SAÚDE DO ADOLESCENTE: políticas e práticas nos

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SAÚDE DO ADOLESCENTE: políticas e práticas nos
Saúde do Adolescente: Políticas e Práticas nos Municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
ADRIANA ALVES DA SILVA
SAÚDE DO ADOLESCENTE:
políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião
de Saúde do Estado do Ceará
FORTALEZA – CEARA
2009
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Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
1
ADRIANA ALVES DA SILVA
SAUDE DO ADOLESCENTE:
políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde
do Estado do Ceará
Dissertação apresentada à coordenação do
Curso de Mestrado Profissional em Saúde
da Criança e do Adolescente da
Universidade Estadual do Ceará, como
requisito parcial para obtenção do Grau de
Mestre.
Área de Concentração Saúde da Criança e
Adolescência.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia de Almeida
FORTALEZA – CEARÁ2009
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
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ADRIANA ALVES DA SILVA
SAUDE DO ADOLESCENTE. Políticas e práticas nos municípios
da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
Dissertação apresentada à coordenação
do Curso de Mestrado Profissional em
Saúde da Criança e do Adolescente da
Universidade Estadual do Ceará, como
requisito parcial para obtenção do Grau de
Mestre.
Defesa em: __/__/_____
Conceito obtido: ___________
Banca Examinadora
_________________________________________________
Prof. Dra. Vera Lúcia de Almeida – (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará
______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Nazaré de Oliveira Fraga
Universidade Federal do Ceará
______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Veraci Oliveira Queiroz
Universidade Estadual do Ceará
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DEDICO ESTE TRABALHO
Aos meus pais, Francisco Osmar e Maria Aldenir,
pela transmissão de seus valores, virtudes, respeito
e amor, em todos os momentos de minha vida.
Aos adolescentes Marcos, Marquinhos e João
Helder, que me impulsionam a ir além
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AGRADECIMENTOS
À Universidade Estadual do Ceará – UECE, à Escola de Saúde Pública de Iguatu ESPI, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia – Campus Iguatu, ao
Ministério da Saúde e à Organização Panamericana de Saúde, pelo apoio
institucional.
A Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia de Almeida, por orientar-me nos caminhos dessa dissertação.
Em especial, a Lúcia do Nascimento, que desde sempre representa um exemplo a
ser seguido, disponibilizando-se e compartilhando saber, e por enriquecer minha
caminhada, me ofertando oportunidades de crescimento pessoal e aperfeiçoamento
profissional.
Ao Dr. Carlile Lavor, ao Dr. Agenor Neto e ao Dr. José Ilo, que acreditaram na ESPI
e nos proporcionaram esta oportunidade.
Aos meus “anjos da guarda” Betim Duarte, Lenival do Carmo, Socorro Viana e Jorge
Luís, que velaram por minha família nos momentos em que estive ausente.
Ao amigo Rodrigo Carvalho e aos companheiros de viagem José Elpídio Cavalcante,
Lúcia Vanda Teixeira e Jacirene Franco, pela estimulante convivência em todos os
momentos do mestrado.
À amiga Aparecida Carvalho, lindinha, por me iluminar nas reflexões para caminhos
mais seguros e dar o grande significado à palavra amizade.
Às amigas Graça do Carmo, Hidelbânia Duarte e Magna Veruska, pelo grande apoio.
À Eliane Coelho, Gilvan Teixeira e Maiza Barros que, mesmo entrando em minha
vida no final dessa trajetória, muito me apoiaram e me ajudaram.
À amiga Shirley Lima, pela base domiciliar durante os créditos em Fortaleza.
Aos professores, colegas e funcionários do Mestrado Profissional em Saúde da
Criança e do Adolescente, pelas aprendizagens diversas.
Ao Núcleo Gestor da ESPI, coordenadores e profissionais da Estratégia de Saúde
da Família da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará, que se dispuseram a
falar de seu trabalho e muito contribuíram com este estudo
Muito obrigada!
Adriana
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Não há dificuldade que o amor não vença;
doença que o amor não cure;
porta que o amor não abra;
obstáculo que o amor não transponha;
muralha que o amor não derrube;
pecado que o amor não redima;
não importa que o problema se ache há muito enraizado;
que as perspectivas não ofereçam esperança;
que a situação esteja embaralhada;
que o erro tenha as dimensões que tiver;
o sentimento autêntico do amor dissolverá tudo;
quem souber amar o suficiente;
será o mais feliz e mais poderoso ser do mundo.
EMMET FOX-OS
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RESUMO
São recentes a conquista e o reconhecimento de adolescentes e jovens como
sujeitos de direitos na sociedade brasileira. Na área da saúde, as primeiras
iniciativas de trabalho com esta população, nesta linha de direitos, se deram por
meio do PROSAD (1989), seguido pelas normas de atenção à saúde integral do
adolescente (1993), que preconizavam a atenção a esta clientela, respeitando os
princípios de descentralização, integralidade e acesso. Desse período a atualidade,
esforços continuam sendo envidados para implementação das políticas públicas
para este segmento populacional. Na década atual, são conquistas destacadas, a
Política Nacional de Juventude e a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde de
Adolescentes e Jovens, esta lançada pelo Ministério da Saúde em 2006, aprovada
pelo Conselho Nacional de Saúde em 2007, mas não apreciada nem pactuada pelos
gestores da saúde federal, estadual e municipal na Comissão Intergestores Tripartite
– CIT. Com esses esforços e a existência de uma Política Nacional de Atenção
Integral a Saúde de Adolescentes e Jovens, ainda não apreciada pela CIT, mas
reconhecidamente necessária, a ser implantada na atenção básica por intermédio da
Estratégia de Saúde da Família - ESF, este estudo teve como objetivo analisar as
políticas e práticas de saúde voltadas para a assistência à saúde de adolescentes e
jovens nos municípios que compõem a 18ª Microrregião de Saúde do Estado do
Ceará. A pesquisa ancorou-se nos pressupostos da metodologia qualitativa e teve
como sujeitos participantes os profissionais da ESF, coordenadores da atenção
básica e profissionais da Escola de Saúde Pública de Iguatu – ESPI. Os dados
empíricos foram coletados em entrevistas, sendo os resultados discutidos mediante
a análise de conteúdo, referenciados nas diretrizes da atenção integral à saúde de
adolescentes e jovens. Como resultados, destaca-se que, dos municípios que
compõem a 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará, apenas quatro têm ESF
desenvolvendo praticas individuais e coletivas com adolescentes e jovens. Na
primeira categoria encontrada – Concepções e diretrizes políticas – verificou-se que
nos municípios estudados não há uma política específica para atenção à saúde
desta clientela. Os profissionais não conhecem as diretrizes das políticas publicas
para esse segmento e também não possuem um conceito elaborado e refletido
sobre adolescência e juventude, reproduzindo o discurso do senso comum e
hegemônico da sociedade, no qual enfatiza ser esta fase da vida fenômeno
atemporal e universal. Na segunda categoria – Reciprocidade entre concepções
norteadoras e práticas institucionalizadas – constata-se que as práticas buscam
muito mais a normatização da vida dos adolescentes e jovens do que propriamente
potencializar sua emancipação. A ênfase está nas ações de orientação, que
imbuídas da noção de que o modo de viver de adolescentes e jovens, por si só, é
propiciador de perigo, devem ser indicativas de alerta, advertência e recomendação.
Nos municípios estudados, a atenção á saúde de adolescentes e jovens, à luz da
integralidade, afirma-se portanto como desafio, necessitando-se repensar os
caminhos que conduzem a este horizonte, já que o alcance da atenção integral para
esse público, nesta microrregião, envolve questões que vão além da competência
técnico-científica e decisão política.
Palavras Chaves: Adolescência. Juventude. Políticas Públicas. Políticas de Saúde.
Atenção Integral.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
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ABSTRACT
Adolescent´s health: politics and practices of full attention in municipals of 18ª
Microdistrict of Health of Ceará State
The recent conquest of recognizing of adolescents and youngs as subjects of rights
in brazilian society do not come along of institutional rights, being these ones still in
great challenges. In health area, due this customership do not form a population that
requires specific biological cares, do not been developed in terms of systematic
demands and strategic actions. However in actual society notices that if not
accompanied the conflicts and anguish lived in adolescence and youth will highlight
effects in other stages of life. To protect this population, the strategy of family´s
health is put as the main mechanism to available the full attention having in sight to
be closer of this population., make a work in multiprofissional team and have as
principles the vigilance to health, the integrality of practices, hierarchy, territory, and
fidelity of customership. In this context, the present study had as general objective, to
identify the politics and practices of health backed to full assistance of adolescents´
and youngs´ health in municipals that form the 18ª Microdistrict of Health of Ceará
State; and specifics: to analyze the consonance between municipal politic and the
propositions of Full Attention to Adolescents´and Youngs´health and; to draw the light
of National Politic of Full Attention to Health of Adolescents and Youngs, the actions
and practices developed to this population, in municipals that form the 18ª
Microdistrict of Health of Ceará State, being the empyrical data collected through
interviews. To discussion of results, it adopted as reference the rules of full attention
to health of adolescents and youngs recommended by international organisms and
Health Ministry. Of analysis of content of speeches, came out that even actions are
being done, the full attention translated into politics and practices to adolescents and
youngs, still do not constitute priority in 18ª Microdistrict of Health of Ceará State.
Key Words: Adolescence, Youth, Public Policies; Health Policy; Full Attention to
Health
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
LISTA DE FIGURAS
1
Ceará: localização da 18ª Microrregião de Saúde..............................
46
2
Representação gráfica da sistematização dos achados no campo
de pesquisa.........................................................................................
84
Representação gráfica dos resultados advindos do campo de
pesquisa..............................................................................................
85
3
LISTA DE TABELAS
1
População, segundo município..........................................................
46
2
Contagem da população de adolescentes e jovens de dez a 24
anos, por município............................................................................
48
3
Equipes de Saúde da Família, por município....................................
69
4
Municípios e equipes de PSF enquadrados, conforme critério........
70
5
Profissionais entrevistados, segundo categoria.................................
71
6
Caracterização dos sujeitos da pesquisa..........................................
73
7
Denominação dos sujeitos participantes da pesquisa.......................
77
8
Categorias e subcategorias de análise da pesquisa.........................
78
9
Equipamentos encontrados, por unidades pesquisadas...................
122
10 Impressos encontrados, por unidades pesquisadas.........................
123
LISTA DE GRÁFICOS
1 Conhecimento, participação e utilização, pelos profissionais, das
diretrizes políticas para adolescentes e jovens...................................
107
2 Qualificação profissional para atenção integral à saúde de
adolescentes e jovens.........................................................................
118
3 Primeiro contato dos adolescentes e jovens nas unidades, por
município.............................................................................................
128
4 Realização de atividade de grupo para adolescentes e jovens, por
categoria profissional...........................................................................
131
8
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................
1.1 Contextualização do objeto de estudo...............................................................
1.2 Adolescência, juventude e contemporaneidade.................................................
1.3 Adolescência, juventude e políticas públicas no Brasil – resgate
histórico...................................................................................................
1.3.1 Adolescência, juventude e políticas públicas no Ceará................
1.3.2 Adolescência, juventude e políticas públicas na 18ª Microrregião
de Saúde do Estado do Ceará..........................................................
1.4 Saúde de adolescentes e jovens – condições históricas e indicações
práticas....................................................................................................
2 OBJETIVOS....................................................................................................
2.1 Geral........................................................................................................
2.2 Específicos..............................................................................................
3 PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO...................................................
3.1 Natureza da pesquisa ............................................................................
3.2 Cenário da pesquisa...............................................................................
3.3 Sujeitos da pesquisa...............................................................................
3.4 Técnicas e instrumentos de coleta de dados ..........................................
3.5 Coleta de dados......................................................................................
3.6 Análise de dados....................................................................................
3.7 Procedimentos éticos da pesquisa.........................................................
3.8 Pressupostos teóricos............................................................................
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................
4.1 Saúde de adolescentes e jovens na 18ª Microrregião de Saúde do
Estado do Ceará – concepções e diretrizes políticas.............................
4.2 Saúde de adolescentes e jovens na 18ª Microrregião de Saúde do
Estado do Ceará – reciprocidade entre concepções norteadoras e
praticas institucionalizadas.....................................................................
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................
REFERÊNCIAS ................................................................................................
APÊNDICE A ....................................................................................................
APÊNDICE B ....................................................................................................
APÊNDICE C ....................................................................................................
APÊNDICE D ....................................................................................................
APÊNDICE E ....................................................................................................
APÊNDICE F .....................................................................................................
APÊNDICE G ....................................................................................................
ANEXO A ..........................................................................................................
11
11
17
25
41
44
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65
65
65
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76
77
79
79
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86
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165
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179
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185
186
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Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
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INTRODUÇÃO
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
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1 INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização do objeto de estudo
É bem recente a institucionalização do cuidado com adolescentes e
jovens na sociedade brasileira. As primeiras iniciativas datam do início do século XX,
mas, ancoradas numa concepção de direitos e cidadania, foi somente nos anos
1990 que políticas públicas para esse segmento passaram a ser discutidas e
realmente efetivadas.
Parte dessa conquista decorre aos movimentos sociais que, nas décadas
de 1980 e 1990, protagonizaram intensas lutas contra a ditadura militar e pela
democratização do País, sendo responsáveis por conquistas fundamentais.
Dentre essas conquistas, destacam-se a Constituição Brasileira de 1988 e
suas leis complementares à saúde e educação, que asseguraram, em seus
conteúdos, matéria específica para proteção de crianças e adolescentes.
Outra conquista que merece relevo refere-se ao Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), Lei 8069, de 13 de julho de 1990, que, ratificando a
responsabilidade com este segmento populacional, configura-se como “uma das
legislações mais avançadas do mundo, no que tange à doutrina de proteção integral
de crianças e adolescentes, no plano das políticas relacionadas à saúde do
adolescente e do jovem” (LEÃO, 2005, p. 1).
Em seu Artigo 4º o ECA enfatiza:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária (BRASIL, 1990a).
Um traço comum em toda essa legislação diz respeito à ênfase na
formulação e fiscalização das políticas públicas, por estados e municípios.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
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Nesse sentido, a década de 1990 foi permeada por intenso movimento de
descentralização política, administrativa e financeira, denominado de municipalização,
ao qual grande parte dos municípios brasileiros fizeram adesão.
Nesse contexto, o município, como instância local de poder mais próxima
dos cidadãos, ganhou a primazia para a implantação e condução das políticas
publicas. De acordo com documento da UNESCO, é ao município
... que cabe a formulação da política pública e o atendimento ao indivíduo num
modelo de gestão compartilhada com representações da sociedade, criando
novos instrumentos de cooperação entre ambos. Não se trata de isentar a
União e os Estados de responsabilidade, mas de pensar em soluções
integradas que possam ser executadas no município, que é, afinal, onde os
jovens vivem, moram e precisam ser atendidos (UNESCO, 2004, p.88).
A atenção ao adolescente e ao jovem acompanha essa diretriz
descentralizadora, sendo seu atendimento realizado em âmbito municipal por
diversas instituições, dentre as quais as secretarias municipais de educação, ação
social, infraestrutura, meio ambiente, entidades filantrópicas e organizações não
governamentais.
Na área de saúde, as primeiras iniciativas de trabalho com adolescentes e
jovens datam do final da década de 1980, com a criação do Programa de Saúde do
Adolescente (PROSAD), pelo Ministério da Saúde. Este programa tinha como foco a
“atenção integral aos adolescentes de 10 a 19 anos, fundamentado numa política de
promoção de saúde, identificação de riscos, detecção precoce dos agravos com
tratamento adequado e reabilitação” (LEÃO, 2005, p.19-20).
Incompatibilizando-se com as concepções do Sistema Único de Saúde
(SUS), instituído no Brasil com a Constituição de 1988, o PROSAD deu lugar à
assistência integral, a ser desenvolvida na rede de atenção primária pela estratégia
de Saúde da Família, principalmente por não atender aos princípios de
descentralização e integralidade, em que o acesso e atenção ao adolescente devem
ocorrer mais próximos possíveis de sua residência, levando-se em conta a realidade
e o meio do qual faz parte, além de uma atenção com enfoque na prevenção e
promoção da saúde (LEÃO, 2005).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
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Nesta direção, em 1993, foram lançadas as primeiras Normas de Atenção
à Saúde Integral do Adolescente, e, em 1999, foi criada a Área de Saúde do
Adolescente e do Jovem (ASAJ), no âmbito da Secretaria de Políticas de Saúde do
Ministério da Saúde (BRASIL, 2006a).
Na década atual, percebe-se que esforços continuam sendo envidados,
principalmente pela sociedade civil, para a implantação e implementação de políticas
para a população infantojuvenil. Dessas lutas, novas nuances aparecem, pois, pelo
fato de o Estado priorizar a atenção, sobretudo para os adolescentes em processo
de exclusão e/ou privados de direitos na faixa etária compreendida pelo ECA, (12 a
18 anos) os maiores de 18 anos ficaram “invisíveis aos olhos do poder público, sem
desfrutar de uma política específica” (BRASIL, 2007, p.18).
Constata-se, que outra categoria, com faixa etária maior do que 18 anos e
que até o momento não estava nas normatizações e leis, começa a se delinear: a
juventude. Esta, com maior força e expressividade, logrou consideráveis avanços,
destacando-se em 2005, no governo de Luís Inácio Lula da Silva, pelo lançamento
da Política Nacional de Juventude, criação de uma secretaria específica, o Conselho
Nacional de Juventude, e uma política de inclusão denominada de PROJOVEM, Lei
nº 11.129/2005.
Outra conquista da juventude que também pode ser destacada é a
deflagração, em nível nacional, da
Conferência Nacional de Políticas Públicas de Juventude, num amplo
processo de diálogo do governo com a sociedade, com debates nas
escolas, universidades, grupos juvenis, etapas municipais e estaduais que
se iniciaram em setembro de 2007 e culminaram numa grande reunião em
Brasília, entre os dias 27 e 30 de abril de 2008 (BRASIL, 2007, p. 06).
Fruto ainda dessa articulação, em 2005, o
Ministério da Saúde lançou a versão preliminar da Política Nacional de
Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens que pauta para a área da
saúde estratégias com relação à inclusão desta faixa da população em suas
atividades nos equipamentos sociais, assinalando a necessidade também da
inclusão de jovens marginalizados, bem como a criação de serviços, o
desenvolvimento de novas tecnologias para o trabalho com essa população,
atendimento e inclusão de jovens e o desafio do avanço no campo das ações
intersetoriais, para que se tenha algum resultado real na abordagem dessa
camada da população (LOPES; SILVA; MALFITANO, 2006, p.127).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
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Em final de 2005, a versão preliminar da Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens ficou pronta, sendo exposta na internet a
consulta pública. A discussão e pactuação junto aos gestores estaduais e municipais
do SUS foram iniciadas em 2006, sendo a proposta aprovada no Conselho Nacional
de Saúde em 18 de janeiro de 2007. No momento, encontra-se na Comissão
Intergetores Tripartite (CIT), mas, infelizmente, em virtude de impasses políticos,
ainda não foi apreciada por este Colegiado.
Esta política norteia-se pela Constituição Brasileira, por suas leis
complementares e orgânicas, indicando a necessidade de articulação institucional e
a responsabilização diferenciada na sua execução para o Estado, as famílias e a
sociedade em geral (BRASIL, 2006a).
Conforme Lamare, a implantação dessa política no plano nacional deverá
ser realizada por meio das seguintes estratégias:
articulação, nas três esferas de gestão do SUS, das ações de
implementação dessa Política, em âmbito nacional; qualificação das ações
de produção da saúde para adolescentes e jovens, de ambos os sexos;
reorientação dos serviços e qualificação de equipes e profissionais da
Atenção Básica, junto com os estados, municípios e DF, para oferecer as
práticas integrais que atendam às necessidades específicas e singulares da
população de adolescentes e jovens; e, fomento, em conjunto com os
estados, municípios e Distrito Federal, da participação juvenil e do controle
social nas ações para a implementação da Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens (2005, p. 2).
A prerrogativa para implantação e condução dessa política é ratificada
aos municípios, pois estes, na qualidade de poder e instância local de decisão e
ação, possuem condições efetivas para estabelecer uma rede de proteção social,
com suporte na parceria com instituições da sociedade civil e da intersetorialidade
com áreas como educação, cultura, ação social, esporte, lazer e artes, devendo ter
como enfoque o desenvolvimento de valores, competência e habilidades para que
adolescentes e jovens se tornem cidadãos autônomos (BRASIL, 2006a).
No que se refere ao atendimento, propõe-se que este ocorra por intermédio
da estratégia do trabalho da Saúde da Família por esta destacar-se pela prática do
cuidado familiar ampliado, efetivada por meio do conhecimento da estrutura e da
funcionalidade das famílias, propondo intervenções que influenciem nos processos de
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
15
saúde-doença dos indivíduos, das famílias e da própria comunidade, incluídos neste
contexto adolescentes e jovens de suas áreas adstritas.
Corroborando o pensamento de Lamare, ao analisar que “promover a
saúde de adolescentes e jovens é um investimento que repercute tanto no presente
quanto no futuro, uma vez que os comportamentos iniciados nessa idade são
cruciais para o restante da vida” (LAMARE, 2005), acreditamos que a implantação
de uma política de atenção integral à saúde dessa população, ao tempo em que
recupera uma dívida de efetivação de direitos, já reconhecida e assegurada em
normatizações, mas não efetivamente institucionalizada, cumpre a responsabilidade
social e compartilhada para formação de adolescentes e jovens autênticos e
autônomos diante da sociedade.
Assim, em meio a esta realidade, na qual constatamos a existência, mas
não a aprovação pela CIT, de uma política de atenção integral à saúde de
adolescentes e jovens, associada ao fato de atuarmos profissionalmente na 18ª
Coordenadoria de Saúde do Estado do Ceará (CRES), no período da seleção do
mestrado, onde desempenhávamos um trabalho de acompanhamento, monitoramento
e orientação aos municípios dessa Microrregião, visando à melhoria de indicadores,
dentre esses a saúde de adolescentes e jovens, o desejo de conhecer como tem sido
dispensada a atenção integral a saúde de adolescentes e jovens nesta região
inquietou-nos e instigou-nos, nos motivando-nos a realização deste estudo.
Outro aspecto que também nos motivou a empreender esta investigação foi
o convite para integrar o corpo docente da Escola de Saúde Pública de Iguatu, que
priorizou em seu projeto pedagógico, o desenvolvimento de um trabalho para a atenção
a adolescentes e jovens, por considerar de fundamental importância a formação e
desenvolvimento pessoal e social destes, para uma vida adulta digna e cidadã.
Assim, guiada pela pergunta: Como são desenvolvidas políticas e práticas
em atenção integral á saúde de adolescentes e jovens nos municípios que compõem
a 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará? – buscamos compreender o
envolvimento e a participação dos profissionais na elaboração e implantação das
políticas, bem como conhecer as práticas e que referência destas estes profissionais
utilizam quando de seu exercício profissional com adolescentes e jovens.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
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O estudo é de natureza qualitativa e foi realizado nos municípios que
compõem a 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará. Para elucidar a questão
indagadora, nos propomos os seguintes objetivos: – geral, analisar as políticas e
práticas de saúde voltadas para a assistência integral à saúde de adolescentes e
jovens nos municípios que compõem a 18ª Microrregião de Saúde do Estado do
Ceará; específicos – examinar a consonância entre a política municipal e as
proposições da Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens; delinear, à luz
da Política Nacional de Atenção Integral a Saúde de Adolescentes e Jovens, as
ações e práticas desenvolvidas para esta população, nos municípios que compõem
a 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará, e caracterizar as concepções dos
profissionais de saúde sobre adolescência e juventude e políticas públicas de saúde
para este segmento populacional.
Didaticamente, este ensaio se estrutura em duas partes. A primeira faz
um resgate histórico das políticas e ações preconizadas pelo Estado brasileiro para
a
atenção
à
saúde
de
adolescentes
e
jovens,
estabelecendo
reflexões
interdisciplinares e diálogo com estudiosos e pesquisadores, buscando identificar as
respostas às demandas e institucionalização de serviços para esse grupo
populacional em distintos períodos históricos.
Ainda na primeira parte, aponta uma abordagem atualizada sobre atenção
integral, categoria adotada para referenciar o estudo, por entendê-la como
instrumento norteador capaz de contribuir com a formulação das diretrizes políticas e
ações para adolescentes e jovens, considerando suas necessidades biopsicossociais.
Na segunda parte, apresentamos o desenho metodológico da pesquisa,
os resultados encontrados junto aos agentes sociais envolvidos e, na sequência,
apontamos a discussão e análise dos dados, cotejados com o referencial teórico
adotado, tendo como expressão máxima a busca de aproximação com a realidade
estudada.
Por fim, sem intenção de indicar caminhos, mesmo porque temos a
consciência de que os dados encontrados não se adequam a generalizações, mas
por acreditarmos que das discussões podemos chegar a indicativos mais
pertinentes, deixamos aqui algumas considerações que julgamos relevantes.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
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1.2 Adolescência, juventude e contemporaneidade
Em seu artigo intitulado, Adolescência através dos tempos, Grossman nos
explica, que em linhas gerais “a ideia do que hoje chamamos adolescência, é
pressentida a partir do século XVIII”, pois anterior a esta data, o que distinguia a
adolescência do mundo adulto, eram as “maneiras de viver, associando o individuo
ao corpo social onde está inserido” (1998, p. 68).
Corroborando a ideia da autora, percebemos que, para compreender a
adolescência como a vemos na atualidade, não basta apenas buscar sua
historicidade,
mas
necessitamos
também
do
desvelamento
desta,
em
condicionantes econômicos e socioculturais. Nessas condições, o nascimento da
adolescência, propriamente dita, está muito mais associado à institucionalização da
sociedade capitalista burguesa, com a introdução de espaços ideologicamente
divulgados como de igualdade e ascensão, do que propriamente como categoria
com importância e necessidades especiais no desenvolvimento humano.
É válido esclarecer, contudo, que a adolescência como idade cronológica
sempre existiu. Na Idade Antiga, os adolescentes e jovens, desde o nascimento,
eram entregues a um preceptor, que se responsabilizava por sua educação, diga-se,
marcada por enorme rigidez para formação do caráter, tornando-se adulto por
decisão do genitor, por volta dos 14 anos, quando trocava as vestes infantis pelas
vestes de homem (FROTA, 2007).
Na Idade Média, a adolescência também não tinha um lugar de destaque
e era confundida com a infância. Como a “ideia de infância estava ligada à ideia de
dependência, e a saída desta para o ingresso pleno no mundo dos adultos ocorria
quando a criança tinha condições de viver sem a solicitude constante de sua mãe ou
ama”, a entrada no mundo adulto se fazia sem marcos ou ritos de passagem,
adentrando a criança “na sociedade dos adultos, sem se distinguir mais deles” sem
qualquer referência à adolescência (GROSSMAN, 1998, p. 69).
Com efeito, Ariès acentua que, na Idade Média “o sentimento de infância não
existia – o que não quer dizer que as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou
desprezadas” (ARIÈS, 1981, p. 156) a criança era vista como “um adulto em miniatura”,
(ARIÈS, 1981, p.10) não havendo separação entre infância e maturidade.
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18
Foi nos séculos XVII e XVIII que o conceito de criança se transformou e
esta passou a ser vista como um ser “engraçadinho” e objeto de “paparicação”
(ARIÈS, 1981, p. 14).
Essa transformação, não por acaso, emergiu concomitante à formação da
sociedade burguesa, onde se dissemina a ideia de família centrada no lar, e escola
como instituição formadora, organizações capazes de transformar a criança em um
ser racional, que, por meio de uma educação para o futuro, converter-se-ia em
homem ideal.
Necessitando a nova estrutura econômica da nascente sociedade
burguesa de qualificação e formação, um novo sistema escolar se fez exigência;
assim, surgiu o sistema de classe, que dividia os alunos de acordo com o seu
desenvolvimento, seguido do sistema de idade, que passou a separá-los por faixa
etária. Conforme nos informa Ariès, “essa divisão não era perfeita, pois as crianças
de 10 e 14 anos, assim como os rapazes de 19 e 25 anos, freqüentavam as mesmas
classes no século XVII e XVIII. Até o final do século XVIII, não se teve a ideia de
separá-lo” (1981, p. 176).
Foi, porém, graças ao “estabelecimento progressivo e tardio de uma
relação entre a idade e a classe escolar que o período da segunda infância –
adolescência - foi distinguido” (ARIÈS, 1981, p. 177).
Conforme Ariès, a escola passou a ser espaço privilegiado para a
produção de juventude, surgindo daí a elaboração ideológica de juventude como
condição de estudantes,
Essa distinção de classes indicava portanto, uma conscientização da
particularidade da infância ou da juventude, e do sentimento de que, no
interior dessa infância ou dessa juventude, existiam várias categorias. A
instituição do colégio hierarquizado no século XIV já havia retirado a
infância escolar da barafunda em que, no mundo exterior, as idades se
confundiam. “A criação das classes no século XVI estabeleceu subdivisões
no interior dessa população escolar” (ARIÈS, 1981, p. 173).
Nos séculos subsequentes – XIX e XX – a adolescência e a juventude
foram concebidas em um contexto de crises e contestação social. Frota, citando
Abramo, ressalta que,
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19
... esse fenômeno facilitou que se plasmasse tal caracterização como a
característica própria dos jovens. É possível vermos que a virada para o
século XX traz consigo a invenção de uma adolescência representada como
uma fase de “tempestades e tormentas” e germe de transformações. O
movimento hippie, da década de 60, e o juvenil, de 1968, contribuíram para
formar um discurso sobre o que é ser adolescente, instituindo o modelo
masculino, da classe média, como o estalão privilegiado. Por toda a década
de 70, o movimento de ampliação da contracultura juvenil continuou se
expandindo (2007, p. 153).
Na atualidade, definir adolescência e juventude tornou-se tarefa mais
complexa, já que estas categorias, nos últimos anos, têm ganhado destaques
plurais. Encontramos grandes diferenças, por exemplo, entre o desenvolvimento de
adolescentes da zona rural e urbana, bem como de setores marginalizados e das
classes mais favorecidas economicamente. No dizer de Dávila, é por essa razão que
“não se pode estabelecer um critério de idade universal que seja válido para todos
os setores e todas as épocas: a idade se transforma somente em um referente
demográfico” (DAVILA, 2005, p. 13).
Alguns autores ressaltados em Frota corroboram esta afirmação:
Ferreira (1992) vê grande diferença entre a juventude da década de 50 e a
contemporânea, denunciando a falta de sentido e inatividade que considera
ser o mais notável na juventude de então. Já Lindemberg (1993), assinala
as contradições e incertezas da juventude de baixa renda da periferia de
São Paulo, considerando serem essas características identificatórias dos
adolescentes pesquisados. Diógenes (1998) ressalta que os movimentos
juvenis despertaram visões diferenciadas na sociedade, tais como
desordeiros ou renovadores, enfatizando as diferentes representações
sociais atribuídas a esses movimentos (2007, p. 153).
Parte dessa complexidade se apoia na atual conjuntura, onde
Especialmente no Brasil de hoje – um dos países com maior desigualdade
socioeconômica no mundo – a exclusão social se superpõe a uma clivagem
básica entre ricos e pobres. Essa dicotomia estabelece padrões diferenciados
para esses grupos, os quais constroem imagens estereotipadas uns dos
outros, aumentando a rejeição entre si, já que procuram se defender da
ameaça do outro, do diferente (UNESCO, 2004, p.44).
Destaque também a essa complexidade se faz pelo neoliberalismo, cujos
valores consumistas ampliaram as opções, inclusive com disponibilidade tecnológica
e digital, influenciando o desenvolvimento de adolescentes e jovens, que, na busca
do impacto e da visibilidade se envolvem em ondas punk, dark, skin heads, dentre
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outras, realizando ações sem questionamento ou convicção, anulando-se e
alienando-se sob o prisma da aparência.
Fruto das consequências desses viés, podemos perceber,
Em primeiro lugar, a débil participação no sistema educacional e a
precariedade da inserção no trabalho impedem que ambos os sistemas
operem como transmissores de normas e valores que ordenam a vida
cotidiana estruturem aspirações e definam metas a serem alcançadas.
Segundo, os fenômenos de instabilidade e não realização integral, que
estão afetando as famílias desses setores afetam as relações
intrafamiliares. Terceiro, o isolamento e o distanciamento em relação a
canais de acesso a mobilidade se dá em contexto em que se fragilizam
suas oportunidades, inclusive em termos de formação normativa (UNESCO,
2004, p. 44).
Em meio a esta dinâmica, a adolescência destaca-se pela subjetividade,
que “aparece cada vez menos associada a uma categoria de idade e cada vez mais
a um conjunto diversificado de modos de vida” (PAIS, 2003, p. 378), que se revelam
diante das experiências peculiares à idade, na busca de uma identidade própria, do
sentido da vida e da própria existência.
Nessa busca e conquista dessa identidade, ou seja, na construção de
uma concepção de si mesmo, composta de valores, crenças e metas com os quais o
indivíduo está solidamente comprometido, os adolescentes são impelidos a vivenciar
experiências, sendo influenciados sobremaneira pelo contexto social, cultural,
político e econômico em que estão imersos (ERIKSON, 1972).
Assim, ante veiculação de informações e as mudanças velozmente
difundidas e manifestas independentemente da busca, os adolescentes parecem ser
induzidos a vivências que ora se apresentam como desafio, ora como atração
irresistível, provocando a dúvida, quanto à validade das tradições e dos modelos de
educação recebidos e a incerteza do novo que se apresenta.
Ajustadas ao processo produtivo, essas mudanças que atingem os mais
diversos setores da ação e do pensamento humanos, são responsáveis pela quebra
de paradigmas, pelo desenvolvimento de uma nova cultura, por outro tipo de
sociedade e de pessoa.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
21
Todas essas mudanças marcam a sociedade e provocam insegurança e
diferentes formas de reação em cada pessoa, e, mais especificamente, em
adolescentes e jovens.
Na interpretação de Costa, o mundo atual, denominado de pós-modernidade,
... vem se constituindo marcado por um forte sentimento de desconfiança na
razão, na ciência, na política” e “como conseqüência [desse] forte
sentimento de desconfiança que marca o fim do século XX, os dogmas, as
crenças, os princípios fixos e as verdades objetivas viraram fumaça,
deixaram de ser guias seguros para a vida das pessoas. O tempo hoje é o
da pluralidade de verdades, da experimentação e da busca de novos e
variados caminhos para conhecer e explicar o mundo (2001, p.23).
Conforme Salles, “a liberalização dos costumes traz reflexos na educação
dos filhos que se torna menos rigorosa. Mudam-se as formas de dominação e a
autoridade se torna democrática” (2003, p. 6).
Ainda na visão desta autora,
As relações de autoridade e os valores sociais e morais estão sendo
questionados e revistos. De um lado, tem-se a criança e o adolescente
precocemente seguros de como devem se comportar e de outro, a própria
sociedade que se vê em crise de autoridade e confusa quanto aos valores
morais que deve adotar, o que se reflete nas atitudes dos pais e dos
educadores. Os pais se encontram confusos quanto às práticas educativas,
não sabendo mais se e como devem impor disciplina aos filhos. Os pais se
sentem inseguros e hesitam em impor seus padrões pois não sabem mais o
que é certo e o que é errado (Lasch,1991). Ao mesmo tempo em que a
criança e o adolescente adquirem o direito de serem respeitados nas suas
exigências (2003, p.6).
Assim, na atualidade, ao tempo em que se constata o desenvolvimento de
novos estilos de vida, também se comprova um apelo ao consumo, a banalização de
valores morais e éticos do sexo, das relações afetivas, da solidariedade, da disciplina,
enfim, da própria vida, veiculadas através da mídia e sustentadas por interesses de
mercado, que estimulam a conquista do prazer imediato e de um falso estado de
plenitude e independência, alienando adolescentes e jovens que, desnorteados, vivem
a filosofia do "vale tudo", num estado confuso, em que não sabem mais o que devem
ou não fazer, como fazer, e, ainda, não conseguem distinguir o bom do mau, o certo
do errado, o construtivo do destrutivo (GASPAR, 2004).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
22
Por sua vez, o adolescente, na procura de um sentido de identidade,
entendida como busca de integração das experiências, desenvolvimento de um
sentido de individualidade e consciência cada vez maior de seu próprio destino
(OLIVEIRA-COSTA, 1997), “tende a rejeitar o que antes era valorizado (aspectos do
pai internalizado) e [tem] a urgência de adotar convicções que o ajudarão a
encontrar seu mais íntimo eu. Nessa procura o adolescente é muitas vezes tentado
a fazer escolhas prematuras, ou a deixar o barco correr passivamente” (GÜNTHER,
1999, p.4), “uma vez que a dúvida constante aparece como resultado do não poder
confiar em suas próprias capacidades nem nas capacidades decisórias dos pais,
resultado das diversas modificações sofridas pela sociedade na qual estão
inseridos” (BARRETO; AIELLO-VAISBERG, 2007, p.107).
Atualmente, milhões de jovens passam por dificuldades típicas da
transição da infância para a vida adulta, em muito agravadas pelo contexto social,
econômico e cultural.
São problemas comuns desta fase sentimentos de inferioridade,
descontentamento com a escola, timidez, medos específicos variados, dificuldades
em estabelecer amizades ou casos amorosos e questões relacionadas à
sexualidade (GASPAR, 2004).
Numa fase mais tardia da adolescência, predominam os conflitos
relacionados à escolha da profissão e à aquisição de maiores responsabilidades;
dúvidas e medos com relação ao futuro, bem como o sentimento de incapacidade
que podem dificultar e até mesmo impedir que o adolescente consiga o sucesso
profissional (GASPAR, 2004).
Todos esses sentimentos e vivências podem ser construtivos, à medida
que propiciam aos adolescentes e jovens a realização de anseios, aspirações e
formas de expressar sua criatividade, porém, podem ser destrutivos, na medida em
que incentivem sua agressividade e violência.
Para que as crises vivenciadas possam ser construtivas, os adolescentes
precisam ser acompanhados. Conforme Assis, “quanto mais protegido, menor é a chance
de surgirem conseqüências negativas para a sua vida. Proteger é importante para que o
adolescente consiga mais autonomia para dar seus próprios passos” (2005, p.24).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
23
O mesmo autor nos fala ainda que receber apoio constantemente
... ajuda o adolescente a se sentir seguro para trilhar os caminhos da vida e
a estar bem consigo e com os outros. Esse sentimento de segurança tende
a se conservar no decorrer da vida, mesmo quando se enfrentam momentos
de doença, morte, decepção com alguém, separação na família ou qualquer
outra situação dolorosa. Mas, esse sentimento precisa ser reforçado por
familiares, professores, colegas e outras pessoas importantes para que
permaneça sendo uma base segura ao longo da vida. (ASSIS: 2005, p.25).
Proteger o adolescente é disponibilizar “espaço para diálogo, valorização
individual, incentivo ao trabalho coletivo, autoridade sem autoritarismo [...], afeto,
respeito [...], e participação na família e na comunidade” (2005, p.29). Significa ainda
inclusão, ser também
... escutado, ser reconhecido, sentir-se membro da sociedade em que se
vive, poder realizar projetos, obter espaços específicos e ter possibilidades
para desenvolver a sua criatividade. Há necessidade de desenvolver um
sentimento de confiança na sociedade, de fazer-se escutar e de criar elos
com as instituições (CASTRO, ABRAMOVAY, 2002, p.25).
Na sociedade atual, percebe-se que nem sempre os adolescentes e
jovens têm a quem recorrer para pedir orientação e/ou esclarecimento no sentido de
tirar dúvidas. Várias são as fontes de informações, sobretudo pela mídia, e o fato de
estarem sempre conectados, como se equipamentos como celular e i-pod fossem
extensão do corpo, os tornam mais bem informados de maneira geral, porém sem
aprofundamento em temas específicos, o que os deixa envoltos em interrogações
nos momento de decisão.
O acesso a sites de relacionamentos, como Orkut e MSN, serviços de
mensagens instantâneas, ampliam as relações, porém caracterizam-se por ligações
tênues, permitindo a troca de amores e amizades com bastante rapidez sem a
presença da dor. Analisando essa situação e suas conseqüências, afirma o
sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que, “como não é possível recusar sempre a
vivência da dor, a contrapartida pode ser o aumento da ansiedade em relação a
relacionamentos pessoais e opções profissionais” (BUCHALLA, 2009, p. 88).
Nesse contexto, os jovens parecem se encontrar encurralados dentro de
condições sociais que aumentam em muito sua vulnerabilidade. Para Nascimento,
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
24
As representações sociais que se formam a partir das inúmeras
informações, mediadas, sobretudo pela mídia, não fornecem condições para
que o adolescente planeje e articule ações como uma forma de superação
da condição ou situação vivida, uma vez que estas informações se destinam
muito mais à construção de modelos estereotipados de comportamentos
para atender as demandas de consumo (2002, p. 71).
Não raro, vemos adolescentes compensando sentimentos de inferioridade
por meio dos riscos a que se expõem, sem se dar conta dos perigos reais.
Sentimentos de inadequação exacerbados podem levar ao uso de drogas, à
sexualidade promíscua e a diversos tipos de distúrbios afetivos, como depressão,
síndrome do pânico, transtorno obsessivo compulsivo e alimentar.
Nos tempos atuais, os jovens têm se destacado como uma população
vulnerável em várias dimensões, figurando com relevo nas estatísticas de
violências, desemprego, gravidez não-desejada, falta de acesso a uma
escola de qualidade e carências de bens culturais, lazer e esporte. Este
quadro se mostra particularmente grave ao se considerar que os jovens,
além de uma promessa de futuro, são uma geração com necessidades no
presente e, fundamentalmente, uma geração estratégica no processo de
desenvolvimento de um país (UNESCO, 2004, p.15).
Infelizmente, constata-se que pouco se tem de institucionalizado para que
essas dificuldades sejam prevenidas, dando-se conta quando os agravos já estão
instalados, constituindo-se problemas de saúde, como alto índice de gravidez
indesejada, incidência de doenças sexualmente transmissíveis, aumento dos
acidentes com veículos a motor envolvendo o uso de álcool, exposição cada vez
mais precoce ao fumo e outras drogas, problemas, que, em sua origem, são mais
comportamentais do que biomédicos, os quais, tratados de forma preventiva,
ensejam a que se contribua para minimização dos altos índices/indicadores
negativos de saúde e das recheadas estatísticas.
Se olharmos por outro ângulo, contudo, a adolescência e a juventude
também se caracterizam como expressão de potencialidade, que muito pode
contribuir no desenvolvimento das gerações de uma nação.
Com efeito, Campos, citado por Meirelles e Ruzany, enfatiza o fato de que
quando adequadamente canalizada, a juventude se transforma em grupo – chave
para qualquer transformação social, já que dispõe de potencial crítico, criativo,
inovador e participativo, que pode ser o propulsor de mudanças positivas (RUZANY;
MEIRELLES, 2008)
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
25
Nesse sentido, ante a democratização das oportunidades e, principalmente,
da participação, o jovem vai aprendendo a pensar e agir, adquirindo, assim, em razão
da complexa realidade político-social de nosso tempo, melhores condições para decidir,
de forma autônoma, responsável e madura, podendo ultrapassar os limites de seu
entorno pessoal e familiar, influindo na vida comunitária e social, contribuindo
sobremaneira no desenvolvimento da sociedade (RUZANY; MEIRELLES, 2008).
Para que, no entanto, a institucionalização do cuidado com adolescentes e
jovens se faça presente na sociedade, de modo a ultrapassar enfoques setoriais, e
“avançar para imprimir [nesta sociedade] uma perspectiva geracional-juvenil,
enfatizando que a juventude é um tempo de estudar, de se formar cultural e fisicamente,
de desenvolver valores éticos e espírito crítico, bem como de ter garantido os meios de
subsistência” (UNESCO, 2004, p.16), uma condição é necessária:
... reconhecer e incluir na cena pública os ‘novos atores sociais e as novas
formas de participação’. Esse é o caso dos jovens, os quais, por serem
considerados ‘novos atores sociais’, para exercerem sua cidadania,
precisam construir novos espaços, onde sejam oferecidas oportunidades
para que a capacidade e a escolha de influir com poder nas decisões que
os afetam sejam legitimadas (BASTOS; CARRANO, 2004, p.3).
