Dissertação - IME
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Dissertação - IME
MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA CARTOGRÁFICA DIOGO DOS SANTOS ADELINO VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS Rio de Janeiro 2006 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA DIOGO DOS SANTOS ADELINO VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia Cartográfica do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia Cartográfica. Orientador: Prof. Luiz Felipe Coutinho Ferreira da Silva - D.E. Rio de Janeiro 2006 2 c2006 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha Rio de Janeiro - RJ CEP: 22290-270 Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar qualquer forma de arquivamento. É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es) e do(s) orientador(es). A229 Adelino, Diogo dos Santos Variáveis Táteis para Representações Cartográficas / Diogo dos Santos Adelino. - Rio de Janeiro : Instituto Militar de Engenharia, 2006. 128 f. : il., graf., tab. : - cm. Dissertação (mestrado) - Instituto Militar de Engenharia, 2006. 1. Variáveis Visuais. 2. Cartografia Tátil. 3. Deficiência Visual. 4. Percepção Visual e Tátil. CDD 526 3 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA DIOGO DOS SANTOS ADELINO VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia Cartográfica do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia Cartográfica. Orientador: Prof. Luiz Felipe Coutinho Ferreira da Silva - D.E. Aprovada em 06 de abril de 2006 pela seguinte Banca Examinadora: _______________________________________________________________ Prof. Luiz Felipe Coutinho Ferreira da Silva - D.E. do IME - Presidente _______________________________________________________________ Prof. Oscar Ricardo Vergara - D. E. do IME _______________________________________________________________ Prof. Manoel do Couto Fernandes - D. C. da UFRJ Rio de Janeiro 2006 4 AGRADECIMENTOS Um trabalho desta magnitude jamais poderia ter sido realizado através dos esforços de uma única pessoa. Ele é resultado de várias pessoas, uma união de dedicação, trabalho, amor e amizade de diferentes indivíduos, que direta e indiretamente contribuíram de alguma forma para esta dissertação. Assim, a única forma que há de retribuir é dedicando este trabalho a estas pessoas, agradecendo-as, pois a contribuição dada para a elaboração deste trabalho jamais poderá ser recompensada. Assim, agradeço, em primeiro lugar a Deus, por permitir mais esta vitória pessoal, essa conquista, mesmo depois de tantos problemas, dificuldades e obstáculos. A minha família um agradecimento especial. Aos meus pais, Cida e Luiz; aos meus irmãos, Thiago, Luiz Carlos (Russo), Vitor e Valeria; a minha avó Marinalva e a minha tia Ademilde; e a minha madastra Célia, um obrigado especial para todas estas pessoas que mesmo sem ter a dimensão desta conquista, me apoiaram e estiveram comigo em todos os momentos desta jornada. A minha noiva Carla, agradeço pela compreensão e pelo conforto emocional que foram fundamentais nesta minha caminhada. Aos meus sogros Vera Lucia e Antonio Carlos, que sempre me receberam bem, e ajudaram-me através de conversas, conselhos e da farta culinária de minha sogra, carinhosamente chamada de "tia". Aos meus amigos, que na verdade são meus irmãos, Eduardo, Vinícius, Alexandre, Cleber um agradecimento de joelhos pois em todo o momento desta jornada lá estavam eles ao meu lado, ora ajudando na dissertação, ora descontraindo o ambiente através das mais diversas brincadeiras. Aos meus quatro irmãos um muito obrigado pela possibilidade em ter vocês como amigos e, com certeza, por ser pela vida toda. A minha "mãe acadêmica", Maria Naíse, que com seu perfeccionismo e com sua fala mansa muito me ensinou nesta vida científica, sendo responsável pelo meu crescimento tanto profissional quanto como pessoa. Aos amigos e colaboradores do NEQUAT/UFRJ que indiretamente contribuíram para a elaboração da dissertação, desde a infra-estrutura até ao ambiente descontraído de trabalho. A amiga Alessandra que quanto necessário me cobriu, lecionando nos dias que estava mais enrolado que linha em carretel. Aos professores do IME que sempre se mostraram disponíveis, e travam uma batalha diária para manter os cursos de graduação e pós-graduação com recursos praticamente inexistente. Ao meu orientador, Luis Felipe, que esteve comigo em todos os momentos, principalmente nas horas de desespero. Obrigado por me apoiar e acreditar no meu trabalho, mesmo nos momentos que nem eu acreditava. A todas as demais pessoas que, não menos importante, mas que seria inviável descrevê-las o meu agradecimento, o meu muito obrigado. A todos vocês meus amigos, que participaram direta e indiretamente, agradeçoos eternamente, e sintam-se vitoriosos também, pois esta vitória não é só minha, mas de todos vocês. 5 “... Só posso levantar as mãos pro céu; agradecer e ser fiel; ao destino que Deus me deu. Se não tenho tudo que preciso; com o que tenho, vivo; de mansinho, lá vou eu. Se a coisa não sai do jeito que eu quero; também não me desespero; o negócio é deixar rolar. E aos trancos e barrancos, lá vou eu; e sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu. E deixa a vida me levar (vida leva eu)...”. Trecho da música “Deixa a Vida Me Levar” de Serginho Meriti e Eri do Cais, interpretado por Zeca Pagodinho. 6 “... Mas digo sinceramente; na vida coisa mais feia. É gente que vive chorando de barriga cheia...”. Trecho da música “Maneiras” de Sylvio da Silva, interpretado por Zeca Pagodinho. 7 SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES.................................................................................. 10 LISTA DE TABELAS............................................................................................ 13 LISTA DE SIGLAS............................................................................................... 14 1 INTRODUÇÁO.......................................................................................... 17 1.1 Posicionamento do Trabalho..................................................................... 17 1.2 Objetivos................................................................................................... 19 1.3 Justificativa do Estudo............................................................................... 20 1.4 Desenvolvimento do Trabalho................................................................... 23 2 DEFICIÊNCIA VISUAL E A PERCEPÇÃO.............................................. 26 2.1 A Deficiência Visual................................................................................... 26 2.1.1 Definições e Classificações....................................................................... 26 2.1.2 Representatividade dos Deficientes Visuais............................................. 27 2.1.3 Tecnologias de Acessibilidade para os Deficientes Visuais...................... 29 2.2 A Percepção.............................................................................................. 31 2.2.1 O Sentido da Visão................................................................................... 32 2.2.1.1 A Anatomia do Globo Ocular..................................................................... 32 2.2.1.2 O Processo de Visualização..................................................................... 34 2.2.2 O Sentido do Tato..................................................................................... 37 2.2.2.1 A Anatomia da Pele................................................................................... 37 2.2.2.2 O Sistema Tátil.......................................................................................... 39 2.3 A Percepção Tátil...................................................................................... 39 3 CARTOGRAFIA TÁTIL............................................................................. 45 3.1 A Importância dos Mapas.......................................................................... 45 3.2 Contextualização Histórica........................................................................ 53 3.3 Cartografia Tátil: Uma Definição............................................................... 57 3.4 Mapas Táteis............................................................................................. 59 3.5 Métodos de Produção............................................................................... 63 8 4 VARIÁVEIS VISUAIS................................................................................ 69 4.1 Cor............................................................................................................. 73 4.2 Valor.......................................................................................................... 76 4.3 Forma........................................................................................................ 78 4.4 Tamanho................................................................................................... 80 4.5 Textura...................................................................................................... 81 4.6 Orientação................................................................................................. 85 5 METODOLOGIA 88 5.1 A Concepção das Matrizes-Bases............................................................ 88 5.2 As Matrizes-Bases.................................................................................... 91 5.2.1 Símbolos Pontuais.................................................................................... 91 5.2.2 Símbolos Lineares..................................................................................... 102 5.2.3 Símbolos Poligonais.................................................................................. 104 5.3 Aplicação dos Testes................................................................................ 106 6 RESULTADOS..................................................................................... 110 6.1 Símbolos Pontuais................................................................................ 110 6.2 Símbolos Lineares................................................................................ 112 6.3 Símbolos Poligonais............................................................................. 113 7 CONCLUSÕES.................................................................................... 117 BIBLIOGRAFIA........................................................................................................ 122 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIG. 2.1 Anatomia do olho humano................................................................. 33 FIG. 2.2 Processo de visualização de um determinado objeto no globo ocular................................................................................................. 35 FIG. 2.3 Estrutura de um globo ocular e as regiões do cérebro que processam as informações provenientes destes órgãos................... 36 FIG. 2.4 Estrutura da pele com as suas três camadas.................................... 37 FIG. 2.5 Epiderme com suas sub-divisões...................................................... 38 FIG. 2.6 Derme com suas sub-divisões........................................................... 38 FIG. 2.7 Sensores hápticos do corpo humano utilizados na percepção tátil... 41 FIG. 3.1 Exemplos de representações classificadas como mapas. A) mapa de localização de um sítio; B) mapa de localização de lojas; C) mapa de riscos ambientais................................................................ 48 FIG. 3.2 Mapa do tempo, com a previsão do tempo para o estado do Rio de Janeiro, ocupando meia página com mais outros dois mapas.......... 49 FIG. 3.3 Mapa turístico de Ilha Grande (RJ), com as principais praias e as áreas de proteção ambiental da ilha.................................................. 50 FIG. 3.4 Mapas dos sistemas de transporte coletivo ferroviário (A) e metroviário (B) da cidade do Rio de Janeiro, encontrados em cada uma das estações.............................................................................. 50 FIG. 3.5 Comparação entre uma frase constituída por letras convencionais e sua correspondência, abaixo, com o alfabeto Braille..................... 60 FIG. 3.6 Mapa tátil das rodovias federais de Santa Catarina, feito em barbante cordonê sobre papel........................................................... 62 FIG. 3.7 Características primárias (A) e secundárias (B) da classificação de mapas táteis....................................................................................... 63 FIG. 3.8 Elaboração de um mapa tátil baseado em um mapa convencional.. 65 FIG. 3.9 Ilustração do equipamento thermoform, responsável por moldar a película plástica. As três máquinas acima são destinadas para braillons de dimensões distintas, da menor (esquerda) para maior (direita)............................................................................................... FIG. 3.10 Processo de reprodução de material em alto relevo através do thermoform: (a) a matriz-base é inserida no thermoform, (b) e o braillon é colocado sobre a matriz, (c) depois a matriz e o braillon são fixados com o enquadramento e em seguida é deslocado (d) a câmara de vácuo e temperatura sobre as duas. Dado o tempo e a 10 66 67 temperatura determinado no equipamento, retira-se a câmara e o enquadramento para, assim, (e) destacar o braillon, moldado, da matriz-base........................................................................................ FIG. 3.11 Reprodução de mapas táteis utilizando o braillon. Na parte superior, o mapa tátil base, com as fronteiras entre os países representadas por linhas e as capitais determinadas por alfinetes, além da textura distinguindo o Brasil dos demais países sulamericanos. Na parte inferior o braillon moldado com as características do mapa tátil base..................................................... 68 FIG. 4.1 Elementos Gráficos (Ponto, Linha e Área)........................................ 69 FIG. 4.2 Variação da representação por meio dos elementos gráficos........... 70 FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra intitulada de Semiologie Graphique, aplicadas nos elementos gráficos ponto, linha e área................................................................ 73 FIG. 4.4 Paleta de cores, com as cores primárias e secundárias................... 74 FIG. 4.5 Paleta de cores ilustrando a variação de tonalidades, entre o preto e o branco, nas cores azul (A), vermelho (B) e cinza (C).................. 77 FIG. 4.6 Comparação entre diferentes tamanhos e espessuras. No primeiro conjunto distingue-se o tamanho na forma linear. Já no segundo conjunto, diferencia-se a espessura ou largura em linhas de mesmo tamanho................................................................................ FIG. 4.7 Exemplos de variações de texturas, segundo BERTIN (1983).......... FIG. 4.8 Diferentes tipos de superfícies que determinará texturas distintas e percepções diferenciadas. Da esquerda para direita: mármore, esteira, tela, papel amassado, cortiça e gotas de água ou ar........... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares, o que conseqüentemente altera o espaçamento entre eles........................ FIG. 4.10 Variação apenas no espaçamento entre os elementos lineares, permitindo que visualmente se perceba a distância entre as linhas.................................................................................................. 81 82 83 84 84 FIG. 4.11 Variações de orientação com elementos lineares preenchendo símbolos............................................................................................. 85 FIG. 4.12 Exemplo de TYNER (1992) ilustrando um mapa com símbolos pontuais cuja orientação não possui significado algum..................... 86 FIG. 4.13 Proposta de adaptação das variáveis visuais para as variáveis táteis.................................................................................................. 87 FIG. 5.1 Dimensões da matriz a ser reproduzida, com o tamanho original e a área útil........................................................................................... 89 FIG. 5.2 Esquema e a matriz 01, referente às formas pontuais regulares 92 11 básicas............................................................................................... FIG. 5.3 Esquema e a matriz 02, referente às formas pontuais regulares derivadas do quadrado e do triângulo............................................... 92 FIG. 5.4 Esquema e a matriz 03, referente às formas pontuais regulares derivadas do círculo........................................................................... 93 FIG. 5.5 Esquema e a matriz 04, referente às formas pontuais regulares básicas e derivadas........................................................................... 94 FIG. 5.6 Matrizes 05, 06 e 07, referentes às formas pontuais irregulares....... 95 FIG. 5.7 Esquema e a matriz 08, referente aos diferentes tamanhos de quadrados.......................................................................................... 96 FIG. 5.8 Esquema e a matriz 09, referente aos diferentes tamanhos de símbolos triangulares......................................................................... 97 FIG. 5.9 Esquema e a matriz 10, referente aos diferentes tamanhos de símbolos circulares com três tamanhos distintos.............................. 98 FIG. 5.10 Esquema e a matriz 11, referente aos diferentes tamanhos de símbolos circulares, com três tamanhos distintos............................. 98 FIG. 5.11 Esquema e a matriz 12, referente às avaliações da orientação de símbolos quadrangulares regulares................................................... 99 FIG. 5.12 Esquema e a matriz 13, referente às avaliações da orientação de símbolos triangulares regulares......................................................... 100 FIG. 5.13 Esquema e a matriz 14, referente às avaliações da orientação de parte dos símbolos circulares regulares............................................ 101 FIG. 5.14 Esquema e a matriz 15, referente às avaliações da orientação de parte dos símbolos circulares regulares............................................ 102 FIG. 5.15 Matriz 16, referente às avaliações da variável forma em representações lineares..................................................................... 103 FIG. 5.16 Matriz 17, referente às avaliações da variável forma em representações lineares..................................................................... 103 FIG. 5.17 Esquema com as distintas granulações e a matriz 18 referente às avaliações da extensão lixa da variável textura em representações em áreas............................................................................................ 104 FIG. 5.18 Matriz 19, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com diversos tipos de superfícies........... 105 FIG. 5.19 Matriz 20, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com diversos tipos de superfícies........... 105 FIG. 5.20 Matriz 21, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com diversos tipos de superfícies oriundas de papelão corrugado......................................................... 12 106 LISTA DE TABELAS TAB. 2.1 População residente com cegueira por regiões geográficas, segundo censo 1991. Adaptado de IBGE, 2006b............................. 29 TAB. 2.2 População residente com deficiência visual por regiões geográficas, segundo censo 2000. Adaptado de IBGE, 2006b......... 29 TAB. 2.3 TAB. 2.4 TAB. 2.5 TAB. 6.1 Estímulos recebidos em condições normais pelos seres humanos.. Capacidade de retenção de dados retidos após três horas.............. Capacidade de retenção de dados retidos após três dias................. Variáveis e suas respectivas extensões avaliadas e consideradas perceptíveis através do sistema tátil.................................................. 13 43 43 43 115 LISTA DE SIGLAS CAEG Centro de Atendimento Educacional ao Cego CM Centímetros CIE Comissão Internacional de Iluminação DPME Divisão de Pesquisa e Produção de Material Especializado EEPG Escola Estadual de Primeiro Grau IBC Instituto Benjamin Constant IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICA Associação de Cartografia Internacional LDB Lei de Diretrizes e Bases NCE Núcleo de Computação Eletrônica OMS Organização Mundial da Saúde UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro 14 RESUMO A Cartografia utiliza a visualização como forma de transmissão das informações contidas em seus documentos, trazendo como conseqüências não só a segregação de um segmento da população, os deficientes visuais, mas também limitando as formas de representação. Desta forma, o presente trabalho apresenta uma proposta de variáveis táteis a partir das variáveis visuais de Bertin, e suas respectivas extensões definidas através de testes de percepção háptica. Esta proposta tem como objetivo a determinação de um conjunto de variáveis que sirva de base para a construção de documentos cartográficos táteis e, assim, contribuir para a geração de mapas mais eficazes no que concerne a comunicação cartográfica, através da sistematização da construção de simbologia tátil. Para a determinação do conjunto destas variáveis, foram realizados levantamentos bibliográficos sobre os temas relacionados, uma discussão conceitual sobre as variáveis visuais e a elaboração de um conjunto testes de validação. Os testes realizados com os deficientes visuais permitiram avaliar a percepção das variáveis táteis e suas extensões, determinando quais são possíveis de serem implementadas em documentos cartográficos que utilizem o tato para a leitura e interpretação das informações cartográficas contidas. Além disso, indicaram as deficiências a serem corrigidas e as limitações da percepção tátil a serem levadas em consideração na construção de mapas táteis. Desta forma, espera-se que este trabalho contribua não só para o aperfeiçoamento dos documentos cartográficos, mas também para a melhora da qualidade de vida dos deficientes visuais, bem como o desenvolvimento da ciência cartográfica. 15 ABSTRACT The Cartography uses the visualization as a form of transmission of the information contained in its documents, bringing as consequences not only the segregation of a segment of the population, the blind people, but also limiting the representation forms. This work presents a proposal of tactile variables from the visual variable of Bertin, and its respective extensions defined throughout tests of haptic perception. The aim of this proposal is the determination of a set of variables that can be the bases for the construction of tactile cartographic documents and this way contribute for the creation of more efficient maps in that it concerns the cartographic communication, through the systematization of the tactile construction of symbology. For the determination of the set of these variable, bibliographical surveys on the related subjects had been carried through, a conceptual quarrel on the visual variable and the elaboration of a set validation tests. The tests made with the deficient appearances had allowed to evaluate the perception of the táteis variable and its extensions, determining which are possible to be implemented in cartographic documents that use the tato for the reading and interpretation of the contained cartographic information. Moreover, they had indicated the deficiencies to be corrected and the limitations of the tactile perception to be led in consideration in the construction of tactile maps. In such a way, one expects that this work not only contributes for the perfectioning of cartographic documents, but also for the improvement of the quality of life of the deficient appearances, as well as the development of cartographic science. 