itinerário pedagógico
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Itinerário pedagógico O SAL Ciências NaturAIS FÍSICO-QUÍMICA GEOGRAFIA HISTÓRIA 18_Sal.indd 1 • O que é o sal? • A salicultura e o ambiente • As salinas da ria Formosa • O sal — de onde provém? • Produção e composição do sal • O papel do sal no organismo • Utilidade do sal • Olhão — «capital da ria Formosa» • Salicultura no Algarve • O sal e a história • O sal na história de Portugal 21/03/14 11:26 Apresentação Em 2014, a editora Santillana comemora o seu 25.º Aniversário em Portugal. Consideramos que é uma data com um significado especial, que queremos partilhar com o professor como forma de agradecimento por nos acompanhar neste percurso. Com esse propósito, criámos recursos educativos inovadores e úteis para professores e alunos, pois esta é a nossa área de especialidade. Selecionámos, assim, uma série de temas que podem ser explorados nas salas de aula e que se propõem alcançar os seguintes objetivos: • valorizar o património cultural de Portugal a partir da exploração de temas que tenham uma importância destacada no desenvolvimento económico e social das regiões do nosso país; • escolher setores que tenham sofrido profundas alterações nos últimos 25 anos e que, no momento presente, enfrentam o desafio que é crescer com ambição e sucesso num novo contexto económico e social; • trabalhar numa perspetiva multidisciplinar como forma de enriquecer os recursos didáticos e permitir um trabalho de parceria com as escolas; • propor sugestões de atividades que possam ser facilmente realizadas nas salas de aula e que possam servir de base para visitas de estudo ou para trabalhos de investigação; • estreitar a relação entre os conteúdos didáticos e o quotidiano dos alunos. Esperamos que a exploração destes temas seja útil para o seu trabalho nas escolas e contamos consigo para continuar a melhorar a qualidade da formação dos nossos alunos. A equipa Santillana 1989-2014 18_Sal.indd 2 21/03/14 11:26 O SAL O sal é um mineral essencial à vida humana que existe sob diversas formas na Terra. Pode ser encontrado em minas, em lagos salgados ou na água do mar. O sal não é todo igual. O mais conhecido é composto por cloreto de sódio, comummente denominado «sal de cozinha» por ser o principal tempero utilizado na alimentação humana. Atualmente, o sal é sobretudo utilizado como condimento, mas até ao início do século xx era também muito usado como conservante alimentar. O Património E O SEU POTENCIAL PEDAGÓGICO 18_Sal.indd 3 p. 4 Ciências Naturais p. 6 Físico-Química p. 8 Geografia p. 10 História p. 12 Caso de sucesso p. 14 21/03/14 11:26 O Património E O SEU POTENCIAL PEDAGÓGICO José Amado Mendes Professor catedrático da Universidade de Coimbra (ap.º) e da Universidade Autónoma de Lisboa. Tem-se dedicado à investigação e ao ensino de questões relacionadas com o património, a museologia, a arqueologia industrial e a história das empresas, entre outras. O património cultural — doravante designado apenas por património — está na ordem do dia, sobretudo desde meados do século xx. Até à década de 1930, a noção de património circunscrevia-se quase só ao conjunto de bens materiais, transmitidos pelos familiares aos seus descendentes e herdados por estes. Aliás, o próprio vocábulo «património» (do latim «patrimonium») remete para «pater» (pai) e também para a herança de bens familiares, cujo significado se encontra patente na raiz do termo inglês «heritage». Todavia, de modo especial a partir da II Guerra Mundial, a noção de património passou a aplicar-se cada vez mais frequentemente aos elementos de ordem cultural, de tal modo que, quando nos referimos àquele, mesmo sem o adjetivar, regra geral o que temos em mente é precisamente o património cultural. Entre outras definições, podemos adotar a seguinte: «a noção moderna de património, que põe uma ênfase especial no critério científico de seleção dos bens patrimoniais, abarca todos os objetos portadores de informação e que tenham sido produzidos em qualquer momento histórico» (Tugores e Planas, 2006: 23)1. Alguns dos fatores mais significativos pelos quais o património tem vindo a impor-se, tanto do ponto de vista da ciência como da docência, devem-se, por um lado, à sua interdisciplinaridade — o que tem levado, inclusive, à criação das chamadas «ciências do património» (Mohen,1999) — e, por outro, ao seu cariz de aplicabilidade a diversos domínios, como veremos em seguida. 