É nesse sentido que consideramos as políticas para adolescentes e
jovens uma necessidade urgente. Estas políticas se elaboradas de, para, e com
adolescentes e jovens, valorizando o contexto objetivo, subjetivo, aspirações e
preocupações e as trajetórias destes, muito podem contribuir para que essa
população possa edificar sua história e exercer sua cidadania.
1.3 Adolescência, juventude e políticas públicas no Brasil – resgate histórico
A preocupação com adolescentes e jovens na sociedade brasileira é
relativamente recente. Se observarmos com atenção, as primeiras iniciativas de que
se tem registro desse cuidado afloram no século VXIII, muito mais voltadas para a
benemerência e a caridade do que propriamente pela necessidade de amparo e
proteção.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
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A primeira institucionalização de que se tem registro data do século XVII, e
foi conhecida e consagrada como roda dos esquecidos, a qual se caracterizou muito
mais pelo sentimento de filantropia do que propriamente de proteção, já que à época
as crianças eram marcadas pelo descaso, e concebidas como inacabadas, inferiores
e por isso precisavam ser humanizadas (LOPES; SILVA; MALFITANO, 2006).
Nos primeiros anos da República a questão da criança e do adolescente
tornou-se motivo de preocupação. Instaurada uma nova forma de governo, o País
... precisava de um projeto civilizatório e a nação, assim como o povo, eram
vistos como objetos em formação, ainda por ser ‘construída’, ou no
segundo caso ‘moldado’. [Assim] corrigir a infância, afastá-la de um meio
social permissivo e degradante fazia parte desse projeto progressista ou
civilizatório (RIZZINE, 1997, p.1).
Foi nesta ordem liberal e oligárquica, influenciada pelos postulados do
Iluminismo, que se organizou a assistência a crianças e adolescentes, consolidando
o conceito-chave que perdurou por muitos anos: situação irregular.
Conforme Faleiros, por situação irregular, entendia-se
... a privação das condições de subsistência, de saúde e de instrução, por
omissão dos pais ou responsáveis, além da situação de maus-tratos e
castigos, de perigo moral, de falta de assistência legal, de desvio de conduta
por desadaptação familiar ou comunitária, e de autoria de infração penal. A
pobreza era, assim, situação irregular, ou seja, uma exceção (2005, p.172).
Confirmando essa preocupação, Koshima, citando Oliveira e Assis,
argumenta que nos primeiros anos do século XX surgiram projetos legislativos
defendendo o direito do menor, e em 1913 foi criada a primeira instituição para
atender o infrator: o Instituto Sete de Setembro, que recebia tanto infratores quanto
desvalidos. No ano de 1917, foi apresentada ao Senado, por Alcindo Guanabara, a
primeira lei que considerou como ‘não criminosos’ os adolescentes entre 12 e 17
anos (KOSHIMA, 2006, p.58).
Válido é ressaltar que a assistência, assim como os demais setores da
nascente sociedade republicana, recebeu a influência do movimento higienista, que
passou a ditar normas e condutas para as ações desenvolvidas. No entendimento
de Paula, a assistência,
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
27
... baseando-se, nos princípios da higiene, da eugenia, motivada pelo início
do processo de industrialização, na ordenação da pobreza e da vida social,
formulou toda uma tecnologia disciplinar de cadastramento e controle dos
atendidos (2005, p.242).
Iniciou-se também, nessa época, a ideologia do labor ou do trabalho, em
oposição ao ócio. Nesse sentido, a filantropia e a assistência buscaram centrar seus
atendimentos no estímulo e conquista de trabalho para seus clientes, como forma de
prevenção da desordem, regeneração moral, econômica e como formação de mão
de obra, confirmando o ideário de que “o jovem através do trabalho torna-se útil a si
e à Pátria” (PAULA, 2005, p.242).
Ratificando essa análise, Oliveira enfatiza que o trato com crianças e
adolescentes na República passou a ter novo enfoque. Estas começaram
... a ter visibilidade no interior da sociedade e das ‘preocupações’ do Estado,
sobretudo na perspectiva da formação do homem de amanhã. Cultivava-se a
ideia de que se resguardando a criança, resguardar-se-ia a família, considerada
unidade básica de reprodução social dos trabalhadores (2007, p. 31).
Crianças e adolescentes começaram a ser valorizadas em prol da
preparação para o mundo do trabalho técnico-científico que então se aproximava.
Tendo como justificativa ideológica a degenerescência humana, percebese o surgimento de programas voltados para a prevenção do desvio e a eliminação
da desordem social. Especificamente para a infância, foi proposta a creche, por um
período prolongado, mas não internato, e as primeiras regulamentações para jardins
da infância e escolas maternais; essas para os operários, aquelas para as camadas
médias urbanas (PAULA, 2005).
Foi nesta conjuntura e com fundamento numa concepção utilitarista da
filantropia e da caridade, que em 1923 foi criado o primeiro Juizado de Menores da
América Latina, sendo o Dr. Mello Mattos o primeiro juiz de menores. Consolidando
a concepção de responsabilidade do Estado na proteção e assistência à criança e
jovens, em 12 de outubro de 1927, foi editado, ex-vido pelo Decreto-Lei 17.943-A, o
primeiro Código de Menores no Brasil.
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28
O Código de Menores baseava-se ideologicamente na “moralização do
indivíduo e na manutenção da ordem social, propondo para sua concretização a
criação de mecanismos que protegessem a criança dos perigos que a desviassem do
caminho do trabalho e da ordem”. Configurava-se, com efeito, o foco de “saneamento
social” de tipos indesejáveis (CRUZ NETO; MOREIRA; SUCENA, 2001, p.57).
Ressalta-se que o Código de Menores não se referia a todas as crianças,
mas apenas àquelas tidas como estando em situação irregular. Em seu Artigo 1º,
definia: O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinqüente, que tiver menos
de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente às medidas de
assistência e proteção contidas neste Código. (BRASIL, 1927).
O Código de Menores configurava-se, pois, como legislação para os
menores, ou seja, para os que tinham menoridade social, crianças e adolescentes
pobres que necessitavam de alguma assistência e que fossem abandonados, ou;
aqueles que cometiam algum ato infracional – todos rotulados de menores.
(FALEIROS, 2005).
Lopes, Silva e Malfitano observam que o Código de Menores institui,
assim, a divisão entre crianças, que são os filhos de família, e os menores.
Isto é, a criança da elite era alvo de atenção e de políticas com objetivo de
prepará-las para dirigir a sociedade e, a criança pobre era compreendida
como pertencendo às “classes perigosas” e estigmatizada como “menor”. As
ações voltadas para o menor eram constituídas com dois objetivos: o de
controlá-lo e o de lhe oferecer educação elementar e profissionalizante,
preparando-o para o mundo do trabalho (2006, p.117).
O regime que se instaurou em 1930 e em especial na sua fase autoritária
pós-1937, prometeu um novo começo: uma república nova em país renovado e, em
especial, um novo homem brasileiro. Na visão de Medeiros, “sob o governo Vargas,
a década de 1930 é caracterizada pela estratégia deliberada de aumentar o papel do
Estado na regulação da economia e da política nacional como estratégia de
desenvolvimento” (2001, p.11).
Dentro desse protecionismo, em 1930, foi criado o Ministério da Educação
e Saúde Pública e em 1934 (Decreto nº 24.278) “a Inspetoria de Higiene Infantil (Lei
n.º 16.300 de 1923), depois transformada em Diretoria de Proteção à Maternidade e
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
29
à Infância”, ambas sob a perspectiva higienista. “Em 1937, passa a ser denominada
Divisão de Amparo à Maternidade e à Infância, vindo a ser Departamento em 1940,
numa verdadeira escala de ascensão de importância burocrática e política”
(FALEIROS, 2005, p.173).
Durante os anos 1940, o Estado brasileiro criou, pela primeira vez, órgãos
específicos para a proteção à infância, fortemente inspirados em experiências
européias. Trata-se do Departamento Nacional da Criança (criado em 1940,
ligado ao então Ministério da Educação e Saúde) e da Legião Brasileira de
Assistência (criada em 1942). O Departamento Nacional da Criança (DNCR)
centralizou, durante 30 anos, a política de assistência à mãe e à criança no
Brasil, tendo realizado uma multiplicidade de atividades de caráter normativo,
educativo e moralizador (ROSENBERG; 2006 p.29).
Em 1941, foi criado o Serviço de Assistência ao Menor – SAM, órgão do
Ministério da Justiça, que por meio do atendimento correcional-repressivo,
encaminhava os adolescentes menores de 18 anos para patronatos agrícolas e
escolas de aprendizagem de ofícios urbanos, se carentes e abandonados, e para
reformatórios se autores de ato infracional.
Conforme Koshima, o “SAM marcou-se por uma estrutura administrativa
burocrática, pouco eficiente, sem autonomia e flexibilidade, e por uma política
repressora e sinônimo de horror” (2006, p. 43).
Várias foram as tentativas e esforços envidados no sentido de reverter a
situação do SAM, mas todos em vão. “Em 1964 este foi extinto, surgindo em seu lugar
a Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM)” (KOSHIMA, 2006, p. 59).
Após a ditadura Vargas (1930-1945), erige-se no Brasil o período tido
como redemocratização (1945-1964), e, sob a égide do Estado de Bem-Estar Social,
sucedem-se
os
governos
populistas,
marcados
pelas
medidas
de
cunho
antecipatório às demandas e pressões sociais.
O Estado de Bem-Estar Social ou Welfare – State, estabeleceu a conciliação
entre o Estado Econômico com o Estado Social, à medida que foi capaz de garantir a
acumulação e a regulação da força de trabalho e das relações sociais. Perceberam,
naquele momento a ampliação da produção, o declínio do desemprego e o crescimento
dos serviços sociais, estes intensamente estendidos a todos os setores sociais.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
30
Nos anos 1950, constatou-se consolidada industrialização. A indústria
pesada, principalmente automobilística, chegou ao País, ganhando impulso também
a siderurgia e a construção naval.
Buscando a harmonia entre o capital e o trabalho, Juscelino Kubitschek
conclamou todos os brasileiros para o trabalho, por meio da ideologia
desenvolvimentista, disseminando a ideia de superação das diferenças entre pobres
e ricos. Nesta conjuntura,
... desenvolvem-se escolas técnicas profissionalizantes onde se formariam
empregados qualificados que se destinariam aos inúmeros setores da
produção econômica. “A educação profissionalizante serviria para integrar o
homem na almejada civilização industrial” ao tempo em que subsidiaria para
a ascensão econômica (CUNHA, 1991, p.182).
Voltando-se para a profissionalização, as políticas dos anos 1950, difundiu
a ideia de “ocupação produtiva do tempo livre e educação dos jovens, atendendo à
lógica desenvolvimentista expressa em slogans de gestão governamental do tipo 50
anos em 5”. Ressaltam, Castro e Abramovay, referindo-se a essa ideia, que o
... jovem deveria ser preparado para se tornar um adulto produtivo,
responsável pelo progresso nacional. Nota-se, portanto, a construção social
da juventude como geração a ser integrada à sociedade para a ela servir,
priorizando-se, na interação indivíduo e sociedade, um modelo ideal de
sociedade, ou seja, a norma da sociedade produtiva (1998, p.22).
Legitimada pelo Código de Menores em vigor, essa ideologia enfatizava
... que crianças e adolescentes pobres deveriam trabalhar, porque o trabalho
protege do crime e da marginalidade, uma vez que o espaço fabril era concebido
em oposição ao espaço da rua, considerado desorganizado e desregulado. Além
disso, o trabalho dos menores permitia um aumento da renda familiar, ao mesmo
tempo em que podia ser visto como uma escola, a escola do trabalho (MINAYOGOMEZ; MEIRELLES, 2008, p. 136).
Constatamos, portanto, que as políticas dos anos 1940 e 1950 expressavam
muito mais a preocupação com a necessidade de formação de quadros para o mercado
de trabalho da nascente sociedade desenvolvimentista, do que propriamente com a
formação cultural, o desenvolvimento do espírito crítico e de valores éticos de
adolescentes e jovens.
De acordo com Glória Gohn, o período compreendido entre 1945 e 1964
entrou para a história como a fase do regime político populista. A conjuntura de
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
31
redemocratização no País, aliada a um cenário internacional de desenvolvimento da
sociedade de consumo e a política da guerrafria entre as então potências mundiais
(Estados Unidos e a URSS – ex-União das Republicas Socialistas Soviética),
“criaram espaços favoráveis aos projetos nacionalistas de desenvolvimento
nacional” (GOHN, 1999, p.47).
Percebe-se, que ao tempo em que se torna favorável às condições para a
alteração da política de redemocratização do Estado brasileiro, tornam-se favoráveis
também o surgimento de indústrias multinacionais no país, através da aliança entre
setores da burguesia industrial brasileira e capitalistas internacionais.
Frente a essa nova conjuntura, consubstanciados pela mobilização e
organização
popular,
vários
movimentos
de
resistência,
eclodem.
Nestes
movimentos, tomam parte adolescentes e jovens brasileiros, que “influenciados pela
conjuntura nacional e internacional – principalmente o maio de 68 na França, e a
política cultural maoísta na China, entraram para a história como novos atores em
cena” (GOHN, 1999, p.48).
Em 1964, assiste-se ao golpe militar, o qual, tendo por base o Ato
Institucional nº 05, de dezembro de 1969, dá início a uma era de repressão, medo e
restrição dos direitos sociais e políticos dos cidadãos.
Os movimentos populares com visibilidade foram reprimidos e seus
líderes perseguidos. Contraditoriamente, aufere relevo o movimento estudantil, no
qual jovens protagonistas e resistentes às determinações da ditadura se
destacaram, lutando por seus ideais, reivindicando uma sociedade mais justa e
igualitária. Na visão de Castro e Abramovay,
Nos anos 60, o Estado voltou-se para a relação entre juventude e
segurança nacional, em plano de controle político (período das ditaduras
militares, da Revolução Cubana e da efervescência política ampliada no
continente), atingindo especialmente outra juventude: os jovens de classe
média, do movimento estudantil, os jovens militantes. Estes, influenciados
pela Revolução Cubana, pelo movimento de crítica à intervenção norteamericana no Vietnã, eram mais visíveis no protesto público contra o Estado
e no questionamento à modelagem capitalista da sociedade. Em vários
países da América Latina, foi precisamente o setor estudantil, assim como
os segmentos operário e camponês organizados e juventudes relacionadas
à Igreja alinhada à Teologia da Libertação, que se destacaram nos
enfrentamentos, por várias formas, com o Estado (1998, p. 22).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
32
No que diz respeito à formulação de políticas públicas para adolescentes
e jovens nesse período, ainda conforme Castro e Abramovay, estas “tenderam a
assumir um caráter de controle político-ideológico dos jovens militantes e atuantes
no movimento estudantil, e também de controle castrense dos estudantes e outras
populações, como na Lei de Segurança Nacional (1964)” (1998, p.22).
Com o golpe militar de 1964, inaugura-se um ciclo de acumulação de
capital pela associação entre segmentos da burguesia nacional e os capitais
estrangeiros. O Estado converteu-se na maior empresa do País, assegurando as
condições para a promoção do boom econômico (SILVA, 1999, p. 63).
A partir dos anos 1970, acentuou-se no Brasil a “visibilidade de
representações juvenis em setores populares, como nos movimentos camponeses e
nos agrupamentos políticos de esquerda, o que também provocou forte reação de
controle por parte do Estado”. (CASTRO; ABRAMOVAY, 1998, p.22). Frente a tal
situação, em 1979, contrariando uma tendência internacional defendida por
entidades como a ONU, de ampliação das prerrogativas e obrigações com crianças
e adolescentes, o Brasil aprova o Novo Código de Menores.
O período dos governos militares foi pautado, para a área da infância, por
dois documentos significativos e indicadores da visão vigente: a Lei que criou a
Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) (Lei 4.513 de 1/12/64) e o
Código de Menores de 1979 (Lei 6697 de 10/10/79).
A FUNABEM tinha como objetivo formular e implantar a Política Nacional
do Bem-Estar do Menor, herdando do SAM prédio e pessoal e, com isso, toda a sua
cultura organizacional. A FUNABEM propunha-se a ser a grande instituição de
assistência à infância, cuja linha de ação tinha na internação, tanto dos
abandonados e carentes como dos infratores, seu principal foco (FALEIROS, 2005).
Já o Código de Menores de 1979 constituiu revisão do Código de Menores
de 1927, ratificando sua principal característica, – o assistencialismo. Conforme Lorenzi,
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
33
Esta lei introduziu o conceito de ‘menor em situação irregular’, que reunia o
conjunto de meninos e meninas que estavam dentro do que alguns autores
denominam infância em ‘perigo’ e infância ‘perigosa’. Esta população era
colocada como objeto potencial da administração da Justiça de Menores. É
interessante que o termo ‘autoridade judiciária’ aparece no Código de
Menores de 1979 e na Lei da Fundação do Bem Estar do Menor,
respectivamente, 75 e 81 vezes, conferindo a esta figura poderes ilimitados
quanto ao tratamento e destino desta população (2007, p.1).
De 1974 em diante, contudo, com a crise internacional do petróleo, o
chamado Milagre Brasileiro entrou em tensão e a resistência ao regime militar
começou a se articular.
Em março de 1979, assumiu a Presidência João Baptista Figueiredo,
tendo a tarefa de garantir a transição do regime ditatorial para a democracia.
Nos anos 1980 emergiram os movimentos sociais, dando início às
maiores manifestações populares já vistas no Brasil. Entidades estudantis e
sindicais, OAB (Organização dos Advogados do Brasil), ABI (Associação Brasileira
de Imprensa) e Igreja mobilizam-se em torno de grandes causas, dentre as quais as
eleições diretas para presidente da República, anistia aos exilados políticos e
reforma partidária.
Nos anos de 1983 e 1984, a campanha pelas eleições diretas tomou
conta do País. Infelizmente, porém, a emenda constitucional Dante de Oliveira,
votada em 25 de abril de 1984, não foi aprovada, sendo o novo presidente eleito por
um
colégio
eleitoral
formado
por
deputados
federais,
senadores
e
seis
representantes de cada Assembléia Legislativa.
No colégio eleitoral, Tancredo de Almeida Neves foi eleito presidente da
República para um mandato de quatro anos – 1985 a 1989 –, mas não chegou a
assumir, pois faleceu vítima de infecção hospitalar. Assumiu a Presidência da
República o vice José Sarney. Com a volta de um presidente civil ao poder, chegouse ao final da ditadura militar e teve início outra fase, conhecida como Nova
República.
Sob o governo de José Sarney, medidas econômicas de impacto foram
adotadas, na tentativa de reverter o quadro de grave crise econômica e social que
assolava o País, contudo nenhum plano foi capaz de deter a inflação que, ao final do
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
34
governo, chegou a 70% ao mês. Nesta conjuntura, vale destacar o processo e a
organização dos movimentos da sociedade civil, cuja forma de expressão ganhou
relevo, notadamente, na luta e mobilização por uma nova Constituição, sendo esta
promulgada em 1988.
A Constituição de 1988 apresentou grandes avanços, trazendo em seu
texto a área da Seguridade Social composta pela Previdência Social, Saúde e
Assistência Social, esta tendo em um dos seus objetivos, inscrito no artigo 203, a
garantia de proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice.
Posteriormente, leis complementares vieram regulamentar a Constituição em
áreas setoriais, dando origem à criação da Lei Orgânica de Saúde (LOS), da Lei Orgânica
de Assistência Social (LOAS), e, na área da infância e adolescência, o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA).
Válido é ressaltar que grande foi a contribuição de adolescentes e jovens
para a instauração da democracia no Brasil. Influenciados por movimentos ocorridos
em vários países da América Latina, a juventude brasileira se destacou pela
participação, discussões, mobilizações e enfrentamento ao Estado.
Essas manifestações que, por um lado provocaram controle e repressão
por parte do Estado sobre essa população, de outra parte, provocou preocupação,
pois a sociedade passou a associar juventude com baderna e desordem.
Na interpretação de Castro e Abramovay, são essas inquietações
associadas “à preocupação com as relações entre juventude e violência e
juventude e drogas”, que desencadeiam a reivindicação e a necessidade de
proposições normativas por parte do Estado visando a disciplinar tais relações
(1998, p.23).
A ênfase na questão das drogas e da violência, estas juntamente com o
desemprego, que “passam a ser considerados os problemas ou as vulnerabilidades
sociais máximas destes tempos, ocorre, particularmente, quando se tem como
referência os jovens, em políticas e também na mídia” (CASTRO; ABRAMOVAY, 1998,
p.23).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
35
Assinalam ainda Castro e Abramovay que a década de 1980, com uma
conjuntura mais democrática,
... marcada pela crescente participação política da sociedade civil, permitiu que
propostas de descentralização de políticas públicas emanadas de organismos
internacionais fizessem parte da pauta de discussões políticas na sociedade
brasileira, o que resultou na revisão das práticas da PNBEM (Política Nacional
de Bem-Estar do Menor). Em fins da década, a questão dos direitos e políticas
públicas para os jovens toma fôlego no país, no rastro da campanha pelas
‘Diretas Já’, resultando na apresentação à Assembléia Nacional Constituinte de
1988 da Emenda Popular ‘Criança – Prioridade Nacional’ (Cruz Neto, 2001, p.
72). Em 1988 cria-se o Fórum Permanente de Entidades Não-Governamentais
de Defesa de Direitos da Criança e do Adolescente e em 1990 promulga-se o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que trouxe um novo ingrediente
para a garantia dos direitos e deveres da criança e do adolescente: o conceito
de cidadania (2002, p.24).
Válido é ressalvar que muitas entidades surgidas dos movimentos da
sociedade civil tiveram participação fundamental na constituição do Estatuto da
Criança e do Adolescente, ECA, que temos hoje. Destaque seja conferido à Pastoral
da Criança, criada em 1983, e ao Movimento Nacional de Meninos e Meninas de
Rua, MNMMR, surgido em 1985, em São Bernardo do Campo.
O MNMMR, em 1988, junto com outros movimentos, como os de órgãos
não governamentais, criou o Fórum DCA (Fórum Nacional Permanente em Defesa da
Criança e do Adolescente), “cujo papel era combater a violência contra a criança e ao
adolescente e ser o mediador entre as entidades (estas defendiam os interesses do
público infanto-juvenil) e a Assembléia Constituinte” (CIRQUEIRA, 2007, p. 19).
No plano internacional, duas grandes entidades foram estimuladoras
dessa discussão: a Organização Mundial da Saúde (OMS), que, desde 1989, em
assembléia mundial, em Genebra, reconheceu a adolescência como um momento
de importância vital, oficializando esse período do desenvolvimento humano
como alvo de seus programas, e a Organização Pan-Americana da Saúde
(OPAS), que, em sua Resolução CD36.R18 dos 35º e 36º Conselhos Diretores,
expressa: “insta os governos a estabelecerem políticas e planos nacionais para a
saúde integral desse grupo etário; a promoverem a participação dos adolescentes
na promoção da saúde e a colaborarem em programas específicos” (CORREA,
2000, p. 66).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
36
Conforme Sposito e Carrano (2003, p. 19),
As orientações defendidas pelos movimentos voltados para os direitos da infância
no final da década de 1980 procuraram superar uma concepção restritiva do que
é ser criança e adolescente, caminhando para uma representação que
reconhece direitos e demanda políticas dos que ainda não atingiram a
maioridade. O estatuto legal traz em seu bojo uma nova concepção de direitos
que incide fortemente sobre conservadoras formas e conteúdos de conceber
jurídica, institucional e socialmente crianças e adolescentes na sociedade
brasileira. Sob esse ponto de vista, as lutas sociais em torno dos direitos da
infância e da adolescência ofereceram caminhos novos para a constituição de
uma imagem positiva em torno de ações destinadas a esses segmentos.
Com a responsabilidade de implantar o ECA, a Fundação Nacional de
Bem-Estar do Menor (FUNABEM) foi substituída pelo Centro Brasileiro para a
Infância e a Adolescência (CBIA). Em 1994, entretanto, após as eleições
presidenciais, este foi extinto, com o entendimento de que a gerência da atenção à
criança, de acordo com o Estatuto, deveria ser assumida diretamente pelos
municípios.
Em 1989, depois de 29 anos da última eleição direta para a Presidência
da República, foi eleito por voto popular o alagoano Fernando Afonso Collor de
Mello, com a plataforma de caçador de marajás, de combate à inflação e à
corrupção e defensor dos descamisados. Em seu mandato, foi lançado um pacote
econômico, que bloqueou o dinheiro depositado nos bancos, de pessoas físicas e
jurídicas, e realizou uma reforma administrativa que extinguiu órgãos e empresas
estatais e promoveu as primeiras privatizações, abertura do mercado brasileiro às
importações, congelamento de preços e pré-fixação dos salários.
Em 1992, denúncias de corrupção envolvendo o alto escalão do Governo
foram comprovadas por uma Comissão Parlamentar de Inquérito, formada no
Congresso, ensejando o processo de impeachment – ou seja, o afastamento do
presidente da República.
Vale ressaltar que, de novembro de 1989 a outubro de 1992, o País
atravessou um período de intensa mobilização política. Vários protestos foram
realizados em praça pública contra o presidente Fernando Collor de Mello.
Destacou-se nesse período, o relevante papel da juventude, que, na luta pela não
privatização da Universidade, proposta pelo então ministro da Educação, Jarbas
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
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Passarinho, saiu às ruas, dando origem ao movimento denominado caras pintadas,
movimento esse que, sob a direção da União Nacional dos Estudantes – UNE e
União Brasileira de Estudantes Secundaristas – UBES, levou milhares de jovens
para as ruas das principais cidades brasileiras, influenciando mais uma vez, os
rumos do País o que culminou com o impeachment.
Collor de Mello foi sucedido na Presidência pelo vice-presidente Itamar
Franco. Este assumiu o Estado num contexto de crise econômica e de instabilidade,
somado a uma enorme dívida social. Na busca de superação desta crise, um novo
plano de estabilização econômica foi instalado. Denominado de Plano Real,
apresentou resultados positivos, principalmente na preservação do poder de compra
do salário e garantia da estabilidade de preços. O sucesso do Plano serviu de
plataforma para a campanha política de Fernando Henrique Cardoso nas eleições
presidenciais de 1994, que, se intitulando mentor do Plano, foi eleito para um
mandato de quatro anos, sendo em 1998 reeleito.
A política no Governo de Fernando Henrique Cardoso caracterizou-se por
forte orientação neoliberal: privatizações, reformas, enfraquecimento da intervenção
social do Estado, dentre outras. Por sua vez, a política social, que passou a ser
desenvolvida em virtude dos avanços constitucionais, ficou subordinada à lógica da
estabilização monetária e à ideia de redução do Estado, figurando como contrária ao
novo
padrão
desenvolvidas
constitucional,
ações
antes
focalizadas,
mesmo
deste
fragmentadas
e
se
estabelecer.
de
caráter
muito
Foram
mais
assistencialista do que assistencial.
Mesmo diante da recessão econômica e das sucessivas crises, em 1989,
antes mesmo do primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, o
Programa Saúde do Adolescente - PROSAD foi criado no âmbito do Ministério da
Saúde. As ações deste programa destinadas especificamente aos jovens, sobretudo
adolescentes, apareceram no interior da área da saúde e foram marcadas pelo foco
na prevenção (DST/AIDS, drogadição, acidentes de trânsito e gravidez precoce).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
38
Em 1999, foi criada a Área de Saúde do Adolescente e do Jovem (ASAJ),
no âmbito da Secretaria de Políticas de Saúde. Essa nova área, então,
tornou-se responsável pela articulação dos diversos projetos e programas
do Ministério da Saúde que lidam com questões relativas à adolescência e à
juventude, em decorrência da percepção da necessidade de uma política
nacional integrada de atenção específica aos indivíduos de 10 a 24 anos. É
importante destacar, além do desenvolvimento de atividades relacionadas
com a promoção da saúde dos adolescentes e dos estudos temáticos, a
preocupação expressa pelo programa em contribuir com atividades intra e
interinstitucional, nos âmbitos governamentais e não-governamentais,
visando à formulação de uma política nacional para a adolescência e a
juventude, a ser desenvolvida nos níveis federal, estadual e municipal
(SPOSITO; CARRANO, 2003, p.25).
Acrescenta Leão que, no ano de 1993,
foram publicadas pelo Ministério da Saúde as Normas de Atenção à Saúde
Integral do Adolescente que contemplavam as ações do PROSAD. As
Normas foram divididas em três volumes que abordavam diferentes temas:
acompanhamento do crescimento e desenvolvimento; distúrbios da
puberdade e desenvolvimento psicológico do adolescente; saúde mental e
sexualidade na adolescência; assistência ao pré-natal, ao parto e ao
puerpério; planejamento familiar; doenças sexualmente transmissíveis e
problemas ginecológicos (2005, p.20).
Em meio à crise internacional do capitalismo globalizado, que atingiu o
Brasil nos anos 1990, com desemprego, reformas, reconstrução do mercado de
trabalho, flexibilização dos contratos e enfraquecimento dos movimentos sociais, no
primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 a 1998), conforme Sposito e
Carrano (2003), foram criados seis programas para adolescentes, destacando-se o
Plano de Educação Profissional (PLANFOR), do Ministério de Trabalho, e a
Capacitação Solidária e Alfabetização Solidária, no âmbito da Comunidade Solidária.
A eles foram acrescentados, no segundo governo (1999-2002), outros 18 programas
ou projetos (UNESCO, 2004, p.97), que conforme Sposito e Carrano, foram divididos
por pasta ministerial, destacando-se: Ministério da Educação, Ministério do Esporte
e Turismo, Ministério da Justiça, Ministério da Saúde, Ministério do Trabalho e
Emprego, Ministério da Assistência e Previdência Social, Ministério da Ciência e
Tecnologia (CNPq), Presidência da República, Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão (2003).
Ainda nos anos 1990, uma iniciativa, logo transformada em referência
nacional no desenvolvimento de políticas públicas de juventude, desenvolveu-se em
Tocantins, com a criação da primeira Secretaria de Juventude do Brasil (1997).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
39
Posteriormente, outras iniciativas dessa natureza tiveram início e se disseminaram
em várias cidades do país.
Também no primeiro mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva,
com início em 2003, um grupo interministerial foi constituído,
... para a discussão das políticas de juventude, destinado a formular um
conjunto de diretrizes de ação (cf. Novaes, 2005). Algumas iniciativas foram
observadas no início do mandato, como o Programa Primeiro Emprego e,
mais recentemente, a criação do Programa Pró-Jovem2, ao lado da
instituição da Secretaria Nacional de Juventude e do Conselho Nacional de
Juventude. (SPOSITO; CORROCHANO, 2005, p.142).
Na década atual, 2000, mesmo diante da apatia dos movimentos sociais e
do aumento dos índices de violência, de todos os tipos, ensejando um clima de
medo e um aparente imobilismo social, a sociedade civil e um número significativo
de organizações populares concentradas no terceiro setor, composto principalmente
de organizações não governamentais (ONGs), têm envidado esforços para a
implantação e implementação de políticas para a população infanto-juvenil.
Dessas lutas, uma nova categoria com faixa etária não coberta pelo ECA
começou a se delinear e a se organizar na conquista por espaço, direitos e políticas
específicas. Esse novo grupo, denominado juventude, segundo o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), representa um quarto da população do País, ou
seja, cerca de 50,5 milhões de brasileiros, têm entre 15 e 29 anos (BRASIL, 2007).
Essa “onda jovem” tem gerado, ao mesmo tempo, preocupação e
esperança. A preocupação é porque o Estado não se preparou para receber
adequadamente esse enorme contingente de jovens. A oferta de bens e
serviços públicos é insuficiente para atender toda a demanda. O Ensino
Médio ou o mercado de trabalho, por exemplo, ainda estão longe de atender
a todos. Soma-se a isso o baixo conhecimento do poder público sobre a
realidade juvenil, o que em muitos casos provoca um desencontro entre as
demandas dos jovens e as políticas públicas (BRASIL, 2007, p. 7).
Na luta pela institucionalização de uma política de Estado que transcenda
o aspecto governamental e setorial, em 2005, no governo de Luís Inácio Lula da
Silva, foi promulgada a Política Nacional de Juventude e criadas uma secretaria
específica, bem como o Conselho Nacional de Juventude e uma política de inclusão,
denominada de PROJOVEM (Lei nº 11.129/2005).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
40
Um ano antes, em
2004, como resposta ao processo de mobilização social que vinha
reivindicando, nos últimos anos, a garantia dos direitos juvenis, a
Presidência da República constituiu um grupo composto por representantes
de 19 ministérios, que realizou um diagnóstico sobre as condições sociais
dos jovens brasileiros, mapeou as principais ações governamentais voltadas
para a juventude e formulou 9 desafios: Erradicar o analfabetismo; Ampliar
o acesso ao ensino e à permanência em escolas de qualidade; Preparar
para o mundo do trabalho; Gerar trabalho e renda; Promover vida saudável;
Democratizar o acesso ao esporte, ao lazer, à cultura e à tecnologia da
informação; Promover os direitos humanos e as políticas afirmativas;
Estimular a cidadania e a participação social; e Melhorar a qualidade de
vida no meio rural e nas comunidades tradicionais (BRASIL, 2007, p.21).
A Secretaria Nacional de Juventude passou, então, a trabalhar para
integrar todas as ações que os ministérios desenvolvem tendo os jovens como foco.
O PROJOVEM representa a integração de seis programas então existentes –
Agente Jovem, Saberes da Terra, ProJovem, Consórcio Social da Juventude,
Juventude Cidadã e Escola de Fábrica – “visando racionalizar as ações, recursos e
elevar o potencial e a capacidade de atendimento” (BRASIL, 2007, p.22).
Especificamente na área de saúde, em fevereiro de 2004, foi realizada, em
Brasília, a Oficina de Construção da Política Nacional de Atenção à Saúde de
Adolescentes e Jovens, sob a promoção e a liderança da Área de Saúde do
Adolescente e do Jovem (ASAJ) – Departamento de Ações Programáticas e
Estratégicas – Secretaria de Atenção à Saúde – Ministério da Saúde (BRASIL, 2006a).
Esta política tem o “compromisso de incorporar a atenção à saúde deste
grupo populacional à estrutura e mecanismos de gestão, à rede de atenção do
Sistema Único de Saúde (SUS) e às ações e rotinas do SUS em todos seus níveis”
(BRASIL, 2006a, p.1).
As diretrizes dessa política foram submetidas à consulta pública e sua
versão final está pronta e aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde, contudo não
foram aprovadas na Comissão Intergestores Tripartite, merecendo, portanto, mais
atenção e luta da sociedade civil, haja vista ser um dos documentos mais amplos e
importantes para viabilização de uma política de Estado especifica para
adolescentes e jovens.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
41
1.3.1 Adolescência, juventude e políticas públicas no Ceará
Se analisarmos a responsabilidade no âmbito estadual, a política para
crianças e adolescentes no Ceará é reflexo da política nacional. Até a Constituição
de 1988, as ações eram realizadas por instituições federais, como FUNABEM e
CBIA, com suas versões descentralizadas. Poucas eram as exceções, essas se
constituindo na área de ação social e educação, com creches, escolas infantis e
centros comunitários e sociais urbanos, em cujas programações figuravam projetos
para adolescentes e jovens.
Em 1991, com base nas diretrizes do Ministério da Saúde, a Secretária
Estadual de Saúde implantou o Programa de Saúde do Adolescente (PROSAD).
Mesmo,
porém,
desenvolvendo
programas
e
ações
de
visibilidade
para
adolescentes e jovens, estas se concentraram apenas na Capital, não conseguindo
expansão para as cidades restantes do Estado.
Somente no final da década de 1990, ações específicas e de caráter
descentralizado começaram a se delinear. Vale salientar que parte dessa
prerrogativa decorreu da reforma do Estado, proposta pela Constituição, de
descentralização e desconcentração de ações para estados e municípios.
Disseminada a descentralização, mais conhecida como municipalização,
muitas ações puderam ser realizadas baseadas no respeito à realidade e à
necessidade de cada região.
Vale ressaltar que um passo importante na concretização de políticas
para adolescentes e jovens cearenses foi a criação, em 1999, pela Secretaria de
Saúde do Estado, da Célula de Atenção à Saúde do Adolescente. Ligada em seu
organograma à Coordenadoria de Políticas de Saúde, essa iniciativa atendia aos
preceitos constitucionais e às portarias ministeriais que recomendavam a
descentralização das ações e serviços.
Os primeiros projetos nesse sentido buscaram a intersetorialidade com o
desenvolvimento de programas com a participação das Secretarias de Saúde, Ação
Social e Cultura. Um exemplo disso foi o projeto Amor à vida, com início na gestão 1999
– 2002, Tasso Ribeiro Jereissati, ainda em curso. Na gestão 2003-2006, Lúcio Gonçalo
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
42
Alcântara, essas ações tiveram ênfase mediante um plano de ação, contemplando uma
Agenda de Políticas para Atenção aos Adolescentes e Jovens do Estado do Ceará.
Nesta agenda, foram prioritários os seguintes projetos: “Amor à vida: prevenir é sempre
melhor; Adolescência no PSF, Espaço Jovem, Saúde mais adolescente, Gesto e Ação,
Futebol e adolescente um jogo diferente, Amor à vida: competência familiar, Amor à
vida: alimentação e nutrição” (SESA/COPOS/NUNAS-ADOLESCENTE, 2003, p.26).
Na atual gestão, Cid Ferreira Gomes, é possível ver a proposta de
continuidade e ampliação haja vista os projetos propostos pelas secretarias para o
quadriênio 2007-2010.
Na Secretaria de Ação Social, essas ações estão divididas em duas
grandes linhas: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial. Atendendo a
responsabilidade em cada esfera pelo nível de gestão, esses projetos são
desenvolvidos em conjunto com municípios (CEARÁ, 2008).
Dentre os projetos desenvolvidos na linha de ação da Proteção Social
Básica para adolescentes, destacam-se: Centros de Iniciação Profissional, Núcleo
de Iniciação Profissional Primeiro Passo, que estimulam a escolarização e
profissionalização (CEARÁ, 2008).
Dos projetos desenvolvidos na linha de ação da Proteção Social Especial
para
adolescentes,
destacam-se
os
abrigos
domiciliares,
os
núcleos
de
Enfrentamento à Violência contra Crianças e Adolescentes, os Centro de
Semiliberdade e Liberdade Assistida, que atendem, respectivamente, adolescentes
em regime de abrigo, por se encontrarem submetidos a situação de abandono,
“vitimizados” e perdidos, e ainda aqueles em conflito com a lei em regime de semiliberdade e/ou liberdade assistida, acompanhando, orientando e auxiliando no
processo de ressocialização familiar e comunitária (CEARÁ, 2008).
A Secretaria de Esporte também tem uma preocupação com os
adolescentes e jovens cearenses e desenvolve vários projetos, dentre os quais um
se destaca, por ser iniciativa da Secretaria de Planejamento, com execução da
Secretaria de Esporte, o projeto Viva +, que tem como objetivo ocupar os jovens nos
horário de maior vulnerabilidade, 22h00 às 2h00, para impedir que eles passem para
o mundo da marginalidade (CEARÁ, 2008).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
43
Na Secretaria de Cultura podemos encontrar os seguintes projetos para
adolescentes e jovens: Talentos da cultura que atende famílias residentes em dez
municípios e dez bairros de Fortaleza, respectivamente, com menor Índice de
Desenvolvimento Humano (IDM) e Índice de Desenvolvimento Humano por Bairro
(IDMH-B). Um total de 1.120 bolsas de transferência de renda é distribuído em
quatro categorias – Talento Jovem (600), Artista (280), Agente Cultural (120) e
Memória (120) –, atendendo a segmentos sociais diferenciados da população com
vistas a incentivar a diversidade de atividades culturais nos bairros e municípios
contemplados (CEARÁ, 2008).
A Secretaria de Educação busca cumprir o preceito constitucional que,
em seu artigo 205, reza:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício de cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988).
No que se refere à assistência a adolescentes e jovens, desenvolve
projetos, ensejando o ensino e ampliando a educação, conforme preconiza o Art. 1º
da LDB, Lei 9394/96:
A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais (BRASIL, 1996).
Um projeto que merece destaque, desenvolvido pela Secretaria de
Educação Básica do Estado é denominado Educação de Jovens e Adultos nos
Presídios. O atendimento deste projeto está sendo feito por meio do Programa de
Aceleração da Aprendizagem de Jovens e Adultos (da alfabetização à 4ª série),
cursos de Ensino Fundamental e Médio, por intermédio do Sistema Modular,
atendendo atualmente 993 presídios. Os presidiários podem participar na condição de
alunos e/ou professores, havendo remissão de pena para realização de atividades
trabalhadas ou estudadas. Os detentos participam, também, semestralmente, dos
exames supletivos do Ensino Fundamental e Médio, realizados dentro dos próprios
presídios, onde anualmente são atendidos em média 150 presidiários (CEARÁ, 2008).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
44
A Secretaria de Saúde estabeleceu como objetivo para a gestão 20072010 a promoção da atenção integral à saúde de adolescentes e de jovens de 14 a
24 anos, no âmbito do Estado do Ceará. Este objetivo tem como base as diretrizes
da política nacional de saúde e visa à promoção de saúde, à prevenção de agravos
e à redução da morbimortalidade (SESA/COPOS/NUAP/ADOLESCENTE, 2007).
Estes objetivos também estão em consonância com a Política Nacional de
Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens, que de forma integrada e pactuada
nos níveis federal, distrital, estadual e municipal, buscará, em acordo com os princípios do
SUS, contribuir para o desenvolvimento saudável, a melhoria das condições de vida e a
redução da morbimortalidade nesse grupo etário (BRASIL, 2006a).
Deve-se enfatizar, a noção de que o papel da Secretaria de Saúde do
Estado é de assessorar e monitorar ações e não de executar. Nessa perspectiva, a
proposta é de contribuir para implementação, acompanhamento e avaliação de ações
e serviços, para a saúde de adolescentes e de jovens nos municípios cearenses.
Um aspecto relevante na proposta de cuidados com adolescentes e
jovens cearenses pela Secretaria de Saúde do Estado diz respeito à proposta de
fortalecer, junto aos municípios, ações de prevenção de agravos, promoção de
saúde e de assistência de adolescentes e jovens, contemplando a sua
heterogeneidade regional, étnica, racial, social, cultural, familiar, de gênero, de
orientação sexual (BRASIL, 2006a).
1.3.2 Adolescência, juventude e políticas públicas na 18ª Microrregião de Saúde do
Estado do Ceará
Para falarmos das políticas públicas para adolescentes e jovens na 18ª
Microrregião de Saúde do Estado do Ceará, necessário se faz que caracterizemos
esta região.
A 18ª Microrregião de Saúde nasceu da busca, pelo Estado do Ceará, de
superação das dificuldades encontradas com a implantação da municipalização dita
autárquica, em que os municípios deveriam organizar seus sistemas locais de saúde,
de forma a prestar assistência em todos os níveis e complexidades a sua população.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
45
Nessa lógica de organização de serviços – cada município buscando
isoladamente resolver os problemas relacionados à atenção e a assistência – várias
foram as incompatibilidades. Dentre essas, se destacava a suboferta de serviço
mais complexos, em municípios de pequeno porte, pela falta e escassez de recursos
e economia de escala, em detrimento da sobre oferta dos mesmos serviços em
municípios de grande porte.
No Estado do Ceará a alternativa encontrada para essas dificuldades e posta
em prática desde 1.998 foi a estratégia de microrregionalização da atenção à saúde.
A implantação dos Sistemas Microrregionais de Serviços de Saúde
imprimiu nova lógica de reorganização dos serviços, diferente daquela praticada em
decorrência da municipalização, no âmbito da qual cada município busca
isoladamente resolver os problemas relacionados à atenção e à assistência, para
uma nova prática voltada para a solidariedade e troca, potencializando os recursos,
na busca de melhoria da qualidade dos serviços.
A Microrregião Assistencial de Saúde é um
... espaço territorial composto por um conjunto de Municípios com forte
sentimento de integração e interdependência, com auto-suficiência primária
e secundária, com uma população em torno ou superior a 100 mil
habitantes e com vontade política para consorciarem-se na busca para a
solução dos problemas comuns (SESA, 2008).
