Tikvá nº 40, 4º ano
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Tikvá nº 40, 4º ano
Dezembro 2003 Kislev/Tevet - 5764 nº. 40 4º. Ano 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 1 Tikvá Boletim Informativo da Comunidade Israelita de Lisboa Chanuká 5764 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 2 índice Editorial Mensagem da Direcção 3 As Nossas Actividades 4/5 Entrevista Especial 6/7/8 Contando a Nossa História 9/10 Aconteceu no Mundo 2 11/12/13 Aconteceu na CIL 14/15/16 Israel em Foco 17/18 As Nossas Sugestões 19/20 Espaço Aberto 21 Tome Nota 22 Homenagens/Nahalot FICHA TÉCNICA Director responsável: Esther Mucznik Director da redacção: Marcos Prist Conselho Editorial: Nuno Martins e Diana Ettner Coordenação Gráfica: TERRANOVA - Publicidade e Marketing, Lda. Impressão: Eurotom, Lda. Os textos assinados são da responsabilidade dos seus autores mensagem da direcção Um projecto de afirmação Já é impossível fechar os olhos e negar a realidade. Judeofobia, antijudaísmo ou anti-semitismo, para além da subtileza das palavras está uma única realidade: os atentados às Sinagogas na Turquia, o incêndio de um liceu judaico perto de Paris, a conspurcação do cemitério judaico de Marselha....e tantas, tantas outras agressões na Europa e não só. Segundo um relatório* encomendado pelo Observatório Europeu sobre o Racismo e a Xenofobia (e não publicado por ser “politicamente incorrecto”), estas manifestações vêm em parte da extrema direita (como, por exemplo, em Marselha, onde a assinatura “Poder Branco” é inconfundível) mas, sobretudo de “islamistas radicais e jovens muçulmanos em conjunto com uma esquerda pró-palestiniana” que em nome dos direitos do povo palestiniano, não só não combate este anti-semitismo, mas alimenta-o assimilando o sionismo ao nazismo. Face a esta situação temos duas alternativas: ou nos fechamos na nossa concha, orgulhosamente sós, e procurando passar despercebidos, ou afirmamos com clareza o nosso direito colectivo à vida e ao futuro...O primeiro caminho já demonstrou tragicamente a sua impotência. O segundo é o único que nos pode levar ao fortalecimento. Somos uma comunidade pequena, mas que não desiste da sua existência: esta Direcção eleita há pouco mais de um ano, colocou muito alto os seus objectivos, porque achou que a comunidade e o judaísmo em Portugal o mereciam: arregaçou as mangas, enfrentou de frente os problemas, empenhou-se na sua resolução: obras de restauro da sinagoga; criação de um clube judaico; resolução do problema do Centro; revalorização do património, contratação de um rabino; e tudo isto mantendo uma actividade permanente de dinamização social da comunidade, de intercâmbio e diálogo com a sociedade que nos rodeia. Nem sempre conseguimos resolver os problemas com a rapidez que desejamos, mas de uma coisa estamos certos: este é o caminho. Há no entanto uma coisa que nos falta: o eco do nosso trabalho, as vossas opiniões, as vossas sugestões, numa palavra, o vosso apoio. Podem fazê-lo aqui nas páginas do Tikvá, por carta, ou com a vossa presença nas reuniões e assembleias. O que é importante é sentir a comunidade unida e coesa em torno de um projecto que, mais de um projecto de sobrevivência, é um projecto de afirmação num mundo que hoje nos coloca novos desafios. Esther Mucznik Vice- Presidente * Relatório divulgado no site do CRIF: www.crif.org 2 TIKVÁ, Dezembro 2003 editorial Seguindo em busca da Luz ! Chegamos a mais uma comemoração da Festa de Chánuka e infelizmente apesar da alegria e orgulho a que esta data nos remete, esta chega em meio de um momento de muita inquietação e preocupação que nos torna a cada um, judeus do século XXI, um Macabeu. Seguimos na mesma luta destes heróis que lutaram bravamente em defesa da nossa crença, da nossa cultura e tradições. Porém na altura o inimigo era conhecido e declarado, mas hoje lutamos contra o desconhecido. Um inimigo sim conhecido por terror e por antissemitismo, mas cujo exército não se pode identificar. Um difícil, obscuro e perigoso inimigo que recentemente matou muitos de nossos irmãos na Turquia e que insiste em apontar o dedo contra o Mundo, principalmente agora na Europa. Um inimigo frio e calculista que surge a todo instante sem rosto nem alma. Assim como os nossos Macabeus devemos estar mais do que nunca unidos, fortes e atentos para que não profanem nem física e nem espiritualmente o nosso povo e a nossa história e acima de tudo, para que não coexistam em silêncio entre a humanidade. Para tanto, comemoremos com alegria mais este Chanuka e sigamos com força na busca do fortalecimento do judaísmo em Portugal e em todo o mundo. CHAG SAMEACH A TODOS ! Marcos Prist Director Executivo CIL 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 3 as nossas actividades Grupo Guil Hazaav-Ano II (Idade de Ouro) Ainda não participa neste simpático e agradável grupo??... Não perca mais tempo! Movimento Juvenil Dor Chadash de Lisboa-Ano II A cada semana um novo participante! Mais de 50 jovens já participam! Agora só falta você! Actividades Especiais Permanentes (música, ginástica, palestras, passeios...) Actividades todos os domingos, das 15h00 às 18h00, Para adultos a partir dos 60 anos s na Vila Giralda, Rua de Inglaterra, 19 – Estoril Encontros semanais às 4ª feiras das 15h30 às 17h00, Jovens e crianças a partir de 4 anos sede em Monte Olivete. Participação: 5 € Participação: 5 € por semana Coral Etz Chaim (Coral Musical representativo da CIL) Venha viver momentos muito agradáveis e descontraídos, sem necessitar de uma bela voz.... Inscreva-se já!!! Participe! Para adultos entre os 20 e 60 anos. Encontros semanais: das 20h00 às 21h30, na sede em Monte Olivete. Participação: 5€ Grupo de Estudos sobre a Parashá da semana Todas as 6ªs feiras, às 18h00. Coordenação : Alain Hayat P ORTAS S EMPRE A BERTAS U M C LUBE PARA T ODOS MACABI COUNTRY CLUB ABRE BREVEMENTE (2004) CLUB HOUSE Mais informações pelo tel.: 21 393 11 30 Das 14h00 às 17h00 ou pelo e-mail [email protected] TIKVÁ, Dezembro 2003 3 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 4 entrevista especial Jorge Sampaio, Presidente da República de Portugal “Estou orgulhoso da minha ascendência judaica” Por Michael Freund - Jornalista do Jerusalemn Post Com os seus soalhos em mármore, mobiliário ornamentado e obras de arte raras, o Palácio de Belém em Lisboa poderia facilmente competir com alguns dos melhores museus da Europa. Apesar de, por si só, não constituir uma instituição cultural, o palácio tem uma função fulcral na vida de Portugal: é a residência do Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, que ocupa estas funções desde 1996 tendo sido reeleito para um segundo mandato de cinco anos em 2001. Ao contrário do que acontece em Israel, a Presidência da República Portuguesa é mais do que simplesmente um cargo honorário. O Presidente é o comandante-em-chefe das forças armadas e tem poderes para dissolver o parlamento e convocar eleições nacionais. P. Sr. Presidente, o anti-semitismo está em crescimento na Europa. Por que razão a maior parte do continente não consegue curar-se deste preconceito? O Presidente Sampaio teria poucas dificuldades em ser contado para minyan: a sua avó materna pertencia a uma família judia marroquina; é primo do Presidente da Comunidade Judaica de Lisboa e tem diversos familiares afastados, a viver em Israel. P. Sentimentos anti-Israel e anti-sionismo na Europa parecem frequentemente ser um pretexto para exprimir sentimentos anti-semitas sob o pretexto de oposição à política israelita. Por que razão é a Europa tão crítica em relação a Israel? Numa entrevista concedida ao Jerusalem Post, Jorge Sampaio falou sobre a onda de crescimento do antisemitismo na Europa, as relações Portugal-Israel e a sua ascendência judaica. R: Acho que temos que ser cuidadosos com as nossas afirmações. Estou disposto a admitir que algumas das críticas a Israel possam ter motivações anti-semitas. Mas rejeito em absoluto que todas as críticas a Israel tenham 4 TIKVÁ, Dezembro 2003 R. Tenho constantemente denunciado todas as formas de discriminação e xenofobia, sejam elas de natureza religiosa, étnica, cultural, sexual ou qualquer outra. Obviamente, condeno qualquer forma de anti-semitismo. O seu ressurgimento na Europa é um facto, embora não seja um padrão e deve também ser encarado num contexto de ressurgimento de outras formas de xenofobia e ódio racial. Estas manifestações existem de facto e temos de combater todas elas com a mesma energia, atacando as suas causas e combatendo aqueles que semeiam o ódio e a violência. 