Destaque Depec - Bradesco
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Destaque Depec - Bradesco Ano XII - Número 124 - 04 de dezembro de 2015 Retração do PIB continuará afetando as receitas do governo e dificultando o cumprimento da meta no próximo ano grupos: i) núcleo da receita (basicamente a arrecadação de impostos e contribuições, ou seja, muito sensível à evolução da atividade econômica); ii) receita previdenciária e iii) outras (dividendos, concessões e extraordinárias). O núcleo da receita será tratado em dois subgrupos: o primeiro ligado a impostos mais correlacionados com o lucro das empresas e o segundo com impostos mais ligados ao consumo das famílias. Conforme citado acima, a receita total apresentou uma queda real de 6,4% nos últimos doze meses terminados em setembro. Utilizando a abertura acima como referência, o núcleo da receita apresentou uma retração real de 5,1%, sendo que a parte mais ligada ao lucro das empresas caiu 5,7% e a mais ligada ao consumo das famílias recuou 2,9%. Já a receita da previdência apresentou contração de 2,3% no período e o item outras caiu 21,4%. Em termos de participação, o núcleo da receita representa 61% da receita total 2 , a receita previdenciária, 28%, e o item outras, 11%. Vale destacar que, na comparação com 2005, o núcleo da receita diminuiu sua participação em 7 pontos percentuais, a receita previdenciária aumentou em 6 pontos percentuais, influenciada pelo aumento da formalidade das empresas e empregados no período, e o item outras aumentou em 1 ponto percentual. A dinâmica atual da atividade econômica brasileira tem afetado negativamente a evolução das receitas do governo, sendo esse um dos vetores que dificultam a execução do ajuste fiscal necessário para a retomada do equilíbrio econômico do País. Nos últimos doze meses, terminados em setembro, a atividade econômica brasileira apresentou queda de 2,8%, considerando as informações do IBC-Br1, divulgado mensalmente pelo Banco Central do Brasil. Nesse mesmo período, a receita total da União apresentou queda real de 6,4%, segundo os dados apurados pelo Tesouro Nacional. Em valor, essa queda real representa uma redução de R$ 64 bilhões (o equivalente a 1,1% do PIB) no período. Segundo nossas estimativas, somente a fraca evolução do PIB foi responsável por retirar cerca de R$ 25 bilhões (0,4% do PIB) desse total. Para 2016, projetamos uma nova queda do PIB brasileiro, de 2,0%. Dessa forma, esse vetor baixista para a receita deve continuar presente e, em conjunto com a rigidez das despesas, seguir como um obstáculo para o cumprimento da meta de resultado primário proposta pelo governo, de 0,7% do PIB. Elaboramos um exercício para tentar decompor essa queda de receita nos últimos doze meses. Para isso, dividimos a receita total em três grandes 40% Variação real nos último doze meses da receita e do IBC-Br 30% 20% 10% -2,3% -2,7% -5,1% -6,4% 0% -10% -20% -30% Receita Total Núcleo da Receita Receita Previdência Outras -21,4% 1 2 set/15 jan/15 mai/15 set/14 jan/14 mai/14 set/13 jan/13 mai/13 set/12 jan/12 mai/12 set/11 jan/11 mai/11 set/10 jan/10 mai/10 set/09 jan/09 mai/09 set/08 jan/08 mai/08 set/07 jan/07 mai/07 set/06 jan/06 IBC-Br -40% mai/06 Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos Leandro Câmara Negrão Fonte: STN e BCB Elaboração: BRADESCO O PIB brasileiro divulgado nesta semana registrou queda de 2,5% no mesmo período. Núcleo da receita ligado ao lucro das empresas (49%) e núcleo da receita ligado as famílias (12%). 