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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano X • Nº 35 • Segunda jeira • Janeiro, Fevereiro e Março de 2005 Militarismo espanhol fora da Galiza Aboliçom do Exército Editorial Paco Vasques é o responsável por que o desfile anual que o exército espanhol realiza tradicionalmente antes do Verao, evocando o “Desfile da Vitória” de 1939, tenha lugar nesta ocasiom na Corunha. Nom é nada surpreendente esta provocadora decisom. O presidente da Cámara Municipal da Corunha está alineado com as teses mais jacobinistas do PSOE, tal como o seu amigo José Bono, actual ministro da Defesa do Governo de Zapatero. Vasques fai parte do mascarom de proa do espanholismo mais intransigente e fanático, negador da naçom galega e defensor de um modelo de Estado centralista e uniformizador. As duas décadas que leva presidindo o a Cámara municipal da Corunha som paradigma da patologia antigalega de um cruzado do imperialismo espanhol disfarçado de progressismo cosmopolita. Esta decisom nom pode ser isolada do actual debate sobre a reforma territorial do Estado, a crise do projecto nacional espanhol e as eleiçons ao Parlamento galego deste Outono. Paco Vasques, com esta iniciativa, pretende fixar posiçom, como já fijo com a proposta de modificar a Lei para que a Corunha recupere o topónimo espanholizado, ou de avivar o localismo desintegrador abrindo a velha polémica sobre a capitalidade da Galiza. O PSOE de Paco Vasques está marcando linha frente ao morno discurso galeguista que petende injectar Peres Tourinho à hora de lograr essa maioria alternativa ao fraguismo em aliança com o BNG. Para o PSOE de Paco Vasques, as políticas neoliberais devem ir acompanhadas pola definitiva assimilaçom nacional da Galiza. Porém, nom é a primeira vez que tem lugar na Corunha esta demonstraçom apologética do militarismo espanhol. Em Junho de 1985, também com um governo do PSOE em Madrid, e já com Paco Vasques em Maria Pita, realizou-se o desfile. Daquela, vários milhares de pessoas convocadas pola esquerda nacionalista, a esquerda radical estatal, e os comités anti-OTAN, manifestárom-se polos arrabaldos da Corunha, perante a proibiçom governativa de conceder autorizaçom no centro da cidade. Muito posteriormente, em Outubro de 1997, o próprio Vasques, além de Felipe González, desvendárom que dias antes desse desfile tinha sido neutralizado um macro-atentado promovido por um sector das Forças Armadas que pretendia voar com explosivos a tribuna matando o Rei, o próprio Felipe Gonzalez e o Estado maior do exército. Hoje, tal como em 1985, a esquerda independentista e socialista nom pode ficar à margem desta agressom contra a Corunha e contra o conjunto do povo trabalhador galego. O desfile do exército espanhol na Corunha deve ter em frente o conjunto de forças políticas e sociais que na década de noventa apoiamos abertamente a estratégia de insubmissom, determinante na aboliçom do Serviço Militar Obrigatório, umha história reivindicaçom do movimento obreiro e juvenil. O desfile de 28 de Maio na Corunha nom pode ser respondido com a passividade e a resignaçom, como um mal que há que estoicamente suportar. A massiva oposiçom à guerra imperialista no Iraque, e antes no Afeganistám, provocou um impressionante movimento de massas que durante meses ocupou as ruas do conjunto do País, denunciando o imperialismo norte-americano e solicitando a saída das tropas espanholas. Hoje cumpre activar essa primária consciência antimilitarista, os anseios de paz que fam parte dos valores da melhor tradiçom da esquerda. Como comunistas, somos contrári@s aos exércitos da burguesia, aparelhos coercitivos cuja funçom é a defesa da ordem social baseada na exploraçom da força de trabalho, e dos interesses imperialistas para garantir o saque das matérias primas e recursos do planeta. Tal como se recolhe num documento do Comité Central de Primeira Linha publicado no Abrente nº 4 (Abril de 1997) “A apariçom dos exércitos regulares só se pode compreender na sua dupla face: aparelho repressivo da burguesia contra as demandas do proletariado e o conjunto das camadas populares, e como um dos instrumentos básicos de vertebraçom dos Estados-Naçom”. Em “O militarismo belicoso e a táctica antimilitarista da social-democracia” Lenine afirma que “O militarismo moderno é resultado do capitalismo. É, nas suas formas, umha manifestaçom vital do capitalismo: como força militar utilizada polos estados capitalistas nos seus choques externos e como instrumento em maos das classes dominantes para esmagar todo o género de movimentos (económicos e políticos) do proletariado”. Como comunistas de um país que padece umha opressom nacional somos contrári@s a um exército, o espanhol, responsável directo pola negaçom do direito de autodeterminaçom, um exército de ocupaçom responsável pola perpetuaçom da exploraçom e dominaçom que padece a Galiza e as suas classes trabalhadoras. A Brigada de Infantaria Ligeira Aerotransportável “Galicia VII”, popularmente conhecida como BRILAT, com sede em Figueirido, representa a nova Sumário 3 Pólvora molhada ao assalto de Sam Caetano Carlos Morais 4 Eleiçons autonómicas 2005 Presente ou nom na Cámara, BATASUNA continuará apostando pola resoluçom política do conflito basco Joseba Alvarez Forcada 5 O movimento juvenil e a esquerda independentista Berta Lopes Permui 6 Ainda contra a Constituiçom europeia: algumhas reflexons sobre o referendo na Galiza Maurício Castro 7 A esquerda italiana, o motor da “europeizaçom” do país Marco Santopadre 8 A soluçom nom é olhar para outro lado Igor Lugris 2 cara das forças de ocupaçom. Maioritariamente conformada por tropa de origem galega, mas ao serviço de um projecto nacional contrário aos interesses do seu povo. Semelhante às RUC da Irlanda do Norte, os harkis na Argélia ocupada pola França, ou os sipaios na Índia. Como comunistas comprometidos com a emancipaçom da mulher, nom podemos justificar a existência dos exércitos regulares, escola do machismo, do desprezo polas mulheres, responsável por agressons e violaçons em massa como arma de guerra. Mas o exército ao qual nos temos que enfrentar é um exército peculiar com umhas características específicas. O exército espanhol nunca ganhou umha guerra exterior, é herdeiro da vitória militar sobre a classe obreira, as naçons sem Estado e as mulheres em 1939, o que sustentou a ferro e fogo a sanguinária ditadura franquista até 1976, o que participou em dúzias de conluios e tentativas de golpe de estado para limitar ainda mais as tímidas conquistas democrático-formais atingidas na transiçom do fascismo para o actual regime juancarlista. É um exército que funciona como um poderoso poder fáctico, tutelando o poder civil. O preámbulo do artigo oitavo da Constituiçom espanhola concede às FAS as funçons de “garantir a soberania e independencia de Espanha, defender a sua integridade e o ordenamento constitucional”. Mas, ao contrário do que as forças reformistas declaram constantemente, o actual exército espanhol nom é um exército profissional, apolítico, plenamente submetido ao poder civil, centrado em desenvolver inócuas missons humanitárias nos diferentes focos de conflito. O actual exército continua a ser pola sua doutrina, experiência e trajectória, um exército claramente intervencionista, cujas pressons tenhem sido determinantes na modificaçom de decisons políticas por parte de todos os governos, sem excepçom, desde a morte de Franco. A UCD, o PSOE, o PP, e agora novamente o PSOE, nom só mimárom o exército, como também cedêrom em todas as pressons e chantagens involucionistas acordadas nas salas de bandeiras dos quartéis, perpetuando por activa ou por passiva umha tácita submissom à longa sombra que exercem os generais. naçons que hoje integram a ONU. Nom existia o Canadá, nem Itália, nem o Brasil, nem a Alemanha, nem sequer os EUA tinham sido reconhecidos. Porém, Espanha já tinha conhecido, desde os Reis Católicos, 10 reis; tinha patrocinado a façanha das descobertas; tinha levado a língua que hoje falam 400 milhons de pessoas para o outro lado do oceano ...”. Os conteúdos e o tom deste discurso que Bono tem empregado mais vezes nom só exprime o sentir de um dos homens fortes do actual “governo progressista” que IU e ERC apoiam; lança oportuna e calculadamente mensagens à covarde política reformista sobre quais som os limites que a democracia espanhola está disposta a tolerar. A diferença da Transiçom, quando eram os generais quem emitiam os O actual PSOE submete-se às pressons militares posicionamentos, agora é o ministro “socialista” que transmite o sentir em forma de intervençons institucionais. Porém os efeitos som bastante semelhantes. O exército segue a ser temido e respeitado. Está adormecido, mas nom morto. Assim se pode interpretar que o governo do PSOE tenha cedido a umha das demandas “históricas” dos quartéis à hora de implicar as Forças Armadas na luita contra o independentismo, nomeadamente contra a ETA. As novas Directivas de Defesa Nacional aprovadas ou/ e em preparaçom polo Governo permitem a intervençom militar para combater as reivindicaçons soberanistas das naçons oprimidas ao nom diferenciar “terrorismo externo e interno”, tal como deixou bem claro Rodríguez Zapatero numha reuniom com as Juntas de Chefes de Estado Maior do exército espanhol (JUJEM) simbolicamente realizada a bordo do Neste primeiro ano de governo PSOE, o ministro Bono tem realizado clarificadoras declaraçons como porta-voz “civil” do sentir do exército espanhol perante o debate sobre a reforma territorial do Estado que impulsionam os partidos espanholistas e autonomistas, cujo comum denominador alicerça na impossibilidade de exercer o direito de autodeterminaçom. Se em Dezembro de 2004 manifestou nas Cortes que gosta do artigo 8 e nom está disposto a promover a sua modificaçom, um mês depois, em Janeiro deste ano, no discurso, –pactuado previamente com Zapatero– , perante o Rei na “Páscoa Militar” foi eloqüente à hora de lembrar o papel do exército na Espanha actual. “Somos umha das naçons mais antigas do planeta. Na primeira Páscoa Militar, em 1782, nom existiam a maioria das Nº 35. Janeiro, Fevereiro e Março de 2005 EDITORIAL portavions Príncipe de Astúrias. O actual clima intervencionista do imperialismo ocidental está a favorecer a participaçom do exército em todo o tipo de “dispositivos antiterroristas”, ou seja, no controlo e intimidaçom da populaçom. Os atentados do 11 de Março em Madrid fôrom habilmente utilizados para justificar a presença militar nos aeroportos e estaçons de comboio e nalgumhas instalaçons consideradas estratégicas como centrais eléctricas ou refinarias de petróleo. Esta doutrina antiterrorista pretende militarizar as sociedades com base no recurso ao medo para facilitar o recorte de liberdades e direitos, e assim poder adoptar medidas legislativas favorecedoras do submetimento da classe trabalhadora que evitem a recomposiçom das estru- çom de armas químicas contra a populaçom civil durante a ocupaçom do Norte de África e já antes dos campos de concentraçom contra o independentismo cubano na chamada Guerra de Cuba. Crise do exército, crise de Espanha Desde o início da sua completa profissionalizaçom em 2001, o exército espanhol nom foi capaz de preencher anualmente o número de vagas previstas para atingir a plena operatividade. Nestes seis anos, o militarismo espanhol investiu ingentes recursos económicos em propaganda para logar basicamente dous objectivos. Por um lado, lavar a imagem de exército golpista e intervencionista passando