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Orthod. Sci. Pract. 2015; 8(32):497-505.
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Relato de caso / Case report
Aparelhos ortodônticos removíveis – passado, presente e
futuro
Removable orthodontic appliances – past, present and future
Magali Guedes de Souza1
Carlos Sechi Goulart2
Andresa Nolla de Matos Furtado3
Marcelo Tomás de Oliveira4
Maria Perpétua Mota Freitas5
Guilherme Thiesen6
Resumo
Os aparelhos removíveis não constituem tema frequentemente abordado em debates ou
artigos científicos atualmente, embora sejam amplamente utilizados no tratamento ortodôntico contemporâneo. De certa forma, este fato ocorre devido a uma tendência da Ortodontia
em dedicar mais tempo e atenção às abordagens mecânicas que envolvam aparelhos fixos
com bráquetes ou outros dispositivos mais “modernos”. Entretanto, atualmente movimentações ortodônticas tidas como mais dificultosas conseguem ser obtidas de modo satisfatório
com o uso dos alinhadores, que constituem aparelhos ortodônticos removíveis sequenciais,
confeccionados a partir de tecnologia computadorizada. Neste contexto, o presente artigo
procura fazer uma revisão histórica sobre os aparelhos ortodônticos removíveis, buscando
dados referentes desde o surgimento dos primeiros dispositivos, as evoluções sofridas pelos
mesmos, bem como apresentar um caso clínico de disjunção maxilar com o uso de um aparelho removível, com sistema de retenção GCS, demonstrando sua eficácia na substituição dos
grampos de retenção convencionais.
Descritores: Aparelhos ortodônticos, aparelhos ortodônticos removíveis, Ortodontia,
técnica de expansão palatina.
Abstract
Removable appliances are not an often topic of orthodontic discussion nowadays, although
they are widely used in contemporary treatment. That occurs due to a tendency in Orthodontics
according to which greater time and attention are given to mechanical approaches using fixed
appliances with brackets or “modern” techniques. However, now even more troublesome orthodontic movement can be achieved with the use of aligners, which are sequential removable
orthodontic appliances manufactured using computer technology. In this context, this article
aims to make a historical review about the theme of removable appliances, seeking data since
the appearance of the first devices, the enhancements, as well as presenting a case report of a
rapid maxillary expansion realized with a removable appliance with a fixation system called GCS,
showing its efficacy in replacing conventional orthodontic clasps.
Descriptors: Orthodontic appliances, removable orthodontic appliances, Orthodontics,
palatal expansion technique.
Graduada em Odontologia – UNISUL.
Ex-Professor de Ortodontia – UNISUL, Mestre em Ortodontia.
Professora de Ortodontia – UNISUL, Mestra em Ortodontia.
4
Professor de Ortodontia – UNISUL, Doutor em Odontologia.
5
Professora de Graduação e Pós-graduação em Ortodontia – ULBRA, Doutora em Odontologia – PUCRS.
6
Professor de Ortodontia – UNISUL e ZENITH/SC, Doutor em Odontologia (Ortodontia) – ULBRA.
1
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E-mail do autor: [email protected]
Recebido para publicação: 12/11/2014
Aprovado para publicação: 17/07/2015
Como citar este artigo:
Souza MG, Goulart CS, Furtado ANM, Oliveira MT, Freitas MPM, Thiesen G. Aparelhos ortodônticos removíveis – passado, presente e futuro. Orthod.
Sci. Pract. 2015; 8(32):497-505.
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Relato de caso / Case report
Introdução
Embora seja conhecido que alguns aparelhos ortodônticos primitivos tenham sido encontrados em escavações gregas e etruscas em períodos antes de Cristo,
foi apenas no século XVIII que a Ortodontia obteve um
maior avanço científico. Nessa época, a mesma começou a ser feita através de ação de fios de fibras, unidos
a uma tira de metal flexionada em forma de arco e perfurada em locais específicos por onde os fios passavam
para serem amarrados aos dentes. Forças de inclinação
eram produzidas para alinhar os elementos dentais ao
arco (técnica preconizada por Pierre Fauchard)17.
Com o passar do tempo, novos materiais foram
sendo desenvolvidos e novas técnicas com dispositivos
diversos foram propostas. Linderer, após a fabricação
da ebonite a partir da vulcanização da borracha, descreveu os primeiros sistemas de placas ativas para movimentação dentária, os quais, posteriormente, foram
aperfeiçoados por Coffin e Kingsley. Na época, essas
placas continham molas feitas com fios de corda de
piano2, 3.
