Pesquisas e Estudos

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Pesquisas e Estudos
SOCIEDADE EDUCACIONAL DE SANTA CATARINA – UNISOCIESC
UNIDADE BOA VISTA
FÁBIO JESSÉ
HABITAÇÃO EMERGENCIAL PARA REFUGIADOS
EM CLIMA QUENTE E SECO
Joinville-SC
2015/02
SOCIEDADE EDUCACIONAL DE SANTA CATARINA – UNISOCIESC
UNIDADE BOA VISTA
FÁBIO JESSÉ
HABITAÇÃO EMERGENCIAL PARA REFUGIADOS
EM CLIMA QUENTE E SECO
O presente trabalho tem como objetivo a concepção de
uma habitação emergencial temporária para clima quente
e seco, o estudo toma como partido a concepção de
habitação emergencial no acampamento de refugiados de
Zaatari, localizado na Jordânia, oriente médio.
ORIENTADORA: CRISTIENNE MAGALHÃES PAVEZ
Joinville-SC
2015/02
A cada 2 segundos alguém é forçado a fugir.
(UNHCR, 2015)
Dedico este trabalho à todos os mestres
que contribuíram para minha formação
pessoal e educacional. Em especial à
Professora Cláudia Reis Lux, Professora
Aparecida
Gomes,
Modesto,
Professor
Professora
Silvio
Kelly
Parucker
e
Professora Cristienne Magalhães Pavez.
Sem eles nada disso seria possível, pois
me proporcionaram ensinamentos que
foram além das paredes das salas de
aula.
Agradeço primeiramente à Deus, pela
força e pela graça alcançada no decorrer
dessa pesquisa. Agradeço também a
minha família, pelo apoio em todos os
momentos da minha vida e à meus
amigos que sempre estiveram presentes.
RESUMO
Este Trabalho de Conclusão de Curso visa à concepção de um modelo de
habitação emergencial para inserção em clima quente e seco. O estudo toma como
partido a concepção de habitação emergencial para o acampamento de refugiados
de Zaatari, no oriente médio. O módulo busca suprir as necessidades de moradia
digna e confortável em acampamentos. Para compreender o usuário e propor uma
resposta compatível, o estudo apresenta um panorama sobre catástrofes naturais
ocorrentes no Brasil e no mundo, sobre zonas de conflitos e acampamentos de
refugiados.
Palavras-chave:
Habitação
Emergencial.
Acampamento de Refugiados. Desastres Naturais.
Arquitetura
Humanitária.
ABSTRACT
This final examination aims to designing a emergency habitation model for
insertion into Wet and Hot weather. The study take principle the emergency
habitation conception for Zaatari`s Refugee Camp, in the Middle East. The module
will meet the comfortable and decent housing needs in refugee camps. To
understand the user and propose a consistent response, the study provides an
overview of natural disasters occurring in the Brazil and world, conflict zones and
refugee camps.
Keywords: Emergency Habitation. Humanitarian architecture. Refugee camp.
Natural Disasters.
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA .......................................................................................................... 6
AGRADECIMENTOS ................................................................................................. 7
RESUMO ................................................................................................................... 8
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10
1.1 TEMA .................................................................................................................. 10
1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA ................................................................................. 10
1.3 PROBLEMATIZAÇÃO ........................................................................................ 11
1.4 JUSTIFICATIVA SOCIAL E ECONÔMICA ......................................................... 11
1.5 OBJETIVOS ........................................................................................................ 12
1.5.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 12
1.5.2 Objetivos Específicos ................................................................................... 12
1.6 METODOLOGIA ................................................................................................. 13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 14
2.1 HABITAÇÃO EMERGENCIAL ........................................................................... 14
2.1.1 Direito ao Abrigo ............................................................................................ 16
2.1.2 Suporte a Vida ................................................................................................ 17
2.1.3 Fases de organização de situações emergenciais ..................................... 18
a) Período pré-desastre ............................................................................................ 18
b) Período de ajuda imediata .................................................................................... 18
I. Abrigo Emergencial................................................................................................ 18
II. Abrigo Temporário ................................................................................................ 18
III. Habitação Temporária ........................................................................................ 18
c) Período de reabilitação ......................................................................................... 18
2.2 HISTÓRICO EVOLUTIVO DA HABITAÇÃO EMERGENCIAL ............................ 19
2.2.1 Tendas nômades no Saara ........................................................................... 21
2.2.2 Habitações Transportáveis Para Uso Militar .............................................. 22
a) Abrigo Nissen Hut ................................................................................................. 22
b) Unidade Médica MUST ( Medical Unit, Self-contained, Transportable) ............... 23
2.2.3 Arquitetura Portátil ........................................................................................ 23
a) Módulos (Module) ................................................................................................ 24
b) Pacotes (Flat-Pack) ............................................................................................. 24
c) Tensionados (Tensile) ......................................................................................... 25
d) Infláveis (Pneumatic) ........................................................................................... 26
e) Tendas.................................................................................................................. 27
f) Modelos e unidades importadas ............................................................................ 28
g) Construção in Loco) ............................................................................................. 28
h) Habitações temporárias ........................................................................................ 29
i) Abrigos Improvisados ........................................................................................... 30
2.3 NECESSIDADE DE HABITAÇÃO EMERGENCIAL............................................ 30
2.3.1 Ocorrência de Desastres Naturais no Mundo ............................................. 30
2.3.2 Ocorrência de Desastres Naturais no Brasil ............................................... 35
2.3.3 Refugiados no Mundo ................................................................................... 38
2.3.4 Refugiados no Brasil ..................................................................................... 45
2.3.5 Considerações - Escolha do local de Intervenção...................................... 46
2.4 IMPLANTAÇÃO DE HABITAÇÃO EMERGENCIAL............................................ 51
2.4.1 Acesso ............................................................................................................ 53
2.4.2 Distância entre Abrigos ................................................................................. 53
2.4.3 Agrupamento de Abrigos .............................................................................. 54
2.4.4 Estabelecimento de Núcleos de Serviços .................................................. 55
2.5 MATERIAIS PARA HABITAÇÃO EMERGENCIAL ............................................. 55
2.5.1 Placa Cimentícia Impermeabilizada ............................................................. 56
2.5.2 Painel de madeira compensada Multilaminada ........................................... 57
2.5.3 Chapa Aço Inox .............................................................................................. 58
2.5.4 Tecido de poliéster e PVC ............................................................................. 59
2.5.5 Polietileno de Alta Densidade - PEAD .......................................................... 60
2.5.6 Considerações - Escolha do material construtivo ...................................... 62
2.6 TRANSPORTE PARA HABITAÇÃO EMERGENCIAL ........................................ 63
2.7 PERFIL DO USUÁRIO ........................................................................................ 64
2.7.1 Aspectos familiares da cultura Árabe .......................................................... 64
2.7.2 Aspectos habitacionais da cultura Árabe .................................................... 65
2.7.3 Aspectos Educacionais da cultura Árabe ................................................... 67
2.7.4 Aspectos alimentares da cultura Árabe ....................................................... 67
2.7.5 A mulher árabe ............................................................................................... 68
2.7.6 O Banho .......................................................................................................... 68
3 ANÁLISE DE CORRELATOS ............................................................................... 69
3.1 PROTÓTIPO PUERTAS ..................................................................................... 69
3.1.1 Análise da Implantação ................................................................................. 70
3.1.2 Análise do Projeto ......................................................................................... 70
3.1.3 Análise dos materiais construtivos .............................................................. 71
3.1.4 Análise do conforto térmico e lumínico ....................................................... 72
3.1.5 Análise do Custo............................................................................................ 73
3.2 ABRIGO UBER ................................................................................................... 73
3.2.1 Análise da Implantação ................................................................................. 73
3.2.2 Análise do Projeto ......................................................................................... 74
3.2.3 Análise dos materiais construtivos e tecnologia ........................................ 76
3.2.4 Análise do conforto térmico e lumínico ....................................................... 77
3.2.5 Análise do Custo............................................................................................ 77
3.3 ECO ABRIGO ..................................................................................................... 77
3.3.1 Análise da Implantação ................................................................................. 77
3.3.2 Análise do Projeto ......................................................................................... 78
3.3.3 Análise dos materiais construtivos e tecnologia ........................................ 78
3.3.4 Analise do conforto térmico e lumínico ....................................................... 79
3.3.5 Análise do Custo............................................................................................ 80
3.4 ANÁLISE E DISCUSSÃO ................................................................................... 80
3.4.1 Abrigo EXO Casa - Análise de Implantação ................................................ 82
3.4.2 Acampamento de Khazir, Iraque – Análise de Implantação ....................... 86
4 PROPOSTA........................................................................................................... 88
4.1 TERRENO - ÁREA DE INTERVENÇÃO............................................................. 89
4.2.1 Clima no Acampamento de Zaatari - Mafraq, Jordânia .............................. 89
4.2.2 Drenagem natural do terreno no Acampamento de Zaatari ....................... 91
4.2.3 Direção dos ventos no Acampamento de Zaatari ....................................... 91
4.2.4 Escolha da Área de Intervenção ................................................................... 91
4.2.5 Considerações – Escolha do Terreno .......................................................... 96
4.1 DIRETRIZES DA PROPOSTA ............................................................................ 97
4.1.1 Implantação .................................................................................................... 97
4.1.2 Projeto arquitetônico ..................................................................................... 97
4.1.3 Material Construtivo ...................................................................................... 98
4.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ................... 98
4.3 ORGANOGRAMA E FLUXOGRAMA ................................................................. 99
4.4 CONCEITO E PARTIDO..................................................................................... 99
4.5 ZONEAMENTO................................................................................................. 100
4.5.1 Zoneamento do Acampamento ................................................................... 100
4.5.1 Zoneamento do módulo .............................................................................. 101
5 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 102
10
1 INTRODUÇÃO
A todo o momento ocorre no mundo fenômenos naturais independente da
ação humana. São produtos do funcionamento interno do ecossistema. Terremotos,
maremotos, erupções vulcânicas, inundações, deslizamento de terra e a seca são os
exemplos mais conhecidos; porém independente do tipo, um desastre pode gerar
danos para a sociedade e ocasionar a necessidade da relocação de pessoas.
(ANDERS, 2007)
Segundo dados da UNISDR, Escritório das Nações Unidas para Redução de
Riscos de Desastres, desde 1992 a 2012 em todo o mundo, cerca de 4,4 bilhões de
pessoas foram afetadas por desastres naturais, totalizando 1,3 milhões mortos e
danos estimados em 2 trilhões de dólares. O CRED, Centro de Investigação sobre a
Epidemiologia dos Desastres, estima o aumento de cerca de 132 milhões de
pessoas afetadas por ano a partir de 2015. As Nações Unidas prevê ainda que as
perdas por desastres podem chegar a 300 bilhões de dólares e 100 mil vidas por
ano a partir de 2050 (Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento, 2003).
O número de pessoas desabrigadas no mundo também é intensificado pelos
conflitos e guerras que geraram no mundo 51,5 milhões de pessoas deslocadas no
final de 2013 (CRED, 2014). Este número tende a aumentar, pois os conflitos vem
aumentando ao longo do tempo, enquanto o número de pessoas deslocadas que
retornam aos seus lares segue a proporção inversa.
Para atender as vítimas de desastres e refugiados de guerras e conflitos,
organizações humanitárias ou a politica de governo local - onde há um plano de
logística humanitária para desastres naturais- fornece abrigos emergenciais, água,
remédios e alimentos. Os abrigos desempenham papel de residência temporária
para os desabrigados e podem ainda ser reaproveitados em outras situações
(ANDERS, 2007).
1.1 TEMA
Habitação Emergencial Temporária
1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA
Concepção de um modelo de abrigo emergencial apto para inserção em
campos de refugiados de clima quente e seco, tomando como partido a concepção
de um modelo para o acampamento de Zaatari, na Jordânia, oriente médio.
11
1.3 PROBLEMATIZAÇÃO
O modelo de habitação disposto para vítimas pós-catástrofe e para vítimas de
locais de conflitos são propostas adequadas que oferecem dignidade e segurança
para os desabrigados?
1.5 JUSTIFICATIVA SOCIAL E ECONÔMICA
As regiões de conflito, aliadas aos danos por desastres naturais são
responsáveis pelo espantoso número de 51,2 milhões de pessoas refugiadas em
todo o mundo atualmente. Em 2010 o número era 15% menor: 43,7 milhões de
refugiados, aumento significativo propiciado pelos conflitos na Síria, no Sudão do Sul
e na República Centro-Africana, segundo o relatório anual da UNHCR, Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
Os abrigos emergenciais existentes não estão de acordo com os aspectos
sociais, econômicos e culturais onde são implantados (ANDERS, 2007). Situação
agravada pelo tempo de estabelecimento desta forma de moradia.
Em ocasiões onde a reconstrução das
habitações ultrapassa seis meses, a
moradia no abrigo temporário se torna
mais
permanente
do
que
provisória.
(BARBOSA, 2011 apud CITO, 2013)
Observa-se ainda que o processo de reconstrução das cidades é lento,
principalmente em países em desenvolvimento, onde tendas desempenham função
de habitação (CITO, 2013). “Metade dos acampamentos acaba por durar mais que
cinco anos e apenas um quarto deles, menos que dois anos” (ANDERS, 2007).
Em Pisco, no Peru, em 2012 ainda havia 180 mil desabrigados vivendo
precariamente, cinco anos após um terremoto ter atingido a região em 2007 (CITO,
2013). Em 2011 ocorreu no Japão um terremoto seguido de tsunami, dois anos
depois 21 mil pessoas ainda residia em casas de parentes ou abrigos provisórios
(ONU, 2013). Em situações extremas pode-se citar o caso de Mianmar, onde cerca
de 120 mil refugiados vivem em abrigos há mais de 20 anos (CITO, 2013).
12
O crescente número de acampamentos de refugiados (ONU, 2015) e as
condições precárias que vítimas de desastres naturais são expostos (ANDERS,
2007) esclarece a exigência de um Abrigo Temporário que dê ao desabrigado
dignidade e seja concebido de forma à respeitar as características culturais de cada
povo.
1.5 OBJETIVOS
1.5.1 Objetivo geral
Conceber um modelo de Habitação Emergencial para ser utilizado em
acampamentos de refugiados localizados em clima quente e seco.
1.5.2 Objetivos específicos
a) Entender o que é habitação emergencial e as leis e normas aplicadas a
esta tipologia construtiva.
b) Compreender o desenvolvimento evolutivo da habitação e sua influência
nos modelos de habitação emergencial existentes hoje.
c) Investigar a ocorrência e o tipo de catástrofes no Brasil e no mundo e
identificar as regiões de conflito para entender qual o local que necessita
de uma maior intervenção.
d) Verificar formas de Implantação para habitação emergencial e configuração
de acampamento de refugiados.
e) Identificar os materiais construtivos ideais para construção de abrigos
temporários.
f) Analisar três abrigos emergenciais existentes para identificar soluções
arquitetônicas que possam ser aplicadas no partido arquitetônico a ser
desenvolvido.
g) Escolher um terreno para implantação da Habitação emergencial em
Zaatari e analisar aspectos físicos e climatológicos do local.
h) Definir programa de necessidades, pré dimensionamento, organograma e
fluxograma, zoneamento e implantação.
g) Anteprojeto arquitetônico
13
1.6 METODOLOGIA
Esta pesquisa inicia-se investigando o que é habitação emergencial e
identificando as normas e leis aplicadas a esta tipologia construtiva. Após isso o
capítulo 2.2 discorre as diferentes formas de habitação emergencial e suas origens,
à fim de entender os abrigos utilizados atualmente.
Para esclarecer as áreas que necessitam de maior intervenção e gerar uma
proposta de habitação emergencial num local adequado, o capítulo 2.3 faz uma
investigação para identificar o panorama brasileiro e o panorama mundial à respeito
de desastres naturais e regiões de conflitos, os dois maiores fatores responsáveis
pelo número de desabrigados no mundo. Isto se dá com a obtenção de dados em
principais órgãos responsáveis pela gestão e prestação de assistência humanitária
no Brasil e no mundo.
A próxima etapa da pesquisa compreende as formas de implantação ideais
para acampamentos de desabrigados. Savietto (2014), Anders (2007) e Elemental
(2010) dispõe de argumentos e teses que serão discorridos neste capítulo.
A partir das indicações de materiais construtivos para habitação emergencial
de Tavares (2012), é escolhido no capítulo 2.5 alguns dos materiais que mais se
adequam ao local de intervenção proposto: a placa cimentícia, a madeira
multilaminada, a chapa de aço inox, o tecido de poliéster e PVC e o polietileno de
alta densidade (PEAD); E por meio de uma tabela comparativa, identifica-se o
material mais adequado para a proposta a ser realizada. Esta fase da pesquisa
também analisa brevemente a transportabilidade para os materiais construtivos e
para a habitações desmontáveis.
Após identificar o local de intervenção e o material construtivo, o capítulo 2.7
busca entender o usuário, sua cultura, usos e costumes. Informações que tem como
base artigos científicos sobre a cultura árabe.
Para entender o funcionamento das habitações emergenciais e verificar
soluções projetuais já aplicadas, é analisado no capítulo 3 alguns projetos existentes
para situações semelhantes: Protótipo Puertas, Abrigo Uber e Eco Abrigo, estudo
realizado por meio de artigos científicos e publicações dos autores dos referidos
abrigos. Esta fase da pesquisa define alguns aspectos a serem analisados em cada
habitação, para posteriormente identificar as potencialidades e deficiências de cada
um delas e confrontá-las umas às outras numa tabela comparativa. É feito ainda a
14
análise de Implantação do abrigo EXO Casa e do acampamento de Khazir, no
Iraque, para verificar a solução adotada e confrontar com as diretrizes encontradas
na fundamentação teórica.
