Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012

Transcrição

Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Pesquisa FEBRABAN de
Tecnologia Bancária 2012
Pesquisa FEBRABAN de
Tecnologia Bancária 2012
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2013
Sumário
1.Apresentação ............................................................................................ 4
2. Tecnologia voltada ao cliente ................................................................ 5
3. A multiplicação de acessos, clientes e transações ............................. 7
4. O software como diferencial .................................................................17
5. Inclusão financeira entra em pauta.....................................................23
6. Clientes em transição ............................................................................ 31
7. O futuro das agências ............................................................................ 41
8. Os bancos em mobilidade ....................................................................45
9. O desafio da eficiência ..........................................................................55
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Apresentação
É
consenso na sociedade que a tecnologia tem desempenhado um importante papel
para conectar pessoas, ampliando a oferta de serviços e possibilitando o acesso a uma
série de informações e dados. Para consumidores cada vez mais exigentes e aderentes
a essas novas tecnologias, os bancos têm correspondido às novas demandas, contribuindo
de forma inquestionável: investem volumes expressivos de recursos em tecnologia e em
eficiência operacional para, dessa forma, aperfeiçoar a experiência do usuário em todos os
seus canais de atendimento, tornando-a cada vez mais confiável e adequada.
Há 21 anos a Federação Brasileira de Bancos – FEBRABAN realiza um estudo junto
às principais instituições financeiras com o objetivo de mapear o estágio da tecnologia
bancária no País e suas tendências. Este ano, rebatizado de “Pesquisa FEBRABAN de
Tecnologia Bancária 2012”, esse amplo trabalho mergulha em temas importantes como
o relacionamento entre bancos e clientes nos diversos canais de atendimento, o nível de
despesas e investimentos realizados em tecnologia e a inclusão financeira.
A FEBRABAN não esteve sozinha nessa empreitada. Contou mais uma vez com a parceria
de uma das maiores e mais tradicionais consultorias de gestão estratégica do mundo, a
Booz&Company. Foram consultadas as áreas de tecnologia e negócios de 17 das maiores
instituições financeiras do País, que representam 97% do mercado em termos de número
de agências – o que torna a Pesquisa um bom indicador das necessidades tecnológicas para
atender a capilaridade de canais e de clientes. Essa gama de informações certamente vai
enriquecer as análises sobre a tecnologia bancária nas suas variadas abordagens, em termos
de eficiência, de interação com o cliente, incluindo tendências de negócios e tecnológicas,
comparação com benchmarks internacionais e implicações e oportunidades para o setor
financeiro brasileiro.
A incorporação de novos questionamentos na pesquisa exigiu um esforço adicional, e
significativo, das instituições financeiras consultadas. Foi necessário capturar informações dos
últimos cinco anos a fim de garantir efeitos comparativos e de progressão e em alguns casos
usando uma nova metodologia.
Esse empenho dos participantes possibilita que as oportunidades detectadas na análise dos
dados direcionem e embasem discussões estratégicas, nos bancos e na indústria da tecnologia
bancária, sinalizando quais as direções devem tomar os investimentos para a construção de
um sistema financeiro cada vez mais forte e inclusivo. A perspectiva para os próximos anos
é de que a colaboração dos bancos continue evoluindo rumo a um estudo cada vez mais
relevante tanto para os bancos como para o mercado de Tecnologia da Informação.
4
Apresentação
Tecnologia voltada
para o cliente
A
tecnologia é cada vez mais um alicerce fundamental para a indústria de serviços financeiros.
Sua relevância fica evidente ao longo desta Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012,
feita com base nas informações das principais instituições financeiras do País e apoiada por dados
do Banco Central, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, entre outros.
Para dar um retrato fiel do que acontece nessa área, é importante mostrar a expansão do sistema financeiro no
Brasil tanto em termos de oferta quanto de demanda, com destaque para os últimos cinco anos. Nesse período,
os bancos ampliaram a capilaridade de seus pontos de atendimento, especialmente nas regiões com menor
densidade, ultrapassando um total de 21.500 agências. A população também aumentou sua demanda pelos
serviços financeiros: o número de transações cresceu 15,5% ao ano desde 2008.
Em 2012, os bancos investiram R$ 20,1 bilhões em TI e Telecomunicações, um crescimento de 9,5% em
comparação ao ano anterior. A indústria de tecnologia para o setor bancário já se aproxima dos investimentos
de países desenvolvidos como França e Alemanha e corresponde a 11,7% dos gastos de TI no Brasil.
A Pesquisa mostra que os meios eletrônicos tiveram um papel relevante no processo de inclusão financeira no
País. Em 2012, transações feitas em Internet Banking representaram 39% do total de transações do mercado,
sendo o canal mais representativo. Já as transações em Mobile Banking registraram um crescimento exponencial
de 333% em relação ao ano anterior e já correspondem a 2,3% do total em todos os canais.
A inclusão financeira acontece ao mesmo tempo em que é percebida uma mudança de comportamento dos
usuários. No último ano, o cliente bancário usou mais os meios virtuais (Internet e Mobile Banking) do que
os canais tradicionais para fazer operações financeiras Entre 2008 e 2012, a participação das agências, Contact
Center e ATMs, recuou de 56% para 41% no bolo das operações bancárias. Já os canais virtuais registram um
salto de 30% para 42%.
Essas mudanças comportamentais trazem reflexo sobre o futuro das agências, que deverão ser remodeladas
tanto em espaço físico quanto no perfil das suas equipes. O que se passa a exigir a partir de agora é uma ação
menos transacional e mais consultiva.
A tecnologia móvel e sua aplicação nos bancos, mais uma vez, é destaque. Em seu competitivo ecossistema
estão operadoras móveis, bancos, administradoras, credenciadoras, redes de pagamentos, comerciantes,
consumidores e fabricantes de aparelhos.
Não menos importante está a premência do setor de serviços financeiros, fortemente impactado por um novo
cenário macroeconômico e demandas regulatórias, de buscar mais eficiência. Neste estudo, estão relacionadas
algumas tendências que devem estar na agenda dos CIOs em 2013 para maximizar sua contribuição a fim
de que os bancos alcancem essa meta, não apenas reduzindo custos internos, mas alavancando o poder da
digitalização para a otimização de recursos em toda a organização.
Luis Antonio Rodrigues
Diretor setorial de Tecnologia Bancária da FEBRABAN
Presidente do Ciab FEBRABAN 2013
Tecnologia voltada para o cliente
5
A multiplicação de acessos,
clientes e transações
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
O
cenário econômico dos últimos anos tem favorecido a expansão do sistema financeiro brasileiro e ampliado os índices de bancarização da população economicamente ativa. A estabilidade macroeconômica e monetária aliada ao crescimento da
renda e ascensão social acelerou a procura por crédito, investimentos e meios de pagamento.
Vários dados mostram esse movimento. Na última década o índice Crédito/PIB mais
do que dobrou passando de 26,1% para 53,5%. Nos últimos cinco anos, o número de
contas correntes foi de 118 milhões para 166 milhões, uma expansão de 9% (figura
3.1). E as contas poupança ativas, por sua vez, cresceram 8,4%.
O levantamento também mostra que dobrou o número de empresas que estão se relacionando ativamente com o Sistema Financeiro Nacional (SFN). O total de contas empresariais era de 4,4 milhões em 2005, chegou a 5,6 milhões em 2008 e encerrou 2012 com
8,1 milhões de cadastros. Somados aos 127,6 milhões de cadastros de pessoas físicas elas
ajudam a compor a base de 135,7 milhões de clientes cadastrados.
3.1 - Número de Contas Correntes e Poupança
Em Milhões – 2008 a 2012
118
2008
128
2009
143
156
162
166
117
2010
2011
2012
136
127
2008
+9,0%
2009
2010
143
2011
2012
+8,4%
n Contas correntes
n Contas Poupança
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Os cartões de pagamento também desempenharam um papel importante nesse processo de expansão, inclusive para a parcela da população recém bancarizada. Além de ser
uma alternativa ao pagamento em dinheiro, no caso do crédito também são utilizados
como forma de financiamento.
A base dos cartões de pagamento – que inclui crédito, débito e de lojas – era de 514
milhões em 2008 e em 2012 atingiu 750 milhões (figura 3.2).
8
A multiplicação de acessos, clientes e transações
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
3.2 - Número de Cartões de Pagamento
Em Milhões – 2008 a 2012
628
565
514
249
233
217
225
2008
2009
196
173
153
136
124
270
247
196
173
750
285
687
266
2010
2011
2012
+9,9%
n Débito
n Loja
n Crédito
Fonte: ABECS
Os cartões de débito mantiveram a liderança na categoria cartões de pagamentos, mas
em termos unitários foram os que menos evoluíram. De 2008 a 2012 foram registrados 68 milhões de novos dispositivos de débito, enquanto a base dos cartões de loja
ganhou 97 milhões novos clientes e a de crédito mais 72 milhões.
Como consequência da maior demanda da população por serviços financeiros, o número de transações bancárias registrou crescimento de 15,5% ao ano uma taxa superior
ao aumento do número de contas ou cartões (figura 3.3). Este processo de expansão
ocorreu de forma robusta, com bases sólidas de capital.
3.3 - Número de Transações Bancárias
Em Bilhões – 2008 a 2012
2008
2009
2010
2011
2012
9,8
10,2
11,3
14,2
20,0
12,3
16,7
19,3
23,6
14,0
28,2
31,8
15,1
16,4
35,7
+15,5%
n Sem movimentação financeira
n Com movimentação financeira
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
A multiplicação de acessos, clientes e transações
9
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Para atender o aumento na demanda por serviços financeiros, tanto em termos de acesso, quanto em termos de uso, os bancos continuaram a investir no aumento da capilaridade dos pontos físicos, ampliando o número de agências e Postos de Atendimento
Bancário (PABs) – dependências instaladas no interior de entidades de administração
pública ou empresas privadas – e por Postos de Atendimento Eletrônico (PAEs) – áreas
exclusivas de equipamentos de autoatendimento. Somados, os dois canais tiveram uma
expansão de 2,6% no período de 2008 a 2012 (figura 3.4).
