JALES - Blog do Renato César Pereira

Transcrição

JALES - Blog do Renato César Pereira
Jales, 10 de abril de 2011
NEGÓCIOS
Informe Publicitário
Porto ganha
reforço de peso
A Porto, grife genuinamente jalesense voltada
para o público jovem, que
já vinha conquistando o
mercado, chega à semana
do 70º aniversário da cidade podendo festejar um
salto de qualidade.
Desde o início de abril,
Mair Gama e Rafael Castinho, idealizadores da Porto,
ganharam um parceiro de
peso, o agropecuarista Devanil Papala Rossafa.
Foto: Marcos Oliveira
Estilo, beleza e modernidade são os diferenciais
das peças da marca Porto
Deva, como é conhecido na
cidade onde nasceu, cresceu
e vive, que é plantador de soja
e criador de gado, chegou à
conclusão de que este é o momento certo de diversificar
investimentos, optando pelo
segmento da indústria direcionada para a moda jovem.
Até chegar a propor sociedade para Mair e Rafael, ele
pesquisou algumas outras
situações empresariais, fixando-se na Porto por enxergar naquela fábrica a
possibilidade de grande
crescimento.
Além do mais, ficou muito bem impressionado com
o empreendedorismo dos
dois sócios, elogiando-lhes
a criatividade e capacidade
de trabalho.
Ele acredita que a soma de
forças do agora quarteto de
empresários terá como conseqüência direta, a médio
prazo, a geração de mais
postos de trabalho.
De sua parte, Mair e Rafael
receberam a proposta de sociedade de Deva Rossafa
como a prova viva de que
valeu a pena acreditar em
um projeto que vem dando
certo e pode ser mais ampliado ainda.
Eles também elogiaram o
novo sócio não somente
Estação da Embrapa chega à maioridade
e parabeniza Jales pelo 70o aniversário
A Estação Experimental
de Viticultura Tropical
(EEVT), vinculada à Embrapa Uva e Vinho, foi criada em 15 de abril de 1993 a
partir da demanda do setor
produtivo vitícola da região
e viabilizada com a assinatura de convênio entre a
Prefeitura Municipal de Jales, o Ministério da Agricultura/Embrapa e a Associação dos Viticultores da Região de Jales (AVIRJAL).
Tendo como principal linha de pesquisa o melhoramento genético da videira,
com o objetivo de criar variedades de uvas adaptadas
às condições de clima tropical, a equipe formada por
quatro pesquisadores e
doze empregados de apoio
também tem estendido a
sua atuação nas áreas de
manejo de doenças, manejo de plantas, tecnologia de
aplicação de defensivos,
irrigação e agrometeorologia, com o objetivo de gerar tecnologias que viabilizem a sustentabilidade da
vitivinicultura em todo o
Brasil. Além da região noroeste do Estado de São
Paulo, a EEVT atua em outras regiões tropicais, dando suporte à implantação
de novos pólos vitivinícolas, com projetos estabelecidos no norte de Minas
Gerais, norte do Paraná,
Goiás, Mato Grosso, Ceará,
Pernambuco, Espírito Santo e Distrito Federal. A
EEVT tem também investi-
Divulgação
A Estação Experimental de Viticultura Tropical (EEVT)
completa 18 anos no dia 15 de abril, quando Jales
comemorará o seu 70° aniversário de fundação
do na formação de novos
pesquisadores. Vários estagiários, estudantes dos cursos de Biologia e de Tecnologia em Agronegócio, do
Centro Universitário de Jales
(UNIJALES) e da Faculdade
de Tecnologia de Jales (FATEC), respectivamente, têm
sido treinados pelos pesquisadores lotados na EEVT.
A EEVT completará 18
anos no dia 15 de abril de
2011 quando Jales comemorará o seu 70o aniversário
de fundação. É com um saldo muito positivo que a
EEVT chega à “maioridade”.
E isso só foi possível graças
à participação de várias pessoas e instituições, a quem
expressamos o nosso reconhecimento e agradecimento por esse esforço cooperativo que resultou nessa história de sucesso. Agradecemos especialmente a participação e contribuição do Poder Público Municipal de Ja-
les e demais municípios engajados nesse esforço, dos
produtores, por meio de
suas associações e cooperativas, dos políticos e lideranças da região, da CATIEDR de Jales e todas as entidades envolvidas. E nesse
clima de festa, também
para a nossa instituição, é
que, em nome da Embrapa
Uva e Vinho, parabenizamos Jales por mais um ano
de conquistas e rendemos
nossas homenagens ao
município que tão bem nos
acolheu e nos tem apoiado
durante todos esses anos
de trabalho.
