relatório da assembleia municipal da praia da vitória sobre a
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relatório da assembleia municipal da praia da vitória sobre a
ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA RELATÓRIO DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA SOBRE A IMPORTÂNCIA DA PRESENÇA NORTE-AMERICANA NA BASE DAS LAJES 1 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA ÍNDICE: - Enquadramento e Procedimento……………….Página 3 - Composição da Comissão . ……………………...Página 5 - Breve Enquadramento Histórico………………..Página 6 - Conclusões e Recomendações…………………...Página 10 - Anexos – Resumo das Audições Realizadas……Página 13 2 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA 1. ENQUADRAMENTO E PROCEDIMENTO Por deliberação unânime da Assembleia Municipal da Praia da Vitória, reunida a 15 de Junho de 2012, a Comissão Permanente da Assembleia Municipal da Praia da Vitória foi encarregue de elaborar um trabalho para definir uma posição abrangente e, se possível, unânime, dos Órgãos de Poder Local da Praia da Vitória sobre a importância da presença Norte-americana na Base das Lajes, tendo em conta as recentes notícias de uma possível redução desse contingente, bem como o grande impacto económico e social que esta presença tem para a Ilha Terceira e para os Açores. Neste âmbito, a Comissão deliberou realizar audições a várias entidades e personalidades que têm como área de intervenção e de investigação os assuntos relacionados com a presença Norte-Americana na Base das Lajes, nas suas diversas vertentes. Audições: - Câmara Municipal da Praia da Vitória, representada pelo seu Presidente; - Francisco Oliveira, Presidente da Assembleia Municipal da Praia da Vitória e antigo Deputado à Assembleia da República e Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores; - Francisco Tavares – representante dos Açores da Comissão Bilateral Permanente do Acordo da Base das Lajes 3 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA - Paula Ramos – Responsável do Governo dos Açores sobre o acompanhamento das questões laborais na Base das Lajes - Armando Mendes – Jornalista e especialista sobre assuntos relacionados com a Base das Lajes; – Victor Silva – Sindicato dos Trabalhadores de Alimentação, Bebidas e Similares, Comércio, Escritórios e Serviços dos Açores – Paulo Borges – Sindicato dos Profissionais de Transportes, Turismo e Outros Serviços – Arq. José Parreira – Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo - Comissão de Trabalhadores da Base das Lajes A Comissão Permanente da Assembleia Municipal da Praia da Vitória solicitou, ainda, a audição do Comando Americano e do Comando Português da Base das Lajes que se recusaram a ser ouvidos. 4 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA 2. COMPOSIÇÃO DA COMISSÃO A Comissão é composta por sete deputados municipais, sendo quatro do Partido Socialista, Berto Messias (Presidente), Norberto Messias, Rui Castro e José Paim, dois do Partido Social Democrata, Paulo Ribeiro e José Adriano Borges de Carvalho e um do Centro Democrático Social – Partido Popular, Emiliana Silva. Integrou ainda os trabalhos da Comissão, José Manuel Barcelos do CDS-PP, em substituição do membro efectivo Emiliana Silva. 5 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA 3. BREVE ENQUADRAMENTO HISTÓRICO A Base Aérea das Lajes, oficialmente designada como Base Aérea Nº 4 (BA4), é uma infraestrutura aeronáutica de grandes dimensões da Força Aérea Portuguesa, dependente do Comando da Zona Aérea dos Açores, e este, por sua vez do Comando Operacional da Força Aérea. Localizada junto da Vila das Lajes, no nordeste da Ilha Terceira, concelho da Praia da Vitória. Com cerca de 10 km2, a base ocupa a parte central da planície do Ramo Grande e uma parte da encosta da Serra de Santiago, com pistas de aterragem e áreas de estacionamento. Tem ainda anexo o molhe norte do porto da Praia da Vitória, ao qual está ligada por uma estrada militar, além de instalações de telecomunicações e de armazenamento de combustíveis dispersas pela ilha, estando hoje boa parte delas, desactivadas. Criada no contexto da Segunda Guerra Mundial, a sua importância e desenvolvimento estão associados à influência do Arquipélago dos Açores no controlo do Oceano Atlântico, bem como o seu uso se prende ao interesse dos Estados Unidos da América no cenário de redefinição das predominâncias político-militares no pós-guerra. Assim, a utilização da base permitia o rápido acesso à Europa, África e Médio Oriente, transformando-se num meio utilitário no contexto do confronto protagonizado pelos Estados Unidos da América (EUA) e pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) durante a Guerra Fria. Com o despoletar da Segunda Guerra Mundial, por volta de 1940, o medo de um desembarque da Alemanha Nacional-Socialista nos Açores, em violação à neutralidade portuguesa, reafirmou a importância da construção de uma estrutura aeroportuária de 6 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA grandes dimensões nos Açores, não apenas para defesa da soberania do país, mas principalmente como ponto de apoio para as forças aliadas, nomeadamente a Inglaterra e os Estados Unidos da América. Nesse cenário destacou-se a importância da planície nas Lajes. Com o intuito de impedir os planos de ocupação, o Governo de Portugal fez chegar ao arquipélago fortes contingentes militares. Em 1943, o Governo de Inglaterra solicitou formalmente ao Governo Português, ao abrigo do Tratado de Aliança Luso-Britânico, o uso da Base das Lajes pela Royal Air Force, sendo concedido pela assinatura do acordo de 17 de Agosto de 1943. A 8 de Outubro do mesmo ano, o primeiro contingente militar britânico desembarcou no porto de Angra do Heroísmo, com 3000 homens, transportando 20 toneladas de equipamento. Este contingente deu início, de imediato, à construção de uma pista de chapa metálica, com 2 km de comprimento, inaugurada em 15 de Dezembro do mesmo ano. Após a assinatura do protocolo luso-britânico em Agosto de 1943, os Estados Unidos da América também manifestaram o seu interesse em usufruir do posicionamento geoestratégico dos Açores. Neste âmbito, a 9 de Janeiro de 1944, desembarcaram no porto de Angra do Heroísmo, as primeiras forças norte-americanas, sob a dissimulação do cumprimento de uma missão de apoio às tropas inglesas. Esse destacamento constituía-se de 532 técnicos, com a missão de incrementar os trabalhos de terraplanagem, essenciais à ampliação do aeródromo. É às Forças Armadas Norte Americanas a que se deve a actual configuração do Aeroporto das Lajes, com cinco pistas, a mais extensa das quais com quase 4 km de comprimento. Com o fim da guerra em 1945, as tropas inglesas retiram-se da Base das Lajes a 2 de Junho de 1946, data que coincide com o retorno da tutela portuguesa e com a transferência para as Lajes da Base Aérea nº 4, até então no Aeródromo de Santana em 7 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA São Miguel, de acordo com Portaria publicada no Diário do Governo de 27 do mesmo mês. No mesmo período confirma-se a presença norte-americana na Base das Lajes. Até à Revolução de 25 de Abril de 1974, a importância estratégica da Base das Lajes justificou-se a integração de Portugal na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), tal como a tolerância dos Estados Unidos da América para com o regime ditatorial de Lisboa e à Guerra Colonial Portuguesa. Em 1979, a renegociação do acordo de cedência de facilidades militares aos Estados Unidos da América na Base das Lajes estabeleceu a troca de facilidades militares por compensações materiais. Os recursos norte-americanos financiaram uma parte expressiva do plano de infraestruturas da administração autonómica, nomeadamente a construção de uma rede regional de portos e aeroportos, o aumento de sistemas de abastecimento de água e de saneamento básico, o ensaio da geotermia e construção de escolas e hospitais. O acordo foi renegociado em 1985 mas, desta vez, embora tenha contemplado nova ajuda substancial, comparativamente insistiu mais na modernização das Forças Armadas Portuguesas do que no desenvolvimento da Região Autónoma dos Açores. O poder de negociação dos Estados Unidos da América aumentou no início da década de 1990, com a queda da União Soviética, que passaram a pôr em causa as lógicas das contrapartidas, considerando-as contrárias ao espírito de cooperação entre parceiros da OTAN. Simultaneamente, o ingresso de Portugal na União Europeia e o acesso aos fundos comunitários, diminuiu a necessidade portuguesa da comparticipação dos Estados Unidos da América, desvalorizando cada vez mais a Base das Lajes em termos financeiros. 8 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA Em 2012, perante as especulações da comunicação social sobre o fim da presença dos Estados Unidos da América na Base das Lajes, esta era reafirmada, questionando-se apenas o seu volume, ao mesmo tempo em que o Governo Regional dos Açores se mobilizava em defesa dos interesses dos Açores. 