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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E ECOLOGIA PROGRAMA DE GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA WIKTOR DUDA WIOREK VARIAÇÃO MORFOLÓGICA E SEDIMENTOLÓGICA DE UM TRECHO DE PLANÍCIE DE MARÉ NO CANAL DA PASSAGEM, VITÓRIA-ES VITÓRIA 2013 WIKTOR DUDA WIOREK VARIAÇÃO MORFOLÓGICA E SEDIMENTOLÓGICA DE UM TRECHO DE PLANÍCIE DE MARÉ NO CANAL DA PASSAGEM, VITÓRIA-ES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para a obtenção do título de Oceanógrafo. Orientador: Prof. Drª. Valéria da Silva Quaresma VITÓRIA 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E ECOLOGIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA VARIAÇÃO MORFOLÓGICA E SEDIMENTOLÓGICA DE UM TRECHO DE PLANÍCIE DE MARÉ NO CANAL DA PASSAGEM, VITÓRIA-ES Por WIKTOR DUDA WIOREK Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Graduação em Oceanografia do Departamento de Oceanografia e Ecologia do Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Oceanografia. Entregue dia 26 de abril de 2013. COMISSÃO EXAMINADORA _____________________________________ Prof. Dra. Valéria da Silva Quaresma (Orientadora) Universidade Federal do Espírito Santo – DOC _____________________________________ Prof. Dra. Jacqueline Albino Universidade Federal do Espírito Santo – DOC _____________________________________ Estefania Godinho Universidade Federal do Espírito Santo – DOC RESUMO As planícies de maré, que em regiões tropicais podem abrigar manguezais, são consideradas ecossistemas costeiros de transição entre os ambientes marinho e terrestre, típico de regiões estuarinas. Estes ambientes caracterizam-se pelo acúmulo de sedimentos e detritos de granulometria fina, ricos em matéria orgânica e com pouco oxigênio. Numa determinada faixa da planície de maré localizada adjacente ao manguezal do Canal da Passagem, foi investigada a sua variação morfológica e sedimentológica identificando e caracterizando sua tendência, seja ela erosiva, estável ou deposicional, e a sua relação com as principais condicionantes hidrodinâmicas. Foram realizadas medições mensais entre março de 2010 e setembro de 2012 da altura do fundo da planície de maré, juntamente com coletas de sedimento superficial em duas estações amostrais para tratamentos laboratoriais. Os resultados mostraram que o padrão de variação morfológica identificado apresentou uma tendência de acresção entre as estações 1 e 2 nos primeiros dois anos de monitoramento e uma tendência estável no último ano, além ainda de uma forte relação com a pluviosidade local. Os teores de matéria orgânica, carbonato de cálcio e areia encontrados no sedimento superficial, apresentaram resultados dentro do esperado para regiões de planície de maré associada a manguezais. As obras realizadas para construção da nova Ponte da Passagem foram determinantes para modificação do equilíbrio morfológico e sedimentológico da planície de maré. Palavras chave: Sedimento coesivo, Planície de maré, Transporte de sedimento, Pluviometria. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Ciclo geral dos processos de deposição e ressuspensão de sedimentos coesivos .................................................................................................................... 13 FIGURA 2: Área de estudo. (a) Localização da área de estudo na costa do Espírito Santo. O quadrado amarelo destaca a área estudada. (b) Localização específica da planície de maré no Canal da Passagem ................................................................. 17 FIGURA 3: Estações amostrais da área de estudo. (a) Estação 1 próximo à vegetação. (b) Estação 2 próximo ao canal principal ............................................... 19 FIGURA 4: Medição da altura da planície de maré .................................................. 20 FIGURA 5: Coleta de amostras do sedimento superficial em cada estação amostral .................................................................................................................... 20 FIGURA 6: Variabilidade temporal da média da altura do fundo das estações amostrais .................................................................................................................. 22 FIGURA 7: Variação temporal da precipitação entre novembro-07 e setembro-12 na cidade de Vitória-ES ................................................................................................ 22 FIGURA 8: Modelo morfodinâmico de uma planície de maré na Baía de Hangzhou: (a) período de baixa energia; (b) período de alta energia ........................................ 23 FIGURA 9: Nova Ponte da passagem ..................................................................... 25 FIGURA 10: Instalação dos novos pilares de sustentação da Ponte da Passagem ................................................................................................................. 26 FIGURA 11: Variabilidade temporal da média da altura do fundo das estações amostrais e da pluviosidade entre os meses de abril-10 e setembro-10 ................. 28 FIGURA 12: Variabilidade temporal da média da altura do fundo das estações amostrais e da pluviosidade entre os meses de outubro-10 e março-11 ................. 29 FIGURA 13: Variabilidade temporal da média da altura do fundo estações das amostrais e da pluviosidade entre os meses de abril-11 e setembro-11 ................. 30 FIGURA 14: Variabilidade temporal da média da altura do fundo das estações amostrais e da pluviosidade entre os meses de outubro-11 e março-12 ................. 31 FIGURA 15: Variabilidade temporal da média da altura do fundo das estações amostrais e da pluviosidade entre os meses de abril-12 e setembro-12 ................. 32 FIGURA 16: Variação do teor de matéria orgânica durante o período de monitoramento. (a) Monitoramento de novembro-07 a setembro-09. (b) Monitoramento de março-10 a setembro-12 ............................................................ 34 FIGURA 17: Gráficos de correlação. (a) Relação entre o teor de matéria orgânica e densidade do sedimento; (b) Relação entre o teor de matéria orgânica e porosidade do sedimento ............................................................................................................ 36 FIGURA 18: Variação do teor de carbonato de cálcio durante o período de monitoramento ......................................................................................................... 37 FIGURA 19: Gráficos de correlação. (a) Relação entre o teor de carbonato e densidade do sedimento; (b) Relação entre o teor de carbonato e porosidade do sedimento ................................................................................................................. 38 FIGURA 20: Variação do teor de areia durante o período de monitoramento. (a) Monitoramento de novembro-07 a setembro-09. (b) Monitoramento de março-10 a setembro-12 ............................................................................................................. 39 FIGURA 21: Gráfico de correlação entre teores de areia e matéria orgânica ......... 41 FIGURA 22: Gráficos de correlação. (a) Relação entre o teor areia e densidade do sedimento; (b) Relação entre o teor de areia e porosidade do sedimento ............... 42 FIGURA 23: Variação da densidade do sedimento superficial durante o período de monitoramento. (a) Monitoramento de novembro -07 a setembro-09. (b) Monitoramento de março-10 a setembro-12 ............................................................ 43 FIGURA 24: Gráfico de correlação entre densidade e porosidade .......................... 45 FIGURA 25: Conversões entre as medidas mais utilizadas para superfície de sedimentos ............................................................................................................... 45 FIGURA 26: Variação da porosidade ao longo do período de monitoramento ........ 46 LISTA DE TABELAS TABELA 1: Composição do sedimento da planície de maré em porcentagem ....... 37 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 07 2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 09 2.1. OBJETIVO GERAL ..................................................................................... 09 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................... 09 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................ 10 3.1. PLANÍCIE DE MARÉ .................................................................................. 3.1.1. Geomorfologia ..................................................................................... 3.1.2. Hidrodinâmica ...................................................................................... 3.2. SEDIMENTO COESIVO ............................................................................. 3.2.1. Caracterização do sedimento coesivo ................................................. 3.2.2. Mecanismos envolvidos no transporte de sedimentos coesivos ......... 3.2.2.1. Floculação .................................................................................... 3.2.2.2. Deposição .................................................................................... 