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Clipping Nacional de Educação Terça-feira, 03 de Novembro de 2015 Capitare Assessoria de Imprensa SHN Qd2Edifício Executive Office Tower Sala 1326 Telefones: (61) 3547-3060 (61) 3522-6090 www.capitare.com.br FOLHA DE SÃO PAULO 03/11/15 TENDÊNCIAS & DEBATES Em busca dos pequenos gênios MARCELO CRIVELLA Carl Friedrich Gauss (17771855) é considerado o maior matemático de todos os tempos. Foi para a escola com oito anos. Na primeira aula assombrou o professor ao solucionar rapidamente um problema que deveria manter a turma ocupada durante toda a manhã: somar os números entre um e cem. Em vez de fazer as operações aritméticas, como era esperado, o pequeno Gauss notou que somando os extremos da série –1 mais 99, 2 mais 98, e assim por diante– sempre obtinha cem. Montou de relance uma fórmula e entregou o resultado correto. Nasceram ali as teorias das progressões aritmética e geométrica, dos arranjos, das permutações e das combinações, que hoje nos permitem escolher sem repetições as placas de trânsito e os números de celulares, por exemplo. O professor solicitou e obteve uma bolsa de estudos para o menino. Graças a isso, o talento de Gauss floresceu. Morreu com 77 anos, deixando uma obra extensa. Era um superdotado e foi reconhecido como tal, no momento certo. Evariste Galois (1811-1832), ao contrário, foi expulso da escola e teve uma adolescência marcada por diversas prisões. Era voluntarioso e indisciplinado. Desprezava os livros didáticos, mas nunca abandonou a paixão pela matemática. Com 20 anos, foi desafiado para um duelo. Sabendo de antemão que não sairia com vida, dedicou suas últimas horas a pôr no papel as ideias que tinha, às quais ninguém prestara atenção. Deixou somente algumas dezenas de páginas, escritas de maneira quase ininteligível. Onze anos depois, Joseph Liouville anunciou ao mundo que o jovem Galois resolvera um dos grandes problemas da história da matemática, tendo descoberto um método novo, que veio a revolucionar a álgebra. Galois também era um superdotado, mas não foi reconhecido como tal, em vida. Dois destinos que mostram a importância de um tema atual: a necessidade de criar mecanismos para identificar alunos superdotados para as ciências, as artes, a literatura e os esportes, para que possam desenvolver seus talentos e não sofram discriminações. Os superdotados podem ser indisciplinados e hiperativos, por isso diagnosticados erroneamente e submetidos a tratamentos inadequados. Têm facilidade para aprender, mas podem demonstrar desinteresse nas aulas e nas lições de casa. Nem sempre um superdotado é um excelente aluno. Por isso, o reconhecimento de sua condição não é trivial. Somente testes aplicados por psicólogos podem fazer o diagnóstico correto. A identificação precoce é muito importante, especialmente em crianças de baixa renda. Isso exige uma capacitação específica dos profissionais da educação. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que cerca de 5% da população possui algum tipo de alta habilidade. Isso equivale a 2,5 milhões de crianças que frequentam o nosso sistema público de educação básica. No entanto, o Censo Escolar de 2014 reconhece apenas 13 mil alunos nessa 03/11/15 condição. A escola brasileira não está preparada para identificar os alunos superdotados e nem é capaz de lhes proporcionar serviços pedagógicos suplementares. Uma população de 200 milhões de habitantes deve ter cerca de 10 milhões de superdotados. Precisamos descobrir quem são, como quem garimpa ouro. Esse é o objetivo de um projeto de lei de minha autoria, que agora vai à sanção da presidente Dilma Rousseff. Ele estabelece que o Estado brasileiro definirá procedimentos para identificar, cadastrar e atender alunos com altas habilidades todos os níveis. Os brasileirinhos que podem vir a ser um Gauss, um Mozart, um Guimarães Rosa ou um Messi merecem a chance de realizar seus talentos. A nação só tem a ganhar. MARCELO CRIVELLA, 58, é senador pelo PRB-RJ. Foi ministro da Pesca e Aquicultura (governo Dilma) CORREIO BRAZILIENSE 03/11/15 OPINIÃO Brasília sequestrada » CRISTOVAM BUARQUE Professor emérito da UnB e senador pelo PDT-DF Na semana que passou, Brasília assistiu ao injustificável fato de professores sendo espancados na rua, durante ação da polícia para liberar uma avenida ocupada. Espancar professores é espancar o futuro. São lamentáveis a greve de professores e a interrupção do trânsito, impedindo o ir e vir das pessoas. Mesmo assim, o governo tem que usar o diálogo, nunca a violência. A sensação é de que Brasília está sequestrada pela falta de diálogo do governador com as lideranças da cidade. Os professores querem o cumprimento de aumentos salariais concedidos pelo governo anterior, que o atual diz não ter recursos para cumprir. Sendo assim, a capital do país está paralisada pela falta de recursos que impediria o atual governo de pagar os salários concedidos pelo governo anterior e sem recursos para investimentos em novos projetos que a cidade precisa em seu crescimento e evolução. Desde o primeiro dia de seu mandato, o governador Rollemberg tem deixado claro que não há recursos para manter os compromissos autorizados irresponsavelmente por seu antecessor. O governo fala em falta de recursos e os sindicatos, alguns parlamentares e outras autoridades afirmam que haveria disponibilidade de recursos. Sindicalistas dizem que o pessimismo do governador decorre dele não conhecer a realidade ou manipular os dados com intenções políticas para desvalorizar o governo anterior. É como se a verdade fosse sequestrada. O governador nunca levou adiante a sugestão, feita logo nos primeiros dias de seu governo, de criar uma Comissão da Verdade Fiscal, com nomes da máxima credibilidade técnica e moral, capaz de se debruçar sobre nossas contas e passar a realidade com credibilidade. Aparentemente, o governador conhece tão bem os números e está tão seguro deles que não vê necessidade de convencer a população. Além disso, a sensação é que ele adotou uma estratégia do sequestro da falta de recursos, como desculpas para o acomodamento da máquina do governo, para a falta de criatividade para projetos que não exijam muitos recursos financeiros. Tanto ele quanto os secretários parecem sentir que o “não temos dinheiro” é suficiente para justificar a paralisia da máquina. Como alguém que, ao não ter dinheiro para pagar o resgate, aceita a continuidade do sequestro. Isso não quer dizer que Brasília estaria livre de greves, depois de se conhecer os números reais; porque estamos sequestrados pelo corporativismo. Se uma Comissão da Verdade Fiscal mostrasse que o governador está equivocado e que nossas contas estão equilibradas, no dia seguinte começariam greves por aumentos de salários, porque toda a sociedade brasileira está sequestrada pela visão de que o Brasil não existe como entidade unificada. Existem apenas os grupos, corporações com seus interesses. Além de que prevalece a ideia de que os recursos dos governos são ilimitados, como pareciam durante as ilusões dos tempos da inflação. Da mesma forma que a inflação, Brasília foi sequestrada pelas facilidades das transferências de recursos que o Brasil nos envia todos os meses; e também pelo imenso patrimônio recebido no início e colocado à disposição da Terracap. Estes recursos criaram um sentimento de facilidades, como uma fantasia onde tudo é possível para o governo, para os empresários e para os servidores. Quando a crise torna impossível o governo federal atender nossas demandas, o governo do Distrito 03/11/15 Federal está considerando a possibilidade de vender patrimônio para pagar custeios, como salários. Como se o patrimônio pudesse ser reposto indefinidamente. Para o servidor, isso se justificaria, uma vez que estes terrenos serviram para fazer aqui algumas das maiores fortunas do Brasil, e para políticos fisiológicos ganharem votos com a distribuição da terra pública em troca de votos. Brasília precisa libertar-se das amarras que a sequestram, adaptando-se à realidade da aritmética financeira, ou perderá o direito de se autogovernar quando o Brasil perceber que estamos custando demasiado. Nossa máquina governamental custa anualmente R$ 9 mil por habitante, enquanto todas as máquinas governamentais, federal, estaduais e municipais do Brasil, custam R$ 4.350 a cada brasileiro. Autonomia exige responsabilidade na gestão, com credibilidade sobre os números que indicam a realidade e com diálogo. Os três estão faltando. CORREIO BRAZILIENSE 03/11/15 CIDADES CRISE NO GDF » Paralisações ganham adesão de metroviários A fim de resolver o impasse com categorias que não aceitam dialogar, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) busca apoio político para abrir um novo canal de negociações com os sindicatos. (Leia mais na coluna Eixo Capital, na página 18). Várias categorias, no entanto, têm se colocado irredutíveis em suas reivindicações. Representantes do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do DF montaram barracas em frente à Secretaria de Saúde para fazer pressão e tentar abrir novas negociações A população pode voltar do feriado com o transporte público comprometido. Professores devem continuar greve, enfermeiros montaram acampamento em frente à Secretaria de Saúde, servidores de DER e Detran permanecem de braços cruzados » CAROLINE POMPEU » GUILHERME PERA Depois de quase um mês com diversas categorias do serviço público de braços cruzados, o Governo do DF divulgou ontem um comunicado à população em que pede “bom senso” aos grevistas. A tônica do discurso é a falta de dinheiro — o que impede, segundo o Executivo, o pagamento de reajustes salariais a 32 categorias. Mas o apelo não deu certo: 70% da frota da Companhia do Metropolitano (Metrô-DF) não devem rodar a partir de hoje e outras paralisações, como as dos professores, dos médicos e de autarquias de trânsito, continuam. Para pagá-los, porém, o Executivo alega precisar aprovar projetos na Câmara Legislativa, que segue com a pauta obstruída. A paralisação iniciada pelos metroviários hoje é fruto de decisão em assembleia realizada em 25 de outubro. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários do DF (SindMetrôDF), a greve tem três motivações: o não pagamento do reajuste salarial de 8% à categoria, estipulado em abril; a não convocação dos aprovados no último concurso; e o suposto excesso de comissionados nos quadros da empresa. “Faltam funcionários e isso causa vários problemas: existe uma sobrecarga de trabalho e o limite mínimo nas estações não é respeitado”, reclama o diretor do SindMetrô Webert da Costa. Um terço da frota — oito trens — continua a rodar. O presidente do Metrô-DF, Marcelo Dourado, disse que está trabalhando para tentar evitar a paralisação no sistema. 03/11/15 "Além do pagamento do reajuste, nossa paralisação é para o fim dos ataques aos direitos dos trabalhadores, afrontados desde o início do ano” Claudio Antunes, diretor do Sinpro Na saúde, a situação permanece complicada. O Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do DF (Sindate-DF), há 25 dias de greve, continua sem acordo com o governo. A categoria montou ontem acampamento em frente à sede da Secretaria da Saúde, na Asa Norte. Hoje, às 9h, uma assembleia será realizada no local. O sindicato exige a redução da carga horária de 24 para 20 horas semanais. “Se um profissional que trabalha 24 horas semanais, reduzir a carga para 20, vai continuar recebendo seu salário. A situação é complicada, a gente foi colocado em um bolo em que o governo fechou a porta para todo mundo”, disse. Os médicos também continuam paralisados. Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do DF (SindMédico-DF), Guthemberg Fialho, representantes sindicais “visitarão vários hospitais para arrebanhar mais grevistas”. Seguem o mesmo caminho as autarquias de trânsito. A paralisação do Departamento de Estradas de Rodagem do DF (DER-DF) já entra em seu 26º dia, com adesão de 90% da categoria, de acordo com o Sindicato dos Servidores e Empregados da Administração Direta, Em clima de guerra com o governo, professores farão nova assembleia amanhã para discutir rumos do movimento Fundacional, das Autarquias, Empresas Públicas e Sociedade de Economia Mista do DF (SindserDF). “Serviços de fiscalização de trânsito e manutenção de vias estão parados. Com as chuvas, as estradas ficam muito prejudicadas. E a culpa é do governo”, atacou o presidente da entidade, André Luiz Conceição. O Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF) também continua parado. “Exigimos o pagamento do reajuste de 5% do salário; das licenças; o retorno da data de pagamento para o dia 30; melhores condições de trabalho e de segurança; e resolução para problemas de infraestrutura”, listou o presidente do Sindicato dos Servidores do Detran (Sindetran-DF), Fábio Medeiros. A categoria fará nova assembleia para discutir os rumos da greve. Embate com professores Após a confusão da semana passada, em que professores foram algemados por policiais militares depois de fecharem o Eixão Sul, a categoria decidiu continuar a greve. Segundo o Sindicato dos Professores do DF (Sinpro), hoje serão realizadas reuniões em todas as 14 regionais de ensino e amanhã, às 10h, haverá uma assembleia geral na Praça do Buriti. “Além do pagamento do reajuste, nossa paralisação é para o fim dos ataques aos direitos dos trabalhadores, afrontados desde o início do ano”, afirmou o diretor do Sinpro Claudio Antunes. O Sindicato dos Urbanitários do DF (STIU-DF) realiza hoje, às 17h30, uma assembleia geral com os servidores da Companhia Energética de Brasília (CEB), onde será analisada uma 03/11/15 contraproposta da empresa. Funcionários exigem reajuste salarial de acordo com a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), cerca de 10%. A falta de dinheiro continua a ser a posição do GDF, que alega precisar da aprovação na Câmara Legislativa de projetos que garantam aumento de arrecadação. Os distritais, no entanto, continuam a obstruir a pauta. O acordo era votar as matérias após o governo apresentar um cronograma para o pagamento dos reajustes. Desde a repercussão negativa entre os servidores pelo embate entre policiais militares e professores, porém, os projetos permanecem parados nas comissões. CORREIO BRAZILIENSE 03/11/15 CIDADES Três perguntas para... Igor Tokarski, secretário adjunto de Relações Institucionais Nomeado recentemente pelo governador Rodrigo Rollemberg (PSB) para ser o responsável pelas negociações com a Câmara Legislativa e com os sindicatos, o secretário adjunto de Relações Institucionais, Igor Tokarski, tem uma missão difícil. Até então administrador regional do Plano Piloto, Tokarski — que concorreu a uma vaga de deputado federal pelo PSB, conseguiu 7.151 votos, e não se elegeu — assumiu a função até então desempenhada por Marcos Dantas, hoje secretário de Mobilidade, em meio a uma greve geral dos servidores públicos e obstrução da pauta de interesse do GDF no parlamento local. Precisa convencer políticos e servidores de que o momento não é de benefícios por falta de condições financeiras. O GDF divulgou um comunicado à população no qual pede "bom senso" aos grevistas. O que o governo quer dizer com isso? Greve não gera dinheiro. Estamos abertos ao diálogo, mas só vamos colocar na mesa de negociação o que pudermos cumprir. É necessário aprovar 11 projetos na Câmara Legislativa para termos condições de pagar os reajustes. Como o senhor avalia a relação com a Câmara, que continua a obstruir a pauta de interesse do Executivo? O momento, com greves e obstrução, é muito delicado. A ação do Legislativo é legítima. Cabe a nós sensibilizar os distritais e mostrar que os projetos são importantes para a cidade e, consequentemente, para os servidores. E a relação com os professores, como ficou após o enfrentamento com a Polícia Militar? Lamentamos profundamente que alguns professores, representados pelo sindicato, tenham radicalizado e interditado vias em horário de pico. Os excessos da Polícia Militar, que sempre agirá nesses casos, serão investigados e combatidos. JORNAL DE BRASÍLIA 03/11/15 Sistema sócio-educativo Pressão por indicações POLÍTICA 03/11/15 JORNAL DE BRASÍLIA 03/11/15 POLÍTICA JORNAL DE BRASÍLIA 03/11/15 CIDADES Material escolar também em alta 03/11/15 JORNAL DE BRASÍLIA 03/11/15 CIDADES JORNAL DE BRASÍLIA 03/11/15 CIDADES JORNAL DE BRASÍLIA 03/11/15 CIDADES 04/11/15 AS MELHORES DO MIDDLE MARKET Tecnologia para educar Melhor do setor educação - Grupos privados, como a Rede La Salle, adotam ferramentas eletrônicas para ampliar a participação dos pais na vida acadêmica dos filhos AUnesco apresentou dados preocupantes sobre a educação no Brasil. De seis metas sobre o avanço no ensino estabelecidas em 2000, o País cumpriu só duas, em 15 anos. De acordo com o relatório, o acesso à educação primária e a igualdade de gênero foram os objetivos alcançados. Os problemas relacionados à primeira infância, ao acesso de jovens e adultos, o combate ao analfabetismo e a qualidade da educação apresentaram dados insuficientes. Enquanto o governo patina nos avanços ligados à educação, o setor privado tenta se espelhar nas melhores práticas internacionais. Uma delas é aproximar os pais das atividades dos filhos, com o uso de ferramentas eletrônicas. A Rede La Salle, vencedora do ranking setorial de AS MELHORES DO MIDDLE MARKET, desenvolveu um aplicativo que permite que os familiares tenham todas as informações sobre a vida acadêmica do aluno, desde o resultado das avaliações à freqüência na sala de aula. A ideia é evitar que o desempenho acadêmico fique restrito apenas às reuniões trimestrais. Presente em 11 estados brasileiros, a La Salle atende 50 mil crianças, jovens e adultos em 48 unidades. FOLHA DE SÃO PAULO 02/11/15 TENDÊNCIAS & DEBATES Reprovados em matemática FLAVIO COMIM A população brasileira adulta não sabe o mínimo de matemática para tomar decisões adequadas no cotidiano. Essa é a conclusão principal de estudo feito pelo Instituto TIM/Círculo da Matemática do Brasil, que entrevistou 2.632 pessoas acima de 25 anos em 25 cidades. Resultado: 32% dos entrevistados não sabem fazer operações básicas de multiplicação e 75% não sabem fazer médias simples ou entender frações. De fato, 63% não conseguiram realizar contas básicas com percentuais, do tipo "o que é três quartos como percentual?". A pesquisa avaliou também habilidades básicas no planejamento de tempo em um trajeto de ônibus (70% errou), no uso de regra de três para fazer um bolo (59% errou) e mesmo no entendimento básico de risco –na situação de "qual número representa o maior risco de um tratamento médico dar errado? 1 em 100, 1 em 10.000 ou 1 em 10?"– na qual 50% errou. Isso mostra que uma má interpretação de números básicos pode levar as pessoas a tomarem decisões práticas equivocadas na vida. Nesse contexto, 69% não souberam fazer contas básicas com taxa de juros. Em um momento de crise econômica, vemos que os brasileiros estão mais fragilizados simplesmente por não saberem matemática básica. Pouco ou nada se discute sobre a educação dos adultos no Brasil e na maior parte das vezes a conversa se limita ao analfabetismo (10,2% entre adultos em 2013). Parece natural que foquemos a atenção da política educacional somente nas crianças e jovens. Mesmo quando isso é feito, os resultados são aterradores, principalmente na matemática: já no terceiro ano do fundamental temos 57% das crianças com aprendizado inadequado, percentual esse que ultrapassa os 90% no final do ensino médio. O 58º lugar do Brasil no último teste Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) de matemática é apenas reflexo de um problema maior: o baixo valor que se dá à matemática na formação de nossas crianças e jovens. Problemas como a baixa produtividade da economia brasileira, o baixo nível de educação financeira e alto endividamento das pessoas, o modesto desenvolvimento de ciência e tecnologia parecem ser influenciados não apenas pelo baixo nível de escolaridade dos adultos no país (49% dos brasileiros não concluíram o ensino fundamental segundo o último Censo do IBGE), mas em particular pela matemática básica que as pessoas não aprenderam. Precisamos reforçar o ensino de matemática nas escolas públicas brasileiras. Mas precisamos também encontrar novos modos de voltar a ensinar matemática aos adultos que já deixaram a escola. Na pesquisa, 60% das pessoas disseram que não gostavam de matemática na escola; 65% afirmaram que nunca tiveram facilidade com a matéria. É preciso encontrar meios de motivar e educar adultos. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) tem intensamente 02/11/15 trabalhado em programas para avaliar e prover competências dos adultos. No Brasil é ainda mais urgente superarmos as deficiências de conhecimento da população, principalmente na matemática. Ou continuaremos sendo socialmente injustos e "inútil". FLAVIO COMIM, 49, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade de Cambridge, foi economista sênior do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) * O ESTADO DE S. PAULO 02/11/15 METRÓPOLE Colégios põem robótica a serviço de projetos e soluções 02/11/15 O ESTADO DE S. PAULO 02/11/15 METRÓPOLE ‘Há alfabetização científica e tecnológica’ 02/11/15 O ESTADO DE S. PAULO 02/11/15 METRÓPOLE Columbia abre bolsa de jornalismo na área de Educação 02/11/15 O ESTADO DE S. PAULO 02/11/15 ECONOMIA CORREIO BRAZILIENSE 02/11/15 OPINIÃO À flor da pele Marcelo Agner [email protected] A última quarta-feira foi marcada por cenas que precisam ser guardadas na memória da cidade para que nunca mais se repitam. A ação truculenta da PM contra professores acirrou o embate entre o governo e a categoria, em greve para receber os reajustes salariais concedidos na gestão de Agnelo. E a invasão do ginásio do Caseb por sindicalistas mostrou também uma inaceitável intolerância dos representantes da categoria contra docentes que não aderiram à paralisação. A falta de diálogo é o erro mais evidente nesse quadro. Brasília está praticamente parada à espera da negociação entre as diversas categorias do funcionalismo público e o GDF. Há escolas fechadas e hospitais sem atender quem procura socorro. O cidadão que paga toda essa estrutura com seus impostos é o mais prejudicado. Quem precisa dos serviços do Estado tem que ter paciência e esperar. As ameaças de corte de ponto e de salários não amedrontam os grevistas — até porque a medida raramente é aplicada. Para piorar, há disputa política entre sindicatos e GDF, o que dificulta qualquer acordo. O governador diz não ter recursos para pagar os reajustes e benefícios concedidos. Propôs um calendário para quitar os débitos, mas não agradou as categorias. Nem a decretação da ilegalidade das greves pela Justiça arrefeceu os ânimos dos sindicalistas. O resultado desse impasse é a radicalização, de ambos os lados. Rollemberg paga um preço alto pela intervenção da PM contra professores que, numa ação do Sinpro, tentaram fechar o Eixão. O governador foi criticado até por aliados e terá trabalho para recuperar o apoio. Cometeu os mesmos erros do tucano Beto Richa, do Paraná, que hoje amarga baixos índices de popularidade. Mas há também que se questionar a atitude do sindicato. Fechar rodovias, invadir escolas e confrontar professores sob os olhares de jovens estudantes não são atitudes nem estratégias de representantes de uma categoria que simboliza a educação. Invasão e truculência dentro de uma escola não combinam com democracia. A cidade espera bom senso de todas as partes. CORREIO BRAZILIENSE 02/11/15 CIDADES RECORDAçõES » 40 anos de amizade e união Agora, pensam em tornar o encontro, que ocorre a cada cinco anos, mais frequente. “A enorme maioria está viva. Mas, como alguns amigos têm viajado sem avisar para onde vão e não voltam mais, tem gente que quer fazer o encontro de três em três anos”, conta o pediatra Jansen Melo. O grupo de 100 médicos participou de uma festa a fantasia na noite de sábado e ontem homenageou professores Colegas da terceira turma de medicina da UnB passaram o fim de semana em comemoração pelas quatro décadas de formatura, com lembranças sobre o passado e avaliações a respeito do futuro da profissão. Eles nunca perderam a afinidade » MATHEUS TEIXEIRA Quatro décadas se passaram, mas o tempo não foi suficiente para afastar os amigos de uma das primeiras turmas de medicina da Universidade de Brasília (UnB). O grupo com cerca de 100 médicos ingressou no curso em 1970 e se reúne, até hoje, para recordar os tempos de estudante e matar a saudade dos antigos colegas. Neste ano, eles prepararam uma programação especial para comemorar os 40 anos de formados. A turma, batizada de “Barra 70”, passou o último fim de semana reunida. Visitaram a UnB, fizeram uma festa a fantasia, discutiram o futuro da profissão e homenagearam os professores da época. Eles sempre marcam a festa com antecedência para garantir que todos estejam presentes, até os que não moram mais na capital. A média de idade é de 65 anos. Da turma original, 18 já morreram. O ponto alto do fim de semana foi a festa a fantasia, no Hotel Nacional. Todos entraram no clima e alugaram ou improvisaram suas fantasias. “Impossível estarmos juntos e não nos divertirmos. São muitos anos de amizade, somos entrosados até na hora de fazer festa. Como todo mundo tem a mesma idade, ninguém pagou mico”, brinca Benedito Neto. Ele acredita que é raro encontrar uma turma tão unida há tantos anos. “Nossa faculdade favorecia, fez com que nos uníssemos. A gente tinha aula de manhã, à tarde e, à noite, estudávamos juntos. Todos, até hoje, sabem os nomes completos uns dos outros”, diz. Futuro da medicina O encerramento do encontro, ontem pela manhã, começou com uma homenagem a três professores da UnB que ensinaram um pouco de medicina para a turma. Depois, discutiram o futuro da profissão. Um dos colegas especializou-se em genética e falou dos avanços dos estudos na área. “Acho que nós não vamos pegar essa fase, mas 02/11/15 estamos prestes a viver uma mudança de paradigma na medicina. Com a evolução da genética, poderemos ver as alterações que determinam as doenças que as pessoas têm tendência a ter. Vamos passar a ter um acompanhamento mais genético do que clínico. Foi muito legal discutirmos temas da nossa área, como ocorria 40 anos atrás”, conta Ana Maria Tillmann, endocrinologista. Todos entraram juntos na faculdade em 1970. A turma, no entanto, se dividiu. Metade se formou no fim de 1975 e a outra, no meio de 1976. Não bastasse o coquetel na sexta-feira, a festa no sábado e as homenagens no domingo pela manhã, o pediatra Jansen Melo e outros três integrantes do Barra 70 saíram do encontro e foram almoçar juntos. Esse grupo mais restrito costumava se encontrar todos os meses. Nos últimos anos, eles não conseguiram manter a periodicidade, mas a amizade segue a mesma. “A turma é muito unida, mas se dividiu, cada um tem seus compromissos. Fomos divididos pelo tempo, mas não no coração”, diz. Ingresso mais salgado Quem visitou ontem a Água Mineral, no Parque Nacional de Brasília, sentiu no bolso a nova tarifa que passou de R$ 8 para R$ 12. A portaria, editada em outubro pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que definiu o aumento de 50%, passou a vigorar neste domingo. Os preços são ainda mais salgados para os visitantes estrangeiros: de R$ 16, os turistas que vêm de outro país agora vão ter que desembolsar R$ 24. O empresário João Geraldo Nascimento, 39 anos, aproveitou o domingo para levar os filhos, Elisa Nascimento, 9, e Érico Vinícius, 12, para nadar em uma das piscinas de águas naturais. Ele se surpreendeu com os novos valores. “O aumento foi grande, não teve tantas melhorias para justificar esse preço. Por enquanto não pago entrada das crianças, mas daqui a uns tempos vou ter que pagar o ingresso do mais velho”, comentou João. No caso da Água Mineral, o aumento da entrada foi maior do que em outros parques sob a justificativa de ser considerado um dos parques mais estruturados do país. O último reajuste para entrada no Parque Nacional de Brasília ocorreu em setembro de 2014, segundo o ICMBio. A área tem capacidade máxima para três mil pessoas e dispõe de duas piscinas de água natural. Apesar do tempo nublado, com chuva, de ontem e do aumento dos ingressos, o parque estava lotado. (Thiago Soares) 04/11/15 PÁGINAS AMARELAS William MacAskill A melhor maneira de ajudar Mariana Barros O professor de Oxford e autor de um estudo que comprova que nem todos os programas sociais são eficientes diz que prioritário mesmo é acabar com a pobreza No ano passado, mais de 17 milhões de pessoas, entre elas bilionários e celebridades, fizeram o "desafio do balde de gelo", em que convocavam conhecidos para que se autoinfligissem um banho de água fria ou doassem dinheiro a pesquisas sobre a esclerose lateral amiotrófica. A maioria fez as duas coisas, dando publicidade global à causa do combate à doença. O filósofo William MacAskill, 28 anos, foi uma das poucas vozes contrárias à onda. Segundo ele, o dinheiro doado àquela campanha salvaria muito mais vidas se fosse empregado em outras frentes, como o combate à malária em países pobres. MacAskill se esforça para difundir a ideia de que a melhor forma de fazer o bem não é agir por afeto, impulso ou boa vontade, mas com base em estudos científicos, o que ele chama de "altruísmo eficiente". Professor associado da Universidade Oxford e cofundador das ONGs Giving What We Can e 80000 Hours, que juntas obtiveram mais de 400 milhões de dólares em doações, ele prioriza as diferentes iniciativas de acordo com os resultados práticos que conseguem alcançar. Seus dados e argumentos distinguem programas que salvam vidas daqueles que só servem, em última análise, para aliviar a culpa de quem doa. Segundo MacAskill, o combate à extrema pobreza deve ser prioridade, pois ela está na raiz de outros problemas, como falta de saúde ou educação. Ele falou a VEJA de Londres. Se tivéssemos de escolher uma única causa a que nos dedicar e contribuir, qual seria? A erradicação da pobreza, pois ela está na raiz da maioria dos nossos problemas. Na África Subsaariana, muitos vivem com menos de 1,50 dólar por dia. Quando a gente tenta entender como essas pessoas vivem com tão pouco, a verdade é que não vivem. Morrem muito antes e com maior frequência do que quem mora em países ricos. Um africano vive até os 56 anos. Um americano, até os 78 anos. O escocês Angus Deaton, vencedor do Nobel de Economia deste ano, afirma que o dinheiro dos programas de ajuda externa a países pobres é prejudicial porque não fortalece as instituições, perpetuando as mazelas. O senhor concorda? É algo complexo. Talvez seja verdadeiro em relação a algumas instituições de nações em desenvolvimento, mas não à caridade em geral. O dinheiro destinado a países pobres ou a ONGs desses locais pode acabar por sustentar regimes corruptos; no entanto, o ponto central das minhas análises é que a eficiência das instituições varia muito. Um estudo do americano David Anderson mostra que esses programas, em sua maioria, não são avaliados. E, dos que são, 75% surtem pouco ou nenhum efeito. Mas é possível identificar as ONGs sérias. As instituições mais confiáveis expõem quanto gastam na área administrativa, qual o salário do diretor e qual o porcentual de doações que de fato será aplicado nos programas — o ideal é que pelo menos 75% do total seja investido diretamente nisso, e o restante no custeio. A transparência é fundamental para a eficiência dos projetos. Qualquer ajuda é melhor do que nenhuma ajuda? Sim. Algumas formas de ajudar, porém, permitem fazer um bem muito maior do que outras. Se você escolher pagar por uniformes para as crianças do Quênia, estatisticamente isso surtirá efeito na educação dessas crianças. No entanto, se você colaborar em programas que combatem as infecções intestinais causadas por parasitas, poderá reduzir em 25% a abstenção dos estudantes quenianos e assim contribuir muito mais para a educação. Isso já foi feito. Cada dia que uma criança 04/11/15 passa na escola livre dos vermes que a fariam ficar em casa sai por 5 centavos de libra (30 centavos de real). A relação entre o custo e o benefício é a melhor possível. O senhor recomenda não dar dinheiro a pedintes com a justificativa de que não são os que mais necessitam de ajuda. Quem são, então? Uma pessoa que vive abaixo da linha de pobreza nos Estados Unidos ganha 11000 dólares por ano, o que a torna mais rica do que 85% da população mundial. Os 20% mais pobres do mundo, ou 1,22 bilhão de pessoas, vivem com menos de 1,50 dólar por dia. Se você leu o meu livro, posso estimar que faça parte dos 10% mais ricos do mundo. Portanto, deveria tentar ajudar os 20% mais pobres, que estão em países como Etiópia e índia ou, no caso do Brasil, em locais bem mais ermos do que as avenidas das grandes cidades. Assim, seria mais eficiente doar a abrigos que possam cuidar dos sem-teto. Qual é o maior exemplo de sucesso nessa área? O programa que levou à erradicação da varíola, em 1977. Essa doença matou mais de 300 milhões de pessoas apenas no século XX. É mais gente do que o total de vítimas de todas as guerras, atentados e genocídios das últimas décadas. Se somarmos os mortos nos genocídios do Camboja e de Ruanda, nas duas guerras do Congo, nos atentados de 11 de setembro e nas guerras do Afeganistão e do Iraque, teremos cerca de 12 milhões de vítimas. Por ano, a varíola matou até 3 milhões de pessoas. Desde que deixou de existir, há quarenta anos, foram poupados de 60 milhões a 120 milhões de vidas. É mais gente do que seria possível salvar se tivéssemos conseguido a paz mundial no mesmo período. O senhor diz que investir no combate à malária tem um impacto muito maior do que destinar dinheiro à luta contra o câncer. Por quê? A cada ano, 7,6% das mortes por doenças no mundo são causadas por câncer, um total de 8,2 milhões de vítimas. O investimento no combate a essa doença é de 217 bilhões de dólares. Já a malária tem um impacto menor: ela é responsável por 3,3% dos óbitos por doença, ou seja, um pouco menos que a metade das mortes por câncer. Se a luta contra a malária recebesse proporcionalmente os mesmos recursos que a batalha contra o câncer, seriam cerca de 100 bilhões de dólares por ano. Mas a verdade é que apenas 1,6 bilhão de dólares são gastos com malária por ano. Isso acontece porque só os países pobres sofrem com a malária. Nesse sentido, programas contra a malária podem beneficiar mais gente e ser mais eficientes do que o dinheiro investido contra o câncer. O senhor também defende a tese de que não devemos dar dinheiro a vítimas de desastres. Por quê? Existe algo que os economistas chamam de "lei dos retornos declinantes", que explica por que faz muito mais sentido doar às melhores entidades de caridade que lutam contra a pobreza do que doar a vítimas de um desastre. É como um bolo. A primeira fatia é ótima, mas lá pela terceira você já está um pouco enjoado. Ou seja, a depender da quantidade, tem muito menos utilidade. Quanto mais atenção da mídia uma causa recebe, mais vultosas serão as doações. Seguindo essa lógica, o ideal é optar pelas causas que passam batido no noticiário. Devemos ficar de braços cruzados diante das tragédias? Depende de qual tragédia você está falando. Para traçar uma comparação, cada vítima do terremoto do Japão recebeu, via organizações internacionais, 330 000 dólares em doações. E cada pessoa que morre de causas decorrentes da pobreza equivale a 15 000 dólares em doações. O terremoto do Japão matou 15000 pessoas. Mas, a cada dia, 18000 crianças morrem devido a fatores relacionados à pobreza. É uma tragédia muito maior. A eficiência da doação passa por considerar em que situação seu dinheiro vai valer mais, e não em contribuir para o que chama mais a sua atenção. Ajudar os outros é algo essencialmente bom ou há algum aspecto negativo? Se a ajuda for efetiva, é claro que é bom. Mas não é a regra. Psicólogos descobriram um fenômeno chamado "licença moral", de acordo com o qual as pessoas que fazem uma boa ação frequentemente compensam isso depois, chegando a ponto de praticar ações condenáveis. Um experimento com pessoas que compraram produtos "verdes", que 04/11/15 não agridem o meio ambiente, revelou que, após adquirirem esses itens, elas se mostravam mais propensas a mentir e até a furtar dinheiro. Por essa lógica, também há quem ajude os outros apenas como forma de aliviar a culpa? Ah, sim. Quando as pessoas agem movidas pela culpa, não se importam com o destino da doação. O que quer que aconteça com aquele dinheiro, elas já se sentirão bem pelo simples fato de tê-lo passado adiante. É como entrar em um shopping e comprar alguma coisa apenas para se sentir melhor. Como assim? Imagine entrar em uma loja onde todos os produtos estão sem preço. Você informa ao vendedor quanto quer gastar e ele lhe entrega uma seleção de itens feita da cabeça dele. E você leva aquilo para casa sem saber direito o que está levando. É isso que acontece com a caridade. Com a diferença de que, em vez de comprar para você, está comprando para terceiros. Como podemos ter certeza de que o dinheiro que doamos será bem empregado? Procure saber quais são os programas financiados por aquela instituição e como ela realmente trabalha. Analise o custo dos resultados obtidos, ou seja, a relação entre o investimento feito e a eficiência do programa. Pesquise quais são as evidências que comprovam que aquele programa é o melhor possível para determinado problema. Verifique como ele é implementado e se os responsáveis já tiveram sucesso em outras áreas. Por fim, questione se a instituição depende de investimentos adicionais para obter resultados e por que não conseguiu doações suficientes para custear tudo. Boicotar produtos de grandes confecções que exploram mão de obra barata é uma maneira eficiente de fazer o bem? As condições de trabalho que esses locais oferecem são horríveis. Mas o que eles revelam é a extrema pobreza. Se você boicotá-los, tirará daquelas pessoas a melhor oportunidade de emprego que elas poderiam ter. Eu tenho dúvidas quanto à eficácia desse tipo de boicote. Além da falta de transparência, as ONGs cometem erros estratégicos? Muitos. É comum os programas partirem de pressupostos que não se confirmam. Nos anos 1990, o sul-africano Trevor Field criou uma bomba para extrair água do subsolo. Muitas bombas na África funcionam com energia eólica, o que faz com que os moradores dependam do vento para pegar água. Já a invenção de Field, batizada de PlayPump, tinha a forma de um gira-gira e convidava as crianças a brincar ali e, assim, obter a energia necessária para extrair a água. Parecia genial. Nos anos 2000, ela foi escolhida pelo Banco Mundial como a criação mais inovadora do ano, entre 3000 concorrentes. O sucesso rendeu show beneficente do rapper Jay Z, além de um prêmio de 16,4 milhões de dólares, concedido pela então primeira-dama americana Laura Bush e pelo expresidente Bill Clinton. Foi quando a Unicef e a Skat, uma importante organização suíça, começaram a divulgar relatórios sobre casos de crianças com membros quebrados, porque, depois das primeiras voltas, a estrutura continuava girando sozinha. Os pequenos caíam, vomitavam e ficavam exaustos de tanto girar. Verificouse que a PlayPump extraía menos água do que as demais bombas e seu uso era considerado degradante pelas mulheres adultas, as principais responsáveis por buscar água. Ou seja, ninguém levou em conta os aspectos práticos da invenção. O marketing social ou ecológico das empresas surte efeito? Há companhias com uma clara missão social fazendo doações ou adotando políticas benéficas, como oferecer emprego aos mais necessitados. Em outros casos, porém, a tal responsabilidade social das empresas não passa de marketing. Como distinguir quando isso ocorre? Basta ver o que está sendo financiado. Muitas empresas não investem no que é mais socialmente necessário, e sim naquilo que casa com sua estratégia de marketing. Gastar rios de dinheiro não quer dizer nada, a questão é se elas estão escolhendo projetos que podem fazer diferença na vida das pessoas. 