Versão em PDF
Transcrição
Versão em PDF
maio/junho 2014 nº 74 Ribeirão Preto erdade é a identidade de uma representação com a realidade representada, segundo o dic. Aurélio. Na filosofia temos representantes de diferentes épocas que em seus escritos revelam a incansável busca de definir este fenômeno. A psicanálise busca em seu exercício teórico e clínico formas de se aproximar da verdade. Os conhecimentos adquiridos deste exercício analítico, nascem aí neste espaço limite, na intersecção das crenças verdadeiras e a verdade, como foi postulado por Platão. É sabido ainda que a epistemologia se ocupa do conhecimento da verdade, assim sendo, é na sua episteme que a psicanálise busca dialogar com todas as ciências. Nesta edição, sugerimos um passeio pelos espaços que compõem um dos maiores Museus de arte moderna do mundo, o DIA: Beacon, pertencente ao Dia Art Foundation, localizado na cidade de Beacon, que fica há 80 minutos de trem de Manhattan (NY). Com o texto DIA: BEACON ART FOUNDATION a nossa colega Patrícia R. Tittoto nos aproxima deste espaço através de seu olhar e de sua escrita ilustrada com belas imagens fotográficas nos convidando à sonhar. No COM A PALAVRA a atual diretora científica, Dra. Lia de Fátima C. Falsarella descreve de maneira delicada e “singela” as vicissitudes vividas, neste tempo, como diretora científica da SBPRP. O “Tema Livre”, elaborado pela colega Sra. Maria Auxiliadora Borges dos Santos com texto A FÍSICA E A SINGULARIDADE DO SER nos leva a refletir sobre a realidade e as verdades possíveis ao aproximar a psicanálise da física. No “Notícias da SBPRP” vamos encontrar as programações elaboradas pelas várias comissões que compõem a diretoria científica, como também o programa geral da III Bienal de psicanálise e cultura, o evento “Sua Magestade, o bebê !” e ainda uma carta aberta da Comissão Consultoria Psicanalítica. No espaço do “C&P”, vamos nos enriquecer com a parte II dos belos comentários da colega Sra.Thaís Helena Thomé Marques sobre o filme Melancolia de Lars Von Trier. No espaço dos Membros Filiados, o colega Marcelo Salles Bueno escreve O QUARTO CAMINHO. A comissão editorial agradece a todos os colegas que tornam possível este instrumento de comunicação da SBPRP. Detalha - A Criação de Adão, Capela Sistina, Michelângelo, de 1508 a 1512 Agenda Cultural Página 2 Com a Palavra Página 3 Tema Livre Páginas 4 e 5 Notícias da SBPRP Diretoria Científica Página 6 Cinema e Psicanálise Páginas 7 e 8 Programe-se Páginas 9 Espaço dos Membros Filiados Página 10 De lá pega-se um trem antigo e pontual, que desliza vagarosamente paralelo ao rio Hudson, passando por vales verdejantes, marinas, casas de veraneio, até chegar em Beacon. A Fundação fica a uns 5 minutos de caminhada por uma trilha toda arborizada. Instalado em uma grande e antiga fábrica da década de 20, em típica arquitetura do século passado, com amplos vãos e claraboias fornecendo luz natural, este museu configurado pelo artista Robert Irwin, oferece espaço para montagem e exibição de esculturas enormes que, por seu porte, eram propositalmente anti material, não portáteis, pertencentes a importantes artistas 80 minutos de trem de Manhattan (NY), encontra-se a representantes da arte Minimalista _ que se preocupava em fazer uso de poucos cidade de Beacon, que abriga um dos mais grandiosos elementos fundamentais como base de expressão _ desde a década de 60 até o museus de arte moderna do mundo, o Dia: Beacon, pertencente ao presente, bem como exposições especiais. Muitas dessas obras buscavam Dia Art Foundation, fundação que, desde a década de 70, financia e ocupar espaços urbanos para causar 'estranheza' e 'mexer' com o cotidiano da apoia artistas na criação de suas obras. metrópole. Outros trabalhos expostos tiveram sua concepção apenas 'no papel' A experiência sensório/sensível começa a partir da Grand para se materializarem em locais apropriados. O Movimento Minimalista já Central Station, um importante terminal ferro e metroviário poderia 'se esgotar' simplesmente em seu projeto em papel, não precisando localizado em Manhattan, inaugurado em 1903, no estilo Beaux- necessariamente ser construído. Arts. Nesta maravilhosa estação podemos apreciar, entre outras Cada galeria interna foi projetada especificamente para a apresentação de determinado trabalho do artista _ que participa da instalação da obra _ e coisas: O salão principal _ Main Concourse _ com suas enormes interage com o entorno através de grandes aberturas envidraçadas e um belo janelas; seu relógio dourado de quatro lados exposto sobre a jardim, também projetado por Irwin. Muitas obras também acabam se interli- central de informações; seu teto com a pintura _ de Paul Helleu _ gando ao exterior e à paisagem. das constelações do zodíaco reproduzidas invertidas; suas belíssimas escadarias; seus candelabros opulentos; A fachada de colunas e as estátuas de Hércules, Minerva e Mercúrio (criada pelo artista francês Jules-Alexis Coutan). Um aspecto que impressiona ao entrar é a abundância de espaço e, a receptividade do conforto presente nele, proporcionado pelo silêncio, por sofás e poltronas macios, que nos