Revista Brasileira de Engenharia de Pesca
Transcrição
Revista Brasileira de Engenharia de Pesca
Revista Brasileira de REPESCA ISSN 1980-587X Engenharia de Pesca Volume 3, número 2 - julho de 2008 Pesca, Aqüicultura, Tecnologia do Pescado e Ecologia Aquática X Expediente Y Catalografia Z Editorial [ Artigos " Científicos # Técnicos y Resenhas REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA VOLUME 3, NÚMERO 1, 2008 \ Normas para Eds.: José Milton Barbosa e Haroldo Gomes Barroso Publicação EXPEDIENTE Foto Haroldo Barroso Veja: ] Contatos Carpintaria Naval do Maranhão Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 DIRETOR Haroldo Gomes Barroso - UEMA COMISSÃO EDITORIAL Alex Augusto Gonçalves - Dalhousie University, Canadá Angelo Brás Callou - UFRPE EDITORES Athiê Jorge Guerra dos Santos - UFRPE José Milton Barbosa - UFRPE Fábio Diniz - Embrapa/PI Haroldo Gomes Barroso - UEMA EDITORES ADJUNTOS Adierson Erasmo de Azevedo UFRPE Fábio Hazin - UFRPE Fernando Porto - UFRPE Eurípedes Alves da Silva Filho - UFAL Heiko Brunken - Hochschule Bremen, Alemanha Israel Hidenburgo Aniceto Cintra - UFRA Joachim Carolsfeld - World Fisheries Trust, Canadá Emerson Soares - UFAL ASSISTENTES DE EDIÇÃO Manlio Ponzi Junior - UFRPE Rogério Bellini - Netuno Webmaster Junior Baldez - UEMA Revisão do texto Adierson Erasmo de Avezedo UFRPE José Milton Barbosa - UFRPE Leonardo Teixeira de Sales - UFPI Maria do Carmo Figueredo Soares - UFRPE Maria do Carmo Gominho Rosa - Unioeste Maria Elisabeth de Araújo - UFPE Maria Nasaré Bona - UFPI Maria Raquel Coimbra - UFRPE Neiva Maria de Almeida - UFPB Paula Gênova de Castro - Instituto de Pesca/SP Paulo de Paula Mendes – UFRPE Petrônio Alves Coelho Filho - UFAL Raimundo Nonato de Lima Conceição - UFC Rosângela Lessa - UFRPE Sérgio Macedo Gomes de Mattos - SEAP/PE Sérgio Makrakis - Unioeste Sigrid Neumann Leitão - UFPE Vanildo Souza de Oliveira - UFRPE Walter Maia Junior - UFPB __________________________________________________________________________________ Curso de Engenharia de Pesca Universidade Estadual do Maranhão Departamento de Pesca e Aqüicultura Universidade Federal Rural de Pernambuco 2 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 A REPesca está indexada à base de dados: SUMARIOS.ORG (www.sumarios.org) © Publicada em julho de 2008 Todos os direitos reservados aos Editores. Proibida a reprodução, por qualquer meio, sem autorização dos Editores. Impresso no Brasil Printed in Brazil Ficha catalográfica Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Central – UFRPE R454 Revista Brasileira de Engenharia de Pesca Nacional / editores José Milton Barbosa, Haroldo Gomes Barroso -- São Luís, Ed. UEMA, 2008. V.3, n.2 : 175p. : il. Semestral 1. Pesca 2. Aqüicultura 3. Ecossistemas Aquáticos, 4. Pescados – Tecnologia I. Barbosa, José Milton II. Barroso Haroldo Gomes III. Universidade Estadual do Maranhão CDD 639 3 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 ISSN-1980-587X REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA Volume 3 julho, 2008 O Número 2 EDITORIAL setor pesqueiro nacional vive um momento de euforia, com a almejada criação do um ministério capaz de unificar e avalancar a atividade pesqueira. Setor que a dispeito dos desmazelos instutuionais, passados desde a extinção da SUDEPE, mostra sua pujança e consolidação como atividade produtiva de forte apelo econômico e social. Neste contexto, se fortalece também a Engenharia de Pesca, que tanto clamou por este ministério, e que agora se sente recompensada, não por uma vitória, mas pela certeza que a luta começa agora. Ademais, outro fato marcante é a realização da nossa I Semana Nordestina de Engenharia de Pesca. Assim, na primeira semana de setembro estaremos em São Luis para discutir nossa profissão e os seus rumos na certeza que o Engenheiro de Pesca enquanto profissional e retrata a importância do setor pesqueiro para o crescimento de nosso país. NOSSOS JAPONESES No momento em que se comemora os 100 anos da imigração japonesa para o Brasil, não podemos esquecer aqueles que tanto fizeram pelo setor pesqueiro nacional e em especial pela no Engenharia de Pesca. Nomes como Johei Koike (in memoriam), Masayoshi Ogawa, Yasunobu Matsura (in memoriam), Yoshito Motohashi (in memoriam) e Hitoshi Nomura, dentre outros, marcam sua passagem entre nós e deixam seus nomes gravados nas ciências pesqueiras do Brasil. José Milton Barbosa Editor Chefe 4 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Sumário Atenção: Para abrir click em “” ARTIGOS CIENTÍFICOS Aproveitamento da carne da carcaça de rã-touro gigante no desenvolvimento de hambúrguer Alex Augusto GONÇALVES, Maria Cristina Montin OTTA.......................................................7 Purificação e atividade anticoagulante in vitro de galactanas sulfatadas extraídas da alga marinha vermelha Halymenia pseudofloresia José Ariévilo Gurgel RODRIGUES, Wladimir Ronald Lobo FARIAS.......................................16 Variação nictemeral do macrozooplâncton na Barra Orange - Canal de Santa Cruz, Estado de Pernambuco (Brasil) Pedro Augusto Mendes de Castro MELO; Sigrid NEUMANN-LEITÃO; Lucia Maria de Oliveira GUSMÃO; Fernando de Figueiredo PORTO-NETO....................................................30 Polissacarídeos sulfatados da alga Caulerpa sertularioides (Gmel.) Howe análise de metodologias de precipitação José Tarcísio Borges Bezerra NETO; José Ariévilo Gurgel RODRIGUES; Grazielle da Costa PONTES; Wladimir Ronald Lobo FARIAS.................................................................................50 Agregando valor ao pescado de água doce: defumação de filés de jundiá (Rhamdia quelen) Alex Augusto GONÇALVES; Renata CEZARINI.....................................................................63 Avaliação dos efeitos da imersão das pós-larvas do camarão Litopenaeus vannamei em águas de cultivo com polissacarídeos sulfatados José Ariévilo Gurgel RODRIGUES; José de Sousa Junior JÚNIOR; Perla Lorena MOREIRA; Diego Silva MELO; Jullyermes Araújo LOURENÇO; Paula Cristina Walger de Camargo LIMA; Valeska Martins TORRES; Grazielle da Costa PONTES; Wladimir Ronald Lobo FARIAS........................................................................................................................................80 Efeitos do fotoperíodo e temperatura no crescimento de girinos da rã-touro gigante, Rana catesbeiana (Shaw, 1802)......................................................................................................................92 ARTIGOS TÉCNICOS Cultivo intensivo de espécies carnivores Emerson Carlos SOARES..........................................................................................................100 Influência da profundidade dos lagos do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso, BA e sua limitação ao cultivo de peixes em tanques-rede José Patrocínio LOPES* Luiz Carlos Farias DANTAS; Eloi CERQUEIRA..............................106 “Fui no mangue catar lixo, pegar caranguejo, conversar com o urubu”: estudo socioeconômico dos catadores de caranguejo no litoral norte de Pernambuco Roberta Sá Leitão BARBOZA; Sigrid NEUMANN-LEITÃO; Myrian Sá Leitão BARBOZA; Luciana de Matos Andrade BATISTA-LEITE...................................................................................................................117 5 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Digestibilidade de ingredientes alternativos para tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus): revisão Elton Lima SANTOS; Waleska de Melo Costa WINTERLE; Maria do Carmo M. M. LUDKE José Milton BARBOSA..............................................................................................................135 Desarrollo tecnológico de carne ahumada de esturión (Acispenser spp. ) Bertullo, E.; Campot J.; Fernández, S.; Gómez, F. y Pollak, A. ................................................150 RESENHAS Carpintaria artesanal no Estado do Maranhão Luiz Phelipe de Carvalho Castro ANDRÈS................................................................................163 Tilapicultura Industrial Rogério Bellini............................................................................................................................170 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO..........................................................................................................172 CONTATOS....................................................................................................................................................175 6 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 ARTIGOS CIENTÍFICOS APROVEITAMENTO DA CARNE DA CARCAÇA DE RÃ-TOURO GIGANTE NO DESENVOLVIMENTO DE HAMBÚRGUER USE THE BULLFROG CARCASS MEAT TO DEVELOP HAMBURGUER Alex Augusto GONÇALVES1*; Maria Cristina Montin OTTA2 1 Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul 2 Engenheira de Alimentos, Universidade do Vale do Rio dos Sinos. * Email: [email protected] Recebido em: 8 de março de 2008 Resumo - O objetivo deste trabalho foi aproveitar a carne da carcaça da rã-touro gigante (Rana catesbeiana) no desenvolvimento de um produto com valor nutricional e sensorial. Na avaliação físico-química da carne in natura obtiveram-se os seguintes valores: umidade (79,2%), cinzas (0,2%), proteínas (16,6%), lipídios (0,33%) e cálcio (0,01%); enquanto que no produto desenvolvido (hambúrguer) obtiveram-se os seguintes valores: umidade (76,3%), cinzas (2,8%), proteínas (12,6%), lipídios (0,1%) e cálcio (0,02%). Todos os parâmetros analisados na avaliação microbiológica foram negativos, demonstrando que o procedimento higiênico foi satisfatório durante a manipulação e desenvolvimento do produto final. O índice de aceitabilidade do hambúrguer na análise sensorial foi de 88,4%. Palavras-chave: Rana catesbeiana, carne de rã, desenvolvimento de produto. . Abstract - This objective of this work was use of carcass meat from bullfrog (Rana catesbeiana) in development of a product with nutritional and sensorial value. The physical-chemical analysis of in natura meat obtained the following values: moisture (79.2%), ash (0.2%), protein (16.6%), lipids (0.33%) and calcium (0.01%); while the product developed (hamburger) obtained the following values: moisture (76.3%), ash (2.8%), protein (12.6%), lipids (0.1 %) and calcium (0.02%). All parameters examined in microbiological analysis were negative, showing that the procedure hygiene was satisfactory during handling and final product development. The index of acceptability of the hamburger in sensory analysis was 88.4%. Key-words: Rana catesbeiana, frog meat, product development. 7 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 INTRODUÇÃO A rã-touro, Rana catesbeiana (Figura 1) é nativa da América do Norte e foi introduzida no Brasil em 1935. Sua criação em cativeiro vem cada vez mais se firmando como uma atividade viável e de grande potencial. Isto se deve, entre outros fatores, à qualidade nutricional da carne de rãs, que possui um adequado balanceamento de aminoácidos e baixo nível de gordura e colesterol, o que se apresenta como uma importante ferramenta de publicidade (Casali, Moura & Lima, 2005; Nóbrega et al., 2007). Figura 1 - Rã-touro (Rana catesbeiana). O desenvolvimento tecnológico do abate de rãs e seu processamento posterior para consumo humano têm atraído cada vez mais atenção. Em virtude disso, as recomendações do Codex Alimentarius estão sendo adotadas como critério de qualidade da carne da rã, seguindo um padrão internacional (Ramos et al., 2005; Nóbrega et al., 2007). Os principais produtos comerciais da rã-touro (Rana catesbiana) são: a carne e o couro, segundo Lima & Agostinho (1992) existe potencialidade de aproveitamento do ovário e do fígado para preparação de caviar e patê, respectivamente. No entanto, Lima, Cruz & Moura (1999) constataram que o aproveitamento de subprodutos da rã-touro ainda é inexpressivo, sendo fracamente representado pelo aproveitamento de pele e corpo gorduroso, prevalecendo ainda a comercialização dos produtos principais, carcaças inteiras e coxas. A carne de rã é apreciada não só pelo seu sabor requintado e textura, mas também como fonte de proteína de alto valor biológico. Embora, no Brasil, as rãs sejam comercializadas inteiras, a carne de rã é usualmente comercializada internacionalmente na forma de coxas frescas ou congeladas, obtendo preços mais elevados (Ramos et al., 2004; Mello et al., 2006). A carne de rã destaca-se nutricionalmente por sua grande quantidade de proteínas de alto valor biológico e por seu baixo teor em gorduras, inferiores a 1% (Tabela 1) e, por estas características, é indicada para dietas hipocalóricas. É recomendada para dietas com o objetivo de combater o colesterol, a obesidade a hipertensão arterial e também para tratamento de distúrbios 8 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 gastrointestinais, na dieta de atletas, convalescentes e crianças em fase de crescimento e alérgicas a proteína animal. No entanto, as qualidades sensoriais da carne da rã-touro são raramente estudadas (Conceição, 2000; Mello et al., 2006; Nóbrega et al., 2007). Tabela 1 - Composição da carne de rã-touro: comparação com outras carnes. Espécie Rã Frango Bovino Suíno Coelho Proteínas (g/100g) 16,4 18,1 19,4 16,7 21,0 Gorduras (g/100g) 0,3 18,7 15,8 22,7 8,0 Calorias (kcal/100g) 68 264 225 276 162 Revista da Terra (2006). No mercado internacional, o consumo de rã é essencialmente voltado para as pernas (coxas) que representam a maior parte comestível da rã (52,7%) e são consideradas por muitos como uma “delicatessen”. No Brasil os ranicultores oferecem a carcaça inteira ao mercado interno como forma de ampliar sua receita. O dianteiro ou “dorso”, composto do tórax e braços geralmente é desprezado pelos consumidores, pelo grande número de pequenos ossos (baixo rendimento de carne). Com objetivo de agregar valor ao segmento, várias alternativas estão sendo estudadas, para o melhor aproveitamento da carne desta parte do corpo das rãs, particularmente utilizando a desossadora mecânica (Conceição, 2000; Moura, 2003; Lima; Teixeira & Costa, 2006a; 2006b; Mello et al., 2006; Nóbrega et al., 2007). Segundo Lima, Teixeira & Costa (2006a), apesar de existir vários consumidores efetivos, a carne de rã ainda é um produto cercado de preconceito por parte do consumidor doméstico. Além do aspecto físico nada atraente, o desconhecimento da forma de se preparar esta carne, é um dos itens que mais desestimula a compra. O aumento do consumo da carne de rã vai continuar restrito, enquanto não se encontrar formas de atender às facilidades que o mundo moderno oferece. O objetivo deste trabalho foi aproveitar a carne da carcaça da rã-touro gigante (Rana catesbeiana) no desenvolvimento de um produto com valor nutricional e sensorial. MATERIAL E MÉTODOS Amostras congeladas de rã-touro (Rana catesbeiana) foram recebidas na Mini-usina de Carne e Derivados (UNISINOS, São Leopoldo, RS) e mantidas em freezer a -18°C até o momento do desenvolvimento do hambúrguer. 9 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Após serem descongeladas em refrigerador à temperatura de 4ºC, foram desossadas manualmente. Foi desenvolvida uma formulação de hambúrguer e seus ingredientes foram utilizados nas quantidades convencionais para este tipo de produto, conforme Tabela 2. Tabela 2 - Formulação do hambúrguer de rã-touro. Matéria-prima Carne de rã Ingredientes Gelo moído Proteína Texturizada de Soja granulado Amido de milho Farinha de trigo Alho em pó Coentro NaCl Pimenta do reino em pó Glutamato monossódico Tripolifosfato de sódio Sorbitol Quantidade (g) 1000* Quantidade (%) 10,0 5,0 5,0 5,0 0,2 0,2 1,5 0,2 1,0 0,3 4,0 * Para cada 1.000 g de carne utiliza-se o percentual dos ingredientes Em seguida, a carne, parte do gelo e todo sal foram transferidos para o misturador por cerca de 5 minutos, seguido da adição dos demais ingredientes, que permaneceram no misturador por mais 3 minutos, até a completa homogeneização. A massa resultante foi retirada do misturador e, posteriormente, dividida em porções de 70 g. Os hambúrgueres foram formatados, embalados individualmente em filme de PVC, congelados a –18ºC e armazenados nesta temperatura até o momento das análises (Figura 2). ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS As análises microbiológicas foram realizadas de acordo com metodologia descrita por Silva et al. (2007), seguindo os parâmetros microbiológicos estabelecidos pela legislação (Brasil, 2001) para produtos à base de pescado refrigerados ou congelados (hambúrgueres e similares), como: Salmonella, Coliformes e Staphylococcus aureus. ANÁLISE SENSORIAL Para verificar a aceitabilidade do hambúrguer de rã e medir o nível de satisfação do consumidor, a avaliação sensorial foi efetuada por painelistas não treinados (n = 30) do curso de Gastronomia da UNISINOS onde foi utilizado o método afetivo mediante escala hedônica de nove pontos, que 10 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Figura 2 - Processamento do hambúrguer de rã-touro. variava de gostei muitíssimo (9 pontos) a desgostei muitíssimo (1 ponto) seguindo a metodologia de Dutcosky (1996). O índice de aceitabilidade (IA) foi calculado considerando-se a nota máxima alcançada, pelo produto que está sendo analisado, como 100% e a pontuação média, em %, será o IA. O produto atingindo um percentual maior ou igual a 70% será considerado aceito pelos provadores (Teixeira; Meinert & Barbetta, 1987). Os hambúrgueres congelados foram preparados em chapa quente, com pouco óleo vegetal, por cerca de 2 minutos de cada lado e, servidos ainda quentes aos painelistas. RESULTADOS E DISCUSSÃO O consumo nacional e internacional de carne de rã vem aumentado dia a dia, não só pelo seu paladar, como também por seu valor nutritivo (Ramos et al., 2004). Dessa forma, acredita-se que a disponibilidade de diferentes alimentos elaborados com carne de rã de qualidade contribuirá ainda mais para o consumo. Os empreendedores que fazem a ranicultura comercial precisam estar atentos às várias possibilidades que a carne de rã apresenta e a partir delas, diversificar o leque de ofertas de produtos pré-elaborados de fácil preparo pelo consumidor. 11 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA Os aspectos físico-químicos (gordura, proteína, umidade, etc) são muito importantes, pois todas essas características devem ter um mínimo de perdas durante o processamento da carne e produtos cárneos (Canhos & Dias, 1983). O resultado das análises físico-químicas, realizadas nas amostras da carne de rã in natura e dos hambúrgueres, encontra-se na Tabela 3. Tabela 3 - Resultados das análises físico-químicas da carne de rã-touro in natura e do hambúrguer Parâmetro analítico Carne rã in natura (%) Hambúrguer de rã (%) Umidade 79,20 76,30 Cinzas 0,20 2,80 Proteínas 16,60 12,60 Lipídios 0,33 0,10 Carboidratos* 3,67 8,20 Cálcio 0,01 0,02 *Calculado por diferença O conteúdo de proteína, gordura e cinzas foram abaixo aos valores encontrados por Nóbrega et al. (2007), para a carne de rã-touro in natura (proteínas: 19,4%; gordura: 0,6% e cinzas: 1%), provavelmente pela influência do tipo de manejo e alimentação administrada. No entanto, o conteúdo de gordura está dentro da faixa de 0,3-0,8% encontrada por outros autores para a mesma espécie (Azevedo & Oliveira, 1988; Corrêa, 1988; Lemos & Antunes, 1993; Lindau & Noll, 1988; Mello et al., 2006). ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS Os resultados das análises microbiológicas do hambúrguer de carne de rã estão apresentados na Tabela 4. Tabela 4 - Resultado da análise microbiológica de hambúrguer de carne de rã-touro. Análise Hambúrguer de rã Limites da Legislação* <3 10³ <100 10³ Ausência Ausência Coliformes a 45°C/g Estaf. Coag. Positiva/g Salmonella sp/25g * Brasil (2001). 12 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 De acordo com os resultados das análises microbiológicas, verificou-se que o hambúrguer produzido atende aos padrões microbiológicos exigidos pela legislação (Brasil, 2001). Analisando todos os procedimentos para a elaboração do hambúrguer, desde a aquisição da carne, correto uso do frio para preservação e emprego dos aditivos, bem como as boas práticas de fabricação, vimos que os procedimentos adotados possibilitaram a obtenção de um produto cárneo saudável e seguro. AVALIAÇÃO SENSORIAL O índice de aceitabilidade do hambúrguer de carne de rã foi de 88,4%, o que reflete a alta aceitabilidade desse produto pelos provadores, visto que o produto é considerado aceito sensorialmente quando o IA ≥ 70% (Teixeira; Meinert & Barbetta, 1987). CONCLUSÕES Com a realização do presente trabalho, obteve-se um hambúrguer de carne de rã com características adequadas para o consumo, tanto no aspecto sensorial, como microbiológico, confirmando a qualidade do produto, com possibilidade de inserção no mercado consumidor. De acordo com as características finais do produto em relação ao valor nutricional, microbiológico e sensorial, recomenda-se a produção de hambúrguer a partir da carne da carcaça de rã-touro gigante, porém recomendam-se futuros estudos de viabilidade econômica. REFERÊNCIAS Azevedo, S. & Oliveira, C. C. (1988). Composição química e análise microbiológica de carne de rã (Rana castebeiana). In: V Encontro Nacional de Ranicultura (pp. 262–269). Rio de Janeiro: Anais e Coletânea do V Encontro Nacional de Ranicultura. Brasil. (2001). Ministério da Saúde. Resolução RDC no12 de 02 de janeiro de 2001. Regulamento Técnico sobre Padrões Microbiológicos para Alimentos. Acessado em 03 de maio de 2006 em http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/12_01rdc.htm. Canhos, D. & Dias, E. (1983). Tecnologia de carne bovina e produtos derivados. Campinas: Fundação Tropical de Pesquisa e Tecnologia. Casali, A. P.; Moura, O. M. & Lima, S. L. (2005). Rações comerciais e o rendimento de carcaça e subprodutos de rã-touro. Ciência Rural, 35(5): 1172-1178. Conceição, C. (2000). Utilização de carne de dorso de rã (Rana catesbeiana, Shaw 1802) no desenvolvimento de um produto alimentício. [Dissertação de Mestrado]. Rio de Janeiro (RJ): Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 13 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Corrêa, A. L. S. (1988). Avaliação composicional de diferentes espécies de rãs e efeitos do armazenamento a -18°C sobre frações protéicas e lipídicas do músculo de rã-touro (Rana catesbeiana). [Dissertação de Mestrado]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas. Dutcosky, S. D. (1996). Análise Sensorial de Alimentos. Curitiba: Universitária Champagnat. Instituto Adolfo Lutz. (1985). Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz: Métodos Químicos e Físicos para Análise de Alimentos. São Paulo: IAL. Lemos, A. L. S. C. & ANTUNES, A. J. (1993). Changes in lipids of bullfrog (Rana catesbeiana) muscle during frozen storage and its relationship to myofibrilar proteins solubility. Alimentos e Nutrição, 5: 57–63. Lima, S. L. & Agostinho, C. A. (1992). A Tecnologia da Criação de Rãs. Minas Gerais: Universidade Federal de Viçosa. Lima, S. L.; Cruz, T. A. & Moura, O. M. (1999). Ranicultura: Análise da cadeia produtiva. Viçosa: Folha de Viçosa. Lima, S. L.; Teixeira, R. D. & Costa, M. (2006a). Desenvolvimento de Pratos Prontos a Base de Carne de Rã (in sous vide). São Paulo: Workshop GI-Pescado: “Inovações Tecnológicas e Valor Agregado na Tecnologia do Pescado: Pesquisas Brasileiras”. Lima, S. L.; Teixeira, R. D. & Costa, M. (2006b).Testes preliminares com a matéria-prima, para obtenção de carne de rã desfiada. São Paulo: Workshop GI-Pescado: “Inovações Tecnológicas e Valor Agregado na Tecnologia do Pescado: Pesquisas Brasileiras. Lindau, C. F., & Noll, I. B. (1988). Determinação do valor nutritivo da carne de rã. In: V Encontro Nacional de Ranicultura. Rio de Janeiro: Anais e Coletânea do V Encontro Nacional de Ranicultura. Mello, S. C. R. P.; Pessanha, L. S.; Mano, S.; Franco, R. M.; Pardi, H. S. & Santos, I. F. (2006). Avaliação Bacteriológica e Físico-Química da Polpa de Dorso de Rã Obtida por Separação Mecânica. Braz. J. Food Technol., 9(1): 39-48. Moura, O. M. (2003). A rã e o uso potencial de seus derivados na indústria de alimentos. Revista Panorama da Aqüicultura, 13(80): 27-31. Nóbrega, I. C. C.; Ataíde, C. S.; Moura, O. M.; Livera, A. V. & Menezes, P. H. (2007). Volatile constituents of cooked bullfrog (Rana catesbeiana) legs. Food Chemistry, 102: 186-191. 14 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Ramos, E. M.; Gomide, L. A. M.; Ramos, A. L. S. & Peternelli, L. A. (2004). Effect of stunning methods on the differentiation of frozen-thawed bullfrog meat based on the assay of b-hydroxyacylCoA-dehydrogenase. Food Chemistry, 87: 607-611. Ramos, E. M.; Gomide, L. A. M.; Fontes, P. R.; Ramos, A. L. S. & Peternelli, L. A. (2005). Meat color evaluation and pigment levels in bullfrog (Rana catesbeiana) slaughtered by different methods. Aquaculture, 245: 175-182. Revista da Terra (2006). Ranicultura. Acessado em 15 de março de 2006 em http://www.revistadaterra.com.br. Silva, N.; Junqueira, V. C. A; Silveira, N. A.; Taniwaki, M. H.; Santos, R. F. S. & Gomes, R. A. R. (2007). Manual de Métodos de Análise Microbiológica de Alimentos. 3ª ed. São Paulo: Varela. Teixeira, E.; Meinert, E. M.; Barbetta, P. A. (1987). Métodos sensoriais. In: Análise sensorial de alimentos (pp. 66-119). Florianópolis: Editora da UFSC. D 15 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 PURIFICAÇÃO E ATIVIDADE ANTICOAGULANTE IN VITRO DE GALACTANAS SULFATADAS EXTRAÍDAS DA ALGA MARINHA VERMELHA Halymenia pseudofloresia PURIFICATION AND IN VITRO ANTICOAGULANT ACTIVITY OF SULFATED GALACTANS EXTRACTED FROM THE RED MARINE ALGAE Halymenia pseudofloresia José Ariévilo Gurgel RODRIGUES*; Wladimir Ronald Lobo FARIAS Departamento de Engenharia de Pesca, Laboratório de Bioquímica Marinha, Universidade Federal do Ceará *Email: [email protected] Recebido em: 7 de novembro de 2007 Resumo - A bioprospecção de novos agentes anticoagulantes é justificada devido aos efeitos adversos da heparinoterapia. O objetivo deste trabalho foi purificar e avaliar a atividade anticoagulante de galactanas sulfatadas da alga marinha vermelha Halymenia pseudofloresia pelo uso da técnica das extrações sucessivas. Inicialmente, os polissacarídeos sulfatados totais foram extraídos através de digestão enzimática, sendo realizadas três extrações durante o processo (1 → 3a,ext.). Os PS foram purificados em coluna de troca iônica DEAE-celulose da qual foram obtidas frações (Fn) em diferentes concentrações de NaCl, sendo então dialisadas, concentradas por liofilização e submetidas à eletroforese em gel de agarose 0,5%. A atividade anticoagulante foi avaliada pelo Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA) no modelo in vitro utilizando plasma de coelho, sendo os resultados expressos em unidades internacionais (UI mg-1) utilizando-se um padrão de heparina com 100 UI mg-1. O rendimento total foi bastante significativo (63,94%) e a coluna de troca iônica foi eficiente no isolamento e purificação das frações, revelando diferenças entre as extrações. A atividade anticoagulante das frações também diferiu entre as extrações da espécie, sendo seu efeito, pelo menos, 4,6 vezes maior na F4 (1a,ext) e menor nas F2 e F3 da 3a,ext, estas últimas com prolongamentos nos tempos de TTPA de apenas 1,87 e 1,73, respectivamente, em relação ao padrão. Entretanto, estudos são necessários a fim de esclarecer as alterações dessa atividade no decorrer do processo de extrações sucessivas, bem como pesquisas referentes ao cultivo e à conservação desses recursos são fundamentais para proteção dos bancos naturais de algas. Palavras-chave: halymeniaceae, halymeniales, polissacarídeos sulfatados, atividade biológica. Abstract - The bioprospection of new anticoagulant agents is justified due to adverse effects of heparinization. The aim of this study was to purify and evaluate anticoagulant activity of sulfated galactans of red marine alga Halymenia pseudofloresia by the using the technique of successive extractions. Initially, the crude sulfated polysaccharides were extracted by enzymatic digestion, and made three extractions during the process (1 → 3a, ext.). The PS were purified in an ionic exchange DEAE - cellulose column which were obtained fractions (Fn) in different concentrations of NaCl, and then they were dialyzed, concentrated by liofilization and subjected to electrophoresis agarose’s gel of 0.5%. The anticoagulant activity was evaluated by Activation Partial Thromboplastin Time (APTT) in in vitro model using plasma from rabbits, and the results expressed in international units (IU mg-1) using a standard heparin with 100 IU mg-1. The total yield was significant (63.94%) and the column of ion exchange was effective in the isolation and purification of fractions, revealing differences between the extractions. The anticoagulant activity of fractions also differed between among the extractions of the species, and its effect was at least 4.6 times higher in F4 (1a, ext) and lowest in F2 and F3 of 3a, ext, these last results with extensions in times of APTT of only 1.87 and 1.73, respectively, compared to the standard. However, studies are needed to clarify the changes of this activity during the process of successive extractions, and researches about the cultivation and conservation of resources are essential to protection of the natural banks of algae. Key words - halymeniaceae, halymeniales, sulfated polysaccharides, biological activity. 16 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 INTRODUÇÃO As algas marinhas são ricas em polissacarídeos sulfatados (PS), principalmente, em muitas espécies da divisão Rhodophyta. Os PS são polímeros formados por unidades repetitivas de açúcares e dotados de carga negativa, devido à presença de radicais sulfatos (Mathews, 1975). Entretanto, os PS não ocorrem isoladamente, os quais podem formar compostos de maior complexidade denominados de proteoglicanos (Kjellén & Lindahal, 1991). Dentre as formas de PS mais conhecidas destacam-se as galactanas sulfatadas (GS), as quais ocorrem em invertebrados marinhos, algas marinhas vermelhas e gramíneas marinhas, este último representado por um grupo de plantas vasculares que ocorrem em ambientes marinhos (Aquino et al., 2005). Nas algas marinhas vermelhas, as GS também são conhecidas como carragenanas e agaranas, compostos que apresentam unidades repetitivas alternadas de ligações β (1→3) galactopiranose e α (1→4) galactopiranose (Van De Velde, Pereira & Rollema, 2004) e que são muito utilizados na indústria na forma de géis e espessantes (Glicksman, 1983). A presença de vários grupos hidroxil na molécula permite serem substituídos por ester sulfato, grupo metil e ácido pirúvico, o que contribui para um alta heterogeneidade e complexidade das GS (Usov, 1998). Várias frações de PS já foram isoladas e caracterizadas a partir de vegetais e animais com propósito de avaliar suas atividades biológicas para o interesse biomédico (Zhang et al., 2003; Souza, Dellias, Melo & Silva, 2007). Dentre elas, a propriedade anticoagulante está entre as atividades mais investigadas no mundo, principalmente, de algas marinhas (Athukorala, Lee, Kim & Jeon, 2007), tais como nas espécies Botryocladia occidentalis (Farias, Valente, Pereira & Mourão, 2000), Gelidium crinale (Pereira et al., 2005), Halymenia floresia (Amorim et al., 2005) e Lobophora variegata (Alencar, 2007). O estudo com diferentes espécies de algas marinhas tem demonstrado que a conformação estrutural varia de espécie para espécie, o que resulta em diferentes atividades anticoagulantes (Dietrich et al., 1995; Haroun-Bouhedja, Mustafa, Sinquin & Boisson-Vidal, 2000). Rodrigues & Farias (2006) observaram diferenças marcantes entre frações de PS obtidas a partir de extrações sucessivas de duas espécies do gênero Halymenia, sugerindo-se que a técnica pode ser mais uma estratégia importante na identificação de táxons e fármacos. A bioprospecção de novos agentes anticoagulantes é justificada devido aos efeitos colaterais da heparina (extraída de boi e porco) a qual pode levar a hemorragia e queda na contagem de plaquetas (Thomas, 1997) em pacientes com estado de hipercoagulopatia ou sujeitos à trombose causada por diferentes etiologias (Weizt, 1994). 17 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 O presente estudo teve como objetivo extrair, purificar e avaliar a atividade anticoagulante in vitro em frações de polissacarídeos sulfatados obtidas em diferentes extratos da alga marinha vermelha Halymenia pseudofloresia utilizando a técnica das extrações sucessivas. MATERIAL E MÉTODOS COLETA DA ALGA MARINHA A coleta de Halymenia pseudofloresia (Halymeniaceae, Halymeniales) foi realizada na Praia de Flexeiras, no município de Traíri - CE, em julho de 2005, a partir de exemplares arribados na zona entre-marés. Imediatamente após a coleta, os exemplares foram conduzidos ao Laboratório de Bioquímica Marinha da Universidade Federal do Ceará do Departamento de Engenharia de Pesca, acondicionados em sacos plásticos, onde foram removidos organismos incrustantes e/ou algas epífitas, lavados com água destilada e estocados a – 20 °C. Posteriormente, o material foi seco em estufa (15 h; 40 °C) para a extração dos PS totais (PST). EXTRAÇÃO DOS PST DA ALGA MARINHA VERMELHA H. PSEUDOFLORESIA Os PST foram extraídos de acordo com Farias, Valente, Pereira & Mourão (2000) e otimizados segundo Rodrigues & Farias (2006). Brevemente, cinco gramas de alga desidratada em estufa (15 h; 40 °C) e triturada foram hidratadas com 250 mL de tampão acetato de sódio 0,1 M (pH 5,0) contendo cisteína 5 mM e EDTA 5 mM (AcNa). Em seguida, foram adicionados 17 mL de uma solução de papaína bruta (30 mg mL-1), sendo a mistura incubada em banho-maria a 60 °C por 24 horas. Após esse período, o material foi filtrado, centrifugado (8000 x g; 20 min.; 4 ºC) e, ao sobrenadante, foram adicionados três volumes consecutivos de 16 mL de cloreto de cetilpiridínio (CPC) a 10% para a precipitação dos polissacarídeos presentes na mistura por, no mínimo, 24 horas à temperatura ambiente. Logo após a precipitação, o precipitado foi lavado com 250 mL de CPC 0,05% sendo, em seguida, dissolvido em 174 mL de cloreto de sódio 2 M:etanol absoluto (100:15; v/v) e submetido a uma nova precipitação por, no mínimo, 24 horas a 4 °C, através da adição de mais 200 mL de etanol absoluto. Posteriormente o material foi centrifugado e submetido a duas lavagens com 250 mL de etanol a 80% e uma com 150 mL de etanol absoluto. Após esta etapa, o precipitado foi então levado à estufa a 60 °C, por um período aproximado de 24 horas para secagem e obtenção do extrato bruto. Os resíduos obtidos das extrações foram submetidos a novas extrações a fim de otimizar o rendimento. PURIFICAÇÃO DAS GS EM COLUNA DE DEAE-CELULOSE Os PS brutos (10 mg), de cada extrato, foram dissolvidos em 5 mL de tampão acetato de sódio 0,1 M (pH 5,0) contendo cisteína 5 mM e EDTA 5 mM (AcNa) e aplicados em uma coluna de 18 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 DEAE-celulose de troca iônica (6,5 x 1,5 cm) acoplada a um coletor de frações equilibrada com o mesmo tampão. A coluna foi eluída, passo a passo, com soluções de diferentes concentrações de NaCl (0,25; 0,50; 0,75; 1,0; 1,25; 1,50, 1,75 e 2,0 M) também preparadas no mesmo tampão de equilíbrio. O fluxo da coluna foi de 60 mL h-1, sendo coletadas frações de 5 mL. Os PS foram monitorados pela propriedade metacromática com 1,9-azul-dimetilmetileno (DMB) utilizando um espectrofotômetro ajustado a 525 nm. ELETROFORESE EM GEL DE AGAROSE Após dialisadas exaustivamente contra água destilada, concentradas por liofilização e partindo de alíquotas de 10 µg de PS, as frações foram analisadas em eletroforese em gel de agarose 0,5% em tampão 1,3 - acetato diaminopropano (pH 9,0) de acordo com (Vieira, Mulloy & Mourão, 1991). As frações foram aplicadas no gel e a corrida foi realizada em voltagem constante (110 V) durante 60 min. Após a corrida, os PS presentes no gel foram fixados com uma solução de cetavlon 0,1% por 24 horas. Em seguida, o gel foi corado com azul de toluidina 0,1% e, finalmente, descorado com uma solução de etanol absoluto, água destilada e ácido acético concentrado (5:5:0,1; v/v/v). DETECÇÃO DE CARBOIDRATO TOTAL (CT) O CT nas frações foi determinado pelo método fenol-sulfúrico segundo Dubois, Gilles, Hamilton, Rebers & Smith (1956). Brevemente, a amostra de 50 µL de solução de polissacarídeo foi incubada por 30 minutos com 350 µL de água destilada, 20 µL de fenol ré-destilado 5% e 1 mL de ácido sulfúrico concentrado. Após a incubação, a amostra foi levada ao espectrofotômetro para a leitura em 490 nm. ENSAIOS ANTICOAGULANTES IN VITRO Os testes anticoagulantes foram realizados in vitro pelo Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA) segundo Andersson, Barrowcliffe, HolmerJohnson & Sims (1976), utilizando plasma citratado de coelho. Primeiramente, o sangue de coelho foi centrifugado (73,75 x g; 15 min) para a obtenção de um plasma pobre em plaquetas. Para a realização do teste, foram incubados a 37 °C por 3 minutos 50 µL de plasma de coelho, 50 µL de cefalina ativada e 10 µL de solução de PS. Após a incubação, foram adicionados 50 µL de cloreto de cálcio 0,025 M à mistura para ativar a cascata de coagulação. Os testes foram realizados em duplicata, sendo o tempo de coagulação determinado automaticamente pelo coagulômetro (Drake, modelo Quick-timer). A atividade foi 19 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 expressa em unidades internacionais por mg (UI mg-1) utilizando como referência uma curva padrão de heparina (100 UI mg-1) da marca comercial Cristália. RESULTADOS RENDIMENTO No total, foram realizadas três extrações e os resultados mostraram que o rendimento foi bastante elevado (63,94%), considerando todas as extrações. Além disso, a maior quantidade de PS foi obtida durante a 1a extração, sendo decrescentes na 2a e 3a extrações, cujos rendimentos foram 58,96; 3,2 e 1,78%, respectivamente. Os PS de algas marinhas podem ser obtidos através de diferentes metodologias de extração, tais como enzimáticas (Farias, Valente, Pereira & Mourão, 2000), aquosas (Marinho, 2001) e ácidas (Chotigeat, Tongsupa, Supamataya & Phongdara, 2004). O método utilizado neste estudo tem sido empregado para a extração de PS presentes em várias espécies de algas marinhas, sendo os maiores rendimentos obtidos nas Rhodophytas, como nas espécies Champia feldmanii (Torres, 2005), Solieria filiformis (Pontes, 2005) e outras espécies do gênero Halymenia (Rodrigues & Farias, 2006), com rendimentos de 36,2; 46,8; 47,14 e 53,96%, respectivamente. Geralmente, algas verdes (Chlrophytas) têm apresentado rendimentos mais inferiores, como Caulerpa sertularioides (7,1%) (Bezerra-Neto, 2005) e C. racemosa (13%) (Rodrigues & Farias, 2005). A primeira extração resultou no maior rendimento de PS de H. pseudofloresia, o que também foi observado em outras espécies do gênero (Rodrigues & Farias, 2006). Entretanto, o aumento ou diminuição do rendimento no decorrer das extrações tem sido observado em outras espécies, como na alga marinha parda Lobophora variegata (Alencar, 2007), a qual se obteve um rendimento de 28,4% de extrato total. O emprego de diferentes metodologias de extração (Villanueva, Pagba & Montano, 1997), variação sazonal (Bird, 1988) e a utilização de diferentes espécies (Levring, Hoppe & Schmid, 1969) influenciam no rendimento final. Desta forma, o método de extração utilizado foi bastante eficaz na obtenção de PS da alga vermelha H. pseudofloresia. CROMATOGRAFIA DAS GS EM COLUNA DE DEAE-CELULOSE Os perfis cromatográficos foram bem diferentes entre as extrações. Na 1a extração (Figura 1, A) foram separadas cinco frações eluídas com 0,5 (F1); 0,75 (F2); 1,0 (F3); 1,25 (F4) e 1,50 M (F5) de NaCl, das quais as maiores propriedades metacromáticas foram observadas nas frações eluídas com 0,75 e 1,0 M, respectivamente, durante o monitoramento em 525 nm. Na 2a extração (Figura 1, B) foi possível observar que o perfil cromatográfico se destacou dentre todas as extrações da espécie. O extrato apresentou quatro frações, das quais a F2, eluída com 20 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 0,75 M de sal, obteve a maior metacromasia. A referida fração também foi, praticamente, a maior diferença dentre todas as extrações da espécie. Já na Figura 1, C, 3a extração, houve o desaparecimento de uma das frações no perfil, o que foi uma característica comum no decorrer do processo de otimização do rendimento desta espécie, apresentando metacromasias semelhantes a 1a e menores em relação à 2a extrações. As frações eluídas apresentaram como os maiores picos de PS dentre todas as frações obtidas nas diferentes extrações identificadas no monitoramento com DMB da espécie H. pseudofloresia. Em todos os perfis foi observada uma grande presença de carboidratos (Dubois), possivelmente em razão da extração de polissacarídeos neutros. 0,2 1,50 M 1,0 M 0,50 M 0,2 1,25 M F1 0,75 M 0,3 0,1 0,1 0,0 0 10 20 30 40 50 0,0 0,15 0,10 F1 F4 F3 0,15 0,10 0,05 0,05 0,00 0,25 0,20 0,20 1,25 M 0,3 1,0 M F5 F4 0,4 Açúcar Metacromasia F2 0,25 0,75 M 0,4 0 10 20 30 0,00 40 Frações (5mL) Frações (5mL) 0,5 Açúcar Metacromasia F2 F3 F1 0,3 0,25 0,75 M 0,4 0,30 0,20 0,2 1,0 M 0,50 M 0,15 0,10 0,1 0,0 Dubois 490 nm Propriedade metacromática 525 nm 1C 0,05 0 5 10 15 20 25 0,00 30 Frações (5 mL) Figura 1 - Cromatografia em DEAE-celulose, por extração, dos polissacarídeos sulfatados totais da alga marinha vermelha Halymenia pseudofloresia. A coluna foi equilibrada e lavada com tampão AcNa. Os PS adsorvidos no gel foram eluídos com o tampão de AcNa contendo NaCl em diferentes concentrações (0,50; 0,75; 1,0; 1,25 e 1,50 M). Os PS foram monitorados com azul dimetilmetileno a 525 nm. (⎯) açúcar total ({⎯{) propriedade metacromática. 21 Dubois 490 nm Açúcar Metacromasia 0,50 M F3 F2 Propriedade metacromática 525 nm 1B Dubois 490 nm Propriedade metacromática 525 nm 1A 0,5 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 As diferenças marcantes nos perfis cromatográficos obtidos nas diferentes extrações da espécie foram semelhantes com outros trabalhos realizados com extrações sucessivas de PS, utilizando algas marinhas verdes, como C. racemosa (Rodrigues & Farias, 2005) e C. sertularioides (Bezerra-Neto, 2005), pardas, como na espécie L. variegata (Alencar, 2007), e vermelhas, como S. filiformis (Pontes, 2005) e outras espécies do gênero Halymenia (Rodrigues & Farias, 2006). O fato de se obter perfis comparativamente bem diferentes entre as extrações talvez seja justificado pela extração de PS mais diferenciados (Rodrigues & Farias, 2006). ELETROFORESE EM GEL DE AGAROSE DAS FRAÇÕES A eletroforese em gel de agarose revelou que, no geral, existem diferenças entre o grau de purificação das frações nas diferentes extrações, bem como no padrão de cargas entre o extrato bruto e as frações de PS obtidas de uma mesma extração. As frações F1, F2 e F3 (1a extração) apresentaram um padrão de corrida com discreta diferença de cargas entre si, as quais não foram obtidas bandas bem definidas no gel, denotando uma baixa purificação. As frações e os extratos brutos obtidos nas 2a e 3a extrações mostraram um maior grau de resolução no decorrer do processo, sendo possível observar a presença de duas bandas bem definidas entre si no terceiro extrato (Figura 2). As frações F1, F2 e F3 apresentaram o mesmo padrão de cargas e com bandas bem definidas, indicando um alto grau de purificação. As duas bandas obtidas no extrato bruto diferiram entre si, claramente, pela densidade de cargas. A ausência de uma das bandas nas frações pode ser explicada pela falta de interação com a coluna de troca iônica DEAE-celulose, já que praticamente não é carregada. Figura 2 - Eletroforese em gel de agarose 0,5% das frações obtidas na 3a extração dos polissacarídeos sulfatados da alga marinha vermelha Halymenia pseudofloresia. Extrato bruto (EB) e frações (F1, F2 e F3). Alencar (2007) também obteve resultados semelhantes durante a purificação de fucanas, uma outra forma de PS, da alga marinha parda L. variegata utilizando a técnica. A pesquisa também 22 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 revelou que é possível obter moléculas diferenciadas e com maior grau de purificação ao longo do processo, uma vez que as fucanas sulfatadas também apresentam uma estrutura química bastante heterogênea. Assim, a resina de DEAE-celulose foi bastante eficiente na purificação das frações de PS de H. pseudofloresia e na interação com outros açúcares. As frações obtidas na 3ª extração talvez possam se traduzir numa vantagem na caracterização dessas moléculas, tendo em vista a grande complexidade estrutural das galactanas (Farias, Valente, Pereira & Mourão, 2000). ENSAIOS ANTICOAGULANTES A espécie apresentou atividade anticoagulante na maioria de suas frações de PS. As frações mais ativas foram observadas na 1a extração, sendo maior a F4, eluída com 1,25 M de NaCl, seguida da F2 (0,75 M) e F3 (1,0 M), cujas atividades foram 464,2; 211,6 e 103,5 UI mg-1, respectivamente (Tabela 1). A F4 foi, pelo menos, 4,6 vezes mais potente que o padrão de heparina utilizado, prolongando o tempo de coagulação do plasma de coelho em, no mínimo, 9 vezes. Tabela 1 - Atividade anticoagulante (TTPA) das frações de polissacarídeos sulfatados obtidas da alga marinha vermelha Halymenia pseudofloresia em relação à heparina não fracionada (HNF). T1 T0-1 Frações UI mg-1 F2 211,6 109,4 4,10 F3 103,5 53,5 2,00 F4 464,2 > 240,0 * 9,00 F5 101,7 52,6 1,97 F2 137,1 70,9 2,66 F1 137,1 70,9 2,66 F2 96,5 49,9 1,87 F3 89,2 46,1 1,73 Heparina HNF 100 51,7 1,94 Controle - - 26,7 1,00 Extração 1 a 2 a 3 a TTPA (s) Os valores representam a média de duas determinações; * além do limite de detecção em segundos. Vários compostos anticoagulantes tem sido isolados e caracterizados de algas marinhas Farias, Valente, Pereira & Mourão (2000) reportaram acentuada atividade anticoagulante de uma Dgalactana sulfatada extraída da alga marinha vermelha B. occidentalis, onde o polissacarídeo inibiu a ação da trombina via antitrombina e cofator II da heparina, estes últimos os reguladores plasmáticos da coagulação sanguínea. Esses PS também apresentaram uma potente atividade antitrombótica em ratos, quando a dose de 0,2 mg kg-1 expressou seu efeito máximo pelo modelo 23 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 intravenoso (Farias, Nazareth & Mourão, 2001). Fucanas sulfatadas das algas marinhas pardas Laminaria digitata, Pelvetia canaliculata, Fucus vesiculosos, Sargassum muticum e Ascophyllum nodosum também possuem atividade anticoagulante as quais exercem um efeito inibitório direto sobre a trombina independente da antitrombina (Graufell, Kloareg, Mabeu, Durand & Jozefonvicz, 1989). Neste estudo, os PS obtidos da alga marinha vermelha H. pseudofloresia prolongaram significativamente o tempo de coagulação do plasma de coelho, sendo necessário a realização de mais testes a fim de descrever sua via de ação utilizando plasma humano normal. A atividade da F4 (1a extração) foi bastante superior comparada as demais frações de PS de H. pseudofloresia, principalmente da 3ª extração, a qual o efeito anticoagulante das F2 e F3 foi, praticamente, abolido em comparação a heparina utilizada. Compostos bioativos oriundos de algas podem ser obtidos através de várias técnicas. Torres (2005) relatou que extrações sucessivas utilizando duas metodologias de precipitação de PS (CPC e álcool etílico absoluto) obteve diferentes valores dos tempos de TTPA da espécie vermelha C. feldimanii. As maiores atividades anticoagulantes foram observadas em duas frações eluídas com 1,2 e 1,4 M de NaCl na 4a extração pelo método CPC, prolongando os tempos de coagulação em cerca de 6,4 e 4,8 vezes, respectivamente. Duas frações de PS (F5 e F6), eluídas na 4a extração da macroalga verde C. racemosa, exibiram elevadas atividades anticoagulantes, as quais prolongaram o tempo de coagulação em cerca de 6,5 vezes (Rodrigues & Farias, 2005), utilizando álcool etílico absoluto como agente precipitante de PS. Extrações sucessivas utilizando precipitações com CPC realizadas por Alencar (2007) da alga marinha parda L. variegata mostraram frações de PS com atividades anticoagulantes bem menores, prolongando o tempo de TTPA, no máximo, em apenas 2,1 vezes, quando avaliada in vitro uma fração obtida na 1a extração utilizando plasma humano. Assim, a técnica das extrações sucessivas permite identificar moléculas bioativas que possam ser exploradas em diversos outros ensaios biológicos de interesse biomédico e expandir sua utilização para outras aplicações biotecnológicas. A baixa atividade anticoagulante de algumas frações de H. pseudofloresia não implica na ausência de outras atividades biológicas. A alga marinha vermelha Cryptonemia crenulata não apresentou atividade anticoagulante (Farias 2000), mas por outro lado, revelou-se como um potente agente antiviral (Talarico et al., 2004). Recentemente, os PS de H. pseudofloresia foram administrados na água de cultivo do camarão marinho Litopenaeus vannamei, reduzindo significativamente a taxa de mortalidade dos animais durante o estresse (Rodrigues, 2006). O uso de imunoestimulantes resulta na melhoria do crescimento e da sobrevivência dos organismos aquáticos quando expostos a condições adversas de estresse (Sakai, 1999). 