GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 175 DA RETÓRICA DO
Transcrição
GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 175 DA RETÓRICA DO
DA RETÓRICA DO FRANCISCANISMO NAS MORALIDADES DE GIL VICENTE Maria do Amparo Tavares Maleval 1 RESUMO: Os autos de devoção ocupam lugar de destaque na produção de Gil Vicente, feitos muitos deles a pedido da franciscana rainha D. Leonor, viúva de D. João II e irmã de D. Manuel, que foi a principal mecenas do dramaturgo. Dentre eles selecionamos os Autos dos Mistérios da Virgem (ou da Mofina Mendes) e da Feira, encomendados para o Natal, os Autos da Alma e da Barca da Glória, representados na Semana Santa, e o Milagre de São Martinho, feito para o Corpus Christi, analisando-lhes alguns elementos retóricos utlizados para veiculação da doutrina do Franciscanismo. Palavras- chave: Teatro; Liturgia; Retórica; Franciscanismo; Idade Média. Começamos por lembrar que o teatro no Ocidente medieval nasceu intrinsecamente relacionado aos rituais religiosos, como de resto já sucedera na Grécia, em que ter-se-ia originado nos cultos em honra de Dionísio2. No interior dos templos, bem como nas procissões, ocorriam representações relacionadas aos principais ciclos e comemorações religiosos, desenvolvidas a partir ou a par dos tropos do rito romano, isto é, de pequenas recitações ou diálogos entre os oficiantes do culto e o coro, inseridos na liturgia da missa. A gestualística ritual, bem como a mistura de música e palavras no culto, aliadas à intenção didática, de comoção e/ou conversão dos assistentes, propiciariam o nascimento desse teatro, destacando-se que, como frisa Henrique Harguindey Banet (1999, p. 7), nessa época de nascimento das línguas românicas as reuniões de cunho 1 Professora Aposentada do Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense. Professora Associada e Procientista do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisadora do CNPq. 2 Cf., a propósito, PAVIS, 1999, p. 25, p. 52-54. GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 175 profano seriam menos abundantes que as religiosas, como missas, festas de santos padroeiros, peregrinações, etc. A par dos tropos, e até considerado uma sua extensão, surgiu o drama litúrgico, em torno da Paixão de Jesus: a Visitatio sepulchri, representada nas matinas do domingo de Páscoa. Esta, conforme demonstra Eva Castro (1997, p. 15), teve como base a composição Quem queritis in sepulchro, também utilizada como tropo da missa pascoalina nos séculos X-XI, como atestam códices monásticos beneditinos (CASTRO, 1997, p. 15-16). Mas não se pode saber ao certo se dita composição surgiu originariamente como texto do tropo ou do drama3. À época em que Gil Vicente surgiu no cenário da corte manuelina – nos primórdios do século XVI –, o drama litúrgico não só já se havia firmado na Europa, mas se desdobrara em autos de autoria extraclerical e mesmo paródicos. As incipientes representações iniciais ligadas à liturgia haviam evoluido para a encenação de episódios da Paixão e/ou de outras passagens dos Evangelhos e do Antigo Testamento, chamadas de mistérios; e, com o aumento dos elementos profanos e ao se tornar mais complexo o aparato cênico, passaram a se realizar no adro das igrejas. Nos pátios aconteceriam também dramatizações profanas, ligadas ao cômico popular, proibidas por 3 Esse drama litúrgico é descrito por ela como “una ceremonia cantada, cuyo modo de narración se realizó a través de um texto preexistente y de unos actuantes, que prestaban su voz y su cuerpo para los diálogos” (CASTRO, 1997, p. 27). Com relação à encenação, era feita em um espaço determinado e inclusive decorado em certas ocasiões, e “estaba destinado a una comunidad, que no solo asistía de forma pasiva, sino que incluso participaba activamente” (CASTRO, 1997, p. 27). Dessa forma, já apresentava os componentes que hoje conhecemos do teatro, tais sejam o libreto, os atores, o espaço do cenário, a decoração e o público participante. Mas, como acentua a especialista, tudo parece indicar que nem os ‘autores’, nem os ‘atores’ nem o ‘público’ do drama litúrgico “percibían en el una manifestación teatral ajena a la dramaticidad propia de la liturgia, sino que lo entendían y sentían como una ceremonia más, engastada en el ritual romano oficial” (CASTRO, 1997, p. 27-28). GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 176 Concílios e Constituições sinodais de serem realizadas nos recessos dos templos. Daí se estenderiam aos burgos, aos mercados e feiras, bem como às cortes reais e senhoriais enfim, aos lugares de reunião do homem medievo. Os mistérios, originados na França, no