INTERNATIONAL HORTICULTURAL CONGRESS
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INTERNATIONAL HORTICULTURAL CONGRESS
revista da Fruticultura Viticultura Olivicultura Horticultura Herbácea Horticultura Ornamental ISSN - 1646 - 1290 - Publicação Trimestral Preço de venda: 5€ n.º101 Abril - Maio - Junho 2010 associação portuguesa de Horticultura International Horticultural Congress - Lisboa 2010 A pêra passa de Viseu: produto regional a certificar Anomalias florais EM oliveira Santulhana e Conserva de Elvas Fungos na segurança alimentar A cultura do ananás dos Açores Homenagem e títulos honoríficos da APH Relatórios e Plano de Actividades da APH 3 5 7 8 Editorial O IHC Lisboa 2010 está quase a chegar! Maria Elvira Ferreira Notícias International Horticultural Congress, Lisboa 2010 11ª Visita Vitivinícola da APH: Bucelas, Carcavelos e Colares Ainda... em Notícia II Simpósio Nacional de Fruticultura Raúl Rodrigues 11 Concurso FrutArt Maria Paula Simões 12 Comemoração do 100.º Número da Revista da APH Isabel Mourão 14 I Jornadas Técnicas da Batata Maria Elvira Ferreira & Maria da Graça Palha 15 Simpósio Vitivinícola do Alentejo Teresa Mota 16 17 II Gala Viva Frutas & Legumes Maria Elvira Ferreira & Maria da Graça Palha Homenagem Weber de Oliveira - Horticólogo de Honra (1979) e Vice-presidente para a Horticultura da APH (1979/81, 1981/83 e 1983/85) Carlos M. Portas, Manuel R. Figueiredo & Martin Stilwell 20 Títulos Honoríficos 22 Rui Maia de Sousa “Técnico Hortícola de Honra” Maria de Graça Barreiro 24 Vitor Manuel Bandeira Araújo “Horticultor de Honra” Raúl Rodrigues 26 Artigos Técnicos 31 Fertilização e protecção fitossanitária no controlo de anomalias florais nas cultivares de oliveira Santulhana e Conserva de Elvas M. Encarnação Marcelo, Clara Medeira, Isabel Maia, M. Teresa Carvalho & João Lopes João Manuel Reis de Matos Silva “Horticólogo de Honra” António Mexia A pêra passa de Viseu: produto regional a certificar Raquel Guiné 34 Fungos na segurança alimentar Maria Cristina Lopes & Victor C. Martins 38 A cultura do ananás dos Açores / S. Miguel Ricardo Filipe Santos 41 Doutoramento 43 46 47 49 50 51 52 54 55 Necessidades hídricas e resposta da oliveira (Olea europaea L.) ao deficit hídrico na região da terra quente Anabela Afonso Fernandes Silva Entrevista Cooperativa Agrícola do Távora - Prof. João António Pereira da Silva Rosa Guilherme & Maria da Graça Barreiro Actividade Interna Assembleia Geral Relatório de Actividades 2009 Relatório e Contas da APH. Exercício de 2009 Parecer do Conselho Fiscal. Exercício de 2009 Orçamento 2010 Plano de Actividades 2010 Duas novas edições da APH Novos sócios Sócios Patrono Calendário de Eventos Nota: O conteúdo dos artigos publicados é da inteira responsabilidade dos seus autores Autor da capa: Ricardo Filipe Santos Revista da APH (Associação Portuguesa de Horticultura) Propriedade e edição: Associação Portuguesa de Horticultura Rua da Junqueira, 299 1300-338 Lisboa Tel. 213623094 e-mail: [email protected] www.aphorticultura.pt Director: Maria Elvira Ferreira ([email protected]) Editor: Isabel Mourão ([email protected]) Co-Editor: Maria da Graça Barreiro Redacção: Alberto Vargues, Gonçalo Santos Andrade, Isabel Mourão, Maria Elvira Ferreira, Mário Reis, Teresa Mota. 2 Design Editorial: Miguel Frazão ([email protected], www.fanq.eu ) Impressão: Europress Publicação Trimestral N.º 101 (Abril, Maio, Junho) Tiragem: 2000 exemplares Preço: 5€ - Isenta do Registo na ERC nos termos da alínea a) do n.º1 do Artigo 12.º do Decreto Regulamentar n.º 8/99, de 9 de Junho ISSN: 1646-1290 Dep. legal: 1566/92 Editorial O IHC Lisboa 2010 está quase a chegar! Os Congressos Internacionais de Horticultura (IHC) realizam-se de quatro em quatro anos sob a égide da International Society for Horticultural Science (ISHS). Os países candidatos à organização deste evento apresentam propostas que são votadas em reuniões do Conselho da Sociedade, realizadas nos anos dos Congressos. Quando há 12 anos, em Bruxelas, nas reuniões que antecederam o 25th International Horticultural Congress, a candidatura de Sevilha 2006, em parceria da APH com a nossa congénere espanhola Sociedad Española de Ciencias Hortícolas (SECH), foi preterida pela de Seoul 2006 (27th International Horticultural Congress), persistiu a vontade de trazer para a Península Ibérica um evento desta índole. A APH e a SECH continuaram a trabalhar em conjunto e daí resultou um projecto para Lisboa 2010. Foi precisamente em 2002, em Toronto, que a candidatura ibérica saiu vencedora. São muitas as pessoas que desde esse dia ficaram envolvidas em tão árduo trabalho, que se acentua à medida que se aproxima o evento, mas que felizmente está já a ser compensado pelo elevado número de inscrições já efectuadas (perto de 3100) e das mais de 3500 comunicações, orais e em painel, que se esperam. No mês de Agosto, toda a comunidade científica ligada à Horticultura es- tará centrada em Lisboa e esperamos que este Congresso não seja mais um, mas antes ‘O Congresso de Lisboa’, de que todos nos possamos orgulhar, perpetuando-o na nossa memória. Vejamos um pouco como surgiram estes congressos, cuja primeira edição decorreu em 1864 em Bruxelas (Bélgica), fruto da necessidade, sentida por investigadores ligados à horticultura, de haver fóruns para troca de conhecimentos, de forma a globalizar os esforços nacionais e/ou locais. Em 1923, foi fundada a Comissão Internacional dos Congressos de Horticultura (International Commission for Horticultural Congresses), mas só em 1959 foi formalmente constituída a ISHS. Até 1958, os congressos ocorreram espaçadamente, sem uma periodicidade fixa, mas a partir dessa data começaram a realizar-se de quatro em quatro anos, intervalo que ainda hoje se mantém. Se até 1962, inclusive, o Congresso realizou-se na Europa, com excepção de 1893 que decorreu nos EUA, a partir daí tem havido um esforço para que o congresso percorra os cinco Continentes. Assim, já se organizou uma edição na Oceânia (1978), três no Continente Asiático (1970, 1994 e 2006), quatro no Continente Americano (1893, 1966, 1986 e 2002) e as restantes no Continente Europeu. A Bélgica e a França são os países europeus com maior número de congressos realizados (6), seguindo-se a Holanda (3), a Itália, o Reino Unido e a Alemanha (2) e a Áustria e a Polónia (1). Paris foi a cidade europeia anfitriã do maior número de congressos (5), seguida de Bruxelas (4), Amesterdão e Londres (2). Desde o número 96 da Revista da APH que temos vindo a incluir notícias sobre o Congresso de Lisboa, e este número não é excepção, dando informação sobre os oito Colóquios que, nesse âmbito, se vão realizar. A página da Internet do congresso está em permanente actualização, pelo que a sua consulta é aconselhada (http://www.ihc2010.org). Se o IHC Lisboa 2010 concentrará as atenções da APH no 2.º semestre do ano, reduzindo desta forma o número de eventos a decorrer, o mesmo não se passou no 1.º semestre o que é bem patente nesta Revista. Comecemos então pelo 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura, que decorreu em Castelo Branco, em Fevereiro último, e que contou com a presença de cerca de 200 participantes. De salientar o esforço da Comissão Organizadora que conseguiu distribuir a Acta n.º 16 da série ‘Actas Portuguesas de Horticultura’, no primeiro dia do Simpósio. É claro que isto só foi possível com a entrega atempada das comunicações por parte dos autores, bem como da Comissão Científica que fez a respecRevista da APH N.º 101 3 tiva revisão. Foram dois dias de interessantes comunicações e animados debates em que a APH atribuiu três Títulos Honoríficos: Horticólogo de Honra a João Matos Silva; Técnico Hortícola de Honra a Rui Maia de Sousa e Horticultor de Honra a Vitor Araújo. Paralelamente ao Simpósio, decorreu a FrutArt, iniciativa de louvar pelos objectivos e pelo sucesso que alcançou entre o elevado número de jovens participantes, estudantes de escolas do ensino secundário da região. A Sessão Comemorativa do 100.º Número da Revista da APH foi outro ponto alto deste semestre, não só pelo que ela representou para a vida da APH, mas também pela adesão de sócios e convidados. Foi uma agradável tarde de troca de impressões e de convívio entre associados e convidados. No decorrer das ‘I Jornadas Técnicas da Batata’ e no ‘8.º Simpósio de Vitivinicultura do Alentejo’ tivemos possibilidade de divulgar as actividades da APH e também o IHC Lisboa 2010. Estes contactos são importantes para fortalecer as ligações com os associados e com o sector, permitindo ainda angariar novos sócios. Quisemos também neste número da Revista recordar, numa singela homenagem, o Eng.º Weber de Oliveira, pelo muito que representou como profissional no sector hortícola e na sua relação com a APH. Os quatro artigos técnicos apresentados são diversificados e o primeiro remete-nos para a Pêra Passa de Viseu, um produto típico da região de Viseu que interessa certificar para a sua valorização e pela mão-de-obra que pode vir a absorver. É, realmente, um produto com umas características especiais, que aconselhamos prová-lo a quem não o conhece. A racionalização da adubação e a correcta/eficiente protecção fitossanitária das oliveiras evita o aparecimento de anomalias nos órgãos florais e, consequentemente, a quebra de produção desta secular cultura. No segundo trabalho aqui publicado podem ver-se imagens de anomalias florais observadas à lupa e ao microscópio. Aliás, o relato da tese de Doutoramento que se apresenta também é referente à oliveira, o que comprova a importância da cultura no país. O alerta sobre os alimentos que comemos é-nos feito pelo artigo ‘Fungos na segurança alimentar’. Felizmente que os consumidores já estão mais conscientes e conhecedores dos perigos que alguns alimentos podem tra4 Revista da APH N.º 101 zer. Muitas vezes eles são devidos a deficientes condições de conservação dos alimentos. O quarto artigo apresenta-nos um fruto que é rei, ou pelos menos, que tem coroa e que é de facto a ‘jóia da coroa’ da Ilha de S. Miguel/Açores. Não incentivamos a sua prova, porque estamos em crer que não há português que se preze que ainda não o tenha feito, mas sim o seu consumo. Com certeza que a partir de agora o apreciarão melhor, pois todo o trabalho que a sua produção acarreta é deveras merecedor do nosso respeito e consideração. Não poderíamos terminar este editorial sem dar os nossos parabéns à Cooperativa Agrícola do Távora, pela sua actividade e pela dinâmica que introduz na região em que está implantada há já 55 anos. É importante divulgar os bons exemplos nacionais, porque apesar dos tempos difíceis e da grande incerteza que atravessamos, ainda há quem enfrente as dificuldades com determinação. É curioso referir que na data em que estamos a escrever este pequeno texto, a Cooperativa esteja a ser visitada pelo Sr. Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas. Neste primeiro trimestre do ano realizou-se também a Assembleia Geral Ordinária em que foram aprovados o Relatório de Actividades e de Contas de 2009, bem como o Plano de Actividades e o Orçamento de 2010 que, desde essa data, estão disponíveis para consulta no site da APH (http:// www.aphorticultura.pt). Resta-nos dizer que vai valer mesmo a pena participar no IHC Lisboa 2010 que está quase a chegar e marcamos encontro para Agosto no stand da APH, esperando ser visitados pelos nossos associados, onde serão recebidos com uma lembrança que estamos a preparar para o efeito. Saudações hortícolas! Maria Elvira Ferreira Notícias 28th International Horticultural Congress Lisboa 2010 O 28th International Horticultural Congress que decorrerá em Lisboa de 22 a 27 de Agosto está a ter uma forte adesão por parte da comunidade hortícola internacional, manifestada quer pelo elevado número de congressistas já inscritos (acima de 2500), quer pelas mais de 2800 comunicações a serem apresentadas oralmente ou na forma de painel. Recordemos que durante o Congresso decorrerão oito Colóquios, 18 Simpósios, 14 Seminários, 32 Workshops e 18 Sessões Temáticas. Destacamos agora os 8 Colóquios que de 23 a 26 de Agosto, entre as 9h00 e as 10h30, preencherão o programa do Congresso. COLÓQUIOS, TEMAS & CONVENERS C01 – Desafios e oportunidades para a horticultura numa economia global dinâmica C02 – Nanotecnologia: aplicações em horticultura Vão-se abrindo numerosas oportunidades ao desenvolvimento de novas e inovadoras culturas hortícolas, produtos e serviços, paralelamente ao aumento da aplicação de conhecimentos locais, que chamarão a atenção dos consumidores, conduzindo ao aumento do bem-estar das comunidades. A nanotecnologia é uma área emergente que trabalha sobre corpos com cerca de 1 a 100 nm, nos quais surgem novos fenómenos interfaciais que conduzem a novas propriedades e funcionalidades. Esta tecnologia pode revolucionar os sistemas de produção de plantas e alimentos em todas as áreas de saber envolvidas. O limite ao desenvolvimento nesta área de tão rápida expansão, depende da nossa imaginação As ciências hortícolas devem envolver-se nesta revolução, acompanhando o desenvolvimento desta tecnologia que, juntamente com a informação e a biotecnologia, tem o poder de revolucionar a ciência e a horticultura no século 21. Ian Warrington Errol Hewett Massey University, New Zealand i.warrington@ massey.ac.nz Institute of Food, Nutrition and Human Health, Massey University, New Zealand [email protected] Pietro Tonutti Sant’Anna School of Advanced Studies, Italy. [email protected] C03 – Plantas, pessoas e lugares C04 – Sequenciação da próxima geração na investigação hortícola Este colóquio aborda o efeito das plantas e do seu cultivo na saúde física e psicológica, e no bem-estar do Homem, incluindo a alimentação e a saúde, o local de trabalho, a casa e os locais de lazer. Coloca-se uma ênfase especial na melhoria do impacte da depressão global. A tecnologia de sequenciação em larga escala permite a análise genética com uma profundidade nunca antes atingida, expandido o conhecimento das sequencias de DNA a todas as culturas. Este colóquio irá incidir sobre o uso de NGS na sequenciação de genomas completos, descoberta e mapeamento por SNP e resequenciação em várias culturas hortícolas, incluindo as implicações dos resultados obtidos na produção de novas ferramentas para o melhoramento de plantas. Quatro peritos internacionais irão abordar a importância da horticultura no mundo desenvolvido e, em particular, a importância das árvores em casa e nos locais de trabalho e de lazer, para a saúde mental e psicológica no mundo desenvolvido e em desenvolvimento, e a sua interacção com o ambiente urbano e rural como agentes de mitigação das alterações climáticas globais. Geoff Dixon Pere Arús University of Reading & GreenGene International, England [email protected] IRTA, Centre de Recerca en Agrigenòmica CSIC-IRTAUAB, Spain [email protected] [email protected] Revista da APH N.º 101 5 COLÓQUIOS, TEMAS & CONVENERS C05 - Educando a nova geração de profissionais de horticultura C06 – Inovação tecnológica em horticultura O conhecimento, a experiência e as ferramentas fornecidas nos programas educativos para profissionais de horticultura deveriam reflectir as mudanças em curso na ciência, no mundo comercial, aspectos sociais, globalização, clima e comunicação que serão requeridas de futuro para obter sucesso. As comunicações fornecerão informação sobre segurança alimentar, o desenvolvimento de programas governamentais para atingir as necessidades da educação no futuro, que reflictam as alterações no conhecimento actual e as futuras oportunidades profissionais. Produtores e industriais de produtos hortícolas devem aproveitar a inovação tecnológica e integrar o conhecimento de genética, fisiologia e sistemas de engenharia para aumentar a sua eficiência, sustentabilidade e rendimento económico. Aqueles agentes enfrentam enormes desafios, incluindo a competição num mercado global, aumento dos factores de produção e mão-de-obra, medidas de redução do impacte ambiental e alterações climáticas. Serão discutidos os desafios colocados e as oportunidades para desenvolver, validar e implementar tecnologias apropriadas. Fredrick A. Bliss Jim McFerson University of California, Davis, USA Washington Tree Fruit Research Commission, USA [email protected] [email protected] C07 – Encontro da Ibéria com a América e a Ásia: a troca de plantas hortícolas C08 – COPING WITH REDUCING PESTICIDES Celebração da troca de germoplasma promovida por Portugueses e Espanhóis no Mundo. A horticultura deve reduzir a sua dependência dos produtos químicos para o controlo de doenças, pragas e infestantes. Este colóquio aborda as formas de atingir este desiderato integrando aproximações inovadoras baseadas em engenharia, IT, genómica e sistemas biológicos. Jules Janick Ian Crute Department of Horticulture and Landscape Architecture, Purdue University, USA Agriculture and Horticulture Development Board, United Kingdom [email protected] [email protected] Para obter mais informações sobre estes Colóquios, bem como os respectivos oradores, consultar a página do Congresso na Internet, em: www.ihc2010.org na ligação: Programme. 6 Revista da APH N.º 101 A Comissão Organizadora Notícias 11.ª Visita Vitivinícola da APH: Regiões de Bucelas, Carcavelos e Colares Este ano, convidamos todos os sócios da APH e acompanhantes a conhecerem três pequenas regiões vitícolas, mas só pequenas em área, pois são das mais emblemáticas e antigas regiões vitícolas portuguesas, com muita história e tradição: “Bucelas“, “Carcavelos” e “Colares”. Todas nas imediações de Lisboa, sofrem fortes pressões urbanísticas que fazem perigar a subsistência e expansão das áreas vitícolas, mas a singularidade cultural e a diversidade de vinhos nelas produzidos espicaçam a nossa curiosidade! A região de Bucelas situa-se a 25 km a norte de Lisboa, uma zona ainda marcadamente rural, que produz um excelente vinho branco. A cultura da vinha faz-se de forma invulgar, distribuindo-se pelas várzeas do rio Trancão e da ribeira da Bemposta. Julga-se que a cultura da vinha foi introduzida na região pelos romanos. No entanto, o vinho de Bucelas ficou conhecido internacionalmente graças às Invasões Francesas, uma vez que o Duque de Wellington, que comandou forças militares luso-britânicas, em defesa do exército napoleónico (em princípios do século XIX), era grande apreciador deste vinho, e levou-o de presente ao então príncipe regente, mais tarde Rei Jorge III de Inglaterra. Depois da Guerra Peninsular, este vinho tornou-se um hábito na corte Inglesa. A região demarcada de Bucelas foi criada por lei em 1911. A área geográfica correspondente à Denominação de Origem “Bucelas” abrange a freguesia de Bucelas e parte das freguesias de Fanhões (lugares de Fanhões, Ribas de Cima, Ribas de Baixo, Barras e Cocho) e de Santo Antão do Tojal (lugares de Pintéus, Meijoeira e Arneiro), do concelho de Loures. O vinho com direito a denominação de origem controlada é o branco, com 11,5º, perfumado, seco, aveludado que, quando velho, ganha um tom amarelo-dourado. O Vinho de Carcavelos é um dos vinhos generosos portugueses mais afamados e como a sua produção é muito limitada, tornou-se uma verdadeira raridade. Foi o 1º Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Mello, que iniciou a sua produção na sua quinta de Oeiras. Como o apreciava tanto convenceu o Rei D. José I a oferecê-lo à corte de Pequim, em 1752, tendo assim iniciado o seu percurso além fronteiras. Mereceu ainda, elogios de ilustres portugueses e outros de todo o mundo, como o Duque de Wellington, aquando da sua estadia em Portugal. As tropas inglesas levaram consigo o nome e a fama do Vinho de Carcavelos, tornando-o conhecido num dos maiores mercados internacionais. Desde 18 de Setembro de 1908 que o Vinho de Carcavelos detém qualida- des reconhecidas e confirmadas, por Carta de Lei, na qual foram definidos os princípios gerais da sua produção e comercialização. A área geográfica correspondente à Denominação de Origem “Carcavelos” abrange os concelhos de Cascais (freguesias de Carcavelos, Parede, São Domingos de Rana e parte das freguesias de Alcabideche - lugares de Carrascal de Manique de Baixo e Bicesse e do Estoril - lugares de Livramento e Alapraia), Oeiras (parte da freguesia de Oeiras e São Julião da Barra - lugares de Ribeira da Laje, Cacilhas e Porto Salvo, parte da freguesia de Paço de Arcos - a faixa confinante com a freguesia de Oeiras e São Julião da Barra até à Ribeira de Porto Salvo). O Vinho de Carcavelos é um vinho licoroso, delicado, de cor topázio, aveludado, com um certo aroma amendoado, adquirindo um perfume acentuado e característico com o envelhecimento. A cultura da vinha é também muito antiga na região de Colares, datando de 1255. Colares foi ganhando fama com os seus vinhos, que foi reforçada quando da violenta invasão da filoxera, que em 1865 iniciou a devastação de uma grande parte das regiões vinícolas de Portugal. As vinhas desta região não foram atacadas devido aos solos de areia em que são plantadas. Em virtude da forte brisa marítima que se faz sentir nessa região, as vinhas são protegidas por paliçadas, o que aliado ao tipo de plantio rasteiro originam imagens deslumbrantes que dão à viticultura local uma especificidade única no mundo. A área geográfica correspondente à Denominação de Origem “Colares” situa-se no concelho de Sintra, entre a Serra de Sintra e o Oceano Atlântico, numa zona junto ao mar, compreendendo as freguesias de Colares, São Martinho e São João das Lampas. É a Região Demarcada mais ocidental da Europa continental. O Vinho de Colares é um vinho de cor rubi, mas que, com o envelhecimento, ganha um aveludado e ‘bouquet’ excepcionais. A 11.ª Visita Vitivinícola da APH está prevista para os próximos dias 2 e 3 de Outubro. Estejam atentos que em breve daremos mais notícias. Comissão Organizadora Revista da APH N.º 101 7 Ainda… em Notícia 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura A Associação Portuguesa de Horticultura (APH), a Escola Superior Agrária de Castelo Branco (ESACB) e o Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN) realizaram o 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura, que decorreu nos dias 4 e 5 de Fevereiro de 2010 na Escola Superior Agrária de Castelo Branco. Para além da APH, ESACB e COTHN, colaboraram na Comissão Organizadora a Associação de Agricultores para a Produção Integrada de Frutos de Montanha (AAPIM), a Associação de Protecção e Produção Integrada do Zêzere (APPIZEZERE), a Cerfundão (Embalamento e Comercialização de Cereja da Cova da Beira, Lda.), a Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC) e a Universidade da Beira Interior (UBI). A região da Beira Interior, em especial devido às suas condições climáticas de elevada radiação e à dimensão média das propriedades, apresenta grandes potencialidades para a produção de frutos de elevada qualidade, pelo que a fruticultura é uma actividade agrícola com expressiva representa- ção na criação de riqueza desta região, com especial destaque para a cereja e o pêssego, razões pelas quais a cidade de Castelo Branco foi escolhida para palco deste evento. O 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura teve como objectivo fundamental a divulgação do conhecimento científico no âmbito da fruticultura, fomentando o debate sobre as carências existentes no sector frutícola, de modo a incrementar o desenvolvimento das linhas de investigação que mais contribuam para a sua melhoria e valorização dos seus produtos. Pretendeu-se reunir toda a fileira da fruticultura nacional e destacar a importância do trabalho desenvolvido pela APH, como principal fórum de intercâmbio técnico-científico dos agentes ligados ao sector. Este evento foi dirigido a produtores, empresários, investigadores, professores, estudantes de graduação e de pós-graduação, técnicos e outros profissionais ligados à fileira da fruticultura procurando-se, desta forma, dar a conhecer a realidade da fruticultura nacional, as suas tendências e as ne- Sessão de Abertura do 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura. 8 Revista da APH N.