5 a edição/2015 05
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5 a edição/2015 05
#5 2015/05 Editor-Chefe: Lei Chin Pang Editora Associada: Flora Shaw Editor Português: José Oliveira Email: [email protected] Produzida pela Companhia do Desenvolvimento Cultural e Criativo 100 Plus Limitada Publicada pelo INSTITUTO CULTURAL do Governo da R.A.E. de Macau Mensagem do Editor Conteúdos O emblemático Festival de Artes de Macau, organizado anualmente em Maio, apresenta dezenas de espectáculos e exposições que atraem muitos espectadores de Macau e do exterior. Com a arte a aparecer por todo o lado este mês, exploramos na secção “Destaque” deste número a forma como vários grupos de artes performativas lutam pelo seu próprio espaço. Na rubrica “Diálogo”, Lawrence Lei I Leong, co-fundador da bem conhecida Associação de Representação Teatral Hiu Koc, partilha a sua visão sobre o desenvolvimento das artes performativas locais. 04......... Destaque Na secção “Infografia” analisamos os números e o impacto das indústrias criativas no PIB de várias regiões na Ásia, a partir dos quais revelamos alguns aspectos do desenvolvimento desta indústria. O Festival Literário de Macau terminou em Março e na secção “Evento” desta edição voltamos a olhar as maravilhosas actividades organizadas. No que toca à literatura de Macau, perceber qual será o seu futuro e como promovê-la é qualquer coisa que merece uma séria reflexão. Os nossos sete bloggers, velhos e novos amigos, continuarão a trazer até nós ideias e experiências emocionantes. Lei Chin Pang Editor-Chefe Artes performativas em Macau: tendências e implicações 16......... Diálogo Made in Macau em palco– Lawrence Lei I Leong olha o panorama do teatro em Macau 20......... Evento Festival Literário de Macau: viagem pela Rota das Letras 24......... Infografia Indústrias Culturais e Criativas na Ásia: Comparando PIBs 28......... Agenda Cultural 30......... Blogues Leong Sin U --De artista a crítica de arte Ho Ka Cheng --As bases da indústria cinematográfica de Macau Joe Lei --Inspiração criativa e aprendizagem Ling Lui --Raising the Bar Yap Seow Choong --Estilo de Xangai Ron Lam --- Fanzines do Japão Wilson Lam --Os pontos de vista e as opiniões constantes da presente publicação são os dos seus autores e entrevistados, não reflectindo necessariamente a posição do Instituto Cultural do Governo da R.A.E. de Macau. O Alibaba das indústrias culturais e criativas Destaque 4 #5 2015/05 #5 2015/05 Texto/ Ng King Ling, Allison Chan e Fong Son Wa Scott Messinger Billy Hui Artes performativas em Macau: tendências e implicações Macau é uma cidade pequena, mas recebe anualmente milhares de espectáculos de vários géneros – desde mega produções financiadas por grandes grupos, até pequenas produções independentes locais. Porém, tanto os grupos artísticos comerciais como aqueles que são subsidiados enfrentam uma série de desafios e oportunidades no seio da indústria das artes performativas. Neste número, convidámos três grupos muito diferentes – Venetian Macau, Associação de Representação Teatral Hiu Koc e Associação de Arte Point View – para falarem sobre o futuro das artes performativas em Macau. Erik Kuong Destaque 5 Destaque 6 #5 2015/05 #5 2015/05 Destaque Texto/ Ng King Ling, Allison Chan e Fong Son Wa “Os musicais são famosos em todo o mundo – dos Estados Unidos da América a Macau”, diz Scott Messinger, vice-presidente da área de marketing do Sands China. Foto cedida por Around Chao Mega espectáculos em Macau O Cats, musical da Broadway conhecido em todo o mundo, subiu ao palco do Venetian Macau 13 vezes em nove dias. Dos 200 mil bilhetes disponíveis, 90 por cento foram vendidos, o que permitiu à organização arrecadar receitas consideráveis – sem contar com os lucros provenientes da restauração, alojamento e jogo. Em breve, o Venetian vai trazer a Macau mais um dos espectáculos favoritos da Broadway, A Bela e o Monstro, que vai estar em cena durante um mês e meio já a partir de Junho. “O interessante nos musicais é que são apreciados por todas as idades. As crianças adoram as histórias da Disney, como é o caso d`A Bela e o Monstro, enquanto os adultos gostam dos momentos de música e de dança. Os musicais são famosos em todo o mundo – dos Estados Unidos da América a Macau”, diz Scott Messinger, vice-presidente de Marketing da Sands China, que detém o Venetian Macau. Messinger explica que a Sands tem um grupo de funcionários que estuda espectáculos internacionais e avalia a possibilidade de os trazer aos seus casinos. Depois de o Marina Bay Sands, em Singapura, ter apresentado O Rei Leão, a companhia apercebeu-se do potencial que os musicais têm no mercado asiático e, por isso, está agora à procura de espectáculos que estejam actualmente em digressão. Para o Venetian, o factor determinante é perceber se a apresentação de determinado espectáculo pode trazer lucros à empresa. “Se um espectáculo já está em cena em Hong Kong, comercialmente não fará sentido trazer a Macau”, refere Messinger. “Ou se durante um determinado período de tempo outros espectáculos estiverem a ser apresentados nas regiões vizinhas, temos de pensar se o público estará disposto a gastar tanto dinheiro em diferentes eventos.” Para muitos, o Venetian não passa de um casino. No entanto, o empreendimento conta com um teatro de 1800 lugares e uma arena que pode receber 15 mil espectadores e por onde já passaram estrelas como Rihanna, Eason Chan e a banda Girl's Generation. A actuação conjunta das orquestras filarmónicas de Shenzhen e de Filadélfia; e alguns combates de boxe foram também alguns dos eventos organizados pelo Venetian. Além de representar um crescimento de receitas para o hotel-casino, a organização dos espectáculos também chama atenção internacional para Macau, sublinha Messinger. “A Austrália costumava ser o grande centro de entretenimento e as pessoas apanhavam o avião de vários pontos do mundo só para ver um espectáculo. Agora, muitos espectadores vêm da Europa e dos Estados Unidos a Macau para assistir a concertos de The Rolling Stones, o que confere à cidade o estatuto de centro mundial de lazer e entretenimento.” Messinger não divulga números, embora admita que só a simples venda de bilhetes gera lucro. Mas não tem sido sempre assim: em 2008, a apresentação do espectáculo Zaia do Cirque du Soleil gerou perdas à operadora devido à fraca adesão do público. Quatro anos depois, foi quebrado prematuramente um contrato de dez anos. Há quem defenda que um espectáculo de acrobacia chinesa adaptado ao estilo ocidental pode ser um sucesso aos olhos do Ocidente. Mas a verdade é que não foi o suficiente para atrair espectadores chineses – muitos dos quais têm possibilidade de assistir a espectáculos de acrobacia chinesa no próprio país. “Foi um processo de aprendizagem. Os gostos dos norte-americanos e dos chineses podem ser muito diferentes. Para muitos, os bilhetes também eram extremamente caros. Agora oferecemos preços mais acessíveis, de forma a atrair público estrangeiro e local e tornar estes eventos mais sustentáveis”, diz Messinger. Já o City of Dreams, situado do outro lado da rua no Cotai, tem conseguido um enorme êxito com o espectáculo The House of Dancing Water, que começou em 2010. De acordo com o relatório financeiro de 2014 da operadora de jogo Melco, o espectáculo já subiu ao palco mais de 1500 vezes e foi visto por mais de 2,5 milhões de pessoas. Como é que se pode medir o sucesso do The House of Dancing Water? Lei Chin Pang, crítico cultural de Macau, responde a esta questão recordando um episódio. “Quando Hong Kong foi atingido por chuvas torrenciais, em Março do ano passado, caiu o telhando de vidro de um centro comercial e o espaço ficou inundado. Muitas pessoas utilizaram a expressão ‘The House of Dancing Water’ para descrever a cena, o que revela o impacto profundo que o espectáculo teve nos turistas chineses.” A equipa que coordena o espectáculo The House of Dancing Water fez um trabalho impressionante em termos de produção e de vendas. “Desde o início do processo, os criadores deste espectáculo tentaram adaptálo à realidade local, em vez de transplantar uma criação estrangeira para Macau. O espectáculo tem vários personagens e elementos que encontram eco no público chinês. Claro que os números de acrobacia, emocionantes e de cortar a respiração, também foram fundamentais para este sucesso. Como estratégia de vendas e de marketing, os organizadores pediram à estrela de cantopop Sammi Cheng para cantar o tema principal do espectáculo. Este foi um passo muito inteligente, que veio demonstrar a importância da utilização de elementos locais para o sucesso do espectáculo.” 7 8 #5 2015/05 #5 2015/05 1. 2. 