utilização de doxifin® no tratamento da dirofilariose canina

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utilização de doxifin® no tratamento da dirofilariose canina
UTILIZAÇÃO DE DOXIFIN® NO TRATAMENTO DA DIROFILARIOSE CANINA
Aluna: Camila Almeida de Queiroz
Orientadora: Alessandra Moreira Martins
Rio de Janeiro, out. 2013
INTRODUÇÃO:
A Dirofilariose também conhecida como "doença do verme do coração" é
uma antropozoonose de caráter crônico, causada pelo nematódeo Dirofilaria
immitis, que pode ser encontrado em mais de 30 espécies, tendo os canídeos
como seus hospedeiros definitivos habituais. É transmitida, principalmente, pelos
mosquitos das espécies Culex spp., Aedes spp. e Anopheles spp. (1 e 2). É uma
doença comum em diversas áreas do mundo, porém encontra-se mais difundida
em regiões tropicais e subtropicais e, uma vez instalada, é de difícil eliminação (3
e 4).
O presente trabalho tem como objetivo relatar o caso de um animal com
Dirofilariose que foi tratado com Doxifin® e Ivermectina. Sendo o Doxifin® de
grande relevância, devido à endossimbiose do parasita com a bactéria Wolbachia,
microorganismo sensível à doxicilina (5).
RELATO DE CASO:
O animal, macho, da raça Rottweiller, com 6 anos de idade, foi trazido a
Clínica Escola de Medicina Veterinária Dr. Paulo Alfredo Gissoni, na Universidade
Castelo Branco, com quadro de hipofagia, prurido, queda de pelos e edema em
bolsa escrotal. O animal pertence ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha
Brasileira e é constantemente utilizado em treinamento e trabalho com cães. O
canil encontra-se localizado ao lado de um rio com grande quantidade de
mosquitos, tendo sua limpeza feita com cloro, água sanitária e desinfetante.
Segundo os tratadores há cerca de 15 dias fora visualizado hematoquesia. Ao
exame físico observou-se: mucosas normocoradas, linfonodos normais, turgor
cutâneo normal, tempo de preenchimento capilar de 2 segundos, óculo atópico
em ambos os olhos, pústulas e pápulas em região abdominal, presença de edema
em bolsa escrotal e prepúcio, testículos íntegros e sem dor a palpação. Não foram
detectadas alterações à ausculta pulmonar e cardíaca. Foi coletado sangue para
realização de exames laboratoriais (anexo 1).
Para alívio dos sintomas, e enquanto não havia a liberação do resultado
dos exames, foi prescrito Celesporin® comprimido 600mg (2 comprimidos/bid/21
dias), Clemastina comprimido 1,4mg (1 comprimido/bid/15 dias) e Dermotrat®
creme (bid/15 dias). Também foi solicitado que a limpeza do ambiente fosse
realizada apenas com água sanitária diluída em água na proporção de 1:30.
No hemograma foram revelados uma discreta anemia normocítica,
normocrômica, leucocitose, neutrofilia absoluta, basofilia, eosinofilia, linfopenia
relativa e monocitose absoluta. Foram observados microfilárias na amostra
enviada. No exame bioquímico pode-se observar a uréia discretamente
aumentada,
creatinina
dentro
da
normalidade,
e
hiperproteinemia
por
hiperglobulinemia (anexo 1). A partir deste resultado, o uso do Celesporin® foi
suspenso e iniciou-se o tratamento com Doxifin® comprimido 200 mg (2
comprimidos e 1/4/sid/30 dias), Omeprazol cápsulas 40 mg (1 cápsula/sid/30
dias/pela manhã em jejum), Ivermectina injetável na dose de 0,012 mg/kg em
aplicações subcutâneas mensais por 6 meses.
Foi
requisitada
radiografia
torácica
nas
projeções
dorsoventral
e
laterolateral, eletrocardiograma e ecocardiograma para melhor diagnóstico. O
animal retornava a cada mês para a aplicação da ivermectina e avaliação de seu
estado clínico. Com 15 dias de tratamento o edema e as lesões em pele já
haviam melhorado. Após 3 meses de tratamento foi realizado um novo exame de
sangue onde ainda foi detectado a presença de microfilárias, porém houve uma
melhora significativa no exame pois as únicas alterações hematológicas ainda
presentes eram a eosinofilia e a hiperproteinemia (anexo 2). O animal continuará
com as medicações até o final do tratamento de 6 meses, onde serão realizados
novos exames para acompanhamento.
