RICARDO PEREIRA

Transcrição

RICARDO PEREIRA
07
M I L L E N N I U M
07
SETEMBRO
OUTUBRO
2010
M A G A Z I N E
_
€2,50
SETEMBRO/OUTUBRO 2010
RICARDO
PEREIRA
cara
e coroa
M
I
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N
N
I
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M
M
A
G
A
Z
I
N
E
PERFIL RICARDO PEREIRA CULTO 1985: O FUTURO COMEÇOU HÁ 25 ANOS FOTORREPORTAGEM TERREIRO DO PAÇO VIAGEM DE COMBOIO PELA ÍNDIA ROTEIRO CASCAIS LINHA DA FRENTE PORDATA
MAHARAJAS’
EXPRESS
Sete dias num
comboio com
vista para a Índia
LINHA DA
FRENTE
Maria João Valente
Rosa e o ambicioso
projecto Pordata
Millennium
25 anos
O FUTURO COMEÇOU EM 1985
FOTORREPORTAGEM O NOVO TERREIRO DO PAÇO AUTOMÓVEIS SALÃO DE PARIS ROTEIRO CASCAIS
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ÍNDICE.
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Millennium
magazine
SETEMBRO.OUTUBRO
2010
07
O FUTURO COMEÇOU HÁ 25 ANOS
CULTO. 25 de Junho de 1985: o primeiro dia do resto da vida
do Banco Comercial Português. Por essa altura, Portugal aderia
oficialmente à Comunidade Económica Europeia, o multibanco
começava a ser uma realidade em Lisboa e Porto, e Marco
Chagas tornava a vencer a «Volta». Mas outros episódios, ícones
e momentos sobrevivem desse ano crucial para as nossas vidas.
30.
ÍNDIA MAHARAJAS’ EXPRESS
VIAGEM. A jornalista Ana Músico embarcou, com o fotógrafo
Paulo Barata, no Maharajas’ Express, comboio de luxo que percorre
uma das maiores redes ferroviárias do mundo para mostrar um país
tradicional, frenético, apaixonante e espiritual. «A Índia nunca
dorme. Tudo acontece, em qualquer lado, ao mesmo tempo.»
56.
FICHA TÉCNICA
IMAGEM DA CAPA:
RICARDO PEREIRA
FOTOGRAFIA:
LUIS DE BARROS
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edição projectos especiais I coordenação editorial (projectos especiais) joão mestre I
projecto gráfico josé gonçalves / projectos especiais I design josé gonçalves, pedro dias I
colaboradores ana músico, carlos alves, joão alexandre, joão mestre, pedro alfaia I
fotografia corbis / vmi, feriaque, luís de barros, nuno palha, paulo barata / volta ao
mundo, pedro loureiro I ilustração pedro dias I
revisão joão mestre I apoio editorial inês neto vilas-boas I
publicidade projectos especiais I
pré-impressão pré&press I impressão lisgráfica I Casal de Sta. Leopoldina,
2730-053 Barcarena
periodicidade bimestral I tiragem 100.000 exemplares I
ERC Registo nº 125713 I Depósito Legal 298369 / 09
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tel.: 21 844 07 09 I [email protected] I www.projectosespeciais.pt
O Millennium bcp não subscreve necessariamente as opiniões veiculadas nesta revista.
4.magazine
setembro/outubro 2010
Banco Comercial Português, S.A.
Sociedade Aberta - Sede: Praça
D. João I, nº 28, 4000-295 - Porto
- Capital Social 4.694.600.000
Euros - Nº Único de Matrícula e
de Pessoa Colectiva 501525882.
Mediador de Seguros Ligado nº
207074605 - Data de Registo:
26/06/2007. Autorização para
mediação de seguros dos Ramos
Vida e Não Vida dos Seguradores
Ocidental - Companhia Portuguesa de Seguros de Vida, S.A.,
Ocidental - Companhia Portuguesa de Seguros, S.A., e Médis Companhia Portuguesa de Seguros de Saúde, S.A. e ainda com a
Pensões gere - Sociedade Gestora
de Fundos de Pensões, S.A. Informações e outros detalhes do
registo disponíveis em www.isp.pt.
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RICARDO PEREIRA O BOM, O MAU E O GALÃ
PERFIL FALADO. Recém-chegado do Rio de Janeiro e já de partida para
o Festival de Cinema de Toronto, o «mais brasileiro» dos actores portugueses
fala de sonhos e ambições, de galãs e maus-da-fita, e de como encontrou
uma nova casa na Rede Globo. «Ser actor é uma profissão muito séria. Temos
o dever de transmitir uma verdade encenada de forma credível e não podemos
defraudar, de forma alguma, o público.»
22.
TERREIRO DO PAÇO SALÃO NOBRE
FOTORREPORTAGEM. Depois de anos de sucessivas obras e intervenções,
o Terreiro do Paço é finalmente «devolvido» a Lisboa, livre de automóveis (ou
quase) e com interessantes projectos de animação e valorização turística no
horizonte. Enquanto esses trabalhos não arrancam, o fotógrafo Nuno Palha
mostra-nos como ficou, de «cara lavada», a sala de visitas da capital.
42.
07. Curtas
74. Automóveis: desfile de novidades
50. Maria João Valente Rosa, os números que somos
80. Operação Internacional — Polónia
64. Passeio marítimo: roteiro de Cascais
82. Yola Semedo: uma voz com alma
70. Boa vida no Pestana Palace
86. A opinião de Pedro da Rosa Ferro
72. Arte: “Cristal”, de Maria Helena Vieira da Silva
90. Conversa de algibeira, com Roberta Medina
RECTIFICAÇÃO: No artigo “Cidade da Luz” da última edição, a reconstrução do castelo de Tavira foi, por lapso, datada do século XVIII. Um «V» faz
toda a diferença: foi, isso sim, no século XIII. Na mesma edição, na rubrica “Top 5: Livros Essenciais de um Nobel”, a descrição de “A Viagem do
Elefante” atribui a D. João II a oferta do elefante Salomão, em 1551, ao arquiduque Maximiliano II. Porém, o monarca português morreu em 1495.
Foi o seu sobrinho, D. João III, que enviou Salomão como presente de casamento ao herdeiro austríaco. As nossas desculpas aos leitores.
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PESSOAS n CINEMA n DISCOS n LIVROS n EXPOSIÇÕES n ESPECTÁCULOS n ALMANAQUE n MODA n HOTÉIS n BD
O CITADINO DO FUTURO
CITROËN LACOSTE. Os especialistas garantem que o “concept-car” apresentado
pela Citroën no Salão Automóvel de Paris (2 a 17 de Outubro) remete automaticamente
para o mítico Mehari da marca francesa. História e comparações à parte, o modelo nunca
chegará a ser comercializado, mas permite antecipar as principais linhas dos futuros
citadinos da Citroën. Apresenta 3,45 metros de comprimento, 1,80 de largura e 1,52 de altura.
Tiradas as medidas, o desportivo Concept Citroën Lacoste consegue ainda destacar-se pela ausência de portas e tejadilho, pelos
encostos de cabeça que partem do tecto, pelo painel digital, pelos bancos revestidos com o tecido de algodão utilizado no fabrico
dos pólos Lacoste, pelas rodas inspiradas em bolas de golfe ou pelo motor de três cilindros a gasolina.
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magazine.7
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A L M A N A Q U E
MIKHAIL GORBACHEV. O
Comité Nobel norueguês não
ficou indiferente à queda do Muro
de Berlim e ao fim declarado da
Guerra Fria e atribuiu o Nobel da
Paz a um dos protagonistas
políticos da segunda metade do
século XX: o presidente da União
Soviética. A cerimónia decorreu
a 15 de Outubro de 1990.
SNOOPY. Há 60 anos, a 2 de
Outubro de 1950, Charles Schulz
(1922-2000) publicava a primeira
tira dos “Peanuts” em sete jornais
norte-americanos. Dois dias depois,
um dos cães mais famosos do mundo
mostrava a sua raça: Snoopy, sempre
na companhia de Charlie Brown.
A TEIA POR DETRÁS DA REDE
CINEMA. Mark Zuckerberg, co-fundador e actual CEO do Facebook, é o mais jovem “self-
-made billionaire” de sempre. É um facto. Outro facto: a partir do seu quarto na residência
de estudantes da Universidade de Harvard criou a base desta rede social em parceria com
Eduardo Saverin — que, mais tarde, saiu do projecto. Terceiro facto: os gémeos Winklevoss
moveram uma acção judicial contra o Facebook, alegando que Zuckerberg copiara a sua ideia.
Na hora de escrever o argumento de “A Rede Social” — filme realizado por David Fincher,
com Jesse Eisenberg, Andrew Garfield e Justin Timberlake nos principais papéis —, Aaron
Sorkin preferiu não tomar partido de ninguém: «Como havia narrativas contraditórias, em vez
de tomar uma delas por verdadeira, achei que o mais interessante seria incluir todas no
enredo — e enfatizar o facto de serem contraditórias», explica nas suas notas de produção.
«Pegámos numa série de factos e fizemos uma verdade. Ou melhor: fizemos três verdades.»
A história começa com Mark Zuckerberg (Eisenberg), embriagado e frustrado por ter
sido deixado pela namorada, a criar o “website” que originou o Facebook, uma rede
global que hoje conta com mais de 500 milhões de utilizadores. A partir daqui, o “tagline”
explica o resto: «Não se chega a 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos.»
“A Rede Social” estreia nas salas portuguesas a 4 de Novembro.
www.thesocialnetwork-movie.com
OITAVO SÓ NO NOME
HOTEL. Se o primeiro dia de Setembro assinalasse oficialmente a “rentrée” de oferta turística
em Portugal, 2010 ficaria invariavelmente marcado pela inauguração de um novo hotel de
luxo na Quinta da Marinha, em Cascais. Com desenho em forma de «Y» assinado pelo
arquitecto José Anahory, «design contemporâneo de linhas direitas e esguias» e interiores
«simples e luminosos», o The Oitavos, localizado junto ao campo de golfe Oitavo Dunes, dispõe
de 16 suites e 142 quartos, todos com varandas e decorados em tons azuis e brancos.
Também o spa, as piscinas exterior e interior com água do mar aquecida, os restaurantes
“gourmet” e um amplo centro de congressos conferem outro brilho ao estatuto deste cinco
estrelas. Preços a partir de 275 euros por noite.
Rua de Oitavos, Quinta da Marinha (Cascais) I Tel.: 214 860 020
E-mail: [email protected] I www.theoitavos.com
8.magazine
setembro/outubro 2010
ABEBE BIKILA. Dia inesquecível:
10 de Setembro de 1960. O lendário
maratonista etíope (1932-1973)
conquistava, descalço, o seu
primeiro ouro olímpico em Roma.
Repetiria a proeza nos Jogos Olímpicos de Tóquio, quatro anos depois.
DAVE GROHL. O actual líder
dos Foo Fighters era escolhido,
em audição, num modesto estúdio
de Seattle, para baterista dos
Nirvana, substituindo Chad
Channing, que apenas gravara o
álbum de estreia “Bleach” (1989).
O calendário marcava 25 de
Setembro de 1990. Um ano depois
era lançado “Nevermind”, um dos
discos marcantes dos anos 90.
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CHRISTINA
HENDRICKS
ATRACÇÃO FATAL
TELEVISÃO. Joan Holloway é cínica,
dominadora e perversa. Contudo, é impossível
não simpatizar com a ruiva bombástica que
controla todas as mulheres (e, com igual
facilidade, manipula os homens) da agência
de publicidade Sterling & Cooper, na série
televisiva “Mad Men”. Christina Hendricks,
a actriz que lhe dá corpo (e de que maneira!),
é a sua perfeita antítese — chegou até
a perder um papel num filme de Woody
Allen, o seu realizador de sonho, por ser
«demasiado doce» para a personagem.
Christina Rene Hendricks nasceu loira, em
1975, na cidade de Knoxville (Tennessee).
Tinha 10 anos quando pintou pela primeira
vez o cabelo de vermelho. «Andava
obcecada com a “Ana dos Cabelos Ruivos”»,
revelou à “L.A. Times Magazine”. «Ficou
cor de cenoura. E eu estava feliz da vida.
Senti-me eu mesma.» Esse tom afogueado
acabou por se tornar uma das suas imagens
de marca, a par da silhueta curvilínea, que
a ministra britânica da Igualdade, Lynne
Featherstone, considera a forma ideal
de uma mulher. «Ela é absolutamente
fabulosa. Precisamos de mais exemplos
destes.» Não é a única: num inquérito
realizado pela revista “Esquire” junto do
público feminino, Hendricks foi apontada
como “a mulher mais atraente dos EUA”,
reunindo mais votos do que Jessica Alba
e Megan Fox juntas.
Nos próximos tempos, poderemos vê-la
na nova temporada de “Mad Men” (arranca
a 27 de Outubro, no Fox Next) e também na
comédia “É a Vida”, que chega aos cinemas
portugueses a 28 de Outubro. Na calha estão
ainda “Leonie” (com Emily Mortimer) e
“Detachment” (com Adrien Brody e Lucy Liu).
© 2009 Frank Ockenfels/AMC/Lionsgate
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SEPARADOS
POR UM SÉCULO
JOÃO FERREIRA*
O QUE A REPÚBLICA
NOS DEU
1. ELEIÇÃO DO CHEFE DO ESTADO
Acabou a sucessão por herança, mas pela
Constituição de 1911 o Presidente era eleito
apenas pelos deputados e os senadores.
Só durante o governo de Sidónio Pais (1917-1918) houve eleição por sufrágio universal.
EXPOSIÇÃO. O pretexto é o centenário da República;
o objectivo, colocar em confronto obras do início dos
séculos XX e XXI. A exposição “Res Publica — 1910 e 2010
face a face”, comissariada por Maria Helena de Freitas e
Leonor Nazaré, passa por diferentes territórios (fotografia,
pintura, vídeo, etc.,) e artistas, como Adriano de Sousa
Lopes, Ângela Ferreira, Armanda Duarte, Bruce Nauman,
Eurico Lino do Vale, Nuno Maya, Gabriel Orozco ou Joana
Vasconcelos. «No início do século XX, a cenografia, a
decoração, as artes gráficas cruzam-se com o território da
pintura no espaço não muito alargado da folha ou da tela»,
defendem as comissárias. Pelo contrário, nos primeiros
anos do século XXI, «o design, a comunicação, a ciência
são trazidos para dentro do espaço digital, imaterial e
tecnológico.» Na Fundação Calouste Gulbenkian, em
Lisboa, até 16 de Janeiro de 2011 (de terça a domingo,
das 10h às 18h). cam.gulbenkian.pt
SUSAN PHILIPSZ
LUCIA JOYCE, PARIS, MAIO 1929.
CORTESIA THE STUART GILBERT COLLECTION,
HARRY RANSOM CENTER, UNIV TEXAS, AUSTIN.
PHOTOGRAPHER UNKNOWN
2. O «MILAGRE DE TANCOS»
Para entrar na Grande Guerra, Norton de
Matos tentou transformar a tropa num
exército moderno. O sacrifício nas trincheiras
garantiu as colónias, mas contribuiu para a
queda da República às mãos dos militares.
3. A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR
A Lei da Separação da Igreja e do Estado
ajudou à liberalização da sociedade, mas o
novo regime partiu para o ataque à liberdade
religiosa com a perseguição ao clero, pondo
contra si o povo católico.
4. EDUCAÇÃO
A fundação das universidades de Lisboa e
do Porto e a luta contra o analfabetismo
através do Ministério da Instrução Pública
ficam para a história como um contributo
positivo da República.
5. INSEGURANÇA
42 governos em menos de 16 anos; golpes e
revoluções constantes; presos políticos às
centenas; massacres nas ruas de Lisboa
(como o da «Noite Sangrenta» de 19 de
Outubro de 1921). Foi o lado negro do regime.
* João Ferreira, jornalista e editor executivo da “NS’”,
revista do “Diário de Notícias” e do “Jornal de Notícias”,
é autor de “Histórias Rocambolescas da História de
Portugal” (Esfera dos Livros, 2010).
10.magazine
setembro/outubro 2010
GRINDERMAN.
ROBERT PLANT.
TRACY BONHAM.
Grinderman 2
Algures entre “Abattoir
Band of Joy
Com os rumores da reunião
Masts of Manhatta
Tem quatro álbuns, nomea-
Blues...” e “Dig!!! Lazarus
Dig!!!”, Nick Cave e os seus
Bad Seeds sentiram necessidade de criar outra «entidade colectiva» para escoar
uma veia mais crua da sua
música. E aí nasce Grinderman — a banda e o disco
homónimo, de 2007. Três
anos depois, regressam
com “2”, ainda mais visceral, intenso, irreverente. O
que é obra para alguém que
leva já 30 anos de carreira.
dos Led Zeppelin ainda no
ar, o “frontman” da mítica
banda inglesa põe de parte
as expectativas e, na hora
de lançar um álbum novo,
retoma o caminho trilhado
em “Raising Sand” (uma
colaboração com Alison
Krauss que lhe valeu seis
“Grammies”), juntando à
receita de folk contemporâneo um pouco mais de
blues — e, algures ao fundo,
o fantasma dos “Led Zep”.
PREÇO: 16€
PREÇO: 17€
ções para “Grammies” e
colaborações com nomes
sonantes como Aerosmith.
Ainda assim, é praticamente
desconhecida neste lado do
mundo — e talvez não seja
este disco a colocá-la no
“mainstream”. Contudo,
“Masts of Manhatta” é
um trabalho que importa
descobrir, guiado por
uma voz doce e feminina
servida, em doses iguais,
de ambientes urbanos e
paisagens bucólicas.
www.myspace.com/grinderman
www.robertplant.com
PREÇO: 11,60€ (amazon.co.uk)
www.myspace.com/tracybonham
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LOW COST,
É EVIDENTE
HOTEL. O lema diz quase tudo: «Faça
e desfaça a sua cama desde 18 euros
por noite». O hotel Santa Catarina é
o mais recente “low cost” do grupo
Evidência. As suas duas estrelas, o
ambiente informal e o conceito “light”
direccionam-se, à partida, para um
público jovem e cosmopolita. Há 17
quartos (13 duplos, três triplos e um
múltiplo, para 14 pessoas) com 49
camas e casas de banho privativas
(excepto no quarto múltiplo).
