A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

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A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery
http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377
Curso de Pedagogia– N. 12, JAN/JUN 2012
A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL: O PAPEL DA ESCOLA E DO
EDUCADOR
Andreia Rezende Garcia Reis 1
Ulisses Belleigoli Rezende 2
Marianna Panisset Pedreira Ferreira Ribeiro 3
RESUMO
Este trabalho apresenta reflexões sobre a música no desenvolvimento infantil. Tem como
objetivo analisar a música e seu papel nos anos iniciais de uma criança e também o papel da
escola como agente estimulador e implementador da música em seu currículo. Nessa
perspectiva, enfatiza-se a importância de um trabalho com a música no contexto do
desenvolvimento infantil.
Palavras-chave: Música. Criança. Desenvolvimento. Musicalização. Educação Musical.
Educação. Escola.
ABSTRACT
This paper presents some reflections about music and its influence on child development. It
also aims to analyze music and its role in the first childhood as well as the role of schools as
responsible for implementing and estimulating music as a curricular activity. From this
perspective, the paper emphasizes the relevance of working with music as an ally in the
context of child development.
1
Doutora em Linguística pela UFRJ, professora de Língua Portuguesa da Faculdade Metodista Granbery e da
Rede Municipal de Juiz de Fora, autora de livros didáticos de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental II e do
Ensino Médio.
2
Graduado em comunicação pela UFJF.
3
Graduada em Pedagogia pela Faculdade Metodista Granbery, pós-graduanda em Psicopedagogia pela
Faculdade Metodista Granbery.
1
Keywords: Music. Child Development. Musical Education. Education. Schools
1 Introdução
A música está presente na vida de um ser humano desde antes do seu nascimento.
Além de transmitir ideias e sentimentos, a música também pode ser considerada uma forma de
linguagem que causa sensações e que pode desenvolver capacidades que serão de suma
importância durante o crescimento e desenvolvimento de uma criança. A escolha dessa
temática para elaboração da pesquisa e do trabalho de conclusão do curso de Pedagogia da
Faculdade Metodista Granbery se deu a partir do meu interesse por música e devido a
experiências vivenciadas por mim. Tenho observado, em crianças de minha família e
próximas a mim, o quanto a música pode contribuir para a aprendizagem e para o
desenvolvimento físico e cognitivo.
Quantas crianças não aprendem os números com cantigas? Quantas crianças não
aprendem as cores com o auxílio de uma música? A partir daí surge o interesse em entender
de que forma a música pode contribuir para o desenvolvimento infantil, tema deste artigo.
O objetivo principal dessa pesquisa é o de investigar o papel da música no
desenvolvimento infantil. Seus objetivos específicos são: discutir o papel da música na
educação e apresentar a música como uma possibilidade de contribuição para a aprendizagem.
Este artigo é composto por duas seções, que abordam a música e o seu papel na
educação infantil e o papel da escola perante ela, além das considerações finais.
2 A música na infância
O pedagogo e estudioso em ciência e cultura, Levi Silva (2006), em seu artigo
“Música na infância”, analisa alguns autores, os quais acreditam que, mesmo antes de nascer,
em sua gestação, a criança já interage com os sons. Enquanto uns dizem que com os primeiros
batimentos cardíacos a criança já responde aos estímulos de música, outros preferem dizer
que o ouvido desenvolve-se só a partir da segunda semana de gestação, quando aí sim a
criança pode interagir com os sons, e que apenas entre a 26ª e a 30ª semana de gestação o
bebê começa assimilar o conteúdo musical.
2
De acordo com Nicole Jeandot (2001), durante a gestação a criança possui contato
com a música, pelo menos com um de seus elementos fundamentais, o ritmo, através das
pulsações do coração de sua mãe. A mesma afirma que é fato que, logo ao nascerem, as
crianças passam a ter contato com a música. Ao acalentar seus filhos, por exemplo, é natural
que a mãe emita sons e cante alguma música para o bebê. Os familiares também costumam
cantar para a criança. Além disso, a casa é um espaço no qual as crianças estão em direto
contato com sons, através de aparelhos de som, TV, computador, entre outros.
É natural, antes mesmo de a criança começar a falar suas primeiras palavras, que ela
emita alguns sons; muitas vezes parecem até estar cantarolando. É comum também que as
crianças se movimentem junto com os sons, balancem seus membros, ou até mesmo o corpo;
algumas batem palmas, batem o pé, mexem a cabeça e iniciam um movimento bilateral.
