dureza das sapatilhas

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dureza das sapatilhas
 DUREZA DAS SAPATILHAS Afinal, o que é melhor? Sapatilhas duras ou macias? Este tema, de muita relevância, é pouco discutido. Após as observações em vários saxofones que passaram em nossas mãos para revisões, pequenos serviços ou sapatilhamentos, verificamos que a única resposta que podemos dar é: Depende. Depende se o sax é novo, se é de boa qualidade, se já foi sapatilhado, se possui empenos nas golas, se já sofreu ajustes dos vazamentos, do tipo de gola (hole‐tone, chanfradas, cortantes, etc.) e outros. Ou seja, a princípio, não existe situação melhor ou pior, mas tão somente aplicações conforme a necessidade. Há quem diga que sapatilhas macias permitem a digitação mais suave. É fato, mas não acreditamos que seja o fator preponderante para a escolha de sua dureza, pois fosse assim, algumas marcas não colocariam sapatilhas duras em seus instrumentos, o que de certa forma tornam a digitação mais “seca”. Antes da nossa opinião, preferimos listar e comentar algumas características de cada tipo e deixar a cargo do leitor a conclusão em função das suas prioridades. Dureza da sapatilha CARACTERÍSTICAS Digitação menos barulhenta Capacidade de compensar vazamentos Durabilidade Deformação Facilidade na formação de frisos profundos Impõe o perfeito alinhamento entre gola e chave macias duras sim não sim não média/baixa média/alta alta baixa sim não não Sim Digitação menos barulhenta: este é um efeito que não podemos afirmar se é bom ou ruim. É muito pessoal. Alguns preferem sentir sob os dedos o digitar suave, sem ruídos de “batidas”. Já outros preferem as mais duras por conta da sensação de digitação mais firme e consistente. Capacidade de compensar vazamentos: Imaginem se por qualquer motivo apareça um vazamento entre a gola e a sapatilha. É fácil compreender que a sapatilha macia irá ceder (deformar) e o vazamento certamente deixará de existir, processo este bem mais difícil de acontecer com as sapatilhas duras. A figura ao lado mostra uma gola tipo hole‐tone com sapatilha dura. Perceba que a gola está empenada e a sapatilha não conseguiu absorver o vazamento. Gola
empenada
Durabilidade: As sapatilhas macias duram menos, pois os couros trabalham mais, esticam mais, a exemplo da formação do friso profundo que é nada menos a deformação do couro. E essas deformações, ao longo do tempo, comprometem a película do couro. O item seguinte explica melhor; Deformação: As sapatilhas macias são mais suscetíveis às deformações, uma vez que as suas estruturas não são muito rígidas. A maioria delas é composta por couro, feltro e papelão e o maior responsável por sua maciez é o feltro. O couro se muito espesso colabora neste efeito, mas em pequena percentagem. O feltro mais macio obrigará a deformação do couro, o que não acontece com os mais duro, conhecido como trançado. Já existem sapatilhas feitas com materiais alternativos, o que proporcionam, em alguns casos, maior resistência às deformações. Aqui vale comentar um efeito colateral das sapatilhas muito macias que verificamos em alguns saxofones: as deformações foram tão grandes, que o centro de algumas delas “caminharam” para dentro do furo, alterando, consequentemente, o timbre do som. E não é muito difícil de entender este efeito. O centro da sapatilha mais para dentro do furo, grosseiramente comparando, corresponde ao ressonador tipo chapéu chinês, que proporciona sons mais projetados. É uma alteração muito sutil que praticamente só o dono do instrumento percebe após o sapatilhamento do sax. A figura abaixo esclarece o efeito: Posição original da chave A chave desce devido a deformação da sapatilha Sapatilha dura sapatilha macia gola
Sapatilha projetada
para dentro do furo