1.Valores e potencialidades do património Dada a já referida abrangência do conceito de património, em vez de património podemos falar de patrimónios, pois aquele diversifica-se por diversas modalidades, embora sob a mesma designação genérica. Assim, reportando-me apenas a alguns exemplos, podemos identificar os seguintes tipos de património: mundial, europeu, nacional, regional e local; material e imaterial, artístico, estético e arqueológico; científico e tecnológico; industrial e agrícola; gastronómico, folclórico e musical; natural e paisagístico, etc. Ainda que com incidências diferentes, consoante o género de património, são múltiplos os valores e as potencialidades que lhe podemos atribuir. Todavia, deverá ter-se presente que o património não tem propriamente um valor intrínseco, já que aquele é-lhe atribuído pelas pessoas de determinada época e em contexto específico. Referem-se a este aspeto expressões como as seguintes: a) «nada é património, mas qualquer coisa se pode tornar património»; b) as discussões cerca do património não são relativas ao passado, mas sim sobre o presente e o futuro, designadamente quanto ao que fazemos dele (Howard, 2003: 7 e 19). Xavier Greffe, por exemplo, alude aos seguintes valores do património: estético, artístico, histórico, cognitivo e económico (Greffe, 1990: 32-38); a estes, permito-me acrescentar os valores social e pedagógico. Quanto aos valores estético e artístico, eles estão presentes nos monumentos tradicionais — castelos, catedrais e igrejas, palácios e casas vernáculas, obras de arte pictóricas e escultóricas, objetos de ornamento e de vestuário, entre outros —, podendo ser estudados através da história, da história da arte, da etnologia e da sociologia. No que concerne ao valor histórico e cognitivo, os objetos são vistos como fontes de informação ou como documentos/ /monumentos (usando a expressão de Jacques Le Goff). Relativamente ao valor económico, o património é perspetivado como um recurso que pode igualmente transformar-se num «produto», o qual é de capital importância, por exemplo, no âmbito do turismo cultural. Face ao papel que o turismo desempenha na economia e na sociedade contemporâneas, já se lhe chamou o «passaporte para o desenvolvimento» (Kadt, 1984). O valor social do património patenteia-se na sua fruição pela própria sociedade, através da sua utilização ou reutilização para proveito das comunidades em que o mesmo se insere. A propósito, já foi devidamente enfatizado: «A partir da década de 1980, o património cultural começa a ser percebido não só na sua dimensão histórica e cultural, mas também como uma fonte de riqueza e de desenvolvimento económico» (Hernández Hernández, 2002: 8). Ao invés do que outrora se verificava, segundo esta perspetiva, o património deve ser considerado uma mais-valia ou um ativo, em prol do desenvolvimento, e não apenas um encargo para os responsáveis pela sua preservação. 2.O património no centro da educação formal O património e a educação patrimonial, não obstante a sua enorme importância, ainda não ocupam o papel primordial que lhes deveria ser atribuído na escola e no processo de ensino-aprendizagem. Acerca do assunto e a propósito da pedagogia do património, já foi formulada a seguinte questão: «Os nossos contemporâneos felizmente têm aceitado estas verdades fundamentais [quanto à função educativa] nos domínios técnico e científico. Mas que dizer de uma educação para o ambiente e o património? Estará ela suficientemente presente nos nossos espíritos e nas nossas escolas?» (Hague [The] Forum, 2004: 8). Do ponto de vista da educação formal — em geral cometida à escola —, o património constitui um complemento fundamental do processo educativo, podendo funcionar como uma espécie 1 Não obstante a relevância que o património tem vindo a assumir nas últimas décadas — ao ponto de já se falar de uma certa «patrimonialização» —, os dicionários de língua portuguesa só recentemente passaram a considerar e referida vertente do património, como por exemplo na seguinte definição: «conjunto de bens materiais e imateriais transmitidos pelos antepassados e que constituem uma herança colectiva» («património», in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, vol. II, Lisboa, Ed. Verbo, 2001, p. 2784). Nas citações a partir de língua estrangeira, a tradução é da minha responsabilidade. 