Pierre Robin construiu a primeira placa de fenda
incorporando um parafuso desenhado por ele, usado
para ganhar a “grande distância de 4 mm” no alinhamento de incisivos centrais superiores. Como não
apresentavam nenhum elemento de retenção, essas
placas ficavam soltas na boca e, assim, não exerciam
adequada função. Posteriormente, Schwarz desenvolveu um grampo que era preso na placa e envolvia
alguns dentes, de modo que a mesma permanecia em
posição3.
Na Europa, o alemão Gustav Korkhaus desenvolveu o aparelho removível que aplicava um complexo
sistema de forças, reivindicando superioridade biológica frente aos dispositivos multibandas. Schwarz e Karl
Häupl também reivindicavam superioridade para o seu
tipo de aparelho removível11.
No início do século XX, a perspectiva filosófica
dos ortodontistas dependia de que lado do Oceano
Atlântico estes exerciam a sua profissão. Segundo Proffit13 (2002), por várias razões o desenvolvimento dos
aparelhos removíveis continuou na Europa, apesar de
ter sido abandonado nos Estados Unidos. Existiram
três principais razões para essa tendência: (1) o método dogmático de Angle para oclusão, com ênfase no
exato posicionamento de cada dente, que teve menos
impacto na Europa do que nos Estados Unidos; (2) os
sistemas de previdência social se desenvolveram muito mais rapidamente na Europa, o que significa que
a ênfase tendia ao tratamento ortodôntico para um
grande número de pessoas, geralmente realizado por
clínicos gerais ao invés de especialistas em Ortodontia; (3) o metal precioso para os aparelhos fixos estava
menos disponível na Europa, tanto como consequência
dos sistemas sociais, quanto porque o uso dessas ligas
metálicas foi proibido na Alemanha nazista, obrigando os ortodontistas alemães a enfatizar em aparelhos
removíveis que pudessem ser confeccionados com os
demais materiais disponíveis.
Nos últimos 30 anos, a dicotomia entre a Ortodontia europeia e a americana desapareceu em grande parte, devido ao contato pessoal dos ortodontistas
americanos com seus colegas europeus e vice-versa.
Além disso, diversos artigos científicos publicados nessa época comprovaram a eficácia de ambas as abordagens terapêuticas11,13.
Assim, inúmeras finalidades são atribuídas aos aparelhos ortodônticos removíveis. São dispositivos destinados a manter o desenvolvimento normal da oclusão
ou a interferir no transcurso de uma desarmonia, de
modo a restabelecer o equilíbrio dentofacial10. Neste
contexto, os aparelhos removíveis podem ser ativos ou
passivos. Os ativos são idealizados para a obtenção de
movimentos dentários por meio de molas ou arcos de
fios metálicos, parafusos, elásticos ou bases em resina
acrílica. Os passivos são idealizados para manutenção
dos dentes em suas posições, tendo como exemplo os
mantenedores de espaço e os aparelhos de contenção.
Por serem removíveis, todos esses dispositivos podem
ser retirados da boca do paciente para a higienização8,18.
Para Proffit13 (2002), os aparelhos removíveis ativos
podem ser classificados ainda em dois tipos distintos:
(1) aparelhos funcionais para a modificação do crescimento e (2) aparelhos removíveis para movimentos
dentários.
Um aparelho funcional é aquele que, por definição, modifica a postura da mandíbula, mantendo-a
aberta ou aberta e projetada. As pressões criadas pelo
estiramento da musculatura e dos tecidos moles são
transmitidas às estruturas dentárias e esqueléticas, modificando o crescimento facial13.
A maior parte da Ortodontia europeia no século
XX foi realizada com aparelhos funcionais para o direcionamento do crescimento. O monobloco desenvolvido por Robin, no início do século passado, é considerado o pioneiro de todos os aparelhos funcionais, mas
o ativador desenvolvido na Noruega por Andresen, na
década de 1920, foi o primeiro aparelho funcional a ser
largamente aceito8. O bionator é derivado do ativador
de Andreasen e foi introduzido na década de 50, por
Wilhelm Balters. Desde então, os aparelhos ortopédicos funcionais (Figura 1) mais utilizados para estimular
o crescimento mandibular são: ativador de Andresen-Häulp, bionator de Balters, Fränkel, Twin-block, aparelho de Bimler, ativador elástico de Klamnt, entre outros7,15,16.