º 101 cessidades de investigação. Tal como na sua primeira edição, o programa do 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura foi estruturado ao longo de dois dias. Os grandes temas em debate neste evento foram: Produção Frutícola, Biotecnologia e Saúde, Pós-colheita, Protecção das Culturas; e Economia. A edição n.º 16 das Actas Portuguesas de Horticultura foi dedicada exclusivamente a este Simpósio Este volume das Actas inclui 40 comunicações apresentadas e debatidas durante o evento, sob as formas de comunicações orais ou em painel. A realização do 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura só foi possível graças ao empenho de uma vasta e diversificada equipa que incluiu os membros da Comissão Organizadora e da Comissão Científica, palestrantes convidados, autores de comunicações, bem como, as instituições que de forma directa ou indirecta apoiaram e patrocinaram a sua realização. A todos endereçamos os nossos sinceros agradecimentos. O 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura decorreu no Auditório da Esco- la Superior Agrária de Castelo Branco (ESACB) e contou com a presença de cerca de 200 participantes, excluindo alunos do IPCB, que marcaram presença em diversas sessões temáticas, relacionadas com as suas áreas de formação. Durante o jantar do Simpósio, foram homenageados, pela APH, com títulos honoríficos: • Professor Doutor João Matos Silva – Horticólogo de Honra • Eng.º Rui Manuel Maia e Sousa – Técnico Hortícola de Honra • Sr. Vítor Manuel Araújo Bandeira – Horticultor de Honra Aspecto do auditório da Escola Superior Agrária de Castelo Branco. Primeiro dia 1 Produção Orador convidado: Dr. Joan Bonany (IRTA-Girona) O tema “Produção” incluiu 20 comunicações que reflectiram algumas preocupações actuais de extrema importância para esta fileira, designadamente: 1) cultivares; 2) regulação da produção; e 3) uso eficiente dos factores de produção. Relativamente a cultivares apresentaram-se diversos resultados sobre a produção e a qualidade dos frutos, de ensaios de adaptação e comportamento agronómico de diversas cultivares (algumas recentes) de aveleiras e macieiras na região da Beira Alta, e de pessegueiro e damasqueiro na região da Cova da Beira. Salientam-se, também, os trabalhos sobre monda de frutos: a utilização do ensombramento como alternativa mais ecológica à monda química na macieira; o mecanismo de acção do ácido naftaleno-acético na nespereira; e o desenvolvimento de uma metodologia para determinar a carga óptima da árvore em função do calibre pretendido para o fruto, que se baseia na relação inversa entre a carga e o peso médio do fruto. 2 Biotecnologia e Saúde Oradores convidados: Dr.ª Cristina Sales e Dr.ª Daniela Seabra A sessão temática sobre Biotecnologia e Saúde iniciou-se com os oradores convidados que apresentaram o tema “O consumo da fruta e a saúde”, tendo estado em evidência os três grupos de benefícios múltiplos para a saúde, provenientes do consumo de fruta: elevado teor em vitaminas e antioxidantes; fonte de fibras solúveis fundamentais Mesa da sessão temática ‘Produção’. para a flora intestinal; modulação dos níveis de insulina para a prevenção de obesidade e de diabetes. A fruta deverá ser ingerida principalmente crua no início e entre as refeições, ou cozinhada como sobremesa. Em comunicações posteriores foi destacado o valor antioxidante dos frutos secos, principalmente das nozes, do medronho e das folhas de medronheiro para fins farmacêuticos e químicos. A nível da conservação da fruta foi confirmada a ideia que a concentração de oxigénio no interior da embalagem é irrelevante para a qualidade da pêra “Rocha” cortada e foram realçadas as vantagens da utilização de estufa solar no processo de secagem de peras, também por apresentarem análises físico-químicas mais semelhantes às do processo tradicional. Este foi o tema que maior interesse despertou em termos de debate público. 3 Pós-colheita Oradores convidados: Eng.ª Délia Fialho e Eng.º Filipe Silva As tecnologias pós-colheita têm vindo a assumir uma importância crescente no sector frutícola. Neste tema, foram abordados diversos assuntos essenciais para o aperfeiçoamento dos métodos de conservação através de uma análise dos problemas que poderão afectar a vida pós-colheita dos frutos e cuja resolução permitirá manter a sua qualidade durante um maior período de tempo e minimizar as perdas da qualidade dos frutos. As doenças de conservação de origem patológica e fisiológica apresentam-se como um dos principais factores que diminuem a qualidade dos frutos durante o armazenamento, tendo sido alvo de análise quanto às suas causas e consequências no período pré e pós-colheita. A aplicação de espectroscopia de infravermelho próximo, que tem vindo a demonstrar uma importância crescente na avaliação da qualidade, foi também estimada quer em pomóideas quer em prunóideas mostrando-se uma ferramenta de futuro no controlo expedito de qualidade de uma forma não-destrutiva, que permite uma redução de custos ao longo do processo. Justifica-se, assim, a necessidade de maior investimento e de mais investigação ao nível da criação de conhecimento na área da pós-colheita que deve obedecer a um conjunto de prioridades determinadas pela importância económica dos principais factores de quebras de qualidade observadas. Revista da APH N.º 101 9 5 Espaço Empresa Nesta sessão, pretendeu-se fornecer às empresas patrocinadoras a oportunidade de apresentarem as suas soluções para os mais diversos problemas da agricultura: ADP - apresentou as suas gamas de adubos e fertilizantes para a fruticultura. Bayer CropScience - apresentou um novo insecticida para fruticultura, destacando o seu baixo perfil toxicológico para o ambiente e fauna auxiliar. Syngenta Crop Protection - apresentou o projecto “Operation pollinator” que está a ser implementado em várias regiões portuguesas. Mesa da sessão temática ‘Protecção das culturas’. 6 Economia Convidado: Prof. Francisco Avillez Nesta sessão apresentou-se a comunicação por convite subordinada ao tema “A fruticultura em Portugal: situação actual e perspectivas futuras”, evidenciando-se o peso que o sector representa na economia nacional e a necessidade de acabar com o constante divórcio entre a produção, a comercialização e o interesse do consumidor. Sessão de Encerramento do 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura. Segundo dia 4 Protecção das culturas Orador convidado: Prof. José Carlos Franco O tema abordado foi ‘Infra-estruturas ecológicas e limitação natural dos inimigos das culturas fruteiras’. O fomento da biodiversidade é considerado um elemento chave nas regras da produção sustentável em fruticultura, podendo ser incrementado activamente através da manutenção e instalação de infra-estruturas ecológicas. A classificação toxicológica dos pesticidas para as abelhas, adoptada em Portugal, é insuficiente em relação à informação internacional, o que dificulta a selecção dos pesticidas menos tóxicos para as abelhas e a adopção das indispensáveis medidas de segurança. A problemática da resistência dos fungicidas ao pedrado da macieira na Cova da Beira esteve em destaque com a apresentação 10 Revista da APH N.º 101 de resultados relativos a trabalhos realizados à escala regional. Os dados do trabalho, com ensaio de campo e “in vitro”, levantaram sérias preocupações, a técnicos e fruticultores, para a gestão do risco de resistência a esta família de fungicidas. Como há poucas novas famílias de fungicidas a entrar no mercado torna-se importante proteger as já existentes. A testagem de diferentes feromonas para a monitorização dos adultos de bichado-da-castanha, na Ilha Terceira dos Açores foi outro tema em destaque, face ao problema que esta praga apresenta, não só na região autónoma dos Açores, como no continente. Este trabalho apresentou resultados da aplicação de feromonas de três empresas diferentes em armadilhas do tipo Delta. Destas, as feromonas das empresas Iscalure e Syngenta foram as que registaram um maior número de capturas. As armadilhas devem ser colocadas no início do voo e retiradas somente no fim de Novembro (após a colheita). 7 Debate com os principais agentes da Fileira Neste debate participaram representantes da grande distribuição: Auchan, Sonae, Jerónimo Martins e Sumolis e da produção, Frutoeste e Kiwi Greensun. Durante o debate, foi referido por parte dos intervenientes o problema de falta de organização por parte do sector da produção, enquanto por parte da produção, Vitor Araújo da empresa Kiwi Greensun, dirigiu-se aos representantes da grande distribuição referindo que esta não valoriza a qualidade e que apenas pretende dos produtores fruta a preços baixos, razões pelas quais 80% da sua produção é destinada exclusivamente para o mercado externo. Findo o debate, procedeu-se à cerimónia de encerramento, que foi precedida da leitura das conclusões do simpósio e que contou com a presença do Sr. Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Eng.º Rui Barreiros. Raúl Rodrigues Ainda… em Notícia Concurso FrutArt A Escola Superior Agrária de Castelo Branco (ESACB) organizou o concurso FrutArt que decorreu como actividade paralela ao 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura (SNF), que teve lugar em Fevereiro de 2010. Este concurso foi patrocinado pela Câmara Municipal de Castelo Branco, pelo Instituto Politécnico de Castelo Branco e pela Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro, tendo como principais objectivos: • Divulgar a importância da fruticultura na região; • Divulgar e valorizar o papel de consumo de fruta na saúde e alimentação; • Valorizar a actividade frutícola; • Promover a interacção entre os sectores de educação, agricultura e investigação; • Fomentar e desenvolver a capacidade criativa dos jovens; • Divulgar e valorizar o 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura. O concurso compreendeu a decoração/pintura de peras, maçãs, pêssegos e cerejas de material cerâmico produzidos à escala real, e distribuídos por 30 Escolas de Ensino Básico e Secundário da região da Beira Interior. Participaram no concurso as Escolas de Belmonte, Covilhã, Castelo Branco, Fundão, Guarda, Idanha-a-Nova, Manteigas, Penamacor, Proença-a-Nova, Seia, Sertã, Teixoso, Tourais, Trancoso e S. Vicente da Beira, tendo abrangido os alunos do 9.º ano Geral e 10.º, 11.º e 12.º anos de Artes, num total de 1930 frutos distribuídos. Para a realização deste concurso a ESACB contou com o apoio da ESART – Escola de Artes Aplicadas do IPCB, e o seu domínio de saber, concebendo os moldes dos frutos e das folhas correspondentes a cada espécie (Figura 1). Todos os moldes foram produzidos em empresas do concelho de Aveiro. Antes de enviarem os frutos já pintados para a ESACB, as Escolas participantes elegeram os melhores frutos de cada espécie produzidos pelos seus alunos. Durante o 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura os frutos eleitos por cada Escola estiveram expostos em vitrinas e os participantes do Simpósio depositaram o seu voto para a eleição do melhor fruto de cada espécie. Simultaneamente, todos os restantes fru- tos enviados pelas Escolas estiverem expostos podendo ser adquiridos por qualquer participante do 2.º SNF ou membro da sociedade em geral. A exposição recebeu visitantes de diversas escolas e pessoas de diversas idades. A criatividade dos jovens e o empenho e dedicação dos professores envolvidos neste projecto nas diversas escolas permitiu a obtenção de uma exposição muito interessante. Em resultado da votação realizada durante o SNF foram eleitos vencedores os frutos correspondentes à Figura 2. O resultado da votação indica a preocupação com a selecção de frutos que contivessem mensagens capazes de valorizar a produção e consumo de fruta. Os prémios aos alunos vencedores foram entregues na 2.ª Gala Viva ‘Frutas & Legumes’, que teve lugar no passado dia 2 de Junho de 2010, no Casino da Figueira da Foz. Por amabilidade do COTHN, que organizou a Gala da Fruta, estiveram presentes não só os alunos vencedores, como também os professores envolvidos. De realçar que dois dos frutos vencedores (pêssego e pêra) provinham da Escola do Teixoso Figura 1 – Moldes dos frutos com a respectiva folha onde se colocava a identificação do aluno e Escola. (concelho da Covilhã), tendo toda a turma envolvida no projecto FrutArt marcado presença nessa Gala. A exposição FrutArt, que compreende os 240 frutos eleitos pelas Escolas, esteve patente no espaço comercial Allegro, em Castelo Branco, durante o mês de Março de 2010, no Centro de Ciência Viva, em Proença-a-Nova, durante o mês de Abril e na 2.ª Gala Viva ‘Frutas & Legumes’. Um dos objectivos deste concurso foi atingido – cativar o pensamento e a atenção dos jovens para o consumo de fruta, para a fruticultura como actividade económica e para a existência de encontros científicos como o 2.º SNF. Maria Paula Simões Presidente da Comissão Organizadora do 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura e docente da Escola Superior Agrária de Castelo Branco Figura 2 - Frutos Vencedores. Revista da APH N.º 101 11 Ainda… em Notícia Sessão Comemorativa do 100.º Número da Revista da APH No passado dia 15 de Junho de 2010 decorreu, na sede da APH, a Sessão Comemorativa do 100.º Número da Revista da APH, com a presença de cerca de mais de 50 associados e convidados. Em representação do Sr. Secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural esteve presente o seu Assessor, Dr. Ricardo Segurado e ainda deram a honra da sua presença o Prof. Nuno Moreira, Presidente da Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias da UTAD, a Prof. Fernanda Delgado, Sub-directora da Escola Superior Agrária de Castelo Branco/ IPCB, o Prof. Albino Bento, Director da Escola Superior Agrária de Bragança/ IPB e o Prof. José Regato, em representação da Escola Superior Agrária de Beja/IPB. A sessão de comemoração foi introduzida pela Dr.ª Maria Elvira Ferreira, Presidente da Direcção da APH, e incluiu duas conferências no âmbito do Ano Internacional da Biodiversidade, nomeadamente “A Importância da Biodiversidade na Gestão da Horticultura” proferida pelo Eng.º Tito Rosa (Presidente do Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade) e “A Biodiversidade na Protecção das Culturas” pelo Prof. António Mexia (Instituto Superior de Agronomia/UTL). As conferências foram moderadas pelo Prof. Carlos Portas (sócio n.º 1 da APH e 1.º Editor da Revista) e foram uma oportunidade de conhecimento e diálogo sobre a importância da biodiversidade para o equilíbrio e sustentabilidade dos sistemas de produção hortícola e para os agro-ecossistemas em geral. A compreensão da preservação da biodiversidade e a sua gestão nos sistemas produtivos é indispensável para o sucesso da produção integrada, que é hoje um objectivo fundamental. O debate foi bastante interessante e participado, salientando-se a necessidade de se dar prioridade à investigação e desenvolvimento de novas tecnologias, de forma a tornar mais competitiva e sustentável a fileira dos produtos hortofrutícolas. Houve ainda oportunidade de abordagem de outros temas, como as estratégias de protecção de espécies vegetais e animais raras ou em vias de extinção que, necessariamente, interagem com as diferentes actividades sócio-económicas do meio rural. O 100.º Número da Revista da APH foi comemorado ainda pela edição de um DVD intitulado “100 Números da Revista da APH”, apresentado pela Prof. Isabel Mourão, editora da Revista da APH e entregue a todos os participantes. Este DVD inclui todas as revis- tas da APH digitalizadas e representa um importante documento histórico e uma ferramenta de grande interesse técnico e científico, pelos cerca de 140 artigos do sector hortícola, publicados desde 1981. Inserido nas comemorações foi ainda inaugurada a “Galeria dos Presidentes da APH”, como forma de perpetuar os responsáveis da Associação e, simbolicamente, todas as equipas por eles lideradas, que tanto contribuíram para que a APH atingisse a relevância que hoje tem na horticultura nacional. No dia 7 de Julho de 2010, completam-se 34 anos em que, nas mesmas instalações, foi eleito o 1.º Presidente da Di- Abertura da Sessão Comemorativa do 100.º Número da Revista da APH, pela Dr.ª Maria Elvira Ferreira. Constituição da mesa das conferências: Prof. Carlos Portas, Eng.º Tito Rosa, Dr. Ricardo Segurado e Prof. António Mexia. 12 Revista da APH N.º 101 Aspecto da sala da Sessão Comemorativa do 100.º Número da Revista da APH. recção da APH, Carlos Martins Portas (1976/1978 e 1983/1985), seguindo-se Manuel Ruivo Figueiredo (1978/1979), Cláudio Bugalho Semedo (1979/1983), Carlos Saraiva Frazão (1985/1988), António Almeida Monteiro (1988/1992), José Dias Carreiro (1992/1996), António Cruz Marreiros (1996/2000), Isabel de Maria Mourão (2000/2004) e Manuel Augusto Soares (2004/2009). Um Porto de Honra foi o culminar deste momento de festa da APH e de convívio entre os associados e seus convidados. Inauguração da “Galeria dos Presidentes da APH”. Isabel Mourão Revista da APH N.º 101 13 Ainda… em Notícia I Jornadas Técnicas de Batata A 23 de Fevereiro, decorreram as ‘I Jornadas Técnicas de Batata’, organizadas pelo COTHN, a Escola Superior Agrária de Santarém (ESAS), a Agromais, a Agrotejo, a Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP) e a Eurobatata, na ESAS, com o objectivo de promover um espaço de divulgação científica e tecnológica e de debate, capaz de contribuir para o lançamento de novas estratégias de inovação e competitividade, indispensáveis para a modernização e o desenvolvimento da fileira da batata. Estas Jornadas contaram com o apoio da APH, tendo participado cerca de 220 pessoas que debateram temas como a rega, infestantes, aspectos fitossanitários e mercado. Antes de serem lidas as conclusões das Jornadas, a Presidente da Direcção da APH fez uma breve apresentação sobre os sete Colóquios Nacionais de Produção de Batata que decorreram nas décadas de 80 e 90 do século passado, na região de Aveiro, com uma co-organização da APH e que pode ser consultada em www.aphorticultura.pt, na ligação Notícias/Novidades. O êxito destas Jornadas, que demonstrou a força e a vitalidade da fileira da batata, levou à proposta da organização do oitavo Colóquio em 2012. O convite foi feito a todos os participantes, bem como a uma região do País que queira ser a anfitriã do VIII Colóquio Nacional de Produção de Batata. Na Sessão de Encerramento, a Comissão Organizadora das ‘I Jornadas Técnicas da Batata’, apresentou as seguintes conclusões: • Foi sentida por todos a necessidade de desenvolver tarefas que venham a contribuir para a organização do sector produtivo da batata; • Neste âmbito, deverão ser agendados encontros informais entre os principais agentes do sector: Organizações de Produtores; Empresas de exportação e importação; Empresas de dis- 14 Revista da APH N.º 101 tribuição; Empresas de importação de batata-de-semente; Escolas Agrárias; Instituto Nacional dos Recursos Biológicos (INRB); Gabinete de Planeamento e Políticas (GPP); Direcção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) e Direcções Regionais de Agricultura e Pescas; • Perspectiva-se a criação de uma página “Web”, associada ao portal do COTHN, com a finalidade de servir de espaço de discussão, partilha de informação e de comunicação de matérias relacionadas com o sector (reunir informação técnica, publicitar eventos, informação sobre mercados, alertas, fórum de discussão); • Num horizonte de médio prazo propõe-se a criação de um organismo interprofissional; • Articular o PRODER de modo a que os agricultores tenham ajudas efectivas por parte da nova legislatura; • Reconhecimento da importância e criação de linhas de apoio dirigidas aos agentes ligados à produção e exportação da batata primor; • Solicitar que, no âmbito do PRODER, os concursos para investimento estejam permanentemente abertos; • Solicitar apoios financeiros, no âmbito do PRODER, para que as associações de agricultores/OP possam estabelecer contratos no sentido de serem desenvolvidos trabalhos de experimentação aplicada e/ou inovação tecnológica dentro do sector; • Face ao enquadramento legislativo já existente, deverão ser criadas equipas multidisciplinares, incluindo investigadores do Instituto Nacional dos Recursos Biológicos, técnicos da Direcção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, Escolas Agrárias, Direcções Regionais de Agricultura, Organizações de Produtores e Agricultores, com o objectivo de: •Tentar minorar os impactes ambientais, especialmente os relativos à poluição dos recursos hídricos, sem pôr em causa a rendibilidade das culturas e o rendimento das explorações agrícolas; •Testar, em colaboração com as empresas do sector dos adubos, produtos fitofarmacêuticos, variedades ou equipamento agrícola, novas tecnologias capazes de aumentar as eficiências biológicas e económicas da cultura; •Estabelecer uma linha especial de trabalho experimental para avaliar o efeito das rotações na gestão adequada da fertilidade, das infestantes, das pragas e doenças; •No que diz respeito ao consumo da água, há necessidade de criar, implementar e promover sistemas que promovam o aumento da sua eficiência de utilização; •Aos Centros Operativos Tecnológicos deverão ser atribuídos meios técnicos e financeiros, para poderem desenvolver acções de formação de técnicos especializados, para trabalharem junto das associações e/ou organizações de produtores; •Proceder à caracterização sistemática e completa do sector, nomeadamente, no que diz respeito aos sistemas de produção, superfícies cultivadas, rendimentos obtidos e contas de cultura; •Criar uma estrutura de discussão e partilha de informação, para que todos os agentes do sector possam beneficiar dessa mesma criação de conhecimento. Ficamos a aguardar propostas para a realização do VIII Colóquio Nacional de Produção de Batata, em 2012. Maria Elvira Ferreira Maria da Graça Palha Ainda… em Notícia 8.