3.4 - Número de PABs e PAEs
Em Milhares – 2008 a 2012
39,3
2008
40,5
2009
41,4
2010
43,2
2011
43,5
2012
+ 2,6%
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
No caso das agências, o maior esforço de expansão foi feito na região Norte onde historicamente a penetração é mais baixa (figura 3.5). Nessa área houve um crescimento
de 9,2%. Em segundo lugar, percentualmente, está o Nordeste, com uma expansão
de 6,8%. No Sul e Sudeste, que reúnem 72% do total de agências, o crescimento foi
orgânico, de 3,4% e 3,1% ao ano, respectivamente.
10
A multiplicação de acessos, clientes e transações
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
3.5 - Número e Penetração das Agências
Em Milhares - 2012
2,61
2,57
2,68
1,0
1,0
1,0
2008
2009
2010
+6,8%
3,13
3,39
1,2
1,3
2011
2012
0,96
1,05
1,2
1,3
2010
+9,2%
2011
2012
1,32
1,38
1,51
1,59
1,7
1,7
1,8
1,9
2,0
2008
2009
2010
+4,8%
2011
2012
3,63
3,67
4,01
4,18
10,02
10,22
10,30
10,98
11,33
3,67
2,4
2,3
2,3
2,6
2,7
2,3
2,3
2,4
2,5
2,6
2008
2009
2011
2012
2008
2009
2010
+3,1%
2011
2012
0,74
0,74
0,79
1,0
1,0
1,0
2008
2009
1,32
2010
+3,4%
Agências/10.000 pessoas economicamente ativas
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
O correspondente bancário, empresa contratada por instituição financeira para prestar
determinada gama de serviços em nome e sob responsabilidade da instituição contratante, mostrou força no período analisado no estudo, constituindo-se em outro importante canal de acesso a serviços financeiros no Brasil. Para aqueles que são vinculados
a bancos, o que representa mais de 80% do total, a base cresceu 20,5%. No final de
2012 eram 175 mil correspondentes no País, mais que o dobro de 2008 (figura 3.6).
3.6 - Número de Correspondentes por Região
Em Milhares – 2008 a 2012
83,0
2008
97,6
2009
122,5
148,9
2010
2011
175,1
2012
+20,5%
n Norte
n Nordeste
n Centro-Oeste
n Sudeste
n Sul
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
A multiplicação de acessos, clientes e transações
11
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Ainda visando atender a elevada demanda no acesso e uso de serviços financeiros, o
setor bancário investiu nos terminais de autoatendimento (ATMs). Embora numericamente seu crescimento anual tenha sido inferior a 2%, a proporção de terminais
multifuncionais aumentou, assim como a quantidade de terminais adaptados a PCD’s
– Pessoas com Deficiência, que já ultrapassa os 80% da base total (figura 3.7).
3.7 - Configuração da Base de ATMs por Função
161
156
160
152
120
12%
9%
10%
10%
32%
28%
47%
52%
162
159
6%
10%
27%
5%
9%
2%
12%
26%
25%
90%
75%
60%
45%
80
40
0
Acessibilidade
2008
30%
61%
60%
57%
15%
2009
n Terminais de depósitos/extratos
2010
2011
n Dispensador de cheques
Acessibilidade (%)
# de ATMs (milhares)
Em Milhares – 2008 a 2012
0%
2012
n Dispensador de cédulas
n Terminais multifuncionais
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Como no caso das agências, o número de ATMs cresceu de forma diferenciada entre as
regiões brasileiras (figura 3.8). No Sudeste, por exemplo, o baixo crescimento de 0,5%
ao ano é coerente com a alta concentração destes equipamentos, tanto em termos de
habitantes, quanto em termos de área. O raciocínio inverso pode ser aplicado à região
Norte, justificando seu crescimento de 6,9% ao ano.
ATMs/10.000 adultos
95,2
10,9
41,9
17,7
2,2
n Norte
n Nordeste
n Centro-Oeste
n Sudeste
n Sul
19,0
14,3
11,3
6,6
6,7
Por Região – 2012
1,6%
2,0%
0,5%
3,5%
3,1%
11,8
Por Região – 2012
6,9%
CAGR por Região – 2008 a 2012
ATMs/1.000 km2
7,7
3.8 - Crescimento de ATMs
n Brasil
Fonte: IBGE e Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
12
A multiplicação de acessos, clientes e transações
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Quando comparamos o País a benchmarks internacionais, há fortes diferenças em diversos aspectos da realidade dos países estudados (variáveis geográficas, demográficas,
econômicas e socioculturais), porém já podemos observar o Brasil com o nível de pontos de atendimento bancário por adulto superior a outros países em desenvolvimento,
como Índia e África do Sul, ao mesmo tempo ainda muito inferior à média dos países
da zona do Euro (figura 3.9).
O PABs e de PAAs foi somado ao número de agências tradicionais, essas dependências
bancárias estão habilitadas a prestar os mesmos serviços de uma agência, variando
apenas no local de instalação – no caso de PABs – e a liberdade de definição de quais
serviços serão prestados e em quais dias e horários – no caso de PAAs.
3.9 - Agências a cada 100.000 Adultos
Países Selecionados – 2011
5,8
14,1
10,2
10,6
10,7
14,9
18,3
19,9
24,9
35,4
46,3
Cingapura
Índia
África
do Sul
México
Turquia
Brasil
Reino
Unido
EUA
Zona do
Euro
n PABs e PAAS
n Agências
Fonte: FMI, BACEN, IBGE e Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
A multiplicação de acessos, clientes e transações
13
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Os dados mostram ainda que em número de ATMs por população adulta, que já estamos próximos ao Reino Unido e à frente da zona do Euro (figura 3.10).
3.10 - ATMs a cada 100.000 Adultos
Países Selecionados - 2011
8,9
45,8
59,1
60,0
60,2
94,1
109,9
122,8
173,4
Índia
México
Turquia
África
do Sul
Cingapura
Zona do
Euro
Brasil
Reino
Unido
EUA
Fonte: FMI e Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
14
A multiplicação de acessos, clientes e transações
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Finalmente, pelo lado da demanda, notamos que um crescimento vigoroso no número
de pessoas e empresas com algum tipo de relacionamento com o sistema financeiro
nacional (figura 3.11).
3.11 - Relacionamentos Ativos no Sistema Financeiro Nacional
Clientes Cadastrados ao Final do Período
92,1
87,7
4,4
2005
97,5
103,3
92,8
98,2
4,7
2006
5,1
2007
110,3
104,7
115,9
122,0
109,8
115,3
6,1
5,6
2008
2009
6,7
2010
128,7
121,3
7,3
2011
135,7
127,6
8,1
2012
+5,7%
n CPFs
n CNPJs
Fonte: Banco Central
Resumindo, diversos indicadores mostram que o sistema financeiro brasileiro é sólido
e vive um momento de expansão, tanto na oferta quanto na demanda. Ao mesmo
tempo em que mais brasileiros estão em busca de crédito, investimentos e meios de
pagamento, o setor bancário tem sido bem-sucedido em ampliar sua oferta de produtos e serviços juntamente com a abrangência de sua atuação – aumentando pontos de
atendimento, autoatendimento e meios virtuais.
A multiplicação de acessos, clientes e transações
15
O software
como diferencial
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
O
s gastos com tecnologia no setor bancário brasileiro continuam em ritmo acelerado, crescendo 12,4% ao ano, em média, desde 2008 (figura 4.1), somando
R$ 20,1 bilhões em 2012. Esse volume mantém o País como personagem relevante no cenário internacional do setor de tecnologia bancária, superando outros mercados emergentes, como Rússia e Índia, e próximo a países desenvolvidos como a França.
4.1 - Gastos em Tecnologia Bancária
Gastos em Tecnologia Bancária
Em Bilhões de Reais – 2008 a 2012
12,6
2008
14,8
2009
17,0 18,4
2010
2011
Países Selecionados – Bilhões de dólares – 2012
20,1
2012
3,2
+ 12,4%
Rússia
3,7
6,1
10,4
11,6
20,2
100,2
México
Índia
Brasil
França
Reino
Unido
EUA
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012; Gartner
Comparado a outras indústrias, o setor financeiro representa uma importante parcela
do total de gastos com tecnologia no Brasil, com aproximadamente 11,7% do total
(figura 4.2).
4.2 - Distribuição dos Gastos em Bancos
Participação dos Bancos nos Gastos em TI
Brasil - Estimativa - 2012
Brasil – Estimativa - 2011
O software ganha escala
10,4%
Distribuição
dos Gastos
em Bancos
89,6%
Brasil – Estimativa
2012
n TI
n Outros gastos
11,7%
Participação
dos Bancos nos
Gastos em TI
88,3%
Brasil – Estimativa
2011
n Serviços Financeiros
n Outras Indústrias
Fonte: Gartner e Análise Booz&Company
18
O software como diferencial
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
A aquisição de hardware continua à frente na aplicação dos recursos, representando
40% do que foi investido. No entanto, as despesas com software têm aumentado a
uma taxa de 20,6% ao ano e, em 2012, passaram a representar 37% do total gasto com
tecnologia (figura 4.3).
4.3 - Despesas e Investimentos em Tecnologia por Bancos no Brasil
Em Bilhões de Reais – 2008 a 2012
2008
2009
2010
2011
2012
CAGR ’08-’12
45%
28%
47%
27%
47%
29%
24%
23%
3% 12,6
17,3%
3% 14,8
14,9%
22%
3% 17,0
8,0%
41%
33%
40%
37%
+8,5%
+20,6%
n Hardware
n Software
n Telecom
23%
3% 18,4
9,5%
21% 2% 20,1
+8,7%
+9,2%
n Outros
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
A crescente representatividade dos gastos com software mostra que está ocorrendo
uma maior alavancagem do parque de infraestrutura instalada, conceito conhecido
como “exploitation”. É um indicativo da evolução do setor e de sua contribuição para
o desenvolvimento do mercado interno, gerando demanda por profissionais especializados, com capacidade de estruturação e raciocínio lógico, conhecimento em diversas
plataformas de desenvolvimento e linguagens de programação. Por fim, os gastos em
softwares podem contribuir positivamente para o aumento da eficiência e para uma
melhor experiência do usuário por meio de plataformas virtuais como o Internet/Mobile Banking.