3.2.2.3. Consolidação ................................................................................ 3.2.2.4. Erosão .......................................................................................... 10 10 11 12 12 13 13 14 14 15 4. ÁREA DE ESTUDO .......................................................................................... 16 4.1. CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS ....................................................... 16 4.2. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS ................................................... 18 4.3. CLIMATOLOGIA E HIDROGRAFIA .......................................................... 18 5. METODOLOGIA ............................................................................................... 19 5.1. MONITORAMENTO EM CAMPO DA PLANÍCIE DE MARÉ ......................19 5.2. ANÁLISES LABORATORIAIS ....................................................................21 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 22 6.1. MORFOLOGIA DA PLANÍCIE DE MARÉ ....................................................22 6.2. PROPRIEDADES DO SEDIMENTO ............................................................. 32 6.2.1. Matéria Orgânica ................................................................................. 33 6.2.2. Carbonato de Cálcio ............................................................................ 36 6.2.3. Teor de Areia ....................................................................................... 38 6.2.4. Densidade e Porosidade ..................................................................... 42 7. CONCLUSÕES .................................................................................................. 48 8. REFERÊNCIAS ................................................................................................ 50 Página |7 1. INTRODUÇÃO Manguezais são ecossistemas de florestas em ambientes de intermarés, costeiros, abrigados, salinos a salobros, característico de regiões tropicais e subtropicais (SILVA, 2004). Estão geograficamente concentradas ao longo das partes abrigadas de costas como estuários e lagunas, e apresentam excelentes condições para a reprodução e alimentação de diversas espécies de animais. É de geral entendimento que as características de áreas intermarés são determinadas por complexas e cumulativas interações entre hidrologia, dinâmica de sedimentos, processos orientados por tempestades, mudanças do nível do mar, subsidência, colonização e distúrbios por parte de animais (VARNELL et al., 2003). Devido aos diversos tipos de fatores que condicionam sua dinâmica, o seu entendimento passa a ser complexo. Para isso diversos estudos tem sido desenvolvidos para entender os processos morfodinâmicos, bem como mecanismos de erosão, deposição dessas áreas. Le Hir et al., (2000) estudaram a influência do atrito de fundo causado por ondas e correntes transversais e longitudinais, no transporte de sedimentos sobre planícies de maré em três locais distintos, baía de Marennes-Oléron, na costa oeste da França, no estuário de Humber na Inglaterra e no estuário de Le Havre na França. Para explicar o comportamento morfodinâmico de uma planície de maré Pritchard et al., (2002) desenvolveram um modelo matemático de transporte de sedimentos que mostrar como essas áreas são dependentes das correntes de maré e do suprimento de sedimentos. Quaresma et al., (2007) mostraram que diferentes forçantes como assimetria na variação de maré e ondas de alta energia definem o padrão do transporte de sedimentos de fundo no sistema planície de maré-marisma em Hythe na Inglaterra. O sistema estuarino Baía de Vitória-Canal da Passagem é considerado uma importante região sócio-econômica no estado do Espírito Santo e os manguezais compõem uma boa parte de sua área total. A degradação sofrida por esse sistema é um fato recorrente em sua história sendo promovida pela ocupação populacional em seu entorno, principalmente por comunidades pesqueiras que buscam sustento em suas águas, aterros, implantação de indústrias e atividades portuárias. Vários outros processos, tais como dragagem e despejo de poluentes, em particular metais Página |8 pesados os quais ficam adsorvidos nas partículas de argila e silte, também contribuem para o desequilíbrio destas áreas. Conhecer a dinâmica sedimentar coesiva dessa e de outras áreas é de extrema importância para a minimização e controle de impactos ambientais e consequentemente a preservação e manutenção desses ecossistemas. Página |9 2. OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL Determinar a variação morfológica e sedimentológica superficial da planície de maré devido às alterações pluviométricas, verificando sua tendência, seja ela erosiva, estável ou deposicional. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Avaliar a variação morfológica superficial da planície de maré; Avaliar a correlação da densidade, porosidade, matéria orgânica e carbonato de cálcio com a morfologia superficial local; Avaliar a influência dos processos climáticos e hidrodinâmicos; Avaliar o comportamento do sedimento coesivo; Determinar a influência das alterações antropogênicas devido a construção da Ponte da Passagem. P á g i n a | 10 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1. PLANÍCIE DE MARÉ As planícies de maré em estuários são habitats sedimentares intermarés criados pela deposição de sedimento em ambientes costeiros de baixa energia (DE BACKER et al., 2010). Elas representam um rico e produtivo ecossistema, fornecendo um importante habitat que suporta grandes densidades de invertebrados bentônicos e diversas funções ecológicas chaves (ERFTEMEIJER, et al.,1999) como oferecer proteção contra inundações e tempestades que causam erosão das margens de rios e estuários, além da manutenção da biodiversidade (MORBEG e RONNBACK, 2003). As planícies de maré podem ser encontradas tanto em altas como baixas latitudes, sendo esta normalmente colonizada por manguezais. Pode-se encontrar tanto planícies lamosas como arenosas (DYER, et al., 2000). Ecologicamente, apresentam excelentes condições para reprodução, alimentação e proteção para várias espécies de animais (DYER, 1998). 3.1.1. Geomorfologia São áreas mais rasas que o canal principal sendo normalmente inundadas durante o período em torno da preamar e permanecem emersas durante o período de baixa-mar. Apresentam baixo gradiente, cerca de 1:1000 (AUGUSTINUS, 1995 apud RIGO, 2004). A região intermarés em zonas tropicais desenvolve uma zonação típica descrita a seguir em três zonas (KLEIN, 1985): Planície de maré inferior: varia entre o nível médio de maré baixa de quadratura e o nível médio de maré baixa de sizígia e às vezes sujeita a fortes correntes de maré. Média planície: localizada entre o nível médio de maré baixa de quadratura e o nível médio de maré alta de quadratura. Planície de maré superior: varia entre o nível médio de maré alta de quadratura e o nível médio de maré alta de sizígia. São inundadas completamente somente durante preamares de sizígia. Acima delas estão localizados os manguezais. P á g i n a | 11 O perfil morfológico de uma planície de maré é controlado primeiramente pela variação de maré, clima de ondas, composição e fonte dos sedimentos, além da capacidade da vegetação de aprisionar sedimentos (WHITEHOUSE, et al., 2000). A elevação da superfície do manguezal é resultado do processo de acreção de sedimento e que diminui o tempo de inundação da maré. A taxa de acreção pode diminuir se uma menor quantidade de sedimento é colocada no ambiente, gerando menor tempo para a deposição (PETHICK, 1988). De acordo com Carter (1988), à medida que esse processo ocorre, a superfície do manguezal aumenta, as taxas de acreção e deposição diminuem e consequentemente o sistema entra em equilíbrio. 3.1.2. Hidrodinâmica O comportamento dinâmico de uma planície de maré é controlado pela interação de processos e parâmetros que variam em escalas espaço-temporais (BLACK & PATERSON, 1998). De acordo com Eisma (1997), as principais forçantes que o sistema planície de maré-manguezal pode sofrer são as marés, circulação induzida pelo vento, ondas, circulação dirigida pela densidade e o processo de drenagem, sendo essa última específica para áreas intermarés onde elas são sujeitas e expostas à descargas de água. A ação de correntes pela subida e descida das marés é a principal condicionante da planície de maré, mas a ação de ondas pode influenciar (BIRD, 2008). Essas forças hidrodinâmicas atuam nas partículas de sedimento podendo gerar ripples na planície arenosa. O comprimento de onda e a altura das ripples estão relacionadas à velocidade de corrente local e ao tamanho das partículas de sedimento (TANCK, et al., 1999). As forçantes são responsáveis pela advecção e dispersão, mas também elas geram stress de fundo, o que é relevante para deposição e erosão de sedimento. O stress de fundo é a combinação do efeito de interações não lineares no fundo entre o fluxo médio e as ondas (LE HIR et al., 2000). A planície de maré apresenta uma hidrodinâmica caracterizada inicialmente pelo período de subida da maré em que sua corrente avança sobre a planície até alcançar a vegetação do manguezal adjacente à planície superior, margeando o canal estuarino. Neste local são encontrados obstáculos como troncos, galhos, folhas e bioturbação. O sedimento inicialmente transportado durante a subida da P á g i n a | 12 maré acaba tendo parte aprisionada pela vegetação do manguezal, principalmente nas raízes das árvores e durante o período de estofa da maré, esse sedimento em suspensão é depositado. Esse processo ocorre quando a velocidade da corrente de maré é inferior à velocidade de decantação do grão (MAZDA et al., 1997; WOLANSKI & RIDD, 1986). 