Aldeia 28.02.2010
Transcrição
Aldeia 28.02.2010
21 Juarez Fonseca ALDEIA zás-trás [email protected] Quartchêto, Pata e Camerata projetam o instrumental gaúcho Os grupos Quartchêto, Pata de Elefante e Camerata Brasileira estreiam nesta quarta, em Florianópolis, a turnê Instrumental RS. Patrocinado pelo programa Petrobras Cultural, o show coletivo passará por Curitiba, Tatuí (cidade paulista onde se situa uma das melhores escolas de música do país), Rio e Belo Horizonte, fechando o circuito dia 17 no Auditório Dante Barone, em Porto Alegre. É a primeira vez que três grupos instrumentais gaúchos de primeira linha, mas de gêneros distintos, se unem para mostrar seus trabalhos em bloco em outros estados. A Pata tem participado de vários festivais de rock pelo Brasil, em 2009 teve o disco Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha escolhido entre os 25 melhores de 2008 pela revista Rolling Stone, e recebeu o Prêmio VMB de melhor ban- da instrumental. Também foi selecionada pelo exigente programa Rumos Música, do Itaú Cultural, assim como o Quartchêto, que tem feito investidas mais modestas em outras capitais, mas com prestígio crescente – o mesmo se podendo dizer da Camerata Brasileira. E esta página tem mais dois exemplos do ótimo momento da música instrumental criada no Rio Grande do Sul Agora me detenho no Quartchêto, que está lançando o segundo disco, Bah. Pode parecer exagero, mas considero o grupo uma das formações mais brilhantes e originais do estado em todos os tempos. Música regional e universal feita por hábeis instrumentistas, Júlio Rizzo (trombone), Luciano Maia (acordeom), Hilton Vaccari (violão) e Ricardo Arenhaldt (percussão), que com- rou grupos, e nunca investiu pra valer na exposição do próprio trabalho. Mas com Inverno, o disco de estreia, sempre cobrado e só agora lançado, ele paga a antiga dívida. O CD é tão bom que compensa a longa espera. Quem se acostumou a admirá-lo em shows de outros, aqui tem a exata medida da capacidade violonística e autoral de Toneco. Nem pestanejo ao afirmar que é um dos maiores violonistas do país, tocando o mais puro Wander Wildner e Flu se adiantam, aproveitam a divulgação da presença de músicos brasileiros na Argentina e zarpam em seu próprio barco (ou ônibus). Seguem terça para Buenos Aires, onde farão show conjunto, independente, em várias casas noturnas, começando na próxima quinta. No dia 13, o show de encerramento do punk brega terá como convidado Arthur de Faria, um dos caras da programação oficial. SOM DO VINIL COM BORGHETTI Bah: Luciano, Hilton, Ricardo e Júlio são o Quartchêto põem e tocam com seriedade e nítido prazer. Bah tem chamamé (Buricá), vanerão (Alpargata Molhada), polca (Polka in Four), chacarera (La Plata), milonga (Pernilonga), valsa (Varça). Pelos títulos já se pode ver que também não falta bom-humor. Em Do Inhanduí ao Bonfim o grupo soa como uma orquestra, juntando música klezmer e chamamé, com citação do Canto Alegretense. Um divertimento atonal abre Pegando no Tranco, uma va- violão brasileiro. Reúne precisão técnica e sensibilidade, sabe ser enérgico e suave, conhece muito porque estudou muito e praticou muito. O disco começa e termina com a composição Inverno em versões muito diferentes; a primeira com violão e a gaita ponto de Renato Muller, a outra com violão, o sax soprano de Pedrinho Figueiredo e a percussão de Fernando do Ó. Toneco divide o álbum em Suíte 1, com 14 temas (ou movimentos), e Suíte 2, com três. A classificação faz sentido, pois o diálogo entre o popular e o erudito Vida longa para o Trezegraus A efervescência e a riqueza musical de uma cidade também se contam por histórias como esta. Em 2008, se cruzaram em Porto Alegre os caminhos de um reconhecido e experiente guitarrista de MPB-jazz, James Liberato, um percussionista de volta ao RS depois de anos atuando no Rio, Luiz Jakka, um jovem e elogiado violonista erudito, Thiago Colombo, e uma jovem contrabaixista da Orquestra de Câmara Theatro São Pedro e da banda de Nico Nicolaievsky, Aninha Freire. Resultado: o grupo-projeto Trezegraus, nome que também dá título ao disco que lan- çaram no fim de 2009. Torço para que tenha vida longa, pois é o tal casamento perfeito. Música popular brasileira, erudita, jazz, folclore, tudo se mistura em feliz integração. O disco ainda tem convidados de alto nível e, assim, se aproxima de uma espécie de cânone da música instrumental produzida no RS. Um ritmo meio agauchado, passando por flamenco e baião abre os trabalhos com Casa de Asas, de Fausto Prado. Se Esta Rua, de Thiago, é uma fantasia sobre a conhecida canção folclórica. Choro Amoroso, de e com Geraldo Flach ao piano, é choro Dez anos depois, uma nova caravana musical gaúcha rumará para a Argentina. Nesta terça, o produtor portenho Carlos Villalba e o secretário da Cultura de POA, Sergius Gonzaga, receberão a imprensa para divulgar a programação do Expresso Porto Alegre en Buenos Aires, que