9 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA 4. CONCLUSÕES – RECOMENDAÇÕES Depois das audições realizadas e do trabalho de reflexão e análise de todos os membros da Comissão, resultam as seguintes conclusões e recomendações: Da presença norte-americana na Base das Lajes, com mais de cinquenta anos, decorrem consequências práticas e obrigações recíprocas, de que se destaca um forte impacto local, designadamente ao nível económico, sócio-laboral, ambiental e politico-institucional; É fundamental continuar a promover a aquisição, pela Força Militar Norte-americana, de produtos locais, das actividades agro-precuárias, indústrias extractivas, comércio e outros bens e serviços, aprofundando formas de reforçar essa aquisição; A valorização da posição geoestratégica dos Açores em qualquer processo negocial relativo à Base das Lajes deve ser afirmada como factor positivo de envolvimento da Região nas dinâmicas geopolíticas internacionais, com salvaguarda da Soberania Nacional; A procura de novos usos alternativos e valências para a Base das Lajes, seja no contexto da relação bilateral entre os Estados Unidos e Portugal, seja noutros contextos, designadamente no âmbito da Aviação Civil, da OTAN ou da ONU, deve ser assumida e promovida no sentido de garantir uma efectiva e duradoura utilização daquela infraestrutura, 10 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA sendo necessário nesse processo eliminar as restrições excessivas à utilização da Base; No âmbito da implementação do programa de redução militar, deve ser implementado ao mesmo tempo um programa de revitalização económica e de minimização dos danos económicos e sociais da redução de contingente Norte-americano na Praia da Vitória e na Ilha Terceira, pelo Governo Norte-americano e pelo Governo da República Portuguesa; Ao nível de qualquer processo de conversações ou negociações diplomáticas relativas à Base das Lajes, deve ser conferida prioridade à defesa inequívoca dos trabalhadores portugueses, nomeadamente, evitando-se ou minimizando o impacto das reduções do seu contingente e, bem assim, garantindo o respeito integral pelos seus direitos; Devem, ainda, promover-se novos meios de cooperação política, económica e social, que contribuam para o progresso e desenvolvimento dos Açores, garantindo a adequada compensação por qualquer impacto negativo que venha a decorrer da eventual alteração da utilização da Base das Lajes, assumido pelo Governo Norte-americano, utilizador da Base; A participação da Região no processo político e diplomático em curso deverá ser efectiva e eficaz no sentido da salvaguarda dos interesses dos Açores, nomeadamente ao nível da permanente colaboração entre o Governo da República e o Governo Regional e através do acompanhamento claro e regular por parte da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, bem como dos agentes sociais, económicos e políticos da Praia da Vitória e da Ilha Terceira; Tendo em conta as evoluções que esta matéria teve desde o inicio dos trabalhos desta Comissão, é fundamental que os trabalhadores da Base das Lajes e a respectiva Comissão Representativa sejam devidamente 11 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA informados das reais intenções norte-americanas e das diligências efectuadas e a efectuar com vista a salvaguardar os direitos sociais e laborais desses trabalhadores; Garantir que a Comissão Representativa dos Trabalhadores da Base das Lajes seja, formalmente, parte do processo de acompanhamento e das deliberações a tomar; O Estado Português não pode permitir que os Estados Unidos reduzam significativamente o seu contingente militar sem compensar devidamente os danos causados por essa redução, quer ao nível directo pelos postos de trabalho extintos, quer ao nível indirecto pelo impacto negativo que essa redução pode ter ao nível económico, social, de aquisição de bens e serviços e no mercado imobiliário local; A Comissão lamenta o facto de o Comando Português e Comando Americano da Base das Lajes terem recusado ser ouvidos no âmbito deste trabalho; Os Órgãos Municipais do Concelho da Praia da Vitória terão que acompanhar, em permanência, as evoluções referentes a este assunto; Este relatório deverá ser entregue ao Governo dos Açores e ao Governo da República; O presente relatório foi aprovado por unanimidade na reunião da Assembleia Municipal da Praia da Vitória, reunida a 14 de Dezembro de 2012. 12 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA 5. ANEXO - RESUMO DAS AUDIÇÕES REALIZADAS Entendeu a Comissão Permanente da Assembleia Municipal da Praia da Vitória ouvir vários representantes de entidades e personalidades com trabalho desenvolvido sobre este tema. Neste anexo do relatório consta um resumo da participação das referidas pessoas nos trabalhos da Comissão. Audição do representante nos Açores da Comissão Bilateral, Francisco Tavares: -- . -------- Senhor Presidente da Comissão Permanente, senhores membros da Comissão Permanente, queremos, naturalmente, eu e a Dra. Paula Ramos, começar por saudar esta iniciativa da Comissão Permanente da Assembleia Municipal da Praia da Vitória, saudar pelo que demonstra de preocupação com uma temática que, sendo regional, é e muito, também, municipal e tem a ver com a relação estabelecida entre a Praia da Vitória, os praienses e a presença americana na Base das Lajes. Mas saudar também pelo espírito de abertura que esta iniciativa revela na auscultação que se pretende fazer das entidades envolvidas e pela vontade ativa de formação de uma opinião, pelos órgãos autárquicos e de decisão deste Concelho. Este é também o espírito com que o Governo Regional tem conduzido os seus trabalhos nesta matéria, desde o anúncio em fevereiro último, em que o Governo dos Estados Unidos iniciaria um processo amplo de revisão da sua presença militar nas diversas bases na Europa, e em especifico, também, na Base das Lajes, foi por isso que o Sr. Presidente do Governo e o Senhor Secretário Regional da Presidência desenvolveram, desde o primeiro momento deste anúncio, um amplo trabalho de auscultação das entidades mais relevantes, desde logo os partidos de representação parlamentar, mas também os sindicatos e representativos dos trabalhadores e também as entidades patronais, Câmara de Comércio, neste caso, e as Câmaras Municipais da Ilha Terceira. Houve depois um período de amplo debate na Assembleia, iniciativas legislativas por parte de quase todos os partidos com 13 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA representação parlamentar e agora chegamos ao nível municipal, o que é também um outro nível importante nas conversas, no diálogo sobre esta matéria. O Governo Regional quer deixar uma palavra de apreço e valoriza todas estas iniciativas porque elas constroem uma posição regional mais forte e porque é nossa plena convicção de que a posição da região, a posição dos Açores será tão mais forte e tão mais ouvida pelos restantes intervenientes, nacionais e não nacionais, quanto mais unida e coesa for em torno da defesa do essencial, e colocando agora de parte aquelas questões que têm a ver com divergências pontuais ou mesmo com a aplicação do acordo que existe, o acordo de cooperação e defesa. Todos temos bem presente, e os senhores tão mais do que eu, a importância da presença militar americana nos Açores, não apenas na vertente daquilo que ela permite de posicionamento geoestratégico de Portugal, no contexto da NATO, no contexto do Atlântico e que tem permitido, ao longo das décadas, inclusive de uma majoração do peso político do nosso país junto dos Estados Unidos e dos decisores políticos dos Estados Unidos, mas também de forma muito concreta, muito real pelo que representa enquanto agente económico para a economia deste Concelho, desta ilha e dos Açores em geral. Os números são todos conhecidos e são públicos, a presença militar americana nas Lajes é responsável por cerca de oitocentos postos de trabalho diretos de civis portugueses, é responsável por aproximadamente seiscentos postos de trabalho indiretos da economia local e um investimento global, que entre salários, aquisição de bens e serviços, investimento em construção, que ronda os setenta e quatro milhões de euros anuais, variando conforme o número de construções que se façam, o número de aquisições no mercado civil, mercado local. Estes dados são incontornáveis e são, de todos os pontos de vista, o ponto central da discussão sobre a Base das Lajes e sobre a presença americana nos Açores. A posição do Governo, sobre o processo de revisão da presença militar americana nos Açores, é muito clara e tem sido transmitida ao Governo dos Estados Unidos e ao Governo da República nos diversos departamentos que interagem com esta matéria e que são, sobretudo, o Ministério da Defesa Nacional e o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Do ponto de 14 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA vista do Governo Regional é fundamental que este processo tenha em conta quatro aspetos nucleares. O primeiro é o reconhecimento da importância geoestratégica dos Açores, no quadro das relações com os Estados Unidos e no seio da relação entre Portugal e os Estados Unidos, incluindo no quadro da NATO mas, também, dentro deste ponto número um, o reconhecimento do contributo dado pelos Açorianos ao longo de seis décadas de cooperação para a estabilidade desse relacionamento e, neste campo especifico, estamos a falar tanto nos Açorianos que trabalham na Base das Lajes, mas também nos Açorianos da diáspora e das comunidades, que têm sido uma pedra importante na edificação da relação entre Portugal e os Estados Unidos. O segundo aspeto é que a manutenção, é essencial que haja uma manutenção, é uma valorização das valências que a Base das Lajes, hoje, disponibiliza para o posicionamento e para as ações militares dos Estados Unidos no mundo, especialmente quando estamos rodeados de uma grande instabilidade na comunidade internacional e em específico nas zonas como o Médio Oriente ou África. Este posicionamento tem uma realidade histórica, que é mensurável, tem seis décadas de presença mas é hoje ainda muito relevante, não é conjuntural, ou seja, não é uma coisa que seja hoje de uma realidade, achamos nós, e amanhã seja outra totalmente diferente, é estável e duradoura e deve manter-se assim no futuro e isso é um aspeto que deve ser ressalvado nesta negociação sobre a presença militar americana nos Açores. O terceiro aspeto é que deve ser salvaguardado, ao máximo, o impacto económico na região, e em particular na Ilha Terceira, resultante da presença militar dos Estados Unidos na Base das Lajes e esse impacto económico reverte, como já tive oportunidade de dizer, nos postos de trabalho diretos, nos postos de trabalho indiretos, mas também no volume financeiro que é investido na economia local e na economia regional, através dos bens e serviços. Em quarto lugar que o processo de ajustamento da estrutura de defesa dos Estados Unidos, ainda que seja motivado para questões orçamentais, reais e internas, que percebemos e que afetam a todos e que são bem conhecidas, nesse processo o Governo Português, o Governo da República, sobretudo deve ser tão eficaz como o Governo Espanhol foi, na capacidade 15 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA que teve de mobilizar as atenções dos Estados Unidos da América para as suas bases, para as valências que elas põe ao serviço dos Estados Unidos e deve garantir que o tratamento é, não apenas justo para uma relação longa e de grande estabilidade, mas também é justo em comparação com as demais bases europeias, que terão um impacto nesse processo. Esses são os pontos essenciais da posição do Governo Regional, que têm sido transmitidas ao Governo da República e também às autoridades dos Estados Unidos e é importante deixar claro, também aqui nesta sala, que temos mantido uma importante colaboração com o Governo da República e consonância de posições, num dos esforços que têm sido feitos para que aquele que foi o cenário inicial, comunicado pelo Governo dos Estados Unidos, não seja materializado e que se possa trabalhar para uma solução construtiva para a Base das Lajes. Quanto ao processo