permitem enamorar por horas a obra que se insinua à nossa frente. Donald Judd, Dan Flavin, Michael Heizer e Fred Sandback podem ser vivenciados em suas produções. “Estes artistas acreditavam que para melhor entender seus trabalhos, o contexto em que estavam expostos seria fundamental. Não são trabalhos de arte conceitual, precisam ser experimentados fisicamente no tempo e no espaço”, afirma Lynne Cooke, curadora da fundação. Dia:Beacon expõe ainda diversos trabalhos de: Bernd and Hilla Becher , Joseph Beuys , Louise Bourgeois, John Chamberlain, Hanne Darboven, Walter De Maria, On Kawara, Imi Knoebel, Sol LeWitt, Agnes Martin, Bruce Nauman, Max Neuhaus, Blinky Palermo, Gerhard Richter, Robert Ryman, Robert Smithson, Andy Warhol e Lawrence Weiner. A cada cinco anos as obras expostas são alteradas, mas os trabalhos mais significativos não são tirados de exibição. Algumas exposições temporárias de longa duração também são realizadas. E há sempre apresentações especiais complementadas por palestras. Este museu recebe mais de 75.000 visitantes anuais e, nos finais de semana a entrada é livre para os moradores da cidade, não sendo contabilizadas essas pessoas. A visita merece ao menos metade de Ribeirão Preto um dia para que se possa percorrer muitos de seus espaços. Dia:Beacon fecha às 16:00 h, tempo de sair e correr para pegar o trem. Uma viagem rápida de volta, mas também uma viagem que não tem fim, trilhando conexões ao longo do caminho entre o que foi visto e as experiências expostas tão dentro da gente... ou 'através' ('Dia' em grego) de nós mesmos... EXPEDIENTE Filiada a IPA International Psychoanalytical Association alvez seja esta a última oportunidade que tenho, nessa gestão, de ocupar este espaço com algumas palavras e gostaria que expressassem, singela e genuinamente, um pouco do que tem sido minha experiência nessa Diretoria Científica. É um privilégio ser chamada a ocupar este espaço nesse momento, duas semanas antes da III Bienal de Psicanálise e Cultura da nossa Sociedade – HUMOR, VERDADE E PSICANÁLISE. É um momento de expectação, cansaço, sobrecarga, preocupações inúmeras, mas, sobretudo, um momento feliz! Tenho podido experimentar o que é ser parte de um grupo entusiasmado e cheio de coragem. Ser parte de um grupo – penso que isso é um aprendizado e uma série de descobertas surpreendentes: ver brotar a iniciativa espontânea dos colegas, a generosa disponibilidade, ver transbordar, gratuitamente, disposição e ânimo que levantam nossa moral quando, vez ou outra, o cansaço quer impor-se. É um belo momento de se viver! É uma bela descoberta ser parte desse grupo! O que sinto é gratidão! Não apenas esse evento, a Bienal, tem congregado um generoso grupo de trabalho. Esse, pela sua magnitude, caberia até ser nossa única ocupação por agora, mas, não cessam as apresentações em Reuniões Científicas, as publicações deste Boletim e da Revista Berggasse, outros Eventos do Departamento Cultural que estão a caminho e, ainda, o Expansões que virá com o terceiro Encontro em agosto. É um sem-fim de trabalho fecundo e criativo que denotam a vida de nossa Sociedade! Por fim, uma pérola da sabedoria oriental e do humor que falam, tão de perto, à psicanálise (extraído do texto “Riso Oriental” de Ignácio Gerber, in Seria trágico... se não fosse cômico): contam que certo professor procurou um mestre para certas perguntas sobre o Zen. O mestre o recebeu e ofereceu um chá. Preparava o chá... enquanto o professor versava sobre suas obras, títulos, seus conhecimentos e certezas. Pronto o chá, o mestre o serviu na xícara do professor. Cheia a xícara, o mestre continuava vertendo o chá que derramava pela roupa do professor. Perplexo e indignado, o professor exclama: Mas, o que é isso! Ao que o mestre responde: Então, se a xícara está cheia não cabe mais chá! Então, um brinde, a meia xícara, a todos e com todos que somam seus ânimos nesse imenso e generoso grupo de trabalho! telefone toca e uma amiga solicita-me nomes de psicanalistas e então, após um curto sonhar sobre ela e alguns colegas, delineio alguns nomes que são prontamente registrados. Indagame sobre eles e lhe digo que minha análise em nada contribuirá ao que necessita; sugiro-lhe que sonhe com os nomes e escolha segundo sua intuição. Ela, habituada com minha forma de ser, acata a sugestão e inicia frutífera análise. Freud sabia bem “a encrenca” que significa colaborar para que o analisando seja o que É, ao afirmar que alguém poderia sair especializado em ladroagem de uma análise, caso descobrisse ser este, o seu Ser ou, sua Singularidade. Stephen William Hawking, o físico “pop” inglês da atualidade, na época do seu doutorado aos 21 anos, ante o prognóstico de dois anos de vida, dado pelo diagnóstico de esclerose amiotrófica lateral, não apenas se manteve vivo graças a seus fortes vínculos amorosos, mas, sobretudo por uma Singularidade constituída de rebeldia, impetuosidade e obstinação que o levaram aos 72 anos de vida, tendo envergado o mesmo título recebido por Isaac Newton em 1669, de “Lucasian Professor” da Universidade de Cambridge. Da Singularidade de Freud, fazia parte um caráter indômito frente às