YORK RIO - Fraternitas In Praxis

Transcrição

YORK RIO - Fraternitas In Praxis
ISSN 2318-3462
Volume 1, Número 3, Jan/Abr. 2014.
LUIZ FRANKLIN DE MATTOS SILVA
Os Desafios da Maçonaria:
Tolerância, Religião e Sociedade
DIAMANTINO LOIS BLANCO
A Origem da Maçonaria
RODOLFO A. GERMANO
Maçonaria e Política:
Um Ensaio de Interpretação Libertária
KENNYO ISMAIL
O Dilema do Rito Escocês Antigo e
Aceito
NO ESQUADRO
Maçonaria e Astrologia (review)
ANTÔNIO CARLOS RAPHAEL
GOIRJ realiza Seminário para
Administradores de Lojas (news)
JOSÉ ROBERTO FERREIRA
Sagração do Tabernáculo Condado de
York de Sacerdotes Cavaleiros
Templários (report)
YORK RIO
Apoio:
Associação
Realização:
Patrocínio:
FinP entrevista:
Ítalo Aslan
Volume 1, Número 3, Jan/Abr. 2014.
Missão:
Desenvolver e promover estudos e pesquisas sobre Maçonaria e Fraternidades em geral, com foco em História e Ciências Sociais. Sua dimensão internacional busca promover maior intercâmbio entre pesquisadores de
diferentes culturas, saberes e formação, acessando outros níveis de realidade e contribuindo para o enriquecimento de nosso conhecimento numa proposta transdisciplinar.
Dados Catalográficos:
ISSN 2318-3462
Janeiro a Abril de 2014.
Volume 01.
Número 03.
Periodicidade:
Quadrimestral
Conselho Editorial
Rubens Caldeira Monteiro (Editor-Chefe)
José Roberto Ferreira
Kennyo Ismail
Luiz Franklin Mattos
Contato
Editor-Chefe: [email protected]
Suporte Técnico: [email protected]
Portal: www.fraternitasinpraxis.com.br
Contato geral: [email protected]
Ilustração da Capa:
Ordenação de Jacques de Molay
(by Marius Granet)
A escolha da ilustração para a capa foi inspirada pelo
relato do evento “Sagração do Tabernáculo Condado de
York”, de José Roberto Ferreira.
Parceiros Institucionais:
Associação YORK RIO
Loja de Pesquisas Maçônicas “Rio de Janeiro”
Grande Oriente Independente do Rio de Janeiro
Aviso:
Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Revista Fraternitas in Praxis—FinP.
2
Volume 1, Número 3, Jan/Abr. 2014.
Sumário
Prefácio
5-6
Os Desafios da Maçonaria: Tolerância, Religião e Sociedade
LUIZ FRANKLIN DE MATTOS SILVA
7-12
A Origem da Maçonaria
DIAMANTINO LOIS BLANCO
13-18
Maçonaria e Política: Um Ensaio de Interpretação Libertária
RODOLFO A. GERMANO
19-27
O Dilema do Rito Escocês Antigo e Aceito
KENNYO ISMAIL
29-32
Maçonaria e Astrologia, de José Castellani (resenha)
NO ESQUADRO
33-35
GOIRJ realiza Seminário para Administradores de Lojas (notícia)
ANTÔNIO CARLOS RAPHAEL
37-38
Sagração do Tabernáculo Condado de York de KTP (evento)
JOSÉ ROBERTO FERREIRA
39-41
FinP entrevista: ÍTALO ASLAN
43-45
3
4
ISSN 2318-3462
Volume 1, Número 3, Jan/Abr. 2014.
Apresentação
Trazemos a público a terceira edição de nossa mento das questões atinentes a esse tema tão relerevista de estudos e pesquisas maçônicas, FinP, com vante para a Maçonaria brasileira.
um recorde de mais de 10 mil acessos e downloads
Kennyo Ismail, em seu artigo “O Dilema do
em nosso website.
Rito Escocês Antigo e Aceito”, aborda a evolução do
Agradecemos a todos aqueles que, de algum Rito desde o o século XIX, quando ganhou o formato
modo, contribuem para o sucesso desse projeto de e nome atuais, até os dias de hoje, analisando as
valorização do conhecimento maçônico, com uma principais adaptações implementadas no solo Amerivisão metodológica, científica e, acima de tudo, não cano. Uma análise dos impactos positivos e negativos
de tais adaptações é apresentada ao leitor da FinP.
sectária.
Neste número, destacamos o artigo “As Origens da Maçonaria”, de Diamantino Lois Blanco, um
“mestre cervejeiro” aposentado que, ao iniciar-se nos
mistério da Maçonaria, muito estudou e pesquisou
sobre as origens da Maçonaria, a ponto de ser aprovado no vestibular de História aos 61 anos de idade e,
no processo de conclusão de curso, apresentará uma
monografia sobre a influência da Maçonaria na consolidação dos princípios fundamentais da República
no Brasil. Fazemos esse destaque pelo seu exemplo e
esforço pessoal, que conjuga dedicação e seriedade
em um tema ainda tão pouco abordado na academia.
A Resenha do Livro de Castellani, “Maçonaria
e Astrologia”, do Blog No Esquadro, apresenta uma
análise crítica do livro, não do autor, destacando alguns conceitos equivocados do texto e a falta de coerência bibliográfica, que pode induzir ao erro de interpretação. Um texto discursivo com leveza e seriedade.
tação Libertária”, de Rodolfo A. Germano, aborda de
forma muito interessante o conceito de “fazer política” na Maçonaria brasileira, analisando documentos
do GOB, CMSB e COMAB que demonstram falta de
solidez e formação filosófica e política para enfrenta-
Por fim, o Past Grão Mestre de Honra do
GOIRJ, Irmão Italo Barroso Aslan, é o entrevistado
desta edição. Dotado de excelente cultura e mantenedor do acervo bibliográfico do pai, o eminente pesquisador e profícuo escritor Nicola Aslan, Ítalo narra a
Já Antônio Carlos Raphael, Grão-Mestre do
Grande Oriente Independente do Rio de Janeiro, noticia os resultados do Seminário de Preparação dos
futuros administradores das Lojas Simbólicas de sua
jurisdição, que serão empossados de junho em dianLuiz Franklin de Mattos Silva nos apresenta te.
uma reflexão sobre “Os Desafios da Maçonaria: ToleA Sagração do Tabernáculo Condado de York
rância, Religião e Sociedade” . A abordagem versa de Sacerdotes Cavaleiros Templários (KTP), apresensobre a dicotomia entre o discurso e a prática da tada por José Roberto Ferreira, relata a vinda da De“tolerância” na Ordem Maçônica, uma vez que direi- legação da Inglaterra para consagração do Tabernátos civis e das liberdades democráticas são descarta- culo, nas dependências do GOIRJ, seguida da Instalados pela maioria dos maçons brasileiros, com viés ção e Posse Administrativa dos oficiais. Trata-se de
muito conservador.
relato de importante evento para a Maçonaria Brasi“Maçonaria e Política: Um Ensaio de Interpre- leira.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 5-6, Jan/Abr, 2014.
5
FinP - APRESENTAÇÃO
trajetória do pai na Maçonaria fluminense e brasileira, discorre sobre o inestimável acervo que administra e os planos futuros para publicação de obras, artigos ou manuscritos ainda inéditos.
Desejamos aos nossos leitores uma agradável
leitura, esperando que sejam temas de agrado dos
diversos públicos que acessam nosso website. Agradecemos novamente pelo sucesso desse projeto e
nos despedimos, fraterna e sinceramente.
Rubens Caldeira Monteiro
Editor-Chefe
[email protected]
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 5-6, Jan/Abr, 2014.
6
ISSN 2318-3462
Recebido: 08/01/2014
Aprovado: 15/03/2014
OS DESAFIOS DA MAÇONARIA:
Tolerância, Religião e Sociedade
Autor: Luiz Franklin de Mattos Silva ¹
Resumo
Embora considerada uma associação de livres pensadores, calcada na liberdade de investigação e pesquisa,
Ordem Maçônica enfrenta um dilema: perseguida e não entendida deve manifestar-se de forma contundente contra a falta de tolerância de alguns setores, frente ao estado laico e a liberdade de fé e de crença. Com
a ascenção da “bancada evangélica” no Congresso e das Bulas papais de Bento XVI, a disputa por hegemonia
“religiosa” coloca em risco o estado republicano. Em sua história, no Brasil, sempre se pautou pelo respeito à
opinião de seus membros, até o golpe de 1964, quando passou a perseguir os opositores do regime. Mas o
legado da maçonaria é tolerância.
Palavras-chave: Tolerância; Liberdade; Estado laico; Ditadura.
Abstract
Although regarded as an association of free thinkers, grounded in freedom of inquiry and research, Masonic
Order faces a dilemma: persecuted and not understood should manifest itself forcefully against the lack of
tolerance of some sectors, defending the secular state and freedom of faith. With the rise of "evangelical
bench" in the Brazilian Congress and the Papal Bulls of Benedict XVI, the competition for "religious" hegemony jeopardizes Republican state. In its history, Brazilian Freemasonry has always been guided by respect
for the opinion of its members until the 1964 military coup, when military began to persecute opponents of
the regime. But the legacy of Freemasonry is tolerance.
Keywords: Tolerance; Freedom; Secular state; Dictatorship.
¹ Luiz Franklin de Mattos Silva é biólogo, professor universitário, Mestre em Zoologia. Doutor em Biologia de Água Doce. Mestre
Instalado, é membro da Loja Maçônica “Acácia de York º 52” - GOIRJ; Sumo Sacerdote do Capítulo “York nº 40” de Maçons do Real
Arco; e Grande Secretário de Planejamento Estratégico do GOIRJ. E-mail: [email protected]
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 7-12, Jan/Abr, 2014.
7
SILVA, L. F. M. OS DESAFIOS DA MAÇONARIA: TOLERÂNCIA, RELIGIÃO E SOCIEDADE
soas, vivem na pobreza (19 milhões em condições de
extrema pobreza), o que inclui cerca de 25 milhões
de crianças. Destas, quase 19 milhões, ou seja, mais
de 70% são afrodescendentes. Entre as crianças indígenas, 63% das menores de seis anos vivem em situação de pobreza (UNICEF, 2009).
Introdução
Antes de qualquer coisa é necessário conceituar o que é tolerância. Segundo Aurélio Buarque ela
pode ser definida como a “Disposição de admitir, nos
outros, modos de pensar, de agir e de sentir diferentes dos nossos ou favor feito a alguém em determiComo desenvolver a solidariedade diante de
nadas circunstâncias.” Por sua vez é um termo que
vem do latim "tolerare" que significa "suportar", tanta desigualdade social, política, econômica, educacional e cultural? Evidente que se precisa de um am"aceitar".
plo processo de “tolerância social” onde seja minimaO dia 16 de Novembro foi instituído pela mente possível politicas públicas de inclusão e valoriONU - Organização das Nações Unidas como o Dia zação dessas diferenças, visando minimizá-las.
Internacional para a Tolerância. Esta é uma das muitas medidas da ONU no combate à intolerância e
não aceitação da diversidade cultural.
Sobre Tolerância
Uma rápida pesquisada em mecanismos de
busca em sites especializados, limitando-se ao Brasil,
ao digitarmos tolerância surge de imediato 128.000
citações. Se mudarmos os termos de referências de
pesquisa para “intolerância religiosa” temos
1.030.000 resultados ou “discriminação religiosa no
Brasil” com 1.050.00 resultados.2
Podemos deduzir de uma maneira simples
que uma pessoa tolerante normalmente aceita diferentes opiniões ou comportamentos diferentes daqueles estabelecidos pelo seu meio social ou no que
ela acredita. Enfim, aceitar o outro como ele é, como
ele pensa, sente e crê independente de sua etnia ou
país de origem. Este tipo de tolerância é denominado
Não são poucos os casos de repercussão naci- "tolerância social". (BARRET-DRUCOCQ, 2000)
onal de chutes em imagens, destruição de locais de
Logo devemos intuir que a tolerância é o ato
cultos de matrizes afro-brasileiras, das marchas pela de indulgência perante algo que não se quer ou que
família, que lembram as ações anteriores ao crimino- não se pode impedir. A tolerância é uma atitude funso golpe militar de 1964. Não bastasse isso temos a damental para quem vive em sociedade. Será?
cada dia que passa, o mais grave e pior de todos os
No contexto geral da maçonaria brasileira, ela
movimentos que é autodenominado de “jesuscracia”, se considera uma instituição essencialmente
ou a “cura gay” que é fruto grotesco e de maior into- “filosófica, filantrópica educativa e progressista”.
lerância.
Seus membros, pelo menos no discurso, defendem a
A partir da Declaração Universal dos Direitos
Humanos (art.1,1948), da qual o Brasil é signatário,
se institui que “todas as pessoas nascem livres e
iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão
e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”.
liberdade dos indivíduos e dos grupos humanos,
“sejam eles instituições, raças, nações; a igualdade de
direitos e obrigações dos seres e grupos sem distinguir a religião a raça ou nacionalidade”. (GOIRJ,
2005)
Assim como a república platônica considerou
Em pesquisa realizada pela UNICEFF, referen- a justiça a virtude fundamental, a monarquia entronite ao ano de 2008, os dados mostram que 28,7% da zou a lealdade ao rei como a virtude máxima. Os tempopulação brasileira, ou cerca de 54 milhões de pes- pos mudaram e a burocracia cultuou como bem su2
GOOGLE. Disponível em: https://www.google.com.br/search?q=intoler%C3%A3ncia+religiosa&oq=intoler%C3%A3nia+religiosa&aqs=chrome..69i57j0l5.6900j0j8&sourceid=chrome&espv=210&es_sm=93&ie=UTF8#es_sm=93&espv=210&q=intoler
%C3%A2ncia+religiosa+brasil+ Acesso em: 18/11/2013.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 7-12, Jan/Abr, 2014.
8
SILVA, L. F. M. OS DESAFIOS DA MAÇONARIA: TOLERÂNCIA, RELIGIÃO E SOCIEDADE
premo a eficiência, o socialismo a liberdade com
igualdade, o liberalismo erigiram-se com base na exploração de uma ideia de fraternidade e de liberdade, regulada pelo mercado, e respectivamente, as
democracias modernas não se instituem sem o suporte e o esclarecimento da ideia de tolerância a diversidade e pluralidade de ideias.
Historicamente a maçonaria contribuiu – e
muito – na independência do Brasil e na libertação
dos escravos. Infelizmente limitam-se as ações políticas da maçonaria a estes acontecimentos. Mas não é
só isso. A liberdade de opinião e tolerância da ordem
com os valores de seus membros geraram fatos inusitados, esquecidos ou desconhecidos.
Em campo diametralmente oposto, baseados
em processos pedagógicos, o ensino laico, proporciona possibilidades de se confrontar o pensamento religioso e o científico. Paulo Freire (1996), expoente da
Pedagogia como Prática da Liberdade, ressalta a importância da tolerância e afirma que “o respeito à
autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros”.
Para evidenciarmos a questão da tolerância
na maçonaria, devemos lembrar de alguns fatos, em
1917 têm-se notícias das “Conferências MaçônicoSocialistas”, em 1922 a maçonaria apoiou a “revolta
do forte de Copacabana”, em 1924 centenas de maçons foram presos por terem se envolvidos na revolução Paulista de 1924. Fala-se pouco, mas ela como
instituição, também contribuiu muito no combate ao
fascismo da Ação Integralista Brasileira. Seus memPortando o docente, na concepção dele, deve bros combateram a ditadura de Getúlio Vargas e foser aquele que não apenas ensina, mas que cuida, ram duramente perseguidos. (MOREL & SOUZA,
compartilha momentos, sendo “tolerante” com todas 2008)
as formas de saber e humilde para respeitá-las e, é
Se no início do século XX o Grande Oriente do
claro, impondo de forma inteligente o respeito que Brasil, afirmava que não iria punir ou expulsar ninlhe é devido.
guém que tenha participado de qualquer ato acima
Em outra obra, Freire (2005) explicita o que descrito, pois a “maçonaria não considera em suas
pensava e entendia por tolerância. Ele denomina a decisões qualquer crime político” (MOREL & SOUZA,
op.cit), o mesmo não aconteceria de 1964 em diante.
tolerância da seguinte maneira:
Após o golpe militar que derrubou o governo
legalmente constituído e eleito pelo voto popular de
João Goulart, a maçonaria brasileira, na contramão
da maçonaria universal, inicia um processo de perseguição aos maçons que se vinculavam a partidos liberais, não necessariamente comunistas ou socialistas.