1. Desde que começou, em 2010, o The House of Dancing Water tornou-se no espectáculo mais popular de Macau. Foto cedida por Melco Crown Entertainment Limited 2. O musical da Broadway Cats subiu ao palco do Venetian Macau 13 vezes em nove dias, permitindo à organização arrecadar receitas consideráveis. Foto cedida por Sands China Limited 9 Destaque 10 #5 2015/05 #5 2015/05 Destaque TTexto/ Ng King Ling, Allison Chan e Fong Son Wa Billy Hui é director artístico do teatro Hiu Koc Foto cedida por Billy Hui Teatro Hiu Koc: partilha de recursos no sector das artes performativas Empresas privadas de renome, como é o caso do Venetian Macau e do City of Dreams, têm capacidade para comportar os custos de um ou mais grupos artísticos. Mas quais são as possibilidades e expectativas dos artistas independentes e grupos comunitários de teatro em Macau? Como é que se podem manter competitivos? O Hiu Koc, fundado em 1975, é um dos mais importantes grupos de teatro comunitário em Macau e a sua base sólida é muito invejada por teatros mais jovens. Tem, por exemplo, as suas próprias instalações. Billy Hui, director artístico do Hiu Koc, nota: “Há dez anos, Macau era uma cidade bastante atrasada devido à sua fraca economia. Muitos empresários fabris deixaram a cidade e rumaram ao Norte à procura de oportunidades de negócio. Nessa altura, o nosso grupo conseguiu investir num edifício industrial, onde actualmente estão localizadas as nossas instalações. Se não o tivéssemos feito há tanto tempo, estaríamos hoje a lutar arduamente para sobreviver, já para não falar da impossibilidade de alcançar algum êxito e prosseguir o nosso desenvolvimento.” De facto, com a subida dos preços do imobiliário, tem sido difícil para os grupos artísticos assegurar um espaço para ensaios. A possibilidade de ter as próprias instalações tem sido um dos factores responsáveis pelo êxito do Hiu Koc. No ano passado, quando o grupo terminou de pagar o espaço, decidiu lançar um programa de apoio financeiro para grupos de teatro com dificuldades económicas, oferecendo o arrendamento gratuito de duas áreas para encorajar a criação de produções e apoiar artistas performativos emergentes. “Devido à alta dos preços dos imóveis, muitos grupos de teatro são obrigados a mudar de instalações de dois em dois anos. Depois existe ainda a questão dos recursos humanos, pois há falta de gestores artísticos. É muito difícil atrair um público de dimensão considerável se não for feita boa publicidade. A falta de promoção tem geralmente um impacto negativo na actuação e no moral dos actores, o que acaba por ser um ciclo vicioso”, refere Hu. Com mais de 40 anos de história, o Hiu Koc conta hoje com uma equipa de 70 pessoas – a maioria trabalha a tempo parcial e apenas os responsáveis pela produção e finanças estão envolvidos no projecto a tempo inteiro. Por vezes, os próprios actores dão apoio nas tarefas administrativas. Hui explica que o espaço não é gerido como uma organização profissional, mas de forma amadora por um grupo de apaixonados por teatro. “Até agora, este provou ser o modelo que melhor nos serve”, diz. Como é que Hui justifica esta posição? Basicamente, a maioria dos artistas experientes do Hiu Koc trabalha a tempo inteiro e alguns já estão reformados. Por isso, o grupo não depende da produção permanente de peças de teatro para cobrir os custos correntes. Por outro lado, jovens profissionais com formação em teatro no estrangeiro têm estabelecido grupos de teatro que operam de forma autosustentável. “Como trabalhamos a tempo parcial na área do teatro, podemos ceder ao longo do dia as nossas instalações a outros grupos para os ensaios e práticas criativas, tornando possível partilhar os nossos recursos. Além disso, também temos pensado em formar um novo grupo de teatro com a nossa equipa actual, para que tenhamos um subgrupo que funcione como um grupo artístico a tempo inteiro, enquanto a outra equipa continua a trabalhar a tempo parcial. O nosso objectivo é terminar esta restruturação num espaço de três anos. Por outras palavras, prevemos que o Hiu Koc cresça em dimensão, com grupos de teatro exclusivos, um centro de arte e outro tipo de produções criativas.” Nas artes criativas, a atribuição de prémios é geralmente vista como a melhor forma de validar o trabalho dos bons actores e produções. Em muitos países, prémios não são apenas sinal de que os actores são reconhecidos pela indústria, mas permitem aos vencedores receberem financiamento para formação no estrangeiro e podem traduzir-se em oportunidades de digressão para as produções galardoadas. E qual é a realidade em Macau? A organização anual de uma cerimónia de prémios poderia ser benéfica? Hui admite que as opiniões de quem trabalha nesta indústria local dividemse. “É verdade que a atribuição de prémios traria mais publicidade dos meios de comunicação social. No entanto, a competição resultante da premiação também pode criar rivalidades e cisões dentro da indústria. Este tema é debatido há anos e, por enquanto, não existe um consenso real entre os que vivem da arte. A prioridade actual do sector passa por atrair mais apoio e público para o teatro. A possibilidade de actuar com maior frequência é o melhor e mais gratificante reconhecimento para o trabalho dos grupos de teatro. Um espectáculo que só pode subir ao palco uma ou duas vezes tem dificuldades em provar o seu valor. No ano passado, apresentámos peças de longa duração e a maioria subiu ao palco dez vezes consecutivas ou mais. A peça Lungs, por exemplo, teve um sucesso inédito. Do mesmo modo, espero que o teatro em Macau possa florescer, subir mais vezes ao palco e ter oportunidade de se apresentar noutras áreas da região do Delta do Rio das Pérolas. Eu diria que os prémios são secundários.” 11 12 #5 2015/05 #5 2015/05 A peça de teatro Lungs do grupo de teatro Hiu Koc alcançou um sucesso sem precedentes. Foto cedida pelo Teatro Hiu Koc 13 Destaque 14 #5 2015/05 #5 2015/05 Destaque Texto/ Ng King Ling, Allison Chan e Fong Son Wa “Se o público que assiste a espectáculos de artes performativas for uma minoria, então o nosso objectivo é atrair a convergência da minoria”, diz Erik Kuong, director executivo da associação Point View. Foto cedida por Around Chao Associação de Arte Point View: onde a qualidade de arte é importante Se, por um lado, a Associação de Representação Teatral Hui Koc é um grupo de teatro direccionado para a comunidade, por outro, a Associação de Arte Point View, estabelecida em 2008, tem como alvo o mercado estrangeiro. A associação é convidada todos os anos para actuar no exterior. Focada sobretudo no teatro, a Point View aposta em produções de carácter experimental, recorrendo à utilização de elementos multimédia. Por exemplo, o espectáculo Playing Landscape, que teve boa recepção do público, combina pintura, simbolismo, formas e teatro. Há dois anos, o grupo foi convidado para participar no Festival Internacional de Teatro Mindelact de Cabo Verde, em África. Também três das suas mais recentes produções – Playing Landscape, o teatro musical Picnic in the Cemetery e o microteatro Puzzle the Puzzle foram apresentadas na edição do ano passado do Festival de Edimburgo no Reino Unido, num total de quatro semanas de actuações que receberam boas críticas. Conhecida sobretudo por uma abordagem artística menos convencional, a associação Point View diferenciase dos grupos de artes performativas tradicionais de Macau. Há quem olhe para esta diferença como uma lufada de ar fresco, enquanto outros consideram que apenas uma minoria poderá sentir-se atraída por este registo. Erik Kuong, director executivo da associação, tem outra perspectiva. “Na minha opinião, o desenvolvimento do nosso nicho não tem nada que ver com a busca de popularidade. Penso que não é necessário ser se grosseiro. Se o público que assiste a espectáculos de artes performativas for uma minoria, então o nosso objectivo é atrair a convergência da minoria”. Kuong diz que as artes visuais e o teatro nunca foram actividades de entretenimento dominantes e considera que é muito importante que se olhe para fora de Macau à procura de oportunidades de expansão e desenvolvimento. A maioria dos membros que compõe o núcleo duro da associação recebeu formação no estrangeiro e regressou a Macau para dar seguimento à sua carreira artística. Através da combinação de elementos tais como a música, moda, produção de teatro e design, a associação desenvolveu um nicho na área da produção multimédia e está agora focada num crescimento sustentado da prática criativa. Kuong acredita que cada actuação é uma obra de arte viva e que é necessário tempo para que a boa arte evolua e se desenvolva. Macau, no entanto, nem sempre oferece um ambiente propício ao crescimento natural das produções artísticas. “Estranhamente, em Macau, uma peça de teatro sobe ao palco apenas uma ou duas vezes, ao contrário de outras regiões, onde os grupos artísticos têm um ano para desenvolver um espectáculo e ganhar reputação.” Sendo a qualidade um factor importante para a Point View, a associação prefere trabalhar em apenas uma ou duas produções anuais. Claro que nem todos os grupos de teatro podem dar-se a este luxo. Para garantir financiamento governamental, os grupos artísticos são geralmente avaliados pela quantidade e não pela qualidade das suas produções. Isto quer dizer que quanto mais trabalho um grupo apresentar, mais apoio financeiro pode arrecadar. Perante esta limitação, Kuong acredita que, apesar de um aumento do financiamento do governo, a qualidade das produções de teatro em Macau não tem crescido proporcionalmente. Esta situação deve-se sobretudo à falta de tempo que os actores têm para trabalhar numa produção e à falta de instalações, tornando difícil dinamizar um espectáculo ao longo do tempo. Desta forma, a qualidade do produto criativo fica comprometida. “Se os grupos de teatro pudessem apresentar apenas uma ou duas peças por ano, então teriam muito mais tempo para desenvolver e melhorar o produto final, e os actores teriam oportunidade e tempo para mostrar todo o seu potencial.” No caso da Point View, o espectáculo Playing Landscape, agora na sua sétima versão, foi aclamado internacionalmente e está em digressão todos os anos por um país diferente. “Há pouco público de teatro em Macau. Eu diria que é quase impossível atrair 30 mil espectadores em Macau. No entanto, se explorarmos outros mercados, podemos contar com um público de mais de 3000 pessoas em Taipé, 5000 em Guangzhou, ou mesmo procurar outros destinos como Pequim. É a isto que me refiro quando falo em procurar uma convergência da minoria”, acrescenta o director executivo. Erik Kuong acredita que a luta por mais público não é uma competição entre vários grupos de teatro, mas entre o teatro e outros programas de entretenimento. “Questionome sempre se a oferta dos grupos de teatro de Macau bastará. Por exemplo, se eu estivesse interessado em ver um espectáculo, é possível que não encontrasse nada na agenda cultural, já que uma peça local é apresentada apenas duas ou três vezes. Perante estas limitações, é difícil atrair novos espectadores.” De acordo com Kuong, o governo não deveria avaliar uma produção pela bilheteira mas pelo desempenho individual. “O governo tem de aprender a analisar melhor as tendências de crescimento do público, fazendo um levantamento demográfico com base na taxa de crescimento dos espectadores de teatro. Isso poderá ajudar as autoridades a fazer uma avaliação mais abrangente e precisa dos grupos artísticos e das suas produções criativas.” 