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CEPEL – CENTRO DE PESQUISAS DE ENERGIA ELÉTRICA BRASIL Incorporação da Dimensão Ambiental ao Planejamento do Sistema de Transmissão Brasileiro – o Projeto AMBIENTRANS Temário 7: Metodología de evaluación ambiental de los planes de expansión Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2004 INCORPORAÇÃO DA DIMENSÃO AMBIENTAL AO PLANEJAMENTO DO SISTEMA DE TRANSMISSÃO BRASILEIRO – O PROJETO AMBIENTRANS Autores: FABIO BONATTO3 (engenheiro florestal, Msc. Geoprocessamento e Análise Ambiental); JORGE MACHADO DAMÁZIO4* (engenheiro civil, Dr. Engenharia Civil); ALEXANDRE MOLLICA MEDEIROS1 (engenheiro civil, Msc. Planejamento Energético e Ambiental); DANIELLA FETEIRA SOARES2 (geógrafa, Msc. Planejamento Urbano e Regional); ELISA DINIZ REIS VIEIRA3 (bióloga, Msc. Biofísica Ambiental); GEYSON MATTOS DA SILVA2 (geógrafo); PAULO CÉSAR PIRES MENEZES2 (geógrafo, Esp. Geoprocessamento); PEDRO MELLO CALIL FARAH3 (engenheiro sanitarista e ambiental, Msc. Planejamento Energético e Ambiental); RICARDO DART1 (estudante de geografia). Empresas: 1CEPEL – CENTRO DE PESQUISAS DE ENERGIA ELÉTRICA; 2FUNDAÇÃO PADRE LEONEL FRANCA/CEPEL; 3FUNDAÇÃO COPPETEC/CEPEL; 4UERJ/CEPEL. Cargo: Pesquisadores (* Gerente do Projeto. Envio de correspondência.) PALAVRAS-CHAVE: Sistemas de Transmissão, Planejamento Energético e Ambiental, Sistema Geográfico de Informação. Resumo: Este trabalho se propõe a identificar as principais experiências nacionais e internacionais sobre o planejamento de empreendimentos lineares, particularmente de linhas de transmissão, tecendo considerações acerca das etapas previstas para o planejamento integrado do sistema de transmissão brasileiro, bem como sobre as perspectivas para seu tratamento e análise dentro de um ambiente de Sistema Geográfico de Informação. Introdução Os aspectos socioambientais têm se configurado como fatores de risco e incertezas para a implantação dos empreendimentos do setor elétrico. O tratamento adequado destas questões em horizontes compatíveis, buscando identificar esses fatores, aponta para a necessidade de definição de métodos e critérios DADOS DA EMPRESA - CEPEL Departamento de Otimização Energética e Meio Ambiente – DEA/CEPEL Av. Um s/n – Ilha do Fundão – Rio de Janeiro Brasil CEP: 21941-590 Telefone: 55-21-2598-6086 Fax: 55-21-2598-6482 E-Mail: [email protected] que possibilitem a integração da dimensão ambiental de modo efetivo e sistemático desde as primeiras etapas do processo de planejamento destes empreendimentos. A incorporação dos aspectos socioambientais no planejamento dos sistemas de transmissão, desde a seleção dos corredores preferenciais, definição da tecnologia e critérios de projeto, permite que sejam minimizadas as interferências desta natureza, contribuindo para diminuir os riscos e incertezas associadas à sua implantação. O Projeto Incorporação da Dimensão Ambiental ao Planejamento do Sistema de Transmissão Brasileiro - AMBIENTRANS está sendo desenvolvido pelo Departamento de Otimização Energética e Meio Ambiente do CEPEL, em cooperação técnica com a equipe do Departamento de Meio Ambiente da ELETROBRÁS. O projeto tem por objetivo desenvolver uma metodologia a ser aplicada ao processo de planejamento dos sistemas de transmissão de energia elétrica, apontando critérios, indicadores e variáveis que devem ser considerados nos estudos de sistemas de transmissão, de modo a permitir a análise integrada de aspectos energéticos, de engenharia, econômicos e ambientais. Planejamento de Empreendimentos Lineares Os projetos de desenvolvimento podem, segundo suas características gerais de inserção no ambiente, considerar-se como de dois tipos: Projetos Lineares e Projetos Concentrados. Os projetos lineares são aqueles projetos longitudinais e localizados em corredores nos quais são impostas restrições parciais ou totais para o uso do solo. Do ponto de vista dos impactos ambientais, estes em sua grande maioria têm um alcance em vereda, unicamente, e sua ordem de magnitude não é muito alta se for considerado isoladamente. Entretanto, o impacto pode ser significativo se observado de forma integrada. Normalmente os projetos lineares atravessam uma grande diversidade de meios naturais e antrópicos, o que confere complexidade à gestão ambiental. Dentro deste grupo se destacam os projetos viários, os oleodutos e gasodutos, as linhas de transmissão de energia, bem como os canais e as tubulações para condução da água. Por sua vez, os projetos concentrados são aqueles projetos que fazem um uso restritivo de áreas relativamente extensas, porém localizadas ao redor de um epicentro territorial. Do ponto de vista