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Morando fora. recomendo! Será que vale a pena? Eu 29 de abril de 2011, por Cristiano Novelli Sempe tive vontade de morar fora do Brasil. Era quase que uma fixação durante a minha adolescência. Aos dezoito anos, tentei cursar bateria na Berklee College of Music em Boston. Mas por razões financeiras, acabou ficando inviável. Decidi, então, me aprofundar nos estudos de técnica e leitura por aqui mesmo. Já tinha começado os estudos de bateria aos 13 anos com o meu ídolo e mestre Robertinho Silva (éramos vizinhos no Rio). Com o plano de fazer a Berklee frustrado, me inscrevi na Escola de Música Villa-Lobos no centro do Rio. Começei, também, a estudar técnica e rudimentos com o Guilherme Gonçalves (ele usava o método da Berklee, pois se formou lá). Posteriormente, estudei com o grande baterista Élcio Cáfaro e fiz o curso de Teoria e Percepção Musical (TEPEM) na UniRio. A minha primeira experiência morando fora foi entre 1996 e 1997 quando toquei 11 meses num navio de cruzeiro no Caribe. Foi uma época muito gratificante, pois tocava basicamente tudo que é ritmo (samba, bossa, bolero, baião, xote, toada, balada, rock, pop, r&b, samba-reggae, reggae, etc.) todas as noites e aprendi diversos ritmos caribenhos como calypso, merengue, soca, dentre outros. Sem falar na constante exposição aos ritmos da salsa, do reggae e à culturas diversas. Visitei vários países: Aruba, Curaçao, Trinidad & Tobago, Grenada, Barbados, St Lucia e Martinique. Conheci uma fábrica de "steel pan" (aquele instrumento que é um latão cortado e tem notas musicais) em Trinidad, onde eles faziam perfomances de orquestras desse mesmo instrumento. É incrível o som que eles tiram desses instrumentos. Desde o mais grave (latão quase inteiro) aos mais finos e agudos. Enfim, esses 11 meses foram uma grande escola pra mim. Voltei para o Brasil respirando bateria. No ano de 1997, ao chegar no Brasil, depois de alguns meses me readaptando, começei a fazer muitas gigs. Viajei pelo Brasil com artistas da MPB como Miúcha, MPB-4, Golden Boys, Claudette Soares, Daniel Gonzaga, Kiko Furtado, Carol Saboya, dentre outros. Alguns anos depois, começei, também, a dar aula de bateria em algumas escolas de música no Rio. Dentre as quais vale destacar a Mais Que Música e a Oficina de Música Elisa Messina. Em 2000 excursionei pela Europa com o grupo vocal MPB-4. Em Janeiro de 2001 foi quando a minha maior experiência de vida fora do Brasil começou. Me mudei para San Diego na California, Estados Unidos. É uma cidade linda e muito agradável para nós brasileiros. Boas praias e paisagens lindas. Toquei bastante música brasileira na noite e começei a gravar e tocar com músicos americanos e latinos. Fui muito exposto ao Jazz. Um guitarrista americano, Peter Sprague, com quem trabalhei em algumas ocasiões, foi responsável por abrir a porta do Jazz pra mim. Ele adorava ter um baterista brasileiro no trabalho dele. O baixista que tocava com ele era fantástico. Era o Bob Magnusson (ele foi o último baixista da cantora de jazz Sarah Vaughan). Ele tocava sempre baixo acústico e era bem sério e centrado. Mas era só eu swingar com o molho brasileiro que ele olhava e abria um sorrisão. Toquei com vários outros monstros de jazz da cidade como Jaime Valle (guitarra), Kenny Goldberg (sax), Glen Fisher (baixo), Kamau Kenyatta (piano), Joe Cano (guitarra), dentre outros. Fui, também, apresentado aos ritmos do flamenco e rumba. Toquei muitas gigs de flamenco/rumba com os violonistas Mario Olivares, David de Alva, Peter Pupping, Eric Foster, Michael Battista, dentre outros. Com a grande demanda por essas gigs, começei a tocar cajon e a montar um set híbrido misturando bateria e percussão. Cursei um semestre de música no San Diego Mesa College e dei aula por dois anos na Twentyman School of Music, uma conceituada escola de música em San Diego. Foi uma época de muito aprendizado e troca musical! Três anos