Falo da tolerância como virtude da
convivência humana. Falo, por isso
mesmo, da qualidade básica a ser
forjada por nós e aprendida pela
assunção de sua significação ética –
qualidade de conviver com o diferente. Com o diferente, não com o
inferior. (Paulo Freire. Pedagogia da
tolerância. São Paulo: UNESP, 2005.)
Alméri (2013) confirma que o Grande Oriente
do Brasil, na época da ditadura Vargas expediu decreto apoiando a ditadura e processando os que faziam
oposição, inclusive fechando lojas. Mas traz uma observação importante, que poucos citam, ressaltando
que o cisma de 1973, que deu origem aos Grandes
Orientes Independentes por conta do roubo e da
fraude eleitoral (SILVA, 2013) tinha uma difusa questão entre Athos Viera de Andrade, do campo de oposição e Osmame Vieira de Resende e seu adjunto Osíris Teixeira (senador da República), eleitos por conta
da fraude, “em audiência confirmando o apoio do
Observemos que com essa afirmação surge
uma espécie de linha mestra para toda uma ação social e educativa inovadoras, num mundo tão competitivo. A concepção de convivência com o diferente e
aceitação de tal está implícita como característica
universal de todos os seres humanos, ou seja, as ideias de Paulo Freire, sempre mescladas com a educação e o diálogo. (FREIRE, 2005)
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 7-12, Jan/Abr, 2014.
9
SILVA, L. F. M. OS DESAFIOS DA MAÇONARIA: TOLERÂNCIA, RELIGIÃO E SOCIEDADE
Grande Oriente do Brasil ao governo que havia se ins- ciação ou aliança de grupos religiosos e governos, de
talado após o movimento de 1964”.
forma sectária contra a maçonaria, em prol da hegeAssim, obras surgem, recomendando aberta- monia de uma “religião” mais verdadeira que outra.
mente a expulsão ou o simples denuncismo de infiltrados comunistas, pois a “Ordem Maçônica não estava preparada para resistir a essa horda”. Chega-se
ao cúmulo de dizer-se que não pode haver “nenhum
tipo de tolerância” com comunistas, pois se trata de
uma luta “do bem contra o mal”, e a guisa de conclusão afirma que “a maçonaria brasileira é um instrumento poderoso de luta, que expurgando uma pequena, porém atuante minoria antimaçônica... poderá
servir ao Brasil” (GUIMARÃES, 1971).
Ora, não nos resta outra dedução, a não ser
concordar que a maçonaria pertence à categoria das
sociabilidades e práticas culturais, pois para ele estudar a maçonaria é o mesmo que estudar o conceito
de sociabilidade, o direito de pensar livremente, da
infinita tolerância entre seus pares. “Assim, pratica a
leitura em todos os seus níveis. Busca constantemente o intercâmbio cultural, não apenas nos diversos
segmentos maçônicos, mas, também, na esfera civil,
seja ela pública ou privada”. (COSTA, 1999)
Os conceitos maçônicos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade encontram-se, pois relacionados
a essa definição de Paulo Freire (2000), do mesmo
modo que os princípios da Ordem Rosacruz postulam
“a mais ampla liberdade (tolerância) na mais irrestrita liberdade”. (AMORC, 2001)
Este é um ponto que temos que destacar, se a
compreensão de tolerância de Paulo Freire está fundada num âmbito prático-epistemológico, com o entendimento do termo e seu emprego, prezando sempre a coerência entre a teoria e a prática, por meio
do diálogo a da maçonaria se consolida pela prática
da tolerância e liberdade de expressão ou manifestação do pensamento. (FREIRE, 1987)
Por conta disso a Maçonaria como instituição
pagou um preço elevado, que se evidencia pelas perseguições sofridas ao longo dos séculos, pela igreja
católica, protestantes, “neopentecostais”, regimes
totalitários e fascistas. Não se pode negar uma asso-
Tolerância e Liberdade Religiosa
De tempos para cá, talvez mesmo décadas, as
religiões voltaram a ganhar importância. Por um lado,
recobraram seu peso na vida pessoal, seja como código moral que estipula condutas, seja como fator de
identidade de grupos; por outro lado, e em decorrência, um acirramento das tensões e disputas religiosas
restituiu à fé a condição de dado a ser considerado
inclusive na geopolítica mundial.
Com efeito, vivemos num mundo religiosamente agitado, não poucas vezes religiosamente abalado. Conflitos de vários matizes surgem em âmbitos
regionais, nacionais e internacionais. Geralmente se
tratam da tentativa de se impor valor religioso ou de
fé de um grupo ao outro.
Podemos até suspeitar que nem sempre os
conflitos que surgem sob “capa” religiosa de fato sejam por conta de uma matriz religiosa, ou supremacia
religiosa. Também nem sempre se manifesta aliada a
uma supremacia étnica ou social, e nem por isso é
um fato pouco significativo. Esses conflitos justamente se representam e se apresentam como tais, e
isso quer dizer que a religião faz-se uma forma privilegiada de enquadrar os conflitos e inclusive responder a alguns dos problemas de nossa época.
Em julho de 2007, um documento oficial do
Vaticano define a Igreja católica como a “única igreja” de Cristo. As igrejas protestantes não seriam
“igrejas” em sentido próprio, e a graça divina que algum de seus seguidores poderia eventualmente atingir seria sempre menor que a de um católico. (BENTO
XVI, 2007)
Esse mesmo Papa oriundo do departamento
contemporâneo da Inquisição, que condenou Leonardo Boff, também chamou mulçumanos como um todo, de infiéis, lançou as ideias de “Nova Cruzada”,
exatamente como George Bush e Dick Cheney se referiam a necessidade de invasão do Iraque. Ele, en-
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 7-12, Jan/Abr, 2014.
10
SILVA, L. F. M. OS DESAFIOS DA MAÇONARIA: TOLERÂNCIA, RELIGIÃO E SOCIEDADE
quanto papa, convoca os “fiéis e verdadeiros seguidores do Cristo, a travar uma constante batalha de fé
contra os detratores da igreja e (...) os que praticam
atos não condizentes com a moral é (...) práticas católicas (...) que só a igreja verdadeira podem oferecer” (BENTO XVI, 2005).
Os avanços da bancada evangélica nas casas
legislativas e no congresso nacional trazem à baila,
séculos depois, a perseguição indiscriminada as religiões de matrizes africanas, as ordens iniciáticas, as
religiões milenares orientais, ao movimento denominado de nova era, aos judeus e árabes, bem como a
própria Maçonaria.
A fomentação de “ensino religioso” nas escolas públicas fere gravemente os princípios constitucionais e legais, uma vez que não se assegura a igualdade de tempo e temas entre as diversas crenças ou
manifestação de fé, chegando-se ao ponto de não se
permitir que sacerdotes de matriz africana ministrem
aulas.
sua própria intolerância nega e destrói a seriedade
dos conceitos filosóficos e morais.
Para os maçons e também para a sociedade, a
palavra tolerância adquire, conforme os contextos,
significações e valores diversos: capacidade de suportar, resistência, paciência, sofrimento, piedade, cumplicidade, permeabilidade, assimilação, indulgência,
respeito e acolhimento. Assim dizemos, como maçons e membros de uma sociedade, que somos indulgentes quando toleramos nossas falhas ou as dos outros e isso apenas significa que não resistimos a elas,
apenas deixamos passar. (GIANNINI, 1993)
Os Desafios dos Maçons
Toda a religião deve obedecer a uma ética
universal. Textos da tradição judaica, católica ou protestantes que atacam e denigrem outras religiões fogem a essa concepção e, são incentivadas por diversos líderes preconceituosos de que o Ser Supremo é
intolerável e violento.
Compete à Maçonaria reafirmar seu papel hisA Maçonaria abriga em seu seio no Brasil, ditórico, fazendo a “tolerância” não ser apenas uma
versos
membros de crenças diferentes, etnias difesimples “virtude de salão”, mas um dever moral, étirentes, origens também diferentes. Essa riqueza mulco, um objetivo educacional no campo da vida civil.
ticultural proporciona a Ordem a oportunidade rara
Admitimos, como maçons, que é “tolerante” de estabelecer um debate de alto nível, sobre tolequem tenta compreender as razões dos outros. No rância e liberdade.
entanto “compreender” nos remete antes de mais
Não será fácil vencer o preconceito arraigado
nada a uma função do intelecto. Assim, se supusermos que a tolerância é uma virtude, ela não seria, contra as liberdades civis fundamentais. União homo
propriamente falando, uma virtude ética, mas inte- afetiva, direitos humanos para presos, combate efetivo a corrupção, inclusão racial e social de minorias,
lectual.
carecem de um debate sério e competentes, sem
Se os maçons “buscam incessantemente a ver- chavões de milicos de pijamas ansiosos por um novo
dade, pois a liberdade é necessária ao homem, e a golpe de estado, ou ainda, da direita religiosa reacioeducação maçônica consubstancia-se no aperfeiçoa- nária, defensores da “jesuscracia” ou cura gay.
mento da humanidade pela liberdade de consciência,
Assim, nem a justificação nem a tolerância
igualdade de direitos e fraternidade univeracontecem
no mundo civil sustentada pelas razões
sal” (GOIRJ, 2002) não gerar uma campanha permanente no campo interno de suas fileiras que assegure coercitivas da lógica, que fala do que é de forma unia mais ampla liberdade de fé e crença, é trair suas versal, ou pela ética, que fala do que deve ser de forma universal. Justificação e tolerância acontecem
origens históricas.
graças à virtude ativa, transdisciplinar, de um fato ou
Com efeito, qualquer maçom, loja ou obedi- de uma proposição que chegam de fora do sistema e
ência, que responde a intolerância dos outros com forçam esse sistema a se transformar interiormente,
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 7-12, Jan/Abr, 2014.
11
SILVA, L. F. M. OS DESAFIOS DA MAÇONARIA: TOLERÂNCIA, RELIGIÃO E SOCIEDADE
a modificar realmente sua maneira de ser. Somente rância significa entender e não esquecer, que o Suassim um sistema social, onde está inserida a maço- premo Arquiteto dos Mundos julgará cada um e suas
naria, é permeável e aberto.
obras, pela mesma medida com que julgamos os ouA Maçonaria não deve tratar de impor uma tros.
tolerância absoluta a tudo e a todos. Uma tolerância
absoluta pode acabar levando à confusão ou a indiferença. Há certa maneira de conceber a tolerância que
antes de tudo a marca de um relativismo: todas as
ideias saõ boas e pode-se aceitar o quer for. Enfim,
uma espécie de o outro tem todos os direitos que eu
julgo ter. Se os maçons usam do termo “tolerância”
em suas ações sociais, convém sublinhar que há uma
tolerância “boa” e outra “má”. A tolerância má é a
que vem do indiferentismo em relação a uma verdade. Já aquilo que podemos considerar como boa tolerância advém do fato de podermos escutar as ideias
dos outros mesmo que não estejamos de acordo e,
justamente por isso, discutir sem preconceitos. Buscar um consenso ou pacto social, ficando entendido
que esse consenso quanto às ideias não impede uma
vontade profunda de diálogo e de respeito pela opinião de outrem.
Os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade, tão caro aos maçons do mundo, ganharia outro
patamar de verdade nas sociedades modernas. Isso
por que numa sociedade democrática, republicana,
laica, a maçonaria deve fazer com que as igrejas renunciem ao poder secular sobre o estado, evitandose a ingerência na educação, nas liberdades civis e
nos direitos humanos.
Aos maçons compete sempre se lembrar do
Artigo X da declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, de 1789, que afirma: “Ninguém deve ser inquietado por suas opiniões mesmo religiosas, contanto que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida em lei.”
Como dizia são Tomás “uma lei que não é justa, não é uma lei”. As igrejas e a Maçonaria não podem esquecer que nenhuma delas irá ocupar da verdade espiritual do mundo contemporâneo, tão cheio
de complexidades.
Referências Bibliográficas
ALMÉRI, T. M. Posicionamentos da instituição maçônica no processo político ditatorial brasileiro (1964): Da visão liberal ao
conservadorismo. Vol. 5, Nº 1, 2013, p. 61-78.
BARRET-DRUCOCQ, F. (ed.). A Intolerância – Foro Internacional
sobre a Intolerância. Trad. E. Jacobino. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2000.
BENTO XVI. 2005. “Carta encíclica Deus caritas est do Sumo Pontífice Bento XVI aos presbíteros e aos diáconos, às pessoas consagradas e a todos os fieis leigos sobre o amor cristão”. Disponível
em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/
encyclicals/documents/hf_benxvi_enc_20051225_deus-caritasest_po.html. Acesso em: 13/11/2013.
BENTO XVI . 2007. “Discurso na sessão inaugural dos trabalhos
da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do
Caribe”. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/
benedict_xvi/speeches/2007/may/documents/hf_benxvi_spe_20070513_conferenceaparecida_po.html Acesso em:
13/11/2013.
COSTA, F.G. A Maçonaria e a Emancipação do Escravo. Londrina:
Editora Maçônica A trolha, 1999.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17ª.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 24. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
FREIRE, P. Pedagogia da tolerância. São Paulo: UNESP, 2005.
GIANNINI, H, Acolher a estranheza. in A Tolerância: por um humanismo herético.Org. Claude Sahel, Tradução de Paulo Neves.
Porto Alegre: L&PM, 1993.
GOIRJ. Ritual de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito. Rio de Janeiro, 2002
GOIRJ. Ritual de Companheiro Maçom Maçom do Rito Escocês
Antigo e Aceito. Rio de Janeiro, 2007.
GUIMARÃES, J.N. Maçonaria sem Comunismo: Hiram X Marx.
São Paulo. Prelo Editora, 1971.
HOLANDA, S. B. Da Maçonaria ao Positivismo, in Historia Geral
da Civilização Brasileira. Tomo II- 5º Volume. São Paulo: Difusão
Europeia do Livro, 1972.
MATTOS, L.F. Resenha do livro: “Uma Luz Na História”. Fraternitas in Praxis, Vol. 1, No. 1, 2013, p. 41- 42.
MOREL, M & SOUZA, F.J de O. O poder da Maçonaria: A história
Para a maçonaria e para os maçons, lutar pela tole- de uma sociedade secreta no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 7-12, Jan/Abr, 2014.
12
ISSN 2318-3462
Recebido: 24/02/2014
Aprovado: 16/04/2014
A ORIGEM DA MAÇONARIA
Autor: Diamantino Lois Blanco ¹
Resumo
Na elaboração do presente estudo pretendemos, nos limites da história, demonstrar a influência da Maçonaria operativa em seus aspectos de natureza filosófica, moral e cultural em diversas sociedades. Colocando
esta ordem em seu verdadeiro papel quanto à participação em fatos históricos, estabelecendo uma conexão
mais precisa, consultamos obras de vários autores que se debruçaram sobre o tema de forma mais concreta.
Desde a formação das corporações de ofício com o envolvimento dos obreiros na construção de monumentos civis e religiosos, em todo o processo de transformação da pedra bruta em arte numa conotação espiritual, mas também no aprimoramento das vivências, quer no plano individual, quer no âmbito comunitário, a
Maçonaria deixou marcas significativas de sua presença. Com a diminuição das grandes construções decorrentes das várias catástrofes que assolaram a Europa, citando como exemplo a peste negra e as guerras religiosas, afetando a economia, com implicações diretas sobre esses trabalhadores que, para sobreviverem tiveram que procurar outras atividades, num prenúncio de novos tempos.
Palavras-chave: Guildas; Construções sagradas; Estatutos Maçônicos.
Abstract
In preparing this study we intend to demonstrate the influence of Freemasonry in its operational aspects of
nature philosophical , moral and cultural in different societies. Placing this Order in its true role as the role in
historical events, establishing a more precise connection, we consult the works of various authors who have
studied the issue more concretely. Since the formation of guilds with the involvement of workers in the
construction of civil and religious monuments in the whole process of transformation of raw stone into art a
spiritual connotation, but also in improving the experiences, both individually or within Community, Freemasonry has left significant marks of its presence. With the decline of the great constructions arising from various catastrophes that struck Europe, citing as an example the black plague and religious wars, affecting the
economy, with direct implications for these workers in order to survive they had to look for other activities, a
harbinger of new times.
Keywords: Guilds; Sacred buildings; Masonic statutes.
¹ Diamantino Blanco é cervejeiro aposentado e está no último período da graduação em História. Membro da Loja Maçônica
“Acácia da Tijuca” No.25 — GOIRJ, é Maçom do Real Arco e Maçom Real e Escolhido . E-mail: [email protected]
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 13-18, Jan/Abr, 2014.
13
BLANCO, D. L. A ORIGEM DA MAÇONARIA
A Maçonaria Operativa
Muitas são as teorias referentes à origem da
Maçonaria, descritas em inúmeras narrativas que
apontam a participação de membros dessa sociedade
em acontecimentos que contribuíram com a cultura e
o estabelecimento da fé cristã em diversas épocas e Origens
partes do mundo.