dos impactos ambientais, estes habitualmente são de magnitudes consideráveis e apresentam alcance local e regional. A diversidade de meios naturais e antrópicos afetados é menor que no caso de projetos lineares, porém dependendo do tamanho do projeto, podem comprometer a totalidade de um ou vários ecossistemas, ou desarticular social e culturalmente populações completas. Neste grupo se destacam desenvolvimentos de média e grande mineração, centrais de geração de energia tanto hidráulica como térmica, portos e aeroportos, exploração e refino de petróleo, projetos industriais, agroindustriais e zonas francas. Normalmente os empreendimentos lineares necessitam cruzar diversos ambientes para manter a continuidade de sua rota. Embora seja exigido o estabelecimento de estudos de impacto ambiental para muitos destes projetos, nem sempre são contempladas efetivamente as diversas pressões exercidas sobre o uso público das terras ou sobre os recursos naturais, advindas da sua implantação. Quando a localização do corredor resulta em um obstáculo ao desenvolvimento do projeto em uma determinada área, via de regra isto se verifica em função da extensão considerada para seu percurso, a qual pode atravessar uma grande variedade de ambientes e condições de uso da terra. Por causa da sua influência potencial sobre os recursos naturais e atividades humanas, estes empreendimentos geram altos níveis de interesse público e de ações para sua regularização e aprovação. A rápida proliferação de múltiplos corredores situados em uma mesma área conduz também aos interesses com relação aos efeitos ambientais cumulativos, tais como a fragmentação da paisagem, o incremento à ocupação humana e a perda direta de habitats. Os vários tipos de empreendimentos lineares devem ser acompanhados por um amplo planejamento ambiental voltado à garantia do desenvolvimento sustentável e assegurado pelo compromisso das ações previstas para a sua implantação e operação. É recomendável a participação pública durante todas as fases do planejamento dos corredores e, sobretudo, na definição e seleção das rotas preferenciais. Devido à diversidade de paisagens e questões socioambientais envolvidas na implantação dos empreendimentos lineares, há necessidade de um amplo planejamento a ser realizado com base no conhecimento de uma equipe multidisciplinar, especializada no planejamento ambiental e na resolução de conflitos. Com a condução eficaz do planejamento e da seleção dos corredores preferenciais, os efeitos ambientais e socioeconômicos adversos podem ser freqüentemente minimizados. A seleção de corredores deve levar em consideração o projeto de engenharia e os potenciais impactos ambientais e sociais, tais como a estabilidade de encostas, cruzamento de rios, conservação de solo e vegetação, habitats importantes para a vida silvestre, bem como os diferentes usos da terra. Com base neste conhecimento preliminar, diversas rotas preferenciais podem ser identificadas para uma avaliação comparativa. A seleção das rotas preferenciais é determinada através de comparações sistemáticas entre as diferentes opções de rotas, utilizando critérios como as dificuldades da construção, acesso de veículos, risco à estabilidade das estruturas, compatibilidade com o uso da terra, impacto ambiental, interesses socioeconomicos e efeitos cumulativos regionais. Considerações Ambientais no Planejamento de Sistemas de Transmissão de Energia Elétrica Os sistemas de transmissão de energia elétrica proporcionam à sociedade um benefício reconhecido por todos: o transporte da energia elétrica entre os centros produtores e os centros de consumo. No entanto, estes empreendimentos causam distúrbios no meio ambiente ao longo de suas rotas e nas áreas em que são implantados. Diferente de outros projetos lineares, tais como rodovias, ferrovias, adutoras, oleodutos, gasodutos, cujos traçados podem ser adaptados com relativa facilidade aos condicionantes impostos por restrições ambientais ou legais, um projeto de linha de transmissão apresenta um número baixo de graus de liberdade, pois não admite curvas acentuadas no traçado ou quantidade excessiva de torres de sustentação em trechos curtos. As torres, quando localizadas em pontos de mudança de direção da linha, tornam-se vértices e apresentam maiores complexidades estruturais quanto maiores forem os ângulos de deflexão (ROSA, 2002). Como as linhas de transmissão, de uma forma ampla, necessitam atravessar o comprimento e a largura do país, a sua localização geográfica, bem como a natureza topográfica do terreno, constituem uma influência significativa no custo e no tempo de execução dos projetos. Desta forma, é