15 Diálogo 16 #5 2015/05 #5 2015/05 Texto/ Wong Io Man tirar o dinheiro. Como já não conseguia pagar a minha ida ao cinema, comecei a frequentar livrarias com livros em segunda mão, onde ficava a ler. Li Lu Xun e Lao She, entre outros. Comecei a interessar-me pela escrita ficcional e concorri com algumas histórias para o jornal Diário de Macau, que nunca chegou a publicar os meus textos. Quando terminei a escola secundária, comecei a escrever peças de teatro. Foi nessa altura que encontrei espaço para me expressar. "Ainda há muita margem para desenvolver o gosto dos espectadores de Macau. A questão é que não se fazem estudos de mercado. Actualmente, as peças em cena não correspondem àquilo que a audiência quer e, em resposta, o público não presta atenção ao que é feito", diz Lawrence Lei I Leong, cofundador da Associação de Representação Teatral Hiu Koc. Foto cedida por Around Chao P: Sempre soube que queria escrever peças de teatro para Macau? Made in Macau em palco – Lawrence Lei I Leong olha o panorama do teatro em Macau L: Dramaturgo Lawrence Lei I Leong P: Crítico cultural Lei Chin Pang Lawrence Lei I Leong é uma lenda viva do teatro de Macau. Co-fundador da quadragenária Associação de Representação Teatral Hiu Koc, Leong escreveu dezenas de peças e romances e é o actual director do Conservatório de Macau. L: Os meus trabalhos são essencialmente sobre Macau. Uma das peças, que aborda o tema da transferência de soberania, foi inspirada na obra Demi-Gods and SemiDevils, porque senti que Qiao Feng, uma das personagens, seria uma boa referência para abordar a questão da identidade da população de Macau. Sand Dune Journey também se baseia num romance e explora Demi-Gods and Semi-Devils (1991) aborda questões como a transferência P: Qual é a mais memorável de todas as suas criações? L: Angry People. Foi criado no início dos anos 1980 e retratava a onda de imigrantes ilegais que chegava do Interior da China nessa altura. A peça foi apresentada no Jardim Lou Lim Ieoc e as autoridades portuguesas e académicos que estavam presentes ficaram profundamente tocados e aplaudiram entusiasticamente. Depois disso, muitos grupos sentiram que não devíamos ter apresentado aquela peça, porque expunha o verdadeiro horror que era a vida dos imigrantes ilegais chineses. Acabámos por encontrar um meio-termo e optei por um argumento mais ligeiro. Mas penso que a peça reflecte a realidade e os confrontos entre pessoas. Não havia nada de político naquele trabalho. P: Quando a associação Hiu Koc foi criada, era raro escreverem-se peças que reflectissem a sociedade de Macau? L: Isso não acontecia apenas com esse tipo de produções. Toda a cena teatral de Macau vivia em silêncio. Nessa altura, não havia qualquer grupo de teatro activo. Nós escolhemos o nome Hiu Koc [último pseudónimo do escritor Lu Xun] para fazer despertar o teatro de Macau, que estava moribundo. Desde que estabelecemos o grupo, mantemo-nos fiéis a dois princípios. Em primeiro lugar, apenas vendemos bilhetes e nunca os oferecemos, como forma de respeitar o trabalho dos artistas. Em segundo lugar, insistimos em produções originais que se debrucem sobre temas locais. Quando a Hiu Koc foi criada, Macau era uma cidade muito fechada e o acesso à informação era difícil. Naquela altura, havia uma série de questões controversas em Macau, como era o caso da imigração. Registava-se uma onda de imigração ilegal em massa vietnamitas chegavam a Macau de barco, etc. As nossas produções abordavam este tipo de questões. de soberania e a identidade da população de Macau. Foto cedida por Lawrence Lei I P: Como é que surgiu o seu interesse pelo teatro? L: Quando era pequeno, gostava de falava comigo mesmo a caminho da escola e de encarnar diferentes personagens. Também gostava de ouvir séries radiofónicas. No segundo ano da primária, aproveitava o dinheiro do pequeno-almoço que eu e os meus irmãos tínhamos guardado para comprar bilhetes para os três no cinema. Depois de ver os filmes, ficava a pensar na estrutura e na forma como eu a recriaria. Uma vez o meu irmão mais novo desmaiou porque não tinha tomado o pequeno-almoço e então deixei de lhe Leong Diálogo a ideia do que é sentir-se em casa. As duas peças foram buscar inspiração a livros que adaptei à realidade de Macau. Basicamente escrevo textos sobre Macau porque sou de Macau. P: Como vê o desenvolvimento do teatro local? L: Está a crescer. Muitos jovens foram estudar para fora, o ambiente académico e criativo melhorou e a informação está ao alcance de todos. A atmosfera geral e as políticas culturais também são favoráveis. Por outro lado, aqueles que trabalham em teatro, especialmente freelancers, têm de trabalhar muito e produzir espectáculos com grande frequência para garantirem o seu sustento. Antigamente, tínhamos um outro emprego a tempo inteiro e depois trabalhávamos em teatro como amadores, e por isso podíamos passar meses a pensar numa produção. Isto já não é possível na cena artística actual. O resultado é que existem menos produções E do que é que a classe média precisa? Precisa de entretenimento e de temas com os quais se possa identificar. As actuais peças de teatro não encontram eco entre o público. 17 18 Diálogo #5 2015/05 #5 2015/05 A peça The Puppet of Lao Jiu, de Lawrence Lei I Leong, foi apresentada em Singapura em 2013. Foto cedida por Lawrence Lei I Leong originais em Macau. Actualmente, os produtores não lêem livros porque não têm tempo e, mesmo que tenham, preferem ver filmes, que são mais fáceis de digerir e entender. As pessoas escolhem peças bem-sucedidas lá fora para trazer a Macau, em vez de apostarem em criações originais relacionadas com a cidade. Isto preocupa-me. P: Acredita que o teatro se pode tornar numa indústria em Macau? L: É possível, mas a questão passa por saber como é que se vão criar condições para que isso aconteça. As produções criativas precisam de vender bem e de levar em conta as preferências do público. Ainda há muita margem para desenvolver o gosto dos espectadores de Macau. A questão é que não se fazem estudos de mercado. Actualmente, as peças em cena não correspondem àquilo que a audiência quer e, em resposta, o público não presta atenção ao que é feito. Se um dia o nosso público for a classe média, então poderemos dizer que o mercado amadureceu. A classe média tem um forte poder de compra e muita influência. Se as peças de teatro conseguirem influenciar essas pessoas, elas poderão, por sua vez, influenciar a sociedade e criar dessa forma uma série de interacções. E do que é que a classe média precisa? Precisa de entretenimento e de temas com os quais se possa identificar. As actuais peças de teatro não encontram eco entre o público. P: Na sua opinião, o que é que está a faltar ao teatro em Macau? L: O teatro precisa de se abrir ao mercado, estabelecendo, por exemplo, um local apropriado para espectáculos. Também não existem talentos suficientes para trabalhar nesta área. Temos técnicos, mas não temos pessoas criativas e actores suficientes. É difícil para os estudantes locais entrarem em escolas de teatro no estrangeiro, porque existem sempre limitações como a língua, a altura, entre outras coisas. Além disso, uma cidade precisa de criar produções originais. De outra forma, por que razão alguém lhe prestará atenção? Uma produção de Macau tem de reflectir características e emoções locais. Diálogo 19 Evento 20 #5 2015/05 #5 2015/05 Texto/ C Wong “Esperamos que este festival Joe Tang, escritor possa despertar o interesse local, fala com por Macau não apenas estudantes da como destino turístico, mas Universidade de como lugar de cultura e de Macau sobre a narrativa entre os escritores, sua experiência e que possa estimular pelo enquanto escritor. mundo fora o aparecimento - de literatura sobre a cidade”, Foto cedida diz Hélder Beja, sub-director pelo Festival do Festival Literário de Literário de Macau. Macau – Rota - das Letras | Foto cedida por Around Chao Tatiana Lages Evento Festival Literário de Macau: viagem pela Rota das Letras Numa cidade onde o chinês é a língua mais falada e escrita, muitos poderão ter estranhado que fosse o Ponto Final, um dos principais jornais de Macau em língua portuguesa, a ter a iniciativa de organizar o Festival Literário de Macau. O sub-director do evento, Hélder Beja, recorda: “Olhando para trás, quando em 2011 eu e o Ricardo Pinto falámos pela primeira vez sobre a organização de um festival deste género, a nossa ideia era chamar a atenção para o facto de não haver um único festival na China, Portugal ou Brasil que pudesse servir de espaço de partilha entre aqueles que escrevem em português e chinês.” Macau, uma cidade singular, unida pelas culturas chinesa e portuguesa, acolheu pela primeira vez, em 2012, o festival literário. "À excepção das obras de escritores locais, tem havido em anos recentes uma falta de interesse por parte de escritores de outras paragens em utilizar Macau como cenário para a sua escrita. Esperamos que este festival possa despertar o interesse por Macau não apenas como um destino turístico, mas