O software como diferencial
19
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
O desenvolvimento de software, seja por meio de equipe própria dos bancos ou externa, concentra a maior parte dos recursos e a aquisição de sistemas de terceiros representa apenas 17,9% dos gastos (figura 4.4). O restante é gasto de maneira equilibrada
entre recursos internos e recursos terceirizados. Observando pela ótica da finalidade,
os novos desenvolvimentos e manutenções evolutivas representam a maior fatia do
orçamento com 68,9%, enquanto manutenções corretivas e sustentação representam
apenas 17,4%.
4.4 - Gastos com Desenvolvimento
Gastos com Desenvolvimento
% por Finalidade – 2012
7,6
% por Agente – 2012
6,1
17,9
41,3
68,9
17,4
40,7
n Outros
n Regulamentação/Legislação
n Manutenções corretivas/Sustentação
n Novos desenvolvimentos/Manutenção evolutiva
n Adquirido de terceiros
n Desenvolvimento com recurso interno
n Desenvolvimento com recurso terceirizado
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
20
O software como diferencial
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Embora os gastos com tecnologia venham registrando crescimento absoluto ao longo
dos últimos anos, uma análise mais detalhada revela algumas variações. Ao se levar em
conta descontos calculados ano a ano considerando a taxa de inflação e a flutuação do
câmbio, nota-se uma desaceleração no ritmo de crescimento dos investimentos, um
movimento que reflete a melhoria dos índices de eficiência.
Em compensação, a razão entre despesas e investimentos diminuiu significativamente
entre 2008 e 2012, impulsionada por um crescimento expressivo de 23% ao ano do
volume de recursos aplicados (figura 4.5). Por um lado, esse volume de capital investido
indica a boa posição financeira na qual os bancos se encontram. Por outro, investimentos
se fazem indispensáveis em resposta às crescentes pressões por eficiência e no desenvolvimento de novos produtos e serviços diferenciais no competitivo mercado brasileiro.
4.5 - Gastos em Tecnologia Bancária por Bancos no Brasil
Descontados Efeitos de Inflação e Câmbio – Base 100 – 2008 a 2012
2008
74,4%
2009
77,1%
11,5%
2010
2011
85,6%
CAGR’08-’12
34,4%
14,4%
82,8%
2012
25,6%
44,7%
4,7%
47,9%
80,3%
55,7%
+3,6%
+23,5%
n Despesas
1,8%
n Investimentos
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária e Análise Booz&Company
O software como diferencial
21
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Os bancos brasileiros têm o desafio de planejar esse investimento de forma adequada, balanceando eficiência e experiência do consumidor por meio de uma plataforma integrada
de canais e ofertas aos clientes. Este desafio tem se tornado crítico diante do crescente
volume de transações realizadas por um número cada vez maior de clientes. Em 2012,
foram realizadas 36 bilhões de transações, 73,4% a mais que em 2008 (figura 4.6).
4.6 - Volume e Custo das Transações
Total em Bilhões de Transações – 2008 a 2012
Transações
50
0,33
R$/Transação
+73,4%
0,35
0,40
0,32
0,30
40
30
28,5
20
10
0
32,5
20,9
2008
0,27
36,2
23,9
0,30
-17,4%
0,20
0,10
2009
2011
2010
Custo por transação
2012
0,00
n Transações
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012 e Análise Booz&Company
Os bancos conseguiram reduzir o custo de tecnologia por transação em 17,4% no mesmo período, resultado de iniciativas visando o aumento da eficiência e migração dos
usuários para canais como Internet e Mobile Banking, de menor custo. E a tendência
dos clientes usarem cada vez mais os canais virtuais reforça essa perspectiva de maior
queda no custo por transação, um efeito altamente desejável no contexto de incentivo
à maior inclusão e uso dos serviços financeiros. Porém, o salto no volume total de transações, consequência da mesma mudança de comportamento dos correntistas, deve
motivar os bancos a buscar soluções que garantam a sustentabilidade do negócio e do
nível de serviço prestado a uma população cada vez mais bancarizada e exigente.
22
O software como diferencial
Inclusão financeira
entra em pauta
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
O
setor bancário tem acompanhado a tendência de maior demanda por serviços financeiros do mercado brasileiro, com a diversificação e sofisticação dos
canais de acesso, tanto os tradicionais quanto os virtuais. Dessa forma, colabora para aumentar a inclusão financeira e seus benefícios. Porém, em um país com
dimensões continentais, as diferenças regionais não se restringem somente aos hábitos
e preferências de novos serviços, mas também às questões demográficas e de acesso.
Nesse panorama, a tecnologia cumpre um papel muito importante. Isso porque a inclusão financeira no Brasil está se viabilizando pela difusão dos canais virtuais: Internet
Banking, Mobile Banking e cartões para pagamentos nos POS1.
5.1 - Bancarização (% da População Adulta)
Países Selecionados - 2011
27,4
35,2
53,6
55,9
57,6
88,0
90,5
97,2
98,2
México
Índia
África
do Sul
Brasil
Turquia
EUA
Zona do
Euro
Reino
Unido
Cingapura
Fonte: Banco Mundial
Uma pesquisa do Banco Mundial aponta que, em 2011, 55,9% dos brasileiros adultos
possuem conta em uma instituição formal. Esse percentual é superior a outros países em desenvolvimento como Rússia, Índia e África do Sul, porém ainda inferior à
maioria dos mercados desenvolvidos como Estados Unidos, Dinamarca e Reino Unido
(figura 5.1).
A inclusão financeira alimenta um círculo virtuoso de desenvolvimento econômico e
social, que inclui o aumento da poupança, do investimento e da qualidade de vida.
1
24
Nesta pesquisa, a sigla POS (Point of Sale) indica o terminal eletrônico usado pelo comércio para efetuar transações com os cartões de pagamento
Inclusão financeira entra em pauta
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
O ponto de partida para a inclusão financeira é garantir o acesso, fato que foi historicamente realizado pelos meios tradicionais – agências, postos de atendimento e ATMs.
No passado, os correntistas tinham esses canais como as melhores, senão únicas, possibilidades de relacionamento com seu banco. Assim sendo, o esforço para a maior
inclusão foi direcionado à expansão da capilaridade de pontos físicos de atendimento.
Porém, ao comparar o crescimento das agências, postos de atendimento e ATMs vis-à-vis com o crescimento do número de contas correntes, é possível concluir que os
pontos físicos não foram o principal fator de inclusão financeira. Outra informação
que confirma esse raciocínio é o aumento do número de contas correntes por agência e
do número de contas correntes por ATM (figura 5.2). Se não fosse a maior penetração
dos meios virtuais de inclusão financeira, a multiplicação do número de clientes por
agência causaria uma redução no nível de serviço prestado pelos meios tradicionais.
5.2 - Contas Correntes por Agência
Contas Correntes por ATM
2008 a 2012
6.410
2008
6.948
2009
7.606
2010
+4,8%
7.566
2011
2008 a 2012
7.719
2012
776
825
2008
2009
888
2010
979
1.028
2011
2012
+7,3%
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Inclusão financeira entra em pauta
25
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Ao analisar os dados sobre contas com Internet Banking, nota-se que o crescimento
anual de 20,8% nos últimos cinco anos é superior ao crescimento da população com
acesso à internet, de 13,9% (figura 5.3). Isso indica que a expansão desse canal não é
resultado apenas de um processo de inclusão digital, mas também de inclusão financeira. À medida que esse crescimento anual é, de fato, superior ao observado no número
de contas corrente ativas, fica evidente a participação do Internet Banking no processo
de inclusão financeira no Brasil.
5.3 - Contas Correntes com Internet Banking
População com Acesso a Internet
Em Milhões – 2008 a 2012
Em Milhões – 2008 a 2012
17,4
2008
25,2
20,8
2009
2010
37,0
31,3
55,9
2011
2012
2008
73,9
67,9
2009
+20,8%
2010
94,2
79,9
2011
2012
+13,9%
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012 e Telecom
Outro dado que comprova a participação do Internet Banking no processo de bancarização do País é o aumento de 23,7% ao ano no número de transações feitas por esse
canal (figura 5.4). Ou seja, não só o acesso da população ao serviço tem aumentado,
mas também a sua utilização: somente em 2012, as 37 milhões de contas que utilizam
o recurso realizaram cerca de 14 bilhões de transações.
5.4 - Transações em Internet Banking
Em Bilhões – 2008 a 2012
28%
24%
22%
21%
20%
72%
76%
78%
79%
80%
2008
2009
2010
2011
2012
6,0
7,3
10,0
12,5
14,0
+23,7%
n Sem movimentação
n Com movimentação
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
26
Inclusão financeira entra em pauta
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
O levantamento feito junto aos bancos mostra ainda que o número de transações sem
movimentação financeira, assim como seu crescimento, são superiores ao de transações
com movimentação. Isso é explicado pela maior conveniência do canal, tanto em termos de liberdade de acesso (em qualquer computador, a qualquer hora do dia), quanto
em termos de custo (a maioria das operações sem movimentação realizadas não é cobrada). O resultado é uma multiplicação de transações sem movimentação para cada
operação com movimentação, por exemplo.
Em 2012, foram registradas seis milhões de contas correntes com Mobile Banking,
confirmando as previsões de crescimento exponencial do uso desse serviço. Esse número de contas representa uma expansão de 269% sobre o ano anterior (figura 5.5).
Quando se faz a comparação da evolução nos últimos cinco anos, o percentual de
adesão ao canal aumentou no mesmo ritmo de crescimento dos smartphones em uso
no País. Isso comprova que houve um investimento dos bancos no desenvolvimento e
melhoria de seus aplicativos de Mobile Banking a fim de alavancar a participação dos
celulares no processo de bancarização.
