2013 – Julho / Agosto / Setembro
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2013 – Julho / Agosto / Setembro
anacosta revista médica Julho | Agosto | Setembro Revista Trimestral do Hospital Ana Costa - 2013 18.3 Revista Médica ISSN 1677-194X ANA COSTA Órgão Científico Oficial do Hospital Ana Costa Conselho Editorial Revista Médica Dr. Airton Zogaib Rodrigues, Santos - SP - Brasil Dr. André Vicente Guimarães, Santos - SP - Brasil Dr. Celso Afonso Gonçalves, Santos - SP - Brasil Dr. Evaldo Stanislau A. de Araújo, Santos - SP - Brasil Dr. Everson Artifon, Santos - SP - Brasil Dr. Luiz Alberto Oliveira Dallan, São Paulo - SP - Brasil Dr. Rider Nogueira de Brito Filho, Santos - SP - Brasil Dr. Rogério Aparecido Dedivitis, Santos - SP - Brasil Dr. Waldimir Carollo dos Santos, Santos - SP - Brasil Dr. Woite Antônio Bertoni Meloni, Santos - SP - Brasil Divisão de Ensino do Hospital Ana Costa Rua Pedro Américo, 60 - Campo Grande, Santos/SP, Brasil e-mail: [email protected] www.anacosta.com.br Periodicidade: trimestral Tiragem: 500 exemplares Jornalista Responsável: Lucinaira Souza (Mtb: 40.248) Produção Gráfica: Comunicação e Marketing do Hospital Ana Costa A Revista Médica Ana Costa é distribuída gratuitamente para os membros do Corpo Clínico do Hospital Ana Costa, para bibliotecas e faculdades das áreas de saúde cadastradas. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos dessa revista, desde que citada a fonte. Revista Médica Ana Costa / Divisão de Ensino do Hospital Ana Costa S.A. v. 18, n. 1 (jan / fev / mar 2013). Santos: Divisão de Ensino do Hospital Ana Costa S.A., 2013. 23 p. :il. Periodicidade trimestral ISSN 1677 194X 1.Ciências Médicas. 2. Medicina CDD 610 CDU 616 Normas de Publicação A Revista Médica Ana Costa é publicada trimestralmente pelo Hospital Ana Costa e aceita artigos na área de saúde. Artigos de caráter comercial não serão aceitos. Serão aceitos manuscritos originais relacionados às seguintes categorias: a) artigos originais - trabalhos resultantes de pesquisa científica, apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, incluem análise descritiva e ou inferências de dados próprios. Sua estrutura deverá conter os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências; b) artigos de revisão - têm por objetivo resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Apresenta síntese e análise crítica da literatura levantada e não pode ser confundido com artigo de atualização; c) artigos de atualização - destinados a relatar informações geralmente atuais sobre tema de interesse para determinada especialidade, uma nova técnica ou método, por exemplo, e que têm características distintas de um artigo de revisão, visto que não apresentam análise crítica da literatura; d) relato de caso - relata casos de uma determinada situação médica especialmente rara, descrevendo seus aspectos, história, condutas, etc, incluindo breve revisão da literatura, descrição do caso e discussão pertinente. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo e idade. Pode ser realizado em humano ou animal. c) indicação da instituição em que cada autor está afiliado, acompanhada do respectivo endereço; d) nome do departamento e da instituição no qual foi realizado; e) indicação do autor responsável para troca de correspondência (nome completo, endereço, telefones de contato e e-mail); f) quando houver, indicar as fontes de auxílio à pesquisa; g) se extraído de dissertação ou tese, indicar título, ano e instituição onde foi apresentada; EXEMPLOS h) se apresentado em reunião científica, indicar nome do evento, local e data de realização. Livros RESUMO - Todos os artigos submetidos deverão ter resumo em português e em inglês, com um mínimo de 150 e no máximo de 250 palavras. Para os artigos originais os resumos devem ser estruturados destacando: objetivos, métodos básicos adotados (informando local, população e amostragem da pesquisa), resultados e conclusões mais relevantes, considerando os objetivos do trabalho, e indicar formas de continuidade do estudo. Para as demais categorias, o formato dos resumos deve ser o narrativo, mas com as mesmas informações. Capítulo de Livros Discussão: deve explorar adequada e objetivamente os resultados, discutidos à luz de outras observações já registradas na literatura. A primeira página deverá conter: b) nome completo de todos os autores; Meltzer PS, Kallioniemi A, Trent JM. Chromosome alterations in human solid tumors. In: Vogelstein B, Kinzler KW, editors. The genetic basis of human cancer. New York: McGraw-Hill; 2002. p.93-113. Dissertações e Teses Silva LCB. Aspectos da fotoestimulação intermitente em pacientes com epilepsia: Teófilo Otoni [dissertação]. Campinas: Pontifícia Universidade Católica de Campinas; 2000. Attenhofer Jost CH, Connolly HM, O'Leary PW, Warnes CA, Tajik AJ, Seward JB. Left heart lesions in patients with Ebstein anomaly. Mayo Clin Proc. 2005; 80(3):3618. Trabalhos de Congressos, Simpósios, Encontros, Seminários e outros APRESENTAÇÃO DO MANUSCRITO a) título do artigo (em português e em inglês); Adolfi M. A terapia familiar. Lisboa: Editorial Veja; 1982. Artigos de periódicos TERMOS DE INDEXAÇÃO - Deverão acompanhar o resumo, um mínimo de 3 e o máximo de 5 palavraschave descritoras do conteúdo do trabalho, utilizando os descritores em Ciência da Saúde - DeCS - da Bireme. Resultados: sempre que possível, os resultados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de forma a serem auto-explicativas, e com análise estatística. Evitar repetir dados no texto. Tabelas, quadros e figuras devem ser limitadas a 5 no conjunto e numerados consecutiva e independentemente, com algarismos arábicos de acordo com a ordem de menção dos dados, e devem vir em folhas individuais e separadas, com indicação de sua localização no texto. O autor responsabiliza-se pela qualidade de desenhos, ilustrações e gráficos, que devem permitir redução sem perda de definição. Sugere-se impressão de alta qualidade. Ilustrações coloridas não são publicadas, a não ser que sejam custeadas pelos autores. PÁGINA DE TÍTULO A exatidão das referências é de responsabilidade dos autores. Citações bibliográficas no texto: deverão ser colocadas em ordem numérica, em algarismos arábicos, sobrescrito, após a citação e devem constar da lista de referências. SUBMISSÃO DOS ARTIGOS A submissão dos artigos à Revista Médica Ana Costa implica transferência dos direitos autorais da publicação. Os trabalhos submetidos devem ser originais e acompanhados por uma declaração dos autores de que o trabalho não será publicado em qualquer outra revista no formato impresso ou eletrônico. Os trabalhos serão avaliados por pelo menos dois revisores, em procedimento sigiloso quanto a identidade tanto do(s) autor(es) quanto dos revisores. Todo trabalho que envolva estudo em seres humanos deverá apresentar a carta de aprovação de Comitê de Ética e Pesquisa registrado no CONEP. Caso haja utilização de ilustrações, fotografias e tabelas devem ser de boa qualidade e marcadas no verso somente com o número da figura e o título do trabalho. As legendas devem ser impressas em folhas separadas. Modelo da carta de submissão Título do Artigo: Considerando a aceitação do trabalho acima, o(s) autor(es) abaixo assinado(s) transfere(m) para a Revista Médica Ana Costa, todos os direitos autorais do artigo mencionado, sendo vedada qualquer reprodução total ou parcial em outro meio de divulgação. Declara(m) que o presente trabalho é original, sendo que seu conteúdo não foi ou está sendo considerado para publicação em outro periódico, quer no formato impresso ou eletrônico. Data: Assinatura (s) Os originais deverão ser enviados para o Hospital Ana Costa - Divisão de Ensino, rua Pedro Américo, 60 - 10º andar, CEP 11075-905, Santos/SP, Brasil. Enviar os manuscritos à Revista Médica Ana Costa em duas cópias, impressos em papel sulfite A4, preparados em espaço duplo, com fonte Times New Roman, tamanho 12. Após as correções sugeridas pelos revisores, a forma definitiva do trabalho deverá ser encaminhada em uma via impressa e em disquete 3 ½” ou em CD-ROM. Os originais não serão devolvidos. primeiros autores seguido de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão estar de acordo com o Index Medicus. ESTRUTURA DO TEXTO Introdução: deve conter revisão da literatura atualizada e pertinente ao tema, adequada à apresentação do problema e que destaque sua relevância. Não deve ser extensa, a não ser em manuscritos submetidos como Artigo de Revisão. Metodologia: deve conter descrição clara e sucinta, acompanhada da correspondente citação bibliográfica, dos seguintes itens: · procedimentos adotados; Harnden P, Joffe JK, Jones WG, editors. Germ cell tumours V. Proceedings of the 5th Gern Cell Tumour Conference; 2001 Sep 13-15; Leeds, UK. New York: Springer; 2002. Material eletrônico Periódicos eletrônicos, artigos Sabbatini RME. A história da terapia por choque em psiquiatria. Cérebro & Mente [periódico online] dez. 1997/fev. 1998 [Acesso em 12 ago. 2000]; (4). Disponível em: · universo e amostra; http://www.epub.org.br/cm/n04/historia/shock.htm · instrumentos de medida e, se aplicável, método de validação, Monografia em um meio eletrônico · tratamento estatístico. Conclusão: apresentar as conclusões relevantes, considerando os objetivos do trabalho, e indicar formas de continuidade do estudo. Se incluídas na seção Discussão, não devem ser repetidas. Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em parágrafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos que prestaram efetiva colaboração para o trabalho. Referências: devem ser numeradas consecutivamente na ordem em que foram mencionadas a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver. A ordem de citação no texto obedecerá esta numeração. Nas referências com 2 até o limite de 6 autores, citam-se todos os autores; acima de 6 autores, citam-se os 6 São Paulo (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Entendendo o meio ambiente [monografia online]. São Paulo; 1999. [Acesso em: 8 mar. 1999]; v.1. Disponível em: http://www.bdt.org.br/sma/entendendo/atual.htm Anexos e/ou Apêndices: incluir apenas quando imprescindíveis à compreensão do texto. Caberá à Comissão Editorial julgar a necessidade de sua publicação. Abreviaturas e Siglas: deverão ser utilizadas de forma padronizada, restringindo-se apenas àquelas usadas convencionalmente ou sancionadas pelo uso, acompanhadas do significado por extenso quando da primeira citação no texto. Não devem ser usadas no título e no resumo. Índice / Contents Artigo Original Depressão, ansiedade e autoestima em residentes de medicina..................................................................................58 Depression, anxiety and self-steem in medical resident Marília Carolina de Paula Almeida, Stefanie Gallotti Borges Carneiro, Karina Matias Monteiro e Yara Dadalti Fragoso IMI risk score: avaliação do tratamento baseado no risco clínico.................................................................................61 TIMI risk score: evaluation of treatment based on clinical risk Leonardo Ignácio Cação e Rodolfo Leite Arantes Artigo Revisão Benefícios da atividade física durante o período gestacional.......................................................................................64 Benefits of physical activity during pregnancy Farah Nali Rosa Naufal e Guilherme Vicente Caldeira Pneumonia associada à ventilação mecânica: análise dos fatores associados..........................................................66 Ventilator-associated pneumonia: risk factor analysis Maria Patrícia Seko Taguchi e Egydio Pacheco Jr. Relato de Caso Carcinossarcoma do útero................................................................................................................................................69 Uterine carcinosarcoma Janete Kaori Kawabata e Luis Roberto Araujo Fernandes Síndrome da hipertensão intracraniana idiopática.........................................................................................................71 Idiopathic intracranial hypertension syndrome Luciana Garcia Iervolino, Lucas Holdack, Amanda Garcia Brito, Maria Lucia de Almeida David Gibelli, Celso Afonso Gonçalves e Guilherme de Oliveira Matte Tromboembolismo pulmonar em pacientes hemodinamicamente estáveis................................................................74 Pulmonary embolism in hemodynamically stable patients Luiz Alexandre Albuquerque Freixo Campos e Egydio Pacheco Junior Fístula coledoduodenal por coledocolitíase....................................................................................................................77 Choledocoduodenal fistula by choledocholithiasis Márcio Correia Cazzamatta, Marco Antônio Buch Cunha, Everson Luiz de Almeida Artifon, Luciana Cleaver Aun e Dayse Pereira da Silva Aparício Hematoquezia em criança com polipose adenomatosa familiar....................................................................................79 Hematochezia in children with familial adenomatous polyposis Marco Antonio Buch Cunha, Luciana Cleaver Aun, Osmar Silvio Garcia de Oliveira, Kátia Ferreira Guenaga e Everson Luiz de Almeida Artifon Malformação mulleriana de fusão lateral Útero bicorno com corno não comunicante...............................................81 Mullerian malformation of lateral fusion Bicornuate uterus with noncommunicating horn Marion Curado da Silva, Odir Sagim Junior e Luis Roberto Araújo Fernandes Sintomas neuropsiquiátricos da doença de Alzheimer..................................................................................................83 Neuropsychiatric symptoms of Alzheimer's disease Bruna Craveiro de Oliveira, Stefanie Gallotti Borges Carneiro, Tassia Denobile Serra, Jean Marco de Almeida Zeferino eYara Dadalti Fragoso Cistadenoma papilífero de epidídimo bilateral................................................................................................................85 Bilateral epididymal papillary cystadenoma Felipe Camargo Bestane, Walter Fernandes Correa, Maurício Costa Bestane, Tarcísio Abib Neto e Luis Felipe Brandão Artigo Original Depressão, ansiedade e autoestima em residentes de medicina Depression, anxiety and self-steem in medical resident. Marília Carolina de Paula Almeida1 Stefanie Gallotti Borges Carneiro1 1 Karina Matias Monteiro 2 Yara Dadalti Fragoso RESUMO Introdução: poucos estudos sobre estes complexos transtornos foram realizados em residentes de medicina no Brasil. Objetivos: Determinar a prevalência de depressão e ansiedade neste grupo. Métodos: foram realizados levantamentos de horas de trabalho, sexo, estado civil, consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo, se moram em sua cidade de origem e sozinhos, feitos anonimamente por meio de questionários da Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD) e Escala de Auto-estima de Rosenberg, para relacioná-los ou não como etiologia. Resultados: dos 50 residentes analisados, 36% apresentaram ansiedade, sendo 55,5% mulheres e 44,5% homens. Desses, 72% consumiam bebidas alcoólicas, sendo 46% mulheres e 54% homens; 33,5% fumavam, 66,5% mulheres e 33,5% homens; 83,5% eram solteiros, 60% mulheres e 40% homens; 17% eram casados, 33,5% mulheres e 66,5% homens; 50% moravam sozinhos, 44,5% mulheres e 55,5% homens; 33,5% moravam com família, 50% mulheres e 50% homens; 16,5% moravam com amigos, 100% mulheres. Apresentaram ansiedade e depressão 8%, sendo 75% mulheres e 25% homens. Desses, 100% consumiam bebidas alcoólicas; 75% fumavam, 100% mulheres; 100% eram solteiros; 100% moravam sozinhos. Apresentaram depressão 2%, sendo 100% mulheres. Desses, 100% bebiam, não fumavam, eram solteiros e moravam sozinhos. Conclusão: constatou-se que 36% dos residentes apresentam ansiedade, 8% ansiedade e depressão, 2% depressão, havendo predomínio nas mulheres. A maioria ingere bebidas alcoólicas, não fuma, são solteiros e moram sozinhos. ABSTRACT Introduction: Few studies of these complex disorders have been conducted on medical students in Brazil. Objectives: To determine the prevalence of depression, anxiety and selfesteem in this group. Methods: Surveys were conducted of hours of work, gender, marital status, alcohol consumption, smoking, if they live in their city of origin and alone, made anonymously through questionnaires of the Hospital Anxiety and Depression (HAD) Scale and the Self- Rosenberg's estimates, to relate them or not as etiology. Results: Out of 50 residents, 36% had anxiety, 55.5% were women and 44.5% men. Of these, 72% consumed alcohol, 46% women and 54% men; 33.5% smoked, 66.5% women and 33.5% men; 83.5% were single, 60% women and 40% men; 17% were married, 33.5% women and 66.5% men; 50% lived alone, 44.5% women and 55.5% men; 33.5% lived with family, 50% women and 50% men; 16.5% lived with friends, 100% women. Anxiety and depression showed 8%, 75% were women and 25% men. Of these, 100% consumed alcohol; 75% were smokers, 100% female; 100% were single, 100% lived alone. 2% had depression, being 100% women. Of these, 100% drank, not smoked, were unmarried and lived alone. Conclusion: We found that 36% of residents have anxiety, depression and anxiety 8%, 2% depression, and was predominant in women. Most ingest alcoholic beverages, do not smoke, unmarried and living alone. Key words: Depression. Anxiety. Self-steem. Medical Resident. Medical Internist. Descritores: Depressão. Ansiedade. Autoestima. Residentes de Medicina. Introdução Depressão é um estado de humor triste, que tem por característica a fragilidade e queda do potencial físico e intelectual. Acarreta alteração do sono e do apetite, pode levar a quadros de obstipação, isolamento social e, quando em situações mais graves, a suicídio. A pessoa torna-se passiva, gradativamente perde a capacidade de tomar decisões, passa a enxergar o mundo e a sua 1 realidade de forma diferente . A teoria bioquímica mais aceita é a das monoaminas, que postula que a depressão é causada por um déficit de função das mesmas em certas regiões do cérebro. Essa hipótese originou-se da associação de vários fármacos que interferem nos sintomas da depressão, contudo, estudo realizado do metabolismo dessas substâncias em pacientes depressivos ou da alteração do número de receptores para monoaminas em tecido cerebral pós-morte levaram a resultados questionáveis, pois as alterações relatadas 2 não são específicas para depressão . A síndrome de Burnout também apresenta tais características, mas diferencia-se da depressão em sua etiologia, pois é desencadeada por fatores relacionados ao trabalho. Portanto, tem sido descrito, comparada a esse transtorno, maior prevalência da síndrome de Burnout entre os médicos3. Elevada carga horária acarreta em 1) Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metropolitana de Santos UNIMES, Santos/SP, Brasil. 2) Professora Titular de Neurologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metropolitana de Santos UNIMES, Santos/SP, Brasil. Instituição: Disciplina de Neurologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metropolitana de Santos UNIMES, Santos/SP, Brasil. Correspondência: Marília Almeida, Rua Helvétia, 737, Apto. 1 – 01215-010 São Paulo/SP, Brasil. E-mail: [email protected]; Recebido em: 25/05/2013; aceito para publicação em: 18/07/2013; publicado online em: 20/09/2013. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. 