1. Um homem de 70 anos é encaminhado ao ambulatório

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1. Um homem de 70 anos é encaminhado ao ambulatório
AUTORIA E COLABORAÇÃO
Mauro Augusto de Oliveira
Graduado pela Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Especialista em Neurocirurgia pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN). Professor das
disciplinas de Neurocirurgia e Neurologia da PUC-Campinas. Médico da Casa de Saúde de Campinas.
Jamile Cavalcanti Seixas
Graduada em Medicina pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Residente em Neurologia pela
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Maria Aparecida Ferraz
Graduada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Especialista em Neurologia pelo HC-FMUSP. Neurologista do serviço de emergência do Hospital São Camilo.
Vinícius de Meldau Benites
Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Especialista em
Neurocirurgia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Mônica Ayres de Araújo Scattolin
Graduada em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Especialista em
Pediatria Geral e Comunitária e em Neurologia Infantil pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Título de especialista em Pediatria e em Neurologia Infantil pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Cristina Gonçalves Massant
Graduada em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Especialista em Neurologia pela UNIFESP, onde é médica colaboradora do setor de Doenças Neuromusculares.
Rodrigo Antônio Brandão Neto
Graduado pela Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Especialista em Clínica Médica, em Emergências Clínicas e em Endocrinologia pelo Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), onde é médico
assistente da disciplina de Emergências Clínicas.
Thiago Gonçalves Fukuda
Graduado em Medicina pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Residente em Neurologia pela
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Atualização 2015
Mauro Augusto de Oliveira
APRESENTAÇÃO
O
estudante de Medicina, pela área escolhida considerado um apai-
xonado por desafios, depois de anos submetido a aulas teóricas e plantões
em diversos blocos deve enfrentar uma maratona ainda maior: a escolha
de uma especialização, seguida da conquista do ingresso em um centro e
programa de Residência Médica de renome. Mas isso só é possível com o
auxílio de um material didático prático, bem estruturado e preparado por
quem é especialista no assunto, e a Coleção SIC Principais Temas para Provas
de Residência Médica 2015, da qual fazem parte os 31 volumes da Coleção
SIC Extensivo, foi desenvolvida nesse contexto. Os capítulos baseiam-se nos
temas exigidos nas provas dos principais concursos do Brasil, ao passo que
os casos clínicos e as questões são comentados a fim de oferecer a interpretação mais segura possível de cada resposta.
Bons estudos!
Direção Medcel
A medicina evoluiu, sua preparação para residência médica também.
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ÍNDICE
Capítulo 1 - Neuroanatomia .................................................. 21
5. Condições clínicas frequentemente ligadas a
dor crônica .................................................................... 57
1. Medula ........................................................................... 21
6. Dor musculoesquelética ................................................ 57
2. Meninges espinais ......................................................... 23
7. Dor neuropática ............................................................. 59
3. Tronco encefálico ........................................................... 23
8. Dor oncológica ............................................................... 59
4. Cerebelo ......................................................................... 26
9. Síndromes dolorosas ..................................................... 60
5. Diencéfalo ...................................................................... 27
10. Tratamento .................................................................. 60
6. Telencéfalo ..................................................................... 28
11. Resumo ........................................................................ 61
7. Meninges do sistema nervoso central .......................... 32
Capítulo 4 - Cefaleias ............................................................ 63
8. Vascularização do sistema nervoso central ................... 34
9. Barreiras encefálicas ...................................................... 36
10. Fibras nervosas ............................................................ 36
11. Resumo ........................................................................ 36
Capítulo 2 - Semiologia e propedêutica neurológica ... 39
1. Introdução...................................................................... 63
2. Classificação e diagnóstico ............................................ 63
3. Cefaleias primárias......................................................... 64
4. Cefaleias secundárias..................................................... 70
5. Resumo .......................................................................... 72
1. Introdução...................................................................... 39
Capítulo 5 - Doenças cerebrovasculares ....................... 73
2. Exame do estado mental/funções corticais superiores .... 39
1. Introdução...................................................................... 73
3. Motricidade ................................................................... 43
2. Acidente vascular cerebral isquêmico ........................... 73