A última parte da pesquisa consiste na definição da proposta. Neste momento
da investigação faz-se um estudo mais aprofundado do terreno, onde analisa-se
aspectos físicos e climatológicos para definir um local adequado para implantação
das habitações emergenciais. Define-se ainda as diretrizes da proposta, o programa
de necessidades, o organograma e fluxograma, conceito e partido da proposta, e
zoneamento, para então poder ser feito o anteprojeto arquitetônico que melhor se
adapte a cultura de inserção do usuário.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 HABITAÇÃO EMERGENCIAL
A necessidade do abrigo emergencial para pessoas afetadas por desastres
naturais ou conflitos armados é iminente.
O alojamento de pessoas durante e
depois de desastres pode passar por até quatro fases (Quarantelli, 1982,p.75-79
apud ANDERS, 2007):
a) Abrigo de emergência: Ocorre em qualquer local que providencie proteção
da chuva, vento e do clima. Pode ser dentro de veículos, embaixo de
escombros ou em uma tenda.
b) Abrigo temporário: Ocorre geralmente em escolas, igrejas e ginásios.
Dispõe de lugares para dormir, se alimentar, tomar banho e fazer as
necessidades fisiológicas.
c) Habitação temporária: Os indivíduos ficam alojados em unidades
habitacionais individuais, podendo retomar sua rotina e finalizar a construção
da sua habitação permanente.
d) Habitação transitória ou permanente: São as residências que tomam o
lugar das edificações destruídas e passam a abrigar as vítimas para
continuarem seu modo de vida habitual anterior à ocorrência do desastre.
15
DAVIS (1980, apud ZIEBEL, 2010) afirma que o abrigo deve apresentar
efemeridade, rapidez na montagem e desmontagem (se existente) e funcionar em
áreas mínimas, garantindo condições básicas de habitabilidade. Deve ainda ter uma
fonte de água, um sistema sanitário, sistema de abastecimento de alimentos e de
atendimento médico.
A edificação deve ser implantada de modo a manter o individuo e suas
relações sociais como prioridade, garantindo desta forma, um abrigo adequado e
seguro
(SAVIETTO,
2013,
p60),
enquanto
a
construção
das
residências
permanentes não é finalizada.
Em muitos casos os desabrigados ficam alojados em abrigos mal planejados
que excedem o tempo emergencial e tomam carácter de abrigo temporário.
Locados em escolas, ginásios e tendas sob a concessão de regras impostas
por um gestor externo, os vitimados ficam em constante situação de alerta sem
condições de descanso, fatores que reformulam o modo de convivência habitual,
resultando em deterioração das relações comunitárias e privadas (VALENCIO, 2009
apud SAVIETTO 2013). Portanto os abrigos individuais mostram-se a opção mais
adequada para suprir as necessidades sociológicas e de habitação para
desabrigados.
As recomendações para construção de abrigos feitas por diversas
organizações (UNHCR, 2007; Sphere Project, 2004; Shelter Projects, 2008 apud
CITO, 2007) determinam alguns fatores dimensionais que devem ser respeitados,
entre eles a área mínima por pessoa de 3,50m². Este espaço pode ser apropriado
para salvar a vida e a fornecer abrigo adequado de curto prazo, especialmente em
condições climáticas extremas. Este parâmetro é o mesmo definido pelas diretrizes
das Nações Unidas: 3,50m² por pessoa, sendo 18m² o mínimo aceitável para cinco
pessoas.
Existe diversos tamanhos de abrigos já projetados, que variam de 9m² a
74m², resultantes de diferentes necessidades, normas e políticas oficiais. Porém
segundo Kronenburg (1998 apud CITO, 2007) alguns fatores devem ser
considerados em qualquer projeto de abrigo, como a idade dos usuários, o clima e a
adaptação da sociedade com este, a base alimentar, e se existe fontes de calor e
energia no local.
16
2.1.1 Direito ao Abrigo
Não há uma lei específica sobre a obrigatoriedade de governos e instituições
públicas disponibilizarem abrigos emergenciais em caso de catástrofes ou situações
de refugio, porém este direito está implícito em vários artigos da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, documento elaborado pelas Nações Unidas em
1948. Este trecho do artigo 25 reflete esta situação:
Toda a pessoa tem direito a um nível de
vida suficiente para lhe assegurar e à sua
família a saúde e o bem-estar,
principalmente quanto à alimentação, ao
vestuário, ao alojamento, à assistência
médica e ainda quanto aos serviços
sociais necessários, e tem direito à
segurança no desemprego, na doença, na
invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros
casos de perda de meios de subsistência
por circunstâncias independentes da sua
vontade. (ONU, 1948)
Mais tarde, em 1996, a Primeira Conferência Internacional de Abrigos
Emergenciais (do inglês, First International Emergency Settlement Conference) que
aconteceu nos Estados Unidos reforçou a necessidade da disponibilização de
abrigos:
O
acesso
ao
abrigo
básico
e
contextualmente apropriado é uma
necessidade humana essencial. Os
padrões para este abrigo podem variar
dependendo do contexto cultural, da
situação, do clima e de outros fatores.
(First International Emergency Settlement
Conference, 1996)
No Brasil a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC discorre
na LEI Nº 12.608 de 10 de abril de 2012, elementos da inserção de abrigos
temporários. O órgão é responsável por se integrar aos parâmetros construtivos,
sociais e tecnológicos geridos pela união para manter um desenvolvimento
sustentável.
17
No que se referem especificamente às edificação emergenciais, esta lei
afirma que compete aos municípios organizar e administrar os abrigos provisórios,
além de promover a coleta, a distribuição e o controle de suprimentos em situações
de desastre.
2.1.2 Suporte a Vida
Após um desastre natural a habitação emergencial se faz necessária para
abrigar as vítimas até que a reconstrução das áreas afetadas possa ser realizada.
No mundo todo o fornecimento de abrigos é de responsabilidade de entidades
humanitárias, ONGs e de Instituições governamentais, porém em um primeiro
momento as próprias vítimas buscam abrigo em casas de parentes e amigos ou
ocupam edificações públicas cedidas pelo governo, tais como escolas, ginásios e
templos religiosos. Em alguns casos há utilização de barracas cedidas por terceiros
ou construção de abrigos precários com materiais disponíveis nos escombros.
Segundo Anders (2007), para um abrigo ser eficiente, este deve propor ao
usuário proteção contra intempéries, preservação da dignidade, orientação e
identidade. Ou seja, precisa ser construído de maneira apropriada ao clima, ao
contexto cultural e às características do local de implantação. No que diz respeito a
dignidade ela está intrínseca na construção e disponibilidade de um abrigo funcional
onde o indivíduo encontre privacidade e segurança. A orientação e identidade
podem ser auxiliadas através da utilização de materiais e formas arquitetônicas
familiares às vítimas e, desta forma evitar desespero e tristeza, por essa razão é
necessário dispor de mecanismos que mantenham o foco e a atenção do indivíduo
afligido.
Anders (2007) chama a atenção para o nível de conforto criado em abrigos e
edificações temporárias em situações pós-desastre. Devem-se apenas suprir as
necessidades básicas do individuo dando suporte a vida, pois edificações muito
elaboradas, além de exigirem maiores investimentos econômicos que poderiam ser
aplicados na reativação da economia local, fazem o vitimado permanecer no abrigo
por tempo superior à reconstrução das residências.
18
2.1.3 Fases de organização de situações emergenciais
Com base nos procedimentos para realocação de pessoas segundo a
UNDRO (United Nations Disaster Relief) e nas fases de alojamentos após desastres
de Quarantelli (1982, p.75-79 apud CITO, 2007) pode-se observar que após um
desastre natural a emergência e soluções aplicadas se dão de diferentes formas,
conforme a seguir:
a) Período pré-desastre: Diminuição de riscos, prevenção, informação,
preparação.
b) Período de ajuda imediata (até cinco dias após o desastre):
I. Abrigo Emergencial. Ocorre em qualquer local que providencie abrigo contra
intempéries, por exemplo, embaixo de uma escada, dentro de um carro, ou em uma
tenda.
II. Abrigo Temporário. Inclui lugares para dormir, cozinhar e tomar banho. Na
maioria das vezes são alojamentos comunitários em ginásios, galpões, igrejas, ou
escolas.
III. Habitação Temporária. Nesta fase casas pré-fabricadas temporárias são
construídas em áreas cedidas pelo governo. O alojamento pode começar com uma
unidade básica e ser ampliado ao longo do tempo e da necessidade. As vítimas são
alojadas, de preferência, nos seus agrupamentos familiares e, quando possível,
respeitando a disposição de vizinhança anterior ao desastre, podendo restabelecer
suas rotinas diárias normais, porém num local temporário.
c) Período de reabilitação (do quinto dia até três meses): Balanço da
destruição, planejamento das ações futuras.
d) Período de reconstrução (três meses em diante): O objetivo é voltar à
situação anterior ao desastre, ou seja, efetuar a recuperação dos danos
enquanto as vítimas estão residindo em Habitações Temporárias ou
Permanentes.
19
2.2 HISTÓRICO EVOLUTIVO DA HABITAÇÃO EMERGENCIAL
O homem sempre necessitou de abrigo. Há dois milhões de anos os primeiros
hominídeos encontraram esta função nas cavernas, nelas tinham proteção contra
predadores e contra intempéries, reflexo de seu modo de vida transitório.
O período glacial foi responsável por uma mudança neste comportamento,
escassez de alimentos e a necessidade de proteção contra o frio tornaram o uso de
tendas a mais antiga forma de moradia, o nomadismo permanecia e era essencial a
sobrevivência. Existe evidencias de abrigos feitos com peles e ossos de animais
com mais de 40 mil anos na Ucrânia.
Figura 1: Reconstrução de uma tenda de 10.000 anos a partir de restos encontrados na França
Fonte: KRONEIBURG, 1995 apud ANDERS, 2007, p43
A
descoberta
da
agricultura
e
a
domesticação
de
animais,
há
aproximadamente 10 mil anos a.C, configuraram o sedentarismo. O homem fixou
moradia influenciado, segundo Siegal (2002 apud CITO 2013) pelo comércio de
mercadorias,
pela
procura
por
proteção
comunitária
e
pela
busca
pelo
desconhecido. Entretanto, ainda é possível encontrar povos no norte da África que
mantiveram a cultura nômade.
20
Destas sociedades diferentes os desafios na necessidade de fornecer abrigos são comuns, para serem transportados
precisavam ser leves, flexíveis e duráveis. (CITO, 2013; ANDERS, 2007). Este capítulo discorre as principais formas de moradia
surgidas ao longo do tempo e como elas influenciaram o surgimento dos abrigos atuais, conforme a linha do tempo a seguir:
Figura 2: Cronologia do Desenvolvimento da Habitação Emergencial
Fonte: Desenvolvido pelo Autor
21
2.2.1 Tendas nômades no Saara
O clima e topografia do Norte da África são extremos, razões que levam seus
habitantes a corresponder adequadamente ao meio ambiente para sobreviver.
Sendo assim, as tendas dos povos nômades dessa região foram desenvolvidas e
adequadas ao longo de milhares de anos.
Os beduínos deslocam-se regularmente a procura de pastagens para seus
rebanhos de cabras e camelos. “A cada duas ou três semanas os nômades
levantam acampamento; eles não possuem nada que não possa ser transportado
por duas pessoas” (KRONENBURG, 1995 apud ANDERS, 2007).
As tendas deste povo são feitas de pelo de cabra em uma trama espaçada
que gera um tecido preto retangular. Este tecido é erguido por varas e tensionado
por meio de pinos enterrados no chão. Quando o terreno não tem resistência
suficiente pedras e/ou arbustos são utilizados como âncoras.
As paredes da tenda são suspensas ao redor e suas bases cobertas com
areia ou pedras, podendo ser erguidas para ventilação ou serem completamente
fechadas no caso de tempestades de areia.
Figura 3: Tenda Beduína no Deserto do
Saara
Figura 4: Tirantes e prendedores ancorados
por pedras
Autor desconhecido | Disponível em
http://www.arch.mcgill.ca
Fonte: SHELTER PUBLICATIONS, 1973 apud
ANDERS, 2007, p46.
Acesso em 22/03/2015
Divisões internas tornam as tendas flexíveis, pois são possíveis através do
uso de cortinas que podem configurar inúmeros compartimentos.
A cor e a trama do tecido das tendas são uma solução engenhosa para
iluminar seu interior e permitir a passagem do ar. O sol incidente sobre o tecido preto
22
torna o ar exterior quente e, por convecção, suga o ar interior que entra na tenda
através de uma abertura, criando uma corrente de ar ascendente para refrescar o
interior mesmo que não haja brisa. No caso de chuvas a trama confeccionada incha
com a água fechando-se totalmente, como uma película que impede a passagem de
água para o interior. (CITO, 2013; ANDERS, 2007)
2.2.2 Habitações Transportáveis Para Uso Militar
Na Primeira e na Segunda Guerra Mundial o desenvolvimento de edificações
portáteis e desmontáveis aconteceu de forma acelerada e, desta forma, contribuíram
para o surgimento de edificações portáteis posteriores.
O avanço tecnológico deste período e a emergência em soluções práticas e
adequadas possibilitaram a pré-fabricação e produção em massa. Aspectos que
introduzidos nos abrigos portáteis melhoraram a vida dos soldados em termos de
moradia e instalações médicas. (KRONENBURG, 1995 apud ANDERS, 2007).
a) Abrigo Nissen Hut
Peter Norman Nissen (1871-1930), um engenheiro britânico, criou um abrigo
conhecidos como nissen hut. Seus componentes fáceis de fabricar, intercambiáveis
e coordenação modular facilitaram a montagem em campo. Tornando este abrigo
militar amplamente utilizados na Segunda Guerra Mundial. (CITO, 2013)
Figura 5: Abrigo Nissen Hut, Segunda Guerra Mundial
Autor desconhecido | Disponível em http://www.b24.net/wendling/images/image073.jpg | Acesso em
22/03/2015
23
O Nissen Hut possuía dimensões de 8.2m por 4.9m, era composto por chapas
equivalentes de ferro corrugado que formavam uma cobertura semicircular e dois
fechamentos, um deles possuía duas janelas e uma porta. A base era de painéis de
madeira. Em quatro horas e com apenas uma chave de fenda a estrutura estava
pronta. (CITO, 2013; ANDERS, 2007)
b) Unidade Médica MUST (Medical Unit, Self-contained, Transportable)
O exercito Norte americano desenvolveu, nos anos 60, unidades médicas
portáteis
desmontáveis
chamadas
“Must”
(Medical
Unit,
Self-contained,
Transportable) que foram utilizadas na guerra do Vietnã e na guerra do Golfo.
Sua estrutura era formada por paredes infláveis e completada por fechamento
também infláveis revestidos com alumínio. (ANDERS, 2007)
Figura 6: Must utilizado na guerra do Vietnam
Fonte: Otis Historical Archves National Museum of Health and Medicine, foto tirada em 1968
Disponível em https://c2.staticflickr.com/4/3278/2550441939_e164041f5f.jpg | Acesso em 22/03/2015
3.3.4 Arquitetura Portátil:
A proposta de edificação emergencial deve ser adequada. A arquitetura
portátil foi através da história, uma solução ideal para diferentes civilizações, e tem
se mostrado a melhor solução para ser aplicada em situações desta tipologia,
conforme afirma Cito (2013) “A portabilidade tem se mostrado uma solução
apropriada para resolver problemas emergenciais de forma imediata”.
Kronenburg (1995 apud CITO 2013) define Arquitetura portátil como sendo
aquela que pode ser montada, desmontada e transportada novamente para ser útil
24
em outro lugar. Ele classifica as edificações portáteis conforme forma de montagem
e aspectos gerais em quatro tipos: Módulos (module), pacotes (flat-pack),
tensionados (tensile) e infláveis (pneumatic), conforme explanado a seguir:
a) Módulos (Module)
O sistema Module consiste em unidades habitacionais entregues prontas,
sem necessidade de montagem, precisam apenas ser conectadas a rede de água,
esgoto e eletricidade. Algumas delas podem ser conectadas umas as outras
dependendo do uso à que se destina.
Os materiais mais utilizados para fabricação são a madeira e o aço, em
alguns casos mais recentes fibras e plásticos também estão sendo utilizados. O
transporte das unidades é feito através de caminhões, helicópteros ou aviões.
Figura 7: Unidade TREYSAN, desenvolvida na Turquia e utilizada desde 1975
Disponível em http://www.armytechnology.com/contractors/field/treysan2/treysan21.html | Acesso em 25/03/2015
b) Pacotes (Flat-Pack)
Sistema semelhante ao Module. Diferencia-se pela necessidade de montar a
unidade habitacional que vem em várias peças. Para garantir a qualidade da
montagem é necessário executar os procedimentos de forma correta e, em alguns
casos, técnicas precisas.
A vantagem deste sistema é a facilidade no transporte, pois é constituído de
partes que desmontadas tem um volume compacto, ideal para locais de difícil
acesso.