24 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 As alterações da atividade anticoagulante ao longo do processo talvez possam ser explicadas pelas diferenças químicas estruturais dessas moléculas. Estudos relatam que a atividade anticoagulante está diretamente ligada à densidade de radicais sulfatos na molécula, pois a presença desses grupos sulfatados é que confere a atividade biológica (Nishino, Aizu & Nagumo, 1991). Farias, Valente, Pereira & Mourão (2000) observaram que o posicionamento desses radicais também é muito importante para descrever o efeito da atividade. A estrutura conformacional dos PS varia entre espécies (Dietrich et al., 1995) e sugere-se que a obtenção de moléculas diferenciadas a partir do mesmo tecido da espécie H. pseudofloresia resultou em grandes alterações na atividade anticoagulante entre as frações da 1a extração em relação aos PS obtidos nas extrações 2a e 3a, respectivamente. Novos ensaios biológicos mais específicos são necessários a fim de esclarecer as alterações desses efeitos na coagulação ao longo da técnica, relacionando atividade e estrutura. Desta forma, através da otimização do rendimento a partir de extrações sucessivas e da avaliação dos perfis cromatográficos, é possível extrair PS distintos alocados em diferentes camadas do tecido algal, os quais exibiram diferentes valores de TTPA no decorrer das extrações da alga vermelha H. pseudofloresia. No entanto, é necessária uma avaliação mais detalhada dessas moléculas ao longo de um período anual, já que a produção de PS pode variar de acordo com as condições climáticas ambientais, afetando também a ocorrência da atividade biológica. Assim, é de fundamental importância o manejo adequado desses recursos pesqueiros. Para isso, sugerem-se pesquisas referentes ao cultivo desses organismos para fins comerciais com o intuito de minimizar o impacto sobre os estoques naturais. CONCLUSÃO O estudo demonstrou que frações de polissacarídeos sulfatados obtidas em diferentes extrações da alga marinha vermelha H. pseudofloresia resultaram em diferentes atividades anticoagulantes, das quais a F4, obtida na 1a extração, apresentou comparativamente um efeito superior em relação às demais. No entanto, mais estudos são necessários a fim de esclarecer as alterações dessa atividade no decorrer do processo de extrações sucessivas e ações sustentáveis de manejo são extremamente importantes na conservação dos estoques naturais de algas. AGRADECIMENTOS O presente trabalho contou com o apoio financeiro do MCT/PADCT/CNPq/CAPES. 25 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 REFERÊNCIAS Andersson, L.O., Barrowcliffe, T.W., Holmer, E., Johnson, E.A. & Sims, G.E.C. (1976). Anticoagulant properties of heparin fractionated by affinity chromatography on matrix-bound antithrombin-3 and by gel-filtration. Thrombosis Research. 9(6): 575-583. Alencar, D.B. (2007). Extração, purificação e atividade anticoagulante de polissacarídeos sulfatados da alga marinha parda Lobophora variegata [Monografia de Graduação]. Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará. Amorim, R.C.N., Holanda, M.L., Medeiros, S.T., Mourão, P.A.S., Melo, V.M.M. & Benevides, N.M.B. (2005). Structure, antibacterial and anticoagulant activity of a sulfated galactans from the red alga Halymenia floresia. In: XXXIV Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Bioquímica. Águas de Lindóia: CD-Room do XXXIV SBBq, 1. Aquino, R.S., Landeira-Fernandez, A.M., Valente, A.P., Andrade, L.R. & Mourão, P.A.S. (2005). Occurrence of sulfated galactans in marine angiosperms: evolutionary implications. Glycobiology. 15(1): 11-20. Athukorala, Y., Lee, K.W., Kim, S.K. & Jeon, Y.J. (2007). Anticoagulant activity of marine green and brown algae collected from Jeju Island in Korea. Bioresource Technology. 98(9): 1711-1716. Bezerra-Neto, J.T.B. (2005). Extração, fracionamento, purificação e atividade biológica dos polissacarídeos sulfatados da alga marinha verde Caulerpa sertularioides (Caulerpales, Caulerpaceae). [Monografia de Graduação]. Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará. Bird, K.T. (1988). Agar production and quality from Gracilaria sp. strain G-16: effects of environmental factors. Botanica Marina. 31: 33-39. Chotigeat, W., Tongsupa, S., Supamataya, K. & Phongdara, A. (2004). Effect of fucoidan on disease resistance of black tiger shrimp. Aquaculture. 233(1-4): 23-30. Dietrich, C. P., Farias, G. G. M., Abreu, L. R. D., Leite, E. L., Silva, L. F. & Nader, H. B. (1995). A new approach for characterization of polysaccharides from algae: Presence of four main acidic polysaccharides in three species of the class Phaeophycea. Plant Science. 108(2): 143-153. Dubois, M., Gilles, K.A., Hamilton, J.K., Rebers, P.A. & Smith, F. (1956). Colorimetric method for determination of sugars and related substances. Analytical Chemistry. 28(3): 350-356. 26 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Farias, W.R.L., Nazareth, R.A. & Mourão, P.A.S. (2001). Dual effects of sulfated D-galactans from the red alga Botryocladia occidentalis preventing thrombosis and inducing platelet aggregation. Thombosis and Haemostasia. 86(6): 1540-1546. Farias, W.R.L., Valente, A.P., Pereira, M, S., Mourão, P.S. (2000). Structure and anticoagulant activity of sulfated galactans. Isolation of a unique sulfated galactan from the red algae Botryocladia occidentalis and comparison of its anticoagulante action with that of sulfated galactans from invertebrates. Journal of Biological Chemistry. 275(38): 29299-29307. Farias, W.R.L. (2000). Estrutura e atividades anticoagulante e antitrombótica de galactanas sulfatadas da alga marinha vermelha Botryocladia occidentalis [Tese de Doutorado]. Rio de Janeiro (RJ): Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fu, Y.W., Hou, W.Y., Yeh, S.T., Li, C.H. & Chen, J.C. (2007). The immunostimulatory effects of hot-water extract of Gelidium amansii via immersion, injection and dietary administrations on white shrimp Litopenaeus vannamei and its resistance against Vibrio alginolyticus. Fish & Shellfish Immunology. 22(6): 673-685. Glicksman, M. (1983). Food hydrocolloids. Natural plant exudates – seaweed extracts, vol. 2, ed., CRC Press, Baton Raton. Graufell, V., Kloareg, B., Mabeu, S., Durand, P. & Jozefonvicz, J. (1989). New natural polysaccharides with potent antithrombotic activity: fucans from brown algae. Biomateriais. 10(6): 363-368. Haroun-Bouhedja, F., Mostafa, E., Sinquin, C., Boisson-Vidal, C. (2000). Relation between sulfate groups and biological activities of fucans. Thrombosis Research. 100(5): 453-459. Levring, T., Hoppe, H.A. & Schmid, O.J. (1969). Marine algae. A survey of research and utilization. Botanical Marine Handbook, v.1, 1969, 421p. Kjellén, L. & Lindahl, U. (1991). Proteoglycans: Structures and interactions. Annal Review of Biochemistry. 60: 443-475. Mathews, M.B. (1975). Polyanionic proteoglycans. In: Connective Tissue: Macromolecular Structure and Evolution. Kleinzeller; Springer, G.F. & Witmann, H.G. (eds.). Berlin: SpringerVerlaq, p.93-125. Marinho, E. (2001). Agar polysaccharides from Gracilaria species (Rhodophyta, Gracilariaceae). Journal of Biotechnology. 89(1): 81-84. 27 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Nishino, T., Aizu, Y. & Nagumo, T. (1991). The influence of sulfate content and molecular weight of a fucan sulfate from the brown seaweed Ecklonia kurome on its antithrombin activity. Thrombosis Research. 64(6): 723-731. Pereira, M.G., Benevides, N.M.B., Melo, M.R.S., Valente, A.P., Melo, F.R. & Mourão, P.A.S. (2005). Structure and anticoagulant activity of a sulfated galactan from red alga, Gelidium crinale. Is there a specific structural requirement for the anticoagulant action?. Carbohydrate Research. 340(12): 20152023. Pontes, G.C. (2005). Extração, fracionamento, purificação e atividade biológica dos polissacarídeos sulfatados da alga marinha vermelha Solieria filiformis (Solieraceae, Rhodophyta). [Monografia de Graduação]. Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará. Rodrigues, J.A.G. (2006). Atividade anticoagulante de galactanas sulfatadas de algas marinhas vermelhas do gênero Halymenia e seu efeito imunoestimulante no camarão marinho Litopenaeus vannamei [Dissertação de Mestrado]. Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará. Rodrigues, J.A.G. & Farias, W.R.L. (2006). Estudo comparativo de polissacarídeos sulfatados em duas espécies de algas marinhas do gênero Halymenia – extração, isolamento e purificação. In: VI Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação do Cefet, Fortaleza: CD-Room do VI ENPPG, 1 Rodrigues, J.A.G. & Farias, W.R.L. (2005). Extração, fracionamento, purificação e atividade anticoagulante dos polissacarídeos sulfatados da alga marinha verde Caulerpa recemosa (Caulerpales, Chlorophyta). In: XIV Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca, Fortaleza: CDRoom do XIV CONBEP, 1. Sakai, M. (1999). Fish immunostimulants: The application for aquaculture. Faculty of Agriculture Miyazaki University, 19-21. Souza, M.L.S., Dellias, J.M.M., Melo, F.R. & Silva, L.C.F. (2007). Structural composition and anticoagulant activity of dermatan sulfate from the skin of the electric eel, Electrophorus elactricus (L.). Comparative Biochemistry and Physiology, Part B: Biochemistry and Molecular Biology. 147(3): 387-394. Talarico, L.B., Zibetti, R.G.M., Faria, P.C.S., Scolaro, L.A., Duarte, M.E.R., Noseda, M.D., Pujol, C.A. & Damonte, E.B. (2004). Anti-herpes simplex virus activity of sulfated galactanas from the red seaweeds Gymnogongrus griffithsiae and Cryptonemia crenulata. Intern. Journal of Biological Macromoleculaes. 34(1-2): 63-71. 28 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Thomas, D.P. (1997). Does low molecular weight heparin cause less bleeding?. Thrombosis and Haemostasia. 78(6): 1422-1425. Torres, V.M. (2005). Extração, purificação e atividade biológica de polissacarídeos sulfatados da alga marinha vermelha Champia feldmannii. [Monografia de Graduação]. Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará. Usov, A.I. (1998). Strutural analysis of red seaweed galactans of agar and carrageenan groups, Food Hydrocolloids. 12(3): 301-308. Van De Velde, F., Pereira, L. & Rollema, H.S. (2004). The revised NMR chemical shift data of carrgeenans. Carbohydrate Research. 339(13): 2309-9979. Vieira, R.P., Mulloy, B., Mourão, P.A.S. (1991). Structure of a fucose-branched chondroitim sulfate from sea cucumber. Evidence for the the presence of 3-O-sulfo-β-D-glucuronosyl residues. Journal of Biological Chemistry. 266(21): 13530-13536. Villanueva, R.D., Pagba, C.V. & Montano, N.E. (1997). Optimized agar extraction from Gracilaria eucheumoiodes Harvey. Botanica Marina. 40: 369-372. Weitz, J. (1994). New anticoagulant strategies. Current status and future potentials. Drugs. 48: 485497. Zhang, Q.B., Li, N., Zhou, G.F., Lu, X.L., Xu, Z.H. & Li, Z. (2003). In vivo antioxidant activity of polysaccharide fraction from Porphyra haitanesis (Rhodophyta) in aging mice. Pharmacology Research. 48(2): 151-155.D 29 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 VARIAÇÃO NICTEMERAL DO MACROZOOPLÂNCTON NA BARRA ORANGE - CANAL DE SANTA CRUZ, ESTADO DE PERNAMBUCO (BRASIL) NYCTEMERAL VARIATION OF THE MACROZOOPLANKTON AT ORANGE - INLET SANTA CRUZ CHANNEL, PERNAMBUCO STATE (BRAZIL) Pedro Augusto Mendes de Castro MELO1*; Sigrid NEUMANN-LEITÃO1; Lucia Maria de Oliveira GUSMÃO1; Fernando de Figueiredo PORTO NETO2 1 2 Departamento de Oceanografia, Universidade Federal de Pernambuco Departamento de Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco *E-mail: [email protected] Recebido em: 11 de fevereiro de 2008 Resumo - Estudos sobre o macrozooplâncton foram realizados numa estação fixa localizada entre a desembocadura sul e a linha de recifes no canal de Santa Cruz – PE. O principal objetivo foi avaliar as variações nictemerais ao longo do ciclo de maré. As coletas foram realizadas durante preamares e baixa-mares em maré de sizígia nos dias 10 e 11 de março de 2001. Arrastos sub-superficiais foram realizados com rede de plâncton com 300 µm de abertura de malha. Dados de salinidade e temperatura foram obtidos para comparar com o zooplâncton. Foram identificados 48 taxa, 26 na baixa-mar com uma dominância do holoplâncton, e 40 na preamar, com dominância de zoeas de Brachyura. Copepoda esteve representado por 18 espécies, destacando-se Acartia lilljeborgi, Temora turbinata e Pseudodiaptomus acutus. Foi registrada diferença significativa entre as densidades médias nas duas marés (p=0,04), com maior densidade na baixa-mar e maior diversidade na preamar devido à influência marinha. Não houve diferença significativa entre as amostras diurnas e noturnas (p=0,88), evidenciando que a maré é o principal fator estruturador da comunidade do macrozooplâncton. Palavras chave: zooplâncton, nictemeral, Canal de Santa Cruz, estuário. Abstract - Macrozooplankton studies were carried out in a fixed station, located between the south outlet and the reefs at Santa Cruz Channel – PE. The main objective was to assess the nyctemeral variation along to tide cycle. Sampling were done during high and low tides of a spring tide in March 10th and 11th, 2001. Subsurface hauls were done with plankton net with 300 µm of mesh size. Salinity and temperature data were obtained to compare with zooplankton. It were identified 48 taxa, 26 at low tide with holoplankton dominance, and 40 at high tide with Brachyura zoeae dominance. Copepoda was present with 18 species, outranking Acartia lilljeborgi, Temora turbinata and Pseudodiaptomus acutus. Density significant differences (p=0,04) were registered between tides, with higher density at low tide and higher diversity during high tide due marine influence. No significant differences were observed between day and night samples (p=0,88), showing that tides are the main factor structuring the macrozooplankton community. Key words: zooplankton, cictemeral, Santa Cruz channel, estuary. 30 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 INTRODUÇÃO Os ambientes estuarinos são regiões costeiras semi-fechadas nas desembocaduras dos rios, sujeitas aos aportes dos rios e do fluxo marinho. Os nutrientes transportados pelos rios e a rápida troca entre as águas de superfície e sedimentos contribuem para uma produtividade biológica extremamente alta, sendo considerados um dos ecossistemas mais produtivos da Terra. Essa alta produtividade resulta da regeneração rápida e local dos nutrientes bem como dos aportes destes pelos rios e marés. Sua importância se estende aos ecossistemas marinhos através da sua exportação líquida de matéria orgânica, organismos e detritos particulados e dissolvidos (Ricklefs, 2003). Devido à sua alta produtividade e ao abrigo que oferecem aos organismos, os estuários com seus manguezais são áreas de alimentação importantes, sustentando populações abundantes de espécies estuarinas e marinhas, como as diversas fases iniciais do ciclo de vida de muitos peixes e invertebrados, que completam seu ciclo de vida no mar (Silva, 2002). O zooplâncton, devido às diversidade de tamanho e capacidade natatória, e aos tipos de alimentação, somadas a uma ampla distribuição, constitui uma comunidade bastante heterogênea (Palma & Kaiser, 1993). Por toda essa diversidade, o zooplâncton possui um papel fundamental, pois serve como elo entre o fitoplâncton e muitos carnívoros, como crustáceos e peixes de interesse comercial, além de seu papel significativo na ciclagem de nutrientes e no transporte de energia de um ambiente para outro (Day Jr., Hall, Kemp & Yáñes Arancibia, 1989), abrigando, ainda, estágios larvais de alguns organismos não planctônicos. A exportação do zooplâncton de estuários tropicais para a área costeira adjacente afeta as teias alimentares pelágicas marinhas. Muitos organismos do zooplâncton, como por exemplo as larvas de crustáceos decápodos, são exportadas de estuários com manguezais para as áreas costeiras (Dittel & Epifanio, 1990; Dittel, Epifanio & Lizano, 1991; Schwamborn & Bonecker, 1996, Schwamborn, Ekau, Silva & Sait-Paul, 1999). Assim, o estudo da comunidade zooplanctônica é de importância fundamental por apresentar espécies indicadoras das condições ambientais dominantes, as quais mostram as características da água de onde foram extraídas (Wickstead, 1979; Margalef, 1983). Além disso, elas fornecem informações sobre os processos interagentes, uma vez que, por serem influenciadas pelas condições bióticas e abióticas do meio (Fraser, 1962; Longhurst & Pauly, 1987), dão aviso prévio sobre agentes estressores, podendo ser utilizadas como ferramentas de monitoramento ambiental. Dessa forma, em áreas estuarinas sujeitas a múltiplos usos, alterações na estrutura da comunidade e na abundância das espécies podem indicar impactos antropogênicos. 31 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 O estudo da distribuição vertical do zooplâncton coloca em evidência a existência de variações de curtos períodos ligadas à alternância dia/noite, isto é, migrações nictemerais (do grego nuctos=noite; hemera=dia). Muitos organismos realizam migrações verticais com um ritmo circadiano. Segundo Bougis (1974), a principal forma de migração de alguns organismos zooplanctônicos se faz de forma ascendente em direção à superfície durante o pôr do Sol e ao raiar da aurora e de maneira descendente por volta do meio do período noturno e após o nascer do dia, sendo a luz seu maior estímulo. Essas migrações também podem ser realizadas baseadas nas características hidrológicas e de temperatura da coluna d’água. Em áreas estuarinas, a principal variação da composição do zooplâncton depende do fluxo das marés, sendo nescessário coletas em períodos de 24 horas para melhores estimativas (McLusky, 1989). Dentre os ecossistemas estuarinos do Nordeste do Brasil, destaca-se o Canal de Santa Cruz, pois é o centro do sistema estuarino de Itamaracá e um dos ecossistemas aquáticos mais estudados no Nordeste do Brasil, haja vista a publicação de vários trabalhos desde 1972. Apesar de toda sua importância, os estuários adjacentes ao Canal de Santa Cruz são diretamente afetados pelos resíduos industriais e urbanos, que condicionam o aparecimento de áreas impactadas, provocando um acentuado desequilíbrio neste ecossistema (Macedo, Flores-Montes & Lins, 2000). Desta forma, o conhecimento da dinâmica da comunidade zooplanctônica de Itamaracá (Pernambuco – Brasil) é de grande relevância, por contribuir para um maior conhecimento de um dos mais importantes ecossistemas estuarinos do ponto de vista socio-econômico para o Estado de Pernambuco (Gusmão, Neumann-Leitão, Schwamborn, Silva & Silva, 2004), onde grande parte da população da área depende da pesca. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo verificar a variação diurna e noturna da comunidade zooplanctônica, além de observar a variação da composição da comunidade zooplanctônica ao longo de um ciclo de maré. MATERIAL E MÉTODOS O Canal de Santa Cruz é um braço de mar com 22 km de extensão e largura que varia de 0,6 a 1,5 km. Nele deságuam cinco rios principais. Em direção à plataforma costeira, recifes de arenito delimitam o sistema estuarino. Entre os recifes e a Ilha de Itamaracá, existe uma bacia rasa de aproximadamente 0,5 a 2 m de profundidade. Estudos recentes indicam que bancos de areia formam uma eficiente barreira entre a pluma estuarina e os prados de fanerógamas de Itamaracá 32 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 (Schwamborn & Bonecker, 1996). Além dos arrecifes, algas calcáreas (Halimeda sp.) são abundantes, compondo boa parte do sedimento (Kempf, Mabesoone & Tinoco, 1970). O sistema estuarino de Itamaracá pode ser classificado segundo Medeiros & Kjerfve (1993), como tipo estuário-lagoa (tipo1), por apresentar um fluxo líquido de águas dirigidas para o mar (da superfície ao fundo) e um transporte de sais predominantemente à montante, dominado por processos difusivos. A área apresenta clima tropical úmido, com duas estações bem marcadas, uma seca (de setembro a fevereiro) e uma chuvosa (de março a agosto). DADOS ABIÓTICOS Os dados de salinidade e temperatura foram obtidos simultaneamente às coletas de plâncton. Os valores de salinidade foram aferidos por meio de condutivímetro da marca WTW, calibrado pelo método de Mohr-Knudsen, como descrito por Strickland & Parsons (1965). A temperatura superficial da água foi medida por meio de termômetro digital. Os dados referentes às marés, amplitude e horário, foram obtidos na tábua de marés publicada pela Diretoria de Hidrografia e Navegação do Ministério da Marinha (DHN) para os dias de coleta. Foram utilizados os dados referentes ao porto do Recife, visto que as áreas apresentam marés semi-diurnas, apresentando uma defasagem de apenas 8 minutos, não sendo considerado como uma diferença marcante. COLETA DO MACROZOOPLÂNCTON As amostras do macrozooplâncton foram coletadas no canal de Santa Cruz – PE, numa estação fixa, localizada entre a desembocadura sul e a linha de recifes. Este local sofre influência alternada das águas do canal e da plataforma costeira adjacente, em função da maré predominante (Figura 1). As coletas foram realizadas na lua cheia (maré de sizígia) do mês de março de 2001, correspondendo aos dias 10 e 11, durante os picos de maré preamar (PM) diurna e noturna e baixamar (BM) diurna e noturna, durante dois ciclos nictemerais (dois ciclos de maré) consecutivos (Tabela 1). Foram realizados arrastos horizontais sub-superficialmente, durante 3 minutos, com o barco em deslocamento de 2 a 3 nós. Foi utilizada uma rede de plâncton cônica, de náilon, com 300 µm de abertura de malha, 0,60 m de diâmetro de boca e 3 m de comprimento, tendo um fluxômetro acoplado à boca. Após a coleta, cada amostra de plâncton foi colocada em um frasco plástico devidamente etiquetado, com capacidade aproximada de 500 mL, onde foi fixada com formol a 4% e neutralizada com bórax (5 g*L-1), de acordo com a técnica descrita por Newell & Newell (1963). 33 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Figura 1 - Localização da área estudada e da estação de amostragem, Canal de Santa Cruz, Itamaracá, Pernambuco (em vermalho). (Mapa: Schwamborn, 2004). Tabela 1 - Código, data, horário, período e maré das amostras coletadas na desembocadura sul do Canal de Santa Cruz, durante os dias 10 e 11 de março de 2001. Código 00h13 BM 4h50 PM 10h57 BM 16h48 PM 23h36 BM 5h11 PM 11h37 BM 17h13 PM Data 10/3/2001 10/3/2001 10/3/2001 10/3/2001 10/3/2001 11/3/2001 11/3/2001 11/3/2001 Horário 00h13 04h50 10h57 16h48 23h36 5h11 11h37 17h13 Período Noturno Noturno Diurno Diurno Noturno Noturno Diurno Diurno Maré BM PM BM PM BM PM BM PM 23h17 BM 11/3/2001 23h17 Noturno BM PROCESSAMENTO DO MATERIAL BIOLÓGICO EM LABORATÓRIO Em laboratório, foi realizada a contagem do número total de taxa, baseando-se na unidade de grandes grupos para o macrozooplâncton e na menor unidade taxonômica possível para os Copepoda. Para a análise quali-quantitativa, cada amostra foi colocada em um béquer, adicionandose 2000 mL de água para diluição. Das amostras onde havia alta densidade de organismos foram retirados 50 mL após a diluição, sendo novamente diluída para volumes diversos entre 200 e 500 mL, de acordo com quantidade de organismos. 34 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Em seguida a amostra foi homogeneizada, retirando-se três subamostras de 5,0 mL, com reposição, com o auxílio de uma pipeta tipo “Stempel” e vertida em uma placa de contagem do tipo Bogorov, analisada em estereomicroscópio composto, sendo os organismos manipulados com o auxílio de estiletes. Para identificação de estruturas morfológicas de caráter sistemático essenciais à identificação dos Copepoda, foram realizadas dissecações, sendo as partes dissecadas observadas em microscópio composto. Na identificação dos organismos zooplanctônicos foram consultadas, entre outras, as seguintes obras: Tregouboff & Rose (1957), Björnberg (1981) e Boltovskoy (1981; 1999). TRATAMENTO NUMÉRICO DOS DADOS A densidade dos organismos (ind.m-3) foi calculada seguindo a fórmula D = n.Vf-1, onde (n) é o número total de organismos de cada táxon na amostra e (Vf) Volume total de água filtrado. A abundância relativa foi calculada de acordo com a fórmula Ar = N.100.Na-1, onde (N) Densidade total de organismos de cada táxon nas amostras e (Na) Densidade total de organismos nas amostras, com os valores expressos em percentagem e obedecendo a seguinte classificação: Dominante (>70%), abundante (70┤40%), pouco abundante (40┤20%) e raros (≤20%). A freqüência de ocorrência (F) foi calculada por meio da fórmula F = Ta.100.TA-1, onde: (Ta) Número de amostras em que o táxon ocorre e (TA) Total de amostras. Os resultados, apresentados em percentagem, são considerados: muito freqüente (>70%); freqüente (70┤40%); pouco freqüente (40┤20%), esporádico (≤20%). O índice de diversidade de Shannon foi aplicado para estimar a diversidade da comunidade (Shannon, 1948) e o índice de eqüitabilidade foi calculado segundo Pielou (1966). As análises estatísticas foram baseadas nos dados de densidade (ind.m-3), com auxílio do programa PRIMER 5 (Plymouth Routines In Multivariate Ecological Research), para testar a similaridade entre as amostras. Também foi realizado o teste-t para verificar diferenças entre as marés (preamar e baixa-mar) e os períodos do dia (diurna e noturna). RESULTADOS E DISCUSSÃO DADOS ABIÓTICOS TEMPERATURA SUPERFICIAL DA ÁGUA A temperatura superficial da água durante os dias de coleta variou com o horário do dia, com um valor mínimo de 29°C durante a preamar às 04h50 e com um valor máximo de 30,5°C durante a baixa-mar às 10h57, ambas no dia 10/03/2001. Na Figura 2, observa-se que essa temperatura 35 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 possui um padrão ao longo do dia, com um aumento do início da manhã até ao meio dia, seguido de uma gradual diminuição, de acordo com o ritmo de intensidade solar. A temperatura é um dos principais fatores que controlam a distribuição e a atividade dos organismos, agindo diretamente sobre a reprodução, crescimento e suas distribuições e alterando, de forma indireta, características da água como densidade, viscosidade, solubilidade de oxigênio e afetando na flutuabilidade, locomoção e respiração dos organismos aquáticos (Day Jr., Hall, Kemp & Yáñes Arancibia, 1989). O padrão de temperatura observado deve afetar a distribuição das espécies ao longo do dia na área estudada, apesar das flutuações serem mínimas. Essa pequena variação de temperatura é comum em estuários tropicais, como é o caso do canal de Santa Cruz (Porto-Neto, 1998; Galdino, 2004). As variações da temperatura em áreas tropicais são mais acentuadas quando se considera os períodos sazonais: seco e chuvoso. Já as diferenças entre as camadas superficial e profunda são pequenas, ocorrendo eventualmente nos estuários tropicais, pouco profundos, pequena estratificação térmica; sendo, também, a variação nictemeral pouco acentuada, com valores máximos durante o período diurno (Flores Montes, 1996; Macedo, Flores-Montes & Lins, 2000). SALINIDADE A salinidade variou pouco durante os horários de amostragem, com valor mínimo de 35,4 durante a preamar às 04h50 e o máximo de 37,6 durante a preamar às 16h48, ambas no dia 10/03/2001 (Figura 2). Não foi observado um padrão normal, em função das marés, com salinidades altas nas preamares e menores nas baixa-mares, evidenciando pouca influência na área estudada, dos rios que desembocam no Canal de Santa Cruz. Temperatura (ºC) Salinidade 31 38 30,5 37,5 37 30 36,5 29,5 36 29 35,5 35 28,5 34,5 28 34 00:13 BM 4:50 PM 10:57 16:48 23:36 5:11 BM PM BM PM 11:37 17:13 23:17 BM PM BM 00:13 BM 4:50 PM 10:57 16:48 23:36 BM PM BM 5:11 PM 11:37 17:13 23:17 BM PM BM Figura 2 - Variação da temperatura (ºC) e salinidade nos respectivos horários de coleta, desembocadura sul do Canal de Santa Cruz (Orange) durante os dias 10 e 11 de março de 2001. 36 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Os valores obtidos permitem caracterizar o ambiente como eualino, corroborando Macedo, Flores-Montes & Lins (2000), que afirmam que o Canal de Santa Cruz é caracterizado por regimes de salinidade que variam do eualino ao mesoalino. MARÉ A amplitude média observada durante o período de coleta foi de 2,5 m, com pico máximo de 2,5 m às 16h41 do dia 10 de março de 2001 e pico mínimo de -0,2 m às 22h58 do mesmo dia (Figura 3). Essa grande variação está relacionada à maré de sizígia ocorrente no período. O ambiente estuarino apresenta uma dinâmica complexa, que varia de acordo com a geomorfologia da área, força e direção das correntes e intensidade dos fluxos marinho e fluvial. A presença da Coroa do Avião, banco de areia que vem se transformando em ilha, próximo à área estudada pode estar influenciando a dinâmica das marés, alterando o ciclo normal de seis horas; contudo, estudos detalhados sobre este aspecto são necessários. 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 04:21 -0,5 10:28 16:41 22:58 05:02 11:08 17:23 23:38 Figura 3 - Variação da altura da maré durante os dias 10 e 11 de março de 2001. Nível de maré segundo a tábua de marés para o ano de 2001 (Porto do Recife). ASPECTOS QUALI-QUANTITATIVOS SINOPSE TAXONÔMICA O Macrozooplâncton esteve representado pelos Filos Sarcomastigophora, Cnidaria, Mollusca, Annelida, Crustacea, Chaetognatha, Echinodermata e Chordata. Foram observados 48 taxa, com domínio de Copepoda, larvas de Crustacea Decapoda e Chaetognatha. Para as amostras de preamar foram identificados 40 taxa e, para as amostras de baixa-mar, 26 taxa. 37 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 FREQÜÊNCIA DE OCORRÊNCIA A Tabela 2 apresenta a freqüência de ocorrência do macrozooplâncton na área estudada. Tabela 2 - Composição e freqüência de ocorrência (FO) do zooplâncton coletado no Canal de Santa Cruz (orange): ****Muito freqüente; ***Freqüente; **Pouco freqüente; *Esporádico. Taxa FORAMINIFERA CNIDARIA Hydrozoa (pólipo) Hydromedusa Liriope sp. MOLLUSCA Gastropoda (Larva) ANNELIDA Polychaeta (Larva) CRUSTACEA Crustacea (náuplios) Ostracoda Calanoida Nannocalanus minor Paracalanus aculeatus Paracalanidae (outros) Centropages furcatus Pseudodiaptomus Temora turbinata Labidocera fluviatilis Labidocera nerii Calanopia americana Acartia lilljeborgi Cyclopoida Oithona hebes Harparcticoida Microsetella rosea Euterpina acutifrons Longipedia sp. Eudactylopus sp. Poecilostomatoida Corycaeus giesbrechti Farranula gracilis Monstrilloida Cymbasoma sp. FO 22,2% ** 22,2% ** 44,4% *** 11,1% * 100% 44,4% **** *** 33,3% ** 11,1% * 22,2% ** 22,2% ** 11,1% * 22,2% ** 88,9% **** 88,9% **** 44,4% *** 11,1% * 33,3% ** 100% **** 11,1% * 11,1% * 11,1% * 11,1% * 11,1% * 33,3% ** 11,1% * 11,1% * Taxa Cirripedia (náuplio) Cirripedia (cípris) Decapoda Lucifer faxoni (♀) Lucifer faxoni (♂) Lucifer sp. (protozoea) Lucifer sp. (mísis) Caridea (zoea) Alpheidae (zoea) Peneaeidae (protozoea) Upogebia sp. Anomura (zoea) Porcellanidae (zoea) Paguridae (zoea) Paleomonidae Dromiidae Hipollitidae Brachyura (zoea I) Brachyura (zoea II) Brachyura (zoea III) Brachyura (megalopa) Stomatopoda (antizoea) Cumacea Isopoda Mysidacea Gammaridea CHAETOGNATHA ECHINODERMATA CHORDATA Appendicularia Teleostei (Ovos) Teleostei (Larvas) Teleostei (Juvenil) FO 88,9% **** 33,3% ** 88,9% **** 55,5% *** 88,9% **** 100% **** 77,8% **** 44,4% *** 11,1% * 66,6% *** 22,2% ** 88,9% **** 22,2% ** 11,1% * 11,1% * 11,1% * 100% **** 88,9% **** 66,6% *** 22,2% ** 11,1% * 22,2% ** 11,1% * 11,1% * 55,5% *** 88,9% **** 11,1% * 55,5% *** 44,4% *** 55,5% *** 22,2% ** Em relação aos Copepoda, observa-se que, dentre os Calanoida, destacaram-se como muito freqüentes: Acartia lilljeborgi, presente em todas as amostras; Temora turbinata e Pseudodiaptomus acutus com 88,89%. Apenas Labidocera fluviatilis (44,44%) foi considerada freqüente, enquanto Calanopia americana (33,33%), Paracalanus aculeatus (22,22%), Centropages furcatus (22,22%), 38 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Nanocalanus minor (22,22%) foram pouco freqüentes e outros Paracalanidae e Labidocera nerii, ambos com 11,11%, foram considerados raros. A ordem Poecilostomatoida foi representada por Corycaeus giesbrechti, pouco freqüente com 33,33%, e Farranula gracilis com 11,11%, sendo considerada esporádico. A ordem Harpacticoida, representada por Euterpina acutifrons, Microsetella rosea, Longipedia sp. e Eudactylopus sp., junto com Oithona hebes (Cyclopoida) e Cymbasoma sp. (Monstrilloida) foram esporádicas, todas com apenas 11,11% de ocorrência. Dentre os demais grupos zooplanctônicos destacaram-se como muito freqüentes mísis de Lucifer sp., zoea I de Brachyura e Heteropoda, presentes em todas as amostras, protozoea de Lucifer sp., Lucifer faxoni (♀), zoea de Porcellanidae, zoea II de Brachyura, náuplios de Cirripedia e Chaetognatha, todas com 88,89% de ocorrência, além das zoea de outros Caridea (77,78%). ABUNDÂNCIA RELATIVA Dentre os grupos mais abundantes, observou-se zoea I de Brachyura como dominante em duas amostras, 17h13 PM e 10h57 BM, abundante nas amostras das 04h50 PM, 16h48 PM e 11h37 BM e pouco abundante nas demais amostras. Acartia lilljeborgi foi considerada abundante nas amostras 23h36 BM e 05h11 PM, e rara nas amostras 16h48 PM e 17h13 PM, sendo pouco abundante nas demais amostras. Temora turbinata foi pouco dominante em duas amostras, 00h13 BM e 23h36 BM, sendo rara nas demais. Todos os demais organismos foram considerados raros em todas as amostras (Figura 4). 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 00h13 BM 04h50 PM 10h57 BM Temora turbinata 16h48 PM 23h36 BM Acartia lilljeborgi 05h11 PM 11h37 BM Brachyura (zoea I ) 17h13 PM 23h17 BM Outros Figura 4 - Abundância relativa do zooplâncton no Canal de Santa Cruz (Orange), durante os dias 10 e 11 de março de 2001. 39 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Quando se considera a abundância relativa total, Copepoda foi o grupo dominante com 42,02% dos organismos, seguido pelo estágio inicial de Brachyura (38,80%) e, ainda, com densidades bastante inferiores, por zoea II de Brachyura, Chaetognatha e Lucifer faxoni (♀), com 2,61%, 2,27% e 1,90%, respectivamente (Figura 5). 1,64% 1,45% 5,30% 1,90% 2,27% Copepoda 2,61% Brachyura (zoea I ) 4,01% 42,02% Decapoda, outros Brachyura (zoea II ) Chaetognatha Lucifer faxoni (♀) Lucifer sp (protozoea) Gastropoda Outros 38,80% Figura 5 - Composição da comunidade zooplanctônica no Canal de Santa Cruz, durante os dias 10 e 11 de março de 2001. DENSIDADE A densidade média na baixa-mar foi cerca de três vezes maior que na preamar. Segundo Melo Júnior (2005), os organismos do zooplâncton que habitam ambientes com influência das marés têm como pré-requisito uma sincronização das atividades de migração vertical, o que justifica essa grande diferença entre as densidades. Quanto ao período do dia não foi observada uma variação muito grande entre as densidades médias (Figura 6). 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 3461,98 2500 2371.18 2524.34 2000 1500 1199,16 1000 500 0 BM Diurna PM Noturna Figura 6 - Densidade média (ind.m-3) quanto à maré (esquerda) e período do dia (direita), do macrozooplâncton no Canal de Santa Cruz (Orange), durante os dias 10 e 11 de março de 2001. 40 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Quanto ao tempo de permanência no ambiente pelágico, as amostras da baixa-mar apresentaram 55,24% de organismos holoplanctônicos e 44,76% de organismos meroplanctônicos. Enquanto que, as amostras da preamar apresentaram-se de forma inversa, com os organismos meroplanctônicos superando quantitativamente os organismos holoplanctônicos, sendo responsáveis por 60,75% e 39,25%, respectivamente (Figura 7). 2000 1912.28 1800 1600 1549.69 1400 1200 1000 728.52 800 600 470.64 400 200 0 BM Holoplâncton PM Meroplâncton Figura 7 - Densidade média (ind. m-3) do zooplâncton durante a baixa-mar (BM) e a preamar (PM) no Canal de Santa Cruz (Orange), durante os dias 10 e 11 de março de 2001. A dominância de organismos holoplanctônicos é uma característica da população zooplanctônica estuarina, fato descrito por vários autores para diversos estuários ao longo da costa brasileira (Tundisi, 1970; Matsumura-Tundisi, 1972; Schwamborn & Bonecker, 1996; Porto-Neto, 1998; Paranaguá, Nascimento-Vieira, Gusmão, Neumann-Leitão & Schwamborn, 2004; Silva, Neumann-Leitão, Schwamborn, Gusmão & Nascimento-Vieira, 2003; dentre outros). Este fato foi confirmado para a maioria das amostras presentemente estudadas; entretanto, durante a preamar, provavelmente pela grande migração de Brachyura (meroplâncton) do canal para a área de coleta, houve uma alteração desse padrão. Tundisi (1970) e Day Jr., Hall, Kemp & Yáñes Arancibia (1989) mencionam que, em determinados períodos, há nos estuários o predomínio do meroplâncton, geralmente associado ao período reprodutivo. Muitos estudos sobre fauna planctônica de estuários têm mostrado que a quantidade de espécies pode variar de uma região para outra, mas a predominância numérica dos Copepoda é característica nos estuários brasileiros, representando mais de 70% dos organismos do macrozooplâncton (Tundisi & Matsumura-Tundisi, 1968; Neumann-Leitão, 1995; Paranaguá, Nascimento-Vieira, Gusmão, Neumann-Leitão & Schwamborn, 2004). 41 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Na região estuarina de Itamaracá, essa dominância foi confirmada em trabalhos como Paranaguá & Nascimento (1973), Paranaguá, Nascimento & Macêdo (1979), Nascimento (1980), Por & Almeida-Prado (1982), Paranaguá & Nascimento-Vieira (1984), Silva (1997), Porto-Neto (1998), Silva, Neumann-Leitão, Schwamborn, Gusmão & Nascimento-Vieira (2003), Galdino (2004) e Melo et al. (2005). Foi observada uma alta densidade do estágio inicial de Brachyura (zoea I), com picos de até 3.925,23 ind.m-3 durante a baixa-mar às 10h57 do dia 10 de março (Figura 8). Pelo menos 85% das zoea encontradas nas amostras pertenciam a este estágio. Altas abundâncias numéricas de zoeas de Brachyura são típicas de estuários com manguezais (Dittel & Epifanio, 1990; Schwamborn & Bonecker, 1996). Esses valores podem indicar um período reprodutivo recente, com a liberação das larvas durante a lua cheia para fora do canal de Santa Cruz, para a região próxima a linha de recifes, área das coletas do presente estudo, como sugerido por Silva (2002). Esta exportação das zoeas para a plataforma continental ocorre durante a noite na maré vazante, quando a força da correnteza é maior (Schwamborn & Bonecker, 1996), justificando as altas densidades observadas principalmente nas baixa-mares diurnas, na maré seguinte, na área costeira adjacente. Posteriormente, as megalopas retornam ao ecossistema manguezal onde vivem os adultos, sendo esse padrão de migração comumente utilizado para diminuir a predação das larvas nos estuários (Schwamborn, 1997). Picos sazonais de alguns Decapoda podem mudar os padrões temporariamente, e muitas espécies de Brachyura, Caridea e Sergestoida podem ser registradas como dominantes em estuários da costa brasileira (Tundisi & Matsumura-Tundisi, 1968; Neumann-Leitão, 1995; Schwamborn, 1997; Paranaguá, Nascimento-Vieira, Gusmão, Neumann-Leitão & Schwamborn, 2004). 776,8 500 3925,2 904,5 642,0 1015,3 400 300 200 100 0 00h13 BM 04h50 PM 10h57 BM Brachyura (zoea I ) 16h48 PM 23h36 BM 05h11 PM Brachyura (zoea II ) 11h37 BM 17h13 PM 23h17 BM Brachyura (zoea III ) Figura 8 - Densidade (ind. m-3) dos Brachyura no Canal de Santa Cruz (Orange), durante os dias 10 e 11 de março de 2001. 42 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Dentre os Copepoda, durante a baixa-mar foi evidenciado um predomínio de Acartia lilljeborgi, com média de 1029,26 ind.m-3 (Figura 9). Esta é uma espécie indicadora de águas costeiras e que suporta uma ampla variação de salinidade, ocorrendo em todos os estuários do Brasil (Neumann-Leitão, 1994), sendo freqüentemente dominante entre os copepoda estuarinos. Silva, Neumann-Leitão, Schwamborn, Gusmão & Nascimento-Vieira (2003), também observaram esse predomínio no canal de Santa Cruz. Temora turbinata, com média de 221,54 ind.m-3, foi a segunda espécie mais representativa para a baixa-mar. Esta espécie tem grande ocorrência em todo o globo, sendo mais freqüente em águas costeiras e estuarinas (Björnberg, 1981). Pseudotiaptomus acutus apresentou uma média de 49,07 ind.m-3. Esta é uma espécie muito numerosa e em águas de baías e manguezais, desde a desembocadura do rio Amazonas até a costa sul do Brasil (Björnberg, 1981). Para a preamar também houve um predomínio de Acartia lilljeborgi, com média de 338,70 ind.m-3, representando 91,78% dos Copepoda. Pseudodiaptomus acutus foi a segunda espécie mais representativa com média de 10,84 ind. m-3 (Figura 9). 3,26% 5,29% 2,94% 2,14% 26,31% ' 68,30% Acartia lilljeborgi 91,78% Temora turbinata Pseudodiaptomus acutus Outros Figura 9 - Composição dos Copepoda na baixa-mar (esquerda) e preamar (direita), no Canal de Santa Cruz (Orange), durante os dias 10 e 11 de março de 2001. Labidocera fluviatilis apresentou média de 4,44 ind.m-3. Essa espécie é numerosa e bastante comum em águas costeiras e estuarinas de regiões tropicais e subtropicais da costa sulamericana (Björnberg, 1981). Em ambas as marés, foi observado uma grande quantidade de copepoditos de Acartia lilljeborgi e Pseudotiaptomus acutus, esta última apresentando ainda indivíduos com sacos ovígeros, evidenciando área favorável ao desenvolvimento dessas espécies. 43 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 ÍNDICES DE DIVERSIDADE E EQÜITABILIDADE A diversidade de espécies nas amostras variou de baixa a média, com máximo de 2,613 bits.ind-1e mínimo de 1,131 bits.ind-1, nas amostras das 23h17 BM e 17h13 PM, respectivamente. Outros estudos em estuários pernambucanos mostram valores próximos a estes, podendo também apresentar valores maiores que 3 bits.ind-1 em alguns casos (Figura 10). Segundo Neumann-Leitão (1994) as diversidades mais baixas ocorrem, geralmente, em períodos reprodutivos de determinadas espécies quando uma única espécie passa a dominar a comunidade. Quanto à eqüitabilidade, na maior parte das amostras os valores foram maiores que 0,5 ou estiveram muito próximos a esse valor, demonstrando uma eqüitatividade média das amostras. Também pôde ser observado que as amostras diurnas, quando comparadas com as noturnas, apresentaram-se menos eqüitativas, com valores mais distantes de 0.5, como a estação 17h13 PM, com eqüitabilidade de 0,273 (Figura 10), evidenciando o predomínio de uma ou poucas espécies. 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 00h13 04h50 10h57 16h48 23h36 5h11 BM PM BM PM BM PM 11h37 17h13 23h17 BM PM BM Figura 10 - Diversidade (bits.ind-1) e Eqüitabilidade do zooplâncton no Canal de Santa Cruz (Orange), durante os dias 10 e 11 de março de 2001. ANÁLISE ESTATÍSTICA O teste-t realizado para comparação das médias das amostras quanto às marés, mostrou a existência de uma diferença significativa entre a baixa-mar e preamar (p=0,04). Essa diferença na densidade se faz por uma maior ou menor influência da maré, alterando características importantes na distribuição das espécies, sendo registrado, na baixa-mar, uma densidade muito maior e uma diversidade menor. 44 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Quanto ao período do dia, não foi observada diferença significativa entre as amostras diurnas e noturnas (p=0,88). O Cluster feito para análise de similaridade entre as amostras (Figura 11), demonstrou um forte agrupamento entre as amostras de baixa-mar, diferenciando-as das amostras de preamar, como observado no teste-t. Figura 11 - Similaridade das amostras de macrozooplâncton na desembocadura sul do Canal de Santa Cruz (Orange), durante os dias 10 e 11 de março de 2001. Índice: Bray e Curtis. É interessante observar que a maré teve um forte papel estruturador no macrozooplâncton favorecendo, na baixa-mar, a reprodução e, na preamar, a diversidade, quando espécies marinhas costeiras são introduzidas na área. Por outro lado, a variação nictemeral parece afetar mais as larvas de Decapoda, liberadas geralmente à noite (Dittel & Epifanio, 1990), não havendo diferenças significativas para o restante da comunidade zooplanctônica, principalmente os Copepoda. CONCLUSÕES Foram identificados 48 taxa, 40 na preamar e 26 na baixa-mar, com domínio de Copepoda, larvas de Crustacea Decapoda e Chaetognatha. Ocorre a dominância de organismos holoplanctônicos na baixa-mar, característica de população zooplanctônica estuarina. Na preamar há uma alteração desse padrão, pela grande migração de Brachyura para a plataforma adjacente. As altas densidades observadas principalmente nas baixa-mares diurnas evidenciam a exportação das zoeas para a plataforma continental durante a noite na maré vazante. 45 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Houve variação significativa entre as densidades médias nas duas marés, com a baixa-mar favorecendo a reprodução e a preamar a diversidade. Não foi observada variação na densidade do zooplâncton quanto ao período do dia, evidenciando a maré como fator estruturador do macrozooplâncton. REFERÊNCIAS Björnberg, T.K.S. (1981). Copepoda In: Boltovskoy, D. (ed.). Atlas del zooplancton del Atlantico Sudoocidental y métodos de trabajos com el zooplancton marino. INIDEP, Mar del Plata, 936 p. Boltovskoy, D. (1981). Atlas del zooplancton del Atlantico Sudoocidental y métodos de trabajos com el zooplancton marino. INIDEP, Mar del Plata, 936 p. Boltovskoy, D. (1999). South Atlantic Zooplankton. Leiden: Backhuys Publishers, 2 vol., 1706p. Bougis, P. (1974). Ecologie du plancton marin. Tome II- Le zooplancton. Masson et Cie., Paris: 200p. Day Jr., J.W., Hall, C.A.J., Kemp, W.M. & Yáñes Arancibia, A. (1989). Estuarine Ecology. New York: J. Willey. 556 p. Dittel, A.I. & Epifanio, C.E. (1990). Seasonal and tidal abudance of crab larvae in a tropical mangrove system, Gulf of Nicoya, Costa Rica. Mar. Ecol. Prog. Ser. 65: 25-34. Dittel, A.I., Epifanio, C.E. & Lizano, O. (1991). Flux of crab larvae in a mangrove creek in the Gulf of Nicoya, Costa Rica. Estuar. Coast. Shelf. Sci. p.129-140. DHN - Diretoria de Hidrografia e Navegação. (2001). Tábuas de marés para o ano de 2001 (Porto do Recife). Ministério da Marinha, Rio de Janeiro. Flores Montes, M.J. (1996). Variação nictemeral do fitoplâncton e parâmetros hidrológicos no Canal de Santa Cruz, Itamaracá, PE. [Dissertação de Mestrado]. Recife (PE): Universidade Federal de Pernambuco. Fraser, J. (1962). Nature adrift: the story of marine plankton. London: G. T. Foulis. Galdino, T.S. (2004). Zooplâncton Estuarino nas desembocaduras Norte e Sul do Canal de santa Cruz, Itamaracá, PE. [Monografia de Bacharelado]. Recife (PE): Universidade Federal de Pernambuco. 