58 Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 58 - 60, jul / ago / set 2013 estresse, levando o residente ficar insatisfeito com o seu trabalho e 46 diminui a qualidade do atendimento ao paciente - . No Brasil, é comum o regime de plantões de 36 horas, o que leva o profissional a perder muitas horas de sono, provocando queda na qualidade de 7 seu trabalho, além de alterações de humor . Esse fato também foi comprovado por um estudo realizado na Universidade de Stanford, com seis socorristas, analisando cinco tipos de estados subjetivos (sonolência, felicidade, tensão, clareza de pensamento e irritação), encontraram aumento da sonolência, diminuição da felicidade e da clareza do pensamento, quando os médicos trabalham à noite. (Smith-Coggins et al. apud Gaspar, et al.)8. A ansiedade, que geralmente está associada à depressão, é um reflexo subjetivo de momentos inesperados ou de tensão e desprazer e associa-se a manifestações de sintomas corporais, que pode ser desencadeada por contato com o sofrimento humano. É um sentimento de vazio e desagradável de apreensão e medo, caracterizado por desconforto derivado de perigo ou tensão, de algo desconhecido ou diferente. Caracteriza-se pela sensação ou sentimento decorrente de excessiva estimulação do sistema nervoso central, conseqüente a interpretação de uma situação de perigo e marcada também por reações fisiológicas e corporais desagradáveis tais como taquicardia, transpiração, perda ou aumento do apetite, perda do sono, aperto no tórax, sensação de vazio no estômago9-10. Autoestima inclui a avaliação subjetiva que uma pessoa faz de si mesma como sendo intrinsecamente positiva ou negativa em algum grau. É a junção da autoconfiança com o auto-respeito e divide-se em dois significativos componentes: o sentimento de competência pessoal e o sentimento de valor pessoal. Apresentar auto-estima elevada é ter a sensação de confiança para os desafios da vida e é ela quem interfere na capacidade de lidar com os obstáculos do dia a dia e faz entender e dominar os problemas, respeitar e defender os próprios interesses e necessidades. Elevar a autoestima é desenvolver a certeza da capacidade de viver feliz e de que é merecedor desta e, portanto, capaz de enfrentar o dia a dia com convicção, otimismo, confiança e boa vontade, que leva a atingir objetivos e a realização11. Métodos O estudo é transversal. Foram realizados levantamentos de horas de trabalho, sexo, estado civil, consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo, se moram em sua cidade de origem e sozinhos, presença ou não de depressão e ansiedade, feitos anonimamente por meio do preenchimento de questionários distribuídos para residentes da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santos, do Hospital Universitário Alzira Velano e do Serviço de Cirurgia Plástica Dr. Ewaldo Bolívar de Souza Pinto. Os questionários usados foram da Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD) e avaliação da autoestima por meio da Escala de Autoestima de Rosenberg. O presente trabalho foi aprovado pelo CEP da Unimes. População: 50 residentes de medicina, os quais foram divididos em duas categorias: cirurgia (1) e clínica (2), distribuídos 50% em cada divisão. Estão no grupo de cirurgia: 1 residente de Neurocirurgia, 4 de Ginecologia e Obstetrícia, 7 de Ortopedia, 10 de Cirurgia Plástica, 3 de Cirurgia Geral. Estão no grupo de Clínica: 1 residente de Pneumologia, 7 de Clínica Médica, 5 de Oftalmologia, 6 de Pediatria, 6 de Nefrologia. Em relação ao grupo 2, 16 pessoas (64%) são do sexo feminino e 9 pessoas (36%) do sexo masculino. Todas as mulheres estão na faixa etária de 20-30 anos, 78% dos homens estão na faixa etária de 20-30 anos e 22% estão na faixa etária de 31-40 anos. Em relação ao grupo de cirurgia, oito pessoas (32%) são do sexo feminino e 17 pessoas (68%) são do sexo masculino. Dentre as mulheres, 87,5% estão na faixa etária de 20-30 anos e 12,5% estão entre 31-40 anos. Dentre os homens, 70,5% estão na faixa dos 20-30 anos e 29,5% estão entre 31-40 anos. Todos responderam ao HAD - Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão. Esta escala contém 14 itens, sendo sete de ansiedade e sete de depressão; cada item contém uma graduação de zero a três; a soma dos itens fornece a pontuação total (0 a 21, em cada Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 58 - 60, jul / ago / set 2013 subescala) sendo de fácil aplicação, HAD-Ansiedade: sem ansiedade de 0 a 8, com ansiedade maior ou igual a 9. HADDepressão: sem depressão de 0 a 8, com depressão maior ou igual a 912. Considerou-se como faixa de risco, residentes que obtiveram nota igual 8 para ansiedade e/ou depressão. Responderam também à Escala de Auto-estima de Rosenberg, a qual é constituída por 10 itens, com conteúdos de sentimentos de respeito e aceitação de si mesmo. Metade dos itens corresponde a julgamentos positivos, e a outra metade, a negativos. Para cada afirmação existem quatro opções de resposta (concordo totalmente=4, concordo=3, discordo=2 e discordo totalmente=1), para afirmações positivas e, em afirmações negativas, os valores se invertem. A pontuação total oscila entre 10 e 40. A obtenção de uma pontuação igual ou menor que 25 reflete uma baixa autoestima. Tirou-se a média somando-se o resultante de cada questionário respondido e, dividiu-se pelo número de participantes de cada grupo13. Resultados Dos 50 residentes que participaram deste estudo, 32% do grupo de cirurgia e 40% do grupo de clínica apresentaram sintomatologia ansiosa. Apresentaram transtorno de ansiedade e depressão 8% do grupo 1 e 8% do grupo 2. Houve apresentação somente depressiva de 4%, no grupo 1 (Figura1). Entre as mulheres do grupo de clínica, 37,5% apresentam ansiedade e 12,5% apresentam ansiedade e depressão. Entre os homens deste grupo, 44,5% demonstraram ansiedade. Dentro do subgrupo de ansiosos da clínica, 60% pertencem ao sexo feminino e 40% ao sexo masculino. Pertencem ao subgrupo de ansiosos e depressivos, 12,5% de mulheres do grupo 2, sendo constituído 100% por pessoas deste sexo, as quais estão cursando o 1º ano de residência. Entre as mulheres de cirurgia, 50% apresentam ansiedade, 12,5% possuem ansiedade e depressão e 12,5% apresentam depressão. Entre os homens do grupo 1, 23,5% apresentam ansiedade e 6% representam ansiedade e depressão. Dentro do subgrupo de ansiosos da cirurgia, 50% correspondem ao sexo feminino e os outros 50% ao sexo masculino. Igualmente ocorre no subgrupo de ansiedade e depressão do grupo 1, os quais são todos do primeiro ano de residência. Em relação ao subgrupo de depressão da cirurgia, é constituído 100% por mulheres. A Tabela 1 representa a distribuição dos subgrupos do grupo 2 e suas respectivas porcentagens por sexo, sobre o consumo ou não de bebidas alcoólicas, se são tabagistas ou não, em relação ao estado civil e, com quem moram. A Tabela 2 leva em consideração os mesmos itens em relação aos sub-grupos do grupo 1. Levando-se em consideração o subgrupo de ansiedade da clínica, foi encontrado 80% que atualmente não moram em sua cidade natal, sendo 62,5% do sexo feminino e 37,% do sexo masculino. Em relação ao subgrupo de ansiedade e depressão da clínica, 100% não moram em sua cidade natal. Em relação ao grupo 1, foi encontrado que 100% não moram em sua cidade natal. A média retirada da Escala de Autoestima para o grupo de Clínica com alguma sintomatologia foi igual a 30 pontos, sendo que a média mais baixa, foram das pessoas que cursam Clínica Médica, 27 pontos. Para o grupo de cirurgia com sintomatologia foi de 33 pontos, observando-se a média mais baixa para as pessoas que cursam Cirurgia Geral, com 30,5 pontos. Do total de residentes deste estudo que não apresentaram nenhum tipo de sintomatologia, pertencem 52% ao grupo de clínica, sendo 61,5% do sexo feminino e 38,5% do sexo masculino e 56% ao grupo de cirurgia, sendo 14,5% mulheres e 85,5%. Do grupo 1, que não apresenta sintomatologia, 64% consomem bebidas alcoólicas, sendo 11% do sexo feminino, 89% do sexo masculino e, 36% não consomem bebidas alcoólicas, sendo 20% mulheres, 80% homens; 14,5% fumam, sendo 100% do sexo masculino e, 85,5% não fumam, sendo 16,5% do sexo feminino, 83,5% do sexo masculino; 57% moram sozinhos, sendo 12,5% mulheres e 87,5% homens; 28,5% moram com a família, sendo 25% do sexo feminino e 75% do sexo masculino; 7% moram com amigos, sendo 100% do sexo masculino; 78,5% não moram em sua cidade natal, sendo 9% mulheres, 91% homens e, 21,5% moram em sua cidade natal, 59 composto por 33,5% do sexo feminino e 66,5% do sexo masculino. A média de Autoestima para este grupo foi de 37 pontos, observando-se a pontuação mais baixa entre as pessoas que cursam Ortopedia, com 35 pontos. Do grupo 2, que não apresenta sintomatologia, 77% ingerem bebidas alcoólicas, composto por 60% do sexo feminino, 40% do sexo masculino e, 23% não ingerem bebidas alcoólicas, sendo 66,5% mulheres e 33,5% homens; 23% fumam, composto por 33,5% do sexo feminino, 66,5% do sexo masculino e, 77% que não fumam, sendo 70% mulheres e 30% homens; 69% moram sozinhos, composto por 44,5% do sexo feminino e 55,5% do sexo masculino; 31% moram com a família, sendo 100% mulheres; 77% não moram em sua cidade natal, sendo 50% mulheres, 50% homens e, 23% moram em sua cidade natal, sendo 100% do sexo feminino. A média de Auto- estima para este grupo foi de 34,5 pontos, observando-se a pontuação mais baixa entre as pessoas que cursam Pediatria, com 33,5 pontos. Entre as pessoas que apresentam ansiedade do grupo de clínica, 10% estão na faixa de riscos de terem depressão. Entre as pessoas que apresentam ansiedade do grupo de cirurgia, 37,5% estão na faixa de riscos de apresentarem depressão. Entre as pessoas que não apresentam ansiedade e depressão do grupo de clínica, 23% estão na faixa de risco para evoluírem para ansiedade. Entre as pessoas que não apresentam sintomatologia do grupo de cirurgia, 14,5% estão na faixa de risco para evoluírem para depressão, 7% para ansiedade e 7% para ansiedade e depressão14. Tempo de serviço aproximado/semana, de Oftalmologia: 60 horas; de Nefrologia: 66 horas; Clínica Médica: 56 horas; Pneumologia: 54 horas; Pediatria: 110 horas; Ortopedia: 80 horas;Ginecologia e Obstetrícia: 100 horas; Cirurgia Geral: 80 horas; Cirurgia Plástica: 60 horas. Houve relato da maior parte dos residentes, que realizam pelo menos dois plantões semanais além da carga horária descrita. Discussão Houve predominância do sexo feminino no subgrupo de ansiedade da clínica e constituíam em 100% o subgrupo de ansiedade e depressão deste mesmo grupo. Também ocorreu maior número de pessoas deste gênero com sintomatologia no grupo de cirurgia, o que demonstra maior freqüência de sintomatologia depressiva e ansiosa entre as mulheres14. Estes resultados são equivalentes aos encontrados na literatura, os quais demonstram maior prevalência destes transtornos em pessoas deste sexo, devido ao modo de enfrentamento das situações, os quais foram estudados por neuroimagens equiparando-se as áreas ativadas no cérebro feminino e no masculino frente às mesmas circunstâncias1. Foi encontrada prevalência de ansiedade e depressão e somente depressão em R1, o que leva a crer que a transição entre estudante para profissional, a responsabilidade de atender pacientes e lidar com a morte gera uma situação de estresse, que, juntamente com cargas horárias mais elevadas (geralmente de 110 horas semanais entre os depressivos), resulta na síndrome de Burnout, devendo-se preconizar a atenção a saúde dos residentes15,16. Para a redução do estresse deste treinamento, deveria principalmente extinguir-se o regime de plantões de 36 horas contínuas e haver folga pós-plantão17. Segundo os dados estatísticos, encontraram-se 70% de consumo de bebidas alcoólicas no subgrupo de ansiedade da clínica, 100% no subgrupo de ansiedade e depressão deste grupo. No grupo de cirurgia, houve consumo de 75% no subgrupo de ansiedade, 100% no subgrupo de ansiedade e depressão, 100% entre depressivos, sugerindo grande relação entre o consumo e os sintomas3,15. Além disso, o fato da maioria serem solteiros, morarem sozinhos e fora de sua cidade natal também contribuiria para o desenvolvimento dos transtornos em questão16. Por estarem forçadamente em ambientes diferentes para evoluírem em sua carreira acadêmica, há acarretamento em instabilidades emocionais, principalmente em mulheres, as quais são mais sensíveis. Por fim, não foi encontrada maior porcentagem de homens depressivos, acreditase que seja devido ao fato dos questionários levarem em conside60 ração perguntas que representam principalmente o modo de expressão deste transtorno em relação ao sexo feminino. Pelo fato de a depressão apresentar disposição diferente no sexo masculino, seria de extrema importância a confecção de uma escala validada 1 com maior sensibilidade . Conclusão A prevalência de ansiedade em residentes é maior do que a metade, sendo considerável o número de profissionais que apresentam e estão prestes a apresentar sintomas depressivos. As mulheres são as que mais apresentam sintomas. Há grande associação estatística entre a presença de sintomas depressivos, ansiosos e consumo de bebidas alcoólicas, ser solteiro e o fato de morar sozinho. Mais estudos devem ser realizados, mas alerta-se que tal população deve ser considerada de risco para o desenvolvimento de depressão-doença, pelo fato de alguns apresentarem esta, alguns estarem perto de apresentá-la e grande parte apresentarem ansiedade, a qual geralmente está relacionada à depressão. Referências Bibliográficas 1.Aros MS. Produção científica sobre depressão: Análise de resumos (2004- 2007). [Mestrado] São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de Campinas; 2008. 2.Rang HP, Dale MM, Ritter JM, Moore JK. Farmacologia. 5ª ed. São Paulo: Elsevier; 2004. 3.Shanafelt TD, Bradley KA, Wipf JE, Back AL. Burnout and Self-Reported Patient Care in an Internal Medicine Residency Program. Ann Int Med. 2002;136(5):358-67. 4.West CP, Huschka MM, Novotny PJ, Sloan JA, Kolars JC, Habermann TM, Shanafelt TD. Association of perceived medical errors with resident distress and empathy. 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Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 58 - 60, jul / ago / set 2013 Artigo Original TIMI risk score: avaliação do tratamento baseado no risco clínico TIMI risk score: evaluation of treatment based on clinical risk Leonardo Ignácio Cação1 Rodolfo Leite Arantes2 RESUMO Introdução: o escore de risco TIMI (thrombolysis in myocardial infarction) é derivado de ensaio clínico envolvendo pacientes elegíveis para fibrinólise. Como o perfil de risco desses casos difere do encontrado em populações não selecionadas, é importante que se analise a aplicabilidade do escore em condições clínicas habituais. Objetivo: Avaliar o manejo e a evolução hospitalar de pacientes internados com síndrome coronariana aguda conforme estratificação de risco pelo escore TIMI. Métodos: um estudo transversal de pacientes internados na UTI Cardiológica do Hospital Ana Costa Santos-SP com diagnóstico de síndrome coronariana aguda. Resultados: a idade média foi de 66 anos± 11,2, com predomínio do sexo masculino (56%). A prevalência de diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia foi de 47%, 73% e 47% respectivamente. A maior parte dos pacientes encontrava-se no score de risco TIMI 3 e 4 (26 e 39% respectivamente). O número de eletrocardiogramas normais era maior que 50%. O tratamento clínico foi o mais prevalente na nossa amostra (62%). Conclusão: a estratificação clínica otimizada pode oferecer melhor estratégia de tratamento para os pacientes com síndrome coronariana aguda e deve ser estimulada. ABSTRACT Introduction: The TIMI risk score (thrombolysis in myocardial infarction) is derived from clinical trial involving patients eligible for fibrinolysis. As the risk profile of these cases differs from that found in unselected populations, it is important to examine the applicability of the score in usual clinical conditions. Objective: To evaluate the management and hospital outcomes of patients hospitalized with acute coronary syndrome as risk stratification by the TIMI score. Methods: A cross-sectional study of patients admitted to the ICU Cardiology Hospital Ana Costa - Santos-SP with a diagnosis of acute coronary syndrome. Results: Mean age was 66 years ± 11.2, with a male predominance (56%). The prevalence of diabetes, hypertension and dyslipidemia was 47%, 73% and 47% respectively. Most patients were in TIMI risk score 3 and 4 (26 and 39% respectively). The number of normal electrocardiogram was greater than 50%. Clinical treatment was the most prevalent in our sample (62%). Conclusion: The optimized clinical stratification can provide better treatment strategy for patients with acute coronary syndrome and should be encouraged. Key words: Acute Coronary Syndrome. TIMI Risk. Acute Myocardial Infarction. Descritores: Síndrome Coronariana Aguda. TIMI Risk. Infarto Agudo do Miocárdio. Introdução A síndrome coronariana aguda refere-se um conjunto de sinais e sintomas compatíveis com isquemia aguda do miocárdio, englobando, angina instável e infarto agudo do miocárdio. É uma doença de alta prevalência (1.400.000 de casos por ano nos Estados Unidos)1. Pacientes com oclusão total podem apresentar infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST. Obstrução parcial de um vaso pode resultar em um infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST ou angina instável, que irá exigir estabilização clínica precoce; seguida por uma estratificação de risco criteriosa para a definição das estratégias terapêuticas (invasivas ou conservadoras)2. O escore de risco TIMI (thrombolysis in myocardial infarction) é derivado de ensaio clínico envolvendo pacientes elegíveis para fibrinólise. Como o perfil de risco desses casos difere do encontrado em populações não selecionadas, é importante que se analise a aplicabilidade do escore em condições clínicas habituais. Este escore é composto por sete variáveis (Tabela 1) e quanto maior o número de variáveis presentes, maior a chance de um evento cardiovascular (óbito, infarto agudo do miocárdio ou revascularização em 2 semanas) – Tabela 2. Tabela 1. Score de risco TIMI. 1) Médico Residente de Clínica Médica do Hospital Ana Costa, Santos/SP 2) Doutor em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Médico Cardiologista do Hospital Ana Costa, Santos/SP. Instituição: Serviço de Cardiologia do Hospital Ana Costa, Santos/SP. Correspondência: Rua Paraíba, 37 ap. 41 – 11065-470 Santos/SP, Brasil. E-mail: [email protected] Recebido em: 30/11/2012; aceito para publicação em: 07/04/2013; publicado online em: 20/09/2013. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 61 - 63, jul / ago / set 2013 61 Número de escores % de advento adverso (óbito, IAM ou revascularização em duas TIMI semanas) 0/1 4,7% 2 8,3% 3 13,2% 4 19,9% 5 26,2% 6/7 40,9% Tabela 2. Probabilidade de eventos adversos (óbito, IAM ou revascularização em duas semanas)1 Pacientes de risco moderado a alto devem ser admitidos nas unidades de terapia intensiva, monitorizados e manejados com estratégias mais agressivas. Evidências mais recentes sugerem que pacientes com SCA e com características de risco baixo não necessitam internação em unidades de terapia intensiva, podendo ser medicados com drogas antianginosas e estratificados por meio de testes não-invasivos após algumas horas de observação na sala de emergência3. As limitações começam a aparecer nos pacientes considerados como risco intermediário, onde apesar dos avanços no tratamento clínico e nos procedimentos percutâneos ainda não existe uma clara definição da estratégia a ser adotada na sua abordagem inicial. A proposta do nosso trabalho é avaliar a importância que o risco clínico apresenta na decisão terapêutica dos pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva Cardiológica. O objetivo é avaliar o manejo e a evolução hospitalar de pacientes internados com síndrome coronariana aguda conforme estratificação de risco pelo escore TIMI. Métodos Um estudo transversal de pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva Cardiológica do Hospital Ana Costa, Santos/SP com diagnóstico de síndrome coronariana aguda com ou sem supradesnivelamento de ST. Os critérios utilizados para o diagnóstico de infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento de ST foram os seguintes: presença de dor torácica ou outra sintomatologia sugestiva de infarto agudo do miocárdio; elevação do segmento ST na admissão ou durante evolução hospitalar em duas ou mais derivações contíguas – sendo maior que 0,2 mV nas derivações V1, V2 ou V3 e maior que 0,1mV nas outras derivações; bloqueio de ramo esquerdo novo ou presumivelmente novo; e curva típica da enzima creatinofosfoquinase total e sua fração MB3. As variáveis estudadas serão: idade, gênero, pressão arterial sistêmica, comorbidades (tabagismo, diabetes mellitus, dislipidemia, hipertensão arterial e doença cardiovascular prévia), variáveis do escore TIMI de risco e alterações eletrocardiográficas. Os resultados foram apresentados como frequências ou médias com o desvio padrão. Resultados Entre os meses de agosto a outubro de 2012 cerca de 23 pacientes foram incluídos no nosso estudo e foram objetos dessa análise. A idade média foi de 66 anos± 11,2, com predomínio do sexo masculino (56%). A prevalência de diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia foi de 47%, 73% e 47% respectivamente. Cerca de 34% tinham história prévia de doença aterosclerótica e 13% eram tabagistas. A média da pressão arterial sistólica e diastólica era normal. A maior parte dos pacientes encontravam-se no score de risco TIMI 3 e 4 (26 e 39% respectivamente). O número de eletrocardiogramas normais era maior que 50% - Tabela 3. 