Já os aparelhos ortodônticos removíveis utilizados
para realização exclusiva de movimentos dentários são
construídos basicamente por três componentes básicos: parte ativa, parte retentiva e base de suporte12.
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A
B
C
Figura 1 (A-C) – Exemplos de aparelhos removíveis funcionais para correção da má oclusão de Classe II, como: A) o Bionator, B) o
Bimler e o C) Klammt, com suas modificações e individualizações.
A
nham suas funções nas áreas retentivas dos dentes,
situadas abaixo do equador dentário e nas ameias interproximais. Segundo Jones;Oliver8 (1999), um componente de retenção ineficaz permitirá o deslocamento
do aparelho e a redução da eficiência das molas, sendo
assim, desconfortável para o paciente.
O dispositivo de retenção mais antigo e, por um
bom tempo, o mais usado, foi o grampo em forma de
ponta de flecha descrito por Schwarz. O autor desenvolveu e aprimorou este grampo de retenção ao longo
da década de 20, com o objetivo de aumentar a estabilidade e aperfeiçoar as placas ativas5.
A literatura ortodôntica descreve ainda uma variedade expressiva de grampos de retenção utilizados
nos aparelhos ortodônticos removíveis (Figura 2), dentre eles o grampo de Adams, o grampo circunferencial ou em “C”, o grampo interproximal, grampo em
bola, grampo triangular, grampo de ponta de flecha
de Schwarz (Pfeiklammer), grampo em flecha ou lança,
grampo em laçada, dentre outros5,6,10,11,12.
B
Figura 2 (A-B) – Aparelho removível com grampos de retenção em “C” nos caninos, grampos de Adams nos molares decíduos e
apoio oclusal nos primeiros molares permanentes.
Entretanto, alguns problemas como a falta de estabilidade, de conforto e de eficiência dos grampos retardaram o progresso do desenvolvimento dos aparelhos removíveis durante muitos anos. Além disso, por melhores
que sejam confeccionados, tais grampos não permitem
uma retenção do aparelho removível compatível com a
aplicação de níveis de força mais elevados, não sendo in-
dicados para a realização de alterações ortopédicas2.
Como alternativa para solucionar esses inconvenientes, Goulart et al.4 (2011) desenvolveram um sistema para retenção de dispositivos ortodônticos denominado GCS. Segundo os autores, o GCS é um sistema
que proporciona uma retenção fixo-removível, pois
garante uma maior estabilidade do aparelho, possibili-
Souza MG, Goulart CS, Furtado ANM, Oliveira MT, Freitas MPM, Thiesen G.
A parte ativa é composta por dispositivos que executam o que se convencionou por chamar de pequenos movimentos, como a verticalização e a inclinação
dentária. Isto é executado por meio de molas e parafusos que promovem a aplicação de forças nas coroas
dos dentes12.
A base acrílica de suporte, além de unir as várias
partes do aparelho, suporta os esforços liberados pela
parte ativa e pelos grampos de retenção quando ativados, dissipando essas forças normalmente junto à
mucosa10.
Responsável por manter ou reter o aparelho na
cavidade bucal, a parte retentiva é geralmente composta por elementos chamados grampos de retenção;
entretanto, a base acrílica também desempenha certa
função retentiva6. Segundo Adams2 (1969), a retenção
deve sobrepor às forças ativas do aparelho quando em
ação, pois, além de movimentar os dentes, essas forças
liberadas durante a ativação do aparelho têm o efeito
de expulsar o mesmo da boca. Os grampos desempe-
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Relato de caso / Case report
tando aplicação de níveis de forças mais elevados (sem
que o mesmo se desloque)4.
Sabendo-se que cada técnica possui suas vantagens e desvantagens, é certo que o tratamento ortodôntico atual envolve tanto o uso de dispositivos fixos
quanto removíveis, tendo como chave para o sucesso o
diagnóstico e plano de tratamento correto1.
A Ortodontia contemporânea também lança mão
de aparelhos ortodônticos removíveis confeccionados a
partir de uma tecnologia computadorizada em imagem
tridimensional. Apesar de estar atualmente bastante
em voga, a ideia de um alinhador removível não é nova.