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 5 tais motivações. De facto, muitas das pessoas que criticam tais políticas têm como núcleo das suas preocupações a segurança do Estado de Israel e o bem-estar do seu povo. Acredito que a Europa se tem esforçado por ter uma posição justa e balanceada mesmo se, por vezes, não tenhamos conseguido explicar claramente a nossa posição P: A Embaixada de Portugal em Israel situa-se em Tel Aviv apesar de a capital de Israel ser Jerusalém. Por que razão Portugal não reconhece o direito soberano de Israel em determinar a sua própria capital? R: Eu sei o quanto é importante este assunto para os Israelianos e para muitos Judeus. Vocês conhecem o contexto histórico desta situação. Neste assunto, estamos ligados às decisões colectivas da União Europeia. Mas também quero dizer-vos que é meu desejo sincero que a nossa Embaixada mude para Jerusalém logo que possível, porque isso significaria que se estaria finalmente a alguns passos da Paz. P. Portugal já foi o lar de uma comunidade judaica florescente, que foi cruelmente perseguida e forçada à conversão em 1497. Portugal já se redimiu do que foi feito ao povo judeu no seu solo? R: Nós já nos redimimos com a nossa própria história, com os seus aspectos mais brilhantes e mais sombrios. A diferença agora, é que todos os períodos da nossa história estão a ser estudados e que hoje em dia temos um conhecimento muito maior acerca deles. As cerimónias que tiveram lugar no 500º aniversário da assinatura do Decreto de Expulsão, às quais eu presidi, em conjunto com o então porta-voz do Knesset são uma prova de tudo isso. P: Há cinco séculos, a Igreja Católica e a Monarquia Portuguesa confiscaram bens judaicos, incluindo Sinagogas e outras estruturas comunitárias. Não deveriam ser devolvidos ao povo Judeu como acto de justiça histórica? R: Não podemos reescrever ou reviver a história. Não podemos hoje, depois de 500 anos, corrigir uma situação em termos materiais. Acho que a corrigimos numa perspectiva histórica e que todos os cidadãos portugueses, incluindo aqueles que são judeus, se sentem confortados com isto. P: Um número crescente de descendentes de judeus que foram forçados a se converter ao Catolicismo durante a Inquisição, começou recentemente a retornar ao Judaísmo. Que pensa acerca deste fenómeno? R: Estamos orgulhosos da nossa história, dos nossos valores humanitários e do tecido multicultural da nossa sociedade. Se há pessoas que optam por voltar ao Judaísmo, trata-se de uma questão inteiramente pessoal que enriquece a nossa dinâmica cultural. P: Há seis décadas, o Capitão do Exército Português Artur Barros Basto foi expulso do exército com acusações forjadas depois de retornar ao Judaísmo, sendo apelidado por algumas pessoas de prestigio de “Dreyfus Português”. Não acha que Portugal deveria limpar o seu nome e desculpar-se daquilo que lhe foi feito? R: Acredito que o Parlamento Português, como órgão representativo do Povo Português, vai encarregar-se de rectificar esta situação. Eu apoio esta iniciativa de todo o coração. P: Sei que tem ascendência judaica na sua família. Qual é a sua ligação pessoal com o Povo Judeu? Considera-se Judeu? R. A minha avó pertencia a uma família judia que veio de Marrocos no início do século XIX. Casou com um oficial da marinha não Judeu que foi mais tarde Ministro dos Negócios Estrangeiros. Naturalmente, tenho muito orgulho nesta ascendência e em todos os que chamo “primos Judeus favoritos”, um dos quais é Presidente da Comunidade Judaica de Lisboa. Tal como tenho orgulho na minha ascendência não Judia, do lado do meu pai. Pessoalmente sou agnóstico e não me considero Judeu mas, como disse, tenho orgulho nos meus ascendentes. P: O seu fundo judaico foi alguma vez um problema para si, sob o ponto de vista político? R: A resposta é não. Portugal, como eu disse, é um Estado com uma postura democrática. Questões de religião, cultura ou raça não entram e não devem entrar na arena política. P: Visitou Israel duas vezes com Presidente da Câmara de Lisboa. Tem planos para visitar Israel em breve, como Presidente da República? R: Gostaria muito de visitar Israel de novo. Tenho memórias muito fortes e ricas das minhas anteriores duas visitas. Sigo de perto os desenvolvimentos no vosso país e na região. A situação actual entristece-me muitíssimo. E a minha sincera esperança é que, no meio das actuais dificuldades, Israelianos e Palestinianos possam encontrar um caminho para construir a paz e pôr fim a esta tragédia e ao sofrimento que tem atingido ambos os povos. TIKVÁ, Dezembro 2003 5 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 6 contando a nossa história HANUKÁ E NATAL por Herman Prins Salomon R ealmente há uma convergência nada fortuita entre o nosso Hanuká no dia 25 de kislev e o Natal no dia 25 de Dezembro. Senão vejamos: A primeira referência à festa de Hanuká (sem porém lhe mencionar o nome) vem no Segundo Livro dos Macabeus (composto em grego c. 161 antes da era comum). No decorrer do ano 164 antes da era comum, entrou em Jerusalém Yehuda Macabeu, filho de Matatya e purificou o Templo do culto pagão aí instalado dois anos antes pelos Sírios. Qual o culto pagão que aí encontrou? O de Mitras, deus da luz, de origem persa, que nasceu a 25 de kislev (nome também deste mês no calendário solar sírio). Os dias em Dezembro ficam cada vez mais pequenos, até ao dia 21, chamado do solstício de Inverno e os povos orientais festejavam os dias que precediam e seguiam esta data, com o objectivo de apaziguar o sol e fazer com que este aparecesse de novo e tornasse o Inverno mais suave. Após o solstício os dias ficavam maiores e mais claros, significando luz, alegria e esperança de boas colheitas. Acendiam-se velas e grandes fogueiras para iluminar a noite e havia muita comida. O símbolo preferido do deus Mitras era uma árvore com folhas verdes durante todo o ano, ou seja um grande pinheiro das serras do Líbano, que os Sírios instalaram no nosso Templo. grande regozijo no espaço de oito dias, à semelhança da festa dos Tabernáculos, recordando-se que pouco antes tinham passado esta solenidade dos Tabernáculos nas montanhas e nas cavernas, como animais selvagens. Por esse motivo levavam etrogim, arba’ minim, lulabim em honra de Aquele que lhes havia concedido a dita de purificar o Seu Templo. Decretaram por um édito público que “toda a nação judia celebrasse cada ano esta festa na mesma altura.” A festa que se veio a nomear depois de Hanuká era portanto uma segunda Sukkot. Celebraram-na com hakafot diárias levando lulabim, etrogim, arba’ minim menos em sabbat, evidentemente - e recitando halel. (Eis porque celebramos Hanuká por oito dias e recitamos o halel em Hanuká e não em Purim.) Portanto do ritual das luminárias e do lendário milagre das almotolias de azeite nem sombra (o nosso ‘al hanissim também o desconhece), por uma boa razão: foi uma invenção midrashica de alguns séculos após os acontecimentos, sem a mínima raíz histórica. Esse culto do pinheiro - eterno renascimento - não deve ser confundido com o do pau sagrado chamado ‘asera na Torá (simbolizando potência sexual), que sobreviveu sob o nome de Maibaum na Alemanha e de “maio” no Algarve (“fazer o maio” = bailar ao redor de um pau enfeitado no dia primeiro de Maio). Os Sírios, portanto, instalaram no nosso Templo no dia 25 de kislev o altar a Mitras, o pinheiro (tronco sagrado). Passo a citar II Macabeus (10; 3, 5-8): “Depois de terem purificado o Templo erigiram um novo altar; com o fogo saído de pederneiras ofereceram sacrifícios, após dois anos de interrupção; puseram o incenso, acenderam as lâmpadas e recolocaram os pães da proposição. No mesmo dia de aniversário da profanação do Templo pelos Sírios, isto é, no dia 25 do mês de kislev, fez-se, portanto a sua purificação. Celebraram esta festa com 6 TIKVÁ, Dezembro 2003 A lenda da almotolia milagrosa deve ter sido inventada pelo rabino que a conta na Gemara, para dar um sentido histórico à transformação de Hanuká pelos fariseus da “segunda Sukkot” (avessa à Torá) em “dias de luzes”, tirando-lhes as possíveis ressonâncias pagãs. Hillel e Sammai que viveram pouco antes do tempo de Jesus ainda não conheciam a lenda, pois este último 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 7 propôs acender oito luzes na primeira noite sempre diminuindo até uma luz na oitava; Hillel, ao contrário (o que demostra ser um novo ritual sem tradição fixa). Prevaleceu o sistema de Hillel e depois inventaram o midrash para o sustentar e para explicar a duração de oito dias da festa, depois de os fariseus anularem a “segunda Sukkot”. A mais antiga referência à nossa festa de