da Dissertação
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, UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental Mestrado em Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental DISSERTAÇÃO Biometanização Seca de Resíduos Sólidos Urbanos Estado da Arte e Análise Crítica das Principais Tecnologias Autor: Felipe Correia de Souza Pereira Gomes Ouro Preto, MG 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO Programa de Pós-Graduação e Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental Mestrado em Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental Felipe Correia de Souza Pereira Gomes “Biometanização Seca de Resíduos Sólidos Urbanos - Estado da Arte e Análise Crítica das Principais Tecnologias” Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental, Universidade Federal de Ouro Preto, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título: “Mestre em Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental – Área de Concentração: Ambientometria Orientador: Prof. Dr. Sérgio Francisco de Aquino Ouro Preto, MG 2010 ii Gomes, Felipe Correia de Souza Pereira. BIOMETANIZAÇÃO SECA DE RSU – Estado da Arte e Análise Crítica das Principais Tecnologias 2010. Orientador: Prof. Dr. Sérgio Francisco de Aquino Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Ouro Preto. Núcleo de Pesquisas em Recursos Hídricos – Pró-Água. Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental 1. Biometanização. 2. Resíduos Sólidos Urbanos. 3. Valorga. 4. Laran. 5. Kompogas. 6. Dranco. Núcleo de Pesquisas em Recursos Hídricos – Pró-Água. Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental II. Título: BIOMETANIZAÇÃO SECA DE RSU – Estado da Arte e Análise Crítica das Principais Tecnologias CDU:XXX iii Ficha de aprovação iv Dedico esta conquista ao meu irmão Samuel, que, mesmo não estando mais por aqui, continua a me inspirar. v Agradecimentos vi SUMÁRIO SUMÁRIO ............................................................................................................................................................. vii LISTA DE TABELAS ............................................................................................................................................ ix LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................................................. x LISTA DE ABREVIAÇÕES, SIGLAS, E SÍMBOLOS ....................................................................................... xiii RESUMO ............................................................................................................................................................... xv ABSTRACT .......................................................................................................................................................... xvi 1. Introdução ........................................................................................................................................................ 1 2. Objetivos ........................................................................................................................................................ 10 3. Materiais e métodos ....................................................................................................................................... 11 3.1 Levantamento do Estado da Arte da Biometanização de RSU .............................................................. 11 3.2 Visitas Técnicas a Plantas Comerciais de Biometanização de RSU ...................................................... 11 3.3 Complementação das informações obtidas com a aplicação dos questionários ..................................... 13 3.4 Consolidação das informações .............................................................................................................. 13 3.5 Análise crítica das tecnologias............................................................................................................... 13 4. Contextualização ............................................................................................................................................ 15 4.1 Apresentação do Problema .................................................................................................................... 15 4.1.1 Sistemas de Disposição Final ........................................................................................................... 16 4.1.2 Sistemas de Tratamento ................................................................................................................... 17 4.2 O Processo de Digestão Anaeróbia ........................................................................................................ 21 4.3 O Biogás ................................................................................................................................................ 23 4.4 Breve histórico da biometanização e utilização do biogás .................................................................... 25 4.5 A Biometanização de RSU no Brasil ..................................................................................................... 29 4.6 Potencial Energético Brasileiro a partir da implantação de unidades de Biometanização de RSU. ...... 34 4.7 Configurações das Tecnologias para Biometanização de FORM .......................................................... 36 4.7.1 Sistemas Batelada vs. Sistema Contínuo ......................................................................................... 38 4.7.2 Biodigestores Via Seca vs. Via Úmida ............................................................................................ 39 4.7.3 Biodigestores de Mistura Completa vs. Fluxo Pistão ...................................................................... 41 4.7.4 Faixa Mesofílica vs. Faixa Termofílica ........................................................................................... 42 4.7.5 Sistemas de Único Estágio vs. Multiestágio .................................................................................... 43 4.8 Evolução da Biometanização de RSU ................................................................................................... 44 4.9 Tecnologias de Biometanização Seca de RSU ...................................................................................... 50 4.9.1 O Processo Dranco ........................................................................................................................... 50 4.9.2 O Processo Kompogas ..................................................................................................................... 53 4.9.3 O Processo Valorga.......................................................................................................................... 56 4.9.4 O Processo Laran (Ex - Linde-BRV) ............................................................................................... 60 5. Visitas Técnicas às Plantas de Biometanização ............................................................................................. 63 5.1 Ecoparque de La Rioja .......................................................................................................................... 64 5.2 Ecoparc 2 ............................................................................................................................................... 68 5.3 Centro de Tratamiento de Residuos de Valladolid ................................................................................ 73 5.4 Biocompost - Planta de Tratamento de RSU de Vitória-Gasteiz para el Território Historico de Álava 76 6. Análise Crítica das Tecnologias de Biometanização ..................................................................................... 80 6.1 Histórico das Tecnologias ..................................................................................................................... 83 6.2 Aspectos Operacionais .......................................................................................................................... 88 6.3 Dados de Projeto.................................................................................................................................... 91 6.4 Dados Reais ........................................................................................................................................... 96 6.5 Discussão dos Resultados .................................................................................................................... 103 7. Conclusões ................................................................................................................................................... 107 8. Recomendações para estudos posteriores .................................................................................................... 111 9. Referências Bibliográficas ........................................................................................................................... 113 10. Anexos ......................................................................................................................................................... 126 Anexo 10.1 - Questionário Padrão Utilizado para Coleta de Dados Durante as Visitas Técnicas às Plantas de Biometanização de RSU ................................................................................................................................... 126 vii Anexo 10.2 – Biometanização na Espanha ....................................................................................................... 129 Anexo 10.3 - Comunicação realizada com os contatos nas plantas de biometanização visitadas .................... 132 Anexo 10.4 – Consolidação dos dados obtidos nas visitas técnicas ................................................................. 152 Anexo 10.5 - Relatório Fotográfico .................................................................................................................. 157 viii LISTA DE TABELAS Tabela 4.1 - Situação da disposição final de RSU nos 853 municípios de Minas Gerais ........................... 20 Tabela 4.2 - Situação da disposição final de RSU por população urbana atendida .................................... 20 Tabela 4.3 – Composição esperada do biogás em função do substrato digerido ........................................ 24 Tabela 4.4 – Composição média do biogás gerado na digestão de diversos tipos de resíduos orgânicos .. 24 Tabela 4.5 – Empreendimentos produtores de energia elétrica a partir do biogás, registrados na ANEEL 32 Tabela 4.6 – Estimativas de parâmetros operacionais de plantas TMB...................................................... 38 Tabela 4.7 – Comparativo da evolução de diferentes aspectos das tecnologias de biometanização de resíduos....................................................................................................................................................... 49 Tabela 4.8 - Percentual máximo de disposição em aterros sanitários de matéria orgânica não estabilizada, de acordo com a Diretiva Europeia 1999/31 .............................................................................................. 50 Tabela 4.9 – Produção e consumo energético de plantas de biometanização com tecnologia Dranco ....... 51 Tabela 4.10 – Custos de construção e de operação, requerimento de área e geração e consumo de energia elétrica e calor de plantas em diferentes escalas com tecnologia Dranco ................................................... 51 Tabela 4.11 – Plantas-piloto e de demonstração construídas com tecnologia Dranco ............................... 52 Tabela 4.12 – Dados de consumo e geração de energia em plantas com tecnologia Kompogas54 Tabela 4.13 – Plantas-piloto e de demonstração construídas com tecnologia Kompogas .......................... 54 Tabela 4.14 - Resumo dos dados apresentados na proposta Kuttner para fornecimento de uma Planta TMB para o processamento de 199.700t/ano de RSU. ............................................................................... 56 Tabela 4.15 – Plantas-piloto e de laboratório construídas com tecnologia Valorga ................................... 57 Tabela 4.16 - Balanço Energético de plantas de biometanização com tecnologia Valorga ........................ 58 Tabela 4.17 – Produção de biogás e energia em plantas com tecnologia Laran ......................................... 61 Tabela 4.18 – Plantas-piloto e de demonstração construídas com tecnologia Laran .................................. 61 Tabela 5.1 – Dados de entrada e saída do Ecoparque de La Rioja ............................................................. 65 Tabela 5.2 – Resumo dos equipamentos e estruturas do Ecoparque de La Rioja ....................................... 66 Tabela 5.3 - Dados de entrada e saída do Ecoparc 2 .................................................................................. 70 Tabela 5.4 - Dados de entrada de resíduos e produção de energia elétrica do CTR Valladolid ................. 75 Tabela 5.5 – Dados de entrada de resíduos e produção de energia e biogás da Biocompost ...................... 78 Tabela 6.1 – Critérios utilizados na definição dos pesos de cada um dos grupos de indicadores ............... 83 Tabela 6.2 – Matriz de resultados do grupo Histórico das Tecnologias ..................................................... 86 Tabela 6.3 – Matriz de resultados do grupo Aspectos Operacionais .......................................................... 90 Tabela 6.4 – Matriz de resultados do grupo Dados de Projeto ................................................................... 94 Tabela 6.5 – Matriz de resultado dos indicadores do grupo Dados Reais ................................................ 100 Tabela 6.6 – Desempenho das tecnologias em cada um dos grupos de indicadores – Soma simples ...... 103 Tabela 6.7 - Desempenho das tecnologias em cada um dos grupos de indicadores – Soma ponderada... 105 ix LISTA DE FIGURAS Figura 4.1– Sequências metabólicas e grupos microbianos envolvidos no processo de digestão anaeróbia com redução de sulfato ............................................................................................................................ 22 Figura 4.2 – Usina de triagem e compostagem localizada na cidade de Uberaba/MG que possuía uma unidade de biometanização de RSU. Na Figura (a) detalhe do fosso de recebimento de resíduos. Na Figura (b) detalhe da área de triagem manual. Na Figura (c) detalhe do interior do digestor com elevado acúmulo de materiais impróprios. ........................................................................................................... 30 Figura 4.3 - Layout do Ecopolo Bioenergético do Aterro do Caju. ......................................................... 33 Figura 4.4 – Fluxo de materiais e balanço de massa de uma planta padrão de biometanização de RSU 37 Figura 4.5 – Balanço energético típico de plantas de biometanização de RSU ....................................... 38 Figura 4.6 – Modelo esquemático de um digestor de mistura completa .................................................. 41 Figura 4.7 - Modelo esquemático de um digestor de fluxo pistão ........................................................... 42 Figura 4.8 – Capacidade Instalada de Biometanização de RSU na Europa ............................................. 44 Figura 4.9 – Evolução das tecnologias de biometanização via seca de RSU (Tecnologias Kompogas, Linde BRV, Dranco e Valorga) ............................................................................................................... 45 Figura 4.10 - Evolução das tecnologias de biometanização via úmida de RSU (Tecnologias Linde KCA, BTA, AMB, Biostab, Citec, Wassa, Wabio e Ecoenergy) ...................................................................... 46 Figura 4.11 – Evolução da capacidade instalada das plantas de biometanização de resíduos orgânicos na Europa ..................................................................................................................................................... 47 Figura 4.12 – Evolução das plantas europeias de biometanização de resíduos que operam na faixa mesofílica (35° a 40°C) e na faixa termofílica (50° a 55°C) ................................................................... 48 Figura 4.13 – Modelos esquemáticos de um digestor com a tecnologia Dranco ..................................... 52 Figura 4.14 – Na figura (a) é apresentado um modelo esquemático de um digestor com tecnologia Kompogas e na figura (b) um detalhe do sistema de agitação de um dos digestores construídos no Ecoparque de La Rioja. ........................................................................................................................... 54 Figura 4.15 - Modelo esquemático de um digestor com tecnologia Valorga .......................................... 59 Figura 4.16 – Digestor da planta de La Coruña, Espanha o qual, devido a problemas operacionais, explodiu. .................................................................................................................................................. 59 Figura 4.17 - Modelo esquemático de um digestor com tecnologia Laran .............................................. 62 Figura 4.18 – Detalhes de digestores com tecnologia Laran. Na Figura (a) detalhe para os agitadores mecânicos do digestor da cidade de Baar, Suíça. Na Figura (b) detalhe para o sistema de aquecimento de um digestor, via serpentinas instaladas nas paredes. .......................................................................... 62 Figura 5.1 – Imagem de satélite do Ecoparque de La Rioja .................................................................... 66 Figura 5.2 – Layout do Ecoparque de La Rioja ....................................................................................... 67 Figura 5.3 – Detalhe da “praça de guerra” formada devido à necessidade recorrente de desobstrução do sistema de extração. ................................................................................................................................. 68 Figura 5.4 – Imagem de satélite do Ecoparc 2 ......................................................................................... 71 Figura 5.5 – Layout do Ecoparc 2............................................................................................................ 71 Figura 5.6 – Detalhe da operação de remoção dos inertes sedimentados no interior de um dos digestores do Ecoparc 2. (a) Detalhe do guindaste utilizado para remoção do material. (b) Detalhe do orifício aberto no topo do digestor para a entrada dos equipamentos e remoção do material sedimentado. (c) Detalhe do interior do digestor durante o procedimento de limpeza. (d) Detalhe das caçambas onde eram lançados os materiais extraídos do interior do digestor. .......................................................................... 73 Figura 5.7 – Imagem de satélite do CTR Valladolid ............................................................................... 75 Figura 5.8 – Fluxograma da Planta TMB de Vitória-Gasteiz .................................................................. 79 Figura 5.9 - Imagem de satélite do CTR Valladolid ................................................................................ 79 Figura 6.1 - Desempenho das tecnologias em cada um dos grupos de indicadores – Soma simples .... 105 Figura 6.2 - Desempenho das tecnologias em cada um dos grupos de indicadores – Soma ponderada 106 Figura 10.1 – Setor de pesagem dos caminhões .................................................................................... 158 Figura 10.2 – Entrada do Ecoparque de La Rioja .................................................................................. 158 Figura 10.3 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para a grua que move os resíduos do fosso para a correia transportadora ................................................................................................................. 159 Figura 10.4 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para a correia transportadora inicial .......... 159 Figura 10.5 – Sistema de pré-tratamento – destaque para o trommel .................................................... 160 x Figura 10.6 – Sistema de pré-tratamento – destaque para as correias transportadoras .......................... 160 Figura 10.7 – Digestores – destaque para o sistema de agitação ........................................................... 161 Figura 10.8 – Digestores........................................................................................................................ 161 Figura 10.9 – Digestores – destaque para a tubulação de alimentação .................................................. 162 Figura 10.10 – Digestores...................................................................................................................... 162 Figura 10.11 – Digestores – destaque para o sistema de alimentação ................................................... 163 Figura 10.12 – Digestores – destaque para a área denominada “praça de guerra”, onde ocorre o acúmulo de lodo devido ao entupimento das tubulações de extração .................................................................. 163 Figura 10.13 – Sistema de tratamento do ar ambiente – destaque para scrubber .................................. 164 Figura 10.14 – Setor de pesagem dos caminhões .................................................................................. 165 Figura 10.15 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para o caminhão basculando os resíduos no fosso de recebimento ............................................................................................................................. 165 Figura 10.16 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para fosso de recebimento de resíduos .... 166 Figura 10.17 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para a grua que move os resíduos do fosso para a correia transportadora ................................................................................................................. 166 Figura 10.18 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para a pá carragadeira limpando a área onde os caminhões basculam os resíduos no fosso ........................................................................................ 167 Figura 10.19 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para a correia transportadora inicial ........ 167 Figura 10.20 – Sistema de pré-tratamento ............................................................................................. 168 Figura 10.21 – Sistema de pré-tratamento – destaque para o interior do trommel, onde podem ser vistos os rompedores de sacos ......................................................................................................................... 168 Figura 10.22 – Sistema de pré-tratamento – destaque para o interior do trommel, onde podem ser vistos os rompedores de sacos ......................................................................................................................... 169 Figura 10.23 – Sistema de pré-tratamento – destaque para os triadores manuais .................................. 169 Figura 10.24 – Sistema de pré-tratamento ............................................................................................. 170 Figura 10.25 – Sistema de pré-tratamento – destaque para a prensa enfardadora de materiais recicláveis ............................................................................................................................................................... 170 Figura 10.26 – Sistema de pré-tratamento – destaque para os resíduos de planta, após serem embalado para envio ao aterro sanitário ................................................................................................................ 171 Figura 10.27 – Sistema de pré-tratamento – destaque para os resíduos de planta embalados, sendo transportados para o aterro sanitário ...................................................................................................... 171 Figura 10.28 – Vista dos Digestores ...................................................................................................... 172 Figura 10.29 – Vista dos Digestores e gasômetro ................................................................................. 172 Figura 10.30 – Vista dos Digestores e gasômetro ................................................................................. 173 Figura 10.31 – Digestores – destaque para os mangotes de injeção de biogás comprimido para agitação do material em digestão ......................................................................................................................... 173 Figura 10.32 – Sistema de captação e condicionamento do biogás – destaque para as tubulações e sopradores.............................................................................................................................................. 174 Figura 10.33 – Sistema de captação e condicionamento do biogás – destaque para o biofiltro de remoção do gás sulfídrico .................................................................................................................................... 174 Figura 10.34 – Sistema de captação e condicionamento do biogás – destaque para as tubulações do biofiltro de remoção do gás sulfídrico ................................................................................................... 175 Figura 10.35 – Sistema de captação e condicionamento do biogás – destaque para o material de preenchimento do biofiltro de remoção do gás sulfídrico ..................................................................... 175 Figura 10.36 – Sistema de captação e condicionamento do biogás – destaque para o gasômetro ......... 176 Figura 10.37 – Motor de cogeração para produção de biogás e energia ................................................ 176 Figura 10.38 – Motor de cogeração para produção de biogás e energia ................................................ 177 Figura 10.39 – Flare para queima do biogás excedente ........................................................................ 177 Figura 10.40 – Centrífuga do sistema de desidratação .......................................................................... 178 Figura 10.41 – Fase líquida do sistema de desidratação ........................................................................ 178 Figura 10.42 – Fase sólida do sistema de desidratação ......................................................................... 179 Figura 10.43 – Sistema de pós-tratamento – destaque para a entrada dos túneis de compostagem ....... 179 Figura 10.44 – Triturador de poda verde ............................................................................................... 180 Figura 10.45 – Sistema de pós-tratamento – destaque da máquina utilizada para esvaziar e encher os túneis de compostagem.......................................................................................................................... 180 Figura 10.46 – Lavadores para tratamento do ar ambiente .................................................................... 181 xi Figura 10.47 – Sistema de tratamento de efluentes líquidos – destaque para as micromembranas ....... 181 Figura 10.48 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para a grua que move os resíduos do fosso para a correia transportadora ................................................................................................................. 182 Figura 10.49 – Sistema de pré-tratamento – destaque para o galpão aberto .......................................... 182 Figura 10.50 – Sistema de pré-tratamento – destaque para as prensas enfardadoras de material reciclável ............................................................................................................................................................... 183 Figura 10.51 – Sistema de pré-tratamento – destaque para as cabines de triagem e correias transportadoras ...................................................................................................................................... 183 Figura 10.52 – Sistema de pré-tratamento – destaque para as cabines de triagem e correias transportadoras ...................................................................................................................................... 184 Figura 10.53 – Sistema de pré-tratamento – destaque para uma das cabines de triagem. ..................... 184 Figura 10.54 – Sistema de pré-tratamento – destaque para os containeres de armazenamento temporário do material reciclável triado .................................................................................................................. 185 Figura 10.55 – Sistema de pré-tratamento – destaque para as cabines de triagem e correias transportadoras ...................................................................................................................................... 185 Figura 10.56 – Sistema de pré-tratamento – destaque para as correias transportadoras ........................ 186 Figura 10.57 – Sistema de pré-tratamento – área de triagem manual .................................................... 186 Figura 10.58 – Sistema de pré-tratamento – destaque para as prensas enfardadoras de material reciclável ............................................................................................................................................................... 187 Figura 10.59 – Sistema de extração e desidratação – destaque para a prensa ....................................... 187 Figura 10.60 – Sistema de extração – destaque para o tanque de vácuo ............................................... 188 Figura 10.61 – Motor do sistema de agitação do material em digestão ................................................. 188 Figura 10.62 – Rosca sem fim do sistema de introdução ...................................................................... 189 Figura 10.63 – Sistema de pós-tratamento – destaque para a entrada dos túneis de compostagem ....... 189 Figura 10.64 – Sistema de pós-tratamento – destaque da máquina utilizada para encher e esvaziar os túneis de compostagem.......................................................................................................................... 190 Figura 10.65 – Sistema de pós-tratamento – destaque do interior de um túnel de compostagem ......... 190 Figura 10.66 – Sistema de recepção de resíduos – vista da cabine de comanda da grua que move os resíduos do fosso para a correia transportadora ..................................................................................... 191 Figura 10.67 – Sistema de pré-tratamento – destaque para os trommels ............................................... 191 Figura 10.68 – Sistema de pré-tratamento ............................................................................................. 192 Figura 10.69 – Sistema de pré-tratamento – destaque para uma cabine de triagem .............................. 192 Figura 10.70 – Sistema de pré-tratamento ............................................................................................. 193 Figura 10.71 – Sistema de pré-tratamento ............................................................................................. 193 Figura 10.72 – Sistema de pré-tratamento – destaque para os materiais recicláveis recuperados após serem enfardados ................................................................................................................................... 194 Figura 10.73 – Sistema de tratamento do ar ambiente ........................................................................... 194 Figura 10.74 – Digestor e container de armazenamento do motor de cogeração .................................. 195 Figura 10.75 – Digestor e container de armazenamento do motor de cogeração .................................. 195 Figura 10.76 – Flare para queima do biogás excedente ........................................................................ 196 Figura 10.77 – Flare - detalhe do sistema de ventilação ...................................................................... 196 Figura 10.78 – Container de armazenamento do motor de cogeração ................................................... 197 Figura 10.79 – Sistema de extração do material digerido ...................................................................... 197 Figura 10.80 – Sistema de extração do material digerido ...................................................................... 198 Figura 10.81 – Sistema de agitação do material em digestão ................................................................ 198 Figura 10.82 – Tubulação do sistema de extração do material digerido ................................................ 199 Figura 10.83 – Sistema de pós-tratamento – área de compostagem ...................................................... 