Assim, sozinhas, começam a entender e explorar esse mundo da música, de maneira natural e
espontânea. Aos poucos, manuseando objetos, a criança descobre novos sons, tornando-os em
instrumentos, batucando e formando ruídos. A criança prende sua atenção com esses sons por
muito tempo e os acha algo interessantíssimo.
Jeandot (2001) analisa:
Antes ainda de começar a falar, podemos ver o bebê cantar, gorjear,
experimentando os sons que podem ser produzidos com a boca.
Observando uma criança pequena, podemos vê-la cantarolando um
versinho, uma melodia, ou emitindo algum som repetitivo e
monótono, balançando-se de uma perna, ou ainda para frente e para
trás, como que reproduzindo o movimento de acalanto. Essa
movimentação bilateral desempenha papel importante em todos os
meios de expressão que se utilizam do ritmo, seja a música, a
linguagem verbal, a dança etc (JEANDOT, 2001, p. 18).
Ao longo da infância, as crianças começam a interagir com a música, balbuciando,
sons únicos e repetitivos, e aos poucos começam a conseguir a diferenciar diversas músicas e
diferentes sons. Aos poucos iniciam os movimentos, balançando seu corpo, membros e
cabeça; por volta dos nove meses, já mais desenvolvidos, os bebês começam a associar a
música às suas próprias ações, passam a estabelecer e a criar ritmos, e começam a
acompanhar as canções com o pé e com a mão.
Silva (2006) acredita que no primeiro ano, iniciando seu processo de fala, as crianças
começam a imitar os animais, pessoas, meios de transportes e outros sons comuns de se
escutar no ambiente em que vivem. Seu ritmo está mais desenvolvido e seus movimentos de
3
pés, cabeça e braços passam a ser mais sincronizados; podem manusear instrumentos musicais
de brinquedo.
Em torno de dois anos, gostam de brincar de imitar os sons que escutam; reagem
rapidamente a qualquer tipo de som, seja cantando ou dançando. Começam a ter reais
desempenhos com seus instrumentos musicais.
Em geral, crianças adoram cantar e dançar, se arriscam a compor algumas coisas,
inventam músicas ou sons; começam a ter maior controle quanto a sua voz; participam de
vários jogos e brincadeiras musicadas; cantarolam para sua família e seus amigos (muitas
vezes dentro de um tom); e podem começar a levar um instrumento musical com mais
seriedade se acompanhadas por um profissional.
A partir dos cinco anos, mais ou menos, começam a criar uma identidade musical e
sua própria sensibilidade. Gostam de ter muitas músicas em seu repertório e sincronizar
movimentos corretos em relação à dança e ao ritmo; interessam-se por aulas de músicas
específicas e/ou instrumentos musicais; despertam a imaginação através das melodias,
interpretando e encenando algumas músicas.
Silva (2006) enfatiza que, de acordo com o ambiente em que a criança vive e de
acordo com os estímulos que lhe são dados, essas fases podem variar um pouco. Mas em
geral, com algum estímulo da família, amigos ou escola, são fatores que costumam acontecer
como descrito.
Chiarelli e Barreto (2005) explicam como a musicalização pode contribuir para
aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento cognitivo, motor e socioafetivo da criança.
Buscam abordar a questão da inteligência musical, apresentada por Howard Gardner (1995)
na teoria das inteligências múltiplas 4. Tanto Gardner quanto os autores citados acreditam que
a música deva ser considerada um elemento essencial do currículo escolar, uma vez que pode
facilitar a integração e a inclusão da criança na sociedade.
Uma criança que cresce com a musicalização amplia seus processos de conhecimento.
Despertando seu gosto musical, favorece a sensibilidade, a criatividade, o senso rítmico. Silva
(2006) cita alguns estudos que apontam que crianças que aprendem música desenvolvem e
podem ter mais facilidade de aprender uma língua estrangeira do que crianças com a mesma
idade que não têm a oportunidade de vivenciar a musicalização.
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A Teoria das inteligências múltiplas possui importante papel na reforma educacional. Consiste na aplicação de
exercícios, testes e políticas de esquema de mudança em sala de aula; sua principal intenção é de ampliar o
intervalo de funcionamento mental. Para Gardner, a inteligência é a capacidade de resolver problemas ou de criar
produtos valorizados por uma sociedade (CHEN, 2001, p.30).
