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LUCAS
ERO
p o r t f ó l i o - 2 0 1 6
LUCAS ERO
Ipatinga, 1990; vive e trabalha em Belo Horizonte, MG.
Graduado em Artes Visuais, com ênfase em Desenho
Escola de Belas Artes da UFMG | 2015
Participou de diversas exposições coletivas e residências, como, por
exemplo, a Desenho Inacabado (2014), na Funarte - BH; Poéticas do
Habitar, no Espaço F da Escola de Belas Artes UFMG e a residência artística QUIMERAS (2015), ministrada pelos artistas franceses
François Andes e Pascal Marquille durante o festival Artes Vertentes
em Tiradentes.
Em 2015 participou da exposição internacional SURREALISMO, no
Círculo de Bellas Artes de Tenerife, Espanha, realizada em homenagem aos 80 anos da Exposicion Universal del Surrealismo (1935), que
ocorrera na mesma cidade e contava com artistas como Max Ernst,
Man Ray, Salvador Dalí, De Chirico, Miró, Picasso, Duchamp etc.
Tendo o desenho como ponto de partida, explora linguagens heterogêneas que vão desde objetos interativos, como máquinas de
pinball de plástico e brinquedos artesanais de madeira, à instalação,
desenho, fotografia, vídeo e performance. Utiliza-se de materiais diversos, como o plástico bolha, filtros com efeitos ópticos, silicone,
cristal de quartzo, vidro, água, nanquim, monotipia, grafite etc; numa
mescla que busca conciliar conceitos, afetos e práticas próprias do
universo do artista à questões sobre o corpo, desejo e sexualidade na
contemporaneidade, onde cada vez mais temos nossas identidades
diluídas na velocidade atroz dos avanços tecnológicos e processos
industriais de automação, distanciando-nos de nossas experiências
primais do corpo e do espírito.
Seguindo essa linha investigativa, o trabalho pesquisa relações possíveis para o encontro destas realidades distantes e conflituosas, porém intimamente mescladas, que se dá entre o corpo humano e o
maquínico, do que é vivo (bio) e o que é nulo de vida, da liquidez penetrável dos afetos à transparência
do plástico. Procura encontrar o que fica no limite de tensão, nos afetos e atrações, tendo o magnetismo erótico como o elo que une as bordas do abismo na tentativa de conciliar contrários.
Sob a aurora cibernética, reluz o vermelho neon da membrana do corpo humano e sua pele sensível
se mescla ao inorgânico maquinal. Como na metáfora de Lautréamont, o “encontro fortuito de um
guarda-chuva e uma máquina de costura sobre uma mesa de dissecação”, fala da relação erótica entre
coisas de naturezas distintas; de brinquedos anatômicos e corpos modulares não orgânicos. Breton interpreta essa mesa de dissecação como cama de leito e coito. A cama acolhe o sono, o parto e a morte, e
tem aspecto semelhante ao do útero e da sepultura. Como diria Bataille, o sentido último do erotismo
é a morte. O acaso do desejo nos une pela força do inesperado e do seu choque engendra a violação, a
destruição da ordem estabelecida. Leva à fusão dos corpos, ao fim da descontinuidade, à supressão do
limite. Instrumentos de dissecação, pedra, cristais de quartzo, plástico e anatomia. O corpo que ama
é viscerado em sua nudez absoluta, cortado, modificado e reconstruído. Um híbrido vertiginoso que
segue à deriva pelas ruas do labirinto do mundo. Um ciborgue, uma máquina, um afeto líquido que
escoa tão rápido que foge à nossa compreensão.
