Edição Atual - Faculdade de Educação
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Edição Atual ANAIS XXI SIMPÓSIO DE ESTUDOS E PESQUISAS DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS Pedagogia e Psicologia: Formação e Identidade Social Volume I, NúmeroI. Goiânia: FE-UFG, 2013. ANAI S DO SIMP ÓSIO DE ESTU DOS E PESQ UISA S DA FACU LDAD E DE EDUC AÇÃ O |1 [Type text] [Type text] [Type text] Goiânia – 2013 [Type text] [Type text] [Type text] AUTORIZAMOS A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. REFERÊNCIAS, REVISÃO GRAMATICAL E IDEIAS CONTIDAS NOS TRABALHOS PUBLICADOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES. FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) GPT/BC/UFG XXI SIMPÓSIO DE ESTUDOS E PESQUISAS DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – Pedagogia e Psicologia: formação e identidade social, Goiânia, GO, 2013. 1011 p. ANAIS – XXI SIMPÓSIO DE ESTUDOS E PESQUISAS DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO. Alessandra Oliveira Machado Vieira, Sheila Daniela Medeiros dos Santos, Wanderley J. Ferreira Junior (orgs.) 1. Educação 2. Pedagogia 3. Psicologia 4. Formação 5. Identidade REVISÃO PARCIAL Dra. Orlinda Maria de Fátima Carrijo Melo ARTE GRÁFICA [Type text] [Type text] [Type text] Dra. Anna Rita Ferreira Araújo (colaboradora) Dra. Alessandra Oliveira Machado Vieira Dra. Sheila Daniela Medeiros dos Santos Dr. Wanderley J. Ferreira Junior [Type text] [Type text] [Type text] Reitor Dr. Ed ward Madureira Brasil Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação Dra. Divina das Dores de P. Cardoso Pró-Reitora de Graduação Dra. Sandramara Matias Chaves Pró-Reitor de Extensão e Cultura Dr. Anselmo Pessoa Neto Diretora da Faculdade de Educação Dra. Miriam Fábia Alves V ice-diretora Dra. Maria Margarida Machado Coor d. do PPGE Dra. Marília Gouvêa de Mir anda V ice Coor d. PPGE Dr. José Adelson Cr uz [Type text] [Type text] [Type text] COMISSÃO ORGANIZADORA Alessandra Oliveir a Machado V ieira Anna Rita Fer reira de Araújo José Antunes Marques Márcia Fer reira Tor res Pereira Marilúcia Pereira do La go Sheila Daniela Medeiros dos Santos Sílvia Rosa da Silva Zanolla (Coor denadora) Simei Araujo Silva Vanessa Gabassa Wander ley J. Fer reira Junior Wander son Fer reira Alves Colaborador: Fábio Lopes de Oliveira Estagiária: Jakeline Elis Damacena Santos (Acadêmica de Pedagogia) [Type text] [Type text] [Type text] COMISSÃO CIENTÍFICA INTERNA Dra. Alessandra O. M. Vieira Dra. Marilúcia Pereira do Lago Dra. Amone Inácia Alves Dra. Miriam Bianca do Amaral Dra. Angela C. B. Mascarenhas Dra. Noêmia Lipovetsky Dra. Anna Rita Ferreira Araújo Dra. Nancy N. Lima Alves Dra. Carime Rossi Elias Da. Orlinda M. de F. Carrijo Melo Dr. Cristovão Giovani Burgarelli Dra. Rita Marcia M. Furtado Dr. Domenico Uhng Hur Dra. Sandra Valéria Limonta Dr. Edmar A. Barra e Lopes Dra. Sheila D. M. dos Santos Dr. Fernando Lacerda Junior Dra. Silvia Rosa da Silva Zanolla Dr. Jadir de Morais Pessoa Dra. Simei Araujo Silva Dr. José Antunes Marques Dra. Susie Amâncio G. de Roure Dra. Karine Nunes de Moraes Dra. Vanessa Gabassa Dra. Lúcia Maria de Assis Dra. Valdeniza Maria L. da Barra Dra. Marcela Toledo F. de Almeida Dr. Wanderley José F. Junior Dr. Márcio Penna Corte Real Dr. Wanderson Ferreira Alves Dra. Maria de Fátima Teixeira Barreto Dra. Marília Gouvea de Miranda COMISSÃO CIENTÍFICA EXTERNA Dra. Alba Cristhiane Santana (UFG/FL) Dra. Albertina Mitjáns Martinez (Unb) Dr. Nelson Cardoso Amaral (IF/UFG) Dra. Maria Claudia S. L. Oliveira (UnB) Dr. Odair Sass (PUC/SP) [Type text] [Type text] [Type text] Dr. Sílvio D. O. Gallo (Unicamp) Dr. Ulisses F. Araujo (USP – Leste) Dra. Valéria A. Araújo (USP) [Type text] [Type text] [Type text] SUMÁRIO COMUNICAÇÕES ORAIS GT 1 – CULTURA E PROCESSOS EDUCACIONAIS A CIÊNCIA DIALOGANDO COM A ARTE p. 28 Carina Diniz Rocha, Tula De Vito Franco, Sueli Teresinha de Abreu Bernardes A COLONIALIDADE SOBRE O SURDO p. 39 Karime Chaibue A CONSTRUÇÃO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS EM ESCOLAS PÚBLICAS p. 49 Sonia Maria Rodrigues, Júlio Emílio Diniz Pereira A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E A EDUCAÇÃO FÍSICA: LIMITES E POSSIBILIDADES p. 61 Marcos Jerônimo Dias Júnior A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA EM SITUAÇÃO DE QUEIXA ESCOLAR: O CONTEXTO DO SERVIÇO ESPECIALIZADO DE APOIO A APRENDIZAGEM p. 71 Janaína Vieira Pinto, Diva Maria Moraes Albuquerque Maciel A TRAJETÓRIA CONHECIMENTO DA ARTE-EDUCAÇÃO NO BRASIL: DA TÉCNICA AO p. 83 “AS CRIANÇAS TEM DIREITO DE ESTUDAR, DE APRENDER, DE CANTAR E SONHAR COM COISAS BOAS”: DIÁLOGO COM AS CRIANÇAS E SEUS DIREITOS p. 95 Sueli Heloisa Doriguetto Ferreira, Marcelo Silva, Sueli Teresinha de Abreu Bernardes Milna Martins Arantes, Acácia Aparecida Bringel AVALIAÇÃO E CURRÍCULO: EM BUSCA DA REALIDADE COMO PRÁTICA DE MEDIAÇÃO p. 107 Adicélia Francisco Duarte Alves DANÇA E EDUCAÇÃO INTEGRAL: DIÁLOGOS ENTRE ARTE E ENSINO NA CONSTRUÇÃO DE SUJEITOS p. 118 Paulo Henrique Alves de Souza, Renato Ribeiro Rodrigues DANÇAS MIDIÁTICAS E ESCOLA: POSSIBILIDADES DE ENSINO E APRENDIZAGEM PELA PEDAGOGIA HISTÓRICO CRÍTICA p. 130 Renato Ribeiro Rodrigues, Paulo Henrique Alves de Souza EDUCAÇÃO E GOVERNO DA INFÂNCIA: PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS E ÉTICOS NO CINEMA p. 142 Yonara Karolliny Plácido Cintra, Jessica Carneiro Gonçalves, Luiza Pereira Monteiro EDUCAÇÃO, CULTURA E TORCIDAS ORGANIZADAS: ANÁLISE DO POTENCIAL (DE)FORMATIVO DO FUTEBOL CONTEMPORÂNEO [Type text] [Type text] [Type text] p. 151 Luís César de Souza, Sílvia Rosa da Silva Zanolla EXPERIMENTO DIDÁTICO FORMATIVO: INVESTIGANDO POSSIBILIDADE PARA A APRENDIZAGEM DA ARTE NA ESCOLA UMA p. 161 Ana Rita da Silva, Beatriz Aparecida Zanatta INFÂNCIA E ARTE p. 172 André Barcellos Carlos de Souza MUCAMBO DE BAIXO, UM QUILOMBO CONTEMPORÂNEO? p. 182 Edson Carvalho de Souza Santana O ESCOLAR SURDO E SUAS DIMENSÕES MUSICOTERAPÊUTICA COMO INTEGRAÇÃO CONSTITUTIVAS: A ESCUTA p. 196 O FLORESCER DO IPÊ: A DIGNIDADE E CIDADANIA DOS VELHOS TRANSFORMADA PELA EDUCAÇÃO NO ESTADO DO TOCANTINS p. 207 Marcus Vinicius Alves Galvão, Sandra Rocha do Nascimento, Soraya Bianca Reis Duarte Natália Belo Moreira, Luiz Sinésio Silva Neto, Jocyléia Santana dos Santos, Neila Barbosa Osório O JOVEM E A FAMÍLIA: OS ESTUDANTES QUE INGRESSARAM POR MEIO DO PROGRAMA UFGINCLUI p. 218 Marylia Glenda Lopes de Sousa, Edna Mendonça Oliveira de Queiroz PROPAGANDA: IMPLICAÇÕES DA PUBLICIDADE NA FORMAÇÃO DE VALORES NA INFÂNCIA p. 229 Humberto Rocha de Souza, Maria Nalva R de Araujo REFORMULAÇÃO CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO NO ESTADO DE GOIÁS: ALÉM DE TUDO, UM PROCESSO IDENTITÁRIO! p. 239 Vinícius Duarte Ferreira, Sérgio Pereira da Silva REPRESENTAÇÕES SOCIAIS EM DIREITOS HUMANOS A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES DE ANÁPOLIS-GOIÁS Christiane de Holanda Camilo, Rosani Moreira Leitão SEXUALIDADE: O TRABALHO DO EDUCADOR FRENTE À EDUCAÇÃO INFANTIL p. 250 p. 262 Luana Jane Assis e Silva Martins, Renata Magalhães Naves, Halline Mariana Santos Silva GT 2 – EDUCAÇÃO, TRABALHO E MOVIMENTOS SOCIAIS A EDUCAÇÃO COMO FENÔMENO SOCIAL p. 274 Nayara Lopes Botelho, Claudemir Figueiredo Pessoa A EDUCAÇÃO DO BRASIL E DA ESCOLA BRASILEIRA NASCEM DA MAQUINAÇÃO: TEORIA DA PRÁTICA DO SISTEMA DE ENSINO BRASILEIRO DE 1930 A 1980 p. 284 Álcio Crisóstomo Magalhães A ESCOLA DA VIDA: MEMÓRIAS ESCOLARES DE ASSENTADAS RURAIS Amone Inacia Alves [Type text] [Type text] [Type text] p. 296 AVALIAÇÃO EM TURMAS MULTISSERIADAS: ONDE ESTÃO SUAS PROPOSTAS? Fernanda Alves de Oliveira, José Paulo Pietrafesa [Type text] [Type text] [Type text] p. 307 EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL OU CONSERVAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL: UMA REFLEXÃO SOBRE A EDUCAÇÃO E O TRABALHO NO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA BOURDIENIANA p. 317 Núbia Martins Gonzaga, José Adelson da Cruz IDENTIDADE POLÍTICA E A EDUCAÇÃO NO SISTEMA CAPITALISTA: TENSÕES E CONFLITOS p. 329 Kamylla Pereira Borges MOVIMENTOS SOCIAIS: ORGANIZAÇÃO COLETIVA PARA A CONQUISTA DA TERRA, PERMANÊNCIA E QUALIDADE DE VIDA NO CAMPO Queina Lima da Silva, Cleonice Ferreira dos Santos, Nilza da Silva Martins OS MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO E SUA TRAJETÓRIA DE LUTA PELA EDUCAÇÃO p. 339 p. 350 Cleonice Ferreira dos Santos, Queina Lima da Silva, Nilza da Silva Martins GT 3 – ESTADO E POLÍTICA EDUCACIONAL AVALIAÇÃO NA DIMENSÃO ESCOLAR E O CURRÍCULO p. 363 Caroline Araújo de Souza, Sheilla Martins Rosa e Lúcia Maria de Assis EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: PERFIL DOS ALUNOS ATENDIDOS PELA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE ENSINO DE URUAÇU – GO p. 373 Camila Costa de Oliveira Teixeira Álvares, Irani Camilo de Souza Silva e Marcilene Dias Bruno de Almeida EDUCAÇÃO INFANTIL EM CATALÃO (GO): INDICADORES DE ACESSO E CONDIÇÕES DE OFERTA p. 385 Altina Abadia da Silva, Elma Valéria Lopes e Maisa Pires Pacheco ENSINO SUPLETIVO EM GOIÁS p. 395 Danielly Cardoso da Silva e Maria Margarida Machado INFÂNCIA E EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES RACIAIS p. 406 Neusani Oliveira Ives e Wilma de Nazaré Baía Coelho O PROCESSO DE CRIAÇÃO, CONSOLIDAÇÃO E EXPANSÃO DO CAMPUS JATAÍ DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS p. 417 Aline Cristina Soares Pereira e Márcia Santos Anjo Reis POLÍTICA DE IMPLEMENTAÇÃO DAS DIRETRIZES PARA EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS E O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA NA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE GOIÂNIA p. 428 Marcilene Pelegrine Gomes, Warlúcia Pereira Guimarães e Adriane Camilo Costa UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS: DESAFIOS, DILEMAS E PERSPECTIVAS Renata Ramos da Silva Carvalho e Nelson Cardoso Amaral [Type text] [Type text] [Type text] p. 439 [Type text] [Type text] [Type text] GT 4 – FORMAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE A CONCEPÇÃO DO SER PROFESSOR: PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE APORTES DA FORMAÇÃO E p. 453 Suelaynne Lima da Paz A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES EM LÍNGUA INGLESA: UM OLHAR REFLEXIVO p. 465 Káritha Andrade Cavalcante, Bruno Augusto de Souza e Francisco Edilson de Souza A IMPLEMENTAÇÃO DA LEI Nº 11.645/2008 NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO DE CRIXÁS-GO p. 474 Lídia da Silva Cruz Ribeiro A PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU NA UEG E A FORMAÇÃO PARA A DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA p. 484 Valdirene Alves de Oliveira ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES: PESQUISA COMO PRINCÍPIO ARTICULADOR DA RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA A p. 497 Luelí Nogueira Duarte e Silva CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM PARA FORMAÇÃO DE LEITORES E ESCRITORES p. 506 Wanessa Cristina Manhente Rocha, Keila Matida de Melo e Carime Rossi Elias. CONTRIBUIÇÕES DA FENOMENOLOGIA DE HEIDEGGER À FORMAÇÃO DE PEDAGOGOS- PROFESSORES - FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM ESTÁGIO p. 519 Patrícia Medina DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA FORMAÇÃO DOCENTE: UM OLHAR SOBRE O PIBID p. 530 Carmem Lucia Artioli Rolim EDUCAÇÃO DA CRIANÇA NA ABORDAGEM ESCOLANOVISTA: APROXIMAÇÕES AO PENSAMENTO DE LOURENÇO FILHO PRIMEIRAS p. 540 Ivone Garcia Barbosa, Nancy Nonato de Lima Alves e Telma Aparecida Teles Martins Silveira EDUCAÇÃO INTEGRAL NA ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL: DA PROPOSTA DE ANÍSIO TEIXEIRA ATÉ OS DIAS ATUAIS p. 551 Sandra Almeida Ferreira Camargo ENSINO E APRENDIZAGEM NO TEMPO-ESPAÇO DAS ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL p. 562 Sandra Valéria Limonta ESTÁGIO E PRÁTICA DOCENTE EM GEOGRAFIA: O INÍCIO DE UMA LONGA JORNADA p. 573 Bruno Augusto de Souza, Káritha Andrade Cavalcante e Janes Socorro da Luz INTERVENÇÃO NA IDENTIDADE FORMAÇÃO DE PROFESSORES PROFISSIONAL DOCENTE VISANDO A p. 582 O ENSINO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA ESCOLA PRESIDENTE TANCREDO NEVES NO MUNICÍPIO DE BARROLÂNDIA/TOCANTINS p. 594 Raquel Antunes Scartezini, Terezinha de Camargo Viana, Carles Monereo Font [Type text] [Type text] [Type text] Marina Grigório Barbosa de Sousa e Jocyléia Santana dos Santos [Type text] [Type text] [Type text] O PROUCA – PROGRAMA UM COMPUTADOR POR ALUNO NO ESTADO DE GOIÁS p. 605 Sebastião Pereira dos Santos e Mirza Seabra Toschi PARADIGMAS PROFESSORES DE CIÊNCIAS NAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS SOBRE p. 616 Dagmar Dnalva da Silva Bezerra e Ruth Catarina Cerqueira Ribeiro de Souza POLITICAS PÚBLICAS E UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL p. 628 Vanessa Nunes da Silva e Isabel Cristina Auler Pereira REFLEXÕES SOBRE AS TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO A PARTIR DA TEORIA HISTÓRICO CULTURAL p. 640 Maria Aparecida Candine de Brito e Beatriz Zanatta REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM PROJETOS INTERDISCIPLINARES: UM ESTUDO DE CASO NO CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA DA UNIUBE Karla de Almeida Borges e Vania Maria de Oliveira Vieira REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS ALUNOS DOS CURSOS DE PEDAGOGIA E MATEMÁTICA, NA MODALIDADE PRESENCIAL E A DISTÂNCIA, SOBRE UMA “BOA PRÁTICA PEDAGÓGICA” p. 650 p. 661 Vania Maria de Oliveira Vieira, Camilla de Oliveira Vieira, Carmélia GT 5 – FUNDAMENTOS DOS PROCESSOS EDUCATIVOS A EDUCAÇÃO E A PEDAGOGIA NA TRANSIÇÃO DA MODERNIDADE PARA CONTEMPORANEIDADE: DA ESCOLA CARTESIANA À ESCOLA CRIATIVA p. 674 Edna Maria Cruz Pinho e Maria José de Pinho (orientadora) A MITIFICAÇÃO DA RAZÃO E O ESCLARECIMENTO DO MITO: ENREDAMENTOS E TESSITURAS DIALÉTICAS p. 686 Cynthia Maria Jorge Viana A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO EM LUIZ PEREIRA – INTELECTUAIS E PADRÕES DE CIENTIFICIDADE ENTRE AS DÉCADAS DOS ANOS DE 1950 E 1960. p. 696 Núbia Ferreira Ribeiro AÇÕES AFIRMATIVAS NO ENSINO SUPERIOR: APONTAMENTOS DE UM ESTUDO. p. 710 Eduarda Assis Castro, Paula Fernandes de Assis Crivello Neves e Gina Glaydes Guimarães de Faria EDUCAÇÃO E ESCOLA À LUZ DO PENSAMENTO ARISTOTÉLICO: A FINALIDADE DA VIDA HUMANA, O PRAZER E O TEMPO LIVRE. p. 720 Luciene Maria Bastos, Ildeu Moreira Coêlho MODERNIDADE, TRABALHO E INDIVÍDUO: UM ESTUDO DA CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO ALIENADO. p. 731 Sara Lilian de Queiroz Silva MODOS DE PENSAMENTO DE ADULTOS EM PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO NA EJA: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA HISTÓRICO. Ana Catharina Mesquita de Noronha, Leôncio José Gomes Soares e Maria de Fátima Cardoso [Type text] [Type text] [Type text] p. 742 Gomes O PROCESSO FORMATIVO EM ROUSSEAU. p. 753 Kátia Braga Arruda Silva SENTIDO DA FILOSOFIA NA FORMAÇÃO DOCENTE. p. 761 Jéssica Nayara Silva Leite Tavares SOBRE DOCÊNCIA E SERVIDÃO DAS PAIXÕES: MEDITAÇÕES ESPINOSANAS DO AFETO À POTICA. p. 770 Gisele Toassa GT 6 – PROCESSOS PSICOSSOCIAIS A PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL NOS PLANOS DE CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA UFG p. 781 Renata Linhares e Mona Bittar AGRESSOR SEXUAL CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE: PATOLOGIA OU FENÔMENO SÓCIO p. 790 Regina Magna Fonseca e Luiza Pereira Monteiro ALMAS QUE SANGRAM. O SENTIDO DA CULPA p. 801 Karina Mendonça Santos, Simone dos Santos Abadia e Luiza Pereira Monteiro (Orientadora) ARTE E FORMAÇÃO: ELEMENTOS DE UNIDIMENSIONAL EM HERBERT MARCUSE RESISTÊNCIA À SOCIEDADE p. 813 CRIANÇAS INSTITUCIONALIZADAS, FAMÍLIA E DIREITOS HUMANOS: UMA TRÍADE A SER DEBATIDA. p. 823 Daviane Rodrigues Ribeiro e Juliana de Castro Chaves (Orientadora) Sheila Daniela Medeiros dos Santos INDISCIPLINA, VIOLÊNCIA E MAL ESTAR NA EDUCAÇÃO p. 834 Yara Magalhães dos Santos INFÂNCIA: UM TEMPO SEM LUGAR p. 845 Simone dos Santos Abadia, Luiza Pereira Monteiro e Karina Mendonça Santos LINGUAGEM E DISCURSO: A CRIANÇA E A INFÂNCIA NO MOVIMENTO DOS SENTIDOS p. 856 Maria Aurora Neta RELATO DE EXPERIÊNCIA EM PSICOLOGIA ESCOLAR p. 868 Marcelo Marques Assis, Marina Magalhães David e Maria Betânia Gondim da Costa GT 7 – PROCESSOS CLÍNICOS E ABORDAGENS DE ATENDIMENTO [Type text] [Type text] [Type text] A PSICOTERAPIA DIALÓGICA E SEUS BENEFÍCIOS À FORMAÇÃO HUMANA. Denise Assis Fleury Curado e Ivana Orionte [Type text] [Type text] [Type text] p. 882 PÔSTERES GT 1 – CULTURA E PROCESSOS EDUCACIONAIS A COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO SÓCIOCULTURAL DA CRIANÇA NA ARTE INFANTIL p. 895 Marconys Silva das Chagas, Alexandre Silva dos Santos Filho EDUCAÇÃO ALÉM APRENDIZAGEM DOS MUROS ESCOLARES: PALCO DE ENSINO E p. 902 Hugo de Carvalho Sobrinho, Denise Regina Costa da Silva Oliveira EDUCAÇÃO ESTÉTICA DA INFÂNCIA p. 908 Thais Gomes Silva, Francisca Queiroz de Paula Landim, Luiza Pereira Monteiro EXPERIÊNCIAS NO PORTAL DO FÓRUM GOIANO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA), NO GRUPO DE ESTUDOS DE EDUCAÇÃO DE ADOLESCENTES JOVENS E ADULTOS (GEAJA) E NO FÓRUM DE EJA p. 913 Maria do Rosário Teles de Farias, Maria Emilia de Castro Rodrigues O TRATO DA PSICOMOTRICIDADE COM CRIANÇAS AUTISTAS: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA p. 919 Victor Hugo de Paiva Arantes, Álcio Crisóstomo Magalhães GT 3 – ESTADO E POLÍTICA EDUCACIONAL EVASÃO NO IFG CAMPUS URUAÇU A PARTIR DA PERSPECTIVA DOS DOCENTES p. 926 Irani Camilo de Souza Silva GT 4 – FORMAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE A EXPERIÊNCIA DE PARTICIPAÇÃO DE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA EM GRUPOS DE PESQUISA: A FORMAÇÃO DO PROFESSOR-PESQUISADOR p. 932 Ana Claudia Santos Silva e Fátima Teresa B. Branquinho ARTES VISUAIS E TECNOLOGIA: POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO, A CRIAÇÃO E A APRECIAÇÃO p. 938 Jhon Maykel Fernandes CONSTITUIR-SE PROFESSOR (A) DE QUÍMICA: UMA ANÁLISE DAS CONDIÇÕES E DESAFIOS PARA PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DE EDUCAÇÃO E ALUNOS EGRESSOS DO IFG – LUZIÂNIA Arcedino de Moura Lucas e Cleberson Pereira Arruda [Type text] [Type text] [Type text] p. 945 LIMITES DA DISCUSSÃO SOBRE OS ESTATUTOS DO CONHECIMENTO BIOLÓGICO EM AULAS DE BIOLOGIA NO ESTÀGIO DOCÊNCIA p. 954 2Rosa Gonçalves GT 5 – FUNDAMENTOS DOS PROCESSOS EDUCATIVOS CAMINHOS E POSSIBILIDADES METODOLÓGICOS DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL p. 961 Cleicianne Barreira Araújo FORMAÇÃO E ÉTICA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA p. 969 Icaraí Daiane Santana Mara Analu Bueno (Orientadora) NÚCLEO DE APOIO PSICOPEDAGÓGICO – UFG/CAMPUS JATAÍ: UMA TRAJETÓRIA EM CONSTRUÇÃO. p. 976 Sinara Rosa Carvalho e Silva Aurélia Magalhães de Oliveira Souza e Ellen Kelúbia Gonçalves Silva A PRODUÇÃO DE TEXTO NA SALA DE AULA p. 980 Marly dos Santos Almeida GT 6 – PROCESSOS PSICOSSOCIAIS EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO EM LICENCIATURA DE PSICOLOGIA: REFLEXÕES E DESAFIOS p. 989 Amanda Cristina Fonseca Palla, Anna Karollina Silva Alencar, Margareth Nascimento de Sousa Lira e Jordana de Castro Balduíno(Orientadora) GRUPOS DE REFLEXÃO COM PAIS: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA MEDIADA PELA PSICOLOGIA ESCOLAR p. 995 Klênio Antônio Sousa, Liliane dos Guimarães Alvim Nunes, Cláudia Silva de Souza e Lucianna Ribeiro de Lima INTERVENÇÕES GRUPAIS COM ADOLESCENTES EM LIBERDADE ASSISTIDA. Lucas Rossato, Ivan Duarte Brochado e Tatiana Machiavelli Carmo Souza [Type text] [Type text] [Type text] p. 1004 Apresentação Apresentamos os Anais do XXI Simpósio da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, realizado entre os dias 18 e 21 de junho de 2013, em Goiânia, que se propôs a debater o tema Educação e Psicologia: formação e identidade social. A proposta do Simpósio visou contribuir com o esforço de estabelecer uma interlocução entre a Psicologia e a Pedagogia, respeitando e explorando suas especificidades teóricas, epistemológicas e práticas. Ao se considerar que os cursos de Pedagogia e Psicologia encontram-se abrigados no interior da Faculdade de Educação e que a relação entre professores e alunos reflete experiências específicas e interdisciplinares e, ainda, que esses sujeitos convivem cotidianamente em um mesmo espaço de estudo e trabalho, torna-se necessário incentivar reflexões e ações que visem enfrentar suas eventuais contradições e estabelecer interlocuções de modo propositivo. Um dos principais objetivos do evento foi envolver, de um modo intenso, professores e alunos de ambas as áreas, para, em conjunto, materializarem o princípio primeiro de estreitar um diálogo substantivo, cuja referência é o debate acadêmico qualificado. Longe de propugnar por uma relação de caráter conciliatória entre Pedagogia e Psicologia, a proposta da Comissão do Simpósio de 2013 refletiu a tentativa de promover uma verdadeira experiência no sentido amplo, ação efetivamente coletiva, considerando desafios específicos de cada área; consistiu no objetivo de combater o esmorecimento acadêmico que não raras vezes se manifesta pela intolerância ao debate crítico e ao diálogo. A primeira edição do Simpósio ocorreu no ano de 2001, em substituição ao evento científico intitulado Semana da Faculdade de Educação, que era realizado desde 1991. A mudança de designação deveu-se à ampliação do encontro, que passou a assumir uma dimensão nacional, ao reunir participantes e conferencistas procedentes não apenas de Goiás, mas também do Distrito Federal, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Tocantins, Rio de Janeiro e São Paulo. [Type text] [Type text] [Type text] Em 2006, com a criação do curso de Psicologia na Faculdade de Educação, as edições do Simpósio ganharam uma dimensão ainda maior aprofundando as discussões no âmbito da Psicologia e da Educação, como áreas independentes, mas que se relacionam. Os dados estatísticos contidos nos relatórios dos Simpósios precedentes registram uma média de 1180 inscrições e mostram um conjunto de participantes formado por professores do ensino básico das redes municipal, estadual e privada; professores do ensino superior das universidades públicas e particulares; estudantes de graduação e de pós-graduação, pesquisadores e profissionais da Educação, da Psicologia e de outras áreas do conhecimento. Pesquisadores renomados já estiveram presentes nos eventos anteriores, dentre os quais se destacam: Acácia Kuenzer, Bernard Charlot, Dalila A. Oliveira, Gaudêncio Frigotto, Ignácio Dobles, Kazumi Munakata, José Leon Crochik, Leandro de Lajonquière, Luiz Fernandes Dourado, Olgária Matos, Maria Inês Assumpção Fernandes, Demerval Saviani, Miriam Warde, Ildeu M. Coelho, Newton Duarte, José Carlos Libâneo, Odair Sass, Ricardo Antunes, Sônia Leite, Valdemar Sguissardi, Vitor Paro, e outros. Trata-se de um convite à reflexão em torno de temas que são da maior relevância e para os quais a Faculdade de Educação, mais uma vez, teve o prazer de acolher um público bastante diversificado: alunos das licenciaturas, professores da educação básica e do ensino superior, pós-graduandos e profissionais de diversas áreas. Este ano, o quadro de programação do evento contou com a apresentação de 134 trabalhos entre conferências (3), minicursos (31), mesas redondas (05), comunicações de pesquisas (78) e pôsteres (17). Refletindo a dimensão da diversidade de reflexões sobre o tema proposto, encontram-se reunidos nesses Anais, os trabalhos completos referentes às Comunicações e aos Pôsteres, organizados e publicados conforme os sete eixos temáticos: Cultura e Processos Educacionais; Educação, Trabalho e Movimentos Sociais; Estado e Política Educacional; Formação e Profissionalização Docente; Fundamentos dos Processos Educativos; Processos Psicossociais; Processos Clínicos e Abordagens de Atendimento. [Type text] [Type text] [Type text] Consideramos que os conhecimentos veiculados no XXI Simpósio possam contribuir com o debate e a compreensão das questões fundamentais que envolvem pedagogos e psicólogos na sociedade contemporânea, para tanto, contamos mais uma vez com a presença de destacados pesquisadores de algumas das principais universidades do Brasil e do exterior. Tendo em vista o constante desafio do debate critico diante dos problemas fundamentais que emergem dessas duas áreas, permanece o nosso convite para essa discussão, instigadora de novas reflexões acadêmicas e sociais. Comissão Organizadora [Type text] [Type text] [Type text] Programação Dia 18/06/2013 (Terça - Feira) 16h - 19h – Credenciamento 18h30min. - 18h45min. – Apresentação Artística - Projeto Canções do Bem 18h45min. - 19h15min. – Abertura Oficial 19h15min. - 22h – Conferência I Pedagogia e Psicologia – formação e identidade social Dr. José Leon Crochik (USP) Dr. Antonio Joaquim Severino (USP) Coord. Profa. Dra. Sílvia Rosa da Silva Zanolla Local: Auditório da Faculdade de Educação Dia 19/06/2013 (Quarta - Feira) 7h30min. - 13h30min. – Credenciamento 9h - 9h15min. – Apresentação Artística - Grupo Dona Flora 9h15min. - 12h – Conferência II Pesquisa e Política de Pós-Graduação: Pedagogia e Psicologia em debate Dr. Oswaldo Yamamoto (UFRN) Dr. João Ferreira Oliveira (UFG) Coord. Profa. Dra. Marília Gouvêa de Miranda Local: Auditório da Faculdade de Educação Comunicações Orais 14h - 15h30min. – Sessão 1 Gt’s [Type text] [Type text] [Type text] 16h - 17h30min. – Sessão 2 Gt’s Local: Faculdade de Educação 19h - 22h – Conferência III Educação, Pedagogia e Psicologia – formação e identidade social Dr. José Carlos Libâneo (PUC/GO) Dra. Ana Mercês Bahia Bock (PUC/SP) Coord. Profa. Dra. Sandra Valéria Limonta Local: Auditório da Faculdade de Educação Dia 20/06/2013 (Quinta – Feira) 8h - 9h – Sessão de Pôsteres Local: Pátio da FE/UFG Gt´s, Núcleos e Grupos de Pesquisas Local: Faculdade de Educação 9h15min. - 12h – Mesa Redonda I Identidade e formação profissional no campo da Pedagogia Dra. Marilene Proença R. De Souza (USP) Dra. Iria Brzezinski (PUC/GO) Coord. Prof. Dr. Wanderley J. Ferreira Júnior Local: Auditório da Faculdade de Educação 14h - 17h – Minicursos Local: Auditório da Faculdade de Educação 17h - 17h30min. – Apresentação Cultural - Uma vida em oito tempos/APAE 17h - 19h – Lançamento de livros Coord. Profa. Ms. Márcia Ferreira Torrres Pereira e Prof. Dr. Wanderley J. Ferreira Júnior Local: Pátio da FE/UFG [Type text] [Type text] [Type text] 19h - 22h – Mesa Redonda II Trabalho e Saúde Dr. Sebastião B. Costa Neto (PUC/GO) Dr. Paulo C. Zambroni de Souza (UFPB) Coord. Prof. Dr. Wanderson Ferreira Alves Local: Auditório da Faculdade de Direito 19h - 22h – Mesa Redonda III O lugar da Faculdade de Educação na formação docente da UFG Dra. Maria Margarida Machado (UFG) Dra. Sandramara Matias Chaves (PROGRAD/UFG) Coordenador Prof. Dr. Márcio Penna Corte Real Local: Auditório da Faculdade de Educação Dia 21/06/2013 (Sexta – Feira ) 8h - 11h – Minicursos Local: Auditório da Faculdade de Educação 14h - 17h – Mesa Redonda IV Cultura, infância e formação Dra. Ivone Garcia Barbosa (UFG) Dra. Angela M. C. Uchôa Abreu Branco (UnB) Coord. Profa. Dra. Simei Araújo Silva Local: Auditório da Faculdade de Educação Mesa Redonda V Trabalho docente e avaliação Dr. Ildeu Moreira Coêlho (UFG) Dr. Luiz Carlos de Freitas (UNICAMP) Coord. Prof. Dr. Jadir de Morais Pessoa Local: Auditório da Faculdade de Direito 17h - 18h – Avaliação e Encerramento [Type text] [Type text] [Type text] Local: Auditório da Faculdade de Educação [Type text] [Type text] [Type text] Minicursos [Type text] [Type text] [Type text] MINICURSO ENCOMENDADO CONVIDADO INTERNACIONAL 01 REFLEXÕES CRÍTICAS SOBRE A RECEPÇÃO DA TEORIA DE VYGOTSKY PELAS COMUNIDADES ACADÊMICAS INTERNACIONAIS Emmanouil Dafermakis Assistant Professor in Epistemology of Psychology – University of Crete – Greece MINICURSOS APROVADOS GT 1 – CULTURA E PROCESSOS EDUCACIONAIS TÍTULO MINICURSO AUTOR EMENTA 0 2 A TEORIA CRÍTICA E AS CONTRIBUIÇÕES DE HERBERT MARCUSE PARA A EDUCAÇÃO Paulo Sérgio Gomes Soares A Teoria Crítica na atualidade: racionalidade crítica e racionalidade instrumental. Teoria Crítica e Educação: contribuições de Herbert Marcuse para a Educação. 0 3 AS REPRESENTAÇÕES SOCIOCULTURAIS DOS CERRADOS NOS ESPAÇOS ESCOLARES Valney Dias Rigonato Caracterização geoecológica dos Cerrados. O processo de modernização das áreas de Cerrados pela inserção dos mitos da modernidade. Erosão da biodiversidade e dos saberes das populações tradicionais. Iconografia das paisagens dos Cerrados. O conceito de representações socioculturais a partir da interpretação de desenhos temporais: ontem, hoje e amanhã. O desenvolvimento de habilidades para o trabalho didático e pedagógico nas áreas de ciências humanas escolares, em especial, na Geografia Escolar. 0 4 AUTORIDADE E FORMAÇÃO: ENTRE A PERFORMANCE DO MITO E O SUJEITO DO Márcia Ferreira Torres Pereira Reflexões sobre as configurações do conhecimento como expressão do sujeito coletivo. Sentido estético e político da formação cultural. Especificidades da relação entre educação e trabalho. Teoria crítica. Mitos gregos. [Type text] Liliane Barros de Almeida [Type text] [Type text] CONHECIMENTO 0 5 [Type text] MÍDIAS, CULTURA E FORMAÇÃO Cleide Aparecida Carvalho Rodrigues [Type text] Conceitos de mídias enquanto “meios de comunicação” e matriz cultural. A cultura relacionada com sistema de significados, de organização a imagem de uma organização e construção da identidade. A formação humana envolve relações entre o formal e informal, o visível e o invisível que se manifestam por meio das linguagens do corpo, sejam elas intelectivas, físicas, emocionais e/ou subjetivas. [Type text] 06 07 CINEMA, PSICANÀLISE E EDUCAÇÃO: AS VICISSITUDES DA INFÂNCIA NO FILME “O BALÃO VERMELHO” Sônia Maria Rodrigues DOCÊNCIA E FORMAÇÃO EM ADORNO Estelamaris Brant Scarel Dispositivos estéticos do cinema. Procedimentos de análise fílmica. Representação idealizada sobre a infância. Glacy Q. de Roure Ana Carolina Roure Malta de Sá Aproximação à história da Escola de Frankfurt bem como da Teoria Crítica. Concepção de formação cultural em Adorno com ênfase para a formação docente na sociedade capitalista. Lívia Santos Brisolla 08 EDUCAÇÃO E BARBARIE: DESAFIOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA ESCOLA PÚBLICA E NA EDUCAÇÃO DAS PRISÕES Nelson Carneiro Júnior A partir das reflexões realizadas por Theodor Adorno em seu texto “Educação após Auschwitz”, minicurso pretende apresentar discussões e metodologias pedagógicas a serem usadas em turmas da educação de jovens e adultos em sala de aula na tentativa de instigar a formação de seres humanos livres, emancipados, esclarecidos e consciente dos direitos civis e direitos sociais de toda a sociedade. 09 O TRATAMENTO MORAL DOS LOUCOS E A EDUCAÇÃO: PSIQUIATRIA E PEDAGOGIA NO NASCIMENTO DA NOSSA MODERNIDADE. Eduardo Sugizaki Através de um confronto entre o projeto de educação de Rousseau e a compreensão de educação no tratamento moral dos loucos e sua explicitação filosófica em Kant, pretende-se refletir sobre as diferenças entre o que se compreendia por natureza humana, na Idade Clássica e o que se entende por ‘homem’, na nossa modernidade. Com base neste trabalho histórico, pretende-se discutir a grande transformação que a concepção de educação sofreu, na virada do século XVIII, para mostrar em que sentido o projeto de educação de Rousseau não tem mais como ser nosso. 10 SUBJETIVIDADE, EXPERIÊNCIA E (IN) AÇÃO NO TEATRO DE BECKETT E NA TEORIA CRÍTICA DE ADORNO E MARCUSE Yonara Dantas de Oliveira Drama moderno e realidade desumana. A falência da linguagem. Existência pela inação. Teoria crítica: a revolução, as guerras e a sociedade industrial. Inflexão em direção ao sujeito. Formação cultural. Unidimensionalidade e aposta política. O problema da violência e a irracionalidade do coletivo. Crise da experiência e frieza. Educação, razão e sensibilidade. Alternativas para a vida digna de ser vivida. [Type text] Maria Regina de Silos Nakamura [Type text] [Type text] GT 2 – EDUCAÇÃO, TRABALHO E MOVIMENTOS SOCIAIS 11 [Type text] DIVERSIDADE SEXUAL, PRECONCEITO, OS AVANÇOS DA JUSTIÇA E SEUS REFLEXOS SOCIAIS Chyntia Aquino da Costa Barcellos Milazzo [Type text] A proposta busca demonstrar aos docentes na área de Educação os conceitos que norteiam a diversidade sexual, os avanços da Justiça, o preconceito e os reflexos de tudo isso na atual sociedade. Sobretudo, esta proposta visa capacitar o docente para falar abertamente sobre o tema na construção de um mundo mais justo, igualitário e livre de preconceito. [Type text] 12 GRAMSCI E A FORMAÇÃO DOS TRABALHADORES: A POSSIBILIDADE DE UMA CONSTRUÇÃO CONTRA HEGEMÔNICA Cláudia Borges Costa A presente proposta traz o pensamento crítico pedagógico como abordagem central, sua influência no campo acadêmico, bem assim a contribuição na organização e luta dos movimentos sociais que fizeram história no contexto brasileiro nas últimas décadas do século XX, com repercussões até a atualidade. A concepção de Antonio Gramsci foi escolhida como ferramenta para pensar a formação escolar, sobretudo na modalidade da Educação de Jovens e Adultos/EJA. Nessa ótica dialética, o diálogo de Gramsci com Marx propõe reexaminar os espaços de conhecimentos e práticas libertadoras para além da formação escolar formal. A discussão dos intelectuais, a partir do pensamento de Gramsci, revela-se como conceito fundamental para a formação política dos trabalhadores jovens e adultos, isto é, para a contribuição de uma proposta contra hegemônica na construção do processo de transformação social. 13 TRABALHO E EDUCAÇÃO Caio Antunes Este minicurso tratará das categorias trabalho e educação, conforme concebidas no interior da tradição marxista, e objetiva, a partir das formulações teóricas de Marx, Lukács e Mészáros, apresentar didaticamente e discutir as relações históricas e ontológicas que se estabelecem entre tais categorias, uma vez que estas são, para esta vertente teórica, centrais no processo de produção e reprodução social da humanidade e, portanto, igualmente centrais em um processo emancipatório. 14 A FORMAÇÃO SOCIAL DO INDIVÍDUO Nildo Silva Viana O indivíduo como ser social. A formação social do indivíduo. O indivíduo na sociedade e a sociedade no indivíduo. A socialização do indivíduo: família, escola, trabalho. A ressocialização do indivíduo. A autonomia relativa e singularidade psíquica do indivíduo. Identidade individual e social. Indivíduo e classe social. Indivíduo e movimentos sociais. GT 3 – ESTADO E POLÍTICA EDUCACIONAL 15 [Type text] CONTEMPORANEIDADE E TEORIAS PÓSCRÍTICAS DO CURRÍCULO Cleberson Pereira Arruda [Type text] Teorias Pós-Críticas do Currículo e as questões contemporâneas da Educação: espaço de discussão e propostas. [Type text] GT 4 – FORMAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE 16 A GESTÃO NA ESCOLA EM TEMPO INTEGRAL Izabel Cristina Leal Marta Maria da Silva Anne Cristina Camilo de Oliveira 17 18 19 A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO NA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE Sylvana Oliveira Bernardi Noleto A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO E A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO BÁSICA Alcir Horácio da Silva O minicurso tratará do exame e da crítica da situação atual da escola brasileira, para que, a partir das contradições presentes nela, possam ser apresentadas propostas para alterar a cultura pedagógica da seleção, classificação e exclusão da escola capitalista. CONTOS DE FADAS: ENTRE O TRADICIONAL E O MODERNO Keila Matida de Melo Costa Histórico e estudo sobre os contos de fadas. Autores de contos de fadas folclóricos e artísticos. Característica dos contos de fadas. Análise de contos de fada modernos. Os contos de fada nos processos formativos. Simone Magalhães Vieira Barcelos Kethullin Trindade Rezende Luzia Bel Rosário Braga 20 DISCUTINDO AS POSSIBILIDADES PARA AÇÃO DOCENTE: A ATIVIDADE DE ENSINO EM FOCO Wérica Pricylla de Oliveira Valeriano Naysa Crystine Nogueira Oliveira Rosélia José da Silva carvalho 21 Este minicurso tem como objetivo apresentar e discutir o papel da gestão na escola de tempo integral, as concepções de gestão escolar e suas repercussões no processo de melhoria da qualidade de ensino. EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTNICORACIAIS NEGRAS: Lídia da Silva Cruz Ribeiro A contribuição do estágio curricular na formação da identidade profissional docente. A constituição do espaço-tempo do estágio curricular como lócus da relação teórico-prática para a formação docente. A prática pedagógica supervisionada como fundamento para a prática do trabalho docente. O minicurso tem a intencionalidade de apresentar aos participantes a Atividade Orientadora de Ensino (AOE) como uma possibilidade de orientação para a ação docente, tal prática possibilita ao educador uma formação pautada na práxis educativa. Elegendo a ludicidade e a história virtual, compreendemos que a AOE permite que a apropriação do conhecimento matemático extrapole o desenvolvimento do raciocínio lógico operacional. A discussão teórica fundamenta-se na Teoria Histórico-cultural e na Atividade Orientadora de Ensino, defendida por Moura como sendo a atividade que respeita os diferentes níveis dos indivíduos e que define um objetivo de formação como problema coletivo. Conceituações; O negro e a educação; Questões legais, epistemológicas e metodológicas. Jorge Manoel Adão [Type text] [Type text] [Type text] PENSANDO E FAZENDO 22 23 24 ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NO BRASIL: HISTÓRIA, POLÍTICA E TRABALHO PEDAGÓGICO Sandra Valéria Limonta Neide da Silva Paiva FORMAÇÃO DE PROFESSORES E A ALERGIA ALIMENTAR: UMA ABORDAGEM INCLUSIVA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Gisella de Souza Almeida LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS Leandro Andrade Fernandes Adriane Camilo Costa Marise Helena Cardoso Tofoli Valdirene Alves de Oliveira Kelly Francisca da Silva Brito Lucas Eduardo Marques Santos [Type text] A escola de tempo integral no Brasil na história e na política educacional. Concepções e políticas de educação integral e escola de tempo integral – o projeto educativo brasileiro para o Século XXI. Organização, gestão e trabalho pedagógico na escola de tempo integral: a experiência da SME Goiânia. Discussão ampliada sobre a inclusão e a formação de professores para a Educação Básica, em especial para a Educação Infantil, mediante a presença de crianças com Alergia Alimentar. Abordagem da temática numa perspectiva multiprofissional. [Type text] A Libras foi reconhecida legalmente através da lei 10.436 e decreto 5.626 a regulamenta, apresenta uma estrutura linguística que lhe dá o corpus de língua. A formação profissional e a disciplina obrigatória são algumas das providencias que ajudaram na escolarização do surdo. A escrita de sinais é uma forma de garantir ao surdo o acesso à língua. [Type text] 25 O DESENVOLVIMENTO DOS CONCEITOS MATEMÁTICOS ATRAVÉS DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Laudelina Braga Icaraí Daiane Santana Norivan L. L. Dutra Discutir as possibilidades didático-pedagógicas de desenvolvimento dos conceitos matemáticos na educação infantil a partir das brincadeiras infantis. Explorar algumas práticas de brincadeiras analisando sua contribuição para o desenvolvimento dos conceitos matemáticos. GT 5 – FUNDAMENTOS DOS PROCESSOS EDUCATIVOS 26 ADORNO: INDÚSTRIA CULTURAL, EDUCAÇÃO, INFÂNCIA Simei Araújo Silva Conceitos de ideologia, indústria cultural, educação e de infância em Adorno. Contribuição da Teoria Crítica da Sociedade para discutir o consumo infantil na sociedade capitalista. O papel da educação escolar e familiar na formação e orientação da criança quanto ao consumo e a ocupação de seu tempo livre. 27 A “ARTE” DE ENSINAR A MONOGRAFIA E A EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL NA ESTEIRA DO PROCESSO FORMATIVO EM CURSOS DE LICENCIATURA Marta de Paiva Macêdo Monografia de conclusão de curso superior. Normas formais e estratégias de ensino da monografia. A aprendizagem mediada da monografia. 28 EDUCAÇÃO INCLUSIVA: RE/SIGNIFICAÇÃO E OS NOVOS DESAFIOS AO TRABALHO DOCENTE Raclene Ataide de Faria Legislação brasileira referente à educação de pessoas com deficiência. Origem do processo de inclusão escolar. Definição de inclusão escolar. Acordos internacionais para a educação na perspectiva da diversidade. Definição de deficiência. O trabalho docente na perspectiva inclusiva, o planejamento, a avaliação, as técnicas de ensino e os recursos pedagógicos. Possibilidades para o trabalho pedagógico na perspectiva da educação inclusiva. O trabalho docente com enfoque na diversidade 29 FORMAÇÃO HUMANA E SOCIEDADE DO ESPETÁCULO EM GUY DEBORD Weligton Rodrigues da Paz Compreender as implicações do mercado da tecnologia e da cultura numa sociedade em que os homens são cada vez mais expectadores que sujeitos ativos. Trabalhar os conceitos de alienação, fetiche, reificação e sociedade do espetáculo. [Type text] [Type text] [Type text] GT 6 – PROCESSOS PSICOSSOCIAIS 3 0 LINGUAGENS ALTERNATIVAS CAMINHOS PARA COMUNICAÇÃO, LETRAMENTO E INCLUSÃO Ana Beatriz Machado de Freitas Importância da linguagem no desenvolvimento humano. Relevância dos recursos de comunicação alternativa e/ou ampliada para a autonomia e inclusão social das pessoas com deficiência. Conhecimento de sistemas e recursos alternativos de comunicação. Propostas interventivas de cunho pedagógico a partir dos recursos estudados. GT 7 – PROCESSOS CLÍNICOS E ABORDAGENS DE ATENDIMENTO 31 [Type text] TERAPIA COMPORTAMENTAL: O USO DE METÁFORAS, FANTASIAS E SONHOS NA PRÁTICA CLÍNICA. Ruth do Prado Cabral Hellen Ormond de Abreu [Type text] Fundamentos históricos, filosóficos e teóricos da Terapia Comportamental. Processo de avaliação terapêutica na prática clínica comportamental. Aspectos relacionados à Relação Terapêutica, FAP (Análise Funcional do Comportamento) e ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso). Discussão das técnicas utilizadas na prática clínica comportamental, incluindo especialmente metáforas, sonhos e fantasias. [Type text] Sessão - Comunicações Orais [Type text] [Type text] [Type text] [Type text] [Type text] [Type text] GT 1 – CULTURA E PROCESSOS EDUCACIONAIS [Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT1- Cultura e Processos educacionais A CIÊNCIA DIALOGANDO COM A ARTE Carina Diniz Rocha PIBID/Universidade de Uberaba - UNIUBE [email protected] Tula De Vito Franco PIBID/Universidade de Uberaba - UNIUBE [email protected] Sueli Teresinha de Abreu Bernardes REDECENTRO/PIBID/ Universidade de Uberaba - UNIUBE [email protected] Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES RESUMO O objetivo deste relato de experiência é compreender a reprodução humana, abordando aspectos anatômicos e fisiológicos do sistema genital masculino e feminino, por meio da arte e do artesanato. Interagindo os saberes oriundos de diversas áreas como ciências, história, língua portuguesa, geografia, relaciona conceitos científicos e a imaginação para criar um conhecimento fundamental para alunos do 9º ano da Escola Municipal Santa Maria, em Uberaba-MG. Ao mesmo tempo, forma discentes dos cursos de Licenciatura para realizar atividades pedagógicas interdisciplinares na educação básica. O referencial teórico utilizado abrange Fazenda (2002, 2003, 2008), entre outros. Para alcançar o objetivo proposto, recorre-se a procedimentos que incluem a observação da escola e da sala de aula, a realização de oficinas com a presença e análise conjunta dos professores da escola básica e a discussão dos resultados no grupo das Pibidianas e com o corpo docente. A partir dos conceitos sobre a reprodução humana, os alunos criaram expressões artesanais do conteúdo estudado, após análise de obras de arte da Grécia antiga, nas quais o corpo era enaltecido. Os resultados iniciais expressam que os alunos mostraram-se muito interessados pelo tema, participaram ativamente das discussões, expondo seus pontos de vista, exercitando coresponsabilidade para uma vida cultural individual e coletiva sem preconceitos, além de desenvolver habilidades artísticas por meio da intuição, sensibilidade, imaginação, percepção e comunicação em um trabalho em equipe. A arte o artesanato foram trabalhados por meio de diversas linguagens e possibilidades contribuindo para a desconstrução do olhar fracionado e limitado para a arte nas dinâmicas interdisciplinares. Para os alunos, a atividade foi inovadora, facilitando o aprendizado teórico, de modo a articular a arte com outros saberes. A partir da arte o conhecimento foi construído, integrando com as ciências, aliando a teoria ao devaneio. Palavras-chave: interdisciplinaridade; arte e educação; ciências. INTRODUÇÃO [Type text] [Type text] [Type text] A atividade aqui relatada é interdisciplinar, desenvolvida por alunas de cursos de Licenciatura na modalidade à distância da Universidade de Uberaba, integrantes do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Sua realização recebe o apoio do Ministério da Educação (MEC), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Diretoria de Educação Básica Presencial (DEB) e da Universidade de Uberaba (UNIUBE). A equipe é composta por cinco Pibidianas, uma supervisora de uma escola de educação básica, da rede municipal e é coordenada por uma professora do Programa de Pós-Graduação em Educação. Segundo Fazenda (2003, p.41) a interdisciplinaridade vai além de uma simples abrangência de disciplinas, é um grande encontro de pessoas que desejam ir além deste território, caminhando para um conhecimento que possa fazer sentido para a história da humanidade. Um perfil interdisciplinar é um perfil flexível, democrático, solidário capaz de enfrentar uma sociedade intransigente a mudanças. Não existe nada suficientemente conhecido, estamos em constante aprendizado e precisamos estar abertos ao conhecimento, à crítica, ao diálogo, à comunicação, à interdisciplinaridade. De acordo com Ferreira (2009, p.22) “ser interdisciplinar é saber que o universo é um todo [...]”; interdisciplinaridade é uma atitude, isto é, a externalização de uma visão holística de mundo. Hoje, a unidade e a totalidade do universo exigem o repensar da ciência fragmentada e o significado de interdisciplinaridade, considerado o prefixo “inter” como “troca” e disciplina, “ciência”: Daí o ato de troca, de reciprocidade entre as áreas do conhecimento. Este relato abrange atividades realizadas durante quatro meses envolvendo os 3º e 4º bimestres de agosto a dezembro de 2012, contemplando alunos do 9º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Santa Maria no município de Uberaba no estado de Minas Gerais. A Escola Municipal Santa Maria foi fundada em 27 de maio de 1977. A escola funciona no turno matutino, com o ensino fundamental II, do 6º ao 9º ano, no vespertino, o Ensino Fundamental I e no noturno com o Ensino de Jovens e Adultos – EJA, além de um curso de tempo integral. A filosofia da escola é “Educar Cidadãos Críticos, Conscientes e [Type text] [Type text] [Type text] Participativos para a Transformação Social de uma Cidadania Plena e Eficaz”. Sua infra-estrutura contempla, além das salas de aula, um moderno e amplo ginásio de esportes, uma sala de multimídia, um laboratório de informática, uma sala de arte, um pátio de recreação e as salas administrativas e de convívio docente. Há inúmeras atividades complementares como teatro, dança, aulas de recuperação, festas escolares e uma fanfarra escolar. Observa-se a participação intensa das famílias dos alunos e uma administração dinâmica e dialógica. Os professores expressam um grande envolvimento, apesar de trabalhar em mais de um turno de docência. Localizada em um bairro residencial com boa infra-estrutura e próxima ao centro da cidade, usufrui de uma vizinhança que abrange desde um shopping, a escola de idiomas, clube desportivo, estabelecimentos comerciais, caracterizando um bairro de classe média de maior poder aquisitivo. No entanto, recebe também alunos da periferia que chegam até ela em ônibus escolares. OBJETIVOS A atividade aqui relatada tem como objetivo geral: formar discentes dos cursos de Licenciatura para realizar atividades pedagógicas interdisciplinares na educação básica, neste caso, envolvendo Ciências, a arte e o artesanato, e proporcionar a construção de um conhecimento em um enfoque interdisciplinar; contribuir para a formação continuada do decente da rede municipal. Como objetivos específicos, se propôs compreender a reprodução humana, abordando aspectos anatômicos e fisiológicos do sistema genital masculino e feminino, por meio da arte e do artesanato, interagindo os saberes oriundos de diversas áreas como ciências e história da arte, relacionando os conceitos científicos e a imaginação para criar um conhecimento fundamental para alunos do 9º ano da Escola Municipal Santa Maria, município de Uberaba-MG. REFERENCIAL TEÓRICO [Type text] [Type text] [Type text] Considerando a dimensão do problema proposto, descrevemos um percurso bibliográfico, onde procuramos dialogar com diferentes autores e especialistas em assuntos como as perspectivas históricas e contemporâneas do ensino da arte, o currículo da disciplina no ensino fundamental, a interdisciplinaridade na educação e formação de professores da educação básica. Algumas questões como conceito de interdisciplinaridade, qual a contribuição do ensino da arte para alunos do ensino fundamental, qual conceito de arte para alunos e professores de outras áreas do currículo do ensino fundamental, precisam estar esclarecidas para melhor compreensão da proposta do projeto. A interdisciplinaridade é um movimento ininterrupto, criando e recriando vários pontos de discussão. Trabalhar de forma interdisciplinar é garantir uma interação entre as disciplinas, incluindo métodos e conteúdos, numa ação conjunta, com um objetivo determinado (FAZENDA, 2002, p.77). Segundo Fazenda (1993) um projeto interdisciplinar não é ensinado, mas sim vivenciado, exige a responsabilidade individual e ao mesmo tempo um envolvimento com o projeto propriamente dito, com as pessoas e com as instituições que fazem parte desse projeto. É essa prática do diálogo com outras áreas do conhecimento que nos leva às relações e às conexões de ideias, fazendonos perceber, sentir e pensar de forma interdisciplinar, exigindo a necessidade de transpor barreiras e a ousadia para inovar, criar e principalmente passar da subjetividade para a intersubjetividade. Projetos interdisciplinares possibilitam um grande envolvimento de todos os que estão inseridos no processo ensino-aprendizagem, na prática cotidiana. Esse envolvimento de todos torna possível uma reflexão mais efetiva sobre a prática pedagógica, articulando as experiências realizadas com o contexto que vivenciam. Trabalhar interdisciplinarmente requer esforço e mudança de atitudes (FAZENDA, 2002, p.70). A arte caminha na interdisciplinaridade, ambas estão intimamente ligadas. Desse modo, é importante que o professor mantenha uma postura interdisciplinar no ato de ensinar, apesar de conviver com a realidade do currículo fragmentado. Definir arte é algo bem complexo, uma vez que o universo da arte é bastante subjetivo e indefinido, impossibilitando um conceito efetivo e preciso. A [Type text] [Type text] [Type text] arte é única, singular e está sempre carregada de significados, é a realidade percebida por pontos de vista diferentes, podendo agregar os aspectos racionais e criativos do ser humano em um único ato (CRISTIANO, 2010, p.13). Conhecer a história da arte é fundamental para poder escolher o que ensinar aos alunos, para que os alunos compreendam que os trabalhos de arte não existem isoladamente, mas relacionam-se com as ideias e tendências de uma determinada época e local. A arte está presente em diversas manifestações culturais, desde quando o homem começou a compreender a realidade em que o cerca. A arte foi uma das maiores formas de registros nas sociedades ágrafas. Depois, na antiguidade clássica oriental e ocidental foi o meio que as civilizações encontraram para registrar os acontecimentos do seu cotidiano e também como arte decorativa e com predomínio de outras expressões artísticas, como o teatro, a dança, a escultura, a pintura, a música, da arte literária. Depois, na Idade Média, as obras artísticas tiveram temática religiosa. A igreja católica exerceu o controle sobre as produções artísticas e culturais. Somente na renascença houve a revalorização da antiguidade clássica e com influências no racionalismo e nos princípios matemáticos. A partir do século XX a arte se fundamenta em transformações educacionais, artísticas, estéticas e culturais, manifestadas espontaneamente e muitas vezes autoexpressiva, valorizando a livre expressão e a sensibilidade (BRASIL, 1998, p.21). Na sociedade, a arte tem muitas funções, dentre elas a de integrar o homem a sua natureza, capacitá-lo a estruturar sua personalidade e a intervir na sua realidade, aumentando assim o seu horizonte e superando as limitações do conformismo. Para construir estes conceitos de arte no ambiente escolar é necessário pensá-la como um instrumento a favor da cultura, instrumento este fundamental não apenas dentro, como também fora da sala de aula, é uma forma diferente de interpretar o mundo, a realidade e o imaginário (BARBOSA, 1991, p.4). A partir de dezembro de 1996, após a promulgação da nova LDB, nº 9.394 o ensino da arte passou a ser componente obrigatório em todos os níveis da educação básica, como forma de “promover o desenvolvimento cultural dos [Type text] [Type text] [Type text] alunos”. Com esta Lei, o Ministério da Educação e Desporto (MEC), reformulou os Parâmetros Curriculares Nacionais. E em 1998, passa a entender que: [...] é característica desse novo marco curricular a reivindicação de identificar a área por Arte (e não mais por Educação Artística) e de incluí-la na estrutura curricular como área com conteúdos próprios ligados a cultura artísticas, e não apenas como atividade (BRASIL, 1998, p.30). Ainda segundo o mesmo documento: [...] a atual legislação educacional brasileira reconhece a importância da arte na formação e desenvolvimento de crianças e jovens incluindoa como componente curricular obrigatório da educação básica. No ensino fundamental a Arte passa a vigorar como área de conhecimento e trabalho com as várias linguagens e visa à formação artística e estética dos alunos. A área de Arte, assim constituída, refere-se às linguagens artísticas, como as Artes Visuais, a Música, o Teatro e a Dança. (BRASIL, 1998, p.19). O ensino da arte tem objetivo de apresentar aos alunos diferentes possibilidades de aperfeiçoamento de saberes teóricos e práticos sobre a criação artística, os quais surgem a partir de várias linguagens artísticas como artes visuais, teatro, música, artes audiovisuais e a dança. Por meio destas linguagens a disciplina de Arte proporciona aproximação do aluno com a sua própria natureza, considerando a sua identidade pessoal, sua história e sua cultura, fazendo com que ele compreenda como estes elementos podem se integrar na sociedade (CRISTIANO, 2010, p.19). DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES Inicialmente as alunas envolvidas no projeto do Pibid realizaram estudos e discussões sobre o tema interdisciplinaridade, Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) Artes, por meio da internet, de livros, de vídeos, de periódicos e do acervo da biblioteca da escola e da UNIUBE. Os recursos da internet foram utilizados em todo o processo para pesquisa, interações e criação de textos. [Type text] [Type text] [Type text] Em seguida, durante duas semanas, as pibidianas fizeram observações na escola como um todo e em sala de aula nas diferentes disciplinas como ciências, história, geografia e língua portuguesa, com objetivo de conhecer a interação dos alunos e destes com os professores. Após observações em sala de aula, reunimos e elaboramos um plano de aula com tema “O ser humano e a reprodução”, envolvendo as disciplinas ciências, história, geografia e língua portuguesa. Foram elaborados materiais didáticos específicos, com o suporte de atividades em diferentes mídias, como slides com imagens de esculturas do corpo humano, sobre o sistema reprodutivo masculino e feminino e a apresentação de um vídeo sobre o estilo musical “kuduro”. Os alunos receberam os materiais: cartolinas, lápis de cor, caneta hidrográfica, giz de cera, lápis e borracha para a realização de atividade artística. Após a explicação sobre a valorização do corpo humano, através de slides ilustrando Grécia Clássica exemplificando o culto ao corpo, relação dos esportes com o corpo humano, houve um debate com os alunos a respeito do tema. Em seguida a sala foi dividida em trios. Cada trio recebeu o material (cartolinas, lápis de cor, caneta hidrográfica, giz de cera, lápis e borracha) distribuídos para a realização da atividade artística, abordando o sistema reprodutivo masculino e feminino. Por meio das criações dos alunos, foi explicada a anatomia do sistema genital masculino: pênis, escroto, testículo, vesículas seminais, ductos deferentes, próstata, glândulas bulbouretrais e do sistema genital feminino: vulva, clitóris, hímen, ovários, tubas uterinas, útero, vagina, glândulas vestibulares maiores e fisiologia do sistema genital, bem como a importância do corpo humano abordando o aspecto físico como um todo. Durante a explicação os alunos identificavam estruturas anatômicas e suas, respectivas funções, a partir de suas criações artesanais e com consulta aos livros. Após a atividade, realizou-se um diálogo com os alunos sobre o que eles conheciam sobre a dança do “kuduro”, devido à repercussão que houve na mídia por meio de uma telenovela que passava na época da atividade proposta. Os alunos deram sua contribuição ao tema. Foi esclarecido que a dança é de origem angolana praticada na periferia. [Type text] [Type text] [Type text] Em seguida exibimos o vídeo da dança do “kuduro”, para demonstrar a expressão artística corporal. A partir de conhecimentos prévios, expressos por meio da arte e do artesanato, os alunos relataram suas experiências sobre tema, tais como: culto ao corpo, esportes, dança, higiene, prevenção de doenças, fisiologia e anatomia. A avaliação empregada durante a atividade foi formativa. A atividade proposta proporcionou um diálogo sobre o tema “o ser humano e a reprodução”, expresso por meio da arte e do artesanato. Os alunos puderam expressar suas opiniões, experiências sobre o tema proposto, ao mesmo tempo em que foi salientado a desmistificação de mitos relativos à saúde do corpo, enfatizando a prevenção quanto às doenças sexualmente transmitidas e aos relacionados à sexualidade. O processo foi analisado e discutido pelo grupo de Pibidianas e com a professora e supervisora da escola. ANÁLISE DOS RESULTADOS Os alunos mostraram-se muito interessados pelo tema, percebeu-se que os mesmos participaram ativamente das discussões, expondo seus pontos de vista livremente. De acordo com PCN Artes (1998, p. 40) [...] este tipo de atividade desenvolve reflexão de maneira responsável com o corpo e a sexualidade. As imagens corporais que estão presentes nas mídias (televisão, rádio, imprensa, internet) expressam a exaltação de corpos “fortes, jovens, vigorosos” associados frequentemente às manifestações artísticas, como às danças e novelas televisivas. Fruto de modismos, essas maneiras de ver o corpo passam pela vida e se instalam nas mentes sem que realmente se tenha uma atitude reflexiva em relação a elas. Artistas exibindo seus corpos em danças, representações, marcam gerações e impõem padrões corporais de beleza e, consequentemente, estabelecem valores em relação à sexualidade, saúde, convívio sociais, raça, etnia, gênero entre outros. Durante a atividade houve debate sobre conceitos e preconceitos entre as semelhanças e diferenças nas preferências e nas rejeições relativas ao gosto e [Type text] [Type text] [Type text] escolhas pessoais, tais como: vestuários, embelezamentos, manifestações corporais, presentes na arte e no cotidiano. A atividade interdisciplinar despertou o saber, a pesquisa, a descoberta através da arte e do artesanato, além de apresentar em sala de aula um ambiente muito agradável e prazeroso. O projeto interdisciplinar do PIBID propiciou a compreensão dos conteúdos curriculares, sobretudo o espaço pedagógico, constituindo uma maneira oportuna de proporcionar o aprendizado, além de auxiliar na formação profissional, por meio da troca de experiências pedagógicas, uma vez que o projeto é formado por alunas de licenciatura de diversas áreas, Ciências, História, Geografia e Língua Portuguesa. A Escola Municipal Santa Maria incentiva a participação dos professores, diretores, coordenadores para melhor desenvolvimento educacional, é muito respeitada e conceituada na cidade, formada por uma equipe de educadores, interessados em proporcionar um ensino de qualidade, que prepare o aluno para exercer sua cidadania, agindo e transformando a realidade em que vivem. A comunidade participou ativamente da atividade proposta apoiando o projeto a estabelecer vínculos entre os conhecimentos escolares integrados à arte e os modos de produção e aplicação desses conhecimentos na sociedade. Os alunos demonstraram disponibilidade e receptividade à oficina. No entanto, é comum a existência uma dúvida inicial por parte do professor da disciplina sobre os resultados da atividade proposta. O encontro com o “novo” suscita muitos questionamentos, um deles seria se todas as nossas antigas experiências serão descartadas. Mas isso seria contradizer toda a atitude interdisciplinar, pois não há necessidade de ruptura com o “velho”, apenas revisitá-lo sempre que for preciso para uma análise crítica das múltiplas perspectivas que compõem as experiências pedagógicas. De acordo com Fazenda (2002, p. 63) “a humildade é um ato de força, de quem se priva de demonstrar sua superioridade, procurando valorizar o próximo que necessita de valorização ou de brilho, o que não conseguiria se o primeiro fizesse valer sua superioridade”. [Type text] [Type text] [Type text] Analisando humildade como um das categorias da teoria da interdisciplinaridade, o professor deve manter uma postura de abertura para novas ideias e parcerias. Diante de tudo compreender que a realidade pode ser questionada, superada, ou mesmo reformulada, dessa forma, haverá um constante aprendizado. O professor interdisciplinar busca ousadia, diálogo, disposição de aprender, quebra paradigmas e no ato de humildade exerce reflexão, capacidade crítica, criação e transformação de suas práticas pedagógicas. Embora sejam visíveis que arte e ciência são domínios de conhecimento humano e que interagem entre si, sabe-se que há um longo caminho a ser percorrido em direção à prática dessa interface entre arte e ciência. Um pressuposto para análise é o de que todas as manifestações artísticas dialogam com outras áreas do conhecimento na buscando de sentido, conexão, criação. Nas sociedades primitivas a ciência não era dissociada da arte, na cultura ocidental, após o Renascimento, houve distinção entre arte e ciência. Ciência e arte são, assim, produtos que expressam as experiências e representações imaginárias das distintas culturas, que se renovam através dos tempos, construindo o percurso da história humana. A própria ideia da ciência e da arte como disciplinas autônomas é produto recente da cultura ocidental (PCN Artes, 1998, p.31). Ciências é uma busca constante para uma nova consciência, dialogando com diversas áreas do conhecimento, inclusive a arte. Estudiosos do mundo todo vêm buscando, por meio da interdisciplinaridade, propor o diálogo entre as disciplinas e uma conscientização sobre a transformação da realidade. A revisão contemporânea do conceito de ciência nos direciona para a exigência de uma nova consciência, que não se apoia somente na objetividade, mas que assume a subjetividade em todas as suas contradições (FAZENDA, 2008, p. 81). No universo da arte, os alunos exercitam suas corresponsabilidades pelos destinos de uma vida cultural individual e coletiva mais digna, sem preconceitos, [Type text] [Type text] [Type text] além de desenvolver habilidades artísticas como a intuição, reflexão, investigação, sensibilidade, imaginação, percepção, flexibilidade, comunicação e o trabalho em equipe. CONSIDERAÇÕES FINAIS O ensino da ciência foi trabalhado por meio de diversas linguagens artísticas e possibilidades para que pudesse contribuir significativamente para a desconstrução do olhar fracionado e limitado para a arte nas dinâmicas interdisciplinares, de modo a favorecer o desenvolvimento cultural dos alunos. Os discentes puderam perceber o quanto a atividade foi inovadora, facilitando o aprendizado teórico, de modo a articular a arte com outros saberes. A partir da arte o conhecimento foi construído, integrando a ciências, motivando a curiosidade, aliando à teoria à prática. A falta de entendimento sobre a disciplina arte em questão não é o único fator que inviabiliza o trabalho interdisciplinar. No entanto, é possível dizer que este fator contribui muito para isso, sobretudo porque um professor que desconhece o significado da arte no contexto escolar, possivelmente também não perceberá a relevância dos conhecimentos relativos a ela interagindo nos trabalhos coletivos e favorecendo no processo de ensino- aprendizagem do aluno. Trabalhar com a interdisciplinarmente requer pensar e repensar caminhos metodológicos do planejamento educacional e também a relevância da formação permanente do professor, pois uma está diretamente associada à outra. O projeto do PIBID propiciou, ainda, uma maior colaboração nos eventos da escola, na participação em reuniões pedagógicas, dos conselhos escolares e no auxílio de problemas pedagógicos. Para os alunos dos cursos de licenciatura, foi uma oportunidade de formação e de compreensão de uma epistemologia da sala de aula que considera a arte como conhecimento. REFERÊNCIAS [Type text] [Type text] [Type text] BARBOSA, A. M. A imagem no ensino da arte. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 1991. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, 1996. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Arte/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. CRISTIANO, C. A. Ensino da arte e interdisciplinaridade: olhares e reflexões a partir da narrativa de professores e alunos do ensino médio da E. E. B Professora Maria Garcia Pessi. 2010, 92f. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNIDESC, Criciúma-SC, 2010. FAZENDA, I. C. A. (Org.). Práticas interdisciplinares na escola. São Paulo: Cortez, 1993. FAZENDA, I. 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É uma pesquisa bibliográfica enquadrada numa abordagem qualitativa, buscando investigar dados históricos, culturais e linguísticos da comunidade surda para realizarmos nossa discussão. Tomaremos por fundamentação teórica sobre colonialidade, o trabalho de Quijano (2005). Como proposta para uma possível contraposição à colonialidade, utilizaremos a interculturalidade funcional e a interculturalidade crítica de Wash (2009). Acreditamos que para haver o rompimento da colonialidade sobre o surdo deve acontecer a interculturalidade crítica apresentada por Wash (2009), fazendo necessário repensar sobre a legislação e os modelos educacionais vigentes, trazendo a participação da comunidade surda. Palavras-chave: colonialidade; surdo; interculturalidade. A língua portuguesa continua hegemônica, e o surdo, um colonizado dentro da grande maioria das escolas brasileiras. (STUMPF, 2009, p. 437) CONSIDERAÇÕES INICIAIS O início da colonialidade do poder é narrado por Quijano (2005) partindo do critério de classificação social que se baseava na raça. Nesta classificação social, ocorre práticas de dominação, nas quais as novas identidades formadas, como as de índios e negros são consideradas inferiores. Apesar de não ser baseada em raça, a comunidade surda também vive atualmente uma situação de colonialidade, pois seu processo histórico, cultural e linguístico são desvalorizados mediante um discurso multicultural, que [Type text] [Type text] [Type text] de acordo com Walsh (2009) tal discurso é pertencente à interculturalidade funcional. Diante disso, pretendemos com este trabalho, discutir sobre a colonialidade imposta sobre o surdo brasileiro, visto que a sua língua natural, a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS1, é ainda desvalorizada na sua legislação de reconhecimento e nas políticas educacionais inclusivas. Para iniciar nossa discussão, partiremos de uma explanação básica sobre colonialidade apresentada por Quijano (2005), posteriormente demonstraremos um panorama histórico vivenciado pelo surdo, bem como da sua língua de sinais, fazendo então uma reflexão da sua história com as interculturalidades apresentadas por Walsh (2009): a interculturalidade funcional e a interculturalidade crítica. Por fim, apresentaremos as considerações finais e as referências utilizadas. 1 A COLONIALIDADE SOBRE O SURDO A América foi o primeiro espaço de poder no mundo, desta forma tornouse a referência de modernidade. O processo histórico racial anterior à América é ignorado e as relações sociais foram posteriormente construídas dependendo da raça, sendo constituídas por práticas de dominação. As novas identidades formadas, como índios, negros e mestiços ocupavam uma posição hierárquica de inferioridade enquanto que portugueses e espanhóis ocupavam uma posição de superioridade, sendo denominados de brancos (QUIJANO, 2005). Quijano (2005) afirma que novas identidades, como amarelos ou azeitonados foram construídas e somadas às de índios, negros e mestiços, havendo para cada raça uma forma particular de dominação. Walsh (2009) ressalta que a colonialidade do poder é ainda existente nos dias atuais e que índios e negros são 1 LIBRAS – é a sigla difundida pela Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS, para referir-se à língua de sinais utilizada pela comunidade surda brasileira. Existe também LSB – Língua de Sinais Brasileira, que segue os padrões internacionais de denominação das línguas de sinais, porém LIBRAS é utilizada pelo MEC, nos documentos legais, e por vários pesquisadores e especialistas (cf. QUADROS, 2007). [Type text] [Type text] [Type text] considerados como grupos de identidades inferiores, sendo sua história, língua e cultura desvalorizadas: Essa colonialidade do poder – que ainda perdura – estabeleceu e fixou uma hierarquia racializada: brancos (europeus), mestiços e, apagando suas diferenças históricas, culturais e linguísticas, índios e negros como identidade comuns e negativas. A suposta superioridade natural se expressou como diz Quijano, em uma operação mental de fundamental importância para todo o padrão de poder mundial, principalmente com respeito às relações intersubjetivas. Assim, as categorias binárias, oriente-ocidente, primitivo-civilizado, irracionalracional, mágico/mítico-científico e tradicional-moderno justificam a superioridade e desumanização (colonialidade do ser)- e pressupõem o eurocentrismo como perspectiva hegemônica (colonialidade do saber). (WALSH, 2009, p. 14-15) Seguindo a mesma ideia de Walsh (2009), Perlin (1998) apresenta uma outra categoria binária: surdo-ouvinte e Stumpf (2009) menciona a hegemonia imposta pela maioria ouvinte. Ambas autoras (PERLIN, 1998; STUMPF, 2009) são surdas e fundamentam suas afirmações em decorrência da desvalorização da LIBRAS. A história do surdo, da mesma forma que a língua de sinais, sofreu vários impasses devido à valorização extrema dada à oralidade, chegando ao ponto de exercer sobre os surdos, atitudes de extrema violência e também proibi-los de utilizarem uma comunicação gestual. Lourenço e Barani (2011) mencionam que houve atitudes diferentes exercidas sobre o surdo em cada sociedade, como exemplos citam: o abandono em praças públicas ou campos em Atenas, em Esparta eram atirados de rochedos e em Roma lançados sobre o Rio Tiger. Por mais que cada sociedade tenha uma justificativa baseada na sua cultura, as atitudes demonstram uma forte violência para com o surdo. Embora a introdução da filosofia suscite estudos relacionados à mente e à consciência, o surdo continuou sem direito a exercer sua cidadania. A privação social sofrida pelo surdo tinha embasamento na afirmação de Aristóteles: “[...] de todas as sensações, é a audição que contribui mais para a inteligência e o conhecimento, portanto, os nascidos surdos se tornam insensatos e naturalmente incapazes de razão" (MAIA FILHO, 2009 apud LOURENÇO; BARANI, 2011). [Type text] [Type text] [Type text] Na Idade Média o surdo era considerado obra demoníaca e segundo afirmam as autoras: "milhares de Surdos e demais pessoas com deficiência, por não passarem pelo exorcismo, foram queimadas na 'fogueira da inquisição', para purificar suas almas” (LOURENÇO; BARANI, 2011). Strobel (2006) ao comentar sobre o livro "História da Loucura" de Foucault declara que o modelo médico e valores éticos e morais, do século XIV até o século XVII, tinham um poder de influência muito grande nas práticas sociais, excluindo da sociedade as pessoas não desejadas. Assim como outros sujeitos, o surdo vivia em situações de isolamento, ficando presos em celas, cadeias, asilos, hospitais ou então tidos como escravos. Posteriormente, os surdos foram vistos como merecedores de piedade e atitudes de exterminação ou isolamento foram substituídas por atitudes de inclusão em atividades religiosas e manuais, porém a exclusão em atividades intelectuais ainda prevalecia. A preocupação com a educação de surdos começou a partir do século XVI. Por várias partes do mundo, professores utilizavam comunicação gestual para ensinar aos surdos. Em 1880 aconteceu em Milão um congresso internacional com o objetivo de discutir qual a melhor forma de ensinar o surdo, vencendo o método oralista, o qual foi predominante por aproximadamente 100 (cem) anos. Albres (2005) declara que os avanços tecnológicos tiveram bastante contribuição para o fortalecimento do método oralista. De acordo com Albres (2005, p. 21): "Método 'manualista', fazia uso das mãos para a produção dos sinais, por isso leva essa denominação, enquanto o que se preocupava especificamente com o ensino da fala é chamado de 'oralista'. O avanço dos estudos sobre a surdez pela medicina trouxe uma categorização dos surdos em graus de surdez: "de surdos leves a surdos profundos". Em decorrência da dificuldade em ouvir e falar, os surdos foram considerados doentes e deficientes. No século XIX, devido à visão assistencialista da sociedade, os surdos eram entregues às instituições para viverem em regime de internato. No Brasil, foi fundado no ano de 1856 pelo surdo francês Ernest Huet, na cidade do Rio de Janeiro, a primeira instituição para surdos, o atual Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) (ROCHA, 2007). No século XX, a [Type text] [Type text] [Type text] sociedade começa a preocupar-se com a inclusão do surdo, trazendo-o para o convívio social. Em 24 de maio de 1913, inicia a primeira associação de surdos no Brasil, também sediada na cidade do Rio de Janeiro, existindo atualmente acima de 100 (cem) associações (ou instituições afins) em nosso território (MACEDO, 2006). As pesquisas linguísticas nas línguas de sinais foram iniciadas na década de 60 pelo americano Willian C. Stokoe, comprovando então o atendimento dessas línguas a todos os critérios linguísticos de uma língua natural. Após o trabalho de Stokoe, pesquisas têm sido realizadas em diversos países, na tentativa de descrever, analisar e demonstrar o status linguístico da língua de sinais, desfazendo assim os mitos existentes com relação a esta modalidade de língua. De acordo com Quadros e Karnop (2004), os mitos relativos às línguas de sinais podem ser especificados da seguinte forma: 1- A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulação concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos. Os sinais das línguas de sinais possuem a mesma arbitrariedade que as palavras e a mesma capacidade de expressar ideias abstratas, sendo possível discutir sobre qualquer assunto, assim como nas línguas faladas. 2- Haveria uma única e universal língua de sinais usada por todas as pessoas surdas. Fatores geográficos e culturais influenciam na determinação e mudança histórica do sinal, por isso cada país apresenta sua respectiva língua de sinais. 3- Haveria uma falha na comunicação gramatical da língua de sinais, sendo um pidgin sem estrutura própria, subordinado e inferior às línguas orais. As línguas de sinais são independentes das línguas faladas. A comprovação dessa independência é percebida pelo fato de existir países que falam a mesma língua e possuem língua de sinais diferentes, como por exemplo: Brasil e Portugal. A estrutura gramatical da língua de sinais não é subordinada às línguas orais, pois pesquisas mostram que as línguas de sinais não são um apanhado de gestos sem princípio organizacional, mas consistem em uma configuração [Type text] [Type text] [Type text] sistêmica de uma modalidade de língua, tendo, portanto, estrutura gramatical própria. 4- A língua de sinais seria um sistema de comunicação superficial, com conteúdo restrito, sendo estética, expressiva e linguisticamente inferior ao sistema de comunicação oral. Pesquisas realizadas por Klima e Bellugi (1979 apud QUADROS; KARNOPP, 2004) mostraram que fazem parte da cultura surda: poesias, piadas, trocadilhos, jogos, entre outros, não havendo limitações práticas para uma conversação em sinais decorrente da modalidade visual-espacial. Os fatores que podem influenciar no nível da conversação em sinais são os mesmos das línguas orais: memória, experiência, conhecimento de mundo e inteligência. 5- As línguas de sinais derivaram da comunicação gestual espontânea dos ouvintes. Este mito advém da concepção que perdurou por longos anos, e perdura ainda hoje, de que a linguagem está associada à oralidade. Porém, como já visto anteriormente, as línguas de sinais são independentes das línguas orais, apresentam todos os elementos classificatórios identificáveis de uma língua, têm estrutura gramatical própria, são reconhecidas linguisticamente como uma nova modalidade da capacidade de linguagem, seu aprendizado demanda tempo e prática, como em qualquer outra língua. 6- As línguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfério direito do cérebro, uma vez que esse hemisfério é responsável pelo processamento de informação espacial, enquanto que o esquerdo, pela linguagem. Bellugi e Klima (1990 apud QUADROS; KARNOPP, 2004) realizaram pesquisas com surdos que tinham lesões cerebrais. Os resultados mostraram que as línguas de sinais apresentam um processamento mais complexo do que as línguas faladas. Além de ser constatado que as línguas de sinais são processadas linguisticamente no hemisfério esquerdo da mesma forma que as línguas faladas, devido sua especificidade espacial, são também processadas no hemisfério direito. Apesar de pesquisas desmistificarem crenças errôneas a respeito das línguas de sinais, os estudos ainda são muito recentes e com pouca abrangência, [Type text] [Type text] [Type text] acontecendo ainda a colonialidade sobre o surdo, assim como Walsh (2009) afirma ocorrer com índios e negros, “apagando suas diferenças históricas, culturais e linguísticas” (p. 14). No Brasil, a LIBRAS foi reconhecida legalmente como meio de comunicação e expressão das comunidades surdas brasileiras há 10 (dez) anos, através da Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002 (BRASIL, 2002), sendo regulamentada pelo Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005 (BRASIL, 2005), o qual apresenta ações a serem aplicadas às políticas linguísticas educacionais para as pessoas surdas. A colonialidade sobre o surdo é facilmente percebida na própria lei que regulamenta a LIBRAS, pois em seu parágrafo único diz: “A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa” (BRASIL, 2002). O Decreto nº 5.626 prevê uma educação bilíngue para os surdos, caracterizando como educação bilíngue as escolas ou classes “[...] em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo” (BRASIL, 2005). Existe uma contradição na legislação citada, pois ao mesmo tempo, que reconhece a Libras como forma de comunicação da comunidade surda e defende uma educação bilíngue na qual, a Língua Portuguesa deve ser ensinada como segundo língua, declara uma proibição da substituição da LIBRAS pela modalidade escrita da Língua Portuguesa. A partir das contradições apresentadas na legislação relacionadas à LIBRAS formamos alguns questionamentos, como: O surdo é bilíngue por direito ou por uma imposição? Como seria para nós ouvinte e nativos da Língua Portuguesa, poder comunicar em Língua Portuguesa, mas escrever em outra língua, como por exemplo, em Língua Inglesa? Quadros (2005, p.29) critica com muita propriedade o status de bilíngue colocado sobre o surdo: Se não fosse a diferença na modalidade, todos teriam tranquilidade em reconhecer as pessoas surdas enquanto bilíngues. Elas nascem no Brasil e, portanto, falariam a língua portuguesa. Convivem com surdos, portanto, usam a língua de sinais brasileira. No entanto, não é dessa forma que caracterizamos a situação bilíngue dos surdos brasileiros, se é que podemos considerá-los genericamente com este [Type text] [Type text] [Type text] status. Vários aspectos devem ser considerados no caso específico dos surdos: 1) A modalidade das línguas: visual-espacial e oral-auditiva; 2) Surdos filhos pais ouvintes: os pais não conhecem a língua de sinais brasileira; 3) O contexto de aquisição da língua de sinais: um contexto atípico, uma vez que a língua é adquirida tardiamente, mas, mesmo assim tem status de L1; 4) A língua portuguesa representa uma ameaça para os surdos; 5) A idealização institucional do status bilíngue para os surdos: as políticas públicas determinam que os surdos “devem” aprender português; 6) Os surdos querem aprender na língua de sinais; 7) Revisão do status do português pelos próprios surdos: reconstrução de um significado social a partir dos próprios surdos. A situação educacional do surdo é um exemplo de um discurso (neo) liberal multiculturalista, no qual a colonialidade está simplesmente sendo reestruturada, de acordo com Walsh (2009). Para a autora, a partir dos anos 90, a diversidade cultural passou a estar presente nas políticas públicas e reformas educacionais, porém é uma “inclusão” de grupos historicamente excluídos que não passa de uma atitude integracionista, pois é uma estratégia que atende um modelo globalizado. Baseada em Tubino (2005), Walsh (2009) nomeia tais práticas como interculturalidade funcional, onde não ocorre o questionamento e sim a compatibilidade com um modelo vigente, certamente adequando a um grupo majoritário. Stumpf (2008) questiona como o surdo apropriará da sua cultura, sua língua e sua história num ambiente inclusivo de maioria ouvinte, usuano de uma língua oral? A autora aprofunda ainda mais a problemática da inserção do surdo na escola regular alegando que: As dinâmicas educacionais da sala de aula e da escola estão focalizadas na língua oral e na escrita da mesma. O aluno surdo inserido no espaço educacional de alunos ouvintes, sem os suportes adequados, vai tentar se comportar como um deles. Sua Língua de Sinais aparece pouco e desfigurada, de sua cultura não há sinais. Como vai esse aluno ter acesso aos conhecimentos se sua questão linguística não está sendo observada e menos ainda seu pertencimento cultural? Como vai desenvolver conhecimentos se a escola apenas faz [Type text] [Type text] [Type text] mínimas concessões e em seu imaginário ainda vê o surdo como um deficiente que, por força da lei, está obrigada a receber? (STUMPF, 2008, p. 23) Outro fator bastante criticado por Stumpf (2008) na escola inclusiva foi a avaliação. Para ela, falta ainda uma definição de critérios para a prática avaliativa, pois esta apenas tenta mostrar um mau desempenho obtido pelo aluno surdo. A culpa do fracasso escolar cai sobre o surdo, sendo este avaliado na Língua Portuguesa, ignorando toda a sua especificidade linguística. No contexto educacional inclusivo para alunos surdos, a interculturalidade funcional apresentada por Walsh (2009) torna-se ainda mais intensa devido o surdo não apresentar traços fenotípicos como o índio e o negro, a incompatibilidade da modalidade oral-aditiva da Língua Portuguesa com sua privação sonora, bem como o reflexo da modalidade gesto-visual de uma língua de sinais na sua escrita na Língua Portuguesa são ignorados. Walsh (2009) apresenta em oposição à interculturalidade funcional, a interculturalidade crítica. O questionamento é relevante na interculturalidade crítica, tendo como ponto de partida a diferença, pois esta não pode ser apagada. A base para a interculturalidade crítica é a história, a ação e a tomada de decisão das pessoas que sofreram a colonialidade e não os órgãos governamentais que falam pelos grupos minoritários, mas que muitas vezes ignoram o clamor dos mesmos. Assim sendo, ocorre um embate com a hegemonia que é imposta à minoria. Um movimento recente de embate à hegemonia imposta à comunidade surda é o movimento pela educação bilíngue para surdos2, mas uma educação bilíngue traçada com a autoria da comunidade surda e não apenas de teóricos representantes do Ministério da Educação (MEC). Tal movimento realizou manifestações no Planalto Central e no MEC, tendo a participação da liderança surda que lutava contra o fechamento da educação básica do INES, bem como as políticas educacionais inclusivas do MEC. Numa entrevista, uma representante das políticas educacionais do MEC deixa nítida a sua postura de desvalorização da 2 Para maiores detalhes sobre tal movimento, acesse : http://www.feneis.org.br/page/imagens/noticias/noticias_2011/Revista%20Feneis_44.pdf [Type text] [Type text] [Type text] LIBRAS ao mesmo tempo que enfatiza a necessidade do aluno surdo aprender a Língua Portuguesa: É até positivo que o professor de uma criança surda não saiba libras, porque ela tem que entender a língua portuguesa escrita. Ter noções de libras facilita a comunicação, mas não é essencial para a aula. No caso de ter um cego na turma, o professor não precisa dominar o braile, porque quem escreve é o aluno. Ele pode até aprender, se achar que precisa para corrigir textos, mas há a opção de pedir ajuda ao especialista. Só não acho necessário ensinar libras e braile na formação inicial do docente. (MANTOAN, 2005, p. 3, grifo nosso) Percebe-se pela fala de Mantoan (2005) que a proposta educacional de surdos do MEC, dita como inclusiva e bilíngue, é uma proposta de interculturalidade funcional, elaborada por representantes que apenas reforçam a legitimidade de uma maioria ouvinte, descartando as diferenças. Faz-se necessário uma interculturalidade crítica na qual atente para as reinvindicações dos próprios surdos para que a colonialidade sobre eles seja rompida. É preciso dar abertura a um questionamento que vá “além dos pressupostos e manifestações atuais da educação intercultural bilíngue ou da filosofia intercultural” (WALSH, 2009, p. 24), mas que inclua os surdos sem ignorar sua história, cultura e principalmente sua língua. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar da colonialidade do poder ter seu início com a classificação racial, ou seja, de acordo com a raça obtinha-se uma hierarquia, é perceptível ainda nos dias atuais a sua existência e no caso do surdo, o critério da raça é extrapolado, pois ele compartilha do mesmo território dos ouvintes, mesmos traços fenotípicos, a condição física de privação auditiva implica numa outra língua natural, fazendo deste sujeito, um membro de um grupo minoritário. A política educacional inclusiva apresenta um discurso de respeito à diversidade, porém como apresentado por Walsh (2009), é na verdade uma prática integracionista que visa submeter a cultura de uma minoria a uma cultura [Type text] [Type text] [Type text] majoritária. Tal prática é chamada pela autora de interculturalidade funcional, pois apresenta uma desvalorização camuflada da história, língua e cultura, a qual busca apenas legitimar uma homogeneização, descartando os possíveis questionamentos que podem gerar uma reestruturação do sistema. No modelo educacional inclusivo vigente, o surdo geralmente é prejudicado, carregando um status de bilíngue que é bastante questionado. Para que a colonialidade sobre o surdo seja abolida, acreditamos numa proposta de interculturalidade crítica, a qual Walsh (2009) a diferencia da interculturalidade funcional. Enquanto a interculturalidade funcional legitima uma homogeneização de uma maioria, a interculturalidade crítica busca um questionamento a partir de uma participação ativa dos próprios movimentos dos grupos minoritários. Para que o surdo fique livre da colonialidade é preciso que as diretrizes educacionais relativas à educação de surdos sejam refeitas não por representantes alheios, mas com a participação ativa de representantes da comunidade surda. REFERÊNCIAS ALBRES, Neiva de Aquino. A educação de alunos surdos no Brasil do final da década de 1970 a 2005: análise dos documentos referenciadores. Campo Grande: UFMS, 2005. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Educação, Universidade Federal de Matro Grosso do Sul, 2005. BRASIL. Lei n.° 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais Libras e dá outras providências. Disponível em: <http://planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/2002/L10436.htm>. Acesso em 12 set. 2010. BRASIL. 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[Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT1- Cultura e Processos educacionais A CONSTRUÇÃO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS EM ESCOLAS PÚBLICAS Sonia Maria Rodrigues Prof. Dr. Júlio Emílio Diniz Pereira (Orientador) Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG [email protected] RESUMO Este artigo é parte de uma pesquisa de doutorado, ainda não concluída, intitulada “EDUCAÇÃO INCLUSIVA: a construção de práticas pedagógicas em escolas públicas” desenvolvida no programa de pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A investigação teve como foco conhecer os limites e possibilidades de práticas pedagógicas inclusivas em escolas públicas com alunos com necessidades educacionais especiais (NEE) decorrentes de deficiência ou transtornos globais do desenvolvimento. A prática pedagógica inclusiva é aquela em que o professor ou professora considera a diversidade de seus alunos e tenta atender suas necessidades educacionais flexibilizando as ações voltadas para o acesso à participação social e ao conhecimento. Com uma abordagem qualitativa, a pesquisa pode ser caracterizada como do tipo etnográfico e utilizou como instrumentos de coleta de dados a observação participante da prática pedagógica de quatro professoras; entrevistas semi-estruturadas com as quatro professoras, três coordenadoras, a diretora, duas auxiliares de apoio à inclusão e a mãe de um aluno com NEE; análise documental do Projeto Político Pedagógico da escola e da proposta política de Educação Inclusiva da rede municipal; também foi aplicado um questionário aos docentes da escola. O período de inserção no campo foi o primeiro e segundo semestres de 2011. A instituição selecionada para a investigação foi uma escola da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte, Minas Gerais, que trabalhava com Educação Infantil e Ensino Fundamental (1º e 2º ciclo) e tinha um total de 760 alunos sendo que dentre estes, 18 apresentavam NEE. Das quatro professoras selecionadas para a observação da prática pedagógica, uma se destacou por apresentar planejamento aberto e flexível das aulas, organização do processo ensino/aprendizagem considerando a interdisciplinaridade, valorização das diferenças e motivação dos alunos para conseguir uma predisposição favorável para aprender. Considerando o contexto atual das escolas públicas no Brasil com suas salas lotadas, pouca valorização dos profissionais da educação e déficit na formação de professores para a educação inclusiva, é possível apontar que a escola investigada, apesar das condições pouco favoráveis, apresenta uma prática de acolhimento e tentativas de atendimento às necessidades especiais de seus alunos com NEE. Palavras-chave: educação inclusiva, práticas pedagógicas, etnografia. INTRODUÇÃO [Type text] [Type text] [Type text] No Brasil, o Ministério da Educação (MEC), tem assumido a política educacional de inclusão que defende que todas as crianças devem estar no ensino comum desde o início de sua vida escolar e serem atendidas em suas especificidades. O processo de inclusão tem como meta promover acesso, permanência e percurso escolar, com sucesso, para os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação, no sistema regular de ensino, considerando-os, desde o início, membros da comunidade, com igualdade de direitos. A partir da aceitação da matrícula de pessoas que apresentam deficiência nas redes de ensino, evidencia-se a realidade de muitos docentes que se sentem confusos, despreparados e incapazes para acolher esses alunos e, sobretudo, para trabalhar com propostas didático-pedagógicas e teórico-metodológicas que atendam às necessidades, expectativas e demandas próprias de cada um desses sujeitos da educação. Pensando na necessidade de conhecer como está se efetivando o trabalho docente com alunos com apresentam necessidades educacionais especiais (NEE) decorrentes de deficiência e transtornos globais do desenvolvimento, o foco central da investigação foi a seguinte questão: Quais os limites e possibilidades na construção de práticas pedagógicas inclusivas nas escolas públicas de Minas Gerais? É preciso esclarecer o que são consideradas práticas pedagógicas inclusivas para este trabalho. Visando uma educação mais democrática e baseada no princípio de “educação para todos”, a proposta de Educação Inclusiva ganhou força mundial na década de 1990. O Brasil aderiu às ideias internacionais difundidas em declarações e construiu uma política educacional inclusiva que ainda necessita de ajustes, mas que tem conseguido avanços significativos no que diz respeito ao acesso de todos à educação. A Educação Inclusiva, de acordo com Mittler (2003) requer um processo de reestruturação das escolas, “com o objetivo de assegurar que todos os alunos possam ter acesso a todas as gamas de oportunidades educacionais e sociais oferecidas pela escola (p. 25). Considerando que a prática pedagógica é um elemento fundamental na transformação da escola, Duk (2005, p. 65) destaca que “a atitude e o estilo de [Type text] [Type text] [Type text] ensino do docente representam fatores primordiais para assegurar o êxito de todos” e que “uma nova abordagem educacional pressupõe pensar o ensino a partir de uma atitude aberta, flexível e, sobretudo, reflexiva em relação à própria prática educacional”. Assim, a prática pedagógica inclusiva é aquela em que o professor ou professora considera a diversidade de seus alunos e tenta atender suas necessidades educacionais flexibilizando as ações voltadas para o acesso à participação social e ao conhecimento. As dificuldades na construção das escolas inclusivas têm sido objeto de estudos (JESUS et al, 2009; GLAT, 2009; BAPTISTA, 2006; SANTOS e PAULINO, 2006; MACHADO, 2005; RODRIGUES, 2005). Ao mesmo tempo em que essas pesquisas são necessárias para se conhecer o que precisa ser mudado na política pública e nas ações, surge uma preocupação com o foco no que não dá certo, no que está sempre faltando. Mesmo diante de objeções e incertezas, as políticas de educação inclusiva foram implantadas em todo o país, mas essa implantação continua sendo objeto de discussões e investigações envolvendo, entre outras dimensões, as próprias políticas, as práticas pedagógicas e a formação docente. Para enfrentar os mecanismos de exclusão presentes na sociedade e, conseqüentemente, nas instituições escolares, leis garantem o acesso de todos à educação e propostas de reformas educacionais foram implementadas. No início, questionava-se a viabilidade de ações voltadas para uma “educação para todos”; atualmente as questões focalizam como implementar um processo educacional que considere a diversidade do alunado. É importante ressaltar que a parte desse “todos”, que mais preocupa os professores, é constituída pelos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, decorrentes de deficiência ou transtornos globais do desenvolvimento. Considerando que a educação destes alunos desafia a prática pedagógica, esta pesquisa focalizou o fazer docente com este alunado. Mas a proposta focalizou a [Type text] [Type text] [Type text] investigação de experiências positivas, consideradas práticas pedagógicas bemsucedidas3 de educação inclusiva. Assim, acreditando que a mudança de perspectiva do olhar, da falta para a presença, de experiências negativas para experiências positivas e bem-sucedidas possa contribuir para reforçar a ideia da escola para todos, em tempos de exclusão, é que esta pesquisa investigou as práticas pedagógicas com alunos com deficiência e transtornos globais do desenvolvimento, inseridos em uma escola regular da Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte. OBJETIVOS Objetivo geral: conhecer e analisar os fatores que possibilitam ou limitam a construção de práticas pedagógicas inclusivas em escolas públicas de Minas Gerais. Objetivos específicos: - observar e analisar como se desenvolvem as práticas pedagógicas com alunos com necessidades educacionais especiais decorrentes de deficiência e transtornos globais do desenvolvimento no contexto escolar; - compreender os fatores condicionantes dessas práticas pedagógicas; - investigar as interações docentes e discentes que perpassam a prática pedagógica inclusiva; - conhecer a formação dos educadores da instituição pesquisada. REFERENCIAL TEÓRICO A implantação da política de Educação Inclusiva no Brasil tem despertado estudos e discussões no campo da Educação. Para além dos marcos legais que surgem para organizar as ações relativas à inserção dos alunos com deficiência e transtornos globais do desenvolvimento no cotidiano das escolas, existe uma 3 A utilização do termo “práticas pedagógicas bem-sucedidas” implica o destaque que se pretende dar a ações e projetos de aceitação, valorização e atendimento das diferenças, no âmbito da realidade escolar, em especial, voltados aos alunos com necessidades educacionais especiais (NEE), alunos que apresentam, para o interesse deste trabalho, deficiências e transtornos globais do desenvolvimento, que são sujeitos que desafiam o saber docente. [Type text] [Type text] [Type text] complexa realidade que questiona a todos os envolvidos no processo: alunos, pais, professores e gestores das instituições escolares. A política de Educação Inclusiva vem propor novas formas de inserção e de apoio ao percurso escolar do aluno com deficiência. Stainback e Stainback falam a respeito desse momento de transição: O fim gradual das práticas educacionais excludentes do passado proporciona a todos os alunos uma oportunidade igual para terem suas necessidades educacionais satisfeitas dentro da educação regular. O distanciamento da segregação facilita a unificação da educação regular e especial em um sistema único. Apesar dos obstáculos, a expansão do movimento da inclusão, em direção a uma reforma educacional mais ampla, é um sinal visível de que as escolas e a sociedade vão continuar caminhando rumo a práticas cada vez mais inclusivas (STAINBACK; STAINBACK, 1999, p. 44). É importante destacar na fala dos autores, anteriormente citados, a perspectiva de mudanças que o movimento de inclusão propõe: extinção de práticas excludentes no ambiente escolar e oportunidade de atendimento às necessidades de todos os alunos. Assim, a Educação Inclusiva visa uma modificação substancial nos sistemas de ensino para atender a todos, não só os alunos com deficiência, como tem sido erroneamente entendido no Brasil. Desde o final dos anos 80, teve início, em âmbito mundial, um movimento de discussão para que mudanças sociais acontecessem, garantindo o direito das pessoas com deficiência a uma vida social com igualdade de condições. Essa nova visão, de mudanças arquitetônicas e atitudinais para viabilizar a participação dessas pessoas na sociedade deu origem ao conceito de inclusão. Esse conceito avançou no seguinte sentido: no processo de integração, as pessoas com deficiência é que precisam se modificar, normalizar, para que possam fazer parte da sociedade; no processo de inclusão, a sociedade é que precisa se modificar para que todos possam conviver. A grande tarefa da escola passa a ser, então, aceitar o desafio de considerar as desigualdades com o objetivo de atingir a igualdade de condições. Trata-se de aceitar e trabalhar com a diversidade. Segundo Perrenoud (2000), a desigualdade só se torna um problema social se for denunciada como um escândalo ou, no mínimo, como uma injustiça social. Ele prossegue dizendo: [Type text] [Type text] [Type text] Para que a exigência de igualdade inspire políticas educativas, é preciso que uma parte da sociedade – que não poderia limitar-se a alguns especialistas ou a alguns militantes – compartilhe a idéia de que o fracasso e as desigualdades dependem das estruturas, dos programas e das pedagogias (PERRENOUD, 2000, p. 31). A inclusão surgiu em consonância com a proposta de Educação para Todos, de forma igualitária e de qualidade. A escola hoje, mais do que em qualquer outra época, é vista como facilitadora do desenvolvimento sócioeconômico-cultural das pessoas, sendo, portanto, necessário estar aberta a todos, inclusive às pessoas com deficiência, mas respeitando suas diferenças. Esse princípio democrático de educação para todos, fundamento básico da educação inclusiva, evidencia a necessidade de um ensino especializado em todos os alunos, com respeito e aceitação da diversidade humana, visando a uma sociedade mais justa com a participação de todos. AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA Pressupõe-se, para o sucesso da escola inclusiva, a exigência de mudanças radicais nas suas estruturas físicas, materiais e de pessoal, em seu projeto pedagógico e na sua matriz curricular. Essas mudanças envolvem o movimento de aceitar os educandos como eles são, com suas características e necessidades educacionais, buscando ao mesmo tempo projetar, ajustar e desenvolver ações de forma a atendê-los em suas especificidades. Alguns autores apontam condições para que as escolas sejam inclusivas (GLAT, 2009; MANTOAN, 2001; FONTAO, 2004; BEYER, 2005; CARVALHO, 2008). Para o desenvolvimento deste trabalho focalizou-se os aspectos que dizem respeito às mudanças necessárias sugeridas por Glat (2009) e por Mantoan (2001): estimular as escolas para que elaborem com autonomia e de forma participativa o seu projeto político-pedagógico; implantar os ciclos de formação; mudar o processo de avaliação; colocar a aprendizagem como centro; estimular o trabalho coletivo e diversificado nas turmas; descentralizar a gestão administrativa; investir na formação de professores. [Type text] [Type text] [Type text] Outra discussão fundamental quando falamos em mudanças na sociedade e na prática pedagógica diz respeito ao currículo. Rodrigues (2006, p. 311) ao falar a respeito do currículo na perspectiva da Educação Inclusiva destaca: “Podemos assim dizer que uma escola que não diferencia seu currículo não usa modelos inclusivos e forçosamente não promove a igualdade de oportunidades entre os seus alunos”. Mas acrescenta que a tarefa de diferenciação do currículo não é responsabilidade do professor, é uma tarefa da escola. Como mencionei anteriormente, as discussões em relação à implantação da educação inclusiva têm focalizado, atualmente, o como viabilizar uma educação que respeite a diversidade do alunado. No processo de construção de experiências de uma educação que atenda a todos, o professor tem um papel fundamental. Como diz Salgado (2006, p.62): Construir e cultivar políticas de inclusão pressupõe planejar novas formas de atuação, com intencionalidade e ousadia, a fim de que os aspectos criativos do trabalho docente possibilitem novas formas de intervenção que garantam a participação de todos em diferentes campos de atuação e em diferentes espaços. Aqui, mais uma vez, o sujeito professor entra em cena, na medida em que planejar é pensar e criar estratégias. Nos trabalhos de Carvalho (2008) e Glat (2009), é possível encontrar discussões e sugestões a respeito da prática pedagógica com alunos com necessidades educacionais especiais. A atuação do professor deve se basear na aprendizagem, na flexibilização do currículo e, consequentemente, dos métodos, dos procedimentos e também da avaliação da aprendizagem. Mas, acima de tudo, o planejamento das atividades é um ponto que precisa ser especialmente considerado. A professora e pesquisadora norte-americana Gloria Ladson-Billings (2008) realizou uma pesquisa, de 1988 a 1991, a respeito do ensino bem-sucedido de crianças afro-americanas. O estudo focalizou a prática pedagógica e a autora defendeu a ideia de que “[...] é a maneira como ensinamos que afeta profundamente a maneira como os alunos percebem o conteúdo daquele currículo” (p. 31). [Type text] [Type text] [Type text] Assim, observar o trabalho docente é uma ferramenta importante no conhecimento das estratégias para dinamização da educação inclusiva. A dimensão da prática nas salas de aula constitui um sinalizador de como a política está se transformando, ou não, em ações. METODOLOGIA Considerando os objetivos deste estudo, a escolha do tipo de pesquisa se deu por uma abordagem etnográfica, com exploração de métodos etnográficos. Esteban (2010, p. 163) ressalta que “os métodos etnográficos estão se desenvolvendo profusamente no âmbito da educação com uma clara finalidade: compreender ‘de dentro’ os fenômenos educacionais”. A ideia é explicar uma realidade com base nas percepções, atribuição de significados e opiniões dos atores que nela participam. Mesmo considerando que o planejamento das pesquisas etnográficas é aberto e flexível e que as ações vão se delineando à medida que a coleta dos dados avança, as etapas do trabalho de campo foram divididas em fases. 1ª fase: Delimitação e entrada no campo Para a escolha da escola foram considerados alguns aspectos: a indicação dos gestores das redes municipais de educação da região metropolitana de Belo Horizonte, bem como da rede estadual de Minas Gerais; verificação de atendimento a alguns critérios que as classificassem como escolas inclusivas; consentimento dos gestores das escolas para o desenvolvimento da pesquisa. Após a definição da instituição, foi organizada uma apresentação dos objetivos do trabalho para a comunidade escolar e elaborado um plano de visitas, considerando o calendário e a disponibilidade da escola. A inserção no campo durou dois semestres letivos, o primeiro e o segundo semestre de 2011. As observações aconteceram em dias da semana alternados, com o objetivo de apreender a rotina escolar como um todo. 2ª fase: Inserção no campo [Type text] [Type text] [Type text] Este foi um momento importante, pois o pesquisador, neste tipo de pesquisa, tem um papel fundamental por ser o sujeito principal na coleta e na análise dos dados. Esse fato deixa implícito no trabalho o princípio da interação uma vez que sempre, entre o pesquisador e o objeto pesquisado, os dados são mediados pelo instrumento humano (OLIVEIRA; GOMES, 2005). Nesta fase, a observação participante foi o instrumento de coleta de dados de maior destaque. De acordo com Laville e Dionne (1999, p. 154), “a riqueza da informação está ligada também ao fato de que se encontrem os comportamentos reais, freqüentemente distantes dos comportamentos verbalizados”. A observação participante se estendeu por todo o período de permanência no campo. Para registrar as observações feitas, utilizou-se um diário de campo com informações descritivas e reflexivas. As observações focalizaram aspectos relativos a: espaço físico da escola, adaptações necessárias ou realizadas para atender as necessidades dos alunos com deficiências ou transtorno global do desenvolvimento; tempo de permanência dos alunos com NEE na escola ou nas salas de aulas; participação dos alunos com NEE nos rituais da escola (entrada, saída, recreio, festas, reuniões, aulas especializadas, etc); prática pedagógica com esses alunos (adaptações curriculares, apoio pedagógico, tipo de avaliação); trabalho das auxiliares de apoio à inclusão; relações sociais com os alunos com necessidades especiais (aluno/aluno; professor/aluno; administração/aluno). Foram realizadas observações da prática pedagógica de quatro professoras caracterizadas como “bem-sucedidas”, selecionadas após observações de todas as professoras com alunos com necessidades educacionais em sala de aula. A escola tinha um total de 18 alunos considerados com necessidades educacionais especiais. Neste trabalho, realizou-se também uma análise documental com o objetivo de conhecer a legislação educacional relativa à educação inclusiva da Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte, a que a escola pesquisada pertence. Também foi objeto de estudo o Projeto Político Pedagógico (PPP) e o Regimento Escolar da instituição visando conhecer sua adequação à proposta política de educação inclusiva. [Type text] [Type text] [Type text] A formação docente tem sido preconizada como um dos pilares responsáveis pela efetivação da educação inclusiva. Com o objetivo de conhecer a formação, a experiência de trabalho dos profissionais da escola e suas percepções a respeito do tema estudado, foram aplicados questionários aos professores da instituição. Do universo de 50 professores 27 responderam ao questionário. Outro instrumento de coleta de dados utilizado foi a entrevista semiestruturada “para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma idéia sobre como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 134). As entrevistas com gestores, professoras, auxiliares de apoio à inclusão e a mãe de um aluno com seqüelas de paralisia cerebral focalizaram as atitudes relativas aos alunos com necessidades especiais no ambiente escolar. A seleção das pessoas entrevistadas se deu após a inserção e o conhecimento dos atores principais da instituição pesquisada. As entrevistas foram gravadas com o consentimento prévio dos entrevistados e foi utilizado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). 3ª fase: Análise dos dados Após a etapa da coleta, os dados foram organizados para a análise e interpretação, tendo como suporte o estudo teórico realizado. A partir da relação entre os dados coletados e a revisão bibliográfica procurou-se atingir os objetivos propostos. Caracterização da escola investigada A instituição selecionada para a pesquisa é uma escola da Rede Municipal de Educação da cidade de Belo Horizonte, localizada em um bairro da regional nordeste e que atende a uma população de classe baixa, filhos de trabalhadores do setor de serviços, com Ensino Fundamental completo. A região não é considerada de risco, mas a escola recebe alunos de bairros vizinhos avaliados como “áreas de risco”. A escola possui ao todo 16 salas de aulas dispostas em um bloco específico [Type text] [Type text] [Type text] de três andares, onde o acesso se dá por rampas. No outro bloco construído, o acesso é por escadas ou rampas. A acessibilidade foi considerada na construção dos prédios e existem acessos a todas as dependências da escola. Isto facilita a locomoção dos alunos com deficiência física que usam cadeiras de rodas. No período da investigação a escola tinha quatro alunos cadeirantes. A instituição trabalha com Educação Infantil e Ensino Fundamental (1º e 2º ciclo), e tinha, no período de observação, um total de 760 alunos, sendo que no Ensino Fundamental, 18 eram considerados com NEE. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS A Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte apresenta uma proposta de Educação Inclusiva condizente com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008). Os dados do questionário evidenciaram que os profissionais têm formação superior e das 27 respondentes, 21 têm pós-graduação. O curso mais procurado pelas professoras é Psicopedagogia. Quanto ao tempo de trabalho na Educação as respostas mostraram que varia de oito a trinta e um anos, com uma média de 19 anos de trabalho, evidenciando que os profissionais da escola são experientes na prática pedagógica. A maioria das professoras não considera ter um bom nível de conhecimento a respeito da temática da inclusão. As observações da prática pedagógica confirmam esta avaliação, pois as professoras verbalizavam suas dúvidas e inseguranças no trabalho pedagógico com os alunos com NEE. Das quatro professoras selecionadas para a observação da prática pedagógica, uma se destacou por apresentar características no seu trabalho preconizadas como positivas para atender alunos com NEE (DUK, 2005): planejamento aberto e flexível das aulas, organização do processo ensino/aprendizagem considerando a interdisciplinaridade, valorização das diferenças e motivação dos alunos para conseguir uma predisposição favorável para aprender. [Type text] [Type text] [Type text] Um fator que dificulta uma prática que atenda de forma mais adequada os alunos que apresentam NEE está relacionado à falta de parceria entre as professoras que têm em suas salas de aula alunos com deficiência e transtornos globais do desenvolvimento e os professores especializados responsáveis pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE) oferecido pelas salas de recursos. Uma ação conjunta com discussão dos casos, suporte especializado ao aluno e apoio ao trabalho do professor poderia trazer resultados mais eficazes no processo de aprendizagem. Considerando o contexto atual das escolas públicas no Brasil com suas salas lotadas, pouca valorização dos profissionais da educação e déficit na formação de professores para a educação inclusiva, é possível apontar que a escola investigada, apesar das condições pouco favoráveis, apresenta uma prática de acolhimento e tentativas de atendimento às necessidades especiais de seus alunos com NEE. 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Marcos Jerônimo Dias Júnior Universidade Federal de Goiás [email protected] RESUMO No contexto da sociedade atual e no seu processo de construção histórica, cultural e econômica, a modalidade de educação de jovens e adultos no ensino noturno se tornou um desafio, diante a inexistência de diagnósticos e reflexões mais claras presentes na educação básica e sua direta relação com a visão capitalista. Constitui-se neste cenário, limites e possibilidades, na organização do trabalho educacional, principalmente na relação com a educação física. Esta pesquisaintervenção se inseriu nesta discussão com o objetivo central de compreender os limites e as possibilidades da organização do trabalho educacional na modalidade de educação de jovens e adultos, relacionado ao ensino da educação física. O estudo objetivou aprofundar a análise da construção e do contexto da E.J.A, dos seus sujeitos e as concepções à cerca da educação física nesta modalidade nas suas interfaces com a força de produção capitalista, ajudando-nos a construção de novas reflexões para uma práxis emancipatória. Utilizando-se do trabalho coletivo através de uma investigação participante, o trabalho busca a construção e reflexão de uma organização do trabalho pedagógico por parte do professor de educação física, na educação de jovens e adultos. A análise tem como base inicialmente os princípios da problematização de Paulo Freire, e a rica contribuição das reflexões de Marx e Gramnsci na relação sociedade e educação, articulado com a visão crítico-superado de educação física. Os resultados da experiência foram positivos e de grande importância, demonstrando que com base em um trabalho coletivo, com um processo de conscientização e uma práxis pedagógica dentro dos interesses da classe trabalhadora, com base na luta de classes, contra-hegemônica, pautada no materialismo histórico dialético. Começam a construir possibilidades para a emancipação da atual realidade que forma o principal limite, a dominação alienante dos princípios do capitalismo na educação. Tanto o discurso como a ação deve ser embasado em uma visão macro de organização do trabalho educacional da educação física, em busca da emancipação desta realidade que perpassam a sociedade, a educação, a educação de jovens e adultos e a educação física. Palavras-chave: educação de jovens e adultos, educação física e emancipação. UM PONTO DE PARTIDA O referente trabalho é construído pela continuidade de uma reflexão inicial de um trabalho de graduação, com o interesse de aprofundar a pesquisa de uma área de atuação que é pouca discutida e indagada no âmbito acadêmico e [Type text] [Type text] [Type text] profissional, a educação de jovens e adultos. Ao defrontar com um problema onde o objetivo primordial é à superação e emancipação, o contato direto com a realidade e com o objeto em discussão, torna o estudo uma construção de várias possibilidades de concretizações eficazes e benéficas do processo. A pesquisa–ação entra no diálogo e na contribuição da construção de conhecimentos na área da educação, de acordo com Thiollent (2002) como: Um tipo de pesquisa social que é realizada em estreita associação com uma ação ou com ação de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativos e participativos (p.14). Neste sentido, a categoria trabalho coletivo torna-se um meio de ação pedagógica e de pesquisa dentro do âmbito escolar voltado a uma ação deliberada de mudança do contexto, defendendo a utilização de um triplo sentido, refletir e transformar a realidade, produzir conhecimentos relativos a estas transformações e flexibilidade à novas concepções e aprendizados. Pautado e baseado dentro de determinados princípios, no caso específico, o materialismo histórico dialético. O primeiro passo para uma prática pedagógica do professor de educação física na E. J. A, é a delimitação de uma orientação pedagógica e política dentro do âmbito teórico da educação. ´´A pedagogia é a teoria e método que constrói os discursos, as explicações sobre a prática social e sobre a ação dos homens na sociedade, onde se dá a educação´´. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.24). Porém, se mantivermos a visão que o objetivo principal é formar alunosobjetos para serem inclusos no mercado de trabalho, todas as práticas pedagógicas na mais intituladas como emancipatória, terão uma tendência em alienar estes sujeitos aos ditames da força de produção capitalista. Transformando o ser humano em máquinas a serviço do sistema, com o comprometimento de uma formação humana despolitizada em direção à transformação. Não basta ensinar, não basta dominar o saber a ser ensinado e nem ser um professor-pesquisador que tem como discurso a defesa dos interesses da classe trabalhadora, se não damos voz aos alunos (sujeitos do processo educativo) para [Type text] [Type text] [Type text] que eles assumam a consciência e a responsabilidade de uma práxis dedicada às mudanças da escola e da vida social autônoma. A CONTRUÇÃO DA E.J.A À MARGEM ALIENANTE DO CAPITAL A sociedade atual pautado nos interesses do capital vem marcando influências marcantes em várias instâncias, principalmente na educação. No Brasil, desde os jesuítas a educação esteve voltada aos interesses da classe dominante. As consequências deste tipo de educação histórica e excludente vêm gerando um processo de desistência dos alunos na vida escolar, uma baixa qualidade de ensino e uma grande dívida do sistema educacional público com a sociedade brasileira. Dentro da perspectiva histórica, a educação vem sendo desenvolvida para atender a duplos interesses. Gadotti (2001) vai afirmar que: Os jesuítas desprezaram a educação popular, por força das circunstâncias tinham de atuar no mundo colonial em duas frentes: a formação burguesa dos dirigentes e a formação catequética das populações indígenas. Isso significa: a ciência do governo para uns e a catequese e a servidão para outros, ou seja, para o povo sobrou apenas o ensino dos princípios da religião cristã (p.65). O cenário se agrava ainda mais ao se deparar com a grande influência neoliberal advinda dos princípios da força de produção capitalista. A situação dos sujeitos da classe trabalhadora dentro da luta de classes existente é alienante, pois se apropriam da dominação burguesa e de seus princípios. (MARX e ENGELS, 1846, p.56) descreve que, ``todas as classes que no passado conquistaram o poder procuraram consolidar a posição já adquirida submetendo toda a sociedade as suas condições de apropriação``. Historicamente é construída no sentido neoliberal, uma visão educacional apolitizada, descompromissada, conservadora, de reprodução alienante do ser humano, a serviço do capitalismo. Diante de tal contexto histórico, político, social e cultural, e agora econômica emergia a necessidade de um tipo de educação que poderia suprir diretamente os problemas e as dificuldades que afetavam a formação dos sujeitos para o desenvolvimento da sociedade econômica. Um dos limites que afligiam e afligem ainda hoje aos interesses do mercado de trabalho, era o número de [Type text] [Type text] [Type text] analfabetos existentes no contexto social do Brasil e a alienação destes sujeitos aos interesses do capital. Machado (1997) explicita que: O sistema Educacional Brasileiro experimentou diversas modalidades de atendimento a esta clientela, sendo mais conhecidas as campanhas de erradicação ao analfabetismo até a década de 50;Mobral; o ensino supletivo de 1º e 2º graus, principalmente nas décadas de 70 e 80, e mesmo o ensino regular noturno dos últimos 17 anos, que não têm dado respostas satisfatórias às necessidades destes alunos (p.13). Com esta visão foram criadas ações e várias campanhas que auxiliassem no caminho de diminuição da taxa de analfabetismo, mas cabe ressaltar todas com interesses primordiais de atender aos interesses do mercado de trabalho alienante, impregnada a uma visão neoliberal. Após a lei (9394/96), esta modalidade começa a ser inserida em discussões e debates não mais como um tipo de educação descompromissada, para suprir as necessidades do mercado opressor, mas com uma visão progressista de transformação do atual cenário. Uma educação problematizadora, conscientizadora, em busca da autonomia e liberdade dos sujeitos, na apropriação da cultura elaborada e na reflexão dialética entre sociedade e educação. Isto pautada de vários desafios, principalmente para a escola e os sujeitos que compõem este cenário, que ao ser analisados se desdobram em limites e possibilidades. A construção das características de uma escola unitária é um dos princípios a serem refletidos, para que em um futuro próximo esta modalidade venha a emancipar os princípios de sua criação. O advento da escola unitária significa o início de novas relações entre trabalho intelectural e trabalho industrial não apenas na escola, mas em toda a vida social. O princípio unitário, por isso, refletir-se-á em todos os organismos de cultura, transformando-os e emprestando-lhes um novo conteúdo. (Gramnsci,1995, p.116). Na perspectiva de RODRIGUES (2000), ``propondo um ensino público de qualidade, entendemos que a escola cumprirá o seu papel de fato, reivindicado numa constante conquista política.(p.234).