5.5 - Contas Correntes com Mobile Banking
Smartphones em Uso no Brasil
Em Milhões – 2008 a 2012
Em Milhões – 2008 a 2012
6,0
52,5
33,2
+269%
14,6
1,6
0,2
0,4
2008
2009
0,8
1,7
2010
+137%
2011
2012
2008
4,1
2009
2010
2011
2012
+136%
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012 e Teleco
Inclusão financeira entra em pauta
27
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
A inclusão financeira promovida pelo celular não ocorre somente em termos de acesso,
mas também na utilização dos serviços. Houve um aumento de 223% ao ano no número de transações realizadas por esse canal (figura 5.6). A taxa, que demonstra uma
tendência exponencial superior àquela do crescimento de contas com a plataforma
ativa, revela que a inclusão promovida pelo celular não ocorre somente em termos de
acesso, mas também em termos de uso dos serviços.
Em comparação com Internet Banking, a maior proporção de transações sem movimentação financeira é ainda mais evidente. Isso aponta para o fato de que a conveniência é fator chave do comportamento dos usuários. A liberdade de acesso é ainda maior
em um dispositivo móvel, permitindo a operação da conta em um número muito
superior de situações.
5.6 - Transações em Mobile Banking
Em Milhões – 2008 a 2012
2008
8
2009
12
2010
2011
2012
59
190
3%
823
97%
+223%
n Com movimentação
n Sem movimentação
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
28
Inclusão financeira entra em pauta
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Como já foi mostrado no capítulo 3, os cartões de crédito e débito também são considerados um mecanismo de inclusão financeira, pois são utilizados tanto para pagamento à
vista quanto a prazo. Nos últimos anos foi possível observar não somente o crescimento
de cartões em circulação (figura 3.2) mas também o número de transações (figura 5.7).
5.7 - Transações com Cartões de Pagamento
Em Bilhões – 2008 a 2012
42%
41%
39%
19%
5,32
2008
40%
41%
19%
6,11
42%
18%
43%
18%
7,09
2009
40%
41%
41%
8,33
2010
2011
17%
9,72
2012E
+16,3%
n Crédito
n Débito
n Loja
Fonte: ABECS
Para os bancos, os cartões de pagamento são uma alternativa mais eficiente para o
processamento de transações (quando comparado ao numerário ou cheque), além de
servir como fonte de receitas adicionais. Com o avanço da tecnologia móvel, os terminais POS sem fio permitem o aumento da capilaridade deste canal inclusive para
profissionais como taxistas e entregadores de pizza, por exemplo.
Inclusão financeira entra em pauta
29
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Contudo, se comparados o uso dos cartões de débito (que são certamente transacionados pelos bancos) e a quantidade de terminais em alguns países (figura 5.8) é notável
que, apesar de um número de transações per capita muito inferior a de países como
Bélgica, Holanda e Suécia, o Brasil se equivale a países com um número muito maior
de terminais POS, como a Itália e a Finlândia.
5.8 - Uso de Cartões de Débito vs. Número de Terminais POS
Países Selecionados – 2011
160
Suécia
Transações per capita
140
Holanda
120
100
Bélgica
80
60
Suiça
40
Alemanha
20
Brasil
Região do Euro
Itália
Espanha
Finlândia
0
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Milhares
Terminais por milhão de habitantes
Fonte: Banco Central
A tecnologia continuará sendo uma das ferramentas mais importantes no processo de
inclusão financeira do Brasil. A popularização das inovações tecnológicas, tais como
a internet banda larga e os smartphones, indica que as projeções sobre a bancarização
são muito positivas. A maior penetração dos canais virtuais poderá beneficiar também
a população com acesso restrito aos meios tradicionais.
A inclusão financeira através dos meios virtuais, como ocorre no Brasil, tende a potencializar os benefícios de forma acelerada em comparação à inclusão feita pelos meios
tradicionais. Um exemplo claro desta situação é o Débito Automático Autorizado: o
usuário ganha praticidade e conveniência, a empresa ganha com a redução dos atrasos
e da inadimplência e o banco ganha com o aumento da eficiência.
30
Inclusão financeira entra em pauta
Clientes em
transição
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
A
ntes do lançamento das primeiras plataformas de Internet Banking na segunda
metade da década de 1990, os principais canais de relacionamento entre bancos e clientes eram as agências, os caixas eletrônicos (ATMs) e o telefone. As
soluções conhecidas como “Home Banking” e “Office Banking” utilizavam softwares
proprietários fornecidos pelo banco.
Nas agências, os operadores de caixa frequentemente realizam pagamentos de contas e
depósitos, tanto de clientes do banco quanto do público em geral. Era comum, também, os clientes irem às agências para fazer transferências, saques, contratação de financiamentos, orientação financeira e resolução de problemas. Gradativamente, o uso
de ATMs se intensificou, especialmente nas operações de consultas, saques e emissão
de extratos.
Com o avanço da tecnologia, os bancos vislumbraram no Internet e Mobile Banking
oportunidades para aumentar a eficiência, a transparência e a satisfação dos clientes.
Desde então, elevadas somas de recursos foram direcionadas para garantir a segurança
das informações, expandir o espectro de operações possíveis de serem realizadas pelos
meios virtuais e melhorar a experiência do usuário.
No Brasil, 20 anos atrás, os clientes se relacionavam com seus bancos por meio das
agências, ATMs e Contact Center, sendo que este último possuía diversas limitações
em termos de segurança e legislação, reduzindo a possibilidade de realização de transações financeiras. As funcionalidades e o uso dos terminais de autoatendimento eram
insuficientes para reduzir significativamente o número de atendimentos pessoais nas
agências.
Em termos de pagamentos, o cheque só não era mais popular que o dinheiro (numerário), que era considerado mais prático, tanto pela maior aceitação no comércio, quanto
pela capilaridade de ATMs disponíveis. Ambos meios de pagamento eram utilizados
no pagamento de boletos e faturas “na boca do caixa”.
Os cartões eram utilizados majoritariamente na função saque, visto que o número de
estabelecimentos adeptos a cartões de crédito era baixo (em relação aos dias atuais) e
o nível de praticidade era equivalente ao cheque, tanto para consumidor quanto para
comerciante.
32
Clientes em transição
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Atualmente, o cliente pode se relacionar com seu banco através dos novos e velhos
canais, todos interligados em tempo real, resultando não somente em alta disponibilidade e comodidade, mas também em uma experiência mais fluida e satisfatória.
O surgimento de novos canais não estancou o desenvolvimento e inovações demais –
os caixas em agências são capazes de executar operações mais rapidamente e os ATMs
estão cada vez mais multifuncionais.
Mudanças dos clientes foram observadas no comportamento para pagamentos: a alta
capilaridade dos terminais POS, inclusive com tecnologias sem fio, somada à crescente
densidade de cartões de crédito e débito fez com que esta modalidade se tornasse uma
das mais utilizadas.
Hoje também é possível o cadastramento de contas em débito automático autorizado
(até pela internet), o que representa vantagens para todos os envolvidos na cadeia de
pagamentos: cliente, banco e comerciante.
Conforme previsto nos últimos anos, em 2012 os meios virtuais (Internet e Mobile
Banking) tornaram-se os principais canais de relacionamento entre os bancos e seus
clientes. Eles foram superiores em número de transações – 42% ante 41% dos canais
tradicionais – mesmo sem levar em conta as transações realizadas através de POS e
correspondentes, que somam 17% do total (figura 6.1).
6.1 - Comportamento dos Usuários
Percentual do Volume Total de Transações
55,9%
Meios tradicionais
52,1%
16,5%
14,2%
POS+Correspondentes
2008
2009
43,6%
36,5%
31,4%
29,9%
Meios virtuais
47,1%
39,8%
16,6%
16,4%
2010
41,1%
41,6%
2011
17,3%
2012
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Clientes em transição
33
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
No capítulo 3, demonstrou-se que o crescimento de transações foi superior ao de
contas correntes, indicando a intensificação do uso dos serviços bancários. Porém, ao
combinar essa informação com a análise do crescimento anual composto de transações
por conta corrente em cada um dos canais (figura 6.2), nota-se o início da migração
dos canais tradicionais para os canais virtuais. Essa conclusão rejeita a hipótese de que
a crescente participação dos canais virtuais no total de transações seria consequência
apenas de seu maior crescimento.
6.2 - Variação no Uso dos Canais por Conta Corrente
Crescimento Anual Composto – 2008 a 2012
Agências
-5,0%
Contact Center (Atendente)
-5,0%
-0,4%
Internet Banking
Mobile Banking
Autoatendimento – ATM
2,5%
36,3%
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
As agências sempre foram um dos principais pontos de relacionamento entre bancos e
clientes. Entretanto, elas vêm perdendo participação no número total de transações porque estão cada vez menos sendo utilizadas pelos correntistas como um canal transacional,
muito embora permaneçam como um centro de relacionamento e orientação financeira,
como se pode perceber pelo movimento dos dois tipos de operação (figura 6.3).
34
Clientes em transição
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
6.3 - Transações em Agências Bancárias
Por Conta Corrente – 2008 a 2012
32,7
32,1
29,7
27,1
26,3
76%
77%
76%
75%
72%
24%
23%
24%
25%
28%
2008
2009
2010
2011
2012
-5,3%
n Com movimentação
n Sem movimentação
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
As quedas consecutivas poderiam apontar uma tendência de extinção das agências no longo
prazo. Porém, nota-se que a maioria dos clientes ainda preza por um ponto de relacionamento para operações mais complexas, tais como investimentos de alto volume e contratação de
crédito (figura 6.4), principalmente os que não têm modelos de pré-aprovação. Além disso,
também valoriza a sensação de que o seu dinheiro está guardado em um local real e físico.
6.4 - Modalidades de Contratação de Crédito PF
Participação do Total – 2008 vs. 2012
15,8%
22,0%
2008
2012
84,2%
78,0%
n Não-presencial
n Presencial
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Clientes em transição
35
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Nos ATMs, também se observa uma mudança no comportamento dos usuários. Embora o número total de transações por conta corrente tenha caído 0,8%, o número de
operações com movimentação financeira subiu 1,6%, enquanto aquelas sem movimentação caíram 2,8% (figura 6.5). Com a manutenção dessa tendência, a maioria das
operações realizadas neste canal envolverá movimentação financeira.