Facilidade na formação de frisos profundos: Este é um efeito colateral das sapatilhas macias. Por um lado podem ser silenciosas e confortáveis, por outro, podem deixar as chaves grudadas. Leiam o artigo “Quando as sapatilhas grudam” Impõe o perfeito alinhamento entre gola e chave: Esta exigência é totalmente direcionada às sapatilhas duras, pois por não terem capacidades de compensar vazamentos, os seus ajustes deverão ser perfeitos quando instaladas. Vazamentos que porventura apareçam normalmente só serão resolvidos pela ação de um luthier. Feitas as considerações acima, podemos agora explicar a escolha das sapatilhas mais adequadas: Se o sax possui empenos nas golas por conta do uso ou fragilidade construtiva, o melhor a fazer é colocar sapatilhas mais macias, pois elas tendem se ajustar com o tempo, minimizando assim os indesejáveis vazamentos. Não há dúvidas que durante os serviços de sapatilhamento ou revisão, todos os empenos deverão ser consertados, mas as suas pré‐existências denunciam as fragilidades existentes e as chances dos empenos aparecerem novamente. Esta avaliação deve ser feita pelo luthier. Por outro lado, se estamos diante de um sax bem construído, robusto, não suscetíveis às influências das variações de temperatura, tendo as chaves e golas bem alinhadas, o ideal é utilizar as sapatilhas mais duras. A maior vantagem, em contraponto às macias, é a durabilidade. Vale comentar que basicamente existem três causas para as golas empenarem: 1) pela própria ação da dilatação do metal quando submetidos à variações de temperatura; 2) durante a manutenção quando utilizadas técnicas, a princípio não recomendadas; 3) acidentes. A escolha do tipo da sapatilha também é influenciada pelo diâmetro e tipo da gola. Uma gola com diâmetro maior ou do tipo hole‐tone permite a utilização da sapatilha mais macia, uma vez que a sua maior área de contato proporciona pressões de menor intensidade. Pelo oposto e considerando a mesma mola, uma gola com diâmetro menor ou do tipo chanfrada / cortante, agride mais a sapatilha por ter pouca área para distribuir a força exercida, consequentemente, maiores pressões no contato. Com todas essas considerações, podemos responder a pergunta inicial: Afinal, o que é melhor? Sapatilhas duras ou macias? Concluímos que o ideal é usar sapatilhas com durezas diferenciadas ao longo do sax e a análise deverá ser feita considerando a história e robustez do instrumento, o tipo e diâmetro da gola e outros fatores, não menos importantes, tais como pressão da mola e posição da chave em repouso (aberta ou fechada). Em resumo: Instrumentos mas frágeis sapatilhas macias / médias; Instrumentos mas robustos sapatilhas médias / duras Molas com pressões maiores Molas com pressões leves sapatilhas médias / duras sapatilhas macias Golas com diâmetros maiores ou do tipo hole‐tone (graves) sapatilhas mais macias; Golas com diâmetros menores e de qualquer tipo (médios) sapatilhas médias Golas com diâmetros pequenos ou dos tipos chanfradas / cortantes duras; sapatilhas mais Chaves que por natureza ficam fechadas (C#, G# e agudos) sapatilhas médias / duras. A essa altura do campeonato o leitor pode estar se perguntando: e isso é de fato feito? A resposta é não, até porque a maioria dos atuais fabricantes de sapatilhas trabalha com durezas médias, o que atende satisfatoriamente a maior parte dos instrumentos. De qualquer forma, cabe ao luthier fazer a avaliação de cada instrumento e decidir o que usar, sem prejuízos ao conforto e costume do saxofonista. Por fim, não poderíamos deixar de comentar que algumas bibliografias indicam dureza de 60 a 70 Rockwell para o feltro utilizado nas sapatilhas. O método Rockwell é um dos utilizados para a medição das durezas dos materiais, muito utilizado na indústria. Em número absoluto, esta informação para os luthiers não tem muita utilidade, mas mal comparando, corresponde aproximadamente à dureza de uma borracha muito macia. Abraços a todos. Marcelo Teixeira Luthier Em: 25/06/2012 

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