Evolução Histórica do Profiling: O misterioso caso de Jack the Ripper

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Evolução Histórica do Profiling: O misterioso caso de Jack the Ripper
Evolução Histórica do Profiling: O misterioso caso
de Jack the Ripper
LUIS MAIA
CLARA MARGAÇA
JORGE SARAIVA
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PROFILING : O
MISTERIOSO CASO DE JACK THE RIPPER
Luis Maia¹
Clara Margaça²
Jorge Saraiva³
¹ Professor Auxiliar (Universidade da Beira Interior);
Neuropsicólogo Clínico, PhD (Universidade de
Salamanca, Espanha); Neurocientista, MsC (Escola de
Medicina de Lisboa, Portugal); Especialista Médico-Legal
(Instituto de Medicina Abel Salazar, Porto, Portugal)
[email protected]
² Finalista da licenciatura de Psicologia da Universidade
da Beira Interior, Portugal
³ Finalista da licenciatura de Psicologia da Universidade
da Beira Interior, Portugal
RESUMO: No domínio da Psicologia Forense emerge uma nova técnica de
investigação criminal – o profiling – e destaca-se, por conseguinte, um novo tipo de
investigador – o profiler. Para a realização de um profiling criminal, o profiler deve
analisar vários elementos do crime, entre eles a análise da cena do crime, o estado
do corpo, os vestígios, etc.
Este artigo visa mostrar qual seriam as fases, as questões que devem colocar-se e
qual a informação que se pode extrair para a elaboração do profiling. Os crimes do
Jack the Ripper têm vindo a inspirar a literatura que varia desde a ficção até ao
campo da ciência forense, e a linha divisória entre o criativo e o factual permanece
ténue até aos dias de hoje. Assim, o presente artigo tem como objetivo uma revisão
da literatura científica sobre o profiling, analisando, especificamente, o misterioso
caso de Jack the Ripper.
Palavras-chave: crime, Jack the Ripper, profiling, psicologia forense, serial killer,
testemunhas, vítimas.
Introdução
O processo de inferência das características de indivíduos responsáveis por actos
criminais diz respeito à noção de profiling, que é uma das subcategorias das técnicas de
investigação criminal e que faz a correspondência entre a personalidade e o
comportamento criminal. Embora se trate de um modelo de predição recente e em
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desenvolvimento, o objecto e a função desta técnica supõe a compreensão do criminoso
e do crime (Correia, Lucas & Lamia, 2007). Assim, o profiling consiste num processo de
análise criminal que associa as competências do investigador criminal e do especialista
em comportamento humano.
Numa tentativa de definição, mais lata, o profiling consiste em deduzir e/ou induzir a
imagem psicossocial, da forma mais rigorosa possível, de um indivíduo, a partir da análise
de um conjunto de informações relativas às circunstâncias criminais verificadas na cena
de crime e reunidas em dossier de instrução (Montet, 2002). A recolha e a inferência de
dados pretendem fornecer informação específica sobre potenciais criminosos
(Wrightsman, 2001).
O conceito de profiling, que foi desenvolvido no âmbito da Psicologia Forense,
corresponde a uma área que é desenvolvida por psicólogos especializados na área
forense em diversos países (Wrightsman, 2001, citado por Correia, Lucas & Lamia, 2007)
e engloba um conjunto de metodologias que surgem identificadas por designações
diversas, como: perfil psicológico, perfil do ofensor e perfil de personalidade criminal.
Segundo Agrapart-Delmas (2001, citado por Correia, Lucas & Lamia, 2007) o profiling
constrói-se a partir de uma complexa perícia pluridisciplinar na qual o
perito/investigador criminal extrapola listas de características dos sujeitos em análise. O
profiling consolida-se através do desenvolvimento de outras áreas da Ciência,
designadamente: a psicologia, a psiquiatria, a criminologia, a antropologia, a sociologia,
a geografia, entre outras (Spitzer, 2002). Desta forma, o profiling é visto como uma
especialização que preenche uma profissão.
Montet (2001, 2002; citado por Correia, Lucas & Lamia, 2007) afirma que os profissionais
que examinam o fenómeno criminal podem exercer a atividade de profiling ao nível do
ensino, de perícia, de investigação, entre outros contextos; tornando-se, assim, profilers,
pelo que, a técnica exige um conhecimento aplicado e integrado dos que estudam o
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comportamento criminal e tem as suas raízes na Criminologia, Psicologia, Psiquiatria e
nas Ciências Forenses (Soeiro, 2009).
Seguramente, a primeira e mais antiga abordagem dos perfis surgiu quando os
profissionais de Saúde Mental foram chamados para apoiar as investigações criminais
envolvendo, muitas vezes, crimes incomuns e aparentemente por resolver. São os casos
históricos do Dr. Thomas Bond com a investigação do Assassino de Whitechappel ( Jack
the Ripper) - que, mais à frente, iremos aprofundar - e o caso do Dr. James Brussels com a
investigação do Bombista Louco (Mad Bomber) (Kocsis, 2006; Weinerman, 2004a, citado
por Torres, Boccaccini & Miller, 2006). Os seus esforços foram no sentido de relacionar o
seu conhecimento de Psiquiatria, Psicologia e Criminologia e a experiência clínica com
os perfis criminais.