16 1 INTRODUÇÃO 1.1 POSICIONAMENTO DO TRABALHO A Cartografia tanto como ciência quanto como técnica, e até mesmo como arte, sempre se baseou, quase que exclusivamente, no sentido da visão para realizar o seu objetivo principal, que é o de transmitir as informações geográficas1 através das representações contidas nos mais variados documentos cartográficos, seja através dos signos, das convenções, seja através das toponímias, seja através das cores, dos gráficos, dentre outros. Como ciência, a Cartografia na busca por novas metodologias de representação do globo terrestre e as informações relacionadas ao mesmo, em geral, se apóia somente no campo visual. Já como técnica, os métodos de produção dos documentos cartográficos no intuito de se alcançar uma maior eficiência utilizam como parâmetro a visualização do mesmo, já que através da visualização ocorre a leitura e interpretação das representações cartográficas. Por fim, como arte, DUARTE (2002), ao comentar sobre a Cartografia como arte, afirma que “... não podemos esquecer que um mapa deve respeitar determinados aspectos estéticos, pois se trata de um documento que precisa ser agradável às vistas, razão pela qual necessita de uma boa disposição de seus elementos (traços, símbolos, cores, legenda, margens, etc.)”. Desde a antiguidade, o homem vem utilizando mapas para diversos fins, tais como conhecer melhor a área, armazenar rotas, caminhos, administrar e gerir o território, dentre outros. DUARTE (op cit.) afirma que a confecção dos mapas parece ser anterior à escrita, ou seja, a história da Cartografia acompanha, desde os primórdios da raça humana, o desenvolvimento da humanidade. 1 Toda aquela de natureza física, biológica ou social, que possua um relacionamento com um sistema de referência sobre a superfície terrestre (MENEZES, 2000). 17 Entretanto, ao longo de todo o desenvolvimento da Cartografia, um ponto é mantido por toda a sua história, a sua dependência na visão como o canal de comunicação entre a informação geográfica e a representação cartográfica. Essa dependência do canal visual, por parte da Cartografia, pode ser entendida pelo próprio comportamento do ser humano, que depende cada vez mais da visão, principalmente nos dias de hoje onde as constantes mudanças no meio dificultam a utilização dos demais sentidos, tais como a poluição sonora, diversidades de odores artificiais originadas das indústrias, lixões, dentre outros focos. A visão é o principal meio utilizado pelo homem para se perceber o espaço e suas relações existentes, isso explica a preocupação predominante da visualização na elaboração dos documentos cartográficos, já que a Cartografia representa justamente esse espaço que o homem procura entender e perceber melhor. A importância da visão, no processo de apreensão do conhecimento, é demonstrada por BARROS (2006), que apresenta o estudo sobre a capacidade de captação e retenção de informações pelos seres humanos através dos sentidos. Segundo o referido autor, os estímulos recebidos pelos seres humanos em condições normais captados pela visão são de 83%, enquanto que a audição, segundo sentido que mais estímulos recebe, a porcentagem é de apenas 11%. VASCONCELLOS (1993) afirma que a percepção do espaço e as relações espaciais dependem basicamente do sentido visual, sendo o olho o único canal de comunicação da informação visual. Vale ainda ressaltar que a visão é responsável por 80%, aproximadamente, da aquisição de conhecimento obtido pelo homem, como afirma LOUZADA (2004). Entretanto, a utilização predominante do canal visual justificado tanto pela dependência do homem quanto pela eficiência na transmissão das informações geográficas traz consigo conseqüências na leitura e interpretação de informações representadas nos documentos cartográficos realizada por pessoas que possuem deficiência visual, seja esta deficiência parcial ou total (cegos). A linguagem escrita por ter como uma de suas principais características a sua estruturação, possibilitou a elaboração de um sistema de códigos que representasse os signos utilizados na escrita, como as letras e os números, na forma tátil, sendo este conjunto de códigos denominado de sistema braile, criado em 1829 pelo francês Louis Braille. Contudo, com relação à imagem espacial, a sua complexidade 18 torna a transcrição e comunicação na forma tátil um processo de maior complexidade, o que justifica o baixíssimo número de material tátil desta natureza. Assim, dentro do presente contexto, torna-se necessário o desenvolvimento de metodologias que possibilitem e auxiliem na elaboração não só de documentos cartográficos, mas também de material didático na forma tátil, com o intuito de atender a este segmento da sociedade, tão carente e ao mesmo tempo desprovido de ferramentas que os ajudem no conhecimento e na percepção do espaço geográfico2. Ao mesmo tempo, trata-se de ampliar as possibilidades da Cartografia, através de novas formas de representação e transmissão da informação. Desta forma, o desenvolvimento da representação cartográfica através da percepção tátil não pode ser limitado apenas a ser uma forma de atender e possibilitar o acesso à informação aos deficientes visuais, mas sim de buscar formas alternativas e complementares às já existentes, objetivando uma representação mais fidedigna possível da realidade e uma transmissão cada vez mais eficiente da informação no que tange ao entendimento dos códigos cartográficos. 1.2 OBJETIVOS A presente dissertação tem como objetivo principal propor um conjunto de variáveis táteis, bem como definir as extensões3 respectivas de cada variável que, aplicadas aos três elementos gráficos básicos (ponto, linha e área) servirão de base para a construção de simbologias que permitirão a transmissão de informações espaciais, nos documentos cartográficos que serão identificados e interpretados por meio da percepção tátil. Desta forma, essas simbologias táteis poderão ser uma forma alternativa de representação cartográfica, e terão a possibilidade de serem implementadas unicamente ou em conjunto com os códigos tradicionais já utilizados amplamente. Assim, os documentos que adotarem as simbologias táteis não só atenderão aos 2 3 Conjunto de objetos geográficos distribuídos sobre um território (SANTOS, 1985). Corresponde ao número de divisões de uma componente, factível de serem percebidas. 19 deficientes visuais, mas também poderão ser utilizados pelos não-deficientes, uma vez que a representação tátil não impossibilita a representação visual. O processo de elaboração das variáveis táteis, bem como suas respectivas extensões, estará baseado no conjunto de variáveis visuais criado e sistematizado por BERTIN (1983). A partir destas variáveis visuais, serão realizadas adaptações com o objetivo de possibilitar a percepção, agora, através do tato. Entretanto, como não será possível a adaptação de todas as variáveis visuais devido a incompatibilidade das características com a representação tátil, como a variável cor por exemplo, será necessário a criação de variáveis, bem como a exclusão de outras. Desta forma, espera-se formar o conjunto de variáveis táteis que servirá de base para as representações cartográficas que serão utilizadas em documentos cartográficos voltados para a percepção tátil. 1.3 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO A Cartografia Tátil vem crescendo e ganhando cada vez mais espaço no cenário acadêmico-científico, com um número crescente de centros de pesquisa e núcleos de estudos que adotam-na como objeto de estudo e buscam o seu desenvolvimento. Este fato pode ser demonstrado pelo número de trabalhos publicados nos encontros científicos. Em um deles, o Congresso Internacional de Cartografia, realizado em 2003, houve apenas quatro trabalhos apresentados. Diferentemente da última edição do mesmo congresso, realizado em 2005, onde o número de trabalhos apresentados que contemplava o tema foi de dezoito, demonstrando assim um crescimento de trabalhos desenvolvidos na área de Cartografia Tátil (ICA, 2003; ICA, 2005). No entanto, esse desenvolvimento está concentrado na Europa, sendo mais da metade dos trabalhos publicados desenvolvidos em países europeus. Dos quatros trabalhos apresentados na edição de 2003 do Congresso Internacional de Cartografia, três eram oriundos da Europa. Já na última edição do mesmo congresso, em 2005, dos dezoito trabalhos registrados dez deles eram de origem européia (ICA, 2003; ICA, 2006). 20 Na América do Sul, o Chile se destaca no desenvolvimento de alternativas de representação cartográficas baseado no tato. Sua presença está registrada nos anais do Congresso Internacional de Cartografia de 2005, com duas publicações. Além disso, os centros de pesquisas chilenos ligados ao desenvolvimento da Cartografia Tátil participam de encontros e seminários com outros países da América Latina, como a Argentina, Uruguai e o Brasil, trazendo contribuições através de discussões, debates e apresentações de produtos didáticos e mapas táteis (BRANDÃO, 2005). No Brasil, a Cartografia Tátil vem sendo caracterizada e restringida a formas artesanais de se elaborar mapas táteis, desenvolvidas, principalmente, por núcleos especializados na educação de deficientes visuais, como o Instituto Benjamin Constant (IBC), no Rio de Janeiro, motivados pela necessidade imediata por materiais didáticos que possam ser trabalhados através do sentido do tato. Desta forma, como há uma carência de material tátil de um modo geral, as instituições ligadas à educação de deficientes visuais desenvolvem e elaboram formas alternativas que minimizem as dificuldades do ensino voltado aos portadores de deficiência visual e aumentem a capacidade de reprodução. Dentre esses materiais desenvolvidos encontram-se os mapas táteis, utilizados, principalmente, nas disciplinas de Geografia e História, que, em geral, são elaborados sem nenhum conhecimento cartográfico. Normalmente são confeccionados com retalhos de diversas texturas e bijuterias, manualmente, sem nenhuma padronização e com avaliações do sistema de comunicação cartográfica restringida. Vale destacar que estas avaliações são realizadas com voluntários deficientes, que testam os materiais ao término de sua elaboração. Através do relato da percepção tátil relativa ao material gerado, o profissional identifica se as informações representadas estão sendo identificadas e as possíveis deficiências a serem corrigidas, em um processo de “tentativa e erro” (BRANDÃO, 2005). Em suma, o processo de produção de material cartográfico tátil é caracterizado por ser artesanal, com baixa tiragem de cópias, sem rigor cartográfico. Vale lembrar que ainda não há o estabelecimento de técnicas de produção de mapas táteis que orientem o processo de elaboração desse tipo de documento cartográfico, como há na Cartografia tradicional. Técnicas estas que determinem regras, padrões e formas de se representar em um formato tátil eficazmente no que tange a comunicação 21 cartográfica, ou seja, o entendimento da informação geográfica pelo usuário através do documento cartográfico. Estes fatores apresentados que caracterizam a Cartografia tátil no país trazem como conseqüência a inviabilização da disseminação de material tanto cartográfico quanto didático aos portadores de deficiência visual, bem como a implementação do processo de alfabetização cartográfica e a difusão da própria Cartografia tátil e a sua respectiva importância. Além disso, a preocupação com estas dificuldades e a importância dada a este segmento da sociedade se justifica por dois aspectos. O primeiro, pela maior necessidade dos mesmos de se conhecer o espaço, principalmente o que está relacionado ao seu cotidiano, uma vez que a ausência, completa ou parcial, do campo visual, dificulta a percepção e o conhecimento do espaço; segundo, pela dimensão desta parcela da sociedade, que vem obtendo taxas de crescimento a cada ano. Nesta última década houve um crescimento de quase 10% referente ao número de deficientes visuais no Brasil, segundo dados dos censos de 1991 e 2000, chegando a, aproximadamente, 9% da população brasileira no início desta década (IBGE, 2006a; SONZA & SANTAROSA, 2005; VASCONCELLOS, 1993). Assim, o desenvolvimento de novas metodologias que auxiliem na busca por processos mais eficientes de elaboração de mapas táteis será de grande valia para o desenvolvimento da Cartografia tátil. Isto se refere tanto ao processo de comunicação entre o usuário deficiente, a informação geográfica e a percepção espacial, quanto a produção em série, em larga escala, que possibilite a difusão de um material adequado para todo o país. Além disso, haverá uma contribuição no que tange a inclusão social, uma vez que hoje, a legislação em vigor garante o acesso ao ensino de todo e qualquer portador de necessidades especiais, dentre eles o deficiente visual, como determinam a Constituição Brasileira de 1988 (BRASIL, 1988), em seu sexto capítulo, e a Lei de Diretrizes e Bases, a LDB-9394/96 (BRASIL, 1996), que estabelece as diretrizes para educação, em seu quinto e qüinquagésimo nono artigos, respectivamente: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à 22 maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. “O acesso ao ensino fundamental é direito Público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupos de cidadão, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério público, acionar o Poder Público para exigi-lo”. “Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I- currículos, métodos e técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades;...”. Vale ressaltar que, atualmente, mais do que garantir o acesso à educação é o de possibilitar a integração dos portadores de deficiência na rede pública de ensino, alterando o procedimento de “isolar” os alunos com necessidades especiais em centros especializados. Na verdade, a própria Constituição Brasileira de 1988 já determina isso, em seu artigo 288, onde contempla o dever do Estado com a educação, no terceiro inciso: “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. O plano nacional de educação especial, do Ministério de Educação, coloca que na diretriz atual que é a de plena integração dessas pessoas, uma das questões em voga é o direito da educação, sempre que possível junto com as demais pessoas nas escolas “regulares” (MEC, 2006a). Assim, a política de inclusão social torna-se mais um fator que justifica o desenvolvimento de pesquisa na Cartografia Tátil, buscando atender essa carência e contribuindo para melhora na qualidade de vida dos deficientes visuais. 1.4 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO No intuito de atingir os objetivos propostos deste estudo, o mesmo foi estruturado em sete capítulos, cujo conteúdo, em linhas gerais, será apresentado a seguir. 23 O presente capítulo, o primeiro, constitui-se de um texto introdutório sobre o tema. Apresenta o trabalho em linhas gerais, contextualizando-o. Aborda não só os objetivos propostos para esta dissertação, mas também os argumentos que justificam a realização deste trabalho. O capítulo posterior, o segundo, tem em seu corpo constituinte uma abordagem sobre a deficiência visual, uma vez que o trabalho está voltado ao desenvolvimento de formas que auxiliem, principalmente, pessoas que possuam este tipo de deficiência. Assim, são apresentadas as definições bem como as classificações para considerar um indivíduo como deficiente visual ou não. Além da deficiência visual, o segundo capítulo também contempla os tipos de percepção visual e tátil, abordando suas características e, desta forma, as diferenças entre si. Isso se explica pela necessidade de se conhecer a forma de funcionamento dos dois tipos de percepção, uma vez que o objetivo do trabalho é adaptar a forma de representação visual para a tátil. O terceiro capítulo é composto por uma abordagem sobre a Cartografia tátil. A proposta deste capítulo é de realizar uma simplificada revisão conceitual sobre o tema em questão, buscando apresentar uma definição que represente por completo o termo, bem como delimitar o mesmo dentro da própria Cartografia. Já o quarto capítulo tem como foco principal as variáveis visuais. Este capítulo consiste em apresentar o referido tema, definindo cada variável juntamente com suas características peculiares. Posteriormente, são propostas modificações que possibilitem que as variáveis visuais possam ser percebidas através do tato, e desta forma, ser aplicadas em documentos cartográficos táteis. Logo, será possível constituir um conjunto de variáveis táteis que seja viável a sua utilização na composição de simbologia tátil. O quinto capítulo aborda a metodologia adotada para a elaboração e a realização dos testes de validação das variáveis adaptadas ao formato tátil. Este capítulo contempla as características de cada matriz gerada, abordando as propostas de modificações realizadas, o processo de elaboração dos testes, a montagem e a constituição do grupo de teste e a aplicação do mesmo. O sexto capítulo refere-se aos resultados obtidos pela aplicação dos testes montados. Neste capítulo apresenta-se não só as extensões percebidas pelo tato 24 mas também as deficiências indicadas pelos voluntários e os problemas de identificação através do sentido háptico4 de alguns símbolos utilizados. O sétimo capítulo é constituído pelas conclusões, que serão elaboradas a partir, não só de todo o levantamento realizado na bibliografia existente, mas também na experiência prática adquirida no desenvolvimento e na aplicação dos testes de validação. Além disso, serão apresentadas sugestões de trabalhos futuros que contribuirão na continuação deste trabalho e no desenvolvimento do tema em voga. Desta forma, através desta sistematização, o presente trabalho espera contribuir com o desenvolvimento de novas metodologias que proporcionem não só uma maior inclusão social no que tange aos deficientes visuais, possibilitando a estas pessoas acesso à informação e uma melhor qualidade de vida, mas também ao crescimento da Cartografia como ciência e como técnica, ampliando sua área de influência, estendendo suas formas de aplicação e, assim, auxiliando o seu desenvolvimento. Vale ressaltar que são conhecidas as dificuldades de todo deficiente visual no que diz respeito ao acesso de qualquer tipo de informação e as suas dificuldades na percepção e no conhecimento do espaço geográfico, mesmo aquele referente ao seu cotidiano. Logo, o presente trabalho não tem a pretensão de resolver todos esses problemas, muito menos de preencher toda esta lacuna na Cartografia, referente ao déficit no desenvolvimento de formas de representação tátil. Contudo, espera-se contribuir na busca de soluções que venham minimizar os problemas enfrentados por este segmento significativo da sociedade. Além disso, espera-se auxiliar no desenvolvimento da Cartografia Tátil, contribuindo não só na construção de novos conhecimentos, mas também estimulando novas pesquisas sobre o presente tema e, desta forma, difundindo a própria Cartografia Tátil e a sua importância, para que mais pessoas venham a se beneficiar e contribuir com a mesma. 4 O termo háptico está diretamente associado ao sentido do tato, conforme apresenta CARNEIRO (2003) 25 2 A DEFICIÊNCIA VISUAL E A PERCEPÇÃO 2.1 A DEFICIÊNCIA VISUAL 2.1.1 DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES Um indivíduo pode ser considerado como sendo um deficiente visual se o mesmo possui um severo comprometimento no seu campo visual (na capacidade de visualizar em várias direções) ou na capacidade de perceber detalhadamente uma imagem (problemas na sua acuidade visual), mesmo com a implementação de correções óticas (óculos e lentes de contato, por exemplo) ou cirúrgicas, conforme explicita LAZARO (2002). A deficiência visual não se restringe somente à cegueira, termo este que não significa a incapacidade total de visualizar, mas sim, o prejuízo dessa aptidão em níveis incapacitantes para o exercício de tarefas rotineiras (CONDE, 2005). A deficiência em questão pode variar desde a cegueira total, passando pela cegueira parcial até a visão subnormal. A primeira também é conhecida como cegueira funcional ou amaurose que se caracteriza pela ausência por completo de sensibilidade luminosa. Já a segunda pode ser denominada também como cegueira legal ou profissional onde o deficiente é capaz apenas de contar os dedos a curta distância e perceber vultos, além de fazer a distinção entre claro e escuro. A visão subnormal se caracteriza pelo razoável resíduo visual de um indivíduo (CONGRESSO BRASILEIRO DE PREVENÇÃO DA CEGUEIRA, 1980 e CONDE, 2005). Desta forma, uma pessoa é considerada como cega se a sua visão corrigida é de 20/200 ou menos, ou seja, se a mesma tem condições de visualizar a 20 pés de distância, o equivalente a 6 metros, o que é detectado por uma pessoa sem deficiência a 200 pés, o que corresponde a 60 metros. Outra forma de se identificar a cegueira é através do diâmetro do seu campo visual, onde no caso do diâmetro 26 mais largo subtender um arco de até 20 graus, ainda que sua acuidade visual nesse estreito campo possa ser superior a 20/200 (CONDE, 2005). Já os fatores que caracterizam um indivíduo como sendo portador de visão subnormal são a acuidade visual de 6/60 e 18/60 (escala métrica) e/ou um campo visual entre 20 e 50 graus, conforme afirma (CONDE, 2005). O referido autor ainda apresenta uma classificação baseada na questão pedagógica “Pedagogicamente, delimita-se como cego aquele que, mesmo possuindo visão subnormal, necessita de instrução em Braille e como portador de visão subnormal aquele que lê tipos impressos ampliados ou com o auxílio de potentes recursos ópticos”. Outra classificação de grau de deficiência, bastante aplicada nas práticas esportivas, mas informal, divide os indivíduos em B1, que são as pessoas totalmente ou praticamente cegas, B2, que é composto por pessoas que ainda possuem um resíduo visual mínimo, e o B3, que são aquelas pessoas com bastante resíduo visual (CONDE, 2002). Vale registrar que todas as pessoas que não possuem nenhum tipo de deficiência visual são denominadas como videntes, ou seja, a deficiência visual pode distinguir dois grupos, os que a possuem, denominados de deficientes visuais, e aqueles que não a possuem, conhecidos como videntes. 