Pesquisas e Estudos
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Pesquisas e Estudos
SOCIEDADE EDUCACIONAL DE SANTA CATARINA – UNISOCIESC UNIDADE BOA VISTA FÁBIO JESSÉ HABITAÇÃO EMERGENCIAL PARA REFUGIADOS EM CLIMA QUENTE E SECO Joinville-SC 2015/02 SOCIEDADE EDUCACIONAL DE SANTA CATARINA – UNISOCIESC UNIDADE BOA VISTA FÁBIO JESSÉ HABITAÇÃO EMERGENCIAL PARA REFUGIADOS EM CLIMA QUENTE E SECO O presente trabalho tem como objetivo a concepção de uma habitação emergencial temporária para clima quente e seco, o estudo toma como partido a concepção de habitação emergencial no acampamento de refugiados de Zaatari, localizado na Jordânia, oriente médio. ORIENTADORA: CRISTIENNE MAGALHÃES PAVEZ Joinville-SC 2015/02 A cada 2 segundos alguém é forçado a fugir. (UNHCR, 2015) Dedico este trabalho à todos os mestres que contribuíram para minha formação pessoal e educacional. Em especial à Professora Cláudia Reis Lux, Professora Aparecida Gomes, Modesto, Professor Professora Silvio Kelly Parucker e Professora Cristienne Magalhães Pavez. Sem eles nada disso seria possível, pois me proporcionaram ensinamentos que foram além das paredes das salas de aula. Agradeço primeiramente à Deus, pela força e pela graça alcançada no decorrer dessa pesquisa. Agradeço também a minha família, pelo apoio em todos os momentos da minha vida e à meus amigos que sempre estiveram presentes. RESUMO Este Trabalho de Conclusão de Curso visa à concepção de um modelo de habitação emergencial para inserção em clima quente e seco. O estudo toma como partido a concepção de habitação emergencial para o acampamento de refugiados de Zaatari, no oriente médio. O módulo busca suprir as necessidades de moradia digna e confortável em acampamentos. Para compreender o usuário e propor uma resposta compatível, o estudo apresenta um panorama sobre catástrofes naturais ocorrentes no Brasil e no mundo, sobre zonas de conflitos e acampamentos de refugiados. Palavras-chave: Habitação Emergencial. Acampamento de Refugiados. Desastres Naturais. Arquitetura Humanitária. ABSTRACT This final examination aims to designing a emergency habitation model for insertion into Wet and Hot weather. The study take principle the emergency habitation conception for Zaatari`s Refugee Camp, in the Middle East. The module will meet the comfortable and decent housing needs in refugee camps. To understand the user and propose a consistent response, the study provides an overview of natural disasters occurring in the Brazil and world, conflict zones and refugee camps. Keywords: Emergency Habitation. Humanitarian architecture. Refugee camp. Natural Disasters. SUMÁRIO DEDICATÓRIA .......................................................................................................... 6 AGRADECIMENTOS ................................................................................................. 7 RESUMO ................................................................................................................... 8 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10 1.1 TEMA .................................................................................................................. 10 1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA ................................................................................. 10 1.3 PROBLEMATIZAÇÃO ........................................................................................ 11 1.4 JUSTIFICATIVA SOCIAL E ECONÔMICA ......................................................... 11 1.5 OBJETIVOS ........................................................................................................ 12 1.5.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 12 1.5.2 Objetivos Específicos ................................................................................... 12 1.6 METODOLOGIA ................................................................................................. 13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 14 2.1 HABITAÇÃO EMERGENCIAL ........................................................................... 14 2.1.1 Direito ao Abrigo ............................................................................................ 16 2.1.2 Suporte a Vida ................................................................................................ 17 2.1.3 Fases de organização de situações emergenciais ..................................... 18 a) Período pré-desastre ............................................................................................ 18 b) Período de ajuda imediata .................................................................................... 18 I. Abrigo Emergencial................................................................................................ 18 II. Abrigo Temporário ................................................................................................ 18 III. Habitação Temporária ........................................................................................ 18 c) Período de reabilitação ......................................................................................... 18 2.2 HISTÓRICO EVOLUTIVO DA HABITAÇÃO EMERGENCIAL ............................ 19 2.2.1 Tendas nômades no Saara ........................................................................... 21 2.2.2 Habitações Transportáveis Para Uso Militar .............................................. 22 a) Abrigo Nissen Hut ................................................................................................. 22 b) Unidade Médica MUST ( Medical Unit, Self-contained, Transportable) ............... 23 2.2.3 Arquitetura Portátil ........................................................................................ 23 a) Módulos (Module) ................................................................................................ 24 b) Pacotes (Flat-Pack) ............................................................................................. 24 c) Tensionados (Tensile) ......................................................................................... 25 d) Infláveis (Pneumatic) ........................................................................................... 26 e) Tendas.................................................................................................................. 27 f) Modelos e unidades importadas ............................................................................ 28 g) Construção in Loco) ............................................................................................. 28 h) Habitações temporárias ........................................................................................ 29 i) Abrigos Improvisados ........................................................................................... 30 2.3 NECESSIDADE DE HABITAÇÃO EMERGENCIAL............................................ 30 2.3.1 Ocorrência de Desastres Naturais no Mundo ............................................. 30 2.3.2 Ocorrência de Desastres Naturais no Brasil ............................................... 35 2.3.3 Refugiados no Mundo ................................................................................... 38 2.3.4 Refugiados no Brasil ..................................................................................... 45 2.3.5 Considerações - Escolha do local de Intervenção...................................... 46 2.4 IMPLANTAÇÃO DE HABITAÇÃO EMERGENCIAL............................................ 51 2.4.1 Acesso ............................................................................................................ 53 2.4.2 Distância entre Abrigos ................................................................................. 53 2.4.3 Agrupamento de Abrigos .............................................................................. 54 2.4.4 Estabelecimento de Núcleos de Serviços .................................................. 55 2.5 MATERIAIS PARA HABITAÇÃO EMERGENCIAL ............................................. 55 2.5.1 Placa Cimentícia Impermeabilizada ............................................................. 56 2.5.2 Painel de madeira compensada Multilaminada ........................................... 57 2.5.3 Chapa Aço Inox .............................................................................................. 58 2.5.4 Tecido de poliéster e PVC ............................................................................. 59 2.5.5 Polietileno de Alta Densidade - PEAD .......................................................... 60 2.5.6 Considerações - Escolha do material construtivo ...................................... 62 2.6 TRANSPORTE PARA HABITAÇÃO EMERGENCIAL ........................................ 63 2.7 PERFIL DO USUÁRIO ........................................................................................ 64 2.7.1 Aspectos familiares da cultura Árabe .......................................................... 64 2.7.2 Aspectos habitacionais da cultura Árabe .................................................... 65 2.7.3 Aspectos Educacionais da cultura Árabe ................................................... 67 2.7.4 Aspectos alimentares da cultura Árabe ....................................................... 67 2.7.5 A mulher árabe ............................................................................................... 68 2.7.6 O Banho .......................................................................................................... 68 3 ANÁLISE DE CORRELATOS ............................................................................... 69 3.1 PROTÓTIPO PUERTAS ..................................................................................... 69 3.1.1 Análise da Implantação ................................................................................. 70 3.1.2 Análise do Projeto ......................................................................................... 70 3.1.3 Análise dos materiais construtivos .............................................................. 71 3.1.4 Análise do conforto térmico e lumínico ....................................................... 72 3.1.5 Análise do Custo............................................................................................ 73 3.2 ABRIGO UBER ................................................................................................... 73 3.2.1 Análise da Implantação ................................................................................. 73 3.2.2 Análise do Projeto ......................................................................................... 74 3.2.3 Análise dos materiais construtivos e tecnologia ........................................ 76 3.2.4 Análise do conforto térmico e lumínico ....................................................... 77 3.2.5 Análise do Custo............................................................................................ 77 3.3 ECO ABRIGO ..................................................................................................... 77 3.3.1 Análise da Implantação ................................................................................. 77 3.3.2 Análise do Projeto ......................................................................................... 78 3.3.3 Análise dos materiais construtivos e tecnologia ........................................ 78 3.3.4 Analise do conforto térmico e lumínico ....................................................... 79 3.3.5 Análise do Custo............................................................................................ 80 3.4 ANÁLISE E DISCUSSÃO ................................................................................... 80 3.4.1 Abrigo EXO Casa - Análise de Implantação ................................................ 82 3.4.2 Acampamento de Khazir, Iraque – Análise de Implantação ....................... 86 4 PROPOSTA........................................................................................................... 88 4.1 TERRENO - ÁREA DE INTERVENÇÃO............................................................. 89 4.2.1 Clima no Acampamento de Zaatari - Mafraq, Jordânia .............................. 89 4.2.2 Drenagem natural do terreno no Acampamento de Zaatari ....................... 91 4.2.3 Direção dos ventos no Acampamento de Zaatari ....................................... 91 4.2.4 Escolha da Área de Intervenção ................................................................... 91 4.2.5 Considerações – Escolha do Terreno .......................................................... 96 4.1 DIRETRIZES DA PROPOSTA ............................................................................ 97 4.1.1 Implantação .................................................................................................... 97 4.1.2 Projeto arquitetônico ..................................................................................... 97 4.1.3 Material Construtivo ...................................................................................... 98 4.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ................... 98 4.3 ORGANOGRAMA E FLUXOGRAMA ................................................................. 99 4.4 CONCEITO E PARTIDO..................................................................................... 99 4.5 ZONEAMENTO................................................................................................. 100 4.5.1 Zoneamento do Acampamento ................................................................... 100 4.5.1 Zoneamento do módulo .............................................................................. 101 5 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 102 10 1 INTRODUÇÃO A todo o momento ocorre no mundo fenômenos naturais independente da ação humana. São produtos do funcionamento interno do ecossistema. Terremotos, maremotos, erupções vulcânicas, inundações, deslizamento de terra e a seca são os exemplos mais conhecidos; porém independente do tipo, um desastre pode gerar danos para a sociedade e ocasionar a necessidade da relocação de pessoas. (ANDERS, 2007) Segundo dados da UNISDR, Escritório das Nações Unidas para Redução de Riscos de Desastres, desde 1992 a 2012 em todo o mundo, cerca de 4,4 bilhões de pessoas foram afetadas por desastres naturais, totalizando 1,3 milhões mortos e danos estimados em 2 trilhões de dólares. O CRED, Centro de Investigação sobre a Epidemiologia dos Desastres, estima o aumento de cerca de 132 milhões de pessoas afetadas por ano a partir de 2015. As Nações Unidas prevê ainda que as perdas por desastres podem chegar a 300 bilhões de dólares e 100 mil vidas por ano a partir de 2050 (Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento, 2003). O número de pessoas desabrigadas no mundo também é intensificado pelos conflitos e guerras que geraram no mundo 51,5 milhões de pessoas deslocadas no final de 2013 (CRED, 2014). Este número tende a aumentar, pois os conflitos vem aumentando ao longo do tempo, enquanto o número de pessoas deslocadas que retornam aos seus lares segue a proporção inversa. Para atender as vítimas de desastres e refugiados de guerras e conflitos, organizações humanitárias ou a politica de governo local - onde há um plano de logística humanitária para desastres naturais- fornece abrigos emergenciais, água, remédios e alimentos. Os abrigos desempenham papel de residência temporária para os desabrigados e podem ainda ser reaproveitados em outras situações (ANDERS, 2007). 1.1 TEMA Habitação Emergencial Temporária 1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA Concepção de um modelo de abrigo emergencial apto para inserção em campos de refugiados de clima quente e seco, tomando como partido a concepção de um modelo para o acampamento de Zaatari, na Jordânia, oriente médio. 11 1.3 PROBLEMATIZAÇÃO O modelo de habitação disposto para vítimas pós-catástrofe e para vítimas de locais de conflitos são propostas adequadas que oferecem dignidade e segurança para os desabrigados? 1.5 JUSTIFICATIVA SOCIAL E ECONÔMICA As regiões de conflito, aliadas aos danos por desastres naturais são responsáveis pelo espantoso número de 51,2 milhões de pessoas refugiadas em todo o mundo atualmente. Em 2010 o número era 15% menor: 43,7 milhões de refugiados, aumento significativo propiciado pelos conflitos na Síria, no Sudão do Sul e na República Centro-Africana, segundo o relatório anual da UNHCR, Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Os abrigos emergenciais existentes não estão de acordo com os aspectos sociais, econômicos e culturais onde são implantados (ANDERS, 2007). Situação agravada pelo tempo de estabelecimento desta forma de moradia. Em ocasiões onde a reconstrução das habitações ultrapassa seis meses, a moradia no abrigo temporário se torna mais permanente do que provisória. (BARBOSA, 2011 apud CITO, 2013) Observa-se ainda que o processo de reconstrução das cidades é lento, principalmente em países em desenvolvimento, onde tendas desempenham função de habitação (CITO, 2013). “Metade dos acampamentos acaba por durar mais que cinco anos e apenas um quarto deles, menos que dois anos” (ANDERS, 2007). Em Pisco, no Peru, em 2012 ainda havia 180 mil desabrigados vivendo precariamente, cinco anos após um terremoto ter atingido a região em 2007 (CITO, 2013). Em 2011 ocorreu no Japão um terremoto seguido de tsunami, dois anos depois 21 mil pessoas ainda residia em casas de parentes ou abrigos provisórios (ONU, 2013). Em situações extremas pode-se citar o caso de Mianmar, onde cerca de 120 mil refugiados vivem em abrigos há mais de 20 anos (CITO, 2013). 