25
Figura 8: Sistema flat-pack desenvolvido em Istanbul
Disponível em http://www.army-technology.com/contractors/field/dnd-frb/dnd-frb1.html
Acesso em 25/03/2015
c) Tensionados (Tensile)
É considerado o método mais flexível. Caracteriza-se por uma armação rígida
de aço ou alumínio que trabalha à compressão e uma membrana tensionada presa à
armação, geralmente de lona ou poliéster coberto com PVC.
Muito leves e transportadas facilmente, este método foi influenciado pelo
arquiteto alemão Frei Otto, que iniciou o desenvolvimento de modernas estruturas
tensionadas flexíveis cobertas com tecidos e lonas em meados do século XX.
Figura 9: Abrigo Tensile utilizado no Haiti após o terremoto de 2011
Disponível em http://www.sheltersystems.com/Shelter1%20images/haiti%20relief%20dome%202.jpg | Acesso em 25/03/2015
A matriz proposta por Friedemann Kugel em Arquitectura Adaptable,
seminário organizado em 1979 pelo instituto de estruturas leves, ilustra os diferentes
tipos de movimentos que a estrutura pode ter.
26
Figura 10: Matriz de Movimentos
Membranas,
estrutura
portante fixa
Recolher
encolher
Membranas,
estrutura
portante móvel
Deslizamento
Dobra
Rotação
Construções
rígidas
Deslizamento
Dobra
Rotação
Disponível em http://www.piniweb.com/datapini/bancomaterias/images
Acesso em 25/03/2015
d) Infláveis (Pneumatic)
As Estruturas infláveis ou pneumáticas funcionam sob tensão, porém neste
caso, o ar é quem exerce a pressão. Por este motivo sua resistência e o
carregamento pelo vento devem ser levados em consideração, eventuais furos
podem ocorrer e esvaziar a estrutura.
Este sistema permite criar edificações de grande porte, são leves, fáceis de
transportar e de montagem rápida, entretanto necessita de suprimento de energia
constante.
27
Figura 11: Tenda inflável CBRN
Disponível em http://www.militarysystems-tech.com/suppliers/losberger-rds
Acesso em 25/03/2015
Podem-se citar ainda outros tipos de Edificações Emergenciais como as
tendas, modelos e unidades importadas, construções in loco, habitações
temporárias e os abrigos improvisados:
e) Tendas
Fatores como facilidade de armazenamento, transporte, montagem e
principalmente pela temporalidade a tornam a tipologia mais utilizada atualmente.
As tendas são projetadas para durarem pouco tempo, visando a retirada das
vítimas num breve espaço de tempo. Não são indicadas para locais em condições
extremas de temperatura no inverno, além de serem muito pequenas para as
necessidades das famílias e não poderem ser aumentadas. (CITO, 2013)
Figura 12: Acampamento de refugiados abrigados em tendas na Jordânia
Fonte: Muhammad Hamed, 2015
Disponível em http://au.ibtimes.com/canada-responds-un-plea-will-accept-13000-syrian-iraqirefugees-3-years-1408442 | Acesso em 25/03/2015
28
f) Modelos e unidades importadas
Esse tipo de abrigo é indicado para climas extremos e invernos rigorosos.
Porém o alto custo e a tecnologia empregada são inadequados para a realidade de
muitos locais, fazendo destes modelos pouco utilizados em áreas afetadas por
desastres, pois utilizam materiais ou soluções próprias para países desenvolvidos.
(CITO, 2013)
g) Construção in Loco
A Construção in loco utiliza materiais e técnicas disponíveis no local do
desastre e a mão-de-obra geralmente é dos próprios desabrigados. Este tipo de
moradia incentiva e estimula a colaboração e socialização dos indivíduos envolvidos.
O Superadobe, criado pelo arquiteto Nader Khalili, foi inspirado no sistema de
construção de colônias lunares para NASA em 1984. Resistente a testes sísmicos,
este abrigo consiste na utilização de sacos e tubos de polipropileno cheios de terra
úmidos fixados por arame farpado entre os sacos.
O tempo de construção aproximado é de 20 dias e pode ser ainda revestido
com cimento e material encontrado na região dos desabrigados. Porém em
situações de emergência após desastres ambientais ou catástrofes onde há um
grande número de desabrigados com necessidade urgente de se alojar, as
construções artesanais, aliadas ao custo de transporte de pessoas capacitadas para
transferir conhecimento técnico, tornam-se inviáveis. (CITO, 2013)
Figura 13: Tecnologia SuperAdobe em
construção
Figura 14: Tecnologia SuperAdobe com
revestimento
Disponível em http://radio.weblogs.com
Acesso em 25/03/2015
Disponível em http://bp1.blogger.com/
Acesso em 25/03/2015
29
h) Habitações temporárias
As habitações temporárias tem a finalidade de substituir as moradias
permanentes até que estas estejam prontas. Porém esta tipologia de moradia não
terá reutilização depois, por isso deve-se atentar para os custos de construção de
habitações temporárias, geralmente utilizadas em países desenvolvidos.
O custo de reposição é muito alto. Analisando alguns casos observa-se que
essas habitações que deveriam ser temporárias se tornam permanentes causando
problemas semelhantes a criação de favelas, assim como ocorre com a construção
de moradias sem o devido acompanhamento técnico. (CITO, 2013, p72)
Observa-se também o tempo de
construção das residências temporárias,
por exemplo, na Indonésia (2006) foram
necessários 12 meses para construir 75
mil abrigos temporários. (CITO, 2013)
A exemplo de edificação temporária pode-se citar o projeto do arquiteto
japonês ganhador do Pritzker 2014 Shigeru Ban que desenvolveu um abrigo
temporário para as vítimas do grande terremoto de Kobe (Japão) em 1995.
O embasamento do abrigo é feito de engradados de cerveja cheios de areia,
as paredes são de tubo de papel e a cobertura de lona plástica, mantida separada
do forro para manter a circulação de ar no verão, e no inverno o inverso, para não
dissipar o calor e manter o ambiente aquecido.
Figura 15: Peper House feita em Kobe Japão
Figura 16: Peper House feita na
Turquia
Autor Desconhecido
Disponível em http://www.livingdesign.net.br
Acesso em 25/03/2015
Autor Desconhecido
Disponível em http://www.livingdesign.net.br
Acesso em 25/03/2015
30
i) Abrigos Improvisados
São soluções emergenciais improvisadas construídas com materiais do
próprio local (in loco), em área fora de risco, na maioria das vezes pelos próprios
moradores.
Também são usados como abrigos improvisados escolas, igrejas, galpões,
quadras esportivas, escolas, etc. Em alguns casos utilizam-se divisórias para dar
privacidade ao desabrigado.
Este tipo de alojamento pode se tornar proliferador de doenças se não forem
tomadas medidas corretas. (CITO, 2013; ANDERS 2007)
Figura 17: Abrigo improvisado em um ginásio, para famílias desabrigadas por
enchentes e deslizamentos em Teresópolis-RJ em 2011
Autor: Vladimir Platonow, 2011
Disponível em http://pt.wikipedia.org/ | Acesso em 25/03/2015
2.3 NECESSIDADE DE HABITAÇÃO EMERGENCIAL
Este capítulo busca identificar as regiões que necessitam de habitação
emergencial. Para tanto faz-se um panorama sobre desastres naturais e zonas de
conflito, os dois maiores propulsores do número de pessoas deslocadas no mundo.
2.3.1 Ocorrência de Desastres Naturais no Mundo
Segundo o CRED (2015) para um evento natural ser considerado um
desastre, este deve se enquadrar em alguns critérios: Registro de no mínimo dez
mortes; abranger cem pessoas ou mais; declaração de estado de emergência e
ainda a solicitação de ajuda internacional. A tipologia do desastre pode ser diversa:
31
a) Desastre geofísico: Eventos originados a partir do solo: Terremotos,
tsunami, vulcões, e movimentação de massas secas (deslizamentos,
avalanches, acomodação de terra);
b) Desastre meteorológico: Eventos provenientes dos processos atmosféricos
de curta a média duração: Tempestades locais, ciclones tropicais e
extratropicais, tornados;
c) Desastre hidrológico: Eventos causados por variações no ciclo normal da
água e/ou por inundações dos corpos de água originadas a partir da
configuração dos ventos: Inundações e movimentação de massas úmidas
(Deslizamentos, avalanches, acomodação de terra);
d) Desastre climatológico: Eventos causados por temperaturas e variações
extremas (frio, calor): Secas e queimadas espontâneas;
e) Desastre biológico: Eventos causados pela exposição a organismos
nocivos e/ou substâncias tóxicas, como epidemias e doenças diversas.
No banco de dados do CRED correspondente ao período de 1980 a 2013
(2014), pode-se notar que tempestades e inundações são as ocorrências mais
comuns de desastre natural no mundo, principalmente no sul e sudeste da Ásia,
onde tem afetado comunidades despreparadas para lidar com tempestades tropicais
e ciclones.
Num aspecto geral as Inundações têm afetado muitas pessoas, entretanto
gerado números baixos de mortalidade. Sendo os terremotos o tipo de desastre que
mais causa mortes, representando quase 40% da taxa de mortalidade total. Este
perfil é semelhante ao de secas, que ocupam 24% no numero de mortes, apesar de
ser um fenômeno que ocorre com menor frequência (CRED, 2014).
Desastres e mudanças climáticas podem ocasionar, além de mortes, doenças
e deslocamentos de populações frágeis e, consequentemente, desnutrição. Estes
fatores estão intrinsecamente ligados com o desenvolvimento econômico e social,
pois afetam desproporcionalmente as pessoas mais pobres e marginalizadas, geram
desigualdades sociais e prejudicam o crescimento econômico. Desastres "naturais"
podem reverter anos de ganhos de desenvolvimento e ameaçar os esforços para
eliminar a pobreza (CRED, 2013).
Em 2013, a Ásia foi o continente mais frequentemente atingido por desastres
naturais, registrou 47,3% das catástrofes mundiais, seguidas pelas Américas
32
(22,4%), Europa (13,6%), África (13,3%) e Oceania (3,3%). Esta distribuição regional
de ocorrência indica uma mudança um tanto diferente para o perfil observado na
década anterior. (CRED, 2014).
Figura 18: Porcentagem de tipologia de desastres registrados em 2013 por Continente
Europa
Ásia
Américas
Climatológico
Geofísico
Hidrológico
Metereológico
África
Oceania
Fonte: CRED, 2014, tradução livre
Segundo o CRED (2014) entre os cinco países mais frequentemente atingidos
por desastres naturais em 2013 estão China, Estados Unidos, Indonésia, Filipinas e
a Índia, conforme tabela abaixo. Sendo os desastres meteorológicos e Hidrológicos
os mais comuns.
Figura 19: Países com maiores registros de eventos em 2013
China
EUA
Indonésia
Filipinas
Índia
Vietnã
Japão
Brasil
Afeganistão
Bolívia
Bolívia Afeganistão Brasil Japão Vietnã Índia Filipinas Indonésia EUA China
Climatológico
2
Hidrológico
Metereológico
1
1
Geofísico
3
5
1
1
1
1
1
5
12
5
1
6
5
5
1
7
4
5
8
Fonte: CRED, 2014, tradução livre
6
2
8
7
17
15
15
33
Em 2013 foram 21.610 pessoas mortas, o número mais alto da década, a
maioria ocorreu nas Filipinas, Índia, Reino Unido, Paquistão e Japão Filipinas,
conforme tabela 1. Porém ao analisar o número de mortes por habitantes as maiores
proporções se concentram no Vietnam, Israel, Camboja e Zimbábue (país atingido
pela seca) (CRED, 2014).
Tabela 1: Eventos mais mortais de 2013
EVENTO
Ciclone tropical (Haiyan ), Novembro
Inundação, Junho
Onda de calor, Julho
Onda de calor, Abril-Junho
PAÍS
MORTES
Filipinas
7354
Índia
6054
Reino Unido
760
Índia
557
Paquistão
399
Japão
338
Paquistão
234
China
233
Terremoto, Outubro
Filipinas
230
Inundação, Setembro-Outubro
Camboja
200
Terremoto, Setembro
Onda de calor, Maio-Setembro
Inundação, Agosto
Inundação, Julho
TOTAL
16359
Fonte: CRED, 2014
Segundo o banco de dados do CRED (2015) em 2014 foram registrados 290
desastres naturais, 126 na Ásia, 64 nas Américas, 41 na Europa e 9 na África, a
maioria de origem hidrológica e meteorológica, padrão semelhante ao ano anterior.
Os países mais atingidos foram a China (Seca, inundação, ciclone), Filipinas
(Ciclone), Índia (Inundação), Burkina Faso (seca) e Bangladesh (Inundação). A
ocorrência dos eventos resultou em um número decrescente em comparação com
os anos anteriores: 15.733 mortes, 9.780 apenas na África devido surtos de doenças
virais e bacterianas como o Ebola, seguido pela Ásia com 5177 mortes.
Os
Desastres naturais afetaram 102 milhões de pessoas, valor maior em comparação
com 2013 que registrou 96,5 milhões de vítimas. Em contrapartida os danos
causados continuam em queda, valor estimado em 84,9 bilhões (CRED, 2015).
Dados de uma das maiores companhias de resseguro do mundo a Munich RE
NatCarSERVICE (2015) afirmam que no ano de 2014 os eventos que mais
causaram mortes foram as Inundações na Índia e no Paquistão seguido pelo
terremoto na China em Agosto, Inundações e deslizamentos no Nepal e o tufão
Rammasun que causou danos na China, Filipinas e no Vietnam.
34
Tabela 2: Eventos mais mortais de 2014
EVENTO
Inundações, Setembro
Terremoto, Agosto
Inundações e deslizamentos, Agosto
ÁREA AFETADA
MORTES
Índia, Paquistão
665
China
517
Nepal
229
China, Filipinas, Vietnã
195
Inundações, Abril-Maio
Afeganistão
175
Deslizamento, Agosto
Nepal
156
Inundação, Outubro
Rep. Dem. do Congo
154
Deslizamento, Julho
Índia
151
Inundação, Agosto-Setembro
Índia
151
Onda de calor, Dezembro
Índia
145
Tufão Rammasun, Julho
Fonte: Munich RE NatCarSERVICE, 2015. Tradução Livre
O Munich RE NatCarSERVICE (2015) apresentou um mapa onde pode-se
observar a ocorrência e o tipo de desastres no mundo todo e reafirmam os dados do
CRED, a maior ocorrência de eventos tem origem meteorológica e hidrológica. No
Brasil a seca teve destaque:
Figura 20: Eventos registrados no mundo em 2014
Inundações
Reino Unido
Dez 2013 Fev 2014
Inverno Rigoso
EUA, Canadá, 5-8 Jan
Inundações
Bónia e Herzegovina
Sérvia, Croácia, Romênia
13-30 Maio
Tempestades
EUA, 18-23 Mai
Tufão Rammasun
China, Filipinas, Vietnã
11-22 Jul
Tempestades
França, Bélgica,
Alemanha
7-10 Jun
Seca
EUA, 2014
Inverno Rigoroso
Japão, 7-16 Fev
Tufão Kalmaegi
China, Filipinas, Vietnã
12-20 Set
Inundação
USA, 11-13 Ago
Furacão Odile
México, 11-17 Set
Tempestades
EUA, 2-4 Abr
Tempestades
EUA, 27 Abr - 1 Mai
Tempestades
EUA, 3-5 Jun
Ciclone
Índia
11-13 Out
Seca
Brasil, 2014
Inundações
Índia, Paquistão
3-15 Set
Terremoto
China, 3 Ago
Evento menor
Eventos Geofísicos
(terremoto, tsunami, atividade vulcânica)
Eventos Hidrológico
(inundações, movimento de massa)
Catástrofe selecionada
Perdas acima de 1,5 milhões
de dólares
Eventos Meteorológicos
(tempestades tropicais,extratropicais,
convencionais e locais)
Eventos Climatológico
(temperatura extrema, seca, queimadas)
Fonte: Munich RE NatCarSERVICE, 2015. Tradução livre
35
2.3.2 Ocorrência de Desastres Naturais no Brasil
Em 2013 o Brasil esteve na oitava posição em relação ao número de
desastres reportados em todo o mundo, a maioria de origem hidrológica (CRED,
2014). Segundo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE (2013), no Brasil,
secas e enchentes são os casos mais frequentes de desastres. Conforme dados do
Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre desastres - CEPED/UFSC (2013)
os movimentos de terra e erosão tiveram um aumento significativo no decorrer dos
anos (21,7 e 9,6 vezes respectivamente).
Figura 21: Totais de registros de desastres naturais mais recorrentes no Brasil (de 1991 a
2012)
Fonte: UFSC, 2013
Segundo O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2013) Só nos
últimos cinco anos 40,9% dos municípios brasileiros sofreram pelo menos um
desastre natural, Foram mais de duas mil cidades atingidas por inundações,
enxurradas bruscas e/ou deslizamentos de encostas. As enchentes graduais
deixaram quase 1,5 milhões de pessoas desabrigadas ou desalojadas. A pesquisa
constatou que 48% das prefeituras do País estavam despreparadas para as
ocorrências.
Os danos são preocupantes. Em janeiro de 2011, uma enxurrada devastou a
região serrana do Rio de Janeiro. A tragédia foi considerada o maior desastre
natural no Brasil desde 1967, com o número de 918 mortos, mais de 300
desaparecidos e 30 mil desabrigados (Defesa Civil, 2011 apud SAVIETTO, 2013).
Dados da Secretaria Estadual de Assistência Social afirmam que dois anos após o
desastre mais de oito mil famílias ainda recebiam aluguel social.
