2ª Aula de História e Teorias de Jornalismo A
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2ª Aula de História e Teorias de Jornalismo A
Curso: Comunicação Social, hab. em Jornalismo Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques - 2º semestre de 2016 2ª Aula de História e Teorias de Jornalismo A comunicação social e as origens do jornalismo A tipografia e o surgimento da imprensa Do século 15 ao 17 Por Luís Henrique Marques No século 15 da Era Cristã, uma invenção não só revoluciona a circulação de notícias, mas toda a realidade social, econômica, política e cultural da Europa: o alemão Johan Gutenberg (um humilde ourives de Mainz) cria a imprensa de tipos móveis (um século antes, chineses e coreanos já tinham feito experiências com tipos móveis, porém sem a prensa). Nasce a tipografia. Vale considerar: o contexto é de expansão das fronteiras geográficas, filosóficas e econômicas na Europa. Em função disso, as notícias – agora publicadas e reproduzidas em uma escala maior - passam a atingir um maior público, de forma mais rápida e confiável. Muda também a forma de construção do pensamento. Livretos e panfletos são criados, primeiramente, para serem lidos em voz alta. Há também uma grande difusão de panfletos. Como não poderia deixar de ser, os governantes são os primeiros a explorar as vantagens da imprensa. Estes controlam todo o sistema de produção gráfica, mas são obrigados, volta e meia, a apelar às massas através dessas publicações (garantia da legitimidade). No século 16, em função da Reforma Protestante, a divulgação de conteúdos religiosos conflitantes levou tipógrafos católicos e protestantes a várias formas de condenação (inclusive, a morte). Nesse mesmo período, as baladas (notícias cantadas) ainda permanecem em grande circulação. Estas, agora, são impressas e, de tendência chauvinista (de “nacionalismo exagerado”), têm como objetivo divertir o público. Também com a difusão da imprensa, a ciência progride, substituindo a visão mística do poder dos monarcas e da Igreja. Transformações no conteúdo e formato das notícias A crescente difusão de notícias gera a concorrência e se dá acerca dos mais variados temas. E, assim, aos poucos e sempre mais, exige-se audácia das notícias impressas (sensacionalismo). Isto é, as pessoas têm curiosidade sobre vida de personagens importantes da sociedade (tragédia, aventura, talento, beleza, violência, sexo). Nesse período, fofoca e notícia se confundem, gerando desde aquele período – e ainda antes do jornalismo tal como conhecemos, o conflito entre público e privado. Contraditoriamente, convenções sociais exigem dos relatos conclusões e ensinamentos moralistas (necessidade psicológica) O inesperado também é exigido nessas notícias, bem como o sobrenatural reflexo da mentalidade de uma época). O que, nesse período, poderia ser considerado uma espécie de jornalismo popular (ou ainda uma literatura popular) passa a ser identificado, pela elite, com as notícias sensacionalistas. As classes abastadas se preocupam em saber sobre arte, política e economia. Observa-se que as notícias impressas revelam uma concentração no extraordinário, o que reflete o pensamento predominante, mas não o cotidiano de uma sociedade e determina a clara diferença entre interesse humano e realidade humana. Cresce o uso de estereótipos e clichês. O mundo passa a ser visto por muitos através de fórmulas (é um “mundo velado”); o extraordinário é transformado em ordinário (falta reflexão sobre causas e consequências, e existe uma descontinuidade no lugar de conexões). Curso: Comunicação Social, hab. em Jornalismo Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques - 2º semestre de 2016 Todas essas alterações na maneira de divulgar notícias, ao mesmo tempo, refletem e confirmam a conveniência dos divulgadores de notícias já daquele período – que passam a ser identificados como jornalistas: o prazo de entrega do material para publicação passa a ser determinado. Com efeito, nessa época, a periodicidade dos livretos começa a se firmar e a inovação dos livretos semanais passa a exigir uma inovação jornalística, marcada por as alterações no conteúdo e formato de divulgação das notícias, conforme dito anteriormente. É o início, o embrião, da própria indústria jornalística. O jornal O jornal como hoje conhecemos e do qual se originaram os diários e semanários, surgiu, na Europa, nos primeiros anos do século 17 “sem fazer barulho”. De fato, não há data precisa para o aparecimento do 1º jornal impresso. Segundo Lage1, “os exemplares mais antigos de jornais que se conhecem foram publicados na Alemanha em 1609 e, embora não contenham indicações sobre a cidade ou impressor, provavelmente saíram de uma oficina de Bremen”. Muitas dessas primeiras publicações desapareceram com o tempo e de outras não é possível identificar a autoria. A propósito, o anonimato dos criadores dos primeiros jornais, no início do século 17, revela que a publicação desses