século XII, a partir do século XIV já compreendiam encenações de vulto, as quais, buscando o realismo, contavam com numerosos figurantes e extensos textos de muitos episódios. Nesta época surgiram as moralidades, com finalidades mais explicitamente educativas, colocando em cena tipos psicológicos ou alegorias críticas, que personificavam abstrações como vícios e virtudes. E os milagres, originados a par dos ‘mistérios’ no século XII, encenavam situações-limite da vida dos santos e suas intervenções miraculosas. Tais peças eram representadas não por atores profissionais, mas por membros de confrarias estáveis, da mesma forma que as profanas. E por ocasião do Carnaval e outras celebrações análogas, como a Festa do Burro, a dos Tolos e a de Maio, dentre outras, que permitiam a inversão da ordem estabelecida, a liberdade total e o destronamento dos valores dominantes, aconteciam manifestações teatrais que parodiavam as cerimônias ou expressões religiosas, além, evidentemente de outros discursos e assuntos “sérios” não religiosos – como lembra Harguindey Banet (1999, p. 11), eram também parodiados “a vida administrativa e xurídica (ordenamentos reais, cartas e privilexios, testamentos...), os xéneros literarios (cancións de xesta e epopeas convertidas en batallas entre o Carnaval e a Coresma), os prognósticos astrolóxicos, etc.” Dessa forma, dentre as representações carnavalizadas se encontravam os sermões burlescos, monólogos enunciados por atores travestidos de frades, nos quais eram arremedados elementos do culto religioso, como sermões, orações, ladainhas, hinos, etc.4. No lado 4 Existiam ainda outros ‘monólogos dramáticos’, representados por um único ator, ridicularizando tipos sociais. Em Portugal, registrou-se o termo ‘arremedilho’, relacionado ao espetáculo proporcionado pelo ‘remedador’, termo através do qual era chamado, no tempo de Afonso X de Leão e Castela, o jogral ou bufão que juntava a declamação à mímica. Aliás, o documento mais antigo que comprova a existência de dramatizações GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 177 oposto a esse teatro paródico, já mais para o final da Idade Media, existiram os solenes momos, tão ao gosto dos monarcas de Avis. Estes se caracterizavam pela semelhança estrutural com a procissão, pelo caráter alegórico e espetaculoso, galante e solene, apropriado aos temas representados, que compreendiam matéria cavaleirescoexpansionista. Apresentando raros ou mesmo inexistentes discursos e ação dramática, utilizavam dança e mímica, além de muitos recursos técnicos, de muitas maquinarias e seus truques, que causavam o espanto e a admiração dos expectadores. Importa salientar que também os momos se aproximavam estruturalmente de um rito religioso – a procissão. E até mesmo as farsas, geralmente satíricas e caricaturais, que foram o gênero mais popular do teatro cômico medieval, ligavam-se ao sagrado, constituindo inicialmente uma breve representação intercalada no drama litúrgico, para distensão do público. É no contexto do paulatino afrouxamento da austeridade na liturgia imposta por cluniacenses e cistercienses que, no século XV, documentam-se encenações ligadas à procissão de Corpus Christi em Alcobaça; e em Caldas da Rainha, 1504, Gil Vicente, considerado o criador do teatro português, representaria o Auto de São Martinho, encomendado pela Rainha Velha, D. Leonor, também para o Corpus Christi. Neste milagre moralizador, franciscanamente é feita a apologia da verdadeira caridade, cuja prática não consiste em doações do supérfluo, mas do essencial, uma vez que o santo divide com um pobre a própria capa em rigoroso inverno, segundo a lenda atualizada na peça. Esse é apenas um dos muitos Autos “de devoção” vicentinos, sendo a maioria composta para ser apresentada à família real durante o ciclo do Natal, como indicam as didascálias das peças ou referências intratextuais. Assim, para os festejos natalinos foram feitos5 os Autos anteriores a Gil Vicente em Portugal concerne a uma doação de terras feita por Sancho I (1154-1211) aos bufões Bonamis e Acompaniado, em troca de um ‘arremedilho’. 