Resenha de livros | Ensino Fundamental

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Resenha de livros | Ensino Fundamental
Projeto TRILHAS e Rede de Apoio à
Educação
Resenha de livros | Ensino Fundamental
Pelas propostas do TRILHAS, são indicados 20 livros da literatura
infantil (com histórias escritas para o público infantil, contos tradicionais,
poemas, textos da tradição oral brasileira etc.) para compor um acervo de
referência para as atividades propostas nos Cadernos de Orientações.
Esse acervo deverá estar acessível aos professores para que possam
colocar em prática a proposta do TRILHAS. Os títulos indicados foram
escolhidos por possuírem uma estrutura narrativa que favorece o
encaminhamento de atividades com foco no ensino da leitura e da escrita.
Contudo, se a escola não dispuser exatamente dos títulos indicados, os
Cadernos de Orientações contém propostas de como os professores podem
fazer adequações dos livros recomendados, utilizando títulos alternativos.
A seguir, encontre explicações sobre os tipos de histórias e os títulos
selecionados para o trabalho conjunto. Para visualizar textos ainda mais
completos sobre eles, consulte os arquivos disponíveis no Portal TRILHAS:
http://www.portaltrilhas.org.br/biblioteca.html?id_biblioteca_categoria=6&i
d_biblioteca_categoria2=56#biblioteca. Você pode fazer download e
imprimi-los para ter o material sempre a mão.
Bom trabalho!
HISTÓRIAS CLÁSSICAS
As histórias clássicas permitem a construção de
um repertório literário compartilhado, que ao
longo da vida funciona como referência cultural.
Oferecem vantagens interessantes, como a
possibilidade de conhecer histórias que lidam
com a totalidade de uma situação, em que há
uma organização temporal e hierárquica entre os
acontecimentos. Além do mais, essas histórias
tradicionais exploram conteúdos de extremo
interesse para as crianças, como medos,
anseios, abandono, crescimento, engano, o bem
e o mal etc.
Em geral, as histórias clássicas já fazem parte do
repertório de leitura para as crianças pequenas.
Muito provavelmente elas até já conhecem
algumas das histórias mais tradicionais.
Excelente: quanto mais conhecida, melhor. A
partir do que já sabem, torna-se possível
promover atividades que permitam abordar
diferentes aspectos presentes no texto, que
ficam invisíveis para as crianças, se não são
abordados intencionalmente.
Chapeuzinho Vermelho
De Charles Perrault, ilustrado
por Elizabeth Teixeira.
In: Contos de Perrault.
Traduzido por Fernanda Lopes
de Almeida.
São Paulo: Editora Ática, 2006.
Assim como a maioria dos contos de fada,
Chapeuzinho Vermelho tem algumas versões:
uma primeira história oral, uma segunda
história que foi transcrita por Charles Perrault,
uma terceira dos irmãos Jacob e Wilhelm
Grimm, e uma quarta de Christian Andersen.
Outras versões foram escritas, mas já são
adaptações das histórias desses autores.
Nesse livro, encontramos nove contos de
Charles Perrault, dentre eles, a primeira versão
literária de Chapeuzinho Vermelho, datada de
1697. Uma história tão antiga, por que será que
sobrevive depois de mais de três séculos?
Porque, sem dúvida, retrata um fiel conto
infantil: trata-se de uma história que traz uma
advertência e também narra “o perigo de se
atravessar o bosque”. Sabemos que hoje em dia
as crianças não estão mais ameaçadas por esse
tipo de situação, mas continuam sujeitas a
outras ameaças, reais ou imaginárias. Por
tratarem de sentimentos universais, como o
medo, o desejo de transgressão e a busca pela
felicidade, os contos de fada continuam atuais.
O Príncipe Sapo
De Jacob e Wilhelm Grimm,
ilustrado por Nilesh Mistry.
In: Volta ao mundo em 52
histórias. Narrado por Neil Philip
e traduzido por Hildegard Fiest.
São Paulo: Companhia das
Letrinhas, 1998.
Neste livro, como o próprio título indica,
encontramos 52 histórias de tradição oral que
têm origem em culturas diversas. Dentre elas, o
conto O Príncipe Sapo, na versão dos irmãos
Grimm. Esse conto trata da jovem princesa que,
em um momento de “desespero”, promete
beijar um sapo para ter de volta sua bola de
ouro perdida no fundo de um poço. A princesa
tem de cumprir sua palavra, mas não consegue
porque sente muito nojo do animal. Contrariada,
convive com ele em seus aposentos, sob as
ordens do rei, seu pai. Em um momento de
fúria, acaba por livrá-lo de um terrível feitiço:
ao jogá-lo contra a parede, ele se transforma
em um belo príncipe com quem ela se casa..