ROSEMEIRE DE
LELLIS NAVES
(Engenheira Agrônoma,
Doutora em Fitopatologia,
Pesquisadora da Embrapa
Uva e Vinho e Supervisora
da Estação Experimental
de Viticultura Tropical)
Foto: Ana Carla Bologna
Mair Gama e Rafael Castilho, à direita, com os novos parceiros Deva Rossafa e Neto
pela injeção de capital, mas
pelo grande interesse revelado em acompanhar todos os
detalhes, desde o processo
de criação até a industrialização propriamente dita.
LOJA DE FÁBRICA
Funcionando há quase dois
anos, a marca Porto sacudiu
o público no dia 5 de novembro do ano passado, quando
lançou a coleção PrimaveraVerão durante desfile inspirado no tema circo, lotando
a Mansão dos Amigos.
Camisetas gola careca, gola
v, regata e bermudas água e
sunga fazem parte do portfólio de produtos da Porto. Outra novidade é que em breve a
Porto lançará sua primeira coleção feminina, além de uma
completa linha de acessórios.
Recentemente, a Porto
transformou-se em loja de
fábrica e confecção própria,
na Rua 12, 2789, esquina
com a 15, telefone 36327571. Maiores informações
podem ser obtidas no site
www.embarqueporto.com.br.
O folder mostra a primeira grande balada, que será
realizada pela Porto, em junho deste ano
2-
Jales, domingo,
02 10 de abril de 2011
Eu vim para ficar (1)
Álbum de Família
Fernanda com o marido, o empresário Fabrício Fuga, e os filhos Otávio e Geórgia
Quando aqui cheguei, há 14 anos atrás,
em uma noite chuvosa
de março, jamais poderia imaginar que iria
gostar tanto de Jales
como gosto hoje. Aliás, adoro Jales! E também não poderia imaginar que em tão pouco tempo eu já diria:
“Eu vim para ficar!”
O que faz uma cidade
são as pessoas que nela
vivem. E, aos poucos,
fui conhecendo a cidade, a partir das pessoas
que me iam sendo apresentadas.
Pessoas simpáticas,
simples, dadas à amizade, abertas para novos
contatos, amistosas.
Muitas são amigas do
peito até hoje, outras se
tornaram conhecidas,
ESPECIAL
jornal de jales
pelas quais tenho admiração e respeito. Mas todas, de uma forma ou de
outra, foram me mostrando que morar em Jales é bom, é tranqüilo,
vale a pena.
Aos poucos, a saudade
do Sul, o frio, os costumes de lá foram ficando
para trás e sendo substituídos pelas novidades que
esta terra ia me trazendo.
Até que, num determinado momento, nem sei bem
qual, me peguei feliz e
muito adaptada a tudo,
inclusive ao calorão.
Aqui, junto com meu
marido, edifiquei um
lar, encontrei minha religião, construí minha carreira profissional, e crio
meus filhos.
Quando cheguei eu
nem sabia, mas Jales é o
lugar que eu pedi a
Deus para viver.
Espero que todos nós
que vivemos aqui possamos continuar contribuindo para que a cidade
seja um bom lugar para
se viver. Depende muito
de nós, das nossas
ações, da forma como
nos relacionamos, do
que pensamos, do que
falamos e fizemos em
cada instante.
Que Jales siga adiante,
crescendo sempre, mas
sem perder a essência
de cidade que acolhe, de
cidade feita por pessoas
as quais podemos chamar de “gente boa”.
FERNANDA
POZZER FUGA
(publicitária e professora universitária)
Eu vim para ficar! (2)
Saio do “Estação Café”,
rumo ao trabalho, e deparo-me com o Deonel (ele
saindo da academia), e
vem a intimação: um artigo sobre os 70 anos do
município. O mote: VIM
PARA FICAR!
Fico mais perdido que
fã daltônico do RESTART, mas aceito o difícil encargo, afinal conto
com a ajuda de meu inseparável guru, Johnnie
Walker, o black.
O que me fez retornar a
este “pedacinho do Brasil”,
três anos após ir embora?
Uma cidade em que o
termômetro marca trinta
graus às 07:00 horas da
manhã?
Uma cidade onde Ulisses se grafa “Olices”, Hollywood vira “Oliúde”?