62 N Idade, média ±DP Sexo masc, n (%) Diabetes mellitus, n (%) Hipertensão arterial, n (%) Tabagismo, n (%) Dislipidemia, n (%) Antecedentes familiares, n (%) Doença cardiovascular prévia, n (%) PAS mmHg, média ±DP PAD mmHg, média ±DP Eletrocardiograma normal, n (%) TIMI Risk 1, n (%) TIMI Risk 2, n (%) TIMI Risk 3, n (%) TIMI Risk 4, n (%) TIMI Risk 5, n (%) TIMI Risk 6, n (%) TIMI Risk 7, n (%) 23 66,3 ± 11,2 13 (56) 11 (47) 17 (73) 3 (13) 11 (47) 1(4) 8 (34) 138,9 ± 32 78,4 ± 14,5 14 (61) 2 (9) 2 (9) 6 (26) 9 (39) 3 (13) 1 (4) 0 Tabela 3. Distribuição dos pacientes. A cineangiocoronariografia mostrou que os pacientes com lesões uni, bi e triarteriais foram 20%, 20% e 25%, respectivamente. O tratamento clínico foi o mais prevalente na nossa amostra (62%), seguido do percutâneo (20%). As indicações cirúrgicas foram reservadas a 16% dos pacientes. Após a aplicação do score de TIMI, foi observada uma relação direta do risco clínico inicial mais baixo com o tratamento conservador. Cerca de 12 pacientes (50%) que apresentou o escore de TIMI mais baixo, com uma forte tendência a permanecerem com o tratamento clínico otimizado. Mas apesar do risco clínico inicial baixo, quatro pacientes foram submetidos à revascularização do miocárdio – Figura 1. Figura 1. Tratamento conforme escore de TIMI. Discussão Os pacientes com quadro clínico compatível com síndrome coronariana aguda podem apresentar complicações cardiovasculares como óbito, infarto agudo do miocárdio, isquemia refratária ou necessidade de revascularização miocárdica de urgência. Essa população é muito heterogênea, sendo composta desde indivíduos de baixo risco até por aqueles que são de altíssimo risco de evoluírem para complicações cardiovasculares. No tratamento desses, portanto, é fundamental que o risco seja definido no momento do primeiro atendimento, para que a conduta adotada seja adequada a cada caso. Durante o atendimento inicial ao paciente com dor torácica, duas questões fundamentais devem ser formuladas. O quadro clínico é compatível com síndrome coronariana aguda? Caso a resposta seja afirmativa, qual é o risco de que esse indivíduo venha a apresentar evento cardiovascular grave? Ao responder a essas perguntas, estarão sendo definidos o tipo de tratamento farmacológico, a necessidade de internação e uma possível estratégia invasiva. Mais de 30% dos eventos cardiovasculares precoces (dentro dos primeiros 30 dias), após quadro isquêmico, ocorrem até o quinto dia Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 61 - 63, jul / ago / set 2013 da admissão hospitalar, envolvendo, além das complicações já mencionadas, acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca e arritmia grave. Durante esse período, um mesmo paciente pode evoluir para diferentes categorias de risco, o que demanda constante monitorização clínica. A estratificação de risco vem possibilitando a identificação de pacientes graves, a escolha correta do tratamento a ser dispensado e a otimização dos custos da internação hospitalar. Sua aplicação durante o atendimento inicial permite diferenciar pacientes de baixo, médio e alto risco, sendo justificada pelo fato de que a conduta a ser adotada irá diferir significativamente entre eles. Assim, indivíduos de maior gravidade deverão ter como destino uma unidade coronariana, enquanto os de menor risco poderão ser dispensados após receber tratamento numa unidade de emergência. Já foi demonstrado4 que a mortalidade após infarto agudo do miocárdio poderia atingir um número próximo a 30% antes da disseminação das unidades coronarianas, e que esse número foi reduzido para aproximadamente 15% com a utilização freqüente dessas unidades. Isso evidencia a importância do tratamento intensivo e a cuidadosa monitorização clínica, principalmente na prevenção de arritmias fatais. Quando um paciente preenche os critérios de gravidade, deve ser alvo de tratamento agressivo. Inicialmente, essa estratégia aparenta ser onerosa, pois requer drogas de alto custo e recursos de maior complexidade tecnológica. A administração de inibidores de glicoproteína IIb/IIIa, por exemplo, pode ultrapassar a ordem de US$ 1.000,005. Uma recente análise6 da relação custo-efetividade dessas drogas revelou que a redução de eventos é menos onerosa quando aplicada a paciente de alto risco. Por outro lado, tratar da mesma forma um indivíduo de baixo risco mostrou-se mais dispendioso e particularmente mais arriscado por causa dos efeitos adversos desses novos tratamentos. Fica claro que a avaliação sistemática de cada paciente que chega a um serviço de emergência tem implicações econômicas e relativas a prognóstico. Contemplar a real gravidade de cada caso é uma responsabilidade com a qual o cardiologista deve estar habituado e que se inicia durante a anamnese no pronto-socorro. A subdivisão dos pacientes em diferentes grupos de risco apóia-se, principalmente, na história, no exame físico, no eletrocardiograma e nos marcadores séricos de dano miocárdico. Apesar da nossa pequena casuística inicial, podemos verificar que houve um predomínio de pacientes de baixo risco que permaneceram em tratamento clínico conservador, concordando com o score inicial. Outro aspecto de relevância sobre o score clínico é que mais de 50% dos pacientes que deram entrada na Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 61 - 63, jul / ago / set 2013 unidade de emergência possuíam eletrocardiograma normal, chamando a atenção para outras variáveis clínico-laboratoriais. Conclusão A estratégia da utilização do score de risco clínico na unidade de emergência e na terapia intensiva deve ser estimulada na avaliação inicial dos pacientes com síndrome coronariana aguda. Referências 1. Martins, HS, Brandão Neto RA, Scalabrini Neto A, Velasco IT. Emergências Clínicas Abordagem Prática. 7ª ed. Rev. e atual. Barueri, SP: Manole, 2012. 2. Fox KA. Management of acute coronary syndromes: an update. Heart. 2004;90:698-706. 3. Polanczyk CA, Lee TH. Os algoritmos diagnóstico e prognóstico de Goldman: resultados e análise crítica. In: Bassan R, ed. Síndrome coronariana aguda em unidades de dor torácica. Rio de Janeiro: Atheneu; 2000.pp.225-36. 4. Sobel BE. Coronary thrombolysis and the new biology. J Am Coll Cardiol. 1989;14:850. 5. Kong DF, Califf RM, Miller DP, Moliterno DJ, White HD, Harrington RA, Tcheng JE, Lincoff AM, Hasselblad V, Topol EJ. Clinical outcomes of therapeutic agents that block the platelet glycoprotein IIb/IIIa integrin in ischemic heart disease. 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Provou-se também ser um fator protetor contra um grave problema de saúde pública, a prematuridade. Os estudos demonstram que a prática regular de exercícios físicos em gestações não complicadas é fator de proteção na saúde mental e emocional da mulher durante e depois da gravidez. With the growing request for a healthy body, it becomes increasingly common to search for physical activity during gestational period. At that stage, women pass through many hormonal, metabolic and postural transformations. Some benefits were demonstrated to pregnant women and their fetuses with physical activity. Among them, better physical conditioning and consequently better adaptation to weight gain, whereas reducing the risk of gestational diabetes. Furthermore, it proved to be a protective factor against a severe public health problem, the prematurity. Studies showed that regular physical exercise in uncomplicated pregnancies is a protective factor in emotional and mental health of pregnant women and after this period. Key words: Physical Activity. Pregnancy. Benefits. Descritores: Atividade Física. Gestação. Benefícios. Introdução A atividade física é definida como qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que resulte em gasto energético maior que os níveis de repouso. Atualmente, o termo refere-se à exercícios executados com o fim de manter a saúde física, mental e espiritual. Durante a gestação são observadas diversas modificações fisiológicas na mulher, tais como: desconforto músculo-esquelético, aumento da lordose lombar, aumento da elasticidade ligamentar, mudança do centro de gravidade, rotação anterior da pelve e diminuição do condicionamento físico. Além do ganho ponderal, que vem associado à desenvolvimento de hipertensão arterial sistêmica, diabetes melitus, obesidade pós-parto, macrossomia fetal e complicações no parto e puerpério. Por meio da atividade física é possível prevenir e controlar diversos sintomas gravídicos, melhorando assim a saúde materna e fetal. A maioria das gestantes encontra dificuldades de obter orientações quanto à realização de exercícios, bem como quais os tipos de exercícios que devem ser feitos para ajudá-las neste momento. Apesar da consciência dos profissionais dos benefícios do exercício físico, ainda assim a grande maioria não o recomenda para as gestantes. Benefícios maternos Por meio da prática de atividade física, a gestante suporta melhor o aumento de peso, atenua as alterações posturais, mantém o condicionamento físico, tende a manter os níveis glicêmicos controlados, previne à incontinência urinária e a depressão puerperal1. A gestante com diabetes gestacional deve ser encorajada a fazer caminhadas regulares ou exercícios de baixo impacto. A prática de atividade física deve fazer parte da estratégia de tratamento dessa patologia2. Nota-se um auxílio no retorno venoso, prevenindo o aparecimento de varizes e trombose em membros inferiores, melhor irrigação placentária e diminuição da tensão na hora do parto3. O sedentarismo está relacionado direta e/ou indiretamente com dores na coluna, com os exercícios físicos houve uma melhora nas queixas álgicas, na postura, na insônia e na ingestão desrediada de analgésicos4. O estudo de caso com exercícios eleborados por fisioterapêutas (exercícios no solo e na água) comprovou uma melhora da dor nos membros inferiores, da dispnéia e da disposição materna5. As mulheres que exercem atividade física durante a gestação tendem a maior flexibilidade das articulações e ligamentos pélvicos. A elevação do estrogênio contribui para o relaxamento muscular suavizando as cartilagens e aumentando o fluído sinovial com resultado no alargamento dos ligamentos, facilitando a passagem do feto. Comprovou-se, assim, que a atividade física pode diminuir em aproximadamente 32 minutos a duração do 2° período do parto. Consequentemente, há uma diminuição das complicações obstétricas6. Da mesma forma, a atividade física está ligada à um menor risco de cesáreas. Os estudos também demonstram uma recuperação pós-operatória e um retorno ao peso anterior mais rápidos7. 1) Médica Residente do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Ana Costa, Santos/SP. 2) Médico Ginecologista e Obstetra do Hospital Ana Costa, Santos/SP. Instituição: Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Ana Costa, Santos/SP. Correspondência: Rua Pedro Américo, 60 – 11075-905 – Santos/SP, Brasil. E-mail: [email protected] Recebido em: 01/11/2012; aceito para publicação em: 25/05/2013; publicado online em: 20/09/2013. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. 64 Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 64 - 65, jul / ago / set 2013 Benefícios fetais A prematuridade (nascimento antes de completar as 37 semanas de gestação) é um problema de saúde pública no país, levando a 27% dos óbitos neonatais por ano. As atividades de lazer (exercício físico) são fatores de proteção para a prematuridade, principalmente se realizadas no 3° trimestre da gestação8. Estudos mostram que a atividade física é um fator protetor para a ocorrência de má formação do fechamento do tubo neural6. A noradrenalina estimulada com a atividade física é neutralizada com os níveis elevados de catecolaminas que existem na gestante e no feto, com isso, há uma proteção do excesso de atividade uterina e, conseqüentemente, uma proteção ao trabalho de parto prematuro. A atividade física fortalece a musculatura pélvica, sendo mais um fator protetor. O risco de trabalho de parto prematuro ou de aborto em gestantes que praticam atividade física relaciona-se com a intensidade e o excesso de exercícios9. Gestantes em atividade física durante os 3 trimestres tendem a ter fetos com peso maior do que aquelas que iniciaram a atividade física no 2° ou 3° trimestre9. Durante a atividade física, a homeostase das trocas gasosas impede efeitos deletérios da hipóxia fetal, pois o feto possui respostas compensatórias como o aumento da frequência cardíaca fetal e a vasodilatação cerebral. Dessa forma, exercícios de moderada intensidade em gestações normais provam-se seguros no quesito hemodinâmico fetal10. Fetos que nascem de mães praticantes de atividade física tendem a ter um Apgar elevado ao nascimento11. Recomendações A gestante deve ser avaliada por um clínico ou cardiologista para que possam ser descartados os principais sinais e sintomas de risco para a prática de atividade física. As contra-indicações absolutas são: diabetes melitus tipo I, histórico de dois ou mais abortos espontâneos, gravidez múltipla, tabagismo e ingestão excessiva de álcool. As contra-indicações relativas são: trabalho de parto prematuro, anemia, obesidade, diabetes melitus tipo II, condicionamento físico precário antes da gravidez12. Uma das atividades mais recomendadas e que a mulher sente mais prazer ao realizar é a hidroterapia. Promove um controle do edema de membros inferiores, maior gasto energético, aumento da capacidade cardiovascular, relaxamento corporal e controle do estresse13. As gestantes referem sensação de bem-estar, melhora do cansaço e da qualidade do sono e maior comodidade ao realizarem atividades de imersão. A água diminui as contrações uterinas, aumenta o volume urinário e a excreção do sódio, além de proporcionarem um aumento médio de 48,5% no volume total do líquido amniótico, sobretudo em pacientes com ILA reduzido prévio à imersão14. De acordo com a American College of Obstetrician and Gynecologists (ACOG), as gestantes deveriam evitar: a posição supina no 3° trimestre e exercícios que envolvam risco de trauma abdominal. Devem aumentar a dissipação de calor no 1° trimestre, com roupas e em ambientes adequados, fazer uma hidratação abundante, ter uma dieta com 3000 kcal ou mais por dia para a manutenção da homeostasia metabólica e reiniciar as atividades logo após o parto. Deve-se cessar a atividade física se: perda de líquido amniótico, dor no peito, sangramento vaginal, enxaqueca, dispnéia, edema, dor nas costas, náuseas, dor abdominal, contrações uterinas, fraqueza muscular, tontura e diminuição dos movimentos fetais9. Observou-se que, com o evoluir da gestação, o padrão da atividade física foi sendo modificado e diminuído. Isso é explicado pelo próprio peso e pela mudança do centro de gravidade, tornando à gestante menos disposta ao final da gravidez, independentemente da sua condição cultural e econômica, porém mais evidente em gestantes de baixa renda15. A maioria das mulheres retoma suas atividades físicas rotineiras Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 64 - 65, jul / ago / set 2013 em até três meses após o parto, porém deveriam ser encorajadas a retomar antes, para o melhor controle do peso dentre outros benefícios à saúde16. Considerações finais Ter o conhecimento dos benefícios que a atividade física proporciona na gestante e no feto aumenta o número de profissionais que indiquem essa prática como rotina do pré-natal. Diminuindo os riscos de uma gestação complicada e aumentando os níveis de mães e recém-nascidos saudáveis. É importante salientar a necessidade de um profissional especializado para acompanhar regularmente a gestante que se mostrar disposta a realizar a atividade física. Agradecimentos Agradecemos a profissional Rita Rochão por disponibilizar o seu conhecimento e sua experiência na área de atividade física específica para gestantes. Referências 1. Lima FR, Oliveira N. Gravidez e exercício. Rev Bras Reumatol. 2005;45(3):188-90. 2. Reichelt AJ, Oppermann MRL, Schmidt MI. Recomendações da 2ª reunião do grupo de trabalho em Diabetes e Gravidez. Arq Bras Endocrinol Metab. 2002;46(5): 574-81. 3. Leitão MB, Lazzoli JK, de Oliveira MAB, da Nóbrega ACL, da Silveira GG, de Carvalho T, Fernandes EO, Leite N, Ayub AV, Michels G, Drummond FA, Magni JRT, Macedo C, De Rose EH. Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte: atividade física e saúde na mulher. Rev Bras Med Esporte. 2000;6(6):215-20. 4. Mann L, Kleinpaul JF, Teixeira CS, Konopka CK. 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Borodulin K, Evenson KR, Herring AH. Physical activity patterns during pregnancy through postpartum. BMC Womens Health. 2009;9:32. 65 Artigo Revisão Pneumonia associada à ventilação mecânica: análise dos fatores associados Ventilator-associated pneumonia: risk factor analysis Maria Patrícia Seko Taguchi1 Egydio Pacheco Jr.2 RESUMO ABSTRACT Introdução: a pneumonia associada à ventilação mecânica representa grande parte das infecções nosocomiais, além de causar grande impacto na morbimortalidade e despesas hospitalares. Métodos de prevenir essa condiçãoa vêm sido publicados em diretrizes e ensaios clínicos, com recomendações por vezes discordantes e que podem diminuir a aderência a métodos eficazes de prevenção. Objetivo: apresentar e discutir estudos realizados em âmbito nacional e internacional acerca dos métodos de prevenção da pneumonia relacionada à ventilação mecânica. Métodos: revisão de literatura. Discussão: várias intervenções mostraram beneficio na prevenção da pneumonia associada à ventilação artificial. A utilização de protocolos de descontinuação da ventilação mecânica mostrou diminuir tempo de entonação e de internação em Unidades de Terapia Intensiva. Manter pacientes intubados sob decúbito elevado é outra medida a ser adotada, uma vez que contribui para diminuição da incidência de pneumonia. A descontaminação seletiva do trato digestivo, por sua vez, não cursou com benefícios relacionados ao desenvolvimento de pneumonia, assim como a traqueostomia realizada precocemente no intuito de prevenir infecção de vias aéreas. Introduction: Ventilator-associated pneumonia not only represents great part of nosocomial infections but also is responsible for great impact in nosocomial morbity, mortality and health costs. Various preventing methods have been published in guidelines and clinical trials. However, sometimes recommendations can be discordant. The lack of consistent evidence may confuse clinicians and health care professionals and lead to low adherence to potentially efficient methods. Objective: To present and discuss evidence-based publications relative to ventilator-associated pneumonia. Methods: Literature revision. Discussion: Some interventional measures demonstrated to be significantly beneficial in preventing ventilator-associated pneumonia. Protocols implantation to prevent pneumonia in intubated patients in Intensive Care Units is related with lower incidence of lung infection. Semirecumbent position is another measure to be adopted, since it has contributed do decrease pneumonia in patients requiring artificial ventilation. Whereas, the selective decontamination of the digestive tract did not cause benefic impact in ventilatorassociated pneumonia incidence, as well as proceeding earlytracheotomy to prevent lower airways infection. Descritores: Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica. Ventilação Artificial. Prevenção de Pneumonia Nosocomial. Key words: Ventilator Associated Pneumonia. Lung Infection. Artificial Ventilation. Introdução A ventilação artificial é um procedimento invasivo que, muitas vezes, preserva a vida do paciente sob risco de morte. Entretanto, não é medida inócua de complicações. Dentre verias complicações agudas e crônicas relacionadas, a pneumonia é a principal delas. A pneumonia relacionada à ventilação mecânica e definida por infecção de vias aéreas inferiores que se desenvolve a partir de quarenta e oito a setenta e duas horas em paciente submetido à entonação traqueal e ventilação mecânica, representando a maior causa de morbidade e mortalidade em pacientes sob cuidados intensivos. Os fatores relacionados a tal complicação, apesar de largamente discutidos, ainda geram controvérsias, tornando imprescindível a discussão acerca do tema. A pneumonia associada à ventilação mecânica é definida como sendo infecção do parênquima pulmonar que se desenvolve após 48 horas do início da ventilação mecânica2. A colonização da orofaringe por bactérias tem grande influencia na patogênese da pneumonia. A localização do tubo endotraqueal propicia a formação de um espaço morto em região subglotica onde se acumulam secreções, que por sua vez acabam por envolver o tubo e são impulsionadas para dentro dos pulmões pela forca da ventilação. A broncoscopia é o método de elucidação diagnostica mais aceito, embora nem sempre disponível. Sendo assim, a maioria dos protocolos de pneumonia associada à ventilação mecânica aceita que seja instituída terapia antimicrobiana desde que o paciente apresente dados clínicos que sugiram fortemente tal diagnostico2. Inúmeros fatores são relacionados ao desenvolvimento e prognóstico da pneumonia associada à ventilação invasiva. Rello et al.3, a partir de estudo coorte prospectivo, concluíram que sexo masculino e trauma à admissão em centro de terapia intensiva são fatores independentes à aquisição de pneumonia em pacientes sob ventilação mecânica. Em somatória, tais fatores podem estar relacionados a maiores riscos de broncoaspiração e colonização por bactérias patogênicas, devendo ser instituída maior vigilância sobre estes pacientes. Revisão de literatura Foram os pulmões de aço de Drinker-Shaw (1928) que proporcionaram o início da ventilação mecânica de longa duração, durante uma epidemia de poliomielite. Desde então, houve inúmeros avanços no que se refere à ventilação artificial. A partir dos anos 80, começaram a ser discutidas complicações relacionadas à ventilação mecânica, como barotrauma e a toxicidade pelo oxigênio. Curiosamente, apenas em 1999 houve associação formal entre a ventilação artificial e infecção de vias aéreas, hoje tida como a complicação mais comum relacionada a este método1. 