4
Chiarelli e Barreto (2005) contextualizam a música na infância:
As atividades de musicalização permitem que a criança conheça
melhor a si mesma, desenvolvendo sua noção de esquema corporal, e
também permitem a comunicação com o outro. Weigel (1988) e
Barreto (2000) afirmam que atividades podem contribuir de maneira
indelével como reforço no desenvolvimento cognitivo/lingüístico,
psico-motor e sócio-afetivo, da criança da seguinte forma
(CHIARELLI e BARRETO, 2005, s/p.).
Para estes, o desenvolvimento cognitivo é aguçado. Uma vez que a criança trabalha
com sons, sua acuidade auditiva é aperfeiçoada e, quanto mais for estimulada, melhor será seu
desenvolvimento intelectual. Nogueira (s/d) também considera a música como fator
importante no desenvolvimento cognitivo da criança. Para ela, quem cresce com a prática
musical tem seu cérebro trabalhando “em rede”, ou seja, o indivíduo faz, com mais facilidade,
conexão do que aprende com outras informações.
A música também pode interferir no estado de ânimo da criança. Baseando-se em
estudos de Lasov e Nogueira, Levi Silva (2006, s/p) diz que “crianças que estão habituadas a
ouvir música, principalmente clássica, tem um aumento nas atividades neuronais e a
concentração para aprendizagem aumenta.”
Sendo assim, tanto a criança que aprecia a música desde cedo, como aquela que estuda
música, potencializa a aprendizagem cognitiva, aumentando e agilizando o raciocínio e a
memória.
As danças e os gestos que a música pode despertar na criança também trabalham a
coordenação motora e, de alguma maneira, fazem com que ela descubra capacidades,
levando-a estabelecer relação com o ambiente em que vive. Nogueira (s/d) acredita que a
criança que vai além, que não apenas tem contato com a música, mas também passa a
aprender um instrumento, desenvolve grandes habilidades com a mão, no que diz respeito à
coordenação motora.
O desenvolvimento da psicomotricidade também é citado por Chiarelli e Barreto
(2005). O ritmo auxilia o sistema nervoso da criança, aprimorando habilidades motoras. Elas
aprendem a controlar, com mais facilidade, seus músculos. Os autores exemplificam:
Qualquer movimento adaptado a um ritmo é resultado de um conjunto
completo (e complexo) de atividades coordenadas. Por isso atividades
como cantar fazendo gestos, dançar, bater palmas, pés, são
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experiências importantes para a criança, pois elas permitem que se
desenvolva o senso rítmico, a coordenação motora, fatores
importantes também para aquisição da leitura e da escrita
(CHIARELLI e BARRETO, 2005, s/p.).
O desenvolvimento afetivo é destacado tanto por Nogueira (s/d), quanto por Chiarelli
e Barreto (2005). A primeira afirma que todos podem perceber que os afetos que a música
pode movimentar nas crianças são muitos. Por exemplo, nossas avós já acreditavam que, ao
acalentar os bebês perto do colo, junto ao peito, poderiam deixá-los mais calmos. Estudos da
Universidade de Toronto passaram a validar o que o senso comum já acreditava: que ao estar
em contato com a música, as crianças tendem a se acalmar. Nogueira (s/d) exemplifica:
Muitas vezes, mesmo já adultos, nossas melhores situação de
acolhimento e carinho dizem respeito às nossas memórias musicais. Já
presenciamos vivências em grupos de professores que, a principio,
não apresentavam memória de sua primeira infância. Ao ouvirem
certos acalantos, contudo, emocionaram-se e passaram a relatar
situações acontecidas há muito tempo, depois confirmadas por suas
mães (NOGUEIRA, s/d, s/p.).
Outro desenvolvimento que pode ser aperfeiçoado está ligado a sua vida social. Por
exemplo, dependendo do repertório e gosto musical, o indivíduo pode ser membro de certos
grupos sociais. Mas não é só isso, a música pode ser aliada ao aprendizado de
comportamentos sociais.
Nogueira (s/d) vê as brincadeiras musicadas como um exemplo para as crianças.
Durante as brincadeiras elas passam por situações de perda ou de ganho, de dúvidas e de
afirmação. As cantigas podem ser aliadas na preparação da criança para a vida adulta. Suas
letras falam de amor, trabalho, disputas, tristezas, ou seja, sentimentos e realidades com os
quais precisará lidar em toda sua vida.