Frequentemente descrita como uma das
mais fechadas ordens secretas que a faz ser coberta
por uma aura misteriosa, envolvendo lendas fantásticas, relatos bíblicos e tradições que remontam a antigas civilizações, despertam na fértil imaginação de
alguns escritores exageros e absurdos que fomentam
a indústria do mistério que, por falta de consistência,
acabam lançando dúvidas aos fatos históricos.
Entretanto, outros tantos vêem nessas antigas lendas ligadas a tradição simplesmente como
uma forma alegórica de ensino, na exaltação aos preceitos morais e às virtudes contidas nas antigas fábulas medievais.
Deixando de lado as procedências que não
são efetivamente comprovadas ou fantasiosas, analisando todo o material histórico concernente que nos
distancia das suposições, procuramos fundamentar
essa pesquisa em documentos coerentes, considerados de real importância para o estudo que ora pretendemos seguir.
na e principalmente, mais histórica.
(ASLAN, Nicola. Evolução Histórica e
Missão da Maçonaria. Engenho e
Arte Almanaque Maçônico 2010, Rio
de Janeiro, p. 70-71, 2010.)
Deste modo, recorrendo às publicações documentais, a origem da Maçonaria se torna aceitável
pelos historiadores como ordem estabelecida em
seus primórdios na Europa durante o período da Idade Média, possibilitando o rastreamento das práticas
dessas corporações a partir do século XIII.
Estatutos com normas de conduta ligadas
aos padrões éticos e profissionais, realçadas com preceitos cristãos, foram editados diante da aquisição
cada vez mais crescente de obreiros e na diversidade
de trabalhos executados na construção dos edifícios
religiosos, visando um funcionamento de caráter efetivo e produtivo nas várias etapas.
Na concepção da época, esse tipo de trabalho era considerado sagrado, estavam transformando
a matéria bruta para a glória de Deus e o ato da modelagem da pedra, refletia a sua própria mudança
interior.
À medida que a construção se desenvolvia, o
terreno outrora vazio, deixava de ser uma terra profana, convertendo-se em um lugar sagrado em que
Nicola Aslan, eminente escritor maçônico todos podiam se reunir sem distinções.
nos diz:
Em que pese à inconformidade de
alguns poucos escritores e de muitos oradores em situar a Maçonaria
dentro da realidade histórica, por
desconhecerem por completo os
gigantescos progressos realizados
nos estudos, nas pesquisas e nas
descobertas no terreno documental,
nem por isso deixa de existir atualmente uma crítica histórica que permite vislumbrar a verdade. Eliminados os ouropéis e as fantasias que
ocultavam a realidade, surge uma
Instituição Maçônica mais singela e
mais despretensiosa, porém mais
verdadeira, mais lógica, mais huma-
O sentimento religioso aliado as regras da
Geometria considerada uma arte sagrada, se expressará através de uma representação de Deus como o
Grande Arquiteto do Universo. A imagem divina representada com um compasso nas mãos, símbolo dos
construtores, aparecendo em muitos templos medievais, consolidada através dos séculos, passará a ser
um símbolo da Maçonaria (MUSQUERA, 2010, p.77).
A Carta De Bolonha
O “Statutaet Ordinamenta Societatis Magistrorum Tapia et Lignamiis” também conhecida com a
“Carta de Bolonha”, segundo especialistas voltados
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 13-18, Jan/Abr, 2014.
14
BLANCO, D. L. A ORIGEM DA MAÇONARIA
para a História da Maçonaria, trata-se do mais antigo
documento que descreve os estatutos e as atividades
das antigas corporações de ofício registradas durante
o período medieval.
mais antigos, sua origem remonta à década de 1390.
Segundo o historiador maçônico Willem Begemann é
desconhecida a autoria, mas sua procedência é de
Worcester, cidade inglesa fundada em 407 DC.
Redigido originalmente em latim por um escrivão público, datada do dia 08 de agosto de 1248 e
sob as ordens de Bonifacii Di Cario, prefeito de Bolonha à época, o manuscrito encontra-se atualmente
conservado e sob a guarda do Arquivo do Estado de
Bolonha, Itália.
Com o título original em latim “Hic Incipiunt
Constitutiones Artis Geometriae Secundum Euclidem”, que significa “Aqui estão os princípios das
Constituições da Arte da Geometria de Euclides”, foi
posteriormente traduzido para o inglês e publicado
em formato de brochura no ano de 1840 com o título
Os estatutos correspondentes a “Carta de de “On The Introduction Of Free In To England”.
Bolonha” estão integrados por documentos datados
Composto por estrofes e versos, descreve os
de 1254 e 1256 e publicados nos anos 1262, 1335 e deveres morais dos obreiros, a utilização da Geome1336, que vêm sendo reproduzidos integralmente tria nas práticas do ofício da arte de construir e tem
com fotografias do original, constando da obra intitu- como objetivo principal transmitir as normas, regulalada “In Bologna Arte E Società Dalle Origini Al Secolo mentos ou estatutos dos ofícios e da corporação.
XVIII” pelo “Collegio Dei Construttori Edili Di BologO documento original está protegido na Bina”, conferida a autenticidade desses registros e a blioteca Britânica e faz parte da Coleção Real de Maimportância que merecem, foi publicado em 1981 e nuscritos.
encontra-se atualmente fora de catálogo.
Padre Ferrer Benimeli, conhecido historiador
espanhol especializado em Maçonaria, em seu co- Manuscrito Cooke
mentário sobre a “Carta de Bolonha afirma que:
O Manuscrito Cooke foi apresentado em
1721 por George Payne e encontra-se arquivado atualmente no Museu Britânico, trata de uma das mais
Tanto pelo aspecto jurídico, quanto
pelo simbólico e representativo, o antigas obrigações dos maçons operativos datando
Estatuto de Bolonha de 1248 com do ano de 1400.
seus documentos anexos nos coloca
em contato com uma experiência
construtiva que não foi conhecida e
que interessa à moderna historiografia internacional, sobretudo da
Maçonaria, porque se situa, pela sua
cronologia e importância, até agora
não conhecida, à altura do manuscrito britânico “Poema Regius”, do
qual é muito anterior e que até hoje
tem sido considerada a obra mais
antiga e importante.
Os documentos relacionados e remontando
a muitos séculos nos indica como fonte, o surgimento
na Europa das guildas ou corporações de ofício, em
que trabalhadores denominados franco maçons se
reuniam em agremiações também denominadas lojas, motivados por interesses e pelo próprio ofício
que exerciam.
Segundo a Enciclopédia Maçônica a palavra
loja:
Poema Régius
Conhecido também como o “Manuscrito
Halliwell”, foi descoberto em 1839 que, segundo especialistas, apesar de ser copiado de documentos
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 13-18, Jan/Abr, 2014.
15
Este nome é derivado das antigas
corporações de construtores daIdade Média que erguiam as soberbas
catedrais e que ainda causam admiração no mundo. Os membros dessas corporações se reuniam em uma
BLANCO, D. L. A ORIGEM DA MAÇONARIA
pequena casa chamada
(CAPARELLI, 2008 p.161)
loja.
O termo medieval franco maçom significa
“pedreiro livre” ou ainda “aquele que trabalhava com
a pedra franca”, um tipo de arenito que se podia desbastar com seus instrumentos simples, moldando os
blocos, sem deixar falhas, caracterizando uma extrema precisão, acabamento e uma estética incomum
nas obras que lhes eram confiadas.
Dentre as várias corporações de artes e ofícios da Idade Média, numa época em que predominava o Regime Feudal, em todo Continente Europeu
destacaram-se os francos maçons.
Visando um determinado padrão profissional o ingresso na guilda obedecia a determinados critérios e como quesito principal a escolha recaía sobre
aqueles que eram livres, de bons costumes e livres
dos vícios, além dos conhecimentos que deveria possuir ou que estaria submetido durante o aprendizado
nesses ofícios. O exercício do companheirismo, regras de conduta, disciplina e respeito à hierarquia
deveriam ser observadas por todos os envolvidos nos
trabalhos de arte da cantaria, cabendo ao mestre
construtor o cumprimento dessas normas. A fiel observância desses preceitos influenciará com um forte
significado na estrutura sócio-administrativa que, no
decorrer do tempo contribuirá de uma forma expressiva para que os componentes dessas guildas fossem
os mais afamados e requisitados durante a Idade Média.
Considerados hábeis construtores e por trabalharem para uma classe privilegiada; eram beneficiados com a isenção de taxas e servidão, gozando de
Por toda parte do Velho Continente multipliimunidades, podiam se deslocar para diversos pontos
cavam-se as obras primas arquitetônicas, sob a direque eram requisitados, exercendo suas atividades
ção dessas corporações medievais.
com liberdade.
Dentre tantas corporações de ofício existentes,
Estas prerrogativas fortalecerão essas corpoesta possuía ramificações por toda a Europa. O entrerações, possibilitando o desenvolvimento da arte de
laçamento de diversas culturas visava o aperfeiçoaconstruir, colocando os ensinamentos da Geometria
mento profissional e na perfeição nas obras executaem prática, princípios que nortearão as suas obras e
das mediante a troca de informações entre eles dos
cujo conhecimento era restrito aos mestres construsegredos da arte de construir.
tores.
Como um meio de salvaguardarem seus coWilliam Preston, em suas preleções ao final
nhecimentos, afastavamos intrusos, guardando entre
do século XVIII, reflete esta ideia de que a Maçonaria
si, sinais, toques e palavras de passe que permitia de
e a Geometria são a mesma coisa. Em seus questioimediato o reconhecimento entre irmãos em todos
namentos, após estabelecer que o candidato foi
os lugares em que estivessem exercendo os seus ofíaprovado graças a Geometria, prossegue dizendo o
cios, apesar das diferenças lingüísticas.
porquê:
Originalmente, a Maçonaria e a Geometria devem ter sido palavras
sinônimas ao serem incluídas nas
ciências em geral. Porém, com o
progresso da civilização e com o
avanço do conhecimento, a Geometria ficou limitada a certa parte da
ciência, embora ainda considerada
igualmente essencial a todas elas, e
um símbolo do conhecimento.
(DYER, 2006 p.13)
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 13-18, Jan/Abr, 2014.
16
“Em ofícios, tais como o de construtor em pedra, em que umdeterminado padrão profissional era necessário,alguns outros meios de identificação foram colocados em prática.
Isso precisava ter caráter secreto,
uma vez que ele representava uma
chave de imediato acesso a um privilégio. (DYER, 2006, p.26)
BLANCO, D. L. A ORIGEM DA MAÇONARIA
Arquitetura Religiosa
des, permitindo a passagem da luz, amenizando a
As marcas de um registro no tempo em que escuridão reinante no interior dos templos, tornando
a arquitetura religiosa atingiu o seu esplendor, com a esses locais de adoração menos sombrios
construção de grandes basílicas e monastérios, mo.As passagens e a representação de personanumentos civis, das construções de pontes, mudan- gens compostas nesses vitrais por inúmeros pedaços
ças trazendo “a modernidade das cidades” com habi- de cristal, personificando o simbolismo cristão, possitações de pedra e suas fachadas ornadas com intrín- bilitavam a leitura direta dos acontecimentos bíblicos
secos símbolos esculpidos com delicado primor iden- tornando-se acessíveis tanto aos doutos, quanto aos
tificando os seus moradores.
iletrados daquele período, levando ao observador um
Contando com a simpatia e proteção da no- estado contemplativo de uma verdade transcendenbreza, era considerada a arte real e pela igreja cristã te.
a arte sagrada pelo empenho desses obreiros na
Formas enfáticas e expressivas de um estilo
construção de magníficos templos para os cultos para de vida rígido, disciplinar, imposto mediante a liberadoração a Deus.
tação de tudo que é terreno, com a promessa da bem
Gravados na rigidez da pedra guardam em - aventurança, amenizando as aspirações e possíveis
todo conjunto arquitetônico conhecimentos profun- revoltas das populações carentes.
dos da conjunção da natureza, do homem e de Deus
Sob um controle doutrinário a iconografia
como princípio gerador de tudo que existe.
terá um papel fundamental, marcadas por utopias
Transmitindo a vívida impressão que, foram contidas nos credos religiosos em suas alegorias, símconstruídos por uma profunda inspiração de um ide- bolos e rituais, apresentando em uma linguagem meal, motivados pela liberdade de criação. A arte que se nos codificada significados de projeção de interesses
desenvolve, revelando em detalhes pelo seu traçado, e medos coletivos, atraindo-os para o mesmo objetium grau singular do pensamento e da habilidade hu- vo, modelando condutas.
mana, concentrando conceitos iconográficos secreA representação iconográfica de cenas religitos, ocultos de cerimônias ritualísticas ancestrais que osas nos dá mostra de um indicativo dos fundamenas imposições eclesiásticas não conseguiram apagar tos da fé, influenciando de uma forma significativa o
com os seus credos e dogmas.
pensamento dos fiéis, transpondo o período medieA herança dos mestres construtores esculpi- val e se perpetuando através dos séculos.
das na pedra guarda representações de interpretaNessa tendência e à expressão iconográfica,
ções de diversas leituras observadas nos diversos mo- o sagrado é sempre exposto em preeminência, há
numentos religiosos ou civis.
uma necessidade de dar forma as representações diA iconografia inserida na arquitetura medie- vinas, de materializar os dogmas religiosos dispostos
val cumpre a dupla função estética e didática: Ima- nesses vitrais.
gens portadoras de mensagens divinas representanO cotidiano da cristandade medieval é, em
do a beleza dos mundos celestiais e supra terrenos, todos os aspectos permeados por imagens religiosas,
mas também de natureza moral exaltando as virtu- estabelecendo um vínculo constante relacionado à fé
des.
e os dogmas estabelecidos.
As emoções e os sentimentos religiosos
transformam-se
em exposições coloridas e profusas,
Os Vitrais
reverenciando o inexprimível sob a forma de símboComplementando a imponência dessas cons- los visíveis nessas imagens religiosas, facilitando a
truções, vitrais foram introduzidos nos vãos das pare- compreensão dos mistérios diante dos olhos dos fiFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 13-18, Jan/Abr, 2014.
17
BLANCO, D. L. A ORIGEM DA MAÇONARIA
éis.
conhecimento que possuíam na arte de construir,
No espírito medieval os sentimentos mais farão que sejam os mais afamados e os mais requisipuros foram absorvidos e repassados pelo Cristianis- tados, cabendo a eles a magnitude e o estilo peculiar
mo através da concepção artística, formando uma dos monumentos religiosos edificados. Desta forma,
os templos construídos, darão suporte a uma dimenvisão devota de uma espantosa propagação da fé.
são tanto secular, como espiritual do poder da igreja.
Dentro de um contexto místico-espiritual
Os espaços sagrados agiram como um núlegado pelos antigos irmãos operativos, as catedrais
de Chartres e de Notre-Dame de Paris construídas na cleo socializante em que os diversos segmentos da
Idade Média, representam a grandiosidade da Perfei- sociedade, podiam se reunir sem constrangimentos e
ção Divina e que causam profunda comoção a tantos sendo ainda considerados como principais incentivadores do desenvolvimento das cidades, motivados
fiéis nos dias atuais.
pelo florescente comercio que se instalava nos arreNinguém melhor do que René Guenon para dores.
definir de maneira sucinta e precisa o significado do
O declínio dessas corporações de ofício estasímbolo: “*...+ expressão sensível de uma ideia”; quer
dizer, por meio dele, a ideia contida se faz compreen- rá ligado às grandes catástrofes e as crises econômicas que assolaram a Europa no período medieval.
sível. (MUSQUERA, 2010, p.31).
Com o advento da Modernidade uma nova era terá
Por sua vez, o grande pesquisador romeno início, modificações foram introduzidas na antiga orMirceaEliade, em seu Tratado de História das Religi- dem baseadas no progresso e pelo uso da razão, poões indica o seguinte: “Se o Todo pode ser apreciado rém sem afetar os seus princípios basilares.
em um fragmento, é porque cada fragmento repete o
Mantida a antiga tradição herdada dos irmãos operaTodo”. (MUSQUERA, 2010, p.31).
tivos, através dos estatutos e observâncias, a lembrança da Antiga Ordem estará sempre presente nas
instruções e nas cerimônias magnas nas Lojas.
Conclusões
O estilo arquitetônico presente nas diversas
e magníficas catedrais construídas durante a Idade
Média, em diversas regiões da Europa, nos dá mostras sensíveis de um refinamento e de um inigualável
conhecimento da Geometria que as antigas corporações de ofício empregavam nessas construções.
