Homilia da Missa de Encerramento

Transcrição

Homilia da Missa de Encerramento
10º Domingo Tempo Comum – C
HOMILIA NA MISSA DE ENCERRAMENTO DO 1º CONGRESSO VOCACIONAL
IRMÃZINHAS DA IMACULADA CONCEIÇÃO
Gratia, Fidei et Spe
Minhas caríssimas e meus caríssimos congressistas.
Ao concluirmos este 1º Congresso Vocacional que teve como tema “Você tem potencial! Promova a vida!”
devemos antes de tudo, agradecer a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição na pessoa de
sua Superiora Geral, Madre Anna Tomelin que nos proporcionou estes dias tão valiosos para o nosso
serviço de animação vocacional. A minha gratidão a Deus por mais esta experiência de vida. A todas e
todos devo dizer que vale a pena seguir este caminho do chamado de Deus!
Nestes dias somamos a média de 150 congressistas, e o que nos chama a atenção são as duas grandes
chaves deste Congresso: o Amor e a Compaixão. Talvez não tenhamos percebido, pois de fato não
tratamos especificamente destes dois temas durante o congresso. Mas providencialmente Deus, por sua
bondade, quis que a chave de abertura do Congresso Vocacional fosse o “Amor”, tema da homilia na missa
de abertura do dia 06, quinta-feira, quando o nosso querido Pe. Valdecir Ferreira, assessor da CNBB,
refletia conosco a significância do mandamento do Amor. Durante a sua homilia me veio à mente a célebre
frase de Santa Terezinha: “A minha vocação é o Amor.” Portanto, é o amor que deve nos abrir cada vez
mais ao Serviço de Animação Vocacional.
A segunda chave deste Congresso, na sua conclusão, é a “Compaixão”, tema central da homilia deste 10º
Domingo do Tempo Comum. Confesso-lhes que na noite de ontem, antes de dormir, resolvi traçar algumas
linhas para a homilia de hoje. Quando fiz a leitura bíblica dos textos do primeiro e do segundo testamento
me deparei com os três animadores vocacionais cheios de amor e compaixão: Elias, Jesus e Paulo, o grande
missionário. Confesso que me emocionei com os textos e encarei Deus na minha frente para dizer-lhe que
realmente nós, animadores e animadoras vocacionais, devemos carregar dentro de nós, encravado em
nosso coração a compaixão que promove a vida, ou seja, uma Compaixão que nos dá o grande potencial
para promover a vida com todas as nossas forças, na defesa dos pequenos e pobres, na paixão desmedida
pelas modernas multidões “cansadas e abatidas” (Mt 9, 35-38) do nosso tempo. Especialmente as
multidões de jovens vocacionados e vocacionadas. Puxa a vida! Fiquei por um tempo refletindo que a
síntese deste congresso nos diz que devemos descobrir, antes de tudo, o primeiro amor do chamado de
Deus a cada um de nós e, convencidos deste chamado, corrermos para “levantar” a tantos jovens
vocacionados que estão sendo levados para “fora”. É preciso ter compaixão para com todos, sem nenhum
exclusão, preconceito ou discriminação!
Compaixão: sentir com todo o afeto, sentir dentro, ter paixão por... Lucas nos mostra Jesus cheio de
carinho e ternura para com uma pobre viúva. Belíssimo aquele “não chore”! (v.13) Será que
conseguiríamos descrever o tom de voz de Jesus? A compaixão é hoje extremamente necessária neste
mundo muitas vezes “sem-alma”, “frio”, onde a pessoa conta muito pouco e são muitos os que ficam
indiferentes diante do sofrimento humano. Um convite para nós animadores e animadoras vocacionais a
sermos homens e mulheres de compaixão. Isto implica em “parar”, dar atenção, sofrer com os
vocacionados e vocacionadas, sentir a sua dor, mas encorajá-los, abordá-los e dizer-lhes com convicção:
venham porque vale a pena.
“Com Ele iam seus discípulos e uma grande multidão. Quando chegou à porta da cidade eis que levavam
um defunto, filho único; e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade a acompanhava” (v. 11-12).
A cidade é Naim situada na Galileia, nos arredores do monte Tabor. Podemos imaginar o encontro destas
duas multidões: uma entra na cidade com Jesus que é a Vida, a outra sai da cidade, com o choro e a morte
no coração. O morto era o filho único de uma viúva e era, para ela, a sua única segurança, pois, com
certeza, a morte do filho era também a morte social e econômica para ela. É fácil comparar esta viúva com
aquela da primeira leitura de 1 Reis 17, 17-24. Na teologia de Lucas fica evidente que Jesus é o novo Elias
(Cfr. 9,8) e que Deus continua ainda o protetor das viúvas e dos órfãos. (Salmo 68,6).
“Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: Não chore!” (v. 13)
A palavra compaixão traduz um verbo grego que lembra um sentimento profundo de misericórdia e
ternura que atinge o profundo do coração. É uma característica de Deus, seja no AT como no NT: é o amor
entranhado de Deus. O coração de carne de Jesus explode aqui em amor puro de paixão pela pessoa
sofrida. É um animador vocacional sincero, inteiro na sua missão.
“Aproximou-se, tocou o caixão, e os que o carregavam pararam. Então, Jesus disse ‘Jovem eu te ordeno,
levanta-te” (v. 14).
O toque da mão de Jesus, mais a sua Palavra, formam o poder de Jesus que ordena: “levanta-te” – Poderse-ia traduzir com: VOCÊ TEM POTENCIAL! VENHA PARA A VIDA E A PROMOVA.