4 18_Sal.indd 4 21/03/14 11:26 de laboratório. Segundo Ballart, podemos «aproximar-nos» do passado através de três vias: a) pela memória, explorada através da história oral e da psicologia; b) pelos livros e documentação arquivística, como fazem os historiadores; c) pelos objetos e vestígios materiais, foco de atenção por parte de arqueólogos e antropólogos (Ballart, 1997: 93). Os objetos e vestígios materiais contemplam, por exemplo: estátuas, livros, fábricas, fotografias, paisagens, canais, casas, igrejas, mobiliário, tecnologia, utensílios e ferramentas artesanais, meios de transporte, centrais elétricas, de gás e de elevação e tratamento de água. A sua diversidade é quase omnipresente e pelo menos alguns dos seus elementos fazem do dito património um meio pedagógico da maior relevância, o que é facilitado pela sua acessibilidade, tanto a professores como a alunos, no respetivo contexto. As visitas de estudo, organizadas no âmbito da escola, ou mesmo fora do ambiente escolar, por alunos — individualmente ou em família —, devem fazer parte das estratégias de ensino-aprendizagem, bem como de projetos de investigação a desenvolver. Assim, segundo já foi destacado por um autor, «é possível dar um uso didático ao património. Neste caso, o seu uso e significado estão unidos a um determinado processo de ensino e aprendizagem, à sua utilidade como recurso didático em contextos formais ou informais de ensino» (Viñao, 2011: 49). Como são múltiplas as atividades a concretizar no que concerne ao património — deteção e inventariação, salvaguarda e preservação, reutilização e dinamização —, existem numerosos tipos de ações que poderão ser incrementadas, com bons resultados em termos de aproveitamento escolar, de âmbito pluridisciplinar. Mesmo que os aspetos relacionados com o património não se encontrem expressamente referenciados nos conteúdos programáticos, há sempre a possibilidade de usar a chamada «porta de serviço» 2. Trata-se, pois, de utilizar o património para ilustrar, fundamentar ou concretizar rubricas dos programas, direta ou indiretamente, relacionadas com o mesmo. São diversas as temáticas em que a educação patrimonial e a história — bem como outras disciplinas — se podem encontrar e de que podem beneficiar mutuamente, tais como: artesanato, industrialização e urbanização; rotas comerciais e meios de transporte e comunicações; expansão marítima e encontro de civilizações; arquitetura civil, militar e religiosa; antigo regime, modernidade e pós-modernidade; cultura de massas e cultura de elites; operariado e respetivo ambiente3. Obviamente que, nestes como noutros casos relacionados com o património, as questões referentes à identidade e à memória também se encontram presentes. Reportando-se aos laços que unem a história e a memória, esclarece A. Viñao: «paradoxalmente, o crescente interesse pela memória e pelo património produz-se num momento caracterizado pela desmemória, a destruição do comum ou comunitário e as profundas transformações nos meios e suportes de transmissão intergeracional do saber e do conhecimento que em cada momento se considera valioso. No centro de tudo se acha a educação institucional, essa atividade ou tarefa que as sociedades têm configurado ao longo de vários séculos para levar a cabo, de modo sistemático e formalizado, a dita transmissão» (Viñao, 2011: 35). Em termos de metodologia, a educação patrimonial é baseada em: métodos ativos; ensino baseado em projetos; práticas cooperativas; autogestão e disciplina; interdisciplinaridade e interculturalismo; parcerias entre professores, líderes culturais artesãos, encarregados de educação e patrocinadores (Cultural heritage…, 1998: 115). O estudo do património pode desempenhar também uma função primordial na formação para a cidadania, a compreensão do outro, a tolerância e a paz. Como cada povo constrói, desenvolve e salvaguarda o seu próprio património, o aprofundar do seu conhecimento constitui uma boa forma de entendimento e de aproximação entre pessoas provenientes de meios culturais e civilizacionais diversificados (Hague [The] Forum, 2004: 26), o que é da maior importância na era da globalização e no «mundo plano»4 em que nos inserimos. 