A Motivação Para Missões - Global Training Resources
Transcrição
A Motivação Para Missões - Global Training Resources
Missões Transculturais Pr. Kenneth Eagleton Escola Teológica Batista Livre (ETBL) Campinas, SP 2011 1 Sumário 1- A motivação para missões 2- Base bíblica de missões 3- A história de missões 4- O plano de missões 5- A igreja enviadora 6- O missionário 7- O campo missionário 8- Desafios atuais em missões Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 2 1- A Motivação Para Missões Você é salvo e está na igreja hoje por causa de algum missionário que veio ao Brasil. A história da evangelização do Brasil está intimamente ligada à chegada de missionários estrangeiros no país. Estes lançaram as bases da Igreja Evangélica e iniciaram um movimento de conversões; multiplicaram o número de pessoas salvas de algumas centenas para milhares, centenas de milhares e, finalmente, a milhões de brasileiros. Cada um de nós deve a nossa evangelização a pessoas que vieram de outras culturas, principalmente norteamericana e europeia. Somos frutos de projetos missionários que se iniciaram há mais de cem anos ou há apenas alguns anos atrás. Regiões inteiras têm se aberto ao Evangelho nas últimas décadas. Há algumas décadas atrás, grandes blocos de países estavam praticamente isolados dos esforços evangelísticos. Países dos blocos comunista (União Soviética, China, Europa do leste, Cuba e muitos outros lugares) e muçulmano (Oriente Médio, África do Norte e outros locais) formavam regiões onde a proclamação do Evangelho era proibida e rara. Hoje, em muitos destes países, principalmente nos do antigo bloco soviético, o Evangelho tem uma penetração relativamente mais fácil. Mesmo nos países onde ainda existe proibição têm-se desenvolvido estratégias para a sua propagação. Há mais cristãos indo a um número maior de lugares, aprendendo mais línguas, traduzindo a Bíblia para um maior número de línguas e implantando mais igrejas nestas últimas décadas do que em qualquer outro período da história humana. Quem é missionário? Às vezes ouvimos que todos os cristãos são missionários. Em um sentido amplo, do ponto de vista do envolvimento com missões ou da necessidade de todos levarem o Evangelho às pessoas, isto pode ser verdade. Neste estudo, contudo, usaremos a palavra em um sentido mais restrito. A palavra “missionário” provém do latim e significa “enviado”. Tem o mesmo significado que a palavra “apóstolo”, que vem do grego. Neste sentido, missionário é alguém enviado pela igreja para pregar o Evangelho a outros povos de cultura e língua diferentes. Quando nos referimos a missões e missionários, estamos falando da tarefa de comunicar o Evangelho transculturalmente. Por que as missões transculturais são necessárias? Será que é mesmo necessário nos preocuparmos com a evangelização de outros povos? Razões para se envolver com missões: 1- O caráter de Deus: Seu amor e Sua santidade. O amor de Deus contempla o mundo todo (Jo 3:16), o que O levou a enviar Seu Filho para morrer pelos pecados de pessoas que compõem todos os povos do mundo. O amor de Cristo nos constrange a levarmos as Boas-Novas a todos os povos. A santidade de Deus exige que Ele seja justo e que condene todo pecador. É preciso anunciar o Evangelho a todos os povos para que escapem desta condenação. 2- O mandamento de Cristo: Jo 20:21. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 3 3- A impulso do Espírito Santo: At 1:8; 4:20. 4- A condição dos perdidos: Lc 16:23-28. Resultados do envolvimento missionário: • O comprometimento de uma igreja com missões é o seu termômetro espiritual (exemplo: Igreja de Corinto vs. Igreja de Antioquia). Quando se preocupa somente consigo mesma, a igreja se torna egoísta e destituída da visão de um mundo perdido. Quando a igreja se mobiliza para cooperar em levar o Evangelho a todos os povos, ela está cumprindo um dos propósitos de Deus para a igreja. O povo se desperta, a igreja cresce espiritualmente e aumenta a sua generosidade. A igreja que contribui generosamente para missões nunca terá falta em casa. • O envolvimento de todos gera mais recursos para a evangelização mundial: – Recursos humanos: quanto mais igrejas e indivíduos se despertam para as necessidades dos povos sem Cristo, mais pessoas ouvem e respondem ao chamado do Mestre para missões transculturais. Maior é o recrutamento de novos missionários. Não há somente novos missionários, mas também voluntários que se disponibilizam para levantar recursos, orar, cuidar da parte administrativa, das comunicações, divulgação etc. – Recursos financeiros: quanto maior o número de igrejas envolvidas, maior será o levantamento de recursos financeiros para a realização da obra de missões transculturais. – Recursos tecnológicos: o envolvimento de todos gera mais recursos tecnológicos. Voluntários desenvolvem vídeos de divulgação e ajudam a montar sites na internet; recursos são levantados para a aquisição de material de projeção (filme “Jesus”, por exemplo), material para tradução da Bíblia em outras línguas, projetos humanitários etc. • Purifica os valores do cristão: – Buscar em primeiro lugar o Reino de Deus (Mt 6:33). – Priorizar os valores eternos: almas em vez de bens materiais. – Disponibilizar o nosso tempo, nossos bens e nossa família para a obra de Deus. – Cooperar para alcançarmos o mundo todo. • Aumenta o envolvimento no evangelismo local. A sensibilização para os povos sem Cristo nos deixa mais atentos às pessoas sem Cristo em nossa família, em nossa vizinhança, no nosso trabalho e na escola. Como participar da tarefa missionária? • Todo indivíduo é importante. Exemplo: a multiplicação dos pães (Mt 14:13-21): – Nós fazemos a nossa pequena parte; – Deus multiplica os resultados. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 4 • Oração – Somente a intervenção sobrenatural do Espírito Santo pode realizar a tarefa. O ser humano não tem capacidade de convencer povos de diferentes culturas e nem poder para transformar vidas. – Intercessão por mais obreiros – Mt 9:38. Jesus ordenou que orássemos para que Deus mande mais obreiros. Ele ligou a oração à quantidade suficiente de obreiros para realizar a tarefa. A oração de alguma forma impulsiona Deus a agir. – Oração eficaz necessita de informações atualizadas sobre as necessidades existentes. Precisamos nos informar sobre o que está acontecendo no campo onde já existem missionários trabalhando. Precisamos pesquisar povos ainda não alcançados pelo Evangelho e conhecer suas necessidades. Quanto mais informações tivermos, mais eficazes serão as nossas orações. • Ensino sobre missões. Podemos participar da tarefa missionária passando para outras pessoas aquilo que aprendemos. Quanto mais as pessoas estiverem informadas sobre missões, mais se envolverão. Precisamos ensinar: – Princípios bíblicos relativos a missões; – As necessidades espirituais do mundo; – Como cada um pode participar na tarefa. • Aumentar nosso investimento financeiro. Cada um de nós tem capacidade para aumentar sua contribuição financeira para o sustento de missões. Você contribui financeiramente para missões transculturais? Se a sua afirmação for positiva, que porcentagem de sua renda vai para missões? • Recrutar novos missionários. Outra maneira de participar desta tarefa de missões é recrutar novos missionários. – Na igreja – devemos sempre desafiar a igreja a considerar missões transculturais como uma das possibilidades da vontade de Deus para a vida de cada cristão. – Adotar missionários. Quando a igreja local não tem seus próprios missionários, pode criar parcerias com outros missionários que necessitem de sustento. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 5 A URGÊNCIA do envolvimento missionário: Posição da Evangelização Mundial Hoje Aumento da população mundial Posição da Acréscimo hoje Acréscimo este ano Totais até o presente 209.129 45.246.024 6.923.470.000 (quase 7 bilhões) Pessoas ouvindo e crendo no Evangelho 23.033 4.998.298 764.591.069 Pessoas ouvindo e não crendo no Evangelho 54.752 17.477.706 2.675.742.800 80.542 22.770.020 3.483.137.165 Pessoas sem uma boa oportunidade de ouvir o Evangelho • • • Todos os dias, milhares de pessoas estão morrendo sem Cristo. O tempo útil em que podemos trabalhar está se acabando. Devemos dar os nossos melhores anos. Cristo vai voltar em breve e as oportunidades se acabarão. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 6 2- A BASE BÍBLICA DE MISSÕES Missões não têm origem no homem – é uma iniciativa divina. Apesar da rebelião do homem, Deus ama as pessoas que criou e busca salvar e restaurar os perdidos. Para tanto, criou um plano de redenção para a humanidade. Ele Se revelou a algumas pessoas que escolheu e as incumbiu de levar ao restante da humanidade as Boas Novas do Seu plano de salvação. Ele conclama os que Lhe pertencem a comunicarem o Evangelho. O tema de missões não aparece apenas no Novo Testamento, mas em toda a Bíblia, desde Gênesis. Apenas algumas destas ocorrências serão examinadas a seguir. ANTIGO TESTAMENTO • Deus chamou Abraão e lhe fez promessas (Gn 12:1-3). Entre estas promessas estava a de abençoar todas as famílias (nações) da terra através de Abraão (Gn 18:18; 22:17-18). Esta promessa foi repetida aos seus descendentes imediatos: Isaque (Gn 26:4) e Jacó (Gn 28:14). • Deus escolheu a nação de Israel (Êx 6:7; Dt 7:6-8) e alguns indivíduos (Moisés, Josué, Davi, os profetas etc) para trabalhar através deles. • A nação de Israel deveria ser um reino de sacerdotes (Êx 19:6) e uma nação santa (ou separada). A função do sacerdote era interceder pelo povo e apresentá-lo a Deus. Os israelitas, como nação, deveriam exercer esta função de intermediários junto a Deus e ser o exemplo de como Ele desejava que seu povo vivesse (1Rs 8:4143). Infelizmente o povo de Israel não cumpriu totalmente esse propósito. • Deus mostrou Seu poder através dos israelitas (Js 4:23-24), apesar de ser uma nação pequena. O êxodo do povo de Israel do Egito estabeleceu a reputação de Deus entre todos os povos da região (Js 2:8-9). A sua ajuda e proteção aos hebreus era um sinal da grandeza e majestade do Senhor. Os povos viam isso e tremiam. • Deus também estendeu Sua mão a outras nações e povos. o Raabe era cananeia, mas foi poupada da destruição de Jericó. o Rute era moabita, mas foi usada para integrar a descendência de Jesus. o Naamã era sírio, mas foi curado milagrosamente de uma doença incurável. o Os ninivitas, através da pregação de Jonas, tiveram a chance de se arrependerem do mal que faziam e Deus adiou a punição que havia preparado para eles. • O Templo foi construído também para que os estrangeiros o usassem como “casa de oração” – Is 56:6-7; 1Rs 8:43. • Profecia de Isaías sobre o Servo do Senhor (Jesus) – Is 42:6-7 (será luz para os gentios); 43:9-12 (todas as nações e povos se congregam); 45:22-23 (a salvação é para todos da terra e Ele será glorificado em toda a terra); 49:6 (será luz para os gentios e trará salvação até as extremidades da terra); 60:3 (as nações se encaminham para a luz) e 66:18-19 (Deus ajuntará as nações e as línguas para Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 7 contemplar a Sua glória e escolherá alguns para serem missionários – anunciando entre as nações a glória dEle). • O testemunho de Nabucodonosor, rei pagão, quanto ao Senhor Deus (Dn 2:47; 4:1-3 e 34-35). • Os Salmos estão repletos de referências às nações e ao projeto de Deus para todos os povos (Sl 22:27-28; 47:1-2; 7-8; 65:5; 67:1-7; 98:2-4). Deus tinha a intenção de que o Seu nome fosse glorificado entre todos os povos (Sl 18:49; 46:10; 48:10; 57:911; 66;1-4; 72:17-19; 86:9; 96:1-3; 100:1; 108:3-5; 113:4; 117:1). NOVO TESTAMENTO Ministério de Jesus • João 10:14-17 – “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor. Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir.”