02/11/15 IDEIAS Ideologias atrapalham a educação? A prova do Enem deste ano levantou duas discussões: se as questões embutem uma visão de mundo esquerdista e se isso afeta a formação dos alunos Flávia Yuri Oshima Durante muito tempo, educadores criticaram os livros didáticos por não tratarem adequadamente de questões sociais e por ignorarem civilizações que não compõem a história do Ocidente. As provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), segundo alguns críticos, mostram que a educação pode ter caído no extremo oposto. Elas citavam abundantemente autores de esquerda, deixando de lado autores liberais. A falta de pluralismo não seria prejudicial aos alunos? Desde 2009, quando o exame ganhou importância ao virar mecanismo de seleção para a faculdade, a crítica em torno de um enviesamento do conteúdo para a esquerda ocorre todos os anos. Naquele ano, o protesto foi causado por questões sobre programas do governo federal, do PT. Em 2011, os críticos acharam que a prova pregava contra a religião. Neste ano, além da predominância de autores de esquerda, alguns viram uma pregação feminista. O tema da redação foi "a persistência da violência contra a mulher". Em um dos livros mais usados nessas discussões, Sociologia da educação, os educadores ingleses Roland Meighan e Clive Harber afirmam que toda análise depende de um conjunto de crenças e ideias de quem comenta os fatos. A questão sempre é quanto essa interpretação dá espaço ao contraditório e ensina o aluno a duvidar, criticar, refletir e debater. 02/11/15 IDEIAS Sim Fernando Schuller Resolvi conferir por conta própria. O país anda meio nervoso, pensei cá comigo, vai que haja certo exagero neste barulho todo em função da "ideologização" da prova do Enem. Lá fui eu, lembrar os velhos tempos de professor de cursinho prévestibular (faz tempo...) e fazer a prova. Concentrei-me na prova de "Humanidades e suas tecnologias", e fui de espírito aberto. Nada de procurar pelo em casca de ovo. O resultado foi o seguinte: das 45 questões, 11 me pareceram claramente ideológicas. Um punhado de lugares-comuns feitos de citações de Paulo Freire, David Harvey, Slavoj Zizek, além de artigos opiniáticos em revistas como Caros Amigos e Diplomatique.org. histórica. Estou calejado demais para acreditar nessas coisas. Penso que é possível, sim, certo cuidado acadêmico. O respeito a fontes, a análise ponderada dos argumentos e das séries estatísticas. Haver 25% em questões ideológicas não é propriamente uma tragédia, e seguramente não foi a primeira vez que aconteceu. Mas é inaceitável. Por óbvio, 100% desses 25% pendiam para o lado das ideias do partido do governo. Dito isso, deixo claro que acharia igualmente patético se houvesse 25% de questões ideológicas com sinal invertido. Mas ninguém precisa se preocupar com isso. Não encontrei nenhuma. O truque mais comum de quem defende a ideologização do ensino é dizer que, no final das contas, tudo é ideologia. Isso simplesmente não é verdade. O que há, por exemplo, de ideológico em mostrar imagens de um calendário medieval, como faz a questão 5, e perguntar sobre a concepção de tempo que elas expressam? Tratase simplesmente de um exercício de interpretação histórica. Bem elaborado, diga-se de passagem. Para ser claro: ao criticar o viés ideológico, em uma prova, não estou sugerindo nada parecido com a existência de uma verdade O caráter ideológico da prova não está em citar Milton Santos, dizendo que a globalização é perversa e geradora de Sigo o caminho de Max Weber, em seu memorável discurso sobre a "Ciência como vocação", na Universidade de Munique, em 1917, para quem a sala de aula jamais deveria abrigar o "profeta" e o "demagogo". Que a ciência perseguisse um tipo especial de neutralidade: quanto à oferta do "sentido". O sentido pertence ao indivíduo, em última instância. O professor que não use sua posição de poder para impor visões de mundo aos alunos. Fazer isso não passa de ato de covardia. desemprego. O problema é a "naturalização" da afirmação: apresentar como um fato aquilo que é apenas a opinião política do autor. Algo próximo a um valor, no sentido weberiano. E isso, infelizmente, é o que se passou na prova do Enem. Outro dado inquietante é perceber uma prova feita a partir de citações de segunda mão, retiradas da internet ou de livros de claríssimo viés político, sem referência a fontes (confiáveis ou não). É o caso da questão 20, em que Zizek refere-se a um "fato" cuja única "comprovação" é a própria falação de Zizek. No livro mencionado, ele não revela sua fonte. Não tenho a menor ideia se o evento citado é ou não verdadeiro. Imagino que nem os autores da pergunta. Eles parecem simplesmente acreditar em Zizek. E isso não pode ocorrer em uma prova oficial como o Enem. Há uma série de questões simplesmente mal formuladas. Exemplo: a questão 34 traz um misterioso texto, do site Diplomatique.org, tratando da proibição de um "aplicativo de compartilhamento de carros" (seria o Uber?) na Alemanha e de serviços "americanos" de informática (o Google? O Outlook?) pelo governo chinês. Com base nessas menções, pergunta-se qual é a preocupação 02/11/15 dos países com a "espionagem", obrigando o pobre aluno a marcar a resposta "segurança de dados". Tentei entender que relação poderia haver entre algo como o Uber e a segurança de dados, na internet, mas logo desisti. Sobre a polêmica questão acerca do "conceito de mulher", tenho uma opinião eventualmente distinta da maioria dos críticos do exame. Não a coloquei na minha lista de questões ideológicas. Não o fiz exatamente por ela não "naturalizar" a posição de Simone de Beauvoir. O texto, retirado do livro Segundo sexo, diz que o "feminino" surge como o "produto intermediário entre o macho e o castrado". Ok, a frase é esquisita. Daria boas discussões, talvez uma boa performance, ou quem sabe não signifique coisa nenhuma. Mas é a opinião de Beauvoir. Qualquer aluno mais esperto marcaria a opção "c". Mesmo sem ter (como eu, reconheço) a mais remota ideia do que venha a ser essa meia distância entre o macho e o castrado. Em resumo, penso que o Inep, responsável pela avaliação, e o Ministério da Educação deveriam rever o modo de elaboração da prova. Não acredito, sinceramente, que os profissionais do Inep, a começar pelo seu presidente, desejassem fazer uma prova ideológica ou de menor qualidade. Acho apenas que as coisas por vezes saem do controle. E é preciso verificar o que está acontecendo. Não me alinho entre aqueles que imaginam existir uma guerra do fim do mundo no Brasil. Erros como esse foram cometidos, igualmente, em outros governos. Haja vista a proliferação de livros didáticos perversamente ideológicos, ao estilo dos Nova história crítica e História e vida integrada, que já circulavam, com a chancela do MEC, muito antes do atual governo. E acho que seria igualmente ruim, para o Brasil, se algum grupo ideologicamente oposto ao atual resolvesse "dar o troco", uma vez no poder, produzindo uma educação politicamente orientada do seu próprio jeito. Há um bocado de gente boa, na Academia Brasileira, querendo ajudar. Preocupada com o rigor acadêmico. Disposta a não se deixar levar por pequenos apetites políticos e ideológicos, e fazer uma prova que dê orgulho ao Brasil. Que sirva de referência a nossos professores e estudantes. Que acabe, de uma vez por todas, com esse contínuo exercício de "simulação intelectual", segundo o qual nossos estudantes devem imaginar qual a melhor resposta "de esquerda" para cada pergunta de um exame público. 02/11/15 IDEIAS Não Christian Ingo Lenz Dunker O Enem deste ano reservou um "generoso espaço para tópicos e autores caros à esquerda", dizem os críticos liberais. Para os calculistas, 31% dos autores da prova de humanas (7,8% da prova total) jogam no time da esquerda. Para os puristas, 31% é demais. A educação deveria, para eles, ter por objeto saberes constituídos e laicos, consensualmente científicos e universalmente acessíveis, neutros do ponto de vista ideológico. Nossas crianças não devem ser dirigidas ou doutrinadas para orientações de mundo particulares, seja de direita, seja de esquerda. Essa atitude presume que sabemos reconhecer facilmente o que é uma ideologia e o que é neutralidade na ciência. É possível contar mentiras dizendo apenas a verdade. Ainda que os números, eles mesmos, não mintam jamais, somos nós que escolhemos quais são os números que contam. Se 31% da prova é de esquerda, isso significa que 69% é de direita? Nesse caso, temos claro desequilíbrio e flagrante parcialidade. Pelo princípio de neutralidade matemática, faltaram ainda 19% para que a esquerda tivesse seus justos 50% do Enem. Não obstante, podemos prescindir de qualquer contabilidade desse tipo. Primeiro porque os autores não são em si ideológicos ou neutros. Um Slavoj Zizek por dois Edmund Burke? Que dizer de um pensador como Jesus Cristo? Ele está na direita com a Renovação Carismática ou na esquerda com a Teologia da Libertação? E os que viraram casaca? Na juventude libertários, na maturidade liberais e na velhice colaboracionistas nazifascistas? Fazer o mapa da ideologia já presume uma geografia ideológica. Ela fica ainda mais ridícula se ignoramos que o trabalho crítico é justamente a construção e a desconstrução dessas fixações imaginárias. Ajudar nossos alunos a tomar posição diante da ideologia é muito melhor do que querer protegê-los dela. Para isso, eles devem mostrar ser capazes de analisar textos, conceitos e discursos com os critérios de rigor que são os das ciências humanas. O leitor se insurgirá: mas nem tudo é esquerda ou direita. Há os neutros e os sem partido. Portanto, nosso problema é reconhecer a fronteira entre política e ideologia, os gostos humanos e os fatos. O argumento de que o Inep devia buscar uma neutralidade ideológica representa um erro de conceito. Há muito tempo não se considera mais que podemos distinguir conteúdos ideológicos, politicamente tendenciosos, de sua contrapartida científica, neutra e factual. A ideologia está nas articulações, nas relações, no recorte dos fatos, na escolha dos números, nunca apenas nos autores brutos ou em suas escolas de pensamento. Toda definição de ideologia é ela mesma ideológica. As ciências humanas caracterizam-se por assumir isso como traço imanente de seu objeto. Não estudamos apenas fenômenos, mas as interpretações que fazemos deles. Nesta época de crescente oferta de informação, torna-se crucial desenvolver, em nossos alunos, a capacidade para operar criticamente com interpretações. O truque básico, contra o qual eles devem estar advertidos, é a crença na existência de discursos neutros, imparciais e científicos, que se destacam angeli-calmente de todos os interesses humanos. Esse é o sonho de toda ideologia: infiltrar interesses políticos como se fossem fatos. A esquerda tende a politizar os fatos, enquanto a direita tende a despolitizá-los. A esquerda dirá que a direita faz política por baixo dos panos (é o conceito clássico de ideologia), enquanto a direito. dirá que a esquerda torna políticos assuntos técnicos (é o conceito ofensivo de ideologia, aquela que corrompe, seduz e manipula). Resultado: há mais ideologia no Enem do que se pode 02/11/15 imaginar, nos pesos das provas, nos conteúdos e nos temas. A boa novidade neste ano é que a prova fez transparecer e colocou isso em discussão. A ingenuidade que move os que querem a política fora da educação é imaginar que essa petição, ela mesma, não é parte de uma política. Uma política que trata o conhecimento de maneira simplória, pois não lida com o fato de que o que há para ser lido e compreendido é a diversidade e o conflito de opiniões. Disso decorre o quadro atual de entendimento médio do debate público no Brasil. Pensamos por filiação simples, presumindo que educar é impor conteúdos que os alunos devem repetir, para reproduzir o mundo como ele é. Depois, esperamos que as novas gerações tragam soluções para os problemas que nós não conseguimos resolver. É desleal: propor uma prova insossa ideologicamente e depois exigir deles alternativas para nossa falta de imaginação política e cognitiva. Nunca deveríamos pensar a ideologia como inclusão das ideias e autores, mas a partir da articulação de suas ideias em contexto. Nesse caso, todas as questões do Enem 2015 exigiam interpretação de textos, ou domínio de conceitos, critérios de rigor em ciências humanas. Bizarro que a direita pregue a suspensão da oposição entre direita e esquerda para recorrer a ela quando considera estar perdendo (como na prova do Enem 2015). Desconhecer a diferença entre militância e manipulação com a crítica de conceitos e o estudo de textos é inaceitável para quem quer tratar de educação. O tema da redação do Enem foi a violência contra a mulher. Se o equívoco anterior era considerar que alguém é um autor de esquerda, antes de ser pensador ou cientista, o erro subsequente é deslocar esse raciocínio para temas. Como se os temas sociais fossem propriedade da esquerda. A avaliação não é uma competição para hierarquizar vencedores e perdedores. Seu propósito não é aumentar o ressentimento social ou gerar métricas. A avaliação é um momento de aprendizagem, e a prova tem um sentido pedagógico. Ela instrui o aluno. Ela o convida a pensar, dirigi-damente, sobre um problema. A escolha do tema não é a determinação anódina de um tópico. A violência contra a mulher é um desses problemas que carecem de visibilidade. É um tema que incomoda porque não sabemos bem como falar sobre ele, ou seja, uma escolha acertada para provocar alunos aderidos à servidão curricular e desacomodar os "entendidos em educação" que tirariam nota vermelha no Enem deste ano. 04/11/15 BRASIL Tudo pelo pessoal O deputado que tenta cortar recursos do Bolsa Família defende que haja mais impostos e aprova na Comissão de Constituição e Justiça um aumento de R$ 600 milhões no repasse de dinheiro público para os partidos políticos Uma emenda aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara mostra com precisão que boa parte dos parlamentares está muito mais empenhada em atender a interesses pessoais do que em buscar alternativas que tirem o País da crise. Preocupados com os efeitos que a Operação Lava Jato deverão