3.2. SEDIMENTO COESIVO 3.2.1. Caracterização do sedimento coesivo Os sedimentos coesivos ocorrem comumente em ambientes estuarinos, planícies de maré, marismas, lagunas e outros ambientes que possibilitem a sua deposição (WHITEHOUSE et al., 2000). São compostos por uma mistura de argila, silte, areia fina, matéria orgânica e às vezes gás no ambiente marinho, com sua composição e seu comportamento variando no tempo e no espaço e sendo governada pela disponibilidade de sedimentos, condições meteorológicas e hidrodinâmicas, atividade biológica, entre outros (WINTERWERP & KESTEREN, 2004). Um sedimento que possui 10% de sua composição material menor que 63 micrômetros pode apresentar propriedades coesivas (WHITEHOUSE et al., 2000). Os minerais podem ser do tipo argiloso e do tipo não argiloso. Os argilominerais compõem maior porcentagem do sedimento coesivo, são silicatados e sua estrutura consiste em um tetraedro de sílica e octaedro de alumínio e dentre eles os mais comuns são a caulinita, ilita e a montmorilonita (WINTERWERP & KESTEREN, 2004). Eles possuem uma superfície achatada, carregadas com íons que criam uma interação eletromagnética entre as partículas que possuem ordem de grandeza de igual ou maior magnitude que a força gravitacional. Essa interação forma um aglomerado de partículas laminares que se chamam flocos (WINTERWERP & KESTEREN, 2004). Os minerais não argilosos são compostos principalmente por quarzto e carbonatos (WINTERWERP & KESTEREN, 2004). Os materiais orgânicos compreendem detritos de animais, vegetais, bactérias e fungos (MEHTA, 1991). A matéria orgânica (MO) tem uma grande importância na estabilidade do sedimento principalmente em áreas intermarés. A MO existe no sedimento lamoso como MO particulada (POM) e MO dissolvida (DOC). Pode ser originada tanto fora P á g i n a | 13 da área de sedimentação como pode ser gerada dentro do sedimento por processos biológicos. A MO alóctone é degradada durante o processo de transporte e pode ser composta por materiais mais resistentes, como a lignina. A MO autóctone é produzida e utilizada através de processos metabólicos de organismos, como a EPS, substância polissacarídeo extracelular (WINTERWERP & KESTEREN, 2004). 3.2.2. Mecanismos envolvidos no transporte de sedimentos coesivos Os principais mecanismos de transporte de sedimentos coesivos serão descritos a seguir, ilustrando-se na Figura 1. Figura 1: Ciclo geral dos processos de deposição e ressuspensão de sedimentos coesivos (adaptado de Maggi, 2005). 3.2.2.1. Floculação Sedimentos coesivos tem o potencial de se agregar e formar flocos (WINTERWERP & KESTEREN, 2004). Essa agregação é chamada de floculação e esse processo é fundamental para a deposição, pois flocos maiores aumentam a probabilidade desta ocorrer e sendo dependente da colisão entre as partículas e eficiência de colisão (HUANG et al., 2006). Após serem formados, os flocos tendem a depositar-se no fundo, sendo que flocos maiores possuem velocidade de decantação maior, assim observa-se uma estratificação no pacote sedimentar onde sedimentos mais finos ficam sobre sedimentos mais grosseiros (MAGGI, 2005). P á g i n a | 14 A colisão entre as partículas depende da concentração de material particulado em suspensão na coluna d’água, da intensidade da turbulência do fluido e da aproximação entre as partículas que é feita de forma aleatória, chamado movimento Browniano, devido a cada uma possuir velocidade de sedimentação diferenciada (TRENTO, 2005). A eficiência de colisão depende das características das partículas em suspensão como, por exemplo, o teor orgânico e das condições do meio, onde a salinidade tem um papel importante no processo (MEHTA, 1989). A maior parte das partículas do sedimento coesivo apresentam cargas elétricas negativas em sua superfície. Por causa dessas cargas, esse tipo de sedimento atrai íons positivos de sais dissolvidos na água, assim como moléculas de água, criando uma dupla camada elétrica. Essa dupla camada cria uma repulsão eletrostática, evitando o choque entre duas partículas (MAGGI, 2005). 3.2.2.2. Deposição Deposição envolve a deposição de partículas presentes na coluna d’água sobre o fundo (WHITEHOUSE et al., 2000). De acordo com Huang et al., (2006), a deposição de sedimentos coesivos é controlada pela tensão tangencial do fundo, turbulência na zona próxima ao fundo, velocidade de decantação da partícula, tipo de sedimento, profundidade, concentração de material particulado em suspensão e pela constituição iônica do fluido. A deposição ocorre quando a tensão tangencial do fundo é inferior à tensão tangencial crítica de deposição, então os flocos se depositam quando apresentam resistência suficiente ao corte e suportam as tensões tangenciais no fundo (HUANG et al., 2006). 3.2.2.3. Consolidação O processo de consolidação consiste na gradual expulsão de água intersticial pelo próprio peso do sedimento acompanhado por um aumento de densidade do sedimento e da sua resistência (WHITEHOUSE et al., 2000). De acordo com Mehta et al., (1989), considera-se dois tipos de consolidação, a consolidação primária e a secundária. A consolidação primária é causada pelo próprio peso do sedimento que supera o excesso de pressão existente nos poros do sedimento. Durante esse processo, o peso das partículas expulsa a água presente nos poros mantendo-as unidas. A consolidação secundária começa durante a P á g i n a | 15 consolidação primária é causada pela deformação plástica do fundo sob ação de uma carga constante sobre o sedimento. 3.2.2.4. Erosão O processo de erosão é a remoção sedimento da superfície do fundo devido ao stress causado pelo fluxo de água junto ao mesmo (WHITEHOUSE et al., 2000). De acordo com Maggi (2005), a erosão ocorre quando a tensão tangencial no fundo é superior à tensão tangencial crítica. Araújo (2004), diz que a erosão de um sedimento é caracterizada por dois parâmetros: pela erosão crítica, que corresponde à velocidade do escoamento a partir da qual começa a erosão, e pela taxa de erosão, que representa a quantidade de sedimentos que a erosão retira em um período de tempo. A erosão é dependente de diversos fatores: da estrutura do fundo, da salinidade, da temperatura da água, da precipitação, da atividade biológica no sedimento local, do pH, da história de deposição das partículas, composição do sedimento, do teor de água intersticial, da força erosiva do fluido e da concentração do material particulado em suspensão. P á g i n a | 16 4. ÁREA DE ESTUDO 4.1. CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS A área de estudo localiza-se no sistema Baía de Vitória/Canal da Passagem, região costeira centro-sul do estado do Espírito Santo, no município de Vitória entre as coordenadas 20°13’ e 20°22’S e 40°16’ e 40°23’W (Figura 2). O sistema da Baia de Vitória tem como principais contribuintes os rios Santa Maria da Vitória com vazões médias mensais variando entre 8,1 e 25,6 m3/s, e rios de pequeno porte como o rio Marinho, o Aribiri, o Bubu, o Córrego Piranema e o Canal da Costa que contribuem com uma média anual próxima de 3 m3/s (VERONEZ, et al., 2009), além do aporte marinho que contribui para a formação do ambiente estuarino. A Baía de Vitória pode ser considerada como parte do estuário do Rio Santa Maria da Vitória pelo fato deste apresentar maior contribuição no aporte de água doce. MIRANDA et al., (2002) afirma que de acordo com a classificação geomorfológica comum, este estuário pode ser classificado como um estuário de planície costeira. Além da Baia de Vitória, os outros corpos d’água que circundam o sistema estuarino são o Canal da Passagem e a Baía do Espírito Santo. O Canal da Passagem é uma ligação natural entre a Baía do Espírito Santo na sua porção norte e a Baia de Vitória no ponto mais ao sul da Praia de Camburi, recebendo a influência da maré em ambas as extremidades. O ambiente estuarino proporciona o desenvolvimento de manguezais que são os principais constituintes da vegetação ao norte do sistema Baia de Vitória/Canal da Passagem e ocupam uma área em torno de 2.000 ha, distribuindo-se a leste pelo município de Vitória, ao norte pelo município da Serra e a oeste pelo município de Cariacica. P á g i n a | 17 a b Figura 2: Área de estudo. (a) Localização da área de estudo na costa do Espírito Santo. O quadrado amarelo destaca a área estudada (Adaptado de Laboratório de Limnologia e Planejamento Ambiental – UFES). (b) Localização específica da planície de maré no Canal da Passagem. P á g i n a | 18 4.2. CARACTERISTICAS MORFOLÓGICAS O Canal da Passagem possui um comprimento de 10 km e sua possui uma largura média de 80 m, com menor valor sob a Ponte da Passagem, chegando a 35 m (RIGO, 2004). Sua batimetria é variável, onde locais rasos durante a maré baixa alcançam 1 m e locais mais profundos chegam até 9 m de profundidade e uma média de 6 m em toda sua extensão (CASTRO et al., 2002). A Ponte da Passagem divide o Canal da Passagem em duas porções, a porção sul é onde se encontra o trecho urbanizado, desprovido de manguezais e é onde ocorre o maior despejo de esgoto in natura ou sem o tratamento adequado. A porção mais ao norte é praticamente composta por manguezais e possui um comprimento de cerca de 7 km. As obras para a construção da nova Ponte da Passagem realizadas entre julho de 2007 e agosto 2009 podem ter causado uma alteração na dinâmica do local devido colocação de novos pilares para comportar a nova ponte. 