Profile of hospital admissions due to acute poisoning in the
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Profile of hospital admissions due to acute poisoning in the
INTOXICAÇÕES EXÓGENAS EM HOSPITAIS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO Profile of hospital admissions due to acute poisoning in the metropolitan region of Rio de Janeiro, Brazil Guilherme L. Werneck1, Maria Helena Hasselmann2 RESUMO Este artigo descreve o perfil dos casos de intoxicações exógenas admitidos em oito hospitais de emergência localizados na região metropolitana do Rio de Janeiro, durante o período de um ano. Com base nos boletins de atendimento de emergência, foram registrados todos os casos suspeitos ou confirmados de intoxicação que se enquadrassem nas seguintes categorias: (1) drogas, medicamentos e substâncias biológicas (exceto alucinógenos); (2) solventes orgânicos e hidrocarbonetos halogenados e vapores; (3) produtos químicos; (4) monóxido de carbono e outros gases, fumaças e vapores; (5) pesticidas. Cerca de metade dos casos envolveu medicamentos, 25% algum tipo de pesticida e 20% os produtos domissanitários. Dentre as intoxicações por pesticidas, cerca de 3/4 envolveram o chumbinho, um produto ilegalmente vendido como raticida, que freqüentemente contém o agrotóxico carbamato. Os medicamentos provocaram metade das intoxicações no sexo feminino e 1/3 nos homens. O chumbinho concorreu com quase 20% das intoxicações em ambos os sexos. Os medicamentos responderam pela maior parte das intoxicações em quase todas as faixas etárias, exceto entre as crianças onde os agentes domissanitários tiveram participação expressiva. Cerca de 2/3 das tentativas de suicídio envolveram medicamentos, enquanto 1/5 delas foi ocasionada pelo chumbinho. Tanto os domissanitários como os medicamentos foram responsáveis por cerca de 1/3 dos eventos acidentais. Aumentar a rede de Centros de Controle de Intoxicações, desenvolver intervenções na linha de produção de embalagens para medicamentos e produtos químicos, maior fiscalização sobre a comercialização ilegal do chumbinho, e ênfase em atividades de informação e educação em saúde, são algumas iniciativas que poderiam contribuir para mudar este cenário. PALAVRAS-CHAVE Intoxicações exógenas, agrotóxico, medicamento, tentativa de suicídio, causas externas, epidemiologia ABSTRACT In this manuscritpt we describe the profile of poisoning cases attended during one year at eight emergency hospitals located in the metropolitan area of Rio de Janeiro, 1 Doutor em Saúde Pública. Professor Adjunto do Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor Adjunto do Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. e-mail: [email protected]. 2 Doutora em Saúde Coletiva. Professora Adjunta do Departamento de Nutrição Social, Instituto de Nutrição. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. CADERNOS SAÚDE COLETIVA, RIO DE J A N E I R O , 13 (3): 767 - 778, 2005 – 767 GUILHERME L. WERNECK, MARIA HELENA HASSELMANN Brazil. All confirmed or suspected poisoning cases due to (1) drugs and biological substances (except hallucinogenics); (2) organic solvents, hydrocarbons and vapours; (3) chemical products; (4) carbon monoxide and other gases; (5) pesticides, were collected. Half of the cases involved drugs, 25% pesticides and 20% chemical products of domestic use. Among pesticide cases, around 3/4 involved the “chumbinho”, an illegal product sold as a rodenticide, and usually includes in its formulation a carbamate. Drugs provoked half of the cases among women and 1/3 among men. The “chumbinho” causes almost 20% of cases in both genders. Drugs were the main cause of poisoning in all ages, except among children where the chemical products of domestic use had expressive participation. Around 2/3 of suicide attempts involved drugs, and 1/5 the “chumbinho”. Both drugs and chemical products of domestic use were responsible for 1/3 of accidents. Increasing the network of the Poison Control Centers, developing intervention for the production of safer packing devices for drugs chemical products, supressing the illegal commerce of “chumbinho”, and emphasizing health education activities might contribute to change this situation. KEY WORDS Poisoning, pesticides, drugs, sucide attempts, accidents, epidemiology 1. INTRODUÇÃO As intoxicações exógenas representam um importante problema de