12 O crescente número de acampamentos de refugiados (ONU, 2015) e as condições precárias que vítimas de desastres naturais são expostos (ANDERS, 2007) esclarece a exigência de um Abrigo Temporário que dê ao desabrigado dignidade e seja concebido de forma à respeitar as características culturais de cada povo. 1.5 OBJETIVOS 1.5.1 Objetivo geral Conceber um modelo de Habitação Emergencial para ser utilizado em acampamentos de refugiados localizados em clima quente e seco. 1.5.2 Objetivos específicos a) Entender o que é habitação emergencial e as leis e normas aplicadas a esta tipologia construtiva. b) Compreender o desenvolvimento evolutivo da habitação e sua influência nos modelos de habitação emergencial existentes hoje. c) Investigar a ocorrência e o tipo de catástrofes no Brasil e no mundo e identificar as regiões de conflito para entender qual o local que necessita de uma maior intervenção. d) Verificar formas de Implantação para habitação emergencial e configuração de acampamento de refugiados. e) Identificar os materiais construtivos ideais para construção de abrigos temporários. f) Analisar três abrigos emergenciais existentes para identificar soluções arquitetônicas que possam ser aplicadas no partido arquitetônico a ser desenvolvido. g) Escolher um terreno para implantação da Habitação emergencial em Zaatari e analisar aspectos físicos e climatológicos do local. h) Definir programa de necessidades, pré dimensionamento, organograma e fluxograma, zoneamento e implantação. g) Anteprojeto arquitetônico 13 1.6 METODOLOGIA Esta pesquisa inicia-se investigando o que é habitação emergencial e identificando as normas e leis aplicadas a esta tipologia construtiva. Após isso o capítulo 2.2 discorre as diferentes formas de habitação emergencial e suas origens, à fim de entender os abrigos utilizados atualmente. Para esclarecer as áreas que necessitam de maior intervenção e gerar uma proposta de habitação emergencial num local adequado, o capítulo 2.3 faz uma investigação para identificar o panorama brasileiro e o panorama mundial à respeito de desastres naturais e regiões de conflitos, os dois maiores fatores responsáveis pelo número de desabrigados no mundo. Isto se dá com a obtenção de dados em principais órgãos responsáveis pela gestão e prestação de assistência humanitária no Brasil e no mundo. A próxima etapa da pesquisa compreende as formas de implantação ideais para acampamentos de desabrigados. Savietto (2014), Anders (2007) e Elemental (2010) dispõe de argumentos e teses que serão discorridos neste capítulo. A partir das indicações de materiais construtivos para habitação emergencial de Tavares (2012), é escolhido no capítulo 2.5 alguns dos materiais que mais se adequam ao local de intervenção proposto: a placa cimentícia, a madeira multilaminada, a chapa de aço inox, o tecido de poliéster e PVC e o polietileno de alta densidade (PEAD); E por meio de uma tabela comparativa, identifica-se o material mais adequado para a proposta a ser realizada. Esta fase da pesquisa também analisa brevemente a transportabilidade para os materiais construtivos e para a habitações desmontáveis. Após identificar o local de intervenção e o material construtivo, o capítulo 2.7 busca entender o usuário, sua cultura, usos e costumes. Informações que tem como base artigos científicos sobre a cultura árabe. Para entender o funcionamento das habitações emergenciais e verificar soluções projetuais já aplicadas, é analisado no capítulo 3 alguns projetos existentes para situações semelhantes: Protótipo Puertas, Abrigo Uber e Eco Abrigo, estudo realizado por meio de artigos científicos e publicações dos autores dos referidos abrigos. Esta fase da pesquisa define alguns aspectos a serem analisados em cada habitação, para posteriormente identificar as potencialidades e deficiências de cada um delas e confrontá-las umas às outras numa tabela comparativa. É feito ainda a 14 análise de Implantação do abrigo EXO Casa e do acampamento de Khazir, no Iraque, para verificar a solução adotada e confrontar com as diretrizes encontradas na fundamentação teórica. A última parte da pesquisa consiste na definição da proposta. Neste momento da investigação faz-se um estudo mais aprofundado do terreno, onde analisa-se aspectos físicos e climatológicos para definir um local adequado para implantação das habitações emergenciais. Define-se ainda as diretrizes da proposta, o programa de necessidades, o organograma e fluxograma, conceito e partido da proposta, e zoneamento, para então poder ser feito o anteprojeto arquitetônico que melhor se adapte a cultura de inserção do usuário. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 HABITAÇÃO EMERGENCIAL A necessidade do abrigo emergencial para pessoas afetadas por desastres naturais ou conflitos armados é iminente. O alojamento de pessoas durante e depois de desastres pode passar por até quatro fases (Quarantelli, 1982,p.75-79 apud ANDERS, 2007): a) Abrigo de emergência: Ocorre em qualquer local que providencie proteção da chuva, vento e do clima. Pode ser dentro de veículos, embaixo de escombros ou em uma tenda. b) Abrigo temporário: Ocorre geralmente em escolas, igrejas e ginásios. Dispõe de lugares para dormir, se alimentar, tomar banho e fazer as necessidades fisiológicas. c) Habitação temporária: Os indivíduos ficam alojados em unidades habitacionais individuais, podendo retomar sua rotina e finalizar a construção da sua habitação permanente. d) Habitação transitória ou permanente: São as residências que tomam o lugar das edificações destruídas e passam a abrigar as vítimas para continuarem seu modo de vida habitual anterior à ocorrência do desastre. 15 DAVIS (1980, apud ZIEBEL, 2010) afirma que o abrigo deve apresentar efemeridade, rapidez na montagem e desmontagem (se existente) e funcionar em áreas mínimas, garantindo condições básicas de habitabilidade. Deve ainda ter uma fonte de água, um sistema sanitário, sistema de abastecimento de alimentos e de atendimento médico. A edificação deve ser implantada de modo a manter o individuo e suas relações sociais como prioridade, garantindo desta forma, um abrigo adequado e seguro (SAVIETTO, 2013, p60), enquanto a construção das residências permanentes não é finalizada. Em muitos casos os desabrigados ficam alojados em abrigos mal planejados que excedem o tempo emergencial e tomam carácter de abrigo temporário. Locados em escolas, ginásios e tendas sob a concessão de regras impostas por um gestor externo, os vitimados ficam em constante situação de alerta sem condições de descanso, fatores que reformulam o modo de convivência habitual, resultando em deterioração das relações comunitárias e privadas (VALENCIO, 2009 apud SAVIETTO 2013). Portanto os abrigos individuais mostram-se a opção mais adequada para suprir as necessidades sociológicas e de habitação para desabrigados. As recomendações para construção de abrigos feitas por diversas organizações (UNHCR, 2007; Sphere Project, 2004; Shelter Projects, 2008 apud CITO, 2007) determinam alguns fatores dimensionais que devem ser respeitados, entre eles a área mínima por pessoa de 3,50m². Este espaço pode ser apropriado para salvar a vida e a fornecer abrigo adequado de curto prazo, especialmente em condições climáticas extremas. Este parâmetro é o mesmo definido pelas diretrizes das Nações Unidas: 3,50m² por pessoa, sendo 18m² o mínimo aceitável para cinco pessoas. Existe diversos tamanhos de abrigos já projetados, que variam de 9m² a 74m², resultantes de diferentes necessidades, normas e políticas oficiais. Porém segundo Kronenburg (1998 apud CITO, 2007) alguns fatores devem ser considerados em qualquer projeto de abrigo, como a idade dos usuários, o clima e a adaptação da sociedade com este, a base alimentar, e se existe fontes de calor e energia no local. 16 2.1.1 Direito ao Abrigo Não há uma lei específica sobre a obrigatoriedade de governos e instituições públicas disponibilizarem abrigos emergenciais em caso de catástrofes ou situações de refugio, porém este direito está implícito em vários artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento elaborado pelas Nações Unidas em 1948. Este trecho do artigo 25 reflete esta situação: Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. (ONU, 1948) Mais tarde, em 1996, a Primeira Conferência Internacional de Abrigos Emergenciais (do inglês, First International Emergency Settlement Conference) que aconteceu nos Estados Unidos reforçou a necessidade da disponibilização de abrigos: O acesso ao abrigo básico e contextualmente apropriado é uma necessidade humana essencial. Os padrões para este abrigo podem variar dependendo do contexto cultural, da situação, do clima e de outros fatores. (First International Emergency Settlement Conference, 1996) No Brasil a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC discorre na LEI Nº 12.608 de 10 de abril de 2012, elementos da inserção de abrigos temporários. O órgão é responsável por se integrar aos parâmetros construtivos, sociais e tecnológicos geridos pela união para manter um desenvolvimento sustentável. 17 No que se referem especificamente às edificação emergenciais, esta lei afirma que compete aos municípios organizar e administrar os abrigos provisórios, além de promover a coleta, a distribuição e o controle de suprimentos em situações de desastre. 2.1.2 Suporte a Vida Após um desastre natural a habitação emergencial se faz necessária para abrigar as vítimas até que a reconstrução das áreas afetadas possa ser realizada. No mundo todo o fornecimento de abrigos é de responsabilidade de entidades humanitárias, ONGs e de Instituições governamentais, porém em um primeiro momento as próprias vítimas buscam abrigo em casas de parentes e amigos ou ocupam edificações públicas cedidas pelo governo, tais como escolas, ginásios e templos religiosos. Em alguns casos há utilização de barracas cedidas por terceiros ou construção de abrigos precários com materiais disponíveis nos escombros. Segundo Anders (2007), para um abrigo ser eficiente, este deve propor ao usuário proteção contra intempéries, preservação da dignidade, orientação e identidade. Ou seja, precisa ser construído de maneira apropriada ao clima, ao contexto cultural e às características do local de implantação. No que diz respeito a dignidade ela está intrínseca na construção e disponibilidade de um abrigo funcional onde o indivíduo encontre privacidade e segurança. A orientação e identidade podem ser auxiliadas através da utilização de materiais e formas arquitetônicas familiares às vítimas e, desta forma evitar desespero e tristeza, por essa razão é necessário dispor de mecanismos que mantenham o foco e a atenção do indivíduo afligido. Anders (2007) chama a atenção para o nível de conforto criado em abrigos e edificações temporárias em situações pós-desastre. Devem-se apenas suprir as necessidades básicas do individuo dando suporte a vida, pois edificações muito elaboradas, além de exigirem maiores investimentos econômicos que poderiam ser aplicados na reativação da economia local, fazem o vitimado permanecer no abrigo por tempo superior à reconstrução das residências. 18 2.1.3 Fases de organização de situações emergenciais Com base nos procedimentos para realocação de pessoas segundo a UNDRO (United Nations Disaster Relief) e nas fases de alojamentos após desastres de Quarantelli (1982, p.75-79 apud CITO, 2007) pode-se observar que após um desastre natural a emergência e soluções aplicadas se dão de diferentes formas, conforme a seguir: a) Período pré-desastre: Diminuição de riscos, prevenção, informação, preparação. b) Período de ajuda imediata (até cinco dias após o desastre): I. Abrigo Emergencial. Ocorre em qualquer local que providencie abrigo contra intempéries, por exemplo, embaixo de uma escada, dentro de um carro, ou em uma tenda. II. Abrigo Temporário. Inclui lugares para dormir, cozinhar e tomar banho. Na maioria das vezes são alojamentos comunitários em ginásios, galpões, igrejas, ou escolas. III. Habitação Temporária. Nesta fase casas pré-fabricadas temporárias são construídas em áreas cedidas pelo governo. O alojamento pode começar com uma unidade básica e ser ampliado ao longo do tempo e da necessidade. As vítimas são alojadas, de preferência, nos seus agrupamentos familiares e, quando possível, respeitando a disposição de vizinhança anterior ao desastre, podendo restabelecer suas rotinas diárias normais, porém num local temporário. c) Período de reabilitação (do quinto dia até três meses): Balanço da destruição, planejamento das ações futuras. d) Período de reconstrução (três meses em diante): O objetivo é voltar à situação anterior ao desastre, ou seja, efetuar a recuperação dos danos enquanto as vítimas estão residindo em Habitações Temporárias ou Permanentes. 19 2.2 HISTÓRICO EVOLUTIVO DA HABITAÇÃO EMERGENCIAL O homem sempre necessitou de abrigo. Há dois milhões de anos os primeiros hominídeos encontraram esta função nas cavernas, nelas tinham proteção contra predadores e contra intempéries, reflexo de seu modo de vida transitório. O período glacial foi responsável por uma mudança neste comportamento, escassez de alimentos e a necessidade de proteção contra o frio tornaram o uso de tendas a mais antiga forma de moradia, o nomadismo permanecia e era essencial a sobrevivência. Existe evidencias de abrigos feitos com peles e ossos de animais com mais de 40 mil anos na Ucrânia. Figura 1: Reconstrução de uma tenda de 10.000 anos a partir de restos encontrados na França Fonte: KRONEIBURG, 1995 apud ANDERS, 2007, p43 A descoberta da agricultura e a domesticação de animais, há aproximadamente 10 mil anos a.C, configuraram o sedentarismo. O homem fixou moradia influenciado, segundo Siegal (2002 apud CITO 2013) pelo comércio de mercadorias, pela procura por proteção comunitária e pela busca pelo desconhecido. Entretanto, ainda é possível encontrar povos no norte da África que mantiveram a cultura nômade. 