4 ou 5 pequenas conclusões acerca do humanismo em meias

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4 ou 5 pequenas conclusões acerca do humanismo em meias
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4 OU 5 PEQUENAS CONCLUSÕES
ACERCA DO HUMANISMO EM MEIAS SOQUETE
Luciano Bedin da Costa1
Três ou quatro dias por semana costumo usar uma calça caqui curta que não chega
até os sapatos. Quando me sento, a distância entre os dois fica ainda maior, expondo-me
ao ridículo de minhas finas canelas. Nestas situações de repouso, a meia se mostra bem
mais evidente. Há de se compreender o gosto de alguns por soquetes - refiro-me às suas
estampas e cores.
 São para quando se senta, estes detalhes – pensei.
Quando se está em pé ou em movimento pouco pode ser notado acerca desta
estamparia de intimidades. Quase não existem. Dei-me conta, então, de que não costumo
dedicar muito tempo e esforço para escolhê-las na gaveta ou até mesmo quando as
compro. Quase nunca saio para comprar meias, e quando isso acontece é por uma outra
razão. Sempre que compro uma soquete é em decorrência de uma outra compra maior, de
uma calça ou um suéter, por exemplo. Na loja de calçados, a vendedora gordinha
ofereceu-me cinco ou seis modelos com uma variedade de cores.
 Qualquer uma – respondi, pegando a primeira que me vinha à mão.
Pensei que o mesmo pode ser aplicado aos calçados. Os pequenos detalhes - as
pregas, cadarços e fivelas - são para quando se está parado. No mais, quando se caminha
ou quando se sobe uma escada, eles simplesmente desaparecem, como no caso das meias.
Disto, decorreram algumas conclusões:
1)Tivemos que viver milhões de anos até adquirirmos a
habilidade para ficar eretos.
2)O ser humano caminha porque tem dois pés.
3)O sapato foi criado para o pé.
4) A meia foi feita porque existia o sapato.
Sendo feita para o sapato, a meia; que foi feito para o pé, o sapato; que foi feito
para caminhar, o pé; cheguei à conclusão de que há algo de muito errado nessa história de
ficar sentado ou parado. Os detalhes nas meias e sapatos seriam, pois, uma anti-evolução
à nossa raça. Depois disso, sempre vou comprar meias ou sapatos, ou quando vejo-me
numa fila de banco ou de espera, fico observando os pés das pessoas na minha frente,
cuidando para que elas não me notem, é claro. Ontem deu vontade de xingar um senhor
1Docente de Psicologia (UNIVATES-SETREM) e doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul – UFRGS. Nas horas vagas é músico amador e desenhista. Contato: [email protected]
ALEGRAR nº07 - set/2011 - ISSN 18085148
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calvo de meia-idade, que trajava um terno de linho ruim com a meia e o sapato repletos
de pequenos adornos.
 Seja mais humano, careca! - pensei em xingar o cara mas deixei por isso
mesmo.
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