Uma cidade que tem um
bairro denominado Residencial Big Plaza que não
tem nenhuma praça?
Uma cidade cuja praça
mais famosa (Praça do Jacaré) não é mais habitat
do réptil que lhe deu o topônimo?
Uma cidade onde os
prefeitos (eleitos) morrem no exercício de seus
mandatos (Guisso e Caparroz), ou após deixarem o paço municipal
(Euphly, Pedro Nogueira,
Rollemberg, Caparroz e
Viola), e em que as primeiras-damas são longevas, imortais até (Dona
Minerva, Dona Filhinha,
Dona Naomi, Dona Alice
Amadeu, Dona Maria
Cândida, Dona Francisca,
Dona Alice Nilsen, Dona
Isabel e Dona Sirlei).
Vim para ficar, que não
sou aziago e nem me
prendo a idiossincrasias.
Aqui me sinto bem, amo
o que faço e faço o que
amo. Pontuo:
- estou investindo em
boi: compro umas pica-
Arquivo
Norton foi para São José dos Campos e,
cheio de saudades, voltou três anos depois
nhas todo final de semana
ou feriado.
- estou aprimorando minha habilidade de pescador, e tenho repassado minhas experiências aos
amadores da cidade (Jair
Vicente Júnior, Carlos
Umberto, Sr. Dario, Sr.
Caetano, Edmilson, Eliezer, Reginaldo da EMBRAPA e outros).
- estou exercitando meu
jeito mineiro de fazer (e
viver) política, alçado
que fui à condição de senador, pelas mãos do
Martini, ainda que tenha
faltado muito às sessões
do Senadinho.
- estou ampliando, e muito, meu rol de amigos (não
cito nomes, pela extensão).
Gosto da terra, da água, do
ar e dos fogos que amarro,
sempre em boas companhias. Vim para ficar!
P.S. 1/ P. S. 2: Mensagem
ao Garça: Pense bem. Jales ainda conta com todas as suas primeirasdamas, nem com todos
seus prefeitos.
P. S. 3: Não estarei aqui
em Jales no dia de seu
aniversário. Estaremos
em Cuba eu, Martini,
Gatão, Chico Melfi e Luiz
Carlos Cervantes). Desconfio do objetivo oficial
da missão (casar a Natalie Caparroz). Acho
que o Martini pretende
devolver Guantánamo ao
sofrido povo cubano.
Participaremos, em todo
caso, de um casamento e
uma reconciliação. Hasta la victoria siempre. E
parabéns, Jales, minha
jovem septuagenária.
NORTON LUIZ
BECHTLUFFT
(diretor da Vara do
Trabalho de Jales)
MEMÓRIA
Alunos da USP vinham para jales aprender rádio
Ao sairmos da Estação
da Luz, depois de 14
horas de viagem de
trem, deparei-me pela
primeira vez na vida
com a grandiosidade de
São Paulo. Início de
1973. Em Jales terminara o colegial. Único aluno da classe a optar por
física nuclear. A professora de física e prima
Dalva (esposa do “Maridinho”) me achava um
louco. A família insistiu
até o fim para eu optar
por matemática no Soler, mas a minha geração
tinha pernas longas.
Meu pai deixou-me com
as malas numa pensão
do Bexiga. O primeiro
mês pago adiantado. Os
demais seriam comigo.
Não demorou para
aquele mundo inimaginável me mostrar outros
caminhos. A ditadura,
as artes, a solidão, a
imensidão de tudo.
Logo estava na Universidade de São Paulo,
mas para cursar Comunicação. Os serviços de alto
falante do interior e a incógnita da televisão que
só chegou aqui na Copa
de 70, instigaram-me a
fazer Produção e Direção
em Rádio e TV.
Em Jales havia um fenômeno no rádio: Deonel
Rosa Junior e o seu programa As doze mais dos
estudantes (que já passou
da hora de ganhar um estudo sério). Num curto
exílio em 74/75 fiz nele
uma participação especial. Eu contava essas e outras façanhas e meus amigos de turma da USP ficavam maravilhados.
Organizei então as célebres viagens de um grupo
para aprender rádio em Jales. Viagens de trem, charrete na estação e finais de
semana dentro do estúdio
da Rádio Assunção gravando programas especiais das Doze Mais, que
iam ao ar aos sábados. Trazíamos Lps de MPB recém
lançados em São Paulo,
como Nara Leão, Paulinho
da Viola, João Gilberto, Itamar Assunção...