em si, compreenderão que haverá uma reserva da nossa parte, quanto aos números daquilo que, nos sendo comunicado ao longo do tempo, quer porque estamos ainda no âmbito do processo de conversações e nada está fechado ou oficializado, mas todas as indicações que temos recebido do Governo da República é que é muito provável que não existam decisões relevantes nesta matéria, por parte dos Estados Unidos, no período mais próximo, contrariamente ao anúncio que foi feito em fevereiro, que tinham um calendário definido a oito semanas. Esse calendário já não foi cumprido, já não é uma realidade, e isso é talvez um aspeto positivo a ressalvar desde já, e as indicações que temos é que os impactos, ou as decisões, não serão a curto prazo. Como sabemos as coisas evoluem rapidamente e, porque nós não damos nada por adquirido, o Governo Regional tem mantido um acompanhamento muito próximo, cá, em Lisboa, mas também em Washington, na relação com os nossos representantes políticos. De todos os trâmites processuais podem introduzir modificações neste panorama, que nós classificamos como estacionário, nesta altura, mas como as coisas evoluem muito rapidamente, e há também um contexto eleitoral nos Estados Unidos, temos mantido uma atenção permanente nesta matéria e os últimos contactos mantidos, do Senhor 16 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA Presidente com o Primeiro-ministro, também serviram para fazer um ponto de situação sobre a Base das Lajes, exatamente por causa disso. -------- Audição da responsável do Governo dos Açores sobre o acompanhamento das questões laborais na Base das Lajes, Paula Ramos: ------------------------------------------- “Portanto, relativamente às questões que eu me irei pronunciar eu nada mais tenho a acrescentar ao que o Dr. Francisco Tavares disse. Relativamente à questão dos americanos não poderem sair fardados para virem almoçar no Concelho da Praia da Vitória porque corrobora integralmente a posição do Dr. Francisco, relativamente à questão que me foi colocada, o que é que na Região está a ser feito para assegurar o futuro dos trabalhadores da Base das Lajes e se há condições para recebermos toda esta gente que ficará desempregada na sequência dessa restruturação, o que me compete dizer é que existem procedimentos legais previstos no acordo e no regulamento de trabalho, no acordo para qualquer situação que leve a um despedimento, nomeadamente aquela Reduction In force que está estipulada no regulamento e todo o procedimento legal a ser comprido por parte da Base e por parte dos americanos, como também por parte dos portugueses. Que outras intervenções nós temos feito, até na sequência de pedidos que foram apresentados por trabalhadores nas reuniões alargadas que costumamos fazer, tinha a ver precisamente com o reconhecimento de competências e o facto de toda a formação que foi recebida por estes trabalhadores, quer na Alemanha quer nos Estados Unidos não terem qualquer reconhecimento e, portanto, isso poder ser um obstáculo no futuro, mesmo qualquer um deles que pretenda recorrer ao mercado de trabalho local, regional e mesmo nacional, não poderem ter esse reconhecimento. Portanto, através da Direção Regional do Emprego e Formação Profissional, no âmbito da Rede Valorizar, nós iniciamos já um processo de certificação das aptidões 17 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA profissionais, o reconhecimento de competência com equiparação com as habilitações literárias, inclusive há uma semana, fez sábado uma semana, já foi entregue o certificado aos bombeiros porque na Escola Nacional de Bombeiros foi feito todo o processo de análise da formação que foi dada já aos bombeiros da Base das Lajes e, portanto, tiveram uma semana de trabalho intenso em terreno que foi avaliado e culminou nesta edificação. Estes trabalhadores também irão, simultaneamente, desenvolver o trabalho necessário para haver equivalência, a nível das habilitações, no âmbito da Rede Valorizar. Outra questão é aquela que o Dr. Francisco já referiu que é a responsabilidade social do estado americano e, portanto, a sua obrigatoriedade de compensar a Região, uma reconversão destes postos de trabalho na requalificação dessas pessoas à semelhança do que faz internamente aquando da restruturação das suas bases nos Estados Unidos.” -------------------------------------------------------------------------- -------- Audição do Presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, Dr. Roberto Monteiro:------------------------------------------------------------------------------------------ “Muito boa tarde a todos, em primeiro lugar, e tal como tive oportunidade de dizer em sede de Assembleia Municipal, congratulo-me com este trabalho conjunto e, acima de tudo, um trabalho sobre uma matéria que é, indiscutivelmente, uma matéria suprapartidária e de relevância primordial para o nosso Concelho e para as gerações presentes e futuras. Relativamente à metodologia adotada, parece-me adequada, porque sempre que falamos e abordamos esta matéria, e tem aqui pessoas que certamente já a abordaram noutras fases em processo aparentemente semelhante, houve sempre uma perspetiva de que nós temos que travar permanentemente duas batalhas. Uma primeira batalha é fazer valer as nossas preocupações, junto da posição nacional, porque já tivemos claramente, já constatamos em momentos anteriores em que aquelas que são as preocupações da Praia da Vitória, da Terceira e dos Açores, nem pela parte portuguesa, muitas das vezes, são consideradas posições primordiais ou de relevância maior no 18 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA âmbito de um processo de negociações, duro e cru, com a parte americana que, constantemente, utiliza o mesmo tipo de estratégia, que é uma estratégia normal num processo de negociação, que é, numa primeira fase, aposta forte numa desvalorização da importância das infraestruturas e, posteriormente, depois numa segunda fase tenta, obviamente, fechar. Isto é uma técnica normal de negociação e básica e nós à medida que os tempos, que os anos foram passando fomos habituando também a que fosse, e felizmente nunca tivemos. Tivemos uma época em que houve algumas pessoas que saíram e que passado algum tempo recuperaram, mas nunca chegámos a um ponto de enfrentar a sério um problema de redução. Contudo, a atual conjuntura internacional, com tudo aquilo que está a implicar pelo mundo, deixa-nos perante preocupações de que a gente, se calhar, não se pode posicionar com a história do menino e do lobo, porque, aparentemente, em processos anteriores havia quase aquela situação: “olha o lobo, olha o lobo” e as coisas foram-se compondo e, desta vez, nomeadamente por também alguns contatos que tivemos com os membros do Governo Regional que estiveram presentes em algumas reuniões, se bem que, também outra prática corrente, é que nas reuniões oficiais nunca se passa grande coisa, portanto as poucas coisas que as pessoas vão sabendo é mais conversa de corredor do que propriamente o que se vai passar nas reuniões. Isso deixa esse processo, transforma-o, de forma perfeitamente ambígua e complexa, conheço a posição que a Câmara e que o seu presidente tem sobre esta matéria é que, tendo em conta o impacto económico e social que a Base das Lajes tem, nem vale a pena quase enumerar, nós todos sabemos o emprego direto, mas depois há o emprego indireto, que em determinadas fases se calhar representa quase tanto como o emprego direto. Temos, depois, por consequência a situação das pessoas que estão empregadas nas forças portuguesas perante um processo de decadência, ou seja, caindo o contingente americano, além do impacto direto no contingente português que trabalha para os americanos, depois tem todo este efeito inverso, tem a componente daquilo que é gasto e investido no mercado local, tem a situação do mercado de arrendamento, que na minha opinião já há muitos anos que entrou num processo de regressão e 19 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA desinvestimento, e mais recentemente vamos assistindo a situações que as pessoas nos comunicam de que estão, claramente, a mandar as pessoas, os americanos voltar à Base. Tendo em conta o número substancial de fogos que têm disponíveis, quer dizer, houve aqui muita fase neste processo, aquela fase em que se deixou construir, de forma maciça, casas, porque neste momento até algumas delas já foram propostas para entrega à parte portuguesa, indiscutivelmente o número de fogos que eles têm é mais do que o suficiente para o contingente que eles hoje têm e, nesta preocupação, o impacto, eles próprios publicaram elementos sobre isso, que são públicos. Os americanos têm uma cultura de que gostam muito de relevar o contributo que dão para as comunidades, estaremos a falar, eu não sei, não tenho obviamente elementos precisos, mas eles próprios publicaram um impacto económico nesta comunidade na ordem dos sessenta a setenta milhões de euros/ano. Quando olhamos para uma realidade como a nossa, podemos analisar PIB’s, podemos analisar números de postos de trabalho, qualquer que seja o indicador que agarremos e quando vemos em contrapartida o outro lado, a possibilidade de uma quebra substancial, quer seja ela parcial, ou não, estamos a falar num impacto completamente nefasto neste Concelho e, muito, difícil de suster. Quanto ao caminho, eventualmente, a prosseguir eu, pessoalmente, acho que nós não devemos compactuar com qualquer tipo de acordo que pressuponha reduções, a estratégia de base deve ter esse aspeto como princípio, independentemente de a nossa vontade poder não vir a vincar o que quer que seja, porque muitas das vezes isso, também penso que eles estão a utilizar essa estratégia. Contudo, o que está aqui em causa é, efetivamente, haver um compactuar com um primeiro passo e a partir daí torna-se bastante difícil em fases seguintes, porque o que menos vai faltar ao longo dos tempos são argumentos para que se reduzam, eu acho, não tenho os números exatos, o que li foi aquilo que saiu na altura, nunca saíram números exatos, mas fala-se em reduções que poderiam ir para os cinquenta, sessenta, setenta por cento do efetivo, quer dizer, numa situação destas que nós perguntamos porque é que nos serve ou para que é que nos pode servir para uma infraestrutura? Por outro lado, também não estou na posse de todos os dados que 20 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA permitam tirar conclusões do género. Se nós temos ou não condições de dizer “se retirarem saiam de vez”, se ficou para ficarem cem pessoas empregadas ou cento e cinquenta pessoas empregadas na