Ainsworth (2001) acrescenta que os perfis são uma técnica que visa estruturar a análise
do criminoso, com o objectivo de responder a três questões essenciais: 1) o que se passou
na cena do crime; 2) por que razão estes acontecimentos tiveram lugar; e 2) que tipo de
indivíduo pode estar implicado.
Nas palavras de Costa (2012), vários autores evidenciam o valor que possui a execução
de um perfil psico-criminal sólido, feito através da interpretação de um ato violento e de
um exame pormenorizado de todas as pistas que podem ser encontradas e recolhidas no
local onde ocorreu o crime. Esta interpretação tem por objetivo a correta determinação
de suspeitos. Depreende-se, portanto, que a ênfase desses estudos reside no relevo que
é dado à descodificação do pensamento do infrator, através da análise comportamental,
a fim de dissecar o ato violento, tendo sempre em atenção diversas variáveis como a
motivação, o uso de um tipo especial de arma, provas físicas encontradas no local do
crime, entre outros indicadores (Costa, 2012).
1. Profiling: a perspectiva histórica
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Para alcançar um melhor entendimento do conceito de perfil criminal, da sua utilidade
na investigação criminal, bem como do seu potencial futuro como uma ferramenta
investigativa, é necessária uma compreensão das origens deste conceito. Os perfis
criminais podem ter sido originados na ficção em vez de factos concretos; podem ter tido
início na mente criativa de Edgar Allen Poe, como uma ferramenta para o detective
amador C. August Dupin, em 1841, podendo também ser visto nas explorações
científicas de Sir Arthur Conan Doyle, de Sherlock Holmes (Egger, 1999).
O primeiro uso dos perfis criminais ocorreu quando o Dr. W. C. Langer, psiquiatra, foi
chamado pelo OSS (Office of Strategic Services) para fornecer um perfil de Adolph
Hitler. Recolhida toda a informação acerca de Hitler, Langer traçou um perfil de
personalidade psicodinâmica, focando-se em decisões que Hitler pode ter dado, perfil
esse que provou ser muito preciso (Egger, 1999; Pinizzotto & Finkel, 1990, citado por
Torres, Boccaccini & Miller, 2006).
Em 1957, foi pedido ao psiquiatra James Brussels, pelo NYCPD (New York City
Police Department), que os ajudasse a identificar o “Bombista Louco” (Mad Bomber),
responsável por mais de 30 bombardeamentos ao longo de 15 anos (Kocsis, 2006;
Weinerman, 2004a, citado por Torres, Boccaccini & Miller, 2006). O Dr. Brussels estudou
as cenas de crime e analisou as cartas que o Bombista enviou para os jornais e, em 1964,
usou uma técnica similar para o perfil do Estrangulador de Boston para o BPD (Boston
Police Department).
Houve três datas importantes no desenvolvimento desta técnica. Em 1972, o FBI
teve o seu início nos perfis criminais (Egger, 1999; Soeiro, 2009). Howard Teten, instrutor
da Academia do FBI, ensinava Criminologia Aplicada e começou a desenvolver perfis
para agentes, cujos crimes estavam por resolver. Contudo, só depois de 1978 é que o FBI
estabeleceu um Programa de Perfis Psicológicos (Psychological Profiling Program)
formal. Em 1982, a BSU (Behavioral Science Unit) recebeu uma bolsa do Instituto
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Nacional de Justiça – Departamento de Justiça (National Institute of Justice –
Department of Justice) para, assim, poderem expandir as suas capacidades de construir
um ficheiro de entrevistas gravadas com homicidas convictos (Porter, 1983; Ressler et al.,
1984, citado por Egger, 1999).
Em 1985, surgiu o segundo maior desenvolvimento na história dos perfis de ofensores,
quando foi pedido ao Dr. David Canter, psicólogo da Universidade de Surrey, Inglaterra,
que colaborasse com a Polícia de Surrey, a Polícia Metropolitana de Londres e a Polícia
de Hertfordshire na investigação de uma série de trinta violações e dois homicídios.
Canter desenvolveu um perfil do não identificado violador-homicida que seria apelidado
pela imprensa como sendo Railway Rapist. O perfil de Canter foi notavelmente preciso e
provou ser, extremamente, útil na apreensão do, posteriormente descoberto, violadorhomicida John Duffy. Posto isto, em 1994, o Dr. Canter criou a primeira Academia
Graduada de Psicologia Investigativa, na Universidade de Liverpool (Egger, 1999).
Mais dois desenvolvimentos devem ser mencionados na história dos perfis de ofensores:
os esforços do Dr. Milton Newton, no final dos anos 80, com uma análise preliminar da
sua investigação intitulada “Identificação Geoforense de Crimes em Série Localizados”,
na qual foram usados princípios geográficos e, em 1995, surgiu a investigação e
dissertação de Kim Rossmo, o criador dos Perfis Geográficos (Egger, 1999; Rossmo,
2000).