6.5 - Transações em ATMs
Por Conta Corrente – 2008 a 2012
2008
2009
2010
2011
2012
59,1
60,8
59,3
58,3
57,3
45%
50%
55%
50%
50%
50%
51%
49%
51%
49%
-0,8%
n Sem movimentação
n Com movimentação
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
A diminuição do número de transações sem movimentação financeira é facilmente
explicada pela migração para canais como Internet e Mobile Banking para operações
mais simples como consultas e extratos. Por outro lado, o aumento de transações com
movimentação financeira não pode ser explicado pelo aumento no número de saques
(figura 6.6).
6.6 - Total de Saques
Por Conta Corrente – 2008 a 2012
24,6
2008
24,1
2009
24,0
2010
23,7
2011
22,6
2012
- 2,1%
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
36
Clientes em transição
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Historicamente, o ATM é o canal preferido dos brasileiros para saques, ao mesmo
tempo em que essa é uma das principais operações conduzidas nos terminais de autoatendimento. A diminuição do número de saques associada ao aumento de transações
com movimentação nos ATMs indica que esses equipamentos estão sendo utilizados
para uma gama maior de operações, que os clientes provavelmente estão usando mais
os meios de pagamento disponíveis nessas máquinas, frequentemente dispensando o
numerário.
Já os meios virtuais (Internet e Mobile Banking) são elogiados por sua praticidade,
comodidade e onipresença. Seus usuários se sentem livres das restrições de horário
(grande parte das agências abre ao público das 10 às 16 horas), dos problemas de deslocamento (principalmente nas grandes cidades), do desperdício de tempo em filas e
até mesmo dos constrangimentos causados pelas portas giratórias. Os investimentos
em segurança realizados pelos bancos já se revertem em maior confiança dos clientes
neste canal.
Como resultado desses fatores, notamos que os usuários de Internet e Mobile Banking
realizam muito mais transações do que o usuário sem acessos aos canais virtuais (figura
6.7). Na média, correntistas com Internet Banking realizaram 94% mais transações
sem movimentação em 2012 do que um usuário sem acesso a tais meios. Já os correntistas com Mobile Banking, que possuem um recurso ainda mais prático de relacionamento, realizaram 115% mais transações sem movimentação em 2012.
6.7 - Transações em Internet Banking
Participação da Movimentação – 2008 a 2012
72%
28%
2008
76%
24%
2009
78%
22%
2010
79%
80%
21%
2011
20%
2012
n Sem movimentação
Transações em Mobile Banking
Participação da Movimentação – 2008 a 2012
92%
95 %
94%
96%
97%
8%
5%
6%
4%
3%
2008
2009
2010
2011
2012
n Com movimentação
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Clientes em transição
37
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Os usuários de meios virtuais realizam a grande maioria de suas transações sem movimentação financeira. E a proporção desse tipo de transação aumentou nos últimos
cinco anos. A justificativa para essa tendência reside na conveniência representada pelo
canal para os usuários. Para a realização de uma transferência, por exemplo, muitos
usuários realizam uma consulta de saldo antes e outra após a operação (figura 6.8).
6.8 - Total de Consultas
Por Conta Corrente – 2008 a 2012
54,3
2008
56,7
60,2
2009
2010
65,4
68,7
2011
2012
+ 6,1%
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Foi registrado um decréscimo das transações com movimentação financeira. Esse fenômeno se explica pelo fato de que os primeiros usuários de Internet Banking, em geral,
se relacionam intensamente com os bancos e são confiantes em novas tecnologias,
realizando um número de operações com movimentação financeira muito superior aos
novos usuários, que por sua vez não são tão familiares com novas tecnologias e não se
relacionam com os bancos na mesma intensidade dos primeiros.
Também se nota uma maior “virtualização” das transações na proporção entre transferências e depósitos (figura 6.9). Da mesma forma, quando se observa a proporção
entre saques e operações em POS. Em 2008, o número de saques era superior ao de
pagamentos. Já em 2012 a situação se inverteu (figura 6.10).
6.9 - Proporção entre Transferências e Depósitos
Participação do Total – 2008 vs. 2012
2008
2012
73,9%
61,4%
n Depósitos
26,1%
38,6%
n Transferências
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
38
Clientes em transição
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
6.10 - Proporção entre Saques e POS
Participação do Total – 2008 vs. 2012
42,8%
2008
57,2%
57,0%
2012
43,0%
n POS
n Saques
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Historicamente, o Contact Center não é o principal canal para transações com movimentação financeira, com apenas 0,11% do total de transações realizadas. A tendência
é que ele seja gradualmente substituído pelos demais canais eletrônicos (figura 6.11).
Houve ainda um aumento do número de transações sem movimentação financeira
por conta corrente aumentou na utilização da Unidade de Resposta Audível (URA),
confirmando a tendência em direção ao autoatendimento.
6.11 - Transações em Contact Center
Sem Movimentação Financeira
+11,7%
Por Conta Corrente – 2008 vs. 2012
-20,1%
6,93
7,74
5,38
4,30
Com Movimentação Financeira
-15,8%
0,32
0,27
Atendente
-8,6%
0,08
0,07
URA
n 2008
Atendente
n 2012
URA
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
As transações realizadas pelo Contact Center via atendente continuarão a ser um desafio diante das crescentes pressões regulatórias e conveniência de canais alternativos
como Internet Banking e Mobile Banking.
A relação entre o avanço tecnológico e a mudança de comportamento do usuário pode
ser vista como uma via de mão-dupla. Ao mesmo tempo em que os novos hábitos
dos clientes motivam a criação de produtos, serviços e canais adequados, a maior disponibilidade, conveniência e praticidade proporcionada pela tecnologia induzem os
correntistas a utilizar os serviços bancários de forma diferenciada.
Clientes em transição
39
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
6.12 - Transações Bancárias por Origem
Em Bilhões – 2008 a 2012
20,0
4%
6%
23,7
4%
5%
18%
16%
10%
12%
31%
33%
31%
30%
2008
2009
28,4
4%
5%
31,8
4%
4%
14%
12%
12%
28%
36%
2010
1%
35,7
2% 4%
4%
11%
12%
13%
27%
26%
39%
39%
2011
+12,1%
2012
+15,5%
n Mobile Banking
n Correspondentes
n Contact Center
n Agências
n POS
n ATM
n Internet Banking
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
As mudanças comportamentais dos clientes refletiram na consolidação do Internet
Banking como o principal canal de transações (figura 6.12). Ao mesmo tempo, a maior
facilidade de utilização faz com que o crescimento anual do número de transações em
todos os canais seja muito superior ao crescimento do número de contas correntes no
mesmo período.
Os bancos devem se preocupar em manter a relação de mão-dupla de duas formas.
A primeira, oferecendo maior tecnologia em produtos, serviços e canais provocando
mudanças de comportamento nos correntistas, a segunda, monitorando tendências e
comportamentos que exijam uma resposta tecnológica adequada para garantir a satisfação dos clientes.
40
Clientes em transição
O futuro das
agências
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
N
ão parece haver dúvidas de que a mudança no perfil dos clientes irá promover
um profundo impacto no futuro dos bancos. Com a diminuição do papel
transacional e o aumento do papel consultivo, as agências deverão gradualmente remodeladas, tanto em termos de espaço físico, quanto em termos de pessoal.
Ao redor do mundo, já é possível observar essa tendência em diversas agências-piloto
e algumas iniciativas concretas.
Quanto ao espaço físico, as agências do futuro deverão promover o uso integral aos
seus usuários, de forma a atender suas expectativas de orientação e resolução de problemas complexos. A tendência é de que a capilaridade dos pontos de atendimento
não sofra tantas alterações quanto a área útil de cada um deles. A proximidade entre
as agências e seus clientes continuará a ser fator importante na experiência dos correntistas, mas ,por outro lado, uma agência sem caixas transacionais e consequentemente
sem back-office necessita de áreas físicas menores.
7.1 - Agência-Piloto da GE Money Bank
Fonte: ideo.com.br
A transformação do paradigma transacional fará com que se torne necessária uma
transformação do pessoal das agências. Os funcionários deverão estar engajados em
promover a melhor experiência ao usuário para que isso proporcione resultados financeiros superiores. Para melhor cumprir seu papel de orientação e resolução de problemas complexos, os consultores financeiros deverão ter um espectro de conhecimentos
e habilidades interpessoais que possam ser aplicadas através de todo o portfolio de
produtos e serviços do banco de acordo com uma eventual segmentação de interesse
da instituição financeira.
42
O futuro das agências
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Por outro lado, o menor número de visitas dos clientes às agências bancárias, diminuirá
proporcionalmente o número de oportunidades de marketing, vendas e fidelização
através das relações interpessoais. Esse ponto negativo pode ser compensado pelo conceito de Big Data, que permitirá analisar tendências e particularidades da sua base de
clientes, seja de forma individual ou segmentada.
As oportunidades trazidas pelo Big Data, que são especialmente potencializadas pela
maior penetração dos meios virtuais, somado a maiores exigências regulatórias sobre o
armazenamento de dados, entre outros motivos, faz com que a capacidade de armazenamentos dos bancos seja incrementada a taxas sólidas (figura 7.2).
7.2 - Capacidade Total de Armazenamento de Dados (Storage)
Milhares de Terabytes – 2008 a 2012
150,7
117,2
86,5
60,1
33,1
2008
2009
2010
2012
2011
+356%
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
As despesas com armazenamento por TeraByte diminuíram significativamente nos últimos anos (figura 7.3), o que colabora para o crescimento sustentável da capacidade
total de armazenamento, que, somado ao grande investimento realizado e à sofisticação
das ferramentas de business intelligence, aumenta as capacitações do setor bancário em
prover soluções personalizadas aos clientes, em melhorar a qualidade do atendimento
e em elevar o nível de serviço.