46 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Gusmão, L.M.O., Neumann-Leitão, S., Schwamborn, R., Silva, A.P. & Silva, T.A. (2004). O fluxo dinâmico do macrozooplâncton do canal de Santa Cruz, Pernambuco, Brasil. In: XXV Congresso Brasileiro de Zoologia (pp. 440-441). Brasília: Anais do CBZ. Kempf, M., Mabesoone, J.M. & Tinoco, I.M. (l970). Estudo da plataforma continental da área do Recife; I - Generalidades sobre o fundo. Trab. Oceanogr. Univ. Fed. PE. 12: 341-344. Longhurst, A.R. & Pauly, D. (1987). Ecology of tropical oceans. Academic Press, San Diego, California. Macêdo, S.J., Flores-Montes, M. J. & Lins, Y.C. (2000). Características abióticas da área. In: Barros, H.M., Eskinazi-Leça, E., Macedo, S.J. & Lima, T. Gerenciamento Participativo de Estuários e Manguezais. Recife: Ed. Universitária da UFPE, p. 7-25. Margalef, R. (1983). Limnologia. Barcelona: Ômega.. Matsumura-Tundisi, T. (1972). Aspectos ecológicos do zooplâncton da região lagunar de Cananéia com especial referência aos Copepoda (Crustacea). [Tese de Doutorado]. São Paulo: Universidade de São Paulo. McLusky, D.S. (1989). The Estuarine Ecosystem. New York: Chapman & Hall. 2 ed. 215 p. Medeiros, C. & Kjerfve, B. (1993). Hydrology of a Tropical Estuaryne System: Itamaracá, Brazil. Estuarine, Coastal and Shelf Science. 36: 495-515. Melo, P.A.M.C., Schwamborn, R., Pessoa, V.T., Cunha, A.G., Galdino, T., Melo Júnior, M., Neumann-Leitão, S. & Gusmão, L.M.O. (2005). Dinâmica de Dispersão de Decápodos Planctônicos no Sistema Estuarino de Itamaracá – PE (Cd-rom). In: II Congresso Brasileiro de Oceanografia. Vitória-ES: Anais do IICBO. Melo Júnior, M. (2005). Padrões dinâmicos de transporte e migração do zooplâncton, com ênfase nos Decapoda planctônicos, da Barra de Catuama, Pernambuco – Brasil. [Dissertação de Mestrado]. Recife (PE): Universidade Federal de Pernambuco. Nascimento, D.A. (1980). Composição e distribuição do zooplâncton no estuário do rio Botafogo, Itamaracá-Pernambuco. [Dissertação de Mestrado]. Curitiba: Universidade Federal do Paraná. Neumann-Leitão, S. (1994). Impactos antrópicos na comunidade zooplanctônica estuarina, Porto de Suape - PE – Brasil. [Tese de doutorado]. São Carlos (SP): Universidade de São Paulo. 47 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Neumann-Leitão, S. (1995). Resenha literária sobre zooplâncton estuarino no Brasil. Trab. Oceanogr. Univ. Fed. PE. 23: 25-53. Newell, G.E. & Newell, R.C. (1963). Marine plankton: na pratical guide. London: Hutchlson Educational. 221p. Palma, S. & Kaiser, K. (1993). Plancton marino de águas chilenas. Ediciones Universitarias de Valparaíso, 151 pp. Paranaguá, M.N. & Nascimento, D.A. (1973). Estudo do zooplâncton do estuário da região estuarina de Itamaracá. Ciência e Cultura. São Paulo, 25(6): 198, Resumo. Paranaguá, M.N. & Nascimento-Viera, D.A. (1984). Estudo ecológico da região de Itamaracá, Pernambuco, Brasil. XXV. Zooplâncton do rio Botafogo. Trab. Ocean. Univ. Fed. PE. 18:193-206. Paranaguá, M.N., Nascimento, D.A. & Macêdo, S.J. (1979). Estudo ecológico da região de Itamaracá, Pernambuco, Brasil. II. Distribuição do zooplâncton no estuário do rio Igarassu. Trab. Oceanogr. Univ. Fed. PE. 14: 65-92. Paranaguá, M.N., Nascimento-Vieira, D.A., Gusmão, L.O., Neumann-Leitão, S. & Schwamborn, R. (2004). Estrutura da comunidade zooplanctônica. In: Eskinazi-Leça, E.; Neumann-Leitão, S.; Costa, M. (Org). Oceanografia: um cenário tropical. (pp.441-459). Recife: Bagaço/UFPE. Pielou, E.C. (1966). The measure of diversity in different types of biological collections. J. Theor. Biol. 13: 133-144. Por, F.D. & Almeida Prado, M.S. (1982). The polyhaline mangal of Itamaracá (Pernambuco), characterized by a student workshop in september, 1981. In: Simpósio Internacional sobre Utilização e Ecossistemas Costeiros: Planejamento, Poluição e Produtividade, Rio Grande, RS. Resumo. 5(2): 99. Porto-Neto, F. (1998). Variação nictemeral e sazonal do zooplâncton no canal de Santa Cruz, Itamaracá – PE. Recife. [Dissertação de Mestrado]. Recife (PE): Universidade Federal de Pernambuco. Ricklefs, R.E. (2003). A Economia da Natureza. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. Schwamborn, R. & Bonecker, A.C.T. (1996). Seasonal changes in the transport and distribution of meroplankton into a Brazilian estuary with emphasis on the importance of floating mangrove leaves. Arq. Biol. Tecnol. 39(2): 451-462. 48 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Schwamborn, R. (1997). Influence of mangroves on community structure and nutrition of macrozooplankton in northeast Brazil. [Ph.D. Thesis]. Bremen: University of Bremen. Schwamborn, R., Ekau, W., Silva, A.P. & Sait-Paul, U. (1999). The contribution of estuarine decapod larvae to marine zooplankton communities in North-East Brazil. Archive of Fishery and Marine Research. 47: 167-182. Schwamborn, S. H. L. (2004). Dinâmica e organização trófica em comunidade de peixes associada aos prados de capim marinho (Halodule wrightii) de Itamaracá, Pernambuco. [Tese de Doutorado], Recife: Universidade Federal de Pernambuco, Brasil. Shannon, C.E. (1948). A mathematical theory of communication. Bol. Syst. Tech. J. 27: 379-423. Silva, A.P. (1997). Diversidade, produtividade e dinâmica do microzooplâncton na desembocadura sul do canal de Santa Cruz, Itamaracá - Pernambuco (Brasil). [Monografia de Licenciatura]. Recife (PE): Universidade Federal de Pernambuco. Silva, A.P. (2002). Dinâmica temporal das larvas de Brachyura no Canal de Santa Cruz, Pernambuco (Brasil), ao longo de um ciclo lunar. [Dissertação de Mestrado]. Recife (PE): Universidade Federal de Pernambuco. Silva, T.A., Neumann-Leitão, S., Schwamborn, R., Gusmão, L.M.O. & Nascimento-Vieira, D. A. (2003). Diel and seasonal changes in the macrozooplankton community of a tropical estuary in Northeastern Brazil. Revta. Bras. Zool. 20(3): 439-446. Strickland, J.D.H. & Parsons, T.R. (1965). A manual of seawater analysis. Bull. Fish. Res. Board Can. 125: 1-205. Trégouboff, G. & Rose, M. (1957). Manuel de planctonologie mediterranéenne. Centre Nacional de la Recherche Scientifique, Paris. 2 vol. Tundisi, J. & Matsumura-Tundisi, T. (1968). Plankton studies in a mangrove environment. V. salinity tolerances of some planktonic crustaceans. Bol. Inst. Oceanogr. 17(1): 57-65. Tundisi, J.G. (1970). O plâncton estuarino. Contr. Avulsas Inst. Oceanogr. São Paulo, Ser. Ocean. Biol. 19: 1-22. Wickstead, J.H. (1979). Zooplancton marino. Omega. Barcelona.D 49 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 POLISSACARÍDEOS SULFATADOS DA ALGA Caulerpa sertularioides (GMEL.) HOWE ANÁLISE DE METODOLOGIAS DE PRECIPITAÇÃO SULFATED POLYSACCHARDES OF THE ALGA Caulerpa sertularioides (GMEL.) HOWE: ANALYSIS OF METHODS OF PRECIPITATION José Tarcísio Borges Bezerra NETO1*; José Ariévilo Gurgel RODRIGUES1; Grazielle da Costa PONTES1; Wladimir Ronald Lobo FARIAS1 1 Depto de Engenharia de Pesca, Laboratório de Bioquímica Marinha, Universidade Federal do Ceará *Email: [email protected] Recebido em: 16 de outubro de 2007 Resumo - Os polissacarídeos sulfatados (PS) são macromoléculas encontradas em muitos organismos na natureza e suas propriedades biológicas têm despertado grande interesse nas ciências médicas. No entanto, o emprego de diferentes métodos de extração influencia o rendimento final de PS. Avaliou-se a eficiência de dois métodos de precipitação (M I e M II) de PS da alga marinha verde Caulerpa sertularioides, comparando-se a extração, o fracionamento e a atividade anticoagulante. Inicialmente, os PS totais foram extraídos através de digestão enzimática, sendo realizadas três extrações. Em seguida, os PS foram precipitados com uma solução de cloreto de cetilpiridinio a 10% (M I) e álcool absoluto (M II). Os extratos foram aplicados em uma coluna de troca iônica DEAE-celulose da qual foram obtidas frações em diferentes concentrações de NaCl. A atividade anticoagulante foi avaliada através do Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA) utilizando plasma humano normal, sendo o tempo de coagulação determinado em um coagulômetro. Os resultados mostraram que tanto o rendimento como os perfis cromatrográficos foram semelhantes entre os métodos, denotando a eficiência das metodologias na obtenção possivelmente do mesmo grupo de moléculas. A espécie apresentou um baixo potencial anticoagulante, onde a fração eluída com 0,9 M de sal foi a mais ativa (M I e M II), prolongando o tempo de coagulação de 1,9 (1a extração) para 2,12 vezes na 2a extração no M I. No entanto, esta atividade reduziu-se significativamente para apenas 1,22 vezes na 3a extração, possivelmente pelo decréscimo da propriedade metacromática em ambos os métodos. Desta forma, a utilização de apenas etanol seria uma forma mais econômica de obtenção desses compostos para avaliação de outras atividades biológicas em C. sertularioides. Palavras-Chave: Clorofícea Caulerpaceae, Caulerpales, macromoléculas sulfatadas, atividade biológica. Abstract - The sulfated polysaccharides (SP) are macromolecules found in many organisms in nature and their biological properties have aroused great interest in medical science. However, the use of different methods of extraction influences the SP final yield. It was evaluated the efficience of the two methods of precipitation (M I and M II) of SP from marine green alga Caulerpa sertularioides comparing the extraction, fractionation and anticoagulant activity. Initially, the PS total were extracted by enzymatic digestion, and made three extractions. Then, the SP were precipitated with a solution of cetylpyridinium chloride to 10% (MI) and absolute alcohol (M II). The extracts were applied to a column of ion exchange DEAE - cellulose from which were obtained fractions in different concentrations of NaCl. The anticoagulant activity was evaluated by Activated Partial Thromboplastin Time (APTT) using normal human plasma, and the clotting time in a coagulometer. The results showed that both the yield and the chromatrografic profiles were similar between the methods, denoting the efficiency of the methods in obtaining the same group of molecules. The species presented a low potential anticoagulant, where the fraction eluted with 0.9 M of salt was the most active (M I and M II), extending the time coagulation of 1.9 (1a extraction) to 2.12 times in the 2nd extraction in M I. However, this activity is significantly reduced to only 1.22 times in the 3rd extraction, possibly by the decline of the metacromatic property in both methods. Thus, the only use of ethanol would be a more economical way of obtaining these compounds for evaluation of other biological activities in C. sertularioides. Keywords: Clorofícea Caulerpaceae, Caulerpales, sulfated macromolecules, biological activity. 50 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 INTRODUÇÃO A biodiversidade marinha brasileira favorece a descoberta de produtos naturais com propriedades biológicas diversas. Bactérias, fungos, algas, invertebrados e vertebrados marinhos são fontes naturais de novos agentes farmacológicos. O isolamento e a avaliação biológica dos diferentes compostos encontrados nesses organismos têm despertado grande interesse na clínica médica (Teixeira, 2002). As algas marinhas são fontes naturais de macromoléculas conhecidas como polissacarídeos sulfatados (PS). Esses compostos são ainda encontrados em tecidos animais (vertebrados e invertebrados) (Mathews, 1975; Cássaro & Dietrich, 1977) e vegetais (algas e gramíneas marinhas) (Painter, 1983; Hussein, Helmy & Salem, 1998; Aquino, Landeira-Ferdandez, Valente, Andrade & Mourão, 2005), formando, em sua maioria, agregados complexos denominados proteoglicanos. PS encontrados nas algas marinhas pardas (Phaeophyceae) podem estar na forma de fucanas, de galactanas nas algas vermelhas (Rhodophyceae) e, nas algas verdes (Chlorpphyceae), os mais encontrados são as arabino-galactanas (Percival & Mcdowel, 1967). Nos animais, os proteoglicanos são conhecidos como glicosaminoglicanos sendo representados pelo ácido hialurônico, condroitim sulfato, heparam sulfato, queratam sulfato, dermatam sulfato e heparina (Kjellén & Lindahal, 1991). O interesse no estudo dessas macromoléculas é justificado devido aos efeitos adversos da heparina. Esse PS é mundialmente utilizado como agente anticoagulante e antitrombótico na prevenção e tratamento de trombose venosa. Entretanto, seu uso é limitado devido aos riscos de sangramento, queda plaquetária e viral (Thomas, 1997) em pacientes com estado de hipercoagulapatia ou sujeitos à trombose causada por diferentes etiologias (Weizt, 1994). Embora se tenha desenvolvido heparina de baixo peso molecular, administrações elevadas da droga ainda induzem a fatores de risco (Doutremepuich, Azougagh Oualane, Doutremepuich & Fareed, 1996). O estudo com diferentes PS presentes em algas marinhas tem demonstrado que a conformação estrutural varia de espécie para espécie, o que resulta em diferentes atividades anticoagulantes (Dietrich et al., 1995; Haroun-Bouhedja, Mostafa, Sinquin & Boisson-Vidal, 2000). PS extraídos das algas marinhas vermelhas Iridaea laminarioides (Chargaff, Bancroft & StanleyBrown, 1936), Gigartina accicularis, Chondrus crispus (Di Rosa, 1972), Botryocladia occidentalis (Farias, Valente, Pereira & Mourão, 2000) e Gelidium crinale (Pereira, et al., 2005) apresentaram potentes atividades anticoagulantes. Propriedades anticoagulantes também foram descritas para as algas marinhas pardas Ecklonia cava e Sargassum horneri (Athukorala, Jung, Asanthan & Jeon, 2006; Athukorala, Lee, Kim & Jeon, 2007) e as verdes Codium cylindricum, C. fragile e 51 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Monostroma latissimum (Matsubara, Matsuura, Basic, Liao, Hori & Miyazawa, 2001; Athukorala, Lee, Kim & Jeon, 2007; Zhang, et al., 2008). No entanto, o emprego de diferentes metodologias de extração (Villanueva, Pagba, & Montano 1997; Marinho-Soriano, 2001), a variação sazonal e a utilização de diferentes espécies (Levring, Hoppe & Schmid, 1969; Bird, 1988) influenciam o rendimento e a atividade biológica (Rodrigues & Farias, 2005). As algas marinhas verdes é um diversificado grupo de organismos fotossintéticos em padrões morfológicos, estruturais e reprodutivos (Hoek et al., 1995). O gênero Caulerpa é constituído por algas marinhas verdes bentônicas dotadas de um talo rastejante formado por uma porção rizomatosa que se expande ao longo do substrato, fixando-se através de estruturas denominadas rizóides (Joly, 1965; Sze, 1997). Muitas espécies do gênero são encontradas no litoral brasileiro (Joly, 1965) e alguns trabalhos relatam propriedades biológicas, tais como antiviral e anticoagulante (Ghosh et al., 2004; Rodrigues & Farias, 2005). O presente estudo teve como objetivo extrair, fracionar e avaliar a atividade anticoagulante dos polissacarídeos sulfatados da alga marinha verde Caulerpa sertularioides utilizando duas metodologias de precipitação, contribuindo assim com a bioprospecção de novas macromoléculas anticoagulantes. MATERIAL E MÉTODOS COLETA E TRATAMENTO PRELIMINAR DA ALGA MARINHA C. sertularioides Os exemplares da macroalga marinha verde C. sertulaioides foram coletados na Praia do Pacheco - Ceará e armazenados em sacos plásticos, sendo conduzidos ao Laboratório de Bioquímica Marinha da Universidade Federal do Ceará do Departamento de Engenharia de Pesca. Em laboratório, o material foi lavado com água destilada para a total retirada do sal, areia e organismos incrustantes e/ou epífitas. Em seguida, a alga foi seca ao sol e cortada em pequenos pedaços para extração dos PS. EXTRAÇÃO DOS POLISSACARÍDEOS SULFATADOS As extrações foram realizadas a partir de duas metodologias, diferindo apenas quanto ao uso do agente precipitante de PS. MÉTODO I Os PS totais (M I) foram obtidos de acordo com Farias, Valente, Pereira & Mourão (2000). Inicialmente, 2 gramas da alga seca foram hidratadas com 100 mL de tampão acetato de sódio 100 mM, pH 5,0 + EDTA 5mM + cisteína 5mM. Em seguida, foram adicionados 6,8 mL de solução de 52 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 papaína bruta (30 mg mL-1), sendo a mistura incubada em banho-maria a 60oC por 24 horas. Após esse período, o material foi filtrado (60 µm), centrifugado (7.965 x g; 4 ºC) e, ao sobrenadante, foram adicionados 6,4 mL de cloreto de cetilpiridínio (CPC) a 10% para a precipitação dos polissacarídeos presentes na mistura por, no mínimo, 24 horas à temperatura ambiente. Logo após a precipitação, o precipitado foi lavado com 200 mL de CPC 0,05% sendo, em seguida, dissolvido em 70 mL de cloreto de sódio 2 M:etanol absoluto (100:15; v/v) e submetido a uma nova precipitação por, no mínimo, 24 horas a 4°C, através da adição de mais 122 mL de etanol absoluto. Posteriormente o material foi centrifugado e submetido a duas lavagens com 200 mL de etanol a 80% e uma com 120 mL de etanol absoluto. Após esta etapa, o precipitado foi então levado à estufa a 60°C, por um período aproximado de 24 horas para secagem e obtenção do extrato bruto. MÉTODO II Os PS totais (M II) foram obtidos segundo Rodrigues & Farias (2005). Inicialmente, 2 g da alga seca e triturada foram hidratados com 100 mL de tampão acetato de sódio 100 mM, pH 5,0 + cisteína 5 mM e EDTA 5mM. Em seguida, foram adicionados 6,8 mL de uma solução de papaína bruta (30 mg mL-1), sendo a mistura incubada em banho-maria a 60°C por 24 horas. Após a incubação, o material foi filtrado (60 µm), centrigugado e, ao sobrenadante, acrescentados três volumes de etanol absoluto gelado para precipitação dos PS (48 h) em freezer. Em seguida, o material foi centrifugado e submetido a duas lavagens com 200 mL de etanol 80% e uma vez com 120 mL de etanol absoluto. Finalmente, o extrato foi seco em estufa (60oC; 24 h) para obtenção dos polissacarídeos totais. Os resíduos obtidos de ambas as metodologias foram submetidos a novas extrações a fim de otimizar o rendimento. FRACIONAMENTO DOS POLISSACARÍDEOS SULFATDOS EM COLUNA DE TROCA-IÔNICA DEAE-CELULOSE Os extratos totais de PS obtidos de ambos os métodos foram dissolvidos (1 mg mL-1) em tampão acetato de sódio 0,1 M, pH 5,0 + cisteína 5 mM e EDTA 5 mM (AcONa) e aplicados em uma coluna de DEAE-celulose de troca iônica (6,5 x 1,5 cm) acoplada a um coletor de frações equilibrada com o mesmo tampão (Rodrigues & Farias, 2005). A coluna foi eluída, passo a passo, com soluções de diferentes concentrações de NaCl (0,50; 0,70; 0,90; 1,20; 1,40 e 1,60 M) também preparadas no mesmo tampão de equilíbrio. O fluxo da coluna foi de 60 mL h-1, sendo coletadas frações de 1 mL. Os PS foram monitorados através de alíquotas de 200 µL da fração pela reação metacromática com 1 mL de 1,9-azul-dimetilmetileno (ADM), utilizando um espectrofotômetro com comprimento de onda ajustado em 525 nm. 53 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 CARBOIDRATO TOTAL (CT) DAS FRAÇÕES A presença de CT nas frações foi determinada pelo método fenol-sulfúrico descrito por Dubois, Gilles, Hamilton, Rebers & Smith (1956). ENSAIOS ANTICOAGULANTES Os testes anticoagulantes foram realizados in vitro através do Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA) segundo Anderson, Barrowcliffe, Holmer, Johnson & Sims (1976) utilizando plasma humano citratado obtido de cinco diferentes doadores. Primeiramente, o sangue foi centrifugado (73,75 x g; 15 min) para a obtenção de um plasma pobre em plaquetas. Para a realização do teste, foram incubados a 37 °C por 3 minutos, 50 µL de plasma humano, 50 µL de cefalina ativada (Celite Biolab) e 10 µL de solução de PS. Após a incubação, foram adicionados 50 µL de cloreto de cálcio 0,025 M à mistura para ativar a cascata de coagulação. Os testes foram realizados em duplicata (picos das frações), sendo o tempo de coagulação determinado automaticamente pelo coagulômetro (Drake, modelo Quick-timer) e utilizando a heparina (marca Cristália) como padrão. RESULTADOS RENDIMENTO No total, foram realizadas três extrações para cada método (M I e M II) (Figura 1). Os rendimentos foram bem semelhantes entre si e decrescentes no decorrer das extrações de PS, totalizando apenas 7,10 (M I) e 8,10% (M II), respectivamente. No entanto, a maior quantidade de PS foi obtida durante a 1a extração, sendo maior no M II quando comparado ao M I. 5,0 MI MII 4,5 Rendimento (%) 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 1 2 3 Número de extrações (%) Figura 1 - Rendimentos, por extração, dos extratos brutos obtidos nos M I e M II da alga marinha verde Caulerpa sertularioides. 54 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Trabalhos envolvendo a extração de PS de algas marinhas demonstram que as espécies vermelhas são bastante ricas em PS e que o rendimento também difere segundo a metodologia e a espécie utilizada. Extrações enzimáticas utilizando precipitação com CPC (M I) de PS das algas marinhas vermelhas Champia feldmanii (Torres, 2005), Solieria filiformis (Pontes, 2005) e espécies do gênero Halymenia (Rodrigues & Farias, 2006) apresentaram rendimentos bastante significativos (36,2; 46,8; 47,14 e 53,96%, respectivamente) quando daqueles obtidos da alga marinha verde C. racemosa (13%) por Rodrigues & Farias (2005) e da alga marinha parda Lobophora variegata (28,4%) (Alencar, 2007). Métodos ácidos são muito empregados para algas pardas (Chotigeat, Tongsupa, Supamataya & Phongdara, 2004) e os aquosos também têm sido amplamente utilizados pelo seu menor custo (Marinho-Soriano, 2001; Ghosh et al., 2004; Zhang et al., 2008). Os rendimentos obtidos pelos M I e M II de C. sertularioides foram bem menores que os trabalhos acima supracitados, mas semelhantes comparados a C. racemosa (Rodrigues & Farias, 2005), indicando talvez que o gênero seja pouco produtor de PS. O emprego de diferentes metodologias de extração (Villanueva, Pagba & Montano, 1997; Marinho-Soriano, 2001), a variação sazonal e a utilização de diferentes espécies (Levring, Hoppe & Schmid, 1969; Bird, 1988) influenciam no rendimento final. Neste trabalho, o decréscimo no rendimento (M I e M II) no decorrer das extrações de PS de C. sertularioides foi bastante semelhante quando comparado a outras espécies. Rodrigues & Farias (2006) observaram decréscimos no rendimento entre as extrações de PS de duas espécies vermelhas do gênero Haymenia utilizando o M I. A alga verde C. racemosa também teve o mesmo comportamento quando empregadas às duas metodologias de precipitação utilizadas para C. sertularioides. No entanto, a referida espécie diferiu quanto ao número de extratos obtidos. O aumento ou diminuição no rendimento também pode variar de espécie para espécie. Torres (2005) observou que o rendimento aumentou no decorrer do processo de otimização dos PS da alga marinha vermelha C. feldmanii, fato também observado por Pereira, Rodrigues & Farias (2006) e Alencar (2007), após estudos com duas espécies da divisão Phaeophyta. O estudo de diferentes métodos de extração de PS é justificado pelas propriedades espessantes e gelidificantes desses compostos, as quais lhes agregam considerável valor comercial (Glichsman, 1983). FRACIONAMENTO DOS PS Os perfis cromatográficos dos PS foram semelhantes entre os métodos. Na 1a extração (M I) foi separada cinco frações eluídas com 0,5; 0,7; 0,9; 1,2 e 1,4 M de NaCl, das quais a 0,9 e 1,2 M apresentaram as maiores metacromasias (Figura 2, A). Este comportamento praticamente se 55 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 manteve em comparação as 2a e 3a extrações (Figuras 2, B e C). O M II também apresentou cromatogramas semelhantes entre si (Figuras 2, D; E e F) e quando comparados ao M I, demonstrando a preponderância de apenas duas frações de PS nos diferentes extratos de C. sertularioides. Nas duas metodologias foi observada uma grande presença de carboidratos (Dubois), possivelmente em razão da extração de polissacarídeos neutros. O comportamento praticamente único nos perfis de PS de C. sertularioides foram diferentes daqueles mostrados por Rodrigues & Farias (2005), Rodrigues & Farias (2006) e Alencar (2007). A razão encontrada para as alterações marcantes nos cromatogramas das espécies Halymenia sp e L. variegata seria a possível extração de PS mais diferenciados, de certa forma comprovada, quando o grau de purificação dessas moléculas aumentou no decorrer do processo de extrações sucessivas. No entanto, como foi possível observar, a extração de PS de C. sertularioides resultou em semelhanças entre as extrações, demonstrando a eficiência dos métodos na precipitação do mesmo grupo de moléculas. Assim, tais semelhanças ou diferenças no fracionamento de PS de algas marinhas também seriam determinadas de espécie para espécie. ATIVIDADE ANTICOAGULANTE A espécie apresentou frações com atividade anticoagulante em ambos os métodos (Tabela 1). A fração eluída com 0,9 M de sal foi a mais ativa (M I e M II), prolongando o tempo de coagulação do plasma de 1,9 (1a extração) para 2,12 vezes na 2a extração no M I. No entanto, esta atividade reduziu-se significativamente para apenas 1,22 vezes na 3a extração, possivelmente pelo decréscimo da metacromasia. No M II, a atividade anticoagulante da referida fração também sofreu um decréscimo, muito semelhante ao M I, quando também a redução da metacromasia resultou na diminuição da atividade no decorrer das extrações. No entanto, as atividades das frações obtidas nos M I e M II foram inferiores a heparina. Esses resultados sugerem que é possível extrair frações com atividade anticoagulante diferenciadas, utilizando diferentes extrações do mesmo material. Tal fato também foi comprovado por Rodrigues & Farias (2005), quando duas diferentes frações obtidas na 4a extração (M II) exibiram significativas atividades anticoagulantes, prolongando em aproximadamente 6,5 vezes o tempo normal do plasma. Torres (2005) relatou que extrações sucessivas de PS utilizando os M I e M II obteve diferentes valores nos tempos de TTPA da espécie vermelha C. feldimanii. As maiores atividades anticoagulantes foram observadas em duas frações eluídas com 1,2 e 1,4 M de NaCl na 4a extração pelo método M I (CPC), prolongando os tempos de coagulação em cerca de 6,4 e 4,8 vezes, respectivamente. Esses fatos são importantes, já que todos os trabalhos que envolvem 56 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Figura 2 - Cromatografia em DEAE-celulose, por extração, dos polissacarídeos sulfatados obtidos pelos métodos I (A, B e C) e II (D, E e F) da alga marinha verde Caulerpa sertularioides. 57 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 extração de PS ou utilizam apenas uma extração ou reúnem os produtos obtidos de mais de uma extração para um único material. O uso da técnica de extrações sucessivas pode resultar na obtenção de PS diferenciados que expressem diferentes valores de atividade na busca de novos fármacos (Rodrigues & Farias, 2006). Tabela 1 - Atividade anticoagulante (TTPA) dos picos das frações obtidas no fracionamento dos PS (M I e M II) da alga marinha Caulerpa sertularioides em relação à heparina. 1a Extração Frações 2a Extração ** TTPA 3a Extração ** TTPA M II T1T0-1 ** TTPA NaCl (---) MI T1T0-1 MI T1T0-1 M II T1T0-1 M II T1T0-1 0,7 M 39,5 1,03 43,7 1,14 38,9 1,01 * * 41,9 1,09 * * 0,9 M 73,1 1,90 70,0 1,82 81,3 2,12 55,2 1,44 47,2 1,23 48,7 1,27 1,2 M 45,3 1,18 48,8 1,27 51,6 1,34 48,4 1,26 46,8 1,22 43,3 1,13 1,4 M * * * * 46,2 1,20 * * 45,8 1,19 * * 1,6 M * * * * 46,7 1,21 48,0 1,25 * * 49,1 1,28 Plasma 38,4 s Heparina 1 µL (> 240 s) / T1 T0-1 (> 6,25) MI T1T0-1 Resultados da média de duas determinações; * Valores não determinados; ** TTPA em segundos; Essa diferenciação na atividade poderá ser melhor entendida através da elucidação dos mecanismos de ação envolvidos na coagulação e também através da caracterização estrutural desses polímeros. Farias, Valente, Pereira & Mourão (2000) reportaram acentuada atividade anticoagulante de uma D-galactana sulfatada extraída da alga marinha vermelha B. occidentalis. A atividade foi mediada pela inibição da trombina via antitrombina e cofator II da heparina. Além disso, esse polissacarídeo também apresentou uma potente atividade antitrombótica em ratos, quando a dose de 0,2 mg kg-1 expressou seu efeito máximo pelo modelo intravenoso (Farias, Nazareth & Mourão, 2001), demonstrando que um mesmo composto pode exibir diferentes atividades biológicas. Recentemente, Zhang et al. (2008) mostraram que PS extraídos da alga marinha verde M. latissimum exibiram diferentes efeitos anticoagulantes quando o tamanho molecular foi reduzido, indicando que a atividade também pode ser determinada pelo tamanho do composto na inibição mais efetiva da trombina. A determinação estrutural dessas moléculas é uma estratégia para elucidar o efeito anticoagulante (Farias, Valente, Pereira & Mourão, 2000). 58 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Assim, a otimização do rendimento pela utilização de dois métodos de precipitação de PS da alga marinha verde C. sertularioides resultou em frações com atividade anticoagulante. CONCLUSÕES A alga marinha verde Caulerpa sertularioides apresentou um baixo potencial anticoagulante. No entanto, as metodologias empregadas para precipitação dos polissacarídeos sulfatados resultaram em perfis comparativamente semelhantes. Desta forma, a utilização de apenas etanol seria uma forma mais econômica de obtenção desses compostos para avaliação de outras atividades biológicas. AGRADECIMENTOS Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro para a realização desta pesquisa. REFERÊNCIAS Alencar, D.B. (2007). Extração, purificação e atividade anticoagulante de polissacarídeos sulfatados da alga marinha parda Lobophora variegata. [Monografia de Graduação). Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará. Anderson, L.O., Barrowcliffe, T.W., Holmer, E., Johnson, E.A. & Sims, G.E.C. (1976). Anticoagulant properties of heparin fractionated by affinity chromatography on matrix-bound antithrombin-3 and by gel-filtration. Throm. Resear. 9(6): 575-583. Aquino, R.S., Landeira-Ferdandez, A.M., Valente, A.P., Andrade, L.R. & Mourão, P.A.S. (2005). Occurence of sulfated galactans in marine angiosperms: evolutionary implications. Glycobiol. 15(1): 11-20. Athukorala, Y., Lee, K.W., Kim, S.K. & Jeon, Y.J. (2007). Anticoagulant activity of marine green and brown algae collected from Jeju Island in Korea. Biores. Technol. 98(9): 1711-1716. Athukorala, Y., Jung, W.K., Vasanthan, T. & Jeon, Y.J. (2006). An anticoagulante polysaccharide from an enzymatic hydrolysate of Ecklonia cava. Carbohyd. Polym. 66(2): 184-191. Bird, K.T. (1988). Agar production and quality from Gracilaria sp. strain G-16: effects of environmental factors. Bot. Mar. 31: 33-39. 59 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Cássaro, C.M.F. & Dietrich, C.P. (1977). Distribution of sulfated mucopolysaccharides in vertebrates, Bethesda. Jour. Biol. Chem. 252(7): 2254-2261. Chargaff, F., Bancroft, F.W. & Stanley-Brown, M. (1936). Studies on the chemistry of blood coagulation II. On the inhibition on blood clotting by substances high molecular weight. Jour. Biol. Chem. 115:155-161. Chotigeat, W., Tongsupa, S., Supamataya, K. & Phongdara, A. (2004). Effect of fucoidan on disease resistance of black tiger shrimp. Aquac. 233(1-4): 23-30. Dubois, M., Gilles, K.A., Hamilton, J.K., Rebers, P.A. & Smith, F. (1956). Colorimetric method for determination of sugars and related substances. Anal. Chem. 28(3): 350-356. Doutremepuich, C., Azougagh Oualane, F. Doutremepuich, F. & Fareed, J. (1996). New class of heparin derivates with a potent antithrombotic effect and a very limited hemorrhagic activity. Throm. Resear. 83(3): 217-228. Dietrich, C. P., Farias, G. G. M., Abreu, L. R. D., Leite, E. L., Silva, L. F. & Nader, H. B. (1995). A new approach for characterization of polysaccharides from algae: Presence of four main acidic polysaccharides in three species of the class Phaeophycea. Plan. Scien. 108(2): 143-153. Di Rosa, M. Biological properties of carrageenan. (1972). Jour. Pharm. Pharm. 24(2): 89-102. Farias, W.R.L., Nazareth, R.A. & Mourão, P.A.S. (2001). Dual effects of sulfated D-galactans from the red alga Botryocladia occidentalis preventing thrombosis and inducing platelet aggregation. Throm. Haem. 86(6): 1540-1546. Farias, W.R.L., Valente, A.P., Pereira, M, S. & Mourão, P.S. (2000). Structure and anticoagulant activity of sulfated galactans. Isolation of a unique sulfated galactan from the red algae Botryocladia occidentalis and comparison of its anticoagulante action with that of sulfated galactans from invertebrates. The Jour. Biol. Chem. 275 (38): 29299-29307. Ghosh, P., Adhikari, U., Ghosh, P.K., Pujol, C.A., Carlucci, M.J., Damonte, E.B. & Ray, B. (2004). In vitro anti-herpetic activity of sulfated polysaccharide fractions from Caulerpa racemosa. Phytochem. 65(23): 3151-3157. Glicksman, M. (1983). Food hydrocolloids. Natural plant exudates – seaweed extracts. Baton Raton: CRC Press. 60 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Haroun-Bouhedja, F., Mostafa, E., Sinquin, C. & Boisson-Vidal, C. (2000). Relation between sulfate groups and biological activities of fucans. Thromb. Resear. 100(5): 453-459. Hussein, M.M.D., Helmy, W.A. & Salem, H.M. (1998). Biological activities of some galactomannans and their sulfated derivatives. Phytochm. 48(3): 479-484. Hoek, C.V.D., Mann, D.G., Jahns, H.M. (1995). Algae an introduction to phycology. Cambridge: Cambridge University Press. Joly, A.B. (1965). Flora marinha do litoral norte do estado de São Paulo e regiões circunvizinhas. São Paulo. Kjellén, M. & Lindahl, U. (1991). Proteoglycans: Structures and interactions. Ann. Rev. Biochem. 60:443-475. Levring, T., Hoppe, H.A. & Schmid, O.J (Eds) (1969). Marine algae. A survey of research and utilization. Botanical Marine Handbook. Marinho-Soriano, E. (2001). Agar polysaccharides from Gracilaria species (Rhodophyta), Gracilariaceae). Jour. Biotech. 89(1): 81-84. Mathews, M.B. (1975). Polyanionic proteoglycans. In: G. F. Kleinzeller, G. F. Springer. & H. G. Witmann (Eds). Connective tissue: macromolecular structure and evolution (pp.93-125). Berlin (GER): Ed. Springer-Verlaq. Matsubara, K., Matsuura, Y., Basic, A., Liao, M.L., Hori, K. & Miyazawa, K. (2001). Anticoagulant properties of a sufated galactan preparation from a marine green alga, Codium cylindricum. Biol. Macrom. 28(5): 395-399. Painter, T.J. (1983). Algal polysaccharides. In: T.J. Painter (Ed). The polysaccharides (pp.195). New York (EUA): Ed. Academic Press. Percival, E & Macdowell, R.H. (1967). Chemistry and enzymology of marine algal polysaccharides. New York: Academic Press. Pereira, M.G., Benevides, N.M.B., Melo, M.R.S., Valente, A.P., Melo, F.R. & Mourão, P.A.S. (2005). Structure and anticoagulant activity of a sulfated galactan from red alga, Gelidium crinale. Is there a specific structural requirement for the anticoagulant action?. Carbohyd. Resear. 340 (12): 2015-2023. 61 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Pereira, A.P., Rodrigues, J.A.G., Farias, W.R.L. (2006). Extração e otimização de rendimento dos polissacarídeos sulfatados da alga marinha parda Sargassum sp. In: Encontro de Iniciação Científica e Tecnológica do Cefet (pp. 00-00). CD-Room do ENICIT, 6. Pontes, G.C. (2005). Extração, fracionamento, purificação e atividade biológica dos polissacarídeos sulfatados da alga marinha vermelha Solieria filiformis (Solieraceae, Rhodophyta) [Monografia de Graduação]. Fortaleza (CE). Universidade Federal do Ceará. Rodrigues, J.A.G. & Farias, W.R.L. (2006). Estudo comparativo de polissacarídeos sulfatados em duas espécies de algas marinhas do gênero Halymenia – extração, isolamento e purificação. In: Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação do Cefet (pp. 00-00). Fortaleza: CD-Room do ENPPG, 11. Rodrigues, J.A.G. & Farias, W.R.L. (2005). Extração, fracionamento, purificação e atividade anticoagulante dos polissacarídeos sulfatados da alga marinha verde Caulerpa racemosa (Caulerpales, Chlorophyta). In: Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca (pp. 1693-1701). Fortaleza: CD-Room do CONBEP, 14. Sze, P. (1997). A biology to the algae. New York: McGraw-Hill. Teixeira, V.L. (2002). Produtos naturais marinhos. In: R. C. Pereira & A. Soares-Gomes (Ed.). Biologia Marinha (pp.249-279). Rio de Janeiro (RJ): Ed. Interciência. Thomas, D.P. (1997). Does low molecular weight heparin cause less bleeding?. Throm. Haem. 78(6): 1422-1425. Torres, V.M.T. (2005). Extração, purificação e atividade anticoagulante de polissacarídeos sulfatados da alga marinha vermelha Champia feldmannii [Monografia de Graduação]. Fortaleza (CE). Universidade Federal do Ceará. Villanueva, R.D., Pagba, C.V. & Montano, N.E. (1997). Optimized agar extraction from Gracilaria eucheumoiodes Harvey. Bot. Mar. 40: 369-372. Weitz, J. (1994). New anticoagulant strategies. Current status and future potentials. Dru. 48: 485497. Zhang, H.J., Mao, W.J., Fang, F., Li, H.Y., Sun, H.H., Chen, Y. & Qi, X.H. (2008). Chemical Characteristics and anticoagulant activities of a sulfated polysaccharide and its fragments from Monostroma latissimum. Carbohyd. Polym. 71(3): 428-434.D 62 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 AGREGANDO VALOR AO PESCADO DE ÁGUA DOCE: DEFUMAÇÃO DE FILÉS DE JUNDIÁ (Rhamdia quelen) ADDING VALUE TO FRESHWATER FISH: SMOKING FILLETS OF JUNDIÁ Alex Augusto GONÇALVES1*; Renata CEZARINI2 1 Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2 Engenheira de Alimentos – Universidade do Vale do Rio dos Sinos. * Email: [email protected] Recebido em: 7 de novembro de 2007 Resumo - Este trabalho teve, como principal objetivo, elaborar um produto defumado a base de peixe, tomando como referência o Jundiá, peixe de água doce, abundante na Região Sul do Brasil. As formas de defumação abordadas neste trabalho foram: defumação tradicional e defumação líquida. A matéria-prima e o produto final foram analisados microbiologicamente de acordo com a legislação vigente, estando em conformidade com os parâmetros exigidos. Foi realizada uma análise sensorial de aceitação do produto final, a qual obteve uma diferença significativa entre os dois métodos de defumação empregados. O produto que obteve as melhores notas foi o defumado com fumaça líquida. Foram realizadas análises físico-químicas (umidade, proteína, lipídio e cinza). O pescado defumado tradicionalmente obteve um rendimento de 18,3% com teores de umidade (57,35±1,21%), cinza (3,62±0,37%), proteína (28,91±0,93%) e lipídio (2,71±0,25%), já o pescado defumado com aroma de fumaça obteve um maior rendimento (20,32%), com teores de: umidade (58,94±0,20%), cinza (3,58±0,07%), proteína (31,64±1,07%) e lipídio (2,73±0,29%). Os resultados obtidos comprovam a viabilidade da defumação do Jundiá. Palavras-chave: jundiá, defumação, defumação líquida Abstract - The objective of the work was to elaborate a smoked fish with Rhamdia quelen (also known as ‘Jundiá’), a fresh water’s fish, abundant in the south of Brazil. The smoke types of smoking considered in this work were: traditional smoking and liquid smoking. The raw material and the final product were analyzed microbiologically according to current legislation, and were in conformed to the required parameters. A sensorial analysis of acceptance was made, which obtained a significant difference between the two smoking process as used. The product that obtained the best grades was the liquid smoking process. Physical-chemical analyses were performed (moisture, protein, lipid and ash). The traditionally smoked fish obtained a yield of 18,3% with moisture content (57,35±1,21%), ash (3,62±0,37%), protein (28,91±0,93%) and lipid (2,71±0,25), while the liquid smoked fish obtained a higher yield (20,32%), with moisture content (58,94±0,20%), ash (3,58±0,07%), protein (31,64±1,07%) and lipid (2,73±0,29%). The results confirm the viability of jundiá smoking process. Key-words: jundiá, smoking, liquid smoking 63 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 INTRODUÇÃO Em nosso país, a exploração e uso do pescado não alcançam os benefícios nutricionais e econômicos que deles se espera. Uma alternativa para dar acesso ao pescado e melhorar os níveis nutricionais da população é propiciar o consumo de produtos curados, cujo custo de produção é baixo comparado a outras formas de conservação (Gonçalves & Prentice-Hernández, 1998a; Oetterer, 1998). A defumação de peixes é empregada com finalidades preservativas, bem como para obtenção de um produto característico por suas qualidades sensoriais sui generis, de excelente palatabilidade. O método de geração de fumaça e do processo de defumação utilizado tem uma grande influência nas características sensoriais do produto final (Horner, 1992; Gonçalves, 1998; Hattula et al., 2001; Sérot et al., 2004; Cardinal et al., 2006). A defumação de alimentos por meio de aspersão de fumaça (defumação convencional) está sendo substituída cada vez mais pelo emprego do aroma líquido de fumaça (fumaça líquida), principalmente pela ausência de compostos cancerígenos e pelo mesmo perfil aromático da fumaça tradicional. O âmbito de aplicação das fumaças líquidas é muito amplo, podendo-se estender por sua grande versatilidade, a uma grande variedade de alimentos que tradicionalmente não se defumam, como os peixes de água doce (Gonçalves & Prentice-Hernández, 1998a; 1999a; 1999b; Hattula et al., 2001; Sérot et al., 2004; Goulas & Kontominas, 2005; Stołyhwo & Sikorski, 2005). No Brasil segundo Valenti, Poli & Pereira (2000) e Ferreira et al. (2002), o pescado de água doce é comercializado predominantemente in natura, fresco, eviscerado e muito pouco na forma de filé ou industrializado. Nas regiões centro-oeste, sudeste e sul do país, o principal canal de comercialização dos peixes produzidos em cativeiro ainda é os pesqueiros particulares com venda direta ao consumidor (90%), e apenas 10% passam por algum processo de industrialização. Entretanto, as perspectivas atuais apontam para um aumento na comercialização de pescado in natura na forma de filé resfriado ou congelado e o aumento no consumo de produtos industrializados, pois atualmente a sociedade dispõe de pouco tempo ao preparo de refeições (Valenti; Pereira, 2000; Ferreira et al., 2002). No entanto, outros processos podem ser propostos, como a defumação, que ao conferir características sensoriais ao produto, pode agregar-lhe valor. São necessárias para isso, investigações quanto à adequação do processo em relação à matéria-prima e à qualidade do produto final (Szenttamásy et al, 1993; Cardinal et al., 2001; Ferreira et al., 2002; Souza et al, 2005). Segundo Emerenciano, Souza & Franco (2007) além de o processo de defumação incrementar as características sensoriais do pescado, também agrega valor ao produto, propiciando 64 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 maior viabilidade econômica ao produtor. Peixes defumados estão entre os produtos que apresentam maior facilidade no preparo e utilização, podendo ser encontrados nos mercados em diversas formas. Os peixes de porte pequeno normalmente são defumados inteiros eviscerados e, os maiores, em filés espalmados e ainda em pedaços ou partes, posta ou tronco limpo, sendo os cortes com ou sem pele (Oetterer, 2002; Souza et al., 2004; Souza et al, 2005). O jundiá, Rhamdia quelen, é um Siluriforme de hábito alimentar onívoro, encontrado desde o sul do México até a Argentina, que apresenta uma carne de sabor agradável e bem aceita pelos consumidores. No Brasil, sua criação está mais concentrada nos estados da região sul, principalmente no RS (Gomes et al., 2000; Lazzari et al., 2006). A idéia para a realização desta pesquisa surgiu da constatação do pouco uso do processo de defumação no que se refere aos peixes de água doce. A escolha da espécie de jundiá (Rhamdia quelen) justifica-se por ser uma espécie com vasta difusão geográfica e que tem despertado grande interesse nos piscicultores da região Sul do Brasil, pela sua resistência às baixas temperaturas, além de ser considerada saborosa, não possuindo espinhas intramusculares (Mezzalira & Fiorese, 1997; Carneiro et al., 2002; Fracalossi et al., 2004; Lazzari et al., 2006). Assim, o objetivo deste trabalho foi elaborar um produto de valor agregado, a partir de um peixe de água doce, abundante na região sul do país. MATERIAL E MÉTODOS ELABORAÇÃO DO PRODUTO DEFUMADO A matéria-prima utilizada foi o jundiá, Rhamdia quelen (Figura 1), comercializada na cidade de Porto Alegre, RS. Figura 1 - O jundiá, Rhamdia quelen. Foram realizados dois tipos de defumação: a tradicional que é feita com a queima da serragem e a defumação líquida, utilizando aroma líquido de fumaça fornecido pela ADICON Indústria e Comércio de Aditivos Ltda., São Bernardo do Campo, SP. A fumaça líquida apresentava as seguintes características físico-químicas: acidez total (ácido acético 14-16%), compostos de aroma de fumaça (15-22 mg/ml), carbonilos (17-22%) e densidade (1,12 kg/l). 65 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 O processo de defumação líquida do jundiá baseou-se na metodologia desenvolvida por Gonçalves (1998). Um esquema representativo do processamento está demonstrado na Figura 2. Figura 2 - Fluxograma da elaboração de pescado defumado. 66 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Os exemplares de jundiá inteiros foram lavados em água corrente para a retirada de sujidades que poderiam estar presentes e pesados. Em seguida procedeu-se a evisceração e o corte na forma de filés espalmados com pele e novamente pesados. Os filés foram lavados novamente em água corrente para a retirada do sangue, imersos em salmoura a 3% de NaCl, na proporção 1:1, durante 5 minutos, sob agitação manual, para uma remoção mais efetiva do sangue, de acordo com Machado (1994) e Morais et al. (1996). Os filés espalmados foram imersos em salmoura (20% NaCl) na proporção de 2:1 (salmoura:peixe) durante 15 minutos sob agitação. Após essa operação lavou-se novamente o peixe, com a finalidade de retirar o excesso de sal que ficou depositado na superfície dos filés, uma vez que o paladar fica prejudicado quando há concentração elevada de sal. Os filés salgados, previamente pesados, foram conduzidos para a estufa de defumação, com circulação forçada de ar (> 0,5 m/s) e submetidos por 45 minutos à pré-secagem sob temperatura de 54°C, o que permitiu a eliminação do excesso de umidade na superfície do filé e a formação de uma superfície insaturada, o que poderia favorecer uma maior velocidade de difusão da fumaça líquida no músculo do pescado e uma deposição homogênea dos compostos da fumaça (método convencional), formando uma superfície brilhante durante o processo de defumação (Rodrigues & Tobinaga, 1996; Gonçalves, 1998). Concluída a secagem, para a defumação tradicional, foi acionada a circulação de fumaça, com velocidade alternando entre 1.500 e 3.000 trs/min., seguindo a programação pré-estabelecida pelo fabricante da estufa. A temperatura durante essa etapa foi aumentada para 71°C e mantida por mais 45 minutos. Por fim, a temperatura da estufa foi elevada para 82°C na qual permaneceu por 2h30 minutos. Já para o processo de defumação utilizando fumaça líquida, depois da pré-secagem a fumaça líquida (20% v/v), de acordo com metodologia descrita por Gonçalves (1998) foi aplicada com a utilização de um borrifador numa concentração de 20% até que toda a superfície dos filés estivesse umedecida. Esse procedimento se repetiu quando a temperatura foi, então, elevada para 82°C. Após a defumação os filés foram resfriados em temperatura ambiente, pesados, embalados à vácuo e armazenados sob refrigeração (5°C) até o momento das análises físico-químicas, microbiológicas e sensorial (o qual não ultrapassou 8 horas). CÁLCULO DO RENDIMENTO Segundo Souza, Viegas & Kronka (1999), Cardinal et al. (2001) e Carneiro et al. (2004), a obtenção de valores referentes ao rendimento dos diversos produtos gerados a partir do processamento mínimo das diferentes espécies de peixe é de grande importância para as empresas. 