199 xii LISTA DE ABREVIAÇÕES, SIGLAS, E SÍMBOLOS AC Antes de Cristo AGV Ácidos Graxos Voláteis ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica ARTI Appropriate Rural Technology Institute (Instituto de Tecnologia Rural Adequada) atm Atmosfera BARC Bhabha Atomic Research Centre (Centro de Pesquisa Atômica Bhabha) BIG Banco de Informações de Geração BSP Biogas Support Program (Programa de Suporte ao Biogás) CEG Companhia Estadual de Gás CGTEE Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica COMLURB Companhia Municipal de Limpeza Urbana COPAM Conselho Estadual de Política Ambiental CO2 Dióxido de Carbono CH4 Metano ºC Graus Celsius CTR Centro de Tratamiento de Residuos (Centro de Tratamento de Resíduos) DA Digestão Anaeróbia DMLU Departamento Municipal de Limpeza Urbana ERDA Energy Research and Development Administration (Administração de Pesquisa e Desenvolvimento em Energia) ETE Estação de Tratamento de Efluentes EUA Estados Unidos da América FEAM Fundação Estadual do Meio Ambiente FORM Fração Orgânica dos Resíduos Municipais GDL Gás do Lixo GEE Gases Causadores de Efeito Estufa GMV Gás Metano Veicular GN Gás Natural GWh Gigawatts-hora xiii hab Habitante H2S Gás Sulfídrico ou Ácido Sulfídrico kg Quilograma KJ Quilo joule kWh Quilowatts-hora L Litro MOR Matéria Orgânica Residual MS Matéria Seca MSW Municipal Solid Waste (Resíduos Sólidos Urbanos) MW Megawatts m 3 Metros Cúbicos N2 Nitrogênio ONG Organização Não Governamental OWS Organic Waste System (Sistemas de Resíduo Orgânico) Pa Pascal PCI Poder Calorífico Inferior PET Tereftalato de Polietileno PIE Produção Independente de Energia ppmV Partes por milhão de volume RJ Rio de Janeiro RSU Resíduos Sólidos Urbanos SIN Sistema Interligado Nacional ST Sólidos Totais SV Sólidos Voláteis t Tonelada TDS Tempo de Detenção de Sólidos TJ Tera joule TMB Tratamento Mecânico Biológico TWh Terawatts-Hora UE União Europeia % Porcentagem xiv RESUMO A gestão adequada dos resíduos sólidos urbanos (RSU) é um dos principais desafios da administração pública na atualidade. Por outro lado, a viabilização de fontes alternativas de energia e a redução da emissão de gases causadores do efeito estufa são necessidades globais imediatas. Frente a este cenário, a produção de energia elétrica – a partir do biogás gerado no tratamento de resíduos orgânicos via biometanização, enfoque denominado “Waste to Energy” – é uma nova tendência tecnológica que se vem consolidando mundialmente. As recentes restrições adotadas pelos países membros da União Europeia e pela Índia quanto à disposição de resíduos orgânicos em aterros sanitários têm contribuído ainda mais para a disseminação dessas tecnologias. Atualmente, está disponível no mercado uma grande variedade de tecnologias de biometanização de RSU; entretanto, a definição da tecnologia mais eficiente a ser adotada não é uma tarefa simples. Visitas técnicas foram realizadas em, pelo menos, uma planta das tecnologias líderes de mercado ─ Valorga, Laran, Kompogas e Dranco ─ de forma a verificar in loco a realidade operacional dessas unidades e discutir com operadores as potencialidades e vulnerabilidades de cada uma delas. De forma a auxiliar na definição da tecnologia mais adequada para a construção de uma planta-piloto no Estado de Minas Gerais, o presente estudo elaborou uma metodologia de avaliação, composta por 35 indicadores, agrupados nos temas: Histórico das Tecnologias; Aspectos Operacionais; Dados de Projeto; e Dados Reais. No intuito de otimizar uma análise crítica das tecnologias atualmente disponíveis no mercado internacional, a metodologia desenvolvida avaliou a experiência acumulada e o desempenho real, funcionando como uma ferramenta para auxiliar na tomada de decisão. A metodologia desenvolvida foi aplicada na análise das quatro plantas de biometanização de RSU visitadas. Apresentando o melhor desempenho no grupo Histórico das Tecnologias e o segundo melhor nos Dados Reais, a Valorga foi a tecnologia com maior pontuação, atingindo 62,33 pontos. Destacando-se nos grupo Dados Reais e Aspectos Operacionais, a tecnologia Laran apresentou o segundo melhor desempenho e somou 61,76 pontos. Com um bom desempenho no grupo Dados de Projeto, a tecnologia Kompogas alcançou o terceiro melhor resultado e obteve 57,81 pontos. Já a tecnologia Dranco, mesmo apresentando um bom resultado no grupo Aspectos Operacionais, foi a de pior desempenho, somando apenas 44,24 pontos. Todas as tecnologias avaliadas apresentaram problemas operacionais, o que demonstra que as mesmas ainda não estão completamente desenvolvidas. A construção de uma plantapiloto no Estado de Minas Gerais deve se embasar nas tecnologias existentes, entretanto focada na resolução dos problemas observados e otimizando as potencialidades de cada uma delas, de forma a desenvolver uma tecnologia nacional, adaptada à realidade brasileira. Palavras-chave: Biometanização, resíduos sólidos urbanos, Laran, Valorga, Kompogas, Dranco, análise crítica, metodologia de avaliação. xv ABSTRACT An effective management of municipal solid waste (MSW) is one of the major challenges faced by managers nowadays. Furthermore, the availability of alternative energy sources and the reduction of greenhouse gases emissions are immediate demands all over the world. Face to such requirements, a new technological trend that has been consolidated globally is the production of electricity from the biogas generated by the treatment of organic wastes by means of biomethanization, tendency named “Waste to Energy”. Moreover, recent restrictions adopted by European Union Member States and India related to the final disposal of organic waste at landfills has contributing to the dissemination of such technologies. Currently, a broad variety of biomethanization are available at the market, nevertheless, the selection of the most suitable technology is not a simple task. In order to give support to a comprehensive evaluation on that theme, technical visits were realized at least in one of the plants running with the leading dry biomethanization technologies for MSW - Valorga, Laran, Kompogas and Dranco. These visits allowed to check in situ the operational reality of the plants, as well as gave space to a broad discussion with the operators about the potentials and vulnerabilities of each technologies evaluated. Aiming to contribute to the definition of the most suitable biomethanization technology to be adopted as pilot-plant in Minas Gerais State, the present research developed a assessment methodology encompassed by 35 indicators, grouped into the following themes: Historic of Technologies; Operational Aspects; Projected Performance; Real Performance. In order to optimize a critical analysis of the technologies currently available at the international market, the developed methodology evaluate the accumulated experience and the real performance of the systems covered by the research, being a tool to support the decision making of state authorities searching for the most appropriate technology to be adopted by a project to be carried out in Minas Gerais. The developed methodology was applied for assess of four dry biomethanization plants of MSW currently running with Valorga, Laran, Kompogas and Dranco technologies. The Valorga technology presented the best score with concerns to the Historic of Technology indicator and the second position regarding Real Performance, reaching 62,33 points. At the group Real Performance and Operational Aspects, the leading technology was the Lara system that showed the second major global performance, grading 61,76 points. Achieving a good score at the group Projected Performance, the Kompogas technology remained at the third position and gained 57,81 points. Finally, the Dranco technology, even getting a good score concerning Operational Aspects, presented the worst global performance scoring only 44,24 points. Despite the positive results, it has become evident that all the technologies evaluated presented operational problems, which attests that they are still under development. For that reason, the present research believe that the construction of a pilot-plant in Minas Gerais State has to be based on the existent range of technologies, but focusing on the development of a national model able to be integrally suitable for the Brazilian reality. Keywords: Biomethanization, municipal solid waste, Laran, Valorga, Kompogas, Dranco, critical analysis, assessment methodology. xvi 1. Introdução A busca por alternativas energéticas que minimizem a dependência da sociedade moderna por combustíveis fósseis tem sido objeto de inúmeras pesquisas no âmbito mundial. Com o intuito de reduzir os impactos globais provocados pela queima do petróleo e seus derivados, fontes renováveis e que emitem uma menor quantidade de carbono são cada vez mais demandadas e pesquisadas. É sabido que uma parcela significativa das emissões globais de gases causadores do efeito estufa (GEE) é originária da disposição inadequada de resíduos orgânicos, uma vez que resulta em processos anaeróbios de decomposição. Aliando-se o correto gerenciamento de resíduos, a diminuição da emissão de GEE e geração de energia renovável, a digestão anaeróbia controlada, ou biometanização, é, atualmente, uma rota tecnológica que vem se destacando mundialmente no tratamento da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos (RSU). Segundo Energaia (2006), a digestão anaeróbia (DA) é um processo biológico de degradação da matéria orgânica que ocorre na ausência de oxigênio. O principal subproduto gerado é o biogás, energético constituído principalmente por metano. Por meio de técnicas de engenharia, o biogás é tratado e utilizado como combustível para diversos fins, resultando em energia térmica ou mecânica. Segundo RISE-AT (1998), o biogás é constituído por metano (55-70%), dióxido de carbono (30-45%) e de 200 a 4.000 ppmV de gás sulfídrico (H2S). De acordo com Giacaglia e Silva Dias (1993), o biogás encontra-se saturado em vapor d'água, apresentando ainda traços de N2 e outros compostos. A produção do biogás ocorre naturalmente em ambientes úmidos sem a presença de oxigênio, tais como pântanos, sedimentos de rios, lagos e mares, minas de carvão, no trato digestivo de animais, entre outros. Segundo Chernicharo (1997), estima-se que a digestão anaeróbia com formação de metano seja responsável pela completa mineralização de 5 a 10% de toda a matéria orgânica disponível no planeta. 1 Atualmente, a utilização de biogás com finalidades energéticas já é uma realidade, sendo aproveitado para cocção, iluminação, geração de vapor, geração de calor e energia elétrica em motores de ciclo combinado, como Gás Metano Veicular (GMV), em turbinas ou no lançamento nas redes de distribuição de gás natural (COLDEBELLA, 2006, TNTG, 2003, Pace Project , 2010, COSTA, 2006, DIRKSE, 2006, DEUBLEIN e STEINHAUSER, 2008, SCHMID, 2008, IEA Bioenergy, 2005, FIGUEIREDO, 2007, OLIVEIRA, 2009, GODLOVE, 2010, ZANETTE, 2009, STERNAD, 2010, SANTIANES et al, 2009, NAVICKAS e VENSLAUSKAS, 2008, CLEMENTSON, 2007, LAM et al, 2009, CHEN et al, 2010, The AgSTAR Program, 2010, VANZIN et al, 2005, BLEY, 2010, COELHO, 2001, FERNANDES e DIAS, 2010, LANDAHL, 2003, LI, 2006, MUTHUPANDI, 2007, NES, 2006). Não obstante, diversas pesquisas estão sendo realizadas na esfera mundial com foco na otimização dos sistemas de produção e consumo do biogás, de forma a aumentar a eficiência energética desses sistemas, tornando-os mais competitivos quando comparados a outras fontes de energia. A utilização de ferramentas de engenharia e de biotecnologia em processos anaeróbios é cada vez mais empregada, de forma a controlar e otimizar o processo de degradação da matéria orgânica (THIELE, 2008, ELIYAN et al., 2007, MOLETTA, 2009, DE BAERE, 2008, DE BAERE, L. e MATTHEEUWS, B., 2008, RAPPORT et al, .2008, ARCHER et al., 2005, AUSTERMANN et al., 2007, BANKS, 2009, BURNLEY, 2006, CHENG, 2009, CHRZASTEK, 2009, EDELMANN, W e ENGELI, H. 2005, FULFORD, 2009, GAUTAM et al., 2009, KELLEHER, 2007, CARDINALI-REZENDE et al., 2008, CARDINALI-REZENDE et al., 2009). De acordo com Nogueira (1986), a primeira planta de biometanização com aproveitamento energético foi construída em 1857 em Bombaim, Índia, onde o biogás era utilizado para cocção. A partir de uma unidade composta por um tanque séptico para o tratamento de efluentes sanitários, o biogás era captado e utilizado em um hospital de hansenianos. Desde então, a engenharia para a produção de unidades de biometanização vem sendo aprimorada, sendo atualmente aplicada no tratamento dos mais variados tipos de efluentes líquidos ricos em matéria orgânica. Entretanto, é apenas nas últimas duas décadas que a utilização dessa tecnologia no tratamento da fração orgânica dos RSU vem-se tornando uma realidade (DE BAERE E MATTHEEUWS, 2008). 2 Pelo fato de os sistemas de digestão anaeróbia terem sido desenvolvidos inicialmente para o tratamento de efluentes líquidos, a sua utilização no tratamento dos RSU constituiu-se em uma adaptação dessas tecnologias e, dada às particularidades dos resíduos, os sistemas enfrentam diversas dificuldades para operarem de forma adequada. Devido ao RSU ser um material heterogêneo, a digestão anaeróbia da fração orgânica dos resíduos municipais (FORM) apresenta problemas operacionais distintos dos observados no tratamento de efluentes líquidos. O acúmulo de plásticos, pedras e outros materiais impróprios no interior do digestor, dificuldades na mistura e homogeneização do material em digestão e a obstrução das linhas de introdução e extração são alguns dos problemas operacionais enfrentados pelas unidades industriais de tratamento dos RSU hoje em operação. Segundo Guatellas (2008), de 99 plantas de biometanização de RSU instaladas na Espanha, doze encerraram suas atividades, vinte estão passando por problemas operacionais e sessenta por problemas econômicos. Sendo assim, pode-se dizer que a tecnologia de biometanização dos RSU ainda não está completamente desenvolvida e que esforços são empreendidos para a minimização das limitações enfrentadas pelas unidades industriais hoje em operação. Entretanto, apesar das dificuldades, observa-se que nos últimos anos houve um incremento significativo na capacidade instalada mundial para tratamento anaeróbio dos RSU, especialmente na Europa. Segundo De Baere e Mattheeuws (2008), de 1990 a 2010 a capacidade instalada das plantas de biometanização de RSU na Europa aumentou em quase 6.000%, passando de 87.000t/ano para 5.204.000t/ano. De acordo com Söderman (2003), 7% da energia utilizada para aquecimento e geração de energia na Suécia vêm dos resíduos sólidos. A ampliação na utilização de processos anaeróbios deve-se, basicamente, a fatores como os elevados preços da energia, às restrições ambientais para a disposição de matéria orgânica em aterros sanitários e às dificuldades na implantação de novos aterros ou na expansão dos existentes. A fração orgânica dos RSU, dependendo de como é coletada, pode ser é classificada de duas maneiras. Quando ocorre a segregação da matéria orgânica na fonte de geração e a coleta é realizada separadamente dos demais resíduos sólidos, é denominada Fração Orgânica dos Resíduos Municipais (FORM). Quando não há a segregação na fonte de geração e a fração orgânica é recuperada em unidades de triagem, é classificada como Matéria Orgânica Residual (MOR). Em plantas de tratamento mecânico-biológico, ou plantas TMB, o tratamento da MOR 3 é sempre mais oneroso e complexo, apresentando grandes dificuldades operacionais devido a esse material possuir uma maior quantidade de impróprios ao processo de biometanização do que a FORM. Plantas TMB são unidades que combinam diferentes técnicas de separação das diversas frações dos RSU e estabilização da fração orgânica via digestão anaeróbia e/ou compostagem. Essas unidades são compostas basicamente por seis etapas, sendo elas: pré-tratamento; biometanização; recuperação, tratamento e aproveitamento do biogás; tratamento/disposição final da fração sólida residual; tratamento dos efluentes líquidos; sistema de captação e tratamento do ar atmosférico (sistemas de desodorização). Essas plantas geralmente são construídas em galpões que operam a pressões negativas, coletando e tratando o ar ambiente de forma a minimizar impactos oriundos da geração de maus odores. Esses galpões possuem sistemas de coleta e direcionamento do ar ambiente a sistemas de desodorização, geralmente constituídos por uma etapa de tratamento químico via scrubbers1 (ácido e básico) seguida para uma de tratamento biológico via biofiltros. Nessas unidades ocorre a remoção de elementos como o gás amônia e compostos orgânicos voláteis. Nas unidades de pré-tratamento, o resíduo recebido passa por processos físicos de triagem, cujo objetivo é a recuperação da maior quantidade possível de materiais recicláveis (vidros, plásticos, metais, entre outros), impróprios ao processo de digestão anaeróbia. Nessa etapa podem ser empregados processos mecanizados de triagem, que utilizam equipamentos como eletroímãs, indutores Focault, mesas densimétricas, trommels2 e processos manuais, em que operários atuam como catadores, separando as diversas frações de materiais não biodegradáveis. Uma vez separados os materiais impróprios, a fração orgânica é triturada e direcionada a digestores anaeróbios, nos quais, via processos biológicos, ocorre uma estabilização parcial desse material, resultando na produção de biogás e lodo digestado ou digerido. O biogás é 1 Scrubbers são lavadores de gases. Trommels são peneiras rotativas utilizadas para a separação dos resíduos em duas ou mais frações granulométricas distintas. 2 4 captado, condicionado (remoção da umidade, gás sulfídrico e, ocasionalmente, dióxido de carbono) e direcionado ao sistema de aproveitamento energético. Após a passagem pelo digestor, o material digestado é desumidificado por centrífugas e prensas, e, posteriormente, peneirado para a remoção de impurezas (plásticos, pedras, vidros e outros). A fração sólida é encaminhada a unidades de compostagem, e a fração líquida a estações de tratamento de efluentes (ETE). As ETEs de Plantas TMB de RSU são utilizadas para a remoção da carga poluidora dos efluentes líquidos gerados no processo de desumidificação do digestado. Esse efluente costuma apresentar elevadas concentrações de matéria orgânica e amônia (COLTURATO, 2009). Geralmente essas unidades utilizam processos de nitrificação-desnitrificação seguidos por sedimentadores ou sistemas de ultrafiltração seguido por osmose reversa. A fração sólida proveniente do processo de desumidificação do digestado geralmente é direcionada a sistemas de aeróbios para pós-tratamento e estabilização. Geralmente são utilizados túneis de compostagem com aeração pela base e unidades de maturação e remoção de impróprios, nos quais o material passa por seguidos processos de revolvimento até a completa estabilização. As tecnologias de biometanização podem ser classificadas de acordo com tais características: teor de sólidos (via úmida ou via seca); sistema de introdução/extração (batelada ou fluxo contínuo); temperatura do processo (mesofólica ou termofílica); divisão das etapas de digestão (estágio simples ou multiestágio). Dentre essas classificações, um dos pontos mais relevantes é o teor de sólidos. As tecnologias via úmida, que operam com um teor de sólidos entre 3 e 7%, geralmente são sistemas mais caros e complexos. Diferentemente dos sistemas via seca, que operam com teores de sólidos superiores a 15%, os sistemas via úmida adicionam água ou outros líquidos ao material a ser digerido de forma a adequar os resíduos de entrada às condições operacionais requeridas no digestor. Tal procedimento acarreta uma maior geração de efluentes líquidos. 5 As tecnologias comerciais de biometanização de resíduos podem ainda ser divididas em sistemas de alta tecnologia e de baixa tecnologia. Os sistemas de alta tecnologia são predominantes em países europeus e utilizam alimentação e extração contínua, automação, aquecimento, agitação, recirculação do material e monitoramento constante do processo. Essas tecnologias possuem uma maior eficiência na produção de biogás e requerem um menor tempo de residência do resíduo. Tais vantagens elevam os custos de implantação e operação, atingindo cifras de dezenas de milhões de euros por planta. Os sistemas de baixa tecnologia, utilizados predominantemente por países asiáticos, possuem uma maior simplicidade operacional e construtiva; entretanto, proporcionam uma menor eficiência na produção de biogás e tratamento dos resíduos orgânicos. Todavia, os custos de instalação e operação dessas unidades são extremamente reduzidos (VOEGELI e ZURBRÜGG, 2008). A título de ilustração, os custos de implantação de uma unidade de biometanização Dranco, de alta tecnologia, para o tratamento de 100.000t/ano, são de cerca de €30.000.000,00 (trinta milhões de euros) e os operacionais são de €10,00 (dez euros) por tonelada de resíduo tratado. Considerando os custos de implantação da unidade e a sua operação por um ano, o tratamento de cada tonelada de resíduo ficaria em €310,00 (trezentos e dez euros) (AUSTERMANN et al 2007). Já uma unidade de biometanização da Bhabha Atomic Research Centre (BARC), considerada de baixa tecnologia, a implantação de uma planta para o tratamento de 1.825t/ano custa cerca de €52.500,00 (cinquenta e dois mil e quinhentos euros), incluídos os valores referentes à manutenção e operação por um ano. Considerando os custos de implantação e da operação desse sistema por um ano, a tonelada de resíduos tratada gira em torno de pouco menos de €30,00 (trinta euros), ou seja, cerca de 10% dos custos para uma unidade Dranco (VOEGELI e ZURBRÜGG, 2008); entretanto, os tempos de detenção são extremamente elevados e a eficiência na produção de biogás, bastante reduzida. Atualmente, o Brasil não dispõe de nenhuma planta industrial para a biometanização da fração orgânica do RSU. O País possui sistemas de digestão anaeróbia para o tratamento de efluentes líquidos sanitários, industriais (têxtil, laticínio, entre outros) e da agroindústria (suinocultura), bem como unidades de recuperação e utilização do biogás produzido em aterros sanitários e ETEs. Cabe 6 destacar ainda que, na grande maioria dos casos, o potencial energético do biogás não é aproveitado, sendo apenas queimado em flares3. Segundo a Abrelpe (2010), em 2009, 57% dos RSU gerados no Brasil foram dispostos ou tratados em conformidade com a legislação ambiental vigente no País, sendo a maioria desses resíduos disposta em aterros sanitários. Do ponto de vista da legislação brasileira, essa é uma prática considerada adequada; entretanto, do ponto de vista global, a disposição de resíduos orgânicos em aterros sanitários começa a ser proibida em diversos países. Isso decorre da possibilidade de emissões não controladas de metano nos aterros, e ao fato de que o metano possui potencial de aquecimento global 21 vezes superior ao dióxido de carbono (CO2) (IPCC, 2006). A Diretiva Europeia 1999/31 estabelece restrições na disposição desses materiais em aterros sanitários, obrigando os países membros da comunidade europeia a buscarem formas alternativas para o tratamento de seus resíduos sólidos. Considerando a atual necessidade de adoção de práticas que venham a conter a emissão de gases causadores de efeito estufa, e que a disposição de materiais orgânicos em aterros sanitários pode acasionar a emissão não controlada do gás metano, a referida diretiva estabelece metas de redução quanto à disposição de resíduos orgânicos em aterros sanitários. Na mesma linha, na Índia, foi aprovada a legislação The Indian Municipal Solid Waste (Management and Handling) Rules 2000, a qual estabelece a obrigatoriedade da segregação dos resíduos na fonte de geração e proíbe a disposição em aterros sanitários de resíduos orgânicos, exigindo que a fração orgânica receba algum tipo de tratamento biológico adequado (VOEGELI e ZURBRÜGG, 2008). Segundo o IBGE (2010), o Brasil coleta em torno de 183.488 toneladas de RSU por dia. Considerando que 52% desses resíduos sejam compostos por matéria orgânica (IPT/CEMPRE,2000), a coleta de resíduos orgânicos é de 95x103 toneladas por dia. De acordo com RISE-AT (1998), a taxa média de produção de biogás em unidades de biometanização varia entre 100 a 200m3 por tonelada de resíduo orgânico processado e a concentração de 3 Flares, ou tochas, são equipamentos utilizados para a queima do biogás e evitar a emissão do metano para a atmosfera. 7 metano varia entre 55 e 70%. Se se considerasse que 100% dos RSU coletados no Brasil fossem processados em unidades de biometanização que gerassem em média de 150m3 de biogás por tonelada de resíduo orgânico processado, o potencial de geração de biogás, a partir dos RSU, seria de cerca de 14x106 m3/dia. Considerando uma concentração de 62,5% de metano no biogás, a utilização desse potencial poderia representar um incremento cerca de 1.400MW na matriz elétrica brasileira de uma geração de 12,5TWh/ano. Levando-se em conta que em 2008 a geração elétrica no Brasil foi de 463,1TWh (EPE, 2009), esse potencial representaria um incremento de 2,7% da geração elétrica brasileira. O biogás pode ser utilizado também como combustível de automóveis, o chamado gás metano veicular (GMV). Após um processo de condicionamento (remoção da umidade, H2S e CO2) o biogás é comprimido a 20.000.000Pa e pode ser utilizado em qualquer veículo movido a gás natural veicular. Outra possibilidade é o lançamento em redes de gás natural, nesse caso o biogás purificado é denominado biometano. Segundo o California Air Resources Board4, o biometano é o combustível que menos contribui para o aquecimento global, e os veículos que o utilizam emitem de 30 a 50% menos gases causadores de efeito estufa do que os movido a hidrogênio ou eletricidade. A Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM), de acordo com o Decreto Estadual n.° 44.819/2009, tem por finalidade executar a política de proteção, conservação e melhoria da qualidade ambiental, no que concerne à gestão do ar, do solo e dos resíduos sólidos, bem como desenvolver pesquisas em tecnologias ambientais que visem à preservação e à melhoria da qualidade ambiental do Estado. Buscando aliar a adoção de práticas ambientalmente adequadas na gestão dos RSU, na recuperação do potencial energético dos resíduos e na disponibilização de fontes alternativas de energia que reduzam a emissão de gases causadores de efeito estufa, a FEAM está desenvolvendo o projeto “Resíduo é Energia” no qual a Fundação estuda formas alternativas no gerenciamento dos RSU, em que a biometanização vem ganhando cada dia mais atenção. Nesse contexto, este trabalho buscou verificar o estado da arte da tecnologia de biometanização de 4 Fonte: http://www.arb.ca.gov/cc/etaac/meetings/102909pubmeet/mtgmaterials102909/publiccomments/calstart1commentson9-18etaacdraft.pdf 8 RSU, realizando, além de extensa pesquisa bibliográfica, discussão com experts, projetistas e operadores de planta, uma pesquisa in loco para investigação da realidade atual das plantas de biometanização seca de RSU de alta tecnologia. Com base nas informações obtidas, elaborou-se uma metodologia para avaliação do desempenho das principais tecnologias de biometanização seca de RSU, de forma a subsidiar a FEAM na tomada de decisão para a definição da melhor tecnologia a ser utilizada na construção de uma unidade-piloto no Estado de Minas Gerais. 9 2. Objetivos O objetivo geral do presente trabalho foi verificar o estado da arte da biometanização seca de resíduos sólidos urbanos (RSU) no mundo, de forma a possibilitar a definição de diretrizes básicas para auxiliar a Fundação Estadual de Meio Ambiente na definição da tecnologia mais adequada para a implantação de uma unidade-piloto de biometanização de RSU em Minas Gerais. Os objetivos específicos foram: comparar, do ponto de vista técnico e econômico, as principais tecnologias de biometanização seca empregadas atualmente; determinar as principais limitações operacionais das tecnologias de biometanização seca mais empregadas na geração de biogás a partir de resíduos sólidos urbanos; levantar os pontos críticos na operação de unidades de biometanização seca que influenciam diretamente na produção de biogás a partir da digestão anaeróbia de resíduos sólidos urbanos. 10 3. Materiais e métodos A elaboração desse trabalho ocorreu em cinco etapas, conforme descrito a seguir. 3.1 Levantamento do Estado da Arte da Biometanização de RSU Buscando obter uma quantidade significativa de informações sobre biometanização seca dos RSU, foi realizada uma ampla pesquisa bibliográfica em livros, periódicos, artigos científicos, teses, dissertações, além de páginas da internet. A pesquisa possibilitou compor um amplo acervo de informações que subsidiaram a elaboração do “estado da arte” das principais tecnologias de biometanização seca em estágio comercial, sistematizando dados e problemas operacionais, custos e relevância das principais tecnologias atualmente comercializadas. A pesquisa realizada focou nos sistemas de biometanização seca de alta tecnologia devido à maior eficiência na produção de biogás, baixo tempo de detenção do material no digestor, possibilidade de tratamento de um maior volume de resíduos, consolidação da tecnologia, robustez dos sistemas, menor demanda de água e geração de efluentes líquidos. 3.2 Visitas Técnicas a Plantas Comerciais de Biometanização de RSU Foram realizadas visitas técnicas a quatro unidades industriais em operação na Europa. Para a definição das plantas que seriam visitadas, estabeleceram os seguintes critérios: visitação ao menos a uma planta de cada uma das tecnologias de biometanização seca que atualmente dominam o mercado, sendo elas: Laran; Valorga; Kompogas e Dranco; otimização na alocação dos recursos disponíveis para acomodação e transporte; redução no tempo de deslocamento entre as visitas a cada uma das plantas; facilidade na comunicação e no agendamento das visitas. Para obtenção de dados relacionados às condições operacionais das plantas visitadas, foi elaborado um questionário para coleta de informações, cuja estrutura buscou otimizar a coleta de dados, com foco na avaliação das condições operacionais da unidades visitadas. 11 O questionário foi elaborado com a seguinte estrutura: dados gerais: nome da unidade, localização, contato, responsável, empresa gestora, capacidade instalada, data de inauguração, custo de implantação, número de funcionários, tecnologia de biometanização. insumos: consumo de água, energia e lubrificantes. custos: implantação, fonte de financiamento, operação e manutenção. resíduos: tipo, quantidades de recicláveis e materiais impróprios, disposição final. unidade de pré-tratamento: tipo, custos, porcentagem de recuperação de recicláveis, sistemas de controles. unidade de metanização: custos, capacidade instalada, porcentagem de sólidos totais e voláteis de entrada e saída, alcalinidade, tempo de detenção hidráulica (TDH), sistema de agitação, material de construção, inóculos, problemas operacionais. unidade de pós-tratamento: custos, sistema de tratamento, problemas operacionais, paradas, sistemas de controle. unidade de compostagem: custos, sistemas de tratamento, problemas operacionais, paradas e controles realizados. captação, tratamento e utilização do biogás: volume e tipo do gasômetro, porcentagem típica de metano, geração de biogás, problemas operacionais, sistemas de controle, sistema de tratamento. geração de energia: custos, sistema de tratamento, problemas operacionais, paradas e controles realizados, potência instalada, eficiência, receitas geradas. O questionário elaborado é apresentado no Anexo 10.1. O fato de a Espanha ser atualmente um dos países com a maior capacidade instalada de biometanização de RSU e possuir unidades relativamente novas das tecnologias priorizadas, a opção por visitar plantas nesse país possibilitou a otimização de tempo e recursos. Para a definição do roteiro de visitas realizou-se um levantamento das unidades existentes na Espanha. A consolidação dessas informações é apresentada no Anexo 10.2. 12 Foram visitadas quatro unidades de biometanização de RSU, entre os dias 4 e 11 de dezembro de 2008. Para o preenchimento dos formulários, direcionaram-se perguntas ao técnico que acompanhou cada uma das visitas. Quando do agendamento, solicitou-se que as visitas fossem acompanhadas pelo responsável pela operação da planta ou da unidade de biometanização. Cabe destacar que algumas das informações solicitadas não foram obtidas, pois eram consideradas estratégicas, sigilosas ou não estavam disponíveis. 3.3 Complementação das informações obtidas com a aplicação dos questionários Buscando complementar as informações obtidas durante as visitas técnicas, foram encaminhados e-mails aos contatos nas plantas visitadas. Os e-mails encaminhados, bem como as respostas obtidas, são apresentados no Anexo 10.3. Salienta-se que, mesmo não sendo possível a obtenção de todas as informações pretendidas, as visitas foram extremamente válidas, principalmente pelo conhecimento e informações relativas à realidade operacional, rotinas, dificuldades e desafios das plantas de biometanização de RSU. 3.4 Consolidação das informações Para a consolidação das informações foi elaborada uma tabela padrão, na qual foram lançados todos os dados obtidos sobre cada uma das unidades visitadas. Essas tabelas são apresentadas no Anexo 10.4. 3.5 Análise crítica das tecnologias A partir das informações obtidas na revisão bibliográfica e nas visitas técnicas, consolidaramse os dados necessários, possibilitando uma avaliação das principais tecnologias de biometanização seca de RSU hoje disponíveis no mercado. Para a análise crítica das tecnologias foi desenvolvida uma metodologia de avaliação, composta por 35 indicadores que mediram o desempenho das tecnologias analisadas. Os indicadores comparam a experiência 13 acumulada das tecnologias e os principais problemas operacionais, as expectativas de projeto e o desempenho das plantas visitadas. Os indicadores foram agrupados em quatro temas: Histórico das Tecnologias; Aspectos Operacionais; Dados de Projeto; e Dados Reais. Os resultados dos indicadores foram normalizados, sendo atribuída uma nota a cada um deles. O desempenho dos grupos foi dado pelo somatório das notas dos indicadores de cada grupo. O desempenho global da tecnologia foi obtido pelo somatório ponderado do desempenho em cada grupo. 