36
No estado de São Paulo, entre os anos de 2000 e 2008, foram registrados
quase dois mil eventos que resultaram em 50 mil desabrigados e desalojados
(Defesa Civil, 2011 apud SAVIETTO, 2013).
De acordo com relatório do Grupo de Estudos de Desastres Naturais da
Universidade Federal de Santa Catarina – GEDN (2006) Em 2004, o Furacão
Catarina que passou pela região sul de Santa Catarina e nordeste do Rio Grande do
Sul, foi o primeiro furacão já registrado em águas do Atlântico Sul e o primeiro a
avançar sobre a costa brasileira. Em Santa Catarina, o estado mais atingido, foram
53 mil edificações prejudicadas e 2.2 mil pessoas desabrigadas.
O estado vem registrando muitos eventos na ultima década, em novembro de
2008 enchentes e deslizamentos de terra no Vale do Itajaí bloquearam 19 rodovias,
isolando muitas cidades completamente afetando cerca de 1,5 milhão de pessoas,
deste número quase 80 mil eram desabrigados e desalojados e. Este desastre, um
dos maiores desastres registrados em nível nacional, registrou 135 mortes e, estimase que 79 mil pessoas perderam suas residências. Em 2011, ainda no Vale do Itajaí,
uma nova ocorrência de mesma tipologia deixou cerca de 1 milhão de vítimas
(DEFESA CIVIL, 2012 apud SAVIETTO, 2013). Outro fato marcante, segundo a
Defesa Civil (2011 apud SAVIETTO, 2013) foi a estiagem na Amazônia, em outubro
de 2005, foi considerada a mais severa seca que atingiu o estado em 40 anos e
deixou dezenas de comunidades e famílias ribeirinhas completamente isoladas.
Pesquisas do CEPED (2013) identificam que em 2011 a região sul teve mais
registros de fenômenos meteorológicos (desastres naturais ou não) durante o ano
todo, seguida pela região nordeste. Das 60 cidades de maior ocorrência de registros
no Brasil, 64% ocorre no estado de Santa Catarina (ver figura 9), valor equivalente a
mais da metade da estatística. O estado é seguido pelo Rio Grande do Sul (15%) e
pelo Paraná (8%), o restante soma-se em 13% (SP, RJ, MG, PE, ES).
Na mesma pesquisa é notável a presença da cidade de Joinville-SC
ocupando a quinta posição o número de registros, sendo a maior parte por
enxurradas e inundações.
Em cada região do país as tipologias de desastres mais periódicos possuem
percentuais diferentes (CEPED - UFSC, 2012):
a) Região Norte: Inundações graduais e alagamentos (39%) e Inundações
bruscas (26%);
37
b) Região Nordeste: Estiagens e secas (78%);
c) Região Centro-oeste: Inundações bruscas e alagamentos (38%) e
Inundações graduais (27%);
d) Região Sudeste: estiagens e secas (35%) e inundações bruscas e
alagamentos (32%);
e) Região Sul: Estiagens e secas (40%) e inundações bruscas e alagamentos
(23%).
Figura 22: Regiões de maior frequência de ocorrência de eventos meteorológico
(analise das 60 cidades mais atingidas)
Fonte: Produzido pelo autor a partir de dados da UFSC, 2013.
Figura 23: Municípios mais atingidos no Brasil por total de registros de eventos meteorológicos
(de 1991 a 2012)
Fonte: UFSC, 2013
38
Mais recentemente, em abril de 2015, aconteceu em Xanxerê-SC, a
ocorrência de um tornado que pegou a população e o governo desprevenidos. O
evento deixou um rastro de mais de mil casas destruídas e causou a morte de duas
pessoas.
Os desabrigados estão recebendo assistência do governo e foram acolhidos
temporariamente em abrigos improvisados em escolas, instituições religiosas e
galpões até que a reconstrução do que foi perdido seja concluída.
A passagem do tornado pelo estado de Santa Catarina gerou um prejuízo de
112 milhões de reais (G1, 2015).
2.3.3 Refugiados no Mundo
Os desastres naturais não são os únicos fenômenos que geram desabrigados
no mundo, o número de pessoas deslocadas no planeta, mais de 51 milhões
segundo dados da UNHCR (2015), é impulsionado pelas zonas de conflitos, que
geram diariamente um crescente número de refugiados acampados em Abrigos
governamentais ou mantido por instituições humanitárias.
Deve-se observar que muitos países em situação de conflitos apresentam
ainda ocorrência de desastres naturais. Segundo Antônio Gutierres, comissário da
ONU, as mudanças climáticas podem agravar a situação de refugiados, pois este
fator pode contribuir com a seca e escassez de recursos, gerando crises
econômicas, políticas e movimentos migratórios (BBC BRASIL, 2012).
O número de população afetada por conflitos vem aumentando ao longo do
tempo em todo o mundo (ver figura 24). Por consequência, segundo o relatório do
CRED (2012), a mortalidade também vem atingindo índices elevados, em 2012
foram registrados na Somália 84 mil mortes apenas de crianças, 22 mil no Sudão, 12
mil no Sudão do Sul e 8 mil na República Democrática do Congo. Países em áreas
de conflito são responsáveis pelos maiores índices.
39
Figura 24: Comparativo de Refugiados no Mundo de 1964 a 2012 (em milhões de pessoas)
Fonte: Sociedade Médica de Massachusets, 2015, p18-38.
O Departamento de Pesquisa de Paz e Conflitos da Universidade Uppsala da
Suécia (2013) reafirma a instabilidade recorrente no mundo (ver figura 25). Enquanto
os conflitos aumentam o número do retorno de refugiados para seu país de origem
diminui drasticamente, valor aproximado em 1,8 milhões de pessoas no período de
2009 a 2013 contra 4,5 milhões no período de 2004 a 2008 (CRED, 2014).
Figura 25: Quantidade de Conflitos Armados e Disputas no Mundo por ano (1943 a 2013)
Fonte: UCDP, 2014.
Só em 2012 mais de 172 milhões de pessoas foram afetadas por conflitos no
planeta. O Paquistão e a Nigéria somam o maior número de pessoas afetadas nesta
40
época, 28,1 milhões e 18,6 milhões respectivamente. A Líbia e a Somália tiveram a
maior proporção de suas populações afetadas, em torno de 90% cada, números
alarmantes também na Síria, quase três quartos de sua população foi afetada por
conflitos em 2012 (figura 26), reflexo da crise política e econômica no país que já
duram cinco anos (CRED, 2014).
Figura 26: Porcentagem da população afetada por conflitos por país
Fonte: CRED, 2014
O total de refugiados no mundo (51,2 milhões de pessoas) é seis vezes maior
que o valor registrado em 2012. A figura a seguir mostra claramente a localização de
refugiados, nota-se maior abrangência na África subsaariana e no Oriente Médio,
regiões de conflitos e guerras (UNHCR, 2015).
41
Figura 27: Localização de refugiados no Mundo
Turquia
Líbano
Síria
Jordânia
Paquistão
R epública
Islâmica do Irã
Fonte: UNHCR, 2015.
Em 2013 cerca de 9,5 milhões de novos refugiados tiveram como destinos
diversos, conforme explanado a seguir (UNHCR, 2013):
a)
58.4% se refugiaram em casa de familiares e conhecidos
b)
34.4% estavam concentrados em acampamentos da ONU, número
correspondente a 3,2 milhões.
c)
3.2% tiveram como destino Centros Coletivos, como galpões e escolas,
no geral abrigos improvisados.
d)
Apesar de a porcentagem correspondente a 3.6% ser pequena, os
números são preocupantes. Cerca de 345 mil pessoas optaram por abrigos
individuais improvisados ou mesmo junto de desconhecidos, compartilhando
recursos para se manter.
Para 2,1 milhões restantes o destino é desconhecido. (UNHCR, 2014)
Segundo o relatório da UNHCR (2014) os índices atingiram valores
alarmantes no final de 2013, eram 11,7 milhões de novos refugiados, sendo o
Afeganistão, Síria e Somália representantes de 53% deste total, conforme figura 15.
42
Figura 28: Total de Refugiados por origem no final de 2013
Afeganistão
Síria
Somália
Sudão
Rep. Dem do Congo
Myanmar
Iraque
Colômbia
Vitnã
Eritreia
Fonte: CRED, 2014. Tradução livre
Os países desenvolvidos foram responsáveis por dar abrigo a 24% dos novos
números. Porém a África responde pela maior abrangência como é possível
observar na figura 16. O continente representa 48% do total de países hospedes
(23% são do Norte e Meio Oeste da África; 25% da África Subsaariana), fator
estimulado pela situação de conflito das nações da região que, portanto, estão mais
propícios a dar abrigo devido à proximidade; 30% dos países que abrigam
refugiados são nativos da Ásia e do Pacífico; 15% da Europa e a minoria das
Américas, o equivalente a 7% do total (UNHCR, 2014).
Figura 29: Países com maior número de refugiados residentes em 2013
Paquistão
Rep. Islâmica do Ira
Líbano
Jordânia
Turquia
Quênia
Chade
Etiópia
China
EUA
Fonte: CRED, 2014. Tradução livre
Em apenas três anos e meio o Líbano pulou da 69ª posição país de
hospedagem de refugiados para segundo maior graças aos sírios, que totalizam 1,1
43
milhões no total. Mesmo assim o Paquistão continuou a acolher o maior número de
refugiados.
Figura 30: Países com maior número de refugiados residentes (meados de 2014)
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Fonte: UNHCR, 2014. Tradução livre
A crise na Síria impactou também a Turquia e a Jordânia que juntas relataram
um total de 824 mil refugiados registrados, sendo 97% sírios e o restante de
predominância iraquiana.
Etiópia saltou da oitava posição em 2012 para a sexta em meados de 2013.
Valor impulsionado pela recepção de 159 mil refugiados sudaneses no país que
abriga um total de 587,7 refugiados. No Quênia, segundo maior país de acolhimento
da África há maioria de refugiados provenientes do Sudão do Sul. Chade vem logo a
seguir com aproximadamente 455 mil refugiados no país, valor que aumentou em
proporções estrondosas desde 2001 quando registrou 13 mil refugiados, o
equivalente a 3500% a menos do valor atual. Uganda registrou altos índices devido
a quase 120 mil sul sudaneses que tiveram abrigo no país. UNHCR (2014)
Entre janeiro e junho de 2014, a UNHCR informou uma estimativa de 5,5
milhões de novos deslocados devido a conflitos, O número de requerentes de abrigo
sofreu um aumento de mais de 100 mil pessoas só no início do ano. No ano anterior
foi registrado um total de 290 mil. 2014 marcou uma mudança nas estatísticas nos
países de origem e países de acolhimento dos refugiados. Metade dos dez primeiros
países encontra-se na África Subsaariana.
O aumento deve-se principalmente pelos conflitos na Síria em razão da
guerra civil e violência que já provocou a morte de quase 200 mil pessoas; no
44
Líbano devido a tensões sectárias e aumento da violência, principalmente nas áreas
de fronteira; no Sudão do Sul, país em guerra civil desde o final de 2013 e na
República Centro-Africana, região de confrontos onde a instabilidade políticoreligiosa provocou quase 1 milhão de refugiados e deslocados, valor equivalente a
cerca de 20% da população do país onde a violência já atingiu 2,2 milhões de
pessoas (G1, 2015; CARTA CAPITAL, 2014).
O Afeganistão mantinha-se há três décadas no topo do ranking de países
com mais refugiados, porém o relatório semestral da UNHCR (2015) informa que o
registro de mais de 3 milhões de abrigados Sírios mudou a situação, tornando a
Síria o país com maior número de refugiados ( ver figura 31), nação que em 2011
não estava nem inclusa nos trinta primeiros países com maior número de abrigados.
Hoje o Oriente Médio e Norte da África passaram a ser a principal região de origem
de refugiados em todo o mundo. Sírios, afegãos e somalis correspondem a 52% do
número total de abrigados (UNHCR, 2014).
Figura 31: Total de Refugiados por Origem (meados de 2014)
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Fonte: UNHCR, 2014. Tradução livre
Mais de 100 países relatam registro de refugiados Sírios, porém a maior parte
da população encontra abrigo nos países vizinhos, os maiores números concentramse entre Líbano (1,1 milhões), Turquia (798 mil), Jordânia (645,6 mil), Iraque e no
Egito, países que sozinhos somam 23% dos refugiados sírios no mundo. Os afegãos
representam 2,7 milhões de refugiados sob o mandato da UNHCR, um aumento de
aproximadamente 135 mil pessoas no semestre. Cerca de 1,6 milhões refugiados
são acolhidos no Paquistão. A Somália manteve-se estável na terceira posição com
45
1,1 milhões de pessoas até meados de 2014. Os refugiados foram instalados
principalmente no Quênia, Etiópia e Iêmen. O valor total de refugiados somalis caiu
por cerca de 41mil pessoas, principalmente por causa do retorno de 10 mil pessoas
ao país.
A guerra civil no Sudão do Sul que teve início no final de 2013 foi responsável
pelo aumento de 444% de refugiados provenientes do país, acolhidos principalmente
nos países vizinhos, Etiópia, Uganda, Sudão e Quênia. O surto de violência na
República Centro Africana no final de 2013 causou o êxodo de mais de 143 mil
pessoas em apenas seis meses, estes encontraram refúgio nos Camarões, Chade,
República Democrática do Congo e na República do Congo.
2.3.4 Refugiados no Brasil
No Brasil não há ocorrência de acampamentos de refugiados ou zonas de
conflito, porém segundo o CONARE, Comitê Nacional para os Refugiados criado
pela lei brasileira de refúgio, informou à UNHCR (2015) que o Brasil possui
aproximadamente 7.300
refugiados de 81
nacionalidades distintas (dados
observados até outubro de 2014). A maioria nativos da Síria, Colômbia, Angola e
República Democrática do Congo, conforme listagem abaixo:
a) Síria: 1.524
Figura 32: Novas solicitações de Refúgio
(por ano)
b) Colômbia: 1.218
c) Angola: 1.067
d) República Democrática do
Congo: 784
e) Líbano: 391
f) Libéria: 258
g) Palestina: 263
h) Iraque: 229
i) Bolívia: 145
Fonte: UNHCR, 2015
j) Serra Leoa: 137
Os haitianos, em particular não estão incluídos nos gráficos oficiais, pois
receberam residência permanente pelo Conselho Nacional de Imigração (CNIg)
46
desde o inicio da imigração no país, iniciada devido ao terremoto que atingiu o Haiti
em 2010, estes somam mais de 40 mil no Brasil.
A tendência é que o número de refugiados venha aumentar no mundo todo,
pois além do crescente número de conflitos no oriente médio, a UNHCR (2015)
informa que o número de requerentes de abrigo sofreu um aumento de mais de 100
mil pessoas desde o início de 2014. Em 2012 foi registrado um total de 290mil
durante o ano todo. Estes índices continuarão em crescimento até que os países
portadores dos maiores números como a Síria, Líbano, Afeganistão, entre outros,
apresentem sinais de estabilidade econômica e principalmente política.
2.3.5 Considerações - Escolha do local de Intervenção
Através da análise dos dados nota-se a ocorrência de desastres
meteorológicos no mundo todo, inclusive no oriente médio. Esta região apresenta
altos índices de mortalidade e de desabrigados causados por eventos naturais,
principalmente no Paquistão, Afeganistão, Israel e alguns países da África como
Zimbábue e Congo. No Brasil, Santa Catarina é o estado que apresenta maiores
índices de ocorrência de desastres naturais, estes eventos geram um número
expressivo de desabrigados e deixam um rastro de danos econômicos por onde
passam.
No oriente médio além da ocorrência de desastres naturais há ainda
concentração de conflitos armados e guerras. Resultado de instabilidades
econômicas e políticas (ver figura 33), estes eventos crescem dia após dia e geram
um número de desabrigados muito maior do que em qualquer outra região do
planeta. Portanto os acampamentos de refugiados se tornam uma situação comum e
rotina de muitas nações, principalmente nas regiões da Síria e da Jordânia, que
recebem todos os dias novos refugiados.
47
Figura 33: Regiões de Conflito e Instabilidade Política em 2014
Iraque
Síria
Líbia
RCA
Jordânia
Sudão
Somália
R.D. Congo
Sudão do Sul
Legenda:
Risco Extremo
Alto Risco
Médio Risco
Baixo Risco
Fonte: Maplecroft. Tradução livre | Disponível em http://www.maplecroft.com | Acesso em
17/06/2015
Segundo dados da UNHCR (2015) a Jordânia ocupa a quinta colocação entre
os países com maior número de refugiados, número que já passa de 800 mil
pessoas. A figura 41 reafirma as estatísticas sobre os locais de conflito e mostram
claramente a localização das regiões mais críticas. A Jordânia localiza-se num ponto
estratégico, entre o continente africano e o continente asiático, fazendo fronteira com
a Síria, país que possui mais de 3 milhões de refugiados e ocupa a primeira
colocação.