º SIMPÓSIO DE VITIVINICULTURA DO ALENTEJO Decorreu de 5 a 7 de Maio no Auditório da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, em Évora, o 8.º Simpósio de Vitivinicultura do Alentejo, numa organização conjunta entre a ATEVA (Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo), CVRA (Comissão Vitivinícola do Alentejo), CCDRA (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo), DRAPAL (Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo) e UE (Universidade de Évora). Este simpósio, com uma cadência trianual, é em termos nacionais o único evento vitivinícola desta natureza que tem sido realizado ininterruptamente, atraindo técnicos e investigadores de norte a sul do pais, e mais recentemente do estrangeiro. O objectivo principal deste simpósio é a troca da actualidade técnico-científica, que este ano foi desde o tema do material vegetal a várias vertentes da tecnologia da vinha, e na enologia, predominou o tema da capacidade antioxidante e composição fenólica. Foram 47 os trabalhos apresentados, repartidos por 3 Sessões de Viticultura, 2 Sessões de Enologia e 1 Sessão de Internacionalização e Marketing. Tiveram ainda lugar 4 Conferências Temáticas proferidas por oradores convidados: I- Doenças do Lenho por Helena Oliveira (Portugal); II- Produção Enológica e Marketing por Christophe Gerland (França) e Brien Howard (Reino Unido); III- Sustentabilidade I por J. Ramon Lissarague (Espanha) e IV- Sustentabilidade II por Joel Rochard (França), Lisa Francioni (EUA) e Timothy Hogg (Portugal). O último dia, sexta-feira 7 de Maio, foi dedicado a uma viagem pelo Alentejo com visita a várias adegas, nomeadamente, Adega Cooperativa de Portalegre, Adega Mayor em Campo Maior e Herdade do Monte da Cal (Dão Sul) em Fronteira. Este ano, a abertura por parte da Comissão Organizadora, permitiu que a APH estivesse presente, divulgando a sua actividade junto do Grupo da Viticultura, e anunciando o próximo Congresso Internacional de Ciências Hortícolas. Teresa Mota Revista da APH N.º 101 15 Ainda… em Notícia 2.ª Gala Viva ‘Frutas & Legumes’ Promover o sector das frutas e hortícolas, distinguir os agentes económicos, criar laços de cooperação para o futuro e fazer um balanço do programa ‘Regime de Fruta Escolar’ foram os objectivos que nortearam o Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN) na organização da 2.ª Gala Viva ‘Frutas & Legumes’, que reuniu no passado dia 2 de Junho no Casino da Figueira da Foz cerca de 500 pessoas ligadas à fileira. O COTHN pretendeu, ainda, promover o consumo de frutas e hortícolas nacionais e a sua importância para uma alimentação saudável, especialmente na camada da população mais jovem. A Gala começou com uma exposição e degustação de frutas e legumes, confeccionados pelas Escolas de Hotelaria de Lamego, de Santa Maria da Feira e do Estoril, com produtos fornecidos pela Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha (ANP) e pela Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça (APMA). Estiveram também presentes a Confraria Gastronómica da Maçã Portuguesa e a Confraria da Pêra Rocha Portuguesa. Seguiu-se a apresentação do filme ‘Porque devemos consumir Frutas e Legumes nacionais?’, que conta com opiniões de técnicos, consumidores e crianças que incentivam a consumir esse tipo de alimentos. A Assessora do Secretário de Estado da Educação, Dr.ª Isabel Baptista, fez o balanço do primeiro ano do Programa ‘Regime de Fruta Escolar’ (RFE), que envolve os Ministérios da Agricultura, Pescas e Desenvolvimento Rural, da Educação e da Saúde. Este regime visa a distribuição de frutas e produtos hor- 16 Revista da APH N.º 101 tícolas frescos e/ou transformados às crianças nos estabelecimentos de ensino. O RFE é subvencionado pela União Europeia e a ajuda comunitária é requerida pelas autarquias, a quem compete a execução deste programa. Este regime aplica-se nos estabelecimentos de ensino público aos alunos que frequentam o 1.º ciclo dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas. Os produtos devem, preferencialmente, obedecer aos regimes públicos de qualidade certificada de produção integrada, de modo de produção biológico, de denominação de origem protegida, de indicação geográfica protegida ou de protecção integrada. O COTHN apresentou ainda a vontade de criar a Interprofissional Hortofrutícola de Portugal, que integre as organizações profissionais da produção, da comercialização e/ou da transformação em torno de objectivos comuns tendentes à promoção e à adaptação de um produto ao mercado, abrangendo aspectos que vão desde a sua produção até ao seu consumo, impulsionar o desenvolvimento e organização do sector hortofrutícola e melhorar a comercialização destes produtos. Os principais objectivos da Interprofissional Hortofrutícola de Portugal serão: • Promover o consumo nacional através de programas ambiciosos de comunicação; • Assegurar o desenvolvimento da quota de exportação; • Pôr em marcha e fazer respeitar os acordos interprofissionais que garantam a qualidade e definam as regras entre os elementos da fileira; • Encorajar programas de investigação técnica e de formação, nomeadamente no posto de venda; • Conhecer os mercados e as tendências dos consumidores. Durante a Gala, foram, ainda, distribuídos os prémios aos alunos vencedores do concurso FrutArt promovido pelo Instituto Politécnico de Castelo Branco, através da Escola Superior Agrária e da Escola Superior de Artes Aplicadas e com o patrocínio da Câmara Municipal de Castelo Branco. Informação mais detalhada sobre esta iniciativa pode ser consultada nas páginas desta revista. O COTHN distinguiu também 11 personalidades/empresas, com seis tipos de prémios, da seguinte forma: • Prémio Jovem/Espírito Jovem ao Eng.º Belmiro de Azevedo (Sonae); • Prémio Personalidade ao Eng.º Paul Dolleman (Presidente da AHSA e consultor da Horticonsult) e a Carlos M. Soares Miguel (Presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras); • Prémio de Empreendorismo ao Dr. António Silvestre (Vale da Rosa); Dr. Bernardo Horgan (Beirabaga) e Carlos Ferreira (Hortomelão); • Prémio Promoção ao Grupo Jerónimo Martins; • Prémio Promoção para a Exportação à Coopval, à Unirocha.com e à Granfer; • Prémio Promoção DO’s e IGP’s à Compal, S.A. Antes de dar a palavra ao Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pesca, Prof. Doutor António Serrano, o Presidente da Direcção do COTHN, Eng.º Armando Torres Paulo usou da palavra, agradecendo a presença de todos e anunciou a 3.ª gala para o ano de 2012. A este respeito o Ministro da Agricultura manifestou o desejo que a 3.ª gala abrangesse também as flores. Esta agradável e enriquecedora noite de convívio terminou com um magnífico espectáculo intitulado ‘Show Time’. A Direcção da APH agradece o simpático convite que lhe foi endereçado para participar nesta gala e deseja as maiores felicidades para o COTHN, esperando que a Interprofissional Hortofrutícola de Portugal seja uma realidade no mais curto espaço de tempo. Maria Elvira Ferreira Maria da Graça Palha Homenagem WEBER DE OLIVEIRA HORTICÓLOGO DE HONRA (1979) E VICE-PRESIDENTE PARA A HORTICULTURA DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE HORTICULTURA (1979/81, 1981/83 E 1983/85) 1- O homem, o horticólogo, o extensionista Nascimento, família, infância, formação escolar e académica Weber de Oliveira nasceu a 9 de Fevereiro de 1919, em Ílhavo. O pai, Fernando Oliveira da Velha, frequentou a Escola Náutica (Lisboa) e era oficial náutico, fazendo carreira na Marinha Mercante. A mãe, Rosa Gonçalves Sarrico, inseria-se numa família de agricultores e tinha actividade doméstica. O ambiente familiar, económico e social foi, seguramente, influenciado quer por uma agricultura intensiva e diversificada onde a horticultura e a pecuária dominavam, quer pelo Mar Atlântico. A região tinha como envolventes a Costa Norte, as Gafanhas e a Ria de Aveiro. Infância e adolescência foram assim passadas entre os concelhos de Ílhavo e de Aveiro: instrução primária recebida na terra natal e ensino liceal cursado em Aveiro. Aos 10 anos, por acto no Registo Civil, fica só com o apelido Oliveira. Em 1936, veio para Lisboa frequentar o Instituto Superior de Agronomia (ISA). As classificações mais altas de disciplinas são: Patologia Vegetal, 17 v., Química Geral e Agrícola e Microbiologia, 16v. É bom a Matemática. Os “calcanhares de Aquiles” são a Mecânica Racional e a Hidráulica! Em paralelo participou em aulas livres de Arquitectura Paisagística e cursou Culturas e Indústrias Tropicais, 18 v.. Vejamos alguns aspectos do seu Relatório de Tirocínio (4 meses) apresentado para discussão em Julho de 1943 e dedicado aos Profs. Carlos Helbling1 (Agricultura Geral) que o orientou e ao Prof. Luís Góis1 (Tecnologia Agrícola) que o reviu. Comecemos pelo título: “Os meus trabalhos na Tapada da Ajuda”. Tem três capítulos: o primeiro sobre “a 1. Estes professores foram-no também dos autores deste capítulo de memória. Recordamo-los com saudade. conservação de bersim em silagem”, o segundo trata “a conservação no silo de misturas de leguminosas e gramíneos e drenagem respectiva”. Apresentam centenas de medições analíticas de campo e laboratório. E fez uma autocrítica pelas “deficiências” encontradas, afirmando que de “futuro (aquelas) serão remediadas”, acrescentando que os ensaios “não foram inúteis”. Isto revela já duas das suas grandes qualidades: muito competente mas não auto-suficiente. Contudo o que ficou por muitos anos foi o terceiro capítulo: “Reconhecimento agrológico da Tapada da Ajuda”, dedicado ao Prof. Joaquim Botelho da Costa2, que também o orientou. Trata-se da primeira Carta de Solos da Tapada da Ajuda. É uma carta de Séries e Fases, na escala 1/1000. Descreve 17 Séries (7 de basalto, 8 de calcário e 2 mistas), cada qual com Fases: das muito espessas às pedregosas; das argilosas às francas. Abriu 32 covas com 1,30/1,50 m de profundidade e implantou uma quadrícula completa de 400 sondagens. Refere níveis e intensidade do enraizamento e a vegetação espontânea. Iria ser a carta de solos da Tapada durante cerca de três dezenas de anos. O Relatório é classificado com 18 valores e a nota final no Curso de Engenharia Agronómica foi de 15 v. (Bom). Meticuloso, como sempre o conhecemos, pede nesse mesmo dia a carta de curso. do Jardim Botânico (…) tendo alguns deles sido devidamente objectivados”. Ingressou depois no Serviço Público, então quase único empregador de engenheiros agrónomos e silvicultores. Começou e seguiu pela Junta Nacional das Frutas (JNF). Mas com consentimento desta “auxilia” a Secção de Arboricultura, Horticultura e Jardinagem do ISA (era uma espécie de 2.º assistente eventual). Após pedido do ISA à JNF, faz outro estágio profissional na 6.ª Repartição da Câmara Municipal de Lisboa (Arborização e Jardinagem), para praticar jardinagem. Seguir-se-á também uma colaboração frequente com a Direcção Geral dos Serviços Agrícolas. A actividade profissional vai ser, sobretudo de natureza tecnológica, no campo da inovação e transferência de tecnologia. E vai desenvolver-se em grande parte da sua vida, no vasto sector da horticultura herbácea com particular relevância no tomate de indústria, tendo contribuído activamente para o impulso que este subsector conheceu nas décadas de 60 a 80 e ainda hoje mantém. No capítulo 2 disto dará bom testemunho Martim Stilwell, um dos seus mais chegados discípulos e colaborador. Profissão O seu importante papel na APH. A participação na I.S.H.S. (Sociedade Internacional de Ciências Hortícolas) Acabado o curso realiza, um estágio de Outubro de 1993 a Março de 1944 na secção de Horticultura, Arboricultura e Jardinagem do ISA. O Prof. André Navarro atesta, por escrito “de sua mão”, que ele demonstrou “invulgares qualidades de investigador e de profissional…” apresentando “numerosas sugestões sobre arranjos paisagísticos da Tapada da Ajuda e Falemos da inserção de Weber de Oliveira na APH. Ele foi um dos firmantes de boa parte dos “documentos fundacionais” em 1975 e 1976 (“APH 25 anos”, ed. APH, 2001). Vamos relembrá-los: acta da primeira reunião nas Caldas da Rainha (2. Julho. 1975); convocatória da Reunião Geral de Tavira (20 e 21. Maio, idem); convocatória da reunião 2. Iria ser a figura marcante da direcção do ISA até ao início da década de 60. Revista da APH N.º 101 17 de sócios e simpatizantes para a sede da SCAP, depois desta ter dado “luz verde” (assim se escreveu) à entrada da “APH (em organização) “como sua filiada” (7. Julho. 1976). E está entre os 30 presentes na primeira reunião formal (acta de 23. Julho. 1976). Estes documentos fundacionais de 1975/6, quando colectivos, tinham uma característica curiosa mas que define uma filosofia ou modo de estar próprios de ilusões (ainda bem) daquele “tempo” da Revolução de Abril: os firmantes assinam por ordem alfabética do primeiro nome. Assim: Carlos Frazão, Carlos Portas, Inocêncio Mourato, José Suspiro, Manuel Figueiredo, Manuel Palma e Weber de Oliveira. Ora este é o único de uma geração bem anterior (tem 56/57 anos) à nossa (entre os 30 e os 40 anos), assim acorrendo a juntar-se à iniciativa, sem a contestar e pelo contrário envolvendo-se e dando-lhe consistência e uma maior unidade – o que também diz da sua formação associativa. Foi o sócio n.º 11 e como diz o nosso título, seria depois Vice-Presidente para a Horticultura durante três mandatos (6 anos). Mas é também indispensável relembrar que Weber de Oliveira faz parte do Council (conselho geral) da Sociedade Internacional de Ciências Hortícolas (ISHS) na primeira participação portuguesa, em 1960/64. O seu papel na investigação aplicada Deve agora referir-se o contributo de Weber de Oliveira para o projecto de investigação e desenvolvimento tecnológico METI (Mecanização da Cultura do Tomate para Indústria), criado em 1974 sob a liderança da Universidade de Évora e com financiamento parcial proveniente da então Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT), em parceria com várias empresas de tomate: SUGAL Azambuja (na pessoa do seu presidente Dr. Luís Ortigão Costa que foi dos mais assíduos e entusiastas); COPSOR, Coruche (a grande cooperativa agrícola do Vale do Sorraia); CAIA, Campo Maior (grupo C. Santos); ETA, Alvalade-Sado (Glória Pereira e família Passanha) e mais tarde o grupo ACIL-FIT, Pegões e Lisboa (família Costa Braga). Este projecto também incluía uma cooperação estreita da divisão agrícola da H. J. Heinz em Portugal (Weber de Oliveira e Martin Stilwell) que geriam o único programa activo de melhoramento (transferência de tecnologia) no tomate de indústria no país. Os trabalhos científicos e tecnológicos eram publicados no boletim “Divulgando”. Chegou a criar-se um protótipo de colhedora mecânica de tomate (de que 18 Revista da APH N.º 101 se exportaram 5 unidades). Em boa parte como resultado destes trabalhos, em 1979 teve lugar em Évora o I Simpósio Internacional da Produção de Tomate de Indústria, organizado no âmbito da ISHS. A Associação Portuguesa de Horticultura (APH) resolve então honrar Weber de Oliveira com o título de Horticólogo de Honra, aproveitando a sessão de encerramento deste Simpósio. Esta decisão não deixou de ser alvo de alguma contestação, tanto mais que os outros três homenageados tinham: um o nível de Prof. Catedrático (Estados Unidos da América, Califórnia), outro o mesmo (na Alemanha Federal, Munique), e o terceiro era, obviamente, o Professor Investigador Joaquim Vieira Natividade, a título póstumo. Para muitos dos sócios um “horticólogo” era um estudioso ou investigador no domínio da horticultura e pensavam que tal honra não deveria ser atribuída a alguém que não era nem professor, nem investigador, nem Doutor, mas só um excelente tecnólogo e extensionista de nível superior, com actividade durante boa parte da sua vida em serviços afins do Ministério da Agricultura, depois numa empresa multinacional. Esta era uma visão curta, para não dizer tacanha. Como se fazer ciência fosse mais importante para o progresso económico-social da sociedade que criar as tecnologias para a sua aplicação. Também aqui a APH abriu fronteiras... Weber de Oliveira é depois também colaborador do programa MET/IBER. Com efeito o METI alargou-se para Espanha, passando a METIIBER, em colaboração com a Escola Superior de Engenheiros Agrónomos (Universidade Politécnica de Madrid) e a Junta da Extremadura (Badajoz). A H. J. Heinz era muito importante na difusão interna das novas tecnologias. Sem o interesse, a capacidade de comunicação, o sentido crítico e a assiduidade de Weber de Oliveira, estes projectos teriam sido de realização bem mais difícil. A actividade radiofónica Após a década de 70 reforma-se da sua actividade principal e inicia uma nova etapa do seu percurso: a participação em programas radiofónicos. Conhecendo-se bem de perto as suas muitas qualidades, foi convidado pelo primeiro autor desta resenha biográfica para colaborador do programa radiofónico “Homem da Terra”, patrocinado pela empresa Bayer e que decorria diariamente das 6 às 7 da manhã na Rádio Renascença (R.R.). A este sucedia das 7 às 10 horas um dos programas radiofónicos então de maior audiência no país: o “Despertar” (deste sendo criador e responsável António Sala). Weber de Oliveira aceitou encarregar-se do seu consultório técnico. Assim respondeu a milhares de questões postas por agricultores acerca da utilização de produtos fitossanitários. Trabalhou com vários locutores conhecidos entre os quais José Candeias. Mais tarde a R.R. convidou-o para outro programa ao final da tarde e com destinatários mais urbanos, que se chamou “Uma flor à janela”. Abordava a temática das plantas ornamentais e do seu contributo para o bem-estar e a melhoria do ambiente. A actividade radiofónica prolongou-se pois por mais de uma dezena de anos. Outros aspectos da sua dimensão social Estas múltiplas actividades foram contemporâneas das profundas transformações que ocorreram em Portugal e em Espanha durante as décadas de 70 e 80, em Portugal: “primavera marcelista”, “25 de Abril a 25 de Novembro”, consolidação da democracia. Em Espanha foi a chamada “transição democrática”. As transformações interagiram com o que passava, na vida social, económica e científica e tecnológica nesta Europa mais Ocidental. Ora Weber de Oliveira era um homem de consciência social bastante profunda e não o sentimos perturbado quanto da evolução inevitável que Portugal viveu nestes períodos (preocupado sim com algumas vertentes, o que era outra coisa). Foi muito interessante trocar amiúde impressões com ele ao longo destes anos complicados, complexos e difíceis. O seu bom senso ajudou a minorar os efeitos negativos dessa crise – que os houve – sobre uma actividade aparentemente tão afastada da decisão política como a produção e indústria do tomate. Tinha uma boa cultura geral e “sabedoria”. O que o tornava uma pessoa querida daqueles com quem trabalhava: gestores e administradores, técnicos, seareiros, operários das fábricas, etc., enfim todos os actores da fileira que protagoniza. Devem referir-se outros aspectos da sua faceta de convívio. Era um assíduo frequentador dos chamados “Almoços de Belém”, onde participava com entusiasmo na companhia de vários amigos, alguns ilustres consócios da APH, como Cláudio Bugalho Semedo, Belo de Oliveira, Rafael Monjardino, João Oliveira e Silva, Gonçalo Ribeiro Teles, Manuel Figueiredo e outros. Pela singularidade distinguimos uma outra particularidade no domínio da gastronomia destes almoços: quando se aproximava o Natal ele presenteava os comensais com um belíssimo e exclusivo Bolo-rei! Weber de Oliveira e a sua sensibilidade artística ficaram bem visíveis também nos jardins que desenhou. E tocava música e falava várias línguas (não era frequente aprendê-las naquele tempo). Era assinante e leitor assíduo do “National Geographic Magazine”, pois teve sempre muito interesse pela Vida no planeta e pelas questões ambientais. Como escreveu a sua filha Margarida, uma dos seus dois filhos e colega agrónoma do Gabinete de Planeamento e Políticas do M.A.D.R.P., “partiu mas não nos deixou a 4 de Junho de 2009”.3 Carlos M. Portas Sócio n.º 1 e Presidente da APH (1976/78,1983/85). Manuel R. Figueiredo Sócio n.º 6 e Presidente da APH (1977/1979). 3. Agradece-se a ajuda amiga que a esta resenha deu a sua filha Margarida Oliveira. Também se agradece aos serviços académicos do Instituto Superior de Agronomia o auxílio nas pesquisas de informação relativa a actividade académica de Weber de Oliveira. 2- WEber de Oliveira: referência especial ao seu papel na cultura do tomate para indústria Em 1960, Weber de Oliveira foi convidado a entrar nos quadros do recém criado Departamento de Desenvolvimento Agrícola Estrangeiro (Overseas Agricultural Development) da empresa H. J. Heinz, então como hoje um dos maiores grupos agro-industriais do sector hortícola com sede nos EUA. O convite foi feito por John Eccles, Administrador responsável pelos abastecimentos de Matériasprimas do Grupo. A H. J. Heinz (Europa), na altura, como hoje grande consumidor de derivados de tomate, encontrava-se com sérias dificuldades de abastecimento, dado o rápido crescimento de consumo de conservas alimentares e a sua dependência quase em exclusivo do abastecimento vindo do Ontário (Canadá). No sentido de ultrapassar estas dificuldades a H. J. Heinz efectuou um aprofundado estudo na área mediterrânea, identificando a área do Ribatejo em Portugal como a mais bem adaptada à cultura do tomate. Weber de Oliveira, que teria acompanhado o início do projecto da introdução desta cultura em Portugal como funcionário da Junta das Frutas, entrou então no grupo para acompanhar os primeiros passos da jovem indústria transformadora do tomate. Era sua responsabilidade a trans- ferência dos conhecimentos e tecnologias da cultura extensiva do tomate para os novos agricultores em Portugal. Daqui resultou um sucesso reconhecido pelos intervenientes e hoje por vezes esquecido. Vivemos numa época em que muito se fala agora na inovação e na introdução de novas tecnologias. Ora aqui tivemos um homem que no seu tempo o fez de uma forma discreta, humana e sem dúvida notável. A indústria de transformação do tomate é hoje em Portugal a mais eficiente e produtiva da Europa, com os agricultores de maior dimensão e produtividade. Weber de Oliveira foi uma das peças importantes do início deste processo. Saía cedo de Lisboa, às vezes muito cedo, porque gostava de voltar a sua casa todos os dias. Dirigindo-se para o Ribatejo ou para as zonas de produção no Alentejo, tinha tempo para explicar as histórias de cada terra que se passava e identificar um ou outro pássaro menos vulgar (trazia sempre uns binóculos). Algo tímido mas profundamente amigo dos seus amigos, Weber de Oliveira tinha o dom particular de conseguir transmitir ao pequeno agricultor os seus profundos conhecimentos da biologia da planta do tomate e conhecia pelo nome milhares de agricultores. Foi um grande professor com tudo o que significa essa palavra. Martin Stilwell Vogal da Direcção da APH (1976/79) Revista da APH N.