Propriedades estruturais e morfológicas de nanoestruturas de
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Propriedades estruturais e morfológicas de nanoestruturas de
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC PROPRIEDADES ESTRUTURAIS E MORFOLÓGICAS DE NANOESTRUTURAS DE PEPTÍDEOS BRUNO BARROS CUNHA Santo André (06/2011) UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC PROPRIEDADES ESTRUTURAIS E MORFOLÓGICAS DE NANOESTRUTURAS DE PEPTÍDEOS BRUNO BARROS CUNHA Dissertação apresentada à Universidade Federal do ABC, para a obtenção do título de Mestre em Nanociências, junto ao programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Nanociências e Materiais Avançados área de concentração Materiais Funcionais. Orientador: Prof. Dr. José Antonio Souza Co-orientador: Prof. Dr. Wendel A. Alves Santo André (06/2011) Dedico esta dissertação ao meu filho, Pedro Arthur Agradecimentos Gostaria de agradecer em primeiro lugar e acima de tudo a Deus, pois me iluminou por toda esta caminhada que enfrentei, mostrando as saídas para todos os obstáculos colocados em minha vida. Sempre abençoando a mim e minha família. Deus eu te agradeço! Agradeço em especial a minha família que perseverante acreditou e me apoiou em todas minhas decisões, me dando forças para lutar. Por suas orações e palavras acolhedoras de carinho materno, de coração a minha mãe Iraneide Barros Cunha e também ao meu pai Francisco Carlos Sousa Cunha mesmo que com poucas palavras ou quase sem, pelos seus pensamentos positivos. O fruto da boa educação me levou a novos horizontes, um novo mundo... Agradeço isto aos meus pais. Aos meus irmãos Hugo Leonardo Barros Cunha e Eliza Gabriela Barros Cunha pelos laços de amizade e carinho eu os agradeço. Ao meu filho Pedro Arthur com suas palavrinhas de carinho e saudades motivaram a dar continuidade aos meus estudos. De forma direta no trabalho, agradeço: Ao prof. José Antonio Souza pela orientação e contribuição para o desenvolvimento e término deste trabalho; Ao prof. Wendel A. Alves pela co-orientação e oportunidade em trabalhar em seu laboratório, vital para iniciar o desenvolvimento deste trabalho. Ao prof. Fábio Furlan Ferreira, pelos conhecimentos transmitidos e pela ajuda direta nos refinamentos dos dados de difração de raios-x, assim como sua amizade. A instituição de fomento CAPES pelo apoio financeiro, assim também ao programa de pósgraduação em Nanociências e Materiais Avançados da Universidade Federal do ABC pela oportunidade da realização do mestrado, contribuindo para minha formação acadêmica. Agradeço também a Dra. Sonia Tomie Tanimoto pela ajuda nas interpretações e pela amizade. Por fim, mas não o menos importante aos meus amigos de república em especial ao Gustavo Lessa e Júlio Ximenes. Aos amigos de mestrado Eduardo de Souza e Thiago Cipriano. E todos os amigos de laboratório que aqui não foram citados, eu os agradeço pela convivência e amizade, assim como todos aqueles amigos que de forma direta ou indireta contribuíram na minha vida... “Não tentes ser bem sucedido, tenta antes ser um homem de valor” Albert Einstein RESUMO Neste trabalho foi realizado um estudo das propriedades térmicas e estruturais em amostras envolvendo nanoestruturas de L-difenilalanina. A preparação das amostras foi realizada em função da variação do pH da solução e introdução de íons de metal de transição (Fe) presentes no composto conhecido como microperoxidase 11 (MP11). Estudos obtidos através de difração de raios X revelam que esse sistema se cristaliza em uma estrutura hexagonal com grupo de simetria P61. Propriedades estruturais, estudadas através do refinamento Rietveld, sugerem que os parâmetros estruturais não sofrem alterações significativas com a variação do pH 3, 7 e 12. A intercalação do composto MP11 na nanoestrutura de peptídeo foi realizada em pH 7. Foram produzidas duas amostras dopadas com concentrações distintas de MP11 (0, 744 mg/L e 1,488 mg/L). Os resultados obtidos através de refinamentos Rietveld, sugerem que a introdução de MP11 resulta em um aumento dos parâmetros de rede a e b e uma diminuição do parâmetro c. Amostra de peptídeo puro possui parâmetros a = b = 24,1650(9) e c = 5,580(1). Amostra de peptídeo com 0,0744 mg/L de MP11 possui parâmetros a = b = 24,2080(1) e c = 5,470(4). Amostra de peptídeo com 1,488 mg/L de MP11 possui parâmetros a = b = 24,2099(9)e c = 5,4798(3). Estas amostras se auto-estruturam formando canais com diâmetros da ordem de 10 Å. Estudos teóricos sobre a influência da presença de moléculas de água na formação de nanotubos impulsionaram a realização de estudos em função de tratamentos térmicos. Imagens obtidas por microscopia eletrônica de varredura indicaram que não ocorreram alterações significativas quanto à morfologia com o aumento da temperatura de tratamento térmico. Análises termogravimétricas e calorimetria diferencial de varredura indicam temperaturas críticas relacionadas à perda de material e também a uma transição de fase estrutural. Foi realizado um estudo sistemático das propriedades estruturais destas amostras através de difração de raios X e espectroscopia de infravermelho. O grupo de simetria na qual a amostra se cristaliza depois da transição foi identificado e a estrutura cristalina resolvida. Através dos resultados obtidos pelo refinamento Rietveld dos dados de difração de raios X foi possível confirmar a transição estrutural da fase hexagonal P61 para a fase ortorrômbica Pba2. Esta transição estrutural ocorre na temperatura crítica de 136 °C, corroborando os resultados de calorimetria diferencial de varredura. Os principais modos de vibração do composto de Ldifenilalanina foram identificados através da espectroscopia de infravermelho. Através da identificação das conformações β-sheet e β-turn um melhor entendimento da estrutura cristalina após a transição de fase foi alcançado. Os resultados sugerem fortemente que estes microfios/microfitas são formados por estruturas tubulares (amostras tratadas termicamente em baixas temperaturas) ou por estruturas continuas (amostras tratadas termicamente em altas temperaturas). As estruturas tubulares estariam associadas à fase hexagonal e a estrutura continua (do tipo bulk) à fase cristalográfica ortorrômbica. Palavras-chave: nanoestruturas de L-difenilalanina, transição estrutural, microperoxidase 11, DRX e FTIR. ABSTRACT A systematic study of the thermal and structural properties of samples obtained from nanostrutuctures of L-difenilalanina is presented. The samples preparation were prepared as a function of both pH of the solution and the introduction of transition metal ions (Fe) with is found in a compound (C84H16FeN20O21S2) known as microperoxidase 11 (MP11). Analyses obtained through X-ray diffraction indicate that this system crystallizes into hexagonal structure with space group symmetry P61. Structural properties studied by Rietveld refinement suggest that the structural parameters do not change significantly with the variation of pH 3, 7 and 12. The intercalation of MP11 into peptide nanostructure was performed at pH 7. We have produced two samples doped with different concentrations of MP11 (0.744 mg/L and 1.488 mg/L). The results suggest that the introduction of MP11 results in an increase of the cell parameters a and b as well as decrease of c. MP11 free peptide sample shows cell parameters a = b = 24.1650(9) and c = 5.580(1). Samples with 0.0744 mg/L of MP11 have a = b = 24.2080(1) and c = 5.470(4) and with 1.488 mg/L of MP11, a = b = 24.2099(9) and c = 5.4798(3). These samples are self-assembly forming channels with diameters of around 10 Å. Theoretical studies on the influence of the presence of water molecules in the formation of nanotubes motivated studies as a function of heat treatments. Images obtained by scanning electron microscopy indicated that there were no significant changes in their morphology with increasing annealing temperature. Differential scanning calorimetry and thermogravimetric analysis indicate critical temperatures related to the loss of material and also to a structural phase transition. We conducted a systematic study of the structural properties of these samples by x-ray diffraction and infrared spectroscopy. The symmetry group in which the sample is crystallized when the system undergoes a structural transition was identified and the crystal structure has been solved. From the results obtained by Rietveld refinement of X-ray diffraction data a structural transition from hexagonal P61 to orthorhombic PBA2 phase was corroborating the results of differential scanning calorimetry. The main vibration phonon modes of the compound L-difenilalanina were identified by infrared spectroscopy. Through the identification of β-sheet and β-turn conformation a better understanding of the crystalline structure after the phase transition was achieved. The results strongly suggest that these microwires/microribbons are formed by tubular structures (samples annealed at low temperatures) or continuous structures (samples annealed at high temperatures). The tubular structures may be related to the hexagonal phase and the bulk-like continue structure (bulk) to the orthorhombic crystallographic phase. Key-words: L-difenilalanina nanostructures, structural transition, microperoxidase 11, XRD and FTIR. . Índice CAPÍTULO 1- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................................................... 1 1.1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1 1.2. FORMAÇÃO DE NANOTUBOS DE PEPTÍDEO ........................................................ 2 1.3. CONFORMAÇÕES EM PEPTÍDEOS ........................................................................... 6 1.4. OBJETIVOS DO TRABALHO ...................................................................................... 9 CAPÍTULO 2- TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS ........................ 10 2.1. PREPARAÇÃO DE AMOSTRAS ................................................................................ 10 2.2. ANÁLISE TÉRMICA ................................................................................................... 12 2.2.1. Análise Termogravimétrica ............................................................................... 12 2.2.2. Calorimetria Diferencial de Varredura .............................................................. 14 2.3. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA .................................................. 15 2.4. DIFRAÇÃO DE RAIOS X ........................................................................................... 16 2.5. ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO ........................................................... 18 CAPÍTULO 3- RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................. 22 3.1. NANOESTRUTURAS DE L-DIFENILALANINA ..................................................... 22 3.2. INTERAÇÃO DA MP11 EM NANOESTRUTURAS DE L-DIFENILALANINA .... 30 3.3. TRANSIÇÃO DE FASE ESTRUTURAL INDUZIDA PELA TEMPERATURA ....... 33 3.3.1 Propriedades Térmicas ....................................................................................... 33 3.3.2 Propriedades Morfológicas ................................................................................ 39 3.3.3 Propriedades Estruturais .................................................................................... 45 3.3.3.1. Difração de Raios X ................................................................................. 45 3.3.3.2. Espectroscopia de Infravermelho ............................................................ 55 CAPÍTULO 4- CONCLUSÃO .............................................................................................. 62 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 64 Lista de Abreviações DMSO Dimetilsulfóxido DRX Difração de raios X DSC Calorimetria Diferencial de Varredura, do inglês: Differential Scanning Calorimetry FF L-Fenilalanina-L-Fenilalanina FL L-Fenilalanina-L-Leucina FW L-Fenilalanina-L-Triptofano FTIR Espectroscopia de Infravermelho por Transformada de Fourier, do inglês: Fourier Transform Infrared Spectroscopy HFP 1,1,1,3,3,3-hexafluoro-2-propanol IPEN Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares LF L-leucina-L-fenilalanina LL L-leucina-L-leucina LNLS Laboratório Nacional de Luz Síncrotron MEV Microscopia Eletrônica de Varredura MPs Microperoxidases MP11 Microperoxidase 11 NTPs Nanotubos de Peptídeos PSD Detector sensível à posição TGA Análise Termogravimétrica do inglês: Thermogravimetric Analysis TGD UV-Vis Termogravimetria Derivada Espectroscopia na região do Ultra Violeta – Visível LISTA DE FIGURAS Fig. 1.1: O empacotamento molecular e cela unitária de nanoestruturas de dipeptídeos. Encontram-se estruturas do tipo hexagonal (FF), ortorrômbica (FL e LL) e tetragonal (WG) [17]. .............................................................................................................................................. 3 Fig. 1.2: (a) Fórmulas estruturais da L-difenilalanina. (b) Estrutura tridimensional da FF [14]. .............................................................................................................................................. 3 Fig. 1.3: Modelo arbitrário para a construção das fibras de FF. Átomos das cadeias principais do dipeptídeo são coloridos de acordo com o tipo de átomo, enquanto os átomos nas cadeias laterais fenilalanina estão representados em laranja. (a) Tubo com um diâmetro exterior 110nm e 50nm de diâmetro interior. O quadrado branco indica a parte ampliada (b) apresentando um modelo da interface do canal de peptídeo na superfície interna. O retângulo representa a visão detalhada dada em (c) uma representação de varas fechadas com átomos que constituem a superfície dos poros preenchidos [14]. ........................................ 4 Fig. 1.4: Conjunto de peptídeos mediados por um complexo de rênio [21] ............................... 5 Fig. 1.5: a) Representação esquemática da formação do nanotubo de peptídeo de monômeros de peptídeo cíclico. b) camada única porosa montada pela coluna de peptídeos dendríticos [21]. ........................................................................................................................... 5 Fig. 1.6: Vistas esquemáticas de hélices α. (A) Um modelo em esferas e bastões. (B) Uma representação em fita. (C) Uma representação cilíndrica [32]. ................................................... 7 Fig. 1.7: (A) As cadeias laterais (verdes) situam-se alternadamente acima e abaixo do plano da fita. (B) Fitas β adjacentes estendem-se em sentidos opostos, ligações de hidrogênio entre grupamentos NH e CO conectam cada aminoácido em uma fita adjacente, estabilizando a estrutura. (C) Fitas β adjacentes estendem-se no mesmo sentido, ligações de hidrogênio conectam cada aminoácido em uma fita com dois diferentes aminoácidos na fita adjacente. (D) Com mais diversidade estrutural do que as hélices α, as folhas β podem ser quase planas, mas a maioria adota uma forma um pouco retorcida [32] ..................................... 7 Fig. 1.8: Estrutura de volta reversa (β-turn). O grupamento CO do aminoácido i da cadeia peptídica faz ligação de hidrogênio com NH do aminoácido i+3, estabilizando a volta. Esferas em branco e cinza representam os átomos de hidrogênio e carbono, respectivamente. A cadeia lateral, amina (NH3) e carboxila (COO-) são representadas pelas esferas verde, azul e vermelha, respectivamente [32].................................................................. 8 Fig. 2.1: Fluxograma descritivo da rota de síntese fase-líquida............................................... 10 Fig. 2.2: Microperoxidase 11 (MP11), segmento do citocromo c do coração do cavalo [40]....11 Fig. 2.3: Esquema do aparato (eletrobalança) para a análise termogravimétrica (TGA) ......... 13 Fig. 2.4: Curva DSC para os processos endotérmicos e exotérmicos ...................................... 14 Fig. 2.5: Difração de raios X por planos do cristal [48]. ........................................................... 16 Fig. 2.6: Efeito do tamanho de pequenas partículas em curvas de difração. ........................... 17 Fig. 2.7: Classificação dos seis tipos de modos de vibração moleculares. .............................. 19 Fig. 2.8: Esquema dos níveis de energia para o espectro no infravermelho. ........................... 21 Fig. 3.1: Difratograma em alta resolução de amostra de peptídeo preparada em solução com pH 7, refinado pelo Método Rietveld. O símbolo x representa a curva observada experimentalmente (observado), a curva em vermelho representa o modelo (calculado), a curva em azul representa a diferença entre as curvas experimental e teórica (diferença) e traços em magenta representam as posições angulares das reflexões permitidas pela fase cristalográfica ........................................................................................................................... 23 Fig. 3.2: Refinamento Rietveld dos difratogramas de amostras de peptídeos preparadas em solução com pH 3 (painel à esquerda) e pH 12 (painel à direita). ............................................ 24 Fig. 3.3: Painel à esquerda mostra a molécula de difenilalanina. Painel à direita mostra a cela unitária formada por seis moléculas de difenilalanina. Ambos os painéis tratam de amostras em pH 7. Os átomos de oxigênio, nitrogênio, carbono e hidrogênio são representados por esferas em vermelho, azul, cinza e brancas, respectivamente ..................... 26 Fig. 3.4: Painel à esquerda mostra a formação cíclica das moléculas de difenilalanina nos vértices da cela unitária. Painel à direita mostra a nanoestruturação do canal da amostra de peptídeo .................................................................................................................................... 27 Fig. 3.5: Posições da água (por raio de van der Waals) no canal da estrutura do nanotubo Ldifenilalanina, esferas em azul. As ligações de hidrogênio entre as moléculas de peptídeo são mostradas por linhas tracejadas. Cadeias laterais de peptídeos foram omitidas para maior clareza............................................................................................................................. 