periódicos era uma prática arriscada diante do poder público da maioria dos países europeus que, convenientemente e desde logo (conforme dissemos anteriormente), rogou para si o direito de censura e autorização da publicação de materiais impressos. Com efeito, Lage2 afirma: A burguesia ascendente utilizou seu novo produto para a difusão dos ideais de livre comércio e de livre produção que lhe convinham. Logo também viriam as respostas do poder político autocrático a essa pregação subversiva, sob a forma de regulamentos de censura ou da edição de jornais oficiais e oficiosos, vinculados aos interesses da aristocracia. A liberdade de expressão do pensamento somou-se, na luta contra a censura, às outras liberdades pretendidas no ideário burguês, e o jornal tornou-se instrumento de luta ideológica, como jamais deixaria de ser. Para definir quais publicações são, de fato, jornais, entre tantos materiais impressos que a humanidade já produziu – desde o surgimento da imprensa de Gutenberg -, os historiadores têm levando em conta algumas características básicas para a classificação de um material impresso como jornal, a saber: a) é publicado regularmente e com frequência; b) inclui variedade de assuntos abordados; c) apresenta título consistente e reconhecível, além do formato próprio. A Gazzetta veneziana Desde o início do Renascimento, a cidade de Veneza (Itália), por ser centro de poder e comércio, se firma como centro difusor de notícias (é provável que a “agência de notícias” do alemão Fugger tenha se instalado ali). Em função desse contexto, venezianos criam uma forma de publicação periódica de notícias (décadas anteriores ao jornal impresso), apelidada de gazzetta (a palavra tem origem em antiga moeda local). Estima-se que esses boletins manuscritos tenham surgido depois de 1550. As gazzete3 também ficaram conhecidas como avisi ou avvisi. Traziam, sobretudo, notícias políticas e militares. 1 2 LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. Florianópolis: Insular/Editora da UFSC, 3. ed. 2001, p. 25. Idem, p. 25. Curso: Comunicação Social, hab. em Jornalismo Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques - 2º semestre de 2016 Não se sabe, ao certo, quem produzia as gazzete (alguns historiadores acreditam tratar-se do governo; outros, de escritores profissionais de notícia, os avvisatori). Em Strasburgo, na Alemanha, no ano de 1609, Johann Carolus passou a imprimir um semanário, acredita-se, produzido a partir de um material manuscrito. Os primeiros jornais europeus impressos reuniam notícias curtas e de locais diversos, assim como eram organizadas as gazzette. O Coranto holandês Amsterdã (Holanda) se transformou, nesse mesmo período, uma cidade cosmopolita e, por isso mesmo, mais tolerante em relação às questões religiosas. Ali, a exemplo do que acontecia em outras regiões da Europa, o comércio necessitava da circulação de notícias. Os moradores da cidade passaram, então, a organizar os Corantos, boletins informativos periódicos “bruscos e impessoais”, considerados entre os principais precursores do jornal tal como o conhecemos hoje4. Os editores do coranto holandês (largamente difundido em outros países, como na Inglaterra) tiveram que lidar com a novidade que era a expectativa dos leitores por uma nova edição, bem como com o fato de que a edição anterior era considerada obsoleta (firma-se o padrão de periodicidade). Também a avaliação das notícias (quanto à sua importância) foi alterada. Outra prática foi a “antecipação dos acontecimentos”, o que veio a aguçar ainda mais o apetite do leitor por novas notícias. Emerge, também nos outros países onde o jornal impresso ganhava espaço, a figura do editor, de quem era exigido a capacidade de transformar a miscelânea de matérias em uma publicação atraente e razoavelmente coerente. Superando limitações Os primeiros jornais possuíam graves limitações: a) restringiam-se quase que exclusivamente a notícias estrangeiras; b) frequentemente, eram irresponsáveis (as informações, a exemplo do que já acontecia com a comunicação, não eram checadas e sua origem, muitas vezes, era fruto de boatos, distorções ou mesmo fofocas). A partir do século 18, o jornal cresce, por conta de uma maior autonomia e liberdade (em relação aos governantes) e em função da publicação de um leque maior de notícias e do aumento da frequência na distribuição. A cobertura de importantes catástrofes, matérias de interesse humano e notícias de âmbito nacional, contribuíram particularmente para o desenvolvimento do jornalismo nesse período. A publicação dessas notícias periodicamente e o seu acesso mais facilitado à população em geral, exigiu, por sua vez, maior responsabilidade pública do jornalista sobre o que ele passou a fazer. 3 Gazzette, em italiano, é o plural de gazzetta. DeFLUER, Melvin & BALL-ROKEACH, Sandra. Teorias da comunicação de massa. Tradução: Octavio Alves Velho. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993. 4