Já os sistemas microrregionais de serviços de saúde são “organização
dos serviços, baseada na pactuação e negociação através da comissão
intergestores bipartite microrregional e referendada pelos conselhos municipais de
saúde dos municípios integrantes da microrregião” (SESA, 2008).
Na implantação dessa lógica assistencial, o território cearense foi dividido
em três macrorregiões de saúde, com sedes no Cariri, Sobral e Fortaleza, e 21
microrregiões de saúde, dentre as quais se destaca a 18ª Microrregião, com sede no
Município de Iguatu, composta dos seguintes municípios: Acopiara, Cariús, Catarina,
Deputado Irapuan Pinheiro, Iguatu, Jucás, Mombaça, Piquet Carneiro, Quixelô e
Saboeiro (SESA, 2008).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
46
FIGURA 1 – Ceará: localização da 18ª Microrregião de Saúde
De acordo com o IBGE, a população da região estimada para 2006 era de
295.267 habitantes, estando assim distribuída:
TABELA 1 – População segundo município
Municípios
Acopiara
Cariús
Catarina
Dep. Irapuan Pinheiro
Iguatu
Jucás
Mombaça
Piquet Carneiro
Quixelô
Saboeiro
Total
População
45.568
19.089
18.212
8.668
92.983
23.763
41.495
13.158
15.538
16.793
295.267
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
47
Com forte vocação para a agricultura e pecuária, a economia da região
desenvolve-se, destacando-se na agricultura a produção de algodão arbóreo e
herbáceo, banana, milho, feijão e arroz, e, na pecuária, bovinos, suínos e aves. No
setor secundário, a atividade comercial é bastante dinâmica, tendo nos últimos anos
acontecido uma expansão dos setores industriais para atacado e varejo.
A região tem localização privilegiada, tanto no contexto estadual – está no
centro do Centro Sul do Estado, quanto no plano interestadual. Iguatu, a cidade –
pólo, está a menos de 600 km de Fortaleza, Recife, Natal, Teresina e João Pessoa.
No que se refere à atual organização dos Sistemas Locais de Saúde
(SILOS), estes tiveram início com a territorialização, na década de 1980, tendo sido
os municípios transformados em distritos sanitários segundo, critérios geográficos
populacionais, sociais e culturais.
Em todos esses municípios, a atenção primária de saúde está
descentralizada, sendo a atenção secundária centralizada nos Municípios de
Acopiara e Iguatu, atendendo Iguatu também alguns procedimentos de saúde de
nível terciário.
A ideia baseia-se na descentralização da atenção básica para todos os
municípios, podendo a população dispor de serviços simples, mas eficazes, próximos
de sua residência, e centralização da atenção secundária, com serviços especializados
de saúde, baseados na qualidade do atendimento e economia de escala em municípios
de referência.
Assim, como suporte para a atenção básica, o Município de Iguatu, sede
da Microrregião, também denominado de pólo, atende parte da atenção secundária
e terciária referenciada dos demais municípios.
A atenção secundária e parte da terciária em Iguatu, são representadas
pelo Hospital Regional – construído em 1994 – e a Casa de Saúde e Maternidade
Agenor Araújo. O primeiro oferece atendimento de emergência, sendo os casos sem
resolubilidade encaminhados à Macrorregional, Fortaleza. Os serviços ambulatoriais
de referência estão organizados em 18 especialidades, além dos serviços de
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
48
Controle de Zoonozes, Laboratório de Medicamentos Fitoterápicos, Coordenadoria
de Saúde Mental, dentre outros.
Desde que foi instaurado o processo de microrregionalização, os
municípios da 18ª Microrregião buscou a adequação e desenvolvimento de ações e
programas, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde e Comissão
Intergestores Tripartite e Bipartites. Em 2007, fizeram adesão ao Pacto pela Saúde,
assinando Termo de Compromisso de Gestão, assumindo responsabilidades
sanitárias (SESA/18ª CERES/IGUATU, 2007).
No que se refere à área específica de adolescentes e jovens nos
municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Ceará, programas e ações são
desenvolvidos. Conforme dados da 18ª Coordenadoria Regional de Saúde
CRES/Iguatu, em todos os municípios, constatam-se atividades com essa
população, contudo, com exceção do Município de Iguatu, esses não se dão em
todas as equipes.
De acordo com o IBGE, em estatística de contagem da população para
2007, a região conta com 88.464 adolescentes e jovens na faixa etária de dez a 24
anos, o que representa um total de 29,96% da população total da microrregião.
TABELA 2 – Contagem da população de adolescentes e jovens de dez a
24 anos por município
Municípios
10 a 14 anos
15 a 19 anos
20 a 24 anos
Acopiara
Cariús
Catarina
Dep. Irapuan Pinheiro
Iguatu
Jucás
Mombaça
Piquet Carneiro
Quixelô
Saboeiro
Total
4 .855
2 .069
1 .277
1 .018
8 .393
2 .726
4 .992
1 .424
1 .634
2 .004
30.392
4 .941
1 .918
2 .026
870
9 .148
2 .406
4 .806
1 .429
1 .578
1 .762
30.884
4 240
1 577
1 921
698
8 933
1 882
4 012
1 304
1 350
1 271
27.188
Fonte: IBGE/2009
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
49
Os trabalhos na área de saúde com adolescentes e jovens nos municípios
da região tiveram inicio da década de 2000, porém esses trabalhos, em sua maioria,
eram desenvolvidos por uma equipe da Secretaria de Saúde sendo os profissionais
da estratégia de Saúde da Família convidados a participar das atividades, mesmo
essas se desenvolvendo em suas áreas adstritas.
Um exemplo de trabalho dessa natureza foi o Projeto Amor à Vida que no
início da década de 2000, se desenvolveu em quatro municípios da região: Acopiara,
Quixelô, Iguatu e Jucás. O Amor à Vida
.... é uma ação sócio-educativa em sexualidade e saúde reprodutiva,
promovida pelo Governo do Estado com apoio do Fundo das Nações
Unidas para População (FNUAP), Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF) e Ministério da Justiça e da Saúde. É coordenado pela Secretaria
de Ação Social em parceria com as Secretarias de Educação e Saúde do
Estado e Prefeituras Municipais. Seu objetivo geral é o de contribuir com a
Política Estadual de Atenção ao Adolescente e suas Famílias promovendo o
desenvolvimento de intervenções nas áreas da sexualidade, prevenção da
violência e do uso de drogas. Seus objetivos específicos são: incentivar
uma política intersetorial voltada para o adolescente, criar uma rede de
agentes multiplicadores e apoiar a formação de Núcleos Intersetoriais de
Educação Sexual Regional e Municipal. O público-alvo do projeto Amor à
Vida é constituído por adolescentes e jovens na faixa etária de 12 a 24
anos, do sexo masculino e feminino; pais e responsáveis; professores e
educadores sociais; técnicos e profissionais de saúde, e lideranças
comunitárias e organismos colegiados. (FNUAP, 2003, p.12).
Nesses quatro municípios, foram realizadas capacitações junto aos
técnicos da área da saúde, professores e coordenadores pedagógicos, tendo sido
trabalhados os temas relação de gênero; sexualidade; gravidez na adolescência;
planejamento familiar; DST/AIDS; família; violência doméstica e prevenção ao uso
indevido de drogas.
O programa nos municípios, mesmo contando com a parceria das
secretarias de saúde, educação e ação social, ateve-se às escolas, sendo
executado nas salas de aula. Há aproximadamente quatro anos, o projeto foi
desativado, permanecendo apenas com iniciativas contingentes por parte de
professores treinados.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
50
Outra iniciativa que merece destaque na região, muito embora não seja
específico da área de saúde, mas com estreita ligação com esta área, foi a
implantação do Projeto Aliança com o Adolescente pelo Desenvolvimento
Sustentável no Nordeste. Esse projeto, que muito contribui com o protagonismo de
adolescentes e jovens, sendo referência de trabalho com essa clientela na região do
Médio Jaguaribe, atende aos Municípios de Acopiara, Iguatu, Jucás e Quixelô
pertencentes à 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará, e Orós, da 17ª
Microrregião de Saúde do Estado do Ceará.
A Aliança com o Adolescente pelo Desenvolvimento Sustentável no
Nordeste nasceu em 1999, por iniciativa das instituições Instituto Ayrton Senna,
Fundação Kellogg, Fundação Odebrecht e a área social do BNDES, com o objetivo
de criar oportunidades de desenvolvimento humano, local e sustentável em regiões
com baixo Índice de Condição de Vida. Comprometida com a promoção do
desenvolvimento humano, local e sustentável, com foco na formação de
adolescentes e jovens protagonistas, capazes de promover a mudança do seu
entorno social e econômico, o projeto foi inicialmente assumido pelo SEBRAECeará, porém, em novembro de 2001, foi criado o Instituto Elo Amigo, que recebeu a
certificação de organização da sociedade civil de interesse público – OSCIP e
passou a coordenar o Projeto Aliança (NUNES, 2005).
Conforme Nunes, a equipe do Instituto é dividida por áreas de atuação,
chamadas de Centros de Resultados (CRs), mediante os quais todos os projetos do
Instituto são coordenados. Neles, os adolescentes e jovens desenvolvem
habilidades técnicas e pessoais, sentindo-se capazes de ajudar a transformar
realidades, ensejando trabalho e renda nas regiões onde atuam (NUNES, 2005).
Especificamente em Iguatu, no ano 2005, o Município implantou o projeto
Rede Geração Livre da AIDS, desenvolvido em parceria com a Secretaria de Saúde
do Estado, para desenvolvimento de ações de promoção e prevenção junto a
adolescentes e jovens na área de sexualidade. Este projeto, estruturado em seis
bairros, busca, através das ações,
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
51
Contribuir para diminuição da incidência e morbimortalidade por DST/AIDS
na geração futura, despertando o adolescente para as questões
relacionadas ao desenvolvimento de uma sexualidade saudável e positiva,
podendo assumir atitudes responsáveis no cuidado consigo e com o outro,
reconhecendo os riscos de adoecer, transmitir e morrer por DST/AIDS,
visando ampliação de uma rede de produção e geração de informação
sobre saúde reprodutiva e sexualidade, através de atividades de
mobilização comunitária, oficinas de educação, saúde e atividades
artísticas, integrando escolas da rede pública e particular de ensino, Centro
de Saúde Reprodutiva- (CEMEAR), Equipes de Saúde da Família (ESF),
Escola de Saúde Pública de Iguatu, Secretaria de Saúde, Secretaria de
Ação Social, Secretaria de Cultura e Desporto CAPS i e ONGS dos bairros
de: Santo Antônio, Alto do Jucá, Vila Centenário, Veneza, João Paulo II e
São Sebastião. (IGUATU, 2006, p. 03).
Encontramos também nos Municípios de Quixelô, Iguatu, Mombaça e
Jucás o Projeto Espaço Jovem (SESA/18ªCERES-IGUATU, 2007).
O Projeto Espaço Jovem é desenvolvido pelas secretarias de saúde, ação
social e educação, em parceria com a ONG Propares, que trabalha com
protagonismo juvenil.
O Projeto Espaço Jovem,
tem por objetivo melhorar a qualidade de vida de jovens e adolescentes,
através do estímulo ao protagonismo juvenil na área da saúde, incentivando
para que os adolescentes sejam multiplicadores de informações ligadas a
esse tema em suas comunidades. (IGUATU, 2007, p.7).
Para capacitação dos jovens, foram desenvolvidas oficinas sobre gênero,
amor e vulnerabilidade, gravidez na adolescência, aborto e diversidade sexual, além
de prevenção às DSTS/AIDS.
Em 2007 o Município de Iguatu ao desenvolver em parceria com a
Secretaria de Saúde do Estado e a ONG Propares o projeto Espaço Jovem, criou o
projeto Nossa Vida, Nosso Tempo, que é a tentativa de organizar as ações do
adolescente em programa único com duas capacitações: espaço jovem e rede
geração livre da AIDS.
O Programa Adolescência: Nossa Vida, Nosso Tempo prevê a criação do
CAJI – Centro de Ação Jovem de Iguatu, espaço destinado à capacitação de
adolescentes para acolhimento e repasse de informações sobre saúde, educação,
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
52
cultura, esporte, lazer e entretenimento para outros adolescentes, de forma segura e
coerente, nos PSF do Município (IGUATU, 2008).
Uma grande conquista do Município de Iguatu foi a implantação da Escola
de Saúde Pública de Iguatu – ESPI, em 2005. Criada pela Lei Municipal nº 1020, de
19 de maio de 2005, a ESPI se integra à estrutura da Fundação de Saúde Pública
da Prefeitura Municipal de Iguatu, a qual priorizou no seu primeiro momento de
existência a área de saúde de adolescentes e jovens.
Conforme Plano Político Pedagógico, a ESPI.
Propõe-se estruturar a formação e a educação permanente de profissionais
de saúde, incorporando pressupostos da gestão de sistemas, serviços,
organizações e programas, bem como cooperar na implantação de
abordagens inovadoras na atenção à saúde e na formulação e avaliação
das políticas de saúde. (IGUATU, 2007b, p.3).
A ESPI conta em sua estrutura com um núcleo gestor, que se encarrega
da estruturação dos projetos e captação de recursos para realização das atividades.
Este núcleo tem também o papel de indicação de facilitadores/instrutores que
“passam por um processo de calibração onde são identificados os profissionais que
tem o perfil e desenvoltura para ministrar os conteúdos de forma a atender a filosofia
e diretrizes da ESPI”. (IGUATU, 2007b, p.12).
Os cursos realizados pela ESPI são definidos e pactuados pelos
secretários municipais e gestores da Secretaria de Saúde do Estado no plano
regional no fórum da CIB – Comissão Intergetores Microrregional, levando-se em
consideração
o
perfil
epidemiológico
da
região
e
suas
peculiaridades
socioeconômicas e culturais (IGUATU, 2007b).
Constata-se, com efeito, que experiências de trabalho com adolescentes
e jovens nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado já são
desenvolvidas pela área de saúde, inclusive na estratégia de Saúde da Família
conforme recomendação do Ministério da Saúde.
Dos dez municípios, Iguatu e Deputado Irapuan Pinheiro já preconizaram,
com interveniência das secretarias de saúde dos municípios, a realização de
trabalho com adolescentes e jovens na estratégia de Saúde da Família; e, dos dez
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
53
municípios – quatro, Iguatu, Deputado Irapuan Pinheiro, Jucás e Mombaça –
atenderam aos critérios de inclusão nesta pesquisa, ou seja, tem implantado na
unidade de atuação da estratégia de Saúde da Família pelo menos uma prática
individual associada a uma prática coletiva com adolescentes e jovens, critério
explicado na metodologia deste trabalho.
De maneira geral, evidencia-se nos municípios da região uma
preocupação com a atenção à saúde de adolescentes e jovens, haja vista metade
destes terem sido certificados pelo UNICEF com o prêmio Selo UNICEF, Município
Aprovado, por comprovarem realizar atividades na melhoria da qualidade de vida
dessa população Jucás foi certificado em todas as edições (2000, 2002, 2004, 2006
e 2008), totalizando cinco prêmios; Acopiara, na edição de 2004; Deputado Irapuan
Pinheiro nas edições de 2006 e 2008, Iguatu e Mombaça na edição de 2008
(SELOUNICEF, 2008).
1.4 Saúde de adolescentes e jovens – condições históricas e indicações práticas
Com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil
em 1988, e do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, nova perspectiva foi
conferida às crianças e adolescentes brasileiros. Ancoradas numa concepção de
direitos humanos, as políticas públicas desde esses anos, passaram a considerar
crianças e adolescentes como sujeitos sociais portadores de direitos e garantias
próprias, ganhando novo relevo.
É válido lembrar que as concepções que embasam essas políticas tem
origem nos movimentos sociais da década de 1980, que, com suas lutas,
promoveram transformações significativas em todas as áreas. Especificamente na
área da saúde, constata-se o movimento de reforma sanitária, cujas propostas foram
levadas a efeito na 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, firmando
diretrizes para a constituição do Sistema Único de Saúde - SUS.
O SUS, instituído pelas leis complementares à Constituição, leis orgânicas
8142 e 9090, ambas de 1990, traz a concepção de saúde como um direito social,
entendida como consequência das condições de existência, determinada por fatores
genéticos, ambientais, comportamentais/culturais e o acesso aos serviços de saúde.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
54
Esta concepção consagra a saúde como direito universal, tendo como alicerce a
noção de cidadania, compreendendo ainda que as ações de saúde devem estar
voltadas ao mesmo tempo, para o indivíduo e para a comunidade, a prevenção e o
tratamento, e respeitar a dignidade humana (BRASIL, 1990).
Para implantação do Sistema Único de Saúde, a condução dos trabalhos
ficou a cargo do Conselho Nacional de Saúde, que mobilizou os Conselhos de Saúde
em nível federal, estadual e municipal e Conselho de Secretários Estaduais e
Municipais de Saúde (CONASS e CONASEMS), para formação de grupos tarefa e
elaboração de uma proposta. Entre os GT’s, cabe citar o “GT criado para estudar a
melhoria da qualidade da atenção à população adolescente que sugeriu o
desenvolvimento de um sistema de comunicação para o acesso à informação”.
(RUZANY, 2000, p. 28).
Por meio desse registro, constatamos, assim, que a preocupação com
adolescentes e jovens naquele momento já era sentida, indicando a necessidade de que
o arcabouço do novo sistema de saúde contemplasse políticas para esse segmento.
Imbuído desse espírito, em 1989, o Ministério da Saúde, por meio da
Portaria nº 980/GM, lançou o Programa de Saúde do Adolescente – PROSAD-MS, pela
Divisão Nacional de Saúde Materno Infantil (1989), que se fundamentou numa “política
de promoção de saúde, identificação de grupos de risco, detecção precoce dos agravos
com tratamento adequado e reabilitação”. (RUZANY, 2000, p. 27).
Em suas diretrizes, o PROSAD-MS, indicava a necessidade de
uma abordagem integral, por equipes multidisciplinares, através da
integração intersetorial e interinstitucional dos órgãos envolvidos, e
respeitando as diretrizes do Sistema Único de Saúde. Para sua execução
sugere a mobilização e inclusão de setores governamentais nas áreas de
educação, trabalho, cultura, justiça, lazer. Suas ações básicas
fundamentam-se numa política de promoção, identificação de grupos de
risco, detecção precoce dos agravos, tratamento adequado e reabilitação.
(RUZANY, 2000, p. 27).
A criação do PROSAD contou ainda com a influência da Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS), que, por considerar este segmento populacional
como de risco social, incentivou a criação de programas em toda a América Latina,
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
55
e, nas discussões da Organização Mundial da Saúde (OMS) na 42º Assembléia
Mundial de Saúde, em 1989,
... decidiu indicar a criação de um programa de saúde para adolescentes,
com base nas suas necessidades específicas, destacando alguns temas
como: a gravidez na adolescência, as doenças de transmissão sexual, o
consumo de tabaco, álcool e outras drogas, e a importância dos
adolescentes serem vistos ao mesmo tempo como grupo beneficiário e
como importante recurso para a promoção da saúde. (LEÃO, 2005, p. 20).
Inconciliável com os princípios de descentralização e integralidade
preconizados pelo SUS, o PROSAD foi substituído pela assistência integral a ser
desenvolvida na rede de atenção primária.
Nessa perspectiva, em 1993, foram lançadas as primeiras Normas de
Atenção à Saúde Integral do Adolescente, com a finalidade de orientar as equipes
de saúde de todos os estados e municípios, para a atenção ao adolescente.
Em 1999, foi criada a Área de Saúde do Adolescente e do Jovem (ASAJ),
no âmbito da Secretaria de Políticas de Saúde, que
... tornou-se responsável pela articulação dos diversos projetos e
programas do Ministério da Saúde que lidam com questões relativas à
adolescência e à juventude, em decorrência da percepção da necessidade
de uma política nacional integrada de atenção específica aos indivíduos de
dez a 24 anos. (UNESCO, MEC, ANPED, 2007, p.193).
Em 2005, como resultado das lutas e conquistas dos adolescentes e
jovens, com a criação da Secretaria da Juventude e o Conselho Nacional de
Juventude, o Ministério da Saúde deu continuidade às discussões para elaboração
de uma política nacional que respondesse às necessidades de saúde e aos anseios
dessa população. Numa concepção de integralidade, na qual esse grupo etário
fosse visto em todas as suas necessidades para ter condições dignas de existência,
o Ministério da Saúde
,,, convocou coordenadores estaduais e municipais responsáveis pela
saúde de adolescentes e jovens, profissionais de saúde, universidades,
conselhos profissionais, áreas de interface no Ministério da Saúde, ONGs e
grupos organizados de adolescentes e de jovens para desenvolver o
processo de elaboração da Política Nacional de Atenção Integral a Saúde
de Adolescentes e Jovens. (BRASIL, 2006a, p.1).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
56
A versão preliminar dessa política, pronta em 2005, ficou exposta à
consulta pública, ocorrendo a discussão junto aos gestores estaduais e municipais
do SUS durante o ano de 2006. Em 18 de janeiro de 2007, foi aprovada no Conselho
Nacional de Saúde, mas, infelizmente, em virtude de impasses políticos, ainda não
recebeu parecer favorável na Comissão Intergestores Tripartite.
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes tem
como referência os princípios adotados na Assembléia Geral das Nações Unidas,
que considera “crianças e adolescentes como seres humanos, com necessidades
especiais de respeito à sua condição de pessoa em desenvolvimento, o
reconhecimento como sujeito de direitos e sua prioridade absoluta nas políticas
públicas”, princípios esses ratificados no ECA (BRASIL, 2006a, p.6).
Norteia-se
também
pela
Constituição
Brasileira
e
suas
leis
complementares e orgânicas, indicando a necessidade de articulação institucional e
a responsabilização diferenciada para o Estado, as famílias e a sociedade em geral.
Por toda a sua referência, entende ser o adolescente/jovem como ser
histórico, constituído pelas relações sociais e culturais da sociedade e “como
sujeitos capazes de tomarem decisões de forma responsável”, devendo portanto a
atenção a esse segmento estar voltada para o fortalecimento da sua autonomia e
emancipação (BRASIL, 2005, p.7).
Tem como objetivo a promoção da atenção integral de adolescentes e
jovens de dez a 24 anos, no âmbito da Política Nacional de Saúde, visando à
promoção de saúde, à prevenção de agravos e à redução da morbimortalidade
(BRASIL, 2006a, p. 11).
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e
Jovens está integrada à Política Nacional de Saúde e é fruto de uma conquista
coletiva, que incluiu adolescentes e jovens na sua elaboração. Apresenta
... um novo olhar sobre este segmento etário e apresenta, também, uma
concepção mais abrangente de saúde. Esta inclui uma combinação de
intervenções práticas, capazes de promover o desenvolvimento saudável
desta população e um arcabouço teórico que estimula a reflexão e o
desenvolvimento de novos conhecimentos sobre a sua saúde. (BRASIL,
2006a, p.1).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
57
Dentre as diretrizes dessa política, destaca-se a preocupação de que as
ações de saúde para adolescentes e jovens sejam permeadas pela garantia dos
princípios da igualdade entre homens e mulheres, o respeito às diversidades
étnicas, raciais culturais, de orientação sexual, e a inclusão de adolescentes e
jovens em situação especial de agravos; o contexto histórico, social, cultural,
econômico e político em que vivem; práticas educativas numa perspectiva
participativa, emancipatória, multiprofissional, e voltada para a equidade e cidadania;
estímulo e apoio às ações cooperativas entre profissionais, adolescentes e jovens,
favorecendo seu desenvolvimento, sua autonomia, a prática cidadã e a participação
das famílias nas ações de atenção integral à saúde de adolescentes e jovens
(BRASIL, 2006a).
A política tem como pressupostos
a integralidade da atenção, a universalização, a efetividade, a interdisciplinaridade,
a intersetorialidade e a participação juvenil, visando: 1) a melhoria da qualidade de
vida de adolescentes e jovens brasileiros, 2) a promoção do crescimento e
desenvolvimento saudáveis e 3) a eliminação ou redução dos agravos à saúde.
(LAMARE, 2005, p.1).
De acordo com essa política, a atenção a adolescentes e jovens deve ser
pautada por uma atenção integral, buscando dar conta das dificuldades por que
passam nessa fase da vida, relativas principalmente ao seu crescimento físico e
amadurecimento psicológico, sexualidade, relacionamento familiar, crise econômica,
violência, uso e/ou abuso de drogas, inserção no mercado de trabalho dentre outras.
Essa política tem como eixos de ação: “crescimento e desenvolvimento
saudáveis; saúde sexual e saúde reprodutiva; redução da morbimortalidade por
violência e acidentes”. (BRASIL, 2006a, p.13).
Na busca pela integralidade, de forma a complementar o conjunto de
oportunidades e facilidades que tem o intuito de facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social de crianças e adolescentes, recomenda que o
trabalho deverá-se pautar nos seguintes temas estruturantes: “participação juvenil;
equidade de gênero e empoderamento do sexo feminino; direitos sexuais e
reprodutivos, projeto de vida, cultura de paz, ética e cidadania, igualdade racial e
étnica”. (BRASIL, 2006a, p.13).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
58
A atenção integral a esse segmento populacional, incorpora, assim,
... ações de promoção de saúde, prevenção de agravos e assistência
primária, secundária e terciária, que devem ser realizadas em parceria entre
organizações governamentais e não-governamentais, resgatando-se assim
as diversas competências e responsabilidades, inclusive familiares, frente
aos adolescentes, para se garantir a atenção integral. (MINAS GERAIS,
2006a, p.39).
Dento desta política um importante papel conferido a área de saúde é
congregar esforços entre as diversas instituições e organizações governamentais e
não governamentais, na condução de ações objetivando a transversalidade,
integrando e complementando a visão das políticas setoriais.
Nesse sentido, para dar respostas a um conjunto de demandas para
adolescentes e jovens de forma integral, a área da saúde deve assumir e
compartilhar responsabilidades, sem perder de vista seu papel e funções,
privilegiando a integração e a autonomia das instituições, na formação de
competências transversais para a proteção dessa população em rede.
Leão, ressaltando Madalleno e Ojeda, acentua que “destacar a relevância
da área da saúde, entretanto não implica desconsiderar o papel de outros fatores ou
setores da sociedade”. (2005, p. 11) Nesse sentido, chama a atenção para a
importância das ações que se realizam entre diferentes campos do saber. De acordo
com esses autores, serviços de saúde para adolescentes que enfocam
adequadamente suas necessidades biopsicossociais, com uma harmoniosa
convergência intersetorial, podem ser o ponto de partida para uma significativa
reestruturação dos sistemas de saúde.
Para a implantação das ações preconizadas pela Política Nacional de
Atenção Integral a Saúde de Adolescentes e Jovens, três princípios fundamentais
devem ainda ser levados em consideração: ética, privacidade e confidencialidade e
sigilo. (BRASIL, 2006a),
Conforme Lamare, a implantação dessa política na contextura nacional
deverá ser realizada por meio das seguintes estratégias:
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
59
... articulação, nas três esferas de gestão do SUS, das ações de
implementação dessa Política, em âmbito nacional; qualificação das ações
de produção da saúde para adolescentes e jovens, de ambos os sexos;
reorientação dos serviços e qualificação de equipes e profissionais da
Atenção Básica, junto com os estados, municípios e DF, para oferecer as
práticas integrais que atendam às necessidades específicas e singulares da
população de adolescentes e jovens; e, fomento, em conjunto com os
estados, municípios e Distrito Federal, da participação juvenil e do controle
social nas ações para a implementação da Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens. (2005, p. 2).
A prerrogativa para implantação e condução dessa política é, portanto,
dos municípios, pois estes, como poder e instância local de decisão e ação,
possuem condições efetivas para constituição de uma rede de proteção social em
parceria com instituições da sociedade civil e da intersetorialidade com áreas como
educação, cultura, ação social, esporte, lazer e artes, enfocando sempre o
desenvolvimento de valores, competência e habilidades para que se tornem
cidadãos autônomos.
Ratifica, portanto, a ideia de que o atendimento aos adolescentes e
jovens deve ocorrer de forma descentralizada nos municípios e, por meio da rede de
atenção básica, como forma de fortalecimento desse nível de atenção, pois é nele
que a maioria dos agravos à saúde de adolescentes e jovens pode ser resolvida.
Dessa maneira, a diretriz é de que os adolescentes tenham assistência
em lugares mais próximos de si e, se necessário, encaminhados para a atenção
especializada.
A ênfase na Atenção Básica justifica-se por ser nesse nível de atenção
que a maioria dos agravos à saúde de adolescentes e jovens pode ser resolvida.
Nele, é possível trabalhar de forma universalizada e efetiva a promoção da saúde, a
prevenção de agravos e a intersetorialidade, com a equipe de saúde qualificada para
esta atenção.
No que se refere ao atendimento, propõe-se que este ocorra por meio da
estratégia do trabalho da Saúde da Família, por esta destacar-se pela prática do
cuidado familiar ampliado, efetivada por meio do conhecimento da estrutura e da
funcionalidade das famílias, propondo intervenções que influenciem nos processos
de saúde–doença dos indivíduos, das famílias e da própria comunidade, incluídos
neste contexto adolescentes e jovens de suas áreas adstritas.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
60
A lógica é que adolescentes e jovens possam ser inseridos nas ações e
rotinas das unidades básicas de Saúde da Família, conforme suas necessidades.
Para tanto, objetiva-se
... garantir que a população jovem e, em especial, os seus segmentos mais
vulneráveis e/ou em situação de risco, tenham acesso aos serviços de
saúde. O modelo de atenção preconizado fundamenta-se na territorialidade,
na intersetorialidade, na articulação de parcerias e na participação juvenil.
Está fortemente ancorado na promoção da saúde, nas práticas preventivas
de educação em saúde, no melhor aproveitamento dos recursos –
humanos, culturais, físicos e financeiros – existentes, e na reorientação dos
serviços de saúde, de modo a oferecer um olhar diferenciado que considere
a singularidade de adolescentes e jovens. (BRASIL, 2006a, p.13).
Como parte dessa política, o Ministério da Saúde publica orientações para
a implantação/implementação do atendimento de adolescentes e jovens nas
unidades de saúde.
Dentre as publicações, três manuais são de fundamental importância:
Marco Teórico e Referencial – saúde sexual e saúde reprodutiva de adolescentes e
jovens; Marco Legal – saúde, um direito do adolescente; e Saúde Integral de
Adolescentes e Jovens – orientação para a organização de serviços de saúde. Este
último traz recomendações sobre como devem ser implantado os programas; como
deve ser a estrutura física, que equipamentos, instrumentos e insumos devem ser
utilizados; como devem ser feitos o diagnóstico e o planejamento das atividades; a
captação; a recepção e o acolhimento na unidade etc.
Conforme este manual, a primeira ação a ser desencadeada deve ser a
análise situacional da saúde de adolescentes e jovens – suas condições de vida,
perfil epidemiológico, necessidades, anseios, acesso a bens e serviços, espaços de
convivência, formas de participação etc. Na segunda fase, realizam-se estratégias,
como a busca ativa e a organização da demanda (BRASIL, 2005, p.7).
No que se refere às ações propriamente ditas no atendimento às
especificidades da atenção integral a adolescentes e jovens, as unidades deverão
realizar: visita domiciliar; atendimento individual; atividades em grupo para
adolescentes, jovens e familiares; ações educativas e de promoção da saúde;
participação juvenil e atividades intersetoriais.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
61
Assim, as unidades básicas de Saúde da Família devem ser disponíveis,
acessíveis e acolhedoras, e transmitir segurança e confiança a essa clientela.
No que se refere aos profissionais, para que os objetivos propostos na
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens sejam
realmente alcançados, não basta apenas a estes ter competência para lidar com
questões biológicas/patológicas. Estes, acima de tudo, precisam ter sensibilidade,
habilidade e compromisso para uma prática cotidiana reflexiva, com a devida
competência técnica para abordagem comportamental, de modo a oferecer um
serviço de qualidade pautado por princípios de ética, privacidade e sigilo.
Conforme Rafael,
A viabilização desses princípios no atendimento de adolescentes e jovens
contribui para iniciativas interpessoais mais eficientes, colaborando para
uma melhor relação cliente-profissional, o que favorece a descrição das
condições de vida, problemas e dúvidas. Estes princípios também ampliam
a capacidade do profissional de saúde no encaminhamento das ações
necessárias e favorece a possibilidade de retorno de adolescentes e jovens
aos serviços. (2004, p. 27).
Entendendo que a base para um trabalho com adolescentes se pauta no
desenvolvimento de um vínculo de confiança, para que este se estabeleça,
necessário se faz que os profissionais tenham interesse e paciência, e estejam
disponíveis para saber ouvir e respeitar a diversidade de ideias, sem emitir juízos de
valor que inibam sua comunicação. Sem dúvida, “sentir-se aceito de forma
incondicional por um adulto cuidador que lhe seja significativo”, é de suma
importância para que o adolescente e o jovem passe a construir um sentido para sua
vida. (MINAS GERAIS, 2006, p. 35).
Trata-se, com efeito, de propiciar um espaço de diálogo onde
compartilhando, repassando e esclarecendo informações, os benefícios a serem
obtidos, assim como os riscos e inconvenientes, físicos, psíquicos e sociais,
passíveis de ocorrer no processo de escolhas, sejam subsidiados, numa conduta de
responsabilidade e fortalecimento da autonomia.
Outro aspecto importante no desenvolvimento de atividades com
adolescentes e jovens refere-se à visão de integralidade que devem ter os
profissionais. A saúde dessa população não pode ser vista de forma isolada, mas
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
62
sim relacionada com o contexto social e cultural do qual fazem parte, pois muitas
vezes os problemas de saúde do adolescente decorrem de suas dificuldades
socioeconômicas, como pobreza, privações, falta de moradia, ausência da família,
ausência de um sistema educacional adequado, falta de capacitação laboral, falta de
emprego, violência, entre outros.
Assim, no desenvolvimento de uma atenção integral ao adolescente,
o objetivo é ampliar a possibilidade de atuação do profissional, tendo como
preocupação não só a singularidade do sujeito mas também a organização
dos serviços. Com isto transforma-se o espaço antes considerado como o
‘lugar, por excelência, do profissional’ – um lugar de poder – em outro em
que busca-se uma interação maior dos profissionais com a população
assistida. (RUZANY, 2008a, p.24).
Outro aspecto que não pode deixar de ser ressaltado quando são
refletidas as práticas profissionais na estratégia da Saúde da Família, refere-se ao
trabalho em equipe. Sendo a composição básica formada por um médico, um
enfermeiro, um dentista, um auxiliar de enfermagem, um auxiliar de consultório
dentário e agentes comunitários de saúde, para que o desenvolvimento das ações
se dê de forma integral e resolutiva, necessária se faz uma integração entre esses
profissionais e as ações que desenvolvem.
Nesse sentido, para o trabalho em equipe na estratégia de Saúde da
Família
... cada profissional é chamado a desempenhar sua profissão em um
processo de trabalho coletivo, cujo produto deve ser fruto de um trabalho
que se forja com a contribuição específica das diversas áreas profissionais
ou de conhecimento. Espera-se que os integrantes das equipes sejam
capazes de conhecer e analisar o trabalho, verificando as atribuições
específicas e do grupo, na unidade, no domicílio e na comunidade, como
também compartilhar conhecimentos e informações. (SILVA, 2007, p.26).
A formulação de um projeto comum que seja fruto da integração e do
compartilhamento pressupõe, assim, a participação de todos os membros em todas
as etapas, como: planejamento, execução e avaliação; partilha de decisões; reflexão
acerca do trabalho conjunto; e flexibilização da divisão do trabalho.
Uma equipe integrada e imbuída na consolidação de um projeto para a
atenção integral ao adolescente muito pode contribuir para a prevenção das
situações de riscos a que está exposta essa população.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
63
A implantação de práticas educativas para a adoção de hábitos
saudáveis, o incentivo para o autocuidado em saúde e o protagonismo juvenil são,
por exemplo, importantes aspectos e tem o potencial de fornecer além de
instrumentos para os profissionais procederem ao acompanhamento, principalmente
dos adolescentes que enfrentam adversidades ou se encontram em situações de
risco, uma autoavaliação profissional, no que se refere às suas habilidades pessoais
e em lidar com as dificuldades durante a execução de seu trabalho.
À vista desse quadro, constatamos que a Política Nacional de Atenção
Integral a Saúde de Adolescentes e Jovens configura-se, pois, como importante
instrumento e diretriz, na orientação e desenvolvimento de ações, serviços e
programas na rede de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS), em todos os seus
níveis e esferas.
É uma importante ferramenta e auxilia para que a equipe de Saúde da
Família esteja vigilante e sensível para percepção dos sintomas e diagnóstico precoce
de riscos e agravos em adolescentes e jovens, procedendo ao encaminhamento
quando necessário, pois, muitas vezes, as queixas são vagas, incluindo somatizações
ou distúrbios de conduta, e os jovens ficam aliviados se puderem compartilhar e colocar
para fora os seus sentimentos com profissionais que os possam acolher (MINAS
GERAIS, 2006).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
OBJETIVOS
64
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
65
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
ƒ
Analisar as políticas e práticas de saúde voltadas para a assistência à saúde
de adolescentes e jovens nos municípios que compõem a 18ª Microrregião de
Saúde do Estado do Ceará.
2.2 Específicos
ƒ
Analisar a consonância entre a política municipal e as proposições da Política
de Atenção Integral a Saúde de Adolescentes e Jovens;
ƒ
delinear à luz da Política Nacional de Atenção Integral a Saúde de
Adolescentes e Jovens, as ações e práticas desenvolvidas para esta
população, nos municípios que compõem a 18ª Microrregião de Saúde do
Estado do Ceará; e
ƒ
caracterizar as concepções dos profissionais de saúde sobre adolescência e
juventude e políticas públicas de saúde para este segmento populacional.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
66
PERCURSO TEÓRICO MEDOLÓGICO
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
67
3 PERCURSO TEÓRICO METODOLÓGICO
3.1 Natureza da pesquisa
Neste ensaio, foram utilizados os pressupostos da metodologia
qualitativa, no sentido de proporcionar a “compreensão do objeto de estudo a partir
das relações e interações estabelecidas no contexto considerado e sob a ótica dos
atores envolvidos” (MINAYO, 2004, p.21).
Para Minayo o referencial qualitativo amplia o esquema explicativo, ao
trabalhar com o
... universo de significados, aspirações, crenças, valores e atitudes,
abrangendo um espaço mais profundo de relações, processos e fenômenos
que muitas vezes não são possíveis de serem apreendidos por meio da
operacionalização de variáveis. (2004, p.21).
Assim, a escolha da metodologia qualitativa deu-se em virtude da
preocupação em compreender e explicar as relações sociais e não quantificá-las.
Desta forma a intenção foi captar a cotidianidade e a “compreensão das estruturas e
instituições como resultados da ação humana objetivada”. (MINAYO, 1994, p.24).
A metodologia qualitativa possibilitou conhecer a percepção dos agentes
quanto às políticas e práticas de atenção à saúde de adolescentes e jovens nos
municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará. Imbuída desse
esforço, buscamos não perder de vista o foco principal desta, ou seja, o significado
dado pelos entrevistados ao objeto pesquisado, muito embora nesse processo não
esteja isenta a participação do pesquisador, pois, conforme nos alerta, Minayo, “a
visão de mundo do pesquisador e dos atores sociais estão implicadas em todo o
processo de conhecimento desde a concepção do objeto até o resultado do
trabalho” (2004, p.12).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
68
3.2 Cenário da pesquisa
A pesquisa teve como cenário os municípios da 18ª Microrregião de
Saúde do Estado do Ceará, composta dos Municípios de Acopiara, Cariús, Catarina,
Deputado Irapuan Pinheiro, Jucás, Mombaça, Piquet Carneiro, Quixelô, Saboeiro e
Iguatu, este figurando como Município-polo, de referência regional para os demais.
Para escolha deste lócus, consideramos a recomendação de Minayo, ao
enfatizar a ideia de que os critérios de seleção de uma amostra devem se preocupar
em definir claramente o grupo social mais relevante para entrevista e “privilegiar os
sujeitos sociais que detêm os atributos que o pesquisador pretende conhecer”, de
modo que a escolha do lócus contenha o conjunto de experiências relevantes à
investigação (2004, p.102).
Nestes municípios, a descentralização das ações e serviços de saúde
proposta pelo Sistema Único de Saúde (SUS) já está concretizada sendo a atenção à
saúde dos adolescentes e jovens reorientada para o nível primário da atenção, cabendo
à estratégia de Saúde da Família desenvolver a assistência a esta população.
A estratégia do Saúde da Família teve inicio na região na década de
1991, quando somado ao processo de territorialização, desencadeou-se o desafio
de inverter o modelo de atenção vigente a época com ênfase no curativismo, para
desenvolvimento da promoção da saúde mediada pela prevenção.
Dentre os grandes desafios vivenciados pela ESF na região, destaca-se o
cumprimento das recomendações da Norma Operacional da Assistência à Saúde,
NOAS/01 (Portaria MS/GM n.º 95, de 26 de janeiro de 2001), de descentralização e
atenção das sete áreas básicas: Controle da Tuberculose, Eliminação da
Hanseníase, Controle da Hipertensão, Controle do Diabetes Mellitus, Ações de
Saúde Bucal, Ações de Saúde da Criança e Ações de Saúde da Mulher.
Atualmente, conforme dados do Ministério da Saúde, a região conta com
73 equipes de Saúde da Família e 63 de Saúde Bucal, conforme pode ser
observado na tabela 3, e busca fortalecer, nas áreas adscritas, as recomendações
do Pacto pela Saúde (Portaria/GM nº 399, de 22 de fevereiro de 2006) e
consolidação das ações de promoção e prevenção a saúde.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
69
TABELA 3 – Equipe de Saúde da Família por município
Município
Acopiara
Cariús
Catarina
Dep. Irapuan Pinheiro
Iguatu
Jucás
Mombaça
Piquet Carneiro
Quixelô
Saboeiro
TOTAL
Saúde da Família
12
04
06
03
22
05
05
05
06
05
73
Saúde Bucal
08
04
06
03
22
04
03
03
05
05
63
Fonte: DAB/MS (setembro de 2008)
Dentre os equipamentos de saúde, já referidos no referencial teórico
deste trabalho, a região conta também com a Escola de Saúde Pública de Iguatu
(ESPI), que veio somar esforços no sentido de constituir práticas de saúde conforme
necessidades e anseios da população.
Consoante organograma, a ESPI conta em sua estrutura com um Núcleo
Gestor responsável pelo fomento as discussões e proposição as diretrizes políticas,
encaminhadas aos gestores da região e apreciadas no Colegiado de Gestão
Microrregional (Comissão Intergestores Microrregional – CIB-MR) e conselhos
municipais de saúde dos municípios que compõem a 18º Microrregião de Saúde do
Estado do Ceará (IGUATU, 2007b).
É
responsabilidade
da
ESPI,
ainda,
a
busca
de
“formação
e
estabelecimento de estratégias pedagógicas e conhecimentos em saúde pública que
permitam o desenvolvimento de capacidade técnica e política para solucionar
problemas complexos”. (IGUATU, 2007b, p.6)
3.3 Sujeitos da pesquisa
A participação dos sujeitos para a presente pesquisa teve por base o
envolvimento destes na formulação e/ou implantação de políticas, bem como desenvolver
nas áreas adstritas ao PSF, práticas voltadas à atenção a saúde de adolescentes e
jovens nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
70
Assim, participaram da pesquisa os profissionais do Núcleo Gestor da
ESPI do Município de Iguatu, os coordenadores municipais da atenção básica de
saúde e os profissionais da estratégia de Saúde da Família dos referidos municípios.
Constituiu critério de inclusão para médicos, dentistas e enfermeiros da
ESF a lotação funcional do profissional, cuja unidade de saúde de atuação tivesse
pelo menos uma pratica individual associada a uma prática coletiva com
adolescentes e jovens, e para os coordenadores da atenção básica, foram incluídos
aqueles cujo município desenvolve ações/atividades com esta população.
Para certificação deste critério, foi solicitada à 18ª Coordenadoria
Regional de Saúde do Estado do Ceará em Iguatu – CRES, a relação de municípios
e equipes da estratégia de Saúde da Família (ESF) que desenvolvem ações com
adolescentes e jovens.