`` [Type text] [Type text] [Type text] Neste contexto a educação física foi estabelecendo-se historicamente no âmbito escolar, de acordo com as demandas e interesses da sociedade capitalista uma determinada organização. Representada pela hegemonia burguesa, foi constituído um determinado papel de conservação e reprodução do modo de produção vigente. Emerge dentro do contexto de consolidação da educação física uma crise, que pode ser denominada de visões antagônicas, a do conflito e do consenso. A partir dos anos de 1980 é inegável que as tendências de educação e da educação física incorporam valores de uma pedagogia de conflito. Como afirma Bracht (1997). No início da década de 80, o modelo começa a ser questionado mais radicalmente. As mudanças mais significativas que derivaram desta crítica dizem respeito a um novo paradigma no entendimento do movimento humano ou do corpo. O movimento não é mais entendido como o deslocamento de um objeto no tempo e espaço, mas sim como um movimento do homem em direção a transcendência (p.47) Uma orientação pedagógica que se destacam neste período é a crítico– superadora. Entre as características específicas mais importantes destacam-se algumas fases da organização do trabalho educacional, na perspectiva do Coletivo de Autores (1992). A diagnóstica por que pretende ler os dados da realidade, interpretá-los e emitir um juízo de valor sobre elas. Este juízo é dependente da perspectiva de quem julga, por que os valores nos contornos de uma sociedade capitalista são de classe. É judicativa porque julga os elementos da sociedade a partir de uma ética que representa os interesses de uma determinada classe social. Essa pedagogia é também considerada teológica, pois busca uma direção, um alvo de onde se quer chegar, dependendo de classe de quem reflete (p.25) Derrubar as barreiras impostas pela legislação, às tendências e as práticas pedagógicas alienantes e as influências do modo de produção capitalista é um desafio para a educação física escolar. Todos que estão envolvidos no processo devem estar dispostos a apoiar a transformação, e acreditar que a mudança é possível, como ressalta Freire (1996). [Type text] [Type text] [Type text] Meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da história, mas seu sujeito igualmente. No mundo da história, da cultura, da política, constato não para me adaptar, mas para mudar (p.77). OS SUJEITOS ENTRE OS LIMITES E AS POSSIBILIDADES Ao caracterizar o aluno da E.J.A, na sua conjuntura de totalidade social, econômica, familiar e cultural, (CARNEIRO,1998, p.115), separa os sujeitos que se inserem nesta modalidade de ensino em grupos diferentes. ``Todos estes carecem de uma política própria de atendimento, capaz de lhes conferir os meios adequados para a superação ou da escolarização que não ocorreu ou que ocorreu de forma inadequada``. O trabalho na vida destes alunos-trabalhadores em vez de contribuir na sua formação como ser humano no sentido de sua totalidade, considerado como uma categoria de formação e transformação torna-se um problema ligado ao mundo da sobrevivência imediata. O trabalho muda seu sentido e princípio ontológico, e passa a ser uma forma de obter lucro a classe dominante e exploração da força (energia) do trabalhador que se resume ao processo de alienação e a exclusão da riqueza produzida socialmente, desencadeada na desigualdade social e suas consequências. Massas de operários, aglomerados nas fábricas, são organizadas militarmente. Como simples soldados da indústria, são postos sob a vigilância. Não são apenas servos da classe burguesa, do estado burguês , mas são também, a cada dia e a cada hora, escravizados pela máquina, pelo capataz e sobretudo pelo singular burguês fabricante em pessoa. Tal despotismo é tão mais mesquinho, odioso e exasperador quanto mais abertamente proclama ser o lucro seu objetivo último.(MARX e ENGELS, 1848,p.52) A escola como lócus de construção do conhecimento na relação entre trabalho e a cultura, passa a ser substituída e insignificante por estes alunos, por representar para eles nesta luta pela vida um afazer sem lucro na visão neoliberal, ponto que não é discutido e questionado pela maioria dos professores na escola, muito menos incorporados na organização do seu trabalho educacional. [Type text] [Type text] [Type text] Ao sentar-se na carteira, em face de discriminação e a sensação de incapacidade, a maioria dos alunos durante as aulas mostram-se desanimados e desgastados pelo cansaço físico e mental. Quando inseridos no mundo do trabalho, os alunos não sentem prazer no exercício de sua atividade e aí buscam a escola como lócus de idealizações. Olham para a EJA como meio de ascensão de uma melhor perspectiva e qualidade de vida. Outra concepção percebida em minoria é a visão de uma atividade somatória para o seu bem estar que contribui na sua formação humana em sua totalidade. Já em relação à educação física é mal compreendida, tanto pelos alunos, escola e pelo estado que se torna um aparelho ideológico da visão capitalista. O nível de desconhecimento dos alunos acerca de uma visão ampla e crítica sobre a educação física é visível. O desafio posto é pensar dialeticamente com os alunos no sentido de formar um conceito de corpo-sujeito. Capaz de ir além do conhecido para desmitificar as dicotomias existentes na educação física escolar entre corpo e mente e teoria/prática, através do estudo da cultura corporal como linguagem. A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO EDUCACIONAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA E A CONSTRUÇÃO DAS POSSIBILIDADES Educação é um ato interessante e visa provocar mudanças nos seres humanos e, consequentemente, em contextos sociais por meio de uma prática efetivada de forma coletiva. A educação escolar é uma prática social que colabora tanto para a manutenção do status dominante, quanto para encontrar brechas para uma práxis pedagógica transformadora. Ao reconhecer que, precisamente porque nos tornamos seres capazes de observar, de comparar, de avaliar, de escolher, de decidir, de intervir, de romper, de optar, nos fizemos seres éticos e se abriu para nós a probabilidade de transgredir a ética, jamais poderia aceitar a transgreção como um direito mas como uma possibilidade. Possibilidade contra que devemos lutar e não diante da qual cruzar os braços.(PAULO FREIRE,1996, p.100) [Type text] [Type text] [Type text] Se a escola é um lócus de produção do saber cujo objetivo maior é de educar, transformação, produzir, cabe ao professor estar em constante reflexão de sua práxis pedagógica, compatível com os sujeitos inseridos no contexto. Lutar para que ocorra uma participação efetiva na construção de aprendizagens significativas, além da simples reprodução de idéias capitalistas. A organização do trabalho pedagógico deve partir de uma visão macro, ou seja, a construção da escola e de sua proposta, articuladas com as relações sociais, econômicas, políticas e culturais da sociedade. Dentro dos temas e conteúdos da cultura corporal, a construção dos princípios e características dos conteúdos deve partir da própria prática social dos alunos. Formalizado através do trabalho coletivo (alunos-professores) nas aulas de educação física sob a forma de temas geradores. A problematização dos conteúdos e da própria aula de educação física deve ser um ponto de partida sobre a prática educativa nesta modalidade em questão. Mas antes de entrar em contato com os temas e conteúdos e durante o próprio trabalho educacional, perguntas como “Qual a sua visão sobre a disciplina?”, “O que significa educação física para você?”. “Quais as palavras que estão relacionadas aos conteúdos?”, devem ser levantadas e discutidas. O professor procurará criar condições para que juntamente com os alunos, ``a consciência ingênua seja superada e que estes possam perceber as contradições da sociedade e grupos em que vivem, e primeiramente venham a ter uma autoreflexão de sujeitos da organização do trabalho educacional``. (MIZUKAMI,1986,p.99). No primeiro contato com os alunos é importante explicitar as propostas, os conteúdos, os seus objetivos gerais, os métodos, sua visão de mundo e o tipo de sociedade que defende e almeja. Para que os sujeitos ali inseridos comecem a construir uma consciência de como lidar com os temas e desafios propostos pelo professor no sentido clarear a prática pedagógica em função do processo de ensino-aprendizagem mais adequado. Em um processo contínuo de produção, reflexão e sistematização dos conhecimentos da cultura corporal, o professor deve estar pautado em uma pedagogia que conteste a realidade e proponha caminhos para emancipação. Para Luckezi (1998) os professores têm um papel importante neste contexto. [Type text] [Type text] [Type text] Se todos os professores deste país desenvolverem, com proficiência a sua atividade profissional, estaremos dando um grande passo no sentido de possibilitar as nossas crianças, jovens e adultos condições de crescimento, terão pelo menos uma razão para ali permanecerem em função de um trabalho que lhes demonstre o significado e o prazer do seu próprio desenvolvimento (p.121). No caso da educação física, parece que as falas estão denunciando aquele professor que se orienta pela visão biológica de corpo sem levar em conta a cultura e as diferentes expressões da sociedade. Sua prática acaba por torná-lo vítima da tradição (saúde e competição) ou simples técnico reprodutor de modismo (corpolatria).O coletivo de Autores (1992) oferece algumas dicas: É necessária a pretensão de possibilitar ao aluno da escola pública entender a realidade social interpretando-a e explicando-a a partir dos seus interesses de classe social. Isso quer dizer que cabe a escola promover a apreensão da pratica social. Portanto, os conteúdos devem ser buscados dentro dela (p.63). A prática pedagógica da educação física no ensino de jovens e adultos precisa superar a perspectiva compensatória da educação corporal e do movimento, e começar a ir além da perspectiva do capital. Segundo Gasparin (2003). O processo pedagógico deve possibilitar aos educandos, através do processo de abstração, a compreensão da essência dos conteúdos a serem estudados, a fim de que sejam estabelecidas as ligações internas específicas desses conteúdos com a realidade global, com a totalidade da prática social e histórica. Este é o caminho por meio do qual os educandos passam do conhecimento empírico ao conhecimento teórico - cientifico, desvelando os elementos essenciais da pratica imediata do conteúdo e situando-o no contexto da totalidade social (p. 7). DOS LIMITES ÀS POSSIBILIDADES Ao pensar a educação (escola) como lócus e fonte de formação humana, de sistematização dos conhecimentos historicamente construídos, do trabalho com a [Type text] [Type text] [Type text] cultura elaborada e como umas das instâncias de transformação social, a reflexão sobre a sociedade, seus princípios e suas características tornam-se um ponto inicial na construção de possibilidades na organização do trabalho educacional. A realidade nesta relação entre sociedade e educação necessita de uma análise crítica, com objetivos bem traçados e visões estabelecidas de qual sociedade, educação, escola e ser humano à organização do trabalho educacional irá se direcionar. A modalidade E.J.A e a prática da educação física inserida neste contexto, têm como necessidade partir desta reflexão dialética. Já que é um tipo de educação e um componente curricular que se legitimaram em sua origem, em perspectivas diretamente relacionadas aos princípios dos interesses da classe dominante, das características da sociedade e dos objetivos da força de produção capitalista. Limites e possibilidades são construídos, e juntamente com estas perspectivas novas orientações devem ser reoganizadas para que discursos e ações se efetivem no processo de emancipação, da sociedade e da educação. O professor de educação física nesta modalidade nos estudos realizados poderá se deparar com uma visão por parte do sistema, do estado, da escola e dos próprios alunos que caminham para uma organização do trabalho educacional alienante, reprodutora ou conservadora aos interesses ao modo de produção capitalista. Cabe ao professor, como sujeito ter uma ação política de intervenção, que naquele lócus se trata de seres humanos e não objetos de uso para o sistema, que pelas condições que advém estes alunos eles necessitam de um olhar e uma prática diferenciada. Para uma organização do trabalho educacional que venha estabelecer uma lógica de emancipação, o trabalho coletivo como categoria, proporciona o envolvimento dos sujeitos do fazer pedagógico, torna professor e alunos sujeitos em um diálogo permanente de construção. Trás um ambiente que o professor não é detentor dos únicos conhecimentos que devem ser trabalhados e os alunos meros objetos de moldagem. No caso específico da educação física, além deste ponto cabe ressaltar a importância do direcionamento claro e objetivo que o professor deve ter na organização do seu trabalho educacional, tendo o objetivo e avaliação e, o método e conteúdo, como pares dialéticos direcionando sua prática. [Type text] [Type text] [Type text] Ao discutir a relação da cultura corporal com a educação de jovens e adultos, não é negar a sociedade que vivemos, mas primeiro levar em consideração as pessoas e não a produção, combater teoricamente e politicamente através de uma práxis, a lógica de formação do mercado e o uso da educação física como modo de reprodução e instrumento deste sistema. A organização do trabalho educacional da educação física na modalidade de educação de jovens e adultos, neste sentido, deve ter como prática social inicial e final uma reflexão, discurso e ação em uma visão macro de sociedade, de educação e de educação física. O limite primordial é os ditames do mercado, mas o homem ao ser instrumento do sistema se torna ao mesmo tempo sujeito de possibilidades de transformação, já que o ser humano que constrói as relações sociais e as próprias lutas de classe, que desencadeia em uma crise, que é o início da possibilidade de emancipação. Emancipar a base das concepções e da organização educacional das leis do mercado, levam a escola e o trabalho da educação física a interromper e transgredir nas funções e objetivos pautados no pragmatismo, instrumentalismo, imediatista e as visões interesseiras do mercado. Tais ações levam a possibilidade do sujeito a modificar o mundo, o meio em que esta inserida e por sua vez, modificar a si mesmo. REFERÊNCIAS FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1997. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 17°ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia. 29 ed. Campinas SP. 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Trata-se de um o serviço de caráter multidisciplinar, que oferece apoio educacional especializado à alunos em situação de queixas escolares e consequentemente aos sujeitos que integram o ambiente educacional e familiar desses alunos. Nesse contexto, a partir de uma perspectiva sociocultural construtivista do desenvolvimento humano, nosso trabalho visa compreender de que maneira as interações sociais aliadas às estratégias de intervenção psicopedagógica podem contribuir para a superação das queixas escolares. Considerando a perspectiva sociocultural construtivista que valoriza o caráter ativo do indivíduo na construção dos processos psicológicos, por meio das interações com seu contexto físico, simbólico e sociocultural, buscamos descrever e analisar como ocorrem as interações entre psicopedagogas e alunos, a necessidade desse atendimento e as possibilidades de co-construção da aprendizagem. Através de uma abordagem qualitativa, utilizando procedimentos de registo videográfico, observações e entrevistas, desenvolvemos a análise microgenética de episódios de intervenção psicopedagógica. Conferindo uma ênfase ao estudo das interações sociais, e ao processo de co-construção de significados e processos de canalização cultural. Apresentamos nossa compreensão das queixas escolares e da aprendizagem na perspectiva do desenvolvimento humano. Em seguida faremos um breve esclarecimento da nossa visão da psicopedagogia e da intervenção pedagógica, para finalmente apresentar como esse fenômeno ocorre no contexto do Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem. Desse modo, nosso estudo pretende na evolução da pesquisa empírica compreender os processos de compartilhamento e a transferência gradual de responsabilidades e conhecimentos, para a promoção da aprendizagem dos estudantes. Palavras chave: intervenção psicopedagógica; queixa escolar; interações sociais. APRESENTAÇÃO [Type text] [Type text] [Type text] Em meio a diversas pesquisas feitas para a compreensão do fenômeno da aprendizagem, encontramos um grande número de trabalhos que revelam como surgem ou quais são as causas das dificuldades apresentadas pelos alunos, no entanto, é urgente a necessidade de ver essa questão de outra perspectiva. Partimos do pressuposto de que existem possibilidades de superar tais queixas e buscamos investigar de que maneira as intervenções psicopedagógicas podem contribuir nesse processo, e assim contribuir para a compreensão do processo de intervenção psicopedagógica e para que o processo de aprendizagem seja reconhecido como característico do desenvolvimento humano, ou seja, ocorre de maneira diferente em cada sujeito. Desse modo, o trabalho visa compreender de que maneira as interações sociais aliadas às estratégias de intervenção psicopedagógica podem contribuir para a superação das queixas escolares. Pretendendo não enfatizar a problemática, mas reconhecendo propostas de ações interventivas que possam amenizá-la, senão resolvê-la. E para tanto ao longo do presente trabalho apresentamos a nossa compreensão a respeito das queixas escolares, esclarecendo nossa escolha pelo termo, caracterizando e conceituando-as. Em sequência apresentamos a nossa compreensão da aprendizagem e da queixa escolar na perspectiva do desenvolvimento humano, seguida de um breve esclarecimento da nossa visão da psicopedagogia e da intervenção psicopedagógica orientadas pela perspectiva sociocultural construtivista e finalmente esclarecemos como esse fenômeno ocorre no contexto do Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem e apresentando o desenvolvimento da pesquisa. A QUEIXA ESCOLAR NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO O fenômeno da inadequação escolar é observado ao longo da história da educação e ainda hoje são comuns observações em discursos no meio escolar de que determinada criança não aprende, está atrasada em relação à turma, não se comporta bem, atrapalha as aulas ou não tem rendimento. Na nossa visão, e em consonância com as observações de Neves & Marinho-Araújo (2006), o insucesso [Type text] [Type text] [Type text] escolar recebe os mais variados títulos, entre eles fracasso escolar, distúrbios de aprendizagem dentre outros, que trazem em si diferenciações e remetem a culpabilidade do aluno, do professor ou do próprio sistema. Contudo, aprofundar na discussão da responsabilidade ou estabelecer as causas da ocorrência desse fenômeno não é nosso objetivo, pois está claro que condições biológicas, psicológicas, sociológicas, pedagógicas e governamentais interagem de forma dinâmica e produzem efeitos que se expressam na escola, em alunos das mais diversas classes sociais, com predomínio, contudo, nas crianças das classes menos favorecidas (Neves & Marinho-Araújo, 2006). O conceito de aprendizagem escolar tem natureza histórica, cultural e psicossocial, pois em cada época, em cada sociedade possui significados e sentidos particulares. Em contraponto entendemos que o aluno é identificado com dificuldades de aprendizagem quando não consegue atender aos objetivos estabelecidos em relação aos conteúdos formalmente definidos como objetos de aprendizagem (Rossato, 2009). Em nossa opção pelo termo “queixas escolares” apresentado por Neves (2011), compreendemos que a expressão traz consigo uma conotação mais ampla e profunda. A autora esclarece que aquele não se constitui, apenas, em uma nova nomenclatura em substituição às expressões anteriormente utilizadas, mas uma nova compreensão a situação de inadequação, pois parte da noção de que uma queixa pode ser entendida como uma demanda que se endereça a um outro e que, mesmo amparada na realidade objetiva, é uma expressão da subjetividade de quem se queixa. Ao observar a heterogeneidade do comportamento infantil, é possível que o professor entenda que determinada criança apresenta alguma incompatibilidade com aquilo que este espera. Esse estranhamento geralmente se traduz em uma queixa: onde o professor se queixa do comportamento ou da diversidade apresentada. A ciência do desenvolvimento humano empenha-se em compreender a natureza dinâmica das relações do homem e a diversidade dos contextos em que esse está inserido. Desse modo, Dessen & Costa Junior (2005) afirmam que o desenvolvimento humano ocorre por meio de um processo progressivo de interações recíprocas e complexas entre um organismo biopsicológico ativo e [Type text] [Type text] [Type text] outras pessoas, objetos e símbolos em seu ambiente imediato. O processo de interação implica em reunir em um mesmo espaço as concepções de sujeitos diferentes. Se considerarmos que a escola é um campo fértil para essas interações, ela também será palco para inúmeros conflitos. Isso porque os sujeitos ali reunidos sejam alunos, professores ou agentes de conservação e limpeza, são provenientes de ambientes diversos e cada um traz impresso em si concepções particulares de desenvolvimento. É sabido ainda que as teorias da psicologia do desenvolvimento, até meados da segunda metade do século XX, propunham “definir parâmetros ou padrões normativos que pudessem explicar o que, como e por que as mudanças ocorriam na infância e na adolescência, além dos possíveis desvios que poderiam ocorrer nessa trajetória” (Dessen & Costa Junior, 2005, p. 20). E essas concepções foram por muito tempo disseminadas e ainda hoje uma considerável parcela da sociedade ainda acredita que existe um desenvolvimento humano padronizado. Desse entendimento resultaram diversos aspectos preconceituosos que impedem a aceitação das diferenças individuais. Assim, ao tomar a queixa escolar na perspectiva do desenvolvimento humano, percebe-se que por acreditar que determinada criança ou adolescente não responde da maneira desejada às atividades fornecidas pela escola “algo está errado”. E nesse sentido é que entendemos a queixa, que geralmente parte do professor, que ao não reconhecer que o desenvolvimento diverso é aceitável, queixa-se do aluno para que soluções ou problemas sejam encontrados a fim de que seja justificada a diversidade presente. No entanto, não se pretende aqui responsabilizar nenhum dos sujeitos, pois acreditamos que todos envolvidos no processo devem ser auxiliados. A exemplo dessa pressão mútua podemos refletir que o aluno é pressionado pelo tempo do professor e o professor é pressionado pelo tempo das variadas obrigações que tem que cumprir junto à escola. Nessa pressão contínua, estamos perdendo o dom da paciência para respeitar o tempo de aprender do outro e é justamente por essa pressão que se podem produzir dificuldades de aprendizagem, nesse caso, dificuldades relacionadas ao tempo necessário para aprender. (Rossato, 2009, p.54) [Type text] [Type text] [Type text] E neste momento educador está apresentando, na realidade, é uma situação de dificuldades na compreensão mútua entre ele e o aluno (Bassedas, 1996). Assim ao entender a queixa como algo subjetivo, que pode representar a incompreensão de quem se queixa dos processos de desenvolvimento do outro apontamos a intervenção psicopedagógica com uma importante contribuição para a superação das queixas escolares. A PSICOPEDAGOGIA E A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA De acordo com Bossa (2011), acreditamos que a psicopedagogia traz em si um compromisso de contribuir para a compreensão do processo de aprendizagem e identificação dos fatores facilitadores e comprometedores desse processo, com vistas a uma intervenção. A psicopedagogia apresenta-se como uma área de estudos que pretende compreender o processo de aprendizagem por meio da visão integral do sujeito que aprende. Cabe esclarecer que muito embora sua história seja marcada por uma perspectiva clínica, onde o sujeito que “não aprendia” era responsabilizado, e deveria ser reeducado ou tratado de modo terapêutico. Trazemos para nossa pesquisa uma visão mais esclarecida dos aspectos do desenvolvimento humano, compreendendo o sujeito de modo integral, sem enfatizar um aspecto em detrimento do outro. Afinal, a concepção de ser humano presente nas entre linhas das pesquisas orientadas pela perspectiva sociocultural construtivista pressupõem uma concepção dialética, em que o ser humano transforma e é transformado pela natureza, sendo um construtor de si mesmo e do mundo em parceria com os outros (Branco & Madureira, 2005). E particularmente nosso trabalho não busca estratégias diagnósticas, ou mesmo apontar causas e consequências, nosso objetivo é analisar possibilidades de superação e se possível a eliminação desse desconforto por meio de identificação de estratégias interventivas. Concebemos a intervenção em seu significado mais literal, ou seja, o ato ou efeito de intervir, onde o psicopedagogo seria um terceiro assistindo e conduzindo duas ou mais partes negociantes a identificarem os pontos de conflito [Type text] [Type text] [Type text] e, posteriormente, desenvolver de propostas que ponham fim ao conflito. No nosso contexto a intervenção pode ainda ser entendida como uma mediação, o conflito em questão seriam as queixas escolares e as partes podem ser identificadas como o professor, o aluno e ainda o conteúdo escolar. Pois percebemos os processos de ensino-aprendizagem como processos com interações complexas e variadas, entre, pelo menos, três elementos: o aluno, os conteúdos de aprendizagem e o professor. (Bassedas, 1996) De modo que a atuação do psicopedagogo seria a de mediar esse conflito interagindo com as partes visando a resolução do conflito. Contudo, cabe explicitar aqui que a solução aqui não seria necessariamente a aprendizagem imediata de um determinado conteúdo por um aluno do qual o professor tenha se queixado. Pois acreditamos que a forma mais saudável de resolução desse conflito seria possibilitar uma nova significação da aprendizagem para todos os sujeitos envolvidos, de modo que os seres humanos são co-construtores do seu desenvolvimento enquanto sujeitos singulares e simultaneamente, são coconstrutores dos contextos socioculturais nos quais se inserem (Branco & Madureira, 2005). Assim a intervenção do psicopedagogo segue na direção de possibilitar ao aluno uma nova significação da aprendizagem e da sua capacidade para aprender, bem como oferecer ao professor uma compreensão dos processos de desenvolvimento humano envolvidos na aprendizagem. Pois não estamos aqui trazendo esse profissional com um Cristo Salvador, mas alguém que pode contribuir para uma ressignificação do processo de aprendizagem. Pois é sabido que as condições para superação das dificuldades de aprendizagem passam pelas crenças, representações e teorizações dos grupos relacionais desses sujeitos (Rossato, 2009). Observamos que ainda é pratica corrente, tentar “corrigir” o aluno para que ele se adeque às exigências escolares e sociais. Em seus estudos Rossato (2009) buscou compreender de que modo a subjetividade dos sujeitos envolvidos na aprendizagem escolar se movimenta no sentido da superação de dificuldades de aprendizagem e constatou que geralmente o trabalho feito pela escola pauta-se na repetição e tais procedimentos podem reforçar a dificuldade no aluno. E é nesse [Type text] [Type text] [Type text] direcionamento, e em consonância com Bassedas (1996) que cabe a intervenção psicopedagógica, pois o que nos parece mais relevante não é procurar a causa de uma conduta determinada, mas compreender na forma em que estão organizadas as sequências de interação que conduzem às situações problemáticas, considerando que o aluno aprende construindo significados a partir de uma interação constante com seu meio. Tendo em vista que nesse momento de intervenção é possível negociar com as duas partes, a primeira que é o aluno pode ser levado a compreender suas possibilidades de superação, sendo esta conscientização fundamental para que possa ter uma participação ativa. Bassedas (1996) ressalta que em muitos casos, não é necessário estabelecer objetivos, conteúdos e atividades específicas e diferenciadas, mas sim saber oferecer maior ajuda e apoio, para que o aluno consiga entender e relacionar aquilo que já estão lhe ensinando com aquilo que ele já sabe. As atividades lúdicas e descontraídas são sugestões para esses momentos, visto que a repetição da situação na qual a queixa foi elaborada não modifica a significação daquela aprendizagem e reforça a sensação de fracasso. Na intervenção a ênfase que se busca são as possibilidades desse aluno, aquilo que ele apresenta que pode auxiliar na superação das queixas. É preciso compreender que precisamos intervir e tentar promover modificações nos processos de ensino-aprendizagem, de forma a possibilitar que determinados alunos aprendam e melhorem o seu desenvolvimento pessoal e social. Retomando nossa compreensão de que são necessárias ações e programas de longo prazo e alcance, sugerimos aos psicopedagogos que se inicie a intervenção tão logo receba a queixa e aos professores, caso não tenham compreensão suficiente para intervir, que encaminhem suas queixas tão logo as perceba. Pois acreditamos que intervenções ainda que pontuais podem gerar pequenas modificações dentro de um subsistema (uma instituição) que produzirão um efeito ressonante em outros subsistemas, que provocam, ao longo do tempo, outras modificações do sistema. Isso porque os fenômenos que agem na realidade estão em contínua interação uns com os outros e as condutas de uns influem nos outros de forma recíproca (Bassedas, 1996). [Type text] [Type text] [Type text] O CONTEXTO DO SERVIÇO ESPECIALIZADO DE APOIO A APRENDIZAGEM – SEAA No Distrito Federal, as instituições públicas que atendem a educação infantil e as séries iniciais do ensino fundamental, contam com um Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem (SEAA) que objetiva a superação das dificuldades encontradas nos processos de ensino e de aprendizagem. Nesse contexto, considera-se que a atuação conjunta de profissionais da Psicologia e da Pedagogia contribui com conhecimentos complementares nos processos de aprendizagem e desenvolvimento humano, enriquecendo a prática educativa segundo conhecimentos específicos de cada área. Assim, a Pedagogia, que será a atuação considerada nessa investigação, estuda as práticas educativas a fim de revelar suas implicações sociais, políticas, econômicas bem como formas de intervenção pedagógica propondo uma reflexão geral da realidade da educação. A Psicologia Escolar busca ressignificar as concepções, com a escuta e orientação aos atores da instituição. No entanto, o recorte de análise a ser investigado neste trabalho é especificamente a interação que ocorre em momentos de intervenções feitas por pedagogas/psicopedagogas do SEAA aos alunos encaminhados por demandarem queixas escolares. Assim, buscamos entrelaçar construtos teóricos que embasem, justifiquem e expliquem a prática do profissional habilitado em pedagogia que incorpora o SEAA. Levando a uma melhor compreensão dos fenômenos a serem investigados e possibilitando melhorias à qualidade do atendimento oferecido a crianças que apresentem queixas escolares. METODOLOGIA Através da abordagem qualitativa a presente pesquisa tem o intuito de esclarecer e apontar soluções e sugestões que possam contribuir com a melhoria da qualidade do ensino, intervindo e prevenindo as queixas escolares e estimulando a intervenção psicopedagógica eficiente. E a partir da perspectiva sociocultural construtivista compreendemos o processo de intervenção como [Type text] [Type text] [Type text] atividade bidirecional, superando a unidirecionalidade dos estudos psicológicos, que oram ressaltam a importância do indivíduo e esquecem o contexto, ora valorizam o contexto e colocam em segundo plano o papel ativo e intencional do sujeito psicológico (Branco & Madureira, 2005). Desenvolvemos a pesquisa com o olhar orientado pela análise microgenética, que segundo Góes (2000) consiste no exame detalhado de processos cognitivo-interacionais e na identificação de seus significados em relação a atividade e situações específicas, ou seja, é uma forma de construção de dados que requer a atenção a detalhes e o recorte de episódios interativos, sendo o exame orientado para o funcionamento dos sujeitos focais, as relações intersubjetivas e as condições sociais da situação, resultando num relato minucioso dos acontecimentos. Nessa análise minuciosa do processo de intervenção psicopedagógica buscamos configurar sua gênese social bem como as transformações do curso dos episódios e assim, aprofundar nosso estudo nos processos de co-construção que podem emergir nessas situações. Estudar os processos de co-construção de significados, crenças e valores é, portanto, uma estratégia teórica e metodológica importante para dar sentido à relação entre desenvolvimento individual e contextos socioculturais (Branco e Madureira, 2005). Góes (2000) esclarece que a análise microgenética pode ser o caminho exclusivo de uma investigação ou articular-se a outros procedimentos. Em nossa pesquisa são utilizadas estratégias de análise microgenética de episódios de aprendizagem associadas à videografia. Meira (1994) observa que a videografia se traduz em registros em vídeo de atividades humanas e mostra-se como uma ferramenta ímpar para a investigação microgenética, ao resgatar a densidade de ações comunicativas e gestuais. Portanto, a videografia aliada à análise microgenética formam um modelo de coleta e análise de dados que possibilita uma interpretação complexa e consistente dos mecanismos psicológicos subjacentes à atividade humana. Participam do estudo uma psicopedagoga do SEAA e dois alunos, com idades de 7 e 8 anos que apresentam queixas escolares, e que no momento da realização da pesquisa estavam em processo de intervenção psicopedagógica. E [Type text] [Type text] [Type text] os procedimentos para a construção das informações ocorrem em três etapas, compostas de observação do contexto em que os participantes estão envolvidos, registros em áudio e vídeo e entrevistas. Na primeira realizamos a observação em sala de aula e do contexto escolar visando a compreensão das crenças e valores institucionais em relação à aprendizagem, queixa escolar e intervenção psicopedagógica bem como a observação das crianças em atividades relacionadas às queixas escolares, descritas no encaminhamento ao SEAA. Concomitante a essa primeira fase de observação desenvolvemos a análise documental, para obtermos informações complementares e relevantes à compreensão da situação apresentada. Assim são analisados seguintes documentos: (a)Orientação Pedagógica – Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem – SEAA, (b) Projeto Político Pedagógico da Instituição Escolar, (c) Histórico escolar das crianças selecionadas, (d) Encaminhamento para o SEAA, (e) Material Escolar das crianças (cadernos e atividades), e (f) Parecer/Relatório do SEAA. Na etapa seguinte realizamos as primeiras entrevistas. Sendo que a da entrevista com os pais/responsáveis pela criança pretende: (a) conhecer a estrutura familiar e história da criança na família, (b) conhecer o histórico escolar da criança na visão/compreensão da família, (c) perceber como a família compreende a aprendizagem e a queixa escolar apresentada pela criança. Com as crianças realizamos as entrevistas com o intuito de (a) conhecer a estrutura familiar e a história da pessoal na família pela ótica da criança, (b) conhecer o histórico escolar da criança na visão/compreensão da criança, (c) buscar a compreensão que a criança tem de aprendizagem e da queixa escolar. Nesse procedimento contamos com recursos lúdicos (brinquedos, gravuras, pinturas, etc.) que pudessem mediar e facilitar esse processo, considerando que cada criança tem uma maneira particular de expressar-se. As entrevistas com os profissionais que acompanham a criança, ou seja, a professora atual e a psicopedagoga buscam conhecer (a) a formação e trajetória acadêmica, (b) a trajetória Profissional, (c) a visão/compreensão que essa profissional tem do aluno, (d) as concepções de aprendizagem, de queixa escolar e de intervenção psicopedagógica e (e) a compreensão da atuação do SEAA. [Type text] [Type text] [Type text] Em seguida desenvolvemos o registro videgráfico de Sessões de Atendimento, onde ocorrem as Intervenções Psicopedagógicas. Esses registos pretendem nos auxiliar na observação de: (a) interações sociais (adulto-criança / psicopedagoga-criança), (b) indicadores de co-construção de conhecimento, (c) indicadores de superação parcial ou total da queixa escolar, e ainda (d) estratégias utilizadas durante a intervenção. Concluído o período de registro das intervenções psicopedagógicas, retomamos com a segunda fase de entrevistas, onde visamos analisar com os sujeitos participantes os efeitos e reflexos desse período de intervenção na vida escolar e familiar da criança bem como na prática pedagógica/psicopedagógica e nas concepções das profissionais que atendem essas crianças. Assim, a segunda fase da Entrevista Familiar pretende realizar uma análise (a) do período de intervenção psicopedagógica, (b) da superação da queixa escolar (superação parcial ou total/ manutenção / agravo), (c) da ocorrência de reflexos, da intervenção psicopedagógica, no ambiente familiar (se positivo ou negativo), (e) da relação da criança com a aprendizagem escolar segundo a compreensão da família. Com as criança, essa segunda fase visa analisar da perspectiva da criança: (a) o período de intervenção psicopedagógica, (b) a qualidade da interação criança-psicopedagoga, (c) a superação da queixa escolar (superação parcial ou total/ manutenção / agravo), (d) a ocorrência de reflexos, da intervenção psicopedagógica, no ambiente familiar (se positivo ou negativo), (e) a ocorrência de reflexos, da intervenção psicopedagógica, no ambiente escolar (se positivo ou negativo), e ainda (f) a relação (atual) da criança com a aprendizagem escolar. Nessa segunda fase, as entrevistas com as professoras das crianças pretendemos analisar (a) o período de intervenção psicopedagógica, (b) a superação da queixa escolar (superação parcial ou total/ manutenção / agravo), (c) a ocorrência de reflexos, da intervenção psicopedagógica, no ambiente de sala de aula, relacionados à criança (se positivo ou negativo) e (d) a ocorrência de reflexos, da intervenção psicopedagógica, na prática pedagógica (se positivo ou negativo). Nesse momento sugerimos a audição e atualização das concepções de aprendizagem, queixa escolar, intervenção psicopedagógica e atuação do SEAA, registradas na primeira fase das entrevistas. Desse modo, podemos juntamente [Type text] [Type text] [Type text] com a professora desenvolver uma análise de co-construções ocorridas e percebidas nesse processo. E a segunda fase da entrevista com a Pedagoga/Psicopedagoga, desenvolvemos a análise (a) do período de intervenção psicopedagógica, (b) da superação da queixa escolar (superação parcial ou total/manutenção /agravo), (c) da interação criança-psicopedagoga, (d) das estratégias utilizadas durante as intervenções, (e) da intervenção da pesquisa na atuação profissional (se positivo ou negativo) e (f) da ocorrência de reflexos, das intervenções psicopedagógicas realizadas, na atuação profissional (se positivo ou negativo). Assim como desenvolvido com a professora, sugerimos a audição e atualização das concepções de aprendizagem, queixa escolar, intervenção psicopedagógica e atuação do SEAA, registradas na primeira fase das entrevistas. E juntamente com a pedagoga/psicopedagoga desenvolver uma análise de coconstruções ocorridas e percebidas nesse processo. E para concluir os procedimentos de construção dos dados, realizamos um segundo momento de observação em sala de aula e do contexto escolar. Com esse procedimento pretendemos observar e analisar a ocorrência de reflexos da intervenção psicopedagógica nas crenças e valores institucionais em relação à aprendizagem, queixa escolar e intervenção psicopedagógica bem como a ocorrência de reflexos, da intervenção psicopedagógica em atividades realizadas pelas crianças (relacionadas às queixas escolares). RESULTADOS E CONCLUSÕES Estamos desenvolvendo nossas investigações na abordagem sociocultural construtivista, focalizando os aspectos intersubjetivos e dialógicos, recortando o material documentado em poucos ou vários episódios que sejam significativos para o propósito do estudo, buscando traçar o curso de transformações. Nessa perspectiva, analisamos de que modo as intervenções psicopedagógicas podem contribuir para o sucesso escolar de crianças que apresentam queixas escolares. No entanto, ressaltamos que não pretendemos desacreditar que sejam necessárias políticas públicas e resoluções de longo prazo e alcance, melhorias na formação de educadores, entre outras. Entendemos que é preciso considerar que [Type text] [Type text] [Type text] os dias não voltam e as dificuldades hoje observadas podem gerar grande prejuízo na qualidade de vida do sujeito e de sua família. Assim nosso trabalho busca a compreensão das queixas escolares sem que se esgotem ou se expliquem suas razões, mas permitindo concebê-las como um indicador da necessidade de intervenções psicopedagógicas, percebendo o aluno como um sujeito com mobilidade permanente a partir do contexto sócio-histórico em que está inserido. Acreditamos que o cotidiano escolar está repleto de diagnósticos, que em sua maioria informais, são estereótipos preconceituosos baseados no senso comum em “achismos” e são fortemente influenciados por reportagens sensacionalistas e de pouco aprofundamento científico. Desse modo, estamos nos movimentamos no sentido de caracterizar no contexto escolar, a intervenção psicopedagógica a alunos que apresentem queixas escolares e, espera-se contribuir com o atendimento prestado por esses profissionais gerando, por consequência, melhoria na qualidade de vida dos sujeitos envolvidos, bem como prestação de serviços educacionais mais eficazes. O entendimento deste processo pode apresentar possibilidades de avanços na vida escolar, contribuindo para a diminuição de fatores como a retenção, a evasão escolar, bem como a melhoria da autoestima e do rendimento escolar. REFERÊNCIAS BASSEDAS, E. Intervenção educativa e diagnóstico psicopedagógico. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1996. 112 p. BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. 248p. BRANCO, A.U.; MADUREIRA, A.F.A. Construindo com o outro: uma perspectiva sociocultural construtivista do desenvolvimento humano. 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São Paulo: Martins Fontes. 1984/2007 [Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT1- Cultura e Processos educacionais A TRAJETÓRIA DA ARTE- EDUCAÇÃO NO BRASIL: DA TÉCNICA AO CONHECIMENTO Sueli Heloisa Doriguetto Ferreira Universidade de Uberaba- UNIUBE [email protected] Marcelo Silva Universidade de Uberaba- UNIUBE [email protected] Sueli Teresinha de Abreu Bernardes REDECENTRO/OBEDUC/CAPES/Universidade de Uberaba-UNIUBE [email protected] RESUMO O presente trabalho refere-se a uma parte da pesquisa com fundamento na abordagem qualitativa, em fase de levantamento bibliográfico e estudos teóricos, que estão sendo realizados sobre o fazer artístico identificado no desvelar da sensibilidade dos aluno. O texto traz algumas reflexões acerca do ensino da arte no Brasil, com o propósito de compreender sua importância no contexto escolar, tendo como aportes sobretudo Ana Mae Barbosa e João Duarte Junior. Considera-se a criação artística um dos eixos norteadores da formação humana, mas que, muitas vezes é vista apenas como momentos artístico e culturais extracurriculares, um campo ainda considerado de pouca utilidade em relação a outros saberes que a ideologia social julga mais necessários. Por meio de estudos teóricos bibliográficos, inicialmente é feita uma retrospectiva histórica da trajetória do ensino da arte no país, a sua inserção nos currículos escolares, buscando compreender qual o valor dado a formação estética para, em seguida, buscar compreender o contexto dado a ela neste início do século XXI. Leva-se em consideração a LDB 9394/96 e os PCN, em especial o de Arte por serem documentos norteadores da educação escolar. Apesar de seguir uma cronologia, sabe-se que todo fato histórico acontece num contexto sociopolítico e cultural de uma determinada época, portanto não são apenas uma sucessão de acontecimentos isolados, nem acontecem de forma linear. São acontecimentos que sofreram grande influência no contexto de seu tempo, da mesma forma que muitos, ainda hoje, influenciam as práticas pedagógicas das escolas brasileiras. Por esse motivo, abordam-se também esses aspectos.A concepção em análise distancia-se de arte como adorno, como um campo separado e distinto da formação do aluno. Ao realizar essa retrospectiva, são pesquisadas as discussões acerca desse ensino no contexto escolar brasileiro e, por meio da historicidade percorrida, aponta a compreensão dos valores estabelecidos para este conteúdo nos currículos escolares. Palavras-chave: ensino da arte; formação humana; contexto escolar. INTRODUÇÃO [Type text] [Type text] [Type text] Este estudo faz parte de uma proposta de mestrado, para a construção de uma dissertação sobre o tema “Poéticas visuais na construção de portfólios: a metamorfose na educação do sensível” desvelada por alunos da educação básica. Essa pesquisa integra-se à linha de pesquisa Cultura e Processos Educativos e ao Observatório da Educação Interdisciplinaridade na educação básica: estudo por meio da arte e da cultura popular. Neste texto apresento os resultados parciais de um estudo sobre o ensino da arte no Brasil e, para isso, apoio-me em autores como Ana Mae Barbosa (2011), João Francisco Duarte Jr (2000),Lelis (2004) e Canda e Batista (2009). Parto de um questionamento sobre a relevância do ensino da arte nas escolas e, como consequência, na formação integral dos alunos. Essas indagações convergem para a pergunta norteadora: como historicamente o ensino da arte tem sido desenvolvido na educação escolar brasileira? Esse estudo é realizado em momentos significativos e, portanto, abrange recortes dessa historiografia. OBJETIVO Busco, por meio do estudo de recortes historiográficos, compreender qual a importância dado ao ensino da arte no Brasil desde o processo de colonização até os dias atuais. METODOLOGIA Esta pesquisa será realizada com fundamento na abordagem qualitativa, por meio de um estudo bibliográfico com leituras cruzadas que abordam o historicidade do ensino da arte brasileira. Para realizá-la, inicialmente fiz um levantamento de livros, artigos, dissertações e teses sobre o tema para, então, selecionar as obras que me ofereciam maior suporte para o conhecimento a ser construído. RECORTES DO ENSINO DA ARTE NO BRASIL A origem A história do ensino da arte no Brasil teve início no século XVI, por volta de 1550, pelos jesuítas utilizando-se como um dos instrumentos o ensino de [Type text] [Type text] [Type text] técnicas artísticas da arte Barroca europeia. De acordo com Lelis (2004, p.17), os artistas brasileiros, de maneira informal, criaram em oficinas por meio do trabalho orientado pelos jesuítas, o barroco brasileiro. No entanto, prevalecia também a arte indígena, representando elementos estéticos, valores, crenças, enfim, a identidade desse povo nativo. O ensino jesuíta tinha como princípio a separação ente a retórica e trabalho manual. Sobre esse assunto, Lelis (2004, p.17), expressa a desvalorização da arte enquanto trabalho manual, artesanato, habilidade ou técnica, advinda da produção artística indígena e da mão de obra escrava, considerada sem grande valor enquanto o conhecimento (retórica) era tido como um saber universal que contemplava apenas uma pequena elite intelectual. Concepção que hoje, em pleno século XXI, ainda está presente em nossa cultura. Com a expulsão desses religiosos, por volta de 1800, a educação na colônia passou a ser ministrada por leigos nas chamadas Aulas Régias. Após uma década (1800-1810), iniciou-se a reconstrução de uma nova organização escolar, cuja reforma metodológica contemplava as ciências, as artes manuais e a técnica. Com a vinda da corte portuguesa para o Brasil em 1808, mudanças significativas na política educacional brasileira começaram a acontecer, devido à necessidade de mão de obra qualificada para as construções que iniciavam no país. Criaram-se escolas com a finalidade de trabalhar tecnicamente a proposta de ofícios artísticos e mecânicos. Em 1816, os franceses trazem para o Brasil Colônia o modelo neoclássico, com o objetivo de construir a Academia Imperial de Belas Artes. Segundo Lelis, 2004, p.18, encontraram no Brasil a arte popular barroca no interior das igrejas com esculturas em madeira, bronze, mármore e pedra realizada pelos artesãos. Obras que contemplavam a expressividade e a sensualidade do mestiço brasileiro e, sendo autêntica, conquistava a alma do artista mais pelo sentimento e emoção do que pela reflexão intelectual. Essa arte era considerada pela corte como simples trabalho artesão. Demorou-se uma década para construir a academia. Periodicamente, os franceses ensinavam aos brasileiros técnicas de desenho com gravuras, pinturas e construção de edifícios. [Type text] [Type text] [Type text] Em 1826, sendo inaugurada a Academia Imperial de Belas Artes, começa oficialmente o ensino da Arte no país, distanciando de seu objetivo inicial. O nome da Academia Imperial de Belas Artes foi trocado para Escola Imperial das Belas- Artes, passando a ser direcionada aos interesses da corte, perdendo sua identidade como acontecia na Europa. A missão francesa foi na realidade uma invasão cultural de cunho elitista, influenciando a arte em todos os contextos culturais a partir desta época. A Escola Imperial das Belas-Artes inaugurou a ambiguidade na qual até hoje se debate a educação brasileira, isto é, o dilema entre educação de elite e educação popular. Na área específica de educação artística incorporou o dilema já instaurado na Europa entre arte como criação e como técnica (BARBOSA e COUTINHO, 2011. p.6). Portanto, ao término de sua construção, não mudou apenas o nome da escola, mas a identidade e a clientela. Inicialmente, tinha como objetivo ser uma escola de ciências, arte e ofício, com estudo do desenho industrial preparando para o trabalho, uma educação popular. Mas, estudar na academia passou a ser aspirações aristocráticas, símbolo de ascensão social. Começa ai o preconceito contra o estudo da arte.Até hoje muitas pessoas acreditam que arte é um luxo de interesse para poucos, portanto sem necessidade de ser estudada. A República No período 1870-1914, transformações políticas, econômicas e sociais como a libertação dos escravos (1988) e Proclamação da República (1889), intensificam o início da industrialização. Percebeu-se a necessidade da arte como estudo do desenho nas diferentes categorias: gráfico, artístico, industrial, decorativo, devido à necessidade de profissionais para a construção das ferrovias e indústrias do ferro batido e da construção civil. “valorizadas como meio de redenção econômica do país e da classe obreira, que engrossara suas fileiras com os recém-libertos” (BARBOSA, 2002c, p. 30). Rui Barbosa, em 1890, fez a primeira tentativa da introdução do ensino [Type text] [Type text] [Type text] do desenho nos cursos primários e secundários pela reforma denominada Reforma Benjamin Constant (aprovada em 22/11/1890 pelo Decreto-Lei nº 1.075). Ele foi o maior defensor para a introdução do ensino do desenho na escola, que aparece com maior relevância no ensino educacional até hoje. Nessa efervescência de acontecimentos que mudaram a característica do país, foi introduzido, pelos liberais, o desenho como forma de arte. A influência às ideias de Smith nos Estados Unidos sobre os exercícios geométricos progressivos, a afirmação de que todos poderiam desenhar e a popularização do desenho por meio da arte sendo adaptado para fins industriais, são fatos que colaboraram para o crescimento da arte enquanto técnica para fins industriais, exercidos de forma intensa até meados do século XX, deixando resquícios em livros didáticos e no ideário educacional. Em 1901, o Partido Republicano, a favor de uma arte antielitista, contrapunha-se às ideias de reforma dos positivistas brasileiros, tendo Rui Barbosa como seu principal mentor. Segundo Silva e Araujo (2011, p.5), "a arte ensinada através do método positivo, contribuía para o estudo da ciência, desenvolvimento do raciocínio e da racionalização da emoção desde que ensinada através do método positivo, que subordinava a imaginação à observação". O período de 1914-1927 contrapõe-se à tendência pré-modernista do ensino de arte, como técnica, despontando a tendência modernista, influenciada pela pedagogia experimental americana e europeia. Por meio desta proposta, foram introduzidos laboratórios de arte nos cursos de formação de professores no Estado de São Paulo, em seguida nas outras federações brasileiras com estudos sobre as características do desenho infantil, inaugurando um novo olhar sobre a arte, vista não mais apenas como técnica. A Escola Nova Em 1922, aconteceu a 1ª Semana de Arte Moderna no país. Um movimento cultural manifestado por diferentes estilos: literatura, arquitetura, design, pintura, escultura, teatro e música, liderado por artistas brasileiros, como Mário de Andrade e Anita Malfatti. Apesar de grande importância, não houve [Type text] [Type text] [Type text] repercussões imediatas no ensino da arte, somente a partir de 1927, volta a ser objeto de discussões educacionais. Nesse período, o país vive uma grande crise político-econômica e social pela tentativa de um regime mais democrático e o papel social da educação aflora novamente. Novas mudanças são discutidas para a escola. Desta vez ganha destaque a educação primária sob a ótica do Movimento ‘Escola Nova’. As ideias de John Dewey fazem parte das reformas educacionais deste período. Adaptações dos modelos de Decroly e Claparède também são incorporadas à educação. Buscou-se a democratização do ensino, por meio das reformas estaduais, na Escola Normal e Educação infantil. O ensino da arte passa a ser de grande importância na educação: arte como expressão. Em 1948, influenciado pelas ideias de Herbert Read, surgiu a primeira Escolinha de Arte do Brasil no Rio de Janeiro, para os pequenos. Ampliava-se, assim, o sentido de arte, considerada de grande relevância no ensino não formal sendo a primeira instituição de ensino moderno, incluindo a participação das mulheres. São criados os primeiros livros de desenho infantil brasileiros. Os pressupostos teóricos para a valorização da arte na Escola Nova foram defendidos por Anísio Teixeira com iniciativas pelo país, como: a Reforma Educacional de Fernando de Azevedo, no Distrito Federal (1929), a Reforma Francisco Campos (1927-1929) em Minas Gerais e a Reforma Carneiro Leão, em Pernambuco. Esses ideais ainda hoje permanecem no ensino da arte. Ainda de acordo com Barbosa e Coutinho (2011, p.16), em 1936, enquanto exerceu a função equivalente a de Secretário de Cultura de São Paulo, Mario de Andrade criou experiências significativas como os ateliês nos Parques Infantis e na Biblioteca Infantil, as classes de arte de Anita Malfatti na Escola Americana, hoje Mackenzie, a criação de Escolas de Arte para crianças bem dotadas em arte pelo Jornal A Tarde. Todas essas experiências voltadas para a arte foram interrompidas pelo golpe de Estado que instituiu a ditadura do Estado Novo. No período de 1938 a 1945, na Ditadura Vargas, o Brasil entra num retrocesso e diluição das propostas educacionais da Escola Nova. O Estado Novo interrompe toda a proposta educativa da arte como expressão. Os desenhos [Type text] [Type text] [Type text] estereótipos,os trabalhos manuais, música e canto orfeônico, e o desenho geométrico voltam como prioridade nas escolas primária e secundária. Neste período, os seguidores da Escola Nova são afastados, perseguidos, poucos se aliaram à ditadura, defendendo outros interesses, criando-se um entrave entre arte e educação. A arte como liberação A partir de 1947, começou a surgir a ideia de Arte com enfoque para liberação emocional, desenvolvida em ateliês, preocupados com a livre expressão das crianças, sob a orientação de artistas com a criação artística sem interferência do adulto. Segundo Barbosa e Coutinho (2011, p.23),"trata-se de uma espécie de neoexpressionismo que dominou a Europa e os Estados Unidos no pós-guerra e se revelou com muita pujança no Brasil que acabava de sair do sufoco ditatorial". No período de 1948-1958, intensifica essa ideia, através de várias escolinhas de arte. O MEA (Movimento das Escolinhas de Arte), usando principalmente argumentos psicológicos, tentou convencer a escola comum da necessidade de deixar a criança se expressar livremente usando lápis, pincel, tinta, argila entre outros materiais. Cursos Intensivos de Arte/Educação direcionados ao desenvolvimento da criatividade, que caracterizou o modernismo em Arte/Educação são criados buscando a exploração de variadas técnicas de pintura, desenho, impressão, entre outras. O importante era que no fim do ano letivo, o aluno tivesse tido contato e empregado variadas técnicas. Para compreender e respeitar como acontecia a evolução gráfica das crianças, os professores utilizavam como referência teórica obras de Viktor Lowenfeld e Herbert Read. Na educação, com a redemocratização do país, voltaram alguns princípios da Escola Nova. No período de 1958 a 1963, aumentaram os Cursos Intensivos de Arte/Educação direcionados ao desenvolvimento da criatividade, que caracterizou o modernismo através das classes experimentais com Arte. A Lei de Diretrizes e Bases de (1961), eliminando a uniformização dos programas escolares, permitiu a continuidade de muitas experiências iniciadas em 1958, mas as ideias de introduzir arte na escola comum de maneira mais extensiva não frutificou. [Type text] [Type text] [Type text] Em 1962 foi inaugurada a Universidade de Brasília (UnB) com um departamento de arte-educação, cujo objetivo era da sistematização da arte na escola para crianças e adolescentes. Especialistas foram convocados para a construção de uma proposta que permitisse estudos e pesquisas em arte-educação, tendo como referência as ideias do filósofo inglês Herbert Read. A arte deveria ser vista como parte integrante do processo educacional e não apenas como uma meta. O período militar No período de 1964 a 1978 o Brasil entra no regime político de ditadura militar. Escolas experimentais são fechadas e professores perseguidos. Com a promulgação da LDB 1971, a expressão ensino da arte muda para Educação Artística em forma de atividades e não como disciplina, tornando-se componente obrigatório nos currículos de 1º e 2º graus. No ensino superior (1973) são criados cursos de Educação Artística e licenciatura em artes plásticas. Nas escolas públicas primárias e infantis como temas e desenhos alusivos a comemorações cívicas, religiosas e festivas. Já nas grandes escolas particulares, o estudo da arte prevaleceu com metodologia técnica. No entanto,essa prática continua presente na prática pedagógica das escolas infantis nas atividades artísticas como: cantar músicas da rotina escolar e/ou o canto pelo canto; apresentações artísticas ou datas comemorativas; decoração da escola para as festas cívicas e religiosas. Nos cursos técnicos de cunho tecnicista prioridade ao desenho geométrico. Em 1977, o MEC cria o Programa de Desenvolvimento Integrado de Arte Educação - PRODIARTE, com o objetivo de integrar a cultura da comunidade com a escola, promovendo o encontro do artesão com os alunos e estabelecendo convênios com órgãos estaduais e universidades. Na década de 80, os educadores lutam por reformas educacionais, pela livre expressão. A Semana de Arte e Ensino fortificou politicamente os arteeducadores e já em 1982/1983 foi criada na Pós-Graduação em Artes, a linha de pesquisa em arte-educação na Universidade de São Paulo constando de doutorado, mestrado e especialização, com a orientação de Ana Mae Barbosa. Arte-Educação foi um Movimento do final da década de 70, inicialmente fora do contexto da [Type text] [Type text] [Type text] educação escolar, utilizando metodologias fundamentadas nos ideias da Escola Nova e da Educação através da Arte. A proposta triangular No período de 87/93 é criada a Proposta Triangular: como fazer arte (ou produção), leitura da obra de arte e contextualização, sistematizada no Museu de Artes Contemporânea de São Paulo, tendo a sua frente Ana Mae Barbosa. Tal proposta é uma derivação do DBAE e denomina como componentes curriculares o fazer, a leitura e a contextualização do que seja arte. Ela surge da insatisfação de perceber que apesar do indivíduo ter estudado artes no primário e secundário, possui uma grande dificuldade de entender, de usufruir da arte ,de não visitar num museu por não entender uma obra de arte. Portanto, a abordagem triangular é o fazer, ver e contextualizar o que vê e faz. Na nova LDBN 9.394/96, a concepção de ensino da arte baseava-se exclusivamente no “fazer artístico” e como consequência, o ensino da Arte foi retirado das versões iniciais da nova lei. Esses acontecimentos geraram novas controvérsias no ensino da arte que passou a não ser básico ou obrigatório, mas exigido pelo Conselho Federal de Educação, aumentando ainda mais a desvalorização da arte no contexto educacional brasileiro pela supremacia da classe dirigente. Reverter esta situação foi uma luta que mobilizou professores arte- educadores de todo Brasil pela obrigatoriedade do ensino de Arte. Durante esse período, informações sobre a abordagem de ensino do DBAE (disciplined-based-art-education), chegam aos educadores em arte no Brasil, traduzido aqui por “arte-educação como disciplina”. Uma proposta inglesa e norte-americana concebida na década de 60 que reúne como componentes do ensino da Arte: a produção, a crítica de artes, a estética e a história da Arte. De acordo com Lelis (2004) esta proposta direciona os arte-educadores em seus estudos de forma a tornar a arte reconhecida como componente curricular em que deverão estar presentes: o fazer, a leitura e a contextualização e terem seu espaço garantido pelas autoridades e pela sociedade educacional brasileira. Após vários estudos, foram revogadas as disposições anteriores pela Lei nº 9.394/96 (artigo 26, parágrafo 2º), o ensino de arte passa a ser considerado [Type text] [Type text] [Type text] obrigatório na educação básica: “O ensino de arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. Neste período são realizados encontros nacionais e internacionais dos professores de Arte, a Reformas dos cursos universitários e criação de cursos de Pós-Graduação na USP. No final do século XX, o movimento de arte/educação em sintonia com a pós- modernidade desenvolve pesquisas buscando uma maior aproximação com variadas práticas artísticas. A contemporaneidade O estudo da Arte, no contexto Pós-Moderno, impulsiona as proposições da educação vista como cultura visual e, ainda, a continuidade da Proposta Triangular, implícito na LDB 9394/96 e nos documentos: RCNEI (1998) para a Educação Infantil, PCN de Artes (1997) para o Ensino Fundamental e PCNEM (1998) para o Ensino Médio, constituindo assim estudo em toda a educação básica. Na Educação Infantil, de acordo com o RCNEI (1998), o ensino de artes deve ser desenvolvido em forma de Artes Visuais, como um eixo da área de conhecimento que tem estrutura e características próprias cuja aprendizagem acontece por meio dos seguintes aspectos: fazer artístico, apreciação e reflexão. No Ensino Fundamental, o PCN de Artes (1997) traz, em sua fundamentação, a importância do desenvolvimento das diferentes linguagens artísticas que deverão estar presentes no currículo escolar: "A Produção - fazer artístico; A Fruição - apreciação significativa de arte e do universo a ela relacionado; e a Reflexão - construção de conhecimento sobre o trabalho artístico pessoal". No Ensino Médio, a Arte faz parte da área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias juntamente com os conteúdos de Língua Portuguesa, Língua Estrangeira, Educação Física e Informática. O conteúdo de Arte deverá ser desenvolvido como produção humana presente nas "manifestações artísticas, na arquitetura, no urbanismo, nos meios de comunicação. Também é da natureza da arte sua articulação com outras formas do saber: filosófica, histórica, social e [Type text] [Type text] [Type text] científica" (PCN,p.179). O aluno deverá desenvolver competências e habilidades de: representação e comunicação (realizar ou analisar produções artísticas nas diferentes linguagens), investigação, compreensão e contextualização sociocultural. Com a tríade destes documentos, buscava-se fundamentar a prática pedagógica que deveria ser desenvolvida pelo professor para ser o mediador dos conhecimentos, de práticas e criações individuais e coletivas que muito contribuam para a formação dos alunos, enfim, é o que se propõe como estudo neste inicio de século. No entanto, no decorrer deste estudo, percebeu-se que muitas vezes esta discussão se torna vazia, diante das várias práticas já pesquisadas anteriormente e que ainda estão arraigadas nas atividades de arte nas práticas escolares. Como nos apontam Canda e Batista (2009, p.2), "colocar arte (desenho, colagem, modelagem, dramatização, etc.) no final de uma experiência, ligando-se a ela através do conteúdo, vem sendo utilizada ainda hoje na educação infantil e ensino fundamental". Esta é uma atividade muito real nas práticas escolares, ou ainda concepções que acreditam que o papel da arte nas escolas seja de libertar emoções como nos afirma Barbosa (2003, p. 23), “não é tratada como conhecimento, mas somente como um “grito da alma”. A arte neste contexto se descaracteriza de seu real sentido, de que aconteça uma aprendizagem significativa. Em algumas escolas, aulas de Arte são ministradas por professores complementando carga horária, com pouco conhecimento sobre o conteúdo a ser desenvolvido, por não ser sua especialidade. É fundamental que o futuro profissional desse ramo das artes saiba o que são e de onde provêm essas ferramentas e materiais dos quais se utiliza, bem como aprenda a confeccioná-los a partir dos elementos naturais presentes na realidade onde vive (BRASIL, 1997. p. 29), Para que isto ocorra os cursos de especialização e de formação contínua deverão estar em parceria com esta proposta para alicerçar ação pedagógica, [Type text] [Type text] [Type text] utilizando material adequado para as práticas artísticas e material didático de qualidade para dar suporte às aulas. As transformações ocorridas na própria Arte a partir do século XX constituem o núcleo de todo pensamento e prática artística no âmbito escolar, visando-se à ampliação da compreensão acerca da arte-educação. Busca-se a reciprocidade entre a arte que se ensina na escola e a Arte no verdadeiro sentido, através de diversas linguagens: plástica, musical, literária, cênica ou corporal, desta forma distanciar da transmissão de técnicas, comemorações escolares, lazer entre outras práticas comumente chamadas de "arte". Muitos estudos precisam ser efetivados para que tal prática aconteça. Canda e Batista (2009, p.111) buscam no currículo estas transformações e apontam algumas interpretações da arte, enquanto atividade imprescindível para a educação estética no currículo escolar. A educação estética do sensível dos sentimentos, não se resumindo ao repasse de informações teóricas acerca da arte, de artistas consagrados e de objetos estéticos, mas segundo (DUARTE JR, 2000. p.15), “trata-se, antes, de um projeto radical: o de um retorno à raiz grega da palavra “estética” — aisthesis, indicativa da primordial capacidade do ser humano de sentir a si próprio e ao mundo num todo integrado”. Na proposta de Artes, (BRASIL, 1988), lemos: “trata-se das tendências que estabelecem as relações entre a educação estética e a educação artística dos alunos. É uma educação estética que não propõe apenas o código hegemônico, mas também a apreciação de cânones de valores de múltiplas culturas, do meio ambiente imediato e do cotidiano" (PCN de Artes, 1997, p.28). Buscar uma educação voltada para os sentidos, onde através da descoberta das nossas variadas sensações de cores, formas, sabores, texturas, odores, redescobrir prazeres que fazem parte de nossa vida, leva ao conhecimento. O homem, enquanto sujeito humano, manifestou-se, construiu e evoluiu a partir de sua concepção de vida sensível no contato com a natureza, aprimorando seu conhecimento, observando, transformando em prol de sua sobrevivência, tornando-se ser social. Para Duarte Junior (2000, p.29) "a educação do sensível não prescinde da arte — pelo contrário —, mas deve atuar num nível anterior ao da simbolização [Type text] [Type text] [Type text] estética" ganhando espaço e/ou complementando-se de acordo com os novos paradigmas que emergem na educação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio dos recortes deste estudo, percebe-se que ainda temos um longo caminho a percorrer para que o ensino da arte seja valorizado como campo do conhecimento. Aprender arte significa o desenvolvimento de criação pessoal, valorizando as diferentes experiências criativas do indivíduo na inserção permanente com todos os meios que promovam o processo de aprendizagem. Pensamos que o ensino de artes proporcionará o despertar das crianças e jovens para a sensibilidade, o gosto pela natureza, à valorização da cultura, desenvolvendo diferentes formas de ser, estar e conviver de forma criativa e mais humanizada. REFERÊNCIAS BARBOSA, A. M. COUTINHO, R. G. Ensino da Arte no Brasil: aspectos históricos e metodológicos. Rede São Paulo de formação docente.2. ed São Paulo: UNESP/REDEFOR, 2011. Disponível em: <http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40427/3/2ed_art_m1d2.pdf> Acesso em 18/01/2012. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental, v. III. Brasília: MEC/SFE, 1997. _________. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais - Arte. Brasília: MEC/SFE, 1998. _________. Secretaria de Educação Fundamental.Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM): Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Brasília: MEC/SFE, 2000. [Type text] [Type text] [Type text] _________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394. Brasília: Ministério da Educação, 1996. CANDA,S.N. BATISTA,C.M.P. Qual o lugar da arte no currículo escolar? R.cient./FAP, Curitiba, v.4, n.2 p.107-119, jul./dez. 2009. Disponível em <http://www.fap.pr.gov.br/arquivos/File/RevistaCientifica4vol2/07_artigo_Cilene_Canda_Carla_B atista.pdf>. Acesso em: 23/12/2013. DUARTE Jr. João Francisco O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível. Programa de Pósgraduação em Educação _ Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP, 2000. Universidade Estadual Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Artes. Campinas, 2004. Dissertação (Tese) Disponível em: <http://cutter.unicamp.br/document/?code=vtls000211363> Acesso em: 04. nov. 2012. LELIS, S. C. C. Poéticas visuais em construção: o fazer artístico e a educação (do) sensível no contexto escolar. Programa de Pós-graduação em Educação _ Universidade Estadual de Campinas, Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Artes. Campinas, Campinas-SP 2004. Dissertação (Mestrado em Artes Plásticas) Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls00033924>.Acesso em 30. out. 2012. SILVA, E.M. A. ARAÚJO, C. M. Tendências e Concepções do Ensino de Arte na Educação. Escolar Brasileira: um estudo a partir da trajetória histórica e sócio-epistemológica da Arte/Educação. In: Reunião Anual, 30., 2007, Caxambu.MG. Anais Eletrônicos... ANPEd . Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/grupo_estudos/ge01-3073--int.pdf>. Acesso em: 12/01/2013. [Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT1- Cultura e Processos educacionais “AS CRIANÇAS TEM DIREITO DE ESTUDAR, DE APRENDER, DE CANTAR E SONHAR COM COISAS BOAS”4: DIÁLOGO COM AS CRIANÇAS E SEUS DIREITOS Milna Martins Arantes5 Acácia Aparecida Bringel6 Conselho Municipal de Educação [email protected] [email protected] RESUMO Este artigo tem como objetivo contribuir com o debate sobre a “escuta das crianças”, seus desafios e possibilidades. A escuta das crianças constitui-se um desafio, pois envolve a superação de práticas adultocêntricas e nos possibilita uma aproximação com o universo infantil, suas ideias, sentimentos, necessidade, interesses, entre outros. No campo teórico priorizam-se as contribuições da Sociologia da Infância, seus princípios e elementos norteadores. Esse trabalho constitui-se como uma etapa inicial, um processo de aproximação com uma metodologia de pesquisa cujo foco é dar “voz as crianças”. Palavras-chave: infância; criança; sociologia da infância; direitos. APRESENTAÇÃO Iniciamos este trabalho com algumas indagações, a saber: Como tem sido o olhar para as infâncias e para as crianças pelos profissionais que atuam na Educação Infantil? Temos considerado as ideias das crianças sobre o mundo, sobre si mesmas e sobre nós (adultos) no trabalho realizado com elas? É possível abandonar a visão adultocêntrica7 na relação com as crianças? Quais caminhos apontam outro olhar sobre as infâncias e as crianças? 4 Direito retirado da produção escrita das crianças. 5 Graduada em Educação Física e Educação Artística, Mestre em Ed. Física/Unicamp – Conselho Municipal de Educação. 6 [Type text] Cientista Social, Mestre em Educação Brasileira/UFG – Conselho Municipal de Educação. [Type text] [Type text] A partir dessas inquietações, iniciamos uma série de estudos e reflexões que nos permitiram olhar a criança como um sujeito histórico-social, o que implica, compreender as crianças e estudá-las como “um ser humano de pouca idade que tem um modo todo particular, singular, de se inserir no seu meio, de ver e olhar o mundo” (BARBOSA, 2009, p.27). Esse olhar afirma, portanto, a condição da criança de ser sujeito de direitos, em sentido ampliado, ou seja, de alguém “que tem a capacidade de construir uma narrativa de mundo e das coisas, ressignificando o que já está instituído” (BARBOSA 2009, p.27). Deste modo, o objetivo deste texto é apresentar as observações preliminares de um trabalho realizado com um grupo de crianças, na faixa etária de sete a oito anos, no qual o foco é a “voz das crianças” acerca de seus direitos. Não é intencionalidade desse artigo avaliar ou julgar a produção das crianças, mas conhecê-la, aproxima-nos de seus pensamentos, suas ideias e sentimentos e, com elas, aprender e dialogar. Sabemos que são muitos os elementos que permeiam o pensamento das crianças, o lugar que ocupam nessa sociedade, a impregnação do mundo midiático, os valores familiares, a escola, e demais elementos da cultura adquiridos pelas crianças enquanto membro da sociedade. No primeiro momento, faremos algumas considerações acerca dos pressupostos da Sociologia da Infância, um campo de estudo emergente, que estuda as realidades da infância a partir das próprias crianças, por meio de um conjunto de orientações metodológicos cujo foco é a “voz das crianças”. No segundo momento, apresentaremos os resultados preliminares das escutas realizadas com crianças que frequentam o 3º ano fundamental de uma escola de classe média situada em Goiânia – Goiás, assim como algumas observações a cerca dessa primeira escuta. E, nas considerações finais, reafirma-se a importância do diálogo com as crianças, a fim de superar a visão adultocêntrica ainda tão arraigada em nós. 7 Visão adultocêntrica: visão na qual prevalece a visão do adulto sobre as criança, nessa perspectiva a criança não é considerada por si mesma, mas pela interpretação do adulto, ao longo do tempo a criança foi percebida pelo adulto como um “vir a ser”, “tábula rasa”, “rastro vergonhoso de nossa natureza corrupta e animal”, “inocência em forma humana”, incompletude, etc. [Type text] [Type text] [Type text] SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA: APROXIMAÇÕES A Sociologia da Infância8 propõe a “compreensão das crianças como atores capazes de criar e modificar culturas, embora inseridas no mundo adulto” (DELGADO e MULLER, 2005, p. 3). As crianças interagem no e com o mundo dos adultos, compartilham ideias, questionam, interagem e criam culturas. Assim, o desafio proposto aos estudiosos e pesquisadores é o de repensar a postura do adulto para que se tenha como foco as vozes, as ideias, os olhares, as experiências e os questionamentos das crianças. Ao aproximarmos da Sociologia da Infância, compreendendo-a com uma área de conhecimento, como campo teórico-metodológico emergente, destaca-se dois pressupostos relevantes: 1) a concepção de criança não como uma etapa da vida incompleta, por imaturidade biológica ou por características naturais e universais, mas como um sujeito social que, a sua maneira, compreende e interfere no mundo a sua volta, ou seja, como sujeitos completos que pensam e se expressam de múltiplas formas; 2) a compreensão da criança como agente ativo capaz de construir cultura, por meio de questionamentos, compartilhamento e negociações que contribuem para a ressignificação e produção do mundo adulto. Contudo, as crianças possuem um mundo particular, diferente do mundo dos adultos. Suas atividades centram-se no brincar, na imaginação, na interpretação da realidade, no faz-de-conta, na televisão, nos vídeos games, na interação com seus pares, entre outros, e é nesse movimento que elas constroem cultura. Corsaro (1997), em seus estudos, apresenta o conceito de cultura de pares, definindo-o como um conjunto de atividades, rotinas, artefatos, valores e preocupações que as crianças produzem e partilham na interação com seus pares, isto é, com as outras crianças. Esse conceito se faz importante para que possamos entender que as crianças produzem cultura. Entretanto, é preciso destacar que as crianças não produzem cultura de forma isolada, elas possuem uma autonomia 8 [Type text] Sociologia da infância – vincula-se à corrente interpretativa. [Type text] [Type text] relativa, ou seja, suas atividades – cultura de pares– são produtos das interações com adultos e crianças. Ainda para Corsaro (idem), é preciso considerar o conceito de reprodução interpretativa, para melhor compreender a produção cultural infantil. Para esse autor o termo reprodução refere-se ao fato de que as crianças, ao conviverem com a cultura dos adultos, não estão simplesmente internalizando a sociedade e a cultura, mas estão ativamente contribuindo para a produção e a mudança cultural. Já o termo interpretativo está diretamente relacionado à percepção de que as crianças ao elaborarem sua cultura – cultura de pares – apresentam elementos inovadores e criativos. No Brasil, Florestan Fernandes (2004) pesquisou o universo infantil. Em seu estudo, As “trocinhas” de Bom Retiro, afirmou que existem culturas infantis construídas por elementos quase exclusivos das crianças, caracterizados por sua natureza lúdica. O estudo desse autor deixou claro que as crianças, ao reunirem-se para brincar, criavam uma cultura própria, viva, mesmo quando buscavam e utilizavam elementos da cultura dos adultos, pois elas reelaboravam esses elementos a partir de seus interesses e necessidades. Florestan Fernandes destacou ainda que as “trocinhas” exerceram uma função integradora na reeducação dos imigrantes, tendo em vista que os filhos de imigrantes integravam à cultura brasileira – apropriavam-se da linguagem, das brincadeiras, dos costumes, entre outros – e, ao mesmo tempo, transmitiam-nas a seus pais, exercendo assim um papel ativo na reeducação dos adultos. A partir dessa compreensão, o que se deve problematizar não é se as crianças criam e recriam cultura, mas se suas criações são ou não reconhecidas e valorizadas pelos adultos. Outro desafio proposto pela Sociologia da Infância é o de romper com as velhas concepções, entre elas destaca-se a compreensão de socialização proposta por Durkheim (1977), a qual se baseia na ação e transmissão de valores, normas e atitudes dos adultos para os mais jovens, um modelo vertical e impositivo, uma geração sobrepondo-se a outra. Nas palavras desse autor: [Type text] [Type text] [Type text] A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social, tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança particularmente, se destine (DURKHEIM, 1977, p. 42). A Sociologia da Infância critica essa concepção e apresenta outra; esta enfatiza que a criança também participa de sua própria socialização. O pensamento da Sociologia sobre as crianças e a infância deriva do trabalho teórico sobre a socialização, entendida pelas teorias tradicionais como o processo pelo qual a criança se adapta para internalizar a sociedade. Nessa perspectiva, entende-se a criança somente como consumidora da cultura estabelecida pelos adultos. Porém, as perspectivas teóricas interpretativas e construtivistas da socialização argumentam que as crianças e os adultos, são participantes igualmente ativos na construção social da infância e na reprodução interpretativa de suas culturas (DELGADO e MULLER, 2005, P.3). Para Plaisance (apud Delgado e Muller, 2005), a socialização deve ser pensada como uma construção da criança, por meio de modelos interativos, nos quais as múltiplas negociações, compartilhamentos, questionamentos, experiências, embates com o Outro, constituem a identidade e a socialização do sujeito. A socialização, nessa perspectiva, é compreendida como um processo no qual o ator socializado experimenta, reproduz e transforma a realidade vivida e a si mesmo. É a partir dessa compreensão que Corsaro (1997/2005) propõe o estudo com e não sobre as crianças, o que requer uma nova postura para com a criança, com seu mundo e suas ideias. Uma postura que respeite a criança, o que implica, sobretudo, uma postura ética por parte do adulto. Para tal, no diálogo com as crianças, exige-se a descentralização da figura do adulto, com vistas a garantir os direitos das crianças. Em especial, destaca-se a participação e envolvimento das crianças nos estudos e pesquisas dos adultos, nos quais são as crianças que deverão decidir por participar ou não de estudos, de entrevistas, de fotografias, entre outros. Só assim pode-se superar a figura de poder, força, tanto no tamanho físico, quanto na tomada de decisões geralmente centradas nos adultos. [Type text] [Type text] [Type text] Conforme Kramer (2002), devemos e podemos negociar com as crianças todos os aspectos e etapas das investigações. Esta autora nos convida a entender que as crianças são produtoras de ideias, visões de mundo, dados, e que, portanto, cabe a elas decidirem o quê e de que maneira, as informações serão utilizadas, tendo em vista que, ao adentrarmos na vida das crianças, somos intrusos, é preciso, pois, pedir permissão. No que se refere a essa questão é necessário proteger e respeitar àqueles que nos confia seu tempo, uma parte de suas vidas e de sua história, bem como entender as pessoas como elas são e evitar classificações e explicações simplistas. Nessa perspectiva, aproximar do universo das crianças exige não apenas colocar o Outro em evidência, mas possibilitar o encontro com esse Outro. Para olhar e escutar a criança, torna-se imprescindível retomarmos o tema da alteridade9, o qual nos leva a reconhecer a diferença no "Outro", e assim reconhecer nossos limites, nossas falhas, possibilidades e incompletude permanente. Tomar a criança enquanto o Outro nos possibilita não apenas visualizá-las, mas compreender que, ao olharmos, somos interpelados. Desse modo, reconhecer a criança como o Outro, a partir do conceito de alteridade, desvela a necessidade emergente de pensarmos a criança de forma diferenciada, como protagonista de sua história e partícipe da vida e da cultura dos adultos. Colocar a criança na posição de protagonista nos remete a uma questão ética e metodológica: Como ouvir as crianças? Como recolher suas vozes? Barbosa (2009) argumenta que ainda precisamos avançar no que se refere a uma metodologia para abordar a criança, tomando-a como protagonista e sujeito da pesquisa. Para a referida autora, O princípio de uma metodologia para a pesquisa que tenha a criança como sujeito passa pela postura do pesquisador diante dessa criança, da sua concepção de criança e infância. (...) tomar a criança como referência e objeto de estudo não é algo novo. No entanto o que se levava em conta não era a criança em si, sendo esta tomada apenas 9 Alteridade (ou outridade) é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e interdepende de outros indivíduos. Assim, como muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam, a existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o Outro - a própria sociedade diferente do indivíduo). [Type text] [Type text] [Type text] como pretexto, referente ou destinatário de processos que, esses sim, constituíam o verdadeiro objeto de estudo (idem, p.27) Nesse sentido, Sarmento (2004) traz muitas contribuições para se pensar metodologicamente a escuta das crianças. Para este autor, a cultura das crianças possue traços/marcas que lhes são peculiares e se configuram como portas e janelas nas quais podemos tentar entrar e olhar de mais perto o universo infantil, a saber; a ludicidade, a fantasia, a interatividade e a reiteração. A ludicidade, conforme Sarmento (2004), é um traço fundamental da cultura das crianças, para elas o brincar e fazer coisas consideradas sérias pelos adultos tem a mesma importância. Brincar constitui-se como uma atividade séria, isto é, uma atividade humana. Para Vygotsky (1994), o brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos. Afinal, ao brincar, a criança reproduz, representa, recria e ressignifica, a seu modo, o mundo. A fantasia – o mundo de faz-de-conta – também se constitui elemento privilegiado. Segundo Sarmento (idem), as crianças fazem uso deliberado de situações imaginárias e, por meio dela, constroem sua visão de mundo, e atribuem significados às coisas. Pela imagianação, as crianças resistem a situações mais adversas de sua existência. Assim como na arte, a fantasia e a utopia permitem ao artista transpor a facticidade do mundo real e adentrar o campo do sonho, para as crianças fantasiar será sempre mais do que viver. Por fim, Sarmento (2004) destaca a importância de se compreender a interatividade e a reiteração. Para este autor, é importante que se considerem os espaços e os tempos das crianças, compreendendo os seus espaços de partilha – na escola, na família, no parque, entre outros – como espaços em que as crianças interagem, agem, representam, expressam emoções, aprendem e crescem. A reiteração refere-se a não literalidade e não linearidade temporal; o tempo da criança não pode ser mensurado, ele pode reiniciar-se a qualquer momento, repetir-se, avançar e trazer novas possibilidades. [Type text] [Type text] [Type text] DIALOGANDO COM AS CRIANÇAS E SEUS DIREITOS Não é questão de querer Nem questão de concordar Os diretos das crianças Todos têm de respeitar Ruth Rocha Para procedermos à escuta das crianças sobre seus direitos, optamos por realizar a pesquisa no ambiente escolar, compreendendo-o como um lócus privilegiado de partilha, do estabelecimento de cultura de pares. Selecionamos uma escola com a qual já temos contato há quatro anos. Trata-se de uma escola situada em um bairro considerado nobre da cidade de Goiânia, classe média, com uma excelente infraestrutura e um trabalho pedagógico que vincula-se a uma perspectiva mais interacionista, dialógica e afetuosa com as crianças, embora ainda faça parte da sua prática educativa resquícios do método tradicional. Foi utilizado como elemento mediador da escuta das crianças a literatura infantil e os debates suscitados pela leitura e apreciação dessa literatura, assim como a produção de desenhos feitos pelas crianças. Para iniciarmos a escuta das crianças escolhemos o livro “O direito das Crianças segundo Ruth Rocha”, um livro poético e instigante. A ideia surgiu a partir da observação das atividades desenvolvidas pela professora dessa turma, a qual já vinha desenvolvendo um trabalho sobre os direitos das crianças a partir do texto “Declaração Universal do Moleque Invocado” de Bonassi Fernando. O primeiro momento para a escuta das crianças foi um diálogo franco com elas sobre a natureza do trabalho a ser realizado, o porquê de nossa presença na escola, os objetivos desse trabalho – nosso interesse por conhecer mais sobre as crianças, seus interesses, sua visão de mundo – e se elas se interessavam em participar, se tinham sugestões, se permitiam a gravação dos nossos diálogos. As crianças concordaram prontamente. Optamos por exibir um vídeo sobre o livro da Ruth Rocha, no qual as próprias crianças ilustravam as páginas do livro e liam os direitos. As crianças se mostraram interessadas e animadas com a ideia de verem um vídeo na sala, sugeriram que passássemos outros filmes para elas. No início estranharam os [Type text] [Type text] [Type text] desenhos feitos por outras crianças, comentavam-nos, depois iam fazendo interpretações desses desenhos mesmos e, no final, liam o texto coletivamente. Após o vídeo, distribuímos uma folha para que as crianças escrevessem os direitos segundo elas mesmas. Passamos agora a transcrição da produção escrita das crianças10. Com a palavra/escrita as crianças. Gabriel11 Direitos: . Brincar . Estudar Eis alguns dos direitos universal do moleque invocado. . O moleque invocado tem direito á comer muitos doces. . O moleque invocado tem o direito de brincar a vontade. . O moleque invocado tem o direito de passeios legais. Acásio 1. estudar na escola. Geovana 1. ter lazer 2. ter saúde 3. ter carinho 4. ter dever e diversão. Manuela 1. As crianças tem que divertir e aprender ao mesmo tempo. 2. Ter lazer e carinho. 3. Ter respeito. 4. As criança não tem que trabalha tem que estudar. 10 Transcrição na integra dos textos das crianças. 11 Todos os nomes utilizados são fictícios. [Type text] [Type text] [Type text] Eu gostaria que o Brasil agisse com mais prudência, que todas as crianças tenham diversão e tem que aprender também. Eu queria que todos aceitassem os direitos, que não tratassem com preconceitos os cadeirantes e os deficientes. Agnes Direito de respeitar a professora, direito de respeitar as pessoas. Toda criança devia poder pular na cama da mamãe e dormir um pouquinho na sala de aula Toda criança devia ter direito a tomar sorvete na hora que quiser. Toda criança devia poder tirar férias 4 vezes por ano, devia poder também comer chocolate o dia todo. Luana As criança de direito de sota pipa. Toda menina tem direito de: comer na hora que quiser, se divertir pelo menos dois dias, sair de casa 2 veze por semana. Larissa As crianças tem o direito de: Estudar, brincar, aprender, se divertir. Toda criança tem direito de ter um pai, uma mãe uma família. Toda criança tem direito de estudar, brincar e o que ter comer. Maria Respeitar ter educação lazer família saúde estudar, brincar, ter moradia. As crianças deve teve ter escola, igualdade, obediência. Toda criança tem direito de estudar, brincar, educação, lazer, família, respeito de ter um lar, assistência medica, carinho, viajar, ir para a casa do amigo, igualdade. Clara As crianças tem direito de estudar de aprender, de cantar e sonhar com coisas boas. Todo parque tem que ter uma montana-russa ter um palhaço e um escorregador gigante toda criança ter direito a um tablete um computador e um piscina exclusiva. Antônio Estudar e brincar [Type text] [Type text] [Type text] Fazer educação física Na escola poderia ter campeonato de futebol todo mês e também poderia ter a sal de ciências com porções cientificas, na escola poderia ter um caixa de doces na escola. Gabriela A criam tem direito de estudar brincar e ter um lar Marco 1. Ser milhonário 2. Dirigir carro Carlos Poder fazer isportes para emagrecer e para ficar bem. Toda criança pode ficar o dia inteiro no computador sem ir para escola. Também não ia existir tarefa de casa para todo mundo. Toda criança tem direito de ir na picina todo dia. E todo dia as crianças podem ir viajar para qualquer lugar. Todo dia as crianças podem escolher a sobremesa. Francisco Todos os jogos grátis Eu queria que tudo fosse grátis até uma mansão. E só tivesse aula de como passar de fase no Play Station. E que de para domar todos animais incluindo leões. Isa 1. Estudar o dia inteiro 2. Brincar bastante Caio Eu queria ter uma tornera de refrigerante e tudo de graça. Toda criança deve ter o direito de brincar de comer. Toda criança tem o direito de ter um lar e de estudar. Toda criança deve ter direito de ler revista e gibis. Toda criança deve ter o direito de ver filmes no cinema e nos teatros. Como já foi dito nossa intencionalidade não é avaliar, julgar a produção das crianças, mas conhecer, nos aproximar de seus pensamentos, suas ideias e sentimentos e com elas aprender e dialogar. As crianças não são passivas no processo de socialização, pois elas reconstroem significados, ideias, sentimentos por meio da cultura de pares, no contato com os outros. O diálogo com as crianças [Type text] [Type text] [Type text] nos possibilitou uma aproximação com seus desejos, com o valor que dão à educação, suas preocupações, sua necessidade de carinho e atenção. Nesse sentido é interessante perceber como a fantasia, o faz-de-conta, o sonho interage com o real, o que permite às crianças a liberdade de expressão de ideias, desejos e sentimentos. É interessante perceber como as crianças imaginam, desejam o mundo: “tudo de graça; ser milionário, dirigir carro; aula de como passar de fase no Play Station; ficar o dia inteiro no computador; não existir tarefa de casa para todo mundo, ir na picina todo dia; viajar para qualquer lugar; campeonato de futebol todo mês; porções científicas; tirar férias 4 vezes por ano; ter uma tornera de refrigerante , enfim sonhar coisas boas”. Outro aspecto significativo está no brincar, na ludicidade presente nas falas/escrita das crianças, como já nos alertava vários autores, o brincar é o caminho pelo qual as crianças conhecem o mundo, reelaboram a cultura dos adultos, formam pares, produzem sua própria cultura. Fica evidenciado, nessas falas como o brincar é desejado pelas crianças. Dessa escrita ficamos com uma interrogação: Estamos possibilitando, favorecendo e respeitando o brincar das crianças? Para encerrar, é importante destacar que as crianças manifestam em sua fala/escrita, preocupações que consideramos relevantes, preocupações com este mundo cheio de problemas e possibilidades que herdaram e serão chamadas a enfrentar. E A HISTÓRIA CONTINUA... Este foi apenas o início de uma longa escuta. Há muito que aprender, pois, conforme Fernando Pessoa, “(...) o melhor do mundo são as crianças, (...)”. Nosso desafio é ampliar o diálogo e a escuta, com vistas a conseguir compreendê-las melhor e assim nos aproximar de suas reais necessidades, interesses, sentimentos, entre outros. E diante dessa escuta sensível, contribuir com posturas mais éticas em relação à infância e à criança, seja em âmbito familiar, seja em contextos educacionais. Ouvir as crianças, aceitar seus pontos de vista implica a superação [Type text] [Type text] [Type text] de posturas adultocêntricas que, ao longo da história e do processo educacional marcam, a relação adulto-criança. REFERÊNCIAS BARBOSA, Sílvia. “É tudo sorvete!” Enunciações e expressões das crianças na creche. In: KRAMER, Sônia (Org.). Retratos de um desafio: crianças e adultos na educação Infantil. São Paulo: Àtica, 2009. CORSARO, W. The Sociology of Childhood. California: Pine Forge Press, 1997. ________.Entrada no campo, aceitação e natureza da participação nos estudos etnográficos com crianças pequenas. Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 443-464, Maio/Ago. 2005. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br DURKHEIM, Émile. A educação como processo socializador: função homogeneizadora e função diferenciadora. In:FORACCHI, M. M., PEREIRA, L. Educação e Sociedade: leituras de sociologia da educação. São Paulo: Companhia editora nacional, 1977. FERNANDES, Florestan. As “trocinhas” do Bom Retiro: contribuições ao estudo folclórico e sociológico da cultura e dos grupos infantis. Pro- Posições,2004. vol.15, n. 1 (43), jan. GOUVEA, Maria Cristina Soares de; Sarmento, Manuel (orgs). Estudos da Infância: educação e práticas sociais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. (coleção Ciência Sociais da Educação). SARMENTO, M. J. As Culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade. In:SARMENTO, M. J.; CERISARA, A. B. Crianças e miúdos: perspectivas sóciopedagógicas da infância e educação. Porto: Asa, 2004. KRAMER, S. Autoria e autorização: questões éticas na pesquisa com crianças. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n.116, p.41-59, jul. 2002. VYGOTSKY, L.S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes,1994. [Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT1- Cultura e Processos educacionais AVALIAÇÃO E CURRÍCULO: EM BUSCA DA REALIDADE COMO PRÁTICA DE MEDIAÇÃO Adicélia Francisco Duarte Alves Faculdade de Educação - UFG [email protected] RESUMO A finalidade desse artigo é, além de expor algumas observações feitas por mim durante minha prática pedagógica, levantar uma discussão reflexiva que permeia o processo de ensino aprendizagem, visto que a avaliação e o currículo têm sido motivo de discussões, debates, estudos e pesquisas ao longo dos anos. Através da pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa procurei basear-me em autores que discutem a temática Avaliação e Currículo. A atenção que a avaliação e o currículo têm recebido traz à tona a dificuldade que muitos profissionais da educação têm em lidar com essa dicotomia. Esse problema surge quando lidamos com a prática e a dissociamos da teoria devido aos vários fatores que nos englobam no universo escolar e que se torna mais acentuado quando a teoria deixa de ter sua devida importância. Professores(as) que se negam a associar a ciência à prática por meio de conhecimentos embasados pela pesquisa pecam em favor da comodidade, se revestem de desculpas como falta de tempo, não haver necessidade, pois o que sabe é suficiente. Profissionais capazes de fazer a diferença no processo político de ensino e aprendizagem tornam-se insatisfeitos com seus exercícios no magistério e poucas providências são tomadas para reverter o quadro. Alunos são sujeitados aos processos equivocados de avaliação e sentem-se coagidos a demonstrar algo que não condiz com a realidade decorando respostas exatas para perguntas exatas, mas que com o decorrer do tempo prova-se um processo educacional deficiente. Professores(as) que no exercício de sua docência travam uma luta ética por liberdade e autoria no disputado território do currículo, às vezes se desanimam devido as dificuldades enfrentadas quando na ação de preparar e transmitir conhecimentos engessados, na tentativa de ser o mediador de conhecimentos e formas de pensar e agir o real. Há uma necessidade latente de o currículo ser atualizado. Mas há, também, a noção de que metodologias devem ser adaptadas para suprir as necessidades dos discentes. Todos(as) os(as) profissionais envolvidos com a educação precisam ter em suas mentes as especificidades do educando, de saber quem é o sujeito que aprende, pois o processo de ensinar e avaliar não é isolado, muito pelo contrário, em nossa profissão estamos comprometidos com a aprendizagem e essa aprendizagem é interdisciplinar. Palavras-chave: avaliação; currículo; ensino; aprendizagem. INTRODUÇÃO Ao me propor escrever um artigo procurei fazer uma análise em meu campo de experiência, a docência, de algumas dificuldades enfrentadas por mim ao lidar com as ações de alguns colegas de trabalho na dinâmica do processo de [Type text] [Type text] [Type text] ensino e aprendizagem, tais como o desânimo, a falta de iniciativas e de pesquisas, a comodidade em transmitir o saber pronto tal como está nos livros didáticos, traz-me incômodo e preocupação a formação da identidade do(a) professor(a), principalmente se levarmos em consideração que, A identidade do professor é construída ao longo de sua trajetória como profissional do magistério. [...] A construção e o fortalecimento da identidade e o desenvolvimento de convicções em relação à profissão estão ligados às condições de trabalho e ao reconhecimento e valorização conferida pela sociedade à categoria profissional (PIMENTA, 2010, ps. 62, 66). Creio que o motivo de minhas preocupações perpassa pela competência do(a) professor(a) diante do processo de ensino e aprendizagem devido à sua complexidade, ou o docente ter ou não capacidade de transmitir conteúdos, ou faltar-lhe recursos materiais e humanos no exercício de sua profissão. Não é meu interessante, ao escrever este artigo, ater-me ao discurso político das dificuldades da educação básica brasileira e melhorias no ensino, Moysés (1994, ps. 15, 16). Quando falo em competência, não é apenas a habilidade de saber ensinar Moysés (1994, ps. 13, 14). O processo de educar é, além de complexo, mais amplo e inclui situações especificas de treino. Pimenta (2010, p. 38). Precisamos reconhecer que há uma disparidade no universo escolar entre a teoria e a prática pedagógica que precisa ser reduzida, pois segundo Luckesi (2011, p. 215), “a prática no cotidiano escolar permanece centrada nas formas tradicionais de conceber e conduzir a ação pedagógica e o sistema de ensino configuradas ao longo dos anos da modernidade, do século XVI ao presente”. Com certeza é urgente a necessidade das(os) docentes reconhecerem o papel da teoria como suporte profissional, pois: Portanto, o papel da teoria é oferecer aos professores perspectivas de analise para compreender os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e de si mesmos com profissionais, nos quais se dá sua atividade docente, para neles intervir, transformando-os. Daí é fundamental o permanente exercício da crítica às condições materiais nas quais o ensino ocorre (PIMENTA, 2010, p. 49). [Type text] [Type text] [Type text] É a partir da teoria, da busca pela práxis, que nós, profissionais da educação conseguiremos, apesar das condições de trabalho, Patto (1990, apud MOYSÉS, 1994, p. 16), fazer com que o aluno possa se apropriar do conhecimento tendo ao seu lado um(a) profissional ativo, que aja como mediador entre o processo de ensino e de aprendizagem. A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR: A BUSCA DA REALIDADE DE UMA AVALIAÇÃO COMO PRÁTICA DE MEDIAÇÃO Durante os anos em que trabalho como professora tenho observado os conflitos existentes na prática pedagógica no que se refere à avaliação e ao exame. Não são poucos as(os) profissionais da educação que não conseguem lidar com a dicotomia examinar x avaliar, o que, Luckesi afirma: Nos últimos 70 anos, fora do Brasil como dentro deste país, vagarosamente, fomos transitando do uso da expressão examinar a aprendizagem para o uso de avaliar a aprendizagem dos estudantes, porém, na prática, continuamos a realizar exames – ou seja, mudamos a denominação sem mudar a prática. Então, nos dias atuais, em nossas escolas, efetivamente anunciamos uma coisa – avaliação – e fazemos outra – exame -, o que revela um equívoco tanto no entendimento quanto na prática (LUCKESI, 2011, p. 180). Grande parte dos profissionais se formam e conseguem seu primeiro emprego como professores(as) sonham em levar para a prática da sala de aula a teoria não dissociada da prática, ou seja, quando estão na academia, estudam e aprendem que a teoria e a prática precisam caminhar de mãos dadas. Em geral, essa forma de agir e pensar está intrínseco no recém formado. Mas o que se vê, salvo exceções, são profissionais se adaptando à teoria das escolas, tornando-se resistentes à transição do ato de examinar para o de avaliar, quando o contrário é o que deve ocorrer. Muitos professores(as) altamente capacitados começam a agir de forma contrária às suas concepções quando do mundo acadêmico, contrariando eles mesmos e tornando-se insatisfeitos com sua atuação no que diz respeito ao campo teórico. A teia escolar os englobam, sufocando-os a ponto de se conformarem e se moldarem ao vicioso sistema vivido, onde o(a) professor(a) detém o [Type text] [Type text] [Type text] conhecimento, examina os alunos e seu aprendizado deixando para traz perdas e se atendo apenas aos ganhos, não observando ou não conhecendo as características dos atos de examinar e avaliar na escola: [...] 1) temporalidade; 2) solução de problemas; 3) expectativa dos resultados; 4) abrangência das variáveis consideradas; 5) momento do desempenho do educando: 6) função do exame e da avaliação; 7) consequência da função; 8) dimensão política do exame e da avaliação; 9) ato pedagógico (LUCKESI, 2011, p. 181). Considerado por pais e alunos como detentor do saber, o(a) professor(a) raramente erra. E como o detentor do aprendizado, o aluno é mais suscetível ao erro. Surgindo daí, creio eu, a teoria do fracasso escolar. O que na realidade ocorre é a imensa dificuldade de um(a) profissional, seja qual for a área, reconhecer que a forma utilizada para executar um determinado projeto não foi a adequada e que, portanto, houve uma falha, em outras palavras houve erro. Tenho visto uma grande parcela de professores e professoras se “acomodarem” e passar ano após ano sem procurar embasamento teórico, apenas os livros didáticos adotados, enquanto nossos alunos estão sendo inseridos cada vez mais no mundo tecnológico e globalizado e são influenciados por todas as relações capitalistas existentes: O fenômeno globalizador não é novo. A criação do Império Romano, as viagens de Marco Polo ou dos vikings, o Império Inca ou a cultura ocidental, a adoção do sistema métrico e do horário de trens são fenômenos e expressões de globalização. ... Também compreendemos que na superfície esférica viveram e continuam vivendo povos e culturas separadas, mas que se moveram, deslocaram, enfrentaram, anularam, conviveram e fundiram umas com as outras. Talvez agora a novidade do fenômeno resida no fato de se produzir em escala mais ampla, de ser mais evidente em alguns aspectos, sobretudo, de ter se acelerado graças às tecnologias da comunicação, porque ocorre em um contexto que denominamos sociedade do conhecimento ou da informação (SACRISTÁN, 2008, p. 52). Já vi e ouvi também alguns observarem esse fato e dizer “quando eu me formar e for para uma sala de aula, jamais farei isso”. E, quase sempre, fizeram a mesma coisa alegando não ter tempo, que é necessário ser mais rígidos com os [Type text] [Type text] [Type text] alunos, ou não conseguirão dar suas aulas e nem fazer com que aprendam, se esquecendo que “O foco do avaliador está centrado na busca do melhor resultado do ensino e da aprendizagem”, Luckesi (2011, p. 191). Dessa forma, a avaliação elucida dificuldades e facilidades tanto do aluno quanto do(a) professor(a) e norteia formas de trabalhos em comum para chegarem aos resultados desejados, mas: Contudo, deve ficar estabelecido que ter em conta a complexidade para proceder ao ato de avaliar não significa considerar qualquer resultado como satisfatório: importa o melhor e o mais significativo resultado. Não se pode contentar com a afirmação de que um estudante aprendeu “alguma coisa” quando os resultados forem insatisfatórios. O estudante precisa aprender todo o necessário, que certamente é mais do que “alguma coisa”. Uma pedagogia compensatória – que, por questões ideológicas, assume que um estudante pobre, negro ou índio aprendeu, quando efetivamente não aprendeu – exime o educador e o sistema de ensino de reconhecer as fragilidades existentes, o que, por sua vez, suprime a necessidade de novos investimentos para sanar os resultados negativos obtidos, enfim, a pedagogia compensatória é um engano (LUCKESI, 2011, p. 192). Ainda hoje, mentalidades precisam ser mudadas, reconhecimento de quem são os sujeitos do processo de ensino e aprendizagem assimilados e realmente entender na prática que exames e testes são diferentes do processo pelo qual permeia a avaliação. Quando nos propomos a avaliar a aprendizagem de um determinado aluno não podemos nos esquecer que esse aluno será influenciado, de uma forma ou de outra, por essa avaliação, daí termos cuidado na aplicação desse processo, posto não haver, para Vieira (2003, p. 145), “valor absoluto nem definitivo”. Dessa forma evitaremos prejuízos tanto para os(as) professores(as) como para os alunos. Mesmo considerando que o conceito seja uma abstração, é necessário termos noção do que seja avaliar, pois: É preciso [...] que se tenha um fundamentado conhecimento daquilo sobre o que interrogamos e atribuição de significados aos fatos, dados e informações que colhemos. Para além dos fatos e a partir deles, a produção dos juízos de valor. Avaliar é uma ação que não admite neutralidade, Dias Sobrinho (1997 apud Vieira, 2003 p. 145). [Type text] [Type text] [Type text] Então, o fator presente durante o processo de avaliação não é apenas avaliar, mas como avaliar conscientemente, como promover uma avaliação mediadora buscando um diagnóstico norteador e não um instrumento de coerção, que para Hoffmann, a postura da avaliação classificatória e da avaliação mediadora se opõe, visto que: Avaliação classificatória: Corrigir tarefas e provas do aluno para verificar respostas certas e erradas e, com base nessa verificação periódica, tomar decisões quanto ao seu aproveitamento escolar, sua aprovação ou reprovação em cada série ou grau de ensino (prática avaliativa tradicional). Avaliação mediadora: Analisar teoricamente as várias manifestações dos alunos em situação de aprendizagem (verbais ou escritas, outras produções), para acompanhar as hipóteses que vêm formulando a respeito de determinados assuntos, em diferentes áreas de conhecimento, de forma a exercer uma ação educativa que lhes favoreça a descoberta de melhores soluções ou a reformulação de hipóteses preliminarmente formuladas. Acompanhamento esse que visa ao acesso gradativo do aluno a um saber competente na escola e, portanto, sua promoção a outras séries e graus de ensino (HOFFMANN, 2009, p. 77). É a partir da consciência da importância do processo avaliativo que nós, profissionais da educação, conseguiremos formar cidadãos críticos e responsáveis que o mundo atual exige de um lado e do outro, conseguirmos, segundo Hoffmann (2009, p. 141), praticar a avaliação mediadora como uma postura de vida. AS TEORIAS E ABORDAGENS DE CURRÍCULO: DA CIÊNCIA À PRÁTICA NO ESPAÇO DA APRENDIZAGEM Outro conflito que tenho observado é o existente entre o ser professor(ra) e as exigências do currículo, pois, segundo Sacristán (2000, p. 26) “Toda prática pedagógica gravita em torno do currículo”. Tive colegas de trabalho que, por se envolverem tanto com o dar aulas e transmitir conhecimentos do livro didático, não abriam espaço para embasarem-se teoricamente. Assim, o termo aprendizagem torna-se reduzido apenas a uma reprodução de um saber dado, [Type text] [Type text] [Type text] Assim, a aprendizagem no cenário escolar está orientada mais pela transmissão de conhecimentos verdadeiros, do que pela discussão e reflexão dos conteúdos apresentados: aos alunos lhes é transmitido um mundo feito, não um mundo em processo de construção e representação, o que desmotiva a curiosidade e o interesse deles. Nesse processo, desestima-se o pensamento em prol da reprodução e da memória. Existe um conhecimento “certo” que já está pronto e que o aluno tem que saber, mas nada existe de novo que possa ser acrescentado por ele (REY, 2008, p. 31). Foge de suas mentes a afirmação de Casseti (1999, p. 125) “Partindo-se do princípio que o conhecimento é infinito. Uma vez que o movimento da matéria não é repetitivo em sua essência, conclui-se que não existem verdades absolutas ou definitivas”; passando a assimilar, e até mesmo criar, as dificuldades impostas pelo currículo. Não podemos esquecer que há interesses e, Forças que gravitam sobre o sistema educativo num dado momento, enquanto que através deles se realizam os fins da educação no ensino escolarizado. [...] De alguma forma, o currículo reflete o conflito entre interesses dentro de uma sociedade e os valores dominantes que regem os processos educativos (SACRISTÁN, 2000, p. 17). Esses interesses precisam ser satisfeitos de uma forma ou de outra, refletindo conflitos impostos pelo mundo capitalista atual. Nós, professores(as), precisamos ter em mente, quando no exercício de nossa profissão, as funções das teorias sobre o currículo que, segundo Sacristán: As teorias desempenham várias funções: são modelos que selecionam temas e perspectivas; costumam influir nos formatos que o currículo adota antes de ser consumido e interpretado pelos professores, tendo assim um valor formativo profissional para eles; determinam o sentido da profissionalidade do professorado ao ressaltar certas funções; finalmente, oferecem uma cobertura de racionalidade às práticas escolares (SACRISTÁN, 2000, p. 37). Então, se duas das funções do currículo é ter um valor formativo profissional ao professorado e oferecer uma cobertura de racionalidade às praticas escolares, estariam esses(as) professores(as) fora do contexto que refletem, segundo Moysés (1994, ps. 14 15), o professor competente? É um caso a pesquisar e pensar. O que está exposto neste artigo não é o (a) professor(a) ser competente ou se é tradicional, mas sim a busca da mediação dentro do processo de ensino e [Type text] [Type text] [Type text] aprendizagem na realidade escolar. Para atingir essa mediação de saberes é necessário, gostemos ou não, se está defasado ou não, fazer uso do currículo e suas teorias que, para Sacristán, As teorias do currículo são metateorias sobre os códigos que o estruturam e a forma de pensá-lo. As teorias curriculares se convertem em mediadores ou em expressões da mediação entre o pensamento e a ação em educação. As teorias sobre o currículo se convertem em referenciais ordenadores das concepções sobre a realidade que abrangem e passam a ser formas, ainda que só indiretas, de abordar os problemas práticos da educação. As teorias sobre o currículo se convertem em referenciais ordenadores das concepções sobre a realidade que abrangem e passam a ser formas, ainda que só indiretas, de abordar os problemas práticos da educação (SACRISTÁN, 2000, ps. 37, 38). Dessa forma, precisamos fazer do currículo nosso aliado e não nosso inimigo, pois é ele que usamos para nortear o ensino e a aprendizagem brasileiros, seja no planejamento de aulas, seja na elaboração do Projeto Político Pedagógico, O processo e o exercício de planejar referem-se a uma antecipação da prática, de modo a prever e programar as ações e os resultados desejados, constituindo-se numa atividade necessária à tomada de decisões. [...] O planejamento se concretiza em planos e projetos, tanto da escola e do currículo quanto do ensino. Um plano ou m projeto é um esboço, um esquema que representa uma ideia, um objetivo, uma meta, uma sequencia de ações que irão orientar a prática. [...] o projeto pedagógico curricular consolida-se num documento que detalha objetivos, diretrizes e ações do processo educativo a ser desenvolvido na escola, expressando a síntese das exigências sociais e legais do sistema de ensino e os propósitos e expectativas da comunidade escolar. De certo modo, o projeto pedagógico curricular é tanto a expressão da cultura da escola (cultura organizacional) como sua recriação e desenvolvimento. Expressa a cultura da escola porque ele está assentado nas crenças, valores, significados, modos de pensar e agir das pessoas que o elaboram. Ao mesmo tempo, é um conjunto de princípios e praticas que reflete e recria essa cultura, projetando a cultura organizacional que se deseja visando à intervenção e transformação da realidade (LIBÂNEO, 2008, ps. 149, 151). São os planejamentos, que fazem de nós professoras(es) profissionais capazes de formar cidadãos críticos e conscientes do seu papel na sociedade. É no momento do planejamento que decidimos qual prática usaremos, apesar de num sistema educativo burocrático surgir as ideias força do(a) [Type text] [Type text] [Type text] professor(a) ativo(a), a independência profissional, a autonomia no exercício da profissão, como diz Sacristán (2000, p. 45). Com certeza essas(es) professoras(es) conhecem e fazem uso de embasamento teórico como o PNE, a LDB e o currículo além de produções bibliográficas da área. O CURRÍCULO NA CONTEMPORANEIDADE: A BUSCA PELA AUTONOMIA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Os(As) poucas(os) profissionais que exercem sua autonomia no processo de ensino e aprendizagem reclamam muito da rigidez do currículo, da defasagem dos conteúdos por não se adequarem à atualidade e por podar a autonomia quanto às atividades práticas que têm em torno dele, Sacristán (2000, ps. 45, 49). Já com relação à falta de autonomia o mesmo autor afirma, O questionamento da falta de autonomia afeta a todos aqueles que participam nas práticas curriculares, especialmente os professores e os alunos. É pouco crível que os professores possam contribuir para estabelecer metodologias criadoras que emancipem os alunos quando estes estão sobre um tipo de prática altamente controlada. É preciso partir de um certo isomorfismo, necessário entre condições de desenvolvimento profissional do docente e condições de desenvolvimento dos alunos nas situações escolares planejadas, em certa medida, pelos professores (SACRISTÁN, 2000, pg. 48). Quando na sala de aula da rede privada, percebe-se que a autonomia é relativa, mas o papel do professor é escolher como dará sua aula, já na rede pública a autonomia é maior. Daí a importância da(o) profissional se qualificar, pois quanto mais qualificada(o), mais ampla será sua automia, pois haverá mais possibilidade de atuar dentro do sistema. Com relação à rigidez do currículo, Arroyo considera que, As relações entre os docentes e os ordenamentos curriculares passaram a ser um dos campos de debates, de estudos, de encontros nas escolas e nos cursos de formação. Defrontamo-nos com duas tendências que se contrapõem. De um lado os docentes da educação básica se tornaram mais autônomos como coletivos sociais, acumularam níveis de formação, conquistaram tempos de estudo, de planejamento, de atividades lutam por serem menos aulistas, menos [Type text] [Type text] [Type text] transmissores mecânicos de conteúdos, de apostilas, do livro didático; mais criativos mais autores e senhores de seu trabalho individual e, sobretudo, coletivo. De outro lado, as diretrizes e normas, os ordenamentos e as lógicas curriculares continuam fiéis a sua tradicional rigidez, normatização, segmentação, sequênciação e avaliação (ARROYO, 2011, p. 35). Para Reid (1980, apud SACRISTÁN, 2000, p. 48), “A teoria do currículo deve contribuir, assim, para uma melhora da compreensão dos fenômenos que se produzem nos sistemas de educação, manifestando o compromisso com a realidade”. Atualmente os fenômenos e a realidade acompanham o mundo globalizado, que segundo Sacristán (2008, p. 65) “os processos de globalização afetam a educação porque incidem sobre os sujeitos, os conteúdos do currículo e as formas de aprender”. O currículo deve satisfazer a necessidade do sujeito atual e não a do sujeito passado. Talvez seja daí que surja parte das tensões existentes na escola. Segundo Arroyo, O currículo está aí com sua rigidez, se impondo sobre nossa criatividade. Os conteúdos, as avaliações, o ordenamento dos conhecimentos em disciplinas, níveis, sequencias caem sobre os docentes e gestões como um peso. Como algo inevitável, indiscutível. Como algo sagrado. Como está posta a relação entre os docentes e os currículos? Uma relação tensa. [...] O campo do conhecimento sempre foi tenso, dinâmico, aberto à dúvida, à revisão e superação de concepções e teorias contestadas por novos conhecimentos. Os currículos escolares mantêm conhecimentos superados, fora da validade e resistem à incorporação de indagações e conhecimentos vivos, que vêm da dinâmica social e da própria dinâmica do conhecimento (ARROYO, 2011, ps. 34, 35, 37). A sala de aula, sendo espaço de contradições, estuda os aspectos sociais, pede profissionais que entendam que a prática ocorre no nível da consciência para depois vir o fazer. E esse fazer terá mais êxito se for através da mediação. CONSIDERAÇÕES FINAIS [Type text] [Type text] [Type text] Todos(as) os(as) profissionais envolvidos com a educação precisam ter em suas mentes as especificidades do educando, de saber quem é o sujeito que aprende, pois o processo de ensinar e avaliar não é isolado, muito pelo contrário, em nossa profissão estamos comprometidos com a aprendizagem e essa aprendizagem é interdisciplinar. Precisamos evitar o uso equivocado da avaliação no espaço escolar, pois eles selecionam e excluem os alunos, quando na realidade, eles precisam aprender e serem incluídos. Luckesi (2011, p. 200). As características da avaliação é ser democrática, inclusiva, diagnóstica tanto para os docentes quanto para os discentes, somente assim ela contribuirá com a formação dos educandos como sujeitos históricos e sociais, como cidadãos críticos em condição de igualdade no mundo atual. É o processo de avaliar que à luz o desempenho da aprendizagem através da coleta de dados qualificando-o. Para Resende (2008, p. 16): O educador, trabalhador intelectual, em uma realidade monitorada e fortemente impregnada de princípios que não os da inclusão, do respeito, do direito pelo saber e pelo viver dignamente, pode estar reforçando a condição de objetos sociais e não de sujeitos históricos – medializantes e mediatizados. A ética e o respeito que permeia todo o processo de ensino e aprendizagem se iniciam com a observação das regras básicas de uma nação democrática. Temos consciência de que o currículo está defasado, ou seja, precisa ser atualizado. Mas temos noção, também, de que metodologias devem ser adaptadas para suprir as necessidades dos discentes. A teoria e a prática não são inimigas, se estão em constantes conflitos é porque nós o alimentamos em prol de nossa comodidade. Segundo Resende, Alguns equívocos podem ser apontados nos mais diferentes campos, quando a questão é buscar a unidade entre teoria e prática. No campo educacional, por exemplo, um dos primeiros equívocos refere-se aos processos de formação, nos quais encontramos, com alguma frequência, currículos fragmentados e disciplinas estanques. De maneira coerente, a organização do trabalho pedagógico acompanha a mesma lógica, visto que os próprios professores dão um tratamento, igualmente compartimentado, aos encaminhamentos das diferentes [Type text] [Type text] [Type text] atividades pedagógicas. É o perverso, comprometedor e reprodutor efeito em cadeia, difícil de ser rompido (RESENDE, 2008 p. 19). Se estamos reproduzindo um efeito em cadeia, quando no exercício da organização do trabalho pedagógico, como sujeitos autônomos podemos fazer uma articulação sólida e significativa entre a teoria e a prática, pois temos a capacidade de decidirmos como iremos exercer nossa profissão. REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel G. Currículo, território em disputa / Miguel G. Arroyo. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. CASSETI, Valter. 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R. (org). Aprendizagem e Trabalho pedagógico, 2ª Ed. Ed – Campinas, São Paulo: Editora Alínea, 2008 – PP;9 – 27. REY, Fernando L. González. O sujeito que aprende: desafios do desenvolvimento do tema da aprendizagem na psicologia e prática pedagógica. In TACCA, Maria Carmen V. R. (org.). Aprendizagem e Trabalho Pedagógico, 2ª Ed. Ed – Campinas, São Paulo: Editora Alínea, 2008 – PP: 29 – 44. SACRISTÁN, J. Gimeno. Currículo na contemporaneidade: incertezas e desafios / Regina Leite Garcia, Antônio Flávio Barbosa Moreira (organizadores); [traduzido por Silvana Cobucci Leite, Beth Honorato, Dinah de Abreu Azevedo]. – 3. ed. São Paulo: Cortez, 2008. SACRISTÁN, J. Gimeno. O Currículo: uma reflexão sobre a prática / J. Gimeno Sacristán; trad. Ernani F. da F. Rosa – 3. ed. – Porto Alegre: ArtMed, 2000. VIEIRA, Lúcia Maria de Assis. A Avaliação Discente sob Múltiplos Olhares: alguns referenciais teóricos./ Revista da Rede de Avaliação Institucional da Educação Superior. 