4.3. CLIMATOLOGIA E HIDROGRAFIA A região apresenta um clima quente durante a maior parte do ano com médias de temperatura anuais em torno de 22ºC, com máximas de 35ºC nos meses de verão e mínimas de 15ºC nos meses de inverno. O período chuvoso ocorre entre outubro e março onde se encontram as maiores pluviosidades associadas ao período mais quente do ano. Entre abril e setembro ocorre a estação seca onde chuvas ocorrem eventualmente associadas à entrada de frentes frias, vindas predominantemente da região sul do Brasil. O vento predominante da região é do quadrante N/NE associado aos ventos alísios que sopram na maior parte do ano. Durante a chegada de frentes frias percebe-se o predomínio de ventos do quadrante S/SE. As marés observadas na área de estudo podem ser classificadas como micromarés, atingindo amplitudes de menos de 2 m. Durante marés de sizígia observam-se amplitudes de até 1.8 m, já durante marés de quadratura, a amplitude observada cai para até 0.3 m. P á g i n a | 19 5. METODOLOGIA O monitoramento deste presente trabalho ocorreu entre março de 2010 e setembro de 2012, onde consiste numa continuação do trabalho realizado por Godinho (2009) entre novembro de 2007 e outubro de 2009, empregando a mesma metodologia utilizada. Ele envolveu amostragens de campo e análises laboratoriais. Foi feito paralelamente a aquisição de dados mensais de pluviosidade para a cidade de Vitória (INMET – Instituto Nacional de Meteorologia). 5.1. MONITORAMENTO EM CAMPO DA PLANÍCIE DE MARÉ Para monitoramento da morfologia da planície de maré foram realizadas idas mensais à campo, sempre durante a maré baixa seguindo a tábua de marés para o Porto de Vitória (DHN – Diretoria de Hidrografia e Navegação Marítima). Neste monitoramento foram feitas medições da altura da planície de maré através da instalação de dois pólos, um próximo à vegetação (Estação 1) (Figura 3(a)) e outro próximo ao canal principal (Estação 2) (Figura 3(b)). Cada pólo compreende duas barras metálicas que foram fincadas 1,5 m dentro do solo, niveladas, e distanciam 1 m. Durante o levantamento outra barra de alumínio foi posicionada sobre os pólos e nove medições foram realizadas entre a superfície e a barra de alumínio (Figura 4). Foi feito um campo anterior a primeira medição para instalação dos pólos para que houvesse a estabilização da superfície da planície. É feita uma média com as nove medições de cada estação para se observar o comportamento morfológico daquela área (QUARESMA, 2004). Figura 3: Estações amostrais da área de estudo. (a) Estação 1 próximo à vegetação. (b) Estação 2 próximo ao canal principal. P á g i n a | 20 Figura 4: Medição da altura da planície de maré. Juntamente com as medições feitas em campo, foram feitas coletas de amostras de sedimento na superfície da planície, ao lado dos polos, com recipientes de volume conhecido em cada estação (Figura 5). As amostras eram imediatamente levadas ao laboratório para análises. Figura 5: Coleta de amostras do sedimento superficial em cada estação amostral. P á g i n a | 21 5.2. ANÁLISES LABORATORIAIS Em laboratório as amostras são pesadas com o recipiente. Com o volume e peso do recipiente conhecidos, determina-se a massa para cálculo de densidade do sedimento. Em seguida as amostras colocadas em uma estufa para secagem numa temperatura de 40ºC durante 48 horas. Após a secagem, são quarteadas pelo método de cone (INGRAN, 1971) e separadas, aproximadamente 5 g de sedimento para queima de matéria orgânica pelo método Mook & Hoskin (1982) e 10 g para queima de carbonato pelo método de Ostrom (1961 apud Suguio, 1973). O teor de matéria orgânica total foi obtido por meio de queima de sedimento em mufla, à 550ºC por 4 horas. Para a determinação do carbonato presente na amostra foi realizada queima do sedimento com ácido clorídrico (HCl) 30%. Após a efervescência, a amostra passa pelos processos de lavagem e secagem em estufa à 40ºC. A diferença entre o peso inicial, anterior à queima, e o peso final, após a queima, corresponde ao teor de matéria orgânica total e carbonato da amostra, conforme descrito por Gross (1971). Após quantificar o teor de matéria orgânica, as amostras foram submetidas ao peneiramento via úmida, descrito por Suguio (1973), para a determinação do teor de areia da amostra. Para determinação da densidade das amostras coletadas foi usado o método de Amos & Sutherland (1994) onde e é a massa da mistura de sedimento e água o volume do sedimento: A porosidade do sedimento é determinada pela equação de Whitehouse et al., (2000), onde é a densidade do sedimento, densidade da água: é a densidade da amostra e é a P á g i n a | 22 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.1. MORFOLOGIA DA PLANÍCIE DE MARÉ O período de monitoramento da morfologia da planície de maré foi entre março de 2010 e setembro de 2012, totalizando três anos de estudo. A Figura 6 mostra que durante o período de monitoramento a planície apresentou tendência acrescional de aproximadamente 6 cm para a estação 1 e 7 cm para a estação 2. A figura 7 indica a variação da pluviosidade para a cidade de Vitória durante os cinco anos. Os dados são agrupados com os resultados obtidos por Godinho (2009) para visualização de toda a evolução da planície de maré. 10,00 Altura do fundo (cm) Estação 1 8,00 Estação 2 6,00 4,00 2,00 0,00 -2,00 out-07 dez-07 fev-08 abr-08 jun-08 ago-08 out-08 dez-08 fev-09 abr-09 jun-09 ago-09 out-09 dez-09 fev-10 abr-10 jun-10 ago-10 out-10 dez-10 fev-11 abr-11 jun-11 ago-11 out-11 dez-11 fev-12 mai-12 jul-12 set-12 -4,00 Campo (meses) Figura 6: Variabilidade temporal da média da altura do fundo das estações amostrais. Precipitação (mm) 700 600 500 400 300 200 100 nov/07 jan/08 mar/08 mai/08 jul/08 set/08 nov/08 jan/09 mar/09 mai/09 jul/09 set/09 nov/09 jan/10 mar/10 mai/10 jul/10 set/10 nov/10 jan/11 mar/11 mai/11 jul/11 set/11 nov/11 jan/12 mar/12 mai/12 jul/12 set/12 0 Tempo (Meses) Figura 7: Variação temporal da precipitação entre novembro-07 e setembro-12 na cidade de VitóriaES. P á g i n a | 23 Chen (1992) detalhando processos de transporte de sedimento e hidrodinâmica de planícies de maré na Baía de Hangzhou e suas respostas morfológicas propôs modelos de transporte de sedimentos e sua morfologia (Figura 8). Figura 8: Modelo morfodinâmico de uma planície de maré na Baía de Hangzhou: (a) período de baixa energia; (b) período de alta energia (adaptado de Chen, 1992). Segundo o autor (op.cit.), em período de baixa energia, os sedimentos são depositados na zona intermarés superior, sendo evidenciada a diminuição da taxa de deposição nas áreas mais interiores, e o equilíbrio nas partes mais baixas da zona intermaré, enquanto na zona submersa ocorre erosão (Figura 8(a)). Durantes os períodos de maior energia, haviam duas zonas de deposição (zonas superior e inferior) e uma zona de erosão, que estavam localizadas na parte superior da zona intermarés, na zona submersa e na parte inferior da zona intermarés, respectivamente (Figura 8(b)). Quaresma et al., (2007) encontraram tendência erosiva na planície de maré de Hythe no Reino Unido, onde não foi evidenciado um padrão de variações sazonais. Os autores relacionaram o fato ao processo erosivo intenso observado durante o período de verão, sendo que neste era esperado o contrário. Uma possível explicação para esse comportamento foram as baixas taxas de erosão das escarpas, o que acarretava a menor disponibilização de sedimentos para deposição nas planícies de maré. Outro motivo também ressaltado seria a influência das ondas geradas por barcos de pequeno porte que trafegam a altas velocidades na região com maior frequência nessa época do ano. Nesse caso, a ação de ondas na zona P á g i n a | 24 intermarés seria constante, mesmo em épocas de menor energia hidrodinâmica, causando o processo erosivo observado. Deloffre et al., (2005) determinaram em seu estudo na planície de maré Oisell, no rio Sena-FRA, que os principais fatores controladores da dinâmica de sedimentos no local seriam o fluxo do rio e as correntes de maré. Foi determinado que quando o fluxo do rio aumentava, iniciava-se a deposição de sedimento sob a planície de maré devido a constante submersão da mesma e o aumento da descarga de material particulado em suspensão. Quando o fluxo diminuía, iniciaria então o processo de erosão do material que foi depositado à montante no estuário. É neste momento que as correntes de maré dominam a hidrodinâmica na planície de maré, causando