Caderno de Exercícios do Olhar

Transcrição

Caderno de Exercícios do Olhar
MAteriAl Do ProFessor | cADerno De exercícios Do olHAr
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Projeto Acervos Museológicos Democratização do Acesso e Formação de Agentes Culturais
Realização
Instituto Minas Pela Paz
Conselho Deliberativo
Parcerias
Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
PUC Minas
Sistema FIEMG
Cledorvino Belini
Presidente
Olavo Machado Junior
Vice-Presidente
Luiz Alberto Garcia
Conselheiro
Francisco Sérgio Soares Cavalieri
Conselheiro
Hélcio Roberto Martins Guerra
Conselheiro
Otávio Marques de Azevedo
Conselheiro
Rubens Menin Teixeira de Souza
Conselheiro
Aguinaldo Diniz Filho
Conselheiro
Paulo Eduardo Rocha Brant
Conselheiro
Manoel Vitor de Mendonça Filho
Conselheiro
Ricardo Vescovi de Aragão
Conselheiro
Alexandre de Campos Lyra
Conselheiro
Patrocínio
Diretoria
Instituto Minas Pela Paz
Marco Antonio Lage
Diretor Coordenador
Jedaias Jorge Salum Diretor Vice-Coordenador
Dirlene Taveira Corrêa
Diretor
Ana Gabriela Dias Cardoso
Diretor
Marcelo Dias
Diretor
Gestão Editorial
Projeto Institucional
Pesquisa
José Carlos Barboza de Oliveira - Consultor
Akala
Fabiana Abaurre
Coordenação Geral de Execução do Projeto
Eliana Mara de Rezende - Consultora
Fiat
Contax
Usiminas
Apoio
Gerdau
Oi Futuro
Instituto Cultural Usiminas
Produção dos Cadernos
Coordenação Geral
Margem 3 Comunicação Estratégica
Produção de Texto
Andréia Menezes De Bernardi
Consultoria Técnica
Fabiana Abaurre
Secretaria Municipal de Educação
de Belo Horizonte
Projeto Gráfico e Diagramação
Rosa Vani Pereira - Coordenação
Ilustrações
Sandra Fujii
Tiago Souza
Impressão e Acabamento
EGL - Editores Gráficos Ltda.
É expressamente proibida a comercialização deste caderno
Uma educação
para novos tempos
A
universalidade do conhecimento vem recuperando espaço no mundo contemporâneo. Até pouco tempo, a
especialização era considerada como qualidade fundamental na formação do homem moderno.
A preocupação com as grandes causas da humanidade e
com o acelerado processo de globalização evidenciam a
importância crescente de uma formação mais universalista,
que possibilite ao indivíduo ir além e compreender os desafios e as limitações que as sociedades devem enfrentar em
um futuro próximo.
Para vencer esses obstáculos, num plano de absoluta realidade, as empresas têm se ressentido da lacuna crescente
entre o perfil de seus recursos humanos e a necessária capacidade de inovar, acreditando que a cultura pode fazer a
verdadeira diferença.
Acervos Museológicos, Democratização do Acesso e
Formação de Agentes Culturais é um projeto inovador,
que tem como objetivo capacitar professores e gestores
educacionais para a inclusão sociocultural de alunos das
escolas públicas, promovendo a difusão da cultura como a
principal estratégia na construção da cidadania.
O projeto foi estruturado basicamente em quatro pilares,
sendo o primeiro uma pesquisa de campo realizada pelo
Instituto Vox Populi, em 2010, visando ao melhor conhecimento do perfil dos professores das escolas da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte. A pesquisa também
avaliou o interesse e o grau de disponibilidade dos professores, alunos e seus respectivos familiares na ampliação
da frequência de visitas aos espaços culturais de Belo Horizonte, que, por sua vez, podem, assim, promover o melhor
aproveitamento de seus potenciais e de suas respectivas
programações.
O segundo pilar consiste em um curso de pós-graduação
em Gestão de Projetos Culturais, realizado pela PUC Minas,
beneficiando, em uma primeira etapa, cerca de 240 educadores das nove Regionais Municipais de Ensino da Capital.