Hanuká (que quer dizer “dedicação”) pelo nome próprio (embora em tradução grega), encontrámo-la... onde? Pois é, no Evangelho atribuído a João (não se sabe o nome do verdadeiro autor, e situa-se por volta do ano 100 da era comum), 10, 22-23: O maior festejo da era pré-cristã em Roma era em honra do deus Mitras, que nasceu a 25 de kislev, em Roma designado Dezembro. (O culto do deus Mitras, que nascia e morria todos os anos, tem uma curiosa semelhança com o culto de Jesus.) Por isso o Imperador Aureliano declarara este dia o maior feriado romano. Passado quase um século o Imperador Constantino, que se tinha convertido ao cristianismo, manteve o culto ao deus Mitras, que representava o sol e a sabedoria, ao passo que Jesus representava a vida, a luz e a esperança. Então, em vez de se festejar o sol como antigamente, passar-se-ia a celebrar o nascimento de Jesus e a festa pagã seria absorvida pela nova festa cristã. “Celebrava-se então, em Jerusalém, a festa da Dedicação (em grego: encaínia). Era Inverno, e Jesus andava a passear no Templo ...” Flávio Josefo (c. 37- c.103) refere-se algures à “festa das luzes” (não tenho presente a referência exacta). Os fariseus até atribuíram o novo ritual da “festa das luzes” a Hakadosh Baruk Hu (“que nos santificaste com os Teus preceitos e nos prescreveste que acendêssemos as luminárias de Hanuká”). (Há quem “refile” a recitar uma bênção destas!). Acho que houve além do mais um grande desgosto da parte dos fariseus para com os Macabeus, que se tinham tornado criminosos depois da primeira geração. Os fariseus queriam diminuir o «input» dos Macabeus na celebração desta festa, como também eliminaram os livros deles do cânone. Passemos ao Natal. Os cristãos rejeitaram a festa de Hanuká e nada tiveram para pôr no seu lugar. Em Roma, já cristã, festejava-se o triunfo de Saturno sobre Júpiter. Saturno era um rei associado à idade de ouro de Roma e tornou-se o padroeiro de Roma. Festejavam-no nos dias 17 a 19 de Dezembro - próximos do solstício, portanto - dando presentes, acendendo velas em casa e grandes fogueiras na rua para iluminar as noites mais longas, e havia muita comida: as chamadas “Saturnálias” que deram mais tarde origem às festas natalícias. A Igreja condenava estas festas pagãs e tentaram abolilas. Chegou porém à conclusão que era preferível permiti-las para não privar o povo dos festejos e arriscar motins anti-eclesiásticos. Um Bispo (de que não me recordo o nome) imaginou dar um sentido cristão às Saturnálias, identificando-as com o nascimento de Jesus, que nasceu em data desconhecida. Durante as invasões bárbaras no século V os povos nórdicos e germânicos que celebraram com muito empenho o solstício com rituais próprios, tomaram contacto com o Natal romano (presépio), e sincretisaram-no com o festejo do solstício (árvore). O Natal foi proclamado festa cristã em 813, através do sínodo de Mogúncia (Mainz). Na Noruega, pelo rei Hakon “o Bom” em meados de 900 (a origem do bacalhau de Natal? Pois merece o cognome!). Lá para finais do século XI o Natal em 25 de Dezembro já era celebrado em toda a Europa ocidental, menos na Grécia. Na Europa oriental esta data nunca foi aceite até ao dia de hoje. O rei Alfredo, o Grande, da Inglaterra decretou 12 dias de Natal. No princípio do século XVI a festa tinha degenerado e retomado a sua primeira feição pagã, a tal ponto que surgiu a questão se não era melhor abolir esta festa de vez. A Reforma decidiu-se contra o Natal e Lutero decretou sua abolição. Na Escócia, o Natal foi oficialmente abolido em 1583, como sendo uma festa não histórica e não religiosa. As igrejas que continuaram a celebrá-lo eram fechadas. TIKVÁ, Dezembro 2003 7 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 8 contando a nossa história Os Puritanos também proclamaram o Natal indecente e ilegal. Na Inglaterra, o Natal foi novamente legalizado, em 1660, com o regresso ao poder dos Stuart católicos. Só na Alemanha continuou-se sempre a celebrar Natal com grande gosto, tornando-se a festa alemã por excelência (em Auschwitz os exterminadores nazis erigiram um imenso pinheiro frente às câmaras de gaz e entoaram Ô Tannenbaum para acompanhar a matança, com muita alegria). No século XIX os Americanos começaram a viver esta época com grande ternura, devido à maciça imigração germânica. Na minha terra, os Países-Baixos, na minha meninice, ainda não havia árvores de Natal senão em três sítios: na Embaixada da Alemanha na Haia, no Consulado da Alemanha em Amesterdão e em casa do Embaixador alemão em Wassenaar. Não se davam presentes. Não havia cânticos de Natal. O que se festejava entre os Holandeses não judeus (e, valha a verdade, também em muitas famílias holandesas judias) era o São Nicolau no dia 6 de Dezembro e na véspera (coincidindo com o barek ‘alenu, mas isto é outra música que requer um capítulo à parte). Na Inglaterra foi a partir de 1837, quando a rainha Vitória subiu ao trono, que o país mudou radicalmente a sua atitude acerca do Natal. A rainha casou com o príncipe alemão Alberto, que introduziu pela primeira vez árvores de Natal na Inglaterra. Portanto o elo entre Hanuká e Natal é o solstício do inverno e os anos do deus Mitras em 25 de kislev ou 25 de Dezembro, que deram origem às duas festas. 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 9 aconteceu no mundo Incêndio destrói escola judaica em França da Folha Online Um incêndio cuja origem foi considerada “suspeita” destruiu parte de uma escola judaica em meados do mês de Novembro em Gagny (norte de Paris), sem deixar feridos. Segundo a Prefeitura de Seine-Saint-Denis, o incêndio na escola “Merkaz Hatorah”, que tem cerca de 220 estudantes, começou simultaneamente em dois lugares, o que provaria a origem criminosa. As Autoridades disseram que provavelmente o incêndio foi um “ataque racista e anti-semita”. Em 2002, a França teve inúmeros ataques anti-semitas. Rabino sugere que judeus usem boné em vez de solidéu Estadão.com - 19/11 Paris - Preocupado com o ressurgimento de ataques anti-semitas, o Grão Rabino da França sugeriu aos judeus homens que usem um boné de baseball em vez da Kipá para não serem alvos fáceis de violência. Depois do ataque contra uma escola judaica no final de semana o Rabino Joseph Sitruk apelou à sua comunidade, principalmente aos judeus jovens, a redobrar os cuidados com a segurança. “É duro dizer isso, mas é uma protecção aos judeus jovens”, disse o rabino. Ele lembrou aos judeus que, segundo a tradição, o imperativo em algumas ocasiões é cobrir a cabeça, mas não necessariamente com uma kipá. Em Berlim, vândalos destruíram coroas de flores que haviam sido depositadas num memorial do Holocausto em lembrança do 65º aniversário da Noite de Cristal Quebrados, quando dezenas de sinagogas foram queimadas e milhares de judeus deportados para campos de concentração. Segundo a polícia, ninguém foi detido pelo acto de vandalismo. AE-AP Atentados contra Sinagogas na Turquia No passado dia 15 de Novembro, dois carros-bomba explodiram quase simultaneamente em Istambul diante de duas sinagogas durante a celebração do Shabat, o dia judaico de descanso e orações, matando 25 pes- soas. Outras 300 foram feridas. Segundo a polícia, uma câmera de segurança registou imagens de um motorista saindo de um carro depois de o estacionar diante de uma das sinagogas pouco antes da explosão. Dois turcos foram identificados como autores destes atentados suicidas. A polícia descobriu que Gojan Elaltuntas, 22 anos, foi o responsável pelo atentado com o carrobomba contra a Sinagoga Neve Shalom, enquanto Mesut Cabuk, 29 anos, atacou a Sinagoga Beth Israel. Ambos são originários de Bingol (leste da Turquia). O Presidente da União Europeia, Silvio Berlusconi, recebe o Congresso Judaico Europeu Uma delegação do CJE - Congresso Judaico Europeu (EJC=European Jewish Congress), conduzida pelo seu Presidente Sr. Cobi Benatoff acompanhado pelo Sr. Serge Cwajgenbaum (Secretário Geral) teve um encontro, em Milão, com o Sr. Silvio Berslusconi, Presidente do Conselho Italiano e Presidente da União Europeia. O Presidente do Congresso Judaico Europeu expressou a sua solidariedade para com as vítimas do ataque terrorista em Nassíria que abalou a Itália. Mencionou o seu sentimento de profunda preocupação, tal como das Comunidades Judaicas Europeias, pelo crescimento dos actos de violência e terrorismo dirigidos a judeus na Europa, citando como os mais recentes exemplos, os ataques a duas sinagogas em Istambul e o incêndio de uma escola Judaica nos subúrbios de Paris. A delegação da CJE solicitou que sejam implementadas fortes medidas que permitam aos