Confúcio

Transcrição

Confúcio
O Fenômeno Religioso - Confúcio
CONFUCIONISMO
Bruno Glaab
“A grande montanha terá que desmoronar! A forte viga terá que quebrar! O homem sábio murcha como a planta! Não existe ninguém no império que me queira como
mestre! Meu tempo de morrer chegou.” (Confúcio).
Introdução
Com o presente trabalho vamos estudar o Confucionismo, que, antes de ser uma
religião, é um sistema ético. Mas, apesar disto, tem princípios religiosos e depois da
morte de seu fundador, recebeu estrutura de religião. Assim, veremos a história de Confúcio e do confucionismo. Sua doutrina, suas práticas, seus livros sagrados e sua situação, hoje. Com isto estaremos compreendendo mais uma prática religiosa que é mais
antiga do que o cristianismo.
Origem
Confúcio nasceu na China. Viveu entre 552 a 479 a.C. Seu nome
era Kung-Fu-Tse, ou então, Mestre Kung. Os missionários jesuítas, que no século XVI foram para a China, latinizaram seu nome
para Confúcio. Nasceu em família de pequena nobreza, mas perdeu o pai aos três anos e logo teve de se preocupar em trabalhar
para ajudar a sustentar a família. Casou com 19 anos. Teve, ao
menos, um filho.
Destacou-se como professor, abrindo uma escola, onde
adquiriu notoriedade. Infelizmente nada deixou escrito. O que
hoje dele sabemos, foi coletado por seus discípulos que anotaram
seus provérbios e diálogos em um livro, chamado de Lun Yu –
que, em chinês traduzem algo assim como “Analectos", uma
coletânea de aforismos que ele teria composto ou reescrito, a partir de textos remotos da
civilização chinesa” (http://educacao.uol.com.br/biografias/confucio.jhtm).
Trabalhou na corte de um rei feudal e chegou a ser governador de uma cidade.
Mais tarde foi exilado. Sua grande utopia foi encontrar um rei que governasse com justiça e equidade, constituindo o Estado Ideal. Assim haveria a harmonia entre deuses e
homens. Seria, então, um rei, filho do céu assessorado por sábios. Para tanto, Confúcio
fala nos dois princípios: Yin = princípio feminino e Yang = princípio masculino (DELUMEAU, 2000, p.49).
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Após seu exílio, perambulou por 14 anos em busca de um rei a quem assessorar
com sua lucidez, mas não conseguiu lograr êxito. Formou então, um grupo de discípulos. Estes, depois de sua morte levaram a sua obra em diante, compilando os seus provérbios e ensinos.
Antes de ser um fundador de religião, foi um filósofo, pedagogo e político.
Mesmo assim, ele teve preocupação com o culto ao Soberano e também aos antepassados e deuses do lar. Sua doutrina acabou virando religião, mais tarde, na mão de seus
discípulos.
De qualquer forma, a herança que o filósofo deixou para o
mundo oriental vai muito além disso. O confucionismo é a
base da ética empresarial japonesa. Também em alguns dos
chamados Tigres Asiáticos, como Coréia do Sul e Cingapura, ele é promovido como sistema filosófico a encorajar o
desenvolvimento econômico. Isso porque os pensamentos
de Confúcio pregavam, por exemplo, a importância da
educação para melhorar a sociedade, com destaque à construção do caráter e não apenas ao acúmulo de conhecimentos. Ele também criou programas de treinamento para líderes em potencial.
Seu objetivo era formar homens perfeitos, que, tornando-se membros da burocracia estatal, ajudassem a construir o estado ideal. Algumas pessoas consideram o confucionismo uma religião.
O mestre chinês realmente pregava certos rituais em homenagem a ancestrais, mas seus ensinamentos representam muito mais um sistema de ética e política que uma religião, como deixa claro uma de suas máximas: "Se nem consegues te relacionares corretamente com os vivos, por que
te preocupas com o culto aos espíritos?" (http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quem-foiconfucio).
Os discípulos desenvolveram seus ensinamentos e às vezes desviavam bem longe o que de fato vinha do mestre Kung, outras vezes, eram fiéis. Como fora dito acima,
os livros foram escritos muito mais tarde, fazem mistura do que realmente é dele e daquilo que vem de alguns exaltados discípulos.