20 Destas sociedades diferentes os desafios na necessidade de fornecer abrigos são comuns, para serem transportados precisavam ser leves, flexíveis e duráveis. (CITO, 2013; ANDERS, 2007). Este capítulo discorre as principais formas de moradia surgidas ao longo do tempo e como elas influenciaram o surgimento dos abrigos atuais, conforme a linha do tempo a seguir: Figura 2: Cronologia do Desenvolvimento da Habitação Emergencial Fonte: Desenvolvido pelo Autor 21 2.2.1 Tendas nômades no Saara O clima e topografia do Norte da África são extremos, razões que levam seus habitantes a corresponder adequadamente ao meio ambiente para sobreviver. Sendo assim, as tendas dos povos nômades dessa região foram desenvolvidas e adequadas ao longo de milhares de anos. Os beduínos deslocam-se regularmente a procura de pastagens para seus rebanhos de cabras e camelos. “A cada duas ou três semanas os nômades levantam acampamento; eles não possuem nada que não possa ser transportado por duas pessoas” (KRONENBURG, 1995 apud ANDERS, 2007). As tendas deste povo são feitas de pelo de cabra em uma trama espaçada que gera um tecido preto retangular. Este tecido é erguido por varas e tensionado por meio de pinos enterrados no chão. Quando o terreno não tem resistência suficiente pedras e/ou arbustos são utilizados como âncoras. As paredes da tenda são suspensas ao redor e suas bases cobertas com areia ou pedras, podendo ser erguidas para ventilação ou serem completamente fechadas no caso de tempestades de areia. Figura 3: Tenda Beduína no Deserto do Saara Figura 4: Tirantes e prendedores ancorados por pedras Autor desconhecido | Disponível em http://www.arch.mcgill.ca Fonte: SHELTER PUBLICATIONS, 1973 apud ANDERS, 2007, p46. Acesso em 22/03/2015 Divisões internas tornam as tendas flexíveis, pois são possíveis através do uso de cortinas que podem configurar inúmeros compartimentos. A cor e a trama do tecido das tendas são uma solução engenhosa para iluminar seu interior e permitir a passagem do ar. O sol incidente sobre o tecido preto 22 torna o ar exterior quente e, por convecção, suga o ar interior que entra na tenda através de uma abertura, criando uma corrente de ar ascendente para refrescar o interior mesmo que não haja brisa. No caso de chuvas a trama confeccionada incha com a água fechando-se totalmente, como uma película que impede a passagem de água para o interior. (CITO, 2013; ANDERS, 2007) 2.2.2 Habitações Transportáveis Para Uso Militar Na Primeira e na Segunda Guerra Mundial o desenvolvimento de edificações portáteis e desmontáveis aconteceu de forma acelerada e, desta forma, contribuíram para o surgimento de edificações portáteis posteriores. O avanço tecnológico deste período e a emergência em soluções práticas e adequadas possibilitaram a pré-fabricação e produção em massa. Aspectos que introduzidos nos abrigos portáteis melhoraram a vida dos soldados em termos de moradia e instalações médicas. (KRONENBURG, 1995 apud ANDERS, 2007). a) Abrigo Nissen Hut Peter Norman Nissen (1871-1930), um engenheiro britânico, criou um abrigo conhecidos como nissen hut. Seus componentes fáceis de fabricar, intercambiáveis e coordenação modular facilitaram a montagem em campo. Tornando este abrigo militar amplamente utilizados na Segunda Guerra Mundial. (CITO, 2013) Figura 5: Abrigo Nissen Hut, Segunda Guerra Mundial Autor desconhecido | Disponível em http://www.b24.net/wendling/images/image073.jpg | Acesso em 22/03/2015 23 O Nissen Hut possuía dimensões de 8.2m por 4.9m, era composto por chapas equivalentes de ferro corrugado que formavam uma cobertura semicircular e dois fechamentos, um deles possuía duas janelas e uma porta. A base era de painéis de madeira. Em quatro horas e com apenas uma chave de fenda a estrutura estava pronta. (CITO, 2013; ANDERS, 2007) b) Unidade Médica MUST (Medical Unit, Self-contained, Transportable) O exercito Norte americano desenvolveu, nos anos 60, unidades médicas portáteis desmontáveis chamadas “Must” (Medical Unit, Self-contained, Transportable) que foram utilizadas na guerra do Vietnã e na guerra do Golfo. Sua estrutura era formada por paredes infláveis e completada por fechamento também infláveis revestidos com alumínio. (ANDERS, 2007) Figura 6: Must utilizado na guerra do Vietnam Fonte: Otis Historical Archves National Museum of Health and Medicine, foto tirada em 1968 Disponível em https://c2.staticflickr.com/4/3278/2550441939_e164041f5f.jpg | Acesso em 22/03/2015 3.3.4 Arquitetura Portátil: A proposta de edificação emergencial deve ser adequada. A arquitetura portátil foi através da história, uma solução ideal para diferentes civilizações, e tem se mostrado a melhor solução para ser aplicada em situações desta tipologia, conforme afirma Cito (2013) “A portabilidade tem se mostrado uma solução apropriada para resolver problemas emergenciais de forma imediata”. Kronenburg (1995 apud CITO 2013) define Arquitetura portátil como sendo aquela que pode ser montada, desmontada e transportada novamente para ser útil 24 em outro lugar. Ele classifica as edificações portáteis conforme forma de montagem e aspectos gerais em quatro tipos: Módulos (module), pacotes (flat-pack), tensionados (tensile) e infláveis (pneumatic), conforme explanado a seguir: a) Módulos (Module) O sistema Module consiste em unidades habitacionais entregues prontas, sem necessidade de montagem, precisam apenas ser conectadas a rede de água, esgoto e eletricidade. Algumas delas podem ser conectadas umas as outras dependendo do uso à que se destina. Os materiais mais utilizados para fabricação são a madeira e o aço, em alguns casos mais recentes fibras e plásticos também estão sendo utilizados. O transporte das unidades é feito através de caminhões, helicópteros ou aviões. Figura 7: Unidade TREYSAN, desenvolvida na Turquia e utilizada desde 1975 Disponível em http://www.armytechnology.com/contractors/field/treysan2/treysan21.html | Acesso em 25/03/2015 b) Pacotes (Flat-Pack) Sistema semelhante ao Module. Diferencia-se pela necessidade de montar a unidade habitacional que vem em várias peças. Para garantir a qualidade da montagem é necessário executar os procedimentos de forma correta e, em alguns casos, técnicas precisas. A vantagem deste sistema é a facilidade no transporte, pois é constituído de partes que desmontadas tem um volume compacto, ideal para locais de difícil acesso. 25 Figura 8: Sistema flat-pack desenvolvido em Istanbul Disponível em http://www.army-technology.com/contractors/field/dnd-frb/dnd-frb1.html Acesso em 25/03/2015 c) Tensionados (Tensile) É considerado o método mais flexível. Caracteriza-se por uma armação rígida de aço ou alumínio que trabalha à compressão e uma membrana tensionada presa à armação, geralmente de lona ou poliéster coberto com PVC. Muito leves e transportadas facilmente, este método foi influenciado pelo arquiteto alemão Frei Otto, que iniciou o desenvolvimento de modernas estruturas tensionadas flexíveis cobertas com tecidos e lonas em meados do século XX. Figura 9: Abrigo Tensile utilizado no Haiti após o terremoto de 2011 Disponível em http://www.sheltersystems.com/Shelter1%20images/haiti%20relief%20dome%202.jpg | Acesso em 25/03/2015 A matriz proposta por Friedemann Kugel em Arquitectura Adaptable, seminário organizado em 1979 pelo instituto de estruturas leves, ilustra os diferentes tipos de movimentos que a estrutura pode ter. 26 Figura 10: Matriz de Movimentos Membranas, estrutura portante fixa Recolher encolher Membranas, estrutura portante móvel Deslizamento Dobra Rotação Construções rígidas Deslizamento Dobra Rotação Disponível em http://www.piniweb.com/datapini/bancomaterias/images Acesso em 25/03/2015 d) Infláveis (Pneumatic) As Estruturas infláveis ou pneumáticas funcionam sob tensão, porém neste caso, o ar é quem exerce a pressão. Por este motivo sua resistência e o carregamento pelo vento devem ser levados em consideração, eventuais furos podem ocorrer e esvaziar a estrutura. Este sistema permite criar edificações de grande porte, são leves, fáceis de transportar e de montagem rápida, entretanto necessita de suprimento de energia constante. 27 Figura 11: Tenda inflável CBRN Disponível em http://www.militarysystems-tech.com/suppliers/losberger-rds Acesso em 25/03/2015 Podem-se citar ainda outros tipos de Edificações Emergenciais como as tendas, modelos e unidades importadas, construções in loco, habitações temporárias e os abrigos improvisados: e) Tendas Fatores como facilidade de armazenamento, transporte, montagem e principalmente pela temporalidade a tornam a tipologia mais utilizada atualmente. As tendas são projetadas para durarem pouco tempo, visando a retirada das vítimas num breve espaço de tempo. Não são indicadas para locais em condições extremas de temperatura no inverno, além de serem muito pequenas para as necessidades das famílias e não poderem ser aumentadas. (CITO, 2013) Figura 12: Acampamento de refugiados abrigados em tendas na Jordânia Fonte: Muhammad Hamed, 2015 Disponível em http://au.ibtimes.com/canada-responds-un-plea-will-accept-13000-syrian-iraqirefugees-3-years-1408442 | Acesso em 25/03/2015 28 f) Modelos e unidades importadas Esse tipo de abrigo é indicado para climas extremos e invernos rigorosos. Porém o alto custo e a tecnologia empregada são inadequados para a realidade de muitos locais, fazendo destes modelos pouco utilizados em áreas afetadas por desastres, pois utilizam materiais ou soluções próprias para países desenvolvidos. (CITO, 2013) g) Construção in Loco A Construção in loco utiliza materiais e técnicas disponíveis no local do desastre e a mão-de-obra geralmente é dos próprios desabrigados. Este tipo de moradia incentiva e estimula a colaboração e socialização dos indivíduos envolvidos. O Superadobe, criado pelo arquiteto Nader Khalili, foi inspirado no sistema de construção de colônias lunares para NASA em 1984. Resistente a testes sísmicos, este abrigo consiste na utilização de sacos e tubos de polipropileno cheios de terra úmidos fixados por arame farpado entre os sacos. O tempo de construção aproximado é de 20 dias e pode ser ainda revestido com cimento e material encontrado na região dos desabrigados. Porém em situações de emergência após desastres ambientais ou catástrofes onde há um grande número de desabrigados com necessidade urgente de se alojar, as construções artesanais, aliadas ao custo de transporte de pessoas capacitadas para transferir conhecimento técnico, tornam-se inviáveis. (CITO, 2013) Figura 13: Tecnologia SuperAdobe em construção Figura 14: Tecnologia SuperAdobe com revestimento Disponível em http://radio.weblogs.com Acesso em 25/03/2015 Disponível em http://bp1.blogger.com/ Acesso em 25/03/2015 29 h) Habitações temporárias As habitações temporárias tem a finalidade de substituir as moradias permanentes até que estas estejam prontas. Porém esta tipologia de moradia não terá reutilização depois, por isso deve-se atentar para os custos de construção de habitações temporárias, geralmente utilizadas em países desenvolvidos. O custo de reposição é muito alto. Analisando alguns casos observa-se que essas habitações que deveriam ser temporárias se tornam permanentes causando problemas semelhantes a criação de favelas, assim como ocorre com a construção de moradias sem o devido acompanhamento técnico. (CITO, 2013, p72) Observa-se também o tempo de construção das residências temporárias, por exemplo, na Indonésia (2006) foram necessários 12 meses para construir 75 mil abrigos temporários. (CITO, 2013) A exemplo de edificação temporária pode-se citar o projeto do arquiteto japonês ganhador do Pritzker 2014 Shigeru Ban que desenvolveu um abrigo temporário para as vítimas do grande terremoto de Kobe (Japão) em 1995. O embasamento do abrigo é feito de engradados de cerveja cheios de areia, as paredes são de tubo de papel e a cobertura de lona plástica, mantida separada do forro para manter a circulação de ar no verão, e no inverno o inverso, para não dissipar o calor e manter o ambiente aquecido. Figura 15: Peper House feita em Kobe Japão Figura 16: Peper House feita na Turquia Autor Desconhecido Disponível em http://www.livingdesign.net.br Acesso em 25/03/2015 Autor Desconhecido Disponível em http://www.livingdesign.net.br Acesso em 25/03/2015 30 i) Abrigos Improvisados São soluções emergenciais improvisadas construídas com materiais do próprio local (in loco), em área fora de risco, na maioria das vezes pelos próprios moradores. Também são usados como abrigos improvisados escolas, igrejas, galpões, quadras esportivas, escolas, etc. Em alguns casos utilizam-se divisórias para dar privacidade ao desabrigado. Este tipo de alojamento pode se tornar proliferador de doenças se não forem tomadas medidas corretas. (CITO, 2013; ANDERS 2007) Figura 17: Abrigo improvisado em um ginásio, para famílias desabrigadas por enchentes e deslizamentos em Teresópolis-RJ em 2011 Autor: Vladimir Platonow, 2011 Disponível em http://pt.wikipedia.org/ | Acesso em 25/03/2015 2.3 NECESSIDADE DE HABITAÇÃO EMERGENCIAL Este capítulo busca identificar as regiões que necessitam de habitação emergencial. Para tanto faz-se um panorama sobre desastres naturais e zonas de conflito, os dois maiores propulsores do número de pessoas deslocadas no mundo. 2.3.1 Ocorrência de Desastres Naturais no Mundo Segundo o CRED (2015) para um evento natural ser considerado um desastre, este deve se enquadrar em alguns critérios: Registro de no mínimo dez mortes; abranger cem pessoas ou mais; declaração de estado de emergência e ainda a solicitação de ajuda internacional. A tipologia do desastre pode ser diversa: 31 a) Desastre geofísico: Eventos originados a partir do solo: Terremotos, tsunami, vulcões, e movimentação de massas secas (deslizamentos, avalanches, acomodação de terra); b) Desastre meteorológico: Eventos provenientes dos processos atmosféricos de curta a média duração: Tempestades locais, ciclones tropicais e extratropicais, tornados; c) Desastre hidrológico: Eventos causados por variações no ciclo normal da água e/ou por inundações dos corpos de água originadas a partir da configuração dos ventos: Inundações e movimentação de massas úmidas (Deslizamentos, avalanches, acomodação de terra); d) Desastre climatológico: Eventos causados por temperaturas e variações extremas (frio, calor): Secas e queimadas espontâneas; e) Desastre biológico: Eventos causados pela exposição a organismos nocivos e/ou substâncias tóxicas, como epidemias e doenças diversas. No banco de dados do CRED correspondente ao período de 1980 a 2013 (2014), pode-se notar que tempestades e inundações são as ocorrências mais comuns de desastre natural no mundo, principalmente no sul e sudeste da Ásia, onde tem afetado comunidades despreparadas para lidar com tempestades tropicais e ciclones. Num aspecto geral as Inundações têm afetado muitas pessoas, entretanto gerado números baixos de mortalidade. Sendo os terremotos o tipo de desastre que mais causa mortes, representando quase 40% da taxa de mortalidade total. Este perfil é semelhante ao de secas, que ocupam 24% no numero de mortes, apesar de ser um fenômeno que ocorre com menor frequência (CRED, 2014). Desastres e mudanças climáticas podem ocasionar, além de mortes, doenças e deslocamentos de populações frágeis e, consequentemente, desnutrição. Estes fatores estão intrinsecamente ligados com o desenvolvimento econômico e social, pois afetam desproporcionalmente as pessoas mais pobres e marginalizadas, geram desigualdades sociais e prejudicam o crescimento econômico. Desastres "naturais" podem reverter anos de ganhos de desenvolvimento e ameaçar os esforços para eliminar a pobreza (CRED, 2013). Em 2013, a Ásia foi o continente mais frequentemente atingido por desastres naturais, registrou 47,3% das catástrofes mundiais, seguidas pelas Américas 32 (22,4%), Europa (13,6%), África (13,3%) e Oceania (3,3%). Esta distribuição regional de ocorrência indica uma mudança um tanto diferente para o perfil observado na década anterior. (CRED, 2014). Figura 18: Porcentagem de tipologia de desastres registrados em 2013 por Continente Europa Ásia Américas Climatológico Geofísico Hidrológico Metereológico África Oceania Fonte: CRED, 2014, tradução livre Segundo o CRED (2014) entre os cinco países mais frequentemente atingidos por desastres naturais em 2013 estão China, Estados Unidos, Indonésia, Filipinas e a Índia, conforme tabela abaixo. Sendo os desastres meteorológicos e Hidrológicos os mais comuns. Figura 19: Países com maiores registros de eventos em 2013 China EUA Indonésia Filipinas Índia Vietnã Japão Brasil Afeganistão Bolívia Bolívia Afeganistão Brasil Japão Vietnã Índia Filipinas Indonésia EUA China Climatológico 2 Hidrológico Metereológico 1 1 Geofísico 3 5 1 1 1 1 1 5 12 5 1 6 5 5 1 7 4 5 8 Fonte: CRED, 2014, tradução livre 6 2 8 7 17 15 15 33 Em 2013 foram 21.610 pessoas mortas, o número mais alto da década, a maioria ocorreu nas Filipinas, Índia, Reino Unido, Paquistão e Japão Filipinas, conforme tabela 1. Porém ao analisar o número de mortes por habitantes as maiores proporções se concentram no Vietnam, Israel, Camboja e Zimbábue (país atingido pela seca) (CRED, 2014). Tabela 1: Eventos mais mortais de 2013 EVENTO Ciclone tropical (Haiyan ), Novembro Inundação, Junho Onda de calor, Julho Onda de calor, Abril-Junho PAÍS MORTES Filipinas 7354 Índia 6054 Reino Unido 760 Índia 557 Paquistão 399 Japão 338 Paquistão 234 China 233 Terremoto, Outubro Filipinas 230 Inundação, Setembro-Outubro Camboja 200 Terremoto, Setembro Onda de calor, Maio-Setembro Inundação, Agosto Inundação, Julho TOTAL 16359 Fonte: CRED, 2014 Segundo o banco de dados do CRED (2015) em 2014 foram registrados 290 desastres naturais, 126 na Ásia, 64 nas Américas, 41 na Europa e 9 na África, a maioria de origem hidrológica e meteorológica, padrão semelhante ao ano anterior. Os países mais atingidos foram a China (Seca, inundação, ciclone), Filipinas (Ciclone), Índia (Inundação), Burkina Faso (seca) e Bangladesh (Inundação). A ocorrência dos eventos resultou em um número decrescente em comparação com os anos anteriores: 15.733 mortes, 9.780 apenas na África devido surtos de doenças virais e bacterianas como o Ebola, seguido pela Ásia com 5177 mortes. Os Desastres naturais afetaram 102 milhões de pessoas, valor maior em comparação com 2013 que registrou 96,5 milhões de vítimas. Em contrapartida os danos causados continuam em queda, valor estimado em 84,9 bilhões (CRED, 2015). Dados de uma das maiores companhias de resseguro do mundo a Munich RE NatCarSERVICE (2015) afirmam que no ano de 2014 os eventos que mais causaram mortes foram as Inundações na Índia e no Paquistão seguido pelo terremoto na China em Agosto, Inundações e deslizamentos no Nepal e o tufão Rammasun que causou danos na China, Filipinas e no Vietnam. 