cidadãos judeus da Europa viver em paz e harmonia sem serem objecto de ataques quase diários que perturbam a normalidade das suas práticas religiosas e a educação das crianças judias. O Presidente Berlusconi confirmou o seu firme apoio a esta solicitação. Como Presidente da União Europeia, comprometeu-se a comunicar aos seus colegas durante a próxima cimeira europeia que terá lugar em Bruxelas em 12 de Dezembro, a apreensão dos líderes judaicos confrontados com um crescimento preocupante e intolerável de actos anti-semitas. Reafirmou o seu compromisso global em apoiar os esforços de Paz entre Israelitas e Palestinianos, reiterando a sua profunda amizade para com o povo de Israel e para com os Judeus Europeus. TIKVÁ, Dezembro 2003 9 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 10 aconteceu no mundo Relatório europeu sobre o anti- Iniciativa de Paz lançada em Genebra No passado dia 1 de Dezembro foi lançada e assinada -semitismo metido na gaveta Preocupado com o aumento dos actos anti-semitas, o Observatório Europeu sobre o Racismo e a Xenofobia decidiu, no início de 2002, fazer um estudo aprofundado sobre o fenómeno, entregando a redacção do relatório a dois investigadores da Universidade Técnica de Berlim. Em Março de 2003, o relatório intitulado “Manifestações de Anti-semitismo na União Europeia, estava pronto para ser divulgado. No entanto, até hoje o Observatório absteve-se de o publicar. Não é difícil perceber porquê: o relatório mostra claramente uma escalada dos actos anti-semitas, acompanhando o exacerbar do conflito do Médio-Oriente, e sobretudo aponta o dedo a grupos árabes e muçulmanos, autores de “agressões e ataques físicos contra judeus, da profanação e destruição de sinagogas”, com a cumplicidade activa de uma parte da extrema esquerda pró-palestiniana. É pois politicamente incorrecto... Aconselhamos vivamente a sua leitura no site do CRIF: www.crif.org em Genebra uma iniciativa de paz com o objectivo de criar um movimento para mobilizar as opiniões públicas israelita e palestiniana em torno da ideia de que a paz é possível. Esta iniciativa foi organizada por Yossi Beilin, ex-ministro israelita e Yasser Rabo próximo de Arafat. Não é pois um plano oficial. É apenas a ilustração daquilo que poderia ser a plataforma de um futuro acordo de paz: no seguimento do plano Clinton, prevê um Estado Palestiniano que ocuparia 97,5% da CisJordânia e da Faixa de Gaza, a divisão de Jerusalém e o abandono pelos judeus do Monte do Templo ou Esplanada das Mesquitas e o abandono pelos palestinianos do direito de retorno dos refugiados. Segundo sondagens recentes, o plano tem o apoio de cerca de 30% de israelitas, mas nos territórios palestinianos, o Hamas e a Jihad Islâmica manifestaram-se violentamente contra. Os autores do plano foram recebidos por Colin Powel que encorajou a iniciativa, considerando-a um complemento ao “Roteiro” para a paz. São Paulo realiza o Novo Executivo da CONIB 7º Festival de Cinema No último dia 30 de Novembro, foi eleito o novo executivo da CONIB - Confederação Israelita do Brasil para Judaico o triénio de 2003/2006. Na 34ª Convenção da entidade O clube A Hebraica e o Centro da Cultura Judaica de São Paulo-Brasil realizaram no mês de Novembro a 7º edição do Festival de Cinema Judaico que apresentou uma selecção de filmes nacionais e internacionais, premiados mundialmente, com produções inéditas e temática raramente explorada no circuito comercial nacional. Foram também exibidos filmes de ficção e documentários, nas salas do clube “A Hebraica”, no Centro de Cultura Judaica, no CineSesc e no MIS (Museu de Imagem e Som). foram eleitos por aclamação o novo Presidente Berel Aizenstein e os vice-presidentes Osias Wurman e Jack Terpins. A CONIB reúne 13 federações israelitas e é a entidade maior da representatividade judaico brasileira. “Um homem não se torna grande até reconhecer o quanto é pequeno!” Rabino Kalman Packouz 10 TIKVÁ, Dezembro 2003 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 11 aconteceu na CIL A Propósito do Musical “Scents Lançamento do livro “O Gueto de of Light” (Rastos de Luz) Varsóvia” Entrei no Teatro Rivoli no Porto de espírito aberto. Tratava-se de um ‘musical’ em inglês representado por jovens universitários do Porto: um Romeo e Julieta ou um West Side Story, só que... só que...o ‘setting’ era um Campo de concentração (Campo de trabalho Stalag III, que foi uma prisão para prisioneiros aliados e não para judeus) com soldados SS e prisioneiros judeus. Cantavam e dançavam todos muito bem, imaginem SS’s em uniforme a cantar e dançar....! A vítima era um ‘pobre’ soldadinho SS que reconheceu um antigo amigo prisioneiro judeu que ajudou a fugir com a sua noiva judia (com casamento no campo). Finalmente o SS é morto por um outro SS que descobre a noiva que também mata antes do marido regressar ao ‘campo’. Isto tudo dançado e cantado. A tragédia não foi só a ofensa (certamente involuntária) e extremo mau gosto disto tudo mas principalmente o facto destes jovens actores e público já se terem esquecido da verdade de há 64 anos, aplaudindo de pé estas cenas do ‘Scents of light’. Às 2 da manhã na Sinagoga onde foram recebidos para um beberete, depois de ter dito o que pensava ao produtor, ouvi dizer por uma outra pessoa que, ‘finalmente eram todos humanos’... Será que tambem somos culpados destas situações com os nossos recentes ‘liberalismos’ e ‘reformismos’? Era bom voltarmos todos a ver, especialmente os mais jovens (judeus e não judeus) o filme da Esther Mucznik ‘A Palavra às Testemunhas’. José Oulman Carp Conferência no Arquivo Histórico Diplomático No passado dia 19 de Novembro, teve lugar no Palácio das Necessidades, uma interessante conferência sobre a actuação das autoridades portuguesas no século XX face aos “Os Judeus levantinos” de origem portuguesa. A conferência foi proferida pela Dra. Manuela Franco, actual Secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros que tem levado a cabo uma intensa investigação sobre este tema. Manuela Franco, diplomata de carreira, viveu uns anos em Israel, acompanhando o marido, Bernardo Futcher Pereira, quando este exerceu funções de Primeiro Secretário da Embaixada de Portugal em Tel-Aviv. No passado dia 18 de Novembro foi lançado no Espaço Memória dos Exílios, o livro de Bárbara Majewska, editora da primeira versão de O Gueto de Varsóvia, em 1988, que foi na altura censurado pelas autoridades polacas, que “branquearam” a participação polaca na repressão aos judeus. O livro, que conta a vida (e a morte) no Gueto, foi traduzido para português por Miguel Beckerman e editado pela Âncora Editora, em publicação coordenada por Miriam Assor. À venda na nossa secretaria. Tolerância, Justiça e Paz No passado dia 14 de novembro, dia Mundial da Tolerância, o Alto Comissariado para a Imigração organizou uma sessão solene no Palácio Foz, com a presença de seis confissões religiosas que pronunciaram uma breve comunicação. Também a Comissão Nacional Justiça e Paz, organizou uma jornada subordinada ao tema “As Religiões e a Paz”. A nossa comunidade esteve representada por Esther Mucznik nos dois eventos. Apresentação pública do filme “A Palavra às Testemunhas” Em comemoração dos 65 anos da “Noite de Cristal”, foi apresentado no passado dia 9 de Novembro, no Hotel Diplomático, o filme documentário “A Palavra às Testemunhas” da autoria de Esther Mucznik. O filme foi feito com base em entrevistas de ex-refugiados e sobreviventes do Holocausto, quase todos da nossa comunidade e teve um acolhimento caloroso por parte da assistência que encheu a sala. Realizado com o apoio técnico da produtora Artémis e financiado pela Câmara Municipal de Cascais, o filme vai ser proposto à RTP 2 e Canal História da TV Cabo. Irá também circular pelas escolas e outras instituições educativas. TIKVÁ, Dezembro 2003 11 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 12 Novo intercâmbio entre Jovens das Comunidades de Lisboa e Madrid “ O Reencontro” Após o sucesso do primeiro encontro realizado durante o mês de Maio em Madrid, foi agora a vez dos jovens da CIL receberem os nossos vizinhos num grande encontro realizado em Paialvo-Tomar, que contou com a participação de 45 jovens com faixa etária entre dos 13 e 20 anos. Passadas várias semanas de contactos entre as duas comunidades e um estreito trabalho de colaboração, o evento teve finalmente início no dia 5 de Dezembro com a chegada dos espanhóis a Lisboa, onde foram recebidos na sede administrativa da Cil e no espaço destinado ao jovens do Dor Chadash de Lisboa (cave), quando puderam saborerar um pequeno-almoço especial de boas