Dos dez municípios, quatro se enquadraram no critério:
TABELA 4 – Municípios e equipes de PSF enquadrados conforme critério
Município
Deputado Irapuan Pinheiro
Iguatu
Mombaça
Jucás
Total
Nº de Equipes de PSF
01
22
01
02
26
Fonte: dados da pesquisa
Em Iguatu justifica-se a participação dos profissionais que atuam no
Núcleo Gestor da ESPI, em virtude deste Município ser pólo para a região e contar
com a Escola de Saúde Pública de Iguatu - ESPI, entidade responsável pela
formação e capacitação profissional em saúde para a própria microrregião e
microrregiões circunvizinhas, além de fomentar, elaborar e desenvolver projetos de
trabalho com adolescentes e jovens.
Ressalta-se que, dos municípios enquadrados, quatro médicos não
concederam entrevista e quatro equipes de saúde bucal se encontravam sem os
profissionais durante a coleta de dados, não sendo possível assim a entrevista com
os quatro dentistas destas unidades de Saúde da Família. No total, foram sujeitos da
pesquisa 80 profissionais conforme a tabela.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
71
TABELA 5 – Profissionais entrevistados segundo categoria
Profissionais
Médico
Dentista
Enfermeiro
Coordenador da Atenção Básica
Núcleo Gestor da ESPI
Total
Quantidade
22
22
26
04
06
80
Fonte: dados da pesquisa
No que se refere ao critério utilizado, consideramos, para efeito desta
pesquisa, prática individual o atendimento individualizado a adolescentes e jovens,
acompanhados ou não de seus membros familiares, realizado por qualquer dos
profissionais médicos, enfermeiros e dentistas.
Esta atividade individualizada, além de orientações, também se traduz
pela consulta, entendida, conforme Almeida, como
... um sub processo de trabalho específico onde os profissionais devem
trabalhar a partir da teoria de resolução de problemas-necessidades
expressadas pelo cliente, procurando utilizar saberes na sua intervenção,
que permitam alcançar mudanças, tanto nos processos da vida como na
saúde e na doença da sua clientela (2002, p. 83).
O atendimento individualizado de adolescentes e jovens caracteriza-se
também pela avaliação e monitoramento do seu crescimento e desenvolvimento, e
envolve todos os aspectos relacionados à sua saúde, tais como: alimentação,
vacinação, abordagem da estrutura familiar e dinâmica social, escolaridade,
relacionamento com pares, projeto de vida, protagonismo juvenil e aspectos
emocionais.
Por prática coletiva entendemos aquelas envolvendo grupos, seja de
adolescentes e jovens ou seus pais e responsáveis, desenvolvidas com a realização
de palestras, sessões educativas, oficinas, atividades esportivas e culturais,
profissionalização e outras, nas quais, sob o estímulo e articulação dos profissionais
da ESF, busca-se o desenvolvimento da promoção da saúde considerando o
indivíduo no seu contexto.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
72
Estas práticas coletivas, realizadas pelas equipes de Saúde da Família de
forma sistemática ou contingencial, conforme Paim e Almeida Filho, devem ser
entendidas como elaborações com bases teórico-epistemológicas da saúde coletiva,
que “fundamentam-se nas demais práticas sociais, articulando-se de forma
interdisciplinar”, buscando compreender as formas com que adolescentes e jovens
identificam suas necessidades e problemas de saúde e seu enfrentamento. (PAIM;
ALMEIDA FILHO, 1998, p.309).
Esta modalidade de atendimento que privilegia o diálogo, a troca de
experiência e a construção coletiva de conceitos, deve enfatizar a orientação,
prevenção e redução a exposição aos fatores de risco, antecipando, em situações e
experiências de vida, o desenvolvimento de habilidades para o autocuidado e
autoresponsabilização dos direitos e deveres da cidadania, as relações intra e
interpessoal, a influência dos pares, o pensamento crítico e a consequência das
ações e escolhas.
No que se refere à caracterização dos sujeitos participantes deste
experimento, a intenção foi de subsidiar a compreensão das políticas e práticas para
adolescentes e jovens existentes nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do
Estado do Ceará, considerando o modo de agir e interagir dos mesmos nos seus
espaços de trabalhos.
Levando em conta variáveis como tempo, experiência e vínculo,
classificamos os profissionais da estratégia de Saúde da Família em intervalos
fechados de quatro anos, haja vista o período de uma legislatura e mandato
majoritário, em que as ideias e planos administrativos passam por menor
descontinuidade. Assim, esses entrevistados apresentam as características:
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
73
TABELA 6 – Caracterização dos sujeitos da pesquisa
Iguatu
VARIÁVEL
Med
Dent
Dep. I. Pinheiro
Enf
Med
Dent
Jucás
Mombaça
Enf
Med
Dent
Enf
Med
Dent
Enf
01
-
01
01
-
01
01
-
01
01
-
01
-
-
01
-
01
-
-
01
-
Tempo de Formado – número de profissionais
Até um ano
De 02 a 04 anos
De 05 a 08 anos
De 09 a 12 anos
De 13 a 16 anos
Mais de 17 anos
01
01
03
01
02
10
01
09
03
06
03
05
06
02
03
03
01
01
-
Tempo de experiência em Saúde da Família - número de profissionais
Até um ano
De 02 a 04 anos
De 05 a 08 anos
De 09 a 12 anos
De 13 a 16 anos
Mais de 17 anos
01
03
06
07
-
01
10
08
-
05
03
06
08
-
01
-
01
-
01
-
01
01
-
01
01
-
01
01
-
Tempo de permanência na atual equipe de Saúde da Família – nº de profissionais
Até um ano
De 02 a 04 anos
De 05 a 08 anos
De 09 a 12 anos
De 13 a 16 anos
Mais de 17 anos
05
12
01
-
04
11
04
-
09
10
01
02
-
01
-
01
-
01
-
01
01
-
02
-
01
01
-
01
-
-
01
-
01
01
02
01
01
01
-
-
01
-
01
01
01
-
01
Vínculo Empregatício - número de profissionais
Precarizado
Estatutário
10
08
03
16
08
14
01
01
01
Residentes no município de trabalho - número de profissionais
Sim
Não
17
01
19
-
22
-
01
-
01
01
01
01
01
Fonte: dados da pesquisa
Na tabela apresentada, constata-se a dificuldade de estabelecimento de
uma constante para caracterização dos sujeitos, haja vista a existência de
profissionais que vão de recémformados a aposentados. Esta caracterização se torna
complexa ainda, quando se verifica a precarização do vínculo empregatício, pois se
associarmos ao tempo de permanência numa mesma equipe, podemos inferir uma
relação de causa e efeito, ou seja, em virtude das condições de trabalho serem
precarizadas, se constata elevada freqüência de substituição dos profissionais que
não se fixam nas equipes, sendo constantes os rodízios e substituições.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
Numa visão panorâmica, observamos que os
médicos
74
são os
profissionais que mais tempo possuem de formado, os vínculos em sua maioria são
precarizados e os profissionais que menor tempo possuem de permanência numa
mesma equipe. Os dentistas são os profissionais com menor tempo de formados,
maior tempo de permanência numa mesma equipe e dos 22 profissionais
entrevistados, 19 são concursados. Os enfermeiros são os profissionais com maior
variedade no tempo de formação, variando de recémformados, com primeira
experiência de trabalho na estratégia de Saúde da Família a profissionais com vasta
experiência de trabalho anterior ao SUS, e os profissionais que mais se fixam nos
municípios onde trabalham.
Os
coordenadores
da
Atenção
Básica
nos
municípios
têm
respectivamente, a seguinte formação acadêmica: Deputado Irapuan Pinheiro,
acadêmico do Curso Sequencial em Saúde Pública; Iguatu, enfermeiro; Jucás,
enfermeiro; e Mombaça, fisioterapeuta. Todos esses profissionais assumiram o
cargo de coordenadores no início da gestão municipal 2005-2008, atuam nesta
função pela primeira vez e não têm qualificação especifica na área de saúde de
adolescentes e jovens mas participaram de eventos nos quais esta área foi interfase.
O Núcleo Gestor da ESPI é composto por uma equipe multidisciplinar de
seis profissionais: dois assistentes sociais, um pedagogo, um psicólogo, um
fisioterapeuta e um terapeuta ocupacional. Esses profissionais receberam convite
para integrar o quadro da ESPI e ante as necessidades e demandas cotidianas,
passaram a formar o Núcleo Gestor, mas até o momento não há portaria ou
documento outro os definindo quanto a cargo e função dentro da Instituição. Mesmo
assim, é desta equipe a responsabilidade para elaboração e condução dos projetos,
sob a supervisão dos setores de Assessoria de Coordenação e Formação
Permanente e da Superintendência da ESPI.
Desta equipe, três profissionais têm capacitação na área técnica de
adolescentes e jovens, dentre os quais se destaca um profissional com vasta
experiência de trabalho com esta clientela, em protagonismo juvenil, sexualidade e
uso de substâncias químicas.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
75
3.4 Técnicas e instrumentos de coleta de dados
Para apreensão das informações, utilizamos como técnica a entrevista
semiestruturada complementada com informações colhidas no questionário.
As entrevistas semiestruturadas têm a propriedade de combinar
perguntas abertas e fechadas, tendo o entrevistado a possibilidade de discorrer
sobre o assunto. Conforme Boni e Quaresma, neste tipo de entrevista,
O pesquisador deve seguir um conjunto de questões previamente definidas,
mas ele o faz em um contexto muito semelhante ao de uma conversa
informal. O entrevistador deve ficar atento para dirigir, no momento que
achar oportuno, a discussão para o assunto que o interessa fazendo
perguntas adicionais para elucidar questões que não ficaram claras ou
ajudar a recompor o contexto da entrevista, caso o informante tenha “fugido”
ao tema ou tenha dificuldades com ele (2005, p.75).
Assim, a escolha da entrevista justifica-se por ser uma prática discursiva,
por meio da qual se processam reflexões e sentidos sobre as ações e práticas, além
de ter esta a propriedade de permitir o aprofundamento e a complexidade de um
problema, por meio da fala dos agentes sociais (FRASER; GONDIM, 2004).
Conforme Minayo et al.,
... o envolvimento do entrevistado com o entrevistador, em lugar de ser
tomado como uma falha ou um risco comprometedor da objetividade é
pensado como uma condição de aprofundamento de uma relação
intersubjetiva.
Assume-se que a inter-relação no ato da entrevista
contempla o afetivo, o existencial, o contexto do dia-a-dia, as experiências,
e a linguagem do senso comum, e é condição ‘sine que non’ do êxito da
pesquisa qualitativa (2004, p.124).
As entrevistas realizadas de roteiros semiestruturados foram dirigidas aos
entrevistados de acordo com a sua inserção institucional.
As questões para entrevista tiveram uma parte em comum aos
entrevistados e uma parte diferenciada para cada categoria, de modo a respeitar as
especificidades e fortalecer a interdisciplinaridade com a interação e troca dos
campos de competência (APENDICES A, B, C, E e F).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
76
O questionário contendo questões abertas e fechadas constituiu-se de um
instrumento de apoio às entrevistas e buscou traduzir as informações quanto à
consonância das ações desenvolvidas à luz da Política Nacional de Atenção Integral
à Saúde de Adolescente e Jovens. As questões elaboradas comportam respostas
positivas/negativas e enumeração de informações a partir da oferta de um elenco de
respostas possíveis e foi construído utilizando como referencial as recomendações
do manual, Saúde integral de adolescentes e jovens: orientações para organização
de serviços de saúde (BRASIL, 2005). (APENDICE D).
A escolha do instrumento de análise na forma de questionário justifica-se
por permitir observar o acompanhamento do quantitativo de ações desenvolvidas em
consonância com a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde de Adolescentes
e Jovens pelos sujeitos da pesquisa.
O uso do questionário neste trabalho também se apoiou nas reflexões de
Gonzáles Rey acerca do emprego deste instrumento em estudos de orientação
qualitativa. Esse autor atesta que tais instrumentos podem ser adequadamente
utilizados, desde que a compreensão do fenômeno estudado tenha uma razão
distinta daquela presente em análises quantitativas tradicionais. O autor aponta que
os instrumentos usados pelos pesquisadores são apenas “indutores que facilitam a
expressão dos sujeitos estudados” (GONZALES; REY, 2005, p.48).
Ainda conforme Gonzáles Rey, o questionário como instrumento
metodológico somente adquire sentido no espaço dialógico pela pesquisa,
argumenta assim que a diferença entre pesquisa qualitativa e quantitativa se
encontra nos pressupostos epistemológicos que orientam a investigação e não nos
métodos utilizados (GONZALES REY, 2005, p. 48).
3.5 Coleta de dados
Para desenvolvimento das atividades de pesquisa no campo, contamos
com o apoio e consentimento por meio de ofício, de todos os gestores da saúde dos
municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará. Em Iguatu,
participamos também de uma reunião com os profissionais da atenção básica, onde
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
77
o secretário de saúde apresentou o propósito da presente pesquisa, solicitando dos
profissionais a colaboração.
A coleta dos dados ocorreu no período de setembro a dezembro de 2008,
em visitas as unidades de saúde, agendadas conforme a disponibilidade do
profissional. Alguns entrevistados autorizaram a gravação em gravador de voz
modelo MP3, enquanto outras foram escritas pelo entrevistador e todas tiveram livre
duração. Fomos autorizada também a destacar os discursos, sendo preservada a
identidade dos profissionais, que foram referidos por categoria profissional e funções
que ocupam, por meio de letras do alfabeto e número arábico, sendo a ordem
numérica estabelecida de acordo com a realização das entrevistas.
TABELA 7 – Denominação dos sujeitos participantes da pesquisa
Profissionais
Médico
Dentista
Enfermeiro
Coordenador da Atenção Básica
Núcleo Gestor da ESPI
Denominação
Alfabética
Numérica
M
1 a 22
D
1 a 22
E
1 a 26
C
1a4
N
1a6
Fonte: dados da pesquisa
3.6 Análise de dados
Para exame das informações, num esforço de compreensão adequada às
narrativas, utilizamos a analise de conteúdo, sob a orientação de Bardin, que a
define como:
...um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por
procedimentos sistemático e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas
mensagens (1977, p.42).
Para a referida análise, recorremos à técnica da Análise Temática, onde
buscamos, com exaustiva leitura, descobrir as ideias centrais, denominadas nesta
técnica de tema e identificação dos elementos mais significativos, ou seja, os
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
78
núcleos de sentido das entrevistas, “cuja presença ou freqüência de aparição pode
significar algo para o objetivo analítico” (MINAYO et al., 2004, p. 209).
Após apropriação desses elementos, recorremos a fase seguinte da
análise temática: tratamento dos resultados e interpretação. Nova exploração foi,
então, realizada visando a depreender dos núcleos de sentidos os trechos do
discurso que respondiam ao enfoque pesquisado. Ainda nesta fase, dos núcleos de
sentido, foram identificadas as convergências e divergências dos discursos,
buscando não perder de vista a realidade em que estão inseridos e os
condicionantes com os quais se relacionam.
Após esta fase, voltamos nossos cuidados para a apreensão dos
significados dos discursos, onde os relacionamos e os comparamos com o
referencial teórico para a compreensão das diferentes percepções e ideias dos
entrevistados.
A análise final foi obtida mediante o estabelecimento das categorias a
seguir listadas, surgidas da relação entre a apreciação dos dados obtidos no campo,
os objetivos e o referencial teórico que orientou o estudo.
TABELA 8 – Categorias e subcategorias de análise da pesquisa
Categorias
Subcategorias
I. Normas e diretrizes políticas
Concepções e
diretrizes políticas
II. Concepções norteadoras das normas/diretrizes.
III. Agentes e destinatários envolvidos na elaboração
de normas/diretrizes;
IV. Operacionalização das normas/diretrizes
Reciprocidade entre
concepções
norteadoras e as
práticas
institucionalizadas
Fonte: dados da pesquisa
I.
Infraestrutura
II. Atenção
III. Assistência programática, preventiva e interventiva:
Odontológica, Médica e de Enfermagem
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
79
3.7 Procedimentos éticos da pesquisa
O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da
Universidade Estadual do Ceará, recebendo o protocolo o nº 08351790001.
As entrevistas foram autorizadas pelos secretários municipais de saúde dos
municípios envolvidos, através de ofício.
Aos entrevistados foi esclarecido o objetivo geral do estudo, uma vez
assegurado o sigilo dos discursos, a possibilidade de recusa, bem como a
intencionalidade de divulgação e publicidade dos dados no âmbito acadêmico e público,
sendo também a partir da Resolução 196/2006 condicionada à assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
3.8 Pressupostos teóricos
Este trabalho foi constituído com o objetivo de analisar políticas e práticas de
saúde, implementadas nos municípios que compõem a 18ª Microrregião de Saúde do
Estado do Ceará, voltadas para a assistência a adolescentes e jovens. Na busca desse
objetivo, o processo de pesquisa foi dividido em três fases: na primeira parte, o
referencial teórico, que serviu como base de reflexão; na segunda, procedemos, nos
meses de outubro a dezembro de 2008, à coleta de dados, realizada por meio da
entrevista, e, na terceira, procedemos à análise e interpretação dos dados coletados.
Para compreensão deste estudo, numa perspectiva de atenção integral,
cabe destacar aqui algumas considerações. A primeira dessas refere-se aos termos
adolescência e juventude. Como pode ser percebido em todo o corpo teórico produzido,
utilizamos as palavras adolescência e juventude como categoria única e indissociável,
no entanto, cumpre esclarecer que assim as utilizamos em virtude de não haver com
exatidão um limite que nos mostre onde acaba a adolescência e começa a juventude.
Preferencialmente, utilizamos os termos adolescência e juventude, muito
embora, algumas vezes, façamos uso de um ou de outro de forma separada, porém
ressaltamos que a escolha dessas categorias para o estudo tem como referência a
interseção adolescência e juventude feita pelo Ministério da Saúde, que
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
80
... adota a convenção elaborada pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
que delimita o período entre 10 e 19 anos, 11 meses e 29 dias de idade como
adolescência, e o situado entre 15 e 24 anos como juventude. Há, portanto,
uma interseção entre a segunda metade da adolescência e os primeiros anos
da juventude. (BRASIL, 2006a, p.3).
Enfatizamos ainda, que, por adolescência e juventude entendemos serem
estes “seres humanos, com necessidades especiais de respeito à sua condição de
pessoa em desenvolvimento, o reconhecimento como sujeito de direitos e sua
prioridade absoluta nas políticas públicas”. (BRASIL, 2006a, p.06). Adotamos também a
concepção de Ávila que, em seu artigo A adolescência como ideal social, nos apresenta
uma síntese que muito contribuí para a compreensão da subjetividade que desta fase
da vida se revela. Conforme essa autora, esta idade
... deve ser compreendida como um processo de transição biopsicossocial da
infância para a idade adulta, onde estão presentes influências históricas e
culturais na constituição do sujeito. As modificações subjetivas dos
adolescentes ocorrem através da reformulação de fatores psicológicos
internalizados, mas com uma forte influência dos aspectos culturais e sociais
referentes ao “modelo” difundido na sociedade e, principalmente na mídia, além
dos papéis atribuídos a cada gênero pela cultura. Sendo assim, parece errôneo
falar-se de uma única “cultura adolescente”. A adolescência é antes um
processo estruturante da identidade corporal, social, sexual e afetiva, do que
apenas um momento de crises e revoltas. (2005, p. 6).
A segunda consideração foi a percepção de políticas públicas de saúde,
conceito aqui expresso por Mendonça e Giovaneella, que entendem serem estas,
... instrumentos da democracia para a consecução de objetivos de governo, são
ações definidas no âmbito do Estado e da sociedade, que visam atender uma
necessidade específica, que se expressa no plano coletivo, mas exige sua
conscientização no plano dos indivíduos e sua organização social primária que
são as famílias e as comunidades. (2007, p. 602).
Para entendimento da materialização das políticas públicas, adotamos a
contribuição de Buss, quando nos diz que essas se concretizam “através de diversos
mecanismos complementares, que incluem legislação, medidas fiscais, taxações e
mudanças organizacionais, entre outras”, e a ação de profissionais. (BUSS, 2000, p.171).
Quanto à concepção de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e
Jovens, consideramos as diretrizes do Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à
Saúde na Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem, expressas pela Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens, que traz em seu
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
81
arcabouço recomendações para implantação e implementação dos serviços e
programas do setor saúde para esse grupo populacional, nas esferas federal, estadual
e municipal, em acordo com as diretrizes do SUS.
Esta política reconhece adolescentes e jovens como sujeitos sociais,
portadores de garantias próprias e direitos, independentemente de seus pais e/ou
familiares e do próprio Estado, e está em consonância com o ECA, com as diretrizes do
SUS e da Constituição Brasileira, que elegeu como um de seus princípios norteadores a
prevalência dos direitos humanos.
Essa dimensão política que implica os conhecimentos e práticas foi aqui
definida como a forma de participação, tanto na elaboração como implantação das
ações, bem como as habilidades, ações, atuações, enfim, o modo como os profissionais
realizam suas atividades, tendo como referência a saúde como direito social, instituída
na Carta Constitucional de 1988, devendo, portanto, essas práticas ser organizadas da
prestação de serviços no plano local, com ênfase na promoção, proteção e recuperação
da saúde (BRASIL, 1990b).
Nas palavras de Vieira,
A prática em saúde não é uma realidade em si mesma, pré dada, na qual o
profissional se insere somente para cumprir rotinas. Ela é constituída pelos
sujeitos que ali atuam e, de algum modo, se vinculam, estando alicerçada em
uma concepção de homem e de mundo que pode e precisa ser questionada.
(2008, p. 25).
No que se refere às práticas e atuações profissionais na atenção integral a
adolescentes e jovens, nos reportamos ao Estatuto da Criança e do Adolescente que,
em seu artigo 4º, expressa a responsabilidade compartilhada e ratifica a prerrogativa do
Estado para implantação e condução de políticas para essa faixa etária.
Nessa perspectiva, cabe ao município, na qualidade de instância local de
poder, decisão e ação, a responsabilidade pela constituição de uma rede de
proteção social, ocupando a área de saúde, nesta, um importante papel, que é o de
congregar esforços entre as diversas instituições e organizações governamentais e
não governamentais na condução de ações, objetivando a transversalidade,
integrando e complementando a visão das políticas setoriais para o cuidado com
adolescentes e jovens.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
82
Assim, as práticas assentam-se na ideia de atenção integral, em que a área
da saúde, por meio da estratégia de Saúde da Família, ao assumir e compartilhar a
responsabilidade nesta direção, cumpre seu papel na prática do cuidado familiar
ampliado, e consequentemente, com adolescentes e jovens, ao fundamentar suas
ações num modelo de atenção com base na
... territorialidade, na intersetorialidade, na articulação de parcerias e na
participação juvenil. Está fortemente ancorado na promoção da saúde, nas
práticas preventivas de educação em saúde, no melhor aproveitamento dos
recursos – humanos, culturais, físicos e financeiros – existentes, e na
reorientação dos serviços de saúde, de modo a oferecer um olhar
diferenciado que considere a singularidade de adolescentes e jovens.
(BRASIL, 2006a, p.13).
A estratégia de Saúde da Família ancorada em um novo modelo de atenção,
centrado na lógica da vigilância à saúde e qualidade de vida, dirigido à família e à
comunidade, e incluindo desde a promoção à reabilitação e a cura, tem, portanto, com a
população de adolescentes e jovens um importante compromisso, que é o de garantir
acesso e atenção integral.
Esta atenção integral, que deve ser realizada pela estratégia de Saúde da
Família, para êxito de seus objetivos, – dentre os quais a realização de ações
interdisciplinares, intersetoriais e interinstitucionais, voltadas para a prevenção e
para a promoção da saúde, para o atendimento local e para o encaminhamento de
situações e problemas específicos dessa faixa etária – carece de uma equipe de
profissionais imbuídos com este propósito e envolvidos em todas as etapas de sua
realização, desde o planejamento à avaliação, além da sensibilidade para abertura
de espaços para que esta clientela possa participar e contribuir na elaboração de
programas que os identifiquem.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
83
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
84
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Ao mergulhar nos dados coletados para analise das informações desta
pesquisa, deparamos com uma riqueza e abrangência imensuráveis de elementos que
muito nos revelaram da dinâmica do cotidiano e da produção de saúde dos municípios
da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará. Como, porém, o objetivo maior
deste estudo estava na perspectiva das políticas e práticas, nosso esforço se dirigiu a
esse fim, atentando para as muitas nuanças que as envolve, buscando aproximação
com a realidade, muito embora entendamos que a realidade histórica e social é muito
rica em determinações, sendo sua totalidade incapaz de ser captada.
Na busca de expressar a análise e compreensão dos achados no campo,
para as categorias deste estudo – políticas e práticas – elaboramos a representação
gráfica a seguir.
FIGURA 2 – Representação gráfica da sistematização dos achados no campo de
pesquisa
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
Ressaltamos
que
esta
matriz
segmentada
em
categorias
85
e
subcategorias tem caráter apenas didático, e objetiva maior compreensão dos
achados no campo, não sendo nossa intenção apresentar reducionismos para o
entendimento das políticas e práticas, já que estas vão muito além do recorte
percebido e expresso neste estudo.
Cabe destacar o fato de que, que por políticas e práticas, entendemos
ser dimensões integradas e intrínsecas de uma mesma unidade, pois toda ação
compreende uma intenção não neutra. Ilustrando essa afirmação, reavermos a
reflexão de Sposito e Carrano, quando acentuam que
... a ideia de políticas públicas está associada a um conjunto de ações
articuladas com recursos próprios (financeiros e humanos), envolve uma
dimensão temporal (duração) e alguma capacidade de impacto. Ela não se
reduz à implantação de serviços, pois engloba projetos de natureza éticopolítica e compreende níveis diversos de relações entre o Estado e a
sociedade civil na sua constituição. Situa-se também no campo de conflitos
entre atores que disputam orientações na esfera pública e os recursos
destinados à sua implantação (2003, p.17).
Para entendermos os resultados, partimos da premissa de que a
elaboração, assim como a materialização das políticas públicas, concretizadas
dentre outras nuanças, mediante ações dos profissionais, dependem sobremaneira
da percepção e sentido que estes dão a sua prática. No desejo de sermos
compreendida, elaboramos a representação gráfica seguinte para expressar os
resultados encontrados no campo, que passaremos a discutir em seguida.
Fonte: elaboração própria
FIGURA 3 – Representação gráfica dos resultados advindos do campo de pesquisa
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
86
4.1 Saúde de adolescentes e jovens na 18ª Microrregião de Saúde do Estado do
Ceará – concepções e diretrizes políticas
No desvelamento da primeira categoria deste estudo, aspecto político,
buscamos identificar a existência de políticas municipais de atenção à saúde para
adolescentes e jovens, a participação dos profissionais na criação e implantação dos
programas e projetos para esta clientela, bem como, a forma de atenção prestada
nas unidades básicas (articulação entre os recursos físicos, tecnológicos e
humanos) para esta faixa etária, e, ainda, identificar a base/referência conceitual da
assistência prestada nas unidades básicas por seus profissionais.
Nesse sentido, da análise dos achados, extraímos as seguintes
subcategorias:
I. Normas e diretrizes políticas para o desenvolvimento da atenção a saúde de
adolescentes e jovens;
II. Concepções
norteadoras
das
normas/diretrizes.
Consonância
com
as
preconizações da atenção integral à saúde de adolescentes e jovens;
III. Agentes e destinatários envolvidos na elaboração de normas/diretrizes;
IV. Operacionalização das normas/diretrizes – existência de programas/projetos
norteando a organização e funcionamento dos serviços e condutas de trabalho
I. Normas e diretrizes políticas para o desenvolvimento da atenção à
saúde de adolescentes e jovens
Na primeira categoria, partimos do princípio de que cabe aos municípios a
responsabilidade pelas políticas de cuidado, e, às equipes da estratégia de Saúde
da Família, a potencialização de ações de acompanhamento e desenvolvimento a
adolescentes e jovens. Esses princípios são entendidos como aspectos que
favoreçam não só os cuidados biomédicos, como prevenção, reabilitação e cura de
patologias clinicas, mas também ações que propiciem a participação e a reflexão
que nortearão escolhas para trilhar caminhos de forma crítica e criativa e de formular
histórias próprias e cidadãs.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
87
No que se refere ao estabelecimento de normas e diretrizes políticas nos
municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará, foi possível perceber
que os profissionais deparam inúmeras situações que refletem diretamente na saúde de
adolescentes e jovens.
Essas situações apresentam demandas que se destacam em todas as
áreas, como ausência de educação de qualidade, existência de conflitos familiares, falta
de oportunidade de trabalho, dentre outras, contudo, mesmo diante dessas demandas,
conforme pode ser observado nos discursos dos profissionais, não se percebe por parte
destes uma reflexão a respeito dessas demandas, para operacionalização de
estratégias que possam ir ao encontro desses problemas.
Eu acho que falta informação, a gente tem um numero razoável de gravidez
na adolescência, então acredito que seria necessário fazer uma política
mais voltada ao adolescente, que infelizmente não temos, o que temos são
famílias despreparadas pra receber uma criança, desemprego, basicamente
é isso, e opções de lazer, que aqui também não temos, aqui nos temos uma
quadra e só, então resta ao adolescentes no fim de semana, beber, isso é
comum, geralmente é isso aí (D15).
O adolescente gosta de grupo, às vezes o pai diz, ele deixa de conversar
comigo para conversar com os amigos. Então acho que falta ao
adolescente, o relacionamento familiar, o pai conversar [...] nossa cultura
não permite que nossos pais cheguem pra gente e converse a respeito da
adolescência, quer que o filho homem seja homem, mas não diz o que é ser
homem. Então o que falta na nossa adolescência, começa dentro de casa,
começa pelo diálogo da família que não existe, e esse dialogo com a família
muitas vezes fica na rua, e muitas vezes o adolescente aprende na rua o
errado, quando deveria aprender o certo em casa (M24).
Seria a necessidade educativa mesmo, que pudesse ser [...] não informações,
porque informações eu acho até que tem, a escola já faz um pouco, só acho
que precisaria de uma participação maior da saúde, da escola, para que a
gente pudesse trabalhar principalmente essa parte da sexualidade, a parte
que deixa um alerta muito grande, com relação a contracepção, a doenças
sexualmente transmissíveis, com a relação a gravidez na adolescência, mas,
desde quando eu cheguei aqui a gente não tem conseguido esse objetivo,
essa parte da gravidez na adolescência, principalmente (M16).
Observa-se uma sintonia desta situação vivenciada pelos profissionais na
18ª Microrregião de Saúde do Estado com o documento-base para a I Conferência
Nacional de Juventude, onde expressa que
A oferta de bens e serviços públicos é insuficiente para atender toda a
demanda. O Ensino Médio ou o mercado de trabalho, por exemplo, ainda
estão longe de atender a todos. Soma-se a isso o baixo conhecimento do
poder público sobre a realidade juvenil, o que em muitos casos provoca um
desencontro entre as demandas dos jovens e as políticas públicas (BRASIL,
2007, p.7).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
88
Constata-se, com efeito que os profissionais da estratégia de Saúde da
Família têm o conhecimento sobre as demandas, contudo, a decisão para
mobilização de um grupo de trabalho para discussão, formulação e implantação de
estratégias que possam ir ao encontro desses problemas, atentando para a
realidade do nível local, não existe.
Dos dez municípios da região, quatro realizam atividades com
adolescentes e jovens, conforme critério estabelecido nesta pesquisa. Desses
quatro, dois – Iguatu e Deputado Irapuan Pinheiro – têm determinação expressa da
Secretaria Municipal de Saúde para que as equipes da estratégia de Saúde da
Família estabeleçam ações de atenção à saúde de adolescentes e jovens. Nos
outros dois municípios, Jucás e Mombaça, não há recomendação expressa, mas as
ações são realizadas por iniciativa dos profissionais. Nos demais municípios,
Acopiara, Cariús, Catarina, Piquet Carneiro, Quixelô e Saboeiro, existem apenas
incentivo e estimulo à sua realização, por parte da Secretaria Municipal de Saúde,
não havendo nenhuma ação sistematizada.
Vale destacar, o fato de que, mesmo nos municípios onde há determinação
para a realização de ações pela estratégia de Saúde da Família, não há normatização
expressa e impressa quanto aos princípios, aspectos organizacionais dos serviços e
condutas de trabalho a serem dispensados aos adolescentes e jovens, tão pouco
estão estabelecidos os meios de acompanhamento e monitoramento, ficando a
responsabilidade de execução por parte da equipe.
Nos discursos dos coordenadores da atenção básica, podemos perceber
esta realidade.
Orientamos para que as equipes adotem uma agenda ou um espaço de
atendimento ao adolescente na unidade, ou que tenham disponibilidade de
ir até às escolas agendar espaços de conversas ou mesmo para palestras
educativas para este grupo, para que posteriormente eles se sintam
estimulados a irem à unidade (C3).
As orientações são feitas nas reuniões mensais, onde discutimos sobre
vários assuntos e a partir daí repassamos informações de como os PSF
podem estar implementando ações tanto no atendimento individual como
nos atendimentos em grupo. Orientamos para formação de grupos, criação
de comissões de notificação de maus tratos e de como deva ser feito o
atendimento aos jovens (C4).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
89
Em Deputado Irapuan Pinheiro, no que se refere à política propriamente
dita para esta clientela, os profissionais relataram que o Município recentemente
implantou o Programa do Adolescente em apenas uma unidade básica de Saúde da
Família, no PSF Sede, e solicitou das demais equipes que começassem a dispor de
um dia por semana para atendimento de adolescentes e jovens. Relatam que a ideia
é que o PSF da Sede seja piloto, devendo posteriormente o programa se estender
para as demais equipes. Argumentam que este programa implantado respeita as
diretrizes nacionais da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de
Adolescentes e Jovens, ficando a adequação da programação e planejamento das
atividades, em relação à realidade do território adstrito, a critério de equipe.
No
Município
de
Iguatu,
quando
da
realização
do
Curso
de
Especialização em Serviço de Enfermagem em Saúde da Família, realizado em
2007, do qual participaram todos os profissionais de Enfermagem das 18ª e 17ª
Região de Saúde do Estado do Ceará, promovido pela Escola de Saúde Pública de
Iguatu, após ser ministrado o módulo de Saúde do Adolescente, o gestor da saúde
do Município determinou que as equipes da estratégia de Saúde da Família
dispensassem um turno por semana, de preferência a segunda-feira a tarde, para
trabalho com essa população. A justificativa desta recomendação, de que o dia e o
turno sejam o mesmo para todos os PSF, se faz para que o Município possa adquirir
uma cultura e um hábito para esse atendimento.
No que concerne a esta orientação, percebe-se um descompasso das
recomendações da Secretaria de Saúde, através da Coordenação da Atenção
Básica, em relação às ações desenvolvidas pelos profissionais.
Conforme pode ser observado nas falas, as recomendações são feitas
nas reuniões mensais, onde estão presentes todos os profissionais. Estes ratificam
as recomendações da Secretaria de Saúde do Município, por intermédio da
Coordenação da Atenção Básica, enfatizando que as equipes realizem atividades
com adolescentes e jovens nas suas áreas de atuação, estabelecendo um turno por
semana para atividades com essa clientela. Percebemos, contudo, que a
compreensão desta atividade não é tão clara e, como não foi feito nenhum
treinamento para implantação destas ações ou entregue diretrizes escritas, a
compreensão baseia-se apenas na destinação de um turno por semana para que
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
90
adolescentes e jovens possam ser atendidos por qualquer um dos profissionais,
médicos, dentistas, enfermeiros, ou concomitante, conforme necessidade. Não há,
pois, uma compreensão de que se deva buscar os adolescentes e jovens e
desenvolver um trabalho de saúde com os mesmos.
Somos orientados pelo secretario de saúde, para que a gente tente
despertar mais a atenção para desenvolver alguma atividade que pudesse
trazer o jovem para o consultório. Isso aí nós fomos orientados, que nós
tivéssemos, vamos dizer assim, algum dia que a gente poderia se preparar
e tudo, pra atender adolescente, e que nós criássemos uma abordagem
diferente, pra que a gente pudesse, desenvolver algo com eles (D6).
... foi durante reuniões mensais, que a gente tem na secretaria, que foi
repassado isso. Verbalmente pelo gestor. Que todos os profissionais de
nível superior, que atendem nas unidades básicas de saúde, que eles
devem tirar um dia, ou turno para ter um atendimento exclusivamente com
adolescente (D22).
Existe a proposta pra ambulatório, que é a historia de toda segunda-feira,
ter atendimento [...] foi pedido para todas as comunidades para ser feito. E
alguns cursos já aconteceram, para os jovens, um deles foi o da AIDS (E9).
A possível justificativa para o descompasso desta compreensão talvez
esteja no fato de que, dos membros das equipes de Saúde da Família de Iguatu,
apenas o enfermeiro foi capacitado para ações com adolescentes e jovens.
A recomendação de reservar uma vez por semana, num mesmo dia, um
turno para consultas de médico, enfermeiro e dentista para adolescentes e jovens é
cumprida por 17 das 22 equipes de PSF do Município. Dessas 17 equipes, duas
realizam atividades de grupo com todos os profissionais e, de forma simultânea,
cinco possuem atividade de grupo desenvolvidas pelos enfermeiros e sete pelos
dentistas. Ressalta-se que em três equipes são realizadas atividades de grupo pelo
enfermeiro e pelo dentista, contudo estas atividades se dão de forma separada e em
dias diferentes.
Das cinco equipes que não cumprem a recomendação da Secretaria de
Saúde de realização de atividades com toda a equipe para adolescentes e jovens,
ressalta-se que, em três, não encontramos o profissional dentista, mas em uma
destas existe atividade de grupo desenvolvida pelo enfermeiro. Em duas equipes,
não encontramos atividade individual sincronizada, nem atividade de grupo, com os
profissionais.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
91
Percebemos, assim, que o trabalho com adolescentes e jovens não é tão
simples, bastando apenas uma deliberação para sua realização, pois outras
dificuldades estão implícitas, como perfil e qualificação dos profissionais para
desenvolvimento de ações com essa clientela.
A percepção dessa complexidade se faz evidente também para os
coordenadores da atenção básica. Como pode ser observado nas falas seguintes,
esses coordenadores acreditam que a falta de qualificação dos profissionais é um
ponto que fragiliza a atenção.
... reconhecemos que falta um treinamento que possa capacitar os
profissionais de como abordar o adolescente, habilidade para mobilização e
formação de grupos e também para lidar com as temáticas que envolvem
essa clientela (C4).
Nós temos que colocar sempre em prática e em mente, que bons
profissionais não se acham assim facilmente, precisam de ter capacitações,
e nós não poderíamos chegar aqui e começar um programa sem que os
profissionais tenham treinamento pra isso. Eles necessitam desse
treinamento, não é só chegar no município e começar o programa, colocar
eles pra trabalhar, sem ter um conhecimento, então pra isso o município, o
gestor no caso, vem nos apoiando quanto a essa política, pensando já em
solicitar curso pra nossos profissionais (C1).
... isso, treinar, eles precisam de uma forma geral de um recapitular em
várias áreas. A gente sente isso, mas especificamente na área de
adolescentes e jovens eles nem [...] recapitular, é começar mesmo, depois
tentar implantar essa dia de atenção a eles, e avaliar ta crescendo?, está se
desenvolvendo? Como é que está a pele?, como é que está [...] sei lá o
intestino, o dente [...] Coitado os adolescentes só são atendidos quando
estão [...] estão com alguma dor, com algum problema específico (C2).
Muito embora a qualificação dos profissionais seja uma preocupação, do
exposto, constatamos que não é somente esta que tem implicação para
desenvolvimento da atenção à saúde de adolescentes e jovens, pois fatores como
motivação e compromisso também são por demais importantes, além da busca de
envolvimento destes profissionais nas discussões e elaboração de propostas e
diretrizes de trabalho, o que infelizmente não constatamos em nenhum depoimento
expresso pelos coordenadores.
Este fato, associado à ausência de ações planejadas e executadas por
todos os membros da equipe, nos leva a inferir sobre a necessidade de os gestores
dos municípios buscarem mecanismos para qualificação e compromisso do
profissional, não apenas no sentido técnico, mas, principalmente, no aspecto político.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
92
Em um dos municípios estudados, chamou-nos a atenção, o fato do
estímulo ao desenvolvimento da atenção a adolescentes e jovens estar ligado ao
respaldo do Selo UNICEF, e este, em seus critérios de avaliação, exigir atividades
com esta faixa etária. No discurso de um dos coordenadores, podemos visualizar
essa constatação,
... nós tínhamos um secretário de saúde que ele tinha, como é que eu posso
dizer [...] ele visava muito a questão do selo UNICEF. Então o selo UNICEF,
ele propõe que se trabalhe muito essa questão do adolescente e da criança
e alguns projetos que foram feito, eles estavam envolvendo, por conta do
selo UNICEF, envolvendo os adolescente e as crianças, é tanto que a
coordenação, ela é incentivada, ela é [...] como é que eu posso dizer [...]
estimulada a trabalhar nesta direção. (C2).
Nota-se, pois, que a dimensão política para adolescentes e jovens é pouco
disseminada no espaço da estratégia de Saúde da Família nos municípios da 18ª
Microrregião de Saúde do Estado do Ceará. Observa-se, por parte da Coordenação
da Atenção Básica, a sensibilidade e a motivação para desenvolvimento de ações
para essa clientela, mesmo não existindo estimulo nem recursos financeiros por parte
das esferas estadual e federal; contudo não há uma preocupação na elaboração de
diretrizes políticas nem com adequação das diretrizes apresentadas para nível
nacional em nível municipal.
Esta constatação nos leva a refletir sobre as políticas públicas, pois, à
medida que são conquistas de cidadania, estas também expressam respostas às
demandas e necessidades da população. Nesse sentido, nos questionamos: se
existem demandas, por que não existem políticas expressas para adolescentes e
jovens na 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará? Reportando-nos a ideia
de Rua (1998, p.2), esta nos indica que
... uma vez que as políticas públicas são respostas, não ocorrerão a menos
que haja uma provocação. Em linguagem mais especializada, as políticas
públicas se destinam a solucionar problemas políticos, que são as
demandas que lograram ser incluídas na agenda governamental. Enquanto
essa inclusão não ocorre, o que se tem são “estados de coisas”: situações
mais ou menos prolongadas de incômodo, injustiça, insatisfação ou perigo,
que atingem grupos mais ou menos amplos da sociedade sem, todavia,
chegar a compor a agenda governamental ou mobilizar as autoridades
políticas (1998, p. 2).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
93
Reforçando a ideia da autora retrocitada, podemos concluir que o que se
tem em relação aos adolescentes e jovens na 18ª Microrregião de Saúde do Estado
do Ceará são “estados de coisas” e não ainda políticas que respondam as
necessidades e anseios desta população.
II. Concepções norteadoras das normas/diretrizes: consonância com os
princípios preconizados pela Política de Atenção Integral a Saúde de
Adolescentes e Jovens
Como já observado, dos dez municípios da 18ª Microrregião de Saúde do
Estado do Ceará, apenas quatro desenvolvem ações de atenção à saúde de
adolescentes e jovens, e, embora esta atenção esteja sendo dispensada, ela não
segue nenhuma norma ou diretriz formulada no próprio Município para este fim. Por
acreditarmos, contudo, que nenhuma ação se faz sem intenção, buscamos
identificar nesta atenção as concepções que as norteiam, de modo a estabelecer
uma relação com os pressupostos da atenção integral à saúde de adolescentes e
jovens, preconizada por organismos de respaldo nos planos nacional e internacional
e Ministério da Saúde.
Válido é evidenciar, que a busca destas concepções se justifica nas ideias
de Sposito e Carrano, quando argumentam que, no caso das ações que envolvem a
juventude, precisamos levar em conta “a ideia de que qualquer ação destinada aos
jovens exprime parte das representações normativas correntes sobre a idade e os
atores jovens que uma determinada sociedade constrói” (2003, p.18).
Assim, do discurso dos profissionais, foi possível apreender as
concepções que possuem sobre adolescência e juventude e, consequentemente,
identificar o entendimento de como acreditam que deva ser a atenção dispensada a
esta faixa etária por meio das políticas públicas para essa clientela.
