Ética, Comunicação e Educação - Escola Superior de Educação de

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Ética, Comunicação e Educação - Escola Superior de Educação de
Instituto Politécnico de Santarém ‐ Escola Superior de Educação de Santarém Docente: Professor Doutor Ramiro Marques Ética, Comunicação e Educação: de Aristóteles a Brazelton, de Nietzsche a Benjamin Spock Os enunciados filosóficos e éticos decorrentes de autores como Aristóteles e Nietzsche, surpreendentemente (ou não?), apresentam características contraditórias e consensuais no que diz respeito à ética e à disciplina e que remetem para ideias e concepções defendidas por comunicadores e educadores contemporâneos de reconhecido mérito científico como o pediatra Brazelton, o pedopsiquiatra Joshua D. Sparrow e o pediatra Benjamin Spock. Filósofo e Professor grego, Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) dedicou muitas das suas obras à educação ¹. No seu mais importante livro A Ética de Nicómaco, fala‐nos da necessidade de repetição das boas acções como forma de interiorização da bondade e alcance da virtude. A felicidade só é possível quando em todos os nossos actos procuramos o bem. O bem é um fim e não um meio e tem a ver com a busca da perfeição em tudo o que fazemos. O facto do homem ser dotado de razão dá‐lhe capacidade para essa procura e assim atingir o bem. Todo o ser humano possui dons, mas estes requerem educação para se desenvolverem e tornarem efectivos. É claro que a educação por si só não é suficiente, mas vai permitir a aquisição de bons hábitos. É importante também que as pessoas próximas sejam virtuosas, isto é, as virtudes morais podem ser aprendidas e transmitidas. Segundo o filósofo devemos esforçar‐nos para, em simultâneo, proporcionar à criança o raciocínio e o hábito. O hábito desenvolve‐se com a prática das acções rectas que, com repetição e paciência inabalável, levam as pessoas a serem virtuosas. Existem dois tipos de hábitos: os apaixonados (provenientes da sensibilidade) e os intelectuais. Assim explica as “birras” de uma criança de tenra idade perante um desejo que, com o passar da idade, se atenua devido à capacidade de raciocínio e inteligência que vai adquirindo. Também distingue as virtudes morais das virtudes intelectuais, apesar de ambas se regerem pela razão. As principais virtudes são, segundo Aristóteles, o justo equilíbrio: entre o medo e a temeridade – a coragem; entre o desregramento e insensibilidade – a temperança; entre a cólera e a apatia – a mansidão; entre a prodigalidade e avareza – a liberalidade; entre a falta de gosto e a mesquinhez – a magnificência; entre a vaidade e a humildade – a magnanimidade; entre a obsequiosidade e o espírito conflituoso – a afabilidade e finalmente entre a timidez e o descaramento – a reserva. A educação ética para Aristóteles é ajudar a cultivar nas pessoas as características que constroem adultos capazes de viverem bem e serem felizes. O desenvolvimento dos hábitos correctos do agir e do sentir é mais importante que o desenvolvimento intelectual, embora seja necessário o raciocínio para dominar as paixões ou os sentimentos. Aristóteles define por sentimentos: o medo, a fúria, a inveja, o ódio, o amor, a piedade, a alegria e todos os estados que impliquem a consciência do gostar ou não. Curso: Educação e Educação Multimédia Regime: Diurno Unidade Curricular: Ética e Deontologia da Comunicação Discente: Eunice Carla Sousa Lopes Bezerra nº: 129 1
Instituto Politécnico de Santarém ‐ Escola Superior de Educação de Santarém Docente: Professor Doutor Ramiro Marques Falando ainda de educação ética, para evitar os vícios provenientes das paixões, é indispensável a gestão dos sentimentos para se atingir a harmonia interior. A mudança do vício para a virtude exige da pessoa uma alteração na sua conduta moral. Ao incorporar estes novos sentimentos sentirá prazer em fazer o que está certo. Nietzsche, filósofo alemão (1844‐1900), aparentemente, não deixa lugar para a disciplina ², dado o seu amor cego pela liberdade e vontade de poder. Para Nietzsche, só os seres mais elevados são capazes de se auto superar. Quebrando as amarras das tradições da obediência e da servidão é que podem elevar‐se e deixar para trás realidades vulgares. O homem que se ultrapassa a si próprio não tem medo da solidão, exerce aí lugar de destaque longe dos rebanhos mansos da multidão. O filósofo defende uma escola elitista que privilegie a inteligência em que só os que tem capacidades devem merecer o acesso ao ensino superior, sendo que a massificação na educação desenvolve rebanhos dóceis, ignorantes e conformistas. O esforço que é exigido