Após longa peregrinação, com cerca de 70 anos, Confúcio retornou a sua terra natal. Três anos
depois, faleceu. O Templo de Confúcio, na cidade de Qufu, na atual província de Shandong, tornou-se, através dos séculos, local de veneração, apesar de o filósofo ter sido condenado pelo Partido Comunista, depois da Revolução Chinesa. Sua filosofia ainda exerce imensa influência sobre o pensamento e mentalidade chinesa. (http://educacao.uol.com.br/biografias/confucio.jhtm).
Hoje, o próprio Partido Comunista tenta reabilitar o célebre pensador Confúcio,
percebendo que, sem a valorização de seu passado, a China perde valiosas partes de sua
cultura bimilenar. O sistema Comunista está entrando em crise, mas o pensador sobrevive.
Confucionismo
O Confucionismo é um sistema filosófico, com resquícios religiosos, criados por
Confúcio na passagem do século VI para o século V a.C. Sua preocupação abrange a
moral, a política, a educação e também a religião. Tornou-se um modo de vida. Depois
de sofrer combate pelo comunismo (Mao-Tse-Tung), o Confucionismo ressurge das
cinzas. Hoje um quarto da população chinesa é confucionista.
O confucionismo prega que todas as pessoas nascem iguais, mas ao longo da
formação podem se tornar maus. Por isto o mestre Kung insistia muito na pedagogia, na
formação de caráter. Principalmente os governantes devem ser justos para com o povo.
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Se assim agirem, terão o mandato do céu e, por consequência, o direito de governar.
Mas, se eles praticarem a injustiça para com o povo, perderão o mandato do céu. Não se
precisa mais obedecer a eles. Eles serão autocráticos (Wikipédia).
Algumas correntes do pensamento moderno se rebelam diante da classificação
do Confucionismo como apenas um sistema ético. Veem, por excelência princípios religiosos na prática de Confúcio, quando este advoga justiça para todos como o fundamento da vida e do mundo ideal. Tudo isto não pode ser enquadrado unicamente na esfera
da ética, mas sim, religiosa. O que choca com nossa compreensão de religião, é o fato
de ele crer que o SH pode ser perfeito por seu próprio esforço, mas isto também é comum nas demais religiões orientais, como o Budismo e o Hinduísmo.
Doutrina
O confucionismo tem como meta buscar o Caminho Superior (Tao). Assim é possível ter uma vida equilibrada e em
paz. Haverá então equilíbrio entre as vontades materiais e
as vontades espirituais. Para conseguir este equilíbrio, o
fiel se dedica à rigorosa disciplina, ao estudo, ao trabalho e
também bastante, aos valores morais: “Embora não seja
uma religião, existem temlpos confucionistas, onde ocorrem rituais de ordem social” (http:// www.suapesquisa.com/religiaosociais/confucionismo.htm). Assim sendo, o Confucionismo se aplica na
formação do caráter. Quer mudar a sociedade pela disciplina e pela moral. Talvez, por
isto mesmo, sua filosofia de vida acabou adquirindo, nas gerações posteriores, os ares
de uma religião, pois seria um tanto estranho, alguém ter preocupações morais e sociais,
sem que se enquadrasse isto em uma religião. Ele, próprio, não chegou a pensar em fundar uma religião.
O princípio básico do confucionismo é conhecido pelos chineses como junchaio (ensinamentos
dos sábios) e define a busca de um caminho superior (tao) como forma de viver bem e em equilíbrio entre as vontades da terra e as do céu (http://www.amcbr.com.br/Confucionismo.pdf).
Em termos de religião, Confúcio não foi original. Ele fundiu cultos antigos, onde
se crê em humanos imortais que são considerados deuses. Formou verdadeiro sincretismo com os cultos existentes antes dele.
No Confucionismo não existe um deus criador do mundo, nem uma igreja organizada ou sacerdotes. O alicerce místico de sua doutrina é a busca do Tao, conceito herdado de pensadores religiosos anteriores a Confúcio. O Tao é a fonte de toda a vida, a harmonia do mundo. No confucionismo, a base da felicidade dos seres humanos é a família e uma sociedade harmônica. A família e a sociedade devem ser regidas pelos mesmos princípios: os governantes precisam ter amor e
autoridade como os pais; os súditos devem cultivar a reverência, a humildade e a obediência de
filhos (http://www.amcbr.com.br/Confucionismo.pdf).