profundas perdas, deixando-nos um legado que não apenas sobreviveu, mas se expande de forma extraordinária. Nomeio como Singularidade a originalidade, o irrepetível, o singular e único,a essência que cons- titui o Ser . A percepção da singularidade é atemporal, marco zero da expansão mental necessária para o “vir-a-ser”_ definição apoiada no Teorema da Singularidade da Física, a qual prevê um ponto de densidade infinita no centro de um Buraco Negro, ou no fim/inicio do Universo. Fácil é compreender a rejeição de Hawking à “Teoria do estado estacionário do universo” que se manteve por tanto tempo; porquanto seu corpo estacionava e paralisava, de forma rebelde seu pensamento passava a se expandir sem limites. A medida em que a fala/escrita paralisavam, passou a contar com a capacidade visionária e imaginação riquíssimas, usando um sintetizador que traduz seus micro-movimentos faciais em uma palavra por minuto!... Conta com riqueza imagética para construir modelos que explicam o Cosmo como tendo surgido a partir da explosão de uma Singularidade que condensa toda a matéria num único ponto de densidade infinita, onde as leis da Física e Matemática colapsam e espaço e tempo equivalem à Zero. A Singularidade entra em revulsão e expansão, originando um novo Universo em nada estacionário. A liberdade de imaginação de Hawking e Freud, sobre o Cosmo externo e interno, faz parte de suas Singularidades que, em determinado ponto, passaram a expandir. Em 1950, Melanie Klein diz que “um elemento intrínseco a uma personalidade plena e profunda é a riqueza da vida de fantasia e a capacidade para vivenciar emoções livremente”. Um dos entrevistadores recentes de Hawking relata a vivacidade de seu olhar e a sensação assombrosa de sua presença, apesar da paralisia corporal. Conta de seu grande bom humor, quando manifesta em plenitude, o Ser original que habita seu corpo imóvel. Penso que é como descobrir a Singularidade de Hawking dentro do buraco negro da doença. Assim como nos traz a teoria dos Buracos Negros: do colapso gravitacional de uma estrela, também resulta uma Singularidade “escondida” num Buraco Negro. Roger Penrose e John Wheeler sugeriram, com esta tese, a existência de uma censura cósmica!!... A Natureza é puritana e esconde as Singularidades nos Buracos Negros, de onde não podem ser vistas. Hawking mandou imprimir com seu forte senso de humor, camisetas com o seguinte “humor cosmológico”, A NATUREZA ABOMINA UMA SINGULARIDADE NUA Ou seja, aquelas Singularidades que não estão contidas dentro de Buraco Negro, a Natureza censura e as abomina... são as nuas!! Entre nós, sabemos que os “humores libertadores”, tem a função de vencer os buracos negros mentais para facilitar a aproximação das verdades contidas na Singularidade de cada um. Por vezes, são necessários vários anos de Psicanálise para compreendermos, nas inúmeras situações transferenciais, que as Singularidades se escondem dentro de nossos colapsos mentais... A nossa essência, o nosso Ser, a civilização reprime. Os buracos negros mentais, verdadeiras construções de camadas de sintomas, obliteram a originalidade do Ser. Este, o Cosmo em que vivemos, estudamos e tentamos entender, paralelamente ao Cosmo dos físicos. Não será o mesmo? Afinal, as forças que deram início e animaram nossa longínqua origem, continuam presentes dentro de nós. É possível dessa forma que seja nas contrações sofridas pelo universo mental, provocadas pela violência do presente, que tolerado, abrirá a chance de revelarmos nossa Singularidade, aprisionada em Buracos Negros. Antes disso, seremos “estrelas escuras” que não podem SER, e nem serem vistas. Hawking idealizou um adesivo de para-choques com os dizeres: “Os buracos negros estão longe dos olhos”. Ou, como nos traz poeticamente Konstantinos Kaváfis (1863-1933): “Sem os bárbaros, o que será de nós? Ah! Eles eram uma solução”. Os bárbaros ou, o assombro da barbárie vivida no presente, induzindo ao SER. No saber da Física, a Singularidade pode habitar o Sol, o epicentro do Big-Bang que expandirá novo Universo, ou um Buraco Negro. Mas sabemos que ela pode habitar um momento vivido pela dupla analítica talvez pudicamente esperada por vários anos-luz, para ser revelada e vivida de modo atemporal. A revelação e percepção profunda do Ser é sempre atemporal. O que pode dar início à expansão mental de uma vida, antes aprisionada pela censura em buraco negro. O telefone toca após bons meses. Era minha cara amiga aliviada por ter reiniciado seus sonhos... enterrados sob os escombros de um grande terremoto vivido em sua vida, agora em franca expansão. Emocionada, agradeceu. Sua Majestade, O Bebê! A Apreensão da ideia do que é um bebê ao longo da história através de três diferentes vértices: Artes Plásticas, Medicina e Psicanálise Qual é a história da ideia de um bebê? Como foi se desenrolando essa “história do bebê”? É o que pretendemos abordar com este evento idealizado pelo Espaço Cultural SBPRP: “Sua Majestade o bebê”! Participe! (clique aqui) Comissão Organizadora Comissão consultoria psicanalítica A Comissão Consultoria Psicanalítica é uma comissão de trabalho