Figura 34: Localização
Disponível em http://pt.db-city.com, modificado pelo autor
O ponto principal de concentração de refugiados no país é o Acampamento
de Zaatari, há apenas 12km da Síria, o acampamento de 9 quilômetros quadrados,
está
superlotado
e
presencia
um
crescimento
demográfico
acelerado
e
desordenado. Possui 3 mil pontos comerciais operando sem licença. Zaatari abriga
48
83 mil pessoas em barracas cedidas pela UNHCR, número que não para de crescer,
pois os conflitos na região não mostram sinais de trégua e todos os dias chegam
novos refugiados. (VALENCIA, 2014)
Figura 35: Vista aérea do acampamento
Figura 36: Barracas em lona plástica
Fonte: http://metro.co.uk, 2013
Fonte: Khalil Mazraaw, 2015
O alto crescimento habitacional de Zaatari propiciou outras formas de moradia
com materiais disponíveis no lugar, reflexo da apropriação do espaço e de vias por
seus moradores (ver figura 37) que vivem em condições precárias, pois a UNHCR
não dispões de recursos para atender a demanda assistencial do local. (THE NEW
YORK TIMES, 2014).
Figura 37: Apropriação do espaço
Fonte: Picture-Alliance/DPA, 2014
O acampamento está mudando a paisagem local dia após dia como pode se
perceber nas imagens de satélite registradas de Novembro de 2012 a julho de 2013:
49
Figura 38: Novembro de 2012
Abrigos
Administração
Fonte: http://www.bbc.com/news/world-middle-east-23801200 | Acesso em 22 Julho 2015
Figura 39: Janeiro de 2013
Abrigos
Administração
Fonte: http://www.bbc.com/news/world-middle-east-23801200 | Acesso em 22 Julho 2015
50
Figura 40: Fevereiro de 2013
Abrigos
Administração
Fonte: http://www.bbc.com/news/world-middle-east-23801200 | Acesso em 22 Julho 2015
Figura 41: Julho de 2013
Abrigos
Administração
Fonte: http://www.bbc.com/news/world-middle-east-23801200 | Acesso em 22 Julho 2015
Infere-se, portanto, que, há uma necessidade de habitação emergencial no
oriente médio maior do que em qualquer região do mundo.
2.4 IMPLANTAÇÃO DE HABITAÇÃO EMERGENCIAL
51
A Agência das Nações Unidas para Refugiados (2007) define alguns
parâmetros que devem ser respeitados na implantação de abrigos conforme a
seguir.
O local de implantação deve ser acessível à chegada de suprimentos como
alimentos, materiais para abrigos, etc. Deve ser previsto ainda locais para expansão,
pois num primeiro momento nem todos os equipamentos necessários a manutenção
de um acampamento são instalados. A tabela abaixo descreve serviços e
infraestrutura requeridos para um acampamento de desabrigados:
Tabela 3: Serviços e Infraestrutura requeridos em acampamentos de desabrigados
Fonte: THE UN REFUGEE AGENCY, 2007, p.553 apud SAVIETTO, 2014, p.100)
O dimensionamento mínimo por pessoa é de 30m², incluindo abrigos,
calçamentos,
vias,
equipamentos
de
educação,
saneamento,
segurança,
administração, armazenamento de água, distribuição e depósito de itens, com
recomendação de 45m² por pessoa, incluindo cozinha e espaço para jardim. A
composição do acampamento segue modelo a seguir :
Tabela 4: Composição do acampamento a ser adaptada a cada situação
Fonte: THE UN REFUGEE AGENCY, 2007, p.216 apud SAVIETTO, 2014, p.101)
Os assentamentos devem ser separados em área residencial, referente aos
abrigos e área comunitárias, que envolve cozinha, refeitório e sanitários comuns
divididos por gênero (se não há um em cada abrigo), administração, almoxarifado,
52
lavanderia, instalações elétricas e hidráulicas, reservatório de água, depósitos de
lixo e resíduos e locais para atendimento médico. Devem conter também espaços
recreativos, pois estes representam ganhos para a saúde mental dos abrigados e
contribuem para o senso de tranquilidade da comunidade, pode ser um pátio para
descanso ou jardins para brincar. (SAVIETTO, 2014)
Segundo Anders (2007) os abrigos devem ser definidos de forma a prover
uma estrutura básica autônoma para cada família ao redor de um núcleo de serviços
públicos num pátio comum, facilitando desta forma, o acesso, a manutenção, o
abastecimento e a coleta. Os abrigos devem dispostos numa forma modular de
implantação e em pequenos grupos de famílias, a fim de permitir a interação da
comunidade entre sí num sistema autossuficiente e funcional.
Figura 42: Exemplo de planejamento modular autossuficiente
ABRIGO: 18m² (3m x 6m), 1 família (5 pessoas)
CLUSTER: 2.000m² (40m x 50m), 16 abrigos, 80 pessoas
Fonte: THE UN REFUGEE AGENCY, 2007, p.214 apud SAVIETTO, 2014, p.102)
53
Segundo a cartilha Recomendaciones para Instalación de Vivienda de
Emergencia en Campamentos Provisorios (ELEMENTAL, 2010), a implantação dos
abrigos deve minimizar possíveis conflitos sociais conforme indicações a seguir:
2.4.1 Acesso
No exemplo abaixo, assentamento em Tocopilla, no Chile, observa-se que a
disposição das 3 mil unidades com os acessos compartilhados criam um “território
de ninguém” na parte posterior do abrigo, um local sem uso definido e sem
apropriação pelos moradores.
Figura 43: Orientação inapropriada de acessos aos abrigos
Fonte: ELEMENTAL, 2010, p.02
2.4.2 Distância entre Abrigos
Deve ter no mínimo 3,00m. Esta distância garante uma distribuição igualitária
do espaço para cada unidade e possibilita o aumento do abrigo através de anexos,
modificando a função e o uso do ambiente construído, quando necessário.
54
Figura 44: Orientação apropriada de acessos aos abrigos
Fonte: ELEMENTAL, 2010, p.03
2.4.3 Agrupamento de Abrigos
Distribuição de 10 a 12 famílias ao redor de um pátio coletivo. Esta
distribuição garante mais eficiência na relação dos serviços públicos com as
unidades individuais, aumenta o senso de comunidade e garante mais segurança às
famílias.
Figura 45: Exemplo de esquema geral de
agrupamento
Figura 46: Exemplo de variações nas
implantações das comunidades em blocos
Opção 01
Opção 02
Fonte: ELEMENTAL, 2010, p.07
Fonte: ELEMENTAL, 2010, p.07
55
2.4.4 Estabelecimento de Núcleos de Serviços:
A disposição de serviços diferentes no mesmo local facilita a logística de todo
assentamento. Ali ocorre a instalação de equipamentos coletivos: banheiros
(químicos ou com fossas), cozinhas e lavanderias, postes de eletricidade e
reservatórios de água, entre outros.
Figura 47: Localização centralizada dos núcleos de serviços
LEGENDA: 1. Núcleo de serviços; 2. Medidor de energia; 3. Postes individualizados (3m)
Fonte: ELEMENTAL, 2010, p.06
2.5 MATERIAIS PARA HABITAÇÃO EMERGENCIAL
Segundo Mascaró (1992 apud CITO, 2013) a fabricação dos materiais
construtivos representa quase que a totalidade do consumo de energia utilizado na
construção civil (tabela 6) por este motivo deve-se utilizar um material que tenha
baixa demanda de energia, Kronka (1998, apud PARENTE 2006) afirma que esta
medida resulta em redução dos custos, principalmente quando utilizado em larga
escala.
56
Tabela 5: Demanda de energia para cada etapa da construção
Fonte: MASCARÓ, 1992 apud CITO, 2013
Segundo Serra e Ki-Chang (1999, 2008 apud CITO 2013) o cimento, uma das
principais matérias-primas do setor construtivo, além de possuir elementos que
desencadeiam doenças crônicas, é responsável por 7% do total das emissões de
gases que contribuem com o agravamento do efeito estufa, portanto é necessário
verificar outros métodos construtivos aplicáveis a edificações emergenciais.
Através das indicações de materiais mais adequados à aplicação em projetos
emergenciais feito pela pesquisadora Adriana Zancani Tavares (2012) foi
selecionado os materiais que mais se adequam ao contexto deste estudo: Placa
cimentícia impermeabilizada, painel compensado de madeira multilaminada, chapa
aço inox, tecido de poliéster revestido com PVC e polietileno de alta densidade PEAD. Foram definidos parâmetros para avaliação, análise e comparação dos
materiais em questão, as estimativas de custo são dadas através de valor médio do
mercado brasileiro, conforme a seguir:
2.5.1 Placa Cimentícia Impermeabilizada
As placas cimentícias são produzidas com uma mistura de cimento portland,
agregados naturais de celulose ou de cimento reforçado com fio sintético. Sua
composição, além de ser 100% reciclável, resulta num baixo peso próprio e
diminuição no dimensionamento das sapatas ou vigas corridas de apoio.
(MEDEIROS, 2010)
É possível encontrar as placas nos comprimentos de 2,00m, 2,40m e 3,00m
com a largura de 1,20 m e 2,00m. As placas podem ser cortadas nas obras de
acordo com as necessidades de cada projeto, são fixadas em steel frame, perfil de
alumínio modulares. Podem ser aplicadas em áreas secas ou úmidas, paredes
internas ou externas, beirais, oitões, shafts, e ainda constituir vedações curvas. São
produtos não inflamáveis, com boa resistência à flexão, intempéries, imunes a
fungos, insetos e roedores. A instalação demanda mão de obra especializada,
57
exigem leitura de projetos e precisão na execução. (PONTES, 2010; MEDEIROS
2010)
A durabilidade é considara elevada, as empresas do ramo oferecem em
média cinco anos de garantia, são encontradas no valor de R$95,00 (8mm
1200x3000mm) a R$170,00 (10mm 1200x3000mm) dependendo do tamanho e
espessura da placa.
Figura 48: Placa cimentícia
Figura 49: Instalação em Steel Frame
Disponível em https://s3-sa-east1.amazonaws.com Acesso em 25 Jul 2015
Disponível em http://techne.pini.com.br/
Acesso em 25 Jul 2015
2.5.2 Painel de madeira compensada Multilaminada
Estudos do curso de Engenharia Industrial madeireira da UFPR (2006)
demonstram as principais características dos compensados de madeira. Os painéis
de madeira multilaminada são obtidos a partir da colagem de múltiplas lâminas por
meio de resina termoplástica a base de etileno vinil acetato ou fita adesiva, as
lâminas são entrepostas em um número ímpar. É possível encontrá-las em
espessuras acima de 4mm, sendo o padrão internacional de dimensão
1220x2440mm, porém no mercado brasileiro segue uma proporção um pouco
menor: 1600x2200mm, além de diversas outros tamanhos disponíveis de acordo
com o fabricante e solicitação do usuário.
São produtos com baixa retratibilidade (contração e expansão) que podem ser
utilizadas no interior e exterior de edificações leves, dependendo dos agregados
adicionados ao produto que o tornam resistente à água. A instalação pode ocorrer
através do sistema macho e fêmea ou pela fixação com pregos, parafusos, etc.
UFPR (2006)
58
Além da flexibilidade de formas (figura 50), a durabilidade das placas
multilaminadas é considerada alta e podem ser feitas com madeira reflorestada e
conduzidas de forma legal. Dependendo do uso utilizado podem ainda ser
reutilizadas posteriormente (TAVARES, 2012). Para efeitos de custos será
considerado o “Compensado Naval de madeira pinos”, o valor varia de R$75,00
(10mm 1600x2200mm) a R$110,00 (15mm 1600x2200mm).
Figura 50: Flexibilidade de formas e
aplicações
Figura 51: Chapas de Madeira
multilaminada
Disponível em http://og.infg.com.br
Acesso em 27/07/2015
Disponível em
http://www.nacionalmadeiras.com.br/images
Acesso em 27/07/2015
2.5.3 Chapa Aço Inox
O aço é amplamente utilizado na construção civil devido a sua flexibilidade
que proporciona multiformas e aplicação variada, seja em fachadas ou como
componente estrutural, podem ainda ser utilizadas em áreas internas ou externas,
secas ou molhadas. Porém as altas temperaturas, necessárias para sua fabricação,
encarem o processo de produção e venda. Entretanto, por serem mais leves, os
elementos metálicos podem reduzir em até 30% o custo das fundações. (INABA,
2015; FERRAZ, 2003)
A pré-fabricação aliada ao processo de soldagem ou parafusamento das
chapas metálicas tornam a instalação rápida, segura e com redução de desperdício
em obras, além de ser resistentes ao fogo. Outra vantagem do material é a
durabilidade extremamente alta e característica 100% reciclável. As chapas
metálicas em aço inoxidável são encontradas no valor de R$440,00 (0,6mm
1210x3000mm) a R$3.130,00 (6mm 1500x3000mm), existe chapas com espessuras
até de 60mm dependendo do fabricante.
59
Figura 52: Chapa Aço Inox
Figura 53: Edificação com chapa aço inox
perfurada
Disponível em
http://catalogo.feital.com.br/Asset/Feital.jpg
Acesso em 27 Jul 2015
Disponível em http://techne.pini.com.br/
Acesso em 25 Jul 2015
2.5.4 Tecido de poliéster e PVC
As principais membranas utilizadas em tensoestruturas são formadas por
poliéster revestidos com policloreto de vinila (PVC). São usados e testados desde a
década de 60 e vem sendo amplamente utilizado devido ao seu baixo custo,
facilidade de manuseamento, propriedades retardante à chama, peso próprio baixo e
são 100% recicláveis. (ROCHA, 2011)
A capacidade de reflexão solar das membranas constitui uma das melhores
alternativas em materiais para toldos em zonas tropicais e áridas, pois refletem cerca
de 75% da energia solar incidente, absorvem 17% e transmitem 13% desta energia.
O conforto térmico e acústico nas tensoestruturas pode ainda ser alcançado por
meio de soluções de projeto, visto que a própria concepção desta tipologia
construtiva sugere formas abertas, sendo a utilização de lanternins tipo chapéu e a
ventilação cruzada os mais conhecidos, além do efeito chaminé, que, em razão da
diferença de pressão atmosférica, provoca um fluxo contínuo e renovação do ar. As
membranas ainda permitem a passagem da luz natural de maneira difusa,
promovendo um ambiente visualmente confortável e com economia de energia.
(FOSTER, 2009 apud MENDONÇA, 2013).
A durabilidade do tecido de PVC é estimada em 10 a 15 anos, porém há
registro de obras ultrapassando os 20 anos de uso. No caso do Politetrafluoretileno
(PTFE) a durabilidade é maior, cerca de 30 anos, porém, além da adição de fibra de
vidro neste tecido tornar a reciclagem do material dificultosa, o preço do PTFE é
cinco vezes maior que o do PVC (HUNTINGTON, 2004 e SON, 2007 apud MÉRIDA;
FANGUEIRO, 2012).
60
Segundo a Fabric Archtecture (2009), empresa conceituada no ramo de tenso
estruturas, o valor do tecido de poliéster revestido com PVC é de 540 a 800 dólares.
Figura 54: Cobertura do Aeroporto de Denver, no Colorado (EUA)
Disponível em http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/30/imagens/i394934.jpg
Acesso em 27 de Jul 2015
Figuras 55: Tipos de tensoestruturas
Fonte: MENDONÇA, 2005 apud MENDONÇA, 2013
2.5.5 Polietileno de Alta Densidade - PEAD
As placas modulares de Polietileno de Alta Densidade – PEAD, são polímeros
plásticos 100% recicláveis, tem durabilidade extremamente alta - considerando que
o plástico leva cem anos para se degradar - e exige um consumo de energia menor
na produção em comparação ao cimento e ao aço. (PARENTE, 2006)
A modulação permite uma construção rápida e sem desperdícios, devido à
estandardização na fabricação, porém, por ser uma estrutura autoportante, o PEAD
não é indicado para construções de mais de um pavimento, além de não ser
61
recomendada a elaboração de placas muito detalhadas, pois o fato de serem feitas
através de moldes pode prejudicar a qualidade desses elementos. A espessura varia
de 1 mm a 30 mm 1000x2000mm a 1000x4000 mm, sob encomenda pode ser feito
placas com 2200mm de largura sem limite de comprimento. (PARENTE, 2006)
Suas Propriedades térmicas mostram-se, através de testes descritos por
Parente (2006), eficientes de acordo com a espessura das placas que podem ter
preenchimento ar na parte interna.
A aplicação deste material está acontecendo de forma gradual, principalmente
na construção de estruturas de caráter temporário como estandes, canteiros de
obras, etc. Estudos e projetos de residências vem acontecendo em menor escala.
Há no Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará uma unidade
residencial feita com painéis de PEAD e instalações hidráulicas e elétricas
executadas aparentes. A unidade não possui revestimentos internos ou externos e
foi desenvolvida pela empresa nomeada Impacto e Protenção, que patenteou a
tecnologia desde 2007.
O processo de obtenção do Certificado da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) teve início em 2009 e possibilitará a
aquisição do imóvel através de financiamentos por órgãos como a Caixa Econômica
Federal.
Figura 56: Casa em PEAD para certificação
Fonte: Impacto e Protenção, 2015
A Impacto e Protenção (2015) também desenvolveu a casa Guamiranga.
Nesta residência as instalações hidráulicas e elétricas foram resolvidas dentro dos
painéis dispostos em duas camadas encaixadas em perfis metálicos. Internamente a
edificação recebeu revestimento de gesso acartonado nas paredes e cerâmica no
piso, conta inclusive com áreas molhadas. No exterior foi aplicado textura
diretamente na placa.
62
A edificação mostra-se promissora, a estandardização dos elementos
construtivos que a compõe torna a montagem rápida e com redução de desperdício.