Prestam muito culto aos antepassados, como forma de manter o respeito pela
história. O SH se compõe de quatro realidades: o eu, o nós (comunidade), a natureza e o
céu. Cinco são as principais virtudes do SH: 1) amar ao próximo, 2) ser justo, 3) comportar-se adequadamente, 4) tomar consciência da vontade do céu, 5) cultivar a sabedoria e a sinceridade desinteressadamente. “Ele afirma que o universo é regido por duas
forças ou qualidades, complementares e opostas, o yin (feminino) e o yang (masculino),
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que provocam constante mudança. O homem nobre deve saber equilibrá-las”.
(http://www.amcbr.com.br/Confucionismo.pdf).
Os confucionistas prestam culto a seus antepassados, levando-lhes oferendas, até
comida. Celebram, de forma muito viva, os casamentos e os funerais. Ao construir casas
e prédios, escolhem a disposição dos mesmos, para que a energia vital possa fluir e dar
saúde, paz e harmonia a seus moradores. Chamam ao conjunto destas definições, de
Feng Shui1.
No que concerne ao SH, o Confucionismo entende que, por sua natureza, o SH é
bom. Pode se deturpar, mas ninguém nasce mau. Por isto mesmo, insiste muito na educação e na formação do caráter. Preocupando-se tanto com o SH, crê que o céu tem influência sobre a terra. No fato de adorar os antepassados e de ter piedade filial, está a
dimensão espiritual e religiosa de sua prática. Alguns pontos religiosos merecem destaque:
1. Deus : O Confucionismo crê que a natureza humana é divina, mas existe, além
dela, uma força suprema, que rege o mundo:
Shang Ti - Supremo Governador = Deus.
Tien – Céu = supremas regras morais.
Ming – Decreto = ética e à fé no Ser Supremo.
Além do Supremo Governador, o confucionismo adora outros deuses: sol, lua,
imperadores, montanhas, rios, etc.
2. Adoração dos Ancestrais
A adoração aos antepassados, pelas famílias reais e pela plebe, é a prática da veneração do espírito dos mortos pelos familiares vivos em sinal de gratidão e respeito. Esta prática foi altamente
promovida e praticada por Confúcio. Para isso, construiram-se templos onde se realizam ritos de
sacrifícios aos mortos. Segundo ensinam, pessoas importantes e de destaque, depois de mortos,
poderiam influenciar, ajudar e iluminar os imperadores, governantes e o povo. A existência do
espírito destes antepassados, segundo eles, depende da atenção dada pelos seus familiares. Também crêem que o espírito dos mortos pode controlar o êxito dos indivíduos como prosperidade,
filhos e harmonia. Para isso, a família deve prover tudo o que for necessário para que os antepassados vivam além-túmulo, de maneira similar aos vivos. Isto inclui a colocação de alimento, armas de guerra e diferentes utensílios nos túmulos, ou em festivais especiais. Se isto não for oferecido, eles creem que os espíritos virão em forma de fantasma e trarão males àqueles que estão
vivos. Até hoje, o povo celebra o Festival dos Fantasmas (espíritos) Famintos. O ofertante coloca
alimento e vinho em frente a sua casa para satisfazer o espírito dos antepassados, cujos descendentes vivos não têm tido cuidado por eles. Consequentemente, o povo vive sob o medo dos
mortos
(http://www.cacp.org.br/orientais/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=371&cont=1&menu=9&submenu=1).
3. Piedade Filial
Prática chinesa da lealdade e devoção dos membros mais novos da família aos mais velhos, denominada de Hsaio. Todo filho deve ser leal e devoto à sua família. É esperado que o filho ame e
reverencie seus pais enquanto estiverem vivos, e que chore e os lamente depois de mortos. Este é
o dever fundamental de todo o homem, segundo o Confucionismo (http://www.cacp.org.br/ orientais/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=371&cont=1&menu=9&submenu=1).
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Esta teoria é bastante divulgada no ocidente, inclusive, entre nós. Certas pessoas se negam a viver em determinadas casa, em determinados quartos, por julgarem que sua posição, em relação ao universo não favoreça o fluído cósmico que gera harmonia.