dentro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto, direcionada à difusão da psicanálise, tendo por objetivo o trabalho junto às faculdades de Medicina, Psicologia e outras instituições públicas ou privadas, cujo escopo seja, de alguma forma, o de qualidade de saúde mental. Essa consultoria busca um intercâmbio interdisciplinar que seja fértil para todos os envolvidos, trabalhando por meio de reuniões regulares, em grupo ou dupla, visando identificar focos de sofrimento emocional e pensar meios de cuidados para com estes com enquadre também psicanalítico. As solicitações advindas pelos pedidos de consultoria, fez com que os elementos dessa comissão re-pensassem continuamente sua função e forma de atuação nos grupos. A literatura, através de livros e artigos, foi buscada no sentido de trazer maior amplitude de ideias e questionamentos, dando origem assim ao Grupo de Estudos Consultoria Psicanalítica, realizado mensalmente, na última terça feira de cada mês, às 20:30 horas. Convidamos os membros da SBPRP que já tenham finalizado as aulas teóricas, para juntos aprofundarmo-nos no livro As Sete Invejas Capitais, de Arnaldo Chuster e Renato Trachtenberg. Nosso abraço! Comissão (clique aqui) Comissão Científica III Bienal Nesta III Bienal de Psicanálise e Cultura da SBPRP procuramos um entrelaçamento de vértices que nos aproxima de dimensões que concebemos como inerentes ao trabalho psicanalítico. A importância das influências recíprocas entre a Psicanálise e Cultura nos levou a organizar encontros com poetas, escritores, artistas, filósofos, jornalistas, arquitetos e claro, psicanalistas. Essa reunião que ora realizamos tem a finalidade de enriquecer nossas apreensões da condição humana através de múltiplos vértices do conhecimento, apresentados por pessoas de destaque em seu campo de atuação. Todo psicanalista almeja dizer algo sobre a Verdade, ou melhor, aproximações desta. Há sempre o risco de nossas teorias perderem a eficácia, como uma faca pode perder seu fio; portanto, a busca de uma linguagem que nos aproxime da emoção e dos sentimentos de Verdade, sem ficar no jargão ou 'perder o fio', encontra no Humor um forte aliado. Neste contexto, a Cultura em muito pode contribuir com a Psicanálise, assim como a Psicanálise tem, desde sua origem secular, contribuído com a Cultura. Todo dia, todos nós, aproximamo-nos de verdades sobre a dor de existir como sujeito singular e, lembrando Freud quando disse que “o humor é o triunfo do ego”, procuramos viver a empreitada da frágil condição humana preferencialmente com verdade e humor. Componentes da Comissão Científica: Andrea Ciciarelli Pereira Lima, Lídia Campanelli Romeu, Maria Letícia Wierman, Mércia Maranhão Fagundes, Mônica Bitar S. Araújo, Suely de F. S. Delboni e Thaís Helena Thomé Marques. Alexandre Martins de Mello e Paulo de Moraes Mendonça Ribeiro Coordenadores da Comissão Científica da III BIENAL Acesse a programação completa: http://www.sbprp.org.br/bienal/programa.php Eventos Programação de Cultura e Apoio à Comunidade para o primeiro semestre de 2014 Dra. Lia Fátima Christovão Falsarella Diretora Científica da SBPRP Dr. Alexandre Martins de Mello Coordenador de Atividades de Cultura e Comunidade Veja a programação na página 9. Nosso projeto do Cinema & Psicanálise apresentou no segundo semestre de 2013 o “Ciclo Lars Von Trier”, que exibiu filmes “semi-autobiográficos” deste consagrado cineasta dinamarquês. Em outubro o colega Miguel Marques comentou o filme “Anticristo” e em dezembro a colega Thaís Helena Thomé Marques comentou o filme “Melancolia”, ambos no espaço que temos junto ao consagrado Instituto Figueiredo Ferraz. Temos nos empenhado para aprimorar as qualidades necessárias para um bom encontro científico-cultural junto aos colegas e a sétima arte. Para o primeiro semestre de 2014 estamos organizando uma nova série de ciclos temáticos, tanto no espaço do I.F.F., como também no espaço junto ao SESC-RP. Em sintonia com a nossa BIENAL, enfocaremos o tema do humor em nossos ciclos. Segue o comentário da colega Thaís Helena T. Marques sobre o filme “Melancolia”. laire tenta manter o cenário principal a todo custo – festa de casamento - como um roteiro para felicidade e, quando ele se rasga, ela invariavelmente arrisca costurá-lo dizendo que às vezes odeia muito Justine ou lhe oferecendo bebida como anestesia, na tentativa de retomar o projeto na medida em que o cenário vai se esfacelando. Léo, é a criança capaz de sustentar a observação do horror do começo ao fim do filme. Ele pode brincar e cria um instrumento precário, embora intuitivo para observar o planeta. Quando tem medo, nutre a esperança de que a tia seja invencível, pois é capaz de construir sonhos, e construa uma caverna mágica onde se abrigar para escapar dos projetos impostos. Michael, é o marido que planejava uma vida que seguisse os dogmas do que seria casar-se, ter filhos e envelhecer junto com a esposa, sentados ao pé de uma macieira. O cerimonialista, que produz as mentiras fiscalizando-as, em vão, para que tudo transcorra conforme o roteiro programado. Ele passa por Justine dizendo - “Ela arruinou o meu casamento, não olharei mais para