2003. [Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT 1 – Educação Cultura e Processos Educacionais DANÇA E EDUCAÇÃO INTEGRAL: DIÁLOGOS ENTRE ARTE E ENSINO NA CONSTRUÇÃO DE SUJEITOS Paulo Henrique Alves de Souza Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França – Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de Goiás Grupo de Estudos e Pesquisas Educação, Ensino, Espaço e Tempo (GEPEEET), Faculdade de Educação – Universidade Federal de Goiás [email protected] Renato Ribeiro Rodrigues Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte – Secretaria da Educação do Estado de Goiás Grupo de Estudos e Pesquisas Educação, Ensino, Espaço e Tempo (GEPEEET), Faculdade de Educação – Universidade Federal de Goiás [email protected] RESUMO O presente estudo apresenta uma breve discussão geral sobre o ensino da Dança no contexto escolar e as suas contribuições no processo de ensino-aprendizagem. Especificamente, no âmbito da Educação Integral em Tempo Integral, pretende-se abordá-la enquanto possibilidade educativoformativa, evidenciando sua extrema relevância na construção de sujeitos em sua integralidade. Como conhecimento sócio-histórico-cultural, comunicação não verbal, linguagem estética e artística, a dança se tratada didático-pedagogicamente nesta perspectiva de ensino e aprendizagem, passa a ser compreendida, vivenciada e produzida de forma contextualizada, crítica e significativa, contribuindo assim para a formação de sujeitos em sua totalidade. Palavras- chave: dança; educação integral; escola. DANÇA, CULTURA E SOCIEDADE Precisamos levar a arte, que hoje está circunscrita a um mundo socialmente limitado, a se expandir, tornando-se patrimônio cultural da maioria e elevando o nível de qualidade de vida da população. (BARBOSA, 1994, p.06) A elaboração, sistematização e apreensão racional dos conhecimentos foram possíveis nas relações do homem consigo, com os outros e o mundo. Ao [Type text] [Type text] [Type text] longo dos séculos as sociedades puderam ser organizadas e desenvolvidas num contexto estruturante e dependente de condicionantes múltiplos de ordem natural, histórica, social, religiosa, política, econômica e/ou cultural. Na condição de sujeito numa perspectiva ampliada, o homem é concebido a partir de processos interacionistas dinâmicos e constantes. Estes acontecem entre sua constituição bio-anátomo-fisiológica; o contexto, época ou momento social vivido e às tarefas e/ou ações que são executadas nesse ambiente. Isso se dá por aprendizagens, iniciadas ainda criança por meio da imitação e que prosseguem até o final da fase adulta quando novas técnicas codificadas, de sentidos e significados sócio-histórico-culturais são apreendidas12. A partir de uma necessidade natural e/ou condicionada, o sujeito por sua corporeidade age no mundo pelo uso de técnicas específicas. Sob o ponto de vista da arte, isso acontece a partir da subjetividade entendida como parte da formação humana. A arte pode elevar o homem de um estado de fragmentação a um estado de ser íntegro, total. A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la como a transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais humana e mais hospitaleira para a humanidade. A arte, ela própria, é uma realidade social. (FISCHER, 1987, p.57). Como forma de linguagem e manifestação artística-cultural humana, a dança se apresenta como uma possibilidade desse estado de vir a ser no mundo. Ou uma existência social transposta e materializada em movimento, que acontece pela corporeidade do sujeito culturalmente construído. O próprio corpo seria um instrumento de trabalho e sua forma de ação comunicativa no mundo (SIQUEIRA, 2006). A dança pode ser concebida a partir de uma dinamicidade que lhe é inerente. Por exemplo, Gehres (2005) entende-a partindo da ideia de tensões. Para a autora, a dança seria um estado físico de tensão que, em níveis bio-anátomo12 Respectivamente, processos de inculturação e de aculturação. MAUSS, Marcel. As técnicas corporais. In: ______. Sociologia e antropologia. São Paulo: EPU/EDUSP, 1974. [Type text] [Type text] [Type text] fisiológicos se transformaria em outro estado de tensão sócio-histórico-políticocultural e/ou vice-versa. Nesse sentido, a dança pode ser (re)pensada como uma prática social eminentemente humana, manifesta pelo corpo por movimentos dotados de representações, expressões e criações. Estes seriam construídos no conflito entre classes, etnias, gêneros, religiosidades, racionalidades e subjetividades. Algo similar à concepção de Garaudy (1980), quando discute representações simbólicas expressas na intensidade das relações do sujeito que vivencia e se exprime através de suas danças, sob as mais diversas formas e finalidades. O que vem dialogar com Dantas (1999), ao compreender esse mesmo corpo que dança num estado processual constante: O corpo que dança é um corpo construído, elaborado, trabalhado. Construído, na sua vida cotidiana, em processos de socialização, de educação, de repressão, de transgressão. Elaborado através de diferentes experiências e práticas de movimento. Trabalhado por técnicas específicas de dança, que imprimem no corpo tradições de movimento (DANTAS, 1999, p.100). Baseado nesses pressupostos, a dança ganha significância no surgimento da necessidade expressiva e comunicativa do indivíduo com o mundo. Independente de quaisquer finalidades, sentidos e/ou possibilidades, o simples ato de dançar implica na manifestação do corpo em sua integralidade, embora seja notória a preponderância de uma fisicalidade cênica. Talvez por isso, Portinari (1989) sugira que a dança seja a mais antiga das manifestações artísticas humanas. Pelo fato de existir a simples dependência do corpo, tido como instrumento de trabalho e ação. De todas as artes, a dança é a única que dispensa materiais e ferramentas, dependendo só do corpo. Por isso diz-na a mais antiga, aquela que o ser carrega dentro de si desde os tempos imemoriais. Antes de polir a pedra, construir abrigo, produzir utensílios, instrumentos e armas, o homem batia os pés e as mãos ritmicamente para se aquecer e se comunicar. Assim, das [Type text] [Type text] [Type text] cavernas à era do computador, a dança fez e continua fazendo história. (PORTINARI, 1989, p.11). Nessa dinamicidade, observamos em Ossona (1988) um percurso histórico de passagem da dança pela magia, rito, cerimônia e celebração popular, atingindo mais tarde formas de simples divertimento. Da mesma vertente, Faro (1998) apresenta um processo similar nos mostrando esse mesmo caminho adentrando o templo, aldeia, igreja, praça e salão até chegar mais tarde aos palcos. Numa releitura adequada à realidade nacional, Strazzacappa (2001) também nos coloca essa possível origem da dança a partir da magia, adquirindo posteriormente outras funções motivadas pela necessidade de expressão, espetáculo e lazer. Mais tarde, juntar-se-iam outras possibilidades relacionadas à étnica a terapêutica. Nesses autores, percebe-se o acompanhamento da dança em processos, relações e construções sociais que se contrapõem e coexistem, explicitando sua complexidade. Portanto, a dança pode ser considerada uma forma de expressão humana que, assim como seus sujeitos, constitui-se num complexo sistema sócio-históricocultural em movimento. Tradicionalmente transmitida pela observação e reprodução do observado, materializada em técnicas específicas que, na medida em que vem acontecendo nos mais diversos espaços e situações, desenvolve outros sentidos e possibilidades. EDUCAÇÃO INTEGRAL EM TEMPO INTEGRAL NO BRASIL A ampliação de tempos e espaços na escola pública é alvo de discussões que culminam com a proposta de Educação Integral em Tempo Integral. Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394 de 1996 podemos perceber que a ampliação da jornada escolar já é citada. Em outro momento essa discussão é incorporada e ganha ênfase maior, no caso o Plano Nacional de Educação, Lei 10.172 de 2001, que após reformulações trata desta ampliação do tempo de permanência do aluno na escola, coloca como meta para a Educação Nacional a oferta de educação em tempo integral em 25% das escolas públicas de educação básica. [Type text] [Type text] [Type text] Antecedendo essas discussões vinculadas a dispositivos legais, cabe ressaltar que práticas de educação em tempo integral no Brasil já vinham acontecendo desde a década de 80, quando ocorre a criação dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), projeto o qual foi concebido por Darcy Ribeiro à luz das concepções de Anísio Teixeira (COELHO e CAVALIERE, 2003). Além dos Cieps, outros projetos também foram concebidos entre a década de 80 e 90, tais como o Programa de Formação Integral da Criança (Profic) e os Centros de Educação Integral da Criança (Caics). Atualmente se constituindo como política pública, o Programa Mais Educação, uma iniciativa Inter-Ministerial que amplia a jornada escolar no intuito de ofertar atividades diversificadas no contra turno das escolas, se constitui em uma iniciativa de caráter nacional. De acordo com Coelho e Portilho (2009), algo grave aconteceu nesta trajetória histórica, o fato de a escola focar problemas sociais além de seus limites, o que acabou por deixar para segundo plano aqueles que são de natureza pedagógica. Ao longo desta trajetória histórica da Educação no Brasil em que podemos claramente perceber que a ampliação do tempo de permanência dos alunos na escola vem se constituindo de ações pontuais a políticas públicas, cabe retomar algumas discussões que se referem a este tema e que abarcam o conceito de uma Educação Integral a partir de uma concepção holística e qualitativa. Alguns autores apontam para o fato de que a ampliação do tempo escolar (fator quantitativo) deve prioritariamente estar ancorada nos princípios de uma Educação Integral (fator qualitativo). Percebemos que Educação Integral não se refere à Educação em Tempo Integral, ou seja, ampliar tempos e espaços em que a educação acontece não significa uma mudança qualitativa no que já vem sendo feito em um Tempo Parcial. Segundo Paro (2009), aumentar o período em que o aluno estará na escola implica em fazer diferente, pois dar mais tempo para que sejam repetidas práticas conteudistas pobres em valores sociais, estéticos e culturais, não é o caminho para se efetivar uma Educação Integral em Tempo Integral. De acordo com o autor: [Type text] [Type text] [Type text] O que fazer com essa escola ruim? Ela precisa de mais tempo? – Não, ela já possui todo o tempo do mundo, ela não precisa ser estendida, não precisa de tempo integral. Se é para fazer essa coisinha ruim que está fazendo, continue assim. Esta é uma concepção de educação que não nos interessa. Afinal, se for pra pensar uma educação de tempo integral, (mesmo sem colocar ainda a importância da educação integral) não há necessidade disso – multiplicar a ruindade que está aí não ajuda em nada. (Paro, 2009, p.15) Fica evidente que no âmbito das discussões acerca do que seja uma Educação Integral em Tempo Integral, o pensamento e a reflexão em torno dos elementos que constituem e são fundamentais para que este tema seja pensado e sistematizado enquanto políticas públicas devem ser dilatados. Ao aumentar o tempo e proporcionar novos espaços para que a educação seja pensada em uma perspectiva de integralidade, faz-se necessário que a concepção estanque e obsoleta presente no Sistema de Ensino no Brasil seja superada, avançando assim para o que de fato seria uma Educação Integral, a qual pensada numa perspectiva ampliada do ato de educar, necessariamente deverá acontecer em Tempo Integral. Segundo Maurício (2009), esta integralidade que tanto se fala em Educação se constrói a partir de diferentes linguagens, situações e condições de aprendizagens. Levar em consideração a formação a partir dos aspectos estéticos, culturais, cognitivos, físicos, históricos e sociais se faz necessário, dialogando entre as diferentes e variadas atividades, circunstâncias e linguagens utilizadas no contexto educacional. Neste sentido, é necessário que além de tempos e espaços, também seja ampliada a função da escola, pois o compromisso com a Educação Integral pressupõe, de acordo com Arroyo (2012), uma radicalidade, na medida em que repensar e reorganizar toda uma lógica em que vem sendo planejado o tempoespaço, inclusive a própria estruturação e sequenciação de conteúdos, aprendizagens e avaliações. O autor chama a atenção para: [Type text] [Type text] [Type text] Alargar a função da escola, da docência e dos currículos pra dar conta de um projeto de educação integral em tempo integral que articule o direito ao conhecimento, às ciências e tecnologias com o direito às culturas, aos valores, ao universo simbólico, ao corpo e suas linguagens, expressões ritmos, vivências, emoções, memórias e identidades diversas. Essa função da escola mais integral da formação humana exige mais tempos, mais espaços, mais saberes, artes, compromissos profissionais, diversidade de profissionais. (Arroyo, 2012, p. 44-45). Diante do que foi exposto, nota-se que uma perspectiva ampliada e significativa em Educação Integral, deve primar pela articulação entre os saberes, práticas e linguagens que são/estão inseridas no ambiente escolar. Ao se pensar no ensino da Dança neste contexto, a recíproca é verdadeira, pois chamamos a atenção para uma relação dialógica entre os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem e o contexto sócio-histórico-cultural em que estão inseridos, relação a qual é expandida aos outros conhecimentos, dentro de uma perspectiva integral de educação. DANÇA, ESCOLA E EDUCAÇÃO Toda dança promove transformação, logo, toda dança é educação. A dança em si já é educativa, expressiva e criativa, dispensando adjetivos. Se não é constituída desses três fatores, então simplesmente não é dança. (STRAZZACAPPA, 2001, p.44) Como forma de transmissão da cultura, a educação existe enquanto possibilidade interventora no mundo. No sentido de (re)produção de práticas, sejam elas de contestação e/ou desvelamento, propicia a formação de tipos de sujeitos segundo necessidades e exigências sociais num momento da história e do próprio desenvolvimento humano. A educação não-intencional, acontece quando refere-se à possíveis influências e/ou interferências do meio natural e social sobre o homem como nas leis, religiões e práticas familiares. Intencionalmente e num caráter formal, é [Type text] [Type text] [Type text] institucionalizada, direcionada, estruturada, organizada e sistematizada com objetivos explícitos, conteúdos, métodos de ensino e procedimentos didáticos próprios. Aqui a escola teria seu lugar privilegiado, conforme Saviani (2005). Como um espaço estruturado para que aconteçam processos de ensino-aprendizagem significativos, no qual a transmissão de saberes e conhecimentos historicamente adquiridos, acumulados e sistematizados são pensados e (re)significados, possibilitando a formação de sujeitos capazes de uma ação transformadora. Nas obras de Laban (1981; 1990) percebemos que a dança numa perspectiva educativa contribui para o desenvolvimento das capacidades humanas, pois, o movimento concebido de forma expressiva e comunicativa, permite ao sujeito compreender o mundo de maneira diferenciada. Na harmonia entre movimento e dança, partindo da compreensão das qualidades desse movimento nas diversas formas de expressão e subjetividade, proporcionar-se-ia a integração entre conhecimentos cognitivos, habilidades criativas e a percepção de sensações. Ao falamos do ambiente escolar formal, a dança pode propiciar a construção de experiências estéticas que passam pelo envolvimento do sensível, de sentimentos e opiniões. Na escola coexistiriam possibilidades de ensino, transmissão e produção artística em níveis científicos e intelectuais e por isso, a dança ganha espaço, importância e pode contribuir para uma educação transformadora. (BRASIL, 2012). Em Fanzoni e Gariba (2007), percebe-se um olhar semelhante. O ensino da dança na escola iria para além do desenvolvimento de aspectos motores, sociais, cognitivos, afetivos, culturais e artísticos. Passaria pelo seu entendimento como atividade pedagógica, superando uma cultura corporal voltada estritamente para a execução de movimentos preestabelecidos e/ou pré-determinados. Da mesma forma, observamos esse pensamento em Marques (2010) no qual percebemos a dança como forma de conhecimento, experiência estética e expressão humana fundamental na educação social dos sujeitos. No entendimento de que diferentes danças carregariam em si significados próprios de corpo, indivíduo e sociedade e que sua discussão no contexto escolar é perfeitamente possível desde que ocorra de forma crítica, fundamentada e significativa. [Type text] [Type text] [Type text] Para a autora, a partir da concepção de um ensino crítico-reflexivo, numa abordagem metodológica que entende as relações existentes entre arte, ensino e sociedade, seria possível o desenvolvimento das capacidades de leitura, interpretação, percepção e análise em dança enquanto conhecimento e linguagem, na condição de praticantes e/ou expectadores. Assim, conforme Marques (2010, p.145): A proposta metodológica de Dança no Contexto permite e enfatiza a construção de redes de relações, de tessituras múltiplas e abertas entre os saberes específicos da dança (vértice da Arte) e as relações desses saberes com os atores sociais (vértice do Ensino) que vivem no mundo e com ele dialogam (vértice da Sociedade). Isso possibilitaria uma discussão ampliada para longe da massificação de valores, conceitos e/ou ideais pré-estabelecidos. Além dos aspectos pessoais, emocionais e subjetivos ao problematizar a realidade social, tornar-se-ia o processo pedagógico significativo ao articular conhecimentos artísticos, desde que pautados num fazer, apreciar e contextualizar a realidade. Ao se compreender que o sujeito possui vivências e experiências corporais diversas e que a escola precisa estar sensível ao ensino de conteúdos de forma significativa, a dança ganha importância na formação humana ao possibilitar experiências que proporcionem novos olhares para o mundo, envolvendo a sensibilização e conscientização de valores, atitudes e ações transformadoras na sociedade. Porém, conforme Strazzacappa (2001), esse caminho não tem sido fácil. Existem problemas ainda não superados em relação à dança na escola. Dizem respeito aos objetivos e finalidades de seu ensino, quando voltados à ocupação do tempo ocioso ou seu caráter utilitarista, acessório e decorativo; sua sub-valoração, se comparada aos demais saberes escolares; ao tipo de dança ministrada, quando predomina-se apenas o ensino de uma técnica específica como balé; as metodologias de ensino, bem como as formas de abordagem dos conteúdos; o tipo de profissional responsável pelo ensino e sua formação técnica e/ou acadêmica; e [Type text] [Type text] [Type text] por último, em relação ao trato com questões polêmicas que permeiam o universo da dança13. Marques (1999) aponta que a aprendizagem em dança acontece pela ação prática de experimentação do movimento em treinamentos, atividades, laboratórios de criação, aulas e/ou ensaios. Mas também ao se discutir história, estilos, escolas, manifestações populares, tradições, rupturas, memórias, inovações e interfaces da dança com outras áreas do conhecimento. As qualidades em dança de se entender, interpretar, criar, dirigir e produzir artisticamente passam por esses saberes. É importante conhecer danças para se entender relações e ampliar o universo artístico, não restringindo-se ao mundo de espetáculo. Por isso, o professor de dança assumiria outras funções para além da reprodutibilidade de passos sistematizados. Exige o exercício da capacidade de criação, devidamente adaptada à diferentes situações, conteúdos, ambientes, alunos, públicos e/ou expectativas. Uma possibilidade articulada entre papéis de artista e docente. O artista-docente é aquele que, não abandonando suas possibilidades de criar, interpretar, dirigir, tem também como função e busca explícita a educação em seu sentido mais amplo. Ou seja, abre-se a possibilidade de que processos de criação artística possam ser revistos e repensados como processos também explicitamente educacionais. [...] passa a ser a fonte do conhecimento em/através da arte e não somente uma ponte entre o aluno e o mundo da arte. Em cena, ele tem a possibilidade de criar e recriar e, principalmente, de propor desta vez não somente um trabalho artístico eventualmente com fundo educacional, mas um trabalho artístico-educativo. (MARQUES, 1999, p. 112-113). Se atentarmos para a legitimidade da dança na escola, percebemos que nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's) a dança aparece como disciplina a ser tratada nas áreas da Arte e como conteúdo em Educação Física. Seja em uma ou 13 Como as que envolvem gênero e dança. Ainda a dança é vista culturalmente como atividade não-masculina, indicada para mulheres por estarem relacionadas a características tidas como femininas, como delicadeza e sensibilidade. Principalmente numa associação entre dança, balé e mulher. HANNA, Judith Lynne. Dança, sexo e gênero: signos de identidade, dominação, desafio e desejo. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1999. [Type text] [Type text] [Type text] outra, ainda é comum observarmos um caráter reprodutivo, funcional e/ou meramente recreativo, no cumprimento de demandas referente às datas, comemorações e/ou eventos escolares (STRAZZACAPPA E MORANDI, 2006). Mesmo assim, ainda há uma grande necessidade de aprofundamento, principalmente nas relações da dança com outras áreas do conhecimento14. A criatividade, sensibilidade, noções rítmicas, expressão corporal e a educação estética acontecem na dança como nas demais linguagens artísticas, por exemplo. Da mesma forma, o trato com o corpo e o movimento humano também acontece na Educação Física, embora haja singularidades e competências de cada área. A dança pode ser ensinada, aprendida e vivenciada na escola. Favorece o desenvolvimento cognitivo, ético e estético humano. Contribui qualitativamente na socialização, expressividade, comunicação e autonomia dos sujeitos. Possibilita um primeiro contato artístico, num incentivo para que a criança se torne futuramente um artista, caso seja sua vontade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como explicitado ao longo do texto, buscou-se compreender a dança de maneira ampliada como forma de conhecimento sócio-histórico-cultural, comunicação não-verbal, linguagem estética e artística passível de ser compreendida, vivenciada e produzida de forma contextualizada, crítica e significativa pelos sujeitos. Num primeiro momento foram apresentados conceitos e interpretações existentes acerca dela, procurando correlacionar diversos pensamentos e autores, explicitando e evidenciando correlações existentes entre dança e sociedade. Em seguida a discussão apresentada foi voltada especificamente para as relações entre dança, escola e educação integral. 14 A partir dos anos 90 surgem escritos reflexivos nacionais em dança de suma importância. Discute-se o corpo na dança sob diferentes perspectivas, técnicas corporais utilizadas, métodos e metodologias de ensino, processos de criação e composição cênica, biografias e historicidade de personalidades, grupos e/ou companhias, dança e mercado, formação profissional, políticas de fomento artístico, dentre outros. STRAZZACAPPA, Márcia. Reflexões sobre a formação profissional do artista da dança. In: Lições da dança, Rio de Janeiro, v. 4, p. 175-194, 2003. [Type text] [Type text] [Type text] Numa tentativa de se articular todo esse contexto a uma concepção de sujeito que dança e que por ela tem possibilidades de ação concreta e transformação social, procuramos traçar caminhos e possibilidades de seu ensino no espaço formal institucionalizado, levando em consideração os pressupostos da Educação Integral, apontando no espaço escolar para algumas questões que ainda são emergentes e precisam ser aprofundadas em outras discussões. Cabe ao sujeito fazer suas escolhas, mas a escola tem seu papel fundamental na transmissão e mediação de saberes e conhecimentos. Na promoção das capacidades de leitura de mundo, mudança de realidades e potencialização de uma atitude reflexiva, consciente e ativa de seus alunos. Portanto, isso não pode ser negado e/ou omitido, devendo ser articulado entre os diferentes saberes, práticas e linguagens presentes no ambiente escolar, colaborando assim para a formação dos sujeitos, onde a dança se constitui como possibilidade a ser trabalhada na Educação Integral. REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel G. O direito a tempos-espaços de um justo e digno viver. In: Caminhos da Educação Integral no Brasil: direito a outros tempos e espaços educativos. MOLL, Jaqueline... [et al.]. – Porto Alegre: Penso, 2012. BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 1994. BRASIL. Dança na escola: arte e ensino. Boletim salto para o futuro da TV escola. 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[Type text] [Type text] [Type text] GT 1 – Cultura e Processos Educacionais Comunicação Oral DANÇAS MIDIÁTICAS E ESCOLA: POSSIBILIDADES DE ENSINO E APRENDIZAGEM PELA PEDAGOGIA HISTÓRICO CRÍTICA Renato Ribeiro Rodrigues Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte – Secretaria da Educação do Estado de Goiás Grupo de Estudos e Pesquisas Educação, Ensino, Espaço e Tempo (GEPEEET), Faculdade de Educação – Universidade Federal de Goiás [email protected] Paulo Henrique Alves de Souza Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França – Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de Goiás Grupo de Estudos e Pesquisas Educação, Ensino, Espaço e Tempo (GEPEEET), Faculdade de Educação – Universidade Federal de Goiás [email protected] RESUMO: O presente estudo foi elaborado enquanto revisão de literatura e objetivou discorrer sobre a possibilidade do ensino da Dança no contexto escolar, tratando especificamente da presença das danças veiculadas pela mídia nesse espaço formal e institucional de ensino. Ao entendê-las como manifestações em Dança passíveis de serem consideradas e discutidas nas aulas, buscou-se articular diversos estudos da área que abordam a temática com o trabalho de Gasparin (2002) em relação à Pedagogia Histórico-Crítica. Compreendendo as danças midiáticas como práticas sociais e/ou formas de conhecimento pré-existentes em Dança que se articula com os conteúdos próprios dessa linguagem, o estudo aponta para avanços e transformações quando estas são problematizálas na escola. Nesse sentido, a Dança como conhecimento sócio-histórico-cultural, comunicação não verbal, linguagem estética e artística tem um salto e passa a ser compreendida, vivenciada e produzida de forma contextualizada, crítica e significativa. Palavras-chave: dança; indústria cultural; escola. INTRODUÇÃO A dança acontece hoje sob as mais variadas formas, contextos, espaços e finalidades. Como conhecimento sócio-histórico-cultural, comunicação não verbal, linguagem estética e artística, participa ativamente da construção de tipos de sujeitos e contribui para a concretização efetiva de projetos de sociedade. Na educação básica, sobretudo no ensino regular formal, apresenta sentidos e [Type text] [Type text] [Type text] significados próprios e por isso torna-se fundamental sua discussão de maneira ampliada, fundamentada e significativa. Das relações existentes, (re)correntes e emergentes entre formação humana, dança e ensino, surgem necessidades dialógicas entre os pares envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Ao observar os diversos espaços e momentos da escola em que a dança acontece, é possível identificar a presença de danças veiculadas pela mídia. Independentemente do caráter em que se apresentam, seja ele reprodutivo ou desvelador, constituem-se como práticas sociais que se articulam com conhecimentos próprios em dança. Assim, o presente estudo buscou discorrer sobre o ensino da dança no contexto escolar. Principalmente em relação a possibilidade de discussão dessas danças midiatizadas nas aulas. Isso, ao entendê-las como conhecimentos préexistentes em dança oriundos da realidade dos alunos, possíveis de serem trabalhadas de maneira didática e pedagógica, contribuindo para uma formação crítica, participativa, autônoma e transformadora em dança e por ela mesma na sociedade. Para tal, escolheu-se como ponto de partida compreender as discussões apresentadas em relação ao ensino da dança na escola por autores como Strazzacappa & Morandi (2006) e Marques (2010). Também, entender a proposta didático-metodológica desenvolvida por Gasparin (2002), a partir da Pedagogia Histórico-Crítica - orientada por Demerval Saviani, na qual se propõe um ensino significativo voltado para a participação ativa e consciente dos sujeitos, considerando suas realidades. E ainda, dialogar com outros referenciais apresentados ao longo do trabalho, também importantes e significativos para toda a discussão apresentada. DANÇAS MIDIÁTICAS E SUJEITOS DANÇANTES! No início do capitalismo, a arte era vista como atividade não-lucrativa, pois a sociedade dominante era extravagante em seus gastos para sua promoção e divertimento. Posteriormente, o capital possibilitou-lhe desenvolvimento, [Type text] [Type text] [Type text] principalmente quando esta passa a ser vista como “embelezamento de sua vida privada ou apenas como um bom investimento” (FISCHER, 1987, p.61). Se antes os artistas tinham seu reconhecimento dentro da organização social, no decorrer das Idades Média e Moderna, as relações mercantis na arte começaram a serem intensificadas, por meio da encomenda de obras, contratação de artistas e/ou patrocínio de trabalhos. Isso trouxe, a partir do século XVII e XIX, a figura de um profissional de arte com preocupações comerciais e artísticas. Surgiriam relações entre mercado, arte, cultura e sociedade que, anos mais tarde, seriam discutidos pela Teoria Crítica da Sociedade da Escola de Frankfurt, nos estudos de pensadores como Max Horkheimer e Theodor W. Adorno. Definindo conceitos como o de Indústria Cultural15, no qual os bens culturais passam a serem adaptados ao consumo das massas num processo caracterizado pela padronização, massificação, alienação, reprodução e passividade de sujeitos entendidos como consumidores. Para Benjamim (1992), a reprodutibilidade técnica das obras de arte traria uma maior democratização de acesso à população ao mesmo tempo que poderia ser utilizado na formulação de uma política artística revolucionária. Assim, a arte perderia seu valor de culto e ganharia valor de exibição dando maior autonomia ao artista. Porém, apesar dessa liberdade na criação artística, o mercado passaria a regulação da autonomia estética. Para vender suas obras e delas sobreviverem, os artistas passariam a contar com a aceitação pública, quase sempre manipulada. Para Adorno (1996), arte e mercado não coexistem uma vez que a padronização de bens culturais geraria uma desvalorização e desqualificação dos trabalhos artísticos. Isso porque o que seria aceito como bom, passaria necessariamente pela aprovação e veiculação dos meios de comunicação. Seria o mesmo que os artistas, 15 O termo também designa tanto uma modificação no sentido da arte, como a fusão do popular e do erudito em formas de comercialização. Além disso, refere-se à racionalidade da cultura com fins de dominação social no capitalismo. ADORNO, Theodor. A Indústria Cultural: O Esclarecimento como Mistificação das Massas In: ______ Dialética do esclarecimento Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. [Type text] [Type text] [Type text] “...colocam-se a serviço do sucesso, renunciam ao impulso subordinado e rebelde que lhes é próprio” (ADORNO, 1996, p.125). A arte tornaria-se sujeita às determinações de um mercado pautado no fetichismo e o artista sujeito ao gosto mensurado de um público controlado e homogenizado. O autor também chama a atenção para o cuidado na padronização de bens culturais, e sua influência direta na construção da subjetividade ou o julgamento do gosto, no qual passaria necessariamente pelo reconhecimento ou identificação pessoal com aquilo que se é confrontado. Como afirma Barbosa (1994), a arte não estaria isolada da economia, política e/ou padrões sociais que atuam na sociedade. Por isso, a preferência em determinada sociedade, por formas e linguagens/técnicas estéticas e artísticas, dependem de fatores que surgem e desenvolvem-se, condicionadas por seu contexto sócio-histórico-cultural. Relacionando-se organicamente com a sociedade em que se produz, distribui e consome. Nesse sentido, a cultura encontrar-se-ia vinculada a relações de ordem diversas e por isso, há de se considerar que as formas artísticas também expressariam também ações políticas e sociais. A questão é que, a arte não se apresenta inatingível das relações com o mercado, pois, qualquer prática humana tem sido diretamente influenciada nesse contexto. Isso acabaria influenciando no processo de legitimação. Como nos aponta Guarato (2010), Uma das grandes inquietações que permeia a vida artística em dança é sua relação com o mercado. Existe forte resistência por parte dos intelectuais, pesquisadores, intérpretes e da crítica especializada em compreender e legitimar práticas dançantes vinculadas aos meios de comunicação em massa e a indústria cultural , a elas conferindo dignidade e respeito. Tal preconceito se origina da não percepção histórica das relações, extremamente variáveis, que envolvem produção de arte e mercado de arte. A polarização maniqueísta entre dança feita para as massas e a dança produzida para a crítica especializada não permite perceber a recente reivindicação dos artistas por “criar como lhe aprouver”: ela só surge após a instituição de relações predominantes de mercado. (p.35) [Type text] [Type text] [Type text] Para o autor, quando se fala na vinculação entre arte, comércio e mercado, há uma compreensão que não mais se luta contra a noção capitalista de mercadoria, pois a mesma é (re)produzida hoje em quaisquer práticas humanas condicionadas a valores e preços. Por exemplo, a legitimação sociocultural no meio artístico acaba passando por relações de pensamento, organização, movimentação e produção que envolvem o ganho e o gasto de dinheiro. Isso não isentaria à dança que, notoriamente presente na cultura juvenil, constitui-se como uma de suas principais formas de diversão, entretenimento e socialização. Mesmo que por meio dela, o corpo tenha a possibilidade de se expressar em suas dimensões social, cultural e política para além do individualismo característico da sociedade atual. Nesse sentido e pensando-se nessas questões, a dança também é influenciada por essas relações e passa a ser veiculada em diferentes formatos. Por exemplo, exibida dentro de um contexto midiatizado no quais danças passam a serem veiculadas como produtos culturais de consumação rápida e eficaz, já não estão restritos aos espaços de lazer, mas acontecem onde são possíveis espaços de socialização e que, estes valores comerciais possam ser massificados. Para Bergero (2006), as danças veiculadas pela mídia acabam caracterizadas como “danças da moda”, ou àquelas veiculadas e/ou reproduzidas pelos meios de comunicação de massa. São facilmente identificadas por sua origem estrangeira, sobretudo norte-americana, e/ou nacionais adaptadas com referência nas primeiras, decorrentes de grupos oriundos do mercado fonográfico que surgem e desaparecem num curto espaço de tempo. Estas, geralmente são difundidas pela televisão através dos programas de variedades e principalmente em videoclips. Esse tipo de comunicação imagética expresso em tecnologias audiovisuais é típico da cultura pós-moderna, fruto das sociedades industriais capitalistas avançadas, caracterizadas pelo notável desenvolvimento em automação e cibernética, o que lhes ocasionou um acúmulo de riquezas e mudanças na composição de classes sociais. A presença da produção em série e a brevidade dos bens produzidos, adentraria o cotidiano das pessoas e exerceria influência nas relações sociais e na [Type text] [Type text] [Type text] cultura. Por isso, as coreografias são estruturadas tendendo a certa padronização de movimentos, em partes do corpo específicas para que aconteça uma fácil assimilação. Para a autora, nesse processo de massificação, a personalidade individual tende a um nível de inconsciência. Ideias, sentimentos e ações convergem-se para um único direcionamento e a vontade própria passa a significar parte de uma vontade uniforme e coletiva. Na qual há certa tradição estabelecida. Por isso um comportamento coletivo é assumido pelo indivíduo. Quando observamos crianças, jovens e até adultos dançando ao ritmo de algumas músicas comerciais, a Indústria Cultural parece legitimar qualquer comportamento que poderia ser considerado como exagerado ou fora dos parâmetros civilizatórios. Parece que se deixa escapar um comportamento reprimido pelo processo de civilização, como é a sexualidade, e ao ser sob uma forma coletiva, sob uma forma legitimada pela Indústria Cultural, torna-se permitido, não julgado, adquirindo, um caráter de certo, verdade, bom, belo, aceito e legitimado por todos. Isso pode-se perceber como um espaço de socialização, onde catalisam-se e dissipam-se, coletivamente, tensões, repressões e inibições (p.53). Como consequência, nas danças propostas pela mídia e por ela legitimadas, as limitações e distâncias entre os corpos diminuem, a individualidade característica das relações sociais tende a se dissipar e acontece certa permissividade de sentimentos e emoções da natureza humana. Sborquia e Gallardo (2002), também perpassam pelas relações existentes entre a indústria cultural e a dança no contexto midiático. Para eles, as mensagens veiculadas por essas danças não são passíveis de ressignificação, pois, seus receptores são condicionados para uma absorção e consumo acrítico. Haveria certa passividade entre o receptor e a mensagem veiculada, onde o sujeito não teria condições de reflexão sobre as informações veiculadas. Apontam, por exemplo, para um processo de erotização infantil nas danças veiculadas pela televisão. Porém, sua análise tende a uma classificação de danças a partir de um cunho ético-moral, determinando a priori o que deveria ou não ser ensinado na escola, por exemplo. Tomazzoni (2005), também ao propor uma análise das danças veiculadas pela mídia para além do discurso determinista da indústria cultural, chama a [Type text] [Type text] [Type text] atenção para outro fenômeno. Para ele, danças de caráter popular que historicamente foram excluídas, apropriadas e/ou resignificadas dando lugar a modelos e padrões de movimentos e corpos, a partir das tecnologias de comunicação ganham espaço e outras possibilidades. O público passaria a conhecer o que antes era restrito, subjugado e/ou excluído, ganhando visibilidade para além do que socialmente seria aceito como “boa dança”. Possibilitando ainda condições de hibridismo dessas danças com os modelos hegemônicos pré-existentes, produzindo novas interpretações ou outras danças. Isso de certa forma trouxe uma maior acessibilidade e democratização de culturas, ao dar ao público outros olhares de diferentes danças. Ao observar ou mesmo experimentar os passos dessas danças, o espectador também constrói a sua própria rede de interpretações, tanto ao deixar-se seduzir quanto ao estabelecer outro tipo de interação e até mesmo contrapor-se a elas. (TOMAZZONI, 2005, p.48) Guarato (2010) aponta que não são exclusivamente as mídias que provocam nos sujeitos a vontade de dançar, copiar e consumir o que é veiculado. Há uma aliança entre apelos mercadológicos e midiáticos, mas principalmente o reconhecimento de valores compartilhados. Em dança, são de maior assimilação porque se aproximam do conhecimento de mundo e do estilo de vida de “audiência”. Embora haja essa receptividade, o conteúdo veiculado nem sempre se faz estanque já que temos implícito um processo que envolve a receptividade do sujeito, os modos e significados de se dançar. Considerando a influências da mídia sobre a dança, entendemos que esta acontece e se constitui como uma prática social em diferentes espaços e momentos de socialização. Porém não caímos no determinismo de uma absorção extremamente passiva, pois, tenderíamos a discussão restrita do que é recebido e desconsideraríamos os sujeitos em suas possibilidades. A utilização desses produtos culturais teriam uma significância maior, se envoltos processos de apropriação, incorporação e (re)elaboração. Por isso, quando voltamos nossos olhares para essas danças, não buscamos analisá-las sob um ponto de vista classificatório, categorizador e/ou moralista. Colocamo-las [Type text] [Type text] [Type text] como possibilidades, pois, não deixam de ser saberes pré-existentes em dança e que dialogam com a realidade. Como produtos da cultura humana, nelas estão implícitos sentidos e significados próprios que precisam ser trabalhados na escola, a partir de um olhar analítico propositivo. A PRÁXIS DA DANÇA NO CONTEXTO ESCOLAR Proponho uma metodologia para o ensino de dança que indique e construa caminhos para que os professores possam trabalhar com os conteúdos específicos da dança, em consonância com os conceitos de corpo, dança, educação, professor-aluno, relevantes e significativos para o cidadão contemporâneo, para o sujeito que vive, dialoga e tem possibilidades de (re) construir o mundo atual. (MARQUES, 2004, p. 147) As tendências pedagógicas baseiam-se em movimentos sociais, filosóficos e antropológicos e vão de encontro ao momento histórico em que estão inseridas, influenciando diretamente nas práticas pedagógicas. A Pedagogia HistóricoCrítica discute a importância da escola e, de certa forma, traz uma reorganização do processo educativo. A educação interfere na sociedade contribuindo para a sua transformação e por levar em consideração a historicidade dos sujeitos, essa concepção favorece o diálogo entre os pares envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, considera os interesses de ambos, bem como os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento de uma forma plena. Volta-se para uma educação transformadora partindo da realidade social. Filosoficamente embasada no materialismo histórico-dialético, busca a interpretação da realidade a partir da práxis, superando o senso comum pelo pensamento reflexivo. Nela, o homem é compreendido como um ser histórico, construído através de suas relações com o mundo natural e social. O conhecimento é construído a partir da prática social dos homens e dos processos de transformação da natureza, além das interferências das organizações culturais, artísticas, políticas, econômicas, religiosas, jurídicas etc. [Type text] [Type text] [Type text] Ao se compreender que o sujeito possui vivências e experiências corporais diversas e que a escola precisa estar sensível ao ensino de conteúdos de forma significativa, a dança ganha importância na formação humana ao possibilitar experiências que proporcionem novos olhares para o mundo, envolvendo a sensibilização e conscientização de valores, atitudes e ações transformadoras na sociedade. Porém, conforme Strazzacappa (2001), esse caminho não tem sido fácil. Existem problemas ainda não superados em relação à dança na escola. Dizem respeito aos objetivos e finalidades de seu ensino, quando voltados à ocupação do tempo ocioso ou seu caráter utilitarista, acessório e decorativo; sua sub-valoração, se comparada aos demais saberes escolares; ao tipo de dança ministrada, quando predomina-se apenas o ensino de uma técnica específica como balé; às metodologias de ensino, bem como as formas de abordagem dos conteúdos; o tipo de profissional responsável pelo ensino e sua formação técnica e/ou acadêmica; e por último, em relação ao trato com questões polêmicas que permeiam o universo da dança. Nas obras de Laban (1981,1990) já percebemos a dança numa perspectiva educativa que contribui para o desenvolvimento das capacidades humanas, pois, o movimento concebido de forma expressiva e comunicativa, permite ao sujeito compreender o mundo de maneira diferenciada. Na harmonia entre movimento e dança, partindo da compreensão das qualidades desse movimento nas diversas formas de expressão e subjetividade, proporcionar-se-ia a integração entre conhecimentos cognitivos, habilidades criativas e a percepção de sensações. A dança pode propiciar a construção de experiências estéticas que passam pelo envolvimento do sensível, de sentimentos e opiniões. E na escola coexistiriam possibilidades de ensino, transmissão e produção artística em níveis científicos e intelectuais e por isso, a dança ganha espaço, importância e pode contribuir para uma educação transformadora. (BRASIL, 2012). Da mesma forma, observamos esse pensamento em Marques (2010). Para a autora, a partir da concepção de um ensino crítico-reflexivo, numa abordagem metodológica que entende as relações existentes entre arte, ensino e sociedade, seria possível o desenvolvimento das capacidades de leitura, interpretação, percepção e análise em dança enquanto conhecimento e linguagem, na condição de praticantes e/ou expectadores. Assim, conforme Marques (2010, p.145): [Type text] [Type text] [Type text] A proposta metodológica de Dança no Contexto permite e enfatiza a construção de redes de relações, de tessituras múltiplas e abertas entre os saberes específicos da dança (vértice da Arte) e as relações desses saberes com os atores sociais (vértice do Ensino) que vivem no mundo e com ele dialogam (vértice da Sociedade). Em Gasparin (2005), observa-se que o conhecimento como fato histórico e social supõe sempre continuidades, rupturas, (re)elaborações, (re)incorporações, permanências e avanços. A partir de seus pressupostos, acreditamos num ensino significativo em dança, pela possibilidade de se pensar conteúdos específicos de maneira contextualizada, envolvendo os educandos em uma aprendizagem significativa dos conhecimentos. O primeiro passo, ou como prática social inicial, o ponto de partida seria o conhecimento prévio dos educandos. Através do diálogo, o professor anunciaria aos alunos os conteúdos que serão estudados e seus respectivos objetivos, buscando perceber qual o nível de conhecimento prévio existente. Em se tratando das danças mídiáticas, seria o momento de apresentação inicial dos alunos sobre o conhecimento destes em dança. Aquilo que conhecem, vivenciam e experienciam cotidianamente, dentro e fora da escola, sem quaisquer julgamentos e/ou preconceitos sobre estilos e/ou vivências. Um mapeamento geral e/ou diagnose do que concebem, concebem e executam nos mais diferentes espaços e momentos. Em seguida, pela problematização, seriam elencados os principais problemas apresentados na prática social, relacionados ao conteúdo proposto. Esses questionamentos, tornam-se perguntas problematizadoras em diferentes dimensões e sob múltiplos olhares. Traça-se uma breve discussão desses problemas reais em suas relações com o conteúdo apresentado, buscando razões pelas quais esse mesmo conteúdo deve e/ou precisa ser aprendido. Seria a exposição e o levantamento dos principais problemas apresentados em relação às danças da midia. Do próprio corpo na prática dessas danças em suas representações, idéias e imaginários. Problemas estes não findados em interesses imediatistas ou individuais dos sujeitos, mas elencados a partir de questões emergentes de necessidades sociais e coletivas. Questionamentos que passam pelo [Type text] [Type text] [Type text] pensamento contemporâneo de gênero, sexualidade, padronização, estandartização, culturas local e global, identidades, dentre outros. O terceiro passo, ou a instrumentalização, seria propriamente o trabalho docente e dos educandos nesse processo de ensino-aprendizagem. Nesse momento, utiliza-se de todos os recursos disponíveis e necessários para o exercício de mediação pedagógica. O professor apresenta ferramentas para que os alunos consigam apropriar-se do mesmo conhecimento num outro patamar. Aqui, tratar-se-ia de práticas, vivências e experimentações que perpassariam pelas questões anteriormente elencadas. Fornecer elementos em dança a partir de seus conteúdos específicos, utilizando-se dos mesmos na compreensão real de problematização apresentada. Pela catarse, entender-se-ia a teoria (re)aplicada à prática social. Uma nova postura manifesta pelo pensamento, mas correlacionada ao que antes era concebido. O sujeito é capaz de argumentar sobre o que foi aprendido, segundo as dimensões do conteúdo estudado. Geralmente expressa como momento de avaliação, traduzindo o que foi apreendido até o momento nas dimensões em que se foi trabalhado. No trato com as danças midiáticas, seria o momento de discorrer sobre elas, tanto do ponto de vista verbal/conceitual como na forma de linguagem comunicativa em movimento. Relacionando informações e estabelecendo relações concretas, não caberia mais uma mera repetição mecânica em sua forma puramente imitativa. Aqui já seria possível falar em uma releitura consciente, já que o sujeito predispõe de condições para (re)significar sua prática social. Ao final, como prática social final, refletiria um novo nível de desenvolvimento atual do aluno, assumindo uma nova proposta de ação a partir do que foi aprendido. Seria sua postura, compromisso, práticas, atitudes, disposições e/ou intenções em sala de aula e fora dela, reelaborados a partir de todo conhecimento apresentado e (re)significado. O aluno é capaz de intervenção, ação e proposição e intervenção e o mais importante é que nesse estágio consiga ser capaz de discernir e escolher conscientemente o que de fato será significativo para sua realidade. Dessa forma, consegue sozinho aplicar o conhecimento sem intervenção de outros, mesmo que [Type text] [Type text] [Type text] trabalhe num coletivo. Correlacionamos à possibilidade de pré-existência de um bailarino-pesquisador-interprete. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para uma prática significativa da dança na escola, a partir do trato com as danças veiculadas pela mídia, procurou-se apresentar um entendimento destas como práticas sociais e formas de conhecimento pré-existentes em dança pelos estudantes, passíveis de serem consideradas e discutidas nas aulas numa perspectiva orientada pela Pedagogia Histórico-Crítica. Buscou-se ao final apontar caminhos para um possível trato didático e pedagógico com as danças midiáticas. Levando em consideração realidades já vivenciadas e experienciadas pelos estudantes, sem quaisquer julgamentos e/ou hierarquizações referentes ao universo dancístico, mesmo que nele esteja presente as características de um mercado elitizado de dança, massificado pelo contexto popular midiatizado, acredita-se que por se fazerem presentes na sociedade, precisam ser discutidas e problematizadas, no sentido de empoderamento do sujeito para que haja transformação. REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor W. O fetichismo na música e a regressão da audição. In: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996. BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 1994. BENJAMIN, Walter A obra de arte na era de sua reprodutividade técnica In: ______ Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura São Paulo: Ed. Brasiliense, 1994. BERGERO, V. A. 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[Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT1- Cultura e Processos educacionais EDUCAÇÃO E GOVERNO DA INFÂNCIA: PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS E ÉTICOS NO CINEMA Yonara Karolliny Plácido Cintra Jessica Carneiro Gonçalves Bolsistas PIBIC-UEG Drª. Luiza Pereira Monteiro (orientadora) Universidade Estadual de Goiás, Unidade de São Luís de Montes Belos [email protected] [email protected] [email protected] RESUMO O projeto de pesquisa de Iniciação Científica foi elaborado de modo a compreender a importância que tem o cinema na escola, a contribuição que ele traz para a educação da infância visando entender também o estético e o ético nos procedimentos do cinema. Seu objetivo enquanto trabalho de iniciação cientifica é propiciar espaços de discussão sobre o objeto da pesquisa no contexto da UEG SLMB, organizar eventos em que possam ser socializados dados parciais da pesquisa, participar de eventos que divulguem a pesquisa, realização de mostras de filme com debates sobre os mesmos. A metodologia usada é através de Levantamento bibliográfico, leitura e fichamento, reuniões periódicas/semanais entre coordenação e os bolsistas de iniciação científica. Participação semanal nos Encontros de Formação, junto com os Bolsistas do Projeto de iniciação à docência (PIBID), que tem a mesma temática do projeto de pesquisa e é coordenado pela mesma professora. Desse modo, a metodologia do trabalho de iniciação cientifica esta sendo desenvolvida com a elaboração de relatórios parciais; produção de artigos científicos; organização e realização de seminários para socialização dos resultados parciais e finais. Os temas estudados, fichados e debatidos em seis meses de realização da pesquisa foram: História do Cinema no Mundo e no Brasil, Cinema Docência e Educação Estética. A revisão filmográfica foi realizada de modo a subsidiar e fortalecer a discussão teórica, com objetivo de desenvolver habilidades para análises de filmes. Palavras-chave: educação; cinema e infância. INTRODUÇÃO A Pesquisa Educação e Governo da Infância: procedimentos estéticos e éticos no cinema, na qual desenvolvemos um Plano de Iniciação Científica visa compreender a importância que tem o cinema na escola, a contribuição que ele traz para a educação da infância visando entender também as dimensões estéticas [Type text] [Type text] [Type text] e éticas nos procedimentos do cinema. Objetiva desenvolver estudos e análises de filmes na tentativa de se perceber as formas de governo da infância (Foucault, 2008) e suas vicissitudes presentes no cinema. Tratar as concepções de infância e as práticas educativas presentes no discurso cinematográfico, a partir do conceito de governo da conduta infância possibilita uma abordagem dos procedimentos éticos e estéticos presente na filmografia, que dê conta de analisar tanto os aspectos negativos como positivos das práticas educacionais recortadas pelo olhar dos produtores e diretores das produções cinematográficas. Além de aprofundar a crítica acerca da violência contra infância e a adolescência articulada aos contextos sociais e culturais da contemporaneidade e apreender as contribuições do cinema no sentido de possibilitar uma formação ética e estética da criança e do adolescente, uma vez que o cinema pode ser entendido como um campo de produção, reprodução e ressignificação de sujeitos, a partir da “técnica” dos cortes, recortes e montagens das linguagens de representações sobre a realidade. A categoria governo da infância é construída a partir dos fundamentos teóricos de Michel Foucault, que após deslocar-se de um eixo analítico que privilegia a “arqueologia do saber”, ou seja, análise das formações discursivas e os tipos de discursos. Situa a sua nova problemática de pesquisa, a partir de 1972, na compreensão de “como esses discursos puderam formar-se historicamente e sobre quais realidades históricas eles se articulam, ou seja, em quais condições históricas, econômicas e políticas eles emergiram” (AVELINO, 2011, p.25). Desse modo, o objeto desta pesquisa compreende a análise das diferentes formas de governo da infância a partir das narrativas cinematográficas. O mesmo aponta para uma análise histórica dos discursos sobre a infância, na sociedade moderna, bem como sua articulação com as linguagens e os discursos do cinema. O governo da infância se constitui como uma problemática política vinculada ao mercado, à população e à economia, cujas relações de poder são indexadas pela racionalidade do contrato social, ou seja, o exercício do poder é indexado sobre a racionalidade daqueles que são governados como sujeitos econômicos, como indivíduos consumidores e potenciais produtores, que para satisfazer seus interesses utilizam das regras e dos objetos disponíveis no mercado. É nessa lógica que o projeto moderno de sociedade definiu as bases da [Type text] [Type text] [Type text] educação da infância, num encadeamento que Foucault (apud AVELINO, 2011) denomina de governamentalidade. Esta se caracteriza pelo cruzamento das técnicas de dominação exercidas sobre as crianças e adolescentes e as técnicas de controle ou governo de si, a que elas submetidas. Em outras palavras, as formas modernas de governo da infância se constituem por meio de relações de poder e saber, que historicamente objetivam a criança e o adolescente como “anormais”, como “delinquentes”, como “indisciplinados”, como risco social, como incapazes de aprender, ou até mesmo como a criança idílica, angelical e pura. Ao mesmo tempo, o seu processo de subjetivação é direcionado por uma racionalidade, uma orientação e uma organização dispostas para a produção histórica da obediência (FOUCAULT, 2011), em que o homem moderno vem sendo modulado de acordo com as demandas do capital, em cada período histórico. Este artigo tem a intenção de trazer um pouco da experiência vivida pelas bolsistas de iniciação cientifica durante os primeiros seis meses de desenvolvimento da pesquisa. De inicio iremos tratar a respeito da história do cinema, a princípio o cinema como um todo, incluindo também a história do cinema no Brasil, um assunto bastante complexo, pois existem inúmeras teorias e abordagens a respeito deste. Logo após trataremos das ações da pesquisa de maneira fundamentada. FIOS DA HISTÓRIA DO CINEMA É interessante entender o cinema, pois ele é hoje uma ferramenta fundamental para o processo de aprendizagem. A história do cinema é bastante complexa e exige muito estudo, desde sua formação como uma indústria cinematográfica até os dias de hoje envolvem muitas particularidades que devem ser levadas em conta, e, para entendê-la é preciso conhecer um pouco da realidade de cada época: a história. Tentaremos mostrar um pouco deste cinema, de forma prática e resumida. A invenção dos franceses, os irmãos Lumière, foi um dos marcos essenciais do cinema, pois através do cinematógrafo pode-se ter a captura da imagem em movimento, porém, para esses cientistas, essa máquina servia [Type text] [Type text] [Type text] somente para pesquisas científicas. Até que um mágico ilusionista, Georges Melliès, conheceu essa espetacular máquina. No dia da primeira exibição pública de cinema [...] onde ele foi falar com Lumière, um dos inventores do cinema; queria adquirir um aparelho e Lumière o desencorajou, disse-lhe que o “cinematógrapho” não tinha o menor futuro como espetáculo, era um instrumento cientifico para reproduzir o movimento e só poderia servir para pesquisas. (BERNARDET, 2006, p.11) Melliès, não desistiu e criou sua própria máquina. Seus filmes eram cheio de fantasias procurando expressar a realidade de forma lúdica sendo desta forma ele, um dos precursores do cinema de ficção. Ele acreditava que o cinema poderia interpretar os sonhos, a realidade e não ser somente um objeto de pesquisa como previa os irmãos Lumière. Essa ilusão de verdade trazida pelos filmes causava um efeito maravilhoso, pois era como se vissem a própria realidade. Segundo Bernardet (2006) esta ilusão de verdade ficou conhecida como impressão de realidade, que provavelmente foi à base do grande sucesso do cinema, pois os espectadores tinham a impressão de que se tratavam da própria vida, ali na tela. Mesmo quando se trata de algo que sabemos não ser verdade, como as animações e fantasias – como o Pica Pau Amarelo ou O Mágico de Oz - a imagem cinematográfica permitia assistir a essas fantasias como se fossem verdadeiras, conferindo impressão de realidade a elas. Não só o cinema seria a reprodução da realidade, seria também a reprodução da própria visão do homem. [...] A imagem cinematográfica também nos mostra as cosias em perspectiva e por isso ela corresponderia à percepção natural do homem (BERNARDET, 2006, p. 17) Isto significa que as imagens produzidas primordialmente traziam um efeito da realidade vivida pelos espectadores. Entretanto, o cinema não era somente uma forma de expressão do real, mas, antes de tudo, uma ideologia, por isso a necessidade de “expressar” o real para disfarçar a manipulação trazida pelo filme, tanto da sociedade da época quanto do produtor. [Type text] [Type text] [Type text] Desta forma o cinema foi se expandindo, e um fator inerente que o instaurou no mercado foi o inicio da reprodução de cópias. Assim permitia que um mesmo produto fosse apresentado simultaneamente, em vários locais. As películas começaram a ser reproduzidas, vendidas e exibidas como uma mercadoria, facilitando a divulgação das ideologias. Desta forma o cinema começa a se tornar uma indústria cinematográfica, como descreve Leite (2005): A indústria cinematográfica é um fenômeno historicamente novo com um pouco mais de cem anos. [...] A primeira atividade comercial ligada ao cinema restringiu-se a compra e à venda de equipamentos. Em fins do século XIX vendiam-se projetores e rolos de filmes que passaram a ser propriedade de seus compradores. Tal comércio foi disputado principalmente por dois grandes fabricantes: os irmãos Lumière, franceses inventores do cinematógrafo, e o eclético norteamericano Thomas Edison, com o seu aparelho vitascópio, mais pesado e difícil de operar que o dos concorrentes europeus (p.07). A partir desta disputa destes dois fabricantes, é que o cinema norteamericano se desenvolve. Pois Thomas Edison com a força dos grupos industriais dos Estados Unidos possibilitou o registro do invento primeiro que os franceses. Assim iniciou o sistema de astros e estrelas e celebridades de Hollywood, formando os grandes estúdios de produção. Estúdios estes que foram se fortalecendo primeiro que nos demais países, de acordo com Leite (2005). É neste período que a linguagem cinematográfica vai se formando, aproximadamente em 1915, Segundo Bernadet (2006). É aos cineastas americanos que se deve a maior contribuição para formação desta linguagem. A linguagem desenvolveu-se para tornar o cinema capaz de contar estórias, neste momento à linguagem predominante foi à ficção. Mais com o passar dos anos a linguagem foi se aperfeiçoando, tornando apta a uma linguagem cientifica e histórica, como por exemplo, o documentário. Os documentários foram uma das formas utilizadas para fortalecer o cinema brasileiro no princípio da sua formação. Leite (2005) nos diz que o cinema quando chegou ao Brasil enfrentou grandes dificuldades para se estabelecer e se firmar no País. Um dos grandes empecilhos encontrado para poder se instaurar como indústria cinematográfica foi, e ainda é, a grande e famosa concorrente: as [Type text] [Type text] [Type text] indústrias Hollywoodianas, as quais se fortaleceram após a Primeira Guerra Mundial como a maior e mais influente “fábrica de sonhos”. No Brasil, porém apesar do sucesso de filmes [...], o cinema nacional parece não ter conseguido se consolidar como indústria, também pelo fato de perder a competição pela preferência dos espectadores brasileiros, que nitidamente optaram pelas produções norteamericanas [...], pois esse fator está presente em diferentes momentos do cinema brasileiro. (LEITE, 2005, p.30) Com essa instabilidade do cinema nacional são utilizados de vários meios para fortalecer a indústria cinematográfica brasileira, afirma Leite (2005). Os documentários e os cinejornais foram estabelecidos com o intuito de despertar na população o interesse pelo cinema nacional, tornando-se fundamentais para mantê-lo. Porém, em algumas determinadas épocas o cinema era visto como o destruidor da família, pois muitos saiam do seio familiar e iam para o cinema. Foi com o tempo que muitos intelectuais começaram a ver no cinema outros aspectos: A capacidade dos filmes de difundir valores agiu em tais grupos de formas diferentes, pois o que mais despertou a atenção desses segmentos da intelectualidade brasileira nas décadas de 1920 e 1930 foram as possibilidades de o cinema ser empregado como instrumento pedagógico e como propaganda. (LEITE, 2005, p. 35) Assim alguns educadores perceberam a enorme capacidade educacional das produções cinematográficas, procurando métodos para introduzir os filmes nas relações de ensino e aprendizagem. Eram usados filmes históricos ou películas que falavam sobre conhecimentos restritos a física, química, história natural, entre outros. É inevitável citar que o cinema educativo teve além desta finalidade, ele também foi um dos meios encontrados pra fortalecer a indústria cinematográfica brasileira. É importante destacar que o cinema educativo atuou como um dos principais pilares de um projeto mais amplo, isto é, a tentativa de organizar a produção, o mercado exibidor e o importante e, [Type text] [Type text] [Type text] concomitantemente, servir aos propósitos do Estado, notadamente a integração nacional, á centralização da ação governamental e á difusão da ideologia nacionalista. (LEITE, 2005, p. 38) Neste momento o Brasil está passando pela Ditadura Militar, contexto marcado pela grande repressão e censura do governo, desta forma quando Leite (2005) se refere “á centralização da ação governamental e á difusão da ideologia nacionalista”, refere-se à prática alienante do governo com a sociedade procurando acalmar e estabelecer o controle. Assim o cinema também foi um meio de transmissão da propaganda política, quando o Estado entra em cena e intervém em algumas películas. No início século XX, tudo que possuía imagem era contestado pela sociedade e não podiam adentrar o mundo da cultura, foi com a República Soviética que o cinema foi reconhecido como sétima arte, por influência de Eisenstein. Vai ser em 1960 por meio do grupo da Nouvelle Vague, que o cinema passa a ser produtor de um discurso histórico, no entanto, neste mesmo ano, surge a televisão que segundo Ferro (2010) “vampirizou” o cinema, mas que um não vive sem o outro. Porém, o cinema brasileiro teve que se repensar, tanto do ponto de vista da sua produção, como principalmente da política de incentivo cultural, que fez com que na última década do século XX e inicio do século XXI, o cinema brasileiro retomasse o caminho do crescimento, no qual ainda hoje tenta se manter. AÇÕES FUNDAMENTADAS Um dos objetivos do trabalho de iniciação cientifica na pesquisa Educação e Governo da Infância: procedimentos estéticos e éticos no cinema, é propiciar espaços de discussão sobre o objeto da pesquisa no contexto da Universidade e outros espaços, organizar eventos em que possam ser socializados dados parciais da pesquisa, participar de eventos que divulguem a pesquisa, realizar mostras de filme com debates sobre os mesmos. Assim, durante o segundo semestre de 2012, foram realizadas algumas atividades integrando pesquisa, ensino e extensão. [Type text] [Type text] [Type text] A professora coordenadora da pesquisa é também coordenadora de um projeto com a mesma temática - educação, cinema e infância - vinculada ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID da Capes/MEC. O mesmo conta com seis bolsistas do curso de Pedagogia e uma supervisora da escola campo, onde o projeto está sendo desenvolvido. Desse modo, nós, bolsistas de iniciação científica participamos ativamente de algumas atividades realizadas em conjunto com os bolsistas de iniciação à docência tais como: a realização de uma pesquisa diagnóstica com os alunos do 6º ao 9º ano na Escola Municipal São Vicente, com o objetivo de compreender a diversidade de problemas vivenciados pela comunidade escolar, tais como violência, conflitos entre grupos rivais de jovens, gravidez na adolescência, prostituição infantojuvenil, entre outros. A escola situa-se na periferia da cidade de São Luís de Montes Belos e atende crianças e adolescentes pertencentes a famílias de camadas populares, que moram tanto na zona urbana como na zona rural. A pesquisa diagnóstica foi realizada com todos os alunos do 6º ao 9º ano do turno matutino. A metodologia utilizada foi a aplicação de um questionário com questões abertas e fechadas, em que abordavam as seguintes categorias: idade, sexo, o setor de moradia, o que eles achavam da escola, a disciplina que mais gostavam, se já tinham sofrido ou praticado algum tipo de violência, como gostariam que fosse sua escola, se possuíam sonhos, se gostavam de filmes e que gênero achavam interessante, entre outras questões. Nós ficamos responsáveis pela análise dos dados juntamente com os outros bolsistas. Participamos da primeira mostra de vídeo que aconteceu na escola São Vicente, sendo a abertura do projeto do PIBID “Educação e Cinema: o governo da infância e a educação estética da criança e do adolescente”. A mostra aconteceu em três salas simultaneamente, por falta de espaço na escola, que coubesse todos os alunos. O filme assistido foi “A Corrente do Bem”, direção de Mimi Lader e produção de Peter Abrams, Paddy Carson e Robert L. Levy, EUA, 2000. Após a exibição do filme houve a composição de uma mesa de debates, na qual participamos junto com os alunos do 8º e do 5º ano. Fizemos uma breve discussão a respeito do filme e da temática abordada por ele: amizade e solidariedade. [Type text] [Type text] [Type text] Destacamos a experiência ética e estética, que o mesmo nos proporcionou, ouvindo os alunos sobre essa vivência. De acordo com Verástegui (2007) discutindo as Cartas Sobre a Educação Estética do Homem, de Friedrich Schiller -, a experiência artística nos permite uma experiência transdisciplinar. A experiência estética através da beleza moderará a vida, permitindo a passagem das sensações aos pensamentos e, proporcionando a forma ao sensível, reconduzindo o conceito à intuição e a lei ao sentimento. [...] A atividade estética ajuda ao homem a realizar-se [...]. (VERÁSTEGUI, 2007, p.3). Outra experiência importante foi a realização da oficina: Educação e Cinema, Contribuições para inclusão social no ENAPE16. A oficina foi realizada pelos bolsistas de iniciação a pesquisa e de iniciação à docência. Foi exibido um filme, o mesmo da amostra na E. M. São Vicente, “A corrente do Bem”. Após, houve uma composição de mesa, a discussão aqui foi mais elevada, pois a presença era somente de acadêmicos e professores da universidade. No final do semestre participamos da organização e da realização da I Mostra de Cinema: educação estética da infância, na UEG de São Luís de Montes Belos. Ocorreu em três turnos, em cada turno foram exibidos três filmes curtas metragens com composição de mesa e debates envolvendo os presentes. Os filmes foram: “A Onça da Mão Torta”, “Dois em Um”, “O Trabalho dos Homens”, “Os vegetais”, “A Menina que Vendia Fósforo”, “Sonhos de humanidade” e Marimbondo Amarelo”. Esses dois últimos do Diretor e roteirista: professor, filósofo e cineasta Amarildo Pessoa da PUC-Go. O mesmo fez uma belíssima discussão sobre os procedimentos de realização de um filmes, dando destaque para a pesquisa cultural, que embasa a sua narrativa e para os procedimentos estéticos do filme. Em fim, foi realizado a II Mostra de Cinema, com a mesma temática da primeira, mas com exibição de três longas metragens em cada um dos três turnos de acordo com o público presente. O objetivo se estendia para além das 16 [Type text] Encontro dos Acadêmicos de Pedagogia que acontece todos os anos na UEG-SLMB. [Type text] [Type text] possibilidades de reflexão sobre as temáticas trazidas pelos filmes. Pretendia-se também desenvolver o gosto pelo cinema e propiciar uma experiência estética mais intensa. Foram exibidos: “A Invenção de Hugo Cabret”, de Martin Scorsese, EUA, 2011, “O Pequeno Urso”, de Maurice Sendak, EUA, 1995 e “Como Estrelas na Terra”, de Aamir Khan, Índia, 2007. Privilegiamos nesta mostra filmes que nos apresentasse diferentes modelos de governo da conduta da criança e do adolescente e nos possibilitasse uma reflexão sobre o objeto da pesquisa. REFERÊNCIAS AVELINO, Nildo (Org.). Michel Foucault Do governo dos vivos. São Paulo: Achiamé, 2011. BERNARDET, Jean C. O que é cinema. São Paulo: Brasiliense, 2006. LEITE, Sidney F. Cinema brasileiro. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005. FERRO, Marc. Cinema e História. Trad. São Paulo: Paz e Terra, 2010. VERÁSTEGUI, Rosa de Lurdes A. A Educação Estética do Ser Humano de Friedrich Schiller. Disponível em: http://www.unioeste.br/cursos/cascavel/pedagogia/eventos/2007 [Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT1- Cultura e Processos educacionais EDUCAÇÃO, CULTURA E TORCIDAS ORGANIZADAS: ANÁLISE DO POTENCIAL (DE)FORMATIVO DO FUTEBOL CONTEMPORÂNEO* Luís César de Souza Profa. Dra. Sílvia Rosa da Silva Zanolla Programa de Pós-Graduação em Educação/Faculdade Educação/UFG Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás - Fapeg [email protected] RESUMO Neste trabalho expomos o andamento de pesquisa em nível de doutorado, cursado no Programa de Pós-Graduação em Educação/FE/UFG. O objetivo é investigar o potencial (de)formador das torcidas organizadas e o sentido do futebol como mediação da cultura no espetáculo esportivo, compreendendo possíveis relações entre as manifestações dessas torcidas organizadas, o modo de produção da sociedade contemporânea e a violência e a barbárie. Para compreender as mediações e contradições entre futebol, torcidas organizadas, sociedade contemporânea, violência e barbárie, recorremos à teoria crítica da sociedade, da Escola de Frankfurt, especialmente às análises e reflexões de T. Adorno, M. Horkheimer e H. Marcuse, acerca da racionalidade instrumental, da barbárie, da educação e da cultura. A pesquisa contém investigação bibliográfica, por meio da qual identificamos que as principais concepções de análise da problemática do futebol e das torcidas organizadas são de cunho antropológico, sociológico e psicológico; e investigação empírica, em que já foram realizadas observações de 7 jogos entre as 3 principais equipes de futebol de Goiás, durante o segundo turno do Campeonato Goiano de 2012, entrevistas com presidentes das torcidas organizadas, responsáveis pelo policiamento em dias de jogos e integrantes do telejornalismo esportivo local, além de questionários aplicados a membros das torcidas organizadas. Apresentamos aqui apenas uma tabulação inicial dos resultados da coleta de dados, sem análises elaboradas porque o trabalho encontra-se na fase de sistematização inicial da tese. A pesquisa contou com bolsa da Pro-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação/UFG, por meio do Programa Institucional de Bolsas Pós-Graduação, no período de maio/2011 a abril/2012, e a partir de maio/2012, conta com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás – Fapeg. Palavras-chave: futebol e educação; futebol e barbárie; torcidas organizadas. A universalização do futebol é facilmente reconhecida por conta da força dos eventos locais, regionais, nacionais e internacionais (por exemplo o ** A pesquisa contou com bolsa da Pro-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação/UFG, por meio do Programa Institucional de Bolsas Pós-Graduação, no período de maio/2011 a abril/2012, e a partir de maio/2012, conta com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás - FAPEG, por meio das Bolsas de Formação de Mestrado e Doutorado no Estado de Goiás. [Type text] [Type text] [Type text] campeonato brasileiro e a copa do mundo), além disso, dificilmente uma criança pequena, especialmente do sexo masculino, cresce sem ter tido contato com uma bola, mesmo antes de saber como chutá-la. Isso porque o futebol tornou-se um fenômeno que mobiliza sentimentos de paixão e ódio, pobreza e riqueza, malandragem e idoneidade, e nele as pessoas protagonizam diferentes papeis: jogadores, comentadores, dirigentes, patrocinadores e torcedores, tendo esses últimos protagonizado situações que têm chamado a atenção de diferentes instituições sociais pela forma como se organizam dentro das chamadas torcidas organizadas17, e pelos confrontos que, de acordo com Reis (2006), tem sido marcados por um tipo de relação intrínseca entre o futebol e a violência. Nos últimos 20 anos é possível contar um número razoável de jogos que foram precedidos ou que acabaram em violência e tragédia em que grandes torcidas em massa estiveram presentes. Como exemplo, podem ser citadas: a final da Supercopa de Futebol Júnior de 1995 entre São Paulo e Palmeiras, em que, depois de uma verdadeira batalha campal entre os torcedores dos dois times, os quais utilizaram paus, pedras e outros objetos que encontravam à frente, como armas para agredirem-se reciprocamente, o desfecho foi a morte de um torcedor e mais de cem feridos; no final do campeonato brasileiro de 2009, em jogo decisivo entre Coritiba e Fluminense em que um deles se livraria do rebaixamento para a série B do campeonato brasileiro, ao término do jogo, em que o Coritiba foi rebaixado, os torcedores desta equipe invadiram o campo na tentativa de agredirem jogadores da equipe adversária, torcedores da equipe adversária, ou mesmo quem encontrassem pelo campo, como foi o caso de numerosos policiais feridos. E para finalizar os exemplos – limitando-se apenas aos exemplos nacionais, pois a lista é extensa – nas semifinais do campeonato goiano de 2011, 17 De acordo com Toledo (1996), as torcidas organizadas se caracterizam pela organização de pessoas que, por afinidade, formam grupos que se reúnem para torcer para um time de futebol, diferentemente das agremiações de meados do século XX – as quais poderiam ser denominadas de torcidas uniformizadas – pois a maior preocupação era, além da vestimenta uniforme, manifestar a paixão pelo time. Segundo o autor, a partir da década de 1970 as torcidas organizadas tornaram-se estruturas burocratizadas, registradas em cartórios, com um organograma administrativo muito complexo que prevê diretores, presidentes e conselheiros, além de apresentarem relativa autonomia dos clubes. [Type text] [Type text] [Type text] em jogo entre Goiás e Vila Nova, houve confronto entre torcedores das duas equipes, desta vez motivada por uma confusão que teve início dentro dos gramados entre os próprios jogadores. Após muita violência praticada entre integrantes das duas torcidas, o desfecho foi a morte de um jovem rapaz18. A situação tem sido tratada por órgãos da administração pública, polícia, políticos, além de emergirem pesquisas no âmbito acadêmico que procuram analisar o fenômeno de diferentes ângulos. No âmbito das políticas, podem ser citados: a Lei 10.671 que aprova, em 2003, o estatuto de defesa do torcedor, e a criação, em 2006, da Comissão Paz no Esporte. No âmbito acadêmico, a violência em relação ao futebol e às torcidas organizadas, são temas pesquisados a partir dos enfoques antropológico, sociológico e psicológico. Segundo Toledo (1996), as primeiras agremiações de torcedores datam da década de 1940, se organizavam a partir de um torcedor-símbolo, uma espécie de líder da torcida responsável por atrair simpatizantes a fim de formar um grupo de torcedores uniformizados. No entanto, segundo o autor, a partir da década de 1970 tanto o futebol como os torcedores brasileiros protagonizam mudanças em sua estrutura e organização, cenário que surgem as torcidas organizadas, como as conhecemos hoje. De uma perspectiva mais ampla, Reis (2006) considera que as mudanças no modo de torcer acompanham as transformações que ocorrem no universo do futebol, como o empresariamento, o profissionalismo e o futebolobjetividade, implicando uma nova forma de organização e disseminação: a do espetáculo. Segundo a autora, “o futebol conquistou um grande número de empresários nacionais e internacionais que viram nos produtos futebolísticos um grande negócio” (REIS, 2006, p. 13). Nesse sentido, o futebol é absorvido como mais uma mercadoria que entra no círculo de produção-distribuição-circulaçãoapropriação-produção, próprio do modo de produção social predominante desde a Dupla Revolução ocorridas em França e Inglaterra (HOBSBAWM, 2001). A absorção do futebol pela indústria transforma-o, como transforma a arte, a 18 Esses e outros confrontos entre torcidas organizadas podem ser (re)vistos no site: www.youtube.com, por meio da combinação dos seguintes termos de busca “futebol”, “torcidas organizadas” e “violência”. [Type text] [Type text] [Type text] educação e a cultura, em objeto regido predominantemente como valor de troca. Em um período em que a época tardia do capitalismo lança seus tentáculos a tudo e a todos, o futebol transforma-se em uma das mercadorias mais prósperas e rentáveis da indústria cultural19. Consequência dessas transformações, um aspecto que tem comparecido com certa frequência nos jogos de futebol, sobretudo entre os times com maior estrutura financeira e maior número de torcedores, é a violência moral e física, sobretudo quando os torcedores estão reunidos em grupo. Tanto a psicologia como a sociologia buscam explicar que, em grupo, a pessoa se comporta de modo diferente de quando está só. Diante disso, uma questão que se põe é: por que, após a participação em um grupo que tenha participado de momentos violentos, a pessoa se dispõe a voltar à organização para, havendo novo ambiente de confronto, participar novamente? Uma possível resposta ao problema exige reflexão sobre os elementos objetivos e subjetivos que comparecem na violência e na barbárie20. Ao analisar os motivos que teriam levado à barbárie de Auschwitz, Adorno (1995) contesta todo tipo de coletividade cega, devido a sua propensão à violência. Nessa 19 O conceito de Indústria Cultural foi criado por Horkheimer e Adorno, em 1944, num estudo em que se revela a absorção da cultura em todos os seus aspectos, seja na educação, na arte, na diversão, etc., pela indústria, subordinando a cultura aos interesses da economia capitalista, além de influenciar nas relações de produção pelo investimento na alienação subjetiva através dos meios de comunicação, alimentando um mundo ilusório para os sujeitos que, por sua vez, mantêm-se presos às relações de dominação social e política (cf. HORKHEIMER e ADORNO, 1985, p. 113156). 20 De acordo com Adorno (1995), a violência física é a manifestação mais explícita da barbárie, no entanto conceitualmente é importante distingui-las. A violência física se caracteriza pela agressão, de fato, entre pessoas, seja um pontapé ou o assassinato, e que esta violência não esteja vinculada à objetivos racionais da sociedade. Por outro lado, a barbárie ocorre quando “estando na civilização do mais alto desenvolvimento tecnológico, as pessoas se encontrem atrasadas de um modo peculiarmente disforme em relação à sua própria civilização – e não apenas por não terem em sua arrasadora maioria experimentado a formação nos termos correspondentes ao conceito de civilização, mas também por se encontrarem tomadas por uma agressividade primitiva, um ódio primitivo ou, na terminologia culta, um impulso de destruição que contribui para aumentar ainda mais o perigo de que toda esta civilização venha a explodir, aliás uma tendência imanente que a caracteriza” (ADORNO, 1995, p. 155). [Type text] [Type text] [Type text] perspectiva, se as coletividades cegas são grupos formados a partir de necessidades imediatas e instintuais, cujos objetivos não contemplam a reflexão acerca de suas ações – as quais estão mais propensas à prática de condutas violentas; e as torcidas organizadas, além de constituírem grupos, têm protagonizado nas últimas décadas cenas de violência, isso sugere a necessidade de tentar entender as ações dessas associações na relação com pelo menos dois aspectos: o modo de produção social da vida e, consequentemente, o princípio que, segundo Adorno (1995), motivou Auschwitz, a saber, a barbárie. Quando Adorno elabora suas reflexões sobre Auschwitz, ele parte da premissa freudiana acerca da civilização e da cultura: a de que lutar contra a barbárie tem algo de desesperador, na medida em que a civilização se desenvolve justamente a partir do sacrifício na relação com a natureza. Por outro lado, e é isto que, de modo ambivalente, é fundante da civilização, é a luta contra a barbárie que justifica a cultura e a educação. Referindo-se à personalidade das pessoas capazes de promover Auschwitz, Adorno (1995) lembra que este geralmente apresenta um “caráter manipulador” e uma “consciência coisificada”. Dialeticamente, no âmbito das relações sociais o resultado é uma profunda incapacidade para realização de experiências formativas na perspectiva da autonomia e da liberdade, e o desfecho é a recaída e a perpetuação da barbárie. Embora as reflexões de Adorno encontrem-se em um plano mais abrangente, não tendo ele desenvolvido estudos específicos sobre o esporte, em algumas passagens de sua obra é possível encontrar apontamentos sobre a necessidade de compreender este fenômeno. Assim, por exemplo, ele afirma que o espetáculo esportivo não pode reproduzir o cenário de guerra, caso pretendemos que as relações entre as pessoas não reproduzam a barbárie. De acordo com o autor, o esporte é ambíguo: por um lado, ele pode ter um efeito contrário à barbárie e ao sadismo, por intermédio do fairplay, do cavalheirismo e do respeito pelo mais fraco. Por outro, em algumas de suas modalidades e procedimentos ele pode promover a agressão, a brutalidade e o sadismo, principalmente no caso de espectadores que pessoalmente não estão submetidos ao esforço e à disciplina do esporte; são aqueles que costumam gritar nos campos esportivos” (ADORNO, 1995, p. 127, grifo nosso). [Type text] [Type text] [Type text] Embora a elaboração pareça indicar uma simples preocupação com o modo como o esporte é desenvolvido, se relacionamos essa preocupação específica com as aspirações do autor sobre a necessidade de experiências humanas contra a barbárie, então a absorção do esporte pela indústria cultural – apresentado-o como espetáculo ao grande público, dentro do modelo de alta competitividade e de resultados – exige a concordância com o autor em não fazer concessão à violência e à barbárie que permeia o esporte, sobretudo no caso das torcidas organizadas, que têm manifestado atitudes explícitas de violência. Para compreender as possíveis mediações e contradições do problema, recorremos, então, a referencial teórico que permita entender as relações sociais e interpessoais que se estabelecem no âmbito da sociedade em geral e no âmbito dos eventos esportivos em particular. Nesse sentido, nossas análises estão sendo balizadas pela teoria crítica da sociedade da Escola de Frankfurt, em especial as análises de Adorno, Horkheimer e Marcuse, acerca das contradições imanentes ao sujeito e a esta sociedade. A partir deste referencial, o desafio que se coloca é analisar as contradições do futebol, da violência e das torcidas organizadas, com destaque para a relação entre as manifestações das torcidas organizadas e a barbárie que emana do modo de organização e produção da vida nesta sociedade. Isso porque, segundo Adorno (1995), a tarefa a qual toda a sociedade deveria priorizar é a desbarbarização do homem, a fim de eliminar sua disposição para a violência, e a educação e o esclarecimento têm papéis indispensáveis nesse processo. Segundo ele, é necessário transformar a estrutura social atual, e o esclarecimento - condição de supressão da barbárie – é o que possibilita às novas gerações se horrorizarem com a violência e a miséria humana. O trabalho contém investigação bibliográfica e empírica. Em relação à pesquisa bibliográfica, estamos realizando (re)leituras que marcam uma etapa de transição entre a fundamentação teórico-metodológica do projeto e a primeira estruturação da tese. Em relação à pesquisa empírica, foram realizadas as entrevistas e a aplicação de questionários a duas das três torcidas organizadas objeto desta pesquisa. [Type text] [Type text] [Type text] As observações foram assistemáticas, sem roteiros ou perguntas estruturadas aos sujeitos – em que os registros foram realizados por meio de fotos, vídeos e anotações – e não participante, em que o contato com os sujeitos foi realizado sem integrar-se a eles (LAKATOS; MARCONI, 2010). Acompanhamos seis jogos entre as equipes do Atlético Clube Goianiense, Goiás Esporte Clube e Vila Nova Futebol Clube, no estádio Serra Dourada, durante o segundo turno do campeonato goiano de futebol de 2012, tendo o primeiro jogo ocorrido no dia 11 de março e o último no dia 13 de maio. Durante as observações, foi necessário estabelecer diálogos com torcedores, jornalistas, membros da Federação Goiana de Futebol e policiais responsáveis pela segurança nas imediações do estádio a fim de preparar a realização das entrevistas. Até o momento, foram entrevistados: os presidentes das torcidas organizadas: Força Jovem, Dragões Atleticanos e Esquadrão Vilanovense; o Comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar de Goiás e o Comandante da 37ª Companhia Independente da Polícia Militar de Goiás, responsáveis pelo policiamento no estádio e em suas imediações; o Chefe de redação do telejornalismo, o editor chefe do Esporte, e o narrador dos jogos do campeonato goiano transmitidos para a TV fechada, todos integrantes da Organização Jaime Câmara21. As entrevistas já estão transcritas e prontas para análise. Em relação aos questionários, foram aplicados, até o momento, aos membros das torcidas organizadas Esquadrão Vilanovense e Dragões Atleticanos, e pretende-se finalizar esta tarefa até o primeiro trimestre de 2013. Para a aplicação dos questionários, agendamos com os presidentes uma data em que as torcidas teriam alguma atividade na qual estariam presentes um número significativo de torcedores. Assim, em ambas as torcidas, os questionários foram aplicados em dois dias que antecederam a festa de comemoração de aniversário, o que permitiu aplicar 50 questionários à torcida Dragões Atleticanos e 45 à torcida 21 As entrevistas foram realizadas dentro do que Triviños (2008) denomina de semiestruturada, por serem consideradas mais adequadas às pesquisas no âmbito das ciências sociais, de abordagem qualitativa, porque além de valorizar a presença do pesquisador, permite aos sujeitos liberdade e espontaneidade no fornecimento de dados para a investigação. [Type text] [Type text] [Type text] Esquadrão Vilanovence22. A escolha dos torcedores, os quais poderiam ser do sexo masculino ou feminino, levou em consideração a participação assídua nas atividades da torcida. Mesmo considerando alguns dos limites que marcam o questionário como instrumento de pesquisa, tentamos com ele colher dos torcedores informações a partir de quatro aspectos: 1) o perfil econômico-social, 2) o sentimento e envolvimento em relação às torcidas organizadas e os times, 3) a relação com os meios de comunicação e 4) o consumo de produtos relacionados ao futebol. Pelos dados tabulados até o momento, é possível indicar algumas características dos 95 torcedores das duas torcidas, sem pretensão de análise, porém características estas que podem indicar os rumos pelos quais se desenvolverá a análise do objeto. Em relação ao perfil econômico-social, a grande maioria dos torcedores são do sexo masculino (81%) e a idade média é de 20 anos e meio, sendo que o respondente mais jovem tem 14 anos e o mais velho 48 anos. A maioria (56%) informou ter escolaridade de nível médio (completo ou incompleto), 28% estão dentro da faixa do ensino fundamental e apenas 14% afirmaram ter curso superior completo ou em andamento. Em relação à renda, aproximadamente um quarto dos torcedores (23%) recebem entre 1 e 2 salários mínimos e, curiosamente, 17% afirmaram não ter renda própria. Sobre o sentimento e o envolvimento em relação às torcidas organizadas e aos times, a maioria absoluta (94%) confirmam um sentimento inabalável de amor ao time que torce. Quando perguntados sobre quem lhes teria influenciado a se tornarem torcedores de futebol, a maioria (39%) afirma ter sido por iniciativa própria, embora a família e os amigos também compareçam como influentes, com 27% de respostas cada. Porém, quando se trata do envolvimento com a torcida organizada de seu time, a maioria (48%) afirma ter sido influenciada pelos amigos, embora um número significativo (44%) tenha 22 Durante a fase de observação dos jogos, percebemos que os torcedores encontravam-se significativamente envolvidos com o clima do jogo ao ponto de dificultar a aplicação dos questionários, o que nos levou a optar por aplicá-los em momento posterior. Até o momento, ainda não foi possível aplicá-los à torcida Força Jovem do Goiás Esporte Clube. [Type text] [Type text] [Type text] procurado as torcidas por conta própria. Já sobre o sentimento em relação ao time e a torcida adversária, 41% revelam odiarem os adversários, 25% dizem cultivar um sentimento de respeito e para 20% dos respondentes, o desprezo é o sentimento que comparece. (Se somarmos os 41% que dizem odiar os adversários com os 20% que os desprezam, teremos que aproximadamente dois terços dos integrantes das torcidas organizadas guardam um sentimento de hostilidade de maior ou menor grau em relação aos adversários). Em relação aos meios de comunicação, 98% confirmam utilizá-los para acompanhar os jogos e as notícias sobre o futebol. Os meios mais utilizados são a televisão (39%) e a internet (38%), apenas 6% recorrem aos rádios e 5% aos jornais impressos. Quando perguntados sobre a frequência com que acompanham as notícias e os jogos, 80% afirmam não ficar um dia sequer sem ter acesso a informações sobre o futebol. Como já era esperado, 81% revelam usar a internet para tratar de assuntos relacionados ao futebol e à torcida, sendo que 34% utilizam-na para bater papos com os amigos e 26% para postar mensagens, imagens e vídeos relacionados ao time e à torcida. Apenas 4% afirmaram usar a internet para provocar os torcedores adversários. Por último, a maioria expressiva (97%) dos torcedores admitem que consomem produtos relacionados ao futebol, e os produtos comprados por 89% dos torcedores são vestimentas, como camisas, shorts, bonés, meias, calçados, etc., sendo os acessórios, portanto, pouco procurados pelos integrantes das torcidas organizadas. Perguntados sobre a frequência com que compram os produtos, 45% afirmam comprar com muita frequência, enquanto praticamente a mesma quantidade (44%) afirma comprar quase sempre. Se somarmos os dois grupos, então 89% dos torcedores organizados compram produtos com a frequência de sempre ou quase sempre. Sobre a quantidade, 63% afirmam comprar muito, contra 26% que assumem comprar pouco. Das observações, cabe destacar pelo menos um aspecto: o deslocamento da violência – especialmente física – do estádio e de suas imediações nos dias de jogos. Isto teria ocorrido em virtude da intensificação do policiamento no dia dos eventos a fim de dar tranquilidade “especialmente aos torcedores reunidos em família” – conforme um entrevistado. De fato, o que se [Type text] [Type text] [Type text] observou foi que, nos dias de jogos, não houve confronto em grande escala entre as torcidas. Porém, foram registradas várias manifestações de agressão entre os torcedores e as torcidas, tanto verbal, como xingamentos e provocações, quanto físicas, como se verificou um pequeno grupo que, ao perceberem o afastamento da polícia, se agrediram com pontapés e socos com o objetivo de arrancar a camisa do torcedor adversário, uma espécie de conquista sobre o rival. Adicione ainda o fato de que, mesmo diante da ausência de grandes confrontos entre as torcidas nos estádios, as notícias sobre mortes atribuídas às torcidas organizadas aumentaram nos meios de comunicação do Estado23. Esta situação merecerá análise mais profunda, no entanto, de momento, é possível formular uma reflexão: a ausência de confronto entre as torcidas organizadas, nos dias de jogos, certamente não significa a supressão da violência – que se manifesta em ações individuais no próprio estádio e em ações posteriores aos eventos e fora das imediações da chamada praça esportiva. O que sugere que a disposição à violência por parte de algumas pessoas continua existindo24, mesmo que, conforme relatam pessoas responsáveis pela segurança em dias de jogos, se 23 O que se observa é que, após a desmobilização do policiamento, tem ocorrido um número considerável de confrontos nas periferias e espaços públicos distantes da chamada praça esportiva, levando em muitos casos a óbitos. Os números sobre ocorrências relacionadas às torcidas organizadas foram solicitados ao Comando do Policiamento da Capital (CPC) da Polícia Militar de Goiás e estamos aguardando o retorno. 24 De acordo com Zanolla (2010), a agressão se distingue da violência. A partir da psicanálise, a autora entende que a agressividade extrapola o sentido da violência porque diz respeito a um elemento primário, inerente ao ser humano, e é regida pela necessidade de satisfação imediata. Por outro lado, “a violência é uma contingência da energia libidinal que retorna aos instintos agressivos sob a forma de razão” (p.119). Significa que a violência pode ser considerada como o termômetro da cultura, na medida em que o desafio posto à sociedade como um todo é a necessidade de reprimir a agressividade inerente ao ser humano ao mesmo tempo em que essa energia deveria ser destinada a alguma atividade socialmente aceita. Assim, a ausência de violência explícita nos jogos não significa necessariamente que os torcedores passaram a canalizar sua agressão para manifestações e condutas socialmente aceitas – como a manifestação da torcida pelo time; o que se conseguiu foi evitar grandes confrontos. A perspectiva acima permite compreender que os motivos que levam à violência permanecem, o que se exemplifica com os confrontos fora da praça esportiva. [Type text] [Type text] [Type text] tenha conseguido um pouco de paz no futebol durante a realização do campeonato goiano de 2012. Na sistematização final, num primeiro momento, far-se-á a tabulação/mapeamento dos dados obtidos com os questionários, as entrevistas, material jornalístico, documentos e observações; em seguida os dados serão confrontados com a fundamentação teórica para identificação das informações mais importantes do trabalho de campo e definição das categorias específicas do estudo; na análise final, serão desenvolvidas as categorias específicas do estudo a partir dos preceitos da teoria crítica da sociedade. REFERÊNCIAS ADORNO, T. W. Educação e emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. ______. La personalidad autoritária (Prólogos I e II). Buenos Aires: Proyección, 1965, p.3-8. COSTA, J. F. Violência e psicanálise. Rio de Janeiro: Graal, 2003. FREUD, S. Psicologia de grupo e análise do ego. In: _____. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol 18. Rio de Janeiro: Imago, 1996. HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. W. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2010. REIS, H. H. B. Futebol e Violência. Campinas: Autores Associados, 2006. TOLEDO, L. H. Torcidas organizadas de futebol. Campinas: Autores Associados, 1996. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 2008. ZANOLLA, S. R. Educação e barbárie: aspectos culturais da violência na perspectiva da teoria crítica da sociedade. Sociedade e Cultura. v.13, Nº 1, jul/ago, 2010, p. 117-123. [Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT1- Cultura e Processos educacionais EXPERIMENTO DIDÁTICO FORMATIVO: INVESTIGANDO UMA POSSIBILIDADE PARA A APRENDIZAGEM DA ARTE NA ESCOLA Ana Rita da Silva Profª Dra. Beatriz Aparecida Zanatta (Orientadora) Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC hana.arte2gmail.com RESUMO O presente trabalho pretende comunicar uma pesquisa de mestrado que entrecruza arte e educação, tendo como base a Teoria Histórico-Cultural de L. S. Vygotsky e a Teoria do Ensino Desenvolvimental de V. V. Davydov, cujas teses apontam que o ensino escolar é a forma essencial do desenvolvimento da mente da criança, de seu pensamento e de sua personalidade, e neste sentido deve ser dada atenção especial ao modo pelo qual o ensino se efetiva na escola. Assim, as seguintes questões nortearam a pesquisa: Como o ensino de arte pode ser organizado na perspectiva histórico-cultural? O ensino desenvolvimental seria um método pertinente de abordar a disciplina Arte? Quais seriam as contribuições dessa abordagem para a disciplina Arte? Quais seriam as vantagens e as dificuldades na concretização desse tipo de ensino? O objetivo da pesquisa foi organizar um conteúdo de artes visuais aplicando-o a uma turma dos anos finais do ensino fundamental da rede municipal de Goiânia de acordo com o método Experimento DidáticoFormativo e analisar os limites e contradições desse tipo de organização do ensino no contexto investigado. Ao partir de um conceito da leitura de imagem, a composição artística, procuramos levar os estudantes a percorrer de forma consciente e investigativa os processos de construção e percepção da imagem, fazendo um movimento de assimilação de seus significados historicamente construídos para a apropriação do conceito. As conclusões a que chegamos apontam que o enfoque teórico investigado pode ser uma forma aprofundada e consistente de abordar a arte na escola, ao desenvolver no aluno formas qualitativas de se relacionar com um objeto de modo que ele possa se apropriar dos seus conceitos essenciais e utilizá-los não somente nas questões estéticas, mas nas atividades práticas de sua vida social. A pesquisa pode contribuir também para os professores que se preocupam com a didática do ensino de arte. Palavras-chave: Teoria Histórico-Cultural; Experimento Didático-Formativo; ensino de arte. Só conseguimos ensinar aquilo que sabemos. Anamelia Bueno Buoro Esta epígrafe foi escolhida pela inquietude que nos causam estas palavras. Essa inquietação tornou-se mais intensa a partir do curso de mestrado em educação, quando buscamos maior aprofundamento na teoria histórico-cultural, [Type text] [Type text] [Type text] interrogando a partir dessa teoria sobre o que significa “saber”. Esta perspectiva teórica levou-nos a refletir sobre os caminhos já percorridos na prática docente como professora de arte e verificar das memórias que emergiram que muitas vezes o verdadeiro saber era ignorado em função de questões que deveriam ser consideradas de fundo na escola, como o cronograma escolar, a realidade socioeconômica dos alunos, os eventos, o nosso próprio tempo e tantas outras razões que prejudicam os verdadeiros motivos do ensino: Promover a internalização dos conhecimentos historicamente construídos para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral dos estudantes. Estas assertivas não surgiram por acaso, foram cunhadas mediante as exaustivas investigações que constituem a teoria histórico-cultural e se tornaram uma referência para a nosso entendimento sobre o que, afinal, significa “saber”. Os questionamentos sobre a docência e em específico o ensino de arte se intensificaram durante o curso de mestrado em educação, ganhando uma dimensão mais ampla e complexa, apontando, contudo, um caminho teóricometodológico para possíveis respostas. Ao realizar uma revisão bibliográfica sobre o tema de investigação, observamos que poucas pesquisas, até o momento, foram construídas a partir da teoria histórico-cultural e seus desdobramentos, como a teoria do ensino desenvolvimental. Em geral as pesquisas de mestrado e doutorado revelam o potencial destas abordagens, mas não se referem a sua aplicabilidade na educação básica ou superior. A partir desta constatação, formulamos as problematizações para a pesquisa: Como o ensino de arte pode ser organizado na perspectiva histórico-cultural? O ensino desenvolvimental seria uma abordagem pertinente para a disciplina Arte? Quais seriam as contribuições dessa abordagem para a disciplina Arte? Quais seriam as vantagens e as dificuldades na concretização desse tipo de ensino? Estas questões conduziram ao desafio teórico e prático de propor uma pesquisa sobre o ensino de artes visuais na escola a partir do método Experimento Didático-Formativo, aportado na teoria histórico-cultural e desenvolvimental. A pesquisa consistiu na organização e aplicação de um conteúdo das artes visuais, especificamente a leitura de imagens, a uma turma dos anos finais do ensino fundamental na escola pública, para analisar o movimento de construção de um [Type text] [Type text] [Type text] conceito essencial desse conteúdo. Durante as atividades orientamos os alunos a percorrer de forma consciente e investigativa os processos de leitura da imagem, tendo como objetivo a formação do conceito. Nesse movimento foi possível perceber as fragilidades, os avanços e as possíveis contribuições da abordagem teórica investigada para o ensino de arte, cujo resultado pode contribuir na formulação de novas pesquisas, em diferentes contextos educacionais e investigativos. O QUE PRETENDE O PROFESSOR AO LEVAR A IMAGEM PARA A SALA DE AULA? A arte foi reconhecida como disciplina escolar na LDB 5692/71. Antes disso sua presença no currículo aparecia de diferentes formas, ora com ênfase na livre expressão, ora no desenho técnico, mas sem a legitimidade de uma área de conhecimento que movesse a busca de consistência teórico-metodológica por parte dos professores. Sua história recente de legitimidade vem instigando, especialmente a partir dos anos 1980, a intensificação de debates e pesquisas em torno de seu objeto, e neste sentido a imagem tem sido considerada de importância central para o desenvolvimento estético dos estudantes sob diversos enfoques, destacando-se metodologias que propõem a sua análise, leitura, alfabetização visual, recepção, fruição, apreciação, compreensão crítica, que, segundo Rossi (2009), são denominações que apresentam basicamente o mesmo sentido. O que se põe em relevo é a presença da imagem no ensino de arte como portadora de significados culturais e simbólicos, construídos na história da humanidade cujo conhecimento pelo estudante amplia suas percepções, visões de mundo, modos de pensar, compreender e situar sua existência na história. A teoria histórico-cultural define a arte como “uma técnica social do sentimento, um instrumento da sociedade através do qual incorpora ao ciclo da vida social os aspectos mais íntimos e pessoais do nosso ser” (VYGOTSKY, 1998, p.315). Essa compreensão leva a pensar a imagem artística como mediadora na construção de sentidos pelas crianças, muito mais do que outros artefatos culturais delimitados nos diversos campos do conhecimento. Veiculando sínteses [Type text] [Type text] [Type text] de sentimentos coletivos e individuais, a imagem artística chega até a sala de aula para promover identificações. Muitas vezes presenciamos os olhos brilhantes de alguns jovens ao mencionar que determinado artista, tornado reconhecido e admirado em muitos contextos e gerações, foi um indivíduo que necessitou lutar contra a miséria, a indiferença, a solidão e o preconceito; que determinado (a) artista lutou contra a incompreensão e a inabilidade para se integrar à sociedade de seu tempo, superando reveses para colocar acima dele ou dela suas ideias e sentimentos, materializando-os no objeto de arte. Contudo, a imagem promove não somente identificações de sentimentos e ideias, mas também o conhecimento de culturas diversas, ideologias, crenças, tipos de organização social, modos de representação da realidade humana. Abordar a arte na escola como mera expressão de sentimentos é reduzi-la a um dos aspectos de seu significado, perdendo oportunidades incomparáveis de desenvolvimento cultural e cognitivo dos estudantes. Neste aspecto reside o problema do método. O que pretende o professor ao levar a imagem para a sala de aula? É suficiente um desfile de informações sobre a vida do artista, ou das técnicas empregadas na construção da obra, ou ainda as interpretações dos alunos, feitas a partir de suas experiências sociais e culturais? E que tipo de relação o professor estabelece com os conhecimentos objetivados nas imagens artísticas, de forma a mediar as relações dos alunos com estes conhecimentos? É importante sublinhar que a obra artística, nesta perspectiva teórica, não é tida como mera reprodução da realidade em suas implicações políticas, culturais, sociológicas ou científicas, mas em sua forma peculiar de sintetizar as experiências humanas, reelaboradas no labor da imaginação criativa. “A arte não é uma complementação da vida, mas decorre no homem daquilo que é superior à vida”. (VYGOTSKY, 2001, apud. DUARTE, 2012, p. 12). A soberania da arte, segundo Fichtner (2010, p. 93) consiste na sua capacidade peculiar de representar e materializar a realidade. “Uma obra de arte é no fundo uma metáfora peculiar, quer dizer, um modo abrangente de ver esta realidade e de representar este modo de ver”. Assim, na mediação das relações dos estudantes com as artes, promovem-se processos cognitivos e expressivos e, por excelência, desenvolve-se uma “competência metafórica” no núcleo da qual, segundo Fichtner, (idem, p. 89), [Type text] [Type text] [Type text] se encontra a capacidade de representar um aspecto da realidade num nível simbólico. Ao levar a imagem artística para a sala é necessário que o professor considere o potencial estético, cultural, simbólico que nela está implícito, assim como a sua capacidade de mobilizar nos alunos a apropriação de significados construídos historicamente, mas, acima de tudo, a sua capacidade de produzir sentidos para que os alunos desenvolvam sua forma própria de ver, interpretar e produzir novas imagens. A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO COM BASE NO ENSINO DESENVOLVIMENTAL Encontramos, no trabalho do psicólogo e pedagogo russo Vasili V. Davydov, explicações sobre as relações de ensino e aprendizagem baseadas na teoria histórico-cultural. Esse pesquisador apresentou um tipo especial de organização do ensino denominado Ensino Desenvolvimental, que aponta caminhos para que a atividade de ensino contribua para a constituição da subjetividade dos alunos, promovendo seu desenvolvimento integral, que pressupõe a ampliação da “atividade de pensar” por meio da formação de conceitos relacionados ao objeto científico ou cultural que ele aprende. Ao explicitar a estrutura da atividade de aprendizagem, Davydov procurou também sugerir um modo de organização do ensino em que a aprendizagem do aluno seja consciente, resultando na formação de ações mentais com alto grau de abstração, porém, orientadas à realidade concreta. Freitas (2009) nos esclarece sobre a formação de um conceito por meio da atividade de aprendizagem, explicando que, no processo de aprendizagem, os alunos se apropriam do processo de pensamento investigativo utilizado historicamente para a formulação dos conhecimentos científicos, ou seja, se apropriam dos procedimentos lógicos e investigativos que historicamente foram empregados na formulação do conhecimento de um objeto. Neste sentido aprender um conceito significa “reproduzir o conhecimento teórico” vinculado a determinado objeto, que tem sua origem no processo investigativo que lhe deu [Type text] [Type text] [Type text] origem. Freitas (idem, p. 03) afirma que nesta perspectiva “o aluno aprende realmente um objeto quando aprende também as ações mentais ligadas ao objeto, os modos mentais de proceder com esse objeto, de agir com ele por procedimentos lógicos de pensamento”, assim, o procedimento de ensino deve assemelhar-se ao procedimento de exposição dos conceitos científicos, do modo como acontece a exposição realizada pelo pesquisador no processo de criação que originou os conceitos. Os alunos se apropriam e reproduzem em sua atividade pensante, os objetos histórica e culturalmente produzidos por gerações e gerações de cientistas e que foram sendo acumulados e tornados um conhecimento coletivo. Aprendendo desse modo os alunos convertem, ativamente, o conhecimento coletivo em um conhecimento individual. Convertem em suas, as ações mentais humanas outrora criadas e utilizadas por pesquisadores de todas as áreas, por artistas, poetas, lingüistas etc. Ao mencionar os conceitos científicos, estão incluídos não somente os conceitos vinculados à ciência como tradicionalmente é entendida, mas o conceito segundo a teoria histórico-cultural como descontextualização empírica da realidade, ou seja, na dimensão em que o indivíduo é capaz de fazer abstrações sobre os dados de sua experiência, assim como utilizá-las como generalizações em situações concretas. O conteúdo de suas experiências é organizado de forma abstrata, extrapolando o nível das impressões sensíveis ou imediatas. Segundo Davydov (1988) os modos de relação estética nada mais são do que modelos de atitudes do artista perante a realidade, historicamente confirmados por meio das obras de arte, e, ao identificar e assimilar estes modelos, as crianças passam a dominar a “linguagem” da arte, o que significa se apropriar dos procedimentos que foram utilizados pelo artista para expressar sua atitude em relação ao mundo. Se a capacidade de imaginação, segundo Davydov, é universal em relação a qualquer tipo de atividade humana, ela se desenvolve com mais êxito na atividade criativa no campo das artes. A criação de uma imagem artística pressupõe uma imaginação altamente desenvolvida por parte de seu criador, e essa capacidade pressupõe que o indivíduo seja capaz de perceber a realidade de forma mais ampla, consciente, significativa, ou seja, as capacidades de criar e de [Type text] [Type text] [Type text] perceber estão intrinsecamente articuladas e abrangem diversas capacidades que não se limitam ao campo das artes, e, sim, o envolvem. Neste sentido Davydov (idem, p. 121) entende que a percepção e a criação de imagens visuais estão relacionadas à capacidade de abstração e generalização, como bem explicita nestas palavras: A criação de uma imagem imaginativa torna-se possível como parte do processo pelo qual a pessoa efetua a transição na sua consciência do todo para as partes, do geral para o particular. (...) esta transição é unicamente inerente à generalização substantiva, que, evidentemente, é própria tanto da criação de uma imagem da fantasia como da construção de conceitos abstratos (isto indica a presença de uma determinada ligação entre a imagem artística e o conceito científico). Para Davydov o ato de compor artisticamente demanda um processo mental semelhante ao que é empregado nas atividades científicas ou técnicas, visto que também envolve o estabelecimento de relações e a assimilação de um modo geral de percepção que orienta a atividade criadora, e, dentro da especificidade da arte, a composição regula as transições do projeto à concretização com diversificado material, técnicas e conteúdos. Pontua também a necessidade de colocar os estudantes em contato com obras de arte, não somente de pintores, mas, também de escultores, artistas gráficos, pois ao identificar o modo de composição de cada obra ou objeto de arte, os alunos compreendem as etapas de construção desse objeto, fazendo o caminho inverso ao do artista, ou seja, indo da forma materializada para a ideia. Acrescentamos que neste “percurso” de compreensão da obra ocorre a construção de sentidos: A ideia a que chega o aluno não se prende a que teve o artista ao conceber a imagem, a ideia é a do próprio aluno como receptor ativo da obra. Por outro lado, a instrução pode dar ao desenvolvimento mais do que se espera em termos de resultados imediatos. A influência do ensino sobre a formação das funções psíquicas superiores excede os limites dos conteúdos de uma matéria específica. Ao desenvolver os conceitos específicos de uma matéria, o indivíduo torna-se capaz de aplicá-lo em diversos campos do conhecimento, [Type text] [Type text] [Type text] assim como em suas atividades cotidianas, uma vez que as distintas matérias tem segundo Vygotsky (2007, p.352), um fundamento psíquico comum. O EXPERIMENTO DIDÁTICO FORMATIVO VOLTADO PARA A LEITURA DE IMAGEM Ao encontrar, nos estudos de Davydov, explicações sobre a estrutura da atividade de aprendizagem e suas formulações sobre a organização do ensino e aprendizagem com base na teoria histórico-cultural, encaminhamos nossa pesquisa para o método Experimento Didático Formativo, formulado segundo uma proposição materialista dialética, que concebe a experimentação como “processo de captar, compreender e explicar o movimento que dá origem às funções psicológicas humanas, ou seja, o movimento pelo qual o ser humano atua na realidade criando-a e, ao mesmo tempo, recriando-a”. (FREITAS, 2007, p. 05). O experimento didático é utilizado na pesquisa de cunho pedagógico e tem como objetivo investigar mudanças qualitativas no pensamento do aluno a partir de um conteúdo estudado, organizado e acompanhado passo a passo pelo pesquisador. Configura-se num plano de ensino elaborado a partir de um conceito científico (teórico, não empírico) a ser aprendido. Na atividade de aprendizagem o professor vai conduzindo as tarefas no sentido de provocar avanços no pensamento dos alunos para um grau de abstração e generalização crescentes, mediante problematizações. Os alunos são motivados para as tarefas na medida em que elas apresentam conexões com sua realidade e, ao mesmo tempo, na medida em que são colocados como sujeitos ativos na apropriação do objeto. Este é um processo consciente que envolve a autonomia do aluno e o controle, por parte dele mesmo, de seu avanço gradual na apropriação dos conhecimentos. no decorrer do experimento acontece aquisição de atos mentais, atos esses que contribuem para reorganizar o pensamento, as operações mentais realizadas pelo sujeito. Este acontecimento caracteriza-se como uma reorganização interna provocada por signos externos. O próprio experimento funciona como mediação, como um signo externo. (FREITAS, 2007, p. 11) [Type text] [Type text] [Type text] O pesquisador deve fazer a análise do conteúdo a ser estudado, juntamente com o professor da classe, a fim de verificar quais são os conceitos nucleares do objeto de estudo para planejar o experimento. Captar o conceito nuclear significa apropriar-se do objeto em sua concretude, ou seja, dentro de uma rede de significações que envolvem a sua constituição sócio-histórico-cultural. Neste sentido a aprendizagem por conceitos envolve não somente o domínio dos conhecimentos relacionados ao objeto de estudo; o seu caráter generalizador permite relacionar e aplicar esses conceitos nas demais experiências da vida cotidiana. A etapa inicial da organização do experimento envolveu, conforme já mencionado, a análise do conteúdo a ser trabalhado com os estudantes. Ao fazer essa análise percebemos que o conceito de composição pode ser considerado central na leitura da imagem artística porque é ele que estrutura a imagem tanto em seus aspectos formais como do ponto de vista do conteúdo, da significação. O seu caráter generalizador passa pela percepção, análise, interpretação e produção da imagem, seja ela fixa ou em movimento, bi ou tridimensional, dentro de qualquer suporte, tradicional ou contemporâneo. Para Davydov (1988, p. 121) o conteúdo básico do ensino de arte é a assimilação de um modo geral de percepção, nesse caso, a composição, definida por ele como “a conformação, a combinação, o estabelecimento de relações, o ordenamento e a unificação das partes ou elementos de algo destinado a converter-se num todo”. a composição é o modo geral da materialização integral (objetivação) (para o artista) ou entificação (desobjetivação) (para o espectador) de um projeto artístico, um modo geral de transição do projeto à concretização, ou ao contrário, da percepção da forma na qual o projeto é concretizado para o conteúdo. Ao produzir a imagem o artista agrega significados presentes na realidade e os reelabora por meio de sua imaginação criativa, gerando o novo. Os elementos visuais passam a compor um significado inédito ao serem estruturados na constituição da imagem, materializando o objeto artístico que, ao passar pela percepção do espectador, gera novos sentidos. Buoro (2002, p 42) faz uma relação [Type text] [Type text] [Type text] entre a leitura visual da imagem e a leitura do texto escrito, cuja compreensão exige que o leitor “percorra visualmente as palavras e frases, feitas parágrafos, feitas capítulos, ao mesmo tempo que constrói sentidos entre o que se conta no livro e como isso é contado pelo autor”. Ela considera ser determinante para a qualidade da leitura que “o sujeito-leitor perceba o conteúdo daquilo que lê bem como a forma que o envolve, os quais, com sua colaboração, entretecem-se dando existência à obra, fazendo dela um objeto significante”. A leitura da imagem pressupõe que determinados conceitos sejam construídos via processo de aprendizagem, mediante a intervenção competente do professor. Segundo essa autora “só conseguimos ensinar aquilo que sabemos”. O professor que parte do senso comum para a leitura de imagens na escola, nada acrescenta à competência do estudante nesse domínio do saber; sua atitude, perante os significados das imagens, ou se mantém na ordem do puro subjetivismo, ou procura juntar fragmentos de outros conhecimentos históricos, sociológicos, antropológicos, ou seja, dados externos à imagem em si e “extrínsecos ao conjunto da obra do artista como um todo”. (idem, p. 39). Diversos teóricos da arte enfatizam a composição como um processo de organização dos elementos de uma imagem. Aumont (2011 p. 281) atribui a composição “às funções do quadro, como superfície organizada, estruturada”, mas sua análise da composição vai muito além desse tipo de superfície visual. Ele coloca que a arte de compor foi tradicionalmente compreendida como a disposição harmônica das figuras, objetos ou cenários em um quadro, e à medida que pintura se afastou da imitação da realidade ela passou a englobar outros elementos plásticos na composição, como linhas, ponto, cores, superfícies. Neste trabalho optamos por abordar a composição na imagem fixa, incluindo no plano de ensino não somente a imagem bidimensional, mas os objetos tridimensionais, como as instalações artísticas, possibilitando que os alunos percebessem a composição em suportes variados. O plano de ensino foi aplicado a uma turma de oitavo ano do ensino fundamental, denominado Agrupamento H2 na rede de educação municipal de Goiânia, que funciona sob o sistema de Ciclo. O plano de ensino foi desenvolvido em aproximadamente dezoito horas/aula. Inicialmente disponibilizamos vários [Type text] [Type text] [Type text] textos para o embasamento da professora em relação às teorias histórico-cultural e desenvolvimental, que foram discutidos previamente e nos auxiliaram na elaboração do plano. A organização do plano foi feita com base em problematizações em todas as tarefas de aprendizagem, exigindo dos alunos uma participação oral bastante intensa, e neste aspecto percebemos que estes alunos apresentam Zonas de Desenvolvimento Proximal25 bem distintas, mas enxergamos esse fator como positivo no aspecto em que houve uma colaboração entre os mais avançados e os que apresentam uma compreensão estética menos desenvolvida. Procuramos organizar o plano de acordo com a tese de Vygotsky de que “A colaboração representa a origem das funções psíquicas superiores. O ambiente social não é uma condição exterior do desenvolvimento psíquico da criança, e sim a essencial condição interior”. (FICHTNER, 2011, p. 52). Em diversos momentos os estudantes foram colocados em contato com as produções de seus colegas para aprenderem de forma colaborativa. As tarefas incluíram a análise e interpretação de diversas obras de arte, de estilos artísticos diversos para possibilitar a comparação dos aspectos compositivos vinculados às respectivas condições materiais, tecnológicas, culturais e ideológicas de cada contexto e tempo histórico, assim como atividades de experimentação artística. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para tentar responder às questões de pesquisa, partimos do objetivo central do Experimento, que foi a construção pelos alunos de um conceito generalizador da imagem artística, a composição. Ao iniciarmos as atividades nos deparamos com diversos aspectos envolvendo os sujeitos da pesquisa, cujo condicionamento 25 Para Vigotsky, há dois níveis articulados de desenvolvimento: o desenvolvimento real e o desenvolvimento potencial. O desenvolvimento real indica o nível de desenvolvimento das funções mentais em que a criança consegue realizar coisas por si própria, sem auxilio do adulto ou de colegas. O desenvolvimento potencial é aquilo que uma criança ainda não consegue realizar de forma independente, mas o faz com a colaboração de pessoas mais experientes. A zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o desenvolvimento real e o desenvolvimento potencial. [Type text] [Type text] [Type text] sócio-histórico-cultural deve ser cuidadosamente considerado. Dentre estes aspectos destacam-se a formação inicial da professora e sua relação com as teorias educacionais; a realidade profissional em que se encontra inserida, dentro de uma carga horária extensa que pouco lhe permite aprofundar-se nos estudos necessários à compreensão dos aspectos teóricos da pesquisa; as peculiaridades da turma investigada, cujas experiências com a arte são inexpressivas; a heterogeneidade cognitiva e estética da turma, bem como a falta de familiaridade com métodos de ensino problematizadores. Ao considerar estes pontos, procuramos trazer para a análise não a perspectiva de responder se ocorreu a construção do conceito pelos alunos, mas, em que medida houve avanço na construção do conceito, e quais são as implicações do contexto investigado para que os resultados sejam estes e não outros. Em cada etapa da atividade percebemos nos alunos o movimento de abstração sobre a leitura e interpretação da imagem e a percepção de sua estrutura formal incluindo os aspectos simbólicos e culturais. Esse movimento foi confrontado com a leitura feita na atividade inicial de verificação de conhecimentos prévios dos alunos, em que a compreensão da imagem encontravase no nível empírico. Ao final do experimento, ao serem indagados sobre “o que aprenderam sobre composição”, os alunos apresentaram respostas que demonstram a compreensão da composição como estruturação dos elementos visuais, apontando os princípios do equilíbrio e da harmonia e noções de elaboração criativa e de intencionalidade do artista e do leitor. Diante destas conclusões, acreditamos na pertinência da abordagem teórica investigada para o ensino de arte, que tem como propósito desenvolver, no aluno, formas qualitativas de pensamento e de relação com um objeto, a partir da aprendizagem de seu conceito nuclear, para utilizá-lo como ferramenta mental ao lidar com a realidade. Como experiência, concluímos que muitas ZDPs mudaram com o experimento, não somente dos alunos, mas também da pesquisadora e da professora, porque entendemos o papel do ensino no sentido de levar os alunos à apropriação do conceito generalizador de um objeto para compreende-lo em seu movimento sócio-histórico-cultural. Esta, para nós, se constitui em uma resposta satisfatória para a pergunta sobre o que, enfim, significa “saber”. [Type text] [Type text] [Type text] REFERÊNCIAS AUMONT, J. A imagem. 