4. Equilíbrio estático e dinâmico (marcha) ........................ 46
3. Hemorragia intraparenquimatosa espontânea ............. 81
5. Coordenação e provas cerebelares ............................... 47
4. Hemorragia subaracnoide ............................................. 82
6. Sensibilidade .................................................................. 47
5. Trombose venosa cerebral ............................................ 83
7. Sinais meníngeos ........................................................... 48
6. Resumo ......................................................................... 84
8. Nervos cranianos ........................................................... 49
9. Resumo .......................................................................... 52
Capítulo 3 - Dor ....................................................................... 55
Capítulo 6 - Coma e alteração do estado de
consciência .............................................................................. 87
1. Introdução...................................................................... 87
2. Avaliação clínica do paciente em coma ......................... 87
1. Definição ....................................................................... 55
3. Conduta inicial e investigação etiológica ....................... 91
2. Classificação ................................................................... 55
4. Conduta.......................................................................... 91
3. Definições práticas ......................................................... 57
5. Coma induzido/sedação ................................................ 93
4. Classificação da intensidade .......................................... 57
6. Resumo .......................................................................... 94
Capítulo 7 - Epilepsia. . ............................................................ 95
Capítulo 10 - Esclerose múltipla. . ........................................ 121
1. Introdução....................................................................... 95
1. Introdução..................................................................... 121
2. Definição......................................................................... 95
2. Epidemiologia............................................................... 121
3. Classificação.................................................................... 96
4. Investigação diagnóstica................................................. 99
5. Diagnóstico diferencial................................................. 100
6. Tratamento.................................................................... 101
7. Resumo......................................................................... 102
Capítulo 8 - Demências. . ....................................................... 103
3. Fisiopatologia................................................................ 122
4. Quadro clínico............................................................... 122
5. Diagnóstico................................................................... 124
6. Tratamento.................................................................... 126
7. Prognóstico................................................................... 128
8. Outras doenças desmielinizantes ................................ 129
9. Resumo......................................................................... 130
1. Introdução..................................................................... 103
Capítulo 11 - Paralisias flácidas agudas............................ 131
2. Epidemiologia............................................................... 103
1. Introdução..................................................................... 131
3. Classificação.................................................................. 104
2. Fisiopatologia................................................................ 131
4. Avaliação diagnóstica.................................................... 104
3. Polirradiculoneurite aguda ou síndrome de
Guillain-Barré............................................................... 132
5. Doença de Alzheimer.................................................... 105
6. Demência vascular........................................................ 106
4. Outras paralisias flácidas ............................................. 134
5. Resumo......................................................................... 140
7. Outras causas................................................................ 107
8. Resumo ........................................................................ 108
Capítulo 12 - Tumores do sistema nervoso central....143
1. Classificação.................................................................. 143
Capítulo 9 - Doença de Parkinson. . ...................................... 111
2. Quadro clínico............................................................... 143
1. Introdução..................................................................... 111
3. Tumores benignos primários........................................ 144
2. Epidemiologia............................................................... 111
3. Quadro clínico............................................................... 111
4. Etiologia........................................................................ 113
5. Patologia....................................................................... 113
4. Tumores malignos primários ....................................... 146
5. Metástases do sistema nervoso central....................... 151
6. Apêndice ...................................................................... 152