trazer para suas campanhas, uma vez que as principais empreiteiras do Brasil deverão fechar os dutos que tradicionalmente irrigam as disputas políticas, a CCJ aprovou emenda ao orçamento de 2016 que tenta triplicar o volume de dinheiro público destinado aos partidos. A proposta partiu do relator do orçamento, deputado Ricardo Barros (PP-PR) e estipula um aumento de R$ 600 milhões no fundo partidário. Trata-se do mesmo parlamentar que, na semana passada, propôs cortar cerca de R$ 10 bilhões do Bolsa Família com a justificativa de que o governo precisa suportar o necessário ajuste fiscal. A proposta apresenta por Barros elevando os gastos com o fundo partidário revela ainda o gigantesco abismo que há entre seu discurso e sua prática. “Meu papel é fechar o orçamento que apresenta um déficit. Então, cortes precisam ser feitos”, disse o relator do orçamento na segunda-feira 26, sobre a redução de despesas no maior programa social do governo. DESFAÇATEZ Para fechar o orçamento Barros quer cortar do social e ampliar impostos Em sua jornada para garantir novos recursos aos partidos políticos, o deputado Barros parece ter trocado o bordão do “tudo pelo social” para o “tudo pelo pessoal”. Além de procurar retirar dinheiro do Bolsa Família, o parlamentar planeja medidas que vão esvaziar ainda mais os bolsos dos contribuintes e provocar aumento no índice de inflação. Uma das propostas de Barros para aumentar a receita do governo é aumentar em R$ 0,40 a Cide, imposto que incide sobre cada litro de gasolina consumido no Brasil. Hoje a taxa é de R$ 0,10, e o deputado quer elevar o tributo para R$ 0,50. “Não há mágica para ser feita. Precisamos cortar despesas e aumentar receitas”, disse Barros na terça-feira 27, se recusando a fazer qualquer comentário sobre o aumento de recursos para os partidos políticos. O “tudo pelo pessoal” defendido por Barros é, na verdade, uma continuidade a uma ação que teve início em abril desse ano. Na ocasião, a presidente Dilma Rousseff aprovou o orçamento de 2015 sem fazer veto a um aumento no repasse aos partidos políticos que saltou de R$ 308,2 milhões em 2014 para R$ 867,5 milhões esse ano (leia quadro ao lado). Se a proposta de Barros for aprovada em plenário, os partidos praticamente dobrarão sua participação no orçamento, passando dos R$ 867,5 milhões para R$ 1,4 bilhão. O GLOBO 01/11/15 EDITORIAL Em questão a qualidade do ensino de escolas privadas Aproverbial baixa qualidade do ensino público básico, sempre aquém do rendimento apresentado pelos estabelecimentos privados, pode induzir ao erro de se considerar o ensino particular de bom nível em si. Mas não é esta a realidade quando ele é comparado com a educação privada em outros países. O mesmo acontece, em certa medida, no âmbito das universidades, em que a USP e a UFRJ, por exemplo, são bem situadas em rankings nacionais, porém nem tanto em avaliações internacionais. A escola privada do ensino básico não é um oásis no mar revolto da problemática educação brasileira. Tabulações do Pisa, teste internacional de que participam jovens de mais de 60 países - e no qual o resultado médio dos brasileiros mantém o país nos últimos lugares -, mostram, por exemplo, que, em certas disciplinas, a qualidade do setor privado do ensino brasileiro não é tão superior à da escola pública de sociedades desenvolvidas (congregadas na OCDE). Isso aconteceu no exame de 2012. E quando comparadas com os estabelecimentos particulares desses países, as escolas privadas nacionais aparecem em situação inferior. Se é uma visão distorcida condenar todo o ensino público, trata-se do mesmo enaltecer o universo na rede particular em sua totalidade. Afinal, há problemas comuns a ambos segmentos. Um deles, a formação dos professores. É ilustrativo que 39% dos professores da rede pública, no ensino médio, deem aulas sem ter a devida formação, e que o mesmo aconteça com 35% dos que trabalham nas escolas particulares, índices não muito diferentes, segundo O GLOBO. Parte da explicação para, mesmo assim, haver um aproveitamento melhor do aluno da rede privada é que, pelo seu nível de renda e social, ele tem uma base de formação na família melhor que o aluno da rede pública. Como, apesar de tudo, o ensino público básico evolui, na atual geração é normal os filhos de famílias mais pobres alcançarem um nível educacional superior ao dos pais. O que não significa que seja o nível ideal, dadas todas as mazelas conhecidas no ensino básico. Mas a distância entre o nível de instrução dos filhos e o dos pais é, nesta geração, obstáculo insuperável, por óbvio. Um dado a se avaliar são os índices de reprovação nas escolas privadas brasileiras, superiores aos verificados na Europa - embora se aconselhe, por motivos técnicos, a não se fazer comparações rígidas entre os números. Para se ter uma ideia de ordem de grandeza, enquanto, no ensino médio, na rede particular brasileira, a taxa de reprovação é de 5,5%, na Europa chega a 2,7%. E nos países com os melhores sistemas educacionais do mundo, a reprovação é zero. É preciso, portanto, cuidado com a ideia de que muita reprovação é sinal de ensino de boa qualidade. Não necessariamente, se considerarmos que o propósito da Educação é a inclusão e não a exclusão. O GLOBO 01/11/15 O PAÍS Levy diz que gasto com bolsa família deve ser mantido Em evento no marrocos, ministro diz que ajuste "avança" Ganhos sociais. Para Levy, Bolsa Família traz benefícios e "não custa muito" BRASÍLIA O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse ontem, em evento no Marrocos, que o Bolsa Família "não custa muito dinheiro", se comparado com os benefícios que oferece à população brasileira. O ministro reconheceu que os gastos com o programa social subiram nos últimos anos, mas destacou que ele ainda corresponde a uma parcela de apenas 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Ele disse que a redução do programa poderia até vir a dificultar a aquisição de roupas pelas famílias, dificultando o acessos das crianças às escolas. - Essas coisas pequenas fazem uma diferença gigante - disse Levy no seminário Atlantic Dialogues, em Marrakesh. O relator da Lei Orçamentária de 2016 no Congresso, deputado Ricardo Barros (PP-PR) pretende cortar R$ 10 bilhões do Bolsa Família para o próximo ano, ou 35% do montante previsto. Levy comentou a dificuldade que o governo vem tendo em promover o ajuste fiscal junto ao Congresso, mas avaliou que as medidas estão "avançando". O ministro disse que o governo tem de rever a efetividade de outros impostos e voltou a defender a recriação da CPMF, por ser um imposto transparente e simples em sua aplicação. - É doloroso, mas o Brasil não tem opção que não elevar impostos no curto prazo e focar nas despesas obrigatórias. Levy disse ainda que, apesar da queda do petróleo no mercado internacional, a situação da exploração do pré-sal é positiva. Reconheceu, no entanto, a possibilidade de o governo rever a exigência de que a Petrobras seja a operadora exclusiva do pré-sal, com pelo menos 30% dos consórcios que atuam na região. - O pré-sal é feito com todo tipo de parceiro. Shell, Total e chineses estão em Libra. O operador não opera sozinho. Podemos dar mais liberdade para isso. Mas a Petrobras não está fazendo tudo isso sozinha. (Danilo Fariello) O GLOBO 01/11/15 ECONOMIA Transporte escolar é pouco disciplinado Avaliação da Proteste mostra que falta padronização de regras. Obrigatoriedade de cadeirinha fica sem data a instituição, por exemplo, se houver um acidente no trajeto — diz Janaina Alvarenga, advogada especialista em direito do consumidor. Thalita Pessoa Cintos de três pontos, monitor, lista de passageiros, limitadores de abertura de janelas, identificação do motorista/ cadeiririhas para as crianças menores. Esses são alguns itens que, na avaliação da Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor), deveriam ser obrigatórios no transporte escolar para garantir a segurança dos estudantes. A associação analisou 33 itens, de 28 empresas que fazem o translado de alunos de 28 escolas nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. E verificou que não há unidade entrç as legislações dos três es tados. Apenas em São Paulo, por exemplo, a exibição da lista de passageiros é obrigatória; De acordo com a lei, as escolas não têm responsabilidade pelo transporte oferecido pelas empresas. A unica exceção é quando o serviço é oferecido pela própria escola. — A escola só pode ser responsabilizada se tem um transportador exclusivo ou quando ela mesma faz o transporte. Nos demais casos, não dá pra vincular No Rio, onde o responsável por coordenar e fiscalizar o serviço é a Secretaria Municipal de Transportes do Município (SMTR), foram avaliadas dez empresas responsáveis pelo transporte de estudantes de dez instituições de ensino das zonas Sul, Norte e Oeste da cidade. Todos os veículos analisados tinham a faixa amarela de identificação e estavam devidamente cadastrados na prefeitura. Também dispunham de dispositivos de quebra e remoção de vidros e janelas. Mas 30% não colocam à disposição dos alunos um auxiliar acompanhante, uma espécie de monitor, que auxilia o embarque e atende às necessidades das crianças durante o percurso, conforme previsto em lei municipal, aponta a Proteste, DENATRAN ADIOU PRAZO PARA CADEIRINHAS E apenas 30% dos prestadores do serviço tinham afixada no veículo a identificação do motorista e do monitor. Vale destacar que esta não é uma exigência legal no Rio, apesar de garantir aos pais a tranqüilidade de uma identificação clara e precisa da pessoa a quem entregam os filhos, — Falta uma legislação mais rigorosa para garantir a segurança aos estudantes. Por isso, encaminhamos os resultados do nosso estudo ao Ministério da Educação (MEC) e ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), pedindo uma norma federal que tome obrigatória a presença de monitor escolar e o uso apenas de veículo micro-ònibus, com adequação para transporte de crianças com deficiência — diz Maria Inês Doici, coordenadora institucional da Proteste. Entre as solicitações feitas pela associação estão questões polêmicas, como o uso de cadeirinha para crianças menores de sete anos e meio. Na semana passada, o Denatran suspendeu a obrigatoriedade de uso do cadeirinha, que estava prevista para entrar em vigor em fevereiro do ano que vem. O adiamento foi justificado pela necessidade dos fabricantes de ter mais tèmpo para adaptar as cadeirinhas aos cintos de segurança de dois pontos. Nas empresas avaliadas no Rio, apenas três (SK Transporte, RT Transporte e RGR Transporte) já oferecem as cadeirinhas. — Nós queremos cumprir a 01/11/15 legislação, mas sentimois falta de um discussão mais profunda, estudando a viabilidade das novas soluções apresentadas pelos órgãos competentes — afír-ma Dielmo Lima, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Escolar e afins do Estado do Rio (Sinterj). Uma explica que outro clamor da sociedade, a adoção do cinto de três pontos em vans e microônibus que fazem o transporte escolar, também é de interesse dos profissionais do setor. Sem dúvida é mais seguro, mas não se pode fazer a adaptação em veículos que vêm de fábrica com cinto de dois pontos, pois as estruturas dos assentos e do assoalho não suportam esse tipo de modificação em caso de acidente — argumenta, justificando o fato de todos os prestadores de serviço analisados pela Proteste terem sido reprovados neste quesito. Os prestadores do serviço foram unânimes em afirmar que uma possível mudança nas regras sobre o cinto de três pontos teriam de afetar, antes de tudo, a indústria automobilística. Segundo eles, não existe carro fabricado ou à venda no Brasil que seja permitido para o transporte escolar e tenha este cinto em todos os assentos. José Carvalhedo, da transportadora de mesmo nome, ressalta que não exibe o nome da empresa porque a medida não é prevista porlei. Ele também explica que não fixou a identificação do monitor e do motorista no carro por orientação da SMTR, que considera que expor esses dados compromete a segurança, Ja a School Bus e a RT Transportes alegam que tal cartão de identificação está nos carros, mas em poder dos profissionais. MAIORIA DAS INFRAÇÕES É POR VISTORIA VENCIDA ; Sobre pastas e mochilas nãq estarem acondieif onadas em porta-malas, o que reduziria o riscd| de lesões em caso de acidente, José Garvalhel do, Schqól Bus, CooperUpa e RT Transportei justificam que os carros não têm espaço para acomodação da bagagem e, por isso, o material fica embaixo dos assentos, no corredor ou na| poltrona ao lado do motorista. Todas as empresas dizem ter a lista de passageiros, ainda que; não em mãos do motorista ou do monitor durante o trajeto. A empresa Jorge Luiz Transporte Escolar afirmou que não comentaria o teste. A Transportei Legal Renata e Garriga não responderam ao GLOBO. A reportagem não conseguiu contatar a RGR Transportes e a empresa Tio Roberto e Tia Solange. Segundo a SMTR, em 2014, foram registradas 624 infrações referentes a transporte escolar nol município do Rio, a maior parte por vistoria; vencida. Em março deste ano, quando ocorreu; o retorno às aulas, fiscais da secretaria estiveram em 28 escolas e aplicaram 26 multas, 13 veículos foram rebocados para depósito e 27 foram! lacrados por estarem com a vistoria vencida. FOLHA DE SÃO PAULO 01/11/15 TENDÊNCIAS & DEBATES Enem, instrumento de cidadania FRANCISCO SOARES Nos primeiros seis meses de 2015, a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência do governo federal registrou 179 relatos diários de agressão contra as mulheres. Foram mais de 32 mil ligações