erosão e transferindo este material particulado para as zonas intermediárias do estuário. Cabe ressaltar que diferentemente da região de Vitória, o período de cheias ocorre nos meses de inverno, por isso os processos se alteram. Godinho (2009) determinou que durante o período chuvoso a pluviosidade é a grande condicionante da planície de maré no Canal da Passagem. No período chuvoso entre novembro-07 e março-08 a estação 1 apresentou estabilidade enquanto que a estação 2 apresentou erosão. O aumento do nível do canal faz com que ocorra o alcance mais frequente das águas nas partes mais altas da planície de maré, e devido à maior energia que é adicionada no sistema, as partes mais próximas ao canal irão sofrer erosão. O período chuvoso no ano seguinte mostrou um comportamento diferente, onde a estação 1 sofreu um intenso processo de acresção. Este padrão estaria relacionado ao elevado volume de chuvas na bacia hidrográfica, que indicou maior aporte de sedimentos nas partes mais internas da planície. Oliveira (2003) realizou estudos na região da Baía de Vitória e mostrou que a vazão do rio Santa Maria da Vitória, tem grande influência no aporte de sedimentos no sistema. O material erodido do leito, escoamento e ação da precipitação configuram-se como principais formas de aporte de sedimentos para o fluxo de um curso d’água. Sendo assim o maior volume de chuva faz aumentar a concentração de material particulado em suspensão no sistema em estudo. Devido a baixa ocorrência de chuvas durante o período seco, Godinho (2009) determinou que as correntes de maré são as principais forçantes na dinâmica da planície de maré. Foi observado que a parte mais interna da planície permaneceu P á g i n a | 25 estável enquanto que a parte mais próxima do canal apresentou acresção. Nesse período energia no sistema diminuiu e a chegada de água na planície ficou restrita as partes mais baixas. A troca sedimentar ocorre basicamente na área próxima ao canal, pois o sedimento transportado fica a cargo das correntes marés, que mobilizam as partículas depositando e transportando-as dentro deste sistema. O período seco do ano seguinte apresentou comportamento distinto, com acresção evidenciada em ambas as estações. Um importante fator que pode ter contribuído para o processo de intensa acresção encontrado por Godinho (2009) em seu segundo ano de monitoramento foi a construção da nova Ponte da Passagem (Figura 9). Ela iniciou do mês de julho de 2007, e se estendeu até agosto de 2009. A primeira etapa iniciou-se com a colocação dos nove pilares de sustentação, onde quatro deles foram inseridos diretamente no canal (Figura 10). Além disso, foram feitos aterros na região do entorno para a colocação de outros pilares de sustentação. A colocação destes pilares exigiu que fossem atravessados camadas de água, areia e lama até chegar a rocha sã, onde a profundidade alcançou até 20 metros. Foi feito o derrocamento da rocha do fundo do canal para que houvesse assentamento das camisas metálicas da estação e para isso foram utilizados explosivos de detonação submersa (Ponte Estaiada com Torres Metálicas, acessado em: 25 de março de 2013). Figura 9: Nova Ponte da Passagem. P á g i n a | 26 A colocação destes novos pilares neste período pode ter disponibilizado para o sistema grandes quantidades de sedimento através do revolvimento do fundo e das explosões submersas. Além disso, esses pilares podem funcionar como barreira física que altera a hidrodinâmica local. Devido a grande quantidade de sedimentos finos encontrados no ambiente estuarino, esse tipo de atividade constitui um forte impacto ambiental, principalmente em áreas urbanas, visto que nesse tipo de sedimento podem estar adsorvidos diversos poluentes, como metais pesados, que ao serem disponibilizados ao ambiente, podem causar diversos problemas. Poleto (2007) diz que elevadas concentrações de poluentes nos sedimentos são bastante comuns em áreas urbanas industrializadas, e estes podem ser transportados por longas distancias, que configurariam graves problemas ambientais. Singh et al., (2005) mostraram que os metais pesados podem ser tanto adsorvidos nos sedimentos quanto acumulados em organismos bentônicos, chegando até atingir níveis tóxicos tanto para esses organismos como para quem os consumir. Figura 10: Instalação dos novos pilares de sustentação da Ponte da Passagem (ANTOLINI, acesso em: 26 de março de 2013). P á g i n a | 27 Outro fator que pode ter influenciado o distinto padrão encontrado por Godinho (2009) durante o período chuvoso é o tempo de intervalo entre a data de realização do trabalho de campo e a ocorrência de chuvas intensas. Quando o monitoramento é realizado bem próximo ou durante um período de chuvas, é constatada erosão no fundo da planície de maré. Em contrapartida, quando o mesmo é feito com intervalo de uma semana ou mais da ocorrência de chuvas, é constatada acresção. Quando ocorrem intensas chuvas sobre a bacia hidrográfica, o volume do canal irá aumentar, consequentemente o seu fluxo e a capacidade de transporte do mesmo. Se a energia for grande o suficiente ela poderá erodir o fundo da planície colocando em suspensão e transportando o sedimento superficial para outras áreas, então neste momento se constata erosão na planície de maré. Com o decorrer do tempo e a diminuição das chuvas, o fluxo do canal diminui e sua capacidade de transporte também, fazendo com que o sedimento que está sendo transportado em suspensão se deposite sob a planície. Após este evento, é constatada a acresção. O primeiro período analisado neste presente trabalho foi o período seco de 2010, entre março-10 e setembro-10, que mostrou um padrão semelhante com o encontrado por Godinho (2009). A estação 1 apresentou estabilidade e a estação 2 acresção de até 1.75 cm (Figura 11). Cabe ressaltar que no final do período a estação 2 apresentou acresção de 1.5 cm enquanto que a estação 1 sofreu uma leve acresção de 0.15 cm. Isto pode estar ligado ao fato de o regime de chuvas neste período seco ter sido maior que a média para a estação, onde no mês de julho atingiu-se 90 mm, permitindo um maior aporte de sedimento para as partes mais internas da planície. P á g i n a | 28 10,0 700 Altura do fundo (cm) 8,0 600 Estação 2 Chuva 6,0 500 4,0 400 2,0 300 0,0 200 -2,0 100 -4,0 mar/10 Pluviosidade acumulada (mm) Estação 1 0 abr/10 mai/10 jun/10 jul/10 ago/10 Campo (Meses) Figura 11: Variabilidade temporal da média da altura do fundo das estações amostrais e da pluviosidade entre os meses de março-10 e setembro-10. O período chuvoso entre outubro-10 e março-11 apresentou com uma tendência acrescional constante em ambas as estações. A estação 1 obteve uma acresção de 2.5 cm e a estação 2 apresentou 3.1 cm de acresção (Figura 12). O regime de chuvas nesta estação foi elevado, porém constante. Os meses de novembro, dezembro e março ultrapassaram os 200 mm mensais. Apenas no mês de novembro o monitoramento foi feito durante fortes chuvas, onde no dia da coleta de dados, foi observada a precipitação de 26 mm durante todo o dia. Nos meses restantes observa-se o intervalo de uma semana ou mais entre a data do campo e a ocorrência de chuvas, explicando a acresção encontrada. A elevada quantidade de chuvas neste período pode ter adicionado uma maior quantidade de sedimento ao sistema, e como o nível de água no canal permaneceu mais elevado durante boa parte do tempo, permitiram que esse sedimento fosse depositado de maneira mais intensa em ambas as estações de monitoramento. P á g i n a | 29 10,0 700 Altura do fundo (cm) 6,0 600 Estação 2 Chuva 500 4,0 400 2,0 300 0,0 200 -2,0 100 -4,0 out/10 Pluviosidade acumulada (mm) Estação 1 8,0 0 nov/10 dez/10 jan/11 fev/11 Campo (Meses) Figura 12: Variabilidade temporal da média da altura do fundo das estações amostrais e da pluviosidade entre os meses de novembro-10 e março-11. No período seco de 2011 a estação 1 mostrou tendência de estabilidade, enquanto a estação 2 apresentou acresção de 2 cm durante o período (Figura 13). As chuvas neste período foram menos intensas que as estações anteriores, com média de 49 mm para toda estação, o que permite dizer que neste período de baixa energia o grande condicionante da morfodinâmica da planície foram as correntes de maré. P á g i n a | 30 8,0 600 6,0 500 Altura do fundo (cm) 700 4,0 400 Estação 1 Estação 2 2,0 300 Chuva 0,0 200 -2,0 100 -4,0 abr/11 Pluviosidade acumulada (mm) 10,0 0 mai/11 jun/11 jul/11 ago/11 Campo (Meses) Figura 13: Variabilidade temporal da média da altura do fundo das estações amostrais e da pluviosidade entre os meses de abril-11 e setembro-11. O último período chuvoso monitorado mostrou dois momentos distintos (Figura 14). Nos quatro primeiros meses, exceto em novembro, a planície apresentou uma tendência de erosão em ambas as estações. Nos meses de outubro-11, novembro11, dezembro-11, e janeiro-12 apresentaram, respectivamente, 143, 251, 261 e 386 mm mensais. Apesar da intensa pluviosidade encontrada em novembro, a coleta de dados foi feita antes do intenso período de chuvas, onde esta se concentrou no final do mês, explicando a acresção encontrada. Nos três meses seguintes, chuvas fortes foram constatadas no período do trabalho de campo, onde em janeiro encontrou-se 85 mm no dia da coleta. A grande energia a qual o sistema foi submetido causou a erosão da superfície da planície de maré monitorada em intensidade semelhante em ambas as estações, 0.34 cm na estação 1 e 0.29 cm na estação 2, isso devido ao elevado nível de água do canal. Nos últimos dois meses do período, o regime de chuvas diminuiu, onde os meses de fevereiro-12 e março-12 apresentaram respectivamente, 83 e 29 mm mensais e ambas as estações apresentaram um padrão acrescional nesses dois meses. O menor fluxo do canal causado pela diminuição das chuvas permitiu que o sedimento em suspensão que estava sendo transportado se depositasse novamente na planície, indicando este padrão. P á g i n a | 31 Um importante ponto a ressaltar neste momento é que após um período de intensa deposição na planície de maré nos anos anteriores, o sistema indica sinais de atingir um equilíbrio. Após o inicio das obras da nova Ponte da Passagem, a planície apresentou elevada acresção durante os três anos seguintes, chegando a 6.6 cm na estação 1 e até 9.3 cm na estação 2. Passado este período, pode-se perceber que as flutuações da altura da planície de maré são menores, indicando que o sistema está entrando em equilíbrio novamente. 