Os estilos góticos e românicos desenvolvidos
na arte da cantaria pelos francos maçons operativos
provocaram uma ruptura com a antiga tradição Greco-Romana que pelas linhas arquitetônicas era considerada como a mais bela expressão da arte no mundo antigo.
Os obreiros dessas corporações portadores
de um sistema rígido e disciplinar em suas condutas,
condizentes com os seus estatutos eram fiéis seguidores da tradição judaico-cristã, elegiam como patrono de suas guildas, os santos de suas devoções.
Referências Bibliográficas
ASLAN, Nicola. Evolução Histórica e Missão da Maçonaria.
Engenho e Arte Almanaque Maçônico, Rio de Janeiro,
2010, p. 70-71.
CAPARELLI, David. Enciclopédia Maçônica. São Paulo: Madras, 2008. p. 161
COSTA, Wagner Veneziani. Maçonaria: Escola de Mistérios: a antiga tradição e seus símbolos. São Paulo: Madras,
2006.
DYER, Colin F. W. O Simbolismo na Maçonaria. São Paulo:
Madras, 2006.
MUSQUERA, Xavier. As Chaves e a Simbologia na Maçonaria-Ocultismo Medieval. São Paulo: Madras, 2010.
Essas prerrogativas associadas ao elevado
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 13-18, Jan/Abr, 2014.
18
ISSN 2318-3462
Recebido: 21/02/2014
Aprovado: 29/03/2014
MAÇONARIA E POLÍTICA:
Um Ensaio de Interpretação Libertária
Autor: Rodolfo A. Germano¹
Resumo
Inspirado pelos atuais posicionamentos políticos que os diversos representantes maçônicos têm tomado diante da sociedade, os quais demonstram relevante falta de unidade e de princípios mais robustos que demonstrem preparo para lidar filosoficamente com o cerne das questões e dos problemas da sociedade, este
artigo introduz aos leitores o conceito libertário como instrumento de análise desses posicionamentos e de
possível evolução dos maçons enquanto agentes políticos.
Palavras-chave: Maçonaria; Política; Libertarianismo.
Abstract
Inspired by the current political positions that the various Masonic representatives have taken in society,
which demonstrate significant lack of unity and robust principles that demonstrate preparation to deal philosophically with the core of the issues and problems of society, this article introduces readers to the libertarian concept as a tool for analysis of these placements and possible evolution of the Masons as political
agents.
Keywords: Freemasonry; policy; libertarianism.
¹ Rodolfo A. Germano é empresário contabilista, Mestre Maçom da Loja Maçônica “Deus, Justiça e Amor” n°2086 do Oriente de
Sumaré/SP (GOB/GOSP) e Maçom do Real Arco pelo Capítulo Grande Campinas, jurisdicionado ao SGCMRAB.
E-mail: [email protected]
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 19-27, Jan/Abr, 2014.
19
GERMANO, R. A. MAÇONARIA E POLÍTICA: UM ENSAIO DE INTERPRETAÇÃO LIBERTÁRIA
Introdução
O objetivo do presente artigo passa longe de
estabelecer qualquer tratado sobre o tema. Pelo contrário, é suscetível a reavaliações e passível de erro.
Todos os cidadãos não inimputáveis são conhecedores, sendo maçons ou não, de vários feitos
históricos relacionados a famosos maçons engajados
politicamente em ideais de liberdade e democracia,
que protagonizaram, ou foram importantes coadjuvantes em diversas independências coloniais, na instituição de repúblicas democráticas, bem como no
fim de alguns sistemas escravocratas. Sobre esse tema, José Castellani (2007) indica alguns desses famosos maçons:
neste ensaio, apresentando como proposta o libertarismo ou libertarianismo, como alguns preferem, como ideal que coaduna com os princípios maçônicos
de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, tendo florescido na França e nos EUA, onde a Maçonaria exerceu
papel protagonista nas revoluções em defesa de tais
princípios.
Cenário Atual
Lá se vão quase três séculos quando o clérigo
James Anderson escreveu suas constituições, afastando os debates políticos e religiosos das Lojas Maçônicas. No entanto, à despeito do evidente e feliz desrespeito à essa norma por parte dos maçons ilustres
supra mencionados, os maçons brasileiros atuais a
seguem quase que religiosamente, ao mesmo tempo
(...) nenhum pesquisador imparcial e
em que se vangloriam da filiação maçônica de tais
desapaixonado poderá negar que,
entre os principais líderes da liberta- revolucionários.
ção das colônias americanas, sobressaíram-se os maçons: George
Washington e Benjamin Franklin,
nos Estados Unidos da América; San
Martin, na Argentina; Simon Bolívar,
na Venezuela; Benito Juarez, no
México; José Marti, em Cuba;
O’Higghins, no Chile; Sucre, na Colômbia (...). Isso sem contar a figura
maiúscula do venezuelano Francisco
Miranda que lutou, direta ou indiretamente, pela libertação da maior
parte das colônias espanholas (A
Ação Secreta da Maçonaria na Política Mundial, CASTELLANI, p. 37).
Ainda nesse sentido, apesar de termos no Rito
Escocês Antigo e Aceito, o rito com o maior número
de adeptos no Brasil, verdadeiras convocações à luta
política contra déspotas e tiranos, prevalece a completa inanição por parte da Maçonaria brasileira.
Mas seria essa omissão deliberada? Talvez
não. Vê-se muita vontade, bastante disposição, mas
pouco preparo. Veem-se maçons “atirando para todos os lados”, o que só evidencia um ponto: o maçom brasileiro não entende de política. Ao que tudo
indica, o maçom brasileiro nutre poucos ou incompletos conceitos relativos aos contextos necessários
ao debate político e acaba por pecar, muitas vezes
miseravelmente, naquilo em que deveria, em nome
Vê-se que se trata de um passado glorioso, do passado político glorioso da instituição, ser exemainda que contestável em seus detalhes.
plo e destaque para a sociedade.
Mas e o maçom atual? Mais especificamente,
Vejam, por exemplo, o “Posicionamento da
e o maçom brasileiro atual? É possível constatarmos Maçonaria perante o Povo Brasileiro” declarado pela
o exercício político de algum maçom que nos salte Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil aos olhos? Existe literatura maçônica vasta e estabe- CMSB, no qual, diante das manifestações populares
lecida sobre o tema? Ou, como estamos acostuma- ocorridas em 2013 e após profunda deliberação de
dos a concordar, a Maçonaria brasileira realmente se seus membros, fez uma lista de “exigências”, até cerdistanciou da política, a ponto de se demonstrar inca- to ponto compatíveis com bons e autênticos anseios
paz de fugir do senso comum “direita x esquerda” em populares e até com os princípios de liberdade e
seus posicionamentos? É sobre isto que trataremos
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 19-27, Jan/Abr, 2014.
20
GERMANO, R. A. MAÇONARIA E POLÍTICA: UM ENSAIO DE INTERPRETAÇÃO LIBERTÁRIA
igualdade, como o voto distrital, a descentralização
do poder executivo, o fim de foros privilegiados, entre outras. No entanto, o documento insistiu na cobrança de mais financiamentos para serviços públicos, como a saúde, educação e segurança, legitimando o conceito profundamente disseminado em nossa
cultura de que bens e serviços podem configurar
“direitos naturais” dos cidadãos e que, portanto, o
Estado seria o fornecedor ideal desses serviços. Isso
demonstra como o brasileiro acaba por adotar o sistema paternalista no qual viveu nos últimos séculos
como uma verdade absoluta, tendo dificuldades de
visualizar um sistema diferente, em que os cidadãos
assumem maior responsabilidade perante a sociedade. Em defesa de tal responsabilidade individual, o
político norte-americano Ron Paul manifestou-se da
seguinte forma:
O suposto direito à assistência médica só pode ser assegurado a alguém à custa de outras pessoas.
Essa transferência só é possível através do uso da força. E ela cria burocracias opressivas, encoraja o uso
exagerado de recursos e leva à estagnação tecnológica e, inevitavelmente, ao racionamento e restrições. (RON ERNEST PAUL. Definindo
a Liberdade. Tradução de Tatiana
Villas Boas Gabbi e Caio Márcio Rodrigues. São Paulo: Instituto Von
Mises Brasil, 2013, p. 41)
Já a “Carta ao Senador Aécio Neves”, assinada
pelo Eminente Grão Mestre Estadual do Grande Oriente de São Paulo Mário Sérgio Nunes da Costa, motivada por uma palestra proferida pelo pré-candidato
à Presidência da República em evento maçônico de
grande porte, organizado pelo GEAP (Grupo Estadual
de Ação Política da Maçonaria Paulista), onde se destacam, também, os acertados apoios ao fim do voto
obrigatório, ao fim da reeleição, mas, por sua vez,
“escorregando” com o apoio ao voto distrital misto,
que manteria, ainda que em menor proporção, o pro2
blema atual de se votar num candidato e se eleger
outro (lembrando que a CMSB optou por defender o
voto distrital na íntegra), à fidelidade partidária e todo o engessamento de candidaturas, que não são
compatíveis com nenhum princípio de liberdade e ao
financiamento público de campanhas, que soa bem
intencionado, mas que, assim como em todos os outros aspectos, configuraria apenas mais impostos para os cidadãos. Isso tudo num contexto de:
O Povo não quer reformas que solapem seu direito à livre escolha e
concentrem todo Poder nas mãos
de um punhado de “chefes” partidários; ou que cerceiem a liberdade de
representação das minorias, cassem
o direito à livre expressão, ampliem
privilégios dos mais fortes ou que
asfixiem economicamente os pequenos”2
Mais incoerente, impossível. O direito à livre
escolha ainda é solapado pelo voto distrital misto, a
concentração do poder nas mãos de um punhado de
chefes partidários se manteria intacta e a liberdade
de representação das minorias continuaria cerceada
pela falta de liberdade de se criar partidos políticos.
O maçom talvez seja o elemento da sociedade
que mais fala sobre liberdade, mas o que se pode observar é que ele pode ser um dos que menos a compreende.
Sobre o direito à saúde
Todos têm o direito de procurar agir de maneira a conservar sua saúde, tanto mental quanto
física, desde que não atente contra a saúde e bem
estar de terceiros, assim como os terceiros não podem cercear essa sua prerrogativa. Isto é liberdade.
Não significa, de modo algum, que, apenas pelo fato
de termos nascido e sido inseridos no mundo, que o
mundo tenha qualquer obrigação de proporcionar
todo um aparato, toda uma estrutura para nos man-
GEAP – Grupo Estadual de Ação Política (Em carta ao Senador Aécio Neves, Abril/2014)
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 19-27, Jan/Abr, 2014.
21
GERMANO, R. A. MAÇONARIA E POLÍTICA: UM ENSAIO DE INTERPRETAÇÃO LIBERTÁRIA
contra a vontade delas. Se houvesse tal direito, então, por definição,
você, eu e todas as pessoas que não
são miseráveis teríamos de estar
dedicando toda a nossa vida à inesgotável tarefa de manter vivas um
incontável número de pessoas miseráveis ao redor do mundo. Porém,
ao contrário, o direito à vida significa o direito de que ninguém tire a
sua vida; significa também que o
indivíduo tem o direito de empreender todo e qualquer tipo de ação,
desde que pacífica e não coerciva,
para sustentar e melhorar a sua
vida. Essa compreensão do que
realmente é o direito à vida é incompatível com a noção de pessoas
terem o direito de serem mantidas
vivas à custa de outras. 3
ter vivos.
Para algumas pessoas, ter o direito a
vida inclui ter o direito a receber ao
menos as necessidades mínimas suficientes para se continuar vivo. Mas
suponham que o que na verdade é o
mínimo suficiente que um homem
necessite para continuar vivo seja
algo que ele não tenha nenhum direito de receber? Se eu tenho uma doença terminal e a única coisa que irá
salvar minha vida é o toque da mão
gélida de Henry Fonda em minha testa febril, então ainda assim, eu não
tenho o direito de receber o toque da
mão gélida de Henry Fonda em minha
testa febril. Seria extremamente gentil da parte dele voar da costa oeste
para me prover isto, mas eu não tenho absolutamente nenhum direito
ante qualquer um que ele deveria
fazer isso por mim. Em resumo, é
inadmissível interpretar o termo
"direito a vida", para conceder a alguém um direito de compelir a ação
de outra pessoa para prolongar aquela vida. Em nossa terminologia, tal
direito seria uma violação inadmissível do direito de auto-propriedade de
outra pessoa. Rothbard, Murray N. ( A
Ética da Liberdade / Murray N. Rothbard. – São Paulo:Instituto Ludwig von
Mises Brasil, 2010. Página 161)
Um indivíduo se alimenta mal, é sedentário e
negligente com sua própria saúde e quando o corpo
clama por cuidados, os outros é que são os responsáveis? Onde está a racionalidade desse conceito?
Não se defende aqui que, por exemplo, uma
criança que veio ao mundo não mereça qualquer cuidado. É evidente que seus pais possuem uma obrigação ética de cuidar dessa criança e é óbvio que qualquer um é livre para cuidar dessa criança, se quiser.
Mas, ainda assim, isso não configura um direito, em
si, da criança. Defender o aumento da porcentagem
do orçamento público destinada aos serviços de saúPartindo desse pressuposto, nenhum sujeito de é defender apenas o que, historicamente, o servique adquiriu conhecimentos e habilidades médicas é ço público se tornou: corrupto, ineficiente e negligenobrigado a nos socorrer. Ele o faz por qualquer outro te.
motivo, por convenção ética da categoria, porque o
oferecemos uma contrapartida financeira, uma motiSobre o direito à educação
vação especial, mas não porque exista tal direito de
O mesmo ocorre com a educação. Os pais são
nossa parte.
moralmente compelidos a educarem seus filhos, mas
não há lógica que justifique o “direito à educação”
Um indivíduo ter direito à vida não
defendido pela CMSB e GEAP. Novamente, somos
significa que ele tem o direito de ser
mantido vivo por outras pessoas, livres para buscarmos conhecimento, desde que não
3
George Reisman (Ph.D e autor de Capitalism: A Treatise on Economics. Texto publicado em seu blog: georgereismansblog.blogspot.com)
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 19-27, Jan/Abr, 2014.
22
GERMANO, R. A. MAÇONARIA E POLÍTICA: UM ENSAIO DE INTERPRETAÇÃO LIBERTÁRIA
iniciemos qualquer tipo de ação ilegítima contra os
demais cidadãos e sem que ninguém nos importune.
Mas os outros são obrigados a nos passar seus conhecimentos? Nós temos o direito de receber conhecimento compulsoriamente? Isso não deveria ser de
livre e espontânea vontade dos portadores do conhecimento? Ou se lhes oferecemos uma contrapartida
atrativa que seja suficiente para lhes convencer a nos
transmitir seus ensinamentos? A partir de que momento esse direito se constituiu?
O prazer inconcebível de contribuir
para o auxílio de nossos semelhantes, é verdadeiramente vivido por
pessoas de uma disposição humana,
que são naturalmente animados,
pela simpatia, para estender a sua
ajuda no alívio dos infortúnios dos
outros. Isso incentiva o maçom generoso a distribuir sua generosidade
com alegria. (…) embora aliviar o
aflito é um dever de todos os homens, é mais particularmente ainda
dos maçons, que estão ligados entre
si por uma cadeia indissolúvel de
afeto sincero (Illustrations of Masonry, PRESTON, 1867, p. 28)
Defender políticas públicas de educação, como fazem CMSB e GEAP é demonstrar completa
inaptidão para responder à esses questionamentos.
Como pais, não pensamos em coagir
nosso vizinho para que ele contribua
para a educação de nossos filhos. Porém, como membros de um
organismo político, recorremos à
tributação com o intuito de coagi-lo
a financiar a educação de nossos
filhos, de modo que eles tenham
educação pública, gratuita e de qualidade. De quebra, isso faz com que
nos sintamos liberados das nossas
obrigações morais e pessoais para
com nossos próprios filhos. Alguém
que quisesse propositalmente criar
uma sociedade de pais indolentes e
negligentes dificilmente teria uma
ideia melhor. (Hans F. Sennholz.
Two Yardsticks of Morality. The Freeman, 1996.)
Mas o princípio dessa ajuda é que seja voluntária. É louvável, e eu apoio totalmente, qualquer trabalho beneficente, de cunho social e cultural, desde
que, desempenhado com recursos próprios. Porém,
infelizmente, o terceiro setor está dependente até o
último fio de cabelo de emendas parlamentares. O
maçom consegue estabelecer algum critério sobre
quem ou o quê banca esse sistema? Aparentemente,
não.
Isso demonstra como os maçons, vários deles
entusiastas desse tipo de ação social, ignoram como
todo o sistema funciona. Observa-se isso, claramente, também, nas críticas à sonegação. Um bandido,
estelionatário, ladrão, e um sonegador, estão nivelados ao mesmo patamar de gravidade no conceito
moral da maioria das pessoas, também dos maçons.