a trans- tarefas civis, facilitando a posterior incorporaçom em diversos corpos policiais, etc. Mas, por enquanto, nom logrou os objectivos perseguidos, embora só em 2004 gastasse mais de sete milhons de euros em publicidade. A realidade é que neste ano tam só há 70.000 soldados e marinheiros profissionais frente aos 120 mil previstos. Mas a situaçom é grave porque, nos dous últimos anos, em lugar de incrementar, tem diminuído a um ritmo de 4% o número de jovens dispostos a fazer parte das FAS. Esta situaçom é umha evidente expressom da profunda crise do projecto nacional espanhol. Quando numha sociedade nom existe um considerável sector da juventude “disposta a matar e morrer pola Pátria”, o projecto nacional sobre o qual se levanta esse Estado agoniza. Eis o que está felizamente a acontecer aqui. Incremento dos gastos militares A classe trabalhadora tem mil razons para se opor aos exércitos regulares. No actual recrudescimento da ofensiva do Capital contra o Trabalho, quando o Patronato, o Governo e os corruptos sindicatos tradicionais pactuam a congelaçom salarial, quando a preacriedade laboral nom deixa de alastrar, enquanto se recortam os gastos sociais em educaçom, saúde, pensons, vivenda, protecçom ao desemprego, o Estado espanhol, da mao do PSOE, continua a incrementar os gastos em armamento, situados nos postos mais elevados da Uniom Europeia. Nom há dinheiro para salário social, para alargar o SMI, para mais e melhores bolsas de estudo, mas sim há fundos para investigaçom militar, para comprar novas fragatas, mais avions de combate, mais tanques. Esta é a verdadeira cara do governo de Zapatero. Umha resposta unitária, plural e firme O governo de Zapatero aposta pola militarizaçom social turas de resistência frente à ofensiva neoliberal. A luita contra toda forma de militarizaçom do território, contra o alargamento dos efectivos militares e policiais, –nom devemos esquecer que a Guarda Civil é um corpo militar–, a modernizando do exército, o incremento dos gastos militares, a construçom de novos quartéis, bases militares e policiais, é umha tarefa de primeira orde numha política de esquerda revolucionária. Nom há lugar a dúvidas, nem a maquilhagens. O actual exército espanhol nom é muito diferente do que tomou por assalto as praias de Prazeres para construir a fábrica de celulose de Ponte Vedra, o das fragatas preparadas em Ferrol para disparar contra a cidade em plena greve geral polo assassinato de Amador e Daniel, o do 23F, ou o que nos anos vinte do século passado foi pioneiro na utiliza- formar-se num exército humanitário “defensor da paz e a segurança”, e polo outro recrutar ao maior número de jovens para alimentar as necessidades do seu funcionamento. Porém, se bem parcialmente logrou limpar entre amplos sectores sociais a imagem que arrastava de vetusto e criminoso exército golpista, tem fracassado estrepitosamente à hora de convenver a juventude de que a carreira militar é umha boa alternativa a um presente caracterizado polo desemprego e a precariedade laboral. Nestes anos, tentou-no de muitas formas: reduzindo o coeficiente intelectual mínimo para poder incorporar-se, abrindo a suas portas a estrangeiros até os 7%, incrementando os salários e concedendo três pagas extras nas unidades mais deficitárias, concedendo facilidades e privilégios em créditos, reduzindo a idade da reforma aos 40 anos cobrando meia pensom, mas compatível com rendimentos por PUBLICIDADE Cervantes, 5 baixo VIGO O conjunto do soberanismo socialista nom pode ficar à margem desta movimentaçom. A 28 de Maio, nas ruas da Corunha, tem que estar presente a Galiza rebelde, a Galiza que nom se rende, a Galiza corajosa. Devemos recebê-los da única forma possível, mostrando abertamente que nom os queremos. Para o sucesso desta mobilizaçom que recolhe o sentir maioritario do proletariado cumpre dar umha resposta unitária, plural e firme. Nom se pode estar reunid@ enquanto os responsáveis directos pola opressom social e nacional da classe trabalhadora desfilam impunemente a cem quilómetros do congresso da CIG. Especialidad en pintxos Rúa San Pedro, 21. Tel.: 981 586 309 Santiago de Compostela rua jasmins, 13•compostela•galiza•tlfne: 981 577 015 Quiroga Palácios, 42 (rés-do-chao) 15703 Compostela-Galiza • Telefone: 981 563 286 Santiago - A Coruña Tel.: 981 566 980 Tel./Fax: 981 571 373 Rúa Nova, 36 • Santiago As Eleiçons autonómicas previstas para Outubro monopolizam a actividade das três forças políticas institucionais, deformando ainda mais a realidade de um país que nom dá superado complexos seculares, imerso na resignaçom, cepticismo e paralisia de umha maioria social refugiada na luita diária por chegar a fim de mês. Porém, a cada vez maior clarificaçom do panorama político nos parámetros que vinha ocupando a velha esquerda nacionalista, para além de calculados confusionismos, poderá contribuir para a necessária recomposiçom de um amplo espaço autodeterminista que de posiçons nitidamente de esquerda, emerja entre tanta conciliaçom e derrotismo. A Galiza do Trabalho necessita de um novo instrumento de autodefesa, de amplo perfil, mas onde a esquerda independentista deixe a sua imprescindível impronta e capital de luita. Carlos Morais Nº 35. Janeiro, Fevereiro e Março de 2005 ANÁLISE 3 Pólvora molhada ao assalto de Sam Caetano Pola quinta maioria absoluta do PPdG O PPdG, após os confrontos internos que sacudírom os fracos equilíbrios internos sobre os quais assentam a sua poderosa maquinaria de dominaçom, “superados” polo pacto entre Fraga, Baltar e Rajói, tem concentradas todas as suas energias num único objectivo: atingir a quinta maioria absoluta consecutiva para Fraga. O ex-ministro franquista é a garantia da unidade interna, mas também da indispensável vitória eleitoral sobre o que assenta o frágil contrato. Porém, tal como as outras duas forças do circo democrático autonómico, tem exprimido dificuldades por afinar a linha política, mantendo nestes últimos meses posiçons erráticas a respeito do grande totem que por passiva ou por activa vai ser um dos epicentros da campanha eleitoral: a reforma do Estatuto de Autonomia de 1980. Antes da vitória eleitoral de Zapatero, há agora um ano, o PPdG mostrou-se favorável a introduzir mudanças, como nos meses seguintes, mas depois das iniciativas promovidas polo BNG para abrir umha frente comum por este objectivo, a direita regionalista optou por nom fazer o jogo a Quintana, passando a defender que a reforma estatutária deveria adiar-se para depois das eleiçons. A táctica actual cincunscreve-se na reclamaçom de mais de trinta transferências pendentes para assim nom ficar fora de jogo perante a ofensiva das burguesias basca e catalá, mas também das elites da prática totalidade do resto das Comunidades Autónomas. A sua específica participaçom na campanha do referendo ao Tratado Constitucional, movimentando umha parte importante da sua base social, tal como ficou constatado nas adesons ao Sim de mais de 90% na maioria dos concelhos da “província” de Ourense, foi umha decisom adoptada sob o exclusivo prisma de Outubro. Havia que evitar que o PSOE capitalizasse a pírrica vitória do Sim, mas também isolar o BNG na sua oportunista decisom de recomendar o voto negativo. Porém, nom foi até metade da campanha que os estrategas fraguistas definírom a táctica a seguir, tal como se constata nas declaraçons de Dom Manuel em Monforte a inícios da campanha: “O mesmo o sim, que o nom, a abstençom é lícita”. Dias antes tinha rejeitado o convite de Tourinho de realizar campanha conjunta. O PPdG, afastado do seguidismo e a submissom aos ditames do governo amigo, pretende agora abandeirar certas demandas vitais para os interesses da burguesia, em todo o referente a evitar umha nova marginalizaçom no plano estatal de infraestruturas, e na reivindicaçom de pleno cumprimento do “Plano Galiza”. Assim deixa o PSOE à defensiva e aparenta encabeçar aberrantes reivindicaçons assumidas pola média social de um país carente de consciência nacional e de classe. As declaraçons de Fraga sobre o descontentamento com o governo de Aznar na sua gerência da crise do Prestige devem ser interpetadas nessa direcçom de recuperar iniciativa política no flanco mais fraco da sua gestom a olhos de parte da sua base social. Idêntica interpretaçom devemos fazer das reiteradas boutades dirigidas aos sectores mais conservadores do eleitorado no relativo à reclamaçom da suspensom da autonomia basca se Ibarretxe nom renunciar ao seu plano, no relativo à homossexualidade como doença, na oposiçom à utilizaçom de preservativos, etc. Porém, o PPdG esta afinando a sua maquinaria eleitoral, porque a quinta maioria nom vai ser fácil de conquistar. Está aplicando mundanças formais de carácter conjuntural, essencias para garantir umha apertada, mas real, vitória eleitoral, que permita dotar-se do tempo necessário para resolver ordenada e consensualizadamente a sempre adiada sucessom. Galiza carece de futuro em maos da direita regionalista, a que esmola subsídios e ajudas “europeias”, porque tem condenado a que este país seja umha “regiom de ajuda preferente”, negando toda capacidade produtiva e portanto condenando-o à morte. O candidato do PSOE age já como virtual ganhador A principal novidade que o PSOE apresenta neste processo eleitoral é que nesta oca- siom semelha existir umha firme vontade por deslocar Fraga da Junta de Galiza. A recuperaçom do Governo espanhol tem reforçado a candidatura de Tourinho e as suas aspiraçons por ser o primeiro presidente autonómico de um governo “progressista e galeguista” emanado directamente das urnas. Este objectivo teria de ser, obviamente, acompanhado pola recuperaçom do segundo lugar na hierarquia eleitoral, consolidando assim o sorpasso do BNG, que ficaria como sócio minoritário ante umha previsível perda da maioria absoluta do PPdG, pois até os mais optimistas prognósticos vaticinam que seguirá a ser a primeira força política eleitoral. Neste objectivo conta com o inestimável apoio do cada vez mais influente Grupo La Voz de Galicia. Tourinho está a agir como presidente in pectore da Junta, apresentando-se como representante directo do governo central na Comunidade Autónoma. Gere as visitas de ministros, influi à hora de desbloquear acordos, dinamizar iniciativas, facilitar encontros, persuadir o governo de Madrid. Utilizando a estratégia do endémico caciquismo, o candidato do PSOE rivaliza com Fraga por monopolizar as manchetes nos meios de comunicaçom, embora o seu discurso, as suas propostas programáticas, além da retórica e das formas, nom apresentem diferenças substanciais com as da direita regionalista e as do autonomismo. Existe um fio condutor nos paradigmas hegemónicos dos discursos de Fraga, Tourinho e Quintana, basicamente na promoçom da mistificaçom social do progresso medido em toneladas de cimento e alcatrám. Para as três forças políticas, -duas espanholas e outra autonómica-, a superaçom dos problemas da Comunidade Autónoma estám vinculados à reclamaçom de mais infraestruturas e mais vias de comunicaçom. O patronato coincide no diagnóstico, tal como as grandes centrais sindicais. É lógico que a burguesia esteja empenhada na construçom de mais auto-estradas, mais autovias, portos exteriores, comboios de alta velocidade, no alargamento dos aeroportos, porque é vital para facilitar o saque das matérias primas e a turistificaçom do País. A realidade do dia a dia das classes trabalhadoras e populares nom existe, ou cumpre umha funçom meramente subsidiária. O desemprego, os baixos salários, a precariedade