8,0 600 Altura do fundo (cm) 700 6,0 4,0 500 Estação 1 Estação 2 400 Chuva 2,0 300 0,0 200 -2,0 100 -4,0 out/11 Pluviosidade acumulada (mm) 10,0 0 nov/11 dez/11 jan/12 fev/12 Campo (Meses) Figura 14: Variabilidade temporal da média da altura do fundo das estações amostrais e da pluviosidade entre os meses de outubro-11 e março-12. Essa estabilidade do sistema é evidenciada na última estação monitorada, a estação seca de 2012 onde ambas as estações apresentam este padrão (Figura 15). No último mês de monitoramento, as estações apresentaram erosão na planície, de 0.3 cm na estação 1 e de 0.5 cm na estação 2. Essa erosão ocorreu devido ao aumento do fluxo do canal devido uma forte chuva nos dias anteriores ao campo do mês de setembro, causada por uma entrada de frente fria na região. Deloffre et al., (2007) realizaram estudos de deposição em três diferentes planícies de maré e mostraram que sua morfologia e o suprimento de sedimentos influenciam fortemente os processos de sedimentação. A planície localizada no estuário Medway é protegida de ações hidrodinâmicas como descarga do rio, correntes de maré e turbulência, assim as taxas de erosão/deposição são próximas P á g i n a | 32 de zero. Já nas planícies de maré do Sena e de Authie, as taxas de deposição anual foram de 18 e 15 cm respectivamente. As grandes variações de maré semi-diurna observadas, com pouco mais de 5 metros de amplitude, indicam este intenso processo de deposição. Aliado a isto, as taxas de deposição da planície do Sena são maiores quando a descarga do rio é baixa, permitindo que a zona de turbidez máxima fique na área da planície de maré. Quando a descarga aumenta, a ztm é empurrada para fora do estuário, na Baía do Sena. 8,0 600 6,0 500 Altura do fundo (cm) 700 Estação 1 4,0 2,0 400 Estação 2 Chuva 300 0,0 200 -2,0 100 -4,0 abr/12 Pluviosidade acumulada (mm) 10,0 0 mai/12 jun/12 jul/12 ago/12 Campo (Meses) Figura 15: Variabilidade temporal da média da altura do fundo das estações amostrais e da pluviosidade entre os meses de abril-12 e setembro 12. A planície de maré do Canal da Passagem apresentou uma taxa anual de deposição média de 1.42 cm para a estação 1, e de 1.18 cm para a estação 2, nos 5 anos de estudos realizados. As maiores taxas ocorreram no 2º, 3º e 4º ano de monitoramento apresentando uma acresção total de 7.66 cm para a estação 1 e de 9.11 cm para a estação 2, enquanto que no último ano observou-se um padrão estável. 6.2. PROPRIEDADES DO SEDIMENTO A Tabela 1 indica as principais características do sedimento da planície de maré estudada. P á g i n a | 33 Tabela 1 – Composição do sedimento da planície de maré em porcentagem. Média Máximo Mínimo P1 P2 P1 P2 P1 P2 Matéria Orgânica 38.7 32.2 48.8 42.8 16 9.4 Carbonato 15.3 11.8 19.6 18.1 8.1 6.3 Areia 43.6 45.3 87.9 91.7 10.7 10.2 6.2.1. Matéria Orgânica Os resultados mostram que os valores de matéria orgânica foram bastante variados, com máxima de 48.8% e mínima de 16% na estação 1, e com máxima de 42.8% e mínima de 9.4% na estação 2. Os valores médios encontrados são de 38.7% e 32.2% para as estações 1 e 2, respectivamente. O estudo feito por Dias (2005), também no Canal da Passagem, encontrou média de 26.2% de matéria orgânica em três pontos amostrais dispostos transversalmente ao sentido do canal. Estes valores mostram que a planície de maré é rica em matéria orgânica, onde esta provavelmente é originada no próprio ambiente a partir da decomposição de folhas e galhos da vegetação local e também de outros organismos. No caso da planície de maré do Canal da Passagem, as folhas são as grandes fornecedoras de matéria orgânica para o sedimento devido a grande concentração encontrada na camada superficial do mesmo. Além disso, essa área sofre diversos impactos antrópicos, como o despejo de esgoto doméstico sem tratamento adequado, e esse tipo de procedimento contribui bastante para o incremento de matéria orgânica no sistema. Bernini & Rezende (2004) realizaram estudos sobre a estrutura da vegetação em diferentes pontos do manguezal do estuário do rio Paraíba do Sul e determinaram que a maior porcentagem de matéria orgânica que o Sítio 2 apresentava estaria relacionada à maior produção de detritos da floresta. Rossi e Mattos (2002) realizaram um estudo no sistema de manguezais do estado de São Paulo, e determinaram que os maiores valores encontrados de matéria orgânica estariam associados a ambientes de baixa energia, enquanto que os menores valores estariam associados à atuação das correntes fluvial e de maré que P á g i n a | 34 mobilizariam os sedimentos e não favoreceriam a deposição e a permanência de matéria orgânica. A Figura 16 mostra que o teor de matéria orgânica sofreu variações ao longo do período de monitoramento 700 Estação 1 50,0 600 Estação 2 40,0 500 Chuvas 400 30,0 300 20,0 200 10,0 100 0 nov-07 dez-07 jan-08 fev-08 mar-08 abr-08 mai-08 jun-08 jul-08 ago-08 set-08 out-08 nov-08 dez-08 jan-09 fev-09 mar-09 abr-09 mai-09 jun-09 jul-09 ago-09 set-09 out-09 0,0 a Pluviosidade (mm) Matéria Orgânica (%) 60,0 60,0 Estação 1 50,0 Estação 2 700 600 500 400 300 200 100 0 Chuvas 40,0 30,0 20,0 10,0 mar-10 abr-10 mai-10 jun-10 jul-10 ago-10 set-10 out-10 nov-10 dez-10 jan-11 fev-11 mar-11 abr-11 mai-11 jun-11 jul-11 ago-11 set-11 out-11 nov-11 dez-11 jan-12 fev-12 mar-12 abr-12 mai-12 jun-12 jul-12 ago-12 set-12 0,0 b Pluviosidade (mm) Matéria Orgânica (%) Data (meses) Data (meses) Figura 16: Variação do teor de matéria orgânica e da pluviosidade durante o período de monitoramento. (a) Monitoramento de novembro-07 a setembro-09 (GODINHO, 2009). (b) Monitoramento de março-10 a setembro-12. Godinho (2009) determinou que nos dois primeiros anos de monitoramento, os valores encontrados em ambas as estações variam entre 3 e 30%, com a estação 2 com maiores teores que na estação 1, fato este explicado através da importância das forçantes hidrodinâmicas (fluxo do rio e correntes de maré) têm na entrada de matéria orgânica no sistema, visto que elas atuam de maneira mais intensa na estação 2. P á g i n a | 35 Nos três anos seguintes, a quantidade de matéria orgânica aumenta, variando entre 10 e 50% onde nos dois últimos anos a sua variabilidade foi menor, e, além disso, a estação 1 apresentou maiores quantidades que a estação 2. Com a grande acresção de sedimento na planície de maré ocorrida logo após o final de 2009, a ação dessas forçantes ocorre com menor intensidade nas áreas mais internas da planície, o que permite um maior acúmulo de matéria orgânica no sedimento. Pode-se notar que o teor de matéria orgânica no sedimento varia conforme a pluviosidade, onde uma maior quantidade de chuvas causa uma diminuição da porcentagem de matéria orgânica na camada superficial do sedimento (Figura 16). A pluviosidade é o fator determinante para aumentar o volume de descarga fluvial, e consequentemente sua energia de transporte. O aumento da descarga promove maior a capacidade de transporte de partículas finas, como argila e silte, juntamente com a matéria orgânica que é facilmente adsorvida por elas, dificultando a sua deposição. A correlação entre o teor de matéria orgânica e densidade mostrou uma tendência inesperada. De acordo com Whitehouse et al., (2000) aumento da matéria orgânica no sedimento local teoricamente provocaria um aumento na densidade do sedimento em função da elevação da propriedade coesiva desse sedimento. Os resultados mostram que o aumento da matéria orgânica é relacionado a uma diminuição de densidade (Figura 17(a)). Em relação a porosidade, o resultado foi menos significativo devido ao espalhamento, não sendo constatada uma tendência (Figura 17(b)). P á g i n a | 36 60 Matéria Orgânica (%) a 50 y = -0,0673x + 110,66 R² = 0,5725 40 30 20 10 0 1000 1200 1400 1600 1800 Densidade (Kg/m³) 60 Matéria Orgânica (%) b 50 y = 21,707x + 8,6238 R² = 0,0158 40 30 20 10 0 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 Porosidade Figura 17 - Gráficos de correlação. (a) Relação entre o teor de matéria orgânica e densidade do sedimento; (b) Relação entre o teor de matéria orgânica e porosidade do sedimento. 