A montagem e execução dos revestimentos levaram apenas quatro dias. (IMPACTO
E PROTENÇÃO, 2015)
O valor da placa de PEAD varia de R$200,00 (5mm 1000x2000mm) a
R$720,00 (12mm 1000x3000mm).
2.5.6 Considerações - Escolha do material construtivo
Após o estudo dos materiais adequados à aplicação em projetos
emergenciais pode-se fazer uma tabela comparativa para avaliação das principais
características de cada material, com a atribuição de um método avaliativo para
cada item estudado, recebendo o caráter de ruim, bom ou ótimo:
a) Flexibilidade: Verifica versatilidade de uso e aplicação, interior exterior, em
áreas secas e úmidas.
b) Instalação: Verifica se necessita de mão de obra especializada para
construção.
c) Durabilidade: Verifica o tempo de durabilidade do produto.
d) Custo: Verifica o valor de custo do material.
e) Meio Ambiente: Verifica se a construção do material é nociva ao meio
ambiente e se é reciclável ou não.
Tabela 6: Tabela comparativa de materiais para edificações emergenciais
Fonte: Desenvolvido pelo autor
63
Por meio dessa abordagem ficou claro que o material que apresenta maior
flexibilidade é o tecido de poliéster revestido com PVC devido à impermeabilidade e
formas variadas que o material possibilita, porém os outros materiais também
demonstram ser satisfatórios apresentando boa flexibilidade de uso.
Todos os materiais estudados necessitam de certo conhecimento técnico para
execução, porém o sistema macho e fêmea utilizado em painéis de madeira são
mais fáceis de executar. Este material também apresentou índices de custos tão
satisfatórios quanto as Placas Cimentícias, entretanto o cimento gera a maior
quantidade de energia na produção, não é, portanto, sustentavelmente o material
mais adequado, posição ocupada pelas chapas multilaminadas quando utilizadas
madeira de reflorestamento na sua fabricação.
Apesar do custo elevado, as chapas de aço inox e as chapas de PEAD são
mais duráveis que o restante dos materiais.
A utilização de materiais como o alumínio e a madeira requer atenção
especial. Um exemplo de aplicação destes dois materiais é a Guerra Civil que
ocorreu na Ruanda em 1994 e gerou 2 milhões de refugiados. A ONU proveu
abrigos que utilizavam elementos construtivos de madeira, entretanto a demanda
deste material levou ao desflorestamento, um problema ecológico de elevadas
proporções. Na tentativa de amenizar o problema foram fornecidas estruturas de
alumínio, porém o alto valor dos metais no mercado negro levaram os refugiados a
optar pela venda e prosseguir o abate de árvores (PROCIV, 2013, p.5).
Somando-se as características individuais com o cruzamento de dados obtido
pode-se dizer que os painéis de madeira multilaminado são os mais indicados para o
estudo em questão, desde que utilizadas madeira de reflorestamento na sua
fabricação.
2.6 TRANSPORTE PARA HABITAÇÃO EMERGENCIAL
O transporte de edificação emergencial é feito pelo mar ou por via aérea por
meio de contêineres. A embalagem de abrigos desmontados deve se adequar as
medidas dos contêineres conforme ISO 6346:1991.
64
Tabela 7: Dimensões de Contêineres Marítmos
Fonte: CITO,2013 p82
As dimensões dos contêineres para carga aérea (ULDs ou Unidade de
Carregamento) seguem um padrão diferenciado definido pela ITA (International Air
Transport Association).
A largura varia de 1,19m a 3,18m. O comprimento e altura são o mesmo para
todas as unidades: 1,53m e 1,63m respectivamente, conforme tabela 10.
Tabela 8: Dimensões de Contêineres Áéreos
TIPO DE CONTAINER
VOLUME
LD 1
LD 2
LD 3
LD 6
LD 8
LD 11
4,90m²
3,40m²
4,50m²
8,95m²
6,88m²
7,16m²
DIMENSÕES LINEARES
(base/base x
profundidade x altura)
156/234 x 153 x 163
159/156 x 153 x 163
156/201 x 153 x 163
318/407 x 153 x 163
244/318 x 153 x 163
318 x 153 x 163
Disponível em http://patentimages.storage.googleapis.com/WO2013142096A
Acesso em 08/04/2015
2.7 PERFIL DO USUÁRIO
Conforme visto no capítulo 2.3.3 o campo de Zaatari recebe refugiados
principalmente de países vizinhos, onde a cultura Islâmica é presente. Para propor
uma solução arquitetônica adequada é necessário compreender os principais
aspectos da cultura destes usuários.
2.7.1 Aspectos familiares da cultura Árabe
A família árabe é centrada na figura do pai que tem o dever de manter a casa,
por isso é reverenciado e respeitado, na ausência deste o irmão mais velho é que
toma as responsabilidades. A mãe e as filhas são responsáveis pelas tarefas
65
domésticas, o principal papel da mulher é o de criar e educar os filhos, entretanto
ultimamente as mulheres estão conquistando espaço no mercado de trabalho em
todos os países árabes, em alguns deles com algumas restrições. (MOURAD, 2012)
Os negócios geralmente permanecem em família e acontece de forma
paciente, em reuniões é comum se tratado primeiro de assuntos sociais, familiares e
pessoais, para depois tratar do assunto de trabalho específico. (MOURAD, 2012)
A prática adotiva não é permitida, pode-se apenas criar alguém, desde que se
saiba a origem da criança. A preferência pelos filhos homens é nítida, ocorre pelo
fato de eles representarem a continuidade da família e do sobrenome, ao contrário
da mulher que quando casa recebe o sobrenome do marido e passa a pertencer a
ele, assim como seus filhos. Portanto as mulheres solteiras e os homens adeptos ao
celibato não são bem vistos socialmente. Em caso de separação a mulher volta para
casa de seus pais, pois morar sozinha não é aceitável. Se a mulher ficar viúva o filho
mais velho vem morar com ela, ou ela vai morar com o filho, pois não pode dormir
sozinha. (TRUZZI, 2008, p.47; MOURAD, 2012)
A hospitalidade da família árabe é muito conhecida, porem um convidado
deve elaborar as palavras com cuidado ao fazer um elogio, pois pode fazer o
anfitrião se sentir forçado a oferecê-lo o item elogiado, mesmo que tenha um valor
expressivo. (MOURAD, 2012)
2.7.2 Aspectos habitacionais da cultura Árabe
A arquitetura Islâmica teve seu princípio na religião. Baseado no Alcorão (livro
sagrado da cultura) a proibição de representação de animais e figuras humanas
impulsionou a decoração das edificações religiosas com caligrafias e arabescos em
pinturas e nas cerâmicas. Além do uso de painéis talhados em madeira com motivos
geométricos. Elementos que logo tiveram seu uso nas residências. (OPENHEIMER,
2012)
Devido a privacidade as edificações são feitas com paredes grossas para
evitar o barulho do trânsito e projetadas de modo a não permitir visibilidade do
vizinho de qualquer parte.
Só se deve entrar numa residência quando o anfitrião estender a mão em
sinal convidativo. (MOURAD, 2012) As casas muçulmanas são geralmente fechadas
para o exterior e abertas para um pátio central com vegetação (ver figura 57),
66
solução que propicia ventilação necessária para amenizar o calor do clima quente e
seco. As torres de vento (ver figura 57) também são uma invenção da cultura
mulçumana e tem como função resfriar o interior das casas, promovendo a
circulação do ar através da diferença de densidade entre o ar quente e o ar frio,
além de captar o vento quando existente. (RISCH, 2014)
Figura 57: Pátio Central e torres de vento
TORRES DE VENTO
PÁTIO CENTRAL
Disponível em: http://i1.wp.com/viajoteca/wp-content/uploads/2014/04/Costumes-Arabes11.jpg.
Editada pelo autor | Acesso 17/06/2015
A privacidade da mulher mulçumana e a ventilação necessária nos ambientes
contribuíram para o aparecimento de treliças em madeira, comumente conhecida
como “muxarabi”, são utilizadas principalmente nos balcões e divisórias. A medida
que a cultura se expandiu foi incorporado elementos distintos dos povos
conquistados variando de acordo com a região climática e com a disponibilidade de
elementos construtivos do local. (OPENHEIMER, 2012)
A Jordânia tem cerca de 20% de habitantes vivendo em aldeias pequenas
que se mantém por meio da agricultura. Nelas as casas são feitas com materiais
disponíveis no local, com tijolos de pedra ou terra cozida. As aldeias geralmente
tem uma ou mais praças, que funcionam como mercado e palco para realização de
eventos sociais. Uma pequena minoria preserva a cultura Beduína levando uma vida
nômade pastoreando animais acampando em regiões onde há disponibilidade de
recursos. (RISCH, 2014)
A maioria da população vive em residências familiares comuns em cidades
urbanizadas. Prédios de apartamentos grandes têm sido construídos amplamente.
Em Amã na Jordânia, por exemplo, o crescimento populacional transformou a cidade
numa metrópole de mais de 2 milhões de habitantes , com uma densidade de 1.200
habitantes/Km2 (ver figura 59). (RISCH, 2014)
67
Projetos de residências modernas também são executados, porém as
características antigas são mantidas, como o pátio interno, conforme se pode
observar no projeto de Rasem Badran na residência Al-Talhouni (figura 58).
Figura 58: Residência Al-Talhouni, Jordânia
Disponível em:
http://www.intbau.org/archive/Images/Steele/
Badran1.jpg | Acesso em 16/06/2015
Figura 59: Crescimento demográfico em
Amã, Jordânia
Disponível em:
https://geraldoabroad.files.wordpress.com
Acesso em 16/06/2015
2.7.3 Aspectos Educacionais da cultura Árabe
As leis garantem o direito ao ensino tanto para homens quanto para mulheres,
até mesmo para o ensino superior em alguns países. Apesar da participação da
mulher representando quase a metade dos estudantes nas universidades, em
alguns países há restrição a alguns cursos, como o de engenharias. Há escolas
diversas, de uso misto ou por gênero, conforme a escolha dos pais para a educação
de seus filhos. (BALBINO; PÉCORA, 2011)
2.7.4 Aspectos alimentares da cultura Árabe
Álcool, carne suína e seus derivados são proibidos aos muçulmanos. Os
alimentos mais comuns são a carne de carneiro, ervas, especiarias e grãos, além de
chás e outras bebidas que sempre devem ser aceitas quando oferecidas.
(MOURAD, 2012)
Conforme Mourad (2012) durante o mês do Ramadan todos os árabes que já
passaram da puberdade efetuam um jejum de quarenta dias entre o nascer e o por
do sol. Deve ser feita abstinência total de comida e bebida, fumar, usar perfumes e
ter relações sexuais até que este período termine.
68
Os árabes são conhecidos por serem extremamente gentis. Ao convidar
alguém para comer em sua casa servem porções exageradas de comida e mostram
uma preocupação constante com o bem estar do convidado. (MOURAD, 2012)
2.7.5 A mulher árabe
A beleza da mulher árabe não deve ser comentada com outro homem, sendo
ela irmã, filha, esposa ou funcionária, pois não será visto dessa forma. O
comprimento à mulher deve ser efetuado apenas após ela ter a iniciativa de
estender a mão, um aperto de mão é suficiente. Os beijos no rosto como forma de
saudação representam uma amizade consolidada. (MOURAD, 2012)
Em países algumas situações são proibidas a mulher árabe, como jantar com
homens que não sejam parentes, dirigir ou entrar num carro dirigido por outro
homem que não seja seu pai ou esposo (considerado guardiões), morar ou
hospedar-se sozinha, aparecer em público sem cobrir a cabeça, retirar passaporte
sem permissão do guardião, entre outras práticas que devem ser evitadas.
(BALBINO; PÉCORA, 2011)
A maioria das mulheres muçulmanas se veste de acordo com os
ensinamentos do alcorão. As roupas devem cobrir o corpo inteiro, permanecendo
visíveis apenas as mãos e o rosto, não devem ser justa para não marcar o corpo e
nem parecidas com as vestimentas masculinas. A tipologia da roupa pode variar de
região para região, a burca, por exemplo, muito comum no Afeganistão, cobre o
corpo todo, da cabeça aos pés. (CARVALHO; PÉCORA, 2011)
Esta forma de se vestir está relacionada ao cuidado da mulher e da cultura
em mostrar-se apenas para seu marido e para família. É comum as mulheres
estarem mais bem vestidas e adornadas em casa do que na rua. Esta prática
também demonstra a fidelidade e compromisso para com seu esposo e a
valorização da mulher pela cultura. (TRUZZI, 2008, p.49)
2.7.6 O Banho
Barabara Saleh relata no artigo A polêmica do Banho (2008) aspectos
vivenciados por ela na cultura árabe. Saleh (2008) diz que apesar de a religião
muçulmana prever que todas as pessoas sejam asseadas e limpas, os árabes tem
69
apenas o hábito de utilizar um pano úmido ao acordar e não tomam banho
diariamente. Isto se deve ao fato de a maioria das pessoas não utilizarem papel
higiênico ao fazerem suas necessidades fisiológicas, pois acham essa prática antihigiênica, preferem, ao invés disso, lavar completamente as partes íntimas, portanto
um banho diário não é considerado necessário.
Os vasos sanitários não são muito comuns, há uma peça de louça na altura
do chão com um orifício para onde se destinam os dejetos. Na parede há um
chuveirinho para lavagem das partes íntimas, em alguns casos há um dispositivo
para dar a descarga. Os chuveiros são em sua maioria móveis.
A religião diz ainda que toda mulher deve tomar um banho completo ao final de seu
ciclo menstrual e ao ter relações sexuais com seu parceiro. Antes das orações
diárias deve-se sempre estar limpo. O ato de tomar banho nu em frente a outras
pessoas é uma prática ofensiva e mal vista. (SALEH, 2008)
3 ANÁLISE DE CORRELATOS
Para propor uma edificação emergencial temporária adequada é necessário
entender e analisar edificações da mesma tipologia.
O estudo de correlato permite identificar deficiências e potencialidades dos
projetos em questão, fazer comparativos, verificar as premissas relacionadas a
forma, dimensão, funcionalidade, conforto térmico, entre outras soluções aplicadas
nas edificações que possam contribuir para uma nova proposta.
Os abrigos emergenciais selecionados para estudo são: Protótipo Puertas;
Abrigo Uber e Eco Abrigo.
3.1 PROTÓTIPO PUERTAS
O protótipo Puetas é o resultado de um estudo feito pelo escritório de
arquitetura Cubo (Pelayo Fernandez, Soffia Daniel, Nicolas Venegas, Orientados por
Contreras R.Salim.) em parceria com a Universidade Central do Chile. Foi projetado
em 2005 e produzido entre 2005 e 2006. O objetivo era desenvolver uma edificação
emergencial para 4 a 6 pessoas com materiais que pudessem ser facilmente
encontrados em materiais de construção locais e tivessem baixo custo.
70
3.1.1 Análise da Implantação
Por se tratar de um protótipo a edificação não foi utilizada em uma situação
real, porém a sua base formada por pallets e o modelo produzido e instalado na
Universidade do Chile (ver figura 60) mostram uma implantação ideal apenas para
terrenos planos. Ao configurar um acampamento de desabrigados, o agrupamento
linear deste modelo de habitação contaria com um corredor de ventilação a mais,
resultado da varanda aberta que une dois blocos separados (ver figura 61).
Figura 60: Protótipo construído
Figura 61: Varanda Central
Fonte: GARCIA, 2010
Fonte: GARCIA, 2010
3.1.2 Análise do Projeto
A varanda central une o bloco social, composto por um estar/cozinha, e o
bloco íntimo, composto pela área dos dormitórios. Há a possibilidade de extensão da
unidade nas extremidades, compondo um dormitório a mais e um banheiro,
conforme a necessidade do usuário e local de implantação.
As portas nas duas extremidades de todos os ambientes permitem um
controle maior da permeabilidade e exposição pelo morador. Toda edificação é
dotada de uma cobertura independente que dá unidade ao conjunto. A habitação
tem 14m² e vida útil de 3 meses.
71
Figura 62: Planta baixa
Dormitório
7,07m²
acesso
Estar
7,07m²
Fonte: GARCIA, 2010
Figura 63: Organograma
Fonte: Desenvolvido pelo Autor
3.1.3 Análise dos materiais construtivos
Seguindo as premissas projetuais, os materiais utilizados são encontrados
facilmente. A base é feita de pallets de madeira, os pisos e paredes de placas OSB
(painel estrutural de tiras de madeira orientadas perpendicularmente, em diversas
camadas, não é resistente a água), portas de madeira pinus e cobertura em lona
plástica com perfil de aço. As aberturas de janelas, do chão ao teto, tem vedação em
plástico bolha. O sistema de montagem é simplificado e rápido. Pode ocorrer em 8
horas por sete pessoas.
Figura 64: Janela com plástico bolha
Fonte: GARCIA, 2010
72
Figura 65: Placas OSB
Fonte: GARCIA, 2010
3.1.4 Análise do conforto térmico e lumínico
A cobertura afastada da edificação cria um fluxo contínuo de ar e dessa forma
contribui com o resfriamento do calor na parte superior da habitação. Mecanismos
de reaproveitamento da água da chuva foram dispostos na cobertura e conduzem a
água para uma miniestação inferior. Estes fatores são ideais para o clima chileno.
Figura 66: Condutores de água na cobertura
Fonte: GARCIA, 2010
73
Figura 67: Condutores de água na
cobertura
Fonte: GARCIA, 2010
Figura 68: Ventilação superior
Fonte: GARCIA, 2010
As janelas do chão ao teto aumentam a área interior iluminada, porém são
fixas e não possibilitam o fluxo de ar interno quando as portas estão fechadas.