5 Vale lembrar que Gil Vicente não escreveu para o Natal apenas obras de devoção, mas também uma “farsa de folgar que trata como um Clérigo da Beira béspora de Natal determinou de ir aos coelhos, e indo pera a caça com GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 178 Pastoril Castelhano (1502), dos Reis Magos (1503), da Fé (1510?), dos Quatro Tempos (1511?)6, da Sibila Cassandra (provavelmente 1513), do Purgatório (1518), Pastoril Português (1523), da Feira (1527) e da Mofina Mendes (1534). Para o ciclo da Paixão, o Auto da Alma, e o Auto da Barca da Glória (1519). Além destes, foram compostos autos devocionais para outras ocasiões os autos da Barca do Inferno (1517), da História de Deos, da Ressurreição de Cristo e da Cananea. Antes de irmos adiante, vale observar que nos autos de Gil Vicente, e não só nos que abordaremos a seguir, em geral a dispositio – composta de apresentação, desenvolvimento das cenas e epílogo – se apresenta de forma processional, com o desfile dos personagens que se expressam em versos, recriando formas tradicionais, e com recorrente uso da música, aliás inseparável dessas formas poéticas no medievo, tanto quanto dos ofícios litúrgicos. E, para um franciscano como mestre Gil, o significado do Natal é de total alegria e esperança na salvação, na vida eterna após a morte; daí a inclusão de farsas pastoris na maioria desses autos, e com elas da música e dança características do folclore ibérico, como por exemplo as chacotas serranas. Os cantos de lamento foram por ele usados sim, mas não majoritariamente, e em peças como o Auto da Barca da Glória, feito para o ciclo da Paixão de Cristo, no qual as almas contritas e pesarosas por seus pecados entoam cântico “a modo de pranto com grandes admirações de dor” (VICENTE, 2002, p. 294). Sobre o franciscanismo, lembramos que a sua influência foi muito grande na corte portuguesa, e não só à época de Gil Vicente, quando era da Ordem Terceira a sua principal mecenas, D. Leonor. Já muito antes a rainha Santa Isabel, esposa de D. Dinis, no século XIII, abraçara o franciscanismo, a caridade e a humildade dele típicos, fundando o convento das Clarissas e vestindo o hábito quando da sua viuvez, só não ficando reclusa para continuar no século obrando em um filho seu rezam as matinas” (VICENTE, 2002, Vol. II, p. 351). Representada a D. João III em 1526, foge ao grupo específico dos autos de devoção para o ciclo natalino, representados em capelas e outros locais considerados sagrados. 6 Para as datações possíveis desses autos, cf. CAMÕES, 1991, p. 3. GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 179 prol dos desvalidos. E destacado foi o papel dos Frades Menores na revolução que elevou o Mestre de Avis ao trono de Portugal, sendo franciscanos os confessores dos primeiros reis da dinastia de Avis. Além do mais, é português, nascido em Lisboa em 1192, um dos principais santos franciscanos, mais conhecido como Santo Antônio de Pádua, em cujos arredores faleceu no ano de 1231; ao abraçar o franciscanismo, revelou-se grande pregador e foi o primeiro mestre de Teologia da Ordem, além de autor de profícuo e paradigmático sermonário. Mais que as regras elaboradas pelo Santo de Assis interessamnos neste momento trazer à baila as virtudes por ele mais prezadas. Em texto de sua lavra, intitulado “Elogio das Virtudes” (FRANCISCO, 1988, p.166), exalta a “rainha sabedoria”, irmã da “pura simplicidade”; a “santa pobreza”, irmã da “santa humildade”; a “santa caridade”, irmã da “santa obediência”. E ensina que a nenhuma o cristão deve ofender: “quem a uma ofender, nenhuma possui e a todas ofende”, acrescentando que “cada uma por si destrói os vícios e pecados”. Assim, a “santa sabedoria” “confunde a Satanás e todas as suas astúcias”; a “pura e santa simplicidade” “confunde toda a sabedoria deste mundo e a prudência da carne”; a “santa pobreza” “confunde toda a cobiça e avareza e solicitudes deste século”; a “santa humildade” o orgulho, a “santa caridade” “as tentações do demônio e a da carne” e desta os temores; a “santa obediência” “confunde os desejos sensuais e carnais e mantém o corpo mortificado para obedecer ao espírito e obedecer a seu irmão, e torna o homem submisso” a todos os homens e animais (FRANCISCO, 1988, p. 166-167). Outro grande fator a ser levado em conta é o destacado lugar ocupado pela arte do discurso persuasivo no contexto de produção da obra vicentina. A retórica constitui, como se sabe, herança clássica continuada no medievo, com importações da tradição bíblica e patrística, pelas artes praedicandi. Inclusive o próprio dramaturgo foi autor de “sermões”, como o Sermão de Abrantes, no qual demonstra conhecer as técnicas da arte de pregar, que também utilizou em muitos outros momentos da sua obra. E os gêneros de discurso dos quais fala Aristóteles na Retórica podem ser facilmente reconhecidos no teatro doutrinário de Gil Vicente, em peças que ora se revestem de GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 180 dominância epidítica, ora deliberativa, ora judicial7. Dessa forma, têm por finalidade principal, respectivamente, a louvação das virtudes e a condenação dos vícios; o aconselhamento para a