As histórias com acumulação apresentam um
evento desencadeador da narrativa, que a partir
daí é contada de maneira repetitiva, ou seja, a
mesma ação é realizada por diversos
personagens e a repetição de um mesmo
acontecimento se dá por acumulação: surge um
personagem, que não consegue resolver a
questão levantada pela história, aparece outro,
que também não consegue, e assim
sucessivamente. Esse tipo de estrutura facilita a
antecipação do que virá por parte das crianças,
tornando mais fáceis a leitura e a retenção da
história.
Por meio de textos como esses, é possível
estruturar atividades que permitam a construção
de diferentes conhecimentos. As situações de
leitura participativa, por exemplo, convidam a
criança a assumir o papel de leitora, desafiandoa para novos aprendizados. Elas experimentam
as diferentes maneiras de se ler um texto, com
apoio da memorização, antes mesmo de dominar
a leitura.
A Casa Sonolenta
Essa história começa num dia chuvoso em uma casa
onde todos dormem na mesma cama. A avó dorme,
vem um menino e se deita em cima dela e todos os
personagens que aparecem dormem um em cima
do outro, até surgir uma pulga, que inverte a ação
repetitiva dos personagens. Na ordem contrária em
que apareceram na história, os personagens são
acordados pela pulga. No fim, não chove mais, e,
como nos contos de fada, há um lindo arco-íris
iluminando a casa sonolenta, onde todos
acordaram.
De: Audrey Wood, ilustrado por
Don Wood
São Paulo: Editora Ática, 2005.
A ilustração reforça a história, porque o espaço da
narrativa não muda: todos dormem no mesmo
quarto, na mesma cama; os personagens vão se
amontoando na cama para dormir. A diagramação
do texto enfatiza essa ideia, pois as frases que se
repetem e se acumulam também são representadas
graficamente desta forma. Quando a narrativa é
invertida, o quarto azul chuvoso e sonolento
começa a ser invadido pelo sol, as cores aparecem,
os personagens vão saindo da cama e os versos não
se acumulam mais no texto, pois já não mantêm
uma estrutura repetitiva.
O grande rabanete
Essa história trata de um rabanete que, plantado
numa horta por um simpático vovô, cresce até ficar
gigante. Vários personagens unem-se aos avós,
donos da horta, na tentativa frustrada de arrancá-lo
da terra: a netinha, o cachorro, o gato...
Surpreendentemente, só conseguem quando a eles
se une um ratinho. Feita a colheita, este se
autoproclama o mais forte de todos! Rabanete no
prato, todos comem à vontade e sobra até um
pouquinho para uma minhoca sortuda que passava
por ali.
De Tatiana Belinky, ilustrado
por Claudius.
São Paulo: Editora Moderna,
2002.
À medida que novos personagens entram na
história, o trecho que se repete ao longo da
narrativa cresce, caracterizando o aspecto
acumulativo do texto: “A vovó segurou no vovô, o
vovô segurou no rabanete”; “A neta segurou na
avó, a vó no vô, o vô no rabanete”; “O Totó segurou
na neta, a neta na vó, a vó no vô, o vô no
rabanete”, e assim sucessivamente, até a colheita
do rabanete.
Na página final, uma ilustração do ratinho com
roupa de super-homem complementa o texto: “E
você acha que o rato era mesmo o mais forte?”
Uma girafa e tanto
Texto e ilustrações de Shel
Silverstein, tradução de Ivo
Barroso.
São Paulo: Editora Cosac Naify,
2003.
Se ter uma girafa de estimação é uma ideia que
causa espanto, o que se dirá, então, se for “uma
girafa e tanto”! O caráter hipotético dessa narrativa
poética se evidencia já no primeiro verso com o uso
da partícula “se”, que indica condição: “Se você
tiver uma girafa muito safa e lhe esticar o pescoço,
que espanto... você terá uma girafa e tanto”. A
condição, como esse trecho exemplifica, consiste
em imaginar algo cada vez mais inusitado atrelado
à girafa. Cada um desses elementos é acrescido à
narrativa, somando-se aos demais e configurando o
aspecto acumulativo da história. Trata-se de uma
narrativa poética, rimada e ritmada. Apresenta dois
momentos principais: o primeiro compreende a
entrada de cada um desses elementos na história, o
segundo inicia-se quando o bicho e todos esses
apetrechos caem num buraco de tatu, saem com a
ajuda de um bambu e começam, um por um, a se
desligar da girafa. As ilustrações em preto e branco
acompanham e complementam o texto, conferindolhe ainda mais graça e delicadeza.