Por fim, mas não menos falado, temos a investigação sobre a primeira história do,
possivelmente, primeiro assassino em série, o Assassino de Whitechappel, mais
conhecido como “Jack, O Estripador”, que envolveu a consulta do psiquiatra Dr. Thomas
Bond, ao fornecer o inquérito policial com alguma descrição do potencial ofensor, com
base no comportamento exibido nos crimes (Weinerman, 2004a, citado por Torres,
Boccaccini & Miller, 2006; Rumbelow, 1988, citado por Kocsis, 2006; Soeiro, 2009).
1.1. Profiling: a técnica
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A técnica dos perfis criminais tem várias metodologias que, essencialmente, se
subdividem em duas abordagens: uma de orientação clínica e outra de orientação
estatística e, ambas, podem coexistir na mesma prática da sua aplicação (Garrido, 2007).
Esta última abordagem centra-se no processo de predizer as características do criminoso
em termos de comportamento de sujeitos que cometem crimes similares, revelando
padrões típicos de comparação (Canter, 2004; Snook, Cullen, Bennell, Taylor &
Gendreau, 2008); por vezes, a partir de cálculos de variáveis resultantes da análise de
crimes resolvidos e de cada caso não resolvido, por comparação com os perfis criminais
gerados através destas técnicas (Costa, 2012).
Com o grande impacto na comunidade, devido à mediatização dos fenómenos da
criminalidade, esta técnica tem vindo a apresentar, do ponto de vista das publicações
científicas, um crescente interesse e investimento. Por conseguinte, o acréscimo de
trabalho científico tem facilitado a identificação das várias metodologias utilizadas na
sua aplicação e uma avaliação da sua validade, enquanto instrumento preditivo das
características do ofensor - que podem estar associadas a um determinado contexto
criminal (Soeiro, 2009).
Os perfis criminais são definidos como uma técnica de investigação da cena do crime,
utilizada para analisar padrões de comportamento que melhor definem um crime
violento ou uma série de crimes que podem estar associados, com o propósito de
identificar as características do presumível ofensor (Kocsis, 2003 citado por Soeiro 2009).
Esta técnica integra processos de recolha e análise da cena de um crime, com o objectivo
de predizer o comportamento, as características de personalidade e os indicadores
sociodemográficos do ofensor que cometeu esse mesmo crime (Hicks & Sales, 2006;
Kocsis, 2006, citado por Soeiro 2009), estreitando o campo de suspeitos e ajudando na
sua detenção (Beauregard, Lussier & Proulx, 2007).
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Para Montet (2002), o profiling é uma das componentes da análise criminal, mas também
funciona como seu prolongamento. Enquanto componente é, muitas vezes,
conceptualizada pelo termo Criminal Investigative Analysis (CIA) e definida como a
tentativa para estabelecer hipóteses acerca de um criminoso, com base na análise da
cena do crime, da vitimologia e do estado actual dos conhecimentos sobre os agressores
(Knight, Warren, Reboussin & Soley, 1998, citado por Montet, 2002). Enquanto
prolongamento da análise criminal, o profiling visa elaborar o perfil criminal, pelo que
recorre a análises mais específicas, tais como: criminal profiling, ofender profiling,
psychological profiling, investigative profiling, crime scene profiling, criminal behavior
profiling.
Em síntese, constata-se que os principais objectivos do profiling são orientar as
investigações, com o auxílio das ciências humanas e das ciências criminais, ligar os casos,
identificar crimes com as mesmas características, ajustar as estratégias ao perfil do
criminoso e emitir recomendações em vários domínios da criminologia (Toutin, 2002).
Segundo Agrapart-Delmas (2001 citado por Correia, Lucas & Lamia, 2007) e, de um
modo geral, os perfis são a construção virtual de um perfil psicológico, tipológico, físico
e social de um indivíduo, não identificado, passível de ter cometido um crime, isto é,
susceptível de passar ao acto. Na óptica de Toutin (2002; Correia, Lucas & Lamia, 2007),
são vistos enquanto dimensão psicológica, psiquiátrica e psicanalítica do crime e
enquanto análise criminal, no que respeita às sugestões e conselhos de investigação.
1.2. Domínios e Aplicação
O estudo desta temática e a sua aplicação de forma sistemática surge, apenas, em
meados do século XX, apesar de existirem registos, que remontam ao século XIX,
referentes à utilização de informações de natureza psicológica como instrumento de
apoio à investigação de crimes violentos, perpetrados de forma padronizada e fora do
vulgar (Tetem, 1989, citado por Soeiro, 2009). É a partir dos anos que o interesse dos
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profissionais, que trabalhavam com o contexto da criminalidade violenta, se centra no
desenvolvimento de um campo de investigação científica, aplicado à análise do
comportamento do ofensor violento. Inicialmente orientado para os crimes em que o
ofensor desconhece a vítima, ou seja, em que não há qualquer contacto anterior à
agressão entre o ofensor e a vítima por ele escolhida (Weiner & Wolfgang, 1989, citado
por Soeiro, 2009).
Os perfis criminais, associados ao amplo trabalho desenvolvido pelo FBI ( Federal Bureau
of Investigation) desde os anos 70 do século XX, têm sofrido uma evolução enorme em
termos de divulgação e utilização como instrumento de apoio ao trabalho da polícia de
investigação criminal. De facto, com o grande impacto na comunidade, devido à
mediatização dos fenómenos da criminalidade, esta técnica tem vindo a apresentar, do
ponto de vista das publicações científicas, um crescente interesse e investimento.