como um lugar de cultura e de narrativa entre os escritores, e que possa estimular o aparecimento pelo mundo fora de mais literatura sobre esta cidade", realça ainda o sub-director. Macau, uma cidade singular, unida pelas culturas chinesa e portuguesa, acolheu pela primeira vez, em 2012, o festival literário. O festival oferece um programa de actividades para todos os gostos: além de seminários, exposições e sessões de leitura de poesia, são organizados eventos que vão ao encontro de um público mais alargado, como concertos, exposições de artes visuais e sessões de cinema e teatro. Esta estratégia permite à literatura tornar-se numa forma de arte mais agradável e acessível, e promove também um ambiente mais descontraído para a troca de experiências e a discussão literária. Uma das escritoras do Interior da China presente no evento deste ano, Yan Ge, realçou o acolhimento do Festival Literário de Macau, a agradável experiência de participar num encontro onde concertos de música rock e eventos literários acontecem paralelamente, e a excelente oportunidade de encontrar pela primeira vez escritores portugueses. O festival literário, que já vai na quarta edição, alcançou um sucesso sem precedentes em diversas áreas, constata Hélder Beja. “Tivemos oportunidade de colaborar com escolas e autores de literatura infantil para levar os livros às salas de aulas e fazer com que os mais novos participassem nas nossas actividades. Este ano também contámos com um forte apoio dos meios de comunicação social, por exemplo em Hong Kong, onde fizeram uma cobertura alargada dos nossos eventos. E, por último, a possibilidade de utilizar o Edifício do Antigo Tribunal como base principal do festival fez com que o evento continuasse a ganhar maior visibilidade e se tornasse mais acessível ao público do que em edições anteriores.” Sendo Macau mais conhecida pelo desenvolvimento das indústrias do jogo e do turismo do que pela literatura, o festival Rota das Letras tem recebido menos atenção do governo do que outras festividades direccionadas para os turistas. “Há muitos outros eventos organizados ou financiados pelo governo que recebem um nível de apoio financeiro muito mais elevado, mesmo quando o seu impacto na sociedade ou legado que deixam é provavelmente menos significativo”, defende Hélder Beja. Em 2012, o financiamento da primeira edição do Festival Literário de Macau chegou sobretudo do sector privado através do jornal Ponto Final, contando com uma ajuda de apenas 300 mil patacas do governo de Macau. No ano seguinte, o Instituto Cultural de Macau entrou como co-organizador e o financiamento público aumentou. Já este ano, o festival literário recebeu apoio do Instituto Cultural e da Fundação Macau, bem como do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura e do Turismo de Macau, totalizando 1,45 milhões de patacas. Com o apoio do sector privado, o orçamento global rondou os 2,7 milhões de patacas. Hélder Beja reconhece que, com um apoio financeiro mais generoso, a organização terá melhores possibilidades de equilibrar as contas deste ano. A edição de 2015 juntou em Macau nomes fortes da literatura e do cinema, incluindo Wang Anyi, Ann Hui, Wong Bik Wan e Murong Xuecun, bem como Ondjaki, Francisco José Viegas, Maria do Rosário Pedreira e João Botelho, do lado lusófono. No entanto, o programa detalhado do festival só foi divulgado muito em cima da hora. Hélder Beja explica: “O festival é organizado por uma equipa muito pequena, com a maioria dos colaboradores a trabalhar a tempo parcial. Nem sempre é fácil mobilizar recursos humanos para apoiar a crescente dimensão do festival. Além disso, como preparamos todo o material de promoção em três línguas (chinês, português e inglês), e como o programa tem vindo a crescer, a carga de trabalho tem vindo a aumentar significativamente". Para o próximo ano, acrescenta o sub-director, a programação e o nome dos participantes serão divulgados logo no início de Fevereiro, de modo a captar mais público em Março. Quem consulta a lista dos participantes do festival, apercebe-se do reduzido número de convidados locais. Agnes Lam, escritora de Macau, realça: “A organização tem sempre mostrado interesse na participação de escritores locais, mas devido ao calendário apertado e ao facto de a maioria dos escritores de Macau não escrever a tempo inteiro, é bastante difícil que estes se juntem ao evento com tão pouca antecedência. Outro obstáculo diz respeito à dificuldade de comunicação entre os autores de língua chinesa e de língua portuguesa. Antes de se encontrarem, estes dois grupos de escritores precisariam de mais tempo para ler as obras uns dos outros. A maioria dos escritores de fora nem sequer conhece a nossa literatura, principalmente por não falarem chinês e pela falta da tradução de obras locais. Estes problemas dificultam verdadeiramente o intercâmbio profícuo de ideias." Apesar dos contratempos, o festival tem tido um papel importante na defesa do princípio "escrever Macau". Além de incentivar autores de ambas as línguas a escrever sobre a cidade, a Rota das Letras tem trabalhado 21 22 #5 2015/05 no sentido de promover a literatura local. Este ano, a organização apoiou a tradução e publicação da consagrada obra O Assassino de Joe Tang em três línguas – inglês, português e chinês simplificado – e também preparou a compilação e publicação de Regra de Três, terceiro tomo da antologia que reúne contos e poemas sobre Macau, da autoria de escritores locais e do exterior. 23 #5 2015/05 A antologia, impressa e distribuída em Macau, também ficará disponível em versão e-book, para que um maior número de leitores no exterior tenha a oportunidade de aprender mais sobre a literatura de Macau. The Doomsday Hotel, romance Pela primeira vez, o Festival da escritora de Hong Kong Literário de Macau preparou Wong Bik Wan, passa-se em um programa especial Macau e foi transposto para direccionado para jovens recitação e música no Festival leitores. Literário. - - Foto cedida pelo Festival Foto cedida pelo Festival Literário de Macau – Rota Literário de Macau – Rota das Letras | Tatiana Lages das Letras | Tatiana Lages 24 Infografia #5 2015/05 Texto/ Wong Io Man No entanto, Agnes Lam, Directora Assistente da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Macau, acredita que estas classificações poderão vir a alterar-se no futuro, principalmente devido à influência do K-Pop, mesmo que neste momento o sector dos “Jogos” domine a tabela. Além disso, a importância do “Conhecimento e Informação”, “Publicação” e “Animação”, que inclui os e-books, aponta para que a importância da internet e das indústrias digitais continue a crescer. O cinema é um dos sectores criativos que Hong Kong está a tentar revitalizar. Foto cedida por Silk Tork O governo de Taiwan começou em 2009 a redefinir a direcção do sector das indústrias culturais e criativas – em particular de seis indústrias. Dados avançados pelo Conselho para os Assuntos Culturais nesse mesmo ano revelam que, em 2002, o valor das indústrias culturais e criativas totalizou 435 mil milhões de dólares de Taiwan (TWD), Indústrias Culturais e Criativas na Ásia: Comparando PIBs 25 Infografia #5 2015/05 subindo em 2007 para 633 mil milhões de TWD. Entre 2002 e 2007, as indústrias culturais e criativas cresceram em média 7,78 por cento ao ano, enquanto o PIB taiwanês cresceu 3,7 por cento. Em termos de valor acrescentado, em 2002 estas indústrias contribuíram em média cerca de 231 mil milhões de TWD para a economia de Taiwan. Em 2007, o valor totalizou 335 mil milhões de TWD, uma subida de 104 mil milhões. Em Hong Kong, dados oficiais revelam que, em 2010, o valor das indústrias culturais e criativas aumentou 22,8 por cento em relação ao ano anterior para 77 mil milhões de dólares de Hong Kong (HKD). A taxa de crescimento foi significativamente mais veloz do que a taxa de crescimento do PIB nominal – 9,8 por cento. A participação das indústrias culturais e criativas no PIB de Hong Kong também aumentou de 4,1 por cento, em 2009, para 4,6 por cento, em 2010. Para perspectivar a situação a longo prazo, podemos ter em conta a taxa de crescimento das indústrias culturais e criativas entre 2005 e 2010, que subiu em média 8,3 por cento ao ano, relativamente aos 4,6 por cento do PIB nominal. “Como revelam estes dados, os vizinhos de Macau têm feito um bom trabalho no desenvolvimento das indústrias culturais e criativas. Isto demonstra que, numa era em que a economia se baseia no conhecimento, a cultura é um indicador importante para medir a competitividade, e o valor comercial das indústrias culturais e criativas é crucial para estimular o soft power”, diz Agnes Lam. Valor das indústrias culturais e criativas na Coreia do Sul, 2007-2009 (Milhões de Won, %) As indústrias culturais e criativas têm vindo a tornar-se numa parte importante de várias economias mundiais. Neste número, analisamos a situação destas indústrias em três mercados asiáticos – Coreia do Sul, Taiwan e Hong Kong. 2007 Indústria A Coreia do Sul é actualmente uma potência no que diz respeito à exportação cultural na Ásia e tem sido objecto de vários estudos em todo o mundo. De acordo com dados publicados em 2010 e 2011 pelo Ministério da Cultura, Desporto e Turismo da Coreia do Sul, os “Jogos” foram o sector das indústrias culturais e criativas que mais contribuiu em 2009 para a economia sul-coreana – com uma participação de 50,89 por cento – e também o mais lucrativo. Seguiram-se os sectores do “Conhecimento e Informação”, “Publicação” e “Animação”. A área que apresentou uma menor participação foi o “Cinema”, seguindo-se a “Publicidade”. O K-pop é uma das indústrias criativas mais promissoras da Coreia do Sul. 2008 2009 Vendas Valor Acrescentado Taxa de Valor Acrescentado