prática da religiosidade verdadeira; a condenação da vida pecaminosa e o seu contrário – a recompensa celestial aos praticantes das virtudes e a salvação dos contritos pela Graça redentora decorrente da Paixão Cristo. Observaremos a seguir algumas técnicas retóricas, utilizadas por Gil Vicente para apregoar os ensinamentos franciscanos nos autos dos Mistérios da Virgem, da Feira, da Alma, da Barca da Glória e de São Martinho. O Auto dos Mistérios da Virgem (ou da Mofina Mendes) apresenta um Prólogo que funciona a modo de exórdio, parte inicial do discurso onde se intenta a captatio benevolentiae do auditório ou dos juízes. Um frade, com um discurso aparentemente desconexo ou amalucado, a modo de um sermão burlesco cheio de citações de autoridades e de frases ou expressões em um latim “macarrônico”, na verdade estabelece uma acirrada crítica ao juiz “que tem jeito no que diz” mas “nam acerta o que faz”, aos ‘letrados de rio torto”, aos que se ufanavam conhecedores dos “secretos divinais / que estão debaixo da terra” (VICENTE, 2002, p. 113). Critica, portanto, a arrogância dos intelectuais, a sua falha sabedoria, sendo a verdadeira sabedoria irmã da santa simplicidade para S. Francisco, como vimos. Aliás, na Legenda Maior de São Boaventura lemos que S. Francisco “dizia que se devia deplorar como destituído de verdadeira piedade todo pregador que na pregação procura mais a própria glória do que a salvação das almas ou que destrói com seu mau exemplo aquilo que ele edifica com a verdade de sua doutrina” (FRANCISCO, 1988, p. 516). Outras críticas estabelecidas são à licenciosidade dos clérigos e sobretudo à avareza, inimiga da “santa pobreza” e da “santa caridade”, admoestando os ricos a se prevenirem do inferno através da 7 Cf., a propósito, a tese de Luciana Barbosa Reis, feita sob minha orientação, intitulada “Retórica e religiosidade em cena: as moralidades de Gil Vicente” (REIS, 2013). Defende ela que os Autos da Fé e da Mofina Mendes correspondem ao gênero epidítico, o da Feira e o da Alma ao deliberativo e o da Barca do Inferno e do Purgatório ao judiciário. GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 181 adoção dos “enjeitados / filhos de clérigos pobres” (VICENTE, 2002, p. 113). E termina a primeira parte da sua fala justamente evocando a visão do “rico avarento / que nesta vida gozava / e no inferno cantava: / água Deos água / que lhe arde a pousada” (VICENTE, 2002, p. 113). Utiliza-se, pois, de argumentos lógicos e patéticos. E, através dos mesmos, fustiga os vícios mais combatidos no Elogio das virtudes de São Francisco. Após espicaçar dessa forma o seleto auditório que assistia ao auto – foi representado a D. João III e sua corte nas matinas de Natal de 1534, como indica a didascália inicial –, o frade inicia a segunda parte do Prólogo, que também cumpre o que a retórica clássica preconizava para o exórdio: apresentar o teor, a dispositio e as figuras do discurso, no caso, do auto. E busca a credibilidade do auditório ao indicar que os afastamentos da história eclesiástica ou da Bíblia se fundamentam na devoção. As partes do discurso, por ele indicadas, se reduzem a duas: a Anunciação e o Nascimento do Redentor. Mas, como sabemos, o auto possui um intermezzo, constituído por uma farsa campesina não referida pelo frade mas que termina por ”roubar a cena” e substituir o próprio título da peça, que se tornou famosa não como Auto dos Mistérios da Virgem (assim chamado pelo frade-prólogo), mas da Mofina Mendes. Não será nossa intenção aqui desenvolver uma análise minuciosa desse Auto, o que já realizamos em estudos anteriores (MALEVAL, 2012). Apenas gostaríamos de ainda ressaltar-lhe alguns aspectos retóricos, como o relativo à alegoria das virtudes que acompanham a Virgem – nada menos que a Pobreza, a Humildade, a Fé e a Prudência. O Catecismo da Igueja Católica estabelece que as virtudes teologais são fé, esperança e caridade; e que as cardeais são prudência, justiça, fortaleza e temperança (CATECISMO, 1999, p. 486-488). Gil Vicente conservou das teologais a Fé (que se fundamenta na crença), e das cardeais a Prudência (alicerçada na razão, no discernimento)8; mas 8 Mas a prudência franciscana não é materialista, ao contrário. Ensinava ele que “Quem pretende chegar ao cume da pobreza deve renunciar não somente à prudência segundo o mundo, mas também às letras e às ciências; GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 182 evidenciou, em detrimento das demais, justamente as preconizadas por S. Francisco: Pobreza – para ele a rainha das virtudes, o caminho mais seguro para a salvação (Cf. S. BOAVENTURA, in FRANCISCO, p. 506) – e Humildade – fundamentada na pobreza e contrária da soberba, “origem de todos os males” e “mãe da desobediência” (S. BOAVENTURA, in FRANCISCO, p. 506). Não bastasse isto, é justamente na boca da Mofina Mendes, que inicialmente serve de contraponto à Virgem – enquanto esta é a pastora dedicada, que se preocupa com a salvação das suas ovelhas transviadas, a humanidade pecadora, aquela é a antipastora, completamente descuidada do rebanho que tem sob sua guarda e que termina por ser exterminado –, que se condensa a mensagem maior do Auto: “todo o humano deleite / como o meu pote d’azeite / há de dar consigo em terra” (VICENTE, 2002, p. 126). Partindo de uma figura grotesca, tresloucada, tais palavras só poderiam ter sido ditadas pela Graça que, como asseveram os grandes teorizadores da prédica, como São Paulo e Santo Agostinho, é que ilumina o pregador. Assim, mais uma vez Gil Vicente coloca em uma personagem risível a lição maior da Ordem dos Menores, que retomaram a de Jesus Cristo: o desapego aos bens materiais e a sabedoria da simplicidade. Aliás, a perotatio do auto, sua cena final, é o convite do Anjo aos simplórios e humildes pastores para o encontro com o Menino-Deus a caminho de Jerusalém, levado pela mãe ao templo. A rubrica final é festiva como ao acontecimento convém: “Tocam os Anjos seus instrumentos, e as Virtudes cantando e os Pastores bailando se vão. / Laus Deo” (VICENTE, 2002, p. 133). No auto da Feira, também representado a D. João III, nas matinas de Natal de 1527, o prólogo é constituído pelo discurso de Mercúrio, que busca conquistar o público através da afirmação de sua autoridade. Assim, apresenta-se como “estrela do céu” (VICENTE, 2002, p. 157) e profundo conhecedor da “verdadeira” astronomia, ciência muito em voga na época. E, após discorrer sobre este saber, se assume como “deos das mercadorias” (VICENTE, 2002, p. 162). assim despojado daquilo que ainda é uma forma de posse, proclamará o poder do Senhor (cf. Sl 73, 15-16)” (S. BOAVENTURA, in FRANCISCO, p. 508). GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 183 É estreita a relação entre o ato de vender e a retórica, dado que o discurso persuasivo conquista o comprador. E Mercúrio era considerado também o deus da eloqüência. Daí que, firmada a sua autoridade, e desvelada aos leitores menos ingênuos a sua função retórica, passe a justificar a composição do Auto: sua originalidade – “E porquanto nunca vi / na corte de Portugal / feira em dia de Natal / ordeno ûa feira aqui / pera todos em geral” – e sua adequação à época, fazendo mercador-mor, alegórico, ao Tempo: “Faço mercador mor / ao Tempo que aqui vem / e assi o hei por bem / e nam falte comprador / porque o Tempo tudo tem” (VICENTE, 2002, p. 162). Sabemos que o contexto é o do mercantilismo, como também do combate, por Erasmo e Lutero9, da venda de indulgências pela Igreja. Daí o Tempo, temendo os maus compradores que preferem a “feira do demo”, invocar a ajuda divina, que se concretiza na figura do Serafim. E a admoestação por este feita às “igrejas mosteiros / pastores das almas, papas adormidos” é de orientação indubitavelmente franciscana: “buscai as samarras dos outros primeiros / os antecessores. / Feirai o carão que trazeis dourado / ó presidentes do crucificado / lembrai-vos da vida dos santos pastores / do tempo passado” (VICENTE, 2002, p. 164). O retorno ao cristianismo das origens, onde as primeiras ordens de Jesus aos seus discípulos foram abandonar todos os bens materiais e dedicar-se totalmente à pregação do Evangelho a todas as criaturas, tal foi a proposta atualizada pelo Santo de Assis. É interessante observar que o Diabo, presente na feira, ao ser expulso pelo Serafim se utiliza de um discurso próprio da retórica judicial: “Senhor apelo eu disso”, argumentando, por exemplo, que “Se me vem comprar qualquer / clérigo ou leigo ou frade / falsas manhas de viver / muito por sua vontade / senhor que lh’hei de fazer?” (VICENTE, 2002, p. 167). Lança mão, pois, de argumento fundamentado no livre arbítrio dado por Deus aos homens, para justificar o seu direito de feirar. 