3.1.5 Análise do Custo
O custo final do projeto foi estimado em R$1.230,00, um valor considerado
baixo, entretanto, o tempo de permanência do abrigo é curto (3 meses), o que tornase um problema para edificações emergenciais, pois o tempo de permanência em
habitações temporárias são superiores ao tempo de durabilidade da proposta
construtiva em questão.
3.2 ABRIGO UBER
Criado por Rafael Smith, o Abrigo Uber teve destaque em uma coluna do
jornal The New York Times no ano de 2009. Ele é feito, em sua maioria, de materiais
recicláveis. Sua característica desmontável o torna facilmente transportável,
podendo ser montado com poucas ferramentas e poucas pessoas.
O abrigo é armazenado de forma plana, todas as peças do conjunto
permanecem agrupadas para montagem no local de destino.
3.2.1 Análise da Implantação
Não foi encontrada informações sobre a implantação do projeto, porém o
autor do projeto demonstra como o abrigo pode se comportar em um acampamento
74
através de imagens esquemáticas (ver figura 69). As habitações ficam lado a lado
com um espaçamento de aproximadamente 1 metro.
Figura 69: Implantação em assentamentos
Disponível em Tuvie.com, 2012 | Acesso: 02/04/2015
O Abrigo Uber é equipado com pernas telescópio que se se estendem e
tomam diversas alturas, tornando o módulo flexível e adaptável a terrenos
acidentados.
Figura 70: Pernas telescópio
Disponível em Tuvie.com, 2012
Acesso: 02/04/2015
3.2.2 Análise do Projeto
O abrigo possui dois pavimentos com dimensão 4,00m x 2,00m cada,
resultando em uma habitação com 16m². O pavimento térreo conta com acesso por
uma varanda que dá diretamente num dormitório. O acesso ao pavimento superior
ocorre por uma escada lateral, a distribuição dos espaços acontece da mesma forma
que o pavimento térreo, porém no superior a varanda é semicoberta, configurando
um local para refeições. Em seguida há mais um dormitório.
75
Com base nas informações obtidas e imagens esquemáticas foi desenvolvido
as plantas baixas esquemáticas, corte e organograma para melhor entendimento.
Figura 71: Planta baixa e corte
Dorm.
4m²
Varanda
4m²
Planta Baixa esquemática pvnto térreo
projeção cobertura
Varanda
(Coz)
4m²
Dorm.
4m²
Planta Baixa esquemática pvnto superior
LEGENDA
Acesso
Apoio para tela de proteção/toldo
Projeção cobertura/toldo
Janela com vedação em tela
Varanda com vedação em tela
Corte AA
Fonte: Desenvolvido pelo autor
Figura 72: Organograma
Fonte: Desenvolvido pelo autor
O abrigo Uber é armazenado de forma plana, todas as peças do conjunto
permanecem agrupadas para montagem no local de destino. A edificação pode ser
desmontada e remontada em outro local.
76
Figura 73: Esquema de montagem
Disponível em Tuvie.com, 2012. Acesso: 02/04/2015, modificado pelo autor
3.2.3 Análise dos materiais construtivos e tecnologia
Foi desenvolvido com peças pré-fabricadas de alumínio e piso em madeira,
tela contra intempéries e lona plástica que envolve toda a estrutura.
As peças possuem detalhamentos que tornam o processo construtivo lento e
com alto investimento, entretanto a possibilidade de produção em larga escala é
uma vantagem a ser considerada. Observa-se ainda que a grande quantidade de
peças metálicas demanda conhecimentos específicos para montagem, sendo
necessário quatro pessoas para realizar este procedimento que dura cerca de 6
horas ou mais.
Dependendo do meio de inserção, a edificação pode receber anexos com
capacidade de eletricidade para a luz, fogão compacto e frigorífico, além da
utilização de dois painéis solares para gerar eletricidade.
Figura 74: Sistemas adicionais
Disponível em Tuvie.com, 2012. Acesso: 02/04/2015, modificado pelo autor
77
3.2.4 Análise do conforto térmico e lumínico
O abrigo possui diversas aberturas que garante boa luminosidade e
ventilação constante. Isto pode configurar um grave problema num clima frio, pois o
calor não permanece no interior da edificação, visto que não há como vedar
totalmente as janelas que contém tela de proteção contra intempéries.
3.2.5 Análise do Custo
Não há informação de custo da edificação. Porém devido a utilização de
materiais como alumínio que possui valor de mercado considerado alto e ao
detalhamento das peças que compõe a moradia, considera-se um custo total
elevado.
3.3 ECO ABRIGO
O Eco Abrigo, desenvolvido pela arquiteta jordaniana Abeer Seikaly, teve
inspiração no nomadismo, nas técnicas da cestaria tradicional do oriente médio e na
pele de cobra. Sua concepção foi a vencedora do 2013 Lexus Design Awards como
reconhecimento por sua plasticidade e funcionalidade.
Figura 75: Imagem esquemática
Figura 76: Imagem esquemática
Disponível em http://eluxemagazine.com/
Acesso em 06/04/2015
Disponível em http://eluxemagazine.com/
Acesso em 06/04/2015
3.3.1 Análise da Implantação
Este abrigo foi projetado para o oriente médio, portanto seu partido
arquitetônico foi pensado para inserção num clima quente e seco. Não foi
78
encontrada informações sobre a implantação, porém as imagens esquemáticas
mostram uma disposição que não segue parâmetros ou distanciamentos específicos
na elaboração de um assentamento.
3.3.2 Análise do Projeto
O Abrigo configura um único espaço circular com 5,00m de diâmetro e 2,40m
de altura. A forma garante a expansibilidade do módulo que diminui de tamanho
girando em torno de um eixo central, sem prejudicar sua estabilidade,
A edificação resiste às cargas de compressão e tensão, isto devido a sua
estrutura sinuosa, envolta por duas camadas de tecido, por onde passam os tubos
para água e cabos de energia.
Figura 77: Organograma e Planta Baixa
LEGENDA
ABRIGO
Misto
Ac
ess
o
acesso
principal
Figura 78: Imagem esquemática
VENTILAÇÃO
Planta Baixa esquemática pvnto térreo
Disponível em http://eluxemagazine.com/ |
Acesso em 06/04/2015
Fonte: Desenvolvido pelo autor
3.3.3 Análise dos materiais construtivos e tecnologia
A estrutura é composta de plástico resistente e um tecido com duas camadas,
a unidade formada é flexível e seu grau de giro pode tomar formas distintas sem
prejudicar a integridade estrutural.
Na
cobertura
da
tenda
há um
pequeno
tanque responsável pelo
armazenamento de água da chuva coletado através de um sistema de escoamento
disposto em toda a estrutura, função que pode ser aproveitada para banho ou para
consumo, desde que a água seja tratada.
.
79
Figura 79: Suprimento de água e energia elétrica
reservatório
de água
radiação solar
radiação solar
Energia
elétrica
Bolsos para
pertences
fonte de água
externa
bateria para armazenamento
de energia
Disponível em http://eluxemagazine.com/ | Acesso em 06/04/2015
A diferença do projeto desenvolvido por Abeer consiste no suprimento de
água e energia elétrica particularmente, Isto se dá através de células fotovoltaicas
que geram eletricidade a partir da incidência do sol, localizadas em uma parte do
tecido. A energia gerada fica guardada em uma bateria sob o módulo.
Figura 80: Células fotovoltaicas no tecido
Radiação solar
Conversor
membrana
receptora
Bateria
Inversor
Disponível em http://eluxemagazine.com/ | Acesso em 06/04/2015
3.3.4 Analise do conforto térmico e lumínico
Podem ser feito diversas aberturas em diferentes locais do módulo para criar,
através do efeito chaminé, um fluxo de ar contínuo, ou no caso de invernos rigorosos
e chuvas, manter o modulo totalmente fechado para armazenar o calor interno.
80
Figura 81: Sistema de Aberturas
Disponível em http://eluxemagazine.com/ | Acesso em 06/04/2015
3.3.5 Análise do Custo
Não há informação de custo da edificação, porém devido a utilização de alta
tecnologia no processo construtivo e aplicação de tecnologias específicas se conclui
que o custo é elevado.
3.4 ANÁLISE E DISCUSSÃO
A partir dos estudos efetuados podem-se organizar os dados em uma tabela
para comparação dos resultados obtidos e verificar as potencialidades e deficiências
a serem consideradas ou evitadas no partido arquitetônico a ser desenvolvido.
Tabela 9: Análise comparativa de correlatos
81
Fonte: Produzido pelo autor
O protótipo Puertas e o Eco abrigo estão adequados ao local de inserção
proposto, não foi encontradas informações sobre o local de inserção do Abrigo Uber,
portanto não há como avaliar este fator.
Todos os três abrigos projetados foram pensados para uma família de 4 à 6
pessoas, porém o Protótipo Puertas possui projeto arquitetônico mais flexível que os
demais, pode-se aumentar a unidade conforme necessidade da família, anexando
um quarto a mais e um banheiro completo numa área menor que os outros abrigos
estudados: 14,20m². Ainda considerando o programa de necessidades em relação à
área, o Eco Abrigo possui um espaço mais amplo, porém sem divisão de ambientes
e sem setorização (social, íntimo, serviço, etc.). Observa-se ainda que o acesso ao
pavimento superior no Abrigo Uber não tem controle de abertura e é distante do
acesso principal inferior, diminuindo a sensação de segurança na habitação.
Os materiais utilizados na construção do Protótipo Puertas tornam o processo
construtivo mais rápido e com custo inferior aos outros protótipos, a montagem
consiste no encaixe de peças pré-fabricadas utilizando poucos parafusos. A
edificação é composta de placas de OBS, madeira pinus, pallets de madeira,
plástico bolha e lona, materiais facilmente encontrados, entretanto este abrigo é feito
pra durar apenas 3 meses.
O alumínio utilizado no Abrigo Uber tem durabilidade alta, porém a grande
quantidade peças pré-fabricadas demanda conhecimento técnico na montagem do
82
abrigo, processo que se torna demorado e pouco viável dependendo do local de
implantação. Por outro lado à montagem do Eco Abrigo é simples e funcional, o
plástico durável e tecido com células fotovoltaicas aplicados no processo construtivo
tem durabilidade alta, porém valor igualmente elevado devido à alta tecnologia
aplicada na produtividade e aspecto formal resultante, solução que também é
relativa ao local de inserção, visto que os valores aplicados em uma solução
temporária poderiam ser aplicados na construção de residências permanentes.
A grande quantidade de portas e a cobertura independente tornam o Protótipo
Puertas termicamente confortável, entretanto quando as portas estão fechadas o
calor interno não tem por onde sair, pois as janelas em plástico bolha são fixas. O
Eco abrigo mostra-se superior aos demais, possui controle nas diversas aberturas e
tecido duplo que diminui o calor interno. A grande quantidade de janelas do Abrigo
Uber não possui vedação total, o que configura um problema principalmente em
climas frios, pois o abrigo não armazena o calor interno. Outro problema encontrado
no abrigo Uber é a lona de vedação em uma camada simples que não é ideal para
climas quentes, pois a baixa massa térmica não impede o calor de entrar na
edificação.
Os projetos estudados foram escolhidos pela riqueza de informações que
contribuirão para gerar uma nova proposta, porém não foi encontrado informações
da implantação das unidades, portanto não há como avaliar este aspecto. Entretanto
esta análise é de grande importância, por isso se faz necessário analisar casos de
implantação em particular para identificar as potencialidade e deficiências a serem
consideradas ou evitadas, foi então selecionado o abrigo EXO Casa e o
Acampamento de Refugiados de Khazir, no Iraque, conforme a seguir.
3.4.1 Abrigo EXO Casa - Análise de Implantação
O EXO Casa é uma ideia originalmente de Michael McDaniel, foi concebida
em 2005 nos Estados Unidos. O módulo tecnológico, pensado para uma família de
quatro pessoas, é feito em PVC com durabilidade de 5 a 10 anos, ou em alumínio.
Possui porta com tranca digital, luzes de led no interior, duas tomadas e quatro
aparelhos de ventilação mecânica e não tem janelas para ventilação natural.
83
Figura 82: Imagens Esquemáticas
Disponível em http://www.reactionhousing.com/exo | Acesso em 11 de ago
A base tem 6,70m² e tamanho de 2,90m x 2,60m, com altura de 2,70m. É
montado em duas partes, a parte superior pesa 170kg e a base 147kg que pode
ainda ser preenchida com areia para aumentar a aderência ao solo, somando 317kg
o total.
A EXO Casa tem como proposta ser adaptável a qualquer lugar, porém o
clima local interfere muito na concepção de um projeto arquitetônico, é o agente que
define a inércia térmica do material construtivo, a quantidade e tamanho das
aberturas, necessidade de sombreamento ou não, entre outros fatores que
contribuem para uma bioarquitetura e sustentabilidade que diminuem a quantidade
de energia utilizada em um projeto (LAMBERS, 2014).
Observa-se ainda que num momento pós-catástrofe ou num acampamento
para refugiados pode não haver suprimento e disponibilidade de energia elétrica,
além de sua concepção não atender à um grupo específico de pessoas, pois não foi
pensado na cultura, nos hábitos e costumes do provável usuário, portanto pode não
ser aceitável ou não se adaptar a um determinado grupo de pessoas.
A flexibilidade é um ponto positivo desta proposta, a implantação pode seguir
diversos padrões, conforme local de inserção: Implantação linear, implantação
agrupada ou implantação radial.
a) Implantação linear: Não segue nenhum distanciamento entre as unidades.
84
Figura 83: Implantação Linear
Disponível em http://www.reactionhousing.com/exo | Acesso em 11 de ago
b) Implantação agrupada: Módulo pode conectar-se uns aos outros para
aumentar a unidade padrão e agregar ambientes como mais um quarto, cozinha,
etc. apesar de que não há tubulação de esgoto ou água nas unidades. O
agrupamento pode ainda modificar a função do espaço, tornando-o, por exemplo,
uma enfermaria, etc.
Figura 84: Implantação agrupada
Disponível em http://www.reactionhousing.com/exo | Acesso em 11 de ago
c) Implantação Radial: Este método cria pequenas comunidades em torno de
um eixo central, melhorando a relação de vizinhança, entretanto deve-se tomar
cuidado quanto à ventilação nos abrigos, pois nesta disposição cria uma barreira
para o vento que não entra no interior do grupo.
85
Figura 85: Implantação Radial
Disponível em http://www.reactionhousing.com/exo | Acesso em 11 de ago
O agrupamento radial de várias comunidades pode ainda criar espaços sem
função e sem dono, conforme visto no capítulo 2.4, as chamadas “terra de ninguém”.
Figura 86: Terra de Ninguém
Fonte: ELEMENTAL, 2010, p.02
A imagem esquemática da implantação (ver figura 87) mostra uma simulação
pós-catástrofe, onde os abrigos foram dispostos em forma radial totalizando 1000
unidades, resultando num acampamento de 4000 pessoas. Contudo não foi
identificada nenhuma unidade ou qualquer outra construção com tipologia adequada
para prestação de serviços assistenciais essenciais, como distribuição de alimentos,
administração, espaços para lazer ou mesmo instalações sanitárias para banho e
necessidades fisiológicas. O que torna inviável a simulação mostrada na imagem.
86
Figura 87: Implantação Radial
Disponível em http://www.reactionhousing.com/exo | Acesso em 11 de ago
O grande número de edificações demanda um consumo de energia muito alto
para funcionamento, a implantação deve contar ainda com pontos de energia, visto
que não há ventilação natural nos abrigos, tal solução apenas se dá mantendo-se a
porta aberta, o que elimina a privacidade, elemento que segundo Anders (2007) é
um dos principais requisitos para uma forma de moradia digna.
3.4.2 Acampamento de Khazir, Iraque – Análise de Implantação
O acampamento de Khazir abriga mais de 5.000 refugiados em barracas de
lona, algumas delas comportando famílias de 15 pessoas.
Figura 88: Terra de Ninguém
Fonte: UNAMI, 2014
87
A implantação das habitações segue o modelo linear, com distanciamento
entre barracas de aproximadamente 3,00m. Os pontos de água e BWC estão
distribuídos ao longo do campo, porém algumas tendas ainda permanecem longe
destes serviços.
Há um espaço para lazer dedicado às crianças, não foi encontradas
informações sobre a tipologia deste local, apenas sua localização praticamente
centralizada no acampamento.
As edificações assistenciais e administrativas localizam linearmente à via de
acesso, isto facilita o recebimento de produtos e suprimentos que chegam ao local e
centraliza o setor de prestação de serviços. Percebe-se ainda que o crescimento do
acampamento acontece de forma paralela a linearidade dessas edificações, o que
mantém uma distância igualitária entre as unidades habitacionais e este setor.
Figura 89: Implantação Acampamento de Khazir
Fonte: UNHCR, 2014
88
As barracas possuem acesso voltado para a rua, o que segundo Elemental
(2010) não é o ideal, pois cria os espaços sem dono nas laterais do abrigo que
acabam virando acúmulo de lixo ou tornam-se mal cuidados, pois os moradores não
se apropriam dessas porções de terra, situação perceptível no acampamento de
Khazir, conforme figura 90 a seguir.