14 4. Contextualização 4.1 Apresentação do Problema A gestão dos RSU vem-se tornando uma preocupação crescente da sociedade moderna. Embora significativos avanços tenham ocorrido nas últimas décadas, principalmente nos países desenvolvidos, a solução para problemas advindos da gestão inadequada dos RSU constitui-se, ainda, um dos maiores desafios para a gestão pública dos países em via de desenvolvimento (PROSAB, 2003). Nesses países, a precariedade da prestação dos serviços de saneamento se reflete principalmente na gestão de resíduos sólidos. De acordo com Abrelpe (2010), cerca de 43% de todo o resíduo gerado no Brasil é disposto de forma inadequada. Segundo o IBGE (2010), dos 5.564 municípios brasileiros, 5.562 possuem algum tipo de sistema de disposição de RSU; entretanto, 4.078, ou 73%, dos municípios dispõem seus RSU em vazadouros a céu aberto (lixões) ou em aterros controlados ─ considerados como sistemas inadequados de destinação final dos RSU. Esses locais não dispõem de infraestrutura básica que atenda aos pré-requisitos mínimos da engenharia sanitária e ambiental. A disposição inadequada de resíduos sólidos gera impactos negativos no ar, solo e água, permitindo a proliferação de macro e microvetores de micro-organismos patogênicos, com consequências sociais e problemas para a saúde pública. De acordo com Abrelpe (2010), cerca de 56,6% dos municípios brasileiros possuem alguma iniciativa na área de coleta seletiva dos RSU; entretanto, na maioria das vezes, essas iniciativas se resumem apenas na implementação de pontos de entrega voluntária ou na simples formalização de convênio com cooperativas de catadores para a realização do serviço. Para se ter uma ideia da realidade brasileira, apenas 643 municípios, ou pouco mais de 11%, possuem unidades de triagem de materiais recicláveis, e somente 211 municípios, cerca de 4%, possuem unidades de compostagem da fração orgânica (IBGE, 2010). De acordo com a ABRE (2010), em 2008 o Brasil reciclou 47% das embalagens de vidro, 43,7% do papel e papelão, 26,6% das embalagens longa vida, 46,5% das latas de aço, 91,5% das latas de alumínio, 21,24% dos plásticos rígidos e filmes e 54,8% das garrafas de tereftalato de 15 polietileno (PET). Entretanto, esses valores representam apenas 8% do total de RSU gerados no Brasil. Segundo Pires (2006), estima-se que, no Brasil, 800 mil pessoas trabalham nos lixões ─ locais sem as menores condições humanas de saúde ─ selecionando e comercializando os materiais recicláveis provenientes dos RSU ali dispostos. A Agenda 21 Global, de junho de 1992, assinado por 170 países, afirma que cerca de 5,2 milhões de pessoas no mundo, entre elas 4 milhões de crianças menores de 5 anos, morrem devido a enfermidades relacionadas ao contato com os RSU. No Estado de Minas Gerais, o Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), com o objetivo de reduzir a poluição do solo e das águas e de melhorar a qualidade de vida da população, determinou, a partir de 2001, que os municípios implementassem medidas mitigadoras nos lixões e, ainda, para aqueles que possuíssem população urbana igual ou superior a 30.000 habitantes, a obrigatoriedade de implantar sistemas de tratamento ou disposição final dos RSU tecnicamente adequados e licenciados. As técnicas utilizadas, atualmente, para tratamento ou disposição final dos RSU empregadas no mundo são as citadas a seguir: 4.1.1 Sistemas de Disposição Final Vazadouro a céu aberto ou lixão: é uma das alternativas mais utilizadas por países em desenvolvimento; entretanto, é a mais inadequada de todas. Caracteriza-se pela simples disposição dos RSU sobre o solo, não obedecendo a nenhum critério de proteção ambiental ou à saúde pública. Essa prática acarreta contaminação do solo, água, ar e proliferação de vetores transmissores de doenças (LANZA, 2009). Aterro Controlado: sistema de disposição final similar aos lixões, tendo como principal diferença o recobrimento diário do material ali disposto por uma camada de solo. Não possuem os sistemas básicos de controle ambiental, tais como a impermeabilização da base, coleta e tratamento dos lixiviados e a queima do biogás gerado. São sistemas inadequados, acarretando contaminação do solo e das águas (LANZA, 2009). Cabe destacar que, em muitos 16 casos, devido à forma inadequada com que os municípios operam os aterros controlados, estes retornam à condição de lixão ou vazadouro a céu aberto. Aterro Sanitário: é uma técnica de disposição final dos resíduos sólidos no solo que permite um maior controle sobre os contaminantes gerados, oferecendo maior grau de proteção à saúde pública e ao meio ambiente. Os RSU são dispostos em células e compactados com auxílio de tratores, compactadores ou outras máquinas de grande porte. É realizado o recobrimento diário com solo do material ali disposto; a base da área é impermeabilizada; são implantados sistemas de coleta e tratamento do chorume (ou lixiviado) gerado; drenagem das águas superficiais; bem como coleta e queima do biogás (D‟ALMEIDA e VILHENA, 2000). 4.1.2 Sistemas de Tratamento Usinas de Triagem e Compostagem: são unidades que realizam a triagem manual ou mecanizada dos RSU, segregando os RSU em diferentes frações, os materiais recicláveis, a fração orgânica e o rejeito. Os materiais recicláveis segregados são prensados, enfardados e posteriormente comercializados; a fração orgânica é encaminhada aos pátios de compostagem onde, por um processo de degradação aeróbia, é convertida em um composto orgânico; os rejeitos são aterrados em valas sépticas ou encaminhados a aterros sanitários (LANZA, 2009). Plantas de Tratamento Mecânico-Biológico (TMB): são unidades em que o RSU é submetido a processos manuais e mecanizados de triagem. A fração orgânica é direcionada a algum processo biológico de tratamento para estabilização, geralmente sendo empregado a biometanização ou a compostagem acelerada. Para a segregação mecânica geralmente são utilizados equipamentos como trommels, mesas densimétricas, eletroímãs, indutores Focault, sopradores, entre outros. A triagem manual é realizada com o auxílio de catadores e para o tratamento biológico da fração orgânica podem ser empregados processos de biometanização, compostagem em pátios ou em túneis, dentre outras tecnologias (ARCHER, 2005). Reciclagem: é um processo industrial, no qual resíduos como papéis, papelões, vidros e plásticos são processados e convertidos novamente em matéria-prima, devolvendo a esses materiais características similares aos do produto original. 17 Incineração: é um processo de tratamento térmico que envolve a combustão dos resíduos, convertendo-os em cinzas, gases, materiais particulados e calor. Muitas vezes, o calor produzido pela reação de combustão é utilizado na geração de energia. Os gases emitidos para a atmosfera devem passar por sistemas de tratamento. O processo de incineração provoca uma redução de 80 a 85% na massa e de 95 a 96% no volume (CRWI, 2010). Pirólise/Gaseificação: é um processo termoquímico de conversão de matéria orgânica em combustíveis gasosos. É dividido em dois estágios: no primeiro, denominado pirólise, os compostos são volatilizados em temperaturas inferiores a 600°C, o que resulta em um gás combustível e uma fração sólida composta por carbono fixo e cinzas. No segundo estágio, denominado gaseificação, o carbono remanescente reage com hidrogênio sob calor, podendo ser realizado com ar ou com oxigênio puro. Quando o processo de gaseificação é realizado com oxigênio puro, resulta em gás energético rico em monóxido de carbono e hidrogênio, sendo denominado gás de síntese (KLEIN, 2002). Plasma: é um processo de tratamento térmico dos resíduos que utiliza energia elétrica e elevadas temperaturas para ionizar algum gás, criando um arco elétrico gaseificado que converte os RSU em gases combustíveis (monóxido de carbono e hidrogênio) e cinzas. As temperaturas de trabalho variam entre 4.000 e 7.000°C, ocorrendo um processo de vitrificação da fração sólida resultante (CIRCEO, 2010). A busca por alternativas no tratamento dos RSU dá-se, principalmente, pela mudança de paradigmas e novos conhecimentos técnicos adquiridos, o que possibilita o entendimento de que, muitas vezes, as práticas adotadas não são as mais indicadas. Atualmente, entende-se que o simples aterramento dos RSU é um procedimento que acarreta perda de matérias-primas, energia, e na geração de uma fonte de contaminação futura. As práticas de reciclagem ou de formas alternativas de tratamento dos RSU promovem um melhor aproveitamento da energia contida naqueles materiais. Outro aspecto é que o aterramento do material orgânico presente nos RSU é um dos principais fatores que desencadeiam os processos de contaminação oriundos da gestão dos resíduos. Ao se enterrar esses materiais, iniciam-se processos de decomposição anaeróbia, os quais produzem líquidos e gases com elevado potencial poluidor. O lixiviado, também conhecido como chorume, é um líquido gerado nesses processos, o qual 18 apresenta uma grande carga poluidora, podendo conter inclusive elevados níveis de toxicidade, demandando sistemas de tratamento onerosos e complexos. Os gases emanados pela decomposição dos resíduos orgânicos aterrados, constituídos principalmente de dióxido de carbono e metano (CH4), são considerados os principais gases contribuintes para o aumento do efeito estufa. No âmbito global, estima-se que pouco mais da metade das emissões atuais de metano seja antropogênica e que de 5 a 20% destas fontes são emissões a partir do manejo inadequado dos resíduos (HOUGHTON, 1996). Apesar dos aterros sanitários possuírem sistemas de drenagem de gases, uma parcela significativa é liberada na atmosfera de forma difusa, ou seja, fora dos drenos de gás. Soluções alternativas para tratamento da parcela orgânica dos RSU são cada vez mais pesquisadas e demandas. No Brasil, iniciativas para o tratamento dessa fração dos resíduos foram empreendidas, principalmente por meio de processos aeróbios de tratamento, denominados compostagem. Porém, devido a uma série de fatores, muitas plantas de tratamento sequer iniciaram operação e outras operam de forma deficiente. As metas do Estado de Minas Gerais, em operacionalização por meio de ações coordenadas pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), definem que 60% da sua população urbana seja atendida com sistemas de tratamento ou destinação final adequados, e que 80% dos lixões do Estado seja erradicado até o ano de 2011. Nesse sentido, entre 2001 e 2008, o Programa Minas sem Lixões contabilizou a redução de 56% no número de municípios que utilizam lixões e um acréscimo de mais de 100% na população urbana atendida por sistemas ambientalmente adequados. Atualmente a situação do tratamento dos RSU de cada município mineiro pode ser consultada no Inventário de Resíduos Sólidos de Minas Gerais, disponível no endereço eletrônico www.siam.mg.gov.br/residuos/solidos. Com base nos dados disponíveis na FEAM, é apresentada na Tabela 4.1, a situação da disposição final dos resíduos nos municípios mineiros e, na Tabela 4.2, a situação por população atendida. 19 Tabela 4.1 - Situação da disposição final de RSU nos 853 municípios de Minas Gerais Tipo de disposição Lixão Aterro Controlado Usina de Triagem e Compostagem Usina de Triagem e Compostagem não regulamentada 2001 2005 2006 2008 823 Sem Inf. 22 546 191 56 520 206 59 462 241 95 Ganhos 2001/2008 -44% 26%1 332% Sem Inf. 17 33 9 -47% 8 22 31 49 513% Sem Inf. 0 1 - - Aterro Sanitário Aterro Sanitário não regulamentado 1 1 Calculado para o período de 2005 a 2008. Fonte: Adaptada de www.feam.br Tabela 4.2 - Situação da disposição final de RSU por população urbana atendida Total 2003 Total 2006 Aterro Controlado 3.488.460 hab. 23,80% Usina 165.315 hab. 1,13% 276.999 hab. 1,90% Aterro Sanitário 2.671.119 hab. 18,20% 5.368.871 hab. 36,76% Fonte: Adaptada de www.feam.br A estratégia para a implementação da política ambiental de gestão de resíduos sólidos urbanos de Minas Gerais foi fundamental para a mudança observada no tratamento e disposição final dos resíduos. A partir de 2003, o Programa “Minas sem Lixões” passou a desenvolver ações de gerenciamento de RSU que, até então, fundamentada unicamente no processo de licenciamento ambiental, passou a adotar outros instrumentos de condução e orientação, tais como otimização dos instrumentos de gestão; informação à sociedade; edição de material explicativo; orientação aos municípios; adoção de procedimentos de monitoramentos automatizados e busca de recursos financeiros visando à melhoria da qualidade ambiental. Atualmente, a FEAM busca ─ além de incrementar o percentual de população urbana que dispõe de coleta, tratamento e disposição adequada dos seus RSU gerados ─ fomentar o desenvolvimento de novas tecnologias que contribuam para agregar valor, recuperar a energia presente nos RSU e mitigar as emissões dos GEE. Com base nessas novas premissas, a FEAM está desenvolvendo o projeto “Resíduo é Energia”, que, dentre outras ações, busca a implantação de unidades de tratamento dos resíduos que promovam a valorização dos RSU, seja via incineração, digestão anaeróbia, coprocessamento em fábricas de cimento ou na utilização do biogás gerado em aterros sanitários. 20 Nesse sentido, a FEAM considera que a biometanização dos RSU é uma rota tecnológica a ser incentivada, pois essas unidades possuem um elevado potencial de mitigações nas emissões de GEE, disponibilização de materiais para reciclagem e recuperação do potencial energético presente nos RSU. 4.2 O Processo de Digestão Anaeróbia De acordo com Chernicharo (1997), a digestão anaeróbia é um processo de mineralização da matéria orgânica em condições de ausência de oxigênio livre, podendo ser resumido em cinco etapas, sendo elas: hidrólise: é a etapa inicial do processo. Os materiais particulados complexos (polímeros) são convertidos compostos solúveis mais simples (menor massa molar), possibilitando que as bactérias fermentativas os absorvam através de suas paredes celulares. Essa dissolução ocorre por meio de enzimas extracelulares expelidas pelas bactérias. Com esse processo de hidrólise, as proteínas são convertidas em aminoácidos, os lipídeos solúveis em ácidos graxos e os carboidratos em açúcares simples. acidogênese: os compostos solúveis gerados na fase de hidrólise são assimilados pelas bactérias e metabolizados, sendo convertidos, principalmente, em ácidos graxos voláteis (AGV). Em menores quantidades são gerados alcoóis, ácido lático, gás carbônico, hidrogênio, amônia, sulfeto de hidrogênio e novas células bacterianas. acetogênese: os compostos gerados na acidogênese são oxidados e convertidos a hidrogênio, dióxido de carbono e acetato, o que forma o substrato adequado ao desenvolvimento das bactérias metanogênicas. metanogênese: é nessa fase que os compostos orgânicos são convertidos em biogás pelas bactérias metanogênicas. As bactérias envolvidas nesse processo são dividas em dois grupos: as acetoclásticas, que produzem o metano a partir do ácido acético e de outros compostos, contendo um átomo de carbono; e as hidrogentotróficas, que metabolizam o hidrogênio e o dióxido de carbono, gerando o gás metano. sulfetogênese: fase onde as bactérias sulforedutoras reduzem os sulfatos e outros compostos sulfurados em sulfetos. Essas bactérias se alimentam de uma gama de 21 substratos, podendo competir com as demais bactérias. Essa fase pode ou não ocorrer no processo de digestão anaeróbia, e só ocorrerá de forma significativa se houver grande quantidade de sulfato presente no meio. Nesse caso, a produção de metano tende a diminuir e a de gás sulfídrico a aumentar, o que é indesejável do ponto de vista balanço energético do aproveitamento do biogás. De forma a possibilitar uma melhor compreensão do processo de digestão anaeróbia, é apresentada na Figura 4.1, a sequência metabólica e grupos microbianos envolvidos no processo de digestão anaeróbia. Orgânicos Complexos Carboidratos, Proteínas, Lipídeos e outros. Hidrólise Bactérias fermentativas Ácidos Orgânicos Simples Açúcares, Aminoácidos, Peptídeos Acidogênese Bactérias fermentativas Ácidos Orgânicos Propionato, Butirato e outros Acetogênese Bactérias acetogênicas Bactérias acetogênicas produtoras de Hidrogênio H2 e CO2 Bactérias acetogênicas consumidoras de Hidrogênio Acetato Metanogênese Metanogênicas Hidrogenotróficas CH4 e CO2 Metanogênicas Acetoclásticas Sulfetogênese Bactérias redutoras de sulfato H2 S e CO2 Figura 4.1– Sequências metabólicas e grupos microbianos envolvidos no processo de digestão anaeróbia com redução de sulfato Fonte: Adaptada de CHERNICHARO (1997). Ainda segundo Chernicharo (1997), o processo pode ser ainda resumido em duas etapas principais: na primeira, os compostos orgânicos complexos são convertidos em materiais mais simples como ácidos voláteis, hidrogênio e outros; na segunda, ocorre a conversão desses 22 compostos nos produtos finais gasosos do processo de digestão anaeróbia, em especial os gases metano e carbônico, principais componentes do biogás. Nos sistemas anaeróbios, a maior parte da DQO é convertida em metano (cerca de 50 a 70%), sendo removida do material em digestão e extraída do digestor na forma gasosa. Entre 5 a 15% do material orgânico é convertido em biomassa microbiana e cerca de 10 a 30% não é convertida em biogás ou biomassa, permanecendo como material não degradado (CHERNICHARO, 1997). Por outro lado, como a matéria orgânica não é completamente convertida em biogás, entre 5 a 15% da DQO convertida em um sistema anaeróbio transforma-se em novas células (lodo ou biomassa anaeróbia), e o restante convertido em metano. O lodo produzido já sai estabilizado, necessitando apenas ser adensado e desidratado antes da sua disposição final. Devido às características do material em digestão, os lodos provenientes da biometanizaçao dos RSU possuem elevadas concentrações de amônia (COLTURATO, 2009). 4.3 O Biogás O termo biogás é utilizado para denominar o gás gerado durante o processo anaeróbio de decomposição da matéria orgânica. Geralmente é um gás saturado e composto majoritariamente por metano (55 a 70%) e dióxido de carbono (30 a 45%) e, devido à presença do hidrocarboneto metano, o biogás é um gás energético, sendo considerado um bicombustível. A composição do biogás depende diretamente das características da matéria orgânica degradada. Desconsiderando os constituintes utilizados para a síntese celular, a equação a seguir, primeiramente proposta por Buswell and Boruff (1932) e extendida por Sykes (2001), pode ser utilizada para estimar a quantidade de metano, dióxido de carbono, amônia e gás sulfídrico que serão produzidos em condições de anaerobiose. (4.1) 23 Segundo Tchobanoglous et al (2002), as frações molares esperadas para o CH4, CO2 e H2S são definidas pelas equações abaixo: (4.2) (4.3) (4.4) A composição do biogás varia em função do substrato digerido, sendo apresentada na Tabela 4.3 algumas composições esperadas para determinados substratos. Tabela 4.3 – Composição esperada do biogás em função do substrato digerido CH4 Substrato Carboidratos (Glicerina) 50% Gorduras (Tripalmitina) 71% Proteinas 38% Fonte: Adaptada de TCHOBANOGLOUS et al, (2002). CO2 NH3 H2S 50% 29% 38% 18% 6% Na Tabela 4.4 é apresentada a composição média do biogás gerado pela digestão anaeróbia de diversos tipos de resíduos orgânicos. Tabela 4.4 – Composição média do biogás gerado na digestão de diversos tipos de resíduos orgânicos Componente CH4 CO2 Concentração 40 - 75% 25 - 40% N H2S O2 NH3 H 0,5 - 2,5% 0,1 - 0,5% 0,1 - 1% 0,1 - 0,5% 1 - 3% Fonte: Adaptada de Salomon e Lora (2009) Uma vez que o metano (CH4) é o constituinte energético do biogás, o poder calorífico do biogás é diretamente proporcional à quantidade de CH4 presente nesse mesmo gás. O poder calorífico inferior (PCI) do CH4 é 35.800 kJ/m3 (TCHOBANOGLOUS et al, 2002). Dessa forma, um biogás com uma concentração de 60% de CH4 possui um PCI de 21.480 kJ/m3. 24 4.4 Breve histórico da biometanização e utilização do biogás Segundo Lusk (1998), as primeiras evidências da utilização de biogás com fins energéticos datam do século X antes de Cristo (A.C.) na cidade de Assyria, localizada na região da Mesopotâmia; do século XVI na região da Pérsia, onde o biogás era utilizado no aquecimento de água para banho; da China, onde era utilizado para a obtenção de sal a partir da água do mar (FULFORD, 2009). No século XVII (D.C.), Baptista Van Helmont foi o primeiro cientista a afirmar que gases inflamáveis estavam envolvidos no processo de decomposição da matéria orgânica. Em 1776, Count Alessandro Volta concluiu que existia uma correlação direta entre a quantidade de matéria orgânica em decomposição e a quantidade de gases inflamáveis gerados nesse processo. Em 1806, Humphry Davy confirmou a presença de metano nos gases produzidos durante o processo de degradação de dejetos animais em locais úmidos. Nogueira (1986) afirma que a primeira planta de biometanização destinada à produção de biogás com fins energéticos foi construída em 1857 em um hospital de hansenianos na cidade de Bombaim, na Índia, onde o biogás era utilizado para cocção. Na mesma época, as bases experimentais e teóricas da digestão anaeróbia eram definidas na Alemanha. O autor afirma, ainda, que, por volta de 1920, Karl Imhoff desenvolveu na Alemanha um modelo de tanque digestor para tratamento de esgotos residenciais. Esse sistema foi bastante difundido na época e recebeu o nome de tanque Imhoff. Na Índia, em 1897, na cidade de Bombaim, foi construído um sistema de iluminação movido a biogás (FULFORD, 2009) e, em 1907, o biogás foi utilizado como combustível em um motor para geração de calor e energia (ADLER, 2009). McBabe e Eckenfelder (1957)5 apud in Lusk (1998) relatam que, em 1895, o biogás gerado em uma fossa séptica era utilizado como combustível na iluminação pública da cidade de Exeter, na Inglaterra. De fato, na Europa a digestão anaeróbia é utilizada há mais de 100 anos na estabilização de biossólidos gerados nos processos de tratamento de esgotos sanitários (KELLEHER, 2007). 5 McCabe, J; Eckenfelder, W. Editores - Biological Treatment of Sewage and Industrial Wastes. Reinhold Publishing, New York, 1957. 25 Segundo Evans e Furlong (2003), pesquisas realizadas na década de 30 por A. M. Busswell e outros cientistas da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos da América (EUA), marcaram o início do desenvolvimento da microbiologia relacionada ao processo de digestão anaeróbia, em que foram identificadas as bactérias envolvidas no processo e as condições mais favoráveis à produção do gás metano. A partir dessas pesquisas foi estabelecida a equação 4.1, apresentada anteriormente. De acordo com Sganzerla (1983), em 1950 foi instalado na Índia o primeiro biodigestor de fluxo contínuo, e na década de 60 já eram desenvolvidas pesquisas com biodigestores na África do Sul. Segundo Lusk (1998), em função da redução no fornecimento de energia após a 2.ª Guerra Mundial, o processo de digestão anaeróbia foi amplamente difundido e utilizado na Europa com a finalidade de obtenção do gás metano para suprimento da demanda energética da população. Quanto à biometanização de RSU, a primeira evidência localizada foi a citada por Duff (2005), em que menciona a construção, em 1939, de um digestor nos EUA que operou até 1974. De acordo com Scuh (2008), as primeiras plantas demonstrativas de biometanização de RSU começaram a aparecer na Europa em 1984 e 1988. Segundo Adler (2009), os primeiros franceses a realizarem estudos com digestão anaeróbia foram os professores Ducellier G. e Isman M da l'Ecole nationale d'agriculture d'Alger. Em 1930, eles construíram na Argélia biodigestores do tipo batelada, para tratamento de estrume bovino, e registraram em 1938 um pedido de patente nos EUA para o modelo desenvolvido. Segundo Edelmann et al (1983), as pesquisas desenvolvidas por Ducellier G. e Isman M. serviram de base para a construção em Ruanda na África, da primeira planta de biometanização com tecnologia suíça para o tratamento de resíduos agrícolas. Essa unidade era composta por 3 digestores do tipo batelada de 20m3 cada um. Consequência direta de tal fato é que em 1980, com base na patente de Ducellier G. e Isman M, a empresa francesa Valorga iniciou seus estudos em biometanização de RSU (ADLER, 2009). Gaspar (2003) relata que na cidade de Kanpur, na Índia, o Instituto Indiano de Pesquisa Agrícola desenvolveu seu primeiro modelo de digestor para digestão de esterco bovino em 1939. Em função dos promissores resultados obtidos, em 1950 foi fundado o Gobar Gas 26 Institute (Instituto do Gás de Esterco), que contribuiu para a disseminação da tecnologia de digestão anaeróbia na Índia, promovendo a construção de quase meio milhão de unidades na região de Ajitmal (NOGUEIRA, 1986). Segundo Fulford, (2009), em 1951 foi estabelecido o KVIC National Programme, um programa governamental com metas de construção de digestores. A partir desse programa foi desenvolvido um modelo de digestor de domo flutuante e construídas diversas unidades com essa tecnologia em fazendas da Índia, que eram utilizados no tratamento de esterco bovino. Segundo Bhat (2001), em 1982 foi lançado na Índia o Programa Nacional de Desenvolvimento do Biogás, cujo objetivo era fomentar a implantação de unidades familiares de biometanização para reduzir o consumo de lenha e fornecer uma fonte de energia limpa e sustentável para cocção de alimentos. De acordo com Fulford (2009), em 2005 a Organização Não Governamental (ONG) indiana Appropriate Rural Technology Institute (ARTI) ganhou o prêmio inglês Ashden Awards for Sustainable Energy pelo desenvolvimento de modelo de digestor de baixo custo, construído a partir de um reservatório de água. Em 2007, a empresa indiana Biotech recebeu esse mesmo prêmio por um modelo similar de digestor construído em fibra de vidro reforçada. Em 2009, existia na Índia cerca de 12 milhões de unidades de biometanização de baixo custo construídas, e cerca de 60% dessas unidades funcionava adequadamente. Segundo Nes (2006), observa-se um incremento anual de cerca de 200 mil unidades de biometanização na Índia. Segundo Chen (2010), o primeiro digestor da China em escala-piloto foi construído por volta de 1880, na província de Guangdong. Em 1920, Gourui Lou desenvolveu o primeiro modelo de digestor retangular e, em 1929, foi fundada a primeira instituição chinesa para promover a produção e utilização do biogás. Em 1933, iniciou-se um programa de treinamento para construção e uso de biodigestores, e em 1958 foram criados diversos institutos chineses de pesquisa em biogás. De acordo com Gaspar (2003), de 1958 a 1972 a China já dispunha de mais de 7,2 milhões de biodigestores construídos na região do Rio Amarelo. Atualmente, a China é o país que possui a maior quantidade de plantas rurais de biometanização no mundo; em 2007 haviam cerca de 26,5 milhões de digestores, cujas unidades produziram cerca de 10,5 bilhões de m3 de biogás (CHEN, 2010). De acordo com Nes (2006), isso representa 10% do total de propriedades rurais da China. 27 Segundo He (2010), a industrialização do biogás na China foi iniciada em 1921 por Gourui Lou, que construiu seu primeiro biodigestor em sua própria casa. A unidade possuía um volume de 8m3 e o biogás era utilizado para cocção e iluminação. Em 1929, Gourui Lou fundou a Zhonghua Guorui Gas Lamp Company, empresa que seria responsável pela comercialização da tecnologia por ele desenvolvida. Em 1931, com o intuito de promover sua tecnologia, Gourui Lou lançou um dos primeiros slogans publicitários abordando a temática ambiental. A propaganda trazia os dizeres: “Iluminação com lixo, benefícios dos usos dos resíduos”6. De acordo com Le e Ho (2006), em 1932, Gourui Lou transferiu sua empresa para Xangay, alterando o nome para Chinese Guorui Biogas Company, onde sua tecnologia se proliferou rapidamente. Em 1935 foi publicada a primeira monografia sobre biogás na China, intitulada Chinese Guorui Biogas Digester Practical Lecture Notes. No Nepal, a primeira planta de biometanização em escala de demonstração foi construída em uma escola na cidade de Kathmandu, em 1955; em 1974, o Departamento de Agricultura do Nepal implementou um programa que subsidiaria a construção de 250 biodigestores. Já em 1991, foi fundado o Biogas Support Program (BSP), uma instituição sem fins lucrativos, financiada pela Holanda, cujo objetivo era dar suporte ao programa de biogás do Nepal (GAUTAM, 2009). Até 2009 haviam sido implantadas 189.122 plantas biometanização no Nepal, e 98% dessas unidades funcionavam adequadamente (FULFORD, 2009). Segundo Chynoweth (2002), na década de 70, o Energy Research and Development Administration (ERDA) dos EUA, fundou o Waste Management, um órgão que tinha como objetivo projetar, construir e operar um sistema-piloto de biometanização da MOR, com recuperação dos materiais recicláveis presentes no RSU. Em 1978, a unidade-piloto foi construída em Pompano Beach, na Flórida, e era composta por um sistema de pré-tratamento e dois digestores com 15m de diâmetro e 1.300m3 de volume cada um. Segundo Wiliams (2004), esses digestores operavam com baixo teor de sólidos (3 a 7%) e geravam cerca de 212L de biogás (com 55% de CH4) por kg de sólido volátil (SV) introduzido. Devido a problemas operacionais, a unidade funcionou por apenas dois anos e meio, sendo então desativada. 6 Tradução livre do autor. Texto original: Lighting with garbage, beneficial use of waste 28 4.5 A Biometanização de RSU no Brasil Andrade et al (2002) comenta que, nas décadas de 70 e 80, o Governo brasileiro, por meio dos Ministérios da Agricultura e de Minas e Energia, promoveu a construção de biodigestores do modelo chinês ou indiano, para uso rural, em diversas fazendas do Brasil. Até o ano de 1988, haviam sido implantadas cerca de 8.000 unidades. Segundo Kunz (2004), o objetivo do programa era a redução na dependência de pequenas comunidades rurais na aquisição de adubos químicos e energia térmica, bem como a redução na poluição gerada pelo manejo inadequado dos resíduos agrícolas. Entretanto, devido ao baixo nível de conhecimento da tecnologia de construção e operação de digestores, aos custos de manutenção e às dificuldades na utilização do biofertilizante, o programa veio a fracassar e a grande maioria dos digestores foi desativada. Tais insucessos acarretaram no descrédito da tecnologia de biometanização por parte dos produtores rurais brasileiros. A única planta de biometanização de RSU, em escala industrial, no Brasil de que se tem notícia foi a que funcionou na cidade de Uberaba. Segundo Neto e Nishiyama (2005), na década de 80 fora construída na cidade uma unidade de triagem e compostagem, a qual dispunha de um biodigestor para tratamento da MOR. Os resíduos recebidos pela unidade eram depositados em um fosso. Com o auxílio de uma garra hidráulica, os resíduos eram transferidos para uma esteira, a qual os direcionava a uma peneira rotatória dotada de rompedores de sacolas. Nessa peneira ─ que possuía uma malha de 20cm x 20cm ─ o material era segregado em duas frações, sendo então direcionado a duas esteiras para triagem manual e recuperação de recicláveis. Após a triagem, o material era direcionado a um eletroímã para remoção da fração metálica. A MOR era direcionada a uma última peneira para, então, ser introduzida no biodigestor. Entretanto, devido a uma série de problemas operacionais, principalmente quanto ao acúmulo de material impróprio no interior do biodigestor, a unidade foi desativada. A Figura 4.2 apresenta detalhes da unidade. 29 (a) (b) (c) Figura 4.2 – Usina de triagem e compostagem localizada na cidade de Uberaba/MG que possuía uma unidade de biometanização de RSU. Na Figura (a) detalhe do fosso de recebimento de resíduos. Na Figura (b) detalhe da área de triagem manual. Na Figura (c) detalhe do interior do digestor com elevado acúmulo de materiais impróprios. Fonte: NETO e NISHIYAMA (2005). Atualmente, não existe nenhuma unidade de biometanização dos RSU em operação no Brasil; entretanto, algumas empresas e instituições começam a se mobilizar visando à implantação de uma primeira unidade. A utilização de biogás proveniente dos RSU no Brasil só é observada na recuperação do biogás gerado em aterros sanitários ─ conhecido como gás do lixo (GDL). Segundo Muylaert (2000), em 1977 foi implantado no Aterro do Caju, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), um projeto de recuperação do GDL e lançamento na rede de gás natural. Desenvolvido em parceria com a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB) e a Companhia Estadual de Gás (CEG), o GDL recuperado era transportado por 4 km em um gasoduto até a planta de gás natural da CEG, onde era adicionado ao nafta e craqueado em gás natural, quando, então, era distribuído para uso residencial no Rio de Janeiro. O volume do GDL chegou a representar 3% de todo o gás natural distribuído pela CEG, cujo projeto, em 10 anos, 30 recuperou mais de 20x106m3 de GDL. Em 1980 a COMLURB iniciou um plano para purificação desse gás e utilização como GMV. A unidade operou até 1985, tendo um custo total de implantação de US$319.992,00(trezentos e dezenove mil novecentos e noventa e dois dólares). Em 1983, na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, a administração municipal elaborou três projetos para o aproveitamento do GDL do aterro da cidade, os quais contemplavam: i) a utilização do GDL para cocção em uma cozinha industrial para comunidades de baixa renda; ii)a implantação de uma rede de distribuição do GDL para uma comunidade vizinha; iii) a utilização do GDL em uma caldeira de uma indústria de secagem de castanha de caju. Com um custo estimado em US$ 50.000,00, a prefeitura buscou apoio em agências federais de financiamento; entretanto, não obteve êxito nos pedidos, devido à pequena abrangência do projeto, e em 1986, utilizando recursos próprios, a prefeitura implantou a cozinha comunitária (MUYLAERT, 2000). Em 1979, foi implantado no aterro sanitário Raposo Tavares, no município de São Paulo, um projeto de recuperação do GDL e fornecimento para 41 residências do entorno para utilização na cocção. (ORTH, 2003). Além desses aqui mencionados, diversos outros projetos de recuperação do GDL foram implantados no Brasil nas décadas de 70 e 80. Atualmente, segundo dados do Banco de Informações de Geração (BIG), da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), existem no Brasil apenas nove empreendimentos que produzem energia elétrica a partir do biogás e lançam no Sistema Interligado Nacional (SIN). Segundo dados do BIG, os nove empreendimentos em operação possuem uma potência de 45MW, o que representa apenas 0,04% da potência de geração elétrica brasileira. Ainda segundo dados do BIG, um novo empreendimento está em fase de construção, o qual incrementará mais 20MW. Além desses, ainda existem outros quatro empreendimento outorgados, os quais irão somar mais 10MW(ANEEL, 2010). Na Tabela 4.5 é apresentado um resumo sobre tais empreendimentos. 31 Tabela 4.5 – Empreendimentos produtores de energia elétrica a partir do biogás, registrados na ANEEL Usina Capacidade Instalada (kW) Fase 1 Salvador 19.730 Em construção 2 3 4 5 2.601 4.000 3.775 42 Outorga Outorga Outorga Outorga 6 Bandeirante 20.000 Em operação 7 8 9 10 11 12 13 14 21.560 30 160 40 20 32 4.280 2.400 Em operação Em operação Em operação Em operação Em operação Em operação Em operação Em operação % 0,04% 0,01% 0,02% 0,07% 100,00% PCT Barueri Biogás Novagerar Energia Ambiental 2 Frigorífico D talia São João Biogás Energ-Biog Unidade Industrial de Aves Unidade Industrial de Vegetais ETE Ouro Verde Granja Colombari Asja BH Arrudas Somatório Total em operação Total outorgado Total em construção Total geral do biogás Capacidade Instalada no Brasil 48.522 10.418 19.730 78.670 110.551.588 Destino da Energia Produção Independente de Energia (PIE) Registro Registro PIE Registro Autoprodução de Energia e PIE PIE Registro Registro Registro Registro Registro Registro Registro Município Fonte Salvador - BA Aterro Sanitário Carapicuíba - SP Nova Iguaçu - RJ Joaquim Nabuco - PE Pedras Grandes - SC ETE Aterro Sanitário Aterro Sanitário Frigorífico São Paulo - SP Aterro Sanitário São Paulo - SP Barueri - SP Matelândia - PR Itaipulândia - PR Foz do Iguaçu - PR São Miguel do Iguaçu - PR Belo Horizonte - MG Belo Horizonte - MG Aterro Sanitário ETE Frigorífico Alimentícia ETE Frigorífico Aterro Sanitário ETE Fonte: Adaptado de ANEEL (2010). Conforme pode ser observado na Tabela 4.5, o Brasil possui seis empreendimentos de geração de energia elétrica a partir do biogás proveniente dos RSU. Entretanto, são empreendimentos de aproveitamento do biogás gerado em aterros sanitários, não existindo nenhum proveniente de unidade de biometanização dos RSU, do tipo Planta TMB. Buscando instalar uma planta de biometanização dos RSU no Brasil, em 2004, a Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), a Eletrobrás e o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) realizaram um estudo de viabilidade e sustentabilidade para implantação de uma unidade para tratamento dos RSU na cidade de Porto Alegre. O estudo avaliou diversos aspectos para a construção, como a mecanização da unidade, a comercialização dos subprodutos, o tipo de tecnologia, entre outros. Segundo o estudo, a unidade de biometanização é viável, tanto do ponto de vista ambiental, quanto econômico. Entretanto, devido à mudança de governo, o projeto foi abandonado e a unidade não foi implantada (BARCELOS et al, 2004). Outra iniciativa que busca viabilizar a implantação de uma unidade no Brasil é a capitaneada por Oliveira e Rosa (2004). O projeto consiste na implantação do chamado Ecopolo Bioenergético do Aterro do Caju, no Rio de Janeiro, com aproveitamento máximo dos RSU, somando tecnologias como incineração, biometanização, produção de biodiesel e reciclagem. 