Assim a meninada
desse interior passou a
ter contato com os biscoitos finos, saindo um
pouco do marasmo do
brega e do sertanejo.
Meus amigos aprenderam muito com Deonel,
Petrô e Mauro Ferraz.
Marta Fantini, a nossa
locutorazinha, depois
de passar pela Cultura
de São Paulo, vive há
mais de 20 anos na Europa. Trabalhou na
Deutsche Welle da Alemanha e hoje está na Rádio de Bordeaux, França.
No início da década de
80, com a chegada de
Dom Demétrio a Jales,
tive a honra de ter sido
convidado por ele para
reestruturar a velha Rádio Assunção (ainda não
havia FM na cidade). Já
devidamente instalado
em Jales desde 81, não
Arquivo
Foto do arquivo pessoal do autor do texto: da esquerda para a direita, Kimura, Saulo e a namorada
Silvia, Deonel, Petrô e a esposa Chica, Marta Fantini e o saudoso Mauro Ferraz
pensei duas vezes, larguei tudo, aceitei o convite e fui sonhar mais um
pouco na vida.
Dirigi e convivi com
grandes vozes como o lendário Marcos Alberto,
José Pedro dos Santos,
Jara Roberto, Maninho
Carlos Augusto, Petrô
Carlos da Fonseca, Benê
Ribeiro e o próprio Deonel entre outros. Ganhamos prêmios estaduais.
Nessa mesma época
surgiram inúmeros novos
talentos como Ilson Colombo, Irineu de Carva-
lho, José Roberto Favaro, Flumenal, Galvão
Junior...Uma outra história a ser contada.
SAULO NUNES DA
SILVA
(diretor-presidente da
agência Preview)
ESPECIAL
jornal de jales
Jales, domingo,
10 de abril de 2011
2-
03
2-
domingo,
04 Jales,
10 de abril de 2011
jornal de jales
ESPECIAL
ESPECIAL
jornal de jales
Jales
Forever
A
des
peito
de toda crítica que lemos
nos jornais
locais, nos
blogs e nas
redes de relacionamento
sobre a cidade abandonada à sua própria sorte,
surgiu um
grupo no Facebook para
saudar os velhos tempos,
amizades e amores: o “Jales-Forever”.
Hoje o grupo já se aproxima de duzentos associados
e mais de seiscentas fotos
foram postadas no grupo.
Este grupo foi criado
para estreitar a distância
de muita gente que em sua
juventude fez e aconteceu
nesta santa terra de Jales.
Tudo muito positivo e
saudável. Apenas boas recordações e muita saudade. Ali não ocorre aborrecimento ou notas tristes.
É pura diversão e saudade
de um tempo que jamais
voltará, mas que arrebatou o coração de muitos.
Foram postadas fotos
dos times de vôlei e basquete dos Jogos Regionais de 1976, de alguns
times de futebol, como o
CAJ , Sputnik e também
do futebol de Salão.
Também podem ser vis-
tas fotos de festivais da
canção no Cine Jales, Blocos Carnavalescos, Carnaval do Ipê, Bailes de
Debutantes, desfiles em
datas comemorativas,
encontros e festas de várias tribos jalesenses de
diferentes épocas. Tem
até uma foto de 1968, da
antiga quadra de esportes, de grandes glórias
para o desporto jalesense, demolida para dar
lugar ao maior shopping
da cidade.
Os encontros virtuais
acontecem às 24 horas do
dia e em todos os dias,
sempre haverá um jalesense que recebeu o greencard tempos atrás, conectado e trocando figurinha. Legal é que tem jalesense em todo lugar. Sorte de nosso planeta!
Os assuntos permeiam
pelo reencontro, recordações da infância e adolescência, primeira comunhão, festas e bailinhos,
viagens pelo mundo, esportes, gatinhas e gatões
da época e etc.
Feliz aniversário minha
querida cidade de Jales.
Que o tempo não consiga
apagar da memória grandes amizades e eternos
jalesenses.
RENATO CÉSAR
PEREIRA
(www.renatocesarpereira.com.br
/ Campinas – SP)
,
Jales, domingo,
10 de abril de 2011
2-
05
2-
Jales, domingo,
08 10 de abril de 2011
ESPECIAL
jornal de jales
E os nossos festivais?
Luiz Carlos Seixas
Participei dos dois últimos FERECE (Festival
Regional da Canção Estudantil) e das duas primeiras MOCAP (Mostra da
Canção Popular), realizados em Jales no início
das décadas de 1970 e
1980, respectivamente.