28 Fig. 3.6: Definição das interações em nanoestruturas peptídicas de difenilalanina e formação das microestruturas. Veja também Fig. 1.3............................................................... 29 Fig. 3.7: (A) Definição de ângulo de torção de forma genérica para todos os tipos de dipeptídeos. (B) Estrutura molecular do dipeptídeo difenilalanina. ......................................... 31 Fig. 3.8: Padrões de difração de raios X em alta resolução das amostras preparadas em solução de pH 7 e com as concentrações diferentes de MP11, 2X (painel à esquerda) e 5X (painel à direita). Marcas de escala encontram-se abaixo dos perfis experimentais indicando as posições das reflexões permitidas de Bragg para o grupo espacial de simetria hexagonal (P61). ....................................................................................................................... 32 Fig. 3.9: (A) Resultados da análise termogravimétrica mostrando a variação de massa em função da temperatura. Utilizou-se uma rampa de aquecimento de 5 °C/min, iniciando a temperatura ambiente e finalizando a 350 °C. (B) Uma ampliação do termograma. ............... 35 Fig. 3.10: Calorimetria Diferencial de Varredura na amostra de dipeptídeo ajustada em pH 7 com rampa de aquecimento de 5 °C/min (painel superior) e 10 °C/min (painel inferior). Adota-se a seguinte sistemática para o ciclo térmico: temperatura ambiente até 200 °C (i) resfriamento até a temperatura de -30 °C (ii) e aquecendo novamente até 200 °C (iii). .......... 36 Fig. 3.11: Análise de Calorimetria Diferencial de Varredura na amostra de dipeptídeo ajustada em pH 7 com rampa de aquecimento de 5 °C/min. Antes da análise, a amostra foi tratada termicamente a 190 °C e depois ressuspensa em H2O. ................................................ 38 Fig. 3.12: Imagens de microscopia eletrônica de varredura da amostra obtida na temperatura ambiente ............................................................................................................... 39 Fig. 3.13: Imagens de microscopia eletrônica de varredura da amostra tratada em 137 °C .... 40 Fig. 3.14: Imagens de microscopia eletrônica de varredura da amostra tratada a 165 °C ....... 41 Fig. 3.15: AFM (A) e MEV (B) mostrando a formação da estrutura peptídica (difenilalanina) preparados em solução de pH 7 [29] ................................................................ 42 Fig. 3.16: Imagens de microscopia eletrônica de varredura da amostra tratada a 190 °C ....... 42 Fig. 3.17: Imagens de microscopia eletrônica de varredura da amostra tratada a 220 °C ....... 43 Fig. 3.18: Imagens de microscopia eletrônica de varredura da amostra tratada a 321 °C ....... 43 Fig. 3.19: Comparação das imagens de microscopia eletrônica de varredura da amostra de peptídeos tratadas em diferentes temperaturas ......................................................................... 44 Fig. 3.20: Comparação dos difratogramas das amostras de peptídeo tratadas termicamente em diferentes temperaturas. O grupo espacial de simetria indexado é Hexagonal P61............ 46 Fig. 3.21: Difratogramas das amostras de peptídeo tratadas termicamente. (A) Comparação dos tratamentos a 135 °C e 140 °C com grupo de simetria hexagonal P61. (B) Comparação de dois tratamentos com temperaturas de 140 °C e 150 °C. (C) Comparação das demais temperaturas em135 °C, 170 °C com o grupo de simetria hexagonal P61 ............................... 47 Fig. 3.22: Refinamento Rietveld do difratograma de amostra de peptídeo tratada termicamente a 190 °C. A fase cristalina encontrada é a ortorrômbica com grupo de simetria Pba2. ........................................................................................................................... 48 Fig. 3.23: (A) Molécula de peptídeo, formando uma unidade mínima para a formação da cela unitária. (B) Empacotamento das moléculas de peptídeo na cela unitária ........................ 49 Fig. 3.24: (A) Formação da estrutura tubular com canais nanométricos, corresponde à amostra de peptídeo na fase hexagonal P61. (B) Formação da estrutura contínua em amostra de peptídeo na fase ortorrômbica Pba2. ..................................................................... 51 Fig. 3.25: Comparação das celas unitárias das fases hexagonal (A) e ortorrômbica (B), no plano ab. Mudança na perspectiva para visualização do eixo c, das fases hexagonal (C) e ortorrômbica (D). ...................................................................................................................... 52 Fig. 3.26: (A) Difratogramas da amostra de peptídeo tratada termicamente nas temperaturas de: 190 °C, 220 °C e 260 °C. (B) Amplificação dos difratogramas para melhor identificação das intensidades relativas dos planos (2 0 0) e (2 1 0). O grupo espacial de simetria indexado é ortorrômbico Pba2................................................................. 53 Fig. 3.27: (A) Comparação das fases hexagonal e ortorrômbica encontradas na amostra após o tratamento térmico. (B) Amplificação dos difratogramas para melhor visualização. ... 54 Fig. 3.28: Espectros de FTIR de amostras de peptídeo. Inicia-se o tratamento térmico a partir da temperatura ambiente nas respectivas temperaturas 80 °C, 140 °C, 190 °C, 220 °C e 260 °C. ................................................................................................................................... 55 Fig. 3.29: (A) Identificação das bandas FTIR mais importantes das amostras da fase Hexagonal. (B) Ampliação do espectro para melhor visualização do deslocamento da banda da amida secundária. ...................................................................................................... 56 Fig. 3.30: Deconvolução através da distribuição de funções Lorentzianas da nanoestrutura de peptídeo à temperatura ambiente (painéis superiores) e tratada termicamente a 190 °C (painéis inferiores). ................................................................................................................... 58 Fig. 3.31: Comparação dos espectros de infravermelho das fases hexagonal e ortorrômbica . 59 Fig. 3.32: Análise comparativa das diferentes bandas de FTIR para as distintas fases presentes na amostra tratada termicamente. . ........................................................................... 60 Fig. 3.33: Identificação das conformações β-sheet e β-turn no espectro de FTIR................... 61 LISTA DE TABELAS Tabela 3.1: Ângulo de varredura, índice de Miller, distâncias interplanares (d) dada em angstroms da amostra de peptídeo em pH 7. Dados obtidos em alta resolução. ...................... 23 Tabela 3.2: Informações cristalográficas obtidos em diferentes valores de pH. Número de átomos por cela unitária (Z). A concordância entre o perfil observado e calculado são os resíduos, obtidos a partir da diferença entre as intensidades observadas e calculadas. Representa-se a qualidade do ajuste por Rp, Rwp, RBragg e χ2. ................................................... 25 Tabela 3.3: Ângulos de torção [°]. ........................................................................................... 30 Tabela 3.4: Informações cristalográficas de amostra de peptídeo em pH 7 obtidos em diferentes valores de concentração de MP11, medidas realizadas no modo de alta resolução. .................................................................................................................................. 33 Tabela 3.5: Informações cristalográficas da amostra de peptídeo tratadas nas respectivas temperaturas: ambiente, 80 °C, 140 °C e 190 °C. .................................................................... 49 Tabela 3.6: Informações cristalográficas da amostra tratada termicamente em temperaturas acima da transição de fase estrutural. ....................................................................................... 50 Tabela 3.7: Dados da espectroscopia FTIR [62,69,70,71] ............................................................. 57 CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1- Página |1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1- INTRODUÇÃO Sistemas nanomagnéticos são constituídos e observados na forma de partículas, fios, tubos ou aglomerados de partículas magnéticas, com tamanho na escala nanométrica (0,1100nm). Tais sistemas podem ser encontrados em sólidos ou em meios líquidos. Os sistemas magnéticos nanoestruturados apresentam propriedades únicas que não são observadas em materiais volumosos ou massivos (tamanho macroscópico). Na última década, os sistemas nanomagnéticos vêm suscitando crescente interesse científico e tecnológico desde a descoberta do efeito de magnetorresistência gigante (GMR) [1,2,3] no qual culminou no prêmio Nobel de física de 2007. Neste contexto, além da ciência básica, existe uma notória atenção por parte dos cientistas acerca da nanociência. Do ponto de vista científico, quando o tamanho de um material é reduzido para a escala nanométrica comparável com, por exemplo, o livre caminho médio, os efeitos quânticos se tornam muito mais pronunciados, alterando radicalmente as propriedades físicas outrora observadas em materiais volumosos. Em geral, as explicações para os efeitos observados nos materiais macroscópicos divergem daqueles observados na escala nanoscópica. Nanofios e nanotubos magnéticos são cientificamente interessantes, com possíveis em diversas áreas da nanotecnologia incluindo mídias magnéticas padronizadas, dispositivos magnéticos, materiais para aplicações de microondas, dispositivos piezoelétricos e supercapacitores [4,5]. O estudo de vários tipos de nanotubos, inorgânicos bem como orgânicos, tem sido alvo de grandes esforços durante os últimos anos [6]. A funcionalização de nanotubos de peptídeos dopados com íons de metal de transição originando novos nanomateriais híbridos é uma forma de obtenção de novas propriedades físicas interessantes. Materiais que podem ser empregados na funcionalização são nanopartículas, polímeros, fluoróforos, entre outros [7,8,9,10]. Dessa forma, um dos objetivos é obter um melhor entendimento acerca das propriedades estruturais e morfológicas dos nanotubos de peptídeo e utilizá-los como matrizes orgânicas de metais de transição as quais possuem momento magnético efetivo. Neste sentido, as propriedades elétricas e/ou magnéticas destes materiais podem ser estudadas após a dopagem. Recentemente, foi descoberto que estes materiais também apresentaram propriedades piezoelétricas interessantes [5]. Os nanotubos utilizados nos experimentos são produzidos pelo dipeptídeo chamado de difenilalanina. Os dois aminoácidos constituintes deste dipeptídeo são a fenilalanina. Este processo de formação é rápido e simples, pois estes dipeptídeos se auto-organizam por um processo espontâneo que resulta na estruturação de nanofios/nanofitas e/ou nanotubos. Esse é o principal motivo pelo qual esses materiais foram escolhidos para serem usados como matrizes de íons magnéticos. CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Página |2 1.2- FORMAÇÃO DE NANOTUBOS DE PEPTÍDEO A química supramolecular tem atraído muita atenção, pois pode fornecer novas propriedades físicas, químicas e biológicas para as espécies moleculares. Estas se organizam por meio de interações intermoleculares, que são mais fracas que as ligações covalentes. Como por exemplo, ligações de hidrogênio, forças de van der Waals, coordenação de metais, forças hidrofóbicas e/ou efeitos eletrostáticos. O sistema supramolecular é inspirado na automontagem das unidades precursoras, chamado de building blocks, fornecendo novas propriedades intrínsecas ao conjunto. Nesse sentido, moléculas têm sido projetadas com propriedades específicas, tais como automontagem, reconhecimento molecular, transformação, transporte e sinalização [7]. Em particular, peptídeos têm sido relatados na fabricação de várias nanoestruturas bem definidas incluindo nanofibras, nanotubos e esferas fechadas em gaiolas [11]. Devido à facilidade de modificação de suas propriedades químicas e funcionalidades biológicas, nanoestruturas de peptídeos têm sido utilizadas para várias aplicações, incluindo os transportadores de droga, estruturas para engenharia de tecidos, bioengenharia, dispositivos de detecção de moléculas biológicas, modelos de canais de íons e/ou poros de membranas e templates para metais e semicondutores [6,11]. Nanomateriais peptídicos formam estruturas supramoleculares diversificadas ligadas por interações intermoleculares como forças de van der Waals, eletrostáticas, hidrofóbicas e ligações de hidrogênio [12,13]. Vários grupos de compostos formados por peptídeos apresentam estruturas tubulares. Estas são formadas pelo empilhamento de moléculas cíclicas através da formação de ligações de hidrogênio intermoleculares entre os grupos funcionais nas cadeias principais de peptídeos. Esta estrutura tubular foi sugerida em 1974 com base em análises teóricas [14,6]. Um trabalho pioneiro sobre este tipo de estrutura foi efetuada por Ghadiri et al. [15]. Nas estruturas cristalinas dos dipeptídeos, é comum existir uma interação eletrostática na cadeia do tipo cabeça-calda -NH3+…-OOC- formando uma folha bidimensional. Foi descoberto por Görbtiz [16] que L-Val-L-Ala (VA) formam cristais com estreitos canais hidrofóbicos que são capazes de acolher pequenas moléculas orgânicas como metanol e acetonitrila. De fato, outras estruturas tubulares são geradas a partir da automontagem de moléculas muito pequenas agrupadas por ligações de hidrogênio, o crescimento da cadeia é do tipo cabeça-cauda na forma de hélices por um processo de automontagem espontânea. Alguns outros aminoácidos se arranjam em forma cristalina a partir de dipeptídeos, isto é, união de dois aminoácidos, como por exemplo: L-Leu-L-Leu (LL), L-Leu-L-Phe (LF), L-Phe-L-Leu (FL), L-L-L-L(LL) e L-Phe-L-Phe (FF), este ultimo pode ser reescrito como L-difenilalanina (FF) [17,18]. Os aminoácidos valina (Val), alanina (Ala), leucina (Leu) e fenilalanina (Phe) estão dispostas na forma de dipeptídeos com caráter levógira (L), isto é, efeito físico de desviar a luz para a esquerda do espectro determinando uma atividade biológica ao aminoácido. A LL se cristaliza na presença de solventes como: 2metil-1-propanol, etanol, 1-propanol e 2-propanol, e DMSO, enquanto LF cristaliza-se na CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Página |3 presença de 2-propanol. Estas estruturas são divididas em duas regiões, uma hidrofóbica e outra hidrofílica [6]. FW FF FL WG Fig. 1.1: O empacotamento molecular e cela unitária de nanoestruturas de dipeptídeos. Encontram-se 17 estruturas do tipo hexagonal (FF), ortorrômbica (FL e LL) e tetragonal (WG) [ ]. Vários peptídeos têm uma grande tendência em formar longas agulhas ou fibras quando são cristalizados em soluções aquosas ou soluções não aquosas. A estrutura da Ldifenilalanina (FF), que será utilizada neste trabalho, é representada na Fig. 1.1. Publicado em 2001, este trabalho baseia-se em dados experimentais coletados de uma amostra monocristalina com dimensões 550 x 26 x 24 μm crescida por evaporação rápida de uma solução aquosa do peptídeo a 80 °C [6]. Reches e Gazit [19] concluíram que os nanotubos de L-difenilalanina utilizados para a produção de fios possuem um arranjo molecular completamente diferente das estruturas tubulares individuais automontadas. 14 Fig. 1.2: (a) Fórmulas estruturais da L-difenilalanina. (b) Estrutura tridimensional da FF [ ]. Görbitz propôs um modelo experimental para a construção de um nanotubo de peptídeo, foi escolhido arbitrariamente para ter um diâmetro externo e interno de 110 e 50nm, CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Página |4 respectivamente, é apresentado na Fig. 1.3 (a). A natureza exata da superfície interna mostrada na Fig. 1.3 (b) não é conhecida, mas pode ser uma mistura das propriedades hidrofóbica e hidrofílica, ou completamente hidrofóbica. Os canais estreitos têm seus diâmetros calculados através da equação de estado de van der Waals, com diâmetro = 10 Å [6], Fig. 1.3 (c). Estes estreitos canais de natureza hidrofílica podem acomodar moléculas hospedeiras de certa dimensão, bem como íons metálicos hidratados. Como é claro, Fig. 1.3, os grupos aromáticos geraram por empilhamento um impressionante arranjo tridimensional. As ligações de hidrogênio existente entre as cadeias principais dos peptídeos ligam os nanotubos, promovendo a formação da fibra [14]. Fig. 1.3: Modelo arbitrário para a construção das fibras de FF. Átomos das cadeias principais do dipeptídeo são coloridos de acordo com o tipo de átomo, enquanto os átomos nas cadeias laterais fenilalanina estão representados em laranja. (a) Tubo com um diâmetro exterior 110nm e 50nm de diâmetro interior. O quadrado branco indica a parte ampliada (b) apresentando um modelo da interface do canal de peptídeo na superfície interna. O retângulo representa a visão detalhada dada em (c) uma representação de varas fechadas com átomos que constituem a superfície dos poros preenchidos [14]. A formação de nanotubos peptídicos tem sido estudada extensivamente para entender os aminoácidos e as seqüências responsáveis pela agregação tubular. Informações sobre as sequências peptídicas responsáveis pela agregação são utilizadas para evitar a formação de agregações de proteínas causadoras das doenças como Alzheimer e Parkinson [20]. No campo da engenharia de materiais esse conhecimento pode ser aplicado no desenvolvimento de novas nanoestruturas peptídicas. Por exemplo, sínteses de polipeptídeos são projetadas para duplicar a estrutura dos nanotubos por meio de combinações peptídicas. Um conjunto de amostras de polipeptídeos constituídos por alguns aminoácidos polares (His, Lys, Asn, Asp, Gln, Glu) e alguns resíduos não polares (Leu, Ile, Val, Phe, Met) foram produzidas, a fim de se produzir nanotubos com diferentes tamanhos. A disposição destes aminoácidos em cadeia determina as dimensões dos tubos. Recentemente, estes polipeptídeos também foram aplicados na forma linear e não linear para a formação de nanotubos dipeptídicos [21]. Outra forma de organização e crescimento de nanotubos de peptídeo é por meio de um metal ligante com interações altamente direcionais, em vez de interações entre terminações hidrofóbico-hidrofílicas. Os monômeros polipeptídicos são incubados com íons de Re (rênio), estes íons ligados aos monômeros se reúnem para formar os nanotubos, cujo comprimento é Página |5 CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA controlado pelo número de íons, veja Fig. 1.4 [21]. 