32 Em 1992, foram construídos no aterro três digestores para compostagem aeróbia da MOR, recuperada na usina de triagem existente no local. Entretanto, a aquisição da tecnologia francesa não foi precedida de testes para adequação e o sistema que funciona no seu país de origem não obteve êxito no Brasil. Foram construídos três digestores de 15 metros de altura por 14 metros de diâmetro. Devido à similaridade da estrutura com os biodigestores da tecnologia DRANCO, Oliveira e Rosa (2004) propõem a reforma das unidades, convertendoas em unidades de biometanização. A Figura 4.3 apresenta o layout proposto para o Ecolopolo Bioenergético do Caju. Figura 4.3 - Layout do Ecopolo Bioenergético do Aterro do Caju. Fonte: EPE (2008) Outra iniciativa de biometanização de RSU é a empreendida pelo consórcio “Recife é Energia”. Vencedor da licitação para tratamento dos RSU da cidade de Recife, o consórcio pretende instalar uma planta de beneficiamento de RSU que conjugará incineração e biometanização. Segundo informações obtidas na Kuttner do Brasil, empresa detentora da licença para comercialização da tecnologia Kompogas, o sistema de biometanização a ser instalado é o comercializado por essa empresa. 33 4.6 Potencial Energético Brasileiro a partir da implantação de unidades de Biometanização de RSU. Segundo o IBGE (2010), o Brasil coleta 183.488t de RSU por dia. De acordo com IPT/CEMPRE (2000), o percentual médio de matéria orgânica no RSU brasileiro é de 52%. Considerando esses valores, estima-se que sejam coletadas diariamente no Brasil 95.414t de resíduos orgânicos. De acordo com RISE-AT (1998), a produtividade de biogás em unidades de biometanização RSU varia de 100 a 200m3 por tonelada de resíduo orgânico processado e que o biogás gerado possui uma concentração de metano variando entre 55 a 70%. Adotando uma produtividade média de 150m3 de biogás por tonelada de resíduo orgânico e um conteúdo de metano de 62,5%, pode-se estimar um potencial brasileiro de produção de biogás a partir do tratamento dos RSU em unidades de biometanização de 5,2x109m3 por ano ou 3,3x109m3 de metano. De acordo com ICLEI (2009), o potencial de geração de energia elétrica a partir do biogás pode ser calculado com base nas seguintes equações: Eq. (4.5) onde: Px = Potência disponível (kW); Qx = Vazão de Metano (m3CH4/hora); PCImetano = 8.500kcal/m3CH4 (Pecora et al., 2009); 860 = fator de conversão de kcal para kW. Eq. (4.6) onde: Eassegurada = Energia assegurada (kW); Px = Potência disponível (kW); 34 ƞ = eficiência elétrica do motor de cogeração (44%7); = Fator de capacidade (88%8) Com base nas equações 4.5 e 4.6, estima-se um potencial de produção de energia elétrica a partir do biogás originário da biometanização dos RSU brasileiros seja de 1.426MW, o que representa uma geração anual de 12,5TWh de energia elétrica. Segundo EPE (2009), a geração elétrica no Brasil em 2008 foi de 463,1TWh; sendo assim, a energia elétrica gerada pelo biogás do RSU representaria 2,7% da geração elétrica brasileira. Adicionalmente à energia térmica e elétrica gerada a partir do biogás, pode-se estimar ainda o potencial de conservação de energia em função da reciclagem dos materiais recuperados. A definição de um plano de governo para a utilização da biometanização para tratamento da fração orgânica dos RSU implicaria um incremento significativo na disponibilização de materiais para a reciclagem. Para um adequado funcionamento das unidades de biometanização de RSU é imprescindível que os materiais recicláveis presentes nos RSU sejam recuperados, quer seja via separação nas unidades de triagem das Plantas TMB, quer seja pela implementação de programas de coleta seletiva. A reciclagem dos materiais presentes nos RSU pode ser considerada como um importante mecanismo de conservação de energia. Segundo cálculos realizados por EPE (2008), o potencial médio de conservação de energia pela reciclagem do papel, papelão, plásticos, vidros e metais presentes nos RSU é de 1,1kWh por kg de RSU tratado. Caso 50% fração reciclável RSU coletados no Brasil fosse recuperada, estima-se um potencial de conservação de energia de 100GWh/dia ou 37TWh/ano, o que representa 8% da geração elétrica brasileira em 2008. Cabe ressaltar que os valores de produção e conservação de energia elétrica aqui apresentados representam o potencial teórico presente no RSU. Na prática, devido a diversas razões, o aproveitamento de 100% desse potencial é inviável. 7 8 Fonte: http://www.gepower.com/prod_serv/products/recip_engines/en/index.htm Fonte: EPE (2008) 35 4.7 Configurações das Tecnologias para Biometanização de FORM Atualmente no mundo, a biometanização é um importante processo no gerenciamento da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos, industriais e agrossilvopastoris. Esse processo é aplicado objetivando a estabilização dos resíduos, redução no volume, controle de odores e patogênicos, recuperação energética e atendimento à legislação vigente. Devido aos diversos coprodutos gerados, cada vez mais estão sendo construídas unidades para o tratamento de resíduos orgânicos focados no aproveitamento desses coprodutos. Conforme dito anteriormente, o biogás pode ser convertido em calor e energia; já o material digerido é transformado em composto, um importante insumo agrícola (AUSTERMANN et al, 2007). De acordo com Austermann et al (2007), as tecnologias de biometanização dos RSU se distinguem pelas seguintes configurações: via seca ou via úmida; fluxo pistão ou mistura completa; mesofílica ou termofílica; estágio único ou multiestágio; batelada ou contínuo. De acordo com Vandevivere et al. (2002), devido à elevada complexidade do processo biológico, e pelo fato de a utilização da tecnologia para o tratamento dos RSU ser relativamente recente, a tecnologia para biometanização RSU não está totalmente consolidada, e ainda não foi estabelecido um consenso quanto à configuração mais adequada para a biometanização dos RSU. O teor médio de umidade presente nos RSU varia de 50 a 65%; para adequação do teor de umidade do resíduo de entrada, diversas tecnologias adicionam água ao resíduo até o percentual requerido pela tecnologia. Em algumas tecnologias, adiciona-se o efluente líquido proveniente do processo de desidratação do material digerido, o que reduz os custos com o 36 tratamento dos efluentes líquidos e de captação de água. Entretanto, verifica-se que tal opção resulta em problemas de acúmulo de amônia no lixiviado (OSTERM, 2004). Na Figura 4.4 é apresentado o fluxo de materiais e o balanço de massa de uma unidade padrão de biometanização de RSU. Figura 4.4 – Fluxo de materiais e balanço de massa de uma planta padrão de biometanização de RSU Fonte: Adaptada de OSTREM (2004). A produtividade e a composição do biogás gerado variam em função da tecnologia empregada e da composição do resíduo digerido. Geralmente obtêm-se de 100 a 200m3 de biogás, contendo de 55 a 70% de metano, por tonelada de matéria orgânica processada (RISE-AT, 1998). Na Figura 4.5 é apresentado o balanço energético típico de plantas de biometanização de RSU. 37 Figura 4.5 – Balanço energético típico de plantas de biometanização de RSU Fonte: Adaptada de OSTREM (2004). Na Tabela 4.6 são apresentados valores de referência para o Capex9 e o Opex10 de plantas TMB de RSU, que utilizam tecnologias via seca de biometanização. Tabela 4.6 – Estimativas de parâmetros operacionais de plantas TMB Tecnologia Planta TMB com tecnologia de biometanização via seca Capacidade da planta (t/ano) Faixa de variação Valor médio de Faixa de variação Valor médio de do Capex (milhões Capex do Opex (£/t) Opex (£/t) de £) (milhões de £) 10.000 1,40 - 5,00 3,25 9,00 - 20,00 15,00 20.000 2,50 - 7,00 4,25 6,00 - 20,00 12,00 Prazo de planejamento (meses) Prazo entre a elaboração do projeto e o comissionamento da unidade (meses) 4 a 12 9 a 24+ Fonte: Adaptado de McLanaghan, (2002). 4.7.1 Sistemas Batelada vs. Sistema Contínuo Os digestores de batelada possuem um design simples e barato e operam sem diluição do material (via seca). Entretanto, devido a esses digestores não possuírem um processo contínuo de introdução e extração de substrato, a produção de biogás também não ocorre de forma contínua. A configuração dos digestores pode ser de um estágio (um tanque de reação) ou múltiplos estágios (vários tanques de reação). Sistemas de batelada de único estágio geralmente são utilizados em unidades de pequeno porte, em que a recuperação energética não é prioridade. De modo a propiciar a continuidade do sistema e uma constante produção de 9 Capex é a sigla inglesa para a Capital Expenditure, o que corresponde às despesas de capital ou investimentos em bens de capital, ou seja, o montante de recursos investido na aquisição, ou em melhorias, de bens de capital de uma determinada empresa. 10 Opex é a sigla inglesa para a Operational Expenditure, o que corresponde aos recursos investidos por uma empresa na manutenção de bens físicos de um empresa, tais como equipamentos, propriedade e imóveis. 38 biogás, a tendência é a operação de vários digestores de batelada em série, promovendo a realização de partidas e esvaziamentos sequenciais dos digestores (AUSTERMANN et al, 2007). Os digestores de fluxo contínuo são aqueles nos quais a introdução dos resíduos a serem tratados e a extração do material digerido ocorre continuamente, podendo operar tanto em via seca ou úmida. Esses processos produzem um fluxo de biogás mais constante, permitindo a otimização dos sistemas de geração de energia (AUSTERMANN et al, 2007). De acordo com Vandevivere et al., (2002), os sistemas de batelada são tecnologicamente mais simples, robustos e baratos, tendo como principais desvantagens a necessidade de uma maior área e uma menor produtividade de biogás. Devido aos digestores serem completamente esvaziados ao final de cada processo, esses modelos eliminam um dos principais problemas operacionais enfrentados em plantas de biometanização de RSU ─ o acúmulo de inertes no interior do digestor. De qualquer forma, pode ocorrer a colmatação (entupimento) da base do digestor, comprometendo o processo de recirculação do lixiviado. Outra complicação operacional é a possibilidade de formação de zonas mortas em virtude da criação de caminhos preferenciais de circulação do lixiviado no substrato. Devido à simplicidade operacional e robustez dos sistemas de batelada, eles possuem grande potencial de aplicabilidade nos países em desenvolvimento (De Baere e Mattheeuws, 2008). 4.7.2 Biodigestores Via Seca vs. Via Úmida Os processos via úmida são aqueles que diluem o material a ser digerido com a adição de água ou efluente a um teor máximo de sólidos totais (ST) de 15%, muito embora a maioria desses sistemas opera com teores de ST entre 3 a 7%. Os processos via seca operam com teores de ST superiores a 15%. Essa distinção fornece uma primeira indicação do grau de complexidade do sistema de pré-tratamento que será necessário para a adequação dos resíduos aos padrões requeridos pelo sistema de biometanização, bem como do modelo do digestor a ser utilizado (AUSTERMANN et al, 2007). Processos via seca geralmente produzem um menor volume de efluentes líquidos, requerendo, assim, instalações de menor porte e menos complexas para o desaguamento do material 39 digerido e tratamento dos efluentes líquidos gerados. Entretanto, os digestores via seca de fluxo contínuo geralmente necessitam de uma unidade para o pré-acondicionamento do resíduo, para a sua inoculação e homogeneização antes de sua introdução no digestor (AUSTERMANN et al, 2007). Devido à possibilidade de aplicação de uma maior carga orgânica11, os digestores via seca requerem um menor volume do que os via úmida; entretanto, devido à maior densidade do material em digestão, o processo requer a utilização de equipamentos mais potentes e robustos (VANDEVIVERE, 2002). Os processos via úmida geralmente utilizam digestores do tipo mistura completa, sendo a agitação do material realizada por agitadores mecânicos internos, recirculação do material em digestão ou pela injeção de biogás comprimido. Um problema comum observado em digestores via úmida é a formação de uma capa flotante, denominada escuma. Essa capa é composta por plásticos e outros materiais de baixa densidade, que se acumulam no interior do digestor, formando uma dura crosta acima do material em digestão. Essa crosta acarreta problemas operacionais, uma vez que pode danificar os agitadores mecânicos e comprometer a extração do biogás. Outro problema observado em digestores via úmida é a sedimentação de materiais inorgânicos (pedras, vidros, areias, etc.) no seu interior (AUSTERMANN et al, 2007), resultando em redução do volume útil do digestor. Outro complicador é a acumulação de amônia no material em digestão. Devido ao elevado grau de reintrodução do lodo no digestor. Os níveis de amônia tendem a se elevar, atingindo concentrações que podem inibir ou intoxicar o meio biológico. A adição de água nova ao resíduo a ser alimentado promove uma diluição na concentração de compostos tóxicos ou inibidores do processo de biológico, porém acarreta custos, além de incrementar o volume de efluente líquido a ser tratado. (VANDEVIVERE, 2002). Segundo Kelleher (2007), os processos de pré-tratamento dos resíduos requeridos nos sistemas via úmida ocasionam uma maior perda de sólidos voláteis, o que diminuiu a produtividade de biogás no sistema. Devido à maior complexidade dos sistemas via úmida e da maior 11 Kg de sólidos voláteis aplicados por m3 de digestor 40 quantidade de equipamentos utilizados, esses sistemas tendem a uma maior demanda interna da energia elétrica (cerca de 50%) do que os sistemas via seca (entre 20 e 30%). 4.7.3 Biodigestores de Mistura Completa vs. Fluxo Pistão Segundo Energaia (2006), os digestores de mistura completa são caracterizados pelo ininterrupto processo de alimentação e extração do digestor e o elevado grau de mistura do material em digestão, seja por agitadores mecânicos, seja por injeção de biogás comprimido ou recirculação do material. Tal condição é indicada para o tratamento de efluentes com elevada concentração de sólidos, pois proporciona a manutenção de uma biomassa estável no interior do digestor. Na Figura 4.6 é apresentado um modelo esquemático de um digestor de mistura completa. Figura 4.6 – Modelo esquemático de um digestor de mistura completa Fonte: Adaptada de OGEJO et al (2009). Os digestores de fluxo pistão também possuem um processo de alimentação e extração em contínuo. O material é alimentado em uma das extremidades do digestor, sendo extraída a mesma quantidade na outra extremidade. O fluxo é similar a um êmbolo, sem processos de mistura longitudinal. As partículas mantêm sua identidade e permanecem no digestor por um período igual ao TDH de projeto. De forma a garantir esse fluxo, os digestores são longos, com uma elevada relação comprimento-largura, possuindo assim uma dispersão longitudinal mínima. (VON SPERLING, 1996). Se, por um lado, os digestores de mistura completa possuem a vantagem de „diluir‟ uma eventual carga tóxica afluente, os digestores do tipo pistão permitem uma „separação espacial‟ dos micro-organismos anaeróbios no digestor, uma vez que o resíduo segue um fluxo direcional, em que no início há predomínio de microorganismos acidogênicos; na fase intermediária de acetogênicos; e, na final, de metanogênicos. Dessa forma, a inibição da metanogênese por acúmulo de ácidos e redução do 41 pH é minimizada. Além disso, por questões cinéticas, os reatores de fluxo pistão são mais eficientes do que os de mistura completa. Na Figura 4.7 é apresentado um modelo esquemático de um digestor de fluxo pistão. Figura 4.7 - Modelo esquemático de um digestor de fluxo pistão Fonte: Adaptada de OGEJO et al (2009). 4.7.4 Faixa Mesofílica vs. Faixa Termofílica Existem dois grupos principais de bactérias utilizadas no processo de digestão anaeróbia: as mesofílicas e as termofílicas. As bactérias mesofílicas apresentam taxa máxima de crescimento por volta de 37ºC, ao passo que para as bactérias termofílicas a taxa máxima de crescimento se dá na faixa dos 55ºC. As bactérias termofílicas possuem uma taxa de reprodução maior que as da faixa mesofílica, resultando em um maior rendimento do sistema e, consequentemente, maior produção de biogás. Porém, devido aos requerimentos energéticos demandados para elevar a temperatura do sistema, algumas tecnologias optam por operar na faixa de temperatura mesofílica (AUSTERMANN et al, 2007). Devido ao processo de digestão mais acelerado, os digestores termofílicos requerem um menor tempo de detenção hidráulica (TDH) e atingem uma maior produtividade de biogás em um menor espaço de tempo, possibilitando assim a construção de digestores de menores dimensões. Isso implica menor requisito de área e, consequentemente, acarreta um menor investimento com aquisição de terrenos. Entretanto, devido à necessidade de manutenção de temperaturas mais elevadas, o processo termofílico requer uma maior carga energética, demandando uma quantidade extra de vapor ou energia para aquecimento dos digestores, principalmente durante o inverno (AUSTERMANN et al, 2007). 42 4.7.5 Sistemas de Único Estágio vs. Multiestágio Nos digestores de único estágio todas as etapas do processo de digestão anaeróbia (hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese) ocorrem simultaneamente em um único tanque de reação, de mistura completa. Entretanto, devido às bactérias metanogênicas possuírem requerimentos metabólicos específicos, bem como uma taxa de crescimento menor do que as demais, os digestores devem ser manejados de forma a prover as condições ótimas ao grupo metanogênico, tendo em vista que essas bactérias são mais sensíveis a mudanças no meio do que os demais grupos. Devido à taxa de crescimento mais acelerada das demais bactérias e à elevada produção de ácidos, pode ocorrer o processo denominado inibição por substrato, prejudicando o desenvolvimento dos micro-organismos metanogênicos. De forma a otimizar cada uma das etapas do processo de biometanização, foram desenvolvidas tecnologias que operam em processos multiestágio (AUSTERMANN et al, 2007). Os sistemas multiestágio geralmente possuem dois digestores: no primeiro tanque de reação, as etapas hidrolíticas, acidogênica e acetogênica são otimizadas; no segundo digestor, há otimização da etapa metanogênica. Devido à possibilidade de um controle mais acurado nas distintas fases do processo biológico, os digestores multiestágio tendem a ter um ganho na produtividade de biogás e um melhor desempenho do processo de digestão anaeróbia como um todo. Entretanto, a operação de dois ou mais digestores em série acarreta uma maior complexidade operacional para manutenção das condições ótimas em todos os digestores. Essa operação mais complexa implica custos de investimentos mais elevados, pela necessidade de equipamentos adicionais (bombas, digestores, etc.) e o requerimento de uma maior área para a instalação da unidade. Um ponto crítico é em relação à interdependência dos digestores, pois falhas em um deles podem acarretar desestabilização de todo o sistema de biometanização (AUSTERMANN et al, 2007). Os processos multiestágio são especialmente interessantes no tratamento de resíduos com elevado teor de fibras de celulose ou de outros compostos de difícil degradabilidade (VANDEVIVERE et al., 2002). Atualmente, a maioria das plantas biometanização de RSU utilizam tecnologias de estágio único. Segundo De Baere e Mattheeuws (2008), a capacidade instalada de unidades de estágio único representa 93% da capacidade instalada total para 43 tratamento de resíduos orgânicos. Segundo Vandevivere et al. (2002), a preferência por tecnologias de único estágio ocorre em função do seu design mais simplificado, maior robustez operacional e menores custos de investimentos 4.8 Evolução da Biometanização de RSU Segundo De Baere e Mattheeuws (2008), a utilização da biometanização no tratamento de resíduos orgânicos vem sendo realizada a partir dos últimos 20 anos, e nos últimos 10 anos essa evolução ocorreu de forma mais acelerada. A utilização de processos de biometanização para tratamento de resíduos orgânicos pode ser considerada como a maior evolução europeia na gestão de resíduos durante as duas últimas décadas. Atualmente, essas tecnologias vêm dominando uma significativa parcela do mercado europeu nessa área, principalmente em países como Alemanha, Espanha e Itália. A Figura 4.8 apresenta a capacidade instalada de biometanização de RSU na Europa. Figura 4.8 – Capacidade Instalada de Biometanização de RSU na Europa Fonte: Adaptada de DE BAERE (2008). Segundo Scuh (2008), o processo de biometanização de RSU em larga escala é uma tecnologia relativamente recente. As primeiras plantas demonstrativas das tecnologias hoje disponíveis em estágio comerciais foram instaladas em 1984 ─ a primeira unidade foi construída na cidade de Gent, na Bélgica, em 1984, com tecnologia Dranco. Posteriormente, em 1988, na cidade de La Buisse, na França, foi construída a primeira planta com tecnologia 44 Valorga. Atualmente, existem diversas tecnologias em estágio comercial. No item 4.9 será apresentada uma descrição das principais tecnologias comerciais de biometanização seca de fluxo contínuo. Scuh (2008) apresenta a linha evolutiva das principais tecnologias de biometanização de RSU hoje em estágio comercial. Na Figura 4.9 é apresentada a linha evolutiva das tecnologias de biometanização via seca de fluxo contínuo, sendo elas: Kompogas, Linde-BRV (atualmente registrada como Laran), Dranco e Valorga. Figura 4.9 – Evolução das tecnologias de biometanização via seca de RSU (Tecnologias Kompogas, Linde BRV, Dranco e Valorga) Fonte: SCUH (2008) No mesmo estudo, o autor traça, ainda, a linha evolutiva das tecnologias de biometanização via úmida, apresentada na Figura 4.10. 45 Figura 4.10 - Evolução das tecnologias de biometanização via úmida de RSU (Tecnologias Linde KCA, BTA, AMB, Biostab, Citec, Wassa, Wabio e Ecoenergy) Fonte: Adaptado de SCUH (2008) Segundo De Baere e Mattheeuws (2008), em 1990 a Europa dispunha de apenas três plantas industriais para a biometanização de resíduos orgânicos, provendo uma capacidade instalada de 87.000t/ano. Atualmente, existem 171 plantas, atingindo, no final de 2010, a capacidade total instalada de 5.204.000t/ano, o que representará um acréscimo de quase 6.000% em um período de 20 anos. Entre os anos de 1991 e 1995, observou-se um incremento anual de 38.800t/ano na capacidade instalada; entre 1996 a 2000 esse aumento foi de 223.500t/ano; e entre 2001 a 2005 ─ quando ocorreu o pico no incremento anual da capacidade instalada ─ foi alcançada a marca de 415.590t/ano. No período entre 2006 e 2010, o incremento anual foi de 345.540t/ano, sendo construídas onze plantas a cada ano, com uma capacidade média de tratamento de 31.413t/ano. Os autores ressaltam que, nesse estudo, foram consideradas apenas as plantas com capacidade de tratamento acima de 3.000t/ano e com processamento mínimo 46 de 10% de RSU (DE BAERE e MATTHEEUWS, 2008). A Figura 4.11 apresenta um gráfico com a evolução na capacidade instala europeia. Figura 4.11 – Evolução da capacidade instalada das plantas de biometanização de resíduos orgânicos na Europa Fonte: Adaptada de DE BAERE e MATTHEEUWS (2008) A Alemanha é o país europeu com a maior capacidade instalada, possuindo 69 unidades, que podem processar 1.531.555t/ano com um porte médio de 22.196 t/ano. Em segundo lugar está a Espanha, com 21 plantas, perfazendo uma capacidade instalada é de 1.319.000t/ano, com unidades cuja capacidade instalada média de 67.900t/ano. A instalação de unidades de maior porte é observada em países como França, Inglaterra e Espanha, devido a uma menor eficiência no processo de segregação dos resíduos na fonte geradora (DE BAERE e MATTHEEUWS, 2008). Até o começo dos anos 90, todas as plantas europeias de biometanização de resíduos operavam na faixa mesofílica, opção essa realizada em função do menor consumo energético e do consenso de que o processo biológico era mais estável. As primeiras plantas termofílicas começaram a operar em 1992, mas ainda se observa uma predominância do processo mesofílico. Entre os anos de 2005 e 2006, uma grande quantidade de plantas termofílicas foi construída e, devido às novas tecnologias, a tendência de aumento deve continuar. Até o final de 2010, 31% da capacidade instalada deverá ser provida de unidades que operam na faixa termofílica, já as plantas mesofílicas deverão possuir uma capacidade instalada de 47 3.306.000t/ano, o que representará 69% do total (DE BAERE e MATTHEEUWS, 2008). Na Figura 4.12 é apresentada uma comparação entre a evolução na capacidade instalada de plantas europeias de biometanização de resíduos que operam nas faixas mesofílica e termofílica. Figura 4.12 – Evolução das plantas europeias de biometanização de resíduos que operam na faixa mesofílica (35° a 40°C) e na faixa termofílica (50° a 55°C) Fonte: Adaptada de DE BAERE e MATTHEEUWS (2008) Quanto à evolução europeia dos sistemas via seca e via úmida, observa-se, desde o início dos anos 90, uma predominância dos processos via seca. Entre 2000 e 2005, devido à construção de grandes instalações via úmida, observou-se um aumento na capacidade desses sistemas. Entretanto, desde 2005, a maioria das unidades instaladas optou pela tecnologia via seca, e, atualmente, os sistemas via seca representam 54% da capacidade instalada (DE BAERE e MATTHEEUWS, 2008). Quanto ao número de estágio dos sistemas europeus, verifica-se que os processos multiestágio sempre possuíram uma menor penetração no mercado. Em despeito à maior produtividade de biogás, os investimentos mais elevados nos sistemas multiestágio acarretaram uma predominância dos sistemas de estágio único. Dessa forma, os sistemas multiestágio vêm perdendo espaço nos últimos anos para os sistemas de estágio único, sendo que os sistemas multiestágio representam apenas 7% da capacidade instalada. Para o período 2006 a 2010 é esperado um incremento de apenas 2% na capacidade instalada dos sistemas multiestágio, com 48 predominância de tecnologias que operam digestores em batelada sequenciais (DE BAERE e MATTHEEUWS, 2008). Inicialmente, os sistemas europeus foram projetados para tratamento da MOR. Entretanto, em meados da década de 90, programas de incentivo para a segregação na fonte dos resíduos orgânicos começaram a ganhar força e diversas unidades projetadas para tratamento da FORM foram instaladas. A utilização da FORM como substrato apresenta diversas vantagens aos sistemas de biometanização. Devido à menor quantidade de contaminantes presentes nos resíduos a serem introduzidos nos digestores, obtêm-se um material digerido de melhor qualidade, com menores quantidades de materiais impróprios (plásticos, vidros, pedras, etc). Outro ponto positivo é que, tendo em vista a maior homogeneidade do material em digestão, o processo biológico ocorre de forma mais estável, obtendo-se uma maior produtividade de biogás (DE BAERE e MATTHEEUWS, 2008). Na Tabela 4.7 são apresentados dados referentes à evolução de diversos aspectos envolvidos no processo de biometanização de RSU. Tabela 4.7 – Comparativo da evolução de diferentes aspectos das tecnologias de biometanização de resíduos Sistemas instalados Sistemas mesofílicos Sistemas termofílicos Sistemas de estágio único Sistemas multiestágio Sistemas via úmida Sistemas via seca Digestão FORM Digestão MOR 1991 - 1995 64% 36% 85% 15% 37% 63% 92% 8% Período 1996 - 2000 2001 - 2005 64% 80% 36% 20% 91% 92% 9% 8% 38% 59% 62% 41% 72% 41% 28% 59% 2006 - 2010 59% 41% 98% 2% 29% 71% 49% 51% Fonte: Adaptado de DE BAERE e MATTHEEUWS (2008) De acordo com Kelleher (2007), uma parte significativa do interesse europeu na implantação de unidades de biometanização de RSU se deve em função da Diretiva Européia 1999/31 para aterros sanitários. Essa norma obriga os membros da UE a encaminharem para aterros sanitários apenas aquilo que é considerado como resíduo último, e que a matéria orgânica só pode ser aterrada após passar por processos de estabilização. As metas estabelecidas pela referida norma são apresentadas na Tabela 4.8. 49 Tabela 4.8 - Percentual máximo de disposição em aterros sanitários de matéria orgânica não estabilizada, de acordo com a Diretiva Europeia 1999/31 Ano 2006 2010 2016 Meta12 75% 50% 35% Fonte: Adaptada de KELLEHER (2007) 4.9 Tecnologias de Biometanização Seca de RSU O presente trabalho optou para avaliar as tecnologias de biometanização de RSU via seca, pois, quando comparadas às via úmida, os processos biológicos são mais estáveis, os sistemas são mais robustos, consomem menos energia, geram menos efluente líquido e possuem um menor demanda de água. Quanto às tecnologias via seca de batelada, as mesmas não serão avaliadas, pois a sua participação no mercado ainda é muito pequena e restrita ao tratamento de resíduos agrícolas. A seguir serão descritas as principais tecnologias em estágio comercial de biometanização de RSU, via seca, com digestor de único estágio e fluxo pistão. 4.9.1 O Processo Dranco A tecnologia Dranco é de propriedade da empresa belga fundada em 1988, Organic Waste Systems (OWS), teve seu primeiro digestor em escala-piloto construído em 1984, em Gent na Bélgica, e em 1992, em Brecht, também na Bélgica, foi construído o primeiro em escala industrial. O sistema Dranco é um processo de digestão anaeróbia termofílico via seca. O digestor é de único estágio, fluxo contínuo, vertical, de formato cilíndrico e fundo cônico, tendo seu design similar a um silo de armazenamento, conforme pode ser verificado na Figura 4.13. Tal digestor pode ser construído em concreto armado ou aço, aceita uma grande variedade de resíduos orgânicos e trabalha com teores de ST, variando ente 15% e 40%. Os resíduos de entrada são aquecidos via injeção de vapor, o que eleva sua temperatura a 50°C (INTERNATIONAL, 2005). 12 O valor para cada país depende da quantidade de MO disposta em aterros sanitários no ano de 1995. 50 O processo de alimentação ocorre uma vez ao dia, via bombas similares às utilizadas no bombeamento de cimento, introduzindo o material na parte superior do digestor e a extração pela base, promovendo um fluxo descendente do material. O sistema de mistura dispensa agitadores mecânicos, sendo realizado por recirculação do material em digestão, processo esse que ocorre de forma contínua. Durante esse processo, o resíduo a ser alimentado é misturado ao material em digestão na proporção de 6:1 (material digerido: resíduo fresco). O tempo de detenção hidráulico varia de 20 a 30 dias e a produtividade de biogás entre 80 e 120m3/t. O material extraído é desaguado via prensas a um teor de 50% de ST, sendo posteriormente estabilizado aerobicamente, por aproximadamente duas semanas (INTERNATIONAL, 2005). Na Tabela 4.9 são apresentados dados referentes à produção e consumo energético de duas plantas com tecnologia Dranco. Tabela 4.9 – Produção e consumo energético de plantas de biometanização com tecnologia Dranco Planta Capacidade Produção de biogás Geração de energia Energia consumida pela planta Energia excedente % Energia excedente 158 m3/t 5,2 GWh/ano 0,7 GWh/ano 4,5 GWh/ano 86,6% - - 0,52 GWh/ano (elétrica) 0,72 GWh/ano (calor) 2,4 GWh/ano (elétrica) 0,4 GWh/ano (calor) 78,3% 35,7% Kaiserslautern, 20.000 t/ano FORM Alemanha Aarberg, Suiça 11.000 t/ano Resíduo Orgânico Fonte: Adaptado de INTERNATIONAL, 2005. Na Tabela 4.10 é apresentado um resumo dos custos de construção e operação, requerimento de área, geração e consumo de energia elétrica e calor em diferentes escalas de plantas com tecnologia Dranco. Tabela 4.10 – Custos de construção e de operação, requerimento de área e geração e consumo de energia elétrica e calor de plantas em diferentes escalas com tecnologia Dranco Parâmetro Investimento Custos operacionais Requerimento de área Produção de eletricidade Eletricidade excedente % Eletricidade excedente Produção de calor Calor excedente % Calor excedente Unidade Milhões de € € / kg €/t 2 m kWh/t kWh/t % kWh/t kWh/t % 5.000 9 657 40 Capacidade (t/ano) 10.000 25.000 50.000 100.000 12 15 20 30 438 219 146 110 20 17 13 10 3.000 225 140 62% 300 270 90% 4.000 225 140 62% 300 270 90% 7.000 225 145 64% 300 270 90% 10.000 225 150 67% 300 270 90% 15.000 225 150 67% 300 270 90% Fonte: Adaptado de AUSTERMANN et al 2007. 51 De acordo com informações obtidas na página web da empresa13, a capacidade média das plantas é de 53.522t/ano, sendo Alicante, na Espanha, a de maior capacidade instalada (180.000t/ano). Atualmente existem 30 plantas construídas ou em construção. A Tabela 4.11 apresenta informações das plantas-piloto com tecnologia Dranco. Tabela 4.11 – Plantas-piloto e de demonstração construídas com tecnologia Dranco Substrato Volume do digestor (m³) Ano de Construção Gent, Belgica Bogor, Indonésia Florida, USA Graz, Austria Kagoshima, Japão Resíduo orgânico e FORM Resíduo de mercados FORM FORM FORM e esterco bovino 60 30 1 5 30 1984 1986 1989 1990 1998 Ilha Yaku, Japão Resíduo orgânico e esterco bovino 30 2001 FORM 15 2004 Localização Graincourt Les Havrincourt, França Fonte: Adaptado de INTERNATIONAL, 2005. Figura 4.13 – Modelos esquemáticos de um digestor com a tecnologia Dranco Fonte: Adaptada de WILLIAMS, 2004 e DE BAERE,2008. 