2.1.2 REPRESENTATIVIDADE DOS DEFICIENTES VISUAIS Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 1% de toda a população mundial possui algum tipo de deficiência visual, e desse contingente, mais de 90% se encontram nos países em desenvolvimento. Somente a China, a Índia e os países africanos possuem, dois terços dos cegos de todo o mundo. Já nos países desenvolvidos, a título de comparação, a população de deficientes visuais é composta de 5% de crianças e 75% de idosos (FOLHA DE SÁO PAULO, 2001). No Brasil, baseado no censo demográfico de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que existam, aproximadamente, cerca de 27 16,5 milhões de deficientes visuais, ou seja, 9,76% de toda a população brasileira. Desse contingente, 159.823 são cegos (0,96%), 2.398.471 possuem grande dificuldade permanente de enxergar (14,47%) e 14.015.641 têm alguma dificuldade permanente de enxergar (84,56%). Em relação a população brasileira, os percentuais ficariam em 0,09% de cegos, 1,41% de pessoas que possuem grande dificuldade permanente de enxergar e 8,25% de indivíduos que têm alguma dificuldade permanente de enxergar (IBGE, 2006a; REDE SACI, 2004). A distribuição dos deficientes visuais por regiões brasileiras são expressas nas tabelas 2.1 e 2.2. Vale ressaltar que esses números comprovam um aumento expressivo no contingente de pessoas que possuem deficiência visual, uma vez que a estimativa do número de deficientes visuais no início da década de noventa era de 1% do número total da população brasileira, segundo o censo realizado no ano de 1991 (IBGE, 2006b; VASCONCELLOS, 1993; SONZA e SANTAROSA, 2005). Entretanto, é necessária extrema cautela na adoção dessas estimativas, uma vez que devido à diferença considerável entre os dois percentuais, registrando um crescimento de quase 10% em apenas uma década, há, provavelmente, uma diferença de metodologias entre os dois censos no que tange à determinação de deficientes visuais. O censo de 2000 define a variável deficiente visual como toda pessoa incapaz, com alguma ou grande dificuldade permanente de enxergar. Esta definição traz como conseqüência uma generalização da deficiência visual, uma vez que engloba qualquer indivíduo que tenha alguma dificuldade no campo visual, mesmo que seja mínima, como, por exemplo, todas as pessoas que utilizam óculos ou lentes de contato com grau, diferentemente dos conceitos mencionados na seção anterior. Já em relação ao censo de 1991, não há registro da metodologia ou da definição adotada para a identificação de deficientes visuais. Esta informação foi buscada no sítio do IBGE e, posteriormente, foi enviada uma mensagem eletrônica (e-mail) ao mesmo órgão requisitando esta informação, mas também sem sucesso. Contudo, há alguns indícios que nos levam a supor a distinção entre os termos adotados nos dois censos. Um deles é que no censo de 1991 o termo utilizado foi cegueira e no censo de 2000 o termo adotado foi o de deficiente visual. Desta forma, pode-se inferir que no censo de 1991 foram contabilizados apenas os portadores de 28 cegueira total, ou seja, aqueles que não possuem nenhum resquício de visão, e no censo de 2000 contabilizou-se todas as pessoas que possuíam algum tipo de déficit no campo visual. População residente com cegueira por regiões – Censo 1991 Brasil e Região População (Habitante) População (Percentual) Brasil 145.857 0.10 Norte 10.414 0.10 Nordeste 52.689 0.12 Sudeste 59.238 0.09 Sul 16.991 0.08 Centro-Oeste 6.525 0.07 Geográfica Tab 2.1: População residente com cegueira por regiões geográficas, segundo censo 1991. Adaptado de IBGE, 2006b. População residente com deficiência visual por regiões geográficas - Censo 2000 Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul CentroOeste 16.644.842 1.415.370 5.747.461 6.031.472 2.326.259 1.124.279 Tab 2.2: População residente com deficiência visual por regiões geográficas, segundo censo 2000. Adaptado de IBGE, 2006b. 2.1.3 TECNOLOGIAS DE ACESSIBILIDADE PARA OS DEFICIENTES VISUAIS Devido ao número de pessoas que possuem algum tipo de deficiência visual, há uma preocupação no que tange ao desenvolvimento de novas tecnologias que permitam o acesso destas pessoas a ambientes, antes, exclusivos aos videntes. O desenvolvimento de novas tecnologias é, em sua maioria, focado na área da 29 informática, principalmente, no que se trata de ambientes virtuais. Desta forma, será abordado, sucintamente, os principais sistemas utilizados no Brasil voltados para os deficientes visuais, que são, segundo SONZA & SANTAROSA (2005) o Dosvox, o Virtual Vision e o Jaws. O DOSVOX é um sistema para microcomputadores que tem a potencialidade de se comunicar com o usuário através de síntese de voz. Desenvolvido pelo Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 1993, o sistema, elaborado em sua totalidade com tecnologia nacional, é composto por mais de setenta programas, incluindo desde editor de texto até navegadores de internet, e com mais de cinco mil usuários em todo o território nacional. Uma das limitações do sistema Dosvox é no que diz respeito ao acesso à internet, isso devido ao fato da maioria das páginas possuírem gráficos, figuras e fotos, dificultando para o deficiente visual o entendimento do conteúdo da página, uma vez que o sistema identifica o texto e digitaliza o som em português, mas ainda não interpreta as imagens. O Virtual Vision, desenvolvido pela empresa paulista MicroPower, é uma aplicação da tecnologia de síntese de voz, podendo ser adaptado em qualquer programa Windows. Em outras palavras, o virtual vision, segundo SONZA e SANTAROSA (2005) é um “leitor de telas” capaz de informar aos usuários quais controles estão ativos em determinado momento, como botões, lista dentre outros, tendo suas potencialidades e outras características apontadas pelos autores supracitados. O JAWS também é um sistema que tem como objetivo fazer a “leitura da tela”. Apesar de se tratar de um programa estadunidense5, desenvolvido pela empresa Henter-Joyce, o software possui sintetizador de voz em diversos idiomas, incluindo o português. As demais características e peculiaridades do programa também podem ser encontradas na página do fabricante ou em SONZA e SANTAROSA (op cit). Além dos sistemas apresentados, pode-se destacar outras formas de auxílio ao deficiente visual no que tange a acessibilidade de informação, como os programas de ampliação de telas de computador, que permitem um aumento no tamanho da 5 Natural dos Estados Unidos da América 30 fonte das letras, como o zoom text6 e o LentePro (criado pelo projeto Dosvox, sendo sua disponibilização gratuita), os sistemas de translação para impressão em Braille de textos em língua portuguesa, como o Duxburg e o próprio sistema Dosvox, além dos sistemas de transcrição para o Braille, como o Tactus que realiza a tarefa em textos editados no Word para Windows7. Outro software de grande auxílio ao deficiente visual é o Open Book, programa este que lê materiais impressos através de um scanner. Além dos programas, pode-se citar também as máquinas Braille portáteis eletrônicas, como a Mountbatten Brailler, que permitem a conexão aos microcomputadores e assim ser utilizados até nos processos de inclusão e/ou iniciação digital (MENEGUETTE & MÁXIMO, 1997; MEC, 2006b). 2.2 A PERCEPÇÃO A palavra percepção é definida como sendo um ato, efeito ou faculdade de perceber; recepção, pelos centros nervosos, de impressões colhidas pelos sentidos, que pode ser do tipo externo, faculdade de perceber pelos sentidos; interno, a consciência; natural ou primária, a que é dada imediatamente pelos sentidos; ou adquiridas deduções imediatas (MICHAELIS, 2005). SIMÕES e TIEDEMANN (1985 apud MONIZ 1997) entendem percepção como a porta de entrada para toda a informação que a pessoa recebe e processa. MONIZ (1997) define a percepção como sendo um processo de interpretação de dados sensoriais. BALLONE (2006) contribui para a conceituação do termo afirmando que: “a percepção não identifica o mundo exterior como ele é na realidade, e sim como as transformações, efetuadas pelos nossos órgãos dos sentidos nos permitem reconhecê-lo. Assim é que transformamos fótons em imagens, vibrações em sons e ruídos e reações químicas em cheiros e gostos específicos. Na verdade, o universo é incolor, inodoro, insípido e silencioso, excluindo-se a possibilidade que temos de percebê-lo de outra forma”. Contudo, o objetivo deste trabalho não é discutir a conceituação do termo percepção, mas sim demonstrar, dentre os vários tipos de percepção, as duas 6 7 Fabricante Telesensory dos EUA Primeira versão lançada pela Universidade Estadual de Santa Catarina. 31 formas que possuem ligação com o desenvolvimento do trabalho, a visual e a tátil, apresentando as principais diferenças entre elas. Somente desta forma, conhecendo-se o funcionamento das duas formas de percepção e a distinção entre elas será possível o desenvolvimento de uma metodologia que permita a transformação da forma de transmissão da informação gráfica. Em outras palavras, permitir que uma determinada informação gráfica possa ser compreendida não somente pela forma visual, mas também possa ser transmitida e entendida pela forma tátil. Assim, será explicitado, simplificadamente, a anatomia básica dos sentidos da visão e do tato, bem como o seu sistema de funcionamento, com o objetivo de se entender, mesmo que resumidamente, não só as características peculiares de cada sentido, mas também a sua forma de perceber e apreender as informações do mundo externo. Assim, espera-se obter um conhecimento básico que possa calcar o desenvolvimento do presente trabalho. 2.2.1 O SENTIDO DA VISÃO 2.2.1.1 A ANATOMIA DO GLOBO OCULAR Os globos oculares situam-se dentro de cavidades ósseas, que são chamadas de órbitas, formadas de partes de diversos ossos faciais, como o frontal, palatino e o maxilar. Os globos oculares constituem o sistema da visão humana juntamente com outras estruturas associadas que são as pálpebras, os supercílios (sobrancelhas), conjuntiva, músculos e o aparelho lacrimal. Dentre os principais elementos constituintes do sistema, apresentados na figura 2.1, segundo VILELA (2005a) e TRAVI (2006), estão: a) Esclerótica: é a túnica resistente de tecido fibroso e elástico que envolve externamente o olho. A córnea é a parte anterior da esclerótica e atua como uma lente convergente. 32 b) Úvea: constitui-se de três elementos, a coróide, o corpo ciliar e a íris. A coróide é formada por pigmentos que absorvem a luz que chega até a retina. Já a íris é uma estrutura muscular que possui um orifício central, a pupila, que tem como uma de suas principais funções o poder de determinar a quantidade de luz que penetra no olho, de acordo com a iluminação do ambiente. Fig 2.1: Anatomia do olho humano. Extraído de curlygirl.naturlink.pt/ sentidos.htm c) Retina: Possui dois tipos de células fotossensíveis, os cones e os bastonetes. Os cones são células capazes de distinguir cores. Os bastonetes são mais sensíveis à luz que os cones. Em situações de pouca luminosidade, a visão passa a depender exclusivamente dos bastonetes (visão noturna ou visão de penumbra). A fóvea (uma das regiões da retina) contém apenas cones e permite que a luz atinja os fotorreceptores sem passar pelas demais camadas da retina, maximizando a acuidade visual. Em suma, a retina é composta de células receptoras e fibras nervosas que tem como função transformar a imagem em sinais elétricos. Desta forma, 33 a retina é o destino final da imagem que agora se transforma em impulsos que serão transmitidos ao cérebro. d) Córnea: porção transparente da esclerótica. Constitui a primeira interface que a imagem deve atravessar para poder chegar ao seu destino final. e) Cristalino: lente biconvexa que orienta a passagem da luz até a retina. O cristalino fica mais espesso para a visão de objetos próximos e, mais delgado para a visão de objetos mais distantes, permitindo que nossos olhos ajustem o foco para diferentes distâncias visuais. A essa propriedade do cristalino dá-se o nome de acomodação visual. 2.2.1.2 O PROCESSO DE VISUALIZAÇÃO A visão é a principal forma de provimento de conhecimentos e informações. Estima-se que metade do potencial de processamento cerebral humano seja utilizada para lidar com informações visuais. Segundo LOUZADA (2004) a visão nos proporciona mais de 80% das informações que nos chegam, sendo por isso o principal sentido do ser humano. A visualização é algo que pode ser considerado inerente ao ser humano, seja por ser algo que nos acompanha desde a nossa inconsciência, seja por ser algo tão espontâneo, por ser um sentido que nós utilizamos involuntariamente. Entretanto, a visão corresponde a um processo complexo, que necessita do funcionamento de inúmeros órgãos e elementos, que vai desde a simples captação da luz até o processamento pelo cérebro. Segundo VILELA (2005b), o processo de visualização inicia-se com a captação dos raios luminosos, que ao penetrarem na córnea e no humor aquoso, passando pela pupila, chegam ao cristalino, levando a imagem mais para trás ou para frente, permitindo que ela se projete sobre a retina. Fazendo uma analogia com a máquina fotográfica, o meio transparente é a lente e a superfície sensível à luz, o filme. No olho, a luz atravessa a córnea, o humor aquoso, o cristalino e o humor vítreo e se dirige para a retina, que funciona como o 34 filme fotográfico; a imagem formada na retina também é invertida, como na máquina fotográfica, conforme ilustra a figura 2.2 (VILELA, 2005b). Fig 2.2: Processo de visualização de um determinado objeto no globo ocular. Fonte: www.medonline.com.br/med_ed/med6/download1.htm, com adaptações O nervo óptico conduz os impulsos nervosos para o centro da visão, no cérebro, que o interpreta e nos permite ver os objetos nas posições em que realmente se encontram. Outro ponto importante a ser considerado é a questão da acuidade visual, que é definida, segundo VILELA (2005a), como sendo a capacidade do olho de distinguir dois pontos próximos, a qual dependerá de outros fatores tais quais o espaçamento dos fotorreceptores na retina e da precisão da refração do olho. VASCONCELLOS (1993), baseada em HYVARINEN (s/d), afirma que ao nascermos, todo o ser humano possui uma baixa visão, sendo a acuidade visual de um recém-nascido de 0,03 ou 6/200. Essa característica vai se modificando a partir das primeiras semanas de vida, quando há o desenvolvimento dos contatos celulares da retina, das vias ópticas e do córtex visual. Outra importante característica da visão humana é o fato que apesar de dois globos oculares a visão é de apenas uma imagem, pois a captação de uma determinada imagem pelos dois olhos é fundida em uma única imagem, processo este denominado de estereoscopia, que permite que possamos ter uma visualização tridimensional, e ter a sensação de profundidade. 35 Fig 2.3: Estrutura de um globo ocular e as regiões do cérebro que processam as informações provenientes destes órgãos. Fonte: www.medonline.com.br/med_ed/med6/download1.htm, com adaptações A informação visual da porção direita de ambas as retinas é transferida para a porção direita do cérebro, e a informação visual da porção esquerda de ambas as retinas é encaminhada para a porção esquerda do cérebro, possibilitando assim que a informação visual de ambos os olhos chegue às células corticais que combinam a dupla informação em uma única imagem, como ilustra a figura 2.3 (HYVARINEN, s/d apud VASCONCELLOS, 1993). 36 2.2.2 O SENTIDO DO TATO 2.2.2.1 A ANATOMIA DA PELE Como o maior órgão do corpo humano, a pele tem como principal objetivo a proteção do corpo através do seu revestimento, que funciona como mecanismo contra a perda excessiva de água, o atrito e os raios ultra-violetas. Constitui-se de três camadas, entretanto apenas as duas mais importantes para a percepção tátil serão explicitadas, sendo elas a epiderme e a derme. A figura 2.4 apresenta as estruturas da pele juntamente com alguns elementos constituintes do sistema tátil. Fig 2.4: Estrutura da pele com as suas três camadas. Fonte: http://www.saudeparavoce.com.br/pintanapele/histoepiderme.htm A epiderme é a camada mais superficial da pele, a que está sempre em contato com o exterior do corpo, sendo esta a parte visível. É formada por um revestimento de camadas de células sobrepostas, sendo a divisão destas camadas com baixa nitidez pelo processo contínuo de renovação da pele, conforme apresenta a figura 2.5 (ESTAÇÃO DIGITAL MÉDICA, 2005). 37 Fig 2.5: Epiderme com suas sub-divisões. Fonte: http://www.saudeparavoce.com.br/pintanapele/histoderme.htm Já a derme é definida como sendo a camada intermediária da pele, sendo um tecido conjuntivo sobre o qual se apóia a epiderme, conforme apresenta a figura 2.6. Pêlos, glândulas (sebáceas e sudoríparas) e unhas são as estruturas anexas da pele. São derivadas da epiderme, mas acham-se imersas na derme. Além disto há diversos tipos de receptores nervosos, cada qual responsável por um tipo de sensação, o que faz da pele um órgão sensorial (ESTAÇÃO DIGITAL MÉDICA, op cit.). Fig 2.6: Derme com suas sub-divisões. Fonte: http://www.saudeparavoce.com.br/pintanapele/histoderme.htm 38 2.2.2.2 O SISTEMA TÁTIL Toda a superfície cutânea possui inúmeras terminações nervosas, que são capazes de captar estímulos de naturezas térmicas, mecânicas ou de dor. Segundo VILELA (2005a), especificamente na área da pele onde encontramos os pelos há dois tipos de terminações nervosas, uma específica nos folículos capilares que captam as forças mecânicas aplicadas contra o pêlo, e a outra denominada de receptores de Ruffini, que são responsáveis pela captação térmica de calor. Já nas regiões da pele que não há pelos, mas que são cobertos por ele existem outros três tipos de receptores que são os corpúsculos de Paccini, que captam estímulos vibráteis e táteis (além de serem capazes de captar aplicação de pressão, sendo enviada aos centros nervosos correspondentes); discos de Merkel, responsável pela sensibilidade tátil e de pressão; terminações nervosas livres, sensíveis aos estímulos mecânicos, térmicos e especialmente aos dolorosos. Há ainda outros dois receptores na pele sem pêlo que são os corpúsculos de Meissner, que se localizam nas saliências da pele sem pêlos, como nas partes mais altas das impressões digitais, e possuem sensibilidade tátil; e bulbos terminais de Krause, que são receptores térmicos de calor, localizadas nas áreas limítrofes da pele com as membranas mucosas, como por exemplo, ao redor dos lábios e dos genitais. Todos esses receptores ao serem estimulados, emitem informações ao cérebro, através de células nervosas, que são processados e produzem a sensação de calor, frio, pressão, áspero, liso, dentre outros. 2.3 A PERCEPÇÃO TÁTIL O desenvolvimento de uma metodologia que tem como intuito adaptação da transmissão de informação da forma visual para forma tátil necessita, primeiramente, 39 conceber que se tratam de dois sistemas completamente distintos, cada uma com suas particularidades, vantagens e limitações. SMITH (2001) afirma que um indivíduo completamente cego, quando bem treinado, locomove-se facilmente sem precisar de auxílio em um ambiente conhecido. Os deficientes visuais, mesmo com a ausência do canal visual, apreendem o conhecimento relativo ao ambiente que os cercam através de outros mecanismos sensoriais. O conhecimento do ambiente é feito, principalmente, através do tato, que é utilizado para identificar as propriedades que sejam passíveis de serem percebidas, como a forma, tamanho, textura, posição, disposição espacial, dentre outras (CARNEIRO, 2003). Segundo OAKLEY et al. (2000 apud CARNEIRO, 2003), o ser humano, no sentido tátil, possui dois componentes independentes: cutâneo e cinético. O primeiro está ligado aos sensores localizados na superfície da pele e são responsáveis por sensações como pressão, temperatura, vibração e dor. Já o segundo, está ligado aos sensores encontrados nos músculos, tendões e juntas e por isso são responsáveis pelas sensações de movimento e força. Desta forma, o indivíduo tem a possibilidade de identificar em um objeto qualquer as propriedades como textura, através da análise da informação cutânea, e peso e forma, através da análise da informação cinética. A figura 2.7 apresenta os sensores hápticos do corpo humano que são utilizados na percepção tátil. KLATZKY et al (1993b apud CARNEIRO, 2003), realizou uma experimentação que consistia em mostrar para uma pessoa vidente um par de objetos e posteriormente questioná-la qual dos dois objetos possui maior peso e a maior dimensão, além de outros questionamentos. Percebeu-se que para avaliação das propriedades geométricas, tais como forma, área e volume, os indivíduos necessitavam apenas de aproximar de si os objetos para a análise. Já na avaliação das propriedades materiais, como a textura, rigidez e peso e outros, era necessária a utilização efetiva do sentido do tato em detrimento da visão. Desta forma, foi possível inferir que há a tendência de se utilizar o sentido do tato quando há a necessidade de se perceber propriedades materiais, mesmo que exista a disponibilização do sentido da visão. 40 Fig 2.7: Sensores hápticos do corpo humano, utilizados na percepção tátil. Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, 2005. O mesmo autor (KLATZKY et al 1985 apud CARNEIRO, 2003), a partir de outro experimento realizado, afirmava que o sistema háptico é bastante eficiente no processo de identificação de objetos. Seu experimento constituiu-se em apresentar objetos de simples identificação visual para que usuários videntes8 pudessem reconhecê-los apenas utilizando o tato. Os resultados apresentados indicam que 96% das respostas foram corretas, sendo que 68% delas foram emitidas em menos de três segundos e apenas 6% foram emitidas após 5 segundos de teste. Logo, este trabalho demonstra a eficiência e agilidade do sentido do tato na identificação de 8 Pessoas que não possuem nenhum tipo de deficiência visual. 41 objetos familiares. Contudo, ressalta o autor dos experimentos, que não necessariamente será obtida a mesma eficiência em outras situações. LEDERMAN e CAMPBELL (1982) desenvolveram experimentos com o intuito de medir a utilidade de gráficos de linha em alto relevo para a representação de dados científicos bidimensionais. O trabalho tinha como característica a intenção de investigar a possibilidade do tato humano em inferir propriedades estruturais de objetos, tais como curvatura, inclinação, posição etc. Os resultados do trabalho constataram que as representações em alto relevo são úteis aos deficientes visuais, tendo sido possível, com razoável precisão, a percepção das informações locais sobre a configuração de curvas, tais como inclinação, convergência, paralelismo e outras. Vale ressaltar, ainda sobre o trabalho anterior, que apesar dos resultados demonstrarem a eficácia das representações em alto relevo, não se pode afirmar que os mesmos são suficientes para a construção de um modelo mental da estrutura espacial dos objetos como um todo. Dentre as diversas diferenciações entre a forma visual e a tátil, VASCONCELLOS (1993) destaca como uma das principais distinções entre as duas formas de percepção a capacidade de síntese. A visão tem a capacidade de captar a informação do todo instantaneamente, para depois iniciar uma análise das partes ou detalhes desse todo. Ao contrário ocorre com a forma tátil, que permite a percepção da parte, e somente depois de se processar as informações de todas as partes é possível analisar o todo. Essa característica diferenciadora entre as duas formas será determinante na aplicação de qualquer metodologia de transmissão de informação que se baseie em uma das duas formas ou nas duas simultaneamente. Outra importante característica, também apontada por VASCONCELLOS (op.cit) que necessita ser levada em consideração é na resolução da percepção. A visão permite a percepção de uma quantidade de detalhes muito maior que a forma tátil. Logo, através do campo visual há a possibilidade de se trabalhar tanto com um número maior de detalhes quanto um maior número de informações em um único plano, ao mesmo tempo em que no campo tátil surge a necessidade de uma maior generalização e simplificação da informação, uma vez que a percepção feita desta forma não permite o processamento de um número elevado de detalhes e informações. 42 Outras comparações entre as formas de percepção são mensuradas por BARROS (2006) que apresenta dados, em tabelas, calcados em estudos sobre a capacidade de captação e retenção de informações pelos seres humanos através de seus sentidos. Este estudo tem como objetivo a minimização de custos de treinamento de pessoal em companhias estadunidense que totaliza algo em torno de cinqüenta bilhões de dólares. SENTIDO PORCENTAGEM Paladar 1% Tato 5% Olfato 3,5% Audição 11% Visão 83% Tab 2.3: Estímulos recebidos em condições normais pelos seres humanos (BARROS, 2006). FORMA DE CAPACIDADE DE APRESENTAÇÃO RETENÇÃO SOMENTE ORAL 70% SOMENTE VISUAL 72% VISUAL E ORAL 85% Tab 2.4: Capacidade de retenção de dados retidos após três horas (BARROS, 2006). FORMA DE CAPACIDADE DE APRESENTAÇÃO RETENÇÃO SOMENTE ORAL 70% SOMENTE VISUAL 72% VISUAL E ORAL 85% Tab 2.5: Capacidade de retenção de dados retidos após três dias (BARROS, 2006). Além da mensuração dos estímulos recebidos em condições normais que aponta, em BARROS (op cit.), uma predominância do canal visual, vale ressaltar 43 também a avaliação da capacidade de retenção em função do tempo, onde a visão se destaca com um dos principais sentidos. Em suma, há que se respeitar às limitações de cada forma de percepção toda vez em que se buscar a transformação de uma dada forma de transmissão para uma outra específica, pois caso contrário, o processo de comunicação estará comprometido, uma vez que o receptor não terá condições de receber, ler e/ou interpretar a informação veiculada. 