DISCUSSÃO:
O animal supracitado apresentava dois quadros distintos. A Dirofilariose,
que até o presente momento estava assintomática, e uma dermatite alérgica por
contato com produto de limpeza. Iniciou-se o tratamento para a dermatopatia e
obteve-se a cura clínica. Após a detecção das microfilárias no exame de sangue
que foi iniciado o tratamento para dirofilariose.
As alterações hematológicas encontradas no primeiro exame realizado,
dentre elas: discreta anemia normocítica normocrômica, leucocitose, neutrofilia,
basofilia, eosinofilia e hiperproteinemia por hiperglobulinemia, conferem com as
relatadas por Almosny, 2002 (6) e Calvert e Ridge, 2008 (1).
O tratamento adulticida de cães com dirofilariose é complexo devido,
principalmente, ao ciclo de vida do parasita e as possíveis complicações deste
tratamento, que podem levar ao tromboembolismo pulmonar e consequente morte
do animal, portanto não foi utilizado neste paciente (2 e 7).
Optou-se apenas pelo tratamento microfilaricida que consiste na eliminação
das microfilárias do organismo indo contra o descrito por Nelson e Couto, 2001 (7)
e Rawlings e Calvert, 1997 (2), que não recomendam esta terapia a não ser que
se efetue antes o tratamento adulticida. Conforme Aiello e Mays, 2001 (3), Calvert
e Ridge, 2008 (1) e Nelson e Couto, 2001 (7); deve-se utilizar Ivermectina na dose
de 50 µg/kg (0,05 mg/kg), por via oral ou subcutânea, em dose única, contudo
existe um grande risco de reações anafiláticas ocorrerem devido à morte das
microfilárias circulantes. Portanto este tratamento não foi utilizado e optou-se pelo
uso da Ivermectina na dose de 6 a 12 µg/kg (0,006 a 0,012 mg/kg), por via
subcutânea, mensalmente, por 6 meses, eliminando assim as microfilárias
gradativamente. Apesar de ser a terapia mais longa, é a que tem melhor
prognóstico (5, 8 e 9).
Concomitantemente à terapia microfilaricida, deve-se combater a bactéria
Wolbachia, que é um agente endossimbionte encontrado no interior das
dirofilárias. Esta bactéria interage com o organismo do hospedeiro durante as
infecções caninas, participando no desenvolvimento da patologia e na regulação
da resposta imune do hospedeiro. Uma vez combatida, não somente afeta a
fecundidade e a sobrevivência do helminto, mas também diminui a patologia
inflamatória. Por está razão optou-se por iniciar o tratamento com o Doxifin®, uma
vez que a Doxiciclina na dose de 10 mg/kg/sid/30 dias é a antibioticoterapia de
escolha para este caso (4, 5, 8, 9 e 10).
CONCLUSÃO:
A Doxiciclina na dose apresentada tem se mostrado uma importante droga
auxiliar na terapia da Dirofilariose. O tratamento associado deste antibiótico com a
Ivermectina tem possibilitado a cura dos animais sem submetê-los ao risco das
reações indesejáveis que podem ocorrer no tratamento adulticida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1- CALVERT, C. A.; RIDGE, L. G. Dirofilariose. In: BIRCHARD, S. J.;
SHERDING, R. G. Manual Saunders: Clínica de pequenos animais. 3.
ed. São Paulo: Roca, 2008. cap. 152, p.1595-607.
2- RAWLINGS, C. A.; CALVERT, C. A. Dirofilariose. In: ETTINGER, S. J.;
FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. v. 1. 4. ed.
São Paulo: Manole, 1997. cap. 98, p. 1447-76.
3- AIELLO, S. E.; MAYS, A. Dirofilariose. In:_____. Manual Merck de
Veterinária. 8. ed. São Paulo: Roca, 2001. cap. 1, p. 76-9.
4- SILVA, R. C. da; LANGONI, H. Dirofilariose. Zoonose emergente
negligenciada. Ciência Rural, v. 39, n. 5, p. 1614-23, ago. 2009.
5- GRANDI, G. et al. A combination of doxycycline and ivermectin is adulticidal
in dogs with naturally acquired heartworm disease (Dirofilaria immitis).
Veterinary Parasitology, v. 169, n. 3-4, p. 347-51, may 2010.
6- ALMOSNY, N. R. P. Hemoparasitoses em pequenos animais
domésticos e como zoonoses. 1. ed. Rio de Janeiro: L.F. Livros de
Veterinária Ltda., 2002. p.112-126.
7- NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Dirofilariose. In:_____. Medicina Interna
de Pequenos Animais. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
cap. 10, p. 127-39.