3.O património na educação não formal e ao longo da vida Relativamente à educação não formal — também apelidada de informal por alguns autores —, é hoje relativamente consensual que se trata de uma das principais características das políticas educativas do século xxi. Com efeito, diferentemente do que se registava num passado ainda não muito distante, o processo de ensino-aprendizagem não se restringe meramente ao período escolar do indivíduo, mas deve acompanhá-lo ao longo da vida. Neste contexto, instituições como museus, centros de interpretação, bibliotecas, arquivos e outros centros de documentação e informação — locais que, por definição e vocação, albergam, estudam, tratam e divulgam os vários géneros de património — são convocados para o domínio da educação, tornando-se assim parceiros e complementos das próprias escolas. Em termos de valorização e sensibilização, a educação patrimonial leva a que o indivíduo, culto, civicamente ativo e crítico, não só conheça o património mas também adquira competências para ser um seu empenhado defensor e protetor. Assim, o património está intimamente relacionado com a educação em todas as idades5. Como escreveu F. Tilden, considerado o pai da interpretação no campo do património: «através da interpretação, a compreensão; através da compreensão, a apreciação; e através da apreciação, a proteção»6. 2 Esta estratégia foi utilizada em Inglaterra nas décadas de 1960 e 1970, quando se começou a prestar a devida atenção ao potencial pedagógico do património e da arqueologia industriais. 3 Alguns exemplos da ação educativa junto das comunidade podem passar por: a) técnicas relacionadas com o trabalho da comunidade; b) salvaguarda do património cultural local; c) visitas de estudo, atentas aos valores visuais do ambiente, artesanais e artísticos (Telmo, 1986: 6). 4 Friedman, 2005. 5 Howard, 2003: 18. 6 NOTA: Referências bibliográficas na contracapa desta brochura. Apud Murta e Celina (Orgs.), 2002: 14-15. 5 18_Sal.indd 5 21/03/14 11:26 Ciências naturais O que é o sal? SABER O que é a flor de sal? A flor de sal é composta por cristais leves e frágeis, em forma de palhetas, que se formam na superfície de pequenas salinas, criando uma fina película de sal. Essa película é colhida diariamente, necessitando para o efeito de perfeitas condições climáticas. A costa portuguesa apresenta boas condições para a produção de sal marinho por evaporação solar, especialmente no sul do País, onde as condições edafoclimáticas são bastante favoráveis. O produto obtido é uma mistura de vários sais precipitados da água do mar, na qual predomina fundamentalmente o cloreto de sódio. O sal constitui uma matéria-prima imprescindível para muitas finalidades, integrando-se no grupo das «big-five raw-materials». Todavia, devido às suas características específicas, a maior parte da produção nacional de sal marinho em Portugal é destinada a fins alimentares. A salicultura e o ambiente A atividade produtiva de sal marinho é muito benéfica para a manutenção dos equilíbrios ambientais nas zonas costeiras, sendo a avifauna específica e a estabilidade da linha de costa dos aspetos mais beneficiados, já que as salinas ativas proporcionam a existência de ecossistemas determinantes para a sobrevivência de várias espécies animais e vegetais e impedem a ação negativa das marés vivas sobre as zonas do litoral, devido aos muros-dique que defendem as unidades produtivas. Estas unidades são constituídas por um conjunto de reservatórios construídos em terra e sobre solos impermeáveis, implantados em zonas de sapal. A alimentação de água do mar para os primeiros reservatórios de evaporação aproveita, regra geral, a ação das marés. O fluxo das águas para aumento da graduação/concentração de sal, devido à evaporação pelo calor do sol e pelo vento, prossegue ao longo dos reservatórios seguintes até aos cristalizadores, onde se deposita o sal marinho. A movimentação das águas utiliza o potencial gravítico dos primeiros reservatórios, cujas cotas topográficas são superiores às dos restantes, ganho pela tomada de águas das maiores marés ou por bombagem. Flamingos na ria Formosa. 6 18_Sal.indd 6 21/03/14 11:26 O SAL As salinas da ria Formosa A ria Formosa é uma área extensa da costa do Sotavento algarvio, prolongando-se ao longo de cerca de 60 km entre Ancão e Manta Rota. As salinas fazem parte de um ecossistema que integra microalgas, avifauna variada e flora halófita (halos = sal, phyton = planta). Também vários répteis e pequenos mamíferos utilizam as salinas como seu habitat. A vegetação do sapal e da salina desenvolveu mecanismos para se adaptar a este meio com elevados teores de sal. Em algumas plantas, os sais absorvidos podem ser expelidos pelas raízes ou segregados por glândulas e folhas. Outras armazenam o sal nas folhas, que caem no final da estação, expulsando assim