6.2.2. Carbonato de Cálcio A presença de carbonato no sedimento superficial da planície de maré foi encontrada em baixas quantidades com máximas de 19.6 e 18.1% e mínimas de 8.1 e 6.3% nas estações 1 e 2 respectivamente, o que indica pouca representatividade no estudo. Berrêdo et al., (2008) encontrou valores de 12,33% de média de carbonato no sedimento do manguezal da Baía de Guaratuba no Paraná. O carbonato encontrado é principalmente proveniente de organismos que vivem e se alimentam na planície como pequenos crustáceos, poliquetas e moluscos, sendo estes últimos encontrados em alguma quantidade fixados às raízes das árvores da floresta de manguezal ao redor. P á g i n a | 37 Os dados de carbonato medidos durante o período de monitoramento são mostrados na Figura 18. Carbonato (%) Estação 1 25 20 15 10 5 0 Estação 2 Campo (Meses) Figura 18: Variação do teor de carbonato de cálcio durante o período de monitoramento. A estação 1 apresenta de maneira geral valores maiores de carbonato pelo fato do local ser mais abrigado das intempéries hidrodinâmicas e meteorológicas, favorecendo o desenvolvimento dos organismos que contribuem com essa característica no sedimento. Outro fato a ser destacado é que em um local próximo a área de estudo, é costume da comunidade pesqueira que vive próxima, a limpeza de moluscos, como ostras e mexilhões, coletados nas áreas adjacentes, e o descarte de carapaças pode contribuir para o aumento das quantidades de carbonato na superfície da planície de maré. O gráfico da Figura 19(a) mostra que apesar de baixas quantidades do teor de carbonato encontrado, existe uma correlação com a densidade, onde a maior quantidade de carbonato indica um sedimento de menor densidade. Em relação à porosidade, o gráfico da Figura 19(b) apresenta um espalhamento grande, o que não indica uma relação direta entre o teor de carbonato e a porosidade do sedimento. P á g i n a | 38 25 a Carbonato (%) 20 y = -0,0182x + 34,486 R² = 0,4557 15 10 5 0 1000 1200 1400 1600 1800 Densidade (Kg/m³) 25 b Carbonato (%) 20 y = 5,5634x + 7,3145 R² = 0,0108 15 10 5 0 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 Porosidade Figura 19: Gráficos de correlação. (a) Relação entre o teor de carbonato e densidade do sedimento; (b) Relação entre o teor de carbonato e porosidade do sedimento. 6.2.3. Teor de Areia As concentrações de areia encontradas na planície de maré estudada foram bastante significativas, com máximas de 87.9 e 91.7% e mínimas de 10.7 e 10.2% nas estações 1 e 2 respectivamente, indicando que sua variabilidade no período de monitoramento foi bastante elevada. Black & Paterson (1998) realizaram um estudo sobre as propriedades do sedimento em quatro estações dispostas transversalmente na planície de maré do estuário Humber. A quantidade de areia (em porcentagem) em cada estação foi de 9.4, 15.9, 22.5, 23.1 nos estações A, B, C e D respectivamente, sendo a estação A na parte mais interna da planície e a estação D mais próxima do canal do estuário. P á g i n a | 39 A Figura 20 representa a variabilidade do teor de areia ao longo do período de monitoramento: Estação 1 Estação 2 Chuvas Areia (%) 80,0 60,0 40,0 20,0 a nov-07 dez-07 jan-08 fev-08 mar-08 abr-08 mai-08 jun-08 jul-08 ago-08 set-08 out-08 nov-08 dez-08 jan-09 fev-09 mar-09 abr-09 mai-09 jun-09 jul-09 ago-09 set-09 out-09 0,0 700 600 500 400 300 200 100 0 Pluviosidade (mm) 100,0 Data (meses) Estação 1 Estação 2 Chuvas Areia (%) 80,0 60,0 40,0 20,0 b mar-10 abr-10 mai-10 jun-10 jul-10 ago-10 set-10 out-10 nov-10 dez-10 jan-11 fev-11 mar-11 abr-11 mai-11 jun-11 jul-11 ago-11 set-11 out-11 nov-11 dez-11 jan-12 fev-12 mar-12 abr-12 mai-12 jun-12 jul-12 ago-12 set-12 0,0 700 600 500 400 300 200 100 0 Pluviosidade (mm) 100,0 Data (meses) Figura 20: Variação do teor de areia e da pluviosidade durante o período de monitoramento. (a) Monitoramento de novembro-07 a setembro-09 (GODINHO, 2009). (b) Monitoramento de março-10 a setembro-12. Godinho (2009) determinou que nos quatro primeiros meses do seu trabalho (estação chuvosa), o teor de areia do sedimento variou de maneira semelhante para ambas as estações, devido à sua principal condicionante, as chuvas, permitirem a entrada deste tipo de sedimento no sistema. Nos meses seguintes (estação seca), em que a dinâmica foi condicionada pela maré, houve um transporte de areia para as partes mais internas da planície, ou seja, da estação 2 para a estação 1, quando se evidenciou a entrada de frentes frias. A diminuição dos teores de areia do mês a partir do mês de março-09 teve este fato associado à menor disponibilidade de areia no sistema. Neste mesmo período, ocorreu a instalação dos novos pilares da Ponte da Passagem, que podem ter causado um desequilíbrio no sistema devido ao revolvimento do fundo. Isto causou a disponibilização de sedimentos lamosos para o P á g i n a | 40 sistema. Além disso, os pilares podem agir como uma barreira física, alterando a hidrodinâmica local e aprisionando esse sedimento no sistema, que acaba por ser depositado nas áreas adjacentes. Com isso o sedimento passa a apresentar maiores quantidades de silte/argila. A partir do mês de março-10, os valores apresentam teores de areia novamente elevados devido à alta pluviosidade encontrada nesta época, sendo 290 mm só neste mesmo mês. Pode-se notar durante o restante do período de estudo que quando ocorreu um aumento de pluviosidade, ocorreu um aumento no teor de areia presente na planície de maré. Isso ocorre, pois com a maior energia presente no canal, ele ganha capacidade de transporte deste tipo de sedimento, consequentemente a sua entrada no sistema. Com a diminuição da pluviosidade, pode ser visto uma diminuição no teor de areia devido à baixa energia presente no canal que permite a deposição de partículas finas na camada superficial da planície de maré. No decorrer dos últimos três anos, o teor novamente voltou a diminuir apresentando menor variabilidade do que nos anos anteriores, o que mostra novamente que o sistema aparenta estar entrando em equilíbrio após as intervenções antrópicas já citadas neste presente trabalho. Um ponto a ser destacado no período de monitoramento é a clara correlação entre o teor de areia e o teor de matéria orgânica (Figura 21), onde o aumento do teor de areia causa uma diminuição no teor de matéria orgânica, devido a sua mais fácil adsorção pelas partículas finas (argila e silte). Souza et al., (1993) diz que estudos tem demonstrado que sedimentos arenosos frequentemente apresentam baixo percentual de matéria orgânica e menor capacidade de retenção de nutrientes se comparados a sedimentos argilosos. P á g i n a | 41 Matéria Orgânica (%) 60,0 y = -0,494x + 53,55 R² = 0,668 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 Areia (%) Figura 21: Gráfico de correlação entre teores de areia e matéria orgânica. A correlação entre os dados de teor de areia e densidade mostra que existe uma clara influência entre os dois, onde existe uma tendência de aumento de densidade com o aumento da concentração de areia (Figura 22(a)). A Figura 22(b) mostra que a correlação entre o teor de areia e a porosidade não permite verificar uma tendência entre esses parâmetros. P á g i n a | 42 100 Teor de Areia (%) a 80 60 40 y = 0,0882x - 60,746 R² = 0,3058 20 0 1000 1200 1400 1600 1800 Densidade (Kg/m³) 100 Teor de Areia (%) b 80 60 40 y = -75,903x + 116,51 R² = 0,0494 20 0 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 Porosidade Figura 22: Gráficos de correlação. (a) Relação entre o teor areia e densidade do sedimento; (b) Relação entre o teor de areia e porosidade do sedimento. 6.2.4. Densidade e Porosidade A densidade do sedimento superficial da planície de maré apresentou uma tendência geral de diminuir em relação ao estudo feito por Godinho (2009) (Figura 23), e este fato pode estar associado às forçantes meteorológicas e às ações antrópicas. De acordo com Whitehouse et al., (2000), o fundo coesivo apresenta três estágios principais de consolidação, que dependem da concentração no ambiente e da densidade: as lamas fluidas móveis com valores de densidade até 1080kg/m³; as lamas fluidas estacionárias que apresentam densidade até 1150kg/m³; e o fundo consolidado com as maiores densidades entre 1300 a 1700kg/m³. Os resultados P á g i n a | 43 demonstram que os três tipos de fundo foram encontrados na área de estudo. Cabe ressaltar que as lamas fluidas estão ligadas aos primeiros estágios de consolidação e que podem ser movimentadas frequentemente pelas correntes ou ondas. Bassoullet et al., (2000) realizaram estudos na planicie de maré de Brouage na Baia de Marennes-Oléron na França e determinaram a densidade do sedimento superficial em seis estações dispostas transversalmente; As estações localizadas na na região intermediária apresentam os maiores valores de densidade, entre 1300 kg/m³ e 1400 kg/m³, enquanto que as partes mais internas e externas apresentaram as menores densidades, entre 1250 e 1300 kg/m³. Isso ocorre devido ao fato de que a lama fluida geralmente cruza a região de média planície sem se depositar. A