essencial que no estágio de planejamento propriamente dito, várias rotas alternativas e soluções técnicas para linhas de transmissão sejam examinadas em detalhe. Para empreender tais estudos, uma das exigências principais consiste em obter a informação adequada a respeito das limitações físicas, dos fatores ambientais, entre outros, ao longo da rota, de modo que as melhores soluções sejam identificadas (POWERGRID, 2002). Subseqüentemente, durante a execução do projeto da rota, requer-se a obtenção de detalhes elaborados sobre o terreno, condições do solo, restrições à construção, entre outros, visando o planejamento apropriado dos recursos, dos custos, bem como da redução no tempo de execução. Dentre outros condicionantes, o planejamento deve procurar estabelecer, tanto quanto possível e tecnicamente viável, um traçado que possa acompanhar alguma outra linha de transmissão existente, seja de fácil acesso, próximo a estradas ou caminhos acessíveis a veículos motorizados, mas minimizando os cruzamentos com ferrovias, rodovias importantes, grandes rios ou outras linhas de transmissão. Para as linhas de transmissão os estudos ambientais têm-se iniciado na etapa de viabilidade/projeto básico, onde estes estudos têm por finalidade conduzir as recomendações que influirão a tomada de decisão nestas etapas, através da consideração de todas as influências recíprocas entre o meio ambiente e o sistema, que possam vir a interferir com as diversas alternativas, mediante o levantamento preliminar dos custos financeiros e sociais consequentes. Estas indicações tem sido utilizadas pelos setores de engenharia, que definirão as melhores localizações e traçados das linhas, bem como os critérios e dados básicos de projeto, levando em conta seus efeitos sobre o meio ambiente. Planejamento do Sistema de Transmissão Brasileiro O Brasil enfrenta grandes desafios para prover os requisitos necessários de serviços de eletricidade para as próximas décadas. A energia elétrica participa cada vez mais de todos os aspectos da cadeia produtiva nacional e o bem-estar econômico e social da população depende cada vez mais de um suprimento confiável e da qualidade da energia elétrica. Dentre os maiores desafios a serem enfrentados pelo país destacam-se: 1. Atender a crescente demanda de serviços de eletricidade do país, inclusive na zona rural e comunidades isoladas; 2. Diversificar a matriz de fornecimento de eletricidade; 3. Desenvolver tecnologias de energia com menor impacto ambiental e maior alcance social e que contribuam para o uso racional e eficiente da energia. O sistema elétrico brasileiro destaca-se tecnicamente pela interligação de um grande número de unidades produtoras e unidades consumidoras de energia elétrica, distribuídas em uma área de dimensões continentais. Estas características permitem considerá-lo único em âmbito mundial. O sistema de produção e transmissão de energia elétrica no Brasil é um sistema hidrotérmico de grande porte, com forte predominância de usinas hidrelétricas e com múltiplos proprietários. Apenas 3,4% da capacidade de produção de eletricidade do país encontra-se fora do Sistema Interligado Nacional - SIN, em pequenos sistemas isolados localizados, principalmente, na região amazônica (CGEE, 2001). A operação de um sistema elétrico interligado com tais dimensões só tornou-se possível em virtude do desenvolvimento de competências técnicas com alta qualidade para planejar, implementar e operar esta estrutura. De acordo com CGEE (2001), a operação do SIN está a cargo do Operador Nacional do Sistema (ONS), cuja estratégia de operação é baseada em Centros de Operação de Sistemas Regionais (COSR), responsáveis por informar, em tempo real, a programação da operação aos centros produtores de energia elétrica. A operação dos COSRs é coordenada pelo Centro Nacional de Operação do Sistema (CNOS). Toda esta estratégia está baseada na interligação de produtores, distribuidores e consumidores de grande porte através de um sistema único de transmissão de energia elétrica, denominado de Rede Básica de Transmissão do SIN (RBS). O planejamento da operação do sistema é o núcleo de todo processo de controle executado pelo ONS. Na perspectiva de curto prazo, o planejamento é fortemente dependente da capacidade de oferta de energia elétrica do SIN, bem como da demanda e do comportamento do consumidor final. Em termos de médio e longo prazo, o planejamento da operação do SIN sofre forte influência da política energética nacional, do desempenho da economia, da matriz energética disponível, de questões climáticas e da capacidade de investimentos no setor energético, entre outros aspectos. A demanda de energia