7.3 - Despesas com Storage
Investimentos em Storage
Milhares de Reais por Terabyte – 2008 a 2012
Milhões de Reais – 2008 a 2012
11,5
218,3
6,8
2008
2009
5,0
2010
-69%
258,2
269,8
165,3
4,0
2011
3,6
2012
119,9
2008
2009
2010
2011
2012
+125%
Fonte: Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
O futuro das agências
43
Os bancos em
mobilidade
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
N
os últimos anos, observou-se um grande aumento no uso de dispositivos móveis para transações financeiras ao redor do mundo, consequência dos avanços tecnológicos que permitiram o aumento das capacidades em hardware,
software e a redução dos preços. Atualmente, as ofertas de serviços financeiros móveis
podem ser extensões dos serviços prestados pelas instituições financeiras existentes ou
abordagens inovadoras de empresas de outros setores.
Por muitas vezes, a oferta de serviços financeiros móveis é associada com a oportunidade de promoção da inclusão financeira, em função da maior capilaridade do segmento
de telecomunicações. Porém, os potenciais usuários não estão limitados aos não-bancarizados. Há muitas sendo implantadas em diferentes países que mostram esse potencial
(figura 8.1). Isso envolve, por exemplo, transferências de recursos pessoa-a-pessoa, o
uso de dispositivos para efetuar pagamentos e mesmo prestação completa de serviços
financeiros via das tecnologias móveis.
8.1 - Implementações de Tecnologias Móveis em Serviços Financeiros
s
l
s
l
n
s
l
ns
n
s
s
l
n
n
s
ns
s
nl
s
ns
l n
n
s
ns
n Peer-to-peer
s Pagamentos
l Serviços financeiros
Fonte: Análise Booz&Company
46
Os bancos em mobilidade
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Em todo o mundo, até mesmo no Brasil, a absorção dos serviços financeiros móveis
é impulsionada pelo desenvolvimento do ecossistema de todas as partes interessadas:
operadoras móveis, bancos, administradoras, credenciadoras, redes de pagamentos,
comerciantes, consumidores e fabricantes de aparelhos. Cada um dos envolvidos tem
interesses e necessidades distintas, influenciando diretamente sua forma de atuação no
cenário competitivo.
Os operadores móveis no Brasil vivem um cenário de intensa competição em função
da redução da velocidade de expansão da base de assinantes, desagregação da cadeia de
valor, diminuição da receita média por usuário e necessidade de grandes volumes de
investimento para atender a questões regulatórias e expandir a rede para suportar novas
tecnologias. Esse quadro aumenta ainda mais a pressão sobre a retenção dos clientes e
a dependência de fontes alternativas de receita diante da estagnação das receitas de voz
e a difícil rentabilização das novas verticais como M2M e Cloud Services.
Nos últimos anos, os bancos brasileiros passaram a enfrentar um novo cenário que
inclui aumento da sofisticação e da expectativa dos clientes, pressão pela redução das
taxas e tarifas e aumento dos requisitos de capital e regulação do sistema. Como resposta a essa nova realidade, algumas instituições financeiras estão revendo seu modelo
de negócios – formato de distribuição, segmentação, modelo de servir – motivados
também pela comoditização das transações e meios de pagamento.
As administradoras de cartões de pagamento (popularmente conhecidas como “bandeiras”) também enfrentam desafios principalmente ligados à intensificação do uso e
à maior retenção de clientes. Nos últimos anos, diversos incentivos foram lançados
visando a maior fidelização, tais como setores especiais em estádios de futebol, prévias
de eventos, exclusividade para compra de ingressos, entre outros. Os programas de
fidelidade também representam um gasto proporcional à capacidade de diferenciação.
Após o fim dos contratos de exclusividade com as administradoras, as credenciadoras
passaram a vivenciar um cenário crescentemente competitivo no Brasil. A entrada de
novas tecnologias e novos concorrentes provocou uma corrida por alavancas de crescimento orgânico e inorgânico, assim como um aumento dos custos operacionais. A
competição não vem apenas dos novos players que oferecem terminais “POS” alternativos, mas também das redes de pagamento eletrônico tais como “PayPal”, “MercadoPago”, “PagSeguro”, “MoIP” e o recém lançado “Bcash”.
Os bancos em mobilidade
47
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Os fabricantes de dispositivos móveis e outros hardwares mantém o tema de pagamentos móveis constantemente em seu “pipeline” de inovação. Enquanto as carteiras
eletrônicas e as micro transações por SMS2/USSD3 ou NFC4 não são regulamentadas,
diversas alternativas tecnológicas buscam alavancar as capacitações à disposição atualmente para incrementar a capilaridade e o calibre dos meios de pagamentos móveis.
Entre as iniciativas estão terminais POS ligados às redes móveis e acessórios para transformar smartphones em terminais de pagamento (figura 8.2).
8.2 - Dispositivo
para Utilização
de Smartphone
como POS
Fonte: businessinsider.com
Na ponta, os comerciantes são
motivados a reduzir o custo por
transação e melhorar a qualidade do atendimento, o que inclui
maior receptividade a diversos
tipos de pagamentos. Adicionalmente, existe uma necessidade
crescente de melhor direcionar
ações de marketing e pós-venda
baseadas no maior número de
informações sobre o consumidor,
tais como localização, frequência
e hábitos de consumo, preferências, entre outras.
As tecnologias móveis poderiam ser um grande aliado dos varejistas nesta tarefa. Porém, segundo pesquisa realizada pela ABECS – Associação Brasileira das Empresas
de Cartões de Crédito e Serviços – em 2012, apenas 1% dos comerciantes aceitava
recebimento via celular; 15% tinham planos de fazê-lo e 83% não pretendiam trabalhar com esta modalidade. Ainda segundo a mesma pesquisa, 79% dos entrevistados
considerava que o pagamento via celular não é seguro.
No lado dos consumidores, o desenvolvimento do ecossistema de serviços financeiros
móveis é motivado pela capilaridade e ubiquidade dos dispositivos móveis no Brasil (figura 8.3). O conforto no uso dos aplicativos pelos brasileiros é confirmado pelos mais
de 75,8 mil aplicativos à disposição e os mais de 1,5 bilhões de downloads realizados
entre todas as plataformas de smartphones. Isso também se reflete em maior disposição
do consumidor para usar múltiplos provedores para diferentes serviços financeiros.
2
3
4
48
Os bancos em mobilidade
Short Message Service – serviço de envio de mensagens de até 160 caracteres entre equipamentos móveis
Unstructured Supplementary Service Data – usado por celulares GSM para comunicação com provedores
Near Field Communication – padrão de comunicação entre smartphones separados por pequenas distâncias
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
8.3 - Densidade de Celulares no Brasil
Acessos a cada 100 Habitantes
123,9
79,2
2008
90,5
2009
132,9
104,7
2010
2011
2012
+14%
Fonte: Teleco
O atendimento das necessidades dos consumidores na intersecção entre serviços financeiros
e serviços móveis continuará a exigir um volume significativo de investimentos por parte
das instituições financeiras. Diante do cenário atual, tais gastos poderiam ser vistos como
resposta obrigatória a iniciativas da concorrência (tabela 8.4) e, a partir daí, importantes
benefícios podem ser extraídos com a implementação dos serviços financeiros móveis.
TABELA 8.4 -Benefícios dos Serviços Móveis para os Bancos
Necessidades dos clientes
Benefícios para os bancos
Pagamentos
•“Permitir usar o celular para comprar produtos em loja física”
•“Permitir comprar/pagar instantâneamente online”
•“Permitir transferências de dinheiro rapidamente”
• Aumento das receitas
baseadas em gastos
• Aumento das receitas
baseadas em juros
Conveniência
•“Dar acesso a informação da conta em qualquer lugar
e a qualquer hora”
•“Economizar idas e vindas ao ATM ou agência”
•“Oferecer produtos aceitos pela maioria dos comerciantes”
• Redução de custos de
Contact Center
• Aumento da produtividade
das agências
Gestão
financeira
•“Fazer do celular o principal canal para finanças pessoais”
•“Lembrar sobre o vencimento de contas”
•“Ajudar a baixar juros de mora/cheque especial”
• Maior participação da carteira
• Menores custos de cobrança
• Redução de custos de Contact
Center
Fidelidade
e benefícios
•“Personalizar ofertas e informações baseadas em
geo-localização”
•“Oferecer ofertas e cupons via celular”
•“Atuar como ponto-único para necessidade de serviços
móveis financeiros”
• Maior retorno sobre
investimentos de marketing
• Aumento das receitas
baseadas em gastos
• Maiores vendas cruzadas
Fonte: Análise Booz&Company
Os bancos em mobilidade
49
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
As oportunidades
Atualmente, as propostas de serviços financeiros móveis podem ser complementares
ao modelo atual ou transformadoras e residir em três categorias diferentes: canais de
acesso, meios de pagamento ou mecanismos de fidelidade e incentivos.
A proposta de serviços financeiros móveis como um mecanismo adicional de acesso é
sempre complementar ao modelo atual, mas pode se tornar um elemento diferenciador
de acordo com a gama de recursos e serviços oferecidos, visto que as oportunidades de
inovação no canal são inúmeras. Como exemplo, um dos recursos mais desejados nos
EUA é o que permite que os depósitos em cheque sejam realizados por meio da câmera do celular, que atua como scanner. Isso permite uma contabilização mais rápida e
prática (figura 8.5).
8.5 - Recurso de
Mobile Banking para
Depósito de Cheques
Aplicativo do Bank of America
Fonte: Pesquisa Literária
Por outro lado, uma longa lista de funcionalidades não é garantia de sucesso na estratégia de serviços móveis. Os desenvolvedores devem considerar a importância da usabilidade, segurança e privacidade para apresentar ferramentas que efetivamente incentivem o autosserviço, facilitem o controle das finanças pessoas, aumentem a retenção
de clientes e as aproveitem as oportunidades de venda cruzada.