7. Resumo......................................................................... 153
6. Diagnóstico................................................................... 113
Capítulo 13 - Insônia e distúrbios do sono. . .....................155
7. Diagnóstico diferencial................................................. 114
1. Insônia........................................................................... 155
8. Tratamento.................................................................... 115
2. Distúrbios do sono........................................................ 156
9. Apêndice I: conhecendo o sistema extrapiramidal...... 117
3. Resumo......................................................................... 159
10. Apêndice II: outros distúrbios do movimento........... 118
11. Resumo....................................................................... 119
Casos clínicos.......................................................................... 161
QUESTÕES
COMENTÁRIOS
Cap. 1 - Neuroanatomia................................................... 175
Cap. 1 - Neuroanatomia................................................... 225
Cap. 2 - Semiologia e propedêutica neurológica............. 176
Cap. 2 - Semiologia e propedêutica neurológica............. 226
Cap. 3 - Dor....................................................................... 181
Cap. 3 - Dor....................................................................... 232
Cap. 4 - Cefaleias.............................................................. 182
Cap. 4 - Cefaleias.............................................................. 234
Cap. 5 - Doenças cerebrovasculares................................ 187
Cap. 5 - Doenças cerebrovasculares................................ 240
Cap. 6 - Coma e alteração do estado de consciência...... 194
Cap. 6 - Coma e alteração do estado de consciência...... 248
Cap. 7 - Epilepsia.............................................................. 197
Cap. 7 - Epilepsia.............................................................. 251
Cap. 8 - Demências........................................................... 201
Cap. 8 - Demências........................................................... 256
Cap. 9 - Doença de Parkinson........................................... 208
Cap. 9 - Doença de Parkinson........................................... 262
Cap. 10 - Esclerose múltipla............................................. 210
Cap. 10 - Esclerose múltipla............................................. 264
Cap. 11 - Paralisias flácidas agudas.................................. 211
Cap. 11 - Paralisias flácidas agudas.................................. 265
Cap. 12 - Tumores do sistema nervoso central................ 216
Cap. 12 - Tumores do sistema nervoso central................ 272
Cap. 13 - Insônia e distúrbios do sono............................. 218
Cap. 13 - Insônia e distúrbios do sono............................. 275
Outros temas.................................................................... 219
Outros temas.................................................................... 276
Referências bibliográficas ...............................................279
O capítulo de Meningite e outras infecções do sistema nervoso central está no livro de Infectologia vol. 1
CAPÍTULO
1
NEUROLOGIA
Neuroanatomia
Vinícius de Meldau Benites / Rodrigo Antônio Brandão Neto /
Maria Aparecida Ferraz / Cristina Gonçalves Massant / Mauro Augusto de Oliveira
1. Medula
A - Conceito
A medula faz parte do Sistema Nervoso Central (SNC)
segmentar e inicia-se cranialmente no seu limite, com o
bulbo no nível do forame magno. O limite caudal varia com
a idade, situando-se aproximadamente ao nível da borda
inferior de L1 no adulto, podendo alcançar L2, principalmente em indivíduos da raça negra, e L3 no recém-nascido.
B - Anatomia macroscópica
A medula possui forma cilíndrica, achatada no sentido
anteroposterior, e tem calibre irregular (intumescências
cervical e lombar, que correspondem às áreas de conexão
entre a medula e os plexos braquial e lombossacral, respectivamente). Além disso, termina afilando-se para formar o
cone medular, que continua com o filamento terminal, ambos revestidos pela pia-máter.
Ao corte transversal, é possível identificar a substância
cinzenta (internamente) e a substância branca (externamente). A primeira tem a forma de um “H” e possui colunas
anterior, posterior e lateral (esta, só na medula torácica).
No centro dessa substância, encontra-se o canal central da
medula (Figura 1), resquício da luz do tubo neural.
A substância branca é dividida em:
- Funículo anterior: entre a fissura mediana anterior e o
sulco lateral anterior;
- Funículo lateral: entre o sulco lateral anterior e o sulco
lateral posterior;
- Funículo posterior: entre o sulco lateral posterior e o
sulco mediano posterior. Na coluna cervical, é dividido
pelo sulco intermédio posterior em 2 fascículos: grácil
e cuneiforme.
Figura 1 - Corte transversal da medula espinal
21
C - Segmentos medulares
Os filamentos radiculares unem-se para formar as raízes
ventral (motora) e dorsal (sensitiva) dos nervos espinais.
Por sua vez, essas raízes se unem distalmente no gânglio
espinal (localizado na raiz dorsal) para formar os nervos espinais. Existem 31 pares de nervos espinais, distribuídos da
seguinte forma:
- 8 cervicais;
- 12 torácicos;
- 5 lombares;
- 5 sacrais;
- 1 coccígeo.
O 1º par cervical emerge entre o occipital e a 1ª vértebra cervical; já o 8º par cervical emerge abaixo da 7ª vértebra, e o mesmo acontece com os outros nervos espinais
(emergem abaixo da vértebra de número correspondente
– Figura 2).