Foi proposta inicialmente por Kesling, sob a forma de
posicionadores de borracha, confeccionados a partir de
modelos das arcadas dos pacientes. Entretanto, o grande avanço nesse sistema ocorreu em 1997, quando a
empresa Align Technology lançou o sistema Invisalign®,
que consiste num conjunto de moldeiras sequenciais
removíveis, chamadas de alinhadores, que são feitos
sob medida para cada etapa do tratamento9,14.
Através da tecnologia CAD-CAM, uma sequência
de aparelhos removíveis (alinhadores), transparentes,
são criados por computador e confeccionados em placas de acetato que permitem movimentações dentárias
progressivas na ordem de aproximadamente 0,25 mm
em cada estágio. A substituição dos alinhadores a cada
duas semanas é eficiente e causa menor sensibilidade.
Devem-se remover os alinhadores somente durante as
refeições e a higiene bucal, totalizando assim, o uso recomendado dos mesmos por cerca de 20 a 22 horas/dia.
Observa-se grande aceitação por parte dos pacientes
frente a estes aparelhos, principalmente por motivos estéticos e de higiene9,14. Atualmente, além do Invisalign®,
uma vasta gama de fabricantes (Figura 3) também oferece este tipo de aparelho ortodôntico, sendo que sua eficácia e sua possibilidade de emprego vêm aumentando9.
Vale lembrar que, independente do tipo de dispositivo ortodôntico removível empregado, este deve ser
utilizado em circunstâncias corretas e em mãos competentes8.
Diante disso, o presente trabalho objetivou, além
de levantar o histórico sobre os aparelhos removíveis
e seus meios de retenção descritos na literatura, apresentar um caso clínico de expansão de maxila com o
uso de um expansor com sistema de retenção GCS,
Figura 3 – Alinhadores removíveis: OrthoAligner® (Compass3D) e Invisalign® (Align Technology).
demonstrando sua eficácia na substituição dos grampos convencionais.
Relato de caso
Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da UNISUL/SC sob protocolo nº 08.288.4.02.III.
O paciente do gênero masculino, leucoderma, 6
anos e 7 meses de idade, no primeiro período transitório da dentadura mista, apresentou-se para avaliação na clínica de Ortodontia do curso de Graduação em Odontologia da Universidade do Sul de Santa
Catarina - UNISUL. Ao exame clínico, observou-se a
presença de atresia da base óssea maxilar, resultando
em mordida cruzada posterior unilateral do lado esquerdo, com desvio funcional da mandíbula durante
o fechamento bucal (Figura 4). Após a anamnese e
exame clínico, foi solicitada a documentação ortodôntica para a elaboração do plano de tratamento.
Foi proposta uma abordagem envolvendo Ortopedia
mecânica transversal para obtenção da adequação da
forma do arco superior, com consequente correção da
mordida cruzada.
O procedimento de expansão rápida da maxila foi
realizado com um aparelho expansor com sistema de fixação do tipo GCS. Este aparelho consiste numa placa
de acrílico apresentando na sua região mediana, um parafuso expansor, bem como botões de resina composta que são confeccionados na face palatina dos dentes
posteriores, proporcionando excelente retenção mecânica e permitindo que o aparelho removível (no caso presente um expansor) possa ser ativado como se fosse um
aparelho fixo cimentado ou colado aos dentes.
Previamente à moldagem de trabalho, os attachments ou botões de resina composta foram confeccionados diretamente na boca do paciente, na face palatina dos dentes 53, 55, 16, 63, 65 e 26 (Figura 5).
Para a confecção dos attachments, foi realizada uma
profilaxia prévia, com taça de borracha e pasta profilática nas faces palatinas daqueles dentes que foram previamente selecionados para a colocação dos botões. As
superfícies foram lavadas e secas; o isolamento relativo
foi colocado e o procedimento realizado utilizando-se
uma resina composta convencional para restauração.
Após a confecção dos attachments, foi realizada a
moldagem de trabalho e o modelo de gesso foi vazado
(Figura 6). Para a confecção do aparelho de expansão
maxilar (Figura 7), o parafuso expansor foi selecionado
de acordo com o espaço disponível entre os arcos, considerando também, a quantidade de expansão necessária; a haste plástica foi então removida e o parafuso
recebeu 10 ativações, ficando com cerca de 2 mm de
abertura. Esta abertura prévia foi necessária para permitir a desativação do parafuso e a diminuição da largura
do aparelho, o que possibilitou a inserção do mesmo
posteriormente em boca, sem danificar os attachments.