de todas as 27 unidades da federação, envolvendo 55% dos municípios brasileiros. Recente pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revela que, entre 2001 e 2011, o Brasil registrou mais de 50 mil mortes de mulheres por agressões. Muitos desses crimes foram cometidos por homens com quem as vítimas tinham ou tiveram vínculo afetivo. escolha segue a direção de temas de anos anteriores: "publicidade infantil em questão no Brasil" (2014) e "os efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil" (2013). Ao colocar tais questões para a reflexão dos mais de 7,7 milhões de inscritos no Enem, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) contribui para que os jovens que aspiram a uma vaga nas universidades brasileiras reflitam e posicionem-se. Os dados mostram que, apesar dos avanços alcançados pela Lei Maria da Penha, uma cultura de violência contra as mulheres está ainda muito presente em nosso país. A discussão em torno do tema da redação do Enem não se encerra com o término das provas. Ele torna-se assunto de debate nos diversos grupos sociais envolvidos com o exame, tais como grupos familiares, sistemas educacionais, veículos de comunicação, governo e movimentos sociais. Diante disso, a discussão da "persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira" é necessária e oportuna. Por isso, foi justamente esse o tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2015. A Em relação ao tema deste ano, pode-se buscar os motivos da persistência das agressões contra mulheres, apesar das leis já aprovadas e do protagonismo feminino em nossa sociedade em várias áreas. Por exemplo, 60% dos participantes do Enem são mulheres. A elaboração de propostas de redação para os exames do Inep segue uma metodologia colegiada. Docentes de universidades, que assessoram o órgão na produção dos testes, submetem assuntos inéditos e pertinentes à temática de ordem política, social, cultural ou científica. Esses professores, pertencentes a diversas áreas do conhecimento, colaboram com distintas opiniões sobre o mesmo tema. Os assuntos escolhidos devem possibilitar ao estudante produzir um texto em prosa, do tipo dissertativo argumentativo. O Enem não é apenas o grande caminho de oportunidades para o acesso à educação superior no Brasil. Pelo tema da redação, ele estimula a reflexão em torno de assuntos fundamentais para a consolidação da democracia e para o aprimoramento da cidadania. O próprio fato de que alguns sustentem que o tema da redação do Enem deste ano seria inadequado ou pouco importante 01/11/15 mostra, infelizmente, que ainda não chegamos a um respeito unânime aos direitos das mulheres. Levando 7 milhões de candidatos e dezenas de milhões de brasileiros a discutir violência e liberdade, o Ministério da Educação contribui para que este assunto seja, sim, priorizado no debate e na ação dos nossos cidadãos. Isso também é educar. FRANCISCO SOARES, 64, é presidente do Inep e professor da Universidade Federal de Minas Gerais FOLHA DE SÃO PAULO 01/11/15 COTIDIANO Em creches públicas VIP, bebês têm solário, cinco refeições e até massagem JAIRO MARQUES DE SÃO PAULO A fila por uma vaga nas 1.828 creches municipais de São Paulo já bate nos 146 mil inscritos. Mas, um privilegiado grupo de 1.300 crianças conseguiu, além de vencer a espera de meses, ficar em uma unidade pública VIP, com direito a massagem, cinco refeições diárias e professores com formação permanente. Ao todo, são 362 unidades de atendimento a bebês de zero a três anos geridas por várias organizações sociais. Na creche Jardim Edite, na zona sul, semanalmente, massagistas do hotel Sheraton fazem shantala nos bebês, técnica indiana para aliviar cólicas e que tem poder de relaxamento nos pequenos. O local conta com enfermeiros, mobiliário desenhado exclusivamente para crianças, participação ativa dos pais nas atividades dos filhos e fornece cinco refeições por dia. A mantenedora da creche é a organização Liga Solidária, que também administra outras oito unidades, totalizando 1.300 alunos. A instituição afirma aplicar R$ 742 mil por mês nas nove creches. O acesso à unidade é via cadastro único da prefeitura. "O dinheiro é importante, mas o segredo da qualidade está em uma boa gestão. Só detectar um problema não adianta. É preciso saber como agir diante dele", afirma Nancy Coutinho, coordenadora-geral das unidades. Em outra creche mantida pela Liga, a Casa da Infância do Menino Jesus, perto da rodovia Raposo Tavares, zona oeste, a arquitetura favorece a integração, a saúde e a segurança dos 260 alunos. A cada duas salas de aula, que têm no máximo 14 alunos cada, há um banheiro. Além disso, todas as salas —equipadas com livros, aparelho de som e brinquedos— têm acesso direto a um solário. Completa o pacote uma área coletiva de lazer com 200 m², piso emborrachado, triciclos, balanços e jogos. Pai dos gêmeos João Pedro e Matheus, de dois anos, o comerciante Edson dos Santos, 46, diz que, até hoje, fica "boquiaberto" com o tratamento que os filhos e ele recebem na unidade. "Procurei creches particulares perto da minha casa [na região do Rio Pequeno] e nenhuma tinha essa estrutura. Até gente de classe média tenta vaga aqui. Gosto também do contato que eles têm com os pais. Ajudam dando dicas de saúde, alimentação", diz. A busca presencial por vaga na Menino Jesus —504 pedidos até setembro—é maior do que em outras creches públicas da mesma região, como Rio Pequeno (194) e Itaim Bibi (214). Para "adotar" uma creche, a Secretaria Municipal da Educação exige que a instituição não tenha fins lucrativos —o serviço deve ser gratuito— e não esteja entre os devedores do município. A organização precisa ainda ter ao menos três anos de registro e não ter servidores públicos entre seus dirigentes. As atividades são monitoradas, e são exigidos relatórios semanais de desempenho, despesas e estoques. Segundo a secretaria, para atingir a meta de atendimento de 100% da demanda por vagas até 2025, "a parceria com a sociedade civil continuará sendo uma estratégia importante". O ESTADO DE S. PAULO 01/11/15 METRÓPOLE Adultos não sabem matemática básica, segundo pesquisa PAULO SALDAÑA - O ESTADO DE S. PAULO Levantamento em 25 cidades do País mostra que 75% não sabem médias simples e 63% não resolvem porcentuais SÃO PAULO - A matemática não é desafio só para quem está na escola. Pesquisa realizada em 25 cidades brasileiras com adultos de mais de 25 anos mostra que a maioria não sabe fazer operações matemáticas simples: 75% não sabem médias simples, 63% não conseguem responder a perguntas sobre porcentuais e 75% não entendem frações, entre outros resultados dramáticos. Em avaliações similares em países ricos, o resultado é em média quatro vezes melhor. O estudo ainda aborda a rejeição que o tema provoca. A matéria mais detestada foi matemática, com 43% das respostas. A memória que os adultos têm do assunto é até pior: 65% dizem não ter tido facilidade com a disciplina na escola. Segundo o coordenador do estudo, Flavio Comim, docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor visitante de Cambridge, no Reino Unido, os dados reafirmam os diagnósticos de que o ensino de matemática tem falhas. “Essas deficiências acarretam impactos econômicos e sociais”, diz ele. “Uma sociedade que sabe pouco de matemática é pouco competitiva, como mostra a comparação internacional. Também mexe muito com a sobrevivência das pessoas, porque define o que você compra, se fará um financiamento”, afirma. Outro resultado do levantamento indica que 69% não sabem fazer contas com taxas de juros. O estudo foi encomendado pelo Instituto Círculo da Matemática do Brasil, iniciativa da TIM, e 2.632 pessoas foram ouvidas, com idade média de pouco mais de 40 anos. A amostra não foi organizada por renda, mas pelo número médio de anos de estudo, que ficou em torno de 8,3 anos de escolaridade. Perfis. Há diferenças quando se olha para quem estudou mais ou menos. Enquanto 28% dos adultos com mais de 15 anos de estudo não sabem fazer regra de três, o índice é de 71% entre quem tem até 8 anos de escola. No geral, 60% das pessoas tinham matemática entre as disciplinas que não gostavam na escola. Para Katia Stocco Smole, diretora do grupo Mathema, de formação e pesquisa em ensino de matemática, o dado não surpreende, “mas incomoda bastante”. “As pessoas não gostam porque nunca fez sentido para elas. A escola não ensinou a entender o 01/11/15 sentido desses conceitos básicos. Quando aprendem, gostam.” prontas. Mas tem de saber fazer a leitura daquilo”, diz. Segundo dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2013, apenas 9,3% dos jovens terminam o ensino médio com o nível adequado na disciplina. Além das falhas na escola, a visão das crianças acaba também influenciada pela ojeriza dos adultos. “Tem um efeito intergeracional e essa aversão vai passando de pai para filho”, diz Flavio Comim. Trauma. Ao saber do tema da conversa, a enfermeira Simone Pavani, de 48 anos, já titubeia. “Sempre foi a disciplina que tive de me esforçar mais. Às vezes estou fazendo uma compra e tem um desconto de 10%. Fico me perguntando ‘será que foi isso mesmo?’”, comenta, rindo. “No trabalho me viro bem, mas percebo colegas mais novos com dificuldades.” O representante de vendas Bruno Singer, de 36 anos, diz usar com certa facilidade os conceitos básicos da matemática no trabalho, mas recorre à calculadora nas tarefas mais complexas. “Tenho a impressão de que muito do que estudei na escola eu não uso no dia a dia”, diz ele, formado em Administração. O estudo mostra que 89% das pessoas dizem que nem sequer usam a matemática no dia a dia. Para o também vendedor Bruno Costa, de 28, a tecnologia ajuda. “No trabalho, as projeções chegam Coordenador-geral da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), Claudio Landim diz perceber uma lacuna na formação dos professores, mas é mais otimista com as novas gerações. “Nós vivemos em um mundo cada vez mais tecnológico e a matemática está por trás dos programas, do aplicativo de celular. Isso tem despertado interesse cada vez maior”, diz Landim, que é diretor adjunto do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa). “Há uma melhora, mas não será da noite para o dia.” O ESTADO DE S. PAULO 01/11/15 ECONOMIA 01/11/15 CORREIO BRAZILIENSE 01/11/15 ECONOMIA CONJUNTURA » Levy e o Bolsa Família Ministro da Fazenda defende o principal programa do governo retribuindo os afagos que vem recebendo de parte do PT. “O custo é pequeno”, diz Marrakesh, Marrocos — O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, resolveu retribuir os afagos que passou a receber de uma parte do PT, que inclui o ex-presidente Lula. Ele fez ontem um elogio ao principal programa social do governo, o Bolsa Família, ao classificá-lo como importante por “fazer a diferença” para uma parcela menos favorecida da população a um custo “pequeno”. Segundo ele, no geral, o custo do programa não é um problema, pois “traz milhões de pessoas para um diferente passo na vida” e permite que os beneficiários “participem da economia de mercado, especialmente no interior”. Disse mais: “É extremamente valioso. É pequena coisa que faz grande diferença. Representa 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB)”. Na opinião do ministro, mais do que o Bolsa Família, que precisa ser bem monitorado, o governo deveria se preocupar com a aposentadoria rural, cujas despesas não param de crescer, pondo em risco a sustentabilidade das contas públicas. Estima-se que o rombo com esses benefícios encostará nos R$ 100 bilhões em 2016, deixando o Tesouro Nacional em situação difícil, pois é obrigado a cobrir o buraco no caixa do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). “Nesse segmento pode-se ter uma economia maior para o governo”, afirmou. Enquanto o ajuste na Previdência não vem, Levy defendeu o aumento de impostos para fazer o ajuste fiscal. Ele reconheceu que esse caminho não é “muito desagradável”, mas, neste momento de crise, não há outra saída. “Temos de consertar nosso fiscal. Esse é o primeiro e essencial passo. Criar imposto é muito desagradável, mas foi o que outros países fizeram”, disse, ao lembrar que o governo inglês aumentou o imposto sobre consumo para reagir à crise. “E é isso que estamos fazendo, ao mesmo tempo em que tentamos vender ativos”, emendou. O ministro defendeu ainda a flexibilização das regras de exploração do pré-sal, que prevê presença obrigatória da Petrobras em todos os projetos. No entender dele, é necessário dar mais “liberdade” à estatal. “Nós podemos rever isso, podemos dar mais liberdade (à empresa)”, afirmou, ressaltando que as grandes petroleiras internacionais já estão nos campos brasileiros de exploração do pré-sal. CORREIO BRAZILIENSE 01/11/15 Educação A greve dos professores está longe de ter um desfecho. Não é para menos. Quem não se revoltaria com as agressões das forças de segurança do Estado? A violência perpetrada contra os docentes é algo absurdo. A paralisação não se dá por birra ou por motivos ideológicos. Se foi acertado ou errado, eles não foram os responsáveis pela aprovação de uma lei sem o correspondente respaldo financeiro. Lutam para que a lei seja cumprida. O candidato Rollemberg deveria saber de tudo que o esperava, se vencedor, como foi, da corrida pelo Palácio do Buriti. Passar quase um ano choramingando a falta de dinheiro já não convence. E é inaceitável que os movimentos sejam reprimidos à moda tucana. Ficou feio para o Executivo, que revelou incapacidade de negociar uma trégua com a categoria. » Paulo Augusto Fonseca, Lago Norte SR. REDATOR » A