34 Tabela 2: Eventos mais mortais de 2014 EVENTO Inundações, Setembro Terremoto, Agosto Inundações e deslizamentos, Agosto ÁREA AFETADA MORTES Índia, Paquistão 665 China 517 Nepal 229 China, Filipinas, Vietnã 195 Inundações, Abril-Maio Afeganistão 175 Deslizamento, Agosto Nepal 156 Inundação, Outubro Rep. Dem. do Congo 154 Deslizamento, Julho Índia 151 Inundação, Agosto-Setembro Índia 151 Onda de calor, Dezembro Índia 145 Tufão Rammasun, Julho Fonte: Munich RE NatCarSERVICE, 2015. Tradução Livre O Munich RE NatCarSERVICE (2015) apresentou um mapa onde pode-se observar a ocorrência e o tipo de desastres no mundo todo e reafirmam os dados do CRED, a maior ocorrência de eventos tem origem meteorológica e hidrológica. No Brasil a seca teve destaque: Figura 20: Eventos registrados no mundo em 2014 Inundações Reino Unido Dez 2013 Fev 2014 Inverno Rigoso EUA, Canadá, 5-8 Jan Inundações Bónia e Herzegovina Sérvia, Croácia, Romênia 13-30 Maio Tempestades EUA, 18-23 Mai Tufão Rammasun China, Filipinas, Vietnã 11-22 Jul Tempestades França, Bélgica, Alemanha 7-10 Jun Seca EUA, 2014 Inverno Rigoroso Japão, 7-16 Fev Tufão Kalmaegi China, Filipinas, Vietnã 12-20 Set Inundação USA, 11-13 Ago Furacão Odile México, 11-17 Set Tempestades EUA, 2-4 Abr Tempestades EUA, 27 Abr - 1 Mai Tempestades EUA, 3-5 Jun Ciclone Índia 11-13 Out Seca Brasil, 2014 Inundações Índia, Paquistão 3-15 Set Terremoto China, 3 Ago Evento menor Eventos Geofísicos (terremoto, tsunami, atividade vulcânica) Eventos Hidrológico (inundações, movimento de massa) Catástrofe selecionada Perdas acima de 1,5 milhões de dólares Eventos Meteorológicos (tempestades tropicais,extratropicais, convencionais e locais) Eventos Climatológico (temperatura extrema, seca, queimadas) Fonte: Munich RE NatCarSERVICE, 2015. Tradução livre 35 2.3.2 Ocorrência de Desastres Naturais no Brasil Em 2013 o Brasil esteve na oitava posição em relação ao número de desastres reportados em todo o mundo, a maioria de origem hidrológica (CRED, 2014). Segundo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE (2013), no Brasil, secas e enchentes são os casos mais frequentes de desastres. Conforme dados do Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre desastres - CEPED/UFSC (2013) os movimentos de terra e erosão tiveram um aumento significativo no decorrer dos anos (21,7 e 9,6 vezes respectivamente). Figura 21: Totais de registros de desastres naturais mais recorrentes no Brasil (de 1991 a 2012) Fonte: UFSC, 2013 Segundo O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2013) Só nos últimos cinco anos 40,9% dos municípios brasileiros sofreram pelo menos um desastre natural, Foram mais de duas mil cidades atingidas por inundações, enxurradas bruscas e/ou deslizamentos de encostas. As enchentes graduais deixaram quase 1,5 milhões de pessoas desabrigadas ou desalojadas. A pesquisa constatou que 48% das prefeituras do País estavam despreparadas para as ocorrências. Os danos são preocupantes. Em janeiro de 2011, uma enxurrada devastou a região serrana do Rio de Janeiro. A tragédia foi considerada o maior desastre natural no Brasil desde 1967, com o número de 918 mortos, mais de 300 desaparecidos e 30 mil desabrigados (Defesa Civil, 2011 apud SAVIETTO, 2013). Dados da Secretaria Estadual de Assistência Social afirmam que dois anos após o desastre mais de oito mil famílias ainda recebiam aluguel social. 36 No estado de São Paulo, entre os anos de 2000 e 2008, foram registrados quase dois mil eventos que resultaram em 50 mil desabrigados e desalojados (Defesa Civil, 2011 apud SAVIETTO, 2013). De acordo com relatório do Grupo de Estudos de Desastres Naturais da Universidade Federal de Santa Catarina – GEDN (2006) Em 2004, o Furacão Catarina que passou pela região sul de Santa Catarina e nordeste do Rio Grande do Sul, foi o primeiro furacão já registrado em águas do Atlântico Sul e o primeiro a avançar sobre a costa brasileira. Em Santa Catarina, o estado mais atingido, foram 53 mil edificações prejudicadas e 2.2 mil pessoas desabrigadas. O estado vem registrando muitos eventos na ultima década, em novembro de 2008 enchentes e deslizamentos de terra no Vale do Itajaí bloquearam 19 rodovias, isolando muitas cidades completamente afetando cerca de 1,5 milhão de pessoas, deste número quase 80 mil eram desabrigados e desalojados e. Este desastre, um dos maiores desastres registrados em nível nacional, registrou 135 mortes e, estimase que 79 mil pessoas perderam suas residências. Em 2011, ainda no Vale do Itajaí, uma nova ocorrência de mesma tipologia deixou cerca de 1 milhão de vítimas (DEFESA CIVIL, 2012 apud SAVIETTO, 2013). Outro fato marcante, segundo a Defesa Civil (2011 apud SAVIETTO, 2013) foi a estiagem na Amazônia, em outubro de 2005, foi considerada a mais severa seca que atingiu o estado em 40 anos e deixou dezenas de comunidades e famílias ribeirinhas completamente isoladas. Pesquisas do CEPED (2013) identificam que em 2011 a região sul teve mais registros de fenômenos meteorológicos (desastres naturais ou não) durante o ano todo, seguida pela região nordeste. Das 60 cidades de maior ocorrência de registros no Brasil, 64% ocorre no estado de Santa Catarina (ver figura 9), valor equivalente a mais da metade da estatística. O estado é seguido pelo Rio Grande do Sul (15%) e pelo Paraná (8%), o restante soma-se em 13% (SP, RJ, MG, PE, ES). Na mesma pesquisa é notável a presença da cidade de Joinville-SC ocupando a quinta posição o número de registros, sendo a maior parte por enxurradas e inundações. Em cada região do país as tipologias de desastres mais periódicos possuem percentuais diferentes (CEPED - UFSC, 2012): a) Região Norte: Inundações graduais e alagamentos (39%) e Inundações bruscas (26%); 37 b) Região Nordeste: Estiagens e secas (78%); c) Região Centro-oeste: Inundações bruscas e alagamentos (38%) e Inundações graduais (27%); d) Região Sudeste: estiagens e secas (35%) e inundações bruscas e alagamentos (32%); e) Região Sul: Estiagens e secas (40%) e inundações bruscas e alagamentos (23%). Figura 22: Regiões de maior frequência de ocorrência de eventos meteorológico (analise das 60 cidades mais atingidas) Fonte: Produzido pelo autor a partir de dados da UFSC, 2013. Figura 23: Municípios mais atingidos no Brasil por total de registros de eventos meteorológicos (de 1991 a 2012) Fonte: UFSC, 2013 38 Mais recentemente, em abril de 2015, aconteceu em Xanxerê-SC, a ocorrência de um tornado que pegou a população e o governo desprevenidos. O evento deixou um rastro de mais de mil casas destruídas e causou a morte de duas pessoas. Os desabrigados estão recebendo assistência do governo e foram acolhidos temporariamente em abrigos improvisados em escolas, instituições religiosas e galpões até que a reconstrução do que foi perdido seja concluída. A passagem do tornado pelo estado de Santa Catarina gerou um prejuízo de 112 milhões de reais (G1, 2015). 2.3.3 Refugiados no Mundo Os desastres naturais não são os únicos fenômenos que geram desabrigados no mundo, o número de pessoas deslocadas no planeta, mais de 51 milhões segundo dados da UNHCR (2015), é impulsionado pelas zonas de conflitos, que geram diariamente um crescente número de refugiados acampados em Abrigos governamentais ou mantido por instituições humanitárias. Deve-se observar que muitos países em situação de conflitos apresentam ainda ocorrência de desastres naturais. Segundo Antônio Gutierres, comissário da ONU, as mudanças climáticas podem agravar a situação de refugiados, pois este fator pode contribuir com a seca e escassez de recursos, gerando crises econômicas, políticas e movimentos migratórios (BBC BRASIL, 2012). O número de população afetada por conflitos vem aumentando ao longo do tempo em todo o mundo (ver figura 24). Por consequência, segundo o relatório do CRED (2012), a mortalidade também vem atingindo índices elevados, em 2012 foram registrados na Somália 84 mil mortes apenas de crianças, 22 mil no Sudão, 12 mil no Sudão do Sul e 8 mil na República Democrática do Congo. Países em áreas de conflito são responsáveis pelos maiores índices. 39 Figura 24: Comparativo de Refugiados no Mundo de 1964 a 2012 (em milhões de pessoas) Fonte: Sociedade Médica de Massachusets, 2015, p18-38. O Departamento de Pesquisa de Paz e Conflitos da Universidade Uppsala da Suécia (2013) reafirma a instabilidade recorrente no mundo (ver figura 25). Enquanto os conflitos aumentam o número do retorno de refugiados para seu país de origem diminui drasticamente, valor aproximado em 1,8 milhões de pessoas no período de 2009 a 2013 contra 4,5 milhões no período de 2004 a 2008 (CRED, 2014). Figura 25: Quantidade de Conflitos Armados e Disputas no Mundo por ano (1943 a 2013) Fonte: UCDP, 2014. Só em 2012 mais de 172 milhões de pessoas foram afetadas por conflitos no planeta. O Paquistão e a Nigéria somam o maior número de pessoas afetadas nesta 40 época, 28,1 milhões e 18,6 milhões respectivamente. A Líbia e a Somália tiveram a maior proporção de suas populações afetadas, em torno de 90% cada, números alarmantes também na Síria, quase três quartos de sua população foi afetada por conflitos em 2012 (figura 26), reflexo da crise política e econômica no país que já duram cinco anos (CRED, 2014). Figura 26: Porcentagem da população afetada por conflitos por país Fonte: CRED, 2014 O total de refugiados no mundo (51,2 milhões de pessoas) é seis vezes maior que o valor registrado em 2012. A figura a seguir mostra claramente a localização de refugiados, nota-se maior abrangência na África subsaariana e no Oriente Médio, regiões de conflitos e guerras (UNHCR, 2015). 41 Figura 27: Localização de refugiados no Mundo Turquia Líbano Síria Jordânia Paquistão R epública Islâmica do Irã Fonte: UNHCR, 2015. Em 2013 cerca de 9,5 milhões de novos refugiados tiveram como destinos diversos, conforme explanado a seguir (UNHCR, 2013): a) 58.4% se refugiaram em casa de familiares e conhecidos b) 34.4% estavam concentrados em acampamentos da ONU, número correspondente a 3,2 milhões. c) 3.2% tiveram como destino Centros Coletivos, como galpões e escolas, no geral abrigos improvisados. d) Apesar de a porcentagem correspondente a 3.6% ser pequena, os números são preocupantes. Cerca de 345 mil pessoas optaram por abrigos individuais improvisados ou mesmo junto de desconhecidos, compartilhando recursos para se manter. Para 2,1 milhões restantes o destino é desconhecido. (UNHCR, 2014) Segundo o relatório da UNHCR (2014) os índices atingiram valores alarmantes no final de 2013, eram 11,7 milhões de novos refugiados, sendo o Afeganistão, Síria e Somália representantes de 53% deste total, conforme figura 15. 42 Figura 28: Total de Refugiados por origem no final de 2013 Afeganistão Síria Somália Sudão Rep. Dem do Congo Myanmar Iraque Colômbia Vitnã Eritreia Fonte: CRED, 2014. Tradução livre Os países desenvolvidos foram responsáveis por dar abrigo a 24% dos novos números. Porém a África responde pela maior abrangência como é possível observar na figura 16. O continente representa 48% do total de países hospedes (23% são do Norte e Meio Oeste da África; 25% da África Subsaariana), fator estimulado pela situação de conflito das nações da região que, portanto, estão mais propícios a dar abrigo devido à proximidade; 30% dos países que abrigam refugiados são nativos da Ásia e do Pacífico; 15% da Europa e a minoria das Américas, o equivalente a 7% do total (UNHCR, 2014). Figura 29: Países com maior número de refugiados residentes em 2013 Paquistão Rep. Islâmica do Ira Líbano Jordânia Turquia Quênia Chade Etiópia China EUA Fonte: CRED, 2014. Tradução livre Em apenas três anos e meio o Líbano pulou da 69ª posição país de hospedagem de refugiados para segundo maior graças aos sírios, que totalizam 1,1 43 milhões no total. Mesmo assim o Paquistão continuou a acolher o maior número de refugiados. Figura 30: Países com maior número de refugiados residentes (meados de 2014) Pa ã is t qu o Líb o an l âm Is . p lã Re o Is d ia a ia ui ân rq d u r T Jo ió Et pia uê Q nia a Ch de Fonte: UNHCR, 2014. Tradução livre A crise na Síria impactou também a Turquia e a Jordânia que juntas relataram um total de 824 mil refugiados registrados, sendo 97% sírios e o restante de predominância iraquiana. Etiópia saltou da oitava posição em 2012 para a sexta em meados de 2013. Valor impulsionado pela recepção de 159 mil refugiados sudaneses no país que abriga um total de 587,7 refugiados. No Quênia, segundo maior país de acolhimento da África há maioria de refugiados provenientes do Sudão do Sul. Chade vem logo a seguir com aproximadamente 455 mil refugiados no país, valor que aumentou em proporções estrondosas desde 2001 quando registrou 13 mil refugiados, o equivalente a 3500% a menos do valor atual. Uganda registrou altos índices devido a quase 120 mil sul sudaneses que tiveram abrigo no país. UNHCR (2014) Entre janeiro e junho de 2014, a UNHCR informou uma estimativa de 5,5 milhões de novos deslocados devido a conflitos, O número de requerentes de abrigo sofreu um aumento de mais de 100 mil pessoas só no início do ano. No ano anterior foi registrado um total de 290 mil. 2014 marcou uma mudança nas estatísticas nos países de origem e países de acolhimento dos refugiados. Metade dos dez primeiros países encontra-se na África Subsaariana. O aumento deve-se principalmente pelos conflitos na Síria em razão da guerra civil e violência que já provocou a morte de quase 200 mil pessoas; no 44 Líbano devido a tensões sectárias e aumento da violência, principalmente nas áreas de fronteira; no Sudão do Sul, país em guerra civil desde o final de 2013 e na República Centro-Africana, região de confrontos onde a instabilidade políticoreligiosa provocou quase 1 milhão de refugiados e deslocados, valor equivalente a cerca de 20% da população do país onde a violência já atingiu 2,2 milhões de pessoas (G1, 2015; CARTA CAPITAL, 2014). O Afeganistão mantinha-se há três décadas no topo do ranking de países com mais refugiados, porém o relatório semestral da UNHCR (2015) informa que o registro de mais de 3 milhões de abrigados Sírios mudou a situação, tornando a Síria o país com maior número de refugiados ( ver figura 31), nação que em 2011 não estava nem inclusa nos trinta primeiros países com maior número de abrigados. Hoje o Oriente Médio e Norte da África passaram a ser a principal região de origem de refugiados em todo o mundo. Sírios, afegãos e somalis correspondem a 52% do número total de abrigados (UNHCR, 2014). Figura 31: Total de Refugiados por Origem (meados de 2014) r o ia emgo ma ue o ál udã o ã D t n q is S o d ep. On ya Ir a om n S a R oC M dã eg d S u ul Af S ri Sí a Fonte: UNHCR, 2014. Tradução livre Mais de 100 países relatam registro de refugiados Sírios, porém a maior parte da população encontra abrigo nos países vizinhos, os maiores números concentramse entre Líbano (1,1 milhões), Turquia (798 mil), Jordânia (645,6 mil), Iraque e no Egito, países que sozinhos somam 23% dos refugiados sírios no mundo. Os afegãos representam 2,7 milhões de refugiados sob o mandato da UNHCR, um aumento de aproximadamente 135 mil pessoas no semestre. Cerca de 1,6 milhões refugiados são acolhidos no Paquistão. A Somália manteve-se estável na terceira posição com 45 1,1 milhões de pessoas até meados de 2014. Os refugiados foram instalados principalmente no Quênia, Etiópia e Iêmen. O valor total de refugiados somalis caiu por cerca de 41mil pessoas, principalmente por causa do retorno de 10 mil pessoas ao país. A guerra civil no Sudão do Sul que teve início no final de 2013 foi responsável pelo aumento de 444% de refugiados provenientes do país, acolhidos principalmente nos países vizinhos, Etiópia, Uganda, Sudão e Quênia. O surto de violência na República Centro Africana no final de 2013 causou o êxodo de mais de 143 mil pessoas em apenas seis meses, estes encontraram refúgio nos Camarões, Chade, República Democrática do Congo e na República do Congo. 2.3.4 Refugiados no Brasil No Brasil não há ocorrência de acampamentos de refugiados ou zonas de conflito, porém segundo o CONARE, Comitê Nacional para os Refugiados criado pela lei brasileira de refúgio, informou à UNHCR (2015) que o Brasil possui aproximadamente 7.300 refugiados de 81 nacionalidades distintas (dados observados até outubro de 2014). A maioria nativos da Síria, Colômbia, Angola e República Democrática do Congo, conforme listagem abaixo: a) Síria: 1.524 Figura 32: Novas solicitações de Refúgio (por ano) b) Colômbia: 1.218 c) Angola: 1.067 d) República Democrática do Congo: 784 e) Líbano: 391 f) Libéria: 258 g) Palestina: 263 h) Iraque: 229 i) Bolívia: 145 Fonte: UNHCR, 2015 j) Serra Leoa: 137 Os haitianos, em particular não estão incluídos nos gráficos oficiais, pois receberam residência permanente pelo Conselho Nacional de Imigração (CNIg) 46 desde o inicio da imigração no país, iniciada devido ao terremoto que atingiu o Haiti em 2010, estes somam mais de 40 mil no Brasil. A tendência é que o número de refugiados venha aumentar no mundo todo, pois além do crescente número de conflitos no oriente médio, a UNHCR (2015) informa que o número de requerentes de abrigo sofreu um aumento de mais de 100 mil pessoas desde o início de 2014. Em 2012 foi registrado um total de 290mil durante o ano todo. Estes índices continuarão em crescimento até que os países portadores dos maiores números como a Síria, Líbano, Afeganistão, entre outros, apresentem sinais de estabilidade econômica e principalmente política. 