13 www.ows.be 52 4.9.2 O Processo Kompogas Tal processo é de propriedade da empresa suíça Kompogas, atualmente licenciada em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, pela empresa alemã Kuttner. Teve seu primeiro digestor em escala-piloto construído em 1989, em Rümlang, Suíça, e em 1994, em Bachenbülach, também na Suíça, foi construído o primeiro em escala industrial (SCHMID, 2008). O sistema Kompogas é um processo de digestão anaeróbia via seca, majoritariamente operado na faixa termofílica (55-60°C). O digestor é de único estágio, fluxo pistão com alimentação semicontínua, horizontal de formato retangular e fundo cilíndrico ou totalmente cilíndrico, construído em concreto armado ou aço (Figura 4.14). O resíduo que alimenta o digestor, após ser triado e triturado, é armazenado em um tanque intermediário por dois dias, no qual é aquecido e o teor de matéria seca ajustado a 28% com a adição do efluente líquido do processo de desaguamento do lodo. Desse tanque, o material é direcionado ao digestor com o auxílio de uma bomba de pistão. O material digerido é desaguado via prensas ou centrífugas até atingir um teor de matéria seca de 50%. A gestão do material digerido e do efluente do processo de desaguamento varia de unidade para unidade (INTERNATIONAL, 2005). Em plantas de menor escala são utilizados digestores pré-fabricados em aço, com dimensões padrão de 25m de comprimento e 4m de diâmetro. Para unidades de maior capacidade, os digestores são construídos em concreto armado. A agitação do material em digestão é realizada pela rotação de pás fixadas transversalmente a um único eixo longitudinal ao digestor. Projetado especificamente para FORM, os digestores com tecnologia Kompogas podem trabalhar também com MOR, resíduos de poda, de indústrias processadoras de alimentos, entre outros. Em termos de área, uma planta de 50.000t/ano necessita de aproximadamente 12.000m2 (INTERNATIONAL, 2005). A produção média esperada de biogás para plantas com tecnologia Kompogas é de 100m3/t de resíduos orgânicos e 150m3/t de resíduos com elevado teor de restos alimentares. A utilização do biogás varia de unidade para unidade. Na planta de Otelfingen, na Suíça, o biogás é purificado ─ o processo de purificação foi desenvolvido pela Kompogas (INTENATIONAL, 2005) ─ e utilizado como GMV em carros e caminhões. 53 Na Tabela 4.12 são apresentados dados sobre o consumo e geração de energia em duas plantas com tecnologia Kompogas. Tabela 4.12 – Dados de consumo e geração de energia em plantas com tecnologia Kompogas Produção Geração de Energia consumida Energia % Energia Planta Capacidade de biogás energia pela planta excedente excedente Passau Hellersberg, 39.000 t/ano 115 m3/t 9,1 GWh/ano 1,6 GWh/ano 7,5 GWh/ano 78,7% Alemanha Unidade modelo 10.000 t/ano 105 m3/t 2,1 GWh/ano 0,3 GWh/ano 1,8 GWh/ano 83,3% Fonte: Adaptado de INTERNATIONAL, 2005. De acordo com informações da página web da empresa14, a capacidade média das plantas com tecnologia Kompogas é de 28.680 t/ano, sendo a planta de Doha, no Qatar, a de maior capacidade (274.000 t/ano). Atualmente, existem 43 plantas construídas, e a Tabela 4.13 apresenta informações das plantas-piloto construídas com a tecnologia Kompogas. Tabela 4.13 – Plantas-piloto e de demonstração construídas com tecnologia Kompogas Volume do Capacidade da N° de Ano de Localização Escala digestor (m³) planta (t/ano) reatores Construção Rümlang, Suiça 20 1 1989 Piloto 8.500 Rümlang, Suiça 160 1 1992 Piloto Passau, Alemanha 1050 39.000 3 2004 Demonstração Fonte: Adaptada de www.kompogas.ch e SCHMID, 2008. (a) (b) Figura 4.14 – Na figura (a) é apresentado um modelo esquemático de um digestor com tecnologia Kompogas e na figura (b) um detalhe do sistema de agitação de um dos digestores construídos no Ecoparque de La Rioja. Fonte: Figura (a) adaptada de http://www.technischweekblad.nl/nog-enorm-potentieel-voor-energie-uitafval.78305.lynkx e figura (b) BARCO (2007). Como dito anteriormente, a tecnologia Kompogas é a única que possui representante comercial no Brasil. Segundo Kuttner (2009), a construção de uma planta TMB para o 14 www.kompogas.ch 54 processamento de 199.700t/ano de RSU não triado e biometanização de 132.800t/ano de MOR teria uma custo de cerca de R$41.000.000,00 (quarenta e um milhões de reais) para a parte nacionalizada e de €4.000.000,00 (quatro milhões de euros) para a parte importada, para uma data-base do preço de 1.º-8-2009. Cabe destacar que tais valores contemplam apenas o fornecimento de equipamentos nacionais e importados, engenharia executiva e de processo, serviços de obra civil e montagem eletromecânica. Os valores mencionados acima não contemplam os custos de importação, obtenção de licenças, aquisição de terrenos, equipamento de movimentação interna, construção de prédios e galpões, unidades auxiliares (laboratórios, oficinas, refeitórios, etc.), unidades de compostagem e tratamentos dos efluentes líquidos e atmosféricos, conexão da unidade a rede de energia elétrica, impostos, etc. (KUTTNER, 2009) Segundo Kuttner (2009), seriam necessários 7 digestores para o processamento da MOR. Para conversão do biogás em energia elétrica seriam utilizadas 2 unidades de geração de energia elétrica e térmica de 1.063kWel, cada uma. O RSU será segregado em duas frações (maior e menor que 60mm) e para a MOR será triturada antes de ser introduzida no digestor. A Tabela 4.14 apresenta o resumo dos principais dados apresentados na referida proposta. 55 Tabela 4.14 - Resumo dos dados apresentados na proposta Kuttner para fornecimento de uma Planta TMB para o processamento de 199.700t/ano de RSU. Parâmetro Capacidade instalada RSU não triado MOR Número de digestores Gasômetro Mão de obra necessária Período de funcionamento Quantidade Unidade 199.700 t/ano 132.800 t/ano 7 unidades desnecessário 30 2 Área requerida 35.000 130 funcionários turnos 2 m Nm3/t.MOR Observações Corresponde a 66,5% do total de RSU recebidos Considerando apenas o pessoal envolvido diretamente na operação da unidade Desconsiderando a área necessária para compostagem e tratamento dos efluentes líquidos e atmosféricos Realizando o quociente entre a quantidade de biogás estimada a o total de MOR encaminhado ao digestor, observamos um valor de 120Nm3/t.MOR Geração de biogás Geração de energia Excendete de energia Consumo de energia Térmica Elétrica Térmica Elétrica Térmica Elétrica Geração de composto Geração de efluentes líquidos Recuperação de recicláveis Geração de Combustível Derivado de Resíduos (CDR) Geração de rejeitos de planta Consumo de água industrial 15.900.000 34.750 34.550 26.000 31.000 8.750 3.550 66.000 39.000 34.300 21.900 16.700 15.000 Nm3/ano MWh/ano MWh/ano MWh/ano MWh/ano MWh/ano MWh/ano t/ano t/ano t/ano t/ano t/ano t/ano Realizando o produto entre a quantidade de MOR a ser tratada e a geração de biogás informada pelo fabricante, observamos um valor de 17.264.000Nm3/ano Corresponde a 75% do total gerado Corresponde a 90% do total gerado Corresponde a 25% do total gerado Corresponde a 10% do total gerado Corresponde a 33% do total RSU processados Corresponde a 20% do total RSU processados Corresponde a 17% do total RSU processados Corresponde a 11% do total RSU processados Corresponde a 8% do total RSU processados Corresponde a 0,075t de água por t de RSU processado Fonte: Adaptado de KUTTNER, 2009. 4.9.3 O Processo Valorga O processo Valorga foi originalmente desenvolvido na França com base na patente registrada por Ducellier G. e Isman M., sendo, posteriormente, adquirido pela empresa Steinmuller Valorga Sarl, subsidiária da empresa alemã Steinmuller Rompf Wassertechnik GmbH. Recentemente, a tecnologia foi adquirida pela empresa espanhola Urbaser. O processo Valorga foi inicialmente projetado para tratar resíduos orgânicos, mas, posteriormente, foi adaptado para o tratamento da FORM. (BARCELOS et al., 2004) O sistema Valorga é um processo de digestão anaeróbia via seca, majoritariamente operado na faixa mesofílica, sendo o digestor de único estágio, fluxo semicontínuo, vertical, de formato cilíndrico, construído em concreto armado. O sistema de alimentação é realizado de forma semicontínua (uma vez ao dia) com a introdução do material via bombas similares às 56 utilizadas para bombeamento de concreto. A extração do lodo se dá por um processo de abertura e fechamento de válvulas que, em função da coluna de lodo, exerce uma pressão que propicia a extração do material sem a necessidade da utilização de bombas. Como sistema auxiliar, uma bomba de pistão pode ser utilizada nesse processo. No interior do digestor existe uma parede com um comprimento de aproximadamente 2/3 do diâmetro do digestor, separando a região de introdução da região de extração do lodo (Figura 4.15). Isso propicia ao material ser digerido em um sistema de fluxo pistão (INTERNATIONAL, 2005). A agitação do material em digestão é realizada pela injeção de biogás comprimido (5,9 a 7,9 atm) através de orifícios localizados na base do digestor, não existindo elementos mecânicos em seu interior. A manutenção da temperatura ocorre via injeção de vapor d‟água no material afluente. Esses digestores operam com um teor de ST da ordem de 37 a 55%, um tempo de detenção hidráulica variando entre 18 e 25 dias, com taxa de produção de biogás variando entre 82 e 106m³ por tonelada de FORM alimentada e consomem cerca de 25% da energia produzida (INTERNATIONAL, 2005). De acordo com informações da página web da empresa15, a capacidade média das plantas com tecnologia Valorga é de 127.652t/ano, sendo a planta de Fos Sur Mer, na França, a de maior capacidade (497.600 t/ano). Atualmente existem 31 plantas construídas, ou em construção, no mundo. Na Tabela 4.15 são apresentadas as plantas-piloto com tecnologia Valorga. Tabela 4.15 – Plantas-piloto e de laboratório construídas com tecnologia Valorga Volume do Capacidade da Ano de Localização Substrato Escala digestor (m³) planta (t/ano) Construção Montpellier, França RSU, Dejetos de animais 5 1982 Laboratório La Buisse, França RSU 500 8.000 1984 Piloto FORM, Dejetos de Vannes, França 50 1986 Piloto animais, Lodo ETE Resíduos agrícolas, Liège, Bélgica 250 1988 Piloto Dejetos animais Fonte: Adaptado de (www.valorgainternational.fr) A Tabela 4.16 apresenta dados referentes à geração e consumo de energia de plantas com tecnologia Valorga. 15 www.valorgainternational.fr 57 Tabela 4.16 - Balanço Energético de plantas de biometanização com tecnologia Valorga Planta Geneva, Suíça (mesofílica) Tilburg, Holanda Capacidade 13.200 t/ano Resíduo orgânico e de poda 52.000 t/ano FORM e poda Produção de biogás Geração de energia Energia consumida pela planta Energia excedente % Energia excedente 100 a 120 m3/t 0,435 GWh/ano (elétrica) 0,275 GWh/ano (elétrica) 0,16 GWh/ano (elétrica) 36,8% 82 m3/t 18 GWh/ano 3,3 GWh/ano (elétrica) 14,7 GWh/ano (elétrica) 81,7% Fonte: Adaptado de INTERNATIONAL, 2008. Na Figura 4.16 são apresentadas fotos de um digestor com tecnologia Valorga, construído na cidade espanhola de La Corunã, que, devido a uma série de falhas nos sistemas de segurança, explodiu em junho de 2002, apenas seis meses após strat-up16 da unidade de biometanização. Segundo relatos da empresa, falhas nos sistemas de agitação e de monitoramento de nível, e da pressão interna culminaram na explosão do digestor. Devido ao material em digestão estar demasiadamente líquido e a problemas no sistema de agitação, ocorreu o chamado “efeito suffle”, que provocou um inchaço do material em digestão, bloqueando os sistemas de coleta do biogás, acarretando na elevação da pressão interna e posterior rompimento do digestor. Após o ocorrido, diversas ações foram tomadas de forma a minimizar os riscos, tais como: modificações no design e a instalação de uma quantidade maior de coletores de biogás, sistema de bloqueio da bomba de alimentação em caso de elevação do nível do material em digestão, instalação de alarmes sonoros e a instalação de uma maior quantidade de discos de ruptura e válvulas de sobrepressão (PARÉZ, 2003). 16 Strat-up é o período inicial de funcionamento da planta industrial. Nessa fase, os equipamentos são testados e ajustados para o correto funcionamento. No caso de unidades biometanização, ocorre ainda a estabilização do processo biológico e aclimatação dos micro-organismos envolvidos no processo de digestão anaeróbia. 58 Figura 4.15 - Modelo esquemático de um digestor com tecnologia Valorga Fonte: Adaptada de http://www.valorgainternational.fr/en/multipage.xml?pg=3&id=128079 (a) (b) Figura 4.16 – Digestor da planta de La Coruña, Espanha o qual, devido a problemas operacionais, explodiu. Fonte: (a) < http://avia.espacioblog.com/post/2008/03/25/nostian-problamatica-do-tratamento-do-lixo> (b) < http://galiciamedioambiente.wordpress.com/category/calidade-ambiental/rsu-coruna-nostian/> Segundo Caddet (2001), a unidade de Tilburg foi instalada em 1991 para atender a 10 cidades do sul da Holanda e foi projetada para tratar 52.000t/ano de FORM e poda verde. Entre os anos de 1994 a 1999 tratou em média 40.000t/ano, operando com cerca de 80% de sua capacidade de projeto. A produtividade média de biogás no período foi de 75m3/t de resíduo processado, com uma concentração de metano de 56%. O biogás produzido na unidade é purificado a biometano e lançado na rede de gás natural (GN) da região. Do biogás produzido na unidade, são utilizados 14% para suprir suas necessidades internas de calor e 18% de energia elétrica. Com uma produção anual de biometano de 2.000.000m3, a unidade lança na rede 1.360.000m3/ano. A geração de resíduos de planta corresponde a 15% do total em peso de 59 resíduos processados, sendo os tais resíduos dispostos em um aterro sanitário. O investimento na unidade foi de cerca de 18 milhões de euros, tendo como principal fonte de receita a taxa cobrada pelo tratamento dos resíduos (€94/t) e da venda do biometano (€0,5/m3). A unidade apresentou um pay-back17 de 4,75 anos. 4.9.4 O Processo Laran (Ex - Linde-BRV) O processo Laran foi originalmente desenvolvido pela empresa Linde BRV Biowaste Technologies, atualmente é propriedade da austríaca STRABAG Umweltanlagen GmbH. Segundo Strabag1 (2010), a tecnologia Laran teve seu primeiro digestor em escala-piloto construído em 1994, em Baar, na Suíça; e, em 1996, o primeiro em escala industrial, em Sagard, Alemanha. O sistema Laran, originalmente conhecido como Linde-BRV, é um processo de digestão anaeróbia via seca, que pode operar nas faixas termofílica ou mesofílica, com digestor de único estágio, fluxo pistão semicontínuo, horizontal de formato retangular, construído em concreto armado (Figura 4.17). Pode ser alimentado com diversos tipos de resíduos orgânicos, aceitando teores de matéria seca entre 15% a 45% (STRABAG2, 2010). O resíduo é introduzido no digestor por uma unidade compacta de alimentação. O material digerido é extraído com o auxílio de uma bomba e tanque de vácuo, podendo ser recirculado ou desidratado por uma prensa, seguida por uma centrífuga, sendo geralmente estabilizado em túneis de compostagem aeróbia (INTERNATIONAL, 2008). O sistema Laran trata diversos tipos de resíduos com elevado teor de sólidos, aceitando resíduos orgânicos de poda, agrícolas, de indústrias, além de FORM. O processo de agitação é realizado com o auxílio de pás rotatórias perpendiculares às paredes laterais do digestor, fixados em eixos perpendiculares ao fluxo do material em digestão. Esse sistema evita a formação de escuma e sedimentação de inertes. Um mecanismo de piso móvel auxilia no transporte e retirada da massa digerida (STRABAG2, 2010). Devido ao registro de patente do 17 Pay-back é o tempo decorrido entre o investimento inicial e o momento no qual o lucro líquido se iguala a esse valor. Fonte: (http://pt.wikipedia.org/wiki/Payback_(finan%C3%A7as)). 60 digestor cilíndrico da Kompogas, esse sistema foi desenvolvido com o formato retangular, o que impossibilitou a utilização do eixo longitudinal para fixação dos agitadores mecânicos (EDELMANN, W. e ENGELI H, 2005). De acordo com Ostrem (2004), a produção de biogás esperada no digestor Laran é da ordem de 100m3/t de FORM alimentada. Na Tabela 4.17 são apresentados dados sobre o consumo energético e produção de biogás de algumas plantas com tecnologia Laran. Tabela 4.17 – Produção de biogás e energia em plantas com tecnologia Laran Planta Baar, Suíça Heppenheim, Alemanha Lemgo, Alemanha (termofílica) Capacidade Produção de biogás Geração de energia Energia consumida pela planta Energia excedente % Energia excedente 18.000 t/ano Resíduo orgânico e de poda 85 m3/t 0,64 GWh/ano - - - 33.000 t/ano FORM, poda e industrial - 5,7 GWh/ano (elétrica) 8,8 GWh/ano (calor) 1,7 GWh/ano (elétrica) 4,0 GWh/ano (elétrica) 70,2% 40.000 t/ano Resíduo orgânico 102 m3/t 6 GWh/ano - - - Fonte: Adaptado de INTERNATIONAL, 2008. De acordo com informações de Strabag1 (2010), a capacidade média das plantas com tecnologia Laran é de 49.132 t/ano, sendo a planta de Valladolid, na Espanha, a de maior capacidade (200.000 t/ano). Atualmente existem 21 plantas construídas ou em construção no mundo. Na Tabela 4.18 são apresentadas as plantas-piloto construídas com tecnologia Laran. Tabela 4.18 – Plantas-piloto e de demonstração construídas com tecnologia Laran Volume do digestor (m³) 500 Ano de Construção 1994 Eurasburg/Quarzbichl, Alemanha 120* 1996 Ravensburg, Alemanha 120* 1996 Localização Baar, Suíça *Volume calculado considerando um Tempo de Detenção Hidráulico de 22 dias, capacidade instalada de 1.500t/ano e um volume útil de 2/3 do digestor. Fonte: Adaptado de STRABAG1, 2010 e EDELMANN, W. e ENGELI H, 2005 61 Figura 4.17 - Modelo esquemático de um digestor com tecnologia Laran Fonte: Adaptado de STRABAG2, 2010. Na Figura 4.18 são apresentados detalhes de digestores com tecnologia Laran. Na Figura 4.18(a) podem ser observados os agitadores mecânicos do digestor da cidade de Baar na Suíça; a Figura 4.18(b) mostra o sistema de aquecimento de um digestor, via serpentinas instaladas nas paredes. (a) (b) Figura 4.18 – Detalhes de digestores com tecnologia Laran. Na Figura (a) detalhe para os agitadores mecânicos do digestor da cidade de Baar, Suíça. Na Figura (b) detalhe para o sistema de aquecimento de um digestor, via serpentinas instaladas nas paredes. Fonte: Figura (a) - EDELMANN, W. e ENGELI H, 2005 e Figura (b) – CHRZĄSTEK, 2009. 62 5. Visitas Técnicas às Plantas de Biometanização Buscando obter dados sobre a realidade operacional de plantas de biometanização de RSU, bem como subsidiar a análise crítica das informações obtidas via pesquisa bibliográfica, foram realizadas visitas técnicas à diferentes unidades industriais de biometanização RSU em operação na Europa. Para a definição das plantas que seriam visitadas, estabeleceram-se os seguintes critérios: visitar ao menos uma planta de cada uma das tecnologias de biometanização seca que atualmente dominam o mercado, sendo elas: Laran; Valorga; Kompogas e Dranco; otimizar a alocação dos recursos disponíveis para transporte e acomodação; reduzir o tempo de deslocamento entre as visitas a cada uma das plantas; facilitar a comunicação e o agendamento das visitas. Para obtenção de dados relacionados às condições operacionais das plantas visitadas, foi elaborado um questionário de coleta de informações, em cuja estrutura buscou otimizar a coleta de dados, com foco na avaliação das condições operacionais da unidades visitadas. O questionário elaborado é apresentado no Anexo 10.1. Devido a Espanha ser atualmente um dos países com a maior capacidade instalada de biometanização de RSU, além de possuir unidades relativamente novas de todas as tecnologias enfocadas, possibilitando assim uma otimização na alocação de tempo e recursos, optou-se por visitar plantas localizadas nesse país. Foram visitadas quatro unidades entre os dias 4 e 11 de dezembro de 2008. Para o preenchimento dos formulários, direcionaram-se perguntas ao técnico que acompanhou cada uma das visitas e solicitado que a visita fosse acompanhada pelo responsável pela operação da planta ou da unidade de biometanização. O Anexo 10.5 apresenta o relatório fotográfico das visitas técnicas realizadas. 63 5.1 Ecoparque de La Rioja A visita à unidade foi realizada no dia 5-12-2008 e acompanhada pela Chefe de Qualidade e Meio Ambiente, Sra. Maite Herrero Sáenz. O Ecoparque de La Rioja ─ localizado em La Rad de Verea, S/N, 26142, Villamediana de Iregua, La Rioja, Espanha ─ possui uma capacidade instalada para tratamento de 130.000t/ano de RSU não triados; 10.000t/ano de resíduos de embalagens recicláveis segregados na fonte; 3.000t/ano de resíduos de grandes volumes e 5.000t/ano de resíduos de poda. A unidade de biometanização é composta por 6 digestores Kompogas de 1.150m3 cada um; opera a 55°C; com um tempo de detenção de 20 a 23 dias, teor de matéria seca superior a 20% e uma capacidade instalada para tratar 75.000t/ano de MOR. A unidade processa os RSU gerados por cerca de 300.000 habitantes (BARCO, 2007). De acordo com a página web da planta, a unidade produz 14×106m3 de biogás por ano, gera em torno de 17.000MWh/ano de energia elétrica, exporta para a rede 12.750MWh/ano, além de apresentar uma demanda interna de 25% do total de energia elétrica produzida. A unidade começou a ser construída em 2003, e em 2005 foram iniciados os testes de strat-up e em 2007 a unidade foi inaugurada. O Ecoparque ocupa uma área de total de 8ha, tendo um custo de implantação de €30.000.000,00 (trinta milhões de euros). A unidade é divida em três linhas, conforme elencado a seguir: linha azul: triagem de resíduos de grandes volumes (móveis, eletrodomésticos e outros). linha amarela: triagem dos resíduos de embalagens provenientes da coleta seletiva. linha cinza: tratamento do RSU proveniente da coleta normal, não segregada. É dessa linha que se recupera a matéria orgânica para envio à unidade de biometanização. Como sistemas de controle das emissões, a unidade possui uma estação de tratamento de efluentes (ETE) e um sistema de biofiltros para tratamento do ar ambiente e remoção de maus odores e compostos orgânicos voláteis. A unidade não possui gasômetro ou sistema de remoção de gás sulfídrico do biogás. Para controle do teor de gás sulfídrico é adicionado óxido de ferro ao material que será alimentado. Os digestores possuem um 64 volume útil de 70% e o restante funcionando como uma espécie de gasômetro, utilizado para armazenamento temporário e para o aproveitamento do biogás são utilizados dois motores de cogeração GE Jenbacher de 1.095kWmec (1.065kWelec). A Tabela 5.1 apresenta os dados de entrada e saída da unidade. Conforme pode ser observado, o percentual de recuperação de recicláveis é inferior a 10% e a geração de resíduos de planta superior a 50%, enquanto a demanda interna de energia supera 45% do total gerado. A geração de biogás por tonelada de MOR variou entre 74 e 134m3 e a geração elétrica entre 103 e 202kWh, valores bem inferiores aos informados pela empresa que comercializa a tecnologia. A demanda interna de energia elétrica da unidade variou entre 47 e 61,7%, valores também superiores aos encontrados na página web da unidade. Tabela 5.1 – Dados de entrada e saída do Ecoparque de La Rioja Tipo de Resíduo Linha de tratamento Unidade Ano 2005 2006 2007 2008 2009 2010* Resíduos recebidos na planta RSU não segregado Resíduos de embalagens Resíduos volumosos Percentual de orgânicos Recicláveis recuperados Resíduos de planta Composto Matéria orgânica estabilizada Matéria orgânica não estabilizada Lodo da biometanização Recicláveis recuperados Resíduos de planta Cinza kg Amarela kg 2.620.380 4.447.610 4.005.730 4.660.010 4.849.562 2.329.630 Azul kg 0 64.660 636.480 648.980 772.970 378.110 Cinza kg Materiais recuperados e resíduos de planta Cinza / Azul kg 262.440 1.295.180 Cinza / Azul kg 10.328.533 39.342.802 41,45% 39,08% 38,54% 4.756.660 71.561.928 7.687.750 65.083.167 8.100.055 3.526.070 61.654.110 34.026.232 1.991.741 0 0 0 3.183.570 1.198.546 690.940 10.037.840 28.311.370 2.096.400 3.292.080 1.405.820 1.144.260 20.887.390 0 11.422.845 3.566.160 1.175.868 55.780 0 0 6.498.200 1.850.270 609.058 6.077.703 9.153.100 0 3.182.160 4.439.600 1.948.600 5.457.570 8.307.400 4.401.700 1.713.192 1.548.100 597.600 Cinza Cinza Cinza Cinza Amarela Amarela kg 0 0 kg 0 0 kg 0 0 kg 0 0 kg 1.310.260 2.385.140 kg 1.038.398 1.784.144 Geração de biogás e energia Biogás Energia elétrica gerada Energia elétrica exportada Cinza Cinza Cinza Nm3 kWh kWh Total de resíduos recebidos Total de resíduos recicláveis recuperados Total de resíduos de planta enviados ao aterro Total de matéria orgânica tratada Recuperação de recicláveis Geração de resíduos de planta Utilização da capacidade instalada Todas Todas Todas Cinza Todas Todas Todas Cinza kg kg kg kg % % % Produção de biogás Produção de biogás Produção energia elétrica Produção energia elétrica Demanda interna de energia elétrica Cinza Cinza Cinza 18.975.920 49.696.970 109.542.980 110.129.060 111.285.270 52.500.575 0 0 0 Resumo 21.596.300 54.209.240 114.185.190 115.438.050 116.907.802 55.208.315 1.572.700 3.680.320 7.940.230 10.979.830 11.666.215 5.376.340 11.366.931 41.126.946 72.760.474 66.488.987 62.829.978 34.635.290 0 0 1.991.741 41.136.550 33.454.495 6.553.980 7,3% 6,8% 7,0% 9,5% 10,0% 9,7% 52,6% 75,9% 63,7% 57,6% 53,7% 62,7% 14,6% 36,6% 77,2% 78,0% 79,0% 74,6% Nm3/t RSU 3 0 0 0 Nm /t MOR kWh/t RSU kWh/t MOR % 0 0 55 29 49 0 0 0 0 134 84 202 74 40 103 56,1% 127 75 194 47,0% 33 29 61,4% Fonte: Adaptado de http://www.larioja.org/npRioja/upload/documents/472488_100701_Datos_Web_Ecoparque.pdf?idtab=470235 * Dados até 1.º-7-2010 A Tabela 5.2 apresenta um resumo dos principais equipamentos e dados das estruturas do Ecoparque de La Rioja. 65 Tabela 5.2 – Resumo dos equipamentos e estruturas do Ecoparque de La Rioja Equipamentos e estruturas Volume de escavação Equipamentos e estruturas Quantidade Unidade Equipamentos e estruturas 185.183 Concreto estrutural 15.200 Mesa densimétrica 1 unidades 3 Separador ótico 7 unidades 2 Separador magnético 4 unidades 2 Separador focault 3 unidades Aspiradores de plástico filme Prensas Digestores Células de compostagem 2 6 6 6 unidades unidades unidades unidades 2 x 834 2 x 1.065 m3 kWh m 29.300 m Área de vias internas 17.300 m Fosso de recepção de resíduos Correias transportadoras Peneiras rotatórias tipo trommel Separador balístico 2.800 90 4 4 m3 unidades unidades unidades Área construída de galpões/prédios Outras peneiras 2 Quantidade Unidade 3 m unidades Biofiltros Motogeradores Fonte: Adaptado de Gobierno de La Rioja (2005). A Figura 5.1 apresenta uma imagem de satélite da unidade e a Figura 5.2 o layout da unidade. Em termos de área, o fosso e a unidade de triagem ocupam cerca de 20%; os digestores e sistema de alimentação, 5%; compostagem, maturação e remoção de impróprios, 12%; motores de cogeração, 0,5%; e a ETE e os biofiltros 3%. Figura 5.1 – Imagem de satélite do Ecoparque de La Rioja Fonte: GoogleEarth 66 Figura 5.2 – Layout do Ecoparque de La Rioja Fonte: Adaptado de www.ecoparquedelarioja.es Segundo relatos dos responsáveis pela operação da unidade, dos 6 digestores 5 ficaram parados por quase um ano devido à demora na reposição de uma peça do sistema de alimentação. Os RSU da região possuem um alto teor de vidro e, mesmo após a passagem pelo sistema de triagem, a MOR ainda possui um elevado grau de contaminação de vidro, o qual se deposita no interior do digestor, formando uma crosta na extremidade em que onde estão localizadas as tubulações de extração. Esse fato acarreta constantes entupimentos do sistema de extração. Para desobstrução das tubulações de extração, remove-se um tampão da tubulação e, com auxílio de uma haste de ferro, realiza-se a desobstrução da linha. Entretanto, quando o sistema é desobstruído, um jato de lodo é lançado para fora do sistema, acumulando entre os digestores, formando uma verdadeira lagoa. Esse material é constantemente removido com o auxílio de bombas e a área foi apelidada pelos operadores como “praça de guerra”. A Figura 5.3 apresenta um detalhe da chamada “praça de guerra”. 67 Figura 5.3 – Detalhe da “praça de guerra” formada devido à necessidade recorrente de desobstrução do sistema de extração. A operação da unidade foi licitada em 2002, concedendo ao vencedor os direitos de exploração até o ano de 2015. Entretanto, em 2009, a empresa Acciona S.A., vencedora da referida licitação, rescindiu o contrato, alegando elevados prejuízos financeiros com a operação do Ecoparque de La Rioja. 5.2 Ecoparc 2 A visita à unidade foi realizada no dia 4-12-2008 e acompanhada pelo Chefe de Manutenção, Sr. Àlvar Bazar Raventos. O Ecoparc 2 ─ localizado na Prolongación Avenida Torre Mateu s/n, Polígono Industrial de Can Salvatella de Barberà del Valles, Montcada i Reixac, Espanha ─ possui uma capacidade instalada para tratamento de 240.000t/ano de RSU, sendo 70.000t/ano de FORM; e 170.000t/ano de RSU não segregados na fonte. Está sendo construída uma nova linha para o tratamento de 27.500t/ano resíduos de embalagens recicláveis segregados na fonte. A unidade de biometanização é composta por 3 digestores Valorga de 4.500m3 cada um, opera a 35°C, a um tempo de detenção variando entre 25 a 30 dias, teor de matéria seca de 32% +2%. A unidade processa cerca de 13% dos RSU gerados na região metropolitana de Barcelona e é operada pelo consórcio de empresas Ecoparc del Besòs S.A., o qual é composto por: FCC S.A.; URBASER S.A.; TIRSSA S.A e TERSA S.A. 68 De acordo com a Entitat del Medi Ambient (2004), a unidade produz 13,7x106m3 de biogás por ano, gera em torno de 26.400MWh/ano e apresenta um autoconsumo elétrico de 59%. A unidade começou a ser construída em 2000, sendo inaugurada em 2004. Em 2007 foram construídos os túneis de compostagem e a implantação de um novo sistema de desodorização. Em 2010 foi incorporada uma linha para recuperação de resíduos de embalagens. O custo de implantação foi de €51.000.000,00 (cinquenta e um milhões de euros). De acordo com Hill et al. (2005), considerando valores de 2005, o custo de tratamento dos RSU era de US$48,41/t (quarenta e oito dólares e quarenta e um cents) e o custo de operação e manutenção da unidade era de US$19.350.000,00 (dezenove milhões trezentos e cinquenta mil dólares), sendo que US$8.760.000,00 (oito milhões e setecentos e sessenta mil dólares), ou pouco mais de 45% do total, refere-se a custos de disposição final dos rejeitos de processo. A unidade é divida em três linhas, conforme elencado a seguir: linha FORM: triagem da FORM, e a matéria orgânica recuperada é encaminhada à unidade de biometanização; linha Resto: triagem do RSU não segregados na fonte, e a MOR é encaminhada aos túneis de compostagem; linha Embalagens: triagem dos resíduos de embalagens provenientes da coleta seletiva; linha Poda Verde: resíduos de poda são triturados e misturados a MOR para envio aos túneis de compostagem. A unidade opera 24 horas por dia, 7 dias por semana e recebe resíduos 7 dias por semana. Os sistemas de pré-tratamento, alimentação e extração da unidade de biometanização operam 6 dias por semana. De acordo com Roca (2004), o terreno onde está localizada a unidade possui 9,7ha ─ 2,9ha de área verde; 3,5ha de área ocupada pelas instalações; e 3,2ha de área pavimentada. A linha FORM tem uma capacidade instalada para triar 23t/h e a Resto é composta por duas linhas com capacidade de 45t/h, cada uma. Para aproveitamento do biogás são utilizados 4 motores de cogeração de 1.048kWel cada. Como sistemas de controle das emissões, a unidade possui uma ETE e um sistema de desodorização do ar ambiente. A ETE utiliza um sistema de nitrificação e desnitrificação, 69 seguido por um sistema de osmose reversa para ultrafiltração do efluente. O sistema de desodorização tem uma capacidade para tratamento de 500.000m3/h e todas as unidades do complexo que podem ocasionar na geração de maus odores operam a pressão negativa; o ar ambiente é aspirado e encaminhado a um sistema de lavadores químicos, composto por um lavador ácido, seguido por um lavador alcalino, sendo então o fluxo de ar direcionado a biofiltros. O biogás produzido é direcionado a um gasômetro para armazenamento temporário, sendo submetido a um tratamento biológico para remoção do sulfídrico, quando, então, é levado aos motores para geração de eletricidade e calor. A Tabela 5.3 apresenta os dados de entrada e saída da unidade. Conforme pode ser observado, o percentual de recuperação de recicláveis dos últimos 3 anos é inferior a 3%, e a geração de rejeitos de planta superior a 50%; e em 2007 foi de 70,1%. A geração de biogás por tonelada de FORM é de cerca de 120m3 e a geração elétrica entre 101 e 263kWh. Tabela 5.3 - Dados de entrada e saída do Ecoparc 2 Tipo de Resíduo Unidade 2006**** 2007*** Resíduos recebidos na planta t RSU não segregado 94.556 149.381 t FORM 69.965 68.446 t Outros 41 t Resíduos de grandes volumes Materiais recuperados e resíduos de planta t Recicláveis recuperados 25.496 5.202 t Resíduos de planta 84.918 152.779 t Matéria Orgânica Tratada 69.592 68.446 Geração de biogás e energia Biogás Energia elétrica gerada Total de resíduos recebidos Recuperação de recicláveis Geração de resíduos de planta Utilização da capacidade instalada Produção de biogás m3 MWh Resumo t % % % Nm3/t total resíduos 9.028 6.911 164.562 15,5% 51,6% 68,6% 217.827 2,4% 70,1% 90,8% - - 2008** 2009* 160.929 76.603 4.647 4.047 137.084 99.814 3.629 7.064 149.752 20.597 6.600 135.028 25.242 9.153.000 11.942.000 20.180 23.281 246.226 2,9% 60,8% 102,6% 240.527 2,7% 56,1% 100,2% 38 50 Nm3/t FORM Produção de biogás 119 120 kWh/t total resíduos Produção energia elétrica 55 32 83 97 kWh/t FORM Produção energia elétrica 129 101 263 233 Fonte: Adaptado de: *Entitat del Medi Ambient (2007), ** Entitat del Medi Ambient (2008), *** Entitat del Medi Ambient (2009), **** Entitat del Medi Ambient (2010). 70 A Figura 5.4 apresenta uma imagem de satélite da unidade. Em termos de área, o fosso e a unidade de triagem ocupam cerca de 16%, os digestores e sistema de alimentação 3%, compostagem, maturação e remoção de impróprios 9%, motores de cogeração 0,5% e a ETE e os biofiltros 8%. Figura 5.4 – Imagem de satélite do Ecoparc 2 Fonte: GoogleEarth Figura 5.5 – Layout do Ecoparc 2 Fonte: Adptado de Entitat del medi ambient (2004) 71 Segundo relatos dos responsáveis pela operação da unidade, os 3 digestores passaram por modificações devido a problemas com o acúmulo de inertes no interior do digestor. Mesmo direcionando ao digestor apenas a FORM após a triagem, os inertes se acumulavam no interior dele, sendo, então, necessário abrir os digestores para remoção desse material. Além disso, a parede central do digestor ─ cuja função é evitar a formação de caminhos preferenciais e impedir que material alimentado passe direto do tubo de alimentação para o tubo de extração ─ teve de ter seu comprimento reduzido tendo em vista o grande acúmulo de materiais inertes na passagem entre as duas seções do digestor. Devido ao projeto não contemplar um mecanismo de acesso ao interior desses digestores, foi necessária a abertura de orifícios no topo dos digestores para permitir a entrada de máquinas e retirar do material depositado. Outro inconveniente dessa tecnologia é a necessidade constante de limpeza dos bicos injetores de biogás comprimido. A agitação do material em digestão é realizada pela injeção de biogás comprimido na base do digestor; entretanto, tais bicos injetores entopem constantemente. Frequentemente, os mangotes que injetam o biogás são desconectados, e, com o auxílio de uma haste de metal, desentopem-se os bicos de injeção. Nesse procedimento, ocorre a perda de uma parcela do biogás produzido e o serviço é extremamente arriscado, devido à possibilidade de explosão. 