“, avalia o senador Cristóvão Buarque (PDT/DF), cuja principal bandeira tem sido a qualidade da educação. Entre ele e Renato Janine há pelo menos três consensos: o país não tem a educação como valor fundamental, traço cultural considerável para explicar a baixa qualidade das escolas; qualquer mudança levaria pelo menos 20 anos para trazer resultados, justificativa para que nenhum governo tenha feito os investimentos necessários; e para chegar a ter 3 milhões de bons professores será preciso contratar 100 mil novos docentes por ano, dessa vez com salários competitivos. “É preciso parar de fingir”, diz Janine. Cristóvão Buarque faz coro quando diz que, apesar de todos os avanços dos últimos anos, o percentual de 97%, indicador de universalidade do acesso à educação, é uma grande mentira. “Matrícula não significa nem permanência nem aprendizado. Hoje, só um terço termina e, dos que terminam, metade tem formação medíocre. Eu diria que 90% estão fora da escola”, critica. Para ele, um dos principais problemas é a transformação das escolas em “restaurantes mirins“. “A maioria das crianças cumpre jornadas muito curtas em sala de aula apenas para comer a merenda do dia”, constata. Sua proposta anda na contramão do que foi feito desde a promulgação da Constituição de 1988 e prevê a federalização da educação de base, com a contratação de 100 mil professores por ano, todos por concurso público federal, com o piso salarial nacional. Hoje, esse ensino está sob a responsabilidade dos prefeitos e o padrão oscila conforme o orçamento e o interesse político de cada uma das mais de 5 mil administrações municipais. “Se todas as escolas do país tiverem a qualidade do Colégio Pedro II, no Rio, se pode ter uma revolução na educação”, defende. Por revolução educacional ele entende a equiparação de todas as escolas do país em quatro aspectos: processo de seleção de professores, qualidade dos equipamentos, controle de qualidade e salários, a ponta mais fraca de uma conta que combina baixa remuneração com falta de capacitação. Dados do MEC mostram que 16,8% dos professores da rede pública não têm formação suficiente para exercer a profissão e estão em situação irregular. A falta de qualidade nas escolas públicas reforça o peso da origem social: famílias que podem pagar por boas escolas para seus filhos conquistam diplomas melhores em todas as etapas do processo educacional. Nesse círculo vicioso, muitos pobres não têm oportunidade de mobilidade social por ficar presos em equação em que estudam mal porque são pobres e são pobres por terem estudado mal. “A desigualdade de oportunidades leva o país a perder talentos”, argumenta Costa Ribeiro. Ao longo do século XX, o Brasil deixou de ser sociedade rural e agrária para se transformar em país urbano, com a economia baseada em indústrias e serviços modernos. No início da década de 1980, a economia brasileira era a oitava mais rica do mundo e acaba de subir mais um degrau, alcançando o posto de sétima economia mundial. Entre 19
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o início do processo de industrialização e urbanização e os anos 1980, quando vieram duas décadas de estagnação econômica, todos os indicadores deram grandes saltos: em 1940, de população total de 41,2 milhões, havia 34,7 milhões de adultos, dos quais mais da metade (21,2 milhões) não sabia ler nem escrever. Entre os 29 milhões de trabalhadores em atividade no país, cerca de 5% (1,4 milhão) estavam ocupados na indústria. Na década de 1940, 30% das pessoas viviam nas cidades, percentual que passou de 50% nos anos 70, quando o Brasil se tornou país principalmente urbano, e hoje ultrapassa os 85%. O contraste e a desigualdade econômica levaram o economista Edmar Bacha a cunhar, nos anos 70, a expressão Belíndia para explicar um país que reunia características da Bélgica, nos seus setores mais avançados, com as da Índia, no que havia de mais arcaico na sociedade brasileira. Nessa transição para a modernidade, o Brasil se tornou país relativamente rico, mas mantém altos índices de desigualdade de renda. Como o trabalho de Ribeiro compara gerações, o peso da herança rural é fator importante nas suas pesquisas. “Essa herança rural pode significar uma desvantagem enorme no caso brasileiro, uma vez que a maioria dos trabalhadores rurais sempre foi muito pobre