2.3.5 Considerações - Escolha do local de Intervenção Através da análise dos dados nota-se a ocorrência de desastres meteorológicos no mundo todo, inclusive no oriente médio. Esta região apresenta altos índices de mortalidade e de desabrigados causados por eventos naturais, principalmente no Paquistão, Afeganistão, Israel e alguns países da África como Zimbábue e Congo. No Brasil, Santa Catarina é o estado que apresenta maiores índices de ocorrência de desastres naturais, estes eventos geram um número expressivo de desabrigados e deixam um rastro de danos econômicos por onde passam. No oriente médio além da ocorrência de desastres naturais há ainda concentração de conflitos armados e guerras. Resultado de instabilidades econômicas e políticas (ver figura 33), estes eventos crescem dia após dia e geram um número de desabrigados muito maior do que em qualquer outra região do planeta. Portanto os acampamentos de refugiados se tornam uma situação comum e rotina de muitas nações, principalmente nas regiões da Síria e da Jordânia, que recebem todos os dias novos refugiados. 47 Figura 33: Regiões de Conflito e Instabilidade Política em 2014 Iraque Síria Líbia RCA Jordânia Sudão Somália R.D. Congo Sudão do Sul Legenda: Risco Extremo Alto Risco Médio Risco Baixo Risco Fonte: Maplecroft. Tradução livre | Disponível em http://www.maplecroft.com | Acesso em 17/06/2015 Segundo dados da UNHCR (2015) a Jordânia ocupa a quinta colocação entre os países com maior número de refugiados, número que já passa de 800 mil pessoas. A figura 41 reafirma as estatísticas sobre os locais de conflito e mostram claramente a localização das regiões mais críticas. A Jordânia localiza-se num ponto estratégico, entre o continente africano e o continente asiático, fazendo fronteira com a Síria, país que possui mais de 3 milhões de refugiados e ocupa a primeira colocação. Figura 34: Localização Disponível em http://pt.db-city.com, modificado pelo autor O ponto principal de concentração de refugiados no país é o Acampamento de Zaatari, há apenas 12km da Síria, o acampamento de 9 quilômetros quadrados, está superlotado e presencia um crescimento demográfico acelerado e desordenado. Possui 3 mil pontos comerciais operando sem licença. Zaatari abriga 48 83 mil pessoas em barracas cedidas pela UNHCR, número que não para de crescer, pois os conflitos na região não mostram sinais de trégua e todos os dias chegam novos refugiados. (VALENCIA, 2014) Figura 35: Vista aérea do acampamento Figura 36: Barracas em lona plástica Fonte: http://metro.co.uk, 2013 Fonte: Khalil Mazraaw, 2015 O alto crescimento habitacional de Zaatari propiciou outras formas de moradia com materiais disponíveis no lugar, reflexo da apropriação do espaço e de vias por seus moradores (ver figura 37) que vivem em condições precárias, pois a UNHCR não dispões de recursos para atender a demanda assistencial do local. (THE NEW YORK TIMES, 2014). Figura 37: Apropriação do espaço Fonte: Picture-Alliance/DPA, 2014 O acampamento está mudando a paisagem local dia após dia como pode se perceber nas imagens de satélite registradas de Novembro de 2012 a julho de 2013: 49 Figura 38: Novembro de 2012 Abrigos Administração Fonte: http://www.bbc.com/news/world-middle-east-23801200 | Acesso em 22 Julho 2015 Figura 39: Janeiro de 2013 Abrigos Administração Fonte: http://www.bbc.com/news/world-middle-east-23801200 | Acesso em 22 Julho 2015 50 Figura 40: Fevereiro de 2013 Abrigos Administração Fonte: http://www.bbc.com/news/world-middle-east-23801200 | Acesso em 22 Julho 2015 Figura 41: Julho de 2013 Abrigos Administração Fonte: http://www.bbc.com/news/world-middle-east-23801200 | Acesso em 22 Julho 2015 Infere-se, portanto, que, há uma necessidade de habitação emergencial no oriente médio maior do que em qualquer região do mundo. 2.4 IMPLANTAÇÃO DE HABITAÇÃO EMERGENCIAL 51 A Agência das Nações Unidas para Refugiados (2007) define alguns parâmetros que devem ser respeitados na implantação de abrigos conforme a seguir. O local de implantação deve ser acessível à chegada de suprimentos como alimentos, materiais para abrigos, etc. Deve ser previsto ainda locais para expansão, pois num primeiro momento nem todos os equipamentos necessários a manutenção de um acampamento são instalados. A tabela abaixo descreve serviços e infraestrutura requeridos para um acampamento de desabrigados: Tabela 3: Serviços e Infraestrutura requeridos em acampamentos de desabrigados Fonte: THE UN REFUGEE AGENCY, 2007, p.553 apud SAVIETTO, 2014, p.100) O dimensionamento mínimo por pessoa é de 30m², incluindo abrigos, calçamentos, vias, equipamentos de educação, saneamento, segurança, administração, armazenamento de água, distribuição e depósito de itens, com recomendação de 45m² por pessoa, incluindo cozinha e espaço para jardim. A composição do acampamento segue modelo a seguir : Tabela 4: Composição do acampamento a ser adaptada a cada situação Fonte: THE UN REFUGEE AGENCY, 2007, p.216 apud SAVIETTO, 2014, p.101) Os assentamentos devem ser separados em área residencial, referente aos abrigos e área comunitárias, que envolve cozinha, refeitório e sanitários comuns divididos por gênero (se não há um em cada abrigo), administração, almoxarifado, 52 lavanderia, instalações elétricas e hidráulicas, reservatório de água, depósitos de lixo e resíduos e locais para atendimento médico. Devem conter também espaços recreativos, pois estes representam ganhos para a saúde mental dos abrigados e contribuem para o senso de tranquilidade da comunidade, pode ser um pátio para descanso ou jardins para brincar. (SAVIETTO, 2014) Segundo Anders (2007) os abrigos devem ser definidos de forma a prover uma estrutura básica autônoma para cada família ao redor de um núcleo de serviços públicos num pátio comum, facilitando desta forma, o acesso, a manutenção, o abastecimento e a coleta. Os abrigos devem dispostos numa forma modular de implantação e em pequenos grupos de famílias, a fim de permitir a interação da comunidade entre sí num sistema autossuficiente e funcional. Figura 42: Exemplo de planejamento modular autossuficiente ABRIGO: 18m² (3m x 6m), 1 família (5 pessoas) CLUSTER: 2.000m² (40m x 50m), 16 abrigos, 80 pessoas Fonte: THE UN REFUGEE AGENCY, 2007, p.214 apud SAVIETTO, 2014, p.102) 53 Segundo a cartilha Recomendaciones para Instalación de Vivienda de Emergencia en Campamentos Provisorios (ELEMENTAL, 2010), a implantação dos abrigos deve minimizar possíveis conflitos sociais conforme indicações a seguir: 2.4.1 Acesso No exemplo abaixo, assentamento em Tocopilla, no Chile, observa-se que a disposição das 3 mil unidades com os acessos compartilhados criam um “território de ninguém” na parte posterior do abrigo, um local sem uso definido e sem apropriação pelos moradores. Figura 43: Orientação inapropriada de acessos aos abrigos Fonte: ELEMENTAL, 2010, p.02 2.4.2 Distância entre Abrigos Deve ter no mínimo 3,00m. Esta distância garante uma distribuição igualitária do espaço para cada unidade e possibilita o aumento do abrigo através de anexos, modificando a função e o uso do ambiente construído, quando necessário. 54 Figura 44: Orientação apropriada de acessos aos abrigos Fonte: ELEMENTAL, 2010, p.03 2.4.3 Agrupamento de Abrigos Distribuição de 10 a 12 famílias ao redor de um pátio coletivo. Esta distribuição garante mais eficiência na relação dos serviços públicos com as unidades individuais, aumenta o senso de comunidade e garante mais segurança às famílias. Figura 45: Exemplo de esquema geral de agrupamento Figura 46: Exemplo de variações nas implantações das comunidades em blocos Opção 01 Opção 02 Fonte: ELEMENTAL, 2010, p.07 Fonte: ELEMENTAL, 2010, p.07 55 2.4.4 Estabelecimento de Núcleos de Serviços: A disposição de serviços diferentes no mesmo local facilita a logística de todo assentamento. Ali ocorre a instalação de equipamentos coletivos: banheiros (químicos ou com fossas), cozinhas e lavanderias, postes de eletricidade e reservatórios de água, entre outros. Figura 47: Localização centralizada dos núcleos de serviços LEGENDA: 1. Núcleo de serviços; 2. Medidor de energia; 3. Postes individualizados (3m) Fonte: ELEMENTAL, 2010, p.06 2.5 MATERIAIS PARA HABITAÇÃO EMERGENCIAL Segundo Mascaró (1992 apud CITO, 2013) a fabricação dos materiais construtivos representa quase que a totalidade do consumo de energia utilizado na construção civil (tabela 6) por este motivo deve-se utilizar um material que tenha baixa demanda de energia, Kronka (1998, apud PARENTE 2006) afirma que esta medida resulta em redução dos custos, principalmente quando utilizado em larga escala. 56 Tabela 5: Demanda de energia para cada etapa da construção Fonte: MASCARÓ, 1992 apud CITO, 2013 Segundo Serra e Ki-Chang (1999, 2008 apud CITO 2013) o cimento, uma das principais matérias-primas do setor construtivo, além de possuir elementos que desencadeiam doenças crônicas, é responsável por 7% do total das emissões de gases que contribuem com o agravamento do efeito estufa, portanto é necessário verificar outros métodos construtivos aplicáveis a edificações emergenciais. Através das indicações de materiais mais adequados à aplicação em projetos emergenciais feito pela pesquisadora Adriana Zancani Tavares (2012) foi selecionado os materiais que mais se adequam ao contexto deste estudo: Placa cimentícia impermeabilizada, painel compensado de madeira multilaminada, chapa aço inox, tecido de poliéster revestido com PVC e polietileno de alta densidade PEAD. Foram definidos parâmetros para avaliação, análise e comparação dos materiais em questão, as estimativas de custo são dadas através de valor médio do mercado brasileiro, conforme a seguir: 2.5.1 Placa Cimentícia Impermeabilizada As placas cimentícias são produzidas com uma mistura de cimento portland, agregados naturais de celulose ou de cimento reforçado com fio sintético. Sua composição, além de ser 100% reciclável, resulta num baixo peso próprio e diminuição no dimensionamento das sapatas ou vigas corridas de apoio. (MEDEIROS, 2010) É possível encontrar as placas nos comprimentos de 2,00m, 2,40m e 3,00m com a largura de 1,20 m e 2,00m. As placas podem ser cortadas nas obras de acordo com as necessidades de cada projeto, são fixadas em steel frame, perfil de alumínio modulares. Podem ser aplicadas em áreas secas ou úmidas, paredes internas ou externas, beirais, oitões, shafts, e ainda constituir vedações curvas. São produtos não inflamáveis, com boa resistência à flexão, intempéries, imunes a fungos, insetos e roedores. A instalação demanda mão de obra especializada, 57 exigem leitura de projetos e precisão na execução. (PONTES, 2010; MEDEIROS 2010) A durabilidade é considara elevada, as empresas do ramo oferecem em média cinco anos de garantia, são encontradas no valor de R$95,00 (8mm 1200x3000mm) a R$170,00 (10mm 1200x3000mm) dependendo do tamanho e espessura da placa. Figura 48: Placa cimentícia Figura 49: Instalação em Steel Frame Disponível em https://s3-sa-east1.amazonaws.com Acesso em 25 Jul 2015 Disponível em http://techne.pini.com.br/ Acesso em 25 Jul 2015 2.5.2 Painel de madeira compensada Multilaminada Estudos do curso de Engenharia Industrial madeireira da UFPR (2006) demonstram as principais características dos compensados de madeira. Os painéis de madeira multilaminada são obtidos a partir da colagem de múltiplas lâminas por meio de resina termoplástica a base de etileno vinil acetato ou fita adesiva, as lâminas são entrepostas em um número ímpar. É possível encontrá-las em espessuras acima de 4mm, sendo o padrão internacional de dimensão 1220x2440mm, porém no mercado brasileiro segue uma proporção um pouco menor: 1600x2200mm, além de diversas outros tamanhos disponíveis de acordo com o fabricante e solicitação do usuário. São produtos com baixa retratibilidade (contração e expansão) que podem ser utilizadas no interior e exterior de edificações leves, dependendo dos agregados adicionados ao produto que o tornam resistente à água. A instalação pode ocorrer através do sistema macho e fêmea ou pela fixação com pregos, parafusos, etc. UFPR (2006) 58 Além da flexibilidade de formas (figura 50), a durabilidade das placas multilaminadas é considerada alta e podem ser feitas com madeira reflorestada e conduzidas de forma legal. Dependendo do uso utilizado podem ainda ser reutilizadas posteriormente (TAVARES, 2012). Para efeitos de custos será considerado o “Compensado Naval de madeira pinos”, o valor varia de R$75,00 (10mm 1600x2200mm) a R$110,00 (15mm 1600x2200mm). Figura 50: Flexibilidade de formas e aplicações Figura 51: Chapas de Madeira multilaminada Disponível em http://og.infg.com.br Acesso em 27/07/2015 Disponível em http://www.nacionalmadeiras.com.br/images Acesso em 27/07/2015 2.5.3 Chapa Aço Inox O aço é amplamente utilizado na construção civil devido a sua flexibilidade que proporciona multiformas e aplicação variada, seja em fachadas ou como componente estrutural, podem ainda ser utilizadas em áreas internas ou externas, secas ou molhadas. Porém as altas temperaturas, necessárias para sua fabricação, encarem o processo de produção e venda. Entretanto, por serem mais leves, os elementos metálicos podem reduzir em até 30% o custo das fundações. (INABA, 2015; FERRAZ, 2003) A pré-fabricação aliada ao processo de soldagem ou parafusamento das chapas metálicas tornam a instalação rápida, segura e com redução de desperdício em obras, além de ser resistentes ao fogo. Outra vantagem do material é a durabilidade extremamente alta e característica 100% reciclável. As chapas metálicas em aço inoxidável são encontradas no valor de R$440,00 (0,6mm 1210x3000mm) a R$3.130,00 (6mm 1500x3000mm), existe chapas com espessuras até de 60mm dependendo do fabricante. 59 Figura 52: Chapa Aço Inox Figura 53: Edificação com chapa aço inox perfurada Disponível em http://catalogo.feital.com.br/Asset/Feital.jpg Acesso em 27 Jul 2015 Disponível em http://techne.pini.com.br/ Acesso em 25 Jul 2015 2.5.4 Tecido de poliéster e PVC As principais membranas utilizadas em tensoestruturas são formadas por poliéster revestidos com policloreto de vinila (PVC). São usados e testados desde a década de 60 e vem sendo amplamente utilizado devido ao seu baixo custo, facilidade de manuseamento, propriedades retardante à chama, peso próprio baixo e são 100% recicláveis. (ROCHA, 2011) A capacidade de reflexão solar das membranas constitui uma das melhores alternativas em materiais para toldos em zonas tropicais e áridas, pois refletem cerca de 75% da energia solar incidente, absorvem 17% e transmitem 13% desta energia. O conforto térmico e acústico nas tensoestruturas pode ainda ser alcançado por meio de soluções de projeto, visto que a própria concepção desta tipologia construtiva sugere formas abertas, sendo a utilização de lanternins tipo chapéu e a ventilação cruzada os mais conhecidos, além do efeito chaminé, que, em razão da diferença de pressão atmosférica, provoca um fluxo contínuo e renovação do ar. As membranas ainda permitem a passagem da luz natural de maneira difusa, promovendo um ambiente visualmente confortável e com economia de energia. (FOSTER, 2009 apud MENDONÇA, 2013). A durabilidade do tecido de PVC é estimada em 10 a 15 anos, porém há registro de obras ultrapassando os 20 anos de uso. No caso do Politetrafluoretileno (PTFE) a durabilidade é maior, cerca de 30 anos, porém, além da adição de fibra de vidro neste tecido tornar a reciclagem do material dificultosa, o preço do PTFE é cinco vezes maior que o do PVC (HUNTINGTON, 2004 e SON, 2007 apud MÉRIDA; FANGUEIRO, 2012). 60 Segundo a Fabric Archtecture (2009), empresa conceituada no ramo de tenso estruturas, o valor do tecido de poliéster revestido com PVC é de 540 a 800 dólares. Figura 54: Cobertura do Aeroporto de Denver, no Colorado (EUA) Disponível em http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/30/imagens/i394934.jpg Acesso em 27 de Jul 2015 Figuras 55: Tipos de tensoestruturas Fonte: MENDONÇA, 2005 apud MENDONÇA, 2013 2.5.5 Polietileno de Alta Densidade - PEAD As placas modulares de Polietileno de Alta Densidade – PEAD, são polímeros plásticos 100% recicláveis, tem durabilidade extremamente alta - considerando que o plástico leva cem anos para se degradar - e exige um consumo de energia menor na produção em comparação ao cimento e ao aço. (PARENTE, 2006) A modulação permite uma construção rápida e sem desperdícios, devido à estandardização na fabricação, porém, por ser uma estrutura autoportante, o PEAD não é indicado para construções de mais de um pavimento, além de não ser 61 recomendada a elaboração de placas muito detalhadas, pois o fato de serem feitas através de moldes pode prejudicar a qualidade desses elementos. A espessura varia de 1 mm a 30 mm 1000x2000mm a 1000x4000 mm, sob encomenda pode ser feito placas com 2200mm de largura sem limite de comprimento. (PARENTE, 2006) Suas Propriedades térmicas mostram-se, através de testes descritos por Parente (2006), eficientes de acordo com a espessura das placas que podem ter preenchimento ar na parte interna. A aplicação deste material está acontecendo de forma gradual, principalmente na construção de estruturas de caráter temporário como estandes, canteiros de obras, etc. Estudos e projetos de residências vem acontecendo em menor escala. Há no Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará uma unidade residencial feita com painéis de PEAD e instalações hidráulicas e elétricas executadas aparentes. A unidade não possui revestimentos internos ou externos e foi desenvolvida pela empresa nomeada Impacto e Protenção, que patenteou a tecnologia desde 2007. O processo de obtenção do Certificado da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) teve início em 2009 e possibilitará a aquisição do imóvel através de financiamentos por órgãos como a Caixa Econômica Federal. Figura 56: Casa em PEAD para certificação Fonte: Impacto e Protenção, 2015 A Impacto e Protenção (2015) também desenvolveu a casa Guamiranga. Nesta residência as instalações hidráulicas e elétricas foram resolvidas dentro dos painéis dispostos em duas camadas encaixadas em perfis metálicos. Internamente a edificação recebeu revestimento de gesso acartonado nas paredes e cerâmica no piso, conta inclusive com áreas molhadas. No exterior foi aplicado textura diretamente na placa. 