ela”. Quando todos vão para fora brindar e escrever aos noivos seus votos nos balões, continuando o cerimonial do casamento, o único balão que não sobe e pega fogo é o do cerimonialista. Ele não conseguiu sustentar a festa inflada e o projeto de uma festa magnífica cai por terra. O rapaz, Tim trazido pelo chefe, é o protótipo da condição humana manipulada, que se submete a tudo e a todos, pois não é formado em nada, e não sabe nada, tendo que, por isso, perseguir Justine em busca de um sentido (slogan) que tem que extrair dela para ser contratado e receber um salário. O chefe, um manipulador que exige de Justine a produção de um slogan e que tenta atrelá-la pela culpa, oferecendo-lhe um cargo melhor. No final da festa Justine, cansada de suas investidas, oferece a ele um slogan irônico vendendo ele mesmo ao público. Diz: “Nada”, é o bastante para você! Homenzinho desprezível e egoísta! Não tenho palavras para descrever você e sua firma! O mordomo, paizinho que, amoroso, acolhe o estado mental de Justine, recolhe a lucidez horrorosa de sua mãe de volta a casa (suas roupas) e prepara as acomodações, para que seu pai, conforme seu desejo, possa estar com ela mais um pouco. Melancolia, como entendo que Lars nos apresenta, diz respeito à determinação da natureza para uma visão sobre a vida na sua totalidade e não a uma questão particular da vida, um acontecimento pontual ou uma novidade assustadora. Ele não nos apresenta a patologia, mas um estado mental, uma determinada disposição para ver a vida e todas as coisas com acuidade de percepção. Embora essa não seja uma visão de mundo iluminada pelo sol, mas pelo planeta das trevas, é com extrema lucidez que Justine encarna esse papel e reconhece tanto a beleza da natureza humana quanto a evidência da miséria e da finitude dela: o caos da simultaneidade que gera o sentimento de absurdo. Isso está em conformidade com a cena em que Justine, cansada, sai no meio da noite e se despe ao relento para se banhar sob o fulgor do planeta avassalador, sob a lucidez da beleza e da tristeza pela natureza humana. Essa atitude a coloca em consonância com a visão de mundo na qual se reconhece e também a coloca em harmonia com esse inexorável caos da simultaneidade (reconhecimento da beleza e da miséria) em que o sentido da existência humana esteve, para ela, desde sempre mergulhado. Igualmente está em acordo com essa visão de mundo a cena inicial do filme em que a limousine tenta, em vão, levar os noivos até o local da cerimônia do casamento. Ironicamente é apresentada a desproporção da enorme limousine em uma estrada de terra muito estreita, confirmando o caos que o projeto de felicidade, oferecido por sua irmã Claire e seu cunhado John, sujeitos bem adaptados à vida, já instalara na frágil existência de Justine. Pude sentir que, de alguma forma, ela fazia um grande esforço para seguir pelo caminho oferecido pelos que queriam que ela fosse feliz, entretanto parecia saber que não a levaria a nada. Nestas cenas iniciais do filme, embora seus lábios esboçassem um sorriso, os olhos denotavam uma ausência dolorosa. Como com a limousine não foi possível, esforçou-se para chegar à cerimônia andando e descalça. No entanto, antes de entrar no local da cerimônia, foi visitar seu cavalo negro e chamou-o de meu amante. Para fugir do artificialismo e da ausência de autenticidade da vida, encontra amparo, amor em seu cavalo favorito Abraham, o pai da humanidade, e em seu sobrinho Léo que, ao longo do filme, trata-a carinhosamente de tia Invencível, porque é capaz de construir cavernas. Estas cenas denotam que, quanto mais uma imagem corresponda a sua função - um vislumbre da verdade que nos é permitido em nossa cegueira - mais impossível se torna limitá-la à nitidez do intelecto ou restringi-la aos nossos dogmas. Segundo Dostoievisk “A vida é mais fantástica do que qualquer fantasia”, portanto creio que retiramos nossas fantasias da própria vida. Lars fez isso por nós! As imagens também mostram que as outras personagens, as bem amoldadas, estão absorvidas e atribuladas com os afazeres e suas utilidades, com sua visão de mundo e seu dogma mais importante, projetar a felicidade de Justine para que não comprometa a aparente felicidade delas. Não gostam de se demorar em nada e tudo as apressa; vivem atrás de uma esperança/delírio qualquer. Apartada da melancolia, da visão de mundo de que nada adianta, não adianta fazer nada, nada tem sentido, Claire só se aproxima minimamente desse estado mental na segunda metade do filme, na medida em que não pode mais negar a inevitável percepção da verdade, de que tudo há de morrer um dia. Justine, por sua vez, não encontra nada que lhe interesse ou que lhe seja indispensável e, talvez por isso não se demore em nada, a não ser nesse seu estado mental. Durante toda festa ela trava uma espécie de luta contra o sentimento de total ausência de esperança - que nada tem a ver com desespero - e de recusa contínua pela vida - que não deve ser confundida com renúncia. De posse da consciência do trajeto do planeta Melancolia, numa conversa com a irmã, Justine diz para ela num momento de desespero de Claire: “A terra