Espiritualidade Vicentina Frederico Ozanam: salvar

Transcrição

Espiritualidade Vicentina Frederico Ozanam: salvar
Espiritualidade Vicentina
Frederico Ozanam: salvar-se na
Igreja que é a Igreja dos Pobres
D
urante sua vi.da, no século
XIX, Fredenco Ozanam
to se refere à necessidade
'j
da existência de uma Igreja
=
sempre teve clara a ideia de
engajada e encarnada nos
que, naquela época, já havia a
acontecimentos de cada dia.
necessidade de conscientizar a
Sobretudo navida dos Pobres.
Igreja sobre o quanto precisava
O segundo, mais evangélico
ocupar-se dos Pobres. Foi desse
porque sabedor das "inten-
pensamento que emergiu sua
ções" do próprio Cristo, se
atitude e sua obra frente aos
refere à razão da preeminên-
Pobres. Foi a partir da mesma
cia da dignidade dos Pobres
intenção que nasceu a Sociedade
e concebe a Igreja como
de SãoVicente de Paulo, simples
sendo o lugar deles. A Igreja
e humilde, tendo como ponto es-
é dos Pobres.Jesusveio para
sencial a visita ao Pobre,o contato
evangelizar os Pobres.
com ele no seu próprio casebre,
Assim compreendia Fre-
de modo pessoal e intransferível,
de rico Ozanam. É por isso
não "por procuração':
Trata-se de um compromisso
Por isso "os Pobres são os senhores da
pessoalfundamentado na convicção
Igreja", como havia apresentado
da própria fé. Visitar o Pobre é visitar
Evangelista dos Pobres.Afinal, o Corpo Místi-
Lucas, o
o Cristo. É o argumento revelado por
co de Cristo não se manifesta na suntuosida-
Jesus: "Tudo aquilo que fizestes a
de dos Templos onde os cristãos se reúnem
um desses menores, foi a mim que
para rezar, mas sim no compromisso com
o fizestes" (Mt 25, 31-45). Na reali-
o Servo Sofredor. O mesmo havia repetido
dade, o que se pretende vivenciar
com igual paixão São João Crisóstomo, ao
é a comunicação do amor cristão às
questionar: "O que aproveita ao Senhor que
pessoas Pobres, estendendo-Ihes as
sua mesa esteja cheia de vasos de ouro, se ele
mãos e oferecendo uma palavra de
seconsome de fome?': Além disso, acreditava
conforto e de encorajamento, além
que esse conceito era de vital importância,
da ajuda em suas necessidades.
era a essência da vivência de fé. Bossuet
Assim a obra de Frederico Oza-
também dizia que o seguidor de JesusCristo
nam foi se estendendo como uma
deve ter como primordial tarefa o cuidado
"rede" de Caridade para socorrer os
dos Pobres:"Sesois cristãos, é impossível que
Pobres das injustiças de um mundo
que os exclui. Desde o princípio, Oza-
não cuideis dos Pobres'; disse. Ele,que viveu
na época de Vicente de Paulo, utilizou com
nam via a miséria como fruto da ga-
propriedade a expressão "Igreja dos Pobres':
nância e das injustiças sociais; como
que ele amava todos os necessitados e desde ajuventude tomou
consciência de que não bastava
falar da Caridade e da Missão
da Igreja no mundo: isso devia
traduzir-se num exemplo efetivo
dos cristãos no serviço aos Pobres.
A Igreja toda devia ser o lugar por
excelência deles. Quem quer se
dizer cristão ou cristã deve estar
a serviço dos Pobres e sempre
atento às necessidades desse
povo. Frederico Ozanam, nesse
sentido, estava em plena sintonia
com a intuição de SãoVicente de
Paulo: "Amemos a Deus, meus
irmãos, amemos a Deus. Mas que
isso seja com os nossos braços e
com o suor do nosso rosto':
Aliás, há na verdade grande diferença
consequência do mau uso dos bens
entre a "Igreja que tem amor pelos Pobres"
materiais e da liberdade humana.
e a "Igreja dos Pobres". O primeiro conceiBoletim
Brasileiro
1m
março / abril 20 13
PadreMizaélOonizetti Poggioli
(Congregação da Missão-CM)
Assessor Espiritual do Conselho Metropolitano de São Paulo