9 Erasmo viveu de 1469 a 1536, e, embora não se aliando a Lutero (14831546), autor das teses que deram início à Reforma protestante, lançou as bases de uma nova teologia, fundamentada na Bíblia lida diretamente do grego, não da tradução de São Jerônimo. GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 184 Sem tempo para irmos adiante, lembramos ser significativo o fato de até Roma vir à feira, intentando “comprar paz, verdade e fé’ (VICENTE, 2002, p. 168). E destacamos que é através das falas de simples camponesas e serranas que a crítica à feira se estabelece de modo contumaz. Umas se queixam da falta de alegria em uma feira natalina: “Eu nam vejo aqui cantar / nem gaita nem tamboril / e outros folgares mil que nas feiras soem d’estar. / E mais feira de Natal / e mais de nossa senhora / e estar todo Portugal” (VICENTE, 2002, p. 180). Outras, da própria condição de feirar, incompatível com o divino: “Porque nos dizem que é / feira de nossa senhora / e vedes aqui porquê. / E as graças que dizeis / que tendes aqui na praça / se vós outros as vendeis / a virgem as dá de graça / aos bôs como sabeis” (VICENTE, 2002, p. 186). Portanto, a crítica à venda de indulgências pela Igreja se desvela mais e mais. Bem como à tristeza no culto. Daí que, reiterando a necessidade da alegria na comemoração natalina já expressa anteriormente por outras personagens, continuam: “E porque a graça e alegria / a madre da consolação / deu ao mundo neste dia / nós vimos com devação / a cantar-lhe ûa folia”. Propondo o fim da feira, como indica a rubrica “ordenadas em folia cantaram a cantiga” mariana “Blanca estais colorada / virgem sagrada // Em Belém vila do amor / da rosa nasceu a flor / virgem sagrada”, etc. (VICENTE, 2002, p. 186). Assim o Auto termina, com cânticos e danças sucedidos pela rubrica final: Gratias agamus domino Deo nostro. Também nada mais franciscana que esta situação: a da exaltação à Virgem e da alegria no culto, principalmente o natalino, pois, como registram as crônicas coevas de S. Francisco, foi ele inclusive o inaugurador da tradição do presépio natalino. Agora passaremos à observação de dois autos feitos para a Semana Santa, época de dor instituída pela Igreja para rememoração da Paixão de Cristo. A começar pelo Auto da Alma, considerado a mais gótica realização do autor, dedicado à “muito devota rainha dona Lianor” e representado a D. Manuel na noite de Endoenças, quintafeira da Paixão, 1508. Temos visto o modo como Gil Vicente, nos autos já comentados, lançou mão dos ensinamentos retóricos relativos ao exórdio para conquistar os espectadores. Neste auto não é diferente: GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 185 nada menos que o discurso de Santo Agostinho o inicia. Daí, não ser necessário o recurso ao riso ou à demonstração do saber pelo enunciador do discurso-prólogo, como no Auto da Mofina Mendes ou no Auto da Feira, porque Santo Agostinho já possui a credibilidade máxima que em um contexto cristão alguém poderia alcançar. Assim, possuindo em si os valores éticos, a sua função será a de exaltar o papel da “santa estalajadeira / Igreja madre” (VICENTE, 2002, p. 190) no fortalecimento da “alma caminheira” exposta aos “mui perigosos perigos / dos imigos” na “triste carreira / desta vida” (VICENTE, 2002, p.189-190). Em seguida ao seu discurso, e reiterando-lhe os ensinamentos, vem o Anjo Custódio, que apresenta a Alma como “formada / de nehûa cousa feita” (VICENTE, 2002, p. 190), “caminheira” em direção à “pátria verdadeira” (VICENTE, 2002, p. 191), animando-a ao esforço contínuo que a salvação requer. A Alma, que se reconhece fraca e temerosa, tem em sua peregrinatio de um lado o Anjo, a encorajá-la a rechaçar vaidades e riquezas, de outro o Diabo, a tentá-la com um discurso que lembra em tudo o dos sofistas: não só se utiliza do próprio discurso bíblico, subvertendo-o, como lança mão da lisonja para convencer a Alma: “Tam depressa ó delicada / alva pomba pera onde is? (...) ainda estais em idade / de crecer / tempo há i pera folgar / e caminhar / vivei à vossa vontade / e havei prazer. // Gozai gozai dos bens da terra / procurai por senhorios / e haveres” (VICENTE, 2002, p. 193-194; cf. também p. 197-198). A fonte bíblica é o Eclesiastes, III, 1-8. Não bastasse, argumenta ainda com a opinião comum: “Oh descansai neste mundo / que todos fazem assi” (VICENTE, 2002, p. 194). Se o discurso do Anjo enfatiza o papel do livre arbítrio, como também a necessidade de ajuda à matéria fraca e mortal de que é feito o ser humano, já o Diabo a exalta como “senhora / emperadora”, que não deve “a ninguém nada” (VICENTE, 2002, p. 195) e para quem existem os prazeres e haveres. A Alma sucumbe à tentação, à vaidade, aceitando os trajes e jóias preciosos que este lhe oferece. E, ao ser criticada pelo Anjo, defende-se respaldando-se no senso comum, um dos argumentos do discurso demoníaco, e diz: “Faço o que vejo fazer / pólo mundo” (VICENTE, 2002, p. 196). GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 186 Após o arrependimento, fortalecendo-se com a ajuda da Igreja que a recebe com seus doutores Agostinho, Jerônimo, Ambrósio e Tomás através das iguarias santas do flagelo de Jesus Cristo (açoites, coroa