Serviços de saúde e educação não são direi- Qual a lógica? Sonegar nada mais é do que não se
tos, são bens.
submeter ao roubo institucionalizado. Uma lei, quanA grande questão é: o maçom brasileiro tem do injusta, não temos apenas o direito, como o dever
essa noção de que todo esse sistema é sustentado de desobedecê-la, essa é a interpretação vulgar para:
pelo espólio de recursos alheios? Pelo espólio de seus
próprios recursos? Impostos, como o próprio nome já
Consideramos estas verdades como
diz, à despeito da opinião do contribuinte? Legitimasendo auto-evidentes: que todos os
homens são criados iguais, dotados
dos por um “contrato social” que ninguém assinou,
pelo Criador de certos direitos inalionde o único jeito de nega-lo é saindo do país?
O maçom brasileiro certamente concorda
com a ajuda ao próximo, essa prática está em suas
bases:.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 19-27, Jan/Abr, 2014.
23
enáveis, que entre estes estão a
vida, a liberdade e a busca da felicidade. Que, com o fim de assegurar
esses direitos, governos são instituí-
GERMANO, R. A. MAÇONARIA E POLÍTICA: UM ENSAIO DE INTERPRETAÇÃO LIBERTÁRIA
dos entre os homens, derivando
seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre
que qualquer forma de governo se
torne destrutiva de tais fins, é direito do povo alterá-la ou aboli-la e
instituir novo governo, baseando-o
em tais princípios e organizando-lhe
os poderes da forma que lhe pareça
mais conveniente para garantir-lhe
a segurança e a felicidade. (Thomas
Jefferson na Declaração da Independência dos EUA)
desses princípios de liberdade? Simplesmente não
existem. Os maçons ainda estão na fase de serem
convencidos desses conceitos libertários, os de liberdade.
Que liberdade é essa que os maçons defendem? Os maçons que revezam nas caronas para se
dirigirem às reuniões estão cometendo infração de
trânsito. Eles sabem disso? Eles concordam com essa
lei? O maçom que não usar cinto de segurança não
está fazendo mal à uma mosca, à ninguém, além dele
mesmo, mas paga multas pesadas por essa infração.
Que liberdade é essa? O maçom que desejar se candidatar à um cargo público precisa, necessariamente,
se filiar à um partido político, (entidade sabidamente
eivada de comportamentos nocivos e incompatíveis
com qualquer noção de probidade à qual o maçom
está acostumado). Precisa se impor e convencer os
dirigentes desse partido de que ele é um nome forte
para disputar as eleições e se envolver nas mais repugnantes negociações para tornar viável sua eleição
pelo tal partido e, depois de tudo isso, estará completamente impossibilitado de defender qualquer tipo
de princípio que julgue correto. Tudo será pautado
pelo partido, que é detentor dos mandatos. Onde
está a liberdade? Onde está a democracia?
para expressarem pensamento e poderem ser proprietárias daquilo que adquirirem legitimamente, não
parece difícil, pela obviedade das questões. Mas é.
Estão culturalmente enraizados no íntimo das pessoas os conceitos de função social da propriedade privada e os seus direitos à ofensa, à um emprego, à
uma casa, a tratamento médico, educação e segurança e à tutela estatal.
E a tarefa para atingir essa unidade será árdua. Vê-se maçons defendendo com unhas e dentes
a existência plena de Estado e da tutela estatal, muitos desses funcionários públicos. Vê-se maçons defendendo a ditadura militar. Tem-se toda uma estrutura maçônica voltada a julgar e punir indisciplinas
maçônicas e corpos maçônicos legislativos deliberando sobre essas regras punitivas. Vê-se maçons falanNão se pretende fazer nenhuma apologia à do sobre ofensas e processos por calúnia e difamadesobediência civil e à contravenção, apenas se cons- ção. Vê-se até mesmo maçons que chamam corruptata a natureza das coisas. Roubar é errado, mas o tos, condenados pela justiça, de heróis nacionais.
Estado faz isso e chama de “imposto”. Isso é um fato.
Convencer de que Estado não é tão necessáSonegar é quase uma obrigação moral. Mas quantos rio, que é coercitivo, que ninguém não inimputável
maçons concordam com minha observação? Poucos. precisa de tutela, que as pessoas devem ser livres
“De que me adiantará a liberdade, se me faltar a
razão?” 4
O libertarianismo nada mais é do que a defesa
de relações humanas voluntárias, pacíficas e legítimas. Sem coerção, sem privilégios injustos e sem
agressão e/ou violência. É a presunção da liberdade
nas relações humanas. O libertarianismo afirma que a
única função adequada da violência é defender o indivíduo e sua propriedade contra a violência iniciada
por terceiros, e que qualquer uso da violência que vá
Além disso, o mais importante: onde estão os além dessa legítima defesa é por si só agressiva, inmaçons a lutar contra tudo isso? Onde está a defesa justa e criminosa.
4
Zorobabel (Ritual do Grau 15 “Cavaleiro do Oriente, da Águia e da Espada do Rito Escocês Antigo e Aceito)
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 19-27, Jan/Abr, 2014.
24
GERMANO, R. A. MAÇONARIA E POLÍTICA: UM ENSAIO DE INTERPRETAÇÃO LIBERTÁRIA
O libertarianismo defende que a existência do
Estado deve ser mínima e justificável, caso contrário,
o Estado não teria razão de existir. Mas porquê? Porque a ideia de Estado presume uso da força, uso de
poder letal. Portanto, é o exercício do poder, e não o
exercício da liberdade, que requer uma justificativa.
Libertarianismo significa respeitar a autonomia moral de cada pessoa, respeitar a soberania das
decisões que cada pessoa toma sobre sua própria vida, desde que, essas decisões não afetem diretamente a vida ou as decisões de outros (ROTHBARD, 2013).
Direitos Individuais
Um dos princípios fundamentais do libertarianismo é o conceito de “Direitos Individuais”. Direitos
Individuais não são “dados” pelo Estado, eles não são
“dados” pela Constituição (algumas Constituições
apenas os garantem). Alguns diriam que são provenientes de Deus, outros da natureza selvagem, mas o
fato é que sua natureza é indeterminável. Eles existem porque existem. Sempre existiram, quer a pessoa tenha existido, quer não. Eles fazem parte de nós
enquanto indivíduos. Também é impossível listar
quantos são. O direito de comer fastfood, de beber,
ou de se alimentar apenas com vegetais e de se drogar, desde que isso não incomode ou ofereça riscos à
terceiros. Não se trata do “direito” à receber tratamento médico gratuito. O primeiro é legítimo, diz
respeito apenas ao indivíduo, que pode fazer tudo
isso sem incomodar ninguém, nem iniciar qualquer
ação ilegítima contra alguém. O segundo depende do
financiamento de uma estrutura capaz de atender tal
demanda. Depende de recursos que podem ou não
existir. Quem financiará? Como já foi dito, os pais são
moralmente responsáveis pelos seus filhos. Mas o
são, também, pelos filhos dos outros? O são, também, pelos outros? Novamente, não se quer impedir,
desacreditar ou deslegitimar que as pessoas que desejam ajudar aos próximos, assim o possam fazer. O
ponto é outro. Trata-se apenas de estabelecer o que
é direito natural ou não.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 19-27, Jan/Abr, 2014.
25
Trabalho, comida, roupas, recreação, lares, cuidados médicos, educação, etc. não crescem na natureza.
São valores produzidos pelo homem
– bens e serviços produzidos pelo
homem. Quem irá provê-los?
Se alguns homens estão intitulados por direito aos produtos do trabalho de outros, isto significa que
estes outros estão privados de seus
direitos e condenados ao trabalho
escravo.
Qualquer “direito” alegado de um
homem que necessite da violação
dos direitos de outro não é e não
pode ser um direito.
Nenhum homem pode ter o direito
de impor uma obrigação não escolhida, um dever não recompensado
ou uma servidão involuntária em
outro homem. Não pode existir tal
coisa como “o direito de escravizar”.
Um direito não inclui a implementação material daquele direito por
outros homens; inclui apenas a liberdade de adquirir tal implementação por seu próprio esforço.
Observe, neste contexto, a precisão
intelectual dos Pais Fundadores;
eles falaram do direito da busca
pela felicidade – não ao direito à
felicidade. Isto significa que o homem tem o direito de tomar as
ações que ele julgar necessárias
para alcançar a felicidade; isto não significa que outros devem
fazê-lo feliz.
O direito à vida significa que o homem tem o direito de sustentar sua
vida por seu próprio trabalho (em
um nível econômico, tal qual seja
possível de acordo com suas habilidades); isto não significa que outros
devem provê-lo com as necessidades da vida.
O direito à propriedade significa que
um homem tem o direito de tomar
as ações econômicas necessárias
para adquirir propriedade, de usar e
dispor dela; isto não significa que
GERMANO, R. A. MAÇONARIA E POLÍTICA: UM ENSAIO DE INTERPRETAÇÃO LIBERTÁRIA
outros devem provê-lo com propriedade.
O direito à livre expressão significa
que o homem tem o direito de expressar suas ideias sem perigo de
supressão, interferência ou ação
punitiva
do
governo.
Isto não significa que outros devem
provê-lo com um salão de palestras,
uma estação de rádio ou uma máquina de impressão através da qual
ele possa expressar suas ideias.
Qualquer empreendimento que
envolva mais de um homem requer
o consentimento voluntário de cada
participante. Cada um deles tem
o direito de tomar sua própria decisão, mas nenhum deles tem o direito de forçar sua decisão aos outros.
Não existe tal coisa com um “direito
a um emprego” – há apenas o direito ao livre comércio, que significa: o
direito de um homem de aceitar um
emprego se outro homem decidir
contratá-lo. Não há o “direito a uma
moradia”, apenas o direito de livre
comércio: o direito de construir ou
comprar uma casa. Não há o
“direito a um salário ‘justo’ ou um
preço ‘justo’” se ninguém decidir
pagá-lo, contratar alguém ou comprar seu produto. Não há o “direito
dos consumidores” a leite, sapatos,
filmes ou champanhe se nenhum
produtor escolher manufaturar tais
itens (há apenas o direito de manufatura-los por si mesmo). Não há o
“direito” de grupos especiais, não
há o “direito dos fazendeiros, trabalhadores, empresários, empregadores, empregados, velhos, jovens ou
não-nascidos”. Há apenas os Direitos do Homem – direitos possuídos
por cada indivíduo e por todos os
homens como indivíduos. (Ayn
Rand. Capitalism: The Unknown
Ideal, Signet, 1983, 416p.)
O direito de estudar o catolicismo, mesmo
pertencendo à uma comunidade protestante. O direito de procurar quem ensine, de financiar por conta
própria esses estudos. Isso é inalienável. Não o
“direito” de frequentar uma instituição que, em teoria, é responsável pelo ensino. O primeiro é prerrogativa do indivíduo e à ninguém cabe cerceá-la. O segundo, novamente, depende de terceiros, depende
de obrigar outras pessoas a financiar a logística e gestão dessa tal instituição.
Como saber, então, se um direito é legítimo?
Basta analisar se, na consecução do mesmo, alguém
foi indevidamente afetado.
Se quisermos avaliar se um
determinado direito, um suposto
direito, é de fato um direito genuinamente válido — isto é, um direito
natural, um direito que todos nós
como seres humanos usufruímos
pela simples virtude de sermos humanos —, então é necessário fazermos um teste crítico e logicamente
irrefutável, qual seja: todos nós temos de ser capazes de usufruir esse
mesmo direito, ao mesmo tempo e
da mesma maneira. Apenas assim
esse direito pode ser natural. A
obviedade dessa afirmação vem do
fato de que, para um direito ser
natural, seu usufruto não pode levar
a nenhum conflito ou a nenhuma
contradição lógica. 5
O direito de comprar, e possuir, o que se
quer. O direito de vender, e de transferir a posse, do
que se quer. O direito de vender sua ideia, ou mesmo
sua mão-de-obra. O direito de se associar com outras
pessoas com intuitos legítimos e benéficos aos envolvidos (desde que, novamente, nenhum terceiro seja
prejudicado). O direito de se defender de uma agressão. O direito de falar ou expressar o que pensa. Nada disso afeta ninguém além do próprio indivíduo.
Porém, eles só serão possíveis por um único
5
Woods, Thomas E. Jr.(Transcrição do vídeo “Is There a "Right" to Health Care? Is Income Taxation Just?” que pode ser acessado
em: http://www.tomwoods.com/)
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 19-27, Jan/Abr, 2014.
26
GERMANO, R. A. MAÇONARIA E POLÍTICA: UM ENSAIO DE INTERPRETAÇÃO LIBERTÁRIA
fator: a liberdade. Chega-se, então, ao ponto que legitima a existência do Estado: proteger os Direitos
Individuais. Se eu sou uma pessoa pacífica e me deparo com um elemento da sociedade totalmente
alheio às noções de direitos individuais, e o mesmo
me agride deliberadamente, ou me toma um bem e
assim o faz com todos os que encontra, eu e essas
pessoas pouco temos a fazer. Pessoas pacíficas têm o
direito de instituir algum mecanismo que as proteja
desse tipo de situação. É aí, e somente aí, que um
Estado se faz necessário. Primeiro, para, através do
uso da força, interromper as ações do agressor, segundo, para julgar o agressor e, terceiro, para punilo. Evitando, assim, que esses crimes continuem. E,
acreditem, há libertários mais radicais que defendem
que, mesmo juízes, mesmo forças policiais podem ser
providos pelo livre mercado.
será possível, sob qualquer aspecto.
Assumi como minha a missão disseminar o
conteúdo libertário no meio maçônico e espero ter,
pelo menos, colocado uma pulguinha atrás da orelha
de cada leitor, me colocando à disposição para o debate.
Referências Bibliográficas:
CASTELLANI, José. A Ação Secreta da Maçonaria na Política Mundial. São Paulo: Ed. Landmark, 2007.
CMSB (Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil) “Posicionamento da Maçonaria perante o Povo Brasileiro”
- 09/07/2013
GEAP - Grupo Estadual de Ação Política da Maçonaria Paulista - “Carta do Eminente ao Senador Aécio Neves” Abril/2014
PAUL, R. E. Definindo a Liberdade. Tradução de Tatiana
Villas Boas Gabbi e Caio Márcio Rodrigues. São Paulo: Instituto Von Mises Brasil, 2013.
Considerações Finais
Libertarianismo se aprende logo no jardim de
infância: “Não bata nos outros”. “Não tome as coisas PRESTON, William. Illustrations of Masonry. New York:
dos outros”. “Cumpra suas promessas”. “Fale sempre Masonic Publishing and Manufacturing Co., 1867.
RAND, A. Capitalism: The Unknown Ideal, Signet, 1983.
a verdade”. “Seja educado e cortês”.
Apesar de nós, maçons, conhecermos e praticarmos esses conceitos, a já citada falta de preparo,
de leitura, de estudo filosófico, coloca o maçom a criticar um problema ao mesmo tempo em que legitima
a origem do mesmo, ignorando o fato de que essa
origem vai de encontro à tais conceitos. O libertarianismo abrange mais aspectos, principalmente o econômico, abordando outro conceito protagonista que
é o de livre mercado, que é o que proveria os bens e
serviços que vários maçons demonstram crer plenamente que seja incumbência do Estado, porém, paro
por aqui, crendo que consegui fazer uma introdução
satisfatória sobre esse preocupante cenário que nossa fraternidade apresenta. Talvez James Anderson
nem seja o principal culpado. A cultura do “política,
religião e futebol não se discute” foi apresentada e
assimilada à cada um dos maçons, enquanto indivíduos, bem antes que as Constituições de 1723. Precisamos debater, sim, e precisamos melhorar nossos
posicionamentos políticos, pois, melhorar, sempre
ROTHBARD, M. N. A Ética da Liberdade. São Paulo:Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.
ROTHBARD, M. N. O Manifesto Libertário: Por uma nova
liberdade. Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2013
SENNHOLZ, H. F. Two Yardsticks of Morality. The Freeman,
1996.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 19-27, Jan/Abr, 2014.
27
28
ISSN 2318-3462
Recebido: 13/03/2014
Aprovado: 02/04/2014
O DILEMA DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO
Autor: Kennyo Ismail ¹
Resumo
O objetivo do artigo é analisar a evolução plástica do Rito Escocês Antigo e Aceito a partir do surgimento do
primeiro Supremo Conselho, no início do século XIX, até seu auge, durante as primeiras décadas do século
seguinte. Procurou-se compreender as implicações positivas e negativas decorrentes dessas adaptações, seja a massificação da Maçonaria em solo norte-americano ou as severas críticas ao modelo adotado. Além
disso, observou-se o fato de, mesmo com o sucesso quantitativo da inovação no formato do Rito Escocês
nos EUA, tal inovação não foi adotada pelos outros Supremos Conselhos do Continente.