ENCONTRO DAS MÁQUINAS | série
2015
monotipia
ENCONTRO DAS MÁQUINAS | série
2015
monotipia
TORRE DO AMOR
2015
técnica mista
12,5 x 9 x 38 cm
guache branca, fita-crepe,
nanquim sépia e
brinquedo madeira
(fundo; detalhe)
MÁQUINÁRIO LÍMBICO
2015
18 x 10 x 1 cm
monotipia, caneta posca branca,
papel e três mini-pinball de plástico
A máquina perpétua, ou moto-contínuo, é um automato hipotético da física que
teria em si toda a estrutura necessária para funcionar infinitamente alimentando-se do próprio movimento. Porém, é de consenso científico que moto-contínuos não podem ser construídos porque violariam a primeira ou a segunda lei da
termodinâmica e também a Lei Áurea da Mecânica.
A imagem à esquerda, é o registro fotográfico do trabalho Máquina de Coito
Perpétua, que consiste em um desenho com colagem feito em papel, duplicado
pela película polarizadora que está fixada sobre o vidro da moldura. Ao centro
da imagem gerada pela polarização do desenho, há um ponto e um círculo verticalmente duplicados, que se encontram virtualmente, e deste contato ínfimo que
não acontece no mundo material, conjugam uma cena erótica de inseminação.
O erotismo não está isento da lei da termodinâmica, assim como todas as
relações amorosas que se alimentam dele. Porém, neste trabalho há uma tentativa metairônica de se alcançar a máquina erótica perfeita (um anti-mecanismo,
nas palavras de Marcel Duchamp), que não se desgasta físicamente por se dá em
uma relação que acontece no mundo virtual ou em uma dimensão plástica de
ideias, projeções e fantasmas.
MÁQUINA DE COITO PERPÉTUA
da série IMAGENS LÍQUIDAS
2015
Técnica mista - colagem, desenho
15x15cm
caneta posca branca, papel preto,
película polarizadora,
caixa de madeira e vidro
caixa desmontada | desenho com a película polarizadora
caixa desmontada | desenho sem a película polarizadora
MÁQUINA DE COITO PERPÉTUA | detalhe
PELE ENCHARCADA
da série IMAGENS LÍQUIDAS
2015
Técnica mista - colagem, desenho
25x25cm
caneta posca branca, papel preto,
película polarizadora, papel higiênico,
caixa de madeira e vidro
* detalhe PELE ENCHARCADA
* detalhe PELE ENCHARCADA
SERES DESCONTÍNUOS
2015
84x60cm
técnica mista
ATRAVÉS DA CARNE
2014
nanquim e guache sobre papel
dimensões variáveis
CAFÉ DA MANHÃ
técnica mista
30x21cm
2015
ERÓTICA TRANSPARÊNCIA
desenho sobre papel
30x21cm
2015
PEDRA LEVE
2015
ovo esculpido em concreto celular,
copo de vidro com água
* desenho esquemático para exposições
O VIRTUAL DO OUTRO
2015
fotografia
60x42xcm
INSEMINAÇÃO
2015
fotografia
60x42xcm
ÚTERO
2014
400m de plástico bolha
e luz vermelha;
dimensões variáveis
O plástico bolha é usado na indústria para embalar objetos frágeis durante seu transporte,
função semelhante à da pele animal; e dentro
dessa cadeia metafórica de embalar e acolher,
pode ser associado também ao invólucro uterino
que protege o (a)-feto. Como película cristalina
de contato, permite a troca de toques e carícias
através do desejo compulsivo de estourar as bolhas (este oriundo do instinto destrutivo mesclado à sensações de prazer). Ativando o sensorial,
torna-se erótico como um corpo vivo, ainda que
em sua natureza industrial de objeto seja uma
negação do erotismo.
O título possui duplo sentido, porque ao mesmo
tempo que erotiza o inorgânico buscando criar
um ambiente intra-uterino acolhedor, também
ironiza o desejo de regressão ao ventre materno,
já que o plástico bolha, nesse aspecto da instalação, é próprio para ser estourado pelos visitantes; ou seja, um útero que você regressa feito
para ser rompido, estourado na pulsão de morte
que metaforiza o parto, a descontinuidade, a
ruptura inicial.
ÚTERO (detalhe)