laboral, os acidentes no trabalho, as dificuldades por chegar a fim de mês, a perda de direitos laborais, o incremento da sobre-exploraçom, da discriminaçom salarial das mulheres, a emigraçom juvenil, supeditamse à demagógica e abstracta defesa da “Galiza empreendedora”, da “Galiza de futuro”, de três opçons político-eleitorais ao serviço exclusivo das diversas fracçons da burguesia e pequena burguesia. Mas neste fraudulento jogo de alternáncia na dominaçom a que se reduz a política institucional, a que sai nos meios de comunicaçom, a que a superstiçom popular considera como única viável e possível, Tourinho pretende rivalizar o espaço do BNG com um discurso galeguista, e com o do PPdG na defesa inquebrantável do quadro institucional. O PSOE representaria o centrismo frente às tendências radicais que subjazem no seio do fraguismo e do autonomismo, embora às vezes o seu nervosismo force a qualificar de “intifada” os namoricos entre Quintana e Nuñez Feijoo, entre os presidentes de Cámaras municipais do PP e do BNG das grandes cidades à hora de unificar esforços contra o alargamento dumha década do calendário do Plano Galiza. A negativa do PSOE a ceder a gerência dos portos e dos aeroportos que reclama a Junta, ou a passividade manifesta no acordo entre Paco Vásques e Fraga para mudar a lei e assim oficializar “La Coruña”, nom favorecem as aspiraçons presidenciais de Tourinho. Mas até Outubro ainda há muito que roer. O BNG, entre a crise e a submissom permanente Desde que em Outubro de 2001 iniciou o ciclo de declínio eleitoral, o BNG ensaiou diversas e variadas vias para se recuperar, embora todas sob o comum denominador de pactuar com o regime a sua plena integraçom. Mas nengumha das medidas até agora aplicadas logrou o objectivo fulcral que persegue: evitar passar a terceira força eleitoral, frear a paulatina flebotomia eleitoral entre os sectores mais avançados da classe obreira e a juventude. Após quatro processos eleitorais consecutivos, a sua direcçom cada vez está mais consciente de que a crise tem carácter estrutural, e que ainda nom tocou fundo. Este ciclo político provocou que emergissem as divergências internas entre as diversas correntes que o componhem, e que, à vez que se pactuava com a representaçom do autoritarismo de Aznar na Comunidade Autónoma em troca de ficar à margem das medidas fascistizantes aplicadas na segunda legislatura do PP, aplicasse a lógica da política burguesa perante as adversidades eleitorais: mudar de líderes mantendo ou aprofundando as políticas que provocárom a crise. Hoje o BNG é umha força política profundamente dividida, incapaz de transmitir a ilusom da segunda metade da década de noventa, mas sobre todo está completamente integrada na lógica do sistema que deu lugar à sua fun- daçom. Nom tem volta atrás. Fascinado polo parlamentarismo e a intervençom institucional, tem renunciado à construçom nacional e apostado pola colaboraçom de classes. Gosta mais da companhia de Fontenla e Vilarinho que do contacto directo com as penalidades da precariedade laboral e o desemprego. As diferenças entre Beiras, Paco Rodríguez, Camilo Nogueira e Quintana nom tenhem carácter táctico, e muito menos estratégico, nom som nem políticas, nem ideológicas. Radicam exclusivamente nos ritmos do processo de integraçom, no controlo do aparelho político interno e dos espaços de poder cedidos polo sistema. É erróneo identificar a Paco Rodríguez com posiçons mais coerentes, ou o beirismo com as mais liquidacionistas. O congresso celebrado pola UPG em meados de Janeiro voltou a constatar por enésima vez o que a corrente marxista da esquerda independentista galega leva dizendo nos últimos dez anos: parte das teses originárias da sua génese há mais de quatro décadas atrás mantinha umhas profundas deficiências congénitas, responsável pola actual deriva autonomista e social-democrata da sua acçom política. “Nunca fomos independentistas nem separatistas” afirmou o actual secretário geral ao início do conclave, apostando pola soberania compartilhada com o Estado espanhol, seguindo a inalterável linha da demagogia de umha estrutura de poder conformada por estômagos agradecidos. Porque a renúncia ao direito e exercício de autodeterminaçom e a elaboraçom de umha proposta de Estatuto de Autonomia em que se institucionaliza o bilingüismo é possível porque no seio do BNG existe um amplo consenso à hora de seguir cedendo e soltando lastro ideológico em aras de recuperar votos a qualquer preço, obsessom dum movimento acomplexado e auto-derrotado. Nestes parámetros há que enquadrar a falhada proposta de frente regionalista polo cumprimento do Plano Galiza e do Plano Estatégico de Infraestruturas e Transporte (PEIT) ofertada ao PPdG, PSOE, patronato e burocracais sindicais, as incomodidades manifestadas à hora de defender o Plano Ibarrretxe, mas também a contraditória posiçom mantida no referendo sobre a Constituiçom Europeia. Nestes últimos seis meses, o BNG aprofundou no discurso cliché, trivial, “para todos os públicos”, de manual de político profissional, como o desses livros que prometem aprender inglês numha semana. O seu líder, adicto aos títulos de imprensa, reproduz umha e outra vez as mesmas declaraçons e comentários, e obcecado por repetir os resultados de 2001 comete o grave erro de nom dar a cara na noite do 20 de Fevereiro para avaliar os resultados do referendo na Comunidade Autónoma. Quintana, nessa noite, deu dez passos atrás nas já de por sim nulas aspiraçons de presidir o governinho autonómico. Isto, unido à batalha particular dele por se desfazer de Beiras impossibilita o BNG de encabeçar umha alternativa ao fraguismo. Até agora nem resultou o fracassado ensaio de pacto à grega com o PPdG para ensombrecer as iniciativas de Tourinho, nem tampouco a tentativa de consensualizar com o fraguismo umha reforma estatutária. O autonomismo esta bloqueado, e por isso solicita um dia sim e outro também eleiçons antecipadas. Terá de aguardar até o cenário de 2009. Porém, daquela nengum dos actuais sujeitos provavelmente continuarám activos. A alternativa unitária do soberanismo socialista Em 1999, a esquerda independentista abria um novo processo configurado por diversas fases, no qual ainda nos encontramos, superador da crise organizativa e de identidade em que se achava. A recuperaçom em 2004 da unidade de acçom, primeiro no Dia da Pátria, e posteriormente na Plataforma Galega polo Nom à Constituiçom Europeia, com todas as contradiçons que quigermos matizar, tem atingido até o momento dous objectivos, modestos, mas tangíveis. Por um lado, superou-se a situaçom de cerco e aliviou-se a criminalizaçom a que nos submete o regime e, por outro, facilitou-se o entendimento com os sectores que ficárom auto-excluidos do Processo Espiral, e com correntes do soberanismo socialista e da esquerda radical, em campanhas comuns que tenhem constatado a existência de um espaço social que demanda iniciativas plurais e unitárias e o sucesso das mesmas. Porém esta nova fase do processo iniciado a finais do passado século nom pode estar marcado pola precipitaçom, e deve estar caracterizado polo respeito aos particulares perfis político-ideológicos dos sujeitos que o configuram, mas também pola demarcaçom clara entre as posiçons de classe da esquerda independentista e o interclassismo do autonomismo. Devemos erradicar o derrotismo e o pessimismo, evitando a mais mínima tentaçom confusionista, guiando-nos pola premissa de unidades na luita, e a permanente construçom de força social com base no combate intransigente contra Espanha, o Capital e o Patriarcado. Carlos Morais é Secretário Geral de Primeira Linha ACTUALIDADE Joseba Alvarez Forcada 4 Nº 35. Janeiro, Fevereiro e Março de 2005 Eleiçons autonómicas 2005 Presente ou nom na Cámara, BATASUNA continuará apostando pola resoluçom política do conflito basco No próximo dia 17 de Abril de 2005, celebrarám-se as Eleiçons autonómicas ao Parlamento Autonómico de Vitória que dirige o Lehendakari Ibarretxe (PNB), e todo aponta para que Batasuna nom poda participar nelas e portanto também nom poda estar presente na Cámara basca, nom porque a cidadania basca tenha deixado de votar-nos, mas porque se nos aplicará a famosa Lei de Partidos espanhola. Com isto, Batasuna perderá os últimos sete representantes institucionais que mantinha dos cerca do milhar de que dispunha antes de ser ilegalizada. Ao todo, roubárom-nos, por nom podermos apresentar-nos nas sucessivas eleiçons, mais de 850 vereadores, mais de 60 presidentes de cámaras municipais, quase 40 junteiros provinciais, meia dúzia de deputados autonómicos em Nafarroa, um europarlamentar e, agora, @s sete deputad@s da Cámara de Vitória... E o que é pior, negárom o direito de sufrágio passivo, quer dizer, o direito a apresentar-se às eleiçons como candidatos, a milhares e milhares de cidadaos e cidadás bascas, e o direito a votá-los a mais de 150.000 pessoas que habitualmente nos votavam. Chegamos a ter perto de 280.000 votos em 1999. A todos eles e elas, negárom-se-lhes os direitos civis e políticos democráticos mais fundamentais. Mas, apesar de sermos ilegalizados, a pesar de nom podermos realizar campanhas eleitorais, apesar de termos de votar com boletins ilegais a candidatos ilegais de formaçons políticas ilegais, mais de 110.000 pessoas continuárom a introduzir o boletim ilegal nas urnas eleitorais num acto de desobediência civil massiva e sem precedentes na Europa. E é que, ilegalizada ou nom, a esquerda independentista basca continua viva. O pior de todo, é que a 18 de Abril de 2005 já nom ficará na Euskal Herria sob administraçom espanhola nengumha instituiçom, quer seja local, provincial ou autonómica, que represente realmente a vontade popular emanada das urnas. Por isso falamos em Euskal Herria de apartheid político contra a esquerda independentista e socialista basca. A partir do dia 18 de Abril de 2005, continuará pendente a resoluçom política do conflito basco, só que a nossa ausência total das instituiçons, se é que assim se produz finalmente, dificultará ainda mais o difícil caminho actual. políticos, sociais e sindicais que trabalhem em Euskal Herria, independentemente de serem nacionalistas bascos ou nom. Um acordo político, nom em chave de projecto político partidista que nos divide no seio da sociedade basca, mas em chave democrática, aspecto que nos une a todos e, além disso, garante a resoluçom do conflito basco. Um acordo que, naturalmente, inclua a criaçom dum cenário de paz e o reconhecimento dos direitos do Povo Basco e da sua cidadania. Esse foi o objectivo do Novo Contributo Político realizado no passado dia 14 de Novembro de 2004 no Velódromo de Donostia, e esse é o sentido da proposta que Batasuna levou ao Foro de Debate Nacional. Por outro lado, ETA remeteu vários comunicados a vários meios de comunicaçom bascos em que realiza um diagnóstico da oportunidade aberta polo «fracasso do modelo autonomista» e a entrada num novo ciclo político com a chegada do Presidente Zapatero ao Governo de Madrid, e em que dá umha resposta directa e afirmativa à iniciativa de Batasuna. ETA expressa o seu total apoio a empreender um processo que leve à soluçom do conflicto nos termos apresentados na proposta lançada por Batasuna: duplo diálogo, um entre representantes políticos (sociais e sindicais) para pactuar os conteúdos políticos democráticos do acordo e, de outra parte, um diálogo entre a ETA e os estados para tratar dos conteúdos da desmilitarizaçom do processo e dos efeitos colaterais do mesmo: presos políticos, vítimas... Aposta