16ª edição. Tradução ABREU, E. S. e SANTORO, C. C. Campinas/SP: Papirus, 2011. BUORO, B. B. Olhos que pintam: a leitura da imagem e o ensino de arte. 2. Ed. São Paulo: Educ/Fapesp/Cortez, 2002. DAVÍDOV, V. V. Problemas do ensino desenvolvimental – A experiência da pesquisa teórica e experimental na psicologia. (DAVÍDOV, V. V. Problems of developmental Teaching – The experience of theoretical and experimental psychological research. Soviet Education, Ago. 1988, vol. XXX, nº. 8). Tradução LIBÂNEO, J. C. e FREITAS, R. A. M. M. DUARTE, N. Arte e formação humana em Lukács e Vigotski. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/31ra/1trabalho/GT17-4026--Int.pdf. Acesso em: 21 de novembro de 2012. FICHTNER, B. Introdução na abordagem histórico-cultural de Vygotsky e seus colaboradores. Endereço eletrônico: http://www3.fe.usp.br/secoes/inst/novo/agenda_eventos/docente. Acesso em: 01 de dezembro de 2012. FREITAS. R. A.M.M. O experimento didático-formativo. Texto digitado. 2007. VIGOTSKI, L. S. Psicologia da Arte. Traduzido do original em russo por Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 1998. __________. Pensamiento y habla. Trad. Alejandro Ariel González. Buenos Aires: Colihue, 2007. [Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT1- Cultura e Processos educacionais INFÂNCIA E ARTE André Barcellos Carlos De Souza Universidade Federal de Goiás / Faculdade de Educação [email protected] RESUMO A construção moderna do conceito de infância é concomitante ao surgimento e consolidação do capitalismo. No desenvolvimento do capitalismo foram instrumentalizados os desejos e as necessidades humanas, reduzindo-os a simples valores de troca, anulando o potencial crítico da cultura. A industrialização da cultura oblitera a reflexão crítica, ocultando as condições de existência em que vivem os homens para servir aos propósitos de perpetuação do capital, resultando na “fetichização das relações sociais e a reificação das consciências” (Adorno). Paradoxalmente a criança é dependente e independente do adulto, na medida em que não está inserida no processo de produção, aliena-se da própria formação. A criança partícipe da indústria cultural internaliza a aparência de estar só, consumidora independente, herdeira da cultura e não produtora de cultura (Benjamin). Nos processos formativos as crianças produzem cultura, exercendo sua condição de sujeito histórico, no processo de socialização em que particularidades e universalidades não devem ser equalizadas, deve-se, sobretudo, estimular o exercício de uma cultura política criando o sentimento e a prática da participação, do direito à criação, do direito à cultura, da cidadania cultural (Chaui). A arte “não faz mais do que ocasionar um afastamento passageiro das pressões das necessidades vitais, não sendo suficientemente forte para nos levar a esquecer a aflição real” (Freud) mas pode problematizar a vida, produzir sentidos diferentes, enriquecer a expressão, ampliar o universo interior, ao expor as contraditórias relações de produção e consumo dos produtos infantis da indústria cultural. Nesse sentido a arte é educativa, mas para ser educativa a arte precisa ser arte e não arte educativa. A criança, por ser considerada incapaz de produzir cultura, um sujeito passivo, deve ser bombardeada por “coisas boas” feitas e avaliadas por adultos competentes. A categoria de cinema infantil como experiência formativa, escopo desse trabalho, repudia o cinema feito para crianças. O cinema como linguagem artística não pode sucumbir ao canto da sereia e ser classificado, esquematizado e previamente concebido ajustando-se ao público. Arbitrariamente delimitamos o cinema infantil apenas por limites de nossas preocupações específicas. A categorização infantil, atribuída posteriormente à produção da obra, procura apenas qualificar o seu uso não pragmático, formativo e crítico. Palavras-chave: infância; cinema; indústria cultural. A partir do século XIV, assistimos ao desenvolvimento da família moderna. O poder monárquico sobre o indivíduo, outrora definido pelas obrigações instituídas pelas relações de parentesco distantes, a linhagem, migra para dentro da unidade familiar e passa a ser exercido pelo patriarca. Os [Type text] [Type text] [Type text] casamentos dos filhos, as posses e as sucessões no domínio das propriedades antes determinados por influências externas, agora é organizada pelo chefe familiar. Ao longo dos cinco séculos sequentes, o poder do patriarca é reforçado em razão do deslocamento das famílias para a cidade, a concentração do espaço de vivência favorece o controle das vidas que a ele se submetem, a arquitetura individualiza os usos dos cômodos da casa, a urbanização das famílias torna-se a base para a constituição dos Estados, e a privatização da vida do indivíduo se impõe contrapondo as instituições coletivas. A concepção e a representação que os adultos fazem sobre o período inicial da vida é diferente dos tempos medievais; a nova realidade, isto é, a modernidade, altera instituições, valores, conceitos, ideias e ideais. Na Idade Média, as crianças aprendem no convívio com adultos apartados da sua família, na modernidade, a educação passou a ser exercida cada vez mais pela escola, e, se antes era reservada aos clérigos e monarcas, agora tornar-se o instrumento normal de iniciação social, da passagem do estado da infância ao do adulto. As instituições escolares alicerçadas por teorias e análises sobre o desenvolvimento social e psíquico infantil se relacionam com a família, ora de forma complementar, ora de maneira tensa, rivalizando com a autoridade paterna. Entretanto a família não é, segundo Poster (1979, p.161), a instituição investida na função de socialização da criança, ela é “o lugar onde se forma a estrutura psíquica e onde a experiência se caracteriza, em primeiro lugar, por padrões emocionais”. Nesse sentido, naturalmente a criança pertence a uma família, e essa família integra uma sociedade, como bem afirma Adorno (1973, p.147): “a família está indissoluvelmente ligada à sociedade, o seu destino dependerá do processo social e não da sua própria essência como forma social auto-suficiente”. Os padrões emocionais internalizados são estabelecidos nas relações dinâmicas recíprocas entre seus integrantes. Confiança, subordinação, cuidado, repressão são ações e sentimentos que formam a psique da criança. As crianças identificam, objetiva e subjetivamente, nas relações de interdição os adultos responsáveis pela não realização plena de seus desejos, e nessas relações com esses adultos, se constitue o valor da autoridade. A internalização da autoridade, mediante os sentimentos de amor e ódio, capacita ao indivíduo viver [Type text] [Type text] [Type text] autonomamente na sociedade, porque, consciente e inconsciente, elabora as demandas internas e externas, psicológicas e socias. Segundo Poster (1979, p.170), quanto maior o número de adultos, mais a identificação pode ficar difusa e “quando as figuras de autoridade estão separadas das figuras de amor, as identificações poderão ser menos ambivalentes e menos profundas”. Essa pulverização da identificação pode favorecer ou não a formação de indivíduos emocionalmente fortes, não se trata de quantidade, mas da qualidade de tais relações, embora a ampliação das possibilidades de identificação seja a mais aconselhável. A ideia de infância constitui-se concomitante com o surgimento e a consolidação do capitalismo, e com o seu desenvolvimento a liberdade e as necessidades humanas são ressignificadas. A burguesia revoluciona a divisão lógica e histórica entre os donos da produção e produtores ao instituir a propriedade privada como sagrada, controla as relações econômicas mediante suas propriedades e toma o poder político impondo hegemonicamente sua ideologia calcada nas ideias iluministas, alega para si o uso da razão pregando o progresso e a democracia dos direitos humanos fundamentais, igualdade perante a lei, liberdade individual e fraternidade entre os homens. A nova sociedade exige que o indivíduo se constitua livre, totalmente autônomo, dono de si, que busca a felicidade absolutamente solitário no mundo, responsável único por seu sucesso e/ou fracasso social. No outro da mesma moeda, a sociedade está cada vez mais densa, todas esferas do indivíduo estão sob controle e administradas, a coerção do modelo econômico-político único impele o indivíduo a seguir todas as regras sociais, não há lugar, nem na família, para onde o sujeito possa fugir dessa sociedade positiva, onde possa livremente experienciar o negativo dele próprio, imaginar uma outra possibilidade para a sua vida, ser um outro dele mesmo. O indivíduo da moderna cidade industrial é proprietário, produtor e consumidor de mercadorias, tal como Marx (1985, p. 45) a define “um objeto externo, uma coisa a qual, pelas suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie”. A mercadoria é ponto de partida e de chegada da análise empreendida por Marx para elucidar a sociedade capitalista. Produto do acúmulo de trabalho humano objetivado, a mercadoria reflete a diferença do duplo caráter [Type text] [Type text] [Type text] do trabalho, sua forma material concreta e sua forma social abstrata, sob a forma de valor de uso e valor de troca. Entre o imediato da mercadoria, sua forma concreta, e as relações de troca, a circulação das mercadorias, o consumo delas, o trabalho concreto particular é abstraído, e a forma fenomênica da mercadoria, na medida em que se torna apenas valor de troca, apresenta o produto do trabalho equalizado, todo trabalho particular objetivado na mercadoria específica toma o caráter social da igualdade dos trabalhos. O trabalho imanente na mercadoria desaparece como trabalho humano concreto, e mostra apenas sua face como produto de trabalho geral, e nesse movimento o trabalho vira qualquer trabalho, perde o valor do trabalho acumulado, vira trabalho qualquer, trabalho igual a qualquer outro. Dessa forma desaparece o indivíduo como sujeito das transformações e as mercadorias aparecem como dotadas de vida própria. A família como lugar de formação da consciência do indivíduo constitui para a consolidação do capitalismo uma parte essencial, pois é nela que se produz e reproduz as noções de autoridade e liberdade. “Só a família podia causar nos indivíduos uma identificação com a autoridade, idealizada como a ética do trabalho, que substituiu funcionalmente o domínio imediato do senhor sobre os servos da época medieval” (Adorno 1973, p.137). Mas, como vimos, a revolução cultural do século XX é o triunfo do indivíduo sobre a sociedade, a autonomia individual é cultuada, independência e autosuficiência se transformam em valores absolutos, reificando a relação homem-mundo, contrapondo-se a instituição coletiva familiar, contrapondo-se a qualquer sentimento ou instituição de caráter coletivo. A criança é dependente e independente do adulto, na medida em que não está aparentemente inserida no processo de produção, aliena-se da própria formação. Na racionalidade desse sistema econômico-cultural, todo aquele que não produz mercadoria, não produz mais valia, deve ser aliciado, na sociedade administrada até as crianças são improdutivas. Entretanto, a criança nasce e vive na história, em um contexto cultural objetivado, forjado no tempo e no espaço, os conteúdos concretos e simbólicos são reelaborados, metamorfoseados, mediados subjetivamente de acordo com a formação cultural. Na grande maioria das vezes não se produzem mercadorias, seus produtos têm apenas valor de uso, não têm [Type text] [Type text] [Type text] valor para outrem, não têm valor de troca, mas não produzir mercadoria não significa não produzir. Elas produzem e reproduzem a moderna cultura. Considerando a necessidade de educar as crianças em condições determinadas e constituir possibilidades formativas importantes, mediadas pelos processos de socialização que disponham de conteúdos a serem internalizados que contribuam para a autonomia e emancipação, a arte é uma possibilidade. A arte com seus textos, imagens e sons se torna legível, consegue uma poderosa mobilização dos afetos e se afirma como instância de celebração de valores e reconhecimentos ideológicos. Nesse sentido a arte é educativa, mas para ser educativa a arte precisa ser arte, e não arte educativa. A arte moderna prima pela rejeição epistemológica a todo e qualquer tipo de imposição, seja ela temática, material, sintática, todas lhe são contingentes, a universalização da arte é moderna. Uma coisa é arte, e outra coisa são as formas que ela adquire em cada cultura ou época. O verdadeiro artista faz questão de ser fiel à arte propriamente dita, mas não às aparências acidentais que ela assumiu e assumirá, e que a contingência histórica terá posto à disposição dele. A insurbordinação do artista às convenções e às tradições não implica em fazer o novo, o original, mas relativizar as possibilidades antigas. Não é a renúncia, não é destruir o passado e os seus clichês, é relativizar o passado, libertar o presente do poder do passado e tornar o passado passado. Graças às vanguardas, não só a elas mas sobretudo ao aspecto cognitivo advindo do seu irrestrito questionamento sobre a arte, não podemos hoje decretar o que é arte e o que não é arte, o que a arte pode e o que ela não pode, o que a arte deve e o que ela não deve, não podemos estabelecer critérios a priori, nem sobre os seus aspectos formais e nem sobre os seus conteúdos, a fim de julgar, classificar ou ordenar as obras. Julgamos e hierarquizamos as obras, bem como os gêneros, os estilos, as linguagens de acordo com critérios relativos mediados por considerações ideológicas, pragmáticas, éticas, lógicas, estéticas. Kant, anterior no tempo às vanguardas, construindo sua teoria estética sobre os juízos estéticos, não no campo conceitual e nem no campo da lógica, mas se baseando numa investigação a priori e transcendental reflexiva, estabelece a impossibilidade da universalidade objetiva para julgamento das obras de arte; no máximo, segundo ele, pode-se [Type text] [Type text] [Type text] arrolar a “universalidade subjetiva”, pois algo considerado belo pode-se supor que qualquer pessoa é capaz de considerá-lo, desinteressadamente, também belo. Não obstante Kant ter distinguido o belo da natureza e o belo do objeto, a beleza se revela por meio de uma forma, a qual não tem uma função definida no objeto, mas é percebida nele mesmo inútil e desnecessária, indistintatemente por todos. Mas Kant (1993, p.152) postula que natureza e arte devem ser apreciadas indistitamente como finalidades sem fim, e as distingue pela consciência da diferença “A natureza era bela se ela ao mesmo tempo parecia ser arte; e a arte somente pode ser denominada bela se temos consciência de que é arte e de que ela apesar disso nos parece ser natureza”. Entretanto a beleza não está nos olhos de quem vê, a universalidade subjetiva é ilusória, assim como a objetivação estética também. O juízo estético não é totalmente imanente, sendo constituído, objetiva e subjetivamente, por determinantes externos à obra e ao espectador. A arte não é o espelhamento da realidade, pura mimese, a essência da figuração ou abstração artística é a violação, o estranhamento, ou melhor, a negação da realidade. A negação da realidade, tanto do tempo quanto do espaço, que lhe é externa. A obra de arte estabelece um domínio próprio, fechado em si mesmo, relativo ao mundo real, mas mesmo essa relatividade não pode ser manifestada, pois seu mundo se pretende absoluto, uma realidade incompleta com pretensão de ser totalidade, mas fundamentalmente autônoma, por que universal. “Enquanto expressão da totalidade, a arte reclama a dignidade do absoluto” (Adorno, 1985, p. 29). A obra de arte como um construto humano expressa a particularidade do seu autor, revela esse indivíduo no tempo e no espaço das relações sociais dele. Todavia, a objetivação da subjetividade do autor na obra é expressão da potencialidade humana de negar a si mesmo como sujeito, produzindo e reproduzindo uma outra realidade social, um outro eu, uma outra racionalidade. Uma realidade que transcende a realidade do autor. E nessa realidade construída objetivamente e subjetivamente o tempo e o espaço são absolutos, não imediatos, portanto perpetuando-se no tempo e no espaço, universalizando-se como humanidade. Nesse ponto é importante retomar a ideia da arte como possibilidade educativa, a arte como potencialidade de esclarecimento. A arte em si não institui [Type text] [Type text] [Type text] a verdade, não esclarece, pois sendo história submete-se à realidade. “Não obstante, a suave narcose a que a arte nos induz não faz mais do que ocasionar um afastamento passageiro das pressões das necessidades vitais, não sendo suficientemente forte para nos levar a esquecer a aflição real” (Freud, 1997, p. 30), mas pode problematizar a realidade, a vida, produzir sentidos diferentes, enriquecer a expressão, ampliar o universo interior, qualificando a comunicação, ao expor as contraditórias relações de produção e consumo na sociedade contemporânea. A arte é produtora de realidade e não é reprodutora da realidade imediata, na medida em que produz sempre uma realidade nova e autônoma, um todo absoluto, livre de regras externas, e na produção dessa realidade, ela reproduz a própria história, por que não há outra, já que ela é única, absoluta. É esse o seu potencial formativo, esclarecedor. É na mediação social pela constituição e elucidação da realidade nela fundada. A arte é mediação importante no processo [de formação humana], antes de tudo porque contrasta com a finitude, o contingencial, o prescrito. Porque emana da autonomia do sujeito e a ela retorna. Porque emana um conhecimento que se estabelece com base em um procedimento racional oposto àquele que organiza e administra a sociedade. Por isso e somente assim, a arte serve ao entendimento e é possibilidade e condição de constituição de humanidade” (Resende, 2010, p. 91). O cinema pode ser arte, e pode ser também mera mercadoria. Do ponto de vista da reprodução, o cinema como arte é também mercadoria, como produto tem valor de uso e de troca, mas esses valores não são equalizados no seu valor de troca, pois o caráter de “finalidade sem fim” da arte impõe seu uso em si, “e se efetiva no processo de consumo”. O cinema como arte, apreendida como uma realidade fechada em si mesma, uma totalidade absoluta, uma realidade incompleta, universal e particular, desinteressada, autônoma, livre, exige do espectador uma experiência original capaz de mobilizar profundas camadas de livre associação, rememoração de memórias passadas, capacidade de entendimento diferentes do comum, por que promove o estranhamento frente à realidade posta, e assim reclama a produção de sentidos, sentimentos, valores e regras novas, uma racionalidade distinta. O [Type text] [Type text] [Type text] cinema como arte desvela ao expectador o trabalho humano vivo, expõe seu modo próprio de produção no contexto social de trabalho humano, de sua materialidade específica. O cinema como arte, “o grande cinema, ao contrário [da indústria cultural], por mais que esteja encrustado no circuito do capital, mobiliza as camadas mais profundas da experiência, e supõe, precisamente, que o espectador mantenha intacta sua capacidade de pensar, de associar e de rememorar” (Rouanet, 1981, p. 62). Mas assim como o contexto da criança é a família e o contexto da família é a sociedade, o contexto da arte é também a sociedade. É no contexto da sociedade que se produz e se reproduz a arte, o cinema. Cinema como arte apanha a produção, reprodução e circulação, se refere ao objeto e às relações objetivas e subjetivas na interação com o objeto. Não basta o filme ser artístico, para ser arte socialmente referenciada precisa da intermediação crítica do espectador. Na moderna sociedade capitalista onde tudo e todos se relacionam como mercadoria, a arte não está imune à fetichização, pois é também mercadoria. E como nos alerta Duarte, se na mercadoria em geral há a ocultação do valor do trabalho, no bem cultural a suposta ausência de valor de uso (que, na verdade, é valor de uso mediatizado) é hipostasiada no sentido de se transformar, ela própria, uso: a presumida inutilidade como emblema, que, em vez de subverter o caráter mercantil do produto, acaba por reforçar o caráter de valor de troca que ele, em uma sociedade capitalista, necessariamente possui (2003, p. 32). A arte consumida no contexto da sociedade capitalista, no âmbito da indústria cultural, equaliza sua contradição entre realidade mediada e a realidade imediata, e torna a arte uma mercadoria qualquer, fetichizada. A transcêndencia da experiência humana é hispostasiada e se torna mera vivência. A negação da realidade imediata presente na arte vira positividade. A diferença entre a experiência empírica da realidade, que é sempre relativa, e a negação desse imediato próprio da arte, que é uma totalidade absoluta, desaparece ao ser consumida como mercadoria, porque uma se identifica com a outra, e a contradição entre o absoluto e o relativo, o universal e o particular, o mediado e o [Type text] [Type text] [Type text] imediato, a objetividade e a subjetividade extirpada de suas negatividades promove a dominação de um tipo de racionalidade, a moderna racionalidade da indústria cultural. A categoria de cinema infantil como experiência formativa, escopo desse trabalho, repudia o cinema feito para crianças. O cinema como linguagem artística não pode sucumbir ao canto da sereia e ser classificado, esquematizado e previamente concebido, ajustando-se ao público. Arbitrariamente delimitamos o cinema infantil apenas por limites de nossas preocupações específicas. A categorização infantil, atribuída posteriormente à produção da obra, procura apenas qualificar o seu uso não pragmático, formativo e crítico. A indústria cultural imiscui seu poder na família. Se outrora, no início da consolidação do capitalismo, o patriarca, representante do antigo poder monárquico, assume o direito de vida sobre seus subordinados, na atual fase do capitalismo, que exige a liberdade absoluta, seu poder é relativizado. E a par de que a descentralização do poder emanar de um único indivivíduo ser salutar, no contexto da indústria cultural ao destituir o pátrio poder, eleger os bens de consumo como encarnação desse poder, é temerário. Frente à racionalidade individual do pai, calcada em relações afetivas e circunstanciais, portanto irracionalidade, contrapõe-se a racionalidade fetichizada soberana do capital. A total autonomia individual apregoada pelo mercado, contradiz a autoridade paterna, e deposita símbolos de autoridade em personalidades efêmeras da indústria, e a identificação da figura de autoridade, para o bem e para o mal, é diluída. Adultos com ou sem parentesco, tendo ou não tendo intimidade com as crianças são internalizados como figuras de poder. A autoridade como parâmetro da liberdade se difunde na sociedade de desiguais, e a autoridade não se constituindo como poder relativo da liberdade, concede à liberdade o poder absoluto. A liberdade individual plena é irracionalidade, é desrazão humana, barbárie, impossibilidade de humanidade e humanização. A crise da família é a crise da humanidade. Crise da autoridade, independente do grau de parentesco do adulto responsável pelos cuidados físicos e psíquicos, se revela no tempo dedicado às crianças, quantitativamente e qualitativamente falando. As relações afetivas entre [Type text] [Type text] [Type text] adultos e crianças nos ambientes familiares, capazes de interpor e mediar as renúncias impostas pela realidade, são as instâncias mediadoras entre a totalidade e o indivíduo, o absoluto e o relativo. A relação de autoridade é a relação de alteridade, o reconhecimento do outro pelo eu. Na ausência dessas mediações o fraco indivíduo tende a sucumbir à força autoritária da totalidade. A atomização do indíviduo produzida pela carência de autoridade, impossibilita o reconhecimento no outro como seu complemento necessário, e toma o outro como inimigo ou pior indiferente. O princípio da alteridade é arruinado, a coletividade está em risco. O tempo de convívio com prazer e desprazer tem diminuído entre adultos e crianças, e entre as crianças, a experiência coletiva mediada ou imediata tem sido cada vez mais rara. Mas a questão não é simplesmente proporcionar ou argumentar em favor de experiências coletivas, pois o grupo ou a massa, nos moldes da explicação adorniana, “proporciona aos indivíduos uma ilusão de proximidade e de união. Ora, essa ilusão pressupõe, justamente, a atomização, a alienação e a impotência individual”. O mecanismo de ajustamento burocratizado do indivíduo às exigências das demandas coletivas, foi denominado apropriadamente de “ticket-denken”, ou pensamento de ticket, por Adorno. Situação onde os indivíduos abdicam de suas opiniões e experiências pessoais em razão da integração à sociedade. Nesse sentido, a socialização calcada neste tipo de relação fortalece a atomização, contrapondo-se à humanização. As relações imediatas entre adultos e crianças são mediadas por coisas, mercadorias ou não, concretas ou abstratas. E as experências imediatas entre indivíduos, são cada vez mais raras, o tempo das relações coletivas mediadas por bens culturais tem sido cada vez maior, computador, televisão, brinquedo, celular, carro, cinema, livro. A racionalidade capitalista, associada a maior possibilidade de consumo, imposta pela indústria cultural, transforma as relações imediatas em secundárias, o indivíduo é aquilo que possui, e se relaciona com os outros mediante suas posses. A economia do tempo e do espaço, em geral, valoriza os usos privados dos bens culturais. O cinema infantil, sua produção e reprodução, como as demais mercadorias voltadas para o público infantil, denota que os incentivos e [Type text] [Type text] [Type text] preocupações se direcionam para a produção da mercadoria. Uma falsa justificativa para isso recai na ilusória concepção da criança, que incapaz de produzir cultura, deve ser bombardeada por “coisas boas” feitas e avaliadas por adultos competentes. A indústria cultural abastece o mercado de filmes, e seus vários outros produtos associados, condicionados pela política industrial. Benjamin em 1928 já nos alertava para esse perigo em um de seus aforismas, intitulado Canteiro de obra: Elucubrar pedantemente sobre a fabricação de objetos – material educativo, brinquedos ou livros – que fossem apropriados para crianças é tolice. Desde o Iluminismo essa é uma das mais bolorentas especulações dos pedagogos. (…) Em produtos residuais reconhecem o rosto que o mundo das coisas volta exatamente para elas, e para elas unicamente. Neles, elas menos imitam as obras dos adultos do que põem materiais de espécie muito diferente, através daquilo que com eles aprontam no brinquedo, em uma nova, brusca relação entre si. (1995, p.18). Os espaços para o tempo livre das crianças devem ser pensados e organizados no intuito de favorecer o brincar, as atividades lúdicas, o lazer, o divertimento. A produção e reprodução da cultura deve ser realizada pelas crianças, em ambientes onde elas possam ser crianças, fazer história, construir histórias, nos moldes, por exemplo, dos parques infantis da década de 30 em São Paulo, que, idealizados e realizados por Mário de Andrade, atendiam prioritariamente aos filhos de operários desprivilegiados e relegados das políticas públicas tradicionais. Antonio Candido apud Freitas (2003, p. 265) enfatiza o significado “da tentativa da Mario de Andrade e Paulo Duarte para fazer da arte e do saber um bem comum”. Pensar a questão de se o cinema pode e como pode ser um mecanismo de educação das crianças, é de suma importância, em um contexto quase sem limites da publicidade, da mercantilização universal. Ter acesso aos bens culturais é importante, sobretudo a bens artísticos, potencialmente críticos corrosivos e cônscios da dor e da delícia da vida, da flor da náusea. A forma da obra de arte é pessoal e intransferível. As obras de arte são necessárias, são finalidades sem fim, e o cinema infantil deve se tornar necessário e essencial para a formação das crianças, tal a importância da arte na formação humana. [Type text] [Type text] [Type text] REFERENCIAS ADORNO, T.W. Notas sobre o filme. In: Theodor W. Adorno. (Org.) Gabriel Cohn. 2a edição. São Paulo: Ática, 1994. p. 100 – 107. ADORNO, T.W. y HORKHEIMER, M. Temas básicos da sociologia. São Paulo: Cultrix, 1973. ADORNO, T.W. y HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. BENJAMIN, W. Rua de mão única; obras escolhidas, volume 2. 5a edição. São Paulo: Brasiliense, 1995. DUARTE, R. Teoria crítica da Indústria Cultural. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. FREITAS, M.C. História da infância no pensamento social brasileiro. Ou, fugindo de Gilberto Freyre pelas mãos de Mário de Andrade. In: FREITAS, M.C. (Org.) História social da infância no Brasil. 5a edição. São Paulo: Cortez, 2003. FREUD, S. O mal-estar na civilização. 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[Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT1- Cultura e Processos educacionais MUCAMBO DE BAIXO, UM QUILOMBO CONTEMPORÂNEO?26 Edson Carvalho de Souza Santana 27 Universidade do Estado da Bahia RESUMO Este trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado, realizada no povoado do Mucambo localizado no município de Barreiras no extremo oeste da Bahia. O estudo teve como objetivo compreender que tessitura dá sustentação identitária étnico-racial à comunidade do Mucambo de Baixo. Contribuíram como sujeitos da pesquisa especialmente a comunidade escolar e a comunidade mucambense de baixo como um todo. Para a sua realização fiz opção pela abordagem metodológica do estudo de caso qualitativo de cunho etnográfico. Como instrumentos metodológicos, optei pelo uso das técnicas de entrevista aberta e semiestruturada, grupo focal, conversas informais, observação participante com registro em caderno de campo, e questionário fechado para levantamento de dados quantitativos. O estudo sinalizou que a comunidade do Mucambo de Baixo vem constituindo a sua territorialidade, desde meados do século XIX, a partir de um possível acoitamento de ex-escravizados(as) e escravizados(as) oriundos(as) das lavras de diamantes da Chapada Diamantina. Apontou, também, a existência da prática da discriminação e do preconceito raciais no povoado e na escola. Revelou, ainda, que a comunidade tem uma maneira particular de cultivar e ressignificar os seus valores e expressões étnico-raciais e culturais. Palavras-chave: Mucambo de Baixo; escolarização; identidade; territorialidade; festejos e religiosidade. Como dito na introdução, este trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado, realizada no povoado do Mucambo localizado no município de Barreiras no extremo oeste da Bahia. A minha aproximação exploratória com o 26 Trabalho apresentado no III Congresso Baiano de Pesquisadores Negros – GT Cultura, Comunidades Tradicionais e Religiões. 27 Professor Auxiliar lotado no Departamento de Educação do Campus IX da Universidade do Estado da Bahia. Possui mestrado em Educação e Contemporaneidade pela Uneb, (2011), especialização em Administração Educacional pela UNIVERSO, 2000, é graduação em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Uneb, (1996). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação, atuando principalmente nas seguintes temáticas: educação, identidade, cultura negra, e quilombo. [Type text] [Type text] [Type text] objeto da pesquisa teve início a partir de 2005, durante a sua efetivação realizei contatos, dialógos e ações reflexivas na escola e na comunidade sobre a tematica étnico racial e quilombola. Concomitante a isso, entre outras iniciatvas, organizamos um grupo de estudos no âmbito do Campus IX para apropriação teórica da temática e do contexto histórico do Oeste da Bahia. Nessa itinerância, um dos fatores que sempre me aguçou o interesse é o perfil da microrregião Oeste da Bahia, onde o Município de Barreiras e a Comunidade do Mucambo estão localizados – a denominada além São Francisco distando 870 km da Capital do Estado da Bahia – Salvador, e 650 de Brasília, Capital Federal. Aqui, a cultura difere largamente da existente no Recôncavo e porque não dizer do restante da Bahia. A região passa por uma fortíssima expansão agrícola com predomínio absoluto do agronegócio e da cultura do migrante do Sul do país, em detrimento da cultura nativa, principalmente pela negação da história e cultura negra. Essa realidade salta aos olhos no campo e na cidade, seja pelos vários flagrantes efetivados pela polícia federal na região, coibindo a prática de trabalho degradante ou escravo, seja pelo explícito afastamento, e por que não dizer, até desprezo do poder público e/ou da iniciativa privada sobre as problemáticas dos afro-brasileiros, seja ainda pelo alheamento das instituições de ensino de todos os níveis, públicas ou privadas. Nesse sentido é relevante refletirmos sobre a afirmação de Queiroz (2004), “O espaço escolar também institui um discurso e uma prática racista. O racismo presente no cotidiano escolar se manifesta não apenas naquilo que diz, mas, sobretudo, naquilo que se cala”. Quero entender que quando ela se refere ao espaço escolar, inclui aí todos os níveis de ensino e de educação escolarizada. No que tange às comunidades rurais tradicionais, embora saibamos que na micro região Oeste da Bahia existam várias comunidades negras rurais, praticamente inexistem pesquisas sobre elas, muito menos com elas, sobremaneira no que diz respeito à questão educacional. Essa realidade também alimentou a ncessidade da realização da pesquisa. O Mucambo e uma comunidade negra rural e foi constituída por descendentes de escravos fugitivos ou alforriados, vindo das Lavras de Diamantes, da Chapada Diamantina e outras regiões do Estado da Bahia, está [Type text] [Type text] [Type text] localizado à margem esquerda do Rio Grande, a dezessete quilômetros da cidade de Barreiras. No ano de 2007, a comunidade conseguiu junto à Fundação Cultural Palmares, a certificação de Auto-Reconhecimento de Comunidade “Remanescente Quilombola”. A sua economia é eminentemente agrícola (rural) de subsistência e está atualmente organizada no formato de agrovila. Para a sua sobrevivência, os mucambenses assim distribuem sua força de trabalho: prestam serviços menos qualificados na cidade de Barreiras e serviços braçais nas fazendas do agronegócio. No que tange a identidade, apesar de todos os predicados que os mucambenses de baixo possuem, a sua autoidentificação enquanto quilombola e até mesmo como negros, é um tanto problemática. Contudo, isso não é de se estranhar, em recente documentário etnográfico intitulado Quilombos da Bahia, dirigido por Antonio Olavo retratando vários quilombos do Estado da Bahia, verifica-se que se constitui um dilema as suas autoidentificações, conforme escreve Pádua; Silva: Nas narrativas dos moradores também percebemos um grande dilema: Quem são eles? Como se vêem? Muitos não se reconhecem como quilombos; outros mais politizados, já reivindicam essa condição. Sobre ser negro, também vivem um dilema comum dos brasileiros: são negros “puros” ou misturados? (PÁDUA; SILVA, 2007, p. 77. Aspas do original). Essa contemporânea abordagem sobre as comunidades negras rurais, entre outros estudos, também contribuiu para a compreensão da realidade do Mucambo, principalmente relacionada ao contexto que o insere. 28Mucambo de Baixo convive historicamente em intersecção com o Mucambo de Cima, composto em sua grande maioria por pessoas supostamente brancas que, em certa medida, são lhes hostis étnicoracialmente. Registros orais informam que a existência da escola no povoado remonta aos anos 1930. Antes, porém, como defende alguns moradores, a escolarização era 28 O povoado do Mucambo é composto por dois núcleos habitacionais, a saber: Mucambo de Baixo dos negros onde predomina dois troncos familiares – Catula e Mandu - e Mucambo de Cima dos supostamente brancos(as) do tronco familiar dos Vieira. [Type text] [Type text] [Type text] praticada por particulares, por isso, seu início é bem mais anterior. Um registro interessante nesse sentido é o fato de que a maioria dos seus habitantes é alfabetizada, incluindo os idosos. Em 1992, o prédio escolar passa a ser identificado por Escola Dr. Abílio Farias. Em 2003 foi construído o Anexo I da Escola Dr. Abílio Farias, também no Mucambo de Baixo, distando 200 metros desta. Nesses espaços é oferecido o Ensino Fundamental - da Educação Infantil à 8ª série/9º ano do Ensino Fundamental – além da Educação de Jovens e Adultos. De todas as professoras e professores entrevistas(os) apenas uma, afirmou conhecer a Lei 10.639, o que representa apenas 9% das falas. 100% desconhecem a existência da Lei 11.645. É evidente que o enfrentamento da prática do preconceito e da discriminação raciais e a efetiva implantação das políticas públicas no que diz respeito às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana, extrapolam o âmbito da Escola Dr. Abílio Farias, embora não a isente. Isso exige ações concretas dos entes públicos de todas as esferas, principalmente dos segmentos educacionais, assim como da própria sociedade. Porém, no contexto do estudo, as principais diretrizes e atribuições para a sua efetiva concretização são do poder público municipal. Silva (2003), defende a necessidade do estado, em cada uma de suas instâncias, agir de maneira discriminadora positiva para uma efetiva reparação e inclusão do estrato étnico racial negro na sociedade brasileira. No município de Barreiras, mesmo tendo a sua Câmara Municipal de vereadores colocado ao executivo municipal a Lei n. 676/2005, com a seguinte Ementa: “Torna obrigatória a temática sobre a Cultura Popular e Cultura/História Afro-Brasileira no sistema de ensino municipal tendo como base a lei 10. 639 de 09 de janeiro de 2003, e dá outras providências”. Anais da Câmara Municipal de Vereadores, (2005 s/p.) apesar dos seus cinco anos e já estar sancionada, ela ainda não saiu do papel. Pior que isso, na Secretaria de Educação do Município, nem se quer encontrei quem soubesse de sua existência. Os dados também revelaram que parte considerável do corpo docente tem dificuldade para identificar o preconceito e a discriminação raciais explícitos ou [Type text] [Type text] [Type text] velados que permeiam o fazer da Escola. Algumas professoras e professores até que o percebem, porém, muitas vezes de maneira distorcida, ingênua ou, até, preconceituosa. Outras(os) por falta de embasamento ou quem sabe de determinação para enfrentá-los, acomodam-se ou agem de maneira superficial ou inadequada. Por exemplo: Se tem preconceito na escola? Tem muito preconceito. A escola estava tentando organizar uma peça composta por alunos negros, e os negros não queriam se mostrar, aí eu falei: vocês não vão como escravos, vocês vão como negros que venceram na sociedade. E eles mesmo assim não queriam participar da peça por que tinham vergonha, eles não vêem seu valor na sociedade. Por isso, eles mesmos têm preconceito. (CATUMBELA)29. É inegável que o longo histórico da escravização praticada no Brasil impacta a todos(as), direta ou indiretamente. Por outro lado, é inaceitável admitir que o estado de marginalização e guetificação em que ainda vive o estrato étnico racial negro da sociedade brasileira, incluindo o Mucambo de Baixo, sejam apenas resultados residuais do nosso longo período da escravização. Nesse sentido, é gritante que uma escola como a do Mucambo, com as necessidades impostas pelas suas particularidades ainda não consiga confrontar o estigma da escravização, e continue abordando-o apenas de maneira pontual, distorcida ou descontextualizada. Por mais que se tente ocultar, o problema étnico aparece no espaço escolar de modo bastante consistente. As profissionais da escola não se sentem responsáveis pela manutenção, indução ou propagação do preconceito. Mas, tendo em vista a realidade do problema, cria-se, então, a necessidade de responsabilizar alguém pela sua ausência. Nessa hora, as vítimas passam a ser as culpadas pela situação. (CAVALLEIRO, 2000, p. 67). 29 Buscando preservar a identidade dos sujeitos da pesquisa identifiquei-os assim: adultos(as) tiveram seus nomes substituídos por nomes de países africanos; os(as) jovens por nomes de capitais de países africanos; os(as) estudantes por nomes de invenções africanas; professoras e o professor foram nomeados por rios africanos; os membros da família Vieira, por sua vez, com nomes de montanhas africanas. [Type text] [Type text] [Type text] Por outro lado, esses problemas têm sido agravados pelos estereótipos criados e praticados historicamente pela sociedade brasileira e que, infelizmente têm encontrado grande eco também, nas relações sociais e escolares do Mucambo. O que tem contribuído para um sentimento de autorejeição, principalmente entre as crianças, características assumidas por pessoas estigmatizadas. “Os estereótipos, por sua vez, dão origem ao estigma que, imputado ao indivíduo negro, dificulta sua aceitação no cotidiano da vida social, impondo-lhe a característica de desacreditado” (CAVALLEIRO, 2000, p. 24). O estigma, relacionado à negritude funciona como um traço, um carimbo que, na concepção de Goffman, (1963), se torna em mecanismo que impede o(a) estigmatizado(a) de perceber seus atributos, uma vez que as relações sociais fazem recair sobre ele(a) uma visão de inferioridade pré-concebida e estigmatizante. Entre os dados da pesquisa chama a atenção que a média de 16,6% das falas dos jovens afirmam que a dificuldade da comunidade se assumir quilombola se deve à vergonha por causa do racismo existente no povoado. Há uma fala dizendo que a dificuldade está relacionada ao medo de ser quilombola, pois isso implica em assumir a negritude. Talvez essa fala possa ser uma síntese da denúncia da presença, nas suas visões de mundo, de estereótipos construídos a partir da ideologia da elite branca dominante que persiste, desde alguns séculos atrás, objetivados na equação: negro igual a escravo. Como escreve Silva (2002). As falas acima, confirmam algumas informações, por exemplo, de que as relações no povoado são permeadas pelo preconceito e a discriminação raciais, que eles(as) próprios(as) denominam por racismo, sinaliza também que os(as) mucambenses são capazes de identificar algumas práticas vinculadas ao tal racismo, mesmo que, mais das vezes, tais práticas sejam veladas. Percebe-se, também, que ao mesmo tempo em que (re)afirmam, têm dificuldades para assumirem a identidade negra como também a quilombola. Isso pode também ser o reflexo do cerceamento a que estão expostos na sua própria territorialidade, o que é visivelmente um fator de constantes constrangimentos. Afinal, como afirma Bandeira (1988, p. 299) “O preconceito racial vivido concretamente assume sua feição violenta e dolorosa, impondo sofrimento moral à comunidade”. Por outro [Type text] [Type text] [Type text] lado, Poutignat (1998), ensina que os constrangimentos étnicos, reforçam nos grupos discriminados a disposição de reafirmarem o seu pertencimento étnico. Nesse sentido pode-se dizer que Gusmão, 1995, p. 231) afirma que eles têm a “[...] ‘raça’, enquanto descendência, o elemento detonador da lógica social constituída [...]”. (Aspas da autora). Contudo, ela denuncia também, que: “O processo histórico e político, que transforma a diferença em desigualdade [...], expõe os processos políticos de sua exclusão como camponês e negro”. Vê-se que isso se assemelha ao que se observa no Mucambo, as circunstâncias sociais, étnicas e históricas em que estão inseridos lhes colocam alguns dilemas, percebem-se enquanto camponeses, negros e até quilombolas mas, concebem também que a defesa da identidade fundamentada nesse tripé, tem mais possibilidade de lhes ser ainda mais problemática do que lhes conferir alguma vantagem. Continuando com as contribuições de Gusmão: O processo de “tornar-se negro”, ou seja, o processo de politização da “raça” passa pela exclusão, já que [...] a troca da pele, o embranquecimento, resulta de muitas tentativas de “integração social do negro no mundo dominado pelo branco” e o conduz à alienação. (GUSMÃO 1995, 231. Aspas da autora). Defende ainda a autora, que a violência histórica em que estiveram expostos os afrobrasileiros “[...] tem feito com que a busca de um reconhecimento mínimo de dignidade humana faça-se na negação da sua exterioridade [...].” Posicionamento dos grupos de respondentes estudantes, jovens e adultos sobre algo de que mais gostam no Mucambo. É ótimo, o povo é cooperativo, amigo. O bom de morar aqui é que sempre na hora assim de uma dificuldade todos ajuda, a comunidade se une pra resolver o problema, além do rio. (GABORONE). Pode-se afirmar que os conteúdos das falas sobre as preferências de identificação étnico-culturais, e territoriais dos(as) mucambenses se constituem um bom parâmetro para discutir os valores cultivados e cultuados internamente pela comunidade. Embora existam algumas variações quanto à particularidade do elemento da predileção de um ou de outro grupo de respondentes da pesquisa, nos geral dão bem a dimensão do elevado grau de (re)afirmação do sentimento de [Type text] [Type text] [Type text] pertencimento que alimentam. A amizade foi o item que mereceu o maior percentual: 25,9%; a segunda predileção foi o rio com 22,4%; os festejos ocuparam o terceiro lugar com 21,9%; a tranqüilidade do lugar, apesar dos forasteiros, foi eleita em quarto lugar com 15,2%; destacaram a igreja em quinto lugar com 10,3%, e a terra para plantar foi pontuda apenas, pelo grupo de respondente adulto com 12,9%. Posicionamento dos grupos de jovens e adultos sobre o que é capaz de unir os mucambenses: Assim, no momento do falecimento de alguém, as pessoas se juntam pra dar solidariedade, porque acaba sendo sempre alguém da família. (MONRÓVIA). Acho que une a gente é a hora que morre alguém, aí todo mundo esquece as desavença e procura ajudá. (MASERO). Eu acho que o que une aqui e a dificuldade, pode até tá brigado, que desavença sempre tem mesmo, mas quando alguém tá na dificuldade aí se precisar, ajunta todo mundo pra ajudá porque aqui acaba sendo sempre alguém da família. (BOTSWANA). Nas falas deste bloco fica patente que as dificuldades enfrentadas pela comunidade se constituem no elo entre os seus componentes. A soma das médias das falas se referindo às dificuldades como fator de união ultrapassou a casa dos 90%. CONSIDERAÇÕES E SINALIZAÇÕES Com a realização da pesquisa é possível afirmar que o Mucambo embora pareça uma comunidade de organização simples, ao primeiro olhar, carrega uma complexa e contraditória história com toda a singularidade que lhe é peculiar. Pode-se afirmar que não necessita que defendam a sua condição de “comunidade negra rural” ou quilombola, pois ela mesma, a seu modo, assim se constitui. Se, em várias oportunidades, dá a impressão de negar essa identidade, em tantas outras se percebe que a (re)afirma. O que as suas palavras por vezes desdizem, as suas práticas cotidianas falam. Por isso, só através do perscrutar mais aguçado das [Type text] [Type text] [Type text] ações e relações com que constituem seu processo civilizatório é que se pode aproximar do entendimento da trama de sustentação da sua tessitura identitária. Dessa forma, tenho consciência que os resultados apresentados pelo trabalho são fruto de uma aproximação que fiz do que me foi possível interpretar. Em resposta aos vários questionamentos se o Mucambo de Baixo se constitui mesmo uma comunidade quilombola e até aos que rechaçam tal possibilidade a partir de ideias preconcebidas pode-se afirmar, mas afinal, o que sustenta o Mucambo como comunidade de quilombo, se comparado com outras comunidades assim identificadas e reconhecidas? Se o marco teórico for a etnografia contemporânea elaborada por estudiosos dessa temática, como por exemplo: Messeder, (1991); Reis, (1996ª); Reis, (1996b); Reis, (1999); Silva, (1988); Silva, 2000); Price, (2000); Funari (1996); Arruti, (1997), entre outros, logo se compreenderá que a diferença se localiza apenas nas suas trajetórias de constituições e nas organizações de seus processos civilizatórios. Nessa perspectiva, o que é relevante ser considerado, no contexto da comunidade do Mucambo, são os instrumentais sócio-culturais que foram capazes de elaborar e lançar mão, em cada momento, para o enfrentamento e a convivência da e com a sua realidade histórica endógena e exógena. Para isso, o primeiro passo para se compreender a tessitura da sua constituição é o conhecimento do contexto micro e macro em que esteve e está inserido. A pesquisa indicou que ainda na segunda metade do século XIX, oriundos das Lavras de Diamante da Chapada Diamantina, localizadas nas proximidades de Macaúbas, integrantes de três troncos familiares, dois negros - Catula e Mandu e um branco, o Vieira deslocaram-se rumo ao Oeste da Bahia e fundaram o povoado do Mucambo. Possivelmente, o patriarca do grupo branco, coronel Vieira, tenha sido um dos primeiros a se deslocar, ainda nos estertores do período escravista. Ele teria se instalado às margens do Rio Grande e passou a organizar, ali, uma forma particular de escravização estruturada nos moldes do acoitamento. A partir daí, passou a explorar os(as) negros(as) vindos ou trazidos(as) da Chapada Diamantina. Desde então, foi travada uma luta entre negros e brancos, aqueles pela sua plena liberdade e esses para coibi-la. Em busca de atingirem os seus objetivos de [Type text] [Type text] [Type text] plena liberdade, os(as) moradores do Mucambo de Baixo passaram a se organizar também em busca da aquisição de terras, pois desde cedo sabiam da importância de possuí-las para o sustento de suas famílias. Também, logo compreenderam que o “contrato” sob o qual estavam submetidos com os que se apregoavam proprietários das terras e, de certa forma, deles próprios, lhes era adverso, minados que eram pelo compadrio e pelo poder do coronelismo reinante na região e particularmente naquele lugar. Por isso, trataram de empreender algumas estratégias que pudessem assegurar a sobrevivência do grupo. Tudo leva a crer que empreenderam uma estratégia de negociar e pressionar. Assim, com a efetivação de difíceis economias adquiridas à custa de duras e longas jornadas de trabalho, foram paulatinamente amealhando pequenos lotes de conotação interfamiliar, impossibilitados que estavam de se organizarem para a produção comunitária. Capitaneados pela amizade e o companheirismo, organizavam-se em mutirões para plantar, colher e construir suas moradias. Concomitante a isso, da forma que lhes foi possível, buscaram o fortalecimento do grupo e a sua demarcação étnico-racial. Pode-se pensar que foi dessa maneira, por exemplo, que se apropriaram de importantes expressões culturais, como o reisado ou o Santo Reis, dominaram a técnica do fabrico de instrumentos musicais para cultivá-lo de maneira própria e independente. Nessa dinâmica de negociação e pressão é que conseguiram lograr a instalação de importantes órgãos públicos nos seus domínios territoriais, como a igreja católica, a escola e o posto de saúde. Chegado o término formal da escravização, aprofundaram a política de rompimento e aproximação historicamente praticada com o fazendeiro, conquistando-lhe, finalmente, algumas porções de terras na margem esquerda do Rio Grande, juntaram-nas com outras pequenas parcelas que já haviam de uma ou de outra forma adquirido ou conquistado, e as vêm cultivando até a atualidade. A valorização imobiliária, proporcionada pela construção do asfalto ligando São Desidério a Barreiras, juntamente com a expansão da fronteira agrícola efetivada pelo agronegócio, bem como a busca por espaços de lazer gerou certo nível de intrusão de pessoas estranhas à comunidade. Essa intrusão forjou uma visão de mundo pautada na mercantilização das terras. Com isso, essas pessoas [Type text] [Type text] [Type text] vão cada vez mais se apropriando de espaços vitais aos mucambenses, o que lhes causa certa desterritorialização. É visível que o principal elemento de sustentação identitária da comunidade é a territorialidade, entendida no contexto da noção de multiterritorialidade proposta por Haesbaert (2007), englobando os aspectos materiais e simbólicos. Essa multiterritorialidade é materializada pela comunidade principalmente na prática da amizade, sustentáculo na alegria e na dor, na união do grupo na hora de enterrar os seus mortos, no apego à sua territorialidade simbolizada sobretudo nas riquezas naturais que o compõe, como o rio, por exemplo, assim como no robusto envolvimento com a religiosidade e as festividades. Nesse sentido eles(as) têm sabido e conseguido reelaborar e ressignificar expressões étnico-culturais dando-lhes um sentido próprio, como é o caso do festejo religioso do Sagrado Coração de Maria, uma manifestação eminentemente religiosa trazida de Goiás à qual deram contornos mais festivos. Introduziram-lhe o samba de roda e uma divertida disputa entre solteiros(as), casados(as) e viúvos(as) por intermédio da queima de fogos. Vence a disputa quem tiver o maior poder de “fogo”. Os próprios festejos religiosos do Reisado e do Divino ganharam na comunidade contornos próprios e novos sentidos. O festejo junino, tradicional na região, no Mucambo tem a “cara” da comunidade, cujas quadrilhas são marcadas com enredos da cultura local, além de nele se inserirem com entusiasmo, desde as crianças até os idosos. Mesmo a Semana da Consciência Negra, um evento criado a partir da escola para “resgatar” e trabalhar os valores e as expressões étnico-raciais e culturais negras da e na comunidade vem incorporando um forte sentido festivo. Além da desterritorialização anteriormente mencionada, há outros problemas por eles(as) vivenciados, a discriminação e o preconceito raciais permeiam as relações no povoado e tem expressiva presença no âmbito escolar onde é largamente reproduzido. Apesar disso, a escolarização existente a mais de setenta anos no seio do povoado tem o legado de vir historicamente escolarizando os(as) mucambenses. Todavia, não tem conseguido fazer uma relação dos seus saberes/fazeres com a riqueza cultural daquela que é a sua razão de ser, a comunidade. Também não tem conseguido se contrapor, nem no âmbito escolar, à [Type text] [Type text] [Type text] prática da discriminação e do preconceito raciais identificados e denunciados tanto pelo corpo discente quanto pela comunidade. Ressalvas nesse sentido foi a iniciativa do professor e pedagogo Júlio Cesar Dias, a partir do ano 2007, na condição de gestor da Escola Dr. Abílio Farias por dois anos, embora residisse em Barreiras, idealizou e, em uma parceria da escola com a comunidade, principalmente a juventude, implantou o Projeto Raízes, que talvez represente a iniciativa mais importante da escola nos últimos tempos, principalmente pela proposta de fazer dele um instrumento de articulação escola/comunidade, sobretudo no que tange a valorização da étno-cultura mucambense e, também, pela adesão do(as) mucambenses a ele. Contudo, parece que a escola ainda não se apercebeu da dimensão da sua potencialidade, pois não tem conseguido concretamente efetivá-lo nem como um eixo temático do seu fazer didático pedagógico. Além disso, o projeto vem perdendo fôlego até mesmo como um evento da comunidade. Hoje, tem sido mais uma espécie de vitrine, de troféu para ser exibido do que um instrumento político pedagógico da instituição. Inclusive, em 2010, teve uma pífia realização. Serviu mais para propaganda político partidária do que para o fim que se destina, ou seja, discutir a étno-cultura da comunidade. O Projeto Raízes está tão distante dos seus propósitos ou do que se apregoa sobre ele na escola que, durante o transcorrer da pesquisa, procurei por diversas vezes analisá-lo, porém a escola sempre alegou que o estavam reelaborando. Assim, conclui o estudo sem que ele me fosse disponibilizado. Percebe-se que no Mucambo, como é próprio de todo grupo étnico, não idealizado, mas de carne e osso, existem várias contradições. Um dos problemas é a política partidária. Como franca e largamente denunciado pelos(as) mucambenses, um dos maiores entraves para a organização da comunidade são as ações enviesadas dos políticos que, em busca de tirar proveitos particulares, acabam fomentando a dissensão e a divisão, o que contribui para minar as tentativas de organização. Essas ações são alimentadas externamente, mas materializadas internamente pelas facções que lhes são filiadas. Da mesma forma avolumam-se denúncias de que esse mesmo caminho tem sido trilhado pela associação dos moradores. As acusações apontam que ao invés de exercer o importante papel de fomentar e encaminhar as várias demandas da [Type text] [Type text] [Type text] comunidade, incluindo a discussão dos encaminhamentos da sua organização quilombola, tem servido mais a interesses particulares. Inclusive, os dados apontam que os encaminhamentos para obtenção da certificação de autorreconhecimento de comunidade “remanescente de quilombo”, pela Fundação Cultural Palmares, foi pautada por essa perspectiva. Ou seja, seus trâmites trilharam caminhos totalmente equivocados, pois os seus passos não foram discutidos com a comunidade, pelo contrário, apesar de terem sido efetivados pela cúpula da associação da época, foram à revelia dos moradores(as). Conclusão, a posse da mencionada certificação, ao invés de ter contribuído para a união do grupo em torno dela, tem conseguido estimular um clima de desconfiança, desconforto e até de rejeição. No contexto macro, percebe-se que os(as) mucambenses vivem historicamente uma situação de gueto, pois convivem com o cerceamento do direito de usufruir dos bens naturais e culturais dos seus domínios. Desde criança, cotidianamente, rondam-lhes a discriminação e o preconceito raciais que permeiam as relações no povoado como um todo. Já, na escola, são obrigados(as) a conviver diariamente com insultos de seus(as) colegas e até de professores, embora estes, de maneira isolada e mais focada no passado. É perceptível que a invasão dos forasteiros ocupa os espaços, reprime a liberdade e faz recuar as fronteiras geográficas, de lazer e mesmo as da convivência étnico-culturais, afetando, dessa forma, todas as faixas etárias com danos imprevisíveis também para as futuras gerações. Nesse particular, ganham sentido os conteúdos de algumas falas sobre a desterritorialização que lhes vêm impactando: na discriminação e no preconceito raciais existentes no seio da escola como na denúncia, por exemplo, de que se é obrigado(a) a sofrê-los calado(a) para não correr o risco de ser expulso(a) da escola ou no contexto do povoado conforme largamente discutido no corpo deste trabalho. No conteúdo da afirmação que os idosos se recusam a falar da sua história para não reviverem dores remotas, ou para pouparem aos mais jovens de conhecê-las e sofrê-las mesmo que indiretamente. No lamento do fato das pessoas sentirem vergonha de se identificarem com seus antepassados, marcadas que são pelos estigmas proporcionados por estereótipos. Ou, ainda, no depoimento sobre a [Type text] [Type text] [Type text] dificuldade da identificação com a negritude por conta da existência do racismo no povoado. Na revolta de só poderem desfrutar do rio durante a semana, porque nos seus finais ele é invadido por forasteiros, com práticas e exemplos danosos para as crianças e a juventude local. Ou mesmo presente na indignação com o fato de as suas terras, às margens do Rio Grande, estarem sendo transformadas em chácaras particulares, com altos muros e até instalações de câmeras filmadoras, cerceando-os até do direito de ir e vir, no seio da sua própria comunidade. É visível que toda essa problemática tem contribuído para alimentar o conflito identitário no seio da comunidade. Nesse contexto de tantas contradições, ganham relevância as suas manifestações festivo-religiosas, que bem podem representar a necessidade e a capacidade da elaboração de uma identidade própria. A realidade vivida pelos(as) mucambenses sinaliza para o não alinhamento com uma identidade negra e quilombola idealizada, pois o que se percebe é que cultivam um perfil identitário próprio. Nessa direção, o seu norte balizador e universalizante é a negritude. Pois é por seu intermédio que são distinguidos e também se distinguem. Porém, cultivam à sua identidade a sua maneira, ou seja, se produzem identificados(as) com a africanidade por ocasião da realização da Semana da Consciência Negra, ou dos eventos festivos religiosos voltados para a própria comunidade, ou estilizados de acordo com a estética e a moda socialmente referenciada pela sociedade, como nos eventos que tenham a participações de pessoas externas. Sem querer cair em um relativismo étnico-racial, olhada por esse ângulo, tal possibilidade leva a algumas reflexões sobre o que é, na realidade, ser uma comunidade negra, e quilombola. O que é ter identidade negra? Existe estruturalmente, essencialmente uma identidade negra? Além do que, a riqueza da diversidade de organização do povo negro é o reflexo da sua capacidade, não só de fazer frente às inúmeras dificuldades que vem historicamente enfrentado, mas principalmente da capacidade de defender e firmar a sua humanidade. Por outro lado, o dado irrefutável é que os mucambenses são parte desse povo e, como tal, ao seu modo, com as suas contradições, tem conseguido forjar, cultivar e ressignificar o seu particular perfil quilombola, as suas tradições étnico-culturais, enfim, o seu próprio processo civilizatório. [Type text] [Type text] [Type text] É possível afirmar que os moradores do Mucambo são ciosos(as) da sua territorialidade com particular identificação com as suas singularidades naturais, éticas, estéticas e sociais, identificadas nas belezas do rio, por exemplo, e explicitadas na solidariedade do convívio comunitário ou sentidas nas expressões e práticas étnico-culturais. Percebe-se que são elementos constitutivos de suas identidades, por exemplo, o contentamento por viverem em comunidade, apesar de todas as desavenças, percalços e contradições. A preocupação em coibir não deixando aflorar doloridas verdades do passado, principalmente na tentativa de preservar do sofrimento os mais jovens. A contagiante alegria e fervorosa fé nas suas realizações e cultuações festivo-religiosas. A certeza de que acima das dificuldades e dos desencontros imperam a cooperação e a solidariedade. A emoção expressada no sentimento de pertencimento à territorialidade ao afirmar ser bom morar ali, pois na hora das dificuldades todos se unem para ajudar. A tristeza e a felicidade exteriorizadas ao se referirem à beleza do lugar, sempre destacando o Rio Grande como a principal. Enfim, apesar de toda a insegurança, a sensação de tranquilidade que transmitem em saber que estão entre família. Essa foi a tessitura identificada na pesquisa e interpretada como elemento de sustentação identitária da comunidade. REFERÊNCIAS ARRUTI, José Maurício Andion. A emergência dos “remanescentes”: notas para o diálogo entre indígenas e quilombolas. Mana. p. 07-38. 1997. Disponível em www.scielo.br/pdf/mana/v3n2/2439.pdf - acessado em 27/10/2010. BANDERIRA, Maria de Lourdes. Território negro em espaço branco. 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[Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT1- Cultura e Processos educacionais O ESCOLAR SURDO E SUAS DIMENSÕES CONSTITUTIVAS: A ESCUTA MUSICOTERAPÊUTICA COMO INTEGRAÇÃO Marcus Vinicius Alves Galvão Escola de Música e Artes Cênicas – UFG Profª Drª Sandra Rocha do Nascimento (Orientadora) Escola de Música e Artes Cênicas – UFG Soraya Bianca Reis Duarte [email protected] RESUMO Este trabalho apresenta resultados de uma pesquisa bibliográfica sobre o sujeito surdo que vivencia o processo inclusivo educacional. Teve como objetivo ampliar a compreensão sobre o sujeito surdo e suas diversas dimensões constitutivas, a partir de uma escuta musicoterapêutica direcionada à promoção da saúde do escolar surdo. Como procedimentos metodológicos foram coletados dados em diversos estudos ligados às áreas da Educação, Educação Inclusiva, Musicoterapia, Psicologia, Saúde do Surdo e no programa da Promoção da saúde do escolar/MECBrasil. Como resultados, verificou-se que os diversos estudos sobre a inclusão do surdo ainda apresentam as dimensões constitutivas dos sujeitos surdos de forma fragmentada, dando ênfase na dimensão biológica, médica e reabilitadora, verificada em várias especialidades terapêuticas entre elas a atuação da musicoterapia. Centra-se na adaptação do surdo na cultura dos ouvintes e na comunicação oralista, pouco considerando a cultura surda e suas especificidades. O processo de inclusão aos surdos não abrange temáticas da promoção da saúde posta pelos mecanismos governamentais, mantendo-os a parte dos processos de promoção da saúde e prevenção. Apontando elementos da Musicoterapia numa perspectiva preventiva e psicossocial, verificou-se que esta terapêutica possibilita integrar as diversas dimensões dos sujeitos junto ao processo educacional inclusivo, considerando a perspectiva de prevenção de vulnerabilidades e promoção da saúde integral dos indivíduos. Concluiu-se que se faz importante efetivar uma reflexão sobre os aspectos no que envolvem o sujeito surdo partindo de uma consideração sobre suas dimensões biopsicosociocognitiva e cultural, possibilitando favorecer e ampliar as propostas da inclusão escolar e social desses sujeitos. A Musicoterapia, integrando o surdo escutando suas necessidade, proporcionará momentos que o farão refletir sobre as suas escolhas e se as mesmas o resultará em uma vida mais saudável. Palavras-chave: musicoterapia; promoção da saúde do escolar; surdo. INTRODUÇÃO O ser humano, diferente de outros seres vivos, é constituído por várias dimensões sendo elas: biológica, psicológica, social, cultural e a cognitiva. Dimensões estas que são complexas. Em pessoas portadoras de alguma [Type text] [Type text] [Type text] deficiência estas dimensões são reduzidas a parte que lhes não é perfeita, no caso de nosso estudo o Surdo a audição, ou melhor, a falta dela. EU-SURDO: AS DIMENSÕES BIOPSICOCOGNITIVA No surdo a dimensão biológica é percebida apenas considerando a sua surdez, e esta é definida como a perda ou a diminuição considerável no sentido da audição, podendo ser classificada quanto à origem, grau, e idade. Para serem avaliados os limiares auditivos utiliza-se a audiometria tonal, tanto por via aérea quanto por via óssea, possibilitando assim, a determinação do grau, do tipo da perda auditiva e a configuração audiométrica, ou seja, se a perda é simétrica (igual nas duas orelhas), se é bilateral ou unilateral (GAMA, 2001). De acordo com Gama (2001) na avaliação por via aérea é possível identificar os limiares para as freqüências de 250 a 8000 Hz, em caso de diferença acentuada entre os limiares obtidos de frequências próximas pesquisamos os limiares auditivos de freqüências intermediárias (750Hz e 1500Hz), que poderá ajudar na adaptação do AASIs (Aparelho de Amplificação Sonora Individual). Após serem identificados os limiares iguais ou maiores que 25dBNA, deve-se realizar por via óssea qual utiliza da freqüência 500 a 4000Hz, determinando assim o local da alteração, que pode ser na orelha externa, media ou interna. Podendo assim, determinar os diferentes tipos de perda auditiva ― pode ser leve, moderado, severo e profundo; com relação à idade de instalação ― distingue-se as pré-natais, as perinatais e as pós-natais (pré-linguísticas e pós-linguísticas) (OLIVEIRA E CRUZ, 2006). Ao se pensar nesta deficiência sensorial e suas demandas especializadas, Santana (2007, p. 13) afirma que o “tema surdez trás uma variedade de aspectos tais como: ordem médica (implante coclear), linguística (se aprenderá língua de sinais ou se será oralizado), ordem educacional (abordagem específica para o surdo), terapeutica (fonoaudiologia), de ordem social (dificuldade de interação com o ouvinte)”. Boothroud (1982 apud COSTA; OLIVEIRA; CRUZ, 2006, p. 79), reforça os aspectos citados por Santana (2007) e os enumera como geradores de consequências, no desenvolvimento de crianças com deficiência auditiva, tais como:1) problemas perceptuais: 2) problemas de fala; 3) problemas de [Type text] [Type text] [Type text] comunicação; 4) problemas cognitivos; 5) problemas sociais; 6) problema emocional; 7) problema educacional; 8) problema intelectual; 10) problemas dos pais. Considerando estes aspectos biológicos e suas influências, observamos outra dimensão do EU-SURDO30, a dimensão psicológica. Na dimensão psicológica, não se diferenciando do sujeito ouvinte, o EU-SURDO tem dificuldade de lidar com suas emoções e sentimentos. De acordo com Costa, Oliveira e Cruz (2006), a criança surda, pela incapacidade de comunicação, tornase introvertida e psicologicamente instável e acaba se isolando do mundo que a rodeia. Segundo Gonçalves (s/d): (...) poucos se dão conta da dimensão do sofrimento psicológico e moral do surdo. A falta de comunicação, o isolamento, faz do surdo um ser dependente do ouvinte, ainda que tenham conseguido avançar em sua educação e desenvolvimento cognitivo. Essa dependência reduz sua auto-estima, produzindo conflitos que muitas vezes são interpretados como comportamento típico do surdo, como: agressividade, intolerância, individualismo e incapacidade intelectual. (disponível em: <http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/revista/? p=962>) Quanto ao aspecto cognitivo, há várias teorias sobre a aprendizagem, quer seja direcionadas a pessoas com deficiência ou não. Segundo a teoria cognitivista, a aprendizagem é um processo de relação do sujeito com o mundo externo e esta tem consequência no plano da organização interna. Diversos estudos (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2002; GOLDFELD, 2002; PEDRIVA e TRISTÃO, 2006; BARBIZET e DUIZABO, 1985 apud SANTANA, 2007) afirmam sobre a importância da linguagem no desenvolvimento cognitivo e que este se dá por meio de interações. Pedriva e Tristão (2006) afirmam que, a aprendizagem se dá por meio de experiências e interações e estas são acompanhadas por mudanças; estão sempre em 30 A utilização dos pronomes EU-TU e EU-ISSO foi proposto por Martin Buber, teórico da Fenomenologia, que utilizou destes pronomes para se referir às relações entre seres humanos. Para o autor, o EU-TU refere-se a um relacionamento existencial, de humanização, e o EU-ISSO, é um relacionamento epistemológico e utilitário. Ambas as relações são necessárias para compreendermos a importância das relações humanas (MALAGUTH, s/d). Neste trabalho utilizamos dos pronomes para se referir as dimensões e relações do surdo. [Type text] [Type text] [Type text] desenvolvimento. Não é trabalho de um único módulo neural, mas ocorre conjuntamente em uma grande estrutura. No EU-SURDO o desenvolvimento cognitivo acontece com a aquisição da linguagem, que embora seja diferente da criança ouvinte acontece com a mesma importância. A diferença se apresenta devido ao EU-SURDO não ter contato com uma língua estruturada, ficando a qualidade e a quantidade de informações internalizadas de menor incidência e constituída por outras formas comunicativas como a Língua de Sinais (QUADROS,2004). Vista a aprendizagem de uma forma diferente da biofisiológica, Silva e Pereira (2003) trazem a aprendizagem do EU-SURDO através de uma concepção sócio-antropológica, pois constituem seu conhecimento de mundo a partir do canal visio-gestual, adquirindo assim a língua de sinais facilmente e consequentemente o desenvolvimento cognitivo, socio-emocional e lingüístico. Contradito por Santana (2007), a linguagem se faz a partir das interações e cumpre um papel importantíssimo, pois além de possibilitar / mediar funções cognitivas, ela favorece com que o EU-SURDO tenha uma rotina social, possibilitando assim uma formação simbólica, cognitiva e significativa constituída a partir do visual. Partindo para tal dimensão, Ribeiro (1999) afirma que ―o campo psicológico é maior que a percepção que o indivíduo possa ter dele, pois o campo se compõe das variáveis psicológicas, das não-psicológicas, como das biológicas, das sociais, que podem incidir direta ou indiretamente no comportamento do indivíduo (p.70). EU-TU: A FAMÍLIA E AS PRIMEIRAS RELAÇÕES A família é a primeira representação da sociedade em que o EU-SURDO desenvolverá seus processos de identificação, construindo sua identidade pessoal e cultural. A família possui um papel importantíssimo no desenvolvimento e construção de funções psíquicas do seu filho, seja ele surdo ou não. Assim, consideramos a dimensão social do EU-SURDO. Nesse sentido, Schaffer (1984 apud BRITO E DESSEN, 1999) afirma: [Type text] [Type text] [Type text] o desenvolvimento da criança recém-nascida é um empreendimento conjunto entre a criança e o adulto que dela cuida; o progresso no seu desenvolvimento não é uma questão de acréscimos, mas sim de reorganizações seqüenciais que periodicamente ocorrem na vida mental da criança; são as interações e as relações com as pessoas e os sistemas sociais que têm um papel crucial para as suas aquisições e para a construção de formações psicológicas cada vez mais sofisticadas. Portanto, segundo essa autora, para compreender o desenvolvimento da criança deve-se estudar o que acontece entre pessoas e não somente o que acontece com os indivíduos tomados como unidades isoladas (p. 02). Além das funções psíquicas, vale ressaltar aos pais ou pessoas cuidadoras do EU-SURDO, que podem proporcionar ou não o desenvolvimento da(s) linguagem(ens) do sujeito, visto que com a não aquisição ou aquisição tardia da mesma (a linguagem), poderão ser instalados problemas de cunho emocional, social e cognitivo. De acordo com Marchesi (1996 apud GOLDFILD, 2002), a linguagem abrange, além da função comunicativa também a função de organização de pensamento, assumindo um papel essencial para o desenvolvimento cognitivo, pois o adulto desempenha o papel principal, sendo o maior responsável pela sintonia estabelecida com a criança e por facilitar as trocas comunicativas entre ambos. Por exemplo, em se tratando do processo de aquisição da linguagem, a adequação mútua nas "conversações" As relações EU-TU, estabelecidas junto ao sujeito EU-SURDO, são as mais variadas. Em trabalhos psicoterapêuticos com o EU-SURDO, Solé (2005 p.38) trás que o luto dos genitores refletem no filho levando o surdo a ―questionar a sua origem da surdez, a responsabilidade e a culpa, acusando os pais por esta diferença. Após a aceitação da condição do filho os genitores passam, ou deveriam passar, por adaptações, que na maioria das vezes a mãe enfrenta sozinha, causando assim um frequente aumento do nível de stress na mesma. Como uma das formas de enfrentamento das especificidades das relações do EU-SURDO, os pais tendem a se afastar do sofrimento diminuindo o seu contato com a família, afirmam Lamb & Billings (1996 apud BRITO e DESSEN, 1999). Brito e Dessen (1999, p.4) citam como exemplo o fato de que ―pais de crianças surdas sentem-se constrangidos em participar de atividades sociais junto [Type text] [Type text] [Type text] com seus filhos, por acreditarem que o barulho causado por eles, principalmente em supermercados e transportes coletivos, incomoda as outras pessoas. Expostos às frustrações ou omissão dos pais, o EU-SURDO ainda enfrenta barreiras quando filho de pais ouvintes. Estes, quando não informados das possibilidades dos filhos surdos, não valorizam a LIBRAS e a cultura surda. Procuram, assim, tardiamente aprender a LIBRAS, em geral quando esgotam as possibilidades de oralizar os filhos, ocasionando demora à procura de tratamentos; gerando consequências na criança, que se sente isolada no mundo dos ouvintes. EU- ELES: O GRUPO SOCIAL Denominamos a dimensão cultural relações sociais estabelecidas em outros contextos externos à família, como a construção da identidade e a cultura do sujeito surdo. Apresentamos o conceito de identidade cultural, de Perlin (1998, p. 53), que diz ser um ―conjunto de características que definem um grupo e que incidem na construção do sujeito, sejam elas as que identificam ou as que excluem. De acordo com Queiroz e Gonçalves (2010, p.25), o grupo ou grupo social é um ―sistema de relações sociais, de interações recorrentes entre pessoas que compartilham certas particularidades. Cromack (2004, p.70) afirma que estas ―relações são dinâmicas e tem como intermédio pressupostos identitários e interpsíquicos, tais como: as experiências sociais e modos de comunicação. Ele reforça que ―somos seres sociais e, por isso, precisamos identificar-nos com uma comunidade, precisamos de uma identidade cultural e, para isso, não basta uma língua e uma forma de alfabetização, mas, sim, um conjunto de crenças, conhecimentos comuns a todos. Partido deste conceito, a cultura surda configura-se a partir da percepção do EU-SURDO sobre o mundo, a fim de compreender as mudanças ao ponto de torná-lo acessível e habitável. Strobel (2008b, p.22) afirma que a cultura surda contribui ―ajustando-os com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das ―almas das comunidades surdas. Isto [Type text] [Type text] [Type text] significa que abrange a língua, as idéias, as crenças, os costumes e os hábitos de povo surdo". No senso comum, a Cultura Surda se dá a partir da identificação com a sua deficiência. Quadros (2004), discorre que ela apresenta múltiplas faces, mas com características que são específicas, visto que elas são de outra ordem, uma ordem com base visual e por isso têm características que podem ser ininteligíveis aos ouvintes. Ela se manifesta mediante a coletividade que se constitui a partir dos próprios surdos (p.86) Quando se agrupam, os sujeitos surdos formam uma cultura, podendo assim expressar-se de forma livre, sem se preocupar se está sendo entendido ou se o outro entende a sua língua e produção artística (STROBEL, 2008a). Dentre os espaços sociais à construção de identidade cultural das pessoas encontramos a escola. Por muito tempo as escolas representavam um espaço, nas quais os alunos surdos não eram aceitos e muito menos a sua língua poderia ser utilizada. Suas produções artísticas não tinham nenhum valor. A partir de então, os surdos, com seus movimentos de resistência a exclusão, criaram espaços nos quais eles comandavam, sendo proibida a presença de ouvintes no corpo administrativo, podendo assim constituir suas próprias regras e estabelecerem suas fronteiras (QUADROS, 2003). De acordo com Quadros (2004), a entrada do aluno surdo na rede de ensino regular caracteriza uma forma de submissão/opressão por parte desse ao processo educacional ouvinte, sustentando as seguintes características, tais como: A pessoa surda enquanto parte da cultura surda é descoberta fora da escola (quando isso acontece). Assim, os alunos surdos são constantemente expostos ao fracasso tendo como causa a sua própria condição (não ouvir) e não as condições reproduzidas pelo sistema. A conseqüência dessa tentativa de homogeneização é o fracasso, não só acadêmico, mas na formação de pessoas com problemas sérios de ordem pessoal, social, cultural e política. Até a sanidade mental desses alunos é colocada em risco, uma vez que, a formação da identidade é constituída com base em modelos completamente equivocados (p.87). A partir de tais movimentos efetivados pelos surdos, em prol de sua cultura/língua, sendo reforçada pelo reconhecimento da Lei 10.436 de 2002, obrigando a inclusão da sua língua nos espaços sociais, não só ao sujeito surdo, [Type text] [Type text] [Type text] mas a todos os portadores de alguma deficiência tornando assim visíveis a sociedade. O Programa de Saúde do Escolar (PSE) teve início no Brasil em 2007, instituído por Decreto Presidencial nº 6.286, de 5 de dezembro de 2007, resulta do trabalho integrado entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, na perspectiva de ampliar as ações específicas de saúde aos alunos da rede pública de ensino: Ensino Fundamental, Ensino Médio, Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, Educação de Jovens e Adultos (BRASIL, 2008a). Seus principais objetivos são: I – Promover a saúde e a cultura de paz, reforçando a prevenção de agravos à saúde; II – Articular as ações da rede pública de saúde com as ações da rede pública de Educação Básica, de forma a ampliar o alcance e o impacto de suas ações relativas aos estudantes e suas famílias, otimizando a utilização dos espaços, equipamentos e recursos disponíveis; III – Contribuir para a constituição de condições para a formação integral de educandos; IV – Contribuir para a construção de sistema de atenção social, com foco na promoção da cidadania e nos direitos humanos; V –Fortalecer o enfrentamento das vulnerabilidades, no campo da saúde, que possam comprometer o pleno desenvolvimento escolar;(BRASIL,2009 p.12). Desta forma, as estratégias do PSE objetivam dar visibilidade aos fatores que colocam a saúde em risco e desenvolver ações tais como oficinas com diversas atividades direcionadas para os escolares e a comunidade escolar com vistas a superar os problemas e as adversidades identificados e vivenciados pela comunidade. Estas são as propostas de ações em saúde dentro do contexto educacional. Qual o publico alvo do PSE? Há alguma ação específica que abarque os alunos que estão em processo de inclusão? Como estratégias gerais de operacionalização das ações de Promoção da Saúde Escolar (BRASIL, 2009) afirma que ―Uma escola inclusiva deverá também considerar ambientes e equipamentos que permitam acessibilidade e livre trânsito e apoio aos estudantes com deficiência‖. Mas não especifica nada a respeito dos alunos surdos. A MUSICOTERAPIA PREVENTIVA PSICOSSOCIAL JUNTO AOS SUJEITOS SURDOS [Type text] [Type text] [Type text] A prática do musicoterapeuta preventivo e musicoterapeuta comunitário, diferencia-se daquela, devido estar centrada no conceito de saúde positiva, pois parte da premissa de que muitos dos problemas das pessoas podem ser resolvidos de uma melhor maneira no âmbito comunitário, quando os cidadãos e os grupos se reúnem para enfrentar eficazmente um problema que afeta a comunidade se produz um sentimento de realização, Pelizzari (2005). Podemos citar situações tais como: problemas de ansiedade e stress; problemas que surgem no contexto educacional-ocupacional (condutas agressivas, antissociais); problemas que surgem pelo desajuste psicológico diante de doenças (hospitalizações, traumas, intervenções cirúrgicas...); problemas que surgem como consequência das crises vitais e socioeconômicas. Partindo de tais pressupostos a comunidade se torna um objeto de intervenção para o musicoterapeuta, pois nesta dimensão o sujeito deixa de ser UM paciente com determinada história, passando a ser um ―sujeito social (PELLIZARI E RODRIGUEZ, 2005) que demanda uma resposta por parte dos seus membros. O musicoterapeuta assume uma posição diferente da atuação clínica tradicional buscando uma nova dimensão em sua atividade, como um sujeito cultural o qual se verá imersa e desejará transformar, pois está diretamente ligado à realidade do sujeito. Mediante estes pressupostos, Pellizzari e Rodriguez (2005) apresentam a proposta da Musicoterapia Preventiva Psicosocial, em uma união do musicoterapeuta com a comunidade, buscando soluções, escutando a ―dor social e potencializando a busca por mecanismos de enfrentamento que favorecem a participação ativa da comunidade na solução de problemas para gerar uma adaptação saudável e criativa. Davis, Gfeller e Thaut (2000, p. 195) afirmam que é possível assumir que a música seria um meio terapêutico inapropriado para pessoas surdas, já que a música é considerada uma arte auditiva. Contudo, os autores sustentam que os surdos podem sim apreciar música se tornando uma forma terapêutica excelente na medida em que se identifique o tipo de perda auditiva e a forma de comunicação do mesmo. Para os autores, o grau de perda auditiva determina a diferença e a percepção das características musicais. Como por exemplo: pessoas [Type text] [Type text] [Type text] com perda auditiva sensorioneural, frequentemente ouvem as frequências mais graves, as pulsações rítmicas fortes são mais perceptíveis; em pessoas com perdas moderadas a leve, possuem um ouvido residual, estes podem desfrutar mais da música e de seus elementos constitutivos como a harmonia e a melodia. Galvão, Amui e Zanini (2012, p. 490) afirmam que a música ―pode possibilitar e facilitar a percepção de alunos surdos, como uma função autorealizadora, contribuindo para a formação do ser. A musicoterapia vem sendo utilizada como forma de tratamento junto aos sujeitos surdos. Barcellos (1994) trás a hipótese de que a música e seus elementos constitutivos é essencial para o tratamento de uma criança surda, contribuindo, assim, para o desenvolvimento psíquico daquele que perdeu ou nasceu sem a capacidade de ouvir. E como fonte estimuladora ou contextualizadora se tratando de implantados cocleares a musicoterapia. Por mais que haja algumas ações da musicoterapia em prol do sujeito surdo, estas ainda trabalham na concepção clínico- biológica em prol da habilitação do mesmo. Expandindo a compreensão da atuação da musicoterapia, com vistas à promoção da saúde integral do sujeito surdo, valorizando sua cultura surda e sua língua e o ser-surdo, avançamos para outras propostas do fazer musicoterapêutico, que objetive uma melhor qualidade de vida e a prevenção de possíveis intempéries que venham influencia na mesma. CONCLUSÃO Vê-se a necessidade da Conscioaceitação, categoria analítica, que se refere à compreensão sobre o período em que os pais ou outras pessoas devem passar para que haja a aceitação integral do sujeito independente de sua especificidade. A não percepção das outras dimensões pode tornar o surdo um ser vulnerável a várias coisas, tais como: uso de drogas, obesidade, gravidez. O não tratamento ou a não percepção de tal situação provoca o adoecimento, e isto por falta de conhecimento dos mesmos. O PSE tem como proposta a promoção da saúde do escolar e o surdo, como um escolar, devia ser englobado pela ações do Programa, mas não é o que acontece de forma explícita nos documentos [Type text] [Type text] [Type text] analisados. A forma de exposição (palestras) dos temas citados desperta pouco interesse ao aluno surdo. Pensar musicoterapeuticamente em ações que promovam a re-significação dos sentimentos da família e dos sujeitos dos contextos de convivência do EUSURDO, poderá favorecer a minimização dos conflitos e a identificação dos problemas que estão inseridos dentro dos grupos sociais. Com a musicoterapia preventiva psicossocial, é possível pensarmos que se a pessoa ampliar a compreensão sobre os aspectos constitutivos do EU-SURDO e propor ações de promoção da saúde em ambientes, comunitários, e sociais, entre eles a escola. Partindo do pressuposto que o musicoterapeuta desenvolve ações e busca soluções em conjunto com a comunidade, verificamos correspondência entre esta proposta e PSE. O musicoterapeuta preventivo, que opta em trabalhar na área comunitária e social, passará por um processo de re-significação de conceitos tanto culturais, quanto teórico e praxiológico. Finalizando nossa discussão, sustentamos que, ao discutirmos a fragmentação das dimensões do EU-SURDO, pretende-se demonstrar a forma que esse sujeito tem sido percebido. Após tal percepção propomos a saída, ou melhor, a ampliação da escuta para as necessidades desses sujeitos. A musicoterapia na perspectiva preventiva psicossocial vem para identificar as necessidades dos alunos surdos, acolhê-lo e integrá-los, proporcionando momentos que o farão refletir sobre as suas escolhas e se as mesmas o proporcionarão uma vida mais saudável. REFERENCIAS BRASIL. Ministério da Saúde; Ministério da Educação. Programa Saúde na Escola. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2008a. ________. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Caderno de atenção básica: saúde na escola. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. BARCELLOS, Lia R. M. Cadernos de Musicoterapia.Vol. 3. Rio de Janeiro: Enelivros, 1994. COSTA, Sady Selaimen da; OLIVEIRA, Antônio A.; CRUZ, Osvaldo Laercio M. Otorrinolaringologia - Principios e Prática - 2ª Ed. editora: Artmed. 2006. [Type text] [Type text] [Type text] CROMACK, Eliane Mª P. da Costa. Identidade, Cultura Surda e Produção de Subjetividades e Educação: Atravessamentos e Implicações Sociais. Psicologia Ciência e Profissão, 24 (4), 68-77, 2004. DAVIS, William B; GFELLER, Kate E.; THAUT. Introducion a la Nueva Musicoterapia: teoria e pratica. Tradução Melissa Mercadal-Brotons. Barcelona: Editora de musica Boreau. 2000. GALVÃO, Marcus V. A.; AMUI, Gustavo Araujo; ZANINI, Claudia R. O. Sequência Didática: uma Proposta de Ensino da Música para Surdos. 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Jocyléia Santana dos Santos (Co-Orientadora) Profa. Dra. Neila Barbosa Osório (Orientadora) Mestrado em Educação - UFT [email protected] RESUMO Justifica-se o titulo devido aos acadêmicos da UMA (Universidade da Maturidade) consideraremse, como os Ipês Amarelos, que diante de desafios eles crescem e florescem como os ipês. O objetivo do estudo foi analisar as mudanças de comportamento dos velhos por meio da educação. É uma pesquisa descritiva, utilizamos o método da História Oral com abordagem qualitativa e as análises das informações foram feitas fenologicamente. A questão que norteou a pesquisa foi: Como os acadêmicos perceberam seus projetos de vida depois que ingressaram no Programa Universidade da Maturidade? Não temos a intenção de resgatar na totalidade a memória destes velhos. Apresentamos breves entrevistas com três ex-acadêmicos objetivando trazer a compreensão da importância das transformações proporcionadas através da educação. Na analise das informações coletados através das entrevistas e suas derivações, observamos que todos se consideram acadêmicos perenes da UMA, sempre envolvidos com os propósitos e convicções da missão da Universidade da Maturidade. Nota-se uma satisfação, autoconfiança e realização pessoal após a conclusão do curso de Educador Político Social do Envelhecimento. O desejo de continuar ativo no trabalho e nos estudando é uma característica comum aos três casos analisados. As narrativas nos mostram que a satisfação por ser produtivo e o sentimento de reconhecimento pelos trabalhos executados atualmente, traz mais sentido a esta jornada do que o salários que é pago à eles. Deduz-se que o modo como o velho esta presente no mundo é que qualifica seu existir, sua essência é sua existência. Há influencia diretamente na vida dos seus filhos, netos e familiares da mesma forma que seus pais influenciaram a eles. A desconstrução destes paradigmas por parte dos velhos é diretamente relacionados à instituição provedora destas inquietações do saber, a escola emprestaria a sua medicação para a renovação das estruturas de personalidade que, sozinhos, os mais velhos não alcançariam. Estes casos de sucesso são exemplos para todas as gerações, entretanto devemos ressaltar que o caminho da educação no Brasil, principalmente quando tratamos de educação para velhos, só começou. Há muito que ser realizado para a população que mais cresce no planeta. Palavras-chave: história oral; memória de velhos; educação de velhos. ARANDO O TERRENO [Type text] [Type text] [Type text] “O senhor já notou que os Ipês florescem no inverno? Sabe por quê? No inverno é frio e seco. As árvores ficam com medo de morrer. Por isso produzem flores e ejaculam sementes ao vento. [...] Querem plantar suas sementes no ventre da mãe-terra.”(Rubens Alves, 1999) Assim os acadêmicos perenes da UMA (Universidade da Maturidade da Universidade Federal do Tocantins) gostam de serem lembrados, como os Ipês Amarelos, que diante de desafios eles crescem e florescem. Ao passar dos anos é cada vez mais visível a incidência de pessoas velhas. Estes fatos são confirmados com as projeções da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o ano de 2025, onde demonstram que o Brasil deverá possuir a 6ª maior população velha do mundo e a 1ª na América latina, com cerca de 32 milhões (15%) de pessoas com idade acima de 60 anos. Entre 1980 e 2000 a população com 60 anos e mais cresceu 7,3%, totalizando mais de 14,5 bilhões em 2000 (FERRACINI, 2011). Diferentemente da OMS que considera velhos com mais de 65 anos, o governo brasileiro considera o início da velice a partir dos 60 anos (BRASIL 2003). A educação é responsável pelas mudanças nos sujeitos, alguns princípios são comuns nas mudanças de concepções. Both (2001) afirma que não é difícil avaliar o quanto a educação tem por fazer junto a todas as instituições e junto a todos os espaços de formação cultural e científica para dizer sobre a necessidade de conhecer o conhecido e sobretudo desvelar o desconhecido sobre a velhice em todas as suas idades e em todos seus potencias e limites. Afirma Both (2001) a seguir: [...] autonomia intelectual é necessária porquanto busca suscitar as operações mentais capazes de levar a explicações consistentes e decisões moderadas pela argumentação e, sobremaneira, neste viés, é advogado o exercício da cooperação intelectual. É no mundo acadêmico que a formação é realizada o convívio social. A possibilidade de aprender pode ocorrer em qualquer fase da vida humana, como seres inclusos que somos, e assim, tornar sempre novo ou renovado o saber e o próprio sentido da existência. (BOTH at. al., 2005) [Type text] [Type text] [Type text] Dessa forma, o objetivo deste estudo foi analisar as mudanças de comportamento dos velhos por meio da educação. É uma pesquisa descritiva, utilizamos o método da História Oral com abordagem qualitativa e as análises das informações foram feitas fenologicamente. Com o auxílio de uma filmadora, coletamos relatos orais de três exacadêmicos da Universidade da Maturidade da universidade Federal do Tocantins – Sr. José Mamédio Oliveira nascido em 1952, Sr. Hely de Carvalho Marques nascido em 1933 e a Sra. Maria Margarete Silva de Souza nascida em 1050. Estes voluntários assinaram um termo de Consentimento Livre Esclarecido, contendo informações sobre as entrevistas. A questão que norteou a pesquisa foi: Como os acadêmicos perceberam seus projetos de vida depois que ingressaram no Programa Universidade da Maturidade? Realizamos a revisão bibliográfica sobre história oral, memória de velhos e educação visando apresentar o assunto e dar fundamentação teórica necessária à pesquisa. Não tivemos a intenção de resgatar na totalidade a memória deste velhos. Apresentamos breves entrevistas com estes ex-acadêmicos objetivando trazer a compreensão da importância das transformações proporcionadas pela educação. Foram entrevistas curtas que Meihy (2000) define como temática por se basear em um assunto específico e previamente estabelecido, a objetividade é direta. Nela pretende-se buscar a verdade de quem presenciou um acontecimento ou que pelo menos dele tenha algumas versões que seja discutível ou contestória. SEMEANDO O IPÊ UNIVERSIDADE DA MATURIDADE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS: UMA POSSIBILIDADE DE VIVER COM MAIS DIGNIDADE. Diante dos dados demográficos que apontam para o rápido fenômeno de envelhecimento populacional no Brasil, as Universidades assumem um papel fundamental no compromisso científico, educacional e extensionista de responsabilidade social, de acordo a Lei nº 10.741, de 2003 que dispõe o Estatuto [Type text] [Type text] [Type text] do Idoso artigo 3º VI- capacitação e reciclagem dos recusos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos idosos; VIIestabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento. O programa UMA-UFT com o objetivo de conhecer o processo de envelhecimento do ser humano para oferecer na promoção do sujeito que envelhece e provocar transformações sociais na conquista de uma velhice ativa e digna embasado no Estatuto do Idoso. O curso de especialização em Gerontologia já estava sendo executado desde 2005, capacitando profissionais de diversas áreas, que hoje ja são mais de 300 monografias defendidas, estes tem como objetivo atuar no programa. Assim a UMA-UFT nasce dia 26 de fevereiro de 2006, com 350 inscritos e com 50 vagas apenas, atualmente conta com mais de 1.500 idosos, em 10 cidades do Estado do Tocantins (Arraias, Gurupi, Brejinho de Nazaré, Porto Nacional, Palmas, Miracema, Miranorte, Tocantinia, Araguaína e Tocantinópolis). É um projeto inovador horária com carga horária de 320 horas-aula e, tem a duração de 18 meses dividido em três módulos, e carga s os quais o acadêmicos tem que cumpri-los na integra para receber o título de: Educador político social do Envelhecimento. FERRAMENTAS DA COLHEITA Apresentamos alguns comentários e definições sobre o termo “história oral” e “memórias de velhos” que servirão para esclarecer o tema ora exposto. Entendemos a educação não somente como processo de socialização mas organização da personalidade e de grupos humanos pela interação consentida e intencional, podemos dizer que, ao inserir a memória coletiva como mediação educacional, teremos a solidariedade viva e a renovação de estoques interpretativos de entendimentos e de relações humanas particularmente entre gerações. (Both, 2001). Assim a história oral transforma-se num instrumento de autoridade compartilhada, revela-se como instrumento da educação, porquanto aperfeiçoa a [Type text] [Type text] [Type text] consciência dos grupos sociais que refletem no seu interior as dores inconscientes. Esta rompe com a história convencional uma vez que pretende educar pela memória. (Both, 2001). História oral é um recurso moderno usado para a elaboração de documentos, arquivamento e estudos referentes à experiência social de pessoas e de grupos. Ela é sempre uma história do tempo presente e também reconhecida como história viva. Neste método o coletivo não corresponde à soma dos particulares. Observância do indivíduo em sua unidade é básica para se formular o respeito à experiência individual, que justifica o trabalho com o depoimento. Nesse sentido a história oral é sempre social. (MEIHY, 2000). Há dimensões da aculturação que, sem os velhos, a educação dos adultos não alcança plenamente: o reviver do que se perdeu, de histórias, tradições, o reviver dos que já participaram e participam então de nossas conversas e esperanças; enfim, o poder que os velhos têm de tornar presente na família os que se ausentaram, pois deles ainda ficou alguma coisa em nosso hábito de sorrir, de andar. Não se deixam para traz essas coisas, como desnecessárias. (BOSI, 2007, p. 74) Segundo Both (2001), os conhecimentos dos mais velhos possuem ingredientes que transcendem às informações do ensino tradicional, eles traduzem para os alunos a possibilidade de olhar com outros olhos o mundo presente e ver a relatividade de nossas preocupações. No intuito de dar voz aos entrevistado optou-se por revelar os nomes dos mesmo. Este fato é justificado por Meihy: [...] a história oral se preocupa com as versões individuais sobre cada fenômeno e que ela apenas se justifica em razão da soma de argumentos que caracterizam a experiência em conjunto. Com isso afirma-se que cada depoimento para a história oral individual tem peso autônomo. A transcrição dos relatos gravados foi feita de forma interpretativa por parte dos pesquisadores, não fugindo a fidelidade das falas e em outros momentos foram transcritos na íntegra os depoimentos dos entrevistados. [Type text] [Type text] [Type text] O DESABROCHAR DOS IPÊS – RESULTADOS Na analise das informações coletados através das entrevistas e suas derivações, observamos que todos se consideram acadêmicos perenes da UMA, sempre envolvidos com os propósitos e convicções da missão da Universidade da Maturidade. Nota-se uma satisfação, auto confiança e realização pessoal após a conclusão do curso de Educador Político Social do Envelhecimento. O desejo de continuar ativo no trabalho e nos estudos é uma característica comum aos três casos analisados. Notamos certas peculiaridades no decorrer dos percursos, pertinentes a história de vida e contexto sócio-cultural, o que já esperávamos, e esse fato atende as expectativas de dar voz aos participantes no método de história oral. Na sequência, apresento as memórias contadas pelos ex-acadêmicos e a análise das entrevistas, conforme explicitado no item anterior. A primeira entrevista foi realizada com o Senhor José Mamedio Oliveira, nascido em 1952 na cidade de Coelho Neto - Maranhão, atualmente residente no Jardim Aureny III em Palmas – TO. Foi alfabetizado aos 20 anos. Casado, pais de 6 filhos, sendo apenas um biológico; orgulha-se em ser maranhense. Já Trabalhou com agrimensura, topografia e líder comunitário. Hoje desenvolve o projeto da primeira Secretaria de Inclusão Social e Direitos Humanos de Palmas no qual será o secretário a partir de Janeiro de 2013. Formado na 1ª Tuma da UMA em 2008. Ao ser questionado sobre sua vida antes de ingressar na Universidade relata que tinha muita vontade de iniciar um curso superior e conviver com a classe acadêmica, fato este que trazia um sentimento de curiosidade e ao mesmo tempo preocupação e ansiedade. Sentia essa necessidade devido ao meio em que estava inserido na sociedade, pela discriminação que sofria como demonstra na fala: Por eu viver num mundo social, porque eu tinha participação política, partidária e envolvido no nível social de classe média alta da elite. Que eu percebia o olhar das pessoas para mim. – Não Esse cara, o que [Type text] [Type text] [Type text] esse cara é? O nível de escolaridade dele, qual é o nível de escolaridade dele? Então eu percebia nos bastidores, havia comentários: - Ha! Ele é topógrafo? O que é topógrafo? Não sabem nem... RISOS. Então aquilo fazia com que eu pensasse de um dia fazer um curso em uma universidade. Entretanto, enfatiza nunca ter se sentido inferiorizado. É claro em sua entrevista ser um homem determinado, disciplinado, estrategista, articulador e visionário; otimista e persistente. A busca por conhecimento e informação esta presente a todo o momento, durante entrevista, relata os cursos que fez e o porquê fez, planejou ser comunitarista independente. Então pergunto a ele como soube da UMA e ele diz: “Falar da UMA é falar de uma grande realização, de um grande sonho. [...] Foi através da rede de amigos que eu formei, dentro do 3º setor e dos movimentos comunitários. Foi a gerente do posto de saúde Liberdade do Setor Aureny III que me ligou informando e incentivando a entrar na UMA”. Ele conta que não foi fazer a inscrição no primeiro momento e que surgiu um segundo convite por outra pessoa da sua rede de amigos e que dessa vez aproveitou a oportunidade. Relata: Percebi que eu tinha perdido uma oportunidade de não ter entrado no inicío das aulas. Após a formatura, Seu Mamedio, continuou os estudos, fez uma pós graduação em Intermediação de Conflitos, Gestão do 3º Setor e atualmente esta cursando a especialização em Gerontologia. Ele fez longos relatos sobre seus feitos quanto acadêmico, sua criatividade e orgulha-se do tema escolhido para o seu projeto de conclusão do curso da UMA: Fui fazer minha apresentação. Foi a apresentação que mais deu hibope, foi o que as pessoas mais se apaixonaram ... Daí que eu fui divulgado, porque um casal de jornalistas do INCRA vieram assistir minha apresentação e jogaram na mídia. E eu fiquei famoso. RISOS. Resultado fui chamado para fazer palestras junto com o pessoal do INCRA nos assentamentos INCRA que eu visitei RISOS. Isso levou a outros projetos... Neste momento torna-se claro as transformações na sua vida após a formatura quando conta: [Type text] [Type text] [Type text] O que mais me enriqueceu na UMA foi ... me enriqueceu conhecimento e me proporcionou a oportunidade de eu me expressar melhor. Imagina bem. Eu numa Conferencia Nacional em Brasília, falando para 30 mil pessoas. Chegou um momento que me soltei mais um pouco e falei para 50 mil pessoas no Mané Garrincha ... Trouxe mais segurança, mais convicto do que eu realmente estava falando, do que eu estava querendo. Quando pergunto a ele sobre sua influência em relação aos filhos e familiares, diz cobrar deles a criatividade, sua esposa ingressou na UMA após ele ter concluído e duas de suas filhas estão cursando o ensino superior. Recorda: “Esse foi o ponto mais positivo que tive... Agora, estou cobrando dos homens, esses pararam no tempo”. Uma fala do Seu Mamedio surpreende e torna nítido sua característica de estrategista: ... De 2000 a 2010, foram 10 anos, pontuando fazendo um amigo por dia. Já Teve essa idéia? RISOS Você conhece 10 pessoas durante o dia, 30, 40, 50 ou 100. Você conversa com 100 pessoas, que é o meu caso, minha função... Ai vou selecionar 1 a noite. Eu anoto os nomes de quem me interessa e tal. Ai de noite eu vejo quem vai ser. E esse vai para outra página, a dos amigos. RISOS. E ele termina dizendo que seus objetivos são: fazer o curso de direito, psicologia e se tornar deputado federal e não é sonho, ele diz como e com quais recursos alcançará seus objetivos A UMA é meu alicerce. Eu estou na melhor fase da minha vida, não tive a oportunidade de estudar novinho como você... Agora é como um começo, é engraçado! Fiz 60 anos de idade em 12 de agosto passado. E ai, agora pra mim é um pilar, um andaimezinho que eu tô andando ai. A segunda entrevistada foi o Senhor Hely de Carvalho Marques, nascido em Minas Gerias no ano de 1933. Reside no centro de Palmas-TO com sua segunda esposa à qual é 30 anos mais nova que ele, estão juntos há 7 anos. Deixa explícita sua religiosidade em cada acontecimento narrado, romântico da vida e dedicado nas suas responsabilidades com o trabalho e sua família. [Type text] [Type text] [Type text] Fala dos 8 filhos, 6 netos, 4 netas e de sua primeira esposa com muito carinho. Trabalhou durante 40 anos em duas empresas no ramo de pedras de revestimento. Foi casado durante 47 anos, conta a dura tarefa de superar a perda dela, e após ficar viúvo veio para Palmas com seu filho, conta: “Já em Palmas continuava com aquela vida triste, faltava um pedaço de mim”. Aposentado desde 1998, recebeu o título de Educador Político Social do Envelhecimento em 2010, 3º turma formada pela UMA. Hoje continua ativo trabalhando na secretaria da Universidade pela manhã e de tarde faz um curso de informática, na qual iniciou após fazer o estagio exigido para a graduação da UMA. Sobre suas memórias antes de ingressar na UMA ele narra, “Eu ficava só em casa, fechado dentro de mim. Esperava em casa a Magda chegar do trabalho”. Foi através de sua segunda esposa, Magda, que ele ficou sabendo da UMA. Lembra sentir medo da ideia de ir para uma universidade, não tinha vontade de conhecer o estado, não queria nem mudar do bairro onde morava: “Eu achava que isso aqui era muito pra mim, um vestibular de 350 pessoas. O Cuíca ficou cheio, sabe?” Pergunto como ele se sentia depois que começou a frequentar as aulas, ele relata sua enorme satisfação: Minha vida mudou, encontrei velhos muito piores que eu... Comecei a gostar, fazer amizade, conversar com as pessoas, achar interessante as aulas... A UMA não tem porta de saída... Nos não entramos na UMA, a UMA entra em nos, ela tomou conta de nós, entendeu? Nós precisamos da UMA. Uma pessoa que tem consciência do que é isso aqui ele precisa disso aqui, por que aqui nos leva uma maneira de saber viver e conhecer a mim mesmo. Entendeu? Sabe? Ver o que eu sou, com as aulas você vai despertando, tendo interesse. Hely emociona-se ao lembrar o dia da formatura: “Na minha formatura eu vi como a UMA é grande”. Na sequência deixa evidente sua influência com os netos, dá uma pausa, respira fundo e com olhos marejados e voz embargada pela emoção diz: Como a UMA muda uma pessoa! A minha formatura entrou na internet, foi visto no mundo inteirinho. Pausa novamente, se emociona e retoma: Meu neto estava vendo, lá onde ele mora, vendo minha [Type text] [Type text] [Type text] formatura. Ele disse que eu, o vô, estava servindo de exemplo pra eles. Sabe? Eu sou coruja. Esboça um discreto sorriso. Finaliza seus relatos contando se sentir hoje respeitado, feliz e amado. Continua estudando e enfatiza que amar é muito bom mas se sentir amado é um reconhecimento pelo que ele faz. A terceira entrevistada foi a Senhora Maria Margarete Silva de Souza nascida e criada em Nova Friburgo, Rio de Janeiro em 1050. Nesta mesma cidade casou-se e criou os seus 4 filhos, sendo uma sobrinha, a qual criou desde os 2 anos, vó de 5 netos. Apesar da distância, relata ser muito presente conversando todos os dias por telefone ou pela internet, pois todos eles moram no estado do Rio de Janeiro. Ficou 35 anos sem estudar, parou os estudo no 8º ano. Veio para Palmas a convite do seu irmão e hoje mora com o marido, o irmão e a cunhada, os quais ela refere ser a família dela aqui. Aposentada desde os 50 anos começou a trabalhar aos 13 anos em uma fabrica na qual ficou durante um ano trabalhando escondida da fiscalização até completar 14 anos. Hoje trabalha na secretaria na Universidade da Maturidade do Tocantins. Observamos em suas falas uma mulher “antenada” e moderna, dinâmica, proativa e dedicada as suas responsabilidade atribuídas. Solicito que me conte um pouco sobre suas lembranças antes de iniciar o curso universitário, ela relata que 1 mês após mudar para Palmas se sentia entediada e foi à uma escola infantil perto da sua casa se oferecer como voluntária: “Meu sonho sempre foi ser professora mas nunca realizei”. Relata que descobriu a UMA através de um cartaz que viu no SESC, onde fazia hidroginástica. Ao vislumbrar a possibilidade de iniciar na UMA sentiu-se envergonhada, pois sua escolaridade era até o ensino fundamental. Em decorrência deste fez o EJA para finalizar o ensino médio, entretanto fez apenas o primeiro ano, pois sua professora disse que ela estava muito avançada para a turma e indicou que ela fizesse o “provão” para concluir o ensino médio, atualmente este “provão” não existe. E complementa: dei mais um passo, avancei muito. Ao se retratar das lembranças do início no curso na UMA diz: [Type text] [Type text] [Type text] Começar na UMA foi um encantamento eu não imaginava o que fosse um campus universitário. Eu achei isso aqui um local assim... uma coisa diferente... não era o que eu imaginava de um campus universitário. E me apaixonei pela UMA logo de cara... Um mundo fascinate... Abre muito horizontes, não só para mim. Na minha turma, tinha pessoas com problemas de depressão e muitas outras coisas. Sabe? E através da UMA você consegue aquela liberdade. Liderei a comissão de formatura, por ter mais tempo disponível, organizei a festa, as lembrancinhas... foi lindo! Entretanto, ela é mais enfática nas lembranças após a conclusão do curso. Conta que surgiu duas oportunidades de emprego, uma dentro da própria universidade e outra para administrar um hotel na cidade de Xambioá –Tocantins. Ela optou pelo hotel, trabalhou por 2 anos até o final do contrato de arrendamento do hotel. Nota-se a importância da educação quando ela relata: Antes de entrar na UMA eu só sabia ligar o computador e ficar brincando na frente dele, hoje não. Tive que aprender na “marra” a abrir um email, ver noticias na internet, fazer trabalhos. O hotel que eu trabalhei era todo informatizado, ficha de clientes, controle de estoque, eu fazia os relatórios e tinha que enviar para minha cunhada que morava aqui em Palmas e que havia arrendado o hotel. Eu me sinto superior aos meus filhos, entendeu? Já tem alguns formados, eu senti que posso falar com eles “de cara a cara”. Entendeu? Porque eu não tinha nada, tinha só ate o 8º ano, ai eu falei: - Não tem que ir pra frente. Foi um crescimento muito bom. Considero que tive duas fases na minha vida. Uma antes da UMA e outra pós UMA. Tive muita oportunidade de vivenciar coisas novas, lugares que nunca pensei em conhecer... Em seguida ela volta para a sua cidade natal em Nova Friburgo-RJ por sugestão do marido onde ficaram por 9 meses, ela foi diagnosticada com depressão a qual ela remete ao fato de ter que ficar apenas cuidando da casa, fazendo comida e dormindo: Eu não tinha uma vida ativa. Por sugestão do médico ela retorna a Palmas, onde imediatamente, procura a UMA para trabalhar. Quanto as influências passadas para os filhos, ela diz: “nunca pude cobrar muito dos meus filhos. Achava que o importante era estudar e arrumar um bom emprego. Faz o ensino médio, vai trabalhar...era o que a gente achava porque foi o que a gente recebeu a vida inteira. Hoje já tenho uma nova visão”. [Type text] [Type text] [Type text] Conta que seus pais eram analfabetos e que há 50 anos não era prioridade colocar os filhos na escola: “ia porque tinha que ir”, conta Margarete. Narra que hoje cobra dos seus filhos e quando se refere as duas netas que estão terminando o ensino fundamental diz: “queremos o máximo de aproveitamento para eles né? A chance que não tive, a oportunidade”. Ela retrata a sua influência com o marido: Meu marido entrou na UMA, esta estagiando e fazendo as aulas. To sentindo que agora ele vai começar a se soltar mais. Ele é muito tímido, tinha vergonha, inibido, mais resistente. Porque a UMA da essa oportunidade também, de ser mais livre, perder a vergonha, entrosar com as pessoas. Também veio de pais muito antigos que achava que estudo não precisava, que tinha que trabalhar para levar sustento para casa. Conclui contando seus planos para o futuro: Meu sonho era ser professora de História, porque eu achava uma matéria fascinante. Mas hoje eu já pensaria numa Assistente Social, Comunicação, não sei. Vou pensar em fazer alguma coisa no próximo ano... hoje me sinto realizada e produtiva. OBSERVANDO AS FLORES DO IPÊ – CONCLUSÕES As narrativas nos mostra que a satisfação por ser produtivo e o sentimento de reconhecimento pelos trabalhos executados atualmente, traz mais sentido a esta jornada do que o salários que é pago à eles. Para Both, deduz-se que o modo como o velho está presente no mundo é que qualifica seu existir, sua essência é sua existência. Esses três casos influenciam diretamente na vida dos seus filhos, netos e familiares da mesma forma que seus pais influenciaram a eles. A desconstrução destes paradigmas por parte dos velhos é diretamente relacionados a instituição provedoras destas inquietações do saber, utilizando as definições de Both, a escola emprestaria a sua medicação para a renovação das estruturas de personalidade que, sozinhos, os mais velhos não alcançariam. [Type text] [Type text] [Type text] Este três casos de sucesso são exemplos para todas as gerações, entretanto devemos ressaltar que o caminho da educação no Brasil, principalmente quando tratamos de educação para velhos, só começou. Ainda há muito que ser realizado para a população que mais cresce no planeta. REFERÊNCIAS ALVES, Rubem. Entre a ciência e a sapiência: O dilema da educação. Edições Loyola, São Paulo, 1999. BOSI, Ecléia. Memória e Sociedade: Lembranças dos Velhos. 14ºed. Companhia de Letras, São Paulo, SP. 2007. BOTH, Agostinho. 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Edna Mendonça Oliveira de Queiroz (orientadora) Faculdade de Educação – UFG [email protected] RESUMO O objetivo deste trabalho é discutir as mediações familiares formadoras de jovens ingressantes na UFG pelo Programa UFGInclui, uma ação afirmativa implementada nesta universidade a partir de 2009. As ações afirmativas partem do reconhecimento de que determinados grupos que sofreram processos de discriminação que interferem na definição de oportunidades, especialmente no campo da educação e do trabalho, devem ser compensados por ações especialmente dirigidas a eles. São apresentados os resultados parciais de uma pesquisa em andamento, que realiza um estudo longitudinal com jovens que ingressaram por meio do programa UFGInclui no primeiro vestibular de 2009. Trata-se de um estudo empírico, a partir de procedimentos predominantemente qualitativos. As reflexões preliminares a serem apresentadas fundamentam-se nos dados obtidos por meio do procedimento de grupo focal que serão discutidos a partir dos referenciais teóricos. A análise dos dados possibilitou apreender o papel socializador da família na vida dos jovens, o que pôde ser discutido a partir da importância atribuída pelo jovem à permanência dos vínculos afetivos e da participação ativa da família antes e após o ingresso no ensino superior. Observou-se que, para além do desejo por parte dos estudantes e de suas famílias no prosseguimento dos estudos, as condições excludentes impostas pela sociedade configuram-se obstáculos tanto para a entrada como para a permanência desses estudantes na universidade. Constatou-se que, ainda que conte com o apoio afetivo e emocional da família no enfrentamento de questões envolvidas na trajetória acadêmica, outras demandas, como as condições socioeconômicas, desafiam o ingresso e a permanência do jovem na universidade. Palavras-chave: jovens estudantes; mediações familiares; programa UFGInclui. O programa UFGInclui, instituído na Universidade Federal de Goiás (UFG) desde 2009, está inserido no quadro de políticas de ação afirmativa para o ensino superior no Brasil. As políticas de ação afirmativa (também chamadas “política de cotas”, “reserva de vagas” ou “ação compensatória”) são, segundo Moehlecke (2002), uma das propostas que buscam reverter a situação de discriminação e de desigualdade infringida a certos grupos, que interfere na definição de oportunidades no campo do trabalho, da educação e da vida política. [Type text] [Type text] [Type text] O sistema de cotas, que consiste em designar um percentual de vagas em alguma área específica a ser ocupado por determinados grupos, tornou-se uma ação afirmativa bastante difundida. As propostas de ações afirmativas nas universidades brasileiras ocorreram em meio a um contexto de expansão da escolarização em todos os níveis. No ensino superior era grande a pressão para o aumento de vagas, especialmente a partir do final década de 90, período em que foram intensificados os esforços para garantir a universalização do ensino fundamental e quando ocorria progressiva expansão do ensino médio. Há que se destacar, ainda, nesse momento, a expressiva atuação dos movimentos sociais que reivindicavam igualdade de oportunidades na área da educação. O aumento de estudantes que concluíam o ensino médio, mas eram excluídos nos processos de seleção das universidades, especialmente as públicas, concorreu para que fossem repensadas as formas de ingresso (MOEHLECKE, 2002, 2004). Piovesan (2008) ressalta que o debate sobre a instituição de cotas nas universidades acentuou-se também após a participação do Brasil na Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, realizada em 2001 em Durban, na África do Sul. A participação do país contribuiu também para adoção de ações afirmativas em outras áreas – o documento oficial brasileiro apresentado à Conferência defende a adoção de medidas nas áreas da educação e do trabalho. As universidades estaduais do Rio de Janeiro31 foram pioneiras na implementação das ações afirmativas no Brasil quando, em 2002, foi aprovada uma lei estadual que estabelecia cotas raciais e sociais para a seleção de estudantes nestas universidades. Gradualmente outras instituições de ensino superior adotaram ações afirmativas em seus processos seletivos, em meio a debates sobre sua legitimidade e possibilidades no que se refere à democratização do acesso. Em agosto de 2012 foi sancionada pelo governo federal a Lei nº. 12.711/2012 estabelecendo que todas as universidades e institutos federais destinem, em um período de até quatro anos, metade das vagas aos estudantes 31 As universidades foram: a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade do Estado do Norte Fluminense (UENF). [Type text] [Type text] [Type text] oriundos de escola pública – a lei contempla ainda especificidades com relação à renda e à autodeclaração de pretos, pardos e indígenas32. A emergência das ações afirmativas deve ser compreendida nos âmbitos retrospectivo e prospectivo: como políticas de reparação de um passado discriminatório e, também, de promoção da transformação social. Os jovens que ingressam no ensino superior por meio dos programas de ação afirmativa são aqueles que vivenciam processos de exclusão social produzidos historicamente, sendo possível inferir que, por meio destas ações, objetiva-se promover as possibilidades de ascensão social até o nível de equiparação com os demais (PIOVESAN, 2008). Ao tratar da exclusão, Wanderley (2006, p. 17) afirma que “sob esse rótulo estão contidos [...] uma série de manifestações que aparecem como fraturas e rupturas do vínculo social (pessoas idosas, deficientes, desadaptados sociais; minorias étnicas ou de cor; desempregados de longa duração, jovens impossibilitados de aceder ao mercado de trabalho; etc.)”, compreendendo todos que têm negado o seu acesso aos bens materiais ou simbólicos da sociedade. A adoção das ações afirmativas com vistas a amparar grupos que vivenciam processos de exclusão tem suscitado diversos debates, sendo relevante considerar os dilemas envolvidos. Pesquisas mostram que, embora os ingressantes por meio das ações afirmativas apresentem percurso acadêmico satisfatório, apresentando bom desempenho na universidade, há que se considerar que a sua permanência é desafiadora, compreendendo-se que as trajetórias de vida, familiar e de escolarização, bem como a situação socioeconômica destes jovens, são marcadas por desigualdades que afetam sua trajetória acadêmica (HOLANDA, 2008; PENHA-LOPES, 2008). Este artigo tem o objetivo de compreender os processos familiares formadores dos jovens excluídos historicamente, seja por condição econômica ou racial. É resultado parcial de uma pesquisa em andamento, que realiza um estudo 32 Por conta desta lei, alterou-se a ação afirmativa na UFG e a partir do vestibular 2013/1 o estudante oriundo de escola pública deve optar pelo “sistema de Reserva de Vagas”, assegurado pela lei federal. O programa UFGInclui permanece garantindo vagas direcionadas para candidatos indígenas, quilombolas e surdos. [Type text] [Type text] [Type text] longitudinal com jovens que ingressaram na UFG no primeiro vestibular de 2009, por meio do programa UFGInclui, objetivando apreender a inserção da família como instância de mediação na formação destes estudantes, antes e durante sua trajetória na universidade. Trata-se de um estudo empírico, a partir de procedimentos predominantemente qualitativos, como entrevistas e grupos focais. Neste trabalho são apresentadas reflexões preliminares realizadas tendo por base os dados obtidos por meio do procedimento de grupo focal, que serão discutidos a partir dos referenciais teóricos. Os grupos focais realizados foram organizados com base em dois conjuntos de cursos: um formado pelos cursos mais concorridos no vestibular e que mobilizaram maior número de cotas, e outro conjunto formado pelos cursos que utilizaram menor número de cotas. Esta organização teve o propósito de buscar a apreensão dos processos de maior ou de menor exclusão. Por meio dos dados apreendidos nos grupos foi possível discutir aspectos relacionados ao desempenho escolar e acadêmico, à situação socioeconômica, às relações interpessoais fora e dentro da universidade e às mediações familiares dos estudantes. O presente trabalho tem por objetivo discutir, principalmente, este último aspecto. OS JOVENS ESTUDANTES E SUAS FAMÍLIAS Ainda que a família tenha sofrido transformações ao longo do tempo, em especial no último século, e alguns estudiosos defendam o seu declínio e arrefecimento no papel socializador das novas gerações (SINGLY 2007; DUBET, 1994; WAUTIER, 2003), pesquisas no Brasil têm mostrado que ela se mostra vigorosa (NOVAES, VANNUCHI, 2004; CANEZIN GUIMARÃES et al., 2003; QUEIROZ, 2008). Todos os estudantes que participaram dos grupos focais referiram-se aos vínculos afetivos com suas famílias, em especial com a mãe. A família é compreendida pelos jovens como uma importante instância em suas vidas, corroborando as pesquisas que afirmam que o jovem contemporâneo tem atribuído confiança ao grupo familiar e o tem considerado como um espaço de proteção e apoio. [Type text] [Type text] [Type text] Os jovens ingressantes pelo programa UFGInclui estudados, de modo geral, valorizam os grupos familiares a que pertencem, colocando em destaque a participação dos pais na realização do seu projeto escolar. Considerando a perspectiva psicanalítica, os vínculos familiares formados por meio de identificações que se iniciam na infância, gradativamente, vão constituindo a estrutura psíquica dos sujeitos. A juventude é marcada por intenso processo de identificações, internas e externas à família, que culminam em uma “emancipação” de grande significado no desenvolvimento psíquico (FREUD, 2002). Esses processos podem ser observados nos relatos dos estudantes. Um dos estudantes, ao falar sobre sua relação com a mãe, permite apreender os mecanismos identificatórios que constituem essa relação: “minha mãe pra mim é a melhor psicóloga do mundo, ela gosta do que eu gosto, essa visão de achar que o estudo melhora as coisas, as pessoas, é por meio de estudar, de conhecer as coisas, então ela sempre esteve junto comigo”. Este relato expressa a forte presença da figura materna nos projetos de vida deste estudante e revela a relevância da família como instância socializadora. Neste sentido, a saída ou a permanência no lar, e as implicações decorrentes, podem constituir elementos significativos para análise. A maioria dos estudantes participantes dos grupos focais não são nascidos em Goiânia, cidade onde funcionam os cursos que frequentam. Alguns mudaram com suas famílias para a capital ou para a região metropolitana, outros moram sozinhos e ao relatarem sobre a experiência de saída da casa dos pais expressaram como a família é vista como um espaço de proteção, cujo distanciamento causa insegurança. Um estudante de outro estado que se mudou com o irmão – ambos em busca de acesso ao ensino superior – afirmou: “agora pra sair de casa aí foi o problema, porque era muito apegado aos pais [...]