1 Passando para a decomposição dos efeitos, eles foram resultado obtido nessa segunda equação será a separados em quatro partes: i) efeito PIB; ii) efeito variação da receita real sugerida pela evolução do câmbio3; iii) mudança de alíquotas e iv) efeito receitas PIB e pela variação cambial, juntas. Para tentar isolar extraordinárias e dividendos. Para o cálculo dos efeitos, somente o efeito do câmbio fizemos a diferença entre em um primeiro momento, estimamos uma equação o resultado da primeira e da segunda estimativa. Por para cada uma das aberturas de receita supracitadas fim, chamaremos os resíduos obtidos entre o resultado em função do PIB. Posteriormente estimamos uma observado na segunda equação e os dados efetivos, segunda equação incluindo a variação cambial. O de alteração de alíquotas. Receita core: Oficial, Estimada PIB e Estimada PIB + Câmbio - Variação real doze meses 20,0% 15,3% 15,0% 12,4% Núcleo da Receita: Oficial, Estimada PIB e Estimada PIB + Câmbio - Variação real doze meses Oficial Estimada PIB Estimada PIB + Câmbio 10,0% 5,5% 5,0% 4,5% 0,0% -1,9% -3,1% -5,1% -5,0% -7,5% -10,0% mar/06 jun/06 set/06 dez/06 mar/07 jun/07 set/07 dez/07 mar/08 jun/08 set/08 dez/08 mar/09 jun/09 set/09 dez/09 mar/10 jun/10 set/10 dez/10 mar/11 jun/11 set/11 dez/11 mar/12 jun/12 set/12 dez/12 mar/13 jun/13 set/13 dez/13 mar/14 jun/14 set/14 dez/14 mar/15 jun/15 set/15 -15,0% -9,9% Receita core: Oficial, Estimada PIB e Estimada PIB + Câmbio - Variação real doze meses Núcleo da Receita (lucro empresas): Oficial, Estimada PIB e Estimada PIB + Câmbio - Variação real doze meses Fonte: STN e BCB Elaboração: BRADESCO 20,0% Oficial 14,5% 15,0% Estimada PIB + Câmbio 10,2% 10,0% 5,0% Estimada PIB 4,6% 4,4% 0,0% -2,6% -1,9% -5,7% -6,7% -5,0% -10,0% -15,0% -8,8% 40,0% 27,2% 30,0% 20,0% Estimada PIB Estimada PIB + Câmbio 14,2% 10,6% 10,0% 0,0% 1,3% -2,9% -5,1% -5,9% -10,0% -20,0% 3 Núcleo da Receita (famílias): Oficial, Estimada PIB e Estimada PIB + Câmbio - Variação real doze meses Oficial 32,8% -11,7% -15,3% mar/06 jun/06 set/06 dez/06 mar/07 jun/07 set/07 dez/07 mar/08 jun/08 set/08 dez/08 mar/09 jun/09 set/09 dez/09 mar/10 jun/10 set/10 dez/10 mar/11 jun/11 set/11 dez/11 mar/12 jun/12 set/12 dez/12 mar/13 jun/13 set/13 dez/13 mar/14 jun/14 set/14 dez/14 mar/15 jun/15 set/15 Destaque DEPEC - Bradesco mar/06 jun/06 set/06 dez/06 mar/07 jun/07 set/07 dez/07 mar/08 jun/08 set/08 dez/08 mar/09 jun/09 set/09 dez/09 mar/10 jun/10 set/10 dez/10 mar/11 jun/11 set/11 dez/11 mar/12 jun/12 set/12 dez/12 mar/13 jun/13 set/13 dez/13 mar/14 jun/14 set/14 dez/14 mar/15 jun/15 set/15 Receita core: Oficial, Estimada PIB e Estimada PIB + Câmbio - Variação real doze meses Fonte: STN e BCB Elaboração: BRADESCO Fonte: STN e BCB Elaboração: BRADESCO A variação cambial afeta a contabilidade das empresas em moeda estrangeira, além de reduzir a arrecadação com uma menor importação. DEPEC 2 O resultado encontrado com esse exercício foi que, da queda real total de 6,4%, ou R$ 64 bilhões nos últimos doze meses, cerca de R$ 25,0 bilhões foram oriundos da desaceleração do PIB brasileiro, R$ 26,2 bilhões da variação cambial e R$ 26,9 bilhões das receitas extraordinárias, enquanto a elevação de alíquotas suavizou a queda e contribuiu