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C
E
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Figura 5 (A-B) – Presença dos “attachments” ou botões de resina composta na face palatina dos dentes 53, 55, 16, 63, 65 e 26.
Figura 6 – Modelo de gesso vazado após a confecção dos
attachments.
Figura 7 – Expansor maxilar com sistema de retenção GCS.
Souza MG, Goulart CS, Furtado ANM, Oliveira MT, Freitas MPM, Thiesen G.
Figura 4 (A-E) – Fotografias intrabucais iniciais do paciente: A) lateral direita, B) frontal, C) lateral esquerda, D) oclusal superior e
E) oclusal inferior.
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Para a instalação do aparelho em boca (Figura 8),
tornou-se necessário desativar o parafuso completamente, fechando as 10 ativações realizadas inicialmente para permitir que o expansor pudesse ser levado a
sua posição (devido ao aumento de volume proporcionado pela colagem dos botões na face palatina dos
dentes). O expansor GCS foi então inserido, primeiramente, em um dos lados da arcada encaixando-o nos
attachments. A seguir, o lado oposto do aparelho foi
levado em posição e o parafuso recebeu 10 ativações,
fazendo com que ele voltasse a sua largura original e se
encaixasse perfeitamente nos attachments.
As ativações iniciaram-se na manhã seguinte à colocação do aparelho de modo a permitir a adaptação
do paciente, diminuindo o desconforto. As ativações
Figura 8 – Fotografia intrabucal oclusal superior após a instalação do expansor maxilar.
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A
D
B
foram realizadas diariamente, com um protocolo de ¼
de volta ao dia. A fase ativa de expansão foi finalizada
quando se observou a sobrecorreção transversal desejada (Figura 9). Verificou-se, nesse momento, o aumento do diastema entre os incisivos centrais superiores,
evidenciando clinicamente o efeito ortopédico da abordagem instituída (Figura 10).
Para confirmação da separação da sutura intermaxilar, realizou-se análise comparativa utilizando-se de
radiografias oclusais da maxila antes e após a disjunção
(Figura 11).
Visando obter a estabilidade da correção transversa obtida, foi confeccionado um aparelho de contenção utilizando o sistema GCS com fio retentor, proporcionando, ao mesmo tempo, excelente retenção e
facilidade de remoção. Para sua confecção houve necessidade de uma nova moldagem e um novo modelo
de trabalho.
Antes da acrilização, um segmento de fio aço
0,024’’ foi fixado com cera na porção cervical dos
attachments, tomando-se o cuidado de incluir as extremidades do fio na cera (para ficarem livres após a
acrilização). Este fio, chamado retentor, funciona como
uma trava, ou seja, a sua deflexão durante a inserção
permite a passagem do aparelho pelo equador do attachment onde o fio retentor “trava” o aparelho. Após
o modelo ter sido isolado, o acrílico foi preparado e
dispensado sobre o modelo, de modo a envolver completamente o fio de aço e recobrir os attachments. Terminada a acrilização, o aparelho foi recortado e polido
(Figura 12).
C
Figura 9 (A-D) – Fotografias intrabucais após a ativação do expansor: A) lateral direita, B) frontal, C) lateral esquerda e D) oclusal
superior.
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B
C
Figura 10 (A-D) – Fotografias intrabucais mostrando a correção
da mordida cruzada posterior e adequação da morfologia maxilar:
A) lateral direita, B) frontal, C) lateral esquerda e D) oclusal superior.
B
Figura 11 (A-B) – Radiografias oclusais de maxila: A) inicial e B) após 30 dias de ativação do Expansor maxilar GCS, demonstrando
a abertura da sutura intermaxilar.
A
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Figura 12 (A-D) – Aparelho para contenção da expansão maxilar utilizando o sistema GCS com fio retentor: A) aparelho confeccionado no modelo de trabalho, B) vista lateral do aparelho, evidenciando o fio retentor que fica em contato com os attachments, C) vista
superior do aparelho e D) aparelho em boca.
