No 5 - Junho / 2005 - Clube Excursionista Carioca

Transcrição

No 5 - Junho / 2005 - Clube Excursionista Carioca
8 - C.E.C. É notícia
ABERTUR
A DE TEMPOR
AD A DE MONT
ANHISMO 2005
ABERTURA
TEMPORAD
MONTANHISMO
Informativo do Clube Excursionista Carioca
C.E.C.
É notícia
Ano 59 - No 5 - Junho/2005
• Juliana Fell, André Iha, Rosane Camargo, Fernando Barroso, Priscila Botto e Flávio
Carneiro são alguns “voluntários da montanha” homenageados durante a ATM 2005.
Alta Sociedade
•Conversando sobre como trocar de roupa • E a última da Mari: Essa estória de que o
na praia, Jayme diz que acha incrível como
as mulheres conseguem tirar o sutiã por baixo da blusa...explicamos como se faz, e ele
calmamente nos diz que irá tentar fazer
sózinho em casa... Pra quê?!
•Na aula de CBM, Andréa pergunta: Aonde
é o cume? Respondo: Lá em cima.
Mais tarde, pergunta: Como a gente chega
no cume? Repondo: Subindo, que é o que
estamos fazendo...
Enquanto Jayme dava segurança pra ela, ele
gritava: -Espera por mim! Não vá embora!
Já estou chegando!!!
sol nasce no norte é a maior mentira que já
inventaram!
•Mais uma da Ana Carolina:durante a aula
de nó ela pede ao Bagre que lhe ensine aquele
“nó de peixe”!
Clube Excursionista Carioca
Fundado em 21 de fevereiro de 1946
Rua Hilário de Gouveia, 71 / 206
Copacabana - Rio de Janeiro
CEP: 22040-020 Tel: 2255-1348
ACESSE: www.carioca.org.br
Reuniões sociais às quintas a partir de 20:30h
2 - C.E.C. É notícia
POR DENTRO DO CEC
C.E.C. É notícia - 7
POR DENTRO D A MONT
ANHA
MONTANHA
• Nova Via no Dona Marta
Foi finalizada no ultimo dia 14 a conquista
da via "Feios, sujos e malvados", no morro
do Dona Marta. Foram utilizados 19 grampos de inox e a via ficou com 150m, grau
sugerido de 4º/VIsup.
A conquista de autoria de André Ilha e Yuri
Berezovoy. Não perca na proxima edição
do boletim um relato completo desta conquista.
Outra conquista na parede é a variante
“Striptease” que inicia em aderência logo
após o diedro da via Unicec.Conquista de
Kika, André e Yuri.
• Reforma na via Pai Granito
O escalador Sérgio Tartari fez uma pequena reforma na nova e pouco conhecida via
do Pico Maior chamada Pai Granito, conquistada em 2003. Foram batidas cinco
chapeletas, sendo duas em meio de lances
e três em paradas, tornando assim a via bem
mais segura. Esta escalada, cujo grau gira
em torno de 5º VIsup E3, é uma grande
variante da via Arco da Velha (6º VII E3)
• Fim do CBM (ufa...)
e consta de sete enfiadas de corda com váFinalizado mais um CBM para desespero rios lances apimentados.
dos alunos e para alegria dos guias do CaC.E.C. É notícia
rioca que mais uma vez não sabem se usam
o prussik francês ou o convencional....
• “Cetificado de Cume”
A fim de não deixar esquecida e de
incentivar a escalada de uma de nossas
mais belas conquistas – Chaminé Gallotti,
um dos conquistadores, Tadeusz E. Hollup,
com a aquiescência dos demais, solicitou
ao Ricardo Barcellos que confeccionasse
um “Cetificado de Cume” que será
conferido, na festa de fim de ano do CEC,
a todos os que escalaram aquela via em
excursões OFICIAIS, despois da
comemoração dos 50 anos da conquista.
O “Certificado” será conferido também a
todos os que escalaram oficialmente aquela
via a partir da data da sua inauguração (24/
12/1954). Na impossibilidade de localizalos, pedimos que entrem em contato com o
Clube.
Quem já viu o “Certificado” diz que ele é
“fora de serie”. Candidatem-se.
Uma publicação do Clube Excursionista Carioca
• Agradecimento à Equinox
O CEC agradece a Marcelo Ramos
(Equinox) pela doação de 4 bauldriers da
marca Black Diamond.
Presidente: Claudio Martins
Vice-Presidente: Pablo Costa
Tesoureiro: Ana Claudia Nioac
Diretor Técnico: Miguel Monteza
Diretor Social: Patrícia Duffles
Secretária: Katherine Benedict
Capa:
Christian Sens na “Sika em frente”
PORQUE SERÁ?