positivamente com R$ 14,1 bilhões. Analisando sob a ótica dos tipos de receita, do total da queda da receita total, o núcleo da receita contribuiu com R$ 30,9 bilhões, sendo R$ 27,5 bilhões decorrentes do núcleo da receita ligado ao lucro das empresas e R$ 3,4 bilhões relacionados ao consumo das famílias. Já a receita da previdência participou com R$ 6,2 bilhões e o item outras R$ 26,9 bilhões. Analisando os efeitos de cada vetor aberto por cada tipo de receita, observamos que: i) Da queda total observada de R$ 30,9 bilhões do núcleo da receita, R$ 18,8 bilhões foram efeito da desaceleração da atividade (PIB), R$ 26,2 bilhões da depreciação cambial e um efeito positivo de R$ 14,1 bilhões da mudança de alíquotas; ii) Do total de R$ 27,5 bilhões dentro do núcleo da receita ligado ao lucro das empresas, R$ 12,8 bilhões foram resultantes do efeito do PIB, R$ 19,5 bilhões da variação do câmbio e um efeito altista de R$ 4,8 da alteração de alíquotas; iii) Do total de R$ 3,4 bilhões do núcleo da receita relacionado às famílias, R$ 6,0 bilhões foram efeito do PIB e R$ 6,7 bilhões do efeito do câmbio, sendo contraposto por um efeito positivo de R$ 9,3 bilhões do aumento de alíquotas; iv) Dos R$ 6,2 bilhões da receita da previdência, consideramos o efeito total advindo da variação da atividade econômica, R$ 6,2 bilhões. v) As variações do PIB e do câmbio não mostraram efeitos significantes sobre o item outras (dividendos, concessões e extraordinárias). Assim o efeito completo dessa abertura foi classificado dentro do quarto item, queda de receitas extraordinárias e dividendos. Decomposição dos efeitos na variação real da receita dos últimos doze meses Efeito Total RECEITA TOTAL Destaque DEPEC - Bradesco Núcleo da Receita Efeito PIB Efeito Câmbio Mudança alíquota Queda de receitas dividendos / extraordinárias R$ bilhões % real R$ bilhões R$ bilhões R$ bilhões R$ bilhões -64,0 -6,4% -25,0 -26,2 14,1 -26,9 -30,9 -5,1% -18,8 -26,2 14,1 - Núcleo da Receita 1 (lucro) -27,6 -5,7% -12,8 -19,5 4,8 - Núcleo da Receita 2 (famílias) -3,4 -2,9% -6,0 -6,7 9,3 - Receita Previdência -6,2 -2,3% -6,2 - - - Outras -26,9 -21,4% - - - -26,9 Dividendos -7,9 -49,8% - - - -7,9 Concessão -12,0 -69,3% - - - -12,0 Outras (extraordinárias) -7,0 -7,5% - - - -7,0 Núcleo da Receita 1: IR-PJ e Contribuições (CSLL, PIS, Cofins, etc) Núcleo da Receita 2: IR-PF, IPI, IOF, Imposto Importação Fonte: STN Elaboração: BRADESCO Utilizando essa decomposição para tentar entender os efeitos sobre a receita no próximo ano, acreditamos que o vetor da atividade econômica será um dos que continuará presente e afetará negativamente a evolução da receita do governo no período. Para 2016, projetamos uma queda de 2,0% do PIB no período. Por outro lado, no vetor do câmbio, o efeito tende a ser menos intenso, uma vez que projetamos que a depreciação cambial será moderada e a cotação chegará a R$/US$ 3,80 no final do ano. Por sua vez, as receitas extraordinárias podem ajudar a arrecadação do governo. É esperado que ocorra a renovação de concessões de hidrelétricas, bem como poderemos contar com receitas oriundas dos projetos de repatriação e Prorelit (renegociação de dívidas tributárias). Por fim, o item alteração de alíquotas deve novamente contribuir positivamente em 2016. Isso porque teremos a entrada em vigor de novas alíquotas, que ainda estão tramitando no Congresso e que têm