é má e não é preciso sofrer por ela, ninguém vai sentir falta dela. Estamos sós! Eu sei disso tanto quanto sei que havia 678 grãos de feijão no pote”. Ela sabia que a natureza não faz concessões e que a natureza humana é pautada pelas necessidades. Há a contraposição de um tipo de saber intuitivo que não é explicado nem sustentado por nenhum conceito ou conhecimento científico (Claire havia dito ao cerimonialista que intuir a quantidade de feijão no pote era incrivelmente trivial). Possivelmente Justine tinha a consciência de uma verdade que não necessitava de cálculos ou explicações, tanto que ela própria tornou-se a verdade. Ela sustenta o sofrimento de conhecer sua trajetória trágica, o trajeto humano até o seu próprio fim. E o tempo fica alongado na percepção da sua verdade, a de que o tempo nos arrasta e exerce sobre todos nós seu efeito. Tenta em vão ultrapassar esse período de longa duração, ficando o máximo de tempo que pode na festa, mas em cada tentativa encontra-se novamente com o vazio do sem sentido que lhe causa enorme dor mental. Num determinado momento da festa, Justine simplesmente ausentou-se e foi tomar um demorado banho de banheira enquanto todos esperavam. Num outro momento, quando é carregada ao colo pelo marido até o quarto das núpcias, deixa-o lá e vai para o campo de golfe onde, sem uma palavra sequer, faz sexo com o rapaz (Tim), até então, desconhecido. Ela me parece não ter nada a perder e nada do que faça ou não faça tem o poder de alterar o significado que a vida tem para ela e sua disposição fundamental para o sem sentido da vida. Creio que o estado mental de nada ser interessante ou importante para ela seja análogo ao que eu compreendo a referência de W. Bion a respeito de um sentimento humano bastante fundamental e difícil de suportar: o sentimento que temos de ser inteiramente sós e ao mesmo tempo dependentes. De qualquer modo, ficou clara para mim a ideia de que, para ela, às vezes, era fácil ser ela mesma: quando ela pensa o pior e o pior está para acontecer, ela se traduz. Nesse contexto ser ela mesma é fácil e é exatamente o necessário para estar viva naquele momento. Exceto Justine, as outras personagens, pessoas ponde- radas e amoldadas à vida, entendem o fenômeno da melancolia como patologia médica ou variação fugaz do humor e não consideram a possibilidade dele ser fundamental para compreender o que é sentir-se humano. Elas vivem numa espécie de urgência que as coloca na busca constante de fazer algo de útil e que lhes traga ótimos resultados, tal qual o trabalho ingênuo e monótono das máquinas. Há no filme um momento divisor em que Claire leva Justine para a biblioteca para conversar e onde livros de arte estão abertos nas prateleiras, mostrando pinturas contemporâneas com imagens abstratas e conceituais. Tenta convencê-la de que ela não estaria se esforçando o suficiente para ficar feliz e afirma que Michael tentou falar com ela, em vão, a noite toda. Justine reage dizendo-lhe que quer a festa e que está tentando sorrir, sorrir e sorrir. Claire, irritada, sai, deixando-a sozinha. Justine, então, num impulso de indignação e com ironia, começa a folhear os livros um a um, à procura de trocar aquelas imagens por outras que não denotavam nenhum indício de que a vida possa ser outra coisa que miséria, tristeza e morte. Pareceme que é isso que representam os quadros David com a cabeça de Golias, de Caravaggio, Ophelia, de Millais e o prelúdio de Tristão e Isolda, de Wagner. David foi um pequeno homem que venceu Golias, mas não conseguiu vencer as tentações da carne. Ophelia viu na morte a única esperança de vida. Tristão e Isolda ambos morreram de amor. Curiosamente, Tristão, não podendo casar-se com a Isolda que amava, casou-se com outra Isolda. Esses elementos da arte, escolhidos por Lars, nos dão a entender que o ser humano não consegue estar imerso na sua natureza, frente às urgências de cada momento. Claire mente para si mesma do começo ao fim do filme, tentando negar as evidências da verdade para manter o roteiro de felicidade. Cobre o corpo de John de feno e solta o cavalo selado para que pareça que ele foi à cidade. Apesar de todas as evidências, tenta mais uma vez observar o planeta pela lente da intuição através do instrumento feito pelo filho. Desesperada com a verdade insuportável, ainda arrisca, em vão, fugir para um lugar seguro com Léo, mas não passa dos 18 buracos do campo de golfe. Muito embora não haja nenhum interesse nem urgência para Justine, ela é cobrada disso o tempo todo: pela irmã Claire que a intima a ser feliz; pelo cunhado John que lhe chama a atenção para o que ela pode perder e diz que, o que ela faz é de propósito; pela mãe que a aconselha a deixar de sonhar; pelo chefe que, durante a festa, exige dela um slogan imediato para uma nova campanha da empresa, pelo pai que lhe deixa um bilhete de despedida chamando-a de Beth. Muitas vezes sua reação a isso é um misto de indiferença e tristeza. Outras vezes reage com ironia. Denuncia ao patrão o desejo frenético dele para encontrar a felicidade e o jogo mortal das aparências que emprega para atingi-la. Também aponta para Claire sua