62 A edificação mostra-se promissora, a estandardização dos elementos construtivos que a compõe torna a montagem rápida e com redução de desperdício. A montagem e execução dos revestimentos levaram apenas quatro dias. (IMPACTO E PROTENÇÃO, 2015) O valor da placa de PEAD varia de R$200,00 (5mm 1000x2000mm) a R$720,00 (12mm 1000x3000mm). 2.5.6 Considerações - Escolha do material construtivo Após o estudo dos materiais adequados à aplicação em projetos emergenciais pode-se fazer uma tabela comparativa para avaliação das principais características de cada material, com a atribuição de um método avaliativo para cada item estudado, recebendo o caráter de ruim, bom ou ótimo: a) Flexibilidade: Verifica versatilidade de uso e aplicação, interior exterior, em áreas secas e úmidas. b) Instalação: Verifica se necessita de mão de obra especializada para construção. c) Durabilidade: Verifica o tempo de durabilidade do produto. d) Custo: Verifica o valor de custo do material. e) Meio Ambiente: Verifica se a construção do material é nociva ao meio ambiente e se é reciclável ou não. Tabela 6: Tabela comparativa de materiais para edificações emergenciais Fonte: Desenvolvido pelo autor 63 Por meio dessa abordagem ficou claro que o material que apresenta maior flexibilidade é o tecido de poliéster revestido com PVC devido à impermeabilidade e formas variadas que o material possibilita, porém os outros materiais também demonstram ser satisfatórios apresentando boa flexibilidade de uso. Todos os materiais estudados necessitam de certo conhecimento técnico para execução, porém o sistema macho e fêmea utilizado em painéis de madeira são mais fáceis de executar. Este material também apresentou índices de custos tão satisfatórios quanto as Placas Cimentícias, entretanto o cimento gera a maior quantidade de energia na produção, não é, portanto, sustentavelmente o material mais adequado, posição ocupada pelas chapas multilaminadas quando utilizadas madeira de reflorestamento na sua fabricação. Apesar do custo elevado, as chapas de aço inox e as chapas de PEAD são mais duráveis que o restante dos materiais. A utilização de materiais como o alumínio e a madeira requer atenção especial. Um exemplo de aplicação destes dois materiais é a Guerra Civil que ocorreu na Ruanda em 1994 e gerou 2 milhões de refugiados. A ONU proveu abrigos que utilizavam elementos construtivos de madeira, entretanto a demanda deste material levou ao desflorestamento, um problema ecológico de elevadas proporções. Na tentativa de amenizar o problema foram fornecidas estruturas de alumínio, porém o alto valor dos metais no mercado negro levaram os refugiados a optar pela venda e prosseguir o abate de árvores (PROCIV, 2013, p.5). Somando-se as características individuais com o cruzamento de dados obtido pode-se dizer que os painéis de madeira multilaminado são os mais indicados para o estudo em questão, desde que utilizadas madeira de reflorestamento na sua fabricação. 2.6 TRANSPORTE PARA HABITAÇÃO EMERGENCIAL O transporte de edificação emergencial é feito pelo mar ou por via aérea por meio de contêineres. A embalagem de abrigos desmontados deve se adequar as medidas dos contêineres conforme ISO 6346:1991. 64 Tabela 7: Dimensões de Contêineres Marítmos Fonte: CITO,2013 p82 As dimensões dos contêineres para carga aérea (ULDs ou Unidade de Carregamento) seguem um padrão diferenciado definido pela ITA (International Air Transport Association). A largura varia de 1,19m a 3,18m. O comprimento e altura são o mesmo para todas as unidades: 1,53m e 1,63m respectivamente, conforme tabela 10. Tabela 8: Dimensões de Contêineres Áéreos TIPO DE CONTAINER VOLUME LD 1 LD 2 LD 3 LD 6 LD 8 LD 11 4,90m² 3,40m² 4,50m² 8,95m² 6,88m² 7,16m² DIMENSÕES LINEARES (base/base x profundidade x altura) 156/234 x 153 x 163 159/156 x 153 x 163 156/201 x 153 x 163 318/407 x 153 x 163 244/318 x 153 x 163 318 x 153 x 163 Disponível em http://patentimages.storage.googleapis.com/WO2013142096A Acesso em 08/04/2015 2.7 PERFIL DO USUÁRIO Conforme visto no capítulo 2.3.3 o campo de Zaatari recebe refugiados principalmente de países vizinhos, onde a cultura Islâmica é presente. Para propor uma solução arquitetônica adequada é necessário compreender os principais aspectos da cultura destes usuários. 2.7.1 Aspectos familiares da cultura Árabe A família árabe é centrada na figura do pai que tem o dever de manter a casa, por isso é reverenciado e respeitado, na ausência deste o irmão mais velho é que toma as responsabilidades. A mãe e as filhas são responsáveis pelas tarefas 65 domésticas, o principal papel da mulher é o de criar e educar os filhos, entretanto ultimamente as mulheres estão conquistando espaço no mercado de trabalho em todos os países árabes, em alguns deles com algumas restrições. (MOURAD, 2012) Os negócios geralmente permanecem em família e acontece de forma paciente, em reuniões é comum se tratado primeiro de assuntos sociais, familiares e pessoais, para depois tratar do assunto de trabalho específico. (MOURAD, 2012) A prática adotiva não é permitida, pode-se apenas criar alguém, desde que se saiba a origem da criança. A preferência pelos filhos homens é nítida, ocorre pelo fato de eles representarem a continuidade da família e do sobrenome, ao contrário da mulher que quando casa recebe o sobrenome do marido e passa a pertencer a ele, assim como seus filhos. Portanto as mulheres solteiras e os homens adeptos ao celibato não são bem vistos socialmente. Em caso de separação a mulher volta para casa de seus pais, pois morar sozinha não é aceitável. Se a mulher ficar viúva o filho mais velho vem morar com ela, ou ela vai morar com o filho, pois não pode dormir sozinha. (TRUZZI, 2008, p.47; MOURAD, 2012) A hospitalidade da família árabe é muito conhecida, porem um convidado deve elaborar as palavras com cuidado ao fazer um elogio, pois pode fazer o anfitrião se sentir forçado a oferecê-lo o item elogiado, mesmo que tenha um valor expressivo. (MOURAD, 2012) 2.7.2 Aspectos habitacionais da cultura Árabe A arquitetura Islâmica teve seu princípio na religião. Baseado no Alcorão (livro sagrado da cultura) a proibição de representação de animais e figuras humanas impulsionou a decoração das edificações religiosas com caligrafias e arabescos em pinturas e nas cerâmicas. Além do uso de painéis talhados em madeira com motivos geométricos. Elementos que logo tiveram seu uso nas residências. (OPENHEIMER, 2012) Devido a privacidade as edificações são feitas com paredes grossas para evitar o barulho do trânsito e projetadas de modo a não permitir visibilidade do vizinho de qualquer parte. Só se deve entrar numa residência quando o anfitrião estender a mão em sinal convidativo. (MOURAD, 2012) As casas muçulmanas são geralmente fechadas para o exterior e abertas para um pátio central com vegetação (ver figura 57), 66 solução que propicia ventilação necessária para amenizar o calor do clima quente e seco. As torres de vento (ver figura 57) também são uma invenção da cultura mulçumana e tem como função resfriar o interior das casas, promovendo a circulação do ar através da diferença de densidade entre o ar quente e o ar frio, além de captar o vento quando existente. (RISCH, 2014) Figura 57: Pátio Central e torres de vento TORRES DE VENTO PÁTIO CENTRAL Disponível em: http://i1.wp.com/viajoteca/wp-content/uploads/2014/04/Costumes-Arabes11.jpg. Editada pelo autor | Acesso 17/06/2015 A privacidade da mulher mulçumana e a ventilação necessária nos ambientes contribuíram para o aparecimento de treliças em madeira, comumente conhecida como “muxarabi”, são utilizadas principalmente nos balcões e divisórias. A medida que a cultura se expandiu foi incorporado elementos distintos dos povos conquistados variando de acordo com a região climática e com a disponibilidade de elementos construtivos do local. (OPENHEIMER, 2012) A Jordânia tem cerca de 20% de habitantes vivendo em aldeias pequenas que se mantém por meio da agricultura. Nelas as casas são feitas com materiais disponíveis no local, com tijolos de pedra ou terra cozida. As aldeias geralmente tem uma ou mais praças, que funcionam como mercado e palco para realização de eventos sociais. Uma pequena minoria preserva a cultura Beduína levando uma vida nômade pastoreando animais acampando em regiões onde há disponibilidade de recursos. (RISCH, 2014) A maioria da população vive em residências familiares comuns em cidades urbanizadas. Prédios de apartamentos grandes têm sido construídos amplamente. Em Amã na Jordânia, por exemplo, o crescimento populacional transformou a cidade numa metrópole de mais de 2 milhões de habitantes , com uma densidade de 1.200 habitantes/Km2 (ver figura 59). (RISCH, 2014) 67 Projetos de residências modernas também são executados, porém as características antigas são mantidas, como o pátio interno, conforme se pode observar no projeto de Rasem Badran na residência Al-Talhouni (figura 58). Figura 58: Residência Al-Talhouni, Jordânia Disponível em: http://www.intbau.org/archive/Images/Steele/ Badran1.jpg | Acesso em 16/06/2015 Figura 59: Crescimento demográfico em Amã, Jordânia Disponível em: https://geraldoabroad.files.wordpress.com Acesso em 16/06/2015 2.7.3 Aspectos Educacionais da cultura Árabe As leis garantem o direito ao ensino tanto para homens quanto para mulheres, até mesmo para o ensino superior em alguns países. Apesar da participação da mulher representando quase a metade dos estudantes nas universidades, em alguns países há restrição a alguns cursos, como o de engenharias. Há escolas diversas, de uso misto ou por gênero, conforme a escolha dos pais para a educação de seus filhos. (BALBINO; PÉCORA, 2011) 2.7.4 Aspectos alimentares da cultura Árabe Álcool, carne suína e seus derivados são proibidos aos muçulmanos. Os alimentos mais comuns são a carne de carneiro, ervas, especiarias e grãos, além de chás e outras bebidas que sempre devem ser aceitas quando oferecidas. (MOURAD, 2012) Conforme Mourad (2012) durante o mês do Ramadan todos os árabes que já passaram da puberdade efetuam um jejum de quarenta dias entre o nascer e o por do sol. Deve ser feita abstinência total de comida e bebida, fumar, usar perfumes e ter relações sexuais até que este período termine. 68 Os árabes são conhecidos por serem extremamente gentis. Ao convidar alguém para comer em sua casa servem porções exageradas de comida e mostram uma preocupação constante com o bem estar do convidado. (MOURAD, 2012) 2.7.5 A mulher árabe A beleza da mulher árabe não deve ser comentada com outro homem, sendo ela irmã, filha, esposa ou funcionária, pois não será visto dessa forma. O comprimento à mulher deve ser efetuado apenas após ela ter a iniciativa de estender a mão, um aperto de mão é suficiente. Os beijos no rosto como forma de saudação representam uma amizade consolidada. (MOURAD, 2012) Em países algumas situações são proibidas a mulher árabe, como jantar com homens que não sejam parentes, dirigir ou entrar num carro dirigido por outro homem que não seja seu pai ou esposo (considerado guardiões), morar ou hospedar-se sozinha, aparecer em público sem cobrir a cabeça, retirar passaporte sem permissão do guardião, entre outras práticas que devem ser evitadas. (BALBINO; PÉCORA, 2011) A maioria das mulheres muçulmanas se veste de acordo com os ensinamentos do alcorão. As roupas devem cobrir o corpo inteiro, permanecendo visíveis apenas as mãos e o rosto, não devem ser justa para não marcar o corpo e nem parecidas com as vestimentas masculinas. A tipologia da roupa pode variar de região para região, a burca, por exemplo, muito comum no Afeganistão, cobre o corpo todo, da cabeça aos pés. (CARVALHO; PÉCORA, 2011) Esta forma de se vestir está relacionada ao cuidado da mulher e da cultura em mostrar-se apenas para seu marido e para família. É comum as mulheres estarem mais bem vestidas e adornadas em casa do que na rua. Esta prática também demonstra a fidelidade e compromisso para com seu esposo e a valorização da mulher pela cultura. (TRUZZI, 2008, p.49) 2.7.6 O Banho Barabara Saleh relata no artigo A polêmica do Banho (2008) aspectos vivenciados por ela na cultura árabe. Saleh (2008) diz que apesar de a religião muçulmana prever que todas as pessoas sejam asseadas e limpas, os árabes tem 69 apenas o hábito de utilizar um pano úmido ao acordar e não tomam banho diariamente. Isto se deve ao fato de a maioria das pessoas não utilizarem papel higiênico ao fazerem suas necessidades fisiológicas, pois acham essa prática antihigiênica, preferem, ao invés disso, lavar completamente as partes íntimas, portanto um banho diário não é considerado necessário. Os vasos sanitários não são muito comuns, há uma peça de louça na altura do chão com um orifício para onde se destinam os dejetos. Na parede há um chuveirinho para lavagem das partes íntimas, em alguns casos há um dispositivo para dar a descarga. Os chuveiros são em sua maioria móveis. A religião diz ainda que toda mulher deve tomar um banho completo ao final de seu ciclo menstrual e ao ter relações sexuais com seu parceiro. Antes das orações diárias deve-se sempre estar limpo. O ato de tomar banho nu em frente a outras pessoas é uma prática ofensiva e mal vista. (SALEH, 2008) 3 ANÁLISE DE CORRELATOS Para propor uma edificação emergencial temporária adequada é necessário entender e analisar edificações da mesma tipologia. O estudo de correlato permite identificar deficiências e potencialidades dos projetos em questão, fazer comparativos, verificar as premissas relacionadas a forma, dimensão, funcionalidade, conforto térmico, entre outras soluções aplicadas nas edificações que possam contribuir para uma nova proposta. Os abrigos emergenciais selecionados para estudo são: Protótipo Puertas; Abrigo Uber e Eco Abrigo. 3.1 PROTÓTIPO PUERTAS O protótipo Puetas é o resultado de um estudo feito pelo escritório de arquitetura Cubo (Pelayo Fernandez, Soffia Daniel, Nicolas Venegas, Orientados por Contreras R.Salim.) em parceria com a Universidade Central do Chile. Foi projetado em 2005 e produzido entre 2005 e 2006. O objetivo era desenvolver uma edificação emergencial para 4 a 6 pessoas com materiais que pudessem ser facilmente encontrados em materiais de construção locais e tivessem baixo custo. 70 3.1.1 Análise da Implantação Por se tratar de um protótipo a edificação não foi utilizada em uma situação real, porém a sua base formada por pallets e o modelo produzido e instalado na Universidade do Chile (ver figura 60) mostram uma implantação ideal apenas para terrenos planos. Ao configurar um acampamento de desabrigados, o agrupamento linear deste modelo de habitação contaria com um corredor de ventilação a mais, resultado da varanda aberta que une dois blocos separados (ver figura 61). Figura 60: Protótipo construído Figura 61: Varanda Central Fonte: GARCIA, 2010 Fonte: GARCIA, 2010 3.1.2 Análise do Projeto A varanda central une o bloco social, composto por um estar/cozinha, e o bloco íntimo, composto pela área dos dormitórios. Há a possibilidade de extensão da unidade nas extremidades, compondo um dormitório a mais e um banheiro, conforme a necessidade do usuário e local de implantação. As portas nas duas extremidades de todos os ambientes permitem um controle maior da permeabilidade e exposição pelo morador. Toda edificação é dotada de uma cobertura independente que dá unidade ao conjunto. A habitação tem 14m² e vida útil de 3 meses. 71 Figura 62: Planta baixa Dormitório 7,07m² acesso Estar 7,07m² Fonte: GARCIA, 2010 Figura 63: Organograma Fonte: Desenvolvido pelo Autor 3.1.3 Análise dos materiais construtivos Seguindo as premissas projetuais, os materiais utilizados são encontrados facilmente. A base é feita de pallets de madeira, os pisos e paredes de placas OSB (painel estrutural de tiras de madeira orientadas perpendicularmente, em diversas camadas, não é resistente a água), portas de madeira pinus e cobertura em lona plástica com perfil de aço. As aberturas de janelas, do chão ao teto, tem vedação em plástico bolha. O sistema de montagem é simplificado e rápido. Pode ocorrer em 8 horas por sete pessoas. Figura 64: Janela com plástico bolha Fonte: GARCIA, 2010 72 Figura 65: Placas OSB Fonte: GARCIA, 2010 3.1.4 Análise do conforto térmico e lumínico A cobertura afastada da edificação cria um fluxo contínuo de ar e dessa forma contribui com o resfriamento do calor na parte superior da habitação. Mecanismos de reaproveitamento da água da chuva foram dispostos na cobertura e conduzem a água para uma miniestação inferior. Estes fatores são ideais para o clima chileno. Figura 66: Condutores de água na cobertura Fonte: GARCIA, 2010 73 Figura 67: Condutores de água na cobertura Fonte: GARCIA, 2010 Figura 68: Ventilação superior Fonte: GARCIA, 2010 As janelas do chão ao teto aumentam a área interior iluminada, porém são fixas e não possibilitam o fluxo de ar interno quando as portas estão fechadas. 