O “lounge” para refeições, encontros
descontraídos e Internet “wireless”
gratuita, ajuda a completar a oferta
de um “low cost” situado bem no centro
de Lisboa, com o miradouro que lhe dá
nome e o elevador da Bica a dois passos.
Evidência Light Santa Catarina
Rua Dr. Luís de Almeida e Albuquerque, 6
Bairro Alto (Lisboa)
Tel.: 213 461 009
E-mail: [email protected]
www.evidenciahoteis.com
FELIPE OLIVEIRA BAPTISTA
A CRIAR PARA O CROCODILO
MODA. É oficial: Felipe Oliveira Baptista assina a primeira colecção integral de pronto-a-vestir feminino da Lacoste para a temporada Primavera/Verão 2012, mas desde Setembro
que o designer português de 35 anos exerce funções como director criativo da conceituada
marca francesa, substituindo Christophe Lemaire — que abandonou o cargo para suceder a
Jean-Paul Gaultier na Hermés. «O seu grande sentido de cor e o seu incontestável talento
em projectar os códigos da marca Lacoste no futuro serão a chave para a renovação
constante e a definição de uma nova linha de produtos», defende a multinacional presente
em 114 países e que tem no crocodilo o seu ícone de gerações. Licenciado pela Kingston
University, criador de uma linha em nome próprio e consultor de diversas empresas
europeias e asiáticas, Felipe Oliveira Baptista tem visto o seu trabalho amplamente
reconhecido, como provam os prémios do Festival de Hyeres e, por duas vezes, do ANDAM,
promovido pelo Ministério da Cultura francês e pela Association Nationale pour le
Développement des Arts de la Mode. Em 2005, foi convidado a integrar o calendário oficial
de alta-costura parisiense, e apresenta as suas propostas na Semana da Moda de Paris desde
o ano passado. Colecções, propostas e outros projectos em www.felipeoliveirabaptista.com.
12.magazine
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tintin
DE VENTO EM POPA
BANDA DESENHADA. Portugal detém dois recordes quando o assunto são as aventuras
do jovem repórter criado pelo belga Hergé (1907-1983): foi o primeiro país não-francófono
a publicá-las (na revista “Papagaio”, em Abril de 1936) e o primeiro do mundo a fazê-lo a
cores — mesmo sem a permissão do autor, que no fim acabou por não se opor. Quase 75
anos depois, a ASA quer dar um novo fôlego a Tintin, reeditando os 24 álbuns da colecção
com novas traduções (assinadas por Maria José Pereira e Paula Caetano), formato inédito
(mais pequeno do que o tradicional da Casterman) e grafia original — Tintin em vez de Tintim.
«O Tintin é uma marca», explica Maria José Pereira, responsável pela banda desenhada da
ASA. «E também não fomos buscar os nomes das primeiras versões das personagens, tal
como existiram em Portugal, nomeadamente as do “Papagaio”». Os seis primeiros livros
(“Tintin no País dos Sovietes”, “Tintin no Congo”, “Tintin na América”, “Os Charutos do
Faraó”, “O Lótus Azul” e “A Orelha Quebrada”) já estão nas livrarias, e até ao final do ano
devem ser lançados outros seis. O objectivo da editora é ter os 24 álbuns prontos em finais
de 2011, quando estrear nos cinemas “The Adventures of Tintin: The Secret of the Unicorn”,
o início de uma trilogia realizada por Steven Spielberg.
14.magazine
setembro/outubro 2010
TINTIN NA AMÉRICA
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A NÃO PERDER
LLOYD COLE. O «cantautor»
inglês regressa a Portugal com
uma mini-digressão de cinco datas
e, na bagagem, um disco pronto a
estrear, “Broken Record”. Passará
pelo Porto (Casa da Música, 14/Out),
Guimarães (CAE São Mamede, 15),
Estarreja (Cine-Teatro, 16), Sintra
(CC Olga Cadaval, 17) e Coimbra
(Teatro Gil Vicente, 19).
THE WALKMEN. O quinteto
nova-iorquino está de volta à cidade
que inspirou o título do seu último
disco: o recém-lançado “Lisbon”
será o mote para um concerto no
Coliseu dos Recreios, a 14 de
Novembro. Bilhetes a partir de 25€.
OTANGO. Em Outubro, o tango
invade Portugal. “OTango, the
ultimate tango show” passará por
Lagoa (19), Faro (20), Braga (22),
Lisboa (23), Caldas da Rainha (24),
Porto (26), Coimbra (27), Leiria
(28), Sintra (29) e Funchal (30).
REDES COM
MILHARES DE
VISITANTES
EXPOSIÇÃO. A iniciativa superou as
melhores expectativas. Mais de 68.500
pessoas visitaram a exposição “Redes
sem Mar: Arte Partilhada Millennium
bcp”, que até 19 de Setembro reuniu,
no Paço dos Duques de Bragança
(Guimarães), 13 tapeçarias da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre,
seleccionadas entre o acervo artístico
do Banco. Para além destas peças,
executadas a partir de pinturas de
vários artistas nacionais (entre eles
Júlio Pomar e Graça Morais), a mostra
incluía ainda 13 fotografias de Duarte
Belo e um vídeo de António Caramelo
que mostrava como «a tecelagem
reconstrói em lã o que a pintura criou
em tela».
16.magazine
setembro/outubro 2010
HISTÓRIA DA VIDA
PRIVADA EM PORTUGAL.
Direcção de José Mattoso I Círculo de Leitores
«A História é, de facto, uma disciplina que ajuda a olhar sem crispação e, ao mesmo
tempo, sem ilusões, para as regras de comportamento que o homem foi inventando
através dos tempos.» A frase do historiador José Mattoso, que dirigiu esta colecção,
resume parte do grande empreendimento editorial que são os quatro volumes de
“História da Vida Privada em Portugal”, inspirada na obra homónima de Philippe Ariès
e Georges Duby, recentemente lançada em exclusivo pelo Círculo de Leitores.
Planeada desde Outubro de 2004, esta “História” teve o contributo de 40 autores.
O primeiro volume versa sobre «A Idade Média», e conta com a coordenação de
Bernardo Vasconcelos e Sousa. Seguem-se, nos próximos meses (a um ritmo bimestral),
«A Idade Moderna» (Nuno Gonçalo Monteiro), «A Época Contemporânea» (Irene
Vaquinhas) e «Os Nossos Dias» (Ana Nunes Almeida).
PREÇO: 26,64€ 1.º Volume I historiadavidaprivadaemportugal.blogspot.com
CORSÁRIOS
E PIRATAS
PORTUGUESES.
Alexandra Pelúcia
A Esfera dos Livros
LIVRO.
José Luís Peixoto
Quetzal
Sebastião Tibau — soldado
embarcado para a Índia, em
1605, desertor, líder de uma
república pirata — é um dos
nomes «descobertos» por
Alexandra Pelúcia, historiadora da Universidade Nova
de Lisboa. Mas há outros
cuja actividade corsária, ao
serviço do Rei, era praticamente desconhecida: Vasco
da Gama, Álvares Cabral,
Afonso de Albuquerque...
“Livro” marca o regresso
de um dos mais jovens e
consistentes escritores
portugueses, vencedor do
Prémio José Saramago
em 2001 (com “Nenhum
Olhar”). A personagem
que empresta o nome ao
romance integra uma
fascinante galeria de
sinais, momentos e figuras
da emigração portuguesa
para França. Entre uma
vila do interior e Paris, há
um passado por revelar.
PREÇO: 22€
PREÇO: 17,95€
SUPERFREAKONOMICS.
Steven D. Levitt e
Stephen J. Dubner
Presença
É a continuação de “Freakonomics”, o “best-seller”
que abordava a aplicação
de métodos de economia
à vida quotidiana. Levitt,
economista, e Dubner,
antigo editor da “New York
Times Magazine”, voltam a
discutir questões insólitas
— seja a prostituição ou o
aquecimento global — para
mostrar como as pessoas
reagem aos incentivos.
PREÇO: 17,50€
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nicole
kidman
DE NOVO NA BROADWAY
TEATRO. Na sua última e única passagem pela Broadway (“The Blue Room”, 1998),
Nicole Kidman deu que falar, não só pela qualidade artística do seu desempenho (que
lhe valeu a nomeação para o prémio Laurence Olivier) como pelo nu integral que o papel
implicava — menos de quatro segundos, mas o suficiente para dominar as atenções.
Passados treze anos, a actriz havaiana volta ao palco, desta vez sob direcção de David
Cromer e vestida da cabeça aos pés: a partir do Outono de 2011, será Alexandra del Lago,
uma estrela de cinema decadente e com um problema de alcoolismo, em “Sweet Bird of
Youth”. A peça foi escrita por Tennessee Williams em 1959 e nesse mesmo ano chegou
à Broadway pela mão de Elia Kazan, com Geraldine Page e Paul Newman nos principais
papéis — replicados no grande ecrã em “Corações na Penumbra” (1962), realizado por
Richard Brooks.
Enquanto “Sweet Bird of Youth” não estreia, Nicole Kidman tem encontro marcado com
o público no drama “Rabbit Hole” (uma prestação candidata a nomeação para Óscar)
e na comédia romântica “Just Go With It”, ambas ainda sem data de estreia para as
salas portuguesas.
www.nicolekidmanofficial.com
O CINEMA REGRESSA AO ESTORIL
“O AMERICANO”, DE ANTON CORBIJN
“MACHETE”, DE ROBERT RODRIGUEZ
18.magazine
setembro/outubro 2010
FESTIVAL. Cinéfilos, jornalistas e profissionais da sétima arte: de 5 a 14 de Novembro,
todos convergem para o Estoril Film Festival, que, durante dez dias, coloca Portugal no
mapa do cinema internacional. Este ano, o certame presta homenagem a Roman Polanski,
Chris Marker, Marisa Paredes e Koji Wakamatsu, passa em retrospectiva a obra do
palestiniano Elia Suleiman e da oscarizada Kathryn Bigelow, e dedica o ciclo “Cineastas
Raros” ao romeno Andrei Ujica.
Para a competição oficial foram seleccionados 12 filmes que, segundo a organização,
«ainda não tiveram o merecido destaque nas competições de outros grandes festivais»,
entre eles “A Espada e a Rosa”, do português João Nicolau.
Fora desse lote, e como é habitual, serão exibidos vários títulos em antestreia nacional,
entre eles “Machete”, de Robert Rodriguez, “Tournée”, de Mathieu Amalric, e “O Americano”,
de Anton Corbijn, com George Clooney na pele de um assassino contratado. Corbijn, uma
das figuras internacionais com presença confirmada no evento (assim como Amalric),
terá também patente uma exposição de retratos de estrelas do mundo da música —
recorde-se que, antes do cinema, tinha já um longo percurso na fotografia.
A programação conta ainda com conferências, “masterclasses”, concertos, encontros
com o público e um desfile de moda com a assinatura de John Malkovich: o actor vem ao
Estoril apresentar a sua marca Uncle Kimono.
www.estoril-filmfestival.com
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PERFIL FALADO
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TEXTO JOÃO MESTRE FOTOGRAFIA LUIS DE BARROS
RICARDO
PEREIRA
O BOM, O MAU E O GALÃ
RECÉM-CHEGADO DO RIO DE JANEIRO E JÁ DE PARTIDA PARA O FESTIVAL DE CINEMA DE TORONTO, O «MAIS BRASILEIRO» DOS ACTORES
PORTUGUESES FALA DE SONHOS E AMBIÇÕES, DE GALÃS E MAUS-DA-FITA, E DE COMO ENCONTROU UMA NOVA CASA NA REDE GLOBO.
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PERFIL FALADO
“ADORO FAZER
GALÃS, É UM
PRIVILÉGIO
ENORME SERMOS VISTOS
COMO PESSOAS
EXEMPLARES,
CAPAZES DE
APAIXONAR O
ESPECTADOR.”
No labirinto de ruas de faz-de-conta
criado dentro dos estúdios da NBP, em Bucelas,
a azáfama é grande: figurantes, pessoal técnico
e actores apressam-se para começar a gravação
de mais um episódio da série “Bairro da Fonte”.
Entre eles, um jovem estudante de Psicologia
com a ambição de fazer carreira na representação, quase a estrear-se no seu primeiro papel
televisivo. «Estava completamente perdido, era
tudo novo», recorda Ricardo Pereira, nove anos
depois desse momento mágico. «Andava de
olhos e ouvidos bem abertos, a tentar registar o
maior número de percepções por minuto, para poder evoluir, crescer rapidamente.»
Ricardo Pereira não era propriamente um novato. Para além de uns quantos filmes publicitários e aparições fugazes em outras séries, trazia no currículo a peça “A Real Caçada ao
Sol”, de Peter Shaffer, que o Teatro Nacional D. Maria II levou à cena em 2000. O elenco
incluía «pesos-pesados» como Ruy de Carvalho ou Guilherme Filipe. «Foi aí que aprendi o
rigor, a disciplina, a responsabilidade de o que é ser actor. Foi a minha “licenciatura”.» Não
era a primeira vez que pisava um palco. «Esta profissão foi-me conquistando», acrescenta, com
o sorriso que se tornou a sua imagem de marca. Começou a apaixonar-se pela arte da representação no grupo de teatro amador do Liceu Camões, em Lisboa. Seguiram-se as oficinas
de expressão dramática, vários cursos e “workshops”, em Portugal e depois no estrangeiro,
até que, quando deu conta, os papéis se tinham invertido: «De repente, eu é que estava
a tentar conquistá-la, diariamente, trabalhando para me tornar um melhor actor.»
Em criança, sonhava ser atleta profissional. Primeiro no judo, onde chegou a cinturão verde; depois, aos 12, no basquetebol; anos mais tarde, no ténis. Por esta altura, eram
vários os convites de fotógrafos amigos da sua mãe a desafiá-la para que os deixasse fazer
um portefólio do rapaz. A mãe, na verdade, nunca se opôs. Era o próprio Ricardo que
não tinha interesse. «Queria dedicar-me ao desporto, queria lá saber de fotografias.» Até ao
dia em que se deixou convencer a ser fotografado por Luís Magone. Sem saber, dava o
primeiro passo no caminho que acabaria por orientar a sua vida: a «brincadeira» abriu a
porta da agência Look Elite, que lhe garantiu os primeiros trabalhos como modelo. Fez desfiles, catálogos e filmes publicitários. Começava assim a sua grande viagem. Literalmente.
Passou longas temporadas em Milão, Paris, Barcelona, Madrid e Munique, o que cedo
o habituou a viver sozinho. E acabou por ter uma influência decisiva no seu futuro: descobriu em si o espírito de viajante. «Nunca estranho nada, nem o sítio onde fico, nem
a comida, muito menos as pessoas – adoro conhecer pessoas diferentes.»
Em 2004, estreou-se na televisão brasileira com a telenovela “Como Uma Onda”, no
papel do português Daniel Cascaes, um fugitivo que se vê envolvido num complicado
triângulo amoroso. E logo conquistou os telespectadores. «Tive a felicidade de, na minha
primeira telenovela, ser protagonista», responsabilidade que nunca tinha sido entregue a um
actor estrangeiro. «Além disso, apaixonei-me pelo Rio de Janeiro e pelo país, fui muito bem
recebido e criei sólidos laços de amizade.» A partir daí, os convites sucederam-se: telenovelas, séries, programas de entretenimento. Tanto lá, como cá. E as milhas foram-se acumulando no seu cartão de passageiro frequente: «A ponte aérea Lisboa/Rio tornou-se
muito curta. Faço-a umas 30 vezes por ano.» Nos próximos anos, passará ainda mais tempo
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na «Cidade Maravilhosa»: em Abril, assinou
contrato com a Globo até 2014. «Era um
convite irrecusável. É a quarta maior televisão a nível mundial, as possibilidades são
imensas.» Em breve, terão início as gravações de “Insensato Coração”, a sua quarta
telenovela brasileira, sobre a qual pouco revela. «Nem sequer podemos falar sobre as
personagens.» Apenas garante que a sua será
«diferente» das que tem interpretado. E que,
pela primeira vez, não fará o papel de um
português, mas sim de um brasileiro – outra
façanha inédita para um actor estrangeiro.
No dia em que nos encontramos, Ricardo Pereira está de partida para o Festival de
Cinema de Toronto, a propósito da apresentação do filme “Mistérios de Lisboa”, realizado pelo chileno Raoul Ruiz a partir do
romance de Camilo Castelo Branco. «É um
filme de culto, dirigido por alguém com uma
forma bastante diferente de olhar o cinema.
Já o vi duas vezes e adorei!», afirma, entusiasmado. Em parte, pela personagem que lhe foi
entregue, algo diferente das que costuma encarnar no pequeno ecrã: «É um tipo execrável,
muito irónico, muito jogador. Soube-me bem
fazer este papel. Os “maus” são personagens
muito agradáveis de fazer, podemos exorcizar todas as nossas raivas.» Aliás, se lhe dessem a escolher um papel numa grande
produção de Hollywood, escolheria um vilão.
E o “Joker” – seja o de Jack Nicholson (1989)
ou o de Heath Ledger (2008) – está entre as
suas personagens favoritas de sempre. Não se
pense, contudo, que está farto dos papéis de
«bonzinho»: «Adoro fazer galãs, é um privilégio enorme sermos vistos como pessoas
exemplares, capazes de apaixonar o telespectador.» Além disso, garante, «o papel de
galã é muito difícil de fazer, são personagens
extremamente densas e muito diferentes
entre si, não têm de ser uma coisa já estipulada».
Vilão ou galã, Ricardo Pereira quer continuar a gozar o prazer de ser actor: «fingir
que não sou eu, criar outras realidades,
viver vidas que não a minha.»
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RICARDO PEREIRA
PERCURSO.
1979. Ricardo da Silva Tavares
Pereira nasce a 14 de Setembro,
em Lisboa.
1995. Começa a trabalhar como
modelo em desfiles, catálogos e
publicidade. Descobre o interesse pela
representação no grupo de teatro
amador do Liceu Camões (Lisboa).