. As ovelhas que não são “deste aprisco” (os judeus) são os gentios, isto é, todos que não são judeus. Jesus pretendia fazer de todas as Suas ovelhas (judeus e gentios) um só rebanho e Ele seria o Supremo Pastor sobre todas as ovelhas. • Durante seu ministério terreno, Jesus cuidou de muitos que não eram judeus. Apesar de Seu enfoque principal ter sido o povo judeu, Ele ministrou a pessoas de outras etnias também: à mulher samaritana (Jo 4), à mulher siro-fenícia (cananeia –Mc 7:26-30), a um surdo e gago do território de Decápolis (Mc 7:31-36) e a um gadareno (geraseno) endemoninhado (Lc 8:26-36). A Grande Comissão Muito mais poderia ser dito a respeito do ministério de Jesus e de como estendeu a mão aos gentios, no entanto, as referências mais marcantes de Jesus a respeito da missão do cristão para alcançar as nações se encontram no que é conhecido como “A Grande Comissão”. Temos cinco versões, uma em cada Evangelho e mais uma no livro de Atos: • Mateus 28:18-20 – A Grande Comissão tem o respaldo da autoridade de Jesus. Missão não é realizada devido à nossa presunção ou iniciativa, mas sob a autoridade e ordem de Jesus. A única ordem dada aqui (no grego) é “fazei discípulos”. Os discípulos são formados ao ir a todas as nações e estas devem ser ensinadas. A atividade missionária será realizada com a presença e ajuda de Cristo até ao fim desta era. • Marcos 16:15 – O “ide”, neste versículo, é uma ordem. Devemos ir “por todo o mundo” pregando o Evangelho a todos, sem distinção de etnia, condição socioeconômica ou religião. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 8 • • • Lucas 24:44-49 – A missão é realizada em nome de Cristo e o conteúdo é a pregação da necessidade de arrependimento para remissão de pecados. Esta pregação deve ser feita “a todas as nações”. João 20:21b – Somos enviados pelo próprio Jesus Cristo. O modelo é o envio dEle pelo Pai. Atos 1:8 – A missão é realizada através do poder do Espírito Santo que nos capacita a sermos Suas testemunhas. A amplitude do nosso testemunho deve ser tanto local, quanto regional, nacional e até aos locais mais longínquos do planeta. Atos e as Epístolas • O livro de Atos (história dos primeiros 30-35 anos da Igreja) nos mostra a Grande Comissão sendo cumprida pelos discípulos pelo poder do Espírito Santo. • A partir do dia de Pentecostes, a igreja em Jerusalém começou a se multiplicar rapidamente. Já no primeiro dia três mil pessoas se converteram e foram batizadas (At 2:41). Logo o número subiu para cinco mil (At 4:4) e a cada dia mais pessoas eram acrescentadas (At 5:14; 6:7; 9:31; 12:24). • Com a perseguição, os cristãos se espalham principalmente para outros lugares da Judeia e da Samaria (At 8:1). Por toda parte aonde iam, os cristãos pregavam a Palavra (At 8:4). Filipe, Pedro e João evangelizaram a região da Samaria (At 8:5-25). • Pedro é enviado a Cesareia para pregar o Evangelho aos gentios da casa do centurião romano Cornélio. Nesta ocasião Pedro reconhece que Deus não faz acepção de pessoas e que o Evangelho é para todas as nações (At 10:34-35). • A evangelização não ficou somente no âmbito da Samaria, mas se expandiu até a Fenícia, Chipre e Antioquia, na Síria. No início esta evangelização era feita somente para outros judeus (At 11:19-20), mas em Antioquia começaram a evangelizar também os gentios (gregos). Muitos se converteram em Antioquia e uma igreja multiétnica se desenvolveu (At 11:21 e 24; 13:1). Esta igreja tornou-se missionária, enviando seus líderes em viagens missionárias por outras nações (At 13:2-3). • Estas viagens missionárias de Paulo e seus companheiros, com a pregação do Evangelho, resultam em conversões e na implantação de igrejas por toda a Ásia Menor (hoje Turquia), Europa (hoje Grécia) e ilhas do Mediterrâneo (Chipre e Creta). • Finalmente os missionários chegam a Roma, capital do Império Romano, onde já existe uma igreja. • Igrejas em cidades como Filipos, Tessalônica e Éfeso passam a ser igrejas missionárias. Princípios da Expansão Missionária: • Identificação com os perdidos: os missionários neotestamentários buscavam os perdidos onde estavam. • Ligação estreita com uma igreja “enviadora”: os missionários voltavam à igreja enviadora e prestavam contas do trabalho realizado (At 14:26-28). Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 9 • • • Prioridade para as cidades importantes: Paulo e sua equipe de missionários escolheram estrategicamente evangelizar as cidades do Império Romano que eram grandes centros de administração, economia, cultura e religião. Batismo, discipulado e envolvimento dos convertidos: em praticamente todas as cidades por onde passaram pregando o Evangelho, pessoas se converteram, foram batizadas, discipuladas e lideranças locais foram escolhidas (At 14:21-23). Liderança em equipe: Paulo trabalhou em equipe. Muitos foram os seus companheiros e ajudantes: Barnabé, Silas, Timóteo, Tito, Lucas, Priscila, Áquila e outros (ver também At 20:4). O Evangelho é para todos os povos: • Jesus é o único meio de salvação para todas as pessoas em todos os lugares (Jo 14:6; At 4:12; 1Tm 2:5-7). • O Evangelho traz salvação a todos os que creem, tanto judeus quanto gentios (Rm 1:16; 9:13). • Fomos feitos embaixadores de Cristo para trazer reconciliação a todos (2Co 5:17-21). • Para que o Evangelho seja eficaz, é necessário que seja pregado por pessoas enviadas para esse fim (Rm 10:14-15). • Todas as nações (povos) e todas as línguas adorarão ao Senhor Jesus (Fp 2:9-11; Ap 5:9-10; 7:9-10). Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 10 3- A História de Missões A história de missões é muito extensa e intrigante. É impossível contar todas as histórias de todos os povos e movimentos missionários nestes últimos dois milênios. O que vamos tentar fazer é um breve resumo destes acontecimentos, sendo necessário deixar de relatar muitos detalhes. Winter salienta que ao longo de toda a história da propagação da Palavra de Deus e da expansão do Cristianismo, isto nem sempre se deu pela obediência voluntária de Seu povo. Mesmo quando o povo de Deus não se mobilizou para levar a Palavra transculturalmente, Ele ainda agiu para que os povos do mundo O conhecessem. Winter fala de quatro mecanismos que Deus tem usado através da história para levar a sua “história” aos confins da terra. 1. Ida voluntária (pessoas que intencionalmente saem de sua cultura para levar a Palavra de Deus a outra cultura). 2. Ida involuntária (pessoas que foram deslocadas involuntariamente e desta forma levaram a Palavra de Deus consigo). 3. Vinda voluntária (pessoas de outras culturas que vieram para dentro da cultura do povo de Deus e ali ficaram conhecendo a Sua Palavra). 4. Vinda involuntária (pessoas que foram deslocadas involuntariamente para dentro da cultura do povo de Deus e ali ficaram conhecendo a Sua Palavra). O quadro da página seguinte ilustra como em todas as épocas Deus tem Se utilizado destes quatro mecanismos para Se fazer conhecer pelos povos da terra. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 11 MECANISMO Ida voluntária Centrífuga (Expansiva) ANTIGO TESTAMENTO • Abraão para Canaã • Jesus em Samaria • Os profetas menores pregaram a outras nações próximas de Israel • Pedro e Cornélio • Fariseus: “rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito” (Mt 23:15) • José vendido como escravo ao Egito testemunha ao Faraó • Noemi testemunha a Rute em Moabe por causa da fome Ida involuntária Centrífuga (Expansiva) NOVO TESTAMENTO • Paulo e Barnabé em viagens missionárias • testemunho de outros cristãos na Babilônia, Roma, Chipre etc. • A perseguição aos cristãos os forçou a deixar a Palestina e foram dispersos por todo Império Romano e até mais adiante. • a menina hebraica levada à casa de Naamã • Jeremias como profeta às nações Centrípeta (Atração) • A Rainha de Sabá veio à corte de Salomão • Magos saíram do Oriente para ir a Judá (Mt 2) • Gregos procuraram Jesus • Rute escolheu deixar • Cornélio mandou Moabe para ir a Judá chamar Pedro • Um macedônio chama Paulo Vinda involuntária • O rei da Assíria trouxe povos pagãos para habitar em Israel Centrípeta (2Re 17) (Atração) Missões Transculturais • Celtas peregrinam pela Inglaterra e Europa • Frades vão para China, Índia, Japão e América • William Carey e outros missionários a da 1 Era • Hudson Taylor e os a missionários da 2 Era • Terceira Era até o presente • Úlfila foi vendido como escravo aos godos • o bispo Ário quando exilado foi às regiões dos godos • Soldados cristãos que lutaram ao redor do mundo voltaram para começar 150 novas agências missionárias • Cristãos capturados • Cristãos convertem os vikings ugandenses fugindo das atrocidades em • Soldados cristãos seu país foram parar foram enviados por em outras partes da Roma à Inglaterra, África Espanha etc. • Cristãos coreanos • Peregrinos e fugiram para o sul, puritanos que foram onde haviam poucos forçados a ir para a cristãos e mais tarde América do Norte foram enviados para evangelizaram os trabalhar na Arábia indígenas ali Saudita, Irã e outros países. • os exilados hebreus testificam na Babilônia (Daniel, Ester) Vinda voluntária • Patrício para a Irlanda ERA MISSIONÁRIA MODERNA • Morávios vão para a América do Norte • Jonas – o missionário relutante a Nínive • O sírio Naamã veio ver Eliseu IGREJA ATÉ OS ANOS 1.800 • O exército romano ocupou e infiltrou a região da Galileia • Os godos invadem a Roma cristã e aprendem sobre a fé cristã • Vikings invadem a Europa cristã e eventualmente se convertem • Escravos foram trazidos da África para as Américas • Influxo de turistas, estudantes e pessoas de negócios no Ocidente cristianizado • Refugiados políticos (países comunistas, ditaduras etc.) • Refugiados de guerras, desastres naturais etc. Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 12 Existem muitas maneiras de se classificar a história de missões e da propagação do Evangelho pelo mundo todo. Usaremos aqui uma classificação de Bill Jones, que divide a história da propagação do Cristianismo em quatro períodos: 1. 2. 3. 4. Período romano (33-476 d.C.) Período medieval (476-1.517 d.C.) Período da Reforma (1.517-1.792 d.C.) Período moderno (1.792 até o presente) Período romano (33-476 d.C.) Ascensão (30/33) 1a viagem de Paulo (4849) 2a viagem de Paulo (5052) 3a viagem de Paulo (5357) Fim da Era Apostólica (100) Martírio de Policarpo (156) Edito de Milão de Constantino (313) Constantino reúne o Concílio de Niceia devido ao ensino de Ário que dizia que Jesus não era Deus (325) Bizantina se torna Constantinopla, capital do Império Romano Oriental (330) Úlfilas inicia sua missão aos godos (341) Patrício chega à Irlanda (432) Queda de Roma (476) Vimos que Jesus deixou uma missão aos Seus discípulos para que fossem testemunhas em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra. Os discípulos tinham uma missão bastante abrangente. A Bíblia não nos informa sobre o ministério de todos os discípulos/apóstolos após o dia de Pentecostes, mas a tradição nos informa que cada um deles exerceu um ministério em regiões bem distantes da Palestina, onde pregaram o Evangelho e estabeleceram igrejas. O apóstolo Paulo se converteu e foi em especial comissionado por Deus para a pregação do Evangelho entre os gentios, principalmente onde o Evangelho ainda não havia chegado (veja At 22:12-15, 21; Rm 15:15-16, 21). A estratégia utilizada por Paulo foi a de formar uma equipe com vários colaboradores. Ele fez várias viagens, passando tanto por locais pioneiros, onde o Evangelho ainda não havia sido pregado, como também voltando às cidades anteriormente evangelizadas para ensinar e encorajar os fiéis. Havendo uma sinagoga nas cidades onde ainda não havia uma igreja, Paulo ali entrava para explicar as Escrituras aos judeus que já possuíam certo conhecimento da Palavra de Deus. Invariavelmente ele era expulso da sinagoga e voltava sua atenção para a pregação aos gentios (os povos que não eram judeus). Com os convertidos da localidade,uma igreja local era assim estabelecida e ele continuava sua viagem. Em alguns locais Paulo passou mais tempo ensinando e preparando líderes para continuar a tarefa de evangelização e pastoreio do rebanho local (Antioquia, Éfeso, Corinto etc). Fica claro que sua estratégia era primeiramente alcançar as cidades mais importantes, estabelecendo ali uma igreja forte, de onde o restante da região pudesse ser alcançado. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 13 Úlfilas foi um dos maiores missionários da Igreja antiga. Seu ministério foi entre os godos, uma etnia “bárbara”, que vivia fora do Império Romano onde é hoje a Romênia. Ele nasceu em 311 d.C. e foi criado na cultura pagã dos godos. Acredita-se que sua mãe fosse gótica e seu pai, um cristão da Capadócia que fora levado cativo por uma invasão gótica. Quando tinha pouco mais de vinte anos foi enviado a Constantinopla para trabalhar no serviço diplomático. Durante os anos em que ali esteve, foi influenciado pelo Bispo Eusébio, um ariano, passando, então, a divulgar a doutrina ariana. Aos trinta anos, depois de passar quase dez anos em Constantinopla, Úlfilas foi consagrado bispo aos godos que viviam ao norte do Rio Danúbio. Aparentemente já existiam alguns cristãos, pois, do contrário, ele não teria sido nomeado bispo. Entretanto, o interesse maior de Úlfilas era a evangelização e ele o fez durante 40 anos. Seu trabalho foi bem-sucedido, mas marcado por muita perseguição. Sua maior obra foi a tradução da Bíblia para a língua nativa dos godos. A língua era oral, portanto Úlfilas precisou primeiramente desenvolver um alfabeto para, então, começar a tradução. Esta foi a primeira ou talvez a segunda vez de que se tem notícias de um missionário cristão ter desenvolvido um alfabeto para poder traduzir as Escrituras. Úlfilas morreu aos 70 anos de idade e seus sucessores continuaram a tarefa da evangelização dos godos. Patrício (São Patrício: 389-461 d.C.) não era nem católico romano e nem irlandês, no entanto, seu nome está estreitamente ligado ao catolicismo irlandês. Foi canonizado pela Igreja Católica Romana cerca de duzentos anos após sua morte para influenciar a Igreja Celta a se unir à Igreja Romana. Patrício nasceu em família cristã na província romana da Bretanha em 389 d.C. Seu pai era diácono e seu avô, sacerdote na Igreja Celta. Isto se deu antes da dominação romana, quando a maioria do clero era casada. Quando ainda jovem, sua cidade foi invadida por um grupo de irlandeses e a maior parte dos meninos foi sequestrada e vendida como escravos, incluindo Patrício. Durante seis anos cuidou de uma manada de porcos. Apesar de nascido em família cristã, Patrício não tinha uma fé pessoal em Deus. Durante os anos de escravidão, passou a refletir sobre sua condição espiritual e consequentemente sua vida mudou. Conseguiu fugir de seu senhor e voltar à Bretanha. De lá Patrício foi para a Ilha de São Honorato, na costa da Riviera francesa, onde ficou recluso em um monastério durante algum tempo. De volta à Bretanha relata ter sido chamado por Deus para voltar à Irlanda. Quando chegou à Irlanda em 432 d.C., existiam alguns cristãos isolados, mas a grande maioria deles era pagã: adoravam o sol, a lua, o vento, a água, o fogo e as rochas, acreditando que toda sorte de bons e maus espíritos habitavam as árvores e os montes. A magia e o sacrifício (incluindo o sacrifício humano) faziam parte dos ritos religiosos praticados pelos druidas e sacerdotes pagãos. Eventualmente alguns druidas influentes se converteram ao Cristianismo. Após estabelecer uma igreja, Patrício continuou viajando e pregando o Evangelho. Em 15 anos, boa parte da Irlanda havia sido evangelizada. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 14 Patrício morreu em 461, após 30 anos de evangelização, deixado 200 igrejas organizadas e cerca de 100.000 batizados. A religião druida sofreu um sério revés e foi substituída pelo Cristianismo. Durante o período de domínio romano, a Igreja obteve um forte crescimento, como se lê nos testemunhos de Justo Mártir (150 d.C.), Tertuliano (200 d.C.), Orígenes (250 d.C.) e na citação abaixo, de Eusébio (325 d.C.): Floresciam nesta época muitos sucessores dos apóstolos, que construíam sobre os seus fundamentos, continuando a obra de pregação do Evangelho e semeando abundantemente sobre toda a terra a boa semente do Reino dos Céus. Um grande número de discípulos, impulsionado por um amor fervoroso pela verdade que a Palavra havia revelado neles, cumpriu o mandamento do Salvador de compartilhar os seus bens entre os pobres. Em seguida, deixando seus países, serviam como evangelistas, desejando ardentemente pregar Cristo e levar as boas novas àqueles que ainda não tinham ouvido a palavra de fé. Depois de lançar os fundamentos da fé em locais remotos e bárbaros, estabelecer pastores entre os fiéis e confiar a eles o cuidado destes novos convertidos, continuavam seu caminho indo a outras nações, cuidados pela graça e virtude de Deus. Ao final do período romano, a Igreja Cristã se estendia do Mediterrâneo à Índia. Período medieval (476-1517 d.C.) Fatos históricos Celtas (500800) (476) queda de Roma (563) Columba chega à Inglaterra (800) Carlos Magno coroado imperador (962) A coroação de Oto inicia o Santo Império Romano (869) Morre Cirilo (885) Morre Metódius (1260) Marco Polo vai à China. (1269) Kublai Khan pede missionários (1300) Início da Renascen ça (1209) Francisco de Assis funda a Ordem Franciscana (1215) Surgimento da ordem dos dominicanos (1291) Film das Crusades (1315) Martírio de Raymond Lull (1492) Colombo parte rumo à América (1517) as 95 teses de Lutero (1453) Constantinopla passa a ser Istambul (1415) John Huss é queimado (1492) Mouros expulsos da Espanha (718) Bonifácio chega à Alemanha Nestorianos (480-1250) Ortodoxos (800-1100) Católicos (1209 em diante) Islã (622 em diante) Precursores da Reforma Protestante Missões Transculturais (732) Batalha de Tours; mouros derrotados (1095) Início das Crusades (1170) Peter Waldo (1385) Morre John Wycliffe Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 15 Os três impérios principais deste período foram: o islâmico (de 622 até depois de 1517 d.C.), o oriental (Bizantino, grego – 476-1453 d.C.) e o ocidental (germânico) o Carlos Magno (800-846 d.C.) – seus filhos dividiram o império em três partes (basicamente França, Alemanha e norte da Itália), o Santo Império Romano (962 d.C. em diante) – a facção alemã Durante este período da história houve quatro movimentos missionários que são dignos de nota. 1. A Igreja Celta1 O fato de os monges itinerantes celtas terem evangelizado boa parte da Bretanha e da Europa Central e Ocidental é uma das grandes façanhas missionárias de todos os tempos. Os irlandeses nunca foram conquistados pelos romanos, mas se tornaram os instrumentos pelos quais muitos dos invasores do Império foram evangelizados. Um Cristianismo celta vibrante surgiu na Irlanda e não era dependente do favor imperial para sua sobrevivência, sendo independente do Papa em Roma, tanto em estrutura quanto em doutrina. A igreja celta reteve algum fervor do Cristianismo apostólico em sua visão missionária, que foi perdida pelos centros de poder do mundo cristão. Apesar de independente de Roma, duzentos anos após o Concílio de Whitby em 664 d.C., a autoridade papal começou a se impor adotando dois dos heróis do Cristianismo celta. A. Columba (São Columba) – Da Irlanda à Inglaterra Um dos missionários celtas mais famosos foi Columba, nascido em família nobre irlandesa em 521 d.C. e criado na fé cristã. Ainda jovem entrou para um monastério e foi ordenado diácono e depois sacerdote. Seu zelo evangelístico tornou-se logo evidente, sendo responsável pela implantação de várias igrejas e monastérios na Irlanda. Apesar de ser considerado santo, era também briguento. Envolveu-se em uma batalha contra o rei, onde morreram 5.000 homens. Em 563 d.C., aos 42 anos de idade, fugiu da Irlanda e jurou converter o mesmo número de almas quanto daqueles que haviam perdido a vida em batalha. Columba causou grande impacto na Bretanha, estabelecendo-se na Ilha de Iona, na costa da Escócia, onde construiu um monastério. Ali preparou evangelistas que saíram pregando o Evangelho, construindo igrejas e outros monastérios. O próprio Columba saía em viagens evangelísticas, quando muitos se convertiam. Como Patrício, também precisou enfrentar a magia dos druidas com o poder de Deus. B. Bonifácio – da Irlanda à Alemanha Bonifácio foi pregar aos povos germânicos pagãos. Empregou um estilo agressivo, desafiando os seus deuses, demolindo altares, cortando árvores sagradas e construindo igrejas em locais considerados santos pelos pagãos. Bonifácio se comunicava na língua do povo. Trouxe freiras da Inglaterra, construiu monastérios e 1 Fonte: Patrick Johnstone, The Church is Bigger than You Think. Christian Focus Publications, 2000, p.71-73. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 16 recrutou monges entre o povo local. Seu sustento, em ofertas, vinha da Irlanda, para onde também enviava relatórios. 2. A Igreja Nestoriana2 Poucos conhecem a história da expansão missionária desenvolvida por estes cristãos. No ano 1.000, os nestorianos haviam se espalhado da Síria ao Irã e Iêmen, atravessando em seguida a Ásia Central, a Mongólia, o Tibet, a China e partes da Índia, Tailândia e Burma. Seus números chegavam a 12 milhões de membros associados a igrejas em 250 dioceses. No século 13 havia 72 patriarcas metropolitanos e 200 bispos na China e regiões adjacentes. Representavam 24% dos cristãos da época e formavam 6% da população da Ásia. Nestório foi bispo de Constantinopla até ser excomungado por heresia em 430 d.C. em um sínodo em Roma. As razões de sua excomunhão não foram somente teológicas, mas também culturais e políticas. Este foi um período de disputa teológica intensa quanto à relação do divino e do humano na pessoa do Senhor Jesus Cristo. O Credo Niceno definiu Jesus como sendo tanto divino quanto humano. Os monofisitas (como os da Igreja Ortodoxa Copta no Egito e na Etiópia) enfatizavam o aspecto divino de Cristo e os nestorianos, o Seu aspecto humano. Os nestorianos efetivamente criam que Jesus era constituído de duas pessoas e que Suas naturezas divina e humana nunca se uniram. Devido a esta posição teológica foram considerados hereges e banidos do Império Romano, fugindo para o Iraque e o Irã. Nem todos os cristãos destes países mantinham esta crença, mas o restante dos cristãos os ignorou, considerando-os hereges. A partir de 640 d.C. e durante 600 anos pouco se soube no Ocidente o que ocorria no Oriente por causa da barreira muçulmana. Apesar das dificuldades que enfrentava, a Igreja Nestoriana se dispôs a atravessar cadeias montanhosas (as mais altas do mundo) em longas e extenuantes viagens para pregar o Evangelho. Levou consigo muito conhecimento bíblico e teológico, estabeleceu monastérios missionários semelhantes aos da Igreja Celta e aprenderam várias línguas novas, para as quais traduziram as Escrituras. Este movimento entrou em declínio e, em 1500 d.C., quase não existia mais. O que aconteceu? Internamente a Igreja sofreu com o formalismo (ritualismo), o sincretismo (mistura com outras religiões) e o conformismo com o mundo. Externamente o movimento sofreu muita pressão política e religiosa dos imperadores taoístas da China, dos muçulmanos e dos mongóis que sistematicamente exterminavam os cristãos. Hoje permanece apenas um remanescente apático e passivo deste cristãos, com menos de 200 mil membros nos países do Oriente. 3. A Igreja Ortodoxa3 É a igreja associada à capital oriental do Império Romano (Constantinopla), que oficialmente separou-se da igreja ocidental (Roma) em 1054 d.C. Os missionários ortodoxos mais famosos foram dois irmãos: Constantino (conhecido mais tarde como Cirilo, 825-869 d.C.) e Metódius (c. 815-885 d.C.). 2 3 Fonte: The Church Is Bigger Than You Think, pp. 73-75. Fonte: Stephen Neill A History of Christian Missions. Londres (Inglaterra): Penguin Books, 1964 (1a.edição). Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 17 Esta foi uma época em que religião e política se misturavam muito e houve intensa disputa entre as igrejas Ocidental (Roma) e Oriental (Constantinopla). O rei da Bulgária pediu missionários a Roma e o rei da Morávia (Eslováquia) pediu missionários à Igreja Oriental. Léo III enviou os irmãos Constantino e Metódius. Antes mesmo de partirem de Constantinopla, haviam tomado a decisão de que a evangelização seria feita na língua eslava e assim desenvolveram um alfabeto para a língua que serve de base para as línguas eslavas até os dias de hoje. Roma insistia no uso do latim como a única língua a ser usada na liturgia. A vantagem foi a unidade que trouxe à igreja. A desvantagem é que o povo quase nada compreendia nos cultos. Já a atitude da Igreja Oriental foi totalmente diferente, encorajando os povos a usarem a língua materna e a construírem uma igreja dentro de sua própria cultura e língua. A influência da língua grega sempre foi profunda, mas a liberdade dada às igrejas regionais contribuiu para manter a unidade da Igreja Ortodoxa. As sementes lançadas pelos irmãos Constantino e Metódius, fizeram brotar e formaram uma árvore que cresceu a partir da Bulgária, passando pelos países eslovacos, Rússia e parte da Romênia. 