elétrica se caracteriza por crescentes necessidades de serviços de energia: iluminação, refrigeração, aquecimento, climatização, força motriz, ventilação e arcondicionado e outros. O interesse da sociedade é a garantia de que essas necessidades de uso final da energia sejam atendidas, com custos adequados e com menores impactos ambientais. Estas expectativas podem ser atendidas seja através de tecnologias mais eficientes nos setores de consumo, seja através de aumento da capacidade de geração. O uso final da eletricidade também se baseia na infra-estrutura tecnológica que vai desde arquitetura e construção de prédios, até os mais diversos equipamentos elétricos utilizados nos diferentes setores da sociedade. Estas características tornam o Setor de Energia Elétrica uma área de atuação multidisciplinar, que requer a colaboração contínua de competências interinstitucionais. Características Gerais Transmissão Brasileiro do Sistema de Não se pode conceber uma usina produtora de energia elétrica sem um sistema adequado de transmissão, integrando de forma inseparável o projeto do empreendimento elétrico. Por uma questão de prazos de execução, entretanto, não há necessidade de implementação do sistema de transmissão ao mesmo tempo da implantação da central produtora de energia elétrica. Consideram-se, portanto, a central elétrica e o seu sistema de transmissão associado, como empreendimentos diferentes, cujos licenciamentos podem ocorrer em épocas distintas (ROSA, 2002). Devido à grande diversidade hidrológica existente entre as regiões do país, tornou-se atraente a implantação de interligações regionais que permitem atender aos centros de consumo em diferentes bacias hidrográficas. Essas interligações proporcionam uma produção de energia superior à que seria possível obter pelo mesmo conjunto de usinas isoladas entre si. Os sistemas de transmissão em diferentes níveis de tensão são interligados, não havendo, na maioria dos casos, vinculação ou dependência direta entre a fonte geradora e o centro consumidor, garantindo maior confiabilidade no suprimento de energia às regiões, pois a energia gerada por todas as usinas é distribuída por todas as cargas. Há, porém, alguns sistemas isolados, como nos casos dos estados da Região Norte, os quais dependem de fontes de produção de energia de origem predominantemente térmica, ficando a distribuição de energia dependente tanto da confiabilidade da operação das usinas produtoras, quanto da manutenção das linhas de transmissão. Sob o aspecto elétrico e energético, adições de novas usinas podem ser realizadas em qualquer localização geográfica atendida pelo sistema interligado. Do mesmo modo, qualquer nova usina pode deixar de ser construída, desde que se construa outra equivalente em outro local para o suprimento a um determinado segmento do mercado (ELETROBRÁS, 1990). O sistema elétrico brasileiro é atualmente constituído, basicamente, por dois sistemas interligados, independentes entre si: o sistema Sul/Sudeste/Centro-Oeste e o sistema Norte/Nordeste. Existem ainda sistemas isolados localizados nas regiões Norte e CentroOeste do país (Figura 1). Figura 1 - Distribuição Esquemática do Sistema de Transmissão Brasileiro sustentabilidade dos recursos (JANNUZZI e SWISHER, 1997). naturais Com o processo de redemocratização do país, a sociedade brasileira passou a ter acesso cada vez maior à informação, conhecendo melhor seus direitos e requisitando sua participação no processo de decisão de empreendimentos que, de alguma forma, afetam seu cotidiano. A reestruturação ocorrida nos setores de energia elétrica de diversos países nos últimos anos levou à necessidade da inserção de novos paradigmas para os planejadores. Os conceitos de poluição ambiental, recursos renováveis e desenvolvimento sustentável foram disseminados por grupos e organizações que se caracterizam por fortes pressões sobre a expansão das atividades do setor elétrico (MONTIBELLER-FILHO, 2001). Fonte: ONS, 2003. Aspectos Socioambientais do Planejamento do Sistema de Transmissão Brasileiro Na prática tradicional de planejamento do sistema interligado, os estudos de expansão da geração tem sido normalmente realizados sem levar em consideração, explicitamente, a interação entre o plano de expansão da geração e o plano de expansão da transmissão (RAMOS, et al., 1989). A expansão ótima para os sistemas de transmissão visa estabelecer alternativas mais econômicas para o atendimento confiável à demanda prevista. A resolução deste problema tem sido bastante estudada, sendo que a dificuldade reside não apenas no grande número de opções de reforço a analisar, mas também na complexidade da análise