- Entre as vértebras C2 e T10: adicionamos 2 ao número
do processo espinal da vértebra e temos o número do
segmento medular subjacente;
- Vértebras T11 e T12: correspondem aos 5 segmentos
lombares;
- Processo espinal de L1: corresponde aos 5 segmentos
sacrais.
Tabela 1 - Motor: tratos descendentes (localizados na coluna
anterior)
Piramidal
- Corticospinal anterior (direto) – motricidade
voluntária: 10% não cruzam nas pirâmides, e
sim no segmento da medula (Figura 3 - 1b).
- Rubrospinal: controla músculos responsáveis
pela motricidade da parte distal dos membros – músculo intrínsecos e extrínsecos da
mão e do pé (Figura 3 - 2a);
D - Topografia vertebromedular
Figura 2 - Nervos espinais
22
O crescimento da medula e da coluna vertebral
acontece no mesmo ritmo
até o 4º mês de vida intrauterina, a partir de quando a
coluna passa a crescer mais
rapidamente do que a medula, causando alongamento das raízes e diminuição
do ângulo que fazem com
esta. Desta forma, no indivíduo adulto, a medula termina no nível da borda inferior
da 1ª vértebra lombar, e,
abaixo dela, existe a cauda
equina, composta apenas de
raízes nervosas e filamento
terminal. Por esse motivo,
o segmento medular subjacente à vértebra não é exatamente o mesmo desta.
Por exemplo, abaixo da 3ª
vértebra torácica, o segmento medular é o de T5. Assim,
uma lesão óssea em T3 comprimindo a medula causa
síndrome medular com nível
medular em T5, ou seja, o
nível medular T5 equivale
ao nível vertebral T3.
Para definirmos o nível
das lesões vertebromedulares, podemos utilizar a seguinte regra:
- Corticospinal lateral (cruzado) – motricidade voluntária: as fibras cruzam na pirâmide
bulbar. Dentro do trato, as fibras motoras
dos MMSS são médias e as dos MMII são laterais (Figura 3 - 1a);
- Vestibulospinal: controla a musculatura axial,
ou seja, do tronco, assim como a musculatura
proximal dos membros. Manutenção do equilíbrio e postura básica (Figura 3 - 2c);
Extrapiramidal
- Reticulospinal: controla a musculatura axial,
ou seja, do tronco, assim como a musculatura proximal dos membros. Manutenção do
equilíbrio e postura básica e também motricidade voluntária da musculatura axial e proximal (Figura 3 - 2b);
- Tectospinal: controla a musculatura axial, ou
seja, do tronco, assim como a musculatura
proximal dos membros. Possui uma função
mais limitada, relacionada a certos reflexos
em que a movimentação decorre de estímulos visuais.
Figura 3 - Inervações vertebromedulares
CAPÍTULO
3
NEUROLOGIA
Dor
Mônica Ayres de Araújo Scattolin / Mauro Augusto de Oliveira
1. Definição
A dor é definida, pela Associação Internacional para o Estudo da Dor, como “uma experiência emocional e sensorial desagradável associada a uma lesão tecidual real ou potencial,
ou descrita em termos de tal lesão”. A sensação dolorosa tem papel fisiológico e funciona
como sinal de alerta para a percepção de algo
que está ameaçando a integridade física do organismo.
Em sua caracterização semiológica, os seguintes aspectos devem ser descritos: localização, irradiação, qualidade ou caráter, intensidade, duração, relação com funções orgânicas
(dor torácica – relação com respiração), evolução, fatores desencadeantes ou agravantes,
fatores atenuantes e manifestações concomitantes.
2. Classificação
A dor aguda caracteriza-se por resposta orgânica protetora, pois alerta o indivíduo para
uma lesão iminente ou real dos tecidos, induzindo a respostas reflexas e comportamentais
coordenadas com o intuito de manter o dano
tecidual o mais controlado possível. Quando a
dor passa a se repetir ou a sustentar-se por período prolongado, deixa de apresentar vantagens
biológicas e passa a causar sofrimento, sendo
classificada como dor crônica, gerada por impulsos de pequena magnitude produzidos por
atividade neural anormal. Essa dor geralmente
não é bem localizada e tende a ser maciça, contínua ou recorrente. A
Figura 1 apresenta uma das possíveis formas de classificação da dor.