partidista de Ibarretxe e do PNB Queremos que a mudança de quadro jurídico traga a paz Apesar de todo isto, e depois de 25 anos de luita, Batasuna constata com grande satisfaçom que o trabalho da esquerda independentista e do povo basco conseguírom que os planos e os quadros políticos que buscavam diluir definitivamente os anseios de soberania deste país tenhem fracassado, e que volta a ratificar-se que o conflito político que enfrenta os estados espanhol e francês com o Povo Basco só é possivel solucioná-lo pola via do diálogo, a negociaçom, o acordo e o referendo por parte da sociedade basca. O processo de paz Lizarra-Garazi de 1998 pujo os alicerces do processo democrático basco, provocando umha crise política irreversível tanto nos dous quadros autonómicos da Comunidade Autónoma Basca e de Nafarroa em território espanhol, como nas três províncias bascas do território francês. A partir daí, ninguém neste país pudo apresentar ofertas políticas que nom tenham como esteios fundamentais ao conjunto de Euskal Herria e o direito a decidir da cidadania basca em situaçom de paz. Em conseqüência, os instrumentos políticos do Estado espanhol e o Estado francês ficárom inabilitados e o povo basco acha-se ante umha nova encruzilhada de grande envergadura: dar por definitivamente enterrados os modelos administrativos actuais e apostar por um novo quadro jurídico que traga umha soluçom política definitiva ao conflito político e armado basco, respondendo à necessidade e à demanda da maioria da sociedade basca; ou, entom, repetir fórmulas políticas fracassadas que nom resolvem o conflito. Por isso, Batasuna marcou as coordenadas para a resoluçom no contributo “Orain herria, orain bakea”, feito público a 14 de Novembro de 2004 no Velódromo de Anoeta em Donóstia. Entendemos que a actual situaçom política (crise dos status políticos, novas propostas, consulta popular) é terreno fértil para o início dum processo de paz que garanta a superaçom do conflito e o respeito de todos os direitos de todas as pessoas em toda Euskal Herria. Batasuna considera que o processo de superaçom do conflito requer pôr em andamento um diálogo político multilateral cujo objectivo deve ser a construçom, de maneira acordada, dum cenário que possibilite o tránsito face um novo quadro democrático válido para todos. Dito acordo deve ser referendado, inevitavelmente, pola cidadania de Euskal Herria. Entendemos que os assinantes do acordo deverám, além disso, constituir a interlocuçom democrática do nosso povo, abrindo um processo de diálogo e negociaçom com os Estados espanhol e francês e a Uniom Europeia, para garantir o desenvolvimento multilateral dos conteúdos do acordo. Batasuna entende que para que o diálogo seja possível, este tem de ir acompanhado dumha série de compromissos que garantam a vontade clara e inequívoca de todas as partes. Batasuna deu um primeiro passo apresentando a proposta, passo que vem acompanhado por um lado com a posiçom adoptada no Parlamento Autonómico de Araba, Bizkaia e Gipuzkoa, na mesma direcçom e com o mesmo objec- tivo: um nom rotundo e claro à possibilidade dum novo estatuto que nom resolva o conflicto e um sim rotundo a um acordo entre todos que abra as portas a um cenário de paz no nosso país. E por outro lado, realizou um outro contributo no mesmo sentido ao Grupo Promotor para a Resoluçom do Conflito surgido do Foro De Debate Nacional que pretende apresentar à sociedade basca um primeiro pré-acordo multilateral como base de partida do processo de paz a finais do próximo mês de Março de 2005. Posiçom de Batasuna ante o Plano Ibarretxe A proposta realizada pola democracia cristá basca (PNB), denominada Plano Ibarretxe, e que foi submetido a votaçom parlamentar no dia 30 de Dezembro de 2004, reconhece –porque assim o reclama a maioria social de Euskal Herria- que o País Basco é composto polas sete províncias repartidas entre os estados espanhol e francês, reconhece que o Povo Basco tem o direito à livre determinaçom e manifesta que a cidadania basca tem de ser consultada a respeito do seu futuro em condiçons de paz, e que a decisom tomada em liberdade polos e polas bascas, tem de ser respeitada por todas as partes. A Esquerda Independentista Basca aceita esses conteúdos do Plano Ibarretxe como bases políticas válidas para todos como aspectos fundamentais de qualquer acordo de paz e resolu- çom política em Euskal Herria, visto que as vem defendendo nos últimos anos. Porém, o Plano Ibarretxe, após realizar estas afirmaçons, propom realizar umha simples reforma estatutária para três das sete províncias bascas e chegar a um acordo de reforma de Estado com o PSOE. É evidente que a Esquerda Independentista Basca no compartilha o projecto político estatutário do PNB, mas distingue o que é o direito do Povo Basco a ser consultado, do que é o projecto político da democracia cristá basca (PNB), já que nós somos independentistas e socialistas basc@s. Dizemos, portanto, “SIM” ao direito à livre determinaçom incluído na consulta proposta no Plano Ibarretxe, mas dizemos “NOM” à reforma estatutária. E adoptamos esta posiçom porque para Batasuna nom é o momento de apresentar projectos políticos de partido; antes, é o momento de estabelecer as bases democráticas para a resoluçom definitiva do conflito político que vive o nosso país que, além disso, garanta na dita resoluçom a viabilidade real de qualquer projecto político que adopte a maioria social basca em situaçom de paz, quer seja centralista, regionalista, federalista ou independentista. Proposta ante o Grupo Promotor para a Resoluçom do Conflicto Batasuna tenciona fortalecer um acordo político compartilhado entre todos os agentes Por todo isto, Batasuna criticou duramente a actuaçom do PNB nas útimas semanas. Primeiro, porque decididiu adiantar as Eleiçons autonómicas a 17 de Abril de 2005, com um claro interesse eleitoral partidista e sabendo que Batasuna nom poderia estar presente nelas. Podia ter atrasado o prazo de convocatória até Junho e buscar algumha saída à possibilidade de garantir a presença de todas as forças políticas, mas preferiu procurar a sua maioria absoluta à custa da ausência de Batasuna na Cámara. E, de outro lado, fijo o mesmo no referendo sobre o Tratado Constitucional que se realizou no passado dia 20 de Fevereiro de 2005. O PNB deu um SIM muito claro, unido ao SIM do PSOE, do PP e da classe empresária a um Tratado Constitucional europeu que nega o reconhecimento da naçom basca, da sua língua, do direito à autodeterminaçom que dispom e incluso os direitos sociais dos e das trabalhadoras que vivem em Euskal Herria. Mais umha vez, para o PNB prevalecêrom os interesses financeiros e empresariais por cima dos de Euskal Herria. Apesar do apoio do PNB, do PSOE e do PP, apenas 25 % do censo dixo SIM ao Tratado Constitucional Europeu, e, dos votos emitidos, mais de 30 % fôrom de NOM. Apesar de que as forças implicadas no SIM fôrom mais que no Estado espanhol, a participaçom em Euskal Herria foi cinco pontos inferior, e, os votos do NOM em Euskal Herria dobrárom os do NOM no Estado espanhol. Algo parecido, embora menos intenso, aconteceu na Catalunya, precisamente na outra naçom sem Estado do Estado espanhol que também vive um conflito de transformaçom do quadro político a que se acha submetida. O PNB engana-se se pensa que jogando em benefício próprio na situaçom política actual de Euskal Herria vai sair ganhando. A 18 de Abril de 2005, terá de enfrentar-se à resoluçom do conflito com Batasuna provavelmente fora das instituiçons... Que papel central pode jugar umha instituiçom que nom representa a todos e todas? E vai enfrentar um Tratado Constitucional Europeu que apoiou e que lhe nega a existência mesma a Euskal Herria. Como encaixar a soluçom do conflicto basco na Uniom Europeia com um tratado assim? Quiçá a resposta esteja em que o PNB nom está pensando nisso, mas isso, no longo prazo, nom lhe há de ser perdoado pola sociedade basca. Joseba Alvarez Forcada é o Responsável de Relaçons Internacionais de Batasuna Historicamente, tem-se demonstrado o papel fundamental jogado pola juventude em todos os movimentos de tipo sócio-político que aspiravam a umha mudança na estrutura social onde se desenvolviam, qualquer que fosse a sua orientaçom ideológica. Porém, nom pode ser doutro jeito enquanto qualquer projecto político que aspira a se perpetuar tem de contar com um relevo geracional que garanta a sua sobrevivência. Tratase dumha questom que resulta dumha evidência absoluta, contrastável com a aplicaçom do mais simples pensamento lógico. Em todo o caso, quando estamos a nos referir a movimentos políticos de carácter emancipador, revolucionários, o imperativo de incorporar a juventude como sector social integrado no movimento político fai-se ainda mais urgente e desenvolve-se sob umhas condiçons particulares. @s jovens que fam parte de classes e povos oprimidos adoitam configurar junto às mulheres as fracçons mais agredidas polas condiçons de exploraçom, e portanto constituem a parte mais interessada em termos objectivos para atingir mudanças de calado nas condiçons materiais de existência. Somem-se a este condicionante objectivo de fracçom sobre-explorada as características próprias da juventude como sector social: faculdades físicas e psíquicas na plenitude, predisposiçom para a mudança de vida, etc... e entenderemos ainda melhor porque para os movimentos revolucionários resulta tam importante a participaçom de jovens no seu seio. Nom é um exagero dizer que nas revoluçons sempre a juventude cumpriu um papel fulcral. Nom nos estamos a referir, é claro, a que seja a mocidade o elemento central dos processos revolucionários, já que como marxistas entendemos que a centralidade corresponde à categoria classe social; nem tampouco estamos a ignorar que nas direcçons dos movimentos revolucionários tenha sido fundamental o contributo da experiência de militantes de diversas geraçons, mas a que o grosso dos efectivos revolucionários é integrado maioritariamente por jovens. Quem sai às ruas, quem forma as colunas guerrilheiras, quem rompe com as estruturas do reformismo e cria novas organizaçons, historicamente tenhem sido na sua maioria jovens em que os vícios do burocratismo ou a implacável acçom da desilusom provocada por anos e mais anos de submissom ainda nom figérom mossa. A mocidade galega do século XXI Partindo destas premissas, nom é estranha a importáncia que no nosso projecto de revoluçom damos à organizaçom e estruturaçom da mocidade. Para a esquerda independentista galega, a participaçom da mocidade é dumha urgência absoluta enquanto o risco de asimilaçom nacional é umha evidência no imediato que só pode ser refreada se conseguirmos somar às nossas fileiras umha parte substancial da juventude galega. A mocidade galega de começos do século XXI nom é alheia às mudanças de fundo que está a sofrer a estrutura social em que se integra. O nosso país está a passar por um momento de mudanças radicais geradas pola acelerada destruiçom dos restos sociais pré-capitalistas. O retardo na inserçom plena no modo de produçom capitalista provoca que estes sejam ainda mais traumáticos, e que ao se darem através da dominaçom imperialista espanhola venham acompanhados da destruiçom das bases materiais em que assenta a consciência nacional galega, nomeadamente o idioma. A Galiza do século XXI é cada vez menos o país das aldeias, da dispersom populacional e dum modelo económico baseado na pequena propriedade agrária de características minifundistas. Cada vez mais, a populaçom galega convertese