3.1.5 Análise do Custo O custo final do projeto foi estimado em R$1.230,00, um valor considerado baixo, entretanto, o tempo de permanência do abrigo é curto (3 meses), o que tornase um problema para edificações emergenciais, pois o tempo de permanência em habitações temporárias são superiores ao tempo de durabilidade da proposta construtiva em questão. 3.2 ABRIGO UBER Criado por Rafael Smith, o Abrigo Uber teve destaque em uma coluna do jornal The New York Times no ano de 2009. Ele é feito, em sua maioria, de materiais recicláveis. Sua característica desmontável o torna facilmente transportável, podendo ser montado com poucas ferramentas e poucas pessoas. O abrigo é armazenado de forma plana, todas as peças do conjunto permanecem agrupadas para montagem no local de destino. 3.2.1 Análise da Implantação Não foi encontrada informações sobre a implantação do projeto, porém o autor do projeto demonstra como o abrigo pode se comportar em um acampamento 74 através de imagens esquemáticas (ver figura 69). As habitações ficam lado a lado com um espaçamento de aproximadamente 1 metro. Figura 69: Implantação em assentamentos Disponível em Tuvie.com, 2012 | Acesso: 02/04/2015 O Abrigo Uber é equipado com pernas telescópio que se se estendem e tomam diversas alturas, tornando o módulo flexível e adaptável a terrenos acidentados. Figura 70: Pernas telescópio Disponível em Tuvie.com, 2012 Acesso: 02/04/2015 3.2.2 Análise do Projeto O abrigo possui dois pavimentos com dimensão 4,00m x 2,00m cada, resultando em uma habitação com 16m². O pavimento térreo conta com acesso por uma varanda que dá diretamente num dormitório. O acesso ao pavimento superior ocorre por uma escada lateral, a distribuição dos espaços acontece da mesma forma que o pavimento térreo, porém no superior a varanda é semicoberta, configurando um local para refeições. Em seguida há mais um dormitório. 75 Com base nas informações obtidas e imagens esquemáticas foi desenvolvido as plantas baixas esquemáticas, corte e organograma para melhor entendimento. Figura 71: Planta baixa e corte Dorm. 4m² Varanda 4m² Planta Baixa esquemática pvnto térreo projeção cobertura Varanda (Coz) 4m² Dorm. 4m² Planta Baixa esquemática pvnto superior LEGENDA Acesso Apoio para tela de proteção/toldo Projeção cobertura/toldo Janela com vedação em tela Varanda com vedação em tela Corte AA Fonte: Desenvolvido pelo autor Figura 72: Organograma Fonte: Desenvolvido pelo autor O abrigo Uber é armazenado de forma plana, todas as peças do conjunto permanecem agrupadas para montagem no local de destino. A edificação pode ser desmontada e remontada em outro local. 76 Figura 73: Esquema de montagem Disponível em Tuvie.com, 2012. Acesso: 02/04/2015, modificado pelo autor 3.2.3 Análise dos materiais construtivos e tecnologia Foi desenvolvido com peças pré-fabricadas de alumínio e piso em madeira, tela contra intempéries e lona plástica que envolve toda a estrutura. As peças possuem detalhamentos que tornam o processo construtivo lento e com alto investimento, entretanto a possibilidade de produção em larga escala é uma vantagem a ser considerada. Observa-se ainda que a grande quantidade de peças metálicas demanda conhecimentos específicos para montagem, sendo necessário quatro pessoas para realizar este procedimento que dura cerca de 6 horas ou mais. Dependendo do meio de inserção, a edificação pode receber anexos com capacidade de eletricidade para a luz, fogão compacto e frigorífico, além da utilização de dois painéis solares para gerar eletricidade. Figura 74: Sistemas adicionais Disponível em Tuvie.com, 2012. Acesso: 02/04/2015, modificado pelo autor 77 3.2.4 Análise do conforto térmico e lumínico O abrigo possui diversas aberturas que garante boa luminosidade e ventilação constante. Isto pode configurar um grave problema num clima frio, pois o calor não permanece no interior da edificação, visto que não há como vedar totalmente as janelas que contém tela de proteção contra intempéries. 3.2.5 Análise do Custo Não há informação de custo da edificação. Porém devido a utilização de materiais como alumínio que possui valor de mercado considerado alto e ao detalhamento das peças que compõe a moradia, considera-se um custo total elevado. 3.3 ECO ABRIGO O Eco Abrigo, desenvolvido pela arquiteta jordaniana Abeer Seikaly, teve inspiração no nomadismo, nas técnicas da cestaria tradicional do oriente médio e na pele de cobra. Sua concepção foi a vencedora do 2013 Lexus Design Awards como reconhecimento por sua plasticidade e funcionalidade. Figura 75: Imagem esquemática Figura 76: Imagem esquemática Disponível em http://eluxemagazine.com/ Acesso em 06/04/2015 Disponível em http://eluxemagazine.com/ Acesso em 06/04/2015 3.3.1 Análise da Implantação Este abrigo foi projetado para o oriente médio, portanto seu partido arquitetônico foi pensado para inserção num clima quente e seco. Não foi 78 encontrada informações sobre a implantação, porém as imagens esquemáticas mostram uma disposição que não segue parâmetros ou distanciamentos específicos na elaboração de um assentamento. 3.3.2 Análise do Projeto O Abrigo configura um único espaço circular com 5,00m de diâmetro e 2,40m de altura. A forma garante a expansibilidade do módulo que diminui de tamanho girando em torno de um eixo central, sem prejudicar sua estabilidade, A edificação resiste às cargas de compressão e tensão, isto devido a sua estrutura sinuosa, envolta por duas camadas de tecido, por onde passam os tubos para água e cabos de energia. Figura 77: Organograma e Planta Baixa LEGENDA ABRIGO Misto Ac ess o acesso principal Figura 78: Imagem esquemática VENTILAÇÃO Planta Baixa esquemática pvnto térreo Disponível em http://eluxemagazine.com/ | Acesso em 06/04/2015 Fonte: Desenvolvido pelo autor 3.3.3 Análise dos materiais construtivos e tecnologia A estrutura é composta de plástico resistente e um tecido com duas camadas, a unidade formada é flexível e seu grau de giro pode tomar formas distintas sem prejudicar a integridade estrutural. Na cobertura da tenda há um pequeno tanque responsável pelo armazenamento de água da chuva coletado através de um sistema de escoamento disposto em toda a estrutura, função que pode ser aproveitada para banho ou para consumo, desde que a água seja tratada. . 79 Figura 79: Suprimento de água e energia elétrica reservatório de água radiação solar radiação solar Energia elétrica Bolsos para pertences fonte de água externa bateria para armazenamento de energia Disponível em http://eluxemagazine.com/ | Acesso em 06/04/2015 A diferença do projeto desenvolvido por Abeer consiste no suprimento de água e energia elétrica particularmente, Isto se dá através de células fotovoltaicas que geram eletricidade a partir da incidência do sol, localizadas em uma parte do tecido. A energia gerada fica guardada em uma bateria sob o módulo. Figura 80: Células fotovoltaicas no tecido Radiação solar Conversor membrana receptora Bateria Inversor Disponível em http://eluxemagazine.com/ | Acesso em 06/04/2015 3.3.4 Analise do conforto térmico e lumínico Podem ser feito diversas aberturas em diferentes locais do módulo para criar, através do efeito chaminé, um fluxo de ar contínuo, ou no caso de invernos rigorosos e chuvas, manter o modulo totalmente fechado para armazenar o calor interno. 80 Figura 81: Sistema de Aberturas Disponível em http://eluxemagazine.com/ | Acesso em 06/04/2015 3.3.5 Análise do Custo Não há informação de custo da edificação, porém devido a utilização de alta tecnologia no processo construtivo e aplicação de tecnologias específicas se conclui que o custo é elevado. 3.4 ANÁLISE E DISCUSSÃO A partir dos estudos efetuados podem-se organizar os dados em uma tabela para comparação dos resultados obtidos e verificar as potencialidades e deficiências a serem consideradas ou evitadas no partido arquitetônico a ser desenvolvido. Tabela 9: Análise comparativa de correlatos 81 Fonte: Produzido pelo autor O protótipo Puertas e o Eco abrigo estão adequados ao local de inserção proposto, não foi encontradas informações sobre o local de inserção do Abrigo Uber, portanto não há como avaliar este fator. Todos os três abrigos projetados foram pensados para uma família de 4 à 6 pessoas, porém o Protótipo Puertas possui projeto arquitetônico mais flexível que os demais, pode-se aumentar a unidade conforme necessidade da família, anexando um quarto a mais e um banheiro completo numa área menor que os outros abrigos estudados: 14,20m². Ainda considerando o programa de necessidades em relação à área, o Eco Abrigo possui um espaço mais amplo, porém sem divisão de ambientes e sem setorização (social, íntimo, serviço, etc.). Observa-se ainda que o acesso ao pavimento superior no Abrigo Uber não tem controle de abertura e é distante do acesso principal inferior, diminuindo a sensação de segurança na habitação. Os materiais utilizados na construção do Protótipo Puertas tornam o processo construtivo mais rápido e com custo inferior aos outros protótipos, a montagem consiste no encaixe de peças pré-fabricadas utilizando poucos parafusos. A edificação é composta de placas de OBS, madeira pinus, pallets de madeira, plástico bolha e lona, materiais facilmente encontrados, entretanto este abrigo é feito pra durar apenas 3 meses. O alumínio utilizado no Abrigo Uber tem durabilidade alta, porém a grande quantidade peças pré-fabricadas demanda conhecimento técnico na montagem do 82 abrigo, processo que se torna demorado e pouco viável dependendo do local de implantação. Por outro lado à montagem do Eco Abrigo é simples e funcional, o plástico durável e tecido com células fotovoltaicas aplicados no processo construtivo tem durabilidade alta, porém valor igualmente elevado devido à alta tecnologia aplicada na produtividade e aspecto formal resultante, solução que também é relativa ao local de inserção, visto que os valores aplicados em uma solução temporária poderiam ser aplicados na construção de residências permanentes. A grande quantidade de portas e a cobertura independente tornam o Protótipo Puertas termicamente confortável, entretanto quando as portas estão fechadas o calor interno não tem por onde sair, pois as janelas em plástico bolha são fixas. O Eco abrigo mostra-se superior aos demais, possui controle nas diversas aberturas e tecido duplo que diminui o calor interno. A grande quantidade de janelas do Abrigo Uber não possui vedação total, o que configura um problema principalmente em climas frios, pois o abrigo não armazena o calor interno. Outro problema encontrado no abrigo Uber é a lona de vedação em uma camada simples que não é ideal para climas quentes, pois a baixa massa térmica não impede o calor de entrar na edificação. Os projetos estudados foram escolhidos pela riqueza de informações que contribuirão para gerar uma nova proposta, porém não foi encontrado informações da implantação das unidades, portanto não há como avaliar este aspecto. Entretanto esta análise é de grande importância, por isso se faz necessário analisar casos de implantação em particular para identificar as potencialidade e deficiências a serem consideradas ou evitadas, foi então selecionado o abrigo EXO Casa e o Acampamento de Refugiados de Khazir, no Iraque, conforme a seguir. 3.4.1 Abrigo EXO Casa - Análise de Implantação O EXO Casa é uma ideia originalmente de Michael McDaniel, foi concebida em 2005 nos Estados Unidos. O módulo tecnológico, pensado para uma família de quatro pessoas, é feito em PVC com durabilidade de 5 a 10 anos, ou em alumínio. Possui porta com tranca digital, luzes de led no interior, duas tomadas e quatro aparelhos de ventilação mecânica e não tem janelas para ventilação natural. 83 Figura 82: Imagens Esquemáticas Disponível em http://www.reactionhousing.com/exo | Acesso em 11 de ago A base tem 6,70m² e tamanho de 2,90m x 2,60m, com altura de 2,70m. É montado em duas partes, a parte superior pesa 170kg e a base 147kg que pode ainda ser preenchida com areia para aumentar a aderência ao solo, somando 317kg o total. A EXO Casa tem como proposta ser adaptável a qualquer lugar, porém o clima local interfere muito na concepção de um projeto arquitetônico, é o agente que define a inércia térmica do material construtivo, a quantidade e tamanho das aberturas, necessidade de sombreamento ou não, entre outros fatores que contribuem para uma bioarquitetura e sustentabilidade que diminuem a quantidade de energia utilizada em um projeto (LAMBERS, 2014). Observa-se ainda que num momento pós-catástrofe ou num acampamento para refugiados pode não haver suprimento e disponibilidade de energia elétrica, além de sua concepção não atender à um grupo específico de pessoas, pois não foi pensado na cultura, nos hábitos e costumes do provável usuário, portanto pode não ser aceitável ou não se adaptar a um determinado grupo de pessoas. A flexibilidade é um ponto positivo desta proposta, a implantação pode seguir diversos padrões, conforme local de inserção: Implantação linear, implantação agrupada ou implantação radial. a) Implantação linear: Não segue nenhum distanciamento entre as unidades. 84 Figura 83: Implantação Linear Disponível em http://www.reactionhousing.com/exo | Acesso em 11 de ago b) Implantação agrupada: Módulo pode conectar-se uns aos outros para aumentar a unidade padrão e agregar ambientes como mais um quarto, cozinha, etc. apesar de que não há tubulação de esgoto ou água nas unidades. O agrupamento pode ainda modificar a função do espaço, tornando-o, por exemplo, uma enfermaria, etc. Figura 84: Implantação agrupada Disponível em http://www.reactionhousing.com/exo | Acesso em 11 de ago c) Implantação Radial: Este método cria pequenas comunidades em torno de um eixo central, melhorando a relação de vizinhança, entretanto deve-se tomar cuidado quanto à ventilação nos abrigos, pois nesta disposição cria uma barreira para o vento que não entra no interior do grupo. 85 Figura 85: Implantação Radial Disponível em http://www.reactionhousing.com/exo | Acesso em 11 de ago O agrupamento radial de várias comunidades pode ainda criar espaços sem função e sem dono, conforme visto no capítulo 2.4, as chamadas “terra de ninguém”. Figura 86: Terra de Ninguém Fonte: ELEMENTAL, 2010, p.02 A imagem esquemática da implantação (ver figura 87) mostra uma simulação pós-catástrofe, onde os abrigos foram dispostos em forma radial totalizando 1000 unidades, resultando num acampamento de 4000 pessoas. Contudo não foi identificada nenhuma unidade ou qualquer outra construção com tipologia adequada para prestação de serviços assistenciais essenciais, como distribuição de alimentos, administração, espaços para lazer ou mesmo instalações sanitárias para banho e necessidades fisiológicas. O que torna inviável a simulação mostrada na imagem. 86 Figura 87: Implantação Radial Disponível em http://www.reactionhousing.com/exo | Acesso em 11 de ago O grande número de edificações demanda um consumo de energia muito alto para funcionamento, a implantação deve contar ainda com pontos de energia, visto que não há ventilação natural nos abrigos, tal solução apenas se dá mantendo-se a porta aberta, o que elimina a privacidade, elemento que segundo Anders (2007) é um dos principais requisitos para uma forma de moradia digna. 3.4.2 Acampamento de Khazir, Iraque – Análise de Implantação O acampamento de Khazir abriga mais de 5.000 refugiados em barracas de lona, algumas delas comportando famílias de 15 pessoas. Figura 88: Terra de Ninguém Fonte: UNAMI, 2014 87 A implantação das habitações segue o modelo linear, com distanciamento entre barracas de aproximadamente 3,00m. Os pontos de água e BWC estão distribuídos ao longo do campo, porém algumas tendas ainda permanecem longe destes serviços. Há um espaço para lazer dedicado às crianças, não foi encontradas informações sobre a tipologia deste local, apenas sua localização praticamente centralizada no acampamento. As edificações assistenciais e administrativas localizam linearmente à via de acesso, isto facilita o recebimento de produtos e suprimentos que chegam ao local e centraliza o setor de prestação de serviços. Percebe-se ainda que o crescimento do acampamento acontece de forma paralela a linearidade dessas edificações, o que mantém uma distância igualitária entre as unidades habitacionais e este setor. Figura 89: Implantação Acampamento de Khazir Fonte: UNHCR, 2014 88 As barracas possuem acesso voltado para a rua, o que segundo Elemental (2010) não é o ideal, pois cria os espaços sem dono nas laterais do abrigo que acabam virando acúmulo de lixo ou tornam-se mal cuidados, pois os moradores não se apropriam dessas porções de terra, situação perceptível no acampamento de Khazir, conforme figura 90 a seguir. Figura 90: Espaços sem apropriação Fonte: UNAMI, 2014 4 PROPOSTA O abrigo projetado será hipoteticamente utilizado no Acampamento de Zaatari, na Jordânia, pois segundo os estudos efetuados é um dos lugares que mais necessita de intervenção e assistência para moradias. Sua localização estratégica o caracteriza como um ponto de convergência de refugiados de países vizinhos. No local a UNHCR não consegue suprir a quantidade de moradias necessárias para o crescente número de habitantes que superlotaram o acampamento, hoje representam aproximadamente 80 mil moradores, número que já chegou a 130 mil em 2014. A diminuição deve-se ao grande número de refugiados que voltaram para seu país de origem e ao encaminhamento de refugiados para o novo Acampamento de Azrac. A proposta consiste em definir uma área para implantação das habitações e possível substituição gradual das barracas já existentes locadas no acampamento. 