º 101 19 Títulos Honoríficos João Manuel Reis de Matos Silva ‘Horticólogo de Honra’ 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura António Mexia* Faz exactamente 24 anos que o nosso homenageado de hoje foi convidado, em Fevereiro de 1986, para apoiar a formação da Professora de Fruticultura da Escola Superior Agrária de Castelo Branco/IPCB, Maria de Lurdes Santiago Carvalho. O convite foi autorizado pelo Conselho Directivo do Instituto Superior de Agronomia (ISA) em Março do mesmo ano e por ele prontamente aceite. Mas é igualmente verdade que se este 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura estivesse a decorrer em Faro ou Évora, o início deste texto laudatório do homenageado poderia ser igual já que as respectivas Universidades do Algarve e de Évora fizeram idênticos pedidos ao ISA /UTL, em 1983 e 1985, tendo em vista o seu apoio à formação dos respectivos docentes de Fruticultura. 20 Revista da APH N.º 101 E tudo isto porque o nosso homenageado de hoje, o Sr. Professor Associado do ISA, João Manuel Reis de Matos Silva, aposentado, “estava de serviço”. Era o tempo, nas palavras do Professor Catedrático Carlos Portas, em parecer sobre o Relatório Curricular elaborado pelo Professor João Matos Silva, em 1990, ”… em que este Professor na vertente formação académica, era não só membro mas, mais do que isso, arguente obrigatório de todas as provas de concurso académico ou de investigação que se realizam no país no domínio das fruteiras lenhosas: nada menos que 13 participações no período 1985-1990.”. Este era, também, o tempo em que, por morte prematura dos Professores J. Vieira Natividade e C.R. Marques de Almeida e reforma do Professor André Navarro, mais de uma década antes da Jubilação do Professor Catedrático Luís Costa e Sousa, seu orientador científico nacional, em 1981, “… não existe no país nenhum Professor Catedrático na área das fruteiras lenhosas, onde aliás o Professor Associado João Manuel Reis de Matos Silva foi, de 1980 a 1985, o único doutorado…” conforme o parecer do Professor Carlos Portas, já mencionado. Não é, pois, de estranhar que tenha estado nos doutoramentos de António Monteiro, Rogério de Castro, Luís Carneiro, Alberto Santos, Pedro Correia, Dalila Espírito Santo, Ana Paula Silva, António Maria Ramos, este na Universidade de Córdoba, mas também nas dissertações de Mestrado de Cristina Oliveira, Maria de Lurdes Santiago de Carvalho, Nuno Barba, entre outros, muitos dos quais aqui presentes neste jantar - homenagem. De 1989 a 1992 ”… esteve de serviço ao INIA…”, especialmente nas Estações Agronómica Nacional e de Fruticultura Vieira Natividade, mencionando as provas de Graça Barreiro, Fausto Leitão, José Serrano, Manuel Dias de Oliveira, Olímpio Salgueiro Pereira, Gomes Pereira, Teresa Valdiviesso, alguns dos quais também presentes. Mas quem é João Manuel Reis de Matos Silva, o nosso homenageado? Nasceu em Lisboa, na Lapa, a 9 de Março de 1945, mas a sua identificação regional passou, sobretudo, pela Quinta da Granja, à saída do Bombarral para as Caldas da Rainha, em várzea fértil do Rio Real. Filho de João Matos Silva, oficial do Exército e natural de Louriçal do Campo, Castelo Branco, com família na Soalheira, e de Maria do Socorro de Jesus Laíns Reis de Matos Silva, natural de Alenquer, Aldeia Garzuta, foi um dos filhos do meio de quatro irmãos. De 1955/56 até 60/61 foi aluno do Colégio Militar, experiência que certamente deixou marcas e marcos na sua formação, e terminou o ensino Secundário no Liceu Gil Vicente, em Lisboa, com a classificação de 16 valores, em 1962. Nesse mesmo ano inscreveu-se no ISA, tendo concluído o 5.º ano da Licenciatura em Agronomia em Outubro de 1967, com a média de 14 valores. Ingressou como estagiário na cadeira de Horticultura e Arboricultura, tendo terminado o Relatório Final em 1970, com 18 valores, o qual versou “Ensaios sobre a cultura e a conservação da cebola (Allium cepa L.)”, trabalho de grande extensão, profundidade, rigor de delineamento experimental, sobre a cebola Valenciana tardia, e que foi considerado pelo Professor Carlos Portas como uma excelente dissertação de Mestrado, quando este grau académico ainda não existia em Portugal. Neste período colaborou no ensino da cadeira de Horticultura e Arboricultura, com funções idênticas às que foram mais tarde atribuídas aos monitores. Ingressou no ISA como Assistente eventual em Janeiro de 1971, passou a Assistente em Janeiro 1973 e a Professor Auxiliar, após o Doutoramento, em Julho de 1980. Em Março de 1985, três dias antes de comemorar 40 anos, foi promovido a Professor Associado, com nomeação definitiva em 1992, cargo que manteve até à sua aposentação, em Dezembro de 2006. No seu percurso académico merece realce o estágio que realizou na Universidade da Califórnia (Davis), de Janeiro a Abril de 1972, que teve que interromper por motivo de doença, situação recorrente que muito o atormentou ao longo da carreira e que o leva a não estar connosco, hoje. Também os trabalhos que efectuou na Long Ashton Research Station, Universidade de Bristol, conducentes ao seu Doutoramento sobre a “Diferenciação floral e a regularização das produções em macieira (Golden delicious)” são um marco no seu currículo. Acresce que os resultados destes estudos foram publicados em dois artigos em revistas ISI, acção muitíssimo inovadora atendendo aos dias de hoje. Mas o nosso homenageado também ficou conhecido por vicissitudes, incompreensões e bizarrias. É conhecido o seu desejo de esclarecer qualquer dúvida que surgisse na classe, mesmo que para tal tivesse que sair da sala durante longos minutos e nem sempre encontrava os formandos quando regressava. Mas não deixa de se lhe reconhecer a natureza inovadora pois foi um dos pioneiros a defender o enrelvamento dos pomares, 25 anos antes da fixação desta prática, recomendada, no normativo nacional de Produção Integrada de Pomoídeas. Também os relatórios dos trabalhos de grupo lhe provocavam dificuldades de avaliação. No meu caso pessoal há o episódio das couves em estufa. Em poucas palavras o caso ficou a dever-se à inclusão da frase “observamos couves em estufa” em relatório de grupo relativo a visita de estudo de horticultura à zona de Alcochete, o que foi considerado uma afronta técnica pelo Pro- fessor João Matos Silva, isto porque a frase (obviamente pouco cuidada) nem sequer traduzia qualquer realidade observada. Foi o cabo dos trabalhos para vencer tamanha impressão negativa. E o que diria hoje o Professor Matos Silva se visitasse a estufa da região Oeste onde um agricultor conhecido produz nabos em substrato de lã de rocha e fibra de coco, com rega gota-a-gota, ele que sempre foi inovador? Procurou, ainda, o Professor João Matos Silva uma participação activa na transferência de tecnologia para os agricultores e as suas organizações, quantas vezes em parceria com o “sócio”, o “sócio” de nós todos, o saudoso Eng. Agrónomo Amado da Silva, transferência essa que se às vezes correu bem outras nem tanto. De igual modo procurou a difusão de conhecimento através de revistas de divulgação como a Sulco, da John Deere, onde colaborou com a Professora Auxiliar do ISA, Maria Inês de Abrunhosa Mansinho, albicastrense ilustre, em crónicas onde procurou expressar os avanços da fruticultura. Recordo particularmente uma respeitante à cultura de pequenos frutos na aldeia do Alcaide. Em tempos mais recentes os seus “hobbies” antigos sobre história, particularmente o período medieval, mas também as invasões napoleónicas e as linhas de Torres, o teatro e a equitação, que tantas alegrias, equimoses e algumas quebras ósseas lhe proporcionou, ganharam maior expressão. Afinal, o elogio que o seu orientador Inglês, o Doutor L. Luckwill, lhe fez em 1979:”…. Mr. Matos Silva was an exceptionally diligent and hard-working student. Although quiet and reserved by nature, he nevertheless showed considerable initiative and was capable of working for long periods on his own without reference to his supervisors. ….He made very good use of his time at Long Ashton and was able to complete a very sound and useful piece of research …”, é, talvez, o que melhor define o Professor Associado João Manuel Reis de Matos Silva. Saibamos nós preservar, também com este acto de Horticólogo de Honra da APH, o que o nosso homenageado de bom nos procurou transmitir enquanto esteve activo na fruticultura nacional. *Professor Catedrático ISA/UTL Revista da APH N.º 101 21 Títulos Honoríficos Rui Maia de Sousa ‘Técnico Hortícola de honra’ 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura Maria da Graça Barreiro Caros amigos, colegas e participantes, em geral, do 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura, Ao honroso convite da APH para, em seu nome, entregar o título de “Técnico Hortícola de Honra” ao Eng.º Rui Maia de Sousa, só poderia responder afirmativamente com enorme satisfação e orgulho. Satisfação pelo reconhecimento público, que iria ser feito, ao Eng.º Rui Maia de Sousa, pelas relevantes funções técnicas exercidas, enquanto técnico do Ministério da Agricultura, no âmbito da Fruticultura. Orgulho pelo facto de me ser possível falar de um colega e amigo, pertencente como eu, ao INRB e com quem sempre pudemos alinhar em equipas pluridisciplinares. Esta homenagem é, no entanto, um pouco invulgar… Sim, invulgar porque no nosso país é normal homenagear individualidades com certa longevidade e frequentemente, em circunstâncias póstumas, mas já não poderemos dizer que é habitual, ou mesmo fácil, reconhecer as competências de alguém que esteja em plena actividade profissional, na designada fase da “força da vida”. Mas hoje, felizmente, o invulgar tornou-se realidade e por isso, repetindo as palavras com que iniciei esta intervenção, é com muito alegria e orgulho que vos quero falar do colega e amigo: Rui Maia de Sousa A sua formação académica… - Efectuou o estágio final de Curso de Engenharia Agrícola, no Departamento de Pomoídeas e Prunóideas da Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade (ENFVN). O trabalho realizado “Contribuição para o estudo da Figueira” teve a orientação do Investigador João Tomaz Ferreira. - Formou-se em Engenharia Agrícola, pela Universidade de Évora em 1988, tornou-se especialista em Fruticultura, pela Universidade Técnica de Lisboa (Instituto Superior de Agronomia), em 2005 e adquiriu, em 2007, o grau de Mestre em Agricultura e Horticultura Sustentáveis, pela Universidade Técnica de Lisboa (Instituto Superior de Agronomia). O seu percurso profissional… - No âmbito da sua carreira profissional, exercida na ex-Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade, do INRB foi, durante seis anos, Responsável pelo Centro de Formação Profissional em Fruticultura e Chefe de Divisão de Formação Profissional Pós-Graduada. Exerceu, até 2008, as funções de Subdirector da Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade e é actualmente Coordenador do Centro de Actividades da Fruticultura do INRB. - Entre 2001 e 2008, em representação do INIA / INIAP, fez parte da Direcção do Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN). O Técnico… O Rui de Sousa pertence ao conjunto de técnicos do Ministério da Agricultura que na sua actividade profissional luta, constantemente, para não se deixar submergir pelas dificuldades do quotidiano, ele procura incessantemente financiamento que assegure o funcionamento dos Serviços e a manutenção dos pomares experimentais através de Programas de Experimentação e Desenvolvimento Experimental, assegura eficazmente a interface 22 Revista da APH N.º 101 técnico-científica com a aplicação prática, a nível dos fruticultores e empresas e acima de tudo não exerce a sua actividade “apoiado” num conhecimento obsoleto mas antes na modernidade da C&T. Para a sua valorização profissional, tenta aprofundar e actualizar o conhecimento técnico e científico, realizando visitas técnicas ao estrangeiro, designadamente à Turquia, Itália, França, Espanha, Chile, Nova Zelândia e Brasil onde procura recolher o máximo de informação possível trazendo para o nosso meio as últimas novidades técnicas da fruticultura. De igual modo, está sempre aberto à participação em projectos de Investigação e Desenvolvimento colaborando e apoiando as equipas. Nos últimos anos participou em variadíssimos projectos de I&D nacionais (FCT; PIDDAC; PAMAF e AGRO) e comunitários na área da Fruticultura, tendo sido, em alguns deles, o responsável científico. A sua vasta área de intervenção técnica distribui-se pelas seguintes temáticas: selecção clonal e melhoramento genético da nogueira, intensificação cultural das prunóideas, selecção e propagação intensiva de fruteiras, produção integrada de pomóideas e prunóideas, adaptação de porta-enxertos e cultivares de amendoeiras e de nogueiras, adaptação de cultivares de figueiras, condução em formas baixas de figueiras, adaptação de porta-enxertos de pereira, selecção clonal de pereira ‘Rocha’, eleição de cultivares polinizadoras para a pereira ‘Rocha’, adaptação de porta-enxertos e de cultivares de macieira, incisões anelares em pereiras ‘Rocha’, fertilização e rega de fruteiras, prospecção e conservação em campo de cultivares regionais de figueiras, pereiras, macieiras, nespereiras, romanzeiras, ginjeiras e marmeleiros. - Em 2004, foi-lhe atribuído, pela Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha, o Prémio de Reconhecimento, como distinção pela actividade desenvolvida no sector. Contributos para a divulgação do conhecimento… Participou como formador em inúmeras acções de formação para técnicos e agricultores, apresentou elevado número de comunicações orais em congressos, jornadas, colóquios, seminários e conferências e orientou diversos estágios curriculares. Lecciona sobre a cultura da figueira para alunos de licenciatura e de mestrado em várias Universidades e Escolas tais como: Universidade do Algarve, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Instituto Superior de Agronomia, Escola Superior Agrária de Santarém e Escola Superior Agrária de Beja. É autor ou co-autor de um vasto número de artigos técnicos e científicos publicados em livros, jornais técnicos, revistas e actas, destacando-se obras sobre o cultivo da pêra ‘Rocha’ e as incisões anelares, a cultura da ameixeira, tecnologias de Produção Integrada – Pomóideas e Prunóideas, viveiros na fruticultura sustentada, polinização e variedades polinizadoras, condução de figueiras e a poda de pomóideas. finalmente o colega e amigo… Não poderia terminar esta intervenção sem abordar a faceta humana do Rui de Sousa, na perspectiva do colega e amigo. A Fisiologia da Pós-colheita, área de trabalho onde me incluo, terá sempre de integrar os factores condicionantes da pré-colheita, nomeadamente os referentes ao material vegetal, os aspectos edafoclimáticos e as práticas culturais. Só assim, de um modo integrado, poderemos caminhar decisivamente para o fornecimento ao consumidor de frutos com elevados padrões de qualidade nutricional e sensorial, salvaguardando a protecção ambiental. Assim, de um modo sinérgico temos pautado as nossas actividades. Anualmente, quando recebemos estagiários do Programa “Ciência Viva” lá estou eu a pedir ao Rui que nos receba e encante com as suas interessantes lições de fruticultura. O Rui de Sousa é uma Referência no quadro da Fruticultura Nacional. O país precisa dele... Obrigada, Rui O Eng.º Rui de Sousa homenageado com o título “Técnico Hortícola de Honra” e o Vice-Presidente da APH para a Fruticultura, Prof. Raúl Rodrigues. Revista da APH N.º 101 23 Títulos Honoríficos Vitor Manuel Bandeira Araújo ‘Horticultor de Honra’ 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura Raúl Rodrigues Vitor Manuel Bandeira Araújo é uma referência no âmbito da kiwicultura nacional, gerindo actualmente um pequeno império ligado ao sector, que vai desde o apoio técnico, à produção, conservação e comercialização de kiwis. Tudo começou no início da década de oitenta, quando seu pai António João Araújo decidiu implantar um pequeno pomar com dois hectares no concelho de Felgueiras. Esta decisão deu início à reestruturação da sua exploração, que se traduziria, a curto prazo, no abandono em definitivo da viticultura e do sector leiteiro, em favor da produção de kiwis. Assim, onde outrora cresciam vinhas e campos de milho e pastagens, hoje prosperam excelentes pomares de actinídias, cujo destino é essencialmente o mercado externo. Nessa altura, Vitor Araújo era um adolescente de tenra idade que cresceu juntamente com os actinidiais de seu pai. Pode mesmo dizer-se que a fase juvenil dos pomares acompanhou a sua juventude. Terminado o ensino básico, Vitor Araújo rumou a Santo Tirso, durante a segunda 24 Revista da APH N.º 101 metade da década de oitenta, onde, na Escola Profissional Agrícola Conde de São Bento, tirou o curso de Técnico Profissional – Ramo Agropecuária. De acordo com o depoimento dos seus antigos professores, a sua passagem por esta instituição foi vivida intensamente, sem que, no entanto, o seu aproveitamento escolar deixasse de ser uma referência para a grande maioria dos seus colegas. Terminado o curso, Vitor Araújo voltou às origens e instalou-se como jovem agricultor, recorrendo para tal, aos fundos comunitários para a instalação de 45 ha de actinidias, “um absurdo” para a época, tendo causado muita apreensão e muitas dúvidas às entidades oficiais. Nessa altura tivemos oportunidade de lhe perguntar o porquê de não tirar um curso superior e a resposta foi clara e evidente: “já me chega, quero é produzir kiwis!”. A ambição está-lhe no sangue, a visão empresarial da agricultura, transmitida pelo pai, a par do espírito empreendedor que lhe são característicos, fê-lo ver mais além. Vitor Araújo sentia necessidade de saber mais e cada vez mais. A falta de experimentação e de investigação em Portugal, não se coadunava com o investimento que fez. Estes motivos levaramno a Itália, o maior produtor mundial de kiwis, em busca de ‘know-how’, onde travou conhecimento com Marco Bovo, hoje seu sócio na empresa M. Bovo & Araújo, vocacionada para a venda de materiais e assistência técnica a actinidiais, tendo introduzido técnicas inovadoras em Portugal. Para além desta, Vitor Araújo possui mais quatro empresas: a ‘Kiwi Greensun’ vocacionada para a conservação e comercialização de kiwis e ‘Kiwi-Península’, ‘Pró-Kiwi’ e ‘Rui & Ari’, vocacionadas para a produção. Toda a comercialização é feita a partir da ‘Kiwi Greensun’, o rosto da presença no mercado. Um dos sucessos deste empresário agrícola reside na automatização dos serviços e na estrutura leve das suas empresas, contando presentemente com dois administrativos, um técnico e oito operários no entreposto, para além de 40 trabalhadores de campo. Todo o investimento em infra-estruturas de conservação e normalização tem sido de forma faseada. No ano da sua constituição, em 2003, a ‘Kiwi Greensun’ possuía uma capacidade de frio para 1800 t, tendo comercializado apenas 1200 t, traduzindo-se numa facturação anual de 750.000€. Actualmente, Vitor Araújo possui uma área de 160 ha de actinídias distribuída pelos concelhos de Felgueiras, Guimarães, Braga, Póvoa de Lanhoso e Amares, grande parte deles ainda em início de produção. As instalações da ‘Kiwi Greensun’ são modernas, fruto de um investimento de 4,5 milhões de euros, realizado nos últimos três anos. A central tem 4 mil toneladas de capacidade de armazenamento em frio, com câmaras refrigeradas por água glicolada, remoção do etileno e ozonificação. A ‘Kiwi Greensun’ está certificada pelas normas portuguesas ISO 22000 e espanhola 155/2008. No ano de 2009, a produção foi de 2200 t e o volume de vendas da ordem dos 2,5 milhões de euros. O destino da produção é, essencialmente, o mercado externo, sendo apenas 20% da produção comercializada em território nacional. A estratégia da empresa é conquistar nichos de mercado de valor acrescentado, ou seja, cadeias retalhistas que procurem produtos de qualidade. Questionado sobre o futuro, Vítor Araújo, no estilo que lhe é bem característico, respondeu que enquanto o mercado permitir, não tenciona parar de investir em novas plantações nem na modernização das instalações. Assim e para O Senhor Vitor Araújo homenageado com o título ‘Horticultor de Honra’, ladeado pelo Director Regional de Agricultura e Pescas do Centro, Eng.º Rui Moreira e pelo Vice- Presidente da APH para a Fruticultura, Prof. Raúl Rodrigues. 2015, prevê aumentar a capacidade de frio para 6800 t, de forma a dar resposta à produção média anual de 5000 t previstas para esse ano. Para além da produção própria, Vitor Araújo estabelece ainda contratos de produção com kiwicultores de dimensão considerável, representando esta modalidade cerca de 20% do volume de vendas anuais. Por outro lado, também possui contratos com empresas galegas, para a conservação e normalização de kiwis. No que respeita às cultivares produzidas, e tal como um pouco em todo o mundo, a “velhinha” Hayward continua a ser a mais importante. No entanto, o seu carácter empreendedor levou-o mais longe. Hoje, Vítor Araújo é o produtor exclusivo na Península Ibérica da cultivar precoce de origem italiana ‘Earligreen®’, o que lhe permite estar no mercado com produção logo a partir do mês de Setembro. A partir do corrente ano, passou também a deter os mesmos direitos, para a cultivar ‘Tsechelidis®’ de origem grega, uma novidade no mercado, tanto pelo calibre médio (170 g/fruto) como pelo facto de ter autofertilidade parcial comprovada. Vitor Araújo é um exemplo a seguir no sector da fruticultura nacional. Para ele, agricultura jamais será a arte de empobrecer alegremente, mas a arte de produzir riqueza para o país. A prova é que ele paga IRC, não sabemos quanto, apenas sabemos que paga, e muito… A visão empresarial da fruticultura, associada ao seu espírito empreendedor e inovador e ao prestígio granjeado no mercado internacional, fizeram deste jovem empresário agrícola um case study de sucesso, motivo de orgulho para a fruticultura nacional e para a APH em particular. A atribuição do título de “Horticultor de Honra” ao Sr. Vitor Manuel Bandeira Araújo foi a forma que a APH encontrou de reconhecer todo o contributo prestado ao desenvolvimento da fileira da fruticultura Nacional. Assim, em nome da Direcção da APH, o nosso muito obrigado pela sua presença nesta justa homenagem, e fazemos votos para que este seu sucesso continue para sempre. Parabéns e Muito obrigado. Revista da APH N.º 101 25 Conservação pós-colheita a pêra Passa de Viseu: produto regional a certificar Raquel Guiné O trabalho aqui apresentado teve por objectivo fazer o levantamento dos principais elementos sobre a pêra de São Bartolomeu e respectivo fruto secado, com a finalidade de se avaliar o interesse dos intervenientes do sector, a fim de se avançar para a protecção da pêra de São Bartolomeu como produto tradicional (DOP – Denominação de Origem Protegida). 26 Revista da APH N.