44 3 CARTOGRAFIA TÁTIL 3.1 A IMPORTÃNCIA DOS MAPAS A necessidade de se conhecer e registrar o espaço é algo que acompanha o homem desde os primórdios da humanidade. Dentre as pinturas encontradas nas paredes da caverna de Lascaux, no sudoeste da França, datadas da Era Glacial, há retratações diagramáticas que podem ser interpretadas como representações da localização de armadilhas e laços para a caça do bisão, conforme afirma LOCH e ALMEIDA (2006). Segundo ALBUQUERQUE (2006), a Cartografia como atividade já aparece nas descobertas pré-históricas, antes mesmo da invenção da escrita. A partir das pinturas rupestres, registros nas paredes das cavernas em geral, estas necessidades vêm se intensificando a medida em que novas áreas são descobertas, conquistadas e exploradas. Ao mesmo tempo, novas técnicas e métodos vão surgindo, instrumentos e ferramentas são desenvolvidos para que este registro do espaço seja realizado o mais próximo da realidade e/ou buscando transmitir de forma cada vez mais clara e direta a informação representada ao usuário. Constitui-se então um dos principais objetivos da ciência cartográfica, a representação do espaço, da superfície terrestre. ALBUQUERQUE (2006), afirma que a Cartografia foi a principal ferramenta usada pela humanidade para ampliar os espaços territoriais e organizar sua ocupação. A Cartografia, então, busca saciar esta necessidade do homem, de conhecer o espaço através das representações, por meio dos seus documentos. Dentre estes documentos podemos destacar o mapa, que a cada dia vem sendo cada vez mais disseminado e popularizado por diversos setores da sociedade, que o utilizam em um formato mais ilustrativo, direto e didático de transmitir as informações, sendo trabalhado desde as escolas primárias até nos meios de comunicação. O mapa pode ser entendido como uma representação gráfica de parte ou de toda a superfície terrestre e dos fenômenos que ocorrem sobre ela, utilizando 45 convenções cartográficas (ou elementos de composição cartográficos), ou seja, escala, orientação, coordenadas, legenda, dentre outros. São estas convenções que diferem o mapa de outros tipos de representações como o cartograma, croqui, desenho ou esboço. Entretanto não há um consenso em relação a uma definição única, tendo assim a existência de uma gama de conceitos sobre mapa, dentre os quais podemos citar ROSSATO (2006) que apresenta uma proposta de conceituação e hierarquização dos termos referentes aos documentos cartográficos. DENT (1999) define mapa como representações gráficas de ambientes físicos e culturais; TYNER (1992) define mapa como meios de comunicação e organização dos pensamentos que são criados para transmitir alguns tipos de informações espaciais para o usuário, além de permitir a sistematização do pensamento espacial e análises espaciais; e uma das mais completas, do IBGE, que tem como definição: “A representação no plano, normalmente em escala pequena, dos aspectos geográficos, naturais, culturais e artificiais de toda a superfície (Planisfério ou Mapa Mundi), de uma parte (Mapas dos Continentes) ou de uma superfície definida por uma dada divisão político-administrativa (Mapa do Brasil, dos Estados, dos Municípios) ou por uma dada divisão operacional ou setorial (bacias hidrográficas, áreas de proteção ambiental, setores censitários)” (IBGE, 2006a). Vale destacar que, atualmente, há diferentes formas de se perceber um mapa, devido aos demais tipos de apresentação do mesmo, como os mapas digitais, táteis, sonoros, dentre outros. Desta forma, as maneiras de percepção de um mapa não devem alterar seu conceito, ou seja, o mapa tem que ter sua conceituação baseada não na forma de percepção e sim no objeto em si, no que ele representa. Em suma, quando se define uma representação cartográfica como um mapa, esta definição deverá ser mantida independentemente do meio utilizado pelo usuário para ler e interpretar as informações cartográficas (visual, tátil, sonoro, etc.). Apesar de um conjunto extenso e heterogêneo de definições sobre o mapa e suas diferenciações dos demais tipos de representações cartográficas, como o cartograma, carta e etc., o termo mapa será utilizado neste trabalho para englobar todos estes tipos de documentos cartográficos, apesar de se entender que há características que os distinguem. Logo, para o conceito mapa neste trabalho entende-se qualquer tipo de representação cartográfica. 46 Esta adoção do conceito mapa para referenciar todo o tipo de representações visa não somente o melhor entendimento do trabalho, cabendo ao leitor a escolha da conceituação que melhor o convém, apesar do autor entender que há distinções que caracterizam o mapa e o diferencia dos demais documentos cartográficos, conforme exposto anteriormente. Mas também a preocupação de não se esquivar do foco principal do mesmo, uma vez que, apesar de certas definições diferenciarem os tipos de documentos cartográficos, qualquer representação da superfície terrestre, bem como seus fenômenos, é denominado como mapa. Isso pode ser ilustrado com alguns exemplos de denominações utilizados cotidianamente, como: mapa de clima, mapa para se chegar a casa de alguém, mapa do shopping-center, mapa das seções de uma loja, mapa de riscos ambientais, e outros, ilustrados na figura 3.1. A utilização dos mapas e de outros documentos cartográficos semelhantes, como os cartogramas, tem sido, principalmente a partir da última década, ampliada e intensificada. Na verdade, o momento histórico tem contribuído para ressaltar o papel dos mapas, devido aos acontecimentos e transformações que vêm ocorrendo no espaço geográfico e nos campos político, social e cultural. Isso se deve, principalmente, à possibilidade de se registrar em tempo real a ocorrência dos fatos e fenômenos, mas também à viabilidade de se disponibilizar a notícia para um maior número de pessoas ao mesmo tempo, seja devido ao desenvolvimento das formas de comunicação de massa, seja devido a possibilidade de acesso da informação a qualquer lugar do planeta. Indícios apontam uma maior presença da Cartografia no cotidiano, que são percebidos, principalmente, na mídia, tanto escrita quanto a transmitida. VASCONCELLOS (1993) afirma que a preocupação com a representação gráfica provoca uma valorização dos recursos visuais, e cita os jornais paulistas como prova desta preocupação. Na verdade, esta valorização e a maior preocupação na elaboração dos mapas veiculados na imprensa, que também são denominados como infográficos, é um fato que vem ocorrendo de uma forma geral, dos jornais e revistas aos telejornais. 47 A B C Fig 3.1: Exemplos de representações classificadas como mapas extraídas de anúncios publicitários. A) mapa de localização de um sítio; B) mapa de localização de lojas; C) mapa de riscos ambientais. 48 Esta valorização vem acompanhada, também, de uma preocupação em localizar a área representada através de referências espaciais, como continentes, países, estados, municípios, dentre outros. Esse fato pode ser ilustrado nos jornais impressos, que não se limitam somente aos da cidade de São Paulo, como os mapas (ou cartogramas) do tempo, diários, que passaram a serem compostos com cores, a ocupar um maior espaço no jornal e, assim, a adotar novas simbologias com o intuito de tornar a informação mais legível e direta ao leitor, conforme exemplifica a figura 3.2. Fig 3.2: Mapa do tempo, com a previsão do tempo para o estado do Rio de Janeiro, ocupando meia página com mais outros dois mapas. Fonte: O Globo (2006). Outro exemplo são os telejornais, que utilizam mapas, principalmente no que se refere às notícias internacionais, com o objetivo de informar ao telespectador a localização da ocorrência do fato. Esses mapas, geralmente, apresentam escalas distintas, objetivando referenciar desde a localização do continente até o estado ou região. Da mesma forma ocorre na exposição da previsão do tempo, onde o apresentador informa o tempo previsto através de mapas ou imagens de satélites com animações das movimentações das massas de ar. 49 Além da mídia, as representações cartográficas podem ser encontradas nos parques ecológicos através dos mapas turísticos, nas estações ferroviárias e metroviárias com os mapas das estações e suas conexões, os totens com a localização das lojas nos shopping-centers, dentre outros. Algumas destas representações estão exemplificadas nas figuras 3.3 e 3.4. Fig 3.3: Mapa turístico de Ilha Grande (RJ), com as principais praias e as áreas de proteção ambiental da ilha. Fonte: www.ilhagrande.org A B Fig 3.4: Mapas dos sistemas de transporte coletivo ferroviário (A) e metroviário (B) da cidade do Rio de Janeiro, encontrados em cada uma das estações. Fonte: Supervia e MetrôRio. 50 Esta “redescoberta” do mapa como um instrumento de grande potencial também traz como conseqüência à inserção de novos profissionais no processo de produção de documentos cartográficos, o que era, em geral, restrito, principalmente, aos cartógrafos. Na verdade, o que se percebe hoje é uma abertura no processo de construção de mapas, uma vez que a construção desse tipo de documento cartográfico era realizada, em geral, apenas por cartógrafos e alguns profissionais de áreas afins, cabendo aos demais profissionais o papel de usuários. Contudo, o desenvolvimento e a popularização não só de programas, mas também dos próprios computadores pessoais possibilitaram que antigos usuários pudessem construir seus próprios mapas, tornando-se produtores de material cartográfico. De certa forma, este maior acesso torna-se importante por proporcionar uma maior democratização e popularização da Cartografia. Contudo, ao mesmo tempo permite que pessoas não especializadas, sem nenhuma base técnica e conhecimento cartográfico, possam produzir documentos cartográficos com qualidade duvidosa. Concomitantemente, são desenvolvidos e aperfeiçoados programas que possibilitam a produção de mapas, em geral temáticos, pois permitem a manipulação de dados e informações espaciais e a representação destes em uma base cartográfica, como os sistemas de informações cartográficas (SIC), os sistemas de informações geográficas (SIG), os programas de tipo CAD (AutoCad), dentre outros. Vale lembrar que, normalmente, esses programas desenvolvidos e aperfeiçoados, de uma forma geral, têm como uma de suas características a simplificação e facilitação dos processos e mecanismos, ou seja, a tendência das novas versões é serem mais acessíveis a todo tipo de usuário, fato este que também contribui para que pessoas não especializadas e sem o conhecimento necessário possam gerar documentos cartográficos. Outro ponto importante a ser destacado é a questão legal, uma vez que há uma legislação vigente que regulamenta as atividades dos profissionais relacionados à Cartografia, atribuindo atividades específicas e responsabilidades exclusivas a este segmento (CONFEA, 1973). 51 Destaca-se que não cabe ao presente trabalho discutir e expor as conseqüências desta abertura do processo de construção de documentos cartográficos, muito menos qualificar como benéfico ou maléfico o fato exposto. Contudo, trata-se de um fato relevante no que tange ao uso dos mapas e, desta forma, importante o seu registro, cabendo, assim, trabalhos futuros para maiores discussões sobre o tema. Nota-se assim que o mapa, atualmente, tem extrema importância, pois se configura como uma forma eficiente de transmissão de informações. Entretanto, a evolução do processo de elaboração dos mapas se baseia, quase que exclusivamente, na visão para a leitura e interpretação visual do mesmo, como foi visto no primeiro capítulo. Isto traz como principal conseqüência a exclusão de uma parte considerável da sociedade, os deficientes visuais, sendo que estas pessoas são as que possuem uma maior necessidade de instrumentos de orientação e localização, devido à ausência total ou parcial do principal meio de percepção e orientação espacial que é o canal visual. Outra conseqüência seria uma limitação da Cartografia no processo de representação do espaço geográfico e seus fenômenos. Isto se deve porque a inclusão de outros sentidos além da visão ampliaria as formas de representação utilizadas pela Cartografia, permitindo assim não só a possibilidade de pessoas portadoras de deficiência terem acesso aos documentos cartográficos, mas também a elaboração e adoção de novas formas de leitura e interpretação de mapas, o que tornaria viável até um maior número de informações a serem veiculadas em um único documento cartográfico apenas, sem trazer problemas para o entendimento da informação codificada. Assim, a Cartografia Tátil tem a sua importância constituída, por desenvolver meios de representação na forma tátil não só visando o acesso aos portadores de deficiência visual, como a elaboração de novas formas de codificação que possam ser adicionadas às tradicionais e, com isso, ampliar os meios de representação oferecendo ao profissional responsável pela produção dos mapas uma maior gama de possibilidades para que o processo de comunicação cartográfica seja realizado sem interferências e o entendimento se torne mais simplificado e direto ao usuário. 52 3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA A Cartografia, como ciência, possui diversas definições, das restritas às abrangentes, das simplistas às complexas, que tentam defini-la e caracterizá-la. Consensualmente, há apenas a origem da palavra, derivada do grego “graphein”, que significa escrita ou descrita, e do latim “charta”, referente ao significado de papel. O surgimento do termo se deu através do historiador português Visconde de Santarém, e foi utilizada pela primeira vez em uma carta, datada de 8 de dezembro de 1839, escrita em Paris e encaminhada ao historiador brasileiro Adolfo Varnhagem (OLIVEIRA, 1980 apud MENEZES, 2000). O conjunto heterogêneo de definições existente para o termo Cartografia é composto por significados de autores de diferentes áreas até a determinação de órgãos e instituições, que direta ou indiretamente estão ligados a esta ciência. Assim, podemos citar algumas destas definições em tempos cronológicos distintos, o que irá possibilitar não só comparações entre os significados, mas também a evolução e as modificações do termo referido ao longo do tempo. Vale ressaltar que ROSSATO (2006) apresenta um levantamento e analisa a evolução da conceituação do termo cronologicamente. “Cartografia é a ciência que trata da elaboração de todos os tipos de cartas, incluindo todas as fases do trabalho, dos primeiros levantamentos até a sua impressão” (ONU, 1949 apud MENEZES, 1999). “Conjunto de estudos e operações científicas, estatísticas e técnicas, realizadas a partir dos estudos de observações diretas, ou de exploração de documentos, visando a elaboração de cartas, plantas e outros meios de expressão (cartogramas, gráficos e diagramas), bem como a sua utilização” (ICA, 1966 apud MENEZES, 1999; ICA, 1966 apud IBGE, 2006a). “Ciência que trata da organização, apresentação, comunicação e utilização da geoinformação, sob uma forma que pode ser visual, numérica ou tátil, incluindo todos os processos de elaboração, após a preparação dos dados, bem como o estudo e utilização dos mapas ou meios de representação em todas as suas formas” (ICA 1991 apud MENEZES, 1999). Dentre as definições apresentadas, pode-se perceber que ao definir a Cartografia não há uma preocupação de se contemplar as formas do produto final, 53 seja ela um mapa, uma carta, uma planta ou outro material cartográfico. Essa abordagem só vem ser introduzida nas definições, principalmente, a partir da década de 90, o que torna possível inferir que surge, de uma forma mais abrangente, uma preocupação no que diz respeito às outras formas de percepção de um material cartográfico, ou seja, percebe-se que há a necessidade de se desenvolver novas formas de comunicação na Cartografia, como a auditiva, a olfativa e a tátil, e não mais se basear predominantemente na visão para a construção de documentos cartográficos. Dentro desse contexto, é dado um forte impulso ao desenvolvimento da Cartografia Tátil, onde se dissemina uma maior preocupação na elaboração de material cartográfico em que o processo de comunicação cartográfica baseia-se na percepção tátil e não na visual. Essa nova abordagem é percebida nas duas últimas décadas, principalmente nos anos noventa. VASCONCELLOS (1993), em sua análise sintetizada das principais fases da história da Cartografia, aponta três épocas divididas por dois períodos de transição: - década de 20 a 40: advento do avião e da fotografia aérea: cartas topográficas - década de 50: transição (primeiros satélites e computadores) - década de 60 e 70: advento dos satélites e dos computadores, estudos sobre a comunicação cartográfica. - década de 80: transição (aplicação das novas tecnologias: sistemas de informação geográfica e outros). - década de 90: grandes transformações nas bases teóricas e técnicas e ampliação da Cartografia, novas abordagens e novas perspectivas. No final da década de 80, especificamente no ano de 1986, surge na Associação Cartográfica Internacional, a ICA (International Cartographic Association), a comissão de mapas e gráficos para pessoas cegas ou de visões parciais, com os objetivos de troca e disseminação de informações; produção de tecnologias incluindo desenvolvimento e apropriação destas e recursos; prover orientação e fomento a prática adequada de utilização, produção e design; além de desenvolver comunicação e cooperação com organizações que envolvem Cartografia, comunicação, educação e assistência a pessoas portadoras de deficiências visuais (cegueira e visão parcial). 54 O surgimento desta comissão consolida assim uma maior preocupação em se desenvolver esta área da ciência cartográfica, proporcionar novas tecnologias para sua aplicação e atender, em princípio, uma parcela da população excluída da percepção do espaço por meio do material cartográfico tradicional. Na verdade, apesar de WIEDEL e GROVES (1969) afirmar que há um crescimento no número de pessoas dedicadas ao processo de elaboração de mapas táteis, GARDINER e PERKINS (1996) destacam a escassez de literatura especializada sobre o tema, bem como a inexperiência dos próprios usuários, além de ressaltar a inexistência de literatura que examina o envolvimento dos deficientes visuais no processo de concepção e elaboração dos mapas táteis, algo de grande valia para a eficácia dos documentos cartográficos deste tipo e considerado como o primeiro passo na produção do design dos mapas táteis (PERKINS e GARDINER, 1997). No Brasil não se tem um marco desta preocupação da questão tátil na Cartografia. A realidade da Cartografia Tátil no país se constitui de alguns núcleos que desenvolvem pesquisas nesta área e de centros dedicados à educação de deficientes visuais. Dentre as instituições que desenvolvem algum tipo de trabalho na Cartografia Tátil podemos destacar a EEPG Profa. Maria Luiza Formosinho Ribeiro, de Presidente Prudente, São Paulo, que durante seus 18 anos vem oferecendo atividades de alfabetização cartográfica e disponibilizando materiais didáticos junto à sala de recursos especiais (MENEGUETTE e EUGÊNIO, 1998), com o apoio do Departamento de Cartografia da UNESP de Presidente Prudente, São Paulo, que realizam projetos no bojo da linha de pesquisa “Educação Cartográfica”, como o projeto “A Cartografia Tátil e o ensino de Geografia” (MENEGUETTE e EUGENIO, 1998). Outro exemplo é o Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP de Rio Claro, São Paulo, que vem desenvolvendo um projeto de pesquisa denominado “Cartografia Tátil: Elaboração de Material Didático de Geografia para Portadores de Deficiência Visual”, com o objetivo de elaborar e divulgar materiais didáticos que facilitem a utilização da linguagem tátil no tratamento e comunicação da informação geográfica (VENTORINI e FREITAS, 2004). 55 No Rio de Janeiro, o Instituto Benjamin Constant (IBC) destaca-se por ser uma referência nacional para questões de deficiência visual. Dentre seus objetivos estão a manutenção da escola voltada para o ensino dos deficientes, a capacitação de profissionais para o trabalho com deficientes, assessoria a instituições de ensino e consultas oftalmológicas. Além disso, o instituto, criado em 1854 pelo então imperador Dom Pedro II, é responsável pela produção e distribuição de materiais didáticos para todo o território nacional, dentre eles os mapas táteis, e também de desenvolver técnicas de produção e novos materiais que auxiliem no processo de educação e apreensão do conhecimento pelo deficiente visual, o que, normalmente, é realizado pela Divisão de Pesquisa e Produção de Material Especializado (DPME). O desenvolvimento de pesquisas científicas, em âmbito nacional, sobre este referido tema, ainda se apresenta de forma iniciante, com ocorrências pontuais, não recebendo a devida atenção que o tema exige. Além disso, a produção de mapas se caracteriza pela forma artesanal e de baixa produtividade, pela falta de desenvolvimento de técnicas e métodos que busquem a automatização e produção em escala. O principal encontro científico nacional sobre Cartografia e áreas afins, o Congresso Brasileiro de Cartografia, em sua vigésima primeira edição, realizada em 2003, registrou apenas um único trabalho sobre Cartografia Tátil. Já a última edição, a vigésima segunda, ocorrida no ano de 2005, também teve em seus anais apenas um trabalho sobre o mesmo tema (SBC, 2005). Já em âmbito internacional, o Congresso Internacional de Cartografia, realizado pela ICA, apresenta um crescimento no número de trabalhos publicados. Em 2003, houveram apenas quatro trabalhos apresentados, em contraposição com os dezoito trabalhos registrados nos anais da edição do ano de 2005 (ICA, 2003; ICA, 2005). Contudo, o desenvolvimento de produções científicas, tais como monografias, dissertações e teses, juntamente com o desenvolvimento de tecnologia nacional que auxiliem a educação dos deficientes visuais, como o projeto DOSVOX do Núcleo de Computação Eletrônica (NCE-UFRJ), que será apresentado posteriormente, mostram que já há uma maior preocupação em relação ao assunto, e que a perspectiva é de crescimento e, conseqüentemente, de uma melhora da qualidade de vida destas pessoas, além de uma nova vertente a ser explorada pela Cartografia. 56 3.3 CARTOGRAFIA TÁTIL: UMA DEFINIÇÃO Pode-se, então, determinar que a Cartografia Tátil é uma área de conhecimento dentro da ciência cartográfica, possuindo o mesmo objetivo da Cartografia que é o de transmitir as informações geográficas, mas com necessidades e metodologias peculiares que as distingue das demais áreas. Áreas estas como a Cartografia Temática, Cartografia na Internet ou webcartografia (webcartography), Cartografia para crianças, dentre outras que possuem comissões específicas na Associação de Cartografia Internacional (ICA) para o seu desenvolvimento, disseminação e aplicação. Como definição, a Cartografia Tátil pode ser entendida como uma área de conhecimento dentro da Cartografia que possui como objetivo a representação de informações geográficas através de símbolos cartográficos, sendo estes construídos, percebidos e identificados por meio da forma tátil, e não pela forma visual como ocorre no processo de elaboração destes símbolos na Cartografia convencional. Assim, a Cartografia Tátil tem como particularidade a necessidade de utilizar e aplicar o sentido tátil como meio de transmissão das informações geográficas nos documentos cartográficos. Em outras palavras, o processo de comunicação cartográfica ocorre utilizando o tato como forma ou meio que possibilita a leitura, decodificação e interpretação das informações que estão codificadas, na forma de símbolos táteis, nos mapas, cartas, plantas e outros documentos da mesma espécie. Esta forma de transmitir as informações baseando-se pelo tato, traz consigo a necessidade de se buscar novas formas de aplicação da representação cartográfica, novas metodologias de elaboração de documentos cartográficos, novos processos de construção de símbolos e uma nova maneira de pensar a ciência cartográfica com o intuito de permitir que parcelas da sociedade, antes excluídas, possam romper barreiras e desfrutar dos benefícios que a Cartografia pode oferecer. Logo, essa nova mentalidade que vem sendo construída possibilita que a Cartografia Tátil possa constituir-se como uma área dentro da Cartografia, com metodologias e necessidades próprias. 