em urbana ou semi-urbana, mantendo-se em parte a habitaçom no meio rural mas descendo dum jeito brutal a dedicaçom laboral às tarefas agrícolas. Dos 70% de trabalhadores/as agrícolas que havia na Galiza de 1950, passamos aos escasos 10% de 2005, e com tendência para descer. Na Galiza do século XXI, há umha maioria de trabalhadores/as assalariad@s na indústria, a construçom e o sector serviços que vivem fundamentalmente na grande área de desenvolvimento urbano comunicada pola A9 e em torno das três grandes cidades do interior (Ourense, Lugo e Ponferrada). Umha nova face para a realidade galega em que som evidentes os efeitos da assimilaçom cultural que afecta dum modo agravado às geraçons mais novas, enquanto as ligaçons destas com o modo de vida tradicional é cada vez mais difuso ou mesmo inexistente. Hoje já som muit@s @s moç@s nascidas na envolvente urbana, maioritariamente espanholizada, que nom tenhem como língua materna o galego, senom o espanhol. Para além disto, a nova face da Galiza implica umha homologaçom quase total das pautas de comportamento social da mocidade com os padrons próprios de qualquer área do ocidente capitalista. As aspiraçons vitais, as pautas de ócio, etc... de qualquer moç@ galeg@ som em grande medida mais semelhantes às dum/ ha moç@ da Alemanha ou de França do que as que tinham seus pais ou avós à mesma idade. Falando em termos científicos. As manifestaçons mais típicas da alienaçom ideológica capitalista som patentes na absoluta maioria da mocidade do nosso país. Berta Lopes Permui Nº 35. Janeiro, Fevereiro e Março de 2005 ANÁLISE 5 O movimento juvenil e a esquerda independentista Ferrol, 10 de Março de 2005 A política da esquerda independentista para a juventude Diante desta tessitura, a esquerda independentista galega nom pode ficar parada nem agir como se a realidade fosse outra. As mais mínimas condiçons para a sobrevivência do nosso projecto nacional, tais som o relevo geracional imediato, estám em perigo, polo que é prioritária a acçom política entre e para a mocidade. Trata-se nom só de ganhar para a causa da libertaçom nacional a um amplo sector de moç@s, senom de fazer partícipe à parte desse sector social pertencente ao Povo Trabalhador Galego do proceso de construçom nacional que queremos levar avante. @s moç@s de extracçom obreira e popular, como dizíamos anteriormente, conformam umha das fracçons do PTG mais interessadas de jeito objectivo na libertaçom nacional e social de género. Só temos que olhar para as condiçons de vida que já sofrem @s moç@s galeg@s, e que todos os sintomas indicam que @s vam acompanhar no resto da sua vida: salários de miséria, instabilidade laboral, horários abusivos, carência de direitos laborais, etc... As condiçons em que vive a maioria da populaçom jovem do nosso país acentuam ainda mais a imagem que Marx queria transmitir naquela frase do Manifesto Comunista quando dizia que “@s proletári@s no capitalismo nom tenhem mais a perder para além das suas cadeias”. A nossa política dirigida para a mocidade deve incidir nessa questom, pôr de relevo a miséria em que o capitalismo está a afundir a mocidade galega, e como utiliza a opressom nacional para reforçar ainda mais as condiçons de exploraçom. Insistir que sem a edificaçom dum modelo nacional galego oposto ao espanhol nom é possível a emancipaçom, e que esse projecto nacional tem de ser construído polo Povo Trabalhador Galego para o pôr ao serviço dos seus interesses objectivos. Assimesmo, deve-se fazer um especial fincapé na opressom acrescentada que sofrem as moças e rebelar como o patriarcado reforça o poder da dominaçom do capital. O MLNG tem que pôr a nu, diante dos olhos da mocidade, como Espanha é na realidade o projecto nacional da opressom capitalista. Um projecto nacional que se esforça em aniquilar os mais mínimos restos da identidade nacional galega porque sabe que estes som básicos para a organizaçom e estruturaçom dumha alternativa viável ao capitalismo no nosso país. Temos que ser quem de acordar e criar na mocidade de extracçom obreira e popular da Galiza a consciência da sua exploraçom e indicar o caminho da emancipaçom. Insistimos que se o MLNG nom ganha para a causa da independência, o socialismo e o antipatriarcalismo um importante sector da mocidade, a batalha estará perdida, posto que em poucas geraçons, talvez em só duas, desaparecerám as bases materiais do nosso projecto nacional. A auto-organizaçom, premissa imprescindível O único jeito de garantir a participaçom activa da mocidade no processo de libertaçom nacional e social de género nom é o de aguardar a que espontaneamente @s moç@s galeg@s fagam seus os nossos ideais e programas políticos, senom a de promover a auto-organizaçom em estruturas juvenis de todo o tipo que articulem, criem, desenvolvam e canalizem a actividade social da juventude popular dum jeito colectivo. Nom podemos aguardar a que as estruturas “adultas” da esquerda independentista nos dem as soluçons aos nosso problemas senom que temos que ser quem de definir essas soluçons por nós próprias. Por este motivo, a questom da existência dumha organizaçom sectorial de juventude do MLNG é tam importante. Esta estrutura deve servir como elo de angaste do MLNG com a mocidade e da mocidade com o MLNG, e recalcamos a ideia do elo já que o que se precisa nom é umha mera correia de transmisom. Trata-se dumha relaçom dialéctica que se tem de retro-alimentar. O MLNG dá a noçom de globalidade do projecto revolucionário rumado para a transformaçom de todas as estruturas sociais, económicas, políticas e ideológicas, e a organizaçom da mocidade desenha e aplica a política sectorial adequada a essa noçom global, mas também influindo na configuraçom dessa mesma globalidade. A organizaçom da juventude do MLNG deve cumprir o papel de consciência política colectiva do movimento juvenil galego. A sua funçom tem que ser a de analisar a realidade e desvendar quais som as necessidades reais d@s moç@s, informar e agitar sobre essas necessidades, e movimentar a mocidade galega na luita polas suas demandas. No imediato, as tarefas prioritárias para a organizaçom juvenil do MLNG passam fundamentalmente por quebrar por todos os meios possíveis a ilusom da normalidade gerada pola alienaçom ideológica. Na Galiza, a situaçom que vivemos moços e moças nom pode ser considerada normal estando como estamos despossuíd@s do nosso idioma e da nossa cultura, sofrendo um sistema educativo que tam só pretende doutrinar-nos como bons cidadaos da Espanha e como submiss@s futur@s trabalhadores/as, forçados a um futuro laboral incerto salvo na miséria e a exploraçom que aguarda por nós seja qual for esse futuro. Nom podemos considerar normal que se continue a impor um modelo social em que as moças ocupamos umha posiçom de segunda categoria, em que a nossa sexualidade continua a ser considerada tam só em chaves reprodutivas e da que é claro que nom podemos considerar-nos donas. É urgente promover revulsivos que visibilizem a existência da oposiçom ao sistema dominante. Este é um passo prévio para que esta oposiçom poda ser considerada viável e necessária para as mais amplas massas. E estes revulsivos devem dar-se sobre aqueles factores da dominaçom mais evidentes e mais gravosos para a mocidade. No nosso ponto de mira situa-se o exército e as forças policiais, as instituiçons que som garante armado do status quo; a Igreja católica e todas as instituiçons que fam apologia das manifestaçons mais evidentes do patriarcado; os principais agentes da espanholizaçom do nosso país, atendendo especialmente ao aspecto idiomático, tais como instituiçons culturais-educativas e meios de comunicaçom; e com certeza o principal beneficiário da nossa exploraçom, o Capital personificado em todos os empresários que se aproveitam do nosso trabalho. Temos que aprender de vez a partir das preocupaçons mais urgentes da mocidade para levar avante a nossa actividade. Na agenda da organizaçom da juventude do MLNG no dia de hoje nom pode aparecer só a agitaçom de palavras de ordem estratégicas ou mesmo de acabados planos tácticos que nom sejam compreendidos, e portanto assumidos, por parte de quando menos os núcleos mais rebeldes da mocidade galega. Hoje temos de falar de independência, socialismo e anti-patriarcado partindo das manifestaçons concretas da precariedade laboral, da ilegalizaçom de determinadas drogas e a lei do botelhom, das campanhas de recrutamento do exército espanhol, das dificuldades para aceder a anti-conceptivos e a ilegalidade do aborto, ou da ausência dumha cultura de massas no nosso idioma. Mas a nossa acçom nom se pode reduzir à agitaçom senom que paralelamente devemos ajudar a promover todo o tipo de experiências associativas que configurem um autêntico movimento juvenil galego. Tam importante como que numha localidade exista umha assembleia de jovens independentistas ligados ao MLNG é que nela haja organizaçons culturais, sociedades desportivas, de mulheres moças, cine-clubes, etc... criados e dirigidos por jovens e em que as militantes da esquerda independentista podam desenvolver o seu trabalho. Trata-se de criar espaços de socializaçom que conformem umha juventude com vontade de se emancipar em todos os níveis da sua existência. O modelo de organizaçom juvenil que deve impulsionar o MLNG Na actualidade, a esquerda independentista galega passa por umha situaçom de anormalidade polo referente a sua própria estruturaçom no campo juvenil, convivendo na altura diversos projectos políticos juvenis que se situam em coordenadas políticas muito próximas. Tal situaçom é achacável a existência de diferentes focagens políticas que ultrapassam o propriamente juvenil, mas que no campo preciso deste sector apresentam se calhar um maior acirramento do que noutros. Em todo o caso, a anormalidade desta situaçom nom pode ser, nem é, impedimento para que @s comunistas de prática independentista organizados em Primeira Linha apostemos por um determinado modelo organizativo que na actualidade está representado dum jeito mais acabado em BRIGA. O modelo que nós defendemos para a orga- nizaçom de mocidade do MLNG reflecte, em primeiro lugar, a conceiçom geral de movimento que @s comunistas galeg@s vimos defendendo nos últimos anos durante todo o processo de configuraçom do novo independentismo, umha conceiçom em que a pluralidade é umha exigência para todas as organizaçons unitárias que existam. Pluralidade que tem de ir acompanhada em todo o momento do reconhecimento da legitimidade da existência de correntes organizadas. É por este motivo que nom podemos aceitar que umha corrente concreta pretenda arrogar-se a exclusividade sobre um sector de luita concreto. Doutra parte, a aceitaçom da nossa integraçom dentro dum movimento político mais amplo, totalizador, o MLNG, exige que fagamos do mais escrupuloso respeito à sectorializaçom um dos nossos sinais identitários. Para o bom funcionamento do MLNG, e por derivaçom para o correcto desenvolvimento de BRIGA, temos de agir em todo o momento respeitando as esferas de actuaçom das outras organizaçons do MLNG e coordenar a nossa actividade nos casos em que se exija umha actuaçom que atinja todos ou vários dos sectores. O MLNG nom ganha nada se habitualmente há várias entidades que desenvolvem idênticas campanhas, muito polo contrário, alarga-se a sua capacidade se as diferentes expressons organizativas do movimento desenvolvem correctamente a sua funçom sectorial complementandose e aprofundando no desenho dumha linha de actuaçom política comum a todo o movimento o mais ampla e acabada