Por meio das histórias com engano, podemos
estimular o entendimento de que, assim como na
vida real, os personagens realizam ações com
determinada intenção. Narrativas com
personagens bem caracterizados favorecem o
desenvolvimento da capacidade de se colocar no
lugar do outro para entender suas ideias, seus
propósitos, desejos e pensamentos. Ao ler esse
tipo de história, as crianças interpretam que
alguém está enganando quando diz uma coisa,
mas pensa outra. À medida que lerem esse tipo
de texto, elas serão capazes de entender a
diferença entre ação e intenção. Ao colocar em
evidência essas questões na trama das histórias,
estamos não só desenvolvendo habilidades
mentais, de conhecimento das intenções, mas
também habilidades sociais e linguísticas.
Os sete cabritinhos
Essa história é contada por um narrador em terceira
pessoa e trata de uma família de sete cabritinhos
que vive com sua mamãe cabra e é enganada pelo
lobo. Um dia, ela sai às compras e os deixa
sozinhos em casa, orientando-os a não abrir a porta
para ninguém até que ela volte. O lobo, escondido
atrás de uma árvore, vê a mamãe cabra se
afastando e faz três tentativas de entrar na casa
dos cabritinhos, enganando-os e fazendo-se passar
pela mãe. Na terceira tentativa ele consegue e
come todos, exceto o mais novo que se esconde no
relógio da sala e ajuda a mãe a reencontrar os
irmãos e dar fim ao lobo, quando ela volta para
casa.
Adaptação de Xosé Ballesteros,
ilustrado por Sofía F. Rodriguez
e Ana Míguez
São Paulo: Instituto Callis,
2008.
Na narrativa, o diálogo em discurso direto entre o
lobo e os cabritinhos mantém uma regularidade.
Sempre que o lobo se aproxima, bate na porta
(“Toc! Toc!”), os cabritinhos perguntam quem é, o
lobo responde “sua mãe”, acrescentando à resposta
alguma tentativa de engano. As respostas dos
cabritinhos variam, de acordo com a desculpa dada
pelo lobo, até que na terceira vez são convencidos
por ele e abrem a porta.
O Gato de Botas
O livro traz nove contos clássicos de Perrault. Ao
término de cada história, há um poema cuja
temática é o enredo de cada conto. A história de
engano selecionada deste livro é O Gato de Botas.
Nesta história, narrada em terceira pessoa, o gato
é deixado como herança ao filho mais novo de um
pobre moleiro. A princípio, o rapaz desdenha do
animal, achando-o pouco útil. O gato, no entanto,
pede apenas um par de botas para provar-lhe que
não é herança desprezível e que pode ajudá-lo a
enriquecer sem grande esforço. O moço providencia
as tais botas para o gato e, a partir daí, começam
suas inúmeras artimanhas para enganar os mais
variados personagens e obter sucesso em sua
tentativa de enriquecer o dono.
De Charles Perrault. In: Contos
de Perrault. Traduzido por
Fernanda Lopes de Almeida,
ilustrado por Elisabeth Teixeira
São Paulo: Editora Ática, 2006.
Assim o gato segue enganando ao rei,
chantageando camponeses e armando até uma
cilada para um ogro feiticeiro, de quem deseja
roubar o castelo. As ilustrações, embora em
pequena quantidade, são delicadas e coloridas e
apresentam os principais personagens da história
Branca de Neve
Este livro contém 52 histórias clássicas,
provenientes de diversos países e culturas. Foi
selecionado deste livro o conto Branca de Neve, na
versão dos Irmãos Grimm. Este conhecido conto
tem, nesta versão, uma vaidosa rainha como vilã.
De Jacob Wilhelm Grinm In:
Volta ao Mundo em 52 Histórias.
Narrado por Neil Phillip, com
ilustrações de Nilesh Mistry
e tradução de Hildegard Fiest.
São Paulo: Companhia das
Letrinhas, 1998.
Diariamente ela repete a mesma pergunta ao seu
espelho mágico: “Espelho, espelho meu, existe
mulher mais linda que eu?” Ao que ele sempre
responde: “Não, majestade!”. Certo dia, porém, a
rainha se surpreende com a resposta que ouve do
espelho: “Existe, Majestade! É Branca de Neve”.
Essa sequência de diálogo em discurso direto
repete-se ao longo do conto, definindo as ações da
personagem vilã. Sentindo-se ameaçada, tenta
eliminá-la, sem sucesso. A menina consegue fugir e
passa a viver na floresta com sete anões que
trabalham nas minas de prata das montanhas.
As ilustrações correspondem aos principais
acontecimentos da história. Há, também, nas
laterais das páginas, ilustrações e informações
referentes às outras versões desse mesmo conto.