de cada alternativa, que leva em conta os aspectos de viabilidade econômica e elétrica (PINTO, et al., 1989). O planejamento energético tradicional procura, portanto, atender ao crescimento da demanda futura, minimizando os custos por meio de projetos de expansão pelo lado da oferta de energia. Isto condiciona a conduta dos agentes de planejamento para gerar oportunidades no lado da oferta que maximizem o ganho energético, o que necessariamente não significa um uso melhor da energia ou maiores oportunidades de acesso ao sistema de energia elétrica. O critério de expansão da oferta a custo mínimo, proposta pelo planejamento tradicional, aliado a economias de escala levou a uma rápida expansão da capacidade instalada e de promoção do crescimento da demanda, dando pouca ênfase à eficiência do uso energético e à Quando se planeja visando atender aos objetivos do desenvolvimento sustentável, o planejamento setorial passa a ter que satisfazer uma série de outros critérios além do fornecimento de energia a custo mínimo. Não se trata mais de um processo de otimização para selecionar a alternativa de menor custo, mas sim de um processo no qual necessitam ser analisados os interesses de outros setores do governo, dos segmentos da sociedade direta ou indiretamente envolvidos e a viabilidade ambiental, bem como as relações de troca existentes entre essas questões e o suprimento de energia. O planejamento setorial, além de ser dependente das diretrizes e restrições estabelecidas nos níveis superiores, deve também levar em conta o planejamento regional, para que possam ser analisadas suas interferências com os planos de outros setores localizados em determinadas regiões, bem como considerados os impactos sinérgicos e cumulativos resultantes dessas interações (PIRES, 1994). O reflexo destas mudanças no setor elétrico brasileiro pode ser observado com a crescente necessidade de introdução da variável ambiental nos projetos de seus empreendimentos, desde as etapas iniciais do seu planejamento. Para a adoção de um novo modelo de planejamento torna-se necessário o pleno entendimento das partes que interagem com os sistemas de energia, permitindo diferenciá-lo do planejamento tradicional a custo mínimo, incluindo os custos ambientais e os impactos sociais em todas as opções consideradas e, sobretudo, considerar os benefícios da eletricidade de acordo com o serviço de energia fornecido e não somente pela quantidade de energia vendida (JANNUZZI e SWISHER, op. cit.) Nos últimos anos, tanto a aprovação dos empreendimentos nos órgãos públicos, como as eventuais interferências de ONGs e do próprio Ministério Público Brasileiro, tem provocado atrasos e elevado os seus custos (ARAÚJO, 2003). No contexto atual os empreendimentos de transmissão são licitados a partir de um estudo de pré-viabilidade de corredor, sem incluir a participação da sociedade. Esta só é prevista na etapa de viabilidade, quando já foram realizados gastos relevantes e “desistir do negócio” significa, para o empreendedor, ter prejuízos. A avaliação prévia dos empreendimentos por parte dos órgãos ambientais competentes e os interesses dos diversos segmentos da sociedade, reduziriam significativamente os riscos dos empreendimentos se tornarem inviáveis ambiental ou socialmente, ou ainda, de terem seus custos finais de tal forma acrescidos para contornar tais restrições, a ponto de se tornarem economicamente não atrativos. Os novos empreendedores desconsideram os critérios ambientais mandatórios a serem incorporados nos projetos, bem como os custos adicionais que estes podem representar, não estando preparados para o fato de que os empreendimentos possam ser viáveis técnica e economicamente, mas não serem aceitos ambiental ou socialmente (SEGOND, et al., 2003). O planejamento de sistemas de energia deve absorver a influência e integrar as necessidades dos diferentes grupos sociais envolvidos na tomada de decisão do planejamento energético, adotando uma forma clara, objetiva e racional de planejamento. A tomada de decisão na área energética é fundamentalmente influenciada pelo modo como ela é compreendida pelos agentes que participam do processo, condicionando, desta forma, a maneira de realizar o planejamento. O planejamento, portanto, necessita incorporar múltiplos objetivos econômicos, sociais, políticos e ambientais, sendo requerida a aplicação de um processo mais complexo que integre essas variáveis, quase sempre conflitantes. As metodologias multicritério apontam nesta direção, incorporando uma visão da totalidade do sistema ao fazer uso de um método de investigação científico e racional, o qual absorve estas novas variáveis intervenientes (SICA, 2003). Todo o projeto de transmissão deve ser negociado com a sociedade, principalmente com relação aos impactos no meio sócio-econômico e cultural, onde a participação das comunidades envolvidas dá-se de maneira mais intensa. A principal interface entre a área de planejamento da transmissão e de meio ambiente se refere ao estabelecimento de rotas e sobrecustos adicionais associados ao tipo de terreno e de vegetação atravessados pela linha, estimados em função do grau de dificuldade que impõem ao projeto e construção do empreendimento. Na definição da rota é dada uma visão a nível macro de tudo que está alocado neste corredor. Posteriormente na elaboração do projeto da linha é feito o traçado definitivo que contempla todos os detalhes e ajustes que se fizerem necessários para a implantação física da linha na rota escolhida (SALIBA, et al., 2003). No atual modelo do setor elétrico brasileiro, o planejamento da expansão setorial assumiu feições nem sempre bem compreendidas pelos agentes. Enquanto, anteriormente, o planejamento da expansão era determinativo, com execução a cargo do Estado, atualmente ele é, na maior parte dos casos, indicativo, e com uma eventual execução dos empreendimentos previstos nos planos por parte, preferencialmente, da iniciativa privada; outros empreendimentos ou um outro cronograma para os empreendimentos previstos nos planos, no entanto, podem ocorrer. O planejamento da expansão da transmissão é determinativo para os primeiros cinco anos e indicativo após. O planejamento não termina com a elaboração dos planos; o acompanhamento crítico da sua execução é igualmente importante. Em se tratando do planejamento indicativo, em que os agentes no mercado não precisam necessariamente executar as obras previstas, esse acompanhamento é mais complexo, já que cabe aos planejadores verificar as obras que estão sendo efetivamente realizadas pelos agentes, levando em conta as sinalizações econômicas e ambientais “embutidas” nos planos. Cabe também aos planejadores proporem novas políticas energéticas ou modificações nas políticas existentes, ou então sugerir alterações nos instrumentos reguladores vigentes (CCPE, 2000). É importante ressaltar que, no atual momento, as competências com relação ao planejamento da expansão do setor elétrico Nacional encontra-se à cargo da EPE – Empresa de Pesquisa Energética (BRASIL, 2004) ainda em processo de estruturação, porém sem uma definição concreta dos papéis que deverão ser assumidos por esta empresa. Desta forma, ainda são consideradas as competências relativas ao planejamento sob os auspícios do CCPE – Comitê Coordenador do Planejamento da Expansão dos Sistemas Elétricos (MME, 1999). Critérios Socioambientais no Planejamento do Sistema de Transmissão Brasileiro De uma maneira geral, no que diz respeito ao planejamento atual da expansão dos sistemas de transmissão, os métodos de trabalho e o desenvolvimento de modelos e programas computacionais têm sido considerados adequados, muito embora o problema do planejamento aumente de complexidade ao ter que considerar, por exemplo, a inserção dos desenvolvimentos metodológicos necessários à inclusão da variável socioambiental. A questão da implantação da transmissão à longa distância, associada ao escoamento da energia da Região Norte para o atendimento ao mercado das Regiões Nordeste e Sudeste, a questão da avaliação de custos e benefícios, numa conceituação mais ampla com a consideração dos impactos ambientais e dos benefícios sociais, a visualização do “modus operandi” das interligações considerada a capacidade dos sistemas e os requisitos em termos energéticos, a questão da tomada de decisão diante de restrições financeiras e ambientais, bem como o tratamento das incertezas, são aspectos inerentes ao processo de planejamento que aumentam significativamente a sua complexidade (ELETROBRÁS, 1993). Os estudos de planejamento da transmissão estão subdivididos em estudos de longo, médio e curto prazo (Plano Decenal), de acordo com o horizonte considerado. Para tanto, a cada um dos horizontes contemplados os estudos de planejamento se desenvolvem, basicamente, de acordo com as seguintes etapas: - Formulação de alternativas; - Estudos elétricos; - Estudos econômicos; e, - Avaliação final e seleção da alternativa de expansão. A formulação de alternativas é realizada com base em premissas e diretrizes pré-fixadas, como por exemplo, a configuração de referência da rede, projeções de mercado, alternativas de geração, e os aspectos tecnológicos. Desta forma, ao longo dos estudos de planejamento, as alternativas vão sendo filtradas por critérios técnicos e econômicos, os quais vão se