o sal em excesso. Dunaliella salina. Garça-branca. SABER Por que razão os flamingos são cor-de-rosa? Artémia. Pilrito-pequeno. Alfaiate. Flamingo. Garça-real. Valverde-dos- -sapais. Borrelho-pequeno-de- -coleira-interrompida. Perna-longa. Salicórnia. O «lençol» rosado formado pelos grandes bandos de flamingos que se alimentam num estuário constitui uma imagem única. As suas penas ficam rosadas porque o flamingo se alimenta de algas e crustáceos ricos em caroteno, uma substância vermelha que é absorvida pelo organismo. Entre eles, a Dunaliella salina é uma microalga halófila que acumula betacaroteno e é a base da alimentação do flamingo nas salinas. Sapeira. Sugestões de exploração 1. Investigar as adaptações das plantas halófitas ao teor elevado de sais no meio. 2.Fazer uma pesquisa sobre a definição de sapal, as características específicas e a fauna das zonas de sapal. 7 18_Sal.indd 7 21/03/14 11:26 Físico-Química O sal — de onde provém? Um sal é uma substância resultante da reação de neutralização de um ácido com uma base. O «sal de cozinha», cloreto de sódio, é um composto iónico constituído por catião sódio e anião cloreto. O elemento sódio é um metal tão instável que se inflama em contacto com a água, e o elemento cloro é um gás letal. Catião sódio Anião cloreto Estrutura do cloreto de sódio. O «sal de cozinha» pode ser encontrado em minas, em lagos salgados ou na água do mar. No seu estado natural, pode apresentar diferentes cores, de acordo com a sua composição, e diferentes sabores. Sal marinho tradicional Flor de sal Sódio (%) 34,05 35,05 Cloretos (%) 56,51 55,32 Magnésio (%) 0,37 0,65 Pontos de controlo Potássio (%) 0,17 0,17 Sulfatos (%) 0,73 0,68 Ferro (mg/100 g) 0,51 0,41 Cálcio (%) 0,21 0,13 Iodo (ppb) 500 500 Mercúrio (mg/kg) < 0,05 < 0,05 Chumbo (mg/kg) < 1,00 < 1,00 Cádmio (mg/kg) < 0,25 < 0,25 Arsénio (mg/kg) < 0,025* < 0,025* Pesticidas ** ** < 0,10* < 0,10* < 0,001* < 0,001* < 10* < 10* Coliformes totais (30 °C) (NMP/g) ND\< 0,30 ND Coliformes totais (44 °C) (NMP/g) ND\ 0,30 ND Bact. Halófilas (ufc/g) ND\ < 10 ND Enterococcus (ufc/g) ND\ <10 ND Bact. Mesófilas (30 °C) (ufc/g) ND\ <10 ND Hidrocarbonetos Nitritos (ppm) Radioatividade (Bq/kg) Produção e composição do sal A obtenção do sal, nas salinas, passa por três fases: • inicialmente, armazena-se a água do mar; • depois, dá-se a evaporação e a consequente concentração; • finalmente, ocorre a cristalização e a colheita. Do equilíbrio das áreas de cada superfície provém a otimização da produção do sal e a sua qualidade. O produto resultante, sal marinho ou flor de sal, é maioritariamente composto por sódio (cerca de 35 %) e cloretos (cerca de 55 %), mas contém também outras substâncias. * Não detetado dentro dos limites da análise. ** Não detetado dentro dos limites da análise (103 pesticidas testados). *** ND — não detetado. Composição do sal e da flor de sal (dados da Necton). 8 18_Sal.indd 8 21/03/14 11:26 O SAL O papel do sal no organismo A dissolução do sal origina iões sódio e iões cloreto, os quais estão presentes em todos os tecidos e fluidos do corpo humano, onde desempenham funções muito diversificadas: • são essenciais para o equilíbrio osmótico entre os fluidos celulares e extracelulares; • garantem o equilíbrio entre iões positivos e iões negativos no organismo; • têm um papel relevante na transmissão de impulsos nervosos por todo o corpo; • etc. O sal deve ser consumido de forma controlada e moderada. O excesso de consumo de sódio pode trazer problemas para a saúde humana, pois este elemento retém líquidos no organismo, elevando a pressão arterial e facilitando, assim, a deposição de gorduras nas artérias, que se dilatam. Esse processo aumenta o risco de ocorrência de um acidente vascular cerebral. O consumo excessivo de sal pode também afetar os rins. A Organização Mundial de Saúde recomenda que não se ultrapasse a ingestão de 6 gramas diários de sal. Utilidade do sal O ser humano, desde cedo, reconheceu o potencial do sal, sendo diversas as suas utilizações. A conservação dos alimentos pelo sal é uma das bases da nossa civilização, pois permitiu libertar o Homem da dependência sazonal dos alimentos e armazenar durante o verão as reservas alimentares para o inverno. A adição de sal a um alimento desencadeia um processo de osmose, que faz com que a água passe de um ambiente com uma menor concentração de sal para um ambiente com maior concentração. Assim, o sal retira a água dos alimentos, inibindo o crescimento de microrganismos. Estes microrganismos, que causam o apodrecimento dos alimentos e produzem toxinas que afetam a nossa saúde, não sobrevivem num ambiente de elevada pressão osmótica, isto é, que lhes retira a água por osmose. Bacalhau conservado por sal. Sugestões de exploração 1. Realizar uma pesquisa sobre que tipos de sais se podem encontrar na Natureza. 