Vendas Valor Acrescentado Taxa de Valor Acrescentado Vendas Valor Acrescentado Taxa de Valor Acrescentado Peso Publicação 21595539 8949107 41.44% 21052936 8972761 42.62% 20609123 8736207 42.39% 30.6% Banda desenhada 7616868 282052 37.03% 723286 282600 39.21% 739094 290833 39.36% 1% Jogos 5143600 2487445 48.36% 5604700 2808000 50.1% 6580600 3348867 50.89% 11.7% Cinema 3183301 880819 27.67% 2885572 349442 12.11% 3306672 1087895 32.9% 3.8% Animação 311166 122506 39.37% 404760 167287 41.33% 418570 175213 41.86% 0.6% Televisão 10534374 4267646 40.51% 11685533 3870377 32.57% 12768963 5165349 40.45% 18.1% Produção de vídeo independente ﹣ ﹣ ﹣ 727411 295838 40.67% 796175 328343 41.24% 1.1% Publicidade 9434625 4002168 42.42% 9311635 4062666 43.63% 9186878 3445079 37.5% 12.1% Cosplay 5115639 1801217 35.21% 5098713 1956376 38.37% 5358272 2202786 41.11% 7.7% Conhecimento e Informação 4297341 1729680 40.25% 4777330 1946438 41.12% 5255185 2237658 42.58% 7.8% Serviço da Indústria Criativa 1679800 642524 38.25% 1866100 731698 39.21% 2036362 802734 39.42% 2.8% Total 64414776 25952873 40.29% 66012641 26113290 39.56% 6900472 28515387 41.33% 100% Foto cedida por Eva Rinaldi *Taxa de valor acrescentado = (Valor acrescentado/vendas) x100% Fonte: Inquérito sobre as indústrias culturais e criativas 2010, Relatório das tendências das indústrias culturais e criativas do primeiro trimestre de 2011 (Ministério da Cultura, Desporto e Turismo da Coreia do Sul) 26 Infografia #5 2015/05 Infografia #5 2015/05 A indústria criativa é uma das principais indústrias de Taiwan. Várias infraestruturas abandonadas estão a ser recuperadas e utilizadas como espaços artísticos. Foto cedida por Chongkian 27 28 Agenda Cultural #5 2015/05 #5 2015/05 Agenda Cultural Agenda Cultural Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau 2015 Data: 12/5/2015-16/5/2015 Horário: Vários Local: Centro Cultural de Macau Bilhetes: MOP60 Programa: A nona edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau apresenta mais de 40 filmes de todo o mundo, e a secção “Macau Indies” exibe 26 trabalhos relevantes de cineastas locais. Organizador: Centro Cultural de Macau Website: www.ccm.gov.mo/Event.aspx/-1 Fórum das Indústrias Cultrais de Macau 2015 Data: 17/5/2015-20/5/2015 Horário: 9:30 Local: Centro de Ciência de Macau Bilhetes: Entrada Livre (Deve enviar email para reserva antecipada para [email protected]) Programa: A edição inaugural deste fórum convida especialistas da UNCTAD, da China e da Europa para partilharem os seus pontos de vista sobre o futuro das indústrias culturais e criativas, e de como Macau pode aprender com as melhores práticas utilizadas em vários lugares do mundo. Organizador: Associação de Intercâmbio de Culturais Chinesa (Macau), Instituto de Indústrias Culturais da Universidade de Pequim XXVI Festival de Artes de Macau Le French May Curso de Verão da TNUA 2015 Trienal de Gravura de Macau Data: 1/5/2015-31/5/2015 Horário: Vários Local: Vários Bilhetes: Vários Data: 1/5/2015-30/6/2015 Horário: Vários Local: Vários Bilhetes: Vários Prazo para envio de trabalhos: 1/6/2015-30/6/2015 Exposição: 29/11/2015-14/2/2016 Local: Museu de Arte de Macau Programa: “Encontro” foi o tema escolhido este ano pela organização do Festival de Artes de Macau e representa uma tentativa de explorar a diversidade linguística das artes performativas, rompendo com várias barreiras linguísticas. O festival terá mais de 100 actividades, incluindo música, teatro, dança, exposições, actuações ao ar livre e muito mais. Programa: Este ano, a 23.ª edição do festival de artes Le French May tem como mote "Essencialmente francês" e vai abordar temas como o património e a modernidade na cultura francesa, contando com mais de 120 actividades. Em destaque vai estar “Ça C’est Vraiment Toi”, espectáculo interpretado por cantores de Rock/Pop francês; e o espectáculo de dança “Transports Exceptionnels”, de Beau Geste. Data: 3/7/2015-12/7/2015 (Inscrições até 31/5/2015) Local: Universidade Nacional de Artes de Taipé Preço: TWD$18.800—TWD$32.000 (Os valores dependem dos módulos escolhidos) Organizador: Instituto Cultural de Macau Website: http://www.icm.gov.mo/fam/26/pt/ Art Revolution Taipei 2015 Data: 8/5/2015-11/5/2015 Horário: 00:00-20:00 (11:00-19:00 no dia 10/5/2015) Local: Salão Três do World Trade Center de Taipé Bilhetes: TWD$100 Programa: “Enjoy Art・Enjoy Happiness” é o lema desta edição da feira Art Revolution Taipei. Duas mil obras de arte de 62 países e regiões vão ser apresentadas durante o evento. O rácio de artistas que vendeu obras de arte na edição do ano passado atingiu 93,21 por cento, um recorde a nível mundial. A feira também contempla um programa especial de caridade, em que parte das receitas das vendas reverte directamente para o Fundo para as Crianças e Famílias de Taiwan. Organizador: Associação Internacional de Artistas Contemporâneos de Taiwan Website: www.arts.org.tw Programa: Direccionado para estudantes com idades compreendidas entre os 14 e os 21 anos, o programa de dez dias oferece cursos de introdução à arte, estudos de teatro, dança, música tradicional, cinema, novos média e animação. Programa: A segunda edição da Trienal de Gravura de Macau, com curadoria do consagrado artista Wong Cheng Pou, já abriu inscrições para o envio de candidaturas. Aceitam-se trabalhos feitos através de todos os métodos de gravura. O vencedor receberá um prémio pecuniário no valor de 250 mil patacas. Organizador: Universidade Nacional de Artes de Taipé Website: aaa.tnua.edu.tw/class/p2.aspx?tid=39 Organizador: Instituto Cultural de Macau Website: www.triennialmacau.com/ Coroa dos Alpes: Colecção de Obras -Primas do Príncipe do Liechtenstein Feira Internacional de Indústrias Culturais da China (Shenzhen) 2015 Abertura da C-Shop Data: 17/4/2015-31/8/2015 Horário: 9:00-17:00 Local: Museu do Palácio Nacional, Edifício da Biblioteca 1/F, Taiwan Bilhetes: TWD$250 (antes de 30/8/2015: TWD$160) Data: 14/5/2015-18/5/2015 Organizador: Consulado Geral de França em Hong Kong e Macau Website: www.frenchmay.com/programmes/ event.aspx?name=Roots Programa: A mostra particular apresenta mais de 100 trabalhos de vários mestres, como Rafael, Peter Paul Rubens, Anthony van Dyck e Rembrandt van Rijn. Cobrindo vários períodos artísticos – Renascentismo, Barroco, Era Dourada da Holanda – e vários géneros, estes requintados trabalhos estão organizados como um manual de história de arte esplêndido e conciso, que pode ajudar a ler as mentes destes grandes artistas. Organizador: Museu do Palácio Nacional, Taiwan Website: www.npm.gov.tw Local: Centro de Convenções e Exposições de Shenzhen Bilhetes: Entrada livre Programa: Nove salas de exposições vão acolher mais uma edição da única feira nacional, internacional e integrada das indústrias culturais da China. Estão programadas várias actividades de grande dimensão para dar apoio ao comércio especializado, investimento e serviços financeiros para projectos e produtos culturais. Organizador: Ministério da Cultura da República Popular da China, Governo Popular Municipal de Shenzhen, etc. Website: www.cnicif.com Data: 5/5/2015 Horário: 11:00-20:00 Local: Avenida Doutor Mário Soares, Macau Programa: A C-Shop apresenta produtos feitos ou desenhados em Macau, incluindo recordações, acessórios, livros e peças de mobiliário. Lembre-se de pedir uma cópia do “Mapa Cultural e Criativo de Macau”, o melhor guia para todos os locais ligados à arte, cultura e design na cidade. Organizador: Instituto Cultural de Macau Website: www.facebook.com/ MacaoCreativePavilion 29 30 Blogues #5 2015/05 De artista a crítica de arte Leong Sin U Ho Ka Cheng Nascida em Macau, Leong Sin U Supervisor da Associação Audio- frequentou a Universidade Baptista Visual CUT, Ho é um dos realizadores de Hong Kong e completou o do projecto Macau Stories 1 e esteve Mestrado em Artes Visuais (Artes e também envolvido no Macau Stories Cultura) em 2014. Integrou o corpo 2 – Love in the City e no Macau Stories de críticos da edição de 2012 e 3 – City Maze. Macau Stories 2 – Love in 2013 do Festival Fringe de Taipé, do Festival Popular Fringe de Hong Kong e ainda do Festival de Artes de Macau e do Festival Fringe da Cidade de Macau. Não há muito tempo cruzei-me com uma amiga que fez adereços para um grupo de teatro de Macau. Perguntou-me se tinha visto uma determinada peça de teatro local e disse-me que ainda não tinha ouvido quaisquer comentários ao espectáculo. Havia um estranho silêncio à volta daquela peça. A palavra “silêncio” deixou-me a pensar – um grupo de teatro que quer evoluir precisa de feedback. Em qualquer sector amadurecido, os críticos são indispensáveis, e esta é uma actividade que se pode tornar numa profissão. Além de comentarem trabalhos artísticos, os críticos podem ajudar a aumentar a visibilidade e o debate à volta dessas obras. Macau tem espectáculos de escala e periodicidade limitadas e, por isso, as críticas não levarão necessariamente a melhores resultados de bilheteira. Grande parte das críticas de arte sublinha apenas o talento artístico, os críticos são amadores e, por vezes, desempenham múltiplas funções. A criação artística e a crítica de arte partem de diferentes pontos de vista. Nos quatro anos em que estive envolvida no programa de crítica de teatro de Macau, participei em workshops organizados na cidade e para os quais eram convidados críticos de outras regiões onde também se fala chinês. Participei também em eventos em Hong Kong, Taiwan e Macau, que me ajudaram a perceber melhor o estado da crítica de arte em diferentes regiões e o meu próprio papel nesta área. Como estou criadora de literatura e de artes visuais, tinha pouco conhecimento sobre o mundo do teatro, mas percebi os desafios enfrentados por quem está ligado às industrias