O primeiro FERECE,
vencido pelo José Moreira em 1969, aconteceu no
palco do Cine Jales, onde
hoje está a agência do
Bradesco. Antonio Edson
Altimari (Arroz), Mauro
Ferraz, Ruy Rodrigues e
Mário Ramires eram as
nossas estrelas de então.
Transferido por dois
anos para a quadra do
Instituto de Educação, na
Rua 2, o FERECE acabou
voltando para o cinemão,
em 1973, para a sua quinta e derradeira edição. As
MOCAP aconteceram na
quadra do recém construído Ginásio de Esportes.
“É hora de cantar /
Cala teu grito de protesto / E canta a beleza
da vida / Nesta manhã
tão florida / Azul e tão
cheia de sol” (José
Moreira, vencedor do I
FERECE)
O modelo de ambos
eram os festivais da televisão, criados por Solano
Ribeiro, que na segunda
metade da década de
1960 lançou uma leva de
compositores que, depois de meio século, continua sendo a nossa elite
musical: Edu Lobo, Milton Nascimento, Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e outros vovôs geniais. Festival competitivo, com prêmio em
dinheiro, troféu, vaia,
músicas de protesto, palco decorado com muitas
flores e casais de recepcionistas vestidos com o traje do último baile de debutante (Matilde Nogueira, Luiz Carlos Cervantes,
Ana Saura, José Luis Viana Coutinho, Misael Carvalho, Gertrudes Voltan,
todos, evidentemente,
menores de idade).
Participavam, em pé de
igualdade, jovens e adultos, gente de Jales e de cidades vizinhas – para as
MOCAP também vieram
compositores de longe,
que ainda não tinham sido
“descobertos” pelas grandes gravadoras e viviam
de ganhar festivais pelo
Brasil afora, como peão,
sem os riscos do rodeio.
“Você estava tão bonita de azul” (Marco
Aurélio, vencedor do
III FERECE)
De uma sequência de
acordes que vi o professor Jerônimo Garcia Ferreira fazer no violão,
compus minha primeira
música. Era um samba
que o Silas cantou de calça boca de sino e camisa
cor de rosa de manga
comprida. O Silas não
decorou e eu tive que soprar a letra pra ele, no
Fotos: Arquivo
“Maria é mulher de malandro / Por isso tem que sofrer / Lava até tarde da noite / E amanhece pra
estender” (Mulher de malandro, de Luiz Carlos Seixas, vencedora do V FERECE, 1973)
palco, enquanto cuidava
de não errar no violão.
Na arquibancada, minha
mãe ouviu o veredito de
um funcionário público
desafinado, que a todo
custo tentava macaquear
o Vinícius de Moraes no
Coqueiro, a única lanchonete da cidade: “É Seixas,
com esse andei, andei,
você não vai chegar a lugar nenhum”. Minha mãe
ficou triste, coitada, mas
o cover de Vinícius tinha
razão: não passei de um
4º lugar, empatado com
um pessoal de Poloni.
ESTICADA
Mas, naquele ano, o
melhor aconteceu depois
do festival. Deonel me
convidou para uma serenata na casa do dr. Lair
Seixas Vieira. José Otávio, presidente do júri e
estudante de medicina de
Rio Preto que tinha acabado de vencer um festival
universitário em São Paulo precisava de um violão
emprestado. Na falta de
outro, podia ser o meu Di
Giorgio, que eu guardava
em um saco branco de farinha. Dr. Lair nos recebeu com três garrafas de
whisky (Chivas, Passport
e Vat 69), e Leninha cantou até às 6 da manhã
acompanhada pela primeira vez, creio, por alguém que sabia de cor as
músicas dos discos que a
gente escutava, com aqueles acordes cheios de diminutas e nonas com sé-
timas aumentadas que
ainda não tinham chegado a Jales.
“A estrada é um caminho / Caminho é uma
estrada / Quem dera
ser um ninho / A estrada onde caminha o sol”
(Etão e Pachi, vencedores o IV FERECE).
No ano seguinte, 1973,
concorreram 46 músicas,
de 8 cidades da região. O
júri era formado por 13
legítimos representantes
da comunidade: o presidente da Câmara, a primeira dama do município,
os presidentes do Lions,
do Rotary, do Clube do
Ipê, da APAE, das emissoras de rádio da cidade e
até da Delegacia de Polícia! Acabei vencendo o V
FERECE, aos 15 anos de
idade, graças a uma interpretação arrebatadora da
Leninha. Foi a vez da Jayne Molina ficar em 4º lugar! Dividimos o dinheiro
do prêmio e a Leninha foi
de excursão pro Paraguai.