72 A Figura 5.6 apresenta detalhes da operação de limpeza de um dos digestores. (a) (b) (c) (d) Figura 5.6 – Detalhe da operação de remoção dos inertes sedimentados no interior de um dos digestores do Ecoparc 2. (a) Detalhe do guindaste utilizado para remoção do material. (b) Detalhe do orifício aberto no topo do digestor para a entrada dos equipamentos e remoção do material sedimentado. (c) Detalhe do interior do digestor durante o procedimento de limpeza. (d) Detalhe das caçambas onde eram lançados os materiais extraídos do interior do digestor. Fonte: Foto não referenciada. Pertencente ao acervo particular do co-orientador dessa dissertação. 5.3 Centro de Tratamiento de Residuos de Valladolid A visita à unidade foi realizada no dia 10-12-2008 e acompanhada pelo responsável pela área de biometanização, Sr. Jorge Mateo. O Centro de Tratamiento de Residuos de Valladolid (CTR Valladolid) ─ localizado na carretera de León Km 13 - E - 47009, Valladolid, Espanha ─ possui uma capacidade instalada para tratamento de 200.000t/ano de RSU, sendo 15.000t/ano de FORM. A unidade de biometanização é composta por um digestor Laran, cujo volume total é de 1.986m3; volume útil de 1.682,15; opera a 35°C; um tempo de detenção de 28 dias e um teor de matéria seca entre 27% e 30%. A unidade processa os RSU gerados na 73 província de Valladolid, atendendo a uma população de cerca de 500.000 habitantes. A unidade é operada por um consórcio formado pelas empresas Isolux Cosán Servicios, FCC S.A. e Zarzuela S.A.. A unidade produz 1,7x106m3 de biogás por ano, gerando em torno de 3.000MWh/ano. A unidade começou a ser construída em 1999 e, inaugurada em 2002. O custo de implantação da foi €21.874.369,00 (vinte e um milhões oitocentos e setenta e quatro mil e trezentos e sessenta e nove euros). Em 2008, a taxa cobrada para o tratamento dos RSU não segregado era de €17,00/t (dezessete euros por tonelada) e da FORM de €36,00/t (trinta e seis euros por tonelada) e a produção de rejeitos de planta é de cerca de 50% dos resíduos recebidos. A unidade é divida em quatro linhas, conforme elencado a seguir: linha Orgânico: recebe FORM, lodos de ETE e resíduos de poda. Parte da fração orgânica recuperada é direcionada à unidade de biometanização e parte ao sistema de compostagem; linha RSU não segregado: triagem do RSU não segregados na fonte, sendo que a MOR é encaminhada diretamente aos túneis de compostagem; linha Embalagens: triagem dos resíduos de embalagens provenientes da coleta seletiva; linha Resto: triagem dos resíduos recicláveis provenientes da coleta seletiva de resíduos secos (diversos tipos de resíduos recicláveis coletados juntos). A unidade opera em dois turnos de 8 horas, 7 dias por semana. O terreno onde está localizada a unidade possui cerca de 7ha, sendo 3ha de área construída. Para aproveitamento do biogás é utilizado um motor de cogeração de 720kW. Para remoção de maus odores gerados nos galpões de compostagem, a planta possui sistema de tratamento composto por um lavador de gases e um bilfiltro preenchido com madeira triturada. Os efluentes líquidos são direcionados a um sistema fechado de recirculação, sendo utilizados para umidificar os resíduos a serem alimentados no digestor, adequar o teor de umidade dos resíduos em compostagem e para a umidificação dos biofiltros. A unidade possui um gasômetro de 2.150m3 para armazenamento temporário do biogás. 74 O material extraído do digestor é encaminhado aos túneis de compostagem aeróbia para póstratamento. O processo é divido em duas etapas (fermentação e maturação) e dura cerca de quatro semanas. Nas duas primeiras semanas, o material permanece em um dos 12 túneis de fermentação, sendo então direcionado a um dos dez túneis de maturação, onde permanece por mais duas semanas. A Tabela 5.4 apresenta os dados de entrada de resíduos, produção de energia elétrica e utilização da capacidade instalada do CTR Valladolid. Vale destacar que a unidade possui um elevado índice de utilização da capacidade instalada, superando os 97%. Tabela 5.4 - Dados de entrada de resíduos e produção de energia elétrica do CTR Valladolid Dados Total de resíduos recebidos Utilização da capacidade instalada Energia elétrica gerada Unidade t % MWh Anos 2006* 2008** 195.643 198.073 97,8% 99,0% 1.750 - Fonte: Adaptado de: *Junta de Castilla y León (2010). ** www.ctrvalladolid.com A Figura 5.7 apresenta uma imagem de satélite da unidade. Em termos de área, o fosso ocupa cerca de 1%; a unidade de triagem, cerca de 10%; o digestor, 1,5%; e a compostagem, maturação e remoção de impróprios 15% da área total da planta. Figura 5.7 – Imagem de satélite do CTR Valladolid Fonte: GoogleEarth 75 Segundo relatos dos responsáveis pela operação da unidade, pouco tempo depois do início da operação da unidade, uma das pás do sistema de agitação quebrou e teve de ser substituída. O digestor possui um sistema para auxiliar no fluxo do material em digestão; entretanto, não suportou o peso do material em digestão, por isso está inoperante. São comuns entupimentos no sistema de alimentação e nas linhas de triagem. 5.4 Biocompost - Planta de Tratamento de RSU de Vitória-Gasteiz para el Território Historico de Álava A visita à unidade foi realizada no dia 9-12-2008 e acompanhada pelo Diretor Financeiro, Sr. Carlos Matínez Gálvez. A Biocompost ─ localizada na carretera Askarra, s/n, 01015, distrito industrial de Jundiz, em Vitoria-Gasteiz, Espanha ─ possui uma capacidade instalada para tratamento de 120.750t/ano de RSU não segregados na fonte e 13.500t/ano de resíduos de poda. A unidade de biometanização é composta por 1 digestor Dranco de 1.770m3, opera entre 50 e 55°C, com um tempo de detenção de 26 dias e uma capacidade instalada para tratar 20.000t/ano de MOR. A unidade possui capacidade para produzir 6x106m3 de biogás por ano e gerar cerca de 6.000MWh/ano de energia elétrica. A unidade começou a ser construída em 2004, sendo que em 2006 foram iniciados os testes de start-up. Ocupa uma área de total de cerca de 6ha e o custo de implantação foi de €23.289.292,75 (vinte e três milhões duzentos e oitenta e nove mil duzentos e noventa e dois euros e setenta e cinco centavos). A unidade é operada por um consórcio formado pelas empresas FCC S.A. e Cespa Conter S.A.. Os RSU recebidos, após passarem por uma triagem manual para retirada dos materiais de grande volumes, são direcionados a um trommel, o qual segrega os materiais em três frações de diferentes diâmetros, sendo elas: >100mm: linha de materiais recicláveis. Essa fração é direcionada a sistemas de triagem manual e mecanizada para recuperação dos recicláveis. O rejeito dessa linha é encaminhado ao aterro sanitário. 76 40 – 100mm: linha de orgânicos com elevada quantidade contaminantes (materiais impróprios ao processo de biometanização). Essa fração é encaminhada diretamente ao sistema de compostagem. < 40mm: linha de orgânico com baixa quantidade de materiais contaminantes. Essa fração é direcionada ao digestor para biometanização. Os caminhões que chegam à unidade são pesados e então direcionados a área de descarga. Os RSU são então basculados dos caminhões em um dos fossos de recpção. A unidade possui dois fossos, com um volume total de acumulação de 3.516m3, o suficiente para armazenar a quantidade RSU entregue a cada dois dias. O sistema de pré-tratamento foi dimensionado de forma a recuperar no mínimo 8% do RSU recebido na unidade. As linhas de pré-tratamento possuem elevado grau de automatização e possuem uma capacidade instalada de 30t/h cada. De forma a garantir um fluxo constante de matéria orgânica para alimentar o digestor, a MOR é armazenada em um tanque pulmão de 75m3. Esse material é então direcionado a uma tolva de mistura, para mescla com parte do material extraído do digestor. Nessa mesma câmara o material é aquecido até uma temperatura de 50°C, via com a injeção de vapor. Além disso, adiciona-se ainda cloreto ferroso para minimizar a produção de gás sulfídrico e terras diatomáceas para elevar o teor de matéria seca. A produtividade média de biogás é de 138Nm3/t de MOR alimentada e o sistema promove uma redução de cerca de 15% em peso da MOR alimentada no digestor. O material extraído do digestor é misturado ao material extraído dos túneis de compostagem, sendo essa mistura então encaminhada ao galpão de maturação para produção do composto. A planta possui três linhas de efluentes líquidos. Uma das linhas capta as águas pluviais limpas, provenientes dos telhados das unidades e das áreas sem risco de contaminação, e direcionada a um tanque para armazenamento e reutilização. Outra linha capta as águas pluviais de áreas com risco de contaminação e os efluentes provenientes da lavagem de caminhões e dos recipientes de coleta da RSU. Esse efluente é direcionado aos túneis e compostagem e leiras de maturação para umidificação do material. Os efluentes do processo 77 de tratamento dos resíduos são direcionados a um tanque de armazenamento de 172m3 e posteriormente coletados por caminhões limpa-fossa e encaminhados a uma ETE. Posteriormente, pretende-se construir uma ETE na Planta TMB de Vitória-Gasteiz. Todos os galpões da unidade operam a pressão negativa, sendo o ar ambiente direcionado a um sistema de tratamento para remoção de maus odores e outros compostos que comprometam a qualidade do ar. O sistema de tratamento possui duas linhas, sendo uma para a área de pré-tratamento e o outro para a área de compostagem ─ fermentação e maturação. Cada uma das linhas possui um scrubber, para lavagem do ar, e um biofiltro de alto desempenho, possuindo uma eficiência mínima de 98% para remoção de compostos orgânicos voláteis. A Tabela 5.5 apresenta os dados de entrada e saída da unidade. Conforme pode ser observado o percentual de recuperação de recicláveis é de 3,1% e a geração de resíduos de planta superior a 62,8%. A geração de biogás por tonelada de resíduos recebidos foi de 14,4Nm3 e a geração elétrica 8,5kWh. Cabe destacar o pequeno percentual de utilização da capacidade instalada, 48,8%. Tabela 5.5 – Dados de entrada de resíduos e produção de energia e biogás da Biocompost Tipo de Resíduo Unidade Resíduos recebidos na planta t RSU t Terras diatomáceas Materiais recuperados e resíduos de planta t Recicláveis recuperados t Resíduos de planta t Matéria Orgânica Estabilizada Ano 2008 58.230 705 1.834 36.982 670 Geração de biogás e energia 1 Biogás Energia elétrica2 Nm3 MWh 499.862 t % % % 58.935 3,1% 62,8% 48,8% 850 Resumo Total de resíduos recebidos Recuperação de recicláveis Geração de resíduos de planta Utilização da capacidade instalada Produção de biogás Produção energia elétrica Nm3/t total resíduos kWh/t total resíduos 8,5 14,4 1 - Dado original: 450t - convertido para Nm3 considerando 65% de metano e uma densidade 0,900248756218906 kg/m3 2 - Calculado considerando 1m3 de biogás igual a 1,7kWh de energia elétrica Fonte: Adaptado de Ayuntamiento de Vitoria-Gasteiz (2010) 78 A Figura 5.8 apresenta o fluxograma da planta da Biocompost, no qual estão representadas as três linhas de tratamento dos resíduos, bem como os principais equipamentos utilizados em cada etapa do processo. A Figura 5.9 apresenta uma imagem da satélite da unidade. Figura 5.8 – Fluxograma da Planta TMB de Vitória-Gasteiz Fonte: Adaptado de < http://www.ows.be/pages/foto_ref.php?foto=45_2414_flow_EN.gif> Figura 5.9 - Imagem de satélite do CTR Valladolid Fonte: GoogleEarth 79 6. Análise Crítica das Tecnologias de Biometanização O presente trabalho objetiva a avaliação de diferentes tecnologias de biometanização de RSU, de forma a prover os subsídios necessários para a definição de qual é a mais adequada para aplicação em Minas Gerais. Foram avaliadas quatro tecnologias de biometanização seca de RSU, as quais são fornecidas por empresas consolidadas no mercado, possuem uma grande quantidade de plantas construídas, experiência comprovada no desenvolvimento de projetos de unidades de tratamento de RSU, são marcas sólidas e de atuação global. Para análise das tecnologias, definiu-se uma série de indicadores, os quais mensuram a eficiência dos processos e possibilitam uma avaliação mais adequada das mesmas. Os indicadores foram divididos em quatro grupos, conforme suas características e origem dos dados. Os grupos de indicadores são os seguintes: Histórico das Tecnologias, Aspectos Operacionais; Dados de Projeto; Dados Reais. O grupo Histórico das Tecnologias é composto por dez indicadores, os quais buscam avaliar a experiência acumulada das tecnologias. Foram utilizados indicadores relacionados aos tipos de resíduos tratados, capacidade instalada total e anos de experiência. Esse grupo de indicadores busca mensurar a solidez das tecnologias no mercado. Os dados para o cálculo desses indicadores foram obtidos nas páginas web das tecnologias e em publicações. O grupo Aspectos Operacionais é composto por seis indicadores, os quais buscam avaliar a realidade operacional das plantas e mensurar o grau dos problemas operacionais enfrentados. Os indicadores utilizados avaliam aspectos como o sistema de introdução, sistema de extração e qualidade do composto produzido. Os dados utilizados foram obtidos com a aplicação dos questionários durantes as visitas. O grupo Dados de Projeto é composto por nove indicadores, os quais comparam as premissas utilizadas na elaboração dos projetos e a expectativa de desempenho das plantas visitadas. Os indicadores avaliam aspectos como a produtividade de biogás e energia por tonelada de resíduo processado e o custo de implantação em função da quantidade de resíduo tratado. Os 80 dados utilizados foram obtidos nas páginas web das plantas ou dos fornecedores das tecnologias. O grupo Dados Reais é composto por doze indicadores, que avaliam o desempenho real das plantas visitadas. Os indicadores utilizados são similares ao do grupo Dados de Projeto, entretanto, referem-se ao desempenho real das unidades. Foram utilizados dados referentes à quantidade de resíduos recebidos, energia produzida e rejeitos destinados a aterros sanitários. Os dados utilizados foram obtidos com a aplicação dos questionários durante as visitas e em publicações de entidades governamentais locais. Para cada indicador foi atribuída uma nota entre zero e um, sendo zero, a pior situação, e um a melhor. Foram utilizados diferentes critérios para a definição das notas de cada um dos indicadores. Para os indicadores onde o resultado é um número, as notas foram calculadas a partir da normalização dos resultados, em função do melhor resultado observado. Ou seja, o melhor resultado recebe a nota 1, e, para os demais, calcula-se a nota, de forma percentual, em função do melhor resultado. Os critérios utilizados para a definição das notas dos indicadores onde não foi possível realizar a normalização dos resultados serão descritos, de forma detalhada, nos capítulos seguintes. Somando-se as notas da planta atribuídas a cada indicador, obtêm-se o desempenho no grupo, e realizando a soma da notas dos grupos, o desempenho global. O somatório das notas dos grupos é realizado de forma ponderada, conforme os diferentes pesos atribuídos a cada um dos grupos. Optou-se por ponderar de forma diferenciada os grupos, pois, com isso, possibilita-se atribuir uma maior importância aos grupos de indicadores mais influenciados pela realidade operacional das tecnologias analisadas. Para a definição do peso atribuído a cada grupo, foram considerados três critérios: Baixa Subjetividade; Confiabilidade da Informação; e Relevância Operacional. Com o critério Baixa Subjetividade, buscou-se reduzir a representatividade dos grupos com indicadores menos objetivos, ou seja, aqueles mais influenciados pela percepção do avaliador. Para definir a nota de cada grupo nesse critério, considerou-se a quantidade de indicadores do grupo que possibilitavam a definição da nota por meio de critérios aritméticos. Nos grupos 81 Dados de Projeto e Dados Reais, a nota de todos os indicadores foi calculada e os grupos considerados de baixa subjetividade; por isso, para esses grupos foram atribuídos peso 1 no critério subjetividade. O grupo Histórico das Tecnologias possui indicadores onde as notas foram calculadas e indicadores onde as notas foram atribuídas, sendo assim, considerado como um grupo de subjetividade moderada e, por isso, atribuiu-se peso 0,5 a este grupo, nesse critério. O grupo Aspectos Operacionais foi considerados de elevada subjetividade, uma vez que não foi possível realizar o cálculo de nenhum dos indicadores, sendo todas as notas arbitradas pelo avaliador. Dessa forma, atribuiu-se peso 0 ao grupo, nesse critério. O critério Confiabilidade da Informação refere-se à credibilidade dos dados levantados, avaliando-se, principalmente, a fonte da informação e o objetivo para o qual os dados foram disponibilizados. O grupo Dados Reais é o de maior confiabilidade, uma vez que os dados utilizados foram aqueles reportados pelas plantas, aos governos locais. Essas informações foram utilizadas, pelos governos locais, em publicações sobre o desempenho dos sistemas de tratamento de resíduos ou de geração de energia. Dessa forma, atribuiu-se peso 1, ao critério Confiabilidade da Informação, para o grupo Dados Reais. Os grupos Histórico das Tecnologias e Dados de Projetos utilizaram informações publicadas pelas empresas que comercializam as tecnologias ou pelas próprias plantas, em suas páginas web, com o objetivo de publicidade e marketing. São informações que muitas vezes não condizem com a realidade operacional das unidades, sendo então atribuído peso 0,5 aos grupos Histórico das Tecnologias e Dados de Projeto, no critério Confiabilidade da Informação. O grupo Aspectos Operacionais utilizou informações coletadas durante as entrevistas, as quais podem estar distorcidas ou equivocadas. Sendo assim, também atribuiu-se peso 0,5, ao grupo nesse critério. O critério Relevância Operacional avalia o grau de influência da realidade operacional das unidades no resultado dos indicadores. Considera-se este critério o mais importante, uma vez que representa o desempenho real das plantas e tecnologias avaliadas. Os grupos Aspectos Operacionais e Dados Reais possuem os indicadores de maior relevância operacional, uma vez que seus resultados são diretamente influenciados pelo desempenho e realidade operacional das unidades visitadas. Dessa forma, optou-se por atribuir peso 2 a esses grupos. Os grupos Histórico das Tecnologias e Dados de Projeto não sofrem nenhuma influência sobe a realidade operacional e desempenho das unidades, sendo então atribuído peso 0 a estes grupos. 82 A Tabela 6.1 apresenta um quadro resumo dos pesos atribuídos a cada um dos critérios avaliados, bem como o peso final de cada um dos grupos de indicadores. Tabela 6.1 – Critérios utilizados na definição dos pesos de cada um dos grupos de indicadores Grupo de Indicadores Critério Histórico das Aspectos Dados de Dados Reais tecnologias Operacionais Projeto Subjetividade 0,5 0 1 1 Confiabilidade dos dados 0,5 0,5 0,5 1 Relevância 0 2 0 2 Peso 1 2,5 1,5 4 6.1 Histórico das Tecnologias O grupo Histórico das Tecnologias é composto por nove indicadores, os quais comparam a experiência acumulada das tecnologias e a representatividade de cada uma no mercado. Nesse grupo foram avaliados os seguintes indicadores: A1. faixa de operação; A2. capacidade instalada total; A3. capacidade instalada média das plantas; A4. planta de maior capacidade instalada; A5. anos de experiência; A6. representante no Brasil; A7. quantidade de unidades implantadas ou em construção; A8. tipo de resíduos tratados; A9. experiência em utilização do biogás; O indicador A1 compara a experiência das tecnologias em operar os digestores em diferentes faixas de temperatura. Devido à grande variedade de resíduos a serem processados em unidades de biometanização, a experiência em operar os digestores em diferentes faixas de temperaturas é um ponto que deve ser valorizado. Para as tecnologias em que todas as plantas operam na mesma faixa de temperatura, foi atribuída a nota 0,5, enquanto que para as tecnologias que possuem unidades que operam em faixa mesofílica e outras em faixa termofílica, atribuiu-se a nota 1. 83 O indicador A2 avalia a experiência acumulada das tecnologias, comparando a quantidade total de resíduos tratados por cada uma das tecnologias. Para tanto, realizou-se o somatório da capacidade instalada, em toneladas de resíduos tratados por ano, de todas as plantas construídas, ou em construção, de cada uma das tecnologias. Nesse indicador considerou-se a capacidade instalada das plantas TMB como um todo, e não apenas das unidades de biometanização. O indicador A3 avalia qual das tecnologias possui plantas de maior capacidade instalada. O resultado do indicador refere-se à média da capacidade instalada de todas as plantas, de cada uma das tecnologias. Considera-se esse indicador relevante, pois as tecnologias avaliadas possuem um elevado custo de implantação e operação, e a sua aplicação em países em desenvolvimento só será viável em unidades de grande porte, devido à redução dos custos pelos ganhos de escala. Assim como no A2, considerou-se a capacidade instalada das plantas TMB como um todo, e não apenas das unidades de biometanização. O indicador A4 compara qual das tecnologias possui a Planta TMB de maior capacidade instalada. Para o cálculo foi considerada a capacidade instalada das plantas como um todo, e não apenas a dos digestores. Considera-se esse indicador relevante, pois as tecnologias avaliadas possuem um elevado custo de implantação e operação, e a sua aplicação em países em desenvolvimento só será viável em unidades de grande porte, devido à redução dos custos pelo ganho de escala. Assim como no A2, considerou-se a capacidade instalada das plantas TMB como um todo, e não apenas das unidades de biometanização. O indicador A5 avalia qual das tecnologias possui mais tempo de experiência em pesquisa, construção e operação de unidades de biometanização. Para o cálculo foi considerado o ano de implantação da primeira unidade, em escala piloto, de cada uma das tecnologias. O indicador A6 verifica quais das tecnologias possui representante técnico-comercial no Brasil. Devido a se trataram de projetos de elevada complexidade, bem como da necessidade de um acompanhamento constante dos fabricantes na implantação e operação da unidade, entende-se que a existência de um representante no Brasil, acarretará em redução de custos, 84 para o contratante, no desenvolvimento do projeto. As tecnologias que possuírem representante no Brasil recebem nota 1 e as que não possuírem, nota 0. O indicador A7 compara qual das tecnologias possui um maior número de empreendimentos implantadas ou em construção. As características dos resíduos variam significativamente de cidade para cidade, de gerador para gerador. Dessa forma, a tecnologia que possuir uma maior quantidade de unidades, possuirá uma maior experiência no desenvolvimento de plantas para resíduos com diferentes características. O indicador A8 compara a quantidade de tipos de resíduos, nos quais as tecnologias possuem experiência de tratamento. A tecnologia que possui a experiência na maior quantidade recebeu nota 1, e as demais tecnologias, uma nota proporcional, em função de quantos tipos de resíduos, a tecnologia possui experiência no tratamento. O indicador A9 compara a quantidade de usos do biogás, nos quais as tecnologias possuem experiência. A tecnologia que possui a experiência na maior quantidade recebeu nota 1, e as demais tecnologias, uma nota proporcional, em função de quantos tipos de usos do biogás, a tecnologia possui experiência. Com exceção do indicador A1, para o cálculo das notas dos demais indicadores foi realizada a normalização dos resultados, em função do melhor resultado para cada indicador, ao qual se atribui a nota 1. As demais notas foram calculadas, de forma percentual, com relação ao melhor resultado. A seguir, é apresentada a Tabela 6.2, contendo a matriz de resultados dos indicadores do grupo Histórico das Tecnologias. 85 Indicadores A1 Faixa de operação A2 Capacidade instalada total Capacidade instalada média das plantas Planta de maior A4 capacidade instalada A3 A5 Anos de experiências Nota Obs.: Nota Obs.: Nota Obs.: Nota Obs.: Nota Obs.: Nota A6 Representante no Brasil Quantidade de unidades A7 implantadas ou em implantação A8 Tipos de resíduos tratados A9 Experiência em utilizações de biogás Somatório das notas Tabela 6.2 – Matriz de resultados do grupo Histórico das Tecnologias Histórico das tecnologias Tecnologias Dranco Valorga Kompogas 0,50 1,00 0,50 Termofílico Mesofílico e termofílico Termofílico 0,36 1,00 0,36 1.231.000 t/ano 3.446.596 t/ano 1.233.250 t/ano 0,42 1,00 0,22 53.522 t/ano 127.652 t/ano 28.680 t/ano 0,36 1,00 0,55 180.000 t/ano 497.600 t/ano 274.000 t/ano 0,93 1,00 0,68 26 anos, primeira planta 28 anos, primeira planta 19 anos, primeira planta construída em 1984 construída em 1982 construída em 1991 0,00 0,00 1,00 Laran 1,00 Mesofílico e termofílico 0,27 936.460 t/ano 0,38 49.132 t/ano 0,40 200.000 t/ano 0,57 16 anos, primeira planta construída em 1994 0,00 Obs.: Não Não Sim, a Kuttner do Brasil Não Nota 0,70 0,72 1,00 0,49 Obs.: 30 unidades 31 unidades 43 unidades 21 unidades Nota 1,00 0,86 0,71 0,86 6 tipos - esterco, resíduo agricola, resíduo industrial orgânico, FORM, MOR, poda verde. 5 tipos - poda verde, resíduo industrial orgânico, FORM, MOR, poda verde. 6 tipos - lodo de ETE, resíduo agricola, resíduo industrial orgânico, FORM, MOR, poda verde. 0,75 Calor, eletricidade e lançamento na rede de gás natural 7,33 1,00 Calor, eletricidade, GMV e lançamento na rede de gás natural 6,02 1,00 Calor, eletricidade, GMV e lançamento na rede de gás natural 4,98 7 tipos - plantações energéticas, lodo de ETE, esterco, resíduo Obs.: industrial orgânico, FORM, MOR, poda verde. Nota 0,50 Obs.: Calor e eletricidade 4,76 86 Quanto ao indicador A2, a tecnologia Valorga foi a que apresentou o melhor desempenho. São processadas anualmente, cerca de, 3.446.596 toneladas de resíduos nas plantas TMB que possuem essa tecnologia de biometanização. A Valorga possui uma capacidade instalada superior ao somatório da capacidade instalada das outras três tecnologias juntas, as quais processam anualmente 3.400.710 toneladas de resíduos. No indicador A3, a tecnologia Valorga obteve o melhor desempenho. A capacidade instalada média das plantas TMB, que utilizam essa tecnologia de biometanização, é de 127.652 toneladas de resíduos por ano. A capacidade instalada média da Valorga é cerca de 2,5 vezes superior a Dranco e a Laran, as quais possuem uma capacidade média instalada de 53.552 e 49.132 toneladas de resíduos por ano, respectivamente. Com relação ao indicador A4, a tecnologia Valorga foi a que obteve o melhor resultado. A sua maior unidade processa 497.600 toneladas de resíduos por ano, e está instalada na cidade francesa de Fos sur Mer. Essa unidade possui uma capacidade instalada 1,8 vezes superior a segunda colocada, a qual possui tecnologia Kompogas, e processa 274.000 toneladas de resíduos por ano. Quanto ao indicador A5, a tecnologia Valorga foi a de melhor desempenho, pois é a que possui mais tempo de experiência. Seu primeiro digestor, em escala piloto, foi construído em 1982, na cidade de Montpelllier, na França. De forma global, a tecnologia Valorga foi a que apresentou o melhor desempenho no grupo Histórico das Tecnologias, obtendo uma nota total de 7,22 pontos. O bom desempenho da tecnologia Valorga foi resultado, principalmente, pela possibilidade de construção de unidades de grande porte, com elevada capacidade de tratamento. Esse é um aspecto muito positivo, uma vez que, conforme mencionado anteriormente, a redução nos custos de implantação e operação como o aumento da escala das unidades, é um fator que pode contribuir para a viabilização da construção de plantas TMB em países em desenvolvimento. A tecnologia Valorga apresentou um resultado 1,2 vezes melhor do que a Kompogas, segunda colocada e que obteve 5,81 pontos e 1,5 vezes superior a Laran e Dranco, que obtiveram 4,87 e 4,76 pontos, ocupando a terceira e quarta posição, respectivamente. 87 6.2 Aspectos Operacionais O grupo Aspectos Operacionais é composto por seis indicadores, os quais avaliam o funcionamento dos principais sistemas que compõem unidades biometanização seca de RSU, problemas operacionais devido ao acúmulo de materiais impróprios no interior do digestor e a destinação dada ao composto produzido. Para tanto, foram avaliados os seguintes indicadores: B1. sistema de introdução; B2. sistema de agitação e mistura do material em digestão; B3. sistema de extração; B4. sistema de remoção do gás sulfídrico do biogás; B5. problemas devido ao acúmulo de materiais impróprios no interior do digestor; B6. destinação do composto. Os indicadores do grupo Aspectos Operacionais são os mais subjetivos, dentre os quatro grupos avaliados. Buscando reduzir a subjetividade na definição das notas de cada indicador, adotaram-se os seguintes critérios para definição das pontuações de cada indicador: caso o sistema esteja funcionando de forma adequada e não tenham sido relatados ou observados problemas operacionais, nota 1; caso sistema esteja funcionando de forma satisfatória, entretanto foram relatados ou observados problemas operacionais, nota 0,5; caso o sistema esteja inoperante ou funcionando de forma precária, nota 0. O indicador B1 avalia o funcionamento dos sistemas de introdução do resíduo nos digestores visitados. É comum a ocorrência de problemas operacionais nesses sistemas, sendo os principais relacionados à obstrução das tubulações pelo acúmulo de materiais impróprios, e o enroscamento de plásticos e outros materiais nos sistemas de mistura. O indicador B2 verifica a ocorrência de problemas no sistema de agitação e mistura do material em digestão. Esse sistema é responsável por homogeneizar, de forma adequada, o material no interior do digestor, de forma a impedir a formação de caminhos preferenciais, zonas mortas ou o acúmulo de inertes, bem como promover o contato constante da matéria 88 orgânica com os microorganismos responsáveis pelo processo de digestão. Esse é um dos sistemas que mais costuma apresentar problemas operacionais nas unidades de biometanização de RSU. O indicador B3 compara o funcionamento do sistema de extração do resíduo digerido nas unidades visitadas. Esse sistema é responsável pela transferência do material digerido do interior do digestor ao sistema de desaguamento. Os principais problemas verificados são entupimento das tubulações pelo acúmulo de material impróprio. O indicador B4 avalia o sistema de remoção de gás sulfídrico do biogás. Esse é um aspecto importante, uma vez que a utilização do biogás com elevadas concentrações de gás sulfídrico compromete a vida útil dos motores de cogeração. O indicador B5 avalia a existência de problemas operacionais relacionados ao acúmulo de inertes no interior do digestor. Devido à heterogeneidade dos RSU, operar de forma adequada (extrair 100% do impróprio introduzido), com elevadas concentração de impróprios no substrato, é uma característica almejada por todas as tecnologias de biometanização de RSU. São extremamente comuns problemas devido a acumulação de inertes que ocasionam, principalmente, a redução no volume útil do digestor e obstrução das tubulações. O indicador B6 verifica a destinação dada ao composto produzido nas plantas visitadas. A gestão adequada do composto é um ponto chave na gestão de Plantas TMB. A produção de um composto de qualidade e a viabilização de um mercado consumidor para venda ou doação é um aspecto extremamente relevante. Caso esse mercado consumidor não seja viabilizado, será necessário encaminhar o composto a um aterro sanitário, o que acarretará em elevados custos operacionais. Os principais entraves à doação ou comercialização do composto são a elevada concentração de metais ou microorganismos patogênicos, bem como o preconceito por se tratar de composto produzido a partir do “lixo”. A seguir, é apresentada a Tabela 6.3, a qual contém a matriz de resultados dos indicadores do grupo Aspectos Operacionais. 89 Tabela 6.3 – Matriz de resultados do grupo Aspectos Operacionais Planta Tecnologia B1 Sistema de Introdução Agitação e mistura B2 do material em digestão Biocompost Dranco Dranco Remoção do gás sulfídrico no biogás Problemas devido ao acumulo de materiais B5 impróprios no interior do digestor B6 Qualidade do composto Somatório das notas CTR Valladolid Laran Laran 0,5 1 0,5 0,5 Obs.: Durante a visita estavam sendo realizados reparos para desobstrução do sistema de mistura do material que será introduzido no digestor. Segundo o técnico responsável reparo, esse é um problema recorrente. Não foram relatdos ou verificados problemas. Foram relatados problemas de entupimento das tubulações de alimentação devido a elevada concentração de vidro no material que é introduzido no digestor. Foram relatados problemas devido obstrução do sistema, devido ao acúmulo de sacos plásticos nas roscas de introdução. Nota 0,5 0,5 0,5 0,5 Foram relatados problemas relativo a formação de caminhos preferênciais e zonas mortas. O digestor possui um sistema de piso móvel para auxiliar no fluxo do material no interior do digestor, entretanto, o mesmo não funcionou de forma adequada e foi desativado. Foram relatados problemas de formação de zonas mortas nas laterais do digestor. 0 1 Foram relatados problemas referentes a Foram relatados problemas relativo a formação de zonas mortas, devido ao Obs.: formação de caminhos preferênciais ou zonas acúmulo de material em determinadas zonas mortas. do digestor. 