21 Fig. 1.4: Conjunto de peptídeos mediados por um complexo de rênio [ ]. Outra abordagem para produzir nanotubos de peptídeos é a utilização de moléculas orgânicas simples para automontagem, por exemplo, o uso de moléculas anfifílicas. Monômeros das moléculas anfifílicas montam-se automaticamente por interações hidrofóbico-hidrofílicas entre os surfactantes anfifílicos. Condições experimentais como temperatura, pressão e concentração dos precursores influenciam a formação de nanotubos [22]. Outro parâmetro para o controle das estruturas acontece por ligações de hidrogênio entre os aminoácidos. Isso pode tornar os nanotubos anfifílicos peptídicos mais sensíveis ao pH, pois a protonação dos resíduos de aminoácidos altera a força de ligações de hidrogênio entre as moléculas [23,24,25]. Além de ligações de hidrogênio, a hidrofobicidade de monômeros peptídicos também é um fator importante na determinação das dimensões dos nanotubos de peptídeos. Portanto as propriedades mecânicas, químicas e físicas dos nanotubos de peptídeos são muito sensíveis a estrutura química dos monômeros [21]. Fig. 1.5: a) Representação esquemática da formação do nanotubo de peptídeo de monômeros de peptídeo cíclico. b) camada única porosa montada pela coluna de peptídeos dendríticos [21]. Em 1974, De Santis et al. [26] propuseram que estas estruturas orgânicas formadas por aminoácidos com dimensão nanométrica podem se auto-organizar por empilhamento de unidades de peptídicos cíclicos, o que depois foi demonstrado por Ghadiri et al. [15]. O mecanismo típico de automontagem dos monômeros peptídicos cíclicos é mostrado na Fig. 1.5 (a). Anéis de peptídeos são empilhados por meio de ligações de hidrogênio da cadeia principal entre grupos amida vizinhos para formar uma estrutura tubular. Um exemplo é uma CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Página |6 seqüência de oito peptídeos por ciclo [-(L-Gln-D-Ala-L-Glu-L-Ala)2-]. Geralmente, nanotubos podem ser montados a partir de monômeros de peptídeos cíclicos por D, L-α-aminoácidos, βaminoácidos, α, β-aminoácidos, α, γ-aminoácidos e δ-aminoácidos. Recentemente, a alteração heterocíclica entre α- e ε-aminoácidos no peptídeo cíclico foram demonstrados para formar a estrutura tubular. Monômeros dendríticos de peptídeos também se auto-organizam para formar estruturas cíclicas por ligações de hidrogênio nas extremidades dos peptídeos (veja a Fig. 1.5-b). Nesta estrutura, o diâmetro dos nanotubos pode ser alterado de 10 para 24 Å alternando a composição dos aminoácidos [21]. Uma característica importante dos nanotubos de peptídeos é o controle preciso do diâmetro, determinado pelo comprimento da cadeia, tamanho da cadeia lateral, ângulo de ligação dos monômeros e estereoquímica dos aminoácidos. O número e a seqüência dos aminoácidos definem as propriedades superficiais dentro e fora dos nanotubos [21]. Além disso, outras linhas de pesquisa envolvendo técnicas de imobilização de enzimas e compostos biomiméticos em nanoestruturas peptídicas vêm sendo desenvolvidas pelo grupo de pesquisa coordenado pelo Prof. Dr. Wendel Alves [27,28,29,30]. Têm sido realizados estudos de funcionalização das paredes ou do interior dos nanotubos peptídicos com nanopartículas de ouro e compostos fluoróforos e como isso influencia na estrutura eletrônica e nas propriedades de transporte destes sistemas [7]. 1.3- CONFORMAÇÕES EM PEPTÍDEOS A estrutura secundária é uma função dos ângulos formados pelas ligações peptídicas que ligam seus respectivos amino ácidos, este tipo de estrutura chama-se de conformações. As conformações α-helix, β-sheet e β-turn são voltas que acontecem de forma periódica na cadeia peptídica por um padrão regular de ligações de hidrogênio entre os agrupamentos peptídicos N-H e C=O dos aminoácidos que estão perto uns dos outros na sequência linear. As conformações foram denominadas β, pois foram a segunda estrutura elucidada por Pauling e Corey [31], a primeira foi α-helix que ajudará no entendimento sobre a forma como os nanotubos se estruturam. Estes pesquisadores analisaram quais conformações de peptídeos eram permitidas estericamente, isto é, algumas combinações de ângulos causam colisões desfavoráveis entre grupos da cadeia principal e/ou as cadeias laterais, e quais aproveitavam mais completamente a capacidade de formação de ligações de hidrogênio dos grupamentos NH e CO da cadeia principal [32]. CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA (A) (B) Página |7 (C) Fig. 1.6: Vistas esquemáticas de hélices α. (A) Um modelo em esferas e bastões. (B) Uma representação em fita. (C) Uma representação cilíndrica [32]. A α-helix tem uma forma semelhante a um bastão (Fig. 1.6) no qual existe um arcabouço principal firmemente espiralado formando a parte interna do bastão e cujas cadeias se projetam para fora em uma disposição helicoidal e estabilizada por ligações de hidrogênio, com exceção dos posicionados perto das pontas da α-helix. O sentido de giro de uma hélice pode ser para a direita (sentido horário), ou para a esquerda (sentido anti-horário). [32]. (A): Estrutura de uma fita β (C): Uma folha β paralela (B): Uma folha β antiparalela (D): Estrutura de uma folha β mista Fig. 1.7: (A) As cadeias laterais (verdes) situam-se alternadamente acima e abaixo do plano da fita. (B) Fitas β adjacentes estendem-se em sentidos opostos, ligações de hidrogênio entre grupamentos NH e CO conectam cada aminoácido em uma fita adjacente, estabilizando a estrutura. (C) Fitas β adjacentes estendem-se no mesmo sentido, ligações de hidrogênio conectam cada aminoácido em uma fita com dois diferentes aminoácidos na fita adjacente. (D) Com mais diversidade estrutural do que as hélices α, as folhas β podem ser quase planas, mas a maioria adota uma forma um pouco retorcida [32]. CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Página |8 A conformação β-sheet difere da conformação α-helix em forma de bastão, pois é composta de duas ou mais cadeias peptídicas no formato de fitas chamadas β-strand. Esta fita é quase totalmente distendida em vez de firmemente enrolada como na α-helix. A conformação β-sheet é formada pela união de dois ou mais filamentos β por ligações de hidrogênio. Cadeias adjacentes em uma folha β podem se estender em sentidos opostos (βsheet antiparalela) ou no mesmo sentido (β-sheet paralela). No arranjo antiparalelo, os grupamentos NH e CO de cada aminoácido fazem, respectivamente, ligações de hidrogênio com os agrupamentos CO e NH da cadeia adjacente, Fig. 1.7 (B). No arranjo paralelo, o esquema de ligações de hidrogênio é um pouco mais complicado. Para cada aminoácido, o grupamento NH faz ligação de hidrogênio com CO de um aminoácido no filamento adjacente, enquanto o CO faz ponte com o NH do aminoácido a dois monômeros adiante ao longo da cadeia, Fig. 1.7 (C). Muitos filamentos, tipicamente 4 ou 5, podem se reunir em folhas (βsheet). Tais folhas podem ser puramente antiparalelas, puramente paralelas, ou mistas, Fig. 1.7 (D) [32]. Fig. 1.8: Estrutura de volta reversa (β-turn). O grupamento CO do aminoácido i da cadeia peptídica faz ligação de hidrogênio com NH do aminoácido i+3, estabilizando a volta. Esferas em branco e cinza representam os átomos de hidrogênio e carbono, respectivamente. A cadeia lateral, amina (NH3) 32 e carboxila (COO-) são representadas pelas esferas verde, azul e vermelha, respectivamente [ ]. Por outro lado as cadeias peptídicas podem mudar de direção, fazendo voltas reversas e alças. Muitas destas reversões são feitas por um elemento estrutural comum chamado de volta reversa (β-turn). Em muitas destas voltas, o agrupamento CO do aminoácido i de uma cadeia peptídica forma ligação de hidrogênio com o grupamento NH do aminoácido i+3. Esta interação estabiliza mudanças abruptas de sentido da cadeia peptídica. Ao contrário das hélices-α e fitas-β, a volta reversa, isto é β-turn não tem estruturas periódicas regulares. No entanto, as estruturas em alças são freqüentemente rígidas e bem definidas [32]. CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Página |9 1.4- OBJETIVOS DO TRABALHO O objetivo geral deste trabalho é estudar as propriedades térmicas, estruturais e morfológicas de nanoestruturas peptídicas (difenilalanina) em função da alteração do potencial hidrogeniônico (pH) e da introdução de íons de metal de transição. Em específico, utilizou-se a microperoxidase 11 (MP11), que contém o íon de ferro(III). Além disso, realizar um estudo sistemático acerca da influência de moléculas de água nas propriedades estruturais e morfológicas dessas amostras através da realização de tratamentos térmicos. As caracterizações serão realizadas em amostras sintetizadas em altas temperaturas e estudadas através de análise termogravimétrica, calorimetria diferencial de varredura, microscopia eletrônica de varredura, difração de raios X e espectroscopia de infravermelho. CAPÍTULO 2: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS P á g i n a | 10 2- TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS 2.1- PREPARAÇÃO DE AMOSTRAS Classicamente a síntese de nanotubos/nanofios pode acontecer de duas formas, por processo químico ou por processo físico. Processos químicos: hidrotérmico, solvotérmico em fase líquida ou sólida, electrospinning e deposição química de vapor (DQV). Processos físicos, por deposição física de vapor (DFV): evaporação térmica, sputtering e ablação a laser [15,19,33,34,35,36]. Nanoestruturas peptídicas são sintetizadas pelo acoplamento da carboxila (C-terminal) de um aminoácido ao grupo amino (N-terminal) do outro. A possibilidade de reações indesejáveis é esperada. Portanto, grupos de proteção são geralmente necessários. A síntese química dos peptídeos começa no final da carboxila e finaliza no grupo amino. Este é o oposto da biossíntese de proteínas, que começa no fim do grupo amino. A síntese em fase líquida é uma abordagem clássica e amplamente utilizada para a fabricação de nanoestruturas de peptídeos, e foi empregada para a fabricação das amostras do presente trabalho. Utilizaram-se os mesmos procedimentos realizados por Reches e Gazit. Estes sintetizaram nanotubos peptídicos (NTPs) por síntese em fase líquida, baseados na sequência (L-Phe···LPhe) por automontagem. Neste caso, os nanotubos são obtidos por meio de um método relativamente simples baseado na dissolução do dipeptídeo em 1,1,1,3,3,3-hexafluor-2propanol (HFP) seguido pela diluição em água. [19]. Uma descrição simplificada desta síntese pode ser entendida pelo fluxograma da Fig. 2.1. L-Phe-L-Phe (Peptídeo) Dissolução em HFP Diluição em H2 O Tempo de reação de 24h Nanotubo Fig. 2.1: Fluxograma descritivo da rota de síntese fase-líquida. Nanotubos foram inicialmente preparados a partir do aminoácido apolar fenilalanina (phe) na forma dipeptídica (phe-phe) líquida, por síntese fase-líquida. Soluções cuja concentração é padronizada, usualmente chamada de solução estoque, foram preparadas por dissolução da forma liofilizada dos peptídeos L-phe-L-phe líquida na concentração de partida [ ]p = 100 mg/mL em 1,1,1,3,3,3-hexafluoro-2-propanol (HFP). Em uma síntese que inicia com 2,5 mg de peptídeo, são necessários 25 μL de HFP em seguida deve ser agitado levemente para solubilização. Depois desta etapa, a solução foi diluída a 5 mg/mL em 475 μL de água ultra-pura, devendo ser novamente agitado até que todo material se disperse e adquira um aspecto de gel. É Importante que os reagentes estejam à temperatura ambiente. A amostra foi armazenada na geladeira por aproximadamente 24 horas. O processo de purificação consistiu em centrifugar todo material e retirar o solvente que não sofreu reação (sobrenadante), em seguida repor a mesma quantidade de água que foi usada inicialmente na CAPÍTULO 2: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS P á g i n a | 11 diluição. Foram realizados três ensaios cujo potencial hidrogeniônico (pH) da solução foi previamente ajustado para valores de 3, 7 e 12, adicionando-se algumas gotas de CH3COOH e/ou HCl preparada a 1 mol L-1 aumenta a acidez da solução. A solução de NaOH 55 mmol L1 que faz o processo inverso. Para evitar qualquer pré-agregação, as soluções estoque foram preparadas para cada experimento. Outra sistemática adotada foi a introdução de metais de transição na estrutura cristalina dos nanotubos. Neste sentido, foi escolhido o composto microperoxidase-11 (MP11) que contém o íon de ferro(III). As microperoxidases (MPs) são peptídeos produzidos pela digestão proteolítica de uma proteína presente no citocromo c por meio da transferência de elétrons. Um dos destacados representantes de microperoxidase é o peptídeo MP11, que contém um grupo heme c anexado a onze aminoácidos (undecapeptideo), que se assemelha ao segmento V11-E21 do citocromo c do coração do cavalo (Fig. 2.2) representando o modelo da estrutura da microperoxidase 11 [37]. A MP11 serve para propósitos mais aplicados funcionando como um biossensor para o peróxido de hidrogênio (H2O2) [38,39]. Foram escolhidos nanotubos em concentrações de 5mg/mL em solução cujo valor de pH igual a 7, pois neste valor de pH há uma maior estabilidade além de ser o pH adequado para a enzima. Outros valores extremos de pH causariam desnaturação da proteína MP11, impossibilitando seu uso. A solução de nanotubos na concentração de 5 mg/mL a partir das soluções estoques foi centrifugada por 15 min em uma centrífuga MPW a 12.000 rpm. O sobrenadante foi removido e o precipitado foi lavado com água ultra-pura e centrifugado por mais 15 min. A este precipitado, material sólido, foi adicionado soluções com diferentes concentrações de MP11 (0,744 mg/L, 1,488 mg/L) e envelhecido por 12 horas produzindo duas amostras diferentes. O MP11/NTPs foi centrifugado e lavado com água ultra-pura, três vezes para remover o excesso de MP11. Cl (A) (B) Fig. 2.2: Microperoxidase 11 (MP11), segmento do citocromo c do coração do cavalo [40]. N CAPÍTULO 2: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS P á g i n a | 12 2.2- ANÁLISE TÉRMICA Análise térmica é um termo que abrange um grupo de técnicas nas quais uma propriedade física ou química de uma substância, ou de seus produtos de reação, é monitorada em função do tempo e/ou da temperatura. A caracterização térmica das amostras de nanotubos de L-difenilalanina foi realizada por meio de duas técnicas: a) Termogravimetria; b) Calorimetria Diferencial de Varredura. a- Termogravimetria: os dados foram obtidos utilizando um instrumento do tipo TGA Q500 V20.8 Build 34, via método de rampa (5 °C/min), com atmosfera de nitrogênio. As medidas foram obtidas a partir da temperatura ambiente até a temperatura de 600 °C. b- Calorimetria Diferencial de Varredura: os dados foram obtidos utilizando um aparato instrumental do tipo DSC Q200 V24.2 Build 107, via método aquecimento/resfriamento/aquecimento, com atmosfera de nitrogênio. Foram realizadas duas coletas de dados, com rampas de aquecimento/resfriamento distintas, uma a 5 °C/min e outra a 10 °C/min. Em ambas as coletas foi utilizado o mesmo método de aquecimento, iniciando com o aquecimento da amostra a partir da temperatura ambiente até 200 °C depois resfriando até -30 °C e aquecendo novamente até 200 °C. 2.2.1- Análise Termogravimétrica O conhecimento detalhado sobre as alterações que o aquecimento térmico pode provocar na massa das substâncias data de muitos anos. Além disso, é de extrema importância conhecer a faixa de temperatura em que o material estudado começa a se decompor, bem como o mapeamento de reação de desidratação e oxidação decomposição, etc. A termogravimetria foi pela primeira vez utilizada por P. Truchot, em 1907, no levantamento das curvas de decomposição térmica de piritas [41]. Em 1912, G. Urbain e C. Boulanger [42] construíram uma balança dotada de compensação eletromagnética para acompanhar a eflorescência de sais hidratados. A termobalança é um instrumento utilizado para estudar as curvas de decomposição térmica de compostos. As termobalanças modernas são instrumentos que permitem a pesagem contínua de uma amostra em função da temperatura, ou seja, na medida em que ela é aquecida ou resfriada. Dessa forma, curvas de variação de massa em função da temperatura são obtidas, em geral as perdas de massas. Os componentes fundamentais das termobalanças modernas CAPÍTULO 2: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS P á g i n a | 13 são: balança registradora, forno, suporte de amostra e sensor de temperatura, programador da temperatura do forno, sistema registrador e controle da atmosfera do forno. Na Fig. 2.3 é esquematizado o funcionamento da termobalança elétrica [43]. Análise da evolução dos gases Computador • coleta de dados • controle Mecanismo da balança T amostra Forno Injetor gás massa programador Display Temperatura Fig. 2.3: Esquema do aparato (eletrobalança) para a análise termogravimétrica (TGA). As balanças operam continuamente em equilíbrio, e os eventuais deslocamentos do travessão são detectados por um arranjo: feixe luminoso anteparo-fotoválvula e o equilíbrio restabelecido através da força de um motor de torque magnético. Outros sistemas utilizam balanças do tipo de deflexão de espirais ou feixes, cujos deslocamentos são registrados por um transformador diferencial de tensão linear (LVDT) ou outros transdutores [43]. Os fornos, em geral, são construídos para operar até temperaturas de 1200 °C. Os instrumentos atuais permitem controlar a atmosfera que circunda a amostra, permitindo que se trabalhe com atmosferas estáticas ou dinâmicas a pressão ambiente ou sob pressão