Crianças pequenas aprendem sobre a vida por
meio da repetição e gostam de rever e refazer
caminhos, gestos, descobertas. Com a
linguagem, não é diferente. As histórias com
repetição oferecem às crianças a possibilidade de
imaginar acontecimentos, que ocorrem de forma
muito parecida, diversas vezes em uma mesma
narrativa. Por meio desse movimento repetitivo
da estrutura do texto, as crianças têm a
oportunidade de compreender melhor a narrativa
e de se apropriar de seu texto, chegando, muitas
vezes, a realizar leituras autônomas dessas
histórias. Portanto, deve haver lugar no dia-a-dia
das crianças para que elas ouçam histórias com
repetição. É um bom momento para fazê-las
aprender mais sobre a nossa língua. O segredo
está nos textos escolhidos e na maneira de
conduzir o trabalho. Aqui você encontrará
sugestões para incluir as crianças de seu grupo
no mundo da linguagem escrita.
Bruxa, Bruxa, venha à minha festa
Essa história trata de uma festa. A Bruxa é a
primeira convidada, mas ela só irá se puder levar o
Gato. Outros convidados só irão se também
puderem chamar alguém. No fim, o Lobo só irá se
convidarem a Chapeuzinho Vermelho, que só irá se
as crianças forem. Mas as crianças só aceitam o
convite se a Bruxa for. Isso acontece, e as crianças
vão à festa, retomando o ciclo que constrói a
história.
De: Arden Druce, ilustrado por
Pat Ludlow
São Paulo: Brinque-Book
Editora, 1995.
O rei Bigodeira e sua banheira
A história começa com um pedido de socorro que se
repete ao longo de todo o texto: o pajem clama
ajuda, pois o rei Bigodeira não quer sair da
banheira! Página a página, vários personagens que
frequentam a corte fazem convites ao rei na
tentativa de convencê-lo a deixar a banheira:
guerrear, almoçar, pescar, dançar etc. No entanto, o
rei responde a todos pedindo que o acompanhem
guerreando, almoçando, pescando e fazendo tudo o
mais... na
banheira! Todos atendem prontamente.
Assim se desenrola a história, cujo texto se repete
fielmente: o pajem pede ajuda, alguém arrisca uma
solução e todos acabam dentro da banheira fazendo
a vontade do rei. Até que o pajem tem uma
brilhante ideia: puxar o tampão!
De Audrey Wood, ilustrado por
Don Wood
São Paulo: Editora Ática, 2006.
As ilustrações são riquíssimas em cor, detalhes e
luz. Dialogam diretamente com o texto, conferindolhe ainda mais graça e brilho. Começam radiantes
como o despertar do dia e vão anunciando o
anoitecer em tons de azul escuro e num discreto
despontar da lua na janela dos aposentos de banho
do rei Bigodeira.
Quer brincar de pique-esconde?
O título convida à leitura da narrativa poética e
lúdica. Um macaco brinca de pique-esconde com
outros animais, que tentam se esconder, mas não
conseguem, deixando sempre uma parte do corpo
aparecendo. A resposta à pergunta “Mas, e agora?”,
reiterada ao longo do texto, revela ao leitor o que
cada bicho deixou de fora: as orelhas, o pescoço, a
tromba e até um cheirinho, no caso do gambá!
Assim se desenrola a história até que o animal
considerado o mestre do disfarce vence a
brincadeira. O camaleão mistura-se à paisagem e o
macaco não o encontra.
De: Isabella e Angiolina,
ilustrado por Glair Arruda
São Paulo: Editora FTD, 2006.
Nas páginas finais, é a ilustração que faz novo
convite ao leitor: encontrar o camaleão camuflado
em meio à paisagem.
Histórias de animais são narrativas cujos personagens
são animais com características humanas, e é uma das
mais antigas maneiras de se contar uma história. Em
sua maioria, são fábulas, cujo desfecho reflete uma
lição de moral, característica essencial desse tipo de
texto. Costumam ter a intenção de mostrar o que é
certo e o que é errado. Poderíamos dizer que as fábulas
estão a meio caminho entre o real e o simbólico, pois
tratam de temas da realidade humana por meio da
ação de personagens alegóricos que se deparam com
situações muito concretas. A moral é o aspecto mais
visível das fábulas. Porém, o trabalho não pode ser
limitado à exploração da mensagem do texto, ainda
mais se considerarmos que uma das funções da escola
é formar bons leitores e favorecer o aprendizado da
leitura e da escrita.
As histórias de animais facilitam a conversa com as
crianças sobre dimensões aparentemente complexas
dos textos (como, por exemplo, sua estrutura), porque,
em sua maioria, são textos curtos que perseguem uma
ideia central. Além disso, o enredo costuma ser
convidativo às crianças, já que lança mão do recurso da
personificação de animais que tanto as atrai.