º 101 1. Introdução A Pêra Passa de Viseu é um produto tradicional, genuinamente português, tendo as suas raízes na Beira Alta. Produzido segundo hábitos ancestrais, potencia os recursos humanos existentes, gerando postos de trabalho, contribuindo para a subsistência de inúmeras famílias que vêem na Pêra Passa de Viseu uma importante fonte de rendimento, melhorando a qualidade de vida das populações e fixando-as no interior do país. A União Europeia concede uma protecção especial aos produtores de especialidades regionais, que está regulamentada (www1). A legislação de enquadramento pode ser consultada em http://www.gppaa.min-agricultura. pt/Valor/DOP_IGP_ETG.html. O regime possibilita aos produtores registarem-se num sistema comunitário de protecção obrigatória de determinados produtos agrícolas e géneros alimentícios com denominação de origem. Assim, os elementos diferenciadores e identificadores assumem uma importância acrescida, quer para os produtores quer para os consumidores, para quem é importante poder dispor de produtos reconhecidamente tradicionais, com características de qualidade, reportadas quer à região de onde são originários, quer aos modos de produção. Pretende-se com este trabalho dar um contributo para a obtenção da certificação da pêra de São Bartolomeu com a designação de Pêra Passa de Viseu, enquanto DOP (Denominação de Origem Protegida), o que seria uma extraordinária mais-valia para a região e populações que trabalham dia a dia no sector primário. Com a obtenção desta certificação poder-se-ão verificar as seguintes mais-valias: • Incentivo da produção agrícola diversificada; • Protecção do nome contra imitações e utilizações indevidas; • Estratégias de promoção deste produto tradicional em nome da região; • Melhoramento do rendimento dos agricultores; • Fixação da população rural; • Ajuda aos consumidores, fornecendo-lhes informações relativas às características específicas dos produtos. 2. Caracterização da Pêra Passa de Viseu e do seu sistema de produção A Pêra Passa de Viseu é assim designada pelo facto de ter sido em tempos a cidade de Viseu o principal local de comercialização (Castilho, 1932), o que acontecia, principalmente, na feira franca de Viseu, realizada todos os anos em Setembro, desde 1392, nesta cidade Beirã. Em estudos anteriormente realizados com a pêra de S. Bartolomeu foram identificados diversos compostos fenólicos (Ferreira et al., 2002) e quantificado um teor relativamente elevado de fibra dietética (Barroca et al., 2006), sendo estes compostos de reconhecida importância actualmente no que respeita à prevenção de certas doenças. A área geográfica de produção abrange os concelhos de Oliveira do Hospital, considerado o Solar da Pêra Passa, Seia e algumas freguesias dos concelhos de Mangualde, Nelas, Gouveia, Santa Comba Dão e Tábua. A região onde se enquadra a área de produção apresenta condições edafoclimáticas que se caracterizam por um clima temperado, invernos frios e chuvosos e verões muito quentes e secos. No verão as temperaturas podem atingir os 30 ºC e a pluviosidade normalmente é escassa, mas os solos têm bastante disponibilidade de água. A pereira de São Bartolomeu é assim designada pelo facto dos seus frutos amadurecerem por volta do dia de São Bartolomeu (24 de Agosto), sendo também conhecida por Rouval, Ruival ou Vermelha, devido aos tons rosados que caracterizam os seus frutos (fig. 1), ou ainda como Carvalhal, devido ao grande porte destas árvores que faz lembrar o Carvalho (Castilho, 1932). A polpa é amarela, seca e doce, um pouco adstringente, apresentado um grau de firmeza que lhe confere as qualidades necessárias ao processo de secagem. As árvores desta variedade encontram-se na maioria dos casos dispersas, no meio ou na bordadura dos campos de cultivo. A árvore é, normalmente, enxertada em franco, sendo por vezes também enxertada em catapereiro (Pirus communis), pilriteiro (Crataegus oxiacantha) ou marmeleiro (Cydonia Figura 1 - Peras da variedade S. Bartolomeu. Figura 2 - Colheita das peras por varejamento. oblonga). É uma árvore bastante rústica que se adapta bem a qualquer tipo de terreno, desde que não seja excessivamente seco, sendo ainda bastante resistente à geada. Contudo, apresenta como fragilidade a susceptibilidade ao pedrado, responsável por uma quebra importante na produção. A Pêra Passa de Viseu é produzida a partir de peras da variedade de São Bartolomeu, seguindo o método de secagem tradicional ao Sol, que compreende as seguintes etapas: colheita, descasque, primeira secagem, embar- relamento, espalma, segunda secagem (Castilho, 1932; Fragata, 1994). As peras são colhidas manualmente, fruto a fruto ou, alternativamente, por vibração das pernadas, efectuada directamente pelo operador ou por acção de uma vara, operação essa designada por varejamento (fig. 2). Após a colheita a pêra é descascada manualmente com recurso a facas. As peras descascadas são colocadas em eiras de granito, tabuleiros móveis ou, mais frequentemente, passeiras constituídas por uma cama de Revista da APH N.º 101 27 caruma de pinheiro ou palha de centeio, onde ficam entre 4 a 6 dias, expostas ao sol, voltando-se uma vez, quando muito (fig. 3). O local onde são colocadas as passeiras deve ser arejado e com boa exposição solar, de forma a favorecer a incidência dos raios solares, permitindo assim atingir elevadas temperaturas. Após a primeira secagem, as peras são retiradas das passeiras, à hora de maior calor, a fim de serem abafadas dentro de cabazes ou cestos. Estes são cobertos com mantas e guardados à sombra cerca de dois dias (embarrelamento), de forma que a humidade e o calor acumulados facilitem a operação seguinte, a espalma. Depois de retiradas dos cestos, as peras são espalmadas por achatamento com um instrumento de fabrico artesanal, a espalmadeira. Esta é formada por duas peças de madeira articuladas por um pedaço de couro ou dobradiça (fig. 4). Estas duas peças comprimem um fruto de cada vez de modo a dar a forma achatada tão característica do fruto secado, comparável a um pequeno presunto. Como alternativa, pode realizar-se a espalma por compressão de duas pedras lisas. Os frutos depois de espalmados estendem-se novamente em eiras, desta vez sobre lençóis brancos, onde permanecem ao sol por um período que varia ente 2 a 4 dias (fig. 5). Em alternativa, surge o método de secagem em estufa solar com extracção de ar que foi utilizado à escala piloto na Escola Superior Agrária de Viseu (Barroca et al., 2006; Guiné et al., 2001; Guiné et al., 2007). Após o descasque as peras são colocadas inteiras sobre passeiras no interior da estufa solar. A secagem decorre globalmente durante 4 a 5 dias, dependendo das condições climatéricas. Para promover a renovação do ar no interior da estufa existem duas janelas de tecto (com uma rede mosquiteira para evitar a entrada de insectos) e um ventilador para extracção do ar. No projecto PTDC/AGR-ALI/74587/2006 financiado pela FCT e liderado pela Escola Superior Agrária de Viseu, actualmente em curso, equaciona-se se será conveniente manter a espalma no final da primeira secagem ou no final do processo. Quanto à operação de embarrelamento, esta passa agora a não ser necessária porque se chegou à conclusão que as peras têm elasticidade suficiente para que a espalma ocorra sem ruptura. A elasticidade deve-se mais propriamente a uma modificação na estrutura e composição dos polissacarídeos das paredes celulares do que propriamente à 28 Revista da APH N.º 101 humidade que se gera durante a operação do embarrelamento (Ferreira, 2003). Os critérios de avaliação do fruto secado são: coloração uniforme, em tom tijolo ou colorau; pedúnculo com cerca de 1 cm; flexibilidade da polpa. Quanto ao acondicionamento, a Pêra Passa de Viseu é um produto bastante sensível à humidade, rehidratando-se com alguma facilidade, pelo que o seu armazenamento e transporte deverão ser feitos em embalagens apropriadas, de forma a garantir os teores de humidade baixos, fundamentais para a sua preservação (Barroca et al., 2006). A Pêra Passa de Viseu é um produto regional que reúne características organolépticas ímpares, o que a torna um produto agro-alimentar tradicional bastante apreciado pelo consumidor. 3. Menções obrigatórias na rotulagem As menções na rotulagem tornamse obrigatórias após o pedido de protecção enquanto DOP. Na rotulagem da “Pêra Passa de Viseu” deverão constar obrigatoriamente as seguintes menções: • Nome do produto; • Nome do produtor; • Marca de certificação ou conformidade que consigne os seguintes elementos: nome do Organismo Privado de Controlo e Certificação (OPC) que garante a rastreabilidade do produto; • Logótipo da DOP “Pêra Passa de Viseu” criado pelo agrupamento de produtores; • Símbolo e/ou menção comunitária de “Denominação de Origem Protegida”, a partir do momento em que a decisão comunitária seja proferida. Mais, não é permitido que o nome ou denominação social e morada do produtor sejam substituídos pelo nome de qualquer outra entidade ainda que se responsabilize pelo produto ou comercialização; e a denominação de venda Pêra Passa de Viseu não pode ser acrescida de outra indicação ou menção, nomeadamente marcas de outros distribuidores ou outras. 4. Procedimento de certificação O processo de certificação de um produto divide-se em duas fases: a) Procedimento nacional de registo; b) Procedimento comunitário de registo. a) Procedimento nacional de registo O pedido de registo ou de protecção é efectuado por um agrupamento de produtores, que pode ser uma pessoa singular ou colectiva. Esse pedido deve ser dirigido ao Gabinete de Planeamento e Políticas (GPP), acompanhado dos seguintes documentos: • Estatuto do agrupamento de produtores; • Indigitação de um Organismo Privado de Controlo e Certificação (OPC); • Carta do OPC, aceitando a indigitação e remetendo, no mínimo, o Manual da Qualidade, o Manual de Procedimentos e o Plano de Controlo; • Caderno de especificações para o nome cuja protecção é solicitada e no qual devem constar: •Nome do produto, incluindo a Denominação de Origem Protegida (DOP), Indicação Geográfica Protegida (IGP) e Especialidade Geográfica Garantida (ETG); •Descrição do produto, incluindo as matérias-primas, as principais características físicas, químicas, microbiológicas ou ainda organolépticas; •Delimitação da área geográfica; •Prova de Origem: os elementos que provam que o produto agrícola é originário da área geográfica delimitada; •Método de obtenção: descrever o método como foi obtido o produto, e se necessário, os métodos locais, leais e constantes, bem como os elementos referentes ao seu acondicionamento; •Ligação com a origem geográfica: elementos que justificam as relações entre o produto e suas origens; •Estrutura de controlo: nome e endereço das autoridades ou organismo que verificam a observância das disposições do caderno de especificação e as suas missões específicas; •Regras de rotulagem do produto; •Normas ou legislação: as eventuais exigências fixadas por disposições comunitárias ou nacionais. O Gabinete de Políticas e Planeamento notifica, no prazo de cinco dias úteis, a recepção do processo, e inicia-se o estu- Figura 3 - Primeira secagem das peras em passeiras ao sol. Figura 4 - Espalma das peras feita com a espalmadeira. Figura 5 - Segunda secagem das peras ao sol, em cima de lençóis, depois de espalmadas. do do mesmo. Num período entre 6 a 9 meses, o GPP pode solicitar elementos adicionais ao agrupamento e pode iniciar as diligências necessárias para verificar todos os elementos do caderno de especificações; Quando o GPP entende que o processo possui os requisitos necessários, determina a entrada do processo na fase de consulta pública, em que será publicado um aviso no Diário da República e os projectos do caderno de especificações são remetidos para a Direcção Regional de Agricultura (DRA). No prazo de 1 mês a contar da data de publicação, podem ser efectuadas oposições à protecção solicitada. A oposição deve ser devidamente fundamentada, e deve ser entregue ao GPP ou ao agrupamento dos produtores. Caso haja oposição, o GPP inicia um processo de análise às mesmas, que decorre num prazo que varia entre 3 a 6 meses, devendo verificar se essas oposições tem fundamento e tentar solucionar as questões que foram levantadas pelos eventuais opositores. O pedido de reconhecimento é transcrito e o despacho de reconhecimento é publicado no Diário da República. O GPP verifica se o OPC aceita a indicação e se tem condições para ser reconhecido para este caso específico (demonstração do cumprimento da NP 45011) e meios humanos e materiais adequados ao produto em causa. Depois desta verificação, é publicado o aviso de reconhecimento, acompanhado de modelo e marca de certificação. b) Procedimento comunitário de registo O dossier completo é transmitido à Comissão Europeia e são publicados no site da Comunidade Europeia o nome e a data de recepção do processo. É estudado o dossier de forma a deliberar a sua publicação no Jornal Oficial da União Europeia (JOUE) depois de traduzido em todas as línguas comunitárias. Os Estados membros beneficiam de um período para efectuarem oposições sobre determinadas matérias. As oposições existentes são analisadas pela comissão e caso se encontre uma solução sem alterações ao processo transmitido pelo Estado Membro, num prazo de três meses, o nome é escrito no registo comunitário das Indicações Geográficas, Denominação de Origem ou Especialidade Tradicional Garantida. Caso contrário, inicia-se o processo de apresentação Revista da APH N.º 101 29 do dossier completo à Comunidade Europeia (CE). A inscrição no registo europeu é efectuada através da publicação de regulamento da comissão n.º 509/2006 e n.º 510/2006, especificando o nome protegido e a categoria de produto a que corresponde. A partir deste momento, os produtores podem usar a menção DOP, IGP ou ETG ou os respectivos símbolos comunitários. 5. Entidade promotora e gestora A FELBA, Promoção das Frutas e Legumes da Beira Alta, A.C.E., será a entidade promotora e gestora da Pêra Passa de Viseu. Este agrupamento de empresas da região da Beira Alta iniciou a actividade em 23 de Outubro de 2003 e tem como missão promover e gerir produtos hortofrutícolas, definindo e implementando regras na produção, conservação e comercialização de acordo com os mais elevados padrões de qualidade e exigências do consumidor. BIBLIOGRAFIA Barroca MJMC, Guiné RPF, Pinto A, Gonçalves F, Ferreira DMS. 2006. Chemical and microbiological characterization of Portuguese varieties of pears. Food and Bioproducts Processing, 84: 109-113. Castilho A. 1932. A Pêra passa de Vizeu. Direcção Geral dos Serviços Agrícolas, Bol.Est.Agr.Central, série A, Agosto. Ferreira DMS. 2003. Estudo das transformações bioquímicas e químicas da pêra de S. Bartolomeu durante o processo de secagem – recurso endógeno da região de Viseu. Tese de doutoramento, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal. Ferreira D, Guyot S, Marnet N, Delgadillo I, Renard CMGC, Coimbra MA. 2002. Composition of phenolic compounds in a Portuguese pear (Pyrus communis L. var. S. Bartolomeu) and changes after sun-drying. Journal of Agricultural and Food Chemistry, 50: 45374544. Fragata A. 1994. A Pêra passa de Viseu: um fruto a renascer? Semente. Guiné R, Barroca M, Gonçalves F, Ferreira D. 2001. Produção de Pêra Passa. Modernização de Técnicas e Diversificação de Variedades. ESAV (Ed.), Viseu, Portugal. Guiné RPF, Ferreira DMS, Barroca MJ, Gonçalves FM. 2007. Study of the Solar Drying of Pears. International Journal of Fruit Science, 7: 101-118. http://www.gppaa.min-agricultura.pt/Valor/DOP_IGP_ETG.html AUTOR Raquel Guiné [email protected] Professora Adjunta da Escola Superior Agrária de Viseu Especialidade: Engenharia Industrial e Alimentar 30 Revista da APH N.º 101 Agradecimentos: Ao Projecto PTDC/AGR-ALI/74587/2006 financiado pela FCT, e liderado pela Escola Superior Agrária de Viseu. À FELBA, Promoção das Frutas e Legumes da Beira Alta, A.C.E. Olivicultura Fertilização e protecção fitossanitária no controlo de anomalias florais nas cultivares de oliveira Santulhana e Conserva de Elvas M. Encarnação Marcelo, Clara Medeira, Isabel Maia, M. Teresa Carvalho & João Lopes A oliveira possui uma grande facilidade de adaptação a condições muito diversas de solo e clima. Porém, a obtenção de boas produções exige condições edafoclimáticas favoráveis, bem como a utilização de técnicas culturais racionais, nomeadamente a protecção fitossanitária e a fertilização. A existência de pragas, de doenças e de desequilíbrios nutritivos nas árvores compromete o seu normal desenvolvimento, com implicações negativas na actividade vegetativa, na floração e no desenvolvimento do fruto. Introdução A floração e a frutificação são processos muito complexos que resultam da conjugação de diversos factores, exercendo os de ordem nutricional uma influência decisiva. Vários estudos indicam que um adequado estado de nutrição azotada das oliveiras pode aumentar o número de inflorescências, de flores perfeitas (fig. 1) e o vingamento bem como diminuir o aborto do ovário (Cimato et al., 1990; Jasrotia et al., 1999; Rosa, 2003; FernándezEscobar, et al., 2006). Também outros nutrientes, como o potássio e o boro, interferem directamente na diferenciação dos gomos florais e na floração da oliveira, nomeadamente no crescimento do tubo polínico e na germinação dos grãos de pólen e, ainda, no vingamento (González et al., 1976; Perica et al., 2001; Chatzissavvidis et al., 2005). Todavia, para que haja um desenvolvimento equilibrado das árvores é necessário garantir que se encontrem num adequado estado nutricional, razão pela qual este deve ser avaliado, assim como o estado de fertilidade do solo, tendo presente as características de cada olival. Com esta informação é possível evitar fertilizações desajustadas que terão consequências nefastas nas produções e no meio ambiente. De igual modo, o não controlo de pragas e doenças poderá afectar negativamente todo o processo reprodutivo. No presente trabalho foi avaliado o efeito da fertilização racional e de tratamentos fitossanitários na redução de anomalias florais das cultivares Santulhana e Conserva de Elvas. Amostras e análises efectuadas O olival da cv. Santulhana foi plantado em 1990 na região de Mirandela com uma densidade de 204 árvores por hectare. O olival da cv. Conserva de Elvas localiza-se na zona de Elvas, tem uma densidade de 503 árvores por hectare e foi enxertado em 1979 na cv. Galega Vulgar. Em ambos os olivais foram marcados talhões experimentais constituídos por quatro árvores úteis cada. Consideraram-se os seguintes tratamentos experimentais: T1 – ausência de tratamentos fitossanitários e de fertilização Revista da APH N.º 101 31 Figura 1 - Flor seccionada observada em microscopia electrónica de varrimento (e-estigma; a-antera; ov- ovário; b-bráctea). Figura 2 - As lesões florais observadas à lupa. cv. Conserva de Elvas Anomalias florais (%) 100 96,6 88,0 81,2 80 64,7 60 52,1 53,1 49,3 40 32,9 20 0 2004 2005 cv. Fert Santulhana Test Trat fito Fert+Trat fito Anomalias florais (%) 100 80 84,4 76,1 68,8 60 40 41,7 39,7 46,7 46,0 33,3 20 0 2004 Test 2005 Fert Trat fito Fert+Trat fito Figura 3 - Valores médios das anomalias florais (%) obtidos na cv. Santulhana e na cv. Conserva de Elvas. 32 Revista da APH N.º 101 (testemunha); T2 – apenas fertilização; T3 – apenas tratamentos fitossanitários; T4 – fertilização e tratamentos fitossanitários. Estas práticas culturais tiveram início em 2003 e decorreram até 2005. Para avaliar o estado nutritivo das árvores dos diferentes talhões experimentais e para preconizar a fertilização mais adequada, realizou-se a colheita de folhas durante o período de repouso invernal anterior à floração considerada, bem como no período de endurecimento do caroço. As amostragens incidiram sobre folhas completamente desenvolvidas do terço médio de raminhos da Primavera anterior. A fertilização realizada foi, ainda, baseada nos resultados analíticos das terras colhidas em todas as parcelas no início do estudo. O solo do olival da cv. Santulhana apresenta texturas areno-franca e franco-arenosa, é muito pobre em matéria orgânica, tem pH (H2O) = 6,0, baixa capacidade de troca catiónica, teores médios de fósforo e potássio extraíveis e teores muito baixos e baixos, respectivamente, de zinco e boro extraíveis. O olival da cv. Conserva de Elvas está instalado num solo com textura franco-arenosa, com teores baixos de matéria orgânica, pH (H2O) = 8,2, com média capacidade de troca catiónica, teores altos e muito altos de fósforo, potássio, magnésio e zinco extraíveis e com teores médios de boro extraível. Nos talhões experimentais sujeitos a fertilização aplicaram-se os seguintes nutrientes: azoto, magnésio e boro, ao solo, e magnésio, zinco e boro por via foliar, no caso do olival da cv. Santulhana; azoto e boro, ao solo, e boro por via foliar ao olival da cv. Conserva de Elvas. As aplicações ao solo tiveram lugar em finais de Março ou princípios de Abril e as aplicações por via foliar foram realizadas no início de Maio, antes da floração. Foram efectuados tratamentos fitossanitários para controlo do olho de pavão (Spilocaea oleagina Cast. Hughes) e da gafa (Colletotrichum spp.) com oxicloreto de cobre no fim do Inverno e depois das primeiras chuvas outonais. Para o controlo da Bractrocera oleae Gmel utilizou-se o dimetoato depois das primeiras chuvas outonais. A quantificação dos gomos florais com lesões efectuou-se a partir de amostras de 400-450 gomos provenientes de inflorescências do terço médio de 16 ramos colhidos nas quatro árvores de cada talhão experimental. As observações foram efectuadas à lupa, uma a duas semanas antes da plena floração, identificando-se as lesões pelas alterações da superfície que correspondem à destruição interna dos órgãos (fig. 2). Esta destruição foi observada em microscopia óptica e electrónica segundo metodologia referida em Medeira et al. (2002; 2006). Resultados e Discussão Observou-se uma redução significativa da percentagem de gomos com anomalias florais (fig. 3) em 2004 e 2005, em consequência dos tratamentos experimentais, tanto na cv. Santulhana como na cv. Conserva de Elvas. A fertilização e os tratamentos fitossanitários conduziram a uma diminuição das anomalias florais, que foi mais acentuada quando aquelas práticas se realizaram em conjunto (fig. 3). Neste caso, a percentagem de anomalias florais situou-se, por vezes, em menos de metade da observada no talhão testemunha (sem fertilização e sem tratamentos fitossanitários). Na cv. Conserva de Elvas, os tratamentos fitossanitários tiveram um efeito mais acentuado na diminuição da percentagem de anomalias florais do que a fertilização. Admite-se que este resultado possa estar relacionado com as aplicações de oxicloreto de cobre que reduziram as populações de fungos, de bactérias e de protistas amibóides, estes presentes nas peças florais externas (fig. 4 e 5) e que provocam lesões extensas nos órgãos florais (Medeira et al., 2002; 2006). A produção média de azeitona obtida na cv. Santulhana foi muito baixa. Apesar disso, no primeiro ano, o tratamento experimental que foi sujeito a fertilização e a tratamentos fitossanitários foi o que produziu maior quantidade de azeitona. No último ano do estudo, a