Base, qual é o efeito que daqui tem? Não sou eu que estou na pasta das negociações, não estou na posse dos elementos, mas acho que na minha opinião é que esta comissão, que a voz que tem que ser única do nosso Concelho, deve afastar-se, completamente, de qualquer acordo que pressuponha reduções, esta é a situação de partida. Parece-me que aquilo que nós poderemos fazer, e se calhar a grande batalha que nós temos pela frente, é a primeira parte daquilo que referia há pouco, nós não vamos ter, nenhum de nós vai ter, a possibilidade de estar na mesa com a parte americana, na melhor das hipóteses poderemos chegar à parte portuguesa, nomeadamente porque o Ministério dos Negócios Estrangeiros é que assumiu um pouco a liderança e, parece-me que isto é um ponto bastante positivo em relação àquilo que foi a história recente, porque quando o Ministério da Defesa é que lidera o processo, eu penso que é sempre mais lucido para nós. Este processo ainda não acabou mas, à partida, eu penso que é bastante favorável ser o Ministério dos Negócios Estrangeiros a liderar o processo em detrimento do Ministério da Defesa, pelas razões que todos nós sabemos e por aquilo, também, que marcou o passado. Portanto, a minha preocupação fundamental é que qualquer que seja o impacto de uma redução será sempre de graves consequências, consequências muito graves, e no contexto económico e social em que vivemos, praticamente indefensável em termos de conseguirmos criar alternativas possíveis, e penso que o caminho tem que ser um caminho de luta a sério. Mas nesta fase, claramente, para garantir que os interesses da Praia da Vitória, da Terceira e dos Açores serão postos em lugar totalmente prioritário no âmbito da equipa de negociadores portugueses, e eu penso que nesta fase é o primeiro passo, se calhar aquele que nós, pelo qual nós, poderemos mais lutar.” --------------------------------------------------------- Audição do Presidente da Assembleia Municipal da P.V., Francisco Oliveira: ----------------------------------------------------------------------------------------------- 21 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA -------- “Boa tarde a todos. Praticamente pouco tenho a acrescentar ao que o Roberto Monteiro afirmou. Acho que nos sentimos todos, um pedaço, magoados com a forma como a Base foi tratada pelo poder político até hoje, nomeadamente depois do vinte e cinco de abril, embora antes do vinte e cinco de abril todos sabemos porque é que, qual era o negócio feito entre o poder e a entidade americana, portanto a manutenção das províncias ultramarinas desculpava tudo o resto e nunca foi tomado a sério a negociação sobre a Base. Depois do vinte e cinco de abril, é lamentável dizê-lo mas, isto foi sempre levado a brincar, ninguém tomou a sério, qualquer Governo de que partido fosse, esta situação negocial com a Base das Lajes, porque nunca se procurou defender os trabalhadores, pelo menos a um nível que saltasse cá para fora, que nos apercebêssemos. Acho que isto serviu sempre de moeda de troca entre, ou aliás, como é que hei-de dizer, de bola de pingue-pongue no jogo político, quer dizer, quando o Governo Regional é de uma cor tem algo a dizer porque o Governo Regional é de outra e compete ao Governo da República, de facto, atuar e vice-versa. É um exemplo concreto disso a lei trinta e dois/noventa e seis, que é hoje a única coisa positiva, que eu conheço, feita em relação aos trabalhadores da Base, e que tem um processo muito curioso, que se calhar poucos que aqui estão sabem como foi, mas essa anteproposta foi submetida à Assembleia Regional para ser aprovada e foi chumbada porque, na altura, o Governo da República era do PSD e a maioria na Região era PSD, portanto a lei foi chumbada e teve que aguardar por noventa e seis, a lei trinta e dois/noventa e seis de dezasseis de agosto, para haver troca de Governo no país e, então ter apoio unânime da Assembleia Legislativa Regional. Chegou à Assembleia da República como anteproposta da lei nessas condições, na altura o Governo era PS mas perante uma força dessas já foi impossível, praticamente, evitar que ela fosse aprovada, também, por unanimidade na Assembleia da República. Portanto, se não há esta força, e era isso que eu queria de facto chamar à atenção, se não há esta troca de poder na Região, esta lei nunca tinha existido, pura e simplesmente por isso. Isto serve de base àquilo que eu afirmei inicialmente, porque esta Base foi sempre uma jogada política de parte a parte e nunca houve ninguém que 22 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA tomasse isto a sério. Poderá ser desta vez, talvez por ter mudado de Ministério, talvez porque se faça um barulho de alguma forma que obrigue, quem de direito, a mexer-se, pelo menos se não houve possibilidade de conseguir nada da parte americana, ficarmos, pelo menos, a saber que se tentou o que foi possível e que, perante uma situação de impasse eu também comungo da opinião, que ouvi aqui o Roberto Monteiro manifestar, de que antes nada do que manter a Base para cem funcionários. Portanto, é de facto de lamentar esta forma como esta situação chegou até aqui, o acordo existente de noventa e cinco está lá escarrapachado que há todas as possibilidades e mais alguma de despedir um funcionário da Base, portanto em qualquer circunstância o americano encontra razão para despedir um português, ou fazer despedimentos coletivos na Base das Lajes. Nunca houve força nenhuma, que se visse, contra este estado e agora chegamos a uma situação onde já não se ouve o que acontecia de noventa e um a noventa e cinco, que naquele despedimento coletivo que houve e que deu origem à tal lei, pelo menos ajudou a desencadear a vida de muitos que de lá saíram. Mas já se ouve que eles vão reduzir quase para zero, portanto a posição é, de facto, uma exigência total de que a situação se mantenha, se eles querem a Base têm que a manter como está e têm que pensar em gastar dinheiro para a manter de outra forma. Eu, como cidadão português, sou absolutamente contra a permanência deles como donos desta Base das Lajes, a ser governada daquilo que se ouve, porque eu nunca falei com ninguém, nem do Governo, nem ninguém com conhecimento eficaz do que se está a passar, estou baseado apenas nos boatos que por aí se ouvem e nas coisas que se dizem. Portanto, temos que ter, de facto, uma posição irredutível, eu não vejo outra, não vejo que possamos obrigar os americanos a fazer seja o que for, embora eles pudessem fazer muito para ajudar os Açores e o próprio país, mas não estou a ver que por aí venha algum benefício a esta terra. Portanto, é uma exigência total, se eles querem é como está, se não quiserem pois vão-se embora e agente há-de ver o futuro em que é que fica e pronto. Estamos aí a ver os chineses a crescer, pode ser que isto mude de campo e até seja uma solução futura, passe esta brincadeira entre aspas. Não tenho, assim, nada mais a acrescentar a isso, 23 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA portanto não tenho ideias mirabolantes para colocar na Mesa, ainda pensei numa hipótese que era talvez viável, se viesse mesmo a haver uma redução imparável nas condições em que se fala, de através do turismo poder haver um esforço grande da própria América, mas isto são coisas em que eu próprio não acredito que chegue a nada, portanto, não vejo que haja qualquer hipótese viável de negociar nestes termos, portanto fico-me por aqui, acho que a posição, a nossa posição, deve ser a nível de Assembleia Municipal e de Câmara Municipal, acho que deve ser a de manter uma postura irredutível, de obrigar os americanos a manterem-se como estão ou então irem-se mesmo embora e acabarem com a sua permanência aqui.” ------------------------------------- --------Audição do Jornalista e especialista sobre assuntos relacionados com a Base das Lajes, Armando Mendes:--------------------------------------------------------------------------- A minha especialização relativamente à geopolítica e à geoestratégia, no caso concreto da Base das Lajes, decorre sobretudo do estudo do acordo de 1995 e dos tempos posteriores até à atualidade. Em termos de especialização, eu não a fiz relativamente ao passado de uma forma muito concreta. O estudo que eu tenho sobre as Lajes, que tenho aprofundado e que estou agora a preparar para doutoramento, é a partir da queda do Muro de Berlim, é a partir daí que eu posso-vos falar. Se quiserem falar do passado tenho algum conhecimento, mas não tenho o conhecimento que possuo sobre esta história das Lajes, da geopolítica e geoestratégia dos Açores pós queda do Muro de Berlim. Comecemos pelo Acordo das Lajes. O Acordo das Lajes tem que, o chamado Acordo das Lajes para os americanos se chama Acordo das Lajes para Portugal chamase Acordo de Cooperação e Defesa entre a República Portuguesa e os Estados Unidos da América. Este acordo tem de ser compreendido à luz de como funcionam as relações internacionais e também um pouco à luz do direito internacional que rege, ou que poderá eventualmente reger, as relações entre estados. Esse direito praticamente não existe para este tipo de relações. O direito criado é o direito negociado entre os estados. 