Minha mãe, grávida do
meu irmão caçula, para
quem eu escolheria o
nome de Paulo César em
homenagem ao Paulinho
da Viola, estava na platéia naquela minha noite
de glória. Ganhei até um
beijo da nossa eterna
Miss Jales, a Dionéia. Dei
a primeira entrevista da
minha vida. O entrevistador, claro, o Deonel. Meu
pai ficou em casa ouvindo pela Rádio Cultura.
Do arquivo pessoal do articulista: Leninha e Seixas,
vencedores do festival, entrevistados
Justo ele, o primeiro ouvinte de Mulher de Malandro, que compus no
trem, entre Urânia e Jales.
Voltamos para casa a pé,
como se andava então. Eu
carregando o pesado troféu, minha mãe com o
Paulo César na barriga e,
Alice, Renato, Cristina e
Claudinha, minha torcida organizada.
O pessoal do Quinteto
Aracatu era quase mascarado, só porque tirava as
dúvidas com o professor
Jerônimo e cantava em
mais de uma voz. Fora de
Jales, o Barrinha se chamava Tom, e o Zaqueu,
certa vez, resolveu fazer o
balanço da carreira artística do nosso grupo: “Tocamos na TV, representamos
Jales em Araçatuba, Votuporanga, Estrela d’ Oeste,
Santa Albertina, sem falar
nas cidadezinhas menores
da redondeza”(Sic). Disso
tudo só me recordo de
quando fomos a Rio Preto,
numa Kombi, tocar no
programa do Amaury Júnior. Não pela apresentação em si, mas porque tivemos que esperar duas
horas na coxia assistindo
ao entra e sai de pelo menos vinte concorrentes ao
prêmio de Miss Rio Preto
– todas com mais de 1,70,
em trajes menores e tão
perto de ver!
Nos anos da MOCAP eu
venci dois festivais em Santa
Fé do Sul, durante o primeiro mandato do Edinho Araujo como prefeito. Uma das
músicas, curiosamente, era
50% instrumental. A outra,
Aparecidão das Águas, eu
fiz em parceria com o Marco
Aurélio Altimari, meu ídolo
dos primeiros festivais. Tinha a primeira parte de um
samba autobiográfico dele
(Marco) que eu transformei
numa homenagem ao líder
messiânico Aparecido Galdino (preso pela ditadura
militar por 10 anos num manicômio), que conheci varrendo as ruas de Santa Fé.
Nos FERECE do professor Ariovaldo Luis Moura, um conjunto de Fernandópolis, The Hells,
garantia o acompanhamento musical a quem
não sabia tocar. As MOCAP trouxeram como integrantes da banda de
apoio importantes nomes
da música instrumental
brasileira, como Heraldo
do Monte, Amilson Godoy e o maestro Edson
Alves. Fiz um samba enredo
homenageando
Charles Chaplin, outras
duas músicas tristes e
uma em tom maior que
pelos próximos 30 anos
serviu para encher de alegria meus reencontros
com o amigo Perigo. Na
padaria ou na rua ele me
saudava cantando De velho pra velho, inteira,
com versos que nem eu
lembrava mais.
Mas a melhor lembrança
dos festivais, para mim,
são os incontáveis ensaios
com Zaqueu, Barrinha,
Beto, Saulo, Pachi, Silas,
Cristina, Vânia, Dercione
e minhas irmãs. O clima
de disputa dos festivais
me fazia mal: a adrenalina
lá em cima, o medo de errar, e uma tremedeira que
só se repetia quando eu
pulava o muro da casa da
Míriam, na Rua 2, para a
serenata de todo sábado.
Nota: Quem tem a coleção completa pode conferir
que esse título “E os nossos
festivais?” é o mesmo do
artigo de página inteira
que escrevi para o Jornal
de Jales em 13/3/1977.
ESPECIAL
jornal de jales
Jales, domingo,
10 de abril de 2011
2-
09
2-
10
Jales, domingo,
10 de abril de 2011
ESPECIAL
jornal de jales
JALES – PRECURSORES E PIONEIROS
Autor revela as dificuldades
para escrever o primeiro livro
Genésio Seixas
Para quem busca dados
históricos sobre os primeiros anos de nossa cidade
surgem fatos inacreditáveis. Uns fantásticos, senão, vejamos.