89 4.1 TERRENO - ÁREA DE INTERVENÇÃO Zaatari localiza-se na região de Mafraq numa altitude de 686m. Fica 80km da capital Amã, 10km da cidade de Al Mafraq e há 12km da fronteira com a Síria. A região tem característica desértica e solo barrento e com pouca vegetação, porém há o cultivo de hortaliças por alguns moradores do acampamento. Conforme Zaatari cresce o solo é coberto com cascalhos pequenos para melhorar a mobilidade e implantação das edificações. (UNHCR, 2012) Figura 91: Localização de Zaatari Síria Egito Mafraq 10k m JORDÂNIA 12 km Iraque Acampamento de Zaatari Fonte: http://www.globalresearch.ca | Acesso em 02/06/2015 4.2.1 Clima no Acampamento de Zaatari - Mafraq, Jordânia Para adequação ao ambiente, o abrigo deve se adaptar ao clima da região classificado como Quente e Seco. (CLIMATE, 2015) A temperatura média anual é de 17,6°C, sendo Junho o mês mais seco com 0 mm de precipitação de chuvas, enquanto os meses de maior precipitação são dezembro, janeiro e fevereiro, podendo ocorrer uma média de dez tempestades em cada mês. A pluviosidade anual é de aproximadamente 350mm. (UNHCR, 2012; CLIMATE, 2015) Ao longo do ano a temperatura é mais baixa. Agosto é o mês mais quente com uma temperatura média de 26 °C. Janeiro tem uma temperatura média de 7.8°C. (CLIMATE, 2015) 90 relativo à umidade temperatura/precipitação/dias secos/luz do sol velocidade do vento/geada Figura 92: Gráfico Climático Temp mín. (C º) Tem med. (C º) Dias secos (>0.1mm) Velocidade média do vento Humidade relativa (%) Temp máx. (C º) Precipitação (cm) Média de Horas de sol por dia Dias com geada Fonte: Climatetemp.info apud UNHCR, 2012, tradução livre Figura 93: Carta Solar – Amã, Jordânia Disponível em http://www.gaisma.com, tradução livre Conforme a carta solar infere-se que, por se localizar no hemisfério Norte a trajetória do sol causa uma maior insolação na fachada sul. No equinócio de Junho a fachada norte recebe sol até as 10 da manhã, horário que diminui a partir de então até o Equinócio de Março (primavera) quando o sol não incide em nenhum momento na fachada norte. O sol volta a atingir a fachada norte após o equinócio de setembro (outono). 91 4.2.2 Drenagem natural do terreno no Acampamento de Zaatari A maior diferença entre o ponto mais alto à Nordeste e o ponto mais baixo à Sudoeste é de 14 metros, a drenagem da água pluvial ocorre neste mesmo sentido, de Nordeste para Sudoeste. (UNHCR, 2012) 4.2.3 Direção dos ventos no Acampamento de Zaatari Ventos fortes nomeados Khamaseen Sudeste ocorrem entre os meses de março e maio e são acompanhados de tempestades. O segundo vento mais forte ocorre por alguns dias entre junho e setembro, é nomeado Shamal Nordeste. Nos outros meses os ventos tem velocidade média e ocorrem constantemente, com execessão dos períodos de inverno. A predominância é dos ventos Oeste e Noroeste, conforme a figura 94. (UNHCR, 2012) Figura 94: Ventos Predominantes Fonte: Weather Online, 2015 4.2.4 Escolha da Área de Intervenção Para definir a área de intervenção é necessário verificar os mapas de densidade demográfica, identificar as regiões mais seguras (sem alagamentos, enlameadas, etc) e verificar a proximidade aos equipamentos de infraestrutura. a) Densidade demográfica: É importante definir uma área de menor adensamento para implantação de abrigos, pois o reordenamento da localização e disposição das edificações existentes na área escolhida pode gerar um número maior de abrigos do que o existente anteriormente no mesmo local, desta forma pode-se realojar refugiados moradores de locais com densidade muito elevada, 92 desde que sejam mantidas as relações de vizinhanças principais, fator sociológico importante segundo Anders (2007). As áreas marcadas em vermelho no mapa mostram vazios urbanos potenciais para intervenção e implantação de abrigos. Figura 95: Mapa de Densidade Fonte: UNHCR, 2014,modificado pelo autor b) Áreas de Risco: Zaatari também enfrenta problemas relacionados à desastres naturais, recentemente duas tempestades causaram danos em diversos abrigos espalhados pelo acampamento, em Janeiro de 2015 e Fevereiro de 2015. Os ventos e chuvas fortes deixaram áreas enlameadas e causaram inundações em ruas e em abrigos, dificultando a chegada de suprimentos e assistência. Diversas agências humanitárias mapearam os danos para facilitar na manutenção e reparo dos estragos. A tempestade ocorrida em Janeiro causou menos danos e tem uma pequena área mapeada, portanto o mapa gerado pelos estragos causados pela tempestade Jana, em Fevereiro de 2015, mostra com maior abrangência as áreas de risco e áreas que não foram atingidas pelas tempestades. Foi anexado ao mapa as áreas menos adensadas que não foram atingidas pela inundação e pela lama, considerados locais seguros para implantação de novos abrigos. Restaram apenas duas áreas aptas para intervenção, nomeadas no mapa 93 como Área 01 e Área 02 (ver figura 96), os estudos subsequentes concentram-se apenas nesses dois locais. Figura 96: Mapa de danos causados pela Tempestade Jana em Fevereiro de 2015 área 02 área 01 LEGENDA Acesso Bloqueado Área de menor adensamento e Estrada Bloqueada não atingida por inundação e lama Abrigo danificado área inundada Área enlameada Edif. Assistêncial danificada Fonte: UNHCR, 2015,modificado pelo autor c) Infraestrutura Área 01: Devido à centralidade da localização desta área, ela está próxima aos principais serviços prestados no acampamento, como hospitais, clínicas, escola, centros comunitários e playground. Há 4 pontos de água mais próximos e 4 equipamentos denominados “WASH” (edificações que dispõe de chuveiros e vasos sanitários no estilo oriental) próximos a área. O ponto de distribuição de alimentos não está localizado no mapa, pois fica há 800m de distancia da área em estudo. 94 Figura 97: Equipamentos e serviços próximos à Área 01 LEGENDA Área 01 .Saúde Educação Lazer Centro Comunitário Centro Juvenil Escritório Adm Escritório de Atendimento Serviço BWC Ponto de água Cozinha Comunitária Fonte: UNHCR, 2014, modificado pelo autor d) Infraestrutura Área 02: Está próximo à uma escola, centro comunitário, mercado, áreas de lazer, jardins de infância e há 300m de um ponto de distribuição de alimentos. Há 7 WASH próximos a área e 4 pontos de água mais acessíveis. Figura 98: Equipamentos e serviços próximos à Área 01 LEGENDA ÁREA 02 Saúde Educação Lazer Centro de Distribuição de alimentos Jardim de Infancia Centro Comunitário Centro Juvenil Comércio Centro Policial Serviço BWC Ponto de Água Cozinha Comunitária Fonte: UNHCR, 2014, modificado pelo autor e) Topografia Área 01: Não existe dado oficial sobre a topografia do Acampamento de Zaatari, porém ao observar as imagens de satélite percebe-se o escoamento da água gerada pelos esgotos dos abrigos em dois sentidos principais: 95 Noroeste Sudeste e Nordeste Sudoeste. Este comportamento indica uma depressão no terreno, caracterizando uma área alagável indicada na figura 99. Desta forma se conclui que a baixa densidade demográfica nesta área é devido a topografia acidentada e pela existência de uma grande quantidade de esgotos a céu aberto neste local, que foram construídos pelos próprios refugiados de maneira informal. Figura 99: Estudo Topográfico Área 01 Fonte: Google Maps, 2015, modificado pelo autor f) Topografia Área 02: A análise das imagens de satélite indica uma região plana, pois a água escorre em sentido Norte Sul e Nordeste Sudoeste, sem atravessar a Área 02. Figura 100: Estudo Topográfico Área 02 Fonte: Google Maps, 2015, modificado pelo autor 96 4.2.5 Considerações – Escolha do Terreno A tabela 10 mostra que a Área 02 possui uma melhor avaliação em diversos aspectos. Destaca-se principalmente pela topografia plana e por não haver necessidade de relocar abrigos existentes, pois se trata de uma área sem construções, demonstrando ser a área ideal para implantação de novos abrigos principalmente ao sul que fica mais próximo aos equipamentos de infraestrutura, sendo esta a localidade escolhida para atender os objetivos dessa pesquisa. Tabela 10: Tabela comparativa de materiais para edificações emergenciais Fonte: Desenvolvido pelo autor Figura 101: Terreno e entorno imediato Fonte: Desenvolvido pelo autor 97 4.1 DIRETRIZES DA PROPOSTA A fundamentação teórica e o estudo de correlatos demonstram alguns aspectos que devem ser levados em consideração na concepção de uma proposta de habitação emergencial para Zaatari, são elas: 4.1.1 Implantação A implantação deve respeitar um distanciamento médio de 3,00m entre cada unidade (no máximo 8 à 12 unidades por comunidade), porém devem estar mais agrupadas possível, a fim de fazerem sombras umas nas outras, conforme indicação de Lambers et al (2014) para o clima quente e seco. A implantação deve impedir a infiltração dos ventos predominantes e seguir disposição leste oeste (LAMBERS et al, 2014) e respeitar dimensionamento para equipamentos assistenciais propostos por Elemental (2010), arranjados de forma centralizada no campo de modo que os moradores possam percorrer a menor distância possível. 4.1.2 Projeto arquitetônico Cada unidade deve ter dimensionamento mínimo de 3,50m² por pessoa e comportar uma família (4 a 6 pessoas). (ONU, 2007) O projeto arquitetônico deve prever privacidade e setorização dos ambientes, pequenas aberturas sombreadas para diminuir a ventilação no interior da edificação, pois a temperatura interna tende a ser menor que a temperatura externa durante o dia, e a ventilação comprometeria essa relação, visto que o vento proveniente é quente e carrega uma grade quantidade de poeira e detritos. (LAMBERS et al, 2014) A edificação proposta deve estar de acordo com a cultura e perfil do usuário. Se possível os pátios internos presentes nas edificações árabes comuns devem ser previstos na habitação emergencial, pois além da solução térmica que desempenham, os pátios são elementos de identidade cultural, ou seja, resultará em apropriação do espaço construído, mesmo que temporariamente. A facilidade na montagem é um elemento que deve ser pensado, pois os próprios moradores do acampamento é quem montarão as habitações, afim de não 98 ficarem com todo o tempo ocioso (ANDERS, 2007). A rapidez e facilidade técnica na montagem facilita a vida do refugiado e pode melhorar toda a gestão do acampamento. O volume deve ser compacto quando desmontado para facilitar o transporte e diminuir o consumo de energia utilizado na locomoção. 4.1.3 Material Construtivo A composição do abrigo deve ser feita em material com baixo impacto ecológico, com possibilidade de reuso ou reciclagem, de custo baixo, compatível com a realidade local e ter alta durabilidade, visto que 63% dos refugiados estão morando em Zaatari há mais de dois anos. (UNHCR, 2015, p.03). Para atender estas expectativas a madeira havia sido selecionada no capítulo 2.5.6, porém ao estudar o clima local percebeu-se que este material não corresponde adequadamente, pois o clima quente e seco da região demanda um material construtivo com alta inércia térmica, pois dessa forma o calor leva mais tempo pra atingir o interior da edificação, relação que acontecerá em maior parte no período da noite, quando a temperatura cai bruscamente. Conforme o estudo de materiais e análises de correlato se percebe que o alumínio é o material que corresponderá adequadamente ao clima local e expectativas projetuais. É um material flexível, possibilita formas variáveis, é sustentável, tem durabilidade extremamente alta e é 100% reciclável. 4.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO Figura 102: Programa de Necessidades e Pré-Dimensionamento para acampamento SETOR Serviço Lazer AMBIENTE ATIVIDADE ÁREA QTDE THE UN REFUGEE AGENCY, 2007 Ponto de distribuição de água fonte de água para comunidade 5 1 por comunidade (16 famílias, 80-100 pessoas) Ponto de distribuição de energia fonte de energia elétrica para comunidade, ligada à uma rede externa - - espaço público e espaços abertos atividades de lazer 1170m² 1560m² 15 à 20% da área total do acampamento 99 Infraestrutura vias e calçamentos 1560m² 1950m² circulação 20 à 25% da área total do acampamento *proporções resultantes da área do terreno de 7800m² e do número de 76 famílias abrigadas (456 à 720 pessoas) Fonte: Produzido pelo autor Figura 103: Programa de Necessidades e Pré-Dimensionamento para módulo SETOR AMBIENTE ATIVIDADE MOBILIÁRIO ÁREA Social Estar/Jantar (reversível*) Receber vizinhos, assistir televisão, cozinhar, se alimentar Tapetes, almofadas, apoio paraTV, fogão portátil, pia, armários 4,00m² Serviço BWC Higiêne, necessidades fisiológicas chuveiro, pia, vaso sanitário, chuveirinho 2,00m² Dormitório Casal Dormir, armazenar roupas Cama de casal 6,00m² Dormitório Filhos Dormir, armazenar roupas Duas camas de solteiro, ou beliche 6,00m² Íntimo *ambiente pode tomar função de dormitório utilizando colchonetes 18,00m² Fonte: Produzido pelo autor 4.3 ORGANOGRAMA E FLUXOGRAMA Figura 104: Organograma Fonte: Desenvolvido pelo Autor Figura 105: Fluxograma Fonte: Desenvolvido pelo Autor 4.4 CONCEITO E PARTIDO Para atender as diretrizes projetuais a palavra de ordem é “Identidade”. 100 O usuário deve identificar-se com seu lar temporário, desta forma se sentirá confortável e seguro enquanto a situação em seu local de origem não é regularizada. Para tanto o partido adotado deve permiti-lo que manifeste sua cultura e seus costumes. Pátios, jardins e hortas para cuidado e manutenção, equipamentos sanitários árabes, são alguns dos elementos arquitetônicos e paisagísticos que cumprirão esta função. A arquitetura deve ainda respeitar a modulação, utilização do alumínio em painéis sanduíche para melhorar a inércia térmica da edificação e manter as cores claras, tons terrosos ou naturais do material utilizado na concepção. 4.5 ZONEAMENTO 4.5.1 Zoneamento prévio para Acampamento O zoneamento foi pensado de modo a diminuir a velocidade do vento no acampamento, para isso a soluço foi um agrupamento linear com mudança de padrão em pontos estratégicos. O ambiente de lazer foi disposto centralizado e aos fundos do terreno, longe das vias de circulação para aumentar a segurança. Figura 106: Zoneamento do Acampamento Fonte: Desenvolvido pelo Autor 101 4.5.1 Zoneamento prévio para módulo O estudo de zoneamento da habitação foi feito em uma malha com modulação 1,00m x 1,00m, conforme figura 107. Figura 107: Estudo de Zoneamento para Módulo Fonte: Desenvolvido pelo Autor A opção 01 é a mais compacta do estudo e não contém espaço destinado para pátio como as outras opções. A opção 02 é uma solução em “L” com pátio frontal, o mesmo acontece na opção 03, porém de forma inversa com o pátio aos fundos. A opção 04 e 05 mantém o pátio de forma centralizada, todavia esta solução não demonstrou ser o ideal para um acampamento de refugiados, onde as famílias podem ter um número maior de membros do que a edificação comporta, sendo assim, esses espaços pensados para serem um respiradouro interno, provavelmente se tornaria um dormitório a mais. A opção 06 também é uma solução em “L”, contudo a posição dos quartos seguem uma disposição diferente das opções 02 e 03. A opção 02 demonstra-se ser a mais adequada. O formato em “L” com pátio frontal dá ao morador uma maior sensação de apropriação deste espaço e melhora as relações de vizinhanças, ali pode ser feito jardins ou horta para consumo individual. 102 5 BIBLIOGRAFIA ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS (UNHCR), Statistical Yearbook 2013. ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS (UNHCR). Mid-Year Trends 2014. Bélgica, 2015. ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS (UNHCR). Refúgio no Brasil: Uma Análise Estatística Janeiro de 2010 a Outubro de 2014. BrasÍlia, 2015. ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS (UNHCR). Setting, measuring and monitoring targets for reducing disaster risk: Recommendations for post-2015 international policy frameworks. Bélgica, 2014. ANDERS, G. C. Abrigos temporários de caráter emergencial. 2007.119 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. CASTRO, A. L. C.1998. 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