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Projeto Acervos Museológicos
Os participantes do curso terão a missão de repassar o
conhecimento adquirido, aos demais educadores da Rede
Municipal, com vistas a ampliar o número de professores
devidamente preparados para planejar, dar continuidade e
avaliar os resultados parciais do projeto.
O terceiro pilar refere-se ao Programa de Imersão Cultural, com a proposta de levar os estudantes a visitar, com
maior frequência, os museus e outros espaços culturais,
para enriquecer e consolidar uma formação mais universalista. Nessa etapa de visitação, o programa Circuito de
Museus da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, integra-se ao projeto Acervos Museológicos, unindo
esforços e fortalecendo os dois programas.
Essa etapa dá sustentação ao quarto pilar do projeto, a
Olimpíada Cultural, que visa ao acompanhamento do
Programa de Imersão Cultural e à avaliação final dos resultados do projeto, estimulando, ao longo do processo, a
participação ativa dos estudantes, criando oportunidades
para que eles possam traduzir em atividades, por meio de
diferentes formas de expressão, os estímulos recebidos e
vivenciados, favorecendo a aprendizagem.
O reconhecimento do mérito pelos resultados alcançados
deve incentivar alunos e professores a darem continuidade
ao projeto, ampliando ainda mais seus objetivos e expandindo seus horizontes.
O projeto, nascido da iniciativa de empresas associadas à
Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais foi coordenado, em sua execução, pelo Instituto Minas Pela Paz,
em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, através da
Secretaria Municipal de Educação.
Esse projeto conta com o patrocínio da Fiat, Contax e Usiminas, com apoio da Gerdau, da Oi Futuro e do Instituto Cultural Usiminas. Vem sendo realizado com recursos obtidos
através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, Lei Rouanet,
no âmbito do Ministério da Cultura.
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Apresentação
O ver em geral conota no vidente uma certa discrição e
passividade ou, ao menos, alguma reserva. Nele um olho
dócil, quase desatento, parece deslizar sobre as coisas;
e as espelha e registra, reflete e grava. Diríamos mesmo
que aí o olho se turva e se embaça, concentrando sua vida
na película lustrosa da superfície, para fazer-se espelho...
[...] Já o universo do olhar tem outra consistência. [...] Aqui
o olho defronta constantemente limites, lacunas, divisões,
alteridade, conforma-se a um espaço aberto, fragmentado
e dilacerado. [...] Ela, a simples visão supõe e expõe um
campo de significações, ele, o olhar – necessitado, inquieto, inquiridor – as deseja e procura, seguindo a trilha do
sentido. O olhar pensa; é a visão feita interrogação.
Sérgio Cardoso, 1988
N
este Caderno propomos que você experimente olhar
para três imagens com um olhar pensante, um olhar
interrogativo como nos convida Sérgio Cardoso. Faremos algumas perguntas, buscando estabelecer um diálogo com você e com as obras. Para funcionar, é preciso
olhar com calma, responder a todas as perguntas e não
antecipar a leitura da página seguinte. Combinado?
Antes de começar, indicamos a leitura das “Notas para uma
pedagogia visual bem humorada” de autoria do artista Waltércio Caldas1
1 Na 6.ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2007), a Curadoria Educativa, assinada por Luis Camnitzer, propôs a criação
de Estações Pedagógicas, compostas por painéis com textos de artistas e espaços que convidavam os visitantes
a deixar comentários. O texto “Notas para uma pedagogia visual bem humorada”, de autoria do artista brasileiro
Waltércio Caldas, integrou uma das Estações Pedagógicas.
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Projeto Acervos Museológicos
Apresentação
1. É natural que utilizemos obras de arte para o exercício de
nossa desconfiança. Cultivar suspeitas pode nos salvar
das verdades.
2. Não se deixe enganar por tentativas de explicação de
obras de arte. Na maioria dos casos elas são desmentidas pelas mesmas obras.
3. Não confie na autonomia “soberana” das obras de arte,
pois elas dependem do desconhecido que as tornou
possíveis.