saúde pública no mundo. A Organização Mundial da Saúde reconhece que não existem estimativas válidas da incidência de intoxicações em nível mundial, mas especula que cerca de 500 mil pessoas devam morrer devido a intoxicações a cada ano (WHO, 1997). Em 1997, inquérito de base populacional nos Estados Unidos estimou em cerca de 2 milhões o número de episódios de intoxicações que necessitaram de atenção médica nos 3 meses anteriores à entrevista, sendo 25% em menores de 6 anos de idade (Warner et al., 2000). A grande parte da informação disponível sobre a magnitude das intoxicações exógenas vem das estatísticas de Centros de Controle de Intoxicações (CCI). Estes centros, distribuídos por todo o mundo, têm como principais funções prover informações sobre intoxicações, auxiliar no manejo do paciente, desenvolver atividades de vigilância toxicológica, pesquisa e treinamento para prevenção e tratamento da intoxicação (WHO, 1997; Woolf, 2004). A Associação Americana de Centros de Controle de Intoxicação registrou, em 2004, mais de 2,4 milhões de intoxicações e 1.183 óbitos (Watson et al., 2005). A distribuição dos casos de intoxicação não variou segundo sexo, mas se concentrou abaixo dos 20 anos de idade (~65%). Mais de 84% dos casos foram considerados como não intencionais, e 91% envolveram apenas um agente tóxico. As principais substâncias envolvidas foram os analgésicos (11,5%), produtos de limpeza (9,4%), cosméticos e produtos de higiene pessoal (9,2%), drogas sedativas/hipnóticas/antipsicóticas (5,3%),corpos estranhos (5,0%), produtos tópicos (4,7%), preparações para resfriados e tosse 768 – CADERNOS SAÚDE COLETIVA, RIO DE J A N E I R O , 13 (3): 767 - 778, 2005 INTOXICAÇÕES EXÓGENAS EM HOSPITAIS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO (4,5%), antidepressivos (4,2%), pesticidas (4,2%), mordeduras por animais peçonhentos (4,0%), e plantas (3,1%) (Watson et al., 2005). Em 2002, no Brasil, a rede do Sistema Nacional de Informações TóxicoFarmacológicas contava com 33 CCIs, aqui denominados de Centros de Informação e Assistência Toxicológica. Neste ano, em 25 destes centros, foram registrados 75.212 casos de intoxicação humana e 375 óbitos (SINITOX, 2005). Assim como no caso norte-americano, a distribuição dos casos de intoxicação não variou segundo sexo, mas apenas metade dos casos ocorreu abaixo dos 20 anos de idade, e cerca de 70% foram considerados como não intencionais. Os principais agentes tóxicos envolvidos foram os medicamentos (26,9%), mordeduras e picadas por animais peçonhentos (23,9%), agrotóxicos (10,4%), domissanitários (8,7%), produtos químicos industriais (6,2%), mordeduras e picadas por animais não peçonhentos (5,8%), raticidas (5,7%) e plantas (2,3%) (SINITOX, 2005). Em 2003, estudo sobre as intoxicações em menores de 5 anos de idade registrados no Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul, mostrou que as intoxicações eram menos freqüentes em menores de 1 ano, e predominavam discretamente no sexo masculino (53%). Em relação às circunstâncias de ocorrência, identificou-se a via oral como principal meio de exposição (88%), a localização preferencial do agente tóxico no chão da sala de estar ou do quarto (67%), os medicamentos, especialmente os analgésicos, como principais agentes tóxicos (42%), seguidos dos domissanitários (16%) (Ramos et al., 2005). É importante salientar, entretanto, que os dados oriundos dos CCIs devem ser subestimados dado que a notificação de casos de intoxicação não é obrigatória, mas decorre fundamentalmente da necessidade da equipe médica de obter informações sobre diagnóstico e tratamento. Na medida em que as equipes dos serviços de emergência se tornam proficientes nestas atividades elas podem não sentir a necessidade de recorrer aos CCIs, implicando em possível subnotificação expressiva. Os dados norte-americanos sugerem que apenas cerca de metade dos casos de intoxicação que necessitam de assistência médica chegam a ser notificados aos CCIs (Warner et al., 2000). Mais grave é a subnotificação seletiva, já que os casos de intoxicação em crianças tendem a ser proporcionalmente mais notificados, algo que possivelmente também deva ocorrer em função da gravidade da lesão, contribuindo para distorcer o perfil de substâncias envolvidas. Os serviços de atendimento de emergência são uma possível fonte alternativa de dados sobre intoxicações, mas