Todavia, o conjunto de trabalhos científicos desenvolvidos nos últimos vinte anos tem
demonstrado que existe uma lacuna entre a sua aplicação cada vez mais generalizada e a
escassez de suporte científico para a sua utilização (Snook, Cullen, Bennell, Taylor &
Gendreau, 2008). Alguns autores mencionam um aumento da utilização da técnica dos
perfis criminais em países como os Estados Unidos da América e Canadá ou a Europa,
onde se destacam o Reino Unido, Holanda e Alemanha (Snook et al., 2008), podendo
afirmar-se que o mesmo sucede com a realidade portuguesa (Soeiro, 2008 citado por
Soeiro, 2009). No entanto, a aceitação dos perfis criminais por parte de muitos agentes
da polícia, psicólogos e o público em geral está em desacordo com a ausência de
evidências científicas para confirmar a sua validade e fiabilidade (Snook et al., 2008).
Na abordagem de orientação clínica, a investigação baseia-se no treino, experiência,
conhecimentos e “faro” dos investigadores para deduzir as características do agressor.
Todos estes fatores são desenvolvidos a partir da experiência prática clinica e forense do
perito que elabora o perfil criminal (Holmes & Holmes, 1996; Turvey, 1999). O papel do
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médico legista na resolução de um crime é aqui preponderante, especialmente, pelo seu
contributo para a elaboração de um perfil psico-criminal, incidindo nas observações que
faz, no estudo e análise da consequência de um delito. Os patologistas conseguem
identificar pontos-chave que permitem a reconstrução mais fielmente possível do crime
ou do próprio incidente que resultou em morte, ou seja, a patogénese das circunstâncias
que estiveram na origem do ato criminal pode ser sempre determinada (Adelson, 1974).
O profiling não se trata de uma profissão (Spitzer, 2002, citado por Correia, Lucas &
Lamia, 2007), pois até agora e a nível internacional não existe efectivamente uma
profissão de profiler, lavrada de acordo com as normas judiciais, sindicalizada e
regulamentada legalmente (Montet, 2001, citado por Correia, Lucas & Lamia, 2007). De
acordo com Montet (2001; 2002, citado por Correia, Lucas & Lamia, 2007), trata-se mais
de uma especialização, que preenche uma profissão ou uma actividade profissional
indispensável. Não obstante, a técnica dos perfis pode ser exercida por um investigador,
um psicólogo, um criminólogo e outros profissionais que compreendem o fenómeno
criminal (ensino, investigação, perícia, etc.), particularmente, se intrínseco a uma
profissão liberal, podendo assim rotular-se de profiler (Correia, Lucas & Lamia, 2007).
Tendo em conta as razões que levaram as polícias de investigação criminal a promover e
a utilizar os perfis criminais como instrumento, torna-se evidente que os casos que
envolviam comportamentos de violência com repetição do mesmo crime fazem parte do
contexto inicial da sua aplicação (Burgess, Douglas, Hartman & Ressler, 1986, citado por
Soeiro, 2009). Assim, os sectores tradicionais a que os perfis estão, indissoluvelmente,
associados sendo a técnica usualmente aplicada são: crimes violentos e homicídios em
série, crimes de violação, crimes sexuais contra crianças, sequestros, homicídios,
incêndios e assaltos à mão armada (Kocsis, 2003; Strano, 2004). Em alguns casos, esta
técnica também tem sido usada para identificar autores de cartas anónimas. Logo, a
característica comum nos crimes analisados, com a técnica dos perfis criminais, são os
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crimes em série. Os motivos dos ofensores nestes crimes são, por vezes, caracterizados
por uma psicopatologia subjacente (Strano, 2004). Esta perspectiva está presente quer
na abordagem de avaliação e diagnóstico, quer na abordagem estatística (Soeiro, 2009).
Deste modo atestamos, assim, que os principais objectivos dos perfis são orientar as
investigações, com a ajuda das Ciências Humanas e das Ciências Criminais, relacionar os
casos, identificar crimes com as mesmas características, moldar as estratégias ao perfil do
criminoso e emitir recomendações em vários domínios da Criminologia (Toutin, 2002,
citado por Correia, Lucas & Lamia, 2007).
2. Crimes em Série
O conceito de serial killing tornou-se o foco de numerosos romances de crime e ficção,
programas de televisão, filmes e vários outros fóruns que tanto visam entreter, como
informar o público. Considerando esta tendência, a liderança das histórias sobre perfis
de criminosos revelam uma grande contribuição da ciência forense. Parece haver, pelo
menos, dois tipos de percepção sobre perfil criminal e de ciência forense - a percepção
pública e a percepção de aplicação da lei (Lester, Gentile & Rosenbleeth, 2011).
Segundo estes mesmos autores, a percepção do público acerca de perfil criminal, feito
com base em informações processuais, recolhidas a partir dos dramas televisivos, como
"Profiler" e "Criminal Minds" é, provavelmente, o mais impreciso, mesmo que os fatos
históricos sobre serial killers possam ser corrigidos nestas séries de televisão.