para alcançar a cultura superior só pode advir de seres superiormente dotados. Na sua obra Assim Falava Zaratutra descreve as características do Homem nobre e como o ensino superior permite criar o Homem criador de valores. Benjamin McLane Spock, pediatra e psicanalista (1903‐1998), nasceu na América do Norte. Tornou‐se famoso ao escrever o livro Common sense book of baby and child care que foi um dos maiores bestsellers de sempre ³. Através das suas obras defendeu uma postura liberal, flexível e permissiva, privilegiando o contacto afectuoso e carinhoso entre pais e filhos, isto por volta dos anos 60 e 70. Spock rompeu com a rígida e repressiva educação que até então se aplicava às crianças. Conseguiu, com a sua coragem, sensibilizar os pais para uma mudança radical na concepção da educação infantil nos EUA e no mundo ocidental. Entretanto foi, por muitos pedagogos e psicólogos, acusado de ter sido responsável das atitudes negativas dos jovens na década de 1960, que resultaram do excesso de permissividade. Thomas Berry Brazelton, pediatra e psiquiatra norte‐americano, professor Emérito da Escola de Medicina de Harvard (1919), em colaboração com o seu colega Joshua Sparrow pedopsiquiatra e Professor Assistente de Psiquiatria 4 defendeu que a disciplina é o melhor presente que um pai pode dar ao seu filho a seguir ao amor. Esta afirmação, vem no sentido de justificar a necessidade da disciplina para a criança se sentir segura e nela encontrar os limites que tanto necessita. A preocupação dos pais em educar os seus filhos proporciona‐lhes segurança e faz sentirem‐se amados. Disciplinar não é castigar e punir, tem a ver com o ensino que requer repetição e paciência com o objectivo de, a longo prazo, lhe proporcionar a capacidade de se auto controlar e estabelecer os seus próprio limites. Desde o primeiro dia de vida da criança, os limites firmes, mas carinhosos, dos pais ajudam‐na a estabelecer internamente padrões que virá a necessitar pela sua vida fora. A partir dos oito meses a criança já consegue aperceber‐se do significado do sim e do não. Curso: Educação e Educação Multimédia Regime: Diurno Unidade Curricular: Ética e Deontologia da Comunicação Discente: Eunice Carla Sousa Lopes Bezerra nº: 129 2
Instituto Politécnico de Santarém ‐ Escola Superior de Educação de Santarém Docente: Professor Doutor Ramiro Marques Por muito que seja difícil a um pai dizer que não, esta palavra vai ser determinante em certas ocasiões para a educação do seu filho. Tem de limitar os desejos da criança para protegê‐la de si própria, pois não poderá fazê‐lo a vida toda. A disciplina tem que ser equilibrada e adaptada à faixa etária a que a criança pertence. Uma criança não se quer obediente, mas emocionalmente capaz e moralmente desenvolvida. Em contextos sociais em que o esforço individual é reconhecido, a disciplina ajuda a criança a superar‐se e a, éticamente, destacar‐se perante os outros. Podemos concluir que, de Aristóteles a Brazelton, de Nietzsche a Benjamin Spock verificamos um acordo de pensamento consensual em que as competências inatas de cada indivíduo, requerem educação e perseverança dos actos para serem desenvolvidas. No entanto, estas concepções são contraditórias entre si nos aspectos relacionados com a disciplina: Aristóteles ao defender o auto domínio das emoções no respeito pelas regras morais aproxima‐
se de Brazelton – que apela à repetição dos bons hábitos e da perseverança na disciplina como forma ideal educativa. Nietzsche com o seu ideal de liberdade e de luta pelo poder – ajusta‐se às ideias de Spock no que diz respeito à permissividade que advém da liberdade sem regras. Significativamente, tanto Nietzsche como Spock viram as suas teorias serem consideradas justificadas ou deturpadas pelas consequências éticas provocadas na sociedade. A verdade é que, hoje, o conjunto de ideias comuns e contradições destes pensamentos ético – filosóficos nos remetem para aspectos educativos que caracterizam a sociedade actual, nas suas vertentes positivas e negativas. Webgrafia: Página de Ramiro Marques 1. http://www.eses.pt/usr/ramiro/docs/etica_pedagogia/ética%20deAristóteles.pdf 2. http://www.eses.pt/usr/ramiro/docs/etica_pedagogia/NIETZSCHE%20E%20AEDUCAÇÃO.pdf Páginas Externas 3. http://pt.wikipedia.org/wiki/Benjamin_Spock e http://www.infopedia.pt/$benjamin‐spock Bibliografia: 4. Thomas Berry Brazelton e Joshua D. Sparrow(2003) “A Criança e a Disciplina” – Método Brazelton. Editorial Presença, Lisboa, Junho, 2006 Curso: Educação e Educação Multimédia Regime: Diurno Unidade Curricular: Ética e Deontologia da Comunicação Discente: Eunice Carla Sousa Lopes Bezerra nº: 129 3