2000. Entra para a companhia de
teatro infantil Magia e Fantasia. Mais
tarde, integra o elenco de “A Real
Caçada ao Sol”, encenada por Carlos
Avilez, no Teatro Nacional D. Maria II.
2001. Primeiro papel televisivo, na
série “Bairro da Fonte”. Seguem-se
as telenovelas “Sonhos Traídos”,
“Amanhecer” (2002), “Saber Amar”
e “Queridas Feras” (2003).
2004. Aventura-se no Brasil como
protagonista da telenovela da Globo
“Como Uma Onda”. Filma “O Milagre
Segundo Salomé”, de Mário Barroso.
2005. Replica a «fórmula» telenovela
brasileira/filme português com “Prova
de Amor”, na Rede Record, e “O Crime
do Padre Amaro”, de Carlos Coelho da
Silva, repetindo no ano seguinte: “Pé na
Jaca”, na Globo, e “Viúva Rica Solteira
Não Fica”, de José Fonseca e Costa.
2008. Volta a filmar com Coelho da
Silva, agora no aclamado “Amália”.
Na Globo, faz “Negócio da China”.
2010. Depois de encarnar um vampiro
na série juvenil “Lua Vermelha”, assina
um contrato de quatro anos com a
Globo e começa as filmagens da sua
quarta telenovela brasileira, “Insensato
Coração”. Estreia o filme “Mistérios
de Lisboa”, de Raoul Ruiz.
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PERFIL FALADO
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RICARDO PEREIRA
omo conseguiu entrar num mercado tão concorrido como o brasileiro?
Antes de mim, tinham lá estado outros actores que
fizeram um belíssimo trabalho: a Maria João Bastos,
o Paulo Pires, o Nuno Lopes, o Duarte Guimarães,
a Anabela Teixeira, entre outros. Tive a felicidade
de ser protagonista na minha primeira novela: isso credibilizou-me como actor, criou
raízes mais sólidas e fez-me querer investir numa carreira no Brasil.
Ainda há muitos preconceitos em relação Portugal?
Acho que não. Muitos brasileiros já viajaram, não só para Portugal como para a Europa, e percebem que hoje temos um país supermoderno, cosmopolita. Sou muito
patriota, promovo Portugal tanto quanto posso.
No entanto, a sua personagem em “Negócio da China” é um padeiro, um velho
cliché acerca de nós…
Não é nem pode ser uma generalização de Portugal. O Miguel Fallabela, que é um
grande autor e conhece muito bem o País, tentou retratar um outro Portugal que ele
também conhece. Quando se cria uma obra ficcionada, não se pode pensar «meu
Deus, isto pode causar algum problema em alguém». Seria censura criativa. Se virmos
um filme de “cowboys”, não ficamos a pensar que nos Estados Unidos as pessoas
ainda andam aos tiros. A novela “Negócio da China” [actualmente em exibição na
SIC] teve um grande sucesso e o núcleo português foi dos mais aplaudidos. Era um
grupo muito cómico, com excelentes actores: a Maria Vieira, que é a minha mãe, toda
vestida de preto, o Joaquim Monchique, um padeiro que já lá vive há muito tempo, e
a Carla Andrino, a mulher dele. Eles fizeram um trabalho excelente.
Tendo em conta a dimensão das produções brasileiras, sente-se limitado
quando trabalha em Portugal?
Em Portugal fazemos muito bem aquilo que fazemos. Sim, precisaríamos de mais
orçamento. Porém, isso vem da publicidade. E no Brasil, um mercado com 200 milhões
de pessoas, a publicidade movimenta valores bem diferentes. O que influencia (e
muito) a forma de trabalhar. E quando digo isto não estou a condenar: ou é assim, ou
não se produz. Então, é melhor produzir assim.
No Brasil, fala com sotaque brasileiro. Está a aprender com um «treinador»?
Tenho feito um trabalho muito interessante com uma terapeuta da fala, ao nível de
sonoridades, sílabas, respirações, formas de colocar a língua. E ajuda-me muito ler
livros e jornais brasileiros em voz alta. É uma questão de prática. O problema é
quando, à noite, em casa falo com a minha mulher, ou com os meus pais através do
Skype, e esse trabalho me é meio «roubado».
Se houvesse um “remake” de uma telenovela brasileira, qual gostaria de fazer?
O “Roque Santeiro” [1985]. Se pudesse, faria a personagem do José Wilker, o “playboyzão”. Mas o Sinhozinho Malta [Lima Duarte] também era fantástico. “Roque
Santeiro” foi a novela que mais me cativou. Ainda tenho o último episódio,
gravado numa cassete beta.
Quando decidiu que queria ser actor,
foi fácil convencer os seus pais?
Sempre tive uma relação muito boa com
eles: faço o que quiser, mas tenho de assumir as consequências. É a primeira lição
de responsabilidade. Acima de tudo, eles
incutiram-me valores, noções, direcções,
caminhos, para que tomasse as minhas decisões. E estão, estiveram e estarão sempre ao meu lado. São dois grandes amigos,
dois grandes companheiros.
Na universidade, estudou Psicologia…
Estou no último ano do curso desde
2004. Faltam-me quatro cadeiras, o estágio e a monografia. Não tive tempo de
terminar porque foi sempre trabalhar,
trabalhar, trabalhar. Fiz o terceiro e o
quarto ano à noite – durante o dia estava
a gravar novelas. E no quinto fui para o
Brasil. Estou agora a ponderar concluí-lo
lá, tenho uma faculdade de Psicologia
perto de casa.
Que papel mais gostou de representar?
Há, sem dúvida, um carinho especial
pelo primeiro. Foi na série “Bairro da
Fonte” [SIC, 2001], em que o meu pai era
o Virgílio Castelo e a minha mãe a Helena
Isabel, que entretanto se casava com o
Vítor Norte. E entrava também o António
Feio. Estava muito bem rodeado…
Ambiciona chegar a Hollywood?
Sim. E ambiciono outros locais. Tenho
trabalhado com Espanha, Holanda,
França. Ainda não me estabeleci como no
Brasil ou em Portugal, mas tenho esse
sonho. É tudo uma questão de encarar um
desafio noutras paragens a seguir às aventuras no Brasil.
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PERFIL FALADO
EM DISCURSO DIRECTO.
NEM ACTOR NEM MODELO: O MEU SONHO SEMPRE
FOI, E AINDA É, SER FELIZ. SER ACTOR OCUPA UMA
GRANDE PARTE DA MINHA PAIXÃO PELA VIDA.
O que aprecio num actor? Gosto de
sentir no olhar a representação. Há actores
formidáveis, cujo olhar, só o olhar, nos diz
tudo antes de abrirem a boca.
Ser actor é uma profissão muito séria.
Esta profissão é muito instável: quando estou a terminar uma coisa, começo
logo a pensar «O que vou fazer a seguir?». No entanto, se estou cheio de trabalho,
Temos o dever de transmitir uma verdade
encenada de forma credível e não podemos
defraudar, de forma alguma, o público. l
d f
fi
A grande questão – bato sempre na mesma tecla – é o orçamento. E quando
digo isto, não estou a condenar: ou é assim, ou não se produz. É melhor produzir assim.
Só i P
com actores, realizadores, encenadores e
produtores que apostaram em mim, que
me ensinaram, que me endireitaram.
ilh d
Em Portugal, os artistas enfrentam sempre muitas adversidades para
instituir a sua arte. Por vezes quem manda esquece-se de que a arte forma as pessoas,
ensina-as, educa-as. Mas mesmo com essas dificuldades, conseguimos fazer coisas
muito boas.
Tenho tido bons encontros profissionais ao longo do meu percurso,
IM
Nunca falei nem nunca me vão ouvir falar mal daquilo que se faz no meu país
– seja em teatro, em cinema ou em televisão. Há que ser positivo.
aquilo que as pessoas nos podem trazer.
Essa é a maior das aprendizagens. Por
vezes, esquecemo-nos disso.
lh i
Procuro ser sempre muito profissional por onde passo. Gosto de deixar portas
abertas. Estou nesta área há uns 15 anos e não só por ser o meu «amor» – é também
o meu ganha-pão. É importante ser realista a este ponto.
É importante termos os ouvidos e
os olhos bem abertos para captarmos
S
No início da minha carreira como modelo fiz uma série de anúncios que não
tinham nada que ver comigo. Adorava e adoro fazer publicidade. Não houve nenhum
trabalho que não tenha gostado de fazer. Houve, isso sim, alguns em que me questionei: «Porque é que eu estou a vender isto?»
logo aparecem três ou quatro propostas.
É sempre assim. Fico danado quando
tenho de recusar projectos que me interessam por falta de disponibilidade.
Fili
Quando era miúdo, tínhamos uma ludoteca na escola Marquesa de Alorna, onde
nos mascarávamos e fazíamos peças de teatro. Essa fantasia de poder ser alguém que
não era sempre me fascinou. Não tinha qualquer tipo de vergonha.
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a cara em inúmeras campanhas
do Millennium bcp, promovendo
produtos como Vantagem
Ordenado, Crédito Habitação,
PPR e o Depósito Taxa
Crescente.
Bá b
comunicação do Banco e, em
Janeiro de 2008, apareceu pela
primeira vez numa campanha
publicitária da Solução
“Cliente Frequente”. Desde
então, Ricardo Pereira já deu
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e de forma transversal a
simpatia e o reconhecimento
do público. No final de 2007,
o Millennium bcp convidou-o
a integrar o grupo de personalidades envolvidas na
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Com uma carreira de sucesso
em Portugal e no Brasil,
Ricardo Pereira é um dos mais
bem cotados jovens actores
portugueses da actualidade,
e recolhe sem dificuldade
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APOSTA
Produção: Bárbara Santos I Assistente de fotografia: Filipe Serralheiro I Maquilhadora: Sónia Pessoa
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CULTO
MAIS CONCRETAMENTE A 25 DE JUNHO
DE 1985, O PRIMEIRO DIA DO RESTO DA
VIDA DO BANCO COMERCIAL PORTUGUÊS.
POR ESSA ALTURA, PORTUGAL ADERIA
OFICIALMENTE À COMUNIDADE
ECONÓMICA EUROPEIA E O MULTIBANCO
COMEÇAVA A SER UMA REALIDADE EM
LISBOA E PORTO, MAS OUTROS EPISÓDIOS,
ÍCONES E MOMENTOS SOBREVIVEM DESSE
ANO CRUCIAL PARA AS NOSSAS VIDAS.
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TEXTO JOÃO ALEXANDRE
SENNA VENCE GRANDE.
PRÉMIO DO ESTORIL.
A primeira das 41 vitórias da carreira do
mítico tricampeão mundial de Fórmula 1
(1988, 1990 e 1991) acontece no Grande
Prémio de Portugal, mais concretamente
na pista do autódromo do Estoril, a 21 de
Abril de 1985, ao volante de um Lotus,
no segundo ano como piloto profissional ao
mais alto nível. Tinha então 25 anos e uma
década de sonho à sua frente. Sonho que
terminaria em pesadelo com o acidente
fatal no Grande Prémio de San Marino,
em 1994. Em Dezembro de 2009, 217
pilotos de Fórmula 1 elegeram-no como
o melhor piloto de todos os tempos.
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NASCEM TRÊS.
ESTRELAS: TELMA,
RONALDO.
E FREDERICO.
Com poucos meses de diferença,
começava a desenhar-se em 1985 uma
trilogia desportiva de sucesso. A judoca
que há poucas semanas conquistou a
medalha de prata (categoria de menos
57 quilos) no Mundial em Tóquio nascia
Telma Alexandra Pinto Monteiro, em
Almada, dois dias depois do Natal.
Bem mais a sul, no Funchal (Madeira),
Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro,
futebolista do Real Madrid que dispensa
qualquer apresentação, vivia o seu
primeiro dia de vida a 5 de Fevereiro.
Em Lisboa, marcava o calendário 24 de
Março, era a vez de os pais de Frederico
Gil sonharem com muita coisa, talvez
nunca com a possibilidade de o seu filho
se tornar o tenista português que mais
longe foi, até hoje, no “ranking” ATP
(66º lugar em 2009).
“WE ARE THE WORLD”.
LIDERA O TOP DE.
VENDAS DE DISCOS.
MANOEL DE OLIVEIRA.
DISTINGUIDO EM VENEZA.
Os 415 minutos de “Le Soulier de Satin”
(“O Sapato de Cetim”), adaptação da obra
homónima do francês Paul Claudel levada a
cabo por Manoel de Oliveira em 1985, não foram
obstáculo para o cineasta português que em
Dezembro de 2010 completa 102 anos receber
dois prémios do Festival de Cinema de Veneza,
um dos mais conceituados do mundo: o Leão de
Ouro Especial do Júri, atribuído “ex-aequo” a
Federico Fellini e John Huston, e o Prémio da
Crítica. Seleccionado também para o Festival de
Cannes, “ O Sapato de Cetim” acabaria ainda por
ser distinguido pela Cinemateca Real da Bélgica.
32.magazine
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Portugal não escapou à onda de
solidariedade e, tal como em Inglaterra
e nos Estados Unidos, o álbum gravado
por 45 músicos que formavam a “USA
for Africa”, liderados por Kenny Rogers,
Michael Jackson, Lionel Richie ou Harry
Belafonte, era o mais vendido no mês de
Junho de 1985, data da escritura de constituição do Banco
Comercial Português e da
sua primeira Assembleia
de Accionistas.
O “top 3” dos álbuns mais
vendidos fechava com
“Reckless”, de Bryan Adams,
e “Songs From the Big Chair”,
dos Tears for Fears.
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PORTUGAL.
ASSINA TRATADO.
DE ADESÃO À CEE.
A 12 de Junho de 1985, no Mosteiro dos
Jerónimos, em Lisboa, Mário Soares
(primeiro-ministro), Rui Machete (vice-primeiro-ministro), Jaime Gama (ministro
dos Negócios Estrangeiros) e Ernâni
Lopes (ministro das Finanças) assinaram
oficialmente o Tratado de Adesão que
tornava Portugal o 11º estado-membro
da Comunidade Económica Europeia.
«Para Portugal, a adesão à CEE
representa uma opção fundamental para
um futuro de progresso e modernidade»,
afirmava Mário Soares na cerimónia.
«Mas não se pense que seja uma opção
de facilidade. Exige muito dos portugueses,
embora lhes abra, simultaneamente,
largas perspectivas de desenvolvimento.»
MARCO CHAGAS.
GANHA TERCEIRA.
VOLTA A PORTUGAL.
Arquivo DN
O ciclista português que mais venceu a Volta
a Portugal (quatro vezes, tantas como o
espanhol David Blanco, ainda em actividade)
conseguia em 1985 (e depois em 1986) repetir
com a camisola do Sporting CP o triunfo que
antes alcançara pelo FC Porto — clube que, por
esta altura, se sagrava pela oitava vez campeão
nacional de futebol, o que já não acontecia desde
1979, deixando o Sporting CP e o SL Benfica a
uma distância de 8 e 12 pontos, respectivamente.
uivo
Arq
SIBS LANÇA.
OS PRIMEIROS.
12 TERMINAIS.
MULTIBANCO.
A rede de caixas Multibanco, gerida pela
Sociedade Interbancária de Serviços
(SIBS), que actualmente processa mais
de 69 milhões de operações por mês —
equivalentes a um volume de 3.475
milhões de euros (média mensal de 2008,
dados da SIBS), através de 13 mil caixas
automáticas —, começou em Setembro de
1985 com apenas 12 terminais em Lisboa
e no Porto. Uma «pequena» revolução no
dia-a-dia dos portugueses com 25 anos
de história, e que hoje oferece 60
funcionalidades — entre carregamento
de telemóveis, transferências, compra de
bilhetes para espectáculos e transportes,
pagamento de serviços, levantamentos
e consultas.
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DN
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A GLÓRIA DE.
CARLOS LOPES.
Arquivo DN
É o fado dos grandes campeões
ganhar sempre mais, mesmo depois
de conquistarem um feito único,
como foi o caso de Carlos Lopes
com a medalha de ouro na maratona
das Olímpiadas de Los Angeles,
em 1984 (o seu tempo, 2h 9m 21s,
permaneceu como recorde olímpico
até Pequim 2008). Um ano depois,
o atleta nascido em Viseu em 1947
continuava a «fazer história»: vencia
o seu terceiro Campeonato do Mundo
de Corta-Mato, em Lisboa, e cortava
a fita da maratona de Roterdão,
quebrando o recorde mundial da prova.
34.magazine
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LOBO ANTUNES.
PREMIADO.
Na sua quarta edição, o prémio atribuído
pela Associação Portuguesa de Escritores
(APE) foi para António Lobo Antunes,
pelo romance “Auto dos Danados”,
sucedendo a José Cardoso Pires
(“Balada da Praia dos Cães”), Agustina
Bessa-Luís (“Os Meninos de Oiro”)
e Mário Cláudio (“Amadeo”).
A partir deste ano (1985), o romancista
e psiquiatra lisboeta, nascido em 1942,
passava a dedicar-se exclusivamente à
escrita. Lobo Antunes voltaria a receber
o máximo galardão da APE em 1999,
por “Exortação aos Crocodilos”.
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CULTO
CARRO EUROPEU DO.
ANO: OPEL KADETT.
Os jornalistas europeus não tiveram dúvidas: o Opel Kadett era
o sucessor do Fiat Uno como Carro Europeu do Ano. Os 326
pontos atribuídos ao modelo alemão deixavam-no a uma distância
considerável dos dois outros ocupantes do pódio (261 pontos
para o Renault 25 e 191 para o Lancia Thema).
Com mais de meio século de história — na primeira edição, em
1964, foi distinguido o Rover 2000 —, este prémio internacional
é votado todos os anos por jornalistas especializados de vários
países da Europa. A lista completa dos vencedores pode ser
consultada no “website” www.caroftheyear.org.
XUTOS & PONTAPÉS,.
GNR E ADELAIDE FERREIRA.