2.Identificar diferentes aplicações do sal. 3.Explicar como ocorre o processo de osmose. 9 18_Sal.indd 9 21/03/14 11:26 GEOGRAFIA Olhão — «capital da ria Formosa» Situado no Sotavento Algarvio, Olhão é um dos 16 municípios do distrito de Faro, com uma área territorial aproximada de 130 km2. Apresenta uma população de 45 396 habitantes (Censos 2011), ao que corresponde uma densidade populacional de 346,83 hab./km². O concelho é delimitado a nascente e a norte pelo concelho de Tavira, a poente pelo concelho de Faro e a sul pelo oceano Atlântico. Toda a zona litoral do concelho de Olhão se integra no Parque Natural da Ria Formosa, uma das zonas húmidas mais importantes a nível europeu. A ria Formosa abrange uma área de cerca de 18 400 hectares ao longo de 60 km de costa, desde o Ancão até à Manta Rota, incluindo uma grande variedade de habitats: ilhas-barreira, sapais, bancos de vasa e de areia, dunas e salinas. Doc. 1 O sal e a salicultura em Portugal Para completar a apreciação do valor económico do mar, é preciso falar da produção de sal. Documentos do século ix mostram que já 5 então existia na parte norte do litoral do País. Os métodos de extração são os mesmos de todo o sul da Europa; aproveita-se o excesso de evapora10 ção dos meses quentes e secos do verão para concentrar as soluções marinhas. As marinhas localizam-se unicamente nos sapais. Encontram-se na 15 ria de Aveiro, na foz do Mondego, perto da Póvoa de Santa Iria, na margem direita do Tejo, nos arredores de Setúbal, em Alcácer, no estuário do Sado, na ria de Faro (Formosa) e na foz do Guadiana. Orlando Ribeiro, Geografia de Portugal, vol. IV (adaptado). 10 18_Sal.indd 10 21/03/14 11:26 O SAL Salicultura no Algarve O litoral do Algarve e, em especial, a região da ria Formosa possuem ótimas condições naturais que, associadas a excelentes condições climáticas, proporcionam o desenvolvimento de uma atividade muito significativa para a prática da salicultura e fazem do sal português um produto de grande notoriedade e reconhecimento nacional e também internacional. O sal é obtido por evaporação da água sob o efeito do sol e do vento nas salinas. A água do mar entra nas salinas e mistura-se com os excedentes da safra anterior e, normalmente, com a água das chuvas, dando assim origem a uma água rica em nutrientes. Regra geral, os trabalhos de preparação das salinas começam por volta de março/abril. A safra ou apanha do sal começa em agosto, quando o sal já está completamente cristalizado, e termina no final de agosto/setembro. Dias quentes, muito secos e com vento são os ideais para a produção de uma boa colheita de sal, pois, à medida que se processa a evaporação, maior é o grau de salinidade que se obtém. Durante a safra, o salineiro/marnoto deseja que nunca chova, que os dias não sejam húmidos e também que o sol não se esconda atrás das nuvens, pois estas três condições climáticas prejudicam muito a produção. A flor de sal, um produto cada vez mais procurado, é recolhida do topo da salina de forma manual e artesanal. SABER Curiosidades sobre o sal • Os nossos antepassados deitavam sal no fogo para afugentar os demónios. • Os Romanos e os Hebreus salgavam os cadáveres para os purificar e para permitir que passassem para a outra vida. • Por toda a Europa, popularizou-se a prática de submergir os recém-nascidos em água salgada e de lhes pôr sal na ponta da língua. • Acreditava-se que quando havia sal numa casa nunca faltaria o dinheiro. • Para evitar que uma criança não batizada fosse objeto de feitiçarias, atava-se às suas roupas um saquinho de sal enquanto dormia. • O sal derramado anuncia catástrofes; as pessoas supersticiosas atiravam três punhados de sal por cima do ombro esquerdo para afugentar os espíritos malignos. Marnotos a trabalhar numa salina da Necton. Sugestões de exploração 1. Fazer uma pesquisa sobre a importância das condições naturais da ria Formosa para a salicultura. 2.Desenvolver com os alunos uma pesquisa sobre o potencial da salicultura na economia regional. 