A concepção apresentada por todas as categorias profissionais da
estratégia de Saúde da Família e por coordenadores da atenção básica guarda
estreita semelhança, como pode ser observado nos depoimentos:
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
94
Acho que hoje o adolescente não tem nenhum vinculo, ele não consegue
participar de nenhum grupo, não consegue ter, nenhuma rotina, ele é assim
muito jogado, não consegue perceber que precisa ter uma ordem, que
precisa ter uma certa obediência em família, a maioria não possui religião
fixa, não tem nenhuma religião, não participam de grupos mesmo (E1).
Bom, o adolescente pela própria fase de desenvolvimento que ele se
encontra, que é uma fase conflituosa, uma fase de mudança, o adolescente
deve ter uma atenção especial, ele deve ser tratado muito diferentemente
[...] (M12).
Percebemos que os jovens ainda vêem sua fase como imune a problemas
de saúde, estão na sua totalidade de bem estar e disposição física, fazendo
com que eles não freqüentem muito a unidade de saúde, apenas quando
estão acometidos por alguma doença. (C3).
.... eles estão daquela fase rebelde, eles são atrevidos, eles são [...] então.
[...] são [...] elétricos [...] e assim ficam questionando, pra que isso? [...] oh,
besteira [...] (D 16).
Observa-se que a concepção de adolescentes e jovens para as
categorias profissionais da estratégia de Saúde da Família se aproxima do que
entende Aberastury e Knobel, que pensam este período como “fase da
reorganização emocional, de turbulência e instabilidade, caracterizada pelo processo
biopsíquico a que os adolescentes estão destinados” (ASSIS, 2003, p. 670).
As características desta fase, denominada de “síndrome normal da
adolescência”, por Aberastury e Knobel, tornou-se referência para o meio
acadêmico, disseminando-se para os setores mais populares da sociedade o
conceito de adolescência e juventude como período, em que a confusão de papéis e
as dificuldades de estabelecimento de relações consigo próprio e com os demais é
normal, sendo essas dificuldades superadas na fase adulta (ABERASTURY;
KNOBEL, 1989, p. 29).
A
“síndrome
normal
da
adolescência”
caracteriza-se
por
uma
sintomatologia que inclui:
1) busca de si mesmo e da identidade; 2) tendência grupal; 3) necessidade
de intelectualizar e fantasiar; 4) crises religiosas, que podem ir desde o
ateísmo mais intransigente até o misticismo mais fervoroso; 5)
deslocalização temporal, onde o pensamento adquire as características de
pensamento primário; 6) evolução sexual manifesta, que vai do autoerotismo até a heterossexualidade genital adulta; 7) atitude social
reivindicatória com tendências anti ou associais de diversa intensidade; 8)
contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta, dominada
pela ação, que constitui a forma de expressão conceitual mais típica deste
período da vida; 9) uma separação progressiva dos pais; e 10) constantes
flutuações de humor e do estado de ânimo (ABERASTURY, KNOBEL,
1989, p. 29).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
95
Pela análise das entrevistas, constatamos, como Aberastury e Knobel,
que esses profissionais consideram adolescentes e jovens enquanto seres em
processo de desenvolvimento, independentes para algumas ações, dependentes
para outras, desprovidos de experiências e maturidade, vulneráveis aos riscos,
devendo, portanto, ser protegidos e orientados para que sigam um caminho de
condutas tradicionalmente ditadas para serem adultos.
Como pode ser visto nos depoimentos seguintes, um aspecto
interessante é que mesmo tendo concepções semelhantes, as categorias
entrevistadas enfatizam aspectos diferentes desse entendimento.
Na visão dos dentistas, percebe-se uma compreensão de adolescentes e
jovens como seres em desenvolvimento, em conflito, que querem apenas questionar
e desafiar. Nas falas desses profissionais, é perceptível a denominação de
adolescência como fase da vida na qual não há necessidade de muito compromisso,
por isso eles são muito agitados, brincalhões, não prestam atenção nem possuem
interesse quanto aos temas de saúde.
... é como se eles não tivesse interesse, muito agitado, quem trabalha com
adolescentes sabe que as vezes é mais fácil você ensinar uma criança do
que um adolescentes, eles são muito agitados não prestam atenção, ficam
fazendo brincadeiras, gracinhas, é difícil, muito difícil, prender a atenção
deles. (D20).
Adolescência é uma fase muito difícil, precisa de uma abordagem e eu não
sei fazer isso, eu precisaria de um treinamento, eles não se interessam
muito, são inquietos, não prestam atenção [...] (D7).
Esta concepção, expressa pela categoria profissional dos dentistas, se
aproxima da reflexão de Kerbauy sobre a imagem estereotipada dos jovens dos
anos 1980, disseminada como “geração individualista, consumista, conservadora,
indiferente e apática” (KERBAUY, 2005, p.199).
Os depoimentos dos profissionais dentistas exprimem também a dificuldade
de trabalhar com essa faixa etária, principalmente no que se refere à abordagem, visto
que são inquietos e com dificuldade de concentração. Situação semelhante encontramos
em estudos realizados, nos quais, por exemplo, Ferrari, Thomson e Melchior, expressam
em sua pesquisa, o fato de que, “além das dificuldades e pouco embasamento sobre a
adolescência, referido pelos profissionais, alguns discursos emitem também julgamentos,
considerando-os deseducados e permissivos” (2006, p.2493).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
96
Para os enfermeiros, adolescentes e jovens são seres em fase de
grandes mudanças, não são adultos e não deixaram de ser crianças. Depreende-se
dessa ideia que são dependentes e, como ainda não têm capacidade nem
competência, suas opiniões e argumentos não devem ser levados em conta,
devendo os adultos estar sempre por perto para orientá-los e, se for necessário,
corrigi-los, para que ajam de maneira conveniente com os padrões exigidos na
sociedade.
Não pode de maneira alguma, esquecer [...] em primeiro lugar, que ele é um
jovem, você tem que ta voltado, para ele, para o adolescente, e depois,
você tem que lembrar, que apesar de tudo que ele pode ta passando no
momento, você tem que seguir, assim, ele é um adolescente, nós temos
que guiá-lo, e mostrá-lo, os meios mais certos pra eles seguirem. (E19).
... eu tenho muitas gestantes, adolescentes, muitas mesmo, e muitas
chegam pra mim, dizendo que vai parar os comprimidos, meninas com
15,14 anos, e eu pelejo com elas, não faça isso, você é muito nova, são
casadas, juntas, mas eu não consigo conscientizar elas e elas acabam
engravidando, aí eu, fico meio frustrada [...] (E11).
Esta ideia aproxima-se assim da explicação de Valadão, citada por
Andrade, quando destaca que
... o discurso biomédico utilizado no campo da saúde visa normatizar a vida
do jovem, sugerindo que este não tem competência para responsabilizar-se
pela sua saúde, sua sexualidade, sua vida afetiva e social, entendendo os
riscos a saúde como conseqüência do modo de vida juvenil (2008, p.41).
A concepção expressa pelos enfermeiros, esquece no mínimo dois
aspectos importantes. O primeiro, por considerar os adolescentes e jovens como
pessoas em processo, sua participação nas ações que lhes são destinadas não é
viabilizada. O segundo refere-se à individualização, em que as condições sociais,
econômicas e culturais não são levadas em conta quando da realização das ações,
ficando a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso, quando da idade adulta, do
próprio indivíduo.
Para os profissionais médicos, adolescentes e jovens, além de estarem
em fase de mudanças biológicas e psicológicas, são seres que estão no meio e por
isso recebem influencia deste, quanto a aspectos sociais e culturais. Nesse sentido,
como se verifica nas falas que se seguem, é possível constatar a alusão e
necessidade de profissionais das áreas de ciências humanas e sociais no trabalho
com adolescentes e jovens, como psicólogos e assistentes sociais.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
97
.... não é somente o médico que tem que atender a esse tipo de paciente,
geralmente PSF, conta com três profissionais, além desses 3 profissionais,
deveria estar o psicólogo [...] a atenção a esse paciente, tem que ser dada,
através de uma equipe multidisciplinar que não vem só o medico e o
dentista, como a enfermeira, tem outros profissionais que deveriam
participar e atuar junto nesse tipo de caso, desse tipo de paciente. (M5).
.... acho que deveriam criar um programa especifico com psicólogos pra
acompanhar adolescentes, essa área é tão específica e foge tanto a esse
padrão saúde/doença, o que falta é orientação, planejamento [...] essas
coisas (M21).
... não estou dizendo que a gente não possa fazer um trabalho, o que eu
estou dizendo é que precisa de algo mais que um simples programinha
dentro do PSF [...] é muito complicado, criança a gente pega, acompanha
crescimento, nutrição, doenças, e adolescente não, por natureza ele já tem
rejeição, ele não quer que se meta na vida dele, ele não quer ir mais no
posto por que não é mais criança, ele quer mostrar que já sabe, que não
precisa de ajuda, quando na verdade não é isso, muitas vezes as decisões
que tomam são para impressionar os amigos e não por [...] por [...] sabe.
(M20).
A percepção dos médicos a respeito de adolescentes e jovens, embora
pertença à mesma linha de pensamento dos demais profissionais dentistas e
enfermeiros, é mais abrangente, pois identifica a noção de que as angústias e
conflitos vivenciados nesta fase não decorreu somente em virtude de mudanças
corporais e hormonais, mas também há influência do meio social e cultural em que
se encontram.
Ante o exposto, podemos concluir que, em geral, os profissionais da
estratégia de Saúde da Família dos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do
Estado do Ceará possuem uma apropriação do conceito de adolescência e
juventude não como consequência de reflexões, mas sim do senso comum e do
divulgado pelo imaginário social sobre essa clientela. Essa percepção implica a
homogeneidade, ou seja, tratar os adolescentes e jovens de forma semelhante,
desconsiderando as especificidades e as diferenças de classe social, etnia e gênero.
Consequência também dessa visão homogeneizada, é a ausência de
reflexões e/ou considerações sobre as singularidades, bem como ausência de
questionamento a respeito da segregação ou falta de acesso dos adolescentes e
jovens, por exemplo, a uma educação de qualidade e inserção no mercado de trabalho.
As concepções apresentadas nos levam a uma reflexão, pois, ao
considerar adolescentes e jovens do ponto de vista de fase de desenvolvimento e,
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
98
portanto, sem experiência e maturidade para contribuir, canais de participação não
são abertos, podendo limitar tanto sua autonomia como práticas socioculturais e de
saúde potencializadoras.
Consequência
destas
concepções
expressas
pelas
categorias
profissionais da estratégia de Saúde da Família e dos coordenadores da Atenção
Básica sobre adolescentes e jovens, a idealização para a elaboração de uma política
pública para adolescentes e jovens não tem como base anseios e necessidades
dessa população, mas sim o ponto de vista e imagem formulada pelos adultos, sem
que se cogite na participação deles a não ser como destinatários.
Nesse sentido, Kerbauy muito contribui com sua análise, ao destacar que
a construção de verdadeiras políticas públicas de juventude esbarra na falta
de uma agenda que inclua, de fato, as temáticas e os problemas juvenis, e
que também contemple os jovens como participantes desse processo,
mesmo, de construção das políticas públicas, dos quais serão beneficiários
(2005, p.194).
Sposito e Carrano, ao falar de políticas de juventude, também reforçam as
múltiplas visões destacadas na sociedade e nos revelam, em sintonia com os
achados neste estudo, que as ações direcionadas a esta população também
assumem diferentes contornos.
Vive-se a simultaneidade de tempos no debate sobre a juventude, o que faz
a convivência, muitas vezes dentro de um mesmo aparelho de Estado, de
orientações tais como as dirigidas ao controle social do tempo juvenil, à
formação de mão-de-obra e também as que aspiram à realização dos jovens
como sujeitos de direitos. No que pese o maior ou o menor predomínio de
determinada tendência ao longo da história, algumas formulações em torno
dos segmentos juvenis e da juventude têm sido mais fortemente reiteradas
nos últimos anos. Os jovens ora são vistos como problemas ou como
setores que precisam ser objeto de atenção. Manter a paz social ou
preservar a juventude? Controlar a ameaça que os segmentos juvenis
oferecem ou considerá-los como seres em formação ameaçados pela
sociedade e seus problemas? (2003, p.19).
Assim, para a elaboração das diretrizes políticas para adolescentes e jovens,
apreende-se dos discursos expostos por todas as categorias profissionais da estratégia
de Saúde da Família a noção que estas políticas, assim como projetos e ações, devam
ser realizadas de forma protecionista, pois, somente com orientação e tutela, os desvios
podem ser corrigidos, e os adolescentes e jovens, guiados e conduzidos, poderão ser
adultos saudáveis com capacidade de resolver seus problemas.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
99
Na visão dos dentistas, as políticas devem garantir espaços e atrativos,
como música e impressos (folders e álbum seriado) para prender a atenção dos
adolescentes e jovens, de forma que as orientações possam ser ouvidas e
introjectadas. São depoimentos que retratam esta constatação:
Eu acredito no seguinte, como se trata de saúde publica, era super
interessante se tivesse mais uma campanha, assim, para orientação, para
prevenção, porque na verdade eu [...] eu acho, que a saúde publica e a
atenção básica, devem ser mais conversa do que... você nunca ver
resultado a curto prazo, mas a longo prazo você vê um bom resultado,
porque, o que a gente vê assim, são [...] são [...] o pessoal totalmente
desestimulado, e se tivesse mais assim, um ponto focalizado [...] tem, na
verdade nós temos, mas é ainda muito vago, não vou dizer que não tem,
lógico que tem, mas, deveria ser mais abrangente [...] (D9)
Assim, o jovem ter mais atrativos, seria muito interessante se tivesse mais
atrativos, álbum seriado, panfletos, assim, que os jovens tivessem um
espaço pra eles, um espaço com musica, coisas que prendessem mais a
atenção deles, que a gente tivesse mais disponibilidade, recursos
econômicos, financeiros, carros [...] (D16)
O conteúdos, dessas falas nos remete à reflexão acerca do estabelecimento
de políticas publicas para adolescentes e jovens, sob o enfoque de integração social,
muito utilizado nos anos 1950. Esta perspectiva, ratificada em Castro e Abramovay,
expressa que as políticas públicas devem ser formuladas de forma a garantir a
integração à sociedade para a ela servir, priorizando-se, na interação indivíduo e
sociedade, um modelo ideal de sociedade (CASTRO; ABRAMOVAY, 2002).
Não distante da concepção dos dentistas sobre a elaboração de políticas
para adolescentes e jovens, situa-se a compreensão dos enfermeiros. Conforme
depoimentos destes profissionais, as políticas para esse segmento devem ter
conotação de proteção para que os desvios sejam evitados.
... fazer com que o adolescente perceba que nessa fase, existe
conturbações, mas que elas vão passar, e que vão existir profissionais, que
vão ajudar, que de repente o adolescente ele ta passando dificuldade na
família, ou consigo próprio e consulta um psicólogo pra conversar [...] de
repente ele ta com algumas dificuldades em relação a sexualidade, então
vamos procurar o medico, ver o enfermeiro, pra falar sobre sexualidade,
sobre métodos anticoncepcionais, e, ou fumando [...] sei lá [...] (E3).
... e a gente também tem que ter a responsabilidade, do que a gente ta
passando pra ele, isso é muito interessante, o adolescente vir procurar aqui
no posto e eu tentar aqui conseguir, mudar o pensamento dele, em relação
o que ele tinha antes, sobre sexualidade, sobre drogas, todos esses
assuntos que são debatidos no dia-a-dia [...] (E19).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará100
Os depoimentos dos enfermeiros corroboram as ideias de Castro e
Abramovay (2002), quando ressaltam ser comum a preocupação com as relações
entre juventude e violência e juventude e drogas, multiplicando-se as proposições
normativas com vistas a disciplinar tais relações. Estudo realizado por Oliveira e Lyra
também confirmam esta posição, quando expressam que
A implementação da política de atenção à saúde do adolescente no Brasil
esbarra na carência de e na formação dos recursos humanos: não há
suficientes equipes de saúde para a população; as equipes não estão
capacitadas/sensibilizadas para o trabalho com adolescentes; mesmo as
que passaram por períodos de formação, nem todos os profissionais se
dispõem a trabalhar com esta população; muitos profissionais, embora
capacitados, ainda percebem os adolescentes como pessoas em formação,
que precisam de orientação e tutela, e não têm maturidade suficiente para
exercer plenamente seus direitos (2008, p. 6).
As concepções da categoria médica sobre a constituição de políticas
públicas para adolescentes e jovens também não estão distantes das ideações dos
demais profissionais da estratégia do Saúde da Família. Esses profissionais avançam,
por considerarem que adolescentes e jovens, além de mudanças biológicas e
psicológicas, recebem influencia sociocultural do meio onde estão inseridos, devendo,
portanto, a assistência a esta população ser feita de forma interdisciplinar, com apoio
de psicólogos e assistente sociais. Quando se referem à proposição de diretrizes
políticas para este segmento, porém, estas se revelam semelhantes às proposições
das demais categorias, como pode ser observado nos depoimentos:
... eu acho que precisa também um psicólogo, pra trabalhar, com um
assistente social pra ajudar, porque tem muitos problemas, principalmente
nessa área, jovens usando drogas, prostituição, analfabetismo...(M20).
.... deveria abranger as unidades básicas de saúde, com atenção especial
pro adolescente, ter um dia especial para o adolescente, ter atividades
programadas na unidade básica pra atenção do adolescente ou onde ele
está, escola, grupos, igrejas, até na ação social. Onde tem grupos de
adolescentes, que a saúde fosse até ele, não esperasse que o adolescente
só venha até o posto, mas uma estratégia que a equipe do posto do PSF
fosse ao adolescente, onde ele está. (M11).
... garantir a informação ao adolescente, porque é isso, com essa
informação que você dá ao adolescente, em termos de saúde, de
planejamento familiar..., o que necessita mesmo é disso, então, levar ao
adolescente a informação para que ele tome conhecimento, porque por
exemplo, hoje o adolescente dá a inicialização sexual cada dia mais cedo, e
sem nenhuma orientação, então orientação. (M12).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará101
Um aspecto interessante a ser ressaltado é que os profissionais médicos
referem à necessidade da intersetorialidade com outras categorias profissionais para
desenvolvimento de programas e projetos ou mesmo intervenções, mas isso não
acontece no que se refere à transversalidade. Esse fato pode ser constatado quando da
referencia da participação de outras instituições adscritas a área de atuação do PSF,
como a Igreja e a Escola, que ocorrem em atividades circunstanciais, quando cedem
suas dependências ou mobilizam pessoas, muito mais como apoio e não como parceiros
para elaboração de programas e projetos.
Ao discorrer sobre a análise dos dados, percebemos, nos depoimentos
dos profissionais da estratégia de Saúde da Família, a existência de sintonia entre
as concepções sobre adolescentes e jovens e a compreensão de como devem ser
estabelecidas diretrizes políticas para este segmento. Como pode ser observado,
estas concepções são eminentemente conservadoras e, embora não intencionais
por parte dos profissionais, já que não se constatou a elaboração reflexiva destas,
se embasam na teoria sociológica funcionalista, já que “buscam adequar o
comportamento dos jovens a um estado de normalidade ou prestar algum bem ou
serviço para este segmento” (CASTRO; ABRAMOVAY, 2002, p.19).
Esses resultados corroboram estudos realizados por Abramo, (1997,
p.30), no qual argumenta que
A concepção de juventude corrente na sociologia, e genericamente difundida
como noção social, é profundamente baseada no conceito pelo qual a sociologia
funcionalista a constituiu como categoria de análise: como um momento de
transição no ciclo de vida, da infância para a maturidade, que corresponde a um
momento específico e dramático de socialização, em que os indivíduos
processam a sua integração e se tornam membros da sociedade, através da
aquisição de elementos apropriados da ‘cultura’ e da assunção de papéis adultos.
Esta coerência com o trabalho da autora referida se dá, também, no que
concerne à elaboração de políticas, ações e programas, como pode ser observado
neste texto:
Como a juventude é pensada como um processo de desenvolvimento social
e pessoal de capacidades e ajuste aos papéis adultos, são as falhas nesse
desenvolvimento e ajuste que se constituem em temas de preocupação
social. É nesse sentido que a juventude só está presente para o
pensamento e a para a ação social como “problema”: como objeto de falha,
disfunção ou anomia no processo de integração social; e, numa perspectiva
mais abrangente, como tema de risco para a própria continuidade social.
(ABRAMO, 1997, p.30).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará102
Ainda nesta categoria, em virtude de Iguatu constituir-se em Municípiopolo e contar com a Escola de Saúde Pública de Iguatu-ESPI, entidade responsável
pela formação e capacitação de profissional na área de saúde, uma pauta
importante para a pesquisa era conhecer a percepção dos profissionais que
compõem o seu núcleo gestor em relação a adolescência e juventude.
Em relação à ESPI, dois aspectos merecem destaque, o primeiro referese ao seu núcleo gestor, que, como caracterizado no referencial teórico deste
estudo, é responsável pela elaboração de cursos e capacitações para profissionais
não apenas da 18ª Microrregião de Saúde do Estado, mas também para as regiões
circunvizinhas; o outro aspecto é que, há dois anos, a ESPI priorizou a área de
saúde de adolescentes e jovens para realização de seu trabalho, desenvolvendo
neste período constantes discussões e realizando dois projetos (Rede geração livre
da AIDS e Adolescência: Nossa Vida, Nosso Tempo), além de um investimento de
qualificação profissional de parte do seu corpo docente, no Mestrado de Saúde da
Criança e do Adolescente pela Universidade Estadual do Ceará. Esses aspectos
justificam a presença da ESPI neste estudo.
Para a equipe do núcleo gestor, a concepção de adolescentes e jovens é
bastante ampla por superar o conceito no qual caracteriza adolescência e juventude
como “uma etapa universal, natural e com características típicas inerentes”.
(BERTOLLO et al., 2007, p.03). Como pode ser percebido nos depoimentos, a
concepção de adolescência e juventude aproxima-se do referencial histórico e
sociocultural, que concebe o homem como um ser histórico, "constituído ao longo do
tempo, pelas relações sociais, pelas condições sociais e culturais engendradas pela
humanidade". (AGUIAR; BOCK; OZELLA, 2001, p.166).
Algumas coisas precisam mudar, e uma delas que eu acho, é a própria
visão de adolescente que a sociedade ainda tem, e essa visão perpassa
pelos profissionais de saúde também, a visão do adolescente enquanto
problema, do adolescente aborrecente, de um adolescente que é
descomprometido, que não tem capacidade, então essa visão ela esta [...]
eu diria até que estigmatizou o adolescente, o adolescente está
estigmatizado, como se ele se reduzisse a ser uma pessoa problema. [...] o
adolescente ele é transgressor por natureza, o adolescente gosta de instigar
gosta de questionar e alguns adultos, algumas pessoas não gostam de ser
questionadas [...] o adolescente não é só saúde, nem é só educação, nem é
só um adolescente vulnerável de risco social e pessoal, o adolescente é um
pouco de tudo isso e muito mais, o adolescente precisa de casa, o
adolescente precisa de lazer, o adolescente precisa de uma série de coisas
[...] (N3).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará103
O adolescente é antes de tudo gente, ele tem sentimentos, ele é irreverente,
ele é questionador, ele é desafiador, mas ele também se apaixona, sofre, se
diverte, pensa, estuda, adoece, adolescente é tudo e [...] ele é também
relações [...] com os amigos, com a família [...]. ele está inserido numa
sociedade e sofre influencia desta. (N5).
A ideia de adolescência, ancorada numa perspectiva histórica e
sociocultural, entende a adolescência como um fenômeno social, constituído em
determinados contextos sócio-históricos e culturais e que não acontece do mesmo
modo em todas as épocas históricas e em todos os meios sociais. (BERTOLLO et
al., 2007, p.03). Em síntese,
Trata-se de uma perspectiva que envolve a concepção de que os indivíduos
se constituem efetivamente como seres humanos através de relações que
estabelecem com os outros. Enfatiza a intencionalidade dos atos humanos
e entende a adolescência como uma categoria socialmente construída,
gerada pela interação das pessoas com o seu meio social. (GIL, 2007, p.6).
No que se refere às políticas públicas para adolescentes e jovens, os
profissionais do Núcleo Gestor da ESPI compreendem que estas devem levar em
conta aspectos biopsicossociais, devendo a atenção ser dispensada de forma
integral, baseada numa abordagem intersetorial e interdisciplinar, na qual as
potencialidades dos jovens sejam otimizadas e o protagonismo estimulado. São
depoimentos que confirmam esta análise:
A maior necessidade de adolescentes e jovens na atualidade é que eles
sejam compreendidos como um grupo que possuí ideias, pensamentos e
atitudes características da sua própria idade, e a sociedade deve oferecer
programas de incentivo e apoio a esta classe. (N6).
Devem garantir a escuta, valorização e trabalho. O adolescente precisa
sentir-se útil, ser auxiliado a estruturar seu projeto de futuro e acreditar em
suas potencialidades. Deve fazer parte de estruturas (e ai coloco o papel da
família e do poder público) que estimulem o protagonismo juvenil,
favoreçam a escuta e proporcionem espaços de inserção laboral. (N2).
... eu diria que deve ser políticas que tenha mais a ver com o universo dos
jovens, que possa favorecer para que esse jovem encontre seu caminho ou que
auxilie para ele descubra e faça seu projeto de vida. (N3).
As políticas devem ser construídas a partir das discussões e da participação dos
próprios jovens para poder atender as necessidades deles mesmos. (N1)
Nota-se nas falas dos entrevistados do Núcleo Gestor da ESPI, que a
concepção de políticas públicas para adolescentes e jovens possui coerência com o
entendimento que estes profissionais possuem sobre esta faixa etária e está contida
na perspectiva histórica, social e cultural.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará104
No que se refere às diretrizes que norteiam os projetos desenvolvidos
pela ESPI com adolescentes e jovens, percebe-se que estas buscam coerência com
o expresso quanto às concepções de adolescência e juventude e políticas para esta
categoria, contudo, constatamos, conforme discurso, que nem sempre esta
coerência é evidenciada na implantação e implementação das ações, já que estas
diretrizes encontram inúmeras dificuldades de execução.
Os projetos desenvolvidos pela ESPI buscam uma metodologia
participativa, que estimula o protagonismo juvenil, para que cada
adolescente seja autor de seu projeto e participe da construção coletiva e
dos produtos que cada ação propõe. Outra preocupação da ESPI é com a
formação de pessoas que trabalham com adolescentes já que normalmente
os adultos adotam posturas de autoritarismo ou de proteção exacerbada.
Precisamos desenvolver metodologias em que as pessoas expressem suas
opiniões, trabalhem de forma cooperativa, distribuam responsabilidades,
comemorem juntas o sucesso. Este é um grande aprendizado para a área
de saúde que historicamente trabalhou a partir da educação bancária. (N2)
Bom os projetos, eu vejo a questão de avaliar, por que não tem dado certo
os projetos de capacitação voltados para adolescentes, inicia, mas nem dá
continuidade [...].capacitou uma turma ai parou se perdeu ai vai buscar
outra turma, esses projetos são tão arrumadinhos, já vem formatado como é
que tem que ser aplicado, pelo menos o rede geração livre da AIDS e o
espaço jovem, já vem assim com uma metodologia com as temáticas que se
tem e se for pensar num projeto para construir a partir dessa necessidade
mesmo do adolescente, talvez comece a discutir não a questão dos riscos
mas a questão dos valores, comportamentos, situações que façam o
adolescente fazer essa reflexão pra em cima disso trazer o conteúdo que
ele realmente necessita. (N1)
Um aspecto que merece destaque, encontrado na análise das entrevistas,
refere-se à fragilidade na formação dos profissionais e no distanciamento da equipe
de Saúde da Família dos princípios de promoção e prevenção da saúde, que,
conforme profissionais do Núcleo Gestor da ESPI, pode justificar a falta de vínculo
dos adolescentes e jovens com as unidades.
Por que [...] aqui vai uma crítica benéfica, os PSF fugiram um pouco da sua
missão que é o trabalho de promoção e prevenção da saúde. Então hoje o
adolescente só procura o PSF se ele estiver doente, e bem doente, que a
mãe empurre e ele vá, por que, não criou um vínculo com a unidade de
saúde e nem reconhece essa unidade de saúde, como espaço de
referência, para ele a unidade de saúde é um espaço de se procurar
quando se está doente, [...] eu creio que um dos desafios governamentais é
fazer com que o adolescente identifique na unidade de saúde, um espaço
de referência onde ele possa ser acolhido, onde ele possa se sentir a
vontade para ir, para conversar, pra perguntar, para tirar dúvida sobre suas
questões sexuais, sobre, sobre doenças, sobre suas duvidas psicológicas,
ou sobre qualquer coisa que seja então assim, quando ele reconhecer esse
espaço como referência, então esse espaço vai ter sido legitimado para ele
e ai talvez a coisa caminhe de outra forma. (N3).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará105
.... acredito que um dos grandes entraves é a fragilidade na formação dos
profissionais, pois pelo modelo de saúde ainda ser centrado na
fragmentação do indivíduo os profissionais tem dificuldades de entender o
que é atenção integral, intersetorialidade [...] (N2).
No quesito relativo às contribuições que a ESPI poderia dar a
adolescentes e jovens, ressalta-se a unanimidade das respostas para a
sensibilização do gestor, no sentido de priorizar esta clientela na elaboração de uma
política válida não apenas na sua administração, mas também institucionalizada e
garantida por lei para que seja permanente e contínua, sendo a esta intrínsecas a
intersetorialidade e a interdisciplinaridade.
Eu acho que a ESPI poderia fazer uma coisa que ela já vem fazendo, que é na
verdade, incentivando e fomentando o trabalho interdisciplinar e um trabalho
intersetorial, por que trabalhar com adolescente [...]. não dá para trabalhar com
uma secretaria só, o adolescente precisa de casa, o adolescente precisa de
lazer, o adolescente precisa de uma série de coisas, então assim, então eu
creio que a ESPI fomentar essa dialogo entre secretaria, fazer essa... eu
chamaria de costura, entre as secretarias trazendo a discussão sob os mais
diversos ângulos, pelos mais diversos profissionais, de forma que cada um
possa contribuir e a gente criar dentro de um plano participativo ou dentro de
uma política permanente o adolescente como uma prioridade. (N3).
acho que a ESPI está tentando fortalecer um modelo de atenção ao
adolescente em dois projetos pilotos. É necessário fortalecer essa experiência
que demanda recursos financeiros e sistematização teórica. O gestor de Iguatu
já está sensibilizado para a proposta, mas necessita investir mias se deseja
resultados consistentes. E a longo prazo precisamos pensar em algo mais
concreto, algo que não seja só desta administração mas que realmente possa
ser permanente. Precisamos também estruturar projetos maiores que facilitem
o acesso a uma formação no trabalho com adolescentes na 17ª e 18ª Regiões
de Saúde do Estado do Ceará. (N2).
Dos discursos, constatamos que o Núcleo Gestor da ESPI está
qualificado para formação e capacitações para profissionais, haja vista estas
concepções serem ampliadas e se aproximarem das recomendações de
organismos, entidades e Ministério da Saúde, quando enfatizam que as políticas
para esta clientela “não devem se ocupar apenas da solução de problemas
específicos, mas sim da representação dos interesses dos jovens” criando
“condições para que estes possam realizar-se e participar da sociedade em que
vivem”. (ANDRADE, 2008, p.30).
Por todo o exposto nesta subcategoria, é notável o fato de que a atenção
à saúde de adolescentes e jovens na 18ª Microrregião de Saúde do Estado,
prestada pelos profissionais de Saúde da Família, ainda é limitada, conservadora e
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará106
funcionalista, reduzindo-se a visão de adolescência e juventude a uma fase natural e
universalizada. Em virtude dos entrevistados serem da área da saúde, percebemos
resquícios do modelo biomédico na idealização desses programas e projetos e muito
embora a orientação e a informação estejam em muitos dos discursos, verificamos
que estas ocorrem de maneira a ensejar o conhecimento para que se poder evitar os
riscos e perigos a que esta fase da vida está exposta, numa visão muito mais
biológica e comportamental do que numa óptica holística e emancipatória, “já que
não se leva em conta a dimensão sócio histórica do processo saúde doença, não
intervindo em seus determinantes”. (ANDRADE, 2008, p.43).
A ESPI representa um avanço e muito pode contribuir como fomento,
fórum para discussões e mecanismo de qualificação e produção de conhecimentos,
para ampliar a visão dos profissionais de Saúde da Família a respeito da
adolescência e juventude, porquanto conta com profissionais com ideações mais
amplas, nas quais se reconhece e se valoriza essa faixa etária pelas
potencialidades, tanto para superação das dificuldades individuais, como para
participação e intervenção cidadã na sociedade da qual fazem parte.
III. Agentes e destinatários envolvidos na elaboração de normas/diretrizes
Conforme expresso anteriormente, nos municípios da 18ª Microrregião de
Saúde do Estado do Ceará, não se constata a existência de uma política expressa
em normas e diretrizes para adolescentes e jovens, mas sim uma atenção
dispensada pelos profissionais da estratégia de Saúde da Família, cuja
fundamentação filosófica e concepção política não são refletidas, ficando à mercê da
intuição desses profissionais e do imaginário social hegemônico.
Mesmo não tendo uma política expressa, foi nossa preocupação neste
estudo, caracterizar a participação dos profissionais na elaboração das diretrizes
políticas. Assim, no primeiro momento, buscamos identificar a existência de
exercício de participação dos profissionais na formulação de políticas locais, e, no
segundo, identificar que políticas, programas ou mesmo diretrizes políticas os
profissionais conhecem sobre adolescência e juventude.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará107
Das entrevistas, foi possível constatar que poucos foram os profissionais
que participaram da formação de políticas locais. Mesmo em relação ao Plano
Municipal de Saúde, dos 70 profissionais da ESF entrevistados, apenas 22 o
conhecem e nenhum participou de sua elaboração. Quanto ao conhecimento das
diretrizes políticas para adolescentes, apenas 34 citaram ter conhecimento de
políticas já ocorridas em alguma esfera de governo e desses, 12 profissionais que
referiram conhecer algo de política, mas não o Plano Municipal de Saúde, um
profissional mencionou aplicar algo desse conhecimento em suas ações diárias.
59
60
40
26
20
3 3 0
6 3
0
2 2 1
0
0
Dep I Pinheiro
Total de Profissionais
Jucás
Mombaça
Iguatu
Conhecimento de Diretrizes Politicas
Fonte: entrevista direta – profissionais da Estratégia de Saúde da Família 18ª MRS - CE
GRÁFICO 1 – Conhecimento, participação e utilização pelos profissionais, de
diretrizes políticas para adolescentes e jovens
O gráfico 1 evidencia disparidade muito grande entre conhecer diretrizes
e adotá-las, principalmente no Município de Iguatu. Esta constatação nos evidencia
que o conhecimento adquirido não contribui para subsidiar a solução de problemas,
tampouco para elaborar e implantar diretrizes e ações para adolescentes e jovens.
Por outro lado, a evidência do conhecimento desses profissionais a
respeito das políticas, se mostra bastante superficial, já que, das políticas para
adolescentes e jovens conhecidas no plano local, é apontado apenas o Plano
Municipal de Saúde. No conceito Estadual, destaca-se o programa Amor à vida. Já
no contexto nacional, mencionam-se o PROSAD e a Política Nacional de Atenção
Integral a Saúde de Adolescentes e Jovens, esta apenas aludindo ao conhecimento
de existência e não o conteúdo e as diretrizes.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará108
Conheço o Plano Municipal de Saúde, tive um pouquinho de conhecimento
há pouco tempo, teve uma reunião e a gente debateu algumas coisas, mas,
eu não participei da elaboração, porque eu não estava aqui. (E19).
Conheço assim, porque, quando eu estava fazendo a minha monografia, eu
peguei aqueles livros, aquele livro do projeto [...]. aqueles, assim,
coloridinhos, e o programa que tem neles, o [...] PROSAD, então eu li eles,
pra fazer a monografia, conheço por isso. (E20).
Política Nacional de Atenção Integral [...]. não, conheço não, foi informado
algo assim, muito vago pela Assistente Social, mas, não conheço. (E22).
Um aspecto que muito que nos chamou a atenção foi a menção ao
Estatuto da Criança e do Adolescente, pois, dos 70 profissionais entrevistados,
apenas cinco referiram ao ECA e um ao Conselho da Criança e do Adolescente.
Conheço só o estatuto da criança e de adolescente, porque eu li muito.
Porque a minha monografia foi gravidez na adolescência, e eu li muito o
estatuto. Mas assim, já esta com 2 anos que eu estou formada, e de lá pra
cá eu confesso que não venho lendo como deveria. Porque assim, a gente
precisa saber de muitas coisas, mas, eu li o estatuto pra ver quais são
assim as normas que nós devemos seguir, mas, assim, eu lhe confesso que
de lá pra cá, eu não tenho procurado saber não. (E19).
Conheço o PROSAD, o Amor a Vida, o estatuto do adolescente, que a gente da
uma olhada no modo geral, mas, assim, porque foi uma necessidade individual
minha, e não foi como profissional, em nenhum de outros locais onde trabalhei
com outros profissionais, não tinha essa informação. (E 20).
A análise dos dados nos apresenta uma fragilidade no que se refere ao
conhecimento e participação na elaboração de política pelos profissionais.
Corroborando Kerbauy (2005), observamos que, mesmo após a Constituição de
1988, quando diversos canais de participação foram abertos, como, por exemplo, os
conselhos deliberadores e fiscalizadores de políticas setoriais, esta participação
ainda não se faz evidente.
Para Kerbauy,
Apesar da existência de novas instâncias decisórias locais (Conselhos) e da
entrada de novos atores políticos no cenário local, aparentemente a
formação de políticas municipais continua sendo monopolizada pelos
políticos locais, burocratas e grupos de interesse, com um baixo grau de
institucionalização e de consolidação das práticas de negociação. Nada
parecido com as chamadas policy networks, nas quais o processo de
produção da política local passaria pela diversificação dos atores envolvidos
pela distinção entre organizações públicas e privadas e pelo padrão
diferenciado de relacionamento dentro de uma área específica, que muitas
vezes determina o tipo de política adotada (2004, p.153).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará109
Outro aspecto que também pode ser deduzido dos resultados se refere à
falta de reflexão e conhecimento, por parte dos profissionais, sobre a conjuntura
socioeconômica brasileira. Esses profissionais, quando questionados sobre
conhecimento e participação na elaboração de políticas local e nacional, pouco
argumentaram a respeito. Em sua maioria, as respostas eram simplórias e/ou
superficiais, como pode ser percebido nos discursos seguintes.
.... um [...] plano municipal [...] conheço assim por alto [...] eu não sei
específico [...] na reunião, mensalmente, pra todos os profissionais da
saúde, medico, dentista, enfermeiros, sempre aborda, eu sei que, deixa eu
ver [...] esse tema, mas eu não sei a profundidade que realmente tem do
conhecimento dentro do estado do Ceará. (D9).
Mais ou menos. Por alto. Assim, documento nunca vi, mas já ouvi falar, mas
[...] conhecer, não. (D16).
Nunca participei da elaboração do Plano Municipal de Saúde, assim como
também não tenho conhecimento do conteúdo do mesmo. (D3).
Pouco, pouco. (D10).
Não. Só ouvi falar, mas, não conheço, nunca me aprofundei. (D24).
Não temos uma explicação exata para os resultados encontrados em
relação à ausência de reflexão dos profissionais da estratégia de Saúde da Família,
sobre a conjuntura sociopolítica e econômica do País; neste sentido, concordamos
com Sposito, quando ressalta que compreender essa apatia
... exige novas aproximações teóricas e relativo esforço analítico, [...]
sobretudo quando se pretende superar os estereótipos e as explicações
lógico-causais que buscam quase sempre entender, por meio de
simplificações apressadas, processos que aparecem de forma matizada e
diferençada na realidade social. (2000 p.80).
Embora, como nos alerta Sposito (2000, p.80), a compreensão do
comportamento passivo dos profissionais do PSF, ante a realidade socioeconômica
brasileira envolva uma complexidade maior, não poderíamos deixar de expressar
nossa inferência, já que esses achados nos remetem a várias possibilidades
interpretativas que poderiam justificar essa apatia.
Dentre essas possibilidades, diretamente ligadas à concepção de
adolescência e juventude e políticas públicas, evidenciadas quando da análise das
entrevistas e já aqui expressas, poderíamos citar: visão fragmentada da realidade,
que ofusca os nexos causais dos acontecimentos, impedindo uma compreensão da
conjuntura; ausência de uma cultura e exercício de participação, justificada em parte
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará110
pelo silencio durante o regime militar; percepção minimizada quanto à elaboração de
políticas, como se esta fosse responsabilidade dos órgãos de direção, cabendo aos
demais apenas a execução; e descontinuidade administrativa, que ao suspender a
execução das políticas em andamento quando da mudança dos dirigentes, provoca
desarticulação e descrédito.
Auxiliando-nos nessa compreensão, Rua expressa:
Um outro aspecto recorrente nas políticas públicas, especialmente as
políticas sociais, é de que as decisões e ações tendem a ser pensadas a
partir da oferta e muito raramente são efetivamente consideradas as
demandas. [...] Todos esses traços expressam, provavelmente, os padrões
de autoritarismo e centralização presentes à nossa formação histórica, bem
como as heranças do passado autoritário recente. Causas à parte, o fato é
que disso resultam descompassos entre oferta e demanda de políticas,
acarretando desperdícios, lacunas no exercício da cidadania, frustração
social, perda de credibilidade governamental, desconfiança e óbices à plena
utilização do potencial de participação dos atores sociais etc (1998, p.10).
A literatura nos indica ainda que o desconhecimento quanto à realidade
econômica e política não se faz presente apenas nos municípios da 18ª Microrregião
de Saúde do Estado do Ceará. Dentre outros estudos que também constatam essa
realidade, destacamos aqui a experiência de Traverso-Yepez e Pinheiro (2002), que,
ao discutirem este fato, ressaltam o predomínio de uma visão unidimensional da
saúde por parte dos profissionais. Conforme as autoras,
As propostas, formuladas à margem de uma reflexão sobre o contexto
econômico e sócio-cultural específico do bairro, não viabilizam o diálogo
e/ou contribuem no condicionamento dos tradicionais papéis de submissão
e conformismo presentes nesse contexto. Dessa forma, perdem sua
possível eficácia na melhoria das condições de vida das pessoas às quais
são dirigidas, acontecendo, inclusive, responsabilizá-las por sua situação
existencial de precariedade (2002, p.136).
A análise delineada na investigação, também nos indicou que os
processos de trabalho de Saúde da Família caracterizados pela mobilização política
para “promoção e desenvolvimento de ações intersetoriais, buscando parcerias e
integrando projetos sociais e setores afins, voltados para a promoção da saúde”
(BRASIL, 2006), também não são efetivos na 18ª Microrregião de Saúde do Estado
do Ceará.
Observa-se que nos municípios não há articulação e ou parcerias entre as
instituições para desenvolvimento da assistência a adolescentes e jovens. Percebe-
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará111
se, no entanto, apoio de associações comunitárias, igrejas e escolas que cedem
seus espaços físicos para realização de atividades e, quando há necessidade,
mobilizam adolescentes e jovens para participação em ações das equipes.
Mesmo o apoio sendo circunstancial, é notável nos discursos dos
profissionais a importância dessas contribuições.
A gente combina com os agentes de saúde, eles colocam na igreja, depois
da missa, na semana elas falam lá na igreja e divulgam, e também divulga
em casa em casa. (E21).
Existe, lá [...], tem o grupo de jovens que participam da quadrilha anual, aí
durante o ano quase todo, eles estão ensaiando, e tem um rapaz, que ele
coordena tudo isso, sempre que a gente precisa de alguma coisa com o
jovem, a gente fala com esse rapaz, e ele consegue assim, reunir em pouco
tempo um grande grupo de adolescentes. (D16).
A associação já me convidou pra fazer uma palestra, já. Aqui mesmo. A
ação social colabora na questão de fornecer kits odontológicos, escovas,
pastas [...] (D15).