apresentam também uma série de problemas e limitações, seja devido à ausência de uma base de dados sobre este tipo de atendimento, seja porque as informações contidas nos boletins de atendimento são, em geral, insuficientes para caracterização completa do evento. Entretanto, um perfil das intoxicações exógenas obtido a partir desta fonte de dados seria CADERNOS SAÚDE COLETIVA, RIO DE J A N E I R O , 13 (3): 767 - 778, 2005 – 769 GUILHERME L. WERNECK, MARIA HELENA HASSELMANN desejável, porque poderia, potencialmente, descrever um panorama mais completo da magnitude das intoxicações que necessitam de atenção à saúde. Como estes eventos tendem a ser potencialmente graves, acredita-se que a maioria deles recorra a um serviço de emergência e que, particularmente para este tipo de evento de saúde, os boletins de registro de atendimento tendam a ser mais adequadamente preenchidos. Com o intuito de suprir esta lacuna, este artigo descreve o perfil dos casos de intoxicações exógenas admitidos em oito hospitais de emergência localizados na região metropolitana do Rio de Janeiro, durante o período de um ano. 2. METODOLOGIA 2.1. LOCAIS DO ESTUDO O levantamento dos dados foi realizado de forma retrospectiva com base nos boletins de atendimento de emergência de oito hospitais localizados na região metropolitana do Rio de Janeiro (Hospital Estadual Getúlio Vargas, Hospital Estadual Rocha Faria, Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, Hospital Estadual Pedro II, Hospital Municipal Miguel Couto, Hospital Municipal Salgado Filho, Hospital Municipal Lourenço Jorge, Hospital Municipal Souza Aguiar). 2.2. COLETA, PROCESSAMENTO E ANÁLISE DE DADOS E LABORAÇÃO DA FICHA DE COLETA DE DADOS : uma ficha com perguntas fechadas e pré-codificadas foi elaborada para a coleta de dados e pré-testada em alguns hospitais. Percebeu-se que o uso desta ficha era pouco eficiente, pois diversos campos de preenchimento permaneciam em branco, já que a maioria dos boletins de emergência tem pouca informação registrada, e, por outro lado, algumas informações relevantes acabavam tendo que ser coletadas na forma não estruturada, ou seja, copiadas literalmente em campo de entrada aberta. Assim, optou-se por usar o mesmo formulário utilizado para registrar o caso atendido na emergência do hospital (boletim de emergência), de forma que toda a informação registrada fosse copiada ipsi litere para esta ficha, a ser então revista, codificada e digitada pela coordenação da pesquisa. Esta ficha, para fins de evitar qualquer problema ético e/ou institucional continha um carimbo de “SEM EFEITO”. Também para evitar problemas éticos o nome do paciente não foi copiado. RECRUTAMENTO E TREINAMENTO DA EQUIPE DE COLETA DE DADOS: A equipe (coordenadora de atividade de campo e auxiliares de pesquisa) foi recrutada em Abril de 2002 e submetida a sessões de treinamento iniciadas neste mesmo mês, seguidas de reuniões bimestrais de atualização. 770 – CADERNOS SAÚDE COLETIVA, RIO DE J A N E I R O , 13 (3): 767 - 778, 2005 INTOXICAÇÕES EXÓGENAS EM HOSPITAIS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO SUPERVISÃO DAS ATIVIDADES DE CAMPO: A coordenação de atividades de campo realizou supervisão continuada nos hospitais de forma a garantir o bom andamento do trabalho. Esta atividade incluiu revisão de uma amostra dos dias de atendimento coletados pelos auxiliares de pesquisa de forma a identificar problemas e erros. Em todos os hospitais incluídos no estudo, tal trabalho foi realizado mensalmente em pelo menos 10% dos dias de atendimentos. O coordenador esteve em contato com os auxiliares de pesquisa semanalmente, e eventualmente agendou encontros diretamente nos hospitais para avaliar o desempenho e qualidade do trabalho realizado. REUNIÕES COM OS AUXILIARES DE PESQUISA: O treinamento e a supervisão foram reforçados e atualizados bimestralmente em reuniões entre o coordenador geral da pesquisa, a coordenadora de atividades de campo e os auxiliares de pesquisa. Nestes encontros, foram utilizados exemplos de boletins de ocorrência com diferentes histórias clínicas, algumas dúbias, outras típicas, para avaliar a capacidade dos auxiliares de pesquisa de discriminar estas diferentes situações. Em algumas situações houve a necessidade de reuniões individualizadas com alguns auxiliares de pesquisa para esclarecer dúvidas e reforçar condutas padronizadas. Pelo