Por Sergio Poyares
A primeira vez que fui ao CEC foi numa quarta feira à tarde, afinal tinham me dito que
era um clube. Para minha sorte, o Cristiano Requião estava batendo um relatório de
excursão e informou-me os horários das reuniões. Na sexta-feira seguinte voltei à
noite e fui logo inscrito numa excursão ao XV de Novembro para o dia seguinte. Isto
foi no dia dois de março de mil novecentos e setenta e nove. Lembro-me que a enorme foto do Jean Pierre Von der Weid conquistando o artificial do Lagartão me impressionou e por algum tempo me serviu de inspiração.
Como tinha dezesseis anos e nada para fazer além da escola, me tornei um verdadeiro
rato do CEC. Logo conheci o Sergio Bruno com que fiz uma ótima parceria e enorme
amizade. Com ele participei da minha primeira conquista, o Paredão IV Sol no Babilônia,
que nesta época só tinha quatro vias (isto mesmo!), pois era proibido escalar devido à
área militar. A escalada foi conquistada totalmente em livre com paradas em cliff e
sem o uso dos famosos “fusons”, um tipo de parafuso muito usado na época para
progressão. Esta conquista mexeu com os meus sentimentos, uma coisa inexplicável e
com o Sergio Bruno conquistei uma serie de vias em homenagem ao Astro Rei.
Os anos foram passando, as escaladas evoluindo, os parceiros mudando e novas
amizade e conquistas sendo feitas. Limiar da Loucura, Cavalo Louco, As Lacas Também Amam, Revolta..., Xeque Mate, alguns Ácidos e Salinas. Ah Salinas, eu já tinha
feito em 1980 a CERJ no Capacete, e no dia seguinte a Face Leste do Pico Maior em
apenas um dia com o Sergio Bruno. Já conhecia a Chaminé Pelegrine, o Pontão do Sol
e fazia uma Face Leste por ano, mas faltava uma conquista.
O Sergio Tartari comentou comigo que ele e um escalador da época conhecido por
Bruno Blau-blau tinham ido dar uma olhada em uma possível linha no Pico Maior e se
eu não estaria afim de ir. Foi o que faltava. Serginho já era um amigão e lá fomos nos
para a primeira investida de fato do Arco da Velha. Nesta investida o Sergio, hoje meu
cumpadre, levou um tombo fenomenal não se quebrando por sorte. Vendo o tamanho
do que nos esperava, chamamos outro amigo e companheiro para dar uma forcinha, o
Alexandre Portela. Época boa essa.
Na segunda metade dos anos oitenta, surgiu o que talvez tenha sido o embrião do
profissionalismo nas escaladas, a conquista do Paredão Verdura da Gávea com patrocínio e ampla cobertura da imprensa. Foi, mais uma vez, uma brincadeira entre já
velhos amigos.
Vieram os anos noventa, o novo milênio e os adolescentes tornaram-se homens feitos,
cada um para o seu lado, novos objetivos de vida e, apesar disso tudo a mesma necessidade de conquistar novas vias e claro não deixar de se divertir.
Com o passar dos anos, as coisas mudaram e continuarão mudando, mas eu me pergunto: o que será que ainda hoje nos faz ir para uma conquista, carregar aquele monte
de ferros nas costas, parar no sufoco naquele cliff sinistro que pode pular a qualquer
momento e dormir mal na noite anterior de tanta ansiedade?
6 - C.E.C. É notícia
que mal podia comigo, tinha que agüentar o Tadeusz que vinha dormindo em pé. Por fim
achamos o "Mirante do Inferno". Estávamos no caminho certo. Meia hora depois de
termos continuado a caminhada, descendo do Mirante, Jarcy virou a lanterna para trás
e deu um grito: "Segura o Salomyth!"
Era tarde, porém: Salomyth dera um passo em falso para um lado e se despencara. Por
sorte uma arvore evitara que o tombo fosse maior, e além do susto, ele nada sofrera.
Quando já pensávamos que tínhamos passado do acampamento e que iríamos levar
toda a noite andando pelo mato, Orlando gritou: --"Olha a barraca!" -"Que nada, você
está vendo coisas", disseram Jarcy e Salomyth. "É a barraca sim, apoiou o Hamilton".
Precipitamo-nos naquela direção e entramos loucos de alegria naquela bendita barraca.
Trocamos as roupas por outras menos molhadas e comemos alguma coisa. De repente
olhei em volta: "Onde está o Tadeusz?" Depois de muito gritarmos por ele, um resolveu
sair paras ver o que tinha acontecido. Sentado numa pedra, debaixo da chuva, Tadeusz
dormia. --" Tadeusz, acorda, vem para dentro". -"Ué! Eu não estou na barraca não?" A
risada foi geral.