“Aqui, em Jales, grupos
armados travavam tiroteio
com os Castilhos que se julgavam donos das terras, os
botequins fechavam as portas e todos saiam da rua.
Mães precavidas, quando
iam buscar água na cisterna
da serraria, punham seus
filhos sobre a cobertura
dos ranchos para não serem comidos pelas onças.
Maus elementos, para prejudicarem a cidade, deram
uma tunda no padre afim
de que o lugar fosse amaldiçoado por todos os séculos. Moradores perdiam
seus ranchos e eram despejados sob a mira das carabinas. Até o Santo Expedito
foi furtado e levado para
um sítio, depois reapareceu milagrosamente numa
igreja improvisada. Grupos
de sacis-pererê faziam estripulias no cerrado da Praça Bandeirantes, e no cruzamento das ruas Um e
Dois, no canto do cemitério, as mulas-sem-cabeça
aterrorizavam o povo soltando fogo pelas ventas”.
Quando escrevi o livro
“Jales – precursores e pioneiros”, tive que eliminar,
no primeiro crivo, muitos
desses relatos e causos semelhantes assim contados
pelos antigos moradores entrevistados, uns apelando
para o exagero, emoção, outros confiantes no ouvi dizer.
Na falta de comprovação da
verdade ou cruzamento de
informações, tive que recorrer ao bom senso e à própria
experiência de vida.
Quem se mudou da cidade vizinha deve ter comentado o confronto armado
entre grileiros, que em verdade ocorreu e, como lorota
tem pernas compridas, a má
fama correu recaindo injustamente sobre Jales. As onças nunca ameaçaram crianças porque cedo se afastaram com a presença de pessoas, caçadores e cães. A polêmica a respeito do sacerdote, que culminou com
uma surra, deve-se à motivação pessoal ou política;
nada de maldição. Quanto
aos despejos, consta que o
fundador, Eng. Euphly Jalles, doou cem lotes de terra
no traçado urbano sob a
condição de o morador
construir uma casa coberta
com telhas de barro no prazo dois anos. Em caso de
não cumprimento, o rancho
seria desfeito e o terreno retomado. Ninguém furtou o
santo. D. Eponina Jalles o
levou para sua fazenda no
Quebra-cabaça após a desativação da igreja Bom Jesus,
devolveu-o para a igreja da
Rua Onze que antecedeu a
catedral.
A “aparição” dos sacis e
mula-sem-cabeça faz parte da
crença popular aliada ao fol-
clore místico muito bem alastrado pelo Interior. No capítulo 21 do livro em pauta escrevi sobre as visões fantásticas que ouvi, junto com outras crianças, contadas pelo
“Lazo Guarda” – vigilante
noturno dos anos 1940.
O COMEÇO DE TUDO
A idéia de divulgar fatos
ligados à história pela mídia foi despertada nos
anos1990 com pesquisas
remontadas à Estrada Boiadeira em cujas margens
passei parte de minha infância. Convivi no sertão
com precursores, caçadores e boiadeiros falando a
mesma linguagem. Foi lamentável, meio século
após, assistir ao desaparecimento das marcas históricas do estradão com o desabamento de casarões de
fazendeiros, cercas de cemitérios da época sendo
derrubadas, sulcos profundos ao longo do percurso
sendo nivelado pela erosão, cruzes queimadas e capelas esquecidas com seus
santos de barro mutilados.
De posse das matérias
que se avolumavam surgiu
a inspiração de partir para
o primeiro livro sobre a região, particularmente sobre
Jales e nossa gente.
Compreender relatos
procedentes de memórias
cansadas, falta de fontes de
crédito, raridade de documentos oficiais, inexistência de ensaios anteriores,
de filmes, vídeos e internet
redundaram nas maiores
das dificuldades encontradas. A impressão foi onerosa e não se pôde contar com
patrocinadores.
Entre as facilidades, em
contrabalanço com os obstáculos, tive em princípio a
motivação por propiciar
modestos subsídios para a
história oficial de Jales*.
Contei com o interesse dos
leitores dos jornais e daqueles que procuraram o
Jornal de Jales fornecendo
matérias para os fascículos
do Projeto Memória aberto
para manifestação dos detentores de fotos, causos,
documentos afins e conhecimento de fatos inéditos.