24 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA Ora nas relações internacionais os estados tendem a gerir-se por, ao nível dos seus interesses, da prossecução dos seus interesses, por um ambiente realista, o chamado realismo político. O que é que isto significa?! Significa que os negociadores de qualquer estado têm apenas responsabilidades éticas e até morais perante o povo desse seu estado e não perante mais nada nem perante ninguém. O que significa que um estado vai para a mesa das negociações com o objetivo de conseguir os seus interesses. Esse é o grande objetivo, é perante isso que ele tem de responder eticamente, moralmente e obviamente legalmente, em muitos casos, perante os seus próprios estados, eles têm de responder perante os seus próprios estados. Neste ambiente de realismo político gera-se no concerto das nações algo parecido, e por falta de outro termo vou utilizar este, algo parecido com uma relação feudal. Nessa relação feudal os estados poderosos mandam e os outros estados vão-se alinhando num regime de suserano/vassalo. Neste caso, Portugal como obviamente não se escapará, é entendido como um estado vassalo nas relações internacionais. Foi numa determinada maneira até à queda do muro de Berlim e continua a ser neste momento na relação com os Estados Unidos. Este ambiente vai-nos permitir perceber o acordo de 1995. O acordo de 1995 é um mau acordo, desde logo porque aquilo que se conhece do valor geopolítico e geoestratégico dos Açores à altura não foi contemplado, por aparente desconhecimento da parte portuguesa. O acordo é negociado entre 91 e 1995 e culmina num texto que não é reconhecido pelo senado norte-americano, mas é reconhecido pela república portuguesa. Ou seja, a relação de vassalagem que há pouco vos falava está aqui bem explícita. Enquanto o vassalo jura na sua ordem política interna que vai cumprir o suserano não o faz. Vai cumprir, vai fazer os melhores esforços para cumprir, mas efetivamente não está preso no seu direito interno. Isto obviamente só pode gerar problemas. E tem gerado problemas designadamente ao nível da aplicação do acordo. Este acordo tem um outro problema de raiz que tem a ver com a tradução. Aparentemente o acordo terá sido negociado por iniciativa norte americana, portanto com textos em inglês, a tradução não se faz do português para o inglês, mas do inglês para o português. Uma das consequências deste 25 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA processo é que alguns articulados em inglês não tem a mesma interpretação e o mesmo valor do que em português e gera-se aqui obviamente um problema grave de interpretação. Este é um dos problemas do acordo, um estado que é vassalo em relação a outro, um acordo que não é reconhecido na ordem interna do estado mais poderoso, o estado norte-americano, e um acordo que a lei na parte menos poderosa, na parte mais fraca do vassalo, que é dentro de Portugal. Este tipo de acordos tem outros problemas que são os acordos secretos. O acordo de 1995 tem acordos secretos e nós sabemos disso, inclusivamente já divulgámos um, o chamado Ata Secreta do Acordo das Lajes de 1995, que é uma ata que contempla por exemplo contrapartidas militares em armamento, contrapartidas de formação militares e outro tipo de contrapartidas. Nestas negociações há sempre várias partes. Nestas negociações Portugal tem os Negócios estrangeiros, aos quais interessa fundamentalmente as chamadas contrapartidas imateriais, ou seja, por exemplo lugares para Portugal em determinados fóruns internacionais, lugares para Portugal na Presidência da Assembleia Geral da ONU por exemplo, lugares até para Portugal, há quem diga isso não o posso afirmar, na União Europeia a posteriori, lugares aqui, lugares ali, ter voz neste areópago, ter voz no outro são as contrapartidas imateriais. Ao nível das contrapartidas materiais posicionam-se vários Ministérios e posicionam-se as Forças Armadas. As Forças Armadas conseguem nestes acordos armamento, nem sempre o melhor, conseguem sobretudo formação para os militares nos Estados Unidos, um desses programas chamasse EMET que é um programa que os Estados Unidos assumem como um programa de formação de militares que depois serão úteis à própria ideologia Norte Americana nos seus países de origem, isso está escrito. Há outros ministérios como por exemplo o Ministério da Educação, como o Ministério da Ciência e Tecnologia, que conseguem contrapartidas ao nível de acordos com universidades norte americanas, com institutos, enfim parcerias, exceto no que diz respeito à questão militar e no que diz respeito às contrapartidas imateriais, porque depois não percebemos muito bem como é que elas são geridas, nas outras contrapartidas pensamos no que Portugal está a ganhar geralmente, está a perder, porque 26 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA nestas relações que se estabelecem com universidades norte americanas com institutos etc., Portugal acaba por ser em grande parte a entidade pagante. Isso também está escrito, está em vários documentos que já foram publicados. A outra parte é a Região Autónoma dos Açores. Neste caso do acordo de 1995 a Região Autónoma dos Açores não ficou com contrapartidas imperativas, ficou com contrapartidas no âmbito do que pudesse vir a ser negociado e com documentos indicativos. O resultado tem sido extremamente negativo. A Região Autónoma dos Açores em termos de contrapartidas das Lajes não tem praticamente nenhumas. Dir-se-á que têm os vencimentos, os ordenados da Base das Lajes, mas isso não são contrapartidas, isso é obviamente uma força laboral que presta serviço a uma entidade que precisa dela, porque se não precisasse dela ela não estaria lá. Além do mais resta estudar, por exemplo, se esse dinheiro que entrará em parte na economia da ilha, e efetivamente não entra, porque em boa parte entra nas lojas BX das Lajes onde os trabalhadores fazem compras, como outra parte entrará na ilha, se esse dinheiro não será depois contrabalançado em termos negativos pelo dinheiro local que entra nas lojas BXs. Já forma divulgados estudos muito preliminares que apontam praticamente para uma coincidência entre o volume de salários pagos anualmente na Base das Lajes e o volume de negócios em euros das lojas BX, o que obviamente é um indicador muito interessante. Ora este acordo tem ainda uma componente, não é de grande importância, aliás o Sr. Presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória ainda hoje falava, hoje ou ontem suponho que falava nessa componente no Diário Insular, que é a componente laboral, a chamada questão laboral da Base das Lajes. Esta questão é para mim de uma enorme complexidade, eu tenho tentado estudá-la, designadamente abordando os vários acordos estabelecidos pelos Estados Unidos, acordos alguns de contratação direta, outros de contratação indireta, conforme os países, todos eles são muito complexos. A conclusão a que eu chego relativamente à Base das Lajes é que, em termos laborais, não há lei na Base das Lajes. Não há lei porque não há acesso obrigatório à justiça. O acesso à justiça pode ser bloqueado. Designadamente pode ser bloqueado através de um esquema de comissões 27 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA sem prazo para decidir, que podem na prática impedir que um trabalhador chegue à justiça portuguesa, porque tem de passar por essas comissões todas para poder ter acesso aos tribunais, e essas comissões não tem prazo para decidir. Eu pesquisei e concluí, através de conversas com negociadores à altura, que isso foi premeditado e tem por objetivo evitar fricções nas relações entre os dois estados, quando uma questão qualquer de ordem laboral possa revelar-se insolúvel de acordo com os interesses dos dois estados. Nesse caso as comissões, que são paritárias, não decidem. Não decidem o caso fica em banho-maria. Pode-se obviamente sempre tentar por via paralela, o recurso aos tribunais, sem passar por aquelas comissões todas, mas depois há um problema porque a sentença só é, a sentença desce, qualquer sentença desce à comissão bilateral permanente que não tem prazo para a mandar aplicar, não pode negar a sentença, não pode modificá-la, mas não tem prazo para mandar aplicá-la, o que significa que na prática ela pode nunca ser aplicada. Mas o que preocupa agora as pessoas relativamente à questão laboral é só se vai ou não haver despedimentos na Base das Lajes. Ora este “vai ou não haver despedimentos na base das Lajes?!” insere-se num segmento ainda mais complexo desta história da Base das Lajes. Tem a ver com conhecimento. Ou seja, o que é que nós, eu podia questionar o que é que nós Portugal, mas por agora vou fazer o que é que nós Açores, o que é que nós conhecemos em termos da nossa geopolítica, da nossa posição geoestratégica e do interesse que estas duas componentes possam ter para a potência com a qual negociamos, no caso os Estados Unidos da América?! Nós não conhecíamos no acordo de 95 e continuamos a não conhecer, porque não estudamos estes dossiês. Portanto nós não sabemos para que é que os Estados Unidos querem a Base das Lajes, se eles não nos disserem e não sabemos, porque não sabemos para que é que eles querem, não sabemos quais são as missões, não sabemos também quantas pessoas eles têm de ter aqui na Base das Lajes. Nem sequer sabemos quando eles atiram com o isco da Pan Am, se não estarão a atirar com uma capa para manterem a Base das Lajes como aquilo que eles chamam um site adormecido. O que é um site, um sítio adormecido? O que é um sítio adormecido? É uma base de projeção de força que tem 28 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA que estar permanentemente preparada para apoiar qualquer projeção de força, mas que não tem que ter necessariamente lá fisicamente todas as pessoas necessárias para ativar a base em caso de projeção. Essas pessoas estão numa base nos Estados Unidos, e já foi testado aqui na ilha Terceira nas duas guerras do Iraque, a de 91 e a de 2000 e qualquer coisa, as pessoas estão numa base nos estados unidos, estão treinadas com estes equipamentos, são projetadas à frente da força, reativam a base e a força faz o seu percurso a seguir. Ora estes mecanismos têm de ser muito bem compreendidos para podermos negociar, designadamente no jogo das contrapartidas, porque no jogo das contrapartidas nós podemos colocar gente nossa aqui se soubermos quantas pessoas é que são necessárias face à missão. Mas nós não sabemos porque nós não estudamos para que missões é que a Base das Lajes é necessária, qual é que vai ser o papel futuro e qual é que é o papel atual da Base das Lajes. Relativamente à parte Açoriana. Não há uma Agenda Açoriana para a Base das Lajes. Eu podia aqui dizer “não há uma Agenda Açoriana para a questão geopolítica e geoestratégica”, mas como estamos a falar aqui da Base das Lajes, não há uma Agenda Açoriana para a Base das Lajes. Uma Agenda para a Base das Lajes teria que ser construída com base em conhecimento sistematizado e sistematicamente actualizado, com base em organismos de estudo permanentemente a trabalhar e com base obviamente num pacote de interesses permanentes que teriam de estar sempre em cima da mesa quer se estivesse a negociar quer não se estivesse a negociar os nossos interesses permanentes relativamente à Base das Lajes, mas não são interesses como quem manda uma carta ao Pai Natal, teriam de ser interesses fundamentados, estando permanentemente em cima da mesa e permanentemente em negociação. E há uma segunda componente, com a qual nós não queremos ou não sabemos jogar, que é a componente soft power que nós temos muito, a componente opinião pública. A opinião pública é de uma enorme importância para o Estado que tem, por exemplo, como é o nosso caso, uma força estrangeira hospedada. Porquê? Porque a opinião pública tem que participar no processo de construção do nosso caderno de interesses permanentes, e essa força que aqui está, tem que perceber que para estar bem 29 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA aqui, tem que dar resposta àquilo