50
Os bancos em mobilidade
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
A proposta de serviços financeiros móveis como meios de pagamento
pode ser complementar ou transformador ao modelo atual. No Brasil já podemos observar alguns movimentos das partes interessadas
em concretizar a oferta do celular na ponta do varejo através da tecnologia. Entre os movimentos já conhecidos estão a preparação de
diversos terminais POS para receber a tecnologia NFC; já estão disponíveis acessórios e/ou aplicativos que permitem recebimentos por
meio do cartão de crédito em smartphones; e operadoras de celular
trabalham em joint-ventures com administradoras ou credenciadoras no lançamento de programas-piloto; entre outros movimentos.
8.6 - Aplicativo
Starbucks para
Pagamentos Móveis
Modalidade Closed-Loop
Por outro lado, as propostas transformadoras como pagamentos
móveis de pessoa-a-pessoa e diretamente ao comerciante ainda não
se popularizaram como em outros países. Segundo dados do Banco
Mundial, apenas 0,83% da população brasileira adulta usa o celular
para receber remessas é inferior a 0,01%% usa para enviá-las enquanto a média mundial para estes indicadores é de 3,04% e 2,16%
respectivamente.
Outras iniciativas relacionadas a pagamentos móveis podem ser
observadas com maior intensidade fora do Brasil. O faturamento
de compras diretamente na conta de celulares pós-pagos é concretizado por empresas como “PaymentOne™”, “Zong™”, “Boku™” e
“MoPay™”. Já o pagamento móvel tipo “closed loop” – que funciona
como uma plataforma própria e exclusiva – foi implementado pela
“Starbucks™” nos EUA e nos dois primeiros meses de operação foram realizadas três milhões de transações (figura 8.6).
Finalmente, as propostas relacionadas a mecanismos de fidelidade
e recompensas podem também ser classificadas como complementares, se apenas adicionarem informações e acessos aos canais atualmente existentes; ou transformadoras se forem capazes de alavancar novas capacitações
de gestão e fidelização de consumidores através dos recursos disponíveis apenas das
tecnologias móveis.
Os bancos em mobilidade
51
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
8.7 - Mecanismos de Fidelidade e Recompensa
Exemplos de Aplicativos
Fonte: Pesquisa Literária
Como exemplo, diversas empresas estão se valendo de mecanismos de videogames (gamification), potencializadas pela popularidade das redes sociais e dos dispositivos móveis,
para engajar seus usuários em compras ou outros comportamentos úteis para análise de
dados. “Foursquare”, “Shopkick” são exemplos de aplicativos que permitem aos usuários
localizar lojas ao seu redor, identificar sua localização, receber prêmios ou vantagens de
acordo com seu comportamento (figura 8.7). Também é possível obter comentários de
outras pessoas sobre o local visitado.
Diante das diversas oportunidades relacionadas a tecnologias móveis, os bancos devem
alavancar sua posição e capacitações diferenciais como instituições financeiras para
garantir seus objetivos estratégicos e contribuir positivamente para o desenvolvimento
econômico e social do país a partir de uma maior bancarização. Neste cenário, podem
ser considerados três conjuntos de iniciativas:
a. “Manter-se no jogo” – apostas conservadoras que aumentem as capacitações atuais de Mobile Banking – necessidade de menores volumes de investimentos, proporcionais às oportunidades de diferenciação;
b. Aposta moderada – lançamento de projetos-piloto para pagamentos utilizando
o celular como extensão do modelo atual e ampliação dos recursos de aplicativos
Mobile Banking para fidelidade e recompensas na ponta do varejo – necessidade de
volumes de investimento significativos, proporcionais às oportunidades de diferenciação em certas capacitações;
52
Os bancos em mobilidade
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
c. Aposta agressiva – estratégias para criação de novos modelos de negócio, novos
produtos e serviços – necessidade grandes volumes de investimento e parcerias,
porém com maiores oportunidades de diferenciação no mercado competitivo.
Independentemente das iniciativas escolhidas, o sucesso da estratégia dependerá do
modelo de negócios, da tecnologia e do plano de go-to-market (figura 8.8).
8.8 - Estratégia para Serviços Móveis
Modelo de
Negócios
•Quais os principais drivers de
valor no ecossistema de serviços
financeiros móveis
•Qual modelo de recitas irá
garantir um retorno sobre o
investimento tangível?
• Quais incentivos permitirão a
todos os participantes investir e
adotar o serviço?
• Quais os investimentos necessários
em infraestrutura e marketing
Tecnologia
Estratégia
Go-To-Market
•Qual a tecnologia e
infraestrutura mais
apropriada para a
entrega dos serviços?
•Como os bancos podem construir as
capacitações necessárias (ex.: talentos,
processos) para lançar um negócio Mobile
bem-sucedido?
•Como estabelecer um
padrão para toda a
indústria?
•Com quais fornecedores/operadores o
banco deve formar parceria?
•Como os receios com
relação à segurança e
privacidade podem ser
aliviados?
•Qual estrutura organizacional irá posicionar
a estratégia para serviços móveis na trilha
do sucesso?
•Como o banco irá contornar os desafios
regulatórios?
Em resumo, a oferta de serviços financeiros móveis é uma realidade em diversos países, inclusive no Brasil através principalmente do mobile banking como um canal
complementar para transações bancárias. O grande potencial de oferta diante da alta
capilaridade de dispositivos móveis no Brasil é vislumbrado por diversas empresas, que
já começam a desenhar estratégias e parcerias para desenvolver os produtos e serviços
desejados pela população bancarizada e pela não-bancarizada.
Diante das oportunidades de ampliação dos canais de acesso, transformação dos meios
de pagamento e melhoria dos mecanismos de fidelidade e recompensa; o setor bancário deve valer-se de suas capacitações diferenciais acumuladas ao longo de décadas de
solidez e investimentos para continuar favorecendo o desenvolvimento econômico e
social relacionado à maior inclusão financeira do Brasil.
Os bancos em mobilidade
53
O desafio da
eficiência
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
O
s fatos e indicadores recentes evidenciam que a economia mundial passa por
uma das mais significativas transformações das últimas décadas, com retração
do PIB e do consumo em grande parte das economias mundiais, sobretudo
nos países desenvolvidos. O setor financeiro global foi fortemente impactado por este
novo cenário e governos estabeleceram novas demandas regulatórias, o que impactou
o nível de concentração e eficiência da indústria.
• Os clientes passaram a ter um comportamento mais conservador, evitando a assunção de dívidas e focando seu relacionamento financeiro em produtos mais simples,
tipicamente de menores margens.
• As exigências de capital foram elevadas de forma a reduzir o risco sistêmico da indústria, impactando os níveis de retorno esperado e elevando os custos de captação
pela maior escassez de recursos.
• Foi estabelecida uma regulação mais rígida para a relação entre os bancos e seus
clientes, inclusive com maior interferência governamental nos preços e tarifas do
setor, no nível de concentração bancária e na remuneração de executivos.
O setor financeiro esteve em todo o momento no centro da crise, com redução importante do seu ritmo de crescimento e de seus retornos. O valor de mercado dos
principais bancos do mundo chegou a decrescer mais de 50% nos últimos cinco anos,
com poucas exceções. Em resposta a este novo cenário, as instituições financeiras têm
atuado em quatro frentes principais:
1. Foco do portfólio de negócios: maior foco em segmentos-chave, com avaliação
criteriosa da contribuição de cada um dos negócios e geografias para a instituição e
consequente desinvestimento daqueles com menor contribuição;
O2. desafio
da eficiência
Melhoria da eficiência: implantação de programas de eficiência com vias a otimização das estruturas de gestão, de custos e dos processos;
3. Gestão de capital: reforço das capacitações para gestão de risco e otimização da
estrutura de capital;
4. Revisão do modelo de negócios: discussão do papel e contribuições de agências,
formatos alternativos de distribuição, revisão de segmentação e modelo de servir.
56
O desafio da eficiência
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Panorama da indústria de serviços financeiros no Brasil
No Brasil, os bancos foram menos impactados pelo ambiente econômico global. O
mercado apresentou um crescimento importante pelo aumento da bancarização, que
atingiu mais de 50% da população economicamente ativa, e pelo maior acesso a crédito por parte dos indivíduos e empresas, na medida em que houve uma maior estabilidade e redução nas taxas de juros. Isto resultou em um crescimento da indústria
superior a 20% ao ano recentemente.
A consolidação do setor bancário com consequente benefício de escala e a incorporação de novas tecnologias e melhorias de eficiência fizeram com que houvesse uma
redução da lacuna presente em relação a outros países. Os custos operacionais sobre o
total de ativos melhorou de forma importante, passando de 5,1% em 2005 para 3,4%
em 2012, ainda superior a mercados desenvolvidos, como os Estados Unidos que atuam em patamares entre 2 e 3%.
A desvalorização de mercado dos principais bancos brasileiros esteve aquém do observado nos mercados desenvolvidos, como mostrado na figura 9.1.
9.1 - Valor de Mercado do Setor Financeiro
Bancos Selecionados – Em Bilhões de Dólares
66
Brasil
-25,8%
49
159
EUA
104
Zona do
Euro
-35,8%
102
-45,2%
57
n 2007
n 1S 2012
Fonte: Bloomberg, Análise Booz&Company
O desafio da eficiência
57
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Por outro lado, a indústria de serviços financeiros no Brasil ainda é caracterizada por
forte dependência de receitas com intermediação, com margens superiores às observadas em outros países. Resultado de intermediação financeira e receita de tarifas e
comissões representam 5,1% dos ativos no Brasil, enquanto 4,4% nos Estados Unidos,
3,1% na Espanha e 2,4% na Itália.
Existe uma série de fatores que são utilizados para explicar tais características do mercado brasileiro, desde questões associadas à regulação, impostos, níveis de inadimplência,
entre outros. De qualquer forma, existe uma forte pressão do governo e da sociedade
para uma redução drástica e rápida das taxas e tarifas cobradas dos clientes, além de
maior transparência, principalmente em produtos de crédito.
É possível considerar um cenário futuro que inclua:
• Contínuo aumento da bancarização com maior formalização da economia e entrada
de novas classes sociais no setor;
• Maior sofisticação da expectativa dos clientes, tanto em termos de serviços e atendimento, como em produtos – ex.: crédito imobiliário, previdência, etc.;
• Pressão crescente da sociedade para redução das taxas cobradas e por maior transparência;
• Aumento dos requisitos de capital e regulação do sistema, inclusive com maior atuação do Banco Central no mercado.