Com seis anos de existência, os Xutos & Pontapés lançavam
o seu segundo álbum, “Cerco”, com temas que resistiriam a
várias gerações, entre eles “O Homem do Leme” e “Conta-me
Histórias”; por seu lado, os portuenses GNR (Grupo Novo Rock),
fundados em 1980, avançavam para o terceiro trabalho,
“Os Homens Não Se Querem Bonitos”, com o clássico “Dunas”
em lugar de destaque. Nesse mesmo ano, Adelaide Ferreira
vencia o Festival da Canção, com “Penso Em Ti (Eu Sei)”, mas
não passou do 18º lugar na Eurovisão.
INAUGURAÇÃO DA.
MESQUITA DE LISBOA.
Arq
uivo
DN
«A Mesquita Central de Lisboa acolhe
não só os muçulmanos; os não-muçulmanos também a podem visitar e partilhar
das suas ideias e crenças. Hoje é
conhecida como um local de referência.»
A frase do imã Sheik David Munir
percorre parte da história da principal
mesquita da comunidade islâmica em
Portugal, cuja primeira pedra foi lançada
em Janeiro de 1979. A inauguração, essa
tem a data de 29 de Março de 1985.
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Ar
ivo
qu
DN
QUATRO AVENTURAS,
“ZARABABIM” E.
QUEIJINHOS FRESCOS.
A aventura literária de Ana Maria Magalhães
e Isabel Alçada continua em pleno durante
o ano de 1985, com a publicação de mais
quatro volumes (do 11º ao 14º) da série
"Uma Aventura": na Mina, no Algarve, no
Porto e no Estádio. O público mais jovem
tinha, há 25 anos, mais motivos para sorrir.
Estreavam na RTP as séries de animação
"As Misteriosas Cidades de Ouro",
"Fábulas da Floresta Verde" ou "Heathcliff
e Marmaduke", assim como a série juvenil
“Zarababim”, protagonizada por Carlos
Alberto Moniz, José Wallenstein, São José
Lapa e António Feio. Na música, os
Queijinhos Frescos chegavam ao disco
de ouro com o álbum “Batem Corações”.
CORNETTO.
A 65 ESCUDOS.
Em 1985, o catálogo dos gelados da Olá,
vendidos desde 1959, apresentava 20
escolhas diferentes, com o Cornetto a
liderar a oferta, tanto pelo preço (65$00,
cerca de 0,32€) como pela variedade
(sabores chocolate, morango, “moka” e...
“whisky”). No rol de novidades deste ano
apareciam o Calippo (50$00), o Tri-Choc
(40$00) e o Split Morango (25$00).
O «cardápio» incluía ainda Upa-Upa
(50$00), Crok (45$00) Krisspi e Epá
(40$00), Pinky e Super Maxi (30$00),
Fizz Limão e Perna de Pau (27$50), Tigre,
Popsi e Super Nave (25$00), Laranja
(17$50) e Ananás (15$00).
CAVACO SILVA CHEGA A.
PRIMEIRO-MINISTRO.
Eleito líder do PSD no Congresso da
Figueira Foz, em Maio de 1985 — e depois
do fim da coligação governamental entre
PSD e PS e a dissolução da Assembleia da
República pelo Presidente Ramalho Eanes,
com a consequente convocação de eleições
legislativas —, Cavaco Silva e o PSD ganham
a batalha eleitoral de 6 de Outubro com
29,8 por cento dos votos. O novo primeiro-ministro é empossado um mês depois,
a 6 de Novembro, com 46 anos de idade.
Era o início da década (1985-1995) de
Cavaco Silva em São Bento.
ENTRA EM JOGO.
O PRIMEIRO DIÁRIO.
DESPORTIVO.
Quando “A Bola” e o “Record” ainda
mantinham a sua periodicidade trissemanal,
é fundado no Porto “O Jogo”, o «primeiro
jornal diário desportivo português», garante
Manuel Tavares, director desde 1994, ano em
que o título é comprado pela Jornalinveste
(de Joaquim Oliveira) à Empresa do Jornal
de Notícias. «Creio que o “O Jogo” trouxe
uma abordagem diferente e mais jovem
ao panorama da imprensa desportiva, com
mais estatística e um enfoque na área
económica do desporto.»
Arquivo DN
36.magazine
setembro/outubro 2010
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S
HERMANIA
DUARTE
&
COMPANHIA
A ESTREIA DE “HERMANIAS”,
“DUARTE & COMPANHIA”
E “CHUVA NA AREIA”.
CONTINENTE, UMA.
NOVA RAÇA DE LOJA.
«Gigantão! Baratão! Uma nova raça
de loja!» A frase do folheto promocional
da abertura do primeiro hipermercado
Continente em Matosinhos, em Dezembro
de 1985, funcionava como grande mote
publicitário na rádio, televisão e jornais
— os anúncios estão disponíveis no
“website” 25 anos.continente.pt.
O investimento da Sonae revelou-se
acertado e hoje a marca Continente é
uma referência de confiança no sector do
retalho, com uma rede de hipermercados
que cobre todo o País.
O fulgor humorístico de Herman José continuava em alta. Um
ano após Tony Silva, Nelito e a estreia de “O Tal Canal”, em 1984,
aparecia Serafim Saudade e Maria Teresa Pissarra de Bragança
em “Hermanias”. 1985 assinala outras duas estreias que se
tornaram ícones da história da televisão portuguesa: a série de
detectives “Duarte & Companhia”, que se prolongou até 1989,
protagonizada por Rui Mendes, António Assunção, Paula Mora
e um Citroën 2 CV; e a telenovela “Chuva na Areia”, filmada
em Tróia por Nuno Teixeira.
CENTRO COMERCIAL.
DAS AMOREIRAS.
ABRE AS PORTAS.
A 27 de Setembro de 1985, o Centro Comercial
das Amoreiras abria as portas para se
mostrar como ícone pós-modernista de um
grande espaço de comércio e serviços perto
do centro da capital portuguesa. Em 1993, o
Prémio Valmor e Municipal de Arquitectura
reconheceu a qualidade arquitectónica de
todo o complexo das Amoreiras, assinado
por Tomás Taveira. Actualmente, o centro
comercial de dois pisos conta com 247 lojas
em 40 mil metros quadrados e 900
lugares de estacionamento.
O REGRESSO DO.
COMETA HALLEY.
O mais famoso dos cometas — reconhecido
como periódico no século XVII por Edmond
Halley mas já registado há mais de 2000 anos
— trouxe o pânico a Portugal em 1910, envolto
em superstições, especulação e bastante
exploração comercial e religiosa. Quando
voltou a cruzar o céu, passados 75 anos
(na verdade, o intervalo de tempo das suas
aparições fica entre 75 e 76 anos), a 27 de
Novembro de 1985, a sua brilhante passagem
foi mais pacífica. O próximo periélio está
marcado para 28 de Junho de 2061.
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25 ANOS A CRIAR
O FUTURO.
AMERICAN EXPRESS..
Mais de 200 mil portugueses podem
fazer pagamentos com um cartão
American Express graças à parceria
pioneira e exclusiva firmada entre esta
marca e o Millennium bcp. Os prestigiados
cartões American Express podem
ser utilizados em mais de 50 mil
estabelecimentos em Portugal, aos quais
se soma a vasta rede internacional.
SEGMENTAÇÃO.
E PROXIMIDADE..
A HISTÓRIA DO MILLENNIUM BCP
CONTA-SE CONJUGANDO O VERBO
«INOVAR». A NOSSA GÉNESE SEMPRE
FOI CONSTRUIR O FUTURO DA BANCA.
BANCA TELEFÓNICA..
Um banco a operar exclusivamente
por telefone é uma inovação com
a assinatura do Millennium bcp.
O Banco 7, o primeiro sem sucursais,
adicionou à vantagem da comodidade
um preçário de comissões bem mais
atractivo que o dos bancos tradicionais.
Mais tarde passa a fazer gestão de
activos e “trading” sob a nova
denominação Activo Bank7, centrando
a sua actividade no canal Internet.
38.magazine
setembro/outubro 2010
Na génese do actual Millennium bcp
está o objectivo de criar um banco
moderno e inovador, que se diferencia
pela qualidade de serviço. A segmentação
do mercado, primariamente em particulares e empresas, e a personalização do
serviço são marcas distintivas daquele
que é, actualmente, o maior banco
privado português.
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SAÚDE PRIVADA..
Escrever sobre inovação no sistema
financeiro em Portugal implica
referir os seguros de saúde e, mais
uma vez, o maior grupo financeiro
português contribuiu para a história deste
produto. A Médis, marca pioneira no
conceito de “managed care” no nosso país,
rapidamente se tornou a referência do sector,
apostando na inovação e na excelência de
serviço. Hoje apresenta uma rede com mais
de 6400 médicos e é suportada por uma linha
de enfermeiros disponível 24h por dia.
HORÁRIOS DIFERENCIADOS..
BANCA MÓVEL..
Os horários diferenciados na Banca passam a ser uma realidade
quando, em 2002, o Millennium bcp decide implementá-los. Com
o objectivo de corresponder às necessidades dos clientes, com
total comodidade e garantindo um acompanhamento sempre
personalizado, 129 sucursais de norte a sul passam a estar
disponíveis até às 19h00. Em 2009, os clientes passam também
a contar com o seu Banco aos sábados, com 28 sucursais abertas
um pouco por todo o País.
Em 2010 o renovado Activo Bank introduz
uma nova forma de fazer banca em Portugal.
Direccionado a clientes de espírito jovem,
utilizadores intensivos das novas tecnologias
de comunicação e das redes sociais, o Activo
Bank tem como principal objectivo tornar a
vida mais simples. Um exemplo do seu
carácter inovador foi o lançamento de uma
aplicação pioneira de contacto com o Banco
para “smartphones”.
UM BANCO.
NA INTERNET..
A aposta na excelência passa também
por assegurar um serviço de proximidade,
com total comodidade para o Cliente.
Depois do sucesso com a banca telefónica,
o portal de Internet cidadebcp.pt é
apresentado ao mercado em 2000 e,
em apenas dois anos, torna-se a «mais
movimentada sucursal» do Banco, com
cerca de 250.000 clientes/utilizadores e
dois milhões de transacções por mês.
Hoje, o millenniumbcp.pt conta com
múltiplas distinções consecutivas,
tanto nacionais como internacionais,
que consolidam a sua posição de
destaque entre os portais financeiros.
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EXTRA
OS PRÓXIMOS
25 ANOS
SEM ENTRAR PELOS CAMINHOS DA FUTUROLOGIA BARATA , TRAÇAMOS UM PLANO, EM DEZ
PONTOS E COM A AJUDA DE ESPECIALISTAS , DE COMO PORTUGAL E O MUNDO PODERÃO
EVOLUIR ATÉ 2035. DA MEDICINA À GENÉTICA, DA INTERNET AOS AUTOMÓVEIS, DA CRISE
ENERGÉTICA AO MUNDO VIRTUAL, DOS TRANSPORTES AO NOSSO PAPEL NO ESPAÇO EUROPEU.
CIBERESFERA.
ESPAÇO.
David Gelernter, professor de Ciências
da Computação na Universidade de Yale,
teoriza que, por volta de 2035, a Internet
deve perder o protagonismo actual e ceder
Depois da Lua, Marte. Não é novidade que o
planeta vermelho é um dos alvos da corrida
espacial. Sir Martin Rees, professor no
o seu lugar à «Ciberesfera, cheia de feixes
de informação». E dá um exemplo actual:
a Bolsa de Nova Iorque tem feito a transição para uma localização efectiva no
ciberespaço. «Quando nos ligarmos a um
destes feixes, estaremos a ligar-nos a uma
“mente exteriorizada” — a nossa própria
ou a de alguma organização ou instituição.
A informação em que cada um de nós se
apoiar viverá e mover-se-á connosco.»
King’s College e responsável por amplo
trabalho de investigação no Instituto de
Astronomia de Cambridge, garante que nos
próximos anos «vai ser enviado um batalhão
de sondas espaciais para Marte no sentido
de estudar a sua superfície e trazer
eventualmente amostras para Terra. A
longo prazo, existem planos para pesquisar
noutros lados do sistema solar com sondas
espaciais robotizadas — por exemplo, na
atmosfera de Titã, a lua gigante de Saturno.»
GENÉTICA.
MEDICINA.
A aplicação generalizada da engenharia
genética será uma evidência em 2035,
defendia já em 2002 Rodney Brooks,
A evolução da Genética mudará a forma
como nos relacionamos com os médicos
e os hospitais. Samuel Barondes, director
director do Laboratório de Inteligência
Artificial no Massachusetts Institute of
Technology: «Tornar-se-á comum o uso,
do Centro de Neurobiologia e de Psiquiatria
da Universidade da Califórnia, sustenta
que os doentes terão «uma nova fonte de
em grande escala, da engenharia genética
— para além da agricultura e da medicina,
nas quais já é actualmente utilizada. Será
informação»: «Uma palavra que fornecerá
acesso ao seu ficheiro de ADN individual».
Nesse ficheiro estará a sequência dos seus
genes «bem como anotações, chamando a
usada na indústria do petróleo, na produção
de plásticos e de outros materiais,
na reciclagem, nas baterias, nas fontes
de energia renovável.»
40.magazine
setembro/outubro 2010
atenção para as variantes genéticas e para
as combinações que influenciam a vulnerabilidade a uma diversidade de doenças.»
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JOGOS VIRTUAIS.
POPULAÇÃO.
A criação de experiências virtuais será
a indústria dominante em 2035. Roger C.
Shank, investigador conceituado no campo
da inteligência artificial e professor na
Segundo um estudo do Eurostat, a
população da actual União Europeia
(27 países), que em 2010 se situa nos 501
Escola de Ciências da Computação de
Carnegie Mellon, prevê que estes jogos se
tornem «muito mais sofisticados e ainda
mais entrelaçados com o mundo real».
Para esta indústria de entretenimento,
o futuro começou ontem. «Jogos como o
“Everquest” atraem centenas de milhares
de jogadores, que habitam mundos virtuais,
esforçando-se para obter estatuto, forjar
relações e adquirir objectos virtuais.»
AUTOMÓVEIS.
Ainda não será desta que teremos carros
voadores. No entanto, espera-se uma
produção de modelos cada vez mais
resistentes, compactos e eficientes
ao nível de consumos. Pedro Alfaia,
jornalista do sector automóvel, acredita
que «dentro de 15 anos já teremos 10
a 15% de automóveis e perto de metade
dos transportes públicos movidos a
electricidade». Por volta de 2050,
estima-se que haja quatro mil milhões de
carros no planeta — e que 20% não emita,
de forma directa, um único grama de CO2
para a atmosfera.
milhões, atingirá um pico de 521 milhões
em 2035 mas, a partir daí, começará
a decair. Contudo, o número de óbitos
ultrapassará o de nascimentos logo
em 2015 e será o fluxo migratório a
assegurar o crescimento até 2035.
Por essa altura, um quarto da população
terá mais de 65 anos (contra os actuais
17%). Portugal chegará aos 11,4 milhões
de habitantes (actual: 10,6 milhões)
também em 2035.
3ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL.
Balanceando as previsões optimistas e
pessimistas, o economista Jeremy Rifkin,
presidente da Foundation on Economic
Trends (www.foet.org), sustenta que entre
2010 e 2030 se registará o pico da produção
petrolífera. Em entrevista ao “website”
Euractiv.com, aponta a inevitabilidade da
3ª Revolução Industrial (a acontecer entre
2020 e 2050), assente em três pilares:
a transição para as energias renováveis, o
hidrogénio como forma de armazenamento
de energia e uma inter-rede europeia onde
cada estado pode partilhar os excedentes
da sua produção energética.
GEOESTRATÉGIA.
INFRA-ESTRUTURAS.
No estudo “Portugal 2025 — Que Funções No
Espaço Europeu?”, o ex-subdirector-geral do
Departamento de Prospectiva e Planeamento
Polémicas à parte — e fazendo fé no
“website” da RAVE (www.rave.pt) —, em
2035 Lisboa estará ligada a Madrid (desde
José Félix Ribeiro apontava quatro cenários
para o País: “Costa de Espanha” (destino
ibérico e de turismo desportivo do Norte da
2013) e ao Porto (desde 2017) por comboio
de alta velocidade. A viagem durará 2h45 e
1h15, respectivamente. E, a partir de 2015,
Europa);“Costa Rica/República Dominicana”
(turismo assente em activos como o golfe,
o Sol e o mar); “Flandres” (renascimento
industrial do Norte, “hub” logístico do Sul,
fornecimento de energia à Europa meridio-
será possível ir do Porto a Vigo em apenas
uma hora. Quanto ao Novo Aeroporto
de Lisboa, em Alcochete, entrará em
funcionamento, segundo se prevê, em
nal); e “Flórida” (destino residencial para
norte-europeus, americanos e asiáticos).
finais de 2017. E a conclusão da Terceira
Travessia do Tejo, eixo fundamental destes
dois projectos, está programada para 2013.
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FOTORREPORTAGEM
SALÃO NOBRE
DEPOIS DE ANOS DE SUCESSIVAS OBRAS E INTERVENÇÕES, O
«DEVOLVIDO» A LISBOA,
LIVRE DE AUTOMÓVEIS ( OU QUASE ) E COM INTERESSANTES
PROJECTOS DE ANIMAÇÃO E VALORIZAÇÃO TURÍSTICA NO HORIZONTE.
ENQUANTO ESSES TRABALHOS NÃO ARRANCAM, O FOTÓGRAFO
NUNO PALHA MOSTRA-NOS COMO FICOU, DE «CARA LAVADA»,
A SALA DE VISITAS DA CAPITAL.
TERREIRO DO PAÇO É FINALMENTE
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TERREIRO DO PAÇO
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TERREIRO DO PAÇO
FOTORREPORTAGEM
ESTÁTUA DE D. JOSÉ I
Inaugurada a 6 de Junho de 1775,
num Terreiro do Paço ainda inacabado,
a estátua equestre da autoria de
Machado de Castro marca o centro
monumental da Lisboa reconstruída
após o terramoto.