11 18_Sal.indd 11 21/03/14 11:26 história O sal e a história O sal foi, provavelmente desde o princípio dos tempos, o primeiro mineral utilizado conscientemente pelo Homem como suplemento alimentar. A preocupação com a conservação dos alimentos levou também à descoberta de que o uso do sal (pela salga) era um dos métodos de conservação mais eficazes. Salmoura (água salgada) a ser fervida para obter sal (na província de Nan, Tailândia). Esta é talvez a mais antiga «indústria química» da história. A ligação do Homem ao sal está documentada desde 6000 a. C., na China e na atual Roménia. Os Egípcios antigos usavam o sal nos processos de mumificação e na Grécia Antiga, tal como em muitos outros lugares, o sal funcionava como moeda de troca. Os soldados romanos recebiam rações de sal, conhecidas por «salarium argentum». Heródoto fala de rotas do sal no século v a. C. e algumas cidades europeias, como Salzburgo (Áustria), tiveram origem nesta exploração e comércio de sal. O valor do sal levou a disputas e a guerras, como a que opôs Veneza e Ferrara em 1482-1484, conhecida como Guerra do Sal. O sal na história de Portugal Portugal foi, desde tempos muito anteriores ao nascimento da Nação, uma região produtora e exportadora de sal. Na Idade Média, o nosso sal era exportado para toda a Europa e vendido a preços substancialmente superiores ao que era produzido nas minas da Europa Central. O trabalho com o sal tem ocupado muitas gerações de portugueses e em torno das atividades a ele ligadas conservam-se memórias e estórias que se confundem com a história das regiões onde era ou é extraído. A vida dos marnotos, a sua relação com o meio natural e a economia local, as memórias orais e toda a documentação existente em torno da extração, comercialização e cultura do sal são fontes históricas de grande importância para conhecer mais sobre a nossa história. Em Portugal estão identificados cinco salgados (conjuntos de salinas): salgados de Aveiro, da Figueira da Foz, de Setúbal, de Alcácer do Sal e do Algarve. Atualmente, a região do Algarve é responsável pela grande maioria do sal produzido em Portugal, nomeadamente nas regiões de Olhão, Tavira e Castro Marim. 12 18_Sal.indd 12 21/03/14 11:26 O SAL Doc. 1 O sal na poesia e na linguagem do quotidiano É de Fernando Pessoa o verso «Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal», talvez inspirado na trova popular: «Ó ondas do mar salgado, donde vos vem tanto sal? 5 Vem das lágrimas choradas nas praias de Portugal.» Nesta quadra o sal é dor, é sofrimento, mas é prazer, graça e condimento espiritual nesta outra: «És pequena, não faz mal. 10 Não te dê isso desgosto. Também a pedra de sal é pequenina e dá gosto.» Talvez como expressão de amargura, António Gedeão, no poema A Malta das Naus, cantou: 15 «O meu sabor é diferente. Provo-me saibo-me a sal. Não se nasce impunemente, nas praias de Portugal.» […] 20 E, para terminar, uma referência à presença do sal no nosso quotidiano, através de um conjunto de vocábulos, dos mais vulgares aos mais eruditos: Salada, nome feminino, é um prato de legumes em cujo tempero entra o sal, mas salado, nome masculino, significa salgado, do mesmo modo que salão é terreno salgadiço, salgadio ou salino. Salário foi ração de sal e tem 25 hoje o significado de remuneração. Salé é carne salgada e saleiro tanto é o recipiente onde se guarda o sal, com o qual salpresamos ou salpicamos os alimentos no prato, como é o homem que vende sal ou o que o produz, isto é, o salineiro ou marnoto. Mas saleira é o barco de fundo chato, do Vouga, que transporta o produto do seu trabalho, e salero, no dizer dos Espanhóis e tam30 bém dos Portugueses, é graça, vivacidade. Salga é o ato de salgar, que é o que os nossos pais faziam aos toucinhos e outras carnes, após a matança do porco, e às sardinhas que acomodavam em barricas para abastecer as populações do interior. Salgadinhos comemo-los como aperitivos ou fazem o almoço frugal de muitos e salganhada ou salmonada é a falta de arrumo, é confusão. Salga35 dos são as terras baixas, alagadiças, invadidas por águas cuja salinidade ou salsugem as torna salgadiças, sendo nestas baixas que, preferencialmente, se instala a salicultura. Salicáceas são as plantas de uma família botânica e salinómetro é o aparelho que mede o teor de sal. Salícola ou salífero é o terreno que produz sal. Salmoura é água mais ou menos saturada de sal, como a que 40 conserva o atum e é ainda a água salgada que percorre o pipeline de Matacães até à Póvoa de Santa Iria. Salobra diz-se da água mais ou menos contaminada com sal. Salsa, como adjetivo, é o mesmo que salgada; como substantivo é a erva que usamos como tempero de muitas confeções culinárias, mas é também sinónimo de molho. E, para terminar, salsicha e salpicão são nomes de enchidos temperados com sal. «Marnoto» ou «salineiro» é o nome que em Portugal se atribui às pessoas que trabalham nas salinas. Chama-se marnoteiro ao chefe ou mestre dos marnotos. A. M. Galopim de Carvalho, O Sal na História da Terra e do Homem (adaptado). Sugestões de exploração 1. Fazer uma pesquisa sobre a existência de salinas da época romana em Portugal. Quantas existem e onde se localizam? 