Dormimos como justos até às dez horas da manhã e, depois de outra "refeiçãozinha", no
estilo da primeira, tomamos o caminho de volta. Menos molhados, alimentados e mais
descansados, voltamos alegres, pois tudo terminara bem. Os apelidos sobravam: eu era
o "Anjo Louco", Tadeusz era o "Tatá", Hamilton , "Mr. Cheira-Bife", Orlando, o "Furioso", Jarcy, o "Guia Mateiro", e Salomyth o "Perna-Boba", pois levou tombos durante
todo o caminho, tropeçando até nas formigas.
Chegamos em Therezópolis à tarde, assustando toda a população com nossos trajes: de
calção de banho, embrulhados nos cobertores.
Conseguimos lugares no trem e já nos aprontávamos para dormir durante a viagem quando o Jarcy soltou a última piada: --"Ulisses,
na sua Odisséia, devia ter subido a Agulha do
Diabo, para de lá ver o "Inferno". E levou toda
a viagem contando a Odisseia do tal do Ulisses,
como se já não nos bastasse a nossa. Esse
Jarcy devia ser espetado na ponta da Agulha.
Bem, Amigos, se quiserem fazer essa escalada, preparem-se para sofrer; mas não deixem de ir, pois apesar de merecer o nome
que tem, a Agulha do Diabo é verdadeiramente
infernal!. "Anjo Louco".
É isso aí, Salomyth... Um grande abraço da
Amiga "Anjo Louco"
C.E.C. É notícia - 3
HISTORIAS DE ANTIG
AMENTE
ANTIGAMENTE
P
or Cyonira Hollup
Por
Oi gente! Voltei. Desta vez para contar uma história dramática que contei aqui há 50
anos atrás, mais precisamente no Boletim de julho/agosto de 1951. Não costumo citar
nomes, mas vou abrir uma exceção para homenagear um dos maiores montanhistas da
história do excursionismo.
Foi meu guia na primeira vez que escalei a Agulha do Diabo, uma escalada que quase
termina em tragédia e onde por várias vezes quase perdemos a vida. Ele guiou a Agulha por 37 vezes, um recorde que dificilmente será igualado.Amigo, puro de coração,
tem sempre no rosto um sorriso para todos que o procuram. É admirado por quantos o
conhecem. Seu nome: Salomyth Smith. A ele dedico esta narrativa:
ODISSEIA NA AGULHA DO DIABO
Foi numa quinta-feira qualquer de fevereiro que o Salomyth apareceu no Clube com
aquela idéia de jerico: "Vamos na Semana Santa à Agulha do Diabo?!"
Foi um reboliço tremendo. Todos queriam ir e, ainda na véspera, se faziam substituições
de participantes. Por fim o grupo ficou constituído de 6 pessoas: Salomyth (Guia), Tadeusz
(Auxiliar de Guia), Cionyra, Orlando Lacorte, Lucy (do CEB) e Jarcy, que arranjou
vaga à última hora.
Na sexta-feira, às 6 horas da manhã, nos encontramos na Leopoldina. Lucy adoecera
e, no seu lugar, feliz com aquela "chance" que lhe caíra do céu, apareceu o irmão,
Hamilton. Depois de um "curto" atraso de 2 horas, o trem saiu da estação levando
excursionistas do CEC e outros Clubes que iam para Barreiras, Abrigo 2, S.João, S.Pedro
e Vale Azul, aproveitar assim aqueles 3 dias para "descansar". Ninguém, porém, ia mais
esperançoso e animado do que qualquer de nós seis. No meio da viagem, Jacy descobriu a ponta da Agulha, erguendo-se fina como um espinho. Ao meio-dia estávamos em
Therezópolis e, depois de almoçar, seguimos de caminhão, passando pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos, até o caminho do Abrigo 2 interrompido. Lá saltamos e,
depois das últimas despedidas, vestimos a roupa "de briga" e entramos pelo mato.
Às 5 horas, chegávamos à clareira onde devíamos acampar; depois de armada a barra-
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ca, tomamos uma "pequena refeição": pastéis, bolinho de bacalhau, sacarose, ovos cosidos, banana, salsicha, chocolate, leite condensado, palmito, língua, café, tomate, biscoitos, sardinha em lata, amendoim, galinha enlatada e queijo, tudo misturado.