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Livros Sagrados
Como já vimos acima, depois de sua morte os discípulos compilaram alguns de
seus provérbios e ensinos num livro chamado Lun Yu (Analectos). Mas além deste,
existem outros cinco livros clássicos (Wu Ching) que são, em parte, atribuídos a Confúcio, em parte a outros autores anteriores: 1) Shu Ching – Política, 2) Shih Ching - Poesai, 3) Li Ching – Ritos – visão social, 4) Chun-Chiu – Anais das Primaveras e Outonos
– visão histórica, 5) I Ching – Livro das Mutações – abordagem da vida.
Vida prática
O Confucionismo segue seis princípios básico:
1. Jen - humanitarismo, cortesia, bondade, benevolência. É a norma da reciprocidade, ou seja,
"não faça aos outros o que você não gostaria que lhe fizessem." Esta é a virtude mais elevada do
Confucionismo. Segundo ensinam, se o homem colocá-la em prática, ele poderá viver em paz e
em harmonia com as outras pessoas (Anacletos 15:24).
2. Chun-tzu - homem superior, virilidade. Segundo Confúcio, o homem para ser perfeito deve
ter humildade, magnanimidade, sinceridade, diligência e amabilidade. Somente assim, ele poderá
transformar a sociedade em um estado de paz.
3. Cheng-ming - Retificação dos nomes. Este conceito ensina que para uma sociedade estar em
ordem, cada cidadão deveria ter um título designativo ou um papel, e afirmar-se neste papel no
esquema da vida. O rei, atuando como rei, o pai como pai, o filho como filho, o servo como servo. (Anacletos, 12:11; 13:3).
4. Te - poder, autoridade. Confúcio ensinava que a virtude do poder, e não a força física, era necessária para dirigir qualquer sociedade. Todo governante, segundo ele, deveria ter esta autoridade para inspirar seus súditos à obediência.
5. Li - padrão de conduta exemplar, propriedade, reverência. Este conceito é tratado no Livro das
Cerimônias (Li Ching), um dos Cinco Clássicos. Segundo Confúcio, cada governante deveria ser
benevolente, proporcionar um bom padrão de vida para o povo e promover a educação moral e
os ritos. Sem esta conduta, o homem não saberia oferecer a adoração correta aos espíritos do
universo, não saberia estabelecer a diferença entre o rei e o súdito, não saberia a relação moral
entre os sexos, e não saberia distinguir os diferentes graus de relacionamento na família (Li
Ching, 27).
6. Wen - artes nobres, que inclui: música, poesia e a arte em geral. Confúcio tinha uma grande
estima pela arte vinda do período da Dinastia Chou, e considerava a música como a chave da
harmonia universal. Ele cria que toda expressão artística era símbolo da virtude e que deveria ser
manifesta na sociedade. "Aqueles que rejeitam a arte, rejeitam as virtudes do homem e do céu"
(An, 17:11). Para Confúcio, a música era um reflexo do homem superior e espelhava seu caráter
verdadeiro. (http://www.cacp.org.br/orientais/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=371&cont=1&menu=9&submenu=1).
Ditos de Confúcio
 Se os homens fossem severos para consigo próprios e generosos para
com os outros, nunca dariam azo a ressentimentos.
 Ainda não vi ninguém que ame a virtude tanto quanto ama a beleza do
corpo.
O sábio envergonha-se dos seus defeitos, mas não se envergonha de os
corrigir.
 O homem de palavra fácil e personalidade agradável raras vezes é homem de bem.
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 Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos
aborrecimentos.
 Ser ofendido não tem importância nenhuma, a não ser que nos continuemos a lembrar disso.
 A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim em
levantarmo-nos sempre depois de cada queda.
 A humildade é a única base sólida de todas as virtudes.
Hoje
Atualmente, apesar do comunismo banir todo tipo de religião, 25% da população
chinesa afirma viver segundo a ética confucionista. Fora da China, o Confucionismo
possui cerca de 6.3 milhões de adeptos, principalmente no Japão, na Coréia do Sul e em
Cingapura.
O confucionismo é ainda praticado em vários países. Além da sua origem asiática, diversos países incorporam alguns conceitos do sistema em suas práticas notadamente urbanas. No Brasil, é sentido em grupos de indivíduos que estudam religiões não
cristãs.
Conclusão
Ao longo deste estudo vimos as principais características do Confucionimso, um
sistema ético e filosófico com resquícios de religião, que ao longo da história foi transformada em verdadeira religião. O conhecimento desta rica tradição certamente nos
enriqueceu um pouco na valorização de nossa própria compreensão religiosa.
Bruno Glaab
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