A concretização de tais expectativas levaria a uma série de implicações para as instituições financeiras. Torna-se necessária a revisão de modelos de servir para atender às
expectativas de clientes e, ao mesmo tempo, reconhecer níveis distintos de retornos
obtidos em cada um dos segmentos. Passa a haver uma maior competição por preços,
com consequente redução da rentabilidade sobre os ativos pela necessidade de mais
capital e volumes para geração de um mesmo patamar de receitas. O tema eficiência
passa para o topo da agenda dos executivos.
Este novo cenário de mercado faz com que haja uma mudança nos patamares de
retorno das instituições financeiras. Os retornos sobre ativos, que hoje ficam nos
patamares de 1,5% a 2,0% ao ano, passariam para um patamar de 1,0% a 1,5%. Os
retornos sobre patrimônio líquido, que hoje estão na faixa de 15,6%, podem cair
em mais 2-3 pontos percentuais. Para retornar ao nível de 21% de ROE (figura 9.2),
é necessário melhorar receitas por cliente em 10% a 15% ou reduzir estruturas de
custos em 20 a 30%.
58
O desafio da eficiência
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
9.2 - Retorno sobre Patrimônio Líquido
Média dos 3 Maiores Bancos Privados5 – 2006 a 2012
28,1%
24,3%
17,4%
2006
2007
16,6%
2008
2009
19,2%
2010
17,8%
2011
15,6%
2012
-35,8%
Fonte: Análise Booz&Company
Ao mesmo tempo, o índice de eficiência da indústria, considerando as mudanças de
cenário, caso nada seja feito pelos bancos, deve ir para 55%-60%, saindo dos atuais
51,4% (figura 9.3). Para manter patamar de eficiência em caso de 20% de queda de
spread, é necessário: melhorar receitas por cliente em aproximadamente 10% ou reduzir estruturas de custos em 15 a 20%.
9.3 - Índice de Eficiência6
Média dos três Maiores Bancos Privados5 – 2006 a 2012
56,8%
47,9%
2006
49,0%
2007
2008
53,2%
2009
50,3%
2010
51,1%
2011
51,4%
2012
Fonte: Análise Booz&Company
5
6
Considerando Itaú-Unibanco, Bradesco e Santander
Calculado como: custos de pessoal + despesas administrativas / receitas totais líquidas de perdas, custo de captação e sinistros
O desafio da eficiência
59
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
O papel da TI
As instituições financeiras, recentemente, anunciaram uma série de iniciativas visando
melhorias de eficiência. Algumas delas até mesmo assumiram compromissos de metas
nesse sentido.
Em geral, os programas de eficiência estabelecidos pelos bancos têm foco em redução
de custos discricionários, mudanças nas estruturas organizacionais, diminuição nos
quadros de pessoal e ampliação do nível de terceirização. Adicionalmente foram observados reforços das estruturas de gestão de riscos das instituições.
Os bancos médios e pequenos, especificamente, foram mais afetados pelo cenário recente de mercado, e buscaram redefinir suas políticas de crédito sendo mais restritivos e
reduzindo o ritmo de originação. Também buscaram estabelecer parcerias com grandes
bancos de forma a capturar sinergias de atuação e obter acesso a funding mais estável.
Normalmente, a área de TI apresenta oportunidades de redução de custos, porém o
impacto de tais ações nos índices de eficiência das instituições financeiras é limitado.
Como apresentado anteriormente 4, as despesas e investimentos em tecnologia representam em média 10,4% dos gastos operacionais totais. Assumindo que o programa
que atinja entre 10%-20% de redução dos gastos de TI sem comprometer o resultado
operacional, o efeito sobre o índice de eficiência será em torno de 0,5%-1%.
Como exemplos de iniciativa de redução de custos, a implantação de um programa
“Bring-Your-Own-Device”, muito comentado ultimamente, pode resultar em economia na compra e atualização de hardware, na compra de software – mediante políticas
de permissão de instalação – e menores custos de help desk, assumindo que os usuários
serão mais familiares com seus dispositivos e terão de acionar a própria garantia, caso
necessário. Um exemplo do potencial de redução no TCO – Total Cost of Ownership
é mostrado na figura 9.4.
60
O desafio da eficiência
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
9.4 - Exemplo de Redução de Custos com BYOD
Substituição de Celulares BlackBerry – Em US$
$90/mês
Antes
$1,080
-$300
$15/
mês
$65/mês
Depois
$780
Fonte: Gartner
Cada vez mais, o conceito Lean está gerando valor em TI através de diversas aplicações,
sem contar o foco tradicional em operações (figura 9.5). Além de adequar processos
repetitivos (aprovações, workflows, etc.), a metodologia normalmente traz aperfeiçoamentos ao modelo operacional. Uma cultura de melhoria contínua e transferência de
responsabilidade para pessoal de linha de frente é igualmente efetivo para a organização de TI. Adoção de metodologias ágeis também traz mais eficiência para o processo
de desenvolvimento.
9.5 - Redução de Custos com Tecnologia
A Partir da Metodologia Lean
-23%
38
-5%
86
45
74
61
14
68
75
75
11
59
8
5
54
8
11
61
7
103
108
103
2010
n Core Banking (CapEx)
n Integração (CapEx)
2011
n TI (CapEx)
n Manutenção Adicional
2012
atual
n Manutenção
n Change Request
61
8
75
11
54
7
91
2012
orçado
n Comunicação
n Data Center
n Pessoal
Fonte: Análise Booz&Company
O desafio da eficiência
61
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Um portfolio balanceado de TI permite redução de custos e desenvolvimento de vantagem competitiva. Na abordagem para racionalização de aplicações, os CIOs devem
refletir sobre considerações-chave, tais como potencial de economia, redução do custo
de manutenção, complexidade de TI, experiência do usuário ou cliente, melhoria nas
receitas, gaps de funcionalidade e viabilidade. As aplicações podem ser avaliadas acordo
com a compatibilidade técnica, financeira e com o negócio; as mesmas também podem
ser segmentadas de acordo com o nível de customização e alcance perante o negócio
(figura 9.6).
9.6 - Abordagem para Racionalização de Aplicações
Tamanho da Bolha = Custo de Manutenção
Avaliação de Aplicações
• Infraestrutura e licenças
• Investimento em treinamento
Adequação
Técnica
• Usuários e expandividade
• Integração com os sistemas
• Relevância técnica
Commodity
Adequação
Financeira
Diferenciado
• Alinhamento estratégico
• Risco de negócio
• Aplicabilidade
Nível de Customização
Adequação
ao Negócio
Segmentação de Aplicações
II Plataformas
Estratégicas
III Aplicações
Específicas
I Sistemas
Empresariais
IV Sistemas
de Unidades
Toda a Empresa
Linha de negócio
Alcance
Fonte: Análise Booz&Company
Adicionalmente à redução dos próprios custos, a área de TI tem um grande potencial
de contribuição na redução de outros custos operacionais, que representam aproximadamente 89,6% do total. Iniciativas como Digitization podem impulsionar eficiência,
reduzir riscos e melhorar a resiliência de produtos e serviços críticos a partir de investimentos em processamento real-time, servidores virtuais, automação de processos de
negócio end-to-end e replicação e sincronização de dados.
62
O desafio da eficiência
Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2012
Muitos dos processos bancários ainda são altamente dependentes de papel e pessoas –
consequentemente mais custosos e lentos – podendo ainda levar a erros e resultados
inconsistentes. A Digitization pode reduzir o consumo de papel por parte dos clientes,
automatizar fluxos de trabalho, fornecer suporte à tomada de decisão e facilitar os processos manuais remanescentes.
Avanços tecnológicos nesse sentido podem ser desenvolvidos até mesmo em dispositivos de autoatendimento, a exemplo dos ATMs que dispensam envelopes para depósitos, implementados pelo banco americano Wells Fargo.
O processamento eletrônico dos depósitos representa um benefício para diversas partes:
• Os clientes podem executar a operação mais rapidamente e contabilizar o depósito
imediatamente no caso de numerário;
• Os bancos não precisam coletar diariamente o material depositado, podendo realizar as
operações vinculadas e necessárias ao depósito através da digitalização dos materiais;
O ATM inovador também conta com uma interface com o usuário diferenciada, possibilidade de recibos eletrônicos (enviados por e-mail ou SMS), potencializando o benefício ambiental das novas tecnologias. O uso intensivo de meios virtuais de transação
como Internet/Mobile Banking, Cartões de Pagamento e Débito Automático também
é um exemplo de aplicação de Digitization, entre muitos outros.
Vale ressaltar que a tecnologia também pode contribuir para a melhoria da eficiência
como alavanca para o crescimento das receitas. Há inúmeras possibilidades de aplicação: a melhoria da usabilidade e segurança dos canais virtuais leva à maior satisfação
dos clientes e crescimento do número de contas correntes a partir da potencialização
da inclusão financeira e o uso dos conceitos de Big Data irá possibilitar a oferta de produtos e serviços sob medida para cada cliente de acordo com seus hábitos, preferências
e circunstâncias de vida.
Em resumo, a eficiência continuará sendo desafiadora para o setor de serviços financeiros no Brasil. Embora a área de TI possibilite redução dos próprios custos,
sua maior contribuição pode ser realizada através dos impactos da Digitization nos
clientes e nos processos end-to-end, baixando custos e aumentando receitas, contribuindo para a sustentabilidade de um sistema financeiro que potencializa o desenvolvimento do País.
O desafio da eficiência
63
Coordenação
FEBRABAN
Diretoria Técnica
Diretoria de Comunicação
Diretoria de Eventos
Pesquisa
Comissão de Tecnologia e Automação Bancária – FEBRABAN
Booz&Company
Projeto e artes
Ideia Visual
Gráfica
Intergraf
Jornalista Responsável
Cleide Sanchez Rodriguez (Mtb 15.318)
Pesquisa FEBRABAN de
Tecnologia Bancária 2012