Figura 90: Espaços sem apropriação
Fonte: UNAMI, 2014
4 PROPOSTA
O abrigo projetado será hipoteticamente utilizado no Acampamento de
Zaatari, na Jordânia, pois segundo os estudos efetuados é um dos lugares que mais
necessita de intervenção e assistência para moradias. Sua localização estratégica o
caracteriza como um ponto de convergência de refugiados de países vizinhos.
No local a UNHCR não consegue suprir a quantidade de moradias
necessárias para o crescente número de habitantes que superlotaram o
acampamento, hoje representam aproximadamente 80 mil moradores, número que
já chegou a 130 mil em 2014. A diminuição deve-se ao grande número de refugiados
que voltaram para seu país de origem e ao encaminhamento de refugiados para o
novo Acampamento de Azrac.
A proposta consiste em definir uma área para implantação das habitações e
possível substituição gradual das barracas já existentes locadas no acampamento.
89
4.1 TERRENO - ÁREA DE INTERVENÇÃO
Zaatari localiza-se na região de Mafraq numa altitude de 686m. Fica 80km da
capital Amã, 10km da cidade de Al Mafraq e há 12km da fronteira com a Síria. A
região tem característica desértica e solo barrento e com pouca vegetação, porém
há o cultivo de hortaliças por alguns moradores do acampamento.
Conforme Zaatari cresce o solo é coberto com cascalhos pequenos para
melhorar a mobilidade e implantação das edificações. (UNHCR, 2012)
Figura 91: Localização de Zaatari
Síria
Egito
Mafraq
10k
m
JORDÂNIA
12
km
Iraque
Acampamento
de Zaatari
Fonte: http://www.globalresearch.ca | Acesso em 02/06/2015
4.2.1 Clima no Acampamento de Zaatari - Mafraq, Jordânia
Para adequação ao ambiente, o abrigo deve se adaptar ao clima da região
classificado como Quente e Seco. (CLIMATE, 2015)
A temperatura média anual é de 17,6°C, sendo Junho o mês mais seco com 0
mm de precipitação de chuvas, enquanto os meses de maior precipitação são
dezembro, janeiro e fevereiro, podendo ocorrer uma média de dez tempestades em
cada mês. A pluviosidade anual é de aproximadamente 350mm. (UNHCR, 2012;
CLIMATE, 2015)
Ao longo do ano a temperatura é mais baixa. Agosto é o mês mais quente
com uma temperatura média de 26 °C. Janeiro tem uma temperatura média de
7.8°C. (CLIMATE, 2015)
90
relativo à umidade
temperatura/precipitação/dias secos/luz do sol
velocidade do vento/geada
Figura 92: Gráfico Climático
Temp mín. (C º)
Tem med. (C º)
Dias secos (>0.1mm)
Velocidade média do vento
Humidade relativa (%)
Temp máx. (C º)
Precipitação (cm)
Média de Horas de sol por dia
Dias com geada
Fonte: Climatetemp.info apud UNHCR, 2012, tradução livre
Figura 93: Carta Solar – Amã, Jordânia
Disponível em http://www.gaisma.com, tradução livre
Conforme a carta solar infere-se que, por se localizar no hemisfério Norte a
trajetória do sol causa uma maior insolação na fachada sul. No equinócio de Junho a
fachada norte recebe sol até as 10 da manhã, horário que diminui a partir de então
até o Equinócio de Março (primavera) quando o sol não incide em nenhum momento
na fachada norte. O sol volta a atingir a fachada norte após o equinócio de setembro
(outono).
91
4.2.2 Drenagem natural do terreno no Acampamento de Zaatari
A maior diferença entre o ponto mais alto à Nordeste e o ponto mais baixo à
Sudoeste é de 14 metros, a drenagem da água pluvial ocorre neste mesmo sentido,
de Nordeste para Sudoeste. (UNHCR, 2012)
4.2.3 Direção dos ventos no Acampamento de Zaatari
Ventos fortes nomeados Khamaseen Sudeste ocorrem entre os meses de
março e maio e são acompanhados de tempestades. O segundo vento mais forte
ocorre por alguns dias entre junho e setembro, é nomeado Shamal Nordeste. Nos
outros meses os ventos tem velocidade média e ocorrem constantemente, com
execessão dos períodos de inverno. A predominância é dos ventos Oeste e
Noroeste, conforme a figura 94. (UNHCR, 2012)
Figura 94: Ventos Predominantes
Fonte: Weather Online, 2015
4.2.4 Escolha da Área de Intervenção
Para definir a área de intervenção é necessário verificar os mapas de densidade
demográfica, identificar as regiões mais seguras (sem alagamentos, enlameadas,
etc) e verificar a proximidade aos equipamentos de infraestrutura.
a) Densidade demográfica: É importante definir uma área de menor
adensamento para implantação de abrigos, pois o reordenamento da localização e
disposição das edificações existentes na área escolhida pode gerar um número
maior de abrigos do que o existente anteriormente no mesmo local, desta forma
pode-se realojar refugiados moradores de locais com densidade muito elevada,
92
desde que sejam mantidas as relações de vizinhanças principais, fator sociológico
importante segundo Anders (2007).
As áreas marcadas em vermelho no mapa mostram vazios urbanos potenciais
para intervenção e implantação de abrigos.
Figura 95: Mapa de Densidade
Fonte: UNHCR, 2014,modificado pelo autor
b) Áreas de Risco: Zaatari também enfrenta problemas relacionados à
desastres naturais, recentemente duas tempestades causaram danos em diversos
abrigos espalhados pelo acampamento, em Janeiro de 2015 e Fevereiro de 2015.
Os ventos e chuvas fortes deixaram áreas enlameadas e causaram inundações em
ruas e em abrigos, dificultando a chegada de suprimentos e assistência.
Diversas agências humanitárias mapearam os danos para facilitar na
manutenção e reparo dos estragos. A tempestade ocorrida em Janeiro causou
menos danos e tem uma pequena área mapeada, portanto o mapa gerado pelos
estragos causados pela tempestade Jana, em Fevereiro de 2015, mostra com maior
abrangência as áreas de risco e áreas que não foram atingidas pelas tempestades.
Foi anexado ao mapa as áreas menos adensadas que não foram atingidas
pela inundação e pela lama, considerados locais seguros para implantação de novos
abrigos. Restaram apenas duas áreas aptas para intervenção, nomeadas no mapa
93
como Área 01 e Área 02 (ver figura 96), os estudos subsequentes concentram-se
apenas nesses dois locais.
Figura 96: Mapa de danos causados pela Tempestade Jana em Fevereiro de 2015
área 02
área 01
LEGENDA
Acesso Bloqueado
Área de menor adensamento e
Estrada Bloqueada
não atingida por inundação e lama
Abrigo danificado
área inundada
Área enlameada
Edif. Assistêncial danificada
Fonte: UNHCR, 2015,modificado pelo autor
c) Infraestrutura Área 01: Devido à centralidade da localização desta área, ela
está próxima aos principais serviços prestados no acampamento, como hospitais,
clínicas, escola, centros comunitários e playground. Há 4 pontos de água mais
próximos e 4 equipamentos denominados “WASH” (edificações que dispõe de
chuveiros e vasos sanitários no estilo oriental) próximos a área. O ponto de
distribuição de alimentos não está localizado no mapa, pois fica há 800m de
distancia da área em estudo.
94
Figura 97: Equipamentos e serviços próximos à Área 01
LEGENDA
Área 01
.Saúde
Educação
Lazer
Centro Comunitário
Centro Juvenil
Escritório Adm
Escritório de Atendimento
Serviço
BWC
Ponto de água
Cozinha Comunitária
Fonte: UNHCR, 2014, modificado pelo autor
d) Infraestrutura Área 02: Está próximo à uma escola, centro comunitário,
mercado, áreas de lazer, jardins de infância e há 300m de um ponto de distribuição
de alimentos. Há 7 WASH próximos a área e 4 pontos de água mais acessíveis.
Figura 98: Equipamentos e serviços próximos à Área 01
LEGENDA
ÁREA 02
Saúde
Educação
Lazer
Centro de Distribuição de
alimentos
Jardim de Infancia
Centro Comunitário
Centro Juvenil
Comércio
Centro Policial
Serviço
BWC
Ponto de Água
Cozinha Comunitária
Fonte: UNHCR, 2014, modificado pelo autor
e) Topografia Área 01: Não existe dado oficial sobre a topografia do
Acampamento de Zaatari, porém ao observar as imagens de satélite percebe-se o
escoamento da água gerada pelos esgotos dos abrigos em dois sentidos principais:
95
Noroeste Sudeste e Nordeste Sudoeste. Este comportamento indica uma depressão
no terreno, caracterizando uma área alagável indicada na figura 99.
Desta forma se conclui que a baixa densidade demográfica nesta área é
devido a topografia acidentada e pela existência de uma grande quantidade de
esgotos a céu aberto neste local, que foram construídos pelos próprios refugiados
de maneira informal.
Figura 99: Estudo Topográfico Área 01
Fonte: Google Maps, 2015, modificado pelo autor
f) Topografia Área 02: A análise das imagens de satélite indica uma região
plana, pois a água escorre em sentido Norte Sul e Nordeste Sudoeste, sem
atravessar a Área 02.
Figura 100: Estudo Topográfico Área 02
Fonte: Google Maps, 2015, modificado pelo autor
96
4.2.5 Considerações – Escolha do Terreno
A tabela 10 mostra que a Área 02 possui uma melhor avaliação em diversos
aspectos. Destaca-se principalmente pela topografia plana e por não haver
necessidade de relocar abrigos existentes, pois se trata de uma área sem
construções, demonstrando ser a área ideal para implantação de novos abrigos
principalmente ao sul que fica mais próximo aos equipamentos de infraestrutura,
sendo esta a localidade escolhida para atender os objetivos dessa pesquisa.
Tabela 10: Tabela comparativa de materiais para edificações emergenciais
Fonte: Desenvolvido pelo autor
Figura 101: Terreno e entorno imediato
Fonte: Desenvolvido pelo autor
97
4.1 DIRETRIZES DA PROPOSTA
A fundamentação teórica e o estudo de correlatos demonstram alguns
aspectos que devem ser levados em consideração na concepção de uma proposta
de habitação emergencial para Zaatari, são elas:
4.1.1 Implantação
A implantação deve respeitar um distanciamento médio de 3,00m entre cada
unidade (no máximo 8 à 12 unidades por comunidade), porém devem estar mais
agrupadas possível, a fim de fazerem sombras umas nas outras, conforme indicação
de Lambers et al (2014) para o clima quente e seco.
A implantação deve impedir a infiltração dos ventos predominantes e seguir
disposição leste oeste (LAMBERS et al, 2014) e respeitar dimensionamento para
equipamentos assistenciais propostos por Elemental (2010), arranjados de forma
centralizada no campo de modo que os moradores possam percorrer a menor
distância possível.
4.1.2 Projeto arquitetônico
Cada unidade deve ter dimensionamento mínimo de 3,50m² por pessoa e
comportar uma família (4 a 6 pessoas). (ONU, 2007)
O projeto arquitetônico deve prever privacidade e setorização dos ambientes,
pequenas aberturas sombreadas para diminuir a ventilação no interior da edificação,
pois a temperatura interna tende a ser menor que a temperatura externa durante o
dia, e a ventilação comprometeria essa relação, visto que o vento proveniente é
quente e carrega uma grade quantidade de poeira e detritos. (LAMBERS et al, 2014)
A edificação proposta deve estar de acordo com a cultura e perfil do usuário.
Se possível os pátios internos presentes nas edificações árabes comuns devem ser
previstos
na
habitação
emergencial,
pois
além
da
solução
térmica
que
desempenham, os pátios são elementos de identidade cultural, ou seja, resultará em
apropriação do espaço construído, mesmo que temporariamente.
A facilidade na montagem é um elemento que deve ser pensado, pois os
próprios moradores do acampamento é quem montarão as habitações, afim de não
98
ficarem com todo o tempo ocioso (ANDERS, 2007). A rapidez e facilidade técnica na
montagem facilita a vida do refugiado e pode melhorar toda a gestão do
acampamento.
O volume deve ser compacto quando desmontado para facilitar o transporte e
diminuir o consumo de energia utilizado na locomoção.
4.1.3 Material Construtivo
A composição do abrigo deve ser feita em material com baixo impacto
ecológico, com possibilidade de reuso ou reciclagem, de custo baixo, compatível
com a realidade local e ter alta durabilidade, visto que 63% dos refugiados estão
morando em Zaatari há mais de dois anos. (UNHCR, 2015, p.03).
Para atender estas expectativas a madeira havia sido selecionada no capítulo
2.5.6, porém ao estudar o clima local percebeu-se que este material não
corresponde adequadamente, pois o clima quente e seco da região demanda um
material construtivo com alta inércia térmica, pois dessa forma o calor leva mais
tempo pra atingir o interior da edificação, relação que acontecerá em maior parte no
período da noite, quando a temperatura cai bruscamente.
Conforme o estudo de materiais e análises de correlato se percebe que o
alumínio é o material que corresponderá adequadamente ao clima local e
expectativas projetuais. É um material flexível, possibilita formas variáveis, é
sustentável, tem durabilidade extremamente alta e é 100% reciclável.
4.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO
Figura 102: Programa de Necessidades e Pré-Dimensionamento para acampamento
SETOR
Serviço
Lazer
AMBIENTE
ATIVIDADE
ÁREA QTDE
THE UN
REFUGEE
AGENCY, 2007
Ponto de
distribuição de água
fonte de água para
comunidade
5
1 por comunidade
(16 famílias, 80-100
pessoas)
Ponto de
distribuição de
energia
fonte de energia elétrica
para comunidade, ligada
à uma rede externa
-
-
espaço público e
espaços abertos
atividades de lazer
1170m² 1560m²
15 à 20% da área
total do
acampamento
99
Infraestrutura
vias e calçamentos
1560m² 1950m²
circulação
20 à 25% da área
total do
acampamento
*proporções resultantes da área do terreno de 7800m² e do número de 76 famílias abrigadas (456 à 720 pessoas)
Fonte: Produzido pelo autor
Figura 103: Programa de Necessidades e Pré-Dimensionamento para módulo
SETOR
AMBIENTE
ATIVIDADE
MOBILIÁRIO
ÁREA
Social
Estar/Jantar
(reversível*)
Receber vizinhos, assistir
televisão, cozinhar, se
alimentar
Tapetes, almofadas,
apoio paraTV, fogão
portátil, pia, armários
4,00m²
Serviço
BWC
Higiêne, necessidades
fisiológicas
chuveiro, pia, vaso
sanitário, chuveirinho
2,00m²
Dormitório Casal
Dormir, armazenar roupas
Cama de casal
6,00m²
Dormitório Filhos
Dormir, armazenar roupas
Duas camas de
solteiro, ou beliche
6,00m²
Íntimo
*ambiente pode tomar função de dormitório utilizando colchonetes
18,00m²
Fonte: Produzido pelo autor
4.3 ORGANOGRAMA E FLUXOGRAMA
Figura 104: Organograma
Fonte: Desenvolvido pelo Autor
Figura 105: Fluxograma
Fonte: Desenvolvido pelo Autor
4.4 CONCEITO E PARTIDO
Para atender as diretrizes projetuais a palavra de ordem é “Identidade”.
100
O usuário deve identificar-se com seu lar temporário, desta forma se sentirá
confortável e seguro enquanto a situação em seu local de origem não é
regularizada. Para tanto o partido adotado deve permiti-lo que manifeste sua cultura
e seus costumes. Pátios, jardins e hortas para cuidado e manutenção, equipamentos
sanitários árabes, são alguns dos elementos arquitetônicos e paisagísticos que
cumprirão esta função.
A arquitetura deve ainda respeitar a modulação, utilização do alumínio em
painéis sanduíche para melhorar a inércia térmica da edificação e manter as cores
claras, tons terrosos ou naturais do material utilizado na concepção.
4.5 ZONEAMENTO
4.5.1 Zoneamento prévio para Acampamento
O zoneamento foi pensado de modo a diminuir a velocidade do vento no
acampamento, para isso a soluço foi um agrupamento linear com mudança de
padrão em pontos estratégicos.
O ambiente de lazer foi disposto centralizado e aos fundos do terreno, longe
das vias de circulação para aumentar a segurança.
Figura 106: Zoneamento do Acampamento
Fonte: Desenvolvido pelo Autor
101
4.5.1 Zoneamento prévio para módulo
O estudo de zoneamento da habitação foi feito em uma malha com
modulação 1,00m x 1,00m, conforme figura 107.
Figura 107: Estudo de Zoneamento para Módulo
Fonte: Desenvolvido pelo Autor
A opção 01 é a mais compacta do estudo e não contém espaço destinado
para pátio como as outras opções.
A opção 02 é uma solução em “L” com pátio frontal, o mesmo acontece na
opção 03, porém de forma inversa com o pátio aos fundos.
A opção 04 e 05 mantém o pátio de forma centralizada, todavia esta solução
não demonstrou ser o ideal para um acampamento de refugiados, onde as famílias
podem ter um número maior de membros do que a edificação comporta, sendo
assim, esses espaços pensados para serem um respiradouro interno, provavelmente
se tornaria um dormitório a mais.
A opção 06 também é uma solução em “L”, contudo a posição dos quartos
seguem uma disposição diferente das opções 02 e 03.
A opção 02 demonstra-se ser a mais adequada. O formato em “L” com pátio
frontal dá ao morador uma maior sensação de apropriação deste espaço e melhora
as relações de vizinhanças, ali pode ser feito jardins ou horta para consumo
individual.
102
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