possível. Para além destas premissas orgánicas básicas ligadas ao desenho interno do MLNG, há outras características que entendemos devem ser próprias da organizaçom juvenil da esquerda independentista. A necessidade de um agir caracterizado pola combatividade e radicalidade prática, questionando ao máximo a “normalidade democrática”. Nom basta com que umha organizaçom se diga revolucionária, nem tam sequer que o seu programa político seja muito avançado, senom que tem de demonstrar pola via dos factos que nom tem nengum apreço polo sistema vigorante e que está disposta a todo para o derruir e edificar um novo mais justo. Além do mais, a própria proposta de movimento juvenil que fazemos, em que distinguimos um nível mais amplo, onde tenhem cabimento colectivos, organizaçons e entidades de mocidade de todo o tipo, dum outro mais restricto, ocupado pola organizaçom política de mocidade, obrigam a que proponhamos que BRIGA nom deva ser umha organizaçom de filiad@s senom de militantes. Isto é, BRIGA tem de ser a rede estruturada de quadros do movimento juvenil galego e o compromisso adquirido pola sua militáncia tem de ser elevado. Som muitos os factores que influem nesta necessidade, mas fundamentalmente devemos resaltar a renúncia consciente, voluntária e pracenteira que supom a dedicaçom de boa parte das horas de lazer que a maioria da mocidade emprega a qualquer outra cousa e que @ militante deve dedicar a reunions, planificaçom de actividades, distribuiçom de propaganda, organizaçom de mobilizaçons,... em definitivo, a fazer a revoluçom. Também nom devemos ignorar que umha organizaçom juvenil deste tipo vai sofrer a repressom, nos mais diversos níveis, polo que é preciso que quem a integre adquira o compromisso e esteja o suficientemente segur@ de poder agüentar as coacçons no ámbito familiar, laboral, educativo e com certeza as exercidas por parte dos aparelhos repressivos do Estado espanhol. Já num segmento menos organizativo e mais político, devemos insistir, mais umha vez, em que a política de BRIGA deve ajustar-se à realidade concreta da mocidade, eludindo em todo o momento idealizaçons e análises erradas. Isso sim, o conhecimento desta realidade e a nossa adaptaçom a ela nom pode fazer-nos esquecer que a nossa intençom e transformá-la radicalmente, polo que devemos luitar contra todo género de alienaçom que na actualidade caracteriza a mocidade galega. BRIGA nom pode falar espanhol ainda que a maioria d@s moç@s o fagam, nom pode ser machista ainda que as condutas patriarcais sejam maioritárias entre a juventude, nom pode assumir o consumismo e as pautas de ócio destrutivas e alienantes por mais que sejam a norma geral... muito polo contrário, deve luitar contra cada umha destas manifestaçons da alienaçom do sistema luitando por construir a nossa alternativa. Em resumo, para a sobrevivência do projecto nacional galego e a possível edificaçom dessa Galiza independente, socialista e livre do patriarcado por que luitamos, é absolutamente necessária a incorporaçom ao MLNG de amplos sectores da mocidade operária e popular do nosso país. Mocidade que na actualidade sobrevive numhas condiçons materiais realmente aterradoras e que é vítima directa dos debastadores efeitos da alienaçom ideológica promovida polo capitalismo. Só partindo da auto-organizaçom e da ligaçom do movimento juvenil galego ao MLNG se pode pôr freio ao processo de assimilaçom nacional e apresentar batalha sob umhas mínimas possibilidades de vitória. Sabemos que o caminho é difícil, mas nom nos fica mais remédio que andá-lo se realmente aspirarmos a edificar umha sociedade melhor. Berta Lopes Permui forma parte da Mesa Nacional de BRIGA Maurício Castro 6 ANÁLISE Nº 35. Janeiro, Fevereiro e Março de 2005 Ainda contra a Constituiçom europeia: algumhas reflexons sobre o referendo na Galiza No passado dia 20 de Fevereiro realizou-se o terceiro referendo em território galego desde que foi aprovada a Constituiçom espanhola de 1978. O primeiro tinha sido o estatutário, em 1980, e nele confirmara-se a constante falta de identificaçom do povo galego com os modelos institucionais impostos, em forma de elevadíssima abstençom e reduzidíssima percentagem de votos positivos. Lembremos que três em cada quatro galegos e galegas nom fôrom votar na altura, o que nom impediu a aprovaçom do Estatuto de Autonomia ainda hoje vigorante, avalizado por apenas 450.556 votos favoráveis num censo de votantes de 2.172.898, quer dizer, 20’7%. Já na própria Constituiçom de 78, com 27,7% votos afirmativos e umha abstençom de 49,8%%, ficara clara a atitude abstencionista galega, como mais tarde se confirmou no referendo sobre a incorporaçom do Estado espanhol à NATO (1986), quando a populaçom da CAG voltou a virar costas com um índice de abstençom de 62%. Porém, se durante estas décadas tem havido umha clara falta de assentamento da estrutura institucional imposta polo Estado espanhol à realidade social galega, verificável na falta de participaçom eleitoral, o passar dos anos semelha estar a “normalizar” as relaçons Galiza-Estado, com umha progressiva maior participaçom nas eleiçons e referendos proporcional à crescente passividade e desarticulaçom sociais. A normalizaçom da participaçom em processos legitimadores da democracia formal hispana acompanha o enfraquecimento de fórmulas de participaçom popular que pudessem alicerçar umha autêntica democracia participativa. Embora poda esta realidade ser matizada polo periódico surto de respostas massivas e espontáneas contra graves agressons como a que recentemente provocou o Prestige, o próprio jeito como esses levantamentos som reconduzidos polas forças reformistas ao serviço do sistema confirma as graves carências do movimento popular para manter a independência política e organizativa nas iniciativas nascidas do seu seio. Existem mecanismos de fundo, com raízes históricas de dominaçom social, que explicam tanto o tradicional abstencionismo galego como as grandes dificuldades para fortalecer fórmulas e organismos de autoorganizaçom frente ao processo desnacionalizador liderado polo capitalismo espanhol no nosso país. Há quem tenha querido ver na alta percentagem abstencionista umha forma consciente de objecçom aos planos reformistas emanados dos Pactos da Moncloa, quando se tratou mais bem do resultado de um total abandono institucional de um país, o galego, sempre desprezado e esquecido, alheio a dinámicas políticas impostas de cima e de fora, e décadas por trás dos ritmos de avanço capitalista e portanto de resposta operária consciente, na já por si periférica Península Ibérica. Agora, quando nas últimas décadas se tem produzido umha modernizaçom em infraestruturas, incorporaçom ao sistema educativo e alcance dos media como modeladores da opiniom social, junto à urbanizaçom forçada, a Galiza começa a homologar-se com outras naçons e territórios semelhantes na periferia europeia, também no que di respeito a comportamentos eleitorais. Nem serve a explicaçom do histórico abstencionismo em termos de consciência dissidente explícita, nem serve o derrotismo destilado por certas análises, ao depararem com os resultados do último referendo, que situou a Galiza mesmo por baixo do nível médio do Estado espanhol quanto a rechaço à Constituiçom europeia. Se noutras naçons sem Estado a negaçom do sistema espanhol tem sido historicamente explícita e verificável em diversos parámetros sociais, políticos e eleitorais, na Galiza, os minoritários sectores nacionais temos recorrido à psicologia e à inibiçom em relaçom às dinámicas impostas por parte de amplos sectores populares para explicar o nosso facto diferencial. A homologaçom da participaçom eleitoral galega com a média espanhola relativiza essas explicaçons e deixa ao léu a real e mensurável menor consciência nacional existente no nosso povo, devida sem dúvida a um processo histórico mais avançado de assimilaçom por parte do projecto nacional espanhol. Também nom serve, por isso, lacrimejar agora lamentando a morna resposta eleitoral galega a um neoliberal e selvagem Tratado constitucional que merecia umha contundente resposta. Nem há vinte anos estávamos tam bem, nem agora estamos tam mal. Deveremos entom tentar umha leitura realista do que nos dim os dados de participaçom e os resultados do referendo do passado 20 de Fevereiro, que situárom a Galiza por Acto desenvolvido em Ferrol no mês de Fevereiro Aspecto dumha sessom do Foro Social Galego desenvolvido em Janeiro baixo do que muitos estavam à espera. Para já, deveremos começar por afirmar sem dúvida que os resultados do referendo nom vinculante convocado polo Governo espanhol invalidárom democraticamente a incorporaçom dos povos do Estado à Europa dos Estados e o capital. Tal evidência serve igualmente para a Galiza, que no território da Comunidade Autonóma apresentou um nível de abstençom de 56,9 %, quer dizer, 1.315.958 galegos e galegas, que juntamente com os 120.219 votos explicitamente contrários ao Tratado (12,2%) e os também conscientes 63.945 votos em branco (6,4%) configuram umha ampla maioria superior ao milhom e meio de eleitores e elitoras, 76% de galegos e galegas com direito ao voto que nom aprovárom o projecto constitucional apresentado polo Estado espanhol. Do outro lado, 800.811 galegos e galegas votárom sim. O carácter viciado do sistema actual dá por inexistentes os votos em branco e a abstençom, confrontando unicamente votos afirmativos e negativos como forma de manter a ficçom da legitimidade democrática. No entanto, a realidade é que, se bem essa maioria de galegos e galegas que nom apoiárom o Tratado fica longe de representar umha maioria social articulada e consciente frente aos valores desse Tratado, nom por isso deixa de significar, mesmo em termos aritméticos, o questionamento de um modelo “democrático” que nem respeita as próprias regras do jogo quando os resultados nom som tam favoráveis como alguns desejariam. Ao questionamento anterior, podemos acrescentar todo o desenvolvimento da campanha do referendo, com as instituiçons e meios de comunicaçom a defender explicitamente o sim, com muitos milhons de euros ao serviço da mensagem dos grandes partidos e com um veto quase absoluto a qualquer mensagem em defesa do nom. Sendo verdade todo o que já dixemos, deveremos também debruçar sobre os resultados na Galiza, que frente à pretensom declarada pola esquerda independentista, nom conseguírom marcar umha certa distáncia a respeito da média espanhola, tal como sim aconteceu no País Basco e na Catalunha. Para países como o nosso, sem possibilidade de decidir por si próprio o estatuto político e o modelo de relaçom com os povos vizinhos, ocasions como a do 20 de Fevereiro tenhem umha dimensom maior do que o próprio referendo significa. Foi umha ocasiom de fazermos valer a nossa existência diferencial, e daí que o nosso independentismo desse a importáncia merecida a umha convocatória que, de resto, nom tinha carácter decisório. É claro que o Tratado vai ser aplicado por igual na Catalunha, o País Basco e a Galiza, como no resto do Estado. Porém, ninguém duvida do valor político da diferencial percentagem de rechaço atingido polos povos catalám e basco, e todos os analistas soubérom fazer a leitura do que isso significa na dialéctica interna de luita nacional existente no seio do Estado espanhol. Por isso os resultados desses dous países som sentidos como um triunfo nacional, enquanto o acontecido na Galiza provoca umha leitura em termos de “normalidade” e assimilaçom à realidade uniforme espanhola, negativa portanto para os