criativas. Assisti aos ensaios e aos espectáculos da Comuna de Pedra e fiquei profundamente tocada com toda a sua dedicação. No entanto, tive de saber encarar a minha outra identidade – a de uma comentadora solitária que tem de escrever objectivamente sobre um espectáculo. Tenho de assumir a responsabilidade pelos comentários que faço e eu própria também enfrento críticas. Mas para analisar uma obra de arte e impulsionar o desenvolvimento da cena artística, é importante fomentar a discussão através de diferentes pontos de vista. Blogues #5 2015/05 Se os organizadores reconhecerem a importância da crítica de arte, esta pode até tornar-se num elemento promotor das obras. Apesar de a crítica de arte estar também presente em eventos oficiais como o Festival de Artes de Macau ou o Festival Fringe da Cidade de Macau, as actualizações online dos comentários e as promoções são feitas por agências externas. A devoção e a taxa de actualização das entidades oficiais não são satisfatórias. Neste aspecto, o Festival Fringe de Taipé pode ser uma boa referência. Participei neste evento como comentadora externa em 2012 e 2013. Foi criada uma secção de crítica no website do festival e os comentadores tinham de submeter as avaliações e as pontuações nas 24 horas após o espectáculo. Depois, a organização publicava estes comentários online. Mesmo quando recebiam as avaliações às nove da noite, os funcionários do festival tinham sempre uma resposta amigável. Assim, um dia depois do espectáculo os interessados já podiam ficar a conhecer as pontuações e os comentários atribuídos aos autores e às actuações. Dos eventos de crítica de arte que são organizados, pode observarse uma intensa participação de jovens comentadores, mas isso não quer dizer que a qualidade e a quantidade das suas avaliações estejam garantidas, uma vez que estes jovens estão ocupados com a sua própria profissão. Pessoalmente, entendo a importância da crítica, mas por vezes a minha participação é afectada por criações ou projectos que desenvolvo paralelamente. Além disso, os comentadores trabalham muitas vezes como organizadores ou autores de eventos, o que faz com que seja difícil manter a independência. Esta é a situação enfrentada pelos organizadores, caso queiram que os seus programas continuem: por um lado, precisam que os comentadores acumulem experiência e, por outro, precisam de sangue novo na indústria. O círculo artístico também tem dar resposta e coordenar. É necessário dar mais atenção a este tipo de relação interactiva. As bases da indústria cinematográfica de Macau A história do desenvolvimento da indústria cinematográfica de Macau pode dividir-se em três partes. Em primeiro lugar está a produção, que se pode dividir em filmes comerciais e não-comerciais. Ainda que seja difícil encontrar produções de Macau que encaixem na definição tradicional de “comercial”, podemos tentar. “Comercial” serve aqui para descrever filmes que vão ao encontro dos gostos do grande público, que duram cerca de uma hora e meia e são exibidos em salas de cinema. Os filmes “não-comerciais” são mais individualistas, tais como os chamados microfilmes. Em segundo lugar temos a promoção, que se refere ao acto de trazer filmes estrangeiros a Macau ou promover os filmes locais no exterior. Dar a conhecer filmes estrangeiros independentes, que não sejam convencionais nem comerciais, ajuda certamente na formação do público de Macau, permitindo que haja acesso a uma maior selecção de filmes bem diferente do que costuma chegar ao grande ecrã. Esta pode ser outra forma de ajudar a desenvolver a indústria de cinema da cidade. Mas os filmes de Macau também devem olhar para fora de Macau, para que pessoas de outras regiões do mundo possam ficar a conhecer a cultura local. Por agora, os filmes de Macau não são exibidos comercialmente em outros países, mas deveriam estar pelo menos disponíveis para ajudar ao desenvolvimento do intercâmbio cultural entre Macau e outras regiões. O terceiro elemento é a educação cinematográfica – tanto no sentido profissional como liberal. O sentido profissional materializa-se com a educação universitária, incluindo a formação em áreas como a realização, representação, educação técnica, bem como guionismo, distribuição, promoção, organização de festivais de cinema, teoria do cinema e assim por diante. São todas áreas importantes. Neste momento, nenhuma destas competências pode existir como indústria autónoma em Macau. Uma pessoa não consegue viver apenas da escrita guiões. Mas é importante que os estudantes do ensino superior possam estar expostos a todos estes aspectos da indústria. A educação liberal de cinema refere-se, por exemplo, à promoção the City recebeu uma menção especial no festival português de cinema Avanca e foi mostrado nos festivais de Tóquio e Osaka. do filme nas escolas primárias e secundárias. Ao utilizar o cinema como meio de comunicação, os professores podem alargar os horizontes dos alunos, despertar o seu interesse por diversas questões internacionais e promover o pensamento crítico. Através do cinema, os estudantes podem aprender mais sobre a humanidade e experimentar diferentes formas de interacção, ajudando-os na construção dos seus próprios valores e de uma visão do mundo. Macau ainda não tem uma indústria cinematográfica de relevo, mas já deu o primeiro passo. Para começar, precisamos de criar um ambiente saudável ao cinema para que a indústria floresça. Para alcançar este objectivo, é necessário que três tipos de pessoas trabalhem em conjunto: os produtores, os investigadores de cinema e o público. Apenas quando estes três grupos estiverem completamente unidos poderá a indústria avançar no caminho certo. Por exemplo, se depois de produzido um filme nem a crítica nem o público demonstrarem qualquer interesse, então é impossível tirar proveito dos valores culturais dessa obra. Isto não é saudável para o desenvolvimento pleno da indústria cinematográfica. Entenda-se por “saudável” uma produção de cinema local que entretém do ponto de vista comercial, mas que também contém valores culturais e históricos que podem inspirar o público e fomentar a reflexão. Quando produtores, críticos e espectadores estiverem juntos neste processo, então será possível construir bases para o desenvolvimento de uma indústria saudável em Macau, que seja diversa, inovadora e essencial. Na última década, o governo tem vindo a apostar cada vez mais no financiamento da indústria cinematográfica. O público local também está a prestar mais atenção às produções de Macau e os realizadores continuam a evoluir qualitativa e quantitativamente. Mas Macau ainda não tem talentos na área dos estudos de cinema, o que, quando acontecer, poderá ajudar a aprofundar o sentido e o valor das produções locais. Até agora, não houve quem conseguisse abrir a porta ao desenvolvimento dos estudos nesta área em Macau. Uma cultura generalizada de crítica de cinema será uma referência para futuros cineastas e poderá ajudar à sua criatividade. Os novos cineastas podem tirar partido dos trabalhos dos seus antecessores para seguirem em frente e não repetirem os mesmos erros. 31 32 Blogues #5 2015/05 #5 2015/05 Joe Lei Ling Lui Compositor e letrista em Hong Kong e Macau. Jornalista de Actualidade Escreveu mais de 300 Informativa em Hong Kong, canções. É Capricórnio e interessada em viagens e gosta de chamar as coisas com um fraco por palavras. pelos nomes. Inspiração criativa e aprendizagem Muitas pessoas perguntam: a composição musical é algo que se pode ensinar? Sim, certamente. Comecei a dar aulas de composição de música pop há dez anos na Star House em Tsim Sha Tsui; depois dei aulas de composição e escrita lírica na Baron School of Music. Apesar de a carreira de ensino em Hong Kong ser bem remunerada, deixa pouco tempo para fazer outras coisas no final de cada dia longo e passado a viajar de um lado para o outro. Desde que comecei a ensinar composição musical em Macau este ano, o trajecto que faço diariamente para o trabalho é muito mais calmo. Aqueles que se querem inscrever neste tipo de cursos (por exemplo, composição musical) devem cumprir os seguintes requisitos: 1. Uma boa base em teoria musical – o equivalente ao Nível 5 do ABRSM; 2. Tocar pelo menos um instrumento musical, preferencialmente o piano; 3. Não ser tímido no trabalho de composição. A maioria dos estudantes gosta de compor recorrendo a instrumentos musicais, mas eu penso que a voz é o melhor instrumento. No entanto, muitos alunos têm alguma resistência em utilizar o método bocca chiusa quando compõem. Os asiáticos são introvertidos por natureza; 4. Ter uma mente aberta para ouvir vários géneros musicais, caso contrário as composições em que trabalham abrangerão uma variedade de estilos muito reduzida; 5. Estar disposto a ser criativo. É verdade que alguns estudantes gostam de tirar notas e têm alguma relutância em meter mãos ao trabalho quando chega o momento de criar – provavelmente um resultado desastroso da educação condescendente em Hong Kong e Macau; 6. Ter computador com um software de música instalado. Se os estudantes tiverem estas seis faculdades descritas acima, provavelmente conseguirão entrar no curso. Alguns poderão ainda questionar-se se a criatividade é algo que pode ser ensinado. A questão é levantada na medida em que nos deparamos frequentemente com romances ou filmes sobre génios, que nos levam a acreditar que todos os artistas são “os escolhidos”. Se viu o filme de Stephen Chow, Flirting Scholar, provavelmente terá pensado que os académicos talentosos encontram as palavras certas para os seus poemas sem fazer qualquer esforço. E se vir Amadeus, provavelmente acreditará que só um génio conseguiria criar sem grande esforço uma obra-prima que perdurasse ao longo