57 Esse novo desafio da Cartografia, a codificação e decodificação da representação de informações espaciais através da percepção tátil, se faz indispensável devido às diferenças entre as percepções oriundas da forma visual e da forma tátil. A percepção visual se caracteriza pela sua capacidade de síntese, ou seja, visualiza-se o todo para posteriormente analisar as partes, ao contrário da forma tátil que só é possível processar as informações das partes para depois formar o todo (VASCONCELLOS, 1993). São essas particularidades, dentre outras existentes, que fazem a necessidade de se buscar técnicas, metodologias e processos distintos de elaboração de material cartográfico. VASCONCELLOS (1993) afirma que para a produção de material cartográfico tátil para deficientes visuais há a necessidade de um maior grau de generalização com omissões, exageros e distorções nunca imaginados pelo cartógrafo, uma vez que alguns problemas a serem evitados na Cartografia convencional tornam-se condições necessárias para o design de mapas táteis eficazes. Assim, a Cartografia tátil necessita de novos parâmetros e regras, com técnicas distintas para o processo de elaboração de mapas. Vale ressaltar que, apesar de necessidades e metodologias peculiares que caracterizam a Cartografia Tátil, a mesma não se limita ou se restringe apenas à forma tátil para estabelecer a comunicação cartográfica, excluindo totalmente a forma visual do processo de elaboração de seus documentos cartográficos, ou seja, uma integração com a representação cartográfica convencional. Isso se deve ao fato de a representação tátil não inviabilizar a geração de símbolos visuais em um mesmo documento e assim, ter a possibilidade de se gerar mapas híbridos, explorando os dois tipos de percepção. Outro ponto a ser destacado é que o público-alvo principal constitui-se além dos cegos, também de pessoas que possuem visões parciais que tem a possibilidade de visualização de cores com alto contraste. Além disso, os usuários que não possuem deficiência visual também podem decodificar as representações cartográficas através da percepção tátil, logo, um documento cartográfico com informações visuais e táteis poderá ser de grande valia não só aos deficientes visuais, mas também a outros indivíduos que não possuem ausência do campo visual. Isto torna-se possível devido ao processo de construção dos mapas táteis adotado. Um desses processos que possibilitam esta integração entre o deficiente e 58 o vidente, adotado pelo IBC, é a elaboração do mapa que tenha tanto a simbologia visual quanto a tátil. Como o mapa tátil é construído em uma película plástica transparente (braillon), há a possibilidade de sobrepor com o mapa convencional (com simbologia visual) que serviu de base para sua elaboração. Desta forma, em um mesmo produto haverá dois mapas, um convencional e outro tátil, permitindo a sua utilização não só pelos deficientes como aos videntes, contribuindo, desta maneira, para a inclusão social e a interação entre os alunos independente da sua acuidade visual. Independente das características de uma pessoa, só a visão, por si só, não garante a leitura, interpretação e análise de um material cartográfico utilizado, como afirma OKA (2003), sendo necessário o conhecimento prévio do usuário e da sua habilidade de ler e interpretar as informações codificadas e contidas em um mapa. Assim, da mesma forma essa necessidade se aplica aos deficientes visuais, ou seja, é de extrema valia a alfabetização cartográfica dos usuários de mapas, e outros tipos de representações, independente da forma de percepção da informação cartográfica. Logo, a importância do processo de alfabetização cartográfica aos deficientes visuais se faz necessário paralelamente a elaboração de novas formas de representações cartográficas táteis, pois esta alfabetização deve possibilitar a estes usuários não somente ler, mas entender o “porquê”, “para quem”, “como”, “quando” e “para qual finalidade” um mapa foi produzido. Estas cinco perguntas são, segundo TYNER (1992), as novas questões a serem respondidas pelos mapas, nesta nova era da informação, que deverão também transmitir para o usuário a compreensão de uma variedade mais ampla de temas do que era necessário anteriormente, e não mais ficar restrito simplesmente à função de localização, ou seja, responder apenas a questão “onde”. 3.4 MAPAS TÁTEIS Os mapas táteis são o principal documento cartográfico que utiliza a percepção tátil como forma de decodificação da representação do espaço geográfico e de seus 59 fenômenos. Segundo KOCH (1997), os primeiros mapas táteis foram desenvolvidos em meados do século XIX, por Martin Kunz. Como a forma predominante de se transmitir as informações espaciais se dá pelo tato, a construção desse tipo de documento deve ser diferenciada dos mapas convencionais, uma vez que as percepções visual e tátil possuem características distintas no seu processo de apreensão das informações. As distinções entre os mapas tátil e convencional começam na fase de planejamento. A área necessária para a construção de um mapa tátil, geralmente, é mais extensa do que para um mapa que se baseia na visualização. Isso porque a legenda referente ao mapa é composta pelo alfabeto Braille, no qual cada código tem uma dimensão maior que a sua representação, ou seja, sua letra ou número correspondente. A figura 3.5 ilustra esta diferença, tendo na primeira linha uma frase formada por letras convencionais, nas linhas posteriores a mesma frase no alfabeto Braille, sendo a segunda linha sem acentuação e a terceira linha com acentuação. A cartografia tátil e sua aplicação A cartografia tatil e sua aplicacao A cartografia tátil e sua aplicação Fig 3.5: Comparação entre uma frase constituída por letras convencionais e sua correspondência, abaixo, com o alfabeto Braille. Além de um espaço maior para a legenda, normalmente há a necessidade de uma área maior também para a representação, pois como os mapas táteis, em geral, são elaborados por texturas e peças de bijuterias, missangas e outros materiais, a simbolização de informações ou áreas muito pequenas torna-se inviável, uma vez que existe uma limitação no tamanho dos tipos de peças utilizadas, bem como a inviabilidade da percepção ou da distinção das texturas através de um fragmento de tamanho muito reduzido de qualquer tipo de superfície. Esta limitação pode ser exemplificada através da construção de um mapa político do território nacional. As fronteiras em um mapa convencional, por exemplo, serão, normalmente, representadas por linhas com baixa espessura. Já em um mapa tátil, 60 as mesmas fronteiras serão simbolizadas por linhas de qualquer natureza (como de costura, barbante, dentre outros) que deverão ter uma espessura suficiente para que seja possível a sua percepção através do tato, pois linhas muito finas, provavelmente, passarão despercebidas pelo usuário. Desta forma, a representação das informações fica limitada, uma vez que a variação de linhas que podem ser aplicadas no mapa tátil, por exemplo, é bem mais restrita que no caso do processo de elaboração de um mapa convencional, onde se tem uma gama maior de variáveis de formas lineares. Além da questão da área a ser utilizada, o nível de generalização também é mais elevado. Isso se explica devido ao fato das representações cartográficas serem constituídas por símbolos em alto relevo, que possuem normalmente dimensões maiores que as utilizadas em mapas convencionais, o que restringe o número de informações a ser veiculado, bem como o nível de detalhamento das mesmas. Aproveitando o mesmo exemplo, em um processo manual, a construção do contorno das fronteiras, com o material escolhido para esta finalidade (linha de costura, barbante, linha de crochê, etc.), é realizado com um baixo nível de detalhamento, pois além de ser um processo complexo a etapa de agregar o material nas linhas que representam a informação espacial (ou seja, colar a linha exatamente sobre a representação das fronteiras), dependendo da espessura do material torna-se inviável a geração de certas nuanças e contornos representativos. Assim, pode-se concluir que os mapas táteis possuem características particulares, como a necessidade de uma maior área para representação, um maior nível de generalização, uma quantidade menor de informação além de outros pontos relevantes que serão apontados e explicitados ao longo do desenvolvimento deste trabalho, como ilustra a figura 3.6. Além disso, pode-se acrescentar a questão do armazenamento, uma vez que se trata de documentos maiores, cuja estrutura é rígida, inviabilizando a sua redução através de dobras e dificultando o seu transporte, bem como a sua despesa, pois todas essas características e cuidado tornam o custo mais elevado que o mapa convencional. Essas limitações devem ser levadas em consideração no processo de geração de um documento cartográfico tátil, independente das características da construção 61 dos mapas convencionais, para que a transmissão da informação ocorra de forma direta e eficaz, baseado, principalmente, na percepção tátil. Fig 3.6: Mapa tátil das rodovias federais de Santa Catarina, feito em barbante cordonê sobre papel (LOCH e ALMEIDA, 2006). O número de pessoas que vem se dedicando a produção de mapas táteis vem crescendo, como afirma WIEDEL & GROVES (1969). Contudo, PERKINS & GARDINER (1997), criticam a forma de produção desses mapas táteis, uma vez que, segundo os autores referidos, a maioria dos mapas voltados a percepção tátil são transliterações de mapas convencionais. Em outras palavras, os mapas táteis são, em geral, elaborados através de adaptações de mapas visuais, desconsiderando as limitações e dificuldades relativas ao deficiente visual. Os autores supracitados destacam que a transferência da prática cartográfica existente não oferece a melhor solução para o usuário deficiente visual, não apresentando bons resultados no que tange aos designs dos mapas táteis. PERKINS & GARDINER (op cit.) ainda enfatizam as distinções entre os mapas visuais e táteis, destacando a necessidade, dos deficientes visuais, de um ponto de referência fixo nos mapas táteis. Além disso, os autores supracitados destacam a 62 importância do envolvimento dos deficientes visuais na concepção e elaboração dos mapas táteis, uma vez que os mesmos são os usuários deste tipo de documento cartográfico, logo, será a partir da resposta da interpretação deles que será possível a definição da melhor forma de representação tátil nos mapas a serem produzidos. Outro ponto a ser destacado são as propostas de sistemas de classificação de mapas táteis. Anteriormente, a classificação dos mapas era baseada na escala utilizada, contudo, atualmente já há propostas que levam em consideração outros fatores em conjunto. KOCH (1997), apresenta uma proposta constituída de classificação de características primárias e secundárias. As características primárias correspondem aos campos tema, propósito específico, área descrita, escala, grau de complexidade e comunicabilidade da informação. Já as secundárias são os campos método de representação, forma de uso, tipo de construção de mapa, construção mestre, reprodução de mapa e características adicionais, conforme ilustra a figura 3.7. MAPAS TÁTEIS A Tema do mapa Propósito Específico Área Descrita Escala Complexidade Comunicabilidade da Informação B Método de Representação Forma de uso Tipo de construção de mapa Construção Mestre Reprodução de Mapa Características Adicionais Fig 3.7: Características primárias (A) e secundárias (B) da classificação de mapas táteis 3.5 MÉTODOS DE PRODUÇÃO A elaboração de um mapa necessita ser baseado em duas questões fundamentais, o objetivo e o tipo de usuário. No caso do mapa tátil isso não difere, 63 assim, a representação cartográfica deverá levar em conta os limites do usuário e possibilitar que o mesmo decodifique as informações codificadas no mapa. A confecção de um mapa tátil inicia-se na definição da base cartográfica a ser utilizada, tanto se for o caso de adaptação de uma representação convencional para uma tátil, como se for o caso de se construir um mapa diretamente baseado na percepção háptica. É necessário um cuidado com a definição da escala do mapa a ser gerado, uma vez que as informações ou áreas de tamanho reduzido terão sua representação inviabilizada. Isso se deve ao fato da simbolização ser realizada com base em retalhos de diversos tipos de texturas e peças de bijuterias, missangas e outros tipos de materiais, além de uma maior necessidade de generalização das informações a serem representadas cartograficamente. Logo, torna-se necessária uma área mínima de representação para que o usuário possa identificar a superfície e associála a uma dada informação através da sensibilidade do tato. Definido a base e a escala inicia-se a montagem da matriz, que é base para a reprodução de cópias em folhas de pvc, que são películas plásticas também denominadas de braillon. No primeiro momento, será gerado na matriz um mapa convencional, em tinta, com as informações e formas pré-definidas, uma vez que há a necessidade de uma maior generalização e simplificação nas informações codificadas, conforme já explicitado anteriormente. A partir do mapa convencional, insere-se os elementos que representarão em alto relevo e com texturas distintas as informações registradas em tinta. Normalmente, as informações pontuais são representadas por pequenos botões, peças de bijuterias e missangas em geral, nas representações lineares são utilizadas linhas como barbante, arame, linhas de costuras e outros, e nas representações poligonais utilizam-se retalhos de tecidos e de lixas para que cada área seja identificada por uma textura diferente. Desta forma, para cada informação existente na matriz utiliza-se um objeto, como os citados anteriormente, são fixados na matriz (geralmente com cola), formando assim o mapa tátil base. Com o mapa tátil base elaborado, uma das formas de se construir réplicas é de realizar o mesmo procedimento, utilizando o mapa convencional como base e adicionando sobre as representações em tinta os objetos com alto relevo e texturas diferenciadas. A figura 3.8 ilustra o processo de elaboração de um mapa 64 convencional com ruas e quadras (lado esquerdo) que foi adaptado para a forma tátil (lado direito) com as ruas representadas com carpete de borracha, em marrom, e as quadras preenchidos com E.V.A.9, em amarelo. Fig 3.8: Elaboração de um mapa tátil baseado em um mapa convencional (LOCH e ALMEIDA, 2006). A outra forma é através da reprodução em braillon, onde o mesmo é moldado de acordo com as características estruturais dos símbolos contidos na matriz-base através do thermoform. A figura 3.9 apresenta três máquinas distintas do thermoform, utilizadas para dimensões diferenciadas do braillon, da menor (esquerda) para maior (direita). O thermoform é um equipamento que gera um ambiente a vácuo e eleva a temperatura, fazendo com que o pvc torne-se maleável e se molde conforme as formas e características estruturais dos objetos que estão fixados no mapa convencional. Desta forma, ao final as representações estarão representadas no braillon em alto relevo, com texturas e estruturas distintas, conforme os elementos e materiais utilizados para a representação das informações geográficas (ver figuras 3.10 e 3.11). Há, ainda, outras formas de produção de mapas táteis além do equipamento thermoform, como swell paper, que é um tipo de papel especial com cápsulas contendo álcool que dilatam ou contraem com a temperatura moldando formas em alto relevo. O filme alemão (german film), plástico semi-transparente, também é uma outra forma de confecção de gráficos em alto relevo, contudo possui uma 9 Espécie de borracha sintética, muito utilizada para a fabricação de solas de sapato. 65 limitação no que concerne as variações de altura das formas em alto relevo, o que ocorre também com o swell paper (SHEPPARD e ALDRICH, 2000; GARDNER, 1996). Fig 3.9: Ilustração do equipamento thermoform, disponível na DPME/IBC. 66 a b c d e e Fig 3.10: Processo de reprodução de material em alto relevo através do thermoform: (a) a matriz-base é inserida no thermoform, (b) e o braillon é colocado sobre a matriz, (c) depois a matriz e o braillon são fixados com o enquadramento e em seguida é deslocado (d) a câmara de vácuo e temperatura sobre as duas. Dado o tempo e a temperatura determinado no equipamento, retira-se a câmara e o enquadramento para, assim, (e) destacar o braillon, moldado, da matriz-base. 67 Fig 3.11: Reprodução de mapas táteis utilizando o braillon. Na parte superior, o mapa tátil base, com as fronteiras entre os países representadas por linhas e as capitais determinadas por alfinetes, além da textura distinguindo o Brasil dos demais países sul-americanos. Na parte inferior o braillon moldado com as características do mapa tátil base. Disponível na DPME/IBC. 68 4 VARIÁVEIS VISUAIS Como visto anteriormente, a Cartografia é uma ciência que se baseia predominantemente no canal visual para transmitir as informações que estão simbolizadas nos seus documentos. Ao mesmo tempo, estes mesmos documentos cartográficos são, em geral, bidimensionais, ou seja, possuem apenas duas dimensões, largura e comprimento. Assim, a construção de símbolos para a representação cartográfica, em sua maioria, é baseado em apenas três tipos de elementos gráficos, que são o ponto, a linha e a área ou também chamado de polígono (figura 4.1). ROBINSON (1995) denomina os três tipos gráficos como elementos gráficos básicos, pois através deles podem ser criados todos os símbolos visuais. Fig 4.1: Elementos Gráficos (Ponto, Linha e Área). O ponto pode ser utilizado para simbolizar posições ou ocorrência de determinados fenômenos, enquanto que a linha representa direções, fluxos ou até mesmo feições contínuas, como vias terrestres e corpos hídricos. Já a área ou polígono é atribuído a feições bidimensionais, representando extensões, áreas, territórios, dentre outros. Contudo, como afirma TYNER (1992), cada elemento gráfico pode ser utilizado para representar feições ou fenômenos que não são característicos, ou seja, adotar pontos para representar áreas, extensões e volumes, linhas para simbolizar um conjunto de pontos de mesmo valor, como as isolinhas ou isobáricas, ou até mesmo o polígono como uma representação de um conjunto de ocorrência de fenômenos pontuais. 69 Estas modificações nos tipos de elementos gráficos para as representações cartográficas podem ocorrer principalmente devido à escala adotada. Em outras palavras, a escala é um dos fatores determinantes para a escolha dos elementos gráficos a serem utilizados na codificação das informações geográficas. Entretanto, a quantidade de informações também pode ser um outro fator para a escolha dos elementos gráficos. O fator quantitativo da informação a ser representada pode definir se a mesma deverá ser generalizada ou detalhada e assim baseando a escolha do elemento gráfico a ser utilizado para a representação da informação. Estas modificações estão ilustradas na figura 4.2. Fig 4.2: Variação da representação por meio dos elementos gráficos. Os três elementos gráficos são a base para o processo de representação cartográfica, pois a partir deles é realizada a codificação das informações geográficas. Entretanto, somente os elementos gráficos não tornariam possível a construção dos símbolos utilizados na linguagem cartográfica. Por isso, os elementos gráficos, ponto, linha e área, sofrem variações gráficas com o objetivo de transmitir da melhor forma possível à informação codificada. Estas variações são denominadas de variáveis visuais. 70 O termo variáveis visuais foi introduzido em 1967 pelo cartógrafo francês Jacques Bertin, em sua obra intitulada de Semiologie Graphique, traduzido para o inglês com o título de Semiology of Graphics: Diagrams networks maps, em 1983. BERTIN (1983) define o conjunto de variáveis visuais como, simplesmente, sendo os componentes do sistema gráfico, e ainda o denomina como a forma do mundo das imagens. Já DUARTE (2002) considera variável visual toda diversificação imposta aos símbolos, de modo a traduzir uma informação para a linguagem gráfica, enquanto SLOCUM (1999) descreve as variáveis visuais apenas como as várias percepções distintas dos símbolos dos mapas usados para representar fenômenos espaciais. As variáveis visuais foram determinadas por BERTIN (1983) em um conjunto de seis no total, não incluindo as duas variáveis de posição que são utilizadas não para mapas, mas sim para representação das informações em gráficos. As seis variáveis visuais são: tamanho (size), valor (value), textura (texture), cor (color), orientação (orientation) e forma (shape). Segundo PRADO et al (2000) o ponto inicial de Bertin é a afirmação de que a comunicação é feita através de marcas no papel, e as variações das características destas marcas é que vão possibilitar a apresentação de um determinado dado ou informação, como por exemplo, a posição, a forma, a cor, dentre outros. Em outras palavras, o conjunto destas marcas são as variáveis visuais, e as variações das características destas marcas são as extensões destas variáveis. O conjunto das variáveis e suas extensões, aplicadas em conjunto ou isoladamente, tornam possível a transmissão visual de qualquer tipo de informação que possua duas características, bidimensionalidade e atemporalidade (duas limitações impostas pelo próprio Bertin). Vale ressaltar que as variáveis visuais, segundo MARTINELLI (2003), apresentam perceptivas intrínsecas que devem ser consideradas no momento da transcrição gráfica, sendo as principais, destacadas pelo próprio autor referenciado, a percepção seletiva, onde o olho consegue isolar os elementos distintos (cor, tamanho, valor, granulação e forma); percepção ordenada, onde as categorias se ordenam espontaneamente (valor, tamanho, cores na ordem natural do espectro visível); e a percepção quantitativa (onde a relação de proporção é imediata (somente e tão-somente o tamanho). 71 Contudo, a noção de variáveis visuais vem sendo modificada por outros autores incluindo McCLEARY (1983), MORRISON (1984), DIBIASE et al (1991) e MacEACHERN (1994), como aponta SLOCUM (1999). Dentre as alterações ocorridas com base no conjunto de variáveis visuais de Jacques Bertin podemos destacar DUARTE (2002) que utiliza granulação para substituir o termo textura. ROBINSON (1995) trabalha as variáveis visuais em dois conjuntos, denominados de primário e secundário. O primeiro, é composto por seis itens, sendo as cinco variáveis de BERTIN, exceto a variável textura, adicionando a variável chroma. Já o segundo conjunto, das secundárias, tem em sua composição três variáveis, textura, disposição (pattern) e a orientação. Outro autor que podemos citar por alterar as variáveis visuais a partir do trabalho de BERTIN é SLOCUM (1999) que define o conjunto das variáveis com o espaçamento, tamanho, perspectiva de altura, orientação, forma, disposição e a cor que se subdivide em cores, claridade e saturação. Contudo, apesar de vários autores modificarem o conjunto das variáveis visuais, implementando novas variáveis, excluindo outras ou reagrupando-as, o presente trabalho se baseará apenas nas seis variáveis originais de BERTIN (figura 4.3). A adoção das variáveis visuais de BERTIN como ponto de partida se deve, primeiro, ao fato de o mesmo ter sido pioneiro na elaboração e sistematização do conjunto das variáveis visuais e, por isso, ter servido de base para todos os outros autores que desenvolveram trabalhos sobre este tema, uma vez que BERTIN é o ponto comum de todos os autores citados anteriormente. Além disso, todos os conjuntos de variáveis visuais, levantados e conhecidos, são modificações do conjunto das variáveis de BERTIN, tendo autores que apenas substituíram os termos até aqueles que excluíram ou adicionaram outras variáveis. Vale ressaltar que apesar deste trabalho adotar como ponto de partida o conjunto de variáveis visuais de BERTIN, as possíveis e prováveis modificações a serem realizadas, com o intuito de atingir o objetivo deste trabalho, poderão ser semelhantes ou até mesmo iguais às que alguns autores já implementaram. Contudo, as alterações que aqui forem colocadas terão como foco a questão da percepção tátil, diferentemente dos demais autores, alguns aqui mencionados anteriormente, que não possuíam este tipo de preocupação e/ou objetivo. 72 PONTO LINHA ÁREA COR VALOR FORMA TAMANHO TEXTURA ORIENTAÇÃO Fig 4.3: As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, aplicadas nos elemetos gráficos ponto, linha e área. 4.1 COR Trata-se de uma variável que corresponde à percepção visual da reflectância de luz sobre um objeto. DUARTE (2002) define a variável cor como sendo 73 “a sensação subjetiva das pessoas ao perceberem uma radiação eletromagnética com determinado comprimento de onda e que depende da intensidade do fluxo luminoso e da composição espectral da luz.” BERTIN (1983) define variação de cor como a sensação visual resultante da diferença entre áreas uniformes. Através da diferenciação de uma ou mais cores pode-se fazer a representação de diferentes informações hierarquizadas (figura 4.4). Amarelo Verde Vermelho Cyan Azul Magenta Fig 4.4: Paleta de cores, com as cores primárias e secundárias. SLOCUM (1999), baseado em BREWER (1994), entende a variável cor como um conjunto de três sub-variáveis, que são luminosidade (nível de claridade ou obscuridade de uma determinada cor), tonalidade (comprimento de onda de luz que produz a cor) e saturação (mistura entre a cor propriamente dita, “cor pura”, com a cor cinza). As propriedades ou o comportamento das cores em um contexto particular são explicados por um método denominado de sistemas de cores, segundo afirma TRAINA e OLIVEIRA (2005). Ainda baseado nos mesmos autores, não existe um sistema que explique todos os aspectos relacionados à cor, assim, existem diferentes tipos de sistemas para descrever as diferentes características da cor que são percebidas pelo ser humano. Dentre eles, podemos destacar três principais sistemas de cores, que são RGB, XYZ, CMY, que serão abordados resumidamente, baseado em TRAINA e OLIVEIRA (2005) e MOREIRA e MACEDO (2006) para que o presente trabalho não fuja do foco principal. 