que nós achamos justo, não só nós, não só os políticos, os comentadores, mas a opinião pública. O que mais importa em termos por exemplo, dos interesses Norte Americanos quando estão instalados numa base é o comportamento da opinião pública junto daquela base. Ora nós temos mantido a nossa opinião pública afastada deste processo. Relativamente aos interesses específicos do concelho da Praia da Vitória e eu daqui a pouco já me calo para podermos dialogar. Relativamente aos interesses específicos do concelho da Praia da Vitória. Esses interesses específicos do concelho da Praia da Vitória teriam de fazer parte desta Agenda Açoriana para a Base das Lajes, esta agenda permanente. Como não há agenda permanente os interesses específicos do concelho da Praia da Vitória obviamente não estão nessa agenda porque ela não existe. No entanto a Praia da Vitória tem na minha opinião grandes razões para tentar de qualquer maneira colocar os seus interesses numa agenda, porque eles são muitos e variados. Desde logo, e é um assunto que eu investiguei e investiguei profundamente e com algumas consequências pessoais chatas e complicadas para mim, tem a ver com estes processos de contaminação. A Praia da Vitória, o povo da Praia da Vitória tem que saber urgentemente o que se passou aqui em três momentos e quais são as consequências que ainda hoje está e pode sofrer no futuro. O momento dos lançamentos de DDT em cima das pessoas. Quais são as consequências? É possível hoje estudar cientificamente por processos chamados de regressão e também por estudos de epidemiologia na área das doenças, é possível estudar e perceber o que é que se passou. E eu lembro-vos que nesse caso, e fora do acordo, é possível processar o infrator dentro do seu próprio país. O povo da Praia da Vitória tem que saber também, isso hoje já está provado, está escrito, o que se passou com os silos de armas nucleares que estiveram aqui na Praia da Vitória? Onde é que eles tiveram e se ficaram resíduos? Eu, pessoalmente penso que não ficaram. Mas onde tiveram e se ficaram resíduos? E se há algumas consequências atribuíveis dessa permanência de armamento nuclear aqui na Base das Lajes, designadamente eram cargas nucleares de profundidade usadas pelos aviões nucleares P3 Orion que estiveram aqui estacionados muitos anos para a guerra 30 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA antissubmarina. Finalmente a Praia da Vitória não se pode ficar pelo que se está a passar relativamente à contaminação de solos e aquíferos por hidrocarbonetos. O estudo feito pelo LNEC é um estudo minimalista, o estudo de 2005 encomendado pelos americanos é muito menos minimalista, não foi sequer seguido neste estudo do LNEC, face à encomenda feita ao LNEC, a extensão e as consequências dessa contaminação têm que ser percebidas e é preciso estudar paralelamente ao norte-americano que é o infrator, é preciso estudar quais são as formas de resolver isto, é preciso estudar no mercado internacional como é que se resolve estes problemas e não é ficar apenas à espera que o infrator engendre um plano, que apresente esse plano quando quiser e que o aplique como lhe passar pela cabeça. A Praia da Vitória tem urgentemente, em meu entender, na minha opinião pessoal, que resolver este problema e recorrer à justiça para que o seu povo e as suas instituições sejam ressarcidos de tudo o que aqui aconteceu. A Praia da Vitória tem também em meu entender que resolver o problema dos impostos que não são pagos, designadamente os impostos sobre as habitações, designadamente os impostos sobre a circulação de viaturas, mas neste caso dialogando com o município de Angra do Heroísmo, e tem que o fazer rapidamente e contabilizar rapidamente, para tentar meter numa possível agenda das negociações. O concelho da Praia da Vitória tem, também, que tentar ser parceiro privilegiado nos arranjos negociais relativamente a um novo acordo, designadamente eu já ouvi falar nalgumas coisas, mas nada vos posso garantir porque não sei nada de concreto, mas o novo acordo poderá ter a ver, poderá incluir alguns elementos relacionados com criação de emprego etc., e o concelho da Praia da Vitória terá que estar na minha opinião muito atento, terá que se antecipar, terá inclusive que estudar as consequências da eventual saída de 400 trabalhadores da Base das Lajes, para tentar através das contrapartidas que eventualmente estarão a negociar, que o emprego a induzir seja sobretudo induzido no concelho da Praia da Vitória, porque o concelho da Praia da Vitória será obviamente o primeiro a perder. Bom, eu não vos posso dar muitas esperanças sobre a eficácia de nada do que aqui vos disse, precisamente pelo que vos disse antes, ou seja, estes acordos são acordos extremamente 31 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA complexos, Portugal é um país vassalo no sistema internacional, os Estados Unidos nem se dão ao trabalho de integrar estes acordos na sua ordem jurídica interna, há muitos interesses Portugueses em jogo, os Açores não tem conhecimento nem tem uma agenda sistematizada nem mobilizaram-se de forma sistemática a sua opinião pública e a opinião pública, essa também de enorme importância, nas nossas comunidades nos Estados Unidos. Não são apenas os políticos a opinião pública, ou seja degradar a nossa situação dos nossos políticos na América através da sua base de apoio, de quem vota neles, e esse trabalho tem de ser sistemático, nunca esquecendo que as relações entre estados resolvem-se entre Portugal e os Estados Unidos, nunca esquecendo também que os Açores tem o direito constitucional de participar na elaboração dos acordos internacionais que lhe dizem respeito e também nos benefícios, e finalmente nunca esquecendo que provavelmente a Região Autónoma dos Açores decidiu desde 1996 hipotecar este 2º ponto da constituição, o ponto dos benefícios em troca da Lei das Finanças Regionais, designadamente a Lei das Finanças Regionais ou, o nome correto não é este, Lei das Finanças das Regiões Autónomas, integram um ponto que para juízes do tribunal constitucional com quem eu falei é um ponto considerado muito estranho e inconstitucional só que nunca ninguém fez queixa, no qual diz assim: “e tal as regiões continuam a ter direito a participar nas negociações dos acordos ou tratados internacionais que lhes digam respeito”, e deixa cair o 2º ponto, ou seja, deixam de ter direito a participar nos benefícios. Aquela era a contrapartida pelos benefícios. Este assunto também terá que ser tratado, porque se aquela é a contrapartida pelos benefícios nós podemos fazer conferências, podemos ter massa crítica, podemos começar a estudar estes dossiês, que não chegamos a lado nenhum enquanto a contrapartida já estiver resolvida, e neste caso já está resolvida onde deve estar que é com o estado Português, através da Lei das Finanças das Regiões Autónomas. Meus Srs., obrigado e estou disponível para as vossas perguntas.” -------------------------------------------------------------- 32 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA --------Audição do Representante do sindicato dos Trabalhadores de Alimentação, Bebidas e Similares, Comércio, Escritórios e Serviços dos Açores, Victor Silva: --------“Da nossa parte muito obrigado pelo convite, e de facto é louvável esta iniciativa, aliás, na anterior renegociação do acordo algo deste tipo devia ter sido feito, nesta também penso que seria de todo útil fazer esse tipo de iniciativas. Ainda bem que a Assembleia Municipal da Praia criou esta comissão, no sentido de ouvir o maior número de intervenientes e envolver esses mesmos intervenientes. Em relação à importância dos postos de trabalho da Base das Lajes, penso que é um fator que, toda a gente nota quer do ponto de vista económico quer do ponto de vista social, portanto, aqueles postos de trabalho, para além daqueles que resultam diretamente, também resultam muitos de uma forma indireta, pela prestação de serviços de outros trabalhadores portugueses àqueles trabalhadores. E portanto, dessa forma é uma maisvalia muito significativa para o concelho da Praia da Vitória, para a ilha Terceira e para a Região dos Açores. A diminuição do número de postos de trabalho da Base das Lajes iria ter uma implicação muito significativa, do ponto de vista económico e social, por aquilo que já referi anteriormente. Toda gente, também, sabe que neste momento a Região atravessa uma grande dificuldade ao nível do emprego, e portanto, diria mesmo que o desemprego é o maior flagelo que nós temos do ponto de vista regional, e terá que ser tudo feito no sentido de evitar situações que possam contribuir para o aumento do número de desemprego nos Açores, e portanto, a manutenção dos postos de trabalho na Base das Lajes assume, aqui desta forma, um papel importantíssimo. Outra das coisas que nos preocupa, em todo este processo tem também a ver com a forma como foi efetuada a última renegociação do acordo. Demonstrou, claramente, que a correlação de forças entre os dois estados é desigual, mas pior do que isso de facto, foi o nível de preparação, foi a informação, a consulta que cada um levou para essas negociações. Da parte dos norte-americanos iam munidos de todas as informações disponíveis, a parte portuguesa levou uma mão cheia de nada, e portanto, dessa forma o resultado só podia ser aquele que aconteceu, uma situação desastrosa para os 33 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA trabalhadores portugueses. O que nós esperamos é que este processo seja feito de uma forma diferente, em que sejam ouvidas as partes, em que seja envolvido o maior número de estruturas, em que o estado português faça algo deste tipo, que está hoje aqui a ser feito, no sentido de poder ir o mais bem preparado possível, e diremos até mais, se for possível neste processo trocar outras contrapartidas pela manutenção dos postos de trabalho, nós consideramos fundamental. A parte laboral tem sido sempre o parente pobre desta relação, é altura de nós darmos de facto alguma importância a ela, até atendendo à atual conjuntura que o país e que a região vivem, e portanto, deste ponto de vista consideramos que é fundamental colocar a questão laboral no topo da agenda, que é fundamental salvaguardar os postos de trabalho portugueses na Base das Lajes. Também, consideramos que é importante o contributo que todos possam aqui dar, e portanto, a sociedade açoriana tem um contributo importante. O que nos temos apercebido, é que de facto, algumas das pessoas que conduzem depois o processo percebem muito pouco ou nada do que está em questão, e portanto, cabe aqui a todos nós, contribuirmos para que as pessoas possam ir o mais preparadas possíveis, e possam conseguir também o melhor acordo possível. Portanto, para evitar que estas situações aconteçam, nós temos por vezes deixar cair de lado algumas, alguns interesses algumas tricas até do ponto de vista político e pensar na causa, e a causa é fundamental, quer a nível do concelho da Praia, quer a nível da ilha, quer a nível da região, e portanto, penso que acima de tudo nós temos que colocar os interesses das pessoas, os interesses do concelho, os interesses da região, e portanto desse ponto de vista, o apelo que nos compete aqui a nós sindicatos é que de facto nós levamos uma posição conjunta, do ponto de vista regional, para que a nível nacional as pessoas que forem negociar o acordo, possam estar o mais preparadas possível, portanto, desse ponto de vista nós consideramos fundamental o trabalho que daí possa advir. 