Figura 1 - Classificação das diferentes formas de dor
A dor pode ser dividida em:
- Nociceptiva: consiste na estimulação persistente de nociceptores
térmicos, químicos ou mecânicos;
- Neuropática: definida como causada ou iniciada por lesão primária ou disfunção do sistema nervoso. Esse tipo é gerado dentro do
sistema nervoso, independente de qualquer outro estímulo interno ou externo. Também chamada de dor por injúria neural ou
por desaferentação, pode ser provocada por compressão, transecção, infiltração, isquemia, injúria metabólica de corpos celulares de neurônios ou a combinação desses fatores. Exemplos: dor
do membro fantasma e dores associadas a doenças como diabetes mellitus e Parkinson;
- Psicogênica: há a prevalência de fatores psicológicos na gênese
da sensação dolorosa. Não apresenta substrato orgânico e a dor
tende a ser generalizada, difusa e imprecisa. Pode ser observada
em pacientes com depressão, ansiedade generalizada ou hipocondria;
- Mista.
55
Tabela 1 - Divisões da dor nociceptiva
Somática
superficial
Decorrente da estimulação de receptores do
tegumento e, usualmente, de trauma, queimadura ou processo inflamatório. Tende a ser
bem localizada e a apresentar qualidade bem
definida.
Somática
profunda
Consequente à ativação de nociceptores de
músculos, fáscias, tendões, ligamentos e articulações. Como exemplos, estão as dores
ligadas às contrações musculares isquêmicas,
a estiramento muscular, ruptura tendinosa,
síndrome miofascial, artrite e artrose. De localização mais imprecisa, algumas vezes pode
manifestar-se como dor referida.
Visceral
Provocada por distensão de víscera oca, mal
localizada, profunda, opressiva e constritiva,
comumente se associa a náuseas, vômitos e
sudorese. Muitas vezes há dores locais referidas, como no ombro ou na mandíbula, relacionada ao coração, na escápula, referente à
vesícula biliar, e no dorso, referente ao pâncreas (Figura 2).
Assim, a dor visceral pode ser confundida com a dor somática – e é a dor referida.
A explicação mais aceita para esse fenômeno é a convergência de impulsos dolorosos somáticos e viscerais
para neurônios nociceptivos comuns localizados no corno dorsal da medula espinal. Tendo a pele suprimento
nociceptivo muito mais exuberante do que as estruturas
somáticas profundas e viscerais, a representação talâmica e cortical destas últimas é muito menor. Com isso, os
impulsos dolorosos provenientes das estruturas profundas seriam interpretados pelo cérebro como oriundos do
tegumento.
Figura 2 - Áreas cutâneas da dor referida de certas vísceras
A dor das vísceras maciças e dos processos não obstrutivos das vísceras ocas é descrita como surda ou dolorida;
a dor dos processos obstrutivos das vísceras ocas é do tipo
cólica; a dor por comprometimento parietal é “em pontada”; a dor por isquemia miocárdica é constritiva ou “em
aperto”; e a dor da úlcera duodenal é do tipo queimação
ou ardor.
A - Dor referida
Em determinadas situações, os sinais de dor dos receptores dos órgãos internos são incorretamente interpretados
como provenientes de áreas distantes dos reais estímulos,
particularmente como se viessem da superfície corpórea.