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FOTORREPORTAGEM
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TERREIRO DO PAÇO
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FOTORREPORTAGEM
CHÃO DO TERREIRO
A calçada portuguesa foi substituída
por uma pedra fina granulada que
recupera a cor original do terreiro
que deu nome à praça, com diagonais
em pedra de lioz. A área de circulação
automóvel foi reduzida, de forma a
«devolver» o espaço às pessoas.
A “M MAGAZINE” AGRADECE À DIRECÇÃO REGIONAL DE CULTURA
DE LISBOA E VALE DO TEJO O APOIO NA REALIZAÇÃO DESTA REPORTAGEM.
48.magazine
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TERREIRO DO PAÇO
ARCO DA RUA AUGUSTA
Só ficou concluído em 1875, com a colocação das estátuas da
autoria de Vítor Bastos e A. Calmels: ladeando o escudo real,
Viriato, Vasco da Gama, Marquês de Pombal e Nuno Álvares
Pereira; no topo, a Glória, coroando o Génio e o Valor.
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LINHA DA FRENTE
MARIA JOÃO
VALENTE ROSA
OS NÚMEROS
QUE SOMOS
O “WEBSITE” PORDATA, UM DOS PROJECTOS
MAIS SIGNIFICATIVOS DA FUNDAÇÃO
FRANCISCO MANUEL DOS SANTOS, MOSTRA
COMO PORTUGAL EVOLUIU AO LONGO DOS
ÚLTIMOS 50 ANOS, ATRAVÉS DE ESTATÍSTICAS
RIGOROSAS ACESSÍVEIS A TODOS. MARIA
JOÃO VALENTE ROSA, DIRECTORA DESTE
ENORME BANCO DE INFORMAÇÃO, SABE
QUE ESSE É O GRANDE TRUNFO.
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TEXTO JOÃO ALEXANDRE FOTOGRAFIA PEDRO LOUREIRO
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magazine.51
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LINHA DA FRENTE MARIA JOÃO VALENTE ROSA
PORTUGAL:
OS NÚMEROS.
AUTORES
Maria João Valente Rosa
e Paulo Chitas
EDIÇÃO
Fundação Francisco
Manuel dos Santos, 2010
a janela da sua sala, na sede da
Pordata – Base de Dados de Portugal Contemporâneo, Maria João Valente Rosa
vê reflectido no centro de Lisboa o «país a dois tempos» de que fala em “Portugal: os Números”, ensaio escrito em co-autoria com o jornalista Paulo Chitas
(recém-publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos): vê as Torres das
Amoreiras, o Hotel Ritz, o rio Tejo, prédios em construção, terrenos desocupados, pequenos bairros antigos – e da sala de reuniões, nem a dois metros dali, vislumbra, ao longe, a Basílica da Estrela, o Parque de Monsanto, o Hotel D. Pedro
Palace. «Portugal é assim na actualidade – um país a dois tempos, com áreas que
são exemplos bem-sucedidos e outras exemplos de insucesso.»
«Conseguir transformar o complexo numa apresentação simples – é esta a arte
da Pordata», afirma Maria João Valente Rosa, professora universitária com especialização em Demografia e Sociologia, autora de vários estudos sobre a população portuguesa e titular de um currículo que se divide entre os gabinetes de
estatística do Conselho Superior de Estatística e dos Ministérios da Educação e
da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e a representação nacional na Comissão Europeia, no Eurostat ou na OCDE. «Foi um mergulho profundo na produção de estatísticas, acompanhando sobretudo a trajectória da sociedade
portuguesa.» A longa experiência revela-se boa conselheira: é essa arte «de transformar o complexo em simples» que permite a qualquer português que visite o
“website” www.pordata.pt perceber como tem sido a evolução do País em áreas
tão diferentes como a educação, a justiça, a protecção social, a cultura, a economia – em mais de 750 quadros com informação que (sempre que possível) começa
52.magazine
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em 1960 e se prolonga até à actualidade.
O projecto Pordata começou com Maria
João Valente Rosa e Ana Luísa Barbosa,
em Junho de 2009, seguido do lançamento do “website”, nove meses depois,
a 23 de Fevereiro de 2010. De duas pessoas passou a um núcleo duro de quatro
profissionais, aos quais é necessário
somar os responsáveis da empresa
Epopeia que tratam, no mesmo 15º piso,
de toda a logística informática.
Entre livros e dossiers, o gabinete da directora não engana: há uma placa de
tabuada (presente de quando assumiu
funções) e uma máquina de calcular, fiel
companheira há muitos anos e que
«nunca se estragou». «Sempre tive uma
preocupação: compreender o que somos, de onde vimos e para onde vamos.»
Com este enorme banco de infor mação, o
objectivo mantém-se e alarga-se para fora
dos corredores académicos: «disponibilizar informação credível e de confiança,
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OS NÚMEROS QUE SOMOS
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magazine.53
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LINHA DA FRENTE MARIA JOÃO VALENTE ROSA
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OS NÚMEROS QUE SOMOS
OS NÚMEROS
SÃO REVELADORES: 6000
SÉRIES DE 1960
À ACTUALIDADE,
500 MIL VISITAS,
2 MILHÕES
DE PÁGINAS
VISITADAS EM
140 PAÍSES
DIFERENTES.
retirando barreiras ao seu acesso».
Nesta primeira fase, a Pordata trabalha com estatísticas de 40 entidades
oficiais (com uma con tri buição
significativa do Instituto Nacional de
Estatística). Recebidos em variados
formatos, os números são analisados, tratados, e só depois colocados
“on-line”. «Queremos aumentar a
literacia estatística para as pessoas
terem opiniões informadas.» Dá um
exemplo: sempre que aparecem notícias da taxa de desemprego é importante saber se são baseadas nos
dados do INE ou do Instituto de Emprego e Formação Profissional – e qual a forma
de cálculo dessa taxa. A Pordata faz o trabalho de casa e har moniza essa informação
para que «as pessoas possam discutir os números e não sobre os números.»
A estatística, como qualquer disciplina, tem o seu jargão, por vezes difícil de entender para o comum dos cidadãos. «Se alguém quiser saber o número de nascimentos
num determinado ano, não precisa de conhecer o conceito de nados-vivos. Pode
fazer a pesquisa por “bebés”, por exemplo, e a lista de informação relacionada com
aquele conceito aparece sem perder rigor.» Os números da Pordata são reveladores:
6000 séries de 1960 à actualidade, 500 mil visitas, 2 milhões de páginas visitadas por
pessoas de 140 países diferentes, com destaque para Espanha, Reino Unido, EUA,
França ou Brasil. «Com a minha experiência, posso dizer que é um projecto único
no mundo. É a possibilidade de entrar pela mesma porta para várias casas diferentes,
com uma série de funcionalidades que simplificam a leitura da informação, como o
cálculo de percentagens ou variações. Tudo com informação idêntica para uma discussão em igualdade de circunstâncias.» No fundo, acrescenta Maria João Valente
Rosa com bom humor, «é contribuir para que as pessoas não se percam nesta selva
de informação.» A segunda fase do projecto Pordata arranca até ao fim do ano, com
as estatísticas dos 27 países da União Europeia, mais alguns dos Espaço Schengen,
EUA e Japão. A terceira fase, ainda sem data marcada, incluirá os números das
regiões e municípios portugueses.
Portugal visto à lupa dos números – é isso que Maria João Valente Rosa tem feito e é
o que promete continuar a fazer. Nos últimos 50 anos, o país viveu a «dois tempos»,
com mudanças assinaláveis, como o número de alunos nas escolas, a protecção social,
a integração das mulheres ou a mortalidade infantil – actualmente uma das mais baixas
do mundo, «indicador importantíssimo do desenvolvimento económico e social de
um país, que depois se relaciona com outras mudanças, como as condições sanitárias,
a qualificação, etc.». O reverso da medalha acontece com a justiça, o tempo de permanência na escola, a evolução dos rendimentos reais dos pensionistas. «Há ainda um
longo caminho a percorrer», avisa. Os números disponibilizados pela Pordata podem
ajudar-nos a descobrir qual a melhor direcção.l
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magazine.55
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ÍNDIA
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TEXTO ANA MÚSICO FOTOGRAFIA PAULO BARATA
/
VOLTA AO MUNDO
MAHARAJAS’
EXPRESS
A VER A ÍNDIA PASSAR
EMBARCÁMOS NO MAHARAJAS’ EXPRESS,
COMBOIO DE LUXO QUE PERCORRE UMA DAS
MAIORES REDES FERROVIÁRIAS DO MUNDO PARA
MOSTRAR UM PAÍS TRADICIONAL, FRENÉTICO,
APAIXONANTE E ESPIRITUAL.
setembro/outubro 2010
magazine.57
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ÍNDIA
AGRA É A PRIMEIRA
ESCALA DA VIAGEM.
É IMPOSSÍVEL
NÃO FICAR
IMPRESSIONADO
PELA IMPONÊNCIA
DO TAJ MAHAL,
UMA DAS NOVAS
SETE MARAVILHAS
DO MUNDO.
56-63:Layout 1 07-10-2010 15:26 Page 59
MAHARAJAS’ EXPRESS
á muitas formas de viajar por um país tão grande e apaixonante
como a Índia. Mas este comboio tem um
encanto especial. “Classical India” é uma
rota de sete dias entre Nova Deli e Calcutá, com passagem por Agra, Gwalior,
Khajuraho, Bandhavgarh e Varanasi, a
bordo do Maharajas’ Express, um sumptuoso palácio sobre carris, digno de marajá.
A rede ferroviária indiana assemelha-se a
um polvo gigante, com tentáculos de linhas sinuosas que chegam aos lugares mais
remotos do país. Todos os dias, mais de
8.300 comboios percorrem cerca de 80.000
quilómetros de ferrovia (sem contar com
as linhas secundárias), transportando algo
como 12,5 milhões de pessoas e 1,3 milhões de toneladas de mercadorias. No
total, estima-se que a cada 24 horas os comboios indianos viajem o equivalente a três
vezes e meio a distância entre a Terra e a
Lua. Para além de empregar perto de um
milhão e meio de pessoas e de ter um ministério próprio, o sector ferroviário está
na origem de uma rede infindável de
serviços e pequenos negócios.
O Maharajas’ Express parte de Nova Deli
às dez da manhã, depois de um pomposo
ritual de boas-vindas. Um grupo de jornalistas e operadores turísticos tem o privilégio de inaugurar a rota “Classical India”.
O restrito grupo inclui outros dois viajantes: José Manuel, um alto executivo reformado de um grande banco espanhol, e
Francine, a sua mulher. É a quarta vez que
o antigo banqueiro está na Índia. Desta vez,
quis mostrar o país a Francine de «uma
forma confortável e segura». São os
primeiros passageiros oficiais do Maharajas’ Express.
Para além da enorme vantagem de se viajar «de casa às costas», com todo o luxo e
conforto, o Maharajas’ Express percorre
uma longa distância, atravessando diversos
estados e algumas das mais importantes
cidades do subcontinente, sem os inconvenientes dos “check-ins” e das habituais
burocracias de embarque e transferes. Esta
foi uma das razões que levaram José
Manuel a «oferecer a Índia» a Francine. A
segunda razão é Varanasi, a cidade sagrada
da Índia. A primeira escala, contudo, acontece em Agra, onde fica o fabuloso Taj
Mahal, uma das novas sete maravilhas do
mundo. Imponente e belo, apresenta-se
como símbolo da supremacia da cidade
sobre as gigantes Deli, Calcutá (ou
Kolkata, na grafia moderna) e Bombaim.
A sua história é lendária: o edifício foi
mandado erguer pelo imperador Shah
Jahan numa homenagem a Aryumand
Banu Begam, a sua esposa preferida, a
quem carinhosamente chamava Mumtaz
Mahal, «Jóia do Palácio». As paredes de
setembro/outubro 2010
magazine.59
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MAHARAJAS’ EXPRESS
mármore branco, originalmente incrustadas
com pedras semi-preciosas, apresentam diversas inscrições do Corão e a cúpula terá
sido costurada a fio de ouro.
Ao longo dos dias, a Índia desfila, tão contraditória quanto bela, nas janelas do Maharajas’ Express. Os templos, na maioria
hindus e budistas, são reveladores de uma
enorme e devota espiritualidade. O complexo de Khajuraho, a pouco mais de 600
quilómetros de Deli, representa o maior
e mais importante grupo de templos
60.magazine
setembro/outubro 2010
AO LONGO DOS
DIAS, A ÍNDIA
DESFILA, TÃO
CONTRADITÓRIA
QUANTO BELA,
DIANTE DAS
JANELAS DO
MAHARAJAS’
EXPRESS.
medievais hindus. Construído entre 950 e
1050, tem o estatuto de Património da
Humanidade, sendo que o conjunto inicial
contava com mais de 80 templos, dos
quais apenas 22 estão actualmente em
bom estado de conservação.
Apesar da imensidão dos grandes centros
urbanos – afinal, é uma das maiores economias do mundo e um dos principais
centros mundiais de investigação e desenvolvimento de telecomunicações e alta
tecnologia –, viajar pela Índia significa
também recuar no tempo. Por exemplo,
nas zonas rurais ainda se encontram os
mercados de troca directa, coloridos e
rudimentares, e aldeias tradicionais, recortadas da antiguidade.
A Índia nunca dorme. Depois de mais
uma noite de viagem, despertámos em
Varanasi, no estado de Uttar Pradesh. José
Manuel foi o primeiro a acordar e a debruçar-se sobre as janelas do comboio
para ver o amanhecer sobre o rio Ganges.
A paisagem é indescritível. Embora a data
de fundação seja desconhecida, estima-se
que Varanasi exista há mais de cinco mil
anos. O nome significa «porta do céu», e é
a cidade mais sagrada da Índia, onde uma
turba de gente dança, canta e reza sem
parar. A cor dos “saris” das mulheres –
cuja maioria resiste ainda à tentação dos
“jeans” – e das fiadas de flores penduradas
por todo a parte, em devotas e surpreendentes manifestações espirituais, inundam
a cidade de alegria e de ritmo. Nas ruas,
para além do trânsito e de milhares de pessoas, amontoam-se minúsculas bancas de
madeira com comida, roupas, especiarias,
tintas naturais, pilhas, rádios e uma infinidade de objectos e símbolos religiosos.
Enquanto isso, as vacas passeiam-se vagarosas, indiferentes ao bulício ensurdecedor.
Finalmente Kolkata, a «cidade da alegria»,
fundada em 1690 pela Companhia Inglesa
das Índias Orientais e capital da Índia
britânica entre 1833 e 1912. Na sua área
metropolitana vivem mais de 16 milhões de
pessoas. As ruas são caóticas, frenéticas e
fascinantes, com milhares de carros, carrinhas, riquexós, bicicletas e autocarros cheios
de gente. Kolkata, no fundo, é como toda a
Índia: uma cidade viva, onde tudo acontece,
em qualquer lado, ao mesmo tempo.l
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56-63:Layout 1 12-10-2010 9:26 Page 62
MAHARAJAS’ EXPRESS
ÍNDIA
ÚTIL.
DINHEIRO. A moeda nacional é
a rupia indiana (1EUR=62,62INR).
Nova Deli
O câmbio deve ser efectuado
Agra
Gwalior
apenas em locais credenciados
Varanasi Gaya
e autorizados. Recomenda-se
Khajuraho
o câmbio de quantias elevadas
Bandhavgarh
de uma só vez, pois não haverá
Calcutá
muitas oportunidades de
o fazer ao longo do percurso.
ÍNDIA
Mar
Arábico
Nas compras, os preços são,
Baía
de Bengala
de um modo geral, regateáveis.
ANTES DE PARTIR. O visto de
entrada custa 50€ e adquire-se
na embaixada da Índia em Lisboa.
É aconselhável marcar uma
consulta do viajante, embora não
DESTAQUES.
se exijam vacinas ou medicação
profiláxica antes da viagem. Na
O COMBOIO. O MAHARAJAS’ EXPRESS TEM LUGAR PARA 80 PASSA-
Índia não é recomendável comer
GEIROS E UMA TRIPULAÇÃO DE CERCA DE 50 PESSOAS. AS CARRUA-
ou beber seja o que for na rua e
GENS DISPÕEM DE 20 CABINAS “STANDARD”, 18 SUITES “JUNIOR", DUAS
só se deve beber água engarrafada
SUITES “DELUXE” E UMA SUITE PRESIDENCIAL – TODAS COM INTERNET
(mesmo para escovar os dentes).
SEM FIOS, TELEVISÃO POR CABO E DVD. À DISPOSIÇÃO DOS PASSAGEIROS, HÁ SERVIÇO DE LIMUSINA COM MOTORISTA (NÃO ESTÁ IN-
ROUPA. Deve levar-se roupa
CLUÍDO NO PREÇO), MEDIANTE RESERVA. A BORDO HÁ DOIS RESTAURANTES E DOIS BARES,
leve e discreta (sobretudo as
E CADA CABINA FICA A CARGO DE UM “VALLET”, RESPONSÁVEL PELA SATISFAÇÃO DE TODAS
senhoras) e um agasalho.
AS NECESSIDADES DOS PASSAGEIROS.
É aconselhável o uso de ténis ou
sapatos frescos mas fechados.
PREÇOS. EM PORTUGAL, ESTE PROGRAMA É COMERCIALIZADO PELA ACROSS (www.across.pt).
Para os jantares a bordo,
OS PREÇOS VARIAM DE ACORDO COM A ALTURA DO ANO E O PACOTE PRETENDIDO. A OPÇÃO
recomenda-se um guarda-roupa
“CLASSICAL INDIA”, DE SETE DIAS E SEIS NOITES EM CABINA “STANDARD” PARA DUAS
mais sofisticado, embora o
PESSOAS, COM PASSAGENS AÉREAS, TRANSFERES, DESLOCAÇÕES, PENSÃO COMPLETA E
“casual chic” também seja
ENTRADAS NOS MUSEUS E MONUMENTOS, RONDA OS 9.000€ POR PESSOA.
adequado.
Cartão Millennium Prestige: TAEG de 29,3%
VANTAGEM MILLENNIUM.