34 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA --------Audição do Representante sindicato dos Profissionais de Transportes, Turismo e Outros Serviços, Paulo Borges: ------------“Em primeiro lugar muito obrigado. Como os senhores sabem nós temos uma atividade sindical, muito ativa junto dos trabalhadores da Base das Lajes há cerca de 40 anos a esta parte, e obviamente que passamos por muitas vicissitudes, por muitas questões, umas foram boas, outras foram más, e situo-me para esta nossa conversa em 1991, aquando da grande hecatombe que aconteceu na ilha Terceira, que foi o despedimento de cerca de 95 trabalhadores, que foi uma luta monstra, nos quais depois de um enorme envolvimento da república na altura, da região, da igreja inclusive, conseguiu-se recuperar desses 95, cerca de 70 postos de trabalho, dado que os outros fizeram algumas opções, por reformas antecipadas, por, porque já estavam no limite de idade e tinham várias possibilidades, e é nessa altura que os sindicatos acompanhados tecnicamente, e muito bem pelo seu gabinete jurídico, curiosamente está aqui o Dr. Borges de Carvalho que fazia parte, nesta altura deste processo, conseguimos com que este setor, esta como é que a gente vai chamar, a Base das Lajes tivesse de forma específica uma lei que permitisse os trabalhadores aos quarenta e cinco anos de idade, e desde que tivessem quinze anos de segurança social pudessem avançar para aquilo a que se chamava a reforma, mas desde que o posto de trabalho fosse extinto. Isto resultou ao longo dos anos, porque tem beneficiado de forma extrema imensos trabalhadores, centenas de trabalhadores, e não se tem feito grandes ondas face a este dossiê, e penso que com algum silêncio por aquilo que eu estou aqui a dizer, e por alguma razão a república nem mexeu nessa lei, que está em vigor quando todas as outras nesta área estão suspensas até 2014 ou 2015, outras quase já extintas, não é. Isto é resultado de uma enorme luta, uma enorme movimentação da sociedade civil da região e sobretudo na ilha Terceira, na altura liderada pelo movimento sindical. E portanto isto foi tudo, foi tudo devagarinho, andando com alguma estabilidade, as pessoas foram, foram ocupando outras atividades e chegámos a uma altura, que é agora, e ouvimos falar outra vez numa coisa monstruosa, não é, que é a possibilidade 35 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA de nós perdermos centenas de postos de trabalho, ouvimos sobre isto. Nós temos acompanhado isso de perto sem grandes alaridos, mas com uma enorme preocupação técnica, e recentemente no ano transato nós provocámos e solicitámos uma série de reuniões na Assembleia da República, quer com a Comissão de Defesa Nacional, quer com a Comissão dos Negócios Estrangeiros, quer com a Comissão do Trabalho, onde apresentámos um dossiê onde constam as nossas propostas, para que tal situação se mantenha, em relação à atual situação laboral, nomeadamente num projeto de alteração do acordo laboral, e que, depois também tivemos a oportunidade de reunir com as comissões específicas, de especialidade da Assembleia Regional onde também fizemos a entrega deste dossiê, e o que nos apraz aqui dizer é a mesma coisa, que é entregar-vos o documento, que na altura demos início a este trabalho com, ao Sr. Representante da República, que fez chegar a várias entidades, independentemente dos nossos contactos com a Assembleia da República, que constam um conjunto de enormes preocupações que temos, não é. E portanto, penso que as situações mantêm-se atualizadas, está explicitado, inclusivamente as resoluções que a própria Assembleia da República fez, onde os trabalhadores perderam ainda não lhes foi resolvido o problema do subsídio de transporte por exemplo, e onde inclusivamente, surgiu também, no âmbito de uma das mesmas resoluções, de outra resolução no âmbito disto, os aumentos salariais, que não se percebe, não é. Está documentado, o nosso protesto e as nossas alternativas estão efetuadas e, obviamente que elogiamos da nossa parte o vosso trabalho, essa oportunidade que nos dão, também de vos entregar este documento onde constam todas as nossas preocupações e que levam a que, de facto, rapidamente se resolva o problema. Sabemos que, por exemplo, a Comissão Bilateral reuniu face a um destes argumentos, que é a questão do subsídio de transporte, a parte portuguesa disse que sim e a parte americana disse que não. Pronto, mas isto é a velha confusão, e a nós e relativamente aos nossos representados, só nos resta recorrer aos tribunais que também como sabemos, deixem passar o termo é uma treta, que o enorme trabalho que têm os juristas que é uma coisa enorme porque, a apresentação de uma petição judicial leva a 36 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA enormes trabalhos e depois por vezes somos guindados para o chão de qualquer maneira. Esperamos que esta não aconteça, esperamos que isto que se está a passar não seja mais uma vez um dossiê que sirva de moeda de troca para a Força Aérea ou para a Marinha, enfim para o Exército, que penso que cada vez está menos atualizada esta possibilidade, mas a verdade é que estas coisas tem servido até agora de moeda de troca, e nós com os militares em cima não conseguimos grandes possibilidades. É preciso que se cumpra a Constituição da República Portuguesa, é preciso que as leis laborais neste país tenham, eu faço este interregno porque já tenho medo de falar das leis laborais em Portugal, não é, mas que pelo menos aquilo que existe em termos de contração coletiva espero bem que não se toque nela, mas se se vier a anular também, como se já se anulou uma série de normas do código do trabalho, a própria contratação coletiva estamos a falar de coisas quase na estaca zero e isso é muito complicado, isso é muito complicado, esperamos que alguém de direito, pelo menos onde nós agora já chegamos e, obviamente sem retirar a importância que o movimento sindical tem, que às vezes parece que é necessário fazer-se de forma errada, mas às vezes parece que é necessário fazer-se, alguém tenta fazer, porque o momento é de unidade, o momento é de unidade, talvez consigamos levar o barco a bom porto, porque senão vamos ter de facto uma catástrofe. Eu sou do tempo em que para mim a Praia era o grande pólo de desenvolvimento da ilha Terceira, com o grande porto oceânico da Praia da Vitória, com o grande aeroporto e parece que isto tudo está-se a desaparecer, não é. Nós estamos a ficar velhos mas acreditamos que há gente nova capaz de perceber isto, capaz de perceber isto, e pronto, são menos os conflitos internos que nós temos e são mais as necessidades da unidade que nós precisamos.” --------Audição do representante da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo, José Parreira: -------------------------------------------------------------------------------------------“Bom, a Câmara do Comércio obviamente que acompanha com alguma 37 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA preocupação esta temática, relacionada com a possível quebra de emprego da Base das Lajes, nomeou para o efeito uma comissão de trabalho que irá produzir, tão breve quanto possível, um documento que depois será entregue aqui à Assembleia Municipal da Praia da Vitória, como entidade interessada também na matéria. Nós não iremos fazer grandes, grande intervenção, até porque, como lhe disse, esse estudo ainda não está concluído, e portanto, será bastante mais conclusivo e será alvo depois de algumas conclusões mais objetivas. No entanto nós temos, fizemos aqui alguma resenha de algumas preocupações que gostávamos de deixar aqui consubstanciadas. Portanto, a Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo, em representação dos seus associados tem manifestado por diversas vezes as suas preocupações, que se prendem com situações que envolvem a Base das Lajes, como já foi amplamente referido a Base Aérea das Lajes teve um papel fundamental no desenvolvimento do concelho da Praia da vitória, da Ilha Terceira e dos próprios Açores, este impacto notou-se ao nível da criação de milhares de postos de trabalho, qualificação de recursos humanos locais, melhoramento dos rendimentos das famílias, estreitamento das relações entre Portugal e os Estados Unidos permitindo uma abertura para a emigração de açorianos. Mas para percebermos melhor este impacto e as razões das nossas preocupações, consideramos importante salientar a nossa realidade económica para melhor perceção. A realidade económica da ilha Terceira traduz-se num pequeno mercado com apenas 55 000 habitantes, o nosso tecido empresarial é marcado fundamentalmente por micro empresas, pequenas médias e micro empresas, portanto, bastante suscetíveis, digamos, à volatilidade desse mesmo mercado, e na atual conjuntura económica de crise as dificuldades já existentes pela nossa dimensão e acessibilidade, têm manifestado com, têm-se manifestado com maior prenestinos, pelo que qualquer redução no mercado terá graves impactos na economia local. Não podemos, esquecer que a instalação de norte-americanos nas Lajes, permitiu igualmente à sua volta de novas oportunidades de negócio, com a realização de obras dentro da Base das Lajes, elaboradas por empresas locais, e a recuperação e reconstrução de habitações para arrendamento a militares norte-americanos. Que 38 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA obviamente que esse impacto, já foi reduzido com a possibilidade que se concedeu, em determinado momento, de construção dentro da própria, dentro das próprias instalações da base. No entanto nos últimos anos temos assistido a uma redução substancial do número de trabalhadores portugueses e à restrição do arrendamento a habitações exteriores à