. A vontade era muito grande, por isso que a gente lutou pra sair de casa, mas tinha que sair [...], porque lá a vida nossa ia ser capinando roça mesmo”. Outro estudante apresentou dilema semelhante e relatou que o apoio da mãe foi importante nesta nova etapa da sua vida, revelando que mesmo a conquista de certo grau de autonomia, contou com o estímulo e a participação da família. Segundo ele, a mãe “foi muito importante, assim, me incentivando, [Type text] [Type text] [Type text] porque no começo é ruim, primeira vez que você sai de casa [...], morando de aluguel, cozinhar, ter que fazer várias coisas, então é difícil ficar. E ela: não, fica.” A juventude, constituindo-se como um momento de busca por autonomia e emancipação familiar, é marcada por rupturas afetivas caracterizadas pela ambivalência. Para Freud (2002, p 104), trata-se de uma “das realizações psíquicas mais significativas, porém também mais dolorosas, do período da puberdade: o desligamento da autoridade dos pais, unicamente através do qual se cria a oposição, tão importante para o progresso da cultura, entre a nova e a velha gerações”. Trata-se de um processo complexo que suscita algumas questões no que refere aos jovens que vivenciam processos de exclusão. Para Queiroz (2008), os jovens oriundos de famílias de baixa renda expressam o projeto de emancipação sob a justificativa de poderem alcançar uma melhor qualidade de vida. Neste caso, a conquista da emancipação e de certa autonomia é, para estes jovens, uma necessidade, produzida e alimentada pela sociedade capitalista. Assim, as famílias investem na escolarização dos filhos com o objetivo de que tenham no futuro melhores condições socioeconômicas, como indica a fala de um dos estudantes: “minha mãe mais o meu pai sempre davam força pra gente terminar porque eles não têm condições de pagar, então a gente assim, incentiva muito, muito mesmo pra gente terminar, assim, apoio total assim, da família”. Estudos sobre os jovens, a família e sua relação com a escola têm discutido que o significado que a família atribui à escolarização dos filhos, bem como a forma como ela se organiza para viabilizar este projeto de escolarização, constituem fatores determinantes para o prolongamento dos estudos dos jovens (SPOSITO, 2005; NOGUEIRA, ROMANELLI & ZAGO, 2003; QUEIROZ, 2008). As informações obtidas junto aos estudantes participantes do programa de inclusão da UFG corroboram essa observação, pois revelam o reconhecimento de que o apoio ou a participação da família em suas trajetórias escolares, desde o ensino básico, afetou de modo significativo o percurso que tiveram. Destaca-se o fato de que pelo menos um membro da família participou dessa trajetória de forma mais ativa (incentivando, auxiliando nas atividades escolares e/ou [Type text] [Type text] [Type text] “cobrando” o bom desempenho). Em geral, a mãe desempenhou este papel, como pode ser visto na fala de um estudante: “em relação a incentivo financeiro, psicológico e tal eu sempre tive mais da minha mãe mesmo”. Outro estudante, de maneira semelhante, afirma: minha mãe fala muito de estudar, estudar, estudar. Na oitava série, eu não era assim, não estudava muito, só que ela falava que eu tinha que estudar.“O ENEM, a partir do primeiro ano você já pode fazer ENEM, então, você já vai ter que estudar”. Aí já ficava falando na minha cabeça, no primeiro ano eu, realmente, estudei muito. Os dados sobre a participação da família na vida escolar dos estudantes evidenciam que os valores e as atitudes dos pais com relação aos estudos influíram no processo de escolarização dos filhos, tema investigado por Wills e aprofundado por Boudon, que concluiu que a aspiração escolar do filho depende da imagem que a família tem de si, que tem estreita relação com a história da família e a trajetória escolar dos seus membros. Este histórico influenciaria a decisão do sujeito em dar ou não continuidade ao projeto de escolarização (GOMES, 1997). Pelos dados analisados, foi possível constatar que a presença na família de pessoas com nível superior ocorre com maior frequência nos cursos cuja utilização de cotas foi maior, em geral cursos mais concorridos como direito, medicina, engenharia ou odontologia. Grande parte dos estudantes tinha algum membro da família que já havia ingressado ou concluído o ensino superior, conforme relata alguns estudantes: “igual, por exemplo, minha mãe é professora de história, é interessante”; “no meu caso, o meu pai é advogado”. Um dos estudantes, além de mostrar esta realidade, discute outras influências que se fizeram presentes na escolha profissional: [...] eu escolhi já meio infantil, sonho mesmo de ser médico. Tem aquela imagem de que o médico é idealizado, ajuda as outras pessoas, um pouco de altruísmo [...]. Então tem um pouco de infância. Mas também pode ter relação com meus pais, os dois são odontólogos, uma coisa já meio semelhante, aí já meio direcionando. Por outro lado, todos os estudantes dos cursos que utilizaram menor número de cotas relataram que foram os primeiros em suas famílias a entrarem no ensino superior. Um deles relatou, ainda, que o incentivo se relaciona à [Type text] [Type text] [Type text] possibilidade de que o ensino superior propicie ascensão social: “mas, assim, desde antes eu já queria fazer faculdade, é uma questão também de você ter ascensão social. Porque, na família ninguém tinha feito ainda, (...) o pessoal mal chegava no ensino médio já parava”. Também Penha-Lopes (2008), ao avaliar a trajetória acadêmica de estudantes que ingressaram pelas ações afirmativas na UERJ, constatou que estes universitários, oriundos das classes populares, são muitas vezes os primeiros da família a cursarem a universidade. Este estudo mostra também que há, por parte destes estudantes, a crença e a esperança de que, por meio do ensino superior, possam alcançar a ascensão social. Compreende-se, assim, que o ingresso no ensino superior – embora não seja propriamente apenas uma decisão, pois se circunscreve a uma diversidade de condições que podem obstacularizar este ingresso – expressa o prolongamento da escolarização, impossibilitada à grande parcela dos jovens brasileiros. No entanto, permanecer ou não na escola está para além de um processo que ocorre no âmbito individual; os parâmetros que regularão essa permanência se relacionam às posições sociais e de classe, as quais dão aos indivíduos e suas famílias uma estimativa diferenciada de riscos e benefícios associados à determinada decisão. No que se refere às condições socioeconômicas dos estudantes pesquisados, aos recursos que detêm para sua manutenção dentro e fora da universidade, observa-se que, em geral, os estudantes dos cursos que utilizaram maior número de cotas recebem auxílio financeiro da família, ainda que alguns trabalhem, como é o caso de um acadêmico de um destes cursos que após relatar exercer atividade remunerada na universidade (monitoria), afirma: “mas mesmo assim eu ainda sou sustentado, às vezes eu ainda faço alguma coisa ou outra...”. Outro estudante complementa: “a minha mãe que me sustenta, minha família que me sustenta, por causa daquela visão que eu falei, me deixar só por conta de estudar, eu não tenho dificuldade alguma em me dar um suporte pra eu ficar por conta de estudar.” Além disso, em suas trajetórias escolares estes estudantes tiveram comparativamente aos estudantes dos cursos menos concorridos maior investimento financeiro da família o que propiciou, por exemplo, a realização de cursos pré-vestibulares. [Type text] [Type text] [Type text] Os estudantes que ingressaram para os cursos que utilizaram menor número de cotas relatam que dependem de auxílio financeiro da universidade, sendo esta a única fonte para subsistência. Alguns residem na Casa do Estudante tendo que comprovar as precárias condições socioeconômicas e todos eles trabalhavam antes do ingresso na UFG e auxiliavam financeiramente suas famílias. Uma vez na universidade, tiveram que sair de seus respectivos empregos e ingressaram em atividades remuneradas (bolsas), mas não puderam mais auxiliar suas famílias. Nesse sentido, relata um estudante: “eu conversei com a minha família, que eu tava (sic) prejudicado tanto no trabalho quanto na faculdade, aí pra mim não ficar prejudicado nos dois é melhor ficar só em um, aí fiquei só aqui”. Outro estudante afirma ainda: “Agora a gente parou de trabalhar e tá (sic) só com essa bolsa aí [...] dá só pra gente mesmo, aí não dá pra mandar mais...”, indicando não poder auxiliar financeiramente sua família. Nessa perspectiva, é possível inferir que, ainda que as condições socioeconômicas de todos os estudantes sejam desfavoráveis, há diferença entre as condições daqueles que ingressaram nos cursos mais concorridos e os que ingressaram em cursos menos concorridos. Conforme dados já divulgados da pesquisa (RESENDE et. al., 2010), dentre os ingressantes pelo sistema universal da UFG no primeiro vestibular de 2009, 58,4% tem renda familiar entre R$ 1600,01 e R$ 8300. Já entre os que ingressaram pelo programa UFGInclui, 65% têm renda de até R$ 1600,01. O percentual de estudantes que ingressaram por meio das cotas com renda de até R$ 1600,01, cai para 42,4% quando são considerados apenas os pertencentes aos cursos mais concorridos da universidade. Pesquisas (PENHA-LOPES, 2008; HOLANDA, 2008) têm revelado que a situação socioeconômica é considerada um fator relevante para a permanência dos jovens ingressantes pelo sistema de cotas na universidade. Ao indicar a necessidade dos jovens da UERJ, que ingressaram por meio de ações afirmativas, de conciliar trabalho e estudo, Penha-Lopes (2008) discute o quanto as condições socioeconômicas podem influenciar a permanência na universidade. Outro estudo realizado na mesma instituição por Villardi (2007 apud HOLANDA, 2008, p. 4) aponta que “os cotistas têm dificuldades, sim, mas não de aprendizagem. A maioria dos estudantes tem dificuldades financeiras graves que, se não forem [Type text] [Type text] [Type text] sanadas levarão ao fracasso da política”. Estes dados revelam que os processos de exclusão social vivenciados por estes jovens não se encerram com o ingresso na universidade. Na UFG, os estudantes reconhecem que a condição socioeconômica de suas famílias e a qualidade do ensino básico pode influenciar o acesso e a permanência na universidade. Um estudante de um dos cursos que utilizaram maior número de cotas afirmou que alunos oriundos de escola pública que desejam ingressar no ensino superior encontrariam algumas dificuldades: por exemplo, ele não vai ter o mesmo suporte que uma família com renda maior teria; ele pode acabar tendo que trabalhar, a família pode depender dele, e ele não vai ter suporte para ter tempo e dinheiro para comprar livros; e ele não vai conseguir atingir a meta dele que são os pontos pra passar no vestibular de um curso um pouco mais concorrido, aí é justamente o que influencia. Outro estudante acrescenta ainda preocupações relativas às possibilidades que tais estudantes têm na saída da universidade: [...] um aluno da escola pública, se ele não tiver uma carga já de família pra prestar pra um curso tão concorrido, ele pensa: Nossa, será que eu vou ser bem sucedido, vou ter capacidade de comprar livro... Tem curso que é integral, eu vou ter que ficar sem poder trabalhar, e também quando eu sair, eu vou fazer o que? Por exemplo, medicina, odonto, tem também a questão de sair e fazer alguma coisa, montar um consultório, montar um escritório, então quando eu sair, se eu formar em direito, quando eu sair eu não vou ter dinheiro para montar um escritório, então é melhor fazer um curso que eu não preciso disso, então é melhor fazer um curso que eu não preciso disso, por exemplo, eu vou virar professor. As preocupações expressas pelos estudantes revelam os temores que experienciam no enfrentamento aos desafios que constituem suas vidas. Os comentários que fizeram sobre os colegas que ingressaram em cursos com menor utilização das cotas, não os excluem das dificuldades que enfrentam no seu cotidiano e que terão ainda que enfrentar no futuro. Evidencia o fato de que, em diferentes proporções, a família se constitui como uma instituição socializadora fundamental na vida dos estudantes. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES [Type text] [Type text] [Type text] A análise dos dados possibilitou apreender que a família tem atuado como uma instância fundamental na vida dos jovens estudantes que ingressaram na UFG por meio das ações afirmativas. A observação dos vínculos afetivos familiares constituindo o cotidiano dos estudantes, a dos processos de identificação que se revelam em seus relatos, enfim, o reconhecimento da “presença” da família em suas vidas são alguns dos aspectos que possibilitam concluir que a família mantém seu papel socializador para o jovem. O estudo mostrou, ainda, que os processos familiares foram determinantes para a escolarização dos participantes da pesquisa, tanto no que se refere ao ingresso no ensino superior, quanto nas etapas anteriores de ensino. As relações constituídas na família, os valores e atitudes dos pais em relação aos estudos constituíram mecanismos de adesão ao projeto de permanência na escola e, em consequência, permitiu o prolongamento da escolarização, chegando à universidade. Assim, constatou-se que as condições socioeconômicas afetam sobremaneira o acesso e a permanência dos estudantes na universidade, ainda que ingressantes pelas políticas de ações afirmativas. Trata-se de um desafio a ser enfrentado, pois obter um acesso à universidade pública, com todas as dificuldades que isso implica, não significa que os problemas terminaram. Podese, na verdade, aventar que as dificuldades são acirradas, visto haver certa expectativa, por parte das políticas e dos próprios estudantes e suas famílias, de que, agora, pelo esforço próprio, eles devem obter êxito nesse projeto, já que houve o ingresso antes obstaculizado. A investigação constata que se trata de uma questão complexa, que não pode ser entendida apartada das condições estruturais da sociedade, já que as ações afirmativas na universidade buscam promover a inclusão de estudantes em uma sociedade excludente. Assim, os estudantes e suas famílias experienciam processos de exclusão que se reproduzem cotidianamente, ainda no interior de propostas que prometem incluir. REFERÊNCIAS [Type text] [Type text] [Type text] CANEZIN GUIMARÃES, Maria Tereza et al.. Juventude, educação e campo simbólico. Goiânia: Ed. UCG, 2007. DUBET, François. Sociologia da experiência. Lisboa: Instituto Piaget, 1994. FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Rio de Janeiro: Imago, 2002. GOMES, J. Jovens urbanos pobres: anotações sobre escolaridade e emprego. Revista Brasileira de Educação, n. 5, p. 53-62, 1997. HOLANDA, M. A. de P. G. Trajetórias de vida de jovens negras da UNB no contexto das ações afirmativas. 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[Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT1- Cultura e Processos educacionais PROPAGANDA: IMPLICAÇÕES DA PUBLICIDADE NA FORMAÇÃO DE VALORES NA INFÂNCIA Humberto Rocha de Souza Dra. Maria Nalva R de Araujo: Orientadora Universidade do Estado da Bahia-UNEB [email protected] RESUMO O presente trabalho é resultado de uma revisão bibliográfica realizada acerca de propagandas veiculadas na mídia, destinadas ao público infantil. Este estudo procura sintetizar as implicações das diversas campanhas publicitárias na formação de valores da criança, considerando que no atual momento histórico da TV brasileira, percebe-se muita publicidade destinada a este mercado que a cada ano cresce. Vale ressaltar, que é nesse universo de consumo e propaganda que extrapola os muros escolares, que a prática docente está inserida. Desta forma, são apresentadas ao longo do texto algumas referências para a compreensão da problemática abordada, bem como dados quantitativos que demonstram e ratificam uma formação educativa voltada para a compreensão crítica da sociedade. Estas e outras indagações serão respondidas à luz de teóricos como: Dermeval Saviani (2008), Newton Duarte (2004, 2006) e István Mészáros (2008), e outros que deram suporte na apreensão e interpretação das esferas publicitárias como a ativista canadense Naomi Klein (2002). Dessa constata-se que o aumento progressivo de tais campanhas, colabora de forma expressiva para a internalização de valores e práticas ideológicas que contribuem para a perpetuação da sociedade capitalista. Palavras-chave: capitalismo; publicidade; infância; formação de valores; compreensão. INTRODUÇÃO A relação entre os processos de produção de mercadorias em escalas cada vez maiores, estão intimamente ligado as funções de escoamento das mesmas no mundo globalizado, isto é, a necessidade do consumo imediato daquilo que se produz traz consigo os mecanismos e artifícios necessários para favorecer a aquisição de tais mercadorias. Um desses mecanismos nesse caso, seriam as campanhas publicitárias que tem por objetivo atrair e convencer a compra de um determinado produto. [Type text] [Type text] [Type text] Dessa forma, o tema traz consigo não somente a ousadia, mas o risco de se propor a debruçar-se sobre as conjunturas históricas que vivenciamos atualmente. Onde decisões são tomadas em nome do capital, estruturas de relações são desarticuladas em prol de um poder hegemônico que circunscreve todo um processo histórico, não é de se surpreender que tal ação, em busca de um espaço cada vez maior por um manancial de compra e venda fosse agora direcionada para um público cada vez mais jovem. Segundo pesquisas realizadas pelo Instituto brasileiro de geografia e estatística, (2000), crianças de 4 a 14 anos representam 37.245.906, quase 22% da população do país. Esta Parcela consideravelmente grande de consumidores corresponde em números às expectativas de faturamento dos grandes lojistas e fabricantes de produtos direcionados a esta esfera da população. Diante desse quadro que tangencia esta “aldeia global” de consumo, devemos levar em consideração o processo de “adultização” da infância para um arquétipo adulto. Nesse processo marcado por quebra de padrões de comportamento e valores historicamente construídos ao longo do tempo, é visível, sejam no vestuário ou na própria comunicação da criança as características que são forjadas a partir das diferentes campanhas publicitárias reproduzidas nos diferentes meios de comunicação. Assim o objetivo dessa pesquisa é explanar a partir das análises dos teóricos pesquisados as implicações que tais campanhas provocam na infância, traçando um panorama alinhado a prática pedagógica e assim contribuir para o crescimento da comunidade acadêmica e os meios para os quais o artigo possa ser destinado. A INFÂNCIA E A PUBLICIDADE DESMEDIDA Uma das características que demarcam a sociedade capitalista é a sua alta necessidade de produção e consumo imediato. Um quadro que tange não somente a economia, mas perpassa o cerne do existencial humano e funde-se nas ações que cada um executa no meio social. A formulação conjugada entre o binômio, produção e consumo, estão indubitavelmente ligada as nossas necessidades. Todos nós temos necessidade de [Type text] [Type text] [Type text] algo para sobreviver. Mas como conceituar necessidade numa sociedade de consumo na qual, a cada dia é invadida por diversos produtos e gêneros diversificados voltados para diferentes faixas etárias? A resposta pode parecer complexa, e desvendar o seu significado pode representar a chave para a compreensão do caso. Segundo Barbosa (2004), apud: Pinto (2007): O que impele a sociedade de consumo não é um conjunto fixo, circunscrito e finito de necessidades, mas o desejo (desire) e agora na época do capitalismo tardio o capricho (wish). Ambos são fenômenos essencialmente evasivos e efêmeros, que prescindem da justificação ou apologia em torno de um objetivo ou causa (p.46) Barbosa, nos apresenta um painel expressivo do quanto as deturpações do consumo proveniente dos desejos do sujeito, ocasionadas pelas campanhas massificadoras do marketing, pode nos levar a valores evasivos e efêmeros, fenômenos característicos da sociedade de consumo. Nos últimos anos presenciamos uma forte tendência do mercado global, o marketing cada vez mais sendo direcionado para o consumo infantil. A nova conjuntura do mercado global não propiciou apenas o crescimento efetivo de grandes marcas, bem como o desenvolvimento econômico de seus países de origem, mas o entrelaçamento parcimonioso sistematizado pelo conjunto de exportação e importação de bens de consumo, a nova ordem do mercado globalizado concedeu o acesso direto a grandes marcas do comercio mundial bem como o desenvolvimento do processo de aculturação e valores ideológicos que ultrapassam as barreiras geográficas. Entender esta nova ordem comercial em seus diferentes aspectos é condição sinequanon para compreender o mundo no qual a criança esta inserida. Como vimos, estas informações nos dão possibilidades de vislumbra o território mercadológico que é apresentado e difundo no meio social, posto que a criança sendo alvo favorável a ação conjunta entre o meio social no qual ela vive e o sistema comercial, resulta na concordância direta aos estímulos desenvolvidos pelas campanhas publicitárias. Note, que apesar da criança ser um ser socialmente ativo e possuir a capacidade de interferi no ambiente onde se encontra, ela não possui o mesmo grau critico de um adulto capaz de fazer separações entre o que é [Type text] [Type text] [Type text] presenciado no seu dia-dia e o que é observado em tais campanhas de marketing. De acordo com Susan Linn (2006), educadora e ativista norte-americana, autora de: crianças do consumo, a infância roubada: Ate a idade de cerca dos oito anos, as crianças realmente não conseguem entender o conceito de intenção persuasiva segundo o qual cada detalhe de uma propaganda foi escolhido para torna o produto mais atraente e para convencer as pessoas a comprá-lo. Crianças mais velhas e adolescentes podem ser mais cínicas em relação à propaganda, mas seu ceticismo parece não afetar a tendência de querer ou compra os produtos que vêem retratados tão brilhantemente ao seu redor (p.22).33 Dessa forma uma das grandes diferenças encontradas nessa relação, compreendida entre adulto e criança é a capacidade da criança agir conforme os desejos impulsionados pelos estímulos exterior, neste caso as campanhas de estratégia de mercado. É relevante elucidar que a criança vai agregando tais características de acordo a convivência mantida com outras pessoas, vejamos: a cada dia o contexto escolar vai se modernizando, com o passar do tempo percebemos um grande numero de crianças e adolescentes que vão aderindo novas tecnologias com o intuito de favorecer o seu desenvolvimento escolar ou simplesmente pelo fato de estar atualizado com os novos lançamentos do mercado como tablets, smartphones que propicia uma maior acessibilidade as redes sociais e compartilhamento de arquivos entre tantos outros produtos de mídia digital que a cada dia vem ganhando mais espaço entre o publico em geral. Segundo pesquisa realizada pela NPD Group (2011), nos Estados Unidos, constatou que 91% das crianças jogam videogames isto, equiparado ao uso dos smartphones que possuem esta tecnologia com gráficos cada vez melhores. O resultado dessa pesquisa nos faz percebe que o universo da criança se altera a parti do contato e da aquisição de novas informações. É importante exemplificar que o meio televisivo, aliada incondicional das práticas publicitárias acaba por se torna o principal fio condutor das informações que são transportadas ao consumidor, neste caso, a criança. Ou seja, à medida que criança se propõe a empregar um 33 [Type text] Ibidem [Type text] [Type text] maior numero do seu tempo, a ficar de frente para a TV, mais exposta a mesma estará às práticas dispendiosas dos anúncios publicitários que insistem vertiginosamente em vender não somente produtos, mas imagens, padrões de comportamento e valores. Nesse sentido, artifícios para dar vida a tais práticas corporativas contam com a habilidade extraordinária de artistas do cinema ou apresentadores de TV que utilizam dos seus atrativos fetichizados para compor um ambiente sedutor, capaz de capitalizar o sujeito para um universo de consumo desenfreado, (Klein, 2002, p. 75 e 76). As campanhas massificadoras seja ela nos comerciais televisivos ou incluídas de forma subjetivas nos desenhos animados, alertam quase sempre para o estereótipo dos brinquedos, jogos ou um arquétipo adulto que é ofertado no mercado para o consumo infantil. Dessa forma não é de se surpreender que cada vez mais as crianças se rendem ao charme da televisão e aos seus atrativos. Em tese, o veiculo televisivo se situa como o principal meio de informação brasileiro, segundo pesquisa do Instituto brasileiro de geografia e estatística (IBGE), nove entre dez casas no Brasil possuem televisor 34 este numero reflete diretamente um quadro cada vez maior de pessoas que enxerga na televisão não só um meio de entretenimento, mas um meio de se manter atualizado dos acontecimentos diários. O que muitos não percebem é o alto grau de manipulação oriundo de interesses particulares que se sobrepõem muitas vezes aos valores éticos e morais da sociedade. Hora, nunca nos últimos anos os lares brasileiros foram bombardeados com campanhas de marketing cada vez mais arrojadas que comportam não somente as agencias do ramo, mas especialistas do ramo da psicologia que contribuem diretamente para o êxito dessas campanhas. Assim o que vemos não é somente o produto exposto nas prateleiras, vendido como mercadoria, mas um estilo de vida: “... nasceu um novo consenso: os produtos que florescerão no futuro serão aqueles apresentados não como produtos, mas como conceitos: a marca como experiência, como estilo de vida. Desde então, um seleto grupo de corporações vem tentando se liberta do mundo corpóreo dos produtos, passando fabricantes e produtos a 34 [Type text] Dados coletado no portal terra publicado em 14 de setembro de 2007. 10h11min [Type text] [Type text] existir em outro plano. Todo mundo pode fabrica um produto raciocinam eles ( e como mostrou o sucesso das marcas privadas durante a recessão, todo mundo fabricou). Essa tarefa ignóbil, portanto, pode e deve ser delegada a terceiros cuja única preocupação é atender as encomendas a tempo e dentro do orçamento (e o ideal é que fiquem no terceiro mundo, onde a mão-de-obra é quase de graças, as leis são frouxas e isenções fiscais são concedidas a rodo). “As matrizes, em quanto isso, estão livres para se concentra em seu verdadeiro negocio – criar uma mitologia corporativa poderosa o bastante para infundir significado a esses toscos objetos apenas assinalando-os com seu nome”. (KLEIN, Naomi. Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. P.45). Seguindo a analise da ativista canadense Naomi Klein o consumo infantil é também constatado em números e, tem sua grande importância para a economia brasileira, conforme Synésio Batista da Costa, presidente da associação brasileira dos fabricantes de brinquedos: ...a indústria brasileira de brinquedos faturou R$ 3,1 bilhões em 2010, um avanço de 11% sobre o exercício anterior. A meta para este ano, com investimento de R$ 200 milhões em lançamentos de produtos e modernização das fábricas, é crescer mais 15%, principalmente em função dos novos produtos que estão sendo apresentados ao varejo durante a ABRIN 2011. Assim, de acordo com a pesquisa isto representaria 70% do mercado nos próximos anos. Se por um lado estes dados favorecem a economia brasileira, por outro ele interfere diretamente nas relações da criança, seja ela familiar ou de caráter social, ou seja, é mais fácil se relacionar com a mercadoria, com o objeto em si, do que com a outra pessoa que possa esta do seu lado, ocasionando um fluxo cada vez maior de crianças consumistas que por sua vez se tornarão adultos propícios a um índice maior de consumo. Duarte (2006), se referindo as relações entre produção e consumo e, como este opera ideologicamente as ações humanas ira dizer que: Outro procedimento utilizado pelos economistas clássicos e criticado por Marx é o de análise unilateral da relação entre produção e consumo, isto é, entre oferta e demanda. Também esse procedimento faz parte do processo de naturalização das relações capitalistas de produção. Primeiramente afirma-se que toda a produção está direcionada para a satisfação nas necessidades dos seres humanos. Em [Type text] [Type text] [Type text] seguida, quase que imperceptivelmente, essas necessidades são reduzidas a necessidades imediatamente individuais. Por fim as necessidades individuais são vistas como tendo uma origem natural, não induzida. Na ótica dos economistas, a produção seria determinada pelo consumo, isto é, pelas necessidades naturais do individuo. (p.139). Podemos notar ainda, que articulados os dados quantitativos acima descritos com a análise do próprio Duarte, perceberemos que gradativamente o sujeito é induzido ao consumo, não estritamente para atender as suas necessidades, mas para satisfazer os padrões de consumo que o próprio sistema de produção, insere ideologicamente pelas campanhas de estratégicas de mercado nas pessoas, ou pela dispersão de valores capitalistas na sociedade. Podemos notar ainda, que este quadro nos conduz a uma visão mais ampla da problemática ao considerar a infância como processo de amadurecimento e compreensão de mundo que vai se desenrola tanto na instituição de ensino (escola) e nas relações interpessoais que ela manterá. Neste caso é valido salientar a importância da escola enquanto instituição formal no que tangencia a socialização do conhecimento acumulado, representada pela figura do mestre, o professor, que traça e desempenha funções pedagógicas de âmbito educativo. É interessante observar ainda, a inserção de valores imbuídos a um grau materialista que condiciona a criança a uma esfera ideológica caracterizada pelo apego a uma determinada grife, marca ou ate mesmo a um objeto eletrônico, que esteja em evidencia no mercado, neste caso o sujeito vale mais pelo que possui e não pelo que é. Predominando um conceito mais individualista no qual se sobrepõe ao bem da coletividade. O TRABALHO EDUCATIVO E O PROCESSO DE FORMAÇÃO HUMANA A estruturação de um circulo de aprendizagem, elaborado pelo professor, mais do que uma simples forma de socializar o conhecimento sistematizado já produzido, é reconhecer com ele os elementos que possibilita a compreensão e a produção de novos saberes. A estrutura escolar no Brasil, continuamente esteve à margem de uma qualidade de ensino-aprendizagem satisfatória, o foco na economia, o domínio da [Type text] [Type text] [Type text] ideologia burguesa corroborou de forma significativa para o comprometimento do ensino. Dessa forma o que percebemos são séculos de descaso que deixou marcas não somente nos próprios alunos, mas também naqueles que se propuseram ao oficio ou a prática educativa. Ao analisar o contexto educacional brasileiro em seus aspectos econômicos e políticos, perceberemos que historicamente a educação fora forjada para supri a demanda do mercado, desde um ensino tecnicista e políticas publicas sobrepostas a uma educação emancipadora, que transformasse o individuo num ser critico capaz de interferir e alterar aquilo que pudesse não estar de acordo com seus ideais. Segundo Freire, (1997): “O processo de aprendizagem é constituído por esses movimentos de mudança. Aprender significa mudar, transformar. Ensinar significa acompanhar e instrumentalizar com intervenções, devoluções e encaminhamentos, esse processo de mudança de apropriação do pensamento, dos desejos e sonhos de vida. Educador ensina, enquanto ensina aprende apensar (melhor) e a construir seus sonhos de vida.” (p.17). Intervir requer antes de tudo conhecer, instrumentalizar-se, apropriar-se do conhecimento já constituído. Porem é mister considerar que não basta apenas apropriar-se do conhecimento já produzido se este não lhe conduz a produção de novos. O delinear do processo de aprendizagem se revela sólido a parti do momento que se consolida a absorção e a produção dos mesmos. Moreira (2003), em seu artigo: “cultura midiática e educação infantil.” Afirma que “antes de serem alfabetizadas pela escola, as crianças, sobretudo nos grandes centros, já foram alfabetizadas pelas marcas e pelos logos.” Nesse sentido vale reiterar a importância do educador ao desenvolver o trabalho pedagógico, enquanto formador de opinião e condutor da aprendizagem do educando, cujo trabalho deve ser desenvolvido não meramente como um facilitador da aprendizagem, a revelia do lúdico em quanto um método de desenvolvimento infantil, mas envolver-se de forma consciente, critica e acima de tudo político, posto que o trabalho educativo segundo Saviani, pertencendo o âmbito do trabalho não material cuja especificidade se dá através da aquisição do conhecimento [Type text] [Type text] [Type text] historicamente produzido pela humanidade bem como da produção do mesmo e do ensino. Saviani (2008), afirma que: A escola é uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado... Não se trata, pois, de qualquer tipo de saber. Portanto a escola diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao conhecimento espontâneo; ao saber sistematizado e não são saber fragmentado (p.14). É através desse mecanismo de captação e produção passando por um viés interpretativo que sustentará as bases de uma educação que vai além de propostas libertarias e escolanovistas, mas antes, uma educação pautada na criticidade, uma educação que vai alem da reprodução ideológica e valorativa das concepções burguesas. De fato, o comprometimento crítico e político são fundamental, capaz de levar o educador a desenvolver um trabalho sólido voltado para o coletivo e não para o individualismo que separa e restringe as relações, dessa forma a educação terá possibilidades expressivas de transpor os muros que separam o ambiente escolar e o espaço social onde o individuo se encontra. Em seu livro, “o que é pesquisa em educação?” Potiguara nos trás um panorama onde transcorre sobre a atitude pedagógica, a qual o educador deve se submeter, onde a atividade pedagógica é voltada para o sujeito, para a concepção de homem. (PEREIRA, 2005. Ed 2008, p. 22). Assim, pensar o humano enquanto ser sociologicamente evolutivo e historicamente construtor de sua história é pensar o existencial, pensar a totalidade das partes que o compõem dando significado concreto a este sujeito. Sem sombra de duvida, se parar-mos para analisar e refletir as características educacionais existentes, principalmente nas escolas da rede publica, constataremos além do despreparo de muitos professores, a falta de comprometimento com uma postura critica o bastante para perceber a ideologia que perpassa a educação, dessa forma o que vemos em muitas escolas é a mera reprodução dessa mesma ideologia em responsabilizar os seus alunos pelo seu próprio fracasso. Compreender o processo pedagógico e como ele se insere na sociedade, também é compreender as contradições existentes tanto na escola e na [Type text] [Type text] [Type text] sociedade, posto que seja a partir das contradições, ou seja, assumindo um conceito dialético que podemos entender e contribui para melhorar os problemas na área educativa. Segundo Mészáros (2008): Tudo isso é uma parte integrante da sociedade capitalista pela qual os indivíduos particulares são embebidos nos valores da sociedade de mercadorias, como algo lógico e natural... Ademais, o que torna as coisas ainda piores é que a educação contínua do sistema do capital tem como cerne a asserção de que a própria ordem social estabelecida não precisa de nenhuma mudança significativa. Precisa apenas de uma “regulação mais exata” em suas margens, que se deve alcançar pela metodologia idealizada do “pouco a pouco”. (p.82) É, nesse arcabouço criado e constituído por uma sociedade que visando o progresso se torno contraditória em suas diversas partes, que a criança não sendo um coadjuvante, mas protagonista de suas ações se posiciona em meio a esta problemática. Nesse sentido a figura do educador tem seu papel fundamentado na estrutura que descortina toda ideologia que envolve o conceito midiático e publicitário direcionado a criança. Estes movimentos se dão justamente a partir do momento em que educador e educando, pela busca e pela aquisição de novos saberes impelem a sociedade, pela transformação da mesma a constituir-se como espaço inserido dentro do ambiente escolar. Dessa forma o ambiente escolar constitui-se como espaço de luta, de produção e, de transformação social que visa não somente entender os fenômenos existentes, mas superá-los em suas múltiplas esferas sociais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho procurei de forma sucinta estabelecer uma relação entre as campanhas de marketing e como elas interferem de forma subjetiva a agregação de valores capitalistas. Nesse sentido, fica evidente que o processo pela qual a criança é envolvida na agregação de informações midiáticas tem por objetivo central favorecer o [Type text] [Type text] [Type text] desenvolvimento da produção de mercadorias bem como o consumo imediato da mesma. Convém destacar, que as conseqüências oriundas de tais ações mercadológicas, infere diretamente no desenvolvimento psíquico social da criança, fazendo com que a mesma agregue para si, normas de conduta e valores sociais que cooperam diretamente para a perpetuação da sociedade capitalista bem como de suas praticas ideológicas. Nessa perspectiva faz-se ressaltar que “a educação é um campo social no qual as várias ideologias que perpassam a nossa sociedade se materializam de modo especial”. (DUARTE Newton, p.85). Nesse sentido, é fundamental compreender como se da o processo educacional na sociedade e, principalmente estabelecer o educador como sujeito profissional qualificado, intelectual e crítico o bastante para descortina as artimanhas capitalistas e contribuir para o desenvolvimento humano e social. Posto que o profissional de ensino tenha como papel primordial a socialização do conhecimento historicamente produzido pela humanidade e que, é através da aquisição desses, que o sujeito se plenifica e tem possibilidades de mudança. É de suma importância que esta reflexão não se esgote por aqui, mas, antes de tudo sirvam de instrumento para fomentar outros debates, outras pesquisas que possa colaborar para um melhor desenvolvimento educativo. REFERENCIAS DUARTE, Newton, Crítica ao fetichismo da individualidade. São Paulo, Autores Associados: 2004 ______. Vigotski e o “aprender a aprender”: críticas as apropriações neoliberais e pó-modernas da teoria vigotskiana. Campinas, Autores associados: 2006 JÚNIOR, Jose Ednilson Gomes de Souza, Propaganda Infantil: reflexões pós modernas sobre consumo e mídia / orientadora: Msc. Camila Hildebrand Gazal Fortaleza / co-orientador: Dr. Josemar de Campos Maciel. Campo Grande MS, 2007. Trabalho de conclusão de curso (graduação em comunicação social) – Faculdade Estácio de Sá. KLEIN, Naomi, Sem logo: A tirania das marcas em um planeta vendido. Rio de Janeiro, Record: 2002 Mészaros, István, Educação para além do capital. São Paulo, Boitempo Editorial: 2008 [Type text] [Type text] [Type text] MOREIRA, Alberto da Silva, Cultura midiática e educação infantil. Campinas, Educ. Soc, vol. 24, n. 85, p. 1203-1235, dezembro 2003 PEREIRA, Potiguara Acácio, O que é pesquisa em educação? São Paulo, Paulus: 2008 PINTO, Alessandra Moína Martins de Souza, Pequenos Grandes Consumidores: Uma abordagem sobre consumo infantil na sociedade contemporânea / orientadora: Fernanda Casagrande Martineli. Rio de Janeiro, 2007. Trabalho de conclusão de curso (graduação em comunicação) – UFRJ, Escola de Comunicação, Publicidade e Propaganda. Portal ABRINQ publicado em 17 de maio de 2011. 12h 36min Portal de jogos gamevicio publicado em 11 de outubro de 2011. 13h 45min Portal terra publicado em 14 de setembro de 2007. 10h11min SAVIANI, Dermeval, Pedagogia Histórico crítica. São Paulo, Autores Associados: 2008. [Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT1- Cultura e Processos educacionais REFORMULAÇÃO CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO NO ESTADO DE GOIÁS: ALÉM DE TUDO, UM PROCESSO IDENTITÁRIO! Vinícius Duarte Ferreira Prof. Dr. Sérgio Pereira da Silva (orientador) Programa de Pós-Graduação em Educação – UFG/CAC Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES [email protected] RESUMO O objetivo geral desse trabalho é o de apresentar uma análise sobre o processo de reformulação curricular ocorrido na rede pública do Estado de Goiás durante os anos de 2007 a 2011, problematizando os alcances e limites de suas propostas. Para tanto, partimos da análise dos documentos elaborados pela Coordenação de Ensino Médio da Secretaria de Estado da Educação de Goiás, bem como da legislação Estadual e Federal que estabelecem parâmetros para essa etapa da educação. Considerando que o ensino médio tem sido uma temática polêmica, sobretudo quando observamos as discussões relativas à sua identidade, pretendemos contribuir para o debate no campo de currículo em Goiás. Dentre as polêmicas levantadas, a questão que envolve o modelo de formação dos jovens tem aparecido na literatura especializada de maneira incisiva, uma vez que possui correlação com várias disputas políticas presentes na consolidação dessa etapa da educação básica. As concepções de formação profissional e formação propedêutica postulam, através de ações pedagógicas que lhes são peculiares, distintos modelos de sociedade, sobretudo, definem de que modo a educação deve atuar no sentido de inserir os jovens no chamado “mundo do trabalho”. No presente estudo, verificamos como, muitas vezes, as questões legais que envolvem o debate sobre a identidade do ensino médio possuem relação direta com disputas políticas que vem acompanhando a consolidação dos ideais democráticos presentes no debate educacional brasileiro. Por outro lado, não objetivamos apenas compreender como a legislação educacional faz suas adequações diante dos discursos que vem sendo historicamente construídos. Antes disso, pretendemos fazer uma análise que procura ampliar nossa percepção com relação à maneira como o mundo do trabalho se articula com as políticas educacionais e como podemos pensar tal articulação dentro das concepções curriculares que estiveram presentes no processo identitário de reformulação curricular em Goiás: em nível de orientações nacionais, através do Programa Ensino Médio Inovador, e em nível de orientações estaduais, com o Programa Ressignificação do Ensino Médio. Palavras-chave: currículo; ensino médio; ressignificação. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Este texto é resultado das reflexões e informações que obtivemos na oportunidade de nossa pesquisa de mestrado, em andamento, provisoriamente [Type text] [Type text] [Type text] intitulada REFORMULAÇÃO CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO DO ESTADO DE GOIÁS (2007-2011), desenvolvida junto ao Programa de PósGraduação em Educação, na Universidade Federal de Goiás/CAC, vinculado à linha de pesquisa História e Culturas Educacionais. Especificamente, analisaremos como o processo de reformulação do ensino médio que ocorreu em Goiás entre os anos 2007-2011 se contextualiza dentro das análises que estão sendo construídas no campo do currículo e do debate acerca da identidade do ensino médio. Trata-se de compreender como a formulação dos currículos escolares, mesmo no contexto específico da reforma, não é algo que ocorre de maneira imediata, ou seja, não nasce no curso dos acontecimentos do presente, antes disso, corresponde a um processo cultural que se forja no ambiente escolar. Enquanto processo dinâmico e coletivo, a cultura representa a forma como produzimos nossas relações sociais. Nesse sentido, o cotidiano escolar representa um espaço de possibilidades para diversas leituras sobre a educação (Apple, 1989). Os sujeitos sociais presentes em cada unidade escolar produzem significados próprios a partir das relações sociais que estabelecem entre si; cabe aos pesquisadores do campo da educação buscar epistemologias que auxiliem no estudo desse cotidiano a fim de apresentarem novas análises e possibilidades de investigação. Quando propomos pensar o ensino médio a partir das políticas curriculares a ele destinadas é porque visualizamos uma relação estreita e dialética entre a ação pedagógica e as finalidades dos sistemas de ensino (Sacristã, 1998). No conjunto do debate democrático existente, na educação brasileira, a identidade do ensino médio aparece como tema que vem repercutindo, para não retrocedermos muito, sobretudo a partir da legislação educacional da década de 1970 (Lei n° 5692/1071). Ora oscilando para uma formação estritamente profissionalizante, ora se aproximando de um discurso que defende uma educação propedêutica, a legislação educacional não sustenta claramente qual deve ser a finalidade do ensino médio. Embora a Lei n° 9394/1996 tenha avançado no sentido de configurá-lo como etapa final da educação básica (Art. 35), ainda não surgiram políticas capazes de resolver o problema relativo às finalidades dessa etapa da educação. [Type text] [Type text] [Type text] Apesar das dificuldades apontadas, acreditamos que a reformulação curricular, ocorrida em Goiás, carece de aprofundamentos teóricos em termos de análises, uma vez que seus pressupostos curriculares sinalizam, em tese, para a superação do problema identitário que acompanha o debate sobre o ensino médio no Brasil. Nesse sentido, no nosso referencial teórico, priorizamos o pensamento de Michael Apple em suas análises sobre o cotidiano escolar, bem como as contribuições de Saviani e Kuenzer que, em diferentes perspectivas marxistas, analisam as relações existentes entre trabalho e educação. Na primeira parte, apresentaremos o contexto de criação e implementação da reformulação curricular em Goiás. Posteriormente, trataremos das questões centrais existentes no debate acerca da identidade do ensino médio. Encerraremos com nossas considerações sobre a abordagem teórica dessa pesquisa com relação à reforma curricular problematizada. 1. SOBRE A REFORMULAÇÃO CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO EM GOIÁS Entre os anos de 2007 e 2011, a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (SEDUC/GO), através da Superintendência de Ensino Médio (SEM/GO), elaborou e implementou o “Programa de Ressignificação do Ensino Médio” (GOIÁS, 2009). De acordo com os organizadores desse programa, era necessário elaborar um novo currículo para o ensino médio com a finalidade de reorientar: “o ato de ensinar e de aprender, o ato de gerir a instituição, o conhecimento e as regras de convivência entre os sujeitos”, compreendendo que o espaço escolar se constitui através da aprendizagem “cultural, cognitiva, socioambiental, emocional e afetiva” (MOREIRA, 2009, p.7)35. Para os organizadores do programa, o ensino médio que existia até então não correspondia aos interesses imediatos da população goiana, tampouco dos 35 Marcos Elias Moreira foi Superintendente Estadual de Ensino Médio durante o processo de reformulação que ocorreu em Goiás no período estudado. Organizou o livro “Ressignificação: ensino médio em travessia” que contêm dados, depoimentos e artigos relacionados ao contexto de implementação do Programa de Ressignificação do Ensino Médio. [Type text] [Type text] [Type text] sujeitos diretamente interessados: professores, gestores, técnicos, pais e alunos. Dentre as críticas, levantadas pela própria SEDUC, destacamos: o planejamento muito burocrático, a falta de debates acerca do currículo, a falta de clareza quanto à identidade do aluno de ensino médio, a baixa remuneração, a falta de estrutura familiar, a indefinição dos jovens com relação às suas ações futuras, o currículo preso e vinculado aos objetivos distantes da realidade local de cada instituição escolar, o exercício inadequado da autoridade na relação aluno-professor, a ausência de autonomia nas escolas, a falta de infraestrutura adequada, dentre outros (MOREIRA, 2009). Notemos que existiam diagnósticos muito complexos quanto ao problema específico do ensino médio. Desde os apontamentos quanto à estrutura familiar até a questões diretamente relacionadas com os problemas específicos da educação, como a ausência de debates acerca do currículo, por exemplo. Mesmo diante desse controverso diagnóstico, os organizadores do “Programa de Ressignificação do Ensino Médio” (ProREM) partiram dessas constatações para elaborarem um novo currículo visando a construção de uma nova identidade para essa etapa da educação que estivesse em acordo com as transformações ocorridas na sociedade e no mundo do trabalho, as quais demandavam, segundo o documento orientador, um tipo de formação humana capaz de contemplar o preparo para o mundo do trabalho e para a cidadania, o aperfeiçoamento da pessoa humana e o prosseguimento dos estudos (GOIÁS, 2009, p.248), de maneira não dissociada. De fato, o ProREM ocorreu no Estado de Goiás. Durante o ano de 2007 houve vários debates envolvendo algumas comunidades escolares que resultaram na implementação de seis projetos piloto no ano letivo de 2008; em 2009, 182 escolas da rede estadual aderiram ao programa num universo de 600 escolas. As mudanças mais significativas que ocorreram nesse período contemplam a elaboração de novos projetos políticos pedagógicos a partir das orientações do programa, a construção de conteúdos curriculares obrigatórios e opcionais/complementares e a semestralidade na oferta de disciplinas (MOREIRA, 2009). [Type text] [Type text] [Type text] Esse programa de reformulação curricular goiano foi articulado em algumas escolas juntamente com o Programa Ensino Médio Inovador (BRASIL, 2009), pensado e elaborado pela Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC). Em linhas gerais, os pressupostos curriculares presentes no programa goiano estão presentes na implementação do Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI), uma vez que ambos possuíam amplas similaridades em termos de novos referenciais curriculares para o ensino médio36. Entretanto, após a implementação do ProEMI em algumas escolas estaduais, houve uma separação entre aquelas que seguiram com o projeto específico do Estado de Goiás e outras que aderiram, também, ao programa do MEC. Vale considerar, como elemento importante, que as escolas que fizeram parceria com o MEC passaram a receber recursos financeiros através do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE)37. Em termos teóricos, ambos avançaram na discussão sobre a dualidade existente entre a formação técnica e a propedêutica, ou seja, propunham maior integração entre a formação para o trabalho e a formação para as etapas da vida. A reformulação curricular que ocorreu em Goiás se insere, portanto, num conjunto de reformas que vem se consolidando na educação básica desde a promulgação da Lei n° 9394/1996 e os seus subseqüentes decretos, complementos e programas relacionados ao ensino médio brasileiro38. Essa grande “movimentação” demonstra que se trata de uma etapa da educação em constante transformação e de 36 Os textos de ambos os programas possuem consonâncias com a Resolução CEB Nº3/1998, que institui as Diretrizes Nacionais para o Ensino Médio. Dentre as proximidades observadas, podemos notar a divisão das disciplinas em grandes áreas do conhecimento e o foco na vinculação entre o “mundo do trabalho” e a “prática social”, além daquilo que se denomina como exercício pleno da “cidadania”. 37 Os valores depositados variavam de 50 mil reais, para uma escola com cerca de 700 alunos, até 120 mil reais para uma escola com mais 2800 alunos. (BRASIL, 2009) 38 Podemos citar como exemplo a Lei n° 9394/1996, o Decreto n° 2208/1997, o Decreto n° 5154/2004 e a Lei n° 11.741/2008. [Type text] [Type text] [Type text] extrema importância para a nossa sociedade, o que fundamenta nossa pesquisa sobre esse fato em Goiás. 2. ALTERIDADE E IDENTIDADE NO DEBATE CURRICULAR SOBRE ENSINO MÉDIO A palavra alteridade remonta ao que é específico de algo, talvez um sujeito, quando, e somente quando, esse algo está comparado a outro, talvez a um objeto. Em outras palavras, significa estar em relação com o outro, ou melhor, reconhecer a importância de que o outro precisa ser compreendido dentro daquilo que ele representa, e de que a existência do “eu” depende dessa relação de compreensão mútua. Quando levantamos a possibilidade de pensarmos as alteridades do debate curricular relacionados ao ensino médio brasileiro, avançamos num terreno meticuloso e denso em termos de análise. As diferenças existentes no debate em educação contribuem no sentido de repensarmos constantemente os caminhos que vêm sendo adotados para definirmos a alteridade disso ou daquilo. Afinal, poderíamos acreditar que existe um discurso capaz de reunir todos os esforços para a elaboração de ações transformadoras da sociedade vigente? Em se tratando de ensino médio, no Brasil, existem dois modelos de formação em discussão: o profissional e o propedêutico. Esses modelos constituem, aparentemente, seu problema identitário. Ora, se consideramos que há uma relação direta na nossa sociedade entre o trabalho e a educação e este, em qualquer nível de compreensão, corresponde a uma necessidade humana; se aprendemos a sobreviver pelo trabalho e a produzir determinados tipos de trabalho e o que realizamos hoje corresponde ao resultado histórico do processo de consolidação do capitalismo, esse binarismo formação técnica para o trabalho imediato e formação técnico-cultural para o ensino superior e trabalho posterior se configura, no mínimo, num desafio teórico. Para Saviani (2007), numa perspectiva marxista, a concepção ontológica da palavra “trabalho” está relacionada com a potencialidade do homem em transformar a natureza, que consiste na capacidade de produzir e reproduzir as [Type text] [Type text] [Type text] condições de sua existência. O trabalho, dessa maneira, é parte integrante da vida e não pode ser dela dissociado. Dentro desse tipo de concepção, a ideia de trabalho aparece na educação como um elemento curricular que não pode ser dissociado da formação geral, muito menos do ensino médio. Entretanto, essa não é a noção socialmente difundida. Na maior parte dos casos, a palavra “trabalho” possui relação direta com aquilo que se faz de maneira produtivista. Para elaborar os processos de trabalho atualmente, fazemos uso de conhecimentos específicos na realização de determinada tarefa. Ao associarmos a realização da tarefa ao ato de produzir dentro do sistema capitalista, na verdade, estamos atribuindo um valor produtivo ao conhecimento. Esse sentido produtivo associado ao conhecimento, conforme aponta Saviani (2003), representa a apropriação dos conhecimentos humanos por uma pequena parcela da população e deve ser superado pela introdução de uma educação politécnica nas escolas. Essa perda de sentido presente nas concepções de trabalho está presente nas discussões relativas às formulações das leis e dos currículos escolares. Como nos coloca Saviani (2003), houve, historicamente, uma apropriação dos conhecimentos praticados nas escolas por parte de uma minoria. A maneira como os currículos estão organizados não pode garantir uma educação “politécnica”, ou seja, uma educação que seja capaz de oferecer aos jovens oportunidades, e não apenas prepará-los para consolidarem o sistema produtivo vigente. Não estamos, com isso, defendendo a educação politécnica como uma panaceia para os problemas da educação, tampouco negando a pertinência de tal educação. Pretendemos, apenas, levantar questões teóricas relativas às atuais reformas curriculares que vêm ocorrendo no ensino médio goiano. Atendendo, possivelmente, aos interesses de práticas pedagógicas que procuram o desenvolvimento de valores voltados para o contexto do atual mundo do trabalho, a reformulação curricular goiana aproximou o currículo do ensino médio do conjunto das “competências” e “práticas” que estão sendo buscados nos trabalhadores de modo geral: produtividade, flexibilidade, articulação de conhecimentos, domínio do conhecimento tecnológico, autonomia, cooperação, iniciativa, polivalência, dentre outros. Contudo, não vincula a formação dos jovens a uma formação estritamente profissionalizante. Podemos verificar isso [Type text] [Type text] [Type text] observando as reflexões dos próprios organizadores do programa ao considerarem que a superação da dicotomia entre a formação para o trabalho e a formação cidadã pressupõe: (...) a construção de uma pluralidade identitária para o ensino médio o que não é apenas um problema pedagógico. É muito mais uma questão de políticas públicas e, especificamente, de política educacional a ser assumida pelos organismos competentes como um todo. Se as mudanças ocorridas no mundo do trabalho apontam para novas relações entre ciência e trabalho, nas quais as formas de fazer – com base em processos técnicos simplificados, restritos geralmente a uma área do conhecimento, transparentes, facilmente identificáveis e estáveis – foram substituídas por ações que articulam conhecimento científico, capacidades cognitivas superiores e capacidade de intervenção crítica e criativa perante situações imprevistas. Essas ações exigem soluções rápidas, originais e teoricamente fundamentadas, para responder ao caráter dinâmico, complexo, interdisciplinar e opaco que caracteriza a tecnologia na contemporaneidade. (Moreira, 2009, p.15) Essa aparente dinâmica “flexível” da vida que é colocada em movimento pelas novas relações entre o conhecimento, o mundo do trabalho e a escola carece de melhor compreensão. Esse discurso aparece, também, no ProEMI: O trabalho é um princípio educativo no currículo do ensino médio também porque o processo social de produção coloca exigências específicas para a educação, visando à participação direta dos membros da sociedade no trabalho socialmente produtivo. Porém, deve-se ter claro que essa perspectiva de formação que possibilita o exercício produtivo não é o mesmo que fazer uma formação estritamente profissionalizante. Ao contrário, essa participação, que deve ser ativa, consciente e crítica, exige, antes, a compreensão dos fundamentos da vida produtiva em geral. Somente atendido a esse pressuposto é que o trabalho diretamente produtivo pode se constituir no contexto de uma formação específica para o exercício de profissões. (BRASIL, 2009, p. 7) Como observamos, os projetos ProREM e ProEMI possuem discursos que defendem a necessidade dos jovens se adequarem aos novos desafios colocados pela organização social globalizada. Nesse contexto, a educação atual, que deve ser reformulada, é percebida como algo preso a uma estrutura que não corresponde aos conceitos de flexibilização e dinamismo presentes na sociedade, sobretudo na “vida produtiva”. Poderíamos, a partir dessa constatação, indagar a [Type text] [Type text] [Type text] respeito das estratégias de discurso adotadas nesses processos de reformulação: estamos mesmo construindo uma nova identidade para o ensino médio? Se considerarmos que são as relações entre o conhecimento e o mundo produtivo que estabelecem as concepções de trabalho a serem incorporadas no contexto de uma reformulação curricular, estaríamos concordando que a educação deve adequar seus currículos à “vida produtiva em geral”, tal como foi afirmado acima. Por outro lado, conforme nos alerta Saviani (2003), a compreensão do trabalho como princípio educativo, numa perspectiva politécnica, não deve estar próxima do valor produtivo que ele representa. Mesmo que os programas ProREM e ProEMI não se vinculem a uma formação estritamente profissional, o discurso presente na reformulação curricular goiana ainda é dúbio quanto aos seus objetivos de estabelecer uma formação que vise à emancipação humana, ou seja, que não esteja subordinada ao mundo produtivo. Kuenzer (2001) aponta que o conceito de competências no âmbito das políticas educacionais, formuladas a partir da Lei n° 9394/1996, assume papel essencial, pois mesmo ausente nas diretrizes e parâmetros curriculares do ensino fundamental, aparece como categoria central nas diretrizes curriculares para o ensino médio, para a educação profissional e para a formação de professores. Por outro lado, a autora analisa que, no contexto das novas formas de organização e gestão do trabalho, influenciadas pelo toyotismo ou acumulação flexível (Harvey, 2005), o conceito de competência passa a supor o domínio do conhecimento científico-tecnológico e sócio-histórico frente à complexificação dos processos de trabalho, com impactos nas formas de vida social. Embora a tendência dos processos mediados pela microeletrônica – justamente por serem mais complexos – suponha uma relação do trabalhador com o conhecimento materializado nas máquinas e equipamentos como “usuário”, existe a demanda pelo desenvolvimento de capacidades cognitivas complexas, em particular as relativas a todas as formas de comunicação, ao domínio de diferentes linguagens e ao desenvolvimento do raciocínio lógico-formal. Trata-se de competências que, de acordo com a autora, são desenvolvidas através de relações sistematizadas com o conhecimento através de processos especificamente pedagógicos disponibilizados por escolas ou por cursos de educação profissional (Kuenzer, 2001). [Type text] [Type text] [Type text] A partir dessas considerações é que pensamos criticamente a escola brasileira e as políticas públicas a ela destinadas através dos currículos. Desde a Lei n° 9394/1996, e considerando ainda os decretos que tentaram regulamentar o ensino médio no Brasil, o debate ainda não se encerrou. Não estamos muito seguros do que vem a ser uma formação para o trabalho imediato ou uma formação para a vida. As atividades a que denominamos de trabalho, sob a ótica do senso comum, estão diretamente relacionadas ao sistema produtivo. O problema é que as relações sociais de trabalho, sobretudo aquelas diretamente vinculadas ao capital, estão dissociadas de uma qualidade de vida para a maior parte da população, isso considerando as longas jornadas de trabalho, a baixa remuneração e a péssima organização estrutural dos grandes centros urbanos. Pensar a educação, portanto, compreende a tarefa de refletir sobre as relações sociais diretamente relacionadas ao contexto escolar. Poderíamos então voltar à velha pergunta: para que serve a educação? Ou avançarmos: como construir um novo currículo para a educação? Em ambos os sentidos é preciso que haja uma reflexão crítica para que não excluamos o que já foi conquistado socialmente e para que construamos projetos políticos que respeitem a realidade e os direitos dos sujeitos da comunidade educativa. Consideramos que a escola deve primar por uma prática pedagógica diferenciada e pela elaboração de um currículo capaz de promover a emancipação da sociedade, superando as dificuldades históricas do ensino médio brasileiro. Desse modo, é fundamental compreendermos a educação em suas estreitas conexões com as “estruturas de desigualdades nesta sociedade quanto com suas tentativas para superá-las” (Apple, 1999, p.15). Não se trata, portanto, de um problema relativo apenas à identidade do ensino médio; esta, certamente, terá que assumir um caráter pluridimensional, uma vez que incorporará a diversidade cultural própria dos processos sociais humanos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A própria dinâmica escolar imprime uma identidade ao seu contexto específico. Enquanto os governos constituem sua “Escola de Estado”, são as [Type text] [Type text] [Type text] comunidades escolares que executam, na prática, seus os programas. Por esse motivo, e pela ausência de compreensão a respeito desses fatores, é que fracassam muitas reformas curriculares. A ênfase demasiada nas propostas e nos discursos desloca o foco dos agentes de sua transformação. Sendo assim, ao pensarmos a identidade do ensino médio, precisamos, concomitantemente, aprofundar a nossa compreensão relativa à maneira como as transformações ocorrem na nossa sociedade. Diante dessa compreensão, observamos que a consolidação das políticas públicas em educação faz parte de um processo dinâmico, e dialético, ou seja, não ocorre de forma unilateral. A educação, enquanto parte da formação do nosso movimento histórico-cultural, deve ser compreendida através do cotidiano de suas práticas pedagógicas, visto que as ideologias e discursos que constituem os currículos não podem simplesmente ser impostos por um grupo a outro (Apple, 1989). Portanto, é necessário estudarmos a realidade de maneira direta e procurando perceber como a comunidade escolar organiza as maneiras de reorientar suas práticas diante das contradições presentes na sociedade. Pensar os fundamentos ideológicos e culturais presentes na consolidação de currículos escolares e na constituição de suas respectivas identidades, corresponde, nessa lógica, à necessidade de traduzirmos a escola enquanto uma instituição inserida nas relações e tensões dialéticas entre as esferas econômica, política e cultural (Apple, 1989). Como colocado por Kuenzer (2010), é necessário que façamos avaliações específicas do que vem sendo construído dentro da educação básica brasileira a partir da promulgação da LDB 9394/1996. Findamos o PNE (2000-2011) e já se estabeleceu o novo PND (2010-2020) sem que fosse possível perceber quais mudanças seriam realmente necessárias dentro das propostas de democratização, universalização e melhorias da educação. Nesse sentido, ao avançarmos sobre a análise do processo de reformulação curricular que ocorreu em Goiás, procuraremos aprofundar numa abordagem mais específica no qual se insere essa reforma. [Type text] [Type text] [Type text] REFERÊNCIAS APPLE, Michel W. Educação e Poder. Artes Médicas: Porto Alegre, 1989. APPLE, M. W. Conhecimento oficial: a educação democrática numa era conservadora. Ed. Vozes: Petrópolis, 1999. BRASIL. Lei n° 9394, de 20 de dezembro de 1996. Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 7ª Ed. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012. BRASIL. CNE/CEB. Resolução N°3, de 26 de Junho de 1998. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Disponível em www.portal.mec.gov.br, acesso em 19/10/2012. BRASIL. Decreto n. 5.154 de 23 de julho de 2004. Regulamenta o § 2º do art. 36 e os art.39 a 41 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: www.portal.mec.gov.br, acesso em 18/10/2012. BRASIL. Decreto n. 2.208, de 17 de abril de 1997. Educação profissional: legislação básica. Brasília, DF: PROEP, 1998. BRASIL. MEC/SEB. Programa Ensino Médio Inovador – Documento orientador / set. 2009. Disponível em: www.portal.mec.gov.br, acesso em 09/05/2012. GOIÁS. Superintendência de Ensino Médio/SEDUC. Referenciais Curriculares – Ensino Médio (versão preliminar), 2009. Disponível em www.educacao.go.gov.br, acesso em 19/10/2012. HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005. MOREIRA, AF, SILVA TT, (organizadores). Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez; 1994. 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Rosani Moreira Leitão (Orientadora) Mestranda em Direitos Humanos-UFG [email protected] RESUMO Este artigo traz reflexões iniciais a cerca das representações sociais em direitos humanos demonstrada por professores de uma escola pública localizada na cidade de Anápolis/GO. Esta é uma pesquisa preliminar que vislumbra iniciar um diálogo sobre a percepção dos professores desta localidade, com vistas a iniciar o debate sobre as Diretrizes Nacionais de Educação em Direitos Humanos prevista na Resolução CNE/CP nº 1/2012 e propor no futuro um estudo mais amplo que possa confluir em subsídios para a elaboração de políticas públicas educacionais sobre direitos humanos. Palavras-chave: representações sociais; direitos humanos; educação. INTRODUÇÃO O tema direitos humanos é atualmente debatido em diversos cenários nacionais e internacionais, contudo, a sua real concreção merece maior destaque e ampla discussão não apenas nos cenários acadêmicos, jurídicos, e sim, no ambiente escolar locus primordial de formação de todo um povo. Dissonantes vozes ecoam evocando conceitos, defesas e críticas sobre os direitos humanos no Brasil dentre eles, a enraizada visão que até hoje permanece desde a época da ditadura militar como sendo o conjunto de direitos para defesa de “subversivos”, para a defesa de bandidos. Apesar de textualmente a Constituição Federal brasileira de 1988 ter eliminado formalmente as desigualdades políticas, contudo, ainda não foi efetiva, e nem o seria, isoladamente, capaz de transformar a realidade do país, onde as [Type text] [Type text] [Type text] desigualdades, os direitos civis e políticos e os direitos sociais, culturais e econômicos ainda persistem. Os direitos humanos tratados na atual Constituição brasileira como direitos fundamentais, como um direito em construção, por meio de seus agentes políticos deve diuturnamente encontrar meios de materialização pois apesar de considerados fundamentais a poucos é conferida a possiblidade de conhecer e usufruir desses direitos, como ressalta Ingo Sarlet (2002, p. 62) “Se o indivíduo se sabe como um ser humano com dignidade, irá viver de forma digna”, ou pelo menos, ter consciência dos meios para exigir a garantia de sua dignidade. Identificar as concepções de direitos humanos presentes na sociedade ou ainda em um determinado segmento social é importante para compreender como esses sujeitos percebem, reproduzem, reelaboram suas práticas sociais em diversos momentos movendo-se a partir de uma determinada concepção de direitos humanos onde estão subentendidas diversas concepções sobre o que é “humano” ou sobre “os outros” seres humanos. É importante investigar quais conceitos permeiam as representações sociais e como essas representações podem orientar ações efetivas que promovem mudanças concretas na sociedade, imagine esse raciocínio aplicado a diferentes sujeitos da sociedade, como, por exemplo, os membros do poder público, do legislativo ou do judiciário, são muitas pessoas as destinatárias das decisões tomadas por eles. Todavia, maior importância e repercussão social encontra-se na observação de um amplo grupo profissional presente em todas as sociedades, os professores. A relevância desta pesquisa consiste na possibilidade de se perceber quais são as representações sociais que os professores envolvidos diretamente no processo educacional formal possuem a cerca dos direitos humanos, e assim perceber como compreendem essa temática e a perpassam por meio de sua prática pedagógica que atinge crianças de diversas faixas etárias em plena formação de seu conhecimento científico e político sobre toda a sociedade. O objetivo principal desta pesquisa foi conhecer as representações sociais sobre direitos humanos dos professores de uma determinada escola pública municipal de Anápolis, localizada na região central da cidade. Esta é uma prévia análise sobre o assunto que pode ser estendida a todo o município anapolino visto [Type text] [Type text] [Type text] a sua importância e possibilidade de repercussão e relevância para a implementação de políticas públicas educacionais e de formação continuada de professores, no entanto, não se pretende nesse momento esgotar o assunto com uma pesquisa extensiva da rede e sim iniciar um debate sobre o tema a partir do que foi identificado. 1.0. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS UMA ANÁLISE CONCEITUAL As representações sociais são uma proposição teórica feita por Serge Moscovici no campo da psicologia social baseada nos estudos de Durkheim sobre as consciências para compreender os fenômenos mentais individuais e aqueles compartilhados por uma coletividade. (LEME, 1995) Para Moscovici (1978) as representações sociais são construções mentais consubstanciadas em ideias que se materializam no cotidiano de ações dos indivíduos e tendem a ser compartilhadas por indivíduos que convivem em um mesmo contexto sóciohistórico. São compostas tanto pela razão, quanto pela emoção e pelo desejo de compreender e explicar algo. Em razão da forma como essas imagens ou “fotografias mentais” Moscovici (1978) são registradas, compõem parte da maneira pela qual os sujeitos de qualquer sociedade utilizam para explicar o mundo e tomar posse do conhecimento, explicar e interagir com a realidade. A sociologia de Drukheim aponta que o ser humano possui uma consciência individual que consiste não apenas como informações, envolve também a percepção sensorial e discernimento sobre qual informação se faz opção em determinado momento da ação humana. Este é um processo de adequação que está em consonância com a consciência coletiva que interfere e ele manifesta em seus pensamentos e ações, por orientar as suas percepções. (Durkheim, 1978) Existem em cada uma de nossas consciências [...] duas consciências: uma é comum com o nosso grupo inteiro e, por conseguinte, não somos nós mesmos, mas a sociedade vivendo e agindo dentro de nós. A outra representa, ao contrário, o que temos de pessoal e distinto, o que faz de nós um indivíduo. (DURKHEIM, 1978, p. 69) [Type text] [Type text] [Type text] Serge Moscovici (1978, p. 25) ao discorrer sobre as representações sociais afirma que as representações são elaboradas a partir de figuras sociais que criam imagens mentais representativas, são “organizações de imagem e linguagem [...] simbolizam atos e situações comuns”, são o “[...] reflexo, na consciência individual ou coletiva, de um projeto, de um feixe de ideias que lhe são exteriores”, estando assim imbuídas de percepções, conceitos e preconceitos. É um recorte da imagem mental que uma pessoa faz sobre determinada situação. Analogamente o autor a compreende como uma “fotografia” de determinada ideia, pessoa ou assunto que um indivíduo possui e armazena em seu cérebro, demonstrando assim, certo grau de clareza ou “nitidez óptica” que o sujeito possui sobre aquela situação. Em razão da forma como essas “fotografias” são registradas, elas podem se apresentar como ideias totalmente estereotipadas da realidade ou não. Nas reflexões de Wagner: O que pode, então, ser explicado por uma representação? A resposta é simples: enquanto relacionado a crenças, o comportamento manifesto é parte e conteúdo da própria representação social, é a consequência do comportamento no mundo social que se necessita explicar pelo complexo representação/ação. O comportamento e a ação estão lógica e necessariamente conectados a crenças representacionais, mas suas consequências não estão. (WAGNER, 1994, p. 178). A partir das ponderações destacadas acima pode-se perceber que as representações também compõem o repertório simbólico que guia a compreensão da realidade e a ação dos sujeitos, o seu estudo “[...] significa investigar como se formam e como funciona o sistema de referências que são utilizados para classificar pessoas e grupos e para interpretar os acontecimentos do cotidiano”. (WAGNER, 1994, p. 178) Em continuidade ao tema Leme (1995) depreende de seus estudos que as representações sociais têm a função de “tornar familiar o não familiar numa dinâmica em que objetos e eventos são reconhecidos e compreendidos com base em encontros anteriores, em modelos”. Ressalta-se que: [Type text] [Type text] [Type text] No caso, a memória predomina sobre a lógica, o passado sobre o presente, a resposta sobre o estímulo, perturbador do universo exterior para o interior, coloca-o em uma categoria e contexto conhecidos. Nesse universo consensual o veredicto precede o julgamento. (LEME, 1995, p. 48). As representações sociais são fruto de uma construção cultural histórica, não são construídas isoladamente, são apropriações de representações sociais vindas da família, do trabalho, da escola, do dia a dia de cada pessoa. O ser humano carrega em si a história de seu grupo, uma espécie de memória coletiva construída pelos fatos e acontecimentos que fazem parte de sua história e também influencia as suas ações. Ao se deparar com determinada situação, o indivíduo busca nessa memória, imagens, emoções e valorações, referentes ao conhecimento anteriormente adquirido, tentando compreender o novo. 2.0. OS DIREITOS HUMANOS E A ESCOLA 2.1. DIREITOS HUMANOS Os direitos são fruto de conquistas históricas, todavia, a reunião sob a égide de “direitos humanos” foi um fator derivado das atrocidades políticas, jurídicas, sociais e culturais cometidas durante a Segunda Guerra Mundial quando buscou-se encontrar no ser humano um fator indissociável que compusesse cada ser e do qual não poderia ser destituído. Nesse sentido, para impedir que novas atrocidades viessem a destituir o ser humano de sua condição fundamental, buscou-se no pós-guerra estruturar-se um organismo internacional que pudesse defender essa questão, assim foi formada a Organização das Nações Unidas em 1945, e em 1948, proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, fruto de clara influência dos ideais liberais advindos da Revolução Francesa, que reforçou o aspecto universal desses direitos. A naturalidade e universalidade dos direitos humanos possui notória inspiração judaico-cristã liberal e condiz com a existência de um aspecto inerente e compartilhado por cada ser humano (dignidade) pelo fato de pertencer à espécie [Type text] [Type text] [Type text] humana. Dentre esses direitos pode-se destacar o direito à vida, à liberdade e à igualdade. (MBAYA, 1997) Após a Segunda Guerra Mundial, em uma época de descolonização e constitucionalização dos países, os direitos humanos sob a égide do universalismo se expandiu e internacionalizou, ganhando dimensões mundiais quando foram também incorporados às constituições políticas dos países que se emancipavam nesse momento histórico. No Brasil esse momento ocorreu na década de 80 sob o processo de redemocratização do país que culminou com a elaboração da Constituição Federal de 1988. Ainda em luta contra a democratização os militares combatiam avidamente qualquer manifestação em prol dos direitos humanos, ou em prol de outros direitos como os civis e políticos em forte repressão extensiva a toda sociedade civil. Dessa época advém a uma das representações presentes atualmente sobre os direitos humanos a de que os direitos humanos estão à defesa de bandidos. No entanto, até hoje não há como afirmar que todas as pessoas possuem o exercício pleno de sua cidadania nem que os direitos humanos acolhem de fato a quem necessita de seu reconhecimento. O aprendizado político se dá com a prática social e com educação pautada no desenvolvimento do senso crítico. Os direitos humanos estão além de palavras e leis. Eles são uma construção social a partir de lutas e reivindicações, portanto são responsabilidade de todos e compõem as escolhas que toda pessoa faz diariamente e compartilha com seus “iguais” e com os “desiguais” também, com o intuito de proteger a vida, a dignidade humana, e o respeito à diversidade. Eles podem começar em qualquer lugar onde se procure por justiça, igualdade e oportunidades iguais para todos. 3.0. O DIREITO HUMANO/FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO E O PAPEL DA ESCOLA Adorno (1995, p. 11) atenta para a necessidade da escola manter [Type text] [Type text] [Type text] permanentemente uma postura crítica com o intuito de esclarecer aos educadores sobre a prejudicialidade de um processo educacional que impeça ao aluno acessar conhecimentos históricos e políticos inclusive referentes ao contexto em que a escola está inserida pois, “quanto mais à educação procura se fechar ao seu condicionamento social, tanto mais ela se converte em mera presa da situação social” reproduzindo realidades e conceitos sem a devida reflexão crítica sobre eles. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) têm por prioridade defender a vida e a dignidade humana, cabendo à educação o papel de maior destaque por ser o direito fundamental humano que colabora com a efetivação de todos os outros direitos. Oliveira (1998) aponta que a escola seguindo os modelos impostos pelas classes dominantes e diretamente influenciada pelo sistema produtivo neoliberal alimenta a cultura do individualismo consumista, onde cuida-se apenas dos interesses e valores particulares, organizando cartesianamente o ensino de forma fragmentada. O sistema escolar muitas vezes serve apenas para consolidar as relações de classes já existentes e colocar-se a serviço dos dominantes. O autor elucida bem esse fato por meio da “modernização do ensino”: Eis aí o ensino modernizado: grandes unidades para a produção do conhecimento. Tudo segundo a ciência norte-americana pragmática e sistêmica: a escola é a grande caixa preta industrial, seu input são os alunos ignorantes, seus output são os alunos diplomados, ou melhor, alguns como produtos com o selo do controle de qualidade, outros destinados ao sub mercado ou simplesmente refugados. Estamos entrando no industrialismo moderno na mecânica do fordismo. (OLIVEIRA, 1998, p. 21-22) O educador possui a função de contribuir com o despertar do indivíduo para o mundo que o cerca, para a consciência social e política. A escola pode ser entendida como instrumento de transformação da sociedade dada à importância de seu papel formativo, mediador de conceitos e culturas na sociedade. Trabalhar com direitos humanos na escola, está previsto desde o [Type text] [Type text] [Type text] preâmbulo da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, inclusive como direito à liberdade de pensamento, consciência e crença. No Brasil o terceiro e atual Plano Nacional de Educação (PNDH-3) datado de 2010, em seu quinto eixo, trata Educação e Cultura em Direitos Humanos. Este eixo é considerado prioritário e estratégico dentro da realidade nacional por expandir a difusão dos princípios de direitos humanos como a dignidade, a solidariedade, o respeito à vida, ao outro. Previstos muito antes de forma conceitual na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e no Plano Nacional de Educação (PNE), somente em 30 de maio de 2012, foram publicadas as Diretrizes Nacionais de Educação em Direitos Humanos por meio da Resolução nº 1 do CNE/CP. Esta resolução prevê que: Art. 2º A Educação em Direitos Humanos, um dos eixos fundamentais do direito à educação, refere-se ao uso de concepções e práticas educativas fundadas nos Direitos Humanos e em seus processos de promoção, proteção, defesa e aplicação na vida cotidiana e cidadã de sujeitos de direitos e de responsabilidades individuais e coletivas. § 1º Os Direitos Humanos, internacionalmente reconhecidos como um conjunto de direitos civis, políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sejam eles individuais, coletivos, transindividuais ou difusos, referem-se à necessidade de igualdade e de defesa da dignidade humana. § 2º Aos sistemas de ensino e suas instituições cabe a efetivação da Educação em Direitos Humanos, implicando a adoção sistemática dessas diretrizes por todos(as) os(as) envolvidos(as) nos processos educacionais. (grifos nossos, BRASIL, 2012) As diretrizes trazem um documento pontual imbuído de uma série de conceitos e concepções que devem ser compreendidas pelos educadores e como diz a própria resolução, adotada sistematicamente por todos os envolvidos nos processos educacionais. A finalidade da Educação em Direitos Humanos é a promoção da educação para a mudança e transformação social fundada nos seguintes princípios: dignidade humana, igualdade de direitos, reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades, laicidade do Estado, democracia na educação, transversalidade, vivência e globalidade, sustentabilidade socioambiental. [Type text] [Type text] [Type text] (BRASIL, 2012, art. 3º) Em razão dessas determinações e de outras mais que constam da construção histórica dos direitos humanos, a teoria das representações ajuda a penetrar no mundo emblemático do senso comum e das ideias que transformam o cotidiano, em que os saberes populares se constroem e se reproduzem, tanto para a dominação como para emancipação. 4.0. AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS DOS PROFESSORES DA ESCOLA MUNICIPAL “Q” DE ANÁPOLIS Esta pesquisa teve como propósito identificar as representações sociais sobre direitos humanos dos professores de uma escola pública municipal da cidade de Anápolis/GO, aqui denominada como “Escola Q”, situada na região central atende apenas alunos do ensino fundamental até o 9º ano de escolaridade. A escola foi escolhida aleatoriamente e se mostrou disposta a participar da pesquisa, pois ela permitiria conhecer uma pouco mais sobre as representações que seus professores possuem sobre essa temática e que possivelmente, permeiam as suas relações sociais como também as suas práticas pedagógicas. Os dados foram coletados durante o mês de junho de 2012, com os professores que se voluntarizaram a participar, mediante a aplicação de questionários semiabertos, o que totalizou uma amostra de vinte e três professores em um universo de quarenta e quatro. A estrutura dos questionários está dividida em quatro partes, a primeira, trata de identificar a escola e o bairro onde se localiza; a segunda, identifica aspectos de formação geral da pessoa, a terceira, identifica a formação profissional do professor. Das pessoas pesquisadas, a maioria delas encontra-se na faixa etária de 40 a 49 anos. Do grupo havia 22 mulheres e 1 homem. Em sua maioria são evangélicos 16 professores evangélicos, 6 professores católicos e 1 não declarou. [Type text] [Type text] [Type text] Quanto ao tempo de serviço prestado na educação, houve uma coincidência entre aqueles que estão entre a faixa de 1 a 5 e de 6 a 10 anos de serviço, representando cada grupo 43% da amostra. Questionados sobre sua formação, quanto ao grau de escolaridade, 14 possuem curso superior e pós-graduação, 8 possuem apenas o curso superior e 1 ainda está cursando a graduação. Oitenta por cento dos entrevistados são graduados em pedagogia. Situação que ponderada estatisticamente reverterá a uma leitura com total especificidade dessa área. A fim de compreender na representação dos professores, sobre quem são os destinatários finais dos direitos humanos na escola: 90% dos sujeitos pesquisados responderam que os direitos humanos se destinam a todos os seres humanos, esse posicionamento pode ser bem representado e sintetizado pela opinião do Sujeito nº 7 que assim se manifestou sobre a destinação dos direitos humanos: “Todos pela construção de cidadãos e seres humanos conscientes dos direitos e deveres”. Todavia, percebe-se que 10% desses sujeitos não se manifestaram, ou houve distorção da resposta, pois se perguntou “quem” é o destinatário dos direitos humanos e não “para que” existem direitos humanos, nem qual é o objetivo dos direitos humanos. Parte desses sujeitos assim respondeu: Sujeito nº 4 – “(...) possibilitar a inserção ativa dos estudantes no contexto social, contribuindo [Type text] [Type text] [Type text] assim para construção de uma sociedade mais humana justa e solidaria”, ou Sujeito nº 2 – “(...) garantir a educação igualitária para todos independente de raça, cor, etnia”. De um lado as observações são interessantes de outro o próprio professor se exclui como destinatário dos direitos humanos no âmbito escolar. Foi solicitado que a pessoa definisse direitos humanos, por meio de palavras, em uma escala decrescente de importância. Dentre as resposta obtidas as mais recorrentes foram: 1º)Respeito; 2º)Dignidade; 3º)Igualdade; 4º)Liberdade; 5º)Justiça; 6º)Democracia. Quando perguntados sobre quais assuntos são tratados em Direitos Humanos, maioria dos questionários ficaram em branco, de 23 pessoas apenas 10 responderam e suas respostas foram as seguintes: “Educação de qualidade”. “Trata dos direitos garantidos por lei para dar ao ser humano qualidade de vida”. “Liberdade de expressão, igualdade, cidadania, racismo, diversidade cultural”. “Necessidades essenciais, respeito às diferenças culturais, preservação da dignidade”. “Diversidade, igualdade, vida, saúde, moradia, respeito, educação e afeto”. “Trata do direito de todos os cidadãos”. Arguidos sobre qual era a relação entre os direitos humanos e a sua prática pedagógica os professores assim se posicionaram: “Tratar todos com dignidade é respeito”. “Respeito, ética com colegas de trabalho e aos alunos”. “O estatuto da criança é do adolescente nos mostra os direitos das crianças e como devemos cuidar delas. É nós também temos direitos aos quais ainda não sei exatamente qual é”. “Mútua. Deve estar constantemente presente.” “Promover a autonomia e respeito ao meio escolar.” Quando perguntados se acreditavam que os direitos humanos interfeririam na sua forma de ver o mundo e as pessoas, e de que forma essa interferência se manifestava, declararam: “Quanto mais temos informações, fica mais fácil compreender, entender e o mais importante a respeitar.” [Type text] [Type text] [Type text] “Com certeza, se as pessoas soubessem de fato quais são os seus direitos o mundo mudaria. Há uma falsa democracia em nosso país, onde só são expostos os deveres e ocultando os nossos reais direitos, creio que por medo de perder o domínio sobre os cidadãos.” “Não apenas numa mudança de mentalidade, mas principalmente uma mudança de comportamento que incorpore na pratica o respeito mais profundo pelo ser humano.” Quando indagados se os direitos humanos estão previstos no Projeto Político Pedagógico a maioria respondeu afirmativamente. Porém quando a pergunta foi em qual parte do texto, a maioria desconhecia essa informação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o intuito de realizar um estudo preliminar sobre as representações sociais dos docentes da cidade de Anápolis/GO sobre os direitos humanos, visto que as representações sociais constituem-se em representações simbólicas sobre determinado tema objetivou-se conhecer esta realidade e reunir pressupostos teóricos para consubstanciar a elaboração de cursos formativos na área, identificar e propor políticas públicas sobre o tema foi realizado este estudo. Como este é um estudo primordialmente qualitativo cujos dados quantitativos foram utilizados apenas para visualizar alguns detalhes da pesquisa, observou-se a maioria dos professores participantes reconhecem os direitos humanos como imprescindíveis à educação. Identificam objetivamente os conceitos fundantes dentro dos previstos como princípios de educação em direitos humanos como está previsto na Resolução CNE/CP nº 1/2012, quais sejam, dignidade, igualdade, valorização das diferenças e democracia de direitos, não abordaram a questão da laicidade do Estado e a sustentabilidade. Contudo, esses princípios somente serão efetivados se houver de fato a compreensão dos conceitos que os fundamentam como reconhecimento, alteridade, cultura e multiculturalismo, diversidade, entre outros. A dificuldade de contextualizar esses conceitos no discurso, no conteúdo didático ou mesmo no Projeto Político Pedagógico da escola evidencia a [Type text] [Type text] [Type text] dificuldade em compreender esses conceitos teoricamente para que se possa materializá-los em ações concretas, em intervenções apropriadas na realidade. O tema é tão interdisciplinar e transversal a princípio muitos transparecem conhecer seus preceitos, mas concreta e em profundidade, não, e o domínio dos conceitos é necessário para se fundamentar práticas pedagógicas, construir conceitos e exemplos. Esta realidade particular demonstrada na pesquisa, pode e deve ser expandida em outros horizontes escolares e não-escolares para se fortalecer a proteção e defesa dos direitos humanos. Para que aconteça a educação em direitos humanos torna-se evidente a necessidade dessa temática compor a formação continuada do professor, e também a formação profissional, com a discussão e implementação da disciplina direitos humanos nos currículos escolares e das graduações, o que servirá para além do acréscimo de uma disciplina a consolidação da solidariedade entre os povos. REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor. Educação e emancipação. Trad. de Wolfgang Leo Maar. São Paulo: Paz e Terra, 1995. BRASIL. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos / Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. – Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Ministério da Educação, Ministério da Justiça, UNESCO, 2007. DURKHEIM, Émile. Sociologia e filosofia. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1970. GOMES, Maria Lúcia de Castro Metodologia do ensino de língua portuguesa/Maria Lúcia de Castro Gomes. Curitiba: 1bpex. 2007. LEME, Maria Alice S. V. O impacto da teoria das representações sociais. In: SPINK, Mary Jane P. (org), O conhecimento do cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1995. MOSCOVICI, Serge. A representação social e psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.http://rbtur.org/ojs/index.php/hospitalidade/article/viewFile/155/180 MBAYA, Etienne-Richard. Gênese, evolução e universalidade dos direitos humanos frente à diversidade de culturas. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/ea/v11n30/v11n30a03.pdf> Acessado em: 05.out.2012. OLIVEIRA, Newton Ramos de. Reflexões sobre Educação danificada. In: A educação danifica: Contribuições à teoria Crítica da Educação. Petrópolis: Vozes, 1998. [Type text] [Type text] [Type text] SARLET, Wolfgang Ingo. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição da República de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 62. WAGNER, Wolfgang. Descrição, explicação e método na pesquisa das representações sociais. In: GUARECHI, Pedrinho A e JOVCHELOVITCH, Sandra. Textos em representações sociais, Petrópolis - RJ: Vozes, 1994. [Type text] [Type text] [Type text] Comunicação Oral GT1- Cultura e Processos educacionais SEXUALIDADE: O TRABALHO DO EDUCADOR FRENTE À EDUCAÇÃO INFANTIL Luana Jane Assis e Silva Martins 39 Renata Magalhães Naves 40 Halline Mariana Santos Silva41 RESUMO A Educação Infantil é o patamar da construção dos primeiros saberes e conhecimentos adquiridos, é a porta de entrada para vida em sociedade, nesse sentido existe uma grande importância de se instruir e formar pessoas conscientes, informadas e preparadas para viver e conviver em sociedade e este é o papel do educador. Desse modo, faz-se necessário trabalhar com as crianças a temática sexualidade com o objetivo de conscientizá-la das diferenças de sexo, cor, raça, cultura e religião, mas com o intuito de não inserir na criança valores pré-estabelecidos, ensinando-a a conviver com o diferente, o real, e também mostrar que não existe diferença de trabalho, profissão, ou qualquer outra atividade devido ao gênero masculino e feminino que ambos possuem os mesmos direitos. Sendo assim, este trabalho teve como objetivos verificar por meio analise dos questionários realizados com oito professoras (seis da rede publica e duas da rede privada), qual a compreensão das mesmas sobre sexualidade, conhecer os métodos utilizados para trabalhar com a sexualidade em sala de aula, perceber se elas se sentem preparadas para desenvolver este trabalho, quais as dificuldades encontradas, quais são as principais curiosidades das crianças, como as educadoras reagem perante estes acontecimentos, e se as instituições oferecem recursos ou materiais para que estas profissionais da Educação Infantil possam desenvolver um bom trabalho. Neste sentido, para que a temática abordada possuísse um aporte teórico rico, trouxemos os seguintes autores: Costa e Oliveira (2011); Gambale; Vergueiro; Silva (2010); Brasil (1998b), dentre outros. Palavras-chave: infância; educação; sexualidade. 1. INTRODUÇÃO A Educação Infantil é muito importante para a formação do indivíduo, pois possibilita o desenvolvimento das capacidades motoras, afetivas e de 39 40 41 [Type text] Acadêmica de Pedagogia UFG/CAJ Mestranda em Psicologia pela UFU e professora da UFG/CAJ Doutora em Educação pela UNB e professora da UFG/CAJ [Type text] [Type text] relacionamento social das crianças. Desta forma, torna-se imprescindível o papel dos professores como mediadores do conhecimento, pois nesta fase se inicia as primeiras intervenções, a construção de valores e aprendizagens no âmbito da instituição escolar. Nesse sentido, nesta pesquisa serão apresentados alguns autores como: Costa; Oliveira (2011), Gambale; Vergueiro; Silva (2010); Brasil (1998b) e outros que abordam a temática sexualidade, cujo trabalho é necessário, pois os Parâmetros Curriculares Nacionais abordam a sexualidade como tema transversal, portanto é um importante tema a ser trabalhado com crianças de todas as idades, pois “a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais para a Orientação Sexual é que a escola trate da sexualidade como algo fundamental na vida das pessoas [...]” (BRASIL, 1998b, p. 67). Sendo assim, torna-se necessário discutir e inserir a sexualidade nos trabalhos desenvolvidos com as crianças, porque é algo que está presente em todas as fases do desenvolvimento. 2. SEXUALIDADE INFANTIL A sexualidade infantil é um tema complexo e de grande relevância para a formação e construção educacional e social, se encontra presente desde que nascemos. Percebe se que a sexualidade está associada à cultura e crença, neste sentido sofrendo alterações ao longo dos anos. Para os antepassados a sexualidade era algo intimo que não poderia ser discutido, e tão pouco, poderiam ser transmitidas informações e ensinamentos para seus descendentes. Mas a realidade atual vem se modificando fazendo-nos perceber a importância de se trabalhar a sexualidade com as crianças. E é neste intuito que destacamos que esta temática deverá ser trabalhada de forma a valorizar a realidade de cada individuo. Para entendermos um pouco mais sobre sexualidade devemos diferenciar sexualidade e sexo, segundo Costa e Oliveira (2011), o sexo se remete exclusivamente ao gênero masculino ou feminino e a sexualidade por sua vez diz respeito à característica cultural e histórica e cada pessoa. Desta forma o sexo se define apenas ao gênero e a sexualidade é a característica de cada individuo culturalmente e historicamente. [Type text] [Type text] [Type text] Neste intuito Schindhelm (2011) nos trás que o gênero é um conjunto de características de cada individuo e que a sexualidade está ligada ao social e a influencia do poder. Ela nos trás ainda que, como a sexualidade também se manifesta por meio de gestos, está poderá ser inserida como uma manifestação de convivência social. Neste sentido manifesta a necessidade de se trabalhar à sexualidade nas instituições, inclusive de educação infantil, pois, as crianças devem ser ensinadas desde pequenas. Nesta perspectiva percebe-se a importância de se estudar sobre a temática, buscando formas de não transmitir nossas opiniões pessoais, mas destacar com seriedade a importância da sexualidade, buscando mostrar aos alunos que não existe uma divisão de sexual (gênero) em nossa sociedade, ao qual, todos têm os mesmos direitos, independente do sexo. Mas vale ressaltar que segundo Gambale; Vergeiro e Silva (2010), o trabalho da escola é apenas complementar os ensinamentos dados pela família, neste caso, a instituição deverá informar aos pais dos alunos sobre o conteúdo e a forma de ensino que será utilizado para trabalhar a sexualidade junto à escola. Por fim, percebe-se a importância de desenvolver trabalhos referentes à orientação sexual nas instituições, tornando relevante o trabalho que o educador desenvolve em sala de aula de modo que possa contribuir com os pais, para um melhor entendimento, das crianças e uma melhor percepção sobre a temática sexualidade. 3. COMPREENSÃO SOBRE SEXUALIDADE E AS NTERVENÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL Como forma de enriquecer a pesquisa, foram desenvolvidos questionários com dezesseis professoras em duas instituição, oito na rede publica e oito na rede privada de Educação Infantil da cidade de Jataí - GO, mais obtivemos o retorno de apenas 6 participantes na instituição publica e 2 participantes na instituição privada. No questionário havia onze perguntas pertinentes à pesquisa. Após recolhido o material foi observado como os professores desenvolvem o trabalho em torno da sexualidade, qual era a [Type text] [Type text] [Type text] compreensão delas sobre a temática e quais eram as dificuldades encontradas para trabalharem com as crianças de 0 a 6 anos. Os procedimentos utilizados foram de pesquisa e bibliográficas, pois foram utilizados livros de leitura corrente e segundo Gil (2002, p.44), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, construído principalmente de livros e artigos científicos [...] boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas”. As instituições tiveram um importante papel nesta pesquisa, pois por meio das coordenações foi possível aplicar os questionários, os quais nos possibilitaram compreender um pouco como são realizados os trabalhos referentes à sexualidade e se estes têm sido desenvolvidos na prática cotidiana das crianças. Para assegurar a todos o anonimato e para que os dados permaneçam confidenciais, por este motivo a divulgação dos resultados dos questionários aplicados aos professores foi identificada pelas letras: (P1, P2, P3, P4, P5 e P6 para as professoras da rede pública e PR1 e PR2 para as da rede privada). No desenvolvimento da pesquisa serão apresentados alguns gráficos para melhor visualização das características das entrevistadas e alguns relatos para uma melhor compreensão do contexto em que a pesquisa foi realizada. GRÁFICO 1a – Idade dos entrevistados rede pública Fonte: Pesquisa de campo GRÁFICO 1b – Idade dos entrevistados -rede privada Fonte: Pesquisa de campo [Type text] [Type text] [Type text] A primeira questão pretendia saber a idade das professoras entrevistadas, por meio dos resultados obtidos (Gráfico 1a e 1b) constatamos na rede pública a maioria das entrevistadas possuí idades entre 30 e 49 anos e somente duas possui idade superior a 40 anos. Na rede privada uma professora com menos que 30 anos e a outra na faixa de 40 anos. GRÁFICO 2a – Tempo de experiência na educação – rede pública Fonte: Pesquisa de campo Fonte: Pesquisa de campo GRÁFICO 2b – Tempo de experiência na educação - rede privada Para que pudéssemos perceber se as dificuldades encontradas eram por falta de experiência na área de atuação profissional perguntamos quanto tempo trabalhavam na educação, percebemos por meio dos gráficos (Gráfico 2a e 2b) que as professoras da rede publica possuem mais tempo na área de educacional, sendo de 4 a 15 anos já na rede privada as educadoras participantes tinham 4 anos na educação. GRÁFICO 3a – Qualificação GRÁFICO 3b – Qualificação Profissional - rede pública Fonte: Pesquisa de campo Profissional - rede privada Fonte: Pesquisa de campo Com o intuito de perceber se a compreensão sobre a temática sexualidade estava ligada a qualificação profissional, perguntamos qual era a formação acadêmica que possuíam (Gráfico 3a e 3b). Percebemos que na rede publica apenas uma das professoras tinha ensino médio, as demais possuem curso superior. Na rede privada as professoras também têm curso superior, neste sentido perceberemos no decorrer das perguntas que apesar da maior parte ter curso superior as compreensões sobre sexualidade são um tanto divididas entre elas. Na quarta questão foi perguntado às professoras, qual era o significado de sexualidade? As professoras P2, P3, P6; PR1 e PR2 nos apontam que é uma manifestação natural do individuo. Já as professoras P1 e P5 responderam que nos remete uma questão de GRÁFICO 4b – Se sente preparada para tratar GRÁFICO 4a – do Se sente preparada tratar a sexualidade em sala deA aula – rede prazer natural individuo, suaspara necessidades físicassobre em busca de afetividade: professora sobre a sexualidade em sala de aula- rede privada Fonte: Pesquisa de campo P4 nãopublica respondeu a pergunta, mas destacou que considera importante. Sendo assim, é Fonte: Pesquisa de campo possível analisar que algumas professoras concordam com Gambale; Vergueiro e Silva (2010, p.142) quando as mesmas afirmam que, “sexualidade é um processo que nos acompanha por toda a vida, o conjunto de tudo aquilo que recebemos de nossa família, questão seis, foi perguntado se as professoras se asentiam preparadas para tratar ouvimos,Na vemos e sentimos”. Sendo assim, percebemos que sexualidade está presente em sobre sexualidade em sala de aula (Gráfico 4a e 4b). Apenas três educadoras responderam nós e também no ambiente qual pertencemos. que sim, Foi já asperguntado demais responderam nãoo se sentem preparadas. na questão que cinco, que é educação sexual? As professoras Neste sentido é importante destacar Gambale; VergueiroAeprofessora Silva (2010, p.147) responderam que é o dialogo, informação e troca de experiência. (P4) nos que, “Ao atuar na pensado área de orientação infantil, o professor deve aponta que estecomo é um um temaprofissional que deve ser em equipe sexual para que se possa ampliar esta ter para não pessoais, crenças e opiniões comodestaca verdades áreadiscernimento de conhecimento. Já a transmitir professoravalores PR2 apesar de não responder a pergunta que absolutas”. Deste modo devemos inserir na criança informações seguras sem esta é importante, pois traz contribuições para o individuo. A educadora PR1 inserir não nosso ponto de vista. respondeu de forma que pudéssemos perceber qual é a sua compreensão sobre a pergunta proposta. Na questão sete, foi perguntado qual era a reação das professoras diante de cenas que envolvem a sexualidade, todas exceto a P5 responderam que eram de diálogo com as crianças, pais ou coordenação. Deste modo a refletir se a forma com que ela fala com a criança não seria imposição, pois a forma com que nos represamos, remete a diferentes formas de compreensão. Sendo assim Gambale; Vergueiro e Silva (2010) nos destacam que, para que ocorra um diálogo: “É necessário que se estabeleça uma relação de confiança entre alunos e professor (p.148)”. Neste sentido estaremos possibilitando um vinculo de confiança e de respeito com nossos alunos, no qual estes poderão confiar, construindo uma relação saudável. GRÁFICO 5a – Situações que ocorrem entre as crianças – rede publica Fonte: Pesquisa campo GRÁFICO 5b – Situações que ocorrem entre as crianças – rede privada Fonte: Pesquisa campo A questão oito foi feita para que pudéssemos compreender melhor as cenas referentes à sexualidade que já ocorreram e que foram necessárias intervenções. Neste intuito pedimos que citassem um exemplo, e de acordo com o gráfico (Gráfico 5a e 5b), percebemos que na rede publica a maior incidência são os beijos e a curiosidade nos órgãos sexuais, já na rede privada e a curiosidade nas partes intima (órgãos) e o tocar no colega, sendo assim Camargo e Ribeiro (1999), nos diz que somos seres sexuados deste de crianças, no qual a masturbação possibilita na compreensão de nosso corpo. Sendo assim este faz parte do desenvolvimento dos pequenos e este possibilitará que a criança se desenvolva de modo natural e saudável. liberdade, autonomia e GRÁFICO 6a – Recursos utilizados - rede pública Fone: Pesquisa de campo respeito à intimidade devem estar presentes em todo trabalho educativo e, principalmente, naqueles que tratam da sexualidade GRÁFICO 6b – Recursos utilizados – rede privada Fone: Pesquisa de campo [...]”. Deste modo o trabalho do educador irá contribuir na formação das crianças, mas este deve respeitar a Para que possamos compreender de que forma as professoras vêem trabalhando nestes individualidade e a diferença de cada criança, mesmo naqueles que envolve a sexualidade. momentos de curiosidade e descoberta por parte das crianças, perguntamos na questão nove de que forma elas vêem trabalhando questões inerentes a sexualidade (Gráfico 6a e 6b), as professoras destacaram o uso de materiais ou métodos pedagógicos, na rede publica o mais utilizado era o dialogo e os livros literários e na rede privada o dialogo. Para compreendermos a importância de se abordar a sexualidade, destacarei Camargo e Ribeiro (1999, p. 40): “[...] as relações entre GRÁFICO 7a – O trabalho desenvolvid o trouxe mudanças – rede GRÁFICO 7b – O trabalho desenvolvid o trouxe mudanças – rede pública Fonte: Pesquisa de campo privada Fonte: Pesquisa de campo Na questão dez perguntamos se o trabalho nossa própria autonomia e de nossos alunos. desenvolvido com as crianças para trabalhar a sexualidade trouxe alguma mudança de comportamento, na rede publica percebemos que as repostas ficaram divididas, no qual duas professoras responderam que sim, duas que acredita que esta surgindo efeito e as outras duas não responderam de modo que pudéssemos compreender sua resposta, já na rede privada as professoras que participaram da pesquisa foram unânimes e responderam que sim. Neste sentido, com tem-se como base a construção da autonomia, no qual estas educadoras poderão contribuir para a formação de pessoas autônomas, sendo assim, trazemos a reflexão de Freire (1996 apud SCHINDHELM, 2011), no qual nos diz que somos pessoas capazes de aprender e ensinar, sendo assim nos como educadores podemos desenvolver a GRÁFICO 8a – Materiais existentes na instituição – rede publica Fonte: Pesquisa de campo GRÁFICO 8b – Materiais existentes na instituição – rede privada Fonte: Pesquisa de campo Nesta perspectiva, para compreendermos se estas mudanças vêm sendo realizadas devidos a contribuição da instituição em relação a recursos, matérias de pesquisa ou cursos, perguntamos na questão onze, quais materiais existem na instituição que a bordam a temática sexualidade (Gráfico 8a 8b). Quase todas as professoras foram unânimes e responderam que havia livros literários, livros infantis, guia e curso oferecido pela secretaria de educação, apenas a professora p2 que respondeu que não há material na instituição para trabalhar a sexualidade com as crianças. Neste sentido trago Camargo e Ribeiro (1999, p.40): que “[...] ausência de informações sobre a sexualidade podem ser claramente sentidas em nossa sociedade, [...] a sexualidade mostrada na televisão e em folhetins de forma fragmentada e freqüentemente deturpada”. Deste modo percebemos a importância de se trabalhar a sexualidade em sala de aula, no qual irá contribuir com a formação de indivíduos conscientes. É perceptível a importância de termos informações seguras para que sejam transmitidas de forma clara e objetiva e este certamente é um papel não somente dos professores, mas também faz parte de toda instituição escolar como um todo. É necessário ressaltar que é de suma relevância incluir os pais neste processo no qual poderá ser enriquecido, e possivelmente poderá contribuir para derrubar as barreiras do pré-conceito e dos tabus existentes. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos textos estudados concluímos que a Educação Infantil, faz parte da formação do individuo, no qual recebemos as primeiras intervenções de conduta e moral e a criança possui o direito de gozá-la com todos os direitos a elas cabíveis. A sexualidade é inerente ao indivíduo, pois está se encontra presentes em nossa vida deste que somos gerados e a descoberta dos prazeres é natural, e faz parte do desenvolvimento da criança. Destacamos que os questionários aplicados nas instituições contribuíram para o enriquecimento deste, pois possibilitaram compreender que apesar da temática sexualidade ser um tema bastante estudado, ainda assim precisa ser estudado com mais profundidade. Mostrando-nos que apesar dos projetos e trabalhos desenvolvidos pelas instituições os professores continuam encontrando dificuldade em desenvolver trabalhos nas escolas com medo dos tabus impostos pela sociedade. Por meio deste trabalho podemos perceber também que diante das cenas de descobertas das crianças, muitos educadores se vêem paralisados, sem nenhuma reação, ou ainda tratam este ocorrido como invisível aos seus olhos, não mostrando para a criança que isto faz parte dela, possibilitando o desenvolvimento infantil de forma saudável, sem que os pequenos excluam-se por vergonha ou por medo de estar fazendo algo errado. Neste sentido destacamos que nós como educadoras devemos estar sempre em busca que novos conhecimentos, não somente sobre a sexualidade, mais a toda a temática envolvida em nosso trabalho, buscando desenvolver sempre um bom papel, contribuindo com a formação de indivíduos conscientes e reflexivos. Sendo assim, consideramos que este trabalho foi muito enriquecedor, no qual irá contribuir para reflexões em pesquisas desenvolvidas nas instituições de Educação Infantil e que também surjam novos questionamentos em torno deste tema sobre sexualidade que certamente é amplo. REFERÊNCIAS BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental Parâmetros Curriculares Nacionais: Brasília: MEC, 1998b. CAMARGO, Ana Maria Faccioli de; RIBEIRO, CLÁUDIA – Sexualidade (s) e Infância (s): A sexualidade como um tema transversal – São Paulo: Moderna; Campinas, SP: Editora da Universidade de Campinas, 1999. COSTA, Elis Regina e OLIVEIRA, Kênia Eliane de – A sexualidade segundo a teoria psicanalítica freudiana e o papel dos pais neste processo. Revista Eletrônica do curso de pedagogia do campus Jataí – UFG V.2 n. 11. 2011. ISSN: 18079342. Disponível: http://revistas.jatai.ufg.br/index.php/itinerarius/article/view/1239/672 GAMBALE; Carina Alvarez, VERGUEIRO; Francisca Vieitas; SILVA, Maria Cecília Pereira da. O trabalho de sexualidade na escola e os pais, 2010. In. SILVA, Maria Cecília Pereira da. Sexualidade começa na infância – São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. GIL, Antônio Carlos – Como elaborar projetos de pesquisa – 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002. SCHINDHELM, Virginia Georg – A construção da sexualidade infantil: Considerações sobre o papel do educador – Universidade Federal Fluminense – UFF/RJ, 2011. http://www.abrapee.psc.br/xconpe/trabalhos/1/8.pdf GT 2 – EDUCAÇÃO, TRABALHO E MOVIMENTOS SOCIAIS Comunicação Oral GT 2: Educação, Trabalho e Movimentos Sociais A EDUCAÇÃO COMO FENÔMENO SOCIAL Nayara Lopes Botelho42 Claudemir FigueiredoPessoa43 RESUMO Tendo como base diversos autores que anteriormente já estudaram as concepções de Marx em relação à educação, este artigo visa fazer uma breve abordagem sobre a função social da escola na visão de Karl Marx. Sendo a educação um fenômeno social e também objeto de estudo da Sociologia, este artigo irá ter como base a discussão da educação sendo trabalhada em conjunto com a cidadania, tendo assim uma função política e social da escola. Além de ter uma perspectiva da escola como espaço de construção de identidades sociais. Como a Sociologia da Educação se constitui no conhecimento sociológico e na sua aplicação na educação, este trabalho irá criticar o sistema educacional elitista e tecnicista que impede um ensino qualitativo e democrático à população de baixa renda. Mesmo sabendo que o sistema educacional brasileiro está inserido no contexto do sistema global capitalista, a educação não deve formar cidadãos alienados, a escola tem um papel importantíssimo na atualidade, papel este que se consiste em dar uma educação de qualidade visando formar cidadãos emancipados historicamente, libertos de ideologias e conscientes de suas raízes sociais, assim aptos a gerar uma práxis revolucionária modificando o mundo. Este estudo entende, portanto, que para superar essa sociedade capitalista e alienada só será por meio de uma educação que vise à mudança de mentalidade do homem como um todo, proporcionando meios para que ele alcance a omnilateralidade. Palavras-chave: educação; Karl Marx; sociedade. INTRODUÇÃO Por vivermos em uma sociedade capitalista, ocorrem com muita frequência modificações no mundo do trabalho, e por isso as exigências são cada vez mais rígidas e inflexíveis. Por isso, a educação escolar contemporânea foi e ainda é desenvolvida para atender os interesses e as necessidades capitalistas, cuja ênfase está na individualidade. Contudo, esse método tecnicista de ensino tem formado pessoas alienadas, totalmente insatisfeitas com o que é e o que tem, pessoas que não conseguem ter embasamentos suficientes para opinar a respeito de um fato ocorrido em seu meio social e nem conseguem correlacionar com a sua realidade, muito menos fazer uma reflexão de como está inserido 42 Estudante do Curso Superior de Licenciatura em Artes Cênicas, IFTO – CAMPUS GURUPI. Email: [email protected]. 43 Professor Mestre (UFPR, 2008); IFTO – CAMPUS GURUPI. Coordenador do Núcleo de Pesquisa em Educação, História e Diversidade Cultural - NUPEHDIC (Capes/CNPq). Email: [email protected]. nisso tudo. Tudo isto foi antes mencionado por Karl Marx em sua concepção acerca da educação. Marx percebeu que o capitalismo além de alienar a classe dominada e fazê-la escrava de ideologias que a classe dominante espalhava sem nenhum pudor para continuar em seus bel-prazeres dominantes, assimilou que o mesmo – o capitalismo -, interferia na educação sistemática, ou seja, na educação escolar. Interferindo de forma a privilegiar a classe dominante, o capitalismo usa de meios como um ensino precário aos alunos pobres e o contrário aos alunos ricos, assim empurrando os pobres a marginalização para tornar-se apenas mão de obra à classe rica e dominante. Formando assim um ensino elitista, onde poucos são os alunos que conseguem chegar à escola e principalmente permanecer nela. Analisando os estudos e pensamentos de Marx, podemos perceber que as concepções dele permanecem até hoje, mesmo depois de ter se passado tanto tempo; podemos compará-lo a um “profeta social”, que simplesmente influenciou grandes pensadores na área da educação e continua a influenciar. No decorrer deste estudo serão citados pensadores/pesquisadores que se dedicaram a refletir a democratização do ensino. Observando-se assim, a realidade social que tem sido de grande importância para debater e procurar meios que possam solucionar as desigualdades sociais que são extremamente latentes atualmente. O importante mesmo é que a escola inove, assim possibilitando a seus alunos a autonomia necessária para que alcancem a omnilateralidade que Marx havia dito há muito tempo atrás. É certo que a escola eduque e instrua em conjunto para se formar cidadãos conscientes e reflexivos, e não somente instrua como se faz, colaborando de forma bastante empenhada em formar pessoas alienadas e alheias a sua capacidade de transformação pessoal e social. MARX E SUA CONCEPÇÃO EDUCATIVA Marx procurava compreender o mundo através da ciência e tinha como concepção sociológica o materialismo-histórico-dialético; Mas o que é isso? É um caminho metodológico que procura explicar a realidade compreendendo-a pelo processo do movimento do pensamento (a dialética entende o mundo como algo contraditório e dinâmico), entendendo que os homens se organizam em sociedade para poder sobreviver, produzindo seus meios de sobrevivência (materialidade), e refletindo que tal organização vem se modificando através dos tempos (histórica). Sabendo que Marx entendia que o desenvolvimento pleno (total, completo das possibilidades do ser humano) de uma pessoa é “unilateral” (MARX; ENGELS, 1979; MARX, 1993. Apud In: TOZONI-REIS, 2007) e que também o trabalho é a categoria central na teoria de Marx, trabalho que ele entende como algo além do conceito econômico, é algo filosófico, essencial, vital e extremamente humano, pois o homem se relaciona com o mundo natural através do trabalho (vivência), trabalho esse que é a atividade de ação dos homens no mundo. Então ele chama de “corpo inorgânico” ou “corpo complementar” o que se refere ao mundo natural transformado pelo trabalho humano. Assim o homem estará sempre dependente do seu eu complementar, o corpo “inorgânico”. Então diante do pensamento marxista, a educação na sociedade capitalista terá como principal objetivo a omnilateralidade. A omnilateralidade nos foi conceituada em Manuscritos Econômicos Filosóficos (MARX, 1993. Apud In: TOZONI-REIS, 2007), assim sendo: A omnilateralidade diz respeito ao desenvolvimento pleno humano, isto é, as possibilidades, históricas e concretas de desenvolvimento pleno das capacidades humanas que não se realiza no capitalismo porque, nesse, o trabalho humano é explorado. A omnilateralidade além de ser definida pelo trabalho na relação homem-natureza é a apropriação plena do ser humano, resultado da atividade vital voluntária, é a concepção filosófica da função unilateral. A organização típica e original do modo de produção capitalista é a “divisão do trabalho”, esta cuja missão é separar o intelectual do manual, e que tem desencadeado outro fator que Marx identificou como alienação. Mas por que alienação? Aliena porque, como atividade vital, ao separar aqueles que pensam o trabalho daqueles que o executam, “rouba” do trabalhador a possibilidade de formação plena pelo trabalho. Isto é, [...] impede que os trabalhadores se desenvolvam plenamente, pois os afasta da realização do processo de trabalho total: pensamento e ação. (TOZONI-REIS, 2007, p.8) Sendo como parte do processo de produção, a alienação ocorre impedindo a omnilateralidade, tudo baseado na divisão do trabalho. O processo de trabalho que caracteriza o capitalismo implica na alienação do produto do trabalho e da atividade do trabalho. [...] o trabalhador produz um produto resultante de seu trabalho, mas não tem sobre ele controle algum, ele o produz não para o seu próprio uso, mas para outro, que lhe confere valor de troca. [...] a alienação do trabalhador na atividade do trabalho caracteriza-se, na organização do processo de trabalho sob o modo de produção capitalista, pela impossibilidade dele tomar decisões sobre essa atividade: [...] “Assim, o seu trabalho não é voluntário, mas imposto, é trabalho forçado, explorado. Não constitui a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio de satisfazer outras necessidades” (MARX, 1993, p.162). Em decorrência da organização social do trabalho no capitalismo apresentar-se como trabalho imposto, alienado, temos a alienação das pessoas humanas. (Idem. p.8) Tendo a alienação a capacidade de impedir o homem de refletir sobre o que está fazendo, perceber sua vida como fator de mudança e influência na sociedade a qual está inserido e amputar do mesmo, a sublime competência criadora, que é fundamental para se sentir realizado; Ela colabora para que o homem não se desenvolva, por causa de um dos produtos da alienação que é a coisificação do homem, além das formulações ideológicas que as classes dominantes produzem e dissemina na classe dominada. Como o homem não se sente realizado e completo, através das ideologias, o homem começa a compreender suas atividades como alheias à sua vontade e força, não conseguindo associá-las a sua produção, assim atribuindo-as as condições e forças superiores ou independentes de sua própria condição. Por conseguinte, as classes dominantes acabam utilizando tais ideologias para mascarar a realidade e dar falsas explicações das relações sociais às classes dominadas, negando a existência de dominação das classes sociais. Ou seja, ela manipula o homem alienado, pelo seu corpo de ideias que acaba sendo aceito como verdade universal para todos. Assim, a mesma promove, controla e distribui condições e materiais para perpetuação desse corpo de ideias, utilizando todos os meios educativos disponíveis, como a família, os meios de comunicação e inclusive a escola. A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias, e valores) e de normas ou regras (de condutas) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar, o que devem valorizar, o que devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer (CHAUÍ, 1981, p.113). Como no dizer de Tozoni-Reis (2007), quanto mais o capitalismo produzir a coisificação do homem, mais a alienação gerará a ideologia. A alienação não é superada sozinha, não basta para o sujeito ter consciência da situação a qual está passando, isso só o ajudará em seu processo de mudança, mas para uma verdadeira mudança é necessária a ação social coletiva, que vem através da práxis (ação prática refletida, pensada concreta e historicamente). Assim a práxis, segundo Marx não somente deve ser praticada, deve ser além de tudo pensada e compreendida reflexivamente, tudo procurando superar a ideologia e a alienação o que já proporciona a formação omnilateral do homem. Assim, a práxis (prática educativa ou prática social) deve ter: [...] como preocupação central a prática social transformadora, a construção de relações sociais plenas de humanidade dirigidas para a superação da desigualdade social. Trata-se, portanto, de educar para a transformação, não do sujeito individual, mas das relações sociais de dominação que determinam relações sociais injustas e desiguais. (TOZONI-REIS 2007, p.13) Dessa forma a educação não somente transforma a realidade social, mas também transforma e dá suporte necessário aos educandos para que, ao irem conquistando a omnilateralidade, acabem modificando as condições sociais vigentes instaladas pelo capitalismo. CAPITALISMO X EDUCAÇÃO Um dos desafios mais difíceis que a educação tem enfrentado atualmente é a chamada degradação social. Ora, mas o que é degradação social? A degradação social implica a perda parcial ou total do status social, a exclusão dos direitos a que todo individuo tem na sociedade, em seus diferentes setores como família, educação, economia, política social [...], levando as pessoas, quase sempre à marginalidade e/ou marginalização. (LAKATOS e MARCONI, 2010, p.320) Uma das áreas que a degradação social mais tem alcançado é a família, que sendo uma instituição social básica que constitui a estrutura da sociedade, implica na sua principal função educativa que é perpetuar valores, cultura e convivência. Nisso, muitos pais tem achado que a escola deve dar o suporte informal educativo que é função da família dar. Muitas famílias, hoje, estão deixando a educação formal e a informal por conta da escola. Nem a educação de base é dada, pois os pais saem muito cedo de casa é só voltam à noite, não tendo tempo para orientar seus filhos. (LAKATOS e MARCONI, 2010, p. 325). Nesse contexto, KILPATRICK percebeu que “estamos em tempo de mudanças” (2011, p.23). Assim em seu livro “Educação para uma sociedade em transformação”, Kilpatrick defende a ideia de que a escola deve assumir a responsabilidade que ora era da família em preparar as crianças para a convivência na sociedade. Tendo a escola que ser um lugar de experiências reais, o lugar em que a vida se processa. LIBÂNEO (1994, p.17) diz complementado este pensamento que: A prática educativa não é apenas uma exigência da vida em sociedade, mas também o processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências culturais que os tornam aptos a atuar no meio social e a transformá-lo em função de necessidades econômicas, sociais e políticas da coletividade. É essa prática educativa que Marx defende, a chamada práxis, que proporciona ao homem a omnilateralidade. Entretanto, tal prática tem sido amplamente prejudicada e combatida pela modelo tecnicista de educação, que segundo Demerval Saviani: [...] a pedagogia tecnicista advogou a reordenação do processo educativo de maneira a torná-lo objetivo e operacional. [...] Buscou-se, então, com base em justificativas teóricas derivadas da corrente filosófico-psicológica do behaviorismo, planejar a educação de modo a dotá-la de uma organização racional capaz de minimizar as interferências subjetivas que pudessem pôr em risco sua eficiência. Se na pedagogia tradicional a iniciativa cabia ao professor e se na pedagogia nova a iniciativa deslocou-se para o aluno, na pedagogia tecnicista o elemento principal passou a ser a organização racional dos meios, ocupando o professor e o aluno posição secundária. A organização do processo converteu-se na garantia da eficiência [...]