O CARTÃO PRESTIGE do Millennium bcp, o seu melhor companheiro de viagem, assegura
uma assistência próxima e permanente, basta ligar +351 210 347 932. Ao viajar com o cartão
Prestige poderá, entre outros serviços, receber assistência médica em caso de emergência no estrangeiro, com reembolso de
despesas médicas, farmacêuticas e de hospitalização; informação e controlo médico; comparticipação nas despesas de estadia após
hospitalização e por prescrição médica; acompanhamento de familiar, em caso de hospitalização; garantia de encargos com
guarda e regresso ao domicílio com crianças menores de 15 anos em caso de hospitalização de quem as tem a cargo; e o eventual
repatriamento ou transporte sanitário. E, claro, o Cartão Prestige é um meio de pagamento seguro e flexível que lhe garante um
serviço universal e de excelência, através das redes Mastercard ou Visa onde estas se encontram disponíves. TAEG de 29,3%
e TAN de 21,190% para crédito de 2.500€ pago em 12 prestações mensais iguais no valor de 230,65€. Montante total imputado
ao Cliente: 2.852,75€, incluindo anuidade e impostos.
62.magazine
setembro/outubro 2010
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ROTEIRO
PASSEIO
MARÍTIMO
APROVEITAR OS ÚLTIMOS DIAS DE SOL OU DAR AS
BOAS-VINDAS AO OUTONO, DOIS BONS PRETEXTOS
PARA UM PASSEIO PELA «VILA ARISTOCRÁTICA».
SEMPRE COM O MAR POR PERTO.
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TEXTO CARLOS ALVES FOTOGRAFIA PAULO BARATA
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ouco interessa o que diz o calendário.
Enquanto o Sol continuar a brilhar,
Cascais recusa declarar o Verão como
terminado. À porta do famoso Santini,
continuam as longas filas de pessoas à
espera para provar (ou comprovar) o
melhor gelado da «Linha». As esplanadas mantêm-se cheias de vida, tal como as praias. E o «paredão», o agradável passeio marítimo
que as aproxima, não perde a animação de entusiastas do “jogging”,
famílias, casais e jovens que aproveitam os últimos dias de férias.
O centro da vila, sucessão de ruas empedradas ao longo da baía,
gravita em torno da Frederico de Arouca (ou Rua Direita, para
quem é «da terra») e dos restaurantes que se espalham pelas travessas e vielas circundantes. Quando se aproxima a hora de almoço ou
de jantar, é tempo de o peixe fresco encher os assadores. É um dos
pretextos habituais para ir até Cascais. Para não fugir à «tradição», reserve-se mesa no Baiuka, uma referência não só pela ementa como
também pela localização, junto à Praia das Moitas. Ou então, numa
nota «reinterpretativa», suba-se ao primeiro andar da estalagem Villa
Albatroz, onde se situa, com uma vista de primeira sobre a baía, o
Vin Rouge. O jovem chefe João Antunes dá cartas com a sua cozinha de reinvenção, em equipa com Rita Caldas, sua mulher e responsável pela escolha dos vinhos (a selecção a copo é excelente).
Para quem desejar subir a fasquia, a morada a reter é Fortaleza do
Guincho. Além de hotel de charme, é um restaurante de alta cozinha francesa com um toque de portugalidade. A estrela Michelin
conquistada em 2001 serve de cartão-de-visita às criações do chefe
Vincent Farges – que desenha os menus de cada estação em colaboração com o multipremiado Antoine Westermann, detentor
de três estrelas no cobiçado guia vermelho com o seu restaurante
Buerehiesel (Estrasburgo). Fica fora da vila, é certo, mas a viagem de
nove quilómetros ao longo da Estrada do Guincho, entre o verde
do Parque Natural de Sintra-Cascais e as ondas do Atlântico, é
muito recompensadora, em particular se for feita de bicicleta – ou
de «biCas», a bicicleta disponibilizada gratuitamente pela autarquia.
Além das boas mesas com vista para o mar, há outros motivos
para passar um ou mais dias na «vila aristocrática». Enquanto se
aguarda a abertura da renovada Cidadela, prevista para 2011 (que
incluirá a conversão de parte da estrutura militar renascentista
numa unidade hoteleira integrada na rede Pousadas de Portugal),
a grande novidade continua a ser a Casa das Histórias Paula Rego,
que, só no primeiro ano, recebeu qualquer coisa como 150 mil
visitantes – número impressionante que, estima-se, continuará a
crescer. Mesmo quando terminarem estes dias de Sol.
1
HOTEL FORTALEZA DO GUINCHO.
ESTRADA DO GUINCHO
Com o Atlântico aos pés e uma vista inspiradora para o Cabo da
Roca, a antiga fortaleza, construída no século XVII, é hoje um
sumptuoso hotel de 5 estrelas, integrado na rede Relais &
Châteaux. A nove quilómetros do centro de Cascais, junto à praia
do Guincho, e a meia hora de Lisboa. Tem 24 quartos e três suites.
www.guinchotel.pt
1
RESTAURANTE FORTALEZA DO GUINCHO.
ESTRADA DO GUINCHO
O salão requintado, com grandes janelas sobre o Atlântico, quase passa despercebido quando começam a desfilar as criações
de Vincent Farges, cuja cozinha de «aliança franco-portuguesa»
ostenta uma estrela Michelin. Os vinhos estão a cargo de Inácio
Loureiro, distinguido repetidamente pela “Wine Spectator”.
www.guinchotel.pt
setembro/outubro 2010
magazine.65
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ROTEIRO
2
3
CASA DAS HISTÓRIAS PAULA REGO.
MERCEARIA DA VILA.
AVENIDA DA REPÚBLICA, 300
RUA VISCONDE DA LUZ, 12A
O interior do icónico edifício projectado por Souto Moura é
habitado pelo imaginário da pintora, com uma extraordinária
colecção de quadros, desenhos e gravuras. Até Janeiro de 2011
estarão patentes as exposições “Victor Willing — Uma Retrospectiva” e “Anos 70 — Contos Populares e Outras Histórias”.
www.casadashistoriaspaularego.com
Por um lado, é uma loja “gourmet”. Por outro, vende produtos
biológicos — frutas frescas, ervas aromáticas, lacticínios e
muito mais. Além disso, tem refeições ligeiras, «gelados de
autor» Ice Gourmet (alfarroba e eucalipto são alguns dos sabores), chá com “scones” e comida “take-away”.
T: 214 835 481
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setembro/outubro 2010
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66.magazine
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CASCAIS
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CASCAIS
4
GELADOS SANTINI.
AVENIDA VALBOM, 28
Mesmo com a abertura da sua segunda filial em pleno Chiado
(a primeira fica em São João do Estoril), a casa fundada em
1949 pelo italiano Attilio Santini continua a ter filas de gente do
balcão até à rua. “I gelati più fini del mondo” («os melhores
gelados do mundo») é a promessa. A clientela fiel atesta que
não é um mero “slogan”.
T: 214 833 709
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ROTEIRO
5
6
LIVRARIA GALILEU.
RESTAURANTE VIN ROUGE.
AVENIDA VALBOM, 24A
RUA FERNANDES TOMÁS, 1
Passados 38 anos, a livraria mais antiga de Cascais lá continua, dedicada «àquele nicho de mercado que prefere a qualidade e a raridade à espuma passageira do “best-seller”»
(como se apresenta no seu “website”). Além de livros novos,
nas suas prateleiras há também livros usados, alguns deles
bem antigos, verdadeiros tesouros para coleccionadores.
www.livrariagalileu.pt
O dístico “Bib Gourmand” do Guia Michelin, afixado à entrada,
é esclarecedor: «refeições cuidadas a preços moderados».
João Antunes e Rita Caldas, marido e mulher, largaram os anteriores empregos e apostaram tudo neste projecto. Acertaram
em cheio. A carta de vinhos casa na perfeição com a cozinha
criativa de João Antunes. Para não falar da vista…
www.restaurantevinrouge.com
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VOLUNTÁRIOS
AV. BIARRITZ
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AV. DOS BOMBEIROS
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AV. DE PORTUGAL
AV.
RUA J. A.
CASCAIS
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7
PASTELARIA GARRETT.
ESTAÇÃO
CP ESTORIL
AVENIDA DE NICE, 46 (ESTORIL)
A Garrett é há muito um clássico da «Linha». Renovada não há
muito tempo, mantém a aura aristocrática, herdada dos seus
76 anos. Na montra, a estrela é o bolo-rei, que muitos não têm
dúvidas em apontar como o melhor de Lisboa e arredores.
Quem as tiver pode sempre falar com os dois mil fãs que a
pastelaria tem no Facebook.
T: 214 680 365
68.magazine
setembro/outubro 2010
ESTORIL
AV. MARGINAL
FERREIRA
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CASCAIS
8
TERMAS DO ESTORIL
AVENIDA DE PORTUGAL (ESTORIL)
Nos tempos de estância de veraneio das elites europeias, o Estoril era também conhecido pelas suas águas termais. Volvido
meio século sobre o encerramento, o único balneário termal da
Grande Lisboa está de volta, agora em parceria com a insígnia
Banyan Tree — juntando à proverbial «saúde através da água»
a longa lista de tratamentos de bem-estar de um spa de luxo.
www.termasdoestoril.pt l
setembro/outubro 2010
magazine.69
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BOA VIDA
PALÁCIO COM CEM ANOS DE HISTÓRIA, CINCO ESTRELAS E UM CARTÃO-DE-VISITA: ARTE VALIOSA,
JARDINS DE ENCANTAR, SUITES REAIS COM VISTA
DESLUMBRANTE E UM RESTAURANTE DE ELEIÇÃO.
HOTEL DE
FINA FLOR
70-71:Layout 1 06-10-2010 11:42 Page 71
TEXTO JOÃO ALEXANDRE
A história do Palácio de Valle Flôr,
criado no início do século XX, tem muitíssimos pormenores. Se o espaço desta
página nos coíbe de enumerá-los, tal não
significa que deixem de ser apreciados ao
vivo, um por um. O Pestana Palace, é dele
que falamos, não é apenas um luxuoso
cinco estrelas – é um luxuoso cinco estrelas com orgulho no seu passado. Por
isso, restaurou e recuperou o brilho e a
beleza das fachadas, dos salões e dos
jardins; dos frescos, pinturas, estuques e
vitrais. Parte do reconhecimento apareceu em 1997, com a classificação de
Monumento Nacional; o restante chega
anualmente com várias distinções, em
que se destacam alguns «óscares do
turismo» (World Travel Awards).
Nesta história, os jardins ligam o passado e o presente, o mesmo é dizer
ligam o antigo palácio – que alberga a
recepção, os salões ou as quatro suites
reais com uma vista deslumbrante para
o Tejo – aos novos edifícios, onde predominam os quartos (qualquer coisa
como 190), as amplas salas para reuniões e outros eventos, a piscina interior e um moderno spa. Pelo meio, há
a Casa do Lago, pavilhão de decoração
oriental onde, sobretudo nos meses
mais quentes, são servidos almoços e
lanches, e a piscina exterior, construída
no lugar do antigo lago.
O premiado Valle Flôr, conduzido
pelo chefe Pedro Marques, leva-nos de
volta aos salões de baile do palácio
para oferecer um prato principal até ao
final do ano: é o restaurante oficial das
7 Maravilhas Naturais de Portugal.l
PESTANA PALACE
RUA JAU, 54 - 1300-314 LISBOA
TEL: 213615600 I FAX: 213615601
RESERVAS: 282 24 00 01 / 808 252 252
www.pestana.com
VANTAGEM
Cartão Prestige Security (TAEG de 29,3%): desconto de 10% sobre a melhor tarifa disponível, em
qualquer unidade do Grupo Pestana Hotels & Resorts, “upgrade” a quartos superiores (mediante
disponibilidade), “welcome drink” no “check-in”, entre outras vantagens. Marque através da
Central de Reservas (código SX000928). Cartões American Express (TAEG mínima de 24,9%
e máxima de 31,1%): A redenção de 30.000 pontos do programa Membership Rewards dá direito
a uma noite em quarto duplo, acesso ao Health Club e “upgrade” a quarto superior se disponível.
Reserve pelo número 213615600 (código 200026).
Cartão Prestige Security: TAEG de 29,3% e TAN de 21,190% para crédito de 2.500€ pago em 12 prestações mensais iguais no valor de 230,65€.
Montante total imputado ao Cliente: 2.852,75€, incluindo anuidade e impostos. Cartões American Express (TAEG mínimas e máximas): Cartão Blue
da American Express com TAEG de 24,9% e TAN de 21,190% para crédito de 1.500€ pago em 12 prestações mensais iguais no valor de 138,39€.
Montante total imputado ao Cliente: 1.685,65€, incluindo anuidade e impostos; Cartão American Express da Ordem dos Advogados com TAEG de
31,1% e TAN de 23,020% para crédito de 1.500€ pago em 12 prestações mensais iguais no valor de 139,53€. Montante total imputado ao Cliente:
1.724,31€, incluindo anuidade e impostos.
setembro/outubro 2010
magazine.71
72-73:Layout 1 11-10-2010 15:43 Page 72
COLECÇÃO DE ARTE
CONCLUÍDO HÁ 40 ANOS POR MARIA HELENA VIEIRA DA
SILVA, “CRISTAL” É UMA DAS 74 OBRAS REUNIDAS EM
“ABSTRACÇÃO”, UMA EXPOSIÇÃO QUE APRESENTOU AO
PÚBLICO UM IMPORTANTE ACERVO DE PINTURA
ABSTRACCIONISTA DA COLECÇÃO DO MILLENNIUM BCP.
TOME NOTA.
A exposição “Arte Partilhada Millennium bcp
Abstracção”, comissariada por Raquel Henriques
da Silva, esteve patente na Sociedade Nacional de
Belas Artes, em Lisboa, entre Março e Maio de
2010. O acervo reuniu 74 obras do abstraccionismo
português e estrangeiro provenientes da colecção
privada do Millennium bcp — uma vez mais, partilhada com o público de forma gratuita.
72.magazine
setembro/outubro 2010
72-73:Layout 1 11-10-2010 15:43 Page 73
TEXTO JOÃO ALEXANDRE
TEIA DE
CRISTAL
«Teço a minha teia de aranha, à medida e ao passo
que vivo: e tudo vem parar aqui. Tudo aqui se resume. Poeira, moscas, flores, folhas secas e, de tempos a tempos, faço o inventário das minhas riquezas
mas como não tenho nenhum talento para inventários, perco-me e não o faço nunca completamente,
e ponho-me de novo a tecer.» Maria Helena Vieira da
Silva, só ela poderia estar na origem de “Abstracção.
Obras da Colecção Millennium”, exposição de pintura que reúne 74 obras de alguns dos mais importantes
nomes do abstraccionismo português e estrangeiro.
A saber: Alfred Manessier, André Lanskoy, Arpad
Szenes, Artur Bual, Eduardo Batarda, Júlio Pomar,
Júlio Resende, Nadir Afonso, Paula Rego ou Zao
Wou-Ki. Apesar de não ser «uma exposição sobre a
artista e seus amigos», explica a investigadora Ana
Ruivo, «não poderia distanciar-se desse contexto e
revela bem a sua presença e o leque de relacionamentos gerados em seu torno», como aconteceu
com Mário Cesariny, Manuel Cargaleiro, Augusto
Barros, Fernando Lemos e Justino Alves.
O núcleo mais significativo desta mostra é, sem
dúvida, o de Vieira da Silva, resultado de heranças
do Banco Comercial Português (“Sem título”, 1951;
“Blanche”, 1958; “Diagramme du regard (L’été)”,
1960; “Sem título”, 1972; “Printemps”, 1976), do
Banco Português do Atlântico (como são exemplo
“Ville” ou “Porto”, 1962), do Banco Mello (“Gaya”,
1971) e de colecções privadas com passagem pelas
galerias Jeanne Bucher em Paris (“Palais des
Glaces”, 1965), Beyel em Basileia (“Lisbonne”,
1962) ou Knoedler em Nova Iorque (“Cristal”,
1970). «Nas telas-teia de Vieira adivinham-se catedrais, labirintos, bibliotecas, jardins, vendavais, arrebatamentos de estio, sentido à flor da relva. Nas
pinturas aqui reunidas, encontramos tudo isso num
espectro temporal que se estende de 1950 a 1976,
quando a artista regressada do Brasil – refugiada que
esteve da Segunda Guerra na Europa, com Arpad
Szenes, seu marido – retoma o seu trabalho num
ritmo de produção e exposição constantes», explica
Ana Ruivo. «Adquiridas a vários tempos, reflectem
bem as propostas da artista, fundadas quer no valor
compositivo dos dispositivos traçados, quer na impulsividade contida com que suspende, em sopros
de cor, o que os olhos vêem e o coração sente.» l
MARIA HELENA
VIEIRA DA SILVA
1908-1992
Em 1970, enquanto “Cristal” ganha
vida no atelier de Vieira da Silva, o nome
da pintora portuguesa já conquistara
o prestígio internacional que Portugal
demorou a reconhecer. Vieira da Silva
nasce em Lisboa a 13 de Junho de 1908,
e morre em Paris a 6 de Março de 1992.
Pelo meio, há uma carreira de vulto que
atravessa várias geografias artísticas,
sobretudo entre França, Brasil e
Portugal, países onde viveu com o pintor
de origem húngara Arpad Szenes (18971985). Por entre prémios e exposições, a
obra deste nome fundamental da pintura
europeia da segunda metade do século XX
ganha retrospectivas em Hanover e
Bremen (1958), Grenoble e Turim (1964),
ou em Roterdão, Oslo, Basileia e Paris
(onde realizou a sua primeira exposição
individual, em 1933). Segue-se Portugal,
e a grande mostra na Fundação Calouste
Gulbenkian, em 1977. Seis anos depois,
o Metropolitano de Lisboa oferece aos
seus passageiros um presente especial:
a decoração da estação da Cidade
Universitária (seguiram-se outras)
assinada pela artista que os Estados
português e francês souberam
homenagear oficialmente. Ainda em
vida, assiste à criação, em Lisboa, da
Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva
(fasvs.pt), corria o ano de 1990 (o museu
seria inaugurado apenas em 1994).