4. A Igreja Católica Romana A Igreja Ocidental, sob a liderança papal, estava mais inclinada a disseminar o Cristianismo pela pressão política e ação militar do que pela evangelização através da pregação do Evangelho. Este padrão surgiu durante a Idade Média e após a queda do Império Romano Ocidental. O desafio do poderio muçulmano reforçou esta atitude, pois os muçulmanos haviam tomado todas as terras cristãs do Oriente Médio e da África do Norte e estavam constantemente ameaçando a Europa. O resultado trágico deste pensamento culminou na crueldade das Cruzadas contra o Islã na Palestina e a Inquisição contra muçulmanos, judeus e, mais tarde, contra protestantes. A Inquisição foi especialmente poderosa na Espanha e Portugal e na “cristianização” forçada dos indígenas no continente americano. O Islã foi um desafio ao Cristianismo. Seu fundador, Maomé, nasceu em Meca em 570 d.C. Os árabes adoravam centenas de deuses. Maomé teve uma experiência religiosa da qual disse ter recebido uma visão do anjo Gabriel, que o comissionou a pregar contra a idolatria. Em três anos conseguiu poucos adeptos e teve que fugir em 622 d.C. para Medina devido a fúria da população com a sua pregação. Esta data marca o início do Islamismo. Maomé roubava caravanas rica e, com isso, formou um exército; voltou à sua cidade natal e a conquistou. Destruiu todos os ídolos da Kaaba, menos uma pedra preta. Maomé continuou pregando e, com sua vitória em Meca, seus ensinamentos se espalharam rapidamente. Quando morreu, em 632 d.C., toda a Arábia havia aceitado seus ensinos. O Islamismo se alastrou rapidamente, em especial através da conquista militar. Antes do ano 700 os muçulmanos já haviam conquistado a Palestina, tornando Jerusalém uma das três cidades sagradas do Islamismo, juntamente com Meca e Medina, na Arábia. A conquista continuou por todo o norte da África, avançando em seguida pela Espanha e Portugal (mouros). O avanço foi contido no sul da França na Batalha de Tours em 732 (foram expulsos somente em 1492). Um novo avanço foi realizado pelo Oriente através da Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 18 conquista de Constantinopla (nome foi mudado para Istambul). A conquista da Europa foi contida nas portas de Viena em 1529. A conquista da Ásia foi contida em 1564 d.C. A conquista da “Terra Santa” (Palestina) pelos muçulmanos e a ameaça religiosa e militar que os muçulmanos apresentavam aos países cristãos levou à realização das Cruzadas, ou seja, incursões militares organizadas pelos cristãos com o objetivo de reconquistar a “Terra Santa”. Houve cinco cruzadas principais em um período de aproximadamente 120 anos (entre 1095-1212). Foram batalhas sangrentas que serviram para aumentar uma inimizade entre as duas religiões que perdura até os dias de hoje. Esforços missionários neste período incluíram Francisco de Assis (1181-1226), que, antes do final das cruzadas, foi em amor pregar ao sultão muçulmano. Raymond Lull (1232-1315) foi um monge franciscano que dedicou toda sua vida à evangelização dos muçulmanos. Um religioso francês do final do século XII, Peter Waldo, pregava uma mensagem de arrependimento e vida simples. Criticava a elite da Igreja Católica por considerá-la corrupta e discordava de muitas de suas práticas. Traduziu sem autorização a Bíblia para a língua da povo, pois somente o latim era autorizado. Sua mensagem foi bem aceita pelo povo da França, Espanha, Itália e Alemanha. A Igreja Católica excomungou os waldenses, como eram chamados os seguidores de Peter Waldo, e os perseguiu, massacrando a maioria. Somente conseguiram sobreviver alguns poucos nos Alpes Italianos. Outro precursor da Reforma Protestante foi John Wycliffe na Inglaterra, que também fez uma tradução não autorizada da Bíblia para o inglês para distribuição na Inglaterra. Além de tornar a Bíblia acessível ao povo, ele organizou os “Lolardos”, grupo de evangelistas que visitou o país todo pregando um Evangelho simples. Na Boêmia, John Huss foi influenciado pelos escritos de John Wycliffe e veio a enxergar as inconsistências entre a doutrina católica e a Bíblia, passando a criticar a Igreja Católica. Escreveu muitos artigos e pregou incansavelmente contra os abusos da Igreja. Em 1415, ele foi sentenciado pela Igreja Católica e condenado a morrer na fogueira. Período da Reforma (1517-1792 d.C.) 1. A expansão católica Vários fatores contribuíram para a expansão católica. As ordens monásticas, principalmente os franciscanos, dominicanos e jesuítas, supriram um exército de missionários e uma estrutura eficiente para o envio e controle deste contingente. A descoberta das Américas e da rota ao sul da África dando acesso à Ásia, juntamente com o domínio marítimo da Espanha e de Portugal, possibilitaram a evangelização mundial. O terceiro fator foi o choque sofrido na Europa pela Reforma Protestante, que impulsionou os países católicos a conquistarem outros territórios. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 19 1517 As 95 teses de Lutero Peregrinos (Separatistas da Igreja da Inglaterra) PROTESTANTES Puritanos (da Igreja da Inglaterra) 1705 fundação da Missão DanishHaile 1732 Moravianos iniciam missão Grande Avivamento 1792 William Carey parte para a Índia ORTODOXOS CATÓLICOS 1534 Inácio de Loyola funda a Ordem dos Jesuítas MUÇULMANOS 1529 Avanço de Suleiman o Magnífico contido em Viena 1847 Bartolomeu de las Casas deixa a América (Dominicano) 1549 Francisco Xavier no Japão (Jesuíta) 1593 Mateo Ricci na China (Jesuíta); Roberto de Nobili na Índia (Jesuíta) A expansão católica se deu também por meio de interesses políticos, comerciais e econômicos. Os meios de evangelização e conversão de povos indígenas das Américas, África e Ásia pela força e pela intimidação eram muitas vezes escandalosos, mas produziram resultados. Espanha e Portugal chegaram a ter 1% de sua população envolvida com a evangelização além-mar. A expansão católica diminuiu durante os séculos XVII e XVIII, mas voltou a crescer nos séculos XIX e XX. Mais uma vez vemos que a estrutura monástica iniciou e sustentou o esforço missionário, principalmente as ordens que deliberadamente se estruturaram para serem móveis e para treinarem monges para pregar e converter os pagãos (e hereges)4. 2. A Reforma: o nascimento do Protestantismo5 “Era de se esperar que o renovo espiritual trazido pela Reforma impulsionasse as igrejas protestantes da Europa a levarem o Evangelho até os confins da terra durante um período de exploração e colonização mundial que se iniciou para volta de 1500. Mas este não foi o caso. [...] Por que as igrejas protestantes demoraram tanto para iniciar o seu programa missionário?” Razões: Teológica: os líderes acreditavam que a Grande Comissão fosse somente para os apóstolos. Eclesiástica: as igrejas eram pequenas e tinham muito conflito interno. Geográfica: o isolamento da Europa protestante dos campos missionários. A evangelização ficou mais por conta dos países católicos da Espanha e Portugal. 4 Johnstone, The Church is Bigger than You Think, pp.75-79 5 J. Herbert Kane A Concise History of the Christian World Mission. Grand Rapids, Michigan (EUA); Baker Book House, 1978, p.73. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 20 Estrutural: os protestantes não possuiam ordens monásticas como as dos monges católicos. 3. Os movimentos missionários que lançaram as bases para o movimento moderno de missões A. O movimento pietista. Foi somente no século XVIII que os Protestantes começaram a acordar para a sua responsabilidade de evangelização daqueles sem o conhecimento do Evangelho. Entre os primeiros a reconhecerem esta responsabilidade encontramos os pietistas luteranos Philip Spencer (1635-1705) e Hermann Francke (1663-1727)6. Francke, professor na Universidade de Halle, transformou a universidade em escola de treinamento para evangelismo e missões. O Rei Ferdinand IV da Dinamarca pediu ajuda à Universidade de Halle para o envio de missionários às regiões da costa sudeste da Índia, controladas por ele. Desta iniciativa nasceu a Missão Danish-Halle em 1705. Os primeiros missionários a chegarem à Índia foram Bartholomew Ziezenbaleg e Henry Plütschau. O mais famoso dentre eles foi Christian Frederick Schwartz que chegou à Índia em 1750 e ali permaneceu por 49 anos7. B. O movimento missionário morávio. Este segundo movimento está ligado ao primeiro por suas raízes pietistas e por seu fundador, Nicholas Ludwig Von Zinzendorf, ter estudado na Universidade de Halle, tendo Francke como seu professor. Von Zinzendorf era de família abastada e foi o líder missionário que mais fez para avançar a causa de missões protestantes durante o século XVIII. O lema deste movimento era: “Alcançar para o Cordeiro o fruto pelo Seu sofrimento”, baseado em Is 53:10-11. Em 1722, Von Zinzendorf deu abrigo em sua propriedade de Herrenhut, na Saxônia, Alemanha, a um grupo de protestantes fugitivos de perseguição religiosa na Morávia. Em 13 de agosto de 1727, durante um culto dos refugiados, um avivamento espiritual teve início. Estabeleceram naquela noite uma vigília de oração a favor do mundo que funcionou ininterruptamente (24 horas por dia, 7 dias por semana) durante mais de 100 anos8. Em 1731 Von Zinzendorf se encontrou com duas pessoas da Groenlândia e um escravo caribenho que lhe pediram missionários para suas terras de origem. No ano seguinte os morávios enviaram missionários para as Ilhas Virgens e no ano seguinte para a Groenlândia. Nos próximos anos missionários foram enviados para muitas outras regiões, incluindo a América do Norte, Suriname, África do Sul, Algéria, China e Pérsia. A paixão por missões era tanta que alguns até se vendiam como escravos para alcançarem terras distantes. Dentro de pouco tempo havia três missionários no 6 Fonte: Ruth A.Tucker From Jerusalem to Irian Jaya. Grand Rapids, Michigan (EUA): Zondervan, 1983, p. 68. 7 Kane, Concise History of the Christian Mission, p. 79. 8 Fonte: Tucker, From Jerusalem to Irian Jaya, pp. 70-71. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 21 campo para cada morávio que ficara em Herrenhut. Em 20 anos enviaram mais missionários do que os protestantes haviam enviado nos 200 anos anteriores. C. O Grande Avivamento – movimento evangélico avivalista. No século XVIII houve um grande avivamento evangélico que teve início na Inglaterra e continuou na América do Norte. Este avivamento trouxe um grande número de conversões genuínas e mudanças morais palpáveis na sociedade. Os pregadores mais influentes na Inglaterra foram John Wesley (1703-1791) e George Whitefield (1714-1770). Na América do Norte foram Whitefield e Jonathan Edwards (1703-1756). Desde os anos de universidade, John Wesley, dedicou-se a uma vida piedosa rigorosa de oração e estudo bíblico juntamente com um pequeno grupo de colegas. Estas práticas levaram o grupo a ser chamado de “os metódicos” que mais tarde inspirou o nome da Igreja Metodista, fundada por Wesley. Apesar de sua dedicação e esforço, Wesley só veio a entender o Evangelho da graça através de um contato com missionários morávios a bordo de um navio que fazia a travessia do Oceano Atlântico da Inglaterra para a América do Norte. Wesley viajava milhares de quilômetros por ano a cavalo e pregava 3-4 vezes por dia, isto durante 40 anos. Ele reunia os convertidos na estrutura de acolhimento e obras sociais que a Igreja Metodista havia criado. Neste período esta igreja foi uma das mais dinâmicas na expansão do Reino de Deus para o mundo inteiro. O Grande Avivamento despertou milhares de pessoas para as necessidades do mundo e muitos dos influenciados formaram a base para o movimento moderno de missões. Período moderno (1792 até o presente) Este período pode ser analisado por muitos ângulos. Usaremos a abordagem feita por Ralph Winter, que divide estes mais de 200 anos em três eras. Primeira Era (1792-1910) Segunda Era (1865-1980) Terceira Era (1934 até o presente) Foco central Regiões costeiras Interior Povos Pioneiros William Carey Hudson Taylor Cameron Townsend, Donald McGavran e Ralph Winter Principal Base de Apoio Europa Estados Unidos Terceiro mundo Movimentos estudantis Society of the Brethren (Haystack Prayer meeting) Student Volunteer Movement SFMF (1936); Urbana (1946) Novas agências missionárias ABCFM, LMS, BMS SIM, AIM, CIM Wycliffe, Pioneers, Frontiers 1. Primeira Era: regiões costeiras (1792-1910) A grande figura missionária deste período foi William Carey e a atuação da Sociedade Missionária Batista. Foi um período em que predominaram as missões denominacionais e as Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 22 longas viagens por mar e terra para campos missionários distantes. As comunicações eram difíceis. Missionários na China tinham que esperar em média um ano para receber resposta de uma carta enviada à Europa. Não é de se admirar que as ilhas e as regiões costeiras foram muitas vezes o alvo maior da evangelização neste período9. William Carey (1761-1834) se converteu aos 20 anos de idade e logo foi consagrado pastor de uma igreja rural na Inglaterra. Ganhava a vida como sapateiro e lia todos os livros que conseguia, principalmente os que continham descrições de outros países e povos. Pelas suas leituras ele foi construindo um mapa em um mural e anotando todas as informações que conseguia. Como autodidata aprendeu latim, grego, hebraico, italiano, francês e holandês10. Em 1792 escreveu um livreto de 87 páginas: Uma enquete da obrigação do cristão em usar todos os meios possíveis para a conversão dos pagãos (título abreviado). No mesmo ano da publicação deste livro foi formada a Sociedade Missionária Batista e Carey foi voluntário para ir a campo como o primeiro missionário. Ele encontrou muitas dificuldades para partir, incluindo a recusa inicial de sua esposa em acompanhá-lo. Carey finalmente partiu em junho de 1793 para a Índia, onde suas atividades foram inúmeras. Trabalhou como gerente de uma fábrica enquanto evangelizava11. Foram muitos anos aprendendo a língua e estudando o pensamento do povo e vários outros anos de pregação, quando finalmente conseguiu alguns convertidos e formou a primeira igreja. Em 1819 fundou o Seminário de Serampore para o treinamento de evangelistas e plantadores de igrejas. Foi também professor de línguas orientais na Faculdade Fort William em Calcutá12. Em 40 anos de trabalho na Índia, traduziu a Bíblia para 35 línguas e dialetos da Índia e do sudeste da Ásia13. Seu exemplo inspirou muitos outros a dedicarem a vida ao trabalho missionário. Na América do Norte não existia um interesse por missões e muito menos uma agência missionária. Este interesse nasceu de um movimento estudantil que começou com um pequeno grupo de oração que se reunia duas vezes por semana, conhecido como Hay Stack Prayer Meeting (reunião de oração do monte de feno). O líder deste grupo, Samuel Mills (1783-1818), havia se convertido aos 17 anos de idade durante o Grande Avivamento que varreu a América. Em 1806 este grupo de estudantes começou a orar por missões e se comprometeu a se entregar à causa de missões. Em 1808 organizou a Society of the Brethren (Sociedade dos Irmãos) com a finalidade de levar o Evangelho ao mundo. Em 1810 os seminaristas convenceram a Igreja Congregacional a formar a primeira agência missionária americana, The American Board of Commissioners for Foreign Missions (Junta Americana de Comissários para Missões Estrangeiras). Em 1812, Mills, Adoniram Judson, Samuel Newell, Samuel Nott, Gordon Hall e Luther Rice partiram para a Índia para trabalhar com William Carrey. 9 Johnstone, The Church is Bigger than You Think, pp. 97, 98. Kane, Concise History of Christian Mission, p. 84. 11 Tucker, p. 117. 12 Tucker, pp. 118, 119. 13 Kane, p. 98. 10 Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 23 2. Segunda Era: interior (1865-1980) Uma nova visão, um novo paradigma e uma nova forma de trabalhar seriam necessários para que o Evangelho fosse pregado em regiões ainda não alcançadas. Uma das principais características de missões nesta era foi a da penetração geográfica com o desejo de pregar o Evangelho a cada pessoa. Uma ênfase menor foi dada ao discipulado e à implantação de igrejas. Outra característica foi o recrutamento de pessoas comuns sem a mesma instrução teológica dos pastores ordenados. Esta nova dimensão do movimento missionário, aliado ao colonialismo, à maior facilidade para viajar, ao avivamento espiritual e ao declínio de outras religiões mundiais, levou a uma expansão da evangelização para regiões ainda não alcançadas pelo Evangelho. O sucesso desta onda foi de tamanha proporção que havia uma expectativa de se poder terminar a evangelização mundial até o final do século XIX. O lema da época era: A evangelização do mundo nesta geração. Este otimismo acabou sendo um pouco exagerado. Na época não se sabia que existiam cerca de 6.500 línguas faladas no mundo e que apenas 537 delas possuíam alguma porção das Escrituras traduzidas. O total de cristãos protestantes na América Latina, África e Ásia em 1900 era de cerca de 4 milhões, ou seja, apenas 0,4% da população total destes continentes, com 8-9 mil missionários tentando alcançá-los14. O missionário pioneiro deste período foi Hudson Taylor. Mais tarde o Movimento Estudantil Voluntário mobilizou muitas pessoas para se envolverem com missões. Hudson Taylor (1832-1905) nasceu em uma família metodista na Inglaterra. Aos 16 anos se sentiu chamado ao ministério e pouco depois teve convicção que Deus o queria na China. Em sua preparação ele estudou medicina, distribuía folhetos evangelísticos, simplificou sua vida e passou a viver somente com o necessário. Chegou à China em 1854, aos 22 anos de idade. Em 1860 precisou regressar à Inglaterra por problemas de saúde. Os anos passados na Inglaterra serviram para amadurecer sua preparação espiritual e, em 1865, ele fundou uma missão interdenominacional, a China Inland Mission (Missão ao Interior da China), que enviou 800 missionários à China e abriu 125 escolas, tornando-se a maior missão do mundo em 1914. A missão se especializou na evangelização e inovou na adoção de usos e costumes adaptados à cultura local. Muitas outras missões seguiram o mesmo modelo. Outros missionários de destaque deste período foram: David Livingstone (na África), John Nevius (na Coreia) e Samuel Zwemer (no Oriente Médio). Outro fator importante deste período foi o Movimento Estudantil Voluntário. Em 1883-84, um grupo de sete seminaristas de Cambridge (Inglaterra) respondeu ao chamado para missões. Após terminar o seminário, visitou muitas igrejas na Inglaterra e incendiou o coração dos fiéis para a obra missionária. Em 1885, o grupo partiu para a China. Muitos outros estudantes se entregaram à obra missionária e foram ao campo nos anos seguintes. Nos Estados Unidos um movimento semelhante se espalhou pelas universidades. Nos anos de 1886-87 um total de 2.106 universitários se entregaram à obra missionária e até 1945 o movimento havia enviado 20.500 universitários. 14 Johnstone, The Church is Bigger than You Think, pp. 98-100. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 24 3. Terceira Era: povos não alcançados (1934 a presente) Esta era teve iniciou com o trabalho de Cameron Townsend e Donald McGavran. Townsend enfatizou os grupos linguísticos que ainda não possuíam a Bíblia em sua língua. McGavran se concentrou nos grupos sociais esquecidos. Estas duas maneiras de olhar para os agrupamentos de pessoas ajudaram a definir o conceito de “povos”. A primeira abordagem foi etnolinguística (agrupamentos definidos pelas diferenças linguísticas ou étnicas) e a segunda foi sociocultural (agrupamentos definidos levando-se em consideração preconceitos e tradições culturais sutis). Ralph Winter e outros desenvolveram o termo “povos não alcançados”. Vários foram os fatores que trouxeram desafios à obra missionária durante o século XX: explosão demográfica, ressurgimento das religiões não cristãs, tensões econômicas entre ricos e pobres, surgimento da teologia liberal e libertacionista, guerras mundiais e governos totalitários. Cameron Townsend (1896-1982) tornou-se missionário através do Movimento Estudantil Voluntário. Em 1917 foi para a Guatemala para vender Bíblias em espanhol. Lá percebeu que muitas etnias indígenas no país não possuíam língua escrita, não eram alfabetizadas e também não possuíam a Bíblia em espanhol. A partir de 1919 Cameron dedicou 10 anos ao aprendizado da língua Cakchiquel, desenvolveu um alfabeto e então traduziu a Bíblia naquela língua. Sua visão foi a de repetir este procedimento com tantas outras línguas que ainda não possuíam a Bíblia. Em 1934 ele fundou a Missão Wycliffe Bible Translators (Missão Wycliffe para a Tradução da Bíblia) que finalmente se tornou a maior missão evangélica, com quase 5.000 missionários, e que efetuou a tradução da Bíblia para centenas de línguas15. A Igreja começou a mudar sua visão de missões como sendo por região geográfica para uma visão de missões por grupos culturais e linguísticos. Outro líder nessa era foi Donald McGavran (1897-1990). McGavran enfatizou a necessidade de se levar em conta não somente as barreiras linguísticas à pregação do Evangelho, mas também as barreiras sociais. Como autor, inspirou os movimentos de crescimento de igreja e levou o movimento missionário a alcançar novas fronteiras. É conhecido pela sua ênfase na importância de missões urbanas e na necessidade de se fazer pesquisas na área de missões. Ralph Winter (1924-2009) foi o fundador do Centro Americano para Missões Mundiais, tendo uma participação importante e inovadora com a criação do ensino teológico por extensão. No Congresso de Evangelização Mundial, em 1974, Ralph observou que o esforço missionário ocidental estava ignorando as necessidades dos diferentes grupos étnicos. Revelou que, apesar de quase todos os países já haverem sido penetrados com a pregação do Evangelho, quatro em cada cinco não-cristãos ainda estavam separados do Evangelho por barreiras culturais, linguísticas e geográficas16. Conclamou a Igreja, então, a olhar para a necessidade de cada grupo étnico de ouvir o Evangelho e não pensar meramente em territórios onde o Evangelho já fora pregado. Em 1982 chegou-se a uma definição de povos não alcançados: um grupo étnico entre o qual não há uma comunidade de cristãos autóctones em número e recursos suficientes para evangelizar seu próprio povo sem a necessidade de assistência externa (transcultural). Este conceito tem propulsionado o movimento missionário das últimas décadas. 15 16 Tucker, From Jerusalem to Irian Jaya, p. 352-353 John Piper, Let the Nations Be Glad. Grand Rapids, Michigan (EUA): Baker Academic, 1993. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 25 4- O Plano de Missões O Alvo de Missões: Evangelismo Ensino Obras sociais Estabelecimento de igrejas locais 1. Evangelismo Evangelismo no campo missionário é anunciar as boas novas de salvação àqueles de outra cultura e língua. Fases do evangelismo (nossa parte): • O testemunho: a demonstração do Cristianismo em ação através de nossas vidas. Existe uma fase de preparação do coração das pessoas. A maioria delas não dará ouvidos imediatamente a algum estrangeiro que venha falando de uma religião diferente. É necessário ganhar a confiança e a credibilidade das pessoas antes que estejam prontas para ouvir o Evangelho. O testemunho de uma vida íntegra, com as evidências do fruto do Espírito fala mais alto que as palavras do missionário. A demonstração de amor pelo povo conquista o seu coração. • A proclamação: comunicando verbalmente (de forma oral ou por escrito) o plano da salvação. Para uma comunicação eficaz, vários fatores precisam ser levados em consideração: o A proclamação na língua materna do ouvinte é sempre mais eficaz e mais impactante. o Não basta traduzir para outra língua o que queremos dizer; devemos nos certificar de que as palavras possuam o mesmo sentido. Às vezes as palavras podem ser equivalentes, mas os conceitos por trás delas podem ser diferentes. Por exemplo, o conceito da palavra “pecado” pode variar muito de uma cultura para outra e mesmo dentro de uma mesma cultura. Outro exemplo: na cultura ocidental, o coração é considerado o centro das emoções (“te amo de todo meu coração”; “ela tem um coração grande”) enquanto que na cultura africana, por exemplo, o fígado é considerado o centro das emoções (“te amo de todo meu fígado”). • A persuasão: procurar convencer da verdade do Evangelho. Não basta comunicar corretamente a mensagem de maneira a ser entendida; é necessário trabalhar para persuadir a pessoa de que o que dizemos é a verdade. Na realidade, somente o Espírito de Deus pode convencer alguém da verdade (Jo 16:8), mas geralmente Ele usa Seus servos como instrumentos para que isto ocorra (At 18:28; Tt 1:9). Não é nossa responsabilidade converter a pessoa (esta responsabilidade pertence ao Espírito Santo), mas é sermos fiéis na pregação da Palavra. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 26 2. Ensino – é de grande importância ensinar e fortalecer os novos convertidos. • Uma vez que o Evangelho é ouvido e que haja um interesse ou ocorra uma conversão, devemos ensinar o que ensina a Palavra de Deus. • Jesus ensinou a multidão e Seus discípulos, dando-lhes também esta mesma tarefa. Paulo ensinava nas sinagogas, nas casas e mentoreava vários obreiros, deixando-lhes instruções de que estes também deveriam passar adiante os mesmos ensinamentos. Veja Mt 28:20; Jo 8:31; Ef 4:11-12; Cl 1:28 e 2Tm 2:2, dentre outros. • O ensino exerce a função de desenvolver o amadurecimento espiritual e multiplicar novos convertidos. • Para que o Corpo de Cristo funcione bem, deve haver na igreja um equilíbrio entre evangelismo e ensino. 3. Obras sociais – a igreja deve estar envolvida com a sociedade ao seu redor (Tg 2:14-16). • As obras sociais podem ser uma forma de evangelização. Estas obras podem construir pontes que se tornarão plataformas para evangelização. • Obras sociais podem ajudar a restabelecer a justiça social na comunidade e trazer grandes benefícios a indivíduos e a comunidades inteiras, fazendo uma grande diferença. • Uma forma de demonstrarmos o amor de Cristo é através de obras sociais (Mt 25:35-46). 4. Estabelecimento de igrejas locais Quando a obra missionária produz convertidos, um local onde se congregar se faz necessário. Todo cristão deve fazer parte de uma igreja local, pois geralmente é na igreja que a comunhão e o ensino são realizados. Vemos o exemplo do apóstolo Paulo que estabeleceu igrejas por onde passava evangelizando (At 14:21-23). Várias igrejas locais podem formar uma associação, onde a cooperação irá capacitá-las a fazerem mais. O resultado de missões: uma Igreja autóctone: O resultado de um projeto missionário bem executado, que alcança todos os alvos enumerados acima, leva à implantação de uma igreja bíblica que terá recursos próprios para alcançar o restante da sua cultura com o Evangelho de Jesus Cristo. Uma igreja autóctone é uma igreja formada não de estrangeiros, mas por pessoas nativas da cultura local. Esta igreja autóctone apresenta algumas características desejáveis: • Governo próprio: não depende da missão que a estabeleceu. o A liderança da igreja é formada por pessoas que pertencem à cultura local. o O modelo de liderança deve ser tanto bíblico quanto adaptado às condições locais. o A igreja local toma suas próprias decisões sem ser dependente de estrangeiros. Isto não significa que a igreja não possa consultar irmãos de outras culturas. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 27 • Auto-sustentável o A igreja local não depende das finanças da missão para a sua sobrevivência e funcionamento. o A igreja local pode entrar em parceria com igrejas ou organizações de outras culturas com a finalidade de facilitar e acelerar projetos de evangelização. • Multiplicadora o Capaz de evangelizar e ganhar almas. o Capaz de implantar novas igrejas. o Capaz de fazer missões. O modelo bíblico nos relacionamentos entre indivíduos e igrejas não é nem de dependência cega e nem de independência, mas de interdependência, como nos ensina a analogia do corpo humano. Cada membro possui dons e função dentro do Corpo de Cristo. Se cooperarmos e trabalharmos em união, poderemos alcançar muito mais pelo Reino de Deus. Características da atividade missionária Usando-se princípios bíblicos, ao empreendermos um projeto missionário, observamos várias características desejáveis na atividade missionária: 1. Transcultural A atividade missionária não se dá somente na mesma cultura do missionário, mas principalmente ao se atravessar barreiras culturais e linguísticas. É entrar em uma cultura diferente da sua, onde se fala uma língua diferente da sua. Não é simplesmente atravessar as fronteiras de um país a outro. Por exemplo, sair do Brasil e ir para os Estados Unidos evangelizar brasileiros e implantar uma igreja com cultos em português não é fazer missões transculturais. Isto nada mais é que evangelismo para pessoas de sua mesma cultura, apesar de se estar rodeado por outra cultura e língua. Outro fator transcultural é que precisa haver uma contextualização do Evangelho e da Igreja. O Evangelho precisa ser proclamado de forma relevante dentro daquela cultura. A Igreja tem que ser relevante dentro daquela cultura, suprindo as necessidades das pessoas inseridas naquele contexto. Por exemplo, um missionário brasileiro não deve ir à África ou à Ásia e realizar cultos no mesmo modelo aos quais se habituou no Brasil (inclusive com músicas traduzidas do português). A música, as orações, o estilo de pregação, a maneira de se vestir e sentar-se na igreja deve ser de acordo com a cultura. Às vezes a atividade missionária em outra cultura envolve a tradução da Bíblia, quando esta não estiver disponível na língua materna local. 2. Internacional Missões transculturais não é dever somente de países ricos, mas o dever dos povos de todos os países que já receberam o Evangelho. A Grande Comissão é um empreendimento internacional. Nenhum país ou países têm o monopólio desta tarefa. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 28 A terceira maior igreja evangélica no mundo é a brasileira (atrás somente dos Estados Unidos e da China). O maior crescimento na área de envio de missionários ocorre hoje nos países em desenvolvimento. O número de missionários desses países já é igual ou maior que o número de missionários de países desenvolvidos. O Brasil ocupa entre a terceira e a quarta posição no número de envio de missionários transculturais. 3. Cooperativa Fazer missões requerem pessoas com uma variedade de dons espirituais, profissões e habilidades. O esforço missionário precisa ser um trabalho de equipe, trabalhando tanto no campo quanto na base de apoio – na(s) igreja(s) que envia(m). É necessário contar com pessoas com capacidade para pregar e ensinar, com habilidade linguística para tradução da Bíblia, músicos, pessoas capacitadas em aconselhamento, técnicos em informática, pessoas capazes de trabalhar com finanças, técnicos em mídia (fazer vídeos, apresentações em PowerPoint etc), arrecadadores de fundos etc. O apóstolo Paulo sempre trabalhou em equipe. Tinha colaboradores com os quais viajava; alguns que enviava para lugares onde não ele poderia estar; e ainda outros que ficavam para trás cumprindo tarefas importantes (exemplo: Áquila e Priscila). Além destas pessoas, Paulo contava também com o apoio de várias igrejas, como a de Antioquia da Síria e a da Macedônia. Cooperação envolve planejamento e coordenação, dentro da igreja e com outras igrejas. Poucas são as igrejas que possuem os recursos humanos e materiais para manterem sozinhas um projeto missionário. Geralmente é necessário a cooperação de várias igrejas parceiras (formando ou não uma associação). A cooperação permite que igrejas menores possam se envolver de forma significativa no esforço missionário e o resultado sempre será maior do que qualquer uma das igrejas poderia realizar sozinha. Uma agência missionária pode ser muito útil na coordenação e no planejamento por sua experiência adquirida e por sua especialização. 4. Integral O trabalho missionário deve se preocupar com as necessidades existentes em todas as áreas do ser humano: espirituais, físicas, psicológicas e sociais. Espirituais: evangelismo, ensino bíblico, formação de líderes. Físicas: questões de saúde (preventivas e curativas), econômicas, ajuda humanitária em situações de catástrofe. Psicológicas: educação, aconselhamento, recuperação de viciados etc. Sociais: ajuda com projetos de desenvolvimento da comunidade, justiça social, ajuda na resolução de problemas familiares etc. Jesus nos deu o exemplo de um ministério integral. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 29 5- A IGREJA ENVIADORA Missões diz respeito à expansão global da Igreja. A responsabilidade pelo suprimento dos recursos humanos e materiais para a expansão do Evangelho é principalmente da igreja local. Todas as igrejas locais têm potencial para serem igrejas enviadoras. Responsabilidades dos líderes 1. Pastor: o apoio e entusiasmo do pastor são imprescindíveis. O envolvimento da igreja com um projeto missionário depende muito de seu posicionamento frente ao projeto. A igreja seguirá a visão e a liderança do pastor. 2. Diretoria: a diretoria pode dar uma grande contribuição ao estabelecer diretrizes para o envolvimento da igreja no projeto missionário. Ela pode estabelecer alvos financeiros, escolher projetos de parceiria, etc. 3. Ministério ou comitê de missões. Toda igreja deve ter um ministério ou comitê de missões que cuide dos detalhes do envolvimento da igreja durante o ano. – Na escolha dos membros do comitê, deve-se colocar pessoas que possuem uma paixão pelas almas perdidas de outros povos e que também têm algum conhecimento sobre missões. – Uma das funções do comitê é o planejamento para envolvimento total dos membros nos projetos missionários da igreja. Várias atividades podem ser organizadas para que isto ocorra: o Apresentação de “momentos missionários” durante os cultos. São alguns poucos minutos em que informações são passadas à igreja apresentando algum povo, necessidade ou notícias do campo. o Organização de uma conferência missionária anual. o Organização de um culto com ênfase missionária. o Eventos para levantar recursos: lava-carros, refeição (churrasco, pizza, feijoada, etc.), cantina, bazar, feira de artesanato, etc. o Organização de sustento regular: ofertas mensais (seja por meio de carnês, de boletos etc). o Promoção de oração regular por missões e pelos missionários sustentados pela igreja. – Cada membro do comitê se responsabiliza por uma área. Possíveis áreas de responsabilidade: o Eventos o Correspondência com missionários e igrejas parceiras (ou missão) o Educação missionária: informar a igreja da base bíblica de missões e da obrigação de cada cristão no seu envolvimento pessoal o Finanças o Organização de viagens missionárias o Oração o Divulgação do trabalho desenvolvido pelo missionário, das necessidades dos povos não alcançados Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 30 Responsabilidades da Igreja Local: 1. Educação missionária da igreja 2. Identificação e treinamento de novos missionários 3. Sustento em oração 4. Sustento financeiro 5. Cuidados para com o missionário 1. Educação missionária da igreja A igreja local tem, entre suas funções, a do ensino de seus membros. Existem muitos assuntos diferentes que devem ser abordados pela igreja e entre estes está a necessidade de ensinar a igreja o que a Bíblia ensina sobre missões. O ensino pode ser feito de diferentes maneiras e para grupos distintos. Aqui estão algumas sugestões: • Pregação e cultos com ênfase missionária; • Momentos missionários, clips e vídeos mostrando os campos missionários; • Escola Bíblica Dominical (EBD) e Escola Bíblica de Férias (EBF); • Apresentação do trabalho por missionários em divulgação; • Disponibilizar livros sobre missões na biblioteca da igreja; • Mapas e cartazes mostrando localização e ministérios dos missionários; • Conferência missionária anual; • Viagens missionárias: visita de membros aos campos missionários. 