0,5 0,5 Foram relatados problema recorrentes de Foram relatadas ocorrências de rompimento Não foram relatados ou verificados O processo de alimentação/extração do entupimento das tubulações de extração em dos anéis de vedação da bomba de extração. problemas. O sistema de extração possui uma digestor não é realizado aos domingos. O função a elevada concentração de vidro no Durante esses eventos, ocorreu o vazamento bomba e um tanque de vácuo. Caso ocorra Obs.: material em digestão sedimenta na base do material em digestão. O sistema funciona por de uma grande quantidade de lodo no galpão alguma obstrução do sistema, eleva-se a digestor e obstrui a tubulação de extração, o gravidade e o processo de desentupimento é do sistema de extração, o que ocasiou uma pressão de vácuo, o que promove o que compromete o funcionamento do sistema. realizado de forma manual e acarreta na série de incovenientes. esvaziamento da tubulação. formação das chamadas "praças de guerra". Nota B4 Ecoparque de La Rioja Kompogas Kompogas Nota Nota B3 Sistema de extração Aspectos Operacionais Ecoparc 2 Valorga Valorga 1 1 Remoção por via biológica (biofiltros), com elevada eficiência até a concentração de 2.000ppmV. Remoção por via biológica (biofiltros), com elevada eficiência até a concentração de 2.000ppmV. Nota 0,5 0 Obs.: Foram relatados problemas recorrentes de acumulação de inertes no interior do digestor. Devido ao elevado acumulo de inertes no interior dos digestores, foi necessário o completo esvaziamento dos digestores para remoção desse material. 1 A maior parte do composto produzido é comercializada. 4,00 0,5 A maior parte do composto produzido é direcionada ao aterro sanitário. 3,50 0,5 1 Para evitar a formação do gás sulfídrico, Remoção por via biológica (biofiltros), com adiciona-se cloreto férrico no material que elevada eficiência até a concentração de será introduzido no digestor. Segundo 2.000ppmV. informado na visita, a concentração de gás Obs.: Não foram relatados ou verificados Não foram relatados ou verificados sulfídrico no biogás é tão elevada que chega a Não foram relatados ou verificados problemas. Parte da água proveniente do problemas. Parte da água proveniente do corroer os EPIs dos funcionários que problemas. Parte da água proveniente do processo de desaguamento é direcionada para processo de desaguamento é direcionada para trabalham na manutenção do sistema de processo de desaguamento é direcionada para a umidificação do sistema. a umidificação do sistema. extração de biogás. a umidificação do sistema. Nota Obs.: 0,5 0,5 Foram relatados problemas recorrentes de acumulação de inertes no interior do digestor, Foram relatados problemas recorrentes de principalmente devido a obstrução do sistema acumulação de inertes no interior do digestor. de extração pela grande concentração de vidro. 1 0,5 A maior parte do composto produzido é A maior parte do composto produzido é comercializada. direcionada ao aterro sanitário. 3,00 4,00 90 Quanto ao indicador B6, verificou-se que o CTR Valladolid e o Ecoparc 2 são os que enfrentam os maiores entraves na gestão do composto gerado. As duas unidades operam na faixa mesofílica, o que, segundo relatos dos operadores, faz com que os composto possua uma elevada concentração de patogênicos, o que inviabiliza a sua comercialização ou doação. Um complicador adicional do Ecoparc 2 é o fato do mesmo estar localizado em uma área urbana, o que restringe um possível mercado consumidor para o composto. Nessas duas unidades a maior parte do composto é destinada a aterros sanitários. Nas demais plantas, segundo informações dos responsáveis, os compostos produzido é de boa qualidade e a maior parte é comercializada ou doada. No grupo Aspectos Operacionais, o CTR Valladolid (Laran) e a Biocompost (Dranco) foram as que apresentaram o melhor desempenho, atingindo 4,00 pontos, seguidos pelo Ecoparc 2 (Valorga) com 3,50 e pelo Ecoparque de La Rioja (Kompogas) com 3,00 pontos. 6.3 Dados de Projeto O grupo Dados de Projeto é composto por oito indicadores, os quais comparam às estimativas de desempenho de cada uma das unidades visitadas. Os indicadores foram calculados com base nos dados de projeto das unidades. As informações necessárias para os cálculos foram obtidas durantes as visitas técnicas ou nas páginas web das unidades ou dos fabricantes das tecnologias. Para tanto, foram avaliados os seguinte indicadores: C1. capacidade instalada de biometanização pelo volume total dos digestores; C2. produtividade diária de biogás pelo volume total dos digestores; C3. geração anual de energia elétrica pelo volume total dos digestores; C4. produtividade de biogás por tonelada de resíduo introduzido no digestor; C5. custo de implantação pela capacidade instalada de tratamento de RSU; C6. custo de implantação pela produtividade anual de biogás; C7. custo de implantação pela geração anual de energia elétrica; C8. geração de energia elétrica por tonelada de resíduo introduzido no digestor. Para o cálculo das notas dos indicadores do grupo Dados de Projeto, realizou-se a normalização dos resultados, em função do melhor resultado obtido em cada indicador, ao 91 qual se atribui a nota 1. As demais notas foram calculadas, de forma percentual, com relação ao melhor resultado. O indicador C1 avalia a eficiência dos digestores quanto à carga orgânica volumétrica aplicada, comparando a relação entre a quantidade de resíduos orgânicos introduzidos nos digestores e o volume total dos digestores. O cálculo do indicador foi realizado pelo quociente entre a capacidade instalada de biometanização, em toneladas de resíduos orgânicos introduzidos nos digestores, e o volume total dos digestores, em metros cúbicos. O indicador C2 avalia a eficiência dos digestores quanto à produtividade de biogás, comparando a relação entre a produtividade de biogás e o volume total dos digestores. Foi calculado pelo quociente entre a produtividade biogás, em metros cúbicos de biogás gerados por dia, e o volume total dos digestores, em metros cúbicos. O indicador C3 avalia a eficiência dos digestores quanto à geração de energia elétrica, comparando a relação entre a geração de energia elétrica e o volume total dos digestores. Foi calculado pelo quociente entre a geração anual de energia elétrica, em megawatts-hora gerados por ano, e o volume total dos digestores, em metros cúbicos. O indicador C4 avalia a eficiência da unidade de biometanização quanto à produtividade de biogás, comparando a relação entre a produtividade de biogás e a quantidade de resíduos orgânicos introduzidos nos digestores. Foi calculado pelo quociente entre a produtividade biogás, em metros cúbicos de biogás gerados por ano, e a capacidade instalada de biometanização, em toneladas de resíduos orgânicos introduzidos nos digestores por ano. O indicador C5 compara a relação entre o custo de implantação e a capacidade instalada de processamento de RSU. Foi calculado pelo quociente entre o custo de implantação, em euros, e a capacidade instalada de unidade, em toneladas de RSU recebidos por ano. O indicador C6 compara a relação ente o custo de implantação da unidade e a produtividade de biogás. Foi calculado pelo quociente entre o custo de implantação, em euros, e a produtividade de biogás, em metros cúbicos de biogás gerados por ano. 92 O indicador C7 compara a relação entre o custo de implantação e a geração de energia elétrica. Foi calculado pelo quociente entre o custo de implantação, em euros, e a geração de energia elétrica, em quilowatts-hora de energia elétrica gerados por ano. O indicador C8 avalia a eficiência na geração de energia elétrica quanto à quantidade de resíduos orgânicos introduzidos nos digestores. Foi calculado pelo quociente entre a quantidade de energia elétrica gerada, em quilowatts-hora de energia elétrica gerados por ano, e a capacidade instalada de biometanização, em toneladas de resíduos orgânicos introduzidos no digestor por ano. A seguir, é apresentada a Tabela 6.4, contendo a matriz de resultados dos indicadores do grupo Dados de Projeto. 93 Tabela 6.4 – Matriz de resultados do grupo Dados de Projeto Planta Tecnologia Biocompost Dranco Dranco Nota Capacidade instalada de C1 biometanização pelo volume total dos digestores Dados de projeto Ecoparc 2 Valorga 1,00 Ecoparque de La Rioja Kompogas CTR Valladolid Laran 0,96 0,67 0,79 11,3 t de resíduos orgânicos 8,9 t de resíduos orgânicos 10,9 t de resíduos orgânicos 7,5 t de resíduos orgânicos Obs.: introduzidos no digestor por ano introduzidos no digestor por ano introduzidos no digestor por ano introduzidos no digestor por ano / m3 de digestor / m3 de digestor / m3 de digestor / m3 de digestor Nota 0,77 0,50 1,00 0,42 Produtividade diária de biogás 3 3 3 3 3 3 3 C2 4,3 m de biogas por dia / m de 2,8 m de biogas por dia / m de 5,6 m de biogas por dia / m de 2,3 m de biogas por dia / m3 de pelo volume total dos digestores Obs.: digestor digestor digestor digestor Nota 1,00 0,58 0,55 0,45 Geração anual de energia C3 elétrica pelo volume total dos digestores Produtividade de biogás por C4 tonelada de resíduo orgânico introduzido no digestor Custo de implantação pela C5 capacidade instalada de tratamento de RSU Custo de implantação pela C6 produtividade anual de biogás Obs.: 3,4 MWh/ano / m3 de digestor Nota 0,74 3 Obs.: Nota Obs.: 2,0 MWh/ano / m3 de digestor 1,8 MWh/ano / m3 de digestor 0,61 3 1,5 MWh/ano / m3 de digestor 1,00 3 0,61 3 138,0 m de biogás / t toneladas 114,2 m de biogás / t de 186,7 m de biogás / t de 113,3 m de biogás / t de de resíduos orgânicos resíduos orgânicos introduzidos resíduos orgânicos introduzidos resíduos orgânicos introduzidos introduzidos no digestor no digestor no digestor no digestor 0,57 0,51 0,54 1,00 192,87 € / t de RSU recebidos por ano Nota 212,50 € / t de RSU recebidos por ano 0,25 3 202,70 € / t de RSU recebidos por ano 0,58 3 109,37 € / t de RSU recebidos por ano 1,00 3 0,17 3 8,44 € / m de biogás gerado 3,72 € / m de biogás gerado 2,14 € / m de biogás gerado 12,87 € / m de biogás gerado por ano por ano por ano por ano Nota 0,50 1,00 0,82 0,26 Custo de implantação pela C7 geração anual de energia 3,88 € / kWh/ano de energia 1,93 € / kWh/ano de energia 2,35 € / kWh/ano de energia 7,29 € / kWh/ano de energia Obs.: elétrica elétrica gerada elétrica gerada elétrica gerada elétrica gerada Nota 1,00 0,73 0,57 0,67 Geração anual de energia 300 kWh de energia elétrica / t 220 kWh de energia elétrica / t 170 kWh de energia elétrica / t 200 kWh de energia elétrica / t C8 elétrica por tonelada de resíduo Obs.: de resíduos orgânicos de resíduos orgânicos de resíduos orgânicos de resíduos orgânicos orgânico introduzido no digestor introduzidos no digestor introduzidos no digestor introduzidos no digestor introduzidos no digestor Somatório das notas 5,33 4,30 5,61 3,98 Obs.: 94 A Biocompost (Dranco) e o Ecoparque de La Rioja (Kompogas) foram as unidades que apresentaram o melhor desempenho no indicador C1. A expectativa de aplicação de carga orgânica volumétrica dessas plantas é bastante similar, sendo elas, respectivamente, de 11,3 e 10,9 toneladas de resíduos orgânicos introduzidos por ano por m3 de digestor. O CTR Valladolid (Laran) foi o que apresentou a pior expectativa de desempenho, 7,5 toneladas de resíduos orgânicos introduzidos por ano por m3 de digestor, valor este 33% inferior a expectativa da Biocompost. Quanto ao indicador C2, o Ecoparque de La Rioja (Kompogas) foi a unidade de melhor desempenho. A produtividade esperada de biogás e de 5,6m3 por m3 de digestor, a qual é 30% superior a Biocompost (Dranco), segunda melhor expectativa, com 4,3m3 por m3 de digestor. Com relação ao CTR Valladolid (Laran), que apresentou a pior expectativa, 2,3m3 por m3 de digestor, o Ecoparque de La Rioja apresentou um resultado 137% superior. No que tange o indicador C3, a Biocompost (Dranco) foi a planta que apresentou o melhor resultado, 3,4 MWh de energia elétrica por ano por m3 de digestor. O Ecoparc 2 (Valorga), segundo melhor desempenho, apresentou um resultado 42% inferior, gerando 2,0 MWh/m3. Com relação ao CTR Valladolid (Laran), o qual apresentou o pior resultado, gerando 1,5 MWh/m3, ou seja, 55% inferior a expectativa da Biocompost. O Ecoparque de La Rioja (Kompogas) foi a planta que apresentou o melhor resultado no indicador C4, com uma expectativa de produção de 186,7 m3 de biogás por tonelada de resíduo introduzida no digestor, a qual é 35% superior ao resultado da Biocompost (Dranco), que apresentou a segunda melhor expectativa, com uma produção estimada de 138m3/t. Já o Ecoparc 2 (Valorga) e o CTR Valladolid (Laran), apresentaram um desempenho 39% inferior ao do Ecoparque de La Rioja, com um expectativa de produção de 114,2 e 113,3m3/t, respectivamente. Para o indicador C5, o CTR Valladolid (Laran) foi planta que apresentou o menor custo de implantação por tonelada de RSU recebido anualmente, 109,37€/t. O segundo menor custo foi observado na Biocompost (Dranco), 192,87€/t, valor esse 76% superior ao observado no CTR Valladolid. 95 A unidade que apresentou um melhor desempenho para o indicador C6, foi o Ecoparque de La Rioja, com um custo de implantação 2,14€ por m3 de biogás produzido. O Ecoparc 2 (Valorga), o qual apresentou o segundo menor custo, de 3,72€/m3, é 74% superior ao apresentado pelo Ecoparque de La Rioja. Já o CTR Valladolid (Lara), planta que possui o custo mais elevado, de 12,87€/m3, ou seja, 500% superior ao Ecoparque de La Rioja. Entretanto, esse fato se deve pela baixa relação entre a capacidade instalada de biometanização e de processamento de RSU da unidade. Para o indicador C7, a unidade que apresentou o menor custo de implantação, por kWh de energia elétrica gerada anualmente, foi o Ecoparc 2 (Valorga), 1,93€/kWh/ano. O Ecoparque de La Rioja (Kompogas) apresentou o segundo menor custo, 2,35€/kWh/ano, o qual é 22% superior ao do Ecoparc 2. Já o CTR Valladolid, o qual é 277% superior ao do Ecoparc 2, teve o custo mais elevado, de 7,99€/kWh/ano. Com relação ao indicador C8, a planta de melhor desempenho foi a Biocompost (Dranco), com uma estimativa de geração de 300kWh de energia elétrica por tonelada de resíduo orgânico introduzido no digestor. O Ecoparc 2 (Valorga), segundo melhor desempenho, apresentou um resultado 27% inferior, com uma estimativa de produção de 220kWh/t. Já o Ecoparque de La Rioja (Kompogas), o qual apresentou o pior desempenho, possui uma estimativa de geração de 170kWh/t, ou seja, 43% inferior a da Biocompost. No grupo Dados de Projeto, o Ecoparque de La Rioja (Kompogas) foi a planta de melhor desempenho, atingindo 5,61 pontos, seguido pela Biocompost (Dranco), 5,33 pontos, Ecoparc 2 (Valorga), 4,30 pontos e, em último lugar, CTR Valladolid (Laran), com 3,98 pontos. O bom desempenho do Ecoparque de La Rioja foi ocasionado, principalmente, pelo desempenho estimado para os digestores quanto à capacidade de carga e produtividade de biogás, elevada produtividade de biogás para os resíduos processados, e os custos, relativamente menores, de produção de biogás. 6.4 Dados Reais O grupo Dados Reais é composto por doze indicadores, os quais comparam o desempenho real das unidades visitas e avaliam o grau de atendimento as expectativas de desempenho do 96 projeto. Os indicadores foram calculados com base nos dados reais de desempenho das unidades. As informações necessárias para os cálculos foram obtidas durante as visitas e em publicações de orgãos dos governos locais, sobre o desempenho das unidades. Para tanto, foram avaliados os seguinte indicadores: D1. utilização da capacidade instalada; D2. geração de resíduos de planta; D3. toneladas de resíduo orgânico introduzida no digestor pelo volume total dos digestores; D4. produtividade de biogás por tonelada de resíduo orgânico introduzida no digestor; D5. produtividade diária de biogás pelo volume total dos digestores; D6. geração anual de energia elétrica pelo volume total dos digestores; D7. geração de energia elétrica por tonelada de resíduo orgânico introduzida no digestor; D8. geração de energia elétrica por metro cúbico de biogás produzido; D9. custo de implantação por tonelada de RSU recebido na planta; D10. custo de implantação pela geração anual de energia elétrica; D11. atendimento às expectativas de geração de biogás; D12. atendimento às expectativa de geração de energia elétrica. Para o cálculo das notas dos indicadores do grupo Dados Reais, realizou-se a normalização dos resultados, em função do melhor resultado obtido em cada indicador, ao qual se atribui a nota 1. As demais notas foram calculadas, de forma percentual, com relação ao melhor resultado. O indicador D1 compara o percentual de utilização da capacidade instalada das plantas. Para tanto calculou-se o quociente entre a quantidade média anual de RSU recebidos e a capacidade instalada de processamento de RSU. O indicador D2 compara a eficiência das plantas, quanto à recuperação dos materiais presentes nos resíduos recebidos (matéria orgânica e recicláveis). Para tanto calculou-se o quociente entre a quantidade média anual de RSU recebidos e a quantidade média anual de resíduos de planta enviados a aterros sanitários. 97 O indicador D3 avalia a eficiência dos digestores, quanto à carga orgânica volumétrica aplicada, comparando a relação entre a quantidade de resíduos orgânicos introduzidos nos digestores e o volume total dos digestores. O cálculo do indicador foi realizado pelo quociente entre quantidade média de resíduos orgânicos introduzidos nos digestores, em toneladas de resíduos orgânicos introduzidos nos digestores, e o volume total dos digestores, em metros cúbicos. O indicador D4 avalia a eficiência da unidade de biometanização quanto à produtividade de biogás, comparando a relação entre a produtividade de biogás e a quantidade de resíduos orgânicos processados. Foi calculado pelo quociente entre a produtividade biogás, em metros cúbicos de biogás gerados por ano, e a quantidade de resíduos orgânicos processados, em toneladas de resíduos orgânicos introduzidos nos digestores por ano. O indicador D5 avalia a eficiência dos digestores, quanto à produtividade de biogás, comparando a relação entre a produtividade de biogás e o volume total dos digestores. Foi calculado pelo quociente entre a produtividade biogás, em metros cúbicos de biogás gerados por dia, e o volume total dos digestores, em metros cúbicos. O indicador D6 avalia a eficiência dos digestores quanto à geração de energia elétrica, comparando a relação entre a geração de energia elétrica e o volume total dos digestores. Foi calculado pelo quociente entre a geração anual de energia elétrica, em megawatts-hora gerados por ano, e o volume total dos digestores, em metros cúbicos. O indicador D7 avalia a eficiência na geração de energia elétrica, quanto à quantidade de resíduos orgânicos introduzidos nos digestores. Foi calculado pelo quociente entre a quantidade de energia elétrica gerada, em quilowatts-hora de energia elétrica gerados por ano, e a quantidade de resíduos orgânicos processados, em toneladas de resíduos orgânicos introduzidos nos digestores por ano. O indicador D8 avalia a eficiência na geração de energia elétrica, quanto à produtividade de biogás. Foi calculado pelo quociente entre a quantidade de energia elétrica gerada, em quilowatts-hora de energia elétrica gerada por ano, e a produtividade biogás, em metros cúbicos de biogás por ano. 98 O indicador D9 compara a relação entre o custo de implantação e a quantidade recebida de RSU. Foi calculado pelo quociente entre o custo de implantação, em euros, e a quantidade média de RSU recebidos, em toneladas de RSU recebidos por ano. O indicador D10 compara a relação entre o custo de implantação e a geração de energia elétrica. Foi calculado pelo quociente entre o custo de implantação, em euros, e a geração de energia elétrica, em quilowatts-hora de energia elétrica gerados por ano. O indicador D11 compara o atendimento as expectativas de produtividade de biogás. Foi calculado pelo quociente entre a geração média anual real e a estimativa de projeto de geração de biogás, ambos em metros cúbicos de biogás por ano. O indicador D12 compara o atendimento as expectativas de geração de energia elétrica. Foi calculado pelo quociente entre a geração média anual real e a estimativa de projeto de geração de energia elétrica, ambas em megawatts-hora por ano. A seguir, é apresentada a Tabela 6.5, contendo a matriz de resultados dos indicadores do grupo Dados Reais. 99 Tabela 6.5 – Matriz de resultado dos indicadores do grupo Dados Reais Planta Tecnologia Utilização da capacidade D1 instalada D2 Geração de resíduos de planta Toneladas de resíduos orgânicos introduzidos no D3 digestor pelo volume total dos digestores Produtividade de biogás por D4 tonelada de resíduo orgânico introduzida no digestor D5 Dados Reais Ecoparc 2 Valorga Biocompost Dranco Dranco Nota Obs.: Nota Obs.: Nota Obs.: CTR Valladolid Laran 0,49 48,2% 0,80 62,8% 0,68 0,92 90,5% 0,84 59,7% 1,00 0,58 57,1% 0,82 61,0% 0,77 1,00 98,4% 1,00 50,0% 0,92 5,4 t de resíduos orgânicos introduzidos 8,0 t de resíduos orgânicos introduzidos 6,2 t de resíduos orgânicos introduzidos 7,4 t de resíduos orgânicos introduzidos no digestor por ano / m3 de digestor no digestor por ano / m3 de digestor no digestor por ano / m3 de digestor no digestor por ano / m3 de digestor Nota 0,38 3 Obs.: Ecoparque de La Rioja Kompogas 0,71 3 52 m de biogás / t de resíduos orgânicos 97 m de biogás / t de resíduos orgânicos introduzidos no digestor introduzidos no digestor 0,84 3 115 m de biogás / t de resíduos orgânicos introduzidos no digestor 1,00 3 137 m de biogás / t de resíduos orgânicos introduzidos no digestor Nota 0,28 0,77 0,70 1,00 Produtividade diária de biogás pelo volume total dos digestores Obs.: 0,8 m3 de biogás por dia / m3 de digestor 2,1 m3 de biogás por dia / m3 de digestor 1,9 m3 de biogás por dia / m3 de digestor 2,8 m3 de biogás por dia / m3 de digestor Geração anual de energia elétrica pelo volume total dos digestores Geração de energia elétrica por D7 tonelada de resíduo orgânico introduzida no digestor D6 Nota Obs.: Nota Obs.: Geração de energia elétrica por Nota D8 metro cúbico de biogás Obs.: produzido Custo de implantação por D9 tonelada de RSU recebido na planta Custo de implantação pela D10 geração anual de energia elétrica D11 Atendimento às expectativas de geração de biogás D12 Atendimento às expectativa de geração de energia elétrica Somatório das notas 0,44 1,00 0,96 0,80 0,48 MWh/ano / m3 de digestor 0,52 88 kWh de energia elétrica / t de resíduos orgânicos introduzidos no digestor 1,10 MWh/ano / m3 de digestor 0,80 137 kWh de energia elétrica / t de resíduos orgânicos introduzidos no digestor 1,06 MWh/ano / m3 de digestor 1,00 171 kWh de energia elétrica / t de resíduos orgânicos introduzidos no digestor 0,88 MWh/ano / m3 de digestor 0,70 119 kWh de energia elétrica / t de resíduos orgânicos introduzidos no digestor 1,00 0,83 0,88 0,51 Nota 1,70 kWh de energia elétrica / m3 de biogás 0,28 1,41 kWh de energia elétrica / m3 de biogás 0,47 1,49 kWh de energia elétrica / m3 de biogás 0,31 0,87 kWh de energia elétrica / m3 de biogás 1,00 Obs.: 399,95 € / t de RSU recebidos por ano 234,71 € / t de RSU recebidos por ano 355,17 € / t de RSU recebidos por ano 111,12 € / t de RSU recebidos por ano Nota Nota 0,13 27,40 € / kWh/ano de energia elétrica gerada 0,15 1,00 3,43 € / kWh/ano de energia elétrica gerada 0,65 0,84 4,11 € / kWh/ano de energia elétrica gerada 0,29 0,27 12,5 € / kWh/ano de energia elétrica gerada 1,00 Obs.: 18,1% 77,0% 35,0% 118,9% Nota 0,24 0,96 0,98 1,00 Obs.: 14,2% 56,3% 57,3% 58,3% 5,37 9,95 8,97 10,20 Obs.: 100 Com relação ao indicador D1, o CTR Valladolid (Laran) foi a planta de melhor desempenho, utilizando 98,4% da capacidade instalada da planta. O Ecoparc 2 (Valorga), com o desempenho 8,0% inferior ao do CTR Valladolid, apresentou o segundo melhor desempenho, com uma utilização de 90,5% da capacidade instalada. Já a Biocompost (Dranco), utilizou somente 48,2% da capacidade instalada, o que representa um desempenho 51% inferior ao CTR Valladolid. Para o indicador D2, o CTR Valladolid (Laran) foi a planta de melhor desempenho, com uma geração de 50% de resíduos de planta, em comparação ao total de RSU recebidos na unidade. O Ecoparc 2 (Valorga) produz 19% a mais de resíduos de planta do que o CTR Valladolid, com uma geração média 59,7% de resíduos de planta. O Ecoparc 2 (Valorga) obteve o melhor desempenho no indicador D3, aplicando uma carga orgânica volumétrica de 8 toneladas de resíduos orgânicos por m3 de digestor. O CTR Valladolid (Laran) apresentou segundo melhor desempenho, o qual foi 7,6% inferior ao Ecoparc 2, aplicando 7,4t/m3. A Biocompost (Dranco) foi a que aplicou a menor carga, 5,4t/m3, obtendo um desempenho 32,3% inferior ao Ecoparc 2. Quanto ao indicador D4, o CTR Valladolid (Laran) foi a unidade mais eficiente, gerando 137 m3 de biogás por tonelada de resíduo orgânico introduzida no digestor. O Ecoparque de La Rioja (Kompogas), segunda unidade mais eficiente, obteve um desempenho 16,3% inferior ao CTR Valladolid, gerando 115m3/t. O pior desempenho foi o da Biocompost (Dranco), a qual gerou 52m3/t, uma queda de 62,2% em relação ao CTR Valladolid. Para o indicador D5, o CTR Valladolid (Laran) foi a unidade de melhor desempenho. A produtividade de biogás foi de 2,8m3 por m3 de digestor, a qual é 30,3% superior a do Ecoparc 2 (Valorga), segunda melhor produtividade, gerando 2,1m3/m3. O pior desempenho foi o da Biocompost (Dranco), produzindo 0,8m3/m3, resultado esse 72,3% inferior ao do CTR Valladolid. No que tange ao indicador D6, o Ecoparc 2 (Valorga) e o Ecoparque de La Rioja (Kompogas) foram as mais eficientes, gerando 1,10 e 1,06 MWh de energia elétrica por ano por m3 de digestor, respectivamente. O CTR Valladolid (Laran), 19,9% menos eficiente que o Ecoparc 2, 101 gerou 0,88MWh/ano/m3, enquanto que a Biocompost (Dranco), a de pior desempenho, produziu 56,3% menos energia que o Ecoparc 2, gerando 0,48MWh/ano/m3. Com relação ao indicador D7, o Ecoparque de La Rioja (Kompogas) foi a mais eficiente, gerando 171kWh de energia elétrica por tonelada de resíduo orgânico introduzido no digestor. O Ecoparc 2 (Valorga), gerou 19,9% menos energia, produzindo 137kWh/t. Já a Biocompost (Dranco), a qual apresentou o pior desempenho, produziu 48,3% menos de energia elétrica que o Ecoparque de La Rioja, gerando 88kWh/t. Quanto ao indicador D8, a Biocompost (Dranco) foi a mais eficiente, gerando 1,70kWh de energia elétrica por m3 de biogás. O Ecoparque de La Rioja (Kompogas), segundo melhor desempenho, gerou 12,5% menos energia e produziu 1,49kWh/m3. O CTR Valladolid (Laran), que foi a unidade menos eficiente, gerou 49,1% menos de energia elétrica que a Biocompost e produziu 0,87kWh/m3. Para o indicador D9, o CTR Valladolid (Laran) foi a que apresentou o menor custo de implantação, por tonelada de RSU recebido anualmente, 111,12€/t. O segundo menor custo foi observado no Ecoparc 2 (Valorga), 234,71€/t, valor esse 111,2% superior ao do CTR Valladolid. No que tange ao indicador D10, a unidade que apresentou o menor custo de implantação, por kWh de energia elétrica gerada anualmente, foi o Ecoparc 2 (Valorga), 3,43€/kWh/ano. O Ecoparque de La Rioja (Kompogas) apresentou o segundo menor custo, 4,11€/kWh/ano, o qual é 19,7% superior ao do Ecoparc 2. Já a Biocompost (Dranco), o qual é 697,8% superior ao do Ecoparc 2, apresentou o custo mais elevado, de 27,40€/kWh/ano. O CTR Valladolid (Laran) foi a planta que apresentou o melhor desempenho no indicador D11, superando a produtividade esperada de biogás em 18,9%. Já a Biocompost (Dranco) foi a de pior desempenho, atendendo apenas a 18,1% da produtividade de biogás esperada. Quanto ao indicador D12, o CTR Valladolid (Laran) foi o que apresentou o melhor resultado, atendendo a 58,3% da expectativa de geração de energia elétrica. Por outro lado, a 102 Biocompost (Dranco) foi a de pior desempenho, correspondendo a somente 14,2% da produtividade esperada de biogás. No grupo Dados Reais, o CTR Valladolid (Laran) foi a unidade que apresentou o melhor desempenho, atingindo 10,20 pontos, seguida pelo Ecoparc 2, com 9,95 pontos, o Ecoparque de La Rioja, com 8,97 pontos e, em último lugar, a Biocompost, com 5,37 pontos. Em sete, dos doze indicadores, o CTR Valladolid apresentou o melhor resultado. Superou os demais em indicadores de produtividade de biogás e custo de implantação. O grande destaque do CTR Valladolid foi seu bom desempenho nos indicadores que avaliam o atendimento as expectativas de projeto, pois a unidade opera a 98,4% da capacidade instalada, gera 58,3% da energia elétrica espera e produz 18,9% a mais de biogás do que o estimado em projeto. Cabe destacar que a produtividade estimada de biogás do CTR Valladolid era, relativamente, inferior as demais, fato este que contribuiu para o bom desempenho da planta, no indicador D11. 6.5 Discussão dos Resultados Com base nos indicadores estabelecidos e nos critérios de ponderação definidos, foi realizado o somatório das notas para a definição das tecnologias de melhor desempenho. Na Tabela 6.6 pode-se verificar o desempenho das plantas avaliadas, quanto ao somatório simples dos resultados de cada grupo de indicadores. Tabela 6.6 – Desempenho das tecnologias em cada um dos grupos de indicadores – Soma simples Grupos Histórico das Tecnologias Aspectos Operacionais Dados de Projeto Dados Reais Somatório das notas Biocompost Dranco 4,76 4,00 5,33 5,37 19,46 Somatório Simples Ecoparc 2 Valorga 7,33 3,50 4,30 9,95 25,08 Ecoparque de La Rioja Kompogas 6,02 3,00 5,61 8,97 23,60 CTR Valladolid Laran 4,98 4,00 3,98 10,20 23,16 Como pode ser verificado na Tabela 6.6, o Ecoparc 2 (Valorga) e o Ecoparque de La Rioja (Kompogas) foram as plantas que apresentaram o melhor desempenho global, obtendo 25,08 e 23,60 pontos, 103 respectivamente. O Ecoparc 2 apresentou o melhor desempenho do grupo Histórico das Tecnologias, e ainda apresentou um bom desempenho nos grupos Aspectos Operacionais e Dados de Projeto. O Ecoparque de La Rioja obteve a segunda melhor pontuação global e o melhor resultado no grupo Dados de Projeto. O CTR Valladolid (Laran), que obteve o terceiro melhor desempenho global, apresentou o melhor desempenho nos grupos Aspectos Operacionais e Dados Reais. A Biocompost (Dranco) foi a de pior desempenho; entretanto, juntamente com o CTR Valladolid, foi a que apresentou o melhor desempenho do grupo Aspectos Operacionais. A Desempenho das Tecnologias - Soma simples 30 25 Dados Reais Notas 20 Dados de Projeto 15 Aspectos Operacionais 10 5 Histórico das Tecnologias 0 Biocompost Dranco Ecoparc 2 Valorga Ecoparque de La Rioja Kompogas CTR Valladolid Laran Figura 6.1 apresenta um gráfico com o desempenho das tecnologias, considerando a soma simples dos resultados de cada grupo. 104 Desempenho das Tecnologias - Soma simples 30 25 Dados Reais Notas 20 Dados de Projeto 15 Aspectos Operacionais 10 5 Histórico das Tecnologias 0 Biocompost Dranco Ecoparc 2 Valorga Ecoparque de La Rioja Kompogas CTR Valladolid Laran Figura 6.1 - Desempenho das tecnologias em cada um dos grupos de indicadores – Soma simples Entretanto, conforme mencionado anteriormente, a soma simples dos grupos não é a forma mais adequada de avaliar os resultados, pois, pondera, de forma igual, todos os grupos. Com base na ponderação definida anteriormente, apresenta-se na Tabela 6.7, conforme definido na Tabela 6.1. Tabela 6.7 - Desempenho das tecnologias em cada um dos grupos de indicadores – Soma ponderada Grupo de Indicadores Histórico das Tecnologias Aspectos Operacionais Dados de Projeto Dados Reais Somatório das notas Peso 1 2,5 1,5 4 Somatório Ponderado Biocompost Ecoparc 2 Ecoparque de La Rioja Dranco Valorga Kompogas 4,76 7,33 6,02 10,00 8,75 7,50 7,99 6,45 8,42 21,48 39,80 35,87 44,24 62,33 57,81 CTR Valladolid Laran 4,98 10,00 5,96 40,81 61,76 Nos resultados observados na soma ponderada, o Ecoparc 2 continua em primeiro lugar; entretanto observamos uma alternância de posições entre o Ecoparque de La Rioja, que cai do segundo para o terceiro lugar, e o CTR Valladolid, que passa ocupar a segunda posição. Esse novo resultado é bastante interessante, pois o CTR Valladolid recebeu pontuações superiores 105 ao Ecoparque de La Rioja nos dois grupos de indicadores considerados como mais relevantes, e que refletem a realidade operacional das unidades, os Aspectos Operacionais e os Dados Reais. A Figura 6.2 apresenta um gráfico com o desempenho das tecnologias, considerando a soma ponderada dos resultados de cada grupo. Desmpenho das Tecnologias - Soma ponderada 70 60 Dados Reais Nota 50 Dados de Projeto 40 30 Aspectos Operacionais 20 Histórico das Tecnologias 10 0 Biocompost Dranco Ecoparc 2 Valorga Ecoparque de La Rioja Kompogas CTR Valladolid Laran Figura 6.2 - Desempenho das tecnologias em cada um dos grupos de indicadores – Soma ponderada Dessa forma, com base nas notas obtidas pelo somatório ponderado dos grupos, conclui-se que as tecnologias mais adequadas são a Valorga e a Laran. Sendo assim, entende-se que deve ser realizado um estudo de viabilidade técnica e econômica mais detalhado, de forma a definir qual dessas duas tecnologias é a mais adequada para a implantação de uma unidade-piloto em Minas Gerais. 