O Referencial Curricular Nacional (1998) aborda as brincadeiras cantadas:
As canções de ninar tradicionais, os brinquedos cantados e rítmicos, as
rodas e cirandas, os jogos com movimentos, as brincadeiras com
palmas e gestos sonoros corporais, assim como outras produções do
acervo cultural infantil, podem estar presentes e devem se constituir
em conteúdos de trabalho (REFERENCIAL CURRICULAR
NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL: CONHECIMENTO
DE MUNDO, 1998).
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A criança, brincando, faz música e é dessa forma que ela se relaciona com o mundo e
com suas descobertas. A criança descobre instrumentos, inventa e imita melodias e ainda
possui a sensibilidade de escutar com prazer diferentes músicas de diferentes povos.
3 A música nas escolas
Vimos anteriormente que a música é fator importante no desenvolvimento infantil.
Mas qual será o papel da escola nesse contexto?
A música propicia abertura dos canais sensoriais, facilitando a expressão de emoções.
As atividades musicais na escola não têm como objetivo necessariamente a formação de
músicos profissionais, mas sim de oportunizar o contato da criança com o universo da música,
o que a auxilia tanto no seu desenvolvimento como na sua aprendizagem.
Chiarelli e Barreto (2005) comentam que o papel da escola é de extrema relevância
nesse contexto. Para eles é evidente que o objetivo das escolas seja o de preparar os seus
alunos para a vida adulta, porém, muitas vezes, esses jovens consideram a escola como um
lugar chato, que devem frequentar por obrigação. E a música pode auxiliar nesse sentido. Os
autores acreditam que ela pode ter um papel mediador, tornando a escola e a aprendizagem
mais agradáveis.
Os mesmo autores creem que muitas vezes, em casa, a família não consegue dar
oportunidade às suas crianças de conhecer vários gêneros musicais. A escola deve ampliar o
conhecimento musical do aluno, ampliando sua cultura geral e contribuindo para a formação
integral do ser, apresentando-lhe novos estilos, proporcionando a reflexão do que lhe é
apresentado, permitindo, assim, formar alunos mais críticos.
Jeandot (2001) acredita que, antes de a escola oferecer um método de trabalho
envolvendo a música, a criança deve construir seu conhecimento, sendo estimulada a ouvir,
escutar, perceber, descobrir, imitar e repetir sons.
A mesma autora vê o professor como o grande responsável por enriquecer o repertório
de seus alunos, levando-lhes discos e materiais para serem explorados, por exemplo. O
educador deve acompanhar, observando cada criança.
É interessante observar a grande influência que a música exerce sobre
a criança. É por isso que os jogos ritmados, próprios dos primeiros
anos de vida, devem ser trabalhados e incentivados na escola. Ao
7
adulto caberá compreender em que medida a música constitui uma
possibilidade expressiva privilegiada para criança, uma vez que atinge
diretamente sua sensibilidade afetiva e sensorial (JEANDOT, 2001, p.
20).
Para Jeandot (2001), o professor deve ser criativo, utilizando a música não só como
motivação para criança, mas também na formação do seu imaginário, envolvendo as
atividades do currículo escolar do aluno. As atividades com música podem explorar as
culturas de diferentes povos, devem envolver diferentes compositores, analisar as diferentes
épocas, etc.
A autora acredita que muitas vezes essas crianças não se tornarão músicos
profissionais, mas serão capazes de sentir, viver e apreciar a música.
Uma aprendizagem voltada apenas para os aspectos técnicos da
música é inútil e até prejudicial, se ela não despertar o senso musical,
não desenvolver a sensibilidade. Tem que formar na criança o
musicista, que talvez não disponha de uma bagagem técnica ampla,
mas será capaz de sentir, viver e apreciar a música (JEANDOT, 2001,
p. 21).
Na mesma linha de pensamento, Teca Brito (2003) acredita na relevância de se
trabalhar música na escola. O trabalho pedagógico-musical deve ser valorizado em contextos
educativos que entendam a música como processo contínuo de construção.
Trazer a música para o nosso ambiente de trabalho exige,
prioritariamente, uma formação musical pessoal e também atenção e
disposição para ouvir e observar o modo como os bebês e crianças
percebem e se expressam musicalmente em cada fase de seu
desenvolvimento, sempre com o apoio de pesquisas e estudos teóricos
que fundamentem o trabalho (BRITO, 2003, p. 35).
Alicia Maria Loureiro (2008) segue uma linha de pensamento um pouco diferente em
relação aos outros autores citados anteriormente. Acredita na relevância de aprender a música
mais profundamente, através de instrumentos e partituras.