e a estrutura agrária sempre se caracterizou pela desigualdade e concentração de terras e riquezas”, explica. Filhos de trabalhadores rurais não herdaram recursos que alavancariam posições sociais ascendentes e cerca de 60% deles ainda exerciam ocupações manuais não qualificadas, segundo os dados do Censo 2000. Ribeiro explica que, como há muitos filhos de trabalhadores rurais, o pequeno percentual de 1,1% que alcançou mobilidade até o topo corresponde a grande número de pessoas e hoje 16% dos profissionais altamente qualificados vieram de famílias pobres e rurais. No entanto, pessoas que não subiram na vida são muitas, tanto em percentuais quanto em números absolutos: mais da metade dos atuais trabalhadores manuais não qualificados são filhos de trabalhadores rurais. Escolarização seria a maneira de superar essa dificuldade, mas como o Brasil tem sistema educacional muito estratificado não foi capaz de absorver a maioria das crianças e jovens em idade escolar entre as décadas de 50 e 70, quando apenas entre 50% e 70% das crianças em idade escolar estavam matriculadas no ciclo básico ou no primeiro grau. No ciclo médio a situação era ainda mais grave: só entre 10% e 20% dos jovens estavam matriculados, o que significa falta de qualificação adequada para aproveitar as oportunidades geradas pela industrialização. Disponível em: http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2011/03/21/mobilidade‐social‐merito‐versus‐rede‐
social‐real‐nao‐virtual/. Acesso em: 16 fev. 2012 TEXTOS 1.4 – LETRAS DE MÚSICA Texto 1.4.1 – Letra de música Vai de Madureira (Zeca Baleiro) Se não tem água Perrier eu não vou me aperrear Se tiver o que comer não precisa caviar Se faltar molho rose no dendê vou me acabar Se não tem Moet Chandon, cachaça vai apanhar Esquece Ilhas Caiman deposita em Paquetá Se não posso um Cordon Bleu, cabidela e vatapá 20
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Quem não tem Las Vegas, vai no bingo de Irajá Quem não tem Beverly Hills, mora no BNH Quem não pode, quem não pode Nova York vai de Madureira Se não tem Empório Armani Não importa vou na Creuza costureira do oitavo andar Se não rola aquele almoço no Fasano Vou na vila, vou comer a feijoada da Zilá Só ponho Reebok no meu samba Quando a sola do meu Bamba chegar ao fim Disponível em: http://letras.terra.com.br/zeca‐baleiro/1324126/. Acesso em: 27 fev. 2012 (Link para ouvir a música: http://letras.terra.com.br/zeca‐baleiro/#mais‐acessadas/1324126) Texto 1.4.2 – Letra de música Neguinho (Caetano Veloso) Neguinho não lê, neguinho não vê, não crê, pra quê Neguinho nem quer saber O que afinal define a vida de neguinho Neguinho compra o jornal, neguinho fura o sinal Nem bem nem mal, prazer Votou, chorou, gozou: o que importa, neguinho? Rei, rei, neguinho rei Sim, sei: neguinho Rei, rei, neguinho é rei Sei não, neguinho Se o nego acha que é difícil, fácil, tocar bem esse país Só pensa em se dar bem ‐ neguinho também se acha Neguinho compra 3 TVs de plasma, um carro GPS e acha que é feliz Neguinho também só quer saber de filme em shopping Rei, rei, neguinho rei Sim, sei: neguinho Rei, rei, neguinho é rei Sei não, neguinho 21
Program
ma de LLeitura –
– 1º Sem
mestre d
de 2012
2
Se o
o mar do Rio tá gelado Só se vê neguinh
ho entrar e ssair correndo
o azul Já naa Bahia nego
o fica den'du
um útero Neguinho vai praa Europa, Staates, Disney e volta cheioo de si Neguinho cata liixo no Jardim
m Gramacho Neguinho quer justiça e harm
monia para sse possível toodo mundo
Mass a neurose d
de neguinho vem e estragga tudo Nego abre banco
o, igreja, sau
una, escola Nego abre os braaços e a voz Talvvez seja sua vvez: Neguinho que eu falo é nós Rei, rei, neguinh
ho rei Sim,, sei: neguinh
ho Rei, rei, neguinh
ho é rei Sei n
não, neguinh
ho Disp
ponível em:: http://letraas.terra.com.br/gal‐costaa/1992788/. Acesso em
m: 03 mar. 20012 Linkk para ouvirr a música: http://letrass.terra.com.bbr/gal‐costa//1992788/ TEX
XTOS 1.5 – C
CHARGES Cha
arge 1.5.1 Disp
ponível em: h
http://paulossociofilo.bloggspot.com.bbr/2011/08/3
3‐bimestre‐1
1‐ano‐ciep‐3110‐aula‐de.h
html. Acesso
o em 21 m
mar. 2012 22
Program
ma de LLeitura –
– 1º Sem
mestre d
de 2012
2
arge 1.5.2 Cha
Disp
ponível em: h
http://www2
2.uol.com.brr/glauco. Aceesso em 21 m
mar. 2012. 23

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