Essas fábulas podem ser exploradas pelas crianças para
que elas pensem sobre “como” essas histórias são
narradas. Enfim, à medida que aprendem diversas
fábulas, elas exploram e pensam sobre sua forma.
Cabritos, cabritões
Nesta história, três cabritos que vivem nas montanhas –
um pequeno, um médio e um grande – têm como tarefa
atravessar uma ponte para chegar a um campo de capim
verde, onde podem se alimentar. Debaixo dessa ponte, no
entanto, vive um terrível Ogro que não deixa ninguém
passar. Os cabritos, então, elaboram um plano para cruzar
a ponte. O diálogo dos cabritos com o Ogro se repete três
vezes, com pequenas alterações a depender de qual dos
cabritos está atravessando a ponte naquele momento. O
plano dos cabritos dá certo e eles conseguem não só
passar pela ponte como também acabar com o Ogro,
comer o capim e se transformar em três enormes
cabritões. Além do diálogo, os trechos com as descrições
dos cabritos também contêm repetições. A ordem das
frases é sempre a mesma e os adjetivos usados para
caracterizá-los correspondem ao tamanho de cada um pequeno, médio ou grande. Nos três casos, o tamanho da
letra corresponde ao tamanho do cabrito: o pequeno é
descrito com uma letrinha e assim progressivamente.
Adaptado por Olalla González,
com ilustrações de Federico
Fernández
São Paulo: Instituto Callis,
2008.
Cada cabrito, ao atravessar a ponte, faz um barulho
específico com as patas indicado no texto por meio das
onomatopeias: “patim”; “patam” e “patom”. As belíssimas
ilustrações enfatizam as características dos personagens
descritas no texto: os cabritos vão ocupando diferentes
dimensões nas páginas, com suas barbas e chifres, assim
como o Ogro, a ponte e as montanhas.
O bicho folharal
Este livro integra a coleção Virando Onça, que,
como o próprio nome indica, tem a Onça como
protagonista em todos os títulos. Nesse caso, o
Macaco é seu esperto oponente. Na trama, Dona
Onça cisma de não deixá-lo beber água em sua
fonte. O bicho arma um plano, lambuza o corpo de
mel e rola nas folhas secas, disfarçando- se de
“bicho folharal”. Entra na fila dos animais que
esperam a vez para beber água na fonte da Onça e
logo chama a atenção dela com seu aspecto
exótico. Como não pode se molhar para não revelar
sua identidade, o macaco canta a mesma música
toda vez que se aproxima da fonte.
Contado e ilustrado por
Angela-Lago
Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
As ilustrações também são divertidas e coloridas.
Os traços irregulares lembram o desenho infantil e
conservam certo ar matreiro, presente também na
trama. As imagens ocupam duas páginas, em sua
maioria. O detalhe final do Macaco mostrando a
língua num canto da página para a Onça deitada no
outro canto resume exemplarmente o brilhante
diálogo entre texto e imagem.
A flauta do tatu
Este livro também integra a coleção Virando Onça,
assim como o anterior. Nesse caso, quem faz
esperta oposição à Onça é o Tatu. Para responder a
uma provocação da Onça que vivia falando que seu
prato predileto era sopa de tatu, o bicho cria uma
canção que se repete ao longo da história,
alterando-se em alguns trechos. Com essa canção,
o Tatu consegue chamar a atenção dos outros
animais, atrair a Onça para sua toca e deixá-la ali,
anos e anos, definhando à sua espera, até morrer.
Contado e ilustrado por
Angela-Lago
Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
Quando isso acontece, ele finalmente cumpre o
anunciado em sua canção: com o osso da canela da
Onça faz uma flauta e sai cantando em companhia
dos demais bichos. As ilustrações, assim como no
livro O bicho folharal, são coloridas, divertidas, com
traços irregulares que lembram o desenho infantil.
A sombra aparece como recurso ainda mais
explorado que no volume anterior, afinal, o Tatu
vive numa toca e para melhor enxergá-lo a luz não
é suficiente.
A matéria-prima do poema é a sonoridade. A linguagem
poética oferece ainda a vantagem da exigência de que
a reprodução seja literal, uma vez que qualquer
alteração faz com que o poema perca sua autoria.
Pode-se propor o trabalho com poemas em formas
distintas:
- Escutar com ênfase na relação entre a oralidade, a
voz falada e a musicalidade.
- Ler com ênfase na visualização da linha, do verso, do
parágrafo e da estrofe.
- Produzir poemas tanto por meio da reescrita como
também da criação.
O poema requer a voz e não só a leitura silenciosa.