CRISTAL, 1970
Óleo s/tela, 81 x 100 cm
setembro/outubro 2010
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AUTOMÓVEL
ESTE ANO, O SALÃO DE PARIS VAI VIVER SOBRETUDO DOS VEÍCULOS DESTINADOS A ATINGIR JÁ
HOJE A MOBILIDADE AMIGA DO AMBIENTE QUE
ESPERAMOS TER NO FUTURO.
DESFILE DE
NOVIDADES
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TEXTO PEDRO ALFAIA
PEUGEOT 508.
O substituto do 407,
agora com formas
mais elegantes.
S
ob o lema «O Futuro, Hoje»,
a edição deste ano do salão
automóvel de Paris surge em
tempos de crise, mas numa
fase em que recuperação é
uma realidade. De 2 a 17 de Outubro, milhares de visitantes – ou não fosse França
um dos países com indústria mais forte
neste sector –, assistem ao desfilar de automóveis de diferentes tipos e para todas
as bolsas. Se a maioria dos modelos assume versões mais atraentes, mais bem
construídas ou mais possantes, não vão
faltar novos veículos em que a prioridade
passa pelos consumos e, por tabela, pelas
emissões nocivas.
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AUTOMÓVEL
A jogar em casa, os construtores franceses fazem questão de estar bem representados e, se da Renault não se esperam
grandes novidades, o mesmo não se pode
dizer da Citroën ou da Peugeot. A
primeira promete brilhar ao mais alto
nível, pois apesar do “restyling” do C4
Picasso (que adopta uma versão híbrida
E-HDI, com um motor diesel em conjunção com uma unidade eléctrica), a
atenção centra-se no novo C4, que cresce
substancialmente, adoptando linhas mais
esguias e elegantes. Para quem deseje um
“crossover” tipo Nissan Qashqai, a Citroën
tem preparado o novo DS4, baseado no
C4, mais alto e musculado.
Na Peugeot, o 508, familiar topo de gama
que substitui o 407, aparece com formas
menos polémicas e mais elegantes. Os
amantes das soluções eléctricas têm à
disposição o Ion, o mesmo que serve a
Mitsubishi e a Citroën, enquanto quem
procura uma opção híbrida pode ver no
3008 Hybrid4 a solução perfeita, com quatro rodas motrizes, ligando o motor diesel
a um eléctrico.
Entre os construtores germânicos, a
Volkswagen, que se mantém com primeiro fabricante europeu, prepara-se
para apresentar o substituto do incontornável Passat. Com a mesma denominação, a nova geração é maior e adopta
uma frente mais próxima dos actuais
CITROËN C4.
Nova versão, maior
e mais esguia.
Golf e Polo, de grelha mais rasgada, mas
com a mesma qualidade de construção.
Concorrente directo, a Opel surge finalmente com os modelos da gama Astra
que há muito lhe faltavam, como é exemplo a Astra Sports Tourer, versão que por
tradição é a mais vendida da gama. Os
condutores mais agressivos passam a ter
disponível a versão GTC, o “coupé” da
família Astra. A Chevrolet, agora fora do
universo GM, continua a renovar os seus
modelos a bom ritmo. Desta vez é o
Cruze, na versão “hatchback”.
Continuando pela Alemanha, mas com o
foco dirigido aos construtores de luxo, a
Audi mostra ao público, pela primeira
vez, o seu imponente A7, que concorre
com o Mercedes CLS na categoria dos
“coupés” de luxo com quatro portas.
Maior e mais atraente do que o A5, o A7
Sportback é esguio e concilia boa mala
com habitáculo para quatro adultos, tudo
envolto numa carroçaria de “coupé”. A
isto a BMW responde com o novo X3,
um SUV que cresce em dimensões e
qualidade, mais de acordo com os
padrões da marca. Bem junto da BMW
estará a Mini (ambas pertencem ao
mesmo grupo), cujo “stand” será dominado pelo Countryman, o primeiro automóvel de quatro portas da marca, que
serve de base para o futuro modelo do
construtor nos ralis do campeonato do
EM FOCO.
PEUGEOT
508.
O familiar topo de gama que substitui o 407, com
formas menos polémicas e mais elegantes, está
disponível nas versões quatro portas e carrinha
CITROËN C4.
O novo C4 cresce substancialmente em
dimensões, adoptando linhas mais esguias,
o que promete torná-lo mais sedutor.
O interior também está mais prático e sólido.
AUDI A7 SPORTBACK.
O concorrente do Mercedes CLS na categoria
dos “coupés” de luxo com quatro portas
concilia boa mala com habitáculo espaçoso,
envolto numa carroçaria de “coupé”.
BMW X3.
O popular X3 aparece com novas roupagens.
Maior por fora e mais espaçoso por dentro,
destaca-se pelos materiais de melhor
qualidade numa carroçaria mais atraente.
MERCEDES CLS.
A mais recente geração do “coupé” de quatro
lugares que revolucionou a indústria propõe
linhas mais «fortes», que emprestam à elegante
carroçaria uma personalidade ímpar.
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DESFILE DE NOVIDADES
BMW X3. Um SUV
em versão revista
e aumentada.
A BMW RESPONDE
COM O NOVO X3, UM
SUV QUE CRESCE
EM DIMENSÕES E EM
QUALIDADE, MAIS
DE ACORDO COM OS
PADRÕES DA MARCA.
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AUTOMÓVEL
AUDI A7 SPORTBACK.
Um “coupé” de luxo
elegante e espaçoso.
NO SALÃO DE PARIS,
A AUDI MOSTRA
AO PÚBLICO, PELA
PRIMEIRA VEZ,
O SEU IMPONENTE
A7, UM ESPAÇOSO
“COUPÉ” DE LUXO
DE QUATRO PORTAS.
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DESFILE DE NOVIDADES
mundo. Ainda assim, muito provavelmente será a Mercedes a atrair as atenções entre os fabricantes de luxo alemães:
em termos imediatos, propõe o novo
CLS, a recente geração do “coupé” de
quatro lugares que revolucionou a indústria automóvel, agora com linhas mais
«fortes» e ousadas; para um futuro próximo fica prometida a carrinha deste
CLS, que entra em Paris como Shooting
Break, muito elegante e destinada a quem
pretende mais versatilidade mas não está
disposto a abdicar do estilo.
A Nissan é o representante oriental
mais interessante para o mercado português. Para além do Leaf – veículo
eléc trico (similar ao Renault Fluence
ZE) disponí vel antes do final do ano
por cerca de 30 mil euros e cujas baterias se podem carregar em tomadas
domésticas por cerca de dois euros com
uma autonomia de 160 quilómetros –,
a Nissan mostra o novo Juke, versão
ligeiramente mais pequena e acessível
do popular Qashqai, com um design
muito ousado e irreverente.
Nem só de carros racionais ou preocupados com o ambiente vive o Salão de Paris.
A Audi apresenta o seu novo cartão-de-visita: o R8 GT, mais ligeiro e com a
potência do motor a subir de 525 para
560cv, igualando o Gallardo LP560-4.
A McLaren retoma o estatuto de construtor
de superdesportivos, depois de em 1991
ter introduzido o McLaren F1. Desta vez,
o McLaren MP4-12C é muito acessível
para a classe (cerca de 200 mil euros),
continuando elegante, eficaz e potente,
à custa do motor 3.8 bi-turbo de 600cv.
O 918 é a atracção do “stand” da Porsche,
apesar de o modelo proposto por mais
de 700 mil euros não estar disponível tão
cedo – as opções imediatas vão limitar-se
ao 911 GT2 RS (o 911 mais veloz de
sempre) e ao Panamera híbrido. Quem
apenas se satisfaz com o melhor do
mundo terá de se «contentar» com o
Lamborghini Reventón Roadster, versão
aberta do modelo italiano do grupo
Volkswagen, agora limitado a 650cv (em
vez dos 670 da versão de carroçaria
fechada). É de esperar que a Ferrari apresente apenas o impressionante 599 GTO
– um dois lugares de 670cv já em comercialização, capaz de atingir os 335 km/h e
ultrapassar os 100 km/h em apenas 3,3
segundos –, uma vez que o F70 está reservado para mais tarde.
Não faltam motivos para visitar o último
certame automóvel de 2010, onde serão
exibidos os veículos que se pode comprar
até ao final deste ano e durante 2011.l
MERCEDES CLS.
A reinvenção do
“coupé” que revolucinou a indústria.
VANTAGEM
LEASING/ALD. Exemplo para viatura de 50.000€.
Renda mensal de 726,01€, considerando uma
primeira renda de 10.000€ (entrada de 20%),
prazo de 60 meses e valor residual de 2%. TAEG
de 4,2% e Taxa Anual Nominal de 3,640%, tendo
como referência a média da Euribor a 1 mês
na base 360 dias, de 0,640% (média aritmética
simples das cotações diárias de Agosto de 2010
com arredondamento à milésima mais próxima),
acrescida de um “spread” de 3% (“spreads” promocionais a partir de 3%, definidos em função do
perfil de risco do cliente, valor de entrada inicial
e prazo da operação, não-acumuláveis com
quaisquer outras condições promocionais e válidos até 29 de Outubro de 2010). Montante total
imputado ao Cliente (Leasing): 54.307,82€. Inclui
as seguintes comissões, não-financiadas (IVA
incluído): dossier 181,50€, processamento mensal 1,21€, gestão de contrato trimestral 9,68€ e
final de contrato 36,30€. Montante total imputado
ao Cliente (ALD): 54.352.82€, incluindo, adicionalmente ao Leasing, o Imposto do Selo sobre a
caução (correspondente ao valor de 15%) de 45€.
RENTING. Exemplo para a viatura BMW X3
Xdrive 18D, Cxm6 5P 143cv. Cotação mensal
de 751,55€, IVA incluído, tendo em conta os
seguintes parâmetros: 48 meses, 80.000km, 4
pneus de substituição, serviços de manutenção
prevista e imprevista (avarias), assistência ao
condutor 24 horas/365 dias por ano, assistência
em viagem 24 horas e serviços de gestão
oficinal e gestão de entrega; imposto único
de circulação incluído na renda. Caso seja
percorrida quilometragem superior à contratada, o valor das rendas será recalculado
em função das condições contratadas.
CRÉDITO AUTOMÓVEL. Exemplo para viatura
de 50.000€, com entrada inicial de 20% e um
montante solicitado de 40.000€, com reserva
de propriedade a favor do Banco e prazo de 60
meses. Prestação fixa mensal de 812,91€.TAEG
de 8,4%. Taxa Anual Nominal fixa de 7,25%,
definida para viaturas novas, em função do perfil
de risco do Cliente, prazo e entrada inicial, válida
até 29 de Outubro de 2010. Montante total imputado ao Cliente: 48.774,60€, incluindo comissão
de dossier (120,19€, à qual acresce Imposto do
Selo à taxa actual de 4%) e Imposto do Selo
sobre a abertura de crédito, ambos financiados,
juros e respectivo Imposto do Selo.
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OPERAÇÃO INTERNACIONAL
FOI O ÚNICO PAÍS DA UNIÃO EUROPEIA A REGISTAR CRESCIMENTO ECONÓMICO EM 2009.
ESTE ANO, O PIB DEVERÁ CRESCER MAIS DE 3 POR CENTO, DE ACORDO COM AS ESTIMATIVAS DO BANCO CENTRAL POLACO. UM MERCADO DINÂMICO, COM CERCA DE 38 MILHÕES
DE HABITANTES, ONDE O MILLENNIUM TEM MAIS DE 460 SUCURSAIS E GESTORES DEDI CADOS AO ACOMPANHAMENTO DE EMPRESAS PORTUGUESAS.
POLÓNIA
UMA ECONOMIA
QUE DESAFIA
A CRISE
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certo e sabido que as empresas portuguesas têm encontrado
na internacionalização um espaço de crescimento que dificilmente conseguiriam no mercado doméstico. Há países que,
por afinidade histórica, surgem como extensões naturais das
nossas actividades económicas, como Espanha, Brasil ou Angola. E há outros com quem temos ligações de menor intimidade mas que, pelo potencial de mercado, são destinos do
investimento nacional. É o caso da Polónia, onde a crise
travou mas não parou o crescimento económico – e é de lá
que nos chegam histórias de sucesso comprovado.
Os casos mais visíveis, pela expressão do investimento e pela
exposição pública das marcas, são o Bank Millennium, com mais de 460 sucursais, das
quais mais de 100 na região de Varsóvia, e a Jerónimo Martins, que possui a maior rede
de supermercados, sob a insígnia Biedronka. De acordo com os resultados do primeiro
semestre de 2010, mais de 15 por cento dos resultados líquidos do Millennium bcp
provêm das operações fora de Portugal, com a Polónia a destacar-se como a operação
mais importante, registando um resultado líquido de 34,4 milhões de euros.
Mas nem só de grandes companhias se faz a presença portuguesa na Polónia. São várias
as pequenas e médias empresas que diariamente escrevem parte da sua história na língua
de Copérnico, Chopin e Polanski. A Colep, fabricante de embalagens presente há mais
de dez anos, foi das primeiras a chegar à Polónia; a Parfois já tem lojas em Poznan,
Cracóvia, Gdansk, Lodz, Wroclaw, Katowice e Varsóvia; e a sociedade de advogados Raposo Bernardo & Associados recebeu, este ano, os títulos de “Newcomer of the Year”
e “New Law Firm of the Year”, resultado da vitória nos prémios “Corp INTL Global
Awards” e “ACQ Law Awards”, respectivamente.
«É um mercado cheio de oportunidades mas também muito cobiçado por empresários de
países mais próximos, como a Alemanha, por isso uma empresa portuguesa que queira vingar aqui tem de ter vantagens competitivas bem vincadas mas também paciência, perseverança e músculo financeiro, pois os resultados não surgem de um dia para o outro», afirma
João Brás Jorge, Vice-Presidente do Bank Millennium. «Quem deseja conhecer melhor este
mercado pode começar por contactar a Câmara de Comércio Polónia - Portugal e o próprio
Bank Millennium, porque temos uma experiência muito rica no apoio à internacionalização
das empresas portuguesas nesta região», lembra o gestor destacado em Varsóvia desde 2006.l
TOME NOTA.
O Bank Millennium, detido em 65,51% pelo Millennium bcp, é uma das maiores
instituições financeiras na Polónia, com especial enfoque na banca de particulares
e na banca de empresas.
Em 2008, o Bank Millennium e a AICEP (Agência para o Investimento e Comércio
Externo de Portugal), visando apoiar empresas portuguesas que pretendam iniciar
actividade na Polónia, celebraram um protocolo de cooperação estratégica onde,
entre outras obrigações, o Banco se compromete a disponibilizar um gestor de conta
específico para empresas de capital português.
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PRESENÇA INTERNACIONAL
A VOTAÇÃO DO PÚBLICO DEU-LHE O PRIMEIRO LUGAR NO “TOP
DOS MAIS QUERIDOS” E A SUA CARREIRA FOI HOMENAGEADA
PELOS PRÉMIOS ANGOLA 35 GRAUS. A ARTISTA QUE DÁ A CARA
(E A VOZ) PELO MILLENNIUM ANGOLA – RECENTEMENTE ELEITO
O “MELHOR BANCO ESTRANGEIRO” A OPERAR NAQUELE PAÍS –
FALA SOBRE OS SONHOS DE 25 ANOS DE CARREIRA.
YOLA SEMEDO
UMA VOZ
COM ALMA
Apesar de só ter 32 anos, conta já com 25 de carreira. Qual é o segredo para
esta longevidade?
Faço parte de uma família de músicos. O meu pai foi professor de música.
A primeira vez em que subi a um palco tinha sete anos. Aprendi a tocar piano aos
11. E faço parte de um grupo musical familiar, os Impactus 4. Acredito que os laços
familiares e a grande união que há entre nós são a base destes 25 anos de carreira.
A minha família é fundamental.
Ainda se lembra da primeira vez que actuou ao vivo?
Foi horrível! Congelei completamente no palco. Senti frio, calor, tudo ao mesmo
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tempo... A emoção foi tanta que acabou
por tomar conta de mim.
Quando se apercebeu de que a música
seria a sua vida?
Eu cresci na música. Acredito que, nesse
momento em que subi a um palco pela
primeira vez, já estava escrito que a música
teria um papel muito importante na minha
vida. Sei que sou uma mulher de sorte.
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MILLENNIUM ANGOLA
Lançou recentemente o seu segundo
álbum a solo, “Minha Alma”. O que o distingue do disco de estreia?
Ao longo da minha carreira, têm sido os
produtores com quem tenho tido o privilégio de colaborar a assegurar todo o trabalho.
“Minha Alma” é o primeiro trabalho realmente «meu» em todos os sentidos: produção musical, arranjos vocais, etc. “Minha
Alma” é uma homenagem aos meus 25 anos
de carreira, feito com muito carinho por
todos aqueles que gostam da minha música.
“NO MOMENTO
EM QUE SUBI
A UM PALCO
PELA PRIMEIRA
VEZ, JÁ ESTAVA
ESCRITO QUE A
MÚSICA TERIA
UM PAPEL
IMPORTANTE NA
MINHA VIDA.”
Passaram cinco anos entre os dois discos. Foi difícil compor este “Minha Alma”?
Não. Durante esses cinco anos, trabalhei muito para desenvolver aquilo que sei
fazer. Aproveitei ao máximo para aprender. Foi o tempo necessário para me preparar
para o “Minha Alma”.
PRESENÇA
ALARGADA.
Com a abertura da sucursal na
Estrada de Catete, província de
Bengo, no início de Outubro,
o Banco Millennium Angola
aumentou a sua rede para 33
balcões. A nova sucursal, em
funcionamento todos os dias úteis
das 8h00 às 15h00, disponibiliza,
entre outros, o serviço de
transferências rápidas Western
Union em espaço dedicado.
Continua ligada aos Impactus 4?
Continuo e acredito que estamos mais unidos agora, pela música e pela herança que
o nosso pai nos deixou. Pretendemos continuar juntos para o resto das nossas vidas,
se Deus deixar.
Já actuou por diversas vezes fora de Angola. Em algum lugar se sente tão
acarinhada como no seu país?