56
Figura 3 - Mecanismo da dor referida no infarto agudo do miocárdio: a dor é sentida na superfície do ombro e na face interna
do braço esquerdo, obedecendo à distribuição metamérica
B - Dor irradiada
Trata-se de um tipo de dor referida sentida à distância de
sua origem, mas obrigatoriamente em estruturas inervadas
pela raiz nervosa ou pelo nervo cuja estimulação nóxica é
responsável pela dor. Ocorre, portanto, em virtude do comprometimento direto de um nervo ou de uma raiz nervosa
CASOS CLÍNICOS
NEUROLOGIA
de Clínica Médica trazido pela filha, pois está provocando
lesões nos próprios braços e nas há 1 semana. O paciente
refere que tenta matar os “pequenos bichos” que estão no
seu corpo e chega a utilizar pontas de cigarro para eliminá-los. Não sabe explicar de onde vieram tais bichos nem
consegue descrevê-los, apenas os sente correr por baixo
da pele. A filha refere que o paciente era bastante ativo e
funcional até há 3 meses, quando começou a ter dificuldades para se locomover. Desde então, apresenta dificuldades de memória e esquece compromissos. Há 3 semanas,
não se lembra de se alimentar, passou a ficar confuso, por
vezes não fecha a porta de casa ao sair e não tem mais
bons cuidados com o asseio pessoal. É hipertenso e dislipidêmico há 20 anos e tabagista desde os 15 anos, com
enfisema e internações pregressas por broncoespasmo.
Sem outros antecedentes mórbidos relevantes, faz uso de
hidroclorotiazida 25mg/d. No exame clínico, encontra-se
em regular estado geral, consciente, desorientado no tempo e no espaço, com PA = 160x94mmHg e pulso = 88bpm.
Exame neurológico: diminuição da força motora no hemicorpo esquerdo, com predomínio na face. À esquerda,
reflexos exaltados e sinal de Babinski presente. Exame psíquico: memória prejudicada (sobretudo a de fixação), humor eutímico, fenômenos alucinatórios e delírios de infestação. Além disso, miniexame do estado mental de 12/30
pontos (escolaridade: 4ª série) e restante do exame clínico
sem alterações. Exames complementares, feitos há 3 dias:
Hb = 13g/dL, VCM = 91fL, HCM = 30pg, leucócitos = 4.000/
mm3, plaquetas = 200.000/mm3, U = 50mg/dL, Cr = 1,2mg/
dL, Na+ = 140mEq/L, K+ = 4mEq/L, colesterol LDL = 220mg/
dL, colesterol HDL = 40mg/dL, triglicérides = 280mg/dL,
glicemia de jejum = 98mg/dL e TSH = 2mUI/L; sorologias
para sífilis/HIV/hepatites não reagentes; dosagem de vitamina B12 normal; urina I sem alterações; ecocardiograma:
hipertrofia de câmaras esquerdas; ultrassonografia de carótidas: placa ateromatosa à esquerda com obstrução de
50% do lúmen. Segue tomografia de crânio:
a) Cite o achado da imagem apresentada associado ao
quadro clínico.
b) Cite o diagnóstico sindrômico e o etiológico para o transtorno mental.
CASOS CLÍNICOS
2014 - FMUSP
1. Um homem de 70 anos é encaminhado ao ambulatório
c) Cite o tratamento farmacológico para o paciente.
2014 - SUS-BA
2. Uma mulher de 72 anos, hipertensa, diabética e taba-
gista, refere perda súbita e transitória da consciência, após
quadro de tontura prolongado. Na sala de emergência,
encontra-se consciente, orientada, com vertigem rotatória
e nistagmo vertical espontâneo de duração prolongada e
que não melhora com a fixação do olhar. O restante do
exame físico é normal.
a) Cite o que será feito, a seguir, para esclarecer o quadro
da paciente.