Deitamos às 7 horas, e meia hora depois começou a cair uma chuva fininha que logo se
transformou em aguaceiro. Como o chão estava forrado com matéria plástica, nada
receamos por esse lado. Não contávamos, porém, com o que aconteceu: Salomyth
levara uma barraca para 8 palitos de fósforo, digo, pessoas , e que era a conta para nós
seis. Pouco tempo depois, a chuva encharcou o teto da barraca e começou a pingar em
cima de nós, a princípio espaçadamente, e depois formando goteiras renitentes que não
nos deixavam dormir. Jarcy e Orlando divertiam-se catalogando os pingos d´água (chegaram ao pingo nº L-7.800.000.000). A maior vítima das goteiras, porém, era o Hamilton: deitava num lugar, tinha goteira, deitava noutro, aparecia goteira; resolveu então
dormir sentado, apoiando a cabeça nas pernas do Jarcy e do Tadeusz, o que lhe valeu o
apelido de "Ioga".
Como não tínhamos sono, as imaginações começaram a trabalhar - "Gente, dizia o
Tadeusz, estou escutando um rugido, parece que é onça ou gato do mato, escuta só".
Descobrimos depois
que era o Salomyth roncando...
Orlando contou a história de um louco, que
entrou em uma casa,
degolou a governante, e
foi sacudir o sangue da
cabeça da infeliz sobre
a sua patroa que dormia. = "Ah!, piava o
Jarcy, não vou me esquecer dessa quando
ficar louco (como se ele
já não fosse).
Por fim, dormimos. Às 6 da manhã de sábado a chuva continuava a cair, e só cessou às
8:20 horas, quando resolvemos partir. Chegamos ao "Mirante do Inferno" às 9 horas e
nos absorvemos na contemplação do Penhasco Fantasma, que surgira de repente entre
a neblina, extasiando-nos com a sua imponência. Encravada no fundo de um Grotão, a
ponta fina e negra, espetando o céu, a Agulha parecia desafiar-nos a conquista-la.
Seguimos caminho. Desce o Grotão, sobe o Grotão, e chegamos à base. A chuva
recomeçara a cair, mas assim mesmo resolvemos fazer a escalada. As cordas
encharcadas de água pareciam pesar dez vezes mais e escorregavam entre nossas
mãos geladas. Os cabos de aço castigavam o Salomyth, que resfolegava como a "Maria Fumaça" da Leopoldina, com o esforço que fazia para subir. Nossas pernas recusa-
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vam-se a fazer qualquer movimento, enquanto as botas resvalavam pelas pedras molhadas. O infeliz que levasse um escorregão maior e caísse dali morreria de fome antes
de acabar de cair. Parecíamos uns "pintos", de tão ensopados, mas nenhum de nós falou
em desistir.
Ao chegar no sexto lance, numa chaminé horizontal estreitìssima, deitado entre duas
pedras, metade do corpo e uma das pernas pendurada no abismo, o Jarcy ficou entalado; puxa a segurança daqui, puxa dali e por fim conseguiu sair. Resultado: rasgou as
calças.
Enquanto isso Salomyth fazia o lance da Chaminé da Unha, o maior e mais cansativo de
todos. Atrás dele subiu o Tadeusz e chegou a minha vez. Cheguei à Unha quase morta
de cansaço; Olhei em volta procurando um lugar melhor para descansar e quase tive
uma coisa: Tadeusz e Salomyth, sentados, ocupavam quase todo o lugar que havia; em
volta só abismo. Fizeram um lugarzinho para mim e, todos três amarrados com cordas
à um grampo, discutimos a possibilidade de se fazer o último lance. Chovia tanto que a
água escorrendo de nossas cabeças ate o nariz aí formava uma goteira, e o vento
fininho nos fazia bater queixo. Jarcy, Orlando e Hamilton, vendo que Salomyth e Tadeusz
não agüentavam mais e que se todos subissem ao topo iríamos terminar a escalada à
noite, pois já eram quase 4 horas, resolveram desistir. Eu e Tadeusz, depois de muito
relutar, visto que para nós faltava apenas um lance, tivemos que desistir também.
Salomyth, apesar de nossos conselhos, reuniu as poucas forças que lhe restavam e, por
orgulho, foi até o topo da Agulha.
Descemos quase correndo, e conseguimos chegar à base às 6 horas da noite. Num dos
lances, uma faixa de terra, amolecida pela chuva, cedeu sob os pés do Orlando e se ele
não se agarrasse a um mato próximo... adeus! Tadeusz, que estava perto, foi socorrelo.
A volta foi tétrica. Perdemos o caminho logo de saída. Jarcy tomou a frente e passou a
guiar a excursão, pois Salomyth machucara a perna no último cabo de aço e não estava
em condições. Com apenas 2 lanternas, procuramos seguir o curso de um riacho, que
com a chuva se transformara em verdadeira cachoeira. Tremíamos de frio e fome. Eu,

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