Requer também a atenção de quem escuta. Por isso é
conveniente que as crianças possam participar de
situações de recitação e leitura. A estrutura
composicional dos poemas, em especial os que
possuem rimas, convida à recitação.
É preciso não perder de vista a capacidade de sugerir e
provocar admiração, que é própria da poesia, evitando
ceder lugar para a técnica desprovida de sentido. Mais
vale uma recitação polifônica, na qual várias vozes dão
o tom em busca de um sentido pleno, do que uma
recitação uníssona, na qual predomina uma só
tonalidade que reduz a significação em um único
ressoar. A poesia deve ecoar.
A arca de Noé
A primeira edição de A arca de Noé foi publicada em
1970 e muito bem recebida pela crítica. Como o
título sugere, a maioria dos poemas que compõem
essa obra tem como tema os animais. São 32
poemas ao todo, sendo 23 dedicados aos bichos. Os
demais versam sobre desde aspectos religiosos a
objetos caseiros e elementos da natureza. Nos
poemas sobre os animais, encontramos formatos
diversos para os textos: há aqueles nos quais o
próprio animal se apresenta (A pulga e O
porquinho), outros em que um suposto narrador
conta em versos as peripécias ou características do
bichinho (O pato, O peru, O gato), e também os
que aparecem em forma de conversa (O pinguim e
De: Vinicius de Moraes
Ilustrações de Laurabeatriz
São Paulo: Companhia das
Letrinhas, 1991.
O elefantinho). Em todos eles, o humor se
apresenta no modo irreverente como os animais
desfilam em cada poema. As ilustrações em preto e
branco de Laurabeatriz apresentam um estilo leve,
que opta pelo tracejado e pelo pontilhado em
alguns casos. Os desenhos ocupam um pequeno
espaço nas páginas e primam pela delicadeza.
Folheando o livro de perto é que o leitor pode
apreciar as imagens e associá-las aos textos.
Boi da cara preta
Dos 25 poemas que compõem Boi da cara preta
nenhum recebe o título que dá nome ao livro. No
entanto, o universo das cantigas de ninar,
trovinhas, parlendas e trava-línguas permeia toda a
obra. Com doçura, os poemas embalam as crianças
na candura própria das cantigas: “Dorme, dorme,
meu menino/ o sono é um macaquinho./ Ele cata
grãos de areia/ pra jogar nos teus olhinhos”.
(Macaquinho sem-vergonha) – e com humor
convidam a brincadeiras divertidas: “Vaca amarela/
fez xixi na gamela,/ cabrito mexeu, mexeu,/ quem
rir primeiro/ bebeu o xixi dela”. (Vaca amarela).
Sérgio Caparelli
Ilustrações de Caulos
Porto Alegre: L&PM, 2006.
A grande presença de estrofes em forma de
quadrinhas reforça o caráter popular dos poemas.
Essa forma de organizar o texto – grupos de 4
versos com rimas principalmente no segundo e no
último – é própria dos repentes que fazem parte da
tradição oral de nossa cultura e convida à
memorização e à recitação: “A mulher barbada/ tem
barba de chocolate/ e um cachorro bobo/ de bigode
e cavanhaque”.
As canções infantis de tradição oral são, em sua
maioria, composições curtas apoiadas na linguagem
oral, quase sempre com rimas, refrão, letra e melodia
simples, de fácil memorização, o que permite ser
lembradas e cantadas com muita facilidade. As canções
são repetidas e experimentadas diversas vezes pelas
crianças, sua sonoridade ajuda a lembrar o que já
passou e, ao mesmo tempo, a antecipar o que virá.
As canções e as brincadeiras de tradição oral podem
ser apresentadas sob diferentes denominações –
brinquedo cantado, brinquedo ritmado, brincadeira de
escolha (também conhecida como fórmula de escolha),
roda de verso, cantiga de roda etc. Em qualquer um
desses tipos, os textos que acompanham as canções
possuem características semelhantes à poesia, são
escritos em versos e, em muitos casos, apresentam
rima.
A aparente simplicidade na conjunção entre letra e
melodia configura, do ponto de vista poético, uma
sofisticação, por mais contraditório que isso possa
parecer. Isso ocorre porque uma das principais
características dos textos poéticos é justamente a
condensação de significados, ou seja, dizer muito com
pouco.
Brinque-Book canta e dança
O livro contém 28 cantigas de roda, a maioria de
domínio público, cujas letras são apresentadas
juntamente com a partitura e as cifras musicais em
cada uma das páginas. A partitura é a
representação gráfica, na pauta musical, das
notações referentes à execução vocal ou
instrumental de uma composição e as cifras indicam
os acordes usados na música. As imagens coloridas,
criadas com materiais variados, são da premiada
ilustradora Graça Lima. As cantigas podem ser
ouvidas no CD que acompanha o livro.