67 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 O conhecimento da proporção de matéria-prima que será transformada em produto final para a comercialização é de suma importância, pois permite o planejamento logístico da produção e os cálculos para a avaliação produtiva da empresa e determinação do preço do produto. Foram calculados os rendimentos nas seguintes etapas: i) Filetagem: pela relação entre os pesos dos peixes inteiros e seus filés espalmados; ii) Salmouragem: pela relação entre os pesos dos peixes inteiros e depois da salga; iii) Defumação: pela relação entre os pesos dos peixes inteiros e depois de passar pelos processos de defumação líquida ou tradicional. ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS As análises físico-químicas (umidade, proteína, lipídio e cinzas) no pescado in natura, e do produto final defumado foram realizadas conforme as normas oficiais do Instituto Adolfo Lutz (1985). ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS De acordo com a resolução da ANVISA – RDC no 12/2001, as análises microbiológicas obrigatórias para pescado in natura são: Estafilococos coagulase positiva/g e Salmonella sp/25g (Brasil, 2001). Com o objetivo de comparar os parâmetros microbiológicos da matéria-prima com os do produto defumado, também foi realizada a análise de Coliformes a 45°C/g, de acordo com metodologia descrita por Silva et al. (2007). ANÁLISE SENSORIAL Para verificar a aceitabilidade e medir o nível de satisfação do consumidor do pescado defumado pelo método tradicional e defumação líquida, utilizou-se o método afetivo mediante escala hedônica de nove pontos (Figura 3), que variava de gostei muitíssimo (9 pontos) a desgostei muitíssimo (1 ponto), segundo metodologia indicada por Dutcosky (1996). Para esta análise foram utilizados painelistas não treinados, realizada com funcionários, professores e alunos da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, totalizando 30 painelistas não treinados. Os painelistas receberam as amostras aquecidas para a degustação. O preparo da amostra seguiu o fluxograma mostrado na Figura 4. TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS RESULTADOS Os resultados da avaliação sensorial, físico-química e cálculo dos rendimentos foram analisados estatisticamente, através da análise descritiva de dados (média ± desvio padrão) seguido da análise de variância (ANOVA), com nível de significância de 95% (p < 0,05). 68 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Avalie cada amostra usando a escala abaixo para descrever o quanto gostou ou desgostou dos produtos 1- Desgostei Muitíssimo 2- Desgostei Muito 3- Desgostei Regularm ente 4- Desgostei Ligeiram ente 5- Indiferente 6- Gostei Ligeiram ente 7- Gostei Regularm ente 8- Gostei muito 9- Gostei Muitíssimo AMOSTRA A B VALOR Com entários: Figura 3 - Ficha de Escala Hedônica. Figura 4 - Fluxograma do preparo da amostra para análise sensorial. 69 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 RESULTADOS E DISCUSSÃO RENDIMENTO DO JUNDIÁ DEFUMADO Os pesos do pescado e os rendimentos obtidos nas diferentes etapas do processamento são mostrados nas Tabelas 1 e 2. Na literatura são encontrados dados de rendimento de filé com pele e sem pele (peixes água doce) 56,65% e 46,17%, respectivamente, quando relacionado com o peso bruto do peixe (Contreras-Guzmán, 1994; Souza & Maranhão, 2001). Neste trabalho, o jundiá apresentou um rendimento geral para filés com pele de 40,99±4,14 %, ficando abaixo do intervalo citado na literatura. Isso pode ser causado pelo fato do filetador não ter experiência e/ou destreza nessa operação unitária. Tabela 1 - Pesos (kg) e os Rendimentos (%) dos peixes após as etapas do processamento de defumação tradicional. Peça Pi Pf Rf Ps Rs Pfd Rfd 10 796,70 329,80 41,40 341,20 42,83 130,80 16,42 11 823,70 375,50 45,59 382,30 46,41 183,40 22,27 12 839,60 376,30 44,82 383,10 45,63 199,10 23,71 13 625,90 255,00 40,74 261,80 41,83 122,90 19,64 14 633,20 266,10 42,02 275,00 43,43 113,10 17,86 15 718,10 318,00 44,28 327,40 45,59 127,90 17,81 16 683,20 289,00 42,30 297,70 43,57 130,80 19,15 17 548,60 211,30 38,52 216,30 39,43 95,00 17,32 18 626,80 290,10 46,28 297,00 47,38 155,30 24,78 19 512,90 253,40 49,41 259,50 50,59 130,00 25,35 Média 678,81 295,44 43,52 303,07 44,65 137,00 20,32 Desvio ± 107,14 ± 51,14 ± 3,00 ± 51,79 ± 0,03 ± 30,33 ± 0,03 Pi: peso do peixe inteiro; Pf: peso dos filés espalmados; Ps: peso dos filés salgados; Pfd: peso dos filés defumados pelo processo de defumação líquida; Rf: rendimento dos filés com pele; Rs: Rendimento dos filés salgados; Rfd: rendimento dos filés defumados pelo processo de defumação líquida. 70 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Tabela 2 - Pesos (kg) e os Rendimentos (%) dos peixes após as etapas do processamento de defumação com fumaça líquida. Peça Pi Pf Rf Ps Rs Pfd Rfd 01 745,10 273,50 36,71 282,60 37,93 108,10 14,51 02 530,50 198,80 37,47 206,30 38,89 83,00 15,65 03 941,40 379,00 40,26 381,86 40,56 203,20 21,58 04 786,20 327,50 41,66 334,00 42,48 171,70 21,84 05 819,60 288,60 35,21 293,10 35,76 137,90 16,83 06 825,60 280,70 34,00 289,30 35,04 180,60 21,88 07 596,90 236,00 39,54 246,70 41,33 103,90 17,41 08 570,70 201,70 35,34 202,50 35,48 87,50 15,33 09 658,20 285,30 43,35 292,50 44,44 126,30 19,19 Média 727,00 249,70 37,52 279,55 38,43 134,49 18,13 ± 61,49 ± 2,72 ± 61,06 ± 2,86 ± 45,88 ± 3,14 Desvio p. ± 145,44 Pi: peso do peixe inteiro; Pf: peso dos filés espalmados; Ps: peso dos filés salgados; Pfd: peso dos filés defumados pelo processo de defumação líquida; Rf: rendimento dos filés com pele; Rs: Rendimento dos filés salgados; Rfd: rendimento dos filés defumados pelo processo de defumação líquida. De acordo com as Tabelas 1 e 2, os valores para os rendimentos de filés com pele estão um pouco acima dos rendimentos encontrados por Carneiro, Mikos, Bendhack (2003) e Carneiro, Mikos, Bendhack & Ignácio (2004), que obtiveram um rendimento médio de 34,75% para filés de jundiá com pele (com peso inicial de 701 a 800g). Cabe ressaltar que o rendimento do peixe depende da estrutura anatômica, ou seja, peixes de cabeça grande em relação à sua musculatura apresentam menor rendimento de filés comparados com aqueles que possuem cabeça pequena. Isto pôde ser observado por Souza e Marengoni (1998) e Souza e Maranhão (2001), que relatam que o rendimento de filé da tilápia do Nilo foi de 38,54%, enquanto para o bagre africano foi de 32,83%, a diferença está relacionada com o formato de peixe em relação ao tamanho da cabeça. Ribeiro et al. (1998) analisaram o efeito do peso e a destreza do operador sobre o rendimento de filé em tilápia vermelha e concluíram que houve diferença significativa, pois um operador produziu filés com um rendimento de 30,00% comparado a outro, com 33,42%. Segundo Carneiro, Mikos, Bendhack & Ignácio (2004) a eficiência na retirada dos filés depende da destreza do manipulador, que deve ser treinado para realizar a tarefa com rapidez e sem perdas. Portanto, também não podem ser excluídos os fatores ligados ao processo de filetagem quando comparado os dados desse trabalho com os dados da literatura. 71 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Houve uma considerável perda de peso durante os processos de defumação, e segundo Souza et al. (2004) essa perda de peso ocorrida, é provavelmente devido a desidratação ocorrida durante o processo de defumação. A média do ganho de peso entre os filés in natura e os filés salgados foi de 2,53±0,99% o que corrobora com os rendimentos citados na literatura, que varia de 3-8%, e não há diferença significativa entre o rendimento dos filés in natura e o rendimento dos filés salgados (p = 0,45), mostrando que o processo praticamente não agregou peso ao produto, apenas melhorou o valor sensorial do mesmo. ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS Os valores encontrados nas análises (físico químicas de umidade, cinzas, proteínas e lipídeos) estão apresentados nas Tabela 3. Através da análise estatística observou-se que a umidade, cinzas, proteínas e lipídeos do pescado in natura diferiram estatisticamente das obtidas no pescado defumado tradicionalmente e do pescado defumado com fumaça líquida. Porém na comparação entre os produtos defumados, não houve diferença significativa. Tabela 3 - Resultados das análises físico-químicas. Média ± Desvio Padrão (n=3) ANÁLISE Umidade % Cinzas % Proteínas % Lipídeos % Jundiá in natura 71,13 ± 0,58a 2,55 ± 0,06a 14,67 ± 0,41a 2,38 ± 0,23a Jundiá defumado tradicionalmente 57,35 ± 1,21b 3,62 ± 0,37b 28,91 ± 0,93b 2,71% ± 0,25b Jundiá defumado com fumaça líquida 58,94 ± 0,20b 3,58 ± 0,07b 31,64 ± 1,07b 2,73 ± 0,29b *Letras diferentes na mesma linha: diferença significativa (p<0,05) Os produtos defumados tradicionalmente apresentaram teores de umidade inferiores ao recomendado por Morais et al. (1996) que é de 65%. No entanto, sua consistência foi boa visto que foi aprovado sensorialmente (Tabela 5). Já os produtos defumados com fumaça líquida foram semelhantes aos encontrados por Morais et al. (1996) que encontraram para truta defumada com fumaça líquida, teores de 58,35%, e aos encontrados por Gonçalves (1998) para anchova defumada com fumaça líquida (59,79%). O acréscimo de proteína, lipídeos e cinzas, observados nos filés defumados (Tabela 3) em relação ao in natura, é decorrente da desidratação muscular ocorrida, em função da defumação, de acordo com Gonçalves (1998). Segundo Gonçalves e Pentice-Hernãndez (1999a; 1999b) o aumento 72 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 nos teores de cinzas ocorre também devido à incorporação de cloreto de sódio durante a salmouragem. ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS Os resultados das análises microbiológicas, obtidos nos filés de jundiá in natura e nos produtos finais defumados, comparados com os limites estabelecidos pela legislação brasileira (BRASIL, 2001), estão apresentados na Tabela 4. Tabela 4 - Resultados e limites das análises microbiológicas. ANÁLISES REALIZADAS Jundiá in natura Defumado tradicionalmente Defumado com fumaça líquida RDC n° 12, ANVISA, 2001 Coliformes a 45°C/g (NMP/g) Estaf.coag. positiva/g (UFC/g) Salmonella sp em 25g Coliformes a 45°C/g (NMP/g) Estaf.coag. positiva/g (UFC/g) Salmonella sp em 25g < 0,03 < 102 Ausência - 5x102 Ausência < 0,03 0 Ausência 10 102 Ausência < 0,03 0 Ausência 10 102 Ausência Houve ausência de coliformes, no teste presuntivo de coliformes totais não houve formação de gás no caldo Lauril Sulfato Triptose (LST) nas diluições 10-1, 10-2e 10-3, indicando que o peixe foi manuseado corretamente após a captura, local esse que não deveria estar contaminado, e que foram adotadas medidas eficazes de higiene durante o processo de limpeza e filetagem, qualificando-o como apto para o consumo e posterior processamento. Durante o processo de evisceração não ocorreu rompimento das vísceras, o que impediu a migração dos coliformes do intestino para o músculo do peixe, e também não houve uma contaminação durante a manipulação. Na análise de Staphylococcus não foram constatadas colônias típicas em placa de Agar Baird Parker (BP), indicando que o procedimento de limpeza e filetagem no pescado in natura foram feitos de forma adequada, e a sua ausência no pescado defumado demonstrou a adoção de bons procedimentos de higiene no processo como um todo, uma vez que o Staphylococcus é geralmente transmitido pelo manipulador principalmente através da saliva e secreções. Já na análise realizada para a detectação de Salmonella foram detectadas colônias típicas no pescado in natura, no Agar Sulfito de Bismuto (SS), porém nos testes bioquímicos foram constatadas que as colônias não eram Salmonella. No pescado defumado não foram detectadas 73 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 colônias típicas no Agar SS. Esses resultados corroboram com dados encontrados para truta defumada (Leoni & Moriggi, 1996) e anchova defumada (Gonçalves, 1998). O efeito preservativo da defumação é mencionado, segundo Gonçalves & PrenticeHernández (1998a) e Basti et al. (2006) como sendo devido a combinação dos seguintes fatores: secagem da supefície; processo de salga; e deposição de substâncias fenólicas antimicrobianas e antioxidantes. Os resultados microbiológicos atestam que alguns desses fatores, associado aos procedimentos de higiene durante todo processo podem ter contribuído para os baixos índices microbiológicos (inferiores ao permitido pela legislação). ANÁLISE SENSORIAL Biato (2005) demonstrou que os provadores preferiram as tilápias defumadas à in natura, quanto ao sabor e odor, reforçando assim à aceitabilidade do pescado defumado. Tabela 5 - Distribuição das freqüências das notas atribuídas pelos painelistas. Notas Filé defumado tradicionalmente Freqüência (%) Filé defumado com fumaça líquida Freqüência (%) 0 3 3 3 27 30 17 17 0 0 0 0 0 3 3 20 54 20 1 - Desgostei muitíssimo 2 - Desgostei muito 3 - Desgostei regularmente 4 - Desgostei ligeiramente 5 - Indiferente 6 - Gostei ligeiramente 7 - Gostei regularmente 8 - Gostei muito 9 - Gostei muitíssimo Os resultados obtidos, no teste de aceitação, verificados através da distribuição das pontuações (Tabela 5) mostraram que ambas as amostras foram aceitas pelos painelistas, visto que a distribuição das notas encontra-se acima da nota 5, que corresponde ao conceito indiferente, mostrando ainda, que as amostras, independente do processo de defumação, foram aceitas conforme já verificado por Gonçalves (1998) e Gonçalves & Prentice-Hernández (1999a). O pescado defumado tradicionalmente obteve uma média de 5,93 ± 1,46 (Tabela 6) o que corresponde, entre o conceito “indiferente” e “gostei ligeiramente”, estando mais próxima do conceito “gostei ligeiramente”. O jundiá defumado com fumaça líquida, possui uma média de 7,83 ± 0,91 podendo ser atribuído o conceito entre “gostei regularmente” e “gostei muito”. 74 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Tabela 6 - Média ± desvio padrão das notas atribuídas na análise sensorial (n = 30). Notas Filé defumado tradicionalmente Média ± desvio padrão Filé defumado com fumaça líquida Probabilidade* 5,93 ± 1,46 0,00000016198 7,83 ± 0,91 * Diferença significativa se p < 0,05 A análise estatística demonstrou que houve diferença significativa (p < 0,05), no que se refere à aceitação dos produtos elaborados, sendo que o jundiá defumado com fumaça líquida obteve melhor aceitação. Estes valores estão bem próximos aos encontrados por Gonçalves (1998), mostrando a viabilidade do uso da fumaça líquida. Morais et al (1996) encontrou em seus estudos que a qualidade sensorial da truta defumada com fumaça líquida foi melhor do que com a defumação tradicional. No entanto, o mesmo não ocorreu nos estudos de Hattula et al. (2001), pois não encontraram diferença significativa entre filés de trutas defumadas tradicionalmente e com fumaça líquida. Essa diferença pode estar relacionada ao tipo e a concentração de fumaça líquida utilizada, conforme comentam, em suas conclusões, Sérot et al. (2004) e Cardinal et al. (2006). CONCLUSÕES Peixes defumados podem constituir uma parte importante e significativa da dieta humana, por causa da sua desejável propriedade sensorial e alto valor nutritivo. Verificou-se que é possível agregar valor ao jundiá, utilizando as técnicas de defumação tradicional e líquida. A aplicação por aspersão de fumaça líquida na concentração de 20% (v/v), sobre os filés de jundiá, apresentou uma boa aceitação na análise sensorial. A baixa carga microbiana no produto final mostrou boa higiene durante o processamento, indicando uma qualidade microbiológica aceitável. O balanço de massa executado ao longo do processo mostrou que um rendimento em torno de 40% até chegar ao produto final defumado. REFERÊNCIAS Basti, A. A.; Misaghi, A.; Salehi, T. Z. & Kamkar, A. (2006). Bacterial pathogens in fresh smoked and salted Iranian fish. Food Control, 17: 183-188. 75 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Biato, D. O. (2005). Detectação e controle de off flavor em tilápias do Nilo, por meio de depuração e defumação. Tese de mestrado em Ciências e Tecnologia de Alimentos, Piracicaba: Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) Resolução RDC. no12, de 02 de janeiro de 2001 - Aprova Regulamento Técnico sobre os Padrões Microbiológicos para Alimentos. Acessado em 04 de agosto de 2005 em http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/2002/344_02rdc.htm. Cardinal, C.; Cornet, J.; Sérot, T. & Baron, R. (2006). Effects of the smoking process on odour characteristics of smoked herring (Clupea harengus) and relationships with phenolic compound content. Food Chemistry, 96: 137–146. Cardinal, M. et al. (2001). Relation of smoking parameters to the yield, colour and sensory quality of smoked Atlantic salmon (Salmo salar). Food Research International, 34: 537–550. Carneiro, P. C. F. (2002). Jundiá: Um grande peixe para a região Sul. Panorama de Aqüicultura, 12(69): 41-46. Carneiro, P. C. F.; Mikos, J. D.; Bendhack, F. (2003). Processamento – O jundiá como matériaprima. Panorama de Aqüicultura, 13(78): 17-21. Carneiro, P. C. F; Mikos, J. D.; Bendhack, F. & Ignácio, S. A. (2004). Processamento do jundiá Rhamdia quelen: rendimento de carcaça. Revista Acadêmica: Ciências Agrárias e Ambientais, Curitiba, 2(3): 11-17. Contreras-Guzmán, E. C. Bioquímica de pescados e derivados. Jaboticabal: FUNEP, 1994. Dutcosky, S. D. (1996) Análise Sensorial de Alimentos. Curitiba: Universitária Champagnat. Emerenciano, M. G. C.; Souza, M. L. R. & Franco, N. P. (2007). Defumação de ostras Crassostrea gigas: a quente e com fumaça líquida. Ciência Animal Brasileira, 8(2): 235-240. Ferreira, M. W.; Silva, V. K.; Bressan, M. C.; Faria, P. B; Vieira, J. O. & Oda, S. H. I. (2002). Pescados processados: maior vida-de-prateleira e maior valor agregado. Lavras (MG): Universidade Federal de Lavras. Boletim de Extensão Rural. 26 p. Fracalossi, D. M.; Meyer, G.; Santamaría, F. M.; Weingartner, M.; Zaniboni, E. F. (2004). Desempenho do Jundiá, Rhandia quelen e do dourado, Salminus brasiliensis, em viveiros dae terra na Região Sul do Brasil. Acta Scientiarum. Animal Sciences, 26(3): 345-352. 76 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Gomes, L. C.; Golombieski, J. I.; Gomes, A. R. C. & Baldisserotto, B. (2000). Biologia do jundiá Rhamdia quelen (Teleostei, Pimelodidae). Ciência Rural, 30(1): 179-185. Gonçalves, A. A. (2001). Defumação Líquida: Uma nova tecnologia para defumar pescado. Revista Aditivos e Ingredientes, 13: 35-36. Gonçalves, A. A. (1998). Estudo do processamento da anchova, Pomatumus saltatrix (Pisces: Pomatomidae) utilizando aroma natural de fumaça. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Alimentos. Rio Grande: FURG. Gonçalves, A.A. & Prentice-Hernández, C. (1998a). Defumação líquida de anchova (Pomatomus saltatrix): Efeito do processamento nas propriedades químicas e microbiológicas. Revista Ciência e Tecnologia de Alimentos, 18(4): 438-443. Gonçalves, A. A. & Prentice-Hernández, C. (1998b). Fumaça Líquida: Uma tecnologia para defumar pescados. Boletim do SBCTA, 32(2): 189-199. Gonçalves, A. A. & Prentice-Hernández, C. (1999a). Processing of bluefish, Pomatomus saltatrix using natural smoke flavouring as coadjuvant. Brazilian Archives of Biology and Technology, 42(1): 39-46. Gonçalves, A. A. & Prentice-Hernández, C. (1999b). Defumação líquida de anchova (Pomatomus saltatrix): Estabilidade lipídica durante o processamento e o armazenamento. Revista do Instituto Adolfo Lutz, 58(1): 69-78. Goulas, A. E. & Kontominas, M. G. (2005). Effect of salting and smoking-method on the keeping quality of chub mackerel (Scomber japonicus): biochemical and sensory attributes. Food Chemistry, 93: 511–520. Hattula, T.; Elfving, K.; Mroueh, U. M. & Luoma, T. (2001). Use of liquid smoke flavouring as an alternative to traditional flue gas smoking of rainbow trout fillets (Onchorhyncus mykiss). Lebensm.-Wiss u. –Technol., 34: 521-525. Horner, B. (1992). Fish smoking: ancient and modern. Food Science and Technology Today, 6(3): 166-171. Instituto Adolfo Lutz (1985). Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz. 3° Ed., São Paulo, V. 1 – Métodos químicos e físicos para análise de alimentos. 77 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Lazzari, R. et al. (2006). Diferentes fontes protéicas para a alimentação do jundiá (Rhamdia quelen). Ciência Rural, 36(1): 240-246. Leoni, S. & Moriggi, F. (1996). Bactteriologia della trota salmonata e affumicata. Industrie Alimentari, 34(344): 23-26. Machado, I. (1994). Características do sal e preparo da matéria-prima para a salga e defumação. In: Simpósio e Workshop: “Tecnologia de salga e defumação de pescado” (pp. 9-12). Guarujá: ITAL. Mezzalira, R; Fiorese, I. (1997). Jundiá: uma espécie nativa com tecnologia dominada. Panorama de Aqüicultura, 7(40): 12-15. Morais, C.; Machado, T. M.; Tavares, M.; Takemoto, E.; Yabiku, H. Y. & Martins, M. S. (1996). Defumação líquida da truta arco-íris (Onchorhyncus mykis): Efeitos do processamento e da estocagem nas propriedades físicas, químicas e sensoriais. Revista do Instituto Adolfo Lutz, 56(2): 43-48. Oetterer, M. (1998). Técnicas de beneficiamento e conservação do pescado de água doce. Panorama de Aqüicultura, 8(46): 14-20. Oetterer, M. (2002). Industrialização do pescado cultivado. Guaíba: Editora Agropecuária. Ribeiro, L. P.; Lima, L. C.; Turra, E. M.; Queiroz, B. M.; Ribeiro, T. G.; Miranda, M. O. T. (1998). Efeito do peso e do operador sobre o rendimento de filé em tilápia vermelha Oreochromis spp. In: Aquicultura Brasil’98 (v.2, p.773-778). Recife, Anais do Aquicultura Brasil’98. Rodrigues, A. M. C. & Tobinaga, S. (1996). Secagem e defumação de filé de peixe de água doce tambacu (Colossoma macropum e Colossoma mitrei). In: XXIV Congresso Brasileiro de Sistemas Particulados. (vol. I, p. 191-195). Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, Anais do XXIV Congresso Brasileiro de Sistemas Particulados. Santos, E. (1981). Peixes da água doce. Belo Horizonte: Itatiaia. Sérot, T.; Baron, R.; Knockaert, C. & Vallet, J. L. (2004). Effect of smoking processes on the contents of 10 major phenolic compounds in smoked fillets of herring (Cuplea harengus). Food Chemistry, 85: 111–120. Silva, N.; Junqueira, V.C.A; Silveira, N. A.; Taniwaki, M. H.; Santos, R. F. S. & Gomes, R. A. R. (2007). Manual de Métodos de Análise Microbiológica de Alimentos, 3ª ed. São Paulo: Varela. 78 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Souza, M. L. R.; Marengoni, N. G. (1998). Processing yield of Nile Tilapia (Oreochromis niloticus) and channel catfish (Ictalurus punctatus). In: 16º Congresso Panamericano de Ciências Veterinárias. Santa Cruz de la Sierra: Memorias summary do 16º CONGRESSO PANAMERICANO DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS. Souza , M. L. R.; Baccarin, A. E.; Viegas, E. M. M.; Kronka, S. N. (2004). Defumação da tilápia do nilo (Oreochromis niloticus) inteira eviscerada e filé: aspectos referentes às características organolépticas, composição centesimal e perdas ocorridas no processamento. Revista Brasileira de Zootecnia, 33(1): 27-36. Souza, M. L. R.; Maranhão, T. C. F. (2001). Rendimento de carcaça, filé e subprodutos da filetagem da tilápia do Nilo, Oreochromis niloticus (L), em função do peso corporal. Acta Scientiarum. Animal Sciences, 23(4): 897-901. Souza, M. L. R; Viegas, E. M. M.; Kronka, S. N. (1999). Influência do método de filetagem e categorias de peso sobre rendimento de carcaça da tilápia do nilo (Oreochromis niloticus). Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 28(1): 1-6. Souza, M. L. R.; Viegas, E. M. M.; Sobral, P. J. A.; Kronka, S. N. (2005). Efeito do peso da tilápia do nilo (Oreochromis niloticus) sobre o rendimento e a qualidade de seus filés defumados, com e sem pele. Ciência e Tecnologia de Alimentos, 25(1): 51-59. Stołyhwo, A. & Sikorski, E. (2005). Polycyclic aromatic hydrocarbons in smoked fish – a critical review. Food Chemistry, 91: 303-311. Szenttamásy, E. R.; Barbosa, S.M.V.B.; Oetterer, M. & Moreno, I.A.M. (1993). Tecnologia do pescado de água doce: aproveitamento do pacu (Piaractus mesopotamicus). Scientia Agricola, 50(2): 303-310. Valenti, W. C.; Poli, C. R.; Pereira, J. A. (2000). Aqüicultura no Brasil: Bases para desenvolvimento sustentável. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia.D 79 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA IMERSÃO DE PÓS-LARVAS DO CAMARÃO Litopenaeus vannamei EM ÁGUAS DE CULTIVO COM POLISSACARÍDEOS SULFATADOS EVALUATION OF EFFECTS OF THE IMMERSION OF SHRIMP POST-LARVAE Litopenaeus vannamei IN WATERS OF CULTURE WITH SULFATED POLYSACCHARIDES José Ariévilo Gurgel RODRIGUES*; José de Sousa Junior JÚNIOR; Perla Lorena MOREIRA; Diego Silva MELO; Jullyermes Araújo LOURENÇO; Paula Cristina Walger de Camargo LIMA; Valeska Martins TORRES; Grazielle da Costa PONTES; Wladimir Ronald Lobo FARIAS Departamento de Engenharia de Pesca, Laboratório de Aqüicultura, Universidade Federal do Ceará *Email: [email protected] Recebido em: 26 de outubro de 2007 Resumo - O desenvolvimento de estratégias profiláticas é essencial para o controle de doenças infecciosas e outros fatores de risco na aqüicultura. Muitos imunoestimulantes têm sido estudados, no mundo, e os polissacarídeos sulfatados (PS) de algas marinhas em especial, pois podem minimizar o impacto do estresse nos cultivos intensivos de organismos aquáticos. Desta forma objetivou-se avaliar o efeito da adição de diferentes doses de PS extraídos da alga marinha vermelha Solieria filiformis em pós-larvas do camarão Litopenaeus vannamei submetidas a estresse. Os PS foram extraídos utilizando-se digestão enzimática, a partir de algas marinhas coletadas na Praia do Pacheco/CE. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com quatro tratamentos (0,0; 0,1; 0,5 e 1,0 mg L-1) e três repetições. Diariamente, nos 12 dias iniciais foram aplicados os banhos de imersão nas pós-larvas e, posteriormente, submetidas durante seis dias à estresse com a suspensão da renovação de água do cultivo. As administrações foram realizadas após cada troca de água, sendo o monitoramento dos parâmetros físico-químicos intensificado durante o estresse. Verificou-se que as imersões das pós-larvas na água de cultivo com PS não surtiram efeitos no ganho de peso e na taxa de sobrevivência (p > 0,05). Por outro lado, o diagnóstico dos animais que receberam 0,1 mg L-1 de PS atestou um melhor quadro aparente de saúde após a indução de uma situação adversa de estresse. Palavras-chave: Solieria filiformis, polissacarídeos sulfatados, Litopenaeus vannamei, estresse. Abstract - The development of prophylactic strategies is essential for the infectious disease control and other factors of risk in aquaculture. Several immunostimulants have been studied in the world and the sulfated polysaccharides (SP) from seaweeds can reduce the impact of stress in aquatic organism’s intensive culture. The aim of this work was to evaluate the effect of the addition of different doses of SP extracted from the marine red alga Solieria filiformis in shrimp post-larvae (Litopenaeus vannamei) submitted to stress conditions. SP were extracted by the enzymatic digestion of marine alga collected in Praia do Pacheco, Ceará State. The experimental design was completely randomized to 4 treatments (0.0; 0.1; 0.5 and 1.0 mg L-1) and three replications. Daily, the initial 12 days’ period the baths of immersion in the post-larvae and then submitted for 6 days to stress with suspension of renewal of water of the culture. The administrations were done after each exchange of water, and the tracking of physico-chemical parameters intensified during stress. It was found that the immersions of post-larvae in the water for cultivation with PS had no effect on weight gain and survival rate (p > 0.05). On the another hand, the animals that received 0.1 mg L-1 of PS demonstrated a better heath state after being induced to an adverse stress situation. Key words - Solieria filiformis, sulfated polysaccharides, Litopenaeus vannamei, stress. 80 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 INTRODUÇÃO O mercado internacional do camarão é regido pelo cultivo de duas espécies, Penaeus monodon e Litopenaeus vannamei, as quais correspondem a 70% do volume ofertado. No Brasil, o cultivo intensivo de L. vannamei também demonstrou viabilidade comercial, principalmente, no Nordeste brasileiro (BRASIL, 2001), tornando o País uma referência no Hemisfério Sul (Rocha & Rodrigues, 2004). A aqüicultura intensiva em muitos países vem provocando modificações na estrutura da fauna e flora dos ecossistemas costeiros (Phillips, Lin & Beveridge, 1993), além de favorecer o surgimento de doenças infecciosas nos cultivos (Vadstein, 1997), o que frequentemente recorre-se a estratégias de controle microbiano, tais como o uso de antibióticos, desinfecção e vacinas contra doenças específicas. Por outro lado, o uso de antibióticos coloca em risco o equilíbrio ambiental e a qualidade do produto ao consumidor (Cook, Hayball, Hutchinson, Nowak & Hayball, 2003). A busca por novas ferramentas sustentáveis para o cultivo do camarão marinho, Litopenaeus vannamei, é extremamente importantes para rejuvenescer o setor desgastado por crises econômicas decorrentes do surgimento de enfermidades, as quais fragilizam a atividade no mundo. Vários compostos imunoestimulantes têm sido amplamente estudados, os quais promovem a ativação das células de defesas do sistema inato contra doenças infecciosas (Sakai, Kamiya, Ishii, Atsuta & Kobayashi, 1992; Azad et al., 2005), melhorando o estado de saúde dos animais durante eventos que promovam estresse (Bricknell & Dalmo, 2005). Diversos compostos derivados de animais, plantas, fungos, algas (micro e macroalgas) etc., têm sido avaliados quanto aos seus efeitos imunoestimulantes em organismos aquáticos em diversas fases de desenvolvimento (Bricknell & Dalmo, 2005; Montero-Rocha, Mcintosh, Sánchez-Merino & Flores, 2006; Citarasu, Sivaram, Immanuel, Rout, & Murugan, 2006). Dentre eles, os polissacarídeos sulfatados (PS) extraídos de algas marinhas apresentam propriedades imunoestimulantes em peixes e camarões (Farias et al., 2004; Fu, Hou, Yeh, Li & Chen, 2007). Além do efeito imunoestimulante, os PS de algas marinhas também são conhecidos por possuir outras atividades biológicas, tais como antiviral, anticoagulante e antitrombótica (Hayashi, Hayashi & Kojima, 1996; Farias, Nazareth & Mourão, 2001), o que também tem despertado grande interesse nas ciências médicas. O primeiro relato de atividade imunoestimulante oriunda de uma alga foi descrita por Campa-Córdova, Hernández-Saavedra, De Philippis & Ascencio (2002), reportando que a imersão de PS extraídos de uma microalga cianofícea em juvenis do camarão branco L. vannamei proporcionou um aumento da capacidade oxidativa dos hemócitos nos animais. Costa et al. (2006) 81 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 observaram que as algas marinhas vermelhas Botryocladia accidentalis e Solieria filiformis preveniram o impacto do vírus da mancha branca no camarão L. vannamei quando os PS foram incorporados à ração. Quando esses PS de B. occidentalis foram imersos na água de cultivo de póslarvas de L. vannamei, também foi observada uma redução significativa da mortalidade (Barroso, Rodrigues, Torres, Sampaio & Farias, 2007). Uma melhoria na taxa de sobrevivência também foi obtida quando os PS da alga marinha vermelha Halymenia pseudofloresia foram administrados na água de cultivo de camarões adultos da mesma espécie (Rodrigues, 2006). De forma a contribuir com o desenvolvimento de pesquisas chaves, para a sustentabilidade da carcinicultura marinha e direcionar esforços para o estabelecimento de estratégias de controle de doenças advindas da intensificação da atividade, pós-larvas de camarões marinhos L. vannamei foram induzidas a uma condição desfavorável de cultivo, gerada pela suspensão da renovação de água, com o objetivo de avaliar a resistência e o estado comportamental das pós-larvas mediante administração de diferentes doses de PS obtidos a partir da alga marinha vermelha S. filiformis. MATERIAL E MÉTODOS COLETA E EXTRAÇÃO DOS POLISSACARÍDEOS SULFATADOS DA ALGA MARINHA A coleta da alga marinha vermelha S. filiformis (Solieriaceae, Rhodophyta) foi realizada na Praia do Pacheco-Ceará-Brasil, a qual foi conduzida ao Laboratório de Bioquímica Marinha do Departamento de Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Ceará (DEP/UFC) para limpeza e estocagem a -20 °C. A extração dos PS iniciou-se a partir 2 g de alga seca e triturada com 100 mL de tampão acetato de sódio 0,1 M (pH 5,0) contendo cisteína 5 mM e EDTA 5 mM. Em seguida, foram adicionados 7 mL de uma solução de papaína bruta (30 mg mL-1), sendo a mistura incubada em banho-maria (60 °C; 24 h). Após esse período, o material foi filtrado, centrifugado (8000 × g; 25 min.; 4 ºC) e, ao sobrenadante, foram adicionados três volumes de etanol absoluto para precipitação dos PS presentes na mistura por 48 horas em freezer. Logo após a precipitação, o material foi novamente centrifugado e submetido a duas lavagens com 200 mL de etanol a 80% e uma com 150 mL de etanol absoluto. Após essa etapa, os PS foram secos em estufa (60 °C; 24 h) para obtenção do extrato bruto total, o qual foi obtido rendimento de 504 mg. PREPARAÇÃO DAS SOLUÇÕES DE IMERSÃO Diferentes doses de PS foram preparadas a fim de se obter concentrações finais de 0,0 (controle); 0,1; 0,5 e 1,0 mg L-1 na água de cultivo dos camarões. Inicialmente, os PS foram 82 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 dissolvidos em um pequeno volume de água destilada e, em seguida, as referidas soluções foram adicionadas (dose dia-1), respectivamente, pela manhã, sempre após a renovação de água. AQUISIÇÃO E ESTOCAGEM DAS PÓS-LARVAS EM LABORATÓRIO Aproximadamente 1000 exemplares de pós-larvas com 40 dias (PL40) de L. vannamei, aclimatadas em água doce e com peso médio inicial de 0,103 ± 0,016 g foram obtidas de uma fazenda de carcinicultura do Ceará. As pós-larvas foram aclimatadas por 30 minutos em uma caixa d’água de 500 L e, em seguida, estocadas aleatoriamente em aquários contendo 15 L de volume útil (5 PL L-1). Após a estocagem, os animais permaneceram sob observação durante uma semana para que se recuperassem do estresse causado pelo transporte. Durante o período de aclimatação, o experimento foi conduzido com renovação de 25% da água de cada aquário, por sifonamento, onde também foram retirados restos de ração e dejetos dos animais. O manejo alimentar ficou restrito a três refeições diárias, até a saciedade, utilizando ração com 40% de proteína bruta. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL E ANÁLISE ESTATÍSTICA O experimento foi realizado no Laboratório de Aqüicultura (DEP/UFC) e seguiu um delineamento inteiramente casualizado constando de quatro tratamentos com três repetições cada, sendo o controle sem a adição do PS (T1), e os três tratamentos contendo PS (T2 - 0,1; T3 - 0,5 e T4 - 1,0 mg L-1). Durante cada alimentação, o sistema de aeração foi desligado por 1 hora. O experimento teve duração de 18 dias, sendo 12 dias de administração dos PS e 6 de indução ao estresse. Durante esse período as trocas parciais de água foram suspensas. Semanalmente, o pH, a temperatura e o oxigênio dissolvido da água foram monitorados. Todavia, durante os seis dias de estresse, a freqüência do monitoramento foi intensificada, sendo então realizada em dias alternados. Os dados de sobrevivência foram registrados pela diferença entre o antes e depois da indução do estresse dos animais, sendo submetidos à análise de variância ANOVA bifatorial. Já o ganho de peso foi analisado em ANOVA unifatorial, sendo adotado um nível de significância de 5% para ambos os testes. RESULTADOS SOBREVIVÊNCIA Ao submeter pós-larvas do L.vannamei a administração dos PS na água de cultivo não foi observado diferença significativa (p > 0,05). Contudo, a menor sobrevivência observada foi no T3, durante a fase de estresse, em decorrência de um descontrole do fornecimento de ar ao sistema em duas das repetições (Figura 1). No tratamento T2, observou-se uma melhoria na taxa tanto durante a 83 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 administração dos PS como após o período de indução de estresse nos animais, mas não diferiu entre os tratamentos T1 e T4. Sobrevivência (%) 100 80 T1 - Controle 60 T2 - 0,1 mg/L T3 - 0,5 mg/L 40 T4 - 1,0 mg/L 20 0 Administração dos PS Estresse Eventos do período de cultivo Figura 1 - Sobrevivência das pós-larvas de Litopenaeus vannamei quando submetidas às administrações de polissacarídeos sulfatados (PS). BIOMASSA FINAL VIVA E GANHO DE PESO O tratamento com 0,1 mg L-1 de PS apresentou a maior biomassa final viva ao término do estresse induzido, mas não diferiu significativamente entre os tratamentos (p > 0,05). (Tabela 1). No tratamento T3, sobreviveram poucos animais em apenas uma das repetições, contribuindo assim para os menores valores de biomassa final viva. Os pesos médios finais, por tratamento, foram 0,196 ± 0,002 (T1); 0,191 ± 0,034 (T2); 0,074 ± 0,126 (T3) e 0,202 ± 0,044 g (T4), respectivamente, os quais também não diferiram. Tabela 1 - Biomassa final viva e ganho de peso das pós-larvas de Litopenaeus vannamei, por tratamento, ao final do experimento. Tratamentos T1 - Controle T2 - 0,1 mg L-1 T3 - 0,5 mg L-1 T4 - 1,0 mg L-1 Biomassa final (g) a 9,172 ± 1,435 11,437 ± 2,625a 2,873 ± 4,976a 8,883 ± 2,029a Letras iguais indicam ausência de diferenças significativas entre as médias. GPP: ganho de peso do período; rb: redução de biomassa. 84 GPP (g) 0,093 ± 0,002a 0,088 ± 0,036a rb 0,099 ± 0,044a Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 PARÂMETROS FISICO-QUÍMICOS Durante o experimento, a temperatura ficou em torno de 28,04 ± 0,24 °C (média ± DP), o pH foi de 7,13 ± 0,35 e o oxigênio dissolvido atingiu valores de 3,25 ± 0,50 mg L-1. Todas as variáveis mantiveram-se dentro dos valores recomendados para o cultivo do camarão marinho L. vannamei. Porém, o aumento da turbidez da água de cultivo, durante o estresse, ocasionou uma alteração significativa do comportamento dos animais. DISCUSSÃO Nos trabalhos envolvendo imunoestimulantes são relatados que os efeitos negativos do estresse em camarões e peixes em diversas fases de desenvolvimento podem ser minimizados mediante diferentes formas de administração. Itami et al. (1998) relataram que a administração oral do β-glucano (polissacarídeos não-sulfatado) aumentou a sobrevivência, a taxa de crescimento e a atividade fagocitária em camarões Penaeus japonicus. Banhos de imersão em camarões L. vannamei com PS extraídos de uma microalga cianofícea resultaram na melhoria de alguns parâmetros imunológicos, tais como a atividade da enzima superóxido dismutase e a geração do ânion superóxido (Campa-Córdova, Hernández-Saavedra, De Philippis & Ascencio, 2002). (Rivera et al., 2002) relataram que o incremento de 10% do extrato da alga marinha parda Macrocystis pyrifera na dieta de camarões L. vannamei resultou em uma maior biomassa final. Segundo Fu, HouYeh, Li & Chen (2007) ao estudarem diferentes vias de administração (oral, imersão e injeção) de PS da alga marinha vermelha Gelidium amansii sendo observado um aumento da habilidade imune e resistência em camarões L. vannamei quando foram expostos a bactéria Vibrio alginolyticus. A utilização por via oral apresentou um melhor efeito após duas semanas de administração. A administração dos PS de S. filiformis, neste trabalho, não surtiu efeitos significativos na taxa de sobrevivência e/ou no ganho de peso dos animais. Por outro lado, foi possível avaliar o estado de saúde dos camarões quando tratados com 0,1 mg L-1 de PS, sendo observado uma maior atividade natatória e uma maior aptidão alimentar, mesmo quando submetidos ao estresse. O aumento da turbidez durante a suspensão da renovação da água de cultivo proporcionou uma maior rejeição do alimento ofertado aos animais dos tratamentos T1 e T3 durante o experimento, indicando um comportamento de estresse. Os animais do tratamento T2 não demonstraram estímulos promovidos pelo estresse durante o experimento. Alguns eventos têm sido relatados como efeitos adicionais a imunoestimulação. Rodrigues, (2006) observou que a administração diária de 1,0 mg L-1 dos PS da alga marinha vermelha H. 85 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 pseudofloresia promoveu um comportamento mais ativo, aumento da freqüência de mudas e maior apetite alimentar em camarões adultos de L. vannamei. Além disso, esses polissacarídeos reduziram significativamente a taxa de mortalidade quando os animais foram submetidos a condições adversas de estresse. Lopez et al (2003) ao estudarem β-glucanos na dieta de juvenis do camarão L. vannamei relatam que o polissacarídeo foi degradado na glândula digestiva por βglucanases para produzir energia após 40 dias de administração, permitindo o direcionamento de outras proteínas para o crescimento. Entretanto, neste último caso, não existem relatos da ocorrência desses eventos com PS de algas marinhas. Segundo Tavares-Dias & Moraes (2004) os autores relatam que a análise dos padrões sanguíneos são subsídios importantes no diagnóstico e prognóstico de condições mórbidas em populações. Uma forma de avaliar o estado de saúde de peixes é o diagnóstico dos tecidos hematopoéticos pela presença de centros de melanomacrófagos ou agregados de macrófagos no fígado, baço e no rim. Esses centros possuem função imunológica como respostas humoral e inflamatória e ainda estocam, destroem, ou detoxificam substâncias exógenas e endógenas. Farias et al. (2004) observaram que pequenas doses de PS da alga marinha vermelha Botryocladia occidentalis aumentaram a taxa de sobrevivência durante a reversão sexual da tilápia do Nilo Oreochromis niloticus. Aumento da atividade fagocítica e a produção de ânion superóxido foram estimulados pela administração da microalga Spirulina platensis incorporada na dieta da carpa comum Cyprinus carpio (Watanuki, Ota, Malina, Tassakka, Kato & Sakai, 2006). São reportadas em algumas pesquisas que o estabelecimento de uma dose ótima de um imunoestimulante é extremamente importante para se obter uma resposta efetiva e alguns relatos (Boonyaratpalin, Boonyaratpalin, Supamattaya & Yoride, 1995; Park & Jeong, 1996; Tinman, Belotsky, Avidar, Bogin, E. & Bejerano, 2000; Farias et al., 2004) têm demonstrado que doses baixas surtem um melhor efeito do que doses mais elevadas. A utilização de doses mais elevadas pode causar imunosupressão em peixes (Sakai, 1999) e deformidades durante a pré-muda em crustáceos (Cenaim, 2001). Porém, essas avaliações podem ser estratégias para a descoberta de doses intermédiárias que direcione administrações específicas durante eventos que promovam estresse, tais como no transporte e no ciclo reprodutivo dos animais aquáticos (Bricknell & Dalmo, 2005). Os imunoestimulantes são considerados como as melhores ferramentas na indução do crescimento e sobrevivência em camarões (Azad et al., 2005), sendo a melhor alternativa durante o monitoramento de doenças infeciosas, ocasionadas pelo estresse, que agridem o sistema imune em camarões (Alday-Sanz, 2007). 86 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Os resultados obtidos neste estudo demonstram que as diferentes doses de PS de S. filiformis utilizadas não promoveram melhoria no desempenho zootécnico do animal. Desta forma, recomenda-se a utilização desses compostos mediante outras diferentes vias de administração e com um período maior de aplicação em diferentes fases de desenvolvimento do L. vannamei. A complexidade e a heterogeneidade dos PS são justificadas em razão das diferentes possibilidades de ligações entre monossacarídeos e a distribuição de grupamentos sulfato. Desta forma, cada espécie de alga pode possuir conformação estrutural única e que resulta em diferentes requisitos para a ação biológica que são, na maioria dos casos, difíceis de elucidar (Percival & Macdoweell, 1967; Mourão & Pereira, 1999; Farias et al., 2000). A utilização de diferentes estratégias de administração desses compostos (S. filiformis) no L. vannamei talvez habilite o sistema imune a promover resistência dos animais quando expostos as situações de estresse. A aqüicultura integrada tem ganhado destaque nos últimos anos, mediante a associação de cultivos de algas e ostras, contribuindo de maneira significativa na melhoria da qualidade de água dos efluentes e reduzindo as chances de doenças nos cultivos de organismos aquáticos de interesse comercial (Neori et al., 1996; Calvacante-Júnior, Andrade, Bezerra, Gurjão & Farias, 2005). Além disso, a produção de algas na própria fazenda de camarão marinho poderia ser mais uma alternativa na suplementação na dieta dos animais, na forma de farinha de algas, contribuindo também com a redução dos custos de produção e o extrativismo a partir dos bancos naturais. O manejo adequado dos recursos naturais é de extrema importância para o equilíbrio ambiental e a sustentabilidade da atividade na geração de proteína animal para a população. A realização de novos estudos com diferentes administrações dos PS da alga marinha vermelha S. filiformis são recomendados a fim de avaliar seus efeitos no estresse de pós-larvas do camarão marinho L. vannamei. CONCLUSÃO A adição diária dos polissacarídeos sulfatados, extraídos da alga marinha vermelha Solieria filiformis, na água de cultivo de camarões L. vannamei, não resultou no aumento da taxa de sobrevivência e ganho de peso dos animais (p > 0,05). No entanto, a administração de pequenas quantidades do composto promoveu uma melhoria no quadro aparente de saúde dos animais quando expostos a uma situação adversa de estresse. AGRADECIMENTOS O presente trabalho contou com o apoio financeiro do MCT/PADCT/CNPq. 87 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 REFERÊNCIAS Alday-Sanz, V. (2007). Why shrimp cannot be vaccinated?. Global Aquaculture Advocate. 10(1): 84. Azad, I.S., Panigrahi, A., Gopal, C., Paulpandi, S., Mahima, C. & Ravichandran, P. (2005). Routes of immunostimulation vis-a-vis survival and growth of Penaeus monodon postlarvae. Aquaculture.248(1): 227-234. Barroso, F.E.C., Rodrigues, J.A.G., Torres, V.M., Sampaio, A.H. & Farias, W.R.L. (2007). Efeito do polissacarídeo sulfatado extraído da alga marinha vermelha Botryocladia occidentalis nas póslarvas do camarão Litopenaeus vannamei. Rev. Ciên. Agron. 38(1): 58-63. Bricknell, I & Dalmo, R.A., 2005. The use of immunostimulants in fish larval aquaculture. Fish and Shellfish Immunology. 19(5): 457-472. Boonyaratpalin, S., Boonyaratpalin, M., Supamattaya, K. & Yoride, Y. (1995). Effects of peptidoglucan (PG) on growth, survival, immune responses, and tolerance to stress in black tiger shrimp, Penaeus monodon. In: SHARIFF, M., SUBASIGHE, R.P., ARTHUR, J.R.. Diseases in Asian Aquaculture Vol. 11. Fish Health Section, Asian Fisheries Society, Manila, Philippines, p. 469-477. Calvacante-Júnior, V., Andrade, L.N., Bezerra, L.N., Gurjão, L.M. & Farias, W.RL. (2005). Reuso de água em um sistema integrado com peixes, sedimentação, ostras e macroalgas. Rev. Bras. De Eng. Agri. Amb. 9 (suplemento): 118-122. Campa-Córdova, A. I., Hernández-Saavedra, N. Y., De Philippis, R. & Ascencio, F. (2002). Generation of superoxide anion and SOD activity in haemocytes and muscle of American white shrimp (Litopenaeus vannamei) as a response to beta-glucan and sulfated polysaccharide. Fish and Shellfish Immunology. 12 (4): 353-366. Cenaim Informa (2001). Boletín Informativo Quincenal, 15 de Noviembre de 2001 WSSV y temperatura, inmuestimulantes, vitaminas... Como se relaciona todo?. Acessado em 9 de novembro de 2006 em http://www.cenaim.espol.edu.ec. Citarasu, T., Sivaram, V., Immanuel, G., Rout, N. & Murugan, V. (2006). Influence of selected indian immunostimulant herbs against white spot sydrome vírus (WSSV) infection in black tiger shrimp, Penaeus monodon with reference to haematological, biochemical and immunological chances, Fish and Shellfish Immunology, 21: 372-384. 88 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Cook, M.T., Hayball, P.J., Hutchinson, W., Nowak, B.F. & Hayball, J.D. (2003). Administration of a commercial immunostimulant preparation, EcoActiva as feed supplement enhances macrophage respiratory burst and the growth rate of snapper (Pagrus auratus, Sparidae (Bloch and Schneider)) in winter. Fish and Shellfish Immunology. 