dos tempos - como se esse génio tivesse apenas de ter nascido, sem nunca ter sido ensinado. De facto, este é um grande equívoco no que diz respeito à criatividade. Claro que existem artistas que assinam grandes obras sem nunca terem tido formação profissional, mas são uma minoria. A verdade é que aqueles que têm formação e experiência estão em vantagem em relação aos que não têm. Com uma base mais sólida, a carreira criativa de um artista será mais longa e estável. O ponto fundamental é que ninguém pode contar apenas com a inspiração para se manter criativo ao longo da carreira. De facto, trabalhar nas indústrias criativas requer competências especializadas, profundidade dos conhecimentos e muito empenho, tal como acontece noutras indústrias. Não ponhamos a indústria criativa num pedestal: não existe nenhum deus que ande por aí a atingir-nos com uma seta da inspiração e a estimular as nossas mentes; como também não existe um artista que consiga criar uma obra de arte única do nada, sem ter sido ensinado. Na maioria das vezes, estudamos, analisamos e refazemos trabalhos antigos, melhorando-os ou reorganizando-os. Isto acontece principalmente no início de uma carreira criativa. Os primeiros trabalhos de Mozart foram muito influenciados por Haydn, e os de Beethoven por Mozart. Bons trabalhos resultam muitas vezes de tentativas e erros cometidos através da imitação e da prática. Conheço vários artistas que são famosos pelas viagens que fazem ao estrangeiro à procura de inspiração. No entanto, não parece que os resultados criativos tenham melhorado muito com estas viagens. Deixo aqui algumas humildes observações: em vez de procurarem inspiração no estrangeiro, estudem seriamente ao piano ou à secretaria e procurem desconstruir as obras-primas, ou inscrevamse num curso criativo. São formas eficazes que podem ajudar a desenvolver a criatividade de cada um. Mas, claro, estes métodos podem não ser tão fixe como encontrar inspiração numa viagem ao estrangeiro. Blogues Raising the Bar Não há muito tempo, numa terça-feira, o Club 71 em Central estava a abarrotar e todas as atenções estavam viradas para um académico: Lokman Tsui, professor assistente da Escola de Jornalismo e Comunicação da Universidade Chinesa de Hong Kong falava sobre o fim da internet. Abordava temas como o conceito do terceiro espaço dos salões parisienses, bem como a monitorização e espionagem na internet. O público, de cerveja na mão, fazia ocasionalmente perguntas, participando na discussão. Ao mesmo tempo, Chan Sze Chi, professor universitário do departamento de Religião e Filosofia da Universidade Baptista de Hong Kong, bebia um copo no Room Bar, em Sheung Wan, e conversava sobre o encontro entre Oriente e Ocidente, um tema que estuda há vários anos. Naquela mesma noite, dez académicos marcaram presença em vários bares de Hong Kong, dando uma palestra enquanto bebiam um copo. O evento, baptizado de Raising the Bar, nasceu pelas mãos de uma série de intelectuais de Nova Iorque. Durante muito tempo as universidades foram consideradas torres de marfim. Alguns acreditam que o conhecimento divide a sociedade em diferentes classes e aumenta as disparidades económicas. Mas a verdade é que alguns académicos têm tentado levar o conhecimento até às comunidades. A Universidade de Columbia e a Universidade de Nova Iorque começaram a oferecer palestras gratuitas ao público, mas não foi fácil trazer as pessoas a estas instituições, devido a um complexo de inferioridade ou a um sentimento de não-identificação com a arquitectura destes espaços. E assim as torres de marfim mantêm-se – o público continua a sentir-se excluído. Foi com base nesta situação que um grupo de economistas, escritores, banqueiros, actores e médicos criou o Raising the Bar. Estas pessoas recorreram a bares de bairro como escolas para partilhar ideias com o público em geral, tornando a educação numa parte integrante da cultura popular da cidade e transformando tópicos académicos complexos em discussões animadas. Os temas vão da anatomia ao género musical Fado e a questões relacionadas com a Coreia do Norte, entre outras. Cada sessão dura 40 minutos e os espectadores sentem-se mais à vontade para levantar questões num ambiente descontraído e de interacção. O Raising the Bar é patrocinado pela Universidade de Columbia e a Universidade de Nova Iorque. Os participantes devem inscreverse antecipadamente, embora o evento seja gratuito – cada qual só precisa de pagar a sua cerveja. Em Abril, numa só noite, foram organizados 50 seminários em 50 locais de Nova Iorque, desde as mais sofisticadas adegas até aos bares de bairro. O evento foi patrocinado pela Time Out de Nova Iorque e atraiu cerca de seis mil participantes. Este evento começou em Nova Iorque, expandiu-se a São Francisco, Hong Kong e Sydney, e os organizadores já estão a considerar outras cidades, como Boston e Londres. Há também planos para a criação de “escolas flash” em estações de comboio e a transformação de bares em espaços para workshops, permitindo que estes estabelecimentos concorram a fundos de investigação. Nos últimos anos, as sociedades ocidentais estão cada vez mais receptivas à organização de intercâmbios académicos em locais como bares ou cafés. Por exemplo, o The Troubadour de Londres é um conhecido espaço para discussões sobre poesia, com sessões de escrita, leitura e de discussão de temas relacionados. Numa colaboração com a University College London e o bar Bright Club dá formação artística aos investigadores para que estes possam apresentar em palco de forma animada e bem humorada os resultados das suas pesquisas. Também são organizadas actividades do género no Museu da História Natural, para tentar atrair mais pessoas a prosseguir os estudos no ensino superior. A Associação Britânica para o Avanço da Ciência estabeleceu o SciBar, uma escola de ciências dentro de um bar, que permite o intercâmbio científico enquanto se bebe uma cerveja. Hong Kong também tem organizado eventos semelhantes em bares e clubes nocturnos, embora isso tenha acontecido apenas durante o Festival Literário Internacional da cidade. Durante este período, escritores conhecidos são convidados a partilhar as suas experiências em bares na zona de Central. Mas, por enquanto, não é nada que seja organizado numa base semanal ou mensal, nem que faça parte do dia-a-dia da população de Hong Kong. 33 34 Blogues #5 2015/05 #5 2015/05 Yap Seow Choong Ron Lam Escritor a residir no Japão, especializado em design, Antigo editor da Lonely lifestyle e jornalismo de Planet China. Tem publicado viagem, Ron trabalhou vários livros sobre turismo anteriormente como editor e design, dos quais se Estilo de Xangai Quando há uma década cheguei a Xangai, na cidade não se falava muito sobre design. Na realidade, esta cidade que em tempos foi conhecida como uma das mais cosmopolitas da Ásia, já definia tendências desde os anos 1930. Quando foi construído, o edifício de Huamei era uma construção à frente do seu tempo, e Laszlo Hudec projectou muitas das estruturas memoráveis e modernas da cidade; I.M. Pei foi inspirado a seguir a carreira de arquitecto pelo design dos edifícios de Xangai; e Eileen Chang, não era ela também designer de moda? Chang desenhava muitas das roupas que usava, depois procurava os materiais certos e entregava-os a um costureiro para que fizesse todos aqueles modelos que só ela vestia com estilo e graciosidade. Após mais de meio século num estado quase dormente, Xangai começa agora a despertar e a sacudir a poeira acumulada. E com o passado glorioso que se conhece, a cidade conseguiu rapidamente recuperar a antiga fama de metrópole internacional e em permanente movimento. Os amantes do design estão condenados a viver felizes em Xangai. Quando em Março visitei a cidade, uns amigos sugeriram uma ida ao Museu Long, na zona Ocidental do Bund. O museu está situado numa área privilegiada – o Parque Florestal Binjiang, no distrito de Xuhui. Eu tinha o hábito de correr nesta parte da cidade, porque tem um ambiente fantástico e porque é tão difícil encontrar em espaços sossegados em Xangai. O Museu Long, fundado pelo controverso e milionário casal de coleccionadores Liu Yiqian e Wang Wei, está repleto de peças que os dois acumularam ao longo dos anos, incluindo algumas das mais caras obras de arte contemporânea chinesa. O edifício foi desenhado por uma das empresas actualmente mais reconhecidas no Interior da China, o Atelier Deshaus. Os arquitectos conservaram uma estrutura de 100 metros de comprimento, usada em tempos para o transporte de carvão, e utilizaram bastante cimento à vista na concepção do museu, em homenagem ao património desta área. Próximo do local encontra-se também o Museu Yuz, fundado pelo magnata indonésio destacam Wander Bhutan e Myanmar Odyssey. Budi Tek. A estrutura, iluminada e transparente, tornou-se a casa de várias colecções que adquiriu por todo o mundo. Os entendidos em design saberão de imediato que o projecto do edifício pertence ao arquitecto Sou Fujimoto. Graças à construção do Kerry Centre, o bairro de Jingan – perto da antiga casa de Eileen Chang – tornou-se num local muito frequentado em Xangai. O restaurante Calypso, no Hotel ShangriLa, serve cozinha mediterrânica, mas é a decoração que o torna num espaço ímpar. Os interiores em madeira remetem-nos para a Ásia ou Sul da China através de uma constante utilização de bambu nos pilares e de outras decorações complexas. As paredes exteriores e o telhado são feitos de vidro e conferem à estrutura maior transparência e leveza. Em dias de sol, abrem-se as janelas e o telhado, e as barreiras que separam o espaço exterior do interior tornam-se quase imperceptíveis. Quando à noite as luzes se acendem, a estrutura assemelha-se a uma caixa de jóias