Palavras-chave: Rito Escocês Antigo e Aceito; Albert Pike; dramatização maçônica.
Abstract
The aim of this paper is to analyze the plastic evolution of Ancient and Accepted Scottish Rite from the appearance of the first Supreme Council in the early nineteenth century, until its peak, during the early decades
of the twentieth century. We sought to understand the positive and negative implications resulting from
these adaptations be the massification of Freemasonry in American soil or the severe criticism of the model
adopted. Moreover, there was the fact that, even with the quantitative success of innovation in the format
of the Scottish Rite in America, this innovation was not adopted by other Supreme Councils in the Continent.
Keywords: Ancient and Accepted Scottish Rite; Albert Pike; Masonic drama.
¹ Kennyo Ismail é Mestre em Administração pela EBAPE-FGV, com MBA em Gestão de Marketing pela ESAMC e bacharelado em
Administração pela UnB. É professor titular do Instituto de Ensino Superior de Goiás. Mestre Instalado, é membro da Loja Maçônica “Flor de Lótus No. 38” - GLMDF; Sumo Sacerdote do Capítulo “Fredericksburg No. 16” de Maçons do Real Arco; e Grande Mestre Adjunto do Supremo Grande Conselho de Maçons Crípticos do Brasil. É membro das sociedades de pesquisa “Philalethes Society” e “The Masonic Society”. E-mail: [email protected]
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 29-32, Jan/Abr, 2014.
29
ISMAIL, K. O DILEMA DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO
tando uma postura mais moderada. Mesmo não
aprovado, esse trabalho inicial garantiu a Pike sua
Havia poucos anos que o Rito de Heredom investidura no 33º grau, em 1858, e, no ano seguinte,
havia desembarcado nos EUA, com seus 22 Altos o mesmo foi eleito Soberano Grande Comendador,
Graus, e conquistado algumas centenas de maçons. em 1859.
Com a iniciativa dos chamados 11 cavalheiros de
A guerra civil norte-americana interrompeu a
Charleston, na Carolina do Sul, esse Rito ganhou mais
07 graus filosóficos e 01 grau honorífico. Surge então, evolução de seu trabalho de revisão, assim como a
em maio de 1801, o Supremo Conselho “Mãe do mudança do Supremo Conselho para Washington,
Mundo”, administrando um sistema de 30 Altos DC, em 1870. No ano seguinte, em 1871, Albert Pike
Graus, denominado “Rito Escocês Antigo e Aceito”. publica seu livro “Moral e Dogma”, com suas lectures,
Rapidamente essa iniciativa foi copiada em outros resultantes de seus estudos sobre cada grau do Rito
países, dando origem a outros Supremos Conselhos Escocês (COIL & BROWN, 1961). Mas apenas em 1884
a revisão foi oficialmente concluída e aprovada. A
(COIL & BROWN, 1961).
implementação foi imediata e os rituais também foPor mais de 50 anos, o hoje conhecido como ram concedidos a outros Supremos Conselhos, que
Supremo Conselho do Rito Escocês da Jurisdição Sul sofriam do mesmo problema inicial de rituais incoedos EUA batalhou para consolidar o Rito Escocês nos rentes e inconsistentes.
Estados sob sua jurisdição, sem alcançar muito sucesso. Em Março de 1853, Albert Mackey conseguiu convencer um já célebre maçom na época, Albert Pike, a O Problema e a Solução
viajar do Arkansas até Charleston para receber do 4º
Liturgicamente, os novos rituais foram um suao 32º grau. Pike, então com um pouco mais de 10 cesso, solucionando a questão da desorganização rianos de Maçonaria, um Maçom do Real Arco e um tualística. Porém, administrativamente o resultado
Cavaleiro Templário no Rito de York, já se destacava não foi o esperado. A liderança e renome de Albert
no meio maçônico por sua inteligência e cultura ge- Pike, assim como a mudança do Supremo Conselho
ral, e poderia ajudar o Supremo Conselho a consoli- para a Capital do país, havia colaborado para o crescidar o Rito Escocês em Arkansas e região (HODAPP, mento do Rito Escocês, mas ainda assim apresentan2005).
do um crescimento tímido, distante da dimensão da
Breve Introdução Histórica
A estratégia teve êxito e Pike abraçou o desafio de colaborar para com o desenvolvimento do Rito
Escocês, ainda visto por muitos maçons da época como um sistema recente e estrangeiro, em contraste
como o Rito de York, tido como antigo e norteamericano. Não demorou para que Pike fosse incumbido de organizar os rituais do Rito Escocês, em 1855,
trabalho esse que ele realizou em tempo considerado
recorde: um pouco mais de 2 anos, tendo concluído
em 1857 (HOYOS, 2009). Seu trabalho foi considerado excelente, porém polêmico demais para ser aprovado. Foi a ele solicitado que refizesse o estudo, ado-
maçonaria simbólica.
Consultas foram feitas à base e a resposta
veio, literalmente, a galope. Os rituais eram considerados muito complexos e os praticantes acabavam
demasiadamente presos na ritualística, em detrimento do conteúdo alegórico e de seus ensinamentos
morais e espirituais. A reação do Supremo Conselho
veio sob medida: a transformação dos graus em
“peças de teatro”, abrindo mão da ritualística em
prol da apresentação dramática de seus conteúdos
alegóricos. Os templos foram substituídos por teatros
e auditórios e os oficiais se transformaram em atores
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 29-32, Jan/Abr, 2014.
30
ISMAIL, K. O DILEMA DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO
amadores (DUMENIL, 1984).
É evidente que as críticas foram muitas, alegando o abandono dos costumes maçônicos, a profanação do conteúdo, a comercialização vazia dos
graus, e o fim da meritocracia pela assiduidade e dedicação. Porém, surgiu uma multidão de Mestres Maçons interessados pelo “entretenimento maçônico”.
Se em 1850, um pouco antes do ingresso de Albert
Pike, o Supremo Conselho contava apenas com um
pouco mais de 1.000 adeptos, e em 1890, após a publicação dos rituais revisados por Albert Pike, esse
número ultrapassou a marca de 10.000 adeptos, em
1930 esse número já era superior a 500.000 membros (BULLOCK, 1996). As encenações do Rito Escocês
eram um verdadeiro sucesso. Mas o preço do sucesso
era claro: enquanto a escalada dos 29 graus, do 4º ao
32º, costumava demorar alguns anos para grupos de
algumas poucas dezenas de membros, passou a ser
realizado em 3 a 4 dias para grupos de várias centenas, algumas vezes superior a 1.000 membros
(CLAWSON, 2007).
das provas dos rituais e eram investidos com toques,
sinais, palavras e com as joias dos graus, passaram a
ser simples espectadores, passivos perante o processo dramático e podados do processo iniciático. Tal
aspecto explicita a razão pela qual o Rito Escocês nos
EUA passou a ser chamado por muitos intelectuais
maçons de “entretenimento maçônico”, e seu formato teatral foi inicialmente acusado de ser uma ameaça à moral e filosofia maçônicas (O’DONNEL, 1906;
KNOW, 1907).
Por outro lado, não faltaram defensores do
modelo de encenação maçônica no Rito Escocês, argumentando que a dramatização, quando bem feita,
colabora para uma melhor compreensão e relação
emocional com as lições ensinadas (SARGENT, 1907).
Cientes disso, os Grandes Inspetores dos Vales criaram estruturas de teatros profissionais, com diretores, auxiliares de palco, técnicos de som e iluminação
e dezenas de atores, todos maçons. Eles ensaiam
exaustivamente e, em muitos dos Vales, os atores
principais recebem cuidados especiais, como se estiAlém do número de membros e, logicamente, vessem na Broadway.
das cifras, o novo modelo do Rito Escocês havia trazido uma única melhoria: as fantasias. Antes simples e Conclusão
artesanais, a revolução do Rito Escocês nos EUA fez
O modelo teatral adotado pelo Supremo Consurgir vários catálogos de peças exuberantes e cheias
de requinte e riqueza de detalhes. Tanto dinheiro selho do Rito Escocês da Jurisdição Sul dos EUA tem
precisava ser empregado de alguma forma, e os sido praticado há mais de 100 anos. Sua redução no
“Vales” trataram de investir em benefício de seus prazo de concessão dos graus acabou por influenciar
membros, construindo edifícios com salões de festa, as Grandes Lojas norte-americanas, que também pasbibliotecas, salas de jogos e teatros ainda mais suntu- saram a conceder os três graus simbólicos em períoosos (FOX, 1997). Na primeira metade do século XX, dos de poucos dias. Sem entrar na discussão de seus
os Vales do Supremo Conselho Jurisdição Sul dos EUA aspectos morais, fato é que tal formato colaborou
trataram de construir e equipar teatros que se desta- para a concentração de quase 2/3 dos maçons do
caram, e alguns ainda se destacam, entre os melho- mundo em solo norte-americano.
res daquele país.
Apesar desse desenvolvimento excepcional,
Porém, todo esse desenvolvimento não mu- outros Supremos Conselhos espalhados pelo mundo
dou o fato, até hoje alvo de críticas, de que os inicia- não optaram por adotar tal estratégia, provavelmendos, de protagonistas que participavam ativamente te pelas questões morais e filosóficas em discussão.
Para se ter uma melhor compreensão da diferença
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 29-32, Jan/Abr, 2014.
31
ISMAIL, K. O DILEMA DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO
entre essas duas realidades distintas, enquanto nos
EUA um Mestre Maçom alcança o 32º grau em menos de um mês e pagando uma taxa inferior a
US$300,00; no Brasil, por exemplo, um Mestre Maçom alcança o 32º grau após mais de quatro anos de
dedicação e um investimento superior a R$3.000,00.
ca’s Southern Jurisdiction. Fayetteville: University of
Arkansas Press, 1997, pp. 146–1477.
HODAPP, Christopher. Freemasons for Dummies.
Hoboken, New Jersey: Wiley Publishing Inc., 2005.
HOYOS, Arturo. Scottish Rite Ritual, Monitor and Guide 2d ed. Washington, D.C.: Supreme Council, 33°,
Porém, é importante realçar que aqueles que S.J., 2009.
optaram pelo modelo ritualístico tradicional continuam convivendo com o problema original: rituais com- KNOX, William. What Excuse? The New Age Magaziplexos, algumas vezes incoerentes, e que tiram o foco ne, 1907.
do conteúdo em nome da forma. Talvez a solução O’DONNELL, Francis H. E. Philosophy and the Drama
norte-americana não seja ideal como uma solução in Freemasonry. The New Age Magazine, 1906.
substituta, mas sim como uma solução complemenSARGENT, Epes W. Detail and the Drama of the Detar. As peças de teatro poderiam reforçar nos maçons
gree. The New Age Magazine, 1907, pp. 175–177.
os conteúdos alegóricos de cunho moral e espiritual
que costumam ficar em segundo plano no modelo
convencional. Seria algo logicamente mais trabalhoso, porém, também mais eficiente no que tange a
formação do maçom adepto do Rito Escocês Antigo e
Aceito.
Referências Bibliográficas
BULLOCK, Steven C. Revolutionary Brotherhood: Freemasonry and the Transformation of the American
Social Order, 1730–1840. Chapel Hill: University of
North Carolina Press, 1996, pp. 239–273.
CLAWSON, Mary Ann. Masculinity, Consumption and
the Transformation of Scottish Rite Freemasonry in
the Turn-of-the-Century United States. Gender & History, Vol.19, No.1, 2007, pp. 101–121.
COIL, Henry Wilson; BROWN, William Moseley. Coil’s
Masonic Encyclopedia. New York: Ed. Macoy, 1961.
DUMENIL, Lynn. Freemasonry and American Culture,
1880–1930. Princeton, NJ: Princeton University Press,
1984.
FOX, William L. Lodge of the Double-Headed Eagle:
Two Centuries of Scottish Rite Freemasonry in AmeriFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 29-32, Jan/Abr, 2014.
32
ISSN 2318-3462
Recebido: 07/02/2014
Aprovado: 13/03/2014
Resenha do Livro:
CASTELLANI, J. Maçonaria e Astrologia. 3a. Edição Revisada. São Paulo: Editora Landmar, 2002. 128
páginas.
Antes de mais nada, é importante registrar de retalhos.
que José Castellani foi, sem dúvida, um dos maiores ERRO 2
escritores sobre Maçonaria no Brasil. Um pesquisaNa página 55 da referida edição, Castellani
dor sério, que muito pesquisou, escreveu e colaborou afirma que:
para o conhecimento maçônico, e por isso merece
toda consideração e apreço da comunidade maçôni(…) era patente o declínio das confrarias,
ca. As críticas feitas aqui são relativas à sua obra,
no século XVI. (…) Estas, perdendo o seu
“Maçonaria e Astrologia”, 3a Edição Revisada, Editora
objetivo inicial e transformando-se em
Landmark, e ideias contidas nela, e não ao autor.
Vejamos alguns erros encontrados no livro:
ERRO 1
Às vezes, ao lermos alguns livros de Castellani,
a impressão que dá é que, se você leu um, você leu
20% de todos. Isso porque parte do conteúdo de um
parece estar sempre repetido nos outros.
sociedade de auxílio mútuo, resolveram,
então, permitir a entrada de homens não
ligados à arte de construir, não profissionais, que eram, então, chamados de maçons aceitos. (…) O primeiro caso conhecido de aceitação é o de John Boswell, lord
de Aushinleck, que, a 8 de junho de 1600
foi recebido maçom – não profissional –
na Saint Mary’s Chapell Lodge (Loja da
Capela de Santa Maria), em Edimburgo,
na Escócia.
Para verificar se eu não estava apenas
“implicando” com os livros do autor, peguei um outro
livro de sua autoria, intitulado “A ação secreta da
Maçonaria na política mundial”. Não precisei procurar muito para descobrir que não se tratava de impliEm resumo, a visão apregoada por Castellani
cância, e sim de um fato real:
em, pelo menos, duas obras (com o mesmo texto,
No livro “A ação secreta da Maçonaria na polí- diga-se de passagem), é de que os maçons “aceitos”,
tica mundial”, todo o Capítulo “Origens Históricas da ou seja, os “especulativos”, só surgiram na Maçonaria
Maçonaria” (páginas 13 a 20, Ed. Landmark) é IDÊN- no final do século XVI. Porém, a Carta de Bolonha,
TICO ao Capítulo I da Parte II do livro “Maçonaria e documento histórico indiscutivelmente legítimo,
Astrologia” (páginas 51 a 58 desta edição analisada), comprova que, já no século XIII, havia pelo menos 10
maçons “aceitos” na Maçonaria de Bolonha.
sem tirar nem pôr uma única vírgula.
Essa prática infelizmente parece sempre se ERRO 3
repetir em suas obras. Seus livros são como colchas
Sobre o nascimento da Primeira Grande Loja
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 33-35, Jan/Abr, 2014.
33
NO ESQUADRO. MAÇONARIA E ASTROLOGIA (review)
(pág. 56), há a seguinte afirmação: “A admissão, em primeiro Rito indicado por Castellani nessa obra é:
1709, do reverendo Jean Théophile Désaguliers, nes- “Rito de Emulação, ou de York” (pág. 68).
sa Loja, em cerimônia realizada no adro da Catedral
Em primeiro lugar, Emulação NÃO É rito. Emude São Paulo, (…).”
lação É ritual. Esse foi um erro extremamente grosNão existe qualquer literatura que confirme seiro, pois o próprio Castellani inicia esse Capítulo
tal afirmação. Toda a literatura dá conta de que as explicando a diferença entre Rito e Ritual.
primeiras menções sobre Desaguliers na Maçonaria
Em segundo lugar, é impossível misturar e
se dão quando de sua eleição para Grão-Mestre. Por confundir Emulação com York. O “RITUAL de Emulaconta disso, Albert Mackey, um dos mais célebres ção”, composto apenas dos três graus simbólicos,
pesquisadores e escritores maçons, registrou em seu nasceu após a fundação da “LOJA Emulação”, ou seja,
livro “História da Maçonaria” que acredita que Desa- ano de 1823. Já o RITO de YORK é composto por 13
guliers, Payne e Anderson foram iniciados imediata- graus e foi publicado nos EUA, em 1797, por Thomas
mente antes ou depois da criação da Grande Loja da Smith Webb, ou seja, pelo menos 26 anos antes.
Inglaterra (1717), já com o papel de serem líderes da
ERRO 6
mesma.