menos dois auxiliares de pesquisa foram desligados por insuficiência de desempenho, o que nos levou a revisar alguns meses de atendimentos por eles realizados. COLETA DE DADOS: O período de cobertura do trabalho é de Abril de 2001 a Março de 2002. Foram coletados todos os casos suspeitos ou confirmados de intoxicação que se enquadrassem nas seguintes categorias: - drogas, medicamentos e substâncias biológicas (exceto alucinógenos); - solventes orgânicos e hidrocarbonetos halogenados e vapores; - produtos químicos (corrosivos, fertilizantes, sabões e detergentes, colas e adesivos, metais, plantas venenosas e tintas e corantes) - monóxido de carbono e outros gases, fumaças e vapores; - pesticidas. Além das intoxicações por alucinógenos, foram também excluídas as intoxicações por álcool, as de origem alimentar e as lesões provocadas por animais peçonhentos ou não. AMOSTRAGEM: Foram selecionados, através de amostragem aleatória simples, dezessete dias de atendimento em cada mês de estudo. Todos os registros de atendimento no serviço de emergência destes dias foram examinados em busca de casos de intoxicação exógena. ARMAZENAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS: Os dados foram preliminarmente armazenados em planilha eletrônica. Para fins de análise, os agentes da intoxicação foram subdivididos em 5 grupos: - chumbinho (produto ilegalmente vendido como raticida, que freqüentemente contém em sua composição o agrotóxico carbamato); CADERNOS SAÚDE COLETIVA, RIO DE J A N E I R O , 13 (3): 767 - 778, 2005 – 771 GUILHERME L. WERNECK, MARIA HELENA HASSELMANN - medicamentos (drogas, medicamentos e substâncias biológicas, exceto alucinógenos); - domissanitários (produtos químicos de uso doméstico); - outros pesticidas; - outros agentes. Posteriormente, os dados foram armazenados em banco de dados elaborado especificamente para este fim em EPIINFO e analisados utilizando-se o aplicativo para análise estatística Stata. 2.3. DEFINIÇÕES ESPECIAIS UTILIZADAS PARA CLASSIFICAÇÃO DOS DADOS INTENCIONALIDADE DO ATO LESÃO AUTOPROVOCADA INTENCIONALMENTE: - todo caso suspeito ou confirmado de intoxicação exógena em que o boletim de atendimento de emergência apresentava, de forma explícita, o caráter intencional do ato (“tentativa de suicídio”) ou - todo caso suspeito ou confirmado de intoxicação exógena por medicamento em indivíduos com idade igual ou superior a 10 anos, cuja dose utilizada foi considerada grande o suficiente (≥ 10 comprimidos, ≥ 1 caixa ou cartela, ≥ 1 vidro de medicamentos em apresentação líquida, combinação de 3 ou mais medicamentos, caracterização como “grande quantidade”, “vários” ou “quantidade excessiva”) para sugerir um ato voluntário. LESÃO ACIDENTAL: - todo caso suspeito ou confirmado de intoxicação exógena em que o boletim de atendimento de emergência apresentava, de forma explícita, o caráter não intencional do ato (“acidente”) ou - todo caso suspeito ou confirmado de intoxicação exógena em indivíduos com idade inferior a 10 anos em que o boletim de atendimento de emergência não apresentava, de forma explícita, o caráter intencional do ato (“tentativa de suicídio”). INCONCLUSIVO: Todas as outras situações CONFIRMAÇÃO DA INTOXICAÇÃO POR CHUMBINHO CASO CONFIRMADO: caso alegado de intoxicação por chumbinho com - saída de grânulos compatíveis na lavagem gástrica ou, - presença de miose associada a sialorréia e/ou miofasciculações e tratamento com atropina. 772 – CADERNOS SAÚDE COLETIVA, RIO DE J A N E I R O , 13 (3): 767 - 778, 2005 INTOXICAÇÕES EXÓGENAS EM HOSPITAIS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO CASO MUITO PROVÁVEL: caso alegado de intoxicação por chumbinho com: - presença de pelo menos um dos seguintes sintomas: miose, sialorréia ou miofasciculações e tratamento com atropina. CASO PROVÁVEL: caso alegado de intoxicação por chumbinho com - tratamento com atropina ou - presença de pelo menos um dos seguintes sintomas: miose, sialorréia ou miofasciculações. CASO POSSÍVEL: caso alegado de intoxicação por carbamato ou por “veneno de rato” com: - tratamento com atropina ou - presença de pelo menos um dos seguintes sintomas: miose, sialorréia ou miofasciculações. CASO DE CONTATO COM CHUMBINHO SEM INTOXICAÇÃO: caso alegado de intoxicação por chumbinho sem miose, sialorréia ou miofasciculações e sem tratamento com atropina. 