4. Acredite nas dúvidas, especialmente naquelas sugeridas
pelas obras: algumas delas são necessárias para a superação de nossas limitações.
5. Procure ver somente o necessário. A quantidade indiscriminada das coisas visíveis pode reduzir em muito a
qualidade das experiências.
6. Não espere ver o que esperava ver antes de conhecer. Só
as obras de arte de qualidade duvidosa atendem a esta
expectativa.
7. Se um objeto artístico não parece ser arte, não o discrimine automaticamente. Artistas, por outro lado, fazem
somente o que acreditam que deve ser feito.
8. A espontaneidade não é um valor. É uma partida ou uma
chegada. A simplicidade ou complexidade ocorrerão
apesar dela.
9. Não pergunte o que os artistas querem dizer com suas
obras. Pergunte às obras. Ou encontre a satisfação nos
riscos que estimulam a sua criatividade.
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Exercícios
Exercício 1
http://www.net-provence.com/artistes/van-gogh/chambre-arles.jpg
Professor, observe esta imagem.
Use o espaço a seguir para descrevê-la detalhadamente. O
que você percebe?
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Projeto Acervos Museológicos
Exercícios
Esta é a famosa pintura de Vincent van Gogh, de 1889, intitulada “O
quarto de Van Gogh em Arles” que hoje está no Museu d’Orsay, em
Paris, França.
Quando estava pintando seu quarto, o artista escreveu a seu irmão
Tive uma nova ideia na minha cabeça e aqui está o esboço dessa ideia.
Desta vez é simplesmente o meu quarto, só que aqui a cor tem a ver
com tudo e, dando através da sua simplificação um maior estilo às coisas, pretende aqui sugerir descanso ou sono em geral. Numa palavra,
olhar para o quadro deverá descansar o cérebro, ou, antes, a imaginação. As paredes são violeta pálida. O chão de azulejos vermelhos. A
madeira da cama e as cadeiras são de um amarelo de manteiga fresca,
os lençóis e as almofadas são de um limão esverdeado pálido. A colcha
é escarlate. A janela é verde. A mesa de cabeceira laranja, a bacia azul.
As portas lilases. E é tudo – não há nada neste quarto com os estores
corridos. Os traços largos da mobília, de novo, têm de expressar sossego absoluto. Retratos nas paredes, um espelho, uma toalha e umas
roupas. A moldura – uma vez que o quadro não tem branco – será branca. (GOGH, 1958, p. 544 apud FUNCH, 2000, p. 113)
Compare sua descrição com a descrição do artista e em seguida volte
a observar a pintura.
•S
ua percepção da obra foi alterada após a leitura da carta de Van
Gogh?
•C
onhecer a intenção do artista, ao pintar o quadro, enriqueceu ou
empobreceu sua interpretação da obra?
•E
se você tivesse lido o texto antes de investigar a pintura com seu
olhar-pensante? Sua interpretação da imagem teria sido influenciada? Em que sentido?
Para refletir: A mediação provoca um “olhar cognitivo, instiga o encontro sensível
através dos sentidos, sensações e sentimentos despertados para a imaginação e a
percepção, pois a linguagem da arte fala e é lida por sua própria língua. Talvez
seja esse o espaço do silêncio externo, com falas internas nem sempre traduzíveis.”
(MARTINS, 2005, p. 50)
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exercícios
exercício 2
observe longamente esta imagem.
vamos investigá-la?
reflita sobre as questões abordadas nas perguntas abaixo e sinta-se à
vontade para criar suas próprias perguntas.
• A que você relaciona esta imagem?
• Seria uma pintura, um desenho, uma fotografia, uma gravura?
• Considerando que esta imagem seja uma fotografia de um objeto,
com que este objeto se parece?
• De que material você acha que ele é feito? Qual seria a cor e a temperatura do material?
• Para você, qual seria a função deste objeto?
• Onde o objeto está?
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Projeto Acervos Museológicos
exercícios
Foto anterior:
lYgiA clArK – “Bicho – contrário ii”,
1960 – ref. 21567; Fotógrafo – Desconhecido
Agradecimento – Associação cultural
“o Mundo de lygia clark”
lYgiA clArK – “Bicho – contrário ii”,
1960 – ref. 21568; Fotógrafo – Desconhecido
Agradecimento – Associação cultural
“o Mundo de lygia clark”
• Se este objeto fosse um objeto artístico, uma obra de arte, você imaginaria seu título?