Ainda no pequeno capítulo dedicado aos Ritos
ERRO 4
Maçônicos, Castellani afirma:
Sobre a fusão da Grande Loja dos Antigos com
a dos Modernos (pág. 64), Castellani escreveu:
Em 1813, superadas todas as velhas rixas,
os “Antigos” uniam-se aos “Modernos”,
constituindo a Grande Loja Unida da Inglaterra (United Grand Lodge of England),
que resolveu trabalhar segundo as normas
ritualísticas dos “Antigos”.
Na verdade, quando da fusão das duas Grandes Lojas Inglesas, foi criada uma “Loja de Reconciliação”, no dia 07/12/1813, com o objetivo de definir as
novas diretrizes ritualísticas. O resultado privilegiou
os Modernos. As diretrizes firmadas pela Loja de Reconciliação foram adotadas pela Emulation Lodge of
Improvement, fundada em 1823, quando da criação
de seu ritual próprio, com poucas modificações.
(…) o mais conhecido do público em geral,
ou seja, dos não iniciados, é o rito que
introduziu os Altos Graus maçônicos, acima do de Mestre Maçom: o chamado Rito
Escocês Antigo e Aceito (…)
Ledo engano. O Rito Escocês Antigo e Aceito
tem como “data de nascimento” o dia 31 de Maio de
1801, quando foi fundado o 1o Supremo Conselho do
mundo, em Charleston, Estado da Carolina do Sul,
EUA. O Rito Escocês, composto de 33 graus, teve por
base o Rito de Heredom, também conhecido como
Rito de Perfeição, composto por 25 graus. Vê-se que
o Rito Escocês já tomou por base outro Rito que já
possuía Altos Graus. O próprio Rito de York, composto de 13 graus e publicado nos EUA em 1797, já estava em pleno funcionamento e possuindo 10 Altos
Graus. A verdade é que, antes do Rito Escocês ser
formado, existiram mais de uma centena de Ritos
Maçônicos compostos por graus simbólicos e superiores.
O Ritual de Emulação é adotado pela maioria
das Lojas Inglesas, mas não é o único, visto que cada
Loja tem o direito de elaborar seus próprios procedimentos, desde que não fira as diretrizes da Grande
Loja Unida da Inglaterra. A GLUI adota o Ritual EmuERRO 7
lação em suas reuniões.
Mantendo a atenção sobre os Ritos, foi enERRO 5
contrado no livro o seguinte erro sobre o AdonhiraO Capítulo III é sobre os Ritos Maçônicos. O mita: “O Rito Adonhirmaita surgiu em 1782, na FranFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 33-35, Jan/Abr, 2014.
34
NO ESQUADRO. MAÇONARIA E ASTROLOGIA (review)
ça (…)”.
ERRO 10
Ora, sejamos justos com o Rito Adonhiramita:
No Capítulo III da Parte III, cujo título é “Os
a data de seu surgimento não é exata, mas sabe-se Cargos em Loja e os Sete Planetas”, o autor afirma:
que o Rito surgiu, pelo menos, em 1744. Em 1782,
ano que Castellani afirma que o Rito surgiu, ele já esEmbora existam variações, de acordo com
tava sofrendo sua decadência, sendo aos poucos aboo rito adotado pela Loja, alguns cargos
lido da França por conta do surgimento do Rito Mosão, geralmente, comuns a todos os ritos.
derno (1773).
São eles: DIGNIDADES:
ERRO 8
No Capítulo I da Parte III, referente ao Templo
Maçônico (a partir da página 81), Castellani esqueceu
de mencionar que um Templo Maçônico varia, e muito, de um Rito para outro. É dada grande atenção
nessa obra aos detalhes da Abóbada Celeste, a Corda
de 81 nós e as 12 Colunas Zodiacais, símbolos esses
presentes num Templo do Rito Escocês, por exemplo,
mas não presentes nos Templos de outros tantos Ritos. Informação essa importante, mas inexistente na
obra.
ERRO 9
No Capítulo II da Parte III, que trata da Escala
Iniciática (pág. 93), há uma outra omissão no mesmo
sentido da anterior. Castellani registra que:
(…) o candidato – como em outras instituições iniciáticas muito antigas, inclusive
religiosas – fica encerrado, durante algum
tempo, num compartimento isolado, como uma caverna, de onde ele sai, num
determinado momento do ritual iniciático,
como se saísse do útero para a luz. Em
Maçonaria, esse compartimento é a chamada Câmara de Reflexão, onde o candidato permanece em meditação, antes de
ser conduzido ao templo, para a cerimônia de iniciação.
Um Venerável Mestre, que é o presidente
da Loja; um 1o Vigilante, que é o primeiro
vice-presidente; um 2o Vigilante, que é o
segundo vice-presidente; um Orador, que
é o representante do Ministério Público
maçônico em Loja, o guarda e defensor da
lei; um Secretário, a quem compete lavrar
as atas das reuniões e organizar o expediente.
Relevando o erro de acrescentar o Secretário
como uma Dignidade, algo com certeza não unânime
a Ritos e Obediências, Castellani fez o favor de citar
logo o ORADOR em sua lista. Ao contrário da afirmação, talvez o Orador seja o cargo mais INCOMUM a
todos os Ritos, pois não existe no Rito de York, Rito
de Schroeder e Ritual de Emulação. Mais uma vez,
parece que Castellani só considera a existência dos
Ritos “latinos”.
CONCLUSÃO
Apesar do livro conter partes copiadas de
obras anteriores, além de alguns erros históricos e
conceituais que, de certa forma, desprestigiam o maçom adepto de outro Rito que não o Escocês, trata-se
de obra interessante, muito bem escrita (como todas
do mesmo autor), e que vale como fonte de lazer e
aprendizagem, bastando que o leitor tenha o devido
senso crítico durante sua leitura.
A Maçonaria não se restringe aos Ritos franceTexto originalmente publicado em: http://
ses e seus derivados. No Rito de York, Rito Schroeder www.noesquadro.com.br/2011/11/esquadrando-oe Ritual de Emulação, praticados no Brasil e em várias livro-maconaria-e.html
partes do mundo, o que existe é uma Sala de Preparação.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 33-35, Jan/Abr, 2014.
35
36
ISSN 2318-3462
Recebido: 26/04/2014
Aprovado: 30/04/2014
Notícia:
GOIRJ REALIZA SEMINÁRIO PARA ADMINISTRADORES DE LOJAS
No dia 24 de abril mais
de 120 Mestres Maçons, representando os futuros administradores das Lojas Simbólicas do Grande Oriente Independente do Rio de Janeiro –
GOIRJ, participaram de um
Seminário de orientação e
preparação para gestão de
Loja.
Foi um evento de suma
importância, pois dia 31 de
maio próximo serão eleitos o
novo Grão Mestre e seu Adjunto, eleição essa que precede as eleições nas Oficinas,
num amplo processo de valorização da democracia participativa, nas 50 lojas do GOIRJ, que se dividem
entre os 7 ritos praticados: REAA, BRASILEIRO, além de incentivar boas práticas de gestão, com
RER, YORK AMERICANO, ADONHIRAMITA, MO- visibilidade e acesso imediato.
DERNO e SCHROEDER.
O Grão-Mestre Adjunto, Irmão Oscar NeUm dos principais temas foi o compartilha- co, fez brilhante exposição sobre a importância
mento das informações básicas de acesso ao da participação da família na atividade dos maportal administrativo, seus usos e funcionalida- çons na administração de uma Loja. Sendo da
des, proferido pelo Irmão Maurin, do GOSC- cidade de Campos, no norte fluminense, lembrou
COMAB, pois toda a gestão das Lojas e da pró- -se de muitas situações ocorridas no processo
pria Obediência está completamente informatiza- histórico de fundação de Lojas do GOIRJ. Foi
da, gerando redução de custos, de acúmulo de muito aplaudido quando disse que não se é Vepapel e arquivos, colocando o GOIRJ na van- nerável uma vez por semana, apenas nas duas
guarda do desenvolvimento sustentável e contri- horas do dia da sessão, mas vinte e quatro hobuindo na redução de lixos e do desmatamento, ras por dia. O Venerável Mestre e os Vigilantes,
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 37-38, Jan/Abr, 2014.
37
RAPHAEL, A. C. GOIRJ REALIZA SEMINÁRIO PARA ADMINISTRADORES DE LOJAS
junto com os demais membros da loja, devem
estar atentos aos problemas cotidianos que afetam os irmãos. Todos são responsáveis por todos, uma vez que faltas devem ser investigadas
com carinho e atrasos nos pagamentos podem
indicar dificuldade do Irmão. Outro aspecto que
fez questão de lembrar foi do aspecto democrático das decisões de Loja, partilhando-se as decisões, aglutinando todos em um ideal comum.
ros Templários, que contou com a presença de
uma delegação da Inglaterra no Templo Nobre
do GOIRJ, sendo esse de fato um reconhecimento de nossa regularidade. Após dois mandatos, ampliou significativamente o número de Lojas e de obreiros. Ao término de sua explanação,
foi intensamente aplaudido pelos presentes, que
demonstraram imensa gratidão.
O Grande Secretário de Administração,
Irmão Sergio Barbosa, apresentou os procedimentos necessários para utilização do portal, de
que tipos de documentos são necessários para
iniciação, filiação, regularização e transferências.
Passou ainda orientações aos secretários e tesoureiros do sistema gerencial do GOIRJ e propiciou uma troca de experiências entre os seminaristas, relacionadas à sindicância e registro de
dados pessoais e a frequência, dentre outras informações fundamentais ao controle das Lojas.
Antônio Carlos Raphael
Soberano Grão-Mestre
Grande Oriente Independente do Rio de Janeiro
O Grande Procurador, Luiz Muzzi, fez uma
palestra sobre a Constituição, Regulamento Geral, Landmarks, relacionando-os a Constituição
Federal, os poderes da Obediência, que devem
conviver harmoniosamente. Dirimindo diversas
dúvidas dos participantes, ressaltando que:
“Obrigamo-nos a ressaltar que a prerrogativa do
Grão Mestre é de função, ou seja, a função de
Grão Mestre confere a prerrogativa do exercício
de alguns atos”. Por isso devemos sempre respeitar o Grão Mestre em suas funções, tanto interna como externamente.
O encerramento ficou a cargo do Grão
Mestre, Irmão Antônio Carlos Raphael, pontuando a importância das últimas conquistas do
GOIRJ, como os Tratados de reconhecimento
com o Supremo Grande Capítulo de Maçons do
Real Arco do Brasil, com diversas Obediências
nacionais, com o Supremo Conselho da Ordem
DeMolay para a República Federativa do Brasil,
além da instalação e consagração do Tabernáculo “Condado de York” de Sacerdotes CavaleiFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 37-38, Jan/Abr, 2014.
38
ISSN 2318-3462
Recebido: 05/04/2014
Aprovado: 29/04/2014
Relato de Evento:
Sagração do Tabernáculo “Condado de York” No. 258 de Sacerdotes Cavaleiros Templários
membro detentor desse grau. No ano de 1895, em
Newcastle, se formou o Tabernáculo Real de Kent dos
Às 19:30 horas do dia 01 de abril de 2014, o Sacerdotes-Cavaleiros Templários, admitindo, então,
Soberano Grão-Mestre ANTÔNIO CARLOS RAPHAEL, nove Cavaleiros Templários da Preceptoria Real de
em nome do Grande Oriente Independente do Rio de Kent.
Janeiro, recebeu uma delegação do Grand College of
Como ainda não havia uma entidade que os
the Holy Royal Arch Knight Templar Priests or Order
consagrasse,
aderiram ao Grande Conselho dos Graus
of Holy Wisdom (Grande Colégio dos SacerdotesCavaleiros Templários do Sagrado Arco Real ou Or- Maçônicos Aliados (AMD – Allied Masonic Degrees),
dem da Sagrada Sabedoria), sediado na cidade de formado em Londres em 1880, e que recebia todos
York, Inglaterra, com o objetivo da dedicação e sagra- os graus a ele vinculados.
ção do Tabernáculo Condado de York nº 258, integrante do District 47 Brazil.
A Ordem
Introdução
A Ordem dos Sacerdotes-Cavaleiros TempláAs reuniões desta ordem cristã universal, cenrios do Sagrado Arco Real ou Ordem da Sagrada Sa- tralizada no Grand College, em York, são chamadas
bedoria é uma ordem eminentemente Cristã e para de Tabernáculos.
poder ser convidado a integrá-la é necessário ser
O Símbolo da Ordem é um triângulo equiláteMestre Instalado (MI), Maçom do Arco Real (MRA) e
ro, no qual estão inscritas letras que correspondem
Cavaleiro Templário (KT).
aos segredos da Ordem.
História
O Mestre do Tabernáculo é chamado de Sumo
A Ordem dos Sacerdotes-Cavaleiros Templá- Sacerdote e sob seu comando, estão sete Sacerdotesrios tem registros na Irlanda que retrocedem sua ori- Cavaleiros, representando os sete Pilares, um Condugem ao fim de 1700. Esses documentos estão hoje tor (equivalente ao Diácono), além de outros Oficiais.
sob a guarda do Antigo Grande Acampamento Irlandês de Cavaleiros Templários e de várias Lojas que se
juntaram para conferir este grau. Naquela época os Os Graus
sacerdotes-cavaleiros ainda não se organizavam em
A Ordem engloba 32 Graus, dos quais 31 são
Tabernáculos.
comunicados em um trecho pequeno, mas importanA partir de 1812, na cidade inglesa de New- te da cerimônia, sendo somente o último Grau trabacastle-upon-Tyne, um Conselho de Cavaleiros Grã- lhado ritualisticamente, o de Cavaleiro-Sacerdote
Cruz do Templo Sagrado de Jerusalém incluía entre Templário do Sagrado Arco Real (do inglês, HRA-KTP).
os seus graus o de Sacerdote-Cavaleiro Templário.
Este último grau consiste, principalmente, de
Em 1884, somente se conhecia um único leituras do Velho e do Novo Testamentos, enquanto
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 39-41, Jan/Abr, 2014.
39
FERREIRA, J. R. SAGRAÇÃO DO TABERNÁCULO CONDADO DE YORK
o candidato é conduzido a sete Pilares que formam Sacerdote.
um triângulo. Cada Pilar tem um discurso que se refere ao Cordeiro de Deus e à abertura dos sete selos
(Apocalipse 6: 8), abrindo para o candidato, as portas Grand College
dos caminhos de Deus.
A partir de 1895, a Ordem prosperou e em
Os graus controlados pelo Grand College são: 1924, o Grand College foi formado em NewcastleMestre de Funeral, Mestre do Azul ou Cavaleiro de upon-Tyne congregando todos os Tabernáculos do
Salomão, Mui Excelente Mestre, Excelente Maçom e mundo, sendo, assim, a única ordem maçônica realMestre dos Véus, Mestre Sublime ou Contenda de mente internacional.
Jacó, Cavaleiro de Patmos ou Philippi, Cavaleiro da
Redenção, Cavaleiro da Cruz Negra, Marca Fugitiva,
Arquiteto, Ordem do Cordão Encarnado ou Cavaleiro
do Rahab, Cavaleiro dos Três Reis ou a Balança, Cavaleiro do Norte, Cavaleiro do Sul, Cavaleiro das Cruz
Branca, Cavaleiro da Cruz Branca de Torpichen, Cavaleiro da Morte ou Elysium, Cavaleiro da Tumba Santa,
Cavaleiro da Marca Cristã, Cavaleiro de Bethânia, Cavaleiro do Azul Real Prussiano, Cavaleiro de Elêusis,
Cavaleiro da Palestina, Cavaleiro de São João Batista,
Cavaleiro da Cruz, Cavaleiro da Cruz Suspensa da Babilônia, Cavaleiro da Cruz Vermelha de Jerusalém,
Cavaleiro da Cruz Vermelha ou Rosa-Cruz, Cavaleiro
da Tripla Cruz, Grande Cruz de São João, Feitos Livres
de Herodin e o grau de Cavaleiro-Sacerdote Templário do Sagrado Arco Real.
Posteriormente, a sede mudou-se para York,
onde permanece até hoje. A Ordem está espalhada
pelo mundo com cerca de 260 Tabernáculos nos mais
diversos países, como Austrália, Nova Zelândia, China
(Hong Kong) África do Sul, Canadá, Singapura, Malásia, Caribe e Brasil.
Paramentos
Grand Recorder: R.Em. Kt.Pt. John Stephen Priestley,
KGC (Honoris Causa), GC, GCA, CoM.
Uma túnica branca (ou bege) de Cavaleiro
Templário com a cruz vermelha e um manto totalmente branco (ou bege). Os Sacerdotes-Cavaleiros
Templários usam ainda uma Mitra com uma cruz na
parte da frente. O Sumo Sacerdote usa uma Mitra
mais alta, com a cruz Patriarcal.