14 (4): 333-345. Costa, F.H.F., Farias, W.R.L., Sampaio, A.H., Saker-Sampaio, S., Rocha, I.R.C.B., Pontes, G.C.; Silva, C.M., Silva-Neto, J.F., Silva, F.L.S., Nunes, E.V., Souza, A.L.F. & Lima-Júnior, T.B. (2006). Enhancement of disease resistance against infectious myonecrosis virus (IMNV) of Pacific white shrimp Litopenaeus vannamei by sulfated polysaccharide extracts from the red seaweeds Botryocladia occidentalis and Solieria filiformis. Feira Nacional de Camarão. Suplemento 2005 : 25-32. Acessado em 24 de outubro de 2006 em http://www.agriambi.com.br\Revista. Farias, W.R.L., Rebouças, H.J., Torres, V.M., Rodrigues, J.A.G., Pontes, G.C., Silva, F.H.O. & Sampaio, A.H. (2004). Enhancement of growth in tilapia fingerlings (Oreochromis niloticus) by sulfated D-galactans extracted from marine algae. Rev. Ciên. Agron. 35 (especial): 189-195. Farias, W.R.L., Nazareth, R.A. & Mourão, P.A.S. (2001). Dual effects of sulfated D-galactans from the red alga Botryocladia occidentalis preventing thrombosis and inducing platelet aggregation. Thrombosis and Haemostasis. 86 (6): 1540-1546. Farias, W.R.L., Valente, A.P., Pereira, M.S. & Mourão, P.A.S. (2000). Structure and anticoagulant activity of sulfated galactans. Isolation of a unique sulfated galactan from the red alga Botryocladia occidentalis and comparison of its anticoagulant action with that of sulfated galactans. J. Biol. Chemis. 275(38): 29299-29307. Fu, Y.W., Hou, W.Y., Yeh, S.T., Li, C.H. & Chen, J.C. (2007). The immunostimulatory effects of hot-water extract of Gelidium amansii via immersion, injection and dietary administrations on white shrimp Litopenaeus vannamei and its resistance against Vibrio alginolyticus. Fish and Shellfish Immunology. 22 (6): 673-685. Hayashi, K., Hayashi, T. & Kojima, I. (1996). A natural sulfated polysaccharide, calcium spirulan, isolated from Spirulina platensis: In vitro and ex vivo evaluation of anti-herpes simplex virus and anti-human immunodeficiency virus activities. AIDS Res. Hum. Retrovir. 12 (15): 1463-1471. Itami, T., Asano, M., Tokushige, K, Kubono, K., Nakagawa, A., Takeno, N., Nishimura, H., Maeda, M., Kondo, M. & Takahashi, Y. (1998). Enhancement of disease resistance of kuruma shrimp, Penaeus japonicus, after oral administration of peptidoglycan derived from Bifidobacterium thermophilum. Aquaculture. 164 (1-4): 277-288. 89 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 López, N., Cuzon, G., Gaxiola, G., Taboada, G., Valenzuela, M., Pascual, C., Sánches, A. & Rosas, C. (2003). Physiological, nutritional and immunological role of dietary beta-1,3 glucan and ascorbic acid 2-monophosphate in Litopenaeus vannamei juveniles. Aquaculture. 224 (1-4): 223-243. Montero-Rocha, A., Mcintosh, D., Sánchez-Merino, R. & Flores, (2006). Immunostimulantion of white shrimp (Litopenaeus vannamei) follwing dietary administration of Ergosan. J. Invert. Pathol. 91: 188-194. Mourão, P.A.S. & Pereira, M.S. (1999). Searching for alternatives to heparin: Sulfated fucans from marine invertebrates. Trends Cardiovascular Medicine. 9(8): 225-232. Neori, A., Michael, D.K., Eller, S.P., Boyd, C.E., Popper, D., Rabinovitch, R., Davison, P.J., Dvir, O., Zuber, D., Ucko, M., Angel, D. & Gordin, H. (1996). Seaweed biofilters as regulators of water quality in integrad fish-seaweed culture units. Aquaculture. 141: 183-199. Park, H.H. & Jeong, H.D. (1996). Enhanced resistance against Edwardsiella tarda in tilapia (Oreochromis niloticus) by administration of protein-bound polysaccharide. Aquaculture. 143 (2): 135-143. Percival, E. & Macdowell, R.H. (1967). Chemistry and enzymology of marine algal polysaccharides. New York: Academic Press. Phillips, M.J., Lin, C.K. & Beveridge, M.C.M. (1993). Shrimp culture and the environment – lessons from the world’s most rapidly expanding warmwater aquaculture sector. In: ICLARM Conference, Manila, abstracts…Manila: 171-197. BRASIL. DEPARTAMENTO DE PESCA E AQUICULTURA (2001). Origem, fases e principais espécies cultivadas do camarão marinho. In: Plataforma Tecnológica do Camarão Marinho Cultivado. Brasília: MAPA/SARC/DPA.CNPq/ABCC: 23-28. Rivera, G., Yoong. F., Riofrio, G.B., Reinoso, B., Hurtado, F. & Massuh, P. (2002). Inclusion de harina de kelp (Macrosystis pyrifera) em alimentos balanceados para camarón. I Congresso Iberoamericano Virtual de Aqüicultura (pp.244-252). Acessado em 19 de maio de 2002 em http://www.civa2003.org. Rocha, I. P. & Rodrigues, J. (2004). A carcinicultura brasileira em 2003. Rev. da ABCC. 6 (1): 3036. 90 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Rodrigues, J.A.G. (2006). Atividade anticoagulante de galactanas sulfatadas de algas marinhas vermelhas do gênero Halymenia e seu efeito imunoestimulante no camarão marinho Litopenaeus vannamei [Dissertação de Mestrado]. Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará. Sakai, M. (1999). Current research status of fish immunostimulants. Aquaculture. 172 (1-2): 63-92. Sakai, M., Kamiya, H., Ishii, S., Atsuta, S. & Kobayashi, M. (1992). The immunostimulating effects of chitin in rainbow trout, Oncorhynchus mykiss. Diseases in Asian. Aquaculture. 1: 413–417. Tavares-Dias, M. & Moraes, F.R (Eds) (2004). Hematologia de peixes teleósteos. Ribeirão Preto: Marco Tavares–Dias. Tinman, S., Belotsky, S., Avidar, Y., Bogin, E. & Bejerano, I. (2000). Effect of long-term oral administration of peptidoglucan (PG - Ajinomoto product) on growth rate and immunostimulant response of hybrid tilapia (Oreochromis aureus X O. niloticus). In: The 5th International Symposium on Tilapia Aquaculture (pp.524-532), Rio de Janeiro: Anais do ISTA, 9. Vadstein, O. (1997). O The use of immunostimulation in marine larviculture: possibilities and challenges. Aquaculture. 155 (1-4): 401-417. Watanuki, H., Ota, K., Malina, A.C., Tassakka, A.R., Kato, T. & Sakai, M. (2006). Immunostimulant effects of dietary Spirulina platensis on carp, Cyprinus carpio. Aquaculture. 258 (1-4): 157-163.D 91 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 EFEITO DO FOTOPERÍODO E TEMPERATURA NO CRESCIMENTO DE GIRINOS DA RÃ-TOURO GIGANTE. EFFECTS OF THE LIGHT AND TEMPERATURE IN THE GROWING OF BULLFROG Athiê J. G. SANTOS; Carmem L. MELO; Patricia B. de MACÊDO Departamento de Aqüicultura e Pesca, Universidade Federal Rural de Pernambuco E-mail: [email protected] Recebido em: 12 de fevereiro de 2008 Resumo - O presente trabalho teve como objetivo investigar os efeitos do fotoperíodo e temperatura no crescimento de girinos de Rana catesbeiana. Os experimentos foram realizados no Laboratório de Fisioecologia de Animais Aquáticos/UFRPE e no ranário Pan Caruru, em três etapas investigativas. Foram utilizados 734 girinos, todos no estádio metamórfico G1, e divididos nos seguintes grupos: experimentais: A Primeira etapa constou de dois grupos: grupo 1A (20Luz- 4Escuro/ 30° C); grupo 2A (fotoperíodo/temperatura ambiente). A segunda etapa foi constituída de cinco grupos: grupo 1B (20L- 4E/temperatura ambiente); grupo 2B (4L- 20E/temperatura ambiente); grupo 3B (fotoperíodo/temperatura ambiente); grupo 4B (20L- 4E/temperatura ambiente), e o grupo 5B (fotoperíodo/temperatura ambiente). Os grupos 1B a 3B foram conduzidos no LAFAq e os grupos 4B e 5B no ranário Pan Caruru. A terceira etapa constituiu-se de três grupos: grupo 1C (20L- 4E/ temperatura ambiente), 2C (4L- 20E/temperatura ambiente) e o grupo 3C: temperatura/fotoperíodo ambiente, sendo este último conduzido no ranário comercial. Os girinos foram mantidos numa densidade de 1 girino/2L d’água, e alimentados três vezes ao dia com uma ração contendo 45 % de proteína bruta. O peso e o comprimento dos girinos foram mensurados quinzenalmente, quando registravam-se também os estádios metamórficos. Conclui-se que fotoperíodo longo e temperatura elevada aceleram o crescimento dos girinos da rã-touro e que os efeitos desses fatores ecológicos podem variar de acordo com o tamanho do animal. Palavras-chaves: Rana catesbeiana, desenvolvimento, fatores ecológicos, metamorfose Abstract - This work aimed to investigate the effects of photoperiod and temperature on the growing of bullfrog Rana catesbeiana tadpoles. The experiments were carried out at the Physioecology of the Aquatic Animals Laboratory/UFRPE and at the Pan Caruru frogfarm, in three investigative phases. A total of 734 tadpoles (all of them in metamorphic stage G1) were used in this investigation, and divided in the following experimental groups: The first phase was consisted of two groups: G-1A ((20L- 4D/30°C); G-2A (natural photoperiod and temperature). The second phase was consisted of five groups: G-1B ((20L- 4D/natural temperature); G-2B (4L- 20D/natural temperature); G-3B (natural photoperiod/ temperature); G-4B (20L- 4D/natural temperature); G-5B (natural photoperiod/temperature). The 1B to 3B experimental groups were conducted inside the laboratory, while the groups B4 and B5 were carried out at the Pan Caruru commercial frogfarm. The third phase was consisted of three groups: G-1C (20L- 4D/natural temperature); G-2C (4L- 20D, natural temperature) and G-3C: (natural photoperiod/ temperature, at the Pan Caruru frogfarm). In all groups, the tadpoles were kept at a density of 1 ind/2 L of water, and fed daily with 45% gross protein. Bodyweight, bodylength and metamorphic changes were registered every fifteen days. It could be concluded that long photoperiod and high temperature enhance the growing in bullfrog tadpoles and that these ecological factors effects also can vary according to the animal size. Key-words: Rana catesbeiana, development, ecological factors, metamorphose 92 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 INTRODUÇÃO A ranicultura é uma atividade em crescimento no Brasil, contando hoje com aproximadamente 500 ranários e 15 uidades de abate e beneficiamento (Ferreira, 2003a). Pesquisas recentes apontam para um potencial de demanda ainda maior para a carne de rã e seus derivados. Reporta-se que o mercado que é capaz de absorver quase três vezes a produção nacional, principalmente por aqueles consumidores que buscam substitutos da carne vermelha. Com a crescente preocupação mundial em relação à caça de animais silvestres para consumo, os países importadores de rãs priorizaram o consumo de rã produzida em criatórios comerciais. O Brasil, um dos pioneiros na criação de rãs em cativeiro e detentor de tecnologia de produção avançada, pode se tornar um dos maiores produtores mundiais nesse segmento. Entretanto, apesar do expressivo crescimento dessa atividade no país, alguns entraves ainda são detectados para atingir o seu pleno desenvolvimento. Dentre outros, destacam-se a escassa divulgação sobre o valor nutricional da carne da rã, preço elevado no mercado (Ferreira, 2003b), falta de uma política agressiva de fomento à atividade e de mecanismos de transferência de tecnologias (Lima & Agostinho, 1988). Assincronismo metamórfico dos girinos aos níveis ideais de temperatura e de luz e instalações inadequadas que suprimem o crescimento das rãs em algumas estações do ano, também são fatores que suprimem o desenvolvimento da ranicultura no país. (Figueirêdo & Mangialardo, 1992). Temperatura e fotoperíodo são fatores abióticos que influenciam o ciclo de vida em Rana catesbeiana, sobretudo quanto aos aspectos reprodutivos (Fontanello et al., 1984). A rã, assim como a maioria dos animais, possui mecanismos de marcação do tempo que são capazes de perceber modificações fotoperiódicas à medida que as estações do ano se sucedem. É assim que a sua metamorfose e dormência se adequam às modificações do meio externo. Para O’connor e Tracy, (1992), há uma interdependência entre os mecanismos de termorregulação e a umidade do ambiente. Em ambiente seco, as rãs reduzem a taxa de evaporação através da pele e sofrem mais estresse térmico, podendo chegar a níveis letais de desidratação. Em condições artificiais, os girinos preferem determinado gradiente de temperatura e essa preferência pode mudar de acordo com uma prévia adaptação (Hutchinson e Hill, 1977, Wollmuth et al.,1987, citados por Warkentin, 1992). Reporta-se também que em laboratório, a rã ajusta seu estado fisiológico a diferentes condições de luz (Easley et al., 1979). Considerando a importância de fatores ambientais sobre o crescimento da rã touro gigante, Rana catesbeiana Shaw, 1802 e a escassez de informações sobre esse assunto, o presente trabalho 93 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 visou estudar os efeitos do fotoperíodo e da temperatura sobre o crescimento de girinos da referida espécie, criadas em laboratório e em condições de campo. MATERIAL E MÉTODOS Um total de 734 girinos foi utilizado no presente estudo. Todos os girinos foram obtidos no ranário Pan Caruru, localizado em Paulista/ PE e selecionados no estádio G1, ou seja, sem alterações metamórficas aparente. Os experimentos sobre a influência do fotoperíodo e temperatura no seu crescimento foram conduzidos tanto no laboratório de Fisioecologia dos Animais Aquáticos do departamento de Pesca e Aqüicultura/UFRPE, como no ranário comercial Pan Caruru. Antes de cada experimento, todos os animais foram desinfetados com azul de metileno na proporção de 1g/ 1L d’água. Ração de truta contendo 45% de proteína bruta foi utilizada em todos os experimentos, com a freqüência alimentar de três vezes ao dia (às 08:00, 12:00 e 16:00 h), na quantidade de 5% da biomassa total. As biometrias foram quinzenais e objetivaram registrar o crescimento em ganho de peso e comprimento, bem como a evolução dos estádios metamórficos, segundo a classificação de Lima & Agostinho, (1992). Os dados obtidos foram tabulados e analisados estatisticamente. O trabalho constou de três etapas investigativas, realizadas em diferentes períodos do ano e sob as condições de fotoperíodo e temperatura conforme descritas nas tabelas abaixo: PRIMEIRA ETAPA: Os experimentos foram realizados no Laboratório de Fisioecologia dos Animais Aquáticos entre 01 e 29/07/03. Nessa etapa, foram utilizados 80 girinos, que foram distribuídos em dois grupos como especificados na Tabela 1, Tabela 1 - Tratamento de fotoperíodo e temperatura nos grupos experimentais da primeira etapa. Grupo Fotoperíodo/Temperatura 1A 20L-4E*/30° C 2A Ambiente/Ambiente ** *Legendas: 20L= 20 horas luz; 4E= 4 horas escuro **Fotoperíodo e temperatura ambiente (laboratório) No grupo 1A, o fotoperíodo foi controlado por meio de lâmpadas fluorescentes de 40 W, presas em bases de madeira e conectadas a um timer digital, enquanto que a temperatura foi controlada por meio de um termostato. Os aquários foram cobertos com uma lona plástica na cor 94 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 preta, para evitar a influência da luz externa. Os animais foram aclimatados gradativamente, nos aquários, à temperatura experimental. O grupo 2A ficou exposto ao fotoperíodo e temperatura ambiente, ou seja, à variação natural interna do laboratório. Cada grupo foi constituído de 20 girinos/aquário (1 girino para cada dois litro) e constou de uma repetição. SEGUNDA ETAPA: Os grupos de tratamentos de fotoperíodos e temperatura estão indicados na Tabela 2. Um total de 574 girinos foi dividido em cinco grupos experimentais: Os grupos 1B e 2B (cada grupo com uma repetição) foram constituídos de 20 girinos/aquário, exceto o grupo 3B (controle e sem repetição) que continha 80 girinos. Estes experimentos foram realizados no Laboratório de Fisioecologia dos Animais Aquáticos (LAFAq ) do departamento de Pesca e Aqüicultura/UFRPE. Os grupos 4B e 5B, porém, foram conduzidos no ranário Pan Caruru, em dois tanques de alvenaria (1,0 x 2,0 x 0,6 m), cada um contendo 207 girinos. Os experimentos foram realizados entre 07/08 e 10/09/2003. Tabela 2 - Tratamento de fotoperíodo e temperatura nos grupos experimentais na segunda etapa. Grupo Fotoperíodo/Temperatura 1B 2B 20L-4E/Ambiente* 4L-20E/30°C 3B Ambiente/Ambiente* 4B 20L-4E/Ambiente** 5B Ambiente/Ambiente** * Laboratório ** Ranário TERCEIRA ETAPA: Nessa etapa foram utilizados 80 girinos, distribuídos em três grupos: dois deles realizados no LAFAq e o terceiro, no ranário Pan caruru. O período experimental foi entre 02/10/03 a 18/11/03. Os tratamentos de fotoperíodo e temperatura estão indicados na Tabela 3. Para verificar a diferença das médias dos pesos e comprimentos dos girinos entre os tratamentos de cada etapa utilizou-se o teste de hipóteses para comparação de duas amostras independentes (Teste T), e o de comparação com duas proporções, para o número de girinos no 95 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 estádio G5. O nível de significância em ambos as comparações foi de α = 0,05, empregando-se o programa estatístico Bioestat3. Tabela 3 - Tratamento de fotoperíodo e temperatura nos grupos experimentais da terceira etapa Grupo Fotoperíodo/Temperatura 1C 20L- 4E/Ambiente* 2C 4L- 20E/Ambiente* 3C Ambiente/Ambiente ** * Laboratório ** Ranário RESULTADOS E DISCUSSÃO O presente trabalho apresenta os primeiros resultados sobre os efeitos do fotoperíodo e da temperatura no crescimento de girinos da rã-touro gigante, obtidos no LAFAq/UFRPE e no ranário comercial Pan-Caruru-PE. Na primeira etapa do experimento, os girinos do grupo 1A (20L-4E/30° C) apresentaram melhor desempenho quanto aos estágios metamórficos. Ao final do experimento, 72,5% dos girinos estavam no estágio G5 contra apenas 30% no grupo fotoperíodo e temperatura ambiente (grupo 2A). Estes experimentos foram conduzidos no mês de julho, quando a temperatura da água é mais baixa (variação: 25-27oC) e o fotoperíodo em torno de 11,5 horas luz. Embora os girinos do grupo 1A se desenvolveram mais rapidamente quanto à transformação metamórfica, não houve diferença significativa entre os dois grupos quanto ao peso e comprimento dos girinos. (Tabela 4). Tabela 4 - Dados de comprimento (cm) e peso (g) médios, e estádios metamórficos (% ) da rã-touro obtidos ao final da primeira etapa experimental. (Período: 01-29/07/2003). Grupo Fotoper./Temp. Inicial Comp. Peso Final Comp. Peso Estádios metamórficos G1 G2 G3 G4 G5 17,5 % 72,5 % a 1 A) 20L-4E/30° C 6,58 a 4,89 a 10,5 a 16,23 a - - 10 % 2 A) Ambiente/Ambiente* 6,48 a 4,81a 12,02 a 15,28 a - 10 % 37,5 % 22,5 % *Ambiente interno do laboratório. Letras iguais (em coluna) não diferem estatisticamente. 96 30 % b Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Na segunda etapa, os girinos submetidos à 20L-4E e temperatura ambiente do laboratório (grupo 1B) obtiveram o melhor crescimento metamórfico em relação aos demais tratamentos, apresentando 45% do número total de girinos no estádio G5. Os girinos do grupo 4B também foram submetidos à 20L-4E e temperatura ambiente, porém apresentaram apenas 28% no estádio metamórfico G5. Como este experimento foi realizado no ranário onde a temperatura ambiental foi mais baixa (21oC) do que àquela do ambiente interno do laboratório (28-30oC) durante o período investigativo, explicar-se a diferença no desenvolvimento metamórfico entre os dois grupos. No grupo 2B, o percentual de girinos no estádio G5 foi de apenas 20%, e embora estivessem submetidos à temperatura de 30oC, o fotoperíodo foi de penas 4 horas luz, indicando, assim, uma influência negativa do fotoperíodo curto no desenvolvimento metamórfico. (Tabela 5). Tabela 5 - Dados de comprimentos (cm) e pesos médios (g) e estádios metamórficos (%) da rã-touro obtidos na segunda etapa experimental. (Período: 07/08- 10/09/2003). Grupos Inicial Fotoper../Temp. Comp. Final Peso Estádios metamórficos finais Comp. Peso G1 G2 G3 G4 G5 50% 45,5% a 1B) 20L-4E/ Ambiente* 7,48 a 9,03 a 12,67 a 17,86 a - - 4,5% 2B) 4L-20E/30°C 7,48 a 9,03 a 12,01 b 15,18 b 8% 13% 19,5% 39,5% 20% b 3B) Ambiente /Ambiente* 7,48 a 9,03 a 11,18 b 12,62 a 7% 23% 43% 21% 6% c 4B) 20L-4E/Ambiente** 7,48 a 9,03 a 12,42 c 15,58 c 5% 9% 42% 16% 28% d 7,48 a 9,03 a 12,89 c 2% 2% 49% 17% 30% e 5B) Ambiente/Ambiente** c 15,99 * Ambiente interno do laboratório * * Ambiente externo (ranário) Letras iguais (em coluna) não diferem estatisticamente. A porcentagem de girinos no estádio G5 nos grupos da terceira etapa foi de 3,0% e 2,5% para os grupos 1C (20L-4E/ambiente) e 3C (ambiente/ambiente), respectivamente (Tabela 6). No grupo 2C, porém, não se observou o estádio metamórfico (G-5), indicando mais uma vez que fotoperíodo curto inibe o desenvolvimento do girino da rã touro. As percentagens do estádio G5 nessa etapa foram bem menores do que nas etapas anteriores. Nota-se, também, que o tamanho inicial dos girinos nesta última fase foi também menor (0,70-0,78 contra 4,89-9,3 gramas nas fases anteriores), sugerindo que os efeitos do fotoperíodo e da temperatura no desenvolvimento dos girinos podem estar condicionados ao seu estádio ontogênico. 97 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Sabe-se que o fotoperíodo é um importante fator ecológico na regulação da taxa metamórfica de rã; variáveis como fotoperíodo e manejo inadequado podem provocar distúrbios que alteram a resposta dos girinos com relação ao ganho de peso e à taxa de metamorfose (Bambozzi et al. (2004). Girinos de rã-touro apresentaram maior ganho de peso e melhor sobrevivência quando Tabela 6 - Dados de comprimento (cm) e peso (g) médios, e estádios metamórficos (%) da rãtouro obtidos na terceira etapa experimental. (Período: 02/10- 18/11/2003). Grupos Inicial Final Estádios metamórficos Fotoper./Temp. Comp. Peso Comp. Peso G1 G2 G3 G4 G5 1C) 20L-4E/Ambiente* 4,07 a 0,74 a 8.12 a 4.68 a 22 % 18,5 % 35,5 % 21 % 3,0 %a 2C) 4L-20E/Ambiente* 4,08 a 0,78 a 7.86 a 4.54 a 26 % 39 % 20 % 15 % - 3C) Ambiente/Ambiente** 3,98 a 0,70 a 4,01 b 2,06 b 27,5 % 27,5 % 30 % 12,5 % 2,5 %a * Ambiente interno do laboratório * * Ambiente externo (ranário) Letras iguais (em coluna) não diferem estatisticamente. foram criados a 30oC. (Braga & Lima 2001). Fase longa de luz inibiu o desenvolvimento de Discoglossus pictus e Xenopus laevis, porém acelerou o desenvolvimento em girinos do gênero Rana. Escuridão contínua inibiu o crescimento e desenvolvimento de girinos de Rana esculenta e Rana temporária. Fotoperíodo curto aumentou o ganho de peso e estimulou a metamorfose em larvas de X. laevis. (Delgado et al, 1984; Gutierrez et al,1984; Filadelfi & Castrucci 1996. apud Bambozzi et al, 2004). No presente trabalho, os girinos de Rana catesbeiana obtiveram o melhor desempenho de crescimento quando foram submetidos ao fotoperíodo longo (20 luz) combinado a uma elevada temperatura (30oC). Em peixes teleósteos, o efeito do fotoperíodo no crescimento e sobrevivência varia durante a fase larval e de levinos (Bezerra et al, 2008). Na rã-touro, fotoperíodo longo e elevada temperatura aceleram o crescimento dos girinos da referida espécie e a influência desses fatores ecológicos também parecem estar condicionados ao tamanho do animal. REFERÊNCIAS Bambozzi, A. C., Seixas Filho, J. T. De, Thomaz, L. A. (2004) Efeito do fotoperíodo sobre o desenvolvimento de girinos de rã touro (Rana catesbeiana Shaw, 1802). Rev. Bras. Zootec, 33(1): 1-7. Bezerra, K. S. et al. (2008) Crescimento e sobrevivência da tilápia chitralada, submetida a diferentes fotoperíodos. Periódico: Pesquisa agropecuária Brasileira (no Prelo). 98 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Braga, L. G. T.; Lima, L. L. (2001) Influência da temperatura ambiente no desempenho da rã touro, Rana catesbeiana (Shaw, 1802) na fase de recria. Rev. Bras. Zootec. 30(6): 1659 - 1663. Easley, K. A., et al. (1979) Environmental influences on hormonally induced spermiation of the bullfrog Rana catesbeiana. J. Ex. Zool, 207(3): 407-416. Ferrreira, C. M. Ranicultura: Uma alternativa para um bom empreendimento, 2003a. Disponível em: <http://www.criareplantar.com.br/noticia/ler/?idNoticia=500>. Acesso em 2 de junho de 2005. Ferreira, C. M. Simpósio discute a criação de rãs. Instituto de pesca, 2003b. Disponível em: <http://www.pesca.sp.gov.br/noticia.php?id_not=91>. Acesso 4 de julho 2005. Figueirêdo, M. R., C.; Mangialardo, R. R. (1992) Confinamento e engorda de rã touro (Rana catesbeiana, Shaw, 1802) em gaiolas. I. Densidade de estocagem. In: Encontro Rio grandense de técnicos em aqüicultura, FURG, Rio Grande, RS, Anais. 91- 94. Fontanello, D. et al. (1984) Estação de reprodução da Rana catesbeiana Shaw, 1802, criadas em ranário comercial e a influência de fatores climáticos sobre o número de desovas. Bol. Inst. de Pesca. 11: 123-33. Lima, S. L.; Agostinho, C. A. A. Tecnologia de criação de rãs. Viçosa, MG: UFV, Impr. Unin. 168p. 1992. O’ Connor, M. P., Tracy, C.R. (1992) Thermoregulation by juvenile toads of Bufo woodhouse in the laboratory. Copeia, 3: 865-876. Warkentin, K. M. (1992) Effects of temperature and illumination on feeding rates of green frog tadpoles (Rana clamitans). Copeia, 3(725-730).D 99 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 ARTIGOS TÉCNICOS CULTIVO INTENSIVO DE ESPÉCIES CARNÍVORAS INTENSIVE CULTIVATION OF CARNIVOROUS SPECIES Emerson Carlos SOARES* Universidade Federal de Alagoas/Campus Arapiraca-Pólo Penedo *E-mail: [email protected] Resumo - O cultivo de espécies carnívoras depende principalmente do conhecimento dos aspectos comportamentais e das exigências nutricionais para o desenvolvimento desta atividade. Para diminuir as lacunas existentes entre o setor produtivo do pescado e o setor tecnológico, faz-se necessário à elaboração de dietas com ingredientes mais acessíveis e baratos. Espécies carnívoras apresentam-se bastante promissoras, devido o interesse multiespecífico deste recurso para os diversos setores ligados à cadeia produtiva do pescado. Contudo, pesquisas realizadas anteriormente com estes peixes em ambiente de cultivo, mostraram-se desmotivadoras. O alto grau de canibalismo e a falta de informação sobre exigências nutricionais serviram como entrave no desenvolvimento do cultivo intensivo destas espécies. Por outro lado, a adaptabilidade a ambientes com condições limnológicas variadas, a voracidade, a aceitabilidade a dietas secas quando submetidos ao treinamento alimentar e o bom desempenho zootécnico destas espécies, capturadas em açudes, represas, pequenas barragens e tanques escavados se mostraram animadoras. Palavras–chave: peixes carnívoros, cultivo intensivo, alimentação. Abstract - The cultivation of carnivorous species, such, depends mainly on the knowledge of the behavioral aspects and of the nutritional demands for the development of this activity. In order to reducing the existing gaps among the productive and technological sectors of fisheries, there is a need to elaborate diets using cheaper and more accessible ingredients. Regarding these aspects species carnivorous is a promissing due to the diverse interest of this fishes to different sectors of the productive chain. However, previous research on the species carnivorous cultivation showed little sucess. High levels of canibalism and the lack of nutritional needs have colaborated to prevent the development of this species farming. On the other hand, adaptability to different limnological conditions, voracity and acceptability to dry food diet, when sumitted to feeding training as well as its good zootechnical performance in dams and tanks showed success. Key words: carnivorous fish, intensive cultivation, diet. 100 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 SOBRE A PISCICULTURA A piscicultura vem se mostrando um grande potencial de investimento aliado ao aumento das pesquisas, abertura de linhas de crédito e melhor entendimento da legislação ambiental. No Brasil, é uma atividade com grande expansão e também de grande potencial para o desenvolvimento sócio-econômico, facilitando o aproveitamento com maior sustentabilidade dos recursos e abrindo possibilidades de emprego com incremento de renda em algumas regiões do nosso país. Esta atividade vem aumentando consideravelmente ao longo dos anos, sendo registrado no ano de 2000, um crescimento da ordem de 35% com uma produção estimada em 115 mil toneladas com predomínio de peixes de água doce, sendo a piscicultura continental, o único setor presente em todos os estados do país (Aqüicultura no Brasil, 2000). No entanto é preciso ressaltar que a criação intensiva de peixes ainda é uma atividade diminuta quando comparada com outras atividades agropecuárias, pois os avanços neste campo e a demanda por produtos pesqueiros cresceram exponencialmente, enquanto que a legislação, a disponibilidade de crédito, a mobilização do setor em cooperativas e a assistência técnica, não conseguiram acompanhar o desenvolvimento do setor a contento. Outra perspectiva do avanço dos estudos para a produção de peixes pode estar atrelada diretamente ao aumento da renda, quando, através de um melhor manejo, acompanhado de uma melhor eficiência de cultivo, pode-se influenciar na cadeia produtiva do pescado proveniente de empreendimentos relacionados ao cultivo intensivo de espécies aquícolas, em particular, espécies carnívoras. Com a demanda de pescado aumentando substancialmente pela expansão dos mercados urbanos, incremento do turismo ligado à pesca esportiva e qualidade de sua carne, o cultivo de peixes carnívoros vem crescendo anualmente (Cyrino, 2000). Neste intuito, a criação em cativeiro destas espécies pode-se tornar uma alternativa viável, através do subsídio de informações sobre o seu manejo em cativeiro, e melhora na sua conversão alimentar, para então obter sucesso em empreendimentos ligados a aqüicultura. ESPÉCIES CARNÍVORAS NA PISCICULTURA Tradicionalmente no Brasil, a criação de peixes carnívoros desenvolveu-se com o emprego de espécies introduzidas entre elas a truta arco-íris (Azevedo et al., 1961). Nas décadas de 70 e 80, outras espécies de hábito alimentar carnívoro tais como; surubim (Pseudoplatystoma coruscans), pirarucu (Arapaima gigas) e tucunaré (Cichla sp.) passaram a ser explorada, pelo alto valor comercial, bom desempenho zootécnico e a excelência de suas carnes, atendendo aos anseios de 101 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 criadores. Entretanto, nos anos 80, os dados obtidos de cultivo de espécies de água doce enfatizam a criação extensiva ou semi-intensiva em barragens, açudes e represas na região Nordeste e Sudeste, utilizando peixes forrageiros ou picados (mortos) como alimento (Imbiriba 1991; Moura de Carvalho & Nascimento, 1992). A partir da década de 90, o cultivo intensivo de peixes carnívoros foi intensificado, com as técnicas de monitoramento, o manejo dos planteis e o conhecimento da biologia das espécies terem sido aprimorados. Entre os peixes carnívoros mais adaptados à criação em cativeiro estão; o dourado (Salminus maxillosus), black bass (Micropterus salmoides), bagre-do-canal (Ictalurus punctatus), bagre africano (Clarias gariepinus), truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss), os surubins (Pseudoplatystoma sp.), o pirarucu (Arapaima gigas) e os tucunarés (Cichla sp.). Entretanto, para o sucesso do cultivo, o treinamento alimentar torna-se essencial, devido o hábito alimentar essencialmente carnívoro e o canibalismo apresentado por algumas espécies como bagres e tucunarés, a fase de treinamento alimentar que engloba transição gradual dos ingredientes e componentes da ração, consiste numa etapa importante condicionando os peixes carnívoros a alimentar-se de ração seca ao final desta fase e pode durar de 20 a 30 dias (Kossowski, 1999, Soares et al., 2007). Outra técnica de suma importância referencia o estudo das exigências nutricionais requeridas pelas espécies alvo do cultivo, em particular os teores de proteína e energia das rações. Estes itens têm motivado pesquisadores a encontrar rações balanceadas que atendam os aspectos nutricionais exigidos por peixes carnívoros. EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DA DIETA PARA ESPÉCIES DE PEIXES CARNÍVOROS O conhecimento das exigências nutricionais dos peixes é importante para a piscicultura, pois os gastos com alimentação representam entre 60 e 80% do custo total do cultivo (Kubitza, 1999). Dentre os macronutrientes a proteína é o item mais importante e mais caro da ração (Robinson & Li, 1997), afetando principalmente a criação de espécies carnívoras que requerem altos níveis de proteína animal na dieta tornando a ração mais onerosa, pois ingredientes como as farinhas de peixe e de carne encarecem sua formulação, não apresentam padrão de qualidade constante e são de difícil aquisição (Cavero, 2004). No entanto Pezzato (1995) considera a farinha de peixe um alimento padrão na composição de dietas em função do seu alto valor biológico, equilíbrio dos níveis de aminoácidos, cálcio e fósforo, sendo importante no crescimento dos peixes. Uma forma de baratear os custos e melhorar a qualidade da ração é a substituição de fontes de proteínas animal (maior custo), por fontes de proteínas vegetais (soja, milho, trigo) que possuem 102 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 menor custo, composição química aceitável, perfil de aminoácidos mais favoráveis e alta disponibilidade (Barroso, et al., 2002, Soares et al., 2006). Com a alta demanda de ingredientes alimentares para a aquicultura, torna-se importante à avaliação dos componentes com a finalidade de melhorar a assimilação e aceitabilidade da ração. Apesar de espécies carnívoras exigirem dietas mais ricas em proteína do que espécies onívoras ou herbívoras, em situações de confinamento, ingredientes como farelo de soja, farelo de milho e trigo podem ser administrados na formulação da ração de ambos, apenas em proporções diferenciadas (Cyrino, et al., 2004, Soares et al., 2006). Os peixes herbívoros e onívoros não apresentam dificuldade na digestão de proteína vegetal, entretanto peixes carnívoros possuem baixa taxa de secreção de amilase, o que pode ser um entrave à inclusão de componentes de origem vegetal em sua dieta. Contudo o uso de ingredientes vegetais pode ser utilizado na composição alimentar de espécies carnívoras em substituição a proteína animal, desde que haja um acompanhamento do fígado destes indivíduos em relação a assimilação de carboidratos. O USO DE ENZIMAS NA ALIMENTAÇÃO DE PEIXES CARNÍVOROS A introdução de atrativos alimentares ou aditivos enzimáticos na ração facilita o cultivo de peixes carnívoros (Soares et al., 2008 no prelo). Kubtiza & Cyrino (1997) encontraram aumento na aceitação de uma ração comercial com sabor carne oferecidas para o tucunaré. Já a introdução de enzimas na ração, é uma técnica moderna com a finalidade de complementar as enzimas que são produzidas pelo próprio animal em quantidades insuficientes (Garcia, et al., 2000; Fischer et al., 2002). Embora complexos enzimáticos já estejam sendo usados em larga escala na indústria alimentícia para facilitar a digestibilidade, melhorar o sabor e valor nutricional dos alimentos, a literatura referindo-se a introdução destes aditivos em rações para peixes ainda é escassa. Trabalhos recentes têm demonstrado respostas positivas quanto a digestibilidade de nutrientes no desempenho de aves e de coelhos utilizando-se enzimas como aditivos (Graham, 1997; Garcia, et al., 2000). O uso de lipase em rações para aves também tem sido uma nova alternativa com a intenção de aumentar a digestão de gorduras (Graham, 1997). Alguns estudos sobre quantificação de protease exógena influenciando as dietas ou estudos comparativos de enzimas proteolíticas e amilases foram realizados recentemente (Kurokawa et al., 1998; Hidalgo et al., 1999). Já Soares et al. (2008 no prelo), observou que a inclusão de protease exógena influencia na dieta de tucunarés, melhorando os índices de conversão alimentar, ganho de peso e crescimento. Estudos mais atuais indicam que apenas uma fração dos componentes das dietas animais é suplementada com esses aditivos. Esta situação mudará rapidamente com o desenvolvimento de novas enzimas alimentares, 103 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 mix enzimático ou novas formas de aplicação e pesquisas desses produtos gerando resultados promissores. REFERÊNCIAS Aquicultura no Brasil (2000). Bases para um Desenvolvimento Sustentável. Valenti, W. C. (Coord) Brasília: CNPq/Ministério da Ciência e Tecnologia. Azevedo, P.; Vaz, J. O. & Parreira, W. B. (1961). Aclimatação da truta arco-íris em algumas águas de São Paulo. Bol. Ind. Anim.,19: 75-105. Barroso, V. M.; Castro, C.J.; Aoki, M. C. P. & Helmer, L. J. (2002). Valor Nutritivo de Alguns Ingredientes para o Robalo Centropomus parallelus. Rev. Bras. Zoot., 31: 2157-2164. Cavero, B. A. S. (2004). Uso de Enzimas digestivas exógenas na alimentação de juvenis de pirarucu Arapaima gigas (Cuvier, 1829) [Tese de doutorado]. Manaus (AM): Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA/Universidade Federal do Amazonas-UFAM. Cyrino, J. E. P. (2000). Conceitos atuais e perspectivas da alimentação e nutrição de peixes carnívoros. In: Seminário internacional sobre a Aquicultura na Amazônia. (p 139). Manaus: Anais do SISAA, 1. Cyrino, J. P.; Urbinati, E. C.; Fracalossi, D. M. & Castagnolli, N. (2004). Tópicos Especiais em Piscicultura de Água Doce Tropical Intensiva. São Paulo: Editora TecArt. Fischer, G.; Maier, C. J.; Rutz, F. & Bermudez, L. V. (2002). Desempenho de frangos de corte alimentados com dietas a base de milho e farelo de soja, com ou sem adição de enzimas. Rev. Bras. Zoot., 31(1): 402 – 410. Garcia, M. R. E.; Murakami, E. A.; Branco, F. A. Furlan, C. A. & Moreira, I. (2000). Efeito da suplementação enzimática em rações com farelo de soja e soja Integral extrusada sobre a digestibilidade de nutrientes, o fluxo de nutrientes da digesta ileal e o desempenho de frangos. Rev. Bras. Zoot., 29 (5):1414 – 1426. Graham, H. (1997). Enzimas para dietas de maiz-soya para parrilleros. Alim. Balan. Anim., 4 (6):: 22-24. Hidalgo, C. M. E. & Urea, A. S. (1999). Comparative study of digestive enzymes in fish with different nutrition habits. Proteolytic and amylase activities. Aquaculture, 170:267 – 283. 104 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Imbiriba, E. P. (1991). Produção e manejo de alevinos de pirarucu, Arapaima gigas (Cuvier) In:. EMBRAPA-CPATU (Ed.) Circular técnica 57. Belém. Kossowsky, C. (1999). Perspectivas del cultivo de bagre en Venezuela. In: Acuicultura em Armoniacom el Ambiente (pp. 287-294). Caracas: Anais do AAA. Kubitza, F. & Cyrino, J. E. P. (1997). Feed Training strategies for the piscivorous peacock bass Cichla spp. In: Proceedings of the International Symposium Biology of Tropical Fishes (p.139). Manaus: Anais SBTF. Kubitza, F. (1999). Nutrição e alimentação de tilápias – parte I. Panorama da Aquicultura, 9 (52): 42 – 50. Kurokawa, T.; Shiraishi, M & Suzuki, T. 1998. Quantification of exogenous protease derived of zooplankton in the intestine of japanese sardine Sardinops melanoticus larvae. Aquaculture. 161: 491-499. Moura Carvalho, L. O. D. & Nascimento, C. N. B. (1992). Engorda de pirarucus Arapaima gigas em associação com búfalos e suínos. EMBRAPA-CAPTU (Ed.) Circular Técnica 65. Belém. Pezzato, L. E. (1995). Alimentos convencionais e não-convencionais disponíveis para a indústria da nutrição de peixes no Brasil. In: Simpósio Internacional Sobre Nutrição de Peixes e Crustáceos (p.34-52), Campos de Jordão: Anais do SINPC, 1. Soares, E. C.; Pereira-Filho, M.; Roubach, R.; Ituassú, D. R. & Silva, R. C. S. (2006). Substituição de proteína animal por proteínas de origem vegetal na dieta para o tucunaré paca Cichla sp. Bol. Tec. Cient. Cepnor, 6 (1): 121-131. Soares, E. C.; Pereira-Filho, M.; Roubach, R. & Silva, R. C. S. (2007). Condicionamento alimentar no desempenho zootécnico do tucunaré. Rev. Bras. Enga. Pesca. 3(2): 35-48. Soares, E. C.; Pereira-Filho, M.; Roubach, R. & Silva, R. C. S. (2008). Proteases exógenas em dietas para juvenis de tucunaré paca Cichla sp. Rev. Bras. Zoot. (artigo no prelo). Robinson, E. H. & Li, M. H. 1997 Low protein diets for channel catfish Icatalurus punctatus raised in earthen ponds at high density. Journ. Worl. Aquac. Soc., 28: 224 – 229.D 105 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 INFLUÊNCIA DA PROFUNDIDADE DOS LAGOS DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE PAULO AFONSO, BA E SUA LIMITAÇÃO AO CULTIVO DE PEIXES INFLUENCE OF THE DEPTH OF THE LAKES OF PAULO AFONSO`S HYDROELECTRIC COMPOUND, IN THE INVASION OF AQUATIC MACROPHYTES, AND HER LIMITATION TO THE CULTIVATION OF FISH José Patrocínio LOPES* Luiz Carlos Farias DANTAS; Eloi CERQUEIRA Departamento de Educação, Campus VIII, Universidade do Estado da Bahia *Email: [email protected] Recebido para publicação em 16 de outubro de 2007 Resumo - Dentre os lagos e reservatórios que surgiram após a construção das usinas hidrelétricas em Paulo Afonso, Bahia, a grande maioria se não todos, possui problema quanto à proliferação indesejável de macrófitas aquáticas, restringindo os cultivos intensivos de peixes em tanques-rede. O conhecimento da profundidade dos lagos em estudos poderá contribuir para um melhor manejo nestes ambientes e provável controle das macrófitas aquáticas. As espécies de macrófitasproblema representativas nestes lagos, do ponto de vista populacional e constantes deste estudo foram: Thypha domingensis, Eichornia crassipes, Nymphea brasiliensis e Egeria densa. Com o objetivo de estabelecer a profundidade limite de atuação destas espécies, foram efetuadas medições em quatro lagos e um reservatório do município de Paulo Afonso: da Vila Militar, Touro e a Sucuri, Capuchú, Cemitério e o reservatório Delmiro Gouveia. Estas medições foram efetuadas a duas distâncias das plantas: a 1,00 m (transição) destas e a 2,00 m da ocorrência das plantas. Foram obtidas as seguintes profundidades controle das espécies: Thypha domingensis: 1,60 m a 2,00 m de distância desta planta. Nymphea brasiliensis: 2,18 m também a 2,00 m de distância. Eichornia crassipes: por se tratar de planta flutuante foi possível concluir que a mesma se mantém controlada pelas correntes de ambientes aquáticos como os lagos e reservatórios, sendo forte invasora em ambientes fechados, indiferente da eutrofização e da profundidade; e, Egeria densa: não foram realizadas medições para esta espécie, uma vez que a revisão bibliográfica permite estabelecer valores de 9,00 m para o seu controle em águas claras e correntes. Palavras-chave: Macrófita, Piscicultura, Tilapicultura, Eutrofização Abstract - Among the lakes and reservoirs that appeared after the construction of the Hydroelectric power stations in Paulo Afonso, Bahia, the great majority if no all, possess problems as for the undesirable proliferation of aquatic macrophytes, restricting the intensive cultivations of fish in tanks-net. The knowledge of the depth of the lakes in study can contribute to a better handling in those adapt and probable control of the aquatic macrophytes. The representative macrophytesproblem species in these lake of the point of view population and constant of this study were: Thypha domingensis; Eichornia crassipes; Nymphea brasiliensis and Egeria densa. With the objective of establishing the depth limit of performance of these species, measurements were made in four lakes and one reservoir of the municipal district of Paulo Afonso, being these: The lakes of the Vila Militar, Touro e a Sucuri, Capuchú, Cemitério and the Delmiro Gouveia reservoir. Those measurements were made at two distances of the plants to 1.00 m (transition) of these and to 2.00 m of the occurrence of the plants. They were obtained the following depths control of the species: Thypha domingensis: 1.60 m to two meters of this plant. Nymphea brasiliensis: 2,18 m also to two meters of the plant. Eichornia crassipes: for treating of flotation plant, observations allow to conclude us that same she maintain controlled by the current of the lakes as the Delmiro Gouveia reservoir, being strong invasion in indifferent of the eutrofization closed atmospheres and of the depth. Egeria densa measurements were not accomplished for this species, once the bibliographical revision allows to establish values of 9.00 m for control in clear and average waters. Key-words: Macrophyte, Fish culture, Tilapiculture, Eutrofization 106 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 INTRODUÇÃO Com a construção das usinas hidrelétricas de Paulo Afonso I, II, III, IV e Apolônio Sales pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), uma complexa rede de lagos e reservatórios artificiais transformou a paisagem do Município, acarretando entre outras modificações, desequilíbrios nos ecossistemas naturais. Dentre os lagos e reservatórios que surgiram após a construção das referidas Usinas a grande maioria se não todos, possuem problema quanto à proliferação indesejável de macrófitas aquáticas, problemas estes: de restrição ao potencial aquícola, interferindo negativamente na implantação de tanques-rede para cultivo de tilápias (Oreochromis niloticus), devido ao impedimento de instalação destas estruturas; de ordem operacional, nos reservatórios, uma vez que as plantas interferem negativamente na geração de energia elétrica devido à invasão destas nas grades de contenção de entrada às turbinas geradoras; de estética urbanística, devido à proliferação nos lagos urbanos, uma vez que existem dentro da ilha de Paulo Afonso mais de quinze lagos artificiais, sendo locais com potencial para implantação de áreas de lazer, demandando custos para limpeza (FADURPE, 2000). A situação atual dos referidos lagos contribui para elevar o nível de eutrofização da água, que recebe grande volume de esgotos domésticos provenientes em alguns casos de bairros inteiros e assoreamento dos mesmos. Provocado pelo desmatamento de suas margens com fins imobiliários e de irrigação, contribuindo para a diminuição das profundidades desses ambientes aquáticos. Estes fatos, aliados ao que ocorreu no Município com a modificação de ambientes e introdução de novas espécies vegetais e animais causando desequilíbrio nos ecossistemas, requerem estudos abrangentes sobre o comportamento dessas plantas incluindo pesquisas e revisões bibliográficas. Diante deste contexto, os lagos e reservatórios de Paulo Afonso, Estado da Bahia são ambientes promissores ao cultivo de peixes em tanques-rede, tecnologia esta que tem provocado crescimento acelerado da oferta de pescado com uma conseqüente geração de emprego e renda na região (Alencar, 1998). O conhecimento das profundidades dos lagos em estudo poderá contribuir para um melhor manejo nestes ambientes, e provável controle das macrófitas aquáticas. As espécies de macrófitasproblema, representativas nos referidos ambientes aquáticos, do ponto de vista populacional e constantes deste estudo são: Thypha domingensis (taboa), Eichornia crassipes (baronesa), Nymphea brasiliensis (aguapé) e Egeria densa (elódea). Para expandir a produção de peixes neste sistema de cultivo e difundir as técnicas mais modernas de exploração e preservação do meio ambiente, faz-se necessário identificar as profundidades de controle de macrófitas aquáticas invasoras da região e a exploração de áreas que 107 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 não inibam a implantação dos projetos de piscicultura em tanque-rede. Por tal motivo, este trabalho objetivou o levantamento das profundidades dos lagos do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso (CHPA) e suas influências na invasão por macrófitas aquáticas que interferem no cultivo de peixes em tanques-rede, com vistas à possibilidade de controle destas vegetações, contribuindo assim com o desenvolvimento da piscicultura em tanques-rede, limitado hoje em muitas coleções de água de Paulo Afonso, em virtude da invasão destas macrófitas. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi desenvolvido com o apoio da Estação de Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA), pertencente à CHESF que cedeu barco, câmara fotográfica, trena, equipe de mergulho e material de salvamento como coletes e luvas. Os procedimentos de campo foram realizados nos lagos e reservatórios de Paulo Afonso, aonde na maioria são verificados problemas quanto às restrições de cultivo de peixes em tanques-rede, os quais são: lago da Vila Militar, Touro e a Sucuri, Cemitério, Capuchú e reservatório Delmiro Gouveia. LAGO DA VILA MILITAR - Caracteriza-se por estar em propriedade militar, apresentando uma pequena profundidade, em torno de 2,00 metros, transparência de 0,23 m e uma área de aproximadamente dois hectares (Figura 1). Figura 1 - Lago da Vila Militar. Apresenta-se eutrofizado, por receber cargas poluentes de vários bairros periféricos da ilha de Paulo Afonso, como: Centenário, Senhor do Bonfim, Tropical, entre outros. Com relação as macrófitas existentes, apenas T. domingensis merece atenção, onde foi verificada invasão desta planta. Ao longo de toda a margem do lago, esta mantém um limite bem definido, não avançando além de determinado ponto, o que permite estabelecer com razoável precisão uma profundidade limite. 108 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 LAGO O TOURO E A SUCURI - Trata-se de um lago consideravelmente pequeno, de água corrente, com uma profundidade máxima de quatro metros e média de aproximadamente dois metros. Sob gestão da Prefeitura Municipal de Paulo Afonso, apresenta problemas quanto à invasão de macrófitas, principalmente N. brasiliensis, demandando custos para limpeza periódica (Figura 2). Figura 2 - Lago o Touro e a Sucuri. Como não existem problemas com T. domingensis neste Lago, a relação da profundidade com a proliferação de plantas aquáticas foi realizado apenas com a espécie N. brasiliensis. LAGO DO CEMITÉRIO - Este lago apresenta uma área de 128.200 m2 (±13 ha), possuindo em torno de 1.020 m de extensão e uma média de 130 m de largura. Apresenta profundidade média de 1,5 m. Em virtude desta profundidade, é invadido por diversas macrófitas aquáticas a exemplo de T. domingensis e algumas ciperáceas (Figura 3). Figura 3 - Lago do Cemitério. Suas águas são procedentes do reservatório Delmiro Gouveia que por sua vez já apresenta problemas com macrófitas aquáticas. Problema este que vem se intensificando após a 109 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 implantação do cultivo de tilápias no sistema de raceways às suas margens, tendo seus efluentes lançados no referido reservatório. Recebe também os efluentes dos tanques e viveiros da EPPA, que apresenta uma área de 3,8 hectares e também esgotos de aproximadamente 1000 casas do bairro centenário. As macrófitas existentes em todo Lago são: T. domingensis, E. densa, Brachiaria purpurascens, Pluchea suaveolens, sendo priorizada E. crassipes estabelecendo a média da profundidade ao longo da linha de transição desta macrófita. LAGO DO CAPUCHU - Lago artificial fechado, com aproximadamente três hectares de área e profundidade média de três metros. Apresenta substrato arenoso em praticamente toda a sua área. Água verde turva na ocasião, o que proporcionou uma transparência de 0,30 m, apesar deste Lago não receber cargas poluentes, sendo limpo. Porém por ser fechado, pode se observar eutrofização da água, o que se explica sua coloração característica. Quanto à invasão por macrófitas, o Lago se apresenta estável, observando-se plantas apenas nas margens e em pontos definidos. As espécies comuns são ciperáceas e T. domingensis (Figura 4). Figura 4 - Lago do Capuchu. RESERVATÓRIO DELMIRO GOUVEIA - Gerido pela CHESF, o reservatório Delmiro Gouveia (Figura 5), sempre apresentou problemas quanto à proliferação indesejável de duas macrófitas: E. densa resultado da decantação de nutrientes na área de remanso originando o desenvolvimento maciço desta macrófita e T. domingensis, esta em locais de pouca profundidade. Pesquisas anteriores com E. densa no Reservatório em questão permitem concluir que com o aumento da profundidade acima de nove metros, o solo rochoso ou arenoso e a velocidade das correntes apresentaram-se como fatores limitantes para o desenvolvimento da espécie, o que levou a restringir este estudo à invasão de T. domingensis, em virtude da carência de trabalhos de pesquisa visando o seu controle nestes Lagos e Reservatório 110 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Figura 5 - Reservatório Delmiro Gouveia MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO DAS PROFUNDIDADES Os lagos da Vila Militar, Capuchú, Touro e a Sucuri e o reservatório Delmiro Gouveia servirão como referência de controle, uma vez que pelas suas pequenas dimensões, ou manejo operacional das usinas, não há possibilidade de cultivo de peixes em tanques-rede e também pelo fato de haver um limite bem definido da ocorrência de plantas no sentido margem-centro do Lago ou Reservatório. Estes limites podem estar relacionados com as profundidades locais, o que levou a levantar a hipótese. Foram realizadas medições em duas estações, de forma sistematizada das profundidades, em cada lago e reservatório de Paulo Afonso, na transição a um metro da incidência das macrófitas e a dois metros destas. Com auxílio de cartas topobatimétricas destes ambientes cedidas pela Prefeitura Municipal de Paulo Afonso, através da Secretaria de Infra-estrutura e Meio Ambiente (SIMA), é possível indicar que locais poderão ser favoráveis à implantação dos módulos de tanques-rede. RESULTADOS LAGO DA VILA MILITAR. As medições realizadas em duas estações bem definidas estabeleceram médias ao longo da transição de T. domingensis e a dois metros de distância destas plantas, conforme Tabela 1. Tabela 1 - Profundidades obtidas na transição e a 2,00 m de T. domingensis no lago da Vila Militar. Estação Profundidade na transição (m) Profundidade a 2,00 m 01 0,80 1,50 02 0,80 1,40 03 0,90 1,60 Média 0,83 1,50 111 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Neste Lago, a profundidade limite para invasão por T. domingensis foi em média 1,50 m, sendo a única planta-problema encontrada no referido Lago. LAGO O TOURO E A SUCURI - As medições foram realizadas acompanhando a transição de ocorrência de N. brasiliensis, buscando deduzir uma profundidade média de atuação desta plantaproblema no Lago. Conforme Tabela 2, os resultados indicaram uma profundidade limite superior a dois metros para N. brasiliensis. Tabela 2 - Profundidades obtidas na transição e a 2,00 m de N. brasiliensis no lago o Touro e a Sucuri. Estação Profundidade na transição (m) Profundidade a 2,00 m 01 2,00 2,05 02 1,50 2,00 03 1,95 2,50 Média 1,82 2,18 LAGO DO CEMITÉRIO - Conforme Tabela 3, E. crassipes foi encontrada em todas as profundidades do Lago, o que se justifica por se tratar de macrófita aquática flutuante. Tabela 3 - Profundidades obtidas na transição e a 2,00 m de E. crassipes no lago do Cemitério. Estação Profundidade na transição (m) Profundidade a 2,00 m 01 1,80 2,00 02 1,50 2,50 03 1,20 2,20 Média 1,50 2,23 LAGO DO CAPUCHÚ - A medição encontrada para T. domingensis, nas profundidades de transição e a dois metros de ocorrência das plantas são apresentadas na Tabela 4. Para este Lago, a profundidade limite para esta macrófita foi de 1,65 m. Tabela 4 - Profundidades obtidas na transição e a 2,00 m de T. domingensis no lago do Capuchú. 112 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Estação Profundidade na transição (m) Profundidade a 2,00 m 01 1,00 1,60 02 1,10 1,70 03 1,05 1,65 Média 1,05 1,65 RESERVATÓRIO DELMIRO GOUVEIA - Na Tabela 5, estão representadas as profundidades limites para T. domingensis no reservatório Delmiro Gouveia. Tabela 5 - Profundidades obtidas na transição e a 2,00 m de T. domingensis no reservatório Delmiro Gouveia. Estação Profundidade na transição (m) Profundidade a 2,00 m 01 1,10 1,70 02 1,00 1,50 03 0,80 1,70 Média 0,97 1,65 PROFUNDIDADES CONTROLE DAS ESPÉCIES Na Tabela 6, são apresentadas sínteses de profundidades limites para a macrófita T. domingensis em lagos e no reservatório de Paulo Afonso. Tabela 6 - Profundidades médias obtidas na transição (a 1,00 m) e a 2,00 m de ocorrência de T. domingensis em lagos e reservatório de Paulo Afonso, Bahia. Média das profundidades obtidas (m) Lago ou reservatório Transição a 2,00 m Vila Militar 0,83 1,50 Capuchú 1,05 1,65 Delmiro Gouveia 0,97 1,65 Média 0,95 1,60 Para N. brasiliensis, tendo em vista sua ocorrência somente no lago o Touro e a Sucuri, as profundidades médias obtidas na área de transição e a dois metros das plantas foram de 1,82 e 2,18 m respectivamente. 113 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Para E. crassipes, observações freqüentes permitem concluir que a mesma se mantém controlada pelas correntes dos lagos abertos como o reservatório Delmiro Gouveia, sendo forte invasora em ambientes fechados, indiferente da eutrofização e da profundidade. Para E. densa, não foram realizadas medições para esta planta, uma vez que a revisão bibliográfica permite estabelecer valores próximos a nove metros para a transição de ocorrência desta planta em águas claras e correntes (Lopes & Tenório, 2002). DISCUSSÃO As populações de plantas subaquáticas são difíceis de manejar e controlar. O hábito perene de crescimento, profundidade de colonização, a facilidade de propagação por segmentos de plantas e o próprio ambiente aquático, levando a diluição de agentes de controle são grandes problemas a serem enfrentados (Borges Neto, Gorgati & Pitelli, 2004). Segundo Santos & Thomaz (2002), a redução da profundidade afetou de forma diferenciada as lagoas abertas e fechadas refletindo negativamente na assembléia de macrófitas aquáticas. A proliferação de macrófitas está relacionada com a profundidade. O aumento da lâmina de água está associado à predominância de espécies flutuantes e uma redução de espécies com enraizamento no substrato (Motta Marques et al., 1997). Existem várias espécies de macrófitas com potencial para causarem prejuízos em ecossistemas aquáticos (Carvalho, Galo, Velini & Martins, 2003). Os aguapés (gênero Eichornia), por exemplo, têm sido motivo de grandes preocupações nas represas da companhia Light. Segundo Agostinho & Gomes (1997), o reservatório de Segredo (rio Iguaçu – PR) tem como característica marcante a escassez de macrófitas, podendo o fato decorrer de seu caráter recente, das características do trecho do Rio em que foi construído (águas rápidas, curso encaixado, amplas e freqüentes variações de níveis decorrentes da operação da barragem e do estado trófico). Estes fatores estão em acordo com o ocorrido no reservatório de Xingó, que apresenta características semelhantes. Também semelhante ao que ocorre no reservatório Delmiro Gouveia, que mantém a população da macrófita E. crassipes sob controle, em virtude das correntes nos trechos lóticos. Lopes & Tenório (2002), afirmam que o melhor mecanismo de convivência com as macrófitas aquáticas em lagos e reservatórios hidrelétricos consiste em adequado manejo destes ambientes, controle de efluentes e o cuidado com a qualidade da água, para que haja uma mínima interferência na geração de energia elétrica e no cultivo de peixes. A profundidade média encontrada para as plantas-problema T. domingensis e N. brasiliensis foi de 1,60±0,38 m. Para E. densa a profundidade limite é de 9,00 m, assim estes resultados estão 114 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 em desacordo com o recomendado para o cultivo de peixes em tanques-rede conforme recomendado pela Instrução Normativa Interministerial no 8 da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP) Art. 1o que estabelece diretrizes referentes a este parâmetro onde diz que a profundidade da área selecionada para implantação de cultivos que necessitam de arraçoamento deverá considerar a altura submersa da estrutura de cultivo mais a distância mínima de 1,50 m entre a parte inferior da estrutura e o álveo do corpo dágua” (Panorama da Aqüicultura, 2003). Assim, seria necessária uma profundidade mínima de 2,80 m sem ainda considerar o problema macrófitas aquáticas. Portanto, os lagos do acampamento Chesf em Paulo Afonso não se adequam ao cultivo de peixes em tanques-rede em virtude de suas pequenas profundidades. A partir das profundidades obtidas nas regiões de ocorrência das macrófitas-alvo nos lagos e reservatório estudados, foi possível identificar um nível no qual estas plantas se mantiveram controladas. Estas cotas podem representar uma ferramenta imprescindível para o manejo de controle integrado, aliando-se a outros fatores de ordem químicos, físicos e biológicos, uma vez que a complexidade biológica desses vegetais requer estudos multidisciplinares e freqüentes. REFERÊNCIAS Agostinho, A. A & Gomes, L. C. (1997). Manejo e monitoramento de recursos pesqueiros: perspectivas para o reservatório de Segredo, pp. 319-364. In: Agostinho, A. A & Gomes, L. C. (ed.), Reservatório de Segredo - Bases ecológicas para o manejo integrado. Maringá: EDUEM. Alencar, M. A. R. (1998). Módulo experimental de aqüicultura em tanques-rede no reservatório da Usina Hidroelétrica de Xingó. Monografia (Especialização em Aqüicultura) - Departamento de Pesca, Universidade Federal Rural de Pernambuco. 1998. Borges Neto, C. R.; Gorgati, C.Q & Pitelli, R. A. (2004). Influência do fotoperíodo e da temperatura na intensidade de doenças causadas por Fusarium graminearum em Egeria densa e E. najas. Fitopatologia Brasileira. 29; 252-258. Carvalho, F. T.; Galo, M. L. B. T.; Velini, E. D & Martins, D. (2003). Plantas aquáticas e nível de infestação das espécies presentes no reservatório de Barra Bonita, no rio Tietê. Planta daninha, Viçosa – MG. V. 21. p. 15-19. FADURPE (2000). Zoneamento da piscicultura em tanques-rede nos reservatórios do submédio rio São Francisco. Introdução e zoneamento do reservatório de PA –IV. Recife. 115 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Lopes, J. P. & Tenório, R. A. (2002). Contribuição para o conhecimento de macrófitas aquáticas existentes nos lagos e reservatórios do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso – CHESF. In: XIV Congresso da Sociedade Botânica de São Paulo. Rio Claro: anais do CSBSP em CD ROM. UNESP. Motta Marques, D. M. L. da.; Irgang, B.; Giovannini, S. G. T. (1997). A importância do hidroperíodo no gerenciamento de água em terras úmidas (Wetlands) com uso múltiplo: O caso da Estação Ecológica do Taim. In: XII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos. Vitória. Anais do SBRH, 3. Panorama da Aqüicultura. (2003). Instrução Normativa Interministerial No 8. v. 13. N. 80. p. 60. Santos, A. M. & Thomaz, S. M. (2002). Diversidade de espécies de macrófitas aquáticas em lagoas de uma planície de inundação tropical: O papel da conectividade e do nível da água. http://www.cblimnologia. UFJF.BR/Santos, A. M. (acessado em 31 de jul. 2006).D 116 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 “FUI NO MANGUE CATAR LIXO, PEGAR CARANGUEJO, CONVERSAR COM O URUBU”: ESTUDO SOCIOECONÔMICO DOS CATADORES DE CARANGUEJO NO LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO "I WENT INTO THE MANGROVE TO CATCH GARBAGE, TO CATCH CRABS, TO TALK WITH THE KINGVULTURE": A SOCIO-ECONOMIC STUDY OF THE CRAB CATCHERS AT THE NORTH LITTORAL OF PERNAMBUCO. Roberta Sá Leitão BARBOZA1*; Sigrid NEUMANN-LEITÃO2; Myrian Sá Leitão BARBOZA3 ; Luciana de Matos Andrade BATISTA-LEITE4; 1 2 3 Mestre em Biologia Ambiental, Universidade Federal do Pará Departamento de Oceanografia, Universidade Federal de Pernambuco Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, UFPA 4 Departamento de Pesca e Aqüicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco *Email: [email protected] Resumo - Os catadores de caranguejo utilizam instrumentos rústicos por eles adaptados e técnicas manuais para extração do caranguejo nos manguezais. Esta atividade representa para eles grande importância econômica através da geração de empregos e renda. Atualmente, a espécie encontra-se bastante ameaçada em alguns Estados brasileiros. Para reduzir a possibilidade de sua extinção foram realizadas algumas medidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) para promover sua preservação. Entretanto, não foram integradas ações conservacionistas a fim de garantir a extração sustentável do recurso. Desta forma, o principal objetivo deste trabalho foi realizar um estudo da atividade sócio-econômica dos catadores de caranguejo-uçá nos estuários do rio São Lourenço e do rio Catuama, Goiana, PE – Brasil. Os dados foram levantados no mês de março de 2004 através de entrevistas semi-estruturadas com aplicação de formulários e registro fotográfico. Os principais resultados demonstram que a maioria dos entrevistados apresentaram padrão de vida e saúde ambiental muito baixos e que os impactos ambientais vêm reduzindo a população de caranguejo-uçá, levando os catadores a exercerem outras atividades rentáveis. O estudo também evidenciou diferença na importância sócio-econômica da catação do caranguejo entre as comunidades estudas, tendo maior expressão na comunidade de São Lourenço. Apesar da importância significativa da atividade, refletida no abastecimento do recurso nos principais mercados públicos regionais, bem como contendo teor protéico elevado e gerando de renda para os catadores de caranguejo, estes obtém pouco usufruto da venda devido à falta de valor agregado ao produto. Assim, é indispensável considerar as especificidades regionais entre as relações do catador e do caranguejo, além da bioecologia do animal na efetivação de planos de manejo do uso do recurso. Palavras chaves: caranguejo, sócio-economia, manguezal, Pernambuco. Abstract - The crab catcher use rustic equipments adapted by tem and manual techniques to catch the crabs from mangrove areas. This activity is economically important to them as job and income generation. Nowadays, this specie in under threat in some Brazilian states. To minimize the chance of extinction of this specie the Government Environmental Institute – IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) created rules to promote its preservation. However, conservation actions were not included to obtain a sustainable resource extraction. Thus, the main objective of this paper was to study the socio-economic activity of the crab catcher at São Lourenço and Catuama estuaries (Goiana, PE, Brazil). Data were obtained in March/2004 through semi-structured interviews by questionnaire application and photographic registration. The main results show that most crab catcher have a very low life standard quality, low environmental health and (a tendency to decrease the crab availability) making crab catcher to change to another rentable activity. It was also observed differences between the socio-economic importance of the crab to the two studied communities (São Lourenço and Catuama), being more representative at São Lourenço. Even being important, as can be seen in the offers of the regional market, and also by its high protein content source and income generation, the crab catchers receive a low revenue due the lack of aggregated value to the product. Thus, it is important to consider the regional characteristics of the catcher and the crab, besides the animal bioecology in management programs of this resource. Key words: crabs, socio-economy, mangrove, Pernambuco 117 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 INTRODUÇÃO A influência sócio-cultural do caranguejo-uçá (Ucides cordatus Linnaeus, 1763) no Brasil, em especial no Estado de Pernambuco, é expressa pelo simbolismo das músicas de Chico Science no movimento cultural mangue-beat, além das poesias do escritor e médico pernambucano Josué de Castro: “Fui no mangue catar lixo/ pegar caranguejo/ conversar com o urubu...”(Chico Science) “No mangue, tudo é, foi ou será caranguejo, inclusive o homem e a lama...” (Josué de Castro) Os catadores de caranguejo são homens que vivem da coleta do caranguejo nos manguezais durante a baixamar, utilizam instrumentos rústicos por eles adaptados (ratoeira, redinha e gancho) e técnicas manuais como o braceamento1 e o tapeamento2. Em geral se instalam na periferia de zonas urbanas litorâneas e dentre os pescadores figuram entre os de menor poder aquisitivo (Nordi, 1992) e, por não apresentarem representação política e profissional, freqüentemente não possuem direitos sociais como pensão ou benefícios por doenças (Glaser & Diele, 2004). Algumas características dessa atividade pesqueira têm importância para os catadores, como o fácil acesso ao mangue, a previsibilidade, o baixo custo na captura, a boa aceitação no mercado e a autonomia na produção (Glaser & Diele, 2004; Maneschy, 1993; Nordi, 1992). Para estes homens o caranguejo-uçá representa grande importância econômica através da geração de empregos e renda (Alves & Nishida, 2004; Ivo et al., 2000), além de ser considerado pelos pesquisadores como um dos recursos mais explorados nos manguezais brasileiros. Em Bragança, nordeste paraense, o caranguejo-uçá é coletado e vendido por 42% da população e é responsável por 38% da renda local (Glaser, 2003). No estuário do rio Mamanguape (PB), U. cordatus representa a espécie de caranguejo mais extraída e de maior relevância para as comunidades no entorno dos manguezais (Alves & Nishida, 2003). Atualmente, a sobrevivência da espécie encontra-se bastante ameaçada em alguns Estados brasileiros. Há cerca de oito anos vem ocorrendo uma mortandade em massa no sentido norte-sul desde os manguezais situados no Ceará até o Sul da Bahia. Segundo Boeger et al. (2005), o provável agente patogênico da enfermidade, conhecida por doença do caranguejo letárgico, é um fungo ascomiceto. Todavia, ainda é desconhecido o processo de transmissão da doença (Ciência Hoje, 2005). Schmidt & Oliveira (2006) sugerem a realização de novos estudos para descobrir qual desequilíbrio ambiental seria responsável pela proliferação anormal do fungo e infecção exclusiva 1 Técnica em que o catador introduz o braço inteiro na toca do animal, segurando-o pela região dorsal da carapaça (Nordi, 1992). Consiste na obstrução da tocas do caranguejo com raízes e sedimento do mangue para promover sua subida com baixa resistência, devido á ausência de ar (Nordi, 1992). 2 118 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 da espécie, e acima de tudo, verificar se existem ações antrópicas relacionadas a este desequilíbrio. Outros pesquisadores (Schaeffer-Novelli et al., 2006) têm apontado a carcinicultura como causador, através de doenças transmitidas pelos camarões cultivados, entretanto, nada foi comprovado. De acordo com estudos realizados pelo Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Nordestino (CEPENE), cerca de 10 mil famílias de catadores de caranguejo foram atingidas diretamente por esta alta mortandade de caranguejos no nordeste brasileiro (Redmanglar, 2005). Diante da preocupação de sua extinção foram realizadas algumas medidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) para promover sua preservação. Dentre elas destaca-se a portaria nº 34, de 24 de junho de 2003 que proíbe em qualquer época a captura, a coleta, o transporte, o beneficiamento, a industrialização e a comercialização de qualquer indivíduo da espécie Ucides cordatus cuja largura da carapaça seja inferior a 6,0 cm nos Estados do Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Durante o período de 1 de dezembro a 31 de maio, a captura, a manutenção em cativeiro, o transporte, o beneficiamento, a industrialização e a comercialização de fêmeas da espécie também fica proibida nesses Estados (IBAMA, 2003; Souto, 2000). Entretanto, não foram integradas ações conservacionistas entre os representantes governamentais e sociais a fim de garantir a extração sustentável do recurso, muitas vezes principal fonte de sustento aos catadores de caranguejo. As leis são simplesmente criadas e impostas, cabe aos catadores obedecerem-nas ou não, sob risco de punição. Quintas (2002) acredita que qualquer problemática ambiental deve ser analisada sob uma ótica multidisciplinar, respaldada nos aspectos econômicos, sociais e ecológicos, visto que o homem é parte integrante da natureza, detentor de conhecimentos e valores socialmente trabalhados durante todo o processo histórico. Para Alves & Nishida (2004), além da supervisão governamental e exploração controlada, é necessário uma contextualização da população local de catadores de caranguejos, os quais são geralmente ignorados pelas autoridades na elaboração de medidas que regulamentam o uso de recursos. Desta forma, o principal objetivo deste trabalho foi realizar um estudo da atividade sócioeconômica dos catadores de caranguejo-uçá nos estuários do rio São Lourenço e do rio Catuama, Goiana, PE - Brasil. MATERIAL E MÉTODOS ÁREA DE ESTUDO A pesquisa foi realizada com as comunidades de catadores de caranguejo situadas junto aos estuários dos rios Catuama e São Lourenço (Figura 1), ambos localizados no município de Goiana. Este município está situado na zona fisiográfica do Litoral e da Mata (EMPETUR, 1998), na porção 119 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 oriental do Estado de Pernambuco, constituindo uma área territorial de 492,1 km², equivalente a 0,44% do Estado, com população urbana e rural totalizando 71.088 habitantes e densidade demográfica de 144,46 hab/km2 (IBGE, 2000) e a base de sua economia está no cultivo da cana-deaçúcar e na agroindústria sucro-alcooleira (CPRH, 2001). Figura 1 - Mapa com a localização das áreas de estudo (São Lourenço e Catuama, PE-Brasil). O município de Goiana é composto por três distritos (Goiana, Pontas de Pedras e Tejucupapo) e mais dez povoados, entre eles Catuama, Barra de Catuama, São Lourenço e Carne de Vaca. A cidade de Goiana está localizada entre as coordenadas 07°33’40’’ S - 35°00’10’’ W, apresentando os seguintes limites: Norte - Caaporã e Pitimbu (Paraíba); Sul - Itamaracá, Igarassu e Itaquitinga; Leste - Oceano Atlântico e Oeste - Condado e Itambé. O clima é classificado por Köppen como tropical quente úmido, AWS’, com precipitações pluviométricas de 1.500 a 2.000 mm e temperatura média de 25°C (FIDEPE, 1981). COLETA DOS DADOS Os dados sobre extração de caranguejos pelos catadores foram levantados no mês de março de 2004 através de entrevistas semi-estruturadas (Viertler, 2002) com aplicação de formulários e registro fotográfico. Estes formulários continham informações sobre as condições sociais dos catadores de caranguejo, a atividade econômica que desenvolvem as características da extração dos caranguejos, os produtos extraídos e os aspectos relacionados à sua percepção ambiental. Foi realizada amostragem do tipo “snow ball” (Bailey, 1994 apud Albuquerque & Lucena, 2004), onde a seleção dos informantes é intencional, neste caso os catadores de caranguejo, e 120 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 consiste na indicação dos informantes pelos próprios entrevistados. Durante as visitas domiciliares foi utilizada ajuda de dois moradores locais, constituindo-se como os informantes-chaves (Huntington, 2000; Albuquerque & Lucena, 2004, Batista-Leite, 2005), para apresentação dos pesquisadores com o objetivo de conquistar a confiança dos entrevistados, método conhecido como “rapport” (Albuquerque & Lucena, 2004). Através do acompanhamento de pessoas da própria comunidade durante a apresentação dos pesquisadores e durante a aplicação do formulário, há maior possibilidade de ocorrência de cooperação da comunidade ao longo do trabalho e de veracidade dos dados coletados. RESULTADOS E DISCUSSÃO O estudo do perfil socioeconômico das comunidades de catadores de caranguejo de Goiana (PE) resultou no registro de 21 entrevistados, sendo 13 referentes ao povoado São Lourenço e 8 a Catuama3. Durante a aplicação dos formulários alguns catadores de caranguejo associaram nossa presença à fiscalização de órgãos ambientais, evitando qualquer encontro. Situação semelhante a esta é relatada por Lima & Quinamo (2000) estudando as comunidades pesqueiras do Canal de Santa Cruz-PE e Batista-Leite (2005) no estuário do rio Goiana-PE. As entrevistas duraram, em média, uma hora. UM BREVE PERFIL SOCIAL Os resultados referentes ao nível de escolaridade dos catadores de caranguejo-uçá demonstraram altas taxas de analfabetismo (58,3% em São Lourenço e 62,5% em Catuama). Estudos semelhantes realizados em Pontas de Pedra pela Companhia Pernambucana do Meio Ambiente (CPRH, 2001) e Barra de Catuama (Lima & Quinamo, 2000) indicaram, respectivamente, os seguintes percentuais de analfabetismo: 57,5% e 26%. Fato também corroborado por BatistaLeite (2005) para os catadores de guaiamum do estuário do rio Goiana-PE com 62,5% de representatividade. O material empregado nas construções das casas dos catadores entrevistados em São Lourenço, em 50% dos casos, foi taipa e telha e nos 50% restantes foi tijolo e telha. Embora a maioria das habitações de Catuama fosse construída de tijolo e telha (49%), a construção com taipa e telha ainda representa um valor alto (38%), sendo o restante das casas confeccionadas por taipa e palha (13%). Entre os catadores de caranguejo-uçá do estuário do rio Mamanguape (PB) a maioria das construções das casas (81%) é de taipa e 19% de tijolos (Alves & Nishida, 2003). Todavia, 3 Os entrevistados de Pontas de Pedra e Barra de Catuama coletam no estuário do rio Catuama e foram considerados pertencentes à Catuama. 121 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Batista-Leite (2005) registrou casas de tijolo em 87,50% dos casos e apenas 12,50% de taipa para os catadores de guaiamum do estuário do rio Goiana, Pernambuco. Em São Lourenço grande parte dos entrevistados (63,6%) recebe água da rede oficial de abastecimento, a Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA); enquanto que em Catuama a maior parte (55,5%) tem acesso a poço artesiano. Os dados obtidos em outra pesquisa realizada na região apontam que o abastecimento de água por meio de rede oficial e poços foram de 42,5% e 18,6% para Pontas de Pedra (CPRH, 2001), 47% e 40% para Barra de Catuama (Lima & Quinamo, 2000), respectivamente. Contudo, Batista-Leite (2005) relatou que 100% dos catadores de guaiamum do estuário do rio Goiana-PE obtêm seu abastecimento pela COMPESA. Há, em geral, predomínio de formas obsoletas de esgotamento sanitário, como fossas sépticas precárias utilizadas por 69% dos catadores pesquisados de São Lourenço e 62% de Catuama. Existe, ainda, o lançamento dos resíduos in natura por 23% dos catadores pesquisados em São Lourenço e 37,5% dos catadores pesquisados em Catuama e outras formas de esgotamento sanitário (8% em São Lourenço e 0,5% em Catuama). Esta é uma realidade do próprio município de Goiana, segundo dados da CPRH (2001), 69,1% dos dejetos do município vão para fossas rudimentares e o restante é lançado in natura. O lixo urbano apresentou os seguintes destinos: em São Lourenço 50% dos entrevistados disseram que o lixo é recolhido pela prefeitura, 25 % afirmaram que é lançado em terrenos baldios, 18,75% jogam no estuário e 6,25% dos informantes responderam que queimam; em Catuama 55% dos catadores disseram que o lixo é coletado por caminhões do município, 33% jogam em terrenos baldios e 11,1% enterram. Conforme resultados apresentados por Batista-Leite (2005), 81,25% da comunidade de catadores de guaiamum do estuário do rio Goiana-PE têm seu lixo recolhido pela Prefeitura e 18,75% queimam, enterram ou jogam nos seus quintais. A ATIVIDADE ECONÔMICA A população de São Lourenço apresenta uma forte relação de dependência com o manguezal, efetivada por meio da extração de moluscos e crustáceos de valor comercial. O caranguejo-uçá é explorado há muitos anos na área, onde estudos realizados pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) indicaram a abundância desse recurso nas margens do rio São Lourenço, tendo sido a produção média anual, entre 1973 e 1974, estimada em 50 toneladas (SUDENE, 1978). A produção estimada de caranguejo-uçá no litoral pernambucano em 1998 foi de 97,5 toneladas (IBAMA, 1999). Em 2002 a produção de caranguejo foi estimada em 8,8 toneladas para o município de Goiana e 55,1 toneladas para todo o Estado de Pernambuco (IBAMA, 2002). 122 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 No que concerne a Catuama, verificou-se que as atividades pesqueiras são predominantemente realizadas no mar, tendo-se dificuldades em localizar catadores de caranguejo. Um diagnóstico sócio-ambiental realizado pela CPRH (2001) ressalta a predominância da pesca estuarina sobre a marítima no litoral norte do Estado, destacando o rio Megaó (rio São Lourenço) com exceção de Pontas de Pedras e Itamaracá. Além da tradição da pesca marinha, a destruição e poluição dos manguezais também podem ser os responsáveis por esta realidade em Catuama. A presença de mulheres catadoras de siri (Callinectes sp.) e caranguejo em Barra de Catuama é citada por Lima & Quinamo (2000), constituindo 42% dos 54 pescadores entrevistados neste estudo. Os catadores de caranguejo entrevistados (48% em Catuama e 38% em São Lourenço) relataram também a busca por outras atividades (construção de casas, carpintaria e roçado) como fonte de renda além da extração de caranguejo (Figura 2). Catuama apresenta um contexto regional um pouco diferente de São Lourenço: há ofertas de trabalho como caseiro aos pescadores, devido ao grande número de casas de veraneio; São Lourenço, por sua vez, é caracterizada como uma vila constituída, principalmente, por pescadores e catadores. Segundo Alves & Nishida (2003), a queda na produção dos catadores de caranguejo leva-os a buscarem outras fontes de renda, como pesca, corte de cana-de-açúcar, mariscagem, coleta de ostras (Crassostrea rhizophorae Guilding, 1828), aratus (Goniopsis cruentata Latreille, 1803) e siris e serviços como ajudante de pedreiro. Observações sobre a relação da comunidade de Barra de Catuama com a natureza, realizadas por Lima & Quinamo (2000), revelam mudanças decorrentes do crescimento desordenado, ocupação indiscriminada e degradação ambiental. Em Vila Velha (PE), local um pouco mais ao sul da área estudada, El-Deir (1999) apontou a forte influência da cidade do Recife, através da formação de uma população flutuante nos finais de semana, na descaracterização das relações entre os pescadores locais e o meio ambiente. Em relação à renda mensal, temos que 69,23% dos catadores de São Lourenço e 62,50% em Catuama recebem menos de um salário mínimo4, enquanto 30,77% (São Lourenço) e 37,50% (Catuama) recebem um salário mínimo em suas atividades pesqueiras. Todavia, esses valores variam consideravelmente no verão, em virtude da maior comercialização dos recursos. Os resultados divulgados para o município de Goiana mostram que 50,6% dos chefes de domicílio recebem até um salário mínimo (CPRH, 2001); em Barra de Catuama os pescadores recebem mensalmente cerca de 52 reais (Lima & Quinamo, 2000). 4 Em 2004 o valor do salário mínimo correspondia a R$ 240,00. 123 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 33% 67% Sã o Lo u re n ço C o n s t ru ç ã o S im Não Roç ado 38% 62% 25% 25% 25% 25% Catuama N ão 52% Sim Carpinteiro Construção Roçado Outros 48% Figura 2 - Percentual da realização de atividades geradoras de renda além da catação de caranguejos entre os entrevistados de São Lourenço e Catuama, Goiana-PE durante março de 2004. Há um maior ganho entre os catadores que não utilizam atravessadores para comercializar o produto. Quando ocorre intermédio de atravessadores o destino dos caranguejos são as feiras de Pontas de Pedra (PE), de Peixinhos (Olinda-PE) e de Rio Doce (Olinda-PE). Além de contribuir na alimentação das famílias de pescadores e catadores do Litoral Norte de Pernambuco, os recursos pesqueiros abastecem os mercados de Recife e do interior (CPRH, 2001). Alves & Nishida (2003) destacam a influência de transformações históricas, integradas a economias de mercado e aos sistemas políticos nas formas de exploração do recurso e na riqueza cultural dos catadores, os quais mantêm em geral uma relação de sujeição com grupos de compradores que exploram seu trabalho. Cintra (1999) estudando o caranguejo no norte do Brasil (Pará) constatou que o preço do caranguejo depende da disponibilidade do recurso, a qual está relacionada com a época do ano e a altura da maré. O autor ainda relata que os subprodutos do caranguejo não são aproveitados no município de São Caetano de Odivelas (PA), sendo os mesmos enterrados ou jogados na maré. Ogawa et al (1973a) descreveram o processo de obtenção de farinha do caranguejo para ração animal, através do aproveitamento da carapaça, vísceras e resíduos do crustáceo, evidenciando o desperdício existente em várias regiões do Brasil pela falta de orientação nessas comunidades 124 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 pesqueiras. Há ainda pesquisas sobre o processamento da carne congelada, pasteurizada-congelada e enlatada (Ogawa et al., 1973b). Moura et al. (2005) trabalhando com as comunidades de catadores do litoral Norte pernambucano relataram o beneficiamento do aratu, os quais raramente são vendidos vivos e normalmente são cozidos e deles retirado os músculos. O braquiúro Callinectes sp comumente denominado siri têm seus músculos retirados e comercializados in natura, da mesma forma que os aratus. Além disso, em algumas praias do litoral Norte (Carne de Vaca, Pontas de Pedra, Catuama, Barra de Catuama, Itamaracá, entre outras), também tem sido vendido em fase de ecdise (chamado vulgarmente de siri-mole) sendo considerado como iguaria nos bares e restaurantes. Porém, urge, portanto, que essas comunidades sejam instruídas e capacitadas para que haja um melhor aproveitamento dos recursos explorados. A EXTRAÇÃO Em relação à quantidade de dias semanais investidos pelos catadores nos manguezais, foi informado que 50% dos entrevistados de São Lourenço vão ao estuário 6 vezes na semana, 33% vão de 4 a 5 vezes por semana, 8,5% vão de 2 a 3 vezes na semana e 8,5% vão apenas 1 vez na semana. Em Catuama, 62,5% freqüentam o manguezal de 2 a 3 vezes na semana para extração de caranguejos, 25% vão de 4 a 5 vezes na semana e 12,5% vão 6 vezes na semana ao manguezal (Tabela 1). Para eles a sazonalidade define os períodos de maior ou menor freqüência de idas. Quando perguntados sobre a influência sazonal na atividade (Qual o melhor período para a atividade: inverno ou verão? Por que?), 95% consideraram o verão como melhor período para sua realização, devido a maior consolidação do sedimento e ausência de chuvas, facilitando a coleta, uma vez que “se atolam” menos na lama e o número de mosquitos é menor, além de maior número de compradores do produto. A percepção dos catadores dos estuários do rio Catuama e São Lourenço de que é no verão a época de maior densidade e facilidade de captura dos caranguejos é semelhante à descrita por Cintra (1999). Estudos de Maneschy (1993) relacionam a produção de caranguejos aos ciclos biológicos do animal: as capturas se reduzem paulatinamente ao término da estação chuvosa, quando os caranguejos fecham as tocas para realizarem a troca da carapaça (ecdise). Segundo trabalhos de Nordi (1994) na região de Várzea Nova (PB), os valores máximos da produção diária em número de corda, peso bruto, peso da porção aproveitável e os equivalentes em caloria e proteínas ocorrem no verão. 125 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Tabela 1 - Freqüência de idas ao estuário por semana em 2004 pelos catadores de caranguejo-uçá de São Lourenço e Catuama- PE, Brasil. Idas ao estuário / semana São Lourenço (%) Catuama (%) 1 8,5 0 2a3 8,5 62,5 4a5 33 25 6 50 12,5 Segundo os entrevistados, no tocante à duração da catação de caranguejos, verificou-se que 75% permanecem de 7 a 9 horas no manguezal do rio São Lourenço e 25% dos catadores mais de 9 horas; em Catuama 37,5% gastam de 1 a 3 horas no manguezal, 12,5% levam de 4 a 6 horas e 50% passam mais de 9 horas nessa atividade (Tabela 2). Eles citam o regime de marés como principal responsável pelo tempo total gasto nas coletas. As jornadas dos catadores de caranguejo de São Caetano de Odivelas (PA) estudados por Maneschy (1993) duram em média de 7 a 8 horas. Tabela 2 - Tempo gasto por dia em 2004 pelos catadores de caranguejo-uçá de São Lourenço e Catuama- PE, Brasil, na atividade de extração de caranguejos. Duração da atividade (h) / dia São Lourenço (%) Catuama (%) 1a3 0 37,5 4a6 0 12,5 7a9 75 0 >9 25 50 Para a maioria dos catadores de caranguejo o início da atividade de catação foi há mais de 5 anos, assim distribuídos: de 5 a 10 anos (16,6% em São Lourenço); de 10 a 15 anos (16,6% em São Lourenço e 50% em Catuama) e há mais de 15 anos (58% em São Lourenço e 37,5% em Catuama) (Figura 3). Quanto às técnicas utilizadas na coleta dos caranguejos, verificou-se que as mais empregadas em São Lourenço e Catuama, respectivamente, são: foice5 (33% e 12,5%); ratoeira (26% e 18,7%); braceamento (11% e 25%); tapeamento (11% e 25%) e redinha (14,8% e 18,7%). 5 Pedaço de madeira com ponta de metal que é introduzido na boca da toca ao encontro do caranguejo (Cintra, 1999) 126 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 As técnicas de coleta mais utilizadas pelos catadores de caranguejo-uçá do estuário do rio Entrevistados (%) Mamanguape (PB) são o tapeamento junto com o braceamento (Alves & Nishida, 2003). 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 < 1 ano 1 a 5 anos 5 a 10 anos 10 a 15 anos Tempo de Pesca >15 anos São Lourenço Catuama Figura 3 - Percentual do tempo médio (em anos) de exercício da profissão entre os catadores de caranguejo-uçá de São Lourenço e Catuama, PE-Brasil. No tapeamento o catador coloca um pequeno galho do mangue para marcar o local e depois retornar para capturar o caranguejo. A ratoeira (Figura 4) também é utilizada na captura de guaiamum (Cardisoma guanhumi Latreille, 1825) e foi apontada pelos catadores como técnica mais fácil de ser empregada e menos impactante. Por outro lado, deve-se considerar que se o catador não estiver consciente em coletar apenas os indivíduos adultos esta técnica poderá oferecer riscos à população local de caranguejos. Foto:Goretti Sônia-Silva. Foto:Goretti Sônia-Silva.. Figura 4 - Ratoeira utilizada na captura de guaiamum e caranguejo-uçá: diferença nos tamanhos das ratoeiras utilizadas (à esquerda) e ratoeira coberta por folhas utilizada pelos catadores em Pernambuco (à direita). Alguns catadores afirmaram não usar redinha (Figura 5) por ser difícil de confeccioná-la e pelos danos provocados pela mesma. Botelho et al. (2000) conduziram estudos em manguezais do litoral Sul do Estado de Pernambuco para avaliar os impactos ambientais no uso de redinhas na captura de caranguejo-uçá e constataram que cada catador utiliza 130 redinhas/dia, durante 18 127 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 dias/mês, equivalendo ao uso anual de 28.080 redinhas/catador, correspondendo aproximadamente a 17 kg de material plástico. Revelaram também que o período de tempo da baixa-mar não é suficiente para os catadores coletarem todas armadilhas, logo alguns caranguejos-uçá, ou outras espécies, mesmo quando não coletados ficam aprisionados e morrem. Os autores citam ainda que a redinha captura indivíduos jovens, apresenta baixa seletividade e é bem impactante, pelo fato de exigir o corte de 75 cm de raiz de Rhizophora mangle (Linnaeus) para fixação de cada armadilha, totalizando 42.000 metros lineares de raízes de mangue. Batista-Leite, em comunicação pessoal, afirmou que alguns catadores de caranguejo-uçá argumentaram a adesão ao uso da redinha porque os caranguejos estão em profundidades maiores, muito além do que o braçamento pode alcançar e afirmaram que os mesmos estão “ficando sabido”. Foto:Goretti Sônia-Silva.. Foto:Goretti Sônia-Silva.. Figura 5 - Redinha utilizada na captura de caranguejo-uçá: redinha armada em uma toca de caranguejo (à esquerda) e restos de uma redinha deixados próximo à toca (à direita). Apesar da captura de caranguejo-uçá ser apenas permitida através do método de braceamento com auxilio de gancho com proteção na extremidade (IBAMA, 2003), atualmente diferentes tipo de apetrechos de pesca vêm sendo utilizados, como os citados anteriormente (redinha, foice), além de óleo quente (diesel ou carbureto) e gás (Vergara-Filho & Villas-Boas, 1996). Segundo Maneschy (1993), diferentes processos são empregados na captura dos caranguejos em função da variação do meio natural, e, igualmente, das necessidades econômicas dos produtores, que os levam a inovar a busca de maior produtividade. OUTROS PRODUTOS EXTRAÍDOS Em São Lourenço, a coleta de moluscos é mais expressiva que em Catuama, onde há intensa pescaria e catação de guaiamum e siri. Verificaram-se em ambos os estuários a baixa extração de aratu (Tabela 3). A produção de pescado estuarino e marítimo no município de Goiana em 1998 foi de 1.040 toneladas, das quais 32,3 toneladas corresponderam ao caranguejo-uçá (IBAMA, 1999). A 128 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 produção anual por catador de caranguejo em Várzea Nova (PB), situada ao norte da área estudada, foi estimada em 640 kg de carne, correspondendo a 537.000 Kcal e 106,9 kg de proteínas (Nordi, 1994). Tabela 3 - Percentual (%) dos recursos pesqueiros de valor comercial extraídos em 2004 pelos catadores de caranguejo-uçá de São Lourenço e Catuama, Goiana-PE, Brasil. Recursos pesqueiros São Lourenço Catuama Crustáceos 20 55,1 Aratu (Goniopsi cruentata Latreille, 1803) 4 3,4 Camarão branco (Litopenaeus schmitti Burkenroad, 1936) 0 13,8 Siri Azul (Callinectes danae Smith, 1869) 8 17,2 Guaiamun (Cardisoma guanhumi Latreille, 1825) 8 20,7 Moluscos 52 17,1 Lambreta (Lucina pectinata Gmelin, 1794) 4 0 Ostra (Crassostrea rhizophorae Guilding, 1828) 20 10,3 Sururu (Mytella sp.) 16 3,4 Taioba (Iphigenia brasiliana Lamarck, 1818) 4 0 Unha-de-velho (Tagelus plebeius Lighfoot, 1786) 8 3,4 Peixes 8 20,6 Outros 20 6,8 PERCEPÇÃO DOS CATADORES Os resultados relacionados com a percepção dos catadores sobre o estoque pesqueiro do caranguejo-uçá nas áreas estudadas indicam que grande parte dos entrevistados acredita na redução do estoque natural da espécie, principalmente nos últimos 5 anos. Segundo eles, as principais causas são a carcinicultura (34% em Catuama e 3% em São Lourenço), o lançamento de dejetos industriais e domésticos (22% em Catuama e 7% em São Lourenço), o uso de redinha (11% em Catuama e 3% em São Lourenço), a pesca predatória (22% em Catuama e 13% em São Lourenço) e o desmatamento do manguezal (0% em Catuama e 68% em São Lourenço), enquanto 11% dos entrevistados de Catuama e 6% de São Lourenço desconhecem as causas da redução da população de caranguejos. Para muitos, a pesca predatória refere-se ao número excessivo de pessoas coletando nos manguezais impulsionadas pelo desemprego na região ou oriundas de outras vilas (Igarassu e Itapessoca), comprometendo o recurso. 129 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Lima & Quinamo (2000) indicam a pesca predatória como um dos maiores problemas ambientais no Canal de Santa Cruz (PE). Segundo CPRH (2001), as comunidades de Baldo do Rio, Tejucupapo, Ibeapicu, Carrapicho e Carne de Vaca todas pertencentes ao município de Goiana, também participam da pesca nos estuários dos rios Megaó e Itapessoca. De acordo com os catadores de caranguejo entrevistados por Alves & Nishida (2003; 2004) no estuário do rio Mamanguape (PB), a redução dos estoques dessa espécie está intimamente ligada à alta mortalidade ocorrida no ano de 1998, relacionada ao uso de defensivos agrícolas lançados nas plantações de cana-de-açúcar, que são carreados para o rio durante a época das chuvas, e ao emprego de redinhas na extração de caranguejo-uçá. Tais pesquisadores sugerem que os impactos antrópicos, com destaque para o cultivo da cana-de-açúcar, têm afetado a preservação dos manguezais da Paraíba. Entre os entrevistados de São Lourenço 33% são a favor do defeso do caranguejo-uçá; enquanto em Catuama este percentual sobe para 50%. É válido observar que todos estes entrevistados defenderam uma política assistencialista durante a época da proibição em detrimento à paralisação de suas atividades. No estuário do rio Mamanguape (PB) 50% dos catadores de caranguejo entrevistados concordaram com o estabelecimento do defeso, contudo, também sugeriram a criação de um seguro (salário-defeso) como alternativa durante o defeso (Alves & Nishida, 2003). Os autores acima citados defendem a necessidade de fontes alternativas de renda em períodos importantes do ciclo de vida da espécie (reprodução e muda) na diminuição da pressão de captura, favorecendo a recomposição dos estoques naturais e contribuindo para a manutenção dessas comunidades tradicionais e respectivas culturas. CONCLUSÕES Os entrevistados apresentam condições precárias em termos de qualidade de vida e saúde ambiental. A importância sócio-econômica da catação do caranguejo-uçá se apresenta bem diferente nos estuários do rio Catuama e do rio São Lourenço, tendo maior expressão na comunidade de São Lourenço (PE). Os impactos ambientais vêm reduzindo a população de caranguejo-uçá, levando os catadores a outras atividades mais rentáveis. O abastecimento de mercados públicos de Goiana, Olinda e Recife, bem como o fornecimento de fonte protéica e geração de renda para os catadores de caranguejo refletem o alto 130 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 valor da atividade, embora os mesmos não usufruam de melhor renda pela falta de valor agregado ao produto. A extração de caranguejo está intimamente relacionada à sazonalidade e ao regime de marés, sendo o verão o período de maior rentabilidade. É indispensável considerar as especificidades regionais entre as relações do catador e do caranguejo, além da bioecologia do animal para que sejam efetivados planos de manejo racionais e sustentáveis do uso do recurso. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem aos catadores de caranguejo por terem colaborado significativamente na realização da pesquisa, ao casal Paulo e Nalva de Barra de Catuama por todo apoio, aos biólogos Fabiana Gonçalves e Anderson Palmeira pela participação na aplicação dos formulários, à pesquisadora Dra. Goretti Silva pelas fotos concedidas e a pesquisadora Dra.. Fernanda Torres pelas valiosas sugestões. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Albuquerque, U. P. & Lucena, R. F. P. (2004) Métodos e técnicas de pesquisa em etnobotânica. Recife: NUPEA. Alves, R. R. N. & Nishida, A. K. (2004) Population structure of the mangrove crab Ucides cordatus (Crustacea: Decapoda: Brachyura) in the estuary of the Mamanguape river, Northeast Brazil. Tropical Oceanography, Recife. 32(1): 23-37. Alves, R. R. N. & Nishida, A. K. (2003) Aspectos socioeconômicos e percepção ambiental dos catadores de caranguejo-uçá Ucides cordatus (L. 1763) (Decapoda, Brachyura) do estuário do rio Mamanguape, Nordeste do Brasil. Interciência. 28(1): 36-43. Batista-Leite, L. De M. A. (2005) Estudo etnocarcinológico dos catadores de Cardisoma guanhumi Latreille, 1825 (Crustacea, Brachyura, Gecarcinidae) do estuário do rio Goiana, Pernambuco, Brasil. Tese (Universidade Federal da Paraíba). 129p. Boeger, W. A.; Pie, M. R; Ostrensky, A.; Patella, L. (2005) Lethargic crab disease: multidisciplinary evidence supports a mycotic etiology. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 100(2): 161-167. 131 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Botelho, E. R. O.; Santos, M. C. F. & Pontes, A. C. P. (2000) Algumas considerações sobre o uso da redinha na captura do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) no litoral Sul de Pernambuco-Brasil. Bol. Téc. Cient. CEPENE, Recife, 8(1): 55-71. Ciência Hoje (2005). Doença do caranguejo letárgico. Ciência Hoje, Revista de publicação científica da SBPC, 36 57. Cintra, I. H. A.; Araújo, M. D.; Silva, K. C. A.; Lourenço, L. F. H. (1999) A catação do caranguejouçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) no município de São Caetano de Odivelas/Pará: aspectos sócio-econômicos, descrição do beneficiamento artesanal e composição química. In: Congresso Brasileiro De Engenharia De Pesca, 11., 1999, Olinda. Anais.... Recife: AEP, p. 323-330. CPRH - Agência Estadual de Meio Ambiente E Recursos Hídricos (2001) Diagnóstico sócio- ambiental do litoral norte de Pernambuco. Recife: CPRH. El-Deir, S. G. (1999) Gestão ambiental; I Percepção ambiental e caracterização sócio-econômica e cultural da comunidade de Vila Velha, Itamaracá-PE (Brasil). Trab. Oceanog. Univ. Fed. PE, Recife, 27 (1): 175-185. EMPETUR - Empresa de Turismo de Pernambuco (1998) Inventário do potencial turístico de Pernambuco: Goiana, Recife: EMPETUR. FIDEPE - Fundação de Informações para o Desenvolvimento de Pernambuco (1981) Goiana (monografias municipais, 4) Recife: FIDEPE. Glaser, M. (2003) Interrelations between mangroves ecosystem, local eonomy and social sustainability in Caeté estuary, North Brazil. Wetlands Ecology and Management, Special issue- Amazonan Mangroves, 11(4): 265-272. Glaser, M. & Diele, K. (2004) Asymmetric outcomes: assessing central aspects of the biological, economic and social sustainability of a mangrove crab fishery, Ucides cordatus (Ocypodidae), in North Brazil. Ecological Economics, 49: 361-373. Huntington, H. P. (2000) Using traditional ecological knowledge in science: methods and applications. Ecological applications, 10(5): 1270-1274. IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (1999). Boletim Estatístico da Pesca Marítima e Estuarina do Estado de Pernambuco – 1998. Tamandaré: IBAMA. 132 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 IBAMA: Produção pesqueira de Pernambuco. Pernambuco: IBAMA, 2002. Disponível em: www.ibama.gov.br/cepene/index.php. Acesso em 07 de setembro de 2007. IBAMA. Portaria 034, de 24 de junho de 2003. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA. Disponível em www.ibama.gov.br. Acesso em 20 de abril de 2004. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia E Estatística (2000) Sinopse Preliminar do Censo Demográfico 2000. Rio de Janeiro, vol. 7. Ivo, C. T. C. et al. (2000) Caracterização das populações de caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), capturados em estuários do nordeste do Brasil. Bol. Téc. Cient. CEPENE, 8(1): 943. Lima, T. & Quinamo, T. (2000). Características sócio-econômicas. In: Barros, H. M. et al (Ed.). Gerenciamento participativo de estuários e manguezais. Recife: Editora Universitária da UFPE. Maneschy, M. C. (1993) Pescadores nos manguezais: estratégias técnicas e relações sociais de produção na captura de caranguejo. In: Furtado, L. G.; Leitão, W. & Mello, A. F. (org.). Povos das águas: realidade e perspectiva na Amazônia. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi. Pp. 19-62. Moura, N.F.O.; Coelho, P.A. & Souza, R.F. (2004). A pesca artesanal do aratu, Goniopsis cuentata (Latreille, 1803) (Crustacea, Brachyura, Grapsidae) no litoral norte de Pernambuco-Brasil. Bol. Téc. Cient., CEPENE, Recife, 11(1): 109-115. Nordi, N. (1994) A produção dos catadores de caranguejo-uçá (Ucides cordatus) na região de Várzea Nova, Paraíba, Brasil. Rev. Nordestina Biol. 9(1): 71-77, Nordi, N. (1992) Os catadores de caranguejo-uçá (Ucides cordatus) da região de Várzea Nova (PB): uma abordagem ecológica e social. Tese de Doutorado. São Carlos: UFSCAR. Ogawa, M. Alves, T. T.; Braz-Filho, R.; Rodrigues, A. S.; Maia, E.L (1973a) Industrialização do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus). II-Aproveitamento dos resíduos e carapaça. Arq. Ciênc. Mar. Fortaleza, 13(2): 83-89. Ogawa, M.; Alves, T.T.; Caland-Noronha, M.C.; Araripe, C.A.E.; Maia, E. L. (1973b) Industrialização do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus). I-Técnicas para o processamento da carne. Arq. Ciênc. Mar. Fortaleza, 13(1): 31-37. Quintas, J. S. (2002) Introdução à Gestão Ambiental Pública. Brasília: Edições IBAMA. 133 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Redmanglar. Mortandade de caranguejos chega ao extremo sul. Disponível em: http: //www.reedmanglar.org/redmanglar.php. Acesso em 31 de maio 2005. Schaeffer-Novelli, Y.; Citrón-Morelo, G.; Coelho J. R. C. (2006) Managing shorebird flyways: shrimp aquaculture, shorebird populations and flyway integrity. In: Boere, G. C.; Galbraith, C. A.; Stroud, D. A. (Org.). Waterbirds around the world. A global overview of the conservation, management and research of the world´s waterbird flyways. Edinburgh: The Stationary Office Limited, pp. 812-816. Schmidt, A. J.; Oliveira, M. A. (2006) (Coords.). Plano de ação para o caranguejo-uçá em Canavieiras. Brasil: Ecotuba. Souto, C. (2000). Com os pés na lama. Ciência Hoje. 28: 166. SUDENE (1978) Projeto de Osteicultura no Estuário do rio São Lourenço. Estudos de Pesca. Recife: SUDENE. Vergara-Filho, W. L. & Villas-Boas, M. S. (1996) Introdução ao saber dos povos da lama. In: Encontro Nacional de Educação Ambiental em Áreas de Manguezal, 1996, Espírito Santo. Resumo. Vitória: UFES, pp. 22-29. Viertler, R. B. (2002) Métodos antropológicos como ferramenta para estudos em etnobiologia e etnoecologia. In: Amorozo, M. C. M.; Ming, L. C.; Silva, S. M. P. (Ed.). Métodos de coleta e análise de dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas. Rio Claro: UNESP/ CNPq, pp. 11-29.D 134 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 DIGESTIBILIDADE DE INGREDIENTES ALTERNATIVOS PARA TILÁPIA-DO-NILO (Oreochromis niloticus): REVISÃO DIGESTIBILITY OF alternative ingredients for Nile tilápia (Oreochromis niloticus): REVIEW Elton Lima SANTOS1*; Waleska de Melo Costa WINTERLE1; Maria do Carmo M. M. LUDKE1, José Milton BARBOSA2 1 Departamento de Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco 2 Departamento de Pesca e Aqüicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco *Email: [email protected] Resumo - A avaliação nutricional dos ingredientes de uma ração destinada à alimentação animal vai desde a escolha dos insumos, sua composição química até sua utilização pelos animais. Para tanto, é necessário saber a digestibilidade dos nutrientes contidos nessa dieta, sendo assim, várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas para a avaliação da digestibilidade dos ingredientes usualmente utilizados nas rações para a tilápia-do-nilo, porém, atualmente a utilização de ingredientes alternativos na exploração aqüícola é uma realidade que vêm sendo buscada de forma promissora no Brasil, por conta da grande diversidade e quantidade de eventuais substitutivos a esses ingredientes usualmente utilizados nas rações e da grande disponibilidade desses alimentos. Palavras-chave: Digestibilidade, ingredientes alternativos, nutrição. Abstract - The nutrition evaluation of the ingredients of a destined ration the animal feeding, is going from the choice of the input, the evaluation of the composition chemical until your ready use for the animals. For in such a way, it is necessary to know the digestibility of the nutrients contained in that diet, being like this, several researches have been developed for the evaluation of the digestibility of the ingredients usually used in the rations for the Nile tilapia, however, now the use of alternative ingredients in the exploration fish farm is a reality that you/they have been looked for in a promising way in Brazil, due to the great diversity and amount of eventual substitution the those ingredients usually used in the rations and of the great readiness of those victuals. Key Words: Alternative ingredients, digestibility, nutrition. 135 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 INTRODUÇÃO A tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) é uma espécie de peixe onívora, bastante versátil, pois se adapta tanto ao cultivo extensivo sem qualquer tecnologia empregada, quanto ao sistema de criação em tanques-rede com rações completas e com alta tecnologia de produção (Meurer et al., 2002). A tilápia é a segunda espécie de peixe cultivada em água doce de maior importância na aqüicultura mundial (Alceste; Jory, 1998; Lovshin, 1998; Borguetti et al., 2003). Com boa aceitação no mercado consumidor, destacando-se em cultivos, por apresentar crescimento rápido, rusticidade, carne de ótima qualidade, e por não apresentar espinhos na forma de “Y” no seu filé (Hildsorf, 1995), é apropriada para a filetagem, tornando-se de grande interesse para a piscicultura (Boscolo et al., 2002). No Brasil as estatísticas são imprecisas, mas acredita-se que a tilápia seja o gênero de peixe mais cultivado no país desde a metade da década passada (Zimmermann & Hasper, 2004). Entretanto, o custo da ração é um dos fatores limitantes, especialmente para os pequenos produtores (Rabello et al., 2004). Na exploração econômica de peixes, o fator alimentação constitui aproximadamente 70% do custo de produção total (Kubitza, 1997; Pezzato et al., 2000). A formulação de rações para peixes é baseada principalmente em milho, farelo de soja e farinha de peixe, os quais em função de grande variabilidade de preço e dependendo da oferta no decorrer do ano e da dificuldade de transporte para as regiões não produtoras desses alimentos, torna muitas vezes a produção de peixes inviável. A análise química e os testes alimentares são os primeiros itens para determinar o valor nutritivo de um alimento. Entretanto, após a ingestão, sua efetiva assimilação depende do uso que o organismo animal esteja capacitado a executar (Maynard; Loosly, 1966). As espécies animais assimilam de forma diferente os alimentos, sendo essa variação quantificada através da determinação de seus coeficientes de digestibilidade (Andrigueto et al., 1982). Ainda segundo esses autores, a digestibilidade de uma ração é definida como a habilidade com que o animal digere e absorve os nutrientes e a energia contidos no mesmo. Destaca-se ainda que a eficiência dos nutrientes varie entre as espécies de peixes em relação a certos fatores ambientais como concentração de minerais, temperatura e pH da água (Santos et al., 2004). Ainda são escassas as pesquisas que abordam a utilização de ingredientes alternativos, principalmente da região nordeste do Brasil, na alimentação de peixes. Também são insuficientes as informações a cerca da composição e da digestibilidade dos resíduos originados da agroindústria. Assim sendo, a utilização desses ingredientes que em muitas vezes são “subprodutos” ou resíduos do processamento de alimentos para o consumo humano é um desafio para os pesquisadores da área de nutrição animal, sem contar que muitos desses ingredientes não-convencionais são desprezados 136 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 quanto ao seu uso e vêm a causar problemas ambientais, pois não tem um destino racional planejado. Desta forma, serão demonstrados e discutidos os resultados de algumas pesquisas envolvendo avaliações de digestibilidade de ingredientes tidos como alternativos estudados para tilápia-do-nilo. 1. DIGESTIBILIDADE DE ALIMENTOS PARA PEIXES Hepher (1988) relata que os primeiros estudos avaliando-se a digestibilidade de alimentos para espécies aquáticos datam de 1877 e foram realizados por Homburger. Recentemente estudos de digestibilidade com a utilização de ingredientes convencionais e alternativos para tilápia-do-nilo vêm sendo executados no Brasil e no mundo. Para a formulação de rações para peixes, são utilizados valores de proteína e energia bruta ou digestível de alimentos determinados para outros animais (Boscolo et al., 2002), o que não é nutricionalmente adequado, além de provocar maior impacto tanto à criação quanto ao ambiente, pois os nutrientes não digeridos e absorvidos serão excretados (Sugiura et al., 1998). A eficiência da digestão dos alimentos pode ser influenciada, entre outros fatores, pela superfície da exposição destes às secreções digestivas, bem como pelo tempo de passagem pelo trato gastrintestinal (NRC, 1993). Os coeficientes de digestibilidade aparente são geralmente utilizados com o objetivo de determinar o valor nutricional de um alimento, no qual a digestibilidade de um alimento depende, primeiramente, da composição química e também da capacidade digestiva do animal para o alimento. Ela é de extrema importância para o atendimento das exigências nutricionais de uma espécie, uma vez que o conhecimento dos hábitos alimentares e o fornecimento de uma dieta equilibrada não são suficientes para assegurar resposta positiva no desempenho do animal (Gonçalves; Carneiro, 2003). Estimativas da digestibilidade tem sido prioridade para a nutrição na aqüicultura, tanto para avaliar ingredientes ou a qualidade de rações completas (Sadiku; Juancey, 1995). Dois métodos são mais comumente utilizados nas pesquisas onde se busca determinar os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes dos componentes das rações, são os métodos: direto e o indireto. O método direto envolve a mensuração de todo o alimento consumido e de todo o resultado de excreção pelo peixe. Já no método indireto, que é o que tem sido mais utilizado no Brasil, utiliza-se um marcador que é incluso na dieta nas concentrações de 0,5 a 1,0 %, que depois é avaliado nas fezes, o marcador mais usado é o óxido de cromo (Cr2O3), mais outros marcadores também podem ser utilizados (NRC, 1993). 137 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Todo trabalho sobre digestibilidade de um determinado nutriente, tanto para peixes, como para qualquer outro animal envolve a determinação do teor desse nutriente no alimento e a estimativa de quanto desse alimento foi assimilado. Utilizando o óxido de cromo, a digestibilidade aparente segundo Nose (1966), é estimada através da seguinte equação: Disgestibilidade (%) = 100 − ( % do indicador no alimento % de nutrientes nas fezes x x100) % do indicador nas fezes % de nutrientes no alimento Existem vários métodos para a coleta das fezes de peixes, onde pode ser feita diretamente do tubo digestivo por extrusão manual, com leve pressão dos dedos na região ventral dos peixes ou, cuidadosamente, do fundo do aquário por meio de uma rede muito fina (Castagnolli, 1979). Já Cho e Slinger (1979) estabeleceram um método de coleta das fezes através de um sistema de sifonagem constante da água do aquário que passa por uma coluna filtrante que retém as fezes para posterior determinação da fração não digerida dos nutrientes. O método mais utilizado para a coleta das fezes em peixes no Brasil é o método por decantação ou sistema de Guelph em que se utiliza um aquário para a alimentação e outro afunilado para a coleta de fezes. A substituição dos ingredientes, usualmente utilizados nas rações para peixes, por determinados produtos e subprodutos da agroindústria, resíduos de culturas e produtos não destinados ao consumo humano tem se apresentado como prática econômica alternativa. Na atualidade, estão sendo exigidas maiores investigações acerca das exigências nutricionais de cada espécie, além de rigorosa formulação da dieta. Segundo Gonçalves & Carneiro, (2003), muitos nutricionistas, arriscam-se em super-dosagens de nutrientes nas rações para peixes, principalmente de proteína bruta, que podem reduzir as taxas de crescimento e, de outras formas, o desempenho dos peixes. Além de que a proteína é o nutriente que mais onera as rações para peixes, podendo muitas vezes inviabilizar a utilização do farelo de soja e da farinha de peixe, abrindo um maior espaço para a utilização de alimentos alternativos como fontes de proteína. 2. AVALIAÇÃO DA ENERGIA DIGESTIVA (ED) A diferença entre a energia bruta (EB) e a energia digestível (ED) é a energia perdida nas fezes (EF), logo os valores de digestibilidade refletem a percentagem do nutriente de determinado alimento que é absorvido pelo trato digestivo (Smith et al., 1995). A inclusão de materiais fibrosos, que são pobremente digeridos pelos peixes, aumenta as perdas de EF (NRC, 1993). As dietas 138 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 , , comerciais normalmente utilizadas para a criação de peixes promovem uma perda de energia nas fezes entre 10 e 40 % da energia bruta (Cho et al., 1982). A digestibilidade dos carboidratos é inversamente proporcional ao número de átomos de carbono da molécula (Castagnolli, 1979). Assim, os mono e dissacarídeos são mais digestíveis que o amido que é mais digestível do que a celulose obviamente, devido à maior complexidade desta última. As tilápias utilizam eficientemente os carboidratos, por possuírem adaptações morfológicas e fisiológicas, tais como dentes faringeanos e intestino longo (Kubarik, 1997). As tilápias geralmente se destacam dentre os peixes onívoros de água doce, por possuírem uma alta digestibilidade de alimentos de origem vegetal, seja, energéticos ou protéicos. A energia metabolizável (EM) representa a ED, corrigidas as perdas de energia ocorridas pela excreção nas brânquias (EB) e na urina (EU). O uso da EM ao invés da ED na avaliação de alimentos para peixes pode permitir uma estimativa mais acurada da energia da dieta metabolizada pelos tecidos do animal; entretanto, a EM oferece uma pequena vantagem sobre a ED na avaliação da energia utilizada pelos peixes, pois a quantidade perdida na digestão é responsável pela grande variação da energia que é retirada dos alimentos. A perda energética através da excreção pelas brânquias e urina nos peixes não varia muito entre os alimentos e são menores que a perda energética não fecal dos mamíferos (Lovell, 1989). A determinação dos valores de EM das dietas para peixes é tecnicamente difícil devido à necessidade de se mensurar a quantidade das perdas via o sistema urinário e branquial. Assim, nutricionistas de peixes que precisam atribuir valores energéticos a diferentes ingredientes para a formulação de dietas balanceadas devem empregar os valores de ED, devendo evitar os valores de EM, pois estes têm sido obtidos por métodos susceptíveis a erros grosseiros (Cho et al., 1982). 3. PESQUISAS COM INGREDIENTES ALTERNATIVOS Atualmente a utilização de ingredientes alternativos na exploração aqüícola é uma realidade que vêm sendo buscada de forma promissora no Brasil, por conta da grande diversidade e quantidade de eventuais substitutivos aos ingredientes usualmente utilizados nas rações e da grande disponibilidade desses alimentos. Diante disso, separamos didaticamente em alimentos alternativos energéticos e protéicos que podem substituir os insumos convencionais na ração para peixes. Entre os alimentos promissores substitutos como energéticos citam-se: o sorgo, o triticale, o milheto, a algaroba, o urucum, o farelo de resíduo de tomate. Já o farelo de coco pode ser utilizado tanto como fonte energética como fonte protéica. Dessa forma, a farinha de folhas ou de sementes 139 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 de leucena, a torta de dendê, o farelo de canola e o de algodão, a levedura desidratada de álcool, a farinha de vísceras de aves e a mandioca, foram estudados como fonte protéica. 3.1 - SORGO (Sorghum sp.) Existem numerosas variedades dos cereais dos sorgos, inclusive híbridos, com características variadas, cuja classificação botânica não é suficientemente clara e assim temos os sorgos forrageiros, os sorgos graníferos, os sorgos doces e os sorgos vassoura (Andriguetto et al., 2002). O sorgo possui 8,5 a 9% de PB, é um ingrediente pobre em vitamina A e deficiente em lisina e metionina. O grão de sorgo destinado ao consumo animal também deve ser isento de fungos, micotoxinas, sementes tóxicas e resíduos de pesticidas, e conter no máximo 1,0% de taninos, na forma de ácido tânico (Portz, 2005). O uso de silagem de grão úmido em rações para monogástricos tem crescido no Brasil. A ensilagem de grãos permite aumento na digestibilidade do amido devido à sua gelatinização pelo aumento da temperatura e ação dos ácidos gerados durante o processo (Jobim et al., 2001). Segundo Furuya et al., (2004) os coeficientes de digestibilidade para tilápia-do-nilo de silagens de sorgos com baixo (SSBT) e alto tanino (SSAT) com suplementação, verificaram para a EB valores de 70,17% (3049,81kcal de energia digestível kg-1) e 68,37% (2954,75kcal de energia digestível kg-1) e para PB de 84,94% (8,81% de proteína digestível - PD) e 82,40% (7,58% de energia digestível), respectivamente. De acordo com os resultados dos CDA apresentados pode-se evidenciar que ambos, SSBT e SSAT, apresentaram valores de ED próximos aos obtidos com o milho por Furuya et al., (2001b) e Pezzato et al., (2002), em estudo realizado com juvenis de tilápiado-nilo, obtendo-se valores de 3067 e 3316 kcal de ED kg-1, respectivamente. Assim, os SSBT e SSAT, em termos energéticos, podem ser utilizados como substitutos do milho. Por outro lado, devido à elevada influência dos taninos sobre o coeficiente de digestibilidade da PB, a utilização de SSAT deve ser avaliada para evitar estes efeitos negativos sobre a utilização dos seus nutrientes. 3.2 - TRITICALE (Triticum turgidocecale) O triticale é um cereal obtido do cruzamento de trigo com o centeio, criado com a finalidade de combinar a produtividade e valor genético do trigo com a qualidade protéica e rusticidade do centeio, é uma cultura de inverno que vem suprindo os meses de escassez do milho, e, no mercado, apresenta-se como substituto a um custo menor (Rundgren, 1988; Nascimento Jr., 2005). Boscolo et al., (2002) encontraram valores de: 68,51%; 94,78%; e 3230,69 kcal/kg para a digestibilidade da MS, PB e ED, respectivamente. 140 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 3.3 - MILHETO (Pennisetum glaucum) O milheto é uma forrageira de clima tropical, anual, de hábito ereto e porte alto. O milheto em grão, em função do seu valor nutricional, é considerado como uma fonte viável de substituição na ração pelo milho ou o farelo de soja. Vem sendo testado como uma alternativa econômica, uma vez que produz boa quantidade de grãos em condições de deficiência hídrica, altas temperaturas, solos ácidos e com baixos índices de matéria orgânica. Apresenta ainda crescimento ótimo em curtos períodos de condições climatológicas favoráveis, segundo Andrews & Kumar, (1992). Desta forma, Boscolo et al., (2002) estudaram a digestibilidade do milheto e verificaram coeficientes de digestibilidade de 77,96% para MS, 94,91% para PB, 3755,55 kcal/kg de energia digestível. 3.4 - ALGAROBA (Prosopis juliflora) A algaroba é uma leguminosa representada por diversas espécies do gênero Prosopis. É uma planta xerófita nativa de regiões áridas que vão do sudoeste americano até a Patagônia na Argentina. Pela sua adaptação às condições semi-áridas do nordeste brasileiro e pelos múltiplos usos, inclui-se como uma alternativa agronômica já comprovada e válida, cujas potencialidades merecem e devem ser mais amplamente exploradas, sua vagem tem alto valor nutritivo, alta digestibilidade e excelente aceitação por animais monogástricos (Santos et al., 2004). Resultados de: 55,99 ± 3,42%; 81,92 ± 2,63%; 3210 ± 71 kcal/kg foram encontrados para a digestibilidade da MS, PB e ED por Pezzato et al., (2004), quando trabalhando com tilápia-do-nilo e níveis de inclusão de 26,39% numa ração purificada. 3.5 - URUCUM (Bixa orellana) O urucum é o fruto do urucuzeiro, arvoreta da família das bixáceas (Bixa orellana), que chega a atingir até 6 metros de altura, nativa na América tropical, mais especificamente da região amazônica, normalmente tem seu uso como aditivo, na forma de corante em rações para monogástrico, mas pode ter seu uso potencializado na alimentação de peixes, sendo assim, Pezzato et al., (2004) avaliaram a digestibilidade deste alimento e observou valores de 58,72 ± 4,25%; 84,25 ± 4,97%; 3063 ±17 kcal/kg para MS, PB e ED. 3.6 - FARELO DO RESÍDUO DE TOMATE (Lycopersicum esculentum) Sales et al., (2004), estudando a utilização do farelo de tomate encontraram coeficientes de digestibilidade da MS, EB, PB, EE e fósforo total que foram respectivamente: 60,27; 48,46; 70,03; 66,78 e 36% para o farelo de tomate. Esses autores ainda relatam que o maior valor de energia digestível do farelo de tomate, pode estar relacionado ao seu maior teor de extrato etéreo e pelo menor conteúdo de FB. 141 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 3.7 - FARELO DE RESÍDUO DE GOIABA (Psidium guajava) Mantovani et al., (2004) citam que do processamento industrial do fruto da goiaba, 8% é composto de resíduos que têm sido descartados pelas indústrias a céu aberto ou, raramente, em aterros sanitários, e, com isso, grande quantidade de nutrientes é desperdiçado. Esses resíduos poderiam ser utilizados como fonte de nutrientes para peixes tropicais. Sales et al., (2004), observaram valores de coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca, energia bruta, proteína bruta, extrato etéreo e fósforo total de: 46,87; 68,70; 64,67 e 32,27%, respectivamente, para o farelo de goiaba trabalhando com tilápia-do-nilo. Concluindo assim que o farelo de goiaba pode ser utilizado na dieta, porém estudos mais aprofundados devem ser realizados quanto à inclusão desse ingrediente em rações completas para esses animais. 3.8 - FARELO DE COCO (Cocos nucifera) O farelo de coco ou torta de coco é um subproduto da extração do óleo de coco, que pode ser usado como fonte energética e protéica na alimentação animal, respectivamente, Torna-se importante uma avaliação deste subproduto, sendo uma fonte de nutrientes barata quando comparado a outros ingredientes usualmente utilizados nas rações de peixes como o farelo de soja e de peixe, por exemplo. Assim, o farelo de coco pode suprir parte das exigências protéicas dos peixes e ainda reduzir o custo da ração. Desta forma, em estudo realizado por Pezzato et al., (2004), estudando a digestibilidade de alguns ingredientes alternativos pela tilápia-do-nilo, obtiveram para o farelo de coco valores de CD para MS, PB de 60,19% e 86,78%, respectivamente e valores de ED de 2990 kcal/kg . 3.9 - LEUCENA (Leucaena leucocephala) Farinha de folhas ou de sementes de leucena apresenta bom teor protéico e podem compor com limitações rações para peixes, pois como demais leguminosas contém fatores antinutricionais, destacadamente o aminoácido tóxico mimosina. No sentido de avaliar o potencial deste ingrediente Pezzato et al., (2004) estudaram a digestibilidade desde alimento e encontrou para MS, PB e ED resultados de: 37,62 ± 1,70%; 72,54 ± 2,16 %; 2700 ± 18 kcal/kg , respectivamente. 3.10 - TORTA DE DENDÊ (Elaeis guineensis) A torta de dendê é o produto resultante da polpa seca do fruto de uma palmeira conhecida como dendezeiro, muito comum na região norte e nordeste do Brasil, após moagem e extração do óleo. Oliveira et al., (1998) realizaram um estudo com a tilápia-do-nilo, no sentido de avaliar a qualidade nutricional da torta de dendê. Para tanto, empregaram níveis crescentes de torta de dendê (0, 7, 14, 21, 28 e 35%) em dietas isoprotéicas e isoenergéticas (30,0% PB e 2800 kcal/ED/kg), balanceadas em 10,0% de FB. Segundo estes autores, o coeficiente de digestibilidade aparente 142 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 dessas rações variou de: 74,74% a 82,45% (matéria seca), 93,43% a 96,16% (proteína bruta), 92,79% a 97,86% para o extrato etéreo e 30,29% a 56,13% para a fibra bruta. A torta de dendê não influi significativamente na digestibilidade dos nutrientes dietários e não afeta o padrão de normalidade do aparelho digestório da tilápia-do-nilo. 3.11 - MANDIOCA (Manihot esculenta) E ALGUNS DE SEUS SUBPRODUTOS Tem um alto potencial para alimentação animal, é uma fonte rica em energia, seus diferentes resíduos (casca de mandioca, farinha de varredura, folha de mandioca, entre outros) podem ser utilizados na alimentação animal (Martins et al., 2000). O valor nutritivo da folha de mandioca como fonte protéica em dietas peletizadas para a tilápia-do-nilo, foi estudado por Ng e Wee (1989). Os coeficientes de digestibilidade aparente para a proteína bruta foram de 18,2% quando do emprego de folhas úmidas e quando secas de 64,0%. Segundo ainda estes autores, houve uma variação nos coeficientes de digestibilidade da proteína de 35,0% a 67,7%. Já Pezzato et al., (2004), estudou a digestibilidade da raspa de mandioca para essa mesma espécie e observou resultados de 59,66 ± 2,38%; 93,36 ± 2,91%; 2503 ± 21 kcal/kg , para MS, PB e ED, respectivamente. Boscolo et al. (2002), avaliou os coeficientes de digestibilidade da farinha de varredura de mandioca e verificou valores de 91,11%; 97,52% e 3280,09 kcal/kg para MS, PB e energia digestível, respectivamente. 3.12 - FARELO DE CANOLA (Brassica nabus) É um subproduto resultante da moagem e extração de óleo, por solvente, do grão integral da canola. Em função de sua introdução recente no Brasil, apresenta-se como promissora fonte protéica (37,2% de PB). Estudos sobre a digestibilidade aparente dos nutrientes e energia foram conduzidos por Furuya et al., (2001a) quando trabalharam com a tilápia-do-nilo e obtiveram valores de 2969,98 kcal/kg de ED e 86,92% de digestibilidade da fração PB, evidenciando que para esta espécie de animal este subproduto pode ser eficientemente utilizado. 3.13 - FARELO DE ALGODÃO (Gossypyum sp.) É um subproduto da moagem do algodão, é uma fonte protéica de boa qualidade e baixo custo. Embora tenha seu valor nutricional inferior ao do farelo de soja por apresentar baixos níveis de lisina disponível, e níveis de 0,03 a 0,20% de gossipol, o qual pode gerar degeneração hepática. Apresenta razoável palatabilidade e os níveis empregados em dietas para peixes têm sido superiores àqueles recomendados para os demais monogástricos. Sendo assim, Pezzato et al., (2002), observaram valores de coeficientes de digestibilidade, para o farelo de algodão para juvenis de tilápia-do-nilo com peso médio de 100 ± 10g e utilizando-se uma ração purificada como dieta 143 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 referência, de 53,11 ± 0,15; 74,87 ± 0,19 e 99,39 ± 0,20 para MS, PB e EE, respectivamente e 2111 kcal/kg de Energia digestível. 3.14 - LEVEDURA DESIDRATADA DE ÁLCOOL (Sasharomyces cerevisiae) A levedura vem sendo utilizada como fonte de proteína nas rações animais para várias espécies, è subproduto da indústria da cana-de-açúcar e tem uma grande produção no Brasil. A levedura contém várias vitaminas do complexo B, enzimas, ácidos graxos voláteis, minerais quelatados, estimulantes bacterianos, antibióticos naturais e peptídeos que conferem melhor palatabilidade à ração, melhor desempenho, maior resistência e menor estresse ao animal (Machado, 1997). A parede celular das leveduras possui carboidratos (20% a 35%) compostos, principalmente, por glucanas e mananas, os quais parecem atuar sobre o sistema imunológico e na prevenção da colonização de bactérias patogênicas no trato gastrintestinal do animal (Spring, 2000). Estudos conduzidos por Barros et al., (1988), consideraram a levedura de álcool, excretas de aves e excretas de coelhos como fontes alimentares alternativas e determinaram suas digestibilidade aparentes pela tilápia-do-nilo. Os autores encontraram respectivamente para a fração PB de 93,2%, 95,3% e 96,5%, para a FB de 60,9%, 59,4% e 59,2%, para lipídios de 93,6%, 96,9% e 93,5% e para a MS de 87,1%, 87,1% e 86,8%. Resultados contrários foram encontrados por Pezzato et al., (2004) quando utilizando 66,66% de inclusão de levedura desidratada de álcool em uma ração purificada a base da proteína da albumina na sua composição e determinada como dieta referência, observaram valores de: 67,75 ± 4,79%; 88,58 ± 5,77% e 3620 ± 82 Kcal/kg, para a digestibilidade da MS, PB e Energia digestível, respectivamente. 3.15 - FARINHA DE VÍSCERAS DE AVES É outra alternativa para substituir a farinha de peixe em rações para organismos aquáticos, um material obtido de resíduos da indústria avícola. Wilson (1995); Nengas et al. (1999), citam que usualmente, a farinha de vísceras de aves não contém penas e intestinos, mas pode conter pés, cabeças e carcaças descartadas. Faria et al., (2002) trabalhando com a inclusão da farinha de vísceras de 0,00; 4,00; 8,00; 12,00; 16,00 e 20,00 em rações para alevinos de tilápia-do-nilo avaliaram a digestibilidade dos níveis de fibra de 0,00 e 20,00 e encontraram níveis de digestibilidade aparente da MS de 72,21 e 70,18%; do EE de 92,52 e 93,58% e da PB de 91,41 e 86,79 respectivamente. Esses autores ainda concluíram que os menores valores foram os dos coeficientes de digestibilidade aparente para a matéria seca, proteína bruta e energia e o maior para o extrato etéreo ocorreram com a ração com 20% de farinha de vísceras, em comparação a dietas isentas da mesma. 144 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O interesse no uso de alimentos alternativos em rações para peixes, mais especificamente destacando-se nesse presente estudo para tilápia-do-nilo, tem aumentado, devido ao custo cada vez maior dos ingredientes utilizados convencionalmente. Pode-se observar que, ainda existem muitas diferenças nos resultados encontrados por diferentes autores para iguais ingredientes utilizados nas pesquisas, faltando, portanto, uma padronização das metodologias. Nesta revisão foram demonstrados resultados de pesquisas sobre a digestibilidade de ingredientes alternativos para tilápia-do-nilo, sendo verificado assim, que apesar desta espécie ter alta eficiência no aproveitamento dos nutrientes contidos na maioria dos ingredientes utilizados na alimentação de peixes, estudos mais aprofundados devem ser executados para avaliar os níveis de inclusão desses alimentos alternativos nas rações para tilápia-do-nilo, para um uso potencial dos ingredientes alternativos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alceste, C. & Jory, D.E. (1998) Análisis de las tendencias actuales en la comercialización de tilapia en los Estados Unidos de Norteamérica y la Unión Europea. In: Congresso Sul-americano de Aqüicultura (p. 349-364). Recife: Anais do SBA, 1. Andrews, D.J. & Kumar, K.A. (1992). Pearl millet for, food, feed and forage. Advances in Agronomy,48: 89-139. Andrigueto, J.M., Perly, L., Minardi, I., Gemael, A., Fleming, J.S., Souza, G.A. & Bona-Filho, A. (1982). Nutrição Animal. (395p): Editora Nobel, 1. Barros, M.M., Pezzato, L.E., Silveira, A.C. & Pezzato, A.C. (1988). Digestibilidade aparente de fontes alimentares alternativas pela tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). In: VI Simpósio Latinoamericano e V Simpósio Brasileiro de Aquicultura, (pp. 428-432). Florianópolis-SC: Anais do V SIMBRAq. Borguetti, N.R.B., Ostrensky, A. & Borguetti, J.R. (2003). Aqüicultura – uma visão geral sobre a produção de organismos aquáticos no Brasil e no mundo. Curitiba: grupo integrado de aqüicultura e estudos ambientais. Boscolo, W.R., Hayashi, C. & Meurer, F. (2002) Digestibilidade Aparente da Energia e Nutrientes de Alimentos Convencionais e Alternativos para a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus, L.). Rev. Bras. Zootec. 31(2): 539-545. 145 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Castagnolli, N. (1979). Fundamentos de nutrição de peixes. (108p). Piracicaba: Ed. Livroceres Ltda. Cho, C.Y. & Slinger, S.J. (1979). Apparent digestibility measurement in feedstuff for rainbow trout. In: Word Symposium on Finfish Nutrition and Dishfeed Technology (239-247). Hamburg. Proceedings… Heeneman: Halver, J. & Tiews, K. Cho, C.Y., Slinger, S.J. & Bayley, H.S. (1992). Bioenergetics of salmonids fishes: energy intake, expenditure and productivity. Comparative Biochememistry Physiology. 73(1): 25-41. Part B. Faria, A.C.E.A., Hayashi, C. & Soares, C..M. (2002). Farinha de vísceras de aves em rações para alevinos de tilápia-do-nilo, Oreochromis niloticus (L.). Revista Brasileira de Zootecnia. 31(2): 812822, (suplemento). Furuya, W. M., Pezzato, L. E., Miranda, E. C., Furuya, V.R.B., Barros, M. M. & Lanna, E. A. T. (2001a). Digestibilidade aparente da energia e nutrientes do farelo de canola pela tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). Rev. Bras. Zootec., 30 (3): 611-616. Furuya, W.M. Pezzato, L.E., Miranda, E.C., Barros, M.M. & Pezzato, A.C. (2001b). Coeficientes de digestibilidade aparente da energia e nutrientes de alguns ingredientes pela tilápia do Nilo, Oreochromis niloticus (L.) (linhagem tailandesa). Acta Scient. Anim. Sci., 23(2): 465-469. Furuya, W. M., Silva, L.C.R., Neves, P.R., Botaro, D., Hayashi, C., Furlan, A.C. & Santos, V. G. (2004). Coeficientes de digestibilidade aparente da energia e da proteína da silagem de sorgo com alto e baixo tanino pela tilápia do Nilo Oreochromis niloticus. Ciência Rural, 34 (4): 1213-1217. Gonçalves, E.G. & Carneiro, D.J. (2003). Coeficientes de digestibilidade aparente da proteína e energia de alguns ingredientes utilizados em dietas para o pintado (Pseudoplatystoma coruscans). Rev. Bras. Zootec., 4(2): 779-786. Hepher, B. (1988). Nutrition of pond fishes. Cambridge: Cambridge University Press, 386p. Hildsorf, A.W.S. (1995). Genética e cultivo de tilápias vermelhas, uma revisão. Boletim do Instituto de Pesca, 22: 73-87. Jobim, C.C., Cecato, U. & Canto, M.W. (2001). Utilização de Silagem de grãos de cereais na alimentação animal. In: Simpósio Sobre Produção e Utilização de Forragens Conservadas. (p.146– 176). Maringá : Anais do SPUFC, 1. Lovell, R.T. (1989). Nutrition and feeding of fish. (260p). New York: Van Nostrand Reinhold, Cap. 1: The Concept of Feeding Fish. Lovshin, L.L. (1998) Red tilapia or Nile tilapia: which is the best culture fish? In: Simpósio Sobre Manejo e Nutrição de Peixes (p.179-198). Piracicaba: Anais do CBNA. 146 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Pezzato, L.E., Miranda, E.C., Barros, M.M., Pinto, L.G.Q., Pezzato, A. & Furuya, W.M. (2000). Valor nutritivo do farelo de coco para tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). Acta Scient. Anim. Sci. 22 (3): 695-69. Pezzato, L.E., Miranda E.C., Barros, M.M., Pinto, L.G.Q., Furuya, W.M., & Pezzato, A.C. (2002). Digestibilidade aparente de ingredientes pela tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). Rev. Bras. Zootec.. 31(4):1595-1604. Pezzato, L.E., Miranda, E.C., Barros, M.M., Furuya, W.M. & Pinto, L.G.Q. (2004). Digestibilidade aparente da matéria seca e da proteína bruta e a energia digestível de alguns ingredientes alternativos pela tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus). Acta Scient. Anim. Sci., 26(3): 329-337. Portz, L. (2005). Nutrição e alimentação de peixes. In. Mini-curso: XI semana de engenharia de Pesca, Recife - PE. Kubarik, J. (1997). Tilapia on highly flexible diets. Feed International, 6:16-18. Kubitza. F. (1997). Nutrição e alimentação dos peixes. Piracicaba- SP. Machado, P.F. (1997). Uso da levedura desidratada na alimentação de ruminantes. In: Simpósio Sobre Tecnologia da Produção e Utilização da Levedura Desidratada na Alimentação Animal, p.111-128. Campinas: Anais do CBNA. Mantovani, J.R., Corrêa, M.C.M., Cruz, M.C.P., Ferreira, M.E. & Natale, W. (2004). Uso fertilizante de resíduo da indústria processadora de goiabas. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal – SP, 26(2): 339-342. Martins, A. S., Prado, L. N., Zeola, L. M. et al. (2000). Digestibilidade aparente de dietas contendo milho ou casca de mandioca como fonte energética e farelo de algodão ou levedura como fonte protéica em novilhas. Rev. Bras. Zootec., 29(1): 269-275. Maynard, L.A. & Loosly, J.K. (1966). Nutrição Animal. Rio de Janeiro: McGraw Hill. Meurer, F., Hayashi, C., Boscolo, W.R. & Soares, C.M. (2002). Lipídeos na alimentação de alevinos revertidos de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus ). Rev. Bras. Zootec.. 31(2): 566 – 573. Nascimento Junior, A., Baier, A.C., Del Duca, L.J.A., Linhares, A.G., Sousa, C.N. A., Scheeren, P.L., Eichelberger, L., Só E Silva, M. & Albuquerque, A.C.S.A. (2005). Cultivar de triticale BRS Minotauro, (5 p). Passo Fundo: Embrapa Trigo, html (Embrapa Trigo. Comunicado Técnico Online, 143). Disponível em: http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/co/p_co143.htm. Nengas, I., Alexis, M.N. & Davies, S.J. (1999) High inclusion levels of poultry meals and related by products in diets for gilthead seabream Sparus aurata L. Aquaculture, 179 (1-4): 13-23. 147 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Ng, W.K. & Wee, L. (1989). The nutritive value of cassava leaf meal in pelleted feed for Nile tilapia. Aquaculture, 83: 45-58. Nose, T. (1966). Recent advances in the study of fish digestion in Japan. In: Symposium on Feeding in Trout and Salmon Culture Belgrade. (pp.1-16). .Proceding of ELFAC 66/SC. II-7. NRC – National Research Council (1993). Nutritional Requirements of Fishes, Washington, Academic Press. Oliveira, A.C.B., Pezzato, L.E., Barros, M.M. & Granner, C.A.F. (1998). Digestibilidade aparente e efeito macro-microscópico em tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) arraçoados com torta de dendê. Rev. Bras. Zootec., 27 (2): 210-215. Rabello, C.B., Azevedo, C.B., Simão, B.R., et al. (2004). Utilização da farinha do cefalotórax de camarão na ração de alevino de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). In: 41º Reunião da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Campo Grande: Anais da SBZ. Rundgren, M. (1988). Evaluation on triticale given to pigs, poultry and rats. Anim. Feed Sci. Technol., 19(1): 359-375. Sadiku, S.O.E. & Jauncey, K. (1995). Digestibility apparent amino acid avaliability and waste generation potential of soybean flour: poultry meat blend based diets for tilapia, Oreochromis niloticus, fingerling. Aquaculture Research, 26: 651-657. Sales, P.J.P., Furuya, W.M., Santos, V.G., Silva, T.S.C., Silva, L.C.R. & Botaro, T. (2004). Valor nutritivo do subproduto industrial do tomate (Lycopersicum esculentum) e da goiaba (Psidium guajava) para a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). In: 41º Reunião da Sociedade Brasileira de Zootecnia,( Cd-rom). Campo Grande: Anais da SBZ. Santos, E.L., Miranda, E.C., Pascoal, L.A.F., Lopes, G.C.C., Silva, L.F.L.; Araujo, R.C. & Pontes, E.C. (2004). Desempenho Produtivo do Tambaqui (Colossoma macropomum) alimentado com farinha de vagens de algaroba em substituição ao milho. In: III Congresso Nordestino de Produção Animal, Campina Grande-PB: Anais da SNPA. Smith, R.R, Winfree, R.A., Rumsey, G.W., Allred, A. & Peterson, M. (1995). Apparent digestion coefficients and metabolizable energy of feed ingredients for rainbow trout Oncorhynchus mykiss. J. World Aquac. Soc., 26(4): 432-437. Spring, P. (2000). Yeast’s secret weapon aids animal production. Feed Mix (special), Minneapolis, 32 (1). Sugiura, S.H., Dong, F.M. & Rathbone, C.K. & Hardy, R.W. (1998). Apparent protein digestibility and mineral availabilities in various feed ingredients for salmonid feeds. Aquaculture, 159: 177202. 148 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Zimmermann, S., & Hasper, T.O.B. (2004). Piscicultura no Brasil: processo de intensificação da tilapicultura. In: 41º Reunião da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Campo Grande: Anais da SBZ. Wilson, R.P. (1995). Fish feed formulation and processing. In: Simpósio Internacional Sobre Nutrição de Peixes e Crustráceos, (171p). Piracicaba: Anais da SBZ.D 149 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 DESARROLLO TECNOLÓGICO DE CARNE AHUMADA DE ESTURIÓN (Acispenser spp.) TECHNOLOGICAL DEVELOPMENT OF SMOKED MEAT OF STURGEON (Acispenser spp.) Bertullo, E. 1; Campot J.; Fernández, S.; Gómez, F.2 y Pollak, A.3 Instituto de Investigaciones Pesqueras Prof. Dr. Víctor H. Bertullo Universidad de la República. Montevideo, Uruguay Comisión Sectorial de Investigación Científica (CSIC) de la Universidad de la República. Programa de Vinculación con el Sector Productivo Recebido em: 21 de abril de 2008 Abstract - The Aquaculture Company “Esturiones del Río Negro S.A.” has been developed the Sturgeon culture in Uruguay, mainly the species Acispenser baerii (Siberian sturgeon) and Acispenser ruthenus (Sterlet sturgeon) and from 1995 it has the productive facility located in Baygorria´s Lake (Río Negro River) in the center of the country. The primary objective of this animal culture is the “Oscetra caviar” production and at present the process imposes the slaughter of the female sturgeon. The farm has also a male stock about the 50%, which are fresh marketed for catering, mostly for local catering or regional brokers. This means the sturgeon flesh availability for human consumption to be used as seafood of added value. The primary objective of this research is the development of a process and a specific seafood to an alternative market demand, applying the fish smoking traditional technology to obtain better marketing prices, preferable to the international one. The applied methodology in this development is the warm smoke technology, upon which different process parameters were adjusted to bring the safety and commercial quality attributes to the seafood, looking after the consumers’ interest. In the present communication we inform about the preliminary trials done at University’s Seafoods Pilot Plant (Institute of Fisheries Research, IIP). The raw material used were sturgeon filets, without skin, frozen to a final product temperature of 0º F. The smoke source was wood’s sawdust mixing the hard and halfhard ones (Lapacho and Eucaliptus), easily to obtained in Uruguay. Automatic Japanese smoking equipment was utilized to perform the process and some physical parameters as temperature (T) and moisture were followed and recorded for further analysis. Upon the results of the trials we have obtained the salt concentration and exposure time, the maximum smoke equipment charge (Kgrs), the cooking drying time, the smoking time, all in order to obtain the final quality figures. Some Lab’s analysis were performed to the developed seafood Keywords: sturgeon, seafood, added value 1 Responsable científico del Proyecto Investigadores contratados por CSIC 3 Investigadora del I.I.P. 2 150 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 INTRODUCCIÓN El cultivo de Esturión (Acispenser spp.) se ha desarrollado en Uruguay por parte de la empresa Esturiones del Río Negro S.A.4 desde 1995, en las instalaciones ubicadas sobre la Represa de Baygorria (Figura 1). El objetivo primario de este cultivo es la producción de Caviar tipo Oscetra, producto del cual la empresa ya ha comenzado a realizar exportaciones en virtud de la calidad del producto logrado y de una demanda creciente de mercado. Figura 1 - Esturiones del Río Negro S.A. Planta de Incubación y Cría de Esturiones: Planta para procesamiento del Esturión y elaboración de Caviar Departamento de Durazno – Uruguay. 