• Que título você daria?
• Por quê?
se, antes de observar a primeira imagem, você soubesse que se tratava de uma fotografia de uma obra de arte feita, na década de 1960,
por uma artista mineira chamada lygia clark, à qual ela deu o título de
“Bicho”, sua relação com a imagem teria sido diferente?
em que sentido?
Para refletir: Em que medida a informação prévia guia e direciona nosso olhar tolhendo a investigação? No contato com objetos históricos, obras de arte e acervos
de outras naturezas, o que deve ser privilegiado em primeiro lugar: a informação
ou a experiência do primeiro olhar? Nas ações culturais que você implementará com
estudantes, como equilibrar o desejo pelo conteúdo, elaborado previamente, e a experiência direta, propiciada pela investigação/descoberta?
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Exercícios
Exercício 3
Ignácio Costa
Observe esta imagem.
Leve seu olhar-pensante para dentro desta imagem, deixe-o caminhando por alguns minutos.
Escreva aqui o que você percebeu.
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Projeto Acervos Museológicos
Exercícios
Continuando o exercício de leitura desta imagem:
•Q
ue cores você identifica?
•E
m que horário do dia você acredita que esta fotografia foi feita?
•Q
ue formas geométricas você identifica nesta imagem? Quais?
•H
á pessoas representadas na fotografia? Onde estão todos?
•Q
ue sensações esta imagem provoca em você?
•Q
ue títulos você daria a esta fotografia?
•Q
ue cidade é esta? E o nome deste viaduto?
Faça duas listas. Uma com o que você já sabia sobre o lugar representado na foto. E outra com que você aprendeu, investigando com seu
olhar-pensante.
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Exercícios
Você sabia que o Viaduto Santa Tereza foi tombado como Patrimônio Cultural na década de 1990 e que integra o Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação? Projetado pelo engenheiro Emílio Baumgart e construído em 1929, o Viaduto Santa Tereza é,
ainda hoje, uma das obras de engenharia urbana mais significativas de Minas Gerais.
O arco parabólico - que convidou Carlos Drummond de Andrade a ousar uma primeira
escalada de pura subversão poética - se transformou em espécie de rito de passagem
para jovens escritores da capital.
Desde 2007, nas noites de cada sexta-feira, ocorre sob o Viaduto Santa Tereza o
Duelo de MC’s. É um evento produzido pelo Família de Rua, “um coletivo focado na
promoção do Hip Hop, do Skate e das culturas urbanas, que por meio do diálogo e
da articulação em rede, principalmente com outros coletivos da juventude, busca gerar
cidadania, profissionalização e ocupação da cidade”2.
Ateliê
Agora que você investigou a imagem com o olhar, interrogando-a, e,
também, dialogou com o que já sabia e aprendeu sobre ela, desafiamos a criar uma nova imagem que revele o que você experimentou.
Use estas reproduções para produzir uma colagem. Se quiser, insira
novos elementos, interfira com outros materiais. Você tem espaço aqui,
mas sinta-se à vontade para trabalhar em outros suportes.
Ouse! Crie! Invente! Subverta poeticamente.
2 Trecho do texto de apresentação de autoria do coletivo Família de Rua.
Disponível em http://duelodemcs.blogspot.com.br
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Referências
bibliográficas
FUNCH, B. S. Tipos de apreciação artística e sua aplicação na educação de museu. In Fróis, João Pedro (Org.).
Educação Estética e Artística, abordagens transdisciplinares. Textos da Conferência Internacional Educação Estética
e Artística, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000.
p.109-125.
MARTINS, Miriam Celeste et alii. Mediação: estudos iniciais
de um conceito. In: Mediação: provocações estéticas. Universidade Estadual Paulista - Instituto de Artes: Pós-graduação. São Paulo, 2005. p. 40-57.
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PATROCÍNIO
REALIZAÇÃO
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