3. RESULTADOS Nestes 8 hospitais foram identificados 1287 casos suspeitos ou confirmados de intoxicação. A Figura 1 mostra a distribuição proporcional dos casos de intoxicação segundo o tipo de agente envolvido. Observa-se que quase metade dos casos de intoxicação envolveu medicamentos, 1/4 envolveu algum tipo de pesticida e em 1/5 os domissanitários foram os agentes responsáveis pela intoxicação. Dentre as intoxicações por pesticidas, detecta-se que cerca de 76% dos casos envolvem o chumbinho, considerando-se o critério mais amplo para definir este tipo de intoxicação (todas as categorias de confirmação). Se o critério para diagnóstico de intoxicação pelo chumbinho se restringe apenas aos casos confirmados, muito prováveis e prováveis, então esta proporção cai para cerca de 45%. Figura 1 Distribuição proporcional dos casos de intoxicação segundo categorais dos agentes envolvidos, Rio de Janeiro. Dados dos serviços de emergências de 8 hospitais localizados no Estado do Rio de Janeiro, abril de 2001 a março de 2002. CADERNOS SAÚDE COLETIVA, RIO DE J A N E I R O , 13 (3): 767 - 778, 2005 – 773 GUILHERME L. WERNECK, MARIA HELENA HASSELMANN A Tabela 1 mostra a distribuição dos casos de intoxicação segundo o tipo de agente envolvido e sexo. Os medicamentos foram responsáveis por metade das intoxicações no sexo feminino e por 1/3 entre os homens. Já entre homens, cerca de 1/4 das intoxicações decorrem dos domissanitários, enquanto estes agentes são responsáveis por menos de 1/6 das ocorrências no sexo feminino. O chumbinho concorre com quase 1/5 das intoxicações em ambos os sexos. Tabela 1 Distribuição dos casos de intoxicação segundo o tipo de agente envolvido e sexo A Tabela 2 mostra a distribuição dos casos de intoxicação segundo o tipo de agente envolvido e faixa etária. Apesar dos medicamentos terem participação significativa em todas as faixas etárias, entre as crianças há uma grande carga das intoxicações por agentes domissanitários. As intoxicações por chumbinho representam cerca de 1/5 das intoxicações em todas as faixas etárias acima dos 10 anos de idade. Tabela 2 Distribuição dos casos de intoxicação segundo o tipo de agente envolvido e faixa etária. A Tabela 3 mostra a distribuição dos casos de intoxicação segundo o tipo de agente envolvido e a intenção associada ao evento. Cerca de 30% dos casos não puderam ter sua classificação de intencionalidade definida pelo critério utilizado neste estudo. No caso das intoxicações por chumbinho, o percentual sobe para 52%. Cerca de 2/3 dos eventos intencionais são decorrentes de intoxicação medicamentosa, enquanto 1/5 deles é ocasionada pelo chumbinho. Tanto os 774 – CADERNOS SAÚDE COLETIVA, RIO DE J A N E I R O , 13 (3): 767 - 778, 2005 INTOXICAÇÕES EXÓGENAS EM HOSPITAIS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO domissanitários como os medicamentos são responsáveis por cerca de 1/3 dos eventos de caráter acidental. Tabela 3 Distribuição dos casos de intoxicação segundo o tipo de agente envolvido e intenção associada ao evento. 4. DISCUSSÃO Os resultados do presente estudo destacam a importância das intoxicações exógenas como causa de morbidade em nosso meio. Considerando que os dados foram obtidos de uma amostra de aproximadamente 56% dos dias de atendimento nos 8 hospitais estudados durante o ano de 2001, estima-se que o número total de intoxicações nestes hospitais deva alcançar valores próximos a 2300 eventos por ano. Apenas para fins de reflexão, consideremos que os atendimentos realizados nestes hospitais durante o ano de 2001 representaram cerca de 20% do total de atendimentos de emergência do Estado do Rio de Janeiro1. Supondo, por cautela, que estes hospitais, apesar de responsáveis por este percentual dos atendimentos, sejam responsáveis pelo atendimento de 50% das intoxicações (por serem estas do situações clínicas de maior gravidade), chega-se a uma cifra de 4600 casos de intoxicações exógenas no Estado do Rio de Janeiro neste ano. Desta forma, a partir deste exercício simplificado, porém conservador, pode-se inferir que devam ser atendidos mais de 12 casos de intoxicação por dia nos serviços de emergência Estado do Rio de Janeiro, o que representa uma carga alta tanto em termos de morbidade como no que diz respeito aos custos de atenção hospitalar. Algumas outras informações relevantes são apresentadas neste estudo, particularmente no que concerne aos agentes envolvidos