. (acesso em 23/02/13, às 19h00min) Ora sendo o tecnicismo implantado no Brasil em meados de 1930 – fase essa que o país estava se industrializando e em pleno regime ditatorial -; tinha como objetivo formar indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, sendo de acordo com o modelo capitalista. A escola não trabalhava a reflexão e criticidade nos alunos, pois o foco era formar mão-de-obra para o mercado de trabalho. Ensinando-se apenas o necessário para que os estudantes pudessem ser práticos em suas atividades, assim sendo aplicados reforços positivos ou negativos, além de estímulos para ajustar o indivíduo a certo “comportamento aceitável”, de forma a controlar a conduta individual. Ou seja, os alunos eram educados para o capitalismo. Tal modelo de educação é um meio de manipulação da classe dominante à classe dominada, Saviani em seu livro “Escola e Democracia” diz que o tecnicismo define a marginalidade como ineficiência ou improdutividade. Portanto, a função da escola passa a ser de formação de pessoas eficientes para o aumento da produtividade social, ou seja, para o rendimento da produção capitalista. Além do fator de degradação social – que atua em várias áreas, não só da família -, a educação tecnicista é um dos agravantes da alienação capitalista, sendo assim a marginalização um produto incontestável da alienação. O conceito de marginalidade passou por várias acepções: [...]; em 1996, Lewis escreve sobre a “cultura da pobreza” [...], a mais completa é a de Quijano (1966), que considera “a marginalidade como falta de integração.” (LAKATOS e MARCONI, 2010, p.316) Essa marginalidade também pode ser entendida como delinquência, isto é, são os analfabetos ou os insuficientemente instruídos. Darcy Ribeiro diz assim: “dois fatos impressionam na educação brasileira: a magnitude da rede escolar pública e sua precariedade” (Educação no Brasil, 1986). Darcy Ribeiro entende que o analfabetismo é produto da ineficiência da escola pública brasileira, assim formando cidadãos marginalizados, pois não conseguem se integrar à sociedade. E diz mais acerca da escola ideológica, diz que ela é capaz de convencê-los “de que são pobres porque são burros”, sendo também contra os professores tecnicistas dizendo: Aqui está o fulcro da questão: nossa escola fracassa por seu caráter cruelmente elitista. Alguns educadores alienados, envoltos nas névoas da sua pedagogia pervertida, estão dispostos a firmar que o fracasso escolar da criança pobre se deve a deficiências que ela traz de casa. A escola não teria nada a ver com isso. Os professores enfrentariam, neste caso, uma situação carência insuperável, em consequência da qual a maioria da população brasileira seria ineducável. (Idem, 1986) E completa mais: Funcionando na base dessa falsa expectativa, ela é uma escola hostil à sua clientela verdadeira, por que, sendo uma escola pública, a sua tarefa é educar as crianças brasileiras, a partir da condição em que elas se encontrem. (Ibidem, 1986) Assim, ele e também Saviani, seguem a mesma opinião de Kilpatrick, o qual defende que a escola deve sim, assumir essa responsabilidade de educação e cidadania, ou seja, o professor em si próprio deve compreender e suscitar em seus alunos os métodos materialismo-histórico-dialético. Essas considerações significam uma reorganização dos objetos e dos procedimentos da escola. O currículo e os métodos devem trocar as bases estáticas por bases dinâmicas. Em função do declínio no papel educativo da família e da comunidade e, de acordo com uma melhor compreensão do processo de aprendizagem, a escola deve ser tornar um lugar em que a vida, a experiência real, se processa. Somente nessas bases nossas crianças poderão aprender o que realmente precisam. (Kilpatrick, 2011 p. 81 e 82) Saviani também afirma: [...] a responsabilidade dos professores em transformar, não o mundo, mas sim cada indivíduo que assiste sua aula, compreendendo melhor o mundo e seus acontecimentos, assim como seu papel dentro do sistema, seus deveres e seus direitos para a construção de um país melhor. (acesso em 22/02/13, às 08:45) CONSIDERAÇÕES ACERCA DA TEMÁTICA Sendo a educação “Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando a sua melhor integração.” (LAKATOS E MARCONI, 2010, p.323). Ela é efetuada de duas formas, a) formalmente, onde é a escola que normalmente efetua tal processo “[...] para propiciar aprendizado do conhecimento – organização sistemática das informações e conceitos [...].” (LAKATOS E MARCONI, 2010, p.324) e b) informalmente, onde é a família que realiza perpetuando valores, passando conceitos de moral, costumes e convivência. Contudo, não e isso o que tem acontecido ultimamente. As famílias normalmente têm deixado sua responsabilidade a encargo da escola por buscar melhores meios de sobreviver dentro da sociedade capitalista a qual está inserida. O que nós temos encontrado por ai são pessoas totalmente alienadas e exploradas em seu trabalho pela classe dominante da sociedade. Essas pessoas vêem divididos o seu trabalho manual do intelectual, não alcançaram sua omnilateralidade, assim totalmente ao par de sua consciência crítica e perceptiva da realidade social que faz parte. Como citado anteriormente, Marx acreditava que o homem não podia sair da alienação sozinho, mas ele sairia se realmente estivesse disposto a isso, e saísse com a sociedade, através de uma nova práxis. Marx e outros autores - Kilpatrick, Saviani, Ribeiro e Libâneo -, percebem que a escola está sendo utilizada como forma de manipulação da classe dominante à dominada, assim a mesma não estava cumprindo seu papel formal. Sendo elitista, tem formado indivíduos sem senso crítico e sem desenvolvimento pleno de sua capacidade cognitiva e motora, assim muitos analfabetos são marginalizados da sociedade letrada e se tornam mera massa de manobra. Urge, portanto, que os diretores, coordenadores pedagógicos e professores, tomem partido da função real da escola em seu sentido metodológico e social. É compreensível que o sistema educacional atual tem atado fortemente os professores, assim os impossibilitando de agirem de forma a levar seus alunos a um conhecimento prático e reflexivo da realidade aplicada no conhecimento teórico. Muitos professores se encontram desmotivados e desacreditados de uma educação transformadora, democrática e não partidária. Muitos até já deixaram a profissão e muitos outros têm se preparado para deixá-la futuramente. Mas é fundamental que os que ainda acreditam na educação como meio democrático e participativo das pessoas na sociedade não perpetuem mais a educação tecnicista. Libâneo (1994, p. 18) enfatizou em seu livro Didática que “... conforme dissemos a educação é um fenômeno social. Isso significa que ela é parte integrante das relações sociais, econômicas, políticas e culturais de uma determinada sociedade.” Não adianta querermos desassociar a educação da vivência prática da sociedade, pois uma influência diretamente na outra. Para realmente podermos chegar a uma revolução a qual Marx acreditava que um dia chegaríamos, devemos apostar em uma educação integradora, que visa a uma práxis reflexiva e democrática, utilizando-se de um processo de aprendizagem cognitivista e humanístico e antes de tudo apostar em uma educação que significa a um fenômeno social; Educação está que modificará a estrutura social em suas diversas áreas: econômica, politica, ambiental, educacional, profissional, judiciária, entre outros. Colaborando, portanto, para uma sociedade sem crises e liberta das grandes desigualdades sociais. Pois assim como Marx acreditava que “o fator econômico é determinante da estrutura do desenvolvimento da sociedade” (LAKATOS e MARCONI, 2010, p.47), a educação se levada a sério e com comprometimento também irá ser. Ainda são necessárias muita reflexão e muita experimentação. Na verdade, o processo é permanente. Assim, o que realmente queremos é oportunidade para pensar e experimentar. Se a sociedade precisa da educação –e certamente precisa – o esforço é digno de apoio e vale o custo. (Kilpatrick, 2011 p.119) REFERÊNCIAS FERREIRA, Fabiane Aparecida Rovina. Um toque de humanização numa educação tecnicista. (www.unimep.br/phpg/mostraacademica/anais/4mostra/pdfs/224.pdf - acesso em 10/02/13). KILPATRICK, William Heard. Educação para uma sociedade em transformação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. LAKATOS e MARCONI, Eva Maria, Marina de Andrade. Sociologia Geral. 7 ed. rev. e ampl. – São Paulo, SP: Atlas, 2010. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo, SP: Cortez, 1994. LOPES, Paula Cristina. Educação, Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas: Marx, Durkheim e Weber. (http://www.bocc.ubi.pt/pag/lopes-paula-educacao-sociologia-da-educacao-e-teorias-sociologicas.pdf acesso em 11/02/13). SALES, Helton. Marxismo e Educação. (www.midiaindependente.org/media/2009/08/451444.doc - acesso em 11/02/13). TOZONI-REIS, Marília Freitas de Campos. Sociologia: O estudo da Sociedade. São Paulo, SP: UNIVESP, 2007 (http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/168/3/01d09t02.pdf - acesso em 11/02/13). Comunicação Oral GT 2: Educação, Trabalho e Movimentos Sociais A EDUCAÇÃO DO BRASIL E DA ESCOLA BRASILEIRA NASCEM DA MAQUINAÇÃO: TEORIA DA PRÁTICA DO SISTEMA DE ENSINO BRASILEIRO DE 1930 A 1980. Álcio Crisóstomo Magalhães Fac. de Educação da Universidade Federal de Goiás – FE/UFG [email protected] RESUMO Esse trabalho persegue o fluxo das idéias no contexto de modernização e consolidação do Estado liberal brasileiro. Especificamente, analisa como a materialidade das condições de produção fora apreendida ideologicamente sob a forma de política pública e expressão do moderno sistema de ensino do país. Por assim dizer, evidencia-se que parte-se da tese da Modernização Consevadora do Brasil elaborada por Florestan Fernandes, para caracterizar sociologicamente o ciclo de ruptura politício-econômica que insere o país no sistema produtivo capitalista. Esse processo envolve um duplo movimento, a transformação das condições materiais de produção, bem como a inculcação de uma nova forma de pensar, sentir e agir, portanto, a adesão a uma nova forma de educação moral. Para tanto, a criação de um sistema de ensino em sintonia com esses novos valores seria fundamental. Não por acaso é nesse contexto que lançam-se as bases da escola brasileira. Tal reflexão visa compreender como no Brasil o discurso em defesa do direito à escola vem sendo diretamente influenciado pela cultura política forjada pelas engrenagens da matriz produtiva capitalista, nascida na década de 1930 e efetivada no correr das cinco décadas seguintes. De modo mais explícito, interroga-se por meio de uma pesquisa bibliográfica como o ideal de educação moral de caráter assistencialista, bem como o pragmatismo e o economicismo desenvolvimentista combinaram-se na consolidação do projeto de escolarização que vem participando na educação do Brasil desde a ditadura do Estado Novo até o autoritarismo de Estado dos governos militares. Nesse sentido, por meio de um estudo dissertativo revela-se como uma dada concepção de escola, ganhou na sociedade civil, a dimensão de cultura escolar, traço de unidade cultural, instrumento de educação, elemento de produção e/ou reprodução do consentimento ativo, portanto, de hegemonia. Dito dessa forma evidencia-se que ao longo de toda a pesquisa lança-se mão de um referêncial teórico que além de fundamentar a tese que se persege, permite o descortinamento da lógica de acumulação de capital. Esse, o grande objeto de investigação da dialética materialista inaugurada por Marx e perseguida por uma corrente de pensamento científico que vêm revelando a complexificação da contradição estrutural criada por essa matriz produtiva. Palavras-chave: ideologia; escolarização; estado brasileiro. A luta é material e cultural ao mesmo tempo: logo é política. (...) O que nos interessa é perseguir o movimento das idéias, não em si mesmas, mas na sua conexão com os horizontes de vida de seus emissores (...) (ALFREDO BOSI) O final dos anos 1930 marca para o Brasil a inauguração de um novo ciclo produtivo e por extensão, uma nova estrutura sócio-política. “Com a sua política econômica Vargas enveredou pelo caminho de uma nova dinâmica na acumulação de capital: a industrialização”. Nesse contexto histórico inaugura-se no país o ciclo de uma direta intervenção estatal na esfera econômica. A consolidação do domínio burguês no nível político, no entanto, ocorre a partir do Estado Novo (1937-1945), quando se efetiva uma acentuada intervenção do Estado na economia, a modernização do aparelhos estatal e a participação de profissionais de classe média, militares e empresários no aparelho administrativo. (GERMANO, 1993, p. 43) Se o otimismo pedagógico do movimento escolanovista inaugurou nos anos 1920 e 1930, o debate acerca da criação de um sistema nacional de ensino público, de qualidade, e em plena conformidade com o ideário liberal conservador, no ciclo histórico seguinte, do final dos 1930 a escolarização ganhou um caráter eminentemente economicista, condição de filiação social44. Vinculou-se estreitamente à idéia de desenvolvimento, ao ideal de preparação das novas gerações para a produção de uma espécie de “hipertrofia do organismo políticoeconômico nacional”. A garantia do direito de exploração do mercado educacional por grupos econômicos e a conservação de um sistema de ensino fiel aos princípios cristãos acabaram por dar materialidade à concepção de escola inaugurada pela ditadura Vargas. O conjunto de reformas isoladas organizadas sob a denominação de Leis Orgânicas do Ensino45 expressa a tônica do ensino formal nesse período. A intenção de criar um aparelho jurídico administrativo nacional capaz de mediar os interesses econômicos do grande capital não poderia negligenciar a tarefa de cunhar uma escola triplamente eficaz. Capaz de responder à demanda dos movimentos sociais pelo direito à educação pública, eficiente na tarefa de instrumentalizar mão-de-obra para a implementação do projeto desenvolvimentista de nação, e, sobretudo, capaz de continuar resguardando às elites a formação de nível superior gratuita e de qualidade. “Continuando uma tradição acentuada com a reforma Francisco Campos, as Leis Orgânicas só permitiam o acesso ao ensino superior no ramo profissional correspondente.” (ROMANELLI, 1978, p. 156) O anseio nacional pelo direito ao ensino público foi satisfeito sob a forma de um aparato de educação moral e de treinamento de mão-de-obra para a industrialização nascente. 44 Referência às categorias desenvolvidas por Robert Castel (2001). De acordo com o autor o desequilíbrio entre o político e o econômico produz na Era moderna uma grande anomia social. Como tamponamento dessa lacuna surge o Estado social, o ente que se coloca entre essas duas esferas e, através da criação de mecanismos de filiação (direitos e deveres), cria um novo e provisório equilíbrio para a sociedade burguesa. 45 Para uma melhor compreensão do significado prático e sentido desse conjunto de leis, o que explica inclusive a criação do chamado Sistema “S” e das Escolas Técnicas Federais brasileiras ver ROMANELLI (1978). A escola, portanto, ganhou importância no processo de construção de unidade cultural para o país. “A política educacional do Estado Novo não se limita à simples legislação e sua implantação. Essa política visa, acima de tudo, transformar o sistema educacional em um instrumento mais eficaz de manipulação das classes subalternas” (GERMANO, 1993, p. 52). Além de instrumentalizar trabalhadores ganhou o status de instância de promoção dos valores nacionais. É muito por isso, que “(...) de meados dos anos 40 a meados dos anos 60 os esforços estão concentrados na difusão da escola primária nas cidades e principalmente no campo e nas campanhas de educação de adultos”. (PAIVA, 2011, p. 40) A partir da segunda metade dos anos 1940 até o início dos anos 1960 o Brasil alternou crises de dominação e ciclos de restituição autoritária da ordem. Em ambos os momentos o ideal de escolarização permaneceu fiel aos princípios da democracia liberal burguesa. “A Constituição de 1946 é, pois, um documento de inspiração liberal-democrática”. (ROMANELLI, 1978, p. 171) Sua concepção de sistema nacional de ensino retomou muitos dos princípios ideológicos dos pioneiros do “Manifesto de 1932”. O fato de o professor Lourenço Filho ter sido designado presidente da comissão encarregada da elaboração do anteprojeto de diretrizes e bases da educação, prevista no Texto Constitucional de 46 é um indício disso. O projeto final aprovado em 1961 recusava dos pioneiros, apenas aquilo que eles tinham de menos liberal, ou seja, o ideal de escola pública. Com a crise político-econômica do projeto populista do Estado Novo46 o discurso ideológico da unidade nacional passou a encontrar grande dificuldade para reproduzir-se como verdade incontestável no final dos anos 1950 e início dos anos 1960. Como não poderia deixar de ser, essa instabilidade social refletia-se também no campo educacional. O início dos 1960 revelou que a promessa de uma escola capaz de integrar a todos independente da classe social, bem como de criar uma nação potencia não se confirmava. O que se produzira de fato fora, por um lado, um sistema de ensino privado que, fomentado pelo Estado, assegurava privilégios aos herdeiros do capital, e, por outro, uma escola pública que conduzia uma pequena parcela dos filhos da classe trabalhadora a uma formação profissionalizante e à exploração precoce do mercado de trabalho. “(...) O período de 1958/1964 se caracteriza sobretudo pelo ‘realismo em educação’. Os ‘entusiastas’ praticamente haviam desaparecido 46 Por um lado o grande capital encontrava-se limitado pela pressão do Estado contra as remessas excessivas de lucros das grandes empresas ao exterior, por outro os trabalhadores, ainda que empregados no grande parque industrial montado no país, encontravam-se sacrificados pelo descompasso contínuo que se estabelecia entre o salário mensal e a remuneração necessária para o custeio do orçamento doméstico. (...)” (PAIVA, 1987, p. 206). Um diagnóstico elaborado pelos “pioneiros” e assinado por mais de cem professores, escritores e pesquisadores dá uma noção da situação à época. A educação primária, em dois, três ou quatro turnos, se reduziu a pouco mais do que nada, (...) e baixou o nível do ensino secundário. (...) Se agravaram desmedidamente os problemas de edificações e instalações escolares, (...) Se se considerar ainda que ultrapassa de 50% da população geral o número de analfabetos no país e que, de uma população em idade escolar (isto é, de 7 a 14 anos) de 12 milhões de crianças, não frequentam escola senão menos da metade ou, mais precisamente, 5.775.246, nada será preciso acrescentar (...). (MANIFESTO 1959, In, HISTDBR, 2006) É esse quadro de abandono que motivou, do início dos anos 1960, diversos grupos de professores, estudantes progressistas, ligas camponesas e sindicatos rurais, reunidos em centros e movimentos populares de cultura, a dedicarem-se a lutarem em defesa da escola pública e ao trabalho de educação de adultos e jovens excluídos do sistema oficial de ensino. Àquele período a escolarização em massa povoava o ideário da esquerda, que buscava aliados na luta contra a estrutura político-econômica do país. “Tudo isso repercutia no campo da educação e da cultura. Campanhas e movimentos de educação e cultura popular despontavam em todos os pontos do país, notadamente no nordeste, com propostas de conscientização política e social do povo.” (GERMANO, 1993, p. 50). Em 1962, por exemplo, Paulo Freire, sistematiza seu método de educação de adultos. Diante de tal realidade, perigosamente potencializada pela explosão de movimentos sociais por quase toda a América Latina, e em especial pela revolução cubana que inspirava a esquerda brasileira, a burguesia nacional financiada pelo grande capital mundial e respalda por seus aliados internos (setores da classe média e igreja católica) produziram uma dura reação. A dificuldade da política de Segurança Nacional implementada pela ditadura de 1930 em criar uma hegemonia no período pós Vargas, fez com que novamente a violência material fosse utilizada a bem da restituição do controle. A análise gramsciana acerca do conceito de hegemonia nos permite compreender esse contexto brasileiro. Como no primeiro momento (ditadura civil) o domínio não conseguiu converter-se em hegemonia, ou seja, como o discurso ideológico não conseguiu impregnar a esfera cultural, (os anos de 1946 a 1963 revelam uma combinação, ou alternância entre crescimento econômico e grande instabilidade política), a restauração do controle pela violência (ditadura militar) foi a estratégia da burguesia oligárquica local para dar seqüência a seu projeto de poder, ou ao ideal de submissão do Estado brasileiro ao ciclo de acumulação do grande capital mundial. Em meio a essa atmosfera de desequilíbrio os conflitos sociais são inevitáveis e o risco de contestação da ordem, insubmissão, e até em situação limite, de revolução torna-se possível no horizonte das idéias. É por isso que ao tentar retomar provisoriamente o equilíbrio entre o político e o econômico e restaurar a dominação burguesa o Estado brasileiro recorre à combinação de violência material e assistencialismo. Assim, em 1964 o Estado brasileiro opta pelo autoritarismo e pelo centralismo político administrativo. Um novo golpe deu início a um outro tipo de ditadura no país, promovida diretamente pelos militares, mais longa e muito mais violenta que a primeira. O Congresso Nacional fora mutilado em seu funcionamento, o Judiciário passou a funcionar como apêndice do Executivo e a sociedade civil foi duramente reprimida e controlada. Daí, Cruz e Pessoa serem incisivos na afirmação de que “as décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pela dispersão político-organizativa da esquerda brasileira”. (CRUZ e PESSOA, 2008, p. 221). A Constituição de 1967 agrega ao ideário da segurança nacional do Estado Novo, o princípio do combate aos chamados inimigos externos, materializados e aglutinados à época no fantasma do comunismo. Portanto, mais que a conservação dos limites materiais o golpe visava a preservação das fronteiras ideológicas. Conforme Chauí (1985) esse texto constitucional que institucionalizou o regime de exceção, representou para o país uma ação de Estado baseada no princípio do Nacionalismo Responsável, ou seja, sem os movimentos sociais e políticos, organizada de modo pragmático (endividamento externo) e fundamentada na tese da modernização ou do poder tecnocrático. O controle promovido pela ditadura militar tinha pretensões hegemônicas. Nessa tarefa o exército desempenhara um intenso papel educativo. A grande tônica desse ciclo fora o discurso do nacionalismo-desenvolvimentista, da eliminação da grande política, ou seja, do enfraquecimento da esfera pública como espaço de debate, e da hipertrofia da sociedade política. O que significou um Estado autoritário, centralizador, intervencionista e regulador da esfera econômica (acumulador), bem como organizador de uma espécie de vontade nacional. O aparelho estatal, por meio da asfixia das ações políticas, passou a atuar duramente na direção e repressão da sociedade civil. “(...) Cabia ao Estado organizar e dirigir o referido projeto, e, segundo Góis Monteiro, o Exército deveria ter aí um papel de destaque inclusive como educador” (GERMANO, 1999, p. 44). Segundo o próprio Germano o General Góis Monteiro era o mais importante precursor da Ideologia da Segurança Nacional no Brasil. Nesse contexto a estruturação ou reestruturação do sistema de ensino era tarefa de primeira ordem. O fato de a escolarização ter sido incluída no Plano Nacional de Desenvolvimento evidencia isso. A precariedade da escola pública brasileira da década de 1960 poderia constituir-se em fator de anomia social. “Os moradores dos bairros populares, nas grandes cidades brasileiras, nos anos 1970, emergem como sujeitos importantes na luta pelo acesso à escola, (...) reivindicando demandas diversas com destaque para a escola”. (CRUZ, 2011, p. 103). Por esse motivo o Estado militar necessitava conter tal demanda. O combustível ideológico que viria a nortear o sistema de ensino pós-golpe militar não seria outro senão made in USA. Se até o final dos anos 1950 pode-se falar de um ideal de escolarização baseado nos princípios escolanovistas tributários da combinação da tese de educação moral de Durkheim47 e da escola ativa de John Dewey48, a partir de 1964 a escola brasileira praticamente caracterizou-se pela submissão ao projeto de escolarização concebido pela cultura política liberal burguesa sob forte influência norte-americana. Sob a alegação de crise do sistema de ensino (precariedade das instalações, carência de professores e insuficiência de vagas) o Estado autoritário do Governo Militar ancorou-se no tripé ideológico substanciado pelos acordos MEC-Usaid, pela Comissão Meira Matos e pelo Grupo de Trabalho da Reforma Universitária para responder aos anseios dos movimentos sociais pelo direito à escola. Através do acordo MEC-Usaid49 (Ministério da Educação e Cultura-Agência de fomento do governo norte-americano) grandes volumes de recursos foram empenhados sob a forma de empréstimos internacionais para financiar a reforma da educação escolar brasileira. A partir do trabalho da Comissão coordenada pelo Coronel Carlos Meira foi produzido um relatório que propunha dar ao MEC um caráter empresarial, ou seja, uma organicidade logística, e uma hierarquia burocrático-administrativa. Isso permitiria à 47 Para Durkheim (2008) a educação não seria outra coisa senão um ato moral, ou seja, compromisso coletivo de inculcar nas crianças toda produção material e imaterial, todos os valores consagrados como socialmente úteis e necessários para a manutenção do sujeito coletivo. Dever do grupo de impregnar os mais jovens de uma conduta regular e de uma vontade de submeter-se a uma autoridade, variáveis que em combinação correspondem a um espírito de disciplina. 48 Para Dewey, conforme (CUNHA, 2007) a escolarização deve corresponder à experimentação científica visando à auto-realização e, por conseguinte o desenvolvimento econômico do grupo social. Essa tarefa não seria mais que um processo de educação do indivíduo para o livre trânsito no sistema liberal burguês da igualdade de oportunidades. Todos deveriam ser estimulados a encontrar meios de se inserir na hierarquia das posições sociais existentes. 49 O acordo MEC-Usaid, corresponde a um tratado de cooperação entre o Governo Militar Brasileiro e o Governo dos Estados Unidos em virtude da chamada ‘Aliança para o Progresso’. Entre os anos de 1969 e 1977 a Usaid (Agência Norte-americana de Fomento ao Desenvolvimento) emprestou ao MEC 82 milhões de dólares para serem gastos na reforma de todos os níveis de ensino. Não é necessário dizer que além da devolução futura do dinheiro acrescida de juros, o Ministério da Educação do Brasil como contrapartida deveria acomodar e remunerar os técnicos norte-americanos que iriam participar diretamente na definição de onde e como esses recursos deveriam serem empregados. instituição remover obstáculos de ordem política, estruturar-se sob um modelo tecnocrático e, por conseguinte, literalmente conter as reivindicações do movimento estudantil. Não por coincidência, “diagnósticos” semelhantes também foram produzidos pelo grupo encarregado de viabilizar uma reforma universitária para o país. As conclusões apontavam para a necessidade de modernização do Ensino Superior no Brasil. Indicavam como prioridade a construção de uma universidade eficaz na aplicação de recursos, eficiente na educação técnico-científica, administrativamente flexível e capaz de produzir recursos humanos de excelência para o desenvolvimento econômico em curso. Portanto, de modo a tentar ser minimamente coerente com a propaganda nacionalista que justificara o golpe, sem, no entanto, abrir mão da submissão ao projeto educacional (hegemônico) que o grande capital internacional articulava com pretensões universalistas, a ditadura militar brasileira dos meados dos anos 1960 combinou os princípios da cultura política liberal burguesa, àquele momento em acelerado processo de americanização, e os interesses da classe dominante nacional composta por grupos conservadores com motivações distintas (grandes industriais, militares, ala reacionária da Igreja Católica). A década de 1960 marcou o florescimento da chamada economia da educação nos Estados Unidos. O professor Theodore Schultz, da Universidade de Chicago, berço da produção de receituários economicistas para o mundo capitalista, percebeu que as crescentes demandas por escolarização apesar de representarem um problema para o Estado poderiam converter-se em uma válvula de escape para todo o mundo capitalista, em especial para a economia dos Estados Unidos. Se, por um lado exigiam dos governos grandes esforços para ampliar os níveis de ensino, por outro representavam para o grande capital a possibilidade de concentração de renda. A venda de pacotes50 (consultorias) de reforma educacional para países da América Latina além de intensificar a circulação de capital em nível mundial, permitiria ao país uma participação direta, pela mediação da escola, na educação latinoamericana, bem como, a instrumentalização de uma mão-de-obra abundante e ávida por exploração precoce. Partindo dessa equação Schultz, além de desenvolver a chamada Teoria do Capital Humano, deu um sentido ideológico e restrito à tarefa formativa. 50 Através de uma curiosa equação o Governo Norte-americano passou a firmar acordos de cooperação na área educacional com os países empobrecidos pela espoliação colonial. Por um lado emprestavam-se vultosas somas de recursos financeiros que deveriam ser pagas com juros e correção monetária, por outro, determinava-se o modo como esse dinheiro deveria ser gasto. Os países credores deveriam importar dos Estados Unidos consultorias, equipamentos e tecnologias para a implementação das reformas dos sistemas de ensino. Assim, educar significa, etimologicamente, revelar ou extrair de uma pessoa algo potencial e latente; significa aperfeiçoar uma pessoa, moral e mentalmente, de maneira a torná-la suscetível de escolhas individuais e sociais, e capaz de agir em consonância; significa prepará-la para uma profissão, por meio de instrução sistemática; e por fim significa exercitar, disciplinar ou formar habilidades, como por exemplo, aperfeiçoar o gosto de uma pessoa” (SCHULTZ, 1973, p. 18) A escola passou a ser entendida como uma indústria, uma empresa especializada na produção de mão de obra produtiva e contensão social. “Não é mais um processo de transmissão de cultura geral de humanidades, de saber universal. A educação é instrumentalização para o trabalho” (FREITAG, 1986, p. 108) Desse modo o que até então se caracterizava como despesa educacional deveria passar a ser entendido como investimento com alto potencial de retorno econômico (acúmulo de capital). Nesse sentido a escolarização ganhou o status de um bem de consumo como qualquer outro. O que significa que a ação pedagógica ganhou um caráter extremamente utilitário racional. Assim, quaisquer atividades com fins educativos “desinteressados” se tornam desqualificadas. A escola então, deveria inculcar nas crianças o maior volume possível de conteúdos. As reformas universitárias e da educação básica (primeiro e segundo grau) em 1968 e 1971, respectivamente, são tributárias dessa concepção de formação. Essa foi a ideologia fomentadora das grandes políticas educacionais do macro e do micro sistema escolar brasileiro naquele período, abrangendo desde a estrutura organizativa até os conteúdos e técnicas de ensino. A institucionalização dessa concepção de educação (escolarização) além de participar diretamente na inculcação da moral do Estado autoritário brasileiro pós 1964 e adestrar mãode-obra para consumo do grande capital, possibilitava a criação de uma espécie de espírito de unidade, um imaginário coletivo em torno da promessa de ascensão social (salvação) pela mediação da escola. Pela combinação da estratégia de repressão/exclusão dos “cérebros indesejáveis” e condenação de qualquer princípio educativo que se pautasse pelo espírito intelectualista ou de “aprendizagem desinteressada” deu-se início a um duro processo de educação nacional51. Uma espécie de reforma que deveria necessariamente passar, por exemplo, pela extinção do sistema de cátedras nas universidades, introdução do sistema departamental, divisão dos currículos escolares em básico e profissionalizante, adesão a um ideal de ciência aplicada ao desenvolvimento de máquinas, equipamentos e tecnologia, e permissão de exploração comercial da educação escolar. 51 Processo caracterizado pela expulsão sumária de alunos, aposentadoria precoce de professores, intervenção militar em campus universitários e repressão a qualquer tipo de movimento social que sinalizasse com perspectivas de escolarização não instrumental. Assim, enquanto parte do exército se dedicava à tarefa de reprimir e produzir o consenso pela força, uma outra parte à frente da estrutura político-administrativa dedicava-se à tarefa de institucionalizar ideologias, de criar uma hegemonia. O processo de implantação de um movimento nacional de alfabetização de jovens e adultos, o MOBRAL, expressa bem essa lógica. No ano de 1967 iniciou-se uma grande campanha nacional de alfabetização baseada na inculcação de técnicas elementares de leitura, escrita e cálculo, bem como na integração social mediada pela supervalorização da família, da comunidade local e da pátria. Nessa tarefa foram gastos milhões para a estruturação de redes de comunicação de massa com o objetivo de padronizar um modelo nacional de alfabetização de adultos. O projeto SACI, por exemplo, representa o emblema desse intento. Mesmo sem ter energia elétrica, o Rio Grande do Norte foi escolhido para a implantação de um projeto de educação à distância. As aulas seriam planejadas, elaboradas e gravadas a milhares de kilômetros da cidade de Natal e reproduzidas em inúmeras comunidades do interior do Estado por meio de aparelhos de televisores movidos à bateria, adquiridos com recursos do MEC. A escolha da capital potiguar não foi uma questão de acaso ou de ignorância dos militares. Desde o início dos anos 1960 várias ações de alfabetização de adultos vinham sendo desenvolvidas na região, inclusive com participação direta de Paulo Freire e seu método. Em uma contra-ofensiva do Estado à concepção de formação dos movimentos de cultura popular, impôs-se a todo o país a combinação de educação moral e instrumentalização da classe trabalhadora. “Essa posição coincidia com a nova orientação da Unesco em favor dos projetos experimentais de alfabetização funcional” (PAIVA, 1986, p. 291). Desse modo, a cidadania tornou-se privilégio de classe, os direitos sociais adquiriram um caráter de assistência e o aspecto educativo dos movimentos sociais foi neutralizado pela ação autoritária do Estado. A preservação do ensino religioso nos níveis primário e médio, a conservação e ampliação dos princípios da privatividade em ambos, a obrigatoriedade do Estado em dar amparo técnico e financeiro aos empresários que optassem por explorar tanto um como o outro, bem como a vinculação entre o sistema educacional e o sistema produtivo dão uma idéia do caráter da legislação de 1971. Pela lei 5692/71 reformou-se o ensino de primeiro e segundo graus e criou-se para o Brasil uma estrutura educacional não pública, em perfeita consonância com o bloco político-econômico que controlava a sociedade civil e, por conseguinte, o Estado brasileiro à época. Essa concepção de escolarização permitiu que se institucionalizasse no país um Primário vocacional de iniciação profissional e de preparação para o Secundário dicotômico, predominantemente profissionalizante. Ambos com caráter de continuidade e/ou terminalidade, instrumentalizados para a execução de procedimentos práticos. De acordo com o Parecer 339/72 do Conselho Federal de Educação, o Ensino de Primeiro Grau deveria compreender uma escolarização geral com um gradual aumento, já a partir dos 11 anos de idade de uma formação especial visando selecionar aqueles que deveriam prosseguir no nível seguinte e aqueles que já deveriam ser absorvidos pelo mercado. O Segundo Grau deveria abranger predominantemente uma Formação Especial voltada para a qualificação de habilidades técnicas do setor produtivo (Primário, Secundário e Terciário) de acordo com as características sócio-econômicas, ou com a vocação produtiva da região. Partindo de uma clara confusão entre mercado de trabalho e formação mediada pelo trabalho, idealizou-se uma estrutura de ensino secundário capaz de aproximar a escola e a esfera da produção. Sob a ideologia do desenvolvimento e do crescimento continuado da economia e alegando ao mesmo tempo assegurar empregos duradouros à força de trabalho disponível, defendem, em verdade, os interesses da maximização dos lucros da empresa privada pois mantém em reserva um potencial de trabalhadores que constantemente são reciclados em função das novas demandas geradas pela irracionalidade do modo de produção. (FREITAG, 1986, p. 30) Isso é claro em tese, pois a realidade mostrava outra coisa. Por exemplo, enquanto um curso profissionalizante de segundo grau se preocupava em ensinar os jovens da escola pública a preencher um cheque, o mercado já começava a apresentar a novidade das máquinas registradoras capazes de executar com segurança e precisão tal tarefa. Além de potencializar um mercado simultaneamente produtor e consumidor na perspectiva fordista/taylorista, essa política limitou o fluxo de entrada no Ensino Superior, bem como assegurou aos filhos das elites econômicas, condições privilegiadas na disputa pelo restrito número de vagas na universidade pública. A instrução em escolas particulares e em cursinhos preparatórios ou de treinamento para o processo vestibular dava aos alunos das escolas particulares subsidiadas pelo Estado uma grande vantagem. Desenvolveu-se a idéia de competição escolar e de competência ou incompetência para classificar os estudantes que foram transformados em “jogadores”. Elaborou-se assim um sistema de disputas completamente viciado, no qual a ideologia da igualdade de oportunidades criou a idéia de que o mérito pela vitória ou a culpa pela derrota seriam de inteira responsabilidade do indivíduo. Velando-se assim o fato de que nessa estrutura produtiva os dados dos “que têm”, apresentam seis faces de sena, do mesmo que os dados dos “que não têm”, contém seis faces nulas. Portanto, nesse contexto identifica-se um projeto de escola que se sustentava sobre três pilares, uma espécie de santíssima trindade para a educação institucionalizada brasileira das décadas de 1960 a 1980: submissão à doutrina da Segurança Nacional (moralização), fé cega na conversão da tarefa formativa em escolarização profissionalizante e crença no ideal de escola como lócus de produção de desenvolvimento econômico. Desse modo, o país consolidou no final dos anos 1980, através de uma educação dura e minuciosamente arquitetada, um sistema de ensino extremamente eficaz. Capaz de participar diretamente na produção de uma hegemonia nacional que permitisse com segurança o abrandamento da violência, sem, contudo colocar em risco o projeto de nação liberal burguês que vinha sendo efetivado no Brasil desde os anos 1930. À medida que cada um ia introjetando como seu os valores de uma cultura política autoritária e conservadora os instrumentos de açoite poderiam ser reunidos em um canto e ali permanecerem como uma espécie de moldura de um quadro, que deixa muito claro os limites de uma paisagem concebida e pintada sem muitas nuances e cores. REFERÊNCIAS BOSI, Alfredo, Dialética da Colonização, São paulo: Companhia das Letras; 1993 CASTEL, Robert, As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes, 2001. CHAUÍ, Marilena, Conformismo e resistência – Aspectos da cultura popular no Brasil – São Paulo: Brasiliense, 1985. CUNHA, Marcus Vinicius da. John Dewey: democracia e educação. Capítulos essenciais, São Paulo: Ática, 2007. 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REVISTA HISTEDBR On-line, Campinas, n. especial, p.205–220, ago2006 - ISSN: 1676-2584 206 Disponível em: <wwwhttp://Revista HISTEDBR On-Line>. Acesso em: 24/08/2012. ROMANELLI, Otaíza de Oliveira F., História da Educação no Brasil (1930 – 1973) – Petrópolis: Vozes, 1994. SCHULTZ, Theodore W, O valor econômico da educação, Rio de Janeiro: Zahar editores, 1973. Comunicação Oral GT 2: Educação, Trabalho e Movimentos Sociais A ESCOLA DA VIDA: MEMÓRIAS ESCOLARES DE ASSENTADAS RURAIS Amone Inacia Alves [email protected] RESUMO A proposta que ora apresentamos, visa mostrar a possibilidade do uso da memória de trabalhadores rurais como fonte de pesquisa para a História da Educação em Goiás, principalmente no que tange à perspectiva não-escolar. Para esse fim, fomos ao Assentamento Rural São João do Bugre, em Goiás, entrevistar assentadas, buscando apreender o sentido da escola para elas. Entendemos que, embora valorizem a escolarização, essa perspectiva constitui um sonho distante da própria cultura vivenciada. Pautaremos-nos nesse texto a discutir as questões: Como nos apropriamos da memória? Que recortes podem ser observados nas memórias não- escolares de assentadas em São João do Bugre? Para um melhor aprofundamento das questões apresentadas, nos apropriaremos de uma literatura específica que seja capaz de categorizar o conceito de memória. Palavras-chave: história; memória; educação. INTRODUÇÃO Ao tratarmos da educação de trabalhadores – tanto urbanos como rurais, debruçamos em vários compêndios de educação e nos damos conta de que grande parte das publicações omitiu experiências que se davam fora do espaço escolar. Tendo em vista a preocupação central dessas análises em privilegiar uma visão da escola como o lócus da produção do conhecimento, isso fez com que os saberes produzidos pelos diferentes grupos sociais tivessem pouco interesse, criando uma lamentável lacuna no que diz respeito à recuperação dessas memórias. No entanto, nos últimos anos, cada vez mais estudos sobre a educação de trabalhadores vêm aparecendo, buscando reconstituir não só a trajetória de lutas, mas também objetivando compreender como se dão esses espaços de sociabilidade ou como os saberes53 aprendidos constituirão uma nova forma de mobilização. O entendimento dessas dimensões 52 Professora Adjunta na área de Fundamentos Filosóficos e Sócio-Históricos da Educação da Faculdade de Educação, Universidade Federal de Goiás – UFG. Esse texto é oriundo da minha pesquisa de Doutorado, cujo objeto é a formação de trabalhadores rurais em Goiás. 53 Por saberes, utilizaremos enquanto categoria apresentada por Grzybowski (1986: 48-49 ) como: O conjunto de conhecimentos e habilidades, valores e atitudes que são produzidos pelas classes, em uma situação histórica dada de relações, para dar conta de seus interesses. educativas nos permite reconstruir uma história repleta de significados, que em vários momentos, ainda não foi plenamente reconstituída. Ao se tratar dessas práticas educativas de trabalhadores rurais, o silêncio é ainda mais gritante. Quando nos propusemos a recuperar essas memórias subterrâneas (HALBWACHS, 1990) pretendemos fazer coro àqueles que querem reconstruir as lutas com um outro enfoque, como diria Michelle Perrot, dando voz e vez aos excluídos da história. O presente trabalho fez parte de uma pesquisa que diz respeito à formação de trabalhadores rurais em Goiás. Neste intento, pretendemos resgatar e reconstituir as experiências e práticas vivenciadas por assentadas, de modo a entendê-las, localizando-as em um campo da história da educação, repleto de memórias, tomadas aqui como um espaço de disputas, contradições, significados e representações. É importante destacar que, a identificação das principais práticas formativas que visaram orientar os trabalhadores rurais, feitas por diferentes agentes coletivos, significa um recorte da memória, com a seleção do que constitui de mais significativo para os grupos em questão. Não pretendemos com isso apontar marcos de ruptura, mas perceber como essas práticas no presente contém e reproduzem novas práticas. Neste sentido, nos apoiaremos em Lefèbvre, quando este diz “a história persiste e age sobre o atual” ao tentar reconstruir o passado como âncora do presente. Na primeira parte, mostraremos o “chão arenoso” da memória como fonte e uso da história da educação. Na segunda parte, pretendemos identificar as principais práticas educativas desenvolvidas por assentadas, bem como o sentido que a escola tem para o grupo pesquisado. 1. A MEMÓRIA COMO CAMPO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Com a finalidade de um direcionamento das questões aqui apresentadas, faremos uma discussão sobre a dimensão que deve assumir a pesquisa, inaugurando um novo movimento do conhecimento, com uma nova postura diante de novas realidades. José Vicente Tavares chama esse novo olhar como: Um novo espírito científico que se define pela criação e produção de noções e conceitos capazes de construir verdades relativas, por um procedimento de incessante aproximação da verdade dos processos, dos detalhes,m dos sonhos que constroem o social. (LANG, 1985) Isso significa dizer que toda pesquisa envolve escolhas, parcialidade do cientista, envolvimento em questões que remetem sua relação com o mundo, com a vida na comunidade, com reminiscências de infância que são, ao mesmo tempo, individuais, produtos da sua vivência, e coletivas, parte do relacionamento com os outros. Já foi amplamente discutido que a neutralidade, imparcialidade e objetividade pretendidas pelo Positivismo, são colocadas à prova em um momento de verdades relativas. Os trabalhos sobre memória têm sido bastante profícuos, de forma que visam, muitas vezes, ir de encontro à história positivada, servindo de argumento para uma nova historiografia composta pelos “excluídos potenciais”, portadores de uma nova versão sobre o fato. Sabe-se que o discurso historiográfico tem sido um espaço de combate, em que os vencidos têm sido silenciados, em um processo contínuo de reconstrução da sua própria história, em detrimento de uma versão dos vencedores. Encontram-se, nesse modo, esquecidos não só os produtores de fato, mas as versões por eles produzidas. Se olharmos pelo viés da educação, geralmente temos inúmeras produções que tratam da escola como a única possibilidade educativa. Várias produções mostram os planos educacionais, as propostas, as metodologias aplicadas, enfim, todo um discurso governamental aplicado. Ficam excluídas, por exemplo, as histórias de professores e professoras, leigas ou não, de estudantes e daqueles que não foram à escola. Quando chamamos a atenção para outras formas de se pensar a educação, pensamos na possibilidade de resgatar experiências da prática informal que envolve pessoas que participaram ativamente da vida na comunidade local, com inferências educativas às vidas dos habitantes do lugar. Sobre os estudos de memória, vários autores dedicam há alguns anos, como por exemplo: Halbwachs (1990), Bosi (2002), LeGoff (2002), Benjamin (1987), dentre outros. Em linhas gerais, esses trabalhos descrevem a relação entre a memória e a identidade social, destacando principalmente as histórias de vida presentes. Halbwachs (1990) desde os anos 1920-1930 havia descrito a memória como um fenômeno coletivo e social, ou seja, como um fenômeno construído coletivamente e submetido a “flutuações, transformações e mudanças constantes”. (POLLAK, 1992) É importante lembrar que a memória, tanto individual como coletiva, possui marcos ou pontos relativamente invariáveis e imutáveis passíveis de serem apropriados pelo pesquisador. É muito comum perceber, quando são realizadas entrevistas, que os entrevistados sempre voltam a um ponto comum, aos mesmos acontecimentos que remetem à história da cidade, do país ou do lugar em que vivem. Percebe-se nessa questão que a história de vida, por mais que se pretenda dizer que é individual, estabelece laços com a história coletiva, cuja interface feita é a memória. Pollak diz que em certo sentido, quando determinado número de elementos tornam-se realidade, estes passam a fazer parte da própria versão da pessoa, embora “outros tantos acontecimentos e fatos possam ser modificados em função dos interlocutores, ou em função do momento da fala”. Então, cabe-nos inquirir: quais são os elementos constitutivos da memória, individual e coletiva? Nessa questão Pollak diz: Em primeiro lugar, são os acontecimentos vividos pessoalmente. Em segundo lugar, são os acontecimentos que eu chamaria de ‘vividos por tabela’, ou seja, acontecimentos vividos pelo grupo ou pela coletividade à qual a pessoa se sente pertencer. São os acontecimentos dos quais a pessoa nem sempre participou mas que, no imaginário, tomaram tamanho relevo que, no fim das contas, é quase impossível que ela consiga saber se participou ou não. Se formos mais longe, a esses acontecimentos vividos por tabela vêm se juntar todos os eventos que não se situam dentro do espaço-tempo de uma pessoa ou grupo. (POLLAK, 1992) Também ao descrever a importância dos estudos da memória, Bosi chama a atenção para o modo pelo qual o sujeito mistura a sua narrativa memorialista e marcação dos fatos com a “estilização das pessoas e situações e, aqui e ali, a crítica da própria ideologia”. (BOSI, 2002) Bosi diz ainda que muitas vezes, a ciência produz uma simplificação desastrosa quando negligencia esses aspectos da complexidade real de seres concretos. Em se tratando de trabalhadores rurais, a memória é um importante elo na formação do grupo, seja na constituição da sua própria história, selecionando fatos marcantes, que muitas contrariam à própria história escrita, aos documentos ligados e aos órgãos oficiais. Ainda que não descrevam o processo de escolarização, é responsável pela apreensão das práticas educativas. Por práticas educativas designamos o conjunto de experiências que são compartilhadas pelos grupos, de modo a apreender os significados da prática social. O objetivo dessas práticas é a transmissão de saberes sociais54. Possuem um caráter educativo, pois os próprios participantes assumem a tarefa de orientar, dirigir as lutas no cotidiano, assumindo postos de direção desses movimentos, claro que em muitas vezes, sem qualquer treinamento para isso: Não fui à escola, não. Tive pouco estudo. Na minha época não era fácil estudar. Ou segurar a enxada ou a caneta. A senhora já ouviu a música? Pois é. A vida do pobre do meu tempo. [ ] Hoje tudo é mais fácil. O governo paga pros pais mandá os filhos pra escola. No meu tempo, escola era prá quem não lidava com o dia pesado da roça. (Entrevistado 11) 54 Grzbowski diz que as praticas educacionais colocam como tarefas o aprendizado da classe sindical e política – e a busca de uma identidade ideológica que unifique os interesses dos colonos e funcione como cimento de sua diversidade; Compõem, por sua especificidade, o que se chama de educação popular. Acabam se tornando práticas formativas, pois além de transmitir um aprendizado prático do uso do dia-a-dia, engendram um saber informal adquirido no trabalho e na vida. O trabalhador ao ter acesso com esse aprendizado modifica-se, transforma a sua visão de mundo. A melhor escola é a da vida. Nóis aprende com os nossos companheiro de labuta. Tem coisa que escola num ensina. Desde pequeno, aprende a olhar: ver a natureza, as criação. O tempo de plantá e de colhê. Num é isso mesmo? (Entrevistado 8) A análise da memória ultrapassa os limites do dito e escrito. Está presente no cotidiano do assentamento. Histórias que não aparecem em livros de História da Educação. Uma dessas memórias diz respeito à percepção dos sentimentos de orgulho pela posse e conquista da terra, considerada como o início de uma série de outras conquistas, como o de renda para o núcleo familiar. Outra memória que aparece no exercício de rememoração refere-se às representações afetivas construídas no convívio com outros assentados. Muitos, além de companheiros de acampamento, tornaram-se compadres, representando no mundo camponês como a ampliação da família. Sociologicamente significa o alargamento dos laços de sociabilidade, traços do passado que aparecem vez e outra nas sociedades tradicionais. A memória como capacidade de transmissão das práticas educativas, nos faz crer que entre os camponeses, todo o conhecimento adquirido não tem um dono propriamente dito, mas faz parte de toda a comunidade e é fruto de uma experiência transmitida pelos antepassados. Conhecimento “sem dono” é apropriado coletivamente pela comunidade. Por exemplo: “Como se fazia lá na Fazenda tal”. “Lá em Goiás se fazia assim”. Vimos uma rezadeira que aprendeu com a família, também de rezadeiras, a benzer os filhos da comunidade. Disse-nos que tentava ensinar à neta os segredos da benzeção para assim, deixar os seus conhecimentos para outras gerações. O simbolismo está presente nas paredes. O passado das fotos de famílias que adentram no dia a dia da casa: pessoas que estão presente e outros que se foram. Nas casas, estão emparelhados quadros de santos de devoção familiares, “folhinhas” com datas e fotos familiares, de parentes que nem sempre estão mais presentes no núcleo da família. Memórias que se ensinam e aprendem, como por exemplo, na própria relação com a natureza, com a observação dos sinais de chuva, estiagem, friagem e seca. Ainda que os trabalhadores rurais tenham sido afetados pela itinerância − a maioria dos moradores da zona rural morou em diversos endereços, antes do assentamento−, esse modo de vida não destruiu os traços culturais camponeses. 2. MEMÓRIAS ESCOLARES E NÃO ESCOLARES DE ASSENTADAS RURAIS EM SÃO JOÃO DO BUGRE – (GO) Memórias reveladoras, que guardaram para si o embate, a busca pela terra. As mulheres têm em comum o fato de que, na constituição de suas vidas como esposas e mães de família, acompanharam os seus maridos na busca por terra para plantio e criação dos filhos. As clivagens das suas histórias desvelam traços constitutivos da mentalidade camponesa, em que o machismo predominante nas relações sociais, geralmente as exclui de toda participação política mais ativa na comunidade55. Segundo pesquisa sobre assentamentos rurais em diferentes áreas brasileiras, Leite (2004, p. 73) mostrou que, no quesito referente a sexo, 85% dos responsáveis pelos lotes – os chamados chefes de família− são homens, e apenas 15% são assumidos por mulheres. Mesmo na situação de pleitear a terra, ainda que as mulheres fiquem de ‘guarda’ no assentamento garantindo o lugar, quando há a redistribuição, as parcelas têm como titular os cônjuges, e não elas. Embora não pretendemos fazer uma discussão de gênero, reconhecendo que esse aspecto não pode ser minimizado nas pesquisas envolvendo memórias sobre os assentamentos rurais, ao abordar a história de resistência das mulheres que participaram ativamente em São João do Bugre, chamou-nos a atenção a intensa mobilização que elas tiveram, reveladora em vários sentidos. O primeiro, é que a sua participação não ficou restrita ao preparo da comida, arrumação dos pertences, das roupas, do cuidado das crianças e dos doentes − próprios do espaço doméstico−, mas das atividades de segurança durante a ocupação. Como em outros assentamentos rurais, a estratégia de resistência coube, sobretudo, as mulheres, que se revezam dia e noite em vigília, cuidando das crianças e morando nos lotes, provisoriamente estruturados, não permitindo a entrada de estranhos. Como a estratégia do grupo foi a de não sair de forma nenhuma, mesmo com o acirramento do conflito, cabia às 55 Embora na constituição do espaço doméstico, as relações de mando e de desmando das decisões cotidianas fiquem a cargo da mulher. Como diz Pessoa da guarda da “lata de bolo”, à repartição do alimento, são todas deliberações femininas, as quais o homem pouco participa ou retira a autoridade. As mulheres entrevistadas disseram ter trabalhado a vida inteira no espaço doméstico, ou ajudando o marido nas lavouras das fazendas arrendadas, confirmando essa tese. mulheres cuidarem da casa provisória, enquanto os homens saíam para o plantio e para a colheita. Tempos difíceis, descritos como época de se alimentar de “mandioca com garapa”, pois tudo era escasso, principalmente o alimento. Se não fosse a ajuda da igreja, das arrecadações de roupas56 e comida, não teriam sobrevivido. Com filhos pequenos, não viam perspectivas de escolas ou de qualquer atendimento a saúde. Outro papel que passou a ser assumido pelas mulheres nos assentamentos foi o de reivindicar do poder público garantias dos serviços de infra-estrutura, através de uma organização interna que permitia a presença de uma delas nos órgãos, reivindicando até para populações vizinhas dos assentamentos, esses bens públicos. (LEITE, 2004, p. 87) Sim, aprendia. Num era essas coisas de escola, não. Era um saber necessário para criar os filhos, cuidar da casa, das coisas do marido. Os nossos pais não deixava agente estudar prá não fazer carta para namorado. O medo era esse. Afinal, que mal aprender a ler pode fazer? Aqui, todo mundo ensina e aprende. Vira professor de uma hora para a outra: ensinando as outras a matricular os filhos, a pedir transporte para ir a escola, a marcar guia para o médico. (Entrevistada 13) A perspectiva de sucesso das demandas deu outro sentido às suas próprias vidas. Durante o auge do conflito, quem negociava diretamente com os ‘jagunços’, recebia as intimações e demais autoridades que frequentavam o assentamento, eram as mulheres. Como foi dito anteriormente, enquanto os homens cuidavam da roça, elas funcionavam como verdadeiros escudos, protegendo as ‘crias’ de possíveis tiros e ameaças: Teve um dia que a minha filha estava dando banho nos meninos e eu estava fazendo o comer. Então chegaram os jagunços. Me chamaram. Eu fui lá falar com eles. Aí um deles falou: ‘Por que vocês ainda estão aqui?’ Aí eu disse: ‘Nós não vamos sair daqui’. Então um deles falou:’vocês tem que sair daqui’. Minha filha correu com os meninos e escondeu em um buraco. Eu corri, recolhi um pouco do que podia e também corri. Quando vi, tinha botado fogo em tudo. (Entrevistada 13) A essa passagem que indica a violência sofrida, somam-se outras memórias do acontecido: Várias vezes, quando precisava voltar da cidade via todos os meus trem revirado. Eles chegava aqui e destruía tudo, revirava tudo de lugar. [ ] Teve um dia que botaram fora a panela de banha. Um dia jogaram fora a comida. Fiz o comer e fui para a cidade. Quando voltei, não tinha nada. Tinha sumido a comida e tudo. (Entrevistada 13) 56 A entrevistada teve em várias ocasiões todas as roupas queimadas pelos jagunços, chegando a não salvar até os próprios documentos. Ocorreram várias demonstrações de solidariedade. A destruição de todos os pertences da entrevistada 13, fez com que as companheiras de assentamento se mobilizassem para conseguir o mínimo de sobrevivência para a amiga. Então, a ocasião fez com que se fossem criadas novas relações de sociabilidade, por compadecimento. Com a divulgação do ocorrido na imprensa, várias pessoas foram atraídas para o assentamento, dando uma maior visibilidade ao fato57. A busca pela terra significou também a procura por uma série de benefícios, que até então, as trabalhadoras não sabiam que era possível obter. Com a morte do cônjuge, como foi o caso da entrevistada 15, a demanda pela posse prosseguiu, sendo que ela se cercou de diversas informações sobre como poderia participar da partilha dos lotes, mesmo com a ausência do marido. Tive que aprender a lidar sozinha: pedir financiamento. Falar com o gerente sobre o dinheiro para a plantação. Hoje não me envergonho de falar com qualquer autoridade. [ ] Não, a escola não fui, não. Naquele tempo, escola era somente para quem morava na cidade. Lá onde morava, perto de Rio Verde havia uma escolinha. Eu não tinha jeito pros estudo. Então o jeito era trabalhá mesmo na roça. (Entrevistada 15) O fato é que, no caso de sua parcela, a titularidade na posse apareceu no seu nome. Mesmo semi-alfabetizada, obteve conhecimento de todos os trâmites legais necessários para financiamentos rurais, empréstimos e outros serviços, e com a imissão da posse, fez da sua propriedade um núcleo de agricultura familiar, criando na terra, os quatro filhos58. Ter recebido o lote significou total independência financeira para essa viúva assentada, tomando sozinha, decisões sobre qualquer negociação. Perguntamos sobre as relações comerciais, ao que falou com orgulho sobre a compra de animais, o plantio da roça e da comercialização de produtos na cidade. “Tudo sozinha, sem ser necessária a presença de um homem”. Para essa entrevistada, receber o lote significou o fim de uma série de humilhações impostas pelo mundo do trabalho. Então a terra apresenta um outro significado: Finalizar as injustiças vividas ao longo da vida: 57 Exemplo da Radio Difusora AM que noticiou na época, em 1985, quando o grupo se formou e ocupou a terra devoluta, em mãos de um dono de terras que dizia ter a escritura, a péssima condição de sobrevivência de mulheres e crianças acampadas, chegando a entrevistar a acampada. 58 Atualmente os três filhos mudaram para a cidade em busca de estudo, restando apenas uma filha que trabalha na lavoura e uma neta. Quando nóis recebeu o lote, tudo mudou. Antes nóis vivia trabalhando pra os outros nas fazendas de deo em deo. Um dia tinha serviço e o outro não. Com a posse nóis sabe onde vai estar amanhã, plantando, colhendo e criando os nossos animais. (Entrevistada 11) Essa fala nos remete à outra dimensão do significado que a terra assume, na superação da itinerância, própria do trabalhador rural brasileiro, que em face à precariedade dos trabalhos e a provisoriedade dos serviços, continua se deslocando nas fazendas, perdendo relações de sociabilidade, que no campo, tendem a ser permanentes, principalmente quanto às relações de compadrio, cujos compadres e comadres fazem parte do cotidiano da família. Então, a posse da terra significa manter intactos esses laços construídos, fixando-se no local. Dar voz às mulheres que fizeram parte da resistência em São João do Bugre é trazer à tona memórias silenciadas pelo próprio discurso masculino e pelo discurso escolar. Nenhuma das entrevistadas teve acesso a escolas, tendo em vista a própria situação de pobreza absoluta. No entanto, percebemos a importância que davam à escolarização de seus filhos: Mandei todos os quatro prá escola. Escola é o que faz a pessoa ter uma vida melhor: prá não trabalhar na roça. Nóis está aqui porque o estudo é pouco. [ ] A minha filha chegou a estudar prá professora. Mas a senhora sabe como é: arrumou barriga, aí teve que largar a escola. Deixou prá cuidar de menino, de casa, das coisas que agente aqui mesmo, com pouco estudo, dá conta de ensinar e precisa pra viver. (Entrevistada 15) Suas histórias de vida constituem a própria história do assentamento, que envolve sentimentos, na maior parte das vezes de sofrimento experienciado, estresse e medo, mas também de esperanças e simbolismos que a conquista da Terra traduziu. Mais do que um lugar de trabalho, mudança de vida, em que a garantia da escola para os filhos significaria, no seu imaginário, um futuro melhor. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como vimos, faz-se necessário que a História da Educação aponte em novas direções, apropriando-se do conceito de memória para entender o porquê da não-escolarização de determinados grupos. As trajetórias das assentadas que entrevistamos tem em comum o fato que, ainda que não frequentaram a escola, o aprendizado cotidiano das práticas educativas possibilitou alterações na forma de atuação, de trabalhadora rural a militante política. Memórias que recuperam o sentido da própria luta, dos embates travados em São João do Bugre (GO). Pode-se dizer que a apropriação dessas práticas, na fase de acampamento, foi expressiva para a mudança de perspectiva de suas trajetórias. Isso porque, naquele momento de visibilidade, houve a construção de uma consciência coletiva de sem terra, provocada pela necessidade de efetivação do projeto de vida, o que tornou necessário a aquisição de uma série de habilidades intrínsecas para participar do confronto e das negociações. Aprendizado compartilhado e distribuído entre os pares, em que a escola aparece como um sonho distante de quem trabalha na roça e não pode ir a cidade aprender um conhecimento não aplicado aos afazeres do lugar. Corroborando outras publicações, notamos que o papel da escola para alguns grupos sociais não é inseri-los no trabalho na pequena propriedade, mas tirá-los da terra, almejada e defendida, mas o espaço do atraso e da falta de alternativa. As assentadas expuseram que se tivessem estudo, tudo seria diferente, não seriam trabalhadoras rurais. Embora possa se constituir em falas isoladas e contexto peculiar, esse pensamento observado em São João do Bugre denota a grande colcha de retalhos que se tornou pensar a História da Educação. Como escrever a história, a partir dos recortes da memória? Como pensar em um projeto escolar que insira pessoas do campo e da cidade? REFERÊNCIAS ALVES, Amone Inacia. A Comissão Pastoral da Terra – CPT – e a formação de trabalhadores rurais em Goiás. Tese de Doutorado defendida em 2010 na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás - UFG, 2011. BENJAMIN, W. Obras escolhidas I: Magia e Técnica, arte e política. 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Memória e identidade social. In Revista de Estudos históricos. Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 200-212. Comunicação Oral GT 2: Educação, Trabalho e Movimentos Sociais AVALIAÇÃO EM TURMAS MULTISSERIADAS: ONDE ESTÃO SUAS PROPOSTAS? Fernanda Alves de Oliveira Prof. Dr. José Paulo Pietrafesa Universidade Federal de Goiás - Faculdade de Educação RESUMO Este trabalho vincula-se ao Núcleo de Estudos e Pesquisas da Infância e sua Educação em Diferentes Contextos (NEPIEC), tem como abordagem a discussão sobre a avaliação em turmas multisseriadas na educação no e do campo. Considerando que as práticas avaliativas estão presentes em todos os níveis de ensino, da Educação infantil à Pós-graduação, no ambiente urbano e no rural, este estudo se justifica por entender a necessidade de discutir os procedimentos e práticas avaliativas destinadas à Educação Básica e,sobretudo, por tentar perceber como essas práticas repercutem nas turmas multisseriadas no espaço do campo. Ainda são poucos os estudos que exploram essa problemática,mas é indiscutível a relevância de considerações aprofundadas em relação ao trabalho educativo em turmas com crianças de diferentes idades. Na realização desse trabalho foi possível perceber a necessidade emergencial de pensar em uma proposta de avaliação que leve em consideração as especificidades das multisseries. Palavras-chave: avaliação; turmas multisseriadas; infância; educação do/no campo. 1 TURMAS MULTISSERIADAS: QUE ESPAÇO EDUCACIONAL É ESSE? Entende-se por multissérie classes com crianças de várias series e um único docente. Muitos são os apontamentos para sua existência, como a falta de docentes, de espaço, de recursos financeiros entre outras relevâncias como aponta Ferri (1994, p. 12), Para alguns uma estranha, para outros a única possibilidade de escolarização nos primeiros anos de vida. Considerada por alguns autores como “arremedo de escola e não escola propriamente dita” (FONSECA, 1989:20), o “status” de difíceis em todos os aspectos (acesso, transporte, condições físicas e materiais, alunos, comunidade...) diz muito do que encontrei no contato sistemático com as escolas multisseriadas. Uma escola, uma sala de aula, um professor, alunos, de 1ª a 4ª série. Sem merendeira, diretora, orientadora, vigia, laboratório, sala de vídeo [...]. As classes multisseriadas estão presentes na realidade das escolas do campo. Existem contrapontos entre autores que se mostram contrários à implantação do modelo seriado urbano, no espaço do campo, como destaca Arroyo (1999, p. 17), Não tragam para o campo a estrutura escolar seriada urbana. Estamos no momento de acabar com a estrutura seriada urbana e não teria sentido que na hora que vocês pensam numa escola básica do campo, pegassem um modelo que já está todo ele quebrado, caindo aos pedaços, que é o sistema seriado. Porém o objetivo deste trabalho não é aprofundar nas reflexões se é realizável ou não as classes multisseriadas, e sim dialogar com os autores sobre os procedimentos e as práticas avaliativas desenvolvidas neste panorama educacional. Para isso faz-se necessário conhecer que espaço é este, que envolve as multisséries. Percebe-se na literatura as multisseriada como diferentes espaços, o primeiro a ser mencionado é um espaço de luta, sendo essa, sobretudo política, conforme destaca Toledo (2005, p. 58) “Às políticas de Educação do Campo, ao longo da história republicana brasileira, raras vezes foram oferecidas diretrizes específicas, configurando uma posição marginal na agenda pública.” A luta das multisséries é por um espaço de direitos políticos, de transição das margens para o centro, percebendo-a como um espaço educacional que encontrasse aberto a discussões para proposta de melhoria na qualidade da educação do Campo. Conde e Farias (2011, p. 4) apontam que um dos fatores presentes na existência das classes multisseriadas são as lógicas de investimentos feitas pelo poder público, que levam em conta o custo aluno ao financiar as escolas. Contudo vale ressaltar que a educação do campo tem suas especificidades, sendo assim não pode ser condizente ao mesmo valor custo aluno das escolas urbanas. Uma outra definição que compete ao espaço das turmas multisseriadas é o de contrastes entre a realidade e a legislação, conforme apresenta Hage (2006) o confronto estabelecido entre a realidade das escolas multisseriadas e os marcos legais existentes sinalizam em duas questões, sendo elas: considerar o fator de localização da população como elemento intensificador da desigualdade na oferta de oportunidades de escolarização e perceber que a ampliação das oportunidades de ensino a partir da legislação vigente, não têm sido capaz de provocar alterações significativas no atendimento à escolarização dos povos do campo. Hage (2006) aponta ainda, que os artigos 23 e 28 da LDBEN (9394/96) estabelecem que cada sistema de ensino tem a liberdade de promover as adaptações necessárias para que a educação básica seja ofertada com qualidade, indicando a possibilidade de definição do currículo da organização escolar, do planejamento, do calendário, entre outros elementos. Perceber essa possibilidade de adaptação significa entender as especificidades da educação do campo, uma vez que deve-se pensar no ciclo agrícola, nas condições climáticas e no trabalho no campo, sendo esses um dos elementos que corroboram para o fracasso escolar. Considerar as multisséries ou turmas unidocentes como um espaço de contraste entre a legislação e a realidade é perceber que muitos dos artigos presentes nas Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo (RESOLUÇÃO CNE/CEB 1, DE 3 DE ABRIL DE 2002) não fazem parte do cotidiano da educação camponesa. Hage (2006, p. 2) menciona, Nos Artigos 3°, 6° e 7°, respectivamente, a Resolução indica, que o Poder Público deve garantir a universalização do acesso da população do campo à Educação Básica e à Educação Profissional; proporcionar Educação infantil e Fundamental nas comunidades rurais, inclusive para os que não concluíram na idade prevista; e que os sistemas de ensino, através de seus órgãos normativos, devem regulamentar estratégias específicas de atendimentos escolar do campo, salvaguardando, os princípios da política da igualdade. Outras características presente nas turmas unidocentes é ser tratada como um espaço de exclusão e precariedades. Conte e Farias (2011, p. 5) denunciam fortes disparidades entre as escolas do campo e da cidade, ressaltando a “[...] precariedade da realidade e a necessidade de mais espaços adequados para a educação das crianças do campo, mais concursos públicos para professores efetivos com formação apropriada e salários dignos.” As situações de precariedade no trabalho docente, o difícil acesso, a inviabilização em investimentos na formação de professores, associam a multissérie aos prejuízos na aprendizagem, motivando os sujeitos do campo, a considerá-la “um mal necessário” e perseguirem sua transformação em turmas seriadas, como alternativa para que o sucesso na aprendizagem ocorra (HAGE, 2006) Perceber as multisséries como um espaço de precariedade, faz-se necessário pensar em mudança, mudança do olhar excludente, na legislação, na forma de luta dos movimentos sociais, mudança de investimentos, entre outros elementos. Conforme descreve Ferri (1994, p. 12) Tão somente quatro paredes, um armário com o mínimo de material, quadro de giz, crianças tímidas, com o olhar atento, deslumbradas com a possibilidade de aprender coisas novas, um professor com a tarefa de ensinar e a sensação de que o que saber não serve para aquela realidade, de que não sabe trabalhar com a diversidade do grupo [...] Espaço de novas possibilidades, de estudos, pesquisas e iniciativas, essa deve ser a definição para as turmas multisseriadas. Hage (2006, p. 5) afirma que: As escolas multisseriadas, em que pese as mazelas explicitadas, têm assumido a responsabilidade quanto à iniciação escolar da grande maioria dos sujeitos do campo, e, por esse motivo, se faz urgente a necessidade de serem incluídas na agenda das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, do MEC, das universidades e centros de pesquisa e dos movimentos sociais, como passo inicial para se cumprir os preceitos legais existentes. Arroyo (1999) aposta em perceber as escolas multisseriadas como um espaço de novas possibilidades, de avanço e não retrocesso na transformação das mesmas em seriadas, destaca que as multisséries se constituem como um espaço escolar estruturado de forma inclusiva, já as seriadas urbanas menciona ser seletivas e excludentes, “Temos que acabar, sobretudo, com a estrutura seletiva, peneiradora, excludente que é inerente ao sistema seriado [...] a escola é peneiradora e seletiva.” ( ARROYO, 1999, p. 18) A multissérie encontra-se como um espaço de luta, contrastes, exclusão, precariedade, porém com um olhar de novas possibilidades, de desafios e mudanças, cuja complexidade exige re estudos e aprofundamentos. (FERRI, 1994) 1.2 ESPECIFICIDADES DA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Como todas as crianças, a criança do campo brinca, imagina e fantasia, sente o mundo por meio do corpo, constrói hipóteses e sentidos sobre sua vida, sobre seu lugar e sobre si mesma. (SILVA, PASUCH, 2010, p. 01) Faz se importante uma breve contextualização sobre a educação do/no campo, uma vez que essa se constitui como espaço de luta, tendo como uma das especificidade a presença das turmas multisseriadas. A educação do campo é fruto do reconhecimento da necessidade de uma proposta de educação de qualidade para as pessoas que vivem no ambiente rural. De acordo com os cadernos SECAD59 / MEC 2007, “[...] esse reconhecimento extrapola a noção de espaço geográfico e compreende as necessidades culturais, os direitos sociais e a formação integral desses indivíduos.” (SECAD / MEC, 2007, p. 9). Refletir sobre uma educação do/no campo é levar em consideração as necessidades e especificidades de um ensino pensado para e pelos moradores do campo. Estes de acordo com a Resolução 02/2008 do Conselho Nacional de Educação (CNE) abrange os trabalhadores dos movimentos sociais, quilombolas, pescadores, extrativistas, ribeirinhos, caiçaras, indígenas, assentados entre outros. Vale diferenciar os conceitos de educação rural e educação do campo. Segundo Gonçalves (2009, p. 51) a primeira ganhou forças no Brasil na década de 1920 com o surgimento do termo ruralismo pedagógico, com o objetivo de aumentar a produção e conter o êxodo rural, pela fixação do homem do campo no campo. Uma educação que segue os 59 Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. interesses da burguesia. Diante dos conceitos rural e campo, Gonçalves (2009, p. 52) esclarece: A utilização do termo “campo” no lugar de “rural” é própria do movimento, que para diferenciar suas exigências das políticas urbanocêntricas do passado feitas “para o meio rural”, define o novo projeto de desenvolvimento “para o campo”, que parte das necessidades e interesses do próprio campo. Para o Ministério da Educação existem outros componentes que colaboram para a mudança do paradigma da educação rural para o da educação do campo não sendo apenas a análise crítica da escola rural, mas o surgimento das propostas desenvolvimentistas para o campo, em geral centradas no agronegócio e na exploração indiscriminada dos recursos naturais (BRASIL/MEC, 2007). Já Caldart (2009, p. 39) afirma que “A Educação do campo nasceu como crítica à realidade da educação brasileira, particularmente à situação educacional do povo brasileiro que trabalha e vive no/do campo. Nasce da ‘experiência de classe’[...]”, da organização dos camponeses em movimentos sociais, compostos por diferentes sujeitos, de diferentes classes que lutam pelos seus direitos. Diante do panorama histórico da Educação do Campo encontra-se os movimentos sociais como protagonistas do seu processo de criação, sendo os principais atores os movimentos sociais de luta pela reforma agrária e o Movimento dos trabalhadores sem terra (MST). São frequentes as tensões e lutas por políticas públicas que garantam o acesso dos camponeses à educação escolar em seu próprio território. (CALDART, 2009). Os movimentos sociais são contrários a retirada dos povos do campo para estudar nas escolas urbanas, contrários aos transportes escolares inapropriados sem condições mínimas necessárias como cinto de segurança, cadeirinhas e acentos paras as crianças pequenas. Velloso (2008, p. 41) aponta que os movimentos sociais “[...] buscam fixar o homem no campo e assegurar a posse da terra para aqueles que a desejam cultivar.” Defendem a permanência no campo com condições necessárias de sobrevivência como sujeitos de direitos. Diante dos pressupostos legais somente a partir da CF/88 que a educação brasileira passou a contemplar as especificidades e interesses das populações identificadas com o campo. Anterior à essa legislação a educação para os moradores do espaço rural eram mencionadas apenas como instrumental e assistencialista, ou conforme revelava LDBEN de 1961 ( Lei nº 4.024/61) [...] preocupação quanto à promoção da educação nas áreas rurais para frear a onda migratória que levava um grande contingente populacional do campo para as cidades, gerando problemas habitacionais e estimulando o crescimento dos cinturões de pobreza hoje existentes nos grandes centros urbanos. (MEC/BRASIL, 2007, p. 16). A CF/88 tem como premissa a garantia do acesso de todos os brasileiros à educação escolar, fortalecendo o discurso da democracia. Contudo somente em 1996 com a revitalização da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96) que foi implementado o direito à igualdade e à diferença assim como a diversidade sociocultural. De acordo com o Ministério da Educação (2007, p. 17) esta ultima lei “Permite, ainda, a organização escolar própria, a adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas.” Dessa forma contribui para o fortalecimento da luta por uma educação de qualidade levando em consideração as especificidades dos povos do campo. Para que as propostas de educação sejam a partir do campo e para o campo é necessário que sejam quebrados muitos paradigmas e preconceitos historicamente construídos entre campo e cidade. O campo visto como lugar de atraso, de precariedades, de necessidades de investimentos. Diante das divergências educacionais entre campo e cidade, os cadernos SICAD/ MEC (2007) afirmam que: A visão urbanocêntrica, na qual o campo é encarado como lugar de atraso, meio secundário e provisório, vem direcionando as políticas públicas de educação do Estado brasileiro. Pensadas para suprir as demandas das cidades e das classes dominantes, geralmente instaladas nas áreas urbanas, essas políticas têm se baseado em conceitos pedagógicos que colocam a educação do campo prioritariamente a serviço do desenvolvimento urbano-industrial. (BRASIL/MEC, 2007, p. 13) Em virtude dos fatos mencionados, evidencia-se uma emergência na continuação de pesquisas e estudos correspondentes a educação do/no campo, uma vez que existem ainda impasses na garantia de uma educação de qualidade pensada a partir das especificidades culturais dos povos camponeses. 1.3 AVALIAÇÃO EM TURMAS MULTISSERIADAS: ONDE ESTÃO SUAS PROPOSTAS? A educação do/no campo encontra-se como excludente ao que refere as ofertas e oportunidades de direito à escola, sabe-se que um dos grandes desafios presentes no campo é o conflito entre o trabalho e a escolarização, uma vez que “[...] a escola pode ser, para essas crianças, tanto a esperança para livrar-se da enxada, deixar a vida no campo, quanto a de permanecer e ver crescer a família, prosperar, adquirir e cultivar a própria terra. (PRADEM, 2004, p. 58). Trocar a enxada pelos livros, pode ser uma boa escolha, desde que a educação aqui proposta seja pensada e articulada com as vivências e experiências das crianças do campo. Portanto faz-se necessário um olhar atento para a educação no ambiente rural, sobretudo no que compete as formas de avaliação, precavendo-se para não ocorrer uma reprodução do que é feito nas escolas seriadas urbanas. Ao que se refere à avaliação da aprendizagem, os conceitos medir, testar e examinar, estão implícitos desde os primórdios da inserção desta no processo de ensino. Arroyo (1999) aponta que tais procedimentos não podem estar presentes nas práticas avaliativas propostas para as escolas multisseriadas, criticando os atos de reprovação, Não esqueçamos da condição da infância, adolescência e juventude do campo, ela já é excluída da terra, excluída do conhecimento, da cultura, da dignidade, e ainda a escola vai excluí-la da própria escola? Antes de reprovar pensem duas vezes ou cinquenta vezes. E se perguntem a seguinte questão: Se a minha função como educador é desenvolver plenamente esta criança, ou jovem, será que eu vou reprovar alguém em seu desenvolvimento pleno, seu desenvolvimento humano? Que critérios eu vou ter para reprovar alguém em desenvolvimento? Que normas nós temos na Escola Plural, na Escola Candanga, na Escola sem Fronteiras? (ARROYO, 1999, p. 24) Investigar quais são as práticas de avaliação da aprendizagem em turmas multisseriadas e perceber se existe ou não uma propostas de avaliação que leva em consideração as especificidades dessas turmas, as diferenças de idades e desenvolvimentos, são questões presentes neste trabalho. De acordo com o programa Escola Ativa60 destinado às escolas multisseriadas do/no campo, a avaliação se faz mediante as propostas encontradas na LDBEN 9.394/96 conforme o artigo 24 desta lei: Avaliação contínua e cumulativa do desempenho do educando, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; possibilidade de aceleração de estudos para educandos com atraso escolar; possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado; aproveitamento de estudos concluídos com êxito; obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento 60 Escola Ativa - A implantação da estratégia metodológica Escola Ativa no Brasil ocorreu no ano de 1997, com assistência técnica e financeira do Projeto Nordeste/MEC, tendo como objetivo aumentar o nível de aprendizagem dos educandos, reduzir a repetência e a evasão e elevar as taxas de conclusão de parte do Ensino Fundamental, ou seja, de 1ª. a 4ª. série. (SECAD/MEC, 2008) escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos. (BRASIL, 2008, p. 25) Com base em tais reflexões evidencia-se a ausência de propostas especificas para a avaliação nas turmas multisseriadas, não encontradas nas legislações vigentes que norteiam a educação do/no campo. Como demonstrado nesta pesquisa às propostas de avaliação para a Educação infantil tem suas especificidades em relação às encontradas no Ensino Fundamental. Hage (2010) ao conceituar o termo multisseriada como formato de varias séries destaca que em muitas salas além de crianças de 1 a 4 serie encontrasse também crianças de Educação Infantil nesse mesmo espaço. Nesse sentido Pasuch e Silva (2010) expõe que por conta da escassez de instituições e professores no espaço rural, encontra-se em muitas escolas multisseriadas crianças da Educação Infantil, inseridas na mesma sala de crianças do Ensino Fundamental. Dessa forma questiona-se sobre qual proposta de avaliação o educador dessas turmas deve-se fundamentar? Em uma das duas propostas elaboradas para as instituições e escolas urbanas, ou se existe uma proposta específica de avaliação que leva em consideração as especificidades das multisseries. A avaliação pensada para a educação do/no campo não pode ser excludente, uma vez que os camponeses já são excluídos das políticas públicas, das condições adequadas de saúde e bem estar. Quando superado todos os impasses do acesso à escola, devido às desigualdades de oportunidades a escolarização, chega à escola as provas, testes, exames e os reprovam os excluem em vez de incluí-los nesse universo da educação, para que as crianças camponesas não estejam na escola apenas para livrar se da inchada, e sim por querer fazer cumprir seus direitos a educação. Em 2004 foi realizado um estudo sobre a avaliação em turmas multisseridas no município de São Sebastião do Passé – BA. Este resultou em alguns parâmetros de avaliação (PRADEN), ao qual resalta que deve se pensar em uma proposta de avaliação específica paras as multisseries e essa deve ter uma diversidade de procedimentos como: [...] relatórios, registros em fichas, correção de exercícios, organização das atividades escritas, também podem ser feitos pelos alunos, individualmente ou em pequenos grupos. Tudo isso, no entanto, não elimina o levantamento de dados para acompanhamento desses alunos, principalmente o registro para acompanhamento individual daqueles com maiores dificuldades, tendo em vista a intervenção mediadora do professor ou do aluno mais experiente. (PRADEM, 2004, p. 59) Uma avaliação que seja formativa e emancipatória, priorizando a auto-avaliação e a avaliação em pequenos grupos, (sendo os trabalhos em grupos compostos por crianças/alunos mais preparados que tem mais facilidade com os que revelam mais dificuldades) para que os alunos trabalhem com mais criatividade e independência, ajudando-os a criar os próprios indicadores de aprendizagem e os indicadores do grupo, esses podem ser mistos, alunos mais preparados com os que revelam mais dificuldades. (PRADEM, 2004) Ao que compete às notas estas podem ser “[...] substituídas por registros apreciativos, definidos e organizados segundo critérios estabelecidos pelo professor com os alunos.” (PRADEM, 2004, p. 59). Além das notas outro elemento a se discutir e repensar ao que relaciona-se as turmas multisseries faz se a reprovação, uma vez que essa torna-se desnecessária, Se os alunos de todas as séries frequentam a mesma escola de classe única, têm todos a mesma professora, que faz um trabalho integrado, não há sentido na reprovação de um aluno, considerando que ele, no ano seguinte, irá permanecer na mesma classe, com os mesmos colegas e a mesma professora. Assim considerando, o aluno ficará na dependência de uma ou de todas as disciplinas. O importante é a professora ter as anotações das dificuldades reveladas por ele em exercícios escritos ou orais, para ajudá-lo a superar no período seguinte. (PRADEM, 2004, p. 59) Portanto vale ressaltar que as avaliações da aprendizagem nas turmas multisseriadas, não devem ser mera reprodução dos referenciais pensados para uma escola seriada urbana, sem levar em consideração as especificidades das crianças, jovens e adultos que vencem dificuldades como de transporte, divisão do tempo com o trabalho agrícola, falta de professores com formações especificas, entre outros fatores para fazer uso do direito ao acesso a no mínimo a educação básica. REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel Gonzalez. FERNANDES, Bernardo Mançano. A educação básica e o movimento social do campo. Brasília- DF. Ed. Por uma educação básica do campo, 1999. P. 17-24. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases. Lei nº 9.394,de 20 de dezembro de 1996. ________. Resolução 02/2008. Estabelece Diretrizes para Educação do Campo. CALDART, R. S. Por uma Educação do Campo:traços de uma identidade em construção. In: Por uma Educação do Campo. 4.ªed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. CONDE, S.F.;FARIAS, K.H. 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Comunicação Oral GT 2: Educação, Trabalho e Movimentos Sociais EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL OU CONSERVAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL: UMA REFLEXÃO SOBRE A EDUCAÇÃO E O TRABALHO NO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA BOURDIENIANA Núbia Martins Gonzaga Prof. Dr. José Adelson da Cruz (Orientador) PPGE/UFG [email protected] RESUMO Este trabalho propôs-se a analisar à luz da teoria de Pierre Bourdieu a função social desempenhada no campo escolar pela experiência de educação em tempo integral do Programa Mais Educação criado pela Portaria Interministerial nº 17/2007 e executado em uma parceria do Ministério da Educação e da Cultura (MEC) com escolas, escolhidas pelo baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), situadas na rede estadual, municipal ou no Distrito Federal, pela Secretaria de Educação a Distância (Secad) que coordena o programa. A crescente preocupação com a elevação da qualidade brasileira tem justificado programas em escolas cujo IDEB é considerado baixo, no sentido que se considera este indicador um critério de qualidade educacional. A relevância deste programa para as escolas está no fato de ser um modelo de educação em tempo integral ampliado a cada ano, de maneira que tem se expandido nas escolas públicas brasileiras assim como postula o Projeto de Lei do Plano Nacional de Educação (PL 8.035/2010) aprovado para o decênio 2011-2020 cuja meta 6 é oferecer educação em tempo integral para 50% das escolas públicas de educação básica. O programa é investigado em aspectos como sua forma de organização, espaços, conhecimentos socializados, trabalhadores integrados, público-alvo e objetivos educacionais. Por meio de estudo bibliográfico da teoria bourdieniena e dos documentos de sistematização do Programa Mais Educação o estudo constatou que a relação entre educação e trabalho no campo escolar e neste programa ampliação da jornada escolar tende à conservação das desigualdades sociais vindas do campo do trabalho e à reprodução das condições de dominação que permeiam a apropriação de capital. Palavras-chave: Bourdieu; escola; Programa Mais Educação. Na sociedade moderna a escola assumiu historicamente um vínculo com o preparo profissional, se constituindo para essa sociedade imprescindível para fornecer trabalhadores. Por constituir-se imprescindível a todos mediante universalização do acesso garantido por lei, a escola abrange tanto aqueles oriundos de famílias dotadas de poder econômico e com ampla herança cultural como aqueles vindos de famílias menos favorecidas na dinâmica social e econômica e, consequentemente, com menor herança cultural. Tal universalização tornou a escola em responsável por legitimar a ideia de que existe uma equalização das oportunidades na sociedade. Embora seja a escola universal como oportunidade, as possibilidades formativas se efetivam no seu interior de forma desigual. Mantém-se por meio da escola a contradição de haver oferta para todos, mas em seu interior mecanismos de dominação operam uma seleção da qualidade da educação conforme o público atendido. O presente artigo pretende analisar a partir do aporte teórico de Pierre Bourdieu (19302002) a função social desempenhada no campo escolar pelo Programa Mais Educação, compreendendo-o como parte dos processos hierárquicos de desigualdade que acontecem na escola. Inicialmente, procurarei descrever a estrutura do programa ressaltando o sua criação, objetivo, funcionamento, atendimento, público-alvo, profissionais da educação envolvidos, tempos e espaços. Depois, farei apontamentos sobre como Bourdieu analisou a escola em seu nexo com a sociedade sendo instituição que legitima relações hierárquicas de dominação, para em seguida refletir sobre como o Programa Mais Educação se relaciona com esse processo no interior da escola. 1. A ESTRUTURA DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO O Programa Mais Educação foi criado pela Portaria Interministerial nº 17/2007 como uma iniciativa de educação em tempo integral visando melhorar a qualidade da educação pública ofertada no país. O público alvo são as crianças das famílias mais desfavorecidas, como se vê no documento “Programa Mais Educação: Passo a Passo” (MEC; SECAD; DEIDHuC, s.d., p. 8): O Programa Mais Educação atende, prioritariamente, escolas de baixo IDEB, situadas em capitais, regiões metropolitanas e grandes cidades em territórios marcados por situações de vulnerabilidade social que requerem a convergência prioritária de políticas públicas e educacional. A coordenação do programa é feita pela Secretaria de Educação a Distância (Secad) que firma parcerias entre o Governo Federal e as Secretarias de Educação (Estaduais, Municipais e Distrital). O financiamento do programa é repassado diretamente às escolas cadastradas. Em 2011 o programa esteve presente em 15.018 escolas de educação básica em todo país, (FILHA, 2011), numa parceria de 1.309 secretarias de educação. Mais de 30 mil escolas brasileiras têm educação integral por meio do Programa Mais Educação (SEB, 2012), o que está em conformidade com o Projeto de Lei do Plano Nacional de Educação (PL 8.035/2010) aprovado para o decênio 2011-2020 cuja meta 6 é oferecer educação em tempo integral para 50% das escolas públicas de educação básica. No Programa Mais Educação, se concebe a educação em tempo integral como ampliação da tarefa de educar em diferentes tempos e espaços, a partir de atividades optativas no contra-turno escolar de maneira que seja oferecido um mínimo de 7 horas diárias aos alunos. Tem coordenação local de um professor comunitário e o desenvolvimento das atividades pode contar com diferentes profissionais da educação, inclusive com pessoas da comunidade em caráter de voluntariado: A Educação Integral abre espaço para o trabalho dos profissionais da educação, dos educadores populares, estudantes e agentes culturais (monitores, estudantes universitários com formação específica nos macrocampos), observando-se a Lei nº 9.608/1998, que dispõe sobre o serviço voluntário. (...) As atividades poderão ser acompanhadas por estudantes universitários, em processo de formação específica nos macrocampos e com habilidades reconhecidas pela comunidade, estes por estudantes do ensino médio e estudantes do EJA. (MEC; SECAD; DEIDHuC, s.d., p.14) As atividades fomentadas se organizam nos macrocampos de Acompanhamento Pedagógico, Meio Ambiente, Esporte e Lazer, Direitos Humanos em Educação, Cultura e Artes, Cultura Digital, Promoção da Saúde, Educomunicação, Investigação no Campo das Ciências da Natureza e Educação Econômica. Para cada microcampo no Programa Mais Educação há atividades definidas. Cada escola elabora um Plano de Ação definindo os macrocampos que serão contemplados naquele ano letivo, não necessitando abarcar todos, mas os que são coerentes às necessidades educativas dos alunos e aos recursos e espaços pedagógicos disponíveis. O público alvo do Programa Mais Educação deve ser definido pela escola, considerando-se que o objetivo é reduzir as desigualdades educacionais pela ampliação da jornada escolar, além de combater a fome pela oferta de mais uma refeição diária aos alunos participantes do programa. São recomendados para a escola observar indicadores como: estudantes em situação de risco social e sem assistência; estudantes incentivadores com liderança positiva; alunos em defasagem série/idade; estudantes das séries finais da 1ª e da 2ª fase do ensino fundamental ou em outras séries onde se detecta índices de evasão e/ou repetência. Quanto aos espaços físicos para o desenvolvimento da jornada de tempo integral, sugere-se redistribuir os espaços na escola e formar parcerias com espaços públicos na comunidade, se necessário. O Programa Mais Educação, contudo, não se propõe a ser uma diferenciação da escola, mas uma ampliação do processo de educar que dialogue com as atividades que a escola já desenvolve. Se a escola pública apresenta um baixo IDEB, isso demonstra por esse indicador que a qualidade da educação ofertada está ruim. Aumentar mais horas de uma educação de má qualidade pode não ser a solução para reduzir as desigualdades educacionais entre os educandos. Faz-se necessário uma reflexão pelas origens das desigualdades educacionais, de forma a conhecer a gênese social desse problema. O sociólogo Pierre Bourdieu (1930-2002) auxilia nesse sentido a refletir o sentido da escola e como a escola historicamente age em relação às desigualdades. 2. A ESCOLA NA PERSPECTIVA BOURDIENIANA Pierre Bourdieu desenvolveu um método próprio de analisar a realidade, para compreender na estrutura social a relação estabelecida entre o indivíduo e a sociedade, sem polarizar nem dos dois, como fizeram autores clássicos da sociologia. A teoria de Bourdieu investiga a realidade a partir das relações que os indivíduos estabelecem entre si, não se restringindo a observar como se dão as relações entre classes, por compreender que esse conceito não explicita todos os fatores, mas abrangendo as diversas relações que os homens estabelecem entre si. As relações entre as classes são observadas perpassando diferentes campos sociais. Bourdieu utiliza o conceito de campo para demonstrar como indivíduos – compreendidos pelo autor como agentes sociais – estabelecem relações de dominação no interior desses campos e de um campo sobre outro. É uma análise relacional, de modo que o agente no campo provoca efeitos que podem modificar as ações de outro agente dentro do campo. No interior do campo os agentes sociais se organizam numa hierarquia de dominação, em que se exerce poder tanto mais capital se possua dentro do campo – não necessariamente capital econômico, pois há, por exemplo, a produção na sociedade de capital político e capital cultural, assim trata-se do capital significativo para aquele campo por seu poder simbólico exerce uma força dentro do campo e capacita ao agente acumular capital, interferir no campo por possuir capital e articular condições para manter capital. Nesse sentido, o campo não se define como um espaço territorial, mas como espaço social de relações, pois “(...) o limite de um campo é o limite dos seus efeitos ou, em outro sentido, um agente ou uma instituição faz parte de um campo na medida em que nele sofre efeitos ou que nele os produz”. (BOURDIEU, 2010, p. 31) Na constituição da sociedade moderna, Bonnewwitz (2003) recorda que a escola foi constituída como instrumento de realização do ideal igualitário defendido pelas sociedades democráticas que se consolidavam, de maneira que “(...) a escola deveria fornecer a educação para todos os indivíduos, proporcionando-lhes instrumentos que pudessem garantir não só sua liberdade, mas também sua ascensão social” (p. 113). Esse entremeio de campos é que possibilitou constituir-se na sociedade moderna a crença na escola como fator de mobilidade social. Porém, a permanência e o sucesso escolar dessas crianças, “(...) o desejo razoável de ascensão através da escola não pode existir enquanto as chances objetivas de êxito forem ínfimas” (BOURDIEU, 1998, p, 48) O trabalho pedagógico por sua vez, comprometido em apenas preparar para a vida profissional, resulta em produção de “indivíduos modificados de forma durável (...), agentes capazes de exercer uma ação transformadora reprodutora da formação que eles próprios receberam” (idem, p.206), de maneira que essa formação durável é o habitus. Pierre Bourdieu ao analisar o sistema de ensino antigo da França em 1966 apresenta um conceito que desmistifica essa premissa difundida socialmente. Para o autor a escola não pode ser fator de mobilidade social uma vez que o sistema escolar prossegue com a eliminação das crianças desfavorecidas, reafirmando as mesmas dificuldades que elas enfrentam na vida social. Para explicar esse processo, Bourdieu (1998) apresenta o conceito de capital cultural. Cada família transmite a seus filhos, de maneira indireta, um certo capital cultural e um ethos. Por capital cultural entende-se todo o domínio do indivíduo acerca da cultura valorizada pela sociedade, incluindo-se, por exemplo, o conhecimento de teatro, cinema, literatura, museus, música, artes. O capital cultural tem uma transmissão familiar e pode ser ampliado ao longo da vida. A acumulação do capital cultura se dá por meio da sua incorporação, que não ocorre instantaneamente. O autor explica: O capital cultural é um ter que se tornou ser, uma propriedade que se fez corpo e tornou-se parte integrante da “pessoa”, um habitus. Aquele que o possui “pagou com sua própria pessoa” e com aquilo que tem de mais pessoal, seu tempo. (BOURDIEU, 1998, p.75) Já o ethos de classe constitui-se como força vital, segundo o autor, um sistema de valores implícitos e profundamente interiorizados. O capital cultural e o ethos de classe influenciam a escolha das famílias acerca da vida escolar dos filhos, desde a escolha da instituição à definição do prosseguimento dos estudos ou não. Tem-se a difusão de uma ideologia que naturaliza essa escolha, como se naturalmente as crianças mais favorecidas estivessem mais aptas que as crianças mais desfavorecidas a cursar os mais altos níveis acadêmicos. O autor critica essa perspectiva de que os filhos dos meios mais favorecidos teriam um dom natural para prosseguir até o mais alto padrão de escolaridade, enquanto que os filhos de operários, artesãos, agricultores e da classe média teriam menos tendência natural a desenvolver os estudos. Para ele, a razão para essas escolhas consiste em uma questão de oportunidades sociais e não de determinações naturais, muito menos a ideia de desigualdade natural. As famílias já escolhem conforme um habitus de classe a escola a partir de aspirações limitadas pelas oportunidades objetivas, pois “o habitus engendra representações práticas, que, apesar das aparência, são sempre mais ajustadas às condições objetivas das quais elas são o produto” (BOURDIEU, 2007, p. 228). As chances de ascensão através da escola acabam sendo ínfimas, portanto, a escola não se converte em fator de mobilidade social, ao contrário “a instituição escolar contribui [...] para reproduzir a distribuição do capital cultura e, assim, a estrutura do espaço social.” (BOURDIEU, 2011, p. 35) O que Bourdieu observou na França é que os indivíduos com maior nível de instrução eram geralmente oriundos de um meio culto, não por resultado de uma transmissão natural, mas por uma transmissão de capital cultural. Uma vez que a escola foi criada na perspectiva das classes dominantes, ainda que imbuída do ideal de igualização das oportunidades, ela se estruturou sobre uma cultura arbitrária, que se apresenta conforme Bonnewitz (2003) como legítima, objetivável e indiscutível. É uma cultura das classes dominantes, de maneira que quanto maior proximidade têm o aluno e do domínio dessa cultura, maior seu êxito escolar e, também, quanto maior a proximidade entre o capital cultural do aluno e do professor, maior seu êxito escolar. É por esse mecanismo de aparente dom que a escola corrobora com a dominação dos dominantes. De forma velada, sob o aspecto de um ensino neutro, esse mecanismo opera em primeiro a desigualdade escolar promovendo ao sucesso escolar quem já detém o conhecimento do arbitrário cultural dominante requerido pela escola, e o fracasso escolar de quem não se apropriou desse capital na transmissão familiar. Depois, quanto mais se exclui as classes dominadas, mais se reforça a legitimidade das classes dominantes, resultando que “a ideologia do dom legitima as desigualdades escolares e consequentemente sociais” (BONNEWITZ, 2003, p. 117) Por não realizar o anseio de prestígio e mobilidade social, a instituição escolar vai cada vez mais sendo considerada pelas famílias e pelos próprios alunos como fonte de uma imensa decepção coletiva. A exclusão se dá de forma que não se alcança aquilo que o sistema escolar inspira, sendo que muitos alunos são forçados a diminuir suas pretensões conforme vão sendo excluídos. Assim, escola conserva a hierarquia social e as estratégias políticas adotadas no sistema escolar tendem a mudar para conservar, uma vez que “(...) a função mais dissimulada e mais específica do sistema de ensino consiste em esconder sua função objetiva, isto é, dissimular a verdade objetiva de sua relação com as estruturas de classe (BOURDIEU, 1982, p. 216). Dessa maneira a escola se concretiza como instrumento de seleção e reclusão das classes dominadas à formação durável de um habitus de classe que reproduza a ordem social estabelecida e conserve as relações hierárquicas de dominação entre as classes. Essa análise é para Catani (2007) uma das mais significativas contribuições do autor, em suma, “(...) mostrar que, se a escola agrava, por assim dizer, as desigualdades que têm origem nas posições ocupadas pelos indivíduos no espaço social, ela o faz justamente por privilegiar a cultura dominante” (p. 17) 3. EDUCAÇÃO E TRABALHO NO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM A CONSERVAÇÃO NA ESCOLA Incialmente o Programa Mais Educação acontece dentro da escola, para a escola e porque a escola tem alcançado baixos índices de desenvolvimento. O objetivo é atenuar as desigualdades educacionais entre os alunos. Contudo, Bourdieu (2011) ao caracterizar a escola como conservadora, nos apontou que a gênese das desigualdades educacionais entre os alunos é o capital cultural herdado de suas famílias, ao qual a escola só pode acrescentar a quem já detém os princípios do arbitrário cultural dominante. A quem não o possui, constituise o próprio ato educativo em violência simbólica. Assim, o sistema escolar institui e legitima a desigualdade educacional e consequentemente a desigualdade social. O Programa Mais Educação demonstra claramente que não está comprometido com uma transformação no porte de interferir na gênese da desigualdade educacional. Ao se utilizar de monitores voluntários sem necessidade de uma formação adequada, não pode ofertar mais do que a transmissão de um arbitrário cultural da mesma formação que os monitores obtiveram em sua passagem pela escola, uma vez que não dispuseram de momentos formativos adequados e propícios à reflexão e ao questionamento, como proporcionam os cursos de formação pedagógica. É uma perspectiva de trabalho explorado sob o rótulo do voluntariado e que promove tanto a desqualificação do trabalhador, uma vez que qualquer voluntário é elevado à função do magistério, como a desqualificação do trabalho pedagógico em si. Se as instituições não conseguem firmar parcerias com a comunidade escolar para utilizar espaços públicos, o programa acontece nos espaços alternativos da escola como pátios e corredores, ele interfere na própria dinâmica e na qualidade do ensino ofertado naquele turno, uma vez que os espaços como banheiros, cantina, pátios, quadra poliesportiva, laboratórios de ciências, sala de computadores e outros espaços que a escola possui se tornam compartilhados entre os alunos regulares daquele turno e os alunos em jornada ampliada no contra-turno. Há uma limitação na dinâmica das aulas regulares, tornando-as mais reclusas à sala de aula, uma vez que os espaços alternativos da escola se tornaram espaços de promover educação em tempo integral. As condições do trabalho pedagógico ficam, portanto, longe de serem ideais. Não é possível diluir desigualdades educacionais sem profissionais de educação qualificados e em condições improvisadas. Sem isso, a organização do Programa Mais Educação incentiva a reprodução do arbitrário cultural dominante e sua conservação, uma vez que amplia a jornada como continuidade do processo pedagógico em desenvolvimento na escola. Não é que a educação ofertada nas escolas de baixo IDEB seja de qualidade inferior, como fazem crer os documentos oficiais e a normatização do Programa Mais Educação ao enfatizarem iniciativas para promoção da qualidade. A questão é que na escola de baixo IDEB estão crianças e adolescentes vivendo no que se denominou “situação de risco social e sem assistência”, ou seja, alunos vindos de famílias das classes inferiores com um capital cultural distante do arbitrário cultural exigido pela cultura escolar e pelas avaliações de sistemas como a Prova Brasil, documento utilizado para gerar o índice IDEB. Da mesma forma como a escola não acrescenta e não pode acrescentar capital cultural a quem não o possui, o Programa Mais Educação também não pode fazê-lo. A ampliação da jornada escolar feita a modos rústicos, sem necessidade de profissionais com formação específica para docência e sem garantia de espaços adequados para estudo, apenas aumenta a quantidade de tempo que o aluno é exposto à escola conservadora. Nesse sentido, cabe a crítica de Bourdieu à reprodução na escola: Quando a cultura que a Escola tem objetivamente por função conservar, inculcar e consagras tende a reduzir-se à relação com a cultura que se encontra investida de uma função social de distinção só pelo fato de que as condições de aquisição monopolizadas pelas classes dominantes, o conservadorismo pedagógico que, em sua forma extrema, não assinala outro fim ao sistema pedagógico senão o de conservar-se idêntico a si mesmo, é o melhor aliado do conservadorismo social e político, já que, sob aparência de defender os interesses de um corpo particular e de autonomizar os fins de uma instituição particular, ele contribui, por seus efeitos diretos e indiretos para a manutenção da “ordem social”. (BOURDIEU, 1982, p. 207) O futuro trabalhador recebe por meio do Programa Mais Educação uma conformação à estrutura societal do capital desigual e combinado. Ampliar a educação para que ela seja de fato uma educação integral do indivíduo requer uma concepção de escola com objetivo de formação integral do indivíduo, uma formação humana que tem sentido inverso ao da escola conservadora que prepara mão-de-obra. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para a escola que se constituiu na e para a sociedade moderna, a finalidade magna é a conservação dessa sociedade com todos os seus aparatos de funcionamento, por isso institui e legitima a dominação social por meio da imposição do arbitrário cultural dominante e manutenção das desigualdades sociais. Uma outra escola requereria imediatamente uma outra sociedade. Não havendo ainda condições objetivas que nos levem a tal, é preciso questionar o que está posto, no sentido de não ser conveniente a ter simplesmente mais do mesmo. Se a escola brasileira por séculos tem conseguido manter-se na função conservadora com uma jornada de quatro horas e inculcar, corporificar como habitus o arbitrário cultural dominante, numa jornada ampliada para sete horas esse potencial socializador de reprodução da dominação social é também ampliado. A violência simbólica contra as famílias das classes inferiores é ampliada nesse conjunto, pelo contínuo velamento das operações de reprodução do arbitrário cultural, sob um discurso de promoção da igualdade pela ampliação da oferta de horas escolares. A igualdade de fato não se efetiva nessa sociedade e não pode se efetivar, uma vez que essa sociedade está estabelecida sobre relações hierárquicas de dominação e poder em todos os campos sociais. O discurso de igualdade, esse sim, aparece cada vez mais em reformas educacionais, ações, organizações e programas voltados para o atendimento de famílias das classes inferiores, como é o caso específico do Programa Mais Educação. A esse discurso tem sido cada vez mais conferido legitimidade pela oferta de oportunidades para todos. Todavia, as oportunidades que estão postas na sociedade, estão diferenciadas conforme a origem social do indivíduo. A sociedade está estabelecida de maneira que as classes sociais estão em desigualdade, e essa desigualdade não se resolve por meio da oferta de oportunidades como a de ampliar as horas de estudo no Programa Mais Educação. Do ideário de igualdade preconizado desde a origem das sociedades democráticas, se mantém apenas a perspectiva de possibilidade, uma vez que a realidade é contraditória. Bourdieu demonstra claramente que a efetivação das oportunidades acontecem com frequência entre aqueles que já detém por transmissão familiar o capital cultural exigido na cultura escolar, ficando as classes desfavorecidas à margem dessas oportunidades, pois, se não enfrentam problemas ao acesso, enfrentam problemas em permanecer e em continuar a formação acadêmica. A tão difundida ideia de ser possível igualdade educacional e até mesmo igualdade educacional denuncia a contradição de sua própria estrutura, pois ao mesmo tempo em que a ideia de igualdade é difundida continuamente como possibilidade pela escola e pelo Programa Mais Educação, a realidade a mantém como promessa denunciando sua condição irrealizável. Não é possível pensar igualdade educacional apenas pelo aumento de horas/aula. Toda e qualquer iniciativa de igualdade entre os indivíduos para a sociedade em que vivemos prescinde de igualdade de renda, que consequentemente implica em igualdade entre as classes sociais. A escola foi eleita para ser a instituição que oportuniza a ascensão social e dilui a desigualdade entre as classes porque disponibiliza o conhecimento necessário ao sucesso profissional e social a todos. Contudo, como Bourdieu analisa, o conhecimento que está disponibilizado foi previamente selecionado para corresponder a anseios classistas, portanto a escola apenas legitima a aparência da igualdade por meio do discurso de se oferecer uma educação para todos. Nesse sentido, tanto a escola não pode se efetivar como instituição que promove qualquer tipo de igualdade, como também os programas criados para complementar as ações da escola também não podem realizar igualdade. É necessário desmistificar esse discurso no sentido de explicitar que essa iniciativa realizada pelo Programa Mais Educação tem por mérito apenas dar continuidade à conservação da dominação social que já acontece na escola, porém agora, sob a forma de uma conservação muito mais ardilosa porque ocorre em tempo integral. REFERÊNCIAS BOURDIEU, Pierre. A dinâmica dos campos. In: A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo/Porto Alegre: Edusp/Zouk, 2007. p. 212-239. ______. Lições da aula. 2 ed. 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Assim sendo, o presente artigo busca discutir a questão da identidade política e de classe dos professores como elemento de contraposição à ideologia educacional capitalista e reconstrução do conceito de educação. Para tanto, realizamos uma pesquisa empírica por meio de entrevistas realizadas com 28 docentes do ensino básico da cidade de Jaraguá-GO. Esses dados foram analisados a luz dos princípios do Materialismo Histórico Dialético, fundamentados principalmente em Marx, Mészáros, Mascarenhas, Frigotto. Os docentes pertencem à classe trabalhadora, mas não são uma classe em si, pois não se reconhecem como parte dos trabalhadores que são explorados pelo capital. Há um forte preconceito contra o próprio termo “trabalhador” que é visto como algo que desqualifica, empobrece o desenvolvimento do trabalho e desmerece todo o esforço empreendido para aperfeiçoamento profissional. Na presente pesquisa, 79% dos docentes entrevistados rejeitaram sua inserção na classe trabalhadora. O restante que se considerou parte dessa classe também não o fez devido à construção de uma identidade política, mas devido à leitura deturpada de trabalho e trabalhador pela ótica da exploração do capital. A falta de uma identidade política reflete na ausência de uma perspectiva crítica, que favoreça uma visão completa dos múltiplos determinantes que afetam o trabalho docente. Os professores reconhecem suas condições de trabalho, mas sua interpretação é reduzida apenas a situação imediata de trabalho. É uma crítica superficial, pois desconsidera as contradições do sistema capitalista, os processos de alienação e os consequentes antagonismos de classe por ele gestados. Ao analisar os dados, entendemos que a superação dos limites existentes para construção de uma educação como fator de transformação social passa pela constituição de uma identidade política e de classe por parte dos docentes, capaz de desvendar os processos ideológicos da classe dominante e a alienação do modo de produção capitalista. Nesse processo, novas posturas poderão surgir contribuindo para revelação do caráter ideológico dos elementos que constituem o trabalho docente, delineando uma nova concepção educacional que traga autonomia, conscientização e realização para professores e alunos. Palavras-Chave: identidade política; classes sociais; educação. A relação entre trabalho e educação tem sido marcada pelos antagonismos das classes sociais, de forma que as demandas econômicas resultantes da reorganização do sistema capitalista, trouxeram várias repercussões sobre as políticas educacionais, que se fundamentaram na crença de que a educação é o elemento primordial no desenvolvimento econômico e social de uma nação. Essa premissa culminou por vincular as ações educativas aos princípios utilitaristas e pragmáticos do mercado, deformando o conceito de educação que passou a ser tratada como mercadoria, responsável pela qualificação da mão de obra para inserção nos moldes produtivos voltados para acumulação e expansão do capital. Dentro dessa lógica os processos educativos institucionalizados tem contribuído para continuidade do sistema de exploração da sociedade capitalista. Dessa forma, o presente artigo busca discutir a questão da identidade política e de classe dos professores como um importante elemento de contraposição à ideologia educacional capitalista e construção de um novo conceito de educação. Para tanto, buscamos apreender e compreender as concepções acerca do trabalho de um grupo de professores de duas instituições públicas da cidade de Jaraguá-Go, uma da rede estadual e outra da rede municipal. Foram utilizados três critérios básicos para a escolha das instituições escolares: maior abrangência das modalidades de ensino, maior número de professores concursados, maior quantitativo de alunos matriculados. A amostra da pesquisa foi composta por uma seleção aleatória que contemplou vinte e oito docentes ( quatorze da escola municipal e quatorze da estadual ) que efetivamente estavam em exercício pedagógico em sala de aula e que possuíam vínculo empregatício efetivo com o estado ou município Utilizamos como instrumento de coleta de dados a entrevista semi-estruturada organizada a partir das concepções e percepções dos docentes em relação a sua vinculação a classe trabalhadora. Esses dados foram analisados a luz dos princípios do Materialismo Histórico Dialético, fundamentados principalmente em Marx, Mészáros, Mascarenhas, Frigotto, Saviani e Paro. A EDUCAÇÃO-MERCADORIA, QUALIDADE DO SISTEMA PÚBLICO DE ENSINO E IDENTIDADE POLÍTICA Qualidade é um termo polissêmico, que traz em si uma complexa trama de fatores e conceitos com múltiplas significações. Quando se trata de qualidade da educação temos um fenômeno ainda mais complexo e abrangente, pois o sistema educacional está em constante transformação e movimento, alterando-se de acordo com as novas demandas políticas, sociais, econômicas e culturais da sociedade em que está inserido. Mariano F Enguita (1994) alerta para as armadilhas que o consenso pela busca da qualidade da educação pode trazer às instituições públicas de ensino. Segundo o autor, o discurso da qualidade entra em cena sempre que se pretende justificar ou propor alguma alteração nos sistemas educacionais. O uso desse termo polissêmico se torna a linguagem comum quando se trata da questão do ensino público, desde o Estado, trabalhadores docentes até pais e alunos. Enfim o discurso da qualidade é imbatível e aceito pela totalidade dos sujeitos inseridos no contexto político e social, tanto no Brasil como no mundo. Após a Conferência Internacional de Jontien, diversas medidas foram tomadas para elevar o padrão de qualidade educacional brasileiro, medidas estas pautadas nas orientações doutrinárias e as metas quantitativas definidas neste fórum internacional e posteriormente reforçadas na Cúpula Mundial de Educação para Todos (ocorrido em Senegal, Dalcar, em 2000). Dentre estas, destacam-se a implantação de um amplo sistema de avaliação da educação básica para quantificar a aprendizagem dos estudantes de forma contínua e integrada ao planejamento e financiamento das reformas educacionais, conforme preconizado pelos organismos multilaterais.