reduzida. Os fatores que podem influenciar as medidas pertencem a dois grandes grupos: o primeiro fator é o instrumental que relaciona a razão de aquecimento do forno, atmosfera do forno, geometria do suporte de amostra e do forno. Por último, fatores ligados às características da amostra são: tamanho de partículas, quantidade de amostra, solubilidade dos gases liberados na própria amostra, calor de reação, compactação da amostra, natureza da amostra e condutividade térmica da amostra. Na termogravimetria, a massa da amostra (m) é continuamente registrada como função da temperatura (T) ou tempo (t). Portanto, nas curvas de termogravimetria, as modificações que ocorrem no eixo das ordenadas correspondem às variações de massa sofridas pela amostra e permitem obter dados quantitativos. Na termogravimetria diferencial (TGD), a derivada da variação de massa em relação ao tempo (dm/dt) é registrada em função da temperatura. Neste método são obtidas curvas que correspondem à derivada primeira da curva TG e nos quais os degraus são substituídos por picos que delimitam áreas proporcionais às alterações de massa sofridas pela amostra [43]. CAPÍTULO 2: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS P á g i n a | 14 2.2.2- Calorimetria Diferencial de Varredura A calorimetria diferencial de varredura, (do inglês, differential scanning calorimetry DSC) é uma técnica na qual se mede a diferença de energia fornecida a uma substância, e a um material de referência, em função da temperatura. A amostra e o material de referência são submetidos a uma programação controlada de temperatura. Existem duas modalidades quanto ao método de medição: calorimetria diferencial de varredura com compensação de potência e calorimetria com fluxo de calor [44,45]. Podem-se acompanhar através desta técnica os efeitos do calor associados com as alterações físicas e/ou químicas da amostra, tais como transições de fase. Estas podem ocasionar variações do fluxo de calor registrados nas curvas de DSC, assim como a fusão, ebulição, sublimação, solidificação, alterações de estruturas cristalinas, ou reações de desidratação, de dissociação, de decomposição, de óxido-redução, etc. Em geral, transições de fase, desidratações, reduções e certas reações de decomposição produzem efeitos endotérmicos, enquanto que cristalizações, oxidações, algumas reações de decomposição produzem efeitos exotérmicos. Essa técnica permite também, estudar transições que envolvem variações de entropia das quais as mais comuns são transições vítreas que certos polímeros podem sofrer [43]. No DSC com compensação de potência a amostra e o material de referência são mantidos a temperatura constante pelo uso de aquecedores individuais. O parâmetro medido é a diferença na potência de entrada dos aquecedores, obtido também por 46 Q/dt ou dH/dt. dH/dT (mcal s-1 ) Watson et al. [ ], aparentemente foram os primeiros a usar o termo “Differential Scanning Calorimetry” para descrever a técnica instrumental desenvolvida em 1960. Nessa técnica a amostra e o material de referência são mantidos a temperatura constante pela aplicação de energia elétrica quando eles são aquecidos ou resfriados a uma razão linear. A curva obtida é o registro do fluxo de calor dH/dt em mcal s-1 como função da temperatura [43]. Processo Endotérmico Processo Exotérmico Temperatura (°C) Fig. 2.4: Curva DSC para os processos endotérmicos e exotérmicos. CAPÍTULO 2: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS P á g i n a | 15 Termodinamicamente o pico endotérmico é indicado no sentido ascendente (aumento na entalpia), enquanto que um pico exotérmico é registrado na direção oposta. A área do pico da curva DSC é diretamente proporcional a variação de entalpia. A determinação do calor de transição (ou reação) ou da massa da amostra reativa é obtida da área abaixo da curva, logo: A H m k (2.2.1) Onde A é área do pico, H é o calor de transição (reação), m é a massa da amostra reativa, k é o coeficiente de calibração. A constante de calibração está relacionada com a geometria e à condutividade térmica do suporte de amostra e usualmente é determinada pela calibração do sistema com compostos que possuem calores de transição ou reação conhecidos. Aspectos positivos da técnica são [43]: a- Rapidez nas determinações. b- Uso de pouca massa de amostra. c- Amostra pode ser sólida ou líquida. d- Aplicável a processo de resfriamento e medidas sob alta pressão. e- Permite estudar diferentes tipos de reações químicas. 2.3- MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA As imagens de microscopia eletrônica de varredura (MEV) foram obtidas no Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS). Elas forma realizadas pela proposta de pesquisa SEM-LV 10254 e o microscópio utilizado foi o LV-SEM JEOL (JSM 5900LV). O princípio de funcionamento do MEV consiste na emissão de feixes de elétrons por um filamento capilar de tungstênio (eletrodo negativo), mediante a aplicação de uma diferença de potencial que pode variar de 0,5 a 30 KV. Essa variação de voltagem permite a variação da aceleração dos elétrons, e também provoca o aquecimento do filamento. A parte positiva em relação ao filamento do microscópio (eletrodo positivo) atrai fortemente os elétrons gerados, resultando numa aceleração em direção ao eletrodo positivo. A correção do percurso dos feixes é realizada pelas lentes condensadoras que alinham os feixes em direção à abertura da objetiva. As imagens obtidas têm uma aparência tridimensionais característica e são úteis para avaliar a estrutura superficial de uma dada amostra [47]. CAPÍTULO 2: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS P á g i n a | 16 2.4- DIFRAÇÃO DE RAIOS X A caracterização através de difração de raios X das amostras de nanoestruturas de Ldifenilalanina foi feita utilizando-se um difratômetro D8 Discover (Bruker); radiação Cu Kα, fenda de divergência de 0,6 mm com fenda de espalhamento de 8 mm, detector: LynxEye (do inglês, position sensitive detector - PSD), abertura angular de 3 graus (2θ), varredura contínua, com passo ~ 0,008 graus (2θ). Algumas medidas foram obtidas em colaboração com o Prof. Reginaldo Muccillo do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) utilizando o difratômetro Bruker-ASX modelo Advance D8 com radiação Kα do Cu. Também foram realizadas algumas caracterizações no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) com a obtenção de medidas de difração de alta resolução, com comprimento de onda de 1,24 Å. A seguir são descritos de forma resumida os princípios da difração de raios X. Quando um feixe de raios X incide em um material cristalino, uma parte deste feixe é espalhada elasticamente em todas as direções pelos elétrons de cada átomo ou íon [48,49]. Fig. 2.5: Difração de raios X por planos do cristal [48]. Considere dois planos paralelos de átomos A-A' e B-B' ilustrados na Fig. 2.5 e representados pelos índices de Miller h, k e l. A posição e orientação dos planos atômicos do cristal é definido por três pontos não colineares, o inverso dos menores números inteiros originam os índices de Miller. Os planos estão separados pelo espaçamento interplanar dhkl. Quando um feixe de raios X de comprimento de onda (λ), monocromático e coerente (em fase) incide sobre estes planos com um ângulo θ, dois raios neste feixe, denominados 1 e 2, são espalhados pelos átomos P e Q. Interferência construtiva dos raios espalhados 1' e 2' ocorre se a diferença do caminho óptico entre 1-P-1' e 2-Q-2' for igual a um múltiplo do comprimento de onda (nλ = SQ + QT). Essa condição de difração é dada pela lei de Bragg [48]. 2d hkl sen( ) n (2.4.1) CAPÍTULO 2: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS P á g i n a | 17 Imáxima Imáxima (a) Intensidade (u. arb.) Intensidade (u. arb.) Nessa derivação assumimos condições ideais, ou seja, um cristal perfeito e um feixe incidente composto perfeitamente por radiação paralela e rigorosamente monocromática. A teoria de difração norteia a um método para estimar o tamanho dos domínios com coerência cristalográfica (cristalitos) [49]. β 2θ2 2θB 2θ1 (b) 2θ 2θ 2θB Fig. 2.6: Efeito do tamanho de pequenas partículas em curvas de difração. A largura da reflexão de difração, mostrada na Fig. 2.6, aumenta à medida que a espessura do cristal diminui, pois a diferença angular (2θ1 - 2θ2) aumenta à medida que m diminui. A largura β é normalmente medida, em radianos, com uma intensidade igual à metade da intensidade máxima, denominada largura à meia altura. Esta largura nos fornece informações importantes a cerca do tamanho dos domínios com coerência cristalográfica. Pode-se obter calcular o tamanho dos domínios pela seguinte relação: t 0.9 . cos B (2.4.2) onde t é o tamanho médio dos domínios com coerência cristalográfica (cristalito) e β é a largura a meia altura do pico de difração já corrigido, ou seja, já descontado a largura devido a divergência do feixe. [49]. Esta fórmula é conhecida como a fórmula de Scherrer. Uma correção é feita para a divergência do feixe incidente que é dada pela equação [50,51]: e 2 p 2 (2.4.3) βp é a largura a meia altura da reflexão causada devido a resolução do equipamento. Esse valor é obtido medindo-se uma amostra padrão, neste caso, amostras de silício foram utilizadas. O parâmetro βe é a largura a meia altura da reflexão de Bragg da amostra em análise. Os difratogramas experimentais foram refinados utilizando o método Rietveld [51]. O método de Rietveld é amplamente utilizado na análise estrutural de materiais cristalinos. Este método é utilizado como uma ferramenta versátil para análise quantitativa de fases em CAPÍTULO 2: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS P á g i n a | 18 diversas áreas como a ciência de materiais, geologia, na física e na química. Informações estruturais de uma dada amostra tais como: coordenadas atômicas, agitação térmica e parâmetros de rede. Estes são refinados, através do procedimento de minimização das somas em todo o padrão de difração, considerando as diferenças das intensidades experimentais e calculada até obter a melhor concordância possível do padrão de difração teórico com o experimental. O refinamento é feito através do método de mínimos quadrados, de tal maneira que um difratograma teórico se aproxime ao máximo possível do difratograma experimental. Quando isso acontece, os valores obtidos para o conjunto dos parâmetros refinados representam a melhor solução para o refinamento, aproximando-se ao máximo da estrutura em análise. Os resultados obtidos neste trabalho foram obtidos usando o programa GSAS [52], que utiliza o EXPGUI como interface gráfica [53]. 2.4- ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO A caracterização através da espectroscopia na região do infravermelho das amostras de nanoestruturas de L-difenilalanina foi obtida utilizando-se um espectrômetro FT-IR modelo Varian 660-IR, com 100 varreduras por amostra, 100 varreduras de radiação de fundo, resolução de 0,25 cm-1, varredura do tipo absorbância, variação de varredura de 400 a 4000 cm-1. Os dados foram coletados a uma velocidade de 25 kHz (1,58 cm/s), utilizado um filtro passa-baixa eletrônico de 6,4 kHz. Quanto a configuração instrumental, foi utilizada uma fonte de IR (infravermelho) da Mirsource, ligado em modo normal, com divisor de feixe de KBr, detector da MCT, Broad Band. Quanto à abertura e atenuação utilizou-se a abertura da fonte de 0,25 cm-1 a 2000 cm-1, com 100% de atenuação do feixe. A seguir são descritos de maneira resumida os fundamentos da espectroscopia de infravermelho. A espectroscopia é uma técnica importante no estudo da interação da radiação eletromagnética com a matéria e na determinação dos níveis de energia de átomos e/ou moléculas. Em moléculas, a região espectral onde estas transições são observadas depende do tipo de níveis envolvidos: eletrônicos, vibracionais ou rotacionais. Normalmente, as transições eletrônicas são situadas na região do ultravioleta ou visível, as vibracionais na região do infravermelho e as rotacionais na região de microondas. As diferentes regiões espectrais exigem espectrômetros com elementos dispersivos e detectores apropriados, logo cada tipo de espectroscopia tem uma tecnologia própria [54,55]. Quando se realiza medidas em uma amostra, um raio monocromático de luz infravermelho é transmitido pela amostra, e a quantidade de energia transmitida é registrada. Um gráfico de transmitância em função do "número de onda" em cm-1 pode ser construído. A energia total de uma molécula será a soma da energia eletrônica, vibracional e rotacional (desconsiderando a energia devido ao movimento translacional). A energia eletrônica é muito CAPÍTULO 2: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS P á g i n a | 19 maior do que a vibracional e esta muito maior do que a rotacional. Isto permite, em uma primeira aproximação, que estes níveis possam ser considerados separadamente, isto é, cada tipo de espectro possa ser estudado independentemente das interações entre eles [54]. A condição para que ocorra absorção da radiação infravermelha é que haja variação do momento de dipolo elétrico da molécula por conseqüência de seu movimento vibracional ou rotacional. Determina-se o momento do dipolo elétrico pela magnitude da diferença de carga e a distância entre dois centros de carga. A espectroscopia no infravermelho se baseia no fato de que as ligações químicas das substâncias possuem frequências de vibrações específicas, as quais correspondem a níveis de energia da molécula. Tais frequências dependem da geometria molecular, da forma da superfície de energia potencial da molécula, das massas dos átomos e eventualmente da interação entre estados eletrônicos e estados vibratórios (ou fônons). Esta interação é chamada de acoplamento vibrônico e também é conhecido como efeito pseudoJahn-Teller. As frequências de ressonância podem ser, em uma primeira aproximação, relacionadas ao comprimento da ligação e as massas dos átomos [54,55]. Os átomos em uma molécula nunca estão parados, assim, se em um sistema, há N átomos livres para se movimentarem nas três dimensões, o sistema terá 3N graus de liberdade. Esses graus de liberdade correspondem aos diferentes modos normais de vibração de uma molécula. Um modo normal de vibração é aquele em que cada núcleo realiza uma oscilação harmônica simples em torno de sua posição de equilíbrio, todos os núcleos se movem com a mesma frequência e em fase e o centro de gravidade da molécula permanece inalterado. Na prática, nem sempre o número de modos normais de vibração corresponde ao número de bandas observadas no espectro. Isso ocorre devido à existência de vibrações de mesma energia (degenerescência), apresentando a mesma frequência e, conseqüentemente, a mesma posição no espectro. As vibrações moleculares podem ser classificadas em deformação axial (ou estiramento) e deformação angular e podem ser simétricas ou assimétricas. As vibrações angulares podem ainda ser classificadas como no plano ou fora do plano. Os diferentes tipos de vibração são mostrados na Fig. 2.7 [55]. Estiramento Deformação angular + _ + + _ Assimétrico Simétrico Assimétrica Assimétrica Simétrica Simétrica no plano fora do plano no plano no plano Fig. 2.7: Classificação dos seis tipos de modos de vibração moleculares. CAPÍTULO 2: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS P á g i n a | 20 Para qualquer modo de vibração os átomos oscilam em movimento harmônico simples, isto é, obedecendo à lei de Hooke. Os estados de energia vibracional, Viv, podem ser descritos pela seguinte equação V iv h i n i 1 2 (2.4.1) Onde h é a constante de Planck, νi é a frequência fundamental do modo particular e ni é o número quântico vibracional (ni = 0, 1, 2,...). A interação entre uma molécula e a componente elétrica (oscilante) da radiação eletromagnética, para a absorção ou emissão de um fóton de frequência ν, só ocorre se a molécula tiver um dipolo elétrico oscilando na frequência do campo. Assim a molécula pode absorver fótons e realizar transição do estado básico aos níveis fundamentais apropriados. A probabilidade de ocorrência de cada transição depende da relação entre o momento do dipolo elétrico da molécula e as funções de onda de seus estados básico e fundamental correspondentes. Na mecânica quântica se expressa em termos do momento de dipolo de transição, μmn. Pode se expandir o momento de dipolo em uma série de Taylor da coordenada q, para cada uma das componentes µx, µy e µz ou numa forma condensada [54]. μ μ0 dμ dq 0 q (2.4.2) Onde µ0 é o vetor do momento de dipolo permanente e a derivada é considerada na posição de equilíbrio. Pode-se também definir μ como operador momento de dipolo elétrico. Para pequenos deslocamentos, relação a esta posição de equilíbrio podem-se desprezar os termos de ordem mais alta. A condição para a variação do momento de dipolo deve haver absorção no infravermelho, implica-se que (dµ/dq0) ≠ 0, pelo menos para uma das componentes µx, µy ou µz. A transição entre dois estados são caracterizados pelas funções de onda ψm e ψn, é descrita pelo momento de transição de dipolo por μmn = ∫ ψm μ ψn dτ. O momento de transição pode ser interpretado como variação do momento do dipolo associado ao movimento dos elétrons durante a transição entre os dois estados envolvidos. Somente se o momento de transição for diferente de zero a transição contribuirá para o espectro [54]. Para que haja atividade no infravermelho é necessário que a molécula possua momento de dipolo permanente. Como conseqüência, moléculas diatômicas homonucleares não apresentam espectro rotacional no infravermelho. Para moléculas deverá haver variação do dipolo com a vibração na posição de equilíbrio. Supondo a molécula como um dipolo entre placas de um condensador, pela aplicação de um campo elétrico ela se orientará, efetuando uma rotação em relação ao campo aplicado. Como não há dipolo permanente para uma molécula homonuclear, a aplicação do campo não produzirá nenhum efeito, logo não haverá absorção de energia. Na Fig. 2.8 são esquematizados os níveis, as transições permitidas e o tipo de espectro observado [54]. CAPÍTULO 2: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS P á g i n a | 21 Fig. 2.8: Esquema dos níveis de energia para o espectro no infravermelho. CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.