nas intoxicações. Destacase, em primeiro lugar, a importância dos medicamentos, responsáveis por quase 1 Considerando-se os procedimentos SIA/SUS de no 0201102 (Consulta/Atendimento de Urgência em Clínica Básica com Remoção); no 0201103 (Consulta/Atendimento de Urgência em Clínica Básica); no 0701104 (Atendimento Médico Especializado Urgência e Emergência Remoção). CADERNOS SAÚDE COLETIVA, RIO DE J A N E I R O , 13 (3): 767 - 778, 2005 – 775 GUILHERME L. WERNECK, MARIA HELENA HASSELMANN metade das ocorrências, resultado comparável aos encontrados em vários outros estudos (Watson et al., 2005; Ramos et al., 2005; Lall et al., 2003; Fathelrahman et al., 2005; Akkose et al., 2005; Afshari et al., 2004). Este achado sugere que o maior controle sobre a prescrição e aquisição de medicamentos, assim como a adesão incondicional das indústrias farmacêuticas à veiculação de medicamentos em embalagens seguras, poderia contribuir para o controle das intoxicações, com repercussões potenciais na sua letalidade. Importante também é a identificação de que quase 1/5 das intoxicações ocorreram devido à ingestão do “chumbinho”. O “chumbinho” é um produto comercializado de forma ilegal e propalado como um raticida eficiente. Na realidade, o “chumbinho” é um nome genérico atribuído a um conjunto de produtos granulados com aparência acinzentada contendo produtos tóxicos, em geral, mas nem sempre, o agrotóxico carbamato (Corrêa et al., 2004). A diminuição da oferta do “chumbinho” através de uma maior fiscalização sobre sua comercialização e a apreensão do produto, associada à difusão de informações sobre o seu potencial letal e baixo poder rodenticida, poderia reduzir a magnitude e a gravidade destes eventos. Deve-se ressaltar também a importância dos produtos de limpeza de uso doméstico (domissanitários) como agentes destas intoxicações em crianças. Quase 40% das intoxicações em menores de 10 anos de idade ocorreram devido a estes agentes. A relevância destes produtos como agentes de intoxicação infantil também foi apontada em outros estudos (Fathelrahman et al., 2005; Watson et al., 2005; Ramos et al., 2005). A participação de outros pesticidas que não o chumbinho (agrotóxicos de uso doméstico, na lavoura ou de uso veterinário) foi relativamente modesta, mas relevante considerando seu potencial letal. Como em outras regiões do Brasil e do mundo o chumbinho não aprece como problema de saúde pública tão grave como no Rio de Janeiro, optou-se por separá-lo em nossa análise, mas esta decisão também dificulta a comparação com os resultados de outros estudos. Porém, considerando que os grupo dos “outros pesticidas” representaria aproximadamente o conjunto de agrotóxicos disponíveis em outras localidades, pode-se perceber que a prevalência de 6% obtida neste estudo não destoa significativamente dos resultados de outros estudos (Ramos et al., 2005; Fathelrahman et al. , 2005; Watson et al., 2005; Reith et al., 2001). Parte do perfil dos agentes de intoxicação e da intencionalidade do ato segundo sexo e idade pode ser explicada pelo fato de que 40% dos homens tinham menos de 10 anos de idade, comparado com apenas 24% das mulheres (dados não apresentados). Assim, é possível compreender porque há um predomínio de domissanitários entre homens, já que estes agentes são mais típicos nas faixas 776 – CADERNOS SAÚDE COLETIVA, RIO DE J A N E I R O , 13 (3): 767 - 778, 2005 INTOXICAÇÕES EXÓGENAS EM HOSPITAIS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO etárias mais jovens. Por outro lado, o predomínio de mulheres entre 10 e 29 anos em relação a homens (44% vs 27%), período de risco para tentativas de suicídio, favorece que os medicamentos predominem neste gênero, já que são eles os principais agentes utilizados nas tentativas de suicídio (Bortoletto & Bochner, 1999). Por fim, os resultados deste estudo salientam a importância de se incluir as intoxicações exógenas no rol dos agravos alvo de estratégias de vigilância epidemiológica. Neste sentido, tornar a notificação compulsória e aumentar a rede de CCIs poderia contribuir para um melhor conhecimento da situação destes agravos no Brasil. Adicionalmente, estratégias orientadas para intervenções na linha de produção de embalagens para medicamentos e produtos químicos, maior fiscalização sobre a comercialização e a apreensão do chumbinho, e maior ênfase em atividades de informação e educação em saúde, poderiam contribuir para mudar este cenário, que apesar de ainda pouco conhecido, já nos revela sua gravidade. * Agradecimentos: Esta pesquisa foi parcialmente financiada com recursos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e Bayer CropScience” REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFSHARI, R.; MAJDZADEH, R.; BALALI-MOD, M. Pattern of acute poisoning in Mashhad, Iran, 1993-2000. 