Relato de caso / Case report
Discussão
Por vários motivos, os aparelhos removíveis são até
hoje utilizados com certa relutância por alguns ortodontistas. Mais de um século se passou desde o seu
surgimento e ainda se encontram alguns problemas
quando do tratamento com esses aparelhos. Dentre
esses, se destaca principalmente a falha nos sistemas
de retenção3.
Porém, os aparelhos removíveis apresentam como
sua maior vantagem o fato de eles permitirem sua remoção pelo paciente para higienização ou ainda quando o ambiente social assim indicar. Por outro lado, suas
maiores desvantagens são: possível falta de cooperação
do paciente no uso do aparelho, movimentos dentários
interrompidos, falta de adaptação do dispositivo e a
impossibilidade de aplicação de forças intensas. Além
disso, os aparelhos removíveis desempenham, sobre os
dentes, um efeito principalmente de inclinação10. Entretanto, na crescente evolução vivenciada atualmente
com os alinhadores, movimentos radiculares e de corpo conseguem ser realizados de maneira previsível e
adequada9.
Quanto ao sistema GCS demonstrado neste artigo,
ele procura obter maior retenção do que os aparelhos
ortodônticos removíveis convencionais, alcançando
maior efetividade em alguns casos. Este sistema de
retenção permite ainda que o aparelho seja removido
diariamente para higienização. Para isto, bastaria desativar o parafuso cerca de 10 ativações e assim deslocar
o aparelho no sentido oclusal. Após o aparelho ter sido
reposicionado, seu parafuso seria novamente ativado
10 vezes para retornar à situação original.
Desde o surgimento dos primeiros aparelhos removíveis, esses sofreram inúmeras evoluções. Dentre elas,
o sistema GCS constitui-se uma novidade que pode
vir a aperfeiçoar a utilização dos aparelhos ortodôn-
ticos removíveis na prática clínica atual, em especial
em pacientes na dentadura decídua e mista precoce
que apresentam dentes pouco retentivos. O expansor
GCS apresentado nesse artigo une, assim, as características de um aparelho fixo à praticidade de um aparelho removível, permitindo inclusive que se faça uma
expansão ortopédica da maxila sem a necessidade de
confeccionar bandas. A presença dos attachments e as
suas características de construção permitem que o aparelho seja removido para higiene quando desativado;
entretanto, a remoção não pode ser feita a qualquer
momento como nos aparelhos removíveis tradicionais.
Isso, por si só, impede que as crianças fiquem sem o
aparelho quando não estão sob a supervisão dos responsáveis, eliminando, deste modo, a causa mais comum da baixa adesão aos tratamentos com aparelhos
removíveis.
Observa-se assim que, quando utilizado sob as circunstâncias corretas e em mãos competentes, os tratamentos realizados com o uso de aparelhos removíveis
podem fornecer uma solução simples para muitos problemas oclusais. Neste contexto, o uso de dispositivos
ortodônticos removíveis é capaz de corrigir muitas más
oclusões em fases iniciais de desenvolvimento, de maneira fácil, econômica, precisa e efetiva.
Quanto ao futuro dos aparelhos removíveis, algumas indagações podem ser feitas. Os aparelhos removíveis serão futuramente mais ou menos utilizados? Os
aparelhos removíveis poderão fazer mais e melhores
tratamentos ortodônticos?
As respostas a estas perguntas não residem nos
aparelhos removíveis por si só, mas na maneira como
eles podem ser empregados. Assim, o tratamento com
aparelhos removíveis torna-se a alternativa mais apropriada para muitos problemas ortodônticos em desenvolvimento, e desta maneira, não só podem como devem tornar-se parte da Ortodontia do futuro.
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Conclusão
Sabe-se que o tratamento com aparelhos removíveis não é capaz de promover os melhores resultados
para todos os problemas ortodônticos.
Entretanto, como pôde ser observado no presente
ensaio clínico, o sistema GCS de retenção para aparelhos
removíveis realmente pode substituir vantajosamente os
grampos ortodônticos de retenção e, ainda, prevenir danos aos tecidos adjacentes pela possibilidade de remoção
do aparelho, resultando em um adequado tratamento.
Além disso, uma nova fronteira atualmente se firma com o desenvolvimento dos alinhadores dentários,
os quais têm evoluído exponencialmente e parecem ser
uma alternativa terapêutica que irá, de modo irreversível, fazer parte da prática ortodôntica futura.
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