Seleção musical de Suzana
Sanson
Ilustrado por Graça Lima
São Paulo: Brinque-Book,
2003.
As canções que convidam a brincar de roda
(Ciranda, cirandinha e A mão direita tem uma
roseira, dentre outras) também prevalecem, mas há
ainda a presença das brincadeiras com a linguagem
(O sapo não lava o pé) e das cantigas que convidam
aos movimentos corporais com ou sem o uso de
objetos (De olhos vermelhos e Escravos de Jó). Nas
páginas finais do livro há um texto complementar
sobre as cantigas de roda.
Quem canta seus males espanta
Este livro foi organizado pela coordenadora
pedagógica de uma escola de educação infantil e
contém textos de tradição oral que faziam parte da
rotina da escola. São cantigas e parlendas.
Além do livro com as letras das músicas e as
parlendas, a obra inclui um CD, no qual as próprias
crianças, acompanhadas de músicos, cantam e
recitam os 73 textos. São também as crianças que
ilustram as páginas do livro com técnicas e
materiais variados – desenho, pintura, colagem etc.
–, conferindo um colorido especial à obra.
Coordenado por Theodora
Maria Mendes de Almeida
Ilustrado por várias crianças
São Paulo: Editora Caramelo,
1998.
Não há uma organização linear na apresentação dos
textos: as parlendas misturam-se aleatoriamente às
cantigas. O sumário permite ao leitor localizar-se
tanto na leitura do livro quanto na escuta do CD. Ao
todo, são 15 parlendas e 58 cantigas dos mais
variados tipos – das mais longas, com sequências
narrativas encadeadas ou contagem numérica, às
mais curtinhas, com apenas uma estrofe – que
podem ser cantadas e recitadas em diferentes
situações – nas brincadeiras com as partes do
corpo, em roda ou mesmo nas que acompanham o
pular corda.
As histórias rimadas são aquele tipo de texto que
normalmente deixa o professor confuso na hora de
defini-lo: é um poema ou um conto? Afinal, tem rima e
parece organizado em pequenas estrofes, mas também
tem personagens, conflito e final feliz.
Essas histórias conservam características próprias a
mais de um gênero textual. Algumas se parecem com
parlendas, outras se assemelham mais a um poema
narrativo, e há as que se pareçam com contos breves.
Sabemos que, para contar uma história, é necessário,
resumidamente, narrar um acontecimento, por mínimo
que seja, num tempo e num espaço, envolvendo
personagens que se relacionam entre si. Para “poetar”,
é preciso brincar com a sonoridade das palavras,
apresentando-as num ritmo próprio, de modo a obter
uma condensação de significados a serem
comunicados. Condensar aqui não significa
necessariamente abreviar, mas unir e concentrar, ou
seja, usar palavras ricas em significado, ou colocar lado
a lado termos que se completam e que ajudam o leitor
a construir imagens durante a leitura. Juntando todos
esses ingredientes, obtemos, normalmente, uma
história rimada.
Pêssego, pera, ameixa no pomar
Texto e ilustrações de Janet e
Allan Ahlberg. Tradução de Ana
Maria Machado
São Paulo: Editora Moderna,
2007.
Trata-se de um livro em que a ilustração tem o
importante papel de ajudar a descobrir o que se
está buscando. Isso dá lugar a uma atividade de
denominação dos objetos ilustrados e de busca por
sua localização que ajuda na aprendizagem do
vocabulário.
O convite a um olhar mais demorado não aparece à
toa. Em cada página as ilustrações escondem
personagens clássicos dos contos de fadas, como O
Pequeno Polegar, Cinderela e João e Maria, entre
outros. Os personagens são citados no final e no
início dos versos que se sucedem ao longo do texto.
Um leitor atento pode se perguntar: se há
personagens tradicionais dos contos de fadas
apresentados em versos rimados, é uma história ou
um poema? A resposta não exclui nem um nem
outro: trata-se de um conto versificado, uma
história rimada ou uma prosa poética.
Num espaço visivelmente campestre (o pomar do
título), os personagens dos contos de fadas se
encontram em locais inusitados, sem lógica
aparente, exceto no caso dos três ursos e do
neném. Há um pequeno enredo envolvendo
principalmente esses quatro personagens e, para
compreendê-lo, não basta ler o texto, é preciso
também observar atentamente as imagens.