163
QUESTÕES
NEUROLOGIA
2014 - UFRJ
1. Um homem de 39 anos, previamente hígido, apresentou, após esforço intenso, quadro de lombociatalgia com
irradiação para a região posterior do membro inferior
direito e parestesias na região plantar. Exame físico: limitação da mobilidade do tronco (principalmente flexão),
arreflexia do reflexo aquileu direito e exame de sensibilidade normal. O nível mais provável da herniação discal
está entre:
a) L2 e L3
b) L4 e L5
c) L3 e L4
d) L5 e S1
 Tenho domínio do assunto  Refazer essa questão
 Reler o comentário
 Encontrei dificuldade para responder
2014 - CERMAM
2. Os tumores cerebrais podem manifestar-se clinicamente através de sintomas generalizados que refletem a
hipertensão intracraniana ou de sintomas localizatórios,
que refletem a localização do tumor. Com relação às manifestações clínicas e à localização específica, relacione as
colunas a seguir:
A - Lobo frontal
B - Corpo caloso
C - Ponte/bulbo
D - Mesencéfalo/pineal
E - Cerebelo
F - Ângulo pontocerebelar
I - Puberdade precoce
II - Espasticidade
III - Surdez ipsilateral
IV - Distúrbios da marcha
V - Perda de memória
VI - Nistagmo
a) A-IV, B-V, D-I, E-VI, F-III
b) A-IV, B-III, C-I, D-VI, E-II, F-V
c) A-II, B-V, C-II, D-VI, E-III, F-I
d) A-III, B-IV, C-II, D-I, E-V, F-III
e) A-IV, B-VI, C-II, D-I, E-V, F-V
 Tenho domínio do assunto  Refazer essa questão
 Reler o comentário
 Encontrei dificuldade para responder
__________ corresponde a cerca de 1/3 __________ do
encéfalo, sendo um acidente vascular potencial causador
de __________, __________ e __________.
a) vertebrobasilares; anteriores; ataxia; carótidas; posterior; disfasia; disfagia; vertigem
b) carótidas; anteriores; disfagia; vertebrobasilares; posterior; disfasia; vertigem; ataxia
c) carótidas; anteriores; disfasia; vertebrobasilares; posterior; disfagia; ataxia; vertigem
d) vertebrobasilares; posteriores; vertigem; carótidas; anterior; disfagia; disfasia; ataxia
 Tenho domínio do assunto  Refazer essa questão
 Reler o comentário
 Encontrei dificuldade para responder
2012 - UFPR
4. Os mamilos correspondem ao dermátomo:
a) C6
b) T10
c) T4
d) T6
e) T1
 Tenho domínio do assunto  Refazer essa questão
 Reler o comentário
 Encontrei dificuldade para responder
2011 - UNITAU
5. A temperatura corpórea é regulada por neurônios termossensíveis localizados no hipotálamo pré-óptico ou anterior. Em relação a essa afirmativa, assinale a alternativa
incorreta:
a) existe um ritmo circadiano da temperatura, que resulta em temperaturas corpóreas mais baixas no início da manhã e temperaturas aproximadamente a 1°C
mais altas, no fim da tarde
b) na febre, o termostato corpóreo é reajustado a uma
temperatura mais alta
c) o termostato é reajustado em resposta a pirógenos endógenos, como as interleucinas, independentemente
de a febre estar associada a uma infecção, a doença do
tecido conjuntivo ou a câncer
d) temperaturas >40,5°C geralmente estão associadas a
uma causa infecciosa
e) a doença de Crohn e o lúpus eritematoso sistêmico são
causas não infecciosas de febre
 Tenho domínio do assunto  Refazer essa questão
 Reler o comentário
 Encontrei dificuldade para responder
2012 - HPM-MG
3. Complete as lacunas do texto e, a seguir, assinale a alternativa que contém a sequência correta:
O território cerebral irrigado pelas artérias __________
corresponde a cerca de 2/3 __________ do encéfalo, sendo
um acidente vascular potencial causador de hemiparesia e
__________. Já o território cerebral irrigado pelas artérias
2011 - UNITAU
6. A lesão completa do nervo periférico, segundo a classificação de Seddon, é chamada de:
a) neurotmese
b) axonotmese
c) lesão transversa
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QUESTÕES
Neuroanatomia
COMENTÁRIOS
NEUROLOGIA
Questão 1. Irradiação posterior do membro inferior direito,
parestesia na região plantar, limitação da flexão do tronco,
arreflexia do reflexo aquileu direito e sensibilidade normal.
A abolição do reflexo aquileu caracteriza compromisso de
L5-S1. A alteração nos reflexos pode ser relativa ou absoluta. Um reflexo patelar reduzido é visto em uma compressão
de L4, mas, pela inervação sobreposta, pode haver alteração mínima. Não há, obrigatoriamente, anomalia de reflexo
associada a compressão de L5. O reflexo aquileu está constantemente reduzido ou abolido em uma compressão S1.
Cuidado! Hérnia de disco L4-L5 mediana compromete raiz
de L5.