de espinhos, cravos), adoram juntos a última iguaria – o crucifixo apresentado por São Jerônimo. Com o cântico Te Deum laudamus se encerra o auto, mas – e o que nos interessa ressaltar – não sem antes Santo Agostinho referir-se à Alma como “bem aconselhada”, que “venceu com fé / forte guerra” (VICENTE, 2002, p. 212) – a da persuasão demoníaca através de sofismas. O auto da Barca da Glória foi também possivelmente representado no ciclo da Páscoa, a D. Manuel, em Almeirim, 1519. Diferindo dos demais aqui analisados, não apresenta uma fala inicial a modo de exórdio. É apenas a rubrica inicial que indica as personagens que o constituem –“dignidades altas: Papa, Cardeal, Arcebispo, Bispo, Emperador, Rei, Duque, Conde” (VICENTE, 2002, p. 269), bem como “quatro Anjos cantando” (VICENTE, 2002, p. 269) mais os Diabos e a Morte. Como é sabido, esse auto insere-se na chamada ‘trilogia das Barcas”, iniciada pelo Auto da Barca do Inferno, de 1517, no qual desfilam tipos medianos da sociedade da época, que são julgados após a morte pelo Anjo. O papel do advogado de acusação cabe ao Diabo que os quer em seu batel, à exceção do judeu. Conseguem permissão do Anjo para o embarque no batel divino apenas um tolo e quatro cavaleiros cruzados, mártires pela fé. No natalino Auto do Purgatório, de 1518, de igual teor judicativo, segue para o Inferno um taful e para o Céu uma criança, um menino “em idade de inocente” (VICENTE, 2002, p. 264), ficando no Purgatório os camponeses adultos, por seus pecadilhos e revolta. Voltando ao Auto da barca da Glória, vemos que a conversa inicial é justamente entre o Arrais do Inferno e a Morte, acusada por ele de atingir a numerosos “pobrecicos” e tardar tanto a atingir os “grandes y ricos” (VICENTE, 2002, p. 269). Atendendo-o, são trazidas as “dignidades altas”, que desfilam uma a uma, acusadas de vida pecaminosa pelo Diabo, que as convida a entrarem no seu batel. Todos têm consciência, em grau maior ou menor, dos seus pecados, atribuídos por alguns à própria condição humana, ao pecado original que desde Eva acompanha a humanidade. Mas carregam a fé e a GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 187 esperança em serem salvos pela piedade divina, através da Paixão Redentora do Cristo e do sofrimento da sua Mãe. As invocações que cada um profere, a Deus e a Maria, não surtem efeito e a barca da Glória já se prepara para a partida. Mas, como indica a rubrica final, “os Anjos desferem a vela em que está o crucifixo pintado e todos assentados de joelhos lhe dizem cada um sua oração” (VICENTE, 2002, p. 293). Estas não comovem aos Anjos, que já se afastam. Então “as almas fizeram em roda ûa música a modo de pranto com grandes admirações de dor, e veo Cristo da ressurreição e repartiu por eles os remos das chagas e os levou consigo”. Portanto, quando falharam os demais argumentos, a peroratio do auto investe nos recursos patéticos, que comovem ao Senhor. E o auto termina com a fórmula recorrente, “Laus Deo”. Finalmente, retomamos o Milagre de São Martinho feito para o Corpus Christi10, 1504. Não pode ser considerada uma peça tão artisticamente completa como as demais. A própria rubrica final esclarece que “nam foi mais porque foi pedida muito tarde” (VICENTE, 2002, p. 366). Mas o escolhemos para iniciar e terminar as nossas considerações sobre o franciscanismo vicentino justamente porque se trata de um exemplum – tão caro à retórica – que ilustra mais que muitos outros recursos a caridade franciscana. A Legenda Maior, biografia de São Francisco feita por São Boaventura e tornada a oficial, destaca que nele se consubstanciara a verdadeira piedade: “a devoção que o elevava até deus. A compaixão que fazia dele um outro Cristo, a amabilidade que o inclinava para o próximo, e uma amizade com cada uma das criaturas, que lembra nosso estado de inocência primitiva” (VICENTE, 2002, p. 515). O discurso inicial do auto, que como vimos tem uma importância capital na estruturação de cada peça, é dado a um Pobre, que se lamenta, não sem revolta, dos seus terríveis sofrimentos, que o fazem desejar a morte, observando ser ela dada por Deus a tantos que não a merecem – “Por qué me desdeñas / y matas sin tiempo quien 10 Como se sabe, é a festa do Santíssimo Sacramento, instituída pelo papa Urbano IV no século XIII (1264) em honra da presença de Cristo na eucaristia, e que se tornou muito popular sobretudo pela procissão que sucede à missa desse dia. GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 188 merece vida?” (VICENTE, 2002, p. 364). E implora por uma esmola, apelando para a compaixão dos “devotos cristianos” (VICENTE, 2002, p. 363). Então entra