... nosso PSF, a gente faz assim de rotina, parceria com a escola, no
sentido de palestras educativas, palestras de orientação, inclusive com a
participação da odontologia que sempre participa com a gente, e
recentemente nós tivemos até a própria convocação da escola que se uniu
a unidade de saúde, porque eles estavam vivendo dentro da escola com
problemas com os adolescentes em relação a sexualidade, o adolescente
rebelde, o adolescente [...] que só falava em sexo de uma maneira que não
era segura [...]a escola nos convocou a equipe de saúde, pra que a gente
pudesse ajudar nesse sentido de orientação, pra ver se com isso poderia
melhorar [...] essa foi uma maneira de que a gente sentiu que a escola tem
esse vinculo com a nossa equipe [...] (M16).
Embora algumas equipes contem com o apoio dessas instituições no
desenvolvimento de suas atividades, cabe destacar o fato de que, nestas, não se
verificam o envolvimento e o compromisso necessários para articulação de saberes,
elaboração e execução de ações que permitam adolescentes e jovens se
desenvolverem e conquistarem autonomia. Esta parceria se dá de forma eventual, a
convite
de
uma
das
partes,
para
atividades
estanques,
onde
ações
e
responsabilidades são divididas, não havendo monitoramento nem avaliação.
Pensar na intersetorialidade nos faz refletir acerca de sua importância no
paradigma de saúde como produção social. Conforme expresso na Política Nacional
de Promoção da Saúde,
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará112
Compreende-se a intersetorialidade como uma articulação das
possibilidades dos distintos setores de pensar a questão complexa da
saúde, de co-responsabilizar-se pela garantia da saúde como direito
humano e de cidadania, e de mobilizar-se na formulação de intervenções
que a propiciem. (BRASIL, 2006c, p.13).
Neste sentido, a intersetorialidade, ao considerar o cidadão na sua
integralidade e totalidade, permite a união de vários esforços no estabelecimento de
ações que possibilitam responder às necessidades sociais em saúde.
No
desenvolvimento
da
atenção
a
adolescentes
e
jovens,
a
intersetorialidade se faz importante, pois “eventos culturais e de lazer podem ser
aproveitados pela equipe de saúde para a sensibilização e mobilização deste
segmento populacional para a promoção de sua saúde”. (MEIRELLES; RUZANY,
2008, p.37).
Corroborando Meireles e Ruzany, acreditamos que a “intersetorialidade
pode ser uma estratégia de articulação em rede, desenvolvendo e fortalecendo laços
de solidariedade, cidadania e democracia” (2008, p.37). Neste sentido, é importante
que o profissional de saúde tenha clareza de que um trabalho eficaz de promoção
de saúde principalmente com adolescentes e jovens, pressupõe integração
intersetorial (MEIRELLES; RUZANY, 2008).
Destaca-se, ainda neste aspecto, a ideia de que, em nenhuma entrevista,
constatamos declaração da qual pudéssemos depreender que os profissionais veem
como responsabilidade da equipe de Saúde da Família a conjugação de esforços
junto à comunidade para ações intersetoriais, muito embora esta responsabilidade
esteja expressa na Política Nacional de Promoção da Saúde,
O compromisso do setor Saúde na articulação intersetorial é tornar cada
vez mais visível que o processo saúde-adoecimento é efeito de múltiplos
aspectos, sendo pertinente a todos os setores da sociedade e devendo
compor suas agendas. Dessa maneira, é tarefa do setor Saúde nas várias
esferas de decisão convocar os outros setores a considerar a avaliação e os
parâmetros sanitários quanto à melhoria da qualidade de vida da população
quando forem construir suas políticas específicas. (BRASIL, 2006c, p.14).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará113
Ante tal situação, e especificamente na atenção a adolescentes e jovens,
Meirelles e Ruzany, (2008) a conceituam como oportunidade perdida de promoção
da saúde, já que a vivência e o diálogo com outros setores e profissionais não
acontecem, limitando a assistência aos aspectos saúde-doença de forma
fragmentada e simplificada, enfocando prevenção de patologias sem levar em conta
suas causas. Segundo as autoras,
... os profissionais de saúde não encaram como sua a tarefa de participar na
formação dos jovens, limitando-se ao atendimento de acordo com sua área
de competência técnica. Na maioria das vezes, eles não estão capacitados
para prestar uma abordagem integral na atenção ao adolescente. Estas
restrições impedem uma orientação adequada dos jovens. Esta situação
gera o que se chama de oportunidades perdidas de promoção de saúde.
(2008, p.36).
Outro aspecto não encontrado na análise das entrevistas foi a referência
da participação dos jovens e utilização de seu potencial na elaboração de ações que
lhes são destinadas. Nenhuma entrevista aludiu a essa perspectiva, ficando os
adolescentes e jovens, na concepção dos profissionais, como destinatários e não
como protagonistas.
Percebemos assim, mais uma vez, “oportunidades perdidas”, já que a
participação dos destinatários, no caso, adolescentes e jovens, não é proporcionada,
limitando o estímulo para discussão e reflexão dos fatores que produzem e
condicionam a saúde, restringindo este segmento populacional do conhecimento, do
fortalecimento de suas habilidades para a vida, motivação para incorporação de
estilos de vida saudáveis e melhoria do autocuidado. (MEIRELLES; RUZANY, 2008).
Ressaltamos, que a importância da participação de adolescentes e jovens
nos momentos de planejamento e execução dos Programas de Saúde nas Unidades
Básicas é reconhecida e defendida também por instituições como Ministério da
Saúde, UNICEF e OPAS. (BRASIL, 2006; OMS, 1996). Com efeito, a participação
desse publico nos programas que lhes são dirigidos deve ser entendida “não só
como uma ação de direito, mas como uma contribuição para a sociedade civil no
processo democrático” (MEIRELLES; RUZANY, 2008, p.38).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará114
Constata-se do exposto, que a participação dos profissionais na
elaboração das diretrizes políticas locais ainda é bastante incipiente. Também
assim, se revela o conhecimento sobre políticas publicas para adolescentes
emâmbito nacional. Essas constatações nos induzem a refletir na necessidade de
potencialização da estratégia de Saúde da Família, no sentido de que estas possam
ser qualificadas para otimização de sua atuação, proporcionando, assim, espaços
para ampliar a participação da população e estabelecimento de parcerias com os
diversos setores existentes da área adstrita, para responder às diversas
necessidades de adolescentes e jovens, compreendendo a saúde como produção
social e conquista coletiva.
IV. Operacionalização das normas/diretrizes: existência de programas/projetos
norteando a organização e funcionamento dos serviços
Várias são as estratégias utilizadas para materialização de normas e
diretrizes políticas num nível da gestão. Na visão de Rua,
Uma vez formulada, uma política consiste apenas em um conjunto mais ou
menos vago de intenções, expressas em documentos diversos. Na verdade,
uma política só se transforma em realidade quando “sai do papel”, e isso
ocorre quando é implementada. Entretanto, ainda assim, diversas são as
decisões que – por falta de informação, por causa do potencial de conflito,
ou por vários outros motivos – não são tomadas no momento da
formulação. Naturalmente, para que a política seja implementada, estas
decisões terão que ser tomadas (1998, p.3).
O pensamento de Rua nos auxilia a compreender que, na formulação e
execução de uma política, são passo subseqüentes primeiro a formulação expressa
em documentos e depois a decisão de sua implantação. Observando, contudo, a
realidade dos municípios pesquisados, constatamos que, nestes, a ideia da autora
retrocitada se revela de forma inversa, ou seja, em dois deles, Iguatu e Deputado
Irapuan Pinheiro, a decisão de realizar uma atenção voltada para adolescentes e
jovens existe, contudo, não há normas e diretrizes expressas e impressas. Nos outros
dois, Jucás e Mombaça, não há uma política de atenção a esta clientela de forma
expressa e determinada pela secretaria de saúde, mas sim recomendação. Mesmo
assim, as ações são realizadas em virtude da sensibilidade e perfil do profissional.
Nas palavras dos entrevistados, é possível essa constatação.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará115
... é assim, na verdade nós temos um conjunto de profissionais que muitos
se interessam pelas políticas de adolescentes, saúde do adolescente, e há
vários meses, nós pensávamos em lançar um programa desse tipo e graças
a Deus agora com essa estratégia do Ministério da Saúde deu certo a
implantação do programa do adolescente [...] (C1).
... então é assim existem profissionais que você vê uma afinidade maior
com essa faixa etária, por exemplo, um dos dentistas que a gente tem [...]
você não vê aquela pessoa aberta descontraída, mas ele é muito bom de
trabalhar com adolescente, ele teve umas experiências na escola, que foi
muito boa. Outra iniciativa foi à médica [...] então tem esses trabalhos, mas
em outras unidades a gente fica incentivando, mas como não há um
monitoramento e a coordenação tem tanta coisa, a gente acaba
esquecendo o adolescente. (C2).
... é uma determinação da secretaria de saúde de que todos os PSF façam
um trabalho a partir de sua realidade com adolescentes e jovens para isso
recomendou-se também que se destinasse um turno por semana só para
atividade com adolescentes e jovens [...] mas as orientações são feitas nas
reuniões mensais. (C3).
Ante essa realidade, em que se verifica a realização de práticas e
assistência a adolescentes e jovens, independentemente da existência das diretrizes
expressas, este estudo teve a preocupação de identificar os instrumentos que
norteiam a organização e funcionamento dessas práticas, bem como dos serviços
desenvolvidos pelos profissionais para essa faixa etária.
Da análise dos resultados, verificamos que, no concernente ao processo de
elaboração e preparação de planejamento, projetos e planos, para implantação dos
serviços e ações nas unidades de saúde para adolescentes e jovens, das 26 equipes
estudadas nos quatro municípios, apenas uma, no Município de Iguatu, tem um projeto
estruturado, com justificativa, objetivos, metas, estratégias e ações a serem executadas
para adolescentes e jovens, enquanto nas demais equipes, apenas consta no
cronograma da equipe a atividade que deverá ser realizada com esta clientela durante o
mês. Estas atividades, em sua maioria, são expressas como, atendimento aos
adolescentes, reunião com adolescentes ou palestras com adolescentes, ficando o
conteúdo destas duas últimas atividades como anotações pessoais de cada profissional.
Auxiliando-nos na compreensão de planejamento, Vilasbôas e Paim o
definem como “uma forma de orientação da ação humana, dirigida para o alcance de
uma dada finalidade”. Especificamente no caso da área de saúde, argumentam esse
autores, que as “práticas de planejamento estariam dirigidas a organizar práticas de
saúde, uma das formas de implementar políticas de saúde” (2008, p.1241).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará116
Levando em conta ainda a discussão dos autores citados, ao
reconhecerem que os planos não estão livres de determinações mais amplas, como
o papel do Estado e da história, no que se refere aos propósitos e resultados de
suas práticas, podendo esses resultados ser de legitimação, manutenção,
crescimento, mudança ou transformação, acreditamos que, independentemente de
seus fins, o planejamento configura importante ferramenta, já que a finalidade da
prática é instituída, propiciando assim reflexão de como e de que forma se quer
chegar a esse fim (VILASBOAS; PAIM, 2008).
Assim por, considerarmos o planejamento uma das etapas fundamentais
na realização de uma atuação prática, evidencia-se que este expediente não é
utilizado pelos profissionais dos municípios pesquisados, nas suas ações com
adolescentes e jovens, o que nos leva a questionar até que ponto a personificação
das atividades e a ênfase nas técnicas não estão sendo substituídas pela
responsabilidade na ação de cuidar das pessoas, emergidas não apenas pela
competência técnica profissional, mas também pelas relações e vivências.
Nas entrevistas deste estudo, é notável o fato de que várias são as
justificativas para não-elaboração de projetos e organização de planejamento, com
estabelecimento de metas para realização de trabalhos com adolescentes e jovens.
Essas justificativas se estendem também para a ausência de integração da equipe
na condução e realização de ações com esta faixa etária, o que ocasiona a
realização das ações por profissionais e não pela equipe, ocorrendo também a
sobreposição das mesmas atividades para um mesmo público, mas desenvolvidas
por profissionais diferentes.
As justificativas mais citadas são: quantidade de famílias nas áreas
adscritas, que ultrapassa o preconizado pelo Ministério da Saúde, provocando
elevada demanda para atendimento de forma espontânea; sobrecarga das
atividades da equipe, que são cobradas pelas secretarias de saúde, em virtude de
constituir instrumentos de alimentação obrigatória dos sistemas de base de dados
de informação nacional e, consequentemente produzir incentivos financeiros; e falta
de tempo para realização de ações educativas individuais e coletivas.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará117
Se a gente for falar de carga de trabalho, eu acho que, todos os enfermeiros
se queixam muito, ave Maria é hipertenso, é hanseniano, é não sei o quê, o
médico não quer trabalhar, eu fico com tudo sozinho e você me fala de
adolescente, ainda. Eu lembro que quando a gente foi resgatar essa
questão do PROSAD, que a gente reviu um material que é bem
interessante, eles diziam, não, por favor, você ainda vem com mais uma
atenção específica... por favor ninguém consegue. Então assim a gente
procura incentivar. Alguns se estimulam e fazem, os outros ficam esperando
as bombas, de adolescentes grávidas e com AIDS [...] Mas quando a gente
diz assim, pessoal vamos implantar isso aqui... é um núcleo. Ai eles dizem
assim, não pelo amor de Deus mais uma coisa. Então... assim, é difícil. A
questão não é muito fácil não. (C2)
.... eu tenho dificuldade dentro do PSF, é desenvolver as ações na estrutura que
a gente tem no PSF aqui [...] a minha dificuldade é essa, porque é um mundo, pra
gente conseguir trabalhar direito, como eu te falei, aqui esse PSF, pega todas as
[...] e ainda pega uma parte da zona rural, então fica uma área muito extensa, só
tende a crescer não tende a diminuir, [...] muitos grupos eleitos prioritários no
PSF, no PSF deste tamanho, eu tenho que fazer duas vezes por semana, que se
fosse em um PSF dentro do parâmetro normal, eu só precisaria fazer uma, e no
resto do tempo me sobraria para planejar outras coisas, mas, muito dos
atendimentos prioritários, eu tenho que repetir, fazer duas vezes por semana,
então encurta meus turnos. (E12)
A análise dos dados nos revela que a atuação dos profissionais está mais
voltada para realização de ações cuja produtividade ensejam recursos financeiros; já
a promoção e a prevenção não constituem em compromisso e prioridade, mas sim
tarefas que devem ser realizadas para cumprimento de um cronograma e requisito
estatístico, e não uma prática dotada de sentido, ancorada numa compreensão da
realidade e da produção da vida e da saúde.
Reportando-nos a outros estudos, constatamos que a dificuldade de
planejamento é sentida em outros municípios brasileiros, o que nos induz a pensar
ser esta dificuldade advinda da formação dos profissionais. Shimizu e Rosales
(2009), em uma pesquisa de estudo de caso na Unidade do Programa Família
Saudável de São Sebastião, Brasília - Distrito Federal, constatam semelhanças com
esta realidade. Segundo esses profissionais,
... os atendimentos realizados, as atividades desenvolvidas pela equipe,
dentre outros, não são adequadamente valorizados pela equipe, ou seja,
cumprem apenas uma função burocrática de gerar estatísticas sobre as
atividades realizadas, o que resulta na ausência de diagnóstico das
necessidades de saúde, de planejamento sistematizado e de avaliação das
ações para a população na área de abrangência da equipe (2009, p. 426)
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará118
No caso específico de adolescência e juventude, esta análise nos remete
ainda, a relacionar a ausência de planejamento, projetos e planos de trabalho, a
deficiências de qualificação e à incipiência de conhecimento nesta área temática,
pois, dos 70 profissionais entrevistados, apenas quatro possuem capacitação
especifica de trabalho com essa clientela e, 17 nunca participaram de nenhum
evento onde essa temática foi abordada.
Fonte: entrevista direta – profissionais da Estratégia de Saúde da Família 18ª MRS - CE
GRÁFICO 2 – Qualificação profissional para atenção a saúde de adolescentes e jovens
Outra reflexão que pode ser apresentada para a falta de plano de trabalho
com adolescentes e jovens refere-se à influencia do modelo biomédico ainda
hegemônico em nossos dias, pois, mesmo grande parte dos profissionais tendo
participado de eventos nos quais adolescência e juventude foram temas discutidos,
esses treinamentos em sua maioria não o instrumentalizaram para a proposição de
ações para redução de fatores condicionantes, que põem em risco essa população,
ratificando o aspecto biológico, ignorando outros tipos de influência.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará119
Ante tal realidade, constatamos que a implantação/implementação dos
processos de trabalho nas equipes de Saúde da Família, não obedece a um
planejamento com base no diagnóstico de suas necessidades, tampouco se orienta
pelo estabelecimento de objetivos e metas a serem alcançadas, o que revela a
urgência das equipes em adquirir competências relativas à formulação de projetos e
planos, tanto para fortalecimento de sua capacidade técnica como para respostas às
reais necessidades e demandas de adolescentes e jovens.
4.2 Saúde de adolescentes e jovens na 18ª Microrregião de Saúde do Estado
do Ceará – reciprocidade entre concepções norteadoras e práticas
institucionalizadas
A segunda categoria deste estudo, práticas e atuações dos profissionais
da estratégia de Saúde da Família, na atenção aos adolescentes e jovens, assentase na ideia de atenção integral, fundamentada no reconhecimento de que esta
clientela está em fase de desenvolvimento, “demandando uma atenção especial ao
conjunto integrado de suas necessidades físicas, emocionais, psicológicas,
cognitivas, espirituais e sociais” (LAMARE, 2005, p.1).
Assim, objetivamos observar, se as práticas do PSF nos municípios da
18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará se aproximam das diretrizes da
atenção integral, na atenção à saúde de adolescentes e jovens.
A coleta dos dados, cujo respeito a especificidades e generalidades das
categorias profissionais esteve presente em todo momento desta pesquisa, nos
permitiu a disposição em subcategorias, conforme exposto, proporcionando
subsídios para discussão.
I.
Infraestrutura
II.
Atenção
III.
Assistência programática, preventiva e interventiva: Odontológica, Médica e
de Enfermagem
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará120
I. Infraestrutura
A Portaria Ministerial Nº 648/GM, de 28 de março de 2006, que aprova
a Política Nacional de Atenção Básica, reza que a infraestrutura necessária para a
realização das ações desse nível de atenção nos municípios e no Distrito Federal,
comporta (BRASIL, 2006b):
II. “UBS
–
Unidade
Básica
de
Saúde
que,
de
acordo
com
o
desenvolvimento de suas ações, disponibilizem:
III. equipe multiprofissional composta por médico, enfermeiro, cirurgião
dentista, auxiliar de consultório dentário ou técnico em higiene dental,
auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem e agente comunitário
de saúde, entre outros;
IV. consultório
médico,
consultório
odontológico
e
consultório
de
enfermagem para os profissionais da Atenção Básica;
V. área de recepção, local para arquivos e registros, uma sala de cuidados
básicos de enfermagem, uma sala de vacina e sanitários, por unidade;
VI. existência e manutenção regular de estoque dos insumos necessários
para o funcionamento das unidades básicas de saúde, incluindo
dispensação de medicamentos pactuados nacionalmente”.
De acordo com esta Portaria, os serviços de saúde no nível primário de
atenção “devem estar estruturados a partir da lógica dos preceitos de promoção de
saúde e prevenção de agravos” (BRASIL, 2006b) haja vista este nível de atenção
desenvolver-se por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias
democráticas e participativas, utilizando tecnologias de elevada complexidade e
baixa densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior frequência e
relevância em seu território.
Em relação ao espaço físico, orientam-nos Grossman, Ruzany, e
Taquette, no sentido, que
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará121
... em geral, os adolescentes preferem uma sala de espera exclusiva para
sua utilização nos horários de atendimento. Esse espaço deve ser acima de
tudo, acolhedor, agradável e confortável para os clientes e seus
acompanhantes. Isto pressupõe locais amplos, bem ventilados e limpos,
adequados para o desenvolvimento de atividades de grupo que podem ter
múltiplos objetivos, tais como a apresentação do serviço, integração com a
equipe e educação para a saúde (2001, p.6).
Atentando para estas referências, foi possível identificar o fato de que, em
todos os municípios pesquisados, encontramos unidades de Saúde da Família e
estas dispõem de recepções e consultórios médicos e de enfermagem, porém, não
específicos para adolescentes e jovens, ocorrendo atendimento, nestes, de toda
população adscrita ao território.
Estes espaços são adequados para o atendimento, e das unidades
pesquisadas apenas cinco do Município de Iguatu não apresentam boas condições,
por falta de banheiro dentro dos consultórios, e, em uma das unidades, além da falta
de banheiro, faltava também privacidade, fugindo assim das recomendações do
manual Saúde integral de adolescentes e jovens: orientações para a organização de
serviços de saúde, do Ministério da Saúde, onde recomenda que “a porta do
consultório deve permanecer fechada durante a consulta, para impedir interrupções
[...] A sala de exame deve ser separada do espaço da entrevista, assegurando a
privacidade do exame físico”. (GROSSMAN; RUZANY; TAQUETTE, 2001, p.3)
Quanto ao espaço físico para realização das ações educativas, não os
encontramos nas unidades dos Municípios de Deputado Irapuan Pinheiro e
Mombaça, e em Iguatu, das 22 unidades, oito não dispõem deste espaço.
Ressaltamos, no entanto, que, mesmo nos Municípios de Jucás e Iguatu, possuindo
respectivamente em 01 e em 14 unidades, espaço para práticas coletivas, estas não
se fazem neste recinto, mas sim nas escolas do território.
A recomendação do Ministério da Saúde no manual retrocitado, Saúde
Integral de Adolescentes e Jovens – orientações para a organização de serviços de
saúde, reza que a existência de equipamentos, instrumentos e insumos básicos para
atendimento de adolescentes e jovens nas unidades, deve considerar o tipo de
atendimento que será realizado, com os recursos humanos existentes e com a
quantidade esperada de clientes (BRASIL, 2005, p.10); os equipamento não precisam
de complexidade, mas sim devem ser simples e disponíveis nos serviços.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará122
Nos municípios pesquisados, dos equipamentos preconizados, os
encontramos nas unidades os listados na sequencia. Destacamos o fato de que, no
Município de Jucás, uma mesma unidade de saúde abriga as duas equipes da
estratégia de Saúde da Família estudadas nesta pesquisa.
TABELA 9 – Equipamentos encontrados por unidades pesquisadas
Unidades Pesquisadas/Equipamentos encontradas
Equipamentos
Dep. I.
Jucás
Mombaça
Pinheiro
Aparelho de Pressão
01
01
01 01
01
01
Balança antropométrica
01
01
01 01
01
01
Espelho
01
00
01 01
01
00
Estadiômetro
01
00
01 00
01
00
Estetoscópio
01
01
01 01
01
01
Fita métrica
01
01
01 01
01
01
Lanterna
01
01
01 01
01
01
Oftalmoscópio
01
00
01 00
01
00
Orquidômetro
01
00
01 00
01
00
Otoscópio
01
00
01 01
01
01
Termômetro
01
01
01 01
01
01
Iguatu
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
20
15
01
03
21
21
21
03
00
07
20
Fonte: entrevista direta – profissionais da Estratégia de Saúde da Família 18ª MRS - CE
Impressos de maneira geral são por demais importantes para
organização e funcionamento de uma unidade de saúde. Eles facilitam a coleta,
agregação e encontro das informações, e, em forma de cartazes, panfletos, cartilhas
e moldagens proporcionam orientações e conhecimentos. Vale lembrar, contudo,
que a ausência destes não deve constituir motivo para o não-atendimento, mas sua
existência pode contribuir para acolhimento e receptividade quando disponíveis
durante o tempo de espera para o atendimento, pois “o acesso a materiais
educativos (livros, revistas, vídeos, programas de informática) [...] ajuda a aproveitar
o tempo livre e permite o acesso e reforço de informações relevantes” (GROSSMAN;
RUZANY; TAQUETTE, 2001, p.42).
Nos municípios estudados, foi observada nas unidades a existência de
impressos nas suas variadas apresentações, conforme tabela:
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará123
TABELA 10 – Impressos encontrados por unidades pesquisadas
Unidades Pesquisadas/Impressos encontradas
Impressos
Dep. I.
Jucás
Mombaça
Pinheiro
Prontuário Familiar
01
01
01
01
01
01
Cartão SUS
01
00
01
00
01
01
Cartão de Gestante
01
01
01
01
01
01
Agenda marcação consulta
01
01
01
01
01
01
Receituários
01
01
01
01
01
01
Instrum. registro consultas
01
00
01
01
01
01
Instrum. registro atend grupo
01
00
01
01
01
01
Instrum. reg. atend educativo
01
00
01
01
01
00
Cartão do adolescente
01
01
01
01
01
00
Gráficos de peso
01
01
01
01
01
00
Gráficos de altura
01
01
01
01
01
00
Tabela IMC
01
01
01
01
01
00
Pranchas de Tanner
01
00
01
00
01
00
Tabela medidas PA
01
00
01
00
01
01
Mat. Educativo Folhetos
01
01
01
01
01
01
Álbuns seriados
01
01
01
01
01
01
Vídeos educativos
01
00
01
01
01
01
Modelo pélvico feminino
01
00
01
00
01
00
Modelo genitália masculina
01
00
01
00
01
00
Cartazes
01
01
01
01
01
01
Iguatu
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
21
07
21
19
21
17
09
11
09
10
10
14
10
04
07
09
04
00
00
08
Fonte: entrevista direta – profissionais da Estratégia de Saúde da Família 18ª MRS - CE
A análise da tabela 9 nos revela que, nos municípios pesquisados, com
exceção do orquidômetro, do oftalmoscópio e do estadiômetro, aparelhos usados
respectivamente para medir testículo, realizar o exame do interior do olho e medir
estatura, grande partes dos demais é encontrada nas unidades. Já impressos, tabela
10, estes de baixo custo e fácil aquisição, não se encontram em todas as unidades e
tão pouco são disponibilizados aos clientes, com destaque para Mombaça que, dos
municípios envolvidos na pesquisa, é o que menos impressos dispõe para atendimento.
Com base nas referências citadas, podemos concluir que nos municípios
pesquisados, as unidades apresentam infraestrutura parcialmente adequada à atenção
a saúde de adolescentes e jovens, carecendo ainda de reforma nos consultórios, para
que favoreçam privacidade, e sala de espera acolhedora com cartazes e panfletos
disponíveis, que propiciem conforto. No que se refere aos equipamentos, impressos e
insumos, estes se encontram apropriados e em boas condições para funcionamento de
seus serviços, podendo proporcionar atendimento de qualidade.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará124
II. ATENÇÃO
Nesta categoria, buscamos identificar os instrumentos organizativos e
operacionais existentes nas unidades pesquisadas, que dão suporte às ações dos
profissionais na atenção a adolescentes e jovens.
Nos Municípios de Deputado Irapuan Pinheiro e Iguatu, foi possível
observar o início de um trabalho sob a deliberação da Secretaria de Saúde, que visa
desenvolver um programa com um dia específico para atenção à saúde de
adolescentes e jovens. Já nos municípios de Jucás e Mombaça, não há programa
nem dia específico para as ações, mas estas se fazem existir por iniciativa dos
profissionais, em dias escolhidos por estes.
A respeito de um programa para atenção aos adolescentes e jovens, com
determinação de dia específico para assistência a esta clientela, foi possível constar,
em vários discursos, que os profissionais consideram este necessário expediente.
... acho que teria que ter, para ser bem atendido, ter um programa, uma
ação do município, teria que ter um programa especifico pra atenção o
adolescente, e seria interdisciplinar, Então na unidade básica, dentro desse
projeto, do próprio município, deveria abranger as unidades básicas de
saúde, com atenção especial pro adolescente, ter um dia especial pro
adolescente, ter atividades programadas na unidade básica pra atenção do
adolescente. (M11).
Eu acho que o trabalho com adolescente e os jovens, nas unidades básicas,
tem que primeiro ter um dia para o atendimento, uma tarde, num período
que eles possam ir, mas você só consegue fazer com que eles vão até
unidade, se você antes de convidá-los para ir à unidade, você for até eles.
(M14).
Este fato corrobora estudo realizado por Ferrari, Thomson e Melchior
(2008), em unidades de Saúde da Família de Londrina – Paraná. Esses autores, ao
discutirem as necessidades e complexidades para implantação de um programa
para atenção a adolescentes, referem que,
... mesmo que os profissionais afirmem que não há um programa específico
de atendimento a este grupo etário no serviço de saúde, alguns dos
discursos dos profissionais evidenciam a predisposição e necessidade de
se implantar um programa de atenção à saúde do adolescente no serviço.
(2008, p.395)
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará125
Válido é ressaltar que, mesmo com a determinação de um programa para
atendimento de adolescentes e jovens nos dois municípios, Iguatu e Deputado
Irapuan Pinheiro, e realização de práticas por iniciativas profissionais para esta
clientela, com exceção de uma unidade do Município de Iguatu, não encontramos
em nenhum município e nem em qualquer outra equipe, projeto ou programa com
objetivos, metas e atividades expressas a serem desenvolvidas com adolescentes e
jovens, que contemple o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento e de
outros aspectos relacionados à saúde, tais como: orientação alimentar, atenção à
sexualidade e saúde reprodutiva, vacinação, abordagem da estrutura e dinâmica
familiar, escolaridade, relacionamento com pares, projeto de vida, protagonismo
juvenil e aspectos emocionais, bem como formação de grupos de adolescentes e/ou
grupos multifamiliares. Existe uma programação nos cronogramas das equipes, mas
estas não constam de um planejamento prévio.
A realização de trabalhos com adolescentes e jovens nos municípios
estudados, com ou sem determinação e deliberação de dia específico para
execução de práticas, merece uma reflexão, pois, nos Municípios de Deputado
Irapuan Pinheiro e Iguatu, os gestores da saúde municipal foram alunos do Curso de
Mestrado Profissional em Saúde da Criança e do Adolescente, o que nos leva a
questionar até que ponto a qualificação induz a sensibilização e compromisso para
realização de atividades nesta área, muito embora nem sempre a preconização por
uns, seja garantia de realização por outros, mesmo que esta relação seja de
hierarquização. Por outro lado, se existem municípios em que a atividade se realiza
por iniciativa de profissionais, isto nos indica que o perfil é uma condição importante
para desenvolvimento de ações nesta área.
Em relação à atenção específica, não constatamos em nenhum município
ações direcionadas à captação de adolescentes e jovens para a unidade de saúde,
seja por ações indiretas, como divulgação interna com cartazes, contendo dia e
horário de atendimento, nem direta, por visita domiciliar ou divulgação, por meio de
parcerias com outras instituições da comunidade, o que nos leva a deduzir que a
articulação com essa clientela, assim como com a comunidade, é frágil, justificando
assim a falta de participação destas nas atividades da unidade.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará126
Ratificando o que expressa o manual Saúde Integral de Adolescentes e
Jovens – orientações para a organização de serviços de saúde (2005), a captação é
um procedimento importante, pois permite o estabelecimento de vínculo e
desenvolvimento de confiabilidade e pode ser realizada por meio dos seguintes
mecanismos: divulgação interna na unidade, por cartazes, folhetos ou apresentação
de serviços por funcionários; visitas domiciliares; parcerias institucionais e
divulgação na comunidade (BRASIL, 2005).
A captação, conforme o documento há pouco mencionado, visa, a
“otimizar as oportunidades de contato de adolescentes e jovens com a equipe de
saúde e, qualquer que seja a ação realizada, deve conter o compromisso de
divulgação e facilitação do acesso a todos os serviços oferecidos pela unidade”.
(BRASIL, 2005, p.13).
Como ressaltam Meirelles e Ruzany (2008), a captação se faz importante
também porque,
Algumas vezes a população juvenil não está consciente de que necessita
dos serviços de saúde ou não sabe que estes serviços estão disponíveis.
Às vezes nem percebe as situações de risco que está passando e que
poderia buscar ajuda para problemas como os ligados à saúde sexual e
reprodutiva, abuso sexual e físico, uso de drogas, violência/brigas, entre
outros. A divulgação nas Unidades Básicas de Saúde dos serviços
disponíveis aos jovens nas escolas, clubes e igrejas e a revelação de
experiências inovadoras através de publicações impressas, eletrônicas e/ou
digitais, ajudam a ampliar o acesso a informações (2008, p. 38).
Pelo exposto, percebemos que o exercício de captação de adolescentes e
jovens para atenção junto às unidades básicas de Saúde da Família necessita ser
pensado e planejado nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do
Ceará, de forma a garantir universalização e acesso a essa clientela.
Outro aspecto importante advindo da análise desta sub categoria, referese a incipiência no cadastramento de adolescentes e jovens junto às unidades de
Saúde da Família dos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará,
haja vista este registro ser apenas dos que buscam a unidade para alguma
demanda e não de todos os adolescentes e jovens da área adstrita. Vale ressaltar,
contudo, que este registro é feito em ficha própria onde se encontram espaços para
anotações de aspectos biopsíquicos e sociais, muito embora em nenhum município
se encontre o acompanhamento e/ou segmento.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará127
O cadastro de usuário no sistema de saúde tem ganhado respaldo e
relevância, principalmente por permitir informações para subsidiar o trabalho na
unidade. Conforme expresso no Manual de Cadastramento de Usuário do SUS, este
instrumento se faz importante pela possibilidade de trabalhar com
... enfoque na vigilância à saúde, por meio do diagnóstico das condições de
saúde e do perfil epidemiológico da população adscrita da área de abrangência
da unidade básica, favorecendo a intervenção sobre os fatores e grupos de
risco existentes, [bem como] facilitando a realização de ações de busca ativa,
vacinação
de
bloqueio,
acompanhamento
domiciliar,
tratamento
supervisionado, entre outras, de modo ágil e oportuno. (BRASIL, 2002, p.6)
Assim, além do importante papel já descrito, o cadastramento possibilita
também o fortalecimento do vínculo entre indivíduos e unidade básica de saúde, por
meio do acompanhamento, pelos profissionais da rede básica, da trajetória dos
indivíduos na rede. Percebe-se, porém, que este procedimento é pouco aproveitado
e não utilizado como subsídio na prática profissional (BRASIL, 2002, p.6).
Em virtude dessa constatação, é válido refletir sobre as ações e
atividades, bem como acerca do fazer propriamente dito destas, pois, como
encontramos na maioria das unidades apenas um cadastro com parte dessa
clientela, e não um diagnóstico, com suas características, idade, sexo, orientação
sexual, raça, nível socioeconômico, escolaridade, portadores de deficiências e perfil
epidemiológico, estas ações deixam de ser realizadas com base na realidade e
necessidade, ficando o atendimento na tríade gravidez, DST/AIDS e uso de drogas.
Ainda neste sentido, cabe ponderar sobre a programação das ações nas
unidades, pois, como estas não são elaboradas com proposição de objetivos e
metas, a avaliação não se faz com base no planejado, e, não tendo um parâmetro, a
mensuração dos resultados não remete a uma compreensão concreta da atenção
prestada a essa população.
Outro aspecto analisado foi o primeiro contato dos adolescentes e jovens
nas unidades de saúde. Evidenciou-se que este contato é realizado na recepção e,
em sua maioria, por profissionais de nível médio, conforme gráfico abaixo. Não há
em nenhum município um serviço estruturado de acolhimento, mas sim formas
variadas de receber, que se assemelham para todos os pacientes.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará128
Fonte: entrevista direta – profissionais da Estratégia de Saúde da Família 18ª MRS - CE
GRÁFICO 3 – Primeiro contato dos adolescentes e jovens nas unidades, por município
Se levarmos em conta a opinião de estudiosos sobre saúde de
adolescentes e jovens, os quais indicam ser o acolhimento um dos aspectos mais
importantes na unidade, percebemos que este espaço, nas unidades de saúde dos
municípios pesquisados, estão sendo desperdiçados, já que, para esta ação, falta
profissional capacitado para interagir e dialogar, no sentido de produzir uma
comunicação respaldada na escuta, dando respostas adequadas à demanda,
propiciando a um tempo assistência e a outro vínculo.
Para Grossman, Ruzzani e Taquette, independentemente da razão que
faz com que o adolescente/jovem procure o serviço de saúde, cada visita oferece ao
profissional a “oportunidade de detectar, refletir e auxiliar na resolução de outras
questões distintas do motivo principal da consulta”. (2001, p.41).
Ainda para estas autoras,
A acolhida nos serviços deve ser cordial e compreensiva, para que se
sintam valorizados e à vontade nos mesmos. Uma acolhida hostil, que
imponha uma série de exigências, pode afastar o adolescente, perdendo-se
a oportunidade de adesão ao serviço. Pelas características próprias dessa
etapa do desenvolvimento, muitas vezes eles têm dificuldades em respeitar
os horários e as datas de agendamento, determinando que o serviço
construa mecanismos de organização mais flexíveis. (GROSSMAN;
RUZANY; TAQUETTE, 2001, p.41).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará129
Assim, desenvolver um bom acolhimento na unidade possibilita ainda a
organização “da demanda, de acordo com as necessidades e prioridades e, não
somente, por meio da ordem de chegada; evitando, na medida do possível, filas
desnecessárias e perda de tempo”, mas, infelizmente, esta rotina não é constatada
nos municípios pesquisados (SANTOS et al., 2007, p.76).
No que se refere ao atendimento de adolescentes e jovens, em todos os
municípios, esta clientela é atendida com ou sem documento, e, com exceção de 11
unidades do Município de Iguatu, a presença do acompanhante (responsáveis e/ou
familiares) fica a critério do adolescente/jovem.
O atendimento individual é um momento importante na atenção a
adolescentes e jovens. Como argumentam Grossman, Ruzany e Taquette (2008), é
neste espaço que os esclarecimentos a respeito de seu crescimento físico e
desenvolvimento psicossocial e sexual podem ser realizados de forma interativa,
tendo essa clientela a oportunidade de expressar-se e esclarecer suas dúvidas.
Argumentam, ainda, as autoras, que, nesta perspectiva, cabe ao profissional a
habilidade para que essa clientela seja estimulada a se tornar ativamente
participante nas decisões pertinentes aos cuidados de sua saúde.
Quanto a este atendimento, nos informa Ruzany, (2008) que, para um
adolescente receber tratamento médico, segundo a lei, os pais ou responsáveis
devem firmar um termo de consentimento, no entanto, esta mesma autora explica que
... na prática, freqüentemente isso não ocorre, pois os serviços que se
propõem a dar atenção especial ao adolescente precisam aproveitar sua
vinda e atendê-lo sem esta formalidade. Cabe ao profissional, portanto,
procurar uma solução de acordo com o bom senso, de preferência
solicitando ao próprio adolescente que firme seu consentimento e que
procure o envolvimento da família, sempre que possível (2008b, p. 29).
Ratificando o bom senso necessário ao profissional durante o
atendimento individual, ressaltado em Ruzany (2008a), cabe destacar a noção de
que, se por um lado o adolescente é atendido sozinho sem seus familiares ou
acompanhantes, esta pode ser uma oportunidade para estimulá-lo a expor sua
percepção sobre o que lhe está acontecendo, e para ampliação de um espaço que o
permita abordar alguns aspectos sigilosos que o estejam preocupando. Por outro
lado, o profissional de saúde deve ter clareza de seu papel e buscar não se envolver
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará130
ou resolver o problema pelo adolescente, mas sim auxiliá-lo para que se torne
responsável pela própria saúde e pela condução de sua vida. Em todo esse
processo, a família não pode ser esquecida, mas sim compreendida como
fundamental para o entendimento da dinâmica e estrutura em que se insere o
adolescente e para a elucidação de detalhes importantes (RUZANY, 2008a)
Em relação ao atendimento individual, nos municípios estudados este se
faz por agendamento em Deputado Irapuan Pinheiro, Mombaça e em quatro
unidades do Município de Iguatu. Em Jucás e nas demais unidades de Iguatu o
atendimento se faz por demanda livre.
Portanto, considerando a referência há pouco citada, podemos acentuar
que o atendimento individual aos adolescentes e jovens nos municípios pesquisados
é contemplado, ratificando, assim, a garantia de acesso dessa clientela na rede de
serviços do SUS.
Com relação às práticas coletivas com adolescentes e jovens, evidenciase a existência destas tanto de forma circunstancial como continuada nos municípios
onde se realizou a pesquisa, com exceção do Município de Mombaça. Estas se
fazem sob a responsabilidade do profissional enfermeiro ou do dentista e, mesmo as
unidades dispondo de espaços físicos, estas são realizadas fora da unidade, na
escola, igreja ou associação comunitária.
Sendo uma característica intrínseca dos adolescentes e jovens, a vivência
em grupos, para busca de sua identidade e para as respostas para suas
ansiedades, vários estudos confirmam a importância das práticas de saúde de forma
coletiva. O Manual Saúde integral de adolescentes e jovens: orientações para a
organização de serviços de saúde, expressa que o atendimento grupal constitui uma
forma privilegiada de facilitar a expressão de sentimentos, a troca de informações e
experiências (BRASIL, 2005).
Referido documento ressalta, ainda, que as atividades em grupo
permitem “desenvolver a capacidade de ouvir, de falar e de comunicar-se;
estabelecer um processo coletivo de discussão e reflexão; construir uma experiência
de reflexão educativa comum” (BRASIL, 2005, p.21), já que, no grupo,
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará131
... esses sujeitos têm a possibilidade de integrar o processo educativo com
suas vivências, colocações, valores e opiniões, não recebendo modelos
prontos, mas um espaço para discussão dos problemas e reflexão dos
temas. Essa integração valoriza o papel de participante do grupo, fortalece
a auto-estima e a autonomia (BRASIL, 2005, p.20).
Também em relação às práticas, é consenso em muitos estudos a
necessidade de que o profissional responsável pela condução desta atividade esteja
capacitado. Esses estudos nos revelam duas condições importantes durante a
realização de uma atividade de grupo com adolescentes e jovens. A primeira diz
respeito à “importância de criar um ambiente de compreensão e aceitação mútua,
para que os participantes encontrem respostas positivas às necessidades de
segurança, de reconhecimento e de aceitação” (BRASIL, 2005, p. 20), enquanto a
segunda assenta-se no fato de que, além de um conteúdo técnico correto, estas
atividades devem ser trabalhadas de forma lúdica (MEIRELLES; RUZANY, 2008).
Conforme o gráfico seguinte é possível visualizar a realização de
atividades de grupo desenvolvida pelos profissionais nos municípios pesquisados.
Fonte: entrevista direta – profissionais da Estratégia de Saúde da Família 18ª MRS - CE
GRÁFICO 4 – Realização de atividade de grupo para adolescentes e jovens por
categoria profissional
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará132
Mais uma vez, vale lembrar que os critérios de inclusão de estudo das
equipes da estratégia de Saúde da Família para esta pesquisa abrangiam a
realização de atividades por profissionais na modalidade individual e coletiva com
adolescentes e jovens. Somente no campo de pesquisa, entretanto, quando
deparamos equipes que não realizavam atividades de grupo com adolescentes e
jovens, constatamos que a informação recebida pela Coordenadoria Regional de
Saúde - CRES quanto a este critério não mais se confirmava.
A expectativa de que as práticas coletivas com adolescentes e jovens se
realizassem com a presença de todos os profissionais da estratégia de Saúde da
Família, infelizmente só foi confirmada em apenas duas equipes do Município de
Iguatu. Conforme gráfico, pode-se observar que neste Município, das 22 equipes
pesquisadas, em apenas 17 essa atividade se faz presente; dessas, em 15 equipes,
realizada apenas por um dos profissionais, dentistas ou enfermeiros, os demais
profissionais participando quando convidados e de forma esporádica. Ressalta-se
que, em três equipes do Município de Iguatu, encontramos também a sobreposição
desta atividade sendo realizada pelo dentista e pelo enfermeiro, sem qualquer
integração.
A realidade de Iguatu também se estende aos Municípios de Deputado
Irapuan Pinheiro e Jucás, ou seja, as ações de grupo são desenvolvidas ou pelo
dentista ou enfermeiro, de forma sobreposta, participando desta atividade os demais
profissionais da equipe quando convidados.