A autora acredita que a música sempre esteve presente no cotidiano escolar, no
intervalo, na entrada e na saída, ou ainda nas festividades (festa junina, festa da família, dia
das crianças). Para ela, isso não é suficiente, a música não deve aparecer apenas como
atividade recreativa, e sim estar presente na construção do conhecimento.
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Loureiro (2008) vê a música como uma possibilidade de reintegração social e de
construção do conhecimento. Muitas vezes, em casa, a criança não tem acesso à música, e,
quando lhe é colocada a diversidade de ritmos e gêneros, ela se interessa. Além disso, a
música pode atraí-la e passar a servir de motivação para outras atividades.
Loureiro vai mais além e acredita no ensino da música mais aprofundado nas escolas.
Para ela, a criança que tem aula de música tem oportunidade não só de lidar com a música e
seus elementos, mas também aprimora a audição, a expressão rítmica e melódica, a
sensorialidade, a emotividade, a inteligência ordenadora e a criatividade.
A esse ensino da música nas escolas, dá-se o nome de Educação Musical, e a proposta
da autora consiste na formação e na capacitação musical.
Sobre a Educação Musical, Loureiro (2008) constata:
Alunos desinteressados, com pouca concentração e baixo
comprometimento, que apresentam superficialidade em suas relações
com o ensino-aprendizagem, precisam ser incitados a experimentar
formas de apreensão da linguagem musical, mesclando estilos e
procedimentos, proporcionando maior abertura para o diálogo e fazer
musical, aliando a experiências e vivências com as possibilidades do
encontro com o novo (LOUREIRO, 2008, p. 14).
A autora acredita que a música nas escolas deva aparecer com condições necessárias
para que ela possa ter um valor significativo no processo de educação escolar. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais propõem que:
As oportunidades de aprendizagem de arte, dentro e fora da escola,
mobilizam a expressão e a comunicação pessoal e ampliam a
formação do estudante como cidadão, principalmente por intensificar
as relações dos indivíduos tanto com seu mundo interior como com o
exterior (BRASIL, 1998, p.19).
Loureiro (2008) acredita que a música foi por muito tempo excluída e/ou
desprestigiada pelo currículo escolar, desde que o ensino da música deixou de ser obrigatório,
com o fim da disciplina de Canto Orfeônico, na década de 60. A música só voltou a fazer
parte do currículo quando a LDB (Lei de Diretrizes bases) Lei nº 5692, de 1971, passou a
garantir o ensino da música através da disciplina de Educação Artística:
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Art. 7º. Será obrigatória a inclusão de Educação Moral e cívica,
Educação Física, Educação Artística e Programa de Saúde nos
currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º graus, observando
quanto a primeira o disposto decreto-lei nº.869, de 12 de setembro de
1969. (BRASIL, 1971).
A LDB compreende o ensino da arte como obrigatório nos diversos níveis da
Educação Básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural do aluno. Mais tarde, a
música passa a ter mais destaque, quando a LDB é novamente alterada, em 18 de agosto de
2008, tornando obrigatório o ensino da música na Educação Básica. O artigo 26 da Lei nº.
11.769 afirma que: “A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do
componente curricular”.
Loureiro (2008), que escreve no mesmo ano da alteração da Lei, vê essa mudança
como uma possibilidade para o campo educacional obter um novo sentido para o ensino das
artes e da música.
4 Considerações Finais
Podemos concluir que a música possui papel fundamental no desenvolvimento
infantil. A criança que cresce com música ao seu redor (conhecendo diversos estilos,
participando de brincadeiras cantadas e sendo estimulada em atividades na escola) tem ganhos
em diversas áreas de sua formação, o que comprova que a música pode ser considerada como
um agente facilitador no processo educacional. As crianças que se interessam em ir além,
investindo na capacitação e na formação musical, têm oportunidade de se inserir em um
universo diferenciado, descobrindo novas possibilidades quanto à sua criatividade, suas
formas de expressão e capacidade de improvisação. Na escola, a música pode estimular o
aluno em todas as disciplinas, melhorando seu desempenho escolar como um todo, e também
pode ser uma ferramenta para estreitar os laços entre família, aluno e escola.
Entendemos que é função da escola não só formar cidadãos, mas ensinar aos alunos o
que eles necessitam para se desenvolver e para viver. Por isso é papel das escolas oportunizar
e ampliar o contato com a música, inserindo a música não só de maneira lúdica, mas como
uma possível e ideal aliada no ensino.
Por fim, espero que esta pesquisa possa suscitar em seus leitores a percepção do quão
importante é a música para o desenvolvimento infantil.
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