Fiz voar o meu chapéu
Guiada pelo voo de um chapéu, a leitura deste livro
flui e surpreende. Essa premiada narrativa poética
recorre à linguagem das parlendas, explorando o
recurso da repetição e do encadeamento. O teor
poético não se limita às rimas no final de cada
verso, pois está também na brincadeira com as
palavras e com o significado delas: o primeiro voo
do chapéu acerta logo o coronel, que se assusta e
despenca num riacho. A partir daí, uma palavra
puxa a outra: o riacho vai embora e nem repara na
senhora que dá chilique e é salva pelo cacique.
Ana Maria Machado
Ilustrações de Zeflávio Teixeira
Belo Horizonte: Formato
Editorial, 1999.
O voo do chapéu é a linha que costura a narrativa e
desencadeia acontecimentos inesperados. O
principal deles, que encaminha o leitor para a
finalização da viagem, é a abertura de uma gaiola.
O pássaro que dali sai dá continuidade ao voo
poético: parte ao encontro de seus filhotes
passarinhos e juntos cantam e fazem festa.
As ilustrações de Zeflávio Teixeira destacam o
aspecto lúdico e o movimento do texto, convidando
o olhar a seguir o voo do chapéu e descobrir, página
a página, as paisagens e os personagens que fazem
parte desse percurso.
Parlendas são gêneros que fazem parte da tradição
oral, em sua maioria de domínio público, e se
caracterizam por uma forma breve, rimada, ritmada e
repetitiva, nem sempre com significado lógico. Podem
apresentar, por exemplo, uma série de imagens
associadas que obedecem ao senso lúdico ou um
diálogo inusitado no qual predomina a sonoridade e não
a coerência. Como o ritmo é um componente forte nas
parlendas, o texto normalmente possui movimento e
convida à brincadeira corporal: gestos costumam
acompanhar a recitação desses textos e este é mais um
atrativo para as crianças pequenas.
Estudiosos dos gêneros de tradição oral classificaram as
parlendas segundo critérios diversos, como a temática
(parlendas que ensinam a contar ou que apresentam
sequência de eventos, por exemplo) ou o uso social que
normalmente se faz delas (parlendas que iniciam e
finalizam uma história ou que acompanham
brincadeiras em roda, por exemplo). Outros nomes
dados às parlendas são “brincos” ou “mnemonias”. Esse
último termo tem origem no radical grego mnemo, que
significa memória. Não à toa, também é usado para
nomear esse gênero.
Salada, saladinha: parlendas
Esse livro pertence a uma coleção intitulada Na
panela do mingau, cujos títulos priorizam os
gêneros de tradição oral, como as parlendas, travalínguas e adivinhas, entre outros. Em Salada,
saladinha, as organizadoras apresentam cerca de
cem parlendas, classificadas segundo a temática e a
função que costumam desempenhar nas
brincadeiras infantis: parlendas de tirar, parlendas
de arreliar, parlendas de pedir, parlendas de pular
corda, parlendas de brincar com os pequeninos,
parlendas de brincar e parlendas de acabar. Em
algumas páginas, há um texto instrucional em fonte
reduzida, logo abaixo da parlenda, explicando como
brincar com as crianças.
Maria José Nóbrega e Rosane
Pamplona (organizadoras)
Ilustrações de Marcelo Cipis
São Paulo: Editora Moderna,
2005.
A apresentação de cada grupo de parlendas é
graficamente marcada pelas cores das páginas que
se alteram ao longo da obra. Entre uma parlenda e
outra também há ícones separando o texto e
facilitando a localização. Utiliza-se a letra
maiúscula, o que favorece a leitura realizada pelas
crianças em fase inicial de alfabetização.
Quem canta seus males espanta 2
Neste livro há músicas, parlendas, adivinhas e
trava-línguas, identificados ao longo da obra com
esses mesmos títulos, exceto no caso das músicas
que aparecem com seus títulos originais. Além do
livro com as letras das músicas e demais textos, a
obra inclui um CD, no qual as próprias crianças,
acompanhadas de músicos diversos, cantam e
recitam os 85 textos. São também as crianças que
ilustram as páginas do livro com técnicas e
materiais variados – desenho, pintura, colagem etc.
–, conferindo um colorido especial à obra!
Coordenado por Theodora
Maria Mendes de Almeida
Ilustrado por várias crianças
São Paulo: Editora Caramelo,
2000.
Não há uma organização linear na apresentação dos
textos: as parlendas misturam-se às músicas, aos
trava-línguas e adivinhas. O sumário permite ao
leitor localizar-se tanto na leitura do livro quanto na
escuta do CD. Ao todo, são 36 parlendas dos mais
variados tipos – das mais longas, com sequências
narrativas encadeadas, às mais curtinhas, com
apenas uma estrofe – que podem ser cantadas e
recitadas em diferentes situações – nas brincadeiras
com as partes do corpo, em roda ou mesmo nas
que acompanham o pular corda.
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