depois, me mudei pra Los Angeles, onde pemaneci até o fim de 2010. Continuei fazendo muitas gigs com o meu set híbrido. Na verdade, criei um set híbrido alternativo onde introduzi o cajon como bumbo nesse set-up usando um pedal tocando invertido com o calcanhar. O set era composto, também, por uma caixa DW 10" X 5", tan-tan, tamborim, repique, pandeiro, bongôs, congas, foot cowbell, blocks, hi-hat, dois splashs, pads eletrônicos Roland (SPD-11) e efeitos. Foi um sucesso instântaneo. Começei a ficar bem requisitado. Mas sempre fazendo gigs de batera também. Toquei com muitos artistas e músicos de primeiro escalão de Los Angeles. Dentre os quais vale destacar, David Foster, Greg Porée, Alphonso Jonhson, Patrice Rushen, Richie Garcia, Roberto Montero, Munyungo Jackson, Robert Kyle, Dorian Holley, Erica Gimpel, Ryan Cross, Mitchell Long, Dirk K, Dawn Bishop, Hussan Jiffry, Jon Gilutin, Gary Meek, Bill Brendell, José Marino, Kleber Jorge, Kátia Moraes, Marcelo Cáceres, Marco Tulio, dentre outros. Participei de gravações de albums com diversos artistas americanos, europeus, latinos e brasileiros. Participei de programas de televisão na Fox, Univision, etc. Em 2005, toquei no Latin Grammys Awards com o cantor argentino Diego Torres, com a cantora portoriquenha Olga Tañon e com o Alexandre Pires. Também continuei tocando muito cajon em gigs de flamenco. Nos últimos 4 anos fiz parte de alguns grupos. Dentre os quais vale ressaltar o meu duo "Montero & Novelli" com o guitarrista/violonista brasileiro Roberto Montero (que se tornou o meu melhor amigo nos States). Nesse duo de violão/voz e percussão, tocávamos músicas do Roberto e fazíamos arranjos jazzísticos "abrasileirados" para standards de bossa, samba, baião, latina e jazz. Participei de um trio de música brasileira "Braziliando" com o saxofonista americano Robert Kyle e com o Roberto Montero. Esse grupo tocava regularmente em jazz clubs, eventos, restaurantes e fizemos diversos festivais de jazz. Outro grupo importante foi o "Quartet Equinox" , o qual ainda sou membro. Nesse trabalho, fazemos uma mistura de Flamenco e Jazz com músicas próprias. Tocamos bulerias também, mas sempre com uma roupagem jazzística. Eu gravei o segundo album chamado "Philip's Wish". Os outros membros são o alemão Dirk K (violão), o havaiano Dean Taba (baixo acústico) e o japonês Andy Suzuki (sax, flauta e clarone). Fiz parte do "Greg Porée Group" do guitarrista Greg Porée (Diana Ross, Michael Jackson, Baby Face, etc.). Esse grupo também tinha o baixista Keith Jones (Airto & Flora, Carlos Santana, Wayne Shorter, Al Jarreau, etc.) e o violinista Paul Cartwright. Eu também era membro da banda do cantor e compositor de r&b Dorian Holley. O Dorian, além de ter sido o vocalista líder do saudoso Michael Jackson, é um dos diretores vocais do show "American Idol" e é o cantor principal do "Tonight Show" com o Jay Leno. Foram anos fantásticos onde consegui endorsements de pratos Soultone Cymbals (da Turquia feito a mão), da DC California Drums (eles fizeram um bumbo maple shell de 18" maravilhoso) e das caixas Heuer. Apesar desse endorsement de batera, eu uso baterias Yamaha. Eu tenho uma Recording Custom e uma Absolute Birch Custom. As caixas, eu uso Pearl, DW e Heuer. Fui convidado para ser professor substituto no departamento de bateria da renomada escola de música Los Angeles Music Academy (LAMA), onde exerci essa função de 2007 a 2010. Nesses anos em Los Angeles, pude aperfeiçoar a minha técnica e grooves, principalmente jazz, r&b, funk, flamenco e ritmos latinos como salsa, songo, etc. Por fim, eu recomendo para qualquer músico, seja qual for o seu instrumento, vivenciar essa experiência no exterior. Por mais que a saudade da família e da terrinha aperte, não tem nada melhor do que fazer o que gosta, ser respeitado, bem remunerado, admirado por músicos do mundo todo e fazer parte dessa salada de culturas. Até a próxima! Contato: www.cristianonovelli.com