Base das Lajes. Na sequência da intenção demonstrada pela administração norte-americana em reduzir o nível da utilização da mesma a Câmara do Comércio criou um grupo de trabalho cuja ênfase foi, irá ser, analisar a atual situação da Base das Lajes. Este grupo de trabalho está a delinear estratégias conjuntas de modo a salvaguardar os interesses dos nossos empresários. No entanto ainda não são conhecidos os resultados deste grupo, e logo que sejam conhecidos serão transmitidos às entidades interessadas. Contudo é importante referir que se revela fulcral acompanhar todas as adjudicações para que sejam efetuadas a empresas locais e não a empresas norteamericanas, como às vezes vai a acontecer, sensibilizar para a aquisição de produtos e serviços de empresas Açorianas. Nós, inclusivamente tivemos uma reunião com o Departamento de Compras da Base das Lajes, uma em outubro do ano passado e uma mais recentemente, com um membro da central de compras estacionado na Alemanha, das quais se foram abrindo algumas portas, embora essas, são processos de alguma forma lentos e muito burocráticos. De qualquer maneira ficou, ficou assente que seria dada formação a um funcionário da Câmara do Comércio de Angra, no sentido de ajudar os empresários locais, no preenchimento dos formulários e de toda a burocracia inerente, digamos, a essa situação. Sensibilizar para o contacto exterior à Base das Lajes, de modo que a que os norte-americanos possam adquirir produtos nas nossas empresas, possam disfrutar dos nossos restaurantes e possam conhecer a nossa cultura. Desta última reunião que nós tivemos, também na Base das Lajes, foi-nos realçado um pouco, alguns aspetos, que seriam importantes para atenuar estas barreiras que têm vindo a existir entra as duas comunidades. Por um lado um pânico generalizado que existe, principalmente na comunidade americana, face à possibilidade de atentados terroristas e a toda esta situação de corrente do 11 de setembro, e portanto, que leva a 39 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA que as pessoas olhem sempre com alguma desconfiança para fora do seu casulo digamos assim. E portanto, tudo o que é visto fora dos limites da Base das Lajes, digamos, dos limites da proteção que eles sentem dentro da base, é visto sempre com alguma preocupação e desconfiança. Por outro lado, e embora, obviamente mais até para eles do que para nós, a distância Angra/Praia não seja relevante, é vista quase como uma travessia de estado para estado a nível de, ou costa a costa nos estados unidos, quer dizer, é quase uma barreira física um pouco difícil de transpor, portanto, normalmente aqueles que saem ficam-se pelas imediações da base. Isso também se verifica a nível do mercado de arrendamento em que Praia, Porto Martins, portanto, as zonas litorais mais próximas da base, são as que são maioritariamente escolhidas como zonas residenciais. Por outro lado também, há pouca informação na base, e isto também viemos a detetar e estamos a tentar suprir de, há pouca informação sobre eventos, locais de diversão, restaurantes, esse tipo de coisas, e portanto, era interessante que, de alguma forma, se conseguisse quebrar essa barreira e criar uma lista, até pelo Facebook da própria base, nos meios digamos informáticos, de consulta dos militares de maneira a que eles tivessem acesso a essas informações e pudessem mais rapidamente e de uma forma mais célere chegar aos sítios. Portanto, são mais de 200 empresas açorianas que prestam serviço à Base das Lajes, e tentei também para esta reunião, saber o número de fogos que estão a ser alugados a forças americanas fora da base, mas não consegui esse número a tempo. De qualquer maneira isso poderá eventualmente constar do relatório que depois será elaborado. A Base das Lajes continua a ser um ponto de desenvolvimento económico dos Açores, e é importante salvaguardar que se mantenha como tal, e portanto basicamente são essas as preocupações da Câmara do Comércio e são, digamos, estes pontos que nós estamos a tentar abordar através do tal estudo que está a ser elaborado por membros da Câmara do Comércio. De realçar também que já houve alguns contactos do, ou seja, tem havido desde o último acordo alguma imposição, por parte das forças portuguesas ou das entidades portuguesas, no sentido de serem adotados processos e materiais, principalmente a nível da construção, com a 40 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA tecnologia local, ou o máximo possível com recurso a tecnologia local. Isso também leva, digamos, a algumas situações difíceis de ultrapassar, porque, aquilo depois há regulamentos internos extremamente burocratizados e muito, muito incisivos. Mas, a pouco e pouco, também se tem conseguido, de alguma forma, ultrapassar essas situações, e umas empresas melhores do que outras, também algumas com, digamos, mais capacidade de ultrapassar essas situações burocráticas têm conseguido penetrar nesses mercados. A nível dos projetos isso tem sido mais difícil, por exemplo, para terem uma ideia os contratos são feitos a 5 anos e, portanto, os contratos grandes a longo prazo e têm uma carga burocrática enorme em termos de adesão, e passam por uma série de procedimentos que nós estamos a tentar, através desta formação que vamos dar a funcionários da Câmara de Comercio, ultrapassar no sentido de ter mais gente a intervir dentro da própria base, porque eles próprios o desejam. Nas reuniões que tivemos com pessoas ligadas à contratação, eles próprios gostariam de ter mais gente local a participar nos concursos, até como forma de baixarem custos como é óbvio, porque sai-lhes muito caro trazerem muita da tecnologia, da informação diretamente dos Estados Unidos para cá, e muitas vezes o que se verifica é que ela não, não é muito diferente da que nós temos, e portanto, eles próprios têm interesse em que isso se faça, e têm promovido de alguma forma que isso aconteça. O problema é que estes circuitos depois, digamos, da burocratização associada à contratação desviam muitas destas do conhecimento dos próprios procedimentos. Nós, outro dia tivemos um casal que teve cá, que são técnicos americanos que residem, que vieram agora residir para cá e que se predispuseram a serem, digamos, intermediários entre empresários locais e as forças americanas. E nós chegamos à conclusão que eles chegaram à conclusão que eles tinham acesso a informação, ao nível dos concursos e dos procedimentos que, por exemplo, não chegava à Câmara do Comércio. E portanto, como não chegava à Câmara do Comércio não chegava aos associados da Câmara de Comércio, e portanto não tendo conhecimento de que estes procedimentos existem também não podem concorrer a eles. E portanto nós estamos a tentar, de alguma forma, criar algumas pontes que nos 41 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA permitam ultrapassar isso, embora a máquina é lenta e é pesada, e portanto, às vezes é muito difícil a gente conseguir chegar diretamente à fonte, e portanto, de alguma forma prestar melhor informação aos empresários. Basicamente era isso que tem decorrido dos trabalhos da Câmara do Comércio e eram essas também as preocupações que nós gostávamos de deixar aqui presentes.” ------------------------------------------------------------- -------- Audição do Coordenador da Comissão de Trabalhadores da Base das Lajes, João Ormonde: ----------------------------------------------------------------------------------------------“Cabe-nos agradecer, antes de mais, essa oportunidade e, como compreenderão, há aqui, estamos a trabalhar um pouco com alguns pressupostos e não propriamente com factos concretos e, por outro lado, nós não tivemos ainda o tempo que gostaríamos de ter tido para preparar este encontro, se bem que poderíamos obviamente ter acesso a outros materiais, a outra informação que pudéssemos partilhar aqui e isso ainda não nos foi possível. De qualquer uma das formas, o tema que nos traz à discussão é aquilo que foi comunicado pelo Estado Americano ao Estado Português, portanto a intenção de reduzir, ao que consta, significativamente, o efetivo militar da Base das Lajes. Não há pormenores, eu pessoalmente, no âmbito dos trabalhos do sindicato já tivemos encontros com o representante do Governo Regional, na Comissão Bilateral e Laboral, que também não adiantaram nada de concreto, ou seja, neste momento não sabemos rigorosamente do que está para ser planeado, o que temos a fazer é, perante aquilo que foi anunciado, temos vindo a prestar atenção a sinais que no conjunto, embora nalgumas circunstâncias contraditórias, a verdade é que no conjunto tendem a demonstrar que, de facto, vamos estar a breve trecho perante uma alteração substancial na Base das Lajes, mas mais uma vez não há nada de concreto. Da nossa parte o que eu diria é que, obviamente, da parte do Governo Português terá, ou teria que haver um empenhamento que não é habitual nestas lides, do nosso modesto ponto de vista, entendendo os 42 ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA diferentes contornos deste acordo, entre o Estado Português e o Estado Americano, sabendo, e referiu bem aí que isto tem diferentes amplitudes, falou-me da questão da importância que isto tem em termos estratégicos para o próprio país, portanto para Portugal, essa projeção atlântica, enfim, nós compreendemos perfeitamente que existem várias valências em questão aqui, e só temos competência para nos pronunciar sobre a questão laboral, se bem que as questões não podem, nem devem, ser desligadas nem tratadas separadamente. Relativamente à questão laboral, o que tememos, como é óbvio, é a perda de postos de trabalho, o que detestaríamos que acontecesse, mas admitindo o que será o desfecho, o que esperamos é que esses despedimentos venham a ser feitos de forma negociada, nomeadamente e desde logo, entre os trabalhadores e a entidade patronal, no fundo exigindo isto. Fica aqui um documento que, depois, deixamos convosco exigindo ao Estado Americano que assuma as suas responsabilidades, tendo em conta o impacto económico e social que uma redução dessa expressão possa ter na Ilha Terceira. Pensamos que é perfeitamente legítimo que da parte do Estado Português exigir, colocar as coisas nestes termos e, portanto, estar à disposição para fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que assim seja, que no fundo, minimizar na medida do possível o impacto que isso possa ter, desde logo junto dos trabalhadores, e depois também das suas famílias, na comunidade da Ilha Terceira, enfim, genericamente é isso, em termos concretos só depois de se saber também o que é que eles poderiam fazer.” 43