2.Investigar sobre o peso relativo do sal nas exportações. 13 18_Sal.indd 13 21/03/14 11:26 CASO DE SUCESSO Necton História A Necton desenvolve a sua atividade no setor da biotecnologia marinha, tendo-se especializado na exploração integrada e sustentável de salinas através da produção e comercialização de sal marinho tradicional e de microalgas. Foi constituída em 1997 para dar corpo a tecnologias de produção de microalgas desenvolvidas nos laboratórios da Universidade Católica. No entanto, tornou-se desde logo evidente o potencial do espaço de salinas abandonadas na localidade algarvia de Belamandil (em pleno Parque Natural da Ria Formosa, concelho de Olhão). A recuperação das salinas e a reinvenção dos conceitos de sal marinho tradicional e flor de sal constituíram talvez a melhor inovação da empresa, cujas instalações incluem quatro salinas, com um total de 350 peças, estando prevista a recuperação de outras salinas na região. Atualmente, a Necton divide-se em duas grandes áreas de negócio — sal marinho tradicional (para o mercado gourmet) e microalgas (para os setores da aquicultura, cosmética e outros) —, com uma forte aposta na exportação. As suas duas marcas de sal marinho e flor de sal (Marnoto e Belamandil) são exportadas para mais de 30 países, desde a Suíça à Malásia. Foi nos mercados externos que o sal da Necton obteve notoriedade; só depois se deu a conquista do mercado nacional. As microalgas destinam-se quase totalmente ao mercado internacional, sobretudo a empresas de aquicultura na Europa, com destaque para o Reino Unido, Noruega e países do Mediterrâneo. Salinas da Necton, na ria Formosa. 14 18_Sal.indd 14 21/03/14 11:26 O SAL Os produtos da Necton Os produtos e serviços que a Necton coloca no mercado são inovadores, resultando da aplicação de conhecimentos marinhos científicos e tecnológicos. A produção de sal marinho tradicional e flor de sal é feita com uma metodologia única que alia a tradição, aprendida com os marnotos (trabalhadores das salinas), e a modernidade dos processos de qualidade, gestão e inovação, para a obtenção de produtos de excelência. No que respeita às microalgas, são várias as espécies cultivadas pela Necton, tanto de água doce como de água salgada, que têm diferentes aplicações. A maioria das microalgas é exportada para a aquicultura. Estes organismos são fundamentais nos viveiros de peixes, uma vez que fazem parte da cadeia alimentar. Além da aquicultura, as microalgas têm aplicações no mercado da cosmética, pois são ricas em muitos compostos que têm características protetoras, antibacterianas, antioxidantes e antivirais. Assim, são várias as empresas cosméticas que utilizam as microalgas na formulação dos seus produtos. Sal e flor de sal Marnoto — uma das marcas da Necton. Fotobiorreatores para a produção de microalgas. Microalgas da Necton. 15 18_Sal.indd 15 21/03/14 11:26 A televisão O vinho alentejano O rio Tejo A agricultura biológica A indústria do papel A indústria têxtil O azeite O vinho verde O sal O queijo SERRA DA ESTRELA A nanotecnologia O rio Douro A indústria O turismo www.santillana.pt A universidade Bibliografia «O PATRIMÓNIO E O SEU POTENCIAL PEDAGÓGICO» Alarcão, Jorge de, Introdução ao estudo da História e do Património locais, Coimbra, Institutos de Arqueologia e História da Arte da Faculdade de Letras de Coimbra, 1982. Álvarez Areces, Miguel Ángel (coord.), Didáctica e Interpretación del Patrimonio Industrial, Gijón (Asturias), Ed. CICEES, 2002. Ballart, Josep, El patrimonio histórico e arqueológico: valor y uso, Barcelona, Ed. Ariel, 1997. Bellamy, Kate e Oppenheim, Cary (Eds.), Learning to Live. Museums, young people and education, Southampton/Londres, Institute for Public Policy Research and National Museum Directors’ Conference, 2009. 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