azeitona produzida no tratamento testemunha da cv. Conserva de Elvas foi praticamente nula, enquanto que os talhões em que se realizaram tratamentos fitossanitários e ambas as práticas culturais apresentaram valores de produção elevados. A quantidade de azeitona produzida mostrou-se negativamente correlacionada com a percentagem de anomalias florais. Figura 4 - Secção de duas anteras ligadas por um protista amibóide que as destruía, observada em microscopia óptica. Figura 5 - Protista amibóide apresentando aspecto típico de forma plasmodial (P), sobre um pistilo, observado em microscopia electrónica de transmissão, (C-cutícula; E-epiderme; W-parede celular das células da superfície do pistilo). Conclusões A aplicação racional de fertilizantes, conjugada com a realização de tratamentos fitossanitários adequados, contribui para aumentar o número de flores sãs na oliveira e, consequentemente, a produção de azeitona. Assim, estas práticas culturais deverão ser utilizadas sempre que os meios de diagnóstico do estado nutritivo do olival e de fertilidade do solo o indiquem e a presença de pragas e doenças o aconselhem. Trabalho financiado pelo projecto INIAP/PIDDAC 110 / 2002. BIBLIOGRAFIA Chatzissavvidis CA, Therios IN & Molassiotis, AN. 2005. Seasonal variation of nutritional status of olive plants as affected by boron concentration in nutrient solution. Journal of Plant Nutrition, 28: 309-321. Cimato A, Marranci M & Tattini M. 1990. The use of foliar fertilization to modify sinks competition and to increase yield in olive (Olea europaea cv. Frantoio). Acta Horticulturae, 286: 175-178. Fernández-Escobar R, Prado M, Ortiz A & Rapoport, H. 2006. Influencia del nitrógeno en la calidad de la flor del olivo. In: Nutrición Mineral. Aspectos fisiológicos, agronómicos y ambientales, Eds. CL Arrien, PMA Tejo, CAI Sánchez, II Iriarte & JFM Juez, Universidad Pública de Navarra, 2: 353-358. González F, Catalina L & Sarmiento R. 1976. Aspectos bioquimicos de la floración del olivo, variedad “Manzanillo” en relación con factores nutricionales. In: Le Contrôle de l’Alimentation des Plantes Cultivées, IV Colloque International, Gent, 409-426. Jasrotia A, Singh RP, Singh JM & Bhutani VP. 1999. Response of olive trees to varying levels of N and K fertilizers. Acta Horticulturae, 474: 337-340. Medeira MC, Maia MI, Narane S, Serrano MC, Leitão F, Lopes J & Santos M. 2002. Flower anomalies in Olea europaea L. cv. Santulhana. Acta Horticulturae, 586: 479-483. Medeira, C, Maia, MI & Carvalho, T. 2006. Flower-bud failure in olive and the involvement of amoeboid protists. Journal of Horticultural Science & Biothecnology, 81: 251-258. Perica S, Brown PH, Connell JH, Nyomora AMS, Dordas C, Hu H & Stangoulis J. 2001. Foliar boron application improves flower fertility and fruit set of olive. HortScience, 36(4): 714-716. Rosa, MM. 2003. Efeito da fertilização azotada na qualidade da flor e no vingamento da azeitona ‘Blanqueta de Elvas’. Relatório do trabalho de fim de curso de Engenharia Agronómica. UTL/ISA, Lisboa, 79 pp. AUTORES M. Encarnação Marcelo [email protected] Investigadora Auxiliar do Instituto Nacional de Recursos Biológicos (INRB, I.P.) - L-INIA Especialidade: Nutrição e Fertilização da Oliveira Clara Medeira [email protected] Investigadora Auxiliar do Instituto Nacional de Recursos Biológicos (INRB, I.P.) - L-INIA Especialidade: Fisiologia do desenvolvimento, Citologia e Citopatologia Isabel Maia [email protected] Assessora do Instituto Nacional de Recursos Biológicos (INRB, I.P.) - L-INIA Especialidade: Fisiologia do desenvolvimento e Citologia Teresa Carvalho [email protected] Investigadora Auxiliar do Instituto Nacional de Recursos Biológicos (INRB, I.P.) - L-INIA Especialidade: Fitopatologia João Lopes joã[email protected] Téc. Sup. Principal da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, responsável do Núcleo de Produção Agrícola em Mirandela Especialidade: Olivicultura Revista da APH N.º 101 33 Segurança alimentar FUNGOS NA SEGURANÇA ALIMENTAR Maria Cristina Lopes & Victor C. Martins Os fungos têm a capacidade de colonizar, decompor e utilizar substractos orgânicos actuando sobre outros organismos através do recurso a enzimas, toxinas, antibióticos e outros metabolitos. Os alimentos ao conterem compostos orgânicos como hidratos de carbono, lípidos, proteínas e vitaminas constituem fonte de nutrientes para o crescimento de fungos saprofíticos e parasitas. Em condições propícias, os fungos presentes nos alimentos podem deteriorar e/ou produzir metabolitos secundários prejudiciais ao Homem e aos animais. INTRODUÇÃO A segurança alimentar pressupõe a garantia de alimentos com qualidade e que não apresentem riscos para a saúde. Os fungos podem causar a deterioração dos alimentos invadindo e decompondo alimentos frescos, processados e/ou produzirem micotoxinas. Alguns fungos podem mesmo resistir à pasteurização (Lopes, 1973), outros fungos vão proliferar em alimentos com baixa actividade da água podendo contaminar toda a espécie de alimentos de que são exemplo: frutos secos, especiarias, laticínios, salsicharia, doces. E ste artigo faz referência a alguns contaminadores fúngicos (fungos filamentosos) e micotoxinas que podem apresentar um risco significativo para a alimentação humana. Deterioração dos alimentos por fungos filamentosos A deterioração dos alimentos pode ser descrita como a perda de qualidade dos alimentos (cor, sabor, textura, odor, etc.,) em resultado de alterações da composição do substracto que pode ser causada por microorganismos (bactérias, leveduras e fungos filamentosos). Nos fungos filamentosos associados à deterioração dos alimentos podemos considerar três grupos: - Os fungos que colonizam as plantas durante todo o seu ciclo de vida e que se tornam mais abundantes com a senescência dos tecidos vegetais (Alternaria, Botrytis, Cladosporium, Fusarium, Epicoccum, Phoma, Pleospora, Trichothecium e Mucurales); - Os fungos de armazenagem que se desenvolvem após a colheita das plantas e que tendem a substituir os fungos primários como é o caso dos géneros Aspergillus e Penicillium; - Os fungos que tendem a instalar-se numa fase posterior como os géneros Chaetomium e Sordaria (Ascomycota). As contaminações surgem ao longo de toda a cadeia alimentar pelo que é importante detectar os principais níveis de risco durante a preparação, o acondicionamento, o transporte e a distribuição dos alimentos. 34 Revista da APH N.º 101 Quadro 1 - Origem de algumas das principais micotoxinas que ocorrem na alimentação humana e nas rações animais . Espécies micológicas Micotoxinas Alternaria alternata alternariol Aspergillus flavus aflatoxinas A.ochraceus, Penicillium viridicatum, P. cyclopium ocratoxinas Claviceps purpurea cravagem (alcaloides) Fusarium culmorum, F. graminearum zearalenona Fusarium moliniforme ácido fusarico, fumonisina Fusarium sporotrichoides toxina T- 2 Penicillium citrinum, P. expansum citrinina Penicillum expansum patulina Phomopsis leptostromiformis fomopsinas Stachybotrys atrum tricotecenos ALGUNS DOS FUNGOS CONTAMINADORES DOS ALIMENTOS Alternaria alternata (Fries: Fries) Keissl. A espécie A. alternata é um dos contaminadores ambientais mais comuns (Lopes & Martins, 2003-2005). Os esporos depositados nas superfícies de frutos como azeitona, citrinos, maçã, pêra e tomate têm a capacidade de se manterem viáveis a baixas temperaturas durante a armazenagem e posteriormente, infectarem e colonizarem pequenas feridas que existam na epiderme dos frutos provocando a sua deterioração. A produção de micotoxinas pode ocorrer em determinadas condições ambientais e com várias estirpes do grupo A. alternata (quadro 1). Aspergillus Link Na maior parte das vezes a ocorrência e abundância de fungos do género Aspergillus está dependente do substracto e de condições ambientais como: temperatura, actividade da água, presença de conservantes e competição microbiana. A sua natureza como fungos do solo, aliada à capacidade de crescer em ambientes extremos, origina a contaminação de cereais e seus derivados. Algumas espécies do género Aspergillus têm a capacidade de produzir micotoxinas e são potencialmente perigosas para os humanos e os animais como é o caso da aflatoxinas produzidas pelo A. flavus (quadro 1). Figura1 - Botrytis cinerea em morango. MICOTOXINAS Desde a antiguidade existem referências a fungos que se desenvolvem nos alimentos e que são capazes de produzir, sob certas condições ecológicas, metabolitos secundários com carácter tóxico. Os fungos ao crescerem sobre os vegetais produzem metabolitos secundários que actuam de modo a favorecer a prevalência de determinada espécie micológica em relação a outros microrganismos em presença. Alguns desses metabolitos são tóxicos para os animais, para o Homem e para as plantas. Estes metabolitos denominam-se micotoxinas e às doenças por eles pro- vocadas micotoxicoses. As micotoxinas são compostos químicos ubíquos com diferentes propriedades químicas, biológicas e toxicológicas. As toxinas podem seguir toda a cadeia de produção dos alimentos e entrar na alimentação humana através dos produtos de origem vegetal e animal (Santos et al., 1998). Contudo a produção das várias micotoxinas em substractos vegetais depende não só das diferentes espécies micológicas, mas também de factores ambientais específicos como: temperatura, humidade, pH, actividade da água e quantidade de inoculo, sem os quais as micotoxinas não são produzidas (Correia, 1990; Centeno & Calvo, 2002). Botrytis cinerea Pers.: Fries A B. cinerea é uma espécie cosmopolita que ocorre nas regiões temperadas e subtropicais. Comporta-se como um parasita facultativo e afecta numerosas culturas provocando a deterioração total dos alimentos (alface, morango, tomate, uva) em que a contaminação do alimento ocorre provavelmente no campo (fig. 1). Embora B. cinerea não esteja associada a toxinas prejudiciais ao Homem e/ou animais, a sua presença nos alimentos altera a sua composição (Lopes & Martins, 2003/2005). Revista da APH N.º 101 35 Fusarium Link: Fries As espécies pertencentes ao género Fusarium estão, largamente, distribuídas no solo, na água e no ar associadas aos mais variados substractos orgânicos e são capazes de sobreviver a condições ambientais extremas através de mecanismos de resistência (p. ex. a formação de clamidósporos). Algumas espécies provocam doenças em animais e no Homem como os Fusarium graminearum, F. oxysporum e F. solani os quais têm sido isolados das unhas e da córnea do Homem (Booth, 1971). Este género é isolado com frequência nos solos de cultivo e algumas das suas espécies causam graves prejuízos em culturas de interesse económico como o Fusarium oxysporum com todas as suas inúmeras formae specialis (Booth, 1971). Os cereais raramente estão isentos de contaminações por fungos filamentosos onde as espécies do género Fusarium podem produzir elevado número de toxinas (quadro 1). Figura 2 - Penicillium expansum em maçã. Penicillum Link Os fungos de género Penicillium estão largamente distribuídos na Natureza e crescem na maioria dos ambientes, utilizando quase todas as formas de carbono orgânico associada a uma grande gama de parâmetros físico-químicos. Muitas das espécies do género Penicillium são fungos do solo colonizando uma grande variedade de materiais orgânicos, em especial nas plantas em decomposição e em madeiras (Carlile et al., 1994). Algumas espécies de Penicillium têm o seu habitat natural em grãos de cereais, que se desenvolvem durante a colheita e armazenagem como é o caso de P. aurantiogiseum, P. verrucosum, P. viridicatus que podem ocorrer no trigo e no milho nas regiões temperadas. As espécies P. brevicompactum, P. chrysogenum e P. glabrum são ubíquas e podem colonizar diversos alimentos. Outras espécies são mais especializadas como o P. digitatum e o P. italicum, que infectam principalmente os citrinos e o P. expansum que infecta as maçãs e as peras (fig. 2, 3). Os produtos alimentares raramente estão isentos de contaminações por bolores como Penicillium que podem produzir toxinas como ocratoxinas (P. viridicatum e P. verrucosum) responsáveis por hemorragias e diarreias e a patulina (P. expansum) responsável por lesões renais e pulmonares (Santos et al., 1998). 36 Revista da APH N.º 101 Figura 3 - Limão infectado por Penicillium digitatum. Figura 4 - Rhizopus sp. associado ao morango. Rhizopus Ehrenh. As doenças provocadas nas plantas por espécies do género Rhizopus são frequentes em todas as latitudes com especial relevo para R. stolonifer. Os fungos do género Rhizopus são fungos do solo e encontram-se associados a vegetais em decomposição e águas poluídas e que por vezes provocam a deterioração total dos alimentos com relevo para a fruta e “pão duro” (fig. 4). Stachybotrys chartarum (Erenb. ex Link) Hughes Stachybotrys chartarum é uma espécie micológica comum e isola-se com frequência do solo, de sementes, de plantas mortas e de produtos de origem celulósica como o papel. Este fungo tem a capacidade de produzir nos cereais e nas forragens armazenadas em ambientes húmidos, micotoxinas muito tóxicas para o Homem e para os animais (quadro 1). IMPORTÂNCIA ECONÓMICA As perdas económicas associadas à deterioração dos alimentos causadas por fungos e pela contaminação de micotoxinas são de difícil avaliação dado que não existem métodos directos e uniformes para a sua avaliação. Contudo, estima-se que entre 25-50% dos produtos colhidos são afectados, o que se traduz em perdas de produção e oportunidades de comércio. Estes factores estão associados a elevados custos económico que ainda são agravados por custos com a regulamentação e a fiscalização. Diversas são as razões para que o comércio de produtos alimentares se vá ajustando a uma regulamentação dinâmica, cujos limites vão sendo ajustados em função da exigência e como consequência do avanço do conhecimento científico e tecnológico relativos aos diversos tipos de contaminações onde as micotoxinas têm uma expressão importante. Nesse sentido, grande parte dos países estabeleceram regulamentos sanitários e fitossanitários com a finalidade de proteger os consumidores, dos riscos para a saúde nos quais, as micotoxinas estão englobadas dado que são conhecidas algumas das consequências à exposição prolongada a micotoxinas (Ragsdale, 2000). Assim, a curto prazo é previsível que, os limi- tes de tolerância estabelecidos para a presença de micotoxinas nos alimentos exijam novos padrões para detecção de micotoxinas. Outra estratégia para minimizar os riscos para a saúde e os custos a ela associados é aumentar o nível de exigência e de conhecimento para sectores da produção, transporte e transformação implementando-se práticas que minimizem as contaminações e incentivem a adopção de processos baseados em boas práticas nesses sectores. AUTORES CONCLUSÃO Em termos gerais, os alimentos e as rações para animais e as forragens podem conter um largo espectro de contaminadores fúngicos e micotoxinas. Entre eles destacam-se algumas espécies de Aspergillus e Penicillum que, pelo seu comportamento ubíquo e presença em vários estádios da elaboração dos alimentos, podem ter consequências nocivas nos sectores da saúde e da economia. Tecnologias eficientes para secagem, ventilação e refrigeração, além do emprego de cultivares resistentes que inibam a acção dos fungos e insectos e a realização de análises de rotina são algumas soluções apontadas para se reduzir a proliferação de fungos e as consequentes contaminações dos produtos. O desenvolvimento da bioquímica e da genética molecular pode contribuir para que, no futuro, as contaminações por fungos e por micotoxinas sejam controladas de modo a que os alimentos sejam produzidos de forma mais segura e económica. Como consequência dos conhecimentos adquiridos, nos últimos anos têm sido publicados no jornal oficial da União Europeia, regulamentação vária no que diz respeito aos limites máximos das toxinas nos alimentos (onde se incluem as micotoxinas). Maria Cristina Lopes [email protected] Investigadora do Instituto Nacional de Recursos Biológicos, L-INIA, Especialidade: Micologia (identificação de fungos filamentosos e Curator da Micoteca-MEAN, WDCM881). Victor C. Martins [email protected] Assessor do Instituto Nacional de Recursos Biológicos, L-INIA. Especialidade: Economia Agrária (identificação e análise de sistemas; análise de dados). BIBLIOGRAFIA Booth C. 1971. The genus Fusarium. CAB: Kew, UK. Carlile MJ, Watkinson S & Gooday G. 1994. The Fungi. Academic Press, London. Centeno S & Calvo M. 2002. Micotoxins produced by fungi isolated from wine cork stoppers. Pakistan Journal of Nutrition 1(6): 267- 269. Correia D. 1980. Bioquímica nos solos, nas pastagens e forragens. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. Lopes MC. 1973. Estudo sobre as principais micológicas em concentrado de tomate. Relatório de Estagiária do Curso de Engenharia Agronómica – Universidade Técnica de Lisboa. Lopes MC & Martins VC. 2003-2005. Fungos associados à videira (Vitis vinifera L.) em Portugal. Agronomia Lusitana 51(2): 21-58. Ragsdale NN. 2000. The impact of the food quality protection act on the future of plant disease management. Annual Review of Phytopathology 38: 577-596. Santos I, Venâncio A & Lima N. 1998. Fungos contaminantes na indústria alimentar. Micoteca da Universidade do Minho, Braga, Portugal. Revista da APH N.º 101 37 Fruticultura A CULTURA DO ANANÁS DOS AÇORES / S. MIGUEL Ricardo Filipe Santos O modo tradicional de produção de ananás nos Açores / S. Miguel é um sistema de produção em estufa que representa, só por si, um riquíssimo património cultural e que origina um produto com Denominação de Origem Protegida de excelente qualidade. Na sequência de um estágio realizado na Profrutos - Cooperativa de Produtores de Frutas, Produtos Hortícolas e Florícolas de S. Miguel, que presta apoio técnico à produção e comercialização de cerca de 70% do ananás dos Açores / S. Miguel, apresenta-se no presente trabalho, a arte da produção de ananás, exclusiva desta ilha atlântica. 38 Revista da APH N.º 101 Introdução O ananás é um fruto de aspecto invulgar e atraente e de agradável aroma. Sendo originário da América tropical, é produzido mundialmente em regiões com este tipo de clima. No entanto, em Portugal, é bem conhecido o local onde este fruto é produzido com bastante qualidade e que se encontra à mesma latitude que Lisboa - a Ilha de S. Miguel, nos Açores. A presença do ananás no Arquipélago remonta ao século XVII e o seu cultivo comercial data de meados do século XIX. No início do século passado, a produção Micaelense era exportada principalmente para a Rússia, mas também para Inglaterra e Alemanha. Deste modo, o ananás tem vindo a ser uma cultura com acentuado peso económico para a Região Autónoma dos Açores. Recorrendo a técnicas tradicionais como a aplicação de “fumos” e a utilização de “camas quentes” esta cultura, desenvolvida em estufas de vidro tradicionais, é única no mundo e permitiu durante largas dezenas de anos que este fruto tropical estivesse acessível aos países europeus (fig. 1). Na base das ‘camas quentes’ era usual incluir uma camada de ‘leiva’ constituída por espécies autóctones como o musgão (Sphagnum sp.), queiró (Calluna vulgaria L.), urze (Erica azorica Hoscht), tamujo (Myrsine africana L.) e feto (Pteridium aquelinum L.), após um período de compostagem de alguns meses. Estas plantas crescem nos Açores acima dos 500 - 600 metros de altitude e a sua remoção foi proibida há mais de vinte anos, devido ao seu importante contributo para o ecossistema da região. No entanto, de acordo com os testemunhos dos produtores, era uma prática que contribuía para a intensificação do aroma dos frutos. Desde 1996, que o Ananás dos Açores / S. Miguel é um produto com Denominação de Origem Protegida. O fruto tem forma cilíndrica, ligeiramente afusado, com casca laranja forte e polpa amarela translúcida, um sabor agri-doce sui generis e um aroma muito agradável. das, uma de “farelo” e outra de terra de ciclos anteriores. Esta fase é realizada em estufas tradicionais (alvenaria, madeira e vidro) ou em estufas de plástico, com regas semanais ou quinzenais, conforme a época do ano e o estado hídrico do solo. Quando os novos propágulos têm cerca de 30 cm, o que ocorre ao fim de 4 a 6 meses, são destacados da “toca” e colocados noutra estufa, onde a “cama quente” foi previamente preparada. Cada toca origina 3 ou 4 propágulos chamados “brolhos”, sendo escolhidos os que apresentam as melhores características vegetativas. Figura 1 - Estufa tradicional em S. Miguel, Açores. Fase 2 - “Brolho” Figura 2 - “Toca” com dois “brolhos”.. Figura 3 - distribuição do “farelo” para formas a cama. Ciclo produtivo O ciclo cultural do ananás dura dois anos e divide-se em três fases: Abrolhamento (Toca) - 4-6 meses; Planta Disposta (Brolho) - 6-8 meses; Planta Definitiva - 12-15 meses. Fase 1 - Abrolhamento A produção do ananás açoriano começa pela escolha das plantas que originaram melhores frutos no ciclo anterior. Não sendo utilizada a reprodução por semente, a propagação é feita a partir de um rizoma que é preparado com uma desfolha e com a extracção da base do pedúnculo, que se denomina “toca” (fig. 2). A utilização das “camas quentes” para a propagação do ananás é uma técnica que fornece a temperatura necessária ao desenvolvimento e crescimento das raízes. Na preparação das camas quentes começa-se por espalhar uma camada de “lenha” de incenso (Pittosporum undulatum Vent.) triturado, que é incorporada no solo com um motocultivador. Em seguida, segue-se uma camada de “farelo”nome localmente dado a um subproduto proveniente de trabalhos de corte e limpeza de madeira, sobretudo de criptoméria (Cryptomeria japonica Don) (fig. 3). Em seguida, colocam-se as “tocas” dispostas umas ao lado das outras, sempre em linhas paralelas, sendo cobertas por mais duas cama- Os “brolhos” são plantas pouco robustas e com escassas reservas, pelo que o objectivo desta fase é a obtenção de plantas com capacidade de originarem um bom fruto. Para se preparar a “cama quente” da fase do “brolho”, coloca-se uma camada de lenha de incenso e mobiliza-se, depois distribui-se uma nova camada, desta vez de farelo, e volta-se a mobilizar o solo, sempre com um motocultivador. Cada “brolho” deve sofrer uma desfolha da base do caule, bem como um corte das raízes, com o intuito de promover o crescimento de novas raízes. A fase de “brolho” pode também ser realizada em estufas tradicionais ou em estufas de plástico, e as plantas devem ser plantadas à distância de cerca de 27,5 cm. Num período de 6 a 8 meses, após a plantação dos “brolhos”, estes vão adquirir as necessárias reservas para a plantação definitiva onde irão produzir o fruto (fig. 4). Inicialmente as regas deverão ser abundantes, de modo a promover a fermentação dos materiais orgânicos incorporados no solo, o que aumenta a temperatura necessária ao enraizamento, bem como a disponibilidade de nutrientes para a planta, devido à mineralização da MO. Nesta fase da produção de ananás efectua-se o controlo das infestantes e é usual caiar a superfície das estufas nos meses de Primavera e Verão, para evitar que a luz solar directa atinja as plantas. Para promover o crescimento da planta deve ser mantida uma atmosfera quente e húmida dentro da estufa, o que se obtém com uma boa prática das operações culturais já referidas. Revista da APH N.