nossos interesses nacionais e de classe. Nom é nengumha novidade reconhecermos a difícil situaçom que enfrentamos como povo, agravada na última década, num período paradoxalmente coincidente com a consolidaçom de umha força nacional e progressista no mercado eleitoral da Comunidade Autónoma da Galiza. A explicaçom para essa -em aparência- contraditória tendência tem sido já dada pola esquerda independentista: o fortalecimento eleitoral do nacionalismo do BNG nom tem ido acompanhado de um crescimento ordenado das estruturas políticas, sindicais, culturais e sociais do movimento nacional-popular em que se forjou essa máquina eleitoral chamada Bloque Nacionalista Galego. Ao contrário, a significativa rede de resistência política pola ruptura democrática existente nos anos da chamada Transiçom esmoreceu e viu-se reduzida a mais uma força eleitoral que em nada questiona o sistema e assume a posiçom subsidiária da Galiza como parte de Espanha. O progressivo aggiornamento da direcçom e boa parte das bases nacionalistas é bem visível na ausência de um discurso e, sobretodo, de umha prática alternativa para um povo que queira constituir-se em naçom com todo o que isso implica. Em lugar disso, as mensagens pensadas para a média social e a indiferenciaçom frente aos grandes partidos espanhóis tem neutralizado o grande potencial de resistência e construçom nacional que chegou a representar a esquerda nacionalista galega. As posiçons do mundo do BNG ante o referendo fôrom umha boa mostra do processo degenerativo em que se encontra. Incapaz de decidir umha posiçom oficial até poucas semanas antes do mesmo referendo, nunca chegou a decidir umha posiçom clara que guiasse a actividade de campanha. Só a persistência de certa coerência de classe em sectores nacionalistas ligados ao movimento operário e sindical, e com ainda algum peso no próprio BNG através da UPG em comarcas como Vigo, evitou que a direcçom optasse por um sim crítico como figérom os sócios do PNB e CiU. Porém, as contradiçons fôrom evidentes e públicas, com importantes sectores e líderes do BNG a fazer campanha abertamente favo- rável a um Tratado constitucional negador da Galiza como naçom e reaccionário em matéria de direitos sociais. Nada mais longe da nossa intençom que transmitir qualquer género de obsessom em relaçom ao que o BNG faga ou deixe de fazer como tal opçom política. No entanto, a posiçom que essa força assume em tal ou qual aspecto político tem importáncia para o País e para o povo trabalhador, ainda hoje, umha vez que continua a ser um referente para importantes sectores progressistas do nosso povo. Esse facto deu especial gravidade à posiçom ambígua, confusa e inconsistente finalmente adoptada polo BNG, cujo pánico a figurar como “os dos nom” fijo até que escondesse o nom num cartaz de campanha que bem podia ter servido para representar a imagem de promoçom de qualquer companhia de seguros. A inconsistência da campanha ficou em evidência ao nom se conseguir nem umha só vitória do nom em toda a Comunidade Autónoma da Galiza, incluídos os concelhos em que o BNG governa com maioria absoluta. Por outra parte, a falta de um pólo unificado contra a Constituiçom europeia dificultou ainda mais a socializaçom da mensagem. O autonomismo autoexcluiu-se da dinámica encetada já no mês de Outubro pola Plataforma Galega polo Nom à Constituiçom Europeia. Nem o BNG nem a própria CIG, cada vez mais claramente dependente da dinámica do primeiro, quigérom apostar a sério por umha campanha que devia ter carácter unitário e nom partidista. Mais umha responsabilidade a carregar a esse sector autodefinido como nacionalista, e a outros da esquerda reformista de obediência espanhola que antepugérom os interesses partidistas à necessária resposta unitária, como a própria Izquierda Unida. Já no referente ao papel da Plataforma unitária em que a esquerda independentista se integrou, devem ser reconhecidas as limitaçons com que contou pola limitada introduçom social do conjunto de entidades que a conformárom. A mais clara mensagem polo nom chegou unicamente às regions do País em que existe presença significativa de algumha ou algumhas delas, e os resultados permitem verificar a coincidência entre o maior número de votos negativos e as zonas com actividade da Plataforma. Comarcas como a de Trasancos, Vigo, a Corunha ou Compostela, com mais de 15% de votos nom, contárom com campanha sistemática da Plataforma unitária, o que sem significar que dependesse só dela o voto negativo, claro, sim dá para interpretar umha certa influência nuns resultados algo mais dignos; sobretodo, quando vemos que a mensagem do BNG nom conseguiu nem que o seu eleitorado habitual votasse consoante umha confusionista “recomendaçom” negativa embrulhada num discurso de acomplexado europeísmo. Além do mais, é claro o carácter maioritariamente de esquerda do voto negativo, em branco e da abstençom, ao atingir a sua máxima expressom nas áreas com maior implantaçom das forças obreiras e nos sectores mais agredidos polas reconversons industriais aplicadas pola UE, como som Trasancos e Vigo. Mais umha prova da existência de um segmento social significativo permeável a um referente político claramente de esquerda e autodeterminista, que até hoje nom foi construído polas carências e particularismos de um movimento disperso e pouco maduro em termos políticos. Devemos, finalmente, reconhecer que, no plano global, os resultados do referendo nom servírom para avançarmos na afirmaçom nacional de umha Galiza ameaçada de morte pola dependência e polo modelo imperialista reflectido na Constituiçom europeia. Os planos desestruturadores da nossa economia nacional e liquidadores da nossa mesma existência como povo continuarám avante. Mas devemos também afirmar que a dinámica unitária em que se insere a campanha da Plataforma Galega polo Nom é um passo à frente no necessário fortalecimento das posiçons soberanistas e de esquerdas que supere o marasmo resultante da integraçom do sector maioritário do nosso nacionalismo no sistema. A grande incógnita é agora comprovarmos se o movimento unitário terá suficiente madureza para criar as condiçons que permitam dotar o nosso povo das ferramentas com que enfrentar um verdadeiro processo de construçom nacional de parámetros abertamente rupturistas contra todo o que o Estado espanhol representa. De certeza que nom ham de faltar ocasions para o comprovarmos no futuro imediato. Maurício Castro é membro do Comité Central de Primeira Linha O dono da FIAT e empresário recentemente falecido Giovanni Agnelli, dixo há uns anos atrás: “Nom há nada melhor do que umha política de direita feita por um governo de esquerda”. E assim foi. A 21 de Abril de 1996 o “Ulivo”, umha coligaçom de centroesquerda, ganha as eleiçons graças a um pacto com a Refundaçom Comunista. Depois de umhas semanas, forma-se o primeiro governo desde os anos ’40 em que o maior partido herdança do PCI está no centro do poder. E como dizia Agnelli, o governo Prodi encetou umha politica de direitas muito agressiva que, apesar das contradiçons internas à coligaçom de poder, “europeizou” um país que saía duns 50 anos de governo democrata-cristao. Pola primeira vez, foi legalizado em Itália o trabalho precário, aprovando o chamado “Pacchetto Treu” também com os votos do Partido de Bertinotti, que por um tempo apoiou o governo a partir do exterior, sem ter ministros. Também o governo “de esquerda” participou na agressom militar contra os povos da República da Sérvia e Montenegro; em nome da “intervençom humanitária” os avions de combate italianos inçárom aqueles territórios de uránio empobrecido, destruírom pontes e hospitais, fábricas e escolas. Também a instruçom foi “modernizada” com um plano que impulsionava a autonomia financeira das faculdades e dos colégios, recortando o financiamento público e obrigando os dirigentes a procurarem dinheiro privado. O recorte das pensons começara já havia uns anos, e o seu impulsionador fora um ministro do governo Prodi, o “tecnocrata” Lamberto Dini. O primeiro governo “de esquerda” da posguerra fijo umha política de direita sem que no país se desenvolvesse um grande movimiento social de protesto, quase sem greves. A razom é fácil de dizer: no governo estavam partidos e ministros supostamente amigos dos trabalhadores e das camadas sociais desfavorecidas, que pola primeira vez podiam olhar com ilusom a Palazzo Chigi. As forças de governo podiam contar com a colaboraçom dos sindicatos maioritários CGIL, CISL e UIL, todos “correias de transmissom” do partido Democrático da Esquerda e dos seus aliados. Enquanto os sindicatos alternativos e de base tentavam romper o clima de “omertá” (lei de silêncio) e concertaçom entre governo, sindicatos e patronato, estes desenvolviam umha politica de “paz social”. Mas depois, a Refundaçom Comunista tirou o seu apoio ao governo e pagou com umha cisom a sua decisom, com o nascimiento do Partido dos Comunistas Italianos. Nas seguintes eleiçons, ganhou o centrodireita de Berlusconi, actualmente no poder graças a um bloco de apoio social que reúne os medianos empresários e os pequenos, a grande distribuiçom com os pequenos comerciantes. A política de Berlusconi, apoiado polos antigos fascistas (agora neoliberais) da Aliança Nacional e pola ultraliberal Liga Norte, encontrou a via aberta polo precedente governo: privatizaçons, recortes do Estado Providência e das pensons, participaçom nas guerras do Afeganistám antes e do Iraqe depois. Nom é a respeito do plano económico que se enfrentam os pólos políticos em Italia: a grande maioria dos partidos, quer de direita, quer de “esquerda”, assumírom o neoliberalismo como a única via possível. E nom é por acaso que a maioria das leis se aprovam no Parlamento italiano com 80-90% dos votos. É a respeito do plano internacional que os pólos políticos se dividem: enquanto Berlusconi apoia cautamente o processo de unificaçom europeia e se tem aliado com a administraçom de Bush, o centroesquerda é o autêntico pólo europeísta e modernizador do país. Por isso se explica o nom do Ulivo à invasom do Iraque: nom por pacifismo, mas pola consciência de que a ocupaçom unilateral do Iraqe por parte de Washington é umha tentativa de golpear o crescimiento dos interesses europeus no Oriente Médio. Nom é por acaso que nem os Democratas de Esquerda nem os partidos centristas da coligaçom do Ulivo tenham mobilizado as suas bases sociais para a retirada das tropas italianas do Iraque: o objectivo é deixalas lá, mas mudando a cor das suas bandeiras, passando da de barras e estrelas à da ONU ou, melhor, à da Uniom Europeia. Nesse contexto, a esquerda que se define “alternativa” ou até “radical” foi incapaz até agora de configurar um pólo alternativo real ao sistema baseado na simples alternáncia de duas coligaçons que fam a mesma política. Um motivo fundamental é o facto de o actual sistema eleitoral maioritário, embora com umha pequena representaçom proporcional, obrigar os partidos a se unirem em coligaçons que, para ganhar, tenhem de conquistar o chamado “centro” da opiniom pública: os discursos tenhem-se assim que moderar, os objectivos de reforma radical som expulsos dos programas eleitorais e de governo para nom assustar os moderados, etc. Afinal, também os partidos mais de esquerda do Ulivo –Partido dos Comunistas Italianos e Verdes– e a mesma Refundaçom, aceitárom essa regra. Tirar o poder a Berlusconi e à “direita” converteu-se no objectivo principal; de facto, aceitando a cultura política e a linguagem deles para poder tirar-lhes eleitores. Com