(FONSECA, 2009) Desde então, atribui-se os problemas dos sistemas públicos de ensino a simplesmente o mau uso das verbas destinadas a esse setor. Relacionando a qualidade com a quantidade e variedade dos insumos necessários ao processo ensino-aprendizagem, com um menor custo possível. De forma que para melhorar a alocação dos recursos e insumos existentes era preciso que a escola se pautasse nos modernos métodos de gerenciamento de produção das empresas privadas para se obter maiores ganhos com a “produtividade”, incentivando a descentralização administrativa e a competição para diminuir a burocracia e a inércia supostamente inerentes ao sistema público. (FONSECA, 1998; FRIGOTTO E CIAVATTA, 2003; SILVA, AZZI E BOCK, 2008, CAMPOS, 2000) Os novos métodos de gerenciamento introduzidos transformaram o sistema burocrático educacional. Os pais e alunos passaram a ser equiparados aos consumidores de mercadorias, pois a elevação dos padrões de qualidade são mais facilmente atingidos por meio da lógica do mercado. Sendo que, os métodos descentralizados e participativos de gestão da educação se ancoraram nas preferências e julgamentos individuais dos “consumidores”, da mesma forma em que nas empresas privadas, a produção se adapta rapidamente as preferências do mercado capitalista. (CAMPOS, 2000) A educação escolar estaria assim ajustada à reestruturação produtiva do sistema societal do capital e às mudanças organizacionais e a base técnico-científica à nova divisão internacional do trabalho. Adotou-se o pensamento pedagógico empresarial, focado em uma “perspectiva individualista, dualista e fragmentária coerente com o ideário da desregulamentação, flexibilização, privatização e com o desmonte dos direitos sociais” contidos na “cartilha” do neoliberalismo. (FRIGOTTO e CIAVATTA, 2003, p.108) Dave Hill (2003) nos chama atenção para a não compatibilidade entre mercado e educação, salientando que apesar da educação ser tratada atualmente como uma mercadoria comum, ela não se encaixa nesses moldes, pois não pode ser comprada ou vendida, pode-se sim comprar os meios para a educação, mas nunca o aprendizado em si. Sendo que educação e o mercado capitalista são totalmente contraditórios, pois apresentam metas, métodos, motivações e padrões de excelência opostos. O enfoque utilitarista e pragmático, utilizado para criar padrões educacionais gestados no bojo da lógica mercadológica, não são suficientes para orientar a qualidade da ação educativa. A educação é muito mais do que apenas a preparação dos indivíduos para o mercado de trabalho. É uma prática social que se legitima nos diversos espaços sociais, articulando os fatores políticos, econômicos e culturais, interagindo com todas as esferas da vida social. É a apropriação da cultura historicamente produzida pelos indivíduos, humanizando e criando nos homens as condições necessárias para a vida em sociedade. É um elemento crucial para construção de uma contra hegemonia e transformação da sociedade excludente em que estamos inseridos. (GRAMSCI, 1978, FRIGOTTO, 2003) A concepção de educação como uma mercadoria torna a relação custo/benefício o principal determinante de sua qualidade, as demais categorias constituintes das ações educacionais são desconsideradas ou relegadas ao segundo plano. O que interessa é o retorno econômico, a educação como um direito, como constituinte da humanização e da consciência política autônoma dos sujeitos, não é interessante. Assim sendo, a educação está entre as políticas públicas cujo processo de mercantilização está ocorrendo de forma mais acelerada, o que acarreta prejuízos para a sociedade como um todo, desde os trabalhadores docentes, gestores educacionais até pais e alunos, que sem saber são submetidos a uma educação alienante e desprovida de qualquer ética ou crítica. Dentro dessa lógica, as condições objetivas do trabalho docente são desconsideradas como fatores importantes no aumento da qualidade educacional. As pesquisas realizadas sobre a qualidade do ensino brasileiro pelos técnicos do Banco Mundial enfatizam que o papel do professor nos processos educativos não é determinante para melhoria dos padrões de ensino/aprendizagem. Questiona-se também a relação entre o número de alunos por sala e a atuação dos educadores. De acordo com os documentos do banco, a média de 40 a 50 alunos por professor é considerada satisfatória, o que é totalmente inaceitável quando se analisa o real contexto em que o trabalho pedagógico é realizado. Da mesma forma, o pressuposto de que a melhora das condições de trabalho dos professores tem incidência na melhora da qualidade educacional é combatido, enfatizando-se que a qualidade das instalações escolares ou do material didático tem impacto muito maior sobre a qualidade do ensino que, por exemplo, o aumento do nível salarial dos docentes. (SILVA, AZZI E BOCK, 2008; FONSECA, 1998) Na educação mercadoria o que é valorizado é a produtividade mediante menores custos, no mais há um total desprezo em relação aos trabalhadores docentes inseridos nos sistemas públicos de ensino. Sua atuação é menosprezada e suas condições de trabalho relegadas a um segundo plano. O que está em jogo é a adequada combinação de insumos escolares (materiais didáticos, recursos tecnológicos, infraestrutura) e uma gestão administrativa capaz de utilizá-los de forma eficiente, de maneira a proporcionar a maior economia possível ao estado. Nesta perspectiva o que se oferece aos alunos é uma educação deformada, fetichizada e alienada, que nem mesmo tem conseguido seu objetivo primeiro que é preparar para o tão sonhado mercado de trabalho. Desconsidera-se a totalidade do contexto social, político, cultural e econômico dos sujeitos inseridos na realidade das instituições públicas de ensino e a ênfase recai sobre projetos orientados pelas necessidades de acumulação e expansão capitalista, cuja qualidade se torna resultado de uma competitividade e uma boa avaliação nos padrões que são considerados aceitáveis por grupos empresariais nacionais e internacionais e agências multilaterais. Essa concepção de educação não poderá jamais ser considerada realmente de qualidade, pois na sua própria gênese já foi desqualificada, já que se ancora em padrões de exclusão e exploração do sistema societal do capital. Nos quais a qualidade educacional, na verdade torna-se sinônimo de diferença, pois se anteriormente se vinculava educação a igualdade de oportunidades e desenvolvimento, hoje a educação mercadoria da sociedade capitalista, está mais voltada para empregabilidade e competitividade. (ENGUITA, 1994). A deturpação da educação deturpa a própria escola e os trabalhadores nela inseridos. Os espaços para conscientização, desenvolvimento de uma autonomia intelectual, para crítica e criação de uma identidade política e de classe estão cada vez mais se extinguindo. O que tem sobrevivido no ambiente escolar, e de forma predatória tem caçado e tentado aniquilar todas as outras concepções, sejam educacionais ou até mesmo visões de mundo, é a reprodução acrítica e a-histórica dos discursos enfatizados e disseminados pelo estado e por seus agentes. O que gera uma gama de multiplicadores de suas premissas, legitimando as ações excludentes e exploratórias do poder público, transformando as escolas públicas em um ambiente cada vez mais marcado pelas desigualdades, de raça, gênero e econômico-sociais, pela competição e por diversos conflitos entre professores, gestores e alunos. Nesse contexto, Meszáros (2004, p.50) salienta que outro mundo é sim possível e também necessário. E para o sucesso dessa tarefa, o autor deixa claro que é necessário compreender que não existe um sujeito da emancipação predefinido, mas abrange “a totalidade dos grupos sociológicos capazes de se aglutinar em uma força transformadora efetiva no âmbito de um quadro de orientação estratégica adequado”. Ou seja, os mais diversos grupos sociais de trabalhadores devem desenvolver a consciência de que possuem um interesse comum objetivo que é instituir a “alternativa hegemônica do trabalho à ordem social do capital”. Nesse processo, os conflitos e interesse opostos desses grupos seriam rearticulados, combinando essa variabilidade em um único sujeito social emancipador: a abrangente gama de todos os trabalhadores do sistema societal do capital. Por conseguinte, antes de lutar por melhores condições de vida e trabalho e por um novo conceito de educação, os professores devem ter clareza da classe social a que pertencem, se identifiquem com essa classe e construam uma identidade política. Pois a luta dos docentes está contida em uma ação muito maior, que é a transformação da sociedade como um todo. Nesse aspecto, Meszáros (2004, p.52) enfatiza que o papel da participação - como “exercício criativo, em benefício de todos, dos poderes de tomada de decisão adquiridos” - e a solidariedade são requisitos fundamentais para êxito da emancipação da sociedade. De acordo com o autor: [...] sem desenvolver e aprofundar a solidariedade entre as forças que lutam pela concretização de uma ordem alternativa, seus esforços - por mais dedicadas que sejam as pessoas que participam de lutas particulares, dispostas a sofrer privação e fazer os sacrifícios necessários no caso de uma greve que durou um ano- não terão sucesso. (MESZÁROS, 2004, p.53) Ângela Mascarenhas (2002) salienta que os desafios impostos à classe trabalhadora nesta sociedade exigem mais do que nunca o desenvolvimento de uma identidade política, como elemento constitutivo da consciência de classe na contraposição ao processo de expansão e acumulação do capital. De acordo com a autora (p.15), a identidade política pode ser conceituada como: Processo de configuração da auto-consciência de um grupo, em que ele elabora sua posição e ação diante dos conflitos sociais e relações de poder. A identidade é um modo específico de articulação do grupo. É um fato de consciência significando uma auto-representação ou auto-definição, manifestada tanto no comportamento como no discurso. É um jogo dialético entre o mesmo e o diverso. O conflito e a heterogeneidade constituem terreno propício à formulação da autoconsciência. A construção da identidade é um processo contínuo, fundamentado nas relações que o sujeito estabelece com os outros, de acordo com um determinado projeto político. É o reconhecimento e afirmação do papel do indivíduo como agente histórico, consciente e atuante na elaboração de um novo projeto social, antagônico ao modelo existente. Constituir uma identidade política é se posicionar, lutar, resistir as imposições do sistema sociometábolico do capital, reconhecer-se permanentemente ligado a uma determinada classe social e articular os interesses dessa classe.(SILVA, H.L.F, 2006) Os docentes pertencem à classe trabalhadora, no entanto, não são uma classe em si, pois não se reconhecem como parte da imensa gama de trabalhadores que são explorados pelos ditames do capital. A caracterização de uma classe social não é algo simples, pois mais que identificação das pessoas umas com as outras formando um grupo é necessário um posicionamento político por parte desse grupo. Pois, à medida que, existe apenas uma ligação local através de condições econômicas, modo de vida ou cultura sem uma organização política não há efetivação da classe social (MARX, 1997). A deficiência na percepção e consciência dos docentes em relação a sua classe social é um dos fatores que contribui para a manutenção das relações de exploração em seu ambiente de trabalho e consequentemente na manutenção e disseminação do conceito de educação como mercadoria. Isso porque ser trabalhador é se reconhecer como sujeito histórico da mudança, da transformação da sociedade, sem essa identidade e colaboração com os outros grupos sociais de trabalhadores não há como transformar verdadeiramente a educação pública. Assim sendo, na constituição de uma identidade política e de classe é necessário que as contradições, conflitos e relações de poder existentes na relação entre educação e trabalho sejam desvendados. É preciso que os educadores elucidem os processos de alienação do sistema capitalista, compreendendo o porquê do trabalho, nessa sociedade, ser visto como sinônimo de tortura, dor e sofrimento, ocasionando, muitas vezes, problemas de saúde nos trabalhadores. E é somente através da articulação entre política, educação e trabalho que essas questões podem ser descortinadas. (MASCARENHAS, A; 2005) No entanto, o sentimento de pertencimento a classe trabalhadora tem se afastado cada vez mais dos educadores. Há um forte preconceito e rejeição ao próprio termo “trabalhador” que é visto como algo que desqualifica, que empobrece o desenvolvimento de seu trabalho e desmerece todo o esforço empreendido para aperfeiçoamento de sua função pedagógica. Na presente pesquisa, 79% dos trabalhadores docentes entrevistados se consideraram profissionais, rejeitando sua inserção na classe trabalhadora. A busca incessante por qualificação e aperfeiçoamento foram os motivos mais citados como justificativa para repudio de sua identidade como trabalhador, seguido pelo “amor” e “dedicação” devotados à profissão. Quando você fala assim, eu sou uma profissional da educação ( ênfase em profissional) então você executa seu trabalho bem, então se for nesse sentido aí, eu prefiro ser chamada de profissional da educação porque a minha profissão é a educação, você tem que ta trabalhando com amor, com dedicação e não deixando esse princípio. (Professora 15- rede estadual) Ah eu me considero uma profissional da educação né, e é o que eu quero ser, o que eu pretendo ser, se ...quando eu escolhi essa profissão era porque eu queria ser uma boa professora, senão não teria nem começado nessa área. Mas assim, trabalhadora é quando você simplesmente ta lá pra receber o seu salário né, e você só trabalha em prol disso, do seu sustento próprio, como profissional, eu vejo assim como forma de procurar uma melhoria para minha vida e para vida dos meus alunos. ( Professora 17 – rede estadual) O restante que se considerou parte da classe trabalhadora também não o fez devido à construção de uma identidade política, mas devido à leitura deturpada de trabalho e trabalhador pela ótica da exploração do capital. Isto é, os docentes se consideraram trabalhadores, devido principalmente a falta de reconhecimento “profissional” e as péssimas condições de trabalho como: baixos salários, descaso do estado, salas super lotadas, entre outros. Eu me considero uma trabalhadora da educação, porque não está sendo fácil. Acho que o profissional é aquele que ta lá no trabalho e pronto, saiu do trabalho não pensa em mais nada em relação a ele, e a gente não é assim. A gente vai pra casa, a gente leva material, a gente sai com a vida dos alunos nas mãos, o tempo todo. ( Professora 17 – rede estadual) Trabalhador porque eu trabalho além do que as vezes eu suporto. Né, eu acho assim porque a carga horária do professor hoje ela é muito pesada. Tá porque não é só a gente chegar na sala de aula e dar aula acaba as atividades na sala de aula, a gente tá cansada, estressada, chega em casa e tem outras atividades além da documentação, ainda tem a família em casa, então é uma carga horária muito pesada. ( Professora 1 – rede municipal) A negação de sua classe social dificulta a elaboração de uma práxis que permita a construção de um fazer pedagógico voltado para emancipação e desenvolvimento de uma autonomia intelectual nos estudantes, pois os próprios docentes não conseguem realizar uma leitura clara do verdadeiro contexto em que estão inseridos, o que dificulta sua opção política, permanecendo presos a teia ideológica e alienante da educação-mercadoria. Além disso, na perspectiva de serem profissionais competentes, os educadores passam a estranhar os próprios companheiros de classe, passando enxergá-los como concorrentes, pautando suas relações sociais em critérios competitivos e individualistas. Dessa forma, a falta de uma identidade política reflete na ausência de uma perspectiva crítica, que favoreça uma visão completa dos múltiplos determinantes que afetam o trabalho docente. Uma educação pública de qualidade só se efetivará mediante a articulação de seus trabalhadores em prol da apropriação e difusão dos conhecimentos escolares para contraposição ao sistema societal do capital. Cultivando a consciência política e de classe cotidianamente, educando a todos de forma criativa e criadora, tendo como princípio educativo o trabalho. O trabalho como princípio educativo é aqui entendido não como a preparação para inserção no mercado capitalista, mas sim de uma formação que favoreça a inserção do indivíduo no mundo, de forma criativa, realizadora e transformadora. (MASCARENHAS, A; 2005, p. 162) Nessa perspectiva, a construção de uma identidade política poderá contribuir para associação entre teoria e prática, entre ação política e ação pedagógica, culminando na politização das questões cotidianas. Nesse processo, novas posturas e comportamentos poderão surgir contribuindo para crítica e a revelação do caráter ideológico e alienante dos vários elementos que constituem o trabalho docente, o que poderá trazer contundentes contribuições para a desconstrução dessa educação-mercadoria doente e dessa escola pública doente. .CONSIDERAÇÕES FINAIS Os professores reconhecem as condições indignas de trabalho a que são submetidos, mas sua interpretação desses dados muitas vezes é reduzida apenas a sua situação imediata de trabalho, eles não conseguem avançar para além das aparências imediatas. É uma crítica superficial, pois desconsidera as contradições do modo de produção capitalista, os processos de alienação e os conseqüentes antagonismos de classe por ele gestados. Assim sendo, a organização política é um dos elementos fundamentais para reconstrução da educação e da escola pública. Pois através da organização política pode se construir uma crítica contundente a sociedade existente, apontando elementos que favoreçam a transformação histórica da mesma, dado que a realidade é sempre um campo profícuo para novas possibilidades. Portanto, a luta em prol de uma educação pública de qualidade e contra a exploração do trabalho docente, passa necessariamente pela constituição de um novo conceito da própria qualidade educacional, um conceito pautado na construção da autonomia intelectual dos alunos, contribuindo para formação onilateral do indivíduo. Uma qualidade que seja pautada não apenas em aspectos técnicos, no saber-fazer, mas fundamentalmente na constituição de uma identidade política, tanto por parte dos educadores como dos estudantes, capaz de desvendar os processos de alienação do modo de produção capitalista, partindo da compreensão de que o trabalho é fundante da própria humanização dos indivíduos. A partir de então, os trabalhadores docentes poderão realmente contribuir para construção de uma nova sociedade, assumindo seu papel de sujeito histórico, delineando uma nova concepção de educação, que vá além dos limites impostos pelo capital e que traga autonomia, conscientização e uma verdadeira realização para os professores. REFERÊNCIAS ENGUITA, Mariano Fernández. O discurso da qualidade e a qualidade do discurso. In: GENTILLI, Pablo A.A.; SILVA, Tomaz Tadeu da (org). Neoliberalismo, qualidade total e educação. Petropólis, RJ: Vozes, 1994, p.93110. FONSECA, Marília. Banco Mundial como referência para a justiça social no mundo: evidências do caso brasileiro. In: Revista de Educação da USP, vol.24, jan/jun, 1998. FONSECA, Marília. Políticas Públicas para a qualidade da educação brasileira: entre o utilitarismo econômico e a responsabilidade social. Cad. Cedes, Campinas vol. 29, n. 78, p. 153-177, maio/ago. 2009. FRIGOTTO, G; CIAVATTA, M. 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Banco Mundial em foco: sua atuação na educação brasileira e na dos países que integram a inciativa Via Rápida na América Latina. In: HADDAD, S. (org). Banco Mundial, OMC e FMI: o impacto nas políticas educacionais. São Paulo: Cortez, 2008, p.15-75. SILVA, H.L.F da. As trabalhadoras da educação infantil e a construção de uma identidade política. 2006. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Educação, Universidade Federal de Goiás. Comunicação Oral GT 2 – Educação, Trabalho e Movimentos Sociais MOVIMENTOS SOCIAIS: ORGANIZAÇÃO COLETIVA PARA A CONQUISTA DA TERRA, PERMANÊNCIA E QUALIDADE DE VIDA NO CAMPO Queina Lima da Silva Cleonice Ferreira dos Santos Prof Msc. Nilza da Silva Martins (Orientadora) UNEB- campus –Barreiras- BA [email protected] RESUMO Esta pesquisa foi realizada em um Assentamento de Reforma Agrária no município de Barreiras – BA. Buscando uma compreensão acerca dos Movimentos Sociais, compreendidos como organização coletiva na luta pela conquista da terra e sua permanência no campo com qualidade de vida. Para tal utilizamos como metodologia o estudo de campo que permitiu um maior entendimento das questões que permeiam o cotidiano de um assentamento. O instrumento utilizado para coleta de dados foi a entrevista semiestruturada, que possibilitou ao entrevistado discorrer livremente a respeito do tema pesquisado. Tivemos como participantes dois sujeitos, um ex-posseiro que atua como presidente da associação de moradores da comunidade e um assentado que veio com o movimento social dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Os dados coletados revelaram o histórico da ocupação até a posse da terra, expondo os desafios enfrentados no processo de conquista, construção de suas moradias, cultivo e beneficiamento da terra, assim como a organização coletiva na luta por estradas para o escoamento e comercialização dos produtos, a escolarização, saúde e acesso aos serviços primários, bem como políticas de incentivo que oportunize uma vida digna no campo. Diante dos resultados observamos que a conquista da terra não assegura sua permanência no campo, pois foi revelada a necessidade da mão-de-obra assalariada em fazendas da região para complementar a renda familiar, garantindo o sustento de suas famílias e a permanência no campo. Este fator contribui para o fortalecimento do agronegócio e o enfraquecimento da agricultura familiar. Assim, torna-se urgente a necessidade de políticas públicas que assegurem aos assentados viver na terra conquistada com qualidade de vida, atuando como sujeitos de mudança no contexto em que estão inseridos. Palavras-chave: movimentos sociais; assentamento; políticas públicas. 1. CONCEITUANDO OS MOVIMENTOS SOCIAIS Em princípio é necessário ressaltar que não existe consenso entre diferentes estudiosos quanto ao conceito de Movimentos Sociais, haja vista que este entendimento é dependente da categoria de análise adotada pelo autor e, ainda, considerando, sobretudo, os períodos históricos a que se referem. Os primeiros estudos surgiram no século XIX como organização coletiva, de caráter não-formal desvinculado da esfera pública e privada, tencionando criar seu próprio campo político e social, com o objetivo de garantir direitos que lhe foram negados. Desta feita, os Movimentos Sociais de caráter ideológico partem inicialmente de ideias que surgem no bojo das organizações sociais, na defesa dos interesses coletivos que se organizam e realizam ações em prol da conquista de seus direitos, podendo ser por terra, moradia, direitos políticos, escola, saúde, liberdade sexual, étnica e religiosa. Nesses termos, os Movimentos Sociais contribuem para a promoção de mudanças sociais de um país, assim como para a ampla mobilização das transformações políticas dos sujeitos que estão envolvidos no tecido do movimento, perseguindo uma visão de sociedade mais justa e igualitária, mediante a organização de diferentes categorias sociais que passam a ser respeitadas tanto no campo público quanto privado. Nessa perspectiva, os movimentos surgem e ressurgem a partir da luta de classe, contexto em que os oprimidos identificam seu opressor engajando-se na luta coletiva e organizada por sua emancipação. Assim, os movimentos sociais aparecem na arena de luta fazendo e refazendo “saberes,” em busca de construir uma sociedade economicamente justa e solidária. Segundo Arroyo (2007, p. 5): Os movimentos sociais como coletivo de interesses organizados colocam suas lutas no campo do direito, não apenas de sua universalização, mas também de sua redefinição. (...) reinvidicam ser beneficiários de direitos, mas ser sujeitos, agentes históricos da construção de direitos. Assim, a aprendizagem constituída nos movimentos sociais, tem sempre um caráter coletivo formado pelo princípio da partilha de ideias entre os militantes, que lutam para que todos possam gozar dos mesmos direitos, tornando-se sujeitos críticos, participativos e emancipados. Essa premissa se ampara em Gohn (2008) quando expressa que há um longo processo de aprendizado entre os atores envolvidos, até a construção do coletivo como uma representação institucionalizada. Portanto, é no exercício contínuo da aprendizagem nos espaços sociais que os grupos organizados constroem formas democráticas de participação na arena política e nas relações sociais de trabalho. 2. ABORDAGEM HISTÓRICA DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é o Movimento Social mais atuante na América Latina. E tem inspirado outros movimentos , em prol da igualdade dos direitos sexuais e de preservação ecológica, cujas ênfases ganharam grande visibilidade e têm realizado diversas ações em todo o mundo, constituindo-se em um espaço comum com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Essa construção social mostra que as organizações coletivas têm caráter prático, ou seja, é na ação ou luta que os atores sociais vão aprendendo e conquistando seus direitos. Com base no exposto resolvemos conhecer de maneira mais sistemática as lutas empreendidas pelos Movimentos Sociais em um município do interior baiano, tomado como organização coletiva na luta pela conquista da terra, permanência no campo com qualidade de vida. Para tal utilizamos o estudo de campo como tipo de pesquisa, por permitir um maior entendimento das questões que permeiam o cotidiano de um assentamento de Reforma Agrária localizado no município de Barreiras-BA. A coleta de dados utilizou-se da entrevista semiestruturada como instrumento de levantamento de dados com a participação de dois sujeitos, um ex-posseiro que atua como presidente da associação de moradores da comunidade e outro entrevistado, um assentado que veio com o movimento social dos Trabalhadores Rurais. Partindo desse pressuposto apresentaremos um panorama histórico sobre o MST, iniciado no período de 1979 a 1984, e criado no Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Sem Terra- ENERA, que aconteceu de 21 a 24 de janeiro de 1984, em Cascavel, no estado do Paraná. Construído como uma questão agrária estrutural e histórica no Brasil, o MST nasceu da articulação das lutas pela terra que foram retomadas a partir do final da década de 1970, especialmente na região centro-sul do país e, aos poucos se expandiu pelo Brasil inteiro. Atualmente, o MST está organizado em 22 estados e, ainda, conserva os mesmos objetivos definidos no referido Encontro em Cascavel e ratificado no I Congresso Nacional realizado em Curitiba, no ano de 1985. No Paraná o lema consistiu em lutar pela terra, pela Reforma Agrária e pela construção de uma sociedade mais justa, sem explorados nem exploradores Nos anos 2000, o MST completou 16 anos e contabilizou um número de, aproximadamente, 250 mil famílias assentadas e de 70 mil famílias acampadas em todo o Brasil. Esses dados sinalizam as conquistas fruto das lutas que deram a essas pessoas, terras antes improdutivas que se tornaram lugares de vida, de trabalho e de produção de alimentos para muitas famílias. Entre as conquistas obtidas pelo MST é relevante mencionar que, mais de 100 mil crianças e adolescentes estão estudando em escolas conquistadas em suas áreas de assentamento e acampamento. São as cirandas infantis que, aos poucos, vão produzindo a cultura da Educação Infantil no campo, um movimento massivo de alfabetização de jovens e adultos sem-terra que envolve cerca de 20 mil educandos. Nessas condições, se promove a formação de técnicos e educadores em cursos de nível médio e superior, além de uma série de outras iniciativas de formação de sua militância, e do conjunto da família Sem Terra. É assim que o MST vem ajudando a recolocar na agenda política brasileira a questão da Reforma Agrária: fazendo a luta pela terra e afirmando em suas iniciativas, a possibilidade de novas relações sociais, projeto inovador de desenvolvimento para o campo, e para o país. Ademais, o MST tem se constituído uma ação política que adota uma proposta educacional inovadora, que é a escola itinerante. E tão logo se ocupa uma terra, rapidamente é construído um barraco que serve de escola, cuja intenção é assegurar condições para o trabalho de ensinar e aprender das crianças e adolescentes que estão inseridos no acampamento. Essa conscientização anuncia, sobretudo, o papel transformador da escola implementada pelos militantes dos movimentos sociais que perceberam que lutar somente por terra não lhes garante a efetivação dos outros direitos. 3. DIALOGANDO COM OS ACHADOS DA PESQUISA Para entender um pouco mais acerca da história do assentamento lócus de nossa pesquisa, tomaremos as informações apresentadas pelos dois moradores, um ex-posseiro que será chamado de “Zeca”, e uma militante social que intitulamos de “Carmem”, ambos autorizaram a divulgação de suas entrevistas Nessa perspectiva, se posicionaram acerca da militância social e do processo de luta e conquista da terra. De acordo com o seu Zeca: “movimento dos sem terra uns concordam dizer sem terra e outros discordam dizer sem terra, porque quando se fala em sem terra como vê passando na mídia, na televisão, ou informação pelo rádio, aí muitas das vezes a gente vê a parte sem terra mal vista”. Há duas premissas quanto à referência ao MST. A primeira questão mencionada é a negação da identidade de sem terra. Esse fato se justifica porque o MST sempre aparece na mídia desenvolvendo alguma ação (passeatas, protestos, manifestações). Geralmente, são mal vistos pelos telespectadores, uma vez que a maioria das pessoas desconhece o histórico de lutas dos movimentos sociais, e vê esse coletivo de pessoas como “transgressores da ordem social vigente”. No segundo caso, mostra-se que há um conhecimento de que o MST está lutando pela redistribuição de terras do Brasil. Ressaltamos que nesse contexto, o país é um dos poucos da América Latina que ainda não fizeram sua Reforma Agrária e mantém o sistema de latifúndio, baseado nas capitanias hereditárias, no qual as terras passam de pai para filho. No modelo supracitado há uma concentração de terras nas mãos de poucos, e os sem terra representam a grande maioria do país que impera sob a desigualdade social, de acordo com Gohn (2010, p.238): “o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra será uma das mostras da exclusão e da desigualdade social no continente”. Não obstante, ressaltamos que a negação de direitos sociais não oportuniza as pessoas o acesso à áreas para residir e plantar. Por isso o MST surgiu para garantir que os direitos sociopolíticos pudessem ser efetivados, uma vez que lutam pela distribuição de áreas de terras improdutivas e torná-las produtivas é assegurar que o campo seja um espaço de vida e luta coletiva. Ainda falando do processo de luta pela terra Dona Carmem ainda mencionou que: “a luta do movimento não é fácil, porque todo mundo sabe que eles são marcados, os fazendeiros marcam muito eles. Eles são um herói porque eles enfrentam pra dar a terra aos pobres pra morar e trabalhar, aqueles que querem trabalhar”. Além de serem marginalizados pela sociedade civil como “baderneiros”, os sem terra ainda são perseguidos pelos fazendeiros e grileiros de terra e, nessa luta, muitos embates aconteceram. Segundo expressou Gohn (2010, p.305) a esse respeito: “centenas de trabalhadores foram mortos em conflitos pela posse da terra, a maioria deles assassinados, um fato marcante e triste na história do movimento foi o massacre dos sem-terra em Eldorado dos Carajás que vitimou muitos companheiros de luta”. Ao mencionar acerca do processo de ocupação da terra e a formação do acampamento em que reside, o posicionamento de seu Zeca se referiu àquela terra como “uma fazenda desapropriada, eu já morava aqui como posseiro, se não fosse o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), essa desapropriação não teria acontecido, ficaram aqui trinta famílias entre posseiros e acampados”. Nessa questão há uma atribuição ao movimento social como uma conquista da terra, pois os próprios posseiros não tiveram força para garantir o direito à posse da terra onde moravam. Assim, entendemos que a coletividade das diferentes categorias de movimentos sociais tem contribuído para grandes mudanças no campo político, econômico e social de um país. Já dona Carmem relata: Quando viemos aqui para Fazenda Ilha da Liberdade, nós acampamos lá no Paulo gaucho, depois de lá nós ficamos na beira do rio debaixo dos pés de manga, passamos mais ou menos um ano lá, com a chuva o rio encheu e todos nós viemos pra o barraco, alguns foram para o barraco, eu mesma fiquei num galpão que tinha ali em cima, depois voltamos para o barraco aqui em cima onde hoje é minha casa. Seu relato demonstra as dificuldades enfrentadas no processo de conquista da terra e, ainda, reflete de acordo com Gohn (2010, p. 266), “as formas de resistência construídas pelos excluídos, pode-se dizer que exclusão e resistência são categorias e ao mesmo tempo, códigos culturais dos movimentos latino-americanos”. A resistência torna-se um importante instrumento de luta que os sem-terra conseguem utilizar para obter sua terra para viver e plantar. Dona Carmem menciona: A vida era muito sofrida, debaixo de uma lona não poderia ser fácil, a chuva vinha, o vento rasgava a lona e molhava tudo que a gente tinha enchente dando no meio da canela, dando na cintura, rolando pau nas pernas, peixe cobra, isso tudo foi o nosso sofrimento aqui, foi sofrido. Agora os moradores daqui (posseiros) não sofreram porque nenhum foi pra debaixo da lona. Os sem terra sofrem muito na fase em que estão morando em acampamentos, tendo que morar em barracos de lona, situados as margens de rodovias, enfrentando calor, falta de água, insegurança, diversos fatores negativos que os fariam desistir da luta. Ainda relatando sobre o tempo em que os trabalhadores estiveram acampados seu Zeca expõe: Foram dois anos vivendo em barracos foi sofrido porque pega chuva dentro da lona, tinha muito carrapato quem vive hoje em sua casa própria, hoje a luta valeu a pena pelo menos para conquistar a terra. A luta por essa terra começou há muito tempo a mãe dele nasceu e casou lá e ele foi nascido e criado e permanece na terra até hoje. A resistência dos militantes sociais se justifica pela vontade de conquistarem a terra e assegurar a seus descendentes a herança não somente de uma área de terra, mas, também os valores sociais, coletivos e políticos aprendidos ao longo da caminhada. De acordo com o participante várias gerações de sua família viveram no pedaço de terra conquistado. Ainda falando acerca da herança que os militantes sociais querem deixar para seus filhos, constata-se que eles querem que seus filhos não sofram o mesmo que eles. Por isso lutam por terra, por educação e acesso a saúde, moradia, enfim todos os direitos que assegurem a dignidade humana. Com base no exposto, constatamos que foi necessária muita luta, abdicação e embates, por parte dos militantes sociais, estas são descritas por seu Zeca: Tinha que levantar uma casa de taipa e se fosse para a cidade e passasse oito dias quando voltasse o fazendeiro já havia derrubado a casa, vivíamos quase de favor trabalhando para os fazendeiros quase como escravos para ter o direito de permanecer na terra, recebiam menos do que deveriam pelo serviço prestado e eram obrigados a trabalhar se não seriam retirados no dia seguinte da terra. Neste relato constatamos as dificuldades e, ainda, a repreensão sofrida pelos trabalhadores sem terra, promovidas, em especial, pelos opositores que, segundo Gohn (2010, p.262): “são sempre os sujeitos que detêm o poder sobre o bem demandado e por isso oprimem os sujeitos não permitindo a estes terem acesso ao bem almejado, muitas vezes tentam negociar, pretendendo sempre obter lucro sobre outrem”. Essa questão é evidenciada no posicionado do entrevistado, os fazendeiros usavam a propriedade que tinham para oprimir os posseiros e fazê-los trabalhar por uma remuneração irrisória, que era aceita pela necessidade de sobrevivência dos trabalhadores. O relatado acima acontecia quando as pessoas lutavam pela aquisição da terra, depois da conquista o local deixa de ser um acampamento e ganha status de assentamento, considerando isso, descreveram como é a vida neste espaço hoje em dia. Segundo dona Carmem: Pelo que nós vivíamos hoje estamos bem, cada um tem sua casa própria, trabalhando o quanto pode só que nós nunca recebemos o recurso, pois a terra nunca foi medida. Recebemos o crédito fomento e as casas, temos o documento da terra, só vamos receber com vinte anos, tanto os que vieram com o movimento quanto os posseiros, só com vinte anos que podemos dizer que a terra é nossa, mas governo nenhum pode tirar a gente daqui. De acordo com essa descrição, percebe-se que receberam o crédito de fomento para a construção das casas do assentamento. Esse direito está assegurado na Instrução normativa nº 53/2009 que “garante aos beneficiários de Reforma Agrária os meios necessários para a instalação e desenvolvimento inicial da terra”. Esses recursos são divididos em modalidades de crédito: apoio inicial, apoio à mulher, aquisição de materiais de construção, fomento, entre outros. A entrevistada revela que receberam um fomento no valor de R$ 3.200,00 e incentivo para materiais de construção no valor de R$ 5.000,00. Somando os incentivos receberam um total de R$ 8.200,00. Quanto ao documento da terra, existe um equívoco no entendimento da participante quando expõe já ter o documento da terra. Haja vista que a Constituição de 1988, em seu artigo 189 estabelece que “os beneficiários da distribuição de móveis rurais pela Reforma Agrária receberão título de domínio ou concessão de uso inegociável pelo prazo de 10 anos”. Como o assentamento completará em 2013, 9 anos desde a sua fundação, eles ainda não podem receber este documento de posse da terra. Assim constata-se a necessidade de maiores esclarecimentos por parte dos militantes sociais acerca dos tramites legais que lhes asseguram a posse da terra. É preciso expor que hoje as condições de vida da população do assentamento melhoraram significativamente, afinal de contas não moram mais em barracos de lona, todos têm sua própria casa construída. De acordo com seu Zeca essa conquista se fez com um recurso que “nós recebemos, foi um crédito fomento e crédito habitação que é dessas casas para construir só que o valor dessas casas quando, recebemos foi 5.000 reais e aqui a maior parte dessa casa é recurso próprio”. Convém esclarecer que o crédito de construção, segundo o participante não tem sido suficiente para a construção das residências, pois de acordo com ele, a maioria dos moradores tem usado recursos próprios terminar suas casas. Outro desafio enfrentado pelos assentados está relacionado ao cultivo e escoamento da produção. Seu Zeca afirmou que: o agronegócio deixou que o pequeno agricultor ficasse esquecido, os assentados não tem transporte para escoar a produção. Esse depoimento fundamenta-se em uma realidade daqueles que vivem da agricultura familiar nas áreas de assentamento na Região Oeste da Bahia, pois, a expansão do agronegócio, a ausência ou implementação de políticas públicas para o incentivo do cultivo da terra, o escoamento e comercialização do que é produzido pelo pequeno agricultor. Ademais, os grandes entraves enfrentados pelos assentados são: o não cumprimento da política agrícola e fundiária da Reforma Agrária, burocracia para aquisição dos créditos bancário pela ausência de projetos. Ainda falando do escoamento da produção, Dona Carmem menciona: Vendemos na feira da cidade, ou vendemos aqui mesmo, tem os atravessadores que vem comprar aqui, a vizinha tinha mais sessenta sacas do milho e vendeu. A estrada é ruim, e agora que está chovendo está pior, mas tem promessa de passar um asfalto aqui, acredito que vem porque os fazendeiros ricos estão aí pra cima. E nós seremos beneficiados por causa eles. Dessa forma, os assentados enfrentam dificuldades para escoar sua produção devido às condições precárias das estradas no campo e a insuficiência de transporte, sendo obrigados a venderem sua produção para os atravessadores por menor preço. Segundo o relato acima há uma esperança de que haja melhoria nas condições das estradas advindas da existência dos fazendeiros na região. Outra questão por nós investigada foi a escola do assentamento, buscando conhecer se está oportunizando a aprendizagem dos assentados. Segundo depoimento de seu Zeca: O município tinha que investir mais, porque a própria qualidade desse colégio de dentro de uma de assentamento de reforma agrária, eu acho a qualidade péssima, tem quatro anos que nunca foi reformado, veio cinco computadores para cá, tem 2 anos e esses computadores estão aí, um menino desse que já é adolescente nunca pegou no botão de um computador daqueles, nunca foi ligado, os órgãos públicos que não oferece a estrutura adequada para sua instalação. Isso é muita falta de responsabilidade dos poder públicos, os computadores nunca foram instalados, só estão aí. Evidencia-se nesse depoimento que a escola do assentamento ainda não tem qualidade do almejada pela população local, uma vez que, faltam maiores incentivos do poder público, no que tange à estrutura física, inserção das tecnologias e o acesso ao conhecimento produzido na sociedade. As declarações de dona Carmem contrapõem ao depoimento do entrevistado acima. De acordo com ela, a escola funcionava em uma casa de farinha de um morador, e qualquer morador podia ministrar as aulas, pois quem “soubesse ler e escrever e tivesse a 4ª série”. Isso implica que já existe um grande avanço em relação ao atendimento educacional no assentamento, pois o direito a escola já lhes são assegurados, porém é necessário melhorias da estrutura física e pedagógicas da unidade escolar. Sobre a fixação e permanência do homem na terra, seu Zeca afirma que: Vai chegar o ponto de que as pessoas do local vão abandonar as terras para trabalhar fora para poder comer e nós hoje estamos aqui para viver da terra, muito deles, já saíram daqui para trabalhar fora, quando deve produzir aqui, levar pra o comércio e vender, a gente tinha que viver da terra. Em contraposição ao depoimento supracitado dona Carmem menciona: Não existe ninguém aqui que fique sem trabalhar na terra por falta de recurso, pois todos aqui trabalham como podem, mesmo não tendo recursos, todos queriam era a terra para trabalhar e está dando pra sobreviver tanto faz o governo mandar dinheiro pra a gente como não mandar, que a gente toca na marra. Assim, entendemos que não basta apenas o acesso a terra, mas é preciso garantir ao camponês sua permanência com qualidade de vida. Em síntese, para os assentados desenvolver seu trabalho na terra conquistada é preciso incentivos financeiros para o plantio, a colheita, o escoamento e a venda da produção. Para isso, deveriam lutar por outras políticas públicas que lhes garantissem o acesso aos serviços primários para uma vida digna no campo como: hospitais que assegurasse atendimento médico a população campesina, saneamento básico, eletrificação rural, água potável, casas e escola com infra-estrutura adequada, materiais didáticos, merenda escolar e profissionais com formação para atuar nas escolas do campo. PARA COMEÇAR A CONCLUIR... Os Movimentos Sociais têm sido ao longo da história, coletivos organizados para a conquista de direitos sociais negados as pessoas, grupos ou categorias, pela estrutura social direcionada por uma base capitalista excludente. Esses movimentos acompanham as mudanças sociais e lutam contra a hegemonia de poder nas esferas públicas e privadas de uma dada sociedade. Nessa perspectiva, o MST é reconhecido no Brasil e no mundo como uma das organizações social e politicamente bem organizadas apresentando ao longo da história do país resultados significativos na distribuição das terras para os cidadãos, dando a estes a oportunidade de aprender com a luta diária do movimento social a se organizarem, resistirem e lutaram não somente pela permanência na terra, mas também pela qualidade de vida no campo, garantindo o acesso a saúde, educação, saneamento, dentre outros serviços essenciais que garantam a qualidade de vida do homem do campo. Considerando a investigação realizada em uma área de assentamento de Reforma Agrária constatamos que a conquista da terra já representa um grande avanço para o trabalhador rural, porém entendemos que muito ainda deve ser feito, principalmente, pelos órgãos públicos no que diz respeito à educação, saúde, incentivos agrícolas, e outros direitos sociais e políticos que garantam a fixação e permanência do homem no campo com dignidade de vida. Assim, defendemos que não basta somente à conquista da terra e a implementação de escolas em áreas de assentamento, mas é preciso que a educação seja usada como uma ferramenta de transformação social, que trabalhe o histórico de lutas do movimento social, seus valores, cultura, identidade, para que este camponês seja sujeitos de suas próprias escolhas e se reconheça como sujeito de direitos, empreendendo mudanças significativas no contexto social no qual está inserido. REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel Gonzalez. CALDART, Roseli Salete. Por uma Educação do Campo. Mônica Castagna Molina, (organizadores). -Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Edições - Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2009. _______, Instrução Normativa nº 53, de 19 de janeiro de 2009. GOHN. Maria da Glória. Teorias dos Movimentos Sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. São Paulo: Edições Loyola, 2010. Comunicação Oral GT 2 – Educação, Trabalho e Movimentos Sociais OS MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO E SUA TRAJETÓRIA DE LUTA PELA EDUCAÇÃO Cleonice Ferreira dos Santos Queina Lima da Silva Prof Msc. Nilza da Silva Martins (Orientadora) UNEB- campus –Barreiras- BA [email protected] RESUMO Este artigo é um recorte de um trabalho de Conclusão de Curso - TCC apresentado a Universidade do Estado da Bahia-UNEB, na graduação em Pedagogia. A pesquisa usou a abordagem qualitativa tipo estudo de caso com aproximação a etnografia. O cenário escolhido foi uma escola de um Assentamento de Reforma Agrária, localizado no município de Barreiras no Estado da Bahia. A investigação teve como objetivo saber as concepções de educação do campo e de Movimentos Sociais que perpassam o imaginário de professores, gestora e auxiliares de serviços gerais, identificando o conhecimento do histórico de lutas dos movimentos sociais em prol da educação e da conquista da terra. Os dados revelaram que há um desconhecimento por parte dos entrevistados sobre a Educação do Campo e os Movimentos Sociais, bem como da trajetória de lutas empreendidas pelo MST na busca de uma educação vinculada aos seus traços histórico-culturais, apresentando e defendendo uma proposta de educação que contemple as especificidades das diversas populações campesinas. Para tal, analisamos o projeto Político Pedagógico e os projetos educativos desenvolvidos na escola, fazendo uma comparação com a proposta de educação pensada pelos movimentos sociais do campo. Os dados comprovaram um distanciamento entre a proposta de educação defendida pelo MST e a desenvolvida na escola investigada. Palavras-chave: Educação do Campo; movimento sociais; formação de professor. TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Atualmente a educação do campo vem conquistando espaço na agenda política nas instâncias municipal, estadual e federal. Esse fenômeno é fruto dos movimentos sociais de trabalhadores rurais e outras organizações que lutam por um novo modelo de educação que atenda as especificidades dos camponeses que habitam ou trabalham no campo. O campo por muito tempo foi relacionado ao arcaico, não necessitando de educação, haja vista, que no meio rural a população não precisaria de muitas letras para desempenhar o trabalho na terra. A visão de campo e de educação ganha terreno com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), objetivando mudar a realidade social, econômica e educacional de seus militantes e consequentemente dos futuros herdeiros da terra conquistada. Nesta trajetória reivindicam do estado iniciativas na oferta de educação pública de qualidade e formação de profissionais para trabalhar nas escolas. Dessas demandas surgem as propostas e diretrizes que atendam a formação integral dos sujeitos que habitam e trabalham no campo, assim como uma formação inicial e continuada de professores objetivando valorizar a identidade cultural destes povos. Nessa perspectiva, Arroyo (2007) defende “políticas específicas de formação de educadoras e educadores do campo”, com projetos de formação que preparem os docentes para dialogarem com os saberes sociais e culturais das comunidades, problematizando-os a fim de questionar os valores e práticas instituídas historicamente. O autor afirma ainda que os professores devem estar preparados para desenvolver práticas educativas que valorizem o conjunto de saberes e práticas culturais que há séculos são produzidos pelas comunidades camponesas, mas que são silenciadas e negadas no currículo das escolas. Para Batista e Costa (1010, p 254), “torna-se fundamental que o currículo da escola do campo possa ser pensado e definido pelos sujeitos da ação educativa e da comunidade da qual a escola faz parte.” Para tal, os movimentos sociais vêm propondo uma educação que atenda as especificidades dos homens e das mulheres do campo, incluindo suas identidades, culturas, saberes, memória e história. Nesse sentido, Caldart (2002, p. 22) expressa: O nome ou expressão educação do campo já identifica também uma reflexão pedagógica que nasce das diversas práticas de educação desenvolvidas no campo e ou pelos sujeitos do campo. É uma reflexão que reconhece o campo como lugar onde não apenas se reproduz, mas também se produz pedagogia; reflexão que desenha traços do que pode se constituir como um projeto de educação ou de formação dos sujeitos do campo. Esta abordagem vem reafirmar que o campo pode produzir sua própria educação, e partindo deste pressuposto é preciso desenvolver projetos vinculados à realidade das diferentes comunidades, assim como gerar discussões com a participação dos atores sociais do campo. Para Arroyo (2004, p. 100), “falar em política pública da educação do campo é equacionar novas posturas, novas estratégias, novas diretrizes, novas bases capazes de alicerçar o que o velho tratamento nunca garantiu”, uma educação como direito dos povos do campo assegurada na Constituição Federal e LDB/9394. O direito à posse da terra consiste num dos meios de subsistir dignamente, logo, a educação consiste numa estratégia política de luta pelos direitos sociais básicos. Identificando as demandas vividas, os povos campo encontram na “Pedagogia Libertadora” Freiriana uma das bases para a discussão dos processos de desumanização e empobrecimento crescente dos trabalhadores. Processos estes que adentram a escola, nos aspectos pedagógicos, curricular, formação dos educadores e calendário específico. É relevante atentar para a educação que está sendo oferecida para os camponeses neste século, visto que em nenhum momento da história educacional brasileira se discutiu tanto as demandas relacionadas à educação do campo. O poder público, as universidades e principalmente os camponeses através dos movimentos sociais têm participado das discussões, bem como da construção e efetivação de uma educação que atenda as especificidades dos diferentes povos. O movimento por uma educação do campo tem procurado romper com a visão de rural como lugar de atraso. É correto afirmar que o novo paradigma de campo se projeta pela luta e resistências dos sujeitos do campo, pois como esclarece Molina (2004), “o campo é espaço de vida e resistência, onde camponeses lutam por acesso e permanência na terra e para edificar e garantir a natureza, o trabalho, a cultura e suas relações sociais”. Para tanto, a educação oferecida aos camponeses precisa alcançar este propósito e sua contínua movimentação. Esse desafio ganha cada vez mais força devido às instâncias políticas que estão diretamente ou indiretamente ligadas à educação que está sendo oferecida no campo. Neste momento amplia-se a relevância para o ponto de vista de todos que lutam por uma educação pensada do/no campo, visto que, o meio rural é um espaço plural e sua educação deve ser diferenciada e de acordo com a realidade e cultura local. A construção e implementação da educação do campo ganha força nas palavras de Taffarel (2011, p. 66) ao referir-se a participação das diversas entidades: A Educação do Campo foi e está sendo incorporada e/ou valorizada na agenda de lutas e de trabalho de um número cada vez maior de movimentos sociais e sindicais do campo, com o envolvimento de diferentes entidades e órgãos públicos. O que pode ser conferido pelo conjunto de promotores e apoiadores das conferencias estaduais e nacionais realizadas. As lutas por melhoria na educação do campo têm ganhado repercussão nacional, pois boa parte das escolas rurais vive situações degradantes, tanto em sua estrutura física, como na estrutura pedagógica. Outro fator que também preocupa os movimentos sociais é a inexistência de um projeto educacional que valorize a formação dos sujeitos que vivem e trabalham no campo. Neste sentido, de luta por uma educação como práxis libertadora para os povos do campo, afirma Caldart (2010, p. 83), que: Não podemos esquecer que se nossa luta continua sendo para que “a escola seja mais que uma escola”, no sentido de assumir-se como parte de uma totalidade formadora mais ampla, a vida, a luta por ela não cabe dentro de uma escola (mesmo que derrubadas suas paredes, suas cercas) e as lutas pedagógicas não substituem as lutas sociais e políticas mais amplas. Ainda que na pedagogia a vida não seja definida somente com palavras. Os sujeitos sociais do campo lutam por uma educação de qualidade capaz de mudar a realidade das diversidades socioculturais, políticas e econômicas, bem como, pelo desenvolvimento de uma nova proposta pedagógica que possibilite aos estudantes uma compreensão de campo como espaço de múltiplas possibilidades. Com base no exposto, para conhecer mais a fundo acerca dos movimentos sociais e suas lutas em prol da Educação do Campo, a temática escolhida para a realização do trabalho de conclusão de curso é relevante, atual e apropriada para o momento presente. COLHENDO OS FRUTOS DA PESQUISA A opção pela metodologia de abordagem qualitativa do tipo estudo de caso com aproximação a etnografia, permite ao pesquisador uma inserção no contexto da pesquisa, sem interferência no comportamento dos sujeitos que povoam este ambiente, conseguindo captar as ações, e como estes convivem com situações inusitadas do cotidiano, devido ao grande período de permanência do pesquisador em lócus. Nesta conjuntura escolhemos como contexto da pesquisa um Assentamento de Reforma Agrária do Município de Barreiras-BA, que possui nove anos de existência passando a fase de acampamento até chegar a assentamento. É relevante mencionar que a escola surgiu como reivindicação do movimento para que as crianças tivessem acesso à educação no local onde residem. Atualmente atende 53 estudantes, do Ensino Fundamental anos finais e Educação de Jovens e Adultos, divididos nos três turnos: matutino, vespertino e noturno. Quanto à infraestrutura da escola, esta é precária, uma vez que comportam somente duas salas de aula, que estão bastante deterioradas devido a ação do tempo, dispondo de um único banheiro utilizado por meninos e meninas e uma pequena cantina. Assim, constatamos que o espaço físico é inadequado para o desenvolvimento de uma educação de qualidade, por não dispor de biblioteca, laboratório de informática, salas arejadas, refeitório, quadra poliesportiva para o exercício de atividades corporais. O material didático-pedagógico não atende as especificidades dos sujeitos do campo, devido à perpetuação da cultura livresca e urbanocrática que não considera as particularidades dos diversos atores sociais que compõem a Educação do Campo. Nesta conjuntura escolhemos como participantes da pesquisa 15 sujeitos que vivenciam a vida no assentamento, sendo eles: 5 professores sendo 2 da comunidade e os demais da zona urbana, 1 gestor, 2 funcionárias de serviços gerais, 5 estudantes distribuídos entre os turnos de funcionamento da instituição escolar e 2 famílias da referida localidade. Para preservar a identidade dos participantes da investigação, utilizamos nomes fictícios: os professores aparecem no decorrer do texto como Anita, Luis, Cristina, Luciana e Mariana; a gestora recebeu o nome de Alice; as auxiliares de serviços gerais são chamadas Jussara e Ana; os estudantes Pedro, Ester, Aline, Julia e Gabriel. Às famílias Souza e Cardoso. Desta forma, seguiremos as orientações da ética na pesquisa para não adentrar em questões que possam suprimir ou ferir a dignidade humana. Desta feita, a primeira questão alvo de nossas inquietações foi a concepção dos Movimentos Sociais e Educação do Campo, a trajetória de lutas, cultura e pedagogias realizadas pelo Movimento que perpassam o imaginário dos sujeitos da pesquisa. Os dados revelaram qual a concepção que os sujeitos entrevistados possuem acerca da Educação do Campo e dos Movimentos Sociais. No que se referem à Educação do Campo e Movimento Sociais do Campo, os participantes apresentaram diferentes definições. Com relação à Educação do Campo, Cristina assumiu não saber responder. Luis destaca que está voltada para a lida do campo a educação do campo para que os alunos permaneçam no campo e a com a bagagem que eles têm e agente só vai modelar. Isso implica que “vai além dos limites escolares, ela emerge da prática social e o trabalho, gerando conteúdos da aprendizagem e possibilitando a “emancipação sociopolítica” (SOUZA, 2006, p. 85). O docente destaca uma educação para “modelar” o sujeito, numa relação contraditória do processo construtivo da formação humana. Outra situação apontada pelo docente está vinculada a uma educação que venha contribuir para “permanência do homem no campo”, concepção de educação também defendida pelo MST. Mariana afirma não conhecer a concepção de educação do campo. E sobre os Movimentos Sociais do Campo, relata alguns fragmentos sobre o MST apresentado pela mídia. Quando indagados sobre a concepção de Movimentos sociais Luis e Cristina apontam que desconhece o assunto. Constata-se que esses docentes não tiveram contato em sua formação inicial e continuada com os conhecimentos teóricos e práticos do movimento social. Como afirma Souza (2006, p. 38): “muitas vezes os professores não conhecem o movimento social e não tinham preparo para agir de forma criadora no campo educacional”. A gestora descreve a Educação do Campo como direitos essenciais para os povos do campo, a escola aparece como espaço de coletividade capaz de promover conhecimentos aos sujeitos campestres, explica que a função social da escola não é apenas transmitir conhecimentos sistemáticos, apontando para uma educação capaz de dialogar com a comunidade em que a escola está inserida. A resposta da gestora está em consonância com as ideias de Souza (2006, p. 106): “A prática pedagógica é uma dimensão da prática social”, isso implica que essa pratica social deve está implícita no fazer pedagógico do educador da escola do campo. Sobre os Movimentos Sociais do Campo a gestora diz que: São movimentos que visam à conquista de direito constitucionais de moradores do campo. Embora a gestora não citando nome desses movimentos, aponta para a luta dos trabalhadores do campo para conquista de direitos presentes na Constituição brasileira. As duas auxiliares de serviços gerais demonstram desconhecimento a respeito da Educação do Campo, mesmo trabalhando em uma escola do campo. Jussara afirma que a Educação do campo é igual a da cidade, assim constatamos que na visão da auxiliar de serviços gerais a educação oferecida no campo não diferencia da cidade. Entendemos que a educação do campo em muitas comunidades ainda é vista como uma extensão da educação urbana como expressa Arroyo (2007, p.14): “Ainda em casos frequentes, a educação do campo, seus profissionais e sua formação são tratados nos estilos políticos mais primitivos, longe dos avanços que conquistamos no trato dos profissionais das redes e escolas urbanas”. Constata-se ainda que a outra auxiliar de serviços gerais mesmo vivenciando as demandas de um assentamento não sabe opinar sobre a Educação do Campo e os movimentos sociais. Podemos considerar que a ausência de conhecimento sobre os movimentos sociais por parte dos sujeitos que vivenciam o cotidiano do assentamento se efetiva pelo não envolvimento nas demandas presentes no tecido desse movimento. Morar e participar das reuniões no assentamento não é garantia de aquisição e adoção de uma postura politicamente consciente, Gohn (2008, p.103) considera que: “o conhecimento é gerado por meio da vivencia de certas situações-problemas”. Para tal, entendemos que é preciso participação efetiva desses sujeitos nas demandas cotidianas, assim como, a relevância da formação de militantes, como meios para o fortalecimento do movimento. Segunda a mesma autora “É a experiência das pessoas em trabalhos coletivos que gera um aprendizado”. O engajamento no movimento pode proporcionar aprendizados significativos para seus militantes, uma vez que uma quantidade considerável dos entrevistados afirmou não possuir conhecimentos teóricos e práticos sobre os movimentos sociais, revelando grande preocupação sobre o tipo de participação que estes sujeitos vêm vivenciando no tecido dos movimentos que estão engajados. Os Movimentos Sociais contribuíram para o processo de reeducação do pensamento educacional brasileiro, a Educação do Campo nasceu das necessidades dos sujeitos ao entenderem que apenas a conquista da terra não era suficiente para permanecer com qualidade de vida no meio rural. Para concretizar a educação vista como “direito universal”, o coletivo do campo passa lutar por uma proposta de educação comprometida com a transformação social dos sujeitos campestres, considerando ainda a cultura, realidade, identidades da diversidade dos povos do campo. Sobre a trajetória de luta, cultura e pedagogias”, realizadas pelo Movimento social do Campo os participantes professores afirmaram que: Segundo o professor Luis o MST sempre luta para que as pessoas tenham esse benefício em suas moradias. Já Cristina diz que: Não, não tenho conhecimento de nenhuma dessas práticas. Sobre a trajetória do movimento, Alice diz: conheço pouco, apenas de poucas leituras realizadas, no que diz respeito à pedagogia conheço menos ainda, até procurei a sede do MST para obtenção de material sobre educação, porém não consegui. Esse dado revela a informação que os docentes e a gestora possuem acerca do MST, assim como as pedagogias pensadas para as escolas do campo neste movimento e sua trajetória de lutas por educação ao longo da historia. Dentre as lutas empreendidas pelo MST, encontramos as ações voltadas para a dimensão da educação que segundo Souza (2006, p. 74) compreende três fases: “a identificação das necessidades educacionais das crianças, jovens e adolescentes dos acampamentos e assentamentos; a elaboração de materiais didáticos; o desenvolvimento de parcerias”. Constatou-se a partir dos dados que os professores não tem o apoio do MST para desenvolver sua prática educativa na escola do assentamento, as parcerias tão valorizadas pelo movimento no que se refere à educação para os camponeses. A gestora deixa claro que ao procurar a sede do MST, no município não teve sua solicitação atendida, restando aos professores se basearem no modelo educacional oferecido pelo poder público municipal. Na fala de Cristina e dos demais docentes entrevistados podemos constatar o não conhecimento sobre as “lutas, culturas e pedagogias” do MST para efetivação da educação no campo. A pedagogia defendida pelo MST para atender as especificidades dos sujeitos do campo está explicita nas palavras de Frigotto (2010, p. 36): “trata-se de uma pedagogia que não começa na escola, mas na sociedade, e volta para a sociedade, sendo a escola um espaço fundamental na relação entre saber produzido nas diferentes práticas sociais.” Assim entendemos que o MST, vem ao longo da historia produzindo as matrizes pedagógicas capazes de dialogar com a realidade dos povos do campo na sociedade em que estão inseridos. A Educação do Campo deve ser diferenciada da educação urbana, para tal se faz necessário construir uma proposta educacional específica. Com base nesse entendimento, perguntamos aos participantes da pesquisa o tipo de ensino que, segundo eles, atenderia as características socioculturais dos educandos do campo. As respostas dadas pelos professores e gestora confirmam a necessidade da construção do projeto educativo específico para os educandos. Cristina diz que: essa é a única forma de ensino que a gente tem para atender eles, uma vez que não temos parcerias, pois pra gente trabalhar a questão do MST deveria ter acompanhamento deles, uma vez que aqui só tem reunião. A professora Luciana fez referência à interdisciplinaridade, segundo a docente a disciplina que leciona é Filosofia que exige trabalhar de forma interdisciplinar. Já Mariana afirmou não saber responder. Quanto aos projetos desenvolvidos na escola a gestora afirma que sim, sempre pensamos em estar em consonância educação e realidade. E no que se refere ao ensino contradiz argumentado que precisa seguir o “calendário proposto pela SME61 e aprovado pelo conselho”. Assim, é possível perceber a confusão feita durante a indicação da proposta de ensino que a escola oferece as crianças, jovens e adultos do campo, uma vez que nenhum aponta uma proposta de ensino que atenda as características socioculturais dos estudantes. A gestora afirma que a escola segue a proposta da Secretaria Municipal de Educação, confirmando que a escola está condicionada a uma realidade urbana, não levando em consideração as especificidades dos camponeses. Uma professora faz referência ao material pedagógico produzido pelo MST, ao afirmar que não tem parceria nem acompanhamento do movimento e que sua presença se restringe apenas as reuniões. O depoimento da professora se aproxima das ideias de Souza (2006, p. 110): Percebe – se que toda produção do MST no campo educacional não chega as escolas e que há uma barreira a ser superada no âmbito da cultura, hierarquia e burocracia escolar. As secretarias municipais de educação olham com ressalvas para a produção do MST ou pouco conhece dela. Os professores não tiveram contato com tais materiais nos cursos de magistério ou de educação superior. Tomando como referência as angústias de uma professora e as ideias da autora, notase que é urgente a necessidade da divulgação e disponibilização do material pedagógico produzido pelo MST, nas escolas de acampamento e assentamento, uma vez que este material apresenta uma grande proximidade da realidade, cultura, luta e diversidade de saberes presentes na história dos povos do campo. As observações realizadas no contexto da pesquisa e a análise documental constaram que o cotidiano escolar está voltado para o modelo urbano, uma vez que os professores utilizam praticamente em todas as aulas o livro didático, as aulas desenvolvem através da transmissão de conteúdos orais e escritos. Ao analisar o Projeto Político pedagógico e os 61 Secretaria Municipal de Educação Projetos de ensino da escola constatamos que o método de ensino da escola descrito no PPP é a linha Histórico-Crítica, pois entende ser inovadora, onde o objetivo é formar indivíduos com liberdade para se expressar, tornando-se cidadãos autênticos, participativos e críticos. Este método presente no PPP, não foi comprovado na prática dos professores durante a observação do fazer pedagógico no cotidiano da escola. Essa compreensão é reforçada nas palavras de Souza (2006, p. 87), quando menciona que este trabalho pedagógico: “necessita de uma teoria da aprendizagem que leve em conta a experiência da criança fora da sala de aula”. Para o MST, a criança aprende em outros espaços sociais, a vida escolar deve estar relacionada com o mundo do trabalho, tendo em vista que a aprendizagem acontece quando a criança está fazendo um trabalho prático, quando está planejando e fazendo brincadeiras e quando está resolvendo seus problemas. Os projetos de ensino da escola lócus da pesquisa analisados foram: “O Campo Trabalhando o Social e Conquistando a Cidadania e o Subprojeto: Com horta também se educa”. O projeto evidencia ser importado da cidade para o campo, uma vez que os objetivos gerais não reverenciam a comunidade em que seus sujeitos estão inseridos. São eles: • Proporcionar uma melhor formação, enquanto seres humanos aos educandos/comunidade, inserindo-os na sociedade, através da inclusão por meio de atividades educativas no âmbito da escola/comunidade. Proporcionando um melhoramento das relações interpessoais e socializá-los, dentro dessa comunidade tão carente de recursos físicos, financeiros, educacionais, estruturais, sociais e outros. • Estabelecer uma relação de compromisso entre escola e comunidade, pela apresentação de uma postura ética, clara de ação e interesse frente à sociedade que a sustenta. • Favorecer o desenvolvimento de atividades que promovam reflexões e a construção do conhecimento referente ao exercício da cidadania. Os objetivos reproduzem a ideia do capital, na qual a escola é responsável pela transformação social dos sujeitos quando menciona uma “melhor formação enquanto seres humanos, das relações interpessoais e socializá-los, dentro dessa comunidade, e que esses estudantes adquirirão uma postura ética, clara de ação e interesse frente à sociedade que a sustenta e conhecimento referente ao exercício da cidadania”. Esses objetivos colocam a escola como a única instituição capaz da transformação social do sujeito, não considerando os conhecimentos que as crianças, jovens e adultos trazem de sua vida cotidiana. O projeto “Com horta também se educa” não foi colocado em prática, pois segundo os participantes não conseguiram parcerias da comunidade e nem do poder público municipal para desenvolver o referido projeto, uma vez que para fazer uma horta envolve recursos que a escola não dispõe. O Projeto Político Pedagógico faz menção que a escola não conta com o “PDDE - Programa Dinheiro Direto na Escola, ainda não estar instituído na escola”, isso evidencia que essa instituição não tem autonomia nem recursos financeiros para resolver as questões relacionadas ao administrativo/pedagógico da unidade escolar. CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação do campo ganha espaço considerável no cenário educacional brasileiro, impulsionada pelos movimentos sociais campestres, entre eles destacam-se o Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra, que luta para colocar o campo na agenda política e educacional e constituir seus moradores como sujeitos de direitos. Para tal usa como bandeira a educação pensada com eles e a partir deles, considerando as matrizes culturais, identidade e realidade dos homens, mulheres, jovens e crianças que moram e trabalham no campo. No que se refere à concepção de educação de Educação do Campo, contatou-se que existe um desconhecimento dos participantes, isso implica que é necessário maior esclarecimento sobre os conteúdos curriculares, metodologias, avaliação, levando em consideração as matrizes curriculares que sejam adequadas às diferentes populações do campo. Considerando que a escola lócus da pesquisa está situada em uma área de assentamento de Reforma Agrária ficou evidenciado ser necessário conhecer os saberes que permeiam esse espaço, bem como maior envolvimento por parte dos moradores nas demandas defendidas pelos movimentos sociais. E quanto à formação dos docentes que atuam na Educação do Campo, ficou evidenciada a necessidade urgente de promover qualificação profissional para os educadores que atuam com este segmento educacional. É urgente que a formação continuada aconteça, pois esta oportuniza ao docente a construção de saberes e metodologias específicas para atuar com as escolas do campo. Todos afirmaram que fizeram o curso num dado espaço/tempo, entretanto, isso não foi percebido durante a observação, haja vista que a educação realizada em sala de aula é livresca e descontextualizada com a realidade campesina. Para tanto, cabe à Secretaria Municipal de Educação pensar e promover essa formação aos docentes, acompanhar os resultados alcançados mediante as mudanças na prática do professor, assim como procurar soluções para as demandas que permeiam o cotidiano da escola. Outra constatação diz respeito aos Projetos educativos desenvolvidos na escola do campo, por meio das falas dos participantes e das análises realizadas nos referidos documentos. A partir disso, constatamos um distanciamento dos projetos com as orientações estabelecidas pelas Diretrizes Operacionais para a educação Básica do Campo, que propõem uma educação específica para as diferentes realidades campesinas. Devido a isso é urgente construir um projeto educativo pensado conjuntamente com o corpo docente, discente e a comunidade que contemple as necessidades dos sujeitos campesinos, que tenha um currículo que considere a época de plantio e colheita evitando assim, a evasão escolar algo que também foi constatado por nós como um aspecto negativo do projeto educativo vigente, uma explicação para este fato é que a educação realizada nesta instituição escolar é pautada na educação urbana, ou seja, totalmente desarticulado da realidade do campo. Com base no exposto é relevante mencionar que apesar de todas as dificuldades supracitadas, é possível superá-las. Para tal é preciso criar um projeto educativo para a escola do/no campo, que traga as matrizes pedagógicas do movimento social, que tenha um calendário diferenciado, que trabalhe os aspectos relacionados às atividades campesinas de plantio, técnicas e que faça o sujeito se sentir pertencente ao contexto em que está inserido. REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel Gonzalez. CALDART, Roseli Salete. Por uma Educação do Campo. Mônica Castagna Molina, (organizadores). Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. BATISTA e COSTA etall ROCHA, Maria Isabel Antunes (org.). Escola de Direito: Reinventando a escola multisseriada. Autentica Editora – Belo Horizonte, 2010. CALDART, Roseli Salete. Caminho para transformação da escola: reflexões desde práticas da licenciatura em educação do campo. Ed. Expressão Popular – São Paulo, 2010. GOHN. Maria da Glória. Movimentos Sociais e educação. São Paulo: Cortez, 2009. MOLINA, Mônica Castagna (org.). Educação do campo: Contribuições para a construção de um projeto de educação do campo. Brasília, DF: Articulação Nacional “Por uma educação do campo, 2004. _____________________ (org.) Licenciaturas em Educação do Campo: Registros e reflexões a partir das experiências – piloto (UFMG; UnB; UFBA e UFS). Autentica Editora – Belo Horizonte, 2011. FRIGOTO etall. MUNARIM, Antônia, Sônia Beltrame (org.). Educação do Campo: Reflexões e Perspectivas. Insular – Florianópolis, 2010. SOUZA, Maria Antônia. Educação do Campo: Propostas e Práticas Pedagógicas do MST. Vozes Editora – Petrópolis, Rio de Janeiro, 2006. TAFFAREL etall. MOLINA, Mônica Castagna (org.). Licenciaturas em Educação do Campo: Registros e reflexões a partir das experiências – piloto (UFMG, Horizonte: 2011. UnB, UFBA e UFS). Autêntica Editora - Belo GT 3 – ESTADO E POLÍTICA EDUCACIONAL Comunicação Oral GT 3 – Estado e Política Educacional AVALIAÇÃO NA DIMENSÃO ESCOLAR E O CURRÍCULO Caroline Araújo de Souza Sheilla Martins Rosa Profª. Dra. Lúcia Maria de Assis (Orientadora) Faculdade de Educação - UFG [email protected] [email protected] [email protected] RESUMO Esta comunicação consta de uma breve revisão de literatura realizada nos campos de estudos do Currículo e da Avaliação, cujo resultado foi parte do processo de avaliação da disciplina que aborda estes temas no curso de Pedagogia. O recorte teórico levou em conta a contribuição de autores que, nas últimas duas décadas, vêm contribuindo de forma significativa para reflexões que se aplicam tanto no campo da Didática e das práticas de ensino como no campo das Políticas Educacionais, considerando-se as inúmeras relações que podem ser estabelecidas entre estas duas grandes áreas de pesquisa. A primeira parte trata da avaliação na dimensão escolar, cujo suporte teórico baseia-se em obras de Luckesi (2011), Assis (2003), Fernandes e Freitas (2008), Afonso (2000), Dalben (2011), além de alguns documentos do Ministério da Educação. Esses autores analisam o campo da avaliação como sendo polissêmico e influenciado por múltiplas determinações sociais, culturais e políticas, procurando compreender o papel dos processos avaliativos escolares e extraescolares nas práticas educativas, não se furtando em propor algumas mudanças no modo como a avaliação vem sendo concebida e praticada nos contextos escolares, fortemente influenciados pelas políticas de avaliação em larga escala, propostas pelos governos. Os autores e obras analisadas propõem pensar a avaliação para além da aprovação e reprovação, focando nos processos de ensino-aprendizagem e na apreensão de conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e saberes multiculturalmente orientados. Neste estudo são elencadas também três dimensões da avaliação no ambiente educacional, com destaque para as implicações e repercussões das avaliações de larga escala e sistêmicas no cotidiano escolar, consideradas como um dos instrumentos de regulação da qualidade do ensino concebido e implementado pelo Estado Avaliador. A segunda parte trata do currículo entendido como um campo de conhecimento polissêmico, cuja abordagem deve ser multiculturalmente orientada. Os autores e obras de referência são Silva (2001), Moreira e Candau (2008), Moreira (2008) e alguns documentos do Ministério da Educação. Destaca-se o entendimento e a abordagem presentes nas Diretrizes Curriculares, bem como algumas repercussões do currículo oculto no cotidiano escolar, e por fim, realiza-se uma breve relação entre o currículo e a avaliação, sobretudo das avaliações sistêmicas. Palavras-chave: revisão; avaliação; currículo. INTRODUÇÃO Esta comunicação consta de uma breve revisão de literatura realizada nos campos de estudos do Currículo e da Avaliação, cujo resultado foi parte do processo de avaliação da disciplina que aborda estes temas no curso de Pedagogia. O recorte teórico levou em conta a contribuição de autores que, nas últimas duas décadas, vêm contribuindo de forma significativa para reflexões que se aplicam tanto no campo da Didática e das práticas de ensino como no campo das Políticas Educacionais, considerando-se as inúmeras relações que podem ser estabelecidas entre estas duas grandes áreas de pesquisa. A primeira parte trata da avaliação na dimensão escolar, cujo suporte teórico baseia-se em obras de Luckesi (2011), Assis (2003), Fernandes e Freitas (2008), Afonso (2000), Dalben (2011), além de alguns documentos do Ministério da Educação. Esses autores analisam o campo da avaliação como sendo polissêmico e influenciado por múltiplas determinações sociais, culturais e políticas, procurando compreender o papel dos processos avaliativos escolares e extraescolares nas práticas educativas, não se furtando em propor algumas mudanças no modo como a avaliação vem sendo concebida e praticada nos contextos escolares, fortemente influenciados pelas políticas de avaliação em larga escala, propostas pelos governos. Tais influências vem se traduzindo em mecanismos de avaliação que privilegiam o exame classificatório ao final de etapas em detrimento da valorização dos processos educativos. Neste sentido o foco recai na obtenção de notas com vistas ao estabelecimento de hierarquias de excelência na escola. Os autores e obras analisadas propõem pensar a avaliação para além da aprovação e reprovação, focando nos processos de ensino-aprendizagem e na apreensão de conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e saberes multiculturalmente orientados. Para estes pesquisadores tais mudanças no pensamento e conduta dos educadores se apresentam como um caminho árduo, mas possível. Neste estudo são elencadas também três dimensões da avaliação no ambiente educacional, com destaque para as implicações e repercussões das avaliações de larga escala e sistêmicas no cotidiano escolar, consideradas como um dos instrumentos de regulação da qualidade do ensino concebido e implementado pelo Estado Avaliador. A segunda parte trata do currículo entendido como um campo de conhecimento polissêmico, cuja abordagem deve ser multiculturalmente orientada. Os autores e obras de referência são Silva (2001), Moreira e Candau (2008), Moreira (2008) e alguns documentos do Ministério da Educação. Destaca-se o entendimento e a abordagem presentes nas Diretrizes Curriculares, bem como algumas repercussões do currículo oculto no cotidiano escolar, e por fim, realiza-se uma breve relação entre o currículo e a avaliação, sobretudo das avaliações sistêmicas. 1.1. AVALIAÇÃO NA DIMENSÃO ESCOLAR Para compreender a forma como a avaliação opera nas instituições educacionais hoje, é preciso considerar o modo como ocorreu a implementação da educação no Brasil em um contexto social e político marcado por influências de cunho liberal e conservador, com fortes nuances patrimonialistas. A escola, inserida nesta sociedade, vem contribuindo tanto para reproduzir como para superar estes modelos. No campo da avaliação Luckesi (2011) destaca que os exames escolares que ainda vigoram nas instituições escolares não mudaram quase nada durante cinco séculos. “Tais práticas já estavam inscritas nas pedagogias dos séculos XVI e XVII, no processo de emergência e cristalização da sociedade burguesa, e perduram ainda hoje” (p.40). Para este autor os exames nas escolas, da forma como se encontram na contemporaneidade, tem como meta o disciplinamento dos educandos pelo medo, castigos e ameaças, demonstrando que algumas práticas escolares, sobretudo no que tange à avaliação, em quase nada mudaram no campo educacional ao longo da história. A sociedade atual, caracterizada pelo capitalismo concorrencial é caracterizada por Luckesi como burguesa e excludente, em que os mecanismos de aferição dos conhecimentos apenas buscam classificar e selecionar educandos, professores e escolas, não possibilitando intervenções qualitativas no ensino. Em relação à inconsciência dos atos reproduzidos por educadores com o predomínio de exames, para o autor remetem ao modo como eles foram examinados, a forma como o processo educativo vigente os determinou, levando-os a reproduzirem tais práticas. Ainda neste sentido, Fernandes e Freitas (ano) discorrem sobre a nossa participação em uma cultura meritocrática, na qual o uso de notas foi naturalizado, desempenhando a função de classificar, medir e selecionar os bons dos ruins, “os melhores e os piores avaliados” (p.19). E assim como expôs Luckesi sobre os atos inconscientes, esta prática meritocrática é tão “naturalmente” incorporada nas práticas cotidianas escolares que os envolvidos no processo se esquecem que a avaliação não tem fim em si mesma e que o ensino não deve voltar-se estritamente para ela. Quando isto ocorre a avaliação da aprendizagem encontra-se fundamentada na “pedagogia do exame”, na qual a prática pedagógica está intrinsecamente ligada a provas e exames Dessa forma os professores, pais e alunos preocupam-se apenas com o resultado e com a aprovação, Luckesi afirma: O sistema de ensino está interessado nos percentuais de aprovação/reprovação do total dos educandos; os pais estão desejosos de que seus filhos avancem nas séries de escolaridade; os professores se utilizam permanentemente dos procedimentos de avaliação como elementos motivadores dos estudantes, por meio da ameaça; os estudantes estão sempre na expectativa de virem a ser aprovados ou reprovados e, para isso, servem-se dos mais variados expedientes (2011, p.36). Em relação às consequências dessa prática Luckesi aponta elementos insatisfatórios para o processo ensino-aprendizagem, destacando que, pedagogicamente, o ensino está voltado apenas para os exames e não para aprendizagem. A finalidade principal dos exames/provas seria auxiliar no processo de aprendizagem e não transformarem-se em “vedete acadêmica”, passando-se a ensinar, predominantemente, os conhecimentos voltados para o que será cobrado nestes instrumentos.. Psicologicamente o excesso de ênfase nas notas transformam os produtos ou resultados quantificáveis em finalidade do processo educativo, provocando tensões que reforçam mecanismos de punição (castigos),, tornando os sujeitos submissos e conformados, dificultando o desenvolvimento de condutas maduras e autônomas. Sociologicamente como expõem o autor: No caso, a sociedade é estruturada em classes e, portanto, de modo desigual; a avaliação da aprendizagem, então, pode ser posta, sem a menor dificuldade, a favor do processo de seletividade, desde que utilizada independentemente da construção da própria aprendizagem. No caso, a avaliação está muito mais articulada com a reprovação do que com a aprovação e daí vem sua contribuição para a seletividade social, que já existe independentemente dela. A seletividade social já está posta: a avaliação colabora com a correnteza, acrescentando mais um “fio d’água” (2011, p.43-44). Fernandes e Freitas (ano) mostram que o conceito de avaliação, no senso comum, em geral, está associado à ideia de mensuração, como sinônimo de medida, de imputação de um valor, e que tais sinônimos se materializam em forma de notas ou conceitos. Entretanto, para além do senso comum, o que vem a ser o ideal de avaliação da aprendizagem escolar? Em primeiro lugar seria desvincular o conceito de avaliar do conceito de verificar/examinar, que, segundo Assis: [...] verificar – significa fazer verdadeiro: ver se algo é isso mesmo, investigar a verdade. A verificação encerra-se no momento em que o objeto ou ato de investigação é configurado; ela “congela o objeto”. O segundo – avaliar- significa dar a valor a... atribuir valor ou qualidade a alguma coisa, ato ou curso de ação. Ao contrário da verificação, a avaliação direciona o objeto numa trilha dinâmica de ação (2003, p.147). Nesta perspectiva a avaliação da aprendizagem escolar deve propiciar o diagnóstico das aprendizagens e das não aprendizagens, por meio de um cuidadoso levantamento de dados que propiciem a compreensão de como estão sendo encaminhados os processos de ensino e de aprendizagem, levantando as dificuldades do educando e propiciando intervenções propositivas do educador. Na avaliação os processos devem ser mais valorizados em relação aos produtos que quase sempre representam uma radiografia parcial e fragmentada das práticas de ensino. Provas, testes e exames, bem como conceitos e notas fazem parte do processo avaliativo nas instituições escolares, mas é preciso que se configurem como uma parte de um todo. Assim, a avaliação pode ser vista como um meio pelo qual passamos a conhecer melhor os alunos e também para que os alunos consigam perceber as suas dificuldades e assim possam lutar para superá-las. Ainda sobre as diferenças entre medir e avaliar, Fernandes e Freitas (ano) consideram que medir refere-se ao presente e ao passado e visa obter informações a respeito do progresso efetuado pelos estudantes. Avaliar refere-se à reflexão sobre as informações obtidas com vistas a planejar o futuro. Portanto, medir não é avaliar, ainda que o medir faça parte do processo de avaliação. Avaliar a aprendizagem do estudante não começa e muito menos termina quando atribuímos uma nota à aprendizagem (p.19). Observa-se, pelo exposto, que os desafios apresentados por Luckesi para que a avaliação rompe com a cultura e com as práticas da coerção e do medo, defendendo a adoção de novos hábitos que exigem, sobretudo, novas aprendizagens. Este princípio pressupõe inúmeros desafios que vão desde a formação dos educadores e a luta histórica pela valorização do trabalho docente por meio de melhores condições de trabalho, até a quebra dos paradigmas educacionais vigentes, ancorados em uma visão disciplinar e fragmentada dos conteúdos escolares. 1.2. AS TRÊS DIMENSÕES DA AVALIAÇÃO NO AMBIENTE EDUCACIONAL Segundo os documentos “Parecer CNE/CEB Nº 7/2010” e “Resolução CNE/CEB Nº 4/2010” a avaliação no ambiente educacional compreende três dimensões básicas: I – avaliação da aprendizagem; II – avaliação institucional interna e externa e III – avaliação de redes de Educação Básica. De acordo com o Parecer essas três dimensões da avaliação precisam estar inseridas no Projeto Político-Pedagógico (PPP), a fim de estabelecer “o elo entre a gestão escolar, o professor, o estudante, o conhecimento e a sociedade em que a escola se situa” (p.47). Em relação à avaliação da aprendizagem, os documentos a colocam como sendo uma reflexão do ato pedagógico, possibilitando questionamentos acerca do que seria educar. Trata, portanto, da função diagnóstica da avaliação. Nesta perspectiva os documentos em análise reafirmam que a sua função é permitir que o estudante avance e que também possibilite um redirecionamento das práticas educativas, permitindo aos estudantes “recriar, refazer, criar, propor” o que aprendeu, A segunda dimensão trata da avaliação institucional interna que deve estar inserida no projeto político pedagógico da instituição, ser realizada anualmente, bem como propiciar elementos para saber se as metas e objetivos propostos foram alcançados. Esta avaliação é importante por possibilitar mudanças e fundamentar as tomadas de decisão dos gestores, visando a melhoria de todos os processos escolares, tanto pedagógicos como administrativos. Já a avaliação institucional externa, de acordo com o Parecer, é realizada por órgãos superiores dos sistemas educacionais, nos quais os instrumentos de aferição são: [...] pesquisas, provas, tais como a do SAEB, Prova Brasil, ENEM e outras promovidas por sistemas de ensino de diferentes entes federativos, dados estatísticos, incluindo os resultados que compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou o que o complementem ou o substituem, e os decorrentes da supervisão e verificação in loco (p.47). A terceira dimensão, avaliação de redes de Educação Básica, deve ser realizada periodicamente, por órgãos externos à escola, utilizam-se dos resultados da avaliação institucional e expõem para a sociedade os parâmetros de qualidade da escola e se estes estão de acordo para o seu funcionamento. Em relação às avaliações institucionais externas, Dalben (2012) explicita que, no Brasil, as avaliações sistêmicas ou de larga escala “fornecem” subsídios que induzem as políticas públicas no campo educacional. No entanto não é possível pensar essas avaliações sem entender o processo político do país, a partir da década de 1990, quando se intensificou a implementação de políticas de influência neoliberal, sobretudo no que diz respeito às privatizações e consequente criação de agências reguladoras dos produtos e serviços oferecidos pela iniciativa privada. No campo educacional o Estado brasileiro criou mecanismos para controlar e induzir a melhoria da qualidade da educação. Dentre estes mecanismos o que mais ganhou visibilidade foi a avaliação sistêmica, cujos resultados vem sendo utilizados mais para a prestação de contas à sociedade do que para induzir a melhoria da qualidade do ensino no Brasil. Como nos esclarece Afonso (2000): [...] alguns importantes líderes do mundo empresarial apoiaram a criação de normaspadrão e das provas de avaliação em nível nacional, de modo a viabilizar o que consideram ser duas peças fundamentais para a reforma educativa: a prestação de contas (accountability) e a competição entre escolas (p.68-69). De acordo com Afonso (2000) “O Estado não pode deixar de ser integrado como um elemento chave na análise das políticas educativas” (p.95). O Estado Avaliador busca um controle central dos resultados da educação, mas todo o processo de ensino é descentralizado. O Estado importa-se apenas com o produto final, com essa política de descentralização o Estado diminui seu compromisso e suas responsabilidades perante a sociedade, culpabilizando as instituições pelos seus fracassos. Um dos pressupostos do Estado Avaliador é a exigência da competitividade internacional, buscando-se altos índices da educação para competir no mercado. Entendemos aqui Estado Avaliador como nos descreve Afonso (2000) A partir da década de oitenta o interesse demonstrado pela avaliação, sobretudo por parte de governos neoconservadores e neoliberais começou a ser traduzido na expressão “Estado Avaliador” (cf. Neave, 1998; Henkel, 1991 b; O’ Buachalla, 1992; Hartley, 1993). Esta expressão quer significar, em sentido amplo, que o Estado vem apontando um ethos competitivo, neo-darwinista, passando a admitir a lógica do mercado, através da importação para o domínio público de modelos de gestão privada, com ênfase nos resultados ou produtos dos sistemas educativos (p.49). O Parecer CNE/CEB Nº 7/2010 apresenta diversas indagações quanto aos métodos de avaliação externa vigentes no país, fundamentado em críticas da Câmara de Educação Básica do (CNE)62, dentre outras instâncias acadêmicas: [...] O sistema de avaliação aplicado guardaria relação com o que efetivamente acontece na concretude das escolas brasileiras? Como consequência desse método de avaliação externa, os estudantes crianças não estariam sendo punidos com resultados péssimos e reportagens terríveis? E mais, os estudantes das escolas indígenas, entre outros de situações específicas, não estariam sendo afetados negativamente por essas formas de avaliação? O referido documento finaliza afirmando que infelizmente tais questionamentos não têm promovido alternativas para o aperfeiçoamento das avaliações nacionais. 2 - O CURRÍCULO ESCOLAR EM AÇÃO O currículo, como aponta Moureira e Candau (2008) tem demandado preocupações de pessoas ligadas ao campo educacional “autoridades, professores, gestores, pais, estudantes, membros da comunidade” (p.17). Mas o que vem a ser currículo? Os referidos autores assim o interpretam: [...] estamos entendendo currículo como as experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em meio a relações sociais, e que contribuem para a construção das identidades de nossos/as estudantes. Currículo associa-se, assim, ao conjunto de esforços pedagógicos desenvolvidos com intenções educativas (p.18). Dessa forma não há como se conceber currículo sem se pensar em conhecimentos escolares, tendo em vista a estreita relação entre o que se ensina e o que se aprende, bem como as relações sociais que permeiam o campo educacional propiciando transformações desejáveis em nossos alunos por meio da construção de valores e identidades sócio-culturais. Ainda refletindo sobre relações sociais e currículo, o Silva (1999) ressalta que o currículo constitui-se em um espaço em que se reúnem e se desdobram embates sobre os diferentes significados do social e do político. “É por meio do currículo, concebido como elemento discursivo da política educacional que os diferentes grupos sociais, especialmente os dominantes, expressam sua visão de mundo, seu projeto social, sua “verdade”” (p.10). Segundo o Parecer CNE/CEB Nº 7/2010, o entendimento do que é o currículo é descrito como: [...] é o conjunto de valores e práticas que proporcionam a produção e a socialização de significados no espaço social e que contribuem, intensamente, para a construção de identidades sociais e culturais dos estudantes. E reitera-se que deve difundir os valores fundamentais do interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do respeito ao bem comum e à ordem democrática, bem como considerar as condições de escolaridades dos estudantes em cada estabelecimento, a orientação para o trabalho, a promoção de práticas educativas formais e não formais (p.22). 62 (CNE) CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Os autores Moreira e Candau (ano) assim como Silva (ano), tocam em um ponto sobre o currículo que é relevante neste contexto que é o chamado “currículo oculto”, que, segundo Silva (ano) diz respeito a aspectos do ambiente escolar apreendidos pelos educandos que não estão explicitamente destacados no currículo oficial, como, por exemplo, “a forma como a escola incentiva a criança a chamar a professora (tia, fulana, professora etc.); a maneira como arrumamos as carteiras na sala de aula (em círculo ou alinhadas); as visões de família que ainda se encontram em certos livros didáticos” (2008, p.19). O mesmo autor ainda enfatiza que é necessária uma tomada de consciência dos educadores, de modo a possibilitar alguma possibilidade de mudança, o que corresponderia a uma maneira de desarmá-lo ou de desocultá-lo. Outro elemento de grande relevância no debate sobre o currículo diz respeito aos componentes curriculares. Com a finalidade de promover o desenvolvimento integral do cidadão os componentes curriculares estão organizados em áreas de conhecimento, disciplinas e eixos temáticos, visando o desenvolvimento de habilidades, valores e práticas nos educandos. Hoje não é possível falar em currículo sem levar em consideração as diversidades culturais, nessa perspectiva os autores Moreira e Candau convidam os profissionais da educação a “pensar e desenvolver currículos para essa escola” (p.30), bem como o resgate de “manifestações culturais de determinados grupos cujas identidades se encontram ameaçadas, para a participação de todos no esforço por tornar o mundo menos opressivo e injusto, para a urgência de se reduzirem discriminações e preconceitos” (2008, p.30). O objetivo maior citado pelos autores é que os currículos desenvolvidos levem o educando a criticidade da realidade e do passado, promovendo assim “novas situações pedagógicas e novas relações sociais” (p.30). CONCLUSÃO Para finalizar parece relevante destacar algumas articulações possíveis entre avaliação na dimensão escolar e o currículo. Uma primeira conclusão que se pode chegar é que o foco dos processos educativos escolares deve estar centrado no educando, pois dessa forma há que se ter um “olhar” crítico tanto em relação aos pressupostos do que deve ser ensinado - o que está no currículo - e se ele corresponde às necessidades daquele educando (cultura, classe social, regionalidade, etnia, credo etc.), assim como o modo como se avalia a aprendizagem dos estudantes com vistas a contribuir para que eles superem os seus limites. Para que a avaliação cumpra esta função pedagógica ela precisa ser mais do que um amontoado de exames realizados ao final de uma etapa, apenas para cumprir “tabelas” e preencher as convenções exigidas pela burocracia, cuja principal função é mensurar a “execução” adequada dos programas de ensino, quase sempre confundidos com o currículo escolar. É por meio da avaliação entendida como caminho para a superação das dificuldades que o currículo também deve ser avaliado. Neste sentido é preciso transformar os mecanismos de avaliação em elementos capazes de contribuir para as reflexões sobre o currículo. Concluise que os desafios que se colocam são grandes e exigem um esforço sistemático e permanente nos âmbitos epistemológicos, pedagógicos e políticos, bem como de todo o coletivo escolar, que envolve, além de estudantes e educadores, os pais, os políticos e demais cidadãos interessados na construção de uma educação de qualidade socialmente referenciada. REFERÊNCIAS AFONSO, Almerindo Janela. Avaliação Educacional: regulação e emancipação. São Paulo: Cortez, 2000. ASSIS, Lúcia Maria de. Avaliação discente sob múltiplos olhares: alguns referenciais teóricos. Revista AVALIAÇÃO/Rede de Avaliação Institucional da Educação Superior – RAIES – v.8, n.1 mar. 2003. Campinas/SP. BRASIL, Ministério da Educação. Resolução CNE/CEB nº 04, de 13 de julho de 2010. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. ______, Ministério da Educação. Parecer CNE/CEB nº 07, de 09 de julho de 2010. DALBEN, Ângela Imaculada Loureiro de Freitas, Avaliação Sistêmica. Dicionário da Educação Biblioteca Virtual. Disponível em: pedagogiaonlineead.blogspot.com/2012/02/avaliação_sistemaica_15html. Acesso em 16/10/2012. FERNANDES, Claudia de Oliveira, FREITAS, Luiz Carlos. Currículo e Avaliação. In: Indagações sobre Currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 2011. MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa, CANDAU, Vera Maria. Currículo Conhecimento e Cultura. In: Indagações sobre o Currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. SILVA, Tomaz Tadeu. O currículo como prática e significação. In: O currículo como fetiche. Belo Horizonte: Autêntica 1999. _______Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica 2001. Comunicação Oral GT 3 – Estado e Política Educacional EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: PERFIL DOS ALUNOS ATENDIDOS PELA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE ENSINO DE URUAÇU – GO Camila Costa de Oliveira Teixeira Álvares IFG / MIELT – UEG Irani Camilo de Souza Silva Marcilene Dias Bruno de Almeida IFG / Campus Uruaçu [email protected] RESUMO O trabalho propõe a apresentação dos dados parciais da pesquisa realizada na area da política educacional e cadastrada ProPPG (Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós Graduação do Instituto Federal de Goiás) sobre o perfil dos alunos da Educação de Jovens e Adultos atendidos pela rede de ensino da cidade de Uruaçu- GO. Esta procura detectar as características gerais do grupo de alunos atendidos na modalidade de Educação de Jovens e Adultos na rede pública estadual do ensino de Uruaçu-GO com objetivo de compreender melhor o perfil deste grupo e colaborar com a adequação de políticas públicas e ações pedagógicas direcionadas para os mesmos nas escolas estaduais e no campus do Instituto Federal de Goiás do município de Uruaçu. A pesquisa possibilitará a construção de banco de dados com informações sobre este público tanto para os profissionais que os atendem bem como para outros trabalhos de estudos e pesquisas sobre o grupo de jovens e adultos em Uruaçu. Para tanto, foram aplicadas entrevistas com alunos voluntários de cada uma das turmas das escolas estaduais de Uruaçu-GO. Até o momento a pesquisa alcançou quatro das cinco escolas que oferecem o curso de EJA (Educação de Jovens e Adultos). As entrevistas foram aplicadas a partir de questões previamente formuladas e trata de elementos básicos como gênero, faixa etária, estado civil, trabalho remunerado, renda média, participação no sustento da família. Até agora, foi possível detectar que há uma predominância do sexo feminino, solteiros com idade média entre 15 a 25 anos que colaboram com as despesas familiares e se mantêm com uma renda entre 01(um) e 02(dois) salários mínimos. Embora a pesquisa não esteja concluída, temos dados suficientes que nos permitem algumas constatações para serem apresentadas em evento técnico-científico e corroborar com as discussões das políticas públicas referentes à Educação de Jovens e Adultos. Palavras-chave: perfil; jovens e adultos; Uruaçu. INTRODUÇÃO A pesquisa que ora desenvolvemos diz respeito às políticas educacionais, tendo como recorte o perfil básico dos alunos atendidos pela rede pública estadual de Goiás, restringindo nossa análise na cidade de Uruaçu-GO. Segundo relatório da UNESCO63, as estatísticas mundiais comprovam que há no mundo cerca de 771 milhões de pessoas com mais de 15 anos de idade que não sabem ler e escrever, das quais dois terços são de mulheres. 63 Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO 2005 Os dados relativos ao atendimento escolar da população de jovens e adultos do Estado de Goiás revelam um número elevado de pessoas, com 15 anos ou mais, fora da escola, o que evidencia um quadro socioeducacional que precisa ser revertido. Segundo dados do (IDH-M) 2000, a taxa de alfabetização de adultos em Uruaçu é de 0,839 e o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal é de 0,738. A população atendida pela EJA é, na maioria, jovens e adultos que necessitam por questões sócio-econômicas e até mesmo pessoais concluirem a educação básica para chegar aos cursos universitários e se ingressarem no mercado de trabalho. Os jovens fazem parte da população incorporada à educação de adultos recentemente e que tiveram sucessivas reprovações ou evasões. A maioria desses estudantes, como trabalhadores que cumprem jornada de trabalho integral, têm poucas possibilidades de ingresso e permanência em cursos de Educação de Jovens e Adultos, que exigem frequência obrigatória, com carga horária diária de até três (3) horas e meia. Para essa modalidade de educação, é necessário o desenvolvimento de propostas pedagógicas compatíveis com as necessidades e características dos vários grupos de estudos atendidos, pois não basta, apenas, prover essa parcela da população de conteúdos previstos para o nível de ensino em que ela retoma sua escolarização; ao contrário, torna-se imprescindível oferecer lhe meios apropriados ao seu desenvolvimento pessoal e profissional. Apesar de todo o investimento empreendido pelos órgãos governamentais nos Programas de Alfabetização de Adultos e ensino fundamental e médio de Educação de Jovens e Adultos, sabe-se que o maior desafio à erradicação do analfabetismo não é apenas a oferta de vagas, mas sim convencer o jovem e adulto da importância do processo de alfabetização e dar condições de permanência na escola, bem como articular políticas públicas que reconheçam a EJA como um direito dos sujeitos ao longo da vida. Confirma Henriques, A procura de jovens e adultos pela escola não se dá de forma simples. Ao contrário, em muitos casos, trata-se de uma decisão que envolve as famílias, os patrões, as condições de acesso e as distâncias entre casa e escola, as possibilidades de custear os estudos e, muitas vezes, trata-se de um processo contínuo de idas e vindas, de ingressos e desistências. Ir à escola, para um jovem ou adulto, é antes de tudo, um desafio, um projeto de vida. (2006, p.08) Há muito por fazer na educação de Jovens e Adultos, por isso, torna-se fundamental colocar essa discussão nos centros de debates dos acadêmicos, nas grades curriculares dos cursos de licenciaturas, nos grupos de estudos dos professores, nos espaços de pesquisas, nos eventos técnicos-científicos e na elaboração de novas propostas para essa modalidade de ensino. Os debates e pesquisas na área de EJA são de suma importância, visto que, tais debates e pesquisa auxiliam em caminhos mais concretos para essa modalidade de ensino, inserindo a dinâmica do trabalho e do conhecimento em contextos mais amplos e direcionados ao perfil do público da EJA, em cada localidade. Corroborando com essa perspectiva, fez-se a proposta desta pesquisa que consistiu em detectar os aspectos característicos gerais do grupo de jovens e adultos atendidos pela rede pública estadual de ensino de Uruaçu – GO possibilitando a compreensão do perfil deste grupo e auxiliando na adequação de políticas e ações pedagógicas direcionadas a eles, nas escolas estaduais e no câmpus do Instituto Federal de Goiás no município de Uruaçu . A pesquisa esta sendo realizada com visitas às escolas da rede estadual. Dentre as 12 escolas constituintes desta rede, cinco oferecem o curso de EJA. A pesquisa aconteceu a partir de entrevistas com alunos voluntários de cada uma das turmas. Os colaboradores responderam a questões previamente formuladas. Trata-se de questões básicas (gênero, faixa etária, estado civil, trabalho remunerado, renda média e participação no sustento da família), tendo em vista a possível continuidade dos estudos, avançando para aspectos mais substanciais do grupo pesquisado. As abordagens foram feitas de forma reservada, com o consentimento do entrevistado e garantia de não divulgação de seu nome. O registro manuscrito das respostas foi realizado pelo pesquisador em formulário próprio, a fim de evitar constrangimento do entrevistado quando este apresentou maiores dificuldades de leitura e escrita ou esteja em fase de alfabetização. Para trabalhar as informações coletadas serão seguidas as orientações de Andrade (2009) que afirma: A coleta de dados constitui uma etapa importantíssima da pesquisa de campo, mas não deve ser confundida com a pesquisa propriamente dita. Os dados coletados serão posteriormente elaborados, analisados, interpretados e representados graficamente. Depois, será feita a discussão dos resultados da pesquisa, com base na análise e interpretação dos dados. (p. 139-140) Entende-se que a análise dos resultados e posterior organização de banco de dados serão de grande valia tanto para os profissionais que atendem o público da EJA como para outros trabalhos de estudos e pesquisas sobre o grupo de jovens e adultos em Uruaçu. Como interesse social, contribui e amplia as pesquisas relacionadas com as políticas públicas referentes à Educação de Jovens e Adultos. 2- EJA E SUAS BASES HISTÓRICAS, POLÍTICAS E CULTURAIS O curso de EJA (Educação de Jovens e Adultos), configurado como modalidade de ensino na atual LDBEN 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), é resultante de um processo histórico da luta contra o analfabetismo no Brasil. A primeira organização formal para este grupo, na época nomeado como supletivo, é da década de 1940 com as primeiras grandes reformas do ensino no país (BEISIEGEL, 2002). A concepção de suprimir consistia em aplicar ao adulto os mesmos instrumentos pedagógicos utilizados com as crianças, na perspectiva de repor estudos não efetivados. Esta concepção permaneceu na primeira LDB 4.024/61 (Lei de Diretrizes Bases) e também na Reforma de 1º e 2º Graus na Lei 5.692/71. A política educacional para o supletivo tão somente baseava-se na existência de pouquíssimas vagas, muitas vezes sequer preenchidas. Não há registro de qualquer preocupação com preparação específica de professores ou material didático. Além disso, a política de financiamento para o supletivo – e também EJA - tem sido historicamente tímida, se comparada com as destinadas a outras modalidades de ensino. Entre as décadas de 1940 e 1950 o país assistiu a uma forte pressão pela universalização do ensino fundamental (ROMANELLI,1999), na década de 1990 a expansão de matrículas no ensino médio mais que dobrou (INEP, 2012) e, atualmente, temos uma discussão acirrada pela expansão de vagas na educação infantil. Paralelamente a este contexto, até meados dos anos de 1990, a educação ofertada a jovens e adultos permaneceu praticamente inalterada. No caso da educação de pessoas jovens e adultas, o caráter indutor do Estado é essencial. Diferentemente da educação fundamental regular, onde há grande consenso social (…) sobre a necessidade de as crianças irem à escola, além uma forte pressão para que isto ocorra, no caso da educação de pessoas jovens e adultas é a oferta que estimula a demanda. (HADDAD, 2008 p, 113) Por outro lado, no contexto internacional, o Brasil compareceu para discussões a respeito do alto índice de pessoas jovens e adultas fora da escola; analfabetos e semianalfabetos, excluídos do sistema de ensino no mundo todo. A V Conferência Internacional sobre Educação de Adultos realizada em Hamburgo (1997) expandiu o entendimento de educação de adultos para além da ideia de direito social. As discussões e encaminhamentos ultrapassaram o limite da alfabetização e alcançaram64 o ideal de educação continuada por toda a vida, não restrita à escolarização e presente nos mais diversos ambientes (PAIVA, 2009). A EJA passou a ser vislumbrada não mais unicamente como meio de acesso a trabalho e renda, mas também como espaço de conscientização das pessoas enquanto cidadãs, imbuídas de direitos e deveres, nos mais diversos espaços sociais, “A educação ao longo da vida implica repensar o conteúdo que reflita certos fatores, como idade, igualdade entre os sexos, necessidades especiais, idioma, cultura e disparidades econômicas” (HAMBURGO, 1997). Obviamente isso não exime o Poder Público de suas obrigações. Pelo contrário, recai sobre ele maior responsabilidade porque a escolarização é pensada como o cerne dessa educação continuada por toda a vida. No centro dessa transformação, está o novo papel do Estado e a necessidade de se expandirem as parcerias com a sociedade civil visando à educação de adultos. O Estado ainda é o principal veículo para assegurar o direito de educação para todos, particularmente, para os grupos menos privilegiados da sociedade, tais como as minorias e os povos indígenas. (…) Ele não é apenas um mero provedor de educação para adultos, mas também um consultor, um agente financiador, que monitora e avalia ao mesmo tempo. (HAMBUGO, 1997) . Da Sexta Conferência Internacional de Educação de Adultos (Confintea IV), sediada no Brasil, em Belém (2009), brotou o documento Marco de Ação de Belém que reafirmou a concepção de educação continuada por toda a vida e avançou para um comprometimento em sete eixos fundamentais: alfabetização de adultos; políticas; governança; financiamento; participação, inclusão e equidade; qualidade; monitoramento da implementação do Marco de Ação. Aliados a estes princípios – Declaração de Hamburgo e Marco de Ação de Belém – os fóruns de EJA, criados em todos os Estados do Brasil a partir de meados da década de 1996, têm promovido discussões que procuram fomentar a consolidação da EJA como política pública. Nessa ótica, questões como garantia de financiamento, oferta com qualidade, 64 A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em Paris pela Assembleia Geral da Nações Unidas (…) grava a ideia de ser a educação necessidade premente, (…) o que até então se traduzia como direito social passa a ser proclamado como direito humano, estendido a toda pessoa. (PAIVA, 2009, p 62) qualificação para os profissionais que atendem os sujeitos da educação de adultos, pesquisas, entre outras implementações, são imprescindíveis. O público em geral que busca a modalidade EJA (homens, mulheres, jovens, adultos ou idosos), são pertencentes de uma mesma classe social. Pessoas de baixa renda, que de modo geral, consomem apenas o básico para sua sobrevivência e da família. A compreensão dessa realidade, fez com que Paulo Freie, em 1960, reconhecesse o analfabetismo como uma questão não só pedagógica, mas também social e política. Pesquisadoras como Maria Margarida e Jane Paiva65 (2009) insistem na necessidade de realização de discussões em torno da política pública para a EJA. Para elas, esta política ainda é muito instável. Um termômetro para percepção desta instabilidade é a questão do financiamento para EJA, sempre controverso e, de certa forma, negado em alguns casos66. Os fóruns de EJA procuram ampliar as discussões e alcançar os profissionais que atendem sujeitos da EJA, estes profissionais enxergam o grupo com um misto de caridade, preconceito e descrédito, como se a ele não fosse necessário designar o mesmo empenho e compromisso que às demais pessoas atendidas pelo sistema público de ensino. No 1º EREJA (Encontro Regional de Educação de Jovens e Adultos) realizado em Porto Alegre, Jane Paiva afirmou: As práticas pedagógicas cotidianas que fazem a EJA e a escola é que são o foco do que eu chamo de meio. (. . .) não importa que nós tenhamos excelentes populações, clareza de concepções, documentos norteadores muito objetivos e muito bem definidos porque há um meio colocado da prática do fazer que ainda nos assusta, porque ele tem sido produtor da interdição ao direito. (2011) Com isso, Paiva depõe sobre os contatos pessoais que teve com instituições e profissionais que, inadvertidamente, guardam uma reserva com relação à EJA. A oferta quase sempre ocorre em condições precárias e dependente da boa vontade de profissionais que atuam nos períodos – noturnos em sua maioria – em que os cursos são ofertados. Neste mesmo evento, Paiva indicou a necessidade de pesquisas sobre a EJA, sobretudo a respeito do não preenchimento de vagas disponíveis. Em suma, nota-se necessário projetar novas políticas públicas para a implementação da Educação de Jovens e Adultos, tanto no que se refere à integração e permanência dessa 65 Membros dos fóruns de EJA de Goiás e Rio de Janeiro, respectivamente. 66 Tanto o Fundef quanto o Fundeb apresentam restrições quanto às verbas para EJA. população pouco ou não escolarizada às instituições escolares, quanto à melhoria da qualidade do ensino oferecido. Instrumentalizar as escolas para receber essa demanda a partir do perfil específico de cada localidade, contratar profissionais qualificados que elaborem projetos educativos que valorizem de fato essa especificidade e interesse desse público e que articulem o ensino com o preparo para o mercado de trabalho, a qualidade de vida e a sua realização enquanto ser humano. PERFIS PARCIAIS DOS ALUNOS De acordo com a SRE (Subsecretaria Regional de Educação de Uruaçu) a rede estadual de ensino público da cidade é composta por 12 unidades. Dentre estas, cinco oferecem o curso de EJA (Educação de Jovens e Adultos) e o Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia – IFGoiás oferece o PROEJA: Técnico em Informática, e Edificações. Até o momento a pesquisa alcançou quatro das cinco escolas de Uruaçu que oferecem a modalidade EJA. Em um universo de 285 alunos presentes no momento das entrevistas, obteve-se um total de 80 colaboradores, resultando numa amostra de 28%. Ao todo foram visitadas 21 turmas de EJA das seguintes instituições. Escola Estadual Aeroporto (o4 turmas) ETI – 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental/ 6º ao 9º ano e 3ª Etapa da EJA Colégio Estadual Bernardo Sayão (04 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e 3ª Etapa turmas) da EJA Escola Estadual Filomeno Luiz de França 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental/ 1ª e 2ª (07 turms) Etapas da EJA Escola Estadual Luiz Carlos da Mota (06 2º ao 9º ano do Ensino Fundamental/ 2ª Etapa turmas) da EJA. Dentre os entrevistados constatou-se que 47,5% são do sexo masculino e 52,5% do sexo feminino. Em relação à faixa etária dos entrevistados, de acordo com os dados levantados, 42,5% estão entre 15 e 25 anos, 23,75% entre 26 e 36 anos, 25% entre 37 e 47 anos e 8,75% têm mais de 48 anos de idade. Aos alunos da EJA que foram entrevistados perguntamos sobre o estado civil e as respostas mostram que 43,75% são solteiros, 33,75% casados, 16,25% mantêm um relacionamento estável, 5% são divorciados e 1,25% são viúvos. Em relação ao trabalho e a remuneração foram feitas três perguntas. A primeira teve o intuito de saber quantos deles exercem atividade remunerada e os dados mostram que 76,25% exercem e, portanto, 23,75% não. A segunda pergunta foi sobre a participação no sustento familiar e as respostas apontam que 52,5% colaboram com as despesas domiciliares, 28,75% assumem a maior parte do que se refere ao sustento familiar e 18,75% não contribuem financeiramente. A terceira pergunta relativa ao trabalho e remuneração dos entrevistados buscava mensurar a renda mensal total familiar. De acordo com as respostas dadas a maioria, 45%, se mantêm com uma renda que varia entre 1 e 2 salários mínimos, 30% de 3 ou mais salários e 25% com até um salários mínimo. A tabulação das informações presentes nos formulários não foram inteiramente terminada. Como foi dito anteriormente, a pesquisa alcançou quatro das cinco escolas cinco escolas que oferecem a modalidade EJA no município de Uruaçu. Além disso, as três últimas questões do formulário ainda não foram tabuladas, trata-se de questões mais subjetivas e de múltipla escolha, pareceu mais prático e produtivo realizar esta etapa quando a última escola for visitada e pudermos contar com todos os formulários dos colaboradores. CONSIDERAÇÕES FINAIS Dos resultados tabulados até o momento, destacam-se os seguintes apontamentos: I. Na questão do sexo, dentre os entrevistados notou-se que há uma porcentagem maior de mulheres, 52,5% que comprova os dados do relatório da UNESCO67, das quais dois terços da população que não sabem ler e escrever são mulheres. I. Na questão relacionada à faixa etária, o maior índice é entre 15 e 25 anos, com 42,5% dos voluntários, dado que também remete as estatísticas mundiais da UNESCO que diz que há no mundo cerca de 771 milhões de pessoas com mais de 15 anos de idade analfabetas. III. Na questão referente ao trabalho e remuneração 76,25 % trabalham e 45%b dos entrevistados se mantêm com uma renda que varia entre 01 (um) e 02 (dois) salários mínimos, que comprova que o público da EJA são pertencentes há uma classe social de baixa renda. IV. Na questão do estado civil 43,75% dos entrevistados são solteiros, que pode ser uma nova fonte de informação para associar o perfil dos alunos da EJA. Entende-se que ao detectarmos os perfis destes alunos podemos contribuir para o encaminhamento de reflexão, tanto das políticas, como das condutas pedagógico-didáticas relacionadas a Educação de Jovens e Adultos. Para todos os Jovens e Adultos devem ser dada a oportunidade de prosseguir seus estudos, para que se concretize o seu direito de aprender, a fim de que exerçam, com responsabilidade, os seus deveres de cidadãos ativos e participativos n mundo nos quais estão inseridos. Essa educação deve promover a compreensão entre homens e mulheres, a paz e a tolerância entre todos os grupos étnicos e religiosos, o que se considera essencial para a superação da pobreza e a melhoria da qualidade de vida das famílias e das comunidades. Esta posição é sustentada pela análise do art. 4º da Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), que consagra o dever do Estado e do Município com a educação pública a ser efetivado mediante garantia de ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; oferta de educação escolar para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola. REFERÊNCIAS BEISIEGEL, Celso de Rui. A política de educação de jovens e adultos analfabetos no Brasil. OLIVEIRA, Dalila Andrade (Org). Gestão Democrática da Educação: desafios contemporâneos – Petrópolis, 4ª ed. RJ: Vozes, 2002. 