Angola é um país com uma cultura muito rica. É uma honra muito grande sempre
que tenho a oportunidade de levar um pouco desta cultura para a diáspora. E tive a
sorte de ser muito aplaudida nos palcos por onde tenho passado. É importante
enaltecer o nome de Angola.
Até onde gostaria de levar a sua música?
O meu maior sonho é levá-la além-fronteiras. Receber o reconhecimento do
mundo musical, levando comigo a cultura angolana. E quero continuar a ser respeitada e acarinhada pelo mundo musical angolano. Mas sei bem que para tudo isso
acontecer é necessário trabalhar!
É o novo rosto do Millennium Angola. O que a levou a aceitar esta ligação?
O facto de o Banco Millennium Angola ser uma instituição que preza os bons costumes e o bem-estar desta comunidade. E, acima de tudo, por espelhar muita seriedade.
Que balanço faz desta ligação?
Tem sido muito positiva, um casamento perfeito. É um trabalho feito com muito
carinho e profissionalismo. Estou muito feliz por saber que está a ser bem aceite.
No anúncio que fez para o Millennium Angola, aparecem duas raparigas que a
vêem e começam a cantar uma canção sua. Isso acontece-lhe com frequência?
Graças a Deus, acontece. E tento lidar com todos aqueles que gostam do meu trabalho
da melhor forma possível. Tenho em mente que parte da popularidade que tenho hoje
é graças a eles. Agradeço a todos de coração. l
BANCO
PREMIADO.
A revista “EMEA Finance”, dirigida
à comunidade financeira da região
Europa/Médio Oriente/África,
distinguiu o Millennium Angola
como o “Melhor Banco Estrangeiro”
a operar no país, destacando-o
«pela “performance” positiva e
progresso constante em 2010».
Recorde-se que, em 2009,
a mesma publicação apontou o
Millennium como o banco mais
inovador no mercado angolano.
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DISTINÇÕES
O MELHOR BANCO DE MOÇAMBIQUE. A revista “EMEA Finance” apontou o Millennium bim, pelo segundo
ano consecutivo, como o “Melhor Banco em Moçambique”. Além deste prémio, a operação moçambicana do
Millennium foi também incluída no lote dos “5 melhores Bancos Nacionais de África” pela IC Publications,
editora da “African Banker Magazine”. Esta distinção eleva Moçambique no plano mundial como um país que
oferece confiança económica para potenciais investidores, num ambiente de negócios com empresas que se
pautam pelas melhores práticas mundiais.
O ÚNICO BANCO
PORTUGUÊS NO ÍNDICE
ASPI EUROZONE
EM DESTAQUE.
MILLENNIUM
CINCO VEZES
MELHOR
“EUROMONEY” DISTINGUE MILLENNIUM
BCP NA ÁREA DO IMOBILIÁRIO.
MILLENNIUM BCP INTEGRA RESTRITO LOTE DE EMPRESAS EUROPEIAS QUE SE
DISTINGUEM NO CAMPO DA SUSTENTABILIDADE E DA RESPONSABILIDADE SOCIAL.
O Millennium bcp passou recentemente a integrar o índice de sustentabilidade ASPI Eurozone (“Advanced Sustainable Performance Indices”), que inclui as 120 empresas da zona
euro com melhor “performance” em matérias de sustentabilidade, com base na avaliação
da Vigeo (líder europeia em avaliação de sustentabilidade e responsabilidade social) e em
conformidade com as orientações ASPI Eurozone. O Millennium bcp é o único Banco português a constar desta lista.
«A integração do Millennium bcp neste índice traduz o reconhecimento da nossa estratégia de responsabilidade social corporativa», sublinha Paulo Macedo, vice-presidente
do Banco. «A criação de valor para os accionistas, a par da criação de valor social, só é
possível com uma actuação baseada em princípios de rigor e em harmonia com a valorização dos colaboradores, a transparência na relação com os clientes, a promoção de
iniciativas que beneficiem a comunidade e a protecção ambiental.»
A avaliação baseou-se em seis áreas de responsabilidade social corporativa: modelo
de governação, respeito pelos direitos humanos, gestão das relações laborais, relação
com os clientes, envolvimento com a comunidade e gestão e estratégia ambiental.
Em 2009, o Millennium bcp tinha já sido incluído no índice ECPI Ethical Index EMU, composto pelas 150 maiores empresas da União Económica e Monetária elegíveis de acordo
com a metodologia ECPI Screening, que monitoriza a evolução de 4.000 empresas em
termos sociais, ambientais e de “governance”. Como maior grupo financeiro privado em
Portugal, o Millennium bcp contribui directa e indirectamente para a consolidação do desenvolvimento sustentável, tendo por isso uma responsabilidade acrescida na forma
como desenvolve a sua actividade e no modo como a comunica aos seus “stakeholders”
e às comunidades em que se insere.l
84.magazine
setembro/outubro 2010
No âmbito da edição de 2010 dos seus
Real Estate Awards, a prestigiada revista
financeira sediada em Londres acaba
de eleger, pela quinta vez consecutiva,
o Millennium bcp “Best Commercial
Bank” em Portugal na área de Crédito
à Promoção Imobiliária (“Real Estate”),
reconhecendo o sucesso da sua actuação
nesse segmento e a ampla variedade
de serviços oferecida segundo os mais
elevados padrões de qualidade.
A atribuição deste importante galardão
resulta de um estudo baseado na opinião
dos principais operadores do mercado
— promotores imobiliários, investidores,
consultores e instituições financeiras —
em 54 países.
A “Euromoney”, que celebra este ano o
seu 41º aniversário, é uma das principais
revistas financeiras a nível mundial, lida
em mais de 170 países por líderes de
opinião, gestores e decisores das maiores
empresas e instituições financeiras.l
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REDE MILLENNIUM
“SHOPPING ON-LINE” REFORÇADO.
Por ocasião do 25º aniversário do Banco, a gama de produtos
comercializados na área de “shopping” do “website” millenniumbcp.pt foi reforçada, com destaque
para os televisores e os telemóveis. O vasto leque de produtos disponíveis inclui ainda aparelhos de GPS,
soluções de bem-estar e aventura, libras e barras em ouro, medalhas e produtos de segurança, entre
outros. Nesta loja “on-line” pode encontrar produtos a preços abaixo do mercado (PVP recomendado),
bem como fazer as suas compras com total segurança e comodidade.
SUCURSAIS ABREM
AOS SÁBADOS
MILLENNIUM BCP VOLTA A ABRIR
AS SUAS AGÊNCIAS AOS SÁBADOS,
CENTROS URBANOS
SEMANA DE SERVIÇO BANCÁRIO.
(DAS 9H30 ÀS 13H30)
Após o sucesso da iniciativa nos
dois últimos anos, o Millennium bcp
vol ta a apostar numa estratégia de
longo prazo com o objectivo de reforçar a relação de proximidade e confian ça com os Clientes, ajustando à
conveniência destes os seus horários
de funcionamento.
Ao todo, são 26 as sucursais do
Banco — espa lhadas um pouco por
todo o País — que passaram, desde
finais de Setembro, a abrir as portas
ao sábado, com horários adequados
à realidade de cada local: das 9h30
às 13h30 nos centros urbanos, e das
14h00 às 18h00 nos principais centros comerciais.l
Angra do Heroísmo (Rua da Sé, 56)
Aveiro (Centro Comercial Glicínias)
Caldas da Rainha (Pç. da República, 7 e 8)
Espinho (Rua 19, 346 a 352)
Funchal (Rua Visconde Anadia, Lj 19/21)
Guimarães (Rua Paio Galvão, 10/22)
Leiria (Pç. Rodrigues Lobo, 59)
Marco de Canaveses (Av. Francisco Sá
Carneiro, 166)
Ponta Delgada (Praça Gonçalo Velho, 33)
Porto (Rua Diu, 15)
Porto (Pç. Mouzinho de Albuquerque, 136)
Porto (Pç. de Francisco Sá Carneiro, 113/115)
Vila Nova de Gaia (Rua Soares dos Reis, 820)
Viseu (Pç. da República, 5)
GESTORES DE CLIENTE
CERTIFICADOS
MILLENNIUM BCP E INSTITUTO DE FORMAÇÃO BANCÁRIA DESENVOLVEM
PROGRAMA DE FORMAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE NOVOS GESTORES DE CLIENTE.
Ir mais além, fazer melhor e servir o Cliente são as premissas que definem o novo
desafio lançado aos gestores que acompanham os Clientes Empresa do Millennium
bcp. O Processo de Certificação de Gestores, desenvolvido em parceria com o Instituto
de Formação Bancária, insere-se num programa de contínuo reforço das competências e capacidade técnica dos novos gestores, focado em conteúdos programáticos
essenciais, como “Trade Finance”, Contabilidade, Risco de Mercado, ou Diagnóstico
Económico e Financeiro de Empresas. Esta iniciativa visa contribuir para a valorização
e o reforço da relação de confiança entre os Clientes e o Banco.l
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SUCURSAIS
QUE ABREM
AO SÁBADO
ACRESCENTANDO UM «DIA ÚTIL» À
Mais informações em www.millenniumbcp.pt
86.magazine
TOME NOTA.
CENTROS COMERCIAIS
(DAS14H00 ÀS 18H00)
Braga (Centro Comercial Braga Parque)
Cascais (CascaiShopping)
Coimbra (CoimbraShopping)
Faro (Fórum Algarve)
Lisboa (Centro Comercial Colombo)
Lisboa (Centro Comercial Vasco da Gama)
Loures (Centro Comercial Pingo Doce)
Maia (MaiaShopping)
Matosinhos (NorteShopping)
Montijo (Fórum Montijo)
Rio Tinto (Centro Comercial Parque Nascente)
Vila Nova de Gaia (GaiaShopping)
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OPINIÃO.
PEDRO DA ROSA FERRO. ECONOMISTA*
ÉTICA, NEGÓCIOS
E BANCA
SERÁ A «ÉTICA EMPRESARIAL» ESSENCIAL AO MUNDO DOS
NEGÓCIOS? E A CRISE ACTUAL – ECONÓMICA, FINANCEIRA,
DE CONFIANÇA – UM PROBLEMA DE «CONSCIÊNCIA»?
Num famoso artigo publicado em 1981, Peter Drucker chocou os seus
admiradores e irritou os seus críticos ao negar vigorosamente a entidade
ou necessidade da «ética empresarial», a ideia de uma ética exclusiva ou específica dos negócios. O fundamento central do seu argumento é duplo:
por um lado, de acordo com a filosofia moral do Ocidente, só o indivíduo
é sujeito moral (e, portanto, as organizações não o são); por outro, os princípios éticos são universais, embora se apliquem tendo em conta as circunstâncias. É certo que
a empresa enfrenta problemas morais típicos. Contudo, Drucker via a “business
ethics” como uma moda nefasta, resquício da herança puritana, que tenderia a impor
cargas ilegítimas sobre as organizações. A seu favor, podemos reconhecer – por detrás do discurso banal sobre a «ética empresarial» – uma certa desconfiança ou
mesmo desprezo pelas actividades comercial e financeira (de longínqua raiz greco-romana) misturada com aquela hostilidade face aos empresários de que falava
Schumpeter. Neste horizonte, o lucro seria um rendimento «suspeito», olhado de
soslaio, que deveria ser recoberto pelo manto diáfano da «responsabilidade social»
para granjear honorabilidade. Noutros casos, a ética empresarial será apenas retórica
politicamente correcta ou exercício de marketing e “window-dressing”, quando não
manifestação de má consciência.
Assim, é necessário recordar, antes do mais, a «bondade ontológica» e
o valor social da empresa: proporciona bens e serviços desejados pelas
pessoas, criando ou acrescentando valor que distribui por clientes, trabalhadores, fornecedores, accionistas e outras partes interessadas, pressupondo um processo respeitoso e honrado de acordos voluntários entre
eles (sem violência, fraude ou abuso de posição dominante). Por outras palavras, o
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bem comum não é extrínseco ou exógeno
à empresa. E o lucro, em geral, é simplesmente a remuneração (justa e socialmente
necessária) do risco, inovação e energia
empresarial. É ainda um indicador de que
a empresa cumpre a sua primeira responsabilidade perante a sociedade: criar valor
económico, em termos que garantam a
sua continuidade no longo prazo (ou seja,
“inter alia”, lucrativos).
Entretanto, assistimos à
generalização de práticas
comerciais predatórias, à
avidez na gratificação imediata, à irresponsabilidade
pessoal, à recusa em aceitar ou antecipar
consequências das próprias acções, à
tendência para olhar os incentivos materiais como se fossem a medida e propósito únicos do trabalho humano, à
subversão da relação de confiança entre
accionistas e gestores, etc., e respectivas
sequelas. Com efeito, a actual crise económico-financeira nasceu não tanto da
incompetência e miopia de alguns e da
falta de memória de outros, quanto de
uma degradação generalizada dos padrões
éticos. A crise terá demonstrado que o sistema financeiro não dispensa temperança
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A CREDIBILIDADE É NÃO APENAS O PONTO DE
APOIO DA ALAVANCA FINANCEIRA, MAS O OXIGÉNIO
DE TODO O SISTEMA ECONÓMICO E DA VIDA SOCIAL.
por parte de investidores e credores, responsabilidade por parte de consumidores e
devedores, veracidade por parte das agências de “rating”, justiça por parte das instituições financeiras, humildade por parte dos economistas, coragem por parte de legisladores e reguladores, prudência por parte de todos.
Enfim, parece que Peter Drucker tinha razão no ponto essencial: para
ser honrado, prudente, justo, forte e sensível ao bem comum não se
requer «ética empresarial». Basta a ética, sem adjectivos. Basta o que
Drucker chamava o «teste do espelho» – «Que tipo de pessoa quero
ver ao espelho no dia seguinte de manhã?» –, atribuindo a esse espelho o sortilégio do retrato de Dorian Gray, capaz de reflectir no rosto as marcas
da deformidade moral que a mentira, a cobardia, a ganância, a fraude, o abuso e a
preguiça vincam na alma…
Daqui se deduz, também, a insuficiência dos sistemas de supervisão,
regulação e codificação do bom governo ou da boa conduta, se forem
tomados como sucedâneo mecânico da honradez, prudência e justiça
pessoais. Com efeito, se for assim, a insistência nesses dispositivos extrínsecos pode até revelar-se contraproducente. A ética passaria a ser um
«departamento», um assunto de técnica normativa e organizativa. E a proliferação
regulatória apenas suscitaria maior astúcia no desenvolvimento de modos originais de
a iludir; ou, na melhor das hipóteses, centraria a preocupação dos agentes no respeito
formal das normas mais do que na eticidade e na prudência substanciais dos procedimentos em causa. Isto já aconteceu, com maus resultados: a lei não dispensa a
consciência individual e a interiorização do que é «bom».
Não pretendo retirar valor aos mecanismos de supervisão e códigos deontológicos.
Até porque o bom governo também não se garante apenas com boas intenções. Alerto
apenas para a importância de estar consciente dos seus limites: por muitas normas de
bom comportamento e por muitas sanções que haja, sem disposição ética não pode
haver bom governo, tal como não o pode haver sem prudência e competência.
Tudo isto afecta a Banca de
modo particular. O fulcro
do negócio bancário é o
«crédito», a credibilidade, a
confiança: crédito que os
Bancos concedem às pessoas (individuais
e colectivas) e a outros Bancos; crédito
que as pessoas concedem aos Bancos e a
outras pessoas. Acresce que os bens e
serviços financeiros são «especiais»: o
mercado funciona melhor quando as pessoas sabem e compreendem o que compram, quando existe alguma simetria de
informação entre a oferta e a procura.
Daí, a maior exigência de confiança
moral. A credibilidade é não apenas o
ponto de apoio da alavanca financeira,
mas o oxigénio de todo o sistema
económico e da vida social. A crise financeira que ainda testemunhamos terá resultado, precisamente, do nosso fracasso
em reconhecer o alcance da intercomunicabilidade humana e a extensão do
«multiplicador de confiança» – do «multiplicador ético» –, da nossa falha em perceber que o talento e as virtudes de cada um
(na medida em que geram ou minam a
confiança moral) afectam o risco
sistémico essencial, afectam a inteira comunidade de que fazemos parte. l
PARA SER HONRADO, PRUDENTE, JUSTO, FORTE E
SENSÍVEL AO BEM COMUM NÃO SE REQUER «ÉTICA
EMPRESARIAL». BASTA ÉTICA, SEM ADJECTIVOS.
* Professor da AESE ([email protected])
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CONVERSA DE ALGIBEIRA
ROBERTA MEDINA.32 ANOS
Ainda me lembro do meu primeiro emprego. Tinha eu 17 anos e ganhava 400 reais (cerca de 300 euros) por mês
a trabalhar como assistente da equipe de marketing na produção de um evento [para a Disney, no Barra
Shopping, Rio de Janeiro]. Quando recebi o primeiro salário, nem sabia o que fazer com ele, estava tão animada
com o facto de estar trabalhando num projecto tão bacana que o salário em si era secundário. Olhando para
trás, teria feito o mesmo: não tem preço a oportunidade de trabalhar com a Disney e ainda descobrir a minha
paixão pela realização de ideias e projectos na área da cultura e entretenimento. No que respeita a dinheiro,
considero-me uma pessoa muito abençoada. O meu maior luxo foi comprar a minha própria casa; ainda hoje
detesto gastar dinheiro à toa e por puro impulso; nunca emprestaria dinheiro a um traficante; e sonho um dia
investir num projecto de arte, turismo e inclusão social. Sim, confesso que sou um pouco forreta com contratações
(me irrita quando me cobram mais porque acham que tenho cara de menina rica), pago o que vale, nem
mais, nem menos, mas sou bem capaz de gastar com uma besteira qualquer pela qual me apaixone e que sei que
me vai fazer feliz. E se um dia me saísse a sorte grande, pagava a realização dos meus próprios projectos que
visam também a inclusão social. No entanto, se a sorte só me trouxesse uma nota de 500 euros, eu colocava no
banco e ia gerindo aos pouquinhos. Costuma dizer-se que o dinheiro não traz felicidade, mas facilita imenso. l
FOTOGRAFIA LUIS DE BARROS
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