acontecerá de 10 a 14 de março. Vitor Ramil, Nelson Coelho de Castro, Mônica Tomasi e o Delicatessen estão entre as atrações. O PUNK BREGA CHEGA ANTES O múltiplo violão de Toneco Ele veio de Pelotas para Porto Alegre no iniciozinho dos anos 70, praticamente junto com Kleiton e Kledir. Tocava violão com a turma deles, que ainda nem pensavam em formar o grupo Almôndegas. Em 1973, começou a acompanhar o também iniciante compositor Fernando Ribeiro nos festivais estudantis e é esse o ano que se pode considerar como o primeiro da carreira de Toneco da Costa. Tocou e gravou com meio mundo, lide- PORTO ALEGRE EN BUENOS AIRES moderno. Finíssima composição de Thiago, Milonga da Caturrita inclui Diego Grendene no clarinete e Júlia Simões na flauta. Pealo de Sangue, clássico de Raul Ellwanger, tem o contrabaixo como instrumento dominante. Compositor de poucas aparições, Paulo Dorfman é brindado com duas músicas, samba, choro, jazz, e a sutileza de seu piano, Perereca do Guinha e Põe Tinta no Carimbo. Mas a música-síntese é a que vem por último, Radamés, homenagem de Liberato ao maestro gaúcho que ajudou a modernizar a música brasileira. @ Lançamento Fumproarte, contatos trezegraus@ gmail.com nera “quebrada”. Tudo é simples sem ser simples (a milonga pode ter muitas variações, por exemplo), é música que vem de melodistas inspirados e arranjadores exigentes. Eu poderia usar a expressão “jazz gauchesco”, mas já não me parece justa. E se fosse forçado a fazer um só destaque no disco, chamaria a atenção para o Luciano Maia compositor. @ Lançamento Sttilo/Fumproarte, contato (51) 30181848. é constante. São sete temas de violão solo, um mais bonito que o outro. Há arranjos para violão e mais um instrumento, como o violoncelo de Celau Moreyra no tema clássico Estudo em G; para dois violões (o segundo é Thiago Gonçalves, filho de Toneco, seguindo as pegadas do pai), como em Choro da Cidade; e para mais instrumentos, como em Marjorie, a faixa mais vigorosa e seus ares de chacarera, também com Pedrinho e Do Ó. Deixo de citar outras, pois quanto mais escrevo mais falta dizer. @ Lançamento Fumproarte, à venda no site Antares Música. DISCOS DE FEVEREIRO Esta Aldeia recebeu, em fevereiro, os discos relacionados abaixo. Nelson Coelho de Castro – Lua Caiada (Petrobras Cultural) Edu Lobo – Tantas Marés (Biscoito Fino) Antonia Adnet – Discreta (Biscoito Fino) Luciah Helena – Signos (independente) Nô Stopa – Novo Prático Coração (Tratore) Karina Buhr – Eu Menti pra Você (independente) Vários – As Melhores Marchinhas do Carnaval 2010 (Fundição Progresso) Também nesta terça, o ex-Titã Charles Gavin chega ao RS para a gravação com Renato Borghetti do programa O Som do Vinil, apresentado por ele no Canal Brasil, da Net. O mote é o primeiro álbum de Borghetti (foto), lançado em 1984 e que ainda guarda o título de disco instrumental mais vendido no Brasil em todos os tempos. Modéstia à parte, fiz a arte da capa do LP, com fotografia de Tude Munhoz. PÚBLICA SE MUDA PARA SAMPA Assim como Jupiter Maçã, Cachorro Grande, Reação em Cadeia e tal, a Pública está indo embora em busca de mais visibilidade. Vai bem calçada: em 2009 ganhou três troféus Açorianos e o Prêmio VMB de banda de rock alternativo. O destino é São Paulo. Mas antes faz seis shows de despedida no RS. Entre eles, quarta próxima no Live Sport Pub, em POA (3273-6489) e dia 12 no Pop Cult, em NH (9821-2925). L.A.B. VAI TOCAR NO TEXAS Quem também está voando alto é a cada vez mais falada L.A.B., de Novo Haburgo, selecionada (entre centenas) para participar do South by Southwest Festival, em Austin, Texas, EUA. Dan Schneider, vocalista e guitarrista da banda, conta que a L.A.B. embarca em 14 de março e se apresenta no dia 18. Os últimos shows, antes do embarque, foram sexta passada e ontem, em São Paulo. O PIANISTA DE MARILYN No comentário de domingo passado sobre o disco Live in Marciac 1993, de Tommy Flanagan e Hank Jones, deixei de anotar uma informação que vale pela curiosidade: Jones era o pianista que acompanhava Marilyn Monroe quando ela cantou, ronronando, o famoso Parabéns a Você para John Kennedy, em 1962 (o vídeo está no YouTube). Na época, só o FBI sabia do caso entre a deusa loira e o presidente dos EUA. Em Movimento w No Encontros com o Professor da próxima quartafeira, Ruy Carlos Ostermann vai entrevistar Yamandu Costa. StudioClio, 19h30. Infos 3254-7200. w Exclusivo: o novo disco de milongas de Vitor Ramil, sobre poemas de Jorge Luis Borges e João da Cunha Vargas, vai se chamar délibáb. w Começou a venda de ingressos para o show da musa jazzista Madeleine Peyroux, dia 13 de junho no Teatro do Bourbon Country. Infos 3375-3700. w Cantora Karine da Cunha faz dois shows dedicados ao universo feminino, dia 17 no Sarau no Solar e dia 18 no auditório da Livraria Cultura. Aguarde detalhes. w Correção: o endereço para shows e compra do disco de Kako Xavier é [email protected], e não como saiu aqui domingo passado.