TEMA DESENVOLVIDO: REDAÇÃO 6 SOCIEDADE DO

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TEMA DESENVOLVIDO: REDAÇÃO 6 SOCIEDADE DO
TEMA DESENVOLVIDO: REDAÇÃO 6
SOCIEDADE DO ESPETÁCULO
Circo sem pão
Prof. Joel Della Pasqua
A sociedade do espetáculo é a resultante de um processo que atinge seu apogeu dentro
de uma indústria cultural, que cresce e se desenvolve em uma lógica de subversão da ideia de
cultura, arte, entretenimento e informação. Por assumir uma falaciosa aparência de verdade
inconteste, ela pode forjar seu conteúdo alienante livremente aos olhares de uma sociedade
que passa a consumir seus produtos como consome qualquer outro ofertado em um mercado.
Desde o início do século XX, massas de trabalhadores rurais deixam o campo e seus
trabalhos como agricultores para adentrar, de modo não opcional, no mundo oferecido pela
segunda revolução industrial. Ao deixarem o campo, deixam também um universo cultural que
se transmitia através de gerações camponesas. Uma vez nas cidades, engrossando as fileiras do
proletariado urbano, acabam tragados por um trabalho repetitivo, alienante e de limitado
significado, fosse econômico ou social. A partir desse ponto, o sistema econômico dominante
elabora um elenco cultural, ou melhor dizendo, de entretenimento para diversão e alienação
das massas de trabalhadores. Aqui, entretenimento e alienação entram em uma união estável
que perdura até os dias de hoje.
O cinema, criado pelos irmãos Lumière, em 1894, incialmente como técnica reprodutora
de imagens em movimento, assumirá, rapidamente, o estatuto de “sétima arte”. No entanto,
aquilo que almejava a condição de obra de arte, também será recrutado como um grande viés
de propagação de um entretenimento industrializado para as massas. Surge, então, Hollywood
e todos os seus derivados. Personagens cinematográficos ganham a cena, não apenas nas telas
de cinema, mas dentro dos lares e das vidas das pessoas ditando modos de existência, de
comportamento e de consumo. Esta sociedade do espetáculo não será simplesmente o “coração
da irrealidade da sociedade real”, como afirmou o filósofo Guy Debord, mas será,
principalmente, o cérebro da irrealidade da sociedade reificada, ou seja, forma-se uma plateia
que perde seu padrão humano para se tornar mais uma mercadoria em leilão em mundo de
brilho, sonho e diversificadas imagens.
Com o decorrer do tempo, novos aparatos ganha a indústria cultural. Surge a televisão,
as grandes gravadoras de música e variadas agências de publicidade que se inserem na
comercialização imagética de sonhos para realizar seus negócios e os de seus clientes.
Personagens fictícios e reais assumem o centro do espetáculo, que vão de super-heróis a
celebridades da mundo da ficção ou da vida cotidiana como políticos, membros de famílias reais,
dentre tantos outros, vendendo uma imagem fetichizada para a formação de um mundo de
infindáveis futilidades. O dinheiro que se ganha com a propagação das imagens e ícones de tal
cultura industrializada é o que dá vazão a investimentos, criações e recriações dentro deste
universo mistificante.
Na Roma antiga, o espetáculo existia para entretenimento da plebe, mas junto com ele
ofertava-se também o pão. Pão e circo. No atual estágio de nossa sociedade, continua-se
oferecendo o circo, mas para que durante o espetáculo seja possível realizar o “merchandising”
do pão. Em um circo sem pão estrutura-se o espetáculo de nossa era.