Uma marca importante da ação dos serial killers é a assinatura, que diz respeito à
necessidade de deixar uma marca nos crimes que comete; não se contentam só com o
matar, precisando de fazer todo um ritual que acaba sendo uma marca, a sua assinatura.
O que a difere do modus operandi é que a assinatura pode ter alguns aspectos
desenvolvidos, mas nunca muda, pois advém da fantasia do criminoso, enquanto o modus
operandi pode mudar (Vellasques, 2008).
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Casoy (2002, p. 48) considera alguns exemplos: manter a atividade sexual numa ordem
específica; usa repetidamente um tipo específico de amarração da vítima; inflige a
diferentes vítimas o mesmo tipo de ferimentos; dispõe o corpo de maneira peculiar e
chocante; tortura e/ou mutila as suas vítimas e/ou mantém alguma outra forma de ritual.
A investigação acerca do modus operandi, da tomada de decisão geográfica e do
comportamento predatório dos ofensores tem vindo a aumentar ao longo dos últimos
anos (Rebocho Lopes, 2009). Define-se o modus operandi observando e estudando a
arma, a vítima e o local dos crimes; este pode mudar, de acordo com as práticas dos
crimes, pois o assassino vai sofisticando e aperfeiçoando os seus métodos.
Assassino em série é, portanto, um assassino que comete de dois a mais assassinatos, num
intervalo de tempo que separa cada um dos crimes (Vellasques, 2008).
2.1. O estranho caso de Jack the Ripper
Os primeiros passos traçados neste caminho terão sido dados por George Baxter Phillips,
em 1888, no misterioso caso dos homicídios de Whitechapel, protagonizado por Jack
The Ripper (Kocsis, 2006). Nesta data foi pela primeira vez empregue, cientificamente,
um perfil psico-criminal no famoso caso do Estripador de Londres. Inicialmente,
apelidado por “Leather Apron” pela polícia e pela imprensa, Jack aterrorizou o East End
londrino e cometeu, pelo menos, cinco assassinatos na área de Whitechapel, espalhando
o medo pela cidade (Costa, 2012). George Baxter Phillips, patologista forense, foi quem
autopsiou algumas das vítimas do Jack The Ripper. Tendo como base a sua experiência
clínica e em alguns conhecimentos da área da criminologia, procurou deduzir
características da personalidade do estripador londrino, por intermédio das feridas
infligidas às vítimas (Turvey, 1999). O exame de padrões de feridas é ainda hoje bastante
valorizado, todavia, a conjugação de várias ciências forenses favorece, com o seu rigor
científico, o trabalho de qualquer investigador criminal (Costa, 2012). A fim de aferir a
personalidade do assassino, Phillips, em vez de fazer comparações com os padrões
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comportamentais de outros criminosos que tivessem cometido crimes semelhantes,
examinou minuciosamente os ferimentos dos corpos das vítimas (Sugden,1995).
Ao longo do tempo, muitos investigadores tem elaborado perfis a fim de descobrir a
identidade verdadeira de Jack “The Ripper”; destacando-se Douglas & Olshaker, exagentes do FBI. Segundo Douglas & Olshaker (2000), o assassino londrino seria um
sujeito masculino, entre os 28 e os 36 anos, que residia ou trabalhava perto de
Whitechapel. A sua mãe tinha uma personalidade dominante e, possivelmente seria
alcoólica e o seu pai passivo ou mesmo ausente. Na infância, Jack era um rapaz solitário
que tinha o gosto de torturar animais e queimar objetos. Ao longo da sua vida, Jack
tornou-se um jovem que procurava poder e domínio sobre os outros, podendo trabalhar
como talhante ou ajudante numa morgue, hospital ou funerária. Embora, ainda segundo
este mesmo autor, tivesse uma personalidade antissocial, Jack era um homem casado,
vestia-se a rigor, a fim de mostrar um estatuto social alto e levava sempre consigo uma
arma devido à sua ideação paranóide. Apresentava-se socialmente como um sujeito
sossegado, obediente, tímido e de aparência asseada, apesar de ter sido infetado com
uma doença sexualmente transmissível. Usualmente, frequentava bares da zona de
Whitechapel.
Ao examinar o comportamento do criminoso, os investigadores interligaram onze crimes
cometidos na época, tendo por base as semelhanças comportamentais que
apresentavam. O plano arquitectado, cuidadosamente, pelo homicida revela a exata
extensão dos cortes, as posições em que os cadáveres foram deixados e as mutilações
que os corpos exibiam; são pontos-chave que foram objeto de estudo aprofundado,
devido à similitude que alguns dos crimes apresentavam entre si (Bull, Cooke, Hatcher,
Woodhams, Billy & Grant, 2006). Desta forma, o estudo permitiu apurar que os
semelhantes comportamentos mencionados não constavam em todos os crimes, isto é,
cinco dos onze homicídios que ocorreram naquela época em Whitechapel, não foram
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levados a cabo da mesma maneira. Assim, pelo menos, cinco dos onze crimes possuem
características ímpares que são associados ao modus operandi de Jack, o Estripador (Bull
et al., 2006), que serão descritas, seguidamente.