74 O modelo RGB (Red, Green e Blue) é um sistema aditivo10, estando baseado na teoria dos três estímulos, proposta por Young-Helmholtz, que afirma que o olho humano percebe a cor através da estimulação de três pigmentos visuais presentes nos cones da retina, isto é, o olho é baseado na amostragem das faixas vermelha, verde e azul do espectro visível. Contudo, algumas cores existentes na natureza não podem ser mostradas nesse sistema devido a resposta do olho humano aos estímulos espectrais. Conforme explicita MOREIRA & MACEDO (2006), o monitor não reproduz todos os comprimentos de onda de luz visível, ou seja, não reproduz todas as cores pela combinação ponderada de luzes vermelha, verde e azul. Devido a este problema, em 1931 a CIE (Comissão Internacional de Iluminação) resolveu adotar um novo modelo de representação padrão, o sistema XYZ, que também é um sistema aditivo que descreve as cores através de três cores primárias virtuais X, Y e Z. Tendo sido criado devido a inexistência de um conjunto finito de cores primárias que produza todas as cores visíveis possíveis, o sistema é formado por cores imaginárias, definidas matematicamente. Já o modelo CMY, também denominado de CMYK, é um tipo de modelo subtrativo, baseado nas cores complementares, que são o azul (cyan), magenta (magenta) e o amarelo (yellow). A variável K representa o preto, que é adicionado aos pigmentos para obtenção de maior ou menor saturação, visto que, não encontramos pigmentos puros na natureza (LABORATÓRIO DE ILUMINAÇÃO, 2006). Ainda pode-se destacar os modelos HSV (Hue, Saturation e Value), também chamdo de IHS (sendo o I referente a intensidade) e o HLS (Hue, Lightness e Saturation), que são sistemas de cores de grande utilização na computação gráfica. A variável cor é utilizada com freqüência para diferenciar símbolos com formas e tamanhos similares, distinguindo tipos e valores em representações gráficas pontuais, lineares e de áreas. Na verdade, a Cartografia utiliza com freqüência a cor como forma de padronizar determinadas simbologias nas representações, sendo estas padronizações denominadas de convenções cartográficas. 10 As intensidades das cores primárias são adicionadas para produzir outras cores, como o branco sendo a mistura das intensidades máximas das três cores primárias aditivas: vermelha, verde e azul (TRAINA E OLIVEIRA, 2005) 75 Como exemplos de convenções que são distinguidas através de cores, podemos citar em casos de símbolos lineares, linhas vermelhas para representação de rodovias e linhas azuis para simbolizar rios e canais, e no caso de informação em áreas, polígonos verdes para áreas vegetadas e polígonos azuis para corpos hídricos como lagoas e baías. Além das convenções, a variável cor também é utilizada para diferenciar informações diversas como, por exemplo, em um mapa de uso e ocupação do solo, onde cada tipo distinto de uso e ocupação terá uma cor para sua representação, ou em caso de simbolização pontual, diferenciando a localização de objetos distintos como o local de colheita de diferentes produtos agrícolas. Em relação à forma de representação tátil, que é o foco deste trabalho, a variável cor não será incorporada neste estudo. Isto se deve ao fato da incompatibilidade de percepção da variável cor, bem como suas extensões, por meio do tato. Deve-se ressaltar que os deficientes que possuem a visão subnormal (classificação de deficiência visual que será tratada no capítulo posterior), ou seja, apenas parte da visão, podem perceber distinções de cores, uma vez que haja alto grau de contraste, ou seja, que haja dessemelhança acentuada entre as cores, uma variação bem distinta com uma proporção em intensidade entre as partes claras e escuras, como por exemplo, a cor amarela com um fundo preto. Contudo, a consideração da cor como uma variável tátil não poderá ser aplicada aos demais deficientes, que perderam por completo seu canal visual. Logo, serão adotadas apenas as variáveis que possam ser aplicadas a todos os deficientes visuais, ou seja, que possam ser identificados através do tato. 4.2 VALOR A variável valor, segundo BERTIN (1983), constitui-se nas diferentes tonalidades de cinza, diversificando desde os tons mais claros, próximo ao branco, aos tons mais escuros, próximo do preto. 76 Na verdade, a variável valor é a intensidade de luz ou pigmento, o que irá, conseqüentemente, influenciar a tonalidade de uma dada cor. Logo, a variável valor não trata apenas da variação do cinza, mas sim da variação de uma dada cor, do seu tom mais claro ao mais escuro, como ilustra a figura 4.5. A B C Fig 4.5: Paleta de cores ilustrando a variação de tonalidades, entre o preto e o branco, nas cores azul (A), vermelho (B) e cinza (C). Esta variável pode confundir-se com a anterior, cor. Entretanto, sua diferenciação torna-se clara uma vez que a variável cor está relacionada ao comprimento de onda de luz, enquanto que a variável valor refere-se a intensidade de luz de uma determinada cor. Em suma, em cada cor (vermelho, verde, azul, etc.) há uma variação de valor (vermelho claro, vermelho escuro, verde claro, azul escuro, etc.). As atribuições de diversas tonalidades de cores para representar diferentes informações já são amplamente utilizadas na Cartografia, como por exemplo, os mapas de densidade populacional, onde geralmente são representadas as concentrações populacionais através da cor vermelha e quanto menor a concentração mais claro é o tom da cor vermelha. Vale ressaltar que, independente do número de cores utilizadas, geralmente os tons mais claros são utilizados para a representação de valores menores ou mais fracos, enquanto que os tons mais escuros são aplicados na representação de valores maiores ou mais fortes. Por isso, a variável valor, em geral, é utilizada para simbolizar informações ordenadas ou hierarquizadas, ou como afirma DUARTE (2002) para mostrar a ordenação ou seqüência de um fenômeno. Contudo, a referida variável não é aplicada somente em representações quantitativas. A variação de tonalidade de uma ou mais cores também é utilizada para a diferenciação de informações dentro de uma mesma classe ou agrupamento. 77 Um exemplo pode ser demonstrado através de um mapeamento de vegetação, onde todas as informações relativas a esse tema terão a cor verde atribuída. Dentro do grupo ou classe vegetação poderá haver sub-classes ou sub-grupos identificando os diferentes tipos de vegetação (porte, espécie, origem, etc.), que serão simbolizados por tonalidades diferentes da cor verde. Logo a distinção dos diferentes subgrupos/classes será feita pela variável valor e não pela variável cor. Como a variável valor é expressa, originalmente, através de tonalidades de cores, também não será possível o seu desenvolvimento neste trabalho pela incompatibilidade com a percepção na forma tátil. 4.3 FORMA Forma é uma variável que provém da variação geométrica de um símbolo, podendo ser regular, no caso de triângulos, quadrados e círculos, ou irregulares no caso de símbolos denominados pictórios. As variações nas formas dos símbolos não são normalmente utilizadas para distinguir quantidades variadas, mas sim para a identificação de objetos distintos, como por exemplo, círculos para identificar cidades e estrelas para localizar capitais ou linhas contínuas para simbolizar rodovias e linhas tracejadas para representar estradas e vias vicinais. TYNER (1992) classifica em três tipos de representação pela variável forma, pictória, associativa e abstrata. A forma pictória, também denominada de replicativa ou de símbolos miméticos, é designada quando ela é representacional, ou seja, quando o símbolo tem relação com a forma do objeto representado, como por exemplo o símbolo de um avião para representar a localização de um aeroporto ou uma árvore para simbolizar uma floresta ou bosque. Já as formas associativas, ou símbolos semimiméticos, estabelecem uma associação indireta entre a forma do símbolo e o objeto representado, como um triângulo para simbolizar um pico de uma montanha, ou pontos verdes regularmente espaçados representando uma horta ou plantação. 78 Por fim, as formas abstratas, também conhecidas como arbitrárias ou símbolos geométricos são caracterizados quando não há nenhuma relação entre o símbolo e o objeto representado, como um ponto identificando uma cidade ou um triângulo localizando capitais de estado. Vale ressaltar que há alguns autores, como ROBINSON et al (1995), que não aplicam a variável forma em símbolos poligonais, limitando-a apenas aos símbolos pontuais e lineares. Outros, como TYNER (1992), colocam em suas obras que a forma não é diretamente aplicada a símbolos de área, pois a forma corresponde a área representada. Entretanto, o mesmo tipo de símbolo pode ser constituído por uma variedade de símbolos menores em seu interior que possuam variações em sua forma, como pode ser observado na figura 4.3. No presente trabalho, a variável forma será aplicada apenas nos elementos gráficos ponto e linha. Conforme ROBINSON (op cit.) e TYNER (op cit.), já mencionado anteriormente, a variável forma nas representações em áreas será correspondente à composição geométrica do polígono, ou seja, a forma da área propriamente dita. A exclusão da variável forma nas representações poligonais se deve à adaptação para a percepção tátil. Os diferentes formatos que compõem o interior de um polígono e definem a variável forma, conforme apresenta BERTIN (1983), representam diferentes texturas ao se perceber tatilmente. Em outras palavras, se o interior de um polígono é composto por um conjunto de quadrados ou círculos, tatilmente, se houver esta possibilidade de percepção, o que será detectado são superfícies distintas, texturas diferentes e não formas heterogêneas. Vale ressaltar que o conceito textura a que se refere o texto anteriormente não se assemelha ao que é definido por BERTIN (1983) em sua obra onde sistematiza as variáveis visuais. Posteriormente, serão explicitadas as diferenças entre a conceituação do referido autor e a que se baseia o presente trabalho. 79 4.4 TAMANHO A variável tamanho é a que se refere à mudança na dimensão geométrica do símbolo, ou seja, variação no comprimento, largura , área e volume. Através desta variável torna-se possível representar informações relativas à grandeza dos componentes, sendo assim apropriada para a simbolização de informações quantitativas ou hierarquizadas. O tamanho em símbolos pontuais pode ser utilizado para a representação de informações quantitativas como a localização de cidades e o tamanho dos pontos variando em relação à taxa populacional de cada cidade, por exemplo. No caso de representações lineares, o tamanho pode significar maior importância ou valor relativo a uma determinada informação, como fluxos, vias de transportes, entre outros. Nas informações de áreas, a variável tamanho está relacionada não ao polígono que delimita uma determinada área, mas sim ao preenchimento deste mesmo polígono, como pode ser observado na figura 4.3. Alguns autores como ROBINSON et al (1995) afirmam que a variável tamanho é aplicada somente a símbolos pontuais e lineares, não sendo aplicado a símbolos de áreas ou poligonais. A aplicação da variável tamanho neste trabalho será restringida apenas para as representações pontuais, excluindo tanto os elementos gráficos lineares quanto os poligonais ou de área. O fato da variável tamanho não ser representada em área é devido as mesmas características que impossibilitaram a representação da variável forma em polígonos. O preenchimento do interior dos polígonos por formas de tamanhos heterogêneos representa, por meio do tato, texturas distintas, pois há de se considerar toda a superfície do polígono e não apenas uma forma isolada com o seu tamanho. Em relação às representações lineares, a variável tamanho também não é utilizada para distinguir elementos gráficos. Na verdade, o fator diferenciador entre os símbolos lineares é a sua espessura e não o seu tamanho, pois não há como alterar a dimensão do objeto a ser representado para diferenciar a sua representação cartográfica, como ilustra a figura 4.6. 80 Em outras palavras, o elemento gráfico linear que representará um canal hídrico terá o seu tamanho definido pela dimensão do canal com a escala adotada no documento cartográfico. Desta forma, o tamanho não poderá ser utilizado como forma de distinguir as representações lineares, ou seja, esse mesmo rio não terá um tamanho maior ou menor em relação a outro rio de característica distinta. A distinção poderá ser feita pela espessura da representação, ou por outras formas como a cor, por exemplo. Um exemplo que pode ilustrar a afirmação é o caso das cartas topográficas, onde as vias são informações codificadas em forma linear e possuem algumas classes, como estradas ou rodovias, pavimentadas ou não-pavimentadas, federais ou estaduais, dentre outros. Estas classes são diferenciadas umas das outras não pelo seu tamanho, mas sim pela espessura, além das cores e símbolos. Geralmente, as vias de maior importância são representadas por linhas mais espessas, enquanto as de menor importância são codificadas através de linhas mais finas ou menos espessas. Fig 4.6: Comparação entre diferentes tamanhos e espessuras. No primeiro conjunto distingue-se o tamanho na forma linear. Já no segundo conjunto, diferencia-se a espessura ou largura em linhas de mesmo tamanho. 4.5 TEXTURA A textura é definida, segundo BERTIN (1983), como a variação da espessura dos elementos que compõem uma área com um dado valor. Geralmente, estes elementos se tratam de linhas que preenchem um determinado símbolo (figura 4.7). 81 Fig 4.7: Exemplos de variações de texturas, segundo BERTIN 1983. Alguns autores utilizam além de textura o termo padrão (pattern), como ROBINSON et al (1995) e TYNER (1992). TYNER (op cit.) diferencia os dois termos, definindo a textura como um composto de pequenos elementos agregados que produzem uma impressão visual de maior ou menor largura, enquanto que o padrão seria o arranjo espacial dos pequenos elementos que compõem o símbolo. ROBINSON et al. (op cit.) classifica a variável textura/modelo como sendo variáveis visuais secundárias, não pertencendo ao grupo das variáveis visuais primárias, que são compostas pelas demais variáveis anteriormente explicitadas. Isso se deve pelo autor entender que a textura é uma das três características de um padrão (pattern), que é definido como o efeito gráfico de área, originado de várias combinações das variáveis visuais primárias. Vale ressaltar que acerca do uso do termo textura não há um consenso entre os autores. DUARTE (2002), ao definir as variáveis visuais, utiliza o termo granulação, no qual o define como a repartição do preto no branco, ou seja, a largura de linhas pretas em uma área branca, como ARCHELA (1999) que salienta na definição do termo a necessidade de se manter a mesma proporção de preto e branco. A utilização de outros termos com o intuito de substituir a denominação textura, dado por BERTIN (op cit.), ocorre por entender que a mesma não expressa o real sentido da variável em questão. Entende-se por textura a variação de uma superfície, tanto pela sua composição como pela sua estrutura. Esta variação pode resultar em diversas classificações das quais podemos citar liso, áspero, rugoso, entrelaçado, veludo, dentre outros, conforme pode-se perceber pela figura 4.8. A percepção da textura pode ser feita pelo campo visual, identificando algumas das variações, entretanto somente através da sensibilidade tátil é que se torna possível uma identificação detalhada e precisa das variações de texturas. Desta 82 forma, pode-se entender que a textura seria uma variável muita mais tátil que visual, por ter como principal meio de percepção das variações o tato, e não a visão. Fig 4.8: Diferentes tipos de superfícies que determinará texturas distintas e percepções diferenciadas. Da esquerda para direita: mármore, esteira, tela, papel amassado, cortiça e gotas de água ou ar. Em substituição ao termo textura, adotado por BERTIN (op cit.), as denominações que melhor expressariam a idéia da variável em questão seria espaçamento e espessura, isto porque a principal variação perceptível visualmente é em relação ao espaçamento e à espessura dos elementos que compõem um determinado símbolo, sejam eles elementos lineares ou pontuais, e não a textura do símbolo, como a denominação sugere. Em outras palavras, o fator que possibilita a distinção de áreas, no caso desta variável, é o espaço e a largura entre uma linha e outra ou entre um ponto e outro. O conceito espaçamento também é utilizado por alguns autores que não adotam o termo textura, dentre eles podemos citar SLOCUM (1999) que justifica a mudança do termo pelo mesmo possuir diferentes usos na literatura. Vale ressaltar que, geralmente, a variação de espaçamento é expresso através de comparação entre linhas com diferentes larguras. Na verdade, a variação da largura implica na diferenciação do espaçamento entre linhas ou pontos, pois quanto mais largo é o símbolo maior será à distância entre o outro símbolo de mesma forma. Contudo, neste caso a percepção que é dada é na distinção entre as espessuras dos elementos e não no espaçamento entre eles. Assim, a variação de espaçamento só ocorre quanto os elementos, ou seja, as linhas e os pontos possuem a mesma espessura, logo, quando são iguais em forma e largura. No caso de variação da espessura de linhas, por exemplo, apesar de também variar o espaçamento entre elas a principal alteração é na largura dos elementos. Visualmente, a diferenciação notada, o fator que irá distinguir a informação 83 representada será a espessura e não o espaçamento. Logo, não há possibilidade de representação com o cruzamento entre estas duas variáveis, espessura e espaçamento (figuras 4.9 e 4.10). Fig 4.9: Variação na espessura dos elementos lineares, o que conseqüentemente altera o espaçamento entre eles. Fig 4.10: Variação apenas no espaçamento entre os elementos lineares, permitindo que visualmente se perceba a distância entre as linhas. Visualmente, a variável textura é substituída por duas outras variáveis, espessura e espaçamento, que normalmente são aplicadas em símbolos em áreas. Entretanto, tatilmente, o que se percebe são as diferentes variações de superfície, ou seja, as diferentes composições e estruturas de um símbolo. Logo, o espaçamento e a espessura serão formas de representar diferentes texturas. As diferentes composições do interior de um símbolo poligonal representarão diferentes percepções através do tato. O preenchimento do interior com símbolos circulares ou quadrangulares, com linhas mais espessas ou menos espessas, com figuras maiores ou menores, mais espaçadas ou mais próximas, significará a identificação de áreas distintas, ou seja, informações heterogêneas. Desta forma, no que tange a percepção tátil, a variável textura é uma das mais complexas, principalmente em símbolos de área, pois é um conjunto de outras variáveis visuais, como o tamanho e a forma. Ressalta-se que nas representações pontuais e lineares, as variáveis forma e tamanho/espessura são aplicadas e percebidas, conforme já explicitado anteriormente. Entretanto, o mesmo não ocorre nas representações poligonais 84 devido à percepção não ser de um símbolo isolado, mas sim do conjunto desses mesmos símbolos preenchendo uma dada superfície. 4.6 ORIENTAÇÃO Corresponde à inclinação dos elementos que constituem os símbolos. No caso de elementos lineares, a variação vai se dar de acordo com a direção da linha. Já no caso de elementos pontuais, a variação só será possível dependendo da forma dos mesmos, uma vez que no caso de símbolos circulares não há como definir sua inclinação (orientação). Para ROBINSON et al (op cit.) a variável orientação esta incluída no grupo de variáveis visuais secundárias, juntamente com a variável textura. O mesmo autor afirma que a orientação só ocorre através de elementos lineares, não sendo possível em símbolos pontuais (figura 4.11). Já TYNER (op cit.) incluem elementos pontuais como passíveis de variação de orientação, citando um exemplo através de um mapa com símbolos pontuais com forma triangular (figura 4.12). O autor ainda ressalva a possibilidade de haver orientações distintas em um mapa sem nenhum significado que justifique a diferença. Vale destacar que a orientação em símbolos lineares (ou seja, não sendo aplicadas no preenchimento de um polígono) não se caracteriza como uma variável, isso porque as orientações das linhas serão estabelecidas de acordo com a informação a ser representada e não como forma de distinguir informações. Exemplificando a afirmação acima, quando se representa um canal fluvial, a orientação da linha será de acordo com a representação do leito do rio. Da mesma forma quando se representa uma rodovia ou ferrovia, que representa linearmente a informação baseado apenas no traçado dos mesmos. Logo, a variável orientação é aplicada aos símbolos pontuais e poligonais, excetuando os lineares. Fig 4.11: Variações de orientação com elementos lineares preenchendo símbolos. 85 Fig 4.12: Exemplo de TYNER (1992) ilustrando um mapa com símbolos pontuais cuja orientação não possui significado algum. Conforme já mencionado anteriormente, tomou-se por base as seis variáveis visuais de BERTIN (1983), cor, valor, forma, tamanho, textura e orientação. Contudo, percebeu-se que havia necessidade de se adaptar essas variáveis visuais, estabelecidas pelo referido autor, nos três tipos de elementos gráficos, ponto, linha e área. Desta forma, estabeleceram-se as seguintes variáveis: valor, forma, tamanho, espessura, espaçamento, textura e orientação, que poderão ser representadas nos três tipos gráficos. Assim, a proposta de variáveis táteis, baseada nas adaptações das variáveis visuais de BERTIN (1983), é apresentada na figura 4.13, ilustrando as características definidas para cada variável neste capítulo. Os quadros preenchidos com NA significam as variáveis não aplicadas. As representações relativas ao elemento gráfico ponto devem ser consideradas como símbolos pontuais, uma vez que a dimensão exagerada foi adotada para efeitos didáticos. 86 PONTO LINHA FORMA TAMANHO ESPESSURA ESPAÇAMENTO NA NA NA NA NA NA ÁREA NA NA NA NA NA NA NA NA TEXTURA ORIENTAÇÃO NA NA Fig 4.13: Proposta de adaptação das variáveis visuais para as variáveis táteis. 87 5- METODOLOGIA Após a elaboração da proposta do conjunto de variáveis táteis, gerada a partir das variáveis visuais de BERTIN (1983), surge a necessidade de realizar testes que verifiquem e atestem a possibilidade da percepção, através do tato, de cada variável proposta, ou seja, para a aplicação destas variáveis em documentos cartográficos é necessário, primeiro, averiguar se as mesmas são passíveis de se perceber tatilmente. Desta forma foi concebido um conjunto de testes onde cada variável será exposta à sensibilidade tátil de um grupo de deficientes visuais, que definirá se estas variáveis, bem como suas extensões, são perceptíveis ao sentido háptico. 5.1 A CONCEPÇÃO DAS MATRIZES-BASES A matriz-base, onde serão inseridos os símbolos e reproduzida dando origem aos testes de validação, será construída em um papel tipo quarenta quilos, com as dimensões de 29,5 por 27,5 centímetros. Contudo, devido às limitações técnicas do equipamento que produzirá as cópias, será necessária a inclusão de bordas de dois centímetros para cada lado, reduzindo as dimensões da matriz para 25,5 cm por 23,5 cm (este procedimento será detalhado posteriormente), conforme ilustra a figura 5.1. A matriz será constituída por linhas com três colunas cada, sendo o número de linhas definido pela quantidade de símbolos a ser representados ou pela limitação da dimensão da matriz. As linhas serão distanciadas por medidas que podem variar de 1,5 cm a 2 cm, com o objetivo de que o deficiente visual possa identificar cada linha de representação, sem confundir os símbolos de linhas distintas. Cada coluna representa um símbolo a ser reproduzido, logo, em cada linha haverá três representações a serem identificadas pelo deficiente visual. Desta forma, a matriz será implementada no formato retrato, ou seja, com sua maior dimensão 88 correspondente a altura e sua menor dimensão relativo a largura, uma vez que como será representado apenas três símbolos em cada linha, não há necessidade de uma maior extensão, além de que haverá a possibilidade de implementar um número maior de linhas de representação e, assim, avaliar um número maior de variáveis em uma única matriz. 2 cm 29,5 cm 2 cm ÁREA ÚTIL 25,5 cm 2 cm 23,5 cm 2 cm 27,5 cm Fig 5.1: Dimensões da matriz a ser reproduzida, com o tamanho original (29,5 por 27,5 cm) e a área útil.