º 101 39 meses após a fumigação, surgem as primeiras inflorescências (fig. 5). Cerca de 6 meses após a aplicação de fumos, os ananases estão prontos para serem colhidos. No entanto, é importante referir uma outra operação relevante, que consiste na remoção do meristema central da coroa, que diminui o crescimento desta e melhora a qualidade do fruto. Este procedimento é um dos principais responsáveis pelas diferenças visuais que distinguem o ananás dos Açores / S. Miguel do abacaxi. Figura 4 - Estufa de 2ª fase/ brolho. CONCLUSÕES O Ananás de S. Miguel tem atravessado um período difícil, nomeadamente devido à concorrência do abacaxi, com menores custos de produção. No entanto, o ananás micaelense tem uma qualidade muito superior ao produzido nos continentes Americano e Africano, pelo que, mudanças nas tecnologias de produção, acompanhada por uma motivação dos produtores para produzir um produto “gourmet”, destinado a este tipo de mercado na Europa e ainda aos EUA e Canadá, onde se encontra um elevado número de emigrantes açoreanos, poderá ser um caminho a seguir, para que não se extinga este produto tão característico e de tão elevada qualidade. Figura 5 - Flor de ananás. AGRADECIMENTOS Agradece-se à Profrutos e em particular ao Engenheiro António Simas, que orientou o estágio realizado. BIBLIOGRAFIA Tavares JLP, Baptista JAB. 2004. Cultura do Ananás em estufa Ilha de S. Miguel-Açores. Profrutos. Ponta Delgada Tavares JFP, 1985. Ananás em estufas nos Açores. Arquipélago. Ponta Delgada Figura 6 - Fruto de ananás. Fase 3 - Plantação definitiva Sendo esta a fase final, as plantas têm de aceder a todos os nutrientes que necessitam para a obtenção de frutos com a melhor qualidade possível. Deste modo, torna-se necessário duplicar a distância entre plantas (55 cm), sendo que a preparação das “camas quentes” é idêntica à da fase anterior, mas com a obrigatoriedade de decorrer nas estufas tradicionais, de alvenaria, vidro e madeira. As operações culturais também são semelhantes. Ao fim de cerca 40 Revista da APH N.º 101 de 6 meses, deve-se induzir a floração, para concentrar a época de colheita. Esta operação pressupõe a existência de estufas, em boas condições de hermeticidade, e consiste na fumigação causada pela queima de material vegetal seco, principalmente de ramos de criptoméria que são colocados em recipientes móveis no interior das estufas. Esta fase prolonga-se por um período que pode ir de 9 a 21 dias. A elevada concentração de fumo promove a produção de etileno, em detrimento das auxinas, levando a planta a atenuar o crescimento vegetativo e, entre 1 e 3 AUTOR Ricardo Filipe Santos [email protected] Aluno do Mestrado em Engenharia Agronómica, no Instituto Superior de Agronomia Especialidade: Hortofruticultura e Viticultura Doutoramento NECESSIDADES HÍDRICAS E RESPOSTA DA OLIVEIRA (Olea europaea L.) AO DEFICIT HÍDRICO NA REGIÃO DA TERRA QUENTE Anabela Afonso Fernandes Silva A oliveira (Olea europaea L.) tem sido tradicionalmente cultivada em condições de sequeiro. Contudo, nos últimos anos tem-se assistido a uma expansão do olival em condições de regadio, o que tem suscitado uma série de questões, nomeadamente sobre as necessidades hídricas e a resposta produtiva resultante. Foi neste sentido que se traçaram os objectivos gerais desta Tese: quantificar as necessidades de rega e caracterizar a resposta produtiva da oliveira na cv. “Cobrançosa” em função de diferentes dotações de água de rega. Assim, o estudo experimental realizou-se durante três anos consecutivos (2004-06) num olival comercial (12 anos, 6 m x 6 m) nas condições edafoclimáticas da região da Terra Quente em Trás-os-Montes. A parcela experimental foi constituída por três subparcelas adjacentes, as quais foram submetidas a três tratamentos de rega: T0-sequeiro, T1-rega deficitária (30-50% ET) e T2-rega máxima (100% ET). O estudo focou o efeito da rega no crescimento vegetativo, na utilização da água, na produtividade (frutos e azeite), na composição química e qualidade do azeite, nas eficiências do uso da água (WUE) e da radiação (RUE) e na resposta fisiológica. A evapotranspiração anual (ET) variou de 295 mm no T0 a 700 mm no T2. Os valores da ET para o T1 variaram entre 64% a 80% da ET do T2, dependendo do ano. As necessidades estacionais de rega, para o T2 foram cerca de 1900 m3 ha-1, o que representa em média 1,46 mm d-1 para um período de rega cerca de 130 dias (finais de Maio a finais de Setembro). A relação ET/ET0 obtida neste estudo revelou que a utilização de água pela oliveira é apenas influenciada pelo deficit de água no solo (DAS) quando este é superior a 60%. Em todos os anos a rega aumentou o crescimento vegetativo, reflectindo-se num aumento da quantidade de radiação interceptada e, consequentemente, na produção. De facto, a produção foi fortemente incrementada pela rega, sendo superior no T2 47% a 88% ao T0, e 33% a 55% ao T1; enquanto no T1 foi 45% a 73 % superior ao T0. A resposta da produtividade (Y) em função da ET foi do tipo linear: • Frutos Y = 1,05x - 304 (r2 = 0,95) • Azeite Y = 0,35x - 93 (r2 = 0,90) A rega afectou alguns parâmetros relacionados com a qualidade e a composição do azeite, tendo-se observado uma diminuição dos polifenóis e da estabilidade oxidativa, e um aumento do índice de peróxidos com o aumento da quantidade de água aplicada. A composição em ácidos gordos não foi influenciada pela dotação de rega, mas respondeu às variações climáticas inter-anuais. Contudo, as variações destes parâmetros não foram importantes ao ponto de condicionar a qualidade do azeite. A relação entre o potencial hídrico de base do ramo (ΨB) e o teor de água disponível (TAD) no solo permitiu identificar os seguintes valores críticos: ausência de deficit hídrico quando o ΨB > -0,70 MPa; deficit hídrico moderado para valores de ΨB que variaram entre -0,70 MPa a -2,0 MPa; deficit hídrico severo quando o ΨB < -2,0 MPa e extremamente severo quando o ΨB < -4,0 MPa. As medições das trocas gasosas indicaram que, em ambos os tratamentos de rega a taxa de fotossíntese aparente (A) aumentou, enquanto a depressão da taxa de fotossíntese e da condutância estomática (gs), observada durante os períodos do meio-dia e da tarde diminuiu. Em condições de elevado deficit de pressão de vapor do ar (VPD), a oliveira previne a perda excessiva de água através da diminuição do grau de abertura dos estomas, Revista da APH N.º 101 41 com um decréscimo proporcional da gs com o aumento do VPD, pelo menos até 3,2 kPa no T1 e 3,9 kPa no T2. Em contraste, no T0 observou-se uma menor sensibilidade dos estomas com o VPD. Por outro lado, verificou-se que nas plantas do T0 em condições de deficit hídrico muito severo, a gs decresceu drasticamente quando TAD < 20%, ao contrário das plantas regadas, onde a gs mostrou-se insensível para valores de TAD > 20%. Em adição, foi observada uma ausência de relação entre a gs e o potencial hídrico do ramo, independentemente do tratamento de rega, indicando que o efeito do estado hídrico do solo nos estomas não é mediado pelo potencial hídrico da folha. Assim, nas oliveiras em condições de deficit hídrico severo os resultados sugerem que a existência de sinais químicos e hidráulicos das raízes para as folhas podem controlar a resposta da condutância estomática ao meio ambiente. Palavras - chave: Olea europaea L, “Cobrançosa”, necessidades hídricas, evapotranspiração, resposta produtiva, azeite, resposta fisiológica, região da Terra Quente. 42 Revista da APH N.º 101 AUTORA Anabela Afonso Fernandes Silva [email protected] Prof. Auxiliar do Departamento de Agronomia, Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias / Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) / Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Especialidade: necesidades hidricas das culturas, relações solo planta atmosfera, olivicultura. Entrevista Cooperativa Agrícola do Távora O nosso entrevistado é o Prof. João António Pereira da Silva, licenciado em Educação Física e Desporto, a leccionar no Agrupamento de Escolas de Sernancelhe, dirigente cooperativo há 12 anos e a desempenhar as funções de Presidente da Cooperativa Agrícola do Távora desde 09 de Março de 2003. É simultaneamente produtor de uvas e maçãs. A entrevista foi conduzida por Rosa Guilherme e Maria da Graça Barreiro. APH – A Cooperativa Agrícola do Távora é um caso de sucesso e uma referência a nível Nacional. Em que zona do País se localiza? João Silva - A Cooperativa Agrícola do Távora é uma organização credível e uma referência no panorama cooperativo português. Tem cumprido os objectivos para os quais foi criada e assumido com os seus colaboradores (associados), fornecedores e clientes, relações de responsabilidade, compromisso e honra. É, pois, na região uma empresa com vigor, com ideias, e com um futuro promissor para aqueles que ainda acreditam na agricultura portuguesa. Fica situada na Região do Douro-Sul, integrando os Concelhos de Penedo- no, Sernancelhe e Moimenta da Beira e ainda as franjas dos concelhos de Vila Nova de Foz Coa, S. João da Pesqueira, Tabuaço, Armamar, Tarouca e Trancoso. Porém, a sede social localiza-se num espaço nobre da encantadora Vila de Moimenta da Beira. APH – Como surgiu este projecto? Fale-nos um pouco da história desta Cooperativa. João Silva - A Cooperativa Agrícola do Távora (Adega Cooperativa) foi fundada há 55 anos através da iniciativa de 12 associados. Após a Segunda Grande Guerra, vivia-se um período conturbado no sector vitivinícola, devido essencialmente à crise do “Vinho do Porto”. Os lavradores não conse- Presidente da Cooperativa Agrícola do Távora, Prof. João Silva e Vice-Presidente Engº Pedro Dias. guiam escoar os seus produtos, nomeadamente o vinho, o que acarretava situações de desespero no seio das inúmeras famílias desta grande região vinhateira. Havia que concentrar a oferta dos imensos pequenos agricultores e criar condições para a sua comercialização. Nesse ano de 1ª vindima vinificaram-se 750 pipas de alguns associados do concelho de Moimenta da Beira. Em 1987/88 iniciaram-se as obras da construção da Central Fruteira, estrutura com capacidade para quatro mil toneladas de fruta, conservadas em frio. Em 1989 entraram as primeiras maçãs. Hoje a fruteira é uma unidade moderna que respeita os princípios de qualidade e das regras de comercialização. Possui também uma secção moderna de aprovisionamento onde são comercializados factores de produção, alfaias e rações para animais. Possui nestas instalações um Salão Nobre onde se realizam as assembleias-gerais dos associados, acções de formação e outros eventos públicos. APH – De certo que, para ser alcançado este êxito, terá contribuído a colaboração de muitas pessoas. Qual o número de associados da Cooperativa? João Silva - O êxito alcançado pelas organizações cooperativas verifica-se pelo modo como são liquidados os produtos entregues pelos seus associados, pela relação de confiança estabelecida entre os mais diversos colaboradores. Aqui, na nossa Cooperativa, não iniciamos nenhuma campanha sem pagar a anterior. É assim há 55 anos. Agora, o objectivo imediato é tentar pagar melhor os produtos entregues pelos nossos associados, para que ainda sintam estímulo para continuar a labutar e remar contra aquilo que parece ser a malfadada agricultura portuguesa. Não posso deixar de falar no excelente trabalho desenvolvido ao longo dos tempos pelos nossos técnicos (gestão, laboratório e de campo), pessoal administrativo, encarregados das várias secções e funcionários. Gostaria, também, de recordar o papel que tiveram anteriores Directores da Cooperativa, em especial o falecido Comendador Acácio Osório, que souberam investir na hora, aproveitando os fundos comunitários e que tudo fizeram para levar longe o nome desta Revista da APH N.º 101 43 Cooperativa Agrícola do Távora. região e a defesa do cooperativismo português. Muito importantes foram as intervenções levadas a cabo pelos técnicos do Ministério da Agricultura, no apoio sempre presente junto dos agricultores e da própria estrutura. Sem querer deixar de fora ninguém, pois todos foram muito úteis, gostaria de salientar o trabalho desenvolvido pelo Sr. Eng. Cartageno Ferreira. Para além das suas capacidades técnicas, da sua amabilidade para com tudo e para com todos, o facto de conseguir ver primeiro que muitos, potenciou esta região para o topo da fruticultura nacional. A região, o país e a Cooperativa em particular, devem-lhe muita coisa. Finalmente dizer que a Cooperativa do Távora é constituída por três secções, Vinho com cerca de 1.420 agricultores, Fruta (maçãs) 320 fruticultores e Aprovisionamento com perto de 4.500 associados. rio no posto de vendas e mais catorze funcionários distribuídos pelos vários serviços da adega. Com o crescimento do negócio do espumante fomos obrigados a contratar mais oito funcionários. A Secção de Frutas possui um engenheiro responsável, um encarregado da fruteira, um responsável pelo frio, um adjunto do encarregado, três operadores de empilhador e cerca de 20 funcionárias que desempenham funções ligadas ao processo de normalização e comercialização da fruta. Finalmente, a Secção de aprovisionamento tem o engenheiro da fruteira como responsável, um encarregado, um escriturário no posto de venda e dois operadores de armazém. Temos a receber formação uma jovem engenheira que irá ser responsável pela implementação e controlo da qualidade, requisitos importantes e obrigatórios nas empresas modernas e que se candidatam à internacionalização dos mercados. APH - Quais os recursos humanos de que dispõe a Cooperativa? APH – Que serviços a cooperativa presta aos associados e qual a área de actuação? João Silva - Os recursos humanos de que dispõe a Cooperativa estão distribuídos pelas diversas secções. A sua estrutura de comando assenta na sua Direcção em estreita colaboração com o Gestor. Esta atitude permite uma gestão mais profissionalizada que é acompanhada pelos serviços administrativos, onde trabalham um técnico de contas, um técnico informático, uma operadora informática, uma secretária/escriturária e uma telefonista. De seguida temos a Secção de Vinhos constituída por um Enólogo chefe, por um Enólogo residente, um adegueiro, um adjunto de adegueiro e chefe de máquinas, um adegueiro em formação (Jovem futuro adegueiro), um escriturá44 Revista da APH N.º 101 João Silva - A Cooperativa presta aos seus associados todo o apoio inerente ao quotidiano agrícola nomeadamente: serviço de avisos para a aplicação de produtos fitofarmacêuticos, datas das colheitas, recolha de matérias para análise laboratorial, acompanhamento nas explorações agrícolas, aconselhamento técnico apropriado ao momento e à selecção do investimento, serviços de seguros de colheitas e outros ligados à lavoura. APH – As principais culturas da Região são a vinha e os pomares de macieiras… quais foram as estratégias seguidas para apoiar os produtores? João Silva - A cultura da vinha e da maçã têm, nesta região de pequena propriedade, uma importância crucial no rendimento das famílias. No Douro-Sul a área de pomar de macieiras ultrapassa já os 4.000 hectares, com uma produção média anual de maçã superior a 100.000 toneladas. Na área social da Cooperativa Agrícola do Távora a cultura da vinha ocupa uma área de 1.200 hectares a que corresponde uma produção média anual que ronda os 8.000.000 kg de uvas. A principal estratégia seguida pela Cooperativa assenta na reestruturação das parcelas agrícolas, na selecção das variedades, na capacidade de incutir nos agricultores as melhores práticas agrícolas e, essencialmente, motivar jovens agricultores para que se possam fixar nas suas terras, para ganharem o futuro e perspectivarem riqueza às suas famílias. Aproveito, para lembrar nesta entrevista que me concederam, as palavras proferidas pelo Sr. Presidente da República Portuguesa, Prof. Dr. Cavaco Silva, sobre a importância da pequena agricultura familiar e, consequentemente, o povoamento do interior do país. APH - Sabe-se, hoje em dia, que o sucesso de qualquer empresa passa por uma aposta forte na inovação. É desta opinião? João Silva - Certamente que os princípios que nos norteiam assentam no acompanhamento das realidades do mundo empresarial. Temos consciência que é preciso inovar, ser competitivo e estar na linha da frente. Assim Deus e o Governo nos ajudem. APH – Como se tem perspectivado o desenvolvimento da Cooperativa face à necessidade constante de adaptação às solicitações do mercado? João Silva - Cada vez é mais difícil entrar neste mercado global. Temos aproveitado as várias oportunidades que o Governo tem apresentado, iniciativas privadas onde participamos em parcerias múltiplas e em iniciativas próprias junto dos mercados nacionais e internacionais. Os resultados vão aparecendo. Sabemos que o processo é lento mas vamos tendo paciência. APH – As designações dos vinhos “Terras do Demo”, “Malhadinhas” e “Aquilinus” têm uma história… O que nos pode contar? Algumas importantes variedades de maçãs, produzidas na região: ‘Gala’ e ‘Bravo de Esmolfe’. Espumante ‘Terras do Demo’. João Silva - Em boa hora que a Cooperativa escolheu o nome de algumas obras do grande escritor Aquilino Ribeiro. É com muita honra que assistimos ao desfilar dos nossos rótulos nas prateleiras e restauração deste país e do estrangeiro. Aproveito para agradecer aos familiares do nosso grande escritor na pessoa do Sr. Eng. Aquilino Ribeiro Machado. Muito obrigado. ta entrevista e desejar à Cooperativa Agrícola do Távora um próspero futuro em prol da cultura da vinha e da maçã, como forte suporte no rendimento das famílias e alavanca para um desenvolvimento regional sustentável. De igual modo, não podemos deixar passar a ocasião sem um agradecimento expresso pela gentileza da vossa oferta em vinhos à organização do I Colóquio Nacional de Sementes e Viveiros, que se realizou em Coimbra de 29 a 30 de Outubro de 2009. Os famosos vinhos produzidos, engarrafados e comercializados pela Cooperativa Agrícola do Távora foram servidos e apreciados durante o jantar oficial deste Evento cuja qualidade foi unanimemente reconhecida. Muito Obrigada! APH – Sabemos também que, ao longo do percurso da Cooperativa, já lhe foram atribuídos Prémios de Excelência, primeiros prémios, medalhas de honra, medalhas de prata, menções honrosas… Quais os que tiveram maior impacto na história da Cooperativa? João Silva - Ao longo dos 55 anos da nossa história já nos foram atribuídos muitos prémios. Aquele que tem um simbolismo maior refere-se à entrega de uma Taça correspondente à conquista, em três anos consecutivos, do prémio do melhor vinho branco português. Todos estes prémios resultam do excelente produto entregue pelos nossos associados, da maneira delicada e profissional como é realizada a faina na adega pelos nossos funcionários e, essencialmente, pela capacidade, competência e sensibilidade posta na feitura de um vinho, pelo nosso Enólogo, Engenheiro Jaime Brojo. A Cooperativa Agrícola do Távora está-lhe reconhecida. APH - Em relação ao futuro, quais os principais desafios que pensa vir a enfrentar? João Silva - O futuro a Deus pertence. Julgo, no entanto, que o principal desafio que iremos ter pela frente é a capacidade de produzir produtos de excelência e sermos competitivos nos diversos mercados. Direi, ainda, que teremos de incutir aos nossos associados a ideia de continuar a produzir com elevada qualidade. APH - Que apoios ou incentivos gostaria de ter? João Silva - Gostaria que o Governo fosse mais célere, mais eficaz, na concretização das ajudas respeitantes às candidaturas. Como nota final desta entrevista gostaria de agradecer a amabilidade que tiveram para com a Cooperativa Agrícola do Távora. Muito obrigado. Em nome da APH gostaríamos também de agradecer a concessão desRevista da APH N.º 101 45 Actividade Interna Assembleia Geral No passado dia 22 de Março realizou-se a Assembleia Geral Ordinária da APH. Da ordem de trabalhos constaram a apreciação e votação do Relatório de Actividades e das Contas de Gerência do exercício de 2009 assim como do Plano de Actividades e do Orçamento para o exercício de 2010. O Relatório de 2009 e o Plano de 2010 foram apresentados pela Presidente da Direcção, Maria Elvira Ferreira e as Contas de 2009 e o Orçamento para 2010 pelo Tesoureiro, Alberto Vargues. Em relação ao ano de 2009, foi dado realce ao trabalho realizado na valorização da Organização Interna, particularmente na melhoria da comunicação com os associados através do correio electrónico, na inventariação das publicações existentes em arquivo e na actualização do site da nossa Associação. Foram apresentados os eventos técnico-científicos decorridos em 2009. Para 2010, a Presidente da Direcção reforçou a necessidade de anga- 46 Revista da APH N.º 101 riar novos Sócios Patrono e prometeu o empenhamento de todos os elementos da Direcção nesta questão. A continuação da promoção e da divulgação da APH, não só através da realização de eventos técnico-científicos nacionais e internacionais, mas também da tentativa da adaptação das normas de publicação da Revista da APH aos critérios da SCIELO, fazem também parte do Plano de Actividades para 2010. Após esclarecimento de dúvidas os referidos documentos foram aprovados por unanimidade podendo ser consultados nas páginas desta revista, assim como as respectivas apresentações no site da APH em http://www.aphorticultura.pt/ na ligação Notícias/Novidades. Rosa Guilherme Actividade Interna RELATÓRIO DE ACTIVIDADES 2009 Este relatório apresenta em síntese as actividades desenvolvidas pela Direcção da Associação Portuguesa de Horticultura (APH), no primeiro ano de mandato, tendo as acções sido baseadas no Programa da sua candidatura, cujo lema foi: ‘Para nós as dificuldades serão desafios e as necessidades oportunidades’. Desta forma, as actividades realizadas agrupam-se em quatro grandes vertentes: organização interna, eventos técnico-científicos, Revista da APH e publicações não periódicas. 1. Organização Interna 2. Eventos Técnico-Científicos • Organização do Secretariado. • Organização e actualização do ficheiro de associados, em papel e em formato digital. • Listagem de endereços electrónicos dos associados para divulgação de eventos e de notícias e envio de Boas Festas. • Listagem e inventariação das publicações existentes em arquivo. • Elaboração do Catálogo de Publicações Disponíveis para Venda. • Elaboração do Catálogo de Divulgação de Eventos, por anos, com as primeiras e segundas circulares e os cartazes, desde 1983. • Arquivo de 6 exemplares de cada número da Folha Informativa da APH (n.º 1 ao n.º 63), do Boletim Informativo da APH (n. º 64 ao n.º 79) e da Revista da APH (n.