2.1. Vítimas
O primeiro crime ocorreu no Bank Holiday, sexta-feira, 31 de agosto, de 1888, na
Linha de Buck. A vítima foi Mary Ann Nichols, conhecida por Polly, alcoólica, de 42 anos
de idade, com cabelos grisalhos e cinco dentes da frente desaparecidos; teve cinco filhos
de um casamento desfeito. Jack cortou a sua garganta de orelha a orelha, deslocou
algumas vértebras e cortou o seu abdómen desde a pélvis até ao estômago. A autópsia
revelou, também, que ela sofreu facadas na vagina (Howells & Skinner, 1987).
A vítima seguinte foi encontrada num quintal, em Hanbury Street, no sábado, 8
de setembro, de 1888. Annie Chapman, de 45 anos de idade, robusta e com falta de dois
dentes da frente. Uma alcóolica, separada do marido e dos dois filhos, um deles
deficiente. Annie foi encontrada com o pescoço cortado tão profundamente que parecia
que havia sido uma tentativa para tomar-lhe a cabeça; o seu abdómen foi exposto e os
intestinos colocados sobre o ombro; algumas partes da vagina e da bexiga foram
removidas (Howells & Skinner, 1987).
No domingo, 30 de setembro, de 1888, aconteceu um duplo assassinato. Ripper,
em primeiro lugar, atacou Elizabeth Stride, num pátio próximo ao Clube Internacional
dos Trabalhadores da Educação, em Berner Street. Stride, de 45 anos, alcoólica, com
faltas nos dentes da frente. A vítima deu à luz nove filhos, mas o marido e dois dos filhos
morreram num desastre de barco a vapor. O Estripador degolou-a, cortando a traqueia.
A mutilação de outras partes do corpo foi mínima, porque registos revelam que ele foi
interrompido por um carro. Uma hora depois, um segundo corpo foi descoberto em
Mitre Square, na cidade de Londres. Catherine Eddowes, de 43 anos, era como as suas
companheiras vítimas, uma alcoólica com um casamento desfeito. A sua garganta estava
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profundamente cortada e o abdómen aberto abaixo das mamas, com as entranhas
colocadas em monte sobre o pescoço; a sua orelha quase foi cortada e, desta vez, Jack
levou um rim, que, posteriormente enviou às autoridades (Howells & Skinner, 1987).
O último e mais terrível assassinato ocorreu em Miller's Court, na sexta - feira, 9
de novembro, de 1888. Mary Kelly de, apenas, 20 anos de idade e três meses de gravidez,
já era uma viúva com problemas de alcoolismo. A visão bizarra cumprimentou aqueles
que descobriram o seu corpo: a sua cabeça e braço esquerdo foram quase decepados, o
rosto desfigurado, os seus seios e nariz cortados, coxas e testa esfoladas, vísceras
arrancadas e partes do corpo empilhados sobre a mesa de cabeceira, sendo que o seu
coração desaparecera. Jack, o Estripador, teve todo o tempo que precisava para saciar os
seus desejos mais bizarros. Enquanto o debate decorria sobre se ele seria o responsável
por outros assassinatos de prostitutas que ocorreram na mesma época. A maioria dos
investigadores acredita que ele parou, por qualquer motivo, após a mutilação de Mary
Kelly (Wilson & Odell, 1987).
2.2. O (possível) perfil criminal de Jack
Ninguém sabe quem foi Jack, o Estripador. E ninguém sabe ao certo o que o
motivou (Abrahamsen, 1992). Mas ele era, de uma forma macabra, um homem do seu
tempo. A turbulência da Revolução Industrial na Grã-Bretanha perturbou o padrão da
ordem social, gerando novas ambições, conflitos e frustrações. Aglomeração,
urbanização e mudança levaram à anomia (no sentido Durkeimiano) e à criação do
solitário, alienado da realidade. Condições adversas e desumanas, uma indiferença para
com as crianças e um estilo de vida selvagem conspiraram para criar um ambiente
propício à violência e desvio sexual. Não é de estranhar que as infra-estruturas
psicológicas e sociais, do século XIX, conduziram o primeiro assassino em série moderno
(Leyton, 1986).
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Em 1988, o FBI preparou um perfil da personalidade criminosa para os crimes de Jack, o
Estripador (Begg, Fido, & Skinner, 1991; Douglas & Olshaker, 2000). Após uma análise
das cenas do crime, da polícia e dos relatórios das autópsias, fotografias, vitimologia e
demografia da área, os seguintes elementos-chave da cena do crime foram identificados:
ataques e assassinatos violentos, alto grau de psicopatologia exibidos nas cenas do
crime, nenhuma evidência de agressão sexual, estrangulamento manual possível, pósmorte e mutilação de órgãos e sua remoção, mas não tortura, elaboração de ritual,
vítimas seleccionados com base na acessibilidade, todos os crimes ocorreram numa
sexta-feira, sábado ou domingo, nas primeiras horas da manhã (Douglas & Olshaker,
2000).