Gente simples que teve a
oportunidade de participar no regate de nosso passado e tradição. O editor
Luiz Carlos Seixas, meu
sobrinho, crítico e incentivador, prestou significativa
cooperação. Mudou-se daqui há muitos anos, mas
continua jalesense de coração – puxou para este tio.
Desse parente, da imprensa e dos moradores, pré e
pós fundação de Jales, recebi a injeção de entusiasmo
que faltava.
HUMORES
A busca de informações
trouxe-me uma lição:
aprendi que em trabalho de
pesquisa, o entrevistado
responde de modos diferentes dependendo do momento considerado. Em
dias de pagamento, o aposentado pode estar desgostoso, porque a despesa foi
maior que a receita, e comenta que nos velhos tempos era tudo melhor, não
tinha imposto ou aluguel a
pagar, consumia-se lenha
em vez de gás, não comprava combustível. Tinha despesa com querosene, mas
não pagava energia elétrica
e a despesa com armazém
era pequena. Com esse ressentimento, certamente vai
nos passar uma falsa ideia
de que aqui a vida era ideal
e que tudo parecida maravilhoso no tempo do seo
Getúlio Vargas. Se o entrevistado estiver num momento de satisfação, não
lhe faltando dinheiro, vai
dizer que no passado não
havia fundo rural, nem instituições de previdência,
tampouco cesta básica, o
governo não dava salário e
que foi um grande sofrimento conseguir manter os
filhos na escola sem merenda. Nessas condições,
tudo era sofrível na funda-
ção de Jales. Dá para induzir que não convém entrevistar o velho morador nos
dias imediatos ao recebimento do salário.
Como há malhação para o
corpo em academias, também precisamos de exercício mental - mens sana in
corpore sano. Tem ocorrido de perguntar, por exemplo, sobre o nome de um
político, antigo conhecido,
que o entrevistado não se
recorda mais porque nunca falou sobre isso. Ninguém se importou em saber. O que era familiar no
passado vai para o inconsciente e de lá não sai nas
primeiras tentativas. No
dia seguinte, telefona dizendo que lembrou do
nome perguntado, depois
comenta fatos e fatos decorrentes. Na maioria, sentem-se agradecidos por serem procurados, têm satisfação em resgatar o passado
como se estivessem revivendo-o. De um assunto
passa para outro que nem
foi perguntado. Imagina cenários como se ainda estivesse entre parentes e companheiros. Chora, enfim.
Também há quem prefere
não abordar o que já passou, principalmente se
perdeu glamour ou a boa
forma física com a chegada
da terceira idade. Quando
perguntamos certa vez: –
Professor, quem é esse jogador fotografado aqui ao
seu lado?
– Não gosto de ver foto antiga, traz-me má recordação.
– Mas professor, é apenas para identificar um
companheiro.
– Estou sem óculos. É a
resposta final, porque hoje
já não se trata daquele atleta
esbelto rodeado de garotas
pedindo-lhe autógrafos. Há
até quem opte por esquecer
o que passou.
Por princípio da historiografia, a transmissão oral dos
acontecimentos na elaboração de um livro dever ser inferior a 10%, Tal não foi pos-
sível para escrever “Jales –
precursores e pioneiros” em
razão do que foi ponderado
acima. É um livro que representa o brado dos pioneiros.
Sua primeira edição está esgotada com inúmeros pedidos para uma segunda.
“Este livro”, prefaciou o
jornalista Deonel Rosa Junior, “é um canto de louvor
aos pioneiros, aos que enfrentaram toda sorte de dificuldades para que, em pleno
sertão, fosse erguida uma
cidade que se tornou efetivamente, centro de região”.
· – Para escrever nossa
história oficial teremos
um trabalho pesado pela
frente, mas “não queremos cargas leves, precisamos é de ombros fortes”.
(Phillips Brooks)
ESPECIAL
jornal de jales
Jales, domingo,
10 de abril de 2011
2-
11
2-
12
Jales, domingo,
10 de abril de 2011
jornal de jales
ESPECIAL

Documentos relacionados

caderno1 - Blog do Renato César Pereira

caderno1 - Blog do Renato César Pereira É bispo diocesano de Jales. É membro da que abraça- Pastoral Social da CNBB

Leia mais

a_tribuna_20-03-10_completa

a_tribuna_20-03-10_completa tão bem-vindas, pode dar uma chacoalhada no limoeiro e, digamos, dar mais molho à cena. DESPERTAR Fica para a próxima semana a tarefa tucana de replicar o que foi escrito por Valdo. Em outras palav...

Leia mais