deposição de sedimento de baixa densidade geralmente ocorre na parte superior da Estação 1 Estação 2 Chuvas 1800 1600 1400 1200 1000 nov-07 dez-07 jan-08 fev-08 mar-08 abr-08 mai-08 jun-08 jul-08 ago-08 set-08 out-08 nov-08 dez-08 jan-09 fev-09 mar-09 abr-09 mai-09 jun-09 jul-09 ago-09 set-09 out-09 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Pluviosidade (mm) Densidade (kg/m³) planície. a Estação 1 Estação 2 Chuvas 1800 1600 1400 1200 1000 mar-10 abr-10 mai-10 jun-10 jul-10 ago-10 set-10 out-10 nov-10 dez-10 jan-11 fev-11 mar-11 abr-11 mai-11 jun-11 jul-11 ago-11 set-11 out-11 nov-11 dez-11 jan-12 fev-12 mar-12 abr-12 mai-12 jun-12 jul-12 ago-12 set-12 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Pluviosidade (mm) Densidade (kg/m³) Data (meses) b Data (meses) Figura 23: Variação da densidade do sedimento superficial e da pluviosidade durante o período de monitoramento. (a) Monitoramento de novembro-07 a setembro-09 (GODINHO, 2009). (b) Monitoramento de março-10 a setembro-12. P á g i n a | 44 Godinho (2009) determinou que a planície apresentou características de fundo consolidado devido às grandes densidades encontrados, e isso foi devido aos baixos índices de pluviosidade neste período fizeram com que o volume de água do canal não fosse suficiente para erodir e movimentar o sedimento do fundo da planície, aliado a isto está o fato de que a baixa pluviosidade pode não ter trazido material suficiente para a formação de camadas menos densas de sedimento. Após o período de chuvas intensas no final de 2008, Godinho (2009) observou uma diminuição da densidade até apresentar características de lama fluida móvel. Esse padrão se deve às chuvas que possivelmente aumentaram a quantidade de material no sistema, juntamente comas obras da Ponte da Passagem, causando a diminuição de densidade observada. A partir de 2010 foi constatado uma clara relação da densidade com a pluviosidade onde logo após a períodos chuvosos os valores de densidade apresentam um acréscimo. O aumento do fluxo causa a retirada da lama fluida móvel e da lama fluida estácionária da planície de maré deixando apenas a lama consolidada no sedimento superficial. No momento de coleta essa lama vai apresentar uma densidade maior. Com a diminuição da vazão de água, o material em suspensão na coluna d’água irá retornar a planície e depositar na forma de lama fluida estácionária e móvel, diminuindo assim a densidade do sedimento superficial. Entre junho-10 e janeiro-12, a densidade da planície apresenta valores de lama fluida estacionária, com média de 1142.5 kg/m³ e 1150.8 kg/m³ para as estações 1 e 2 respectivamente, exceto em periodos de chuvas mais intensas onde encontra-se valores de fundo consolidado. Já no último ano de monitoramento, os valores indicam novamente fundo consolidado com média de 1187.2 kg/m³ e 1169.8 kg/m³ para estações 1 e 2 respectivamente, reforçando a possibilidade de o sistema novamente estar entrando em equilíbrio, visto que no período anterior à intervenção antrópica, o fundo apresentou características de consolidação em todos os momentos. O resultado da correlação entre densidade e porosidade está representado no gráfico da Figura 24. Como era de se esperar, a tendência observada apresenta uma correlação inversa, quanto maior a densidade menor a porosidade. Os valores encontrados condizem com os resultados mostrados na Figura 25 (WHITEHOUSE, et al., 2000). P á g i n a | 45 1400 y = -1614,9x + 2642,9 R² = 0,9986 Densidade (kg/m³) 1300 1200 1100 1000 0,8 0,85 0,9 Porosidade 0,95 1 Figura 24: Gráfico de correlação entre densidade e porosidade. Figura 25: Conversões entre as medidas mais utilizadas para superfície de sedimentos (adaptado de Whitehouse, 2000). P á g i n a | 46 A porosidade é uma propriedade física definida pela relação entre o volume de poros e o volume total de um determinado material, como rochas ou solos. Existem dois tipos fundamentais de porosidade nos materiais terrestres: Primária e secundária. A porosidade primária é gerada juntamente com o sedimento ou rocha, onde é caracterizada pelos espaços entre os clastos ou grãos. O tamanho e forma das partículas, o seu grau de seleção e a presença de cimentação influenciam a porosidade. A porosidade secundária ocorre por fraturamento ou falhamento durante sua deformação (porosidade de fraturas) (TEIXEIRA et al., 2000) Um ponto a destacar é que o sedimento argiloso, por exemplo, apesar de possuir alta porosidade, é praticamente impermeável, pois os poros são muitos pequenos e a água fica presa por adsorção, impedindo que a água percole entre os poros. Devido a essas características, esse tipo de sedimento apresenta densidade elevada, porém elas são alteradas quando o sedimento apresenta elevado teor de água, a sua densidade diminui, indicando características de lama fluida. Dessa mesma maneira um solo com maior teor de areia pode estar associado a um fundo consolidado, com baixa porosidade, alta densidade e grau de compactação (TEIXEIRA et al., 2000). A Figura 26 mostra que porosidade do fundo se mantém constante durante todo o período de monitoramento, apresentando médias de 0.93 para a estação 1 e 0.92 para a estação 2. Essa porosidade é relacionada aos estágios de consolidação encontrados nos neste período, onde em sua maior parte, apresentou características de lama fluida estacionária. (Porosidade) 1,5 1,0 0,5 Estação 1 Estação 2 0,0 Campo (Meses) Figura 26: Variação da porosidade ao longo do período de monitoramento. P á g i n a | 47 Durante todo o monitoramento, a superfície da planície de maré apresentou os três estágios de consolidação do sedimento. Os dois primeiros anos mostraram um fundo com características de lama fluida estacionária e lama fluida móvel, e alguns episódios de fundo consolidado, estes associados a maiores pluviosidades, enquanto que no último ano o fundo apresentou somente características de fundo consolidado. Godinho (2009) afirma que a estação chuvosa entre outubro-10 e março-09 pode ter sido determinante para modificação das características do sedimento, uma vez que o fundo coesivo necessita de grande energia para ser erodido. A ação combinada das intensas chuvas neste período com a construção da nova ponte pode ter colocado a disposição grandes quantidades de sedimento, diminuindo a densidade do fundo que formaram a superfície de lama fluida observada nos anos seguintes. P á g i n a | 48 7. CONCLUSÕES A tendência geral observada nos três anos de monitoramento da planície de maré é de acresção. Os dois primeiros anos apresentaram um intenso processo de acresção enquanto que o último ano apresentou uma tendência de estabilidade. As principais condicionantes da morfologia da planície de maré são as meteorológicas e hidrodinâmicas, respectivamente, chuvas e marés. A estação 2 se mostrou mais suscetível às forçantes hidrodinâmicas e meteorológicas devido à sua proximidade ao canal principal. A construção da nova Ponte da Passagem contribuiu de forma aguda no equilíbrio da planície de maré, onde a ressuspensão de sedimento causada pelas obras, fez com que este fosse transportado pelas correntes de maré até as áreas mais abrigadas da planície, permitindo a intensa acresção observada durante o monitoramento. As propriedades sedimentológicas avaliadas caracterizam a planície de maré estudada como um ambiente com altos valores de matéria orgânica, baixos teores de carbonato de cálcio e teor de areia variando entre baixas e altas concentrações. A pluviosidade (fluxo do canal) é um grande condicionante para entrada de matéria orgânica na planície evitando sua deposição e promovendo o transporte para outras áreas. A correlação entre matéria orgânica e densidade apresentou um resultado diferente do esperado, onde o teor matéria orgânica diminui com o aumento da densidade. Quanto a correlação com a porosidade, os resultados foram bem menos significativos. Os teores de carbonato de cálcio encontrados foram pouco significantes revelando ainda pouca relação com a densidade e porosidade do sedimento. Os teores de areia encontrados variaram bastante durante todo o período de monitoramento indicando que a pluviosidade é grande condicionante de entrada deste tipo de sedimento no sistema. As obras da Ponte da Passagem alteraram significativamente a granulometria do sedimento, evidenciado pelo decaimento dos teores até o final do monitoramento. P á g i n a | 49 A densidade superficial do sedimento mostrou forte relação com a pluviosidade. A maior quantidade de chuvas observadas evidenciou aumento da densidade do fundo da planície de maré. As variáveis tanto morfológicas quanto sedimentológicas responderam às variações pluviométricas. P á g i n a | 50 8. REFERÊNCIAS AMOS, C. L.; SUTHERLAND, T. F. 1994. A rapid technique for the determination of dry sediment mass from saturated marine sands. Journal of Sedimentary Research, v. 64 [3], p. 668-670. ANTOLINI, C. Nova Ponte da Passagem – Construção. Disponível em: <http://www.vitoria.es.gov.br/secom.php?pagina=galerias&idGaleria=9>. Acessado em: 26 de março de 2013. ARAÚJO, M. A. V. C. Erosion Mechanims In Marine Sediments. PhD Thesis, Universidade do Minho, 284 p., 2004. 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