Analisando os dados coletados à luz das recomendações para atenção à
saúde de adolescentes e jovens, concluímos que os recursos disponíveis nas
unidades básicas dos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará
proporcionam condições dignas para atenção a esta clientela, contudo, aspectos
como captação, diagnóstico psicossocial e epidemiológico, planejamento para
subsidiar as ações e o compromisso na realização destas pelos profissionais,
precisam ser repensados, para que sinais de vulnerabilidades possam ser
identificados precocemente e as orientações se façam antecipadamente a fim de
que a condução adequada dos problemas vivenciados se traduzam em resultados
positivos e na promoção de uma vida saudável para esta clientela.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará133
III. Assistência programática, preventiva e interventiva: odontológica,
médica e de enfermagem
Uma das características básicas da estratégia de Saúde da Família,
ancora-se na integralidade da atenção de práticas preventivas e assistenciais. Para
a efetivação da integralidade, uma condição se faz necessária: a visão ampliada do
processo
saúde/doença
pelos
profissionais,
de
modo
a
atuar
não
só
especificamente, mas multidisciplinarmente na prevenção de riscos e agravos,
promoção da saúde e assistência à doença.
Desse modo, a atenção integral exige do profissional a ultrapassagem do
conhecimento técnico específico, apreendendo os sujeitos de uma visão
biopsicossocial. No caso específico da atenção a adolescentes e jovens na
estratégia de Saúde da Família, “o profissional deve interagir por meio de um
enfoque interdisciplinar, evitando-se visões fragmentadas, apenas de cada
especialidade e/ou disciplina” (GROSSMAN; RUZANY; TAQUETTE, 2001, p.42).
Na visão das autoras Grossman, Ruzany e Taquette,
Na atuação em equipe multidisciplinar, o conjunto de profissionais de
diferentes disciplinas interage para prestar atendimento ao cliente. Essa
integração é feita por meio de discussões conjuntas, onde as decisões são
compartilhadas e tomadas dentro das diferentes perspectivas, resultando
em uma proposta terapêutica mais eficaz (2001, p.42).
Nesse sentido, cabe ao profissional uma atuação, além de especifica,
interativa, propiciadora de trocas e saberes nos campos de competência, buscando
dar conta do cuidado com adolescentes e jovens de sua área adstrita.
Analisando os resultados encontrados desse enfoque, concluímos que,
nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde, o trabalho com adolescentes e jovens
ainda não se faz à luz dessas recomendações. A assistência individual prestada se
faz por todos os profissionais de forma separada e dissociada, encontrando-se
apenas nos cronogramas da equipe quando da realização deste atendimento nos
mesmos dias, não havendo repasse de informação ou discussão de casos para
tomada de decisão terapêutica.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará134
As atividades de promoção e prevenção a saúde são realizadas pelos
enfermeiros, participando dentistas e médicos, quando convidados. Da análise dos
dados, é interessante perceber que os médicos sabem que essas atividades
também lhes competem, mas justificam não participar pela falta de tempo, enquanto
os dentistas não demonstram possuir responsabilidade nesta ação, e explicam que
estas são encargo do enfermeiro, sendo sua parte as atividades de prevenção na
sua área, Saúde Bucal.
Conclui-se, portanto que não há integração nas ações dos profissionais
da estratégia de Saúde da Família no que diz respeito à atenção à saúde de
adolescentes e jovens, mas sim divisões de ações, atividades e responsabilidades,
estas realizadas muitas vezes até de forma justaposta.
Esta constatação guarda coerência com o estudo de Ferrari, Thomson e
Melchior, realizado em Londrina Paraná, onde foi possível
... observar que a diferença do atendimento aos adolescentes, entre as
categoriais profissionais, é inerente ao processo de trabalho nas unidades
do município, pois mesmo que o médico faça parte da equipe da Saúde da
Família, ele cumpre com os números de consultas diárias individuais,
preconizados pelo serviço, ao passo que a enfermagem, em suas atividades
assistenciais, desenvolve atendimentos grupais (2008, p. 392).
Compreendemos que a integralidade e a atuação dos profissionais de
forma multidisciplinar não é uma tarefa simples e consiste em um grande desafio,
principalmente se voltarmos a visão para um passado recente, quando a técnica e o
biologismo se faziam hegemônicos, e resquícios deste modelo ainda estão
presentes na formação dos profissionais. Entendemos, contudo, que esforços
precisam ser envidados nesta direção, para que as ações de promoção, prevenção
e atenção estejam conforme o contexto cultural e social em que adolescentes e
jovens estão inseridos, e possam contribuir com estímulo, apoio e suporte para
autonomia, responsabilização e autocuidado nas decisões pertinentes aos cuidados
de saúde.
No que diz respeito às práticas específicas de cada categoria profissional,
nos lembram Grossman, Ruzany e Taquette (2008) que os “profissionais de saúde
devem incluir medidas preventivas como um componente fundamental de sua
prática assistencial, ao invés da atenção estritamente biológica e curativa”. No que
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará135
se refere ao atendimento individual, estas autoras enfatizam que a “consulta desta
clientela nos serviços de saúde deve ter como objetivos além da prevenção de
agravos, o diagnóstico, a monitorização, o tratamento e a reabilitação dos problemas
de saúde” (2008, p. 41).
No concernente à atenção odontológica aos adolescentes e jovens na
atenção básica, acrescenta o documento do Ministério da Saúde, Saúde do
adolescente: competências e habilidades que a equipe de saúde bucal deve estar
mobilizada para “a promoção de saúde, prevenção de agravos, diagnóstico precoce,
limitação do dano e reabilitação em relação à saúde oral na adolescência” (BRASIL,
2008, p.349).
Nessa perspectiva, os dados coletados demonstram que, com exceção do
Município de Mombaça, onde não nos foi possível contato com o odontólogo, que os
dentistas planejam e executam suas atividades de forma isolada dos demais
profissionais e tendem a uma valorização maior pela clínica de reabilitação, esta
destacando-se como locus principal de atuação, principalmente pelos avanços
tecnológicos conquistados e disseminados nos últimos anos, que têm contribuído
para preservação da cavidade bucal e minimização das exodontias mutiladoras.
Na fala desses profissionais, é possível observar essa constatação,
...a gente atende o paciente, e identifica de imediato a condição bucal
daquela pessoa, a necessidade que aquela pessoa tem de determinado
tratamento, então a gente direciona a orientação pelo que aquela pessoa
apresenta, por exemplo, a carie dentária, normalmente, quase todos tem,
então é uma orientação que sempre está presente, a questão da orientação
quanto a higiene, maloclusão, também é um fator bastante importante,
porque, não só os jovens, mas, quase todo mundo, apresenta alguma
difusão dentaria ou, maloclusão de todos os tipos de classificação, de 2 ou
3, apresenta problemas de DTN, então, isso aí é também bastante presente
nas orientações. (D 26).
Hoje em dia a gente tenta preservar, porque antigamente era uma
odontologia mutiladora que só existia exodontia. Hoje a gente tem
condições aqui no consultório, foi dado pro município de fazer tratamento,
restaurador. A gente tem raios-X, aqui que a gente tem tratamento de
limpeza, aplicação de flúor, tem os procedimentos coletivos nos colégios, eu
considero que houve um avanço na parte de saúde bucal aqui do município.
(D2).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará136
Em todos os municípios, os recursos estruturais e físicos para atenção
odontológica são adequados para desenvolvimento das atividades pertinentes e o
atendimento é realizado sem distinção dos demais atendimentos prestados às
demais faixas etárias, não se constatando a participação dos pacientes quanto ao
plano terapêutico de tratamento.
... sem muita diferença dos demais atendimentos, faço a ficha clínica, faço
orientação e posteriormente o atendimento, não por ser adolescente mas
por ser paciente.(D21).
Não tem muito arrodeio, o paciente apenas entra, a gente tenta medir pelo
diagnóstico e já atende direto, não tem aquela conversa preparatória com
adolescente não.(D12).
Infelizmente, pelo fato da Unidade abranger uma grande quantidade de
famílias, a demanda é muito grande. Então a gente não faz nenhuma
diferenciação com adolescentes, em relação aos demais, adultos. A gente faz
sim, uma diferenciação de outros grupos como, hipertensos e diabéticos,
mas, com adolescentes a gente não tem nenhuma diferenciação e eles são
atendidos através da demanda livre, a demanda espontânea. (D26).
No caso de adolescentes grávidas, apenas um dentista do Município de
Iguatu diz ter uma abordagem diferenciada. Já os demais têm o cuidado necessário,
mas por ser grávida e não por ser adolescente.
... não por ser adolescentes, mas por serem gestante, eu sempre tenho
cuidado e faço uma orientação, mas não por ser adolescente [...] (D17).
... tem como com todas as grávidas, pode ser adulta, ou jovem, a gente tem
o atendimento da grávida diferenciado, mas, em relação a idade, não tem
diferença não, pode ser criança até adulto, a gente trata do mesmo jeito.
(D140.
... há principalmente por ser adolescente, tenho cuidado em dar prioridade e
dentro do consultório tenho cuidado com o anestésico, com a posição da
cadeira, converso e oriento sobre os hábitos de higiene e alimentação em
virtude das perdas de cálcio nesta fase. Também faço orientações para
quando do nascimento do bebe (D18).
No relacionamento adolescente/jovem e dentista, não há espaço para
relato de fatos corriqueiros do dia a dia nem de conflitos para 18 dos 22 dentistas.
Ocorre o diálogo quando estimulado para três dentistas e apenas um dentista
relatou conceder espaço para discussão e orientação a essa clientela de fatos não
relacionados à Saúde Bucal. Percebem-se portando resquícios de uma conduta
verticalizada com espaço apenas para esclarecimentos específicos, como dor e
dúvidas de Saúde Bucal.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará137
Não, criança e adolescente não, geralmente eles vem até mais calados que
os adultos. Eles são mais introvertidos, com exceções, lógico, ele já vem
assim, muito receosos, então eles são mais retraídos. Muitas vezes eles
vêem acompanhados dos pais, que eu não atendo menor de idade sem a
presença dos pais. Então, eles vêem acompanhados dos pais, então eles
ficam um pouco retraídos em relação a isso, alguns adultos eles são mais
abertos. (D23).
Normalmente eles são muito fechados, reservados, eles não falam não,
talvez eles tenha mais esse tipo de acesso com a enfermeira, do que com a
gente. (D24).
As vezes acontece, eu gosto muito de conversar com eles, durante o
atendimento, eu brinco, e as vezes a pessoa percebe que ele ta um
pouquinho triste, as vezes eu pergunto, depende da cliente né,. [...] Ai ele
conversa [...] (D17).
A análise dos dados manifesta, que as orientações no consultório são
realizadas apenas na primeira consulta, quando o profissional julga necessário e
diante do diagnóstico de cada paciente. Assim, temas como, mau hálito, erosão
dentária, respirar pela boca, ranger os dentes, fumo e álcool, uso de piercin,
alimentação, se fazem referentes às necessidades da cavidade bucal do paciente e
não como forma de promoção e/ou prevenção da saúde.
... não há uma orientação freqüente, é devido a necessidade. Se eu vejo
que o individuo está com máloclusão, discuto sobre a maloclusão, se for
cárie, falo sobre cárie, é de acordo com necessidade apresentada. (D1).
A gente se baseia mais pela necessidade. Se um paciente chega para mim,
com uma máloclusão, eu vou enfocar minha orientação naquela
máloclusão, eu enfoco mais no que eu to vendo. Porque assim, às vezes
não tem muito tempo, já melhorou o tempo, já está tendo esse espaço de
orientação, mas ainda a demanda é muito grande, eu não tenho tempo
suficiente pra explicar tudo, então eu me baseio mais no que ele tem. (D2).
Normalmente eu oriento em toda primeira consulta. Eu faço exame clinico,
anoto tudo que precisa ser feito, e oriento escovação, ensino os hábitos
corretos da alimentação, a maneira correta de escovar, quando eles têm
piercing, ou fumam ou bebem alguma coisa assim [...] (D24).
No que se refere a práticas coletivas desenvolvidas pelo dentista nas
equipes, estas são encontradas apenas nos Municípios de Jucás em uma equipe e
Iguatu em 12 equipes. Ressalta-se que, em Iguatu, das 12 equipes, em duas o
dentista desenvolve a atividade de grupo juntamente com os profissionais, médico e
enfermeiro e em três essa prática se faz de forma justaposta com o enfermeiro.
Nos municípios onde encontramos a atividade de grupo desenvolvida pelo
dentista, esta se faz na escola, de forma periódica, mas sem continuidade e sem
acompanhamento para o mesmo público. A escolha desse público fica a critério da
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará138
Escola, com a condição, solicitada pelo dentista, de que sejam escolares de até
quatorze anos. Nesta atividade, para um publico entre sete e onze anos, após a
palestra, podem ser realizadas a escovação e a aplicação de flúor, porém com
adolescentes acima de onze anos, conforme os dentistas, as escovas são apenas
distribuídas em virtude da dificuldade de fazer com que essa faixa etária se
concentre para realização da atividade.
Assim, a gente dá prioridade, até o 6° ano, porque o 8° e 9°, a gente faz a
palestra, só que com ele é mais difícil fazer a escovação supervisionada. A
palestra eles ainda se comportam, eles ainda escutam, mas pra você tirar
eles da sala, pra fazer a escovação, para explicar e tudo, é mais complicado
[...] (D2).
... na área desenvolvemos um projeto de odontologia em parceria com a
Secretaria de Educação e Ação Social para crianças até o 5º ano, fazemos
orientação, entregamos um kit e a criança passa a fazer escovação na
escola. Aos maiores do 6º ano em diante entregamos o kit, fazemos
orientação, mas eles levam o material para casa (D21).
Nota-se que as atividades de grupo realizadas pelos dentistas resumemse a palestras, escovação supervisionada e aplicações tópicas de flúor, apenas para
estudantes, sem uma preocupação maior com os critérios de eficácia e efetividade,
o que nos faz refletir se os fatores de risco envolvidos nas aplicações de flúor são
levados em conta e se os princípios e ferramentas da Educação e Saúde são
considerados.
Uma constatação semelhante à analisada nesta realidade foi encontrada
nos estudos de Santos e Assis (2007, 55). Esses autores ao refletirem as práticas
coletivas realizadas por dentistas no PSF de Alagoinhas, Bahia, ressaltam que
... a prática de atenção à saúde bucal da realidade pesquisada traduz um viés
característico das atividades preventivas na odontologia: o foco está centrado
na atenção a escolares, na faixa etária de 6 a 14 anos, que estudam em
escolas públicas, por meio de técnicas de escovação, aplicação de flúor e
acompanhamento clínico. Compreendemos que a prática, nesta perspectiva,
fragmenta e reduz o campo do cuidado em saúde bucal, pois concentra as
ações em uma faixa etária específica (2007, p.55).
O monitoramento e o acompanhamento de adolescentes e jovens não
foram evidenciados pelos dentistas dos municípios pesquisados. Neste sentido,
esses profissionais explicam não haver acompanhamento em virtude da ausência de
espaços nas suas agendas. Assim, problemas como interrupção e abandono do
tratamento não são investigados, tampouco são realizadas visitas domiciliares para
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará139
busca ativa para que o paciente retorne. Esta falta de espaço confirma dificuldades e
implicações na relação adolescentes/jovens x dentista, restringindo o diálogo ao
esclarecimento do tratamento.
Constata-se do exposto que a assistência de Odontologia a adolescentes e
jovens nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará caracterizase por ser contingente e centrada na queixa do paciente, limitada, na maioria das
vezes, pela alta demanda e pelos insumos disponíveis, sem a discussão e a
participação dos pacientes na conduta e evolução do tratamento. Mesmo quando da
realização de promoção e prevenção, estas se fazem desconexas e sem integração
com os demais profissionais, não ensejando o conhecimento de saberes entre os
membros da mesma equipe, tampouco o conhecimento dos aspectos singulares do
indivíduo, da família e da comunidade, conhecimentos estes de grande importância na
evolução das condutas terapêuticas e da qualidade de vida.
No que se refere às práticas médicas com adolescentes e jovens,
recomenda-se que estas contemplem tanto as ações assistenciais ou curativas e,
prioritariamente, as atividades de promoção da saúde e prevenção de doenças. O
olhar do profissional, neste sentido, deve ser totalizante, com apreensão do sujeito
biopsicossocial (BRASIL, 2006).
Com respeito à assistência, preconiza-se que o profissional médico
realize atendimento aos adolescentes e jovens de forma individual, acompanhado ou
não de pais e/ou responsáveis, e na forma coletiva, objetivando o acompanhamento
do crescimento e desenvolvimento e de todos os aspectos relacionados à sua
saúde, dentre outros: sexualidade, saúde reprodutiva, nutrição, abordagem sobre
relacionamento familiar, escolaridade, aspectos emocionais, acompanhamento a
grupos de adolescentes e de grupos multifamiliares (BRASIL, 2006).
Nesta direção Grossman, Ruzany e Taquette nos indicam que, na
realização da consulta clínica, e “frente às peculiaridades de um corpo em
amadurecimento, a aferição de medidas antropométricas e a disposição dessas em
gráficos (NCHS), além do estagiamento puberal (critérios de Tanner), são
imprescindíveis” (2001:45).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará140
Se analisarmos a prática médica nos municípios da 18ª Microrregião de
Saúde do Estado do Ceará, com base nessas recomendações, concluímos que os
profissionais possuem a compreensão da necessidade de atenção a esta clientela
além do aspecto biológico. Na prática e rotina do dia a dia, porém, observa-se o
predomínio de ações minimizadas e restritas às queixas e aos sintomas clínicos,
desvinculadas dos aspectos biopsicossociais.
A assistência é realizada apenas no consultório, conforme queixa e
demanda do adolescente e jovem, não havendo participação desta categoria nas
ações de promoção e prevenção realizadas de forma coletiva, a não ser quando
convidado por outros profissionais da equipe.
... o adolescente deve ter uma atenção especial, ele deve ser tratado muito
diferentemente, [...] nem sempre o problema é só saúde, as vezes o
problema é social, é psicológico, então é uma pessoa que precisa de uma
atenção especial assim da equipe de Saúde da Família, no sentido de uma
abordagem completa, não só pensando em chegar lá com uma dor, ou ta
com pigmentos, ou ta com problema, mas uma pessoa que passa por uma
fase de desenvolvimento especial, uma pessoa que passa por conflitos
sociais, que passa por problemas familiares, que passa por problemas na
escola, uma pessoa que tem que ter uma abordagem mais completa, e por
isso que eles necessitam de uma atenção especial mesmo, pra que ele não
desista, pra que ele possa procurar a unidade com mais facilidade, pra que
ele possa ter facilidade, possa ter melhor acesso, da equipe de Saúde da
Família. (M16)
Eu faço consultas e orientações no consultório [...] Através de consultas
respeitando as dúvidas, angustias e as limitações e orientando como
resolvê-las para maior responsabilidade da vida e descobertas do dia-a-dia
[...] (M18).
... realizo consultas e minha equipe trabalha com um grupo onde são
realizadas palestras sobre educação sexual, uso do preservativo, uso do
anticoncepcional, uso abusivo de pílula do dia seguinte [...] A enfermeira
está trabalhando com um grupo e os adolescentes são agendados para
passarem por mim [...] (M130).
Por enquanto eu faço consultas e procuro orientar conforme o problema. (M22).
Estudos de Ferrari, Thomson e Melchior (2008), sobre ações e
percepções dos médicos e enfermeiros do Programa Saúde da Família, também
apontam semelhança com essa análise. Segundo esses autores, a percepção dos
médicos na atenção a adolescentes e jovens é que “seus atendimentos se esgotam
na consulta” (2008, 387). Esta semelhança entre este ensaio e o experimento dos
referidos autores nos leva a inferir que os profissionais médicos trazem arraigadas
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará141
para suas práticas as marcas da academia, onde as orientações e informações no
consultório derivam do diagnóstico da doença e do tratamento a ser prescrito.
A análise dos dados nos revela, ainda, que, conforme percepção dos
profissionais médicos, os adolescentes e jovens pouco procuram as unidades de
saúde e, quando desta procura, se faz prioritariamente para acompanhamento do
pré-natal, seguido de problemas patológicos. Estes problemas, em sua maioria, são
resolvidos
com
intervenções
imediatas
sem
necessidade
de
retorno
ou
acompanhamento.
Olha, a procura de adolescente é pouca, a gente tem mais por incrível que
pareça a questão da adolescente grávida, acho que a maior quantidade que
aparece ainda é da adolescente grávida, para fazer o pré-natal, fora isso
uma coisinha banal, uma... quando está gripado, as vezes uma cefaléia,
gripe, coisas bem simples mesmo, poucos procuram por problemas mais
sérios. (M11).
Só vem quando está sentido um sintoma maior, e puxado pelo pai ou pela
mãe, a verdade é essa, às vezes vem alguma adolescente se queixando de
cefaléia, dor de cabeça, ou até mesmo enxaqueca, as vezes uma infecção
urinária, nas meninas, basicamente é isso, mas é muito pouco o
adolescente procurar o posto de saúde, na minha área (M26).
Não tem assim, algo especificadamente, a gente faz aquele atendimento no
PSF, tanto atendimento do hipertenso, atendimento do diabético,
atendimento da criança, e dos adolescentes, mas assim, não tem uma
recomendação especial que tem que ser assim, não tem, adolescente
chega aqui diz a queixa, e a gente ouvir e ver o que é que se pode fazer.
(M12).
A gente tenta resolver da melhor maneira possível conforme a queixa dele,
se necessário passa exame, se não puder resolver aqui, encaminha para a
secretaria de saúde, para que outro colega resolva e é assim [...] (M22).
Percebe-se do exposto que não há na conduta dos profissionais médicos,
seguimento e/ou monitoramento de adolescentes e jovens que buscam a unidade. Da
mesma forma, em nenhum discurso se verificou preocupação destes profissionais
para com as doenças específicas dessa fase, como acne, transtornos alimentares,
dores recidivantes, apofisites de tração (doença de Osgood-Slatter, entesites).
Diante dessa realidade, dois aspectos nos chamam à reflexão: primeiro,
até que ponto os profissionais contribuem com apoio e suporte a adolescentes e
jovens, quando portadores de doenças crônicas, já que essas patologias muitas
vezes trazem estigmas em virtude da necessidade da disciplina, uso intensivo e
constante de medicação, supressão de alimentos, fatores estes que interferem na
estima do paciente, carecendo assim dos profissionais uma atenção mais específica
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará142
do que a simples consulta. O segundo refere-se ao que Neves Filho (2004)
denomina de “exame incompleto e em oportunidades perdidas no diagnóstico de
problemas de saúde” (2004, p.43), já que, pela falta de acompanhamento, aspectos
fundamentais, como avaliação do estado nutricional, visão e audição, pele e
mucosas, coluna vertebral, aferição de medidas antropométricas, estagiamento
puberal pelos critérios de Tanner, dentre outros aspectos necessários à saúde
integral de adolescentes e jovens, passam despercebidos pelo profissional médico.
Contraditória a esta situação, várias foram as referências desta categoria,
médica, quanto à necessidade e importância de sistematização de um trabalho
consistente e contínuo com adolescentes e jovens; porém, na percepção desses
profissionais, algumas nuanças dificultam este trabalho.
Dentre as nuanças mais citadas para não-realização de um trabalho
sistemático com esta clientela, está a ausência destes nas atividades programadas e
retornos agendados pela unidade. Percebemos assim haver uma tendência a
responsabilizá-los pelo não estabelecimento de ações lhes dirigida, justificada pelo
julgamento de serem imunes e os agravos não os afetarem.
Eu tento seguir o paciente, dar seguimento, não só daquela vez, tratar e
seguir, mas é como eu lhe disse, o retorno do paciente é muito difícil,
mesmo porque esses pacientes são pacientes difíceis de tratar, requer mais
atenção, tanto do profissional médico, como de outros profissionais, e, ele
muitas não vem, não retorna pra consulta, porque ele acha que não tem
necessidade, resolveu aquele problema, e já não vem [...] (M5).
Os adolescentes acham que não adoecem e não precisam do sistema de
saúde. Quando procuram é por problemas de coluna, gravidez, alterações
do ciclo menstrual, atestados para desenvolver atividades físicas e viroses
comuns (M19).
Há pouca procura pela assistência médica, também sinto a dificuldade para
que eles coloquem em prática as coisas explicadas na consulta e nas
orientações em grupo, a falta de apoio da família [...] (M2).
Diante de tal situação, percebemos uma ambigüidade, pois se há o
primeiro atendimento/consulta, com certeza, em algum momento, esta clientela se
sente interessada e busca a unidade, mesmo que posteriormente se esquive por
vergonha ou não estar totalmente seguro de que pode expressar suas dificuldades
vivenciadas naquele momento para um profissional, o que nos leva a refletir a
necessidade dos serviços estarem preparados para acolher o adolescente/jovem
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará143
desde o primeiro contato, como forma de demonstrar confiabilidade, atenção da fala
e valorização da escuta, e assim garantir o retorno.
Outra justificativa para não-realização de um trabalho contínuo refere-se à
falta de tempo e à elevada demanda. Os profissionais entrevistados acentuam que
enfrentam uma sobrecarga de trabalho, ficando sua atenção esgotada com doenças
agudas, já que lhe é exigido um quantitativo diário de consultas, não sobrando
tempo para trabalhar adolescência e juventude de modo mais qualificado, centrando
seu atendimento a essa clientela, na queixa apresentada, sem expandir para as
outras possibilidades.
Não tenho como fazer uma consulta bem feita e especializada como
gostaria por que a demanda é muito alta (M13).
O problema é assim, quando a gente começa a ficar muito tempo na
consulta, o pessoal aí fora já fica reclamando, infelizmente tem isso, eles
dizem, porque que o doutor ta demorando tanto nessa consulta, tem até
alguns que falam o doutor ta namorando, quando demora demais no
consulta, [...] depois o ambiente também não propicia, para você conversar
mais com o doente. Eu até gostaria, de conversar mais sobre doença, puxar
mais conversa [...] (M23).
Essas justificativas também se estendem ao aspecto cultural. Alguns
profissionais referem que os adolescentes e jovens não frequentam as unidades
porque o entendimento da população ainda não alcançou a mudança do modelo de
saúde estabelecido com a implantação do SUS e por isso acredita que as unidades
são lugares próprios para cuidar de doenças e não de promoção de saúde.
Esse fato nos remete a refletir o compromisso dos profissionais com a
promoção da saúde, já que esta se antecipa ao sofrimento, e nos faz evidenciar a
predominância do modelo biomédico, que enfoca o indivíduo dissociado de seu todo,
dificultando a proposição de ações para melhoria da qualidade de vida conjunta de
profissionais e comunidade.
Fica difícil na nossa realidade priorizar o adolescente por que em nossa
área a demanda é muito alta, o número de famílias também é muito alto, se
prioriza mais idoso, doenças crônicos degenerativas e crianças menores de
01 ano, além de tudo a população não entende a importância da educação
e saúde e exige atendimento o que dificulta fazer ações voltadas para
adolescente (M3).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará144
... na maioria dos postos de saúde não tem um ambiente adequado, não é
um ambiente onde o adolescente se sinta a vontade para chegar lá e
discutir, por que é um ambiente de doença, não é um ambiente de
acolhimento à saúde [...] (M11).
As dificuldades evidenciadas para realização de um trabalho sistemático
com adolescentes e jovens, pela categoria médica aqui expressa, é consenso em
vários estudos realizados. Leão (2005) destaca a ideia de que, quando se pensa na
população adolescente, o espaço dos serviços de saúde não parece ser a imagem
mais associada a esse grupo. Ferrari, Thomson e Melchior (2006) ressaltam que o
atendimento dos adolescentes nas unidades básicas de saúde se faz de acordo com
a demanda da unidade, pois há outras prioridades, adiando a organização de
trabalho com esse grupo etário. Oliveira e Lyra (2008), em estudo sobre direitos
sexuais e reprodutivos de adolescentes na atenção básica, apresentam a ideia de
um não-adoecimento (higidez), que explica, segundo os autores, a pouca freqüência
dos adolescentes nos serviços e a inexistência de atendimentos voltados para suas
demandas específicas.
Todas essas dificuldades listadas nos levam a confirmar a concepção dos
médicos dos municípios pesquisados, sobre atenção a saúde de adolescentes e
jovens, já enunciada neste trabalho, cuja assistência se ancora numa visão
fragmentada com ênfase em ações assistencialistas e curativas.
Para uma possível explicação desta circunstância, corroboramos a ideia
de Horta (2006, p. 32), quando destaca que a ineficácia ou inadequação dos
serviços de saúde, ao se trabalhar as questões de adolescência e juventude,
... deve-se a vários fatores: limitação de conhecimentos dos profissionais de
saúde de todas as disciplinas na abordagem dos adolescentes,
desconhecimento de conteúdos e práticas específicas, dificuldades que os
profissionais apresentam tendo origem nas suas qualidades pessoais, nos
seus referenciais e experiências de vida. (2006, p.32).
Da análise dos dados, também foi possível depreender que às
orientações realizadas pelo profissional médico são feitas dentro do consultório e,
em sua maioria, se referem ao diagnóstico e ao tratamento para a demanda daquele
momento específico, recebendo o paciente outra orientação, se se relacionar a
necessidades captadas pelo profissional durante a consulta.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará145
Este aspecto muito nos chamou a atenção, pois, conforme discurso dos
profissionais desta categoria, muitos problemas que chegam ao consultório se
referem a conflitos subjetivos, necessitando, dos profissionais a devida perspicácia
para apreendê-los, pois raramente surgem de forma clara e precisa, mas sim
escamoteados em sinais e sintomas.
Dificilmente há uma conversa para vê conflitos, por que, assim, não temos
uma sala, não temos os profissionais, com quantidade suficiente. Quando
alguma coisa chama a minha atenção, que eu sou obrigado a fazer a vez
dos outros profissionais, eu pergunto. Mas assim, não tenho esse tempo
todo não [...] Depois [...] quando eles vêem, eles dizem logo, não vou
demorar não, já pra gente ser ligeiro também, mas normalmente minhas
consultas demoram muito [...] (M4).
Eles não vêm pra cá pra relatar dificuldade, eles não vem e dizem, ó doutor,
eu vim aqui porque eu to com problema na minha família. Eles dizem doutor
eu estou nervoso, sem dormir [...] Ás vezes eu puxo assim, esta nervoso
assim por quê? Está com algum problema em cãs, com pai, com mãe, com
irmão, com namorada? De vez em quando jogo uma pergunta assim, pra
ver se ele se abre mais um pouquinho, mas também se a gente não fizer
assim, eles também não dizem [...] eu aqui faço umas perguntas, por que
você não está dormindo? E ai eles respondem eu não estou dormindo
doutor por que estou chateado, porque eu estou desempregada, to brigado
com minha família ou então, a mulher me deixou [...] é coisas assim, e eu
procuro dar alguma orientação. (M23).
Essa constatação nos leva a entender que, para a atenção à saúde de
adolescentes e jovens ser realmente efetiva, não bastam apenas assistência curativa
e ações de promoção e prevenção, mas se exige estar atento às várias nuanças da
produção da saúde e compreender essa população, não apenas no aspecto das
necessidades físicas e sociais, mas também as necessidades afetivas e psicológicas.
Corroborando Neves Filho (2004), entendemos que os profissionais
médicos muito podem contribuir com esta clientela, pois,
... sensibilizados, familiarizados com as demandas dos adolescentes,
cientes das mobilizações que o contato com estes pacientes lhes provoca e,
fundamentalmente, com as suas próprias adolescências resolvidas, são
capazes de constituir pontos de apoio nas vidas de tais pacientes.
Contribuem enormemente para a melhoria da qualidade de vida dos jovens,
estimulam a reflexão, e proporcionam oportunidades para decisões
acertadas em suas vidas (2004, p.45).
Diante da análise dos achados referente à prática médica no âmbito da
atenção à saúde de adolescentes e jovens na 18ª Microrregião de Saúde do Estado
do Ceará, nos referenciando nas recomendações da “Associação Médica Americana
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará146
que preconiza que as visitas de rotina dos adolescentes aos serviços de saúde
constituem oportunidades ímpares para: reforçar mensagens de promoção de
saúde; identificar adolescentes e jovens que estejam sujeitos a comportamentos de
risco; promover imunização adequada; desenvolver vínculos que favoreçam um
diálogo aberto sobre questões de saúde” (NEVES FILHO, 2004, p.41), concluímos
que esta prática precisa ampliar seus espaços para que possa contribuir no
desenvolvimento saudável de adolescentes e jovens.
No tocante à prática de Enfermagem, de acordo com Ramos, Pereira e
Rocha,
A enfermagem tem uma responsabilidade fundamental no trabalho em
saúde com adolescentes, tendo em vista a busca da eqüidade na realização
das práticas, a ampliação da autonomia e co-responsabilização de
adolescentes homens e mulheres no lidar com a vida e a prevenção de
agravos que trazem sofrimentos ao adolescente (2000, p. 9).
Ainda segundo essas autoras, as práticas da enfermagem junto a
adolescentes e jovens devem ser baseadas nos princípios de articulação
interinstitucional e interdisciplinaridade, “para a construção de práticas emancipatórias
e da transversalidade do compromisso com a promoção à saúde do adolescente nos
inúmeros espaços de atuação” (RAMOS; PEREIRA; ROCHA, 2000, p. 9).
Nos municípios da 18ª Microrregional de Saúde do Estado, o profissional
de enfermagem está presente em todas as equipes da estratégia de Saúde da
Família e, além de atuação como membro desta, também se responsabiliza pela
coordenação da unidade básica de saúde.
Nas falas desses profissionais, é notável a preocupação com aspectos
importantes para realização de um trabalho com adolescentes e jovens, dentre os
mais citados: orientação, sigilo e uso de linguagem apropriada para a idade,
entretanto a sinergia é pouco difundida e em sua maioria as ações desenvolvidas
tanto de forma individual como coletiva, configuram-se no sentido de solucionar
problemas específicos, imediatos e sem continuidade, não subsidiando aos
adolescentes e jovens a aquisição de competências para reflexão e ação.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará147
Eu procuro trabalhar o que interessa a eles, não existe uma coisa cientifica,
pra ser trabalhado, uma filosofia, é o que o adolescente necessita, é o que a
realidade dele pede, trabalhar de acordo com aquele publico o que eles tem
interesse de ouvir, se não for assim, eles não vão participar, pode chegar
aqui com mil coisas elaboradas a coisa mais linda, com filosofia,
planejamento, que eles não vão se interessar naquilo. A minha filosofia, é
atingir o que eles querem, e na linguagem deles, trabalhar o que eles estão
buscando (E20).
Quando eles chegam à unidade, eu procuro atende-los com cordialidade, de
forma humanizada, questiono o que o trouxe a unidade e procuro dar todas
as informações que eles necessitam naquele momento conforme a
necessidade deles. E nesse atendimento eu procuro passar segurança,
mostrar que o que conversarmos ali não vai ser revelado a outras pessoas,
a família e como eu sei que nesta fase eles têm muitas dúvidas, de forma
discreta vou perguntando por alto sobre a iniciação sexual deles, usando
uma linguagem bem simples de modo que eles se sintam a vontade (E 10).
Pesquisa realizada por Oliveira, Carvalho e Silva, sobre a participação do
enfermeiro na atenção a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes, ratifica a
análise há pouco citada. Nesse estudo, as autoras relatam que as enfermeiras
entrevistadas argumentam “que deveriam dar uma atenção integral ao adolescente,
por estarem próximas as famílias, por conhecerem a realidade da região e das
instituições familiares”, mas devido entre outros motivos às exigências de serviços
burocráticos e ao enorme número de programas que elas devem colocar em prática,
“o trabalho com adolescentes fica sem continuidade, porém, disponível na maior
parte, durante as consultas de enfermagem quando estes procuram pelo serviço de
saúde” (2008, p. 310).
Com efeito, vários são os trabalhos que confirmam a importância da
confiança e da linguagem estabelecida entre os profissionais e os adolescentes e
jovens no desenvolvimento de práticas de saúde. Nesse sentido, Silva, Novais, Luna
e Araújo (2007) ressaltam que
A interação entre o enfermeiro e o adolescente, além de confiança, deve se
basear na troca e no respeito do modo de ser do adolescente. A linguagem
do enfermeiro não deve ser a mesma deste, pois os adolescentes não o
identificam como um de seus pares, mas deve traduzir respeito às suas
opiniões, valores e conhecimentos; isto significa não emitir qualquer juízo de
valor, reprovação de suas manifestações, adoção de qualquer
comportamento discriminatório ou se apresentar como “dono da verdade”.
As mensagens utilizadas devem ser claras e objetivas e as informações
técnicas discutidas e fundamentadas. A base da troca deve ser o diálogo e
não a imposição (2007, p.4)
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará148
Ao discorrer sobre este aspecto, Ferrari, Thomson e Melchior (2008, p. 391)
enfatizam que “quando os profissionais ganham a confiança dos adolescentes, eles se
tornam ouvintes e interlocutores”. Nesta direção, também encontramos em Ruzany
(2008b, p.21) a ênfase de que a atenção ao adolescente/jovem possa se dar numa
relação horizontal entre profissionais de saúde e usuário/adolescente. Para essa autora,
O esforço atual deve se dar na relação horizontal entre profissionais de
saúde e usuário/adolescente, relação esta que vai permitir uma nova forma
de abordagem com respeito à atenção à saúde do adolescente. Para que
isto ocorra, é necessário que haja um despojamento dos saberes préestabelecidos. O autoritarismo que vem direcionando a ciência impede que
o sujeito produza sua verdade, pois não lhe dá acesso ao conhecimento.
Seria a partir desta possibilidade que o adolescente poderia vir a tomar
decisões (2008b, p. 21).
Cabe ainda destacar que a preocupação dos enfermeiros na atenção a
adolescentes e jovens se estende também ao que se refere à falta de habilidade
para a abordagem desta população em todos os âmbitos, seja individual, seja
grupal, o que nos leva mais uma vez a retomar a importância da formação dos
profissionais para atenção a esta clientela.
Tenho dificuldade porque eu não trabalho muito ta entendendo, mas eu
acho que se houvesse uma procura maior deles, a gente saberia mais.
Também é uma questão de confiança, adolescente você tem que ganhar
confiança, mas eu acho que eu, precisaria de um curso de capacitação, pra
trabalhar mesmo com eles (E11).
A própria questão do acesso mesmo, nós como profissionais a gente não
sabe abordar. Eu fico, assim... quando recebo um menino adolescente,
como eu já tive a oportunidade de receber dois rapazes, onde um sentiu
uma dor numa perna e eu fiquei altamente... não soube como abordá-lo,
perguntaram se ele já [...] como é a vida sexual dele, se ele estava usando
preservativo, então a maior dificuldade é essa, a abordagem (E22).
Nesta discussão, válido é assinalar a apreciação de Leão, que, ao discutir
a formação dos profissionais, ressalta ser esta ainda um desafio, se considerarmos
sua aproximação com a integralidade da atenção à saúde de adolescentes e jovens,
uma vez que “que o modelo vigente de formação profissional, reforça uma formação
na vertente das ciências biomédicas, deslocando o social para a periferia da
formação”. (LEÃO, 2005, p. 34).
A necessidade de se investir, não apenas na formação das equipes de
Saúde da Família, mas também na formação acadêmica dos profissionais, se faz,
por tudo o que foi expresso, urgente, pois, por ser a atenção básica a porta de
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará149
entrada dos adolescentes nos serviços de saúde, os profissionais devem possuir
habilidades e competência para que as intervenções possam contemplar a
compreensão das particularidades e características específicas desse público, de
modo a contribuir para que venham a assumir um papel de relevância na sociedade.
No que se refere às ações específicas com adolescentes e jovens, nos
municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará, foi possível
depreender da análise dos dados que os enfermeiros realizam ações programáticas,
como planejamento familiar e pré-natal, intervenções como curativos e vacinação,
além de promoção e prevenção dos agravos. Estas ações não são realizadas de
forma sistemática e referenciadas em protocolos ou normas específicas, sendo a
atenção dispensada conforme demanda e necessidade imediata.
...vai muito do que o adolescente busca na unidade, infelizmente a gente
ainda trabalha com o que o usuário procura, então assim, vai de encontro
ao que o adolescente ta procurando, foi até a unidade pra procurar [...] (E1).
Nós não temos um acompanhamento sistemático, nós atendemos conforme
as queixas, até por que essa área é bem diferente ela abrange uma parte
da zona urbana e outra da zona rural (E7).
Pertinente à consulta individualizada pelo profissional de enfermagem,
Mandu e Paiva (2001) ressaltam que esta é um “espaço de expressão/captação de
necessidades, de resolução de problemas da competência profissional de
enfermeiros e de articulação com outros setores, profissionais e estruturas de apoio”
(2001, p. 131).
Essa recomendação é percebida na pratica individual (consulta) dos
profissionais enfermeiros, pois, dos depoimentos, identificamos o esforço para
solução dos problemas desta clientela por intermédio de medidas assistenciais e
clínico-educativas.
Depende principalmente da queixa dele, a abordagem é feita como uma
consulta simples. A gente faz o exame físico, mas não faz exame
psicológico, assim o adolescente é que tem que se abrir para a gente fazer
o acompanhamento psicológico, encaminhar para um psicólogo,
encaminhar para o medico, encaminhar para o CAPS. Então os
procedimentos são esses, assim, de medir, pesar [...] (E4).
Nas consultas, a gente faz exame físico, e vê as necessidades dos
adolescentes e faz encaminhamentos (E26).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará150
Na assistência individual prestada pelo enfermeiro, é constatada a
realização de entrevista, mas não de anamnese, nem avaliação de processos orgânicos
e
psicoemocionais,
procedimentos
propiciadores
do
reconhecimento
de
vulnerabilidades.
Faço uma entrevista, não tem procedimento específico não, mas é mais a
questão da entrevista mesmo, da conversa (E1).
Aqui no meu consultório, na minha [...] o agente comunitário de saúde,
encaminha os casos, muitas vezes, o agente comunitário de saúde
acompanha os pacientes. A gente consulta, dependendo do problema a
gente encaminha pra sala de prevenção, encaminha pro ginecologista
obstetra, encaminha pra psicólogo, encaminha pra nutricionista,
dependendo do problema do adolescente (E3).
Este aspecto nos leva a concluir sobre a necessidade de repensar esta
entrevista, considerando que a anamnese constitui momento importante não apenas
para conhecer o paciente como também o ambiente em que está inserido. A
anamnese ajuda a contextualizar melhor o paciente e subsidia para que este reflita
sobre sua situação tornando-se corresponsável pela sua saúde, deixando sua
postura passiva (TAQUETTE, 2001).
Conforme Silva, Novais, Luna e Araújo (2007), um dos itens
imprescindíveis que deve estar inserido na consulta de enfermagem é a anamnese,
equivalente ao Histórico de Enfermagem. A anamnese
... permite que os dados coletados sejam analisados e interpretados
facilmente, possibilitando a detecção das necessidades, problemas,
preocupações e reações humanas do adolescente. De acordo com
Doenges e Moorhouse (4) as conclusões advindas da anamnese propiciam
um foco central para as fases subseqüentes do Processo de Enfermagem
(2007, p.10).
De acordo com os autores retrocitados a anamnese inicialmente, deve ser
direcionada às primeiras queixas do jovem e posteriormente, mas também deve-se
... investigar seu passado, modo de viver, relacionamento com família,
colegas e amigos, escolaridade, alimentação, atividade física e recreativa,
vivência com jovens do sexo oposto ou do mesmo sexo, convivência e/ou
participação com usuários de álcool e drogas”. (SILVA; NOVAIS; LUNA;
ARAÚJO, 2007, p.4)
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará151
A busca de adolescentes e jovens pelo profissional de enfermagem,
destaca-se prioritariamente pelas necessidades gerais de saúde clínica e depois por
saúde sexual e reprodutiva, muito embora seja também consenso desta categoria
profissional a noção de que adolescentes e jovens pouco procuram a unidade de
saúde.
A principal queixa de agravo de saúde? Vária muito. Algumas chegam aqui,
com problemas de ciclo menstrual irregular, dizendo que estão com
inflamação, com corrimento, sujando a calcinha, outros chegam se
queixando de que estão muito gordos, comendo demais e não perdem
peso, e outros problemas relacionados a uso de álcool, uso de drogas (E3).