tornando cada vez mais eficientes e garantidos por métodos de cálculo também cada vez mais elaborados e sofisticados. As questões ambientais, apesar de indicadas como incorporadas ao processo decisório, só podem interferir atualmente de modo desigual, devido à falta de instrumentos metodológicos que permitam uma sistematização das análises e que dêem suporte à sua efetiva inclusão como variável de planejamento. Portanto, um empreendimento ao ser incluído no Plano Decenal, onde se apresenta a seqüência de construção das obras para os 10 anos seguintes ao ano de estudo, já passou por várias instâncias decisórias nas quais foi analisado o conjunto de empreendimentos à luz, entre outros aspectos, da necessidade de suprimento de energia a determinadas regiões e da quantidade de recursos disponíveis. Entretanto, as implicações ambientais decorrentes da seleção ou priorização desta ou daquela alternativa para determinada região, não tem sido levadas em consideração (PIRES, 1994). Associado ao Programa Decenal de Geração é elaborado o Programa Decenal de Transmissão, o qual define as linhas e subestações que serão implantadas para ligar as novas usinas aos sistemas interligados ou aos seus centros de carga e para reforçar ou ampliar os circuitos já existentes. Além de se apoiar em critérios técnicos e econômicos, o projeto das linhas de transmissão deve ser também balizado por critérios socioambientais. O exemplo mais conhecido diz respeito à escolha do corredor e à definição do traçado da linha, onde devem ser evitados, na medida do possível, as reservas indígenas, as florestas, os parques nacionais e estaduais, e outras unidades de conservação. Também na definição da altura dos condutores acima do solo, na largura e nos usos da faixa de servidão, nos projetos de desmatamento da faixa e em outros casos, os critérios socioambientais têm influência (às vezes dominante) nas características do projeto (ELETROBRÁS, 1990). Sistema de Gerenciamento de Avaliação do Impacto Ambiental de Linhas de Transmissão Objetivando imprimir maior aceleração à análise dos vários prognósticos sobre o encaminhamento de uma LT e facilitar a escolha das alternativas que causam o menor impacto ambiental, foi desenvolvida uma sistemática que permite uma linguagem comum entre as partes interessadas, e uma rápida avaliação do impacto ambiental causado por um encaminhamento da LT sob a ótica de cada especialista. Desta forma foi concebido o GAIA – Sistema de Gerenciamento de Avaliação do Impacto Ambiental de Linhas de Transmissão (SILVA FILHO et al.,1988 e SILVA FILHO, et.al., 1991). Este sistema foi desenvolvido pelo CEPEL visando dar suporte, agilizar e dar flexibilidade, bem como incluir a análise dos aspectos ambientais, à escolha de traçado de linhas de transmissão. Tem como base o método de superposição de cartas que auxilia a formulação e visualização de alternativas, e serve de base para a análise comparativa entre elas. Vale-se também dos conceitos da programação dinâmica para a escolha do caminho ótimo, ou seja, aquele que apresenta o menor somatório de impactos. A programação dinâmica aplica-se a situações em que se deve tomar uma seqüência de decisões que nos levarão de um estado inicial a um estado final, e se deseja saber qual a seqüência, dentre as possíveis, que otimiza um determinado objetivo. O sistema é composto atualmente de programas, que têm as seguintes funções: 4 - GAIACON - gerar, com auxílio de uma mesa digitadora, os arquivos de dados utilizados pelos demais programas. Esta fase compreende a digitação dos mapas temáticos e a montagem dos arquivos com os graus correspondentes às avaliações feitas pelos especialistas para cada espaço delimitado; - GAIAMQD - discretizar a área estudada segundo uma malha quadrada. Com isto obtémse uma homogeneização dos contornos das áreas estudadas, o que possibilita a automação da superposição dos diversos mapas temáticos; - GAIAPRD - determinar, por programação dinâmica, a alternativa de menor impacto ambiental; - GAIAPRJ - apresentar graficamente na tela a solução otimizada e calcular o comprimento e o somatório das demais alternativas propostas. A etapa atual de desenvolvimento desta ferramenta de análise procura estabelecer a efetiva incorporação dos aspectos sócioambientais, energéticos e de engenharia no processo de tomada de decisão, utilizando o GAIA como um Sistema Geográfico de Informação adequado à estrutura metodológica proposta e compatível com outros SGIs em utilização no mercado. Considerações Finais Este trabalho buscou apresentar, de forma sucinta, as bases que estão sendo aprimoradas através do projeto AMBIENTRANS do CEPEL, para a discussão e o