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SERÃO ACEITOS TRABALHOS PARA AS SEGUINTES SEÇÕES: Artigos (resultantes de pesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual, ou ensaios teóricos e/ou de revisão bibliográfica crítica sobre um tema específico; máximo de 25 páginas); Debate (a partir de apresentações orais em eventos científicos, transcritos e sintetizados; máximo de 20 páginas); Notas (relatando resultados preliminares ou parciais de pesquisas em andamento; máximo de 5 páginas); Opiniões (opiniões sobre temas ligados à área da Saúde Coletiva, de responsabilidade dos autores, não necessariamente refletindo a opinião dos editores; máximo 5 páginas); Cartas (curtas, com críticas a artigos publicados em números anteriores; máximo de 2 páginas); Resenhas (resenhas críticas de livros ligados à Saúde Coletiva; máximo de 5 páginas); Teses (resumo de trabalho final de Mestrado, Doutorado ou Livre-Docência, defendidos nos últimos dois anos; com nome do orientador, instituição, ano de conclusão, palavras-chave, título em inglês, abstract e key words; máximo 2 páginas). APRESENTAÇÃO DOS MANUSCRITOS: Serão aceitos trabalhos em português, espanhol, inglês ou francês. Os originais devem ser submetidos em três vias em papel, juntamente com o respectivo disquete (formato .doc ou .rtf), com as páginas numeradas. Em uma folha de rosto deve constar: Título em português e em inglês, nome(s) do(s) autor(es) e respectiva qualificação (vinculação institucional e título mais recente), endereço completo do primeiro autor (com CEP, telefone e e-mail) e data do encaminhamento. O artigo deve conter título do trabalho em português, título em inglês, resumo e abstract, com palavras-chave e key words. As informações constantes na folha de rosto não devem aparecer no artigo. Sugere-se que o artigo seja dividido em sub-itens. Os artigos serão submetidos a no mínimo dois pareceristas, membros do Conselho Científico dos Cadernos ou eventualmente ad hoc. O Conselho Editorial dos Cadernos Saúde Coletiva enviará carta resposta informando da aceitação ou não do trabalho. A aprovação dos textos implica a cessão imediata e sem ônus dos direitos autorais de publicação nesta revista, a qual terá exclusividade de publicá-los em primeira mão. O autor continuará a deter os direitos autorais para publicações posteriores. Caso a pesquisa que der origem ao artigo encaminhado aos Cadernos tenha sido realizada em seres humanos, será exigido que esta tenha obtido parecer favorável de um Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, devendo o artigo conter a referência a este consentimento, estando citado qual CEP o concedeu, e cabendo a responsabilidade pela veracidade desta informação exclusivamente ao autor do artigo. • Formatação: Os trabalhos devem estar formatados em folha A4, espaço duplo, fonte Arial 12, com margens: esq. 3,0 cm, dir. 2,0 cm, sup. e inf. 2,5 cm. Apenas a primeira página interna deverá conter o título do trabalho; o título deve vir em negrito e os subtítulos em versalete (PEQUENAS CAPITAIS) e numerados; palavras estrangeiras e o que se quiser destacar devem vir em itálico; notas explicativas, caso existam, deverão vir no pé de página; as citações literais com menos de 3 linhas deverão vir entre aspas dentro do corpo do texto; as citações literais mais longas deverão vir em outro parágrafo, com recuo de margem de 3 cm à esquerda e espaço simples. Todas as citações deverão vir seguidas das respectivas referências. • Ilustrações: o número de quadros e/ou figuras (gráficos, mapas etc.) deverá ser mínimo (máximo de 5 por artigo, salvo exceções, que deverão ser justificadas por escrito em anexo à folha de rosto). As figuras poderão ser apresentadas em nanquim ou produzidas em impressão de alta qualidade, e devem ser enviadas em folhas separadas e em formato .tif. As legendas deverão vir em separado, obedecendo à numeração das ilustrações. Os gráficos devem ser acompanhados