(25,5 por 23,5 cm) O número de representações por linha na matriz foi definido a partir das análises de experimentos realizados por BRANDÃO (2005), na Divisão de Pesquisa e Produção de Material Especializado (DPME), responsável pelo desenvolvimento e reprodução de materiais não só relativos a Cartografia, mas voltados para a 89 educação em geral dos deficientes visuais, tanto dos que compõem o corpo discente do Instituto Benjamin Constant como aqueles que integram os vários centros especializados na educação de cegos no território nacional, uma vez que o IBC distribui os materiais desenvolvidos a estes centros. Segundo a referida pesquisadora, um número elevado de representações em uma única linha poderá impossibilitar a identificação e comparação entre os símbolos táteis. Isso se deve ao fato do deficiente visual utilizar a sua memória tátil, que possui uma maior limitação que a memória visual. Em outras palavras, o deficiente visual pode identificar e comparar uma quantidade limitada de símbolos táteis, pois o mesmo necessita de reconhecer um símbolo por vez, avaliando todas as suas características geométricas e de textura. Logo, um conjunto extenso de símbolos não permitirá que o deficiente avalie e compare cada uma das representações, devido à limitação da percepção tátil. Baseado nessas informações foi definido que cada linha terá apenas três representações, e desta forma, os testes de validação foram realizados por linhas, ou seja, o deficiente visual testará as representações em cada linha por vez, e não avaliando toda a matriz de uma única vez. Em cada linha haverá três tipos de representações táteis, que poderão ser distintos ou repetidos. A repetição dos símbolos táteis tem como objetivo induzir o deficiente visual ao erro e, desta forma, constatar a real percepção ou não das representações. A concepção das matrizes foi baseada na análise de uma variável por vez, ou seja, cada matriz foi elaborada para que o deficiente visual pudesse identificar apenas um único tipo de variação nos símbolos táteis, bem como suas extensões. Assim, para cada variável visual que possua características que permitam a adaptação para a percepção tátil será gerada uma ou mais matrizes para constatar a possibilidade de percepção por meio tátil, bem como identificar as extensões que possam ser utilizadas. Desta forma, foram concebidas 21 matrizes com o intuito de se avaliar as variáveis forma, tamanho, orientação, espessura e textura. Além das variáveis, as matrizes também foram elaboradas levando em consideração os elementos gráficos, logo, cada matriz além de se limitar a uma variável também estará avaliando esta 90 mesma variável em apenas um único tipo de elemento gráfico, ou seja, ponto, linha ou área. Entretanto, vale ressaltar que devido ao número de matrizes geradas, a variável textura, no que tange aos elementos gráficos ponto e linha, será levada em consideração no conjunto com as demais variáveis. Em outras palavras, a textura será utilizada nas matrizes correspondente as variáveis de forma, tamanho, orientação e espessura, como maneira de auxiliar na diferenciação dos símbolos. Logo o deficiente visual, por exemplo, deverá perceber as formas das representações de uma determinada matriz e posteriormente, nos mesmos símbolos, deverá também identificar as texturas existentes. Assim, a título de um melhor entendimento da construção das matrizes, serão explicitadas cada uma com suas características peculiares, seguido de figuras ilustrativas da mesma. 5.2 AS MATRIZES-BASES 5.2.1 SÍMBOLOS PONTUAIS A primeira matriz foi concebida com o objetivo de se avaliar a variável forma em representações pontuais (ver figura 5.2). Esta matriz foi constituída de cinco linhas com representações com formas regulares básicas, ou seja, formas regulares que servirão de base para a geração de outras formas derivadas destas. Os símbolos utilizados nesta matriz são o círculo, o quadrado e o triângulo eqüilátero. A segunda matriz é constituída de representações de diferentes formas regulares derivadas, em símbolos pontuais (figura 5.3). Especificamente nesta matriz, as formas regulares são derivadas das figuras de um quadrado e um triângulo eqüilátero, ambas representadas e testadas na primeira matriz. 91 1 2 3 4 5 Fig 5.2: Esquema e a matriz 01, referente às formas pontuais regulares básicas. A referida matriz contém cinco linhas de representações táteis, sendo as duas primeiras referentes a derivações do quadrado, tendo as figuras do quadrado e do retângulo. As duas linhas seguintes contêm representações derivadas do triângulo eqüilátero, tendo além do mesmo o triângulo isósceles. A última linha contém representações derivadas dos dois tipos de estruturas geométricas. 1 2 3 4 5 Fig 5.3: Esquema e a matriz 02, referente às formas pontuais regulares derivadas do quadrado e do triângulo. A matriz seguinte se refere aos símbolos cuja forma deriva da figura do círculo, completando as três formas básicas da primeira matriz. No caso do círculo, optou-se 92 por uma matriz só com as representações derivadas desta figura, isso devido ao número de derivações elaborado, em um total de quatro (figura 5.4). Além do círculo completo a matriz contém os símbolos com formas de meio, um quarto (1/4) e três quartos (3/4) de círculo, distribuídos em cinco linhas que constituem a matriz. 1 2 3 4 5 Fig 5.4: Esquema e a matriz 03, referente às formas pontuais regulares derivadas do círculo. A quarta matriz foi elaborada para se avaliar todos os tipos de representações com formas pontuais regulares, básicas e derivadas. Logo, esta matriz é constituída de símbolos pontuais com as três formas pontuais básicas e as respectivas derivações, em oito linhas ao todo (figura 5.5). Esta matriz foi concebida com o intuito de se avaliar todas as representações pontuais de formas regulares em uma mesma área de análise, uma vez que cada matriz anterior avalia um tipo de forma pontual regular. Desta forma, há a necessidade de se avaliar a percepção destes tipos de formas isoladamente e em conjunto com os demais formatos descritos anteriormente, uma vez que nos documentos cartográficos esses tipos de representações não serão utilizados isoladamente, mas sim em conjunto com uma diversidade de outras formas e variações a serem avaliadas nas matrizes seguintes. 93 Assim, estas quatros primeiras matrizes elaboradas possuem o objetivo de avaliar a percepção da variável forma em símbolos pontuais, mas limitando-se aos formatos regulares, tanto os básicos quanto os derivados. 1 2 3 4 5 6 7 8 Fig 5.5: Esquema e a matriz 04, referente às formas pontuais regulares básicas e derivadas. As três matrizes seguintes, a quinta, sexta e a sétima foram concebidas para se avaliar as formas irregulares de símbolos pontuais, uma vez que as matrizes anteriores limitaram-se a testar apenas as formas regulares. As formas irregulares, em sua totalidade, compreendem de formatos oriundos de peças de diversas origens, como brincos, miçangas, enfeites, dentre outros, que são adquiridos e utilizados para elaboração de mapas táteis elaborados pelo IBC. Assim, como são formas de peças únicas não há a possibilidade de se avaliar as demais variáveis, como, por exemplo, a variável tamanho. Os testes se limitarão a avaliar apenas os diversos tipos de formatos existentes, identificando somente as formas passíveis de percepção tátil. Logo, estas três matrizes serão utilizadas para constatar a percepção destas formas irregulares, validando ou não sua aplicação em representações cartográficas. A escolha de três matrizes em vez de uma única é devido ao elevado número de peças que geram formas diferenciadas (ver figura 5.6). 94 Vale ressaltar que a idéia não é limitar e sim identificar uma maior quantidade possível de extensões que possam ser utilizadas nos documentos cartográficos, uma vez que quanto maior forem as variáveis e suas respectivas extensões, maior será a liberdade do profissional responsável em criar um documento cartográfico com mais informações e com uma maior eficácia no que tange o objetivo da comunicação cartográfica. Fig 5.6: Matrizes 05, 06 e 07, referentes às formas pontuais irregulares. 95 As matrizes seguintes têm como foco a variável tamanho e o principal objetivo é a avaliação dos tamanhos dos símbolos pontuais com formatos regulares. Em outras palavras, as matrizes foram geradas para identificar a variação perceptível de tamanho dos três tipos de símbolos com formas pontuais regulares, que são o círculo, o quadrado e o triângulo eqüilátero, os mesmos utilizados na primeira matriz. Para se fazer esta avaliação, foram elaborados quatro matrizes para se testar os diversos símbolos em diferentes dimensões. A primeira desta série é a oitava do grupo de testes, gerada para se avaliar os diferentes tamanhos de um quadrado. Foram escolhidos três tamanhos diferentes, cada um com medidas dos lados de dois, quatro e seis milímetros de comprimento, distribuídos por cinco linhas de representações (ver figura 5.7). Vale ressaltar que os três valores não esgotam a problemática, entretanto, servirão de parâmetro para que outros trabalhos e testes, que venham a ser realizados, possam ter uma referência. Logo, o objetivo dos testes com estes três tamanhos pré-definidos é iniciar uma delimitação das características da percepção háptica no que tange a tamanhos distintos. 1 2 4 6 2 3 4 5 Fig 5.7: Esquema e a matriz 08, referente aos diferentes tamanhos de quadrados. 96 A nona matriz do grupo de teste avalia os tamanhos nos símbolos triangulares. Com características semelhantes da matriz anterior, a matriz se constitui em cinco linhas com representações de triângulos eqüiláteros com medida de lados variando de dois, quatro e seis milímetros de lado (ver figura 5.8). 1 4 2 6 2 3 4 5 Fig 5.8: Esquema e a matriz 09, referente aos diferentes tamanhos de símbolos triangulares. As duas matrizes seguintes, a décima e a décima primeira, foram utilizados para se avaliar os diferentes tamanhos de símbolos circulares, contendo a mesma variação de dimensão que as matrizes anteriores utilizaram, dois, quatro e seis milímetros de diâmetro (figuras 5.9 e 5.10). Contudo, vale destacar que novamente os símbolos circulares foram avaliados em um número de representações maior que os símbolos quadrangulares e triangulares. Para se testar os símbolos circulares foi necessária a concepção de duas matrizes, uma vez que como as derivações do círculo possuem uma maior variação geométrica, uma única matriz não seria suficiente. Detalhadamente, a décima matriz é constituída de representações de um círculo inteiro e de um quarto de círculo, distribuídas em seis linhas de representações, sendo três linhas de cada tipo de representações. 97 Já a décima primeira matriz, é composta pelas representações de metade de círculo e três quartos de círculo. Da mesma forma que a anterior, a matriz contém seis linhas de representações, com as três primeiras contendo as representações de meio círculo, e as três linhas posteriores tendo as simbologias de três quartos de círculo. 1 2 3 4 5 6 Fig 5.9: Esquema e a matriz 10, referente aos diferentes tamanhos de símbolos circulares, com três tamanhos distintos. 1 2 3 4 5 6 Fig 5.10: Esquema e a matriz 11, referente aos diferentes tamanhos de símbolos circulares, com três tamanhos distintos. 98 Nas formas irregulares, a variável tamanho não foi avaliada uma vez que os símbolos com formatos irregulares, geralmente, possuem um único tamanho. Em outras palavras, as peças utilizadas nas representações táteis, como miçangas, elementos de bijuterias, dentre outros, normalmente, possuem um único tamanho para cada forma, o que inviabiliza a avaliação da percepção da variável tamanho neste tipo de peças. As quatro matrizes seguintes têm como objetivo a avaliação da percepção tátil da variável orientação, em símbolos pontuais regulares. Igualmente ao realizado com a variável tamanho, a avaliação da variável orientação também adotou um número determinado de orientação que não extingue a problemática, mas permitirá uma primeira avaliação da percepção desta referida variável através do tato. A décima segunda matriz possui como finalidade o teste da orientação dos símbolos pontuais quadrangulares. Logo, esta matriz foi constituída de dois tipos de formas quadrangulares, o quadrado e o retângulo. O quadrado será disposto em duas orientações distintas, com sua base na horizontal e inclinado, na disposição de um losango. Já o retângulo, será trabalhado em quatro orientações diferentes, uma com sua base maior na horizontal, outra com sua base menor na horizontal e com inclinações tanto para direita, como para esquerda, ou seja, com orientações variando 450 graus (ver figura 5.11). 1 2 3 4 5 6 7 Fig 5.11: Esquema e a matriz 12, referente às avaliações da orientação de símbolos quadrangulares regulares. 99 A matriz seguinte se encarrega de testar, da mesma forma que a anterior, as representações pontuais triangulares. Esta matriz foi composta de triângulos eqüiláteros em quatro orientações distintas, sendo uma com um de seus lados como base, a outra com um de seus lados para cima, e as demais com um de seus lados na vertical, em lados opostos, formando a figura de uma seta, uma apontando para o lado direito, e a outra para o lado esquerdo, distribuídas em cinco linhas de representações (figura 5.12). 1 2 3 4 5 Fig 5.12: Esquema e a matriz 13, referente às avaliações da orientação de símbolos triangulares regulares. A duas matrizes seguintes, a décima quarta e décima quinta, foram elaboradas para se avaliar as simbologias pontuais circulares. Como nas demais variáveis, devido não só ao número de derivações adotadas da forma de um círculo, mas também às diferentes orientações de cada derivação testada, a utilização de apenas uma única matriz tornaria esta avaliação inviável. Logo, foram geradas duas matrizes com o intuito de dar condições para a avaliação das derivações e suas diversas orientações. Torna-se óbvio que não foi utilizada a forma básica, ou seja, a circunferência inteira devido ao fato de não haver distinção de orientação desta forma. A décima quarta matriz contém as orientações das formas de um semi-círculo e de um quarto de círculo colocadas em quatro posições cada uma. O semi-círculo, 100 representado nas quatro primeiras linhas, está orientado na horizontal, com a parte esférica voltado para cima e para baixo, e na vertical, com a parte esférica voltado para esquerda e para direita. Já a forma de um quarto de círculo está com a parte convexa da forma voltada para a esquerda superior e inferior, e para a direita superior e inferior, nas quatro linhas finais de representação (figura 5.13). 1 2 3 4 5 6 7 8 Fig 5.13: Esquema e a matriz 14, referente às avaliações da orientação de parte dos símbolos circulares regulares. Já a matriz seguinte, a décima quinta, foi dedicada exclusivamente para a forma de três quartos de círculo, composta de seis linhas de representações. Esta forma se apresenta em quatro tipos de orientações distintas, sendo a primeira com o um quarto ausente do lado direito superior, a segunda com um quarto direcionado para o lado direito inferior, a orientação seguinte com o um quarto ausente na parte superior do lado esquerdo e a última no lado esquerdo na parte inferior (figura 5.14). As formas irregulares mais uma vez foram excluídas deste tipo de avaliação, uma vez que os formatos utilizados não necessitariam deste tipo de teste, pois suas formas, independentemente da orientação, não sofrem alterações. 101 1 2 3 4 5 6 Fig 5.14: Esquema e a matriz 15 referente às avaliações da orientação de parte dos símbolos circulares regulares. 5.2.2 SÍMBOLOS LINEARES As duas matrizes seguintes foram concebidas e desenvolvidas para a avaliação das simbologias lineares, no que concernem às variáveis forma, espessura e textura (ver figuras 5.15 e 5.16). Vale lembrar que, conforme explicitado no capítulo de variáveis visuais, a variável tamanho não será aplicada nas representações lineares, sendo avaliada a apenas a variável espessura e forma. Além disso, a variável orientação também não foi aplicada nos testes de símbolos lineares, uma vez que esses tipos de representações não possuem uma única orientação, devido a sua própria estrutura geométrica. Outro ponto importante a ser ressaltado é que as variáveis espessura e textura não foram sistematizadas para serem avaliadas, devido à ausência de símbolos que fossem semelhantes e que se diferenciassem apenas pela espessura e pela textura. Entretanto, serão utilizadas pelos deficientes visuais como um dos fatores de distinção entre os símbolos lineares, ou seja, na verdade a identificação das representações se dará pelas três variáveis, mas apenas a variável forma será tabulada nos resultados. 102 As duas matrizes seguintes, a décima sexta e décima sétima, foram compostas por oito linhas de símbolos lineares com formas, espessuras e texturas distintas. Fig 5.15: Matriz 16 referente às avaliações da variável forma e espessura em representações lineares. Fig 5.16: Matriz 17, referente às avaliações da variável forma e espessura em representações lineares. 103 5.2.3 SÍMBOLOS POLIGONAIS As quatro matrizes finais foram concebidas para avaliar a variável textura, principalmente, em símbolos de áreas. Desta forma, as matrizes foram constituídas de polígonos com texturas distintas, compostas por diversos tipos de superfícies. A décima oitava matriz foi composta apenas com texturas referentes a lixa, tendo em sua constituição granulações diferentes, variando da 40 até a 120, conforme ilustra a figura 5.17 com os tipos descritos na própria figura. 120 40 80 100 120 120 80 40 80 120 80 120 80 100 100 Fig 5.17: Esquema com as distintas granulações e a matriz 18 referente às avaliações da extensão lixa da variável textura em representações em áreas. As duas matrizes seguintes foram concebidas para avaliar a variável textura através de um conjunto heterogêneo de tipos de superfícies, incluindo papelão, telas, tecidos, veludo, dentre outros tipos de materiais, que estão ilustrados nas figuras 5.18 e 5.19. A matriz 19 se caracteriza pela sua composição apenas de tipos de telas e a matriz 20 tendo em seu interior uma gama mais heterogênea, com papelão, tecido, tela, emborrachado compactado e veludo, com variações desses materiais descritos. 104 Fig 5.18: Matriz 19, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com diversos tipos de superfícies. Fig 5.19: Matriz 20, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com diversos tipos de superfícies. 105 A última matriz gerada, a vigésima primeira, também tem como objetivo a avaliação da variável textura. Entretanto, a sua composição é caracterizada apenas por papelão corrugado, tendo a diferenciação entre eles através da variação de formas em seu interior, como polígonos irregulares e tipos de linhas, conforme ilustra a figura 5.20. Fig 5.20: Matriz 21, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com diversos tipos de superfícies oriundas de papelão corrugado. 5.3 APLICAÇÃO DOS TESTES Para a aplicação dos testes de percepção tátil, foi concebida a montagem de um grupo de deficientes visuais do Instituto Benjamin Constant. Este grupo seria composto, em uma primeira etapa, apenas por cegos, ou seja, por pessoas que não tivessem nenhum resquício do campo visual, o que não acontece com os deficientes 106 de visão subnormal, conforme já exposto anteriormente. A adoção somente dos cegos na formação do grupo de teste se explica pelo fato de que a potencialidade de percepção tátil do cego é a mesma que uma pessoa de visão subnormal. Na verdade, o deficiente com visão subnormal tem uma “vantagem” sobre o cego, uma vez que o mesmo possui, mesmo que de maneira deteriorada, o seu campo visual, logo, há possibilidade de visualizar vultos, cores com fortes contrastes e outros elementos, dependendo da deterioração da visão. O grupo de deficientes visuais tem como uma de suas características a heterogeneidade, isso devido a diversos fatores, como a idade da perda da visão, que irá influenciar até na aprendizagem do deficiente visual. Quando a ausência da visão é de nascença, geralmente, o deficiente não tem a assimilação de alguns conceitos e conhecimentos que uma pessoa que tenha perdido o campo visual na fase adulta possua, como o conhecimento das cores, por exemplo. Outros fatores que contribuem para a heterogeneidade são a realfabetização através do sistema Braille, introdução à alfabetização cartográfica, sensibilidade para a percepção de texturas, dentre outros. Desta forma, a constituição do grupo de teste teria que levar em consideração estas diversidades para que os resultados dos testes e as conclusões consigam abranger grande parte deste heterogêneo grupo que é o dos deficientes visuais. A tabulação dos resultados da aplicação de todos os testes, ou seja, das matrizes geradas e expostas anteriormente, possibilita a identificação das variáveis perceptíveis ao tato, bem como a determinação e a mensuração da quantidade de extensões, de cada variável tátil, que tenham a possibilidade de serem reconhecidas através do sistema háptico. Assim, haverá condições de se tomar conhecimento da quantidade de variáveis e extensões que poderão ser aplicadas na geração de documentos cartográficos táteis e, logo, dimensionar a quantidade de informações que poderão ser expostas, além de contribuir, também, para determinar formas de apresentação destes documentos. Entretanto, apesar de ser evidente a importância da aplicação destas matrizestestes para se alcançar o objetivo deste presente trabalho, conforme exposto anteriormente, a montagem do grupo de deficientes para testá-las não foi possível. Isso se justifica devido à impossibilidade da composição do grupo, devido ao fato da indisponibilidade dos deficientes visuais do Instituto Benjamin Constant. 107 Os deficientes visuais que formariam o grupo de teste são, em sua maioria, alunos da escola existente dentro do Instituto, que é especializada na educação especial neste tipo de deficiência. Além dos alunos, contribuiriam professores e colaboradores que possuem experiência não só na educação para os deficientes como também na leitura e interpretação de objetos e superfícies através do sentido do tato. Sendo assim, a época de aplicação dos testes elaborados coincidiu com o período de avaliações e provas finais do ano letivo. Posteriormente, seguiu-se a época de férias onde não só os alunos não se encontrariam no Instituto, mas também grande parte dos funcionários e colaboradores, o que inviabilizou a aplicação dos testes. Desta forma, buscou-se alternativas para que o presente trabalho não ficasse restringido apenas na concepção e elaboração dos testes, mas também que produzisse os resultados, mesmo que parciais. Os resultados parciais podem permitir um conhecimento prévio das potencialidades e limitações da percepção tátil além de um levantamento superficial das matrizes, indicando deficiências e pontos a serem aperfeiçoados. Entretanto, a série de testes elaborada é composta por vinte e uma matrizes, cada uma com no mínimo cinco linhas, e em cada linha três símbolos táteis a serem analisados, identificados e comparados. Logo, além da problemática de encontrar pessoas com deficiência visual, havia a necessidade que estas pessoas tivessem disponibilidade para realizar toda a série de testes. Assim, enquadrando-se nestas características, foi possível a aplicação dos testes em dois voluntários que se disponibilizaram a testar as vinte e uma matrizes. O primeiro voluntário pertence ao Instituto Evangélico dos Cegos, entidade particular fundada em 1927 e atualmente sediada em Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Advogado por formação possui total deterioração no campo visual. De acordo com o voluntário, até os 20 anos possuía a visão, quando sofreu uma atrofia na retina que iniciou o processo de deterioração da visão. Como seus pais eram primos, a genética favoreceu a perda total da visão três meses depois. O segundo voluntário, de 25 anos, pertencente ao Centro de Atendimento Educacional ao Cego (CAEG) do Núcleo de Computação Eletrônica (UFRJ). Graduado em informática possuía visão parcial até os 14 anos, quando perdeu por 108 completo seu campo visual, devido também a uma herança genética, já que os pais são deficientes visuais. Diferentemente do primeiro voluntário, o segundo deficiente estudou no IBC até a oitava série, aprendendo o sistema Braille e tendo acesso aos diversos equipamentos de auxílio à educação dos deficientes. Contudo, ele afirma que havia grandes dificuldades quando a informação estava associada a uma representação gráfica (figura, foto, esquema, etc.) principalmente quando se tratava de mapas. Assim, os testes de validação foram realizados com estes dois voluntários que possibilitaram não só a identificação de pontos a serem melhorados nas matrizes como também as dificuldades, limitações e características do processo de percepção do sistema tátil. 