descrença no modo certo para lidar com a verdade insuportável, um protocolo que ela lhe propõe seguir para quando o planeta colidir com a terra: ficarem juntas na varanda degustando uma taça de vinho. Justine a ironiza dizendo-lhe que poderiam também ouvir a nona sinfonia de Beethoven e que “acha seu plano uma droga”. As cenas finais do filme me parece juntar os elementos que caracterizam a concepção de mundo de Justine e o estado mental que a sustenta: a precariedade das varetas (efemeridade, fragilidade e impotência da condição humana frente ao trágico) que apoiam uma caverna feita de sonhos (a própria existência humana), mas que os torna invencíveis, isto é, os mantêm vivos até o fim de si mesmos. LOCAL RIBEIRÃO PRETO GRUPOS DE ESTUDO MAIO/JUNHO Local: SBPRP MAIO/JUNHO/2014 Texto Análise de Criança Coordenação: Sônia M. M. E. Mestriner Dias 5/5 e 2/6 às 19h45 Pensamento de Donald Meltzer Coordenação: Guiomar Papa Morais e Alexandre Martins de Mello Dias 9/5, 23/5, 6/6 e 13/6 às 11h Psicodinâmica da família e casal Coordenação: Denise Léa Moratelli Colaboração: Adriana L. N. Bianchi Dias 9/5 e 13/6 às 15h As mulheres do sexto andar Palestrante: Rosângela de Oliveira Faria Dia 10/5 às 14h15 Local: Instituto Figueiredo Ferraz – Rua Maestro Ignácio Stábile, 200. Alto da Boa Vista – Ribeirão Preto/SP Baleias de Agosto Comentário: Cybelli Morello Labate Dia 18/5 às 15h Local: SESC – Rua Tibiriça, 50. Centro Pensamento de Melanie Klein Coordenação: Maria Aparecida Sidericoudes Polacchini Dias 9/5 e 13/6 às 17h Pensamento de Winnicott Coordenação: Cecília Barreto Dias Dias 14/5 e 11/6 às 11h15 O Analista trabalhando Coordenação: Paulo Ribeiro e Mércia Maranhão Dia 22/5 às 19h30 Escuta da Escuta Coordenação: Ana Rita N. Pontes Dias 23/5 e 27/6 às 16h Minhas tardes com Margueritte Comentário: Luiz Celso Castro de Toledo Dia 8/6 às 15h Local: SESC – Rua Tibiriça, 50. Centro Pensamento de W. R. Bion Coordenação: Thais Helena Marques e Miguel Marques Dias 23/5 e 27/6 às 18h FRANCA Transformações em Conversas Coordenação: Thais Helena Marques Dias 23/5 e 27/6 às 20h Invictus Comentário Josiane Barbosa Oliveira Data 7/6 às 15h Local: Anfiteatro da Sede do Centro Médico de Franca (Rodovia Tancredo Neves, saída para Claraval, Km 2)| www.cinemaepsicanalise.com.br Semeando e Clinicando em Franca Coordenadora: Débora Agel Mellem Dia 27/5 às 20h e 21h15 respectivamente Seminários Clínicos junto ao Programa de Aprimoramento em Psicologia do Hospital das Clínicas Coordenadora: Sandra L. Nunes Caseiro Dias 27/5 e 24/6 NACIONAL EVENTOS Fórum de Psicanálise e Cinema Dias 28/3, 25/4, 30/5 e 27/6 Local: Rio de Janeiro - Sala Vera Janacópulos – UNIRIO | www.sprj.org.br VII Jornada Lacan na IPA – Angústia, o afeto que não engana Dias 9/5 e 10/5 Local: SBPSP – Av. Dr. Cardoso de Melo, 1450 – 1º andar| www.sbpsp.org.br A Escuta Musical: A música vocal / A expressividade do canto Palestrante: Yara Caznok Dia 17/5 às 10h Local: SBPSP – Av. Dr. Cardoso de Melo, 1450 – 1º andar| www.sbpsp.org.br III Jornada de Psicanálise de Crianças e Adolescentes: A Clínica Atual Dias 30/5 e 31/5 Local: SBPSP – Av. Dr. Cardoso de Melo, 1450 – 1º andar| www.sbpsp.org.br Fotografia: Realidades e Ficções Dia 8/6 às 17h30 Local: SBPSP – Av. Dr. Cardoso de Melo, 1450 – 1º andar| www.sbpsp.org.br INTERNACIONAL MAIO/JUNHO Gente como a gente Comentário: Josimara Magro F. de Souza Data 10/5 às 15h Local: Anfiteatro da Sede do Centro Médico de Franca (Rodovia Tancredo Neves, saída para Claraval, Km 2)| www.cinemaepsicanalise.com.br Mônica Bittar S. Araújo Dia 6/5 às 20h e 21h respectivamente Antonino Ferro Coordenação: Silvana Vassimon Dias: 30/5 e 27/6 às 16h EVENTO III BIENAL DE PSICANÁLISE E CULTURA HUMOR VERDADE PSICANÁLISE Dias 15/5, 16/5 e 17/5 Local: Auditório da Faculdade de Direito da USP – Ribeirão Preto (Av.Bandeirantes, 3900. Vila Monte Alegre) SUA MAJESTADE, O BEBÊ! Dia 7/6 às 8h30 Local: SBPRP - Rua Ércole Verri, 230. Jardim Ana Maria – Ribeirão Preto/SP TERÇAS NA SBPRP: Semeando e Clinicando em Ribeirão Coordenadores: Regina Cláudia Mingorance de Lima e XI Diálogo latinoamericano intergeneracional entre hombres y mujeres. Dias 1º/9 e 20/9 Local: Buenos Aires | [email protected] Grupo de Psicanálise de Uberlândia Seminários Psicanalíticos 2014 Local: Centro de Convenções - Hotel San Diego. Av. Gov. Rondon Pacheco, 3500 Uberlândia-MG| www.gpsicanalise.com.br O autismo e suas manifestações: possibilidades de vir a ser? Dia 24/5 às 14h Os encontros com os estados mentais depressivos: da violência do vazio às possibilidades de crescimento psíquico. Dia 7/6 às 14h Marcelo L. Salles Bueno | Membro Filiado uando a VIII turma do Instituto se reuniu pela primeira vez em agosto de 2012, para receber as instruções e as boas vindas, a Dra. Sônia Mestriner (diretora do Instituto) proferiu, entre outras coisas, a expressão “Carpe Diem”, parafraseando o poeta romano Horácio. “Aproveitem a formação, usufruam o que o Instituto pode lhes oferecer", disse nossa diretora. Desde a antiguidade o excerto “Carpe Diem” tem sido objeto de difusa interpretação, conferindo a este um significado hedonista, desse modo, perdendo