desenvolvimento de instrumentos metodológicos adequados à incorporação da dimensão ambiental ao longo do processo de planejamento dos sistemas de transmissão de energia elétrica. Desta forma, entende-se que o estabelecimento de um processo de planejamento integrado, desde as etapas iniciais, onde os aspectos socioambientais são considerados conjuntamente com os aspectos técnicos, energéticos, econômico-financeiros e de desenvolvimento tecnológico, deve ser a premissa maior a consolidar este trabalho. Tem-se presente, portanto, que esta mudança de abordagem traz como conseqüência a necessidade da definição de novos procedimentos e o desenvolvimento de novos métodos para a análise de planos e projetos. O processo decisório adquire maior complexidade neste novo contexto, requerendo uma perspectiva interdisciplinar, por envolver variáveis muitas vezes conflitantes, e mais democrática, por passar a lidar com uma diversidade de atores com interesses e ideologias diferenciados. Os sistemas de transmissão, uma vez que permitem através da escolha de sua localização e da definição de suas características técnicas a minimização de muitas de suas interferências negativas, apresentam-se como particularmente adequados para a adoção de um planejamento integrado objetivando resultados técnica e economicamente viáveis e ambientalmente sustentáveis. A elaboração de um plano da expansão do setor elétrico realizado de forma integrada entre geração e transmissão, ao lidar com a estrutura de oferta e demanda de energia, interage de forma complexa com o desenvolvimento econômico e social, buscando por um lado, garantir a eficiência energética na qualidade e confiabilidade do suprimento de energia elétrica a custos reduzidos e, por outro lado, promovendo a universalização do acesso à eletricidade. Entretanto, os impactos socioambientais associados aos projetos causam interferências tanto nos modos e condições de vida da população que vive na área de influência dos projetos, quanto na base de recursos naturais utilizada material e simbolicamente por esta população, trazendo dificuldades para atender aos objetivos da sustentabilidade. As avaliações de impacto ambiental para os projetos têm sido aplicadas tendo em vista analisar a sua viabilidade ambiental e subsidiar a decisão quanto a sua implantação. Ao enfocar interferências no ambiente natural bem como as interferências nos aspectos socioeconômico e cultural, tais avaliações têm contribuído para traduzir alguns dos princípios e critérios contidos no conceito de sustentabilidade em estratégias e ações. Entretanto, o enfoque da avaliação ambiental de um projeto apenas direcionado para a minimização dos impactos não é suficiente para garantir que se atinja o equilíbrio entre os objetivos econômicos, sociais e ambientais do desenvolvimento sustentável. Para avaliar o compromisso do Plano de Expansão do setor elétrico com os pressupostos do desenvolvimento sustentável, é necessário que as análises tenham um enfoque mais abrangente, tanto do ponto de vista espacial quanto temporal, possibilitando a identificação de potencialidades e restrições para o desenvolvimento das ações e maior flexibilidade para a análise e comparação de alternativas e dos impactos associados, requerendo a extensão dos conceitos e procedimentos usuais dos estudos de avaliação de impactos. Por esse motivo, tem-se utilizado a Avaliação Ambiental Estratégica como instrumento metodológico para análise do Plano de Expansão, ampliando o enfoque preventivo das avaliações de impacto e atendendo mais plenamente aos objetivos do desenvolvimento sustentável do que aquelas realizadas para projetos isolados. Esta metodologia deverá ser adotada também como pressuposto à análise dos condicionantes e critérios para o planejamento dos sistemas de transmissão, uma vez que vem sendo aplicada, com o enfoque especial de suporte ao planejamento ambiental, pelo CEPEL em muitos dos recentes trabalhos desenvolvidos (CEPEL, 2002; CEPEL, 2003a; CEPEL, 2003b; CEPEL, 2003c; CEPEL, 2003d; CEPEL, 2003e; CEPEL, 2003f; CEPEL, 2004). Referências Bibliográficas ARAUJO, L.A.P., 2003. Redução dos Impactos Socioambientais nos Empreendimentos de Linha de Transmissão da Fase do Projeto à Construção e Operação. Anais do XVII SNPTEE – Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica. Grupo de Linhas de Transmissão – GLT 10. De 14 a 29 de outubro de 2003. Uberlândia, MG. 6 p. BRASIL, 2004. Lei nº 10.847, de 15 de março de 2004. Autoriza a criação da Empresa de Pesquisa Energética - EPE e dá outras providências. Presidência da República. Brasília, DF. 4 p. CCPE, 2000. 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