vindas, preparado com todo o carinho. Em meio a estas várias actividades, vale salientar algumas importantes e destacadas, entre as quais as alusivas à Chanuká, Shabat e liderança, bem como a importante presença da Sra. Irit Savion - Conselheira da Embaixada de Israel em Portugal - que proferiu uma interessante palestra sobre o actual momento do conflito com os palestinianos. A palestra abrangeu outros importantes temas tais como a actual posição do Governo de Israel e as suas perspectivas frente ao processo de paz, a guerra no mundo da media, o recrudescimento do anti-semitismo na Europa. Todos estes temas debatidos de forma muito activa pelos jovens presentes. Seguiram depois para um “city-tour” por Lisboa, quando percorreram alguns dos lugares mais conhecidos da cidade. Após o almoço partiram rumo à Paialvo - sito a 20 Kms de distância de Tomar. Lá chegaram por volta das 16 horas no Lagar de São José, um aconchegante local que abrigou este grande evento. Actividades de integração, um agradável serviço de Arvit e o Cabalat Shabat marcaram os primeiros importantes momentos deste encontro. Nos dois intensos dias que se sucederam ocorreram muitas outras actividades sociais, culturais, religiosas, palestras, debates, jogos, brincadeiras, competições e outras, sempre marcadas por uma forte integração, e participação de todos e um irreparável comportamento dos jovens presentes. 12 TIKVÁ, Dezembro 2003 A actividade teve como “trieger” o vídeo com a recente entrevista do Primeiro Ministro Ariel Sharon a Henrique Cimerman - jornalista da SIC (emissora de televisão portuguesa). Outro ponto alto ocorreu no domingo pela manhã, quando se realizou a saída para Tomar. Lá os jovens puderam conhecer a Judearia, a Sinagoga local e outros pontos interessantes desta pequena, mas bela cidade. No final deste mesmo dia chegou o momento da sempre difícil e inevitável despedida, quando os espanhóis seguiram de volta para Lisboa de onde rumariam à noite para Madrid. Foi no momento das despedidas que se pôde notar o impacto e a força positiva que este encontro causou entre todos os participantes, quando o idioma e as eventuais diferenças culturais já não constituíam qualquer obstáculo. 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 13 aconteceu na CIL Os jovens da Cil permaneceram em Paialvo até 2ª feira à tarde (feriado), podendo assim viver ainda ricos momentos de integração, de lazer e de conteúdo, principalmente voltados para o trabalho da formação destes jovens como judeus, futuros líderes pensantes e formadores de opinião. Puderam acima de tudo saírem ainda mais fortalecidos para seguirem este nobre e fundamental caminho a ser percorrido pelo Movimento Juvenil Dor Chadash de Lisboa em busca de continuidade e do fortalecimento do judaísmo nas próximas gerações. Todos sedentos de novos encontros com a Espanha e outras Comunidades que desenvolvem similarmente este tão grandioso trabalho que os diferem da juventude em geral. Um passeio para fechar 2003 com chave de ouro O Movimento Juvenil Dor Chadash realizou no final do Mês de Novembro um passeio que contou com a presença de cerca de 30 jovens. A actividade teve início no Pavilhão do Conhecimento do Parque das Nações, onde nossos jovens puderam conhecer e interagir com o maravilhoso mundo da construção, da física, da tecnologia e das comunicações. Após um saboroso lanche, seguiram para o bowling também na zona da Expo 98, onde passaram momentos de muita alegria e descontração. As actividades do Dor Chadash encerraram em 2003 na Festa de Chanuká da CIL e reiniciam no dia 11 de Janeiro de 2004. Até lá! TIKVÁ, Dezembro 2003 13 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 14 Israel em foco SE TEM MAUS VIZINHOS...SUBA A CERCA Q uando os vizinhos são bons e não há criminalidade, basta uma sebe de arbustos baixos à volta dos jardins de qualquer zona residencial de vivendas situada algures no mundo; não corta a vista e é, sob o ponto de vista paisagístico, bem mais agradável. Porém, se isso não acontece, torna-se necessário construir uma cerca ou até um muro para proteger a propriedade e os residentes da casa. A “cerca de segurança fronteiriça” é composta por diferentes secções ao longo de vários quilómetros. Algumas secções são em betão e outras metalizadas. Por vezes com três camadas de protecção, 4 metros e meio de altura e envolvidas por arame farpado. A área circundante é iluminada por holofotes, observada por câmaras de vigilância, repleta de sensores e detectores de movimento e patrulhada por guardas armados sempre acompanhados por cães. Em Israel? Não. Estamos a falar da cerca de segurança que os E.U.A. construíram na sua fronteira com o México, um pacífico país vizinho, para por cobro ao tráfico ilícito de drogas e à imigração ilegal que, a seu ver, ameaçavam a sua segurança nacional. E claro que nunca a O.N.U. ou algum dirigente europeu achou por bem criticar a construção deste “muro”. O problema em Israel é bem mais agudo. Após três anos de incursões de terroristas suicidas oriundos da margem ocidental do Jordão (West Bank) no seu território, de que resultaram cerca de 150 atentados bombistas e mais de 450 vítimas civis, o governo de Jerusalém decidiu construir sensivelmente ao longo da chamada “Linha Verde”, que separa Israel dos territórios ocupados durante a Guerra dos Seis Dias, uma “barreira” semelhante à dos americanos na sua fronteira com o México. Prevê-se que a construção desta cerca de segurança (aproximadamente 592 km ao custo de um milhão de U$D por km) esteja terminada no final do corrente ano. Para que conste, e porque nem sempre somos bem informados pela media sensacionalista, apenas 10% desta área é constituída por um muro. Os muros foram construídos nas cercanias das cidades palestinianas de Qalqilya e Tulkarm, verdadeiros antros do terrorismo islâmico, de onde saíram a maior parte dos bombistas e onde se esconderam vários atiradores 14 TIKVÁ, Dezembro 2003 furtivos que dispararam sobre viaturas de condutores civis desarmados que circulavam numa das mais importantes vias rápidas de Israel. Os outros 90% da “cerca de segurança”, que raramente vemos na televisão, são uma barreira metálica, apetrechada com sensores electrónicos para detectar infiltrações, arame farpado e um fosso para impedir as viaturas de a atravessar. Do lado de Israel, há um caminho de pó para detectar pegadas, uma estrada asfaltada para as patrulhas, câmaras de vigilância e mais arame farpado. Aproximadamente a cada 4 km há uma entrada destinada a permitir a entrada de trabalhadores palestinianos empregados no sector da agricultura em Israel e permitir as relações comerciais e familiares. Segundo um estudo realizado em Junho pela Universidade de Telavive, e apesar do seu elevado custo, 70% dos israelianos, de todos os quadrantes políticos, acha que a cerca vai trazer mais segurança à fronteira. Ariel Sharon e os seus ministros defendem publicamente que esta cerca não é uma cerca de segurança nem uma fronteira política, mas apenas uma forma de luta contra o terror, tal como a que foi construída à volta de Gaza. Os palestinianos e vários partidos políticos israelianos levantam inúmeras questões quanto ao seu traçado, pois é óbvio que, de alguma forma, ela pode ser interpretada como um fait accompli, chegando onde nem o estado de beligerância nem as negociações de paz chegaram. De alguma forma, Israel está a definir quais os colonatos “autorizados” e a por fim a futuras incursões de colonos e até algumas de militares nos territórios palestinianos. Para os palestinianos, é o fim do “sonho secreto” e nunca reconhecido oficialmente de que Israel também fará parte do seu futuro Estado independente ou de que, uma vez este constituído, o terrorismo continuará impunemente a beneficiar de uma fronteira do tipo da nossa com os Espanhóis. Seria, no entanto e como é óbvio, uma utopia pensar que esta construção é uma alternativa a negociações de paz, i.e., um bom entendimento com os vizinhos. GABRIEL STEINHARDT 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 15 Bazar Diplomático Professor Efraim Inbar No final do mês de Novembro teve lugar na Cordoaria Nacional o Bazar diplomático, no qual Israel esteve fortemente representado com uma grande variedade de produtos nacionais. Este ano, a receita deste evento foi revertida a favor de pessoas com deficiência, pelo que o seu contributo foi para uma boa causa. Efraim Inbar, Professor de Relações Internacionais e director do Instituto Besa de Estudos Estratégicos da Universidade Bar-Ilan, esteve em Portugal no início do mês de Dezembro, onde ministrou várias palestras e