2. Identificação e treinamento de novos missionários A igreja local deve manter diante da congregação a necessidade de obreiros no campo missionário e identificar aqueles que respondem ao chamado de Deus para serem missionários. Estes candidatos devem receber um treinamento teológico geral e outro específico para missões. É também importante que o candidato esteja envolvido com os ministérios da igreja. Alguém que não demonstre desejo de trabalhar na igreja local não deve ser considerado para o campo missionário. Ações práticas da igreja local: • Orar pelo chamamento de obreiros (Mt 9:38); • Compartilhar as necessidades específicas do campo missionário; • Encorajar os membros a usarem seus dons e talentos para a obra do Senhor; • Orientar e ajudar na procura ou escolha de um centro de treinamento apropriado; • Seleção de agência missionária. 3. Sustento em Oração A oração é uma atividade missionária da igreja muito importante. Motivos de oração: • Pelo chamamento de obreiros; • Pelas decisões que os missionários precisam tomar no campo; • Pelas necessidades espirituais, emocionais e físicas dos missionários; • Pela salvação de almas – para que o Espírito Santo prepare os corações; • Pelos novos convertidos e pela igreja no campo; Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 31 Onde orar: • Nos cultos principais da igreja (demonstrando prioridade); • Reuniões de oração; • Grupos pequenos; • Em família; • Individualmente. 4. Sustento financeiro A noção de que as ofertas missionárias podem prejudicar a saúde financeira da igreja é um mito. Na verdade, funciona de modo inverso. Quanto mais a igreja olha para fora de si mesma e contribui para missões, maior é a bênção financeira da igreja. Quando a igreja está motivada e envolvida em missões, a contribuição financeira não se torna difícil (Mt 6:20-21). As diretrizes da igreja decidem de que forma o dinheiro arrecadado será utilizado. Diversos sistemas que podem ser adotados pela igreja local para financiar missões: • Percentual pré-estabelecido com base nas entradas da igreja; • Quantia fixa pré-estabelecida das entradas da igreja; • Uma oferta missionária anual; • Compromissos individuais (compromissos mensais de contribuição assumidos por membros da igreja). Necessidades financeiras para o envio de missionários: • Material de divulgação de missões e do trabalho do missionário; • Custeio de divulgação (inclusive o deslocamento para igrejas parceiras); • Salário do missionário (com encargos sociais); • Plano de saúde; • Plano de previdência; • Passaporte e despesas com vistos de entrada; • Passagens aéreas; • Alojamento no campo (compra inicial de móveis); • Transporte; • Estudo da língua; • Educação dos filhos; • Métodos evangelísticos; • Local de reunião; • Equipamento; • Bíblias e literatura de apoio; Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 32 5. Cuidados para com o Missionário A igreja que envia um missionário transcultural ao campo faz um alto investimento. Cuidar bem do missionário é cuidar deste investimento. Além do mais, a igreja precisa cuidar do missionário por ser uma pessoa que precisa de cuidados especiais. Estes cuidados começam aqui, antes do seu envio, continuam durante o tempo de sua permanência no campo e não terminam durante o retorno do missionário para férias e divulgação. Além dos cuidados que toda igreja precisa ter com seus obreiros, existem algumas necessidades que são específicas devido à natureza singular do trabalho transcultural. É necessário ficar atento a estas particularidades. Antes da partida para o campo: • Preparação transcultural; • Documentação (passaporte, visto de entrada no país, histórico escolar dos filhos, procuração para alguém resolver negócios em sua ausência etc); • Apoio para divulgação em outras igrejas parceiras (transporte, material de divulgação); • Avaliação médica, exames, vacinas, etc; • Pesquisa de método para remessa de dinheiro ao exterior; • Necessidade de aprendizado do inglês; No campo: • Envio de necessidades pessoais (dependendo do local em que o missionário for viver, é provável que não tenha acesso a certos materiais); • Envio de ajuda para os projetos sociais desenvolvidos pelo missionário; • Encorajamento (correspondência, revistas, livros, CDs); • Supervisão: o Adaptação cultural do missionário; o Progresso no aprendizado da língua; o Desenvolvimento do projeto missionário anteriormente traçado; o Uso dos recursos financeiros; o Manutenção de sua vida espiritual; o Relacionamento com a equipe missionária e com a liderança. Durante divulgação: • Alojamento; • Tratamentos (médico, dentário); • Integração com igreja; • Ajuda com divulgação; • Reciclagem (cursos, seminários, retiros etc.). Em campo, o missionário passa pela experiência de sempre dar, dar, dar, sem ter muitas oportunidades de receber e de “recarregar suas baterias”. • Prestação de contas: o Trabalho desenvolvido; o Vida pessoal (integridade, problemas familiares, vida espiritual etc); o Financeiro (uso dos recursos, orçamento etc); Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 33 6 – O MISSIONÁRIO Definição Todo cristão deve testemunhar de Cristo, mas nem todo cristão é missionário no sentido de uma “pessoa enviada”. A palavra “missionário” não se encontra na Bíblia, mas a ideia de selecionar e enviar pessoas está (Lc 6:13; At 13:2-3). A palavra “apóstolo” (que provém do grego) significa “enviado” e a palavra “missionário” (que provém do latim) também significa “enviado”. Guiados pela seleção do Espírito Santo, a Igreja de Antioquia comissionou Paulo e Barnabé e os enviou a campo como missionários. Podemos então dizer que um missionário é alguém selecionado e enviado pela Igreja para evangelizar outros povos. Chamado e seleção O missionário deve ter uma convicção íntima de que foi chamado por Deus para uma obra missionária. Esta convicção íntima deve ser suficiente para mantê-lo no campo mesmo nos dias mais difíceis, em que enfrenta cansaço, desânimo, perseguição, choque cultural, dificuldades de adaptação, solidão, saudades e tantos outros sentimentos e empecilhos. Só a certeza de que se está no lugar certo, colocado ali por um Deus que sabe todas as coisas, pode manter a fidelidade do missionário à tarefa para a qual Deus o chamou. O chamado pode ser um pouco vago, mas é necessário confiar que, à medida que o tempo se aproxima, Deus mostrará os detalhes da missão que lhe foi confiada. Ao sentir-se chamado, o candidato deve examinar cuidadosamente sua motivação para seguir em missão. Seria mesmo um desejo ardente de ver outros povos se entregando ao Senhor Jesus Cristo? Ou a motivação seria de orgulho espiritual, reconhecimento, desejo de aventura ou algum outro motivo egoísta? Se estiver certo de que sua motivação é nobre, o candidato deve então manter-se desimpedido para que Deus possa usá-lo facilmente. Ficar desimpedido significa ter um cônjuge com as mesmas convicções, estar livre de dívidas, de prestações e de obrigações de longo prazo que poderiam impedir a sua saída para o campo missionário. O candidato já deve estar engajado no serviço em sua igreja local e ter paixão pelas almas de sua própria comunidade. Quem não trabalha e não testemunha na sua comunidade não o fará no campo missionário. Em seguida, o candidato deve começar a se informar sobre a região para a qual ele sente ter um chamado e dar início à sua preparação. Esta preparação inclui uma formação teológica, uma formação específica em missões e instrução e experiência transcultural. A igreja local deve estar envolvida e acompanhando todo este processo. Cabe à igreja a confirmação do chamado missionário. O pastor, os professores e irmãos espiritualmente maduros que conhecem bem o candidato serão chaves no processo de confirmação de seu chamado. Qualificações do candidato a missionário Não se pode aceitar o envio de qualquer pessoa da igreja ao campo missionário. O candidato deve apresentar qualificações em várias áreas: • Espiritual – Caráter cristão, integridade, maturidade espiritual; – Conhecer a Deus e manejar bem a Palavra (2Tm 2:15); Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 34 • • • • – Paixão pelo Reino de Deus; Social – Ter iniciativa para fazer contatos sociais; – Bom relacionamento com as pessoas; – Testemunho de boa conduta; Acadêmica – Escola teológica e/ou missionária – Treinamento profissional (quando o projeto missionário for especializado; por exemplo, projeto social na área de saúde); – Estudo de línguas (às vezes o exige-se o conhecimento do inglês antes de partir para o campo); Física – Boa saúde; – Boa forma física para suportar o estresse e eventualmente as condições adversas do campo; Emocional / psicológica – Equilíbrio emocional; – Resistência emocional; Preparação • Orientação e informação – Orientação dada pela agência missionária quanto aos procedimentos e documentação necessários; – Orientação no campo quanto ao trabalho já em fase de desenvolvimento; estratégias de evangelização; – Informações quanto ao país, povo e costumes, religião local, clima, etc; – Providências quanto ao visto de viagem e vacinas. • Divulgação – Procurar igrejas parceiras; – Buscar apoio em oração e financeiro; Relacionamentos Uma das principais causas de fracasso no trabalho missionário com abandono do campo está ligada aos problemas de relacionamentos. O missionário precisa estar preparado para isto e a igreja deve supervisionar esta área. • Relacionamento com as igrejas: – Igrejas parceiras. Imagine uma pessoa descendo dentro de um poço profundo e escuro, presa a uma corda segurada por outras pessoas. Sua vida depende destas pessoas. Seu retorno à superfície também depende delas. O missionário é aquele que está descendo no poço e as igrejas os que estão segurando a corda. Sem o sustento das igrejas o missionário não tem condições de realizar seu trabalho. É essencial que o missionário cultive um bom relacionamento com suas igrejas parceiras. Para isto, é preciso prestar Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 35 – atenção à comunicação e correspondência, postagem de notícias em blogs, relatórios, prestação de contas etc. A qualidade do seu sustento financeiro e em oração estará diretamente relacionado à qualidade de seu relacionamento com os parceiros e com a comunicação. Igrejas no campo missionário. O missionário deve também cultivar um bom relacionamento com as igrejas evangélicas já existentes no campo missionário (quando houver). É preciso lembrar que ele é o estrangeiro, um hóspede, aquele que vem de fora. As igrejas locais existem em uma cultura diferente daquela do missionário. Ele deve tentar entendê-las e serví-las e nunca controlá-las. • Relacionamento com outros missionários: – Muitas vezes o missionário no campo se encontra num círculo restrito de pessoas de mesma cultura: sua equipe. Quando há poucas pessoas convivendo juntas em um mesmo espaço e dividindo responsabilidades, as oportunidades para atritos e mal-entendidos são muitas. As pressões da vida em outra cultura, por vezes hostil, aliadas às expectativas de resultados aumenta a probabilidade de desentendimentos. O missionário tem que ter muita sabedoria, tranquilidade e domínio próprio para evitar situações desagradáveis e saber resolver as diferenças. Infelizmente, é nessa área que os missionários mais têm problemas de relacionamento e o que precipita o seu abandono do campo. – O convívio dos missionários no campo será sempre observado de perto pelas pessoas da cultura local. A demonstração do amor cristão nos relacionamentos entre missionários é um testemunho importante do que é ser discípulo de Jesus Cristo. • Relacionamentos com pessoas em outra cultura. A manutenção de relacionamentos cristãos saudáveis com pessoas na cultura hóspede é um fator importante no estabelecimento de confiança e, consequentemente, na aceitação da pregação do Evangelho. • Relacionamentos com a família: – Viver em outra cultura pode trazer dois extremos nos relacionamentos familiares do missionário: distanciamento ou aproximação. Ao serem confrontados com dificuldades e se sentindo sós em uma cultura estranha, os membros da família podem se aproximar mais e depender mais uns dos outros, mas, às vezes, as dificuldades podem fazer com que os membros da família comecem a culpar uns aos outros e a se distanciarem. – Problemas relacionados com a educação dos filhos é um dos grandes dilemas que a família missionária enfrenta. A solução para o problema da escolaridade pode levar a escolhas que trazem uma maior separação entre pais e filhos. – Filhos criados dentro de outra cultura podem também trazer problemas de identidade cultural. Criados longe da cultura nativa dos pais, passam a adotar mais facilmente a cultura do povo local, trazendo um certo conflito cultural Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 36 dentro da família. Estes filhos acabam desenvolvendo uma “terceira cultura”, que mescla as duas culturas. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 37 7 – O CAMPO MISSIONÁRIO Crescimento da População Mundial http://geovista.weebly.com/8-ano.html A população do mundo tem crescido de forma exponencial nos dois Ano - População últimos séculos. A projeção é a de que continuará a crescer em ritmo 1850 – 1 bilhão acelerado. Para 2025 está previsto uma população mundial de 8,5 1950 – 2,5 bilhões bilhões de pessoas e 9,2 bilhões para 2050. Noventa e cinco porcento 1990 – 5,2 bilhões do crescimento será na Ásia, África e América Latina. Metade da 2000 – 6,3 bilhões população mundial estará concentrada em quatro países: China, Índia, 2011 – 7,0 bilhões Estados Unidos da América e Rússia. Mais de metade da população mundial já vive em regiões urbanas. Dois bilhões de pessoas estão subnutridas. Jesus nos disse que “O campo é o mundo” (Mt 13:38a). Povos não alcançados Como foi mencionado anteriormente, precisamos concentrar nossos esforços evangelísticos nos povos e não nos países. “Povos” são agrupamentos com a mesma língua, os mesmos costumes e uma história comum. Se todos os cristãos evangelizassem somente as pessoas que pertencem ao seu povo, a maior parte da população mundial ficaria sem o Evangelho. Os povos não alcançados são principalmente os chineses, muçulmanos, hindus, budistas e os povos tribais. A maioria destes está na janela 10/40, uma faixa do globo terrestre que vai do oeste da África à Ásia, onde vivem mais de três bilhões de pessoas e onde se concentram 80% dos pobres da terra e os adeptos das três maiores religiões não-cristãs: hinduísmo, budismo e o islã. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 38 Dados de 2010 reconhecem 340 etnias indígenas no Brasil, com uma população de 616 mil pessoas. Destas, 228 são bem conhecidas, 27 estão isoladas e 10, parcialmente isoladas; 182 etnias têm uma presença missionária, 150 têm uma igreja local e somente 51 destas etnias têm uma liderança indígena. Noventa e cinco etnias indígenas no Brasil ainda aguardam a evangelização. Há 10 línguas indígenas com clara necessidade de um projeto de tradução da Bíblia. Somente 3 línguas possuem a Bíblia completa em sua língua e 32, o Novo Testamento. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 39 Avanço do Evangelho Avanço do Evangelho As 258 Tribos Indígenas Brasileiras e o Avanço do Evangelho Tribos Triboscom comIgreja Igrejaee Liderança LiderançaAutóctone Autóctone 20 Sem SemPresença Presença Missionária Missionária Evangélica Evangélica 92 133 Situação Situação Indeterminada Indeterminada Trabalho Trabalhoem em Andamento Andamento 13 Fonte: AMTB (Banco de Dados) Sepal (Tel: 11-5523-2544) Maio 2005 TR-503 A Tradução da Bíblia As 258 Tribos Indígenas Brasileiras e A Tradução da Bíblia Alvos Alvosde deTradução Tradução Possuem Possuem Bíblia BíbliaCompleta Completa 5 Possuem Possuem Novo NovoTestamento Testamento 52 Possivelmente Possivelmente Carentes Carentesde de Nova NovaVersão Versão em emPortuguês Português 36 15 48 `` Provavelmente Provavelmente Não NãoCarentes Carentes de deTradução Tradução Fonte: AMTB (Banco de Dados) Missões Transculturais 30 72 Sepal 2005 (Tel: 11 5523-2544) Reconhecidamente Reconhecidamente Carentes Carentesde de Tradução Tradução Provavelmente Provavelmente Carentes Carentesde de Tradução Tradução TR-501 Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 40 Missões Urbanas A estratégia missionária de Paulo incluiu os grandes centros urbanos de sua época: Antioquia, Éfeso, Corinto, Filipos, Tessalônica, Atenas e Roma. Hoje, a população urbana dos países em desenvolvimento dobra a cada 15 anos. Los Angeles, Londres e Paris não fazem mais parte das dez maiores cidades do mundo. Foram substituídas por Xangai (China), Bombaim (Índia) e Karachi (Paquistão). Em 1900 existiam 20 cidades com mais de 1 milhão de habitantes. Em 2005 existiam 440. Em 1975 existiam apenas cinco cidades com região metropolitana superior a 10 milhões de habitantes. Hoje são mais de 20 (incluindo São Paulo e Rio de Janeiro). A China tem oito das 50 maiores cidades do mundo, inclusive Xangai, a maior, com quase 14 milhões. A Índia também possui oito das 50 maiores cidades do mundo. As grandes cidades são as formadoras de opinião de seus países. São elas que concentram os maiores e mais importantes canais de mídia (jornais, rádio, televisão etc), os lançadores de modas; abrigam as oportunidades educacionais e de emprego e são os centros de poder político e econômico. As grandes cidades têm uma importância estratégica muito grande. Há maior abertura ao Evangelho nos centros urbanos. Muitos são os que chegam aos centros urbanos vindos do interior ou de outros estados. Tendo rompido um laço forte com a família e com a sociedade rural deixada para trás, o recém-chegado se encontra em uma situação mais vulnerável e mais favorável a mudanças em sua vida. Nos grandes centros, muitos tiveram mais oportunidades para estudo e exposição às diferentes ideias e estilos de vida. Estes fatores também favorecem uma maior abertura ao Evangelho. Muitos dos que se convertem nas grandes cidades acabam levando o Evangelho para os parentes no interior ou em outros estados. Isto também favorece a propagação do Evangelho. Alcançando viajantes e residentes temporários Muitos povos, inacessíveis em seus países (por causa de proibições à pregação do Evangelho ou por perseguições), viajam para o Brasil. Aqui mesmo temos a oportunidade de evangelizar povos de outras culturas. Estas pessoas chegam ao Brasil como turistas, estudantes universitários, profissionais, refugiados e a negócios. Aqui, desorientados e longe das pressões de parentes, governos e dirigentes religiosos, estão mais dispostos a ouvir e a aceitar o Evangelho. Muitas vezes voltam ao seu país de origem e podem introduzílo. Aberturas em países antes fechados ao Evangelho Hoje temos a oportunidade de evangelizar povos que estiveram isolados da pregação do Evangelho por razões políticas. Há pouco mais de 20 anos, com a queda da União Soviética, ficou mais fácil levá-lo a países antes inacessíveis. Nos últimos anos tem havido maior liberdade em países comunistas como Cuba e China. Países muçulmanos tradicionalmente fechados ao Evangelho agora estão acessíveis, apesar de existirem riscos. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 41 População mundial atual: 7 bilhões de pessoas (aumento de mais de 100 milhões por ano) Cristãos evangélicos: 400 milhões; Cristãos nominais: 1,5 bilhões; Não-cristãos vivendo na mesma cultura com cristãos: 1,6 bilhões; Não-cristãos culturalmente separados de um testemunho cristão: 3,5 bilhões. Não-cristãos culturalmente separados de um testemunho cristão 3,5 bilhões Não-cristãos vivendo na mesma cultura com cristãos 1,6 bilhões Cristãos Nominais 1,5 bilhões Cristãos evangélicos 400 milhões Este quadro deve nos despertar à grande necessidade que ainda existe no campo missionário. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 42 8- Desafios Atuais em Missões Grandes desafios ainda existem para se completar a tarefa da evangelização mundial. Os desafios da comunicação transcultural Com o aumento do nacionalismo e do orgulho nacional, o desafio é apresentar o Evangelho de modo relevante à cultura. O Evangelho não deve ser visto como uma religião estrangeira, mas como a mensagem de Deus para todo povo e toda cultura. É necessário fazer-se uma contextualização do Evangelho para que ela seja compreensível e relevante ao povo. A contextualização é a adaptação necessária para a compreensão, expressão e aplicação da verdade bíblica dentro de uma determinada cultura. Não se trata de fazer uma adaptação ou modificação do conteúdo do Evangelho, mas, sim, da sua roupagem ou rótulo. Podemos fazer a comparação com um produto importado de outro país para o Brasil. Para poder ser vendido no mercado interno, é necessário mudar o seu rótulo para que o consumidor brasileiro possa entender os detalhes do produto. Com o Evangelho também é assim: o rótulo às vezes precisa ser mudado para se adaptar à cultura, sem se mexer em seu conteúdo essencial. O perigo da contextualização mal feita é o sincretismo, isto é, uma mistura das verdades bíblicas com crenças e práticas de outras religiões. O desafio da guerra espiritual Satanás mantém muitas pessoas e culturas cegas ao Evangelho (2Co. 4:4-5; At 26:18). Levar o Evangelho a outros povos é entrar em guerra contra nosso inimigo espiritual para a libertação espiritual das pessoas que não conhecem a Cristo. Para tanto, é necessário nos revestirmos da “armadura de Deus” para a batalha espiritual (Ef 6:10-18): justiça, a Palavra de Deus (a verdade), fé e oração. O desafio da perseguição Missionários e cristãos nativos estão sofrendo perseguição e até morte em muitos países. Calcula-se que 160 mil cristãos perderam sua vida por causa do Evangelho só no ano 2000. São mais de 45 milhões desde 1900. O aumento do fundamentalismo muçulmano e de outras religiões tem elevado o risco de perseguição. A pregação do Evangelho não é sem risco. O desafio do HIV / AIDS Há mais de duas décadas surgiu uma nova doença que se propalou rapidamente pelo mundo. Em 2006, 39,5 milhões de pessoas sofriam de AIDS (dos quais 2,3 milhões eram crianças menores de 15 anos). No mesmo ano houve um acréscimo de 4,3 milhões de novos casos; 2,9 milhões morreram de AIDS. Existem países na África onde 25-34% da população adulta é soropositiva. Este é um grande desafio. A Igreja de Jesus Cristo pode ajudar: na propagação de princípios bíblicos para a sexualidade humana (fidelidade a um só parceiro e abstinência antes do casamento); cuidando dos que sofrem com a doença e o preconceito; cuidando dos órfãos deixados para trás por pais aidéticos falecidos. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton 43 O desafio das seitas • Seitas pseudocristãs com atividade mundial: – Mórmons (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias): conta com 50 mil missionários no campo; – Testemunhas de Jeová; – Igreja da Unificação; • Outras seitas não-cristãs: – Hare Krishna – Fé Bahai – Seicho-no-iê O desafio do terrorismo Quase todos os anos missionários são sequestrados por terroristas. Muitos destes sequestros terminam mal. Missionários são alvos por causa da ajuda que dão ao povo e por serem estrangeiros. O desafio financeiro O sustento de missões é sempre um empreendimento dispendioso. À medida em que mais cristãos são chamados ao campo para completar a tarefa da evangelização, maior a necessidade de financiamento para estes projetos. A Igreja brasileira também enfrenta desafios financeiros em muitas outras áreas. Por isso, é necessário uma cooperação e o desenvolvimento de estratégias para o financiamento de missões, tais como: parcerias entre igrejas, desenvolvimento de modelos de negócios com renda revertida para missões e o envio de “fazedores de tendas”. Estes últimos são missionários que têm outra profissão que exercerão no campo para suprir parte ou toda a sua necessidade de sustento. Sabemos que os desafios não podem deter o avanço do Reino de Deus, pois as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja do Senhor Jesus Cristo. Ele está no controle de todas as coisas. Mesmo que enfrentemos problemas de todos os lados, Deus procura homens e mulheres que se coloquem à Sua disposição para serem utilizados de forma poderosa ao redor do mundo. Missões Transculturais Prof.: Pr. Kenneth Eagleton