- P á g i n a | 22 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1.- NANOESTRUTURAS DE L-DIFENILALANINA Diversas morfologias ou arranjos podem ser formados com nanoestruturas peptídicas, como nanofios, nanofitas e nanotubos. Foi relatado que amostras de nanoestruturas peptídicas produzidas em concentração de 5 mg/ml adquirem formas de tubos [19]. O início deste trabalho teve como objetivo estudar as propriedades morfológicas e estruturais alterando-se o pH da solução durante sua síntese, utilizaram-se os respectivos pH 3, 7 e 12. Para obtenção dos dados de difração de raios X, as amostras passaram por secagem e dispersão em um porta amostra de vidro. Essas medidas têm como objetivo primário a identificação da fase cristalográfica na qual a amostra se cristaliza. Em seguida, uma análise mais detalhada através do método Rietveld foi realizada para a obtenção dos parâmetros estruturais com maior precisão. Várias medidas de difração de raios X em amostras com diferentes condições de pH foram realizadas utilizando um difratômetro convencional (não mostrado). Este conjunto de amostras (pH 3, 7 e 12) foi caracterizado à temperatura ambiente. Pode-se então identificar as reflexões de Bragg de cada plano cristalográfico para essas amostras de difenilalanina em seus diferentes pHs. Este conjunto de amostras foi indexado usando o grupo de simetria hexagonal (P61), Fig. 3.2. Isto está de acordo com o grupo de simetria da estrutura de nanotubos de peptídeos proposta por Gorbitz [14]. Todas as reflexões observadas pertencem à fase cristalina hexagonal indicando que não há fases espúrias na amostra que eventualmente poderiam surgir devido a problemas de síntese ou contaminação. A Fig. 3.1 mostra o difratograma juntamente com o refinamento dos parâmetros estruturais da amostra de difenilalanina preparada em solução com pH 7 realizadas em alta resolução. Os parâmetros de rede refinados para esta amostra, cujo grupo espacial de simetria é P61, foram: a = b = 24,1650(9) Å e c = 5,580(1) Å, V = 2821,8 Å3, α =90°, β = 90°, γ = 120°. Na Tabela 3.1 são mostrados os índices de Miller (usados para descrever o conjunto de planos existentes em uma estrutura cristalina) e distâncias interplanares para as amostras com diferentes valores de pH. Informações mais detalhadas do refinamento Rietveld e dos parâmetros estruturais encontrados são apresentados na Tabela 3.2. P á g i n a | 23 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO 3000 Observado Calculado Reflexões permitidas Diferença Intensidade (u.arb.) 2000 1000 0 4 8 12 16 20 24 28 2 (graus) Fig. 3.1: Difratograma em alta resolução de amostra de peptídeo preparada em solução com pH 7, refinado pelo Método Rietveld. O símbolo x representa a curva observada experimentalmente (observado), a curva em vermelho representa o modelo (calculado), a curva em azul representa a diferença entre as curvas experimental e teórica (diferença) e traços em magenta representam as posições angulares das reflexões permitidas pela fase cristalográfica. Tabela 3.1: Ângulo de varredura, índice de Miller, distâncias interplanares (d) dada em angstroms da amostra de peptídeo em pH 7. Dados obtidos em alta resolução. 2θ (graus) h k l d 2θ (graus) h k l d 3,39 1 0 0 20,96802 17,58 4 -2 1 4,05824 5,87 2 -1 0 12,1059 17,90 4 -1 1 3,9843 6,78 2 0 0 10,484 18,84 4 0 1 3,78459 8,97 3 -1 0 7,92515 19,76 5 -2 1 3,61219 10,17 3 0 0 6,98932 20,32 5 -4 1 3,50954 11,76 4 -2 0 6,05293 21,46 5 0 2 3,32802 13,44 1 0 1 15,2926 22,36 7 -6 0 3,19759 14,29 2 -1 1 4,98454 23,06 6 -5 1 3,10184 14,68 2 0 1 4,8494 24,56 7 -4 1 2,91629 14,81 5 -2 0 4,810338 25,03 7 -2 1 2,86146 15,58 5 -1 0 4,57559 27,29 8 -5 1 2,62725 15,84 3 -1 1 4,50165 29,81 9 -5 1 2,41002 P á g i n a | 24 Intensidade (u. arb.) 7500 Observado Calculado Background Reflexões permitidas Diferença 6000 4500 3000 1500 0 8 12 16 20 24 28 2 (graus) 32 36 40 Intensidade (u. arb.) CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO Observado Calculado Background Reflexões permitidas Diferença 6000 4500 3000 1500 0 8 12 16 20 24 28 32 36 40 2 (graus) Fig. 3.2: Refinamento Rietveld dos difratogramas de amostras de peptídeos preparadas em solução com pH 3 (painel à esquerda) e pH 12 (painel à direita). Os difratogramas das amostras preparadas em pH 3 e 12 são mostrados na Fig. 3.2. O resultado do refinamento para estas amostras é ilustrado na Tabela 3.2. Com os resultados expostos na Tabela 3.2 percebe-se que não houve uma variação sistemática nos parâmetros estruturais a, b e c em relação à variação do pH. Na Fig. 3.2 observa-se no intervalo 8-15° o surgimento de uma elevação expressiva do “background”. Esse resultado poderia ser identificado como uma banda amorfa ou provavelmente poderia se tratar de água confinada na estrutura tubular das amostras. Entretanto, verificou-se tratar de um artefato experimental relacionado ao equipamento devido à presença desta mesma banda em outras análises realizadas em amostras diferentes, logo por este motivo não se pode afirmar categoricamente a inexistência de moléculas de água confinadas. Por este motivo, a indicação da possibilidade da existência de moléculas de água confinada motivou estudos sobre o comportamento da água na amostra através de análises térmicas por termogravimetria e calorimetria diferencial de varredura, subsecção 3.3.1. CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 25 Tabela 3.2: Informações cristalográficas obtidas em diferentes valores de pH. Número de moléculas por cela unitária (Z). A concordância entre o perfil observado e calculado são os resíduos, obtidos a partir da diferença entre as intensidades observadas e calculadas. Representa-se a qualidade do ajuste por Rp, Rwp, RBragg e χ2. pH 3 pH 7* pH 12 Fórmula C18 H20 N2 O5,5 C18 H20 N2 O5,5 C18 H20 N2 O5,5 Sistema cristalino Hexagonal Hexagonal Hexagonal Grupo espacial P61 P61 P61 a [Å] 24,1827(6) 24,1650(9) 24,177(1) b [Å] 24,1827(6) 24,1650(9) 24,177(1) c [Å] 5,432(4) 5,580(1) 5,437(3) V 2751,06 2821,82 2752,77 Z 6 6 6 Rwp 0,0396 13,611 0,0345 Rp 0,0297 10,044 0,0261 RBragg 1,394 χ2 2,200 1,390 1,549 * Dados obtidos em alta resolução no Laboratório Nacional Luz Síncrotron. Outra informação relevante acerca da estrutura cristalina seria a obtenção do tamanho dos domínios com coerência cristalográfica (cristalito). Além disso, esse resultado poderá auxiliar na interpretação das propriedades morfológicas por Microscopia Eletrônica de Varredura. No entanto, o tamanho médio dos domínios com coerência cristalográfica das amostras de NTPs em valores 3 e 12 de pH discriminados acima não pode ser estimado de forma acurada devido à baixa resolução do equipamento, pois estas amostras forma medidas em difratômetro convencional. Pode-se entender isso analisando a seguinte equação: e 2 p 2 (2.4.3) onde βe é a largura de linha a meia altura da intensidade máxima da reflexão experimental do plano cristalino e βp é um alargamento artificial causado pelo instrumento. Realizando medições em uma amostra padrão para encontrar o valor de βp, foi observado que βp é maior que βe. Neste caso, o resultado da Eq. 2.4.3 o valor numérico não é pertencente aos números reais, inviabilizando o cálculo do tamanho do domínio com coerência cristalográfica pela equação de Scherrer. Como as reflexões medidas são estreitas (menores do que o padrão), qualitativamente, pode-se concluir que o tamanho médio dos domínios cristalográficos é bem grande, pois quanto menor a largura das reflexões experimentais à meia altura (βe) maior o tamanho destes domínios. Por outro lado, como algumas amostras foram medidas no modo de alta resolução no LNLS, o tamanho médio dos domínios com coerência cristalográfica pode ser obtido. O tamanho do domínio com coerência cristalográfica (t) pode ser encontrado através de ajustes de perfil. A amostra padrão no qual é medida no equipamento de difração do LNLS possui um domínio t com dimensão comparável ao domínio t da amostra de peptídeo. Com ajustes dos perfis do difratograma experimental levando em consideração o perfil da amostra padrão conseguiu-se medir o tamanho médio dos domínios com coerência cristalográfica (NTPs em CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 26 pH 7) cujo valor é aproximadamente 1000 Å. Estudos realizados sobre as propriedades morfológicas mostram microfios com diâmetro de aproximadamente 4,8 μm (Fig. 3.12). Correlacionando-se este valor com o valor obtido para o domínio (t = 1000 Å), estima-se 48 domínios com coerência cristalográfica na direção do diâmetro do microfio. A determinação do tamanho médio dos domínios com coerência cristalográfica foi obtida por uma média volumétrica baseada levando em consideração o maior número possível de reflexões. Pode-se também efetuar o cálculo dos domínios somente para um plano cristalográfico pela equação de Scherrer, no entanto deve-se levar em consideração o efeito relativo à microdeformação. A microdeformação advém de como os domínios são deformados, determinou-se que a microdeformação para esta amostra um valor de 0,1% pode ser desconsiderado. Tanto a microdeformação quanto o tamanho dos domínios são efeitos que causam alargamentos nos picos de difração. Estes alargamentos podem ser isotrópicos ou anisotrópicos, ou seja, neste último caso, algumas famílias de planos são mais largas do que outras. Muitas vezes estes efeitos estão acoplados. Fig. 3.3: Painel à esquerda mostra a molécula de difenilalanina. Painel à direita mostra a cela unitária formada por seis moléculas de difenilalanina. Ambos os painéis tratam de amostras em pH 7. Os átomos de oxigênio, nitrogênio, carbono e hidrogênio são representados por esferas em vermelho, azul, cinza e brancas, respectivamente. Na sequência, uma interpretação detalhada e ilustrativa dos resultados obtidos através do refinamento Rietveld usando a difração de alta resolução é realizada. O arranjo estrutural na qual a difenilalanina se cristaliza leva a formação espontânea de uma estrutura tubular. A Fig. 3.3 mostra o arranjo estrutural dos átomos constituintes da cela unitária. No painel à esquerda tem-se uma molécula de difenilalanina, que corresponde à unidade mínima de repetição para a amostra cristalina. Assim tem-se que a cela unitária é formada por seis moléculas de difenilalanina. Os nano canais são formados nos vértices da cela unitária. A orientação do crescimento do tubo acontece na direção do parâmetro de rede c, a partir da interação entre as moléculas localizadas nos vértices das celas unitárias mais próximas, Fig. 3.4. CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 27 c Fig. 3.4: Painel à esquerda mostra a formação cíclica das moléculas de difenilalanina nos vértices da cela unitária. Painel à direita mostra a nanoestruturação do canal da amostra de peptídeo. Estas moléculas formam canais com uma forma muito bem definida, que geometricamente se assemelham a um pseudo-hexágono, ou seja, um hexágono cujos vértices não pertencem ao mesmo plano. A formação dos canais acontece através da auto-organização espontânea das moléculas de difenilalanina, que se agrupam formando hexágonos não fechados, pois as extremidades das moléculas crescem ligando-se aos próximos hexágonos de forma helicoidal. A água desempenha um papel importante na orientação da formação dos tubos na direção do eixo c (Fig. 3.5). O modelo cristalográfico propõe nove sítios cristalográficos para a água, que são conectadas às moléculas de difenilalanina. As posições dos átomos de oxigênio são determinadas sugerindo as posições para as moléculas de água por raio de van der Walls. As moléculas de água formam uma entidade única com ligações de hidrogênio. A estrutura da água é muito complexa na formação da região tubular da amostra de peptídeo. O canal desta estrutura de peptídeo é de aproximadamente 10 Å de diâmetro. Este canal é revestido com doadores e receptores que fazem ligações de hidrogênio com os grupos (-NH3+ e -COO-). CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 28 Fig. 3.5: Posições da água (por raio de van der Waals) no canal da estrutura do nanotubo Ldifenilalanina, esferas em azul. As ligações de hidrogênio entre as moléculas de peptídeo são mostradas por linhas tracejadas. Cadeias laterais de peptídeos foram omitidas para maior clareza. O padrão de ligação de hidrogênio entre moléculas de peptídeo é qualitativamente a mesma em todos as amostras de peptídeo em pH 3, 7 e 12. Observa-se que uma cadeia do tipo cabeça-cauda com ligações de hidrogênio, estas definem o primeiro nível, formado por uma cadeia com uma unidade de repetição. Forma-se uma hélice com a mão direita, cada volta completa envolve quantidade de moléculas correspondentes a uma cela unitária. A hélice é formada por seis moléculas de difenilalanina capaz de formar uma estrutura rígida e tubular. As moléculas de água também fornecem átomos adicionais de hidrogênio para os grupos carboxilato (Fig. 3.5). CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 29 Água Peptídeo-água Interações por ligação de hidrogênio Peptídeo Interações por ligação covalente Peptídeo-peptídeo Interações eletrostáticas Entre hélices de peptídeos Interações do tipo π-stacking e van der Waals Entre os nanotubos Interações do tipo π-stacking e van der Waals Formação de Microestruturas peptídicas Fig. 3.6: Definição das interações em nanoestruturas peptídicas de difenilalanina e formação das microestruturas. Veja também Fig. 1.3. As interações presentes nas moléculas de peptídeo (difenilalanina) são extremamente importantes para processo de auto-organização. Existe uma interação forte do tipo covalente na cadeia principal do peptídeo, conferindo rigidez à cadeia. Os peptídeos interagem entre si formando um padrão de repetição de 6 moléculas, chamado de hélice de peptídeo. Estas interações são eletrostáticas, pois entre as cadeias do tipo cabeça-calda (carboxilato e grupo CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 30 amino protonado) existe uma diferença de carga elétrica. Os canais internos (hidrofílicos) possuem moléculas de água que interagem com as cadeias de peptídeo por ligações de hidrogênio. As hélices de peptídeo possuem anéis benzênicos voltados para fora do tubo interno hidrofóbico. Assim, estes anéis hidrofóbicos interatuam por uma ligação não localizada do orbital π, chamado de interações π-stacking. Estas interações conferem orientação na formação dos tubos na direção do eixo cristalográfico c. Existe também ligação de van der Waals presente entre as hélices de peptídeos e entre os nanotubos (Fig. 3.6). Esta ligação propicia a formação das microestruturas peptídicas vistas nas micrografias na subsecção 3.3.2. Tabela 3.3: Ângulos de torção [°]. pH 7 * ψ1 (N4-C10-C26-N8) ω1 (C10-C26-N8-C27) 145,39 163,73 Φ2 (C26-N8-C27-C43) 73,57 ψT (N8-C27-C43-O2) 23,75 1 1 2 ,1 1 2, 2 1 1 2 2 ,1 2 2, 2 2 (N4-C10-C12-C15) 69,20 (C10-C12-C15-C16) 113,63 (C10-C12-C15-C24) -64,05 (N8-C27-C29-C32) -101,91 (C27-C29-C32-C33) 177,10 (C27-C29-C32-C41) θ (C12-C10...C27-C29) -1,41 45,51 * Dados obtidos em alta resolução no Laboratório Nacional Luz Síncrotron. Uma descrição simplificada da conformação molecular de um dipeptídeo é fornecida pelo ângulo de torção θ (C12-C10…C27-C29) que define as posições relativas das duas cadeias laterais, como mostra o esquema da Fig. 3.7. CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO C θ P á g i n a | 31 COO- N H3+N O (A) C (B) Fig. 3.7: (A) Definição de ângulo de torção de forma genérica para todos os tipos de dipeptídeos. (B) Estrutura molecular do dipeptídeo difenilalanina. Pode ser imediatamente reconhecido que as moléculas representadas na Fig.3.7 (B) ocorrem em conformações mais incomuns com ambas as cadeias laterais localizadas no mesmo lado do plano definido pela ligação peptídica. Todos têm θ < 43,10°, descrito na Tabela 3.3. Os ângulos de torção regulares, também descrito na Tabela 3.3, mostram que os valores são raros para θ sustentado principalmente por uma rotação em torno da ligação N8C27. Amostras com diferentes pHs possuem diferentes ângulos de torção ω1 (C10-C26-N8-C27). Logo a variação do ângulo de torção para ω1 é -163,73° < θ < 177,62°. Dessa forma, uma descrição detalhada da estrutura cristalina, e do grupo de simetria, refinada através do método Rietveld usando dados obtidos no modo de alta resolução é apresentada para essas nanoestruturas de peptídeos. Não foi observada uma variação significativa nos parâmetros de rede dessas amostras quando sintetizadas em soluções com diferentes pHs. Estudos detalhados sobre a estrutura da amostra de L-difenilalanina realizados nesta subsecção foram importantes para o melhor entendimento acerca da formação dos nanotubos e sobre a influência do pH na estruturação destes. Dessa forma, amostras de nanotubos produzidas em solução com pH 7 foram escolhidas para a intercalação da microperoxidase-11, pois estas foram minuciosamente caracterizadas por difração de raio-x e apresentam ambiente favorável para hospedar o peptídeo sem desnaturá-lo. P á g i n a | 32 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.2.