o valor original que, ao contrário, convida-nos a saborear o momento presente. Significado este que nossa diretora soube expressar com clareza. Um ano havia se passado desde o início de nossa análise didática, quando recebemos as explicações de nossa diretora para a segunda parte de nossa jornada, os Seminários. Atenção voltada para a estrada, temos uma longa caminhada. Será que tem fim? Por onde vamos? Para onde vamos? Podemos realizar o percurso apressados para chegarmos a algum lugar, se é que este existe. Ou construirmos como nos orientou nossa guia? A escolha talvez dependa do vértice pelo qual cada membro compreende o processo de formação. Percepção esta que envolve a história pessoal de identificações e de construção de individualidade. O caminho sugerido é colher e saborear. Entendido como uma trans-posição do aprender sobre alguma coisa em direção a tornar-se. Vir-a-Ser. Encarnar no processo e realizar uma filiação-aliança, repetindo ontologicamente nossas primeiras experiências pessoais. Portanto, existe uma formação formal acontecendo paralela a uma formação pessoal, única e individual. Uma não prescinde da outra, ao contrário, se entrecruzam promovendo enriquecimento de sentimentos e ideias. Sobre a formação pessoal cabe a cada candidato nortear sua direção. Aos estudos e orientações formais, à diretoria do Instituto compete sua real-ação. A Associação dos Membros Filiados proporciona um exercício tanto de atribuições normativas quanto de experiência simbólica pessoal, corroborando para o desenvolvimento de um EU mais integrado. Segundo Freud, função indispensável para aqueles que pretendem exercer a Psicanálise. Portanto, ampliam os três caminhos no exercício da psicanálise (análise pessoal, supervisão clínica e estudo teórico), para um quarto caminho: o exercício e elaboração do trabalho em grupo na Instituição. Esses quatro elementos colaborando para o desenvolvimento do analista em formação. “O Instituto de Psicanálise é o coração da Sociedade. Não há razão de existir uma Sociedade se não houver Instituto.” Disse uma vez ao nosso grupo a estimada Sra. Rachel Beltrame, atual presidente da Sociedade. E não é o Instituto a expressão dos desejos e participação de seus candidatos? Há algumas semanas recebemos a diretoria da AMFIP (Associação dos Membros Filiados do Instituto de Psicanálise) e no exercício dessa função, convidamos a fratria a nos auxiliar nos trabalhos e atribuições que à associação compete: congregar os membros filiados na discussão dos seus problemas e no interesse de sua formação, promover cursos de interesses do quadro de associados, manter intercâmbio com associações congêneres, colaborar em trabalho de campo visando à divulgação da psicanálise e representar seus associados junto a professores e diretores do Instituto. Desse modo, convidamos a todos os candidatos a participar conosco do banquete que nos é oferecido. Seja dando opiniões, ideias, colaborando na formação dos encontros e eventos, fortalecendo, assim, a relação entre nós, candidatos. A Associação não é apenas a sua diretoria. A gestão atual da Associação dos Candidatos está com o propósito de reunir seus membros para um aprimoramento dos estudos Freudianos e Kleinianos convidando expoentes analistas dessas áreas, para ampliar a compreensão dos textos dos autores referidos. Já recebemos em nosso Instituto uma rica experiência de conhecimento desses autores, o intuito é trazer outros convidados que possam alinhavar os textos que nossos coordenadores têm explorado. Desse modo, pensamos em aproveitar a oportunidade que o Instituto nos oferece com os seminários teóricos para nos aprofundarmos em conceitos preliminares tão caros à Psicanálise. Para isso contamos com a colaboração dos candidatos de turmas anteriores e, naturalmente, dos Associados da Sociedade. Inclusive para nos apresentar outros projetos de interesse dos membros. Em breve marcaremos reunião para discutirmos o projeto citado acima e apreciaremos novas ideias apresentadas. Finalizamos com um poema de Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa, o qual se atribui uma vida que retrata o "Carpe Diem". Colhe o dia, porque és ele Uns, com os olhos postos no passado, Veem o que não veem: outros, fitos Os mesmos olhos no futuro, veem O que não pode ver-se. Por que tão longe ir pôr o que está perto — A segurança nossa? Este é o dia, Esta é a hora, este o momento, isto É quem somos, e é tudo. Perene flui a interminável hora Que nos confessa nulos. No mesmo hausto Em que vivemos, morreremos. Colhe O dia, porque és ele. [Ricardo Reis, in Odes] Diretoria da AMFIP Marcelo L. Salles Bueno - Presidente Luiz Celso Toledo - vice-presidente Raquel Siminati - Secretaria Geral Ana Maria Benedetti - Secretária Maira Cecília Avi - 1ª Tesoureira Ana Beatriz Lupo - 2ª Tesoureira Patricia Silva - Conselheira Litogravura, Relatividade, 1953 Maurits Cornelis Escher
Documentos relacionados
Versão em PDF
Gutiérrez Alea, cineasta cubano, relata-nos um êxtase estético possível de acontecer a um criador ou um espectador diante de uma obra de arte: sem continência mental para tolerar prazer e dor diant...
Leia mais