o resultado de que no país, desde há anos, existem realmente duas Marco Santopadre Nº 35. Janeiro, Fevereiro e Março de 2005 INTERNACIONAL 7 A esquerda italiana, o motor da “europeizaçom” do país coligaçons de direita e os sectores sociais de esquerda estám perdendo a esperança de que algumha mudança seja possível: sobe a taxa de abstençom, a participaçom política e sindical activa baixa enquanto os jovens que se tenhem formado no movimiento nom global por A violência policial na Itália de Berlusconi um lado buscam novas formas de fazer política e objectivos mais radicais, mas por outro lado nom encontram nem umha alternativa organizada, nem um sistema de valores coerentes. Os que se oponhem à chamada globalizaçom fôrom privados da sua possível identidade anticapitalista e revolucionária por umha cena politica que considera estas categorias velhas, inadaptadas a um mundo globalizado em que o sistema pode ser reformado mas nom posto de pernas para o ar. O melhor mundo possível parece-se sempre mais com o mundo actual. A chamada esquerda social e extraparlamentar, com umha forte tradiçom no nosso país desde os anos ’60 e até os ’90, está dispersa e fraca a nível organizativo e político, enquanto os melhores resultados venhem do contexto sindical, onde algumhas organizaçons que até agora tiveram um papel testemunhal ou de resistência –contra a concertaçom, o neoliberalismo, a guerra e a precarizaçom do trabalho– começam a ter umha força tal que já representam umha possível alternativa aos sindicatos oficiais de muitos sectores. Faltando um nível político-organizativo possível pola esquerda alternativa, sobretodo a Confederaçom Unitária de Base e outros sindicatos “de base” mais pequenos por vezes representam também pólos politicos de referência para sectores sociais que vem o conflicto como a única via para defender as suas condiçons e começarem a recuperar terreno após anos de derrotas. Assim, nos últimos tempos está a organizar-se um movimiento de jovens precários que contestam a falta absoluta de direitos por milhons de trabalhadores. Há as condiçons hoje para que sectores de jovens, de imigrantes e de trabalhadores representados polo sindicalismo alter- nativo podam reconstruir um espaço politicosocial em que poda organizar-se e fortalecerse umha esquerda radical independente dos pólos políticos existentes e capaz de ler a realidade para a transformar. Também as luitas pola defesa do território, do ecossistema, da qualidade da vida tenhem aumentado de intensidade e representado umha ocasiom, nomeadamente no Sul, de recomposiçom da esquerda social e radical. Podem ser citados os casos das luitas contra as bases militares na Sardenha, contra as escórias tóxicas e nucleares na Sardenha e Basilicata, contra as incineradoras na pequena cidade de Acerra, perto de Nápoles, etc. Mas, cumpre reconhecê-lo, a nível organizativo, a esquerda alternativa e radical nom anda bem. Ficam longe os anos em que à esquerda do Partido Comunista havia umha longa lista de organizaçons e partidos com milhares e milhares de militantes, sedes e revistas. Muitos destes voltárom para casa, deixárom de fazer política, ou entom limitamse a colaborarem com associaçons ou colectivos parciais dentro do panorama anti-globalizaçom. Muitos militantes anticapitalistas de há anos transformárom-se em voluntários de ONG’s, em activistas do “Comércio justo” ou até em exploradores de si próprios nas “Cooperativas sociais”. Nos ultimos tempos, o que era o universo da assim chamada “Autonomia Operária”, há décadas disperso em diversos grupos e tendências, praticamente desapareceu da cena política ou quando resiste, fai-no em formas muito diferentes a respeito do passado. Muitos grupos que venhem da história da antiga Autonomia Operária mais obreirista e radical dos inícios da década de 90 decidírom, quase de um dia para outro, modificar radicalmente a sua própria identidade política, abandonando a análise marxista da realidade e a referência ao comunismo e ao socialismo como objectivo estratégico. A ocasiom para muitos foi a rebeliom zapatista de Chiapas, utilizada em Itália para justificar o abandono da perspectiva revolucionária. Dali surgiu antes o movimento das “Tute Bianche”, e a seguir o dos “Disobbedienti”, que desde metade dos anos 90 até agora tenhem alternado momentos de conflito muito radical e outros de colaboraçom e até de integraçom na Refundaçom Comunista e os Verdes. Umha mudança tem acontecido depois das últimas europeias, quando o partido de Bertinotti decidiu conceder um escano no Parlamento europeu a um dirigent de Refundaçom tirando-o a um representante dos “Disobbedienti”, que tinha sido eleito por vários milhares de eleitores. Desde aquela altura, muitos militantes de movimentos mais radicais decidírom romper com o PRC e denunciar a sua atitude moderada e de instrumentalizaçom dos movimentos em funçom da sua aliança com o centroesquerda para as próximas eleiçons parlamentares. Há alguns sinais de renascer da tendência anarquista, sobretodo no Norte de Itália, e também de alguns colectivos ecologistas que desenvolvem o tema da soberania territorial e da luita contra a militarizaçom dos territórios. Enqunto nos últimos tempos desde a disgregada galáxia dos antigos grupos leninistas surgiu o projecto da Rede dos Comunistas. A ideia é juntar forças através de um programa de actualizaçom das categorias marxistas – em temas como a concorrência global entre potências a nível mundial, o carácter imperialistas da Uniom Europeia, o partido de militantes, o sindicalismo de classe– e também tentar aplicar estas análises à realidade. Agrupar forças quer dizer de umha parte coordenar na Rede colectivos de diferentes cidades procedentes de histórias e tradiçons diferentes. De outro lado, quer dizer ainda criar o húmus para o crescimento de algumhas campanhas de carácter cultural e ideológico, utilizando todas as forças disponíveis, embora nesta fase podam estar colocadas organizativamente em partidos ou colectivos mais “moderados”. Deste ponto de vista, a explosom do movimento “anti-globalizaçom”, embora com os seus limites do seu carácter prevalentemente ético, tem mobilizado decenas de milhares de jovens contra o sistema económico e o sistema económico e político que por muitos anos foi desenhado como o único possível a seguir da crise do campo socialista e dos partidos comunistas no ocidente. Marco Santopadre é Responsável de Relaçons Internacionais da Rete dei Comunisti Edita: Primeira Linha. Redacçom: Rua do Home Santo 29, 4º A. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589. www.primeiralinha.org Conselho de Redacçom: Comité Central de Primeira Linha Fotografia: Arquivo Abrente. Correcçom lingüística: Galizaemgalego. Maqueta: ocumodeseño. Imprime: Litonor S.A.L. Encerramento da ediçom: 20 de Março de 2005 Nas comarcas galegas da faixa oriental, o Berzo e a Cabreira, oficialmente em território da província de Leom, a Seabra também oficialmente na província de Samora (ambas as duas províncias da Comunidade Autónoma de Castela e Leom), e no Eu-Návia (nas Astúrias), estamos a sofrer as conseqüências da falta de decisom, valentia e coragem por parte do conjunto do nacionalismo galego (incluído o independentismo) nos últimos, como minimo, 30 anos. Se bem praticamente todas as organizaçons do nacionalismo no período assinalado (e algumhas mesmo desde antes, como é o caso do periódico galego A Fouce, editado na Argentina pola Sociedade Nacionalista Pondal), recolhiam ou recolhem umha defesa, mais ou memos morna, mais ou menos decidida, segundo os casos, da galeguidade destas terras, ou de algumha delas, o certo é que desde o ano 1975 até a actualidade nom tem havido umha acçom política real nesse sentido. Como resultado dessa inaniçom, hoje em dia as comarcas orientais, aquele território que historicamente deu em ser chamado a Galiza irredenta, conhece um forte e acelerado processo de perda de identidade lingüística, cultural e política, ao tempo que avança sem praticamente achar resistência umha identidade espanhola que pretende negar qualquer possibilidade de que estas comarcas conheçam e/ou recuperem a sua memória, a sua história e a sua identidade. Este processo, vive-se dumha maneira muito mais virulenta no território do EuNávia, onde os sectores mais reaccionários e antigalegos do nacionalismo e da esquerda nacionalista asturiana, gasta mais esforços em combater a galeguidade daquelas terras do que o próprio espanholismo que tenhem dentro do seu território. Hoje em dia, tam só NÓS-Unidade Popular mantém umha estrutura, fraca, mais real, em algumha destas comarcas, visando construir também no Berzo, tal como no conjunto da naçom, a esquerda independentista que Galiza e o seu povo trabalhador precisam. Mas o trabalho político da esquerda independentista no Berzo desenvolve-se numha situaçom muito distinta à existente dentro da Comunidade Autónoma Galega. Em primeiro lugar, porque os sectores políticos, sociais, sindicais, juvenis, com os que NÓS-UP mantém relaçons ou colabora, nom existem no Berzo. Nom existe nengumha organizaçom (plataforma, grupo político, organizaçom social, sindical, juvenil, etc.), que seja quem de dar forma e de acumular forças no caminho de converter o Berzo numha comarca com capacidade para se autogovernar e decidir livremente o seu futuro dumha óptica de esquerdas. Assumir realmente a questom berziana (e o mesmo pode ser dito das demais comarcas arraianas), supom denunciar e rejeitar a actual divisom políticoadministrativa emanada da Restauraçom Borbónica, e abrir o que para os grandes partidos de obediência espanhola é a Caixa de Pandora da reorganizaçom territorial. Nengumhas das organizaçons de obediência estatal, sejam partidos, sindicatos ou organizaçons juvenis, vam poder avançar nesse sentido. É dos sectores progressistas, de esquerda, alternativos e revolucionários de onde tem de vir a resposta. E aí deve estar presente a esquerda independentista galega, dinamizando estruturas que possibilitem a confluência desses sectores, trabalhando com eles, criando espaços comuns. E para isso nom pode aplicar-se a mesma recita que o nacionalismo e o independentismo galego vem aplicando nas últimas décadas: resolver o problema da Galiza irredenta a olhar para outro lado. Igor Lugris Correspondência: Apartado dos Correios 760. Compostela. Galiza. Correios electrónicos: [email protected] / [email protected] Tiragem: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta. Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados. Impresso em papel reciclado. Depósito Legal: C-901-1997 A soluçom nom é olhar para outro lado Igor Lugris é membro do Comité Central de Primeira Linha FICHA DE SOLICITUDE nome e apelidos endereço localidade código postal correio electrónico telefone publicaçom solicitada Recebe as publicaçons da Abrente Editora na tua morada preenchendo o formulário e enviando-o co justificante de pagamento da publicaçom ou publicaçons escolhidas ao Apartado dos Correios 760 de Compostela. Número de conta para o ingresso 2091 0387 423000009169 de Caixa Galiza-Compostela. Ao preço da publicaçom há que acrescentar 3 € por gastos de envio. PONTOS DE VENDA: Compostela: Livraria Couceiro, Livraria A Palavra Perduda, Tarasca, CS Henriqueta Outeiro. Corunha: Livraria Couceiro, Sisargas. Ferrol: Livraria Sargadelos, Fundaçom Artábria. Lugo: Livraria Sargadelos. Ourense: Livraria Torga. Ponferrada: Livraria Siena. Ponte Areas: Livraria Nova, Citánia. Ponte-Vedra: Livraria Michelena. Vigo: Livraria Andel do livro galego e português.