em cena São Martinho, a quem o mendigo dirige a sua súplica. Compadecido, e sem ter nada mais que pudesse oferecer, corta a capa ao meio, repartindo com o pobre aquilo que lhe era também essencial: o agasalho. Esta a lição da verdadeira caridade, que foi a praticada pelo santo de Assis. Nenhuma palavra poderia ser mais convincente que tão grande exemplo. E não importa que o mendigo seja um revoltado, que não possua a paciência de Jó. Daí se segue outra lição: não julgar, não maldizer. Aliás, a maledicência era condenada da forma mais radical por S. Francisco “por ser mortal para a piedade e a graça, objeto de abominação de Deus infinitamente bom” (FRANCISCO, 1988, p. 517). Se Gil Vicente apresenta a injustiça social e por vezes até a divina – por exemplo através do seu personagem-lavrador, que denuncia ser “vida das gentes” e morte da própria vida no Auto do Purgatório (VICENTE, 2002, p. 248-249) –, no entanto o que prevalece em seus autos é o elogio das virtudes, notadamente franciscanas. Enfim, é patente o conhecimento e utilização, por parte de Gil Vicente, das técnicas de persuasão do discurso desde a elaboração dos prólogos dos autos, que certamente conseguiram captar a benevolência do auditório para os ensinamentos que intentavam perpetrar. E que têm uma orientação claramente franciscana, elogiando as mesmas virtudes destacadas pelo fundador da Ordem dos Menores. Também pudemos comprovar que, à época de Gil Vicente, o teatro inserido nas comemorações religiosas, escrito e encenado por um leigo, perpetuava a tradição do drama litúrgico – salvo as devidas distâncias, já que, como Eva Castro enfatiza, “tudo parece indicar que nem os ‘autores’, nem os ‘atores’ nem o ‘público’ do drama litúrgico “percibían en el una manifestación teatral ajena a la dramaticidad propia de la liturgia, sino que lo entendían y sentían como una ceremonia más, engastada en el ritual romano oficial” (CASTRO, 1997, p. 27-28). Se não desta maneira, as rubricas e cânticos religiosos nos finais dos autos devocionais analisados concorrem para inseri-los ainda mais na comemoração religiosa para a qual foram encomendados. E funcionam como verdadeiros sermões encenados, unindo o docere com o GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 189 delectare para comover e persuadir ou convencer o público acerca das benesses de uma vida franciscanamente virtuosa. RÉSUMÉ: Les actes de dévotion occupent une place privilégiée dans la production de Gil Vicente, dont plusieurs ont été faits à la demande de la reine franciscaine D. Leonor, veuve de D. João II et soeur de D. Manuel, celle-ci ayant été la principale mécène du dramaturge. Parmi eux, nous avons retenu les Actes des Mystères de la Vierge (ou de Mofina Mendes) et celui de la Soeur, commandés pour Noël, les Actes de l´Âme et de la Barque de la Gloire, représentés lors de la Semaine Sainte , et le Miracle de Saint Martin, fait pour Corpus Christi. On y analyse quelques-uns des éléments rhétoriques employés pour la véhiculation de la doctrine des franciscains. Mots-clés: Théâtre; Lithurgie; Rhétorique; Ordre franciscain; Moyen Âge. REFERÊNCIAS: BÍBLIA de Jerusalém. S. Paulo: Edições Paulinas, 1973. CAMÕES, José. Tempos. Lisboa: Quimera, 1991. CASTRO, Eva. Teatro medieval. 1 – El drama litúrgico. Barcelona: Crítica, 1997. CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Edições Loyola, 1999. FRANCISCO DE ASSIS, S. Escritos. In Escritos e biografias de São Francisco de Assis. Crônicas e outros testemunhos do primeiro século franciscano. Petrópolis, RJ: Vozes, 1988. HARGUINDEY BANET, H. Introducción a Tres pezas cómicas medievais. A Coruña: Biblioteca-Arquivo Teatral “Francisco Pillado Mayor”, 1999. PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. Trad. dirigida por J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. São Paulo: Perspectiva, 1999. GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 190 MALEVAL, Maria do Amparo Tavares. Gil Vicente. In: MOISÉS, Massaud (Org.). A literatura portuguesa em perpectiva. Vol. I – Trovadorismo. Humanismo. São Paulo: Atlas, 1992, p. 97-190. ________. Gil Vicente e a arte de pregar: o Auto dos Mistérios da Virgem ou da Mofina Mendes. Revista do CESP - UFMG, Belo Horizonte, v. 32, n. 47, p. 163-184, jan.-jun. 2012. REIS, Luciana Barbosa. Retórica e religiosidade em cena: as moralidades de Gil Vicente. Tese de Doutorado em Literatura Comparada, Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ, 2013. VICENTE, Gil. As obras de Gil Vicente. Ed. J. Camões. Vol. I. Lisboa: Centro de Estudos de Teatro, IN-CM, 2002, p. 294. GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014 191