Geralmente problemas orgânicos, febre, garganta, dor de barriga e às vezes
também por problemas de saúde sexual e reprodutiva (E7).
Adolescente é um grupo que a gente tem algumas limitações. Restrições. É um
grupo difícil, até porque aqui na Unidade nós temos uma tarde por semana,
exclusivo pra adolescente, no entanto nós acabamos tendo que preencher o
tempo com outros atendimentos porque não tem demanda, não existe
demanda. E eu não sei por que isso, não sei, às vezes eu penso que é porque
adoece pouco, e por isso não procuram a Unidade, depois penso que é por que
não tem interesse, não conhece o serviço, não sei, não sei dizer (E26).
Ainda com relação ao atendimento individual, no que se refere a
problemas e conflitos não diretamente ligados à saúde sentidos por adolescentes e
jovens, o enfermeiro é o profissional mais requisitado na unidade para este
atendimento, muito embora este não se faça constante.
Acho até que no meu posto a freqüenta é boa, porque eles sabem desse
acesso que pode ter comigo, podem conversar, sabem que eu sou uma
pessoa que não vou ta conversando, vou guardar sigilo, eles conseguem
enxergar isso muito em mim e eu percebo que a procura por mim é maior
do que por outros profissionais. A gente conversando, com outros
profissionais, eles comentam (E1).
Eles são muito envergonhados, então aqueles que têm interesse em fazer
alguma pergunta sobre sexualidade, vêm normalmente aos agentes de
saúde, então os agentes de saúde é que dizem oh, Dra. ele está querendo
fazer uma pergunta a senhora, sobre sexualidade e eu digo pode mandar
entrar. Por que eles têm um pouco da curiosidade (E6).
Mesmo o enfermeiro sendo o profissional mais procurado na unidade por
esta clientela para apoio quando do sentimento de conflito, infelizmente, não
constatamos em nenhum discurso a habilidade e perspicácia deste profissional para
identificação deste sentimento na forma de sinais e sintomas, a não ser quando
expresso pelo adolescente/jovem, revelando-se dessa forma uma limitação que
necessita ser superada, para que diagnóstico de vulnerabilidades seja identificado
de forma precoce.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará152
Conforme análise dos discursos, entretanto, o enfermeiro quando
procurado pelos adolescentes e jovens, é o profissional que mais interação possui
com esta clientela, atendendo-o com ênfase nos princípios éticos, sigilo e confiança,
respeitando os valores e o modo de ser, não discriminando, mas sim utilizando uma
linguagem clara e objetiva embasada em informações técnicas.
Uma coisa importante é a linguagem, e depois a idade, se você não usar de
varias formas, você não consegue atingir o adolescentes, eu nunca tive
trabalho porque eu gosto de trabalhar com adolescentes, aí, geralmente eu
falo uma linguagem deles, me volto como se eu tivesse a idade deles, por
ser mais jovem, eles sentem-se mais confortáveis, mas aí quando você faz
um trabalho como esse, se mudar a enfermeira na equipe, já vai encontrar
resistência no grupo, porque ele se identificava com aquela pessoa, é desse
jeito. (E20).
É uma clientela diferente, é especial, a adolescência é uma fase que tem
muitos conflitos, e assim, a gente deve falar a língua deles, isso é muito
importante, e, orientar. A questão da prevenção, á a coisa mais importante.
(E23).
Depreende-se dessa constatação o fato de que, dentre os profissionais de
estratégia do Saúde da Família o enfermeiro é o que possui mais abertura na
relação profissional e usuário, podendo, portanto, com a valorização deste fato,
mobilizar esforços para efetivação do diálogo e das trocas interpessoais,
reconhecendo nos adolescentes e jovens pessoas portadoras de um conhecimento
capaz de entender a realidade onde estão inseridos, estabelecendo reflexões e,
críticas e consequentemente, formas de mudanças.
Outro aspecto relevante a ser destacado é que não há por parte desta
categoria profissional realização de atividades extraunidade para esta clientela. Com
exceção das práticas coletivas, não foi referenciada nenhuma outra prática, nem
mesmo a visita domiciliar.
No que concerne às práticas coletivas realizadas pelos enfermeiros com
exceção de Mombaça, estas são encontradas em todos os municípios. Em
Mombaça, a justificativa é de que o enfermeiro é recém-chegado à equipe, e por isto
esta ação ainda está sendo estruturada.
Em Deputado Irapuan Pinheiro, as práticas coletivas acontecem por meio
de um grupo com reuniões mensais, apenas para adolescentes e jovens do sexo
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará153
feminino. O grupo foi formado por iniciativas desta clientela, que sentindo a
necessidade de conversar sobre cuidados de saúde, convidou o enfermeiro para
integrar ao grupo.
Uma das meninas que freqüenta, chegou pra mim e perguntou se eu não
podia dar uma palestra, aí eu disse, a gente vai fazer um negocio melhor,
eu chamo de roda de conversa, vamos fazer uma roda para conversar e
depois a gente avalia. E aí elas gostaram muito, porque como eu to
dizendo, só com meninas elas conseguiram se abrir mais, as perguntas
foram bem mais específicas, e o tema eu deixo que elas escolham, e elas
se sentem mais a vontade (E1).
Em Jucás, as práticas coletivas se resumem a palestras realizadas em
parceria com a Secretaria de Educação do Município, onde, em reunião entre os
profissionais da educação e da saúde, são elaborados cronograma, com dia, horário,
especificação de alunos da escola e os temas a serem trabalhados. Estas não se
fazem para um grupo selecionado, instituído e constante, mas para escolares,
variando as classes durante os meses do ano.
A gente faz uma reunião antes, e depois dá a seção educativa. A [...],
combina com a gente o dia, a gente trata o calendário, a reunião, qual é o
assunto, qual é o colégio, qual é a hora...quais os adolescentes que
participam daqueles escola [...] (E3).
Já em Iguatu a prática coletiva se faz pelo profissional enfermeiro em 11
das 22 equipes existentes no Município. Dessas, oito estão em conformidade com o
Município de Jucás, ou seja, realização mensal de palestras nas escolas para
classes definidas pelos professores. Em três equipes, constata-se a formação de
grupos permanentes com ações planejadas e específicas para estes.
Assim, a gente é convidada pela escola e então a gente pede que eles vejam
com os alunos quais os temas que eles se interessam, os temas que a gente
fale e, ai a gente vai e faz a palestra. A gente estava até com um projeto de
ficar semanalmente, mas aí, a escola [...] o medico vai entrar de férias
também, e vai ficar muita coisa aqui e a escola disse que vinha solicitar
quando precisasse aí a gente só vai quando eles solicitam mesmo (E11).
É, a gente iniciou esse trabalho a partir de um projeto chamado saúde pra
educar o adolescente, e assim, como a gente faz para os outros grupos, pra
o idoso, para criança, pra mulher, sempre tem a mesma proposta. A ideia
central é orientação, mas não é só a questão do falar, fazer palestra é a
questão de ter ação, então a equipe faz acompanhamento das patologias,
mas também faz oficinas com eles de bisquit, de papel reciclado, de
artesanato em papel [...] aí a gente quer priorizar esse grupo de 23
adolescentes, pra depois fazer toda avaliação, e dar soluções aos
problemas que ele tem, a ideia é exatamente essa (E 13).
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará154
Ressalta-se que, a prática coletiva desenvolvida pelo enfermeiro, não
conta com a participação de outros profissionais da equipe, exceto quando
convidados.
Dos temas mais trabalhados nestas práticas coletivas em todos os
municípios pesquisados, destacam-se: uso de álcool e drogas, tabagismo,
sexualidade, AIDS/DST, gravidez, contracepção. Essas práticas contam com os
recursos materiais como apoio: álbuns seriados, cartazes e utilização de DVD.
Numa visão panorâmica da realização de atividades de grupo para
adolescentes e jovens desenvolvidas pelo enfermeiro, não se percebe uma
fundamentação da prática, tampouco o estabelecimento de objetivos, metas e
metodologia a ser utilizada, o que nos faz refletir até que ponto esta atividades se
faz referenciando o contexto social e com vistas a promover o desenvolvimento
humano, já que os temas trabalhados são enfatizados pela mídia, gravidez na
adolescência, doenças sexualmente transmissíveis (DST) e dependência química, e
a forma de serem repassados, vertical/horizontal e provida ou não de preconceitos.
Outro aspecto importante que não pode ser esquecido nas atividades de
grupo, além da visão mais abrangente no processo de integralidade da atenção à
saúde de adolescentes e jovens, refere-se à participação de todo os membros da
equipe numa prática interdisciplinar que não deve se restringir à divisão de ações e
atividades, em que cada profissional faz a sua parte, mas sim o envolvimento de
todos os profissionais, com interação e troca nos campos de suas competências,
levando-se, portanto, em consideração as especificidades e generalidades
profissionais
num
projeto
comum
para
viabilizar
a
atenção
integral,
e
consequentemente, a autonomia e a garantia do status do cidadão.
Se analisarmos a atenção a saúde de adolescentes e jovens nos
municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará, realizada por meio da
prática profissional do enfermeiro, constatamos que estas práticas ainda se
constituem com base numa visão unidimensional da saúde, cujas maiores
preocupações são a garantia do atendimento, o cuidado aos problemas orgânicos e
realização de orientações, sem uma preocupação maior com aspectos psicológicos
e socioculturais. Essa realidade limita a consolidação de uma atenção que
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará155
transcenda o desempenho dos tradicionais papéis dos profissionais na atenção à
saúde de adolescentes e jovens, necessitando repensar estas práticas.
Não nos foi possível depreender dos resultados o nível de conhecimento
dos profissionais da estratégia de Saúda da Família, sobre aspectos legais da
atenção a adolescentes e jovens. Nesse sentido, não podemos inferir até que ponto
os profissionais têm conhecimento dos conteúdos expressos em leis e normas,
sobre, por exemplo, interrupção da gravidez e doação de órgãos, mas foram
constatados em todos os profissionais entrevistados um cuidado e um respeito pelos
sentimentos de adolescentes e jovens, traduzidos na preocupação ética de
princípios de privacidade, confidencialidade e sigilo.
Respeito o paciente e só falo pra família sobre o problema se este trouxer
comprometimento. Tento orientar e quando não consigo encaminho para
outro serviço. (M13).
Primeiramente eu tento passar confiança, que aquilo ali não vai sair dalí do
PSF, pra tentarmos resolver entre nós, se for preciso conversar com a
família, eu oriento que ele mesmo estabeleça esse diálogo se ele não quer
eu peço autorização do jovem pra passar isso pros pais, mas na presença
dele.(E21).
Em relação aos aspectos éticos-legais, Ruzany (2008b) ressalta que a
obrigação dos profissionais de saúde de manter a confidencialidade não diminui
apenas porque o paciente é um adolescente. Essa autora enfatiza, ainda que,
A confidencialidade apóia-se no artigo 103 do código de Ética Médica, que
veda ao médico “revelar segredo profissional referente a paciente menor de
idade, inclusive a seus pais ou responsáveis legais, desde que o menor
tenha capacidade de avaliar seu problema e de conduzir-se por seus
próprios meios para solucioná-lo, salvo quando a não revelação possa
acarretar danos ao paciente”. (RUZANY, 2008b, p.28).
Em relação à confidencialidade e ao sigilo, também encontramos
referencia no Manual Saúde Integral de Adolescentes e Jovens – orientações para a
organização de serviços de saúde (2005), ao expressar que “adolescentes e jovens
devem ter a garantia de que as informações obtidas no atendimento não serão
repassadas aos seus pais e/ou responsáveis, bem como aos seus pares, sem a sua
concordância explícita”. (BRASIL, 2005, p. 7). Este mesmo documento, argumenta,
porém, que o sigilo pode ser quebrado “sempre que houver risco de vida ou outros
riscos relevantes tanto para o cliente quanto para terceiros, a exemplo de situações
como abuso sexual, ideia de suicídio, informação de homicídios e outros” (BRASIL,
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará156
2005, p.7), sendo, portanto, necessário do profissional o cuidado para que essas
informações sejam repassadas aos adolescentes e jovens durante as atividades
realizadas, evitando assim a perda da confiança no trabalho realizado pela equipe.
Analisando a prática dos profissionais da 18ª Microrregião de Saúde do
Estado do Ceará, no que se refere aos aspectos éticos, podemos inferir que vão ao
encontro ao recomendado na atenção integral à saúde de adolescentes e jovens, e
representa um avanço do ponto de vista da consideração da população desta faixa
etária como seres capazes de autonomia e de tomar decisões de forma responsável.
No que se refere a responsabilização e acompanhamento contínuo da
atenção prestado a saúde de adolescentes e jovens nas unidades de saúde nos
municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará, não encontramos
esta prática estabelecida. Como já referido, a assistência se faz pela demanda e
necessidade imediata e, quando do retorno, o cliente tem de passar por todo o
processo inicial, inclusive com a marcação de fichas para ser atendido.
O acompanhamento contínuo é um dos momentos mais importantes nas
atividades de uma equipe de saúde. Figurando não apenas como repetição de
atividades, subsidia a avaliação e permite a um só tempo a reflexão, a critica e o
aprimoramento das práticas profissionais. Possibilita, ainda, o conhecimento da área
adstrita e a apreensão de sua dinâmica, contida nos processos de ordem ideológica,
política, econômica, social e cultural, atuando ainda como eixo norteador a detectar
e a instrumentalizar a gestão para a intervir nos fatores de risco e vulnerabilidades
que podem interferir no processo saúde-doença.
No que diz respeito aos casos não resolvidos na unidade, esses são
encaminhados a outros setores, porém, mesmo com formulário para este fim, não há
um segmento, onde “a própria equipe que está realizando o primeiro atendimento
facilite o agendamento, de modo que o adolescente não se sinta fragmentado nessa
atenção” (BRASIL, 2005, p.26).
Constatamos portanto, que as recomendações para a referência, bem
como as de contrareferência, ainda não se fazem a contento nestes municípios,
muito embora preconizadas e divulgadas, no Manual do Ministério da Saúde, Saúde
integral de adolescentes e jovens: orientações para a organização de serviços de
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará157
saúde, as seguintes recomendações, “além da referência, é fundamental que ocorra
a contra-referência, quando a equipe de saúde tomará conhecimento dos
procedimentos realizados. Estas informações são importantes a fim de dar
continuidade ao acompanhamento dos casos” (BRASIL, 2005, p.26).
Também não se constata nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do
Estado do Ceará o uso de sistema de informação próprio para acompanhamento da
evolução dos clientes adolescentes e jovens nesse processo de sua vida. Os
indicadores utilizados são os preconizados pelo Ministério da Saúde de base nacional,
disponíveis na atenção básica, como “Sistema de Informação da Atenção Básica
(SIAB), Sistema de Informação de Nascidos Vivos (Sinasc), Sistema de Informação de
Mortalidade (SIM), Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) dentre
outros” (BRASIL, 2005, p.28).
Embora a estratégia de Saúde da Família tenha evoluído no que diz
respeito
à
reorientação
do
modelo
rumo
a
integralidade,
a
prática
do
acompanhamento e seguimento de adolescentes e jovens muito deixa a desejar,
merecendo maior reflexão e priorização desta ação, pois, em virtude de seu
potencial para indicação dos ajustes necessários, a sistematização e não apenas
repetição da prática muito podem contribuir para o desenvolvimento destas de forma
crítica, propiciando um espaço para o diálogo e, portanto, de responsabilização da
saúde e do autocuidado numa conduta de responsabilidade e autonomia.
Ante a realidade apreendida, concluímos que a assistência prestada a
adolescentes e jovens pelos profissionais da estratégia de Saúde da Família nos
municípios da 18ª microrregião de Saúde do Estado do Ceará, à luz da
integralidade, constitui grande desafio, carecendo de urgente superação de
barreiras, como qualificação dos profissionais e educação continuada que os faça
refletir sobre suas concepções e as concepções hegemônicas circulantes na
sociedade, que mascaram a realidade e comprometem a prática, a qual muitas
vezes passa a ter referências assistencialistas e paternalistas, que não consideram
a importância da participação de adolescentes e jovens para a formulação de novos
conhecimentos e saberes a partir da relação entre profissionais, adolescentes e
jovens e comunidade.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará158
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará159
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
À vista dos resultados apresentados na pesquisa, percebemos que,
embora a adolescência e a juventude tenham, nos últimos anos, se tornado um dos
centros da atenção da sociedade brasileira, nos municípios da 18ª Microrregião de
Saúde do Estado do Ceará, esta preocupação ainda não constitui prioridade em
termos de políticas públicas.
No que concerne as concepções e diretrizes políticas para adolescentes e
jovens, nos dez municípios que compõem esta região, constatamos a existência de
recomendações dos gestores e coordenadores para desenvolvimento de ações com
esta clientela, contudo, estas recomendações não estão expressas nem escritas,
tampouco são elaboradas com a participação de profissionais e destinatários.
O trabalho com adolescentes e jovens na estratégia de Saúde da Família,
de forma concomitante, desenvolvendo uma pratica individual associada a uma
prática coletiva, critério de inclusão adotado nesta pesquisa, foi encontrado apenas
nos Municípios de Deputado Irapuan Pinheiro, Jucás, Mombaça e Iguatu. Já nos
demais municípios, – Acopiara, Cariús, Catarina, Piquet Carneiro, Quixelô e
Saboeiro – constatamos que a atenção se realiza apenas por meio de consultas na
unidade.
Reflexo da falta de uma política expressa, a atenção a adolescentes e
jovens não se faz seguindo projeto ou programa com objetivos, metas e atividades
expressas, nem tão pouco seguindo protocolos ou normas, mas sim com base na
queixa e necessidade que os traz à unidade de saúde. Também não há seguimento
e/ou acompanhamento desta população por parte dos profissionais.
Por sua vez, os profissionais não possuem qualificação específica na área
de saúde de adolescentes e jovens, não conhecem as diretrizes das políticas
publicas para esse segmento e também não possuem uma concepção elaborada e
refletida sobre adolescência e juventude, reproduzindo o discurso do senso comum
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará160
e hegemônico da sociedade, o qual enfatiza a noção desta fase da vida como
marcada por fenômenos atemporais e universais.
Conforme os marcos conceituais utilizados, foi possível perceber que a
atuação profissional, embora ocorra dentro de uma equipe, não concorre para uma
integração dos saberes e troca nos campos de competência, realizando-se de forma
dissociada e muitas vezes justaposta. Especificamente para a atenção à saúde de
adolescentes e jovens, associa-se ainda a justificativa da falta de tempo, sendo
notada a desmotivação em muitos profissionais, que alegam desinteresse e
descompromisso desse segmento na realização das atividades que lhes são
destinadas.
A articulação com demais setores das áreas adscritas as estratégias de
Saúde da Família, para planejamento e elaboração de atividades, não é
sistematizada, não ocorrendo também a participação de adolescentes e jovens nas
ações que lhes são dirigidas.
No que se refere às práticas, observamos que para estas, os recursos
físicos e materiais disponíveis são apropriados precisando apenas de adequação. Já
com relação à assistência, constata-se que estas buscam muito mais a
normatização da vida dos adolescentes e jovens do que propriamente potencializar
sua emancipação. A ênfase maior está nas ações de orientação, as quais trazem a
idéia de que o modo de viver de adolescentes e jovens, por si só, é propiciador de
perigo, necessitando de alerta.
Nesse processo, no lugar de integrá-los numa discussão e busca de
melhores opções de intervenções que minimizem os determinantes sociais que
interferem na saúde, como as desigualdades sociais, econômicas e culturais, estas
ações estão mais voltadas para a prevenção de agravos à saúde, que na prática se
concretizam apenas mediante orientações, individuais, no consultório, quando da
constatação de risco, e coletivas, em palestras e sessões educativas para escolares
sendo os temas mais abordados DST/AIDS, gravidez na adolescência, dependência
química e uso de álcool e outras drogas, essas ações realizadas sem
monitoramento e seguimento posterior, já que, como dito pelos profissionais, não há
tempo disponível para esta atividade.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará161
Outra constatação que merece destaque é a falta do diagnóstico,
informações epidemiológicas e estatísticas a respeito dessa clientela no contexto
local, e pelo senso comum implicar em considerá-la do ponto de vista patológico
saudável, as ações em sua maioria não têm como base a realidade local, mas sim o
reflexo da conjuntura nacional.
Mesmo de forma contingencial e não fundamentada, mas guiadas pelo
senso comum, as iniciativas de trabalhos com adolescentes e jovens recomendados
pelas secretarias ou concretizados graças à sensibilidade e perfil de profissionais em
quatro municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará, tem
contribuído com informações e orientações aos adolescentes e jovens. Por outro,
lado a incipiência destas ações também inferem pela necessidade de políticas e
práticas mais efetivas que possam colaborar com o desenvolvimento saudável desta
clientela.
Cabe destacar também que empreendimentos são providenciados para
atenção integral à saúde de adolescentes e jovens por meio da Escola de Saúde
Pública de Iguatu - ESPI, que prioriza suas ações nesta área, contribuindo para
ampliação da ideia de adolescência e juventude e de trabalho com essa clientela.
Da analise e apropriação dos dados encontrados, concluímos que muitos
são ainda os desafios para alcance de uma atenção integral como preconizadas por
instituições no nível internacional e Ministério da Saúde. Sem dúvida o alcance da
atenção integral é possível, haja vista o fato de quatro municípios da 18ª
Microrregião de Saúde já haver despertado para esta necessidade e já terem ações
com esta clientela, muito embora os caminhos que conduzam a este horizonte
precisem ser repensados e constituídos socialmente.
Temos consciência da limitação de um trabalho de natureza qualitativa e
suas implicações nas generalizações, contudo, por mergulharmos nesse estudo de
forma intensa, alguns aspectos nos chamaram a atenção, nos fazendo ver a
necessidade de apontá-los, não como forma de indicar soluções, mas sim para
contribuir nas discussões e reflexões afim de que a atenção integral a saúde de
adolescentes e jovens na 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará se estabeleça
de forma efetiva. Desse modo justificamos as seguintes considerações:
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará162
1. a primeira dessas considerações refere-se à ausência de uma concepção de
adolescência e juventude pelos profissionais da estratégia de Saúde da
Família, pautada pela conjuntura econômica, cultural e social brasileira,
ficando evidente assim a necessidade de investimentos em qualificações e
capacitações que estimulem a reflexão e a elaboração de uma visão desta
fase da vida, levando em conta tanto as especificidades quanto as
multiplicidades, para que as ações desenvolvidas possam realmente ter
efetividade.
2. Sendo a Atenção Básica à Saúde responsável pela entrada das pessoas no
sistema, com o favorecimento da promoção de saúde e resolução dos
problemas básicos relacionados, outra consideração diz respeito ao
compromisso
dos
profissionais
que
integram
esse
nível,
para
a
responsabilização e condução de ações que ultrapassem enfoques setoriais,
contingentes e fragmentados, a fim de alcançar a atenção integral para esse
público.
3. Considerando que a integração entre os profissionais e a troca nos campos
de
competência
muito
podem
contribuir
para
um
acompanhamento
comprometido com a qualidade e o cuidado com adolescentes e jovens,
propiciando o estímulo à responsabilização e o autocuidado, imprescindível
se faz a revisão da organização do trabalho nas equipes da estratégia de
Saúde da Família, de modo a possibilitar a elaboração de um projeto comum,
fruto do compartilhamento em todas as etapas – planejamento, execução e,
dentro desta, partilha de decisões, reflexão acerca do trabalho conjunto e
flexibilização da divisão do trabalho e enfim avaliação.
4. Considerando que a necessidade de atenção integral à saúde de
adolescentes e jovens dentro uma visão ampliada de saúde, esta entendida
como produção social, muito poderia ser enriquecida e ampliada pelo
fortalecimento das intervenções com base na articulação e aliança com as
instituições locais, necessário se faz que mecanismos de parcerias sejam
estabelecidos, visando ao estabelecimento de práticas emancipatórias, com a
inserção da promoção à saúde dos adolescentes e jovens em todas as ações.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará163
5. Diante da doutrina de proteção integral instituída no Estatuto da Criança e do
Adolescente, no qual os adolescentes passaram a ser considerados sujeitos
de direitos, necessário se faz que se promova a participação dos
adolescentes e jovens na elaboração das ações que lhes são dirigidas como
forma de garantia de que estas sejam desenvolvidas com suporte nas
ansiedades e necessidades desta clientela, favorecendo seu desenvolvimento
de forma criativa e autônoma.
Do exposto, infere-se que a estruturação da atenção integral de
adolescentes e jovens nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do
Ceará se reafirma como um desafio, já que envolve questões que vão além da
competência técnico-científica e de decisão política.
Este desafio implica construção coletiva e não pode prescindir da
participação de adolescentes e jovens nas reflexões e discussões para elaboração
de diretrizes e normas. Não pode também deixar de levar em conta a compreensão
biopsicossocial dos indivíduos e de suas relações estabelecidas na sociedade, bem
como as dinâmicas e transformações sócioeconômicas desta, para que possa dar
conta das necessidades de atenção integral.
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará164
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Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará165
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Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará175
APENDICES
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará176
APENDICE A
Roteiro de Entrevista
Profissional Dentista da Estratégia de Saúde da Família
Pesquisa: Saúde de adolescentes e jovens: políticas e práticas nos municípios da
18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará.
EIXO 1 – Dados dos profissionais
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Quanto tempo tem de formado?
Há quanto tempo trabalha na estratégia da Saúde da Família?
Há quanto tempo trabalha nesta equipe?
Qual seu vínculo empregatício?
Reside no município?
É qualificado para desenvolvimento do trabalho com adolescentes e jovens
(treinamento/capacitação/aperfeiçoamento/especialização)?
EIXO 2 – Dados da prática
1. Como se dá o acesso dos adolescentes e jovens à unidade?
2. Como é feito o atendimento de adolescentes e jovens por você?
3. Quais os principais agravos constatados por você no atendimento com
adolescentes e jovens?
4. No seu atendimento individual há espaço para discussão orientação sobre:
Cárie dentária; Maloclusão; Mau hálito; Erupção do dente siso; Erosão
dentária; Hábitos: chupar dedo e chupeta, respirar pela boca, ranger os
dentes; Comportamento: fumo e álcool, uso de piercing; Escovação;
Alimentação; Uso do fio dental
5. No atendimento de adolescentes grávidas há uma abordagem diferenciada?
6. Você adota algum protocolo/norma escrita de manejo dos principais agravos
a saúde do adolescente? Quais?
7. Que conflitos/dificuldades são relatados por adolescentes e jovens no
atendimento?
8. Qual sua atitude diante dos conflitos relatados?
9. Há algum programa de atendimento extra unidade? Eventual, permanente,
emergência?
10. Na sua área existe atividade de grupo com adolescentes e jovens?
11. Planejamento/mobilização/recursos utilizados/temas/participação de outros
profissionais
12. O serviço avalia suas práticas e seus resultados com relação às ações
desenvolvidas com adolescentes e jovens?
13. Outros setores (educação, ação social, cultura, etc.) inseridos na sua área
adstrita estão sendo articulados à saúde para pensar a atenção ao
adolescente?
14. Quais as dificuldades que você encontra na sua prática diária com
adolescentes e jovens?
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará177
EIXO 3 – Dados referente às políticas implantadas implementadas para
adolescentes e jovens
1. A atenção á saúde de adolescentes e jovens desenvolvida em sua unidade foi
determinação da secretaria/coordenação ou iniciativa da equipe do SF?
2. Você conhece alguma política de atenção a saúde de adolescentes e jovens
em nível nacional, estadual ou local?
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará178
APENDICE B
Roteiro de Entrevista
Profissional enfermeiro da estratégia de Saúde da Família
Pesquisa: Saúde de adolescentes e jovens: políticas e práticas da atenção integral
nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará.
EIXO 1 – Dados dos profissionais
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Quanto tempo tem de formado?
Há quanto tempo trabalha na estratégia da Saúde da Família?
Há quanto tempo trabalha nesta equipe?
Qual seu vínculo empregatício?
Reside no município?
É qualificado para desenvolvimento do trabalho com adolescentes e jovens
(treinamento/capacitação/aperfeiçoamento/especialização)?
EIXO 2 – Dados da prática
1. Como é feito o atendimento de adolescentes e jovens por você?
2. Que procedimentos individuais de enfermagem você realiza com
adolescentes e jovens na sua unidade?
3. Existe espaço durante a consulta de adolescentes e jovens para relato de
conflitos/dificuldades na família ou na escola?
4. Qual sua atitude diante dos conflitos relatados?
5. Você adota algum protocolo/norma escrita de manejo dos principais agravos
a saúde do adolescente? Quais?
6. Há algum programa de atendimento extra unidade? Eventual, permanente,
emergência?
7. Você desenvolve atividade com grupo de adolescentes e jovens?
8. Planejamento/mobilização/recursos utilizados/temas/participação de outros
profissionais)
9. O serviço avalia suas práticas e seus resultados com relação as ações
desenvolvidas com adolescentes e jovens?
10. Outros setores (educação, ação social, cultura, etc.) inseridos na sua área
adscrita estão sendo articulados à saúde para pensar a atenção ao
adolescente?
11. Quais as dificuldades que você encontra na sua prática diária de atendimento
aos adolescentes e jovens na sua área de atuação?
EIXO 3 – Dados referente às políticas implantadas implementadas para
adolescentes e jovens
1. A atenção á saúde de adolescentes e jovens desenvolvida em sua unidade foi
determinação da secretaria/coordenação ou iniciativa da equipe do SF?
2. Você conhece alguma política de atenção a saúde de adolescentes e jovens
em nível nacional, estadual ou local?
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará179
APENDICE C
Roteiro de Entrevista
Profissional Médico da Estratégia de Saúde da Família
Pesquisa: Saúde de adolescentes e jovens: políticas e práticas da atenção integral
nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará.
EIXO 1 – DADOS DOS PROFISSIONAIS
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Quanto tempo tem de formado?
Há quanto tempo trabalha na estratégia da Saúde da Família?
Há quanto tempo trabalha nesta equipe?
Qual seu vínculo empregatício?
Reside no município?
É qualificado para desenvolvimento do trabalho com adolescentes e jovens
(treinamento/capacitação/aperfeiçoamento/especialização)?
EIXO 2 – DADOS DA PRÁTICA
1. Na sua opinião como deve ser a atenção a adolescentes e jovens nas
unidades básicas da Estratégia de Saúde da Família?
2. Como é feito o atendimento de adolescentes e jovens por você?
3. O que os adolescentes e jovens mais procuram/queixas na unidade?
4. Qual a sua atitude quando durante o atendimento o adolescente/jovem relata
conflitos/dificuldades seja na família, seja na escola, seja com amigos?
5. Você adota algum protocolo/ norma escrita de manejo dos principais agravos
a saúde do adolescente? Quais?
6. Existe um planejamento de atividades a serem desenvolvidas com
adolescentes e jovens pelos membros da equipe?
7. Quais as dificuldades que você encontra na sua prática diária de atendimento
aos adolescentes e jovens na sua área de atuação?
8. (infra-estrutura, equipamentos, apoio)
9. Há algum programa de atendimento extra unidade? Eventual, permanente,
emergência?
10. Você desenvolve atividade com grupo de adolescentes e jovens?
11. Planejamento/mobilização/recursos utilizados/temas/participação de outros
profissionais)
EIXO 3 – Dados referente às políticas implantadas implementadas para
adolescentes e jovens
1. A atenção á saúde de adolescentes e jovens desenvolvida em sua unidade foi
determinação da secretaria/coordenação ou iniciativa da equipe do SF?
2. Você conhece alguma política de atenção a saúde de adolescentes e jovens
em nível nacional, estadual ou local?
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará180
APENDICE D
Questionário
Profissional Enfermeiro da Estratégia de Saúde da Família
Pesquisa: Saúde de adolescentes e jovens: políticas e práticas da atenção integral
nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará.
Prezado Enfermeiro,
Como pré-requisito parcial para obtenção do título de mestre junto a
Universidade Estadual do Ceará, estamos desenvolvendo a pesquisa Saúde de
adolescentes e jovens: políticas e práticas da atenção integral nos municípios da 18ª
Microrregião de Saúde do Estado do Ceará.
Nesse sentido, contamos com sua colaboração para nos fornecer as
informações que se seguem contidas no questionário abaixo.
O questionário foi estruturado para ser auto preenchido. Seu propósito é
subsidiar o acompanhamento do desenvolvimento de ações nas unidades básicas de
saúde em consonância com a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde de
Adolescentes e Jovens.
Deverá ser preenchido com um X na opção que achar conveniente para cada
pergunta.
Sua colaboração é muito importante. Sem ela não será possível realizar o
estudo e, conseqüentemente, contribuir para o aperfeiçoamento da produção de
conhecimento relativo à dinâmica saúde/doença da população adolescente,
particularmente no âmbito da gestão municipal.
Agradeço antecipadamente sua gentileza e atenção.
Atenciosamente,
Adriana Alves da Silva
Município___________________________________________________________
Estratégia Saúde da Família - Equipe____________________________________
1.
2.
3.
4.
UBASF: _____________________________________________________
Endereço: _________________________________________________
Bairro: ________________________________________________
Quantos adolescentes e jovens existem cadastrados na UBASF?
______________________________________________________
A UBASF registra seus atendimentos com adolescentes e jovens separadamente
dos demais atendimentos?
Sim: (
)
Não: (
)
O atendimento de adolescentes e jovens na UBASF é:
Agendado: (
)
Demanda livre: (
)
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará181
5.
6.
7.
Existe um dia específico para atendimento de adolescentes e jovens na UBASF?
Sim: (
)
Não: (
)
Existe espaço físico na UBASF para consulta dos adolescentes e jovens?
Sim: (
)
Não: (
)
6.1. Este espaço tem privacidade?
Sim: (
)
Não: (
)
6.2. A UBASF dispõe de:
Balança:
Sim: (
)
Não: (
)
Aparelho de Pressão:
Sim: (
)
Não: (
)
Balança antropométrica:
Sim: (
)
Não: (
)
Espelho:
Sim: (
)
Não: (
)
Estadiômetro:
Sim: (
)
Não: (
)
Estetoscópio:
Sim: (
)
Não: (
)
Fita métrica:
Sim: (
)
Não: (
)
Lanterna:
Sim: (
)
Não: (
)
Oftalmoscópio:
Sim: (
)
Não: (
)
Orquidômetro:
Sim: (
)
Não: (
)
Otoscópio:
Sim: (
)
Não: (
)
Tabelas com Estágios de Tanner:
Sim: (
)
Não: (
)
Tabelas de peso e altura:
Sim: (
)
Não: (
)
Termômetro:
Sim: (
)
Não: (
)
6.3. Existe espaço físico na UBASF para atividade de grupo com
adolescentes e jovens?
Sim: (
)
Não: (
)
6.4. Existe trabalho com adolescentes na modalidade grupo?
Sim: (
)
Não: (
)
Em caso afirmativo responda as questões 6.5 e 6.6
6.5. O trabalho com adolescentes na modalidade grupo é realizado em
parceria com outra instituição?
Sim: (
)
Não: (
)
Em caso afirmativo qual instituição ______________________________
6.5. Dos temas abaixo quais os mais trabalhados nos grupos?
Uso de álcool e drogas (
)
Tabagismo
(
)
Sexualidade
(
)
AIDS/DST
(
)
Gravidez
(
)
Contracepção
(
)
Violência
(
)
Acidentes
(
)
Problemas familiares
(
)
Dificuldade escolar
(
)
Auto-estima
(
)
Projeto de vida
(
)
Cidadania
(
)
Ética
(
)
Outros____________________________________________________
A UBASF utiliza ficha clínica para avaliação bio-psico-social de adolescentes e jovens?
Sim: (
)
Não: (
)
Existe na UBASF encaminhamento de adolescentes e jovens para outros níveis
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará182
8.
de referência (secundário e terciário)?
Sim: (
)
Não: (
)
Em caso positivo responda a questão 8.1.
8.1. Este encaminhamento é feito em formulário/ ficha de referência?
Sim: (
)
Não: (
)
9.
Existem na UBASF normas escritas de manejo dos principais agravos de saúde do
adolescente?
Sim: (
)
Não: (
)
Em caso positivo especifique quais________________________________
10. Dos impressos abaixo marque os existentes na sua UBASF
Prontuário Familiar
Sim: ( ) Não ( )
Cartão SUS
Sim: ( ) Não ( )
Cartão de Gestante
Sim: ( ) Não ( )
Agenda para marcação de consulta
Sim: ( ) Não ( )
Receituários
Sim: ( ) Não ( )
Instrumentos de coleta de dados de consultas
Sim: ( ) Não ( )
Instrumentos de coleta de dados de ativid. de grupo Sim: ( ) Não ( )
Instrumentos de coleta de dados de ativid. educativas
Sim: ( ) Não ( )
Cartão de saúde do adolescente
Sim: ( ) Não ( )
Gráficos de peso
Sim: ( ) Não ( )
Gráficos de altura (velocidade do crescimento)
Sim: ( ) Não ( )
Índice de Massa Corporal (IMC)
Sim: ( ) Não ( )
Pranchas de Tanner p/avaliação estadiamento puberal Sim: ( ) Não ( )
Tabela de medidas da pressão arterial
Sim: ( ) Não ( )
Material educativo Folhetos
Sim: ( ) Não ( )
Kit educativo dos métodos anticoncepcionais
Sim: ( ) Não ( )
Álbuns seriados
Sim: ( ) Não ( )
Vídeos educativos
Sim: ( ) Não ( )
Modelo pélvico feminino
Sim: ( ) Não ( )
Modelo de genitália masculina
Sim: ( ) Não ( )
Cartazes
Sim: ( ) Não ( )
11 Como é atendido o adolescente que chega sozinho a UBASF?
(
)
Se tiver documento de identidade
(
)
Mesmo se não tiver documento de identidade
(
)
Se tiver encaminhamento de outra unidade ou entidade: escola, igreja
(
)
Mesmo se não tiver encaminhamento
Outra forma:______________________________________________
12 Como é atendido o adolescente que chega acompanhado a UBASF?
( ) De forma individual
( ) Junto com o/a acompanhante /responsável
De outra forma: _________________________________________
13. Que profissional recebe o adolescente quando ele chega ao serviço?
_____________________________________________________________
14 Existe na UBASF atendimento em saúde reprodutiva para adolescentes e jovens
através:
Pré – natal
Sim: ( ) Não: ( )
Planejamento familiar
Sim: ( ) Não: ( )
Em caso positivo para planejamento familiar responda as questões 14.1. e 14.2.
14.1. Os contraceptivos são
Sim: ( ) Não: ( )
disponíveis?
14.2. Que tipos estão disponíveis?______________________________________
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará183
15
16.
Nos casos de identificação de violência com adolescentes e jovens, a equipe
notifica?
Sim
( )
Não:
( )
Em caso positivo a que
instituição?___________________________________________
Que adolescentes e jovens dos grupos abaixo, tidos como vulneráveis, já foram e/ou
são atendidos em sua unidades?
Envolvidos com exploração sexual
(
)
Envolvidos com violência
(
)
Profissionais do sexo
(
)
Os trabalho perigoso, penoso, insalubre e noturno
(
)
Os moradores de rua
(
)
Os institucionalizados
(
)
Os que estejam cumprindo medidas sócio-educativas
(
)
Os que apresentam alguma deficiência
(
)
Os infectados com HIV
(
)
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará184
APENDICE E
Entrevista
Coordenadores da Atenção Básica
Pesquisa: Saúde de adolescentes e jovens: políticas e práticas da atenção integral
nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará.
1. Qual sua Formação acadêmica?
2. Quanto tempo tem de formado?
3. Há quanto tempo ocupa o cargo de coordenadora da estratégia de Saúde da
Família?
4. É qualificado para desenvolvimento do trabalho com adolescentes e jovens
(participou de treinamento/capacitação/aperfeiçoamento/especialização)?
5. Existe no município uma política de atenção a saúde de adolescentes e
jovens? Essas diretrizes estão impressas? Estão disponíveis para que outros
profissionais tenham conhecimento? Essas diretrizes estão implantadas?
6. Que orientações são feitas pela coordenação às equipes da estratégia da
Saúde da Família para atenção integral em saúde de adolescentes e jovens?
Quais?
7. Como se dá o trabalho com adolescentes e jovens nas unidades básicas da
estratégia da Saúde da Família de seu município?
8. Que dificuldades são encontradas para implantação/implementação de ações
de atenção integral a saúde de adolescentes e jovens no seu
município/região?
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará185
APENDICE F
Pesquisa: Saúde de adolescentes e jovens: políticas e práticas da atenção integral
nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará.
Entrevista
Núcleo Gestor da ESPI
1. Qual sua Formação acadêmica?
2. Você tem qualificação para desenvolvimento de ações em saúde de adolescentes
e jovens? (treinamento/capacitação/aperfeiçoamento/especialização)?
3. Na sua opinião qual a maior necessidades de adolescentes e jovens na
atualidade?
4. Que diretrizes norteiam/nortearão os projetos desenvolvidos pela ESPI com
adolescentes e jovens?
5. Na
sua
opinião
quais
as
dificuldades
encontradas
para
implantação/implementação de ações de atenção integral a saúde de
adolescentes e jovens no seu município/região?
6. Sendo a ESPI uma instituição formadora e tendo nos últimos dois anos se
preocupado com a área de saúde de adolescente e jovens, na sua opinião:
7. Como deve essa instituição capacitar profissionais para atenção integral a
saúde de adolescentes e jovens?
8. Que contribuições essa instituição pode dar ao próximo gestor da saúde para
elaboração de políticas para jovens visando uma assistência integral?
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará186
APENDICE G
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pesquisa: Saúde de adolescentes e jovens: políticas e práticas da atenção integral
nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará.
O Sr.(a) está sendo convidado(a) a participar do estudo científico que tem
como finalidade: Analisar as ações e as práticas implementadas nos municípios da
18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará que visa contribuir no fomento das
discussões e reflexões a respeito das ações voltadas para adolescentes e jovens
nesta região.
A participação nesse estudo não causa nenhum tipo de dano à
integridade física e psíquica dos participantes, podendo, contudo, haver algum tipo
de desconforto caso haja troca ou confronto de opiniões e julgamentos acerca da
temática, com outros atores sociais.
Será utilizada a entrevista individual como instrumento de coleta de
dados, gravada em gravador digital. A identidade do entrevistado será preservada,
sendo nomeado o cargo e a função que ocupa. O material gravado e transcrito ficará
sob a guarda do pesquisador responsável, resguardadas e garantidas as condições
de sigilo.
Os resultados do estudo serão divulgados em congressos, publicações
científicas e/ou publicações de modo geral.
Serão respeitadas as condições dispostas na resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde as quais garantem ao entrevistado:
1. Receber esclarecimentos sobre quaisquer dúvidas acerca da presente
pesquisa;
2. Retirar seu consentimento a todo e qualquer momento da presente pesquisa,
sem que isso incorra em penalidades ou constrangimentos de qualquer
espécie;
3. Receber garantia de anonimato, de que não haverá a divulgação se seu
nome ou de qualquer outra informação que comprometa a sua privacidade;
4. Ter acesso às informações e relatório final da pesquisa.
Através de sua colaboração será possível contribuir para o
aperfeiçoamento da produção de conhecimento relativo à dinâmica saúde/doença da
população adolescente, particularmente no âmbito da gestão municipal.
Qualquer esclarecimento que necessite poderá entrar em contato com
Adriana Alves da Silva, autora do estudo, pelo endereço: Universidade Estadual do
Ceará, Curso de Mestrado Profissional em Saúde da Criança e do Adolescente, Av.
Paranjana, 1700, Campus do Itapery, 60740-000, Fortaleza – Ceará, Fone
(85)3101.9924, ou e-mail: [email protected].
_________________________________________
Adriana Alves da Silva
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará187
TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO
Minha participação é voluntária e está formalizada através da assinatura
deste termo em duas vias, sendo uma retida por mim e a outra pela pesquisadora.
Poderei deixar de participar a qualquer momento, sem que isso acarrete qualquer
prejuízo à minha pessoa.
Pesquisador ________________________________________________________
Participante ________________________________________________________
Iguatu, _______ de _________________de 2008
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará188
ANEXOS
Saúde do adolescente: políticas e práticas nos municípios da 18ª Microrregião de Saúde do Estado do Ceará189
ANEXO A
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