luminescente. O arquitecto desta obra é Shigeru Ban, vencedor do Prémio Pritzker no ano passado. Além dos arquitectos internacionais, também os profissionais locais começam a entrar em cena na cidade. A população de Xangai, consumista e muito ligada à moda, é uma natural fonte de inspiração para os arquitectos. Pessoalmente, gosto do design da Urban Tribe, que considero simples mas elegante. O responsável desta marca de roupa é um amigo que tenho há muito tempo em Xangai e que percorre o mundo à procura de materiais e de inspiração, criando peças de vestuário com um traço asiático discreto. Outra marca de sucesso é a Zuczug de Wang Yiyang, que conta com lojas em centros comerciais de Xangai e Pequim. As suas criações valorizam o corte e procuram ser minimalistas e assertivas ao mesmo tempo. As peças destes dois designers de Xangai nunca são exageradas e estão extremamente bem concebidas, algo que na China é muito raro nos dias que correm. Blogues das revistas MING Magazine, Fanzines do Japão A Kage era uma livraria a que eu adorava ir quando estudava em Quioto. Não estava particularmente interessado nas secções de música ou de pequenas lembranças, mas algumas das estantes perto da saída tinham montes de revistas japonesas. Era dessas que eu mais gostava. Em Hong Kong, mesmo quando ainda não lia japonês, já adorava revistas japonesas. Eu pensava que sabia muito sobre revistas japonesas mas, quando entrei na Kage ou na Keibunsha, apercebi-me do pouco sabia. Existem vários fanzines independentes no Japão – pequenas publicações com apenas algumas dúzias de páginas A5 agrafadas. São difíceis de encontrar, excepto em livrarias independentes. Um dos fanzines mais conhecidos é o Arne, publicado até 2009 pela artista Ohashi Ayumi. Quando fundou a revista, em 2002, Ohashi já tinha 62 anos. Naquela altura, queria arranjar uma desculpa para conhecer pessoas que idolatrava e decidiu criar uma publicação trimestral. Ohashi Ayumi disse desde o começo que publicaria apenas 30 números da revista, porque havia muita coisa que ainda queria fazer e era necessário estabelecer um prazo limite para que o fanzine lhe deixasse tempo para outros desafios. Ohashi encarregou-se desde o início da fotografia e do design do Arne. Com formação em design gráfico, a artista sentia-se pouco à vontade com a fotografia, mas no número inaugural entrevistou o designer industrial Sori Yanagi e levou uma câmara compacta amadora. Na realidade, as fotografias permitiram criar uma sensação especial de proximidade entre o leitor e Ohashi. O fanzine também abordava de forma realista temas como a alimentação diária e o vestuário. Ohashi não falava dos restaurantes novos ou daqueles que estavam na moda, não utilizava uma única vez a palavra “fashion” ELLE Decoration e CREAM. e só fazia referência a roupas de que gostava. Mais do que focar-se no estilo, o fanzine realçava os materiais utilizados e a sensação de vestir uma determinada peça de roupa. Mesmo se fosse uma peça da marca COMME des GARÇONS, este não seria necessariamente um detalhe destacado pela autora. Mais tarde, Ohashi publicou a Adult Style, uma revista direccionada para leitores com mais de 50 anos, e lançou também uma linha de vestuário. Estes dois projectos surgiram na sequência da publicação do fanzine. Um outro fanzine de que gosto é o Salvia - uma publicação de 32 páginas sobre artesanato. A fundadora e editora Yurio Seki trabalhava inicialmente em publicidade mas, por ser um sector de grande stress e desgaste físico, demitiu-se e decidiu tirar algum tempo para tentar perceber o que gostaria de fazer. Durante este período de descanso, Yurio desenhou imenso e começou a interessar-se por artesanato. Criou a sua própria linha de artesanato, utilizando os desenhos que fazia como imagem de marca. Em 2001, fundou a marca Salvia, colaborando com diferentes criadores de artesanato japoneses na produção de uma série de utensílios domésticos e peças de vestuário. Ao longo deste processo, Yurio aprendeu muito sobre artesanato. A possibilidade de converter materiais comuns em produtos bonitos tocou-a profundamente. Foi então que, em 2006, Yurio Seki decidiu criar um fanzine com o mesmo nome - Salvia –, quer serviu para registar as suas emoções durante o processo de criação do artesanato. Ouve-se muito falar na forma como a internet destruiu as publicações tradicionais. Mas por vezes é difícil sentir verdadeiramente alguma coisa se não pudermos tocar no papel. As revistas não vão morrer, muito menos estas criações carregadas de afecto e originais que são fruto da paixão dos seus criadores. Esses projectos encontrarão uma forma de sobreviver. 35 36 Blogues #5 2015/05 #5 2015/05 Blogues Wilson Lam Fundador da Macau Creations, Wilson Lam tem mais de 30 anos de experiência em publicidade e design gráfico. Mantémse fiel ao conceito “criar O Alibaba das indústrias culturais e criativas clássicos a partir do comum”. A função do WeChat “abanar por um envelope vermelho” foi o centro das atenções da gala do Ano Novo Chinês 2015 da CCTV. Isto exerceu uma enorme pressão sobre o Banco Central da China, já que a superioridade do Alipay (sistema de pagamentos online) está fortemente ameaçada e a precisar de encontrar respostas aos desafios de um mercado altamente interactivo e competitivo. Se não conseguirem melhorar a competitividade, o Taobao ou mesmo o Alibaba poderão ficar para trás. A internet virou as indústrias tradicionais do avesso e, por isso, é importante que as empresas culturais e criativas consigam enfrentar este impacto. uma posição sólida. Macau tem um governo abastado, mas o sector privado ainda é muito frágil. Teoricamente, os recursos de Macau deveriam estar reservados para a população local, mas é lógico que uma pessoa olhe para além disso quando faz negócios. Graças à liberalização da indústria do jogo em Macau, temos hoje tudo o que é necessário para criar um centro de turismo e lazer de nível mundial. Esta é uma prova sólida da importância da concorrência saudável. O mercado é uma arena – não podemos actuar de acordo com as nossas emoções nem devemos ficar sentados à espera que algo aconteça. Criar o Alibaba das indústrias culturais e criativas de Macau Precisamos de uma plataforma cultural e criativa moderna, na qual o governo assumiria a liderança na criação de um novo website comercial sobre a indústria. Poderia tornar-se no Alibaba de Macau e ajudar a superar obstáculos técnicos como os pagamentos internacionais, serviços bancários electrónicos, licenciamentos de compras digitais, custos de transporte e impostos. O governo poderia promover esta plataforma no estrangeiro e absorver especialistas em eventos culturais, colecções de arte, design criativo e filmes de animação. Estes talentos seriam os embaixadores das indústrias criativas de Macau. O marketing pode ajudar ou destruir negócios Há falta de talentos e de recursos para trabalhar na área das indústrias culturais e criativas em Macau. As pessoas que têm potencial estão sozinhas nesta luta. Sem capital ou marketing suficientes, as boas ideias não conseguem chegar ao mercado e algumas delas fracassam mesmo antes da fase de industrialização. O governo deve assumir a liderança Se cabe ao governo desenvolver os negócios criativos, então as suas acções devem demonstrar apoio e respeito. O processo de abertura de concursos públicos de design tem de ser reestruturado. Como responsável por uma empresa de design, oponho-me categoricamente à submissão de projectos a custo zero para a entrada num concurso. A sobrevivência e a reputação dos designers dependem destes esboços de projectos, mas os processos administrativos estão a destruí-los. Por último, penso que o governo tem de desenvolver a educação da cultura popular, procurar talentos e empresas com potencial, e dar-lhes apoio. Apenas uma cultura e produtos criativos extraordinários poderão ser comercializáveis e abrir novos mercados. A evolução da indústria não pode depender apenas da entrada de capital, porque não é o dinheiro que vai fazer com que ideias retrógradas ganhem nova vida. Neste sentido, o governo enfrenta um grande desafio, porque os resultados de cada projecto que tem financiado são questionáveis. O sucesso das campanhas criativas depende, na maioria das vezes, da forma como é feito o marketing – e esse é um trabalho que deve ser levado a cabo pelos operadores e não pelo governo. O governo deve financiar projectos de longo prazo, o que trará um impacto positivo à indústria. Quanto mais é que o governo vai ter de pagar para industrializar o sector criativo e cultural? Esta queixa é recorrente em Macau. O governo não deve intervir no mercado e, por isso, cabe ao mercado e à indústria aperfeiçoar o plano. Acredito que o ideal é promover um objectivo comum através de diferentes projectos de desenvolvimento. O mercado é cruel. Só os melhores produtos podem conquistar Para participar num concurso público, o governo requer normalmente o envio de três esboços de projectos de design, o que significa que um projecto tem apenas um terço de hipóteses de vencer o concurso e que os restantes não serão aproveitados. Na maioria das vezes, os projectos de qualidade não são seleccionados porque precisam de orçamentos mais elevados. Isto é ridículo. Esperamos que o governo possa definir com clareza um tecto orçamental para cada concurso e reembolsar os candidatos pelos custos básicos de criação, de modo a que os participantes possam decidir se devem ou não investir tempo no projecto. Isto pode também levar à restruturação dos critérios de avaliação, dando maior destaque à criatividade. Muitas empresas seguem o mecanismo do governo que, por dar ênfase ao orçamento, origina uma competição feroz ao nível dos preços e subestima a componente criativa. 37 38 #5 2015/05