- INTERAÇÃO DIFENILALANINA DA MP11 EM NANOESTRUTURAS DE L- Estudos sobre o crescimento dos nanotubos mostraram que estes canais possuem moléculas de água na parte interna que são responsáveis pela sua orientação. Dessa forma, sugere-se que os tubos formados podem acomodar íons metálicos em sua própria estrutura ou nos nano canais, pois estes canais possuem diâmetro aproximado de 10Å. Neste sentido, amostras de nanofios/nanotubos dopadas com íons de ferro(III) são de interesse especial. A possibilidade de obtenção desses materiais foi motivada por estudos teóricos e experimentais acerca de um possível acoplamento magnético entre os íons de metais de transição [56,57] fomentando a possibilidade da obtenção de nanofios magnéticos. Com o intuito de se obter um melhor entendimento acerca de um eventual acoplamento magnético entre esses íons, introduzidos na matriz nanofios/nanotubos, amostras dopadas com microperoxidase (MP11), contendo o íon de Fe(III), foram produzidas. Três amostras com concentrações diferentes de MP11 e com valores constantes de pH igual a 7 foram produzidas. As concentrações de partida foram 0,744 mg/L, 0,1488 mg/L e 3,72 mg/L, denominadas respectivamente de X, 2X e 5X. 4200 Observado Calculado Diferença Reflexões permitidas 2000 Intensidade (u. arb.) Intensidade (u. arb.) 3000 1000 0 -1000 5 10 15 20 2 (graus) 25 30 Observado Calculado Diferença Reflexões permitidas 2800 1400 0 4 8 12 16 20 24 28 2 (graus) Fig. 3.8: Padrões de difração de raios X em alta resolução das amostras preparadas em solução de pH 7 e com as concentrações diferentes de MP11, 2X (painel à esquerda) e 5X (painel à direita). Marcas de escala encontram-se abaixo dos perfis experimentais indicando as posições das reflexões permitidas de Bragg para o grupo espacial de simetria hexagonal (P61). Medidas de difração de raios X das amostras de peptídeos em solução de pH 7 com duas concentrações diferentes de MP11 são mostrados na Fig. 3.8. Todas as reflexões observadas associadas a uma dada família de planos foram indexadas como pertencendo ao grupo espacial de simetria hexagonal P61. Observa-se que com adição de MP11 as distâncias entre os planos cristalográficos são alteradas, influenciando os parâmetros de rede. A introdução de MP11 na matriz resulta no aumento dos parâmetros a e b e uma diminuição do CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 33 parâmetro c. Descrição mais detalhada das informações cristalográficas encontra-se na Tabela 3.4. Além disso, pode-se inferir que existe uma introdução da molécula de MP11 na matriz de peptídeo, através da observação da alteração da coloração da amostra resultante. Assim, os microfios/microfitas apresentaram uma cor púrpura, característica do íon metálico de Fe(III) presente na MP11. As propriedades magnéticas serão caracterizadas através de medidas macroscópicas (susceptibilidade magnética) e espectroscópicas (ressonância paramagnética eletrônica). Embora essas caracterizações estejam em andamento, esses estudos estão além do escopo deste trabalho. Tabela 3.4: Informações cristalográficas de amostra de peptídeo em pH 7 obtidos em diferentes valores de concentração de MP11, medidas realizadas no modo de alta resolução. pH 7 (puro) pH 7+2xMP11 pH 7+5xMP11 Fórmula C18 H20 N2 O5,5 C18 H20 N2 O5,5 C18 H20 N2 O5,5 Sistema cristalino Hexagonal Hexagonal Hexagonal Grupo espacial P61 P61 P61 a [Å] 24,1650(9) 24,2080(1) 24,2099(9) b [Å] 24,1650(9) 24,2080(1) 24,2099(9) c [Å] 5,580(1) 5,470(4) 5,4798(3) V 2776,81 2776,09 2776,41 Z 6 6 6 Rwp 13,611 13,657 13,199 Rp 10,044 10,292 9,981 RBragg 1,394 1,372 1,439 χ2 1,390 1,394 1,388 3.3.- TRANSIÇÃO TEMPERATURA 3.3.1- DE FASE ESTRUTURAL INDUZIDA PELA Propriedades Térmicas As nanoestruturas estudadas neste trabalho são formadas pela automontagem de moléculas de L-difenilalanina devido a vários tipos de interações como: ligações de hidrogênio entre as moléculas de peptídeo-peptídeo e peptídeo-água [6], eletrostáticas entre as cadeias do tipo cabeça-calda, van der Waals e π-stacking entre as cadeias laterais aromáticas (ver Fig. 3.6). A literatura revela que a água realiza um papel importante na formação e estruturação desses nanotubos. Em especial, com base na estrutura cristalina, Görbitz [14] mostrou que o empilhamento de moléculas aromáticas de difenilalanina ocorre em uma matriz em torno da molécula de água. Desta forma, as fibrilas são crescidas ao longo da direção do canal de água, por ligações de hidrogênio, assim alterando o ponto de ebulição da molécula de água. Assim, a realização de um estudo acerca das propriedades térmicas revelando assinaturas de qualquer natureza e a influência da água na estruturação desses materiais CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 34 assume importância significativa [14]. Primeiramente, algumas propriedades térmicas foram estudadas através da análise termogravimétrica (TGA) e calorimetria diferencial de varredura (DSC). O estudo do comportamento térmico de um dado sistema pode revelar pontos importantes em relação à perda de massa e estabilidade térmica do material em análise, e que variações abruptas do fluxo do calor em DSC eventualmente estejam associadas a algum tipo de transição de fase [58]. Análise Termogravimétrica: A Fig. 3.9 (A) mostra um termograma com resultados da perda de massa da amostra em função da temperatura. A amostra começa perder quantidades significativas de massa de forma espontânea pelo calor fornecido, a temperatura relacionada ao inicio deste processo chama-se de temperatura de degradação, que se inicia a partir de 218,4 °C até 295,7 °C, neste intervalo houve uma diminuição expressiva na massa passando de 4,52 mg para uma massa residual de 0,08941 mg (cerca de 1,66% da massa inicial), confirmando sua completa degradação. A curva em azul mostra a derivada da taxa de variação da massa da amostra com o aumento da temperatura. Na Fig. 3.9 (B) existem dois picos importantes no gráfico da derivada da massa em relação à temperatura que podem corresponder à evaporação das moléculas de água: 132 °C e 162 °C. Estas moléculas estão presentes na superfície e no interior do canal, assim, é sugerido que estas temperaturas correspondem à evaporação da água da superfície e do interior do nanotubo, respectivamente. Realmente, foi encontrada uma temperatura para evaporação acima de 100 °C para as moléculas de água, isto acontece porque estas estão mais fortemente ligadas no interior da estrutura dos nanotubos por ligações intermoleculares de hidrogênio fazendo com que as temperaturas de evaporação sejam mais elevadas. A total liberação da água acontece até aproximadamente 162 °C, estima-se uma perda de 7,3% de massa entre o intervalo de temperatura de 111 °C a 160 °C. Estes resultados são similares aos obtidos recentemente por Ryu et al. [58]. P á g i n a | 35 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO 0.20 Massa (mg) 5 (A) 39.55min 218,4 C 218.43°C 4,52mg 4.517mg 18.60min 113,7 C 113.69°C 4,90mg 4.897mg 288,1 C 0,17mg/ C 53.48min 288.06°C 0.1727mg/°C 0.15 0.00min 22,6 C 22.62°C 5.37mg 4 5.373mg 131,8 C 22.23min 4.78mg 131.83°C 4.782mg 28.32min 162,3 C 162.25°C 4,54mg 4.542mg 0.10 3 4,43mg 4.428mg 26.56min 153.48°C 153,5 C 0.01285mg/°C 0,013mg/ C 2 1 0.05 0.00 40,0 C 3.84min 0,010mg/ 39.96°C C 0 20 124,220.71min C 0,0096mg/ C 124.22°C 0.009945mg/°C 60 100 0.009580mg/°C 140 180 295.66°C 295,7 C 55.02min 0,090mg 0.08941mg (A) Deriv. Troca de Massa (mg/°C) 6 -0.05 220 260 300 340 Temperatura(°C) 5 (B) (A) (mg) Massa(mg) Massa (mg) Massa 4.8 44 4.6 33 4.4 22 4.2 1 0,013mg/ C 137.25 C 117.18 C 295.66°CC 295.66°C 0.03355mg·min/ 124,220.71min C20.71min 0.009560mg·min/ C 55.02min 39.96°CC 124.22°C 295,7 C 0,010mg/ 55.02min 0,0096mg/ C 39.96°C 124.22°C 0.08941mg 0.009580mg/°C 0.009945mg/°C 0,090mg 0.08941mg 0.009580mg/°C 0.009945mg/°C 1 4.0 3.84min 40,0 C 3.84min 3.8 00 20 110 20 0.00 0.00 0.00 (A)(B) (mg/°C) Massa(mg/°C) Deriv.Troca Trocade deMassa Deriv. 5.0 5 0.20 0.20 0.20 39.55min 18.60min 39.55min 18.60min 113,7 C 288,1 C 218.43°C 113.69°C 218,4 C 0.1192mg 218.43°C 113.69°C 4,90mg 0,17mg/ C 4.517mg 4.897mg 140.59 C 4,52mg 53.48min 4.517mg 4.897mg 53.48min (2.219%) 288.06°C 4.744mg 288.06°C 121.14 C 0.15 0.1727mg/°C 0.15 0.15 0.1727mg/°C 0.1966mg 0.00min 0.00min 22,6 C (3.659%) 22.62°C 22.62°C 28.32min 5.37mg 147.51 C 28.32min 162,3 C C 5.373mg 126.58131,8 5.373mg 162.25°C C 22.23min 4,54mg 162.25°C 22.23min 0.10 4.542mg 4.78mg 0.10 0.10 131.83°C 4.542mg 131.83°C 4.782mg 4.782mg 111.35 C 134.72 C 156.82 C 4.907mg 4.772mg 4.428mg 4,43mg 4.428mg 11.19% (5.373 mg) 0.05 0.05 0.05 26.56min 26.56min 153.48°C 153.48°C 153,5 C 154.02°C 124.03°C 0.01285mg/°C 0.01285mg/°C Deriv. Troca de Massa (mg/°C) 5.2 66 -0.05 -0.05 -0.05 60120 100 100130140 140 140 220 260160 260 300 300 150 170340 340 180 60 180180 220 5 (mg/°C) Massa(mg/°C) Deriv.Troca Trocade deMassa Deriv. Temperatura (°C) Temperatura(°C) Temperatura(°C) Fig. 3.9: (A) Resultados da análise termogravimétrica mostrando a variação0.20 de massa em função da 6 0.20 5.2 39.55min temperatura. Utilizou-se uma18.60min rampa de aquecimento de 5 °C/min, iniciando a temperatura ambiente e 218.43°C 113.69°C 0.1192mg finalizando a 350 °C. (B) Uma ampliação140.59 do termograma. 4.517mg 4.897mg C 53.48min (2.219%) 5.0 (B) (mg) Massa (mg) Massa 288.06°C 4.744mg 121.14 C 0.15 0.1727mg/°C 0.15 0.1966mg 0.00min (3.659%) 4.8 22.62°C 28.32min 147.51 C 4 5.373mg 126.58 C 162.25°C 22.23min Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC): Medidas de calorimetria diferencial 0.10 0.10 131.83°C 4.542mg 4.6 4.782mg 111.35 foram realizadas3 com o Cobjetivo de verificar possíveis transições de fase associadas à saída de 134.72 C 156.82 C 4.907mg 4.772mg 4.428mg 4.4 ou qualquer outra água do sistema transição foram obtidos 11.19% (5.373 mg) espontânea. Dois termogramas 0.05 0.05 26.56min 2 153.48°C com valores diferentes de124.03°C rampa de aquecimento/resfriamento, 5 e 10 °C/min, representados 154.02°C 0.01285mg/°C 4.2 na Fig. 3.10 (A) e Fig. 3.10 (B), respectivamente. Dois picos0.00 indicando variações 0.00 1 137.25 C 117.18 C 4.0 3.84min significativas no fluxo de0.009560mg·min/ calor são20.71min observados na295.66°C Fig. C3.10 (A). (B) Essas variações ocorrem nas 0.03355mg·min/ C 55.02min 39.96°C 124.22°C 0.08941mg 0.009945mg/°C temperaturas 136,5 °C e 181,3 °C0.009580mg/°C e seus respectivos valores de variação 0 -0.05 de entalpia foram 3.8 -0.05 20 60120 100130 140 140 180 150 220 260 300 340 110 160 170 180 estimados em 53,50 J/g e 48,77 Temperatura J/g. É importante salientar que essas variações são (°C) Temperatura(°C) irreversíveis ocorrendo apenas durante o primeiro processo de aquecimento. Esse resultado P á g i n a | 36 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO sugere uma dependência com a perda parcial de material. Como o fluxo de calor é positivo, o processo é classificado como endotérmico, isto é, ocorre uma absorção de calor durante a transição, estes resultados são similares aos obtidos recentemente por Ryu et al. [58]. Três etapas foram adotadas para o ciclo térmico de aquecimento/resfriamento na amostra: (i) inicia-se em 25 °C e aquece a amostra até 200 °C, (ii) a partir de 200 °C resfria-se até -30 °C e (iii) de -30 °C aquece-se até 200 °C. Na Fig. 3.10 (A) observa-se que durante as etapas (ii) e (iii) não ocorre uma mudança significativa na variação do fluxo de calor. No entanto evidencia-se uma variação no fluxo de calor entre os ciclos (ii) e (iii) com valor mínimo de 99,10 mW/g e máximo de 0,2 W/g. 0.5 0.2024W/g (A) Fluxo de calor (W/g) (ii) 0.0 0.09910W/g (iii) 26.79°C 165.64°C 48.77J/g 0.3859W/g 133.25°C 53.50J/g (i) 181.31°C -0.5 106.16°C -1.0 (A) 136.46°C -1.5 -30 -10 10 30 50 70 90 110 Temperatura (°C) 130 150 170 190 0.5 (ii) Fluxo de calor (W/g) (B) 167.91°C 51.56J/g (iii) 0.0 43.48 C -0.5 0.5215W/g (i) 135.38°C 55.83J/g 184.00°C 100.15 C -1.0 -1.5 -2.0 139.63°C -2.5 -30 -10 10 30 50 70 90 110 (B) 130 150 170 190 Temperatura (°C) Fig. 3.10: Calorimetria Diferencial de Varredura na amostra de dipeptídeo ajustada em pH 7 com rampa de aquecimento de 5 °C/min (painel superior) e 10 °C/min (painel inferior). Adota-se a seguinte sistemática para o ciclo térmico: temperatura ambiente até 200 °C (i) resfriamento até a temperatura de -30 °C (ii) e aquecendo novamente até 200 °C (iii). CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 37 Uma variação na rampa de aquecimento para 10 °C/min resulta em uma sutil alteração das temperaturas críticas relacionadas às variações mais significativas no fluxo de calor como mostrado na Fig. 3.10 (B). Novos valores foram encontrados para estas temperaturas: 139,6 °C e 184 °C com valores respectivos de entalpia de 55,83J/g e 51,56J/g. Valores para a entropia foram determinados nas mesmas temperaturas segundo a relação S = H/T, obtevese 46,01 e 37,9 J.mol-1.K-1, respectivamente. No processo endotérmico a amostra deve receber mais calor que o material de referência usado nas medições de DSC. O calor em excesso transferido para amostra em termos de uma variação aparente da capacidade calorífica a pressão constante, Cp, durante a varredura da temperatura conduz a um cálculo simples da variação de entalpia associada ao processo que ocorre na amostra. A capacidade calorífica pode ser calculada através da variação da entalpia, H, em uma variação finita de temperatura, T, em que esta ocorre. Pode-se determinar a capacidade calorífica pela relação H = Cp T. No termograma com rampa de 5 °C/min tem-se para a primeira e segunda transição Cp = 3,32 e 1,17 J/g K-1, respectivamente. Para o termograma com rampa de 10 °C/min tem-se para a primeira e segunda transição Cp = 2,89 e 1,18 J/g K-1, respectivamente. Assim tem-se que as capacidades caloríficas em temperaturas abaixo da segunda transição (T ~ 181 °C, para termograma com rampa de 5 °C/min) são maiores. Com o objetivo de obter um melhor entendimento acerca da irreversibilidade destas alterações parte do material utilizado passou por um tratamento térmico a 190 °C por 40 minutos. Na sequência, o material foi hidratado com o objetivo de obter o material de partida depois de ter apresentado supostas transições de fase devido a perda de moléculas de água. É conhecido que o processo de formação das nanoestruturas peptídicas depende fortemente da água para a auto-organização e formação dos canais dos nanotubos [14]. Dessa forma, depois da ressuspensão em água e secagem a temperatura ambiente, a amostra foi submetida à análise de DSC seguindo os mesmos parâmetros experimentais mostrados na Fig. 3.10 (A). A Fig. 3.11 mostra os resultados obtidos depois da hidratação do material. Percebe-se que não existe uma variação expressiva do fluxo de calor, tampouco se identifica o pico relacionado à variação estrutural deste material. Esses resultados sugerem que outras alterações, além da saída da água, aconteceram, pois não foram identificados novos picos depois da hidratação do material. Para obter um melhor entendimento acerca dessas variações de calor e eventualmente associá-los a uma possível transição de fase estrutural, medidas de difração de raios X e espectroscopia no infravermelho foram realizadas. CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 38 Fluxo de calor (W/g) 0.2 0.1 0.2223W/g 0.07270W/g 0.0 -0.1 -0.2 -30 -10 10 30 50 70 90 110 130 150 170 190 Temperatura (°C) Fig. 3.11: Análise de Calorimetria Diferencial de Varredura na amostra de dipeptídeo ajustada em pH 7 com rampa de aquecimento de 5 °C/min. Antes da análise, a amostra foi tratada termicamente a 190 °C e depois ressuspensa em H2O. CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.3.2- P á g i n a | 39 Propriedades Morfológicas A morfologia das nanoestruturas de difenilalanina é determinada por interações intermoleculares. Com o aumento da temperatura, algumas ligações são rearranjadas, como por exemplo, as ligações de hidrogênio entre as moléculas de difenilalanina e água [58]. As morfologias do tipo tubos, fios e fitas podem ser formadas pela automontagem das moléculas de difenilalanina através de ligações de hidrogênio entre os anéis aromáticos e interações eletrostáticas. As ligações intermoleculares nestas amostras acontecem entre peptídeopeptídeo e peptídeo-molécula de água, assim como interações aromáticas (π-π) entre as cadeias laterais aromáticas têm sido relatadas [59]. As propriedades morfológicas desses materiais formados por peptídeos foram estudados através de microscopia eletrônica de varredura. Além de uma caracterização geral desses materiais, correlacionou-se os picos característicos observados nas análises térmicas com uma possível alteração conformacional na amostra. Imagens de MEV foram obtidas após a amostra passar por tratamentos térmicos subsequentes a T = 25, 137, 165, 190 e 220 °C. 4.8μm Fig. 3.12: Imagens de microscopia eletrônica de varredura da amostra obtida na temperatura ambiente. CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 40 A Fig. 3.12 mostra imagens obtidas de uma amostra de peptídeo à temperatura ambiente. Observam-se microfios/microfitas dispostos de forma aleatória que aparentemente possuem pouca rugosidade. Convém salientar que a morfologia do tipo fio, fita ou tubo dessas amostras depende fortemente das condições de síntese. Estima-se um diâmetro de 4,82 µm para estes microfios/microfitas. A disposição bem orientada e ordenada dos nanotubos na formação dos microfios/microfitas pode ser explicada por interações entre os anéis aromáticos ( interações π-stacking) e por forças de van der Walls na região superficial destes materiais. Fig. 3.13: Imagens de microscopia eletrônica de varredura da amostra tratada em 137 °C. Na Fig. 3.13 identifica-se a presença de várias morfologias na amostra tratada à temperatura de 137 °C: microtubos (extremidade quase circular e aberta), microfios (extremidade fechada se assemelhando a um tronco de pirâmide) e microfitas. Em comparação com as imagens da Fig. 3.12 percebe-se que na Fig. 3.13 as microestruturas têm um aspecto mais fragmentado, pois surgem pequenas frações em sua superfície. CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 41 Fig. 3.14: Imagens de microscopia eletrônica de varredura da amostra tratada a 165 °C. A Fig. 3.14 evidencia imagens consideravelmente diferentes das micrografias anteriores. Pequenas cerdas, ou nanofios, misturadas aos microfios/microfitas são observadas. A imagem de mais alta resolução sugere um desmembramento de nanofios ocorrendo logo acima do primeiro pico de variação no fluxo de calor T ~ 140 °C. A dispersão dessas cerdas, nanofios ou nanotubos, pode ser causada pela quebra das ligações de hidrogênio devido à amostra ter sido submetida a tratamentos térmicos em altas temperaturas [60]. Desta forma as ligações presentes entre peptídeo-molécula de água e peptídeo-peptídeo são perdidas. Foi encontrada por Victoria et al. [61] em micrografias obtidas por AFM de nanotubos de Ldifenilalanina uma diminuição em 82% na altura e 66% na largura quando estas foram tratadas