Douglas & Olshaker (2000) constataram, através de uma análise aos relatórios médicos,
que não houve nenhuma evidência de assalto sexual; as vítimas eram mortas
rapidamente, por possível estrangulamento manual; não havia evidência de tortura física
antes da morte; mutilação post mortem, com precisão cirúrgica controlada - o que indica
que possuía alguns conhecimentos da anatomia humana; o sangue das vítimas foi
encontrado em pequenas áreas; o ofensor retirou os anéis de uma das suas vítimas e a sua
última vítima fora morta dentro de casa, com varias mutilações, o que sugere que o
criminoso passou bastante tempo na cena do crime. Os corpos das vítimas foram
encontrados de madrugada.
Nos cinco casos canónicos, acima descritos, o MO do assassino incluiu ataques a
prostitutas brancas, do sexo feminino, geralmente entre 24 e 45 anos de idade,
geralmente, pobres e sem pertences. A arma usada nos crimes foi uma faca afiada e
longa. A evidência mostra que quando as mulheres subiam as saias em preparação para o
sexo, o assassino estrangulava as suas gargantas. As vítimas eram, depois, baixadas para o
chão com as cabeças, normalmente, viradas para a esquerda do assassino; este facto é
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suportado pela falta de hematomas, observado nos relatórios legistas e, também, pela
ausência de sangue no chão e nas roupas (Keppel, Weis & Brown, 2005).
No caso do assassínio de Annie Chapman, o Dr. Phillips reparou que os ferimentos
indicavam que o homicida teria conhecimentos da anatomia humana devido à precisão
dos cortes e rigorosa remoção de órgãos, post mortem, providos da cavidade abdominal
de Annie Chapman (Costa, 2012). Ainda neste sentido, o crime de Mary Kelly, não
obedeceu ao padrão de localização; ou seja, os anteriores foram cometidos na rua,
levando apenas alguns minutos, e este dentro de casa da vítima, o que leva a crer que
houve um maior contacto com a vítima e, por isso, um crime mais demorado. Alguns
investigadores intuem que Kelly deveria conhecer o assassino e, por conseguinte, ressalta
a dúvida se este crime terá sido da autoria do assassino de Londres (Keppel, Weis &
Brown, 2005).
É possível aferir, através dos casos descritos acima, que Jack adaptou o seu MO para
atacar as vítimas por trás e cortar as suas gargantas, de modo a neutralizá-las, diminuir a
quantidade de sangue no seu vestuário, bem como diminuir as possibilidades de poder
ser descoberta a sua identidade (Keppel, Weis & Brown, 2005).
2.2.1. Profiling geográfico, em Whitechapel
Há muito que se fez a "topografia" da concentração geográfica dos crimes do alegado
Estripador (Fido, 1986).
Profiling geográfico, em Whitechapel
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Profiling geográfico (Rossmo, 2000, p. 24).
Segundo este autor, os assassinatos foram todos a um quilómetro um do outro e a "área
de caça" total foi de pouco mais de meio quilómetro quadrado.
Em 1998, um perfil geográfico foi produzido para a Jack, o Estripador caso com base em
depósitos de lixo do corpo. O pico da área do geoprofile focou-se no local em torno das
Ruas Flower and Dean e Trawal. As ruas Flower and Dean e Thrawl, actualmente, já não
existem, mas, em 1888, estabeleciam ligação entre Comercial Sreet para o oeste e Brick
Lane para o leste, a norte de Whitechapel (Fido, 1986).
Todas as vítimas do Estripador residiam a um par de centenas de metros umas das outras
nas ruas enunciadas acima: Polly Nichols residia na Thrawl Street; pouco antes da sua
morte, foi despejada e mudou-se para a Flower e Dean Street, para uma residência
barata; a residência principal de Annie Chapman era uma casa de alojamento, na Dorset
Street; Elizabeth Stride vivia, ocasionalmente, numa casa de habitação comum na Flower
and Dean Street e, supostamente, estava lá na noite do seu assassinato; Catherine
Eddowes hospedava-se, geralmente, numa hospedagem na Flower and Dean Street,
onde dormia, há duas noites, antes de seu assassinato; e Kelly viveu e morreu em Miller's
Court, perto de Dorset Street; esta última vítima já havia residido na George Street,
entre Flower and Dean e a Thrall Street. Na noite do crime, Kelly foi vista com um
homem na Comercial Street, situada entre as ruas mencionadas acima (Fido, 1986).
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Estas residências estavam, misteriosamente, próximas umas das outras, cobrindo
menos de 1,5% da "área total de caça". É difícil avaliar a importância deste facto, pois a
concentração de casas nesta área serviam de alojamento a prostitutas (Rossmo, 2000).
A localização, entre Mitre Square e Flower e Dean Street, está, provavelmente, na rota
da casa de Jack, o Estripador, acreditando-se que Flower and Deand Street deveria ser o
epicentro de sua caçada (Fido, 1986). Embora o perfil geográfico de Whitechapel seja
interessante e com algum fundamento, não é possível avaliar a sua precisão. O endereço
do assassino, assim como a sua identidade permanecem desconhecidas (Butts, 1994
citado por Rossmo, 2000).