8- BAZZOCCHI, C. et al. Combined ivermectin and doxycycline treatment has
microfilaricidal and adulticidal activity against Dirofilaria immitis in
experimentally infected dogs. International Journal for Parasitology, v.
38, n. 12, p. 1401-10, oct. 2008.
9- MCHAFFIE, J. Dirofilaria immitis and Wolbachia pipientis: a thorough
investigation of the symbiosis responsible for canine heartworm disease.
Parasitology Research, v. 110, n. 2, p. 499-502, feb. 2012.
10-HOERAUF, A. et al. Doxycycline as a novel strategy against bancroftian
filariasis – depletion of Wolbachia endosymbiontis from Wuchereria
bancrofti and stop of microfilaria production. Medical Microbiology and
Immunology, n. 192, p. 211-6, mar. 2003.
ANEXOS:
Anexo 1: Exames laboratoriais realizados em: 24/07/2013.
Hemograma
Valores de
referência
Hematócrito
36,2%
(37-55)
6
Hematimetria
5,32 x 10 /µL
(5,5-8,5)
Hemoglobina
12,0 g/dL
(12-18)
VGM
68 fL
(60-77)
CHGM
33,2%
(32-36)
LEUCOMETRIA
27.200/ µL
(6.000-17.000)
GOLBAL
Leucometria
específica
Basófilos
15
272/ µL
Raros
Eosinófilos
4624/ µL
(2-10%)/(100 a 1250/
17%
µL)
Metamielócitos
0%
0/ µL
(0%)/(0/ µL)
Mielócitos
0%
0/ µL
(0%)/(0/ µL)
Bastões
0%
0/ µL
(0 a 3%)/ (0 a 300/
µL)
Segmentados
70%
19040/ µL
(60 a 77%)/(3000 a
11250/ µL)
Linfócitos
7%
1904/ µL
(12 a 30%)/(1000 a
4800/ µL)
Monócitos
5%
1360/ µL
(3 a 10%)/(150 a
1350/ µL)
Plaquetometria
421.000/µL
(180.000-500.000)
Proteínas
plasmáticas
---
(5,8-8,0)
Pesquisa de hemocitozoários
Não foram encontrados
Pesquisa de microfilárias
Positivo para microfilárias
Observações: Discreta anemia normocitica, normocromica.
Leucocitose. Neutrofilia absoluta. Basofilia. Eosinofilia. Linfopenia
relativa. Monocitose absoluta.
Fonte: Laboratório de Patologia Clínica Veterinária da Universidade Castelo Branco.
Bioquimica:
Ureia
Creatinina
ALT
Proteína Total
Albumina
Globulina
53
1,3
31
8,84
2,0
6,8
Valores de referência
(15-40 mg/dL)
(0,6-1,4 mg/dL)
(4-91 U/L)
(5,4-7,1 g/dL)
(2,6-3,3 g/dL)
(2,7-4,4 g/dL)
Fonte: Laboratório de Patologia Clínica Veterinária da Universidade Castelo Branco.
Anexo 2: Exames laboratoriais realizados em: 16/10/2013.
Hemograma
Valores de
referência
Hematócrito
42%
(37-55)
Hematimetria
6,26 X106/µL
(5,5-8,5)
Hemoglobina
14,0 g/dL
(12-18)
VGM
67 fL
(60-77)
CHGM
33,3%
(32-36)
LEUCOMETRIA
18.200/µL
(6.000-17.000)
GOLBAL
Leucometria
específica
Basófilos
0%
0/µL
Raros
Eosinófilos
3267/ µL
(2-10%)/(100 a 1250/
18%
µL)
Metamielócitos
0%
0/ µL
(0%)/(0/ µL)
Mielócitos
0%
0/ µL
(0%)/(0/ µL)
Bastões
0%
0/ µL
(0 a 3%)/ (0 a 300/
µL)
Segmentados
61%
11102/ µL
(60 a 77%)/(3000 a
11250/ µL)
Linfócitos
20%
3604/ µL
(12 a 30%)/(1000 a
4800/ µL)
Monócitos
1%
182/ µL
(3 a 10%)/(150 a
1350/ µL)
Plaquetometria
486.000/µL
(180.000-500.000)
Proteínas
plasmáticas
10,0 g/dL
(5,8-8,0)
Pesquisa de hemocitozoários
Não foram encontrados
Pesquisa de microfilárias
Positivo para microfilárias
Observações: Presença de Rouleaux eritrocitário. Leucocitose com
eosinofilia. Presença de macroplaquetas. Hiperproteinemia.
Fonte: Lab e Pet Diagnóstico Veterinário – setor de patologia clínica.

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