Cerimônia de Sagração do Tabernáculo
Os Oficiais que trabalharam na Cerimônia de
Sagração do Tabernáculo Condado de York nº 258
foram os seguintes:
Consecration Officers
Grand High Priest: M.Ill. Kt.Pt. CHRISTOPHER GAVIN
MAIDEN, KGC (Honoris Causa), GC, GCA.
Grand Director of Ceremonies: R.Em. Kt.Pt. Glyn
Raymond Goddard, KGC (Honoris Causa), GCA, CoM.
Deputy Grand Director of Ceremonies: V.Ill. Kt.Pt.
William John Thomas Pratt, PGVIP.
Grand Superintendent of District 47 Brazil: Rt.Em.
Kt.Pt. Jorge Barnsley Pessôa Fillho, GCT.
Avançamento
District Recorder: V.Ill. Kt.Pt. João Barile Neto.
Postos no Grand College são geralmente concedidos dois anos depois de se ter sido eleito Sumo
Sacerdote de um Tabernáculo. Os postos mais elevados são chamados Grandes Pilares e graduados de I a
VII, não havendo postos intermediários distritais ou
provinciais, sendo os Grandes Superintendentes dos
Distritos nomeados diretamente pelo Grande Sumo
as Grand High Priest’s Standard Bearer: V.Em. Kt.Pt.
Anuar José Elias Neto.
as Grand Banner Bearer: V.Em. Kt.Pt. Marco Antônio
Cabral.
as Grand Keeper of the Inner Porch: Ill. Kt.Pt. Elidinei
Micheleto.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 39-41, Jan/Abr, 2014.
40
FERREIRA, J. R. SAGRAÇÃO DO TABERNÁCULO CONDADO DE YORK
as Grand Sentinel: Ill. Kt.Pt. Francisco do Egipto Lacer- Considerações Finais
da.
Os membros do Tabernáculo Condado de York
sentem-se honrados de espargir mais luz na Maçonaria por meio de mais essa Ordem maçônica interOficiais do Tabernáculo Condado de York Nº 258
nacional que promove a união dos maçons regulares
Sumo Sacerdote: V. Em. Kt. Pt. João Guilherme da ao redor do mundo.
Cruz Ribeiro
VII Pilar: Em. Kt. Pt. Antônio Carlos Raphael
José Roberto Ferreira
VI Pilar: Em. Kt. Pt. Rubens Caldeira Monteiro
Venerável Mestre da Loja “Francisco Cândido Xavier”
Secretário: Em. Kt. Pt. Luiz Franklin de Mattos Silva
Diretor de Cerimônias: Em. Kt. Pt. Otacílio José de
Almeida Junior
Past Sumo Sacerdote do Capítulo “York No. 40”
Ilustre Mestre do Conselho “York No. 06”
Tesoureiro: Em. Kt. Pt. José Geraldo de Almeida
Condutor: Kt. Pt. Edson Gersco Prestes
V Pilar: Kt. Pt. José Roberto Ferreira
IV Pilar: Kt. Pt. Felipe Eduardo Portela de Paulo
III Pilar: Kt. Pt. Denyson Tomaz de Lima
II Pilar: Kt. Pt. Roberto Barbosa da Fonseca
I Pilar: Kt. Pt. Alexander Mazolli Lisboa
Guarda do Portal Interno: Kt. Pt. João Luís da Costa
Santos
Sentinela: Kt. Pt. Fernando José de Lima
Demais Membros do Tabernáculo Condado de York
Cezar Fellini Lazzarotto
Dagomar Ruas Silva
Ítalo Barroso Aslan
Jacques Nunes Attié
Kennyo Mahmud Ismail
Miguel Freire Marinho Neto
Orlando Roberto da Costa
Paulo Roberto Curi
Renor Rodrigues Jarcem
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 39-41, Jan/Abr, 2014.
41
42
ISSN 2318-3462
Recebido: 18/03/2014
Aprovado: 29/04/2014
FinP entrevista: ÍTALO ASLAN
Entrevista realizada com Ítalo Barroso Aslan, filho do autor Nicola Aslan, membro mais antigo ainda na ativa
e atual Grão-Mestre Adjunto do Grande Oriente Independente do Rio de Janeiro.
FinP - Ítalo, todo bom maçom brasileiro sabe que seu
pai foi um dos maiores escritores maçônicos do Brasil,
um intelectual, poliglota, dono de uma das mais completas bibliotecas maçônicas no país. O que você poderia dizer a mais sobre o Nicola Aslan que os irmãos
ainda não sabem?
Ítalo - Nicola Aslan era um homem de uma personalidade muito forte. Chegou ao Brasil muito jovem ainda, aos 23 anos, em plena crise econômica mundial
(1929), encontrando, na ocasião, sérias dificuldades
para sobreviver num país em que a própria língua era
desconhecida para ele. Trazia em sua bagagem intelectual o domínio de alguns idiomas e o caráter forjado pelo sofrimento com as agruras da Primeira Guerra Mundial. Era um autodidata, por excelência, não
tendo o segundo grau completo. Acumulou o conhecimento que tinha movido por uma inquietação intelectual que perdurou ao longo de sua vida.
FinP - Há um velho chavão que diz que o povo que
não conhece sua história está condenado a repeti-la.
Você é o maçom mais antigo do GOIRJ ainda "na ativa". O que você passaria aos maçons do GOIRJ que
julgue historicamente importante?
Potências regulares do Estado do Rio de Janeiro, surgindo da fusão de 3 Lojas também regulares, venceu
as dificuldades que surgiram e se projetou ao lado
das duas outras coirmãs. O surgimento da CONFEDERAÇÃO MAÇÔNICA DO BRASIL (COMAB), como um
todo, e o GOIRJ, em particular, marcou o rumo da
história de nossa Ordem no Brasil.
Dizemos o do GOIRJ, em particular, porque aqui, em
nosso Estado, foi o palco de uma tentativa de um
“basta” e retomada do verdadeiro objetivo de nossa
Instituição, na preservação do espírito maçônico, propriamente dito, corrigindo desvios e retornando ao
diuturno e necessário combate ao vício, à ignorância
e ao erro.
FinP - Na nossa Obediência, seu pai empossou o primeiro Grão-Mestre. Você pode narrar algum fato
marcante desse momento?
Ítalo - A relevância desse ato está registrada para a
posteridade, não só em nossas atas, como também
nas fotografias em preto e branco, já amarelecidas
pelo tempo que realçam, em sua singularidade, a pujança daquele momento. Em uma delas, Nicola Aslan,
ainda com o malhete na mão, transferindo-o ao primeiro Grão-Mestre de nossa Potência, Irmão Paulo
Rodarte de Faria Machado, “maçom de reconhecida
envergadura moral”, no dizer de José Castellani em
seu livro “1973 – A Cadeia Partida”. É um momento
ímpar, carregado de forte simbolismo, mostrando ao
futuro o início de uma nova era. .
Ítalo - Realmente, o fato de constatar que estamos
na condição de Maçom mais antigo do GRANDE ORIENTE INDEPENDENTE DO RIO DE JANEIRO—GOIRJ
"na ativa", nos confere o conforto de, fazendo parte
de sua história, lançar um olhar para esse passado
recente e analisá-lo sob uma ótica de otimismo, FinP - E nesses 40 anos de GOIRJ, o que você destacaaplaudindo e reconhecendo o muito que se fez, ape- ria dos primeiros anos da Obediência aos maçons
sar das dificuldades. O GOIRJ, a mais nova das três mais recentes?
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 43-45, Jan/Abr, 2014.
43
FinP ENTREVISTA: ÍTALO ASLAN
Ítalo - Nesses 40 anos de nossa Potência, uma jovem
Potência, ainda em formação, destacaríamos o denodo e o amor que o goirjeano tem por sua obediência.
Há que se realçar o firme e resoluto propósito que o
Maçom do GOIRJ tem em fazê-la forte, dando relevância ao cumprimento escorreito de suas práticas
templárias e o fiel e magnânimo desiderato de passar
aos seus afiliados os meandros da doutrina maçônica.
FinP - Poderia nos descrever alguns momentos de
grande emoção na sua vida maçônica?
Ítalo - Existe uma frase, descoberta por acaso em um
pequeno livro: “Sem Deus, ninguém representa grande coisa; por isso não há do que se vangloriar”. São
muitos os momento de grande emoção. Eles não se
resumem a um ou outro fato experimentado esporadicamente. Eles acontecem com muita frequência,
geralmente dentro de um Templo Maçônico, quando
somos convidados a estar juntos às chamadas
“autoridades maçônicas”, em visitação a Lojas de outras obediências. Emocionamo-nos em representar o
GOIRJ, às vezes em destaque, ao lado de personalidades de relevo de nossa Instituição. Consideramos não
ser a figura maçônica, isolada e solitária que está ali e
sim o representante de uma plêiade de valorosos e
queridos Irmãos, de uma Obediência Maçônica, que
se destaca, sem querer, por suas alfaias escarlates. E,
quando citado, é ouvido o nome GOIRJ, vibramos e
nos emocionamos, sem jamais esquecer a frase inicialmente citada: “Sem Deus,...”
.
FinP - Quais seus planos com o valioso acervo cultural
que é um legado de Nicola Aslan?
Ítalo —Existem planos, realmente, que não dependem de nós, somente. Não somos proprietários exclusivos daquele acervo. Há outras pessoas envolvidas, cujo apego emocional e carinhoso por aquelas
obras, já se deteriorando pela ação do tempo, são
muito fortes. Se dependesse exclusivamente de nós,
elas seriam doadas a uma instituição cultural maçônica, desde que fosse garantida a total preservação daquelas obras, colocando-as à disposição do pesquisador e estudioso.
FinP - Agora, olhando para os anos mais recentes, em
sua opinião, quais foram as maiores conquistas mais
importantes do GOIRJ e o que está por vir?
Ítalo - De alguns anos para cá, o GOIRJ vem se destacando por um aumento gradativo e constante no número de suas Lojas e Obreiros. Esse é um destaque
que merece ser citado. Um outro, também de relevância, é a tratativa de reconhecimento com Potências brasileiras e estrangeiras, principalmente americanas. Há uma grande e promissora expectativa de
um futuro acordo que realmente permitirá ao GOIRJ
uma abertura maior no contexto da Maçonaria Universal. Outro motivo de destaque para nossa Obediência foi a instalação do Tabernáculo Rio de Janeiro
da Ordem dos Sacerdotes Templários (KTP, The Holy
Royal Arch Knight Templar Priests), um importante
reconhecimento internacional para o nosso GOIRJ.
FinP - Nicola Aslan teve mais de uma dezena de livros
publicados, sendo alguns reeditados pela Editora A
Trolha. Mas escritores tão profícuos como seu pai geralmente deixam conteúdo não publicado. Podemos
ter esperanças de ainda ver algo inédito de seu pai
publicado? Talvez algo incompleto, concluído por você?
Ítalo - De fato, existem obras inéditas de Nicola Aslan, que tivemos o cuidado de organizar e arquivar.
De alguma forma, estamos colocando à disposição
dos leitores da revista “O Pesquisador Maçônico” alguns artigos e partes desses livros.
Temos oferecido à Editora “A Trolha” algumas dessas
obras para publicação. Nicola Aslan era um escritor
muito crítico de si mesmo, tendo ele mesmo embargado a reedição de seu primeiro livro “História da
Maçonaria – Cronologia – Documentos”, por considerá-lo “cheio de erros”, segundo ele. Às vezes nos perguntamos o que levou Nicola Aslan a não editar uma
determinada obra já concluída, deixando-a inédita.
Teria ela erros, também, que não puderam, por falta
de tempo, ser corrigidos? Somos tomados por certa
cautela em editar algo que não seria de agrado do
autor e, quiçá, comprometer a sua obra como um
todo e a confiança de seus leitores. Realmente existem obras incompletas que demandam tempo e mui-
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 43-45, Jan/Abr, 2014.
44
FinP ENTREVISTA: ÍTALO ASLAN
to estudo e pesquisa para serem concluídas. O tempo
dirá...
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.3, p. 43-45, Jan/Abr, 2014.
45
46
Diretrizes para Autores
A submissão de trabalhos deverá ser feita através da página da revista.
Formato:
Os originais deverão ser apresentados no seguinte formato:
- Arquivo de texto: Microsoft Word,
- Tabelas: coladas como gravura “jpg” ou utilizando a ferramenta detabelas do Word,
- Gráficos e figuras: acrescentadas ao arquivo word como “jpg”, com mínimode 200 dpi,
- Página tamanho A4, margem esquerda e superior de 3cm, direita einferior de 2cm, espaço entre linhas “simples”;
- fonte: Calibri;- texto principal: tamanho 11;
- citação superior a 3 linhas do original: tamanho 9;
- notas de fim: tamanho 9, separado do texto por linha de 5 cm;- parágrafo: 1,25 cm da margem;
- alinhamento: justificação inteira;
- bibliografia: no final do documento, formato conforme ABNT.
Obs.: Permite-se, com a finalidade de facilitar aleitura, a nota de fim. Mas é vedado o uso de nota de rodapé.
Referências Bibliográficas e/ouBibliografia, Citações, Notas de Fim:
A Revista FRATERNITAS IN PRAXIS adota como critério orientador para elaboração das referências bibliográficas dos artigos nela
publicados asseguintes formas:
- NBR-6023:2002 - Referências bibliográficas;
- NBR-10520:2002 – Citações;
- NBR-6022:2003 - Artigo em publicação periódica cientifica.
O não respeito as NBR's no que se refere à apresentação do artigo acarretará na sua imediata devolução para correção por parte
do(s) autor(es). Exceção será feita aos autores não brasileiros que não residem no país, cujos textos serão adequados às normas da
ABNT acima citadas.
Apresentação dos textos
Estabelece-se, ainda, uma padronização para a apresentação de textos, que deverá seguir o seguinte critério quanto à sua forma:
Título: centrado, todo em maiúsculas, negrito, fonte Calibri,tamanho 14.
Subtítulo: Em linha imediatamente abaixo do titulo, todo em minúsculas, negrito, fonte Calibri, tamanho 13.
Resumo: em português, justificação inteira, máximo de 100 palavras, fonte Calibri, tamanho 11, não tabulado. Em parágrafo único.
O título “Resumo” deverá ser em negrito, fonte Calibri, tamanho 12, somente primeira letra em maiúscula, não tabulada.
Palavras-chave: em português, à esquerda, justificação inteira, até 4 palavras, fonte Calibri, tamanho 11, não tabulada. O título
“Palavras-chave” deverá ser em fonte Calibri, tamanho 12, negrito, somente primeira letra em maiúscula, não tabulada.
Logo abaixo, Resumo em inglês, no mesmo formato do resumo em português. O título “Abstract” terá o mesmo formato do título
“Resumo”.
Palavras-chave em inglês seguindo o mesmo formato das em português. O título “Keywords” terá o mesmo formato do título
“Palavras-Chave”.
Em seguida, Resumo em espanhol, no mesmo formato do resumo em português.O título “Resumen” terá o mesmo formato do
título “Resumo”.
Palavras-chave em espanhol seguindo o mesmo formato das em português. O título “Palabras clave” terá o mesmo formato do
título “Palavras-Chave”.
Resumos e Palavras-Chave não serão exigidos de resenhas, relatos de eventos, entrevistas e notícias.
Texto principal do artigo/ensaio/resenha: justificação inteira, parágrafo com tabulação de 1,25 cm, espaço entre linhas simples.
Chamadas dos blocos: sem numerar, somente inicialmaiúscula, Calibri, 12 pontos, negrito.
Páginas enumeradas: no canto inferior direito.
Notas: notas apenas de fim, fonte Calibri, tamanho10, separadas do texto por linha de 5 cm.
Citações: as citações bibliográficas no corpo do texto devem seguir o estipulado pela NBR 10520:2002.
Ao elaborar as Referências Bibliográficas, adotar o critério do itálico para o titulo da obra. Não usar sublinhado. Não usar negrito.
Tamanho do artigo: seguindo os parâmetros anteriormente mencionados, um artigo deve se enquadrar em no mínimo 02 e nomáximo 15 páginas, já incluindo as notas de fim e/ou bibliografia.
Importante: o arquivo submetido não deve conter o nome ou qualquer forma de identificação do(s) autor(es). Nem no corpo do
artigo, nem nas propriedades do arquivo. Para remover os dados pessoais das propriedades do arquivo, clique com o botão direito
sobre o arquivo, vá em “propriedades” e, na aba “Detalhes”, clique em “Remover propriedades e informações pessoais”.
47
48
Patrocínio:
YORK RIO
Apoio:
Realização:
Associação

Documentos relacionados