termicamente a 150 °C, resultando em estruturas semelhantes a fitas. Micrografias obtidas por Hartgerink et al. [62] para este mesmo tipo de amostra quando submetida a temperaturas acima de 150 °C, revelam uma desagregação similar ao encontrado no presente trabalho. Na subsecção 3.3.1 (Fig. 3.10), observa-se que o início da segunda transição em calorimetria diferencial de varredura acontece em T ~ 165 °C. Nesta temperatura sugere-se que está relacionada à queima/combustão parcial de material. O material perdido com o aumento de temperatura (T = 165 °C) seria, portanto as pequenas cerdas observadas na Fig. 3.14. CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO (A) P á g i n a | 42 (B) (C) Fig. 3.15: AFM (A) e MEV (B) mostrando a formação da estrutura peptídica (difenilalanina) preparados em solução de pH 7. Cortesia Ref. 29. A literatura relata que nas condições adotadas de síntese no presente trabalho (síntese em fase líquida) para produção de amostras de peptídeo pode-se observar a formação de estruturas na escala nanométrica. A Fig. 3.15 ilustra a formação orientada de tubos formando uma estrutura fibrilar. [29]. Assim, pode-se sugerir que a formação das pequenas cerdas, ou nanofios, misturadas aos microfios/microfitas (Fig. 3.14) são um desarranjo da estrutura fibrilar. Fig. 3.16: Imagens de microscopia eletrônica de varredura da amostra tratada a 190 °C. CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 43 A micrografia obtida da amostra tratada termicamente a 190 °C é mostrada na Fig. 3.16. Como pode ser verificado, não se observa mais a desagregação das cerdas, nanofios ou nanotubos, em torno das microestruturas. Neste caso, as nanoestruturas se assemelham mais a uma microfita. Fig. 3.17: Imagens de microscopia eletrônica de varredura da amostra tratada a 220 °C. Na Fig. 3.17 identifica-se uma microfita mais rugosa e quebradiça após o aumento da temperatura de tratamento térmico. Estruturas nanométricas de forma orientada também podem ser identificadas. Como previsto pelos resultados da TGA, a degradação total destas microestruturas de difenilalanina ocorre acima de 300 °C, mostrada na Fig. 3.18. Fig. 3.18: Imagens de microscopia eletrônica de varredura da amostra tratada a 321 °C. CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 44 Fig. 3.19: Comparação das imagens de microscopia eletrônica de varredura da amostra de peptídeos tratadas em diferentes temperaturas. Dessa forma, pode-se concluir através dos dados de microscopia eletrônica de varredura que ocorre alteração significativa na morfologia dessas amostras quando tratadas termicamente. Assim, se observa que há uma tendência para formação de microfitas com o aumento da temperatura de tratamento, além do aparecimento de cerdas nas microestruturas. Estas são as principais evidências de alterações morfológicas. A observação da desagregação de nanofios/nanotubos dos microfios/microfitas na temperatura de T = 165 °C sugere correlação com o primeiro pico de variação do fluxo de calor T = 140 °C, observado através da análise térmica. Esse resultado sugere fortemente que essas microestruturas são formadas pela automontagem de nanotubos/nanofios. CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.3.3- Propriedades Estruturais 3.3.3.1.- Difração de Raios X P á g i n a | 45 A confirmação de que realmente houve uma transição de fase estrutural, sugerida pelos resultados das análises térmicas, foi realizada através da difração de raios X. É importante destacar que a análise térmica revela duas temperaturas críticas, T = 136,5 °C e 181,3 °C, estas podem estar relacionadas a eventuais transições de fase. As medidas de difração foram realizadas (no modo) ex-situ. Dessa forma, as amostras passaram por processos de tratamento térmico seguindo os resultados obtidos na calorimetria diferencial. As medidas de DRX foram realizadas ao final de cada tratamento térmico. Por exemplo, depois da realização da medida à temperatura ambiente, a amostra foi submetida a um tratamento térmico com o auxílio de uma mufla por vinte minutos a 80 °C. Então a amostra é retirada da mufla e resfriada até a temperatura ambiente para a realização da segunda medida de DRX. Em seguida, a amostra passa novamente pela mufla à temperatura de 140 °C é resfriada e obtém-se um novo difratograma e assim se segue até a temperatura de 310 °C. As temperaturas utilizadas no tratamento térmico foram respectivamente: 80, 140, 150, 170, 190, 220, 260 e 310 °C. Medidas realizadas em T = 310 °C apresentaram apenas um perfil amorfo indicando uma degradação completa da amostra. O resultado comparativo entre as reflexões observadas e permitidas podem ser observadas nas Figuras 3.20, 3.21 e 3.23. P á g i n a | 46 Intensidade (u. arb.) CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO Fase Hexagonal P61 T = 25°C T = 80°C T = 140°C 20000 10000 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Intensidade (u. arb.) 2 (graus) Fase Hexagonal P61 20000 T = 25°C T = 80°C T = 140°C (2 -1 0) (5 -3 0) (5 -1 0) (2 0 0) 10000 0 7.0 7.5 8.0 8.5 18.5 19.0 19.5 20.0 2 (graus) Fig. 3.20: Comparação dos difratogramas das amostras de peptídeo tratadas termicamente em diferentes temperaturas. O grupo espacial de simetria indexado é Hexagonal P61. Através da Fig. 3.20 pode-se concluir que a fase cristalográfica não é alterada quando a amostra é submetida a diferentes tratamentos térmicos apenas até a temperatura de transição de fase. Todas as reflexões observadas são pertencentes ao grupo de simetria P61. No entanto, com o aumento da temperatura de tratamento térmico evidenciou-se que as reflexões se deslocaram para ângulos mais baixos. Dessa forma, pode-se concluir através da Lei de Bragg, que as distâncias interplanares estão aumentando. Esses resultados indicam que o aumento da temperatura de tratamento resulta em um aumento das distâncias interplanares. É importante mencionar que embora as análises fossem feitas depois de cada tratamento térmico, as medidas foram realizadas à temperatura ambiente, ou seja, depois que a amostra se resfriou. Nota-se uma redução significativa na intensidade das reflexões dos conjuntos de planos (2 -1 0) e (5 -3 0). Este resultado sugere que a amostra pode estar perdendo material, o que corrobora os resultados de microscopia eletrônica de varredura e calorimetria diferencial. P á g i n a | 47 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO 14000 T = 135°C T = 140°C Hexagonal P61 12000 (A) Intensidade ( u. arb. ) 10000 T = 140°C T =150°C 8000 (B) 6000 4000 T = 135°C T =170°C Hexagonal P61 2000 (C) 0 8 10 12 14 16 18 20 2 ( graus) 22 24 26 28 30 Fig. 3.21: Difratogramas das amostras de peptídeo tratadas termicamente. (A) Comparação dos tratamentos a 135 °C e 140 °C com grupo de simetria hexagonal P61. (B) Comparação de dois tratamentos com temperaturas de 140 °C e 150 °C. (C) Comparação das demais temperaturas em 135 °C, 170 °C com o grupo de simetria hexagonal P61. A Fig. 3.21 ilustra difratogramas da amostra tratada termicamente em outros valores de temperatura (135, 140, 150 e 170 °C). Em T = 135 °C observam-se reflexões intensas e larguras a meia altura estreitas quando comparadas às do diagrama obtido em T = 140 °C. Nesta temperatura as reflexões se alargam indicando uma diminuição do tamanho dos domínios com coerência cristalográfica o que anuncia uma aparente amorfização e com o aumento da temperatura de tratamento surge uma recristalização com possível alteração estrutural. Em T = 150 °C, várias reflexões não esperadas, baseado no grupo de simetria hexagonal, aparecem e outras esvanecem. Esse resultado sugere fortemente alteração no grupo de simetria, ou seja, uma transição de fase estrutural. Comparando-se as posições em 2θ da amostra tratada em diferentes temperaturas, percebe-se que a transição de fase ocorre aproximadamente a 140 °C. A amorfização da amostra acontece quando esta começa a transitar para a nova fase, assim os picos ficam mais largos e menos definidos. Na temperatura de 150 °C as reflexões se estreitam novamente e ficam mais intensas. A indexação dessas novas reflexões de Bragg foi realizada e o grupo de simetria determinado. A Fig. 3.22 mostra um refinamento do difratograma obtido em T = 190 °C utilizando o grupo de P á g i n a | 48 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO simetria ortorrômbico Pba2. O processo de solução de estrutura cristalina inicia-se com a determinação do grupo espacial através da indexação dos planos cristalográficos. Esta tarefa é geralmente realizada por uma cuidadosa investigação das intensidades observadas, visando caracterizar os grupos de extinção, isto é, grupos teoricamente não representam os dados experimentais. O programa utilizado para a determinação da estrutura cristalina e seus respectivos parâmetros de rede possui um procedimento probabilístico visando reconhecer o símbolo de extinção [63]. Utiliza as estatísticas da intensidade normalizada z (como extraídas pelo método Le Bail) para calcular a probabilidade de cada símbolo de extinção compatível com o sistema cristalino sugerido pelo procedimento de indexação. O DASH é um programa utilizado para a indexação do grupo espacial, tem como implemento interno uma versão do DICVOL [ 64]. Um peso adequado z está associado a cada intensidade de reflexão, dependendo da confiabilidade esperada de sua estimativa. O algoritmo fornece uma probabilidade para cada símbolo da extinção do sistema cristalino considerado. A baixa precisão das intensidades de reflexão pode invalidar o cálculo da probabilidade associada a cada grupo de extinção que é compatível com o sistema cristalino determinado na etapa de indexação. O procedimento para a determinação da estrutura cristalina pelo software EXPO 2009 é eficiente proporcionando bons resultados [65,66]. 6000 Observado Calculado Diferença Reflexões Permitidas Intensidade (u. arb.) 4500 3000 1500 0 5 10 15 20 25 30 35 40 2 (graus) Fig. 3.22: Refinamento Rietveld do difratograma de amostra de peptídeo tratada termicamente a 190 °C. A fase cristalina encontrada é a ortorrômbica com grupo de simetria Pba2. A identificação da fase cristalina foi realizada utilizando a amostra tratada termicamente a 190 °C. A Figura 3.22 mostra detalhes do diagrama de difração de raios X com o refinamento das reflexões experimentais utilizando o modelo com grupo de simetria ortorrômbico Pba2. Outros subgrupos de simetria como o Pna21 também apresentou uma P á g i n a | 49 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO significativa representabilidade do sistema. O grupo de simetria Pba2 retornou o melhor valor de χ² em comparação ao grupo de simetria Pna21 quando indexados usando o programa Topas Academic v.4.1 [67]. Apesar dos dois grupos pertencerem ao mesmo grupo espacial, ortorrômbico, as operações de simetria são diferentes. Parâmetros da qualidade dos ajustes indicam um refinamento com grande confiabilidade. A estrutura cristalina com as moléculas de peptídeo alocada na cela unitária é mostrada na Fig. 3.23. (B) (A) Fig. 3.23: (A) Molécula de peptídeo, formando uma unidade mínima para a formação da cela unitária. (B) Empacotamento das moléculas de peptídeo na cela unitária. Tabela 3.5: Informações cristalográficas da amostra de peptídeo tratadas nas respectivas temperaturas: ambiente, 80 °C, 140 °C e 190 °C. T = 25 °C T = 80 °C T = 140 °C T = 190 °C Fórmula C18 H20 N2 O5,5 C18 H20 N2 O5,5 C18 H20 N2 O5,5 C18 H20 N2 O5,5 Sistema cristalino Grupo espacial a [Å] b [Å] c [Å] V Z Rwp Rp RBragg χ2 Hexagonal P 61 24,1649(9) 24,1649(9) 5,579(1) 2821,82 6 13,611 10,044 1,394 1,390 Hexagonal P 61 24,1473 (5) 24,1473 (5) 5,5873(6) 2821,45 6 5,553 4,189 2,449 1,535 Hexagonal P 61 24,1842(4) 24,1842(4) 5,5960(8) 2834,51 6 9,515 6,035 12,121 2,572 Ortorrômbica Pba2 23,9467(10) 10,3428(4) 4,0843(9) 1011,57(23) 4 4,268 3,194 0,355 1,150 Os resultados do refinamento Rietveld da amostra em análise tratada em diferentes temperaturas T = 25, 80, 140 e 190 °C são mostrados na Tabela 3.5. Os parâmetros de rede da amostra após o tratamento térmico até 140 °C possuem resultados muito semelhantes. A CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 50 amostra tratada termicamente a temperaturas abaixo de 140 °C foi indexada no grupo de simetria hexagonal P61. A amostra tratada termicamente a 150 °C pode ser classificada ao mesmo grupo de simetria Pba2 da amostra a 190 °C cujas informações estruturais foram obtidas pelo refinamento Rietveld. Dessa forma, conclui-se que as amostras de peptídeo sujeitas a tratamentos térmicos acima de 140 °C experimentam uma transição de fase de grupo de simetria hexagonal P61 para ortorrômbico Pba2. A Tabela 3.6 mostra os parâmetros de rede para temperaturas acima da transição de fase estrutural, assim observa-se que o aumento da temperatura proporciona um aumento do volume da cela unitária, apesar de que a variação dos parâmetros a, b e c não variam sistematicamente em relação à temperatura. Tabela 3.6: Informações cristalográficas da amostra tratada termicamente em temperaturas acima da transição de fase estrutural. 150 °C 170 °C 190 °C Fórmula Sistema cristalino Grupo espacial a [Å] b [Å] c [Å] V C18 H20 N2 O5,5 Ortorrômbica Pba2 23,3988(8) 10,1279(7) 4,22169(9) 1000,5(3) C18 H20 N2 O5,5 Ortorrômbica Pba2 23,1994(9) 10,3927(8) 4,18951(9) 1010,1(3) C18 H20 N2 O5,5 Ortorrômbica Pba2 23,9467(9) 10,3428(4) 4,0843(9) 1011,6(2) As estruturas cristalográficas de ambas as fases são ilustradas na Fig. 3.24. Observa-se claramente a diferença no empacotamento cristalino das moléculas de difenilalanina. Quando a amostra é tratada termicamente em altas temperaturas e experimenta uma transição de fase (T > 140 °C), um processo espontâneo de recristalização leva a uma coalescência das moléculas fechando os canais que abrigavam as moléculas de água e formando assim uma estrutura contínua. Esses resultados são realmente importantes e contribuem para um melhor entendimento da formação de estruturas tubulares e contínuas de peptídeos e são dependentes do grupo de simetria da rede cristalina. Estudos recentes obtidos por Amdursky et al.[68] em nanotubos de L-difenilalanina através de difração de raios sugerem um novo arranjo para a molécula de L-difenilalanina. Vários subgrupos podem representar o arranjo cristalográfico: Pbca, Pnma, Pbam e Pbcn. Entretanto, a determinação exata do grupo de simetria necessita de dados de alta resolução. Por outro lado, é conhecido da literatura que estruturas peptídicas formadas por pares de peptídeos distintos podem também cristalizar-se sem a formação de uma estrutura tubular. Alguns destes dipeptídeos são, por exemplo: leucina-leucina (LL), fenilalanina-leucina (FL), isoleucina-leucina (IL) e serina-fenilalanina (SF). É interessante notar que a literatura revela que quando a estrutura peptídica não apresenta morfologia tubular, o grupo espacial de simetria na qual o sistema se cristaliza é o ortorrômbico e/ou monoclínico [6]. CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 51 (A) (B) Fig. 3.24: (A) Estrutura cristalina hexagonal P61 com a formação de canais tubulares. (B) Estrutura cristalina ortorrômbica Pba2 com a formação de um padrão contínuo das moléculas de peptídeo. P á g i n a | 52 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO a a b b (B) (A) a c c a b b (C) (D) Fig. 3.25: Comparação das celas unitárias das fases hexagonal (A) e ortorrômbica (B), no plano ab. Desenho em perspectiva para visualização do eixo c das fases hexagonal (C) e ortorrômbica (D). Essa transição de fase estrutural também resulta na alteração das propriedades elétricas e elásticas dessas amostras. Isso abre a possibilidade da fabricação de sensores de temperatura com indicativo para temperaturas acima de 140°C e atuadores em nanoescala. Realmente, Heredia et al.