encontros nesta área. momentos de reflexão CHANUKÁ - O que nos ensinam as luzes ? A festa de Chanuká é uma instituição rabínica, ao contrário das festas maiores do calendário judaico que têm raízes na Tora. Isto é compreensível, Chanuká celebrando um evento posterior à divulgação da Tora. O que é surpreendente é que os sábios resolveram dar o estatuto de mitzvá (mandamento) a esta comemoração. Cabe recordar que decisões semelhantes são escassas. A Torá contém 613 mandamentos e os sábios, que têm autoridade para decidir as regras, só acrescentaram 7 mandamentos adicionais, entre os quais a celebração de Chanuká. Por esta razão se pronuncia a bênção litúrgica que todos conhecem na altura de acender as velas: “Acher kidechanu bemitsvotav ve tsivanu le adlik ner chel Hanuka” (que nos ordenou acender a luz de Chanuká). Quer dizer, que tomamos consciência que recebemos dos rabinos este mandamento de acender as velas, com a mesma força como se fosse de origem divina. Esta decisão rabínica de outorgar o estatuto de mitzvá a Chanuká indica-nos que se trata na realidade de uma questão com um conteúdo religioso importantíssimo. Gostaria de apontar aqui algumas ideias relativamente ao significado profundo da festa de Chanuká e mais particularmente do acender das velas. A festa de Chanuká comemora duas coisas, à primeira vista distintas. Uma é a vitória militar. Na altura do Segundo Templo, e após mais de dois séculos de relativa calma na região, começou um período de dificuldades com as autoridades gregas que tentaram impor as suas normas culturais ao povo judeu. Esta situação provocou um conflito pela independência. Em -165 o general sírio Lysias avançou com uma forca de 60 000 homens. Yehuda Maccabi só com 10 000 homens conseguiu vencer os sírios. Este evento foi um acto de heroísmo que forjou o sentimento nacionalista do povo. E esta vitória militar é mencionada na oração (Amidá) de Chanuká numa passagem (Al Hanissim) acrescida no texto habitual. Mais abaixo compreenderemos porque motivo a lembrança duma batalha é mencionada no texto de uma oração. TIKVÁ, Dezembro 2003 15 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 16 momentos de reflexão O segundo acontecimento celebrado na festa de Chanuká é um milagre. O Templo, pilhado pelos sírios, foi restaurado em -164. E no dia 25 do 9º mês do calendário judaico (Kislev) realizou-se a inauguração (Chanuká) do Templo após a sua renovação. Só fazia falta o azeite puro para acender o “ner tamid” (chama perpétua), mas os sacerdotes não quiseram atrasar a inauguração. Contudo, encontrou-se um pequeno frasco com uma quantidade de azeite puro, apenas suficiente para um dia, e aconteceu que esta pequena quantidade chegou para acender durante oito dias, o tempo necessário para preparar uma nova produção de azeite puro. Este milagre é a origem da mitzvá de acender velas durante oito dias, com a já mencionada bênção. Qual é então o significado destas velas? O símbolo da luz é clássico, representa a oposição entre dia e noite, luz e escuridão. A luz representa o conhecimento, os factores positivos, as coisas bem sucedidas. E simboliza também a liberdade a sair do exílio, como o dia sucede à noite. Assim, é no meio da noite que maior deve ser a esperança de ver a chegada do dia. No simbolismo do tempo não é de estranhar que a festa das luzes aconteça durante os dias obscuros (o Inverno) para levantar a esperançar dos dias de claridade (o verão). Mas Chanuká tem um significado ainda mas importante para nós, judeus crentes. É o conceito do milagre nos tempos modernos. O milagre do pequeno frasco de azeite foi visível, compreensível como um milagre, pelo menos para quem ia ao Templo. Mas a vitória militar também fez parte do milagre. Contudo, não faltaram pessoas para ver aqui, não um milagre, mas sim o resultado duma boa estratégia militar. Os sábios dizem que a vitória não é o resultado da força das armas, mas sim da vontade divina. Desta forma, podemos compreender a decisão rabínica de que as velas celebram em público o milagre visível, enquanto o texto da oração ( Amida) interioriza na nossa consciência que também a vitória militar foi da ordem do milagre. é para que não sejam as luzes de Chanuká a fonte da iluminação do espaço no qual estão colocadas. O significado desta disposição é que a visão que apresentamos da realidade do milagre na nossa vida quotidiana não deve ser desviada para outras finalidades. E para não esquecer: o milagre existiu porque os sacerdotes não quiseram esperar mais tempo para reiniciar o serviço no Templo. Consideraram que a acção é mais importante do que o procedimento, e não aceitaram esperar que tudo estivesse pronto para realizar as orações. O milagre de Chanuká atesta que tinham a razão. Quando se trata de cumprir uma mitzvá, devemos fazer com os meios de que dispomos e o céu ajudará com certeza. Em conclusão, Chanuká contém um ensinamento fundamental para nós. Em primeiro lugar, é essencial actuar na boa direcção, mesmo se todas as condições não estão reunidas. Como o exemplo das luzes, o entusiasmo não deve diminuir, mas crescer em cada dia. E na nossa acção, não devemos perder nem alterar o conteúdo da nossa filosofia. Mesmo na escuridão do exílio, esta luz deve permanecer e crescer no nosso interior. Realizar este objectivo na nossa vida é simples. É por meio do estudo permanente da nossa história e da nossa literatura tradicional, sem falar do cumprimento das mitzvot (mandamentos), que podemos fortalecer os nossos conhecimentos. Chanuká desperta em nós este desejo de guardar estas luzes. Aproveitemos estas frias noites de Inverno para aquecer as nossas almas e fortificar a nossa fé com um estudo ainda mais intensivo. Boas festas e Chanuká Sameah para toda a comunidade. Alain Hayat No caso das luzes de Chanuká existe também uma situação particular que não se verifica noutras celebrações relacionadas com a luz, como o Shabat e festas. As luzes de Chanuká não podem ser usadas para qualquer outro propósito do que elas próprias. E o motivo do « shamash » (vela adicional) que serve para iluminar, 16 TIKVÁ, Dezembro 2003 Extractos da palestra proferida no passado dia 17 de Dezembro 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 17 as nossas sugestões Livros • “Memórias de Branca Dias” novo romance do ensaísta, dramaturgo, crítico literário e romancista Miguel Real, narra, em forma de rememoração, a história romanceada da judia portuguesa Branca Dias, que, no século XVI, perseguida pelo Santo Ofício em Portugal, embarca com a família para o Brasil, terra onde não se livrará das perseguições mas onde assumirá uma importância cultural, religiosa e política que a transformará numa figura lendária, nomeadamente nas cidades de Camaragibe e Olinda, onde fixou residência. • “Gueto de Varsóvia” - Tradução - Miguel Bekerman Coordenação da Edição - Miriam Assor Apoio : Câmara Municipal de Cascais . À venda na nossa secretaria por apenas 30 € VISITE O SITE OFICIAL DA CIL! Conheça as super novidades da nossa nova “Secção Interactiva” com a sondagem do mês, humor, receitas da culinária judaica, músicas judaicas, as últimas notícias de Israel e imagens do Muro das Lamentações em tempo real !!! Mais ainda haverá outras surpresas. Aguardem e fiquem atentos... www.cilisboa.org Visite! Divulgue! Faça o seu registo e dê a sua opinião! carta dos leitores Atentado às Sinagogas na Turquia Dear Bensiyon Pinto, Dear Mr. Oulman Carp We have just heard of the tragic news of the horrendous acts of terror perpetuated on our beloved Istanbul Synagogues. Unfortunately our history is full of such similar attacks and we believe we will not be the last ones who suffer such evil horror. With the support and solidarity outpouring from friends all over we do not feel alone in this darkest period. It is our duty to rebuild not only synagogues and buildings but also confidence and sanity in our people. With time & strength of community we hope to find normalcy. On behalf of our community and myself we transmit to the families of the victims our deepest heartfelt condolences and all our solidarity and support to your community. José Oulman Carp. President - CIL Thank you for your support Regards Lina Filiba Executive Vice President The Jewish Community of Turk TIKVÁ, Dezembro 2003 17 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 18 cartas dos leitores À Redacção do Tikvá Recebi ontem o número 39 da vossa revista e lí-a do início até ao fim com imenso interesse... Acho que tanto a apresentação como o seu conteúdo estão melhores do que nunca, com a única exepção da reprodução de algumas fotografias (pg.13 