Gabarito = D
Questão 2. A questão poderia ser respondida de 2 formas:
- “Braçal”: realizar as associações sugeridas pelo examinador e notando que algumas são bizarras, como A3 = lobo
frontal e surdez, B3 = corpo caloso e surdez, F1 = ângulo
pontocerebelar e puberdade precoce etc.;
- Lembrar que, a patologias da região da pineal, têm sido
relacionados casos de tumores que podem originar puberdade precoce, em que os pinealócitos sofrem compressão
por parte de células intersticiais e diminuem a produção
de melatonina, liberando mais rapidamente a puberdade
(não inibição do GnRH). A puberdade é retardada quando
os pinealócitos tumorais aumentam a produção de melatonina.
Gabarito = A
Questão 3. A oclusão das artérias cerebrais apresenta um
quadro clínico específico para cada região irrigada por um
dos ramos da artéria carótida:
- Artéria oftálmica – a oclusão pode causar cegueira monocular no olho ipsilateral;
- Artéria cerebral anterior – paralisia e perda sensorial na
perna contralateral, falta de iniciativa e incontinência urinária;
- Artéria cerebral média divisão superior – hemiparesia
completa desproporcionada de predomínio braquifacial,
afasia de Broca (afasia motora ou de expressão) hemisfério dominante, perda sensitiva contralateral da face e do
braço devido ao envolvimento do córtex sensitivo;
- Artéria cerebral média (tronco) ramo central – hemiplegia
completa contralateral e hemianestesia da face com déficits variáveis de linguagem (afasias) e alterações no campo
visual;
- Artéria cerebral média divisão inferior – hemianopsia homônima contralateral causada pela interrupção do trato
óptico ou das radiações ópticas, afasia de Wernicke (afasia
sensitiva ou de compreensão) hemisfério dominante, pelo
envolvimento do giro temporal superior posterior, distúrbios de percepção espacial (falta de consciência do déficit
neurológico e negligência dos membros e do espaço con-
tralaterais) devido ao envolvimento do lobo parietal não
dominante, função sensitiva cortical deficiente (incapacidade de discriminar a forma de um objeto por meio do
tato – estereognosia) devido ao envolvimento do córtex
sensitivo primário, secundário ou de associação.
Circulação posterior
Artéria vertebral
- Náuseas, vômitos e vertigem;
- Acometimento de nervos cranianos baixos;
- Ataxia cerebelar.
Artéria cerebral posterior
- Alterações do campo visual;
- Rebaixamento do nível de consciência;
- Déficit sensitivo;
- Alterações das funções nervosas superiores.
Artéria basilar
- Déficit motor e/ou sensitivo geralmente bilateral;
- Rebaixamento do nível de consciência;
- Alterações de nervos cranianos.
Gabarito = C
Questão 4. - C4: clavícula;
- C6: margem radial do antebraço e polegar;
- T1: margem ulnar do antebraço;
- T4: mamilos;
- T7: processo xifoide;
- T10: umbigo;
- T12: região inguinal (crista ilíaca).
Gabarito = C
Questão 5. O hipotálamo regula a temperatura corpórea,
por meio de um mecanismo bastante complexo. A febre é
uma reação do organismo a substâncias pirogênicas (por
exemplo, as interleucinas), geralmente liberadas de células sanguíneas como resposta à infecção. Num indivíduo
febril, os mecanismos termorreguladores reagem como se
tivessem sido reajustados a uma temperatura mais elevada.
Estas não necessariamente significam infecção; podem decorrer de doenças inflamatórias ou neoplásicas.
Gabarito = D
Questão 6. Segue a classificação de Seddon para lesão de
nervo periférico:
1 - Neuropraxia: contusão ou compressão de um nervo periférico com edema ou desintegração de um segmento da
bainha de mielina apenas, mantendo intacto o restante das
estruturas do nervo. Por isso, a transmissão dos impulsos é
interrompida por certo tempo, mas a recuperação é completa em poucos dias ou semanas. Sua recuperação ocorrerá em poucos dias ou semanas.
2 - Axonotmese: lesão mais significativa com desintegração
do axônio e degeneração walleriana distal, mas com pre-
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