[60] mostraram que nanotubos de difenilalanina possuem propriedades físicas interessantes como a piezoeletricidade. Estes nanotubos são formados por uma entidade de 6 moléculas de difenilalanina formando os anéis FF ou monômeros. Na fase hexagonal, os anéis se agrupam paralelamente de forma a apresentar um alto coeficiente piezoelétrico, característica comum observada em materiais ferroelétricos. Essa propriedade surge do efeito cooperativo dos dipolos elétricos e é possível fazer uma reversão da polarização elétrica através de um campo elétrico. Quando a amostra é submetida a tratamentos térmicos a, polarização elétrica diminui gradualmente devido a alteração em sua estrutura cristalina. Na fase ortorrômbica a amostra possui momento de dipolo elétrico resultante muito pequeno devido à orientação antiparalela dos anéis, semelhante aos materiais antiferroelétricos. O comportamento antiferroelétrico se origina a partir de ligações de hidrogênio entre os monômeros de difenilalanina que são perdidas com o aumento da temperatura [60]. P á g i n a | 53 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO Intensidade (u. arb.) Fase Ortorrômbica Pba2 6000 T = 190°C T = 220°C T = 260°C 3000 (A) 0 10 20 30 40 2 (graus) 8000 Intensidade (u. arb.) Intensidade (u. arb.) A Fig. 3.26 (A) mostra os difratogramas obtidos em T = 190, 220 e 260 °C. As barras pequenas em cor magenta indicam as posições esperadas das reflexões de Bragg dos planos cristalinos para a fase ortorrômbica. Todas as reflexões ocorrem nas mesmas posições angulares revelando que não houve alterações significativas nos parâmetros estruturais do sistema. Fase Ortorrômbica Pba2 6000 T = 190°C T = 220°C T = 260°C (2 0 0) (2 1 0) 4000 (B) 2000 0 7.0 7.5 8.0 11.0 11.5 12.0 12.5 2 (graus) Fig. 3.26: (A) Difratogramas da amostra de peptídeo tratada termicamente nas temperaturas de: 190 °C, 220 °C e 260 °C. (B) Amplificação dos difratogramas para melhor identificação das intensidades relativas dos planos (2 0 0) e (2 1 0). O grupo espacial de simetria indexado é ortorrômbico Pba2. Uma análise mais cuidadosa das reflexões (2 0 0) e (2 1 0) é mostrada na Fig. 3.26 (B). Esses resultados indicam que não houve alteração nas distâncias interplanares bem como na intensidade. É importante salientar que nestas temperaturas não se espera encontrar a presença das moléculas de água confinada nos nanocanais. P á g i n a | 54 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO Intensidade (u. arb.) 14000 Fase Hexagonal - P61 Fase Ortorrômbica - Pba2 10500 T = 80°C T = 190°C 7000 (A) 3500 0 10 15 20 25 30 35 40 2 (graus) Intensidade (u. arb.) 18000 Fase Hexagonal - P61 Fase Ortorrômbica - Pba2 13500 T = 80°C T = 190°C 9000 (B) 4500 0 6 8 10 12 14 16 18 20 2 (graus) Fig. 3.27: (A) Comparação das fases hexagonal e ortorrômbica encontradas na amostra após o tratamento térmico. (B) Amplificação dos difratogramas para melhor visualização. As fases cristalográficas hexagonal e ortorrômbica são comparadas na Fig. 3.27 com o auxílio das barras identificando a posição angular das reflexões permitidas para cada fase. Percebe-se claramente a diferença entre as posições angulares das reflexões esperadas originadas de diferentes grupos de simetria. A fase hexagonal estando presente na amostra tratadas termicamente até temperaturas de 140 °C e a fase ortorrômbica em amostras tratadas acima de 140 °C. Comparando-se a largura das reflexões de cada uma das fases, identifica-se um alargamento do pico de difração. O alargamento está relacionado com o tamanho do domínio com coerência cristalográfica (t) e também devido à microdeformação. Infere-se pela equação de Scherrer (Eq. 2.4.2) que na fase ortorrômbica os cristalitos são menores do que a fase hexagonal, pois as larguras de linha da largura a meia alturas são 0,09005 e 0,09041 graus das fases hexagonal e ortorrômbica, respectivamente. P á g i n a | 55 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.3.3.2- Espectroscopia de Infravermelho A espectroscopia no infravermelho se baseia no fato de que as ligações químicas das substâncias possuem frequências de vibração específicas que correspondem a níveis vibracionais de energia da molécula. A caracterização da geometria e arranjo molecular através das frequências características pode fornecer informações importantes acerca da natureza da transição de fase estrutural descrita anteriormente. O estudo da espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier foi realizado usando a mesma sistemática utilizado em amostras tratadas termicamente na difração de raios X. Além de uma caracterização geral dos modos vibracionais, pode-se obter um melhor entendimento acerca da transição de fase estrutural revelada através dos dados de difração de raios X. A Fig. 3.28 mostra espectros que estão representados por absorbância em função do número de onda. As medidas mostram claramente alterações nos picos de absorção quando se compara amostra tratadas termicamente em 25 e 190 °C. Bandas entre 2280 - 2390 cm-1 características do CO2 apresentadas no espectro de FTIR não são mostradas. Antes de discutir mais especificamente acerca da natureza da transição de fase estrutural, os modos vibracionais serão identificados para essa amostra e comparados com a literatura. Absorbância T = 25° T = 80°C T = 140°C T = 190°C T = 220°C T = 260°C T = 140°C T = 260°C 400 800 1200 1600 3000 -1 3500 4000 Número de onda (cm ) Fig. 3.28: Espectros de FTIR de amostras de peptídeo obtidos depois da realização de tratamentos térmicos nas respectivas temperaturas 80 °C, 140 °C, 190 °C, 220 °C e 260 °C. P á g i n a | 56 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO T. ambiente T = 80°C T = 140°C Absorbância 0.04 L 0.03 N C O D 0.02 (A) M J B 0.01 I F G E A H 0.00 600 750 900 1050 1200 1350 1500 1650 -1 Número de Onda (cm ) 0.05 T. ambiente T = 80°C T = 140°C 0.04 Absorbância Amida I Amida Secundária 0.03 (B) 0.02 0.01 0.00 1550 Amida A 1575 1600 1625 1650 -1 1675 1700 Número de Onda (cm ) Fig. 3.29: (A) Identificação das bandas FTIR mais importantes das amostras da fase Hexagonal. (B) Ampliação do espectro para melhor visualização do deslocamento da banda da amida secundária. A Fig. 3.29 mostra espectros de absorção obtidos a temperaturas diferentes. Identificase que as amostras possuem a banda da amida secundária (1626 - 1714 cm-1). Uma característica importante que está presente nos nanotubos de difenilalanina são os modos de estiramento C=O (amida I) e o modo de estiramento N-H (amida A), Fig. 3.29 (B). Com base na literatura, é possível identificar os principais modos vibracionais presentes nesta amostra, que são mostrados na Tabela 3.7. CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO P á g i n a | 57 Tabela 3.7: Dados da espectroscopia FTIR [62,69,70,71]. Número de onda (cm-1) (literatura) Simbologia Número de onda (cm-1) observado Atribuições 579 A 584 Deformação C-C 642 B 656 703 C 699 744 D 747 859 - 852 879 E 882 1040 F G H I J L M 1033 1046 1077 1091 1134 1156 1211 1329 1352 1385 1453 1584 1607 1658 1674 2925 3033 1081 1097 1130 1161 1218 1332 1358 1393 1449 1596 1610 1626 – 1714 1683 2918 3028 N O - Substituição das posições 1,4 do anel benzênico Anel benzênico Vibração no plano (rocking) CH2 Balanço NH3+ Substituição das posições 1,4 do anel benzênico Estiramento C-N Estiramento C-N Grupo Arila Estiramento C-C Estiramento C-C Estiramento C-C Balanço CH2 Plano de flexão OH Ligação OH Deformação C=O Estiramento simétrico C=O Estiramento anti-simétrico C=O Estiramento N-H Amida Secundária Deformação NH3+ Estiramento anti-simétrico CH2 Estiramento C-H Existem duas regiões importantes do espectro que revelam a presença de cargas elétricas na molécula de L-difenilalanina, compreendidas entre 1253-1286 cm-1, esta carga é referente ao íon carboxilato (ânion), e os picos em 1496 e 1606 cm-1 e também ao íon amônio (cátion). As bandas características de frequências situadas aproximadamente em 3460 cm-1 e 1480 cm-1 são devidas ao estiramento assimétrico NH e estiramento COO-, confirmando a presença do grupo amino. Encontra-se também o estiramento C=C o qual só pode ser observado após a deconvolução dos picos experimentais, como mostrado na Fig. 3.30. O modo de estiramento N-H é altamente localizado, sua frequência é observada em 3260 cm-1 para a fase hexagonal e 3291 cm-1 para a fase ortorrômbica. Este estiramento depende da força da ligação de hidrogênio da cadeia N-H…O=C que é sensível à estrutura e suas Absorbância 0.03 Calculado Lorentziana Diferença 0.03 Calculado Lorentziana Diferença 0.02 C A P Í T U L O 3 : R E S U L T A D O S 0.02 E DISCUSSÃO 0.01 P á g i n a | 58 0.01 Absorbância Absorbância variações. O0.00 estiramento NH observado sugere fortemente a presença de várias ligações de 0.00 hidrogênio presentes entre as subunidades de peptídeo, fornecendo informações sobre a -0.01 1200 1300 1400 2800 2900 3000 3100 3200 3300 3400 geometria. 1000 1100 0.030 0.03 0.025 0.02 0.020 Calculado Calculado Lorentziana Lorentziana Diferença Diferença 0.015 0.01 0.010 0.020 0.03 0.015 0.02 Calculado Lorentziana Diferença Calculado Lorentziana Diferença 0.010 0.01 0.005 0.00 0.005 0.00 0.000 0.000 -0.01 1000 11001200 1200 13001500 1400 1000 1100 1300 1400 1600 2800 3000 2900 3100 3000 3200 3100 3300 3200 3400 3300 3500 3400 3600 Número de onda (cm -1) Número de onda (cm -1) Absorbância Absorbância 0.030 0.03 0.025 0.02 0.020 Calculado Calculado Lorentziana Lorentziana Diferença Diferença 0.015 0.01 0.010 0.00 0.005 0.03 0.020 0.015 0.02 Calculado Lorentziana Diferença Calculado Lorentziana Diferença 0.010 0.01 0.005 0.00 0.000 0.000 -0.01 1000 1100 1300 2800 3100 2900 3200 3000 3300 3100 3400 3200 3500 3300 3600 3400 1000 1100 1200 1200 1300 1400 1500 1400 1600 3000 Absorbância Número de onda (cm -1) Número de onda (cm -1) 0.030 Fig. 3.30: Deconvolução através da distribuição de funções Calculado de peptídeo Calculado 0.020 Lorentzianas da nanoestrutura Lorentziana 0.025 à temperatura ambienteLorentziana (painéis superiores) e tratada termicamente a 190 °C (painéis inferiores). 0.020 Diferença 0.015 Diferença 0.015uma diferença no número de picos 0.010 do espectro entre as distintas fases, Existe 0.010 relacionados aos diversos tipos de interações0.005 existentes na amostra de peptídeo como 0.005 observado na Fig. 3.31. A descrição formal deste sistema molecular é obtida pelo grau de 0.000 0.000 liberdade, que é um parâmetro independente que contribui para o estado de um sistema físico. 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 3000 3100 3200 3300 3400 3500 3600 Assim em mecânica, um corpo de forma independente nas três de onda (cm -1) Número de ondapode-se (cm -1) movimentarNúmero dimensões do espaço, que são definidas por três componentes, chamadas de grau de liberdade. Para uma molécula não linear com mais de 2 átomos, isto é, N > 2, existe a seguinte relação: 3N-6. Onde N é o número de átomos da molécula, esta relação é uma estimativa simples do número de modos vibracionais onde se consideram os três graus de liberdade rotacionais do movimento. Assim é de se esperar uma maior quantidade de modos de vibração para a estrutura hexagonal, pois a existência de moléculas de água aumenta o número de interações e ligações químicas, como observado no espectro de infravermelho. Na fase ortorrômbica, obtida em altas temperaturas (acima de 140 °C), espera-se que moléculas de água não estejam mais presentes, diminuindo assim o número de interações intermoleculares e resultando em um número menor de modos vibracionais. Esse resultado é corroborado pelos resultados apresentados na Fig. 3.31. P á g i n a | 59 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO 0.20 Fase hexagonal Fase ortorrômbica Absorbância 0.16 0.12 0.08 0.04 0.00 600 900 1200 1500 3000 -1 3300 3600 Número de onda (cm ) Fig. 3.31: Comparação dos espectros de infravermelho das fases hexagonal e ortorrômbica. A frequência referente à vibração do grupo amida observada no espectro é deslocada para uma frequência menor quando com o aumento da temperatura de tratamento na amostra de peptídeo, Fig. 3.29 (painel inferior). Este deslocamento é provocado devido à interação intramolecular ser menor em amostras tratadas em menores temperaturas, fazendo com que a frequência de absorção de radiação no infravermelho diminua. Em espectroscopia vibracional a frequência de absorção é dada por , onde ν é a frequência da vibração, κ é a constante elástica da ligação, e μ é a massa reduzida do sistema [72]. O deslocamento da frequência dos modos vibracionais induzido pelo tratamento térmico pode estar relacionado com uma diminuição da constante elástica do sistema. Como o grau de rigidez é proporcional a constante elástica, pode-se sugerir que a fase ortorrômbica apresenta uma menor rigidez, pois possui menor valor para κ, quando comparada com a fase hexagonal. Além disso, com o aumento da temperatura há uma perda das ligações dos monômeros de dipeptídeo. Desta forma as distâncias das ligações entre os dipeptídeos são modificadas. Isso pode ser inferido através do alargamento e deslocamento dos picos do espectro de infravermelho para um número de onda menor, Fig. 3.29 (B). Por conseqüência, o sistema passa para estados de menor energia de ligação pelo fato de possuir menos ligações em relação a fase hexagonal, devido ao aumento da temperatura. A estabilidade térmica é alcançada após as amostras experimentarem a transição de fase. Observa-se nos espectros a T = 190, 220, e 260 °C que as intensidades das bandas de absorbância e as frequência pouco variam, possuindo uma considerável justaposição, como mostra a Fig. 3.32. 0.00 C A-0.01 PÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO 2850 3000 3150 3300 -1 P á g i n a | 60 3450 Número de onda (cm ) Absorbância 0.15 0.10 T. ambiente T = 80°C T = 140°C T = 190°C T = 220°C T = 260°C 0.05 0.00 1200 1300 1400 1500 -1 1600 1700 Número de onda (cm ) Fig. 3.32: Análise comparativa das diferentes bandas de FTIR para as diferentes fases cristalográficas. A Fig. 3.33 ilustra uma região expandida do espectro de absorção na região entre 1620 a 1700 cm-1. A identificação de algumas bandas de energia originadas de conformações como β-sheet e β-turn pode auxiliar na determinação do arranjo destas estruturas peptídicas. Na temperatura ambiente e até T = 80 °C, apenas um pico em 1688 cm-1 atribuído a conformação β-turn é observado. Em T = 140 °C observa-se o deslocamento da banda de absorção (β-turn) e o surgimento da intensidade de absorbância referente à conformação β-sheet ainda que pouco intensa. Acima da transição a T = 140 °C ocorre uma variação abrupta na intensidade do espectro de absorção, como pode ser observado nesta figura. Observa-se um pico intenso em 1658 cm-1, atribuído à conformação β-sheet e um pico de intensidade média em 1674 cm-1 atribuído a conformação β-turn. Como apresentado na introdução, a presença das conformações β-sheet e β-turn pode ser interpretada como uma assinatura de estruturas contínuas e tubulares [58], respectivamente. Dessa forma, os resultados sugerem fortemente que estes microfios/microfitas são formados por estruturas tubulares (amostras tratadas termicamente a baixas temperaturas) ou por estruturas continuas (amostras tratadas termicamente em altas temperaturas) como ilustrado na Fig. 3.24. As nanoestruturas tubulares estariam associadas à fase hexagonal e a estrutura contínua (do tipo bulk) à fase cristalográfica ortorrômbica. Essa interpretação é corroborada pelos resultados obtidos por difração de raios X. A Fig. 3.24(B) ilustra a estrutura planar contínua em que as moléculas de peptídeo se arranjam. P á g i n a | 61 CAPÍTULO 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO 0.16 -sheet T = 25°C T = 80°C T = 140°C T = 190°C Absorbância 0.12 -turn 0.08 0.04 -turn 0.00 1630 1640 1650 1660 1670 1680 1690 -1 Número de Onda (cm ) Fig. 3.33: Identificação das conformações β-sheet e β-turn no espectro de FTIR. 1700 CAPÍTULO 4: CONCLUSÃO 4- P á g i n a | 62 CONCLUSÃO Microestruturas de peptídeos com morfologia do tipo fio, fita e tubo foram obtidas através da síntese por fase-líquida em concentração de 5 mg/mL. Resultados obtidos através do refinamento Rietveld sugerem que os parâmetros estruturais não são alterados significativamente em amostras preparadas em diferentes pHs (pH 3, 7 e 12). As amostras apresentam grupo de simetria hexagonal P61 e parâmetros de rede: (pH 3) a = b = 24,1827(6) e c = 5,432(4), (pH 7) a = b =24,1650(9) e c = 5,580(1), (pH 12) a = b = 24,177(1) e c = 5,437(3). Uma análise mais detalhada envolvendo difração de raios X utilizando radiação síncrotron no modo de alta resolução foi realizada na amostra em pH 7. O tamanho médio dos domínios com coerência cristalográfica e a microdeformação foram obtidos: 1000 Å e 0,1%, respectivamente. O diâmetro médio dos canais formados nas microestruturas é de 10 Å. Moléculas de microperoxidase foram introduzidas (em concentrações de 2X MP11 e 5X MP11) em matrizes de peptídeo preparadas em pH 7. Os valores dos parâmetros de rede encontrados para estas amostras são: (2X MP11) a = b = 24,2080(1) e c = 5,470(4), (5X MP11) a = b = 24,2099(9) e c = 5,4798(3). Os resultados indicam que a introdução dessas moléculas resulta em um aumento dos parâmetros a e b e uma diminuição do parâmetro c em relação à amostra pura. Resultados das análises de termogravimetria e calorimetria diferencial de varredura indicaram temperaturas críticas de perda de material da nanoestrutura e transição de fase estrutural. Variações abruptas no fluxo de calor obtidas por calorimetria diferencial de varredura ocorrem nas temperaturas de 136,46 °C e 181,31 °C. Seus respectivos valores de variação de entalpia foram estimados em 53,50 J/g e 48,77 J/g, sendo um processo endotérmico, pois absorve calor e apresenta valores positivos para a entropia. As variações ocorrem somente durante o primeiro processo de aquecimento, sugerindo a dependência com a perda de moléculas de água da estrutura. A transição de fase não foi evidenciada na amostra ressuspendida em água quando tratada previamente a 190 °C, revelando que a transição estrutural é irreversível. Imagens obtidas através de microscopia eletrônica de varredura em amostras sintetizadas em diferentes temperaturas revelam estruturas do tipo microfios/microtubos (da ordem de 4,82 µm) (em T < 137 °C) e microfitas (em T > 137 °C). Na temperatura de 137 °C foi observado o desprendimento de cerdas de dimensão nanométrica, similares a nanotubos ou nanofios. Esses resultados sugerem que amostras do tipo microfios/microtubos tratadas abaixo da temperatura de transição estrutural são formadas por nanotubos ordenados. Resultados obtidos através de refinamento Rietveld em função da temperatura revelaram uma transição de fase estrutural em T ~ 140 °C. O grupo de simetria definido para a amostra tratada abaixo da transição estrutural é o hexagonal P61. Acima desta temperatura, o sistema se cristaliza em uma estrutura com grupo espacial de simetria ortorrômbica Pba2. A CAPÍTULO 4: CONCLUSÃO P á g i n a | 63 estrutura cristalina do material foi resolvida. A caracterização geral dos modos vibracionais foi obtida por espectroscopia no infravermelho. Os principais modos vibracionais, como a banda da amida secundária entre 1626 – 1714 cm-1, do grupo amina em 1480 cm-1 e 3460 cm-1 e das conformações β-sheet e βturn foram identificados. A presença das conformações β-sheet e β-turn podem ser interpretadas como uma assinatura de estruturas contínuas e tubulares, respectivamente. Dessa forma, os resultados sugerem fortemente que estes microfios/microfitas são formados por estruturas tubulares (amostras tratadas termicamente em baixas temperaturas) ou por estruturas contínuas (amostras tratadas termicamente em altas temperaturas). As nanoestruturas tubulares estariam associadas à fase hexagonal e a contínua (do tipo bulk) à fase cristalográfica ortorrômbica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS P á g i n a | 64 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 Baibich, M. N.; Broto, J. M.; Fert, A.; Van Dau, F. N.; Petroff, F.; Etienne, P.; Creuzet, G.; Friederich, A.; Chazelas, J., Giant Magnetoresistance of (001)Fe/(001)Cr Magnetic Superlattices. Physical Review Letters 1988, 61 (21), 2472. 2 Binasch, G.; Grünberg, P.; Saurenbach, F.; Zinn, W., Enhanced magnetoresistance in layered magnetic structures with antiferromagnetic interlayer exchange. 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