e 15 por exemplo) (......) (......) A fotografia da capa é impressionante e traduz bem a resignação de tantos refugiados que conhecí durante a minha actividade no mesmo local onde agora estão instalados, quando, sob a orientação do Dr. Elias Baruel me foram confiadas muitas decisões que ele teve a coragem de delegar a mim. Os meus pais, a minha irmã e eu tivemos a sorte de sermos acolhidos em Portugal, dois meses antes da “Noite de Cristal”, facto que nunca esqueceremos, pois este acolhimento significou a vida, ao contrário da morte de tantos dos nossos correligionários e familiares que pereceram. Shalom para todos Ernst S. Levy, Lonay - Suisse Jardim dos Justos no Yad Vashem Caros Amigos, É com prazer e honra que vos envio esta comunicação-convite para o acto de revelação do nome do Justo brasileiro, Embaixador Luis Martins de Souza Dantas, no Jardim dos Justos no Yad Vashem (Jerusalém). Souza Dantas outorgou centenas de vistos diplomáticos a judeus refugiados na França de Vichy em 1940-1941, o que lhes permitiu sair da Europa rumo a liberdade. Por este raro acto humanitário, ele foi reconhecido em 2 de Junho de 2003 como “Justo entre as Nações”. Peço-lhes o favor de enviar esta comunicação-convite a vossos conhecidos e amigos luso brasileiros. Abraços, Avraham Milgram (Tito) 18 TIKVÁ, Dezembro 2003 Assunto: Resposta ao artigo “ A Ameaça nº 1 e Outras Ameaças” por Miguel Sousa Tavares (Jornal Público - 7 Novembro 2003) “Foi com estupefacção que li o artigo do Dr. Miguel Sousa Tavares no passado dia 7 de Novembro. Não queria acreditar que no meu país alguém da craveira intelectual do Dr. Sousa Tavares podia escrever um artigo declaradamente anti-semita. O artigo poderia ter sido escrito por um qualquer membro do “Front National” francês (cujo estilo tem tanto de provocador como de pobreza em argumentação). Provocador porque em vez de afirmar que uma terceira guerra mundial começara pelo médio oriente, afirma que uma potencial guerra começará por culpa de Israel. Pobre em argumentos porque esquece que em 1991 aquando dos acordos de Madrid ou em 1998 em Camp David os palestinos tiveram uma oportunidade única de aceitar uma solução pacífica e não o fizeram. Foi o Sr. Arafat que escolheu o caminho da guerra e não da paz. Provocador porque afirmar que a política Israelita procura uma “solução final” para os palestinianos. Sempre pensei que este estilo de afirmação só poderiam vir de pessoas que desconhecem o que a palavra solução final significa para um judeu ou alguns revisionistas em que até hoje não incluía o Dr. Miguel Sousa Tavares. Provocador porque compara o terrorismo Palestiniano com o sistema de defesa do único país democrático existente no médio oriente. Pobre em argumentos porque não reconhece que Israel é uma democracia e por tal tem o direito de eleger os seus líderes e definir uma política de defesa que, quer o Dr. Miguel Sousa Tavares goste ou não, é fruto da democracia. O artigo do Dr. Sousa Tavares afirma sem justificar, utiliza palavras provocadoras sem argumentar, mostra desconhecimento histórico sem justificação para tal. Preocupa-me como pessoa e indivíduo que ninguém reaja e que um jornal como o Público o inclua um tal artigo nas suas páginas. Com os meus melhores cumprimentos” Carta enviada à CIL pelo leitor Carlos Moedas Associado em Banca de Investimento - Londres 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 19 espaço aberto DE ONDE VÊM OS APELIDOS JUDAICOS P orque me chamo Esther? Porque tenho o nome da minha bisavó, que morreu antes de eu nascer? Os judeus askenazim dão os nomes dos antepassados falecidos aos seus filhos. Isto tem a ver com a crença na reencarnação das almas, com o respeito e a recordação do morto. Se pudesse seguir a minha árvore genealógica, encontraria tetravós chamadas Esther, de três em três gerações. Os judeus sefarditas dão aos seus filhos o nome dos avós, que geralmente estão vivos. Assim, numa árvore genealógica sefardita encontrar-se-á o mesmo nome geração sim, geração não. Ao ler a história de Espanha, às vezes não se sabe quem já morreu e quem ainda vive. Será o avô ou o neto? Às vezes encontra-se o filho com o mesmo nome do pai, mas isso é um costume cristão encontrado entre judeus sefarditas depois de terem deixado a Espanha, após a Inquisição. SIGNIFICADO DOS APELIDOS Há dezenas de milhares de apelidos judaicos que utilizam a combinação de cores, elementos da natureza, profissões, cidades e características físicas. Um pequeno exercício é perguntarmos: quantos apelidos judaicos podemos reconhecer com a raíz das seguintes palavras? CORES Roit, Roth (encarnado), Grun, Grien (verde), Wais, Weis (branco), Schwartz, Swarty (preto), Gelb, Gel (amarelo). CARACTERÍSTICAS FÍSICAS Shein, Shen (lindo), Lang (alto), Gross, Grois (grande), Klein (pequeno). PROFISSÕES Beker (padeiro), Schneider (alfaiate), Schreiber (escritor), Singer (cantor). Em muitos países exigia-se que os apelidos terminassem, como na língua local, com o sufixo “ski” ou “sky” e “ska” (para mulheres), “as”, “iak”, “shvili”, “wicz” ou “vich”. Assim, com a mesma raíz, temos por exemplo: Gold, que se transforma em Goldman, Goldanski, Goldanska, Goldas, Goldiak, Goldwicz. A terminação indica a língua que se falava no país de origem do apelido. APELIDOS ESPANHÓIS Nos apelidos judaicos espanhóis é fácil reconhecer profissões, designadas em árabe ou em hebraico, como Amzalag (joalheiro), Saban (fabricante/comerciante de sabão), Nagar (carpinteiro), Haddad (ferreiro), Hakim (médico). PROFISSÕES RELACIONADAS COM A SINAGOGA COMO: PAISAGENS Hazan (cantor), Melamed (maestro), Dayan (juíz). Berg (montanha), Tal, Thal (vale), Wasser (água), Feld (campo), Stein (pedra), Stern (estrela). TÍTULOS DE HONRA COMO: METAIS E PEDRAS PRECIOSAS Gold (ouro), Silver (prata), Kupfer (cobre), Eisen (ferro), Diamant (diamante), Rubin (rubí), Perl (pérola), Glass (vidro), Wein (vinho). VEGETAÇÃO Baum, Boim (árvore), Blat (folha), Blum (flor), Rose (rosa), Holz (madeira). Navon (sábio), Moreno (professor) e Gabay (oficial). O apelido Péres é muito popular, muitas vezes escrito Pérez, com a terminação idiomática espanhola. Mas não é um apelido de origem espanhola, é sim a palavra hebraica que designa os capítulos em que a Torah (os cinco livros de Moisés) se divide para a sua leitura semanal a fim de se completar durante o ano a leitura da Torah. Muitos apelidos espanhóis adquiriram pronunciação askenazi na Polónia, como por exemplo Castelanski, Luski (que vem de Huesca, em Espanha). Ou adoptaram como apelido Spanier (espanhol), Fremder (estranho), ou Auslander (estrangeiro). TIKVÁ, Dezembro 2003 19 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 20 espaço aberto A Inquisição foi instaurada em Itália depois de o ter sido em Espanha; daí que também houve judeus italianos que imigraram para a Polónia. Aparece o apelido Italiener e Welsch ou Bloch, porque Itália é chamada Wloche em alemão. APELIDOS DERIVADOS DA BÍBLIA Um grande número de apelidos judaicos deriva de nomes bíblicos ou de cidades europeias da Ásia Menor. Isto, muitas vezes, faz com que levem consigo os vestígios do lugar de origem. Tomemos como exemplo de “raíz de apelido” o nome de Abraham. Filho de Abraham diz-se de maneira diferente em cada língua. Abramson, Abraams, em alemão ou holandês. Abramov ou Abramoff em russo. Abramovici, Abramescu em romeno. Abramski, Abramovski em línguas eslavas. Abramino em espanhol. Abramelo em italiano. Abramian em arménio. Abrami, Ben Abram em hebraico. Bar Abram em aramaico e Abramzadek, ou simplesmente Abram, em persa. Abramshvili em georgiano. Barhum, Barhuni em árabe. Os judeus de países árabes também usaram o prefixo Ibn. Basta ler uma lista telefónica para se ver todas estas variações, quantos apelidos existem derivados de Abraham, Isaac e Jacob. Há também apelidos judaicos que seguem o nome de mulheres, mas isso é menos comum. Às vezes isto sucedia porque as mulheres eram viúvas ou por alguma razão eram as figuras dominantes da família. Goldin vem de Golda. Hanin de Hana. Perl ou Perles de Rivka. Um dado curioso no apelido Ginich. A filha do Gaon de Vilna chamava-se Gine e casou-se com um rabino vindo de Espanha. Os seus filhos e netos eram conhecidos como os descendentes de Gine e adoptaram o apelido Ginich. Também há apelidos derivados de iniciais hebraicas, como Katz ou Kac, que em polaco se pronuncia Katz. São duas letras em hebraico, K e Z iniciais das palavras Kohen Zedek, que significa “sacerdote justo”. APELIDOS ADQUIRIDOS DURANTE VIAGENS Em apelidos que derivam de cidades, a origem é clara. Romano, Toledano, Minski, Kracoviac. Outras vezes, o apelido mostra o caminho que os judeus tomaram na diáspora. Por exemplo, encontramos na Polónia apelidos como Pedro, que é um nome espanhol. 