PM, sob o comando de Rollemberg, desceu a borracha nos professores. Os distritais tentam, agora, tirar proveito da situação. Mas a Câmara Legislativa é um dos pivôs do conflito entre os servidores e o Executivo. Não é possível esquecer que a lei que assegurou aumento a 32 categorias profissionais foi aprovada na Casa do Espanto. É muito oportunismo — e não se poderia esperar nada diferente — querer responsabilizar o governo isoladamente pelo caos em que o DF se encontra. Nenhum deputado é capaz de apresentar proposta que tire o DF da crise que enfrenta. A agilidade dos deputados é para elevar os gastos, como consumo inexplicável de combustível, viagens, verba absurda de gabinete e outros benefícios que não fazem o menor sentido. » Maria Marta Pires, Sudoeste CORREIO BRAZILIENSE 01/11/15 Educação Em 2015, passamos aqui no DF pela maior prova de que os tempos bárbaros voltaram. E voltaram fantasiados de policiais, tendo hoje balas de borracha e escudos, enquanto as vítimas estão de mãos limpas e bolsos vazios. Não há motivação alguma para se defender o direito de ir e vir às custas do sagrado sangue do trabalhador mais importante deste país: o professor. Rollemberg parece ter lido o manual Beto Richa de como proceder em casos assim. Manifestações por melhorias salariais, de carreira e de estrutura na sucateada rede pública de ensino brasiliense deveriam merecer reflexão sensata do GDF e saída criativa desta crise. Contudo, o trocatroca de secretários parece ser o único desafio do governador ,passados 10 meses da gestão socialista. Os alunos estão sem aula, os professores, sem garantias de melhorias, e a nação sem rumo. Parece que ,quanto mais o tempo passa, menos inteligência nossos governantes possuem. Ações como essa só demonstram que regredimos no tempo e evoluímos para o que não gostaríamos, ou seja, bípedes truculentos! » Rodrigo de Sousa Leitão, Sobradinho SR. REDATOR O GLOBO 31/10/15 OPINIÃO Cristovam Buarque É a educação, gente! O debate político brasileiro está dominado por duas visões maniqueístas: uns não percebem os custos institucionais da derrubada de uma presidente eleita, mesmo dentro da Constituição, nem os riscos dos anos seguintes, mesmo com novo presidente; outros ignoram o esgotamento da credibilidade do atual governo e sua presidente, desmoralizada por falsas promessas, incompetência na gestão da economia e contaminação pela corrupção ao redor. Ambas visões não percebem os riscos de o Brasil ingressar em um período de decadência, seja em função da continuidade de um governo que já nasceu condenado por seus erros, seja devido a um governo com um nome novo mas sem novidade para os rumos do Brasil. Este debate imediatista está custando ao Brasil não enfrentar os grandes desafios de um país que, mais uma vez, perde a chance de usar seu maior recurso, sua população educada, para fazer-se uma nação eficiente, justa, democrática, com protagonismo no cenário mundial. No lugar de avançar, entendendo a realidade do mundo global (economia baseada no conhecimento, limites ao crescimento, cooperação entre setores público e privado, fontes alternativas de energia, responsabilidade fiscal), continuamos no velho modelo protecionismo fiscal à indústria, desprezo à inovação, consumo em vez de poupança e investimento, ocupação depredadora do território, antagonismo entre Estado e setor privado, governos quebrados. Em consequência, no lugar de enfrentarmos a crise, estamos caminhando para uma decadência histórica. As indicações dessa decadência estão na violência generalizada que já começa a desagregar o tecido social brasileiro; está em uma política sem partidos, sem propósitos, sem ética, onde a juventude não vê políticos como líderes admirados, mas como aproveitadores de recursos públicos; está em uma economia que se desindustrializa, sem dar os passos para um PIB baseado na alta tecnologia, sem competitividade, produtividade e capacidade de inovação; está nas finanças públicas condenadas pela própria Constituição a gigantescos déficits provocados por gastos com o passado: os pobres que não emancipamos, um sistema de aposentadoria insustentável, uma dívida financeira impagável; um país sem recursos financeiros para construir seu futuro. Cada um destes problemas exige reformas profundas, mas todos eles dependem de educação de qualidade para todos. Por isso, ao assistirmos ao debate atual entre impeachmistas e antiimpeachmistas, vale a pena lembrar o que disse James Carville, chefe da assessoria do então candidato Bill Clinton, ao interromper a discussão entre assessores sobre qual era o principal problema dos EUA: "É a economia, estúpido!". A continuação ou a interrupção do mandato da presidente Dilma não será suficiente para trazer saída à crise e evitar a decadência, se não entendermos que, para o Brasil: "É a educação, gente!" O GLOBO 31/10/15 SOCIEDADE Argentina aprova lei que extingue prova para acesso à faculdade Segundo a legislação, qualquer aluno que concluir o ensino secundário poderá requisitar vaga na universidade [email protected] O Senado argentino aprovou uma lei que garante o ingresso universal nas universidades públicas do país. A reforma na Lei de Educação Superior extingue os exames de acesso às universidades e garante a gratuidade dos cursos nas instituições públicas. Esta não é a primeira vez que o governo federal argentino adota esta medida. Na gestão de Juan Domingo Perón (1946-1955), os vestibulares também foram extintos e retornaram tempos depois. Atualmente, cada universidade possui autonomia para escolher a forma de acesso de seus futuros alunos. — O livre acesso, na prática, já existe e divide opiniões. Alguns acreditam que o ensino secundário, que seria o ensino médio no Brasil, é muito fraco e, sem um exame, o aluno não tem motivação para estudar. Outros dizem que a Argentina caminha para oficializar o que acontecia na realidade e consideram isso bom. O problema não são as provas de acesso, mas as de nivelamento — analisa Norberto Herreras, doutor em Educação pela Universidade de Buenos Aires. Os exames de nivelamento são utilizados por faculdades, principalmente as de Medicina, para buscar um equilíbrio entre o fraco aprendizado que os alunos trazem do ensino secundário e o conhecimento necessário para se cursar o ensino superior. De acordo com a nova lei, como não podem ser aplicadas provas para o acesso, o exame de nivelamento não existiria. — Isso deve acarretar problemas nos anos iniciais das universidades. Existe o risco até de os currículos mudarem para atender o aluno que chega com defasagem. Mas são escolhas políticas. Acredito que o livre acesso pode ser positivo — pondera Herreras. A nova alteração na lei de acesso ao ensino superior deixa claro que “todas as pessoas aprovadas na educação secundária podem ingressar de maneira livre e irrestrita na educação superior”. A legislação, que ainda precisa ser sancionada pela presidente Cristina Kirchner, confirma ainda que o Estado fica responsável por financiar, supervisionar e fiscalizar as universidades nacionais, além de fiscalizar e supervisionar as instituições privadas. O governo argentino também não poderá retroceder em qualquer investimento no ensino superior. A lei também deixa expressa a proibição de qualquer tipo de taxa, tarifa ou imposto sobre os cursos de graduação das universidades públicas. Atualmente, em geral, as instituições cobram pelo ensino à distância, além da pós-graduação. A nova legislação também flexibiliza os critérios para que um estudante seja considerado aluno regular de uma universidade. Até o momento, somente universidades com mais de 50 mil alunos podiam estabelecer seus critérios — como ter aprovação em pelo menos uma ou duas matérias por ano. Agora, qualquer instituição poderá fazêlo. FOLHA DE SÃO PAULO 31/10/15 COTIDIANO Gestão Alckmin descumpre distância e envia alunos a 2,5 km de escola 'fechada' ANA CAROLINA NEIRA DO "AGORA" O governo Geraldo Alckmin (PSDB) desrespeitou a distância máxima de 1,5 km prometida para remanejar estudantes entre uma escola que será "fechada" com a reorganização da rede estadual e outra que os receberá. Esse limite foi anunciado pelo Estado com a justificativa de atenuar os impactos para os alunos que serão transferidos de colégio em 2016. A reportagem identificou, porém, um caso na zona norte da capital em que estudantes precisarão percorrer 2,5 km a pé ou 3,3 km de carro. Com a mudança, 94 colégios serão "fechados" no Estado inteiro –deixarão de integrar a rede, mas, segundo a gestão Alckmin, terão seus prédios utilizados para alguma finalidade educacional. Desses 94, 25 estão na capital. A reportagem percorreu nesta sexta (30), a pé, a rota entre as duas escolas alvo do remanejamento. Com base no aplicativo Waze, foram 2,5 km de caminhada, em 25 minutos, com obstáculos para crianças, como calçadas quebradas e vias movimentadas. alaga tudo", afirma Sebastião Leite, enfermeiro de 46 anos. O percurso de ônibus até a escola pode ser feito em 12 minutos, após uma caminhada de 150 metros até um ponto. Depois de desembarcar, as crianças terão de enfrentar longa subida de 650 metros. O outro colégio que vai receber alunos da Lotufo –Professor Júlio Cesar de Oliveira, também em Pirituba– está dentro do limite de distância, 1,3 km a pé ou de carro. OUTRO LADO Os alunos da Professor Lotufo são do ciclo fundamental 1 (1º ao 5º ano), com idades entre 6 e 11 anos. Essa é a distância que vai afetar a rotina de parte dos 207 alunos da escola Professor João Nogueira Lotufo, de Pirituba, devido ao remanejamento para a escola Professor Otto de Barros Vidal. Um dos pontos mais críticos é uma ponte sem nenhum tipo de proteção nas laterais, na altura do número 1.890 da estrada Turística do Jaraguá. A reorganização da rede visa dividir as escolas estaduais por ciclos de ensino –atenuando a mistura de alunos do ensino médio e dos anos iniciais e finais do fundamental na mesma unidade. "Tem gente que nem passa aqui sozinha porque tem medo de assalto", diz Mariana Cristina, 18. O córrego que passa por baixo da ponte preocupa. "Sempre que chove a água transborda rapidinho, A Secretaria de Estado da Educação afirma que usa outro sistema de localização para verificar a distância entre as escolas, mas não disse qual. Por esse sistema, diz, a escola Professor Lotufo estaria a 1,5 km da Otto de Barros. A pasta informou também que os pais dos alunos poderão escolher para qual das duas escolas seus filhos serão transferidos –e, posteriormente, ainda poderão trocar de colégio. O ESTADO DE S. PAULO 31/10/15 METRÓPOLE Cresce diferença de nota entre escolas públicas ricas e pobres LUIZ FERNANDO TOLEDO O ESTADO DE S. PAULO Considerando os 20% com nível socioeconômico mais baixo e os 20% de nível mais alto, a desigualdade saltou 139% em Matemática A diferença de desempenho escolar entre as escolas públicas mais pobres e mais ricas no Brasil aumentou desde 2005. É o que mostra a comparação no rendimento dos estudantes de nível socioeconômico (NSE) mais baixo e mais alto na Prova Brasil, avaliação oficial do governo federal que mede desempenho em Língua Portuguesa e Matemática a cada dois anos. O NSE é calculado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), com base em dados de escolaridade, ocupação e renda fornecidos para a avaliação. Em 2005, a diferença de desempenho na prova entre os 20% com nível socioeconômico (NSE) mais baixo e os 20% de nível mais alto para o 5.º ano em Língua Portuguesa foi de 20,34 pontos. Em 2013, dobrou: 42,7 pontos, um salto de 110%. O mesmo problema é observado em Matemática: a diferença avançou de 20,03 pontos para 47,97, um acréscimo de 139%. A prova de 2015 ainda não foi feita. A desigualdade também cresceu no 9.º ano, mas em menor proporção. Em 2005, a diferença entre a média das escolas de nível socioeconômico mais baixo e mais alto para Português foi de 24,39 pontos. Em 2013, subiu para 27,77, um salto de 14%. Já em Matemática, a diferença cresceu 16%. Apesar disso, tanto o nível mais baixo quanto o mais alto tiveram notas aquém do esperado. O movimento Todos pela Educação considera que, nos anos iniciais, os estudantes deveriam ter obtido, no mínimo, 200 pontos em Língua Portuguesa e 225 em Matemática as notas ficaram em 182,72 e 205,10 pontos, respectivamente. Nos finais, as notas mínimas deveriam ter sido 275 pontos em Português e 300 em Matemática, mas alcançaram 237,78 e 242,35, respectivamente. A redução desta diferença precisará estar no topo das prioridades do Ministério da Educação, de Estados e municípios nos próximos anos. É o que prevê o novo Plano Nacional de Educação (PNE). Faltam, no entanto, estratégias concretas para isso. Desde que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, assumiu a pasta, em setembro, o MEC tem afirmado que vai alterar os programas que atendem unidades mais carentes. Os dados da Prova Brasil ainda mostram que o aumento na diferença das notas ocorre 31/10/15 principalmente pela dificuldade de as escolas com alunos mais pobres progredirem. No 5.º ano, a nota de Português da faixa de NSE mais baixo praticamente não variou de 2005 a 2013 - foi de 168 para 168,99 (1%). Já os alunos de NSE mais alto variaram 12% - de 188,34 para 211,69. Em Matemática para o mesmo ano, o NSE mais baixo melhorou a nota em 4% e o mais alto, em 18%. A situação é mais complicada em Matemática no 9.