67 Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO 2005. BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, Parecer nº 11 de 10 de maio de 2000. _______. Ministério da Educação. Trabalhando com a Educação de Jovens e Adultos: Alunos e Alunas da EJA. Ricardo Henriques - Secretário da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. _______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394, de 24 de dezembro de 1996. _______ Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 4.024 de 20 de dezembro de 1961. _______ Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 5.692 de 11 de agosto de 1971. _______ Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Sinopse Estatística da Educação Básica (1991-1995 e 1998). Disponível em http://portal.inep.gov.br DECLARAÇÃO de Hamburgo sobre Educação de Adultos. In. BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Brasília, janeiro/97; V Conferência Internacional sobre Educação de Adultos, Hamburgo, julho/1997. HADDAD, Sérgio. A educação de pessoas jovens e adultas e a nova LDB. BRZEZINSKI (Org) LDB interpretada: diversos olhares se entrecruzam. 2ª ed. Revisada – São Paulo: Cortez, 1998 p 111 a 127. MARCO DE AÇÃO DE BELÉM. In Brasil. Ministério da Educação (MEC). Sexta Conferência Internacional de Educação de Adultos 2009. Brasília; Resumo Executivo, fevereiro/2011. PAIVA, Jane. A construção coletiva da política de educação de jovens e adultos no Brasil. Revista Em Aberto Nº 82, Vol. 22. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Novembro, 2009, p 59 a 71. MACHADO, Maria Margarida. A educação de jovens e adultos no Brasil pós-Lei nº 9.394/96: a possibilidade de constituir-se como política pública. Revista Em Aberto Nº 82, Vol. 22. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Novembro 2009 p 17 a 39 ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil (1930/1973). Petrópolis, 22ª ed. RJ: Vozes, 1999. Subsecretaria Regional de Uruaçu - Unidades Educacionais. Disponível em: http://subsecretariauruacu.blogspot.com.br Comunicação Oral GT 3 – Estado e Política Educacional EDUCAÇÃO INFANTIL EM CATALÃO (GO): INDICADORES DE ACESSO E CONDIÇÕES DE OFERTA Altina Abadia da Silva Elma Valéria Lopes Maisa Pires Pacheco Campus Catalão/UFG [email protected] [email protected] [email protected] RESUMO Considerando-se o atual olhar que a legislação vem lançando sobre a Educação Infantil, reflexo das lutas que buscaram valorizá-la como momento fundamental da formação das crianças, é que entendemos ser pertinente tomá-la como objeto de estudo. Afinal, se a Educação Infantil hoje é considerada a primeira etapa da educação básica, estando sob a responsabilidade dos municípios, é importante produzir levantamentos sobre a sua real situação estrutural e funcional. Com a tarefa de definir responsabilidades e competências para a oferta da educação brasileira, a Constituição Federal (CF) de 1988 estabeleceu que a educação é um direito social e definiu a família e o Estado como responsáveis pelo seu provimento. Visando assegurar o cumprimento desse mandamento e assim garantir ao cidadão o acesso e a qualidade deste atendimento é que faz jus a existência deste estudo, que visa subsidiar a discussão sobre o atendimento à infância e adolescência na microrregião de Catalão. Para isso busca compreender e situar as competências e o financiamento das políticas, programas e ações de âmbito federal, estadual e municipal dirigidos à criança e ao adolescente. Nossos objetivos: 1) reconhecer as demandas manifesta e reprimida por acesso a partir do detalhamento do número de crianças matriculadas nas redes pública e privada de Catalão; 2) identificar as responsabilidades e competências para a oferta de políticas e serviços de educação; 3) relacionar os investimentos públicos realizados em favor da educação infantil para o período compreendido entre 2000 e 2020; e 4) avaliar o investimento complementar das famílias e empresas da região com a educação Infantil. Trata-se de um estudo de caráter descritivo e analítico, centrado em pesquisa de campo e em análise documental. Como fontes de dados, estudos e levantamentos feitos pelo Inep e pelo IBGE. Outra fonte documental o sitio da SME Catalão/GO. Utilizamos questionários direcionados às instituições educativas e entidades de proteção dos diretos da criança. Usaremos as estimativas de crescimento necessário das matrículas da educação infantil, para adequá-las às metas de atendimento definidas pelo novo Plano Nacional de Educação (PNE, 2011/2020). Este estudo permitirá apontar sugestões de políticas governamentais, bem como opções e estratégias para aumentar a capacidade de financiamento para a Educação infantil. Palavras-chave: Educação Infantil; financiamento; atendimento. INTRODUÇÃO Considerando-se o atual olhar que a legislação vem lançando sobre a Educação Infantil, reflexo das lutas que buscaram valorizá-la como momento fundamental da formação das crianças, é que entendemos ser pertinente tomá-la como objeto de estudo. Afinal, se a Educação Infantil hoje é considerada a primeira etapa da educação básica, estando sob a responsabilidade dos municípios, é importante produzir levantamentos sobre a sua real situação estrutural e funcional. Com a tarefa de definir responsabilidades e competências para a oferta da educação brasileira, a Constituição Federal (CF) de 1988 estabeleceu que a educação é um direito social e definiu a família e o Estado como responsáveis pelo seu provimento. Visando assegurar o cumprimento desse mandamento e assim garantir ao cidadão o acesso e a qualidade deste atendimento é que faz jus a existência deste estudo. O projeto de pesquisa: Perfil da educação infantil em Catalão (GO): indicadores de acesso e condições de oferta é um subprojeto agregado a um projeto maior intitulado: Políticas e serviços de atendimento a infância e adolescência na microrregião de Catalão (GO) que congrega os pesquisadores do Núcleo de Estudos e Pesquisa Infância e Educação – NEPIE – CAC/UFG, e visa subsidiar a discussão sobre o atendimento à infância e adolescência na microrregião de Catalão. Para isso busca compreender e situar as competências e o financiamento das políticas, programas e ações de âmbito federal, estadual e municipal dirigidos à criança e ao adolescente, especialmente nas áreas da saúde, educação, lazer e cuidados. A análise volta-se também para alguns desafios apontados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sobretudo aqueles relativos a sugestões e estratégias de atendimento e financiamento para a ampliação dos gastos destinados à infância e adolescência. Um dos objetivos específicos desse projeto 'guarda-chuva' se desdobrou no projeto de pesquisa ora apresentado, cujos objetivos são: 1) reconhecer as demandas manifesta e reprimida por acesso a partir do detalhamento do número de crianças matriculadas nas redes pública e privada de Catalão; 2) identificar as responsabilidades e competências para a oferta de políticas e serviços de educação; 3) relacionar os investimentos públicos realizados em favor da educação infantil para o período compreendido entre 2000 e 2020; e 4) avaliar o investimento complementar das famílias e empresas da região com a educação Infantil. Tratase de um estudo de caráter descritivo e analítico, centrado em pesquisa de campo e em análise documental realizado por pesquisadores de iniciação científica junto de seus orientadores. Como fontes de dados, nos valemos de estudos e levantamentos feitos pelo Inep e pelo IBGE. Outra fonte documental será o sitio da Secretaria Municipal de Educação de Catalão/GO. Quanto ao campo, utilizamos questionários direcionados à instituições educativas e entidades de proteção dos diretos da criança. Pretende-se usar as estimativas de crescimento necessário das matrículas da educação infantil, para adequá-las às metas de atendimento definidas pelo novo Plano Nacional de Educação (PNE, 2011/2020). Este estudo permitirá apontar sugestões de políticas governamentais, bem como opções e estratégias para aumentar a capacidade de financiamento para a Educação infantil, buscando responder à pergunta sobre a necessidade de revisão da política governamental de atendimento à infância. CONTEXTUALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CATALÃO O município de Catalão está localizado ao extremo sudeste do Estado de Goiás; Situada ás margens da BR – 050, responsável pela ligação de Brasília ao Centro-sul; A Rodovia GO – 352 liga o município á capital do Estado; A base mais forte da economia é a Agricultura, seguida da Pecuária e nos últimos anos há um forte crescimento no número de médias e grandes empresas Multinacionais do setor de Mineração, Beneficiamento e Armazenamento de grãos, Automotiva e Máquinas Agrícolas. De acordo com dados do censo referentes ao ano de 2010 a população total é de: 86.647 habitantes e seu PIB recenseado em 2008 é de mais de 4, 348 bilhões de reais. Os números referentes a demanda do atendimento aos anos iniciais, são os seguintes: - Nº Total de Crianças de 0 a 4 anos: 5.223-7 79% da população - Nº Total de Crianças de 5 a 9 anos: 5.413 - Nº de Crianças Atendidas em Escolas Públicas Educação Infantil: 1.840 - Número de crianças em 2006: 5.455 DIAGNÓSTICO INICIAL DO CAMPO DA PESQUISA Partindo da legislação que apontava a Educação Infantil sob responsabilidade dos municípios, fizemos a partir de 2002 um levantamento da situação estrutural e funcional deste nível de ensino. Deste modo, o objetivo central da pesquisa era analisar a estrutura e o funcionamento da Educação Infantil na cidade de Catalão/GO. Seus objetivos específicos foram assim definidos: a) caracterizar o espaço físico/material e organizacional das instituições; b) identificar o número de profissionais que atuavam na Educação Infantil, bem como sua formação e nível de escolaridade; c) levantar os indicadores que orientavam o trabalho pedagógico nas instituições; d) criar um grupo de estudos. Para isso, foram estipulados tais procedimentos metodológicos: a) levantamento de dados genéricos sobre Secretaria Municipal de Educação, as instituições, alunos e profissionais; b) visitas e aplicações de questionários aos diretores das instituições de Educação Infantil; c) aplicação de questionário exploratório aos professores de Educação Infantil; d) aplicação de um questionário específico a alguns professores para o levantamento de informações didáticopedagógicas. Nos primeiros dois anos da pesquisa, foram sistematizados os dados referentes: a) á estrutura a funcionamento das 16 instituições públicas de Educação Infantil de Catalão-GO; b) á média de idade, formação e atuação de 65 professores. De posse destas informações, procedemos ás devidas análises. Tendo como eixo central do trabalho o processo de municipalização da Educação Infantil em Catalão-GO, foram apresentados e discutidos os dados quantitativos referentes aos seguintes aspectos: a) Oferta de atendimento; b) formação/qualificação dos Professores. Como naquela ocasião o principal objetivo da pesquisa era verificar o processo de municipalização da Educação Infantil em Catalão, optou-se por delimitar a amostra a todas as escolas da rede pública de atendimento, que totalizaram o número de dezesseis (16) escolas, dentre as quais nove (9) eram municipais, quatro (4) estaduais e três (3) conveniadas68. A partir desses dados, percebe-se que a maioria das instituições de atendimento às crianças de 0 a 6 anos era mantida pelo município, o que indicava que o processo de municipalização previsto pela LDB estava em curso. Esse quadro é reforçado pelo número de crianças que é atendido por mantenedora, já que as escolas do município atendiam 74% das 1.840 crianças matriculadas em creches e pré-escolas de Catalão no período estudado. Nos demonstrativos dos níveis de formação dos professores havia, apesar da predominância da formação em Licenciatura em Pedagogia pelos professores, um outro número significativo que corresponde às habilitações em outras áreas. A despeito das preocupações iniciais que essa diversidade de formação que caracteriza em grande parte o perfil profissional dos professores que trabalham nas instituições pesquisadas, se faz necessário apontar para uma preocupação mais pontual, que é a ausência nos currículos dessas licenciaturas, de um foco em elementos, contextos e teorias que juntos constituem aquilo que chamamos de especificidades do trabalho educativo com as crianças menores de 06 anos. É bem verdade que também os currículos dos cursos de Pedagogia que formaram os professores investigados na pesquisa, não possuem seu foco na formação do professor especialista ou com 68 No Estado de Goiás, designa-se por Escolas conveniadas aqueles estabelecimentos de ensino gerenciados por entidades filantrópicas e que se mantém, em parte, com recursos materiais ou humanos provindos do poder público com base em um convênio instituído entre as partes. uma habilitação específica para atuar na Educação Infantil, no entanto, é legítimo reconhecer que se não há nesses currículos uma especificidade nos processos psicológicos e sociais das crianças de zero a seis anos, foco também nas relações pedagógicas e saberes escolar, entendendo-os como elementos que, junto com uma consistente formação teórica, criam as bases para o trabalho educativo. O momento que se iniciou com a publicação da LDB 9.394/96, de construir as regulamentações para o funcionamento, gestão, financiamento e prioridades para a Educação Infantil, é oportuno para pensarmos em que medida a questão da formação e das exigências que lhe são pertinentes, estão mobilizando os profissionais e pesquisadores que refletem sobre esse período escolar das crianças, no sentido de garantirmos uma formação mínima que tenha uma preocupação com as especificidades dos processos característicos das crianças menores de seis anos, mas que não se perca da consolidação de uma formação que se volta para os saberes educativos, que perpasse por todas as áreas de fundamentos das diversas ciências, pelas didáticas e que tenha, na prática refletida e sintetizada a partir dessa formação, seu universo de trabalho docente comprometido com a elevação dos níveis psicológicos das crianças atendidas pela instituição. Apontamos aqui para a necessidade de regulamentação da formação que deve ter o profissional que trabalha com a criança pequena no Brasil, entendendo que há um tipo de conhecimento que é específico do professor, dos modos de organização e funcionamento da escola e esse conhecimento tem, portanto, na escola seu lócus de apropriação pelas crianças, impossível de se realizar em outro espaço social. O crescente esvaziamento da teoria, grande responsável pelos altos índices de precariedade das formações iniciais e continuadas, tem como consequência uma desvalorização, nas relações pedagógicas, dos processos de ensinoaprendizagem que tanto custam às crianças que acabam tendo nas instituições uma rotina informal de produção dos conhecimentos das mais diversas ciências e os professores uma perda de sua função e uma consequente negação da importância do conhecimento por ele acumulado. De acordo com a Meta 16 do PNE/2011-2020, é plano político garantir a formação continuada a todos. Mas, como perceber essa efetivação na prática? Sabemos que capacitar exige investimentos e gastos, e, como também é objetivo da maioria dos municípios e estados brasileiros promover uma educação com baixo custo, percebe-se poucos esforços nos setores de formação do profissional. Assim, o professor em pleno século XXI parece estagnar-se quanto à formação continuada, e o órgão responsável (SME) também não cumpre seu dever. Enquanto que os vários segmentos da sociedade priorizam o profissional “atualizado”, são poucos os professores da Educação Infantil que buscam por si mesmos meios e recursos de se aperfeiçoarem. Abicalil; Cury; Weber (2010) chama de responsabilidade Individual aquela que compete não exclusivamente aos órgãos públicos, mas também aos professores, que também têm parcela de responsabilidade de procurar, enquanto profissionais, fazer o melhor. Nesse sentido, consideramos que muitas descobertas e reflexões ainda poderão ser feitas a fim de atingirmos nossa proposta de pesquisa. Seguimos acreditando que mudanças somente são possíveis a partir da reflexão sobre a prática. Portanto, esperamos juntos poder pensar em alternativas que possam contribuir para a melhoria da qualidade do ensino na cidade de Catalão/GO, através das trocas de experiências e das reflexões referentes às políticas públicas na área da educação e no âmbito formação continuada. As escolas já formaram a tempo, uma cultura colaborativa, em que o trabalho e a atuação do professor se expressam em uma atitude auto-reflexiva e investigativa, em uma relação aos resultados de suas ações em sala de aula. Como consequência desse conjunto de características, intrínseca ao trabalho do professor, temos verificado, mais acentuadamente nos últimos anos, um crescimento das iniciativas daquilo que já foi chamado de reciclagem, posteriormente de capacitação e, mais recentemente (de forma mais adequada) de educação ou formação continuada. Conforme anuncia (SADALLA, 2008, p. 8), “a formação continuada é a possibilidade constante de discutir, com interlocutores privilegiados, dimensões escolhidas do trabalho docente”. Ressaltando as palavras-chaves desse processo: possibilidades constantes e dimensões escolhidas do trabalho docente, entendendo que professor-interlocutor escolhe as dimensões que deseja estudar constantemente. Menezes (1996, p. 159) define a formação continuada como sendo aquela “formação permanente em um processo continuo que começa nos estabelecimentos de formação inicial e que prossegue através das diversas etapas da vida profissional dos professores.” Mas, se a escolha, o desejo a vontade não partir dos professores poucos resultados obteremos nesses processos. Para pensarmos a importância da formação continuada nos dias atuais, precisamos entender que a formação inicial como o próprio nome diz é o inicio da vida profissional docente conforme nos aponta Lüdke (1996, p.37) na formação inicial é reconhecido claramente o caráter introdutório, de uma preparação que não pretende ser total, nem abarcar toda a carreira do professor...”. muitos autores concordam que o tempo de duração do curso de formação inicial estipulado em média de quatro anos não dê conta de abranger todos os conhecimentos filosóficos, epistemológicos, didáticos/práticos, sociológicos, econômicos e políticos necessários à vida de um professor. Além do pouco tempo de estudo inicial, acreditamos que o professor se faz professor por meio da docência, entendida como práxis – síntese, teoria e pratica – a agir teoricamente com base no pensamento teórico pratico, aprende na atividade da docência enquanto atividade pratica humana que o desenvolve. Nesse sentido caracteriza um processo em longo prazo impossível ser aprendido em apenas quatro anos. Para Carrascosa (1996) a formação continuada deve ser entendida como parte da vida ativa do professor, pois; A formação de um professor é um processo alongo prazo que não se finaliza com a obtenção de licenciado (nem mesmo quando a formação inicial recebida tiver sido da melhor qualidade) isso porque em outra razões, a formação docente é um processo complexo para o qual são necessário muitos conhecimento e habilidades, impossíveis de ser todos adquiridos no curto espaço de tempo que dura a formação inicial. (CARRASCOSA 1996, p. 10) A Formação Continuada, por nós defendida, não tem o caráter de compensar ou corrigir desvios de uma formação inicial insuficiente, ruim ou aligeirada acreditamos que ela se dá no embate da pratica com o pensamento teórico, no confronto das ideias. Assim as constantes e rápidas evoluções dos conhecimentos, nas diferentes áreas do saber, colocam a formação do professor em uma posição de continuo, através de estudos e reflexões constantes. Esse tipo de formação tem por objetivo auxiliar o professor a vencer e ultrapassar as dificuldades oriundas das transformações culturais e sociais, na busca de melhoria do trabalho docente. O grande desafio da formação continuada esta no seu germe, na origem desses cursos e o contexto em que surgiu, a forma que se constituíram ao longo da história. Elencamos três fatores preponderantes que nessa questão. O primeiro é que, a formação continuada não surgiu com o foco de estudo permanente necessário a vida do professor como entendemos hoje, a formação continuada surgiu para formar os professores que já atuavam e não tinha qualificação. Segundo, para atender uma grande demanda de professores em curto tempo, projetados pelo governo cursos rápidos em forma de pacotes, desencadeando o terceiro ponto caracterizado são cursos prontos, sem o menor sentido/significado prático para o professor. CONSIDERAÇÕES FINAIS Compreender esse universo de desafios enfrentados pelos professores da Educação Infantil junto às políticas públicas de educação não parece tarefa fácil ou agradável. Se de um lado temos um professor oprimido pelos baixos salários, com carga horária abusiva, péssimas condições públicas de trabalho e desacreditando no seu papel de agente transformador da realidade; do outro temos uma política governamental que mede a qualidade do ensino, que promove cursos de formação aligeirados, que desvaloriza o profissional da educação com um “teto” salarial insuficiente e que, acima de tudo, não oferece as mínimas condições de trabalho. Entendemos que tudo isso, de forma conjunta, tem causado um profundo incômodo na categoria docente. Seja em qualquer nível de ensino: O Infantil, o Fundamental ou Superior, vivemos à mercê dos caminhos econômicos e políticos trilhados pelo país. Como bem sabemos, a educação é fruto dessa disputa por poder, interesses e valores sociais da nossa cultura. Por isso, os caminhos e os rumos que apontamos a cada dia, seja na pesquisa ou na criação de leis, também contribuem para formar o discurso próprio da Educação. O horizonte da cidadania, da soberania, da pluralidade política, da igualdade, da liberdade, da autonomia pedagógica, da universalidade do direito à educação, da cooperação federativa, da obrigatoriedade e da gratuidade do ensino público, com a ampliação da vinculação de recursos obrigatórios para a manutenção e desenvolvimento do ensino, aliada à valorização dos profissionais da educação, afirmam princípios importantes, nesse sentido, consideramos que muitas descobertas e reflexões deverão ser realizadas a fim de atingirmos maiores resultados no campo educacional. Desse modo, acreditamos que os primeiros passos e talvez, os mais importantes foram dados, que são as reflexões, discussões, a inquietações e o desconforto, pois, a partir deles algumas direções serão apontadas. REFERÊNCIAS ABICALIL, Carlos; CURY, Carlos Roberto Jamil; WEBER, Silke; entrevista. A Conae e o novo PNE Novos marcos para a educação. In. Revista Retratos da Escola. Brasília, v. 4, n. 6, p. 11-24, jan./jun. 2010. 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Maria Margarida Machado (Orientadora) Faculdade de Educação/UFG Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq [email protected] RESUMO A Educação de Jovens e Adultos é um direito constitucional assegurado pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN 9.394/96. Trata-se de um direito construído historicamente num processo de lutas pela expansão da educação a todos independente de sua idade ou condição econômica. Considerando essa lógica do direito adquirido, este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de iniciação científica intitulada Análise do Ensino Supletivo em Goiás no período de 1971 a 1996, com o objetivo de localizar a documentação específica que registra o atendimento da população adulta pelo Ensino Supletivo em Goiás na rede de ensino estadual. Esta pesquisa encontra-se vinculada ao Projeto Centro Memória Viva (CMV) – Documentação e Referência em EJA, Educação Popular e Movimentos Sociais; que tem por objetivo localizar, tratar, organizar e analisar a documentação que permite compreender a história da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Estado e Goiás. Tendo em vista a dificuldade de acessar essa documentação, a pesquisa pretende disponibilizar o que foi encontrado em ambientes virtuais, como o Banco de Dados do CMV, que possibilita o acesso de outros pesquisadores às fontes localizadas. Inicialmente, foi realizado um estudo sobre o processo histórico da EJA, apresentando uma contextualização histórica em âmbito nacional e estadual a fim de compreender o processo de constituição desse modelo de educação, com um recorte específico para a proposta do Ensino Supletivo da década de 1970. Utilizou-se como metodologia a pesquisa documental, analisando a documentação nacional e estadual, estabelecendo relações entre os projetos educacionais nesses dois níveis. Para complementar as informações presentes na documentação, procurou-se estabelecer contato com uma escola averiguando como foi na prática o processo de implementação do Ensino Supletivo. Dentre os resultados alcançados destaca-se a experiência do Centro de Estudos Supletivos do município de Aragarças, atual Centro de Educação de Jovens e Adultos. Aspecto constatado na reprodução integral da legislação nacional no relatório de atividades do Departamento Supletivo. A partir das experiências levantadas, percebe-se que o público que buscava o Supletivo foi se diversificando no decorrer do tempo. Inicialmente eram pessoas mais velhas acima de quarenta ou cinquenta anos, posteriormente passaram a buscar os exames e cursos pessoas mais jovens incluindo adolescentes que evadiam da escola regular. Quanto ao perfil sócio econômico, este ia desde as classes trabalhadoras às famílias com melhores condições, mas a principal motivação era a necessidade de qualificação para o mercado de trabalho. Palavras-chave: educação de jovens e adultos; ensino supletivo em Goiás; política educacional. INTRODUÇÃO Este texto apresenta as considerações da pesquisa intitulada Análise do Ensino Supletivo em Goiás no período de 1971 a 1996, prevista para o período de agosto de 2012 a julho de 2013. Esta pesquisa foi desenvolvida para dar continuidade ao projeto desenvolvido no ano anterior (2011-2012) denominado Documentação da Educação de Jovens e Adultos na Secretaria de Estado da Educação de Goiás no período de 1940 aos dias atuais, vinculada ao Projeto Centro Memória Viva – Documentação e Referência em EJA, Educação Popular e Movimentos Sociais. Este tinha por objetivo localizar, tratar, organizar e analisar a documentação que continha a memoria e a história da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Estado de Goiás, tendo em vista a dificuldade de acessar essa documentação e a possibilidade de disponibilizar o que foi encontrado em ambientes virtuais, que se encontra em fase de conclusão. No primeiro ano de pesquisa (2011-2012), os resultados alcançados motivaram a continuidade do projeto com destaque para a assinatura do termo de cooperação estabelecido junto ao Conselho Estadual de Educação (CEE). Este termo possibilitou acesso a uma grande quantidade de resoluções e pareceres do CEE, nas quais se identificou como tema central o Ensino Supletivo, principalmente no material da década de 1970/80. O Supletivo tinha por objetivo: O Ensino Supletivo visa proporcionar ao aluno a possibilidade para “recuperar-se” em estudos não realizados. Destina-se, portanto, aos que não iniciaram, ou não completaram, em idade hábil, a escolarização regular, bem como àqueles que necessitam de atualização de seus conhecimentos. (BOYNARD, GARCIA e ROBERT 1975, p. 103) No sentido de dar continuidade a pesquisa iniciada buscou-se identificar na documentação os sentidos das ações desenvolvidas com a denominação de Ensino Supletivo. A princípio apresentam-se as reflexões provenientes dos estudos de aprofundamento teórico metodológico, seguido dos principais resultados alcançados e as considerações acerca do que foi apreendido no período de trabalho indicado. O ENSINO SUPLETIVO: REFLEXÕES ACERCA DA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA Para entender como o Ensino Supletivo se constituiu em seu contexto histórico específico (década de 1970) foi necessário realizar leituras que abrangessem períodos anteriores, a fim de compreender o contexto histórico na íntegra evitando concepções parciais. Para isso, foram estudados e discutidos autores como Paiva (2003), Beisiegel (1974), Lemme (2004) e Lourenço Filho (2000); esses autores fazem um histórico da educação de adultos em âmbito nacional desde o período colonial. Para compreensão do contexto específico do Estado de Goiás os estudos centraram-se sobre Machado (1997, 2002), Rodrigues (2000, 2008) e Bretas (1991). O Ensino Supletivo no Brasil surgiu, oficialmente como proposta educacional prevista em Lei, no contexto da Ditadura Militar, no início da década de 1970. Anteriormente a implantação desse modelo educacional, destinado ao atendimento educacional aos jovens e adultos em situação de defasagem escolar, nota-se em todos os campos da sociedade brasileira profundas transformações no período das décadas de 1940 a 1960. A nomenclatura suplência já era utilizada desde o final da década de 1930 enquanto denominação destinada à função das classes de educação de adultos, pois segundo Lourenço Filho (2000) era necessário suprir o adulto do conhecimento ao qual este não teve acesso. O termo Ensino Supletivo, enquanto denominação específica ao atendimento educacional destinado aos adultos passa a ser utilizada a partir da Lei 5.692/71, referindo-se à intencionalidade política, uma proposta duradora para além daquele contexto governamental uma política pública nacional, que diz respeito a um atendimento com características próprias, particulares que, neste caso, refere-se ao atendimento educacional da população jovem e adulta. É notório que a partir da década de 1970, predominou em âmbito educacional, a perspectiva de desenvolvimento, pautada na formação aligeirada, com a finalidade de fortalecer a economia industrial urbana, na medida em que educava os adultos que serviriam de mão de obra a indústria nacional. O desenvolvimento industrial fez com que um grande contingente populacional migrasse do campo para a cidade. No entanto, esse movimento migratório não era uma preocupação dos governantes, muito menos lidar com os problemas relativos a este, como a falta de escolas e trabalho a essa população. Percebe-se que as alterações na vida econômica pós década de 1960 acarretam mudanças nos comportamentos sociais e segundo Haddad (1991) acabam por criar novas necessidades. A vida na cidade demanda algumas exigências, os governos que se instauram nesse período apresentam uma tendência populista a fim de conquistar o eleitorado. Isso por que: Em consequência das reformas educacionais e da incorporação do voto feminino, os índices de participação eleitoral, em declínio desde fins do Império – quando os analfabetos foram excluídos do direito de votar –, aumentaram sensivelmente. Por volta de 1945, além de mais numerosos do que nunca, os eleitores brasileiros também apresentam um perfil mais urbano. (PRIORE e VENANCIO, 2010, p. 262) Em consonância com o modelo de desenvolvimento do Estado Militar, Rodrigues (2000) afirma que, a partir da década de 1970 intensifica-se o investimento no Ensino Supletivo, enquanto concepção de ensino voltado à educação de adultos. Essa valorização pode ser evidenciada pela destinação de um capítulo exclusivo da Lei 5.692/71 de Reforma do Ensino de 1º e 2º Graus, que dedicava a este um capítulo específico. Com essa nova legislação a Supletividade passa a ser compreendida como proposta de educação para adultos. Acerca do Ensino Supletivo, Haddad (1991) destaca que o supletivo tinha o propósito de contribuir com o desenvolvimento nacional pelo viés da formação do trabalhador qualificado. De acordo com a legislação nacional o supletivo visava: a) suprimir a escolarização regular para os adolescentes e adultos que não a tenham seguido ou concluído em idade própria; b) proporcionar, mediante repetida volta à escola, estudos de aperfeiçoamento ou atualização para os que tenham seguido o ensino regular no todo ou em parte. (BRASIL, 1971, p.11) Além dessa lei do ano de 1971, foi publicado em 1972 o Parecer CFE nº 699/72 de 1ºe 2º graus do Conselho Federal de Educação, que leva o nome de seu relator Valnir Chagas, que estabelecia as funções e a forma de organização do supletivo em território nacional. Este parecer do CFE introduz as características do Supletivo a partir da trajetória das leis educacionais que culminaram nas mudanças da Lei 5.692/71. Desde a reforma de Campos e de Capanema já havia a proposta de realização de exames preparatórios/ certificatórios. Segundo o Parecer CFE 699/ 71 a procura pelos exames apresentava tendência ao crescimento na medida em que a empregabilidade no mercado de trabalho exigisse mais qualificação. Neste sentido, crescia continuamente a procura pelos exames de certificação. Anterior ao supletivo, a forma de certificação via exames que existia era denominada Exames de Madureza, que tinham por objetivo “apurar não apenas o conhecimento de determinadas matérias, rigorosamente isoladas, como a madureza global dos alunos” (BRASIL, 1972, p. 226). No decorrer do tempo os exames de madureza passaram por representar uma forma de fugir a escola regular. O conselheiro Valnir Chagas (BRASIL, 1972) afirma neste parecer que a rigorosidade do sistema de seriação representava dificuldade de acesso a outros níveis de ensino, o que evidenciava o problema da reprovação, demonstrando a necessidade de possibilitar aos adultos outras formas de alcançar a certificação exigida. Era necessário propor uma nova forma de organização para a certificação que atendesse a demanda da organização política e econômica do Brasil da década de 1970. Este parecer 699/72 do Conselho Federal de Educação69, escrito em 1972 por Valnir Chagas 69 O Conselho Nacional de Educação, seguindo o modelo de gestão da ditadura militar foi federalizado. Segundo Arreteche (2002, , apud, Castioni, 2009, p 03) os “Estados federados são uma forma de dividir o governo verticalmente sobre a mesma população e o seu território” (CASTIONI, 2009, p. 03), ou seja, a federalização era um instrumento de verticalização do poder, uma intenção que combina com a proposta de governo do Regime Militar. apresentava as funções e características do Ensino Supletivo para o território nacional, as quatro funções básicas eram: suplência, suprimento, aprendizagem e qualificação. Os cursos oferecidos nessa modalidade se organizariam como estudos sistemáticos, envolvendo relação direta entre professor-aluno, ou seja, se realizariam na forma presencial. Alguns cursos previam a formação assistemática via rádio, televisão e correspondência. Havia ainda os cursos semipresenciais que combinavam a modalidade presencia e a distância. Os cursos contemplavam as funções de Aprendizagem e de Qualificação. A Qualificação apresentava como sentido “profissionalizante exigindo, portanto orientação e acompanhamento sistemáticos” (BRASIL, 1972, p. 231), desse modo essa função baseava-se obrigatoriamente em cursos não apenas em exames, seu foco era somente a profissionalização dos sujeitos sem preocupar-se com a educação geral. Aliada a função de Aprendizagem que compreendia “a formação metódica no trabalho” (BRASIL, 1972, p.203) essas funções compreendiam a parte de formação profissionalizante muitas vezes feita em parceria com o Sistema “S” (SENAI, SENAC) ou com outras empresas. As funções de suplência e o suprimento de acordo com o Parecer CFE nº 699/72 (BRASIL 1972) apresentavam funções semelhantes. O objetivo da suplência era “suprir a escolarização regular para adolescentes e adultos que não a tenham conseguido em idade própria” (BRASIL, 1971). Já o suprimento visava “proporcionar, mediante repetida volta à escola, estudos de aperfeiçoamento ou atualização”. Ambas as funções estavam ligadas a compensação dos alunos pelo tempo em que ficaram afastados do ensino. Estavam ligadas ao modelo de Ensino Supletivo, que se manifestava via exames e que apresentava um tempo livre para a conclusão do estudo ao contrário dos cursos de qualificação e aprendizagem com períodos letivos pré-estabelecidos. Sendo assim Rodrigues (2000) resumo a lógica do Supletivo como: [...] a doutrina de ensino supletivo que se assentava no trinômio: tempo (rapidez de instalação), custo (aproveitando espaços ociosos), e efetividade (nas metodologias adotadas sob influência do tecnicismo). (RODRIGUES, 2000 p.43-44) O Supletivo, a fim de superar o fracasso de investimento do Mobral propunha a formação aligeirada, aliada a formação profissional que visava alimentar a mão-de-obra da indústria emergente no Brasil. Segundo Haddad e Di Pierro (2000), o Ensino Supletivo apresentado nos documentos legais deveriam estruturar-se no Departamento de Ensino Supletivo (Desu). Esse esquema de departamentalização se reproduziria nos Estados uma forma de manter o controle do governo do contexto de implantação do Supletivo sobre as ações desenvolvidas. Era função do Desu “coordenar o desenvolvimento de todas as atividades de educação de adultos em nível nacional, visando, sobretudo, à sua expansão integrada com outras agências” (HADDAD, 1991, p. 106). Essa era uma forma de manter as ações dos Estados em consonância com as intencionalidades definidas nacionalmente pelo Desu. Segundo Haddad (1991) as ações relativas à educação de jovens e adultos ficou a cargo do Desu até meados de 1979 quando o departamento foi transformado em Secretaria de Ensino Supletivo (SESU). O ENSINO SUPLETIVO EM GOIÁS: O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA PROPOSTA A partir das orientações nacionais o Ensino Supletivo foi implantado no Estado de Goiás a partir do Ano de 1973. Para compreender como foi esse processo foram feitas análises a partir das resoluções do Conselho Estadual de Educação (CEE GO), documentos provenientes da pesquisa de Machado (2002) e entrevistas com profissionais do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) da Cidade de Aragarças, que foi criado com o nome de Centro Supletivo de Aragarças ao final da década de 1980. Com a promulgação da legislação nacional, levanta-se a hipótese que houve um intervalo de tempo de dois anos para a preparação nos estados de modo que em Goiás o primeiro documento que propõe as normativas para o Ensino Supletivo no Estado data de 1973, a resolução nº 993, de 20 de fevereiro do corrente ano, fixando as normas do supletivo a partir da lei nº5.692/71, publicada pelo Conselho Estadual de Educação. A resolução previa que o supletivo seria uma forma de dar prosseguimento aos estudos de 1º ou 2º grau, somente para os maiores de 18 e 21 anos respectivamente. Anterior a isso, segundo Machado (2002), o Departamento de Ensino Supletivo (Desu) foi criado pelo Decreto nº 281/71 da Secretaria da Educação e Cultura do Estado de Goiás para ser o órgão responsável por todas as atividades relativas à implantação do supletivo em Goiás em conformidade com a legislação nacional do mesmo ano de criação do departamento. Sendo assim, Machado (2002) declara que o recém-criado departamento passou a ser o responsável por todas as funções antes coordenadas pelo Serviço de Educação de Adultos, que desde a década de 1940 era o responsável pelos cursos noturnos, esse órgão encontrava-se anteriormente vinculado ao Departamento de Ensino Primário. O Ensino Supletivo era apregoado pelo Desu como uma forma de garantir aos que não tiveram condições de prosseguir ou iniciar seus estudos o direito a uma formação. De acordo com as proposições postas no Relatório do Primeiro ano de atividades do departamento (GOIÁS, 1973), era prioridade estabelecer vínculo com a formação para o mercado trabalho, alimentar as necessidades das indústrias. Essa perspectiva evidenciada visava formar em nível técnico, profissionais capacitados para ocupar colocações específicas no mercado de trabalho, geralmente sujeitos que já estivessem inseridos em um ambiente determinado, tendo em vista que a grande maioria buscava qualificar-se para encontrar uma colocação mais rentável. Neste sentido, a concepção de aluno presente na documentação era: O tipo especial de aluno é, sem dúvida, o cidadão com mais de 14 anos que por deficiência própria — física, mental ou econômica — ou por deficiência do sistema de ensino ou do ambiente cultural, não esteve na escola de 1º grau, ou não completou suas oito séries. (LIBÂNEO, 1976, p.38) De modo geral, os documentos do Desu apresentavam como principal objetivo do departamento “atender, de forma mais efetiva, a adolescentes e adultos com atraso ou deficiência de escolarização regular” (GOIÁS, 1973, p. 129) expandindo assim as ações do Departamento de Ensino Supletivo. Todas as ações realizadas pelo Desu previam subordinação com Desu/MEC que era o órgão federal responsável, estava previsto, portanto a instalação de Centros de Estudos Supletivos (CES), ou seja, centros especializados com equipe destinada somente ao atendimento dos jovens e adultos que buscavam a qualificação nesses centros. Seguindo as normativas do CEE GO, os exames aconteceriam sempre no mesmo dia e horário em todas as unidades designadas como locais de prova, estas seriam elaboradas por uma equipe do Desu de acordo com o programa definido pela própria secretaria. Ainda poderia ser cobrada uma taxa para a realização dos exames, que no ano de 1973 foi fixada no valor de Cr$ 15,00 cruzeiros por disciplina. O pagamento deveria ser realizado pelo candidato de modo que também deveria apresentar os seguintes documentos: carteira de identidade, quitação de serviço militar (somente para os homens), comprovante de participação nas eleições e duas fotos no tamanho 3X4. Sendo assim o candidato que naquele ano, por exemplo, resolvesse realizar o exame para todas as disciplinas do primeiro grau deveria pagar o equivalente a Cr$ 135,00, o que naquele ano representava o valor de quase a metade do salário mínimo70. Essas taxas eram fixadas pelo Conselho Estadual de Educação (CEE) sendo a primeira datada de 19 de janeiro de 1973. Apesar dos objetivos postos na documentação nota-se que as propostas do Desu apresentavam críticas. O Ensino Supletivo, segundo Rodrigues (2000), apresentava-se como uma formação aligeirada, a aprovação nos exames estava pautada no sucesso individual dos 70 No ano de 1970 o salário mínimo apresentou o valor entre Cr$ 268,00 e Cr$ 312,00, fonte: http://www5.jfpr.jus.br/ncont/salariomin.pdf (Acesso em 22/01/2013) alunos nem sempre em condições de fazer uma boa prova e conseguir a aprovação. Em síntese a prática pedagógica desenvolvida nos CES era da seguinte forma: A Prática Pedagógica dos professores dos CES estava assentada nos módulos instrucionais, com o atendimento individualizado pelo uso da auto-instrução, sendo a freqüência não obrigatória. Cabia ao professor facilitar a aprendizagem, orientando a clientela nas consultas marcadas. Ao término dos módulos o aluno era avaliado pela instituição internamente e com exames especiais elaborados pelos sistemas educacionais. Esta forma de conceber o ensino favoreceu o isolamento dos alunos, contribuindo para a acentuação de uma perspectiva individualista na formação. No projeto não havia como os educandos relacionarem-se coletivamente – como um espaço socializador de trocas, de aprendizagens com outras pessoas, além do professor e voltava-se apenas para “aprendizagem” de instruções programadas, com vistas a “dar conta” das provas, como forma de obter um certificado. É importante ressaltar que o próprio Conselheiro Valnir Chagas do CFE, no Parecer 699, recomendava que progressivamente os exames fossem sendo substituídos pelo atendimento através de cursos. (RODRIGUES, 2000 p.44) A fim de conhecer experiências de implantação do Supletivo em Goiás, buscou-se no decorrer da pesquisa identificar ações desenvolvidas no período da década de 1970 em escolas que oferecessem cursos e exames supletivos. O objetivo era compreender em que condições aconteceu essa implantação, as facilidades e desafios no processo. Nesta busca, estabeleceu-se contato com equipe do Centro de Educação de Jovens e Adultos – CEJA, localizado na Avenida Getúlio Vargas, n. º 826, Setor Centro Administrativo, na cidade de Aragarças – GO. O histórico da instituição foi levantado a partir dos documentos cedidos ou emprestados pela escola, somados as entrevistas realizadas com cinco profissionais da instituição: professor José Nogueira de Morais (ex-diretor e fundador do CEJA Aragarças) Professora H.71 (ex-diretora), professora Luzia Maria de Morais Nogueira Yrocha (exsecretária), professor Elmiro de Souza Luz (ex-coordenador) e professora Lourene Pereira Rêgo (atual diretora). As entrevistas foram realizadas no dia onze de outubro do ano de 2012, na cidade de Aragarças. Na ocasião foi possível conhecer as instalações da escola e conversar para além dos entrevistados com o coletivo de professores que compõe o corpo docente da instituição. CONSIDERAÇÕES FINAIS 71 Essa professora não enviou em tempo hábil a conclusão do trabalho o Termo de Cessão da entrevista concedida, de modo que decidimos ocultar sua identidade a fim de evitar eventuais constrangimentos justificados pela exposição da mesma. Durante as leituras, análises e o acesso a documentação até o momento possibilitam estabelecer algumas considerações acerca do Ensino Supletivo em Goiás. A documentação acessada mostra que do ponto de vista das ações oficiais, dentre as propostas desenvolvidas pelo Estado, o Ensino Supletivo uma política de atendimento mantida pela Secretaria de Estado período de tempo considerado longo, manifestando-se em diferentes formas: cursos, exames e a qualificação profissional. As entrevistas realizadas no CEJA de Aragarças apontam para o fato de muitos adultos ainda buscarem na EJA um exame ou um curso de curta duração que ofereça certificação. O público que buscava essa certificação era diversificado: [...] nós tínhamos pessoas de mais idade e nível socioeconômico mais elevado, isso com o tempo foi diminuindo, um dos grandes clientes do supletivo era a policia civil e policia militar, nos tivemos uma época, tanto nos exames, quanto no estudo que devido às mudanças, as foram transferidas, então elas vinham desse entorno todo fazer aqui. (JOSÉ NOGUEIRA, ENTREVISTA, 11/10/2012) O alunado do supletivo não foi o mesmo todo o tempo foi se diversificando no decorrer do tempo de atendimento. Embora a existência de cursos semi-presenciais apresentasse alta procura nota-se que o foco da população centrava-se na certificação via exame. A alta procura por estes evidencia a carência de propostas destinadas não só ao público adulto no período anterior como também a falta de acesso ao ensino primário, ou 1º grau, que a princípio tinha duração mínima de quatro anos passando, a partir das Reformas do Ensino de 1971, para oito anos. A dificuldade de acesso a educação escolar gerou um contingente de analfabetos que ao adentrarem na década de 1970 viram nos exames a solução para uma certificação em curto espaço de tempo. Apesar dos esforços em divulgar resultados positivos e embora a procura por exames fosse alta o Ensino Supletivo também apresenta suas críticas. O fato dos programas, regimentos e exames serem elaborados pela secretaria denota a falta de autonomia das escolas e professores que sequer tinham acesso ao conteúdo das provas. Na atualidade os exames de certificação do Estado são realizados somente na Superintendência Regional de Iporá, no entanto são muitos ainda que buscam na escola de Aragarças para fazer os antigos provões, “[...] então são pessoas que vem realmente com a finalidade de estar aprendendo. As pessoas até hoje tem muita confusão até com a denominação, supletivo ou EJA.” (LOURENE PEREIRA, ENTREVISTA, 11/10/2012). Devido aos limites postos ao tempo deste estudo é possível ainda apontar questionamentos futuros como: quais seriam os resquícios do Ensino Supletivo ainda presentes no contexto atual, bem como em que a EJA de hoje se assemelha as propostas da década de 1970? Quem eram os que eram aprovados e que relações poder envolveu a implantação das escolas. Cabe ressaltar que a experiência de Aragarças fica numa localidade afastada da capital do Estado, de modo que vale a pena identificar outras experiências a fim de estabelecer relações entres as semelhanças e diferenças encontradas no processo de implantação do supletivo. Esta pesquisa não se esgota com a conclusão do projeto, ainda é possível propor continuidade de mais ações como: a conclusão da classificação e catalogação das resoluções do Conselho Estadual de Educação de Goiás, entrevistar os sujeitos que não foram localizados e analisar o que estes têm a dizer da implantação do Ensino Supletivo, principalmente na Capital do Estado, que ao que parece, era referência para o restante do Estado. Ao fim de um ano e meio de pesquisa no Projeto Institucional de Iniciação Científica, destaco o quanto as leituras realizadas, as aprendizagens por meio da pesquisa, da análise de documentos, das entrevistas realizadas contribuíram para minha formação, possibilitando aprender sobre o campo da EJA e estabelecer contato com os sujeitos que atuam nesse campo. A experiência de pesquisa foi motivadora, de modo que tenho interesse em continuar estudando não só a temática histórica, mas também política e formativa dessa área da educação. REFERÊNCIAS BEISIEGEL, C. R. Estado e educação popular. São Paulo: Pioneira, 1974. BRASIL. Assembléia Nacional Constituinte. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa as Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º graus, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5692.htm>. Acesso em: 20/4/2012 23:40. ______. ______. Parecer nº 699, 6 de julho de 1972. Regulamenta o Ensino Supletivo. Conselho Federal de Educação. Brasília, 1972. BRETAS. G. F. História da instrução pública em Goiás. Goiânia, Cegraf/UFG, 1991. CASTIONI, R. Federalização ou aprofundamento do pacto federativo em educação: os dilemas da não regulamentação do artigo 23 da Constituição Federal. Anais XXIV Simpósio Brasileiro de Política e Administração da Educação e III Congresso Interamericano de Política e Administração da Educação – ANPAE. Vitória – ES, Agosto 2009. GOIÁS. Secretaria de Estado da Educação – SEE. 1973. Ensino Supletivo – Atividades do Departamento de Ensino Supletivo. Goiânia. Cortez, 2005. HADDAD, S. Estado e educação de adultos (1964-1985). Tese de doutorado, volume 1, apresentada à Universidade de São Paulo – SP, 1991. _____; DI PIERRO, M. C. Escolarização de jovens e adultos. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, Anped, n. 14, p. 108-130, mai.-ago, 2000a. LIBÂNEO, J.C. Aceleração escolar: Estudos sobre educação de Adolescentes e Adultos. Goiânia, 1976. LEMME, P. Educação Supletiva Educação de Adultos In: Memórias. v. 5 Estudos de educação e destaques da correspondência . Brasília: Inep, 2004, p. 41-88. LOURENÇO FILHO, M. B. O problema da educação de adultos. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, volume 81, n. 197, janeiro-abril 2000. p. 116-127. MACHADO, M. M. Política Educacional para Jovens e Adultos: A experiência do PROJETO AJA (93/96) na Secretaria Municipal da Educação de Goiânia. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Goiás /Faculdade de Educação. Goiânia, 1997. _____. A política de formação de professores que atuam na educação de jovens e adultos em Goiás na década de 1990. Tese de Doutorado . Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2002. PAIVA, V. História da educação popular no Brasil. 6ª. ed. São Paulo: Loyola. 2003. RODRIGUES, M. E. de C. A prática do professor na educação de adolescentes, jovens e adultos: a experiência do Projeto AJA de Goiânia-GO. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação, Universidade Federal de Goiás. Goiânia, GO, 2000. Comunicação Oral GT 3 - Estado e Política Educacional INFÂNCIA E EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES RACIAIS Neusani Oliveira Ives Profa. Dra. Wilma de Nazaré Baía Coelho (Orientadora) Universidade Federal do Pará – UFPA [email protected] RESUMO A educação infantil vem ganhando força legal no contexto da educação brasileira, como uma etapa da educação básica que precisa ser valorizada e ofertada às crianças de 0 a 05 anos de idade de forma séria e comprometida. Abordamos a necessidade da educação para as relações raciais já na primeira etapa da educação básica, na educação infantil. Objetivo do trabalho é indicá-la como espaço de criação de subjetividades positivas em relação ao outro e traçar um percurso histórico da educação infantil. O estudo constituiu-se de pesquisa bibliográfica, consulta de documentos legais e levantamento (estado da arte) realizado junto ao banco de teses e dissertações da CAPES, utilizamos como descritores: preconceito racial e infância; educação infantil e questão racial; educação infantil e a Lei nº 10.639/03; pré-escola e questão racial; creche e discriminação racial, como recorte temporal elegemos o período (2003 – 2013). Como resultado, indicamos que a produção científica em torno da temática relações raciais e infância ainda é tímida e com ênfase nos processos de discriminação no âmbito do processo de ensino e aprendizagem, relação de alunos negros e não negros no contexto escolar. Reconhecimento pela legislação brasileira, da educação em creches e pré-escolas para crianças com menos de seis anos idade, como direito instituído, inclusive para os negros, indígenas e pessoas com algum tipo de deficiência. Assim, a pesquisa neste campo temático é necessária e instigante, e a infância é espaço - tempo privilegiado para promover uma educação com vistas à redução do preconceito, racismo e discriminação. Como também indicamos a necessidade da escola estar preparada para o trato da questão racial, de modo a contemplar todas as etapas da educação básica, para que desde a mais tenra idade, já na educação infantil, as crianças aprendam a lidar de forma positiva com as diferenças a partir do conhecimento e valorização dos povos que constituem nossa sociedade. Palavras-Chave: infância; educação; relações raciais. INTRODUÇÃO A educação infantil vem ganhando força legal no contexto da educação brasileira, como uma etapa da educação básica que precisa ser valorizada e ofertada às crianças de 0 a 05 anos de idade de forma séria e comprometida. A Declaração Universal dos Direitos da Criança, promulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1959, reconhece a criança como sujeito e com dignidade de pessoa, instaurando uma concepção de infância como construção social. No Brasil como marco legal para criação de políticas de valorização da infância citamos: Constituição Federal (1988); Estatuto da Criança e do Adolescente (1990); a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996); Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (2010); o Plano Nacional de Educação (2011) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009). A partir da Constituição Federal de 1988, a educação infantil começa a ganhar textualmente um novo tratamento, caminhando em direção à superação do assistencialismo presente nos programas até então desenvolvidos em creches e pré-escolas, representando uma vitória para a educação infantil, pois reconhece o atendimento em creches e pré-escolas para crianças de 0 a 05 anos de idade como um direito e dever do Estado, além de dar às instituições que atendem crianças desta faixa etária um caráter educativo. No entanto, somente a partir da LDB de 1996 é que o sistema educacional começa a assumir esta responsabilidade. Mais recentemente esse tratamento é reforçado no art. 5º das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil72 institui que: A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgãos competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (BRASIL, 2009). A educação infantil brasileira é integrada ao sistema de ensino desde a década de noventa com a Lei nº 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, como primeira etapa da educação básica, subdivida em creche e pré-escola, a primeira para crianças de até 03 anos (não obrigatório) e a segunda, para crianças de 04 e 05 anos de idade (obrigatório)73. Há um descompasso entre o ‘Brasil legal e o Brasil real’, que por um lado a legislação reconhece direito a todas as crianças; de outro, um panorama de intensas desigualdades entre as idades e os diferentes segmentos raciais, forte desigualdade econômica e social, sugere (ROSEMBERG, 2012) Assim apesar da legislação brasileira assinalar para políticas de direito à educação na infância, essas na maioria das vezes não contemplam as necessidades dessa modalidade de 72 Resolução CNE/CEB 5/2009. Diário Oficial da União, Brasília, 18 de dezembro de 2009, seção 1, p. 18, fixando as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, em que determina obrigatoriedade de matrícula – frequência na pré-escola para crianças de 4 e 5 anos. 73 Com a criação do ensino fundamental de 9 anos em 2006, a idade prevista para término da préescola foi alterada, passando de seis anos para cinco anos. ensino, negligenciando aspectos relacionados à qualidade de ensino, condições de trabalho, e formação de professores. Para (OLIVEIRA e ABRAMOWICZ, 2010) as pesquisas sobre as questões raciais apresentam a escola de modo geral, como tendo base conservadora e excludente ao se pautarem num modelo de currículo denominado “embranquecido” diante da ausência de conteúdos que possam contribui para que os alunos negros se vejam contemplados, além do silêncio da equipe pedagógica a respeito das questões raciais. Tratar da temática relações raciais na infância se mostra promissor no campo da pesquisa acadêmica. De acordo com os dados disponíveis da PNAD (2009)74 a partir do campo cor - raça, identifica que nas regiões, Norte e Nordeste, a maioria das crianças e dos(as) professores(as) de educação infantil são “pretos” e “pardos”. Todavia, a maioria dos estudos que vêm sendo feitos no Brasil sobre as relações raciais na educação infantil são provenientes do Sul e do Sudeste, em que as crianças e professoras negras são minoritárias em determinadas redes de ensino (ROSEMBERG, 2012). Desse ponto podemos inferir a necessidade da produção do conhecimento acerca dessa questão, sobretudo nas regiões em que a população pobre e negra, tanto de maior idade, quanto na fase da infância, é maioria. O percurso metodológico realizado neste trabalho constituiu-se de pesquisa bibliográfica, consulta de documentos legais e levantamento (estado da arte) junto ao banco de teses e dissertações da CAPES75, tendo como descritores: preconceito racial e infância, educação infantil e questão racial, educação infantil e a lei nº 10.639/03, pré-escola e questão racial, creche e discriminação racial, tendo como recorte temporal o período 2003 – 2013. Sendo possível, portanto, apresentar os primeiros resultados da pesquisa em andamento. EDUCAÇÃO INFANTIL: HISTÓRIA E DIVERSIDADE EM PAUTA Os estudos sobre a infância têm como pioneiro Philipe Ariés (1960), o qual infere sobre a modernidade ocidental e a concepção de criança, tomando como referência o período do final da Idade Média e o século XIX, 74 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – PNAD/IBGE. 75 Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Progressivas modificações ocorriam nesse âmbito: a criança, à partida, é destacada apenas por seu caráter incompleto; por um não ser-adulto. Pouco a pouco, reconhecida em especificidades que são suas, passaria a ser observada, paparicada, mimada e, finalmente, amada. Essa longa trajetória, contudo, teria sido acompanhada por acentuadas mudanças na agremiação familiar e pelo decréscimo nas taxas de mortalidade infantil, que, por si mesmas, teriam acentuado o apego dos adultos por suas crianças. A tese de Ariés consolidava, assim, a suposição de que, desde o século XVI até o século XIX, teria sido firmada a subjetividade moderna com relação à infância (BOTO, 2002, p.12). Para a autora, contrário aos tempos medievais, o mundo moderno traz a preocupação dos adultos com as crianças, resultando em concepções analíticas, teorias sobre o desenvolvimento infantil e os colégios.76 Com o advento da construção de sociedade moderna constitui-se o pensamento da escolarização da criança, denominada educação infantil, fortemente influenciada pela ordem econômica, no contexto da consolidação da sociedade capitalista, da urbanização e organização do trabalho industrial. Mundialmente as pré-escolas serão difundidas a partir da segunda metade do século XIX, tendo em sua composição: a infância, a maternidade e o trabalho feminino. Elas farão parte de um conjunto de medidas que conforma uma nova concepção assistencial, assistência científica, abarcando aspectos como a alimentação e habitação dos trabalhadores e pobres, conotação de modernidade em vistas à exaltação do progresso e da indústria. (KUHLMANN Jr, 2011). A proteção da infância é o motor que, a partir do final do século XIX, impulsiona em todo o mundo ocidental a criação de uma série de associações e instituições para cuidar da criança sob diferentes aspectos: da sua saúde e sobrevivência [...] com as propostas de legislação e de associações de assistência; da sua educação e instrução– com o reconhecimento de que estas podem ocorrer desde o nascimento, tanto no ambiente privado, como no espaço público (KUHLMANN Jr, 2002, p. 464). O autor sugere que no final do século XIX e início do século XX, a infância e sua educação integram os discursos sobre a edificação da sociedade moderna. Dessa forma que os cuidados com a infância tornam-se aspecto a ser considerado no modelo de nação moderna, com suas políticas sociais e instituições, ganhando espaço privilegiado. 76 No que se refere à busca de compreensão da criança no contexto da modernidade faz-se referência as ideias pedagógicas jesuíticas e dos clássicos Comenius e Rousseau. No final do século XX as crianças nas sociedades urbanas, apesar de pequenas, se mostravam ativas e menos dóceis, necessitando assim de espaços de sociabilidade, instituições coletivas que complementassem o esforço parental no cuidado/educação da criança pequena. Assim as instituições de educação infantil passam a ser consideradas necessárias no processo de interação social entre criança e adulto, não se desvencilharam de seu caráter histórico, de atividade vinculada à ‘produção humana’, considerada de gênero feminino, tendo sido principalmente exercido por mulheres (ROSEMBERG, 2012). No Brasil as primeiras propostas de instituições pré-escolares são datadas de 189977. Todavia sua ampliação aconteceu a partir da década de 1970 pautada num modelo informal, alicerçado em um público de professoras leigas, baixos salários, sobretudo na região nordeste, em que os principais participantes foram e são crianças negras e pobres (ROSEMBERG, 2012). No que se relaciona à temática relações raciais na infância (ROSEMBERG, 2012) sugere que há um silêncio por parte dos movimentos sociais sobre a educação infantil no contexto das relações raciais, evidenciando um desconhecimento dos pesquisadores acerca dessa questão. Faz crítica à conotação que a legislação educacional tem dado a educação infantil, deixando-a sem destaque. Ao discutir a identificação de cor/raça e identidade racial na educação infantil observa até a Conferência de Durban, silenciaram sobre a educação infantil (ROSEMBERG, 2012, p.33). No Documento Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais, lembra Santana78: É com o outro, pelos gestos, pelas palavras, pelos toques e olhares, que a criança construirá sua identidade e será capaz de representar o mundo atribuindo significados a tudo que a cerca. Seus conceitos e valores sobre a vida, o belo, o bom, o mal, o feio, entre outras coisas, começam a se constituir nesse período (BRASIL, 2006, p. 31). A partir dessa leitura confirmamos a necessidade de estudar história e cultura afrobrasileira, assim como a de outros povos, em todas as etapas da educação básica. Chamando a 77 No Brasil as propostas e iniciativas para a infância iniciara desde à década de 1870, ampliando no regime republicando com o aparecimento de várias associações e instituições, com destaque, (IPAI –RJ), (KUHLMANN JR, 2002). 78 SANTANA, Patrícia Maria de Sousa. Educação Infantil In: BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Orientações e Ações para Educação das Relações Étnico-Raciais. Brasília: SECAD, 2006. (Discussões do GT da Educação Infantil - Coordenado por esta autora). atenção para inclusão da educação infantil neste processo, pelo fato de que crianças nessa faixa etária de 03 a 05 anos de idade, já demonstrarem preconceito, dentre eles o racial. As crianças aos 04 anos de idade já passaram por processo de subjetivação que as levaram a concepções já arraigadas no nosso imaginário e na realidade social sobre o branco e o negro e, consequentemente, sobre as positividades e negatividades atribuídas a um ou outro grupo social [...] e em qualquer dimensão o negro tem sido representado de maneira inferior, menor e subalternizado (ABRAMOWICZ; OLIVEIRA, 2012, p. 56). As pesquisas dão visibilidade à dimensão racial, contudo numa perspectiva da denúncia e da indicação, há pouca aproximação entre os campos de estudos sociais sobre a infância e das relações raciais, resultando em carências neste campo do conhecimento que devem ser superadas (ROSEMBERG, 2012). RESULTADOS ALCANÇADOS: PRODUÇÕES ACERCA DAS RELAÇÕES RACIAIS E INFÂNCIA Para a realização deste estado do conhecimento selecionamos o portal da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, como sítio de busca. Utilizamos como descritores: preconceito racial e infância; educação infantil e questão racial; educação infantil e a Lei nº 10.639/03; pré-escola e questão racial; creche e discriminação racial. Esses dois últimos não mostraram nenhum resultado, contudo a partir dos demais, pudemos encontrar produções acerca da temática relações raciais e infância, como descritas a seguir. Oliveira (2011) realizou pesquisa participante em uma escola pública municipal de Fortaleza – CE. Tratou-se de uma proposta de realização de oficinas com alunos e professores de turmas de infantil ao 5º ano, sobre a Lei Federal nº 10.639/03 como mecanismos de valorização da cultura negra nessa escola. A dissertação apontou que os alunos reagiram de forma positiva à introdução de conteúdos sobre as populações africanas e afrodescendentes em seus saberes escolares. A dissertação de Silva (2010) que buscou perceber os caminhos que estavam sendo trilhados para a implementação da Lei federal nº 10.639/03 nas escolas da rede municipal de ensino de São João de Meriti, nas escolas de Educação Infantil e no primeiro segmento do Ensino Fundamental. Objetiva identificar como era abordada a questão racial no cotidiano escolar. Como resultado indicou que a rede de ensino do município pesquisado não implementou efetivamente a Lei nº10.639/03. Nestas duas pesquisas o objeto investigado fica em torno tanto da educação infantil como também no primeiro segmento do ensino fundamental, percebemos uma mistura, a qual nos faz questionar o que está sendo considerada educação infantil e como é interpretada. Rosemberg (2012) chama a atenção para o cuidado que se deve ter ao se discutir educação infantil, de forma que estejam inclusas tanto a creche como a pré-escola, ou seja, as crianças de 0 a 03 e as de 04 e 05 anos de idade. O trabalho de Pereira (2006) investigou a ética como conteúdo curricular e práxis de ensino na educação infantil. A realização do trabalho aconteceu num centro de educação infantil (CEI), em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Algumas inquietações motivaram a pesquisa: Por que se ensina ética no CEI?; O que é ensinar ética para o grupo de educadoras?; Como está estruturado o ensino de ética no CEI?; Como acontece na prática o ensino de ética?; Quais são as dificuldades enfrentadas?; Como as educadoras resolvem essas dificuldades? O trabalho de Oliveira (2004) é um estudo de caso descritivo de natureza qualitativa relacionada à creche, envolvendo a análise das práticas educativas e o tratamento da questão racial na faixa etária entre 0 e 03 anos de idade. A pesquisa de Teles (2010) buscou compreender como as crianças negras estavam construindo sua identidade e consciência racial e como a prática pedagógica influenciava e/ou se contribuía de modo positivo ou negativo para esse processo, articulando representações sociais e relações raciais numa perspectiva da prática pedagógica desenvolvida na educação infantil. O trabalho apontou que, desde bem pequenas, as crianças negras vão construindo sua identidade racial baseada em conceitos negativos sobre os negros, difundidos na escola e na sociedade como um todo. De forma que as informações negativas a respeito da população negra são difundidas nas relações sociais, nas conversas cotidianas, nos olhares e também na falta de representatividade positiva dessa população no ambiente escolar, de tal modo que desde muito cedo as crianças compreendem e internalizam o ideal de branqueamento. A pesquisa de Venâncio (2009) se vincula aos estudos brasileiros que analisam de forma crítica a criação e difusão de formas de hierarquização social (de idade, gênero, raça e relativos à deficiência) por meio de discursos e imagens veiculadas pela literatura infantojuvenil. No plano teórico, a pesquisa é orientada por essa perspectiva crítica e por contribuições do interacionismo simbólico, em especial pelos conceitos de identidade social e de estigma. A análise proposta operou com a hipótese de que o discurso midiático e o difundido pelos livros infanto-juvenis e didáticos têm ficado em geral, alheios a apresentação da diversidade. Venâncio problematizou as personagens apresentadas nas obras que compõem o acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola - PNBE 2008. Sua pesquisa constatou ligeira atenuação na frequência de personagens dominantes e subordinados, reiterando resultado de pesquisas anteriores, verificou - se ainda, de forma aberta ou velada, relações de subordinação nas tramas desenvolvidas, o predomínio de personagens humanos, do sexo masculino, brancos, sem deficiência, com alteração somente no que se refere à idade. Lopes (2008) estudou as relações étnico-raciais entre/para com crianças das séries iniciais de uma escola de ensino básico no município de Aracruz/ES. Problematizou sobre o mito da democracia racial, que persiste na sociedade brasileira. Indica que, na escola, as crianças sentem as marcas deste “mascaramento” quando são submetidas às mazelas do racismo, dentro de uma instituição que lhes é de direito. Afirma que a escuta das narrativas dos pequenos atores produz e lapida formas representativas deste cenário. O silêncio dos sujeitos discriminados se faz perceber ou camuflar, mas sutilmente demonstram o sofrimento da exclusão. As crianças e as discriminações étnico-raciais como incidentes na violência escolar, violência tornada invisível por conta da não-escuta dos adultos. Alexandre (2006) investigou como ocorrem as interações entre alunos negros e não negros na escola. Realizou um estudo sobre os processos implícitos nas interações escolares. Constatou que as interações entre os alunos negros e não negros nos diferentes espaços pedagógicos são permeadas por comportamentos e atitudes discriminatórias banalizadas no cotidiano escolar, concluindo que as constantes situações discriminatórias a que são expostos os alunos negros no ambiente escolar resultam tanto em relações tensas e conflituosas como também comprometem a formação de uma identidade positiva. Como percussores da discussão relações raciais na infância, indicamos pesquisadores como Godoy (1996), Dias (1997) e Cavalleiro (1998) na década de 90. Para Cavalleiro (1998) são questões silenciadas tanto na escola como no seio familiar, resultado do processo histórico da crença da falsa democracia racial existente no país. Percebemos que a produção do conhecimento em torno da temática relações raciais e infância ainda é pouca, e a ênfase é dada aos processos de discriminação no âmbito do processo de ensino e aprendizagem, relação de alunos negros e não negros no contexto escolar. CONCLUSÃO Reconhecimento pela legislação brasileira, da educação em creches e pré-escolas para crianças com menos de seis anos idade, como direito instituído, inclusive para os negros, indígenas e pessoas com algum tipo de deficiência. Entendimento de que a educação infantil é uma etapa da educação em que deve ser vista como oportunidade de criação de subjetividades positivas em relação ao outro, tido como diferente, considerando que os primeiros anos de vida da criança é espaço - tempo privilegiado para promover uma educação com vistas à redução de preconceito, racismo e discriminação, haja vista que crianças de faixa etária de 03 a 05 anos já demonstrarem preconceito, dentre eles o racial. Diante das discussões aqui privilegiadas entendemos que infância e relação raciais são categorias instigantes, que carecem maior visibilidade no espaço acadêmico como campo do conhecimento científico. Como também indicamos a necessidade da escola estar preparada para o trato da questão racial, de modo a contemplar todas as etapas da educação, para que desde a mais tenra idade, já na educação infantil, as crianças aprendam a lidar de forma positiva com as diferenças a partir do conhecimento e valorização dos povos que constituem nossa sociedade. REFERÊNCIAS ABRAMOWICZ, Anete; OLIVEIRA, Fabiana de. As relações raciais e a sociologia da infância no Brasil: alguns aportes. In: BENTO. Maria Aparecida Silva (Org.). Educação Infantil, igualdade racial e diversidade: aspectos políticos, jurídicos, conceituais. São Paulo: Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT, 2012. ABRAMOWICZ; Anete; OLIVEIRA, Fabiana de; RODRIGUES, Tatiane Cosentino. A criança negra, uma criança e negra. [S.l.: 20--] Disponível em:<http://www2.cndp.fr/revueVEI/158/varia_en_ligne_A_CRIANCA_NEGRA.pdf>.Acessoem: 14/09/2012. AFONSO, L. Gênero e processo de socialização em creches comunitárias. 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Para o desenvolvimento do trabalho foi realizado pesquisa bibliográfica e documental. Como referencial teórico utilizou-se Dourado (2001, 2002), Sguissardi (2005, 2008), Revista Afirmativa da UFG (2008, 2009 e 2010), dentre outros. Os documentos analisados foram Projetos Pedagógicos dos Cursos do CAJ, resoluções e convênios. Através da análise destes materiais foi possível estabelecer relações com as políticas de expansão e interiorização da UFG. Dois projetos contribuíram para a expansão e interiorização da UFG, o Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária (Crutac) em 1969 e o Projeto Rondon em 1975. Através dos trabalhos e ações desenvolvidos nesses projetos pela UFG, viu-se a necessidade de expansão da universidade, cuja sede se encontrava na cidade de Goiânia. Após vários convênios efetivou-se a criação de novos campi da UFG, sendo o CAJ um deles. Contribuíram para a criação do CAJ, o programa de extensão da UFG, o apoio das lideranças políticas de Jataí (principalmente do prefeito) e líderes e representantes de entidades da comunidade; para sua consolidação, a criação da Fundação Educacional de Jataí (FEJ), o apoio do governo do estado e o empenho conjunto de lideres políticos e comunidade; e para sua expansão os programas do governo Lula, o de Expansão (2003) e o Reuni (2007). Hoje, em 2013, o CAJ oferece 24 cursos de graduação, cinco cursos de especialização e cinco cursos de mestrado sendo que um deles foi aprovado pela CAPES para iniciar suas atividades em 2013. A relevância da pesquisa é que ela apresenta um resgate de parte da história do CAJ, que presta serviços à comunidade jataiense há trinta e três anos, e pouco se tem registrado. Palavras-chave: interiorização da UFG; expansão da UFG; campus Jataí. INTRODUÇÃO Este trabalho teve como objetivo compreender como se deu o processo de criação, expansão e consolidação do Câmpus Jataí (CAJ) da Universidade Federal de Goiás (UFG), através da política de extensão e interiorização da universidade. Para o desenvolvimento do trabalho foi realizada pesquisa bibliográfica e documental. Na pesquisa bibliográfica foram consultados artigos, periódicos, teses e dissertações, e na pesquisa bibliográfica, resoluções, documentos, leis e termos de convênios foram analisados, com o objetivo de resgatar parte da história do CAJ e apreender a lógica da interiorização da UFG. Jataí é um município que se encontra localizado no sudoeste do Estado de Goiás, a 327 Km da capital Goiânia, na microrregião Sudeste de Goiás, que conta com aproximadamente 88 mil habitantes. Hoje sua principal atividade é a agropecuária, sendo considerada a capital do grão, o maior produtor de milho e sorgo no Brasil de 2003 a 2009. Apresenta também área de plantio de cana-de-açúcar que está em franco desenvolvimento graças à instalação de usinas de álcool, açúcar e biodiesel. No campo educacional superior, Jataí conta no âmbito federal com o Instituto Federal de Goiás – Campus Jataí (IFG) com três cursos superiores e a Universidade Federal de Goiás/Campus Jataí (UFG/CAJ) com 24 cursos; no domínio estadual, tem a Universidade Estadual de Goiás – Unidade de Jataí (UEG/UnU Jataí) com dois cursos; na esfera privada, tem duas faculdades particulares, o Centro de Ensino Superior (CESUT) com dois cursos e a Faculdade Jataiense (FAJA) com um curso; todas essas instituições com cursos de graduação presencial. Além dessas IES o município conta com três faculdades que oferecem educação a distância: a Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), a Universidade Paulista (UNIP) e o Instituto de Ensino Superior COC. A opção por estudar o CAJ\UFG se deve em função de ser a primeira instituição de ensino superior criada na cidade em 1980, oferecer o maior número de cursos e de vagas, além de disponibilizar para a comunidade cursos de graduação e de pós-graduação (Lato Sensu e Stricto Sensu). BREVE HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS O histórico aqui apresentado se fundamentou nos artigos da revista Afirmativa da UFG (2008 e 2009) elaborados a partir de relatos de pessoas que fizeram parte da história da construção da universidade e de Mendonça (2005). Até o final da década de 1950, o estado de Goiás contava para a educação superior com a Universidade Católica de Goiás (UCG), de caráter privado, e algumas poucas faculdades particulares. Logo, o acesso à educação superior era restrito as famílias que tinham condições financeiras para manter seus filhos estudando numa IES particular ou fora do Estado, pois não havia na região nenhuma instituição desse nível de ensino, pública. Nos últimos anos de 1950, movimentos liderados por professores, alunos e pela sociedade civil reivindicavam a criação de uma universidade pública em Goiás e entravam em confronto mediante as resistências de seus opositores. Professores e alunos não mediram esforços, trabalhando arduamente, buscando apoio logístico, técnico e financeiro, para que a universidade (UFG) fosse criada. O professor Colemar Natal e Silva, diretor da Faculdade de Direito de Goiás na época, assumiu o movimento estudantil que lutou pela construção de uma universidade que atendesse de forma qualitativa a todas as classes sociais. Ele juntamente com outros professores, alunos, sociedade goiana e também com o apoio do presidente Juscelino Kubitscheck, cujo mandato estava chegando ao fim (e esperava ser reeleito, principalmente após este ato), conseguiram alcançar o ideal, sendo criada a Universidade Federal de Goiás, em 14 de dezembro de 1960, pelo decreto de Lei nº 3.834-C, a partir da união de cinco escolas superiores - a Faculdade de Direito, a Faculdade de Farmácia e Odontologia, a Escola de Engenharia, o Conservatório de Música e a Faculdade de Medicina (UFG, 2008). O primeiro reitor da UFG foi o professor Colemar (1960-1964). No período marcado pela ditadura militar, o ensino superior passou por transformações e muito controle. No caso específico da UFG, o reitor Colemar foi afastado do cargo sob a acusação de ideais comunistas, em função das publicações do jornal da universidade chamado o 4º Poder. Em 1970 foi criado o Planetário no Parque Mutirama e em 1971 surgiram as primeiras instalações do Campus Samambaia (Campus II). Influenciada e apoiada em projetos propostos pelo Ministério da Educação (MEC), a UFG elaborou seu programa de expansão. O MEC implantou dois projetos, para que as universidades se expandissem: os Centros Rurais Universitários de Treinamento e Ação Comunitária (Crutacs) criados a partir do Decreto-Lei nº 916, de 7 de outubro de 1969 e o Projeto Rondon implantado por meio da Lei nº 6.310, de 15 de dezembro de 1975 (UFG 2008). Os Crutacs e o Projeto Rondon tinham como objetivo dar suporte em caráter de estágios supervisionados nas regiões menos desenvolvidas localizadas no interior do país, incentivando alunos e funcionários públicos a participarem dos programas de extensões que eram realizados em cidades do interior. A intenção era que o trabalho levado para estas cidades, funcionasse como uma assistência, tanto médica quanto social as pessoas mais carentes. Como a necessidade de mão de obra qualificada era grande, os projetos (Rodon e Crutacs) foram se intensificando em todo o país. Nesse clima de fazer crescer a educação e o número de pessoas qualificadas para alguns serviços, a UFG criou cursos strito sensu (mestrado) e lato sensu (especialização) sob a coordenação do Conselho de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura (CEPEC). Os cursos implantados foram: Mestrado em Ciências Humanas e em Letras (Resolução CCEP nº 077/1974) com 30 (trinta) vagas; graduação em Enfermagem e Nutrição (Resolução CCEP nº 090/1975), com 40 (quarenta) vagas para o curso de Enfermagem e 15 (quinze) para o curso de Nutrição; e Especialização em Educação (Resolução CCEP nº 106/1976)79. Ainda com o objetivo de expandir o campo de atuação da UFG, além de novos cursos de graduação e pós-graduação foram criados campi avançados em outras regiões, inclusive fora do estado de Goiás. A pesquisa de Baldino (1991), citada por Mendonça (2005), diz que foram criados os Campus Avançados de Picos no Piauí, Firminópolis, em Goiás, e atividades de extensão-estágio (ainda não campus avançados) em Porto Nacional (base essencialmente de estágio para alunos de medicina), Jataí e Catalão, todos estes últimos em território goiano (BALDINO, 1991 apud MENDONÇA, 2005, s/p). Vale ressaltar que a Universidade de Picos, no Estado do Piauí, foi instituída em 1972, e mediante a permissão do MEC, em 1985, passou a chamar-se Universidade Federal do Piauí. A UFG coloca em funcionamento em Porto Nacional um Câmpus Avançado, mas este não oferece curso de graduação, servindo de base apenas para estágios, administração e programas de ação comunitária. Dos campi instalados em Goiás ainda permanece em atividades os Câmpus de Jataí (1980), Catalão (1983) e o de Goiás (1990). Como o objetivo deste artigo é compreender como se deu o processo de criação e consolidação do CAJ, vamos nos restringir a este breve histórico da UFG. A CRIAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DO CÂMPUS JATAÍ Para a criação e implantação de câmpus avançados, a UFG realizou um estudo diagnóstico do estado de Goiás, das suas microrregiões, para ver quais os municípios eram melhores para a instalação de campi. Vamos no ater aos dados relativos ao levantamento da microrregião do Sudoeste Goiano, na qual se localiza a cidade de Jataí. De acordo com diagnóstico feito para pró-reitoria de extensão da UFG, em 1979, sobre a microrregião do Sudoeste Goiano, a região contava com 266 instituições de ensino, sendo 258 do ensino de 1º grau (atualmente ensino fundamental) e oito do ensino de 2º (hoje qualificado de ensino médio), perfazendo um total de “636 salas, 421 na zona urbana e 215 na zona rural” (UFG, 1979, p.16). Em relação à educação superior, na época da diagnose da microrregião, apenas a cidade de Rio Verde, de acordo com Dourado (2001) possuía ensino superior, ofertada pela 79 A resolução não menciona o número de vagas disponíveis. Fundação de Ensino Universitário (FESURV), a qual disponibilizava quatro cursos: Letras Modernas–Inglês Licenciatura Plena; e os cursos de curta duração em Pedagogia, Ciências e Estudos Sociais. Como Rio Verde já tinha ensino superior, a opção da UFG passou a ser a segunda cidade com maiores chances de crescimento, que no caso era Jataí. Paralelo a esse estudo da UFG, entidades de classe e os grupos de serviços da cidade de Jataí, juntamente com as autoridades constituídas da época, no final da década de 1970, desejavam e pensavam em trazer cursos de nível superior para o município. A possibilidade de concretizar esse anseio surge quando empresários ouviram do reitor da UFG professor José Cruciano80 em conversa informal, sobre o interesse que a UFG em ampliar suas ações para além da capital do Estado, criando no interior, cursos de ensino superior que ajudasse a comunidade em seu crescimento tanto físico quanto intelectual. Após essa conversa visionária, empresários e líderes da comunidade realizaram reuniões para discutir sobre a possibilidade de criação de cursos superiores na cidade e em seguida encaminharam oficio ao Reitor da UFG, apresentando o município de Jataí interessado em participar do projeto de extensão da UFG (CAJ, HISTÓRIA DOS 30 ANOS DA UFG, 2010, Entrevista Adelino). Um grupo de pessoas da cidade foi ao gabinete do reitor em Goiânia para reafirmar o interesse do município de Jataí em ser sede de um câmpus da UFG e aproveitaram para indagar o que deveria ser feito para que a cidade pudesse se encaixar no perfil da extensão. O reitor, convicto do interesse da comunidade e frente à disponibilidade de colaboração apresentada pelo grupo, prontamente os encaminhou a Pró-Reitoria de Extensão, para que eles conversassem com a professora responsável, Maria do Rosário Cassimiro81, que atenciosamente os atendeu, explicando o que seria necessário. A conversa com a pró-reitora deixou o grupo esperançoso e ao retornar a cidade foram ao gabinete do então prefeito Mauro Antônio Bento82 para repassar as informações obtidas. O prefeito, com seu ideal inovador, prontamente aceitou o desafio. Começaram a acontecer reuniões para tratar de assuntos pertinentes a vinda do campus, contando com a presença do prefeito Mauro Bento. Paralelamente, a Pró-Reitoria de 80 Professor José Cruciano foi Reitor da Universidade Federal de Goiás de 1978 a 1981, e tinha ligação com Jataí por causa de laços familiares. 81 A Professora Maria o Rosário Cassimiro é Ex-Reitora da UFG, regendo de 1982 a 1985; ExPró-Reitora de Extensão da UFG, de 1978 a 1981, e primeira mulher a exercer a reitoria de uma Universidade no País. 82 Mauro Antônio Bento foi prefeito na cidade de Jataí de 1977 a 1983 e de 1989 a 1992, faleceu em dezembro de 2004. Extensão da UFG designou uma comissão83 sob a presidência do professor Heldo Vítor Mulatinho para fazer diagnose da cidade, que teve colaboração do Rotary Club de Jataí. De acordo com o diagnóstico do município de Jataí realizado pelo professor Mulatinho (1979), a necessidade de cursos baseava-se em três áreas: Agricultura e Pecuária, Saúde e Educação. Na área de Agricultura e Pecuária a sugestão era cursos de duração plena em Medicina Veterinária e Agronomia e de curta duração em Administração Rural; na área de Saúde seria curso de curta duração em Nutrição e Saneamento Ambiental; e na área de Educação seria curso de licenciatura plena para formação de professores de disciplinas de núcleo comum de 1º e 2º graus (UFG, 1979). Após os levantamentos feitos na cidade de Jataí e com os resultados encontrados, foi possível a Pró-Reitoria de Extensão, autorizar a criação do câmpus na cidade de Jataí, a qual se deu através de convênio provisório a ser renovado posteriormente. A Resolução nº. 145, de 10 de março de 1980, do CCEP, autorizou a criação do Campus Avançado de Jataí (hoje denominado Campus Jataí). Em 13 de março de 1980, foi autorizado pelo projeto de lei municipal nº 1.000, o prefeito de Jataí Mauro Antônio Bento celebrar convênio com a UFG para a instalação do câmpus nos padrões da interiorização da universidade. Nos artigos constava que a prefeitura deveria contrair um espaço para a construção do prédio e mobiliar suas instalações. O curso implantado no CAJ foi licenciatura em Ciências com habilitação em Matemática, Química e Física. A justificativa para a implantação desse curso se deu em função da carência de profissionais capacitados na área de educação e correspondia a um dos campos apontados pela diagnose feita pela comissão do professor Mulatinho. Ter um câmpus da UFG e o ensino superior ser público era motivo de grande alegria para Jataí, pois atenderia não somente a comunidade local, mas também as regiões vizinhas. Agora era possível para os estudantes que concluíam o 2º grau ter acesso à educação superior pública e de qualidade. Com a primeira etapa encaminhada, surgem novas dificuldades, relatadas por Pires84, 83 A Comissão era constituída pelos professores Heldo Vítor Mulatinho, Vera Maria Magalhães e Marcolina Martins Garcia e pelos alunos Clovis Garcia Souza Filho estudante de Jornalismo, Carlos - na época funcionário da Pró-Reitoria e aluno de Ciências Sociais, Dilamar Cândida Martins, Leila Miguel e Cecília Bossois Mulatinho também estudantes de Ciências Sociais. 84 Luciene Lima de Assis Pires é socióloga, mestre em Educação Escolar Brasileira, doutora em Educação pela UFG, atuou como professora do Campus Jataí e hoje atua como professora no Instituto Federal de Goiás – Campus Jataí. Para que o CAJ fosse instalado, a universidade não dispunha de recursos para serem lá investidos. Surgida a primeira dificuldade, a estrutura física, a Prefeitura negociou com o Instituto Samuel Graham a cessão da área e construiu a primeira etapa do prédio, inaugurado em 1980. A segunda dificuldade, equipar o prédio, a biblioteca, os laboratórios, para que os cursos se iniciassem, é novamente solucionada pelo município, que, subsidiado também por recursos oriundos do governo estadual, ‘equipa’ o CAJ (UFG, 2009, p. 16). O município de Jataí interessado em que a extensão desse certo, não mediu esforços para a construção de um prédio em que pudesse funcionar o CAJ e também procurou equipar o mesmo objetivando atender as especificações exigidas para o funcionamento das atividades e cursos. O prédio foi construído em um espaço anteriormente pertencente ao Instituto Samuel Graham (ISG)85, negociado pela prefeitura e doado para a universidade, e em parte adquirido pela UFG em anos posteriores. A inauguração do prédio da UFG ocorreu em 10 de dezembro de 1980. Em 1981 ocorreu o primeiro vestibular para o curso de graduação em Ciências, sendo disponibilizados 40 vagas para Matemática, 30 para Química e 20 para Física. Os cursos foram criados para atender uma demanda local e do momento, não eram permanentes, por isso foi realizado apenas dois vestibulares. O curso de Ciências foi “reconhecido pelo MEC, mediante a portaria nº 938 de 26 de novembro de 1985” (DOURADO, 2001, p. 161). Com as dificuldades de deslocamento dos professores, com o número reduzido de concluintes do curso de Ciências em Jataí e sem o apoio orçamentário do Ministério de Interiorização, a UFG estava repensando a continuação da oferta de cursos superiores para o CAJ. É importante ressaltar que a comunidade jataiense insatisfeita com a possibilidade de cancelamento de novos cursos e turmas no câmpus, não mediu esforços em proporcionar condições para a permanência do câmpus na cidade. A princípio foram realizadas várias reuniões entre a prefeitura, a comunidade e empresários da cidade sobre como seria impedido esse fechamento, até que em 1984 a saída encontrada foi a criação da Fundação Educacional de Jataí (FEJ). A FEJ foi criada sob a Lei Municipal nº 1077, de 13 de março de 1984 e tinha como objetivo dirigir em colaboração de entidades públicas e privadas da cidade, o desenvolvimento do ensino superior no município. Com a criação da FEJ, foi possível implantar no CAJ, novos cursos. Em 10 de outubro de 1984, foi firmado o primeiro convênio nº 28/84, entre UFG/Prefeitura Municipal de Jataí/FEJ para a implantação do curso de Pedagogia, que teve início em 1985, com 45 vagas. 85 Hoje denominado como Instituto Presbiteriano Samuel Graham (IPSG). No primeiro ano de funcionamento desse curso, os professores concursados pela UFG para atuarem no curso de Pedagogia foram contratados pela prefeitura, e no ano de 1986, passaram a compor o quadro de professores contratados da FEJ. O CAJ foi ampliando o número de cursos a partir de pedidos feitos pela comunidade jataiense e possibilidades de oferta da UFG. Foram criados os cursos: de Letras Português (1989), Geografia (1994), Educação Física (1994), Ciências Biológicas (1996) e Matemática (1996), todos mantidos por meio de convênios firmados entre UFG/PMJ/FEJ, no qual a UFG entrava com apoio pedagógico e a FEJ (com o total apoio financeiro da PMJ) era responsável pelo pagamento de professores, aquisição de livros, liberação e/ou pagamento de pessoal administrativo, de limpeza e segurança. A cada novo curso criado, ampliava-se as despesas da FEJ, que não tinha receita própria, dependia inteiramente do repasse de verbas de prefeitura, que estava tendo problemas para cumprir com todas as cláusulas dos convênios. Na verdade a obrigação da prefeitura é com ensino fundamental e não com o ensino superior. Para a manutenção do CAJ, foi necessário que a FEJ solicitasse uma parceria com o governo do estado de Goiás, para ampliar sua dotação orçamentária. Então foram firmados convênios de colaboração mútua entre a UFG/Estado/PMJ/FEJ, onde o Estado liberava auxílio financeiro para subvencionar a Fundação, tanto para criação de novos cursos quanto manutenção dos existentes, assegurando a consolidação do CAJ. No final de 2006, para a implantação dos novos cursos e manutenção dos antigos, o Estado de Goiás passou a destinar uma dotação orçamentária para FEJ, para contribuir com sua folha de pagamento. Ao todo foram assinados 18 convênios entre a UFG/PMJ/FEJ e 14 convênios entre UFG/Estado/PMJ/FEJ para a criação e consolidação do CAJ até 30 de dezembro de 2011, quando foi firmado o último contrato. Analisando as políticas públicas educacionais dos dois últimos governantes do Brasil, ex-presidente Fernando Henrique Cardoso86 e Luiz Inácio Lula da Silva87, observa-se que essas influenciaram no processo de expansão do CAJ/UFG. 86 Durante o trabalho será utilizado à abreviatura FHC ao nos referirmos ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. 87 Ao nos referirmos no trabalho ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o faremos usando Lula. Ele assumiu a presidência do Brasil durante o período de 2002 a 2010, também durante dois mandatos consecutivos. A política educacional do governo FHC se pautou nos cortes de verbas para as universidades públicas e apoiou o processo de privatização, sua prioridade era assegurar o ensino básico de qualidade, o que acarretou uma queda no crescimento das IES públicas. Analisando o caso específico do CAJ, durante o mandato de FHC (1995-2002), apesar dos cortes do governo, ocorreu a criação de seis novos cursos, não dependendo de verbas do governo e dos convênios firmados entre Fundação Educacional e a Prefeitura de Jataí. O governo Lula estruturou programas que permitiram que mais pessoas tivessem uma formação superior, criou, consolidou e estruturou universidades. Dois programas merecem ser destacados: o Programa de Expansão das Universidades Federais, instituído em 2003 e o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) criado através do Decreto nº 6.096, de 24/04/2007. Para o CAJ, a adesão a esses programas (Expansão e Reuni) significou a possibilidade de melhoria da infra-estrutura dos cursos existentes que serviram de base para a criação de sete novos cursos nos anos de 2006 e 2007, além da possibilidade de contratação de pessoal técnico-administrativo e de professores qualificados (REIS, 2010), e a criação de cinco novos cursos entre 2007 e 2011 através do Reuni (2007). Assim, durante o período de 2003 a 2011 foram criados no CAJ treze novos cursos para atender a demanda local. Mas vale ressaltar que o mérito não é somente do governo federal, o estado e a prefeitura municipal também participaram. Os cursos de Física (2006), Psicologia (2006), História (licenciatura) (2006), Zootecnia (2006), Química (Licenciatura) (2006), Biomedicina (2006), Ciência da Computação (2007) e Enfermagem (2007) foram implantados através do Programa de Expansão das Universidades Federais (2003). Já os cursos de Fisioterapia (2007), Engenharia Florestal (2009), Direito (2009), Educação Física (Bacharelado) (2010) e Química (Bacharelado) (2011), foram implantados através do Programa de Reestruturação das Universidades Federais (Reuni). Além dos cursos de graduação o CAJ disponibiliza para sociedade cursos de pós graduação (lato sensu e strictu sensu). Em 2013 o CAJ conta com cinco especializações: Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Materna e Estrangeira (Inglês); Especialização em Políticas, Gestão e Financiamento da Educação; Produção de Suínos; Matemática Aplicada; e História Cultural: Narrativas e Linguagens. Os cursos de Pós-Graduação (Strictu Sensu) do CAJ são: mestrado em Agronomia (Produção Vegetal); em Geografia; em Ciências Aplicada a Saúde; mestrado Profissional de Matemática (Profmat). Em 2012 foi aprovado pela CAPES o mestrado em Educação com previsão de início de suas atividades em 2013, segundo semestre. Ao completar 30 anos de Campus na cidade de Jataí, foi inaugurada a Cidade Universitária, onde hoje está denominada a unidade Jatobá localizada na Rodovia BR 364, Km 192. A intenção é que todos os cursos do CAJ estejam concentrados em apenas uma unidade (na Cidade Universitária). CONSIDERAÇÕES FINAIS Em Jataí, até o final da década de 1970, aqueles que desejassem cursar ensino superior, tinham que ter condições financeiras para se deslocar para a capital do estado, a cidade de Goiânia ou ir para outras as cidades que tinham esta modalidade de ensino. O anseio da comunidade de Jataí por curso superior fez com que a união de forças, entre líderes políticos, empresários, entidades de classe, representantes da comunidade procurassem formas de materializar essa idéia. A junção da ação da sociedade civil e política da cidade de Jataí com a política de expansão e interiorização da UFG no final da década de 1970 deram início ao processo de implantação de um campus em Jataí. Em 1980 foi criado o CAJ e em 1981 iniciou as aulas do curso de Ciências de caráter provisório. Várias dificuldades apareceram ao longo do processo de criação do câmpus, e a falta de estrutura física e de material, o problema de disponibilidade de professores, o deslocamento dos docentes, assim como dificuldades para a manutenção do câmpus, fizeram com que a UFG repensasse seu processo de interiorização na cidade de Jataí, o que deixou a comunidade bastante aflita. Objetivando a permanência do CAJ e criação de novos cursos a comunidade e as lideranças políticas locais, principalmente do prefeito, não mediram esforços para atender todas as exigências feitas pela universidade. A criação da FEJ foi decisiva para a consolidação do CAJ, que por meio de convênios firmados entre a UFG/PMJ/FEJ e UFG/Estado/PMJ/FEJ possibilitou o câmpus expandir seus cursos de graduação e de pós-graduação (Lato Sensu e Strictu Sensu), possibilitando tanto a comunidade local, quanto as das cidades vizinhas, acesso a ensino superior público e de qualidade. Os programas de do governo Lula, Expansão (2003) e Reuni (2007) contribuíram para a expansão do CAJ, criando novos cursos e aumentando vagas em cursos já existentes. Várias dificuldades foram enfrentadas, dentre elas, a de espaço físico, falta de material e de pessoal, atraso salarial, não atualização do acervo da biblioteca, mas nada impediu que o CAJ crescesse. REFERÊNCIAS CÂMPUS JATAÍ (CAJ). 30 anos do Câmpus UFG/Jataí: História e Memória. Jataí, 2010. DOURADO, Luíz Fernandes. A interiorização do ensino superior e a privatização do publico. Goiânia: UFG, 2001. MENDONÇA, Zilda Gonçalves de Carvalho. A universidade Federal de Goiás (UFG) como promotora da expansão e da interiorização do ensino superior. 2005. Disponível em:<http://scholar.googleusercontent.com/scholar?q=cache:gL5BzQRbUlgJ:scholar.google.com/&hl=ptBR&as_sdt=0,5>. Acesso em 03 mai. 2012. REIS, Márcia Santos Anjo. Expansão do ensino superior: parâmetro de análise a cidade de Jataí/GO. CONGRESSO DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS, 2010. Disponível em:<http://www.congressohistoriajatai.org/2010/anais2010/doc%20(37).pdf>. Acesso em: 21 jan. 2012. UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. UFG Afirmativa nº 2. Goiânia: Ascom, novembro de 2008. _______. UFG Afirmativa nº 3. Goiânia: Ascom, Setembro de 2009. _______. Projeto de Implantação do Campus Avançado de Jataí – Diagnose do Município de Jataí. Goiânia, 1979. Comunicação Oral GT 3 – Estado e Política Educacional POLÍTICA DE IMPLEMENTAÇÃO DAS DIRETRIZES PARA EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS E O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA NA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE GOIÂNIA Marcilene Pelegrine Gomes PRPPG - FE / UFG Rede Municipal de Educação de Goiânia / Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected] Warlúcia Pereira Guimarães Rede Municipal de Educação de Goiânia / Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected] Adriane Camilo Costa Rede Municipal de Educação de Goiânia / Universidade Federal de Goiás [email protected] RESUMO Este trabalho tem por objetivo apresentar e discutir as ações adotadas pela Secretaria Municipal de Educação de Goiânia (SME) para implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações ÉtnicoRaciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (Parecer CNE/CP3/2004), no período de 2005 a 2012. O referencial teórico que fundamenta este trabalho ancora-se em estudos (IANNI, 1996; FERNANDES, 2008; MUNANGA, 2005) que nos permitem pensar, problematizar as relações entre Estado, políticas públicas, currículo e formação de professores para educação das relações étnico-raciais no Brasil e em Goiânia. Para sistematização do estudo utilizou-se de pesquisa bibliográfica e documental. Os resultados da experiência de Goiânia apontam para necessidade da Rede Municipal (RME) implementar ações continuas e sistemáticas que possibilitem de fato a materialização das Diretrizes no fazer pedagógico das instituições de educação infantil e do ensino fundamental. Palavras-chave: políticas públicas; educação para relações étnico-raciais; educação básica. INTRODUÇÃO Não se trata apenas de oferecer conteúdos “referentes à participação do negro para o desenvolvimento da sociedade brasileira”. O Parecer CNE/CP3/2004 esclarece com precisão que a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana não visa tornar os brasileiros mais eruditos, mas reeducar as relações étnicoraciais a fim de que todos – descendentes de europeus, asiáticos, africanos e povos indígenas – valorizem a identidade, a cultura e a história dos negros que constituem o segmento mais desrespeitado da nossa sociedade. (SILVA, Petronilha, 2012). A discussão sobre educação para as relações étnico-raciais ganha força no Brasil, sobretudo a partir de 2003 com a promulgação da lei 10.639/03, a qual determina a inserção dos conteúdos de história e cultura afro-brasileira e africana no currículo da educação básica e, em especial nas disciplinas de História, Arte e Literatura Brasileira. Essa lei altera as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96) ao determinar novos conteúdos para o currículo da escola básica. Para muitos estudiosos (SILVA, 2012; MUNANGA, Kabengele, 2005) a promulgação da lei 10.639/03 abre precedentes para discussão junto aos sistemas de ensino de questões vinculadas ao combate ao preconceito étnico-racial, as quais permeiam a sociedade brasileira, desde o período colonial, contribuindo para a marginalização e a exclusão de um número significativo da população afrodescendente da escola, do trabalho, da saúde, dentro outros. Nesse sentido, a inserção de temas e conteúdos que afirmam positivamente a história e a cultura da população afro-brasileira e africana tornou-se um referencial curricular para educação das relações étnico-raciais no cotidiano escolar. Em meio à realidade instituída, sobretudo pela lei 10.639/03, em 2004, foram estabelecidas, pelo Parecer do Conselho Nacional de Educação /CP n.º 3/2004, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, conforme os termos do Artigo 26 A da Lei 9394/1996. Essas diretrizes apontam caminhos teóricos e metodológicos para o trabalho pedagógico na educação básica, bem como sinaliza para os sistemas de ensino as ações que podem ser desenvolvidas para efetivação da 10.639/03. Dentre estas ações podem ser citadas: a reestruturação do currículo prescrito e vivido nas instituições educacionais; a aquisição de material didático e formação de professores para desenvolvimento de um currículo com foco na educação para relações étnico-raciais. Frente a essa realidade é objetivo deste artigo apresentar e discutir as ações adotadas pela Secretaria Municipal de Educação de Goiânia, no período de 2005 a 2012, com foco na implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações ÉtnicoRaciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Para tanto, será estabelecido um dialogo com autores que discutem as questões étnico-raciais no Brasil (IANNI, 1996; FERNANDES, Florestan, 2008; MUNANGA, Kabengele, 2005), bem com a legislação nacional que versa sobre a temática em pauta. Assim, além de apresentar a experiência de uma rede de ensino procurar-se-á (re)pensar, problematizar as relações entre Estado, políticas públicas, currículo e formação de professores no contexto da educação para relações étnico-raciais no Brasil e em Goiânia. MARCO LEGAL DA EDUCAÇÃO PARA RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NO BRASIL A necessidade de discutir e implementar políticas voltadas para uma educação antirracista no Brasil remonta as primeiras décadas do século XX, cito em particular a Frente Negra Brasileira fundada em São Paulo em 1931 e transformada em partido político em 1936, que tinha na figura de seu presidente, Arlindo Veiga dos Santos, uma das primeiras pessoas “a exigir da república políticas públicas em benefício da população negra, que pela escravidão, sofria de entorpecimento cultural” (Domingues apud Velasco, 2009, p. 2397). Nesse sentido, entende-se que a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, em 2004, é fruto de um lado, de anos, décadas e séculos de resistência e luta da população negra brasileira contra a exploração, marginalização, preconceito e discriminação racial. E de outro lado, da conjuntura político-econômica que possibilitou a composição partidária de diferentes setores da sociedade brasileira, movimentos sociais e sindicais que resultou na eleição em 2002 de Luís Inácio Lula da Silva que em seu programa de governo afirmava Não basta que sejam combatidas as causas econômicas das múltiplas formas de desigualdade. São necessárias ações positivas para que se ponha fim às formas de discriminação existentes contra mulheres, negros, índios, portadores de deficiências e pessoas que possuam distintas orientações sexuais, para só citar os casos mais notórios (Programa de Governo Brasil para Todos – 2002, p, 3-4) Observa-se que, a partir desse momento, a implantação por parte do Estado Brasileiro de políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade racial, isto não significa dizer que estas ações não foram resultado de conflitos ideológicos e disputas políticas. Mas, que se abriu historicamente a possibilidade de colocá-las na pauta das discussões. Em 2003 é aprovada a Lei 10.639 que modifica a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para inserir no currículo da educação básica a obrigatoriedade do ensino da temática história e cultura afro-brasileira e africana. No ano posterior, o Conselho Nacional de Educação aprova o parecer da relatora professora Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos estabelecimentos de ensino de diferentes níveis e modalidades O parecer procura oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda da população afro-descendente, no sentido de políticas de ações afirmativas, isto é, de políticas de reparações, e de reconhecimento e valorização de sua história, cultura, identidade. Trata, ele, de política curricular, fundada em dimensões históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o racismo e as discriminações que atingem particularmente os negros. Nesta perspectiva, propõe à divulgação e produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada. (CNE/CP/10/03/2004, p. 2) Com base nas Diretrizes aprovadas em 2004, o Estado brasileiro em consonância com os movimentos sociais avançou nas discussões das ações afirmativas a ser desenvolvidas por meio de práticas educativas desenvolvidas nas instituições escolares. Esse documento aponta os princípios, os eixos orientadores e as ações pedagógicas que devem permeiam o projeto político pedagógico e as práticas docentes com vias a garantia de posturas sistemáticas e cotidianas que assegurem o combate ao racismo e a discriminação étnico-racial na escola e, sobretudo na sociedade. Em 2009, a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (SEPIR), em parceria com o Ministério da Educação, elabora o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, com objetivo de “orientar e balizar os sistemas de ensino e as instituições educacionais na implementação das Leis 10.639/03 e 11.645/08”. (Plano Nacional de Educação, 2009, p.16). Soma-se a esse conjunto de leis e normas de implementação de políticas públicas voltadas para a reparação, reconhecimento e valorização de ações afirmativas os seguintes documentos: as Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais em 2006; a Educação Escolar Indígena em 2007; as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Quilombola e as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos ambas em 2012. Entende-se que por meio dessas ações o Estado Brasileiro, como instituição constituída e constituinte do povo brasileiro, assume por um lado, a dívida histórica para com essas populações excluídas e marginalizadas da sociedade e, por outro expõe as contradições, conflitos ideológicos e preconceitos raciais que ainda impregna os diferentes espaços que compõe historicamente a sociedade brasileira. Nesse aspecto, a reeducação para as relações étnico-raciais constitui-se uma necessidade imperiosa quando se defende a construção de uma sociedade democrática e justa, mesmo reconhecendo os limites estruturais que impedem a inclusão substancial de todos numa sociedade fundamentada nas relações de produção e sociabilidade capitalista. A DISCUSSÃO SOBRE EDUCAÇÃO PARA RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA RME DE GOIÂNIA A discussão acerca do papel de uma rede de ensino desenvolver ações que assegurem a inclusão de todos os sujeitos na escola, na cidade, na sociedade é reiterada em todos os documentos da SME de Goiânia, sobretudo a partir de 2002. Nesse movimento, a discussão sobre educação para relações étnico-raciais no cotidiano da escola pública goianiense aparece, mesmo que de forma tímida e incipiente, antes da promulgação da Lei 10.639/03. Essa discussão foi materializada inicialmente por meio de ações esporádicas e pontuais de formação continuada de professores em ocasiões específicas, tais como: na 1ª e 2ª Jornada Pedagógica da SME88 e em cursos de curta duração oferecidos pelos movimentos negros da Capital89. Analisando as ações desenvolvidas, em 2002 e 2003, pela SME de Goiânia observouse que as mesmas, intencionalmente ou não, colocavam a formação de professores como um único caminho para inserção das questões étnico-raciais nas práticas educativas das instituições de educação infantil e ensino fundamental. Esse movimento característico das políticas para inserção desta temática no currículo escolar, tal qual aparece em Goiânia, se materializa em outros municípios e estados da federação. A promulgação da Lei 10.639/03 não repercute de forma imediata nas ações pedagógicas da SME, mesmo o Plano Municipal de Educação de Goiânia já explicitando a importância desta temática para inclusão educacional e social da criança e do adolescente. A educação para relações étnico-raciais ganham mais visibilidade na RME em 2005, após a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações ÉtnicoRaciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Esse movimento foi impulsionado também pela parceria entre o Ministério da Educação (MEC) e FNDE para liberação de recursos para secretarias de ensino desenvolver ações de formação de professores e aquisição de material didático para instituições educacionais. Aliado as ações dos órgãos oficiais do governo, a ação dos movimentos negros locais, solicitando o 88 Evento realizado semestralmente com objetivo de assegurar momentos de estudo, discussão, formação continuada e socialização das práticas educativas desenvolvidas nas instituições educacionais da RME de Goiânia. 89 Conforme documentos da Rede, no período de 2002 e 2004, foram oferecidos aos professores cursos em parceria do Movimento Negro Goianiense “Pérola Negra”. posicionamento da SME na oferta de curso de formação de professores para implementação da lei, também impulsionou o posicionamento da secretaria no que se refere à implementação de ações voltadas para educação das relações étnico-raciais nas instituições educacionais. O movimento nacional e local, dos órgãos governamentais e dos movimentos sociais, contribuiu para inserção dos conteúdos da história e da cultura afro-brasileira e africana nas Diretrizes Curriculares para Educação Fundamental da Infância e da Adolescência na SME (2008). Portanto, para além de pensar a formação dos professores o currículo da Rede já expressava, em 2008, o que pese os limites do documento, a preocupação com a educação para relações étnico-raciais por meio do estudo da história e da cultura de matriz africana e afrodescendente. O desenvolvimento da discussão acerca dos conteúdos e temas de ensino que propiciariam por meio da educação formal a afirmação positiva da identidade negra no Brasil, na perspectiva da educação para relações étnico-raciais, iniciada timidamente na Rede em 2002, atualmente está contemplada tanto no currículo do ensino fundamental como na Proposta Político Pedagógica para Educação Infantil (2012). Todavia, garantir que a discussão tenha destaque no currículo prescrito não garante, por si só, que nas práticas educativas cotidianas vivenciadas pelos professores, alunos, funcionários, direção e comunidade estejam em conformidade com as diretrizes para educação das relações étnico-raciais, uma vez que estas pressupõem, sobretudo mudanças de mentalidade, de concepções acerca de currículo, escola, história e cultura. IMPLANTAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NA RME DE GOIÂNIA O processo de implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na RME de Goiânia foi caracterizado por diferentes ações, pensadas em distintas gestões da Cidade e da Secretaria. Ações que expressam etapas diferentes, mas complementares do processo de implementação, avaliação e (re) organização das políticas desenvolvidas pela SME. A primeira etapa de implementação das Diretrizes (2005-2010) na RME tem como eixo orientador a formação continuada de professores, a aquisição de material didático e paradidático para instituições educacionais. Os documentos da Rede evidenciam que no período analisado foi realizado pelo Centro de Formação dos Profissionais da Educação da SME (CEFPE), em parceria com o MEC/FNDE, o Curso História e Cultura Africana e Afrobrasileira, tendo como público 180 professores da RME em regência de sala. O curso foi desenvolvido com a carga horária de 120 horas, sendo que no final deste os professores participantes do Curso e as instituições em que estes professores estavam lotados receberam um kit contendo livros de história, poesia, romances, contos de origem africana e afrodescendentes. Essa ação de formação continuada de professores foi estruturada em cinco módulos, sendo: Introdução aos Estudos da África; História e Geografia da Africana; Cultura e Religiosidade Africana; Dança, Ritmos e Percussão; Corpo, Movimento e Capoeira; Práticas Educativas e o Ensino da História e Cultura Africana. Para atuar nesta ação formativa, a SME, contratou com recursos próprios ou federais, professores pesquisadores da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Universidade Federal de Goiás (UFG) e Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Verificou-se que, nesta primeira etapa de implementação, o foco de intervenção da SME foi à formação de professores, seja com recursos próprios ou com recursos oriundos do governo federal. Além das ações financiadas com recursos federais, a SME realizou dois cursos com carga horária de 40 horas, um em parceria com o Movimento Negro e o outro com a Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás, para os professores tanto da educação infantil como do ensino fundamental. Nessa linha de ação, foi organizado e coordenado pelo Centro de Formação dos Profissionais da Educação da SME um Grupo de Estudo e Trabalho (GTE) para os professores de História aprofundar os estudos acerca da história, da geografia e da cultura africana. Todas essas ações tiveram como eixo orientador a premissa que a formação continuada de professores é um elemento fundamental para alteração das práticas curriculares centrados em conteúdos e procedimentos que negam a história e a cultura dos povos africanos e afrodescendentes e hegemonizam os saberes, a cultura e a história europeia. Currículo que nega a diversidade cultural e étnico-racial que permeiam a sociedade brasileira. Avaliou-se que, nessa etapa, foi atendida uma média de 520 professores em diferentes ações formativas. Número pequeno para uma Rede que, nesse período de tempo, já contava com mais de 6 mil professores e 5 mil funcionários administrativos, mas que indicava o tamanho do desafio para implementação das Diretrizes nas instituições educacionais. Com base nas ações desenvolvidas nos anos anteriores e na perspectiva de articular os movimentos sociais, núcleos de pesquisas africanos e afro-brasileiros das instituições de ensino superior de Goiás e órgãos da prefeitura de Goiânia, a SME, a partir de 2012, entra na segunda etapa de implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Dentre as instituições parceiras da SME, destacam-se a: Secretaria Municipal de Promoção de Igualdade Racial (SMPIR), Universidade Federal de Goiás (UFG), Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC), Fórum Permanente da Diversidade Racial de Goiás, Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás (SINTEGO). A SME, por meio do CEFPE, promoveu no ano de 2012, em interface com as instituições e órgãos citados anteriormente, ações intersetoriais e interdisciplinares de formação de professores, gestores educacionais e aquisição de material didático. Essas ações tiveram como eixo orientador a articulação política, pedagógica e acadêmica da formação continuada dos profissionais com o estudo, pesquisas e linhas de atuação das instituições parceiras. O movimento de articulação de instituições da Cidade no processo de pensar e propor ações de implementação das Diretrizes no cotidiano das escolas ampliou o sentido e a natureza teórica e metodológica das discussões desenvolvidas na e pela SME. Nas discussões com os parceiros possibilitou a realização de avaliação ampla e sistemática das ações até então desenvolvidas. Com base nessa avaliação foi possível mapear os desafios a serem superados para que de fato a formação oferecida aos professores se materializasse em ações e intervenções concretas no cotidiano da escola e da sala de aula. Vale ressaltar que, por meio da avaliação, ficou evidenciado que as ações isoladas de formação de professores não revertiam em ações pedagógicas e administrativas para educação das relações étnico-raciais nas instituições de educação infantil e ensino fundamental. Fato relacionado, principalmente, a incompreensão/resistência do coletivo de professores e a falta de apoio do grupo diretivo das instituições educacionais. Frente a esse diagnóstico, a primeira ação desenvolvida pela SME, com auxilio das instituições parceiras, foi a formação dos Apoios Técnicos Pedagógicos da SME, professores responsáveis pelo acompanhamento in loco das instituições educacionais da RME. Optou-se por formar os técnicos da SME com objetivo de subsidiá-los teórica e metodologicamente para auxiliar os professores e as instituições no desenvolvimento de ações curriculares com foco na educação para relações étnico-raciais. Para tanto, foi proporcionado aos 120 apoios pedagógicos da SME a participação em um curso de extensão de 20 horas, promovido pelo CEFPE e NEAAD/UFG, com participação do Proafro/PUC Goiás, Sintego, ASPIR e Fórum Permanente da Diversidade Racial de Goiás. Em 2012, foi realizada pela SME/CEFPE, com as instituições parceiras, o I Seminário de Educação para as Relações Étnico-raciais da SME. O evento ocorreu nos dias 20, 21 e 22 de agosto de 2012, e contou com a participação de 350 profissionais da educação da Rede entre gestores, coordenadores pedagógicos, professores e técnicos pedagógicos da SME. Organizado com momentos para palestras, mesas-redondas e relatos de experiências, o Seminário constituiu-se em um grande momento para a discussão de questões vinculadas ao currículo, práticas educativas e relações étnico-raciais. Foi realizada ainda, em 2012, para um público de aproximadamente 350 profissionais, a I Mostra Étnico-Racial da SME, com exposição fotográfica de trabalhos realizados pelas instituições educacionais; apresentação e debate de vídeos de curta e média metragem, apresentações culturais e lançamento do livro “História da Vila Rosa” de autoria da professora Siomar de Moura Vieira, que desde 2003, participa ativamente das ações desenvolvidas pela SME, no que se refere à educação para relações étnico-raciais. Com base nas ações desenvolvidas em 2012, a SME reafirma para 2013 a importância da articulação e parceria com as instituições de ensino superior e com os movimentos sociais para continuidade e ampliação de ações com foco ao combate ao racismo e a discriminação racial por meio de ações educativas formais. Nesse sentido, pretende-se dar continuidade as ações desenvolvidas em 2012, juntamente com a organização de Grupo de Estudo e Trabalho (GET) com professores da RME com o propósito de ampliar nos estudos, analisar e construir material didático para utilização nas instituições educacionais. De 2002 a 2012, a SME, de forma isolada ou em parceria, vem desenvolvendo diferentes ações com foco nas questões étnico-raciais. Em alguns momentos estas ações focalizavam mais a formação de professores em outros ampliaram para questão do currículo e da aquisição e produção de material didático. Nesse processo, a parceria com os movimentos sociais, núcleos de pesquisas das instituições de ensino superior e órgãos da prefeitura de Goiânia, representou a ampliação das ações e dos olhares sobre a educação para relações étnico-raciais, aprofundando epistemologicamente as discussões com os professores e com a escola. CONSIDERAÇÕES FINAIS De forma geral, avalia-se que, apesar da política de continuidade (2002-2012) as ações desenvolvidas pela SME ainda não materializam em práticas curriculares em todas as instituições educacionais. Ainda há muitos desafios a serem superados quer seja: a predominância de uma concepção de currículo e práticas educativas fundamentados numa visão linear e eurocêntrica de conteúdos de ensino; os limites da formação inicial de professores que prima pela ausência de discussões sobre racismo, currículo e práticas educativas; a desarticulação e descontinuidade de políticas dentro da própria gestão do MEC e da SME pela SME; ausência de recursos financeiros para aquisição de material didático e formação sistemática dos profissionais da educação; a naturalização da ideia que o Brasil é uma “democracia racial”, portanto, não há racismo. O que pese os desafios ainda a serem superados em Goiânia e também no Brasil, observa-se que a SME, num movimento continuo, vem proporcionando momentos de estudos e reflexões acerca do combate ao racismo na perspectiva da educação para relações étnicoraciais. Movimento que exige, por um lado, compromisso político, mas por outro rigor acadêmico para não cometer o equívoco de ideologizar uma questão tão seria que é a racial para a identidade nacional do povo brasileiro (IANNI, 1996). Nesse sentido, falar do papel da população negra e indígena, na perspectiva apontada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, nos cursos de formação de professores ou no currículo da educação infantil, f