106 7. Conclusões O presente trabalho elaborou uma metodologia para avaliação dos processos de biometanização de RSU. A metodologia foi aplicada em quatro tecnologias, líderes de mercado no fornecimento de digestores via seca. Composta por 35 indicadores, a metodologia desenvolvida avaliou a funcionalidade e a eficiência dessas tecnologias. O objetivo da análise foi de criar subsídios para a construção de uma planta-piloto de biometanização de RSU no Estado de Minas Gerais. O levantamento de dados sobre a realidade operacional das quatro tecnologias avaliadas ─ Dranco, Valorga, Kompogas e Laran ─ foi realizado por meio de visita técnica a instalações das respectivas tecnologias, de modo a possibilitar uma maior compreensão das vantagens e dos principais problemas operacionais de cada uma delas. Com base nas informações obtidas, foram estabelecidos 35 indicadores – agrupados em quatro esferas – que avaliaram aspectos como a experiência acumulada de cada uma das tecnologias e o desempenho das plantas visitadas. O primeiro grupo, denominado Histórico das Tecnologias, avaliou a experiência acumulada das tecnologias, comparando informações sobre as referências de cada uma das tecnologias. Composto por um total de nove indicadores, o grupo analisou, entre outros pontos, a capacidade instalada total das tecnologias, os anos de experiência, a quantidade de plantas instaladas e a diversidade de resíduos processados em suas unidades. O segundo grupo, chamado Aspectos Operacionais, comparou o funcionamento dos principais sistemas de unidades de biometanização de RSU. Composto por seis indicadores, o grupo avaliou os problemas operacionais verificados nos sistemas de introdução, extração e agitação do material em digestão, remoção de gás sulfídrico do biogás e a gestão do composto produzido. O terceiro grupo, denominado Dados de Projeto, comparou as estimativas de desempenho para cada uma das unidades visitadas, baseado nos dados informados pelas plantas em suas páginas web ou por materiais de publicidade. Composto por oito indicadores, comparou estimava de 107 desempenho para a produtividade de biogás, capacidade de tratamento dos digestores e geração de energia elétrica. O quarto grupo, denominado Dados Reais, verificou o real desempenho e o grau de atendimento frente às expectativas de projeto das unidades visitadas. Composto por doze indicadores, o grupo comparou o desempenho real das unidades visitadas, quanto à produtividade de biogás, geração de energia, geração de resíduos de planta, utilização da capacidade instalada, capacidade de tratamento dos digestores e o atendimento as expectativas de produtividade de biogás e geração de energia elétrica. Para definição das tecnologias de melhor desempenho, realizou-se a soma ponderada dos resultados de cada um dos grupos de indicadores. Optou-se pela utilização da soma ponderada, uma vez que, dessa forma, pode-se atribuir um maior peso aos grupos de indicadores mais relevantes quanto à realidade operacional das unidades. Para definição dos pesos dos grupos considerou três critérios, sendo eles: baixa subjetividade dos indicadores, confiabilidade da informação utilizada no cálculo e relevância operacional. Com base nesses critérios, definiu-se que o grupo Dados Reais seria o de maior importância, sendo atribuído peso 4; o grupo Aspectos Operacionais recebeu peso 2,5; o grupo Dados de Projeto 1,5; e o grupo Histórico das Tecnologias recebeu peso 1. A tecnologia Valorga foi a que apresentou o melhor desempenho global, obtendo, no somatório ponderado, um total 62,33 pontos. Com o melhor desempenho no grupo Histórico das Tecnologias e o segundo melhor desempenho no grupo Dados Reais, a tecnologia Valorga demonstrou possuir uma elevada eficiência quanto à produtividade de biogás e geração de energia, atendendo, de forma satisfatória, às expectativas de projeto. Outro ponto de destaque foi o elevado grau de utilização da capacidade instalada que a planta avaliada apresentou. A tecnologia Laran obteve segundo melhor desempenho. Com uma nota total apenas 0,9% inferior à da Valorga, obteve 61,76 pontos. A Laran apresentou o melhor desempenho nos grupos Aspectos Operacionais e Dados Reais, com destaque para a elevada utilização da capacidade instalada, a qual superou os 98%. Pontos como a elevada carga orgânica volumétrica aplicada (7,4t/m3), a boa produtividade de biogás (137m3/t) e o atendimento as 108 expectativas de projeto quanto à produção de biogás, contribuíram para o bom desempenho da tecnologia. Outro aspecto que mereceu destaque foi o eficiente sistema de extração da Laran, composto por um tanque e uma bomba de vácuo. Tal sistema promove, de forma eficiente, a remoção do material digerido do interior do digestor. A Kompogas apresentou um resultado 7,8% inferior a Valorga, atingindo um total de 57,81 pontos. A tecnologia apresentou o melhor desempenho no grupo Dados de Projeto; entretanto, a estimativa de produtividade de biogás ficou bem aquém ao desempenho real da unidade. Um aspecto negativo foram os problemas recorrentes do Ecoparque de La Rioja, que apresenta grande acúmulo de inertes no interior do digestor. A Dranco apresentou um desempenho 40,8% inferior a Valorga, obtendo 44,24 pontos. O destaque negativo da tecnologia foi o baixo desempenho no grupo Dados Reais. Com resultados muito inferiores às expectativas de projeto, a planta Biocompost utiliza menos de 50% da capacidade instada e produz menos de 20% do biogás e da energia elétrica projetada. Sendo assim, com base na metodologia adotada, as tecnologias que apresentaram o melhor desempenho foram Valorga e a Laran. Para a definição de qual tecnologia deverá ser utilizada na construção da planta-piloto em Minas Gerais, sugere-se que seja realizado um estudo de viabilidade técnica e econômica das duas tecnologias, para uma análise mais aprofundada e melhor definição de qual é a mais eficiente. Por outro lado, este estudo demonstrou que, apesar das tecnologias estarem relativamente consolidadas no mercado internacional, todas demonstraram possuir problemas técnicos de operação. Como exemplo, destaca-se a tecnologia Valorga, que obteve a maior pontuação neste estudo. A Unidade Ecoparc 2, de Barcelona, com unidade de metanização da referida tecnologia, necessitou esvaziar os digestores e realizar novo start-up devido a problemas de acumulação de inertes. A tecnologia Valorga, por sua vez, ressaltou que a FORM ingerida nos digestores não cumpria as especificações do projeto. O mesmo problema foi verificado nas outras tecnologias. De modo geral, a discrepância observada entre os parâmetros de projeto e dados operacionais permitiu inferir que as tecnologias foram projetadas para operar com um resíduo com pequena 109 concentração de impróprios ─ característico de países que realizam a triagem na fonte geradora ─ o que não condiz com a qualidade do resíduo resultante de plantas de prétratamento de RSU não segregado na fonte. Esse fator pode ser considerado determinante para os problemas operacionais verificados. Operando com matéria orgânica não segregada na fonte, isto é, com os resíduos segregados na unidade de pré-tratamento, as tecnologias estudadas não atenderam, de maneira integral, aos dados especificados no projeto. Dessa forma, conclui-se que a definição, por parte do Estado, por determinada tecnologia deve, necessariamente, ser precedida de uma caracterização detalhada do RSU, de forma a embasar uma expectativa de performance mais realística e adequada ao resíduo em questão. O conhecimento do resíduo a ser tratado subsidiaria, ainda, a elaboração de estratégias para a melhoria de sua qualidade, como por exemplo, a otimização de triagem em fontes potencialmente geradoras e/ou adaptações tecnológicas. Como conclusão geral, este estudo demonstrou que aplicação industrial de digestão anaeróbia seca para tratamento de RSU está em fase de aprimoramento, e que melhorias tecnológicas devem ser estudadas de modo a ampliar a viabilidade técnica e econômica do sistema. A implantação de uma unidade-piloto no Estado de Minas Gerais deve ser focada no desenvolvimento de um modelo nacional, adaptado à realidade brasileira. 110 8. Recomendações para estudos posteriores Adicionalmente, sugere-se que sejam realizados estudos mais detalhados de viabilidade técnica e econômica das tecnologias selecionadas nesta dissertação. Sugere-se, ainda, que sejam realizados trabalhos avaliando tecnologias biometanização que não foram alvo desta pesquisa. Este estudo foi realizado com foco nas tecnologias de biometanização de grande desempenho, especialmente as via seca, pelo fato de seus processos serem mais estáveis, possuírem uma menor demanda de água e gerarem menos efluentes líquidos, quando comparadas às tecnologias via úmida. Quando foi iniciado este trabalho, as tecnologias de biometanização seca de batelada ainda não possuíam uma participação significativa no mercado de aplicação das tecnologias de alto desempenho. Entretanto, verifica-se o crescimento da tecnologia conhecida como Garage18 nos últimos anos ─ processos de batelada sequencial, nos quais são utilizados túneis similares aos de compostagem, para a biometanização seca dos RSU. Inicialmente aplicada somente para resíduos agrícolas, essa tecnologia vem ganhando espaço na biometanização de RSU e apresenta-se como uma das tecnologias mais viáveis para aplicação em países em desenvolvimento. O grande diferencial é que, sequencialmente, digestores são completamente esvaziados, não ocorrendo, dessa maneira, o principal problema operacional apresentado pelas tecnologias estudadas ─ a acumulação de inertes sedimentáveis. Sendo assim, recomenda-se que sejam realizados estudos para a avaliação dessas tecnologias, cujo principais fornecedores são as empresas Eggersmann19, Bioferm20 e Bekon21. Além disso, recomenda-se, ainda, que se estudem os sistemas descentralizados de pequena e média escala, mais difundidos na Ásia e África. Com tecnologias de baixo custo, esses modelos de digestores podem se configurar numa solução interessante para pequenas cidades ou para implantação de unidades descentralizadas, junto a grandes fontes geradoras de resíduos orgânicos, tais como restaurantes populares, feiras livres, supermercados e centrais de abastecimento de alimentos. 18 No Brasil, essa tecnologia está sendo chamada de “túneis de biometanização”. http://www.f-e.de 20 http://www.biofermenergy.com 21 http://www.bekon-energy.de 19 111 Como regra geral, pode-se concluir que a definição da tecnologia mais adequada para a biometanização de RSU é uma tarefa complexa e que deve ser avaliada por diversos ângulos, considerando sempre a disponibilidade de recursos, as condições locais bem como o rendimento desejado para o processo. Deve-se, ainda, considerar a possibilidade de incentivos à pesquisa e desenvolvimento de uma tecnologia nacional, uma vez que a disseminação da biometanização do RSU no Brasil está diretamente dependente de aprimoramento tecnológico de forma a adequar a tecnologia à realidade nacional, regional ou local. 112 9. Referências Bibliográficas ABRE - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMBALAGENS. Reciclagem no Brasil. Disponível em: < http://www.abre.org.br/meio_reci_brasil.php>. Acesso em: 03/2010. ABRELPE - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2009. ASTOLPHO, S. M. (Coord.). ABRELPE, 2010. Disponível em: <http://www.abrelpe.org.br/panorama_2009.php>. Acesso em: 02/2010. ADLER, E. Le Biométhane, une Énergie Naturelle Renouvelable qui a Fait ses Preuves. 2009. Disponível em: <http://biogazrhonealpes.org/doc/Presse_et_Edition/Topo_Biogaz_RhoneAlpesEnergie_biom ethane.pdf>. Acesso em: 01/2009. 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Centro urbano:___________________ Resíduos/dia:_____________ FORM:_______________ % Impr.___________ MOR:_________ Área total:_______________ Área construída:____________ Pessoal:___________ P. Pre:_________ P. Meta:_______________ P. Manutenção:____________ P. Produção:________ P. Outro:_______ Dist. Aterro:______________ Data:_____________________ 2 – Pré-tratamento: Vazão:_____________ destino FORM:_______________ Capacidade foso:________ Linhas 1 - Caída Tromel 2 - Passante Tromel 3Foso Cab. grandes volumes Cab. triagem Triturador Tromel Overband Foucout % resíduos % recuperados 4- 3 – Alimentação: Vazão____________ % impr___________ MS_____________ SV___________ Temp in__________ Agrega MS_____________ Fonte MS:______________Tipo aquecimento:____________ Problemas______________________ _____________________________________________________________________________________________________ ___ 4 – Extração Tipo ___________________________________ % impr___________ MS_____________ SV________________ Problemas____________________________________________________________________________________________ ___ 5 - Desidratação: Prensa:_______________________ %MS_____________ Centrífuga: _____________%MS_______________ Problemas____________________________________________________________________________________________ ___ 6 – Processo: Temp________ %CH4____________ H2S____________ Produ Biogás_______________ Turno______________ Controle ácido ______________________ TDH_____________________ Biogás/t resíduos ____________________ Pressão trab __________ Pressão max _________ Recirculação ______________________ Problemas____________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ ______ 7 – Biogás : Trat H2S________________________________ Motores ________________________ Pot. instalada __________ Pot. Trab __________ Caldeiras ________________________ Pot inst____________________ gasômetro _________________ Problemas____________________________________________________________________________________________ ___ 8 – Líquidos: Tipo trat ____________________________________________________________________________________ vazão___________ DQOin_____________ DQOout:____________ NH4in____________ NH4out____________ Problemas____________________________________________________________________________________________ ___ 127 9 – Ar: Tipo trat _________________________________________________________________________________________ Material suporte biofiltro _________________ Odores ___________________________ Vizinhos ________________________ Problemas____________________________________________________________________________________________ ___ 10 – Compostagem: MSin_____________ MSout_____________ Tempo residência ______________ Qualidade____________ % resíduos________________ tipo_____________________ Problemas_____________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________ ___ 11 – Investimentos: Custo original _____________ Custo final ____________________ Manutenção __________________ Ampliações _________________ Cons. Água _____________________ Cons. Energia ______________ Gasto Motores _______________ Principal Custo________________________________ 128 Anexo 10.2 – Biometanização na Espanha 129 N° 1 Cidade GranCanaria/Salto del Negro-I Nome Tipo de Resíduos Tecnologia Via Capacidade (t/ano) - - Linde KCA Úmida Empresa Situação 200.000 isolux Novo start-up Problemas com fissuras no digestor - RSU Valorga Seca 182.500 TecMed - (UTE Albada) Ecopac-1 RSU Linde KCA Úmida 140.000 Urbaser / Comsa / Emte Madrid Pinto RSU Linde KCA Úmida 140.000 Urbaser (UTE) 5 Cadiz Miramundo RSU Valorga Seca 115.000 Sufi 6 Barcelona Ecoparc-3 RSU Ros-Roca Úmida 90.000 Tersa 7 Barcelona Ecopac-2 RSU Valorga Seca 80.000 Urbaser / Fcc / Tirssa Operando 9 Riojas / Logroño Ecoparque de La Rioja RSU Kompogas Seca 75.000 Acciona Operando 10 11 12 13 14 15 16 León Pamplona GranCanaria/Salto del Negro-II Botarell (Tarragona), Barcelona Granollers Burgos - RSU - HAASE BTA / MAT Ros-Roca Kompogas BAT BTA Linde KCA Úmida Úmida Úmida Seca Úmida Úmida Úmida 70.000 64.000 60.000 87.000 50.000 45.000 40.000 FCC (UTE) / TecMed Ferrovial Sufi Acciona 17 Avila - - Ros-Roca Úmida 36.500 Urbaser (UTE) 18 19 Lanzarote Palma Mallorca / Can Canut Zonzamas - lodo de ETE lodo de ETE Ros-Roca Ros-Roca Úmida Úmida 36.000 32.000 20 Alicante UTE PLANTA RESIDUOS INTERSA OBRUM RSU Dranco Seca 30.000 21 22 Navarra/Tudela Barcelona/Tarrasa - Ros-Roca Dranco Úmida Seca 28.000 25.000 SUFI-FCC Urbaser / TIRME UTE PLANTA RESIDUOS ALICANTE - UTE (Dranco, Cespa, Ferrovial, INUSA) FCC CESPA Start-up do Digestor nº-2 - 23 Vitoria - Dranco Seca 20.000 24 Jaen - Ros-Roca Úmida 20.000 2 Corunha / Nostián 3 Barcelona 4 Biocompost- Planta de Tratamento de RSU de VitóriaGasteiz para el Território Historico -de Álava - FCC Em reforma Parada - nunca chegou a funcionar Contato Tel: 954321266 - CALLE ALEJANDRO HIDALGO, 3 URBASER - Tel: Tfno: 922224849 / urbaser 911218000 Tel Ecoparc. 93 262 30 10 / urbaser 911218000 / COMSA 933662100 / Grupo EMTE Tel. 93 208 15 50 / Fax 93 457 43 82 Tel. + 34 93 480 92 92 Telefono: 900 101 584 - Dirección C/ Algeciras s/n (Esquina a calle Tarifa,antigüa nave Hierros Cervera ), Cádiz. España CESPA GESTION DE RESIDUOS SA URBASER SA EMTE SA UTE ECOPARC 3 / tel 934626216 FCC - tel: 913595400 / TIRSSA - tel: 932156442 Horários: De martes a sábado de 9 a 14 h. / Teléfono: 941 011 061 / [email protected] / http://www.larioja.org/npRioja/default/defaultpage.jsp?idtab=4 44164&IdDoc=444156 Tel: 915862500 / 913388300 tel: 977365905 - - - Strat-up Strat-up - UTE (Cespa-FCC) Em operação - EGMASA Strat-up - 130 N° Cidade 25 Valladolid/Ctra.León 26 27 Zaragoza Las dehesas 28 Ibiza 29 30 Valência Navarra/Pamplona (Arazuri) 32 Salamanca 33 34 Madrid (La Dehesa) Madrid (La Paloma) Tipo de Resíduos Tecnologia Via Capacidade (t/ano) Empresa Situação Contato RSU Linde BRV Seca 15.000 FCC (UTE) - - - Valorga Valorga Seca Seca - - - - - Ros-Roca Úmida - Em construção - Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos de Salamanca (Gomecello) - - Valorga Seca - Tecmed UTE (Urbaser, Cespa, FCC, Herbusa) Urbaser Ferrovial Strat-up - - - - - - Sufi Strat-up - - Valorga Valorga Seca Seca - FCC Tecmed / Urbaser Em construção Em construção - Nome Planta de Recuperación y Compostaje de Valladolid - 131 Anexo 10.3 - Comunicação realizada com os contatos nas plantas de biometanização visitadas 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 Anexo 10.4 – Consolidação dos dados obtidos nas visitas técnicas 152 Relatório de Visita ao Ecoparque de La Rioja Planta: Contato: E-mail: Contato Ecoparque de La Rioja, S.L. Maite Herrero Sáenz [email protected] Endereço: La Ra d de Va rea T.M. de Vi l l a medi a na de Iregua (La Ri oja ), Aptdo. De Correos nº 200, 26080 Data: Cargo: Tel: Site: 05/12/08 Cidade: La Rioja Chefe de Qualidade e Meio Ambiente Fixo: +034 941 011 060 cel: +034 635 553 265 Fax: +034 941 011 079 www.lario ja.o rg/npRio ja/default/defaultpage.jsp?idtab =441989 Dados Gerais site: www.kompogas.ch site: www.acciona.com Capacidade total de metanização: 75.000 t/ano Alimentação dos reatores: 35 t/dia cada digestor Tecnologia: Empresa gestora: Custo de implantação: Capacidade da planta em tratamento Kompogas Acciona € 30.000.000,00 148.000 t/ano Nº de digestores: Volume dos dos reatores: 1.150 m3 cada 30m comprimento Dimensão dos reatores: 7,5m de altura Temp. operação: Faixa: 6 Mecânico - pás fixadas em um eixo longitudinal 2007 190 a 200 m3 /t 40.000 Nm3 /dia 55°C Termofilica Sistema de desulfuração: Tempo de retenção hidráulico: Matéria seca de entrada: Matéria seca de saída: 5,1m de largura não utiliza 20 a 23 dias 22% 18% % de CH4 64 a 65% Inoculação da alimentação Concentração de gás sulfídrico: Gasômetro: Resíduos de planta: Malha do tromel 7.000 ppm N° de funcionários não possui 61% 90mm, 45mm e 30mm Regime de operação: 55% da energia Área de abrangência: produzida 7ha Sistema de agitação: Inauguração: Produção de biogás: Demanda interna de energia elétrica Área da planta: Compostagem: População atendida: Inertização do reator Utiliza gás natural? Relação entre alcalinidade intermediária e alcalinade parcial Geração de energia elétrica Período de compostagem Observações Principais problemas operacionais Adiciona parte do efluente líquido do processo de desidratação Linha FORM 14 Linha de recicláveis 40 Metanização 9 2 turnos Comunidade de La Corunha 37,76 km2 4 dias alimentação de FORM Realiza apenas a 1 dia alimentação de mistura entre secagem do material Recirculação: FORM e efluente líquido do sistema de digerido desidratação 300.000 habitantes Injeção de CO 2 nos Diâmetro tubo extração: 300mm digestores Qualidade do composto: Boa Não Apenas os inertes presentes material que Adição de matéria seca: 0,3 será alimentado, até um teor de 30% 17.000 MWh/ano Geração de biogás 14.000.000 m3 /ano Os triadores recebem um bonus no salário em função da quantidade de material Como medida de segurança, quando vai ocorrer o acionamento do Flare é injetado gás butano no fluxo de biogás para aumento do PCI e garantir a queima do biogás. Caminhão com mais de 65% de vidro vai direto ao aterro sanitário. Permaneceu quase 1 ano com uma peça do sistema de alimentação quebrada. 5 dos 6 digestores necessitaram de novo start-up. Os elevados teores de enxofre chegam a corroer as luvas dos funcionários. Elevado grau de desgaste das peças (camisas das bombas de alimentação, prensas e parafusos sem fim). Elevados custos de manutenção. Dificuldades na legalização do composto para comercialização. 153 Formação de uma crosta de vidro na região de extração do digestor. Relatório de Visita ao Ecoparc 2 Contato Planta: Ecoparc Del Besos S.A. (Ecoparc 2) Data: Contato: Àlvar Bazar Raventos Cargo: E-mail: [email protected] Chefe de manutenção Fixo: +034 937 192 888 Tel: cel: +034 937 192 826 Fax: - Endereço: 04/12/08 Cidade: Ampl i a ci ón Avda . Torre Ma teu s /n Montcada i Reixac http://www.amb.es/web/emma/residu s/instalacions_equipaments/Ecoparcs/Ec oparc_Montcada Site: Dados Gerais site: Tecnologia: Kompogas Empresa gestora: FCC S.A.; URBASER S.A. e Concessionaria Barcelona S.A. http://www.valorgainternational.fr http://www.urbaser.es/ http://www.fcc.es site: Custo de implantação: Capacidade da planta em tratamento de RSU: € 51.000.000,00 Nº de digestores: 3 Sistema de agitação: Pneumática - Injeção de biogás comprimido na base do digestor (70 a Dimensão dos reatores: 80 vezes por dia) Inauguração: 240.000 t/ano Capacidade total de metanização: 120.000 t/ano 769 t/semana (MOR) ou Alimentação dos reatores: 576 t/semana (FORM) Volume dos dos reatores: 4.500 m3 (3.960 m3 útil) 21,5m de altura 17,0m de altura 2004 Sistema de desulfuração: Biofiltro Produção de biogás: 115 m3 /t Tempo de retenção hidráulico: 25 a 30 dias Temp. operação: 35°C Matéria seca de entrada: 32% +2% Faixa: Mesofílica Matéria seca de saída: 22% +2% % de CH4 45 a 65% Inoculação da alimentação Composto maturado e fração líquida do sistema de desidratação Concentração de gás sulfídrico: 600 - 1600 ppm Gasômetro: sim, dupla membrana Resíduos de planta: 50% Malha do tromel - N° de funcionários Demanda interna de energia elétrica Área da planta: 8ha Compostagem: Tuneis de compostagem 28.000t/ano Recirculação: 50 2 turnos Área metropolitana de Barcelona Área de abrangência: Constante - Inertização do reator Utiliza gás natural? Sim Geração de energia elétrica Período de compostagem 10 Linha recicláveis - Injeção de água nos digestores Relação entre alcalinidade intermediária e alcalinade parcial 105 Metanização Regime de operação: 59% da energia produzida População atendida: Total 26.400 MWh/ano Diâmetro tubo extração: - Qualidade do composto: Regular Adição de matéria seca: Composto maturado Geração de biogás 13.700.000 m3 8 semanas entre fermentação e maturação Tempo máximo entre agitações é de 4 horas Observações Estão sendo construinda uma linha para recuperação de recicláveis segregados na fonte O custo de manutenção é cerca de 15 a 20% do custo total de construção Existe uma caldeira a biogás, entretanto nunca funcionou adequadamente Acumulação de inertes no interior do digestor Principais problemas operacionais Problemas operacionais nos túneis de compostagem Reclação da vizinhança quanto a maus odores Os plásticos recuperados possuem um valor de mercado muito baixo 154 Planta: Contato: E-mail: Relatório de Visita ao CTR Valladolid Contato Planta de Recuperación y Compostaje de Valladolid Data: Jorge Mateo Cargo: [email protected] Tel: Endereço: CARRETERA de León Km 13 - E - 47009 Site: Tecnologia: Empresa gestora: Custo de implantação: Capacidade da planta em tratamento Nº de digestores: 10/12/08 Cidade: Valladolid Responsavel pela operação do digestor Fixo: +034 983 358 588 cel: +034 661 540 952 Fax: +034 983 358 588 http://www.ctrvalladolid.com/ Dados Gerais site: Laran http://www.strabag-umwelttechnik.com/ UTE FCC, Agua y Medio www.fcc.es Ambiente y Zarzuela site: € 21.874.369,00 Capacidade total de metanização: 15.000 t/ano 200.000 t/ano Alimentação dos reatores: 18 t/hora 1 Mecânico - 3 eixos tranversais ao sentido do fluxo 2002 Volume dos dos reatores: Temp. operação: Faixa: 120 a 150 Nm3 /ton média de 234 m³/h 35°C Mesofílica Sistema de desulfuração: Tempo de retenção hidráulico: Matéria seca de entrada: Matéria seca de saída: % de CH4 60 - 65% Sistema de agitação: Inauguração: Produção de biogás: Concentração de gás sulfídrico: Gasômetro: Resíduos de planta: Malha do tromel Demanda interna de energia elétrica Área da planta: Compostagem: População atendida: Inertização do reator Utiliza gás natural? Relação entre alcalinidade Geração de energia elétrica Período de compostagem 1.682,15 m3 - Dimensão dos reatores: Biofiltro 28 dias 27 a 10% - Efluente líquido do sistema de desaguamento 2.500 ppm Total 60 Sim, dupla membrana N° de funcionários Manutenção 6 50% Metanização 80mm - 90mm Regime de operação: 2 turnos 55% da energia Área de abrangência: 3ha Tuneis de Constante, parte do efluente líquido do Recirculação: compostagem sistema de desaguamento Injeção de água nos Diâmetro tubo extração: digestores Qualidade do composto: Regular Sim Adição de matéria seca: Não 0,3 a 0,35 3.000 MWh/ano Geração de biogás 1.700.000 m3 /ano 9 dias na fermentação e 12 dias na matuação Inoculação da alimentação Planta aberta, não possui sistema para remoção de maus odores Todos os materiaisl recicláveis recuperados são de propriedade da municipalidade Taxa para tratamento dos resíduos - 33,00€/t de resíduo proveniente da coleta seletiva Observações e 27,00€/t de resíduos não segregados O prazo para esvaziar cada túnel de compostagem é de 8 a 7 horas Caso o composto saia muito umido do tunel é disposto no aterro sanitário São adicionados 215 litros de água nova para cada tonelada de material introduzido nos tuneis de compostagem Acidificação dodigestor que é corrigida com introdução de bicarbonato ou lodo de ETE Principais problemas operacionais Acumulação de inertes no interior do digestor Quebra do piso móvel Entupimento das linhas 155 Planta: Contato: E-mail: Relatório de Visita a Biocompost Contato Biocompost- Planta de Tratamento de RSU de VitóriaData: Gasteiz para el Território Historico de Álava Carlos Matínez Gálvez Cargo: [email protected] Tel: Endereço: C/ As ka rra s /n 01015 - Vi tori a -Ga s tei z 09/12/08 Cidade: Vitoria-Gasteiz (DI de Jundiz) Director financeiro Fixo: +034 945 291 736 cel: +034 610 268 938 Fax: +034 945 291 484 Site: - Dados Gerais site: http://www.ows.be/ site: www.fcc.es www.cespa.es Capacidade total de metanização: 20.000 t/ano Alimentação dos reatores: 60t/dia - 35% de MOR Volume dos dos reatores: 1.770m3 Tecnologia: Empresa gestora: Custo de implantação: Capacidade da planta em tratamento Nº de digestores: Dranco UTE FCC, Cespa € 23.289.292,75 120.750 t/ano 1 Sistema de agitação: Recirculação do material em digestão da base para o topo Dimensão dos reatores: - Inauguração: 2006 Produção de biogás: 138 m3 /t Temp. operação: Faixa: 50 a 55°C Termofilica Sistema de desulfuração: Tempo de retenção hidráulico: Matéria seca de entrada: Matéria seca de saída: % de CH4 65% Inoculação da alimentação Concentração de gás sulfídrico: Gasômetro: Resíduos de planta: Malha do tromel Demanda interna de energia elétrica Área da planta: Pré-tratamento 14 sim, dupla membrana N° de funcionários Total 48 62,8% 100mm e 40mm Regime de operação: 2 turnos Área de abrangência: 2,85ha Em leiras, com injeção Recirculação: Constante de ar na base Injeção de água nos Diâmetro tubo extração: digestores Qualidade do composto: Boa Sim Terras diatomácias como Adição de matéria seca: material estruturante 6.000MWh/ano Geração de biogás 6.000.000m3 /ano 14 dias na fermentação e 60 dias na maturação Não possui prensa para desidratação do material digerido. Para inibição na produção de gás sulfidrico é adicionado 2% de FeCl 2 ao material que é alimentado no digestor. As caldeira são alimentadas apenas com o calor dos gases de escape dos motores. O lixiviado gerado no processo possui elevado teor de metais pesados e é tratado em outra planta. Após o gasômetro foi instalado um desumidificador para secar o biogás Recebe €33,00 por tonelada de resíduo valorizado Acumulação de inertes no interior do digestor Compostagem: População atendida: Inertização do reator Utiliza gás natural? Relação entre alcalinidade Geração de energia elétrica Período de compostagem Observações Biofiltro 26 dias Lodo do digestor e 20% de composto maturado Reclamações da vizinhaça quanto a maus odores Principais problemas operacionais Entupimento das linhas Obstrução do sistema de extração pela solidificação do material em digestão Aderencia de plásticos no sistema de alimentação 156 Anexo 10.5 - Relatório Fotográfico 157 Relatório fotográfico da visita técnica ao Ecoparque de La Rioja (Kompogas) Figura 10.1 – Setor de pesagem dos caminhões Figura 10.2 – Entrada do Ecoparque de La Rioja 158 Figura 10.3 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para a grua que move os resíduos do fosso para a correia transportadora Figura 10.4 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para a correia transportadora inicial 159 Figura 10.5 – Sistema de pré-tratamento – destaque para o trommel Figura 10.6 – Sistema de pré-tratamento – destaque para as correias transportadoras 160 Figura 10.7 – Digestores – destaque para o sistema de agitação Figura 10.8 – Digestores 161 Figura 10.9 – Digestores – destaque para a tubulação de alimentação Figura 10.10 – Digestores 162 Figura 10.11 – Digestores – destaque para o sistema de alimentação Figura 10.12 – Digestores – destaque para a área denominada “praça de guerra”, onde ocorre o acúmulo de lodo devido ao entupimento das tubulações de extração 163 Figura 10.13 – Sistema de tratamento do ar ambiente – destaque para scrubber 164 Relatório fotográfico da visita técnica ao Ecoparc2 (Valorga) Figura 10.14 – Setor de pesagem dos caminhões Figura 10.15 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para o caminhão basculando os resíduos no fosso de recebimento 165 Figura 10.16 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para fosso de recebimento de resíduos Figura 10.17 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para a grua que move os resíduos do fosso para a correia transportadora 166 Figura 10.18 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para a pá carragadeira limpando a área onde os caminhões basculam os resíduos no fosso Figura 10.19 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para a correia transportadora inicial 167 Figura 10.20 – Sistema de pré-tratamento Figura 10.21 – Sistema de pré-tratamento – destaque para o interior do trommel, onde podem ser vistos os rompedores de sacos 168 Figura 10.22 – Sistema de pré-tratamento – destaque para o interior do trommel, onde podem ser vistos os rompedores de sacos Figura 10.23 – Sistema de pré-tratamento – destaque para os triadores manuais 169 Figura 10.24 – Sistema de pré-tratamento Figura 10.25 – Sistema de pré-tratamento – destaque para a prensa enfardadora de materiais recicláveis 170 Figura 10.26 – Sistema de pré-tratamento – destaque para os resíduos de planta, após serem embalado para envio ao aterro sanitário Figura 10.27 – Sistema de pré-tratamento – destaque para os resíduos de planta embalados, sendo transportados para o aterro sanitário 171 Figura 10.28 – Vista dos Digestores Figura 10.29 – Vista dos Digestores e gasômetro 172 Figura 10.30 – Vista dos Digestores e gasômetro Figura 10.31 – Digestores – destaque para os mangotes de injeção de biogás comprimido para agitação do material em digestão 173 Figura 10.32 – Sistema de captação e condicionamento do biogás – destaque para as tubulações e sopradores Figura 10.33 – Sistema de captação e condicionamento do biogás – destaque para o biofiltro de remoção do gás sulfídrico 174 Figura 10.34 – Sistema de captação e condicionamento do biogás – destaque para as tubulações do biofiltro de remoção do gás sulfídrico Figura 10.35 – Sistema de captação e condicionamento do biogás – destaque para o material de preenchimento do biofiltro de remoção do gás sulfídrico 175 Figura 10.36 – Sistema de captação e condicionamento do biogás – destaque para o gasômetro Figura 10.37 – Motor de cogeração para produção de biogás e energia 176 Figura 10.38 – Motor de cogeração para produção de biogás e energia Figura 10.39 – Flare para queima do biogás excedente 177 Figura 10.40 – Centrífuga do sistema de desidratação Figura 10.41 – Fase líquida do sistema de desidratação 178 Figura 10.42 – Fase sólida do sistema de desidratação Figura 10.43 – Sistema de pós-tratamento – destaque para a entrada dos túneis de compostagem 179 Figura 10.44 – Triturador de poda verde Figura 10.45 – Sistema de pós-tratamento – destaque da máquina utilizada para esvaziar e encher os túneis de compostagem 180 Figura 10.46 – Lavadores para tratamento do ar ambiente Figura 10.47 – Sistema de tratamento de efluentes líquidos – destaque para as micromembranas 181 Relatório fotográfico da visita técnica ao CTR Valladolid (Laran) Figura 10.48 – Sistema de recepção de resíduos – destaque para a grua que move os resíduos do fosso para a correia transportadora Figura 10.49 – Sistema de pré-tratamento – destaque para o galpão aberto 182 Figura 10.50 – Sistema de pré-tratamento – destaque para as prensas enfardadoras de material reciclável Figura 10.51 – Sistema de pré-tratamento – destaque para as cabines de triagem e correias transportadoras 183 Figura 10.52 – Sistema de pré-tratamento – destaque para as cabines de triagem e correias transportadoras Figura 10.53 – Sistema de pré-tratamento – destaque para uma das cabines de triagem. 184 Figura 10.54 – Sistema de pré-tratamento – destaque para os containeres de armazenamento temporário do material reciclável triado Figura 10.55 – Sistema de pré-tratamento – destaque para as cabines de triagem e correias transportadoras 185 Figura 10.56 – Sistema de pré-tratamento – destaque para as correias transportadoras Figura 10.57 – Sistema de pré-tratamento – área de triagem manual 186 Figura 10.58 – Sistema de pré-tratamento – destaque para as prensas enfardadoras de material reciclável Figura 10.59 – Sistema de extração e desidratação – destaque para a prensa 187 Figura 10.60 – Sistema de extração – destaque para o tanque de vácuo Figura 10.61 – Motor do sistema de agitação do material em digestão 188 Figura 10.62 – Rosca sem fim do sistema de introdução Figura 10.63 – Sistema de pós-tratamento – destaque para a entrada dos túneis de compostagem 189 Figura 10.64 – Sistema de pós-tratamento – destaque da máquina utilizada para encher e esvaziar os túneis de compostagem Figura 10.65 – Sistema de pós-tratamento – destaque do interior de um túnel de compostagem 190 Relatório fotográfico da visita técnica a Biocompost (Dranco) Figura 10.66 – Sistema de recepção de resíduos – vista da cabine de comanda da grua que move os resíduos do fosso para a correia transportadora Figura 10.67 – Sistema de pré-tratamento – destaque para os trommels 191 Figura 10.68 – Sistema de pré-tratamento Figura 10.69 – Sistema de pré-tratamento – destaque para uma cabine de triagem 192 Figura 10.70 – Sistema de pré-tratamento Figura 10.71 – Sistema de pré-tratamento 193 Figura 10.72 – Sistema de pré-tratamento – destaque para os materiais recicláveis recuperados após serem enfardados Figura 10.73 – Sistema de tratamento do ar ambiente 194 Figura 10.74 – Digestor e container de armazenamento do motor de cogeração Figura 10.75 – Digestor e container de armazenamento do motor de cogeração 195 Figura 10.76 – Flare para queima do biogás excedente Figura 10.77 – Flare - detalhe do sistema de ventilação 196 Figura 10.78 – Container de armazenamento do motor de cogeração Figura 10.79 – Sistema de extração do material digerido 197 Figura 10.80 – Sistema de extração do material digerido Figura 10.81 – Sistema de agitação do material em digestão 198 Figura 10.82 – Tubulação do sistema de extração do material digerido Figura 10.83 – Sistema de pós-tratamento – área de compostagem 199