elevada chance de aprovação, como a JCP DEPEC 3 e o aumento progressivo do imposto de renda pessoa física sobre o ganho de capital, bem como o efeito completo de medidas que já foram adotadas neste ano. Assim, considerando todos esses fatores pontuados, acreditamos que o resultado primário do setor público consolidado seja de um déficit de 0,5% do PIB no próximo ano, fazendo com que a dívida bruta aumente novamente e atinja 73,6% do PIB. oportunidades, caso não ocorra nenhuma nova medida e as que estão no Congresso não sejam aprovadas, estimamos que o déficit primário de 2016 fique em 1,5% do PIB e permaneça nesse nível até 2018. Nesse cenário mais pessimista, chegaríamos ao fim de 2018 com uma dívida bruta de 89,3% do PIB. Com isso, o esforço primário necessário para estabilizar a relação dívida/PIB seria muito elevado, supondo um crescimento de 1% do PIB acompanhado de um juro real de 7%, o primário requerido seria de 5,3%. Porém, conforme já abordamos em outras 5,0% 3,2% 3,2% 3,3% Proj DEPEC (Sem medidas) 2,9% Proj DEPEC Base (Com medidas) 2,6% 3,0% 2,2% 1,9% 2,0% 1,8% 2,0% 1,4% 0,7% 1,0% 0,0% -0,5% -1,0% -1,9% 2005 2006 2007 Medidas consideradas para 2016 Destaque DEPEC - Bradesco 0,1% -0,6% -2,0% -3,0% Superávit primário setor público consolidado – Em % PIB Proj Governo 3,7% 4,0% 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 -1,5% -1,4% 0,5% (*) Em 2015, sem descontar as pedaladas o primário projetado é -1,0% -1,2% 2015* 2016* 2017* 2018* Estimado Governo Considerado no cenário 71,7 48,9 26,0 45,7 16,2 32,7 Em aprovação Em aprovação OUTRAS MEDIDAS CONSIDERADAS Prorelit (50%) Repatriação (50%) Herança (50%) CSLL CIDE (alíquota 0,22) CIDE2 (alíquota indo p/ 0,30) Pagamento abono adiado de 2015 43,2 10,0 20 3,0 4,0 8,0 6,2 -8,0 26,7 5,0 10,0 1,5 4,0 8,0 6,2 -8,0 Aprovado Em aprovação Em estudo Aprovado Aprovado Em estudo Aprovado TOTAL % PIB 114,9 1,8% 75,6 1,2% Medidas consideradas no cenário de 2016 PACOTE NOVO (Adiamento reaj. Servidores, Sistema S, JCP, Reintegra, CPMF) Medidas de Despesa Medidas de Receita R$ bi % PIB Em aprovação Aprovado Em estudo 58,9 9,0 7,7 0,94% 0,14% 0,12% 95% Dívida Bruta 89,3% Cenário Base 85% Dívida bruta – Em % PIB 83,4% Cenário Otimista Cenário Pessimista 80% Situação da medida Montante das Medidas por situação Dívida Bruta - % PIB 90% Fonte: STN Elaboração: BRADESCO 76,7% 77,0% 78,8% 75% 70% 67,7% 65% 71,6% 70,6% 58,9% 54,8% 51,8% 50% 45% 70,9% 67,7% 60% 55% 73,6% 53,3% 51,3% 2010 2011 2012 2013 2014 2015* 2016* 2017* 2018* Fonte: BCB Elaboração: BRADESCO DEPEC 4 Destaque DEPEC - Bradesco Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Economia Doméstica: Pesquisa Proprietária: Análise Setorial: Estagiários: Fabiana D’Atri / Felipe Wajskop França / Daniela Cunha de Lima / Thomas Henrique Schreurs Pires Igor Velecico / Andréa Bastos Damico / Ellen Regina Steter / Myriã Tatiany Neves Bast / Ariana Stephanie Zerbinatti Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Leandro de Oliveira Almeida Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão / Ana Maria Bonomi Barufi Davi Sacomani Beganskas / Henrique Neves Plens / Mizael Silva Alves / Gabriel Marcondes dos Santos / Wesley Paixão Bachiega / Carlos Henrique Gomes de Brito / Gustavo Assis Monteiro O DEPEC – BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. 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