20 TIKVÁ, Dezembro 2003 O que é que indica? Foram judeus que escaparam da Inquisição espanhola no século XV. Na sua origem, possivelmente eram sefarditas, mas que se misturaram e adaptaram ao meio askenazi. Muitas avós polacas chamam-se Sprintze. Donde vem este nome? O que significa? Pensem que em hebraico não se escrevem as vogais, assim ou é um nome que se escreve em letras hebraicas SPRNZ, que em polaco se lê Sprintze, ou como é que leríamos se lhe pusermos vogais? Em espanhol, seria Esperanza, que, escrito em hebraico e lido em polaco resulta Sprintze. TROCAS DE APELIDOS Há imensas histórias sobre a troca de apelidos... Durante as conversões forçadas em Espanha e em Portugal, muitos judeus converteram-se adoptando novos apelidos, que as paróquias aceitaram como “cristãos novos”, como Salvador ou Santa Cruz. Outros tomaram o apelido dos seus padrinhos cristãos. Mais tarde, ao fugir para a Holanda, América ou para o Império Otomano, voltaram à religião judaica sem perder o seu novo apelido. Assim, apareceram apelidos como Diaz, Errera, Rocas, Férnandez, Silva, Mendes, López ou Pereira. As guerras foram outra causa para a troca de apelidos. A pessoa perdia, ou queria perder, os seus documentos e conseguia um passaporte com um apelido que não denunciava a sua origem, para passar a fronteira a salvo ou para escapar ao serviço militar. No fim do século XIX o Czar da Rússia exigia 25 anos de serviço militar obrigatório. Quantos imigrantes fugiram da Rússia e da Ucrânia com passaportes trocados para evitar uma vida dedicada ao serviço do Czar! Outra questão é que somos filhos de imigrantes e muitos apelidos desfiguraram-se ao trocar de país e de língua. Às vezes pelos funcionários da Alfândega, outras vezes mesmo pelo próprio imigrante que não sabia espanhol ou escrevia-o mal. Por isso, muitos membros da mesma família têm apelidos que são semelhantes foneticamente mas com diferenças gráficas. Além disso, na Polónia a mulher tinha um apelido diferente do filho, terminava em “ska” em vez de “ski”, pois indicava o género. Tradução de Clara Kopejca Cassuto 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 21 tome nota 1904-2004 CENTENÁRIO DA SINAGOGA SHAAREI TIKVÁ Campanha de Angariação de Fundos para Restauro da Sinagoga Caro (a) Amigo(a), Enviamos estas linhas a todos os Judeus que aqui nasceram, mas que já cá não vivem e também àqueles que aqui permaneceram algum tempo, como refugiados ou noutra qualquer condição. Em resumo, estamos a escrever a todos os Judeus que têm um laço e, assim o esperamos, mantêm uma afinidade ou afectividade para com a Comunidade Judaica em Lisboa. Estabelecemos um programa para publicamente reconhecer os nomes de todos aqueles que, cada um de acordo com as suas possibilidades financeiras, contribuem para a renovação da nossa Sinagoga. Entre outras iniciativas, publicaremos um folheto comemorativo para manter viva a História da nossa Comunidade e a Memória dos seus Benfeitores. Como talvez seja do seu conhecimento, a nossa Sinagoga Shaaré Tikvá foi fundada em 1904. É o mais importante templo no País, um património arquitectónico classificado. Teríamos a maior honra em incluir o seu nome entre os nossos Benfeitores. Na verdade, a sua contribuição ajudar-nos-á a cobrir os custos do restauro. De outro modo, seremos forçados a reduzir alguns dos serviços sociais, educativos e religiosos que proporcionamos aos nossos correligionários. Em Maio de 2004, celebraremos o seu Centenário, numa cerimónia que será presenciada pelos mais relevantes dignatários da vida política e representantes das várias religiões. Gostaríamos de poder contar com a sua presença nesta comemoração. A sua participação contribuirá certamente para a dignificação das festividades e dar-nos-á a oportunidade de voltar a ver velhos Amigos, e proporcionar a todos um convívio que muito nos honrará. Em breve, enviaremos informação mais detalhada sobre o programa das comemorações. Gostaríamos, igualmente, de informar que para a preparação destas festividades, decidimos proceder aos inadiáveis trabalhos de restauro e de renovação da nossa Sinagoga, que desde 1949 - ou seja, antes do seu Cinquentenário - não beneficiara de quaisquer obras de fundo. Como facilmente se pode compreender, esta decisão significa, para todos nós, um esforço financeiro muito significativo. O custo total ascende a cerca de US$ 500.000, para cuja cobertura já conseguimos obter contribuições significativas do World Monument Fund, do Governo Português e da Cidade de Lisboa. Porém, a maior parte destes custos terá de ser suportada por contribuições individuais no seio da nossa Comunidade. Acontece que, como sabem, somos muito poucos. Por isso, temos de contar com o apoio de todos - o que cada um poder dar. Todas as contribuições, seja qual for o valor, são dignas. Esperamos poder contar com a sua generosa contribuição, seja ela grande ou pequena. Na verdade, o nosso Templo, a sua História e o seu Património constituem o legado mais importante que recebemos dos nossos antepassados e que poderemos deixar aos nossos filhos e gerações vindouras. Antecipadamente gratos e certos de que esta nossa iniciativa não deixará de acordar em si sentimentos favoráveis aos nossos esforços em preservar e dignificar a vivência religiosa de todos os Judeus em Portugal, aproveitamos esta oportunidade para lhe apresentar os nossos mais cordiais cumprimentos e SHALOM! A Direcção A CIL NA RTP2: Programa Fé dos Homens Segunda-feira, 12 de Janeiro, 18h00 Programa mensal da Comunidade dedicado ao Judaísmo Português TIKVÁ, Dezembro 2003 21 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 22 homenagens Silvio Korich Marcelo Benasulin Guilherme Grossman Felice Levy Rosa Maria Banon de Jesus Ruben Obadia Samuel Tuati Ema Benasulin Patricia Zisman Esther Mucznik Raquel Arié 03-12 04-12 04-12 10-12 12-12 13-12 13-12 18-12 20-12 25-12 29-12 DEZEMBRO Parabéns a... Aniversariantes Participe nestas homenagens. Actualize os seus registos junto da nossa secretaria através do tel. 21 393 11 30 - de 2ª a 5ª feira - das 14h00 às 17h00 horas. [email protected] Resultados da nossa songadem virtual Mês de Novembro Mazal Tov! Os nossos parabéns e os votos de muitas felicidades a todos! Nascimento e Brit Milá Gabriel David - filho de Lusa e Isaiah Miranda Nasceu em Lisboa no dia 21/11/03 - 26 de Heshvan/5764 - Brit Milá - 5/12/03 - 10 de Kislev/5764 Visite o nosso site em www.cilisboa.org e participe da nossa sondagem mensal ! Os resultados serão publicados mensalmente em nosso Boletim Tikvá! nahalot Sábado KISLEV Sábado 25 27 27 27 28 29 29 30 20/12 Clementino Benoliel de Carvalho Jacob M. Sequerra Raquel Toledano Myriam Fresco dos Santos Theodor Richheimer Alegria Bendelac Lucia Terló Margot Berkowitz TEVET Sábado 27/12 2 2 3 3 5 5 6 7 8 22 Mordehai Audaj António Monteiro Azancot Raquel Tangi Bitton George Herzfeld Elias Isaac Tuati Branca Azancot Bensimon Ilse Maria Friman Loewenthal Moisés Libermann Abrahão Obadia TIKVÁ, Dezembro 2003 03/01 9 9 9 11 11 12 12 12 12 13 14 14 15 Harry Bendit Branca Araújo Hilda Benatar Samuel Marques Alfonso Cassuto Menasse Bensimon Moisés Cagi Ruah Abraham Bensimon Adolfo Stieglitz Jacob Adrahi Pauline Muginstein Semtob Querub Leon Juda Katzan Sábado 10/01 16 16 17 17 18 18 Hannah Gabriel Benoliel Simy Benoliel Israel Isaac H.Levy Esther Helhazar Symche Friman Esther Sara Yarus Bar Deborah 19 19 20 20 20 21 Ugo Basola Salomão Marques Sara Seruya Sara Azancot Samuel Sequerra Bar Moshé Lily Glaser Aberlé Sábado 17/01 23 24 25 26 26 26 27 27 27 28 29 29 Moisés Bentes Ruah Adolf Nojmark Miriam Sebag Seruya Melita Friedberg Chana Jablonski João Freudenthal Esther Benoliel Ruah Rosalia Friman Ketty Azun Uzan Arthur Singer Josef Assor Mazaltob Levy 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 23 TIKVÁ, Dezembro 2003 23 1. Tikvá Dezembro 2003.qxd 14.12.2003 19:33 Page 24 A quem se dirigir Horário de funcionamento da Secretaria Segunda a Quinta-feira, 9h00 às 17h30 Sexta-feira e vésperas de festas Judaicas das 9h00 às 13h00 Horário de almoço das 13h00 às 14h00 Atendimento ao público Segunda a Quinta-feira, 13h00 às 17h30 Os espaços para reuniões devem ser agendados com aviso prévio, mínimo de 48 horas Tesouraria Acácia Dourado [email protected] Telf. 213 931 134 Atendimento de Segunda a Quinta-feira, das 10h00 às 13h00 Tikvá Envie os seus textos e sugestões para TIKVÁ até ao dia 15 de cada mês. 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