109 6 RESULTADOS Os testes realizados com os deficientes visuais geraram resultados correspondentes às percepções dos símbolos táteis. Estes resultados serão apresentados mantendo a mesma ordem das matrizes, ou seja, seqüencialmente os resultados da percepção na simbologia pontual, linear e poligonal. 6.1 SÍMBOLOS PONTUAIS A identificação e distinção entre as três formas primárias (quadrado, triângulo e círculo), referente à primeira matriz, foi realizada com êxito, não havendo na avaliação dubiedade em nenhum momento. Já em relação às formas derivadas, que corresponde às matrizes 2, 3 e 4, as avaliações constataram dificuldades em relação ao processo de identificação das mesmas. Estas dificuldades concentraram-se principalmente nas variações triangulares e circulares, uma vez que os formatos quadrangulares (quadrado e retângulo) foram identificados e distinguidos sem problemas. Os dois tipos de triângulos utilizados (eqüilátero e isósceles) não foram, na maioria das respostas obtidas, distinguidos. O formato triangular era identificado, entretanto não se percebia as variações distintas deste formato, ou seja, não era possível, através do tato, a identificação dos dois diferentes tipos de triângulos utilizados. Da mesma forma ocorria nos formatos circulares (círculo inteiro, semi-círculo, um quarto de círculo e três quartos de círculo), onde houve grande dificuldade para se identificar as diferentes variações desta forma, excetuando o círculo inteiro e em alguns testes o semi-círculo. Por vezes o um quarto de círculo se confundia com a forma triangular pelos dois lados retilíneos existentes. Já a forma três quartos de círculo era diferenciado das demais variações, mas não identificado com tal. 110 No que diz respeito às formas irregulares, no geral, foram passíveis da percepção através do tato, sendo possível a identificação e distinção entre as diferentes formas utilizadas nas matrizes 5, 6 e 7. Contudo, algumas dubiedades foram constatadas, como na matriz 5 os formatos circulares nas linhas 3 e 7. Na matriz 6 houve uma maior dificuldade na distinção das formas, devido a mesma possuir semelhanças de estrelas e triângulos, num total de nove tipos de variações. Entretanto, a distinção das formas foi percebida, com exceção das linhas 5 e 7 onde as variações do formato estrelar levaram a interpretar semelhanças em formas distintas na percepção de um dos voluntários. As formas utilizadas na matriz 7 foram todas identificadas e diferenciadas sem maiores problemas, com exceção da última linha, onde ocorreu dificuldades na identificação e comparação entre os três elementos da linha. Após avaliar a forma nas primeiras sete matrizes, a variável testada foi o tamanho, que compreendeu da oitava a décima matriz. Os três tamanhos adotados nos símbolos táteis (2, 4 e 6 mm) foram identificados sem nenhum problema, tendo a percepção de um mesmo símbolo com três tamanhos diferentes. Contudo, um ponto foi destacado pelos deficientes visuais, que os símbolos de 2 mm, apesar de ser possível a percepção do tamanho diferenciado dos demais, não permite a identificação da forma. Em outras palavras, os símbolos utilizados com o menor tamanho não tiveram sua forma identificada, pois além do tamanho a moldagem no braillon suaviza as arestas, mascarando as características estruturais dos símbolos adotados. Em relação à variável orientação, compreendida entre a décima segunda matriz e a décima quinta, os resultados obtidos variaram conforme o formato dos símbolos (quadrangular, triangular e circular). Com o formato quadrangular (matriz 12) houve a mesma dificuldade com os símbolos de 2 mm, impedindo assim a identificação das respectivas orientações. Nos demais símbolos a determinação da orientação foi realizada sem dubiedade. No caso das formas triangulares (matriz 13) a determinação das diferentes orientações foi acompanhada de vários erros e dúvidas. Pelo formato do triângulo apresentar três lados iguais a identificação da orientação dos mesmos foi problemática, não sendo possível nem mesmo se o símbolo estaria apontado para cima, para baixo ou para os lados. Em grande parte das respostas, após a 111 percepção, se indicava que os triângulos estariam inclinados, mesmo aqueles que estavam com sua base na horizontal (“de pé”). Além disso, os símbolos triangulares de 2 mm também tiveram os mesmos problemas de percepção. Apesar das matrizes 14 e 15 abrangerem os símbolos com formato circular, os resultados dos testes foram bastante diferenciados. Isso se deve ao fato de que a matriz 14, que possui as formas de semi-círculo e um quarto de círculo, tinha, em grande parte, símbolos com tamanho de 2 mm, logo, a identificação da forma foi inviabilizada (conforme os resultados das matrizes anteriores constataram) e conseqüentemente a determinação da orientação também foi impossibilitada. Os símbolos de maior tamanho tiveram suas respectivas orientações identificadas, que foram os semi-círculos com a curvatura voltado para as partes superior, inferior e esquerda. Vale ressaltar que mesmo com maior tamanho, os símbolos que correspondem à forma de um quarto de círculo não tiveram suas orientações identificadas. Já a décima quinta matriz foi constituída por símbolos de tamanho maior, o que permitiu que os deficientes pudessem perceber as características estruturais dos símbolos (três quartos de círculo) e assim a sua orientação. Vale destacar que nesta mesma matriz, a forma não foi identificada, a determinação da orientação se fez através das características estruturais do símbolo, ou seja, os deficientes através da ausência do restante do círculo (um quarto de círculo) percebiam que havia duas arestas no círculo e através delas identificava-se para onde apontava estas arestas e assim se determinava a orientação do símbolo. 6.2 SÍMBOLOS LINEARES Os testes nas matrizes 16 e 17 permitiram avaliações na variável forma em símbolos lineares, utilizando para isso as variáveis textura e espessura. Os resultados das duas matrizes mostraram que as formas semelhantes não são diferenciadas pela percepção tátil, ou seja, se duas formas forem parecidas, a percepção destas identificará um único tipo de forma. Este resultado ocorreu em diversos pontos das matrizes, como por exemplo, na matriz 16, na primeira linha, os 112 dois primeiros símbolos da segunda e da quinta linha, e na matriz 17, com a segunda, quinta e oitava linha, e os dois primeiros símbolos da terceira linha. Vale destacar que, no que concerne a variável espessura, apesar de terem sido utilizadas como uma das maneiras de diferenciação dos símbolos lineares, a mesma não foi sistematizada visando sua avaliação nos testes realizados. Isso se deve ao fato de não haver símbolos disponíveis com mesmas características e espessuras distintas, ou seja, não houve a disponibilidade de símbolos lineares que tenham variação apenas na variável espessura e semelhança nas demais variáveis, permitindo assim a avaliação da variável espessura. Contudo, como os símbolos lineares possuem espessuras distintas (além das formas diferenciadas) esta variável também foi utilizada como um dos meios de distinção entre os símbolos, uma vez que os deficientes visuais além de perceberem as formas para identificar os símbolos também percebiam a espessura, outro ponto diferenciador das representações utilizadas. Da mesma forma ocorreu com a variável textura, que não houve uma sistematização para avaliá-la, mas foi utilizada como variável para distinção entre os símbolos lineares. 6.3 SÍMBOLOS POLIGONAIS As quatros últimas matrizes correspondem à avaliação de símbolos poligonais, mais especificamente à variável textura. A primeira desta série, a décima oitava, é constituída apenas de variações de lixas, tendo os números 40, 80, 100 e 120 de granulação da lixa. Os resultados obtidos constatam que a percepção destas variações de lixas ocorreu sem nenhuma dúvida ou problema, tendo os deficientes conseguidos identificar e diferenciar os quatros tipos de lixas adotados. As matrizes 19 e 20 foram formadas a partir de tipos de telas, tecidos e emborrachados. A décima nona teve todas as suas telas identificadas e diferenciadas sem nenhuma dubiedade. Já a vigésima matriz apresentou, no processo de percepção, maiores problemas de identificação da simbologia. Os símbolos que provocaram dúvidas quanto a sua identificação foram os dois últimos símbolos da primeira (emborrachados) e da segunda linha, e a terceira linha. 113 A última matriz, a vigésima primeira, foi constituída de tipos de papel corrugado, tendo em todas as suas simbologias as texturas identificadas e diferenciadas. O único problema constatado foi uma dificuldade entre os dois últimos símbolos na terceira linha, devido à orientação diferenciada da textura (os quadrados formados na superfície dos símbolos estão em diferentes orientações). Em suma, baseado nestes resultados, pode-se então mensurar, em um primeiro momento, as extensões de cada variável passíveis de percepção através do tato. Isto possibilitará não só a determinação da quantidade de informação a ser veiculada nos documentos cartográficos, mas também como representar as informações a serem veiculadas. De uma forma sucinta podemos apresentar os resultados preliminares da seguinte forma, sendo os pontos positivos indicados por um visto e os pontos negativos indicados por uma cruzeta: a) Símbolos Pontuais Formas regulares primárias (quadrado, círculo e triângulo) Formas derivadas primárias (exceto as variações quadrangulares) Formas irregulares Tamanhos de 4 e 6 milímetros Tamanho de 2 milímetros Orientação das formas quadrangulares e circulares Orientação das formas triangulares b) Símbolos Lineares Formas e texturas com características distintas Formas e texturas semelhantes c) Símbolos Poligonais Lixas Telas Papel corrugado Tecidos 114 Na tabela 6.1, as extensões descritas são aquelas que no processo de avaliação foram identificadas pelos deficientes visuais sem dubiedade ou erro. As demais extensões que baseado na percepção tátil tiveram sua identificação errada, confundidas ou igualadas a outras distintas não foram consideradas nesta tabela. EXTENSÕES PERCEPTÍVEIS PELO SISTEMA TÁTIL VARIÁVEL ELEMENTOS EXTENSÕES GRÁFICOS N0 DESCRIÇÃO FORMA PONTO 31 4 regulares (quadrado, retângulo, triângulo e círculo); 27 irregulares LINHA 24 14 (matriz 16); 8 (matriz 17) TAMANHO PONTO 2 4 e 6 milímetros ORIENTAÇÃO PONTO 10 2 quadrangulares (quadrado e losângo); 1 triangular; 7 circulares (4 três quartos de círculo e 3 semicírculo) TEXTURA POLÍGONO 18 4 tipos de lixa (n0 40, 80, 100 e 120); 5 tipos de telas (da matriz 19); 6 tipos de papel corrugado (da matriz 21); 3 tipos de tecidos (40 e 50 linha da matriz 20) Tab 6.1: Variáveis e suas respectivas extensões avaliadas e consideradas perceptíveis através do sistema tátil. Vale destacar que esta tabela não encerra o trabalho pela identificação das variáveis e extensões possíveis de serem utilizadas em documentos cartográficos táteis. Isto se deve ao fato deste conjunto de avaliações não testarem as variáveis e suas respectivas extensões em conjunto, sendo realizadas isoladamente. Desta forma, faz-se necessário não só novas avaliações que ratifiquem esses resultados e refinem outros, mas também testem as variáveis e as extensões em conjunto, num contexto, ou seja, implementadas em um documento cartográfico tátil, para que assim possam ser definidas como variáveis e extensões táteis. Além disso, também é de suma importância ampliar o número de avaliações, ou seja, um maior número de deficientes que possam analisar o material gerado e testar sua viabilidade. Desta forma, esta tabela é um resumo do quadro construído a partir dos resultados dos testes de avaliação realizados, servindo como passo inicial para o 115 desenvolvimento de novas pesquisas que venham detalhar o tema principal. Logo, trata-se de resultados preliminares, que necessitam de maiores avaliações, com o intuito de ratificá-los ou não, bem como avaliar sua aplicação nos documentos cartográficos. 116 7 CONCLUSÕES O levantamento bibliográfico realizado, bem como a experiência adquirida na confecção dos testes de validação (matrizes) juntamente com os resultados obtidos, permitem a descrição de algumas considerações sobre o presente tema, além de conclusões iniciais, que serão desenvolvidas mediante o prosseguimento deste trabalho. Em primeiro lugar, há uma necessidade de se desenvolver metodologias de produção de documentos cartográficos, pois o que se encontra atualmente são formas artesanais, de baixa escala produtiva e apenas com a preocupação dos símbolos serem passíveis de identificação pelo tato. Também existe uma necessidade de se conciliar formas que atendam não só a sensibilidade tátil, mas também aos fundamentos da ciência cartográfica, principalmente, no que tange ao sistema de comunicação cartográfica. Ao mesmo tempo, se torna indispensável que a Cartografia reveja seus fundamentos, princípios, normas e convenções para sua representação na forma tátil, uma vez que, como já exposto anteriormente, as necessidades, limitações e formas de representação para o sistema háptico são distintas da Cartografia convencional, que se baseia, quase que na sua totalidade, na visualização. No que tange a representação, ou seja, a simbologia tátil, algumas considerações cabem serem expostas, e deverão ser confirmadas ou refutadas, mediante a aplicação de novos testes de validação que darão prosseguimento a este trabalho. Assim, cabe ressaltar que a percepção tátil possui limitações e peculiaridades que devem ser respeitadas e levadas em consideração na concepção e elaboração de qualquer documento cartográfico tátil. A partir disso, um ponto a ser ressaltado é o fato de que nem toda simbologia em alto relevo e nem toda textura utilizados em símbolos táteis são passíveis de identificação e, logo, da leitura e interpretação da informação representada pelo deficiente visual. Em outras palavras, a determinação dos símbolos e das texturas a serem utilizados necessita de um conhecimento prévio da compatibilidade com a percepção tátil, ou melhor, precisa-se saber se através do tato é possível a 117 identificação dos mesmos, pois há símbolos e texturas que não são passíveis de identificação isoladamente ou em conjunto com outros tipos em um mesmo documento. Em relação aos símbolos pontuais constatou-se que as extensões avaliadas da variável forma são passíveis de identificação através do sistema tátil, excetuando as formas derivadas triangulares e circulares. Logo, através dos testes realizados, pode-se considerar que as diferentes formas empregadas na composição das matrizes poderão ser identificadas através do tato pelo deficiente visual. No que se refere à variável tamanho, nos símbolos pontuais, a composição de simbologia com a medida de dois milímetros ou menor torna inviável a sua identificação através do sistema háptico. Isto porque o tamanho menor que dois milímetros impede a identificação das características estruturais dos símbolos, o que inviabiliza não só a determinação da forma, mas também de outras variáveis como a orientação, por exemplo. Vale destacar que esta limitação ocorre tanto com formas quadrangulares, como triangulares e circulares; assim, conclui-se que a simbologia a ser adotada deve ter tamanho superior a dois milímetros. Em relação à orientação dos símbolos pontuais, constatou-se que há uma inviabilidade na determinação desta variável em formas triangulares. Contudo, nas formas quadrangulares e circulares esta limitação não ocorre, uma vez que os símbolos possuam um tamanho maior que dois milímetros, pois ao contrário há também uma inviabilidade na determinação da orientação dos símbolos pontuais. Outro importante ponto a destacar é que a referida variável necessita de uma maior avaliação para a sua aplicação. Isso se deve porque o manuseio dos mapas táteis e de outros tipos de documentos por parte do deficiente visual, normalmente, não é realizado orientado convencionalmente, ou seja, com o norte na parte superior. Devido à deficiência visual, o usuário, em geral, ao utilizar um mapa tátil não tem como orientar o documento, assim, a variável orientação ao ser identificada pode sofrer influências na decodificação do símbolo e, logo, a variável em questão poderá ter limitações no que tange as suas respectivas extensões. A aplicação da variável textura em símbolos pontuais, em geral, deve levar em consideração a dimensão do mesmo, principalmente os tipos constituídos de superfícies com formas em alto relevo ou vazados (como por exemplo, telas, papel corrugado, dentre outros). Isto se deve, pois normalmente o tamanho destes 118 símbolos impede o reconhecimento do tipo de textura utilizada. Os tipos de textura utilizados nestes casos são de superfícies contínuas, sem formas vazadas, e sem variações (como ondulações ou formas e desenhos), como, por exemplo, veludos, lixas, e outros. Já nos símbolos lineares, após a execução dos testes de validação, pode-se afirmar que as formas semelhantes tendem a serem interpretadas como iguais, ou seja, se o formato de uma linha tiver características parecidas com uma outra linha, a percepção tátil tenderá a identificar como uma única linha e não duas distintas. Isto foi constatado nos testes, nas comparações entre dois tipos de correntes, barbantes, cordas, etc. Entretanto, quando se compara símbolos lineares de naturezas distintas a identificação e a distinção é realizada através do tato, como, por exemplo, entre um barbante e um arame, ou entre uma corrente e uma corda. Desta forma, a utilização da simbologia linear deve levar em conta as semelhanças de materiais a fim de não gerar dubiedade de interpretações, levando ao usuário a leitura de informação erradamente. Outra limitação é de se implementar distintas texturas nos símbolos lineares, ficando limitada às texturas próprias das peças utilizadas na confecção do mapa tátil, como linha de costura, arames e outros. Por fim os símbolos poligonais, onde foram avaliadas as variações do diferentes tipos de texturas. A textura é um dos principais meios de distinção, uma vez que outras variáveis não são aplicadas aos símbolos de áreas como a forma e o tamanho, conforme já exposto anteriormente. No que se refere a textura proveniente da lixa, os quatros tipos utilizados (40, 80, 100 e 120) foram todos identificados sem nenhuma dubiedade nas avaliações. Entretanto, vale ressaltar que apesar da percepção dos diferentes tipos de lixa utilizados sem dificuldades no processo de identificação, as superfícies ásperas, em destaque a lixa, são pouco aprazíveis aos deficientes visuais. Isto se deve ao fato de que estes tipos de superfícies são incômodas ao deficiente, sendo agressivas à sensibilidade háptica. Como a lixa, as variações de telas e papel corrugado também obtiveram excelentes resultados no que tange a identificação dos diferentes tipos destas texturas, sendo todas identificadas, apesar da semelhança visual. Já as variações de emborrachados e de tecidos apresentaram dubiedade em algumas comparações, 119 constatando que, mesmo sendo perceptíveis, é necessário uma maior avaliação para a determinação deste tipo de superfícies. Sobre os tipos de texturas utilizados nos mapas táteis, cabem algumas ressalvas sobre determinados materiais. Primeiramente, há de se determinar a forma de reprodução dos documentos cartográficos táteis, ou seja, se os mapas táteis serão reproduzidos da mesma forma que o original ou se as cópias serão feitas através da película plástica thermoform. Esta definição é fundamental para se determinar os tipos de materiais que serão utilizados na produção dos mapas táteis, uma vez que há materiais incompatíveis com o método de produção como certos tipos de emborrachado, que não podem ser utilizados no thermoform devido ao processo de moldagem ser realizado em alta temperatura. Outro exemplo que se pode citar são as peças e símbolos com baixa altura e texturas com rugosidades e superfícies com variações suaves, que, normalmente, não são registrados na película plástica depois do processo de moldagem. Enfim, apesar do quadro atual requisitar maior desenvolvimento e disseminação, a questão da deficiência visual, bem como a busca por formas de favorecer a acessibilidade da informação ao deficiente, além da própria Cartografia tátil, vem crescendo, se disseminando e popularizando. Isto pode ser percebido, além do crescimento do número de artigos publicados sobre o tema, através de ações tomadas pelo Estado, pela Academia e pela sociedade como um todo. Para ilustrar esta afirmação, citaremos alguns exemplos, como a construção de um mapa tátil da área central da cidade de Florianópolis (ALMEIDA e LOCH, 2004, e LOCH e ALMEIDA, 2006), a elaboração de mapas táteis para uma maior acessibilidade aos deficientes visuais nas estações metroviárias da cidade de São Paulo (AME, 2006) e em eventos públicos como a Casa Cor SP, em sua edição de 2005 (TERRA, 2006). Em suma, o presente trabalho, espera contribuir não só através de uma discussão conceitual sobre alguns pontos que baseiam o tema, mas também através dos testes realizados, permitindo assim um maior entendimento da percepção das representações táteis. Desta forma, espera-se que este trabalho seja mais um passo para o desenvolvimento de novas metodologias que auxiliem a este segmento significativo da população brasileira e mundial na busca por uma melhora na qualidade de vida, uma democratização no acesso a informação e uma maior inclusão social. 120 Destaca-se que os testes de validação propostos neste trabalho constituem uma primeira parte, uma vez que os mesmos avaliam apenas as variáveis e suas respectivas extensões isoladamente, o que constituirá em um tipo de resultado ao final da aplicação. Assim, faz-se necessário a continuação deste trabalho e a concepção de um conjunto de testes que avaliem a percepção tátil das variáveis e de suas extensões inseridos em um contexto, ou seja, aplicados a um documento cartográfico. Além disso, há necessidade de se refinar os testes realizados a fim de ratificar os resultados obtidos e desenvolver as conclusões parciais geradas. Isso se justifica devido a, primeiro, o número reduzido de avaliações, uma vez que só houve a possibilidade de realizar os testes com apenas dois deficientes. Segundo, a impossibilidade de se conhecer, através dos testes, todas as limitações e peculiaridades da percepção tátil, que deverão nortear a concepção da simbologia a ser utilizada na elaboração de documentos cartográficos táteis. Desta forma, se faz necessário a formação de um grupo de testes formados por deficientes visuais com o objetivo de ampliar o universo de avaliações realizadas e assim ratificar ou não os resultados obtidos. Outro ponto é a necessidade de se refinar os testes concebidos, uma vez que os resultados obtidos não responderam a todos os questionamentos, como por exemplo, o tamanho mínimo a ser adotado pelos símbolos pontuais, a diferença mínima entre os tamanhos dos símbolos, quais outras formas derivadas que podem ser percebidas, qual a variação de orientação possível de ser utilizada, dentre outros. Em suma, o presente trabalho constitui-se apenas como uma contribuição inicial para o desenvolvimento de novas pesquisas sobre o tema. Assim, espera-se que esta dissertação além de contribuir para o crescimento da ciência Cartográfica e de auxiliar na minimização dos problemas e na melhora da qualidade de vida dos deficientes visuais estimule a produção de novos trabalhos, dando continuidade ao desenvolvimento de um importante tema com reflexos acadêmicos e sociais. 121 BIBLIOGRAFIA ALBUQUERQUE, P.C.G. Ensinando Cartografia. In: Apostila INPE [online]. Cap.10, p.15. Disponível: http://www.dsr.inpe.br/vcsr/html/APOSTILA_PDF/CAP10_PCGAlbuquerque.pdf [capturado em 11 de janeiro de 2006]. ALMEIDA, L.C.; LOCH, R.E.N. Mapa Tátil da Área Central de Florianópolis. In: SEMANA DA GEOGRAFIA DA UFSC, 2004, Florianópolis. Anais Eletrônico [online]. Florianópolis, 2004. Disponível: http://www.cfh.ufsc.br/~gcn/semageo%2025/ resumo34.htm [capturado em 12 de janeiro de 2006]. AME. 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