º ano, em que os alunos mais pobres tiveram uma piora no desempenho: no mesmo período, as notas caíram 2% e foram de 231,6, em 2005, para 227,35 em 2013. Ideb. A mesma lógica é observada em outro levantamento apresentado pelo Inep em setembro. Na ocasião, houve comparativo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal indicador de qualidade educacional, entre escolas com NSE baixo e alto, sob as mesmas condições de gestão (número de alunos e ciclos). A diferença é de 62,2%: 3,3 para o NSE baixo e 5,3 para o alto. Para a pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ação Comunitária (Cenpec) Vanda Mendes Ribeiro, as ações do MEC, mesmo quando buscaram a melhoria na educação, não focaram nos níveis socioeconômicos. De acordo com ela, uma das formas de combater a desigualdade é ter alunos de diferentes origens na mesma sala. “As crianças têm de caminhar juntas.” Superação. Apesar das dificuldades financeiras, um pequeno grupo de escolas brasileiras superou barreiras e já atingiu, desde 2013, a meta de qualidade da educação esperada do País em 2021 nos anos finais do ensino fundamental. Levantamento feito pelo eduLab21, do Instituto Ayrton Senna, constatou que 500 escolas de redes municipais já atingiram ou ultrapassaram a nota 5,5 no Ideb. Dessas, 136 têm nível socioeconômico considerado baixo. O Ceará foi o Estado com mais escolas nesta situação: 47. São Paulo tem 11 unidades, todas no interior. 31/10/15 O ESTADO DE S. PAULO 31/10/15 METRÓPOLE O ESTADO DE S. PAULO 31/10/15 METRÓPOLE 31/10/15 O ESTADO DE S. PAULO 31/10/15 METRÓPOLE CORREIO BRAZILIENSE Cilada Massa de manobra. Esse tem sido o principal papel desempenhado pelas diversas categorias profissionais ao longo da maioria das greves nos últimos anos. Joguete na mão dos sindicatos, os servidores públicos parecem não perceber que, como peões num imenso tabuleiro se movem de acordo com as estratégicas e maquinações de lideranças que nem mesmo conhecem e, não raro, são postos em situações constrangedoras e de perigo de vida. Para justificar a própria existência, turbinados ainda pelo imposto fácil, abundante e compulsório tungados de cada um dos trabalhadores, só restam aos múltiplos sindicatos, por meio de seus braços tentaculares presentes em cada repartição pública, atiçar as diversas categorias, lançando-as na aventura das paralisações. Contradição ou não, é apenas nas paralisações que os sindicatos trabalham. Para essas lideranças, eleitas, na sua maioria, sem a efetiva participação das categorias, a militância sindical é usada como ponto de passagem e ensaio para voos individuais mais altos, não importando os meios que possam usar para este fim. Curioso é constatar que mesmo usando e abusando de manobras manjadas, que, em resumo se restringem a deslocar as peças (grevistas) para pontos sensíveis da cidade e causar grandes transtornos — como foi visto na última quartafeira quando professores e grevistas profissionais bloquearam a saída dos eixões Norte e Sul, na hora de pico —, conseguem atrair as forças de segurança para um conflito 31/10/15 anunciado. Para esse modelo de sindicalismo, controlado com mão de ferro por franjas do Partido dos Trabalhadores, interessa muito o confronto direto com as autoridades, embora a infantaria precursora seja formada apenas pelos soldados rasos, representados, neste caso, pelos servidores públicos e anônimos que trabalham todos os dias antes das contendas. Confortavelmente instalados em seus escritórios, esses generais da estrela vermelha assistem, pela televisão, às tropas cegas serem pisoteadas pelas forças de segurança. Esse tipo de estratégia, transforma o professor em espécie de marionete, que é arremessado para o centro do conflito, apanhando da polícia, sendo agredido física e moralmente. A repetição da trama e a falta de inteligência criativa, que produza resultados efetivos, só mostram que os professores, mergulhados em tanto desprezo, são usados pela falta de escrúpulos e por interesses carimbados. A dignidade de profissionais, como professores, médicos e outras categorias, passa antes pela recusa em se transformar em massa de manobra. Às lideranças sindicais interessa muito a construção de vítimas e mártires que sustentem seus intentos. Para essa gente, tanto faz que a população fique sem escola, médicos ou transportes. O importante é agitar as massas, ficando na proteção da retaguarda. Se possível, a muitos quilômetros da pancadaria. A frase que não foi pronunciada “Os políticos brasileiros estão em cadeia nacional ARI CUNHA fora do tempo de eleições!” Horário do político em tempo real Notinha » Fernando Varanda, prefeito comunitário do Lago Norte, convida a comunidade para a reunião do Conselho Comunitário do Lago Norte, às 20h, do próximo dia 5, na sede da Prefeitura Comunitária. Em pauta, a ocupação da orla do Lago Norte. Com a presença do administrador Leandro Casarin, a comunidade espera ter algumas dúvidas esclarecidas sobre o assunto. Lago Norte » Varanda informa ainda que comunicará, na reunião marcada, que a visita feita a Celina Leão rendeu alguns frutos para as reivindicações dos moradores da região. Apoie » Romário Farias lança a campanha para que os deputados federais aprovem o ensino da Constituição Federal nas escolas. “A difusão do conhecimento sobre direitos sociais, assim como do sistema político, do exercício da cidadania, de valores éticos e cívicos, pode revolucionar nossa sociedade. Salvando toda uma geração e provocando as mudanças sociais e políticas que tanto queremos”, justifica o autor da proposta. História de Brasília Pouco antes de embarcar no aeroporto militar, o sr. Jânio Quadros estendeu a mão aos presentes, sendo que ninguém ali sabia de sua renúncia, e do momento histórico que estava vivendo. (Publicado em 26/8/ 1961) CORREIO BRAZILIENSE 31/10/15 CIDADES CRISE NO GDF » As greves e a falta de diálogo continuam Polícia Militar, ou pelo menos 5 mil, para a liderança do movimento, estiveram reunidos para a assembleia. Nos discursos, o tom era de insatisfação. O embate entre professores e policiais, ocorrido na quarta-feira e que resultou na detenção de cinco participantes da obstrução da via, voltou a ser o motivo da revolta. “O responsável por essa violência é o governador. Mas, com isso, percebemos a solidariedade da população”, afirmou Washington Dourado, diretor do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF). Segundo a polícia, cerca de 3 mil pessoas estiveram na Praça do Buriti e votaram pela continuidade da paralisação da categoria Dois dias após confrontos com a polícia, professores decidem manter a paralisação. Metroviários e funcionários da CEB devem cruzar os braços na próxima semana. Quem procura os hospitais ainda sofre com a falta de médicos e técnicos em enfermagem » JOÃO GABRIEL AMADOR Mais problemas à vista para a população. Servidores de empresas como o Metrô e a CEB devem entrar em greve na semana que vem. Enquanto isso, os professores decidiram ontem, dois dias após o confronto com policiais militares no Eixão Sul, pela continuidade da paralisação por tempo indeterminado. E, apesar da volta ao trabalho de 150 categorias da Saúde, médicos e técnicos em enfermagem seguem de braços cruzados. Para representantes do governo, não há como pagar os reajustes salariais antes do ano que vem. “Queremos pagar. Não se trata de falta de vontade política, mas incapacidade financeira. Trabalho com fatos, e o fato é que conseguiremos quitar as dívidas apenas em 2016”, afirmou o secretário da Casa Civil, Sérgio Sampaio. Na manhã de ontem, a Praça do Buriti, mais uma vez, se tornou palco de manifestantes. Cerca de 3 mil professores e alunos de escolas públicas, segundo a Movimentos estudantis marcaram presença. Um grupo entregou rosas para professores e demais participantes da assembleia — algumas flores chegaram a alguns policiais que faziam a segurança na praça. Além da violência, a acusação da falta de diálogo por parte do governo teve destaque nos discursos. “Nenhuma proposta concreta chegou até o momento. Quanto à ilegalidade da greve, quem decide o fim da paralisação é o movimento. E só voltaremos às atividades quando tivermos negociação”, reforçou Dourado. Com a insatisfação geral, os professores decidiram em votação por manterem a greve por tempo indeterminado e intensificação de manifestações. Uma nova assembleia geral da classe foi marcada para quartafeira. 31/10/15 Sobre o confronto, o secretário Sérgio Sampaio afirmou que os atos serão investigados. “Analisaremos as imagens dos professores, mas também de outros cidadãos e da própria polícia para verificar se houve uso de força excessiva”, esclareceu o secretário, que rebateu a afirmação de que o governo não tem diálogo com os grevistas. “Nós convidamos todos os sindicatos que tragam equipes técnicas para abrirmos as contas e mostrarmos que não há condições de atender as demandas de reajustes agora. Mas outras ações que não envolvam aporte financeiro serão debatidas.” Adesão Em sala de aula, a adesão da greve chega a 85%, segundo o movimento. Mas não são apenas os estudantes que sofrem com as paralisações. Nos hospitais, a situação ainda é crítica. Apesar da suspensão da greve do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do DF (SindSaúde), outros grupos mantiveram os braços cruzados — caso do Sindicato dos Médicos (SindiMédicos) e do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Distrito Federal (Sindate). O motorista Alex Beserra Alves, de 30 anos, levou a irmã, Analice Beserra Alves, 26, e o irmão, Abimael Beserra Alves, 28, para o pronto-socorro do Hospital Regional da Asa Norte, na esperança de ser atendido, mas ficou decepcionado. “Meus irmãos estão passando mal, com sintomas de dengue. Fomos ao Hospital Regional de Ceilândia, mas lá não tinha médico e me disseram para vir aqui. Mas também não tem médico. Só um cirurgião e ele estava ocupado.” A situação encontrada por Alex é semelhante em outros centros médicos, que atendem apenas casos de emergência. Os funcionários do Detran seguem em greve. O DFTrans, por sua vez, reabriu os postos de atendimento, retomando serviços como emissão de cartões, recargas de passagens e atualizações de cadastro. Mas a situação do cidadão não vai melhorar. Os metroviários entram em greve na terça-feira. Serão mantidas apenas 30% das operações: oito trens vão rodar no horário de pico. Diariamente, 160 mil pessoas dependem do meio. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários do DF (Sindmetrô), as motivações para a paralisação são o não cumprimento do Acordo Coletivo de Trabalho, a não convocação dos aprovados no último concurso e o excesso de comissionados na empresa. A Assessoria de Comunicação do Metrô afirmou ter se reunido com a categoria e oferecido R$ 382 de verba indenizatória transformado em auxílio alimentação até atingir o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal. Outra categoria que pode suspender atividades é a dos trabalhadores da Companhia Energética de Brasília (CEB). Uma assembleia está marcada para terça-feira. Manifestantes entregaram flores a PMs que faziam a segurança CORREIO BRAZILIENSE 31/10/15 Palavra de especialista Atrasos na lei O direito de greve é garantido pela Constituição, referente ao artigo 37, mas existem limites. Uma lei de greve da iniciativa privada, prevista em 1989, estabeleceu algumas regras para o exercício desse direito. Para acontecer, a paralisação deve ser aprovada em assembleia. Para os servidores públicos, a lei regulamentadora também está na Constituição, mas diferentemente da rede privada, nunca foi concebida. É uma omissão não regulamentar esse direito de greve no serviço público. Com uma lei pensada em 1988, somente durante o governo Lula existiu algum progresso. Alguns projetos entraram em tramitação, mas até hoje nada. A situação vista nos últimos dias é reflexo desse atraso. O direito é legítimo, mas é preciso bom senso. Os limites no serviço público não podem inviabilizar o próprio serviço. E é natural que o poder público desobstrua as vias impedidas pelos movimentos. Acredito que, com essa atitude, as organizações possam até perder o apoio popular porque isso acaba gerando um transtorno na vida do outro. E, infelizmente, no calor da situação, existem abusos por parte dos manifestantes e também das autoridades, como vimos. O ideal seria que as manifestações permanecessem nas ruas, mas sem impedir a passagem por inteiro do restante dos cidadãos. Talvez se não fechassem todas as pistas, por exemplo, mas, ainda assim, acredito que seja muito complicado equilibrar essa situação. O que resta é ter bom senso. » Mamede Said, especialista em direito constitucional e professor da Universidade de Brasília CIDADES CORREIO BRAZILIENSE 31/10/15 PROGRAMA Jovens do DF vão aos EUA Dois estudantes da rede pública do DF foram selecionados para o programa Jovens Embaixadores 2016. Os alunos de escolas em Ceilândia e no Recanto das Emas viajam a Washington, em 8 de janeiro, e retornam no dia 31 do mesmo mês. Ao todo, 50 pessoas foram selecionadas em todo o país. Os participantes serão divididos em grupos e enviados para diferentes cidades, onde ficarão hospedados em casas de famílias voluntárias. Como representantes da juventude brasileira nos Estados Unidos, os jovens vão fazer apresentações sobre o Brasil e a cultura do país. No fim da viagem, farão um plano de ação na área de voluntariado, que será implementado nas comunidades onde vivem após o retorno para o Brasil. O projeto existe desde 2003. A partir de 2012, passou a ser reproduzido em todos os países do continente americano. Desde o lançamento, 417 jovens brasileiros da rede pública de ensino já participaram do programa. CIDADES JORNAL DE BRASÍLIA 31/10/15 BRASIL JORNAL DE BRASÍLIA 31/10/15 CIDADES JORNAL DE BRASÍLIA 31/10/15 CIDADES JORNAL DE BRASÍLIA 31/10/15 CIDADES