4 www.caviaruruguay.com.uy 151 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 El proceso de obtención de caviar obliga por el momento al sacrificio de los ejemplares de esturiones hembra y existe una oferta de un 50% de machos, lo cual lleva a que una parte de la carne obtenida se exporte en fresco o congelada, existiendo interés por una oferta agregada de otros productos pesqueros demandados por el mercado. La empresa es la única en América del Sur dedicada al cultivo y procesamiento de esta especie exótica y está demostrando su eficiencia productiva. La Empresa privada cuenta con: • Planta de incubación y cría de esturiones, situada en el Departamento de Río Negro a 244 Km. de la ciudad de Montevideo, en el área del Lago de la Represa de Baygorria, en el centro del país. (Mapa en Figura); • Planta de alimentos balanceados, situada en Santa Bernardina, Departamento de Durazno; • Sector de cría y desarrollo que se construyó en 1997 en el Lago de la Represa de Baygorria, el cual constaba al comienzo de este proyecto con: un sector de cinco pontones-jaulas, cada pontón con 8 jaulas de 6 x 6 mts. y 3 mts. de profundidad totalizando un volumen de 4,320 m3. En 2005 esta área fue ampliada con estanques artificiales ubicados en tierra, totalizando más de 5,000 m3. • Planta para la producción de caviar, ubicada en la Población de Baygorria, adyacente a la Represa Hidroeléctrica del mismo nombre, en un área de 300 m2. Esturiones del Río Negro S.A. tiene su Planta de procesamiento habilitada sanitariamente para exportar a los principales mercados del mundo (EE.UU. de América y Unión Europea). Los antecedentes universitarios del Instituto de Investigaciones Pesqueras (IIP) en el desarrollo de nuevos productos alimenticios a partir de recursos pesqueros estimularon a la empresa contraparte para colaborar con el proyecto dentro del programa de Vinculación con el Sector Productivo de la Comisión Sectorial de Investigación Científica (CSIC)5 de la Universidad de la República. Es así que planteó su necesidad de optimizar el aprovechamiento de la carne de los esturiones, los cuales producen en forma controlada para la obtención de caviar como objetivo primario. La producción de caviar presenta la dificultad de que en muchos centros productivos del mundo se sacrifican los ejemplares hembra maduros para extraer las huevas y son pocas las granjas que evitan la muerte del animal durante la extracción de las ovas, debido a la alta tecnología requerida y a sus costos. 5 www.csic.edu.uy 152 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Los machos jóvenes son sacrificados también luego de alcanzar un peso mínimo (vivo) de entre 1,00 y 1,5 Kg. cada pieza, por un tema de rentabilidad económica y para limitar los gastos defuncionamiento derivados del manejo y de la alimentación. En centros de producción de España y Francia el principal aprovechamiento de la carne de Esturión se hace a través de productos alimenticios ahumados, que se venden en forma de filetes ahumados con o sin piel. El filete ahumado tiene una muy alta cotización en el mercado y en Europa oscilan entre 30 y 40 por Kg. y existe una creciente demanda.6 Por otra parte, del proceso de corte manual para la obtención de filetes queda un volumen de recortes de músculo que podría ser utilizada como materia prima para el desarrollo de pulpas recuperadas mecánicamente y sus productos derivados: hamburguesas, embutidos, etc. OBJETIVOS OBJETIVO GENERAL Diseñar, desarrollar y transferir a la industria local, tecnologías de proceso para obtención de productos alimenticios sobre la base de carne de esturión, en función de una demanda del mercado para estos productos exóticos de calidad y alto precio. OBJETIVOS PARTICULARES 1. Seleccionar la porción comestible de los especimenes para un mejor aprovechamiento de la carne para la optimización de los rendimientos productivos. 2. Utilizar las tecnologías de la salazón y del ahumado como base de los ensayos a realizarse en la Planta Piloto. 3. Definir los parámetros tecnológicos más apropiados para obtener un producto inocuo, atractivo desde el punto de vista alimentario y con una calidad pre-definida, ante una demanda específica del mercado. 4. Lograr un empaque adecuado, seguro y acorde a los requerimientos normativos y del mercado con el propósito de colaborar en la promoción de la exportación del producto por parte de la empresa contraparte. PROCESO TECNOLÓGICO. El análisis previo realizado determinó que la tecnología del ahumado en caliente sería la más aplicable ya que permitiría agregar valor por medio de un procesamiento tecnológico accesible para el productor en caso de una eventual elaboración local. 6 Infopesca (2005) 153 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 a) La técnica de ahumado en caliente produce la cocción del producto, lo que permite que sea posible consumirlo directamente, sin otros tratamientos térmicos adicionales. El congelado posterior al ahumado y el envasado en atmósfera modificada (vacío) aseguraría una razonable vida útil en la medida que se mantenga la cadena de frío a -18º C o menos. b) Con el fin de realizar el control integral del proceso se registraron las temperaturas ambiente en distintas partes del ahumador (superior e inferior y anterior y posterior) del equipo y en el centro de los filetes ubicados en puntos separados dentro del equipo (parrillas superiores e inferiores). c) Se tuvieron en cuenta y aplicaron las normas establecidas por la Food and Drug Administration (FDA) de los Estados Unidos de América, para determinar los parámetros de inocuidad aceptados para los alimentos pesqueros ahumados.7 EVALUACIÓN DE PRODUCTO FINAL ANÁLISIS QUÍMICOS Para la evaluación de los filetes de esturión ahumados en caliente se determinó el porcentaje de humedad por balanza de infrarrojos tipo Ohaus, el porcentaje de cloruros en el músculo por técnica AOAC y el aw. EVALUACIÓN SENSORIAL En cada uno de los ensayos se realizaron evaluaciones sensoriales preliminares de los productos obtenidos. Estas evaluaciones permitieron ir ajustando las variables del proceso a fin de obtener los parámetros sensoriales más aceptables de acuerdo a los objetivos propuestos. Los parámetros considerados en la evaluación sensorial fueron los siguientes: apariencia general, color exterior del producto, color interno del producto, olor, sabor, nivel de sal y textura. Cuando la metodología aplicada y los resultados indicaron - a juicio del equipo de trabajo que se había logrado una aceptable estandarización del proceso, se propuso a la empresa contraparte la realización de una evaluación sensorial por parte de consumidores. A esos efectos se invitó a un grupo de Chef, propietarios de restaurantes, responsables de compras de hoteles y supermercados a realizar una degustación. 7 Procedures for the Safe and Sanitary Processing and Importing of Fish and Fishery Products; Final Rule. 21 CFR Parts 123 and 1240. US Department of Human Health and Human Services. Docket No. 93N-0195. December 18th, 1995. 154 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 RESULTADOS La materia prima filetes de esturión sin piel congelados posee determinadas características que se resumen en las Tablas 1, 2, 3, 4, 5 y 6, y Figura 2. Tabla 1 - Tamaño y peso individual de los filetes de esturión sin piel. Máximo Mínimo Promedio Largo (cm) 72 28 54 Espesor (mm) 40 15 24 Peso (gramos) 2610 508 1073 N = 82 Tabla 2 - Composición química media de filetes de esturión sin piel. Proteínas (%) Lípidos (%) Cenizas (%) Humedad (%) 18,36 11,6 1,12 70,28 Ensayos realizados en el Laboratorio de DINARA-MGAP, N = 4. Tabla 3 - Resultados de la evaluación sensorial de filetes de esturión descongelados. Atributo/Lote Nº 1 2 3 4 Apariencia general y brillo AA NA AA AA Color de la grasa AA NA AA AA Color del músculo rojo AA NA AA AA Color del músculo blanco AA NA AA AA Textura / elasticidad AA NA AA AA Olor AA NA AA AA N = 25 155 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Figura 1 - Flujograma del proceso de ahumado de filetes de esturión desarrollado sobre la base de los ensayos realizados para el proyecto. 156 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Aplicado el proceso, los rendimientos permitieron un cálculo de los costos directos de producción, los cuales se integran a los Kgs / hora / hombre insumidos en el proceso, los consumos de ingredientes, de energía eléctrica y los materiales de empaque y de limpieza de las instalaciones utilizados durante cada “batch”. Tabla 4 - Rendimientos de proceso. Materia prima Producto final Media de Rendimiento Filete sin piel IQF Filete ahumado en caliente 74% N = 25 El producto final Filetes de Esturión ahumados en caliente, congelados y envasados al vacío presentó características organolépticas, además de las condiciones de salubridad necesarias por lo que es posible asegurar que el producto desarrollado podrá ser tomado como base para futuros emprendimientos comerciales de la empresa contraparte. Tabla 5 - Composición química del producto final. Media. Proteínas (%) Lípidos (%) Cenizas (%) Humedad (%) 23,2 9,73 1,93 64,5 N=5 Tabla 6 - Cloruros y aw en la porción comestible del producto final Producto Cloruros aw Min. Max. min. max. Filete salado en salmuera 1,2 1,6 0,94 0,985 Filete salado en seco 1,8 3,3 0,93 0,945 N=4 CONCLUSIONES Y RECOMENDACIONES • Respecto de la materia prima quedó establecido que su calidad (filetes congelados de esturión) incide directamente en las variables de tiempos y temperaturas aplicables en el proceso tecnológico. Asimismo, cuando los filetes congelados tenían cierto tiempo de almacenamiento se pudo apreciar distintos grados de enranciamiento y desecación que afectó negativamente la calidad del producto final. • Las pruebas realizadas con filetes frescos permitieron establecer que los tiempos totales de permanencia del producto dentro del equipo ahumador son mayores que cuando se trabajó con filetes congelados. 157 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 • Respecto del material generador de humo: La mezcla de aserrín de Eucaliptus y viruta de Lapacho demostró poseer las condiciones correctas para su aplicación. Es muy importante al momento de determinar la fuente de humo, poder asegurar su abastecimiento constante. En este aspecto, estos materiales son de fácil obtención en Uruguay. Además de ser de bajo costo, no ofrecen inconvenientes desde el punto de vista tecnológico ya que proveen de humo en cantidad y calidad convenientes para el proceso. • Respecto del equipo ahumador: Todos los ensayos fueron realizados en el equipo existente en el I.I.P. que tiene ciertas limitaciones, especialmente en cuanto a la capacidad de producto. No obstante, se hace especial énfasis en el hecho de que de encararse el proceso en otro tipo de horno ahumador, se deberán ajustar las variables de tiempo y temperatura a fin de adaptarlas. • Respecto del material de empaque: Aquí se debe diferenciar el utilizado para congelar los filetes frescos y el utilizado para el producto final. Con referencia al primero, se trataba de bolsas de polietileno que no cubrían totalmente el filete, por lo que se cree que parte de los problemas de enranciamiento oxidativo observados se hayan originado en este empaque incorrecto. Este aspecto se debe corregir a fin de evitar ese problema y realizar el congelado de los filetes frescos en túnel a - 30 ºC en forma IQF; posteriormente, envasar en film impermeable al oxígeno hasta su utilización para ahumado. En cuanto a las pruebas de envasado efectuadas con el producto ahumado obtenido, la utilización de bolsas de vacío dio el mejor resultado, aunque las pruebas efectuadas con film “Rolopac” no mostraron efectos negativos sobre el producto en los tiempos de almacenamiento analizados. La recomendación final es la utilización de la metodología del envasado al vacío. • Respecto del proceso en si mismo: La optimización del nivel de sal en el producto final ha sido el problema tecnológico más importante a resolver durante la investigación. Se puede evaluar que para el ahumado de filetes de esturión ensayado, existe una altísima incidencia de diferentes variables que afectan el resultado homogéneo de los ensayos, a saber: a) Las condiciones físicas del filete, especialmente el largo y espesor. b) Las condiciones bromatológicas propias de la materia prima utilizada, especialmente el contenido en lípidos y humedad. c) Las condiciones de proceso y almacenamiento hasta el ahumado. Se trata del tiempo y temperatura de congelación de la materia prima, tiempo y condiciones de almacenamiento, y condiciones de traslado. 158 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 d) Las condiciones meteorológicas el día del ensayo –temperatura y humedad relativa ambienteinciden sobre el producto, desde el momento que uno de los objetivos de la técnica aplicada es la reducción de la humedad en el producto. Estos factores han determinado que los niveles de sal en músculo se presenten en el producto final con valores heterogéneos. Del análisis realizado de nuestros ensayos, se puede inferir que especialmente el espesor de los filetes incidió directamente en la penetración homogénea de sal en el músculo. También se deduce que un porcentaje de humedad variable presente en el músculo incidió directamente en la solubilidad de la sal y por lo tanto en su penetración. Teniendo en cuenta las condiciones del equipo y de las diferentes calidades de materia prima estudiadas, fueron determinados los parámetros de tiempos y temperaturas de proceso ya citados. Al respecto, se debe tener en cuenta: a) El mejor brillo en el producto final se obtuvo cuando se realizó un oreado luego del salado, de al menos 30 minutos, dentro del equipo ahumador a temperatura ambiente de + 20 ºC; b) El período de secado a + 35 ºC demostró ser el más apropiado, ya que a temperaturas superiores se producía menor extracción de humedad del filete presumiblemente por formación de una costra superficial. Además en este aspecto incide el grosor importante de los filetes; c) Se estudiaron diferentes tiempos de ahumado activo a distintas temperaturas, obteniéndose como mejor resultado el de 1 hora a + 60 ºC con saturación de humo (chimenea cerrada) y posterior cocción con mantenimiento del ahumado aunque con el registro de salida de humo al 50 %. Una mayor exposición al humo determinó un color muy fuerte y sobre todo un sabor excesivo a humo. Aquí es necesario recordar que en el ahumado en caliente el humo solamente se deposita en la superficie del filete y su fin es dar condiciones de apreciación organolépticas que combinadas con la sal u otros saborizantes determina un producto palatable; d) El tiempo de cocción fue establecido en cada ensayo de forma similar a + 95 ºC e incluyó los últimos 30 min. a 63 ºC a que debería estar expuesto el filete más frío del horno (establecido por termocuplas de registro constante), lo que determinó siempre el fin del proceso de tratamiento por calor; e) Inmediatamente después de terminado el proceso térmico se procedió siempre al enfriamiento del producto en refrigeración por espacio de al menos 12 horas y posterior empaque y congelado; f) Respecto de la evaluación sensorial: No fue posible contar con paneles de jueces expertos y en su lugar se realizaron varias instancias de pruebas con consumidores no experimentados. De las degustaciones efectuadas, es destacable el resultado obtenido de la que se llevó a cabo con un público compuesto por Chefs de restaurantes importantes de la ciudad de Montevideo (la mayoría catalogados 4 y 5 tenedores) y posibles interesados en adquirir este tipo de producto. De esta prueba 159 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 se puede concluir que el producto desarrollado tiene una interesante aceptación en un posible público objetivo que está acostumbrada a probar productos de calidad y sobre todo que conocen el esturión ahumado que se comercializa en Europa y USA; g) Respecto del etiquetado: Se hace especial énfasis en que el etiquetado de este producto deberá ser muy preciso en cuanto a que especifique claramente que antes del consumo se debe descongelar fuera del envase original (Figura 3a,b,c,d,e,f,g,h,i,j). A C B D Figura 3 - A) Faena de esturiones. Desangrado; B) Procesamiento de filetes sin piel; C) Salado en seco; D) Recorte de filetes y troceado; E) Disposición en parrillas dentro del ahumador; F) Colocación de termocuplas para registro de temperaturas de proceso. 160 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 G H I J Figura 3 (Cont.) - G) Registro de temperaturas de proceso; H) Filetes ya ahumados; I) Envasado al vacío y J) Producto piloto final envasado al vacío y congelado. BIBLIOGRAFÍA AOAC (1998). 16th Ed. 4th. Rev. U.S.A. Cann D. C. (2001) Botulism and Fishery Products. FAO in partnership with Support unit for International Fisheries and Aquatic Research, SIFAR. Assecced in: http://www.fao.org/wairdocs/ tan/x5902e/x590200.htm. Codex Alimentarius (2006). Código Internacional Recomendado de Prácticas para el pescado ahumado. Assecced in: http://www.codexalimentarius.net/gsfaonline/foods/details.html?id=158. Fernández Amorín, S.; Pollak, A. y Vitancurt, J. (1995) Pescado ahumado artesanalmente. Ensayos Tecnológicos. Serie: Documentos de trabajo Nº 10. PROBIDES (Programa de Conservación de la Biodiversidad y Desarrollo Sustentable de los Humedales del Este) e IIP. Departamento de Rocha. Fernández Amorín, S; Friss de Kereki, C., Vitancurt, J. y Bertullo, E. (1996). Desarrollo de Productos Pesqueros Ahumados en la Pesquería Artesanal del Departamento de Rocha. Boletín del instituto de Investigaciones Pesqueras Nº 13. Depósito Legal Nº 303.388/96. Montevideo. Fundación Nacional para la superación de la pobreza. Pesca Artesanal (1991). Elementos para el desarrollo productivo. Cap. 4. Santiago de Chile. 161 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Hilderbrand, K. Fish smoking procedures for Forced Convection Smokehouses (2006). Oregon State University Extension Sea Grant Program. Assecced in: http//seagrant.orst.edu/ sgpubs/onlinepubs/101001.pdf. Huss, H.H. (1997) Aseguramiento de la calidad de los productos pesqueros. FAO Documento Técnico de Pesca. No. 334. 174p. Roma: FAO. Infopesca (2005). Información commercial. Assecced in: www.caviarderiofrio.com y www.piscifactoriadesierranevada.com. International Agency for Research in Cancer (IARC) (2006). Benzopyrene. Vol Nº192-97-2. Assecced in: www.cie.iarc.fr/htdocs/monographs/vol32/benzo%5Be%5Dpyrene.html Robinson S. (2000). Smokers: Though technology has streamlined the process, smoking still requires a human touch. Assecced in: http://www.seafood.ucdavis.edu. Torry Research Station - Ministry of Technology (2001). Torry Advisory Note No. 9: Smoked White Fish Recommended Practice for Producers. FAO, Support unit for International Fisheries and Aquatic Research, SIFAR. Assecced in: http://www.fao.org/wairdocs/tan/x5890e/x5890e00.htm. Torry Research Station - Ministry Of Technology (2001) Torry Advisory Note No. 14 (Revised). Smoked Fish Recommended Practice for Retailers. FAO, Support unit for International Fisheries and Aquatic Research, SIFAR, 2001. Assecced In: http://www.fao.org/wairdocs/tan.htm. US FDA. Compendium of Fish and Fishery Processing Methods, Hazards and Control. Assecced in: http//seafood.ucdavis.edu/haccp/compendium/7.htm. US Department of Health and Human Service (2001). Agency for Toxics Substances and Disease Registry (ATSDR). Report on Carcinogens. List of Hazardous Substances. Wood smoke, chemical composition. Assecced in: www.burningissues.org. US Department of Health and Human Service (2001) Agency for toxics substances and Disease registry (ATSDR). Report on Carcinogens. List of Hazardous Substances. Chemical Founds in Both Wood Smoke and Tobacco Smoke. In: www.burningissues.org. Vincent O. O., Muchiri M., Thakor P. (2001) Investigation of bacteriological quality of smoked fish. Accessed in: http://lvemp.org/L_Publications/regional/scientific/conf2001/Kfm_20 investigation_of _bact.pdf.D 162 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 RESENHAS CARPINTARIA ARTESANAL NO ESTADO DO MARANHÃO Luiz Phelipe de Carvalho Castro ANDRÈS* UNIVIMA/CVT Estaleiro Escola *E-mail: [email protected] Recebido em: 20 de maio de 2008 ANTECEDENTES HISTÓRICOS O Maranhão nasceu do mar, das navegações, das embarcações. A conquista de seu território se fez na aventura cotidiana de enfrentar as águas agitadas por fortes ventos e marés ou penetrar as florestas pré-amazônicas através de milhares de quilômetros de rios navegáveis, furos e igarapés. Durante os séculos XVII, XVIII e XIX esta região foi o cenário de notáveis passagens da história do Brasil. São Luís, fundada pelos franceses em 1612, passaria a ser juntamente com Belém o centro político e econômico do meio norte brasileiro e até hoje possui o caráter marcante de uma cidade portuária. A localização das primeiras povoações foi condicionada pela dificuldade de acesso. O isolamento das comunidades nascentes nas províncias do Grão-Pará e Maranhão só era rompido pela presença de navios a vela provenientes da Europa. Da metade do século dezoito, até o final do dezenove, o Maranhão experimentou um surto de desenvolvimento baseado na exportação intensiva de algodão e arroz, obtidos com farta mão de obra escrava. Na capital, no porto da Praia Grande, fundeavam navios carregados de produtos sofisticados de manufatura européia. Também a comunicação e o abastecimento das cidades litorâneas e ribeirinhas eram assegurados pelo trânsito de embarcações e aos hábitos indígenas de navegação e às suas técnicas mais primitivas somaram-se então a experiência de construção naval e marinharia, trazidas pelos europeus, consolidando-se de vez a hegemonia desse meio de transporte em toda a região. CARACTERIZAÇÃO DO CENÁRIO GEOGRÁFICO DA PESQUISA De fato, o Maranhão possui o mais vasto litoral de todo o país. Se fizermos uma medida real de toda a extensão da linha de costa maranhense ela ultrapassará em muito as medidas oficiais de 640 km. Isto se dá em virtude das infinitas reentrâncias que desenham uma verdadeira renda geográfica, determinada pela foz de incontáveis rios, enseadas, pequenas baías, furos e igarapés, arquipélagos de pequenas e numerosas ilhas que por sua vez determinam a formação de baías interiores. 163 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Ao mesmo tempo registra-se aqui um caso raro no planeta em que as marés, em determinadas épocas do ano atingem até 7 metros de amplitude, e ainda a presença de mais de 60% das áreas de manguezais do país. Além do que, o território do estado possui uma rica bacia hidrográfica, sendo todo ele cercado por milhares de quilômetros de rios navegáveis, além de grandes lagos em seu interior, especialmente nas regiões de Viana, Penalva, Cajari e Lago Açu só para citar alguns dos mais notáveis. AS JUSTIFICATIVAS DE ORDEM ECONÔMICA Até hoje a maior parte das populações que habitam as longínquas regiões da baixada e do litoral maranhense, cerca de um milhão de pessoas, abrangendo mais de 64.000 km2 de território e algumas das regiões mais isoladas do país, apóiam o seu modo de vida nas práticas da navegação. Várias atividades que dão sustentação a economias regionais dependem destas embarcações para sobreviver. Dentre elas a pesca artesanal, que se processa cotidianamente e assegura a subsistência informal a milhares de famílias. Assim a carpintaria naval tradicional ainda hoje representa um alto grau de importância sócio econômica para o Estado do Maranhão. A GÊNESE DA PESQUISA (1977-1985) Mas, não obstante a importância sócio-econômica do tema, foi de fato a exuberante beleza das velas fortemente coloridas, de canoas ancoradas no bairro do Portinho no centro histórico de São Luís, o motivo da primeira atração e que nos fez buscar uma proximidade maior com as embarcações artesanais. Recém chegado ao Maranhão, ainda em Março de 1977, logo pensei em captar aquele cenário de cores fortes como motivo de uma série de pinturas a óleo que pretendia produzir como forma de lazer. Com dificuldade para destrinchar o emaranhado visual de cabos, moitões, cadernais, bolachas e roldanas das “enxárcias” e dos aparelhos vélicos, passei a procurar os desenhos que pudessem me fornecer as minúcias dos detalhes construtivos das canoas para realizar telas bem próximas da realidade. Entretanto ao me aproximar, fiquei sabendo pelas conversas na “beirada” que eles não utilizavam desenhos de projetos convencionais para construir aqueles barcos e que o projeto estava “na cabeça” como diziam apontando para a fronte. Ao mesmo tempo queixavam-se que os jovens não mais se interessavam pelo aprendizado da arte. Ninguém quer abraçar um ofício que leva os profissionais para um final de vida na pobreza. Não foi difícil perceber os riscos que a profissão 164 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 corria, pois toda vez que um velho mestre chegava ao fim de seus dias, levava consigo e para sempre, um imenso cabedal de conhecimentos. O estado de abandono daqueles trabalhadores vinha ocasionando perdas importantes. A partir daí iniciei meus primeiros passos, percorrendo as praias da ilha de São Luís, nos finais de semana, na tentativa de registrar as canoas com desenhos e fotografias. O esforço ingente com poucos resultados práticos logo me revelou a dimensão e as dificuldades da tarefa a que me propusera. Pouco a pouco fui me dando conta da quantidade de modelos de barcos e suas variações. Um universo de rica diversidade a ser desvendado. Já em 1979 recebemos a visita de Aluisio Magalhães então presidente do antigo SPHAN, a quem relatei minhas idéias e dificuldades. Ele sugeriu a montagem de uma equipe para dar conta do recado e comentou sua preocupação com as tradicionais jangadas de sua terra que já estavam desaparecendo da paisagem, sendo que as novas vinham sendo fabricadas com tubos PVC e utilizando velas de nylon sem que ninguém tivesse tido o cuidado de fazer o competente registro. Reconhecer minhas limitações para realizar, sozinho, esta tarefa foi o primeiro movimento no sentido de elaborar um projeto que viabilizasse os recursos necessários para remunerar uma equipe de pesquisadores e daí surgiu de fato o projeto “Embarcações do Maranhão” cujo objetivo primeiro foi o de recuperar as técnicas tradicionais populares de construção naval e contar a história dos mestres-carpinteiros, calafates, pintores e veleiros, que guardam na sua memória a ciência e a arte da construção naval, as quais vem sendo transmitidas de pai para filho pela tradição oral desde os tempos coloniais e que por sua vez resistiram ao abandono e ao isolamento através de gerações que ainda exercem anonimamente esta difícil profissão. Em 1985 fui levado por D. Zelinda Lima a uma entrevista com Renato Archer em suas primeira visita ao Maranhão na qualidade de Ministro da Ciência e Tecnologia. A ele entregamos o projeto que foi encaminhado e aprovado para financiamento pela FINEP. A partir daí foi possível contar com uma valorosa equipe capaz de dar conta do recado. O foco inicial da pesquisa foi direcionado para a recuperação dos conhecimentos secularmente utilizados para a construção das embarcações de pequeno e médio porte, incluindo os modelos destinados à navegação marítima e fluvial, para transporte de passageiros, de carga ou de pesca. METODOLOGIA APLICADA E IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO (1986- 1988) A partir de 1986, a equipe do projeto Embarcações trabalhou segundo três principais vertentes. Simultaneamente, focalizamos as embarcações propriamente ditas, os operários navais 165 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 que as fabricam e os estaleiros artesanais, cenário e palco deste fazer. Passamos a olhar as embarcações como objetos de arte popular. Os operários navais, legítimos detentores deste conhecimento tradicional, precisavam ser entrevistados para que pudéssemos conhecer seu paradeiro, traçar seu perfil antropológico, além de obter as informações sobre os métodos construtivos, materiais e ferramentas utilizadas. Entretanto, pela própria natureza de sua atividade, muitas vezes eles se encontravam dispersos em localidades isoladas e de difícil acesso. A primeira etapa do trabalho foi realizada na ilha de São Luís. Com o acúmulo de experiências, a equipe visitou regiões cada vez mais distantes. Durante dois anos percorremos todo o território do Maranhão, seguindo informações que indicavam os mais prováveis centros de construção naval artesanal, às vezes no litoral, às vezes nas margens de grandes lagos ou rios navegáveis bem distantes do mar. A parceria com o Sindicato dos Operários Navais de São Luís foi fundamental. Fazíamos reuniões nas comunidades para explicar os objetivos do projeto. Os profissionais foram então identificados com foto, nome e especialidade. Visitamos 53 localidades. Assim, tornou-se possível detectar um número significativo de operários navais bem como seu nível de qualificação. Este inventário realizado há mais de 20 anos, cadastrou 521 profissionais. Entretanto nós registramos somente aqueles que muitas vezes com dificuldade, podiam atender ao nosso convite para as reuniões que realizávamos nas sedes das colônias de pesca. Estimamos que este número corresponde a apenas 30% dos trabalhadores que atuavam naquela época. Quanto aos estaleiros artesanais observamos que eles podiam até, em alguns casos, possuir um caráter efêmero. Muitas vezes nos deparamos com embarcações de pequeno porte sendo construídas ao ar livre, à sombra de uma árvore. Após a conclusão da obra o carpinteiro eventualmente mudava de paradeiro em função de uma nova encomenda haver sido solicitada até mesmo em outro município. Em muitos casos não passavam de um barracão improvisado, coberto de palha, abrigando uma caixa de ferramentas e uma bancada. Tudo muito simples, despojado e rude. Não fosse pela presença forte de uma estrutura de madeira, quase orgânica, com o “cavername” à mostra, não se identificaria ali o cenário onde se processa a criação de algumas obras de arte da navegação. Essa mobilidade se deve ao extremo despojamento do aparato utilizado na oficina de construção naval. Dependendo dos recursos disponíveis e do isolamento em que se encontra o operário, uma pequena canoa de pesca poderá ser construída somente com utilização de ferramentas manuais bem primitivas. Cavilhas de madeira com diferentes coeficientes de dilatação substituem pregos e parafusos. As diversas peças são talhadas e preparadas com poucos instrumentos como 166 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 machados, serrotes, enxós, plainas e arcos de pua. Mas a capacidade de resolver problemas com o mínimo de recursos é o que para nós caracteriza uma boa técnica e neste aspecto é que reside o grande valor da arte dos carpinteiros navais do Maranhão. De todas as etapas da pesquisa a que apresentou mais dificuldades foi o registro do projeto naval. No dizer de mestre Pedro Alcântara, um dos mais experientes que conhecemos na ocasião e autor de várias canoas costeiras “o barco é feito assim todo torto pra ficar direito na água”. Esta característica das embarcações, tão bem definida pelo próprio construtor, dificulta a realização do levantamento e registro gráfico de suas formas e dimensões. No primeiro momento tornou-se necessária a montagem de uma oficina de modelismo naval para familiarização da equipe com a “anatomia” da embarcação. Aí foi fundamental o apoio do Almirante Max Justo Guedes, Diretor do Serviço de Documentação Geral da Marinha, que autorizou a participação direta do especialista em modelismo naval do Museu Naval e Oceanográfico, Kelvin de Palmer Rothier Duarte. Sob sua orientação iniciamos o levantamento de uma canoa costeira no Portinho e a construção de sua réplica em escala reduzida. Kelvin Duarte transmitiu-nos o conceito do “pente”, instrumento utilizado em levantamentos arquitetônicos para registrar o perfil de frisos, cornijas e cimalhas. E assim construímos um aparelho com a finalidade de medir a curvatura das diferentes cavernas da embarcação e que jocosamente denominamos “cavernômetro”, Este recurso favoreceu a reconstituição dos planos navais, o “plano de balizas”, o de “linhas d’água” e o “plano do alto”, capazes de registrar com boa aproximação, o perfil da estrutura, permitindo traçar a base do projeto naval dos diferentes modelos, trilhando o “caminho inverso”, ou seja, partindo do levantamento da embarcação já existente e então elaborando os planos, que agora nos permitem reconstruí-las com precisão. A equipe esmerou-se ainda no registro dos detalhes construtivos que complementam a informação técnica de projeto. PRINCIPAIS RESULTADOS (1996 -2008) Em 1996, o Projeto Embarcações do Maranhão conquistou o prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade concedido pelo Ministério da Cultura em âmbito nacional, na categoria de "Inventário de acervos e pesquisas" e dois anos mais tarde (1998) resultou na publicação de um livro denominado "Embarcações do Maranhão - Recuperação das técnicas construtivas tradicionais populares" sob a chancela da UNESCO Os resultados obtidos, de forma geral, tem se constituído em subsídios aos demais projetos que visam a recuperação e intensificação das atividades de pesca artesanal e indústria naval 167 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 artesanal, como alternativas de geração de emprego, renda e oportunidades de permanência do homem em seu local de origem. Mas de todos os frutos desta investigação, o principal foi a criação do Centro Vocacional Tecnológico - Estaleiro-Escola do Sítio Tamancão, destinado ao treinamento em atividades de construção naval, como alternativa para a preservação das técnicas, através da valorização dos mestres artesãos que passaram a contar com local e remuneração apropriados para a transmissão de seus conhecimentos. Nosso curso de construtores navais é financiado pelo CNPq e foi aprovado em concurso publico através de edital lançado por aquela instituição de pesquisa em 2006. Assim sua matriz curricular compreende disciplinas teóricas que darão aos futuros profissionais conhecimentos de informática, tipologia naval, desenho técnico, desenho de projeto, matérias primas, meio ambiente, segurança no trabalho e empreendedorismo em uma carga horária de 2.000 horas. Mas estes ensinamentos que a academia pode proporcionar aos nossos primeiros 25 alunos e que são transmitidos por uma equipe docente de alto nível são associados a aulas práticas de construção de embarcações ministradas pelos velhos mestres carpinteiros que atuam no dia a dia do canteiro de obras do CVT- Estaleiro-Escola. O local escolhido foi o antigo Sítio Tamancão, que no século dezenove abrigou uma indústria de beneficiamento de arroz para exportação, movida por "moinho de marés", na margem do canal de navegação do Rio Bacanga em frente ao Portinho bem diante do centro Histórico de São Luís, onde até hoje se processa o desembarque da pesca artesanal e se concentra grande número de embarcações de madeira. Inaugurado em Dezembro de 2006 o CVT-Estaleiro-Escola é hoje uma realidade. Localizado no belo cenário da ilha do Tamancão, próximo a várias comunidades carentes de bairros populares, abrindo perspectivas de inclusão social para uma camada da juventude que encontra aí uma nova opção profissional. Todo o trabalho ao longo destes 22 anos, desde a pesquisa “Embarcações do Maranhão” vem sendo desenvolvido na esfera do Governo Estadual que deu abrigo ao Estaleiro Escola no âmbito da UNIVIMA-Universidade Virtual do Maranhão, órgão vinculado à Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia que por sua vez nos dá todas as condições pedagógicas e de infra-estrutura garantindo seu pleno funcionamento. Além do curso de construtores navais a escola oferece cursos de capacitação em preservação ambiental, informática e eletromecânica. Contamos também com o financiamento do Ministério da Ciência e Tecnologia para abrigar 250 alunos. 168 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Mas certamente que a maior de todas as emoções é o fato de estarmos trabalhando hoje com os mestres da arte como: Jonas, Alencar, Otávio, Zequinha, Veriano Aranha, Emídio, Deudico e Rosa, que já são de fato os “doutores” da nossa escola. Percebendo que eles, lado a lado com os aprendizes, estão se sentindo mais valorizados e com motivos para ter orgulho de sua profissão. A eles dedicamos as conquistas do projeto como detentores e portadores até aos nossos dias, do conhecimento tradicional e secular que a escola já está assegurando para as futuras gerações. Na Figura 1 é possível visualizar belos exemplos de embarcações artesanais do Maranhão. D Figura 1 - Embarcações do Maranhão (acima fotos do Autor e abaixo de Haroldo G. Barroso). 169 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 TILAPICULTURA INDUSTRIAL Rogério Bellini Figueiredo* Netuno Pescados *E-mail [email protected] Recebido em: 1 de abril de 2008 Conceitos de piscicultura existem tanto em âmbito acadêmico quanto no não acadêmico, e as classificações de super intensivo, intensivo, semi-intensivo e extensivo acomodam-se bem em ambos. Mas, como pensar na praticidade desses conceitos pondo em foco a atividade industrial? Arrisco-me a observar, que de forma recorrente essas pisciculturas são manejadas tal qual uma “receita de bolo”. Sabemos exatamente o que colocamos, como e quando devemos manejar, quando despescaremos e quanto produziremos. Estas são condições que de forma sinérgica se retroalimentam, ou seja, formam um complexo que otimiza a planta de beneficiamento. Não podemos produzir em desarmonia a ela, e lembro das idéias de um antigo professor quando chamava à atenção sobre fatores limitantes. Esses fatores tinham que estar em equilíbrio, para que não inibisse a um dos fatores que compõem o ciclo produtivo, o que restringiria todo o processo a um patamar menor. Pensado assim, desenvolvemos e implantamos uma fazenda modelo que atendesse a necessidade de uma planta de processamento exclusivo de tilápias (Figura abaixo). 170 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 O projeto tem como premissas: ocupação de pequenos espaços, controle absoluto do manejo, conforto dos espécimes em cultivo, ciclos curtos e despescas controladas. Aliada à questão produtiva, teríamos que ficar atentos aos custos dessa produção e principalmente à manutenção do equilíbrio ambiental. Encontramos no Rio São Francisco as condições ideais para a implementação do projeto. O fluxo contínuo das águas passando pelas gaiolas ou tanques-rede propicia a harmonia do conjunto; o que poderíamos sugerir como condição relevante ou mesmo determinante para o sistema de cultivo apresentado. Dificilmente, poderíamos obter uma produção de larga escala, como a encontrada no Rio São Francisco, com o uso de tanques escavados uma vez que não se fariam presentes os fatores impulsores supracitados. O custo de produção seria altíssimo além do descontrole na padronização de lotes.D 171 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO NA REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA OBJETIVO - A Revista Brasileira de Engenharia de Pesca (REPesca) tem por objetivo publicar trabalhos que abordam temas de interesse na área de Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca. INFORMAÇÕES GERAIS - Os originais devem ser redigidos em português, inglês ou espanhol, de forma concisa, com a exatidão e a clareza necessárias à sua fiel compreensão, de acordo com estas normas. Devem ser enviados à Comissão Editorial pelo e-mail: [email protected], rigorosamente donde serão enviados aos consultores “ad hoc”. Os pareceres serão transmitidos anonimamente aos autores. Os trabalhos serão publicados na ordem de aceitação, ou pela sua importância e podem ser de três tipos: Artigos Científicos, Artigos Técnicos e Resenhas, com os seguintes itens: Artigos Científicos - Resumo (+ Palavras-chave), Abstract (+ Keywords), Introdução, Material e Métodos, Resultados e Discussão (estes dois juntos ou separados), Conclusões (opcional), Agradecimentos (opcional) e Referências. Artigos Técnicos - Resumo (+ Palavras-chave), Abstract (+ Key words), Introdução, Corpo (desenvolvimento do assunto) Conclusões (denominados de Comentários Conclusivos ou Finais, Considerações Finais), Agradecimentos (opcional) e Referências. Resenhas (relatos de fatos ou casos) - Título e texto (+ Referências se houver citação). OS ITENS SERÃO DEVEM SER GRAFADOS COM LETRAS MAIÚSCULAS, ALINHADOS AESQUERDA E UM ESPAÇO ACIMA E UM ABAIXO. PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS Digitação - Os artigos com no máximo 15 páginas, incluindo tabelas e figuras, devem ser digitado em letra Times New Roman, tamanho12, papel “Carta/Letter” e em espaço 1,5 (entre linhas), com exceção do Resumo e Abstract (espaço simples), com margens de 2 cm em todos os lados, justificado. Nomes científicos e palavras estrangeiras devem ser grafados em “itálico”. Título - O título, nas duas línguas usadas nos resumos, deve dar uma idéia precisa do conteúdo e ser o mais curto possível escrito em letras maiúsculas tamanho12, centralizado. Nomes dos autores - Os nomes dos autores devem constar sempre na sua ordem direta, sem inversões, com o sobrenome maiúsculo. Segue-se aos autores os endereços institucionais e após o email do autor correspondente. Ciro Mendes CASTOR1*; José Mário BRAGA2; Maria da Penha PIRILO1 1 Departamento de Educação, Universidade Federal de Carolina 2 Instituto de Pesca de Carolina *Email: [email protected] 172 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 O Resumo e o Abstract - devem ser escritos em espaço simples insertos na primeira página (no máximo 250 palavras), conter as mesmas informações e sempre sumariar resultados e conclusões. Devem ser seguidos de, no máximo, cinco palavras-chaves e key-words. REFERÊNCIAS - Normas da ABNT Livro (um autor) BELLINI, C. T. Tratado de Zoogeografia do Brasil. Ubá: Editora Nova, 2005. 117p. No texto: A espécie ocorre... (BELLINI, 2005) ou Segundo Bellini (2005) a espécie... (Até três autores) ROCHA, R.; J.P. LARA (Eds.) Marine fishes. Victoria: University Press, 2004. 232p. No texto: (ROCHA; LARA, 2004) ou Segundo Rocha e Lara (2004), the... Capítulo de livro BRITO, N.; DATENA, C. R. Crescimento de miracéu Astrocopus y-grecum em laboratório. In: H. G. Barroso (Ed.). The Sea Fishes São Luís: Ed. Marina, 2005. p. 23-27. No texto: (BRITO; DATENA, 2005) Períodicos COSTA, J.B. A seca no agreste pernambucano. Rev. Bras. Geog., v. 7, n. 27, p. 21-7, 1957. No texto: (COSTA, 1957) GALVÃO, G.G.; CAFÉ , J.M. (2002). Peixes do Rio Farinha, MA. Rev. Mar. Biol., v. 27, n. 7, p. 733-49. No texto (até três autores): (GALVÃO; CAFÉ, 2002) OMINO, P., GIL, C.; FALCÃO, E. Raias do Brasil. Bol. Zool., v. 7, n. 8, p. 3-13, 1987. No texto (Mais de três autores) (Pantaleão, Omimo, Gil; Falcão, 1947) KOIKE, J., et al. A importância do bem-estar. Rev. Bras. Bem-estar, v. 7, n. 1, p. 7-27, 1997. No texto (mais de três): (KOIKE et al., 2007) Anais de Eventos Científicos MARINHO, M. A.; ABE, B. A violência contra as tartarugas. In: CONGRESSO ESTADUAL DE ENGENHARIA DE PESCA, X, Penedo. Anias... Penedo: Universidade do São Francisco, 2008. p. 33-47. No texto: (MARINHO; ABE, 2001) Tese e Dissertação MARTUS, M. Contribuição estudo da pesca na Lagoa dos Pato, 2001. 47f. Tese (Doutorado em Zoologia) – Deprtamento de Zoologia, Universidade do Arroio, Pelotas. 2001. No texto: (MARTUS, 2001) 173 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 Artigo on-line FAO. The world's fisheries. (2007). Disponível em: http://www.fao.org\fi\statist\htm. Acesso em: 27 de set. 2007. No texto: (FAO, 2007) Correções - Os trabalhos que necessitarem de correções serão devolvidos aos autores e deverão retornar ao Editor no prazo de 7 dias, caso contrário poderão ter a publicação postergada. MATERIAL ILUSTRATIVO - As tabelas e figuras devem se restringir ao necessário para o entendimento do texto, numeradas em algarismos arábicos. As figuras devem ser “inseridas” no texto e nunca “recortadas” e “coladas”, devem ser de tamanho compatível, para não perder a nitidez quando reduzidas e agrupadas, sempre que possível. As tabelas devem ser feitas com utilização da ferramenta Tabela do “Word”. As legendas devem ser auto-explicativas colocadas acima nas tabelas e abaixo nas figuras. Símbolos e abreviaturas devem ser definidos nas legendas. NUNCA USE NEGRITO NO TEXTO, EM PARTE OU PARA DESTACAR EXPRESSÕES. OBSERVAÇÃO - Antes de remeter o trabalho, verifique se o mesmo está de acordo com as normas, atentando ainda para os seguintes itens: correção gramatical, correção da digitação, correspondência entre os trabalhos citados no texto e os referidos nas referências, correspondência entre os números de tabelas e figuras citadas no texto. ATENÇÃO: a) a Revista não concorda necessariamente com os conceitos emitidos pelos articulistas; b) os recursos advindos de possíveis doações, financiamentos, assinaturas, venda de publicações da REPesca (disquetes, CDS, cópias impressas etc.) serão utilizado na manutenção da revista, não cabendo participação dos autores no usufruto desses recursos; c) os autores ao enviar seus trabalhos concordam com os termos destas normas; d) o autor principal (ou correspondente) é responsável pela aceitação, para publicação nesta REPesca, dos demais autores do trabalho. DÚVIDAS E ENVIO DE TRABALHOS: contactar o Editor-Chefe no seguinte e-mail: [email protected] A REPesca está disponível no site da Universidade Estadual do Maranhão/Engenharia de Pesca: www.engenhariadepesca.uema.br D 174 Rev. Bras. Enga. Pesca 3(2), jul. 2008 CONTATOS REPesca: E-mail: [email protected] Site: www.engenhariadepesca.uema.br Haroldo Gomes Barroso José Milton Barbosa Diretor Editor-Chefe Curso de Engenharia de Pesca, Departamento de Pesca e Aqüicultura, Universidade Estadual do Maranhão Universidade Federal Rural de Pernambuco Fone: (098) 8143 6731 E-mail: [email protected] Fone: (81) 3320 6521 / 99626132 E-mail: [email protected] Adierson Erasmo de Azevedo Emerson Soares Editor Adjunto Editor Adjunto Professor Catedrático Curso de Engenharia de Pesca, Universidade Federal Rural de Universidade Federal de Alagoas, Pernambuco Polo Penedo, Fone: (81) 8852 3067 Fone: (82) 3551 2784 E-mail: E-mail: [email protected] [email protected] 175