dos parâmetros quantitativos utilizados em sua elaboração, na forma de tabela. As equações deverão vir centralizadas e numeradas seqüencialmente, com os números entre parênteses, alinhados à direita. • Resumo: todos os artigos submetidos em português ou espanhol deverão ter resumo na língua principal (Resumo ou Resumen, de 100 a 200 palavras) e sua tradução em inglês (Abstract); os artigos em francês deverão ter resumo na língua principal (Résumé) e em português e inglês. Deverão também trazer um mínimo de 3 e um máximo de 5 palavras-chave, traduzidas em cada língua (key words, palabras clave, mots clés), dando-se preferência aos Descritores para as Ciências da Saúde, DeCS (a serem obtidos na página http://decs.bvs.br/). • Referências: deverão seguir a Norma NBR 6023 AGO 2000 da ABNT. No corpo do texto, citar apenas o sobrenome do autor e o ano de publicação, seguido da página no caso de citações (Sobrenome, ano: página). No caso de mais de dois autores, somente o sobrenome do primeiro deverá aparecer, seguido da expressão latina ‘et al.’. Todas as referências citadas no texto deverão constar nas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ao final do artigo, em ordem alfabética, alinhadas somente à esquerda, pulando-se uma linha de uma referência para outra, constando-se o nome de todos os autores. No caso de mais de uma obra do mesmo autor, este deve ser substituído nas referências seguintes à primeira por um traço e ponto. Não devem ser abreviados títulos de periódicos, livros, locais, editoras e instituições. Seguem exemplos de, respectivamente, artigo de revista científica impressa e veiculado via internet, livro, tese, capítulo de livro e trabalho publicado em anais de congresso (em casos omissos ou dúvidas, referir-se ao documento original da Norma adotada): ESCOSTEGUY, C. C.; MEDRONHO, R. A.; PORTELA, M. C. Avaliação da letalidade hospitalar do infarto agudo de miocárdio do Estado do Rio de Janeiro através do uso do Sistema de Informações Hospitalares/SUS. Cadernos Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v.7, n.1, p. 39-59, jan./jul. 1999. PINHEIRO, R.; TRAVASSOS, C. Estudo da desigualdade na utilização de serviços de saúde por idosos em três regiões da cidade do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.15, n.3, set. 1999. Disponível em: <http://www.scielosp.org/cgi-bin/wxis.exe/iah/>. Acesso em: 2 jan. 2005. ROSEN, G. Uma história da Saúde Pública. Rio de Janeiro: Abrasco. 1994. 400p. TURA, L. F. R. Os jovens e a prevenção da AIDS no Rio de Janeiro. 1997. 183p. Tese (Doutorado em Medicina) - Faculdade de Medicina. UFRJ, Rio de Janeiro. BASTOS, F. I. P.; CASTIEL, L. D. Epidemiologia e saúde mental no campo científico contemporâneo: labirintos que se entrecruzam? In: AMARANTE, P. (Org.) Psiquiatria social e reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1994. p. 97-112. GARRAFA, V.; OSELKA, G.; DINIZ, D. Saúde Pública, bioética e equidade. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SAÚDE COLETIVA, 5., 1997, Águas de Lindóia. Anais. Rio de Janeiro: Abrasco, 1997. p. 59-67. cadernos Saúde Coletiva NESC • UFRJ ASSINATURA Anual individual: R$ 40,00 Anual institucional: R$ 90,00 Número avulso: R$ 20,00 Preencha este formulário de forma legível e envie-o anexando cheque nominal ou comprovante de depósito em favor da Fundação Universitária José Bonifácio (Banco do Brasil, ag.0287-9, c/c 7333-4, especificando na guia de depósito: depósito identificado - Apostila 9201-0), no valor correspondente, para a SECRETARIA DOS CADERNOS SAÚDE COLETIVA. Este formulário também pode ser preenchido via internet na página: http://www.nesc.ufrj.br, ou enviado por e-mail para [email protected] Individual Institucional Número avulso: v.___, n.____ Nome: _________________________________________________ Instituição: ______________________________________________ Profissão: _______________________________________________ Endereço: ______________________________________________ Bairro: __________________ CEP: _________________________ Cidade: _________________ UF: __________________________ Tel.: (0xx__) ______________ Fax: __________________________ E-mail: _________________________________________________ Local e data: ____________________________________________ Assinatura: ______________________________________________
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