1) Residente de Clínica Médica do Hospital Ana Costa, Santos/SP. 2) Assistente do Serviço de Pneumologia do Hospital Ana Costa, Santos/SP. Instituição: Serviço de Pneumologia do Hospital Ana Costa, Santos/SP. Correspondência: Maria Patricia Seko Taguchi, Rua Sergipe, 19 apto. 76 – 11060-420 Santos/SP, Brasil. E-mail: [email protected] Recebido em: 30/11/2012; aceito para publicação em: 02/06/2013; publicado online em: 20/09/2013. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. 66 Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 66 - 68, jul / ago / set 2013 Descontaminação do trato digestivo A colonização de orofaringe é mecanismo sabidamente patogênico relacionado à pneumonia adquirida em vigência de ventilação artificial. A descontaminação do trato digestivo com antibióticos tópicos reduz a colonização traqueal por bactérias patogênicas. O que não está bem elucidado, entretanto, é o benefício da descontaminação seletiva do trato digestivo em pacientes intubados. Estudo prospectivo randomizado realizado em três diferentes Unidades de Terapia Intensiva por Bergmans et al.4concluiu que o uso de antibióticos para descontaminação de orofaringe apenas (sem alterar colonização digestiva ou intestinal) determina redução importante no desenvolvimento de pneumonia em pacientes intubados. Em outro estudo randomizado, Abele-Horn et al.5 utilizaram Polimixina E e Tobramicina tópicas para descontaminação de orofaringe em um grupo de pacientes intubados. Concluiu-se que houve diminuição na incidência de pneumonia nos pacientes submetidos à descontaminação, porem não houve impacto sobre o tempo de internação ou mortalidade. Uma metanálise conduzida por Nathens et al.6 evidenciou que há diminuição significativa de mortalidade em pacientes cirúrgicos submetidos à descontaminação do trato digestivo, porém, não foi comprovado benéfico de tal procedimento quando realizado em pacientes gravemente enfermos. Em contrapartida, pacientes submetidos à descontaminação do trato digestório podem estar mais sujeitos, a médio e longo prazo, a infecções por bactérias gram-positivas, alem da possibilidade de desenvolver maior resistência a antibióticos7. Visto que vários estudos foram realizados a partir da descontaminação de orofaringe apenas, estômago e orofaringe e apenas estômago, é difícil considerar o beneficio real da descontaminação do trato digestivo. Alé disso, o risco de maior resistência bacteriana e desenvolvimento de infecções por bactérias resistentes dificultam a recomendação formal da descontaminação seletiva do sistema digestivo. Elevação da cabeceira A recomendação de manter pacientes sob ventilação mecânica em decúbito elevado está presente na maioria dos consensos sobre ventilação mecânica. O Centers of Disease Control recomenda que os pacientes sejam mantidos com elevação de cabeceira entre 30 e 45 graus como medida de prevenção de desenvolvimento de pneumonia8. Várias publicações relacionaram o decúbito elevado (maior que 30 graus) com menor risco de aspiração e incidência de infecção pulmonar9,10. No estudo randomizado comandado por Drakulovik et al.9, pacientes mantidos em decúbito elevado a 45º tiveram redução de mais de 75% de desenvolvimento de pneumonia nosocomial do que os pacientes intubados mantidos em posição supina, com beneficio maior em pacientes com sonda enteral. Em estudo longitudinal e descritivo publicado no American Journal of Critical Care11, a incidência de pneumonia em pacientes sob ventilação mecânica foi diretamente associada com a gravidade do paciente e com a decúbito baixo (menor que 30 graus) durante as primeiras 24 horas pós intubação, não havendo relação entre posição de cabeceira e desenvolvimento de pneumonia após esse período. Van Nieuwenhoven et al.12, por sua vez, questionaram a aplicabilidade real da cabeceira elevada em unidades de terapia intensiva. Surpreendentemente, em seu estudo, apesar do intuito de seguir um protocolo de elevação de decúbito em 45 graus, não houve cumprimento real da recomendação. A não aderência ao método está relacionada à falta de conhecimento sobre os benefícios alcançados, bem como a falta de estratégias nas unidades de terapia intensiva para prevenção da pneumonia13. O uso de alarmes no leito de pacientes associado à monetarização do decúbito dos pacientes intubados sobre a equipe mostrou resultados positivos em relação à aderência a recomendação do CDC14. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 66 - 68, jul / ago / set 2013 Protocolos de extubação Outro fator que se correlaciona positivamente com o desenvolvimento de pneumonia associada à ventilação mecânica e o tempo de permanência da mesma. A utilização de protocolos para suspensão da ventilação mecânica reduz seu uso, bem como a incidência de pneumonia e tempo de internação em unidade de terapia intensiva16-19. Alguns autores destacam a diferença entre os termos descontinuação e desmame ventilatório. Descontinuação representa a interrupção do suporte ventilatório assim que o paciente tiver condições de respirar espontaneamente; enquanto desmame ventilatório seria um processo de diminuição gradual dos parâmetros ventilatórios nos pacientes intubados, medida esta realizada muitas vezes de forma empírica pelo medico intensivista20,21. Ely et al.18 promoveram estudo de coorte randomizado no qual pacientes do grupo de casos, intubados e sob ventilação mecânica, foram diariamente avaliados (exame físico e exames complementares) no quesito função respiratória por uma equipe multidisciplinar, de maneira a serem extubados assim que considerados como tendo recuperado a capacidade de respirar espontaneamente. O grupo-controle não recebeu tal avaliação, apenas cuidados usuais. O grupo que recebeu intervenção teve tempo de entonação reduzido, assim como menor incidência de infecção pulmonar. Resultado semelhante foi obtido por Kollef et al.19, em estudo de casos e controles realizado em das unidades de terapia intensiva e com utilização de protocolo de avaliacao diária para desmame ventilatorio realizado pelo médico no grupo de casos. Uma metanálise publicada por Blackwwod et al.20 analisou 11 estudos que compararam uso de protocolos com a não utilização dos mesmos. Verificou-se que o uso de protocolo para suspensão de ventilação artificial correlacionou-se com diminuição de tempo de entonação, principalmente em pacientes cirúrgicos. A popularização dos protocolos de extubação começou a partir da publicação em 2001 de uma Diretriz para descontinuação de suporte ventilatório21, onde foram expostas recomendações baseadas em evidencia para retirada da ventilação mecânica nos pacientes intubados. Os protocolos de descontinuação permitem a análise subjetiva de dados referentes à função ventilatoria do paciente; dados estes a serem analisados por equipe multiprofissional (não médica). A utilização destes permite diminuição do tempo sob ventilação artificial do que o uso do desmame ventilatorio usual18,19,22; sendo que na Diretriz publicada em 2001 por Ely et al.21 tal medida obteve recomendação com nível de evidência A (evidência científica obtida a partir de estudos randomizados e não randomizados com resultados significativos que justificam com consistência a recomendação da diretriz). As Diretrizes do CDC para prevenção de pneumonia nosocomial considera o uso de protocolos de extubacao como sendo moderadamente recomendado (nível de evidencia II)8. Traqueostomia precoce A traqueostomia em pacientes intubados é usualmente empregada quando há dificuldade na descontinuação da ventilação artificial. Sua utilização e relacionada com maior facilidade de manuseio do paciente, bem como na aspiração de vias aéreas, maior conforto e mais segurança no processo de interrupção de ventilação mecânica23. Tais benefícios, porém, não foram comprovados por ensaios clínicos. A realização de traqueostomia, assim como tempo ideal para realização de mesma em pacientes dependentes de ventilação vem sido discutido há décadas. Algumas publicações estudaram o impacto da realização de traqueostomia sobre a incidência de pneumonia associada à ventilação mecânica24,25. Nseir et al.24 realizaram estudo de casos e controles para comparar a incidência de pneumonia em pacientes intubados por tempo superior a uma semana que foram traqueostomizados e entre os que não foram submetidos a tal procedimento. Concluiu-se que a realização de traqueostomia seria fator independente associado à menor 67 incidência de pneumonia em pacientes dependentes de ventilação artificial. Já Chech et al.25 publicaram um trabalho de coorte prospectivo onde procuraram relacionar a realização de traqueostomia com índices de morbi-mortalidade dentro e fora de unidades de terapia intensiva. Não obtiveram resultados que permitissem recomendar a realização de traqueostomia, uma vez que não houve impacto sobre mortalidade. O tempo de realização de traqueostomia é outro tema 26 controverso. Griffiths et al. publicaram um artigo de revisão e meta analise acerca do melhor tempo para realização de traqueostomia em pacientes dependentes de ventilação artificial. Foram avaliados 406 pacientes no total de cinco estudos prospectivos randomizados. Traqueostomia precoce seria definida por intervalo de 0 a 7 dias da admissão em UTI ou em tempo de intubação traqueal. Os resultados mostraram que não houve diferença na incidência de pneumonia dentre os pacientes submetidos à traqueostomia precoce e tardia, porém, o tempo de internação foi notadamente menor entre os traqueostomizados precocemente. Um ensaio clínico randomizado publicado por Rumbak et al.27 questionou os benefícios da realização de traqueostomia até 48h horas de permanência em ventilação mecânica, comparados com pacientes que só seriam submetidos a este procedimento após 14 dias de intubação. O grupo que foi traqueostomizado precocemente teve menor índice de mortalidade, bem como menos tempo de internação em UTI. Já outras três publicações28-30 com estudos realizados a partir de métodos semelhantes com o mesmo objetivo (verificar se há beneficio na realização da traqueostomia precoce) obtiveram resultados discordantes. Em nenhum deles foi comprovada associação de realização precoce de traqueostomia com menor incidência de pneumonia ou mortalidade.Visto a controvérsia acerca dos benefícios da realização da traqueostomia precoce e a não recomendação formal na maioria das diretrizes sobre métodos de prevenção de pneumonia associada à ventilação mecânica, este não é procedimento recomendado, devendo ser aplicado de acordo com avaliação individual de cada paciente. Considerações finais É importância da implantação de protocolo nas unidades de terapia intensiva, de maneira a diminuir a incidência de complicações relacionadas à ventilação mecânica - dentre elas a pneumonia. É imprescindível ressaltar que a epidemiologia da pneumonia relacionada à ventilação artificial varia de acordo com cada serviço de terapia intensiva, contudo, medidas como elevação de cabeceira, informação da equipe multidisciplinar em terapia de unidade intensiva acerca dos benefícios de métodos preventivos, assim como a implantação de diretriz a ser seguida para descontinuação de ventilação artificial são medidas comprovadamente eficazes, de baixo custo e que causam grande impacto na morbimortalidade dos pacientes temporariamente dependentes de ventilação mecânica. Referências 1. Chopin C, L'histoire de la ventilation méchanique: des machines et des hommes. Réanimation. 2009;16:4-12. 2. Rello J, Ollendorf DA, Oster G, Vera-Lonch M, Bellm L, Redman R, Kollef MH. Epidemiology and outcomes of ventilator-associated pneumonia in a large US database. Chest J. 2002;6:2115-21. 3. Morehead R. Ventilator-associated pneumonia. Arch Int Med. 2000;160,1926-36. 4. 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Ocorre, de preferência, no período pós-menopausa e as principais manifestações clínicas são o sangramento vaginal anormal, dor e distensão abdominal. Caracteriza-se morfologicamente por elementos epiteliais e estromais, ambos malignos. Relato de caso: apresenta-se o caso de paciente, com 82 anos, admitida no Pronto Socorro do Hospital Ana Costa, Santos, com dor abdominal e sangramento vaginal havia uma semana. Foi submetida à curetagem uterina, na qual foi diagnosticado carcinossarcoma do útero, posteriormente submetida à histerectomia total abdominal e salpingooforectomia bilateral. Descritores: Neoplasias Uterinas. Sarcomas Uterinos. Carcinossarcoma. Introdução Carcinossarcoma do útero pertence ao grupo de tumores mistos, também conhecido como tumor Mulleriano misto maligno ou tumor mesodérmico misto maligno. São tumores infrequentes, correspondendo a 3 a 9% de todas as neoplasias ginecológicas, 48% de todos os sarcomas, porém, com uma incidência de 8,2 por um milhão mulheres/ano1. São altamente agressivos e de prognóstico sombrio. É a neoplasia mais frequente entre os tumores uterinos mistos e apresenta componentes epitelial e mesenquimal, que contribuem para a arquitetura do tumor1. A incidência é predominantemente entre as mulheres na pósmenopausa, mas casos bem documentados têm sido publicados em pacientes jovens. Manifesta-se com sangramento vaginal, dor, distensão abdominal e/ou sintomas de metástases à distância. Ao exame abdominal, denota-se tumor pélvico e, ao exame especular, podem-se identificar lesões exteriorizando-se pelo canal cervical2,3. Apesar da baixa prevalência, é de grande interesse em razão de suas múltiplas características anatomopatológicas e clínicas. Relato de caso Paciente, de 82 anos, do sexo feminino, foi admitida no prontosocorro de Ginecologia e Obstetrícia, do Hospital Ana Costa de Santos, com quadro de dor abdominal havia uma semana, associada a sangramento vaginal havia um dia. Como antecedentes pessoais, apresentava anemia aplásica ABSTRACT Introduction: Uterine carcinosarcoma are rare tumors, either known as malignant mixed mesodermal tumor or malignant mixed mullerian tumor. This tumor represents from 3% to 9% of all the gynecological malignancies and occurs rather in post menopause period. The main manifestations are the abnormal vaginal bleeding, pain and abdominal distension. It's morphologically characterized by epithelial elements and stromals, both are malignant. Case report: we show the case of a patient, 82 years old, admitted in the Santos Ana Costa Hospital's ER, with abdominal pain and vaginal bleeding for a week. First of all, she was submitted to a uterine curettage, in which uterine carcinosarcoma was diagnosed. After this, she was submitted to a total abdominal hysterectomy and bilateral salpingo-oophorectomy. Key words: Uterine Neoplasms. Uterine sarcomas. Carcinosarcoma. diagnosticada em 2008 (em acompanhamento com hematologista), síndromes das pernas inquietas, hipertensão arterial sistêmica e obesidade. Submeteu-se previamente às seguintes operações: câncer de mama em 2004 (quadrantectomia em mama direita, com radioterapia, tamoxifeno até 2009), cirurgia de correção de hérnia em coluna em 2007, perineoplastia em 1998. Antecedentes obstétricos e ginecológicos: IIIG IIIPN 0A, menopausa aos 56 anos, último preventivo há dois anos. Ao exame clínico, encontrava-se em regular estado geral, descorada ++/4+. O abdômen encontrava-se globoso, flácido, com dor a palpação profunda em hipogastro, ruídos hidroaéreos presentes, tumoração palpável em região pélvica, endurecida, pouco móvel, cerca de 5 cm acima da sínfise púbica, perdendo-se na escavatura pélvica. O exame especular mostrava formação polipoide exteriorizando-se pelo canal cervical, consistente, fibroelástica, irregular, com pequena quantidade de sangue vermelho vivo em fundo vaginal. Ao exame de toque bimanual, tocava-se a lesão descrita acima, de consistência fibroelástica, superfície irregular; os fundos de sacos eram livres e útero aumentado de tamanho comparável à gestação de 3 meses, e anexos não eram palpáveis. Foi internada e foram solicitados os seguintes exames: Hemograma com Hb de 8,0 / Ht de 25,3% / Leucócitos de 10.900 (sem desvio a esquerda) / Plaquetas de 180.000 / bilirrubina total de 0,3 / bilirrubina direta de 0,1 / sódio de 129 mEq/L / potássio de 3,4 mEq/L / ureia de 20 / creatinina de 1,0 / amilase de 35. Os exames de imagem: exame de ultrassonografia de abdômen mostrou litíase biliar e esteatose 1) Residente de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Ana Costa, Santos/SP. 2) Chefe do serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Ana Costa, Santos/SP. Correspondência: Rua Sampaio Moreira, nº07, apto 107 – 11040-080 Santos/SP, Brasil. E-mail: [email protected] Recebido em: 30/11/2012; aceito para publicação em: 15/05/2013; publicado online em: 20/09/2013. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 69 - 70, jul / ago / set 2013 69 hepática grau I; e exame de ultrassoografia transvaginal com útero anteversofletido, dimensões aumentadas, volume de 587 cm3, textura miometrial heterogênea, eco endometrial espessado e heterogêneo de 0,78cm, imagem cística anecóica regular em anexo direito. Foi levantada a hipótese diagnóstica de câncer de endométrio devido ao quadro clínico e ao exame de imagem. Foi realizado procedimento de curetagem uterina e o diagnóstico anatomopatológico foi de cortes de endométrio contendo neoplasia de pequenas células envolvendo o estroma e revestindo algumas glândulas atípicas, com a presença de algumas ilhas de cartilagem: tumor mulleriano misto maligno (carcinossarcoma). A conduta foi cirúrgica, tendo sido encontrado útero aumentado de tamanho, comparável com gestação de três meses, anexos de aspectos normais, regiões de fundo de saco, fossas ovarianas e cavidade pélvica normais; não havia ascite. Realizou-se histerectomia total abdominal e salpingooforectomia bilateral. O resultado anatomopatológico mostrou carcinossarcoma endometrial infiltrando miométrio profundo com presença de invasão angiolinfática, com margens cirúrgicas, ovários e tubas eram livres da doença. A paciente recebeu alta no segundo dia pósoperatório. Evoluiu com reinternações frequentes devido a sintomas decorrentes das metástases para outros órgãos. Foi a óbito com quatro meses de evolução. Os locais de metástases mais comuns incluem os pulmões (70%), o abdômen superior (60%), os ossos (24%) e o cérebro (4%). A alta taxa de recorrência (50 a 80%), independentemente da histerectomia, indica que metástases subclínicos já estão presentes no momento do tratamento. Por ser uma neoplasia agressiva, 30% das pacientes já na primeira consulta apresentam propagação da doença extrauterina2,6,7. O achado de metástases à distância, mesmo sem envolvimento linfonodal, sugere que a via hemática seja importante rota de disseminação6. O tratamento cirúrgico é o principal método terapêutico, e a histerectomia total extrafascial com salpingooforectomia bilateral é a terapêutica de escolha2,3,7. Mesmo em pacientes com doença metastáticas, está indicada a cirurgia, visando ao controle dos sintomas. Durante a laparotomia, coleta de lavado peritoneal para citologia oncótica e linfadenectomia seletiva (amostras) poderão ser realizados. A cirurgia de estadiamento, embora controversa, deve ser realizada obedecendo as normas da FIGO 2. A linfadenectomia tem particular importância para pacientes com tumores mistos – carcinossarcoma, por exemplo. Em tumores localmente avançados e sem doença à distância optase por exenteração pélvica 2. Discussão Sarcomas do útero são tumores raros, que compreendem 1,0% de todas as neoplasias malignas ginecológicas e 4 a 9% de todos os tumores invasivos uterinos4. Representam um grupo heterogêneo de neoplasias, que se originam de elementos mesodérmicos – músculo do útero, estroma endometrial e parede dos vasos linfáticos e sanguíneos5. Dividem-se em dois tipos: puros (apenas elementos mesodérmicos, por exemplo, leiomiossarcoma) e mistos (elementos mesodérmicos e epiteliais, como o carcinossarcoma). Também podem ser divididos em homólogos e heterólogos, de acordo com a presença ou não de elementos mesodérmicos próprios do útero. Músculo liso e estroma representam elementos homólogos; e músculo estriado, osso, cartilagem, linfáticos, tecido gorduroso representam elementos heterólogos3,6. O carcinossarcoma ou tumor mulleriano misto maligno corresponde a apenas 1,2% das neoplasias uterinas e 48% de todos os sarcomas e possui incidência de 8,2 / um milhão de mulheres/ano1,3,7. São tumores raros, mas extremamente agressivos, tendo prognóstico pobre, com uma sobrevida global geralmente inferior a 50% em dois anos, mesmo em fases iniciais da doença5. Fatores de risco são similares ao carcinoma de endométrio: obesidade, nuliparidade, uso de estrogênio exógeno, uso de tamoxifeno3. Apresentam dois componentes celulares: mesodérmico e epitelial, ambos malignos. O componente carcinomatoso (epitelial) pode ser seroso, de células claras, papilar, endometrióide, escamoso ou indiferenciado. O componente sarcomatoso (mesodérmico) pode ser homólogo ou heterólogo6,7. Acomete, principalmente, paciente na pós-menopausa, é rara em jovens, mais frequente na raça negra, e manifesta-se clinicamente com sangramento vaginal anormal, dor e distensão abdominal, e presença de tumor pélvico. Muitas vezes observa-se a presença de lesões polipoides grandes, intrauterinas, e raramente no canal cervical. Diagnóstico diferencial deve ser feita com adenossarcoma, na qual o componente epitelial é sempre benigno, e com carcinoma de endométrio de alto grau8. O estadiamento não está completamente definido, em virtude da sua raridade, pois esse tipo de neoplasia apresenta comportamento diferente dos outros tumores do corpo uterino; mesmo assim, o estadiamento usado é o da FIGO (Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia), o mesmo para câncer de endométrio2,3,7. Radioterapia: ainda não há estudos controlados para avaliar o benefício da radioterapia adjuvante; sendo que esta parece aumentar o controle locorregional da doença, mesmo em estádios iniciais. O efeito da radioterapia sobre a sobrevida das pacientes não é claro. Sua análise é muito complexa, em virtude da sua alta incidência de metástase à distância, porém, há estudos que falam que promove redução das taxas de recidiva pélvica, quando utilizados no pós-operatório nos carcinossarcomas, sarcomas indiferenciados e leiomiossarcomas. O valor da braquiterapia também é discutido, porém deve ser realizado nos mesmos moldes descritos para câncer de endométrio2,3,7. 70 Quimioterapia: apesar da ineficácia para doença avançada, há um grande interesse em definir seu papel na adjunvância. A maioria dos estudos mostra baixa efetividade, tanto no que se refere a tempo livre de doença quanto à sobrevida total; no entanto, as séries são pequenas e insuficientes2,3,7. Referências 1. Ogata DC, Busato WSF, Almeida GL, Pereira Neto E, Moreira SGB, Santos JVQ. Carcinossarcoma uterino: relato de caso com invasão de bexiga, mimetizando mulleriose com transformação maligna. Rev Bras Cancerol. 2012;50(1):79-83. 2. Menezes ANO, Faloppa CC, Fukazawa EM, Baiocchi Neto G, Badiglian Filho L, Kumagai LY, Oliveira RAR. Sarcomas do corpo uterino. In: Baiocchi Neto G. ed. Manual de condutas em Ginecologia Oncológica/ Hospital A.C. Camargo, Departamento de Ginecologia. São Paulo: FAP;2010.pp.33-6. 3. Memarzadeh S, Mundt AJ, Plaxe SC, Goff B, Dizon DS, Falk SJ. Uterine carcinosarcoma. UpToDate® [periódico online] 2012 [ citado em Set 2012] Disponível em: URL: http://www.uptodate.com/store. 4. Brooks SE, Zhan M, Cote T, Baquet CR. Surveillance, epidemiology, and results analysis of 2677 cases of uterine sarcoma 1989 – 1999. Ginecol Oncol. 2004;93(1):204-8. 5. Jolis CJ. Sarcomas uterinos. Rev Chil Obstet Ginecol. 2005;70(5):332-9. 6. Appel M, Mônego HI, Reis R, Capp E, Bilibio JP, Rivoire WA. Neoplasias de corpo uterino: sarcoma uterino. In: Freitas F, Menke CH, Rivoire WA, Passos EP, eds. Rotinas em Ginecologia. Porto Alegre: Artmed; 2011.pp.473-7. 7. Coelho FRG, Costa RLR. Sarcomas do aparelho genital feminino: corpo do útero. In: Coelho FRG, Costa RLR eds. Padronização em ginecologia oncológica. São Paulo: Tecmedd; 2007.pp.163-8. 8. Figueiredo EMA. Sarcomas uterinos. In: Figueiredo EMA editora. Ginecologia oncológica. Rio de Janeiro: Revinter; 2004.pp.89-95. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 69 - 70, jul / ago / set 2013 Relato de Caso Síndrome da hipertensão intracraniana idiopática Idiopathic intracranial hypertension syndrome Luciana Garcia Iervolino1 Lucas Holdack1 1 Amanda Garcia Brito 2 Maria Lucia de Almeida David Gibelli 3 Celso Afonso Gonçalves Guilherme de Oliveira Matte4 RESUMO Introdução: a síndrome da hipertensão intracraniana idiopática (HII), apesar de sua baixa incidência, ocorre predominantemente na população de mulheres jovens e obesas. Pacientes com HII podem apresentar sintomas relacionados ao aumento da PIC e ao papiledema, sendo o mais comum, a cefaleia. O diagnóstico de HII é essencialmente de exclusão, sendo necessários exames de neuroimagem e bioquímicos do LCR para afastar outras doenças. O tratamento pode ser clinico ou cirúrgico, dependendo da gravidade e evolução do quadro. Relato do caso: paciente do sexo feminino, de meia idade, com sintomas de hipertensão intracraniana, papiledema bilateral e sem outros achados neurorradiológicos. Foi diagnosticada com HII, realizando tratamento clínico e mantendo-se estável após um ano de acompanhamento. ABSTRACT Introduction: Despite the low incidence, idiopathic intracranial hypertension syndrome (IIH) occurs mainly in young and fat women. Patients with IIH can present symptoms related to the intracranial pressure increase and papiledema, the most common being headache. IIH is essentially an exclusion diagnosis. Thus, neuroimaging and biochemical of CSF are necessary to rule out other diseases. Treatment may be clinical or surgical, depending on the severity and progression of the disease. Case report: A female patient, middle-aged, with symptoms of intracranial hypertension, and bilateral papilledema without other neuroradiological findings. She was diagnosed with IIH, receiving clinical treatment and maintaining stable after one year of follow up. Key words: Pseudotumor cerebri; papiledema; increased intracranial pressure. Descritores: Pseudotumor cerebral; papiledema; hipertensão intracraniana. Introdução A síndrome de pseudotumor cerebral (SPC) é um processo neurooftalmológico de causa desconhecida que afeta tipicamente mulheres jovens/de meia idade obesas, em uma incidência de um caso para 100.000 habitantes/ano na população geral e 20 casos por 100.000 habitantes/ano considerando apenas mulheres jovens e obesas1. A síndrome é caracterizada por aumento da pressão do líquido cefalorraquidiano (LCR) à punção lombar, porém, com neuroimagens normais e estudo bioquímico normal; presença de sinais e sintomas relacionados com a hipertensão intracraniana e a ausência de lesões neurológicas localizatórias, exceto paralisia de sexto par craniano2,3. O termo pseudotumor cerebral é amplo e foi substituído por Foley por hipertensão intracraniana benigna4. No entanto, vários autores documentaram perda visual grave em muitos destes pacientes e o termo benigno passou a ser inadequado, sendo preferível a denominação hipertensão intracraniana idiopática (HII)5,6. A SPC pode ser dividida em primária e secundária. A primária pode ser totalmente idiopática (quando se usa o termo HII), ou desencadeada por algum fator como drogas (tetraciclinas, corticosteroides, lítio, anticoncepcionais, nitrofurantoína etc.) e doenças sistêmicas (doença de Addison, doença pulmonar obstrutiva crônica e apnéia obstrutiva do sono). A SPC secundária ocorre quando há obstrução no sistema de drenagem venosa craniana ou alteração na composição do líquor1. O objetivo desse trabalho é apresentar um caso de síndrome de hipertensão intracraniana benigna, destacando os aspectos oftalmológicos no diagnóstico, tratamento e acompanhamento do paciente portador da síndrome com base em artigos publicados na literatura. Relato de caso Paciente do sexo feminino, 44 anos, procedente de Praia Grande, procurou atendimento no Pronto-Socorro de Oftalmologia do Hospital Ana Costa Santos com queixa de cefaleia frontal importante e perda transitória da visão ao levantar-se. Na anamnese, negava doenças sistêmicas ou uso de medicamentos contínuos. Ao exame oftalmológico, apresentava acuidade visual de 20/20 em ambos os olhos (AO) sem correção, biomicroscopia normal e exame fundoscópico evidenciando papiledema bilateral, olho direito pouco maior que olho esquerdo (Figura 1), motilidade ocular extrínseca preservada e sem alterações no exame neurológico. Foi internada para investigação diagnóstica, realizando: tomografia computadorizada de crânio com contraste sem evidência de lesões expansivas ou ventriculomegalia; angiorressonância, excluindo alterações no sistema venoso de drenagem; retinografia e angiografia fluoresceínica, demonstrando papiledema bilateral, todavia, sem alterações arteriais ou venosas; punção liquórica, com pressão de saída normal de 24mmH2O e análises bioquímicas sem alterações. Terminada essa etapa, foi encaminhada para acompanhamento ambulatorial, sendo realizado exame de biometria: olho direito 22.18mm e olho 1) Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metropolitana de Santos UNIMES, Santos/SP, Brasil. 2) Professora Titular de Neurologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metropolitana de Santos UNIMES, Santos/SP, Brasil. Instituição: Disciplina de Neurologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metropolitana de Santos UNIMES, Santos/SP, Brasil. Correspondência: Marília Almeida, Rua Helvétia, 737, Apto. 1 – 01215-010 São Paulo/SP, Brasil. E-mail: [email protected]; Recebido em: 25/05/2013; aceito para publicação em: 01/08/2013; publicado online em: 20/09/2013. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 71 - 73, jul / ago / set 2013 71 esquerdo 22.38mm; tomografia de coerência óptica (OCT) de papila: aumento de espessura e diâmetros discais, contudo, exame de baixa confiabilidade; campo visual (CV) Humphrey, estratégia full threshold: demonstrando perda localizada no quadrante nasal inferior mais acentuada em olho direito (Figura 2). Durante o acompanhamento clínico, evidenciaram-se ainda hipotireoidismo, obesidade e hipercolesterolemia. Nova tomografia foi realizada, revelando retenção liquórica caracterizada pelo rebaixamento do assoalho selar e na bainha do nervo óptico; sinais compatíveis com pseudotumor cerebral. Após um ano de seguimento, realizou tratamento clínico para controle de obesidade, dislipidemia e hipotireoidismo, mantendo quadro oftalmológico estável, sem aumento de perda periférica de campo visual e com papiledema bilateral crônico, sem alteração no tamanho em comparação com o momento do diagnóstico. OLHO DIREITO OLHO ESQUERDO Figura 1 – Retinografia demonstrando papiledema bilateral, mais acentuado em OD. Figura 2 – Campo Visual mostrando perda localizada no quadrante nasal inferior mais acentuada em OD. Valores fornecidos pelo aparelho: OE: MD: -3.50 DB P<5% OD: MD: -5.63DB P<0,5% PSD: 3.75 DB P<5% PSD: 6.33 DB P< 0.5% SF: 2.76 DB P< 10% SF: 3.22 DB P<5% 72 Discussão A paciente do caso apresenta quase todos os critérios diagnósticos para a síndrome de hipertensão intracraniana idiopática: sinais e sintomas de hipertensão intracraniana (cefaléia, náuseas, vômitos, obscurecimento transitório da visão e papiledema); ausência de sinais neurológicos focais; ventrículos simétricos com tamanho normal ao exame de imagem e LCR com parâmetros bioquímicos e citológicos nos limites normais. Além disso, apresenta o perfil populacional mais acometido pela doença: mulher obesa de meia idade7. A associação entre HII e obesidade é bem conhecida, especialmente em mulheres jovens com ganho de peso recente. Acredita-se em um efeito mecânico direto: aumento da pressão abdominal levando a aumento da pressão torácica, causando aumento da pressão venosa cerebral e por fim aumento da resistência às granulações aracnoides6. O papiledema e os sinais associados podem ser assimétricos, como no caso da paciente, ou unilaterais e, assim, a HII não deve ser excluído do diagnóstico diferencial das neuropatias ópticas monoculares6. Os defeitos de campo visual são extremamente comuns nos pacientes com HII, podendo acometer entre 49 a 87% dos pacientes durante alguma fase da doença. Aumento da mancha cega é o achado mais comum ao exame de CV e ocorre devido à hipermetropia secundária ao papiledema. Geralmente o primeiro sinal de dano axonal na HII é o defeito campimétrico no quadrante nasal inferior respeitando a linha média horizontal como no caso apresentado1,4. Exames neurorradiológicos podem também contribuir com o diagnóstico da HII ao detectar achatamento da esclera posterior, sela túrcica vazia, alargamento do espaço subaracnoideo perióptico e deslocamento vertical do nervo óptico que ocorrem em 80%, 70%, 45% e 40% dos pacientes respectivamente; apesar do diagnóstico de HII ser essencialmente de exclusão1. O LCR pode apresentar resultados falso-negativos, ou seja, os níveis da pressão inicial se apresentam dentro ou abaixo dos limites normais (50 a 200 mmH2O em decúbito lateral), em pacientes com quadro clínico de pseudotumor cerebral. Tal fato é devido às flutuações naturais da pressão liquórica, que podem ocorrer entre os períodos de hipertensão6. O acompanhamento do paciente deve ser realizado monitorando continuamente a função visual durante o tratamento, tanto através da medida de acuidade visual, mas principalmente pela monitoração do campo visual e do papiledema. Medidas da pressão intracraniana, embora uteis, podem ser enganosas, uma vez que a pressão intracraniana flutua bastante durante o dia e não se correlaciona sempre com o quadro clinico6,7. O objetivo do tratamento da HII é a redução da PIC. As principais indicações do tratamento são cefaleia permanente, papiledema moderado a severo e perda visual associada a defeito perimétrico6. Estudos comprovaram que a perda de peso melhora o papiledema e a função visual nos pacientes obesos com HII, alem de se associar a redução da PIC. Assim, uma dieta adequada com redução do consumo de vitamina A e de produtos contendo tiramina, devem ser incentivadas como tratamento coadjuvante5,6. A acetazolamida é o medicamento de primeira escolha no tratamento, atuando na diminuição da produção de LCR pelo plexo coride, reduzindo a PIC; a dose media é de 1000mg/dia divididas em quatro tomadas. O diurético furosemida é uma alternativa, podendo ser usado como adjuvante ou substituto6,7. O topiramato apresenta efeito hipotensor menos potente que a acetazolamida, mas apresenta a vantagem de induzir perda de peso e ter papel na profilaxia da cefaleia6. Os corticosteroides ficam restritos para casos de papiledema agudo associado à perda visual de rápida evolução, enquanto se aguarda o procedimento cirúrgico indicado6. O tratamento cirúrgico deve ser indicado nas seguintes situações: perda visual progressiva, a despeito da terapia medicamentosa máxima; perda visual grave e de rápida instalação no inicio do Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 71 - 73, jul / ago / set 2013 quadro associado a defeito pupilar aferente relativo ou outro sinal de disfunção visual grave; papiledema grave causando edema ou exsudato macular; e intolerância medicamentosa. Dois principais procedimentos cirúrgicos são usados: fenestração da bainha do nervo óptico (FBNO) e a derivação lombo-peritoneal. Hoje em dia, devido às inúmeras complicações da derivação lombo-peritoneal, a FBNO é preferida em relação ao outro procedimento cirúrgico6. Por fim, a maior ênfase no tratamento clinico e cirúrgico da HII deve ser no sentido de prevenir ou estabilizar a perda visual. É fundamental, portanto, a participação ativa do oftalmologista e do neurologista, seja no diagnóstico, no monitoramento e no tratamento desta afecção. Referências 1. Monteiro MLR, Moura FC. Aspectos oftalmológicos da síndrome da hipertensão intracraniana idiopática. Rev Bras Oftalmol. 2008;67(4):196203. 2. Friedman DI, Jacobson DM. Diagnostic criteria for idiopathic intracranial hypertension. Neurology. 2002;59:1492-5. 3. Friedman DI, Jacobson DM. Idiopathic intracranial hypertension. J Neuroophthalmol. 2004;24 :138-45. 4. Foley J. Benign forms of intracranial hypertension; toxic and otitic hydrocephalus. Brain. 1955;78(1):1-41. 5. Corbett JJ, Savino PJ, Thompson HS, Kansu T, Schatz NJ, Orr LS, Hopson D. Visual loss in pseudotumor cerebri. Follow-up of 57 patients from five to 41 years and a profile of 14 patients with permanent severe visual loss. Arch Neurol. 1982;39(8):461-74. 6. Monteiro MLR. Perda visual na síndrome do pseudotumor cerebral. Arq Bras Oftalmol. 1994;57(2):122-5. 7. Monteiro MLR. Edema de papila da hipertensão intracraniana (papiledema). In: Monteiro MLR, Zangalli AL, eds.Neuro-oftalmologia.2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2011.pp.147-63. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 71 - 73, jul / ago / set 2013 73 Relato de Caso Tromboembolismo pulmonar em pacientes hemodinamicamente estáveis Pulmonary embolism in hemodynamically stable patients Luiz Alexandre Albuquerque Freixo Campos1 Egydio Pacheco Junior2 RESUMO Introdução: o tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma emergência cardiovascular relativamente comum, mas muitas vezes subdiagnosticada, podendo ter várias formas de manifestação, inclusive silenciosa. Deve ser sempre suspeitado em todos os pacientes com dispneia nova ou que piorou, dor torácica ou hipotensão sustentada sem causa alternativa óbvia. Relato de caso: Foram selecionados cinco casos de tromboembolismo pulmonar, afim de demonstrar as diversas manifestações clínicas e considerar este diagnóstico em possíveis portadores. Todos os casos foram em pacientes com estabilidade hemodinâmica, portanto, foram submetidos à estratificação quanto à possibilidade de TEP e à dosagem de dímero-D. O tratamento inclui uma terapia de curta duração com anticoagulante de ação rápida (por via parenteral), seguida por terapia com antagonista de vitamina K por pelo menos 3 meses. Considerações finais: o tromboembolismo pulmonar é uma emergência cardiovascular relativamente comum, devendo ser prontamente investigada nos casos suspeitos para início rápido de terapia, a fim de diminuir a mortalidade. ABSTRACT Introduction: Pulmonary thromboembolism (PTE) is a relatively common cardiovascular emergency, but often underdiagnosed and can have several manifestations, including asymptomatic patients. PTE should always be suspected in any patient with new or worsened dyspnea, chest pain, or sustained hypotension without an obvious alternative. Case report: We selected five cases of pulmonary embolism in order to demonstrate the various clinical manifestations and consider this diagnosis in some patients. All cases were in patients with hemodynamic stability, therefore, underwent stratification to assess the possibility of PTE and the dosage of D-dimer. Treatment includes a short-term therapy with a fast action parenteral anticoagulant, followed by treatment with vitamin K antagonists for at least 3 months. Pulmonary thromboembolism is a relatively common cardiovascular emergency, the suspected cases should be promptly investigated to rapid onset of therapy in order to reduce mortality. Key words: Pulmonary Embolism. Diagnostic Techniques and Procedures. Dyspnea. Descritores: Embolia Pulmonar. Técnicas e Procedimentos Diagnósticos. Dispnéia. Introdução Tromboembolismo pulmonar (TEP) consiste na oclusão aguda da circulação arterial pulmonar pela instalação de coágulos sanguíneos, normalmente provenientes da circulação venosa sistêmica, diminuindo ou cessando o fluxo sanguíneo pulmonar para a área acometida1,2. É uma emergência cardiovascular relativamente comum, com incidência de 40-53 por 100.000 indivíduos por ano, segundo dados norte-americanos3, sendo muitas vezes subdiagnosticada, sendo demonstrada apenas em necrópsias e, em vários casos, atribuída como a causa do óbito4. Pode apresentar-se de várias maneiras e, até mesmo, de forma silenciosa, com estabilidade hemodinâmica ou em quadros francos de choque cardiogênico, com mortalidade variando entre menos de 1% até 60%2,3,5. Deve ser sempre suspeitado em todos os paciente com dispneia nova ou que piorou, dor torácica ou hipotensão sustentada sem causa alternativa óbvia5,6. Deve-se classificar o paciente como tendo alta ou baixa probabilidade de TEP utilizando, por exemplo, os escores de Wells e Geneva7,8 e, em pacientes hemodinamicamente estáveis, procede-se com o diagnóstico com a dosagem do dímero-D (de limitado valor nos paciente com alta probabilidade de TEP) e, se necessário, uma tomografia computadorizada helicoidal ou uma cintilografia de ventilação-perfusão5. O diagnóstico correto e a instituição precoce do tratamento diminuem a mortalidade e o risco de recorrência do fenômeno tromboembólico9. O objetivo é demonstrarpossíveis manifestações de pacientes com TEP para que este diagnóstico seja considerado e investigado em possíveis portadores. Métodos Selecionaram-se cinco casos de tromboembolismo pulmonar com estabilidade hemodinâmica, ocorridos no ano de 2012, admitidos no Hospital Ana Costa, em Santos/SP. Relatos dos casos Caso 1. Paciente de 73 anos, sexo feminino, deu entrada com queixa de dispneia e tosse seca há 04 dias, com piora no dia da admissão. Estava em tratamento quimioterápico para câncer de mama. Apresentava probabilidade de TEP segundo Wells e Genebra e dímero-D positivo. Foi submetida à tomografia 1) Residente de Clínica Médica do Hospital Ana Costa, Santos/SP. 2) Médico Assistente do Serviço de Pneumologia do Hospital Ana Costa, Santos/SP Instituição: Serviço de Pneumologia do Hospital Ana Costa, Santos/SP, Brasil. Correspondência: Rua Pedro Américo, 60 - 11075-400 Santos/SP, Brasil. E-mail: Recebido em: 30/11/2012; aceito para publicação em: 07/06/2013; publicado online em: 20/09/2013. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. 74 Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 74 - 76 jul / ago / set 2013 computadorizada que evidenciou embolia pulmonar caracterizada por êmbolo no tronco da artéria pulmonar direita e ramos terciários da artéria pulmonar esquerda e infarto focal do parênquima do lobo inferior direito. O ecocardiograma evidenciou déficit ventricular direito a custa de hipocinesia difusa de grau leve. Iniciou-se tratamento com enoxaparina e varfarina com boa melhora clínica. Caso 2. 36 anos, masculino, deu entrada com queixa de tosse e dor torácica à direita há 04 dias, evoluindo com dispneia há um dia. Apresenta antecedente de tabagismo, amputação de membros inferiores por tromboangeiíte obliterante e heterozigose do fator V de Leiden, o que aumenta o risco de doenças tromboembólicas. Foi estratificado como TEP provável por Wells e improvável por Genebra. O dímero-D era positivo e foi solicitada uma tomografia computadorizada para refinamento diagnóstico, que revelou presença de falha de enchimento nos ramos para o lobo inferior à direita e segmentares do mesmo lobo. O ecocardiograma era normal. Foi tratado com enoxaparina e varfarina, apresentando boa melhora clínica. Caso 3. 60 anos, masculino, deu entrada com febre, dispneia e queda do estado geral há 20 dias. Antecedente pessoal de tabagismo e hipertensão arterial sistêmica. À estratificação, apresentava-se como TEP improvável, segundo escores de Wells e Genebra, mas com dímero-D positivo. À palpação, evidenciou-se empastamento de panturrilha à esquerda, confirmando-se diagnóstico de trombose venosa profunda em veia safena magna esquerda pela ultrassonografia. A tomografia computadorizada mostrou presença de falha de enchimento em ramos arteriais para ambos os lobos inferiores compatíveis com êmbolos arteriais e o ecocardiograma era normal. Iniciou tratamento com enoxaparina e varfarina, com melhora dos sintomas. Caso 4. 37 anos, masculino, deu entrada com quadro súbito de dor em membro superior direito, associado com cianose de extremidades e perda de mobilidade, e dor torácica. Pela clínica de embolia arterial aguda, foi submetido à tromboembolectomia de urgência, com abordagem da artéria subclávia direita, evidenciada por ultrassonografia. Apresentava provável TEP por Wells e Genebra e foi submetido à arteriografia pulmonar, com sinais de TEP em inúmeros sub-ramos de artérias pulmonares direita e esquerda. Ecocardiograma com déficit ventricular direito a custa de hipocinesia difusa de grau importante e hipertensão pulmonar de grau moderado. Foi tratado com enoxaparina e varfarina, com boa resposta às medicações. Caso 5. 68 anos, masculino, com quadro de tosse seca e dispneia há 20 dias. Apresenta antecedente de insuficiência venosa crônica. TEP provável pelos escores de Wells e Genebra e dímeroD positivo. Ultrassonografia de membros inferiores: membro inferior esquerdo com trombo flutuante na veia ilíaca externa e trombose venosa profunda envolvendo ilíaca externa, femural, poplítea, tibiais posteriores e fibulares; membro inferior direito com oclusão crônica segmentar das veias femural, poplítea, tibiais posteriores, fibulares. Tomografia com trombose segmentar dos ramos primários e secundários das artérias pulmonares bilaterais e ecocardiograma sem disfunção de ventrículo direito. Iniciou-se tratamento com enoxaparina e varfarina, com melhora clínica. Discussão Os casos apresentados demonstraram pacientes apresentando sintomas respiratórios comumente associados com TEP, porém, os mesmos são inespecíficos, o que pode provocar uma negligência sobre esse diagnóstico. Todos os casos foram em pacientes com estabilidade hemodinâmica, portanto, submetidos à estratificação quanto à possibilidade de TEP (utilizando-se os escores de Wells e Genebra) e à dosagem de dímero-D. Apenas um paciente entre os cinco casos escolhidos apresentava-se como TEP improvável. Todos foram submetidos à tomografia computadorizada para melhor refinamento diagnóstico, o que se mostrou útil para confirmação da hipótese6. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 74 - 76 jul / ago / set 2013 A dosagem de dímero-D – um produto de degradação da fibrina – é pouco específica, mas caso apresente-se negativa, tem um bom valor preditivo negativo para a exclusão do TEP10,11. Há evidências que em pacientes com baixa probabilidade de TEP e uma dosagem negativa de dímero-D, não há necessidade de novos testes diagnósticos, podendo-se descartar a hipótese com segurança12. Os pacientes hemodinamicamente estáveis com alta probabilidade de embolia pulmonar ou altos níveis de dímero-D devem ser investigados com uma tomografia computadorizada helicoidal, que caso negativa, tem boa acurácia para afastar o diagnóstico13,14. Em pacientes com contra-indicação à tomografia computadorizada ou em situações em que ela não esteja disponível, pode-se utilizar a cintilografia de ventilação-perfusão, com um valor preditivo negativo de 97%, mas que é diagnóstica em apenas 30-50% dos pacientes suspeitos15,16. Outra opção é a ultrassonografia de membros inferiores, que deve ser a primeira opção em gestantes e paciente com contra-indicação à tomografia computadorizada, que apesar da baixa acurácia, pode evitar outros testes caso haja evidência de trombose venosa profunda17. O ecocardiograma é utilizado para estratificação de risco em pacientes com estabilidade hemodinâmica, sendo a disfunção de ventrículo direito um importante preditor independente de mortalidade em 30 dias18,19. Outros fatores de risco para a morte incluem imobilização por doença neurológica, idade acima de 75 anos, doença cardíaca ou respiratória e câncer20. O tratamento inclui uma terapia de curta duração com anticoagulante de ação rápida (por via parenteral), seguida por terapia com antagonista de vitamina K por pelo menos três meses, podendo sofrer extensão em pacientes com alto risco de recorrência e devendo ser iniciado o quanto antes, por ser demonstrado que há redução da mortalidade com a instituição precoce da terapia21,22. Para a anticoagulação inicial, as classes mais utilizadas são as heparinas de baixo peso molecular subcutânea e a heparina não fracionado intravenosa. As duas classes possuem eficácia e segurança similares, com a vantagem da heparina de baixo peso molecular possuir maior facilidade de uso23-25. O antagonista de vitamina K deve ser iniciado precocemente, de preferência no primeiro dia de tratamento e a heparina deve ser descontinuada quando a razão normalizada internacional (RNI) do tempo de protrombina estiver acima de 2,0 por pelo menos 24 horas e deve ser mantida entre 2,0 e 3,03,21. Os pacientes com alto risco de recorrência, ou seja, aqueles que devem receber tratamento a longo prazo, além dos três meses, incluem os portadores de embolia pulmonar sem causa definida e aqueles com câncer22. Para esses pacientes, o alvo de RNI após seis meses, pode baixar para o intervalo entre 1,5 e 1,926. O TEP é uma emergência cardiovascular relativamente comum, devendo ser prontamente investigada nos casos suspeitos para início rápido de terapia, a fim de diminuir a mortalidade. Referências 1. Goldhaber SZ. Pulmonary embolism. N Engl J Med. 1998;339(2):93-104. 2. Alvares F, Pádua AI, Terra-Filho J. Tromboembolismo pulmonar: diagnóstico e tratamento. Medicina. 2003;36(2/4):214-40. 3. Torbicki A, Perrier A, Konstantinides S, Agnelli G, Galiè N, Pruszczyk P, Bengel F, Brady AJB, Ferreira D, Janssens U, Klepetko W, Mayer E, RemyJardin M, Bassand JP. Guidelines on the diagnosis and management of acute pulmonary embolism. Eur Heart J. 2008;29:2276-315. 4. Nordstrom M, Lindblad B. 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Anderson DR, Kahn SR, Rodger MA, Kovacs MJ, Morris T, Hirsch A, Lang E, Stiell I, Kovacs G, Dreyer J, Dennie D, Cartier Y, Barnes D, Burton E, Pleasance S, Skedgel C, O'Rouke K, Wells PS. Computed tomographic pulmonary angiography vs. ventilation-perfusion lung scanning in patients with suspected pulmonary embolism: a randomized controlled trial. JAMA. 2007;298:2743-53. 76 17. Le Gal G, Righini M, Sanchez O, Roy PM, Baba-Ahmed M, Perrier A, Bounameaux H. A positive compression ultrasonography of the lower limb veins is highly predictive of pulmonary embolism on computed tomography in suspected patients. Thromb Haemost. 2006;95(6):963-6. 18. Le Gal G, Righini M, Sanchez O, Roy PM, Baba-Ahmed M, Perrier A, Bounameaux H. Prognostic value of right ventricular dysfunction in patients with haemodynamically stable pulmonary embolism: a systematic review. Eur Heart J. 2008;29:1569-77. 19. 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Early anticoagulation is associated with reduced mortality for acute pulmonary embolism. Chest. 2010;137:1382-90. 23. Simonneau G, Sors H, Charbonnier B, Page Y, Laaban JP, Azarian R, Laurent M, Hirsch JL, Ferrari E, Bosson JL, Mottier D, Beau B. A comparison of low-molecular-weight heparin with unfractionated heparin for acute pulmonary embolism. N Engl J Med. 1997;337:663-9. 24. Quinlan DJ, McQuillan A, Eikelboom JW. Low-molecular-weight heparin compared with intravenous unfractionated heparin for treatment of pulmonary embolism: a meta-analysis of randomized, controlled trials. Ann Intern Med. 2004;140:175-83. 25. Pérez de Llano LA, Baloira Villar A, Veres Racamonde A, Veiga F, Golpe Gómez R, Pajuelo Fernández F. Multicenter, prospective study comparing enoxaparin with unfractionated heparin in the treatment of submassive pulmonary thromboembolism. Arch Bronconeumol. 2003;39:341-5. 26. Ridker PM, Goldhaber SZ, Danielson E, Rosenberg Y, Eby CS, Deitcher SR, Cushman M, Moll S, Kessler CM, Elliott CG, Paulson R, Wong T, Bauer KA, Schwartz BA, Miletich JP, Bounameaux H, Glynn RJ. Long-term, lowintensity warfarin therapy for the prevention of recurrent venous thromboembolism. N Engl J Med. 2003;348:1425-34. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 74 - 76 jul / ago / set 2013 Relato de Caso Fístula coledoduodenal por coledocolitíase Choledocoduodenal fistula by choledocholithiasis Márcio Correia Cazzamatta1 Marco Antônio Buch Cunha1 2 Everson Luiz de Almeida Artifon 3 Luciana Cleaver Aun 3 Dayse Pereira da Silva Aparício RESUMO As fístulas bilioentéricas podem ser divididas em colecistoduodenal, coledocoduodenal, colecistogástrica, colecistocolônica e duodenohepática direita. As fístulas coledocoduodenais estão associadas a colelitíase, coledocolitíase, doença ulcerosa péptica, carcinoma da papila duodenal ou manipulação do ducto hepático comum. Relata-se um caso de uma paciente do sexo feminino, 24 anos, admitida neste hospital devido epigastralgia, náuseas e vômitos. Colecistectomizada devido colelitíase há 1 ano. Os resultados dos exames laboratoriais para o diagnóstico diferencial de dor abdominal com resultados normais. A tomografia computadorizada de abdome revelou aerobilia e a endoscopia digestiva alta revelou orifício fistuloso com saída de bile claro em bulbo duodenal distal. Foi submetida a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica(CPRE) onde se observou fístula coledocoduodenal. Realizada papilotomia endoscópica ampla e passagem de prótese plástica biliar 8,5Fr x 10,0cm. ABSTRACT Bilioenteric fistulas can be divided into cholecistoduodenal, choledochoduodenal, cholecistogastric, cholecistocolonic and right duodenohepatic. Choledochoduodenal fistulas are associated with cholelithiasis, choledocholithiasis, peptic ulcer disease, carcinoma of the duodenal papilla or manipulation of the common hepatic duct. We report a case of a female patient, aged 24, admitted to this hospital because of abdominal pain, nausea and vomiting. Cholecystectomy because of cholelithiasis for 1 year. The results of laboratory tests for the differential diagnosis of abdominal pain with normal results. Computed tomography of the abdomen revealed aerobilia and endoscopy revealed fistulous orifice with clear bile output in distal duodenal bulb. She underwent endoscopic retrograde cholangiopancreatography (ERCP) coledocoduodenal fistula where noted. Performed endoscopic papillotomy and wide passage biliary stenting Rf 8.5 x 10.0 cm. Key words: Choledocholithiasis. Choledochoduodenal Fistula. Descritores: Coledocolitíase. Fístulas Coledocoduodenal. Introdução Uma das complicações da coledocolitíase é a fístula bilioentérica. Elas podem ser divididas em colecistoduodenal (68%), colecistocolônica (13,6%), coledocoduodenal (8,6%), colecistogástrica (4,9%) e duodenohepática direita (4,9%). As fístulas coledocoduodenais geralmente estão associadas com colelitíase, coledocolitíase, doença ulcerosa péptica, carcinoma de papila duodenal e manipulação do ducto hepático comum. Sua prevalência é maior em mulheres1. Relato de caso Paciente do gênero feminino, 24 anos, foi admitida no Hospital Ana Costa, Santos/SP, devido quadro de epigastralgia, náuseas e vômitos havia um dia, rebelde a analgésicos administrados no pronto-socorro. Apresentou episódio semelhante um mês antes, com duração de dois dias e reversão espontânea. Havia sido submetida à videocolecistectomia um ano antes. Realizados exames laboratoriais para o diagnóstico diferencial de dor abdominal que apresentaram resultados normais. A ultrassonografia abdominal revelou focos ecorrefringentes produzindo reberveração disposta ao longo dos canalículos biliares sugerindo aerobilia. A tomografia computadorizada de abdômen revelou imagem de ar no interior das vias biliares intra- hepáticas. A endoscopia digestiva alta (EDA) mostrou presença de abaulamento da mucosa associado a orifício fistuloso com saída de bile em parede ântero-superior do bulbo distal (Figura 1) e a segunda porção do duodeno sem anormalidades (Figura 2). A colangiopancreatogafia endoscópica retrógrada (CPRE) demonstrou uma fístula coledocoduodenal com saída de bile clara, onde se procedeu a papilotomia ampla e passagem de prótese plástica (Figura 3). Figura 1. Fístula duodenal na endoscopia digestiva alta. 1) Estagiário do Serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital Ana Costa, Santos/SP 2) Chefe do Serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital Ana Costa, Santos/SP 3) Médica Assistente do Serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital Ana Costa, Santos/SP Instituição: Serviço de Endoscopia do Hospital Ana Costa, Santos/SP, Brasil. Correspondência: Av. Ana Costa, 493 conj. 95 – 11060-003, Santos/SP, Brasil. E-mail: [email protected] Recebido em: 01/09/2012; aceito para publicação em: 30/01/2013; publicado online em: 20/09/2013. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 77 - 78 jul / ago / set 2013 77 Figura 2. Segunda porção do duodeno. de aerobilia e EDA revelando fístula duodenal com drenagem e conteúdo biliar. A CPRE é o melhor procedimento para avaliação da árvore biliar devido sua alta capacidade diagnóstica e terapêutica3. Além disso, a CPRE mostrará a relação da fístula com a árvore biliar4. O tratamento endoscópico só poderá ser aplicado em fístulas de baixo débito (menor que 500mL/dia) e médio (500-1000mL/dia), com curta extensão e localizadas nas porções médio e distal das vias extra-hepáticas. Caso os pacientes não apresentem todas as características anteriores, está indicado formalmente o tratamento cirúrgico. Na inspeção da fístula duodenal durante a EDA do relato de caso, observou-se que a fístula possuía baixo débito. O procedimento endoscópico é realizado através de papilotomia ampla para proporcionar a drenagem biliar e facilidade para a implantação da prótese plástica na via biliar distal para diminuição do débito fistular. A reavaliação da paciente e programação da retirada da prótese deverá ser realizada após três meses com posterior reavaliação da árvore biliar5. As fístulas coledocoduodenais com baixo débito, com curta extensão e com localização médio e distal das vias extra-hepáticas podem ser tratadas endoscopicamente, poupando o paciente do tratamento cirúrgico e de suas complicações. Referências 1. H'ng MV, Yim HB. Spontaneous choledochoduodenal fistula secondary to long-standing ulcer disease. Singapore Med J. 2003;44(4):205-7. 2. Mihowitz M, Farago C, Lazarovici I, Solowiejczyk M. Choledochoduodenal fistula: a rare complication of duodenal ulcer. Am J Gastroenterol. Figura 3. Passagem de prótese plástica obliterando a fístula na CPRE. Discussão As fístulas coledocoduodenais são geralmente achados incidentais porque raramente exibem sintomas específicos2. No presente relato, uma mulher de 24 anos foi admitida para internação hospitalar devido quadro de epigastralgia rebelde a analgésicos, com exames laboratoriais normal, ultrassonografia e tomografia computadorizada de abdômen revelando a presença 78 1984;79:416-20. 3. Freitas ML, Bell RL, Duffy AJ. Choledocholithiasis: Evolving standards for diagnosis and management. World J Gastroenterol. 2006;12(20):3162-7. 4. Bethge N, Hintze RE. Spontaneous and iatrogenic choledochoduodenal fistula-endoscopic diagnosis and therapy. Gastroenterol. 1988; 26:704-7. 5. Matuguma SE, Melo JM, Artifon EL, Sakai P. In: Sakai P, Ishioka S, Filho FM. Estenoses e Fístulas Biliares Benignas Pós-Cirúrgicas e PósTraumáticas. São Paulo: Atheneu; 2005. p. 139-45. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 77 - 78 jul / ago / set 2013 Relato de Caso Hematoquezia em criança com polipose adenomatosa familiar Hematochezia in children with familial adenomatous polyposis Marco Antonio Buch Cunha1 Luciana Cleaver Aun2 2 Osmar Silvio Garcia de Oliveira 2 Kátia Ferreira Guenaga 3 Everson Luiz de Almeida Artifon RESUMO ABSTRACT Introdução: polipose adenomatosa familiar (PAF) é uma síndrome hereditária autossômica dominante que se caracteriza pela presença de mais de 100 pólipos colorretais adenomatosos. Ocorre devido uma mutação no gene supressor APC (adenomatous polyposis coli), localizado no braço longo do cromossomo 5q211. Os pólipos desenvolvem-se a partir da infância e adolescência e inevitavelmente evoluem para adenocarcinoma caso não sejam tratados. Relato de caso: relata-se o caso de uma paciente com 5 anos de idade, sexo feminino, com quadro de hematoquezia há seis meses, onde foi realizada colonoscopia com diagnóstico endoscópico e histopatológico de PAF. Introduction: Familial adenomatous polyposis (FAP) is an autosomal dominant syndrome characterized by the presence of more than 100 adenomatous colorectal polyps. Occurs because of a mutation in the tumor suppressor gene APC (adenomatous polyposis coli), located on the long arm of chromosome 5q211. Polyps develop from childhood and adolescence and inevitably progress to adenocarcinoma if not treated. Case report: We report the case of a 5-year-old female with a hematochezia six months ago, where colonoscopy was performed with endoscopic and histologic diagnosis FAP. Key words: Familial Adenomatous Polyposis. Adenocarcinoma. D e s c r i t o r e s : P o l i p o s e A d e n o m a t o s a F a m i l i a r. Adenocarcinoma. Introdução Polipose adenomatosa familiar (PAF) é uma síndrome hereditária autossômica dominante que se caracteriza pela presença de mais de 100 pólipos colorretais adenomatosos. Ocorre devido uma mutação no gene supressor APC (adenomatous polyposis coli), localizado no braço longo do cromossomo 5q211. Representa 1% dos casos de câncer colorretal nos Estados Unidos e em 22 a 46% dos casos são provenientes de mutações genéticas espontâneas, não existindo nenhuma relação hereditária2. Em 1974, Wennstrom et al.3 descreveram que essa síndrome tem uma prevalência de um em cada 10.000 habitantes e afeta homens e mulheres em iguais proporções. Os pólipos desenvolvem-se a partir da infância e adolescência e inevitavelmente evoluem para adenocarcinoma caso não sejam tratados. Em pacientes não submetidos a rastreamento a idade média do diagnóstico de PAF é de 34,5 a 43 anos2. Relato de caso Paciente do sexo feminino, 5 anos, com quadro de hematoquezia de início há seis meses, vem encaminhada para colonoscopia diagnóstica. A mãe da paciente relata que a mesma vem apresentando hematoquezia em pequena quantidade e com piora progressiva, sem associação com outros sinais ou sintomas. Sua mãe foi diagnosticada com PAF aos 28 anos de idade, sendo submetida a proctocolectomia total associado a reconstrução com bolsa ileal em J. Realizada colonoscopia que revelou lesões elevadas em íleo terminal e lesões polipóides, sésseis, difusas, algumas coalescentes, com cerca de 2 a 4mm de diâmetro em seu maior eixo, em todo o cólon (Figuras 1 e 2). As lesões foram biopsiadas e submetidas a estudo anatomopatológico, obtendo-se como resultado ileíte crônica com hiperplasia linfóide e pólipos adenomatosos em todos os fragmentos colônicos. Figura 1 – Pólipos em reto 1) Estagiário de Endoscopia Digestiva do Hospital Ana Costa, Santos/SP. 2) Preceptor e médico assistente do serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital Ana Costa, Santos/SP. 3) Chefe do Serviço e Preceptor do estágio de Endoscopia Digestiva do Hospital Ana Costa, Santos/SP. Instituição: Serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital Ana Costa, Santos/SP. Correspondência: Av. Marechal Floriano Peixoto, 227 Apto 82, Santos/SP. E-mail: [email protected] Recebido em: 01/09/2012; aceito para publicação em: 30/01/2013; publicado online em: 20/09/2013. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 79 - 80 jul / ago / set 2013 79 Figura 2 – Pólipos em sigmóide Discussão A PAF é uma síndrome genética de caráter dominante, caracterizada pela maior predisposição do paciente acometido em desenvolver câncer colorretal, além de outras lesões extracolônicas. Essas lesões que não se encontram no cólon, podem ser: pólipos de glândulas fúndicas gástricas, adenomas de intestino delgado, tumores desmóides, lesões cutâneas como lipomas, fibromas e cistos epidermóides, odontomas, osteomas, hiperpigmentação retiniana, adenomas adrenais e angiomas nasofaríngeos. Além disso, esses pacientes têm uma predisposição, apesar de rara, para o desenvolvimento de câncer do trato gastrointestinal alto, tireóide, pâncreas, vias biliares, cérebro e hepatoblastoma4. Os tumores desmóides (TD) são histologicamente benignos, porém sua evolução pode ser agressiva com invasão local4. Nos pacientes diagnosticados com PAF, as principais causas de mortalide são os tumores desmóides, neoplasia colorretal e neoplasia periampular5. Os pacientes podem cursar com hematoquezia, diarreia, constipação, dor abdominal em cólica, distensão abdominal e perda de peso. O diagnóstico de PAF pode ser confirmado pela presença de mais de 100 pólipos adenomatosos colônicos ou teste positivo para mutação do gene APC, onde o seu rastreamento pode ser realizado através da colonoscopia. Já as indicações para realização do teste de mutação do gene APC são a presença de pólipos adenomatosos colorretais maior ou igual a cem e/ou parentes de primeiro grau com PAF (mãe, pai ou irmãos), devendo ser realizado a partir dos 10 a 12 anos de idade2. O rastreamento endoscópico deve ser realizado em todos os parentes de primeiro grau com teste positivo para mutação do gene APC, independentemente da existência de pólipos adenomatosos colônicos ou se o teste genético não estiver disponível. O rastreamento deve ser realizado a partir dos 10 anos de idade, com colonoscopias a cada 2 anos, até completar 25 anos de idade e, então, realizar o exame com intervalo de três anos até os 50 anos de idade2. A PAF representa fator de risco para câncer colorretal em quase 100% dos casos, onde a média de idade para o desenvolvimento de adenomas é de 15 anos2. O câncer colorretal, principalmente em cólon esquerdo, é inevitável, se a colectomia profilática não for realizada. Os pólipos geralmente são do tipo pediculado ou sésseis, medindo cerca de 1.0 cm de diâmetro, com correspondentes anatomopatológicos do tipo tubular, tubuloviloso e/ou viloso. Os pacientes com PAF devem ser submetidos ao tratamento cirúrgico com o intuito de eliminar os riscos de malignização o mais breve possível após o diagnóstico endoscópico e anatomopatológico. As modalidades cirúrgicas disponíveis no momento são: colectomia com ileorretoanastomose, proctocolectomia com ileostomia a Brooke e proctocolectomia com bolsa ileoanal em J6,7. O reto está implicado com recidiva de doença e por isso, sua amputação é recomendada7. Os adenomas do intestino delgado podem ocorrer no íleo terminal e nas mucosas ileais após as diversas reconstruções supracitadas, porém sua malignização é rara8 80 Em um estudo realizado em 1996 por Nugent et al9, foi estimado que um paciente portador de PAF ao longo dos anos tem uma probabilidade cumulativa maior de apresentar um câncer extracolônico. Considerações finais Devido ao risco de 100% de malignização dos pacientes com PAF, o rastreamento endoscópico é indicado naqueles em que seus parentes de primeiro grau apresentam teste genético(TG) positivo ou ainda nos casos em que não há o TG disponível. O tratamento cirúrgico deve ser realizado o mais rápido após o diagnóstico da síndrome. Novos estudos devem ser realizados com o objetivo de descobrir terapias menos agressivas e com intuito profilático aos pacientes portadores da PAF. Referências 1. Kinzler KW, Nilbert MC, Su L, Su LK, Vogelstein B, Bryan TM, Levy DB, Smith KJ, Preisinger AC, Hedge P, McKechnie D. 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Nugent KP, Northover J. Total colectomy and ileorectal anastomosis. In: Phillips RKS, Spigelman AD, Thomson JPS, editors. Familial adenomatous polyposis and other polyposis syndromes. London: Edward Arnold; 1994. pp.79-91. 8. Iwama T, Mishima Y, Utsunomiya J. The impact of familial adenomatous polyposis on the tumorigenesis and mortality at the several organs. Its rational treatment. Ann Surg. 1993;217:101-8. 9. Nugent KP, Spigelman AD, Phillips RKS. Risk of extracolonic cancer in familial adenomatous polyposis. Br J Surg. 1996;83:1121-2. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 79 - 80 jul / ago / set 2013 Relato de Caso Malformação mulleriana de fusão lateral Útero bicorno com corno não comunicante Mullerian malformation of lateral fusion Bicornuate uterus with noncommunicating horn Marion Curado da Silva1 Odir Sagim Junior2 3 Luis Roberto Araújo Fernandes RESUMO Introdução: as malformações dos ductos de Muller, também chamadas mullerianas, cuja causa definitiva ainda não está claramente elucidada, resultam em anomalias uterinas, tubárias e/ou vaginais congênitas. Estima-se que acometam, aproximadamente, 1 a 6% das mulheres, porém, sua incidência exata é incerta, pois a maioria dos dados provém de estudos de complicações obstétricas ou de infertilidade. Apesar de sua frequência relativamente baixa, necessitam de uma avaliação mais profunda, uma vez que quando presentes trazem uma piora muito grande na qualidade de vida de suas portadoras. Relato do caso: relatamos aqui um caso de uma paciente de 39 anos com queixa de dor pélvica desde a adolescência, com piora no período pré-menstrual, onde os exames de imagem sugeriam uma tumoração anexial e a cirurgia revelou tratar-se de um corno em útero bicorno. ABSTRACT Introduction: Malformations of the Muller duct, also called Müllerian malformations, whose definitive cause has not been clearly elucidated, result in uterine, tubal and/or vaginal abnormalitie. Its incidence is estimated in approximately 1-6% of women. However, its exact rate is uncertain because much of the available data comes from studies of obstetric complications or infertility. Despite its relatively low incidence, it requires further evaluation, since it brings large worsening in the quality of life if present. Case report: We report a case of a 39-year patient with pelvic pain since adolescence, with worsening during the premenstrual period. Image studies suggested an adnexal tumor and surgery revealed that it was a horn in bicornuate uterus. Key words: Bicornuate Uterus. Mullerian Malformation. Uterus/Abnormalities. Descritores: Útero Bicorno. Malformação Mulleriana. Útero/Anormalidades. Introdução As malformações genitais, felizmente pouco frequentes, são assunto de pouco conhecimento na prática clínica e, por isso, muitas vezes, mal conduzidas, prejudicando a qualidade de vida e o futuro reprodutivo de suas portadoras. Geralmente, o diagnóstico é tardio, vindo a ocorrer apenas na idade reprodutiva1. Para qualquer grupo populacional, a prevalência exata de anomalias congênitas uterinas é difícil de elucidar, principalmente devido a três razões: diferentes procedimentos diagnósticos realizados; subjetividade dos critérios diagnósticos; e interpretação inconsistente da classificação de anomalias congênitas uterinas2. Durante as primeiras oito a dez semanas de vida fetal, o desenvolvimento do trato genital e genitália externa é igual em ambos os sexos, sendo que a diferenciação sexual ocorre entre dez e 12 semanas3. São também chamadas de malformações dos ductos de Müller, pois decorrem de alterações na diferenciação dos mesmos, em fases distintas da embriogênese feminina, fazendo parte de algumas síndromes4. Relato de caso Paciente de 39 anos, nuligesta, hipertensa, diabética e dislipidêmica, procurou atendimento ambulatorial neste serviço, no início de 2012, com queixa de dor pélvica desde a adolescência, que piorava no período pré-menstrual. Apresentava ciclos menstruais eumenorreicos. No momento da consulta, trouxe ultrasonografia transvaginal do ano de 2009, onde não havia sido visibilizado o ovário esquerdo, estando o restante do exame sem anormalidades. Ao realizar nova rotina ginecológica no ano de 2011, foi feita ultra-sonografia transvaginal, onde foi descrita formação alongada de 4,6 x 3,6 x 5,4 cm, com cavitação central associada a pequena quantidade de líquido com aspecto lembrando útero, em região anexial esquerda. Lateralmente a esta imagem, junto a artéria ilíaca existia formação nodular com calcificação periférica de 3,5 x 3,1 x 3,4 cm (volume = 19,5 cm3), sugerindo uma correlação com ressonância nuclear magnética (RNM). A RNM descreveu útero bicorno, de contornos regulares, com dimensões proeminentes e cerca de 7,0 cm no eixo longitudinal em cada um dos cornos uterinos. Notava-se também imagens ovarianas proeminentes, em situação alta na cavidade pélvica, com imagem cística folicular à direita, medindo cerca de 2,0 cm e formação arredondada, hipercaptante com cerca de 3,5 x 2,0 cm na topografía ovariana esquerda, podendo corresponder a nódulo sólido e/ou endometrióide. Essa última formação, além de situação elevada, encontrava-se suprajacente ao músculo 1) Residente de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Ana Costa, Santos/SP. 2) Médico ginecologista e obstetra do Hospital Ana Costa, Santos/SP. 3) Chefe do serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Ana Costa, Santos/SP. Instituição: Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Ana Costa, Santos/SP. Correspondência: Av. Ana Costa, 419 ap. 21, Santos/SP. E-mail: [email protected] Recebido em: 10/11/2012; aceito para publicação em:22/02/2013; publicado online em: 20/09/2013. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 81 - 82 jul / ago / set 2013 81 ileopsoas respectivo. Foi submetida à laparotomia e visibilizado tumor próxima à região anexial, semelhante a nódulo miomatoso, porém, sem comunicação com o útero e suspeita de corono uterino não comunicante; foi realizada exérese da mesma. O resultado do anatomopatológico revelou um corpo uterino com 86 gramas e 7,0 x 5,0 x 4,0 cm, com endometrio de 0,1 cm e miométrio fasciculado com até 3,0 cm. Em um dos cornos havia região cística com material gelatinoso, ou seja, adenomiose focal. Discussão No desenvolvimento mulleriano normal, existe uma progressão ordenada do desenvolvimento embrionário do útero, tubas uterinas e vagina5. Por volta da sexta semana do desenvolvimento embrionário, uma invaginação do epitélio de revestimento celômico forma uma depressão que cria um sulco, cujas bordas se fundem para formar os canais laterais müllerianos (ou paramesonéfricos)6. Na ausência de produção do fator inibidor mulleriano, pelo tecido testicular em formação, a diferenciação encaminha-se para o desenvolvimento da estrutura genital feminina, a qual estará completa em torno da 12ª semana de vida intrauterina3. Os segmentos proximais dos canais uterovaginais, derivados do epitélio celômico, permanecem não fundidos e abrem-se na cavidade peritonial para formar as tubas uterinas e os segmentos distais dos canais uterovaginais que darão origem ao útero e aos quatro quintos superiores da vagina4. As malformações müllerianas de desenvolvimento ou de fusão representam um conjunto de anormalidades estruturais que podem originar-se da fusão desses ductos na linha média, da falha na conexão com o seio urogenital ou da falha quanto a criar uma luz apropriada na porção superior da vagina e útero, por não reabsorção das células da vagina central e do septo entre os ductos müllerianos fundidos5. Devido à grande variedade de malformações, várias tentativas de classificá-las foram improdutivas ou, por serem simples demais ou muito complexas, dificultando seu entendimento e a escolha do tratamento1. Em 1979, Buttram e Gibbons propuseram uma classificação das malformações müllerianas que foi baseada no grau de insucesso do desenvolvimento normal e separaram essas anomalias em classes que mostram manifestações clínicas distintas orientando prognóstico tanto materno quanto fetal. Foi modificada em 1988 por uma subcomissão da American Fertility Society (atual Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva)7, que está postada abaixo. 82 O bom manejo das malformações genitais deverá incluir sempre a investigação de outras malformações associadas, especialmente as que envolvem o trato urinário, além de um preparo psicológico cuidadoso da paciente antes do tratamento1. As malformações dos ductos de Müller são polimorfas e apresentam aspectos particulares que devem ser sempre considerados. A conduta diagnóstica e terapêutica nessas malformações ainda é baseada em evidências não conclusivas, ensaios clínicos não randomizados, apresentação ou série de casos e opiniões de especialistas4. A importância de diagnóstico correto e oportuno, assim como tratamento adequado, é fundamental para o prognóstico. Essas razões apontam para a necessidade de trabalhos randomizados e controlados para se praticar uma verdadeira Medicina baseada em evidências. Referências 1. Piazza M, Peixoto A, Filipetto B. Estado atual do tratamento das malformações genitais. Femina. 2007;35(7):411-4. 2. Saravelos S, Cocksedge K, Li T. Prevalence and diagnosis of congenital uterine anomalies in women with reproductive failure: a critical appraisal. Human Reproduction Update. 2008;14(5):415-29. 3. Canto D, Lins D. Útero unicorno: relato de caso. Rio de Janeiro: Fundação Santa Casa de Misericórdia do; 2012. 4. Renato B, Fonseca A, Fassolas G, Arie M, Arie W, Baracat E. Conduta frente às malformações genitais uterinas: revisão baseada em evidências. Femina. 2010;38(4):217-28. 5. Badalotti M, Arent A, Monteggia V, Machado J, Petracco R, Petracco A. Septo uterino, duplicação cervical e septo vaginal: relato de rara malformação mülleriana com gestação a termo. Rev Bras Ginecol Obstet. [periódico online] 2007 [citado 2007 Maio30]; 29(11). Disponível em: URL: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010072032007001100007. 6. Ferreira A, Mauad F, Nicolau L, Gallarreta F, Paula W, Gomes D. Ultrasonografia tridimensional em ginecologia: malformações uterinas. Radiol Bras. [periódico online] 2007 [citado 2005 Jul01];40(2). Disponível em: URL: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010039842007000200013&script=sci_arttext 7. Troiano R, McCarthy S. Müllerian Duct Anomalies:Imaging and Clinical Issues. Radiology. 2004;233:19-34. 8. Bermejo C, Cantarero R, Diaz D, Labrador E, Lopez L. Three-dimensional ultrasonography in the diagnosis of müllerian duct anomalies. Donald School J Ultrasound Obst Gynecol. 2009;3:21-30. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 81 - 82 jul / ago / set 2013 Relato de Caso Sintomas neuropsiquiátricos da doença de Alzheimer Neuropsychiatric symptoms of Alzheimer's disease Bruna Craveiro de Oliveira1 Stefanie Gallotti Borges Carneiro1 1 Tassia Denobile Serra 1 Jean Marco de Almeida Zeferino 2 Yara Dadalti Fragoso RESUMO A doença de Alzheimer (DA) é a causa mais frequente de demência e está associada à deterioração das habilidades intelectuais e, com frequência, do comportamento do paciente. A intervenção precoce é determinante na evolução da doença. Relato de caso: paciente do gênero masculino, caucasiano, 80 anos de idade, apresentava história de déficit de memória e atividade executiva, levando a limitações das atividades instrumentais da vida diária e disfunção cognitiva, associados à desorientação espacial há dois anos, segundo informações colhidas com familiares. Ao exame neurológico MEEM, tinha escore de 15/30, teste do desenho do relógio escore 8. O diagnóstico de DA foi feito com base na história clínica do paciente, nos exames clínicos e neurológicos e exames de imagem sugestivos de DA. Foram utilizados medicamentos inibidores da colinesterase para diminuição da velocidade da progressão da doença. ABSTRACT Alzheimer's disease (AD) is the most frequent cause of dementia and is associated with cognitive decline and the behavior of the patient often. Early intervention is crucial for the evolution of the disease. Case report: A male Caucasian 80 year-old patient presented memory and activity executive decreasing, leading to limitations in instrumental activities of daily living and cognitive impairment associated with spatial disorientation two years ago, according to information gathered with family. Neurological examination MEEM scored of 15/30, the clock drawing test scored 8. The diagnosis of DA was suggested based on the patient's medical history, clinical and neurological examinations and imaging studies suggestive of. The drugs used were cholinesterase inhibitors to decrease the speed progression of the disease. Key words: Alzheimer's disease, Case Report, Aging, Dementia. Descritores: Doença de Alzheimer. Envelhecimento. Demência. Introdução A demência é uma palavra de origem latina (dementia), podendo ser definida como uma síndrome caracterizada pelo declínio de memória associado ao déficit de, pelo menos, outra função cognitiva com intensidade suficiente para interferir no desempenho social ou profissional do indivíduo1. A doença de Alzheimer (DA) é a causa mais frequente de demência, responsável por mais de 50% dos casos na faixa etária igual ou superior a 65 anos1. É um problema crescente de saúde pública que resulta do envelhecimento da população2. A DA é uma afecção neurodegenerativa progressiva e irreversível de aparecimento insidioso, que acarreta perda da memória para atividades de vida diária e diversos distúrbios cognitivos3. As primeiras manifestações dos distúrbios demenciais são os sintomas comportamentais que podem aparecer antes de alterações cognitivas4 ou em algum momento durante o curso da doença, podendo variar de acordo a gravidade de demência5,6. O primeiro sintoma da DA é, usualmente, o declínio da memória, sobretudo para fatos recentes (memória episódica) e desorientação espacial, aspectos cognitivos em grande parte dependentes da formação hipocampal4. Esses sintomas instalam-se de forma insidiosa3, com piora lentamente progressiva, embora períodos de relativa estabilidade clínica possam ocorrer. Alterações de linguagem (principalmente anomia), distúrbios de planejamento (funções executivas) e de habilidades visuoespaciais surgem com a evolução do quadro6. Na faixa pré-senil (antes dos 65 anos)2,7, os distúrbios de linguagem podem ser a manifestação predominante do processo demencial, enquanto sintomatologia psicótica (como idéias delirantes, sobretudo de caráter persecutório e alucinações) é habitualmente mais comum nos pacientes com mais tempo de doença. O diagnóstico clínico da DA baseia-se na observação de quadro clínico compatível e na exclusão de outras causas de demência por meio de exames laboratoriais e de neuroimagem estrutural, sendo que o diagnóstico definitivo só é possível por exame anatomopatológico1. Os sintomas mais prevalentes relatados na literatura foram a falta de concentração, tremores, depressão, falta de cooperação e delírios, choro e aumento da atividade motora2,3,8,9. Cerca de 90% dos pacientes apresentam algum sintoma de humor4. Relato de caso Esse relato de caso foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da UNIMES (033/2011). Paciente do gênero masculino, caucasiano, 80 anos de idade, natural de São Tomás de Aquino/MG e procedente de Praia Grande/SP, segundo grau incompleto (oito anos de estudos), técnico de contabilidade, apresentava história de déficit de memória e atividade executiva, levando a limitações das atividades instrumentais da vida diária (banhar, vestir), também apresenta disfunção cognitiva, como afasia, apraxia e agnosia, associados à desorientação espacial havia dois anos, segundo 1. Acadêmico da Faculdade de Medicina da Universidade Metropolitana de Santos, Santos/SP, Brasil 2. Pós-Doutorado em Neurologia pela Universidade de Aberdeen, Escócia. Professora Titular da Disciplina de Neurologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metropolitana de Santos UNIMES, Santos/ SP, Brasil. Instituição: Disciplina de Neurologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metropolitana de Santos UNIMES, Santos/ SP, Brasil. Correspondência: Rua Coronel Francisco Amaro, 359 - 09020 – 250 Santo André/SP, Brasil. E-mail: [email protected] Recebido em: 08/05/2013; aceito para publicação em:15/08/2013; publicado online em: 20/09/2013. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 83 - 84 jul / ago / set 2013 83 informações colhidas com familiares. Antecedentes pessoais de hipertensão arterial, hipercolesterolemia há dois anos, porém trata regularmente. O exame físico geral estava sem anormalidades. O exame neurológico estava alterado, com MEEM escore de 15/30, teste do desenho do relógio escore 8. O diagnóstico de DA foi feito com base na história clínica do paciente, nos exames clínicos e neurológicos e exames de imagem sugestivos de DA, observando, à tomografia computadorizada, atrofia cerebral difusa mais proeminente nos lobos frontais, temporais e occipitais, com especial comprometimento atrófico hipocampal-paraipocampal e, à ressonância magnética, atrofia das porções mediais dos lobos temporais. Para exclusão de outras doenças orgânicas, foram realizados exames complementares que não mostraram alterações. Foram utilizados medicamentos inibidores da colinesterase para diminuição da velocidade da progressão da doença. Discussão Trabalhos encontrados na literatura com os principais sintomas de DA são apresentados na Tabela 1. gradualmente com prejuízos em outras funções cognitivas, tais como julgamento, cálculo, raciocínio abstrato e habilidades visuoespaciais1,3,8,9, aspectos cognitivos em boa parte dependentes da formação hipocampal3. Os delírios6 e a apatia são sintomas neuropsiquiátricos comuns em fase muito precoce, sendo a apatia relacionada com caracteristicas afetivas, devido aos danos focadas em estruturas límbicas10. Pacientes com DA mostram disfunção cognitiva no lobo frontal, abrindo o leque de resultados possíveis para incluir apatia cognitiva10. Estudos demonstram que os delírios são secundárias a diminuição da memória6,10. Nos estágios intermediários, pode ocorrer afasia fluente, apresentando-se como dificuldade para nomear objetos ou para escolher a palavra adequada para expressar uma idéia e também apraxia5. É nessa fase em que os sintomas neuropsiquiátricos ficam mais evidentes. Nos estágios terminais, encontram-se marcantes alterações do ciclo sono-vigília2; alterações comportamentais, como irritabilidade e agressividade5; sintomas psicóticos; incapacidade de deambular, falar e realizar cuidados pessoais1,5. Escores do MEEM inicial tendem a seguir trajetórias de declínio mais lento, enquanto que aqueles com baixos escores iniciais tendem a cair mais rapidamente, porém em uma minoria significativa de pessoas com baixas contagens iniciais não caem rapidamente. O diagnóstico clínico apenas nos mostra uma possibilidade e grande probabilidade de DA: o diagnóstico definitivo é obtido apenas após análise histopatológica de materiais de autópsia. O papel dos exames complementares, tais como exames laboratoriais e de neuroimagem, é unicamente excluir outras hipóteses diagnósticas4,5. O paciente relatado demonstra que os familiares interpretaram os sintomas iniciais da DA como parte normal do processo de envelhecimento, visto que esses sintomas pioraram progressivamente, procurou auxílio médico. Os sintomas e a RM apresentados no caso são característicos de DA. Reconhecer os sintomas inicias da doença de Alzheimer é difícil não só para a família como para os profissionais da saúde, sendo fundamental realizar uma história clinica completa. O diagnóstico precoce e a introdução de um tratamento adequado é determinante na evolução da doença e na qualidade de vida do paciente e dos familiares. Agradecimentos Os autores agradecem pela contribuição do Profº Dr Mauro Gomes Araujo e Profº Dr Joseph Bruno Bidin Brooks na discussão deste caso. Referências Tabela 1. Revisão da literatura com os principais sintomas de DA. O presente relato introduz a discussão dos sintomas da DA. Os estágios iniciais são mal reconhecidos pela comunidade e frequentemente sub-diagnosticados no sistema de cuidados de saúde8. Muitas vezes, a DA é interpretada como parte normal do processo de envelhecimento, contribuindo para dificuldades de reconhecimento de formas precoces. Outro fator é a possibilidade de os indivíduos mais idosos terem atividades menos exigentes do ponto de vista cognitivo, tornando o declínio cognitivo silencioso1. Os sintomas iniciais são discretos (fase invisível ou silenciosa) e, geralmente, encontram-se perda de memória episódica e dificuldades na aquisição de novas habilidades, evoluindo 84 1.Cruz VT, Pais J, Teixeira A, Nunes B. Sintomas iniciais de demência de Alzheimer: A Percepção dos Familiares . Acta Med Port. 2004;17:437-44. 2.Fernández M, Gobartt AL, Balañá M, COOPERA Study Group. Behavioural symptoms in patients with Alzheimer's disease and their association with cognitive impairment. BMC Neurol. 2010;10:87. 3.Schlindwein-Zanini R. Demência no idoso: aspectos neuropsicológicos. Rev Neurocienc. 2010;18(2):220-6. 4.Caramelli P, Barbosa MT. Como diagnosticar as quatro causas mais freqüentes de demência? Rev Bras Psiquiatr. 2002;24(1):7-10. 5.Fornari LHT, Garcia LP, Hilbig A, Fernandez LL. As diversas faces da síndrome demencial: como diagnosticar clinicamente? Scientia Med Porto Alegre. 2010;20(2):185-93. 6.Forlenza OV. Tratamento farmacológico da doença de Alzheimer. Rev Psiq Clín. 2005;32(3)137-48. 7.Palmer K, Di Iulioa F, Varsi AE, Gianni W, Sancesario G, Caltagirone C, Spalletta G. Neuropsychiatric Predictors of Progression from Amnestic-Mild Cognitive Impairment to Alzheimer's Disease: The Role of Depression and Apathy. J Alzheimer's Dis. 2010;20(1):175-83. 8.Rao V, Rosenberg P, Miles QS, Patadia D, Treiber K, Bertrand M, Norton M, Steinberg M, Tschanz J, Lyketsos C. Neuropsychiatric Symptoms in Dementia Patients With and Without a History of Traumatic Brain Injury. J Neuropsychiatry Clin Neurosci. 2010;22(2):166-72. 9.Wilkosz PA, Seltman HJ, Devlin B, Weamer EA, Lopez OL, DeKosky ST, Sweet RA. Trajectories of Cognitive Decline in Alzheimer's Disease. Int Psychogeriatr. 2010;22(2): 281-90. 10. Chiu PY, Chung CL. Delusions in Patients with Very Mild, Mild and Moderate Alzheimer's Disease. Acta Neurol Taiwan. 2006;15(1):21-5. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 83 - 84 jul / ago / set 2013 Relato de Caso Cistadenoma papilífero de epidídimo bilateral Bilateral epididymal papillary cystadenoma Felipe Camargo Bestane1 Walter Fernandes Correa2 3 Maurício Costa Bestane 4 Tarcísio Abib Neto 5 Luis Felipe Brandão RESUMO Introdução: o cistadenoma papilífero de epidídimo (CPE) é uma neoplasia benigna rara, derivada dos ductos eferentes geralmente acometendo sua porção cefálica1,2. Pode ocorrer de forma esporádica, porém, está associado à Doença de Von Hippel Lindau (VHLD) em dois terços dos casos. São em torno de 58 casos relatados na língua inglesa com diagnóstico histológico e em 15% dos casos ocorre azoospermia obstrutiva. Marcadores imunohistoquímicos vêm-se mostrando de grande valia no diagnóstico diferencial com a metástase de carcinoma de células renais (CCR), que é primordial. Relato de caso: paciente do sexo masculino, 30 anos de idade, com queixa de não conseguir ter filhos há 4 anos. Refere o aparecimento de nódulos pequenos em ambos testículos, indolores, de consistência endurecida com crescimento lento e progressivo há 8 anos. Tem história de contato íntimo com indivíduo em tratamento para tuberculose pulmonar. Foram então colhidos dois espermogramas com intervalo de 30 dias, ambos revelando azoospermia. Ultrassonografia mostrou epidídimos aumentados com padrão microcístico bilateralmente. Aventada hipótese de tuberculose de epidídimo e ressecção parcial da porção cefálica de ambos. Anatomopatológico revelou tumor papilífero de células claras. Discussão: os tumores de epidídimo correspondem a 5 % das neoplasia intraescrotais. É sabida a associação do CPE com VHLD, principalmente quando há bilateralidade. Assim como o cistadenoma papilífero, o carcinoma de células renais tem origem no tecido mesonéfrico. Tais neoplasias podem ser diferenciadas com ajuda de testes imunohistoquímicos. Confirmada a natureza benigna da neoplasia, o tratamento consiste na excisão local com preservação do testículo. ABSTRACT Introduction: The papillary cystadenoma of the epididymis is a rare benign neoplasm derived from the efferent ducts usually affecting their cephalic portion. It can occur sporadically, however, is associated with Von Hippel Lindau in two thirds of cases. Are around 58 cases reported in the English language with histological diagnosis and in 15% of cases occur obstructive azoospermia. Immunohistochemical markers have been showing very helpful in the differential diagnosis with metastatic renal cell carcinoma, which is paramount. Case report: Male patient, 30 years old, complaining of not being able to have children for 4 years. It refers to the appearance of small nodules in both testicles, painless, and hardened with slow and progressive growth for 8 years. It has a history of close contact with a person being treated for pulmonary tuberculosis. Were then collected two spermograms at intervals of 30 days, both revealing azoospermia. Ultrasound showed enlarged epididymis with microcystic pattern bilaterally. Hypothesis suggested tuberculosis of epididymis and the management was partial resection of the cephalic portion of both. Pathology revealed clear cell papillary tumor. Discussion : Tumors of the epididymis correspond to 5% of intra scrotal neoplastic lesions. It is known the association of the CPE and VHLD, especially when there is bilateral tumors. As the papillary cystadenoma, renal cell carcinoma originated in the mesonephric tissue. Such tumors can be differentiated with the help of immunohistochemical tests. Confirmed the benign nature of the tumor, the treatment consists of local excision with testicular preservation. Key words: epididymis, benign neoplasm, tumor, cystadenoma, papillary. Descritores: epidídimo, neoplasia benigna, tumor, cistadenoma, papilar. Introdução O cistadenoma papilífero de epidídimo (CPE) é uma neoplasia benigna rara, derivada dos ductos eferentes geralmente acometendo sua porção cefálica1,2. Pode ocorrer de forma esporádica, porém, está associado à Doença de Von Hippel Lindau (VHLD) em dois terços dos casos quando, em 40% das vezes, apresenta-se de forma bilateral3,4. O primeiro caso descrito data de 19565. São em torno de 58 casos relatados na língua inglesa com diagnóstico histológico. Quando sintomático, geralmente se apresenta como nódulo testicular de crescimento lento e indolor. Em 15% dos casos ocorre azoospermia obstrutiva6. Para manejo adequado desses pacientes, o diagnóstico diferencial com a metástase de carcinoma de células renais (CCR) é primordial. As duas entidades têm origem e histologia semelhantes, o que torna a diferenciação muitas vezes difícil. Marcadores imunohistoquímicos vêm-se mostrando de grande valia na definição diagnóstica2,7,8. A excisão local é factível na maioria dos casos e o prognóstico é excelente. Contudo, alguns pacientes são submetidos à orquiectomia9. 1) Residente (R4) Serviço Urologia Hospital Ana Costa. 2) Médico Assistente Serviço Urologia Hospital Ana Costa. 3) Chefe Serviço Urologia Hospital Ana Costa. 4) Médico Assistente Serviço Urologia Hospital Ana Costa. 5) Residente (R5) Serviço Urologia Hospital Ana Costa. Instituição: Serviço de Urologia do Hospital Ana Costa, Santos/SP, Brasil. Correspondência: Av. Ana Costa n 100 cj 16, Santos – SP 11060-000. [email protected] Recebido em: 01/09/2012; aceito para publicação em: 01/02/2013; publicado online em: 20/09/2013. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 85 - 86 jul / ago / set 2013 85 Relato de caso Paciente do sexo masculino, com 30 anos de idade, procurou o ambulatório de Urologia com queixa de não conseguir ter filhos há 4 anos. Refere o aparecimento de nódulos pequenos em ambos testículos, indolores, de consistência endurecida com crescimento lento e progressivo há 8 anos. Há 4 anos tenta ter seu segundo filho sem sucesso, mantendo relações sem métodos contraceptivos na frequência de 3 vezes por semana. Esposa nega patologias de fertilidade e o primogênito esta com 8 anos de idade. Paciente nega patologias de base, uso de medicação, alergias ou cirurgias prévias. Tem história de contato íntimo com indivíduo em tratamento para tuberculose pulmonar. Ao exame físico apresentava testículos tópicos, sendo o esquerdo pouco diminuído em relação ao direito, de consistência habitual. Notava-se lesão lobulada, pequena, endurecida e indolor em topografia de epidídimo bilateralmente(Figura1). Foram então colhidos dois espermogramas com intervalo de 30 dias, ambos revelando azoospermia. Também realizada ultrassonografia onde o testículo direito media 4,8 x 2,0 cm com ecotextura habitual e epidídimo aumentado com padrão microcístico. Testículo esquerdo com 3,4 x 1,3 cm, ecotextura habitual e epidídimo esquerdo também aumentado mostrando padrão microcístico semelhante ao contralateral. Aventada hipótese de tuberculose de epidídimo e indicada biópsia para avaliação histológica. Durante exploração cirúrgica optado por ressecção parcial da porção cefálica de ambos epidídimos devido aspecto macroscópico das lesões(Figura2). A avaliação do patologista revelou tumor papilífero de células claras em ambas as peças(Figura3). Foi também realizada imunohistoquímica para confirmação diagnóstica. O perfil imunohistoquímico foi positivo para citoqueratina AE1/AE3, antígeno epitelial de membrana (EMA) e CK7. Negativo para CK20 / CD10. Figura 1 Discussão Os tumores de epidídimo correspondem a 5 % das neoplasia intraescrotais, sendo, em sua maioria, benignos. O CPE é a segunda em incidência, ficando atrás do tumor adenomatóide10. É sabida a associação do CPE com VHLD, principalmente quando há bilateralidade1,11. Nesses casos, pode ser indicada a pesquisa de estigmas da doença por meio de exames de imagem ou teste genético. Acompanhamento clínico rigoroso também é opção aceitável. Assim como o CPE, o carcinoma de células renais tem origem no tecido mesonéfrico. Tais neoplasias podem ser diferenciadas com ajuda de testes imunohistoquímicos. As células epiteliais do CPE são positivas para citoqueratina AE1/AE3 e antígeno epitelial de membrana (EMA). Tem perfil positivo para CK7 e negativo para CK20 / CD102,7. Em contrapartida, o CCR tem padrão inverso, sendo negativo para CK7 e positivo para Cd102. Confirmada a natureza benigna da neoplasia, o tratamento consiste na excisão local com preservação do testículo. O prognóstico é excelente. Existe um relato de recorrência, talvez por exérese incompleta da lesão. A transformação maligna (cistadenocarcinoma) foi descrita em duas publicações6. A associação com VHLD sempre deve ser suspeitada nos pacientes com CPE, tendo em vista o risco de desenvolvimento de outras neoplasias que acompanham a síndrome. A pesquisa com exames de imagem ou teste genético fica reservada para os casos de tumores bilaterais1,11. Referências 1.Glasker S, Tran MG, Shively SB, Ikejiri B, Lonser RR, Maxwell PH, Zhuang Z, Odfield EH, Vortmeyer AO. Epididymal cistadenomas and ephitelial tumourlets: effects of VHL deficiency on the human epididymis. J Pathol. 2006;210(1):32-41. 2.Aydin H, Young RH, Ronnet BM, Epslan JL. Clear papillary cystadenoma of the epididymis and mesosalpinx: immunohistochemical differentiation from metastatic clear cell renal cell carcinoma. Am J Surg pathol. 2005;29:520-3. 3.Jones EC, Murray SK, Young RH. Cysts and ephitelial proliferations of the testicular collecting system ( including rete testis ). Semin Diagn Pathol. 2000;17:270-93. 4.Tsuda H Fukushima S, Takahashi M, Hikosaka Y, Hayashi K. Familial bilateral papillary cystadenoma of the epididymis: report of three cases in siblings. Cancer. 1976;37:1831-9. 5.Sherrick JC. Papillary cystadenoma of the epididymis. Cancer. 1956;9(2):403-7. 6.Odrzywolski KJ, Mukhopadhyay S. Papillary cystadenoma of the epididymis. Arch Pathol Lab Med. 2010;134:630-3. 7.Mehta GU, Shively SB, Glasker S, Bechert CJ, Zhuang Z, Raffeld M, Lonser RR, Odfield EH, Vortmeyer AO. Von Hippel Lindau disease: epididymal cystadenoma targeted by metastatics events. Urology. 2007;69(6):1209.e9-12. 8.Leung SY, Chan AS, Wong M, Yuen ST, Fan YW, Chang LP. Expression of vascular endothelial growth factor in Von Hippel Lindau syndrome associated papillary cystadenoma of the epididymis. Hum Pathol. 1998;29:1322-4. 9.Meyer JS, Roth LM, Silverman JL. Papillary cystadenoma of the epididimys and spermatic cord. Cancer. 1964;17:595-617. 10.Kuhn MT, Maclennan GT. Benign neoplasm of the epididymis. J Urol. 2005;174:723-6. 11.Mehta GU, Shively SB, Duong H, Tran MG, Moncrief TJ, Smith JH, Li J, Edwards NA, Lonser RR, Zhuang Z, Merrill MJ, Raffeld M, Maxwell PH, Oldfield EH, Vortmeyer AO. Progression of epididymal maldevelopment into harmatoma-like neoplasia in VHL disease. Neoplasia. 2008;10(10):1146-53. Figura 2 e Figura 3 86 Revista Médica Ana Costa, v. 18, n. 3, p. 85 - 86 jul / ago / set 2013 Errata - 18.2 Titulo Como objetos utilizados por profissionais da saúde podem ser veículos de disseminação de microrganismos multiresistentes. How objects used by health sector professionals might serve as vehicles of dissemination of multiresistant microorganisms . Autores Priscila Paulin1, Gislene Aparecida Xavier dos Reis2, Renata Aparecida Belei3 1) Acadêmica do Curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina, Londrina/PR. 2) Acadêmica do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina, Londrina/PR. 3) Doutora em Educação pela UNESP-Marília. Enfermeira. Coordenadora de Enfermagem da CCIH/ Hospital Universitário da UEL. Sua saúde em boas mãos www.anacosta.com.br