“E o entregou à sua mãe” (v. 15)
Um detalhe: Lucas usa a mesma frase que a 1 Reis 17,23 usa no relato da ressurreição feita por Elias do
filho da viúva de Sarepta. A multidão que grita “um grande profeta apareceu entre nós” (v.16) confirma
este paralelismo. As duas multidões unem-se para louvar a Deus por causa de Jesus. Claramente esta
ressurreição é prenúncio daquela de Jesus e, a viúva, é figura de Israel que encontra sua esperança no
Messias.
O Evangelho ilumina nossa vida de animadores e animadoras vocacionais a partir deste Congresso
Vocacional com duas mensagens.
1ª) A compaixão, como conduta de vida para nós animadores e animadoras vocacionais: “Não chore” (v.13)
VOCÊ TEM POTENCIAL!
2ª) A esperança da ressurreição, para este mundo e na vida futura: “Levanta-te”. (v.14) PROMOVA A VIDA!
“Não chore”
A primeira mensagem nos diz que precisamos nos aproximar dos vocacionados e vocacionadas de várias
formas, mas sempre com o jeito de Cristo: a compaixão.
No âmbito pessoal, podemos perceber como cada pessoa tem sua pobreza pessoal que carrega no
coração, para ser consolada, acolhida, aliviada e sempre podemos dizer a alguém o que disse Jesus “não
chore” e aí acrescentamos: VOCÊ TEM POTENCIAL! PROMOVA A VIDA!
No âmbito comunitário também com o mesmo amor de Jesus estabelecer uma maior qualidade nas
nossas relações e vivermos a solidariedade cristã, como aqueles e aquelas que constroem vida. Acima de
tudo, o nosso compromisso no âmbito comunitário é buscarmos a leveza nas nossas relações humanas.
No âmbito social como animadores e animadoras vocacionais somos chamados a transformar a sociedade
na promoção da vida. Ir até o outro e dizer: “Levanta-te”: Falamos de ressurreição, mas, melhor seria
chamar de reanimação da vida daqueles dois jovens, (primeira leitura e Evangelho).
No Evangelho encontramos a mística da compaixão com alguns verbos bem concretos que mostram a ação
amorosa de Jesus: ver, aproximar-se, sentir compaixão! Cada um deles é como que um “movimento”
interior no coração de Jesus, uma caminhada interior feita de ternura total. Encontramos em Jesus o
resumo de toda a Bíblia: um Deus apaixonado que busca a pessoa e a ama. É Paixão inexplicável esta de
Deus. Um Deus que nos deseja como discípulos e discípulas, missionárias e missionários cheios de zelo,
munidos de grande e forte espiritualidade, sensíveis, cheios de ternura e apaixonados pela vocação.
Nossa vocação é um mistério! “Ninguém mais do que a nossa querida Santa Paulina para nos dar esta
prova concreta. O seu caminho foi longo, difícil, austero, feito de sofrimentos e de alegrias. Mas teve a
força de nunca desanimar, porque ela acreditava no seu grande potencial. E nós?
Infelizmente a cultura do “to nem aí” já atinge o interior de nossas Igrejas, comunidades e famílias. Somos
conscientes de que encontramo-nos diante de situações novas, que exigem novas posturas, sempre mais
evangélicas e cheias de compaixão. Por isso fomos fortemente interpelados/as pelos assessores deste
congresso: padre Brighenti e irmã Annette. Somos, pois, chamados a viver nossa vocação a partir da
realidade de nossa condição humana na confiança de que o Espírito fará mais do que podemos imaginar.
Não importa a nossa idade ou a situação que talvez estejamos passando. Deus nos chama a todo instante
para vivermos intensamente a nossa vocação. Não podemos desistir nunca!
Meu desejo é que todas e todos ao retomarem o caminho de volta para suas vidas cotidianas possam
assumir com grande força e garra a missão de promover a vida a serviço das vocações. Não nos deixemos
intimidar pelos contra testemunhos e outros sinais negativos que escandalizam os “pequeninos do Reino”.
Não nos entreguemos ao desânimo e aos pequenos ou grandes problemas. Sejamos aquelas mulheres e
aqueles homens tocados pela cruz. Ser tocado pela cruz implica “levantar-se” todo dia, implica em “ir e
anunciar” (Mt 28).
Minhas irmãs e meus irmãos, lembrem-se de que Deus não desiste de nós! Sejam, pois, perseverantes!
Sejamos animadores e animadoras vocacionais com grande potencial, verdadeiras testemunhas do Amor
e da Compaixão. Que grande responsabilidade! Uma responsabilidade que deve partir justamente deste
amor e desta compaixão pelo Reino de Deus, mesmo diante de tantas problemáticas da vida cotidiana que
por ora entristece e até nos desanima na caminhada. A nossa responsabilidade é a animação vocacional.
“Sob essa perspectiva, entendemos a palavra “animação” em sua concepção originária de “ação ou efeito
de dar alma ou vida” (cf. documentos da CNBB, 97, nº 32, pág. 31, 2012).
Portanto, desejo que cada uma e cada um de vocês animados na vocação sejam o “chão de Deus por onde
as pessoas passam ...”, conforme disse o “Cardeal da ternura”, Serafim Fernandes de Araújo. “Ser o chão
de Deus...”. “chão de Deus” para que tantas vidas possam viver na plenitude, na bondade e na ternura de
Deus. A Igreja precisa de nós irmãs e irmãos, animadores e animadoras vocacionais cheios de Amor e
Compaixão! O povo de Deus nos espera! Os vocacionados e as vocacionadas querem ser encontrados!
Certos da intercessão de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, digamos o tema deste congresso
que se finda: VOCÊ TEM POTENCIAL! PROMOVA A VIDA! Amém!
Pe. Geraldo Tadeu Furtado, RCJ
Rogacionistas do Coração de Jesus
Centro Rogate do Brasil – Revista Rogate
São Paulo, 09 de junho de 2013.