Considerações Finais
O profiling aplica-se a toda e qualquer situação em que um sujeito comete uma
infracção. Logo, torna-se redutor pensar que o campo de competência e actuação do
profiler se limite aos casos de crimes extremos – serial killers (Montet, 2002). Admitindose, portanto que, em regra geral, o profiling se aplica nos casos seguintes: homicídios e
violações, em série ou não; violências voluntárias graves e tentativas de homicídio; actos
sádicos, cruéis ou perversos, até à tortura; crimes rituais; reféns; agressões e
desaparecimento de crianças; assédio sexual; reivindicações, denúncias e ameaças;
raptos; terrorismo e localização do agressor. Neste sentido, sublinha-se a ideia de
Homant e Kennedy (1997 citado por Montet, 2002) que diz que “o profiling é um
instrumento viável e fascinante que pode ser utilizado dentro de limites (...) mas deve ser
feito um esforço, no sentido de o aperfeiçoar em casos de violação e de homicídio em
série, para que, posteriormente, possa ser utilizado noutras categorias de crime”.
É ilusão achar que o perfil criminal é uma forma única e, totalmente, eficaz para se
chegar ao criminoso, mas também não se pode descartar a importância de se elaborar
um perfil criminal, o que vai ajudar a solucionar o crime, devendo, por isso, ser integrado
nas investigações. Não se pode esperar que o perfil vá levar a um único e especifico
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criminoso; este serve como exclusão, para selecionar possíveis suspeitos, os quais podem
ser elaborados por psicólogos e psiquiatras. É importante considerar que o objetivo não é
a resolução do crime, mas que esta técnica seja uma ferramenta importante para a
investigação, ou até mesmo para evitar que possíveis criminosos venham a atuar.
Segundo Casoy (2002), para realizar um perfil objetivo e o mais preciso possível, dois
conceitos devem ser tomados em consideração pelos investigadores e criminalistas,
antes de tentarem entender a cabeça de um serial killer: geralmente, ele já viveu o seu
crime nas suas fantasias, inúmeras vezes, antes de realizá-lo com a vítima real e, a maioria
dos seus comportamentos satisfaz um desejo ou uma necessidade. Aceitando estas duas
premissas, o investigador pode deduzir os desejos ou necessidades de um serial killer, a
partir do seu comportamento na cena do crime.
Entre 1888 e 1891, onze mulheres foram assassinadas na área de Whitechapel, em
Londres. Na época, não se sabia se todos os crimes tinham sido cometidos pelo mesmo
assassino. Até à data, ainda persiste um amplo debate que discute se as vítimas poderão
ser atribuídas ao mesmo assassino, especulando-se sobre a verdadeira identidade de
Jack The Ripper. Recentemente, académicos da Universidade de Washington e Sam
Houston (EUA), tentaram compreender se todos os crimes de Jack são de facto, da sua
autoria (Hazelwood, 2003). Por outro lado, vários estudos vinculam que os crimes em
série foram cometidos pelo mesmo e desconhecido assassino, popularmente, chamado
de Jack, o Estripador.
Jack era um assassino calculista e, por isso, organizado, planejava o crime nos mínimos
detalhes, procurando o crime perfeito e não deixando vestígios. Com antecedência,
preparava as armas que seriam utilizadas e as técnicas para o seu ritual, o que lhe
permitia a minuciosidade dos cortes. O Estripador de Londres poderia, também, ser
considerado um assassino territorial, pois, de certa forma, estabeleceu um limite
territorial para actuar, dentro de Whitechapel Road.
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Ao fazer-se a análise das vítimas de Jack, pode verificar-se que este não sofre de
parafilia. Atendendo a que os seus alvos eram prostitutas, seria de esperar que o
homicida fosse levado a ter atividades sexuais, com fantasias, sentindo prazer com
objetos diferenciados ou de formas anormais – o que não se verificou nos crimes
retratados. Porém, a mutilação, que costuma ser comum em crimes sexuais, aparece
quase em todos as vitimas, no entanto, não houve quaisquer vestígios de contacto sexual
nas vítimas de Jack.
Enquanto alguns serial killers pretendem atingir a satisfação sexual, através de
mecanismos primários (por exemplo, agressão sexual), outros recorrem a mecanismos
secundários, relacionados com a violência. É provável que Jack tenha utilizado a
violência, esfaqueando e cortando as suas vítimas com uma faca como métodos para
exercer o seu poder e controlo sobre estas. Podemos considerar que o Estripador usou
uma faca para penetrar a vítima (piquerismo) e satisfez-se com o poder erotizado da
violência, a dominação, a mutilação e o sangramento da vítima, em vez de uma relação
sexual.
Em suma, o perfil criminal é definido como a inter-relação entre provas físicas e
psicológicas, sendo mencionado como uma ferramenta utilizada em guias de
desenvolvimento, estreitando, assim, o foco dos suspeitos em estudo (White, Lester,
Gentile & Rosenbleeth, 2011). Entende-se, então que, de um ponto de vista forense, a
maioria dos assassinos em série são psicopatas e/ou sádicos sexuais, ou possuem um
transtorno de personalidade anti-social, dependendo das circunstâncias do homicídio e
daquilo que foi infligido à vítima o que, em posteriores investigações, reflectirá o perfil
do alegado criminoso.
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