º 80 a 99). • Novo design de papel de carta, envelopes, cartões-de-visita, cartões de cumprimentos, postal de aviso de cobrança de quotas e postal de recibos de quotas. • Elaboração de um desdobrável de divulgação sobre a APH. • Digitalização da Folha Informativa da APH, do Boletim Informativo da APH e da Revista da APH, num total de 90 números. • Actualização do site da APH (www. aphorticultura.pt). • Angariação de sócios individuais e colectivos. Estabelecimento de protocolos com três revistas da especialidade para divulgação dos eventos co-organizados pela APH: Frutas, Legumes e Flores (Media Partner Oficial), Vida Rural e Voz do Campo, conforme consta do quadro 1. 2.1 Eventos Realizados VI Congresso Ibérico de Ciências Hortícolas Local e data – Logroño, Espanha, Palácio de Congressos e Auditório de La Rioja; 25 a 29 de Maio. Organização – Sociedad Española de Ciencias Hortícolas (SECH) e APH. Presidente da Comissão Organizadora (CO) – Alfonso Pardo (CIDASIDTA). Membros da Direcção na CO – Maria Elvira Ferreira (Presidente da Direcção). Membros da Direcção na Comissão Científica – Maria da Graça Barreiro (Vogal para as Relações Públicas e Organização Interna) e Raúl Rodrigues (Vice-Presidente para a Fruticultura). N.º de comunicações – 107 orais e 142 em painel. Notícias – Revista da APH n.º 96 e 97. 6.º Congresso Ibero-americano de Parques e Jardins Públicos (PARJAP Portugal 2009) Local e data – Póvoa de Lanhoso; 23 a 27 de Junho. Organização – Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso (CMPL), Associación Española de Parques y Jardines Públicos, em parceria com a Associação Portuguesa de Arquitectos Paisagistas e a APH, entre outras entidades. Presidente da Comissão Executiva (CE) – Manuel Sousa (CMPL). Membro da Direcção na CO – Isabel Mourão (Editora da Revista da APH). N.º de participantes – 300. Notícias – Revista da APH n.º 96 e 98. V Simpósio Nacional de Olivicultura Local e data – Santarém, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Santarém; 24 a 26 de Setembro. Organização – APH, Escola Superior Agrária de Santarém (ESAS). Presidente da Comissão Organizadora (CO) – Nuno Barba (ESAS). Membros da Direcção na CO – Albino Bento (Vice-Presidente para a Olivicultura) e Alberto Vargues (Tesoureiro). N.º de participantes – 120. N.º de comunicações – 23 orais e 16 em painel. Atribuição de Título Honorífico – Horticólogo de Honra ao Prof. José Manuel Batista Gouveia Publicações – Livro de Resumos e pedido de ISBN para o n.º 14 das Actas Revista da APH N.º 101 47 Quadro 1 - Divulgação de eventos nas revistas da especialidade Evento Frutas, Legumes & Flores Vida Rural V Simpósio Nacional de Olivicultura N.º 108 – Set/Out 2009 N.º 1750 – Set 2009 Voz do Campo N.º 131 – Jul/Ago 2009 N.º 132 – Set/Out 2009 1.º Colóquio Nacional de Sementes e Viveiros N.º 108 – Set/Out 2009 N.º 1751 – Out 2009 N.º 132 – Set/Out 2009 N.º 109 – Nov./Dez 209 N.º 132 – Set/Out 2009 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura N.º 109 – Nov./Dez 209 N.º 1753 – Dez 2009/Jan 2010 N.º 133– Nov/Dez 2009 Portuguesas de Horticultura, onde serão compiladas as comunicações apresentadas. Notícias – Revista da APH n.º 96, 97 e 99. Banca da APH – Divulgação de actividades, angariação de novos sócios e venda de publicações. I Colóquio Nacional de Sementes e Viveiros Local e data – Coimbra, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Coimbra; 29 e 30 de Outubro. Organização – APH, Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC) e Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN). Presidente da Comissão Organizadora (CO) – Maria da Graça Palha (Vice-Presidente para a Horticultura Herbácea). Membros da Direcção na CO – Alberto Vargues (Tesoureiro), João Moreira (Secretário do Conselho Fiscal), Maria Elvira Ferreira (Presidente da Direcção), Teresa Mota (Vice-Presidente para a Viticultura) e Rosa Guilherme (Secretário). N.º de participantes – 200. N.º de comunicações – 25 orais, sete em painel e quatro mesas redonda. Atribuição de Título Honorífico – Técnico Hortícola de Honra ao Eng. António Clímaco (Título Póstumo). Publicações – Livro de Resumos, pedido de ISBN para o n.º 15 das Actas Portuguesas de Horticultura, onde serão compiladas as comunicações apresentadas. Notícias – Revista da APH n.º 96, 97, 98 e 99. Banca da APH – Divulgação de actividades, angariação de novos sócios e venda de publicações. 10.ª Visita Vitivinícola da APH: Planalto Mirandês Local e data – Planalto Mirandês; 6 a 8 de Novembro. Organização – Teresa Mota (Vice-Presidente para a Viticultura). N.º de participantes – 55. Publicações – Sub-região Vitícola do Planalto Mirandês Notícias – Revista da APH n.º 97, 98 e 99. 48 Revista da APH N.º 101 2.2 Eventos em preparação 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura Local e data – Castelo Branco, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco; 4 e 5 de Fevereiro de 2010. Organização – APH, Escola Superior Agrária de Castelo Branco (ESACB) e COTHN. Presidente da Comissão Organizadora (CO) – Maria Paula Simões (ESACB). Membros da Direcção na CO – Alberto Vargues (Tesoureiro) e Raúl Rodrigues (Vice-Presidente para a Fruticultura). Notícias – Revista da APH n.º 96, 97, 98 e 99. I Jornadas Técnicas da Batata Local e data – Santarém, Escola Superior Agrária; 23 de Fevereiro de 2010 Organização – COTHN, ESAS, Agromais, Agrotejo, FNOP e Eurobatata, com o apoio da APH. 28th International Horticultural Congress Local e data – Lisboa, Centro de Congressos de Lisboa; 22 a 27 de Agosto de 2010. Organização – APH e SECH. Presidentes do Congresso – António Monteiro (Portugal) e Vítor Galán Sauco (Espanha). Membro da Direcção na CE – Maria Elvira Ferreira (Presidente da Direcção). Membro da Direcção na CO – Maria da Graça Barreiro (Vogal para as Relações Públicas e Organização Interna). Membros da Direcção Co-Conveners de: Simpósio S14 – Organic Horticulture: Productivity and Sustainability – Isabel Mourão (Editora da Revista da APH); Seminário Sm14 – Turfgrass – José Monteiro (VicePresidente para a Horticultura Ornamental). Membro da Direcção na Comissão Científica do Simpósio S09 – International Symposium on Ornamental Plants – José Monteiro (Vice-Presidente para a Horticultura Ornamental). Notícias – Revista da APH n.º 96, 97, 98 e 99. 3. Revista da APH • Definição de objectivos. • Elaboração das ‘Instruções para a Publicação de Artigos Técnicos na Revista da APH’. • Publicação de 4 números com 16 artigos técnicos, 3 artigos técnico-comerciais, 2 entrevistas e duas sinopses de trabalhos de doutoramentos em horticultura. 4. Publicações não Periódicas • Actualização das ‘Normas das Publicações Não Periódicas’. • Publicação dos números 11 (1.º Simpósio Nacional de Fruticultura, Alcobaça, 2006) e 13 (III Simpósio Nacional de Olivicultura, Castelo Branco, 2003) das Actas Portuguesas de Horticultura e sua distribuição pelos participantes dos respectivos eventos. • Publicação dos Livros de Resumos do V Simpósio Nacional de Olivicultura e do I Colóquio Nacional de Sementes e Viveiros. No n.º 1 da Revista ‘O Mundo das Plantas e Jardinagem’ (Março de 2009) foi publicada uma entrevista com José Monteiro (Vice-Presidente para a Horticultura Ornamental), em que recorda um pouco da história da APH, os seus objectivos e quais as actividades do sector para o próximo triénio. Lisboa, 16/03/2010 A Direcção Actividade Interna RELATÓRIO DE CONTAS 2009 ANÁLISE POR EVENTOS/ADMINISTRAÇÃO EVENTOS ADIANTAMENTOS CUSTOS PROVEITOS APURAMENTO EM 31/12/2009 OBSERVAÇÕES 2.º SIMPÓSIO NACIONAL FRUTICULTURA F.Serv.Terc. - 572,08 EM CURSO I COLÓQUIO NAC. SEMENTES E VIVEIROS F.Serv.Terc. - 6 065,94 Inscrições - 8 320,00 Patrocinios - 4 850,00 Total - 13 170,00 EM CURSO 28º CONG. INTERN. HORTICULTURA IHC2010 89 235,90 F.Serv.Terc. - 25 149,47 Patrocinios - 100 000,00 EM CURSO V SIMPÓSIO NACIONAL OLIVICULTURA F.Serv.Terc. - 9 902,13 Inscrições - 8 360,20 Patrocinios - 8 000,00 Total - 16 360,20 EM CURSO V CONG.IBÉRICO CIÊNCIAS HORTICOLAS F.Serv.Terc. - 3 129,25 Inscrições - 11 580,51 8 451,26 ENCERRADO EM 2008 10.ª VISITA VITIVINICOLA DA APH F.Serv.Terc. - 7 165,25 Inscrições - 7 180,40 EM CURSO III COLÓQUIO VITIVINICULA ESTREMADURA F.Serv.Terc. - 72,00 -72,00 ENCERRADO EM 2008 -13.052,55 -4 673,29 € F.Serv.Terc.- 11 060,49 Revistas - 18 793,76 ADMINISTRAÇÃO Livros - 428,33 Quotas - 23 458,00 Impostos - 6,84 Publicidade - 2 950,00 Custo C/Pessoal - 14404,14 Prov.Suplement - 3 600,00 Out.Cust.Operacion. -240,00 Prov.Ganhos Fin. - 1 697,52 Amortizações - 177,27 Out.Cust.Perd.Fin. - 211,76 Out.Cust.Extraord. - 292,14 Total - 45 186,40 TOTAL 89 235,90 € No ano de 2009, as despesas (custos) foram de 97 242,52 €, tendo ficado aquém do orçamentado (140 150,00 €). As receitas (proveitos) foram de 180 424,96 €, mais 35 324,96 € que o orçamentado. Apesar desta diferença, o apuramento em 31/12/2009 apresenta um saldo negativo de 4 673,29 €, Total - 32 133,85 97 242,52 € 180 424,96 € em virtude de os eventos organizados pela APH terem decorrido no 3.º e 4.º trimestres de 2009 (Setembro, Outubro e Novembro), o que impossibilita o encerramento das respectivas contas. Lisboa, 17/03/2010 A Direcção Revista da APH N.º 101 49 Actividade Interna RELATÓRIO E PARECER DO CONSELHO FISCAL EXERCICÍO DE 2009 Senhores Associados, Cumpre-nos elaborar relatório, nos termos legais e estatutários, e emitir parecer sobre os documentos de prestação de contas do exercício de 2009, que nos foram a apresentados pela Direcção. Obtivemos, por parte dos responsáveis, todos os esclarecimentos solicitados, e verificámos documentos e valores que encontrámos em ordem. No desempenho das nossas funções, verificámos a exactidão do balan- 50 Revista da APH N.º 101 ço, da demonstração de resultados e respectivos anexos, que quanto a nós cumprem os preceitos legais. De acordo com as contas elaboradas, propomos que aprovem: • O relatório e contas de 2009; • A proposta do destino dos Resultados Líquidos do exercício para a conta de Resultados Transitados. Lisboa, 22 de Março de 2010 O Conselho Fiscal Actividade Interna ORÇAMENTO 2010 Despesas Conta Descrição 62 Fornecimentos e serviços externos 64 Variação 2009 (€) 2010 (€) (€) Comunicações e Internet 4 250 2 500 -1 750 Revista APH 20 000 13 200 -6 800 Material de Escritório 2 000 500 -1 500 Patrocínio revista da SCAP 900 900 0 Divulgação no IHC 2010 0 3 000 3 000 Renovação do site 0 1 500 1 500 Gastos gerais 0 3 000 3 000 Honorários (Revista) 5 000 4 800 -200 Pessoal (Secretariado) 15 500 15 500 0 Deslocações e Estadias 3 000 2 000 -1 000 Custos com o pessoal Outros custos operacionais 65 67 Despesas de Representação 1 000 1 000 0 Despesa com Eventos a Decorrer 87 500 100 000 12 500 Diversos 1 000 1 000 0 Total da Despesa 140 150 148 900 8 750 2009 (€) 2010 (€) (€) Quotas de Sócios Individuais 17 500 17 500 0 Quotas Sócios Patronos 9 000 8 100 -900 Receita de Eventos Terminados 8 500 10 700 2 200 Publicidade na Revista da APH 4 000 4 000 0 Custos e perdas extraordinários Receitas Conta Descrição Vendas 71 73 Proveitos suplementares 74 Subsídios 78 Proveitos e ganhos extraordinários Variação Venda de Publicações 500 500 0 Receita de Eventos a Decorrer 100 000 107 000 7 000 Subsídio FCT 1 000 1 000 0 Comparticipação da SCAP 3 600 3 600 0 Juros e Aplicações Financeiras 1 000 1 000 0 Total da Receita 145 100 153 400 8 300 Saldo 4 950 4 500 Lisboa, 17/03/2010 A Direcção Revista da APH N.º 101 51 Actividade Interna PLANO DE ACTIVIDADES 2010 A APH prevê realizar, em 2010, um conjunto alargado de actividades que se encontram agrupadas em cinco grandes áreas: organização interna, eventos técnico-científicos, Revista da APH, publicações não periódicas e colaboração com Sociedades Científicas Nacionais e Internacionais: 1. Organização Interna Rodrigues (Vice-Presidente para a Fruticultura) e Alberto Vargues (Tesoureiro) (http://docentes.esa.ipcb.pt/2_snf/). • Actualizar a base de dados dos sócios; • Renovar a página da Internet (www. aphorticultura.pt), para uma versão mais dinâmica, com novos conteúdos e novas acessibilidades; • Oferta de publicações (periódicas e não periódicas) editadas pela APH, para as bibliotecas das universidades e das escolas de ensino superior agrárias, das escolas profissionais de agricultura, das direcções regionais de agricultura e pescas e de outras entidades públicas (MA, GPP, IFAP, DGADR); • Elaboração do Catálogo de Divulgação de Eventos na Imprensa Escrita; • Promover a criação do ‘Regulamento Interno da APH’, que integre, para além das regras do processo eleitoral (já existente), as normas para a organização de eventos, a elaboração de protocolos entre entidades organizadoras dos eventos e a criação de Grupos de Trabalho especializados, conforme aprovado em Assembleia Geral de Março de 2008. I Jornadas Técnicas da Batata 2. Eventos Técnico-Científicos 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura O ‘2.º Simpósio Nacional de Fruticultura’ é uma organização conjunta da APH e da Escola Superior Agrária de Castelo Branco (ESACB) e do Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN) e decorrerá de 4 a 5 de Fevereiro na ESACB. A Comissão Organizadora é presidida por Paula Simões da ESACB e pela APH participam Raúl 52 Revista da APH N.º 101 As ‘I Jornadas Técnicas da Batata’ são uma organização conjunta do COTHN, Escola Superior Agrária de Santarém (ESAS), Agromais, Agrotejo, Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP) e Eurobatata e decorrerão na ESAS a 23 de Fevereiro de 2010. Estas Jornadas contam com o apoio da APH. 28th International Horticultural Congress (28th IHC) O ‘28th International Horticultural Congress’ (IHC Lisboa 2010) é uma organização conjunta da APH e da Sociedad Española de Ciencias Hortícolas (SECH), sob a égide da International Society for Horticultural Science (ISHS). O Congresso é presidido por António Monteiro e Vítor Galán. Decorrerá de 22 a 27 de Agosto de 2010, em Lisboa. Maria Elvira Ferreira (Presidente da Direcção) integra o ‘Executive Committee’. Maria da Graça Barreiro (Vogal para as Relações Públicas e Organização Interna) integra a Comissão Organizadora. Isabel Mourão (Editora da Revista da APH) é Co-Convener do Simpósio S14 – Organic Horticulture: Productivity and Sustainability. José Monteiro (Vice-Presidente para a Horticultura Ornamental) faz parte da Comissão Científica do Simpósio S09 – International Symposium on Ornamental Plants e é Co-Convener do Seminário Sm14–Turfgrass (www.ihc2010.org). No âmbito deste Congresso será disponibilizada uma área de exposição para a APH (com 9 m2), onde se pretende dar a conhecer as actividades desenvolvidas pela Associação no decurso da sua já longa história e perspectivar o futuro, num compromisso constante, com o desenvolvimento de uma Horticultura sustentável. 11.ª Visita Vitivinícola da APH: Bucelas, Carcavelos e Colares A ‘11.ª Visita Vitivinícola da APH’ decorrerá em Outubro nas Regiões Demarcadas de Bucelas, Carcavelos e Colares. A organização estará a cabo de Teresa Mota (Vice-Presidente para a Viticultura). IV Encontro de Docentes de Horticultura do Ensino Superior O ‘IV Encontro de Docentes de Horticultura do Ensino Superior’ será organizado conjuntamente com a Universidade do Porto (UP) e a APH e decorrerá em Novembro, no Porto. A Comissão Organizadora será presidida por Jorge Queiroz da UP. 3. Revista da APH O número 100 da Revista da APH será editado em Abril e pretende-se que seja uma edição diferente que contenha informação indexada dos 99 números anteriores, relativamente a eventos realizados, trabalhos publicados, títulos honoríficos e entrevistas publicadas. A publicação deste número será assinalada com uma Sessão Comemorativa, durante o mês de Maio, na sede da Associação. Ainda no âmbito do número 100 da Revista da APH, serão compiladas em DVD as 100 Revistas já editadas. Esta edição será um marco importante na história da Associação e será utilizada como oferta em momentos especiais, à semelhança do Livro dos 25 Anos da APH. Com o número 100 e a partir daí, a Revista da APH estará disponível em formato digital, na página da Internet da APH (www.aphorticultura.pt), para os associados. Prevê-se a publicação de 4 números da Revista da APH durante o ano de 2010. Tentar-se-á elaborar uma candidatura para a indexação da Revista da APH, submetendo-a aos critérios SciELO Portugal. 4. Publicações não periódicas Pretende-se publicar e distribuir pelos respectivos participantes as Actas dos seguintes eventos: • Sixth International Symposium on Olive Growing, que decorreu em 2008, em Évora. Estas actas integrarão a série Acta Horticulturae, editada pela ISHS. • V Simpósio Nacional de Olivicultura, que decorreu de 24 a 26 de Setembro de 2009, em Santarém. Estas Actas serão o n.º 14 da série Actas Portuguesas de Horticultura. • 1.º Colóquio Nacional de Sementes e Viveiros, que decorreu de 29 a 30 de Outubro de 2009, em Coimbra. Estas Actas serão o n.º 15 da série Actas Portuguesas de Horticultura. • 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura, que decorreu de 4 a 5 de Fevereiro de 2010, em Castelo Branco. Estas Actas serão o n.º 16 da série Actas Portuguesas de Horticultura. 5. Colaboração com Sociedades Científicas Nacionais e Internacionais Manter e ampliar as relações existentes entre a Sociedade de Ciências Agrárias de Portugal (SCAP), a ISHS e a SECH. Lisboa, 17/03/2010 A Direcção Revista da APH N.º 101 53 Actividade Interna Duas novas edições da APH As comunicações apresentadas no 2.º Simpósio Nacional de Fruticultura (Castelo Branco, 2010) foram compiladas no volume 16 da série ‘Actas Portuguesas de Horticultura’, em papel. As 40 comunicações apresentadas, oralmente ou sob a forma de painel, estão agrupadas pelos seguintes temas: Produção; Biotecnologia e Saúde; Pós-colheita e Protecção das Plantas. J. Raúl Rodrigues e Maria Paula Simões, respectivamente Vice-presidente para a Fruticultura da APH e Presidente da Comissão Organizadora do Simpósio coordenaram esta edição. Por ocasião da edição n.º 100 da Revista da APH, reuniu-se num DVD os 100 números da revista que, des- de 1981, tem vindo a ser editada pela APH. O DVD intitulado ‘100 Números da Revista da APH’ foi apresentado na Sessão Comemorativa do 100.º Número da Revista da APH. O preço do livro é de 15,00 e 17,50 euros, respectivamente para sócios e não sócios e o DVD 7,50 e 10,00 euros, também para sócios e não sócios. A aquisição de qualquer uma destas edições pode ser solicitada à sede da APH por correio (Rua da Junqueira, 299, 1300-338 Lisboa), por telefone (213623094), fax (213633719) ou correio electrónico (aph@aphorticultura. pt). Os pedidos serão enviados por correio, após boa cobrança, sendo os preços indicados acrescidos dos portes do correio. NOVOS SóCIOs Tiago Manuel Ferreira Lopes Guerreiro de Matos Daniel Moreira Gonçalves Adelaide Perdigão João Pedro Marques Dinis Telmo Rui Aires Veiga Tania Cristina Duarte Ferreira José António Rodrigues da Silva Maria Sónia Simões Torres Sérgio Miguel Aleixo Viseu José Alberto Póvoa dos Santos Maria Madalena Morais Betencourt da Câmara Correia Carlos de Sá Felgueiras Sílvia Marques de Sousa João Filipe Boiões Barrona Sócios Patrono - A. Pereira Jordão, Lda. - ADP Fertilizantes, SA - Alípio Dias & Irmão, Lda. - António Silvestre Ferreira - Associação da Maçã de Alcobaça - Brasplanta, Viveiro de Plantas, Lda. - Dow AgroSciences, SA - Grupo Hubel - Koppert, Comércio de Produtos Biológicos Lda. - Lusosem, Produtos para Agricultura, S.A Secretariado 54 Revista da APH N.º 101 1820 1821 1822 1823 1824 1825 1826 1827 1828 1829 1830 1831 1832 1833 Venda do Pinheiro Amorim Poço do Canto Bárrio Gemunde Maia Roxo Arcozelo Lisboa S. Martinho do Bispo Águeda Lisboa Vila Real Beja Montijo - Mercado Abastecedor da Região de Coimbra, SA - Raul Patrocínio Duarte, Lda - Sativa, Desenvolvimento Rural, Lda. - SAPEC S.A - Selectis, Produtos para a Agricultura, SA - Sementíbrida, Lda. - Soares & Rebelo - Sugalidal, Indústrias de Alimentação, SA - Tecniferti, Fertilizantes Líquidos - Viveiros Mirajardim Horário de funcionamento: De 2.ª a 6.ª Feira, das 8.30 às 14.30h Tel.: 213 623 094 / 213 633 719 Fax: 213 633 719 E-mails: Secretariado - [email protected], Geral - [email protected] Presidente: [email protected] Tesoureiro: [email protected] Editor da Revista: [email protected] Rua da Junqueira, n.º 299, 1300-338 Lisboa Calendário de Eventos Data Evento Local Site 25-30/07 III International Symposium on Tomato Disease Nápoles, Itália www.3istd.com 1-5/08 X International Conference on Grapevine Breeding and Genetics Geneva, USA www.grapebreeding2010.com 2-4/08 Asia Pacific Symposium on Postharvest Research Education and Extension Bangkok, Tailândia www.kmutt.ac.th/APS2010/ 16-20/08 XII International Workshop on Fire Blight Warsaw, Polónia www.fireblight2010.pl 22-27/08 XXVIII International Horticultural Congress - IHC2010 Lisboa, Portugal www.ihc2010.org 30/08/09 II International Symposium on the Genus Lilium Pescia, Itália www.symplitaly2010.com 1-3/09 1st International Strawberry Congress Antuérpia, Bélgica www.hoogstraten.eu/congress 5-9/09 International Symposium on Plum Pox Virus Sofia, Bulgária www.ippvs2010.com VII International Symposium on Kiwifruit Faenza, Itália www.avenuemedia.eu/source/congressi/congressi_2010/7th_Symposium_Kiwifruit/indice_7th_International_ Symposium_Kiwifruit.html 14th Ramiran Conference, “Treatment and use 13-15/09 of organic residues in agriculture: Challenges and opportunities towards sustainability” Lisboa, Portugal www.ramiran2010.net 12-17/09 20-21/09 V International Phylloxera Symposium Viena, Áustria www.viticulture-research.com 11-14/10 International Conference on Organic Greenhouse Horticulture Bleiswijk, Holanda www.organicgreenhousehorticulture.com 17-22/10 VII International Congress on Cactus Pear and Cochineal Agadir, Marrocos www.ishs.org/calendar/ cactusVII_1stannouncement.pdf 25-28/10 International Workshop on Biological Control of Postharvest Diseases: Challenges and Opportunities Leesburg, Virginia, USA www.ishs.org/calendar/BCPD_ Workshop2010.pdf 25-29/10 International Conference on Food Innovation 2010 Valencia, Espanha www.foodinnova.com 2-3/10 11.ª Visita Vitivinícola da APH Bucelas, Carcavelos e Colares, Portugal www.aphorticultura.pt 11-12/11 International Symposium on Pyrethrum Launceston, Austrália E-mail: [email protected] 15-18/11 9th Conference of the European Foundation for Plant Pathology (EFPP) e 6th Congress of the Sociedade Portuguesa de Fitopatologia (SPF) Évora, Portugal www.efpp10.uevora.pt 21-25/11 I International Symposium on Genetic Research of Bamboos and Palms and III International Symposium on Ornamental Palms Campinas, Brasil www.infobibos.com/symbampalm 22-26/11 I International Symposium on Tropical Horticulture Kingston, Jamaica ocs.mona.uwi.edu/ocs/index.php/th/th1 Secretariado 23-26/11 XI International Pear Symposium. General Roca, Argentina www.inta.gov.ar/ altovallePears2010/index.html 5-9/12 International Symposium on Urban and Peri-rban Horticulture in the Century of Cities: Lessons, Challenges, Opportunities. Dakar, Senegal www.fao.org/agriculture/crops/ core-themes/theme/ hort-indust-crops/isd/en/ Revista da APH N.º 101 55